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EXCELENTÍSSIMO SENHOR DESEMBARGADOR RELATOR DO

TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE RONDÔNIA

O GOVENADOR DO ESTADO DE RONDÔNIA, no uso de suas


atribuições constitucionais, vem propor a presente AÇÃO DIRETA DE
INCONSTITUCIONALIDADE, com pedido de MEDIDA CAUTELAR, objetivando a
declaração de inconstitucionalidade da Lei nº 4.228/2017 e dos Decretos
Legislativos de nº 790/2018, 791/2018, 792/2018, 793/2018, 794/2018, 795/2018,
796/2018¸ 797/2018¸ 798/2018¸ 799/2018 e 800/2018, todos editados pela
ASSEMBLEIA LEGISLATIVA DO ESTADO DE RONDÔNIA, pelas razões de fato
e de direito a seguir expostas:

I – DOS ATOS NORMATIVOS IMPUGNADOS:

A presente ação direta de inconstitucionalidade tem por objetivo a


declaração de inconstitucionalidade dos seguintes atos normativos (DOCs. 01, 02
e 03):

1) LEI Nº 4.228, DE 18 DE DEZEMBRO DE 2017, que “Dispõe sobre a


criação de reserva florestal pelo Poder Executivo do Estado de Rondônia”,
publicada no Diário Oficial do Estado nº 239, de 21 de dezembro de 2017;

2) DECRETO LEGISLATIVO Nº 790, DE 28 DE MARÇO DE 2018, que


“Susta os efeitos do Decreto nº 22.690, de 20 de março de 2018, que
„Dispõe sobre a criação da Estação Ecológica Soldado da Borracha, nos
Municípios de Porto Velho e Cujubim, no Estado de Rondônia, e dá outras
providências'”;

Procuradoria Geral do Estado


Av. Farquar, 2986, Palácio Rio Madeira, Ed. Rio Pacaás Novos - 7º andar, 3216-5129, Porto Velho/RO, Telefone: (69)
3216-5060, E-mail: gabinete@pge.ro.gov.br
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3) DECRETO LEGISLATIVO Nº 791, DE 28 DE MARÇO DE 2018, que
“Susta os efeitos do Decreto nº 22.682, de 20 de março de 2018, que
„Dispõe sobre a criação da Estação Ecológica Umirizal, no Município de
Porto Velho, no Estado de Rondônia, e dá outras providências‟”;

4) DECRETO LEGISLATIVO Nº 792, DE 28 DE MARÇO DE 2018, que


“Susta os efeitos do Decreto nº 22.689, de 20 de março de 2018, que
„Dispõe sobre a criação da Reserva de Desenvolvimento Sustentável Bom
Jardim, no Município de Porto Velho, no Estado de Rondônia, e dá outras
providências'”;

5) DECRETO LEGISLATIVO Nº 793, DE 28 DE MARÇO DE 2018, que


“Susta os efeitos do Decreto nº 22.687, de 20 de março de 2018, que
„Dispõe sobre a criação da Reserva de Desenvolvimento Sustentável
Serra Grande, no Município de Costa Marques, no Estado de Rondônia, e
dá outras providências‟”;

6) DECRETO LEGISLATIVO Nº 794, DE 28 DE MARÇO DE 2018, que


“Susta os efeitos do Decreto nº 22.686, de 20 de março de 2018, que
„Dispõe sobre a criação da Reserva de Desenvolvimento Sustentável
Limoeiro, no Município de São Francisco do Guaporé, no Estado de
Rondônia, e dá outras providências'”;

7) DECRETO LEGISLATIVO Nº 795, DE 28 DE MARÇO DE 2018, que


“Susta os efeitos do Decreto nº 22.685, de 20 de março de 2018, que
„Dispõe sobre a criação da Reserva de Desenvolvimento Sustentável Rio
Machado, no Município de Porto Velho, no Estado de Rondônia, e dá
outras providências‟”;

8) DECRETO LEGISLATIVO Nº 797, DE 28 DE MARÇO DE 2018, que


“Susta os efeitos do Decreto nº 22.688, de 20 de março de 2018, que
„Dispõe sobre a criação do Parque Estadual Ilha das Flores, no Município
de Alta Floresta D‟ Oeste, no Estado de Rondônia, e dá outras
providências‟”;

9) DECRETO LEGISLATIVO Nº 798, DE 28 DE MARÇO DE 2018, que


“Susta os efeitos do Decreto nº 22.684, de 20 de março de 2018, que
„Dispõe sobre a criação do Parque Estadual Abaitará, no Município de
Pimenta Bueno, no Estado de Rondônia, e dá outras providências'”;

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10) DECRETO LEGISLATIVO Nº 800, DE 28 DE MARÇO DE 2018,
que “Susta os efeitos do Decreto nº 22.683, de 20 de março de 2018, que
„Dispõe sobre a criação da Reserva de Fauna Pau D‟Óleo, no Município
de São Francisco do Guaporé, no Estado de Rondônia, e dá outras
providências‟”;

11) DECRETO LEGISLATIVO Nº 796, DE 28 DE MARÇO DE 2018,


que "Susta os efeitos do Decreto nº 22.680, de 20 de março de 2018, que
„Dispõe sobre a Área de Proteção Ambiental do Rio Pardo, criada pela Lei
Complementar Estadual nº 581, de 30 de junho de 2010, e dá outras
providências'”;

12) DECRETO LEGISLATIVO Nº 799, DE 28 DE MARÇO DE 2018,


que "Susta os efeitos do Decreto nº 22.681, de 20 de março de 2018, que
'Dispõe sobre a Floresta Estadual do Rio Pardo, criada pela Lei
Complementar Estadual nº 581, de 30 de junho de 2010, e dá outras
providências'".

Como será demonstrado ao longo da presente petição inicial, todos os


atos normativos ora impugnados, ao diminuírem o padrão de proteção ambiental
no Estado de Rondônia e até extinguirem espaços territoriais especialmente
protegidos, ofendem mandamentos constitucionais explícitos e implícitos,
justificando, por esses motivos, a propositura da presente ação direta
inconstitucionalidade.

II – DOS FATOS:

Com o objetivo de defender o meio ambiente ecologicamente equilibrado e


preservá-lo para as presentes e futuras gerações, o ESTADO DE RONDÔNIA, por
intermédio de seu Poder Executivo, procedeu à criação, no dia 20 de março de
2018, de 9 (nove) unidades de conservação, ao mesmo tempo em que
regulamentou 2 (duas) unidades preexistentes (APA do Rio Pardo e FES do Rio
Pardo), garantindo, dessa forma, a preservação de uma área total de

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aproximadamente 600 mil hectares de vegetação nativa, distribuída por diversos
municípios, conforme se observa do mapa abaixo colacionado:

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As novas unidades de conservação foram criadas por meio dos seguintes
decretos do Poder Executivo, todos publicados no Diário Oficial do Estado nº 54,
de 20 de março de 2018 (DOC. 04):

Decretos Objeto
Decreto nº 22.682, de 20 de março de Cria a Estação Ecológica Umirizal, no
2018. Município de Porto Velho.
Decreto nº 22.683, de 20 de março de Cria a Reserva de Fauna Pau D‟Óleo, no
2018. Município de São Francisco do Guaporé.
Decreto nº 22.684, de 20 de março de Cria o Parque Estadual Abaitará, no
2018. Município de Pimenta Bueno.
Decreto nº 22.685, de 20 de março de Cria a Reserva de Desenvolvimento
2018. Sustentável Rio Machado, no Município de
Porto Velho.
Decreto nº 22.686, de 20 de março de Cria a Reserva de Desenvolvimento
2018 Sustentável Limoeiro, no Município de São
Francisco do Guaporé.
Decreto nº 22.687, de 20 de março de Cria a Reserva de Desenvolvimento
2018. Sustentável Serra Grande, no Município de
Costa Marques.
Decreto nº 22.688, de 20 de março de Cria o Parque Estadual Ilha das Flores, no
2018. Município de Alta Floresta D‟ Oeste.
Decreto nº 22.689, de 20 de março de Cria a Reserva de Desenvolvimento
2018. Sustentável Bom Jardim, no Município de
Porto Velho.
Decreto nº 22.690, de 20 de março de Cria a Estação Ecológica Soldado da
2018. Borracha, nos Municípios de Porto Velho e
Cujubim.

