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Resumo
O Programa Leite das Crianças foi criado pelo decreto nº 1.279 de 14 de maio de 2003, instituído pela Lei Estadual
n. º 16.385 de 25 de janeiro de 2010, alterado pela Lei nº 16.475 de 22 de abril de 2010 e regulamentado pelo
Decreto Estadual n. º 3000 de 7 de dezembro de 2015 com o objetivo de garantir a segurança alimentar e nutricional
das crianças paranaenses de 6 a 36 meses e das mães gestantes e nutrizes. É uma ação regional que está em
consonância com o Decreto Nº 7.272, de 25 de agosto de 2010 que define as diretrizes e objetivos da Política
Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional – PNSAN instituída pelo Governo Federal. Esta pesquisa ressalta
a importância das políticas públicas de combate à fome desnutrição para garantia dos direitos civis e efetividade
de um Estado Democrático de Bem-Estar Social. Considera a relação do fortalecimento da Agricultura Familiar
como substancial à produção de alimentos em consonância com a cultura nutricional local. Expõe as características
regionais do sistema lácteo paranaense, revisita o caminho histórico da luta no Brasil pelo direito humano a
segurança nutricional, relaciona a alimentação digna com os direitos de gênero, raça e classe e constata o êxito dos
mais de 18 anos do Programa Leite da Criança no alcance dos Objetivos do Desenvolvimento Sustentável.
Palavras-chave: Segurança Alimentar. Agricultura Familiar. Produção leiteira. Políticas Públicas. ODS –
Objetivos do Desenvolvimento Sustentável
Abstract
The Children's Milk Program was established by State Decree n. 1.279 of May,14 2003, supported by State Law
n. 16,385, of January 25, 2010, changed by State Law n. nº 16.475 of aphri, 22, 2010 and regulated by State
Decree n. 3000, of December 7, 2015, with the objective of guaranteeing the food and nutritional security of
children aged between 6 and 36 months in Paraná and of pregnant and nursing mothers. It is a regional action in
line with Decree No. 7,272, of August 25, 2010, which defines the guidelines and objectives of the National Food
and Nutrition Security Policy – PNSAN instituted by the Federal Government. This research highlights the
importance of policies to guarantee civil rights and public to combat hunger and malnutrition in a welfare state.
Consider the nutritional relationship of strengthening smallholders as substantial to food production in line with
local culture. It exposes the regional characteristics of the dairy system in Paraná, revisits the history of the
struggle in Brazil for the human right to nutritional security, relates decent food to the rights of gender, race and
class, and notes the success of the Leite da Criança Program for over 18 years. in achieving the Sustainable
Development Goals.
Key words: Food Security. Family farming. Dairy Production. Public policy. SDGs - Sustainable Development
Goals.
1. Introdução
O Brasil é o terceiro maior produtor mundial de leite segundo relatório de 2019 da FAO
ficando atrás dos EUA e da Índia. O país é, também, um dos maiores consumidores de lácteos
mundiais, ocupando a quarta posição, atrás dos EUA, Índia e China - consecutivamente. No
ano de 2020, foram produzidos 35,4 bilhões de litros de leite no território nacional - cujo valor
da produção alcançou R$ 56.510.848.000,00. O Paraná representou 13,09% deste total com um
volume de 4,6 bilhões de litros. Os dados são da PPM – Pesquisa da Pecuária Municipal do
IBGE e revelam que os paranaenses são os segundos do ranking, ficando atrás de Minas Gerais
com 9,6 bilhões de litros, participando com 27,37% do total. Quanto ao valor da produção, o
ranking é o mesmo com o Paraná recebendo R$ 7.767.393.000,00 atrás de Minas Gerais com o
valor de R$ 15.991.870.000,00. A análise dos resultados deste período reforça a continuidade
de uma tendência exposta no relatório técnico da Embrapa que aponta a expressiva taxa de
crescimento da região Sul nos últimos dez anos na produção de leite:
5.000.000
2.000.000
1.000.000
0
Minas Gerais Paraná Rio Grande do São Paulo Santa Catarina Goiás
Sul
Quanto ao padrão sanitário, vale ressaltar que a OIE-World Organisation for Animal
Health (Organização Mundial de Saúde Animal) reconheceu todo o território paranaense como
livre de febre aftosa na ocasião de sua 88ª Sessão Geral Anual da Assembleia Mundial de
Delegados que foi realizada em maio de 2021. Esta é uma importante conquista para a
segurança alimentar e produtividade na produção primária de leite do estado. Adiante, será
demonstrado o quanto o Programa Leite das Crianças beneficiou, não só as nutrizes e crianças
atendidas, mas toda a população e que reforçou o papel social do Estado quanto ao padrão de
fiscalização de qualidade - com importante foco ao combate de microrganismos patogênicos
letais que causam altos índices de mortalidade infantil.
Entre as regiões do Paraná, quando são consideradas os núcleos regionais estabelecidos
pela SEAB/PR, as regiões Sudoeste (Núcleos Regionais de Francisco Beltrão e Pato Branco),
Região Centro Oriental (Núcleos Regionais de Ponta Grossa, especialmente os municípios de
Castro, Carambeí, Palmeira, Arapoti) e Região Oeste (Núcleos Regionais de Cascavel e Toledo)
Fonte: Adaptações do autor a partir dos dados da Produção Agropecuária do IBGE (2022).
