Você está na página 1de 5

Resumo - Cap.

1 Microfísica do poder (Foucault)

Michel Foucault traça o caminho de sua pesquisa desde a exploração da loucura na


idade clássica até o estudo da criminalidade e da delinquência. Inicialmente, Foucault aborda
a questão do estatuto político da ciência, especialmente em torno do caso Lyssenko, que
levanta o debate sobre poder e saber. Ele direciona sua pesquisa para entender as relações
entre ciência e estruturas políticas e econômicas, destacando a incerteza epistemológica da
psiquiatria e a ligação desta com instituições, demandas econômicas e urgências políticas.
Foucault percebe uma falta de interesse por parte dos intelectuais marxistas da época,
explicando isso pela pressão de reconhecimento da instituição universitária e por um
estalinismo pós-estalinista que limitava a abordagem de novas questões. No entanto, em 1968,
suas questões começaram a adquirir importância política, mostrando o quão contidos e
tímidos seus livros anteriores eram.
Além disso, Foucault destaca a falta de abordagem do problema da reclusão e do uso
político da psiquiatria, talvez influenciada pelo silêncio imposto pelo Partido Comunista
Francês. Ele ressalta a dificuldade de introduzir o conceito de descontinuidade na história das
ciências e a importância de compreender os regimes discursivos e os efeitos de poder.
Posteriormente, a discussão se volta para o conceito de acontecimento, ressaltando a
necessidade de distinguir e conectar diferentes tipos de acontecimentos. Foucault critica o
estruturalismo por sua exclusão do conceito de acontecimento e destaca a importância de
analisar a história em termos de estratégias, relações de força e ações de poder.
Por fim, Foucault conclui que, embora tenha sido um dos primeiros a introduzir a
questão do poder no discurso acadêmico, teve dificuldades em fazê-lo plenamente, devido à
limitação do contexto político da época, tanto pela direita quanto pelo marxismo, que
abordavam o poder de maneira jurídica ou estatal, sem explorar sua complexidade na esfera
do conhecimento.
Foucault destaca a falta de análise detalhada do exercício do poder em seu
funcionamento concreto. Até 1968, o poder foi denunciado globalmente no socialismo
soviético como totalitarismo e no capitalismo ocidental como dominação de classe, sem uma
análise detalhada de suas mecânicas. Após 1968, as lutas cotidianas permitiram revelar a
concretude do poder e a fecundidade das análises do poder, que anteriormente estavam à
margem da análise política.
Ele critica o marxismo e a fenomenologia por possivelmente serem um obstáculo à
formulação dessa problemática, já que remetiam ao sujeito constituinte e ao econômico em
última instância. Foucault propõe a genealogia como uma abordagem para compreender a
constituição dos saberes, dos discursos e dos objetos sem se referir a um sujeito
transcendente.
Ele questiona a utilização das noções de ideologia e repressão, argumentando que a
ideologia sempre se opõe à verdade e está associada ao sujeito, enquanto a repressão é
inadequada para descrever a produtividade do poder. Foucault destaca como o poder não se
resume à força da proibição, mas atua de forma produtiva, permeando todo o corpo social.
Ao abordar o papel do intelectual, Foucault observa a mudança na sua atuação. Antes,
o intelectual era visto como a consciência universal, mas agora há uma ligação mais concreta
e imediata com lutas específicas. Ele discute a transformação da figura do intelectual, da
escritura como marca sacralizante para uma politização que se realiza a partir da atividade
específica de cada um. Esta nova dinâmica permite uma rearticulação de categorias antes
separadas e uma politização global dos intelectuais em diferentes campos profissionais.
Foucault também observa que, apesar do declínio da figura do escritor como proeminente, o
papel do professor e da universidade se tornaram importantes pontos de cruzamento na
politização global dos intelectuais. Ele sugere que a crise na universidade não é uma perda de
força, mas sim uma multiplicação e reforço de seus efeitos de poder no meio de um conjunto
multiforme de intelectuais.
Foucault discute a evolução do intelectual específico, desvinculando-se do intelectual
universal. Ele destaca Oppenheimer, o físico atômico, como uma figura que uniu a articulação
entre o intelectual universal e o intelectual específico. A partir da Segunda Guerra Mundial, o
intelectual específico foi perseguido não pelo discurso geral, mas pelo saber especializado,
tornando-se um perigo político.
Ele aponta a origem histórica do intelectual "universal" ligado ao homem da justiça e
da lei, que se opõe ao despotismo e à arrogância. No entanto, o intelectual específico deriva
do cientista perito e tem suas origens desde o final do século XIX, especialmente com
Darwin, representando um ponto de inflexão na história do intelectual ocidental.
Foucault destaca que a biologia e a física se tornaram as áreas de formação desse novo
intelectual específico. Ele aponta riscos para esse tipo de intelectual, como limitar-se a lutas
locais, manipulação por partidos políticos e falta de uma estratégia global. No entanto,
enfatiza a importância dessas lutas específicas, exemplificando conquistas notáveis na
psiquiatria.
Ele argumenta que a verdade está intimamente ligada ao poder e sua produção é
regulada por diversas coerções. A "economia política" da verdade é caracterizada por cinco
elementos, com destaque para o discurso científico, incitação econômica e política, difusão e
consumo, controle político e econômico e debates ideológicos.
Foucault sugere que a questão essencial para o intelectual não é simplesmente "ciência
versus ideologia", mas "verdade versus poder". Ele propõe a constituição de uma nova
política da verdade e não se trata de libertar a verdade do poder, mas de desvincular o poder
da verdade das formas de hegemonia nas quais ela opera.
Em resumo, Foucault afirma que o problema político principal não é a consciência
alienada, a ideologia ou o erro, mas a própria verdade e propõe uma reconfiguração do regime
político, econômico e institucional de produção da verdade.

