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PROCESSO PENAL I

FUNDAÇÃO UNIVERSIDADE FEDERAL DE RONDÔNIA


Prof. Afonso M. das Chagas
Ano letivo: 2019/2
PROCESSO PENAL: lei Processual no espaço

Art. 1º. O processo penal reger-se-á, em todo território brasileiro, por este
Código, ressalvados:

I – os tratados, as convenções e regras de direito internacional;


II – as prerrogativas constitucionais do Pres. da República, ministros de
estado, nos crimes conexos com os do Presidente da República, e dos
ministros do STF, nos crimes de responsabilidade;
III – os processos da competência da Justiça Militar;
IV – os processos da competência do tribunal especial;
V – os processos por crime de imprensa
P.u. aplicar-se-á, entretanto, este Código aos processos nos n. IV e V,
quando as leis especiais que os regulam não dispuserem de modo diverso
Histórico: Anteriormente à edição do CPP, em
1941 e de sua entrada em vigor, em 1º de janeiro
de 1943, o país não possuía um código único, que
fosse adotado em todo o território nacional, mas,
ao contrário, eram vários os códigos, para cada
um dos estados que compunham a federação.
Ocorre que a Constituição de 1937, dispunha, em seu art. 16, XVI,
que competia à União, privativamente, legislar sobre direito
processual, norma também prevista na Carta de 1934 (art. 5º, XIX,
“a”). Em 1941, foi apresentado o atual CPP, para vigorar em todo
o país, atendendo, assim, ao mandamento constitucional, não mais
se cogitando, com isso, da existência de Códigos estaduais.
Território

• Espaço físico (solo/subsolo)


• Delimitado por fronteiras
• Águas interiores (rios)
• Mar territorial
• espaço aéreo correspondente

E os casos cometidos no Exterior?


PROCESSO PENAL: Lei processual no espaço
Crimes cometidos no exterior:

• Art. 7º do CP, anuncia crimes que, mesmo praticado no extrangeiro


submetem-se à Lei brasileira.
(casos de extra-territorialidade)
• Submete-se tanto a lei penal como a processual.
Art. 7º, CP - Ficam sujeitos à lei brasileira, embora cometidos no
estrangeiro:

I - os crimes:

a) contra a vida ou a liberdade do Presidente da República;


b) contra o patrimônio ou a fé pública da União, do Distrito Federal,
de Estado, de Território, de Município, de empresa pública,
sociedade de economia mista, autarquia ou fundação instituída
pelo Poder Público;
c) contra a administração pública, por quem está a seu serviço;
d) de genocídio, quando o agente for brasileiro ou domiciliado no
Brasil;
Art. 7º, CP - Ficam sujeitos à lei brasileira, embora cometidos no estrangeiro:
II - os crimes:
a) que, por tratado ou convenção, o Brasil se obrigou a reprimir;
b) praticados por brasileiro;
c) praticados em aeronaves ou embarcações brasileiras, mercantes ou de propriedade
privada, quando em território estrangeiro e aí não sejam julgados.
§ 1º - Nos casos do inciso I, o agente é punido segundo a lei brasileira, ainda que absolvido
ou condenado no estrangeiro.
§ 2º - Nos casos do inciso II, a aplicação da lei brasileira depende do concurso das
seguintes condições:
(Local, fato punível tb no estrangeiro, extradição autorizada, não absolvição e não
perdão)
§ 3º - A lei brasileira aplica-se também ao crime cometido por estrangeiro contra brasileiro
fora do Brasil, se, reunidas as condições previstas no parágrafo anterior:
a) não foi pedida ou foi negada a extradição;
b) houve requisição do Ministro da Justiça.
CUIDADO: embarcações e aeronaves – faz parte, ainda, do território
nacional, na dicção do art. 5, §1º, do CP, “as embarcações e
aeronaves brasileiras, de natureza pública ou a serviço do governo
brasileiro onde quer que se encontrem, bem como as aeronaves e as
embarcações brasileiras, mercantes ou de propriedade privada, que
se achem, respectivamente no espaço aéreo correspondente ou em
alto-mar”. É o que a doutrina denomina território por extensão, ficto
ou flutuante.
Conclusão: em Suma, acompanhando a lição de Carlos Frederico
Coelho Nogueira, podemos concluir que o CPP é aplicável “às
infrações penais perpetradas no território nacional, bem como em seu
espaço ficto ou por extensão, ou flutuante, e, dentro dos limites do
exercício da soberania parcial, também a plataforma continental, a
zona contígua e a zona exclusiva econômica” (Comentários ao CPP,
Bauru: Edipro, 1ª ed. 2002, vol. 1, p. 61)
Vigência em todo país – O art. 1º do CPP estabelece que
sua aplicação se estenderá a todo o território brasileiro,
adotando-se o chamado princípio da territorialidade

A territorialidade, no CPP assim como no CP, é absoluto?

