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1. Introdução
O desenvolvimento da economia nordestina esteve ligado, desde a sua origem, à
empresa comercial açucareira, voltada para o mercado externo e assentada em base
escravista, latifundiária e com rígidas estruturas econômicas e sociais. À medida que a
produção açucareira se expandia, empurrava para o interior as atividades locais de
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Mestre em Economia pela Universidade Federal de Alagoas. e-mail: cavalcantejupiraci@gmail.com
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Doutor em Desenvolvimento Econômico da UNICAMP, Professor da Universidade Federal de Alagoas
(UFAL). e-mail: cid.feitosa@feac.ufal.br
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Segundo Cano (2002), esta situação seria modificada somente em meados da década de 1950, quando as
exportações para o exterior foram superadas pelas exportações para o mercado interno.
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Criado em 1945, o Departamento Nacional de Obras Contra as Secas (DNOCS) tinha como objetivo investigar
os condicionamentos físicos, econômicos e sociais da região Nordeste para a implantação de rodovias, ferrovias,
construção de barragens, açudes, poços e desenvolver a irrigação (GOODMAN e ALBUQUERQUE, 1971).
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Dentre os principais movimentos destacam-se as Ligas Camponeses e a sua luta por uma radical reforma agrária;
os movimentos de reforma de base (agrária, urbana, universitária, tributária etc.); o movimento de base da Igreja
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Diante desse contexto, em 1956, o Governo Federal criou o Grupo de Trabalho para
o Desenvolvimento do Nordeste (GTDN), cujo propósito era identificar os principais problemas
da região, as oportunidades para superá-los e os mecanismos mais eficazes para o seu
desenvolvimento econômico e social. Na visão de Furtado (2003, p. 67), o atraso da região,
além de ter como fator a rigidez fundiária e a estagnação do setor agrícola, estava assentado
na ausência de uma estrutura produtiva que agregasse valor. Isto porque o “crescimento era
de caráter puramente extensivo, mediante a incorporação de terra e mão-de-obra, não
implicando modificações estruturais que repercutissem [...] na produtividade”. Deste modo, o
GTDN propunha uma industrialização planejada para o Nordeste, com ênfase no processo de
substituição regional de importações e na utilização de poupança extra regional.
A criação da Superintendência para o Desenvolvimento do Nordeste (SUDENE), em
1959, representou a instituição de uma política regional, que ia atrelar a economia nordestina
ao processo de industrialização do país e tornar menos dependente das atividades
exportadoras. Cabe destacar que os planos econômicos nacionais, até então, tinham por
característica uma administração paternalista, cujos incentivos eram concentrados espacial e
setorialmente de forma intencional. Essa constatação evidenciava a urgência na
implementação de um planejamento regional que pudesse agir sobre os problemas
socioeconômicos do Nordeste.
Diante dos elementos até aqui apresentados, o objetivo deste artigo é identificar a
importância da Sudene no processo de desenvolvimento econômico da região Nordeste. Para
alcançar o objetivo, será realizada uma ampla revisão da literatura, através de pesquisa
bibliográfica, com o levantamento de referências teóricas já analisadas e publicadas por meios
escritos e eletrônicos, como livros, artigos científicos, páginas de web sites. O artigo tem
natureza descritiva e explicativa. Para Gil (2007), a descrição reúne uma série de informações
sobre o que deseja pesquisar e a explicação preocupa-se em identificar os fatores que
determinam ou que contribuem para a ocorrência dos fenômenos. Em relação à abordagem
utilizada, o texto tem natureza qualitativa, estando centrado na compreensão e explicação de
diversas orientações teóricas.
