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POLÍTICAS PÚBLICAS PARA A AGRICULTURA FAMILIAR NO


ASSENTAMENTO IRENO ALVES DOS SANTOS EM RIO BONITO DO
IGUAÇU - PARANÁ
PUBLIC POLICIES FOR FAMILY FARMING INLAND THE SETTLEMENT IRENO
16
ALVES DOS SANTOS IN RIO BONITO DO IGUAÇU - PARANÁ

Cecilia Hauresko
chauresko@unicentro.br
Universidade Estadual do Centro-Oeste/UNICENTRO
Guarapuava, Paraná

Catiani Paulo do Nascimento


catiani03@gmail.com
Universidade Estadual do Centro-Oeste/UNICENTRO
Guarapuava, Paraná

Submetido em 22 de julho de 2021


Aceito em 25 de agosto de 2021

Resumo
Este texto é resultado da pesquisa de iniciação cientifica desenvolvida no Assentamento Ireno
Alves dos Santos, município de Rio Bonito do Iguaçu, Estado do Paraná. O objetivo foi levantar
as políticas públicas acessadas pelos assentados e seus impactos para a economia familiar. A
pesquisa apoiou-se na experiência concreta de assentamento, já que a acadêmica autora deste
trabalho é moradora do local, o que permitiu levantar informações fidedignas sobre quais são as
políticas públicas acessadas por esses sujeitos, bem como avaliar as mudanças ocorridas no
município de Rio Bonito do Iguaçu, Paraná, depois da criação do Assentamento Ireno Alves dos
Santos, em 30 de outubro de 1997. A metodologia integrou duas etapas: no um primeiro momento
realizou-se revisão teórica, tratando de esclarecer os principais conceitos do trabalho, ou seja,
compreender o que são políticas públicas, agricultores familiares e assentados da reforma agrária.
Foi possível conhecer parte do debate sobre essas temáticas, os sujeitos envolvidos, e
especificamente compreender, via dialogo com os assentados, quais políticas públicas eles
acessavam e a realidade desses trabalhadores. A pesquisa evidenciou que grande parte dos
assentados entrevistados não tinha acesso a políticas públicas.

Palavras-chave: Políticas públicas; Assentados; economia; Rio Bonito do Iguaçu, Paraná.

HAURESKO, Cecilia; NASCIMENTO, Catiani, do. Políticas públicas para a agricultura familiar no
Assentamento Ireno Alves dos Santos em Rio Bonito do Iguaçu – Paraná. Revista Rural & Urbano.
Recife. v. 06, n. 02, p. 16-33, 2021. ISSN: 2525-6092

ISSN: 2525-6092
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Abstract
This text results from a scientific initiation research carried out inland the Settlement Ireno Alves
dos Santos, in Rio Bonito do Iguaçu municipality, State of Paraná. The aim was surveying public
policies accessed by the settlers, and their impacts on the family economy. The research was
supported by a settlement living experience because this work student author lives there, what 17
allowed surveying reliable information on what are the public policies that the subjects have
access, as well as evaluating changes which happened in Rio Bonito do Iguaçu, Paraná, after the
Settlement Ireno Alves dos Santos creation, in October 30th 1997. Methodology integrated two
steps, and theoretical revision was performed in the first one to make the main work concepts
clear; in other words, understanding what public policies, family farming, and agrarian reform
settlers are. Knowing a debate part on these thematic was possible, further the subjects involved
and especially understand, through dialogue with settlers, which public policies they have access
and these workers reality. The research made evident that most settlers interviewed did not access
public policies.

Keywords: Public policies; Settlers; Economy; Rio Bonito do Iguaçu, Paraná.

Introdução

Desde o final do século XX, a produção realizada pela agricultura patronal, baseada no
modelo de produção agrícola conhecido como agronegócio é considerada exitosa, porque tem
alçado ganhos produtivos através da intensificação do uso de tecnologia em máquinas, insumos
químicos, agrotóxicos, em sementes (hibridas, transgênicas), entre outros produtos desenvolvidos
para a agricultura. Tem aumentada sua visibilidade por expandir as fronteiras agrícolas em todo o
território brasileiro, por ser o setor responsável pela exportação de grãos e carnes e por esse motivo
têm ocupado destaque com reverencia no cenário governamental neoliberal.
O cultivo extensivo de grãos, a criação de gado, desloca a imagem da grande propriedade
rural do latifúndio improdutivo, e se coloca como um setor fundamental para o país, dado que,
destina a sua produção ao mercado externo e pelos negócios que sustenta junto as indústrias de
implementos e insumos agrícolas, que disponibilizam novidades para a área com imediata adesão
pelos agricultores do agronegócio. Com isso mostra-se que, nos últimos anos, ocorreram mudanças
importantes no território nacional, especialmente, naquelas atividades voltadas ao mercado
externo, as commodities (agrícolas e minerais).
Sem dúvida, essas mudanças se articulam com as políticas neoliberais e a ação do Estado