Princípio da territorialidade temperada ou mitigada

Quais as exceções?
PROCESSO PENAL: lei Processual no espaço

Art. 1º. O processo penal reger-se-á, em todo território brasileiro, por este
Código, ressalvados:

I – os tratados, as convenções e regras de direito internacional;


II – as prerrogativas constitucionais do Pres. da República, ministros de
estado, nos crimes conexos com os do Presidente da República, e dos
ministros do STF, nos crimes de responsabilidade;
III – os processos da competência da Justiça Militar;
IV – os processos da competência do tribunal especial;
V – os processos por crime de imprensa
P.u. aplicar-se-á, entretanto, este Código aos processos nos n. IV e V,
quando as leis especiais que os regulam não dispuserem de modo diverso
A Convenção de Viena sobre o Direito dos Tratados, assinada em 23
de maio de 1969,, conceitua “tratado” como “um acordo internacional
concluído por escrito entre Estados e regido pelo direito internacional,
quer esteja consignado num instrumento único, quer em dois ou mais
instrumentos conexos, e qualquer que seja a sua denominação
particular” (art. 1º, 1, “a”). Essa Convenção, após aprovação do
Congresso Nacional (Decreto Legislativo, 496/2009), foi promulgada
pela Presidência da República, por meio do Decreto nº 7.030/2009.
Status de aplicação, ou hierarquia
de aplicação dos Tratados e
Convenções no Brasil

Atenção: nosso direito adotou a teoria dualista, ao prever que,


após a ratificação do tratado ou convenção no âmbito
internacional, internamente seja praticado um ato subjetivamente
complexo, consistente, primeiro, na aprovação pelo Congresso
Nacional, por decreto, do ato (art. 49, I, da CF), e posterior
promulgação, pelo Presidente da República (art. 84, VII, da CF).
Art. 1º - As exceções: “ Tratados, Convenções e regras de Direitos
internacional
Posição do STF:
1) Caso o tratado verse sobre outra matéria que não os direitos humanos, ele
ingressa em nosso ordenamento jurídico com status de lei ordinária.
Art. 1º - As exceções: “ Tratados, Convenções e regras de Direitos
internacional
Posição do STF:
1) Para os tratados que versem sobre direitos humanos “são duas as
possibilidades atualmente reconhecidas pelo STF”:
A) Hieraquia (equivalente) de emenda constitucional, no caso de direitos
humanos incorporados mediante observância do rito estabelecido pelo
parágrafo 3º do artigo 5º da CF:

• § 3º Os tratados e convenções internacionais sobre direitos humanos que forem


aprovados, em cada Casa do Congresso Nacional, em dois turnos, por três quintos dos
votos dos respectivos membros, serão equivalentes às emendas constitucionais.
1) Para os tratados que versem sobre direitos humanos “são duas as
possibilidades atualmente reconhecidas pelo STF”:
A) Hieraquia (equivalente) de emenda constitucional, no caso de direitos
humanos incorporados mediante observância do rito estabelecido pelo
parágrafo 3º do artigo 5º da CF:

B) Hieraquia supralegal, aplicável aos tratados de direitos humanos


ratificados pelo sitema convencional, por meio de Decreto legislativo
aprovado com maioria simples. (inferior a CF, mas superior à Lei Ordinária).
Art. 1º - As exceções
I – os tratados, as convenções e regras de direito internacional;

II – as prerrogativas constitucionais do Pres. da República, ministros de


estado, nos crimes conexos com os do Presidente da República, e dos
ministros do STF, nos crimes de responsabilidade;

III – os processos da competência da Justiça Militar;

IV – os processos da competência do tribunal especial;


V – os processos por crime de imprensa
Art. 1º - As exceções
Art. 86. Admitida a acusação contra o Presidente da República, por dois terços da Câmara dos
Deputados, será ele submetido a julgamento perante o Supremo Tribunal Federal, nas infrações
penais comuns, ou perante o Senado Federal, nos crimes de responsabilidade.

