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A QUESTÃO REGIONAL BRASILEIRA E O DESENVOLVIMENTO DO

NORDESTE: PANORAMA DAS POLÍTICAS FEDERAIS DE DESTAQUE ENTRE


OS ANOS 1950 E 2017

THE BRAZILIAN REGIONAL QUESTION AND THE DEVELOPMENT OF THE


NORTHEAST: A PANORAMA OF THE MAIN FEDERAL POLICIES BETWEEN
THE YEARS 1950 AND 2017

Ingrid Sora*
Claryssa Maria dos Anjos**

RESUMO: Este trabalho tem por objetivo observar a efetividade das políticas
federais elaboradas para promover o desenvolvimento regional do Nordeste do
Brasil, desde o ano de 1950 até o presente momento. O estudo faz-se importante
diante da necessidade de promoção do desenvolvimento da região nordestina,
diante da latente desigualdade regional brasileira.

PALAVRAS-CHAVE: Desenvolvimento regional; Nordeste; SUDENE.

ABSTRACT: The objective of this work is to observe the effectiveness of the federal
policies developed to promote the regional development of Northeast Brazil, from the
year 1950 to the present time. The study is important in view of the need to promote
the development of the northeastern region, given the latent regional inequality in
Brazil.

KEYWORDS: Regional development; Northeast; SUDENE.

SUBMETIDO EM 10/12/2017
APROVADO EM 24/07/2018

INTRODUÇÃO

O presente artigo se propõe a analisar as políticas federais de destaque


elaboradas para combater as desigualdades regionais observadas no Nordeste do
Brasil desde 1950, com o início da discussão acerca da 'Questão Regional', até os
dias de hoje, diante da necessidade maior atenção com a região para promover seu
desenvolvimento, tendo em vista seu quadro de profundas discrepâncias em
diversos setores quando comparado às outras regiões do país.

*
Universidade Presbiteriana Mackenzie, ingrid-sora@hotmail.com
**
Universidade Presbiteriana Mackenzie, cmsanjos@outlook.com

Rev. Fac. Direito São Bernardo do Campo | v.24 | n.1 | 2018


1 A EVOLUÇÃO HISTÓRICA DA DISCUSSÃO SOBRE A QUESTÃO
REGIONAL

Em meio à Grande Depressão de 1929, que atingiu países industrializados


pelo mundo, principalmente os Estados Unidos, em decorrência da diminuição do
consumo, aliada à quebra da Bolsa de Valores de Nova York, o Brasil produziu
rápido processo de crescimento econômico, com o investimento massivo nos
setores industriais do Sudeste, especialmente em São Paulo. No entanto, o
crescimento de São Paulo foi muito mais intenso do que do restante do país 1,
fazendo nascer uma desigualdade instalada até hoje no crescimento econômico das
regiões brasileiras.
Dessa forma, o investimento nas indústrias paulistas, com a implantação de
novos segmentos, principalmente metalúrgicos, fez com que a economia de São
Paulo fosse consolidada, atraindo multinacionais para implementação de novas
tecnologias.
Assim, com o intenso e concentrado processo de industrialização brasileira,
as atividades econômicas se acentuaram nas regiões Sudeste e Sul, em especial no
estado de São Paulo, onde ficaram estabelecidas bases concretas da indústria, o
que incentivou ainda mais a capacidade de competição dessas regiões2.
O crescimento que experimentou o país acabou por se acentuar mais em
determinadas regiões do que em outras, e, como consequência, as disparidades
sociais entre essas localidades se destacaram: algumas delas foram transformadas
em polos de desenvolvimento, enquanto outras ficaram em estagnação econômica 3.
No entanto a discrepância da forma de desenvolvimento das regiões levou à
necessidade de se pensar em políticas públicas adequadas para o desenvolvimento
de cada região especificamente, trazendo à tona a ideia de elaboração de planos
regionais de desenvolvimento, que atendessem às necessidades regionais de cada
localidade, promovendo maior e mais efetiva mudança.
Nesse contexto, o país passa, no entender do estudioso Leonardo Neto4, por
três momentos diferentes de distribuição do crescimento, quais sejam: concentração
econômica, entre 1950 e 1975, desconcentração, entre 1975 e 1985, e o
esgotamento do processo de desconcentração, entre 1985 e 1995.
Dessa forma, inicialmente percebe-se a construção da indústria nacional, em
que a economia esteve totalmente concentrada na região Sudeste. Após, com a
elaboração de políticas de desenvolvimento regional, principalmente entre os anos
1967 e 1973, houve a localização de algumas atividades em regiões periféricas.
No entanto, somente a Constituição de 1946 trouxe a preocupação com a
chamada "Questão Regional" para o cenário nacional, inspirada na concepção