HAURESKO, Cecilia; NASCIMENTO, Catiani, do. Políticas públicas para a agricultura familiar no
Assentamento Ireno Alves dos Santos em Rio Bonito do Iguaçu – Paraná. Revista Rural & Urbano.
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que tem subsidiado fortemente esse setor. A questão central é que o resultado desta transformação
é questionável pelo alto custo ambiental e social, principalmente aos segmentos excluídos e pelo
seu caráter insustentável. Entre os segmentos excluídos ou negligenciados pelo Estado brasileiro
estão os agricultores familiares, responsáveis pela produção de alimentos para o abastecimento
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interno.
Podemos dizer que nesta conjuntura, tratar de assentamento rural como resultado da reforma
agrária e a reforma agrária em si, pode parecer assunto vencido ou até superado, na esfera dos
diversos setores da política e do pensamento nacional em geral. Existe viabilidade para uma
política de reforma agrária? Há políticas públicas direcionadas para os assentados da reforma
agrária? De que forma se dá a intervenção do Estado nas áreas de reforma agrária? Com base em
questionamentos como esses, elaborou-se um projeto de iniciação científica para saber quais as
políticas públicas acessadas pelos assentados e os impactos destas para a economia familiar no
Assentamento Ireno Alves dos Santos e para o município de Rio Bonito do Iguaçu, no estado do
Paraná.
São questionamentos como estes que levaram à esta pesquisa, se apoiando na experiência
concreta de assentamento, já que a acadêmica, autora deste trabalho, é moradora deste
assentamento o que permitiu levantar informações sobre políticas públicas recebidas pelos
assentados e melhor analisar as mudanças ocorridas no município de Rio Bonito do Iguaçu, Paraná,
depois da implantação do Assentamento Ireno Alves dos Santos, em 30 de outubro de 1997
(GALERA, 2009).
A metodologia integrou duas etapas, em um primeiro momento realizou-se revisão teórica,
tratando de esclarecer os principais conceitos do trabalho, ou seja, compreender o que são políticas
públicas, agricultores familiares e assentados da reforma agrária. Assim, foi possível conhecer um
pouco do pequeno debate sobre estas políticas, os sujeitos envolvidos e sua importância para o
desenvolvimento rural. Para realizar a pesquisa de campo e elaborar o questionário a ser
respondido pelos assentados, partimos do entendimento de que políticas públicas:
[...] são um conjunto de ações e decisões do governo, voltadas para a solução (ou
não) de problemas da sociedade (...).” Dito de outra maneira, as Políticas Públicas
são a totalidade de ações, metas e planos que os governos (nacionais, estaduais
ou municipais) traçam para alcançar o bem-estar da sociedade e o interesse

HAURESKO, Cecilia; NASCIMENTO, Catiani, do. Políticas públicas para a agricultura familiar no
Assentamento Ireno Alves dos Santos em Rio Bonito do Iguaçu – Paraná. Revista Rural & Urbano.
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público. É certo que as ações que os dirigentes públicos (os governantes ou os


tomadores de decisões) selecionam (suas prioridades) são aquelas que eles
entendem serem as demandas ou expectativas da sociedade. Ou seja, o bem-estar
da sociedade é sempre definido pelo governo e não pela sociedade (CALDAS et
al., 2008, p. 05).

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Compreende-se que as políticas públicas, em alguns casos, podem ser criadas “de cima
para baixo” ou “debaixo para cima”, ou seja, ser definida por algum setor do governo e não contar
com a participação da população interessada ou, no segundo caso, de “baixo para cima”, quando
conta com a participação da sociedade organizada, para o seu desenvolvimento. Essa participação
tem um papel de fundamental importância, visto que a população que será beneficiada é quem
sabe quais políticas e de que forma elas auxiliariam no desenvolvimento econômico-social. Essa
participação pode definir se a política será emancipatória ou subordinada, ou melhor, isso vai
depender como será implementada. Por isso, corre risco de não trazer os resultados esperados, ou
seja, que venha a alavancar as propriedades familiares e que forme uma base forte de forma que,
a população beneficiada, possa seguir melhorando, autonomamente, o trabalho e a vida deles no
campo.
Os dados aqui apresentados foram levantados mediante pesquisa bibliográfica, coleta de
dados junto a instituições públicas do município de Rio Bonito do Iguaçu, informações em sites
disponibilizadas pelas instituições como IBGE, IPARDES, MDA/INCRA, aplicação de
questionários para famílias de assentados e conversas informais com os moradores, de forma a
melhor compreender a realidade do assentamento, especificamente, no que tange ao acesso à
políticas públicas.
O texto está assim estruturado: Além da introdução e das referencias bibliográficas que
alicercaram este trabalho, inicialmente, dá-se destaque, ao referencial teórico sobre a agricultura
familiar e as políticas públicas à ela direcionadas, à caracterização do Assentamento Ireno Alves
dos Santos e seus marcos históricos. Depois, apresentamos os resultados alcançados pela pesquisa
e as considerações finais.