Por sua vez, a regulamentação da APA do Rio Pardo e da FES do Rio


Pardo ocorreu por meio dos seguintes decretos do Poder Executivo, também
publicados no Diário Oficial do Estado nº 54, de 20 de março de 2018 (DOC. 04):

Decretos Objeto
Dispõe sobre a Área de Proteção Ambiental
Decreto nº 22.680, de 20 de março de do Rio Pardo, criada pela Lei Complementar
2018. Estadual nº 581, de 30 de junho de 2010, e
dá outras providências.
Dispõe sobre a Floresta Estadual do Rio
Decreto nº 22.681, de 20 de março de Pardo, criada pela Lei Complementar
2018. Estadual nº 581, de 30 de junho de 2010, e
dá outras providências.

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Para subsidiar a definição da localização, da dimensão e dos limites mais
adequados para as 9 (nove) unidades de conservação recém-criadas, o ESTADO
DE RONDÔNIA, por intermédio de sua Secretaria de Estado do Desenvolvimento
Ambiental - SEDAM, procedeu à realização de todos os estudos técnicos e
consultas públicas exigidos pela legislação de regência.

Os referidos estudos técnicos e consultas públicas foram realizados entre


os anos de 2013 e 2018 e evidenciaram, de forma clara e inequívoca, o interesse
público na proteção dos espaços territoriais em apreço, por abrigarem nascentes
de diversos cursos d‟água e uma grande variedade de espécies da fauna e da
flora, conforme se verifica dos processos administrativos juntados em anexo
(DOCs. 05, 06, 07, 08, 09, 10, 11, 12, 13 e 14).

Por outro lado, no que diz respeito especificamente aos decretos que
regulamentaram a APA do Rio Pardo e a FES do Rio Pardo, é relevante
esclarecer que, ao editar tais atos normativos, o Chefe do Poder Executivo tão
somente cumpriu sentença da 1ª Vara da Fazenda Pública da Comarca de Porto
Velho (DOC. 15), proferida nos autos do processo nº 0017310-42.2014.8.22.0001,
que condenou o ESTADO DE RONDÔNIA a definir os limites territoriais, o perfil
dos ocupantes e as atividades econômicas permitidas nas citadas unidades, nos
seguintes termos:

“(...) Ante o exposto, julga-se procedente os pedidos da inicial,


condenando o Estado de Rondônia para que, no prazo de até 12
meses, realize as seguintes medidas referente a APA e FES Rio
Pardo:

“1. Defina os limites territoriais entre a APA e a FES Rio Pardo,


inclusive em relação aos módulos internos da área a serem
distribuídos;

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2. Defina o perfil daqueles que podem ocupar e permanecer no
interior das Unidades de Conservação Estadual, de modo a respeitar
os dispositivos da Lei do SNUC, devendo permanecer no local
apenas as famílias que se enquadram no perfil de pequeno agricultor
ou comunidade tradicional;

3. Defina as atividades econômicas permitidas no interior das


Unidades de Conservação bem como estabeleça mecanismos de
defesa das áreas ambientalmente protegidas de modo a evitar novas
invasões; (...)”

Apesar da inexistência de qualquer inconstitucionalidade ou ilegalidade


nos decretos do Poder Executivo acima mencionados, a criação de 9 (nove)
unidades de conservação e a regulamentação da APA do Rio Pardo e da FES do
Rio Pardo gerou reação imediata na Assembleia Legislativa do Estado de
Rondônia, que passou a contestar a necessidade de preservação de tais espaços
territoriais.

Assim, em Sessão Extraordinária realizada no dia 27 de março de 2018


(anexo), a Assembleia Legislativa do Estado de Rondônia, ignorando os explícitos
mandamentos das Constituições Federal e Estadual de manutenção e promoção
de espaços territoriais especialmente protegidos, sustou os efeitos dos decretos
do Poder Executivo que haviam criado 9 (nove) unidades de conservação e
regulamentado a APA do Rio Pardo e a FES do Rio Pardo, por meio da edição
dos seguintes decretos legislativos (DOC. 02):

Decreto Legislativo Objeto


Decreto Legislativo nº 790, de 28 de Susta os efeitos do Decreto nº 22.690, de
março de 2018, publicado no Diário 20 de março de 2018, que criou a Estação
Oficial da Assembleia Legislativa de Ecológica Soldado da Borracha, nos
Rondônia nº 52, de 28 de março de 2018. Municípios de Porto Velho e Cujubim.

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Decreto Legislativo nº 791, de 28 de Susta os efeitos do Decreto nº 22.682, de
março de 2018, publicado no Diário 20 de março de 2018, que criou a Estação
Oficial da Assembleia Legislativa de Ecológica Umirizal, no Município de Porto
Rondônia nº 52, de 28 de março de 2018. Velho.

Decreto Legislativo nº 792, de 28 de Susta os efeitos do Decreto nº 22.689, de


março de 2018, publicado no Diário 20 de março de 2018, que criou a Reserva
Oficial da Assembleia Legislativa de de Desenvolvimento Sustentável Bom
Rondônia nº 52, de 28 de março de 2018. Jardim, no Município de Porto Velho.

Decreto Legislativo nº 793, de 28 de Susta os efeitos do Decreto nº 22.687, de


março de 2018, publicado no Diário 20 de março de 2018, que criou a Reserva
Oficial da Assembleia Legislativa de de Desenvolvimento Sustentável Serra
Rondônia nº 52, de 28 de março de 2018. Grande, no Município de Costa Marques.

Decreto Legislativo nº 794, de 28 de Susta os efeitos do Decreto nº 22.686, de


março de 2018, publicado no Diário 20 de março de 2018, que criou a Reserva
Oficial da Assembleia Legislativa de de Desenvolvimento Sustentável Limoeiro,
Rondônia nº 52, de 28 de março de 2018. no Município de São Francisco do Guaporé.
Decreto Legislativo nº 795, de 28 de Susta os efeitos do Decreto nº 22.685, de
março de 2018, publicado no Diário 20 de março de 2018, que criou a Reserva
Oficial da Assembleia Legislativa de de Desenvolvimento Sustentável Rio
Rondônia nº 52, de 28 de março de 2018. Machado, no Município de Porto Velho

Decreto Legislativo nº 797, de 28 de Susta os efeitos do Decreto nº 22.688, de


março de 2018, publicado no Diário 20 de março de 2018, que criou o Parque
Oficial da Assembleia Legislativa de Estadual Ilha das Flores, no Município de
Rondônia nº 52, de 28 de março de 2018. Alta Floresta D‟ Oeste

Decreto Legislativo nº 798, de 28 de Susta os efeitos do Decreto nº 22.684, de


março de 2018, publicado no Diário 20 de março de 2018, que criou o Parque
Oficial da Assembleia Legislativa de Estadual Abaitará, no Município de Pimenta
Rondônia nº 52, de 28 de março de 2018. Bueno.

Decreto Legislativo nº 800, de 28 de Susta os efeitos do Decreto nº 22.683, de


março de 2018, publicado no Diário 20 de março de 2018, que criou a Reserva
Oficial da Assembleia Legislativa de de Fauna Pau D‟ Óleo, no Município de São
Rondônia nº 52, de 28 de março de 2018. Francisco do Guaporé.

Decreto Legislativo nº 796, de 28 de Susta os efeitos do Decreto nº 22.680, de


março de 2018, publicado no Diário 20 de março de 2018, que „Dispõe sobre a
Oficial da Assembleia Legislativa de Área de Proteção Ambiental do Rio Pardo,
Rondônia nº 52, de 28 de março de 2018. criada pela Lei Complementar Estadual nº
581, de 30 de junho de 2010, e dá outras
providências.

Decreto Legislativo nº 799, de 28 de Susta os efeitos do Decreto nº 22.681, de


março de 2018, publicado no Diário 20 de março de 2018, que „Dispõe sobre a
Oficial da Assembleia Legislativa de Floresta Estadual do Rio Pardo, criada pela
Rondônia nº 52, de 28 de março de 2018. Lei Complementar Estadual nº 581, de 30
de junho de 2010, e dá outras providências.

