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PROGRAMA LEITE DAS CRIANÇAS DO ESTADO DO PARANÁ: A URGÊNCIA

DAS POLÍTICAS PÚBLICAS COMO INSTRUMENTO DE COMBATE À FOME E


MORTALIDADE INFANTIL
CHILDREN'S MILK PROGRAM IN THE STATE OF PARANÁ: THE URGENCY OF
PUBLIC POLICIES AS AN INSTRUMENT TO FIGHT HUNGER AND INFANT
MORTALITY

Dalila Analy Goes Labor Hennel


Iniciou os estudos em Ciências Sociais pela UFPR – Universidade Federal do Paraná
participando do NUSP – Núcleo de Pesquisa em Sociologia Política Brasileira, concluiu a
graduação em Ciências Econômicas pela UFPR e atualmente é residente técnica no DESAN –
Departamento de Segurança Alimentar e Nutricional da SEAB/PR Secretaria de Agricultura e
Abastecimento do Estado do Paraná pela UNIOESTE - Universidade Estadual do Oeste do
Paraná. E-mail: dalilaufpr@gmail.com

Grupo de Trabalho (GT): GT10. Abastecimento, segurança alimentar e nutricional e


dinâmicas de consumo

Resumo
O Programa Leite das Crianças foi criado pelo decreto nº 1.279 de 14 de maio de 2003, instituído pela Lei Estadual
n. º 16.385 de 25 de janeiro de 2010, alterado pela Lei nº 16.475 de 22 de abril de 2010 e regulamentado pelo
Decreto Estadual n. º 3000 de 7 de dezembro de 2015 com o objetivo de garantir a segurança alimentar e nutricional
das crianças paranaenses de 6 a 36 meses e das mães gestantes e nutrizes. É uma ação regional que está em
consonância com o Decreto Nº 7.272, de 25 de agosto de 2010 que define as diretrizes e objetivos da Política
Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional – PNSAN instituída pelo Governo Federal. Esta pesquisa ressalta
a importância das políticas públicas de combate à fome desnutrição para garantia dos direitos civis e efetividade
de um Estado Democrático de Bem-Estar Social. Considera a relação do fortalecimento da Agricultura Familiar
como substancial à produção de alimentos em consonância com a cultura nutricional local. Expõe as características
regionais do sistema lácteo paranaense, revisita o caminho histórico da luta no Brasil pelo direito humano a
segurança nutricional, relaciona a alimentação digna com os direitos de gênero, raça e classe e constata o êxito dos
mais de 18 anos do Programa Leite da Criança no alcance dos Objetivos do Desenvolvimento Sustentável.
Palavras-chave: Segurança Alimentar. Agricultura Familiar. Produção leiteira. Políticas Públicas. ODS –
Objetivos do Desenvolvimento Sustentável

Abstract
The Children's Milk Program was established by State Decree n. 1.279 of May,14 2003, supported by State Law
n. 16,385, of January 25, 2010, changed by State Law n. nº 16.475 of aphri, 22, 2010 and regulated by State
Decree n. 3000, of December 7, 2015, with the objective of guaranteeing the food and nutritional security of
children aged between 6 and 36 months in Paraná and of pregnant and nursing mothers. It is a regional action in
line with Decree No. 7,272, of August 25, 2010, which defines the guidelines and objectives of the National Food
and Nutrition Security Policy – PNSAN instituted by the Federal Government. This research highlights the
importance of policies to guarantee civil rights and public to combat hunger and malnutrition in a welfare state.
Consider the nutritional relationship of strengthening smallholders as substantial to food production in line with
local culture. It exposes the regional characteristics of the dairy system in Paraná, revisits the history of the
struggle in Brazil for the human right to nutritional security, relates decent food to the rights of gender, race and
class, and notes the success of the Leite da Criança Program for over 18 years. in achieving the Sustainable
Development Goals.
Key words: Food Security. Family farming. Dairy Production. Public policy. SDGs - Sustainable Development
Goals.

1. Introdução

O Programa Leite das Crianças é resultado da confluência entre a cadeia produtiva


agroindustrial das bacias leiteiras do Paraná e o trabalho vocacionado de policy makers em
favor da segurança alimentar e nutricional da população paranaense. Demonstra a importância

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do empoderamento de atores locais da economia regional para que o desenvolvimento de
políticas públicas solidifique um Estado de Bem-Estar social acolhendo os direitos civis dos
contribuintes. Permanece atingindo seus objetivos de forma contínua, independente dos cíclicos
dos programas de governo que ocupam este espaço através dos ritos democráticos.
Alcançados mais de 18 anos do Programa, é necessário reconhecer seus efeitos e analisar
os desafios pelos quais avança. O perfil da produção, consumo, do Estado e mercados mudam
com o tempo exigindo observações constantes que acompanhem as inovações e resistam aos
obstáculos. Os empenhos dessa pesquisa justificam-se no que pretende contribuir para estas
análises em favor do desenvolvimento do Programa Leite das Crianças do Estado do Paraná.
Diante deste cenário, o objetivo deste artigo é demonstrar como este programa tornou-
se uma política pública para além de um projeto de governo valendo-se da organização
democrática da sociedade em confluência com as políticas de desenvolvimento agroalimentares
que se tornaram agenda em todo o mundo. Elucidar-se-á o impacto positivo do PLC-Programa
Leite das Crianças na erradicação da mortalidade infantil combatendo a subalimentação neste
período crucial para formação saudável do indivíduo. Necessário é expor o desenvolvimento
do setor produtivo da agroindústria leiteira no Paraná - sobretudo o impacto da Agricultura
Familiar - na produção da cultura nutricional local. Revisitar-se-á a consolidação das políticas
de combate a fome no país. Por fim, articular-se-á o PLC com os objetivos do desenvolvimento
sustentável, sobretudo o Objetivo 2: “Fome Zero e Agricultura Sustentável”.
Para alcançar o exposto, apresentar-se-á os caminhos de institucionalização quanto as
rotinas de trabalho no quotidiano do programa que supera tensões entre Estado e governo na
manutenção de políticas públicas - comuns aos direitos civis democráticos. A observação
participante quanto ao trabalho com policy makers e técnicos da Secretaria de Agricultura e do
Abastecimento do Estado do Paraná embasam algumas considerações tecidas frente aos
resultados quanto a relevância em operacionalizar esta política pública.
Seguir-se-á com inferências em favor da importância da Agricultura Familiar como
ferramenta de segurança alimentar e nutricional de uma região e fundamental para o
desenvolvimento sustentável em escala global. Descrevendo e analisando os sucessos e desafios
quanto a garantia do trabalho digno no campo em favor da alimentação das crianças
paranaenses. Exterminar a desnutrição na infância e fomentar a Agricultura Familiar é crucial
para um ambiente que reduza a assimetria de oportunidades em que pese a miséria e os
preconceitos. O texto que segue abrirá espaço elucidando as forças envolvidas para alcançar
estes objetivos quanto ao PLC – Programa Leite das Crianças.

2. Considerações sobre o setor de leite paranaense e as assimetrias de oportunidade na


produção rural

O Brasil é o terceiro maior produtor mundial de leite segundo relatório de 2019 da FAO
ficando atrás dos EUA e da Índia. O país é, também, um dos maiores consumidores de lácteos
mundiais, ocupando a quarta posição, atrás dos EUA, Índia e China - consecutivamente. No
ano de 2020, foram produzidos 35,4 bilhões de litros de leite no território nacional - cujo valor
da produção alcançou R$ 56.510.848.000,00. O Paraná representou 13,09% deste total com um
volume de 4,6 bilhões de litros. Os dados são da PPM – Pesquisa da Pecuária Municipal do
IBGE e revelam que os paranaenses são os segundos do ranking, ficando atrás de Minas Gerais
com 9,6 bilhões de litros, participando com 27,37% do total. Quanto ao valor da produção, o
ranking é o mesmo com o Paraná recebendo R$ 7.767.393.000,00 atrás de Minas Gerais com o
valor de R$ 15.991.870.000,00. A análise dos resultados deste período reforça a continuidade
de uma tendência exposta no relatório técnico da Embrapa que aponta a expressiva taxa de
crescimento da região Sul nos últimos dez anos na produção de leite:

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“Minas Gerais, historicamente o maior estado produtor do Brasil, produzia em 1997,
5,6 bilhões de litros, 1,26 bilhão a mais que o volume total dos três estados do Sul.
São Paulo, com mais de 2 bilhões de litros, detinha a segunda maior produção do
Sudeste. Entretanto, passadas pouco mais de duas décadas, os estados sulistas
evoluíram de forma muito mais expressiva na produção. Entre 1997 e 2018, a
produção de Minas Gerais cresceu 60% e em São Paulo caiu 18%. No mesmo período
na região Sul, a produção cresceu 122% no Rio Grande do Sul, 177% no Paraná e
249% em Santa Catarina” (EMBRAPA.2022a)

A produção primária de leite paranaense cresceu significativamente de 1997 a 2018


garantindo expressiva comercialização do excedente por parte de seus produtores. Um
indicativo importante quanto a profissionalização e modernização da produção láctea é o
crescimento da produção inspecionada: que passa pelo crivo de fiscalizações adequadas em
detrimento a produção informal sem garantia de controle de qualidade. O Paraná expressa
grande avanço no volume de leite inspecionado adquirido pelos laticínios, passando da quinta
colocação para a segunda, conforme demonstra o Gráfico 1.

