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O USO DA AGRICULTURA FAMILIAR NA ALIMENTAÇÃO ESCOLAR: UMA

ANÁLISE DAS CAPITAIS DE SANTA CATARINA E SERGIPE ENTRE OS ANOS DE


2011 E 2017

Dinah Rebeca Dantas Silva1

Felipe Terra de Oliveira Silva 2

Vitor Santarosa3

Introdução

No Brasil nas últimas décadas, a agricultura familiar obteve diversos avanços no que cerne
seu uso político, econômico e social. Se no passado, o grande latifundiário, atrelado a monocultura
e uma mecanização em pleno desenvolvimento era o foco do governo, recentemente, os
agricultores familiares conseguiram ter mais visibilidade e força política.
Sabemos que algumas regiões brasileiras, a presença da agricultura familiar é mais
expressiva como na região nordeste e sul, como demonstrado na Figura 1. Já o agronegócio é mais
forte no centro-oeste, essas diferenciações compreende fatores ligados desde a formação sócio-
espacial até as políticas econômicas.
O fato é que mediante algumas políticas públicas de fomento, as que configuram no âmbito
de aquisição de alimentos são de extremas importância. O Plano Nacional de Alimentação Escolar
(PNAE) foi criado nos anos 50, mas foi através da normativa nº 11.974 de Junho de 2009, que
prevê o destino de 30% do repasse federal para aquisição de alimentos provindo da agricultura
familiar para merenda de escolar públicas, trouxe uma série de desafios. É como elenca Triches e
Schneider (2012) para o bom funcionamento do programa (com todas suas normativas) é
necessário o perpasse por todos os aspectos burocráticos, organizacionais, sanitários, logístico e
estruturante exigidos aos agricultores para o cadastramento ao programa.
A possibilidade de serem fornecedores de
gêneros para a alimentação escolar exige mudanças
na sua forma de relação com os mercados, com os
outros agricultores, mediadores, gestores e

1
Acadêmica de Bacharelado em Geografia na Universidade Federal de Pernambuco
dinah.dantass@gmail.com
2
Acadêmico de Bacharelado e Licenciatura em Geografia na Universidade Federal de Santa Catarina
felipeterrageo@hotmail.com
3
Acadêmico de Bacharelado e Licenciatura em Geografia na Universidade Federal de Santa Catarina
vitor.sntt@hotmail.com
instituições,obrigando-os a rever suas posições,
atitudes e práticas, como também as dos outros
envolvidos. (TRICHES; SCHNEIDER, 2012, p. 4)

Figura 1: Ordenação das microrregiões do Brasil em função da densidade de estabelecimentos familiares


em 2006. Fonte: Concentração Geográfica da Agricultura Familiar no Brasil. EMBRAPA, 2013.

Por outro lado, é o município, e principalmente o Departamento e a Coordenadoria de


Alimentação Escolar DAE/COAE, da secretaria de educação municipal que precisam mudar a
forma de pensar o programa, e com isso aumentar e sustentar a rede de relações com os agricultores
familiares e as respectivas cooperativas, fortalecendo o vínculo entre o Estado e esses
trabalhadores (uso político e econômico).
Florianópolis e Aracaju são capitais de contextos econômicos e sociais bastante diferentes
entre si, mas com inúmeras semelhanças e proporções, sendo consideradas segundo o Regic (2007)
capitais regionais A, e apresentam regiões de influências parecidas. Porém, os dados
disponibilizados no site oficial do Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação (FNDE)
sobre o PNAE nessas duas capitais, mostraram valores de aquisição bastante diferentes no decorrer
dos anos de 2011 e 2017.
O (bom) funcionamento do PNAE nessas capitais podem trazem diversos benefícios, mas
também uma série de desafios para sua continuidade, estabelecendo uma série de relações com as
cooperativas e um novo ordenamento territorial.

