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UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO


FACULDADE DE ADMINISTRAÇÃO, ECONOMIA E CIÊNCIAS CONTÁBEIS
DEPARTAMENTO DE ECONOMIA
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM AGRONEGÓCIOS E
DESENVOLVIMENTO REGIONAL

Janice Alves Lamera

ANÁLISE DA EFICIÊNCIA DOS ASSENTAMENTOS RURAIS EM


MATO GROSSO

Cuiabá – MT
2008
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JANICE ALVES LAMERA

ANÁLISE DA EFICIÊNCIA DOS ASSENTAMENTOS RURAIS


EM MATO GROSSO

Dissertação apresentada à Universidade


Federal de Mato Grosso, como requisito
para obtenção do título de Mestre em
Economia no Programa de Pós-
Graduação em Agronegócios e
Desenvolvimento Regional.

Orientador: Prof. Dr. Adriano Marcos Rodrigues Figueiredo

Cuiabá
2008

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L228a Lamera, Janice Alves
Análise da eficiência dos assentamentos rurais em
Mato Grosso / Janice Alves Lameira; orientador
Adriano Marcos Rodrigues Figueiredo. – Cuiabá,
2008.
149 p.

Dissertação (Mestrado) Universidade Federal de


Mato Grosso, 2008.
1. Assentamentos rurais – Mato Grosso (Estado)
2. Reforma agrária – Brasil 3. Agricultura familiar -
Mato Grosso (Estado) 4. Sociologia rural I. Título
CDU 332.282(817.2)
Janice Alves Lamera

Análise da Eficiência dos Assentamentos Rurais


em Mato Grosso

Dissertação apresentada à Universidade


Federal de Mato Grosso, como requisito
para obtenção do título de Mestre em
Economia no Programa de Pós-
Graduação em Agronegócios e
Desenvolvimento Regional.

Aprovada em: 03 de Março de 2008.

BANCA EXAMINADORA

_________________________________________________________________
Prof. Dr. Adriano Marcos Rodrigues Figueiredo - UFMT

_________________________________________________________________
Prof. Dr. Arturo Alejandro Zavala Zavala – UFMT

_________________________________________________________________
Prof. Dr. Eliseu Roberto de Andrade Alves – EMBRAPA

i
Dedico este estudo:
Ao Senhor, meu Deus;
A meu grande amor, Marcelo;
A Meus Pais.

ii
AGRADECIMENTOS

Meus sinceros agradecimentos...

...a Deus, pelo dom da vida e pelas possibilidades que me concedeu.

...ao Prof. Adriano M. R. Figueiredo, pela sua inteligência e paciência na


orientação deste trabalho.

...ao Prof. Arturo A. Zavala, pela imprescindível e generosa participação neste trabalho.

...ao meu esposo Marcelo, pelo seu incentivo e amor.

...à minha Família, sem a qual nada disto teria sentido.

... à CAPES, pelo apoio financeiro.

...à Universidade Federal de Mato Grosso pela estrutura fornecida.

... à Maysa Gomes, pela ajuda na preparação dos dados e pela amizade.

...aos demais professores da Faculdade de Economia da UFMT que, de alguma forma,


contribuíram para o crescimento do meu conhecimento.

...aos colegas e amigos do mestrado, companheiros memoráveis desta intensa jornada.

...aos avaliadores da banca de defesa, o sincero agradecimento aos comentários e


contribuições.

iii
RESUMO:

LAMERA, Janice Alves, M.S., Universidade Federal de Mato Grosso, Março de 2008.
Análise da eficiência dos assentamentos rurais em Mato Grosso. Orientador: Prof. Dr.
Adriano Marcos Rodrigues Figueiredo

A política de reforma agrária tem ganhado força nas últimas décadas, em um novo
contexto econômico e político os quais abriram maior espaço para ações desta natureza.
Também é crescente a necessidade de superar a extrema desigualdade existente no Brasil,
para este fim, operacionalizar uma redistribuição de terras não com intenção de obter aumento
da produtividade agropecuária, mas de resolver uma das graves mazelas sociais causadas pela
má distribuição da renda e da posse de terras em nosso país, é fundamental. Os números
apontam para um importante crescimento do número de assentamentos desde o Governo
Fernando Henrique Cardoso até os dias atuais, entretanto diversos estudos já comprovaram a
quantidade e a qualidade não estão associados neste caso. Há muita pobreza entre os
assentados rurais, péssimas condições de infra-estrutura e serviços sociais básicos,
deficiências de crédito e no apoio institucional, comuns nos assentamentos rurais brasileiros.
No entanto, muitos se destacam neste cenário de pobreza, conseguindo superar a situação
geral. O objetivo principal deste trabalho é detectar e analisar quais são os fatores mais
importantes para esta diferenciação, denominada como a “eficiência" dos assentamentos
rurais em Mato Grosso. O conceito de eficiência técnica é empregado neste trabalho para
discriminar entre os que conseguem ou não esta superação com relação a situação geral em
termos de renda familiar. Embora Mato Grosso tenha características muito específicas a
situação geral não difere da existente no restante do país, em meio a pobreza rural também se
destacam neste estado alguns assentamentos com nível de renda mais elevada. Utilizando
dados do Censo da Reforma Agrária realizado no ano de 2002 aplica-se a metodologia não-
paramétrica da Análise Envoltória de Dados para estimar esta fronteira de eficiência, e assim
detectar o que tem causado essa diferença de renda entre os assentados mato-grossenses. Os
resultados da aplicação da metodologia DEA para as informações provenientes de 168

iv
assentamentos rurais mato-grossenses, incluindo entre as variáveis analisadas questões de
infra-estrutura social e de habitação, isolamento econômico, crédito rural, área, entre outras,
permitiu concluir quanto maior a distância dos centros urbanos, o tamanho do lote, a
utilização de energia elétrica e a disponibilidade de mão-de-obra maior é a ineficiência. Os
assentamentos isolados dos centros urbanos, e assim dos mercados e de todo o entorno
econômico promovido por esta proximidade, têm se constituído no fator que levaria a baixa
renda, causando a ineficiência. As péssimas condições das estradas de acesso têm conseguido
piorar ainda mais a situação deste isolamento. Porém é urgente a necessidade do INCRA rever
as condições de criação e apoio quando for inevitável ter longa distância entre o projeto de
assentamento e a zona urbana, e conseqüentemente dos mercados. É importante que se busque
compensar esta situação ofertando auxílios para comercialização de bens, transporte e
manutenção de estradas. Também foi detectada relação inversa entre tamanho do lote e
eficiência, o que reforça a conclusão de diversos estudos que já haviam apontado que os
menores produtores são mais eficientes no uso da terra, recurso produtivo que é utilizado com
maior intensidade entre os pequenos produtores. O uso de energia elétrica, considerada uma
variável tecnológica, foi surpreendentemente maior entre os ineficientes, tal fato pode estar
indicando a não aplicação da mesma em atividades produtivas que gerem renda. Por sua vez,
a mão-de-obra estava relacionada à ineficiência, demonstrando ser um recurso produtivo
excedente. Essencialmente conhecido pelas características patronais ou latifundiárias de sua
agropecuária, Mato Grosso pouco dispõem de estudos que permitam conhecer a realidade de
seus pequenos produtores. Assim, além da aplicação da metodologia DEA, o presente
trabalho realizou uma descrição da agricultura familiar e dos assentamentos rurais mato-
grossenses, com base nas últimas informações oficiais disponíveis, retratando os mesmos.
Desta forma o presente trabalho contribui para sanar a deficiência de estudos desta natureza
existentes até então. Conhecendo os pequenos produtores rurais do Estado, sejam eles
originários de assentamentos rurais ou não, tem permitido afirmar que a viabilização social e
econômica dos mesmos requer mais do que o simples acesso a terra e conciliar a agricultura
familiar e a patronal existente no Estado não implica em perdas econômicas, mas na união de
objetivos econômicos e sociais.

Palavras-Chave: Análise Envoltória de Dados. Reforma Agrária. Mato Grosso. Eficiência.


Classificação JEL: Q12, Q15, Q18.

v
ABSTRACT:

LAMERA, Janice Alves, M.S., Federal University of Mato Grosso, march, 2008. Efficiency
analysis of Mato Grosso’s rural settlements. Adviser: Prof. Adriano Marcos Rodrigues
Figueiredo

The agrarian reform policy has strengthened in recent decades and a new economic and
political environment opened space for actions in this way. Also, the extreme Brazilian
inequality urges for actions to make the land redistribution operational, not to exclusively
increase agricultural productivity, but to solve one of the worst social disease caused by
perverse land use and income distribution. Statistical numbers show important growth in the
number of settlements since Fernando Henrique Cardoso’s mandate as president, though
many studies already proved that quantity and quality are dissociated in this case. There is a
lot of poverty in rural settlements, bad infra-structure and basic social services, credit
deficiency and lack of institutional support, all of these are common in Brazilian rural
settlements. Nevertheless, many settlements are highlighted in this poverty scene, compared
to the general scheme. The main objective is to detect and analyze what are the main factors
that distinguish ‘efficient’ rural settlements in Mato Grosso. The technical efficiency concept
is used to discriminate among those which overcome or not the general pattern. Despite the
fact that Mato Grosso has very specific characteristics, its general pattern does not differ from
those of the rest of the country, and in this rural poverty there are also some settlements with
higher income levels. Using data from the Agrarian Reform Census of 2002, we applied a
non-parametric method of Data Envelopment Analysis to estimate the efficiency frontier and,
doing this way, detect what has caused income differences among Mato Grosso’s settlements.
The DEA method was applied to 168 rural settlements and included variables to capture
social and housing infra-structure, economic isolation, rural credit, land size, and others,
allowing the conclusion that isolated settlements regarding urban centers, and so isolated from
market centers and other economic services, have been the most important cause of lower
income levels. Bad roads and precarious access have penalized even more the most isolated,

vi
and distant from the market, reflecting negatively over the settlement average income.
Knowing the demographic and geographical characteristics of Mato Grosso, we can say that
this distance to market is for sure a difficult problem to solve in the short run, while urban
centers are few and far due to low demographic density in many regions of the State.
Anyway, it is urgent that the national institute responsible for the land reform, INCRA, review
the requirements to create and support the settlement when is inevitable to have a big distance
between the project and the urban center, and consequently to the market. It is important to
compensate this fact with help for marketing, transportation and road conservation. It was also
detected the inverse land size-efficiency relationship, also detected in other literature, showing
that smaller producers tend to use land more efficiently – the factor used more intensively in
the settlements. The use of electricity, a technological variable, was surprisingly greater
among those inefficient projects, and may be related to the non use of this factor in productive
activities which generate income. In the other side, labor was related to inefficiency.
Essentially known for its huge land sizes and rural ownership pattern, Mato Grosso does not
have studies allowing better knowledge of its small farmer’s reality. Beyond the DEA method
use, this work presented a family farm description and also for rural settlements in Mato
Grosso, based on last official data. Doing this, the research contributes to the literature with
better comprehension about the State’s small farmers, settlers or not. With this knowledge, we
may say that social and economic viability of rural settlements in Mato Grosso requires more
than a simple land access. The government has the responsibility for the settled farmers in this
growth and development strategy, increasing poverty with isolated and abandoned
settlements. Family farming and commercial farming conciliation do not imply economic
losses, but the union of social and economic goals.

Keywords: Data Envelopment Analysis. Agrarian Reform. Mato Grosso. Efficiency.


JEL Classification: Q12, Q15, Q18.

vii
LISTA DE FIGURAS

linhas de isoquanta e isocusto......................


FIGURA 1 - Representação gráfica de08
FIGURA 2 - Conjunto de Possibilidades de Produção dos produtos Z e Y............... 09

FIGURA 3 - Eficiência técnica.com orientação input ............................................... 12

FIGURA 4 - Eficiência técnica, alocativa e econômica com orientação input ......... 12

FIGURA 5 - Eficiência técnica, alocativa e econômica com orientação output ....... 13

FIGURA 6 - Fronteira eficiente input-orientada no caso e um input e um output..... 14

FIGURA 7 - Função de produção média e de fronteira.............................................. 20

FIGURA 8 - Função de produção com retornos variáveis a escala ........................... 26

FIGURA 9 - Fronteiras eficientes CRS e VRS........................................................... 28

FIGURA 10 - Fronteira eficiente output orientada com presença de folgas.............. 30

FIGURA 11- Mato Grosso: distribuição dos 332 projetos de assentamentos


criados entre 1981 e 2002............................................................... 36

FIGURA 12 - Número médio de famílias assentadas por ano, Brasil, 1970/2005.... 51

FIGURA 13- Mato Grosso: número de propriedades rurais familiares por-


município, 1995/96............................................................................. 66

FIGURA 14 - Mato Grosso: área média da agricultura familiar, 1995/96................. 69

FIGURA 15 - Agricultura Familiar: distribuição da área com pastagens, lavouras


e áreas não utilizadas.......................................................................... 70

FIGURA 16 - Mato Grosso: valor médio da produção da agricultura familiar,


1995/96.............................................................................................. 72

viii
FIGURA 17 - Mato Grosso: participação percentual de cada tipo de agricultor no
total dos agricultores familiares........................................................... 79

FIGURA 18- Mato Grosso: agricultores familiares segundo grau de


especialização....................................................................................... 83

FIGURA 19 - Tempo de acesso do PA a sede do município mais próximo.............. 106

FIGURA 20 - Organização da moradia nos PAs........................................................ 107

FIGURA 21 - Famílias que ocupam casas com sanitários, energia elétrica e


abastecimento de água ..................................................................... 108

ix
LISTA DE TABELAS

TABELA 1 - Estrutura agrária, Brasil, 1966/1992........................................................... 52

TABELA 2 - Índice de Gini da concentração de terras no Brasil, 1967/2000................. 54

TABELA 3 - Mato Grosso: número de estabelecimentos, área total e média por


condição do produtor rural familiar........................................................... 67

TABELA 4 - Mato Grosso: número de estabelecimentos, área total e renda média por
estratos de área da agricultura familiar....................................................... 69

TABELA 5 - Agricultura familiar: pessoas ocupadas segundo tipo de mão-de-obra...... 75

TABELA 6 - Mato Grosso: práticas adotadas nos estabelecimentos de agricultura


familiar...................................................................................................... 78

TABELA 7 - Agricultura Familiar: número de estabelecimentos, área total, renda


monetária e pessoal ocupado por tipo de estabelecimento......................... 79

TABELA 8 - Mato Grosso: tipo de agricultor familiar por microrregião........................ 80

TABELA 9 - Agricultura familiar: investimentos por tipo de agricultor ...................... 82

TABELA 10 - Agricultura familiar: número de estabelecimentos, área total e


média por grau de especialização do produtor........................................ 83

TABELA 11 - Agricultura familiar: VBP, VBP médio e renda monetária média por
grau de especialização do produtor.......................................................... 84

TABELA 12 - Área média, em hectares, dos diferentes tipos de produtor familiar,


segundo grau de especialização................................................................ 85

TABELA 13 - Agricultura familiar: área total, área de pastagens, área de lavouras


e áreas não utilizadas segundo grau de especialização ............................. 85

TABELA 14 - Agricultura familiar: número de estabelecimentos por estrato de área,


segundo grau de especialização produtiva do produtor.......................... 86

x
TABELA 15 - Agricultura familiar: número de estabelecimentos, área total e área
média segundo o grau de integração do produtor ao mercado................. 88

TABELA 16 - Agricultura familiar: número de estabelecimentos por estrato de área


segundo grau de integração do produtor ao mercado.............................. 88

TABELA 17 - Agricultura familiar: número de estabelecimentos por tipo e grau de


integração do produtor ao mercado......................................................... 89

TABELA 18 - Estrutura fundiária dos projetos de assentamento.................................... 99

TABELA 19 - Projetos de assentamento com área de produção coletiva........................ 100

TABELA 20 - Maiores lotes entre os assentamentos estudados...................................... 101

TABELA 21 - Característica dos assentamentos com elevado número de


abandono dos lotes.................................................................................... 103

TABELA 22 - Parcerias institucionais dos projetos de assentamento.............................. 104

TABELA 23 - Estatística descritiva de variáveis inteiras e reais..................................... 114

TABELA 24 - Assentamentos eficientes, ano de criação e localização........................... 116

TABELA 25 - Assentamentos ineficientes, ano de criação e localização........................ 117

TABELA 26 - Situação da infra-estrutura de moradia dos assentamentos rurais ........... 122

xi
LISTA DE SIGLAS E ABREVIATURAS

BCC: Banker, Charnes e Cooper


CCR: Charnes, Cooper e Rhodes
CRS: Constant Returns to Scale/Retornos Constantes de Escala
DEA: Data Envelopment Analysis
DMU: Decision Making Units
DRS: Decreasing Returns to Scale/Retornos Decrescentes de Escala
FAO: Food and Agriculture Organization of the United Nations
FPP: Fronteira de Possibilidades de Produção
IBGE: Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística.
IBRA: Instituto Brasileiro de Reforma Agrária
INCRA: Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária.
INDA: Instituto Nacional de Desenvolvimento Agrário
INTERMAT: Instituto de Terras de Mato Grosso
IRS: Increasing Returns to Scale/Retornos Crescentes de Escala
ITR: Imposto Territorial Rural
MAPA: Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento
MARA: Ministério da Agricultura e da Reforma Agrária
MDA: Ministério do Desenvolvimento Agrário
MIRAD - Ministério da Reforma e do Desenvolvimento Agrário
ONG: Organização Não-Governamental
PIN: Programa de Integração Nacional
PNRA: Plano Nacional de Reforma Agrária
PNUD: Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento
POLAMAZÔNIA: Programa de Pólos Agropecuários e Agrominerais da Amazônia
POLONORDESTE: Programa de Desenvolvimento de Áreas Integradas do Nordeste
POLONOROESTE: Programa Integrado de Desenvolvimento do Noroeste do Brasil

xii
PPF: Problema de Programação Fracional
PPL: Problema de Programação Linear
PROCERA: Programa Especial de Crédito para Reforma Agrária.
PRODECER: Programa de Cooperação Nipo-Brasileira para o Desenvolvimento dos
Cerrados
PRONAF: Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar.
PROTERRA: Programa de Redistribuição de Terras e de Estímulo à Agroindústria do Norte e
Nordeste
PROVALE: Programa Especial para o Vale do São Francisco
SEPLAN: Secretária de Planejamento do Estado de Mato Grosso
TMgST: Taxa Marginal de Substituição Técnica
TMgT: Taxa Marginal de Transformação
UTC: Unidade de Trabalho Contratado
UTF: Unidade de Trabalho Familiar
VBA: Visual Basic for Applications
VBP: Valor Bruto da Produção
VCO: Valor do Custo de Oportunidade
VRS: Variable Returns to Scale/Retornos Variáveis de Escala

xiii
SUMÁRIO

1. INTRODUÇÃO.......................................................................................... 01

1.1 Contexto e justificativas............................................................................. 01

1.2 Hipóteses.................................................................................................... 04

1.3 Objetivos.................................................................................................... 05

1.4 Organização do trabalho............................................................................. 05

2. PRODUÇÃO E EFICIÊNCIA................................................................... 07

2.1 Função de produção e fronteira de possibilidades de produção................. 07

2.2 A eficiência................................................................................................. 10

2.3 Determinantes da eficiência....................................................................... 15

3. MODELO ANALÍTICO: A ANÁLISE ENVOLTÓRIA DE DADOS..... 19

3.1 A análise envoltória de dados..................................................................... 21

3.1.1 O modelo CCR........................................................................................... 22

3.1.2 O modelo BCC........................................................................................... 26

3.1.3 As folgas e a eficiência............................................................................... 29

3.1.4 Vantagens e limites da análise envoltória de dados................................... 32

3.1.5 DEA com dados qualitativos...................................................................... 33

3.2 Fonte dos dados e variáveis de análise....................................................... 33

xiv
3.2.1 Agricultura familiar.................................................................................... 33

3.2.2 Assentamentos rurais................................................................................. 36

3.3 Descrição do modelo implementado.......................................................... 41

4 REFORMA AGRÁRIA NO BRASIL....................................................... 45

4.1 Origens da propriedade da terra no Brasil.................................................. 45

4.2 Latifúndios e Reforma Agrária: a História no Século XX......................... 47

4.3 A realidade dos assentamentos rurais......................................................... 56

5 A AGRICULTURA FAMILIAR EM MATO GROSSO........................... 62

5.1 Caracterização da agricultura familiar........................................................ 63

5.1.1 A agricultura familiar no Centro-Oeste...................................................... 63

5.1.2 A agricultura familiar em Mato Grosso...................................................... 65

6 OS ASSENTAMENTOS RURAIS EM MATO GROSSO....................... 92

6.1 A história da propriedade da terra e reforma agrária em Mato Grosso...... 92

6.2 Características dos assentamentos rurais mato-grossenses........................ 98

7 DISCUSSÃO DOS RESULTADOS......................................................... 114

7.1 Os assentamentos eficientes e ineficientes................................................. 115

7.2 Os determinantes da eficiência nos assentamentos rurais de Mato Grosso 118

8 CONSIDERAÇÕES FINAIS..................................................................... 127

REFERÊNCIAS ........................................................................................ 129

ANEXO A - Scores de eficiência para 168 assentamentos rurais ..................... 136


ANEXO B - Histogramas para as 26 variáveis utilizadas na análise da eficiên-
cia para os 168 assentamentos da amostra ............................................... 140
ANEXO C - VBA para modelo DEA CCR output orientado multiplicativo....... 148

xv
ANEXO D - VBA para modelo DEA CCR output orientado envelope.....................149

xvi
1. INTRODUÇÃO

1.1 Contexto e justificativas

Desde o início de sua colonização, o Brasil tem sua história marcada por políticas que
favorecem o crescimento da desigualdade social. São séculos de favorecimento a latifúndios e
grandes propriedades rurais em detrimento do pequeno produtor. Apesar de nos anos sessenta
do século passado terem surgido as primeiras tentativas de reverter esta situação, as políticas
em favor da reforma agrária e dos pequenos produtores nunca obtiveram suporte político
necessário para sua concreta efetivação (GUIMARÃES, 1967). Há 44 anos da promulgação
do Estatuto da Terra e 38 anos de criação do Instituto Nacional de Colonização e Reforma
Agrária – INCRA, poucas ações foram feitas no campo da redistribuição de terras, e a grande
maioria delas nos anos recentes.
A política de reforma agrária, como o próprio nome diz, tem por objetivo reformar a
estrutura agrária do país, transformando terras com baixa ou nenhuma utilização na produção
agropecuária em “assentamentos rurais”, termo que surgiu na década de 60 para denominar a
transferência e alocação de grupos de famílias para imóveis rurais (LEITE, 1994). Ou seja, a
principal característica desta política é a criação de novas pequenas propriedades rurais a
partir de terras ociosas, elevando assim a quantidade de terras produtivas do país, criando
mais emprego e renda.
Desde a criação do INCRA até o ano de 1999 foram assentadas no Brasil 689.547
famílias, sendo 54% de 1995 a 1999, no governo Fernando Henrique Cardoso, o mais
comprometido com a causa até então. No entanto, este montante é insuficiente para modificar
a estrutura agrária do imenso território brasileiro. Até mesmo porque, de 1964 a 1985, foram
criados 48 projetos de assentamento ocupando uma área de 13.851.395 hectares, dos quais
grande parte foi com a finalidade de colonização (INCRA, 2000).

1
Outro grave problema desta política é que grande parcela destes assentados sofre
sérias limitações, e muitos acabam desistindo dos lotes recebidos. Isso comprova que apenas o
acesso a terra não é suficiente, é preciso apoio governamental para que os assentamentos
alcancem desenvolvimento sustentável 1 .
Ao serem inseridos na realidade dos assentamentos, os beneficiários passam a
vivenciar os mesmos problemas, que são a falta de crédito, infra-estrutura deficiente,
necessidade de complementar a renda com trabalhos exógenos a propriedade, carência de
serviços sociais essenciais como saúde e educação, entre outros.
Entretanto, esta preocupação é recente. O INCRA dos anos 90 e do governo Fernando
Henrique Cardoso menciona, num relatório do ano 2000, que o processo de assentamento
somente estaria completo quando os beneficiários estivessem inseridos no mercado de forma
competitiva e, reconhece ainda, que para isso é fundamental a viabilização de serviços e infra-
estrutura básicos. Neste sentido, surge a proposta que se denominou Novo Mundo Rural,
marcada pela união no novo Ministério do Desenvolvimento Agrário – MDA, das políticas de
Reforma Agrária e do Programa de Fortalecimento da Agricultura Familiar - PRONAF.
Dentro deste contexto alguns projetos de assentamento conseguem se destacar
comparativamente aos demais, isso porque o acesso aos serviços sociais básicos, o tamanho
dos lotes, o acesso às instituições e infra-estrutura são muito desiguais entre os mesmos.
Estudos como o realizado em convênios com o INCRA e a Food and Agriculture
Organization of the United Nations - FAO, apresentados especialmente em Bittencourt et al
(1998), Guanziroli et al (2001) e Romeiro et al (1994) apontam quesitos como proximidade
das áreas comerciais, acesso ao crédito e assistência técnica, entre outros, como fatores
responsáveis por esta diferenciação.
Diante desta não uniformidade de tratamento aos projetos de assentamento, os
resultados globais para um país da extensão do Brasil ignoram problemas locais. Conhecendo
as especificidades próprias de Mato Grosso é interessante evidenciar quais destes fatores têm
permitido que alguns assentamentos se destaquem comparativamente aos demais neste
Estado, noção fundamental para orientar políticas estaduais em favor dos mesmos.
Segundo o Anuário Estatístico de Mato Grosso (SEPLAN, 2004), no ano de 2003
existiam ainda 203 assentamentos em Mato Grosso sob a administração do INCRA, do
Instituto de Terras de Mato Grosso - INTERMAT e de prefeituras municipais. Nestes estavam
assentadas 24.767 famílias em 1.699.824 hectares.

1
Sustentável no sentido social e econômico, uma vez que a sustentabilidade ambiental não tem relação com o
escopo deste trabalho.

2
Já o Censo da Reforma Agrária (SPAROVEK, 2002) visitou 332 Projetos de
Assentamento no Estado, alguns já consolidados e que não constam nas estatísticas do
Anuário Estatístico. Destes, a grande maioria havia tido acesso aos recursos do PRONAF-A
ou Programa de Crédito Especial para a Reforma Agrária – PROCERA. Os auxílios à
educação e à saúde eram fornecidos, basicamente, pelas Prefeituras Municipais. Quanto ao
auxílio à produção e comercialização (que se trata da inclusão nas feiras públicas municipais,
transporte para a produção, empréstimo ou aluguel de máquinas agrícolas, fornecimento de
insumos ou assistência técnica), a grande maioria dos projetos não os recebia.
Uma vez que um dos objetivos da política de reforma agrária é reduzir a pobreza no
campo, buscando inclusão social, torna-se importante avaliar qual o nível de eficiência dos
assentamentos, o que permitirá apontar os problemas mais sérios, tidos como obstáculos para
dar condições adequadas de renda às famílias.
Avaliar a eficiência em que unidades produtivas operam é importante para fins
estratégicos, como o de melhorar o desempenho, analisando a distância entre a situação atual
e potencial (GOMES, MELLO e BIONDI NETO, 2003).
O problema a ser estudado neste trabalho é: “O que determina a eficiência dos
assentamentos rurais em Mato Grosso?” A proposta do presente trabalho é utilizar a
metodologia da Análise Envoltória de Dados ou Data Envelopment Analysis - DEA para
investigar a eficiência dos Projetos de Assentamento implantados em Mato Grosso.
Por meio do DEA pretende-se detectar quais os fatores mais importantes para a
eficiência dos assentamentos.
O estudo da eficiência, através da DEA, está na fronteira de conhecimento dos estudos
de economia da produção e tem sido muito utilizado para avaliar o desempenho de
instituições e organizações. Detectar onde estão os empecilhos para o alcance desta eficiência
é de vital importância para a redução da pobreza e desenvolvimento dos assentamentos rurais.
Neste trabalho, o termo eficiência será empregado no sentido de “eficiência técnica”,
que avalia a performance na transformação de inputs em outputs. Maiores detalhes acerca
desta definição podem ser encontrados no capítulo 2.
Recentemente tem surgido, em todo o mundo, diversos trabalhos aplicando a
metodologia do DEA. No Brasil podem-se citar: CARDOSO, FAÇANHA e MARINHO
(2002) avaliando os programas sociais; DOS ANJOS (2005) avaliando a eficiência da
indústria têxtil brasileira; FAÇANHA e MARINHO (2001) avaliando as instituições de
ensino superior; MARINHO e FAÇANHA (2001) avaliando comparativamente a eficiência
de hospitais universitários; e em NEGRI (2003) avaliando o desempenho exportador das

3
firmas industriais do Brasil, entre muitos outros.
Algumas aplicações diretas na agricultura podem ser encontradas nos trabalhos de
HELFAND (2003) que avalia a eficiência técnica da agricultura da região Centro-Oeste do
Brasil, VICENTE (2004), que mensurou os níveis de eficiências da produção agrícola do
Brasil para o ano de 1995; SANTOS e PEREIRA (2004), que analisaram a eficiência técnica
para o setor agropecuário para municípios paranaenses; SENA e PEREIRA FILHO (2004)
que analisaram a eficiência dos municípios da microrregião Itabuna-Ilhéus, na Bahia; CRUZ
JUNIOR e VIEIRA (2004), analisando a produção agrícola dos municípios da Zona da Mata
em Minas Gerais; SANTOS, SANTOS e BAPTISTA (2004), examinando o setor
agropecuário do Triângulo Mineiro; GOMES, MANGABEIRA e MELLO (2004),
investigando os agricultores de Holambra; REIS, RICHETTI e LIMA (2004), estudando a
cultura do café no sul de Minas Gerais e em MACEDO, STEFFANELLO e OLIVEIRA
(2006), avaliando a eficiência da produção leiteira do sudeste brasileiro.
O presente trabalho se diferencia dos acima mencionados, devido à sua regionalização
e ao tipo de organização avaliada, ou seja, estuda basicamente os projetos de assentamento
rurais do Estado de Mato Grosso. Este estudo também aparece como alternativa imediata para
subsidiar a formulação de ações para as diferentes regiões do Estado, carentes de políticas
diferenciadas que contemplem as especificidades locais.

1.2 Hipóteses

Considera-se como hipótese principal deste estudo que o acesso ao crédito tem
proporcionado maior eficiência aos assentamentos de Mato Grosso.
Como hipóteses secundárias consideram-se que:
a) Existe uma grande diversidade entre os assentamentos rurais localizados no Estado de
Mato Grosso;
b) Os tamanhos dos lotes têm relação inversa com a eficiência do assentamento;
c) Os assentamentos com posse do título definitivo são mais eficientes que os demais.

4
1.3 Objetivos

O objetivo geral deste trabalho é detectar e analisar quais são as variáveis mais
importantes para o alcance da eficiência nos assentamentos rurais mato-grossenses.
Os objetivos específicos são:
a) Fazer uma descrição dos assentamentos rurais e da agricultura familiar mato-
grossense, com base nos últimos dados oficiais disponíveis.
b) Avaliar a eficiência dos projetos de assentamentos rurais via Análise Envoltória de
Dados, apontando os assentamentos eficientes e ineficientes.
c) Observar se os assentamentos eficientes e ineficientes estão concentrados em
alguma região específica do Estado; e,
d) Verificar a influência sobre a eficiência dos assentamentos: do acesso ao crédito; da
área média dos lotes; da distância da sede do município; do tempo de existência do
assentamento; da detenção do título definitivo de posse; da existência de parcerias
institucionais; e do acesso às tecnologias.
Considerando a diversidade entre os fatores que influenciam a eficiência, buscar-se-á
observar estas características em cada um dos assentamentos relacionados como eficientes ou
ineficientes. Em suma, através do uso de DEA o estudo visa medir a eficiência dos
assentamentos rurais localizados no estado de Mato Grosso, e ainda apresentar uma base para
sustentar decisões, pois se pretende apontar onde está a ineficiência e detectar os
assentamentos que servem de referência às práticas adotadas.

1.4 Organização do trabalho

O trabalho está organizado em sete capítulos. Neste capítulo inicial são apresentados o
problema de pesquisa e sua justificativa, os objetivos, as hipóteses iniciais além da
importância e contribuição do estudo.
No segundo capítulo evidencia-se a base teórica que norteia o trabalho, incluindo
fronteira de possibilidades de produção e o conceito de eficiência.
O capítulo três destaca o modelo analítico DEA, as variáveis em análise e a fonte dos
dados.

5
O quarto capítulo aponta uma revisão histórica da propriedade da terra e da reforma
agrária no Brasil.
O capítulo 5 enfatiza a situação da agricultura familiar do estado de Mato Grosso, com
base nos dados do Censo Agropecuário de 1995/96. Uma caracterização semelhante é
apresentada no sexto capítulo para os assentamentos rurais mato-grossenses, com base nos
dados do Censo da Reforma Agrária de 2002, além de uma breve revisão histórica da
propriedade da terra e da reforma agrária no Estado.
No sétimo capítulo são apresentados e discutidos os resultados da aplicação do método
DEA na avaliação da eficiência dos assentamentos rurais de Mato Grosso. Por fim, no oitavo
e último capítulo são expostas as considerações finais deste estudo.

6
2. PRODUÇÃO E EFICIÊNCIA

2.1 Função de produção e fronteira de possibilidades de produção

Este estudo tem como referencial teórico a Teoria da Produção, e mais


especificamente, a Fronteira de Possibilidades de Produção. A breve explanação da teoria,
abaixo apresentada, é baseada em Pindyck e Rubinfeld (2002) e em Varian (2003) e visa
apresentar alguns conceitos, como função de produção, isoquantas, isocusto, produto médio,
rendimentos de escala e otimização econômica (maximização de produto ou minimização de
insumo), que dão suporte à teoria da eficiência e necessários para interpretação da mesma.
De acordo com os pressupostos fundamentais da teoria da produção, o produto obtido
num processo produtivo e os insumos utilizados para concretização desta produção podem ser
apresentados numa função de produção:
Y = f ( X 1 , X 2 , X 3 ,..., X n )
onde Y é a máxima produção final, obtida com as quantidades dos diversos insumos X
utilizados.
A quantidade de produto obtido depende das quantidades dos insumos empregados.
Mas, para garantir a funcionalidade da equação, é preciso considerar a tecnologia como
tecnicamente cristalizada (incorporada nos insumos) e dada. Ou seja, a tecnologia utilizada é
racional, visando obter o máximo possível de produto a partir dos insumos e não varia no
tempo estudado, visto que sua variação implica em diversidade na produtividade dos fatores e,
conseqüentemente, no resultado de sua combinação.
Todas as possíveis combinações de insumos que geram o mesmo montante de produto
formam a isoquanta, que pode ser representada como na Figura 1. Trata-se da representação
gráfica de uma curva de indiferença de produção, ou seja, representa um mesmo nível de
produção, alcançado por diferentes combinações dos insumos.