1
CANO, Wilson. Da Década de 1920 à de 1930: Transição Rumo à Crise e à Industrialização no
Brasil. Revista Economia. Setembro/Dezembro, 2012.
2
NETO, Leonardo Guimarães. Desigualdades e políticas regionais no Brasil: caminhos e
descaminhos. In: Planejamento e Políticas Públicas, nº 15, 1997. p. 55-53.
3
BERCOVICI, Gilberto. Constituição econômica e desenvolvimento: uma leitura a partir da
Constituição de 1988. São Paulo, Malheiros editores. p. 88.
4
NETO, Leonardo Guimarães. Op. Cit.

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indicada pela 'Comisión Económica para América Latina e Caribe' e por intelectuais
como Celso Furtado5.
De acordo com Laurindo Mékie Pereira6, Furtado, em seu texto Uma política,
traz na primeira página os seguintes dizeres: "a disparidade de níveis de renda
existente em o Nordeste e o Centro-Sul do país constitui, sem lugar a dúvida, o mais
grave problema enfrentar a etapa presente do desenvolvimento econômico nacional”
7
, e estabelecer essa premissa significa afirmar que o problema do Nordeste seria
não apenas uma questão de interesse nacional, mas a questão mais importante do
país no plano econômico (grifos do autor).
Diante disso, conclui-se que a atuação estatal e o planejamento foram
encarados como elementos essenciais para o desenvolvimento8. A partir da
Constituição de 1946, todas as Constituições tentaram desenvolver instrumentos
constitucionais para a redução de desigualdades regionais.
Assim, o debate sobre as políticas públicas pensadas especificamente para
cada região teve maior repercussão na década de 1950. No entanto, apesar das
políticas nacionais de desenvolvimento elaboradas durante o período, ainda persistiu
grande desnível entre as regiões do país.
No Brasil, a preocupação com essa desigualdade colocou o Estado como o
principal planejador e regulador de uma ordem econômica nacional e centralizada, a
partir da implantação de grandes programas de desenvolvimento regional,
especialmente entre as décadas e 1960 e 19809.
A preocupação com o Nordeste, no entanto, apenas é notada com a criação
do Grupo de Trabalho para Desenvolvimento do Nordeste - GTDN e, após, com a
Superintendência de Desenvolvimento do Nordeste - SUDENE, o que será objeto de
estudo da segunda parte deste artigo.
Na ditadura, a Questão Regional foi rebaixada a planos administrativos,
sendo utilizada como moeda de troca que ajudava a manter a fachada as
instituições representativas e a perpetuar a ilusão de o regime era nacional para
atrair empréstimos e financiamentos dos Bancos Mundial e Interamericano de
Desenvolvimento10.
Vale ressaltar, no entanto, que a Constituição de 1988 destacou-se pela
importância dada à Questão Regional, incluindo como um dos objetivos da
República “erradicar a pobreza e a marginalização e reduzir as desigualdades
sociais e regionais”11.

5
Celso Furtado nasceu em Pombal, no estado da Paraíba, em 1920. Formou-se em Direito e fez
doutorado na Universidade de Paris (Sourbone) em 1948. Entre 1949 e 1957, Furtado trabalhou na
Comissão Econômica para a América Latina e Caribe - CEPAL.
6
PEREIRA, Laurindo Mékie. A questão regional de Antonio Gramsci e Celso Furtado. In: Topoi, v.10,
n. 18, jan-jun, 2009. p. 52.
7
Nota de Laurindo Mékie Pereira (Op. Cit): O documento Uma política, embora não assinado, é de
autoria de Celso Furtado, coordenador do GTDN - Grupo de Trabalho para o Desenvolvimento do
Nordeste.
8
BERCOVICI, Gilberto. Op. Cit. p. 25.
9
NUNES, Emanoel Márcio; SCHENEIDER, Sergio. A dinâmica desigual do desenvolvimento
regional do nordeste: o pólo Assu/Mossoró (RN). p. 2.
10
OLIVEIRA, Francisco. A questão regional: a hegemonia inacabada. Estudos avançados, 1993.
p.43.
11
Art. 3º Constituem objetivos fundamentais da República Federativa do Brasil:
(...)
III - erradicar a pobreza e a marginalização e reduzir as desigualdades sociais e regionais;