Gráfico 1 - Volume de leite inspecionado adquirido pelos laticínios em Estados selecionados


(Top 6), em 1997 e 2019 (em milhões de litros)
Milhões de Litros de Leite Inspecionado
7.000.000 6.285.195
1997 2019
6.000.000

5.000.000

4.000.000 3.307.865 3.255.410


2.786.410 2.760.653 2.636.340
3.000.000

2.000.000

1.000.000

0
Minas Gerais Paraná Rio Grande do São Paulo Santa Catarina Goiás
Sul

Fonte: EMBRAPA (2022b).

Quanto ao padrão sanitário, vale ressaltar que a OIE-World Organisation for Animal
Health (Organização Mundial de Saúde Animal) reconheceu todo o território paranaense como
livre de febre aftosa na ocasião de sua 88ª Sessão Geral Anual da Assembleia Mundial de
Delegados que foi realizada em maio de 2021. Esta é uma importante conquista para a
segurança alimentar e produtividade na produção primária de leite do estado. Adiante, será
demonstrado o quanto o Programa Leite das Crianças beneficiou, não só as nutrizes e crianças
atendidas, mas toda a população e que reforçou o papel social do Estado quanto ao padrão de
fiscalização de qualidade - com importante foco ao combate de microrganismos patogênicos
letais que causam altos índices de mortalidade infantil.
Entre as regiões do Paraná, quando são consideradas os núcleos regionais estabelecidos
pela SEAB/PR, as regiões Sudoeste (Núcleos Regionais de Francisco Beltrão e Pato Branco),
Região Centro Oriental (Núcleos Regionais de Ponta Grossa, especialmente os municípios de
Castro, Carambeí, Palmeira, Arapoti) e Região Oeste (Núcleos Regionais de Cascavel e Toledo)

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compõe a principal bacia leiteira paranaense e apresentam altos índices de produtividade. A
Figura 2 representa essa distribuição espacial da produtividade da produção de leite entre os
municípios do Paraná para o ano de 2020.

Figura 2 – Produtividade da produção de leite (produção de leite/vacas ordenhadas), por


município e núcleos regional da Secretaria da Agricultura e do Abastecimento (SEAB) do
Paraná - 2020

Fonte: Adaptações do autor a partir dos dados da Produção Agropecuária do IBGE (2022).

Observando a Figura 2, fica evidente a heterogeneidade quanto a concentração da


produção primária de leite no Paraná que suscitam pesquisas detalhadas como as que descrevem
os autores Silva; Camara, & Telles (2016):
“Foram identificados clusters espaciais do tipo Alto-Alto para o VBP da pecuária de
leite no Oeste e Sudoeste paranaenses, uma vez que esses altos valores são reflexo das
tecnologias empregadas nos rebanhos leiteiros presentes nessas áreas e que implicam
grande capacidade produtiva de leite, movimentando o setor da agroindústria leiteira.
Ademais, clusters do tipo Baixo-Baixo são encontrados nas porções norte do estado
do Paraná e Metropolitana de Curitiba, como apontado pela distribuição do VBP da
pecuária leiteira.” (SILVA; CAMARA, & TELLES.2016a)

Relatórios técnicos da SEAB, Embrapa, bem como a produção científica das


Universidades paranaenses ressaltam a importância quanto aos diferentes modos produtivos
inter-regionais. A estrutura produtiva empregada na região Centro Oriental é expressiva quanto
a tecnologia que apresenta altos índices de produtividade com rebanhos jersey, holandês e
pardo-suíço alcançando até 40 litros/dia. Estes rebanhos garantem alta produtividade, há
tecnologia de ponta na extração do leite e o manejo permanece confinado reduzindo espaço -
embora repercutindo em altos custos com ração. No Sudoeste, o crescimento se manteve estável
nos últimos 10 anos em uma constante quanto ao negócio já estabelecido.

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Ainda que a produtividade - relação ótima de leite extraída por animal - não seja
expressiva nas demais regiões, estas conseguem produzir considerável volume de leite. Nestes
casos, uma quantidade maior de vacas é necessária para a produção, dispostas em maior área
alimentando-se no pasto (economizando custos com ração) e a extração do leite não parte de
maquinários que necessitam de disponibilidade de capital para investimento. A maquinaria é
representativa no custo fixo e depende de financiamentos de longo prazo. A ração é o mais caro
componente do custo variável no que a oscilação dos preços dos cereais impacta
significativamente as margens de lucro frente ao preço pago direito ao produtor na
comercialização do leite.
Mesmo nas regiões paranaenses em que a produtividade é menor é possível ter uma boa
receita no que se economiza custos com o manejo de um rebanho mais numeroso em sistema
de pastagem extensiva ou semi-intensiva cujo pasto é complementado com alimentação
suplementar (CARVALHO; GUIMARÃES; HACK; KOEHLER; MORAES; SILVA.2008).
Esse modo de produção é mais intensivo em trabalho humano (menos tecnificado), com custos
de produção menores e igualmente seguro no que seguem os padrões sanitários. Mas as
tendências macroeconômicas de concentração da produção por ganhos de produtividade e as
oscilações de preço pago direto ao produtor representam desafios a estas localidades.
Com a redemocratização houve mudanças na estrutura do mercado de leite, bem como
da economia nacional de forma geral. A SAN – Segurança Alimentar e Nutricional que será
explanada adiante se reestrutura junto aos paradigmas que vão gerar a Constituição Federal de
1988, nossa Carta Magna vigente, conhecida como Constituição Cidadã. A primeira metade do
século passado o preço do leite era tabelado pelo governo - que teve um papel interventor em
toda a economia. No final do século XX, com a abertura econômica, surge a necessidade de
estabilizar o preço para uma economia de mercado com pleno emprego e justa distribuição de
renda e riquezas. Para regular o mercado e equilibrar a precificação do leite é fundado, em 2001,
o Conseleite – órgão composto por governos, empresários e sociedade civil que pertence ao
sistema FAEP/PR - Federação da Agricultura do Estado do Paraná e SENAR/PR Serviço
Nacional de Aprendizagem Rural - como fonte de coordenação do setor na região estabelecendo
um valor de referência para o produto com metodologia participativa e utilizada até hoje.
Em 2014, A Aliança Láctea Sul Brasileira foi firmada visando a coordenação entre Rio
Grande do Sul, Santa Catarina e Paraná para o desenvolvimento do setor na região Sul. Este
acordo foi possível graças ao avanço da produtividade nestes Estados e pelo contexto do
Mercosul, em que os acordos econômicos de livre comércio exigem preços competitivos frente
aos desafios do Custo Brasil em comparado, sobretudo, com a Argentina – país produtivo, com
custos mais baixos e significativo exportador de leite (HOFER, SHIKIDA.2000).
A produção coordenada nos permite interpretar a eficiência destes mercados sob a óptica
da firma como uma estrutura de governança e não a reduzindo como mera função de produção.
Diversas pesquisas sobre a produção de leite na região Sul apontam para este caminho: do
reconhecimento da coordenação dos atores locais, governança, como importante fator de êxito
no planejamento econômico deste mercado. Bem como do desenvolvimento regional endógeno
no que garante a articulação das vocações locais e características da população agrária
paranaense, quais sejam, de produtores rurais difundidos numa menor concentração de terra em
comparado a outros Estados. Onde se organiza como monopsônio com poder transnacional o
reconhecido setor de frango. De forma análoga observamos, modestamente, a organização da
produção leiteira.
Estratégias de redução de custos de transação e planejamento a longo prazo favorável à
estabilidade entre fornecedores são persistentes desafios quanto a cadeia produtiva
agroindustrial láctea que se modernizou expressivamente nos últimos 20 anos. Crucial é o papel
das Cooperativas nessa região para êxito nesta integração vertical quantos aos clusters das