Políticas de Segurança Alimentar e Nutricional (SAN)

A agricultura familiar tem como base a produção por pequenos proprietários, apesar disso,
há dados do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento que mostraram em 2018 que ela
é a responsável em nosso país por 50% dos alimentos que chegam às mesas dos brasileiros, o que
já representa 38% do valor da produção agropecuária. A lei nº 11.974 de 16 de junho de 2009
que prevê a utilização de 30% do valor destinado para a alimentação nas escolas das redes
municipais, estaduais, e federais pelo FNDE para o Programa Nacional de Alimentação Escolar
(PNAE), especifica que esses alimentos devem ser oriundos da agricultura familiar. A partir então,
houve um crescente do debate sobre esse tipo de agricultura, bem como a relevância da introdução
desse tipo de produção nas escolas.
O estado de Santa Catarina, assim como Sergipe, possuem grande participação da
agricultura familiar e colaboram diretamente na alimentação escolar (ilustrado na Figura 2),
entretanto os dados obtidos mostram que as capitais Florianópolis e Aracajú diferem ao longo do
tempo sobre o percentual atingido, mediante a lei nº 11.974. O interessante dos dados publicados
pelo PNAE (2011-2017) é que as duas capitais estabelecem movimentos inversos, enquanto a
capital catarinense cumpre relativamente bem as metas estabelecidas por lei nos primeiros anos,
Aracaju registra percentuais baixíssimos nesse mesmo período. Porém, nos últimos dois anos a
capital sergipana alcançou resultados acima de 80%, enquanto Florianópolis registrou apenas 9%
à 1% de alimentação escolar proveniente da agricultura familiar. Essas mudanças de um ano para
outro, envolvem diversos fatores como: maior coordenação da prefeitura junto às inúmeras
cooperativas estabelecidas na região; políticas econômicas de fomento para os pequenos
produtores (microcrédito, feiras, cursos...); mudanças no cardápio escolar, visto pelo acréscimo de
alimentos regionais; produtos da agricultura familiar de acordo com a média de preço do mercado;
adequação dos produtores as normas exigidas pelo programa.

Figura 2: Mapa de distribuição espacial da compra da agricultura familiar pelo Programa Nacional de
Alimentação Escolar (PNAE) nos municípios brasileiros. Fonte: Brasil, 2011

O cumprimento da lei de forma efetiva em todas as cidades brasileiras está longe de ser
uma realidade e constitui um desafio, abrangendo metrópoles à cidades pequenas, onde as
primeiras possuem uma enorme dificuldade em atingir as exigência do PNAE. Os artefatos
jurídicos visto pela lei nº 11.974 e seus órgãos fiscalizadores não garantem o sucesso do programa,
é necessário diversas iniciativas e ações que vão da escolha do cardápio na escola, até as políticas
municipais e regionais, fomentando à agricultura familiar se fortalecer constantemente em
determinada região.

Metodologia

O presente trabalho utilizou como principal fonte de informações os dados do Plano


Nacional de Alimentação Escolar (PNAE) que dispõe sobre índices anuais de aquisição de gêneros
alimentícios da agricultura familiar. Onde a escolha das cidades se deu em virtude de alguns
aspectos em comuns: ambas são consideradas capital regional A pelo REGIC (2007), contém
números similares de alunos matriculados na rede municipal de ensino; capitais em estados com
forte presença de agricultura familiar; possuem momentos de obtenção de bons e péssimos índices
entre os anos de 2011 e 2017. A partir de tais dados foi elaborada comparação numérica de
nutricionistas atuantes em ambas as capitais e no que isso implicaria. Foi realizada também grande
parte da pesquisa através de revisão bibliográfica e consulta de páginas oficiais na internet, como
o exemplo de consulta da produção agrícola permanente e temporária pelo IBGE, onde a partir de
diversas fontes foi feita a reflexão de tais cidades e seus contextos estaduais e nacional.

Políticas públicas que fomentaram a agricultura familiar

Na história da economia agrícola brasileira, sempre observou-se políticas públicas que


favoreciam os meios de produção marcados por grandes latifúndios, monoculturas, commodities
para exportação e que deixavam em segundo plano a agricultura familiar.

