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UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARÁ

NÚCLEO DE ALTOS ESTUDOS AMAZÔNICOS


PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL DO
TRÓPICO ÚMIDO

LUCAS FELIPE SARDINHA DE SOUSA

FICHAMENTO 04:
TEXTO 08 - AS POLÍTICAS DE DESENVOLVIMENTO REGIONAL NA AMAZÔNIA
BRASILEIRA

Fichamento solicitado como parte do requisito


avaliativo à disciplina Planejamento Regional e
Urbano, tendo como ministrante o Prof. Dr. Fábio
Fonseca de Castro.

Belém-PA
2023
1. REFERÊNCIA DO TEXTO

FERREIRA, R.C.; OLIVEIRA, A. F. As políticas de desenvolvimento regional na Amazônia.


IN: Educação e práticas sociais e culturais de ensino/aprendizagem em contextos
diversos, v. 8, n. 2, dezembro/2018, pp 89-109. Lido em: 03/04/2023. Fichado em:
03/04/2023.

2. SÍNTESE DO TEXTO

Este artigo é dedicado, em linhas gerais, a fazer um aparado geral das políticas de
desenvolvimento regional historicamente propostas para a Amazônia, tomando como ponto de
partida a revolução de 1930, quando Getúlio Vargas chega ao poder. Nesse momento inicial,
tem lugar um fortalecimento do capitalismo industrial no país, o rearranjo territorial de um
Estado centralizador político-administrativo e a divisão do território nacional em regiões, por
meio de decretos, dando substância à análise respectiva ao estudo do planejamento regional.
O segundo marco fundamental ao planejamento para a região Amazônica foi a criação
da Superintendência do Plano de Valorização Econômica da Amazônia (SPVEA), criada para
dinamizar as políticas públicas de incentivos fiscais e investimentos na região, com maior
controle estatal. Além disso, no mesmo contexto, foi criada a regionalização “Amazônia
Legal”. Estas ações são inscritas no contexto da “marcha para o Oeste”, movimento de
ocupação do território amazônico mediante uma ótica neocolonialista e desenvolvimentista.
O momento seguinte do planejamento para a Amazônia se deu no contexto do regime
militar, especificamente em 1966, no governo de Castelo Branco, quando a SPVEA é
substituída pela Superintendência de Desenvolvimento da Amazônia (Sudam), com o intuito
de promover o desenvolvimento da região Amazônica por meio da geração de incentivos
fiscais e financeiros capazes de atrair investidores privados, nacionais e internacionais; nesse
sentido, a Amazônia Legal, regionalização composta por nove Estados das regiões Norte,
Nordeste e Centro-Oeste, passa a se materializar de maneira efetiva, sendo esta uma divisão
que despreza características morfogeológicas, de vegetação ou geográficas, em benefício de
fins político-econômicos. Em linhas gerais, as políticas estatais de desenvolvimento, no
contexto do regime militar, representam uma articulação entre Estado e capitais estrangeiros,
interesses nacionais e internacionais. A elaboração da Amazônia Legal faz emergir a visão da
existência de várias Amazônias, especialmente um embate dialético entre a Amazônia Legal e
o que os autores chamam Amazônia Brasileira – a das populações tradicionais, dos
camponeses, ribeirinhos etc. –, que faz surgir o que LIRA (2001 apud FERREIRA et al,
2018). Outras políticas executadas pela gestão federal durante o regime militar foram os
Planos Nacionais de Desenvolvimento (PND I – 1972-2974 E PND II – 1975-1979) que,
apesar de não serem políticas exclusivas à região amazônica, dispunham de diretrizes
dedicadas especificamente a ela, entre as quais: reorientar fluxos migratórios, sob a premissa
de “ocupação de espaços vazios” - ocupação demográfica e econômica de forma planejada;
garantir ao grande capital o acesso aos recursos naturais da Amazônia; criação de polos de
desenvolvimento – concepção advinda do Estado Keynesiano, dedicada à concentração
espacial de capitais -, onde teve lugar o Programa de Polos Agropecuários e Agrominerais da
Amazônia (POLAMAZÔNIA) criado em 1974, sob a justificativa de estimular o processo de
desenvolvimento, urbanização e assegurar a geopolítica territorial do capital na região;
posteriormente, articular a exploração de minérios com o potencial hidroelétrico da Amazônia
oriental; a Política de Desenvolvimento de Recursos Florestais e Uso Racional dos Solos da
Amazônia, voltada a institucionalizar a exploração madeireira na região; o Programa de
Desenvolvimento dos Cerrados (POLOCENTRO), voltado ao Centro-Oeste, orientado a
fornecer suporte técnico, financeiro e de infraestrutura ao uso de práticas agrícolas modernas,
integradas ao mercado interno e externo, desestimulando a agricultura de subsistência, e