7
Figura 1 – Representação Gráfica de Linhas de Isoquanta e Isocusto.
Fonte: elaborado pela pesquisadora.

Quando a substitutibilidade é constante, a linha da isoquanta é uma reta. Quando a


substitutibilidade existe, mas não é constante, esta é representada por uma linha curvilínea,
pois a sua inclinação representa o grau de substituição entre os insumos. Por exemplo, na
Figura 1, quantidades de X1 e X 2 podem ser substituídas na produção de Y, e, se respeitado o
grau de substituição que define a inclinação da isoquanta, o nível de produção será mantido.
Este grau de substituição é definido como Taxa marginal de Substituição Técnica.
Caso a tecnologia se altere, também se altera a isoquanta. Por isso ao estudar a
eficiência de um processo produtivo é necessária a condição de tecnologia constante.
Nesta teoria, a distinção entre o curto e o longo prazo ocorre quando no primeiro pelo
menos um insumo da produção é constante, ou seja, invariável, e o longo prazo quando todos
os insumos são variáveis. Esse período de tempo é diferente para cada processo produtivo,
devido às suas peculiaridades.
Quando uma unidade de um insumo é acrescida, mantendo as quantidades dos demais
constantes, o volume adicional da produção resultante deste incremento do insumo variável é
denominado produtividade marginal deste insumo.
Esta produtividade marginal é obtida a partir da derivada parcial da função de
produção em relação ao insumo variável, da seguinte forma:
∂ f
PMgxi = x
∂ xi j ≠i
Ela é denominada constante, crescente ou decrescente se o aumento do insumo gerar

8
aumento proporcional, mais ou menos que proporcional no produto, respectivamente.
Já o Produto Médio representa a relação entre a quantidade de um insumo e do
produto obtido, ou seja, é o produto total dividido pelo volume total do insumo:

PMexi = y
xi
Quando o produto marginal for maior que o produto médio indica que este último é
crescente, e o mesmo é decrescente quando o produto marginal for inferior a ele. Finalmente,
quando ambos forem iguais, estará se obtendo máximo produto médio possível.
Além da isoquanta, que representa a substitutibilidade dos insumos, é fundamental que
a firma observe seu custo. Uma linha de isocusto pode ser definida como a representação de
todas as combinações de insumos que têm custo idêntico.
Nota-se na Figura 1, que a otimização no uso de insumos no processo produtivo requer
que se combine a produtividade (dada pela linha de isoquanta) e o custo (dado pela linha de
isocusto). O ponto de tangência entre as duas linhas pode ser denominado como a
“combinação de insumos minimizadora de custos”.
Há ainda a questão dos retornos de escala, que descrevem o que ocorre se aumentar
em uma dada proporção todos os insumos utilizados na produção. Caso qualquer aumento de
insumos gere um aumento proporcional no produto, diz-se que o processo produtivo apresenta
retornos constantes de escala. Caso este aumento na produção seja em maior ou menor
proporção do que o aumento nos insumos, o processo apresenta, respectivamente, retornos
crescentes ou decrescentes de escala.
As diversas combinações possíveis dos produtos Z e Y que podem ser produzidas,
respeitando o limite da disponibilidade de insumos, compõem o que se denomina Conjunto de
Possibilidades de Produção. Em outras palavras, trata-se de qualquer combinação dos bens Z
e Y que esteja na área sombreada da Figura 2.

Figura 2 - Conjunto de Possibilidades de Produção dos produtos Z e Y.


Fonte: adaptado de Pindyck e Rubinfeld (2002).

9
Desta forma, um requisito para que a produção seja considerada eficiente é que ela
esteja sobre a fronteira deste conjunto, denominada de Fronteira de Possibilidades de
Produção - FPP, como as unidades representadas pelos pontos A e C na Figura 2. Logo, se o
nível de produção de uma empresa estiver abaixo desta fronteira, como em B, esta poderá se
tornar mais eficiente, pois uma melhor alocação dos recursos disponíveis aumentará sua
produção. Observa-se que a eficiência não significa uma combinação fixa dos dois produtos,
pelo contrário, pode-se produzir somente um dos dois produtos, ou ainda outras combinações
intermediárias dos mesmos, e em todos os casos ser eficiente.
A inclinação da FPP se deve ao fato de que, para produzir mais de Z, é preciso abrir
mão de um pouco da produção de Y. Em outras palavras, sua concavidade se deve à taxa
marginal de transformação – TMgT, que indica quanto é preciso dispor de um bem para
produzir uma unidade extra do outro bem:
TMgT = CMgY / CMgZ
A inclinação da mesma também pode ser analisada por outra ótica, a dos custos de
produção. Deste ponto de vista, a FPP tem inclinação igual a razão dos custos marginais dos
produtos relacionados .

2.2 A eficiência

O estudo de medidas de eficiência se deu inicialmente, com trabalhos de Vilfredo


Pareto e de Tjalling Koopmans. Segundo estes, a eficiência total é alcançada por uma
Decision Making Units –DMU, quando nenhum de seus inputs ou outputs pode ser melhorado
sem que haja piora em outros inputs ou outputs (COOPER, SEIFORD e ZHU, 2004).
Porém, este conceito não permite medir o grau da ineficiência, e foi Debreu quem
encontrou a solução para este problema com o uso de uma medida radial 2 de eficiência
técnica, que indica o coeficiente de utilização dos recursos. Esta medida permite buscar a
máxima redução (expansão) equiproporcional de todos os inputs (outputs) que maximiza a
função objetivo. Esta técnica tem a vantagem de permitir a comparação de variáveis com
diferentes unidades de medida e a desvantagem de poder ser um vetor input-output eficiente
na medida de Debreu e não sê-lo na medida de Pareto-Koopmans (LINS e ANGULO MEZA,

2
Uma medida radial é uma medida ao longo de um raio, partindo da origem até o ponto analisado.

10
2000).
Na análise da gestão dos recursos produtivos, ou seja, a performance de uma DMU na
transformação de inputs em outputs, os indicadores utilizados são as eficiências técnica,
alocativa e econômica. Elas podem ter duas diferentes orientações, a “orientação input”, que
visa reduzir os inputs utilizados no processo produtivo sem alterar o output, e a “orientação
output”, que busca o melhor output possível sem variar os inputs.
A eficiência técnica é a capacidade de definir proporções ótimas dos inputs utilizados
num processo produtivo. É a medida de eficiência de Farrel, quanto de insumos poderia ser
reduzido para obter a mesma quantidade de produto, ou quanto de produto poderia ser
acrescido com a mesma quantidade de insumo (COOPER, SEIFORD e ZHU, 2004).
A eficiência alocativa relaciona as proporções ótimas dos inputs e outputs produzidos
no sistema produtivo, levando em consideração os preços de mercado dos mesmos.
O alcance da eficiência técnica e alocativa, concomitantemente, é denominado
“eficiência econômica”. Em outras palavras, atinge-se a eficiência econômica em um processo
da produção quando os custos são minimizados, dados os preços dos fatores (eficiência
alocativa), e a produção ocorre na fronteira tecnológica (eficiência técnica).
Foi Farrel, em 1957, que entre outras inovações na questão da medida de eficiência
nas DMUs incluiu o componente preço no modelo, para refletir a capacidade dos produtores
em selecionar vetores inputs-outputs eficientes em valor (LINS e ANGULO MEZA, 2000).
Para ilustrar a eficiência de Farrel, considera-se um conjunto de DMUs (A, B, C e D)
que emprega dois inputs, x 1 e x 2, na produção de um único output, y. Pela orientação input, a
fronteira tecnológica pode ser representada pela isoquanta II’ (Figura 3). As empresas que têm
sua produção representada sobre a isoquanta são denominadas tecnicamente eficientes, pois
conseguem a melhor alocação possível dos recursos disponíveis na produção, já as que estão
acima da mesma são ditas tecnicamente ineficientes.

11
Figura 3 – Eficiência técnica com orientação input..
Fonte: elaborado pela pesquisadora.

A eficiência técnica para a firma B, por exemplo, é dada por ET B = 0B ' 0B , portanto o
resultado é inferior a 1, sendo que 1 indica eficiência técnica de 100%.
Mas, quando se trata da capacidade da firma usar os seus distintos inputs em
proporções ótimas, dados seus preços, apenas a unidade C é eficiente (Figura 4), ou melhor,
alocativamente eficiente. Observa-se que A e C operam com eficiência técnica, pois ambas
estão sobre a isoquanta, mas apenas C está sobre a isocusto. Logo, apenas ela é
alocativamente eficiente. Também é apenas C que está simultaneamente sobre a isoquanta e a
isocusto, alcançando assim, a eficiência econômica.

Figura 4 – Eficiência técnica, alocativa e econômica com orientação input.


Fonte: elaborado pela pesquisadora.

12
A eficiência alocativa é dada por EA A = 0 A" 0 A para a unidade A, sendo então menor
que 1, indicando eficiência alocativa.
A eficiência total ou econômica é obtida pelo produto da eficiência técnica e alocativa:
0 D' 0 D" 0 D"
EE D = × =
0D 0 D' 0 D
onde o primeiro termo da multiplicação é a eficiência técnica da firma D, apresentada na
Figura 4, definida pela medida radial entre a origem e a projeção sobre a isoquanta, dividido
também pela medida radial entre a origem e o ponto de produção praticado. Da mesma forma,
o segundo termo da multiplicação mede a eficiência alocativa, sendo neste caso a medida
radial realizada entre a origem e a linha de isocusto. Quando a firma estiver simultaneamente
sobre a linha de isoquanta e de isocusto ambos os resultados serão a unidade, gerando assim a
eficiência econômica, ou seja, a firma será economicamente eficiente, pois empregará os
inputs na melhor quantidade e aos melhores preços possíveis.
Por sua vez, a eficiência técnica, alocativa e econômica, com orientação output, podem
ser calculadas por medidas radiais apresentadas na Figura 5.

Figura 5 - Eficiência técnica, alocativa e econômica com orientação output.


Fonte: Gomes e Baptista (2004).

Observa-se que a figura ilustra um processo produtivo com dois outputs (y1 e y 2) e um
input (x1), e retornos constantes de escala, definidos pela curva de possibilidades de produção
ZZ’. A DMU A é ineficiente, pois está abaixo da CPP, B, no entanto é tecnicamente eficiente,
mas ambas são alocativamente ineficientes.
A ineficiência técnica de A é dada por ETA = 0 A 0 B , já sua ineficiência alocativa é

13
dada pela medida radial entre o ponto de produção de eficiência técnica (B) e sua tangência na
curva de isoreceita, ou seja, EAA = 0B 0C . De forma análoga, a eficiência econômica com
orientação input, esta sob orientação output ,é dada por:
0 A 0B 0 A
EE A = × =
0 B 0 C 0C
No entanto, a dificuldade de medir os preços leva a maior parte dos trabalhos que
utilizam DEA a medir apenas eficiência técnica, como é o caso do presente trabalho.
Na DEA o desempenho das DMUs é definido utilizando os conceitos de eficiência e
produtividade, sendo produtividade a quantidade de outputs produzidos por cada unidade de
input. Desta forma, define-se a eficiência pela razão do total de outputs pelo total de inputs 3 ,
ou seja:
Output
,
Input
a unidade mais eficiente é aquela cuja relação é maior.
Sendo a eficiência obtida da razão entre output e input, no caso de apenas um input
(X) e um output (Y) a fronteira eficiente pode ser ilustrada como na Figura 6, para as DMUs
V, T e Z, sendo apenas T eficiente. A área sombreada é a região que abrange o conjunto de
possibilidades de produção.

Figura 6 – Fronteira eficiente input-orientada no caso de um input e um output.


Fonte: Adaptado de Cooper, Seiford e Tone (2000).

3
No caso de orientação input, e pela razão dos inputs pelos outputs no caso da orientação output.

14
A razão entre o output Y e o input X determina a eficiência técnica para cada uma das
três unidades analisadas:
EV'
ET V = ,
EV
que seria exatamente a razão do valor do input objetivo, no ponto V’, com o valor do input
realmente utilizado pela DMU, no ponto V. Assim, define-se um valor para a eficiência que
se localiza entre 0 e 1, sendo 1 a eficiência da DMU sobre a fronteira, como é o caso de T,
que tem seu input objetivo exatamente igual ao seu input real por obter a melhor relação entre
output e input do conjunto observado.
No caso de múltiplos inputs e outputs a análise gráfica torna-se inviável, e pode-se
recorrer à programação matemática para determinar pesos que maximizem a relação entre
inputs e outputs para cada unidade analisada, determinando, assim, sua eficiência.
Como foi observado, a DMU é dita eficiente por obter a melhor relação entre outputs e
inputs no conjunto de DMUs analisadas, sendo então sua eficiência relativa. Em outras
palavras, a eficiência é dita relativa, com base na evidência disponível, somente se as
performances das demais DMUs, as quais é comparada, não mostrarem seus inputs ou outputs
acrescidos, sem piorar algum dos demais inputs ou outputs (COOPER, SEIFORD e ZHU,
2004). Tal definição de eficiência técnica é a considerada nesta avaliação, tendo por objeto de
estudo os assentamentos rurais mato-grossenses.

2.3 Determinantes da eficiência

Muitos estudos têm buscado identificar os determinantes da eficiência nas atividades


agropecuárias e de assentamentos rurais. Como os assentados também são produtores rurais,
os determinantes são semelhantes, ou ainda iguais.
Baseado numa revisão de literatura internacional, pode-se apontar variáveis chaves a
serem utilizadas em estudos que visem determinar a eficiência de uma unidade agrícola. Entre
os trabalhos revisados estão os de Amara et al (1999), Audibert (1997), Binswanger,
Deininger e Feder (1995), Fan e Chan-Kang (2003), Karagiannis e Sarris (2002), Kimhi
(2003), Lamb (2003), Llewelyn e Williams (1996), Moreira et al (2004) e Tian e Wan (2000).
Os autores apresentam as variáveis que consideram importantes neste tipo de análise. Estas
são:

15
9 A “idade do agricultor” é uma variável muito utilizada como proxy para a experiência do
agricultor, e assim ser determinante de eficiência. Alguns autores observaram relações
negativas entre eficiência e idade, entre eles Karagiannis e Sarris (2002), e argumentaram
que quanto maior a idade do agricultor maior é o conservadorismo, ou seja, aversões às
inovações tecnológicas, o que pode levar à ineficiência. Mas há trabalhos que não
encontraram relação entre idade e eficiência, como de Amara et al (1999).
9 O “tamanho da propriedade” é investigado na maior parte dos estudos de eficiência e
produtividade. No entanto estes divergem quanto aos resultados, alguns identificando
relações positivas com aumento da área e produtividade, outros encontrando uma relação
negativa entre tamanho da propriedade e eficiência técnica. Há ainda estudos que não
encontram relação entre estas duas variáveis, como o de Amara et al (1999) e Tian e Wan
(2000), que analisaram três culturas, todas na China, e encontram, em cada um deles,
resultados diferentes, relação positiva, negativa e ausência de relação entre tamanho da
propriedade e eficiência técnica. O que se vê são diferentes resultados, para diferentes
culturas em diferentes países do mundo.
9 O fato de ter ou não a “propriedade da terra” em que trabalha tem efeito positivo sobre a
eficiência, segundo Llewelyn e Williams (1996) e Amara et al (1999); estes apontam a
condição de proprietários da terra como fator positivo para a eficiência. A posse da terra
está inter-relacionada com o acesso ao crédito, pois podem oferecê-la em garantia, além
de gerar mais incentivos para melhor administração dos recursos. Karagiannis e Sarris
(2002) utilizaram esta variável no estudo de diversas culturas, entre os resultados
encontrou-se efeitos positivos, negativos e ausência de relação com a eficiência.
9 O “trabalho familiar” e o “trabalho total utilizado” também são variáveis importantes nos
estudos de eficiência. Moreira et al (2004) utilizam o percentual de trabalho assalariado
sobre o total como variável e descobrem relação negativa com a eficiência. Outros
trabalhos encontram relação positiva entre trabalho familiar e eficiência, devido a não
necessidade de supervisão destes trabalhadores, indispensável no trabalho assalariado.
9 A “irrigação” é vista como um insumo redutor de riscos e seu uso melhora a eficiência,
reduzindo problemas de quadro natural. Fan e Chan-Kang (2003) argumentam que os
resultados da relação inversa entre tamanho da propriedade e eficiência se devem a
omissão de variáveis como a irrigação ou a não irrigação. Mas há também estudos que
identificam relações negativas entre irrigação e eficiência, estes são de Tian e Wan (2000)
para as culturas de milho e arroz na China.

16
9 Os “subsídios diretos” são apontados no estudo de Karagianis e Sarris (2002) com efeitos
negativos sobre a eficiência. Estes autores constataram que grandes transferências de
renda reduzem o empenho nas atividades agrícolas. Por sua vez, Amara et al (1999)
utilizaram uma variável similar, o número de anos que o agricultor participava de
programas governamentais de transferência de renda, e o resultado foi insignificante.
9 A existência de “débitos” também foi analisada por Karagianis e Sarris (2002) e Amara et
al (1999) que relatam que a existência de débitos estimula a eficiência, pois se busca o
cumprimento das obrigações, mas elevados níveis de débitos reduzem a habilidade de
comprar insumos necessários para atingir a eficiência.
9 A “especialização produtiva”, analisada nos trabalhos de Karagianis e Sarris (2002),
Llewelyn e Williams (1996) e Tian e Wan (2000) se mostrou com duplo efeito, positivo e
negativo. Estes usaram o Índice de Diversificação de Herfindahl para medir quotas de
produtos na produção agrícola, em estudos de eficiência, e descobriram relações positivas
e negativas, variando entre produções e países estudados.
9 A variável “educação” ou “anos de estudo” foi utilizada nos estudos de Amara et al
(1999), Llewelyn e Williams (1996) e Tian e Wan (2000), testando a relação entre nível
educacional e eficiência. Os resultados apresentaram relações de dois tipos, ou seja,
positivas e negativas, também variando entre produto e localidade.
9 Moreira et al (2004) utilizaram as variáveis “tendência” e “tendência ao quadrado” para
testar os determinantes da ineficiência em fazendas produtoras de leite na Argentina. A
primeira variável teve relação positiva com a ineficiência; já para a segunda, o efeito foi
negativo. No entanto, a variável tendência não pode ser aplicada em estudo não-
paramétricos como o DEA.
9 Algumas “variáveis sociais” foram utilizadas no estudo de Audibert (1997) para tentar
mensurar fatores que dispersam a atenção do trabalhador, como, por exemplo,
características culturais dos analisados.
9 Por fim, a “qualidade da terra” e variáveis de “clima” foram estudadas por Binswanger,
Deininger e Feder (1995), Lamb (2003) e Kimhi (2003). Observaram que a qualidade da
terra e as variáveis climáticas afetam significativamente a eficiência. Ou seja, condições
favoráveis de clima e terra auxiliam a obtenção de maior eficiência. A omissão destas
variáveis gera resultados viesados e muitas vezes inversos.
Alguns estudos realizados no Brasil também apontaram resultados semelhantes.
Moreira, Helfand e Figueiredo (2007) buscaram identificar a relação entre tamanho da
propriedade e produtividade da terra, e produtividade total dos fatores, a partir dos

17
microdados do Censo Agropecuário de 1995/96 do Instituto Brasileiro de Geografia e
Estatística - IBGE. Constataram que a produtividade da terra tem relação inversa pronunciada
com o tamanho da propriedade, mas quando se considera a produtividade total dos fatores
essa relação inversa se suaviza sensivelmente. Na região Centro-Oeste a produtividade total
dos fatores cresce com o tamanho da propriedade, embora este crescimento seja bem discreto.
Notam ainda que os agricultores familiares dispõem de muito menos acesso a crédito, energia
elétrica e assistência técnica, e estes explicam uma parcela importante da diferença entre a
produtividade total dos fatores entre agricultores familiares e não familiares.
Um outro estudo que buscou verificar a relação entre ineficiência técnica e tamanho do
estabelecimento foi realizado por Helfand (2003), constatando uma relação não linear entre as
variáveis, com a ineficiência, primeiro crescendo e depois decrescendo com o aumento da
área do estabelecimento, com o ponto de inversão próximo a 500 hectares. Também observou
que a eficiência técnica tem relação com a condição do produtor, onde proprietários e
arrendatários foram mais eficientes que ocupantes e parceiros. Também verificou que crédito,
eletricidade, assistência técnica e cooperativismo são variáveis importantes para a eficiência.
Entre estas, o crédito destacou-se como mais importante na redução da ineficiência.
O estudo de Bittencourt et al (1998) buscou identificar as causas da diferença no
desenvolvimento dos assentamentos de reforma agrária, comparando assentamentos com
melhor e pior desempenho. As variáveis identificadas como determinantes do melhor
desempenho de alguns assentamentos foram características de quadro natural, a origem do
assentado, o entorno econômico e produtivo, o crédito rural, a assistência técnica, os sistemas
de produção e sua organização, a infra-estrutura social (saúde, educação e moradia), as
condições das estradas, a organização política e as relações institucionais. As condições de
clima, relevo e fertilidade do solo estiveram inclusas no fator quadro natural, sendo um forte
limitante para o desenvolvimento dos assentamentos segundo os autores.
Souza Filho et al (2004) avaliaram a eficiência de assentamentos rurais por meio da
técnica paramétrica de fronteira estocástica. Este estudo constatou que as variáveis que
influenciaram na eficiência técnica e alocativa dos assentamentos foram a assistência técnica
mensal, a escolaridade e o crédito rural. Ressaltaram que através da educação e assistência
técnica os assentados têm melhores e maiores condições de acesso ao crédito e aos mercados
em geral. Quanto ao acesso ao crédito, o estudo revelou que reduz a ineficiência, pois
promove o uso de recursos que efetivamente aumentam a produtividade da exploração
agrícola, além da adoção de produtos de maior valor. Acreditam ainda que o crédito dê acesso
a melhores canais de comercialização e preços.

18
3. MODELO ANALÍTICO: A ANÁLISE ENVOLTÓRIA DE DADOS

O estudo utilizará uma técnica de Programação Matemática, ou mais especificamente,


de Pesquisa Operacional, denominada Análise Envoltória de Dados -DEA 4 para a avaliação
da eficiência dos assentamentos rurais de Mato Grosso.
Trata-se de um método não-paramétrico iniciado por Farrel (1957), baseado nos
trabalhos de Koopmans (1951) e Debreu (1951), apresentados no segundo capítulo, e
ampliado por Charnes, Cooper e Rhodes (1978 e 1979) e Banker, Charnes e Cooper (1984).
A DEA, como técnica não-paramétrica se diferencia do método econométrico de
fronteira de produção estocástica, que também analisa a eficiência relativa de unidades de
produção, por dispensar a especificação da forma funcional que relaciona inputs e outputs e
utilizar medidas radiais e de função de distância para analisar a situação de cada unidade
observada em relação à fronteira, onde se localizam as unidades eficientes ou best practices.
Uma função de produção estimada econometricamente resulta numa função de produção
média que não considera as diferenças na eficiência produtiva. Já o método não-paramétrico
leva em consideração a melhor tecnologia (best practice) e permite realizar comparações em
termos de eficiência produtiva (BAPTISTA, 2005). A diferença entre as funções estimadas
por estes dois métodos pode ser observada na Figura 7.

4
Data Envelopment Analysis(DEA)

19
Figura 7 – Função de produção média e de fronteira.
Fonte: adaptado de Cooper, Seiford e Tone (2000).

Observa-se que a função média tem unidades localizadas abaixo e acima da linha da
função. Já na técnica representada pela linha da função fronteira, os pontos representando
cada unidade analisada estão sobre ou abaixo da reta representativa da função. Os pontos
situados sobre a linha da fronteira representam as unidades eficientes e os pontos abaixo as
unidades ineficientes.
Uma definição formal da técnica não-paramétrica DEA é dada por Charnes, Cooper, e
Rhodes (1979, apud COOPER, SEIFORD e ZHU, 2004, p. 02): “DEA is a mathematical
programming model applied to observational data that provides a new way of obtaining
empirical estimates of relations – such as the production functions and/or cornerstones of
modern economics”
A DEA busca avaliar o desempenho de unidades organizacionais, as DMUs,
construindo uma fronteira de produção, cujos pontos que a formam representam as
combinações eficientes de inputs que resultam em outputs. O grupo de DMUs analisadas deve
utilizar uma variedade idêntica de inputs para produzir também idênticos outputs, estes
variando apenas na intensidade do uso. Em outras palavras, a técnica DEA mede quão
eficientemente as DMUs utilizam os recursos disponíveis para gerar uma série de outputs.
O pressuposto fundamental do modelo é que se uma DMU é eficiente, utilizando
determinada quantidade de inputs alcança determinada quantidade de outputs, é esperado que
qualquer outra DMU também possa alcançar o mesmo resultado. O objetivo central da técnica
é encontrar a melhor DMU virtual para cada DMU real, sendo que a DMU virtual é uma

20
combinação convexa de outras unidades reais que indica a DMU ineficiente como otimizar
seus resultados num processo produtivo. A lógica da eficiência na técnica DEA se baseia na
definição de ótimo de Pareto, segundo o qual nenhum output pode ter sua produção
incrementada sem que sejam aumentados os seus inputs ou diminuída a produção de outro
output. A eficiência é relativa, como já mencionado, uma vez que é referente às unidades em
estudo (que compõem a amostra) (CHARNES et al, 1994, apud BAPTISTA, 2005).
Este método tem sido empregado para avaliar o desempenho de muitos diferentes
grupos e entidades engajadas nos mais diferentes grupos de atividades e contextos e em
diferentes países. O grande sucesso da técnica DEA deve-se em grande parte a suas poucas
hipóteses, permitindo sua aplicação em casos que tem sido resistente a outras pesquisas, por
causa da complexidade e do freqüente desconhecimento da natureza das relações entre
múltiplos inputs e outputs envolvidos. Também, seus resultados são mais detalhados do que
os obtidos por técnicas paramétricas, sendo mais prático para recomendações de natureza
gerencial.

3.1 A análise envoltória de dados

A técnica DEA tem muitas formas de aplicação, podendo variar quanto à orientação do
modelo (minimizar inputs ou maximizar outputs), à forma dual ou primal do modelo de
programação linear (envelope ou multiplicativa, respectivamente), quanto aos retornos de
escala (constantes ou variáveis), quanto ao tipo de variáveis utilizadas (reais, inteiras,
binárias, categóricas, de intervalo, etc.), entre outras.
A primeira versão em que o DEA foi desenvolvido opera com retornos constantes à
escala de produção, e o modelo se denomina Constant Returns to Scale - CRS ou CCR
(proposta por Charnes, Cooper e Rhodes, 1978). Uma outra ótica de análise são os modelos
Variable Returns to Scale - VRS ou BCC (desenvolvida por Banker, Charnes e Cooper em
1984). Estes admitem retornos variáveis de escala desconsiderando a proporcionalidade entre
inputs e outputs. A seguir, estes dois modelos básicos serão tratados com maior detalhe.

21
3.1.1 O modelo CCR

O mais clássico dos modelos DEA é o modelo dos multiplicadores com retornos
constantes de escala, ou seja, a versão primal do modelo CCR. Num processo produtivo com
vários inputs e vários outputs o índice de eficiência é dado pela razão do output virtual pelo
input virtual (ou vice-versa em caso de modelos output orientados). Output virtual é a soma
de todos os outputs produzidos pela DMU estudada, multiplicada pelos seus respectivos
pesos, ou seja, o numerador de (3.1). Da mesma forma, o input virtual para a DMU sob
análise é a soma de todos os inputs utilizados na produção dos outputs, multiplicados pelos
seus respectivos pesos, ou ainda, o denominador de (3.1).

∑u j yij
uyj
=
j
, (3.1)
∑v x
i
i kj vx j

onde y são os outputs; x os inputs; j = 1.....n as DMUs; i =1....m os inputs para cada DMU;
k = 1,.... s os outputs de cada DMU; u e v são os pesos ou os multiplicadores dos outputs e
inputs respectivamente (LINS e ANGULO MEZA, 2000).
Para medir a eficiência de cada DMU é necessário resolver n problemas de
programação fracional - PPF, um para cada DMU. Desta otimização resultam os pesos dos
inputs e dos outputs que sejam mais favoráveis a DMUo sob avaliação. O problema a ser
resolvido é:
u1 y 1o + u 2 y 2o + ... + u s y so
Maximizar Eo = . (3.2)
v1 x1 o + v2 x2 o + ... + v mx mo

u1 y1 j + ... + u s ysj
Sujeito a ≤1 , ..., n)
v1 x1 j + ... + v m xmj (j = 1 (3.3)

v 1, v 2 ,...,v m ≥ (3.4)

u1 u2 . us ≥ 0 (3.5)
Observa-se que o objetivo do problema é obter pesos (v m) (u s) que maximizem a
função objetivo E*5 (em (3.2)). A primeira restrição, (3.3) implica em que a razão do output
virtual pelo input virtual para toda e qualquer DMU não deve exceder o valor de 1. As duas
últimas restrições, (3.4) e (3.5), implicam em que os pesos não podem assumir valores
negativos (COOPER, SEIFORD e TONE, 2000).

5
O asterisco será utilizado neste trabalho no sentido de indicar o valor ótimo.

22
Entretanto, o PPF fornece múltiplos resultados possíveis. Para encontrar apenas um
resultado ótimo e simplificar a resolução do mesmo pode-se convertê-lo em problema de
programação linear - PPL. Tal conversão foi desenvolvida por Charnes e Cooper (1962)
conforme exposição abaixo:
Maximizar eo = μ 1 y1 o + μ2 y2 o + ... + μ s yso (3.6)

Sujeito a v1 x1 o + v2 x2 o + ... + vm xmo = 1 (3.7)

μ1 y 1 j + ... + μ s y sj ≤ v1x1 j + ... + v m x mj (3.8)

0 v1 v 2 vm ≥ (3.9)

μ1 , μ2 ,..., μs ≥ 0 (3.10)

Percebe-se que o novo formato de apresentação das restrições continua indicando que
a eficiência de todas as DMUs deve estar entre 0 e 1. A diferença é a condição de
normalização do denominador do problema fracional.
Em Cooper, Seiford e Tone (2000) podem ser encontradas todas as demonstrações e
teoremas desta conversão do problema de programação fracional em problema de
programação linear.
Esta forma de resolver o problema considera rendimentos constantes de escala,
fazendo uso de multiplicadores (que são os pesos u e v), pela ótica da redução de inputs, com
aplicação do modelo Arquimediano6 , que admite pesos nulos. Em resumo, esta versão do
DEA se denomina Modelo dos Multiplicadores com Retornos Constantes de Escala.
* *
Como mencionado antes, v e u são o grupo de pesos mais favoráveis para a DMUo no
sentido de maximizar a razão do problema fracional. Se vi* é o peso ótimo para o input i e sua

magnitude expressa quão altamente o item i é avaliado no problema. De forma análoga, u *r é o


mesmo para o output r. Em outras palavras, os pesos revelam a importância relativa de cada
input ou output no composto. Estes valores permitem avaliar não só quais itens entre os inputs
selecionados mais contribuem para a avaliação da DMU, mas também conhecer os ajustes
necessários no uso de cada input, ou seja, a extensão da mudança para a DMU em questão
tornar-se eficiente (COOPER, SEIFORD e TONE, 2000).
Cooper, Seiford e Tone (2000) também destacam que uma DMUo é CCR-ineficiente,
caso exista pelo menos uma DMU para a qual os pesos (v*,u*) produzam igualdade entre o
lado direito e o lado esquerdo de (3.11). Sendo o grupo de cada j ∈{1,..., n} é:

6
O modelo arquimediano apresenta uma fronteira de eficiência que não é ainda a eficiência de Pareto, esta será
alcançada por modelos que não admitem pesos nulos, e consequentemente folgas de inputs ou outputs, esta
questão será tratada em maior detalhe na seção 3.1.3.

23
⎧ s m

E o' = ⎨ j : ∑ u*r y rj = ∑ v*i x ij ⎬. (3.11)
⎩ r =1 i =1 ⎭
O sub-grupo Eo de E ' oé composto por DMUs CCR-eficientes e denominado “grupo de
referência” ou “ benchmarks”. E é a existência deste grupo ou de apenas uma DMU CCR
eficiente que força a DMUo a ser ineficiente. O grupo representado por E oé chamado de
fronteira eficiente da DMU o.
É perceptível ainda que os problemas de programação linear de DEA podem ser
facilmente solucionados pelo método SIMPLEX. E como todo problema de programação
linear o Modelo dos Multiplicadores tem sua versão no dual, e esta é denominada Modelo
Envelope e tem um papel muito importante no DEA, pois as benchmarks das DMUs
ineficientes podem ser identificados pela solução do mesmo.
O problema dual é expresso com a variável θ como segue:
Minimizar θo (3.12)
n
Sujeito a ∑y
j=1
rj λ j ≥ y ro r = 1, 2, ..., s (3.13)

∑ x λ i ≤= θ1,x 2, ..., m.
j=1
ij j io (3.14)

λ j ≥ 0, (3.15)

onde yo e xo são respectivamente os outputs e inputs da DMU, sob avaliação no problema.

Da mesma forma que o problema primal provê pesos ótimos para inputs e outputs, o
dual provê pesos ótimos para as DMUs (λ). A primeira restrição do problema dual (3.13) tem
no seu lado esquerdo da inequação a soma dos pesos dos outputs de todas as DMUs e do lado
direito está o output da DMU avaliada ( yo ). Esta restrição implica que os pesos duais λ
deverão ser selecionados desde que a combinação dos pesos para todos os outputs e todas as
DMUs sejam menor ou igual ao da DMU em avaliação. Para uma DMU ineficiente os pesos
são designados por suas benchmarks. A segunda restrição do problema dual, (3.14), se refere
aos inputs. Ela informa que a combinação dos pesos dos inputs para todas as DMUs não
podem ser maior que a combinação dos pesos dos inputs da DMU avaliada, multiplicado pela
sua eficiência. Para uma DMU eficiente θ* é unitário, e os pesos λ de todas as demais DMUs
devem ser nulos, exceto λo que deve alcançar o valor 1 (COOPER, SEIFORD E TONE, 2000;
RAMANATHAN, 2003).