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Assentamento Ireno Alves dos Santos em Rio Bonito do Iguaçu – Paraná. Revista Rural & Urbano.
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Breves apontamentos sobre a agricultura familiar no Brasil, políticas públicas e a reforma


agrária.
A agricultura familiar brasileira inclui uma grande diversidade cultural, social e
econômica, variando desde o campesinato tradicional até a pequena produção integrada a indústria,
20
como é o caso, dos fumicultores. Tratamos neste trabalho da Agricultura Familiar, como um
segmento que até o final do século XX, foi negligenciado na formulação de políticas públicas
especificas para o seu sistema produtivo. Não é novidade, para nenhum de nós, que a política
agrícola brasileira, sobretudo, no período pós-guerra foi orientada para condução à modernização,
tendo como foco o aumento da produtividade a partir da incorporação de avanços tecnológicos,
tendo como alvo a empresa rural capitalizável, caracterizada por grandes extensões de terra, com
acesso garantido à abundantes subsídios fiscais e creditícios (SILVA, 2008).
Tudo isso, foi responsável por grandes impactos sociais e ambientais no meio rural, além
de intervir na dinâmica populacional brasileira e foi por isso, que ficou conhecido na literatura
como modernização conservadora ou “modernização dolorosa” (GRAZIANO DA SILVA, 1982),
principalmente, por não alterar a estrutura fundiária e por promover uma crescente marginalização
dos agricultores familiares, reproduzindo um padrão de desenvolvimento rural, excludente e
desigual.
Naquele contexto, desconsiderou-se uma multiplicidade de estratégias de atuação da
agricultura familiar no campo da economia territorial e, foi somente em 1996, com o surgimento
do Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar (PRONAF), que os agricultores
familiares rurais puderam ter acesso à um programa que, de alguma forma, lhes favorecesse.
Importante salientar, que o PRONAF surgiu como resultado das muitas reivindicações dos
trabalhadores rurais organizados em movimentos sociais que mostravam a importância de se
estabelecer políticas que propiciassem os meios necessários ao fortalecimento da produção
agrícola familiar no Brasil. Atualmente, o PRONAF opera em todo o território nacional como uma
das principais politicas de apoio à agricultura familiar no Brasil.
No Brasil, essa e outras políticas públicas para a Agricultura Familiar, criadas a partir da
década de 1990, se pautam na reprodução do processo histórico de desenvolvimento econômico
do Brasil. Porém, muitas vezes, essas políticas regulam as formas de acesso à renda e as

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oportunidades de crescimento pelo viés da reprodução do capital, uma vez que não são modificadas
as suas estruturas de exploração (FERNANDES, 2008).
Considerando a Reforma Agrária como política pública, entende-se que os assentamentos
rurais são um marco no processo de democratização do acesso à terra no Brasil, porque
21
representam um ponto de partida para novas demandas, por aqueles que tiveram acesso à terra e
que procuram nela se reproduzir (MEDEIROS; LEITE, 2004). Por sua vez, as políticas públicas
estão presentes na vida diária tanto da população do campo quanto da cidade e têm entre os seus
principais objetivos, atender as necessidades das pessoas e lhes assegurar melhor qualidade de
vida. No espaço rural/nos espaços rurais podem ser enumeradas diversas demandas sociais que, se
atendidas de forma eficiente promovem, sem dúvida, o aumento da qualidade de vida desses
sujeitos afastados das políticas públicas. Quando os governos criam políticas públicas que atendem
as demandas da população estão, de alguma forma, garantindo a cidadania e selando o seu
pertencimento à sociedade como um todo.
Voltamos um pouco no tempo, para lembrar que até o início dos anos 1960 não existiam
no Brasil, políticas públicas nacionais destinadas especificamente a agricultura familiar. É só a
partir do surgimento Pronaf, primeira política pública voltada designadamente a agricultura
familiar, que começam a surgir políticas voltadas a especificidade dos agricultores familiares.
Importante destacar que Oliveira (2007), Fernandes (2008) e Paulino (2010), dentre outros,
demonstram que o campesinato é plural tanto em formas produtivas como em territórios ocupados
e que merece ter suas particularidades consideradas nas políticas públicas.
De acordo com Mazzeto Silva (2006), para melhor compreender as políticas públicas para
o meio rural no Brasil é preciso refletir sobre o projeto de sociedade que se pretende viabilizar.
Quando se quer inserir o campesinato no mercado, que rege a sociedade de consumo, afirma-se a
hegemonia do capitalismo.
Entretanto, seria importante que os órgãos e os programas criados a partir das políticas
públicas para a agricultura familiar gerassem uma série de iniciativas que apoiassem a implantação
e o desenvolvimento de atividades baseadas em valores, princípios, enfoques, métodos e propostas
produtivas próprias do campesinato. Assim, o camponês seria inserido como sujeito central do
processo e estar-se-ia gerando um novo modelo de desenvolvimento social para o Brasil.