reforçando as políticas de ocupação da região; e o PRODECER (Programa Nipo-Brasileiro de
Cooperação para o Desenvolvimento Agrícola da Região do Cerrado), uma cooperação
bilateral Japão x Brasil para o desenvolvimento do Cerrado, voltada à produção de arroz e
soja para exportação. Em relação aos PND, os autores destacam que, especialmente no que
tange às políticas elaboradas para o primeiro plano (1972-1974), resultou em aumento das
disparidades do desenvolvimento inter e intrarregional, gerando aumento das desigualdades
sociais, uma vez que a periferia se tornou mais dependente do centro.
O capítulo é encerrado com a apresentação de uma política regional mais recente, a
Política Nacional de Desenvolvimento Regional (PNDR), voltada aos arranjos urbanos e
regionais, sendo de caráter nacional mas que, porém, reconhece as desigualdades regionais.
Nesse sentido, é estabelecida uma classificação de microrregiões baseada na renda domiciliar
média ou PIB per capita, na qual surgem as categorias: Baixa renda; Estagnadas; Dinâmicas;
Alta renda. Com base nestas classificações, ganha destaque o Estado do Tocantins, uma vez
que de suas 8 microrregiões, 6 são classificadas como dinâmicas, 1 como estagnada e 1 como
alta renda.
A segunda parte do texto é dedicada exclusivamente à análise do panorama do Estado
do Tocantins. Sendo o Estado mais jovem da federação, tendo sido criado no contexto da
promulgação da Constituição Federal de 1988 - a partir de motivações do capital nacional e
internacional, no bojo dos projetos de ocupação demográfica e integração econômica da
Amazônia -, o Tocantins ainda está se estruturando para receber o grande capital, o que tem
ocorrido com a chegada gradativa de empresas multinacionais, e tem se articulado
principalmente por meio de investimentos em infraestrutura, além da introdução do
conhecimento técnico-científico, orientado especialmente ao setor agropecuário, ocorrendo de
forma gradual. No contexto da construção de infraestrutura, algumas ações citadas no texto
são: a construção da ferrovia Norte-Sul, implantação de usinas hidrelétricas e outros projetos
inclusos no Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), promovido pelo Governo
Federal durante a década de 2000.
Em vista do exposto, os autores dissecam o planejamento executado para o Tocantins,
que demonstra diversos problemas decorrentes da maneira que a criação do Estado se deu,
tendo absorvido diversas problemáticas do Norte de Goiás, que a sua porção territorial
representava antes da Constituição Federal de 1988. É citado um “desarranjo espacial”,
decorrente da intensificação da produção e reprodução dos espaços urbanos, agravamento dos
conflitos sociais no campo, impactos negativos surtidos às comunidades tradicionais,
fragmentação do território que não conforma melhorias de vida para a população. Em linhas
gerais, a criação do Estado do Tocantins e o planejamento para ele executado, trouxeram
benefícios somente às elites econômicas, em linha com as motivações para esta alteração
territorial.
Após a execução das críticas ao modelo de planejamento executado no contexto do
Tocantins, os autores discorrem sobre os principais eixos de desenvolvimento regional no
Estado: os investimentos em infraestrutura de transportes intermodais, especificamente a
Rodovia Belém-Brasília e a Ferrovia Norte-Sul, que cortam o território do Estado
verticalmente e representam as vias de escoamento para a produção agroindustrial de
exportação – além de outros produtos -, uma vez que dão acesso aos extremos do Brasil e
permitem o acesso a portos que direcionam a produção a outros países. Além disso,
especialmente a Rodovia Belém-Brasília se configurou como o principal eixo de
desenvolvimento socioeconômico do Estado, com a concentração populacional tendo ocorrido
especialmente ao seu redor, o que segundo os autores gerou a marginalização de outras
localidades.
Por fim, os autores concluem com uma reflexão: “O desenvolvimento regional voltou
à cena política?”, ancorada nos modelos demonstrados, de desenvolvimento regional adotados
para a Amazônia, onde fica evidente a preponderância de determinados atores políticos e
econômicos na proposta e execução de políticas públicas para o desenvolvimento da região,
que, portanto, em grande parte das situações acaba por contemplar somente determinados
setores da sociedade – os mais abastados. Além disso, entra em questão o fato de que,
historicamente, o país costuma ter gestores federais que tem o desenvolvimento e o
crescimento econômico como imperativos, ainda que haja qualquer força social ou política
desfavorável.