§ 1º O Presidente ficará suspenso de suas funções:


I - nas infrações penais comuns, se recebida a denúncia ou queixa-crime pelo Supremo Tribunal
Federal;
II - nos crimes de responsabilidade, após a instauração do processo pelo Senado Federal.
§ 2º Se, decorrido o prazo de cento e oitenta dias, o julgamento não estiver concluído, cessará o
afastamento do Presidente, sem prejuízo do regular prosseguimento do processo.
§ 3º Enquanto não sobrevier sentença condenatória, nas infrações comuns, o Presidente da
República não estará sujeito a prisão.
§ 4º O Presidente da República, na vigência de seu mandato, não pode ser responsabilizado por
atos estranhos ao exercício de suas funções.
Crimes de responsabilidade – ATENÇÃO
 É necessária cautela com a expressão (múltiplas acepções);
 Crimes de responsabilidade previstos no art. 1º do DL nº 201/67
(Prefeitos e vereadores)
Crimes de responsabilidade previstos no art. 85 da CF;
Art. 85. São crimes de responsabilidade os atos do Presidente da República que atentem contra a
Constituição Federal e, especialmente, contra:
I - a existência da União;
II - o livre exercício do Poder Legislativo, do Poder Judiciário, do Ministério Público e dos
Poderes constitucionais das unidades da Federação;
III - o exercício dos direitos políticos, individuais e sociais;
IV - a segurança interna do País;
V - a probidade na administração;
VI - a lei orçamentária;
VII - o cumprimento das leis e das decisões judiciais.
Parágrafo único. Esses crimes serão definidos em lei especial, que estabelecerá as normas de
processo e julgamento.
Art. 1º - As exceções
I – os tratados, as convenções e regras de direito internacional;

II – as prerrogativas constitucionais do Pres. da República, ministros de


estado, nos crimes conexos com os do Presidente da República, e dos
ministros do STF, nos crimes de responsabilidade;

III – os processos da competência da Justiça Militar;

IV – os processos da competência do tribunal especial;


V – os processos por crime de imprensa
III – os processos da competência da Justiça Militar;

Justiça Militar: escapa da aplicação do CPP os crimes de


competência da Justiça Militar ou castrense. Trata-se de
órgão jurisdicional que possui expressa previsão
constitucional, formado, nos termos do art. 122, CF, pelo
STM e pelos Tribunais e Juízes Militares instituídos por
lei.

Como fica a questão da competência?


CF/88
Art. 124. À Justiça Militar compete processar e julgar os crimes militares
definidos em lei. (ver art. 9º do CPM).

Art. 125, § 4º. Compete à Justiça Militar estadual processar e julgar os militares
dos Estados, nos crimes militares definidos em lei e as ações judiciais contra
atos disciplinares militares, ressalvada a competência do júri quando a vítima
for civil, cabendo ao tribunal competente decidir sobre a perda do posto e da
patente dos oficiais e da graduação das praças.

E os crimes praticados por militares contra civil?


Crimes dolosos contra a vida praticados por militares
contra civil – A competência é da Justiça Comum, nos
termos do art. 9º, parágrafo único, do CPM, devendo o
miliciano submeter-se a julgamento perante o Tribunal do
Júri (“Salvo quando praticados no contexto de ação
militar realizada na forma do [...] Código Brasileiro ode
Aeronáutica.
Crime praticado por militar com arma da corporação -
Conforme jurisprudência, pouco importa se o militar, para a
perpetração de um crime comum, valeu-se de arma da corporação.
Ainda aqui a competência para julgamento será da Justiça comum,
em vista da Lei nº 9.299/96, que, nesse aspecto, alterou o art. 9º, do
CPPM.

E nos crimes conexos: militar e comum?


Crime militar e comum praticados simultaneamente por
militar – Tendo o militar cometido, em uma só ação, um crime
militar e um crime comum, deverá ser o processo desmembrado,
cabendo à Justiça Militar o julgamento daquele primeiro delito
e, à Justiça comum, o julgamento do segundo.

E sobre a questão do interrogatório no CPPM e no CPP?


CUIDADO – De se observar, porém, que a despeito de existir o
CPPM, o STF, na análise do HC nº 127900, julgado em
03.03.205, em que foi relator o Ministro Dias Toffoli, entendeu
que o art. 400 do CPP, ao determinar a realização do
interrogatório após a colheita da prova testemunhal, deve ser
aplicado também aos crimes militares.
Art. 1º - As exceções
I – os tratados, as convenções e regras de direito internacional;

II – as prerrogativas constitucionais do Pres. da República, ministros de


estado, nos crimes conexos com os do Presidente da República, e dos
ministros do STF, nos crimes de responsabilidade;

III – os processos da competência da Justiça Militar;

IV – os processos da competência do tribunal especial;

V – os processos por crime de imprensa


PROCESSO PENAL: Lei processual no espaço
Princípio: Territorialidade (lex fori ou locus regit actum)

E quando se considera ter sido praticada a infração penal em território


nacional?

Art. 6º do CP: Considera-se praticado o crime no lugar em que ocorreu


a ação ou omissão, no todo ou em parte, bem como onde se produziu
ou deveria produzir-se o resultado.