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Em seu texto, a Constituição trouxe dispositivos de interesse regional e
instituiu definitivamente o Federalismo Cooperativo como forma do federalismo
brasileiro12. Dentre os dispositivos, podemos destacar o artigo 170, em que a
Constituição estabelece que a ordem econômica deve observar a redução das
desigualdades regionais e sociais13.
O modelo cooperativo de organização federal traz como fundamento a
cooperação entre as unidades federadas, tendo por finalidade o objetivo nacional do
desenvolvimento equilibrado. Gilberto Bercovici destaca, a partir desse modelos, que
os programas de desenvolvimento passam a ser não apenas nacionais, mas
também regionais e locais, envolvendo vários entes federados14.
Ademais, sob a perspectiva econômica, as condições de produção de
riquezas pelas entidades federadas deve se dar de forma conjunta. Com isso, a
União passa a ter papel mais ativo em relação aos problemas de suas unidades
federadas, sendo responsável por sua integração.
No entanto, apesar dos interesses dispostos na Constituição, a política de
desenvolvimento regional gerou, na década de 1990, verdadeira guerra fiscal, em
que cada estado buscava atrais novos investimentos, especialmente do capital
internacional, em troca de incentivos e isenções fiscais.
Atualmente, o maior destaque internacional é direcionado às economias
emergentes, de forma que o Brasil se tornou o terceiro maior receptor de
investimentos diretos estrangeiros15 e vem perseguindo uma política de
diversificação dos parceiros comerciais e de ampliação de investimentos em
infraestrutura.
Destaca-se que em 2015, a ONU lançou os 17 Objetivos de
Desenvolvimento Sustentável – ODS para reduzir problemas mundiais e promover o
bem-estar de todos16. Nesse sentido, no Brasil, foi criada a Comissão Nacional para
ODS, em Brasília, que tem por dever apresentar as primeiras propostas de políticas
públicas pautadas exclusivamente pelos Objetivos. O Secretário Nacional de
Articulação Social, Henrique Villa, responsável pela coordenação da Comissão, já se
manifestou no sentido de que “o cumprimento da agenda 2030 é uma oportunidade
para o Brasil voltar a pensar em políticas públicas regionais” 17.
O desenvolvimento regional do país, no entanto, também deve observar as
regiões antes esquecidas, como Nordeste e Norte. Nesse sentido, faz-se necessária

12
BERCOVICI, Gilberto. Op. Cit. p. 89.
13
Artigo 170. A ordem econômica, fundada na valorização do trabalho humano e na livre iniciativa,
tem por fim assegurar a todos existência digna, conforme os ditames da justiça social, observados
os seguintes princípios:
(...)
VII – redução das desigualdades regionais e sociais.
14
Ibidem 14.
15
“Brasil atinge recorde de investimentos estrangeiros”. Matéria de 06.3.2012. Disponível em:
http://envolverde.cartacapital.com.br/brasil-atinge-recorde-de-investimentos-estrangeiros/. Acesso
em 15.9.2017.
16
‘Estratégia ODS’. Disponível em: http://www.estrategiaods.org.br/. Acesso em 18.9.2017.
17
‘Políticas regionais serão prioridade para cumprir objetivos sustentáveis da ONU, diz secretário’.
Matéria de 21.8.2017. Disponível em:
http://sustentabilidade.estadao.com.br/noticias/geral,politicas-regionais-serao-prioridades-para -
cumprir-objetivos-sustentaveis-da-onu-diz-secretario,70001944603. Acesso em 30.8.2017.

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a análise do desenvolvimento regional específico da região Nordeste, que será
objeto de maior atenção no tópico seguinte.