24
É importante ressaltar que a variável dual θ corresponde à equação de restrição que
normaliza a soma dos pesos dos inputs no primal.
Qualquer comparação entre o dual e primal deve considerar as seguintes questões,
segundo Ramanathan (2003):
i) os valores ótimos são iguais nos problemas primal e dual;
ii) o número de restrições no modelo primal depende do número de DMUs; já no dual
depende do número de inputs e outputs;
iii) a eficiência dos resultados da programação linear depende do tamanho da extensão
do número de restrições, sendo a formulação dual mais eficiente do que a primal.
Em suma, o programa DEA envolvendo pesos de inputs e outputs (u e v) são
chamados Programas DEA Multiplicativos. Os que envolvem pesos das DMUs (θ e λ) são
chamados Programas DEA Envoltórios, e ambos consideram retornos constantes de escala.
Como mencionado, os modelos anteriormente apresentados são de orientação input.
Abaixo segue a versão fracional, multiplicativa do modelo output orientado, que tem por
objetivo maximizar output, mantendo constantes os níveis de inputs.
v1 x1 o + v2 x2 o + ... + v m xmo
Minimizar ho = .
u1 y1 o + u2 y2 o + ... + u s yso

v1 x1 j + ... + v m xmj
Sujeito a ≥ 1 (j = 1, ..., n)
u1 y1 j + ... + u s ysj

0 vm ≥
v1 , v2 ,...,

, ,...,u1 u2 . us ≥ 0

Houve a inversão do quociente com relação ao modelo input orientado. A forma linear
multiplicativa, com retornos constantes de escala do modelo output é apresentada a seguir.
m
Minimizar H o = ∑ v i xio
i= 1

s
Sujeito a ∑μ
r=1
r y ro1=

m s

∑v x −∑ μ
i =1
i ij
r=1
r yrj ≥ 0

, ≥ μr vi 0

A forma envelope do modelo output orientado maximiza φ , que corresponde à


equação de restrição que normaliza a soma dos pesos dos outputs na versão primal.
Maximizar φo

25
N
Sujeito a ∑x
j=1
ij λ j ≤ xio i = 1, 2, ..., m.

∑y
j=1
rj λrj =
≤ 1,
y ro2, ..., s.

≥0 λj j = 1, 2, ..., n

 A eficiência técnica output orientada da unidade avaliada será igual a 1 / φ * . A


seguir, apresenta-se o modelo que admite retornos variáveis à escala de produção.

3.1.2 O modelo BCC

Também conhecido como modelo BCC (BANKER, CHARNES E COOPER, 1984),


este se diferencia do modelo CCR por permitir a variação dos rendimentos de escala na
fronteira eficiente.
Na economia, o conceito de função de produção especifica o output produzido pela
combinação de todos os inputs representados num gráfico de duas dimensões, como a Figura
8, com a suposição de que todos os inputs e todos os outputs são agregados em apenas 1 input
e 1 output (X e Y respectivamente).

Figura 8 - Função de produção com retornos variáveis a escala.


Fonte: elaborado pela pesquisadora.

26
A figura demonstra que o consumo de inputs pode não ser proporcional à quantidade de
outputs produzidos. O incremento dos inputs gera outputs mais do que proporcional à este
aumento, com relação à X1, Y 1:
y2 x 2
> .
y1 x 1
Ocorre, neste caso, a economia de escala em (x1, y 1), com a DMU operando com
Rendimentos Crescentes de Escala ou Increasing Returns to Scale - IRS e seus lucros
aumentando, se a DMU expande a produção.
Pode-se definir IRS como uma propriedade da função de produção, onde mudando todos
os inputs na mesma proporção, o incremento nos outputs é mais do que proporcional. No
entanto, há um limite para os IRS. Em algum momento o acréscimo da produção pelo
aumento proporcional dos inputs vai gerar outputs proporcionais, e mais um aumento levará a
Rendimentos Decrescentes de Escala ou Decreasing Returns to Scale - DRS. Combinando os
dois extremos, IRS e DRS, têm-se os retornos variáveis à escala. Esta propriedade implica que
num processo produtivo com IRS e DRS os retornos em output variam. Muitas categorias de
DMUs têm este tipo de processo produtivo (RAMANATHAN, 2003).
O modelo DEA CCR, apresentado anteriormente, assume essencialmente que as
operações apresentam CRS, esta era uma limitação de DEA até 1984, quando Banker,
Charnes e Cooper (1984, apud RAMANATHAN, 2003) aprimoraram o DEA para operar com
VRS, e nesta obra pode ser encontrado um tratamento profundo e detalhado desta
modificação.
Se, no caso de um input e um output, as DMUs alcançam seus valores na razão
output/input, a que alcança maior valor é a mais eficiente e opera no mais produtivo tamanho
de escala. DMUs operando em escalas baixas, com ( λ* < 1) , estão sob IRS e podem aumentar

suas economias de escala se aumentarem a produção. Já as DMUs operando em escalas


superiores com λ* > estão sob DRS, ou seja, os retornos de escala para as DMUs podem
( 1)
ser obtidos por observação dos valores correspondentes dos λ* .
Algumas DMUs que não são eficientes nos modelos CRS poderão ser eficientes, se
assumirmos retornos variáveis a escala, relaxando a hipótese dos retornos constantes, ou seja,
supondo a condição
N

∑λ
n =1
n = 1,

27
no modelo dual DEA CCR, tendo a restrição adicional de que as DMUs operando em
diferentes níveis de escala são eficientes. Desta forma, o envoltório é formado por uma
combinação linear convexa das melhores práticas (incorporando VRS). Esta condição é
conhecida como restrição de convexidade na literatura matemática (RAMANATHAN, 2003).
Neste contexto o DEA envoltório com VRS é dado como segue:
Minimizar θo
n
Sujeito a ∑y
j=1
rj λ j ≥ y ro r = 1, 2, ..., s

∑x
j=1
ij λ ji ≤= θ1,x io2, ..., m.


1 λn =
n =1

≥ λj 0,


N
Como é possível observar, a adição da condição λ = 1 introduziu o efeito VRS no
n= 1 n

modelo. Logo, sua ausência indica que o modelo é CRS. A Figura 9 apresenta um exemplo da
diferença entre fronteiras VRS e CRS. Observada pela ótica CRS apenas uma DMU é
eficiente, enquanto pela VRS, três DMUs são eficientes:

Figura 9 - Fronteiras eficientes CRS e VRS


Fonte: Adaptado de Lins e Ângulo Meza, 2000.

Ao enfatizar as diferentes eficiências , nos casos VRS e CRS é possível distingui-las em


eficiência técnica e de escala. O modelo CCR, destituído da restrição de convexidade estima a

28
eficiência geral (bruta) das DMUs, englobando eficiência técnica e de escala. A técnica
descreve a eficiência em converter inputs em outputs, enquanto a de escala não pode ser
obtida em todas as escalas de produção, pois há um tamanho de escala mais produtivo, onde a
eficiência de escala é máxima, ou 100%. O modelo BCC leva em conta a variação de
eficiência com respeito a escala de operação, ou seja, mede a eficiência técnica. As fronteiras
VRS e CRS, apresentadas na Figura 9, mostram que as ineficiências das duas DMUs,
tangenciadas pela fronteira VRS e não tangenciadas pela fronteira CRS, são essencialmente
ligadas à sua escala de operação (RAMANATHAN, 2003).
Ramanathan (2003) denomina a eficiência VRS como “Eficiência Técnica Pura”,
enquanto a eficiência CRS denomina “Eficiência Técnica e de Escala”.
O modelo apresentado nesta seção novamente se refere à orientação input. A versão


N
VRS do modelo output orientado é obtida pela adição da condição n=1
λn = 1 , ao modelo

dual output orientado, apresentado na seção anterior.

3.1.3 As folgas e a eficiência

Cooper, Seiford e Tone (2000) classificam as DMUs, conforme o resultado obtido no


problema de programação linear, sendo:
1. a DMUo eficiente se e * = 1, e se este existir para um ótimo (v * ,u*), com v* > 0 e u* > 0.
2. De outra forma a DMU o é ineficiente.
Em outras palavras, uma DMU é ineficiente se e* < 1, ou ainda se e* = 1 com no mínimo
um elemento de (v* ,u* igual a zero para a soluçã
)o ótima da função objetivo.
De acordo com esta definição, a DMU que obtiver pesos nulos e alcançar e * = 1 é
ineficiente. Isso porque a versão apresentada do modelo é a original, introduzida por Charnes
Cooper e Rhodes (1978), e atualmente conhecida como “eficiência fraca”. Entretanto,
segundo Ramanathan (2003), em seguida, estes mesmos autores fizeram uma modificação no
modelo (CHARNES COOPER e RHODES, 1979), pois na programação linear convencional
as variáveis de decisão não podem assumir valores negativos, mas podem ser nulas (modelo
arquimediano). E então, definiram que as variáveis de decisão nos programas DEA devem ser
estritamente positivas, ou seja, as condições de não-negatividade v j , u i ≥ 0 passam a ser

29
v j ,u i > 0 . Esta modificação leva à restrição de que os pesos dos inputs e outputs dos modelos

multiplicativos, anteriormente apresentados, sejam:


v j ,ui ≥ ε > 0,

onde ε é um infinitesimal ou constante não-arquimediano, usualmente da ordem de 10 -5 ou


10-6. Pode ser questionado que este não-arquimediano não é um número, e conseqüentemente,
não pode ser aproximada para nenhum número finito. Vale observar que as normas dos
pacotes de programação linear requerem que este infinitesimal possa ser representado na
forma de um pequeno número 7 .
As DMUs com e * = 1, e todas as folgas nulas são denominadas “fortemente eficientes”
ou eficientes no sentido de Pareto (RAMANATHAN, 2003).
A questão das folgas deve-se ao fato de a medida de eficiência ser computada de
forma radial, e isso leva com freqüência a casos em que as variáveis folga têm valor positivo,
devido a fronteira em DEA ser estimada de forma paralela aos eixos das coordenadas. Assim,
pode uma DMU ter solução ótima e sua DMU "virtual" estar projetada na fronteira paralela
aos eixos das coordenadas. Deve-se estar atento para verificar se o ponto é mesmo de ótimo,
pois outras DMUs podem ser mais eficientes usando a mesma quantidade de insumos.
Naturalmente, regiões de fronteira paralelas aos eixos das coordenadas são comuns em
amostras finitas.
Baptista (2005) apresenta um exemplo ilustrado na Figura 10, com o modelo VRS
output orientado, no qual a eficiência relativa das unidades de produção P, Q, D e K, utilizam
os insumos para produzirem Y1 e Y2.

Figura 10 – Fronteira eficiente output orientada com presença de folgas.


Fonte: Coelli (1998 apud BAPTISTA, 2005).

7
Este procedimento auxilia a operacionalizar problemas computacionais associados à divisão por zero no
processo de otimização.

30
Observa-se que apenas K é ineficiente (não está sobre a fronteira), e segundo a
eficiência de Farrel esta ineficiência pode ser mensurada por OK/OK *. Entretanto, pode-se
questionar se a DMU virtual K* é mesmo eficiente, uma vez que poderia produzir mais de Y1 ,
mais precisamente K*Q, com a mesma quantidade de insumos.
Logo, para encontrar a verdadeira solução ótima é necessário inserir as folgas na
função objetivo dos problemas de programação linear, ponderada por uma constante não-
arquimediana ε, e se obtêm coeficientes de eficiência que satisfazem as condições de Pareto-
Koopmans, ou seja, score de eficiência igual a um e folgas nulas. Logo, estes modelos devem
ser calculados em dois estágios. Primeiramente calcula-se θ * ou φ * ignorando as folgas. Em

seguida otimiza-se as folgas fixando θ * ou φ * nos seguintes problemas de programação linear


input e output orientado, respectivamente:
⎛ m s

Minimizar θ o − ε⎜ ∑ s −i +∑ s r+ ⎟
⎝ i =1 r= 1 ⎠
n
Sujeito a ∑x
j=1
ij λj + s i− = θxio i = 1, 2, ..., m.

∑y
j=1
rj λ j − s +rr = 1,
y ro2, ..., s.

≥0 λj j = 1, 2, ..., n

⎛ m s

Maximizar φo + ε⎜ ∑ s −i +∑ s r+ ⎟
⎝ i= 1 r= 1 ⎠
N
Sujeito a ∑x λ
j=1
ij j + si− = xio i = 1, 2, ..., m.

∑y
j=1
rj λ j − s +r =r φ=o*1,
y ro2, ..., s.

λj ≥0 j = 1, 2, ..., n

No entanto, as folgas positivas não devem ser encaradas como um problema grave,
pois estas podem decorrer do tamanho da amostra, ou ainda devido ao método utilizado para
construir a envoltória (COELLI, 1998, apud BAPTISTA, 2005).

31
3.1.4 Vantagens e limites da análise envoltória de dados

Diversos autores destacam vantagens e limites da técnica DEA. Segundo Charnes,


Cooper e Rhodes (1978, apud GOMES e BAPTISTA, 2004), Lins e Angulo Meza (2000) e
Ramanathan (2003) estas podem estar relacionadas aos seguintes aspectos:
(a) a maior vantagem de DEA é sua objetividade. DEA provê eficiências baseadas em
dados numéricos, e não pelo uso de opiniões subjetivas de pessoas;
(b) diferentemente dos métodos estatísticos de análise de performa nce, DEA é não
paramétrica, no sentido de que não requer uma hipótese da forma funcional
relacionada aos inputs e outputs, bem como baseia-se em observações individuais e
não em valores médios;
(c) permite observar as unidades eficientes de referência para as não eficientes;
(d) tem vantagens de estrutura, pois permite decompor as eficiências técnica, eco nômica e
alocativa, além dos efeitos de escala e indicar o caminho para as unidades de decisão
eliminarem suas ineficiências;
(e) admite que os outliers não representem apenas desvios em relação ao comportamento
médio, mas casos a serem estudados pelas demais DMUs;
(f) permite manusear múltiplos inputs e múltiplos outputs, e estes podem ser medidos em
muitas diferentes unidades.
Contudo, segundo os mesmo s autores, DEA tem certas limitações, que vêm sendo
discutidas na sua literatura. As mais importantes são apresentadas abaixo:
(a) por ser uma técnica do ponto extremo, erros de medida podem causar significantes
problemas. Eficiências DEA são muito sensíveis para igualar pequenos erros,
fazendo da análise de sensibilidade;
(b) por ser uma técnica não-paramétrica, testes de hipóteses estatísticos são difíceis;
(c) os scores de eficiência DEA são obtidos depois de rodar um número grande de PPL,
logo, não é fácil explanar os resultados intuitivamente para o caso de mais que dois
inputs e outputs;
(d) é possível que algumas DMUs obtenham a melhor eficiência, devido a uma variável
apenas. Este aspecto sinaliza de que algumas DMUs que, em seus interesses para
recordes de 100% de eficiência, podem se concentrar em melhorar sua performance
em termos de somente um ou poucos outputs, não estando interessadas na sua
melhora total.

32
3.1.5 DEA com dados qualitativos

Uma das hipóteses básicas do DEA é de que os dados assumem forma de valores
numéricos. Contudo, em algumas aplicações, estes dados podem não ser numéricos, ou seja,
DEA pode ser aplicado a fatores qualitativos.
Em algumas situações, tais fatores podem ser legitimamente quantificáveis. Nestes
casos, a melhor forma de representá-los é em um ranking de posições ordinais. Em certas
circunstâncias a informação disponível pode permitir somente colocar a DMU dentro de uma
entre L categorias (como alto, médio, baixo). Em outros casos, pode ser capaz de prover um
ranking completo, ordenando as DMUs sob cada fator (COOPER, SEIFORD e ZHU, 2004).
Embora existam adaptações especiais da técnica DEA para trabalhar com este tipo de
dados, a mesma não foi empregada neste estudo por causa da sua complexidade e outra s
complicações que surgiriam, uma vez que cada DMU, nesta versão de DEA, só deverá ser
comparada para análise da eficiência com outras que estejam classificadas na mesma
categoria de uma variável qualitativa. Isto inviabilizaria o estudo, uma vez que se têm
diversas variáveis categóricas e binárias entre as variáveis utilizadas na presente análise de
eficiência.
Desta forma, os problemas de programação matemática foram solucionados como
problemas de programação mista, operando simultaneamente com variáveis inteiras (no qual
foram inclusas as variáveis binárias, inteiras e categóricas) e reais. Na seção 3.2.2 pode-se
observar a característica de cada uma delas, reais, categóricas, binárias ou inteiras. Assim, o
modelo foi programado com a restrição, informando o tipo da variável.

3.2 Fonte dos dados e variáveis de análise

3.2.1 Agricultura familiar

As informações utilizadas para caracterização da agricultura familiar mato-grossense


(quinto capítulo) são provenientes de um banco digital de dados disponível na internet, no site

33
do INCRA8. Este banco de dados é fruto do já mencionado projeto de cooperação entre o
INCRA e a FAO, a partir de micro-dados do Censo Agropecuário de 1995/96. Os valores
monetários apresentados são em Reais de 1995/1996.
A metodologia utilizada, para separar os produtores levantados pelo Censo
Agropecuário em familiares e patronais, foi baseada nas relações sociais de produção.
Agricultura familiar foi definida como a classe de agricultores apresentando as seguintes
características:
9 a administração da propriedade é exercida pelo próprio produtor;
9 a mão-de -obra familiar utilizada na propriedade supera a mão-de-obra contratada;
9 a propriedade deve possuir no máximo 15 módulos fiscais 9.
O primeiro critério é aplicado sem dificuldades, pois é uma questão direta do Censo.
Para classificar os produtores, de acordo com o segund o critério, utilizou-se a
informação proveniente da quantidade de mão-de-obra da própria família, considerando
período integral apenas para maiores de 14 anos, e meio período para os demais. A soma
desta força de trabalho foi denominada Unidades de Trabalho Familiar - UTF. Já a Unidade
de Trabalho Contratada -UTC foi calculada a partir do valor total declarado com mão-de-obra
contratada, que inclui terceirizados, parceiros, empregados fixos e serviços de empreita,
dividido pelo valor do custo médio anual de um empregado no meio rural, que foi obtido a
partir da multiplicação do valor médio da diária em cada Estado (R$ 8,95 em Mato Grosso),
por 260, que é o número de dias úteis no ano de levantamento dos dados.
Por fim, a área máxima para um produtor ser denominado familiar é de 15 módulos
fiscais 10 . Embora o tamanho dos módulos fiscais variem entre os municípios, os

8
Disponível em: http://200.252.80.30/sade/
9
Módulo Fiscal é uma unidade de medida expressa em hectares, fixada para cada município brasileiro,
considerando os seguintes fatores: (a) tipo de exploração predominante no município; (b) renda obtida com a
exploração predominante; (c) outras explorações existentes no município que, embora não predominantes, sejam
significativas em função da renda ou da área utilizada; (d) conceito de propriedade familiar. O módulo fiscal
serve de parâmetro para classificação do im óvel rural quanto ao tamanho, na forma da Lei nº 8.629, de 25 de
fevereiro de 1993. A pequena propriedade deve ter o tamanho do imóvel compreendido entre 1 e 4 módulos
fiscais, a média propriedade tem área do imóvel maior que 4 e menor que 15 módulos fiscais. As grandes
propriedades são as com tamanho superior a 15 módulos fiscais. Esta classificação do INCRA serve ainda para
definir os beneficiários do PRONAF (pequenos agricultores de economia familiar, proprietários, meeiros,
posseiros, parceiros ou arrendatários de até quatro módulos fiscais). Em Mato Grosso, no ano de 2005 os
módulos fiscais variaram entre 30 e 100 hectares, sendo que dos 141 municípios em apenas um o módulo fiscal
foi de 30 hectares, para outros 22 o tamanho do módulo fiscal de 60 hectares, para dois municípios foram de 70
ha, para outros 56 o módulo fiscal foi de 80 ha, para 20 foi de 90 ha e para outros 40 municípios um módulo
fiscal correspondia a 100 hectares.
10
A área máxima regional foi obtida conforme as áreas dos módulos fiscais municipais, segundo a tabela do
INCRA. Calculou-se a área de um módulo médio ponderado, segundo o número de municípios em que incide
cada área de módulo fiscal municipal, para cada unidade da federação. Então, utilizou-se este “módulo médio
ponderado estadual” para calcular um módulo médio para cada região do país. O “módulo médio regional”, este
foi multiplicado por 15 para determinação da área máxima regional. O tamanho da área máxima para a

34
coordenadores do estudo optaram por realizar uma média ponderada dos municípios
pertencentes a cada uma das regiões brasileiras. A área correspondente aos 15 módulos fiscais
no Centro-Oeste é de 769,5 hectares, e este é o limite de área para o produtor mato-grossense
atender ao terceiro critério e ser classificado como produtor familiar.
Outra informação relevante utilizada na caracterização da agricultura familiar é o Valor
Bruto da Produção. Há também uma classificação utilizada para analisar o grau de integração
ao mercado dos estabelecimentos familiares, medido de acordo com o percentual do valor da
produção que é vendida sobre Valor Bruto da Produção. Sob esta ótica os estabelecimentos
são classificados em “Muito Integrado” com grau de integração igual ou superior a 90%,
“Integrado”, com grau de integração menor que 90% e igual ou superior a 50%, “Pouco
Integrado”, com grau de integração inferior a 50%, e “Grau de Integração não Identificado”,
aqueles estabelecimentos que não podem ser classificados por não terem Valor Bruto da
Produção - VBP positivo.
Uma classificação distinta é quanto à diversificação ou especialização produtiva. O grau
de especialização é definido a partir do percentual do valor da produção do produto principal
do estabelecimento dividido pelo seu VBP. Assim, são classificados como “Muito
Especializados” os produtores familiares com grau de especialização de 100%; a categoria
“Especializados” é ocupada pelos produtores que têm grau de especialização inferior a 100%
e igual ou superior a 65%. Os “Diversificados” são os que têm grau de especialização inferior
a 65% e igual ou superior a 35%. Os “Muito Diversificados” são aqueles com grau de
especialização inferior a 35%, e, por fim, outros produtores são classificados como “Grau de
Especialização Não Identificado”, onde se incluem os produtores que não podem ser
classificados, por não terem VBP positivo.
Uma terceira e importante classificação é quanto à tipologia dos agricultores familiares.
Essa separação é realizada após a verificação dos distintos graus de desenvolvimento
socioeconômico, dentro do próprio segmento da agricultura familiar.
Para elaborar esta tipologia faz-se uso da diária média estadual, também empregada no
cálculo da UTC para poder comparar a renda auferida pelo produtor com o custo de
oportunidade da mão-de-obra familiar. Esta diária média estadual é acrescida de 20%,
multiplicada pelo número de dias úteis no ano, esta passando a ser denominada Valor do
Custo de Oportunidade – VCO. Desta forma, são definidos os agricultores familiares:
9 Tipo A, aqueles com renda total superior a três vezes o valor do VCO;

agricultura familiar,ou a média dos 15 módulos fiscais, para as 5 grandes regiões brasileiras foram de 1.122
hectares no Norte, 694,5 no Nordeste, 384 no Sudeste, 280,5 no Sul e 769,5 no Centro-Oeste.

35
9 Tipo B, aqueles com renda total superior a uma vez até três vezes o VCO;
9 Tipo C, aqueles com renda total superior a metade até uma vez o VCO;
9 Tipo D, aqueles com renda total igual ou inferior a metade do VCO.

3.2.2 Assentamentos rurais

Os dados sobre assentamentos rurais são secundários, extraídos do Censo da Reforma


Agrária de 2002 (SPAROVEK, 2002). Trata-se de um banco de dados que reúne informações
de todos os projetos de assentamentos rurais do Brasil.
O Censo da Reforma Agrária de 2002 oferece informações dos 332 projetos de
assentamentos com criações datadas desde o ano de 1981 até o ano de 2002, localizados em
98 diferentes municípios do estado de Mato Grosso. Em geral, eles estão bem distribuídos
pelo Estado, representados pelos pontos brancos na Figura 11, abaixo:

Figura 11 – Mato Grosso: distribuição dos 332 projetos de assentamento criados entre 1981 e
2002.
Fonte: Adaptado de Sparovek (2003).

N o Censo da Reforma Agrária de 2002, os questionários aplicados nos assentamentos


visitados perfizeram 178 questões formuladas e trabalhadas. Contudo, foram utilizadas nesta
pesquisa 59 questões, conforme os objetivos esperados. Os questionários foram aplicados, em
cada assentamento, para no mínimo três agentes diferentes: 1) o representante do INCRA,

36
responsável por aquele projeto; 2) um beneficiário; e 3) os presidentes das associações
existentes no projeto.
Em alguns casos, foram notadas respostas muito discrepantes entre os entrevistados, e,
por este motivo dos 332 Projetos de Assentamento levantados no Censo da Reforma Agrária
de 2002 em Mato Grosso, 136 foram excluídos. Aos 196 restantes foi aplicado ainda um corte
temporal, visando avaliar a eficiência de assentamentos criados no governo Fernando
Henrique Cardoso, que não apresentavam a finalidade de colonização e vivenciam condições
mais homogêneas de apoio político/institucional. Desta forma, restaram 168 assentamentos,
criados entre 1994 e 2002, aos quais o modelo foi aplicado11 .
Enfim, o estudo da eficiência contempla o número de 168 assentamentos localizados em
72 municípios do Estado, após adotar os critérios de avaliação da consistência e confiança dos
dados, além do corte temporal mencionado acima.
Sendo o objetivo deste trabalho a avaliação da eficiência dos Projetos de Assentamentos
Rurais de Mato Grosso, as variáveis abaixo descr itas foram selecionadas de acordo com a
revisão bibliográfica dos determinantes da eficiência, apresentada no segundo capítulo.
A renda média das famílias de cada projeto de assentamento foi utilizada no estudo
como output, já todos os fatores constantes no questionário aplicado e que acredita-se tenham
influência na eficiência dos assentamentos rurais foram utilizados como inputs, pois
influenciar na determinação da renda.
As variáveis utilizadas para responder ao problema deste trabalho foram:
1. Renda: renda média mensal familiar dos assentados em valores correntes de Reais
para o ano de 2002. Sendo esta a renda total, incluindo venda d a produção,
remuneração de trabalhos externos ao lote e benefícios sociais.
2. Ano de criação: ano em que o projeto de assentamento foi criado pelo INCRA.
3. Crédito para material de construção: variável binária (Sim o u Não) que indica se
esta modalidade de crédito foi parcialmente ou totalmente concedido aos assentad os.
4. Títulos de posse: variável binária (Sim ou Não) que aponta se o título definitivo de
posse foi concedido a no mínimo 50% dos assentados daquele projeto.
5. Projeto consolidado: variável binária (Sim ou Não) que indica se aquele projeto de
assentamento já foi consolidado.
6. Auxílio educação
: variável que indica quantas parcerias o projeto tem para a área da
11
Esta redução da amostra estudada favorece a aplicação da técnica DEA pela maior homogeneidade entre as
DMUs, bem como facilita a programação do modelo pela ferramenta Solver do Microsoft® Excel, que permite
no máximo trabalhar com 200 restrições no modelo.

37
educação. Estas podem ser por parte do governo estadual, municipal, INCRA ou de
alguma Organização Não Governamental - ONG ou sociedade civil.
7. Auxílio Saúde: variável semelhante a anterior, que indica quantas parcerias o projeto
teve para a área da saúde.
8. Auxílio produção e comercialização: indica quantas parcerias o projeto teve, seja por
parte do governo estad ual, municipal, INCRA ou ONGs, para produzir ou
comercializar a produção dos assentados.
9. Auxílio para lazer e religião: quarta e última variável que indica quantas parcerias o
projeto recebeu para lazer ou religião, dentr o do PA.
10. Tempo de acesso: tempo de deslocamento do projeto à sede do Município mais
próximo, em decimais de hora.
11. Forma de acesso: trata-se de uma variável qualitativa que representa a forma de
acesso do assentamento à sede de município mais próxima. São 11 categorias de
resposta, embora apenas as 7 primeiras foram encontradas nos assentamentos de Mato
Grosso, cada uma delas descrita a seguir: (1) maior parte ou todo o percurso em
estrada asfaltada e menor parte a pé ou a cavalo; (2) menor parte ou nenhum percurso
em estrada asfaltada e maior parte a pé ou a cavalo; (3) maior parte em estrada
asfaltada e menor parte por barco; (4) menor parte ou nenhum percurso em estrada
asfaltada ou de terra e maior parte ou todo por barco; (5) Menor parte ou nenhum
percurso em estrada asfaltada e maior parte ou todo em estrada de terra em más
condições e trafegável apenas parte do ano com extrema dificuldade; (6) menor parte
ou nenhum percurso em estrada asfaltada e maior parte ou todo em estrada de terra em
más condições e trafegável apenas parte do ano; (7) menor parte ou nenhum percurso
em estrada asfaltada e maior parte ou todo em estrada de terra em más condições, mas
trafegável o ano inteiro.
12. Organização da moradia: outra variável qualitativa, com sete categorias de
respostas conforme segu e: (1) barracos, sob lona ou em moradias improvisadas (não
há casas); (2) distrito, vila ou cidade próximas; (3) construções que existiam no imóvel
antes da criação do projeto; (4) originalmente eram na agrovila, mas boa parte dos
moradores migrou para as parcelas; (5) divisão equilibrada de casas nas parcelas e na
agrovila; (6) todas ou a maioria das casas localizadas em agrovila; (7) todas ou a
maioria delas localizada nas parcelas.
13. Água: percentual do número de famílias assentadas no projeto, com abastecimento
regular de água de boa qualidade.

38
14. Sanitários: percentual das famílias assentadas no projeto de assentamento, que
ocupando casas com sanitário interno ou externo ligado à fossa séptica.
15. Energia Elétrica: percentual do número de famílias assentadas no projeto de
assentamento que ocupam casas com acesso ao fornecimento regul ar de energia
elétrica convencional.
16. Tratores: número de tratores existentes no projeto de assentamento.
17. Ensino Fundamental: variável binária (Sim ou Não) que indica se há escolas de
ensino fundamental dentro do assentamento;
18. Associações: número de associações existentes no assentamento. Alguns estudos
mencionados nos capítulos anteriores apontam a organização do assentamento como
variável de importância para o alcance de crédito e parcerias institucionais para o
projeto, influenciando então na renda.
19. Mão-de-obra: média da mão-de-obra utilizada. Estes dados foram fornecidos como
número médio de adultos por família, n úmero médio de jovens entre 14 e 18 anos por
família e número médio de crianças menores de 14 anos por família que se dedicavam
aos serviços agropecuários. Estes dados foram ponderados, sendo o peso “1” atribuído
aos adultos, “0,75” aos jovens e “0,5” às crianças que normalmente freqüentam a
escola em meio período. Tradicionalmente a mão-de-obra empregada num processo
produtivo é insumo mais abundante entre os pequenos produtores, influenciando a
renda.
20. Produção Coletiva: variável binária (Sim ou Não) que indica se existe área destinada
à produção coletiva dentro do projeto.
21. Lote: área média dos lotes, em hectares.
22. Não-subsistência: percentual aproxim ado do número de famílias relativamente ao
total assentado naquele projeto, que não p roduz apenas para subsistência;
23. Renda Complementar: percentual aproximado do número de famílias que têm renda
complementar, gerada dentro ou fora do assentamento com qualquer trabalho agrícola,
seja como diarista, safrista ou empregado;
24. Benefícios: percentual aproximado do número de famílias relativamente ao total
assentado naquele projeto, que tem renda complementar devido à benefícios do
governo (pensões, aposentadorias, bolsa-escola, vale-gás, etc.);
25. PRONAF-A/PROCERA: percentual das famílias assentadas que já receberam o
PRONAF-A ou o antigo PROCERA;
26. PRONAF-C ou D: percentual aproximado do número de famílias, relativamente ao

39
total assentado no projeto, que já receberam o PRONAF-C ou D.
A primeira variável, a renda, é o output. As 25 variáveis restantes são os inputs. Todas
as variáveis inputs selecionadas foram construídas para apresentar ef eito positivo com a
eficiência. No entanto, a combinação das variáveis pode gerar resultados desfavoráveis. Esta
análise deve ser realizada no sétimo capítulo, que irá discutir os resultados da aplicação do
modelo aos dados reais.
Quanto ao tempo de existência do projeto de assentamento, representado pela variável
“ano de criação” espera-s e que assentamentos mais antigos tenham resultados melhores em
termos de eficiência, por já ter ajustado seu processo produtivo. De forma semelhante tem-se
a variável que indica se o projeto é consolidado. Uma vez que o INCRA define como
consolidado assentamentos que não necessitam mais de seu apoio para o desenvolvimento das
atividades, logo se espera maior renda após a consolidação.
As variáveis: crédito para material de construção, sanitários, água, organização da
moradia, energia elétrica e parcerias para saúde, educação, lazer e religião e ensino
fundamental buscam refletir a infra-estrutura social e de moradia, apontadas por alguns
estudos, como importante para a renda dos assentados.
A variável energia elétrica serve tanto como variável social, refletindo a infra-estrutura
de moradia ou ainda como tecnologia no processo prod utivo. O número de tratores existentes
no projeto de assentamento seria uma outra variável tecnológica utilizada na produção que
pode influenciar diretamente na receita final desta produção.
A variável “título posse” seria uma proxy para a variável propriedade da terra,
apontada em alguns estudos já mencionados no capítulo 2, co mo determinante da eficiência.
Entre os efeitos positivos desta variável sobre a eficiência acredita-se que estejam a maior
facilidade em contrair créditos, uma vez que se tem a propriedade para dar em garantia, e ser a
posse definitiva da propriedade estimulante da dedicação a mesma.
A variável “auxílio produção e comercialização” é utilizada como uma proxy para
apoio institucional para infra-estrutura produtiva e de comercialização, que se acredita ser
fundamental para efetivação da produção e alcance de melhores preços para a mesma.
Também espera-se influenciar na renda dos assentados as condições das estradas de acesso,
que facilitam o contato com o mercado e reduzem o papel dos atravessadores, que atuam em
mercados distantes e isolados reduzindo os preços recebidos pelos assentados. Outra variável
que se espera ter a mesma influência das estradas de acesso é o tempo de acesso do projeto a
zona urbana do município.
Como já comprovado em outros estudos, o associativismo permite aos assentados o

40
maior acesso ao crédito e parcerias institucionais para o assentamento, influenciando então na
renda. A produção coletiva foi observada em assentamentos de renda elevada, segundo um
estudo de Bittencourt et al (1998), a ser apresentado no quarto capítulo. Portanto, nos poucos
casos existentes em Mato Grosso, busca-se observar se esta variável é importante para
incrementar a renda dos assentados neste estado.
Basicamente os tradicionais inputs num processo produtivo agrícola, terra, capital e
trabalho, seriam aqui representados por tamanho dos lotes, crédito rural e mão-de-obra. Estes
devem interferir positivamente na eficiência. Acredita-se que as modalidades de crédito rural,
do PRONAF e PROCERA proporcionem melhor infra-estrutura produção, armazenagem e
comercialização, influenciando no valor da produção. Da mesma forma, a mão-de-obra que
naturalmente é o insumo mais abundante entre pequenos produtores deve refletir na renda.
Da variável que indica o percentual de assentados que não produzem para
subsistência, espera-se um indicador de sustentabilidade com a terra recebida. As variáveis
que indicam a dependência de renda complementar exógena ao lote recebido ou de benefícios
sociais deverá mostrar se a mesma tem sido muito importante para a renda do assentado.