Teoria da ubiquidade ou teoria mista


PROCESSO PENAL: Lei processual no espaço
EXCEÇÕES:

1. Tratados, convenções e regras de direito internacional


2. Prerrogativas constitucionais do Presidente da República, dos
ministros de Estado, nos crimes conexos com os do Presidente da
República, e dos ministros do STF, nos crimes de responsabilidade
3. Os processos da competência da Justiça Militar (Art. 124, CF/88)
4. Processos da competência do Tribunal especial (proibida em função
do Princípio do juiz natural – art. 5º, XXXVII E LIII, CF/88)
5. Processos por crimes de imprensa: ADPF 130-7
PROCESSO PENAL: Imunidades

Imunidades diplomáticas (função exercida):


 se estende a todos os agentes diplomáticos (pessoal técnico-
administrativo), familiares, funcionários de organismos internacionais.
Excluídos os empregados particulares destes agentes....

 Admite-se a renúncia à garantia da imunidade

 As sedes diplomáticas (embaixadas, sede de organismos) não são


consideradas extensão do território estrangeiro, embora sejam
invioláveis
PROCESSO PENAL: Imunidades
Imunidades parlamentares: Art. 53/CF

 Imunidade material ou absoluta: deputados federais e senadores,


garantindo-lhes a inviolabilidade, civil e penal, por suas opiniões,
palavras e votos (também a imunidade material civil).

Imunidade processual, formal ou relativa: garantia de que os


membros do Congresso Nacional não poderão ser presos, salvo em
flagrante de crime inafiançável (aqui os autos serão enviados, em 24
horas à Casa respectiva)
 A imunidade parlamentar não se estende ao corréu sem essa
prerrogativa
PROCESSO PENAL: Imunidades

Imunidades para servir como testemunha: Art. 53, § 6º, CF

 Agente diplomático
 Agente consular (São obrigados só sobre fatos relativos à função)
 Deputados e senadores (imunidade referente somente à fatos
relacionados à função)
PROCESSO PENAL: Imunidades

Prerrogativa de Foro
 Presidente da República: após licença da Câmara dos Deputados pelo
voto de 2/3 dos membros, poderá ser processado perante o STF, nos
crimes comuns, e no Senado, pelos crimes de responsabilidade;
 Ao STF julgar originariamente: Vice-presidente, os próprios ministros
e o Procurador Geral da República, por crimes comuns, e nos crimes
comuns e de responsabilidade, os membros dos Tribunais superiores,
TCU, chefes de missão diplomática de caráter permanente e os
Ministros de Estado, exceto os praticados em conexão com o
Presidente da República;
 Os Deputados e Senadores, desde a expedição do diploma, serão
submetidos a julgamento perante o STF (art. 53,§1º, CF)
 Outras prerrogativas: STJ, TRFs, TJs, etc.
PROCESSO PENAL: Imunidades

IMUNIDADE MATERIAL: (penal, absoluta ou simplesmente


inviolabilidade):

Abrange questões de direito material (penal e civil). Representada


no art. 53, caput: “Os deputados e Senadores são invioláveis, civil e
penalmente, por quaisquer de suas opiniões, palavras e votos”
PROCESSO PENAL: Imunidades

IMUNIDADE FORMAL: (processual ou relativa): Deputados e Senadores

Abrange questões de ordem processual penal:

 Prisão provisória: Art. 53, § 2º, CF


 Possibilidade de sustação de processo criminal: Art. 53,§ 3º, CF
 Desobrigação de testemunhar: Art. 53, § 6º
 Prerrogativa de foro: foro especial: Art. 53, § 1º
PROCESSO PENAL: Imunidades

As imunidades materiais e formais vistas aplicam-se inteiramente


aos deputados estaduais (art. 27, § 1º, CF). Por outro lado, aos
vereadores são aplicáveis apenas as imunidades materiais (penal e
civil – art. 29, VIII), mas não as processuais
Deputados
Federais/Estaduais

Material Senadores
(absoluta)
Vereadores (município)
Imunidade
parlamentar Deputados
federais/Estaduais
Formal
Senadores
(relativa)
Vereadores - não
PROCESSO PENAL: Lei processual no tempo

Art. 2º, CPP: A lei processual aplicar-se-á desde logo, sem prejuízo da
validade dos atos realizados sob a vigência da lei anterior.