Com a chamada modernização agrícola brasileira nos anos 60 e 70, fruto da revolução
verde, a mecanização do campo atingia cada vez mais os setores com alta densidade de capital,
beneficiando principalmente os grandes produtores, que obtinham um acesso facilitado ao crédito
rural, gerando uma maior concentração de terras. Em contrapartida, os movimentos sociais como
da reforma agrária ganhavam cada vez mais fôlego, num Brasil que passava por um grande êxodo
rural, a exclusão dos agricultores tradicionais catalizavam ainda mais essa tensão (MATTEI,
2014).
É nos anos 90, que essas lutas começam a ganhar um novo contorno, pois esses
movimentos começaram a ter representatividade, como a criação da Federação dos Trabalhadores
da Agricultura Familiar do Brasil (FETRAF); o Movimento Sindical dos Trabalhadores Rurais
MSTR, fortificando a luta para os trabalhadores rurais. Cabe lembrar, que nessa mesmo época os
termos “agronegócio” e “agricultura familiar” são consolidados no meio acadêmico, político e
social , em que o primeiro segundo Sauer (2012) é caracterizado por atividades agropecuárias que
utilizam técnicas de produção intensiva (mecanização e química) e de escala, o que gera aumento
da produção e da produtividade, envolvendo nesse processo outro setores econômicos. Já
agricultura familiar, termo traduzidos do Estados Unidos, visava principalmente, romper com a
ideia de “agricultura ineficiente” “de subsistência”, “atrasada” que a globalização econômica
tentava impor. Se pode levantar diferentes critérios e variedades para construir tais tipologias,
porém, a partir do Novo Retrato da Agricultura Familiar de 2000 organizado pelo INCRA
(Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária) foi levantada a duas caracterizações para
a agricultura familiar e tais condições foram que a direção dos trabalhos fossem exercida pelo
produtor e que o trabalho familiar fosse superior ao trabalho contratado e juntamente com tais
condições foi estabelecida uma área máxima regional para essa classificação.

No entanto, o marco histórico veio com a criação do PRONAF (Programa Nacional de


Fortalecimento da Agricultura Familiar) em 1995, e para os autores como (SCHENEIDER, 2003)
(TRICHES 2010); (DELGADO, 2012) foi de suma importância e reconhecimento para a
categoria, visto por ser a primeira política de caráter nacional que atenderia demanda históricas
dessa classe, e que abriria uma série de caminhos. Nos anos 2000, no governo Lula (2003-2010)
uma série de políticas importantes foram criadas, a PAA (Programa de Aquisição de Alimento)
braço do Fome Zero, pois destinava alimentos oriundos da agricultura familiar para populações
mais carentes; o Plano Safra tendo incentivo e maior acesso a diversos recursos financeiros; a
criação do Ministério do Desenvolvimento Agrário (MDA), como também a criação do Programa
Nacional de Assistência Técnica e Extensão Rural na Agricultura Familiar e na Reforma Agrária
(PRONAter).
Contudo, para fins deste artigo, a criação da lei nº 11.974 de Junho de 2009, é de caráter
principal. Pois, designa pelo menos 30 % do repasse pelo Fundo Nacional Desenvolvimento e
Educação (FNDE) para o Programa Nacional de Alimentação Escolar (PNAE) seja provindo da
agricultura familiar. Tal lei ganhou complementação com a resolução nº 26 de 17 de junho de 2013
que dispõe sobre o programa e toda a suas diretrizes.

A agricultura familiar nos estados de Santa Catarina e Sergipe

Originalmente a principal atividade econômica do estado de Sergipe, seguindo o modelo


de todo o país no início da colonização sendo em sua grande maioria baseado em atividades
atividades rurais. estaria fundada na criação de gado sendo, posteriormente, adicionada o cultivo
da cana-de-açúcar, sendo esta hoje a maior produção agrícola que movimenta o estado. Segundo
dados do IBGE (2017) a produção atingiu o montante de 687 milhões de toneladas, quase 6 vezes
mais do que a produção de soja, com 115 milhões de toneladas.