Resumo - A verdade e as formas jurídicas p.103-126 (Foucault)

O texto discute o conceito de "panoptismo", um tipo de poder exercido na sociedade


contemporânea que se caracteriza pela vigilância, controle e correção dos indivíduos. Em
contraste com as sociedades antigas, o panoptismo não se baseia apenas no que os indivíduos
fazem, mas também no que são capazes de fazer. Isso contrasta com a teoria legalista que
subordina a punição à existência explícita de uma lei e à reparação do dano causado à
sociedade.
Esse modelo panóptico, surgido no final do século XVIII e início do XIX, contradiz a
abordagem anterior da justiça baseada na violação explícita da lei. O texto menciona figuras
históricas como Bentham, Beccaria e Giulius para explicar como o panoptismo substituiu
gradualmente a teoria legalista. Este modelo é exemplificado por uma estrutura institucional
com horários e regras rígidas, as quais garantem vigilância constante e controle, visando a
moldar as ações e comportamentos dos indivíduos.
Além disso, a descrição do texto revela como as instituições refletem o panoptismo,
estabelecendo um sistema de vigilância constante sobre os indivíduos, determinando seus
movimentos e limitando qualquer contato com o mundo exterior. Este controle abrange desde
a rotina diária até as atividades religiosas, procurando garantir a conformidade e a obediência,
exemplificando assim os princípios do panoptismo na vida cotidiana.
Portanto, o texto aborda a transição do sistema legalista para o panoptismo,
enfatizando como a vigilância e o controle se tornaram elementos fundamentais na
organização e no funcionamento das instituições e da sociedade como um todo.
No texto, o autor discute as características do "panoptismo" como um poder exercido
sobre os indivíduos, envolvendo vigilância, controle e correção. Esse conceito se destaca na
sociedade moderna, contrastando com abordagens anteriores do Direito Penal. O autor
argumenta que o panoptismo se manifesta em várias instituições, como prisões, escolas e
fábricas, visando não apenas excluir, mas também integrar os indivíduos em sistemas de
produção, educação ou correção. Esta forma de reclusão do século XIX visa ligar os
indivíduos a normas específicas e funcionar como um mecanismo de inclusão por exclusão. O
texto destaca a transformação dessas instituições ao longo do tempo, mostrando sua transição
de estruturas rígidas para formas mais flexíveis e difusas, tendo como objetivo fundamental
fixar os indivíduos em aparelhos de produção, formação ou correção de acordo com certas
normas.
O texto descreve as instituições sociais modernas - sejam elas educacionais, médicas,
penais ou industriais - e seu controle sobre o tempo e a existência dos indivíduos. Ele compara
a sociedade feudal, na qual o controle era ligado à pertença territorial, com a sociedade
moderna, onde o controle é focado no tempo disponível para o trabalho.
Na sociedade industrial, as instituições assumem o papel de controlar o tempo dos
indivíduos, transformando-o em tempo de trabalho. Isso é evidenciado nas fábricas, escolas
fechadas, prisões e outras organizações onde o tempo das pessoas é estruturado para ser usado
predominantemente como tempo de trabalho.
No século XIX, foram adotadas medidas para suprimir festas e reduzir o tempo de
descanso, visando controlar a economia dos trabalhadores. Instituições como caixas