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Concordamos, totalmente, com esse pensamento, porém, não se tem espaço aqui para discutir esse
outro modelo de desenvolvimento social para o pais, mesmo que o debate nos seja bastante caro.
Em relação à Reforma Agraria, o Brasil defende historicamente um modelo de
desenvolvimento econômico, político e social baseado na agricultura pautada em monocultivos e
22
grandes áreas. A reforma agrária, se bem pensada, por sua vez busca promover uma
democratização, ou seja, busca dar oportunidade a pequenos agricultores, a famílias mais carentes
de desenvolverem o seu modelo de agricultura de base familiar, alicerçada na produção de
alimentos para o abastecimento do mercado interno. Nesse sentido, Masson (2016) afirma que,

A reforma agrária, desta forma, deveria assumir um papel de política pública de


desenvolvimento, posto que é uma política estrutural e que juntamente com
políticas agrícolas, políticas sociais e, mais recentemente, políticas públicas de
segurança alimentar e nutricional, constituiria em uma mediação que pudesse
dirimir as desigualdades sociais historicamente construídas e consolidadas no
território brasileiro, promovendo, assim, um desenvolvimento econômico e social
no país, calcado no desenvolvimento rural nos termos de Carvalho Filho (2009
apud MASSON, 2016, p.237)

Segundo o artigo 1° da Lei n. 4.504, de 30 de novembro de 1964, considera-se Reforma


Agrária o conjunto de medidas que visem promover melhor distribuição da terra, mediante
modificações no regime de sua posse e uso, a fim de atender aos princípios de justiça social e ao
aumento de produtividade (BRASIL, 1964). Sob tal enfoque, considera-se a reforma agrária como
uma política pública de redistribuição de terras, a qual busca provocar a desconcentração fundiária,
ou seja, as terras que não cumprem sua função social, serão destinadas ou deveriam ser, à
agricultura familiar.
Vale lembrar que isso se dá, na maioria das vezes, após um longo período de
conflitualidade, na medida em que, a influência de organizações e instituições da sociedade
determina as políticas que serão adotadas, ou seja, a elaboração de políticas públicas é influenciada
pelos interesses de classes que, se somada a política nacional atual, o cenário não é favorável. Os
territórios do agronegócio têm se valido de políticas públicas e privadas para se desenvolverem a
partir da lógica do trabalho assalariado e da produção de commodities para exportação. Os

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Recife. v. 06, n. 02, p. 16-33, 2021. ISSN: 2525-6092

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territórios camponeses necessitam de políticas de desenvolvimento a partir da lógica do trabalho


familiar, cooperativo ou associado, para a produção de diversas culturas para os mercados locais,
regionais, nacional e para exportação. (FERNANDES, 2015, p.14).
Desta forma vale lembrar que as políticas públicas voltadas para o desenvolvimento do
23
campo enfrentam uma certa fragilidade, visto que, os capitalistas influenciam no desenvolvimento
das mesmas, defendendo os interesses da sua classe, sem levar em consideração as especificidades
da agricultura familiar/camponesa (FERNANDES, 2015). Para o referido autor,

[...] somente no final da última década do século XX e na primeira década deste


século, os movimentos camponeses conseguiram influenciar os governos para
criação de planos e políticas públicas. Estes documentos são a expressão da luta
camponesa que tem influenciado políticas públicas como, por exemplo, o
Programa Nacional de Educação na Reforma Agrária – PRONERA, os cursos de
licenciatura Pedagogia da Terra, em implantação em várias universidades
federais, o mestrado acadêmico em Desenvolvimento Territorial na América
Latina e Caribe (criado na Universidade Estadual Paulista – UNESP), o Programa
de Aquisição de Alimentos – PAA e o Programa Nacional de Alimentação
Escolar. (FERNANDES, 2015, p.7)