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economias referidas. Este mercado conta no Paraná com um setor cooperativista forte. Dessa
forma, os laticínios têm planejamento quanto a matéria prima de vários produtos para o
beneficiamento com os quais a população consumidora encontra alimentação adequada,
emprego e renda neste setor.
O último Censo Agropecuário realizado pelo IBGE revela que o associativismo entre
cooperados neste setor cresceu 67,3% no território nacional em 2017 se comparado a 2006
sendo 579,5 mil o total de estabelecimentos associados em cooperativas em 2017. De todos os
estabelecimentos agropecuários no país 11,4% se organizam como cooperados. Os Estados da
região Sul são os que concentram o maior número alcançando de 30% a 40% deste tipo de
organização da produção rural.
Um problema relevante levantado pelos movimentos sociais e pesquisadores é a
capacidade de produção de forma agroecológica e sustentável gerando excedentes para
comercialização que se torna mais difícil conforme a produtividade orientada pela lógica do
agronegócio avança mercados sem levar em conta as necessidades apontadas pela agroecologia
e desenvolvimento sustentável. É pertinente uma simbiose orientada ao diálogo que gere síntese
entre os sistemas quanto a necessidade da atividade orientada à exportação e o custo de
oportunidade no uso da terra em sua função social - em que compete o compromisso da garantia
quanto a segurança alimentar. A produção de hortaliças, por exemplo, e gêneros que alimentam
a demanda interna não é comportada concomitantemente ao sistema de plantio para cereais
orientados para exportação como a soja.
Estudos que visam a sustentabilidade agroecológica denunciam que ocorre uma divisão
produtiva entre a Agricultura Familiar e o agronegócio no uso da terra para sistemas
agroindustriais. Expressa-se uma divergência entre a produção orientada à exportação e aquela
destinada a demanda doméstica por alimentação em que pese problemas sociais como a
condição das etnias autóctones com modos de produção campesinos que usavam a floresta
(mata nativa) como sistema de pousio. As etnias em diáspora africana que buscaram resistência
associando-se em quilombos ainda resistem a diversas violações. As CTPs – Comunidades e
povos Tradicionais que antes eram produtores de alimentos compõe sensível público que
demanda políticas públicas de combate à fome, pois apresentam dificuldades ímpares para
absorção pelo modo de produção capitalista quanto a autonomia de emprego e renda necessária
para o consumo de bens elementares para sua nutrição já que não gozam mais de autonomia
produtiva para isso. A Ação Brasileira Pela Nutrição e Direitos Humanos assim divide os modos
produtivos aqui confrontados:
“Como se pode notar, a temática da soberania alimentar relaciona-se fortemente à
produção de alimentos (o que se produz, como e para quê), e não é compatível com o
modelo hegemônico voltado às necessidades do mercado internacional. A soberania
alimentar pressupõe modelos que priorizem condições adequadas de vida no campo,
sustentabilidade econômica, social e ambiental e segurança alimentar e nutricional a
todas as pessoas. De maneira superficial, podemos definir basicamente dois principais
modelos de desenvolvimento rural que apontam para concepções distintas de
ocupação do espaço agrário, de organização social e de relação com a natureza
(CONSEA, 2010), sendo eles: Modelo agroexportador fundamentado em grandes
propriedades monocultoras, na produção em larga escala, que poupa mão de obra e
usa intensamente mecanização, irrigação e insumos industriais como agrotóxicos,
sementes transgênicas e rações (CONSEA, 2007 apud CONSEA, 2010). Modelo de
Agricultura Familiar baseada em pequenas propriedades com produção diversificada
e voltada prioritariamente ao mercado interno.” (ABRANDH, 2010).

Considerando o Censo Agropecuário de 2017 constatamos a divisão de gênero e raça


no acesso à terra no Brasil. Os dados da Tabela 2 demonstram que, no Brasil, 81% da direção
dos estabelecimentos agropecuários é chefiada por homens contra 19% em relação às mulheres.

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As etnias autóctones (indígenas) agora detêm cerca de 1% da propriedade de suas terras. As
pretas aparecem como proprietárias em apenas 8% dos casos.

Tabela 2 – Estabelecimentos agropecuários dirigidos pelo produtor, por cor ou raça, segundo o
sexo do produtor – Brasil – 2017
Sexo do
Total Branca Preta Amarela Parda Indígena
produtor
Brasil
Total 5.056.525 2.297.013 423.408 31.108 2.248.549 56.447
Homem 4.110.450 1.951.438 319.380 25.593 1.772.209 41.830
Mulher 946.075 345.575 104.028 5.515 476.340 14.617
Paraná
Total 303.541 241.016 7.944 3.372 49.789 1.420
Homens 262.895 210.567 6.565 2.982 41.794 987
Mulheres 40.646 30.449 1.379 390 7.995 433
Fonte: IBGE – Censo Agropecuário 2017

Os dados acima expostos quanto a divisão de gênero considerando todo território


nacional quanto a chefia de estabelecimentos é menos desproporcional do que a constatada no
Paraná em que os estabelecimentos pertencentes ao gênero masculino são de 87% (262.895 mil
estabelecimentos) contra 13% pertencentes ao gênero feminino (40.646 mil estabelecimentos).
O debate quanto as vantagens comparativas do Brasil como agroexportador voltado a
eficiência econômica do agronegócio na produção de monoculturas com incremento
tecnológico e a necessidade de uma reforma agrária com produções de alimento da cultura local
com incrementos de tecnologia é sensível e controverso. Foge ao escopo desta pesquisa a
capacidade em avançar na proposição de soluções, mas ressalta-se pertinente os esforços que
busquem uma síntese quanto a histórica problemática que ainda persiste e dificultam o êxito de
uma produção agroecológica e um desenvolvimento sustentável. O que nos cabe aqui é
considerar a necessidade de produção e análise de dados sobre as etnias que obtém êxito em
produções rurais no setor de bovinoculturas em confronto com as etnias que necessitam de
políticas públicas para acessar os alimentos derivados destas. A variável raça foi pouco
considerada na bibliografia encontrada e investimento e esforços futuros de pesquisa neste
sentido são relevantes para o Estado do Paraná.
Outro aspecto importante é a desigualdade de gênero presente nas relações de trabalho
no campo. À medida que o padrão de consumo de alimentos - fruto do beneficiamento do leite
– aumenta, a produção passa de uma renda extra do excedente para um negócio lucrativo
especializado. Incrementam-se os trabalhos de administração e bens de capital. Com isso
ocorreu de as mulheres perdem a gerência em muitas das produções em que antes exerciam a
extração do leite e derivados com fins à comercialização do excedente. Um importante estudo
de caso na região Sudoeste do Paraná empreendido por Aline Motter Schmitz e Roselí Alves
dos Santos revela esta problemática:
“A atividade leiteira, que via de regra era secundária na geração de renda e
desenvolvida essencialmente pelas mulheres, com o processo de modernização é
constatado que passa a ser dominada pelos homens. Tratava-se de uma atividade com
pequena fonte de renda, muitas vezes utilizada para o consumo próprio e para a
aquisição de produtos destinados à família, como roupas, medicamentos, brinquedos,
itens para a decoração da casa etc. Segundo relato das próprias mulheres agricultoras
em trabalho de campo, quando essa atividade não era lucrativa nem modernizada,
eram elas quem a gerenciavam. (...)O setor leiteiro teve sua modernização posterior à
dos demais segmentos da agricultura, ocorrendo de forma mais expressiva após a

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década de 1990. Assim, as formas mais rudimentares predominavam na produção
leiteira e as atividades correlatas eram desempenhadas pelas mulheres. A partir desse
período, com a modernização gradativa, apoiada pelas ações do governo e pelas
demandas do mercado, passou a ocorrer também uma alteração na divisão sexual do
trabalho nas unidades de produção. ” (SCHMITZ; SANTOS.2014)