3.3 Descrição do modelo implementado

A bibliografia consultada acerca da técnica DEA (RAMANATHAN, 2003; COOPER,


SEIFORD e ZHU, 2004, COOPER, SEIFORD e TONE, 2000 e LINS e ANGULO MEZA,
2000) ressalta que alguns fatores devem ser considerados na seleção das DMUs a serem
estudadas, entre eles:
a) as DMUs devem ser unidades homogêneas, com objetivos similares, e os inputs e
outputs que caracterizam a performance das DMUs devem ser idênticos, exceto em
intensidade e magnitude.
b) o número de DMUs devem ser maior ou igual a cerca de três vezes a soma de inputs
e outputs 12.
Quanto a escolha do modelo, Ramanathan (2003) observa que em aplicações que
envolvem a inflexibilidade de inputs (não totalmente sobre controle) as formulações output
orientado são mais apropriadas. Entretanto, em aplicações onde outputs são decididos por

12
Podem ser utilizados ainda métodos hierárquicos ou modelo de componentes principais para reduzir o número
de variáveis no modelo quando necessário.

41
metas da administração antes que pela extração da melhor performance da DMU, formulações
DEA input orientado são mais apropriadas. Versões multiplicativas são usadas quando inputs
e outputs são enfatizados na aplicação. Já a versão envelope deve ser usada quando as
relações entre as DMUs são enfatizadas. A escolha dos retornos de escala depende de cada
aplicação específica. Quando a performance das DMUs não são normalmente esperadas como
dependente da escala de operação, modelos CRS são apropriados. Nos demais casos o uso de
modelos VRS é a versão do modelo DEA mais apropriada.
Neste trabalho será empregado o método não-paramétrico denominado Análise
Envoltória de Dados (DEA) output-orientado para analisar a eficiência dos assentamentos
rurais mato-grossenses. Esta escolha deve-se ao fato de o s outputs e inputs utilizados não
serem inputs passíveis de serem reduzidos, como determina a lógica do modelo input
orientado. Além disso, nesta versão é desnecessária a especificação das formas funcionais
entre inputs e outputs e dispensa ainda informações sobre preços, inexistentes para a maior
parte dos inputs trabalhados.
Quanto aos retornos de escala, ambos os modelos foram programados, embora apenas
a versão com retornos constantes a escala apresentou resultados lógicos. O modelo com
retornos variáveis conduziu todos os assentamentos para a fronteira eficiente. Tal escolha
também tem respaldo na literatura de DEA, que indica que o modelo VRS somente deve ser
empregado quando é certa uma relação não proporcional entre outputs e inputs.
O modelo DEA multiplicativo CRS output-orientado para a DMUo (assentamento em
avaliação neste problema) foi programado da seguinte forma:
Minimizar Eo = vo ,1 x1,o + v2,o x2 ,o + ...+ v25,o x25,o
Sujeito a μ o y1, o = 1
μo y1,1 ≤ vo ,1x1,1 + v 2 ,o x 2,1 + ... + vo ,25 x 25,1
μ o y1,2 ≤ v o,1 x1,2 + v2, o x2,2 + ... + vo, 25 x25,2
...............................................
y v x v x ... v x
o

1,168
μ > 0,00001
o ,1 1,168
+ 2 ,o 2 ,168 o, 25 25 ,168

v v ...,v 0,00001
1, 2 , 12
>
..., 13, 14 , 17
v v v = binário
v18, v19 , ..., v25, = inteiro

onde y1 é o únic o output do problema , ou seja, a renda, x1 a x 25 são os 25 inputs do modelo, e


μ e υ os pesos ou multiplicadores escolhidos para otimizar a função objetivo. Para os pesos o
subscrito “o” antes da vírgula refere-se ao peso ótimo para a DMU avaliada e o subscrito

42
posterior a vírgula representa as DMUs, onde 1 a 168 inclui a DMUo .Para as variáveis x e y, o
primeiro subscrito representa cada um dos 25 inputs e o único output do modelo, o subscrito
posterior a vírgula remete a DMU ao qual o input ou output pertence.
A primeira restrição trata-se da condição de normalização necessária para tornar o
problema de programação fracional em problema de programação linear. As restrições 2 a
169 indicam que com os pesos escolhidos para solução do problema da DMUo , o valor do
score d e eficiência para todas as DMUs deve permanecer entre 0 e 1. As quatro restrições
seguintes se referem ao pesos e variáveis, indicando, respectivamente, que os multiplicadores
para os outputs e inputs devem ser superiores a zero, ou seja, no mínimo iguais a um
infinitesimal não-Arquimediano, além de restrições para alguns inputs que são variáveis
binárias e inteiras.
O modelo DEA Envelope (dual) CRS também foi programado objetivando encontrar
as DMUs referências. Foram acrescentadas ao problema as folgas para garantir a eficiência de
forte. Os resultados devem ser obtidos com a solução do seguinte problema de programação
linear, em dois estágios, para cada uma das DMUs da amostra:

φ + ε (∑ i=1 s −i + s +r )
25
Maximizar:
Sujeito a y1,1λ1 + y1, 2 λ2 +... + y1,168 λ168 = y1, oφ + s +r
x1,1 λ1 + x1, 2 λ2 + ... + x1,168 λ168 = x1, oφ − s1−
x 2 ,1λ 1 + x 2 , 2λ 2 + ... + x 2 ,168λ168 = x 2 ,oφ − s −2
................................
x 12,1λ1 + x 12, 2 λ 2 + ... + x 12,168 λ168 = x12,o φ − s 12−
λ1 , λ 2 ,..., λ168 ≥ 0

onde os subscritos foram empregados no mesmo sentido do problema anterior, com si−

indicando as fo = 1, 2, ..., 25, e s+r


lgas do input ia folga no output r, a renda.
Todos os problemas de programação linear na forma primal e nos dois estágios da
forma dual com folgas foram resolvidos usando a ferramenta “Solver” do Microsoft® Excel.
Após seleção de DMUs e variáveis, entre as informações disponíve is e críveis do
Censo da Reforma Agrária de 2002, as mesmas foram tabuladas e o modelo foi programado
com auxílio da ferramenta Visual Basic for Applications - VBA do Microsoft® Excel que
pe rmite programar os problemas para que sejam solucionados automaticamente, dispensando
a programação manual de cada um dos problemas. As mesmas se encontram disponíveis nos
anexos C e D.

43
A seguir apresenta-se uma descrição histórica da reforma agrária e da propriedade da
terra no Brasil, visando apresentar ao leitor como ocorreu tal processo, favorecendo a
compreensão da situação atual dos projetos de assentamento.

44
4 REFORMA AGRÁRIA NO BRASIL

Para uma boa compreensão da realidade em que vivem os assentados rurais e a


agricultura familiar é fundamental conhecer a história da reforma agrária no Brasil. Neste
capítulo se fará o resgate desta história, em nível do Brasil. Já em nível de Mato Grosso o
estudo será realizado no sexto capítulo.
Esta análise tem por objetivo apresentar ao leitor os primórdios da propriedade da terra
e o processo de exclusão social dos pequenos agricultores ao longo da nossa história até os
dias atuais, onde os governos mais recentes apresentam realizações importantes em favor dos
excluídos do campo, comparativamente ao realizado até então, embora ainda muito modestas
diante da extensão do problema.

4.1 Origens da propriedade da terra no Brasil

Antes da chegada dos portugueses ao Brasil imperava a ausência de propriedade


privada entre os nativos. Com sua chegada, foram feitos os primeiros contatos, no início de
forma pacífica, pelo escambo. Mas algumas décadas mais tarde, o escambo foi se tornando
cada vez mais escasso, e, visando atender as necessidades da metrópole logo optou-se por
outra forma de exploração não mais respeitando a posse da terra e escravizando o nativo, para
torná-lo a principal força de trabalho da colônia.
Nos primeiros anos das donatarias, os métodos de conquista e colonização
coexistiram, mas o predomínio do método da força consolidou-se após 1548. A partir de
então, a colonização se tornou mais violenta e penetrou o sertão. Nesta empreitada, boa parte
da população nativa foi dizimada, além dos muitos que morreram no cativeiro, por submeter-
se a uma realidade tão diversa da qual viviam. No alvará de 1º de Abril de 1680 foi

45
reconhecido, pela primeira vez, o direito ao nativo à propriedade da terra ocupada por ele.
Entretanto, este alvará não teve nenhum efeito prático e, somente em quatro de abril de 1755,
o Marquês de Pombal revitalizou este direito, determinando que o mesmo se cumprisse
imediatamente, rompendo sem volta com a escravidão do nativo. Desta forma, pode-se dizer
que, por volta do final do século XVII ao final do século seguinte, surgiram as formas pré-
históricas da propriedade territorial no Brasil (GUIMARÃES, 1967).
Os portugueses adotaram no Brasil o sistema de monopólio da terra. Toda a extensão
do território brasileiro pertencia à Coroa Portuguesa, que cedia para uso aos fidalgos
portugueses que aqui vieram, para que se implantasse o modelo agroexportador. Apesar do
direito hereditário das capitanias, era proibido vender as terras, o que demarcava bem o fato
delas não serem propriedade privada de seus usuários.
Entre 1500 e 1822 o Brasil foi essencialmente agrícola e monocultor, com a força de
trabalho essencialmente escrava e a produção destinada a exportação.
Entre 1822 e 1850 homens livres podiam ocupar terras devolutas, mas isto não alterou
a estrutura agrária. Quando em 1850 foi promulgada a Lei Nº 601 do Império (Lei de Terras),
esta veio a favorecer a grande propriedade rural voltada à exportação. A lei determinava que
as terras poderiam somente ser adquiridas através da compra e venda, e os preços eram
elevados (SILVA, 1996 apud RANIERI, 2003).
Segundo Stedile (2005) esta lei foi proclamada para impedir que os escravos, após
libertos, não se apoderassem das mesmas. Com isto se deu o nascimento oficial do latifúndio
no Brasil.
Para Guimarães (1967), o fato de o direito da propriedade da terra do nativo nunca ter
sido respeitada implica que as origens do latifúndio brasileiro estão calcadas na ilegitimidade.
Para o autor, as propriedades latifundiárias são aquelas que são extensas demais para serem
cultivadas pelo trabalho familiar ou assalariadas, bem como as necessidades de recursos para
explorá-las extrapolam a capacidade financeira de seus proprietários e, por isso, grandes
parcelas destas são deixadas improdutivas e outras são arrendadas.
Para Guimarães (1967) e Pinto (1996), é surpreendente que apesar dos golpes sofridos
pelo latifúndio por quatro séculos, entre eles a extinção do instituto sesmeeiro,
reconhecimento da posse da terra ao nativo, extinção do trabalho escravo, expansão e
consolidação da agricultura de pequeno porte que passou a disputar com os latifúndios a mão-
de-obra livre, o desenvolvimento do capitalismo, exigindo novas técnicas de organização,
entre outras, o mesmo perdeu força, mas em pleno século XXI, ainda resiste e tem poder para
controlar a economia agrária brasileira.

46
Muitas são as provas deste controle do latifúndio sobre a política agrícola e agrária,
entre elas o domínio sobre a ampla e subsidiada política de crédito rural, sobre a pesquisa
agrícola pública, além das diversas crises de superprodução das monoculturas dos latifúndios,
o que se deu devido aos auxílios às “grande lavoura”, enquanto o pequeno agricultor seguia
excluído dos benefícios da política agrícola.

4.2 Latifúndios e reforma agrária: a história no século XX

Desde a proclamação da república, em 1889, até o ano de 1930 a economia brasileira


foi dominada pelas oligarquias cafeeiras, com grande acesso de mão-de-obra de imigrantes
europeus. Também neste período houve aumentos do número de propriedades e de
proprietários, mas não alterou sensivelmente a estrutura agrária do país (RANIERI, 2003).
O modelo agro-exportador se baseava especialmente na produção de café nas
primeiras décadas do século XX, mas a crise de superprodução nos anos 30 levou à perda de
poder dos latifundiários, e a nascente burguesia industrial tomou o poder das oligarquias
rurais e determinou um novo modelo econômico ao país. Este, liderado pelo governo Getúlio
Vargas entre 1930 e 1945, foi caracterizado pela subordinação da agricultura a indústria, nesta
nova fase do desenvolvimento do país, com o setor agrícola tendo papéis a cumprir para o
desenvolvimento do setor industrial nacional (STEDILE, 2005).
Entre outros, os papéis do setor rural da economia para com o setor urbano era de
fornecer mão-de-obra barata pelo êxodo rural, e assim pressionar os salários do setor urbano-
industrial para baixo, e fornecer alimentos e matérias-primas a preços baixos e de forma
abundante, para não se tornar gargalo ao desenvolvimento industrial (JOHNSTON e
MELLOR, 1961).
Romeiro (1994) explica que o objetivo da reforma agrária não é bloquear o êxodo
rural, mas freá-lo para que acompanhe as oportunidades de emprego urbano-industrial. Isso é
possível, pois o setor agrícola é o único que permite variar com certa flexibilidade a geração
de empregos por unidade de capital investido sem queda na produtividade e na qualidade do
produto por meio do uso intensivo da terra.
As primeiras preocupações com a reforma da estrutura agrária do país surgem na
década de 1950, mas os debates acerca da reforma agrária se intensificam no início da década
de 1960. No ano de 1962 foi criada uma Superintendência de Política Agrária - SUPRA para

47
organizar, planejar e promover a reforma agrária. Em 1963 criou-se o Estatuto do Trabalhador
Rural e nos primeiros meses do ano de 1964 o governo civil ainda tentou impor a
desapropriação de terras e propor mudanças na constituição para permitir a reforma agrária.
Mas em 31 de março ocorre o golpe de Estado (GUANZIROLI et al, 2001 e GOMES DA
SILVA, 1971). Neste mesmo ano o debate se intensificava e os países latino-americanos se
comprometeram a realizar reforma agrária, compromisso firmado na Carta de Punta del Este.
Assim, o governo militar teve de manter a reforma agrária entre suas prioridades. No mesmo
ano uma emenda constitucional veio a permitir a desapropriação de terras e foi sancionada a
Lei 4.504, que dispunha sobre o Estatuto da Terra. Também foram criados o Instituto
Brasileiro de Reforma Agrária – IBRA e o Instituto Nacional de Desenvolvimento Agrário –
INDA (GOMES DA SILVA, 1971).
A Lei nº. 4.504, que criou o Estatuto da Terra, definia a reforma agrária como:

(...) um processo de transformação da estrutura agrária brasileira, por meio da


desapropriação de latifúndios improdutivos e/ou aquisição de terras produtivas e sua
redistribuição às famílias trabalhadoras que dispõe de pouca ou nenhuma terra, para
torná-la produtiva e cumprir sua função social (GUANZIROLI et al, 2001, p.187).
Em outras palavras, o Estatuto da Terra colocava a reforma agrária como um
problema prioritário devido a sua dimensão político social.
Nos anos 70 foram criados o INCRA e diversos programas especiais de
desenvolvimento regional como o Programa de Integração Nacional – PIN, o Programa de
Redistribuição de Terras e de Estímulo à Agroindústria do Norte e Nordeste – PROTERRA,
o Programa Especial para o Vale do São Francisco – PROVALE, o Programa de Pólos
Agropecuários e Agrominerais da Amazônia – POLAMAZÔNIA, o Programa Integrado de
Desenvolvimento do Noroeste do Brasil – POLONOROESTE, o Programa de Cooperação
Nipo-Brasileira para o Desenvolvimento dos Cerrado – PRODECER e o Programa de
Desenvolvimento de Áreas Integradas do Nordeste – POLONORDESTE. Entre 1979 e 1984
a ênfase do governo foi concentrada na titulação de terras, com a emissão de 836 mil
documentos, correspondentes a uma área de 50,5 milhões de hectares (INCRA, 2000).
Apesar das muitas ações planejadas, quase nada foi efetivado no período militar,
compreendido entre 1964 e 1985, motivo também decorrente do momento histórico pelo qual
o país passava, o “milagre brasileiro”, no qual as taxas de crescimento urbano-industrial eram
elevadas e o projeto de reforma agrária era relegado a segundo plano. Neste contexto, os
pensadores da política agrícola e agrária dos anos 70 e 80 optaram por uma transformação
pela grande propriedade, que atenderia com satisfação as demandas por alimentos e matéria-
prima e dispensaria as necessidades de reforma agrária. Desta forma, muitos desvios nos

48
objetivos do Estatuto da Terra aliados à falta de sustentação política por parte dos
governantes impediram um processo efetivo de reforma agrária naqueles tempos.
Os desvios de objetivo começaram com a nomeação da primeira diretoria do recém
criado IBRA, que também se desviou dos objetivos ao partir para um levantamento de
informações ao invés de assentar famílias. Em 1968 surgiram muitas denúncias de corrupção
no órgão que foi extinto em 1970 sem ações concretas significantes. O INCRA estava
subordinando ao Ministério da Agricultura, que tinha tradição patronal. Ao completar 15
anos do Estatuto da Terra, em 1979, haviam sido beneficiadas menos de 50.000 famílias em
projetos de colonização e assentamentos; o Índice de Gini13 para a distribuição de terras
havia aumentado; as pequenas propriedades pagavam mais Imposto Territorial Rural - ITR
que as grandes propriedades. Em 1980 criou-se um Ministério de Assuntos Fundiários e
órgão auxiliares, deixando o INCRA marginalizado, mas alguns anos mais tardes estes
órgãos (com resultados insignificantes) foram extintos (PINTO, 1996).
Nos anos 80, como conseqüência do processo de redemocratização do país, a pressão
social se intensificou. Surgiram os primeiros movimentos de trabalhadores sem terra,
formalizado em 1985, sendo um forte grupo de pressão em favor da reforma agrária. No
entanto, novamente as promessas continuaram a não ser cumpridas.
Em 1985 teve fim a era dos governos militares e o início do governo José Sarney que
criou o Ministério da Reforma e do Desenvolvimento Agrário - MIRAD, ao qual o INCRA
foi subordinado. Neste governo o INCRA elaborou o Plano Nacional de Reforma Agrária –
PNRA, que previa assentar 1.400.000 famílias ao longo de sua gestão (1985/1989), mas
diante de muitas pressões contrárias foram assentadas neste governo apenas 89.950 famílias
(RANIERI, 2003, INCRA, 2000).
Também neste governo o INCRA foi extinto (1987) e restabelecido (1989), e foi
elaborada a Constituição de 1988, que em seu terceiro capítulo (Política Agrícola e Fundiária
e da Reforma Agrária) tratava da desapropriação de terras.
Os governos seguintes, de Fernando Collor de Melo e Itamar Franco, também
apresentam propostas para a realização da reforma, das quais pequenas parcelas do objetivo
declarado se concretizaram.
O governo Fernando Collor de Melo (1990/1992) extinguiu o MIRAD, e declarou
como meta assentar 500.000 famílias. Ao final, em 1992, tinham sido assentadas apenas
38.425 famílias (INCRA, 2000).

13
O Índice de Gini varia entre zero e um, quanto mais próximo de “um” maior é a concentração de terras, e
quanto mais próximo de “zero” mais desconcentrada esta sua distribuição.

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No período governado por Itamar Franco (1992/1994) foram assentadas apenas
21.763 famílias. No ano de 1993 foi promulgada a Lei 8.629, que regulamentou questões da
Constituição de 1988 referentes à reforma agrária, permitindo ao INCRA reiniciar a alocação
de terras para novos assentamentos (INCRA, 2000).
Somente após 1994 o programa de reforma agrária tornou a ganhar força. Além da
forte pressão social aconteceram violentos confrontos por terra, acontecidos em Corumbiara,
Rondônia, em agosto de 1995, e em Eldorado dos Carajás, Pará, em abril de 1996.
Outra questão em favor da reforma agrária foram os avanços teóricos, entre eles a
nova posição do Banco Mundial que passou a questionar a idéia da existência de economias
de escala gerais na agricultura, e a perceber que a redistribuição de renda não seria um
empecilho ao crescimento econômico e ao processo de modernização agrícola
(GUANZIROLI et al, 2001). Enfim, abriu-se espaço para a reforma agrária. Para estes
autores:

[...] a reforma agrária contínua sendo um instrumento legítimo para dar acesso aos
trabalhadores a um bem essencial de produção, que é a terra, e com base nesta
permitir o acesso a outros meios necessários, desde a infra-estrutura básica até os
requerimentos mais essenciais para uma condição digna de vida, ou seja, as
condições para as famílias assentadas exercerem a cidadania (GUANZIROLI et al,
2001, p. 189).
Diante destes fatos, o governo Fernando Henrique Cardoso (1994/1998) estipulou
uma meta elevada de assentamentos, 280 mil famílias, e pela primeira vez a meta não apenas
foi cumprida, mas superada em cerca de oito mil famílias. Também se criou um novo
ministério, o MDA, sob o qual reuniu as políticas de reforma agrária e do recém criando
PRONAF, com o intuito de apoiar os assentados e mesmo os agricultores familiares para se
tornarem competitivos no mercado e assim se tornarem mais independentes do apoio
governamental. Estas ações fizeram parte do que se denominou Novo Mundo Rural, que
tinha por objetivo auxiliar o pequeno produtor rural a se desenvolver social e
economicamente, reconhecendo que sem crédito e infra-estrutura básica isto seria impossível
(INCRA, 2000).
No segundo mandato do governo Fernando Henrique Cardoso, o ritmo de
assentamentos continuou elevado, e a superioridade deste governo pode ser comprovada com
a comparação entre o número médio de famílias assentadas por ano, desde os anos 70 do
século passado, como mostra a Figura 12.

50
81.688
74.644
90.000
80.000
70.000
60.000
Nº médio de
50.000
familias
40.000
assentadas/ano 11.870 15.013
30.000
20.000
10.000
-
1970/1984 1985/1994 1995/1999 2003/2005
período

Figura 12 – Número médio de famílias assentadas por ano, Brasil, 1970/2005.


Fonte: INCRA (diversos anos).

O governo de Luiz Inácio Lula da Silva continuou o ritmo acelerado de


assentamentos do governo anterior. Foram assentadas segundo INCRA (2005a e 2005b),
36.301 famílias em 2003, 81.254 em 2004 e 127.511 em 2005.
Diante das poucas ações governamentais, desde a criação do Estatuto da Terra, a
estrutura agrária brasileira permaneceu praticamente inalterada, como será apresentado na
seção seguinte.
Para Albuquerque (1987), organizar as formas de uso da terra ainda é um desafio no
Brasil. O Estatuto da Terra é baseado em teorias utilitaristas e conceitua a função social da
terra. Para atender esta função social, a propriedade rural precisa ter produtividade
satisfatória, conservar os recursos naturais, trazer bem-estar aos seus trabalhadores e
proprietários e respeitar a legislação trabalhista. Caso a propriedade não cumpra sua função
social, deve haver intervenção social, como a reforma agrária.
Pinto (1996) considera que a política de crédito rural, criada em 1965, contribuiu para
aumentar a concentração de terras em grandes propriedades. Além disso, outros problemas
agravaram ainda mais a situação, entre eles problemas de ordem legal no processo de
desapropriação, o viés do sistema judiciário em favor dos proprietários em detrimento de
trabalhadores, a burocracia existente no INCRA e a manipulação de grupos políticos
contrários à política de redistribuição de terras; a descontinuidade de políticas entre
diferentes governos; a não capacitação de trabalhadores assentados e amparo destes com
crédito rural, aos precários ou inexistentes serviços de saúde e educação nos assentamentos.
Também o ITR não cumpriu seu papel, não foi um imposto progressivo como era seu
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objetivo, não desincentivou a alocação ineficiente de terras, teve baixo e decrescente valor
arrecadado e foi sobrecarregado de evasão fiscal e inadimplência, bem maior nas grandes
propriedades.
Além dos efeitos sociais negativos, este apoio ao latifúndio brasileiro representou um
aumento na desigualdade rural. Os países desenvolvidos, onde a agricultura familiar foi o
caminho para fundação de sociedades democráticas e politicamente estáveis, comprovam que
os agricultores familiares são sensíveis aos estímulos de mercado e absorvem tecnologias
modernas, alem de produzir eficientemente e com uso mais intensivo de recursos, bem como
são capazes de suprir a necessidade de alimentos e matéria-prima para o crescimento da
indústria (GUANZIROLI et al, 2001).
Esta concentração comentada acima pode ser comprovada com números apresentados
na Tabela 1. Segundo o INCRA (1997) existiam no cadastro de imóveis rurais do órgão, em
1966, 41 mil imóveis com área igual ou maior que mil hectares. Estes ocupavam uma área
total de 139 milhões de hectares. No ano de 1978, eram 57 mil imóveis com esta dimensão,
ocupando 246 milhões de hectares. Este número diminuiu no ano de 1992, onde os números
do cadastro registravam 43 mil propriedades rurais com dimensão igual ou superior a mil
hectares, ocupando uma área total de 165 milhões hectares.

Tabela 1 – Estrutura agrária, Brasil, 1966/1992


Propriedades 1966 1972 1978 1992
Até 100 hectares 20,4% 16,4% 13,5% 17,9%
Mais de 1.000 hectares 45,1% 48,3% 55,5% 50,0%
Fonte: INCRA, 1997.

Hoffmann e Silva (1999), num estudo baseado nos dados dos censos agropecuários
realizados no Brasil, buscaram estimar o Índice de Gini da distribuição da posse de terra no
país. Observaram que o índice manteve estável entre 1975 e 1995/96, na casa dos 0,85. Esta
relativa estabilidade foi confirmada no mesmo estudo pelo Índice de Atkinson, que é uma
medida de desigualdade particularmente sensível a modificações nos extremos (inferior e
superior) da distribuição. A realidade estadual, no entanto, é muito distinta da média
nacional. Em Mato Grosso os autores encontraram um Índice de Gini da distribuição da
posse da terra de 0,910 em 1985 e 0,871 em 1995/96, já a área média dos estabelecimentos
cresceu de 485,6 para 633,0 hectares, o que leva a conclusão que os estabelecimentos de

52
Mato Grosso estão maiores e menos desiguais. Mas essa ‘mudança’ pode ser devida em boa
parte à não captação de pequenos estabelecimentos de natureza precária.
O INCRA (2001) apresenta números diferentes do Índice de Gini para a concentração
de terras no Brasil, estes calculados sob os dados do Sistema Nacional de Cadastro Rural,
excluindo terras públicas e de terras não recadastradas (decorrentes de grilagens). Para o ano
2000, o índice apontava a região do Centro-Oeste com sensível diferença frente às demais na
concentração de terras. Pode-se observar que em todos os cinco anos em que o índice foi
calculado pelo INCRA, a região Sul sempre apresentou a menor concentração, enquanto a
região Norte sempre teve a terra mais concentrada, exceto no ano 2000. Também no ano
2000, Mato Grosso do Sul, Distrito Federal, Mato Grosso e Bahia apresentavam os maiores
índices, superiores a 0,8. Detalhes podem ser observados na Tabela 2. A menor concentração,
em nível estadual, foi encontrada nos estados de Rondônia e Roraima, com um Índice de
Gini, respectivamente de 0,559 e 0,500.

53
Tabela 2 – Índice de Gini da concentração de terras no Brasil, 1967/2000.
Unidade
Geográfica 1967 1972 1978 1992 1998 2000
Brasil 0,836 0,837 0,854 0,831 0,843 0,802

Norte 0,882 0,889 0,898 0,878 0,871 0,714


RO 0,948 0,903 0,770 0,644 0,644 0,559
AC 0,944 0,955 0,962 0,889 0,872 0,645
AM 0,844 0,857 0,935 0,937 0,929 0,783
RR 0,522 0,568 0,531 0,874 0,796 0,500
PA 0,871 0,883 0,863 0,892 0,889 0,744
AP 0,832 0,873 0,905 0,845 0,780 0,613
TO 0,711

Nordeste 0,809 0,799 0,819 0,792 0,811 0,780


MA 0,784 0,784 0,790 0,748 0,766 0,735
PI 0,775 0,775 0,780 0,751 0,774 0,751
CE 0,740 0,740 0,727 0,694 0,705 0,690
RN 0,792 0,792 0,777 0,747 0,766 0,710
PB 0,784 0,784 0,775 0,761 0,766 0,751
PE 0,787 0,787 0,772 0,765 0,764 0,748
AL 0,795 0,795 0,784 0,79 0,79 0,789
SE 0,799 0,799 0,799 0,795 0,795 0,770
BA 0,776 0,776 0,836 0,806 0,831 0,803

Sudeste 0,763 0,754 0,765 0,749 0,757 0,750


MG 0,769 0,761 0,773 0,754 0,762 0,754
ES 0,569 0,597 0,609 0,629 0,645 0,647
RJ 0,799 0,751 0,761 0,737 0,751 0,742
SP 0,785 0,760 0,769 0,758 0,763 0,754

Sul 0,722 0,706 0,701 0,705 0,712 0,707


PR 0,707 0,704 0,705 0,706 0,715 0,706
SC 0,678 0,642 0,645 0,643 0,649 0,648
RS 0,745 0,729 0,718 0,725 0,73 0,727

Centro-Oeste 0,833 0,842 0,831 0,797 0,798 0,802


MT 0,858 0,867 0,855 0,817 0,811 0,804
MS 0,824
GO 0,761 0,755 0,741 0,721 0,731 0,728
DF 0,857 0,775 0,81 0,788 0,811 0,820
Fonte: INCRA, 2001.

Embora o Índice de Gini, calculado com base nos dados dos censos agropecuários ou
pelos cadastros rurais do INCRA, não sejam diretamente comparáveis, pois entre outras
diferenças estes divergem quanto ao conceito de “estabelecimento agropecuário” IBGE e de

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“imóvel rural” do INCRA, o fato é que ambos demonstram que a concentração de terras no
Brasil continua elevada e praticamente inalterada.
Em resumo, o uso da terra para fins especulativos e como reserva de valor nas
décadas de elevada inflação e crédito subsidiado, o simbólico valor do ITR, além do
completo descaso com o pequeno produtor que levou muitos a venderem suas propriedades,
além das muito escassas ações de reforma agrária ao longo de séculos são as explicações para
esta continuada concentração de terras no país. Por isso, nos últimos anos encontra-se um
ambiente mais favorável ao processo de redistribuição de terras, e espera-se que o processo
de desconcentração seja fortalecido neste novo cenário.
O problema desta concentração não é econômico, uma vez que atualmente temos uma
agricultura produtiva e que cumpre muito bem seu papel de fornecer alimentos e matérias-
primas para o desenvolvimento industrial. Enfim, o problema é social. Se a agricultura
familiar está em situação difícil, piores estão os agricultores de assentamentos rurais, que
chegam à terra descapitalizados e sem apoio governamental.
Caio Prado Júnior, em sua obra intitulada “A Questão Agrária no Brasil” (1979),
ressalta que a estrutura agrária é a responsável pela miséria no campo, e a verdadeira questão
agrária é tratar e corrigir esta miséria, devendo este ser o foco prioritário da política agrária.
Para Guanziroli et al (2001) ocorreu, na década de 60, a última oportunidade do Brasil
realizar a reforma agrária que evitaria este desastre social. Mas, não se fez e até hoje
continuam os mesmos argumentos sendo usados como pretexto para não realização da
reforma agrária.
Mas, para reduzir a miséria no campo é fundamental conciliar desenvolvimento
agrícola com melhores condições de vida. E, em concordância com outros autores, Prado
Júnior observa que não adianta realizar reforma agrária e não dar condições para exploração
aos novos pequenos produtores. Mas, enquanto o grande latifúndio dominar a economia
agrária este apoio não se dará, pelo menos não nas dimensões necessárias, pois, no sistema
capitalista em que vivemos a tendência natural é o aumento da concentração de terras.neste
contexto medidas firmes serão necessárias para reverter este processo.
Sato et al (2004) enfatizam que a democratização do acesso à terra vem se tornando
uma necessidade cada vez maior da sociedade, não apenas na implementação efetiva do
processo de reforma agrária no país, mas na viabilização de um novo modelo de
desenvolvimento rural e agrícola. Elevar a qualidade dos projetos de assentamento significa
colocar à disposição das famílias assentadas os meios indispensáveis para a exploração
econômica da terra.

55
Nos países desenvolvidos, a agricultura familiar provou que, além de responder aos
estímulos do mercado, é capaz de atender às demandas do setor urbano industrial em
expansão e ainda evitar a exclusão social no processo de desenvolvimento. Em cada país, o
setor familiar da agricultura teve características próprias, mas, conferiu um papel decisivo na
definição de um conjunto de políticas agrícolas a serem adotadas. Contudo, é inequívoco que
este apoio não viria se o setor agrícola familiar não fosse capaz de produzir com eficiência do
ponto de vista econômico. Logo, se pode dizer que “a agricultura familiar unia, portanto,
eficiência econômica com eficiência social” (GUANZIROLI et al, 2001, p.20).
Enfim, os fatos já mostraram que a pequena produção é eficiente, pois foi com base
no trabalho familiar rural que se deu a redistribuição de renda, sustentando importantes ciclos
expansionistas desde a década de 40 nos países desenvolvidos.
Nestes países, foi clara a preferência pela agricultura familiar em detrimento da
agricultura patronal, e foi com esta promoção à agricultura familiar que se deu um
crescimento sustentável socialmente. Ao fazer o marketing das super-safras se esquece que
esta grande produção por si só não implica em distribuição de renda ou melhorias no bem-
estar em geral da população. Além de beneficiar a elite rural em detrimento da massa
camponesa, deve-se acrescer ao custo ecológico da monocultura um custo social (TEÓFILO
FILHO, 1994).

