Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
Resumo
O objetivo central deste trabalho é analisar as políticas econômicas, que definiram as grandes
linhas do planejamento regional, desde o Pós II Guerra até meados da década de 1990 com base nos
principais marcos institucionais referentes às políticas regionais no Brasil. São discutidos aqui,
assim, os principais programas que visavam promover o desenvolvimento regional, reduzir as
desigualdades espaciais, ampliar a integração nacional, desconcentrar o desenvolvimento
econômico e corrigir os desequilíbrios setoriais e sociais.
A hipótese básica é a de que o Governo Federal Brasileiro, em consonância com as demandas
políticas regionais, buscou promover tais objetivos através de normas institucionais que
expressavam, num grau considerável, a pressão política das elites regionais.
Já foram realizadas diversas avaliações desses programas. Agora, resta sistematizá-los e definir
suas principais tendências macroespaciais. As normas legais que fundamentaram tais tendências
são aqui consideradas no quadro geral das principais concepções teóricas relativas ao
desenvolvimento regional no Brasil.
Num segundo momento, o texto analisa o momento caracterizado pelo fim do regime militar, a crise
econômica e a democratização, associado ao neoliberalismo e à globalização. O texto argumenta
que o novo municipalismo que emerge neste contexto representa avanços em termos de políticas
sociais locais, porém vem impedindo a emergência de articulações supra-locais a exemplo da gestão
metropolitana.
Palavras-Chave – políticas regionais, municipalismo, Brasil.
*
Uma primeira versão desse artigo foi apresentada em Mesa-Redonda do VI Encontro Nacional da Associação Nacional de
Pós-Graduação e Pesquisa e em Planejamento Urbano e Regional (ANPUR) realizado em Brasília em maio de 1995. Sua
publicação foi autorizada por Ana Luiza Nabuco Palhano, filha da autora. A Comissão Editorial, atendendo às normas de
publicação da revista, acrescentou ao texto o resumo e o correspondente abstract.
etc..., espaço, tempo e crítica. N° 2 (6), VOL. 1, 15 de setembro de 2007, ISSN 1981-3732 65
Recebido para Publicação em 30.06.2007.
Maria Regina Nabuco
Many evaluations of these programs have already been made. Now it is time to organize them and
to define their main macrospatial trends. The supporting legislation is considered within the
general framework of the main theoretical conceptions concerning regional development in Brazil.
Secondly the paper analyses the moment characterized by the end of the military regime, economic
crisis, and democracy, associated to neoliberalism and globalization. It argues that the new
municipalism that emerges in such context constitutes real improvement in local social policies, but
is also a hindrance to supra-local political articulations, such as metropolitan policies.
Key- Words – regional policies, municipalism, Brazil
etc..., espaço, tempo e crítica. N° 2(6), VOL. 1, 15 de setembro de 2007, ISSN 1981-3732 66
A (des)institucionalizacão das políticas regionais no Brasil?
etc..., espaço, tempo e crítica. N° 2(6), VOL. 1, 15 de setembro de 2007, ISSN 1981-3732 67
Maria Regina Nabuco
etc..., espaço, tempo e crítica. N° 2(6), VOL. 1, 15 de setembro de 2007, ISSN 1981-3732 68
A (des)institucionalizacão das políticas regionais no Brasil?
etc..., espaço, tempo e crítica. N° 2(6), VOL. 1, 15 de setembro de 2007, ISSN 1981-3732 69
Maria Regina Nabuco
etc..., espaço, tempo e crítica. N° 2(6), VOL. 1, 15 de setembro de 2007, ISSN 1981-3732 70
A (des)institucionalizacão das políticas regionais no Brasil?
etc..., espaço, tempo e crítica. N° 2(6), VOL. 1, 15 de setembro de 2007, ISSN 1981-3732 71
Maria Regina Nabuco
Rio Grande do Sul e São Paulo, em geral SUDENE. Os recursos eram provenientes,
expulsos do campo pela expansão da principalmente, da alíquota de 20%
produção da soja e da cana-de-açúcar incidente sobre o total das importâncias
(Projeto Pro-Álcool). Sem infra-estrutura deduzidas do imposto sobre a renda das
adequada, e sem apoio técnico e jurídico, pessoas jurídicas (incentivo fiscal).
estes assentamentos logo se
O PROTERRA, assim como o PIN
transformaram em propriedades de
(Plano de Integração Nacional) na área da
"grileiros", devastando as matas e
SUDAM, visavam, na sua concepção
explorando recursos minerais.