O bem-estar das nutrizes e produtoras rurais de todas as etnias é crucial para o


desenvolvimento das crianças por elas assistidas que são o futuro de nossa sociedade. Constitui-
se como um desafio para as forças produtivas no campo o empoderamento da mulher na
administração e gestão da tecnologia como via crucial para combate à fome, desnutrição,
miséria, preconceito, guerras e todo tipo de violação aos direitos humanos que impedem a paz
e o desenvolvimento sustentável. O último Censo Agropecuário apurado pelo IBGE relata que
20,3% dos estabelecimentos agropecuários são dirigidos por casais no Brasil sendo que os de
área menor do que 1 hectare apresentam uma proporção de gênero menos assimétrica – 2
homens para cada mulher. Dos estabelecimentos em regime de cooperativa a proporção
nacional é de 91,3% de homens contra 8,7% de mulheres. Ainda quanto a este sistema, são
cerca de 410 mil estabelecimentos sendo 71,2% constituídos por Agricultura Familiar.
Importante no âmbito do Programa Leite das Crianças é perceber que dentro deste
planejamento no período de redemocratização esteve a preocupação em corrigir as assimetrias
de mercado para que nenhuma criança nascida no Paraná sofra com a desnutrição infantil. E
também garantir renda a Agricultura Familiar local adquirindo, preferencialmente, deste modo
produtivo o leite pasteurizado. Para isso, evidente, é preciso uma produtividade de leite que
gere excedente e atores vocacionados para concretizar políticas públicas de segurança alimentar
– seja as produtoras no campo, nos laticínios, em entidades filantrópicas, na administração
pública e empresas. Neste sentido, citamos um parecer técnico da SEAB:
“O crescimento da produção (leiteira) paranaense se deve a alguns fatores como:
importância da atividade no Estado que está presente em todos os 399 municípios,
compromisso dos produtores em evoluir na atividade e o apoio de programas de
governo, como: Leite das Crianças, leite noroeste, leite sudoeste (que contribuiu
decisivamente para o desenvolvimento do setor nesta região), entre outras ações.
A EMATER tem participação efetiva e fundamental nestas iniciativas. Além destes
aspectos, a sensibilidade dos governos no apoio a produção leiteira, independente
de ideologias políticas, foi fator determinante para o desenvolvimento desta
cadeia em nosso Estado.” (SEAB.2022b – grifos nossos)

Nesta breve contextualização quanto ao setor produtivo lácteo no Paraná e as assimetrias


de gênero, raça e classe no campo, convém elaborarmos de que forma o Programa Leite das
Crianças é derivado e demonstra a importância do desenvolvimento da cadeia produtiva láctea
da Agricultura Familiar. Seus benefícios estão presentes não só ao garantir alimento as crianças
e nutrizes em situação de extrema vulnerabilidade social, mas também no que gera renda para
os pequenos produtores locais. A seguir, explanaremos antes os percursos históricos pelos quais
o direito humano a alimentação e nutrição foram estabelecidos como responsabilidade de um
Estado de Bem-Estar Social.

3. O Percurso das Políticas Públicas de Combate a Fome e Desnutrição no Brasil

Para entendermos a constituição do Programa Leite das Crianças é importante aliarmos


a compreensão do desenvolvimento do setor agroindustrial leiteiro no Paraná às políticas
públicas de segurança alimentar que ganharam novas orientações no cenário nacional sempre
influenciado pelos debates internacionais - sobretudo no âmbito da FAO – Food and
Agriculture Organization of the United Nations (Organização das Nações Unidas para

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Alimentação e Agricultura). Para isso, revistar-se-á o caminho destas políticas de segurança
alimentar no que ganharam espaço institucionalmente no âmbito das medidas de Estado quanto
as políticas públicas sobre o tema.
A nutricionista e professora doutora Patrícia Jaime, pesquisadora do NUPENS – Núcleo
de Pesquisa Epidemiológicos em Nutrição e Saúde da USP- Universidade de São Paulo, ao
abordar a história moderna da Segurança Alimentar e Nutricional no Brasil, considera como
marcos a Constituição Federal de 1988, a criação do SUS – Sistema Único de Saúde e a
elaboração da LOSAN – Lei de Segurança Alimentar e Nutricional dividindo o tema nos
seguintes períodos: i) Período Pré-SUS, ii) Era SUS e iii) Marco da LOSAN.
Antes da Era Vargas e da coordenação de um Estado moderno (em que pese as críticas
quanto a modernização conservadora), encontram-se registros sanitários do século XIX, ainda
no Brasil Colônia, que fiscalizavam nos portos e embarcações a qualidade dos alimentos
importados e exportados e a saúde dos viajantes com a finalidade de evitar propagação de
epidemias. Mas é na Era Vargas que se destacam políticas públicas de alimentação e nutrição
para dar conta da intensificação da urbanização e industrialização no contexto do paradigma
trabalhista. Fator importante deste período é o decreto lei nº 399 de 1938 que institui o salário-
mínimo para manter uma remuneração ótima de subsistência às famílias trabalhadoras. Para
mensurar um salário-mínimo equilibrado frente aos preços dos gêneros alimentícios - bem dos
mais relevantes à cesta de consumo desta classe social - foi incipiente noções de parâmetros
nutricionais considerando conceitos de “ração típica” e “grupos alimentares prioritários” para
composição de uma dieta ideal possível pelo poder de compra do salário-mínimo à uma família
trabalhadora. No ano seguinte é criado o Serviço Central de Alimentação cuja finalidade
principal é a instalação de refeitórios em empresas com mais de 500 funcionários.
Na sequência, em 1940, funda-se a SAPS – Serviço de Alimentação da Previdência
Social ligada ao Ministério do Trabalho com a preocupação de promover a educação alimentar
e ofertar subsídios aos preços dos alimentos. O PAT – Programa de Alimentação do
Trabalhador - instituído por lei em 1976, em vigência, e com instruções complementares pela
portaria MTP/GM nº 672, de 8 de novembro de 2021 - tem como base o SAPS. As empresas
podem deduzir dos impostos o dobro do que investir em seguridade alimentar. Vale considerar
as concepções higienistas que circulavam no mundo nesta época do entre guerras e que marcam
substancialmente nosso país, cuja realidade foi de genocídio das Comunidades e Povos
Tradicionais, Diáspora Africana sendo o último a abolir o modo de trabalhado que escraviza
pessoas. Estruturando a propriedade privada e planejamento governamental pelo patriarcado de
forma que determinados grupos étnicos e as mulheres de forma geral só conquistaram no século
passado o direito ao voto e a propriedade privada. Até hoje os perfis que sofrem riscos de
insegurança alimentar têm características que derivam dessa história. Ainda é uma necessidade
que estes segmentos da sociedade componham o planejamento das ações que lhes cabem
observando a reparação histórica necessária.
O médico e pesquisador nordestino Josué de Castro é importante intelectual para mudar
o paradigma quanto ao tema no que publica as obras “Geografia da Fome” e “Geopolítica da
Fome” elucidando o fato de que comer é um ato político e a fome é um problema social de má
gestão dos usos e recursos da sociedade - fruto de preconceitos e desigualdades sociais que
dificultam acesso à terra e, consequentemente, a produção sócio sustentável de alimentos
saudáveis. A repercussão de sua visão influenciou a criação da CNA – Confederação Nacional
da Agricultura em 1945 como fonte de estudos propositivos para as políticas nacionais de
segurança alimentar e nutricional.
De órgão do Conselho Federal de Comércio Exterior, a CNA passou para o Ministério
da Educação e Saúde em 1949. Em 1951 torna-se o Comitê Brasileiro da FAO. No ano seguinte,
a instituição estabeleceu o PNA – Plano Nacional de Alimentação elencando a desnutrição