A argumentação está dividida em seis seções, incluindo esta introdução como
primeira. A segunda traz um panorama da economia nordestina antes da existência de uma
política nacional de desenvolvimento regional e do trabalho do Grupo de Trabalho para o
Desenvolvimento do Nordeste (GTDN). Na terceira seção é discutida a importância da
SUDENE para o Nordeste A quarta seção apresenta tantos resultados da atuação da
SUDENE como sua crítica e própria extinção as principais medidas de atuação da SUDENE
Católica, a presença do Partido Comunista no campo e o receio de se repetir no Brasil algo semelhante à
Revolução Cubana.
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importação, principalmente de bens de capital, e relativa escassez de divisas. Por fim, outro
elemento de destaque foi que o Nordeste apresentava graves problemas de recursos naturais
e distribuição de renda, sendo a maior parte deste último devido à alta concentração de renda
nas mãos de grandes proprietários fundiários desde o início da economia açucareira. Assim,
a industrialização seria o único caminho para elevar o nível de renda regional, promover
diversificação produtiva e desenvolvimento econômico, mas, sozinha, seria incapaz de
modificar por completo a arcaica estrutura regional (GTDN, 1997;1981).
Diante deste quadro, propugnava a necessidade de uma profunda transformação
agrícola e agrária, bem como, um amplo processo de industrialização, para tirar a região
Nordeste do atraso econômico e social em que se encontrava. Assim, elaborou um plano de
desenvolvimento econômico abrangente, em torno de quatro metas básicas, em uma proposta
articulada:
a) intensificação dos investimentos industriais visando criar no Nordeste um
centro autônomo de expansão manufatureira;
b) transformação da economia agrícola da faixa úmida com vistas a proporcionar
uma oferta adequada de alimentos nos centros urbanos, cuja industrialização
deveria ser intensificada;
c) transformação progressiva da economia das zonas semiáridas no sentido de
elevar sua produtividade e torná-las mais resistentes ao impacto das secas;
d) deslocamento da fronteira agrícola do Nordeste visando incorporar à economia
da região as terras úmidas do hinterland maranhense que estavam em
condições de receber os excedentes populacionais criados pela reorganização
da economia da faixa semiárida.
O modelo de agricultura prestes a emergir ainda necessitaria de condições efetivas
para melhoria rural. Na análise de Vidal (2001) a modernização da agricultura de subsistência
somente modificaria a estrutura como se apresentava a pobreza no campo, que tinha origem
na produtividade e na exploração de mão de obra a custo barato, logo, a mesma pobreza
passaria a ser de componente estrutural, pelo do capitalismo no campo.
Mindlin (2003) ainda avaliou que a dinâmica da interação da agricultura com o setor
secundário da economia nordestina tinha uma relação funcional e de manutenção das
disparidades setoriais.
Figura 1 - Fluxo de renda com dois setores econômicos com objetivos anunciados
pelo GTDN - Fonte: MINDLIN (2003, p.124).
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empreendimentos que substituíssem quase 40% das importações vindas do exterior (10
pontos); produção de bens na região nos custos das matérias primas e materiais secundários
(10 pontos); projetos localizados na jurisdição da região (15 pontos); projetos com participação
de 25% da mão de obra no valor agregado (5 pontos); modernização de empresas
preexistentes (5 pontos); participação do trabalho no resultado financeiro (5 pontos) e projetos
de empresas de capital aberto (5 pontos).
Os projetos apresentados à Sudene eram elaborados em escritórios especializados e
por projetistas que tinham conhecimento do sistema de pontuação e quase sempre
sinalizados pelas influências empresariais. Alguns projetos aprovados eram tecnicamente
insustentáveis, noutros existia uma inadequação de projetos, a ausência de avaliação prévia
da infraestrutura local, a falta de informações após a emissão de certificados de
empreendimento implantado.
Apesar das irregularidades e distorções expostas em trabalhos de CPI, a estrutura
industrial nordestina, no contexto de sua formação histórica, já estava estabelecida por
importante complexos industriais dinâmicos como Polo Químico e Petroquímico da Bahia,
Sergipe e Alagoas, o Complexo Metalúrgico entre Recife e Alagoas, Complexo Têxtil-
Confecções ente Natal e Fortaleza e Complexo Mineral-Metalúrgico (CPI, 2001).