A separação das políticas, especificamente, para a agricultura familiar é resultado das lutas
constantes da Via campesina e demais movimentos sociais que lutam pelo recebimento de maior
apoio do Estado, em termos de políticas públicas que beneficiem todos os agricultores de base
familiar
[...] principalmente pelas ações do Movimento dos trabalhadores Rurais Sem
Terra (MST), Movimento dos Pequenos Agricultores (MPA), Movimento dos
Atingidos por Barragens (MAB) e pelo Movimentos das Mulheres Camponesas
(MMC), da Confederação Nacional dos Trabalhadores na Agricultura, CONTAG
e da Federação Nacional dos Trabalhadores e Trabalhadoras na Agricultura
Familiar. Este conjunto de movimentos camponeses lutaram e geraram as
condições que levaram à criação dos planos safra da agricultura familiar a partir
de 2001, que influenciou na realização do Censo Agropecuário de 2006, quando
o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) separou a produção da
agricultura familiar ou camponesa da produção da agricultura patronal ou
capitalista ou agronegócio e publicou em cadernos distintos. (FERNANDES,
2015, p. 04)

Conforme registrado por Moreira (2013), as lutas por redemocratização do país contaram

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com grande participação dos trabalhadores do campo e dos que procediam dos diferentes
movimentos, com destaque para o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra – MST, onde
já se organizavam. De acordo com Moreira (2013), para esses trabalhadores não foi apresentada
proposta, foram reprimidos. A autora também lembra dos confrontos entre Sem Terras e polícia,
24
e Sem Terras e jagunços, barbaridades que foram marcadas por mortes e prisões de homens e
mulheres do campo. De forma triste, porém, corajosa muitos ainda resistem e lutam por justiça no
campo e pelo direito de ser agricultor e agricultora com qualidade ambiental e uma vida digna.

Caracterização da área de estudo, do município de Rio Bonito do Iguaçu e do Assentamento


Ireno Alves dos Santos.

Rio Bonito do Iguaçu é um município localizado na região imediata de Laranjeiras do Sul-


Quedas do Iguaçu, pertencente a região intermediária de Cascavel, estando a 379,67 km da capital
do Estado, Curitiba (IBGE, 2017). Sua população estimada para 2018 era de 13.283 pessoas em
uma área total de 681,406 km2 (Quadro 1) (IBGE, 2019).

Quadro 1- População Censitária segundo o tipo de domicílio e sexo – 2019 - Censo Demográfico
do IBGE.

TIPO DE DOMICÍLIO MASCULINA FEMININA TOTAL

Urbano 1.637 1.685 3.322

Rural 5.422 4.917 10.339

TOTAL 7.059 6.602 13.661

Fonte: (IPARDES, 2019).

O Município de Rio Bonito do Iguaçu, foi distrito de Rio Bonito, pela lei municipal n°19,
de 30 de novembro de 1953, subordinado ao município de Laranjeiras do Sul. Pela lei estadual nº
9.916, de 20 de março de 1992, foi elevado à categoria de município com a denominação de Rio

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Bonito do Iguaçu ( Mapa 1), desmembrando-se do município de Laranjeiras do Sul (IBGE, 2017).

Mapa 1- Localização do município de Rio Bonito do Igu

25

Fonte: (NASCIMENTO, 2019)

O atual território que constitui o município de Rio Bonito do Iguaçu pertencia a sesmaria
dos Nogueira e era ocupado por povos indígenas do grupo Kaingang. Lentamente a região foi
sendo ocupada, formando um povoado de descendentes de alemães e italianos. Rio Bonito foi área
de influência do Território Federal do Iguaçu, criado em 1943 e cuja capital foi Laranjeiras do Sul.
Os municípios limítrofes de Rio Bonito do Iguaçu são: Laranjeiras do Sul, Porto Barreiro, Nova
Laranjeiras, Espigão Alto do Iguaçu, Quedas do Iguaçu, Saudade do Iguaçu, Sulina, Chopinzinho
e São João (IBGE, 2017)
No que tange ao Assentamento Ireno Alves dos Santos foi criado pelo INCRA em 30 de
outubro de 1997, um ano e seis meses após o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra -
MST ocupar, em 17 de abril de 1996 o maior latifúndio do Paraná: as Terras da Giacometti
Marodin. Foram assentadas 934 famílias ocupando 16.852 hectares de terra, restando ainda várias

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Recife. v. 06, n. 02, p. 16-33, 2021. ISSN: 2525-6092

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famílias, que seriam assentadas cerca de um ano depois em mais 10.000 hectares de terra da mesma
fazenda, desapropriados pelo INCRA. (GALERA, 2010 apud NASCIMENTO, 2017).