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como prioridade de saúde pública e buscando acolher as pessoas mais vulneráveis a esta
situação. Isso representa um grande avanço porque coloca as políticas públicas quanto ao tema
numa óptica de proteção social - o que era uma inflexão global no pós-guerra. Uma ação de
extrema relevância empreendida pelo Estado neste período é a CME – Campanha de Merenda
Escolar, criada em 1956 pelas proposições da CNA. O abastecimento das escolas garantindo
alimentação adequada encadeiam todo um processo organizacional em torno da produção e
distribuição de alimentos. Ainda assim, a produção agrícola no Brasil desta época, bem como
a de agora, priorizava a geração de excedentes para o comércio exterior. Contudo, antes não
havia força quanto aos estímulos à Agricultura Familiar por parte do Estado e reconhecimento
de seu papel quanto ao abastecimento interno e segurança nutricional e alimentar que começam
a surgir com a industrialização, movimento trabalhista e a expansão da educação formal
No cenário internacional, a calamidade resultante das grandes guerras torna o problema
da fome uma questão humanitária que necessita de cooperação de todas as nações. Ações de
suplementação alimentar são levantadas, mas satisfazendo apenas o problema no curto prazo
porque é incapaz de articulação com a cultura nutricional e geração local dos gêneros
alimentícios garantindo autonomia na geração destes. Soluções mais eficientes foram as
iniciativas de abastecimento de alimentos que ganharam força sobretudo a partir de 1960 como
a COBAL – Companhia Brasileira de Alimentos, que os oportunizava a baixo custo para
famílias com fragilidade socioeconômica nas cidades. Estas iniciativas contribuíram para a
logística apontando para as concepções modernas de políticas de segurança alimentar. Em 1990,
a COBAL foi transferida para a atual CONAB- Companhia Nacional de Abastecimento. À
medida que se desenvolveu, a CONAB articulou ações intersetoriais envolvendo diversos
pontos dos sistemas da cadeia de abastecimento agroalimentares do país.
Pelo legado dessas experiências e sob a modernização conservadora do período da
ditadura militar, em 1979 amplia-se a garantia de alimentação aos estudantes criando-se o
PNAE – Plano Nacional de Alimentação Escolar que está vigente até hoje. Vale ressaltar que
foram extintos o SAPS em 1967 e o CNA em 1972 - mesmo ano em que foi fundado o INAN
– Instituto Nacional de Alimentação e Nutrição. Neste órgão, foi lançado em 1973 o PRONAN
I– Programa Nacional de Alimentação e Nutrição que, contudo, foi extinto um ano depois por
irregularidades constatadas em auditoria, corrupção.
Os desgastes quanto a dívida pública, o agravamento das desigualdades e o
autoritarismo das políticas sociais deste período ditatorial são percebidos na EDEF – Estudo
Nacional de Despesas Familiares de 1974-75 que revela prevalência de desnutrição proteico-
calórica na população brasileira sendo o primeiro levantamento de dados sobre o assunto.
Programas de suplementação alimentar atuaram como forma de combate a situação num
contexto assistencialista e autoritário - paliativo quanto a desigualdade social que gerou o grave
problema. Organizações Internacionais no âmbito da ONU – Organização das Nações Unidas
como a FAO e a UNICEF - United Nations International Children's Emergency Fund (Fundo
de Emergência Internacional das Nações Unidas para a Infância) ofereceram estratégias como
o PMA – Programa Mundial de Alimentos em que “países desenvolvidos” concediam
excedentes às nações que outrora formaram-se como suas colônias: os “países em
desenvolvimento”.
Influenciado pelas normativas acordadas no debate internacional (sobretudo da FAO e
da OMS – Organização Mundial da Saúde) e buscando uma retomada eficiente, o PRONAN II
é lançado em 1976 agora com a perspectiva de sanar o problema na raiz, sou seja, modernizar
toda a estrutura de produção e abastecimento de alimentos que se encontrara ineficiente e
injusta. Reconhecendo a desigualdade social e os problemas estruturais, a organização das
medidas engloba soluções de produção e logísticas como um todo e não, tão somente,

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assistência com base em suplementação alimentar de determinados grupos. É salutar a
influência dos organismos internacionais para esta guinada de perspectiva.
A importância da produção local de alimentação para eficiência de sua seguridade torna-
se agenda do governo, bem como a relação do Estado comprando o alimento da Agricultura
Familiar e garantindo o consumo aos vulneráveis excluídos frente a auto regulação da oferta e
demanda dos livres mercados. Muitos pontos do PRONAN II não foram eficientemente
coordenados e praticados, mas alguns ganhos ocorreram como a alimentação escolar e da
trabalhadora e trabalhador enquanto problema social de caráter público. Para organizar estas
ações, modelos de cooperação entre os setores do governo foram institucionalizados
envolvendo a saúde, educação e modos de produção agrícola. A falta de recursos financeiros e
o autoritarismo, contudo, minaram o planejamento. Em 1997 o INAN foi extinto e parte de seus
programas e ações foram divididos entre os Ministérios Federais.
Os Movimentos Sociais lutavam contra a ditadura militar com diversas pautas de
mudança quanto a modernização do país buscando a redemocratização e os direitos civis.
Destes esforços surgiram propostas importantes como o da Reforma Sanitária Brasileira e a
Reforma Agrária. A problemática quanto a capacidade de autonomia alimentar via produção
sustentável local tornou-se chave para a resolução definitiva do problema da fome no mundo.
Neste sentido, a capacidade de abastecimento alimentar alocou-se ao tema do desenvolvimento
econômico e a FAO debateu com seus países membros a situação sobre esta óptica. Esta visão
importa no que elenca o abastecimento como um problema endógeno do planejamento
econômico e não como mera externalidade que acomete alguns agentes atendidos via medidas
assistencialistas.
Um evento precedente e relevante para esta conclusão foi, em 1978, a conferência de
Alma Ata organizada pela OMS estabeleceu parâmetros para modelos em saúde que
considerasse os trabalhos de cuidado preventivos de atenção básica ganhando destaque a
qualidade alimentar e nutricional como medida de prevenção a doenças e epidemias. A visão
sistêmica que integrasse alimentação, agricultura e saúde começa a se desenvolver entre os
intelectuais do campo, sociedade civil e governos, com instrumentos interligados de
abastecimento como fonte crucial de organização e seguridade que, por sua vez, tem importante
papel de estímulo entre as cadeias produtivas tratadas como sistemas agroalimentares. Com a
consolidação do SUS no Brasil, esta visão articulada entre saúde e alimentação ganhará muita
potência. Em 1986 foi realizada a 1ª Conferência de Alimentação e Nutrição cujos
desdobramentos interferiram na 8ª Conferência de Saúde que, por sua vez, influenciou na
criação do SUS. Com o avanço do SUS, toda a estrutura e noção de atenção primária encampou
ações como o Programa Nacional de Incentivo ao Aleitamento Materno, Programa de
Prevenção a Carências Nutricionais Específicas e o SISVAN- Sistema de Vigilância Alimentar
e Nutricional vista como prática sanitária a ser desenvolvida no sistema de saúde.
Com a redemocratização e a Constituição Federal de 1988 as políticas públicas que
garantem direitos humanitários tornam-se valores da Carta Magna e elencam direitos à
cidadania que devem ser respeitados pelo Estado brasileiro - qualquer que seja o governo eleito
que ocupe este espaço de liderança. A garantia do direito à alimentação, uso social da terra,
direitos paritários entre gênero, respeito a diversidade étnica, às liberdades individuais e o pleno
emprego são elencadas como normativas a serem cumpridas para um Estado responsável pelo
bem-estar social levando em conta as conferências internacionais quanto aos Direitos Humanos.
A Lei 8080/1990 institui o SUS entendendo a saúde numa concepção sistêmica tal qual
expresso eu seu artigo 3º. É importante observar que a alimentação é o primeiro fator elencado
como condicionante e determinante para a saúde. Conquistas do SUS são a redução da
mortalidade infantil, da vigilância, promoção e a recuperação em saúde. Em 1993, uma
importante medida foi a criação do CONSEA- Conselho Nacional de Segurança Alimentar e