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Conforme se extrai das justificativas que subsidiaram os decretos
legislativos ora impugnados (DOC. 03), a sustação dos decretos do Poder
Executivo se assentou na premissa – de todo equivocada – de que o Governador
do Estado, ao criar e regulamentar unidades de conservação por ato normativo
infralegal, teria exorbitado do poder regulamentar que lhe foi conferido pela
Constituição do Estado de Rondônia, bem como descumprido a Lei Estadual nº
4.228/2017, que condiciona a criação de “reserva florestal” à edição de lei pela
Assembleia Legislativa.

Todavia, longe de corrigir uma suposta inconstitucionalidade ou


ilegalidade, o fato é que a decisão da Assembleia Legislativa do Estado de
Rondônia de extinguir 9 (nove) unidades de conservação e impedir a
regulamentação da APA e da FES Rio do Pardo, sem qualquer estudo prévio ou
consulta à população interessada, fez instalar a insegurança jurídica e o caos no
Estado de Rondônia no tocante à gestão, criação e extinção de unidades de
conservação.

Verdade seja dita, da análise dos debates parlamentares que antecederam


a votação e aprovação dos decretos legislativos ora impugnados, o que se verifica
é que todo o processo legislativo – que foi iniciado e concluído em menos de 24
horas! – tinha como pano de fundo um único objetivo: defender os interesses
particulares de ocupantes ilegais de terras públicas, que viam na criação e
regulamentação de unidades de conservação uma ameaça aos seus planos
privados de se manterem em áreas ilegalmente ocupadas, em detrimento do
interesse coletivo ao meio ambiente ecologicamente equilibrado.

Assim, conforme será demonstrado a seguir, os atos normativos ora


questionados padecem de inúmeras inconstitucionalidades, razão pela qual devem
ser expurgados do ordenamento jurídico, sob pena de grave retrocesso à defesa
do meio ambiente ecologicamente equilibrado.

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III – FUNDAMENTAÇÃO:

1) Da inconstitucionalidade da Lei Estadual nº 4.228, de 18 de


dezembro de 2017 – Impossibilidade de se impedir a criação de
espaços territoriais especialmente protegidos por meio de decreto
do Poder Executivo – ofensa aos artigos 7º, caput; 219, inciso II, e
221, inciso III, todos da Constituição do Estado de Rondônia:

De início, cumpre ressaltar que a Lei Estadual nº 4.228, de 18 de


dezembro de 2017, ao condicionar a criação de “reserva florestal” à edição de lei,
incidiu em vício de inconstitucionalidade, por usurpar competência outorgada pela
Constituição do Estado de Rondônia ao Poder Executivo, em manifesta afronta ao
princípio da separação dos Poderes.

Com efeito, relembre-se que a Lei Estadual nº 4.228, de 18 de dezembro


de 2017, condicionou expressamente a criação de “reserva florestal” à edição de
lei pela Assembleia Legislativa, dispondo, in verbis, que:

Art. 1º. A criação de reserva florestal no âmbito do Estado de Rondônia,


pertencente a qualquer Zona do Zoneamento Socioeconômico-ecológico de
Rondônia, instituída pela Lei Complementar nº 233, de 6 de junho de 2000 e suas
alterações, deve ser feita por meio de Lei devidamente deliberada pela
Assembleia Legislativa.

Assim, a partir da entrada em vigor da supracitada Lei Estadual nº


4.228/2017, a criação de unidades de conservação, no âmbito do Estado de
Rondônia, passou a ser condicionada à edição de lei em sentido estrito, ficando o
Poder Executivo impedido de criar espaços territoriais especialmente protegidos
por meio de ato administrativo. A referida inovação legislativa, entretanto, é
manifestamente inconstitucional.

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Isso porque, como se sabe, o artigo 225, parágrafo 1º, inciso III, da
Constituição Federal estabelece expressamente que cabe ao “Poder Público” – à
Administração Pública, vale dizer – definir, em todas as unidades da federação,
espaços territoriais especialmente protegidos, aduzindo, in verbis, que:

Art. 225. Todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, bem
de uso comum do povo e essencial à sadia qualidade de vida, impondo-se ao
Poder Público e à coletividade o dever de defendê-lo e preservá-lo para as
presentes e futuras gerações.
§ 1º. Para assegurar a efetividade desse direito, incumbe ao Poder Público:
(...)
III - definir, em todas as unidades da Federação, espaços territoriais e seus
componentes a serem especialmente protegidos, sendo a alteração e a
supressão permitidas somente através de lei, vedada qualquer utilização que
comprometa a integridade dos atributos que justifiquem sua proteção.

Logo, como se observa, o constituinte resolveu dificultar tão somente a


redução e a supressão de espaços territoriais especialmente protegidos,
exigindo, para tanto, a edição de lei em sentido estrito. A criação desses espaços
territoriais, por outro lado, pode ser feita tanto por lei quanto por ato do Poder
Executivo ou do Poder Legislativo, uma vez que a Constituição Federal dispensou
a obrigatoriedade de lei para tanto.

É dizer: inexiste impedimento constitucional à criação de unidades de


conservação por meio de decreto do Chefe do Poder Executivo, uma vez que a
exigência de lei se restringe às hipóteses de alteração ou supressão desses
espaços territoriais.

Reproduzindo a regra prevista na Constituição Federal, a Constituição do


Estado de Rondônia dispôs expressamente que “é dever do Poder Público”
“implantar unidades de conservação e preservação da natureza” (art. 219, II)
e “definir os espaços territoriais a serem especialmente protegidos” (art. 221,
III), nos seguintes termos:

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Art. 219. É dever do Poder Público, através de organismos próprios e
colaboração da comunidade:
(...)
II - planejar e implantar unidades de conservação e preservação da
natureza, de âmbito estadual e municipal, mantendo-as através dos serviços
públicos indispensáveis as suas finalidades;

[...]

Art. 221. Para assegurar a efetividade do disposto no artigo anterior, incumbe ao


Estado e aos Municípios, na esfera de suas respectivas competências:
(...)
III - definir os espaços territoriais a serem especialmente protegidos, com
vistas aos objetivos conservacionistas do zoneamento sócio-econômico e
ecológico do Estado;

Assim, como se percebe, a Constituição do Estado de Rondônia, a


exemplo da Constituição Federal, outorgou ao “Poder Público” a possibilidade de
criar espaços territoriais especialmente protegidos tanto por lei quanto por ato
administrativo, dispensando a obrigatoriedade de lei em sentido estrito para
tanto.

De igual modo, vale ressaltar que, no âmbito infraconstitucional, a Lei nº


9.985/2000, ao regulamentar o artigo 225, parágrafo 1º, inciso III, da Constituição
Federal, estabelece, em artigo 22, parágrafos 6º e 7º, que a edição de lei somente
é imprescindível para a desafetação ou redução dos limites de uma unidade de
conservação, não sendo exigível para a criação desses espaços territoriais. Veja-
se:

Art. 22. As unidades de conservação são criadas por ato do Poder Público.
(...)
§ 6º. A ampliação dos limites de uma unidade de conservação, sem modificação
dos seus limites originais, exceto pelo acréscimo proposto, pode ser feita por
instrumento normativo do mesmo nível hierárquico do que criou a unidade, desde
que obedecidos os procedimentos de consulta estabelecidos no § 2º deste artigo.
§ 7º. A desafetação ou redução dos limites de uma unidade de conservação
só pode ser feita mediante lei específica.