3. CITAÇÕES INTERESSANTES

1. “No campo científico da Geografia, as políticas públicas de investimento para o


desenvolvimento regional são conhecidas como políticas territoriais, isto é, enquanto
atividade planejadora do Estado voltado ao enfoque regional (COSTA, 1997)” (p. 90);

2. “a SPVEA “[...] marca de maneira planejada e institucionalizada, a presença do Estado,


controlador e organizador das finanças públicas na Amazônia.” (p. 90);

3. “É nesse cenário que, sob o prisma do capitalismo, a Amazônia Legal se materializa. A


mesma é uma região arquitetada por um recorte espacial que engloba várias unidades
federativas, sem levar em conta as características morfogeológicas, de vegetação ou
geográficas, mas eminentemente para fins político-econômicos.” (p. 91);

4. “Lira (2011, p. 28) afirma que a “[...] Amazônia brasileira e Amazônia Legal
dialeticamente, se contradizem, se confirmam e se negam, dentro de um contexto onde se
define a natureza da geografia e as ideologias geográficas” (LIRA, 2011, p. 28). Para o
mesmo existe um embate dialético entre a Amazônia brasileira (do ribeirinho, do indígena,
do seringueiro, do posseiro) com a Amazônia Legal (do capital e da tecnologia), que faz
surgir a “Amazônia Ilegal”, representação do conflito que se estabelece no território,
impetrada pelo modo de produção capitalista. [...] Assim, ao discutir as políticas
desenvolvimentistas voltadas para a Amazônia, o autor verifica a presença de “várias
Amazônias” dentro da mesma região, onde apesar de compor o mesmo território há a
necessidade de desassociá-las.” (p. 92);

5. “Foi por meio dos Planos Nacionais de Desenvolvimento que as políticas de


desenvolvimento para a região amazônica se deram. Tais planos sedimentaram as diretrizes
básicas para os programas de integração e desenvolvimento da região amazônica brasileira,
arquitetada, sobretudo, pelo Regime Militar.” (p. 92);

6. “O I Plano Nacional de Desenvolvimento – I PND (1972/74) já tinha como constituição


básica a “ocupação dos espaços vazios”, uma vez que os Militares queriam preenche-los,
isto é, garantir esforços estratégicos para ocupar os espaços, com empreendimentos
capitalistas na região (Bolwerk, 2014)” (p. 93);