Aproximadamente 3.050 famílias de diversas regiões do Paraná, começam a se instalar as


26
margens da BR-158 em meados de março de 1996, no local que ficou conhecido por “Buraco”, de
onde marcharam rumo as terras da fazenda como narra o fotógrafo Sebastião Salgado (1997),
(Figura 1).

Figura 1- A luta pela terra: a marcha de uma coluna humana – Sebastião Salgado (1997)

Fonte: (CARVALHO, 2011).

Era impressionante a coluna dos sem-terra formada por mais de 12 mil pessoas,
ou seja, 3 mil famílias, em marcha na noite fria daquele início de inverno no
Paraná. O exército de camponeses avançava quase completo. Escutava-se apenas
o arfar regular de peitos acostumados a grandes esforços e os ruídos que tocavam
o asfalto. Pelo rumo que seguia a corrente, não era difícil imaginar que o destino
fosse a fazenda Giacometti, um dos imensos latifúndios tão típicos do Brasil.
Marginalmente explorados, esses latifúndios, todavia, em razão das dimensões
colossais garantem aos seus proprietários rendas milionárias. Corretamente
utilizados, os 83 mil hectares da fazenda Giacometi poderiam proporcionar uma
vida digna aos 12 mil seres que marchavam naquele momento em sua direção.
Anda rápido um camponês: 22 quilômetros foram cobertos em menos de cinco
horas. Quando chegaram lá, o dia começava a nascer. A madrugada estava

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envolta em espessa cerração que, pouco a pouco, foi se deslocando da terra, sob
o efeito do rio Iguaçu, que corre ali bem próximo. Pois o rio de camponeses que
correu no asfalto noite adentro, ao desembocar defronte da porteira da fazenda,
para e se espalha como as águas de uma barragem. As crianças e as mulheres são
logo afastadas para o fundo da represa humana, enquanto os homens tomam
posição bem na frente da linha imaginária para o eventual confronto com os
jagunços da fazenda. Ante a inexistência de reação por parte do pequeno exército 27
do latifúndio, os homens da vanguarda arrebentam o cadeado e a porteira se
escancara; entram; atrás, o rio de camponeses se põe novamente em movimento;
foices, enxadas e bandeiras se erguem na avalanche contida das esperanças nesses
reencontros com a vida e o rito reprimido do povo sem-terra ecoa uníssono na
claridade do novo dia: “REFORMA AGRÁRIA, UMA LUTA DE TODOS!”
(SALGADO, 1997)

Segundo o Censo Agropecuário do IBGE (2006), de um total de 2.646 estabelecimentos


agropecuários em 45.656 hectares de terra no município de Rio Bonito do Iguaçu, 1.530
estabelecimentos são de assentados sem titulação definitiva que ficam com 22.183 hectares, o que
corresponde a 48,58% da área total dos estabelecimentos agropecuários do município. Podemos
observar, com base nos resultados preliminares do Censo Agropecuário de 2017 disponíveis no
site do IBGE que grande parte dos agricultores do município não são assistidos por profissionais
que prestam assistência técnica além de não ter acesso a nenhum tipo de financiamento ou
empréstimo (Quadros 2 e 3).

Quadro 2- Estabelecimentos que recebem assistência técnica no município.

ESTABELECIMENTOS
Não recebe assistência técnica 2.107
Não obteve financiamento/empréstimos 2.471
TOTAL 2.919
Fonte: (IBGE, 2017)

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Quadro 3 - Programas acessados pelos agricultores para obtenção de recursos.


Fonte: (IBGE, 2017).

Recursos do financiamento provenientes Estabelecimentos


de programas governamentais de crédito
PROINF1 4 28
PRONAMP2 17
PRONAF3 231
Outros 43

As políticas públicas para a agricultura familiar do Assentamento Ireno Alves dos Santos

Compreende-se que do ponto de vista dos governos, quando se fala da agricultura familiar,
é justamente para tratar da resolução do problema de abastecimento alimentar e por isso, se busca
integrar os pequenos agricultores à agricultura empresarial e tentadas estratégias para dificultar os
conflitos no campo. No entanto, as transformações tecnológicas e organizacionais até hoje, não
consideraram as complexidades que envolvem os sujeitos da reforma agrária, que sofrem os seus
impactos nas relações e condições de trabalho. Além disso, os investimentos em estrutura,
formação e dispositivos básicos dos assentamentos são insuficientes, conforme pode-se verificar
no gráfico 1.