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Em reforço à tese jurídica ora esposada, vale registrar, ainda, que a
jurisprudência do SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL é pacífica no sentido de que
não há óbice à criação de unidade de conservação por meio de decreto, conforme
se verifica dos seguintes precedentes:

MEIO AMBIENTE - RESERVA EXTRATIVISTA - CONFLITO DE INTERESSE -


COLETIVO VERSUS INDIVIDUAL. Ante o estabelecido no artigo 225 da
Constituição Federal, conflito entre os interesses individual e coletivo resolve-se a
favor deste último. PROPRIEDADE - MITIGAÇÃO. O direito de propriedade não
se revela absoluto. Está relativizado pela Carta da República - artigos 5º, incisos
XXII, XXIII e XXIV, e 184. ATO ADMINISTRATIVO - PRESUNÇÃO. Os atos
administrativos gozam da presunção de merecimento. RESERVA DE
PROTEÇÃO AMBIENTAL - CRIAÇÃO - ALTERAÇÃO - SUPRESSÃO. A criação
de reserva ambiental faz-se mediante ato administrativo, surgindo a lei
como exigência formal para a alteração ou a supressão - artigo 225, inciso
III, do Diploma Maior. RESERVA AMBIENTAL - CONSULTA PÚBLICA E
ESTUDOS TÉCNICOS. O disposto no § 2º do artigo 22 da Lei nº 9.985/2000
objetiva identificar a localização, a dimensão e os limites da área da reserva
ambiental. (...)” (MS 25.284/DF, Rel. Min. Marco Aurélio, Plenário, DJe 13.8.2010,
grifos nossos).

MANDADO DE SEGURANÇA. MEIO AMBIENTE. DEFESA. ATRIBUIÇÃO


CONFERIDA AO PODER PÚBLICO. ARTIGO 225, § 1º, III, CB/88.
DELIMITAÇÃO DOS ESPAÇOS TERRITORIAIS PROTEGIDOS. VALIDADE DO
DECRETO. SEGURANÇA DENEGADA. 1. A Constituição do Brasil atribui ao
Poder Público e à coletividade o dever de defender um meio ambiente
ecologicamente equilibrado. [CB/88, art. 225, §1º, III]. 2. A delimitação dos
espaços territoriais protegidos pode ser feita por decreto ou por lei, sendo
esta imprescindível apenas quando se trate de alteração ou supressão
desses espaços. Precedentes. Segurança denegada para manter os efeitos do
decreto do Presidente da República, de 23 de março de 2006” (MS 26.064/DF,
Rel. Min. Eros Grau, Plenário, DJe 6.8.2010).

Portanto, da análise das referidas normas da Constituição Federal e


Estadual, bem como da legislação infraconstitucional supracitada, conclui-se que
inexiste óbice à criação de unidade de conservação por meio de decreto,
porquanto a exigência de lei se restringe às hipóteses de alteração ou supressão
desses espaços territoriais.

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Consequentemente, ao condicionar a criação de “reserva florestal”, ou
seja, espaços territoriais especialmente protegidos à edição obrigatória de lei, a
Lei Estadual nº 4.228/2017 acabou por usurpar, por via oblíqua, competência
outorgada pelo constituinte estadual ao Poder Executivo para a criação de unidade
de conservação por ato administrativo, em manifesta afronta não só ao disposto
nos artigos 219, inciso II, e 221, inciso III, da Constituição do Estado de Rondônia,
mas, também ao disposto no artigo 7º, caput, da mesma Constituição, que
estabelece o princípio da separação dos Poderes, nos seguintes termos:

Art. 7º. São Poderes do Estado, independentes e harmônicos entre si, o


Legislativo, o Executivo e o Judiciário.

Parágrafo único. Salvo as exceções previstas nesta Constituição, é vedado a


qualquer dos Poderes delegar atribuições, não podendo, quem for investido em
cargo de um deles, exercer o de outro.

Portanto, deve ser declarada inconstitucional a Lei Estadual nº 4.228/2017,


por ser incompatível com o disposto nos artigos 7º, caput; 219, inciso II, e 221,
inciso III, todos da Constituição do Estado de Rondônia.

2) Da impossibilidade de se utilizar Decreto Legislativo para sustar


ato do Poder Executivo que não usurpa competência do Poder
Legislativo – Ofensa aos artigos 29, inciso XIX; 219, inciso II, e 221,
inciso III, todos da Constituição do Estado de Rondônia:

Não bastasse a manifesta inconstitucionalidade da Lei Estadual nº


4.228/2017, conforme acima demonstrado, cumpre assinalar, ainda, que os
Decretos Legislativos de nº 790/2018, 791/2018, 792/2018, 793/2018, 794/2018,
795/2018, 796/2018, 797/2018, 798/2018, 799/2018 e 800/2018, que sustaram
decretos que Poder Executivo que haviam criado e regulamentado unidades de
conservação, são formalmente inconstitucionais, uma vez que foram utilizados
em hipótese distinta daquelas para as quais são constitucionalmente cabíveis.

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Com efeito, relembre-se que os decretos legislativos têm função
constitucional específica, bem delimitada, consistente em sustar os atos
normativos do Poder Executivo que exorbitem do poder regulamentar, usurpando
competência do Poder Legislativo. Nesse sentido, vale ressaltar, é o teor do artigo
29, inciso XIX, da Constituição do Estado de Rondônia, o qual dispõe que:

Art. 29. Compete privativamente à Assembleia Legislativa:

(...)

XIX - sustar os atos normativos do Poder Executivo que exorbitem do poder


regulamentar ou dos limites de delegação legislativa.

No caso, porém, é de se observar que, ao criar unidades de conservação


por meio de decreto, o Governador do Estado de Rondônia de modo algum
exorbitou de seu poder regulamentar, uma vez que, conforme já visto, a criação
desses espaços territoriais por ato administrativo é expressamente admitida
tanto pela Constituição Federal quanto pela Constituição do Estado de Rondônia.

Por consequência, no caso dos autos, é imperioso reconhecer que os


decretos legislativos editados pela Assembleia Legislativa do Estado de Rondônia
padecem de vício insanável de inconstitucionalidade formal, na medida em que
não constituem a via legislativa adequada para retirar do ordenamento
jurídico decretos do Poder Executivo que, a toda evidência, de modo algum
usurpam competência do Poder Legislativo.

É dizer: a edição de decreto legislativo pressupõe a ocorrência da hipótese


descrita no artigo 29, inciso XIX, da Constituição do Estado de Rondônia –
usurpação de competência do Poder Legislativo por ato do Poder Executivo –, o
que não se verifica no caso.

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Nesse sentido, vale ressaltar, é o entendimento já manifestado pelo
Tribunal de Justiça do Estado de Rondônia, no julgamento da ação direta de
inconstitucionalidade nº 0003755-58.2014.8.22.0000, conforme se verifica do
seguinte trecho do voto do Desembargador Relator ISAIAS FONSECA MORAES:

[...] a Assembleia Legislativa do Estado de Rondônia, quando editou os Decretos


Legislativos n. 506/2014; 507/2014; 508/2014 e 509/2014, caminhou em desacordo
com a legislação aplicável à matéria, ou seja, foram editados Decretos ao arrepio das
normas constitucionais e infraconstitucionais aplicáveis ao caso, aliás, tais Decretos
extinguiram áreas de Unidades de Conservação, quando sob hipótese nenhuma
poderiam ter feito! [...]

É de bom alvitre dar ênfase ao fato de que os atos normativos impugnados


adentraram em esfera normativa/legislativa pertencente ao Poder Executivo
Estadual, visto que a proteção ambiental é uma competência comum ao Estado
de Rondônia, tal como se encontra disposto no art. 8º, incs. XV e XVI, da
Constituição do Estado de Rondônia.

Por derradeiro, o art. 29, inc. XIX, da Constituição do Estado de Rondônia,


traz como competência da Assembleia Legislativa a "possibilidade de
sustar os atos normativos do Poder Executivo, que exorbitem do poder
regulamentar ou dos limites da delegação legislativa".

Destarte, de acordo com o esse texto normativo constitucional, creio que os


Decretos editados pelo Poder Executivo Rondoniense, de modo algum
exorbitaram o poder regulamentar conferido ao Chefe do Poder Executivo
Estadual, de maneira que a edição dos Decretos Legislativos nº 506/2014;
507/2014; 508/2014 e 509/2014 violam o que se encontra preconizado no art.
29, inc. XIX, da Constituição Estadual.

Ante o exposto, julgo procedente pedido formulado pelo Procurador-Geral de


Justiça, a fim de declarar a inconstitucionalidade formal e material dos Decretos
Legislativos n. 506/2014; 507/2014; 508/2014 e 509/2014, cujos efeitos da
presente declaração se darão erga omnes e retroagirão à data da edição dos
indigitados atos normativos, nos termos dos arts. 27 e 28, parágrafo único, da Lei
n. 9.868.