A extinção da SUDENE não foi decorrente somente de denúncias que envolviam
fraudes em recursos públicos, mas também pela intermediação de ações políticas atuando
nas regiões e da falta da criação de condições sustentáveis para a região, incluindo a parte
semiárida. O esvaziamento da SUDENE, resultando em seu término, também expressa a
fragilidade do Estado em implementar um projeto nacional de desenvolvimento de forma
inclusiva, contemplando problemáticas de cunho técnico e os anseios sociais e regionais. A
recriação de uma nova SUDENE implica também na reconstrução de sua imagem, tão
associada ao desvio de verbas e ausência de critérios objetivos.
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Taxa de alfabetização
de pessoas com 5
anos ou mais de idade 78,97 80,9 83,99 82,64 82,04 84,44 78,36 81,99 84,37 82,59 90,31
(%)
Taxa de escolarização
de 4 anos ou mais de
idade (%) MA PI CE RN PB PE AL SE BA NE BR
6 a 14 anos 98,4 98,8 98,8 98,4 97,3 97,6 97,1 99,1 98 98,1 98,4
15 a 17 anos 84,4 88,6 83,2 79,8 79,7 83,2 80 86,1 82,7 83,1 84,3
18 a 24 anos 30,7 35,1 25,3 30,4 31,5 28,1 28,7 36,6 31,5 29,9 30
25 anos ou + 4,4 5,1 4,3 5 5,8 4,2 4,8 4,2 4,9 4,7 4,1
Pessoal de 10 ou mais
anos de idade
distribuído por anos de MA PI CE RN PB PE AL SE BA NE BR
estudo (%)
4 a 7 anos 25,3 26,3 24,6 23,9 26,5 25,8 27,4 25,7 26,2 25,7 25,4
11 a 14 anos 20,3 19,2 25 25,8 21,8 26,2 19 23,2 25,1 23,8 28,3
15 ou mais 4,6 5,9 5,2 6,9 7,4 6,7 4,8 6,5 5,4 5,8 9
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necessárias quanto o fortalecimento das capacidades produtivas e isso inclui uma agenda
voltada para educação, ciência e tecnologia.
Bahia
Alagoas
Paraíba
Ceará
Maranhão
0 2.000.000 4.000.000 6.000.000 8.000.000 10.000.000 12.000.000 14.000.000
2013 2007
10%
Maranhão
4%
Piauí
28%
Ceará
15%
Rio Grande do Norte
5% 7%
20% Paraíba
5%
6% Pernambuco
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são importantes vetores de inclusão social, pois a região apresenta uma diversidade artesanal
de modo que pode propiciar desenvolvimento através do turismo cultural, conforme
demonstra-se no Gráfico 3.
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6. Considerações Finais
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Referências
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Evidência Econômica, Passo Fundo, v.12, n.23, p.97-128, nov. 2004.
CANO, Wilson. Ensaios sobre a formação econômica regional do Brasil. Campinas: Editora
da Unicamp, 2002.
CARVALHO, O. Nordeste: a falta que o planejamento faz. In: Anais do Seminário Nacional:
Regiões e Cidades, Cidades nas Regiões - a Espacialidade do Desenvolvimento Brasileiro.
Campinas/SP: Associação Nacional de Pós-Graduação e Pesquisa em Planejamento Urbano
e Regional-ANPUR, 2001.
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FURTADO, Celso. Uma política de desenvolvimento econômico para o Nordeste. 2.ed. Recife:
SUDENE, 1967.
______. Formação Econômica do Brasil. 32.ed. São Paulo: Companhia Editora Nacional,
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GIL, A. C. Como elaborar projetos de pesquisa. 4. ed. São Paulo: Atlas, 2007.
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