 Princípio do tempus regit actum


 Princípio da aplicação imediata
 Se sobrevier – no curso processual – nova lei processual, os atos
praticados sob a égide da lei anterior manterão sua validade normal.
Os atos posteriores seguirão a nova normatização.
PROCESSO PENAL: Lei processual no tempo

O conflito intertemporal diante da reforma introduzida ao CPP pelas


Leis 11.689/2008 e 11.719/2008

1. Remodelação do procedimento do Juri e do procedimento comum


2. Entendimento dos Tribunais Superiores: recepção (mesmo tendo
ocorrido o recebimento da denúncia antes do advento destas leis)
3. “Tempus regit actum” X “Proibição da lei de retroagir para
prejudicar o acusado” (Art. 5º, XL, CF) ?
PROCESSO PENAL: Lei processual e penal

Norma Penal: toda e qualquer norma que afete, de alguma maneira, a


pretensão punitiva ou executória do Estado, criando-a, extinguindo-a,
aumentando-a ou reduzindo-a.

Norma processual: é a norma que repercute apenas no processo, sem


respingar na pretensão punitiva. É o caso das regras que disciplinam a
prisão provisória, proibindo a concessão de fiança ou liberdade
provisória para determinados crimes, ampliando o prazo da prisão
temporária ou obrigando a se recolher à prisão para poder apelar da
sentença condenatória.
PROCESSO PENAL: Lei processual no tempo

Normas processuais heterotópicas: regras/normas que, apesar de


inseridas em diplomas processuais penais, possuem um conteúdo
material, retroagindo para beneficiar o réu. Ou regras/normas, que não
obstante um conteúdo processual, incorporadas às leis materiais.

 O direito ao silêncio assegurado ao réu em seu interrogatório (Art.


186, CPP)
 As normas que disciplinam a competência da Justiça federal
PROCESSO PENAL: Lei processual no tempo

Normas mistas ou híbridas: apresentam duplicidade de conteúdo,


incorporam tanto um conteúdo processual quanto um conteúdo
material:

Art. 366, CPP: Se o acusado, citado por edital, não comparecer, nem
constituir advogado, ficarão suspensos o processo e o curso do prazo
prescricional, podendo o juiz determinar.....

As normas que compõem a Lei 9.099/95 e 10.259/2001 (Juizados


especiais).
PROCESSO PENAL: Lei processual no tempo

Ultra-atividade: aplicação mesmo após a revogação da norma (casos


ocorridos no período da lei)

Retro-atividade: aplicação da lei para casos ocorridos antes do


surgimento da mesma

Dois exemplos clássicos:


A) Extinção do recurso do protesto por novo júri (Lei 11.689/2008
B) Execução penal provisória (ADCs 43 e 44/2016)
TJRJ. Júri. Duplo homicídio qualificado. Condenação.
Recurso. Apelação criminal. Protesto por novo Júri. Fatoocorrido antes da
vigência da Lei 11.689/2008. Hermenêutica. Revogação e ultratividade.
Aplicação. Doutrina. Decisão manifestamente contrária à prova dos autos.
Soberania do júri. Conceito. CPP, arts. 2º e 607. CF/88, art. 5º, XXXVIII,
«a».

• «Tendo sido o crime praticado quando previsto na legislação o protesto


por novo júri, eventual alteração legislativa não pode retroagir para prejudicar o
acusado. Apesar do entendimento tradicional de que no processo penal vigora o
Princípio da Imediatidade previsto no CPP, art. 2º, sendo de aplicação imediata,
independentemente de serem benéficas ou 2 prejudiciais ao réu, as normas
processuais, penso que tal posição deve ser reexaminada de acordo com o texto
constitucional, para concluir no sentido de que a regra da irretroatividade da lei
penal quando desfavorável ao agente deve também compreender a lei
processual penal. Doutrina neste sentido. ...
PROCESSO PENAL: Lei processual no tempo

Normas processuais heterotópicas: inseridas em diplomas


processuais/penais, possui conteúdo material (retroage para beneficiar
o réu):

Dois exemplos clássicos:


A) Direito ao silêncio assegurado em seu interrogatório (art. 186,
CPP)
B) As normas que disciplinam a competência da Justiça federal (Na
Constituição)
PROCESSO PENAL: Lei processual no tempo

Art. 366, CPP:


Se o acusado, citado por edital, não comparecer, nem constituir
advogado, ficarão suspensos o processo e o curso do prazo prescricional,
podendo o juiz determinar a produção antecipada das provas
consideradas urgentes e, se for o caso, decretar prisão preventiva, nos
termos do disposto no art. 312.
PROCESSO PENAL: Interpretação da Lei Processual Penal
Conceito: atividade consistente em extrair da norma processual seu
exato alcance e real significado. A interpretação deve buscar a vontade
da lei, não importando a vontade de quem a fez.