Assim, devem ser declarados inconstitucionais os decretos legislativos de


nº 790/2018, 791/2018, 792/2018, 793/2018, 794/2018, 795/2018, 796/2018,
797/2018, 798/2018, 799/2018 e 800/2018, por contrariarem o disposto nos artigos
29, inciso XIX; 219, inciso II, e 221, inciso III, todos da Constituição do Estado de
Rondônia.

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3) Da necessidade de lei em sentido estrito para a alteração ou
supressão de Unidade de Conservação – ofensa aos artigos 219,
inciso II, e 221, inciso III, da Constituição do Estado de Rondônia e
27, parágrafo 2º, da Lei Complementar n° 233/2000:

Ainda que, em tese, admita-se que, ao criar unidades de conservação por


meio de decreto, o Chefe do Poder Executivo teria exorbitado de seu poder
regulamentar – o que se admite apenas a título de argumentação –, impende
reconhecer que a extinção de tais espaços territoriais somente poderia ocorrer por
meio de lei em sentido estrito, e não pela via do Decreto Legislativo.

É que, da análise dos artigos 219, inciso II, e 221, inciso III, todos da
Constituição do Estado de Rondônia, o que se depreende é que a intenção do
legislador constituinte foi conferir o máximo de proteção aos espaços territoriais
especialmente protegidos, facilitando a sua criação e dificultando a sua redução ou
extinção, haja vista a necessidade de observância do direito ao meio ambiente
ecologicamente equilibrado.

Justamente em razão disso, em consonância com os referidos dispositivos


da Constituição do Estado de Rondônia, o artigo 27, parágrafo 2°, da Lei
Complementar Estadual n° 233/2000 estabelece que a alteração e a supressão de
unidades de conservação somente poderão ocorrer por meio de Lei
Complementar, nos seguintes termos:

Art. 27. [...]


(...)
§ 2º. A alteração e a supressão de partes de qualquer das Unidades de
Conservação somente poderão ocorrer por meio de Lei Complementar,
sendo consideradas nulas todas as modificações que ocorrerem sob outra
forma de decisão. A Lei Complementar não poderá determinar alterações que
comprometam o ZSEE.

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Logo, da interpretação conjunta dos artigos 219, inciso II, e 221, inciso III,
da Constituição do Estado de Rondônia, e 27, parágrafo 2º, da Lei Complementar
n° 233/2000, o que se depreende é que os decretos legislativos ora impugnados
padecem de inegável vício de inconstitucionalidade formal, na medida em que
somente lei complementar ou norma hierarquicamente superior poderia suprimir
unidade de conservação no Estado de Rondônia.

Nesse sentido, aliás, é o entendimento já manifestado pelo Tribunal de


Justiça do Estado de Rondônia, no julgamento da ação direta de
inconstitucionalidade nº 0003755-58.2014.8.22.0000, conforme se verifica no
seguinte trecho do voto do Desembargador Relator ISAIAS FONSECA MORAES:

[...] a Assembleia Legislativa do Estado de Rondônia, quando editou os Decretos


Legislativos n. 506/2014; 507/2014; 508/2014 e 509/2014, caminhou em desacordo
com a legislação aplicável à matéria, ou seja, foram editados Decretos ao arrepio das
normas constitucionais e infraconstitucionais aplicáveis ao caso, aliás, tais Decretos
extinguiram áreas de Unidades de Conservação, quando sob hipótese nenhuma
poderiam ter feito!

Esse é um fato extremante grave e que, com todo respeito ao Poder Legislativo
deste Estado, não pode ser tratado como mera questão política e com o objetivo de
agradar um grupo ou grupos de pessoas em detrimento do meio ambiente, da
proteção das Unidades de Conservação e da legislação disciplinadora do assunto.

O Poder Legislativo local tendenciou ao editar os Decretos, objetos desta ação, com
um propósito nobre, mas, apesar de toda nobreza e altruísmo pretendido, o meio
ambiente e os interesses difusos e coletivos não podem sofrer as consequências da
política realizada.

Há (como deve ser, ou presume-se ser de conhecimento dos membros do


Poder Legislativo Estadual) instrumentos legais adequados para realização do
que se pretendeu com a edição dos Decretos Legislativos ora impugnados, tal
como se encontra descrito no art. 27, § 2º, da Lei Complementar Estadual n.
233/2000, de modo que qualquer alteração (por menor ou mais singela que
seja) realizada por meio de outro instrumento normativo, que não seja Lei
Complementar, padecerá de nulidade, devendo, pois, ser suprimida do cenário
jurídico. [...]

Assim, por todos esses motivos, devem ser declarados inconstitucionais


os decretos legislativos de nº 790/2018, 791/2018, 792/2018, 793/2018, 794/2018,
795/2018, 796/2018, 797/2018, 798/2018, 799/2018 e 800/2018.

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4) Da proibição constitucional de proteção ambiental insuficiente –
ofensa ao princípio da vedação ao retrocesso ambiental:

Não bastassem as inconstitucionalidades acima já demonstradas, é


forçoso reconhecer, ainda, que a Lei Estadual nº 4.228/2017 e os decretos
legislativos ora impugnados violam gravemente o princípio da vedação ao
retrocesso ambiental, pois, de forma geral, estabelecem um padrão de proteção
ambiental manifestamente inferior ao anteriormente existente, atingindo o núcleo
essencial do dever constitucional de promoção e proteção de espaços territoriais
especialmente protegidos.

De fato, no ponto, convém lembrar que a Constituição Federal assegurou


a todos, em seu artigo 225, o direito ao “meio ambiente ecologicamente
equilibrado”, qualificando-o como “essencial à sadia qualidade de vida” e,
portanto, indispensável ao gozo do próprio direito fundamental à vida, à saúde e à
dignidade da pessoa humana.

Assim, a partir da sua elevação ao patamar de direito fundamental, o


direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado passa a se reger pelo
princípio da proibição do retrocesso, segundo o qual o nível de promoção e
proteção de um direito fundamental não admite diminuição ou enfraquecimento,
isto é, não admite retrocesso.

Sobre o princípio da proibição do retrocesso, vale trazer à colação, por


elucidativos, os ensinamentos de ÉDIS MILARÉ1, que, seguindo a linha de
raciocínio de HERMAN BENAJAMIN, leciona:

Ao discorrer sobre o tema, Antônio Herman Benjamin anota que “os controles
legislativos e mecanismos de salvaguarda dos direitos humanos e do patrimônio
natural das gerações futuras observem (…) o 'caminhar somente para a frente'”.

1
MILARÉ, Édis. Direito do Meio Ambiente. 8ª Ed, revista, atualizada e reformulada – São Paulo:
Revista dos Tribunais, 2013. p. 257-258.

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É sob essa ideia, diz, que surge o “princípio jurídico da proibição do retrocesso,
que expressa uma 'vedação ao legislador de suprimir, pura e simplesmente, a
concretização da norma', constitucional ou não, ' que trate do núcleo essencial de
um direito fundamental' e, ao fazê-lo, impedir, dificultar ou inviabilizar 'a sua
fruição, sem que sejam criados mecanismos equivalentes ou compensatórios.
Princípio esse que transborda da esfera dos direitos humanos e sociais para o
Direito Ambiental. Nessa linha, defende que a proibição do retrocesso deve
integrar o rol de princípios gerais do Direito Ambiental, “a ser invocado na
avaliação de iniciativas legislativas destinadas a reduzir o patamar de tutela legal
do meio ambiente, mormente naquilo que afete em particular a) processos
ecológicos essenciais, b) ecossistemas frágeis ou à beira de colapso, e c)
espécies ameaçadas de extinção.

Nesse contexto, a constitucionalização dos espaços territoriais


especialmente protegidos trouxe consequências vinculantes ao sistema jurídico
como um todo, inclusive com restrições explícitas e implícitas dirigidas aos
Poderes Legislativo, Executivo e Judiciário.

Em outras palavras, significa dizer que a criação de espaços territoriais


especialmente protegidos é prevista na Constituição do Estado de Rondônia como
um dos deveres do Poder Público para assegurar a efetividade do direito
fundamental ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, articulando-se com
diversos outros deveres de proteção ao meio ambiente previstos na mesma
Constituição. Juntos, esses comandos normativos formam o núcleo essencial de
proteção ao meio ambiente ecologicamente equilibrado no âmbito do Estado
de Rondônia, não podendo os Poderes Públicos, em suas diversas esferas,
negar-lhes vigência, muito menos retirar-lhes a força normativa.