2 POLÍTICAS FEDERAIS DE DESENVOLVIMENTO DO NORDESTE NO


GOVERNO JUSCELINO KUBITSCHEK

O marco de início de implementação de políticas de desenvolvimento no


Nordeste foi durante o governo de Juscelino Kubitschek, no ano de 1957, a
instituição do GTDN, sob o comando de Celso Furtado. O Grupo propôs, por meio
do documento “Uma Política de Desenvolvimento econômico para o Nordeste” 18,
que a estratégia de desenvolvimento se pautasse em elementos caraterísticos da
realidade regional, estabelecendo mudanças estruturais baseadas no investimento
em indústrias e elevação da produtividade da agricultura nas zonas úmida e
semiárida19.
Com a criação do GTDN, Celso Furtado indicou que o problema dos níveis
de pobreza do Nordeste não estaria relacionado ao clima semiárido, mas sim a
diversos outros fatores, tais como o predomínio de agricultura de subsistência e a
informalidade nas relações trabalhistas, com exclusão dos trabalhadores do
processo produtivo20.
Assim, o Grupo de Trabalho para o Desenvolvimento do Nordeste
estabeleceu políticas de desenvolvimento regional com incentivos e regulação do
Estado, através da SUDENE, órgão criado em 1958 também por Furtado21.
No famoso relatório do GTDN, escrito por Furtado em 1958, foi demonstrado
que a renda per capita da Região Nordeste era inferior a 1/3 da Região Centro-Sul
do Brasil, obtendo-se as conclusões a partir de fundamentos históricos de
colonização regional como determinantes dessa dicotomia social da região
nordestina, sendo determinantes (i) a questão do trabalho escravo; (ii) o
desenvolvimento de uma economia exportadora que criou sua própria periferia no
interior e; (iii) a organização de fazendas que se baseava no controle da terra e na
criação de uma população camponesa sem terra e sem salário, a qual trabalhava
para o dono da terra em troca de utilização da terra para a subsistência familiar22.
De acordo com o relatório, as relações econômicas do Nordeste
demonstravam inicialmente a existência de superávits do comércio com o exterior,
os quais eram transferidos para financiar importações do Centro-Sul, beneficiando
esta região.

18
SUDENE. Uma política de desenvolvimento econômico para o Nordeste. Recife, 1957.
Disponível em: http://www.sudene.gov.br/images/2017/arquivos/PDEN_-_segunda_edicao.pdf.
Acesso em 18.9.2017.
19
CARVALHO, José Otamar de. Políticas adotadas após a instituição da Sudene. In:
Desenvolvimento regional: um problema político. 2ª ed. Campina Grande: EDUEPB, 2014, p.206.
20
GUIMARÃES, Paulo Ferraz; AGUIAR, Rodrigo Almeida de; LASTRES, Helena Maria Martins;
SILVA, Marcelo Machado da. Um olhar territorial para o desenvolvimento: Nordeste. Rio de
Janeiro: BNDES, 2014.
21
NUNES, Emanoel Márcio; SCHENEIDER, Sergio. Op. Cit. p. 3.
22
DINIZ, Clélio Campolina. A questão regional e as políticas públicas governamentais do Brasil.
Texto para discussão - UFMG. Belo Horizonte: 2001. p. 6.

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De acordo com Clélio Campolina Diniz23:
O Nordeste se constituía em importante mercado para a produção do
Centro-Sul, beneficiando duplamente essa região. (...) O Nordestes
exportava bens primários para o Centro-Sul e importava bens
industrializados deste, com a desvantagem que estava
impossibilitado de importar bens industrializados do exterior, pelas
barreiras alfandegárias ou outros mecanismos que protegiam a
indústria brasileira e, por conseguinte, a Região Centro-Sul. (...) Os
recursos públicos destinados para o Nordeste, que compensava em
parte a saída dos privados, demonstravam que s recursos privados
visavam investimentos produtivos no Centro-Sul e os recursos
públicos que entravam no Nordeste eram fundamentalmente para a
assistência aos flagelados pelas secas e, portanto, não criavam
capacidade produtiva.
Dada à limitação de terras férteis e os problemas climáticos que se
acrescentavam a todo esse quadro, concluía o relatório que a única saída para o
Nordeste era a industrialização e optar entre "despovoar-se ou permanecer na
região com baixíssimo nível de renda"24.
O plano de ação apresentado pelo GTDN após as análises descritas
baseava nas seguintes diretrizes:
(i) intensificação dos investimentos industriais, visando a criar no
Nordeste um 'centro autônomo de expansão manufatureira;
(ii) transformação da economia agrícola da faixa úmida, com vistas a
proporcional uma oferta adequada de alimentos nos centros urbanos,
cuja industrialização deverá ser intensificada;
(iii) transformação progressiva da economia nas zonas semiáridas no
sentido de elevar sua produtividade e torná-la mais resistente ao
impacto das secas e;
(iv) descolamento da fronteira agrícola do Nordeste, visando
incorporar à economia da região terras úmidas do hinterland
maranhense25.
Após, a SUDENE, criada pela Lei n° 3.692/1959, deu início a uma fase de
maior coordenação das políticas regionais, a fim de reduzir a desigualdade entre as
regiões do país. O organismo foi também responsável pela elaboração de diversos
planos diretores que planejavam a ação governamental de incentivo ao
desenvolvimento do Nordeste, principalmente no que se refere ao combate à
indústria das secas. A Superintendência concedia, ainda, incentivos fiscais e
financeiros às empresas, a fim de atrair seus investimentos para a região.
O primeiro plano diretor elaborado pela SUDENE dispunha acerca de
investimentos em energia elétrica, transportes, além da estruturação da economia
rural, principalmente com reservas alimentares, e do projeto de construção de canais
de irrigação. Além desse, a superintendência elaborou mais três outros planos,
todos objetivando o planejamento de medidas para o desenvolvimento da região.
Em 1964, a SUDENE foi unida ao Ministério do Interior, o que de certa forma
enfraqueceu sua autonomia e atuação, tendo suas atividades encerradas em 2001,
23
Idem.
24
Ibidem.
25
SUDENE. Uma política de desenvolvimento econômico para o Nordeste. Recife: 1957.
Disponível em: http://www.sudene.gov.br/images/2017/arquivos/PDEN_-_segunda_edicao.pdf.
Acesso em 18.9.2017.

