Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
Belo Horizonte:
Autêntica Editora, 2015.
A política de controle e monitoramento, torna-se cada vez mais algo maior que uma
política de Estado, estando de certa maneira intrínseca ao desejo social. Ser monitorado e
poder monitorar estabelece uma nova concepção de segurança, algo intimamente ligado ao
autopoliciamento e de vigilância do próximo, algo como o desejo de observar e controlar o
comportamento humano cada vez mais complexo e constante.
“na sociedade de controle ou de segurança apenas se espera uma resposta imediata sem o
tempo necessário para a preparação, pois tudo deve ser organizado prontamente, escorado em
citações, invocando simulacros, efetivando simulações e dissimulações, traçando a nova
configuração de forças segundo uma ordem a ser respeitada e seguida em função de inovações
para melhorias,” p.12
“Lutar pela vida é mais do que capturar dos enunciados das batalhas o que é traduzido
em leis e motivadores de enforços posteriores simplesmente como resultado: é não esquecer
que os enunciados trazem consigo a explicitação de que o direito é sempre o direito da força
ou forças vencedoras. Isso faz com que as minorias potentes estejam, se não subalternizadas,
propositalmente imobilizadas pelo discurso pluralista; precisamos nos deslocar da relação
direitos-democracia para a de direitos-propriedade.” p.17
“Vida biopolítica é útil, dócil, segura, repleta de pastores laicos, religiosos e científicos,
produzindo tentativas racionais de prolongamento da vida do corpo, articulada aos governos
do espírito, da alma, da subjetividade, seus constantes sepultamentos, suas reiteradas
ideologias, utopias da eternidade da condição do sujeito como homem. Vida biopolítica como
permanência prolongada em nome de todos, em função da raça, da espécie, do incessante
trabalho, revestida de direitos em guerras constantes, idealizações de paz e forma política da
luta pela vida. Vida biopolítica do direito de selecionar quem vive e quem deve morrer, das
interceptações, das guerras justas, indústrias e comércios, mas também da revolta e das
revoluções. Vida sanguinolenta que constituiu um planeta em degradação.” p.19
Introdução.
“Tal interesse do filósofo contemporâneo nos induz a propor três distintas fases do
pensamento de Foucault, tando como referência seus diferentes modos de se comportar diante
de seu desafio teórico. A primeira fase, que cobre os anos de 1960, é a da “arqueologia do
saber”. Nesta década, de fato, a preocupação com a ética e a política não é predominante em
seus livros, mas está em alguns de seus textos e entrevistas; a segunda fase, que começa com a
entrada de Foucault no Collège de France, 1969, e que vai até 1977, denomina-se, com toda
pertinência, como “analítica do poder” (alguns a chamam, mas explicam pouco o que querem
dizer com isso, “genealogia do poder”); a terceira fase, que se inicia em 1978 e vai até sua
morte, em 1984, pode ser denominada, com toda propriedade, como “fase ético-política”,
centrada mas relações de poder e nas resistências ao poder (alguns também denominam esse
período como “último Foucault”).” p.22
Parte 1 Filosofia.
“1) todo pensamento, toda prática, toda a fala de uma época são coordenadas, em último
caso, por um conjunto pequeno e restrito de ideias fundamentais, os enunciados, que
constituem verdadeiras matrizes anônimas de toda a intelecção deste tempo determinado; 2)
os enunciados situam-se numa região mediana entre a teoria e a experiência, e determinam
esses dois campos; 3) tais matrizes enunciativas sofrem grandes transformações de tempos em
tempos e modificam toda a configuração de saber, o que faz com que, entre as épocas,
diferentes camadas de discursos e práticas se superponham (uma vez que são produtos da
influência de diferentes matrizes enunciativas) da mesma maneira que as camadas
geográficas, o que torna possível que se faça, posteriormente, uma arqueologia do saber; 4)
nossa época, caracterizada pela irrupção da literatura, do “homem” e das chamadas “ciências
humanas”, tem como marca o aparecimento de uma nova e antes inexistente noção de homem;
5) para passar a existir como objeto de conhecimento, o homem é convertido num objeto para
o saber, nebuloso e desconhecido, compreensível somente a partir do impensado com o qual
faz par, e é dessa duplicidade de que tratam as novas ciências ou saberes que estudam o
homem; 6) finalmente, uma das proposições mais polêmicas do As palavras e as coisas é a de
que o homem, invenção recente de nosso pensamento, esse homem estudado pelas ciências
humanas, poderá deixar de existir em breve: “o homem é uma invenção do qual a arqueologia
de nosso pensamento mostra facilmente a data recente. E, talvez, o fim próximo”
(FOUCAULT, 1966, p.398).” p.26-27
“O exercício do poder, feito pela relação agonística entre homens livres, acarreta sempre
numa tensão e num confronto entre potências do agir. A liberdade, a luta entre seres livres,
está na emergência de todo processo individual e social na modernidade.” p.38
“É na prática que a luta pela liberdade tem sua vida plena e exprime toda sua força nas
experiências de transformação dos sujeitos e das relações de poder. É por esse motivo que o
trabalho crítico é sua condição prévia: a razão, quando põe limites ao uso da razão, à própria
razão e à consciência, exige, logo depois, e aí está o que é o mais importante, “o trabalho
sobre nossos limites, isto é, um labor paciente que dá forma à impaciência da liberdade”
(FOUCAULT, 1994, v.IV, p.578).” p.47