De fato, ao longo de seu texto, a Constituição Estadual prevê uma série de


deveres fundamentais de preservação da diversidade e integridade do
patrimônio genético do Estado de Rondônia, bem como de proteção da fauna e
da flora, com vistas a garantir o direito fundamental ao meio ambiente
ecologicamente equilibrado.

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O artigo 8º, incisos XV e XVI, da Constituição do Estado de Rondônia, por
exemplo, atribui expressamente ao Estado o dever de proteger o meio ambiente e
preservar as florestas, a fauna, a flora e a bacia hidrográfica da região, nos
seguintes termos:

Art. 8º. Ao Estado compete exercer, em seu território, todos os poderes que,
implícita ou explicitamente, não lhe sejam vedados pela Constituição Federal,
especialmente:
(...)
XV - proteger o meio ambiente e combater a poluição em qualquer de suas
formas;
XVI - preservar as florestas, a fauna, a flora e a bacia hidrográfica da região;

Por sua vez, o artigo 9º, incisos VI e VII, da Constituição do Estado de


Rondônia outorga ao Estado o dever de legislar sobre conservação da natureza,
defesa do solo e dos recursos naturais, proteção ao meio ambiente e proteção do
patrimônio paisagístico, aduzindo que:

Art. 9º. Compete, ainda, ao Estado legislar, de forma concorrente, respeitadas


as normas gerais da União, sobre:

(...)

VI - florestas, caça, pesca, fauna e conservação da natureza, defesa do solo


e dos recursos naturais, proteção ao meio ambiente e controle da poluição;

VII - proteção ao patrimônio histórico, cultural, artístico, turístico e


paisagístico;

De igual modo, o artigo 149, parágrafo único, inciso XII, da Constituição do


Estado de Rondônia ordena que a atividade econômica seja condicionada à
exploração racional dos recursos renováveis da natureza e à proteção do meio
ambiente e do equilíbrio ecológico, nos seguintes termos:

Art. 149. A ordem econômica, fundada no trabalho e na democratização da


riqueza, tem por fim realizar a justiça social, a melhoria progressiva das
condições de vida da população e o desenvolvimento harmônico e integrado do
Estado.

Parágrafo único. A ordenação da atividade econômica terá por princípios:

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(...)

XII - a exploração racional dos recursos renováveis da natureza, a proteção


do meio ambiente e do equilíbrio ecológico;

Na mesma linha, o artigo 218, parágrafo único, da Constituição do Estado


de Rondônia prevê que é responsabilidade do Poder Público a manutenção do
equilíbrio ecológico, a preservação do meio ambiente e a proteção dos recursos
naturais, bem como que os recursos naturais são essenciais à sadia qualidade de
vida. Veja-se:

Art. 218. A preservação do meio ambiente, a proteção dos recursos


naturais, de forma a evitar o seu esgotamento e a manutenção do equilíbrio
ecológico são de responsabilidade do Poder Público e da comunidade, para
uso das gerações presentes e futuras.

Parágrafo único. Os valores ambientais e os recursos naturais serão


considerados bens de uso comum do povo e essenciais à sadia qualidade de
vida.

No que diz respeito especificamente aos espaços territoriais


especialmente protegidos, o artigo 219, incisos II, da Constituição do Estado de
Rondônia determina que é dever do Poder Público “planejar e implantar
unidades de conservação e preservação da natureza”, ao passo que o artigo
221, inciso III, da mesma Constituição estabelece que, para assegurar a proteção
ao meio ambiente, incumbe ao Estado “definir os espaços territoriais a serem
especialmente protegidos”. Veja-se:

Art. 219. É dever do Poder Público, através de organismos próprios e


colaboração da comunidade:

I - assegurar, em âmbito estadual, as diversidades das espécies e dos


ecossistemas, de modo a preservar o patrimônio genético do Estado;

II - planejar e implantar unidades de conservação e preservação da


natureza, de âmbito estadual e municipal, mantendo-as através dos serviços
públicos indispensáveis as suas finalidades;

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III - ordenar o espaço territorial de forma a conservar ou restaurar áreas
biologicamente desequilibradas;

(...)

VII - proteger os monumentos naturais, os sítios paleontológicos e


arqueológicos, os monumentos e sítios históricos e seus elementos;

(...)

Art. 220. O desenvolvimento econômico e social deve conciliar-se com a


proteção ao meio ambiente, para preservá-lo de alterações físicas, químicas ou
biológicas que, direta ou indiretamente, sejam nocivas à saúde, à segurança e ao
bem-estar das populações e ocasionem danos à fauna, à flora, ao solo e às
paisagens.

§ 1º. O exercício do direito de propriedade subordina-se ao bem-estar da


coletividade, à conservação dos recursos naturais e à proteção ao meio
ambiente.

§ 2º. Lei estadual estabelecerá o plano geral de proteção ao meio ambiente,


adotando as medidas necessárias à utilização racional dos recursos naturais
e à redução, ao mínimo possível, da poluição e degradação ambiental.

Art. 221. Para assegurar a efetividade do disposto no artigo anterior, incumbe ao


Estado e aos Municípios, na esfera de suas respectivas competências:

(...)

III - definir os espaços territoriais a serem especialmente protegidos, com


vistas aos objetivos conservacionistas do zoneamento socioeconômico e
ecológico do Estado;

Logo, como se vê, a Constituição do Estado de Rondônia traz em seu bojo


uma série de comandos normativos relacionados ao meio ambiente e, em
particular, à proteção e preservação de espaços territoriais especialmente
protegidos, os quais vinculam o Poder Público em todas as suas esferas: o Poder
Executivo deverá observá-los em todos os seus atos administrativos; o Poder
Judiciário, por sua vez, não poderá chancelar a extinção pura e simples de
espaços territoriais protegidos, devendo zelar pela sua manutenção; e, finalmente,

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o Poder Legislativo deverá se abster de elaborar legislação que reduza o padrão
de proteção ambiental existente, de modo a evitar o enfraquecimento do núcleo
essencial da Constituição do Estado de Rondônia de promoção e proteção do
meio ambiente.

No vertente caso, porém, o que se verifica é que a Lei Estadual nº


4.228/2017 e os decretos legislativos ora impugnados são materialmente
incompatíveis com os artigos 8º, incisos XV e XVI; 9º, incisos VI e VII; 149,
parágrafo único, inciso XII; 218, parágrafo único; 219, incisos II; 220, caput, e 221,
inciso III, todos da Constituição do Estado de Rondônia, pois, ao dificultarem a
criação de unidades de conservação e até mesmo extinguirem esses espaços
territoriais, estabelecem um padrão de proteção ambiental inferior ao
anteriormente existente, esvaziando o núcleo essencial de proteção ao meio
ambiente ecologicamente equilibrado previsto na Constituição Estadual.

É dizer: a Lei Estadual nº 4.228/2017 e os decretos legislativos ora


impugnados não atendem ao dever mínimo de proteção ao meio ambiente
imposto pela Constituição do Estado de Rondônia, sendo, pois, materialmente
inconstitucionais.

Por todos esses motivos, deve ser declarada a inconstitucionalidade da


Lei Estadual nº 4.228/2017 e dos decretos legislativos de nº 790/2018, 791/2018,
792/2018, 793/2018, 794/2018, 795/2018, 796/2018, 797/2018, 798/2018,
799/2018 e 800/2018.

5) Da afronta à coisa julgada e ao princípio da separação do


Poderes:

No que diz respeito especificamente aos decretos legislativos de nº


796/2018 e 799/2018, que sustaram, respectivamente, os decretos do Poder
Executivo de nº 22.680/2018 (que regulamenta a APA do Rio Pardo) e

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22.681/2018 (que regulamenta a FES do Rio Pardo), é de se esclarecer que, além
dos vícios de inconstitucionalidade acima relatados, os referidos atos emanados
do Poder Legislativo também constituem uma afronta ao princípio da separação
dos Poderes, na medida em que têm por objetivo evitar o cumprimento de
sentença oriunda do Poder Judiciário.