Interpretação quanto ao sujeito que a elabora:

A) Autêntica ou legislativa: pelo próprio texto interpretado ou posterior


(ex tunc)
B) Doutrinária ou científica: ex: exposição de motivos
C) Judicial: órgãos jurisdicionais
PROCESSO PENAL: Interpretação da Lei Processual Penal

Interpretação quanto aos meios empregados:


A) Gramatical, literal ou sintática: literalidade
B) Lógica ou teleológica: a vontade da lei, ou os seus fins

Interpretação quanto ao resultado:


A) Declarativa: correspondência entre a palavra da lei e sua vontade
B) Restritiva: a lei disse mais do que queria – a interpretação vai
restringir
C) Extensiva: a letra escrita da lei fica aquém de sua vontade
D) Progressiva: Adaptativa – objetiva ajustar a lei às transformações
sociais, jurídicas, científicas e até mesmo morais
PROCESSO PENAL: Interpretação da Lei Processual Penal

Formas de procedimento interpretativo:

 Equidade: correspondência ética e jurídica da norma ao caso


concreto;
 Doutrina: estudos, investigações e reflexões teóricas;
 Jurisprudência: repetição constante de decisões no mesmo sentido
em casos semelhantes.
Analogia: forma de interpretação, mas na forma de auto-integração da lei. Após
uma enumeração casuística, a interpretação analógica traz uma formulação
genérica que deve ser interpretada de acordo com os casos anteriormente
elencados. A norma regula o caso de modo expresso, embora genericamente.
1. Quanto à eficácia temporal, a lei processual penal
(A) aplica-se somente aos fatos criminosos ocorridos após a sua
vigência.
(B) vigora desde logo, tendo sempre efeito retroativo.
(C) tem aplicação imediata, sem prejuízo da validade dos atos já
realizados.
(D) tem aplicação imediata nos processos ainda não instruídos.
(E) não terá aplicação imediata, salvo se para beneficiar o
acusado.
2. Quando o intérprete, observando que a expressão contida
na norma sofreu alteração no correr dos anos e por isso procura
adaptar-lhe o sentido ao conceito atual, ocorre a chamada
interpretação
(A) sistemática.
(B) histórica.
(C) extensiva.
(D) progressiva
3. Sobre a aplicação da Lei Processual Penal, é correto afirmar que:

(A) no Brasil, adota-se integralmente o princípio da irretroatividade da lei


processual penal, que impede que as inovações na norma processual penal
sejam aplicadas de imediato para fatos praticados antes de sua entrada em
vigor.
(B) ela admitirá interpretação extensiva e o suplemento de princípios gerais
do direito, mas não a aplicação analógica.
(C) o processo penal reger-se-á, em todo o território brasileiro, pelo Código
de Processo Penal, não havendo qualquer ressalva prevista neste diploma.
(D) as normas previstas no Código de Processo Penal de natureza híbrida, ou
seja, com conteúdo de direito processual e de direito material, devem
respeitar o princípio que veda a aplicação retroativa da lei penal, quando seu
conteúdo for prejudicial ao réu.
(E) ela admitirá interpretação extensiva e aplicação analógica, mas não o
suplemento dos princípios gerais do direito.
JURISDIÇÃO: conceitos
(Távora): é o poder-dever pertinente ao Estado-Juiz de aplicar o direito
ao caso concreto.

(Tourinho): Função: é aquela incumbência afeta ao juiz de, por meio do


processo, aplicar a lei aos casos concretos. Atividade: é toda aquela
diligência dentro no processo objetivando a dar a cada um o que é seu.

(Capez): é a função estatal exercida com exclusividade pelo Poder


Judiciário, consistente na aplicação de normas da ordem jurídica a um
caso concreto, com a consequente solução do litígio.

Etimologicamente: JURIS + DICTIO: dizer o direito


JURISDIÇÃO: princípios

A) Investidura
B) Indelegabilidade
C) Juiz Natural
D) Inafastabilidade
E) Inevitabilidade
F) Correlação ou relatividade
G) Devido Processo Legal
JURISDIÇÃO: características

A) Inércia = depende de provocação.


B) Substitutividade = cabe ao Estado
C) Lide (*) = pressuposto
D) Atuação do direito = caso concreto
E) Imutabilidade = trânsito em julgado
JURISDIÇÃO: Finalidade da jurisdição

a) atuação da vontade da lei;


b) solução de conflitos de interesse;
c) aplicação de justiça a casos concretos.
COMPETÊNCIA: conceito
(Capez): é a medida e o limite da jurisdição, dentro dos quais o órgão
judicial poderá dizer o direito.

(Tourinho): é o âmbito, legislativamente delimitado, dentro do qual o


órgão exerce o seu poder jurisdicional.

(Távora): critério legal de administração eficiente da atividade dos


órgãos jurisdicionais, definindo previamente a margem de atuação de
cada um, externando os limites do poder.
COMPETÊNCIA: espécies

A) Ratione Materiae: natureza do crime praticado;

B) Ratione personae: qualidade das pessoas incriminadas;

C) Ratione loci: local em que foi praticado, consumado,


residência do autor.
Uma abordagem crítico-dialógica do Processo Penal

 (BINDER): O Direito processual penal ocupa-se – primordialmente - dos


limites do poder penal – perspectiva política criminal.