1
Projetos de Infraestrutura e Serviços em Territórios Rurais - A Ação de Apoio a Projetos de Infraestrutura e Serviços
em Territórios Rurais (PROINF), operacionalizada pela SDT/MDA, tem contribuído para a qualificação de processos
produtivos e econômicos da agricultura familiar nos Territórios Rurais. Parcerias com estados e municípios têm
apoiado a aquisição de equipamentos e a construção de infraestrutura para a produção, beneficiamento, escoamento e
comercialização de produtos da agricultura familiar. Os projetos apoiados com recursos públicos do PROINF deverão
obrigatoriamente beneficiar agricultores familiares e seus empreendimentos coletivos conforme definidos pela Lei nº
11.3161, de 24 de julho de 2006, e pelo Decreto nº 6.0402, de 7 de fevereiro de 2007
2
Programa Nacional de Apoio ao Médio Produtor Rural (Pronamp).
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Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar – PRONAF.

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Recife. v. 06, n. 02, p. 16-33, 2021. ISSN: 2525-6092

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Gráfico 1 - Políticas públicas acessadas pelos agricultores

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Fonte: (PESQUISA DE CAMPO, 2019)

Observa-se no Gráfico 01 que 10% das famílias entrevistadas, têm acesso ao Programa
Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar – PRONAF. Esse programa tem por objetivo
facilitar o desenvolvimento das atividades agropecuárias, a aquisição de equipamentos e o aumento
da renda dos agricultores. Os financiamentos podem ser acessados individual ou coletivamente,
com taxas de juros abaixo da inflação, variando entre 0,5%, 2,5% e 5,5% ao ano (MDA, 2017).
No que diz respeito à bolsa família, observa-se no gráfico 1 que, cerca de 20% das famílias
entrevistadas são beneficiárias dessa política pública. É um programa de transferência direta de
renda, direcionado às famílias em situação de pobreza e de extrema pobreza, no Brasil. O objetivo
é contribuir para a superação da situação, de vulnerabilidade e pobreza, enfrentada por estas
pessoas. O referido programa busca garantir a essas famílias o direito à alimentação e o acesso à
educação e à saúde. 70% das famílias entrevistadas não tem acesso a nenhuma política pública,
conforme mostra o gráfico 1.

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Gráfico 2 – Renda mensal das famílias entrevistadas

10% 30
4 A MENOS DE 6 S.M.

40%
2 A MENOS DE 4 S.M.

40%
1 A MENOS DE 2 S.M.

10%
< DE 1 S.M

0 0,1 0,2 0,3 0,4 0,5

Fonte: ( PESQUISA DE CAMPO, 2019)

No que tange à renda das famílias participantes da pesquisa, 40% tem renda mensal entre
1 a 2 salários mínimos, 40% tem renda mensal entre 2 a 4 salários mínimos, 10% tem de 4 a 6
salários mínimos e outros 10% tem até 1 salário mínimo. As famílias que têm renda entre 1 a 2
salários mínimos são as que tem acesso ao Programa Bolsa Família. Salienta-se que o cálculo da
renda no campo toma por base o salário mínimo, porém, as famílias de agricultores não têm
rendimentos mensais fixos, exceto aquelas que são atendidas pelo Programa Bolsa Família.
Entretanto, as famílias que recebem a Bolsa são bastante carentes e sua sobrevivência
muitas vezes é garantida com esse recurso recebido mensalmente. Para o cadastramento dessas
famílias o governo federal utiliza um limite de renda para definir quem pode fazer parte do
Programa: a) Todas as famílias com renda, por pessoa, de até R$ 89,00 mensais; b) Famílias com
renda, por pessoa, entre R$ 89,01 e R$ 178,00 mensais, desde que tenham crianças ou adolescentes
de 0 a 17 anos (SECRETARIA ESPECIAL DO DESENVOLVIMENTO SOCIAL, 2019). O
município de Rio Bonito do Iguaçu tem grande parte de sua população domiciliada na área rural
(75,68% da população) (IBGE, 2017), sendo que em uma área rural total de 44.971 alqueires,
44,87% é de Assentamentos (IPARDES, 2019).
As principais culturas agrícolas temporárias do município são soja, milho, feijão e trigo. A
produção de leite é a principal fonte de renda dos agricultores familiares do município. No ano de