original, reorientar o modelo de
Com a alta dos preços do petróleo nos desenvolvimento regional, baseado na
Anos Setenta, os primeiros resultados da industrialização via substituição de
expansão demográfica e econômica para a importações. Este modelo privilegiava o
Amazônia, onde os insucessos da desenvolvimento urbano, em detrimento
pesquisa tecnológica com respeito à das grandes parcelas populacionais do
possibilidade de uma agricultura racional meio rural.
já se verificavam, a região perdeu
Desta forma, estes dois programas
importância como objetivo de programas
direcionariam seus esforços para as
de desenvolvimento regional. A
principais causas da pobreza rural:
produtividade agrícola era baixa, o
desigual distribuição e utilização da terra
controle climático era impossível de ser
e deficiente integração regional. Os
obtido, os capitalistas do sul já haviam
instrumentos utilizados pelo PROTERRA
"fechado" as melhores terras à
foram os seguintes: aquisição ou
continuidade da expansão da fronteira e,
desapropriação de terras julgadas de
ademais, os custos de transporte da
interesse social; empréstimos fundiários
região aos mercados consumidores do
para pequenos e médios produtores
Centro-Sul tornavam-se proibitivos com
rurais; financiamento de projetos
os então elevados preços dos
destinados à expansão da agroindústria;
combustíveis.
subsídio ao uso de insumos modernos;
garantia de preços mínimos para os
3.3. As políticas regionais para produtos exportáveis; e assistência
ocupação da fronteira agrícola financeira aos serviços de pesquisa
brasileira agrícola, sistemas de armazenagem,
comercialização, transporte, energia
elétrica e outros.
A partir de meados dos Anos Setenta,
surgem os grandes programas federais No período de 1974/86, o Tesouro
para a expansão agrícola e agroindustrial Nacional destinou cerca de US$ 5,1
do Centro-Oeste do País. bilhões para aplicação nos programas de
investimentos do PIN. De acordo com a
Estes programas foram antecedidos em
Tabela 5, podemos observar que a
termos da preocupação comum em
transferência de recursos atingia uma
relação ao estímulo à agricultura e à
média anual de 395,7 milhões de dólares,
agroindústria, pelo PROTERRA
importância muito superior às médias
(Programa de Redistribuição de Terras e
anuais do FINAM (US$ 115 milhões) e do
de Estímulo à Agroindústria do Norte e
FINOR (287 milhões).
do Nordeste). Criado em 1971 (Decreto-lei
nº 1179, de 06.07.71), o PROTERRA tinha Também no período de 1974/86, o
como objetivo básico facilitar o acesso do PROTERRA foi responsável pela captação
homem à terra e promover a de US$ 3,4 bilhões, que eram valores
agroindústria da região compreendida líquidos disponíveis para aplicação.
nas áreas de atuação da SUDAM e da
etc..., espaço, tempo e crítica. N° 2(6), VOL. 1, 15 de setembro de 2007, ISSN 1981-3732 72
A (des)institucionalizacão das políticas regionais no Brasil?
etc..., espaço, tempo e crítica. N° 2(6), VOL. 1, 15 de setembro de 2007, ISSN 1981-3732 73
Maria Regina Nabuco
etc..., espaço, tempo e crítica. N° 2(6), VOL. 1, 15 de setembro de 2007, ISSN 1981-3732 74
A (des)institucionalizacão das políticas regionais no Brasil?
etc..., espaço, tempo e crítica. N° 2(6), VOL. 1, 15 de setembro de 2007, ISSN 1981-3732 75
Maria Regina Nabuco
etc..., espaço, tempo e crítica. N° 2(6), VOL. 1, 15 de setembro de 2007, ISSN 1981-3732 76
A (des)institucionalizacão das políticas regionais no Brasil?
etc..., espaço, tempo e crítica. N° 2(6), VOL. 1, 15 de setembro de 2007, ISSN 1981-3732 77
Maria Regina Nabuco
etc..., espaço, tempo e crítica. N° 2(6), VOL. 1, 15 de setembro de 2007, ISSN 1981-3732 78
A (des)institucionalizacão das políticas regionais no Brasil?
etc..., espaço, tempo e crítica. N° 2(6), VOL. 1, 15 de setembro de 2007, ISSN 1981-3732 79
Maria Regina Nabuco
etc..., espaço, tempo e crítica. N° 2(6), VOL. 1, 15 de setembro de 2007, ISSN 1981-3732 80
A (des)institucionalizacão das políticas regionais no Brasil?