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Nutricional vinculado ao então Ministério do Desenvolvimento Social e Agrário. Com
assessoria direta à presidência da república, o órgão coordenava as instancias municipais,
estaduais e federais na articulação de ações de Segurança Alimentar e Nutricional. Realizava a
Conferência Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional unindo esforços para efetivar as
ações elaboradas quanto ao tema e monitorava e avaliava o SISVAN. Um grande retrocesso foi
o desmonte do CONSEA como uma das primeiras medidas do atual governo através da Medida
Provisória nº 870, de 1º de janeiro de 2019 indicando desinteresse quanto ao planejamento
federal em favor da alimentação digna da população.
Os desafios, contudo, sempre foram inúmeros na concretização dos ideais de seguridade
alimentar. Se, por um lado, a Constituição Cidadã garante em sua norma direitos deste tipo
como devolutivos do Estado ao arrecadar tributos, por outro lado o neoliberalismo aplicou
políticas macroeconômicas que não garantiram à federação orçamento para cumprir papel ativo
na manutenção destes princípios porque priorizou o pagamento da dívida pública concebida no
período da Ditadura Militar. Com saldo devedor insolúvel legada do período ditatorial, a
redemocratização se dá num momento de desmonte da capacidade estatal e ciclos desregulados
de preços com cenários de hiperinflação. Vários cortes de verba incidiram em projetos de
combate a fome sendo que muitos foram desativados no enfrentamento deste cenário político e
econômico desafiador na redemocratização do país.
No cenário internacional, em 1996, a FAO realiza a Conferência Mundial de
Alimentação que interfere no cenário doméstico colocando a necessidade de políticas
específicas de combate à fome. No ano seguinte, a alimentação e nutrição são escolhidas dentre
as políticas setoriais do SUS constituindo um grupo técnico que elaborou um texto base para a
Política Nacional de Alimentação e Nutrição amplamente discutido com representantes da
sociedade civil. Em 1999, o Conselho Nacional de Saúde pública a primeira edição da PNAN
- Política Nacional de Alimentação e Nutrição. Para executar esta política, é formada uma
Coordenação Geral da PNAN como um departamento do Ministério da Saúde (que em 2010 se
tornará a CGAN- Coordenação Geral de Alimentação Nutrição).
O acesso a alimentação como direito humano respeitando a qualidade nutricional é
colocada, definitivamente, como princípio para as políticas públicas de combate à fome. A
criação do SUS, portanto, é um marco institucional para seguridade nutricional no Brasil uma
vez que a atenção primária a saúde encampou o direito à alimentação adequada. Estas pautas
ocuparam espaço no Ministério da Saúde e utilizando a infraestrutura de seu sistema único. A
necessidade de tratamento direto ao tema, todavia, sempre foi considerada pelas pessoas que
historicamente lutam contra a fome e desnutrição no Brasil de forma que, em 2006, a LOSAN
- Lei Orgânica de Segurança Alimentar e Nutricional instaura outro marco importante e
estabelece o SISAN – Sistema de Segurança Alimentar e Nutricional.
Atualizam-se as políticas de alimentação e nutrição em 2011 com a segunda edição do
PNAN fortalecendo o elo entre saúde e ampliando para outros setores ações em favor ao direito
à alimentação. A criação do SUS consolida-se como uma estrutura de ação para às políticas
públicas que, somada a Lei de Segurança Alimentar e Nutricional insere o tema com
importância fundamental na tratativa. Manteve-se a relação interligada entre alimentação,
agricultura e saúde ao passo que obteve investimentos ações para o desenvolvimento da
Agricultura Familiar como protagonista do abastecimento doméstico.
Quanto ao fortalecimento da Agricultura Familiar, é relevante a instituição do -
PRONAF- Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar pelo Decreto nº
1.946, de 28 de junho de 1996 que contou com melhorias como a Lei nº 10.464, de 24 de maio
de 2002 inserindo fontes de investimento dos Fundos Constitucionais para redução das
assimetrias regionais no país (DE CONTI, B. M; ROITMAN, F. B.2011). Á parir de então, o
programa ampliou o cadastro dos produtores da Agricultura Familiar à fim de garantir-lhes um

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sistema de fortalecimento técnico dos manejos, linhas de créditos a juros coerentes via BNDES-
Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social em investimentos produtivos,
segurança quanto calamidades climáticas como a seca, incentivo à produção de matéria prima
para energias biorrenováveis, turismo rural, planta medicinais, seguridade para equilíbrio da
extração de produtos da biodiversidade e garantia de preços mínimos para estes bens entre
outras linhas. Em 2019, o PRONAF enfrenta polêmicas com redução de equipamentos de
organização e alcance de metas pelo decreto n° 9,784, de 7 de meio de 2019 e diversas
suspensões de investimentos anunciadas pelas circulares do BNDES quanto as condições de
financiamento desde então.
Um ponto importante do PRONAF no auge de sua capilaridade e financiamento foi a
garantia de linhas próprias pera mulheres e jovens investirem no campo, bem como
favorecimento das condições estruturais de regularização de terras, energia elétrica, acesso à
internet garantindo inserção quanto a uma série de serviços e direitos as comunidades rurais de
pequenos produtores. Políticas de investimento e modernização no campo foram intensificadas
como ponto de partida para produção de alimentação digna para abastecer o mercado
doméstico. Foram postas em prática os princípios internacionais modernos de segurança
alimentar fortalecendo os sistemas agroalimentares locais. O empoderamento da Agricultura
Familiar aliado as políticas de renda mínima como o Bolsa Família, bem como projetos focados
em segurança alimentar como o Fome Zero, resultaram na saída do Brasil do Mapa da Fome
analisado pela FAO em 2014 (FAO,2014). O início dos anos 2000 foi um período de otimismo
e reconhecimento para o Brasil no cenário internacional pelo reconhecimento ao alcançar, de
fato, as condições de direitos humanos, cidadania e desenvolvimento sustentável.
Contudo, na virada para a segunda década do milênio, o desmonte de ministérios
federais estratégicos e linhas de investimento e seguridade da terra para a Agricultura Familiar
colocam em xeque os bons resultados construídos. Quanto a segurança alimentar, programas
como o Banco de Alimentos são medidas alavancadas pelo atual governo quanto a situação da
fome no país. Buscando a necessária redução de desperdícios na cadeia de comercialização dos
gêneros alimentícios, o programa opera incentivos via redução fiscal dos bens excedentes que
outrora seriam descartados por não alcançar propriedades organolépticas exigidas pelas
gôndolas do mercado varejista tradicional, mas que estão dentro dos padrões de segurança para
consumo. Mas, sem sucesso, o Brasil ocupa uma situação inédita para o monitoramento da
FAO: o retorno ao Mapa da Fome.
O desmonte do CONSEA – aqui enaltecido pela sua capacidade propositiva e
capilaridade quanto as ações de segurança alimentar, é uma medida de retrocesso, uma inflexão
na concepção de responsabilidade e organização do Estado Democrático em garantir os Direitos
Humanos em favor do Bem-Estar e Justiça Social quanto a uma causa tão elementar: a
segurança alimentar e nutricional. Considerando a conjuntura recente quanto a pandemia
causada pelo COVID-19 (uma zoonose) e as guerras recentes, no Oriente Médio e sobretudo
no Leste Europeu, tudo indica um retrocesso em escala global quanto a segurança alimentar
como um direito humano inalienável e capaz de unir todas as nações. Com esta retrospectiva
quanto a institucionalização das políticas públicas de combate à fome e desnutrição, buscou-se
demonstrar o caminho histórico das concepções que nortearam as medidas que o Estado
brasileiro adotou para combater o problema da subalimentação fomentando potentes sistemas
agroalimentares no território nacional. Evidencia-se quão frágil é interromper a sequência de
investimentos e espaços de organização que envolvam Estado, empresários e a sociedade civil
quanto a alimentação doméstica podendo resultar em retrocessos das conquistas incipientes em
um tema tão salutar.
No próximo capítulo demonstraremos como o Programa Leite das Crianças valeu-se das
conquistas do início deste milênio quanto aos estímulos para fortalecimento da Agricultura

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Familiar e organização da sociedade civil em prol de políticas públicas de segurança alimentar
sempre alinhados a concepção dos deveres de um Estado Democrático em favor do Bem-Estar
Social. Demonstraremos, a seguir, como os desafios enfrentados após 18 anos de programa
estão correlacionados aos retrocessos atuais no plano nacional e global, mas a consolidação dos
ganhos é expressiva porque relacionadas a cadeia produtiva do leite e a concepção dos direitos
civis a alimentação digna – o que garante êxito ao PLC no enfrentamento à conjuntura de crise
econômica e social

4. Programa Leite das Crianças: “Mais Renda no Campo. Mais Saúde na Infância”

O PLC - Programa Leite das Crianças do Estado do Paraná surgiu pari passo às
concepções internacionais que levam em conta os sistemas agroalimentares em favor da
autonomia produtiva e cultura nutricional local, as iniciativas do governo federal de
fortalecimento da Agricultura Familiar e a concepção de combate a fome como atenção a saúde
primária valendo-se da estrutura do SUS concomitantemente desenvolvida. O progresso do
setor lácteo no Paraná partiu de um planejamento baseado numa estrutura de governança que
permitiu aliar estas concepções quanto ao direito a alimentação aos interesses econômicos dos
produtores da região. Aliado a uma equipe técnica com know-how na estruturação regional de
ações como as merendas nas escolas, foi possível pôr em prática esta política pública.
A institucionalização do programa se deu pelas leis e decretos, quais sejam: decreto nº
1.279 de 14 de maio de 2003 que cria o PLC, Lei Estadual n. º 16.385 de 25 de janeiro de 2010
que o institui, Lei nº 16.475 de 22 de abril de 2010 que dispõe alterações, Decreto Estadual n.
º 3000 de 7 de dezembro de 2015 que o regulamenta e Resolução nº055 de 30 de julho de 2018
que organiza seu funcionamento. É uma ação regional incipiente que está em consonância com
o Decreto Nº 7.272, de 25 de agosto de 2010 que define as diretrizes e objetivos da Política
Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional – PNSAN instituída pelo Governo Federal.Ao
tornar-se Lei, garante a responsabilidade do Estado para além de um projeto de governo. Quanto
a institucionalização do programa como política pública, Nikolas Corrent, da Faculdade de
Guarapuava, explora em sua pesquisa a relação desta ação local com os programas nacionais e
aborda os ciclos das políticas públicas em seu poder extroverso agindo em favor do interesse
coletivo:

“Sabe-se que é dever do Estado a garantia dos direitos sociais de cada cidadão,
buscando através de ações públicas o atendimento à coletividade ou à determinado
grupo social. É preciso que, a partir disso, haja um conjunto de práticas
governamentais que atendam estas exigências, incluindo os interesses e expectativas
da sociedade, visto que são fatores contribuintes para o bem-estar da sociedade. Para
essas atitudes damos o nome de Políticas Públicas. O Estado enquanto garantidor de
direitos através de Políticas Públicas possui o “poder extroverso”, pois precisa agir
visando o interesse coletivo e acima de tudo público (...)Não é em vão que o Programa
Leite das Crianças leva os lemas: “Menos fome e mais trabalho do campo” e “Mais
renda no campo, mais saúde na infância” Percebe-se a preocupação da esfera
governamental em fazer com que haja o desenvolvimento da economia regional e
local.” (CORRENT.2016)

Contando com uma estrutura de governança democrática que alia empresas, Estado e
sociedade civil, o PLC tem como missão gerar renda no campo aos pequenos produtores rurais
e combater a desnutrição de crianças e nutrizes fortalecendo os laços da economia local e
autonomia quanto a cultura nutricional. Para tanto, necessita da coordenação do Estado uma
vez que os mercados não garantem pleno emprego e a estabilidade de preços, tão somente, não

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assegura à toda população alimentação mínima adequada. É um direito inalienável e um dever
constitucional do Estado garantir o direito à vida e a dignidade dos cidadãos sobretudo nos
períodos de vulnerabilidade que se encontram na infância e na velhice. A Constituição Federal
prevê às crianças amparo conforme seu Artigo 227º e define a obrigação do Estado quanto a
garantia de proteção no Parágrafo 1º do referido Artigo. Dessa forma, indiscutível é a obrigação
de políticas públicas voltadas a segurança alimentar das crianças. Fica ordenado
constitucionalmente que o atendimento a este público é de interesse geral e prioritário, de forma
que o PLC atua assertivamente na região paranaense cumprindo com a Carta Magna.
O atendimento à Constituição é claro ao observarmos o objetivo de distribuir para
crianças, gestantes e nutrizes cuja renda é de até meio salário mínimo regional (que em 2022
está entre R$1.617,00 a R$1.870,00 – sendo o maior salário mínimo regional do país) de forma
diária e gratuita leite fluído pasteurizado enriquecido com vitaminas A e D, ferro e zinco
adquiridos de produtores regionais, preferencialmente de pequeno porte, garantindo-lhes renda
e amparando na qualidade e seguridade da produção. A ingestão insuficiente de calorias e
proteínas, sobretudo na infância em que ocorre o crescimento ósseo, prejudica o
desenvolvimento regular ao longo da vida - inclusive quanto a capacidade de aprendizado. Até
os dois anos de idade é sensível os efeitos da desnutrição quanto a capacidade motora e mental
das crianças e nesta fase é possível recuperar a saúde com a regularização dos nutrientes
necessários. Nos três primeiros anos de vida o desenvolvimento cerebral da criança atinge seu
auge sendo crucial condições de nutrição adequada. Quanto ao sucesso do PLC no combate a
este problema, o Relatório do Estado Nutricional/SESA demonstra que, das crianças atendidas
em 2019 pelo programa, 91,3% encontravam-se com peso adequado. Das crianças em risco
nutricional, 0,4% encontravam-se muito baixo do peso ideal, 1,3% baixo peso e 7% peso
elevado para a idade.
A partir da sua capacidade organizacional, o Governo Estadual estabelece, coordena e
fiscaliza quem se enquadra no programa. O CadÚnico – Cadastro Único para Programas Sociais
do Governo Federal, instituído pelo Decreto Federal nº 3.877, de 24 de julho de 2001 e
integrado as redes de benefícios sociais em 2003 é uma importante ferramenta para mapear o
público alvo do PLC que recebe o leite pasteurizado enriquecido. Por sua vez, a DAP –
Declaração de Aptidão ao PRONAF, é salutar para enquadrar o produtor prioritário que oferta
a matéria prima – qual seja, o produtor rural de pequeno porte. O Estado do Paraná ainda
prioriza os laticínios próximos, preferencialmente do mesmo município, na cadeia de
abastecimento do programa e fiscaliza o padrão de qualidade do produto.
O trabalho quotidiano que liga a renda no campo para os produtores da Agricultura
Familiar ao abastecimento do leite pasteurizado e enriquecido às nutrizes e crianças em
vulnerabilidade social exige a cooperação técnica das secretarias SEJUF – Secretariaria de
Estado da Justiça, Família e Trabalho, SEAB/PR – Secretaria de Agricultura e Abastecimento
do Estado do Paraná, SEED/PR – Secretaria da Educação e do Esporte do Estado do Paraná,
SESA/PR – Secretaria da Saúde do Estado do Paraná. Seus secretários, junto a membros da
sociedade civil, compõe o Conselho de Secretários que coordena as atividades designadas ao
Conselho Administrativo, que, por sua vez, é composto por técnicos das secretarias e sociedade
civil que operacionalizam as rotinas estabelecidas.
Cada região tem uma Unidade Gestora Estadual afim de integrar a realidade prática das
ações de cada município que contam com um Conselho Gestor Municipal. Comissões de
controle de qualidade do leite integram essas rotinas fiscalizando as condições sanitárias e de
enriquecimento do leite pasteurizado. A Celepar, fundada em 1964 sendo a primeira empresa

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pública de tecnologia da informação do país, desenvolveu um sistema que controla a logística
do programa. O SISVAN - Sistema de Vigilância Alimentar e Nutricional - do Ministério da
Saúde - também fornece importante sistema de controle do estado nutricional das crianças
atendidas.
Levando em conta que o leite é um produto perecível, que o PLC abrange os 399
municípios do Paraná e que as mães podem pegar, três vezes por semana, a quantidade de 1
Litro por dia, a logística de operacionalização exige trabalho coordenado. A Secretaria da
Educação e Esporte compete a entrega do leite que tem as escolas próximas às mães como ponto
de retirada. Essa ação também fortalece o vínculo da comunidade com a escola e atua contra a
evasão escolar. A Secretaria da Agricultura e Abastecimento organiza a oferta do leite pelos
laticínios encaminhando o pagamento, atuando na fiscalização destes junto as agências
sanitárias e comitês, apoiando a estruturação de produtores rurais levando em conta sua
capilaridade pelos núcleos regionais. A Secretaria da Saúde controla a condição nutricional das
crianças e nutrizes atendidas pelo programa. Importante é ressaltar que o investimento na
atenção primária a saúde garantindo boa alimentação reduz custos e sofrimentos na recuperação
da saúde destas crianças.
A destinação de recursos ao programa depende da concepção dos gestores públicos
quanto a saúde alimentar. Cabe ao Ministério Público e ao Tribunal de Contas estadual - junto
aos parlamentares, Conselhos do PLC e toda sociedade civil - pactuar acordo sobre este
investimento. Como vimos no capítulo anterior, a segurança nutricional como política pública
ganhou agenda nas pastas de saúde, mas também já foi compreendida dentro do paradigma
trabalhista como um direito desta classe social e também como algo focal no combate à pobreza.
O PLC já recebeu verba a partir do orçamento da Secretaria de Saúde e atualmente foi
condicionado como uma política focal cujos empenhos orçamentários provém de outras fontes
– como o FECOP Fundo Estadual de Combate a Pobreza e o FIA – Fundo para Infância e
Adolescência – bem como verbas da SEAB – Secretaria da Agricultura e Abastecimento. A
compreensão da sociedade civil quanto ao orçamento público é salutar e pesquisas focadas neste
aspecto são necessárias para garantir eficiência às políticas públicas.
Quanto aos valores investidos, quantidade de leite distribuídos e número de crianças
beneficiadas, coletados pelo DESAN – Departamento de Segurança Alimentar e Nutricional
alocado na SEAB/PR e que gere políticas como o PLC, são detalhados pela Tabela 3.