4.3 A realidade dos assentamentos rurais

No ano de 1991, o então Ministério da Agricultura e da Reforma Agrária -MARA14 ,


FAO e o Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento - PNUD assinaram o projeto
“Principais Indicadores Socioeconômicos dos Assentamentos de Reforma Agrária, que
buscava levantar a situação socioeconômica dos beneficiários de reforma agrária, assentados
entre 1985 e 1989, descobrir qual os principais determinantes do processo de geração de renda
dos assentados e entraves ao progresso dos projetos de assentamentos.
Dentre as conclusões do trabalho, apresentadas por Guanziroli (1994), a renda média
mensal da família do beneficiário era de 3,70 salários mínimos, incluindo nesta o

14
No Governo Fernando Henrique Cardoso este ministério passou a ser denominado Ministério da Agricultura,
Pecuária e Abastecimento – MAPA, e foi criado o Ministério do Desenvolvimento Agrário – MDA, para tratar
de questões exclusivas da reforma agrária e do PRONAF. .

56
autoconsumo, o que surpreende por ser superior a renda das famílias de classe baixa da zona
urbana. Embora elevada, a média nacional é muito variável, e como sempre mascara a
realidade. Foram encontrados assentamentos no Ceará onde as famílias sobreviviam com
menos de um salário mínimo ao mês e outras com mais de 12 salários mínimos/mês em um
Projeto de Assentamento próximo a área metropolitana de Porto Alegre 15. Observou-se,
ainda, que os assentados gastavam 15% de sua renda com custos de produção, bastante baixa
em relação à agricultura patronal, mas em boa parte devido a não inclusão da mão-de-obra
familiar nos custos. Observando a renda por atividade nos assentamentos brasileiros
descobriu-se que uma das estratégias de sobrevivência dos assentados é a combinação de
diversas fontes de renda, e quando estes se consolidavam em suas atividades, tendiam a
abandonar serviços exógenos à propriedade.
A pesquisa observou, ainda, que os assentados do Sul eram mais voltados para o
comércio, tendo maior parcela da renda obtida por produção agrícola e animal e redução
proporcional da renda obtida por outros trabalhos. O inverso ocorria nos assentamentos mais
pobres, o que indicava que quanto maior a integração ao mercado, menor a necessidade de a
família se relacionar com o mercado de trabalho externo à propriedade. Em geral, após o
assentamento, as famílias em sua grande maioria experimentaram uma melhora significativa
de vida (em termos de superação da pobreza rural – desemprego e mortalidade infantil),
devido ao desemprego ou sub-emprego em que viviam antes (GUANZIROLI, 1994).
Quanto à tecnologia e crédito, 40% dos assentados declararam ter recebido alguma
forma de assistência técnica, e 66% tiveram acesso a algum tipo de crédito, seja para moradia,
investimento ou produção. 23% declararam ter utilizado algum tipo de mecanização, mas
apenas 4,13% fizeram irrigação em sua propriedade.
Constatou-se, ainda, que o nível tecnológico foi maior no Sul e Sudeste e menor no
Norte e Nordeste. Entretanto, o uso da irrigação foi baixo em todas as regiões. Foi detectada
relativa inexperiência no manejo financeiro do crédito e nas decisões de plantio. A
produtividade por hectare plantado de alguns produtos analisados (milho, feijão, mandioca,
arroz) foi inferior às médias nacionais e regionais para a agricultura como um todo. Este
desnível de produtividade revelou o atraso tecnológico dos assentamentos.
Procurou-se, também, observar as desistências e abandonos, pois se trata de uma das
criticas mais importantes feitas à política de assentamentos de rurais. O percentual médio de
desistências observado foi de 22% em relação ao número original dos assentados. Diante do

15
As médias regionais também são discrepantes, na região Norte a renda média mensal da família assentada
alcançou 4,18, no Nordeste 2,33, no Centro-Oeste 3,85, no Sudeste 4,13 e no Sul 5,62.

57
observado, acredita-se que incentivos à comercialização, para que os assentados possam
necessitar menos de intermediários e ganhar mais sobre sua produção evitaria parte desta
desistência. Além desta causa, o extremo isolamento também foi causa de empobrecimento
dos agricultores assentados, levando estes a abandonar a atividade na terra (GUANZIROLI,
1994).
Outra importante fonte de informações sobre os assentamentos foi realizada entre
1996/97, denominada I Censo da Reforma Agrária (SCHIMIDT, MARINHO e ROSA, 1998).
Este foi uma contagem simples do beneficiário da reforma agrária em projetos de
assentamento do INCRA (levantaram-se 1425 projetos de assentamento criados entre 1964 e
1996, com 159.778 famílias) e uma pesquisa amostral (com 8.711 famílias de beneficiários),
realizada em conjunto buscando levantar informações socioeconômicas dos assentados. Os
resultados estão expostos nos próximos parágrafos.
Tal estudo constatou que 70,91% dos assentados residiam nas parcelas ou em vilas
fundadas dentro do projeto. A atividade mais freqüente dos beneficiários antes do
assentamento era a de “pequenos produtores rurais”, estes representando 78,72% do total de
assentados no Brasil. Quanto ao PROCERA Custeio e Investimento, respectivamente 15,9% e
18,8% dos assentados nunca os tomaram em empréstimos. O número de assentados ligados a
entidades coletivas foram as seguintes para o Brasil: 52,85% freqüentavam associações;
7,65% freqüentavam cooperativas; 27,96% freqüentavam sindicatos. No Centro-Oeste o
número de assentados ligados a associações era de 69%.
Cerca de 31,9% dos assentados residiam em casas de madeira, 28,2% em casas de
taipa, 22,99% em casas de alvenaria. No Centro-Oeste, Sul e Norte predominavam as casas de
madeira, 49,17%, 73,46% e 50,89% respectivamente. No Sudeste e Nordeste predominavam
casas de alvenaria e taipa, 65,38% e 45,35%, respectivamente. O estado de conservação das
casas foi avaliado como regular por 38,13% dos entrevistados, bom por 28,86% e precário por
24,62%. Quanto à fonte de água consumida pelas famílias assentadas predominava o poço
(46,07%). No entanto, as condições hidrossanitárias eram muito ruins no geral. Apenas
13,05% tinham água encanada, 33,33% tinham fossa séptica e 19,02% tinham banheiros.
Havia muitas desigualdades com relação a água encanada, realidade para 61% dos assentados
do Paraná e para apenas 7,97% dos assentados na região Norte. A energia elétrica também era
serviço muito desigual, 49,9% e 47,9% dos assentados do Sudeste e Sul, respectivamente,
dispunham deste beneficio, enquanto na região Norte apenas 5,46% das famílias assentadas
dispunham de energia elétrica em suas residências. O uso de querosene e óleo diesel era a
fonte de energia predominante no Centro-Oeste.

58
Questões sobre a qualidade dos serviços de saúde e educação foram feitas aos
entrevistados, e predominou uma avaliação negativa.
Assim como na pesquisa realizada em 1992, constatou-se superioridade do Sul e do
Sudeste sobre as demais regiões do país com relação a utilização de insumos e adoção de
práticas modernas para aumentar a produtividade. Como exemplo, 90,2% dos assentados do
Paraná utilizavam mudas ou sementes selecionadas. No geral, a prática mais comum entre os
assentados era o “controle de sanidade animal”, realizada por 45,7% dos assentados no Brasil.
Em Mato Grosso, a prática agropecuária mais comum é a utilização de sementes ou mudas
selecionadas 40,5%, e a menos comum é a irrigação 1,62%. Indicadores semelhantes também
foram encontrados entre as duas pesquisas para a irrigação.
A assistência técnica tornou-se mais comum entre 1992 e 1997. Neste último
levantamento constatou-se que 42,9% dos assentados no Brasil nunca tinham recebido. Em
Mato Grosso este percentual foi de 58,47%, ou seja, predominava a ausência de assistência
técnica sobre uma assistência técnica de má qualidade. Os maiores índices de assistência
técnica de boa qualidade foram encontrados em São Paulo e Rio Grande do Sul. O milho era
a produção mais comum entre os assentados, seguido do arroz, feijão, mandioca, banana e
abóbora. No Centro-Oeste se destacava a cana-de-açúcar, o algodão, o café, a farinha de
mandioca e o abacaxi. O destino mais comum dado aos produtos agropecuários dos
assentados eram os atravessadores. No Sul a maioria da produção era destinada às
cooperativas.
Assentados analfabetos representavam 29,52% para o Brasil como um todo, e 18,43%
do total em Mato Grosso. Os campeões do analfabetismo foram os estados do Nordeste com
índices próximos a 50%, e os estados com menor número de assentados analfabetos foram os
do Sul do país, com índice médio de 10% para a região.
Com exceção das regiões Norte e Centro-Oeste a maior parte dos assentados residia no
próprio município onde o projeto foi implantado. Pessoas de outros municípios ou estados não
atingiram 5% nas demais regiões do Brasil. Nas duas regiões acima mencionadas a maioria
dos assentados era vindo de outras regiões ou municípios, 34,81% e 30,18% respectivamente.
Entre os eletrodomésticos existentes nas residências dos assentados a pesquisa
mostrou que o fogão e o rádio eram os mais comuns. No Centro-Oeste 21,68% tinham fogão,
19,27% rádio, 7,23% televisão, 10,95% máquina de costura e 7,01% geladeira. Vale ressaltar
que nos dois primeiros itens a região Centro-Oeste foi a última colocada entre as cinco
grandes regiões brasileiras. Observou-se ainda elevados números de presença de televisão,
fogão e geladeira entre os assentados do Sul e Sudeste.

59
Outros estudos também apontam dificuldades dos assentamentos rurais do Brasil.
Entre estes, Souza Filho et al (2004) avaliaram a eficiência de assentamentos beneficiários do
programa Cédula da Terra, por meio da técnica da fronteira estocástica aplicados a uma
amostra de assentamentos distribuídos em cinco estados do Brasil. Constataram que a
educação tem sido relevante na determinação das rendas das famílias agrícolas e o nível de
educação era muito baixo, com média de 1,88 anos de estudo. Contatou-se, ainda, que grande
parte dos assentados utilizava pequena parte da área disponível e que terra não seria problema
para aumento da produção, apesar de haver grande oportunidade de crescimento da produção
com a área atualmente explorada. As principais variáveis para redução da ineficiência técnica
e alocativa, segundo o estudo são: a assistência técnica mensal, os anos de escolaridade
(capital humano) e o crédito rural. Enfatizam que, para produzir, os beneficiários do Programa
de Cédula da Terra dependem principalmente do uso da mão-de-obra, que é seu insumo de
mais baixo custo. Lembram que o nível tecnológico em assentamentos é baixo, como já
constatado nos estudos anteriormente apresentados. Isso revela e confirma que os produtores
enfrentam severas restrições externas para o uso eficiente dos seus recursos, e que o acesso à
terra, por si só, não é condição suficiente para garantir bons níveis de produção.
O trabalho de Bittencourt et al (1998), resultado de um projeto de cooperação técnica
entre a FAO e o INCRA, realizada em meados de 1998, teve por objetivo identificar os
fatores que têm sido a causa de desenvolvimento ou não desenvolvimento dos assentamentos
de reforma agrária. Para atingir tal objetivo estudaram comparativamente dois grupos
composto por dez assentamentos em cada um, formados por assentamentos escolhidos entre
os mais desenvolvidos e os menos desenvolvidos do país. Contataram entre os fatores que
potencializaram o desempenho do grupo mais desenvolvido o crédito rural, que interfere na
infra-estrutura de moradia, no sistema de produção e na a infra-estrutura produtiva (animais,
máquinas, implementos e instalações). Outro fator muito importante foi o entorno
socioeconômico que permitiu o acesso dos assentados a mercados consumidores,
agroindústrias, facilitando o escoamento da produção e gerando maior renda monetária.
Também a assistência técnica foi importante, melhorando a aplicação do crédito rural e a
implantação de novas tecnologias na produção dos assentamentos. A organização política e as
relações institucionais também se demonstraram decisivas para acessar as instituições
públicas e pressionar por melhores condições de infra-estrutura social, de moradia e acesso ao
crédito.
Entre os fatores que restringiram o desempenho do grupo menos desenvolvido
destacam-se o quadro natural, que implica em condições de relevo, escassez ou excesso de

60
água e fertilidade dos solos. Este fator foi muito importante na implantação de sistemas
produtivos, voltados para o mercado ou não, tornando inviável a produção em alguns locais
ou em alguns lotes destinando a família produzir apenas para subsistência, impedindo ou
dificultando o uso de algumas máquinas ou outras tecnologias e o acesso ao crédito,
obrigando a família a buscar trabalho fora da propriedade para sobreviver. Encontrou-se em
alguns casos no Nordeste total falta de água mesmo para consumo humano e animal. As
condições das estradas de acesso e distância das zonas urbanas também apareceram como
fatores que dificultavam o comércio da produção, o acesso a serviços de saúde e educação.
Também foi observado neste grupo a falta de organização produtiva e política, o que
dificultava as relações com os três níveis de governo, dificuldades de acesso a crédito, menor
poder de agregação de valor a sua produção e menor incidência de produção coletiva, que
contribuia positivamente para a renda dos assentados (BITTENCOURT et al, 1998).
No ano de 2002 foi realizado um segundo Censo da Reforma Agrária (SPAROVEK,
2002), numa parceria entre FAO e INCRA. Quanto às informações levantadas nesta pesquisa
servirão de base para este trabalho e serão descritas com maior detalhe no capítulo 6.
Diante do exposto, percebe-se que a reforma agrária no Brasil ainda é um tema de
grande relevância e repercussão social com grandes desafios, entre eles a necessidade de
iniciativas governamentais para alcançar a sustentabilidade do homem do campo.
Como defendem Dulley e Carvalho (1994), o processo de reforma agrária é muito
mais amplo e complexo do que o acesso à terra. Implica em transformações sociais,
econômicas e nas relações de poder.
Diante dos resultados dos trabalhos de avaliação dos assentamentos rurais
apresentados acima, é possível concluir que os assentados são carentes de políticas de crédito
e assistência técnica, pois as mesmas são fundamentais para melhorar a renda. Contudo,
também é nítido que os assentamentos rurais são muito carentes de infra-estrutura e políticas
nas áreas de educação e saúde. Todo este conjunto levará a capacidade de obter melhores
preços, alcançar melhores mercados, adotar produtos e técnicas que elevam não apenas a
produtividade, mas também o valor alcançado pela produção. Enfim, há urgente necessidade
de refletir, avaliar e repensar as políticas públicas voltadas para a realização da reforma
agrária no país, uma vez que o simples acesso à terra não é suficiente para eliminar a pobreza
rural.

61
5 A AGRICULTURA FAMILIAR EM MATO GROSSO

O capítulo anterior apresentou uma análise histórica do processo de reforma agrária no


Brasil. Neste capítulo e no próximo serão apresentados a situação dos agricultores familiares e
dos assentados rurais no estado de Mato Grosso, respectivamente.
Existe no Brasil uma agricultura heterogênea, que pode ser subdividida em dois
grandes grupos, também amplos e heterogêneos. Trata-se de um setor conhecido como
“agricultura comercial ou patronal”, com produção voltada para as exportações, que coexiste
com um segmento de agricultura de pequeno porte, produzindo basicamente para o mercado
interno, denominada “agricultura familiar”. Esta última categoria inclui famílias com
diferentes níveis de renda, muitas no nível de subsistência e semi-subsistência.
Assim como em outras atividades econômicas, também na agricultura surgiram as
necessidades de reduzir custos e obter ganhos de escala, levando ao aumento da agricultura
patronal ou comercial. Entretanto, a agricultura de pequeno porte, ou familiar não perdeu sua
importância econômica. Segundo Guanziroli e Cardim (2000), no estudo realizado pelo
INCRA em parceria com a FAO existiam no Brasil em 1995/96 4.859.864 estabelecimentos
rurais, ocupando uma área de 353,6 milhões de hectares, dos quais, segundo a metodologia
adotada, 4.139.369 (ou 85,17% do total) eram estabelecimentos familiares, e detinham uma
área correspondente a 30,49% do total ocupado pela agricultura naquele ano. Neste mesmo
ano safra, a agricultura familiar foi responsável por 37,9% do VBP e empregou 13.780.201
pessoas, ou seja, 79,6% do pessoal ocupado na agricultura total do país. A agricultura
familiar, além de ser a maior empregadora do meio rural brasileiro, também foi mais eficiente
no uso do crédito rural, pois produziu mais por unidade de crédito tomado em empréstimo.
A recente ênfase no desenvolvimento sustentável tem chamado a atenção das políticas
públicas para a agricultura familiar, acreditando ser este o principal agente propulsor do
desenvolvimento socioeconômico, principalmente nos pequenos e médios municípios.
O presente capítulo tem por objetivo descrever e analisar a agricultura familiar mato-
grossense, com base nos dados selecionados pelo referido estudo, originários dos micro-dados

62
do Censo Agropecuário de 1995/96 realizado pelo IBGE. Estudos com este perfil não são
encontrados para o estado de Mato Grosso. Em geral têm-se informações médias ou gerais do
Estado ou da região Centro-Oeste. E o que normalmente ocorre na ausência de informações
mais abrangentes é a generalização de casos isolados, podendo conduzir a avaliações erradas
e até desastrosas, não refletindo a realidade que os mesmos se encontram.
Segundo Graziano Neto (1998, p. 153),“ (...) a deficiência no conhecimento de si
próprio é uma das características do subdesenvolvimento. Afinal, informação é poder”.
Também critica o fato de num país continental como o Brasil, com enormes diversidade de
situações produtivas, o uso de informações gerais: “ (...) a média aritmética é a pior medida de
uma distribuição, principalmente quando a variância entre os dados é elevada” (p. 157). Em
concordância com esta crítica pretende-se neste capítulo e no próximo apresentar ao leitor a
realidade dos pequenos produtores rurais mato-grossenses.
A seguir, serão apresentadas as características da agricultura familiar mato-grossense,
no ano safra de 1995/96, baseado em dados do Censo Agropecuário do referente ano,
descritos na seção fonte de dados do terceiro capítulo. A caracterização apresentará dados da
agricultura familiar da região Centro-Oeste e do estado de Mato Grosso, ora se tratando de
dados municipais e outras vezes de dados agregados por microrregião.

5.1 Caracterização da agricultura familiar

5.1.1 A agricultura familiar no Centro-Oeste

A região Centro-Oeste do Brasil é formada pelos estados de Mato Grosso, Mato


Grosso do Sul, Goiás e Distrito Federal. Por ocasião da realização do Censo Agropecuário
1995/96 o Centro-Oeste apresentava em 1995/96 o menor número de agricultores familiares
comparativamente às demais regiões do país. São 66,8% dos estabelecimentos da região, ou
ainda 162.062, e estes ocupam apenas 12,6% da área de agricultura. São apenas 3,9% dos
estabelecimentos agropecuários do Brasil e empregam 4% do pessoal ocupado com a
agricultura familiar no país, ou seja, 551.242 pessoas.
A área média da agricultura familiar no Centro-Oeste era de 84 hectares por
estabelecimento, média muito superior às demais regiões do país e a média nacional que era
de 26 hectares. A renda total dos estabelecimentos no Centro-Oeste só era inferior a do Sul do
país, sendo a renda média por estabelecimento de R$ 3.043,00 por ano. Também nesta região
os agricultores familiares produziram em média R$ 48,00 por hectare, enquanto os patronais

63
obtiveram uma renda média de R$ 25,00 por hectare. Vale ressaltar que a renda total por
hectare para a agricultura familiar no Centro-Oeste era a mais baixa do país, ficando muito
abaixo da média nacional que era de R$ 104,00.
Nesta região encontrava-se a maior quantidade de produtores familiares proprietários,
89,8% dos estabelecimentos. Porém, há dentro da agricultura familiar muita desigualdade. No
Centro-Oeste, 8,7% dos estabelecimentos tinham menos de 5 hectares, e detinham 0,3% da
área da agricultura familiar na região. Por sua vez, 24,6% dos estabelecimentos estavam entre
100 e 769,5 hectares e detinham 70,6% da referida área.
Sabendo que a agricultura familiar é a principal geradora de emprego no meio rural
brasileiro, na região Centro-Oeste só empregou 54% dos trabalhadores rurais, o que
representava apenas 4% da mão-de-obra empregada na agricultura familiar do Brasil em
1995/96. Os agricultores familiares do Centro-Oeste apresentavam necessidade de maior
quantidade de área, 25 hectares, para gerar um posto de trabalho. No Nordeste foram
necessários somente 5 hectares (GUANZIROLI e CARDIM, 2000).
Nota-se que a UTF representa 90,2% da total, sendo então a mão-de-obra familiar
sensivelmente superior à UTC, ou seja, o trabalho contratado.
Nos quesitos sobre utilização de assistência técnica, energia elétrica, adubos e
corretivos e técnicas de conservação do solo, constatou-se que menos da metade dos
produtores familiares tinham acesso, e 47,3 % destes produtores só faziam uso de força
manual no processo produtivo, não contando com nenhum tipo de força animal ou mecânica.
A produção familiar rural no Centro-Oeste se destacava na composição do VBP
regional na pecuária de leite (50,8%), com suínos (31,1%), na banana (55,9%), no café
(62,8%), na produção de uva (62,9%), no fumo (84,3%) e na mandioca (55,6%). A produção
de aves e ovos era encontrada em 69,4% dos estabelecimentos. A segunda atividade mais
comum entre os produtores familiares era a pecuária de leite, encontrada em 61% dos
estabelecimentos, e a pecuária de corte com 53,7%.
Contatou-se que 14,9% dos estabelecimentos da região tinham renda total anual nula,
e para a maioria, 49,4% dos estabelecimentos, a renda permanecia entre R$ 0,00 e R$
3.000,00. A renda monetária negativa16 foi encontrada em 23,1% dos estabelecimentos.

16
A renda monetária negativa é obtida quando a renda monetária da produção é inferior ao valor gasto com a
mesma, mas a produção para o autoconsumo normalmente compensa a despesa.

64
5.1.2 A agricultura familiar em Mato Grosso

Características gerais

Segundo o Censo Agropecuário de 1995/96, o estado de Mato Grosso contava com


78.763 propriedades rurais, ocupando 49.849.602 hectares de área. Mas, de acordo com as
três características essenciais exigidas para caracterizar um produtor rural como familiar,
existiam 55.070 estabelecimentos rurais familiares em Mato, o que correspondia a 69,9% do
total da agricultura em Mato Grosso. Este total representava ainda, 34% dos estabelecimentos
rurais familiares do Centro-Oeste.
A maior concentração de agricultores familiares foi encontrada em regiões do Estado
onde o desempenho da agricultura era menos notável, como mostra a Figura 13. Cada uma
das nove classes da legenda representa 14 municípios do estado em ordem crescente do
número de propriedades rurais familiares nele existentes. Observe os 14 municípios com
coloração mais escura (9ª classificação da legenda) e que possuem mais de mil propriedades
familiares estão localizados em geral no extremo norte e no sudoeste de Mato Grosso.
Tratam-se municípios de colonização recente e antiga, muitos dos quais possuem problemas
como a falta de infra-estrutura, distâncias dos mercados e quadro natural desfavorável.
Observa-se ainda que na região central do estado onde está concentrada a agricultura
desenvolvida, em municípios como Campo Novo do Parecis, Sapezal, Campos de Júlio, Alto
Taquari, entre outros, é a que apresentou menor concentração de agricultores familiares.

65
Figura 13 - Mato Grosso: número de propriedades rurais familiares por município, 1995/96.
Fonte: elaborado pela pesquisadora.

O município com menor número de estabelecimentos familiares é Sapezal, com um


único estabelecimento classificado nesta categoria, tendo 605 hectares de área. Já os
municípios de Colíder, com 2.324 estabelecimentos rurais familiares, Juína, com 2.212
estabelecimentos e Carlinda, com 2.146 estabelecimentos, são os municípios com maior
densidade de agricultores familiares do estado. Também se destacaram os municípios de Terra
Nova do Norte, Cáceres, Guarantã do Norte, Pontes e Lacerda, Peixoto de Azevedo,
Aripuanã, Alta Floresta, Nova Canaã do Norte, Rondonópolis, São José dos Quatro Marcos e
Vila Rica, todos com mais de 1.000 estabelecimentos familiares.
Em Mato Grosso, a agricultura familiar ocupava 4.664.443 hectares de área, o
equivalente a 9,63% do total da área utilizada pela agropecuária no Estado no ano safra
1995/96, resultando em uma área média de 84,7 hectares por estabelecimento familiar.
Embora pudesse se considerar a área média do estabelecimento familiar em Mato
Grosso como um indicador de que o segmento não sofre de carência de terras neste estado, é
preciso observar que grande parte destas áreas não são utilizadas. Descontando da área total a
área de lavouras, sejam elas temporárias ou permanentes, e as áreas de pastagens, naturais ou
plantadas, descobre-se que 39% da área pertencente à agricultura familiar no estado, ou seja,
1.800.487 hectares não eram utilizados, restando então uma área média utilizável de 52
hectares por estabelecimento familiar.

66
A menor área média municipal foi encontrada no município de Jangada, com 23,1
hectares e a maior em Sapezal, com 605 hectares.
A média estadual indicava que 89% dos estabelecimentos eram ocupados pelo próprio
proprietário, ou seja, 49.056 estabelecimentos, sendo que em 13 municípios 17 100% dos
mesmos estavam ocupados pelos proprietários. Somente em nove municípios menos de 70%
dos estabelecimentos eram ocupados pelos proprietários. Destes, se destacam apenas 22,7%
em Gaúcha do Norte, 33,0% em Peixoto de Azevedo e 40,3% em Santa Terezinha, nos três
municípios prevalece o produtor rural familiar na condição de ocupante.
Do total de 55.070, restavam ainda 1.065 estabelecimentos ocupados por
arrendatários, 872 ocupados por parceiros e 4.077 por ocupantes. Considerando a condição do
produtor as áreas médias diferem sensivelmente, como evidenciado na Tabela 3. Cerca de
93,8% da área total da agricultura familiar do estado, ou 4.373.271 hectares, pertenciam aos
estabelecimentos ocupados por proprietários, gerando uma área média de 89,1 hectares por
proprietário. Os arrendatários ocupavam estabelecimentos com área média de 74,6 hectares, e
com os parceiros estavam em média os menores estabelecimentos, ou seja, uma área média de
23,1 hectares. Desta forma, pode-se concluir que proprietários e arrendatários dispunham da
melhor situação quanto à disponibilidade de terras comparativamente às demais condições de
produtores.

Tabela 3 – Mato Grosso: número de estabelecimentos, área total e média por condição do
produtor rural familiar.
Condição do Produtor Nº. Estab. Área Total (ha) Área Média (ha)
Proprietários 49.056 4.373.271 89,15
Arrendatários 1.065 79.496 74,64
Parceiros 872 20.129 23,08
Ocupantes 4.077 191.443 46,96
Fonte: INCRA/MDA/Censo Agropecuário de 1995/96.

Uma análise por estratos de área permitiu verificar que 9,7% dos estabelecimentos
familiares do Estado ocupavam área inferior a 5 hectares, representando apenas 0,33% da área
utilizada pela agricultura familiar mato-grossense, ou ainda, uma área média de

17
Nova Maringá, Vera, Sapezal, São José do Rio Claro, Ribeirão Cascalheira, Nova Brasilândia,
Nova Lacerda, Lambari D’Oeste, Indiavaí, Feliz Natal, Cana Brava do Norte, Araguainha e
Araguaiana.
67
aproximadamente 2,9 hectares para cada estabelecimento. O que também determina uma
baixa renda média anual, que é de R$ 1.562,66 por estabelecimento familiar. Desta forma,
estas famílias (geralmente compostas por mais de um membro) estariam vivendo abaixo da
linha de pobreza ou mesmo em pobreza absoluta 18 , pois esta renda anual gera uma renda
média mensal de R$ 130,22, o que corresponde a 1,16 salários mínimos de 1996.
A maior parte destes estabelecimentos minúsculos estava localizada em Juína. São 653
(do total 2.212 estabelecimentos rurais familiares do município) com uma área média de 2,84
hectares e R$ 1.284,00 de renda média anual. Carlinda era o segundo município em
concentração de pequenos estabelecimentos, com 392 dispondo de 1.284 hectares, área média
de 3,3 hectares e R$ 1.416,04 de renda média. Jangada também apresentava boa parte de seus
estabelecimentos, 269 de 566 ou 47,53%, com menos de 5 hectares, estes ocupam 690
hectares, resultando numa área média de 2,56 hectares e renda média de R$ 1.163,03 por
estabelecimento.
No município de Pontal do Araguaia foi encontrada a menor área média, 0,71 hectares,
são 7 estabelecimentos familiares ocupando 5 hectares. Contudo, a renda destes era superior a
média, de R$ 3.063,43 por estabelecimento, o que se devia ao tipo de produção dos mesmos
que infelizmente não pode ser observada nos dados, embora se saiba que a atividade de maior
valor da produção no município seja a pecuária de corte.
Conforme pode se observar na Figura 14, comparando-a à Figura 13, as maiores áreas
médias dos agricultores familiares se encontravam justamente onde a agricultura familiar
estava menos concentrada e, consequentemente, onde havia maior concentração da agricultura
patronal. Tratam-se das menores propriedades destes municípios, mas que geralmente
operavam com sistema produtivo igual ou semelhante a dos agricultores patronais.

18
O Atlas do Desenvolvimento Humano (2003) estabelece as linhas de pobreza e pobreza absoluta em
½ e ¼, respectivamente, do salário mínimo mensal, por pessoa. O salário mínimo no ano de 1996 era
de R$ 112,00.
68
Figura 14 – Mato Grosso: área média da agricultura familiar, 1995/96.
Fonte: elaborado pela pesquisadora.

A Tabela 4 trás um resumo dos dados dos estabelecimentos por estrato de área.
Observa-se que a renda média cresce significativamente com o tamanho da área, mas somente
nos estabelecimentos com mais de 100 hectares esta renda se destaca, sendo superior a média
do estado, que é de R$ 3.029,09. Contudo, era muito inferior a média da renda no segmento
patronal de R$ 28.819,09. O leitor atento pode observar diante das informações expostas a
existência de intensas desigualdades dentro do próprio segmento da agricultura familiar.

Tabela 4 - Mato Grosso: número de estabelecimentos, área total e renda média por estratos de
área da agricultura familiar.

Estratos de área Área % Estab. % Área Renda Anual


(em hectares) Nº. Estab. (hectares) Total total Média (R$)
Menos de 5 5.357 15.526 9,7 0,3 1.562,66
De 5 a menos de 20 9.453 109.133 17,2 2,3 2.121,50
De 20 a menos de 50 14.227 458.544 25,8 9,8 2.554,23
De 50 a menos de 100 12.047 788.764 21,9 16,9 2.839,95
Igual ou mais de 100 13.986 3.292.558 25,4 70,6 4.850,15
Fonte: INCRA/MDA/Censo Agropecuário de 1995/96.

69
A não ocupação de toda a área dos estabelecimentos deve estar fortemente relacionada
com a carência de recursos para explorar a mesma, que muitas vezes é infértil e precisa de
grandes investimentos, ou ainda pode ser uma região de mata que também necessita de
elevados recursos para ser explorada e modificada. Cabe ainda ressaltar que a área de
lavouras, 377.612 hectares, era consideravelmente menor que a área de pastagens (2.485.648
hectares). Isso também pode ser um indicador da carência de recursos para melhor exploração
das terras, prevalecendo assim pastagens naturais e a atividade pecuária. Como a agricultura
familiar não é capitalizada, o pacote tecnológico da revolução verde (irrigação e agro-
químicos, neutros do ponto de vista de escala técnica) não lhe é acessível (Guanziroli et al,
2001).
A Figura 15 demonstra a distribuição da área ocupada pela agricultura familiar em
Mato Grosso, observando que a área dedicada à lavouras correspondeu a apenas 8% do total
ou ainda 13,2% da área utilizada, enquanto 39% permaneciam sem utilização.

8%
39%

53%

Área de Lavoura Áea de Pastagens Área não Utilizada

Figura 15-Agricultura familiar: distribuição da área com pastagens, lavouras e áreas não
utilizadas.
Fonte: INCRA/MDA/Censo Agropecuário de 1995/96.

Analisando mais criteriosamente os dados, foram encontrados dois estabelecimentos


familiares com área total de 5,2 e 256 hectares, que possuíam 100% da área não utilizada na
pecuária ou na lavoura. Também não foram encontrados nestes estabelecimentos valores da
produção com extração vegetal. Além destes, existiam outros 67 estabelecimentos com mais
de 90% da área não utilizada nestas finalidades. Enfim, constavam 13.941 estabelecimentos
com menos de 50% da área sendo utilizada em pastagens e lavouras. Por sua vez, apenas 111
estabelecimentos, ocupando 6.729 hectares de área, utilizavam toda a área da propriedade.
Destes, 19,8% não tiveram VBP positivo.