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2017 o município produziu 54.016.000 litros de leite cru, gerando um valor total de R$
55.636.000,00, cerca de 20% do PIB do município. (IBGE, 2017). A renda obtida pelos
agricultores abastece o comercio local, que além dos serviços básicos como mercado, farmácias,
bancos etc., é predominantemente baseado na oferta de serviços para o campo, como
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agropecuárias, vendas de insumos, farmácias veterinárias, cooperativas etc.
Os agricultores respondentes produzem soja, milho e feijão para vender, além de culturas
como mandioca, batata, verduras, legumes, frutas, arroz, pipoca, entre outras para o consumo da
família. A produção do leite é a principal fonte de renda de 100% dos entrevistados. Um dos
agricultores (agricultor 1, 50 anos) relatou no questionário que alguns anos atrás recebiam mais
auxílio governamental, tanto municipal como o pacote agrícola, em que a prefeitura fornecia uma
pequena quantidade de sementes e insumos para o agricultor, cursos para aprimorar a criação de
animais, etc.- quanto políticas federais, com acesso mais facilitado a créditos a juros baixos para a
compra de maquinários e equipamentos agrícolas e a construção de moradias, por exemplo.
Atualmente são poucos os programas governamentais aos quais os agricultores têm acesso.
Constatou-se com a pesquisa de campo que os agricultores necessitam de investimentos para a
manutenção das estradas rurais, que se encontram em muitas localidades em situação precária
dificultando o escoamento da produção e até mesmo o deslocamento dos agricultores. Demandam
políticas para a agricultura e para a vida no campo, de forma geral, ou seja, que apoiem e
incentivem-los a trabalhar e residir no campo.
Afirmaram que, muitas vezes se sentem desanimados pela desvalorização que a pequena
produção de alimentos sofre e sem nenhum investimento ou apoio governamental que possibilite
o desenvolvimento da agricultura familiar e uma melhora na qualidade de vida dos agricultores e
consequentemente do desenvolvimento econômico do município.

Considerações finais
Com base na realidade estudada, ficou claro de que a reforma agrária no Brasil não se
radicou como uma política pública necessária. O fato de os assentados terem dificuldade de acesso
as políticas de subsídio e incentivo à produção agrícola revela que estas não são prioridade do
Estado. Talvez, para os trabalhos futuros, seria interessante focar nos provimentos públicos, para

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avançar na ampliação das chances de vida das famílias assentadas e na redução das desigualdades
ali presentes.
Para isso, será necessário estudar os caminhos a serem trilhados no processo de ampliação
das condições de vida no rural e nos assentamentos em específico e, avançar nos estudos sobre as
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estratégias que as famílias utilizam para obter os provimentos necessários no alcance de suas
demandas. Compreende-se que a agricultura familiar sempre foi desvalorizada perante a
agricultura patronal e por muito tempo não contou com nenhuma política pública que considerasse
suas particularidades e possibilitasse o desenvolvimento dos pequenos produtores. Foi só a partir
de muitas reivindicações e com o surgimento do PRONAF que os agricultores familiares puderam
dispor de um programa que lhes favorecesse de fato.
Passados alguns anos, nos deparamos com estes agricultores que relatam estarem vivendo
em uma nova fase da desvalorização, onde nem mesmo as demandas mínimas, como a manutenção
das estradas são atendidas. Grande parcela dos agricultores não conta com política pública que
auxilie o seu desenvolvimento e promova uma qualidade de vida melhor para os assentados.
Esse fato, pelo que vimos desperta um sentimento de depreciação nos agricultores, por
mais que eles tenham convicção da importância que tem seu trabalho para o desenvolvimento do
município, se sentem desestimulados por não terem nenhum tipo de apoio, em termos de crédito,
financiamentos para a compra de equipamentos e insumos e para o desenvolvimento de práticas
mais sustentáveis, etc.
Quando questionados sobre a permanência dos filhos no assentamento, disseram não terem
boas perspectivas. Acredita-se que uma estratégia que poderia amenizar essa ausência de políticas
públicas para a agricultura familiar no assentamento seria maior participação dessa população na
formação de leis e políticas que visassem atender as necessidades específicas deste grupo.

Referências
BRASIL. LEI 4. 504 de 30 de novembro de 1964. Dispõe sobre o Estatuto da Terra, e dá outras
providências. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l4504.htm. Acesso em:
12.10.2019.

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Desenvolvimento Rural no Brasil. Porto Alegre: Editora da UFRGS, 2015, 381-400.
33
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Iguaçu - PR: Gráfica Xagu, 2009.

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http://www.ipardes.gov.br/index.php?pg_conteudo=1&cod_conteudo=30. Acesso em:
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Assentamento Ireno Alves dos Santos em Rio Bonito do Iguaçu – Paraná. Revista Rural & Urbano.
Recife. v. 06, n. 02, p. 16-33, 2021. ISSN: 2525-6092

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