Com o agronegócio a fortificação da monocultura se tornou presente e é um forte aliado na


alta produção de cana-de-açúcar, bem como a de soja, porém com o incentivo da agricultura
familiar o estado diversificou a produção de outros gêneros alimentícios. Atualmente o contexto
de culturas do estado apresenta produções relativamente expressiva em relação a diversidade de
alimentos produzidos.

Segundo MENEZES; SILVA; SILVA, (2019) as culturas predominantes, além da forte


presença da cana-de-açúcar no estado:

[…] atualmente outras culturas se destacam em diferentes territórios sergipanos: a


produção de laranja, nos territórios do Sul, Centro-Sul; o abacaxi no Centro-sul e Médio
Sertão; o coco-da-baía, no Leste e Baixo São Francisco; o milho, no Centro-Sul, Agreste-
Central, Médio e Alto Sertão; o arroz, no Baixo São Francisco; a mandioca, no Centro-
Sul e no Agreste-Central, a criação do gado bovino para produção de leite, queijos e os
suínos estão concentrados no Alto Sertão sergipano. (MENEZES; SILVA; SILVA, 2019,
p.1).
Segundo o último censo agropecuário do IBGE (2017), das 93.275 estabelecimentos do
estado de Sergipe, 72.060 são considerados da agricultura familiar, isso representa cerca de 77%
desse montante e um dos maiores percentuais de agricultores familiares do país. Ao relacionar a
área ocupada por essa prática, muito se assemelha às demais áreas ocupadas por outros tipos de
agriculturas, o que expressa uma forte presença e competitividade da agricultura familiar do
estado.

Tabela 1: Tipos de agricultura, número de propriedades agropecuárias e suas área nos


estados SE e SC, 2017.
Tipos de Estabelecimen Área (ha) Tipos de Estabelecimentos Área (ha)
agricultur tos em SE em SE agricultura em SC em SC em SC
a em SE

Não é 21.215 780.346 Não é agricultura 40.079 3.992.567


agricultur familiar
a familiar

Agricultur 72.060 680.515 Agricultura 142.987 2.456.219


a familiar familiar

Total 93.275 1.460.860 Total 183.066 6.448.785

Fonte: Censo agropecuário. IBGE (2017). Org.: Os autores (2019).

A agricultura familiar no estado de Santa Catarina

No estado de Santa Catarina temos o destaque do cultivo do café, estando representado


por um ramo no brasão da bandeira do estado que era cultivado no litoral, e também o trigo ,
também representado em dito brasão o qual era produzido em principal no interior do estado.
Atualmente o estado tem 70% de sua área sendo ocupada pelas práticas da agropecuária sendo
ele o maior produtor nacional de cebola e de maçã em 2017, com importante produção também
de outras frutas de ambiente temperado como ameixa e pêssegos, e segundo maior produtor de
arroz no mesmo ano (IBGE). Há no estado também um crescente cultivo da soja, encabeçada
pela agricultura patronal, ocupando, de acordo com o IBGE, cerca de 42% da áreas cultiváveis
do território catarinense, sendo ele também o que foi mais rentável, com R$2,5 bilhões em 2017.
Para o caso de Santa Catarina, o censo agropecuário do IBGE (2017), apontou 142.987
propriedades derivadas da agricultura familiar no estado, isso representa cerca de 78% dos
estabelecimentos em todo território catarinense e eleva junto com o estado de Sergipe, líderes da
de participação de produção na agricultura familiar no país. A produção familiar catarinense tem
como principais produtos o milho, com a maior produção em quantidade 76,5% pela agricultura
familiar no estado, e a mandioca, com a maior porcentagem de produção sendo feita por agricultura
familiar com 93% por esse tipo de agricultura (IBGE, 2006)