70
O valor bruto da produção

O VBP da agricultura familiar em Mato Grosso no ano-safra 1995/96 foi de


R$ 263.780.163,00, o que correspondeu a apenas 13,3% do VBP estadual, que foi de
R$ 1.984.846.853,00. Do montante do VBP da agricultura familiar se destacam a pecuária de
corte, que contribuiu com 23%, a pecuária leiteira com 21% e a soja com 16%. O município
que teve maior participação no VBP da agricultura familiar de Mato Grosso foi Lucas do Rio
Verde, com 3,9% ou ainda R$ 10.387.400,00.
O VBP médio da agricultura familiar por hectare em Mato Grosso era de R$ 57,07,
mas havia grandes disparidades entre os municípios, por exemplo, em Primavera do Leste a
agricultura familiar produziu R$ 326,38 por hectare, seguido de Sorriso com R$ 258,97.
Campo Novo do Parecis obteve R$ 248,86 por hectare e Lucas do Rio Verde com R$ 226,33.
Cabe ressaltar que o principal produto da agricultura familiar nestes municípios foi o soja. Já
os municípios de Araguainha, São José do Xingu, São Félix do Araguaia, Guiratinga, Alto
Boa Vista, Ribeirão Cascalheira, tiveram VBP médio por hectare entre R$ 10,00 e R$ 15,00.
Nestes, os produtos que mais contribuíram para o VBP foram a pecuária de corte e de leite. O
fraco desempenho econômico destes últimos e de grande parcela dos agricultores familiares
mato-grossenses foi reflexo das péssimas condições a que estavam submetidos, muitos
dispondo de pouco ou nenhum recurso de capital próprio ou de crédito de custeio ou
investimento, nem mesmo assistência técnica e infra-estrutura, além de possuírem terras de
baixa qualidade.
A pecuária de corte foi o produto que gerou maior VBP em 11 das 22 microrregiões
do Estado. Eram 15.945 estabelecimentos com esta principal atividade produtiva. Em outras
cinco microrregiões, Parecis, Alto Teles Pires, Canarana, Primavera do Leste e Alto Araguaia,
a soja foi o principal componente do VBP, com 566 estabelecimentos se dedicando com
maior intensidade a produção da oleaginosa. Já em Aripuanã, Sinop, Alto Guaporé e Jauru,
7.635 estabelecimentos tinham na pecuária de leite a atividade que mais contribuiu para o
VBP. Na microrregião de Rosário Oeste a mandioca foi o principal produto do VBP, sendo
produzida em 864 estabelecimentos como produto principal. Por fim, na microrregião de
Cuiabá a criação de aves foi a atividade de maior valor da produção, sendo a principal
atividade em 1.172 estabelecimentos.
A Figura 16 apresenta a classificação dos municípios, segundo o valor médio da
produção. Observe que os municípios com maior VBP (8ª e 9ª classificação da legenda) estão
localizados em sua grande maioria nas regiões mais desenvolvidas do Estado e com melhores

71
condições para desenvolvimento da agricultura. Em muitos destes municípios o produto
principal dos agricultores familiares são os mesmos das propriedades patronais, além de
disporem de melhor infra-estrutura, maior acesso a mercados e tecnologias.

Figura 16 – Mato Grosso: valor médio da produção da agricultura familiar, 1995/96.


Fonte: elaborado pela pesquisadora.

Cabe destacar que, comparando os três mapas apresentados nas Figuras 13, 14 e 16,
pode-se observar que, entre as quatro classificações extremas, 11 dos 28 municípios onde a
agricultura familiar é menos concentrada, também são aqueles onde se encontravam as
maiores áreas médias e se obteve o maior valor da produção. Estes são, Alto Taquari, Alto
Garças, Campo Novo do Parecis, Campos de Júlio, Itiquira, Nova Mutum, Nova Ubiratã,
Sapezal, Primavera do Leste, União do Sul e Vera. No oposto, entre os 28 municípios onde a
agricultura familiar está presente em maior número, sete municípios também se encontram
entre os de menor renda e menor área média por estabelecimento, estes são os municípios de
Carlinda, Colíder, Juína, Nobres, Nova Canaã do Norte, Peixoto de Azevedo e Terra Nova do
Norte. Estes dois grupos de municípios também têm respectivamente melhores e piores
posições no ranking do Índice de Desenvolvimento Humano – IDH municipal. Estes fatos
indicam que as áreas acessíveis aos pequenos proprietários rurais no estado são aquelas onde
há piores condições de infra-estrutura e de quadro natural. Desta forma, os agricultores

72
familiares localizados em municípios pobres e menos desenvolvidos, normalmente
descapitalizados, encontram maiores dificuldades para se desenvolver.

Renda total e média

A renda total dos estabelecimentos familiares de Mato Grosso foi de R$


166.811.742,00 no ano safra de 1995/96, o que gera uma renda média por estabelecimento de
R$ 3.029,08. A maior renda média em nível municipal foi encontrada na única propriedade
familiar de Sapezal, que produzia soja e com esta produção obteve uma renda total anual de
R$ 47.035,00 dos quais apenas R$ 1.080,00 eram rendas não-monetárias. Na seqüência,
encontra-se uma renda média de R$ 28.392,68 para cada um dos 22 estabelecimentos
agropecuários familiares de Campo Novo do Parecis. Em terceiro lugar encontram-se os 17
estabelecimentos de Campos de Júlio, com R$ 18.954,12 de renda média total anual. Também
os agricultores familiares dos municípios de Alto Taquari, Campos de Júlio, Sorriso, Nova
Mutum, Primavera do Leste, Lucas do Rio Verde e Alto Garças apresentaram renda média
anual superior a 13.400,00.
Os municípios onde a renda da agricultura familiar apresentou-se mais elevada foram
justamente aqueles que concentravam poucos produtores familiares. Trata-se de municípios
ricos pela sua agricultura, e que tinham como principal produto municipal o soja. Exceto estes
mesmos municípios, onde 730 estabelecimentos obtiveram renda média anual superior a R$
13.000,00, os demais não ultrapassam R$ 10.000,00.
Os municípios de elevada renda, acima citados, detinham também áreas médias
superiores ao dobro da média do estado para a agricultura familiar. A grande maioria dos
estabelecimentos nestes municípios eram administrados pelos proprietários. Também eram
elevados os índices de uso de assistência técnica, energia elétrica, uso de força mecânica e
animal comparativamente à média estadual. Contudo, a prática da irrigação não era comum
entre os mesmos, não chegando a alcançar 11% dos estabelecimentos familiares em nenhum
município, e não sendo praticada por nenhum estabelecimento familiar em cinco destes
municípios. Lucas do Rio Verde se destacou em todas estas condições, inclusive nas práticas
de conservação de solo, combate a pragas e uso de adubos e fertilizantes.
Também os municípios onde a agricultura familiar é mais pobre concentrava maior
número, como já observado através do VBP. A renda média anual inferior a R$ 1.000,00 foi
encontrada em Peixoto de Azevedo, Nova Olímpia, Alto Boa Vista, Araguaiana, Araguainha
e a mais baixa em Brasnorte, onde 127 produtores obtiveram renda total média anual de R$

73
411,94. A maioria destes municípios não apresentou nenhuma renda monetária, e com
exceção de Peixoto de Azevedo, município no qual a produção que gerou mais renda aos
produtores foi o arroz, nos demais a principal atividade dos agricultores familiares era a
pecuária de leite ou de corte.
Apesar da pobreza observada na pequena renda total, os estabelecimentos rurais
familiares destes municípios detinham uma área média superior a da agricultura familiar do
estado. Com exceção de Peixoto Azevedo mais de 80% das propriedades eram administradas
pelo próprio produtor. Também, com exceção deste município e de Nova Olímpia, 80% ou
mais dos estabelecimentos familiares foram atendidos por assistência técnica. Contudo,
energia elétrica e uso de força mecânica e animal nos trabalhos agrícolas só foi realidade para
a maioria dos estabelecimentos no município de Araguaiana. A prática da irrigação, por sua
vez, foi escassa em todos estes municípios, sendo encontrada somente em dois
estabelecimentos de Nova Olímpia e em seis de Peixoto de Azevedo.
Foram apenas 1,5% ou ainda 852 estabelecimentos com renda monetária negativa,
índice bem inferior ao do Centro-Oeste (23,1% ), o que indica uma a classe de agricultores
familiares ainda em piores condições de renda nos outros dois estados, que compõem a região
(Mato Grosso do Sul e Goiás).

Pessoal ocupado

Os 55.070 estabelecimentos rurais familiares de Mato Grosso empregavam 185.122


pessoas, o que equivale a 56% da mão-de-obra ocupada na agricultura do Estado e 33,5% da
mão-de-obra empregada na agricultura familiar no Centro-Oeste. A agropecuária de Mato
Grosso empregou uma pessoa a cada 151 hectares de área no ano safra de 1995/96, mas esta
média suaviza a sensível diferença entre os segmentos de produtores, a agricultura patronal
empregou uma pessoa a cada 338 hectares e o segmento familiar necessitou de apenas 25
hectares de área para ocupar um trabalhador. Na Tabela 5 pode-se observar a distribuição
destas ocupações, e confirma-se a característica da agricultura familiar que é utilizar mão-de-
obra tipicamente de pessoas envolvidas por laços de sangue ou casamento.

74
Tabela 5 - Agricultura familiar: pessoas ocupadas segundo o tipo de mão-de-obra.
Tipo de Mão-de-obra Nº. de pessoas ocupadas % do Total
Pop. Familiar com mais 14 anos 134.814 72,8%
Pop. Familiar com menos 14 anos 31.494 17,0%
Empregados permanentes 7.330 4,0%
Empregados temporários 6.532 3,5%
Parceiros 883 0,5%
Outras condições 4.069 2,2%
População total empregada pela Agricultura Familiar 185.122
Fonte: INCRA/MDA/Censo Agropecuário de 1995/96.

A média mascara a realidade. No município de Jangada uma pessoa era empregada a


cada cinco hectares de área ocupada pela agricultura familiar, assim como dez hectares foram
necessários em Carlinda e Lambari D’Oeste para empregar uma pessoa. Já em outros
municípios, a média foi maior ou próxima a estadual para a agricultura como um todo. Em
Sapezal a única propriedade rural familiar do município empregou uma pessoa a cada 151
hectares. Em Tesouro um a cada 112 hectares, já em Nova Mutum foram necessários 102
hectares para empregar um trabalhador.
O número de pessoas ocupadas por estabelecimento também foi muito variável. Em
Nova Marilândia foram empregados em média 5,75 pessoas por estabelecimento familiar. Em
Reserva do Cabaçal, União do Sul, Lambari d’Oeste e Porto Esperidião a média também
ultrapassou cinco pessoas por estabelecimento. A média estadual para a agricultura familiar
foi de 3,36. Em Cáceres, município com a maior população rural do Estado, empregou-se em
média 2,97 pessoas por estabelecimento, ou seja, 1.524 estabelecimentos e 4.538 pessoas
ocupadas.
Conforme apresentou a Tabela 5, a grande maioria da população ocupada nos
estabelecimentos familiares era da própria família do administrador. Logo, é de se esperar a
predominância da UTF sobre a UTC, respectivamente 150.594 e 7.763 trabalhadores, ou seja,
a UTF representou 95% do total empregado na agricultura. Esta razão foi superior a da região
Centro-Oeste, 90,2%. Vale observar que este número difere no total da população empregada
na agricultura anteriormente mencionado que era de 185.122. Neste caso está se incluindo a
força de trabalho contratada, os serviços de empreitada e a força de trabalho de menores de 14

75
anos, equivalendo à metade da força de trabalho de um adulto, ou seja, meia unidade de
trabalho.
Foram utilizados em média por estabelecimento 2,73 UTF e 0,14 UTC, sendo no
município de Porto Esperidião, na microrregião de Jauru, sudoeste do estado, a maior
utilização de UTF nas propriedades, em média 4,02 UTF por estabelecimento. Em Feliz Natal
a média foi de quatro UTF por estabelecimento. Já em Marcelândia observou-se uma média
bastante baixa de mão-de-obra na agricultura familiar, apenas 1,52 UTF e 0,09 UTC pelos
488 estabelecimentos do município. A maior média de trabalho contratado foi observada em
Sapezal, em que o único estabelecimento familiar do município utilizou duas UTC e três
UTF, sendo que a população total empregada neste estabelecimento era de 3 pessoas da
família, todos com mais de 14 anos e apenas 1 empregado permanente.
Ao todo encontrou-se 2.897 estabelecimentos com um empregado permanente, 753
com dois, restando 678 com mais de 2 empregados nesta condição.

Principais produtos da agricultura familiar

No ano safra 1995/96 foram produzidos 27 produtos diferentes pela agricultura


familiar de Mato Grosso, dos quais a criação de aves foi a atividade mais comum, encontrada
em 38.676 estabelecimentos familiares, seguida da pecuária de corte e de leite produzidos por
respectivamente 26.473 e 25.493 estabelecimentos. A soja, produzido por agricultores
familiares de propriedades maiores, foi encontrada em apenas 716 estabelecimentos. Outras
atividades bastante comuns foram a produção de milho, arroz e a criação de suínos, todas
presentes em mais de 18.000 estabelecimentos.
Observando os produtores de acordo com o principal produto produzido no
estabelecimento, verifica-se que os que tinham a produção de soja como tal obtiveram um
valor da produção total e valor da produção do produto principal muito superior aos valores
da produção dos estabelecimentos com outra atividade produtiva como principal. Os
produtores de soja alcançaram valor da produção total e valor da produção média sempre
superior a R$ 50.000,00, chegando a alcançar no município de Alto Garças R$ 211.175,00 e
R$ 151.823,20 em Campo Novo do Parecis. Considerando a área total média dos
estabelecimentos, conforme seu principal produto, são 17 municípios em que a área média dos
estabelecimentos foi superior a 300 hectares. Destes, 16 tinham a produção de soja como
principal atividade produtiva, sendo que a área média máxima municipal foi encontrada em
Sapezal, com 605 hectares. Vale lembrar que a média do estado foi de 84,7 hectares, o que

76
denota a grande desigualdade e também concentração de terras dentro do próprio segmento da
agricultura familiar.
Dos 126 municípios existentes no ano-safra de 1995/96, apenas 25 tiveram nos seus
estabelecimentos uma renda média anual superior a R$ 10.000,00. Destes, 19 tinham como
principal produto a soja. Em Alto Garças e Campo Novo do Parecis encontrou-se as maiores
rendas médias por estabelecimentos, R$ 129.481,13 e R$ 71.287,80 respectivamente, o que
confirma que a soja proporcionou os maiores valores da produção e renda para os
estabelecimentos familiares que a esta cultura se dedicavam com maior intensidade. Estes
mesmos estabelecimentos também tinham áreas superiores a média da agricultura familiar no
Estado.
Pode-se concluir que os grandes estabelecimentos rurais classificados como familiares
assemelham-se muito aos produtores patronais, seja em tamanho do estabelecimento, produto
principal e renda obtida.

Características tecnológicas

Quanto a serviços de assistência técnica, apenas 20,7% ou 11.387 dos


estabelecimentos da agricultura familiar do Estado tinham acesso, sendo que os municípios
com maior densidade de agricultura familiar estavam entre os mais desfavorecidos neste
aspecto. Por sua vez, os municípios em que mais de 60% dos estabelecimentos de agricultura
familiar eram atendidos por assistência técnica são justamente aqueles com baixo número de
estabelecimentos familiares, o que provavelmente indica um município menos pobre, e com
maior número de agricultores patronais, pois nestas localidades a assistência técnica é mais
comum e acessível entre os agricultores em geral.
Além da carência de assistência técnica também se destacam outros números que
indicam as dificuldades do segmento, muito desfavorecido com relação a aspectos
tecnológicos e associativismo, como mostra a Tabela 6. Entre os patronais, 48,1% recebiam
assistência técnica, 12,7% eram associados a cooperativas e 56,3% dispunham de energia
elétrica. A menor diferença se encontra na associação a cooperativas, fato pouco comum nos
patronais. Também é possível observar que a energia elétrica é um privilégio para poucos
agricultores no Estado. Do total de 78.763 estabelecimentos agrícolas do Estado, patronais e
familiares, cerca de 65% não possuíam acesso à energia elétrica. Naturalmente, quanto menor
a renda menor é o acesso a este serviço.

77
Tabela 6 - Mato Grosso: práticas adotadas nos estabelecimentos de agricultura familiar.
Prática Nº. Estab. % do total
Assistência Técnica 11.387 20,7
Energia Elétrica 14.035 25,5
Associação a Cooperativas 5.585 10,1
Irrigação 688 1,2
Apenas Uso Força Animal 6.865 12,5
Apenas uso força mecânica ou mecânica e animal 11.950 21,7
Usa Adubos e Corretivos 6.875 12,5
Prevenção e Cont. de pragas 46.656 84,7
Práticas de conservação do solo 2.046 3,7
Fonte: INCRA/MDA/Censo Agropecuário de 1995/96.

A prática menos comum foi a irrigação, e a maior freqüência de produtores familiares


que a utilizavam estava em Tangará da Serra, onde 56 produtores utilizam o mecanismo. Em
percentual, a maior parte dos estabelecimentos irrigados estava localizada em Várzea Grande,
com 44% dos estabelecimentos, ou seja, 19 de 43 utilizavam mecanismos de irrigação.
A prática mais comum entre os estabelecimentos familiares foi a prevenção e controle
de pragas, como mostrou a Tabela 6.

Caracterização, segundo o tipo de agricultor familiar

Ao classificar os produtores segundo a renda, encontrou-se no total 4.054


estabelecimentos familiares do tipo A, 13.362 do tipo B, 12.300 do tipo C e a grande maioria,
25.354 do tipo D, conforme mostra a Figura 17. Detectou-se que 47% dos produtores
familiares do estado de Mato Grosso eram muito pobres, tendo renda equivalente a menos da
metade do Valor do Custo de Oportunidade da própria mão-de-obra e 69% sobrevivia com no
máximo um VCO, que no ano safra de 1995/96 era de R$ 2.792,40 19 .

19
Cálculo do VCO para MT: Diária Média Estadual = 8,95; Diária + 20% = 10,74; Dias
Úteis = 260; VCO = 10,74 x 260 = 2.792,40
78
7%
24%
47%

22%

Tipo A (maior de 3 VCO) Tipo B (1 a 3 VCO)


Tipo C (0.5 a 1 VCO) Tipo D (Menor que 0.5 VCO)

Figura 17 - Mato Grosso: participação percentual de cada tipo de agricultor no total dos
agricultores familiares.
Fonte: INCRA/MDA/Censo Agropecuário de 1995/96.

As Tabelas 7 e 8 trazem maiores detalhes dos agricultores familiares segundo sua


tipologia. Calculando a área média verifica-se que esta medida para os estabelecimentos do
tipo A era de 181 hectares, enquanto para os de tipo B, C e D as áreas médias foram de 90, 64
e 76 hectares, respectivamente. Também pode-se notar alguma diferença na administração do
estabelecimento, enquanto os do tipo A apresentavam o maior percentual de estabelecimentos
administrados pelo próprio proprietário, 93%, para os de tipo D este percentual era de 86%.

Tabela 7 - Agricultura Familiar: número de estabelecimentos, área total, renda monetária


e pessoal ocupado por tipo de estabelecimento.
Renda Nº. Estab. de Pessoal Ocupado
N. Estab. Área (ha) Monetária (R$). Proprietário. (% do total)
Tipo A 4.054 737.223 71.101.158,00 3.778 9,2%
Tipo B 13.362 1.203.738 43.769.507,00 12.443 26,9%
Tipo C 12.300 791.105 15.267.656,00 10.981 22,7%
Tipo D 25.354 1.932.218 -10.757.128,00 21.854 41,1%
Fonte: INCRA/MDA/Censo Agropecuário de 1995/96.

79
Tabela 8 - Mato Grosso: tipo de agricultores familiares por microrregião.
Nº. Total de
Microrregião Estab. Tipo A Tipo B Tipo C Tipo D
Alta Floresta 5.445 251 1.340 1.537 2.317
Alto Araguaia 452 71 97 62 222
Alto Guaporé 1.972 200 683 455 634
Alto Pantanal 2.312 134 683 623 872
Alto Paraguai 940 66 197 189 488
Alto Teles Pires 1.549 275 236 198 840
Arinos 1.900 148 500 439 813
Aripuanã 4.904 296 1.332 1.003 2.273
Canarana 2.559 359 652 501 1.047
Colíder 10.034 340 2.110 2.589 4.995
Cuiabá 1.693 127 387 360 819
Jauru 5.421 560 1.632 1.163 2.066
Médio Araguaia 365 27 57 66 215
Norte Araguaia 4.226 144 891 917 2.274
Paranatinga 907 64 181 186 476
Parecis 683 73 175 162 273
Primavera do Leste 274 65 70 32 107
Rondonopólis 2.504 305 675 456 1.068
Rosário Oeste 1.704 75 275 463 891
Sinop 1.487 178 399 274 636
Tangará da Serra 2.009 150 359 293 1.207
Tesouro 1.730 146 431 332 821
TOTAL 55.070 4.054 13.362 12.300 25.354
Fonte: INCRA/MDA/Censo Agropecuário de 1995/96.

Observa-se as microrregiões com maior quantidade de estabelecimentos familiares,


Colíder, Alta Floresta, Aripuanã, Jauru e Norte Araguaia. Nestas, também estavam a maior
parte dos estabelecimentos muito pobres, do tipo D. A região de Colíder merece destaque,
com 49% (4.995) dos seus 10.034 estabelecimentos familiares classificados no tipo D e
somente 3,4% ou 340 classificados no tipo A. Apenas na Região de Alto Guaporé, localizada
80
na região sudoeste de Mato Grosso, o grupo de classificação por renda mais populoso não foi
o D e sim o B, 34,63% dos 1.972 estabelecimentos familiares. Nestes, a atividade pecuária foi
a que gerou maior valor da produção.
Os municípios de Juína, Colíder e Peixoto de Azevedo eram aqueles com maior
número de estabelecimentos do tipo D, respectivamente 1.301, 1.113 e 1.109. Em Peixoto de
Azevedo este tipo chegou a representar 80% dos estabelecimentos do município. O município
de Campos de Júlio, por sua vez, apresentou apenas um estabelecimento nesta condição.
Também no Norte do Estado estavam os municípios com maior número de estabelecimentos
classificados no tipo C, mais especificamente em Carlinda, Terra Nova do Norte, Colíder e
Guarantã do Norte.

Investimentos dos agricultores familiares

A agricultura familiar de Mato Grosso investiu no ano safra de 1995/96


R$ 73.251.279,00, dos quais 39% foram aplicados em novas culturas permanentes, novas
matas plantadas e compra de animais, 28% destinou-se a compra de máquinas e implementos
(novos e usados) e instalações e outras benfeitorias e 13% foram destinados a aquisição de
terras.
Os municípios onde os agricultores familiares mais investiram foram Colíder
R$ 3.079.889,00, dos quais 36% foram investidos em máquinas e benfeitorias, também
apresentou o maior investimento em compra de terras no estado. Rondonópolis e Juína
ficaram em segundo e terceiro lugar, respectivamente, no ranking do investimento total, e
tiveram os maiores investimentos em novas plantas e animais.
No Centro–Oeste encontravam-se os agricultores familiares que mais investiram no
Brasil no ano-safra 1995/96. Considerando o valor médio por estabelecimento os
investimentos variavam entre R$ 789,00 de agricultores do tipo C e R$ 5.500,00 entre os
agricultores do tipo A, como mostra a Tabela 9. A média geral da agricultura mato-grossense
é de R$ 5.667,15, já para a agricultura familiar a média é de R$ 1.330,15. Os agricultores
familiares que mais investem em Mato Grosso são os do tipo D, justamente os mais pobres, o
que ocorre devido ao elevado número de estabelecimentos classificados no tipo D, uma vez
que a média do investimento por estabelecimento do tipo A é de R$ 4.966,47, enquanto os
primeiros investem em média por estabelecimento R$ 1.032,88. Ocorre ainda que o
investimento por hectare é bem mais elevado nos estabelecimentos de tipo A.

81
Tabela 9 – Agricultura familiar: investimentos por tipo de agricultor.
% dos Investimento por Investimento
Investimentos no Estabelecimento por Hectares
Tipos Total (R$) (R$)
A 27,7 4.996,47 27,48
B 23,8 1.306,48 14,50
Mato-Grosso
C 12,8 760,23 11,82
D 35,7 1.032,88 13,55
A 40,9 5.499,60 34,60
B 19,9 1.370,80 16,70
Centro-Oeste
C 7,8 789,40 13,20
D 31,4 1.511,00 21,20
A 44,4 2.773,70 46,70
B 24,1 615,40 18,10
Brasil
C 8,2 253,30 11,50
D 23,2 307,10 18,60
Fonte: INCRA/MDA/Censo Agropecuário de 1995/96.

O principal investimento dos agricultores familiares mato-grossenses no ano safra


1995/96 foi na compra de novas culturas (plantas) e animais, o que ocorreu, independente do
tipo de agricultor.

Especialização produtiva

A maioria dos agricultores familiares de Mato Grosso foi classificada quanto a


especialização produtiva na categoria “Diversificada”. Foram 22.345 estabelecimentos com o
produto principal representando entre 35% e menos de 65% do VBP, como é possível
observar na Figura 18. Ainda, 7.226 produtores foram classificados como “Muito
Especializados”, indicando que 100% do VBP era devido a um único produto. Outros 17.909
estabelecimentos foram classificados como “Especializados”, ou seja, seu produto principal
representou entre 65% e menos de 100% do VBP. Os “Muito Diversificados” eram 4.841
estabelecimentos, nestes o produto principal representou menos de 35% do VBP. A categoria
com grau de especialização não identificado por não alcançar VBP positivo estava

82
representada por 2.749 estabelecimentos, dos quais se destacam os municípios de Peixoto de
Azevedo, com 340 estabelecimentos, e Juína com 258.

Muito
Especializado
9% 5% 13% Especializado

Diversiificado

33% Muito
40% Diversificado
Não Identificado

Figura 18 - Mato Grosso: agricultores familiares segundo grau de especialização.


Fonte: INCRA/MDA/Censo Agropecuário de 1995/96.

Entretanto, o tamanho do estabelecimento não demonstrou estar relacionado com o


grau de especialização (Tabela 10), onde é possível observar que as áreas médias não seguem
nenhum padrão que explique a especialização ou a diversificação.

Tabela 10 - Agricultura Familiar: número de estabelecimentos, área total e média


por grau de especialização do produtor.
Categoria Nº. Estab. Área Área Média (ha)
Muito Especializado 7.226 634.120 88
Especializado 17.909 1.754.279 98
Diversificado 22.345 1.699.989 76
Muito Diversificado 4.841 309.384 64
Grau de Esp. Não Ident. 2.749 266.476 97
Fonte: INCRA/MDA/Censo Agropecuário de 1995/96.

Contudo, conforme demonstra a Tabela 11, pode-se observar que um maior VBP e
Renda Monetária são alcançados pela categoria “Especializados”, o que indica que os
estabelecimentos familiares que se dedicaram com maior ênfase a um único produto, embora
não exclusivamente, obtiveram maior renda.
83
Tabela 11 - Agricultura familiar: VBP, VBP médio e renda monetária média por grau de
especialização do produtor.
Categoria VBP VBP Médio RM Média*
Muito Especializado 27.859.029,00 3.855,39 1.834,35
Especializado 136.939.658,00 7.646,42 3.557,61
Diversificado 90.171.006,00 4.035,40 1.669,25
Muito Diversificado 15.440.625,00 3.189,55 1.113,96
Fonte: INCRA/MDA/Censo Agropecuário de 1995/96.
*
RM Média : Renda Monetária Média.

O maior número de agricultores especializados estava localizada em Juína. São 383


com 100% do VBP devidos a um único produto. A pecuária de corte e a pecuária de leite
foram as atividades que geram maior valor da produção no município.
Dos 4.054 estabelecimentos do tipo A, 422 eram muito especializados, 2.195
especializados, 1.249 diversificados, 154 muito diversificados, e por fim, 34 não foram
identificados. Os estabelecimentos do tipo B se dividiam em 899 muito especializados, 4.982
especializados, 5.975 diversificados, 1.428 muito diversificados e 78 não identificados.
Os estabelecimentos do tipo C se sub-dividiam em 1.023 muito especializados, 3.844
especializados, 5.694 diversificados, 1.637 muito diversificados e 102 não identificados. Os
estabelecimentos do tipo D eram 4.882 muito especializados, 6.888 especializados, 9.427
diversificados, 1.622 muito diversificados e 2.535 não identificados.
Anteriormente observou-se que a área média segundo a categoria de especialização
produtiva não apresentava nenhum padrão de comportamento. Porém, esta diferença de área
média era mais notável ao comparar estabelecimentos segundo a sua tipologia, ou seja, a
classificação conforme a renda, como mostra a Tabela 12.

84
Tabela 12 - Área média em hectares dos diferentes tipos de produtor familiar, segundo
o grau de especialização.
Área Média em Hectares
Grau de Especialização
Tipo A Tipo B Tipo C Tipo D
Muito Especializado 186,7 103,2 74,1 79,2
Especializado 190,5 95,1 69,3 86,5
Diversificado 168,7 87,6 61 65,6
Muito Diversificado 152,4 73,6 56 54,9
Grau especialização não identificado. 177 105 92,1 95,8
Fonte: INCRA/MDA/Censo Agropecuário de 1995/96.

Observando os dados por município, chamam a atenção grandes estabelecimentos em


todas as categorias de tipo de produtor. Por exemplo, em Feliz Natal um único
estabelecimento do tipo C e “Muito Especializado” tem área de 747 hectares, a segunda maior
área média é encontrada em União do Sul, com 726 hectares ocupadas por estabelecimentos
de tipo A e “Muito Especializados”. Em contraste a quarta, sexta e sétima maiores áreas
médias, respectivamente de 612, 588 e 584 hectares são estabelecimentos com grau de
especialização não identificados, pois não alcançaram um VBP positivo.
Observando a Tabela 13, pode-se verificar com maior detalhe o maior índice de áreas
não utilizadas na categoria de VBP não positivo, nesta mesma categoria vê-se uma das
maiores concentrações de área em pastagens.

Tabela 13 - Agricultura familiar: área total, área de pastagens, área de lavouras e áreas não
utilizadas segundo grau de especialização produtiva.
Grau de Área Área Área Não
Especialização Unidade Área Total Pastagens Lavouras Utilizada
Muito Especializado ha 634.012 329.949 42.027 262.036
% 52,0 6,6 41,3
Especializado ha 1.754.127 980.983 163.929 609.215
% 55,9 9,3 34,7
Diversificado ha 1.699.857 895.509 135.914 668.434
% 52,7 8,0 39,3
Muito Diversificado ha 309.308 139.338 31.639 138.331
% 45,0 10,2 44,7
Não Identificado ha 266.443 139.869 4.103 122.471
% 52,5 1,5 46,0
Fonte: INCRA/MDA/Censo Agropecuário de 1995/96.

85
A Tabela 14 trás o número de estabelecimentos, segundo estratos de área e grau de
especialização produtiva. Veja que apenas os estabelecimentos de 100 hectares ou mais tem
maior concentração dos estabelecimentos classificada como especializada. Nos demais
tamanhos de estabelecimentos a maior parte foi sempre classificada como “Diversificada”
independente do tamanho dos estabelecimentos.

Tabela 14 - Agricultura familiar: número de estabelecimentos por estratos de área, segundo


grau de especialização produtiva do produtor.
De menos 5 a menos 20 a menos 50 a menos 100 ha ou
Categoria Nº Estab. 5 ha de 20 ha de 50 ha de 100 ha mais
Muito Especializado 7.226 1.049 1.137 1.609 1.446 1.985
Especializado 17.909 1.732 3.080 4.327 3.588 5.182
Diversificado 22.345 2.069 3.953 6.171 5.076 5.076
Muito Diversificado 4.841 328 919 1.517 1.220 857
Não Identificado 2.749 179 364 603 717 886
Fonte: INCRA/MDA/Censo Agropecuário de 1995/96.

Do total de 55.070 estabelecimentos familiares no estado, apenas 11.837 recebiam


serviços de assistência técnica. Entre as categorias de especialização produtiva os
“Especializados” apresentavam a maior freqüência de uso deste serviço eram 24,5% ou 4.387
estabelecimentos recebendo auxílio técnico.
Esta categoria também apresenta maiores índices de uso de tecnologia e
associativismo. São 33% ou 5.914 estabelecimentos com acesso à energia elétrica, 2.143
estabelecimentos ou 12,0% associados a cooperativas, 25% ou 4.476 estabelecimentos que
dispõem de força mecânica e animal para realização das atividades produtivas. Por sua vez, os
menores índices destes mesmos quesitos se encontravam na categoria “Não Identificado”.
Nesta, havia o menor número e percentual de estabelecimentos com irrigação, 0,5% ou 15
estabelecimentos, energia elétrica, 14,3% ou 393 estabelecimentos, de associação a
cooperativas, 3,7% ou 101 estabelecimentos, de uso de força mecânica e animal, 11,8% ou
325 estabelecimentos e apenas de força animal, 5,1% ou 139 estabelecimentos.
As exceções ficavam por conta da categoria “Muito Diversificado”, com maior
percentual de uso de força animal nos trabalhos agrários, 967 estabelecimentos ou 20% do
total, e o menor índice de uso de assistência técnica, apenas 812 ou 16,8% do total.

86
Integração ao mercado

Os dados também permitiram analisar os estabelecimentos familiares, segundo o grau


de integração ao mercado, medido de acordo com o percentual do valor da produção vendida
sobre o VBP. Por esta ótica, dos 55.070 estabelecimentos familiares do estado de Mato
Grosso a maior parcela, 21.204 ou 38,5%, foi classificada como “Integrados” 33,4% estavam
“Pouco Integrados”, outros 23,1% estavam “Muito Integrados”, e por fim, 5% ou 2.749
estabelecimentos não puderam ser classificados por não terem VBP positivo.
Os estabelecimentos “Muito Integrados” apresentavam em relação ao total da
categoria o maior uso de energia elétrica, associação a cooperativas, assistência técnica,
irrigação, força mecânica e animal, uso de adubos e corretivos e a adoção de técnicas de
conservação de solo. Já os estabelecimentos com VBP negativo e os pouco integrados
detinham os menores índices de associação a cooperativas, energia elétrica, usos tanto de
força animal quanto mecânica e animal, irrigação, adubos e corretivos, controle de pragas e
conservação de solo. O que chama a atenção é que os serviços de assistência técnica e
controle de pragas não apresenta grande diferencial de incidência entre as diferentes
categorias, diferindo dos demais quesitos mencionados acima.
A Tabela 15 permite observar que a área total e a área com lavouras era maior em
percentual do valor total na categoria “Muito Integrada”, comparativamente as demais, bem
como também nesta categoria encontrou-se uma maior área média e o menor índice de áreas
não utilizadas.

87
Tabela 15 - Agricultura familiar: número de estabelecimentos, área total e área média
segundo o grau de integração do produtor ao mercado.
Nº. Estab. Área Total Área Média
Muito Integrado 12.743 1.402.909 110,1
Integrado 21.204 1.685.353 79,5
Pouco Integrado 18.374 1.309.554 71,3
Não Identificado 2.749 266.476 96,9
Área de Área Não Área de
% Utilizada %
Pastagens Lavoura %
Muito Integrado 782.020 56 445.368 32 175.521 12,5
Integrado 936.739 56 628.795 37 119.819 7,1
Pouco Integrado 627.536 48 603.367 46 78.651 6
Não Identificado 139.894 53 122.471 46 4.111 1,5
Fonte: INCRA/MDA/Censo Agropecuário de 1995/96.