É que, conforme já dito, ao editar os decretos de nº 22.680/2018 e


22.681/2018, o Chefe do Poder Executivo tão somente cumpriu sentença da 1º
Vara da Fazenda Pública da Comarca de Porto Velho, proferida nos autos do
processo nº 0017310-42.2014.8.22.0001, que condenou o ESTADO DE
RONDÔNIA a definir os limites territoriais, o perfil dos ocupantes e as atividades
econômicas permitidas na APA do Rio Pardo e na FES do Rio Pardo, nos
seguintes termos:

“(...) Ante o exposto, julga-se procedente os pedidos da inicial, condenando


o Estado de Rondônia para que, no prazo de até 12 meses, realize as
seguintes medidas referente a APA e FES Rio Pardo:

“1. Defina os limites territoriais entre a APA e a FES Rio Pardo, inclusive em
relação aos módulos internos da área a serem distribuídos;

2. Defina o perfil daqueles que podem ocupar e permanecer no interior das


Unidades de Conservação Estadual, de modo a respeitar os dispositivos da
Lei do SNUC, devendo permanecer no local apenas as famílias que se
enquadram no perfil de pequeno agricultor ou comunidade tradicional;

3. Defina as atividades econômicas permitidas no interior das Unidades de


Conservação bem como estabeleça mecanismos de defesa das áreas
ambientalmente protegidas de modo a evitar novas invasões; (...)”

Assim, no ponto, não há dúvida de que a sustação dos decretos do Poder


Executivo de nº 22.680/2018 e 22.681/2018 constitui uma clara violação ao
princípio da separação do Poderes, previsto no artigo 7°, caput, da Constituição do
Estado de Rondônia, razão pela qual os decretos legislativos de nº 796/2018 e
799/2018 devem ser declarados inconstitucionais.

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6) Da legalidade dos decretos do Poder Executivo sustados pela
Assembleia Legislativa do Estado de Rondônia:

É sobremodo importante ressaltar, ainda, que, à luz das disposições


constitucionais, legais e infralegais que regem a criação de unidades de
conservação, verifica-se claramente que não houve exorbitação do poder
regulamentar por parte do Chefe do Poder Executivo ao editar os decretos
sustados pela Assembleia Legislativa do Estado de Rondônia.

De fato, no ponto, convém lembrar que a criação e implantação de


unidades de conservação se encontra disciplinada no artigo 22 da Lei nº
9.985/2000, o qual estabelece que:

Art. 22. As unidades de conservação são criadas por ato do Poder Público.

§ 1º. (VETADO)

§ 2º. A criação de uma unidade de conservação deve ser precedida de


estudos técnicos e de consulta pública que permitam identificar a
localização, a dimensão e os limites mais adequados para a unidade,
conforme se dispuser em regulamento.

§ 3º. No processo de consulta de que trata o § 2º, o Poder Público é obrigado a


fornecer informações adequadas e inteligíveis à população local e a outras
partes interessadas.

§ 4º. Na criação de Estação Ecológica ou Reserva Biológica não é obrigatória a


consulta de que trata o § 2º deste artigo.

§ 5º. (...)

§ 6º. A ampliação dos limites de uma unidade de conservação, sem modificação


dos seus limites originais, exceto pelo acréscimo proposto, pode ser feita por
instrumento normativo do mesmo nível hierárquico do que criou a unidade, desde
que obedecidos os procedimentos de consulta estabelecidos no § 2º deste artigo.

§ 7º. A desafetação ou redução dos limites de uma unidade de conservação só

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pode ser feita mediante lei específica.

Regulamentando a Lei nº 9.985/2000, o Decreto Federal nº 4.340/2002,


por sua vez, dispõe que:

“Art. 2º. O ato de criação de uma unidade de conservação deve indicar:

I - a denominação, a categoria de manejo, os objetivos, os limites, a área da


unidade e o órgão responsável por sua administração;

(...)

Art. 4º Compete ao órgão executor proponente de nova unidade de conservação


elaborar os estudos técnicos preliminares e realizar, quando for o caso, a
consulta pública e os demais procedimentos administrativos necessários à
criação da unidade.

Art. 5º. A consulta pública para a criação de unidade de conservação tem a


finalidade de subsidiar a definição da localização, da dimensão e dos limites mais
adequados para a unidade.

§ 1º. A consulta consiste em reuniões públicas ou, a critério do órgão ambiental


competente, outras formas de oitiva da população local e de outras partes
interessadas.

§ 2º. No processo de consulta pública, o órgão executor competente deve indicar,


de modo claro e em linguagem acessível, as implicações para a população
residente no interior e no entorno da unidade proposta”

Como se observa, as normas acima reproduzidas evidenciam que a


criação de unidades de conservação deve ser precedida de estudos técnicos e,
quando for o caso, consulta pública, de modo a viabilizar a melhor definição da
localização, da dimensão e dos limites da unidade de conservação que se
pretende criar.

Essa consulta, facultativa para a criação de Estação Ecológica ou Reserva


Biológica, é realizada por meio de reuniões ou outra forma de oitiva da população
interessada e tem como objetivo, em resumo, a democratização do debate sobre a

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proposta de criação da unidade de conservação, fornecendo à população local,
em linguagem acessível, informações sobre as consequências da criação da
unidade proposta.

No caso dos autos, a realização das consultas públicas e dos estudos


técnicos exigidos para a criação das unidades de conservação está devidamente
comprovada por meio dos documentos juntados em anexo (DOC. 05 a 14) , não
havendo qualquer evidência de irregularidade que macule os processos
administrativos conduzidos pelo órgão ambiental estadual.

Particularmente quanto às consultas públicas, é importante esclarecer que


a finalidade destas não é submeter o projeto de criação da unidade de
conservação à aprovação da população interessada, mas apenas “subsidiar a
definição da localização, da dimensão e dos limites mais adequados para a
unidade”, conforme preceitua do artigo 5º do Decreto nº 4.340/2002, pois o
interesse público na preservação do meio ambiente deve prevalecer sobre
eventuais interesses particulares contrários.

Nesse sentido, vale mencionar que, no julgamento do Mandado de


Segurança nº 25.347, o MINISTRO AYRES BRITTO esclareceu a finalidade da
consulta pública prevista na Lei n. 9.985/2000, aduzindo que:

“13. Quanto à realização de consultas às populações interessadas, dou conta de


sua ocorrência tanto no Município de Altamira quanto no de São Félix do Xingu.
(...)
Pelo que deduzi da análise dos autos, as consultas públicas foram, sim,
realizadas e contaram com a efetiva participação das populações locais, de
parelha com a diretriz fixada no inciso III do art. 5º da Lei 9.985/00.
15. É importante salientar que a consulta pública, não obstante se constitua
em instrumento essencialmente democrático, que retira o povo da plateia e
o coloca no palco dos assuntos públicos, não tem, aqui, a natureza de um
plebiscito. Algumas manifestações contrárias à criação da estação
ecológica não têm a força de inviabilizar o empreendimento, até porque a
finalidade da consulta pública é apenas “subsidiar a definição da

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localização, da dimensão e dos limites mais adequados para a unidade”
(art. 5º do Decreto 4.340/02). Isso quer dizer que a decisão final para a
criação de uma unidade de conservação é do Chefe do Poder Executivo. O
que este se obriga a fazer, segundo a lei, é apenas ouvir e ponderar as
manifestações do povo, o que, segundo a nota técnica de fls. 512/513, parece
haver ocorrido. (...)
16. Dessa forma, pelos elementos contidos nos autos (atas e listas de presença
das reuniões e Nota Técnica nº 004/2005/DIREC), não há como atestar a
veracidade da afirmação da autora de que a população local somente assistiu a
todo o processo, “sem poder acrescentar ou pedir nada”. Pelo contrário, parecem
ter havido intensa participação nas reuniões públicas, bem como a efetiva
consideração de alguns pleitos (...). Isso tudo, não obstante o § 4º do art. 22 da
Lei 9.985/00 torne facultativa a realização de consulta pública, quando se tratar
de proposta de criação de estação ecológica ou reserva biológica” (Plenário, DJe
18.3.2010).