Uso Político

O gráfico evidencia que durante as gestões municipais de Aracaju e Florianópolis tiveram


oscilações no uso do repasse feito pelo governo, entretanto essas oscilações são distintas para
ambos os municípios.
Ao observar os dados de Florianópolis, é possível identificar índices satisfatórios do valor
de 30% nos dois primeiros anos, porém o ano seguinte não alcança o esperado e expressa um
número muito abaixo dos 10%, isso se expressa através da política de governo de cada gestor
municipal, pois cabe ao município incentivar e cumprir essa lei.
Tabela 2: Valor Transferido nas Prefeitura Municipal de Aracaju e Florianópolis e Valores
Gastos na Aquisição de Produtos de Origem de Agricultura Familiar.

Anos Valor Valor aquisições da Valor Transferido Valor aquisições da


Transferido agricultura para agricultura familiar
para Aracaju familiar em Florianópolis em Florianópolis
Aracaju

2011 R$ 2.061.420,00 R$ ------ R$ 2.319.420,00 R$ 698.0044,72

2012 R$ 2.354.964,00 R$ 295.,046,66 R$ 2.857.788,00 R$ 878.018,87

2013 R$ 2.649.676,00 R$ 303.249,56 R$ 3.820.372,00 R$ 335.877,56

2014 R$ 2.469.342,00 R$ 166.534,38 R$ 3.503.904,00 R$ 1.180.822,45

2015 R$ 2.793.196,00 R$ 156.933,91 R$ 4.073.568,00 R$ 1.115.083,70

2016 R$ 995.592,74 R$ 837.486,25 R$ 4.232.436,44 R$ 955.068,55

2017 R$ 307.815,40 R$ 961.450,89 R$ 4.770.694,00 R$ 50.943,96

Fonte: Programa Nacional de Alimentação Escolar. Org.: Os autores (2019).

A patir da tabela exposta acima podemos perceber a diferença nos valores repassados para o
municício e comparando entre as cidades podemos perceber como esse repasse para Aracajú fui
diminuindo enquanto o valor gasto com a aquisição oriunda de agricultura familiar foi aumentando
enquanto vemos a de Florianópolis aumenta o repasse e seus gastos com esse tipo de agricultura
vai diminuindo.

O Papel do Nutricionista na Alimentação Escolar

O Programa Nacional de Alimentação Escolar é criado na década de 1950, com o objetivo


de promover a segurança alimentar para os estudantes, entretanto o reconhecimento institucional
do nutricionista neste âmbito, surge apenas na década de 1990 ao compreender este como grande
responsável da elaboração do cardápio nas escolas.

Ao retomarmos os municípios aqui discutidos, estes possuem números relativamente


aproximados de estudantes na rede municipal e que são atendidos pela PNAE. De acordo com
dados do FNDE, referente ao ano de 2017 a capital de Sergipe possuía 31.698 alunos, enquanto
que a capital de Santa Catarina detinha 34.190 do corpo discente. A garantia de compra de bons
alimentos para estes estudantes é efetivada pelos nutricionistas, e seu número está a cargo da
demanda que o município recebe. Ambos os municípios analisados, possuem a mesma quantidade
de profissionais da nutrição, porém no caso de Aracaju, 14 funcionários trabalham na rede
municipal, sendo 6 funcionárias concursadas pelo município e as demais são terceirizadas. Para
Florianópolis apenas 4 são efetivadas pelo município e 10 são terceirizadas.

A contribuição dos nutricionistas, como salienta o quadro 1, está inseridas dentro do


contexto da alimentação escolar mais balanceada, diversa no preparo e escolha do cardápio, bem
como na higienização dos alimentos e relação com os agricultores, pequenos produtores ou
associações diretamente ligada com a agricultura familiar.