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por ter supostamente desviado seus objetivos, favorecendo interesses individuais.26
No entanto, foi recriada no ano de 2007, pela Lei Complementar nº 125, com a
atribuição de propor diretrizes para sua área de atuação, principalmente com a
atração de investimentos.
Durante a ditadura, a SUDENE teve um relativo avanço, mas não se destaca
que o Nordeste teve dificuldades, tendo a Questão Regional ficado em um plano
administrativo, na concepção de alguns autores27. Apesar das mudanças políticas
introduzidas a partir do golpe de 1964, as expectativas de melhora no quadro
nordestino fizeram com que fossem montados mecanismos de políticas e incentivos
para o Nordeste que prevalecem até hoje.
Vale ressaltar que um dos indicativos de sucesso da SUDENE é o fato de
seu modelo ter sido estendido a outras regiões, como Norte e Centro-Oeste, por
meio da estruturação do polo industrial de Manaus e da criação das agências
Superintendência de Desenvolvimento da Amazônia (SUDAM) e Superintendência
do Desenvolvimento do Centro-Oeste (SUDECO). Os referidos organismos, assim
como a SUDENE, também promoviam incentivos fiscais para a atração de empresas
para a região.
De 1959 a 1960, a economia no Nordeste começou a ser orientada por
políticas diferentes das praticadas até então. As ações executadas seguiram
definições e diretrizes, como as estabelecidas pelo Conselho de Desenvolvimento
do Nordeste - CODENO, sucessor do GTDN, que alicerçaram toda a atuação
governamental posterior, tomando por base a estratégia do GTDN28, já
anteriormente apresentada.
Nos quarenta anos que se seguiram após o governo de Juscelino
Kubitschek - que durou até 1961-, o diagnóstico era de que a solução da disparidade
de rendas regionais era o aumento da industrialização nas regiões menos
desenvolvidas, por meio de concessão de incentivos fiscais e creditícios. Segundo o
entendimento que prevalecia à época, os incentivos motivariam as empresas a se
instalarem nessas regiões. Isto se dava, principalmente, diante da experiência
observada na região Sudeste.

3 AS POLÍTICAS DE DESENVOLVIMENTO DO NORDESTE NO PÓS


JUSCELINO KUBISCHEK

Para a avaliação das políticas de desenvolvimento do Nordeste após o


Governo JK, partiremos do trabalho do José Otamar de Carvalho 29, que destaca que
no período 1961 a 1971, foram elaborados quatro Planos Diretores, sendo o primeiro
o mais completo dos planos.
O primeiro Plano (1961-1963) visava reestruturar a economia rural; utilizar
terras subutilizadas; desenvolver atividades e promover maior utilização dos

26
‘A criação da Sudene’. Disponível em: http://cpdoc.fgv.br/producao/dossies/JK/
artigos/Economia/Sudene. Acesso em 17.9.2017.
27
OLIVEIRA, Francisco. Op. Cit.
28
CARVALHO, José Otamar de. Op. Cit.
29
Idem.