7. “Já o II Plano Nacional de Desenvolvimento – II PND (1975/79) tinha a finalidade de


articular a exploração de minérios com o potencial hidroelétrico da Amazônia Oriental.”
(p. 94);
8. “Santos, R. (2012) afirma que a criação do Tocantins interferiu substancialmente para que
houvesse um grande “desarranjo espacial”, tanto do ponto de vista cultural como do
socioeconômico, em relação ao antigo norte goiano. [...] o processo de urbanização
planejada pelas políticas públicas de investimentos, tanto do capital nacional quanto
internacional contribui também para esse desarranjo espacial. A ocupação demográfica e,
principalmente, o processo de integração econômica da Amazônia ao contexto nacional e
internacional foram os motivos para esse processo ter sido meticulosamente planejado
(SANTOS, R. 2012). Para Santos, R. (2012, p. 151) este fato trouxe “benefícios apenas
para uma pequena parcela da população, aquelas classes sociais de poder aquisitivo mais
elevado”” (p. 97);

9. “É importante observar que o cenário tocantinense é (assim como acontece nas demais
regiões) planejado racionalmente e de forma estratégica apoiado pelo uso do conhecimento
técnico-científico e dos financiamentos feitos pelo poder público e privado. O discurso dos
promotores do desenvolvimento é permeado pela utópica fala de prosperidade para toda a
região, melhoria de vida, menos desigualdades sociais, a saída do isolamento político-
econômico, etc. Porém, as mazelas sociais sempre aparecem. Sobre essa premissa, Santos,
R. (2012, p. 151) diz que o fato é simples, “[...] tudo é planejado não para equacionar as
questões sociais e sim, para favorecer a acumulação capitalista, em outras palavras, o
Estado paga o ônus e os donos dos meios de produção extraem a mais-valia.”” (p. 98).

4. REFERÊNCIAS INTERESSANTES

BECKER, Bertha Koiffmann; EGLER, Claúdi. Brasil: uma nova potência regional na
economia-mundo. 2ºed. Rio de Janeiro: Bertrand, 1994.

______. Ministério da Integração Nacional. Mapa das Tipologias da Política Nacional de


Desenvolvimento Regional (2010), Brasília, DF. Disponível em: < http://www.
integracao.gov.br/ > Acesso em: jan. 2014.

COSTA, Wanderlei Messias de. O Estado e as políticas territoriais no Brasil. São Paulo:
Contexto, 1997.

MONTEIRO, Maurílio de A. Meio século de mineração industrial na Amazônia e suas


complicações para o desenvolvimento regional. Estudos Avançados, vol. 19, n. 53, São Paulo,
2005, p. 187-207.

OLIVEIRA, Ariovaldo Umbelino de. Integrar para não entregar. Campinas-SP: Papirus,
1991.

SANTOS, Milton. A natureza do Espaço: técnica e tempo, razão e emoção. São Paulo: Edusp,
2012.

SANTOS, Roberto de S. A reestruturação territorial do Tocantins e seus desdobramentos


socioespaciais: um convite para a reflexão. In: PEREIRA, Aires José; SANTOS, Roberto de
S. (Orgs.) Ensaios de Geografia e educação no/do Tocantins. Goiânia: Kelps, 2008. p. 33 -
60.
______. Os condicionamentos das Políticas territoriais e do processo de territorialização dos
atores hegemônicos no desenvolvimento regional e local: uma análise crítica no contexto de
Tocantins. 2013. 354 f. Relatório Científico (Estágio de Pós-Doutoramento) – Instituto de
Estudos Socioambientais (IESA), Universidade Federal de Goiás, Campus de Goiânia – GO,
2013.

______. O projeto de modernização e as imposições do mercado globalizado. In: SANTOS,


Roberto de Souza; SILVA FILHO, Geraldo. (Orgs.). Ensaios de Geografia e História do
Tocantins: para uma interpretação crítica. Palmas - TO: NAGÕ Criações, 2012. p. 147-169.

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