 (BATISTA): As vias institucionais como modo de resolução dos conflitos da


vida social: a) Policial-inquisitva; b) Judicial; c) Penitenciária-excecutória.

 A dialética eficiência-garantia (duplo problema).

 Análise crítica: qual a política criminal vigente? Qual deveria ser a política
criminal?
Uma abordagem crítico-dialógica do Processo Penal
 (NUCCI): O processo penal deve se fundamentar sob o crivo de uma visão
constitucional de direito e democracia – uma vez que o mesmo lida com
liberdades públicas, direitos indisponíveis, inclusive tutelando a dignidade
da pessoa humana.

 (GRECO): O Direito Penal/Processual, baseadas em princípio do


iluminismo, representou uma reação ao autoritarismo e à arbitrariedade
da lei; No entanto o quadro mudou após a 2ª guerra mundial;
 Direito Penal do Inimigo x Direito Penal do Cidadão.

 (PACELLI): O processo de filtragem da interpretação constitucional


(direitos e princípios fundamentais). Permanente necessidade de
estabelecer critérios mais atuais para a aplicação das normas
constitucionais (ADEQUABILIDADE) para a solução de casos concretos.
JURISDIÇÃO: conceitos
(Távora): é o poder-dever pertinente ao Estado-Juiz de aplicar o direito
ao caso concreto.

(Tourinho): Função: é aquela incumbência afeta ao juiz de, por meio do


processo, aplicar a lei aos casos concretos. Atividade: é toda aquela
diligência dentro no processo objetivando a dar a cada um o que é seu.

(Capez): é a função estatal exercida com exclusividade pelo Poder


Judiciário, consistente na aplicação de normas da ordem jurídica a um
caso concreto, com a consequente solução do litígio.

Etimologicamente: JURIS + DICTIO: dizer o direito


JURISDIÇÃO: princípios

A) Investidura
B) Indelegabilidade
C) Juiz Natural
D) Inafastabilidade
E) Inevitabilidade
F) Correlação ou relatividade
G) Devido Processo Legal
JURISDIÇÃO: características

A) Inércia = depende de provocação.


B) Substitutividade = cabe ao Estado
C) Lide (*) = pressuposto
D) Atuação do direito = caso concreto
E) Imutabilidade = trânsito em julgado
COMPETÊNCIA: conceito
(Capez): é a medida e o limite da jurisdição, dentro dos quais o órgão
judicial poderá dizer o direito.

(Tourinho): é o âmbito, legislativamente delimitado, dentro do qual o


órgão exerce o seu poder jurisdicional.

(Távora): critério legal de administração eficiente da atividade dos


órgãos jurisdicionais, definindo previamente a margem de atuação de
cada um, externando os limites do poder.
COMPETÊNCIA: espécies

A) Ratione Materiae: natureza do crime praticado;

B) Ratione personae: qualidade das pessoas incriminadas;

C) Ratione loci: local em que foi praticado, consumado,


residência do autor.
COMPETÊNCIA:

Art. 69. Determinará a competência jurisdicional:


I. O lugar da infração; Ratione loci
II. O domicílio ou residência do réu;
III. A natureza da infração; Ratione materiae

IV. A distribuição;
V. A conexão ou continência;
VI. A prevenção;
VII. A prerrogativa de função. Ratione personae
Conceitos
Distribuição: instituto disciplinador de serviços, significando a repartição dos
processos entre juízes igualmente competentes. (Art. 75, CPP)

Conexão: é a interligação (liame) entre duas ou mais infrações, levando a que


sejam apreciadas perante o mesmo órgão jurisdicional (reunião). (Art. 76,
CPP).

Continência: é o vínculo que une vários infratores a uma única infração, ou a


ligação de várias infrações por decorrerem de conduta única. (Art. 77, CPP).
Conceitos
Prevenção: antecipação. Concorrendo dois ou mais juízes igualmente
competentes ou com jurisdição cumulativa, prevalente é aquele que primeiro
pratica os atos do processo ou medidas relativas ao mesmo. (Art. 70, § 3º,
CPP);

Prorrogação: possibilidade de substituição de competência de um juízo por


outro, sem gerar vício processual.