econômicas foram criadas para gerenciar as economias dos trabalhadores, garantindo que
fossem usadas de acordo com as necessidades do mercado de trabalho.
Essas instituições não apenas controlam o tempo de trabalho, mas também
supervisionam os corpos e comportamentos dos indivíduos. Embora aparentemente
especializadas em funções como produção, cura, educação e punição, elas exercem um tipo de
disciplina que ultrapassa suas funções aparentes. Elas controlam não apenas o tempo, mas
também formam e valorizam os corpos dos indivíduos de acordo com um sistema específico.
O texto destaca a mudança na percepção do corpo ao longo do tempo, passando de um
objeto a ser punido para algo que deve ser moldado, qualificado e adaptado para ser uma força
de trabalho. Além disso, essas instituições exercem múltiplos tipos de poder - econômico,
político, judiciário e epistemológico - controlando, regulando e extraindo conhecimento sobre
os indivíduos.
Por meio de observações e classificações dos comportamentos, essas instituições
constroem um conhecimento técnico, juntamente com um saber sobre os indivíduos, que é
usado como forma de controle. Este controle se estende para além do tempo de trabalho e
alcança aspectos íntimos da vida das pessoas, moldando-as de acordo com as necessidades do
mercado e da sociedade.
No texto, a terceira função das instituições de sequestro é descrita como a
transformação do tempo de vida em tempo de trabalho e, subsequentemente, em força
produtiva. Estas instituições são identificadas como mecanismos que convertem o tempo e o
corpo das pessoas em força produtiva por meio de um jogo de poder e saber que as
caracteriza.
A análise explora a explicação para o surgimento da prisão, sugerindo que, apesar de
ser aparentemente uma instituição paradoxal e cheia de inconvenientes, ela é na verdade a
forma exemplar das demais instituições de sequestro criadas no século XIX. A prisão
funciona como uma imagem da sociedade e, ao mesmo tempo, como uma ameaça. Emite
discursos contraditórios: um que alega ser apenas a expressão do consenso social e outro que
se distancia das outras instituições por punir aqueles que cometeram faltas.
O autor também questiona a teoria de que o trabalho é a essência concreta do homem.
Ele argumenta que o trabalho não é essencialmente a existência humana, mas sim uma
operação complexa realizada por um poder político para ligar as pessoas ao aparelho de
produção. Esta conexão sintética entre o homem e o trabalho é operada pelo poder político e é
a condição para a existência do sobre-lucro. O sobre-lucro requer um subpoder que mantém
os homens ligados ao trabalho.
Ademais, a análise sugere que o estabelecimento do subpoder, que sustenta o sobre-
lucro, originou uma série de saberes - como o saber do indivíduo, a normalização e o saber
corretivo - nas instituições de subpoder. Esses saberes deram origem às ciências do homem,
mudando a percepção do homem como objeto da ciência.
Por fim, o texto coloca em xeque a ideologia como mera expressão das relações de
produção. Argumenta que os saberes e poderes não são apenas reflexos das relações de
produção, mas estão profundamente enraizados nas relações de poder e funcionamento do
saber que constituem a base das relações de produção. A definição de ideologia, portanto,
necessita de revisão, pois os saberes e poderes não apenas refletem as relações de produção,
mas estão entrelaçados com elas em um nível fundamental.