Quadro 1: Atribuições exigidas pelo Conselho Federal de Nutricionista através da Resolução nº


465 de 23 de agosto de 2010 no âmbito do PNAE
I. Realizar o diagnóstico e o acompanhamento do estado nutricional dos escolares, calculando
os parâmetros nutricionais para atendimento dos mesmos

II. Estimular a identificação de indivíduos com necessidades nutricionais específicas

III. Planejar, elaborar, acompanhar e avaliar o cardápio da alimentação escolar

IV. Propor e realizar ações de educação alimentar e nutricional para a comunidade escolar

V. Elaborar fichas técnicas das preparações que compõem o cardápio

VI. Planejar, orientar e supervisionar as atividades de seleção, compra, armazenamento,


produção e distribuição dos alimentos

VII. Planejar, coordenar e supervisionar a aplicação de testes de aceitabilidade junto aos


escolares

VIII. Interagir com os agricultores familiares e empreendedores familiares rurais e suas


organizações

IX. Participar do processo de licitação e da compra direta da agricultura familiar para aquisição
de gêneros alimentícios
X. Orientar e supervisionar as atividades de higienização de ambientes, armazenamento de
alimentos, veículos de transporte de alimentos, equipamentos e utensílios da instituição

XI. Elaborar e implantar o Manual de Boas Práticas para Serviços de Alimentação

XII. Elaborar o Plano Anual de Trabalho do PNAE

XIII. Assessorar o CAE no que diz respeito à execução técnica do PNAE

Fonte: Conselho Federal de Nutricionistas. Retirado de: CHAVES; SANTANA; GABRIEL;


VASCONCELOS, 2013. (verificar fonte)

Ainda sobre os nutricionistas, CHAVES; SANTANA; GABRIEL; VASCONCELOS,


(2013):
Apesar do conhecimento das suas atribuições, o nutricionista enfrenta barreiras na
execução, pois são muitas vezes sobrecarregados por atividades burocráticas e
administrativas. Atividades complexas e que, consequentemente, necessitam de
disponibilidade de materiais e de outros profissionais de apoio, tais como a execução da
avaliação nutricional, testes de aceitabilidade e atividades de educação alimentar e
nutricional, são negligenciadas em detrimento da urgência do trabalho administrativo que
o nutricionista também exerce. (CHAVES; SANTANA; GABRIEL; VASCONCELOS,
2013, p. 924)

É de suma importância o papel do nutricionistas nos programas de alimentação escolares,


para a garantia de cardápios adequados com o valor nutricional ideal aos estudantes, além
fiscalização e exigência do poder público na garantia de políticas efetivas que assegurem a compra
da agricultura familiar e o incentivo de compras de alimentos de ótima qualidade.

Considerações Finais

Com o desenvolvimento de nossas análises podemos observar que há uma grande importância
na continuidade de inclusão de alimentos de origem de agricultura familiar na alimentação escolar
de centenas de alunos de todo o país. Podemos observar inicialmente que há em si uma grande
diferença de entrada para gastos entre as capitais mencionadas por motivos de maiores
investimentos serem feitos na cidade sulista, porém há mesmo assim uma crescente nos gastos da
cidade de Aracajú na compra de alimentos provindos de agricultura familiar. A partir disso
podemos também analisar uma certa queda na aquisição de produtos em ambos os municipios
assim que temos a entrada de uma nova gestão nas prefeituras, dado ao efeito comum desse tipo
de eleição em que a gestão que toma posse comumente modifica amplamente as políticas já
instauradas anteriormente, sendo assim se pode apontar como proposta que tais políticas possam
ter andamento independente de mudanças de gestão e de pessoal reponsável para que assim os
projetos possam ser desenvolvidos.
A participação e inflência de nutricionistas se mostrou também bastante importante para a
construção e manutenção de uma alimentação saudável e de base familiar, como descrito
anteriormente, para isso é importante a consideração direta da quantidade de alunos de uma rede
municipal para que se faça a contratação de profissionais adequadas para a realização do serviço,
que em muitos municípios acaba não sendo feito e assim com o passar do tempo se encontra
problemas para o melhor desenvolvimento desta tarefa

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