Tabela 3 - Número de crianças beneficiadas no PLC, número de litros de leite distribuídos e


valor do investimento em R$ - 2004-2021
Ano Base Crianças Beneficiadas Litros de Leite Distribuídos Recurso Investido (R$)
2004 35.575 12.984.694 12.086.385,29
2005 109.132 39.833.219 36.916.466,31
2006 158.412 57.820.519 51.287.713,33
2007 166.426 60.745.421 63.859.184,22
2008 164.583 60.072.860 67.354.869,85
2009 156.375 57.076.799 67.383.117,37
2010 149.653 54.623.474 68.111.942,50
2011 134.900 52.783.022 69.170.819,93
2012 145.272 52.351.867 70.673.647,58
2013 137.670 45.614.908 80.559.993,17
2014 122.055 40.352.591 74.019.922,59

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16
2015 113.682 40.476.037 68.829.693,47
2016 119.712 43.433.211 98.703.660,30
2017 126.047 45.643.712 104.296.276,10
2018 118.427 42.634.841 100.613.829,52
2019 110.758 40.372.502 97.418.010,45
2020 105.553 38.684.994 100.699.831,83
Fonte: DESAN-SEAB/PR

Sob a ótica do incentivo à produção, em relação aos ganhos sociais quanto a influência
do Estado no leite fornecido pelo PLC – específico pela necessidade de pasteurização e
enriquecimento - um importante estudo revela que a compreensão deste na atuação de
economias de mercado é singular na garantia de qualidade em detrimento a comportamentos
oportunistas e na gestão de contratos quanto aos custos de transação equalizando os interesses
entre os agentes. Segundo dados da SEAB/PR, o programa abrange cerca de 5.000 produtores
familiares e 41 Usinas de processamento do leite. Também no que tange a sustentabilidade no
uso intensivo de recursos naturais confere-se um papel ativo ao Estado na regulamentação dos
mercados. Pela ocasião da 2ª Jornada da Questão Agrária e Desenvolvimento promovida pela
UFPR – Universidade Federal do Paraná em 2013, Bozotti; Conti; Finokier apresentam os
seguintes resultados ao pesquisar o PLC sob esta ótica:

“E o sistemaagroalimentar é uma dessas arenas de discussão em torno das concepções sobre o


papel do Estado na atualidade. Questões econômicas, agroalimentares, de desenvolvimento
sustentável, políticas públicas e outras que requerem que se discuta o papel do Estado e da
sociedade na formulação e implementação de políticas nas diferentes áreas. Nesse contexto
surge a noção de green State - Estado verde - para ajudar a entender as novas configurações e
relações do Estado com a sociedade na implantação de políticas e programas, com abordagens
e objetivos mais abertas e permeáveis às novas demandas. (...)O Programa também tem como
princípio fomentar o desenvolvimento de cadeias locais e regionais do leite, a partir da renda
gerada por meio de compras para atender às demandas de distribuição do leite às crianças, bem
como pelas exigências de qualidade e articulação com os investimentos na produção e
beneficiamento do produto.” (BOZOTTI; CONTI; FINOKIER.2013)

Ao admitir e reforçar o papel do Estado, é garantido o respeito quanto ao controle


institucional de qualidade dos produtos – no que ganha a sociedade como um todo. Além da
promulgação de emprego e renda para os pequenos produtores regionais fortalecendo o elo
local de trabalho em torno do programa. O método de pasteurização do leite cru é fundamental
para qualidade do leite prevenindo infecções por patógenos agressivos ao organismo humano.
No âmbito do PLC, a fiscalização se dá quanto aos laticínios responsáveis por esta técnica e
pelo enriquecimento do leito com ferro e vitaminas A e D. O preço pago pelo Estado e os
contratos de compra dependem do atendimento destes quesitos que são ponderados junto ao
preço de referência estabelecido pelo Conseleite. Para garantir equilíbrio entre o preço pago
direto ao produtor e o preço de compra do Estado pelos Laticínios é importante a confiança
entre os agentes – no que o Estado é importante na administração dos custos de transação quanto
a precificação e atividades oportunistas quanto a qualidade do produto.
Como abordamos no primeiro capítulo, é necessário mais estudo em relação as
desigualdades que levem em conta as variáveis raciais e de gênero. No que tange
especificamente ao PLC, um desafio é coletar dados à fim de compreender se existe disparidade
neste aspecto quanto a quem produz - o trabalhador no campo- e quem demanda – as crianças
e nutrizes em vulnerabilidade social. As necessidades de reparação histórica precisam ganhar

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mais investimento e atenção da sociedade, mas ainda não contamos com amplos estudos e
debates técnicos quanto ao tema de forma que é um desafio encontrado e interesse futuro de
pesquisa aprofundar-se na produção de dados quanto as variáveis citadas e os modos de trabalho
no campo no Paraná. Com todo este tempo de duração, outros desafios para o PLC são a
atualização dos sistemas e softwares usados, a continuidade de aprendizado e valorização do
capital humano para sistematizar os trabalhos quotidianos, a integração e planejamento entre os
municípios na produção de dados e avaliação do programa, os incrementos tecnológicos da
revolução verde acessíveis à Agricultura Familiar, o combate ao preconceito quanto função do
Estado Democrático em financiar e gerir políticas públicas de redução das assimetrias de
oportunidade e regulação dos mercados e o fortalecimento na conjuntura internacional quanto
a noção de autonomia da segurança e cultura nutricional local através do fortalecimento de seus
sistemas agroalimentares regionais.
Quanto ao último ponto, importante é destacar o papel dos ODS – Objetivos do
Desenvolvimento Sustentável estipulados durante a Cúpula das Nações Unidas em setembro de
2015. Unindo esforços entre as nações, consta de uma agenda mundial pactuada através de 17
objetivos e 169 metas a serem atingidos até 2030 respeitando o desenvolvimento local no
impacto do Bem-Estar global. Ressalta-se, nesta pesquisa, o atendimento ao “Objetivo 2 - Fome
Zero e Agricultura Sustentável” chamando atenção para correlação entre a sustentabilidade na
agricultura e o combate a fome. Buscou-se expor o setor produtivo local quanto as bacias
leiteiras e o trabalho nacional para efetivar as políticas públicas de segurança alimentar como
uma conjuntura favorável que caminhou a favor das metas deste objetivo, principalmente no
que que tange “2.1 - Até 2030, acabar com a fome e garantir o acesso de todas as pessoas, em
particular os pobres e pessoas em situações vulneráveis, incluindo crianças, a alimentos
seguros, nutritivos e suficientes durante todo o ano”. O Programa Leite das Crianças é uma
política pública que atua como ferramenta crucial para o Desenvolvimento Sustentável.

5. Conclusão

Demonstrou-se, nesta pesquisa, os caminhos da luta pela institucionalização do direito


humano à alimentação digna e segurança nutricional no Estado brasileiro e o notável
desenvolvimento das bacias leiteiras no Sul com foco no Paraná nas últimas duas décadas. Sem
desconsiderar os históricos desafios - sobretudo no que tange a assimetria de gênero e raça –
contra os quais luta a Agricultura Familiar em favor da segurança nutricional com seus
princípios de sustentabilidade no campo em terras que, como a brasileira, lidam com as heranças
de um sistema violento de colonização.
Enfrentando os desafios expostos e trabalhando em favor das conquistas elencadas, o
PLC avança por mais de 18 anos gerando trabalho no campo e a saúde na infância. Valendo-se
dos avanços conquistados pela redemocratização com a estabilidade de preços no cenário
macroeconômico e as firmas em sinergia de governança no cenário microeconômico. O notável
para o sucesso do programa é o aproveitamento deste clima organizacional pós estabilização de
preços e consolidação de direitos democráticos que aliados ao desenvolvimento econômico do
setor lácteo no Paraná e agentes com know-how e vocação instituíram esta importante política
pública. Dessa forma, caminha na conquista das metas pactuadas pela ONU quanto ao
“Objetivo 2 - Fome Zero e Agricultura Sustentável” e contribui para o desenvolvimento global
dos Direitos Humanos e Bem-Estar Social.

6. Referências

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