Resumo - História da sexualidade. Volume 1. A parte 2. Método (Foucault)

O texto analisa o conceito de poder, focando em sua natureza e alcance. Destaca que o
poder não se refere apenas às estruturas de Estado ou a um grupo dominante sobre outro, mas
é, na verdade, uma multiplicidade de forças imanentes e constituídas pelas relações de força
que se transformam, se reforçam e se confrontam constantemente.
Definir o poder como instituição, estrutura ou simples modo de dominação é limitado;
em vez disso, deve-se compreendê-lo como um conjunto de estratégias que se originam e se
materializam nos aparelhos estatais, leis e hegemonias sociais.
O poder não tem uma origem central, mas é produzido por meio de diversas
correlações de força localizadas e instáveis. Sua onipresença não deriva de uma unidade
invencível, mas é formada em cada relação entre pontos. O poder é o efeito resultante de
todas essas mobilidades, não uma estrutura fixa.
O texto enfatiza que a política e a guerra são estratégias de codificação das correlações
de força desiguais, que buscam integrá-las. Afirma que o poder não é algo que se adquire ou
compartilha, mas é exercido em meio a relações desiguais e móveis.
Resistência e poder não são externos um ao outro; estão intrinsecamente ligados. As
resistências não são apenas oposição passiva, mas constituem a outra face das relações de
poder. A distribuição desses pontos de resistência na sociedade não segue um padrão fixo,
mas é móvel e transitória, podendo provocar desde grandes rupturas a intervenções sutis no
corpo social e individual. Esses pontos de resistência são a chave para a possibilidade de uma
revolução.
O texto propõe analisar os mecanismos de poder no âmbito das correlações de força,
em vez de adotar a perspectiva tradicional centrada no poder soberano e na lei. Destaca a
necessidade de investigar as estratégias que derivam dessas relações de força para decifrar os
mecanismos do poder.
Ao abordar o sexo e os discursos sobre a verdade que o circundam, questiona-se como
esses discursos se inserem nas relações de poder, particularmente em contextos específicos,
como no exame de consciência, na educação da criança em torno de sua sexualidade, e em
outras práticas de vigilância.
O texto estabelece quatro regras metodológicas, não como regras absolutas, mas como
diretrizes. A primeira regra defende a imanência entre poder e saber, afirmando que a
sexualidade tornou-se um objeto de conhecimento devido às relações de poder que a
instituíram como tal. A segunda regra destaca a variação contínua das relações de poder e
saber, afirmando que nenhum grupo tem o poder absoluto sobre a sexualidade. A terceira
regra ressalta o duplo condicionamento entre estratégias globais e relações de poder locais. E
a quarta regra realça a polivalência tática dos discursos sobre o sexo, argumentando que o
discurso articula poder e saber, sendo elemento tático no campo das relações de força.
O texto conclui que é fundamental adotar uma concepção do poder que substitua o
foco na lei e na soberania por uma análise do campo móvel de correlações de força, onde
ocorrem efeitos globais, porém nunca totalmente estáveis, de dominação. Propõe um modelo
estratégico em vez de um modelo baseado no direito, considerando que as correlações de
força que antes se expressavam na guerra se investiram progressivamente no poder político
nas sociedades ocidentais.

Perguntas:
1) Os textos destacam a importância das relações de poder e resistência na sociedade.
Como a análise do poder como um conjunto de estratégias e relações de força,
conforme discutido em História da sexualidade, se conecta com a transformação das
instituições de sequestro e controle, conforme mencionado em Microfísica do poder?
Como essas noções de poder e controle se manifestam nas instituições e na vida
cotidiana?
2) Em que medida as ideias de Foucault sobre o poder se aplicam ao modelo de
vigilância e controle descrito no panoptismo?

Você também pode gostar