Na mesma linha, no julgamento do Mandado de Segurança nº 25.284/DF,


o MINISTRO MARCO AURÉLIO assinalou que:

“No tocante à consulta pública, a defesa bem disse que se revela o objetivo maior
não a concordância com o possível ato de preservação ambiental, mas a
definição das áreas a serem preservadas. É o que se depreende do § 2º do
artigo 22 da Lei nº 9.985/2000, não bastasse a ordem natural das coisas, a
certeza sobre a indisponibilidade da questão pela população local (...)
O decreto que se seguiu – nº 4.340/2002 – não discrepou dessa diretriz. O artigo
5º dele constante dispôs que a consulta para a criação de unidade de
conservação tem a finalidade de subsidiar a definição da localização, da
dimensão e dos limites mais adequados para a unidade, consistindo em reuniões
públicas ou, a critério do órgão ambiental competente, em outras formas de oitiva
da população local e de outras partes interessadas. De qualquer modo, assente-
se, a mais não poder, que não se está a lidar com algo que possa ser
definido mediante autonomia da manifestação de vontade do cidadão. A
conclusão sobre a necessidade, ou não, de criar-se a reserva da área, tal como
prevista no inciso III do § 1º do artigo 225 da Constituição Federal, se de um lado,
ante a observável seriedade de propósito, baseia-se em levantamentos técnicos,
de outro, é incumbência do poder público e este age a partir do interesse geral, e
não individual”.

Assim, cumpridos os requisitos legais estabelecidos para a criação das


unidades de conservação em apreço, não há se falar em qualquer ilegalidade ou
abusividade dos decretos editado pelo Poder Executivo.

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7) Da impossibilidade de aplicação retroativa da Emenda
Constitucional nº 126/2018:

Cumpre trazer ao conhecimento deste Tribunal de Justiça que, com


objetivo de tornar ainda mais dificultosa a criação de espaços territoriais
especialmente protegidos no âmbito do Estado de Rondônia, o Poder Legislativo
rondoniense fez publicar, no Diário Oficial da Assembleia Legislativa do dia 28 de
março de 2018 (DOC. 16), a Emenda Constitucional nº 126/2018, que estabelece
a necessidade de Lei Complementar para a criação de unidades de conservação
estaduais, nos seguintes termos:

EMENDA CONSTITUCIONAL Nº 126/2018

Altera o § 2º do artigo 6º, acrescenta o inciso XIII


ao artigo 30, e dá nova numeração ao parágrafo
único e acrescenta o § 2º ao artigo 219 da
Constituição do Estado de Rondônia.

A MESA DIRETORA DA ASSEMBLEIA LEGISLATIVA DO ESTADO DE RONDÔNIA,


nos termos do § 3º do artigo 38 da Constituição do Estado, promulga a seguinte
Emenda ao texto Constitucional:

Art. 1º. O § 2º do artigo 6º da Constituição Estadual passa a ter a seguinte redação:

“Art. 6º. ...........................................................................

§ 2º. Será instituído, mediante lei complementar o zoneamento socioeconômico


e ecológico e a criação ou extinção de unidades de conservação e reservas
ambientais de qualquer natureza.”

Art. 2º. Fica acrescido de inciso XIII o artigo 30 da Constituição do Estado de


Rondônia, com a seguinte redação:

“Art. 30. .............................................................................

XIII – criação, alteração, incorporação e extinção de unidades de conservação e


reservas ambientais de qualquer natureza.”

Art. 3º. Renumera o parágrafo único e acrescenta o § 2º ao artigo 219 da


Constituição Estadual, que passam a ter as seguintes redações:

“Art. 219. .............................................................................

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§ 1º. À Polícia Florestal, subordinada à Polícia Militar do Estado, incumbir-se-ão as
ações de planejamento, direção e execução do policiamento florestal.

§ 2º. A implantação, alteração ou extinção das unidades de conservação e


preservação da natureza de que cuidam o inciso II, serão necessariamente
criadas alteradas ou extintas por lei complementar própria.”

Art. 4º. Esta Emenda entra em vigor na data de sua publicação.

Sem adentrar o mérito da constitucionalidade ou não da supracitada


Emenda Constitucional – o que será feito em momento oportuno e perante o
Tribunal competente –, é relevante esclarecer que tal alteração constitucional veio
à lume em data posterior à publicação dos decretos do Poder Executivo cujos
efeitos se pretende restabelecer por meio da presente ação direta de
inconstitucionalidade.

É dizer: a Emenda Constitucional nº 126/2018 foi publicada no dia 28 de


março de 2018, ao passo que os decretos do Poder Executivo que criaram 9
(nove) unidades de conservação e regulamentaram a APA do Rio Pardo e a FES
do Rio Pardo foram publicados em data anterior, ou seja, no dia 20 de março de
2018, razão pela qual estes não se submetem aos novos requisitos de validade
impostos pela referida alteração constitucional.

Logo, conclui-se que as regras estabelecidas pela Emenda Constitucional


nº 126/2018 não se aplicam aos decretos do Poder Executivo cuja vigência se
pretende restabelecer por meio da presente ação.

IV – DA TUTELA CAUTELAR:

Sabe-se que a concessão de medida cautelar em sede de ação direta de


inconstitucionalidade depende da cumulativa satisfação de dois requisitos
fundamentais: (1) fumus boni juris, consistente na verossimilhança do direito
alegado; e (2) periculum in mora, consistente no perigo na demora em se obter o
provimento judicial.

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No caso, estão presentes os pressupostos para concessão de
medida cautelar.

O fumus boni iuris está caracterizado por todos os argumentos acima


expostos, que demonstram, à exaustão, a inconstitucionalidade dos atos
normativos impugnados.

Já o periculum in mora decorre do caráter irreparável ou de difícil


reparação os efeitos da Lei Estadual nº 4.228/2017 e dos decretos legislativos
impugnados tendem a gerar.

De fato, não se pode perder de vista que a simples veiculação da notícia


de que a Assembleia Legislativa do Estado de Rondônia extinguiu diversas
unidades de conservação tende a provocar, rapidamente, uma onda de invasão e
destruição dos recursos florestais e faunísticos nas áreas que correspondem ao
território dessas unidades, uma vez que, como é sabido, a população acredita que
a medida adotada pelo Poder Legislativo realmente tem validade jurídica.

Além disso, não se pode ignorar que, a cada dia que passa, mais pessoas
chegam a Rondônia com o intuito de obter terras no interior de unidades de
conservação, acreditando que, de algum modo, o Estado promoverá a
regularização fundiária das parcelas de terras ocupadas.

Por tais motivos, o requerente pleiteia, desde já, a concessão de medida


cautelar, para o efeito de se obter, até o julgamento final desta ação, a suspensão
da eficácia da Lei Estadual nº 4.228/2017 e dos decretos legislativos acima
impugnados.

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V – DOS PEDIDOS:

Por todo o exposto, o Governador do Estado de Rondônia requer:

1) a concessão de medida cautelar, antes da oitiva da Assembleia


Legislativa do Estado de Rondônia, para a suspensão da eficácia, até o
julgamento final desta ação, da Lei Estadual nº 4.228/2017 e dos decretos
legislativos de nº 790/2018, 791/2018, 792/2018, 793/2018, 794/2018,
795/2018, 796/2018, 797/2018, 798/2018, 799/2018 e 800/2018;

2) a intimação da Assembleia Legislativa do Estado de Rondônia para


que preste informações a respeito das normas impugnadas, na forma do
artigo 556, parágrafo 2°, do Regimento Interno do Tribunal de Justiça do
Estado de Rondônia;

3) a intimação do Ministério Público do Estado de Rondônia para que,


no prazo legal, apresente manifestação;

4) seja declarada a inconstitucionalidade da Lei Estadual nº 4.228/2017


e dos decretos legislativos de nº 790/2018, 791/2018, 792/2018, 793/2018,
794/2018, 795/2018, 796/2018, 797/2018, 798/2018, 799/2018 e
800/2018.

Nesses termos, pede deferimento.

Porto Velho, 5 de abril de 2018.

Confúcio Aires Moura Juraci Jorge da Silva


Governador do Estado de Rondônia Procurador Geral do Estado

Matheus Carvalho Dantas Antonio Isac Nunes Cavalcante de Astrê


Procurador do Estado Procurador do Estado

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