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recursos naturais. O segundo Plano (1963-1965) objetivava a estruturação agrária
visando o aproveitamento de terras e absorção dos excedentes de mão e obra
principalmente, e, para alcançar tais objetivos, pretendia o Governo Federal criar
uma moderna infraestrutura de serviços de transporte e energia e o aproveitamento
dos recursos naturais da região, com a promoção da iniciativa privada.
Já o terceiro Plano (1966-1868) difere dos Planos anteriores porque deu
mais ênfase à utilização dos recursos humanos da Região e buscou o
reaparelhamento das instituições encarregadas da execução de seus programas. O
Plano objetivava aumentar a renda per capta do Nordeste; promover a integração
espacial e setorial da economia nordestina; criar novas oportunidades de emprego;
elevar a taxa de crescimento da produção primária para aumentar oferta de
alimentos e; alargar as possibilidades de acesso aos benefícios do desenvolvimento.
Por sua vez, o quarto Plano Diretor (1969-1973) se deu em um quadro com
diferenças relevantes. Nesse momento, a SUDENE não se subordinava mais à
Presidência da República, característica que perdeu em 1964, respondendo então
ao Ministério do Interior-Minter, que assumiu as responsabilidades relativas ao
desenvolvimento regional.
O quarto Plano objetivou um ritmo de crescimento da economia que
permitisse a continuidade do processo até então existente e a melhoria do nível de
vida da população. As linhas de ação consequentes se assemelharam às
estabelecidas nos planos anteriores.
No período posterior a 1972, os documentos concebidos no período
observaram uma sistemática diversa da observada até então, seguindo um ideal de
centralização no âmbito nacional das decisões relativas ao desenvolvimento da
região Nordeste. Em 1971, a SUDENE foi instada pelos Atos Complementares nº 43
e 17 a preparar um Plano de Desenvolvimento para a região.
Esse ‘Plano de Desenvolvimento do Nordeste’ foi de 1972 a 1974, seguindo
a linha dos Planos Diretores anteriores, mas consolidando a programação do
Governo Federal para a região, os programas de diferentes estados e de iniciativas
privadas. Essa unidade programática e administrativa foi e é uma das preocupações
básicas da SUDENE.
O Plano de Desenvolvimento elaborado para o período 1972-1974 tinha
como objetivos, incorporar o Nordeste no processo de desenvolvimento, e a
estratégia de implementação desse plano envolveu a intensificação de investimentos
industriais; reestruturação da economia agrícola da região; ampliação da oferta e
utilização intensiva dos recursos naturais disponíveis e; dinamização das atividades
que envolvessem ciência e tecnologia.
A política de desenvolvimento do Nordeste vigorou entre 1975-1979, e para
o período a SUDENE preparou o Programa de Ação do Governo para o Nordeste,
que objetivava a integração do Nordeste ao processo de desenvolvimento do país,
aliando novos planejamentos ao que já foi traçado anteriormente nos outros Planos.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Dessa forma observamos que, no início, as políticas de incentivo e


desenvolvimento eram concentradas nas regiões Sudeste e Sul, o que provocou seu
maior crescimento diante das demais regiões do país.

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Com a Constituição de 1946, passou-se a se preocupar com a ‘Questão
Regional’, envolvendo diversos organismos e atores da sociedade na elaboração de
políticas de desenvolvimento da região Nordeste, principalmente com a criação da
SUDENE.
Atualmente, o Brasil vem expandindo seu número de universidades federais,
rede de escolas técnicas e institutos federais tecnológicos, inclusive em regiões
menos desenvolvidas do país. O projeto de expansão universitária, por exemplo,
previu que, no ano de 2014 fossem abertas 250 mil vagas em universidades e 600
mil em institutos de educação, ciência e tecnologia30.
Além disso, estão em curso políticas federais, estaduais e municipais e de
participação social, inclusive por meio de redes sociais, a fim de garantir
protagonismo da população nos movimentos sociais e nos projetos de
desenvolvimento. Isto permite maior aderência da população aos projetos
elaborados pelo Governo, além de promover a transparência das gestões,
garantindo sua maior eficácia31.
Entretanto, ainda não existe uma resposta quanto à forma de transformar as
tendências positivas que vem se apresentando pelo Brasil e ao Brasil em efetivas
condições sociais melhores e que extingam as desigualdades regionais. Além disso,
os instrumentos de política e de desenvolvimento regional são ainda insuficientes
para se iniciar um ciclo de diminuição das desigualdades.
Portanto, podemos concluir que, apesar dos inúmeros planos de incentivo ao
desenvolvimento do Nordeste, e das ações nele focados, a região ainda carece de
projetos que efetivamente reduzam as desigualdades sociais presentes na região.

REFERÊNCIAS

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Rev. Fac. Direito São Bernardo do Campo | v.24 | n.1 | 2018

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