Perpetuação da jurisdição: uma ação penal, quando iniciada em certo juízo,


nele se mantém, ainda que as regras de competência se alterem ou os motivos
que, inicialmente, encaminharam a demanda para lá cessem.
Como saber qual o juízo competente?
Em razão da matéria
A. Justiça Eleitoral: art. 118/121 da CF;
B. Justiça Militar: art. 124, CF
C. Competência política do Senado Federal: Art. 52, I e II da CF

(Estas são chamadas jurisdições especiais)


Como saber qual o juízo competente?
Em razão da matéria

A Constituição Federal também prevê:


A) Justiça Federal: Art. 109, IV (excluídas as contravenções penais):
Súm. 38 do STJ: “... Compete à Justiça estadual comum...”

B) Justiça comum estadual: (o que não for da competência das


jurisdições especiais e federal) = residual

C) Tribunal do Júri: crimes dolosos contra a vida, da jurisdição estadual


ou federal (Art. 5º XXXVIII, d).
Outros critérios (Grinover, Scarance e Magalhães) = As
nulidades do processo penal
Devem ser formuladas as seguintes indagações:
A) A jurisdição competente? Justiça comum ou justiça especial?
B) O órgão jurisdicional hierarquicamente competente. O acusado tem foro
privilegiado por prerrogativa de função?
C) O foro territorialmente competente (ratione loci). Lugar da infração ou
domicílio do réu?
D) Juízo competente. Competência interna. Qual a vara competente, de acordo
com a natureza da infração penal? Vara comum ou vara do Júri?
E) Competência interna. Qual o juízo competente?
F) Recurso. Qual o órgão competente para julgar o recurso?
Competência material e competência funcional

Competência material: A) ratione materiae; B) ratione personae; C) ratione Loci.


Neste critério, competência material é um termo mais amplo que
competência ratione materiae.

Competência funcional: A) fase do processo; B) Objeto do juízo; C) grau de


jurisdição (competência funcional vertical).
Competência absoluta e relativa
Competência absoluta ou constitucional: prevista em atenção ao interesse público.
Eventual desatendimento não convalidará os atos praticados no transcorrer do
processo. Pode ser alegada a qualquer momento. Pode ser reconhecida de ofício.
Competência relativa: atende sobretudo, aos interesses das partes. Se não suscitada
em tempo hábil, implica preclusão. Alegada na defesa preliminar (10 dias, art. 396,
CPP).
Matéria controversa: ambas podem ser declaradas de ofício. Art. 397, CPP X Súmula 33 do
STJ: a incompetência relativa não pode ser declarada de ofício.

A competência territorial: é relativa. Se não alegada oportunamente ocorre


preclusão. Por conseguinte, é prorrogável (STF).
Etapas para fixação da competência

1ª etapa: verificação da competência


ratione materiae

Trata-se de hipótese concernente


à Justiça especial ou à comum ?

Justiça comum
Justiça especial

Militar: processar e julgar Federal: o processo e


Eleitoral: processar e crimes militares, salvo os Estadual: competência
julgamento nas hipóteses
julgar os crimes dolosos contra a vida residual, vale dizer, o que não
previstas nos arts. 108 e 109
eleitorais praticados por militar contra concernir às demais áreas
da CF
civil
2ª Etapa: verificação da
competência ratione personae

Há foro privilegiado: o processo Não há foro privilegiado: o


deverá iniciar perante o tribunal processo tramitará e será julgado
a que afeta a competência para perante os juízos monocráticos
tramitação e julgamento (v.g., juiz de direito, juiz eleitoral,
etc.
3ª Etapa: verificação da competência
ratione loci

Exceção 1: iniciada a consumação no Exceção 2: último ato de execução


Regra: competência do local em praticado no exterior, competente
Brasil e resultado consumado no
que consumada a infração ou o foro nacional em que o resultado
exterior, comportará o foro nacional do
praticado o último ato de foi ou deveria ser produzido (art.
último ato da execução (Art. 70, § 1º do
execução (Art. 70 do CPP) 70, § 2º do CPP)
CPP).

A partir desta análise, as seguintes situações poderão ocorrer


A partir desta análise, as seguintes situações poderão ocorrer

Define-se Crime ocorreu na divisa Desconhecido Infração alcança A hipótese de crime


exatamente o de duas ou mais o local da território de mais continuado ou de
foro competente comarcas (Art. 70, § 3º) infração de uma Comarca crime permanente

O processo Incerto o local Incerto o local Competência é Competência se dá Competência se dá


tramitará da divisa entre em que ocorreu do domicílio do pela prevenção (Arts. pela prevenção (Arts.
nesse foro as comarcas o crime réu (Art. 72, CPP) 70, § 3º e 83, CPP) 71 e 83, CPP)

Competência define-se pela Incerto o Réu possui


prevenção (Art. 70, § 3º, CPP domicílio mais de um
do réu domicílio

Competente o
Define-se a
juízo que
competência pela
primeiro tomar
prevenção
ciência do fato

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