Outra questão a ser observada por esta ótica é a freqüência de estabelecimentos por
estratos de área em cada categoria, veja a Tabela 16.

Tabela 16 - Agricultura familiar: número de estabelecimentos por estratos de área segundo


grau de integração do produtor ao mercado, em percentual do total.
Estabelecimentos por Nº. total de Muito Pouco Não
Estratos de Área estabelecimentos Integrado Integrado Integrado Identificado
Menos de 5 ha 5.357 20,9 36,0 39,8 3,3
De 5 a menos de 20 ha 9.453 20,2 39,2 36,7 3,9
De 20 a menos de 50 ha 14.227 21,3 40,9 33,6 4,2
De 50 a menos de 100 ha 12.047 21,0 40,1 32,9 6,0
Igual ou mais de 100 ha 13.986 29,7 35,1 28,8 6,4
Fonte: INCRA/MDA/Censo Agropecuário de 1995/96.

A observação do grau de integração, associado ao tipo de estabelecimento permite


verificar que o grau de integração ao mercado está fortemente relacionado com o nível de
renda dos estabelecimentos, veja a Tabela 17.

88
Tabela 17 - Agricultura familiar: número de estabelecimentos por tipo e grau de integração
do produtor ao mercado.
Nº. Estab. Muito Pouco Não
Total Integrados (%) Integrados(%) Integrados (%) Identificados(%)
Tipo A 4.054 51,6 34,5 13,1 0,8
Tipo B 13.362 25,4 48,9 25,1 0,6
Tipo C 12.300 18,0 45,0 36,2 0,8
Tipo D 25.354 19,9 30,5 39,6 10,0
Fonte: INCRA/MDA/Censo Agropecuário de 1995/96.

Observe que a maioria dos estabelecimentos de tipo A estava “muito integrada” ou


“integrada” (86%), e o inverso ocorre com os estabelecimentos do tipo D, que eram em maior
parte “pouco integrada” ao mercado. Note que dentre os estabelecimentos do tipo A, B e C
são poucos os casos de estabelecimentos com VBP negativo, estes em sua grande maioria são
os de tipo D, mais pobres. Os estabelecimentos de tipo B e C, quanto ao grau de integração ao
mercado, foram classificados como “integrados” em sua maioria.
Diante desta caracterização da agricultura familiar no estado de Mato Grosso, ficou
claro que os agricultores deste segmento que possuem áreas maiores que a média do estado
para o referido segmento tendem a produzir os mesmos produtos comerciais da agricultura
patronal, ou seja, os mais capitalizados conseguem produzir grãos como a agricultura patronal
e alcançar padrões de renda bastante elevados para o segmento.
Nota-se ainda que os agricultores familiares de Mato Grosso são extremamente
carentes de assistência técnica, energia elétrica, irrigação, máquinas, entre outros fatores
tecnológicos, o que também se deve a carência de recursos para investir no estabelecimento.
Quanto à especialização produtiva vê-se que os especializados têm maior acesso às
tecnologias, maior renda, menores índices de áreas não utilizadas e maiores áreas médias, e,
portanto têm-se na especialização, não total mas bem definida, um fator de sucesso para os
mesmos. Quanto ao grau de integração ao mercado, verificou-se que os muito integrados
também alcançam os melhores indicadores, o que leva a crer que são, em grande parte, os
mesmos estabelecimentos, especializados e também muito integrados ao mercado.
Entre as dificuldades enfrentadas pela agricultura familiar no estado de Mato Grosso
estão ainda falta de planejamento, a falta de organização dos produtores em cooperativas e
associações, falta de organização da produção para produzir em maior quantidade e com

89
maior qualidade, dificuldades para comercializar a produção devido ao pouco acesso ao
mercado, e à carência de agregação de valor, o que melhoraria o preço de seus produtos e
conseqüentemente, sua renda.
Segundo Rezende (2003), as grandes mudanças na tecnologia agrícola das últimas
décadas permitiram a exploração dos solos do cerrado no Brasil, uma vez que estes têm baixa
fertilidade natural e elevada acidez. Contudo, o autor expõe que o investimento de capital no
solo é elevado, é preciso realizar a “construção do solo”. O rigor climático, devido à
irregularidade das chuvas, aliado aos problemas do solo, torna inviável a agricultura familiar
na região, e isso tem dado a expansão agrícola no cerrado padrões claramente concentradores.
O problema da inviabilidade é decorrente, segundo o autor, da incapacidade da mesma de
obter renda no período de seca para cobrir os custos fixos da propriedade e mesmo para
sobreviver.
Uma outra questão que também pode tornar inviável a agricultura familiar na região é
a escassez de capital para a denominada “construção do solo”, e, como pôde ser observado, há
um elevado índice de áreas não utilizadas, o que provavelmente decorre da carência de crédito
e capitais próprios para acessar tecnologias capazes de melhorar o solo e mesmo para
exploração de áreas de mata. Foi possível verificar que a maior integração ao mercado deve
estar intimamente relacionada com a maior renda e assim permitindo ao produtor obter
recursos para exploração da área disponível.
Moreira, Helfand e Figueiredo (2007), estudando a relação inversa entre produtividade
e tamanho da propriedade, com base nos dados do Censo Agropecuário de 1995/96,
constataram que no Centro-Oeste, apesar de existir relação inversa entre tamanho e
produtividade da terra, a relação é direta, se considerar a produtividade total dos fatores. Isso
reforça a idéia de, devido ao uso intensivo de insumos necessários ao solo da região, é
fundamental para elevar a produtividade, e descapitalizada a agricultura familiar mato-
grossense tende a permanecer não utilizando toda sua área e sem acesso a estes pacotes
tecnológicos modernos, o que lhe confere a mais baixa renda por hectare do país.
Grande parte da agricultura familiar de Mato Grosso é representada por assentados de
projetos de reforma agrária. Segundo Schimidt, Marinho e Rosa (1998), em geral estes são
carentes de serviços de assistência técnica, serviços de saúde, energia elétrica e educação, a
maior parte é analfabeto ou tem poucos anos de estudo. Estes quase não utilizam máquinas e
técnicas como a irrigação. E, apesar das grandes dificuldades enfrentadas pela agricultura
familiar no Estado, ela continua crescendo, em especial pelos programas de reforma agrária,
sendo que Mato Grosso é dentre os estados brasileiros o terceiro maior em número de

90
assentamentos. Logo, pode-se concluir que a reforma agrária tem ampliado a massa de pobres
no meio rural mato-grossense, uma vez que não se dá a devida assistência aos novos
agricultores.
No próximo capítulo encontra-se uma caracterização dos projetos de assentamentos de
Mato Grosso, segundo informações coletadas pelo Censo da Reforma Agrária (SPAROVEK,
2002).

91
6 OS ASSENTAMENTOS RURAIS EM MATO GROSSO

6.1 A história da propriedade da terra e reforma agrária em Mato Grosso

Segundo Moreno (2007) a história da propriedade da terra em Mato Grosso foi


marcada por políticas favorecendo os grandes proprietários e muitas ilegalidades. O breve
resumo histórico apresentado nesta seção é todo baseado na obra desta autora.
A povoação de Mato Grosso se deu no início do século XVII,I com o movimento
bandeirante que descobriu as minas de ouro nos Rios Coxipó e Cuiabá. Para firmar este
território como seu, a Coroa Portuguesa desmembrou as minas cuiabanas da Capitania de São
Paulo, fundando a Capitania de Mato Grosso. A missão da nova capitania era guardar a
fronteira oeste do Brasil, pois o Tratado de Madri, baseado na posse pelo uso já estava sendo
negociado.
No final do século XVIII as minas se enfraqueceram levando mineiros, latifundiários e
comerciantes a praticar atividades produtivas diversificadas, e muitos solicitaram junto ao
governo a concessão de sesmarias para ampliar suas atividades. No ano da proclamação da
república, 1889, a economia mato-grossense era baseada na atividade agropecuária (pecuária,
cana-de-açúcar e extrativismo). Muitas usinas de açúcar surgiram às margens dos rios Cuiabá
e Paraguai, produzindo açúcar, aguardente e álcool.
Com a extração da borracha em evidência, as terras ao norte foram se valorizando e
grandes latifúndios se formando nas mãos de seringalistas. Também contribuiu para isso a
extração da poaia.
Assim, a economia e a baixa densidade populacional favoreceram a formação de
grandes latifúndios e a concentração de renda e poder nas mãos da elite. No norte por
seringalistas e usineiros e no sul por pecuaristas e produtores de mate. Este processo de
concentração das terras favoreceu o surgimento do coronelismo.

92
A construção de ferrovias substituindo as hidrovias, passando pelo sul do estado
valorizou as terras desta região, favorecendo o aparecimento de grileiros que se apossaram de
áreas imensas de terra, causando muitos conflitos armados.
Com a promulgação da primeira Lei de Terras (Lei n. 601), em 1850, o acesso livre a
terra foi finalizado, passando a ser por processo de compra e venda. Cabia ao governo federal
definir e regularizar a posse da terra. Por esta mesma lei, as terras devolutas passaram a ser
domínio da União. Com a promulgação da Primeira Constituição Republicana, em 1891, esta
posse passou para os governos estaduais, cabendo a estes o reordenamento jurídico das
propriedades em seus estados. Desta forma, as classes dominantes em cada estado teriam
maior influência sobre a distribuição de terras.
A primeira Lei de Terras do Estado de Mato Grosso foi sancionada em 1892, tratando
dos mecanismos da regularização fundiária e no mesmo ano outra lei repartia as terras
públicas. Elas garantiam posses de grandes áreas aos latifundiários do estado, inclusive
àqueles que não se ajustaram à lei de terras de 1850, por terem áreas maiores que a permitida
(3.600 hectares), conseguindo regularizar através da lei estadual. Então, em Mato Grosso a lei
de democratização do solo favoreceu os grandes posseiros, ao invés de beneficiar os
pequenos.
Novos regulamentos e leis sobre a questão da terra foram expedidas em 1902, 1927 e
1939. Suas diretrizes gerais sempre favoreciam o processo de concentração de terras. Apesar
de o Decreto-Lei nº. 161 de 1939 buscar inibir alguns abusos que vinham sendo cometidos
com relação à aquisição de terras devolutas, quase nada teve efeito real. Quanto às concessões
de terras gratuitamente para colonização, a Lei dispunha que isto só poderia ser feito em áreas
exclusivas para lavouras e os lotes cedidos aos colonos não poderiam ser maiores que 20
hectares. Mas, como contrariava o interesse de vários dos governos seguintes, esta
colonização não se concretizou.
Já o arrendamento de grandes áreas pertencentes ao Estado foi possível e ocorreu
muitas vezes, sempre protegendo os direitos dos arrendatários. Para terras particulares o
regulamento de 1939 dava legitimação, desde que se comprovasse a validade do título de
aquisição. O que se observava era uma situação fundiária muito confusa, e sem motivo de
preocupação pelos governantes.
Outro problema grave era o grande poder dado aos medidores de terras, que
pressionados por latifundiários, negociavam com estes a condução do processo de
regularização das terras, sem intervenção do órgão de terras estadual. Dessa forma, de 1892 a
1930 muitas terras pertencentes, ao governo estadual (terras devolutas) passaram para mãos

93
privadas, por meio da regularização de concessões de sesmarias, legitimações de posse, por
concessões gratuitas para colonização e ainda por arrendamentos para indústria extrativa de
vegetais.
As leis e decretos sobre a concessão de terras para colonização buscavam povoar o
Estado e para isso faziam propaganda até mesmo no exterior. Desejavam a vinda espontânea
de imigrantes, sem custos para o governo. A política teve pouco efeito.
Em 1907 a União criou o Serviço de Povoamento do Solo Nacional, viabilizando os
interesses do estado de Mato Grosso, pois incentivava a imigração estrangeira e promovia a
transferência interna de pessoas no país.
Neste mesmo ano, 1907, foi aprovada uma lei tratando da política de colonização. Por
ela muitas empresas recebiam terras devolutas para fins de colonização em áreas de até um
milhão de hectares, com a única exigência de assentar gratuitamente em 50 lotes de 50
hectares pelo menos 500 famílias, ou seja, apenas 2.500 hectares eram colonizados, e o
restante ficava com a empresa de colonização. Este processo de colonização intermediado por
empresas se revelou uma verdadeira negociata, e era justificado pelas concessões individuais,
causando muitos abusos e inconvenientes.
O fracasso da política de colonização pode ser observado em números. De 1899 a
1924 foram feitas 152 concessões gratuitas em 152 lotes, totalizando 4.814 hectares. Outro
fator que contribuiu para a formação de latifúndios foi o arrendamento de terra a empresas
extrativistas a preços irrisórios.
O caso mais conhecido foi o da empresa Erva Mate Laranjeira, que explorou a erva
mate no sul de Mato Grosso, em uma área de três milhões de hectares, por mais de cinqüenta
anos. Além dos prejuízos aos cofres públicos ocorriam muitos prejuízos ecológicos, com
derrubada indiscriminada de matas e dizimação da população indígena.
Entre 1930 e 1947 o Brasil foi governado por Getúlio Vargas, com o objetivo de
diversificar a agricultura para evitar crises de superprodução, como estava ocorrendo com o
café. Para isso, o governo de Vargas passou a incentivar a expansão das pequenas
propriedades. Deu início a “Marcha para Oeste”, uma política de distribuição de terras para
trabalhadores rurais nacionais ou estrangeiros. Outro objetivo desta política era ocupar
espaços vazios do território brasileiro, desalojando a companhia Mate Laranjeira e no seu
lugar, em 1943, implantando uma colônia agrícola, denominada “Colônia Agrícola Nacional
de Dourados”.

94
Novas colônias agrícolas semelhantes foram implantadas no Estado. No entanto, esta
política também favoreceu os grandes latifundiários que ficaram mais protegidos de invasões
de grileiros em suas propriedades, além de ter mais mão-de-obra à disposição.
Após o fim da era Vargas, em 1947 assumiu Mato Grosso o governador Arnaldo
Estevão de Figueiredo, que buscou pôr em prática o sistema de colonização intermediado por
empresas particulares. Este governo ainda solicitou ampla reformulação das leis que
dispunham sobre terras no Estado. Este pedido foi concretizado no Código de Terras de 1949
(composto pelas Leis n. 18 de 21/10/1949; n. 68 de 11/12/1949 e Lei n. 75 de 12/12/1949).
Com a criação do INCRA, no ano de 1970, muitas áreas do estado de Mato Grosso
foram federalizadas, passando este órgão a ter sob seu domínio mais de 60% das terras mato-
grossenses. O mesmo seria o responsável pelas terras devolutas e deveria destiná-las segundo
as diretrizes do Estatuto da Terra. Promoveu-se, assim, a distribuição de terras para
colonização oficial e particular, com todas as estratégias de colonização fazendo parte do
programa de povoação da Amazônia.
Considerado portal da Amazônia, Mato Grosso passou a receber recursos de diversos
programas especiais de desenvolvimento (PIN, PROTERRA, POLOCENTRO,
POLAMAZÔNIA e POLONOROESTE). Estes, segundo Moreno (2007), “serviram em
primeira instância para patrocinar o acesso à terra na região pelos grandes grupos
econômicos” (p. 156), porque eram eles que conseguiam os recursos destes programas.
Por meio da SUDAM, nas décadas de 1970 e 1980, foram implantados no estado 268
projetos de colonização intermediados por empresas, dos quais 84,9% eram projetos
agropecuários. E assim, 23,06% dos incentivos fiscais da SUDAM ficaram em Mato Grosso.
Os projetos agropecuários ocupavam áreas em torno de 31.400 hectares, quase sempre
destinado a criação de gado.
Quanto à reforma agrária, em Mato Grosso o principal instrumento do INCRA foi a
regularização fundiária. Foram expedidos muitos títulos definitivos e licenças de ocupação.
Em 1986 com a criação dos programas de reforma agrária nacional e regional
observou-se o fim das regularizações fundiárias ocorridas de forma desenfreada e
beneficiando grandes proprietários rurais, acontecendo as primeiras desapropriações de terras.
Os 59 projetos de Colonização Oficial implantados pelo INCRA, entre 1980 e 1992,
em Mato Grosso foram classificados de três formas, conforme a estratégia de implantação.
Nove projetos foram denominados de “Projetos de Assentamento Rápido” e realizados em
áreas de infra-estrutura já implantada, e com apoio dos governos estaduais e municipais. Os

95
lotes tinham em média 50 hectares e ocuparam uma área total de 269.948 hectares, assentando
4.542 famílias.
Três projetos foram denominados “Projetos de Ação Conjunta”, pois relacionavam à
uma ação conjunta entre INCRA e uma cooperativa. O INCRA dava as terras, infra-estrutura
básica e titulação das parcelas. As cooperativas davam a manutenção e administravam o
assentamento. Nestes três projetos foram parceiras do INCRA a Cooperativa Mista
Agropecuária de Juscimeira Limitada, em um projeto em Nobres, a Cooperativa Agrícola de
Cotia, num projeto em Alta Floresta e a Cooperativa Tritícola de Erechim Limitada. Foram
assentadas nesta condição 7.579 famílias em 538.217 hectares.
A terceira classificação dos projetos de colonização oficial foi o “Projeto Especial de
Assentamento”, executado para atender populações vindas de áreas em conflitos por terra.
Toda a responsabilidade deste tipo de assentamento era do INCRA e somente um foi
realizado em Mato Grosso. Este se localizava em Lucas do Rio Verde, com área de 200.000
hectares, assentando 972 famílias vindas do Rio Grande do Sul. Este projeto foi implantado
em 1981 e ficou muito conhecido por escândalos de compra e venda de terras, destinadas a
assentamentos. Em 1986 apenas 15 famílias, originalmente assentadas, se mantinham no
local. Além deste projeto foram implantados outros assentamentos em áreas de conflito,
dentro do Estado, ocupadas por posseiros. Foram 46 projetos, entre 1981 e 1992, com área
total de 990.039,1 hectares, assentando 9.690 famílias.
Quanto aos projetos de Colonização Particular, estes tiveram muito mais êxito do que
aqueles oficiais. Era obrigação da empresa colonizadora se cadastrar junto ao INCRA e ter
seu projeto aprovado por este órgão para que pudesse empreender uma colonização. Também
era obrigação da empresa colonizadora abrir estradas de acesso, demarcar lotes, construir
armazéns, escolas e postos de saúde, delimitar o perímetro urbano, demarcar os lotes urbanos,
dar assistência técnica e crédito aos colonos, além de manter as reservas florestais
obrigatórias.
Nas décadas de 1970 e 1980 foram implantados 88 projetos de colonização por 33
empresas que se cadastraram junto ao INCRA. Foram ocupados 3,25 milhões de hectares por
aproximadamente 20.000 famílias de colonos. A grande maioria vinha do Sul do Brasil e em
geral adquiria lotes maiores de 100 hectares.
Neste processo, muitas comunidades indígenas foram dizimadas, dando origem a
muitos novos municípios. Em 1970 o estado tinha apenas 34 municípios, já este número era
de 95 em 1990.

96
No total, os projetos de colonização particulares e oficiais ocuparam uma área
equivalente a 4,78% do território de Mato Grosso. Embora a ocorrência de desistências, o
maior sucesso dos projetos particulares se justifica pelo maior poder aquisitivo de sua
clientela.
Além dos estudos envolvendo assentamentos de todo o país, apresentados no quarto
capítulo, foi encontrado na referente literatura um estudo amostral em assentamentos mato-
grossenses. O mesmo foi realizado por e Fernández e Ferreira (2004), apresentando situação
socioeconômica de uma amostra de cinco assentamentos rurais.
Os dados nos quais os autores se basearam são resultados de aplicação de questionário
junto aos beneficiários dos assentamentos ‘João Ponce de Arruda’, Confresa Roncado,
Eldorado I, Tupã e Novo México. A escolha dos mesmos teve por objetivo abranger os três
ecossistemas existentes no Estado, pantanal, cerrado e floresta, e ao mesmo tempo as regiões
de ocupação recente e antiga.
As principais constatações foram que os assentamentos estavam bem distribuídos pelo
Estado, mas o maior número de famílias assentadas estava no norte, denominada pelos autores
como região de ocupação recente, sendo os assentamentos um fator de atração populacional
para município de baixa densidade demográfica.
Foram encontradas elevadas taxas de analfabetismo entre os beneficiários. Em média
um registro de 23,8%, mas este variou entre 0% e 50% entre os cinco assentamentos
estudados. Cruzando informações sobre escolaridade dos titulares dos lotes, com informações
de produção e renda observou-se muitas situações nítidas de relação positiva entre
escolaridade e uso de máquinas, insumos e renda familiar.
Uma dinâmica observada entre os assentamentos estudados foi a tendência de
substituição da vegetação original por pastos cultivados. No início, os assentados tendiam a
trabalhar com atividade agrícola. Em seguida ocorreu o empobrecimento do solo e se optou
pelas pastagens e atividade pecuária de leite. Já nos assentamentos João Ponce de Arruda e
Eldorado I a vegetação original vinha sendo substituída por lavouras temporárias, inclusive
com uso de máquinas e insumos químicos. Em geral, a ocupação do solo foi influenciada pelo
sistema de produção que predominava no município em que estavam inseridos.
O VBP médio dos assentamentos estudados na safra 1996/97 foi de R$ 11.795,70,
sendo 62,9% devido a atividades agrícolas, mesmo esta ocupando 29,8% da área dos lotes.
Houve muita diversidade no VBP da amostra, que variou entre R$ 24.759,00 e R$ 4.905,20.
Os mais elevados eram basicamente decorrentes da produção de arroz e soja.

97
Segundo os entrevistados, os programas de crédito especial para assentados não
supriram suas necessidades. Os que conseguiram maior volume de crédito também eram os de
maior VBP. Quanto à comercialização da produção nos assentamentos mais distantes e com
menor infra-estrutura de produção, armazenagem e transporte o comércio dos produtos foi
feita basicamente com atravessadores, resultando em preços menores. O oposto aconteceu nos
assentamentos mais bem estruturados e inseridos num mercado dinâmico.
Do total pesquisado, 55% residiam em casa de alvenaria, 30% em casas de madeira.
Em apenas 11% das residências o piso era de cerâmica, 27% de chão batido e 52% de
cimento.
Dois assentamentos tiveram situação muito antagônica, como o denominado João
Ponce de Arruda, localizado no município de Campo Verde que possuía uma estrutura
produtiva consolidada com políticas voltadas para reprodução da agricultura patronal. Este
obteve os melhores resultados em quase todos os quesitos analisados. No extremo oposto
estava o assentamento Confresa Roncador, localizado no município de Confresa, a 1350
quilômetros de Cuiabá. Além da enorme diferença entre quesitos de serviços sociais, VBP,
estradas de acesso, 91% das residências do primeiro eram de alvenaria e 81% tinham energia
elétrica. No segundo 96% das casas eram de madeira e 76% cobertas com palha, e a grande
maioria não tinha piso nem energia elétrica.
Questionados sobre a melhora nas condições de vida após o assentamento, os
beneficiários responderam que em 75% dos casos a situação da moradia melhorou, para 65%
o acesso a serviços médicos foi melhor, a alimentação estava melhor para 74% e 57%
achavam melhor as condições de acesso a escola. Em geral, reconhecem uma prosperidade
após o acesso a terra.

6.2 Características dos assentamentos rurais mato-grossenses

Observando a história da propriedade das terras mato-grossenses, sempre favorecendo


a grande propriedade, compreende-se as raízes da estrutura fundiária presente no Estado.
Neste cenário há uma pequena agricultura familiar, e grande dela é originária de
assentamentos rurais.
No capítulo anterior foi possível conhecer melhor a situação dos pequenos agricultores
mato-grossenses. Agora será apresentada, especificamente, a realidade em que se encontram

98
os pequenos produtores rurais assentados no Estado. Os dados são do Censo de Reforma
Agrária 2002 (SPAROVEK, 2002), conforme apresentado no terceiro capítulo.

Área total e utilizada

A área total destinada ao projeto de assentamento é subdividida em área de


preservação permanente, de reserva legal, destinadas à produção coletiva e à individual. Os
valores extremos e a média de cada destinação da área a partir da área total são apresentados
na Tabela 18.

Tabela 18 - Estrutura fundiária dos projetos de assentamentos

Média
* Erro-padrão
Total do PA 34.827 80 7.255
Mínimo573 1.218.899
Área (em hectares)
Preservação permanente Máximo2 573Total
6.400 79 96.256
Reserva legal 16.348 0 2.333 236 391.975
Produção coletiva 1.189 0 16 8 2.678
Tamanho dos lotes 202 3 50 3 ---
*
PA: Projeto de Assentamento
Fonte: Censo de Reforma Agrária 2002 (SPAROVEK, 2002).

A área total da amostra é de 1.218.899 hectares e, segundo a portaria de criação, a


capacidade destes 168 projetos é de 22.818 famílias, o que geraria lotes com tamanhos médios
de 53,4 hectares, caso fosse dividida a área igualmente entre o total da capacidade de
assentamento. Entretanto, dentre estes projetos haveria lotes com tamanho variando entre 3 e
202 hectares. O assentamento com lotes de tamanho médio de 202 hectares é o ‘Maria
Tereza’, criado em 1996 no município de Ribeirão Cascalheira. Do total do lote, cerca de
38,4% seriam referentes a área de preservação, restando 124 hectares utilizáveis. Entre os 168
projetos estudados, havia sete com tamanho inferior a 8 hectares e seis que superaram em
mais de três vezes a média da amostra como um todo. Diante de tamanha discrepância,
acredita-se que o tamanho dos lotes poderia ser melhor dimensionado pelo INCRA. Embora
áreas com características naturais desfavoráveis devam ter lotes maiores, acredita-se não se
justificar tamanha dispersão.

99
Em apenas 8 dos 168 projetos de assentamentos estudados havia área de produção
coletiva (Tabela 19). Quanto a renda destes, a mesma variava, sendo no assentamento
Laranjeira I renda média mensal de R$ 100,00 mensais por família, ou seja, igual as mais
baixas encontradas na amostra estudada e este possuindo a maior área de produção coletiva
entre os projetos estudados, 1.189,3 hectares, ou 16,5% da área utilizável no projeto. Já no
assentamento Santa Helena a renda média das famílias era de R$ 600,00, entre as mais
elevadas da amostra estudada, e a área coletiva representava apenas 0,35% da área utilizável
do projeto. Tal fato levanta dúvidas sobre a capacidade da produção coletiva estar gerando
efeitos positivos sobre a renda monetária, como indicado em estudos anteriormente
mencionados, embora deva estar gerando renda de autoconsumo.

Tabela 19 - Projetos de assentamento com área de produção coletiva.

Área Área destinada à


Ano de
Assentamento total em Município produção coletiva
criação
hectares (em ha)
Santa Helena 16.447 1.996 Vila Bela da S. Trindade 30,00
Campo Limpo 1.022 1.995 Poconé 55,75
Santa Carmem 121 2.000 Santa Carmem 58,00
São Benedito 1.219 1.998 Araputanga 115,10
Aguaçú 221 2.000 Cuiabá 134,40
Seringal 6.422 1.997 Vila Bela da S. Trindade 500,00
Bojui 15.638 1.998 Diamantino 595,40
Laranjeira I 10.944 1.998 Cáceres 1.189,32
Fonte: Censo de Reforma Agrária 2002 (SPAROVEK, 2002).

Quanto ao tamanho médio dos lotes, segundo os entrevistados, estes diferem em


alguns casos dos calculados pela área média e capacidade de assentamento segundo a portaria
de criação do projeto. No entanto a dispersão é semelhante, entre 2 e 201 hectares. Os
menores tem cerca de 2 hectares e são encontrados no projeto Pedra 90, município de Cuiabá,
Colniza II no município de Colniza, Chão do Amanhã no município de Sorriso, o no projeto
Arinos em Juara. O tamanho médio dos lotes para os 168 assentamentos rurais mato-
grossenses estudados foi de 49,5 hectares. Os maiores lotes são encontrados no projeto de
assentamento Chapadinha, em São Félix do Araguaia, com tamanho médio de 201 hectares,

100
como mostra a Tabela 20. São cinco os assentamentos onde o tamanho médio dos lotes supera
em no mínimo três vezes o tamanho médio da amostra.

Tabela 20 – Maiores lotes entre os assentamentos estudados.


Tamanho Renda Média
Projeto de
Município Médio dos Mensal por
Assentamento
Lotes (em ha) família
Chapadinha São Félix do Araguaia 201 R$ 100,00
Xavantinho São Félix do Araguaia 180 R$ 300,00
Maria Tereza Ribeirão Cascalheira 153 R$ 600,00
Serra Nova II Serra Nova Dourada 150 R$ 300,00
Reforma Agrária 2002
Fonte: Censo de(SPAROVEK, 2002).

Nota-se que em São Félix do Araguaia estão os assentamentos com os maiores lotes.
Além destes, no mesmo município há ainda o assentamento Azulona Gameleira, com área
média de 133 hectares por lote. No entanto, todos os projetos localizados neste município
apresentam outra característica em comum, elevada área de preservação e reserva legal, entre
37% e 42% da área oficial dos projetos destinada à preservação permanente ou á reserva
legal. As áreas de preservação permanente e reserva legal variam entre 0,96% e 95% da área
destinada ao projeto. A maior parcela das áreas de preservação obrigatória é encontrada no
assentamento Chão do Amanhã, município de Sorriso, onde 95% da área total destinada ao
projeto. Devido a isto, o tamanho médio dos lotes deve ser considerado com cautela, pois nem
sempre implica em maior área disponível para atividades produtivas, e desta forma também
nem sempre gera renda superior aos assentados em lotes menores.

Capacidade de assentamento e abandono

A capacidade oficial de assentamento dos 168 projetos, segundo a portaria de criação,


é de 22.818 famílias. E constam nas respostas que são 15.599 famílias morando nos projetos
de assentamento. Tal diferença pode ser decorrente da família do beneficiário não residir no
assentamento, ou ainda a abandonos. Constam nas respostas dos entrevistados
aproximadamente 5% de desistências com relação à capacidade total do assentamento,
número que não pode ser confirmado, uma vez que não é possível conhecer o número de
famílias que residiam fora do projeto (devido a grandes discrepâncias nas respostas).

101
No entanto, o percentual médio de desistência (5%) para os assentamentos como um
todo indica que mesmo com algum erro de respostas este deve estar abaixo do encontrado
pelo estudo da FAO e INCRA no ano de 1991, que apontava uma amostra de assentamentos
em Mato Grosso com índices de 20% de desistência (GUANZIROLI, 1994). Todavia, deve-se
considerar que pode ter ocorrido o fato de alguns dos entrevistados pelo Censo da Reforma
Agrária de 2002 não considerar como abandono a venda dos lotes, e que o estudo da
FAO/INCRA generaliza, a partir de uma amostra muito pequena.
O maior índice de abandono ou desistência foi declarado pelos entrevistados do
assentamento Martins, localizado no Município de Água Boa, com capacidade de
assentamento de 55 famílias e com 84% de desistências (ou 46 beneficiários). Outros projetos
com elevado número de abandonos foram os projetos Pandovani (50%), Boa Esperança I, II, e
III (47%), Juruena I (30%) e Pedra 90 (22%). Muitas características comuns foram
encontradas entre os mesmos. Todas estavam muito distantes da sede de município mais
próximo, além de estradas de terra mal conservadas. Também havia carência pronunciada de
serviços sociais, como mostra a Tabela 21.

102
Tabela 21 – Característica dos assentamentos com elevado número de abandono dos lotes.

Capacidade Parcerias
Projeto de de % de
Assentamento assentamento Ano de criação Abandono Educação Saúde
Martins 55 2002 84% sim sim
Pandovani 450 2000 50% sim sim
Boa Esperança I, II e III 449 2002 47% não não
Juruena I 630 2001 30% sim sim

Tempo de % Famílias
acesso a sede com % Famílias
do município abastecimento com casas com
mais próximo regular de sanitários % Famílias com % Famílias que
(em decimais água de boa ligados a fossa fornecimento regular produzem apenas
de hora) qualidade séptica de energia elétrica para subsistência
Martins 4,33 17% 0% 0% 100%
Pandovani 2,5 20% 0% 0% 84%
Boa Esperança I, II e III 4 11% 3% 0% 95%
Juruena I 2,5 30% 0% 0% 90%

Fonte: Censo de Reforma Agrária 2002 (SPAROVEK, 2002).


Observa-se que o assentamento Boa Esperança I, II e III não apresentou nenhum tipo
de parceria nem mesmo para educação e saúde, situação muito grave quando o assentamento
está a quatro horas da zona urbana mais próxima. Embora não apresentado no quadro anterior,
nenhum destes projetos tem qualquer tipo de parceria para atividades de lazer e religião. É
notável também que os assentamentos Martins e Pandovani nunca tiveram acesso ao
PRONAF. Os baixos salários médios mensais também indicam a pobreza em que vivem estas
famílias, e devem estar intimamente relacionado com a desistência dos lotes.
Em resumo, a sensível falta de apoio institucional, a distância da zona urbana, e as
péssimas condições das estradas de acesso parecem justificar as elevadas taxas de evasão.

Parcerias: serviços sociais, infra-estrutura, produção e comercialização

Os auxílios para serviços sociais e infra-estrutura foram prestados através de parcerias,


articuladas com a Prefeitura do Município, Governo do Estado, sociedade civil ou
Organização Não-Governamental- ONG e INCRA.
Em geral as parcerias com a prefeitura municipal foram mais expressivas em todos os
itens. Quanto ao auxílio para produção e comercialização, 48,8% dos assentamentos
receberam algum tipo de auxílio da prefeitura municipal. Este item trata da inclusão nas feiras
públicas municipais, transporte para a produção, empréstimo ou aluguel de máquinas
agrícolas, fornecimento de insumos ou assistência técnica (Tabela 22). Também destaca o
elevado número de projetos de assentamento, 62, sem nenhum tipo de auxílio à produção e
comercialização. No entanto, nos cinco projetos de assentamento onde os entrevistados
responderam ter três parcerias para esta finalidade, nenhum alcançou renda superior a
R$ 300,00 mensais por família.

Tabela 22 - Parcerias institucionais dos projetos de assentamento.