Tabela 2 – Estabelecimentos agropecuários dirigidos pelo produtor, por cor ou raça, segundo o
sexo do produtor – Brasil – 2017
Sexo do
Total Branca Preta Amarela Parda Indígena
produtor
Brasil
Total 5.056.525 2.297.013 423.408 31.108 2.248.549 56.447
Homem 4.110.450 1.951.438 319.380 25.593 1.772.209 41.830
Mulher 946.075 345.575 104.028 5.515 476.340 14.617
Paraná
Total 303.541 241.016 7.944 3.372 49.789 1.420
Homens 262.895 210.567 6.565 2.982 41.794 987
Mulheres 40.646 30.449 1.379 390 7.995 433
Fonte: IBGE – Censo Agropecuário 2017
4. Programa Leite das Crianças: “Mais Renda no Campo. Mais Saúde na Infância”
O PLC - Programa Leite das Crianças do Estado do Paraná surgiu pari passo às
concepções internacionais que levam em conta os sistemas agroalimentares em favor da
autonomia produtiva e cultura nutricional local, as iniciativas do governo federal de
fortalecimento da Agricultura Familiar e a concepção de combate a fome como atenção a saúde
primária valendo-se da estrutura do SUS concomitantemente desenvolvida. O progresso do
setor lácteo no Paraná partiu de um planejamento baseado numa estrutura de governança que
permitiu aliar estas concepções quanto ao direito a alimentação aos interesses econômicos dos
produtores da região. Aliado a uma equipe técnica com know-how na estruturação regional de
ações como as merendas nas escolas, foi possível pôr em prática esta política pública.
A institucionalização do programa se deu pelas leis e decretos, quais sejam: decreto nº
1.279 de 14 de maio de 2003 que cria o PLC, Lei Estadual n. º 16.385 de 25 de janeiro de 2010
que o institui, Lei nº 16.475 de 22 de abril de 2010 que dispõe alterações, Decreto Estadual n.
º 3000 de 7 de dezembro de 2015 que o regulamenta e Resolução nº055 de 30 de julho de 2018
que organiza seu funcionamento. É uma ação regional incipiente que está em consonância com
o Decreto Nº 7.272, de 25 de agosto de 2010 que define as diretrizes e objetivos da Política
Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional – PNSAN instituída pelo Governo Federal.Ao
tornar-se Lei, garante a responsabilidade do Estado para além de um projeto de governo. Quanto
a institucionalização do programa como política pública, Nikolas Corrent, da Faculdade de
Guarapuava, explora em sua pesquisa a relação desta ação local com os programas nacionais e
aborda os ciclos das políticas públicas em seu poder extroverso agindo em favor do interesse
coletivo:
“Sabe-se que é dever do Estado a garantia dos direitos sociais de cada cidadão,
buscando através de ações públicas o atendimento à coletividade ou à determinado
grupo social. É preciso que, a partir disso, haja um conjunto de práticas
governamentais que atendam estas exigências, incluindo os interesses e expectativas
da sociedade, visto que são fatores contribuintes para o bem-estar da sociedade. Para
essas atitudes damos o nome de Políticas Públicas. O Estado enquanto garantidor de
direitos através de Políticas Públicas possui o “poder extroverso”, pois precisa agir
visando o interesse coletivo e acima de tudo público (...)Não é em vão que o Programa
Leite das Crianças leva os lemas: “Menos fome e mais trabalho do campo” e “Mais
renda no campo, mais saúde na infância” Percebe-se a preocupação da esfera
governamental em fazer com que haja o desenvolvimento da economia regional e
local.” (CORRENT.2016)
Contando com uma estrutura de governança democrática que alia empresas, Estado e
sociedade civil, o PLC tem como missão gerar renda no campo aos pequenos produtores rurais
e combater a desnutrição de crianças e nutrizes fortalecendo os laços da economia local e
autonomia quanto a cultura nutricional. Para tanto, necessita da coordenação do Estado uma
vez que os mercados não garantem pleno emprego e a estabilidade de preços, tão somente, não
Sob a ótica do incentivo à produção, em relação aos ganhos sociais quanto a influência
do Estado no leite fornecido pelo PLC – específico pela necessidade de pasteurização e
enriquecimento - um importante estudo revela que a compreensão deste na atuação de
economias de mercado é singular na garantia de qualidade em detrimento a comportamentos
oportunistas e na gestão de contratos quanto aos custos de transação equalizando os interesses
entre os agentes. Segundo dados da SEAB/PR, o programa abrange cerca de 5.000 produtores
familiares e 41 Usinas de processamento do leite. Também no que tange a sustentabilidade no
uso intensivo de recursos naturais confere-se um papel ativo ao Estado na regulamentação dos
mercados. Pela ocasião da 2ª Jornada da Questão Agrária e Desenvolvimento promovida pela
UFPR – Universidade Federal do Paraná em 2013, Bozotti; Conti; Finokier apresentam os
seguintes resultados ao pesquisar o PLC sob esta ótica:
5. Conclusão
6. Referências