Desta forma, a grande proposta conflitos locais não podem ser localmente
regionalizante da Constituição de 1988 foi contidos. Eles devem atingir as arenas
a descentralização administrativa, onde regionais e nacionais porque, caso
sua face mais visível é a municipalização. contrário, não terão eficácia permanente.
Não é coincidência que a este processo O objetivo de longo prazo das políticas
corresponda, a nível mundial, o locais é reequilibrar a estrutura de poder
fenômeno da globalização, onde as na sociedade. (Friedmann, 1992) e,
“cidades mundiais” ocupam papel de portanto, deve direcionar-se a âmbitos
destaque na produção, concentração e regionais mais amplos, que envolvem
distribuição de riquezas. Os serviços regiões metropolitanas, municípios
modernos ligados à produção industrial vizinhos, unidades federativas, reservas
(financeiros, de pesquisa e ambientais, zonas agroecológicas, bacias
desenvolvimento, consultoria, fluviais, etc.
informática, etc) adquiram maiôs
importância, quer como geradores de 6. Emergência do municipalismo
excedente e emprego, quer como
polarizadores de atividades industriais e Desta forma, os quase cinqüenta anos
agrícolas. de institucionalização das políticas
regionais para o Brasil podem ser
Ao ganhar maior autonomia classificados em pelo menos quatro
financeira, os municípios adquirem real formas de intervenção pública. Os anos
especialidade, no sentido de maior compreendidos entre os primeiros
capacidade de formuladores de política. programas de desenvolvimento regional
Ganha também maior dimensão p implementados dentro do espírito da
localismo, onde a vizinhança, os Constituição de 1946 e o início dos Anos
movimentos comunitários e as variadas Setenta representam uma política que
normas de integração social (religião, privilegiou o combate ao atraso via ações
educação etc) são fatores rapidamente territoriais, de caráter
colocados na agenda do desenvolvimento geográfico/climático. O “círculo vicioso
econômico e social. da pobreza” foi aqui detectado como
Este tipo de movimento causado principalmente pelas
administrativo/espacial tem raízes no desvantagens comparativas das regiões
neoliberalismo dos Anos Oitenta, quando atrasadas (problemas da seca, baixa
ressurge o mito de que apenas as fertilidade das terras). Uma visão mais
comunidades são morais e autônomas, refinada desta interpretação é
enquanto o Estado apresenta-se representada pelas análises da SUDENE
intrinsecamente burocrático, corrupto e que aponta, ademais, a organização
dominado pelas elites. Este é um econômica e social da agricultura
equívoco não só de princípios, como nordestina, como um dos fatores
também de política econômica. O fundamentais do atraso.
desenvolvimento econômico e social pode O governo militar implantado em 1964
iniciar-se localmente, através da demanda inicia um novo ciclo de políticas
e pressões de comunidades e grupos regionais, caracterizado pelo extremo
organizados, mas sem o apoio dos centralismo das decisões políticas e pela
governos municipais, estaduais e federal, ênfase em políticas de integração
pouco se pode fazer. A ação local para o regional. O Nordeste deixa de ser a
poder requer um estado forte. Os principal região alvo de políticas,
incluindo-se outras áreas também
Centro-Oeste), de 2% para 3%. No total, esta
relevantes: Amazônia e Centro-Oeste.
descentralização significou uma ampliação de 33% para Reforça-se o sistema do desenvolvimento
47% destas transferências.
regional via incentivos fiscais, unindo-se
etc..., espaço, tempo e crítica. N° 2(6), VOL. 1, 15 de setembro de 2007, ISSN 1981-3732 81
Maria Regina Nabuco
etc..., espaço, tempo e crítica. N° 2(6), VOL. 1, 15 de setembro de 2007, ISSN 1981-3732 82
A (des)institucionalizacão das políticas regionais no Brasil?
etc..., espaço, tempo e crítica. N° 2(6), VOL. 1, 15 de setembro de 2007, ISSN 1981-3732 83
Maria Regina Nabuco
etc..., espaço, tempo e crítica. N° 2(6), VOL. 1, 15 de setembro de 2007, ISSN 1981-3732 84
A (des)institucionalizacão das políticas regionais no Brasil?
etc..., espaço, tempo e crítica. N° 2(6), VOL. 1, 15 de setembro de 2007, ISSN 1981-3732 85
Maria Regina Nabuco
etc..., espaço, tempo e crítica. N° 2(6), VOL. 1, 15 de setembro de 2007, ISSN 1981-3732 86
A (des)institucionalizacão das políticas regionais no Brasil?
etc..., espaço, tempo e crítica. N° 2(6), VOL. 1, 15 de setembro de 2007, ISSN 1981-3732 87