Sociedade
Prefeitura Governo do Civil ou
Tipos de Parcerias Municipal Estado INCRA ONG
Comercialização e Produção
48,8% 13,1% 5,9% 16,1%
Estrada de Acesso ao PA
89,3% 8,9% 44,1 % 7,1%
Educação
94,6% 18,5% 6,6% 4,8%
Saúde
91,1% 28,6% 4,8% 0,6%
Lazer e Religião
44,6% 0,6% 7,1% 43,8%
Fonte: Censo de Reforma Agrária 2002 (SPAROVEK, 2002).
104
A parceria para a educação pode incluir desde criação e manutenção de escolas no
interior do projeto ou ainda fornecimento de transporte escolar. Neste item as prefeituras
municipais novamente se destacam. São 94,6% ou 159 assentamentos auxiliados pelas
mesmas. Em se tratando de educação, cabe ainda destacar que 82 dos 168 projetos analisados
têm escolas de ensino fundamental dentro do próprio projeto. Já a parceria do governo
estadual, que em geral deve-se ao ensino médio, está presente em apenas 18,5% dos projetos
de assentamento.
Na contribuição para a qualidade de vida das unidades familiares com algum tipo
apoio para lazer e religião, a própria sociedade civil e/ou ONGs e as prefeituras municipais
são os maiores parceiros dos projetos de assentamento. Este item inclui a construção de
igrejas, campos esportivos, clubes, centros comunitários e bibliotecas.
Quanto às estradas, 89,3% dos projetos de assentamento têm auxílio para manutenção
das mesmas por parte das prefeituras municipais. Também se destaca neste quesito a parceria
com o INCRA. Não o bastante, existe precariedade nas estradas que dão acesso aos
assentamentos rurais. Este mesmo obstáculo e a ausência de parcerias firmadas que atendam
essa questão acabam afetando de alguma forma as condições e meios de comercialização da
produção nas unidades produtivas, representadas pela dificuldade de logística para acesso aos
mercados consumidores e com custos de transporte, por exemplo.
O percurso das estradas, possibilitando o trânsito dos assentados de suas localidades
até o município mais próximo, está descrito em termos de percentuais do projeto, segundo
condições das estradas de acesso. Apenas 12,5% dos assentamentos desta amostra possuía
maior parte do percurso com estradas asfaltadas, enquanto para os demais 87,5% menor parte
ou nenhuma parte do percurso era em estrada asfaltada. Entre os projetos com acesso por
estradas de terra em mais da metade, 51%, observa-se más condições para trafegar, e 7,7%
dizem que as mesmas só são trafegáveis em algumas épocas do ano, ficando totalmente
impossibilitado o transporte da produção ou ainda de insumos entre alguns projetos de
assentamento e os centros comerciais em alguns períodos do ano.
Com a precariedade das estradas de acesso está o tempo de acesso aos assentamentos
rurais. Dentre os 168 estudados 77 estão localizados a mais de uma hora da sede do município
mais próximo. Em média, o tempo de deslocamento é de aproximadamente 1,17 horas, com
105 assentamentos abaixo da média e 63 acima da mesma. Esta distribuição pode ser
observada na Figura 19.

105
6,00

5,00
tempo (horas)
4,00

3,00

2,00

1,00

0,00
0 20 40 60 80 100 120 140 160
PA's

Figura 19 - Tempo de acesso do projeto de assentamento à sede do município mais próximo,


em decimais de hora.
Fonte: Censo de Reforma Agrária 2002 (SPAROVEK, 2002).

Todos os assentamentos localizados a mais de três horas da sede do município mais


próximo, 13 no total, declararam ter menor parte ou nenhum percurso em estrada asfaltada e
maior parte ou todo em estrada de terra em más condições e trafegável apenas parte do ano
com extrema dificuldade. Observa-se ainda, na Figura 19, que o ponto acima da linha das
cinco horas representa o extremo no tempo de acesso. Este é o assentamento Brasil Novo,
localizado no município de Querência, com o tempo de acesso de 5,5 horas segundo os
entrevistados. A renda média dos três assentamentos com tempo de acesso superior a quatro
horas é de R$ 166,00.
No outro extremo com o menor tempo de deslocamento no percurso do assentamento
à sede de um município está o projeto de Pontal, município de Nova Nazaré, vizinhos a zona
urbana, e, portanto, com tempo de acesso nulo, segundo os entrevistados. Os projetos
localizados a menos de 10 minutos da zona urbana mais próxima alegam ter estradas de terra
em boas condições. A renda média das famílias assentadas neste mesmos assentamentos é de
R$ 300,00.
Como já mencionado, os estudos de Bittencourt et al (1998) e Fernández e Ferreira
(2004) detectaram as condições das estradas de acesso e distância da zona urbana como
fatores limitantes para o desenvolvimento dos assentamentos. Isso ocorre uma vez que a
facilidade de acesso a zona urbana promove, entre outras coisas, melhores condições para a

106
comercialização da produção, proporcionando maior renda aos assentados. Quando muito
isolados os assentados se tornam dependentes de atravessadores, ampliando o canal de
comercialização e reduzindo os preços recebidos. Também foi observado, no capítulo
anterior, que entre os agricultores familiares de Mato Grosso o grau de integração ao mercado
está diretamente relacionado com a renda.

Condições de habitação

Com relação à habitação, cerca de 78,6% dos projetos de assentamento apresentaram


todas ou a maioria das residências localizadas nos lotes e 11,3% das habitações no estado de
barracos, sob lona, ou em moradias improvisadas. Também havia beneficiários residindo em
agrovilas, distritos, vilas ou cidades próximas. como mostra a Figura 20.

140 Maioria ou total das casas


132 localizada nas parcelas
120
Barracos sob lona ou em
moradias improvisadas
100
Distritos, vilas ou cidades
Número de PAs

80 próximas

Todas ou maioria das casas


60
localizadas em agrovilas

40 Divisão equilibrada das casas


nas parcelas e em agrovilas
19
20
6 5 3 3
Construções que existiam no
imovel antes da criação do PA
-

Figura 20 - Organização da moradia dos projetos de assentamento.


Fonte: Censo de Reforma Agrária 2002 (SPAROVEK, 2002).

A qualidade de vida está ponderada pelo número de moradores em todos os projetos


de assentamento. Questões sobre escolaridade, acesso a atendimento médico, assistência
técnica, transporte coletivo, lazer, acesso a instituições de caráter religioso, social, político e
financeiro são contempladas apenas na forma do projeto possuir ou não o serviço.
Através das respostas das questões aplicadas, percebe-se que para a qualidade de vida
das famílias assentadas ainda não é totalmente assegurada em termos de condições básicas de
tratamento de esgoto, água de boa qualidade e energia elétrica, como mostra a Figura 21.

107
80%
70% Famílias com sanitários
62%
% das famílias atendidas

ligados a fossa séptica


60%
50%
Famílias com acesso
37%
40% regular a energia elétrica
30%
20% Famílias com
11%
abastecimento regular de
10%
agua de boa qualidade
0%
1

Figura 21 - Famílias que ocupam casas com sanitário, energia elétrica e abastecimento de
água (em %)
Fonte: Censo de Reforma Agrária 2002 (SPAROVEK, 2002).

As casas com sanitário ligado à fossa séptica são realidades para aproximadamente
9,9% das famílias assentadas. A média de famílias com acesso ao fornecimento regular de
energia elétrica foi 37,9%. Dentre os aspectos da condição de moradia o abastecimento de
água de boa qualidade de forma regular foi o que se mostrou mais satisfatório, com 62,0% das
famílias desfrutando desta condição. Os baixos números de acesso a energia elétrica e
condições de sanitários demonstram a precariedade em que vivem os assentados.
Esta infra-estrutura social (educação, saúde, condições de habitação) foi observada em
outros estudos já mencionados, como fator motivador do sucesso dos assentamentos.
Portanto, apesar de sua relação indireta com a renda, ela afeta a motivação para o trabalho e
permanência no projeto quando é superior às condições vivenciadas pelos assentados antes do
acesso a terra. Mas, embora se conheça a importância destes fatores, vários trabalhos
mencionados nos capítulos anteriores detectaram em geral condições hidrossanitárias muito
ruins nos assentamentos brasileiros.

Renda e fontes de renda

Quanto à atividade produtiva, verificou-se que em média, 62,9% das famílias têm a
atividade produtiva principal para subsistência, exercendo ainda outro tipo de atividade ou
serviço, dentro ou fora dos assentamentos, para complementar a renda mensal. São apenas 7

108
assentamentos, totalizando 428 famílias em que nenhuma trabalha unicamente para
subsistência. A renda destas foi no mínimo de R$ 215,00 e no máximo de R$ 300,00 mensais.
Por outro lado são 14 projetos, com 675 famílias, onde todas trabalham unicamente para a
subsistência. A renda média mensal deste grupo de famílias varia entre R$ 100,00 e R$
300,00, sendo que esta deve-se a trabalhos externos a propriedade e/ou benefícios sociais.
Uma vez que em 85 dos 168 dos projetos de assentamento estudados o número de
famílias que realiza o trabalho de produção no lote unicamente para subsistência, e não para
comercialização, é igual ou superior a 80%, constata-se a necessidade que as mesmas têm de
se inserir no mercado e alcançar melhores condições de vida.
A renda média mensal, segundo os entrevistados, para os 168 assentamentos rurais
estudados foi de R$ 270,00, com menor e maior renda de R$ 100,00 e R$ 600,00,
respectivamente. Em nove assentamentos a renda média estava em torno de R$ 600,00 no ano
da pesquisa (2002). A menor renda média mensal, R$ 100,00, foi declarada em 34 projetos,
sendo num total de 42 esta foi menor ou igual a R$ 200,00, que representava um salário
mínimo no ano do levantamento das informações. Em geral, a atividade principal praticada
por produtores familiares é a de cultivo de plantações agrícolas, em seguida a criação de
animais. Como notou-se nos trabalhos de Bittencourt et al (1998) e Fernández e Ferreira
(2004) o entorno econômico é decisivo para a atividade principal dos assentamentos, que
geralmente praticam as atividades predominantes no município em que se localizam.
Foi observado ainda que grande parte da renda é originária de atividades
complementares, tais como trabalho agrícola de diarista, safrista, empregado rural ou
artesanato. Há ainda muitas famílias atendidas por benefícios do Governo, como pensões,
aposentadorias, bolsa-escola, vale-gás ou outro benefício. A média para os 168 projetos de
assentamento é de 37,5% das famílias atuando em atividades complementares de renda, além
da exploração da terra de seu lote, e em média 22,5% recebem algum tipo de beneficio social
do Governo Federal. Em apenas 5 assentamentos foi declarado que nenhuma família atua em
trabalhos complementares, e em dois, Baxiú (município de Barra do Bugres) e Nova
Esperança I (município de Alto Paraguai), todas as famílias realizam outros trabalhos para
complementar a renda.
Quanto ao recebimento de benefícios sociais do governo, apenas em 6 assentamentos
nenhuma família recebe este tipo de beneficio, e em nenhum deles todas as famílias são
beneficiárias destes programas sociais. Entre os assentamentos não favorecidos por benefícios
sociais há assentamentos com renda de R$ 100,00, o que indica que a ausência não implica a
“não necessidade” deste complemento de renda, e sim porque não tiveram acesso a esta fonte.

109
Cabe ressaltar que, em geral, quanto maior o número de famílias com atividades
complementares maior é a renda média mensal. Isso indica que as famílias não estão
conseguindo sobreviver com produção do lote.
Observou-se ainda que na maioria dos assentamentos com renda média igual a
R$ 600,00 o número de associações era de uma ou duas. Sendo que havia 211 associações ao
todo para os 168 projetos da amostra, chegando a existirem cinco associações diferentes num
mesmo projeto. Tal fato pode estar indicando que a organização da associação deve ser mais
importante que a quantidade das mesmas, ou ainda que há falta de representatividade.
Observando que a renda média dos assentados, mencionada anteriormente, não inclui
o autoconsumo, poderia se afirmar que os assentados estão em melhores condições que
muitos assalariados de classe baixa do setor urbano-industrial. Mas é preciso cautela nesta
análise, pois não se pode esquecer que, em geral, esta renda tem sido derivada de serviços
externos a propriedade e/ou de benefícios sociais, necessárias para sobrevivência dos mesmos,
uma vez que não conseguem extrair da propriedade todas as rendas necessária para
sobrevivência. Portanto, esta renda também deve auxiliar na manutenção da subsistência e
não deve estar sendo investida na propriedade.

Mão-de-obra familiar

No quesito mão-de-obra, o número médio declarado de pessoas por família que


trabalham com a produção agrícola, pecuária e/ou extrativista é de 4,49, sendo 2,18 de mão-
de-obra adulta. Em 128 assentamentos pelo menos dois adultos se dedicam aos trabalhos na
propriedade. Foram observados assentamentos com famílias bastante numerosas, com até
nove pessoas em média por família se dedicando às atividades na propriedade. Trata-se do
projeto Fica Faca, em Nova Brasilândia, com 112 famílias assentadas, e estes indicam que
cerca de três adultos, três jovens e três crianças em média por família se dedicam às atividades
produtivas. Nota-se ainda que a renda média deste assentamento é de R$ 100,00 mensais por
família, indicando a extrema pobreza em que vivem. Em geral, as famílias assentadas são
numerosas. Em pelo menos 72 projetos de assentamento foi declarado que o número de
pessoas por família que se dedica aos trabalhos rurais é de cinco ou mais, o que indica que os
assentamentos geram muitos postos de trabalho no meio rural.
Entre zero e três crianças se dedicam aos trabalhos rurais dentro do lote, conforme a
declaração dos entrevistados. Observou-se que 53 assentamentos não havia nenhuma criança
se dedicando a serviços rurais. Esta questão pode estar ligada a falta de escolas rurais, o que

110
pode levar as mesmas a não residirem nos lotes com as famílias, pois dentre estes mesmos 53
apenas 20 têm escolas de ensino fundamental, localizadas dentro do projeto de assentamento.
Enquanto isso, nos oito projetos onde três crianças foram declaradas como ajudantes nos
serviços rurais, sete possuíam escolas próprias.

Crédito rural e crédito para materiais de construção

Embora haja discursos políticos no sentido de possibilitar que os pequenos produtores


familiares assentados adquiriram independência no desempenho da atividade produtiva, na
realidade poucas são as ações do governo neste sentido. Visto a condição dos 168
assentamentos nos elementos que indicam a qualidade de vida nos projetos, inclui-se, ainda, o
outro recurso na função de produção das famílias assentadas que participam do PRONAF.
Programa criado em 1994, com o propósito não apenas de atender demanda sociais, mas
também viabilizar economicamente as unidades produtivas familiares.
Detectou-se que 139 assentamentos, ou 82,3% dos 168 estudados já receberam, parcial
ou totalmente, o crédito do PRONAF-A ou o antigo PROCERA. Quanto ao número de
famílias com acesso ao programa, dentre os projetos de assentamento estudados em média
62,7% das famílias já receberam o PRONAF-A ou PROCERA, e apenas 1,7% em média já
receberam o PRONAF-C ou D. Quanto ao PRONAF-C ou D, apenas 12 projetos tiveram
algum acesso, dentre os quais apenas em um todas as famílias foram beneficiadas. Trata-se do
assentamento Sandrini, localizado no município de São José do Povo, onde estão assentadas
66 famílias e todas com acesso às duas modalidades de PRONAF, sobre a qual foram
questionadas.
A renda média do grupo que nunca teve acesso ao PRONAF-C ou D é superior a do
grupo que nunca teve acesso a estas modalidades de crédito rural. A renda média dos dois
grupos foi respectivamente de R$ 375,00 e R$ 261,00. No grupo que recebeu o crédito do
PRONAF-A ou PROCERA também a renda foi superior a do grupo que nunca teve acesso.
Quanto ao crédito de material de construção, para estabelecer a moradia, 122
assentamentos tiveram total ou parcial acesso à política. No entanto, entre os 19 projetos de
assentamento em que os beneficiários residem sob barracos de lona, apenas 4 tiveram crédito
para material de construção total ou parcialmente concedido.
Os estudos apresentados no capítulo 4, Bittencourt et al (1998), Fernández e Ferreira
(2004), Helfand (2003) e Souza Filho et al (2004), referentes a avaliação de assentamentos,

111
sempre enfatizaram o fator crédito como crucial para o desenvolvimento dos assentados. Os
benefícios são diretos e indiretos sobre a renda e a qualidade de vida dos mesmos.

Tratores, associativismo e títulos de posse da terra

Na atividade produtiva presente nos assentamentos, observou-se uma média de 2,23


tratores por assentamento. No entanto, esta média esconde uma realidade difícil para muitos
assentados. São 49 assentamentos onde não há nenhum trator, seja ele particular, coletivo ou
alugado. E há apenas um assentamento onde cada uma das famílias assentadas tem um trator,
denominado Santa Irene, localizado em Tapurah, com cinco famílias assentadas e com renda
média mensal de R$ 300,00 por família.
As organizações de produtores no interior dos assentamentos, como cooperativas e
associações, podem ser determinantes do bom desempenho dos assentamentos, como já foi
apontado por outros estudos. A forte ausência de parcerias com órgãos institucionais e com a
sociedade civil também demonstra a forma de organização nos assentamentos, assim como a
capacidade de articulação de seus representantes, para criar vias que atendam as necessidades
dos assentados. Na amostra, o número de associações foi de 211, média de 1,26 e com o
máximo de 5 associações em um mesmo assentamento.
Dos 168 projetos de assentamento estudados, apenas 12 são projetos consolidados e
também em apenas 12 mais de 50% dos beneficiários já têm o título de posse da propriedade,
sendo sete em projetos já consolidados. A ausência da posse definitiva pode ser obstáculo
para acesso a outras modalidades de crédito que não as oficialmente destinadas a assentados
rurais. O que se vê são projetos com mais de cinco anos, sem consolidação e título de posse
efetivo concedido aos beneficiários, e ressalta-se a necessidade do INCRA regularizar a
situação fundiária dos mesmos.
Verificou-se ao longo desta descrição que a situação dos assentamentos rurais de Mato
Grosso é precária. Além de graves deficiências na infra-estrutura e no acesso a serviços
sociais observa-se grande dependência de rendas geradas externamente a propriedade. Devido
ao contexto tecnológico em que estão inseridos acredita-se que estes trabalhos externos sejam
devido à necessidade de complementar a renda para sobrevivência da família, e não à
substituição destes por tecnologias poupadoras de mão-de-obra. Desta forma, este resultado
está em consonância com a pesquisa realizada em parceria entre INCRA e FAO no ano de
1991, da qual os principais resultados estão resumidamente apresentados no quarto capítulo

112
deste trabalho. A referida pesquisa concluiu que quanto menor a produção familiar nos limites
de sua propriedade, maiores são as rendas exógenas à agricultura, e assim que conseguem
melhorar seu nível de renda pela própria produção agrícola os familiares rurais abandonam
outros tipos de trabalho e se dedicam a sua própria produção que lhes confere maior custo de
oportunidade.
A descapitalização dos assentados, não suficientemente atendidos pelas políticas
oficiais de crédito rural, pode ser um dos grandes motivos da insuficiência da renda gerada
pela propriedade para manutenção da família do beneficiário. Isso porque, conhecendo as
características de solo do Estado, sabe-se que é necessário capital para adequação do mesmo
ao plantio, e assim, a falta de capital pode levar a não exploração da área total disponível no
lote recebido.
Os números da pesquisa retrataram ainda assentamentos rurais muito carentes de
serviços sociais e infra-estrutura, itens fundamentais para evitar desistências e para o
desenvolvimento de agricultores sustentáveis do ponto de vista social e econômico. Diante de
tantas necessidades a serem atendidas, é fundamental e urgente a necessidade de apoio
governamental para reduzir a pobreza rural instalada neste meio.
Por fim, esta análise permitiu confirmar a hipótese de que há grandes disparidades,
seja de renda, de condições de acesso, de infra-estrutura social e de moradia entre os
assentamentos mato-grossenses. Embora observou-se muita pobreza em geral, não se trata de
um grupo com características homogêneas, como pôde ser comprovado em números.

113
7 DISCUSSÃO DOS RESULTADOS

Como exposto anteriormente, trabalhou-se com 26 variáveis ao todo, sendo 13 reais, 5


binárias e 2 inteiras e 6 categóricas. As estatísticas descritivas para variáveis inteiras e reais
podem ser observadas na Tabela 23.

Tabela 23 – Estatística descritiva de variáveis inteiras e reais.


Variável Média Desvio padrão Mínimo Máximo
Ano de criação 1.998 2,14 1.995 2.002
Tempo de acesso 1,17 1,00 0 5,50
Água 0,62 0,31 0 1,00
Sanitários 0,10 0,24 0 1,00
Energia Elétrica 0,38 0,44 0 1,00
Tamanho do Lote 49,49 33,44 2,00 201,00
Não-subsistência 0,37 0,33 0 1,00
Renda Complementar 0,37 0,29 0 1,00
Benefícios 0,22 0,18 0 0,90
PRONAF-A/ ou PROCERA 0,63 0,37 0 1,00
PRONAF-C ou D 0,02 0,09 0 1,00
Mão-de-obra 3,66 0,94 1,75 6,75
Tratores 2,23 3,09 0 27,00
Associações 1,26 0,81 0 5,00
Renda 269,60 114,15 100,00 600,00
Fonte: dados da pesquisa.
Observa-se que a variabilidade dos dados é saliente, como já comentado no capítulo
anterior, e também pode ser observada em maior detalhe nos histogramas para cada uma das
26 variáveis apresentadas no Anexo B.

114
7.1 Os assentamentos eficientes e ineficientes

Como mencionado no primeiro capítulo, o objetivo deste trabalho é detectar e analisar


quais são os fatores mais importantes para o alcance da eficiência nos assentamentos rurais
mato-grossenses. Aplicar a metodologia não-paramétrica da Análise Envoltória de Dados para
encontrar a fronteira de eficiência, gerada pelas DMUs (assentamentos rurais) que
apresentarem scores de eficiência técnica igual à unidade. Isto implica que as mesmas têm
alcançado a máxima produção com determinado montante de recursos produtivos. Também
foi especificado que a “produção” neste modelo é a renda média mensal familiar do
assentamento, e os diversos “recursos produtivos”, incluindo variáveis de infra-estrutura de
moradia e social, área dos lotes, crédito entre outras, são usados nesta avaliação para observar
sua possível influência sobre a renda.
O modelo DEA delineado aos dados da pesquisa é a versão com retornos constantes à
escala e output-orientado, cuja apresentação e justificativas de aplicação foram dadas no
terceiro capítulo. Os resultados (apresentados no Anexo A) da aplicação deste modelo aos
dados dos 168 assentamentos rurais que compõem a amostra apontaram 144 assentamentos
rurais, alcançando score de eficiência igual a um (1). No entanto, para confirmar se estes
assentamentos são realmente eficientes, comparativamente aos demais 24 da amostra
estudada, é imprescindível conhecer o número de vezes que cada uma das unidades eficientes
atua como benchmark, ou seja, é referência para uma DMU ineficiente. Conforme
Ramanathan (2003), uma DMU pode ser considerada eficiente por melhorar a performance
em termos de um output em particular, ignorando os demais, ou seja, pode ser considerada
eficiente ainda que não tenha melhorado a eficiência em termos de todos os outputs. Desta
forma, se uma DMU foi considerada inicialmente eficiente pelo DEA, a análise de
sensibilidade suplementar deve ser conduzida para checar o número de DMUs ineficientes
para as quais ela foi considerada referência. Uma DMU que não é referência para outras deve
ter sua eficiência analisada com cautela. Assim, optou-se por considerar realmente eficiente
os assentamentos que foram apontados como referência para no mínimo outros dois.
Desta forma, a análise a seguir se baseia em dois grupos opostos, extraídos dos
resultados da pesquisa: um composto por 27 assentamentos rurais que realmente estariam
compondo a fronteira eficiente; o segundo grupo, formado por assentamentos apontados como
ineficientes por DEA. Ambos são apresentados nas Tabelas 24 e 25, juntamente com o ano
em que foram criados e município de localização.

115
Tabela 24 – Assentamentos eficientes, ano de criação e localização.
Ano de
Nome do Assentamento Criação Município
Eficientes
Baus 1.995 Acorizal
Martins 2.002 Água Boa
Nova Esperança i 1.998 Alto Paraguai
Barranqueira 1.995 Cáceres
Margarida Alves 2.000 Cáceres
Vinte e Oito de Outubro 1.997 Campo Verde
Colniza II 1.995 Colniza
Padronal 1.997 Comodoro
Pai Joaquim 2.000 Cuiabá
Vale do Amanhecer 1.998 Juruena
União Flor da Serra 2.000 Nova Canaã do Norte
Santa Izabel 1.996 Nova Guarita
Boa Esperança 1.997 Nova Nazaré
Caracol 2.002 Novo Horizonte do Norte
Tamboril 1.999 Novo São Joaquim
Alminhas 1.999 Poxoréo
Carlos Mariguela 2.002 Poxoréo
Tiete 1.999 Poxoréo
Maria Tereza 1.996 Ribeirão Cascalheira
Santa Lúcia 1.998 Ribeirão Cascalheira
Santa Lúcia II 2.002 Ribeirão Cascalheira
Montecchi 1.996 Salto do Céu
Pouso Alegre 2.001 São José do Rio Claro
Alto Paraíso 1.999 Terra Nova do Norte
Sadia III 1.998 Várzea Grande
Aracaty 2.001 Vila Rica
Santo Antonio do Beleza 2.001 Vila Rica
Fonte: Dados da pesquisa.

116
Tabela 25 – Assentamentos ineficientes, ano de criação e localização.
Ano de
Nome do Assentamento Criação Município
Ineficientes
Brumado 1.999 Alto Paraguai
Laranjeira I 1.998 Cáceres
Vale Verde 1.999 Cáceres
Guapirama 1.997 Campo Novo do Parecis
Quilombo 1.996 Chapada dos Guimarães
São José 1.996 Guarantã do Norte
Vida Nova 2.002 Jangada
Corgão 1.995 Jauru
Padovani 2.000 Matupá
Ouro Branco 1.999 Nova Canaã do Norte
Estrela 1.999 Nova Nazaré
Rio Branco 2.000 Nova Olímpia
Julieta 2.000 Novo Horizonte do Norte
Triunfo 2.000 Pontes e Lacerda
Piracicaba 1.995 Porto Alegre do Norte
Coutinho União 2.001 Querência
Cancela 1.997 Ribeirão Cascalheira
Pontal do Glória 1.997 Santo Antônio do Leverger
Piratininga 1.997 Sorriso
União de Todos 1.997 Terra Nova do Norte
Ritinha 1.998 Vila Bela da Santíssima Trindade
Ipê 2.001 Vila Rica
São Gabriel 1.999 Vila Rica
São José da Vila Rica 1.999 Vila Rica
Fonte: Dados da pesquisa.

Tal resultado foi alcançado após a solução dos 168 problemas de programação linear
da versão multiplicativa, bem como a solução dos problemas do modelo envelope em dois
estágios, apresentados na seção 3.3.

117
Como é possível observar pelas Tabelas 24 e 25, os assentamentos eficientes ou
ineficientes não estão aglomerados em alguma região específica de Mato Grosso, não
indicando que algum município ou região seja mais ou menos propícia ao desenvolvimento
dos assentados, apesar das diferentes condições de quadro natural e infra-estrutura
encontradas dentro dos limites do Estado.
É notório que muitos assentamentos eficientes são encontrados no extremo norte do
Estado (em municípios como Colniza, Nova Guarita, Juruena, Nova Canaã do Norte, Vila
Rica, Terra Nova do Norte e Novo Horizonte do Norte), assim como no centro-sul, leste e
sudoeste mato-grossense (Cuiabá, Várzea Grande, Acorizal, Campo Verde, Poxoréo, Salto do
Céu, Ribeirão Cascalheira, entre outros). Também os ineficientes podem ser encontrados no
extremo norte (em Guarantã do Norte, Matupá, Nova Canaã do Norte, Porto Alegre do Norte,
Terra Nova do Norte e Vila Rica) ou ainda no centro-sul, sudoeste e leste de Mato Grosso
(Sorriso, Campo Novo do Parecis, Vila Bela da Santíssima Trindade, Santo Antônio do
Leverger, Chapada dos Guimarães, Ribeirão Cascalheira, entre outros). Analisando os grupos
de assentamentos eficientes e ineficientes localizados num mesmo município pode-se
observar sensível diferença quanto à dependência dos ineficientes de rendas externas e de
benefícios sociais. A renda foi sensivelmente maior entre os eficientes, indicando ainda pela
menor dependência de rendas exógenas à propriedade que a mesma deve ser proveniente,
mais comumente de atividades produtivas dentro das parcelas.
Embora muitas vezes assentamentos eficientes e ineficientes se apresentem num
mesmo município, onde as condições do entorno econômico e de quadro natural sejam mais
homogêneas, nem sempre isso ocorre. É possível encontrar diferentes condições de solo,
relevo e hidrografia dentro de um mesmo assentamento, onde alguns lotes podem estar mais
favorecidos que outros e isto influenciar significativamente no seu desempenho produtivo.

7.2 Os determinantes da eficiência nos assentamentos rurais de Mato Grosso

Através da solução dos problemas da versão multiplicativa de DEA CRS output


orientado, observou-se que as variáveis mais importantes para determinar a eficiência nos
assentamentos rurais mato-grossenses foram o tempo de acesso à sede do município, tamanho

118
do lote, energia elétrica e a mão-de-obra20. Comparando estas variáveis com as hipóteses
iniciais sobre esta questão21 verifica-se que apenas uma hipóteses secundária foi confirmada.
Tal hipótese afirmava que a variável ‘tamanho dos lotes’ teria relação inversa com a
eficiência, confirmando constatações de outros estudos que já apontaram que quanto menor a
área disponível maior a produtividade da terra. O tamanho dos lotes, que era em média de
49,5 hectares para a amostra como um todo (Tabela 23), obteve média de 46,2 hectares no
grupo de DMUs ineficientes e de 42,7 hectares no grupo dos eficientes. Aplicando um teste
estatístico para a média dos assentamentos eficientes rejeita-se a um nível de significância de
5% a hipótese da média da amostra e do grupo eficiente serem iguais. Este resultado confirma
que os projetos de assentamentos eficientes possuem lotes sensivelmente menores que os
demais, reafirmando a relação inversa entre tamanho da propriedade e eficiência.
O assentamento Colniza II, relativamente eficiente, serve como exemplo para os
demais, com lotes de apenas dois hectares, que em média alcança renda de R$ 300,00, com
cerca de apenas 10% das mesmas recebendo benefícios do governo e cerca de 40% tendo de
complementar a renda com serviços externos à propriedade. Segundo outras informações da
fonte de dados, a horticultura e a produção diversificada, combinando diversos sistemas de
produção agrícola, pecuária e/ou extrativista são as principais atividades dos assentados neste
projeto. Há ainda outro caso a ser destacado no grupo de DMUs ineficientes. Trata-se do
assentamento Coutinho União, que possui lotes de 86 hectares em média e renda mensal de
R$ 100,00. As lavouras de grãos e a pecuária são as principais atividades encontradas no
assentamento, mas não são produzidas de maneira diversificada em cada lote. Além deste
resultado confirmar, para os assentamentos mato-grossenses, estudos que já haviam apontado
as menores propriedades como mais eficientes no uso da terra é importante destacar que o
mesmo indica que esta relação inversa não ocorre apenas entre produtores latifundiários e
pequenos (comumente mencionado na literatura acadêmica), mas, mesmo dentro da classe de
assentados rurais, onde todos possuem áreas relativamente pequenas.
Quanto ao crédito, que se esperava ser o maior responsável pela eficiência como
mencionado na hipótese principal, verificou-se ausência de relação com a eficiência dos
assentamentos rurais mato-grossenses. Seja pelo PRONAF-A ou o PRONAF-C ou D, o grupo
de assentamentos ineficientes recebeu créditos mais freqüentemente que os assentamentos
eficientes, respectivamente, 81,1% e 65,6% das famílias dos assentamentos contempladas

20
Tais variáveis foram as que receberam maior número de vezes pesos superiores a 0,00001 na solução ótima do
PPL.
21
As hipóteses que sugeriam variáveis como determinantes da eficiência são a hipótese principal e as
secundárias relacionadas em (b) e (c) como pode ser observado na seção 1.2 deste trabalho.

119
pelo crédito tipo PRONAF-A. Quanto ao PRONAF-C ou D nenhuma família dos
assentamentos classificados como eficientes recebeu esta modalidade de crédito, já 0,3% das
famílias classificadas como ineficientes fizeram parte deste programa. Esta ausência de
relação também se confirma no teste estatístico para a média que aceita a hipótese do grupo
eficiente ter média diferente da amostra como um todo.
Pode ter ocorrido ainda que os assentamentos que não receberam esta linha de crédito
rural específica para assentados, iniciaram suas atividades com recursos próprios. Quanto ao
PRONAF-C ou D, ambos os grupos, assim como todos os assentados do estado de Mato
Grosso, são muito desfavorecidos quanto a estas linhas de crédito. Um dos fatores que pode
estar causando dificuldades a este acesso é a falta de títulos definitivos da propriedade,
variável que não se mostrou importante para a renda entre os assentamentos estudados. A falta
de titulação de propriedade é tida na literatura internacional como fator inibidor à tomada de
financiamentos pela falta de colateral. Eswaran e Kotwal (1986: 496) comentam “that the
creation of institutions capable of accepting as collateral future crops rather than owned
land-holdings would prove to be an effective tool for remo ving poverty as well as for
improving efficiency”. Llewelyn e Williams (1996) e Amara et al (1999) analisaram a
eficiência, a propriedade da terra e a ineficiência e constataram que a propriedade da terra
afeta a tomada de crédito e ainda reduz a ineficiência.
Contudo, Karagiannis e Sarris (2002) verificaram relação inversa entre subsídios
diretos e eficiência. Como o PRONAF-A tem como finalidade dar uma mínima estrutura ao
lote recebido pelos beneficiários do programa de reforma agrária, este crédito pode não estar
sendo empregado, em alguns casos, de forma produtiva ou mesmo encarado como subsídio
direto, devido às baixas taxas de juros e prazo extenso para pagamento, que o torna uma linha
de crédito amplamente subsidiada.
Também a hipótese de que os títulos de posse da propriedade teriam relação direta
com a eficiência não foi confirmada. Esperava-se que, com posse definitiva, os assentados
seriam motivados a trabalhar com maior empenho no que seria então a “sua” propriedade.
Como efeito indireto sobre a eficiência o título de posse poderia assegurar maior acesso a
outras políticas de crédito, como PRONAF-C ou D. A ausência de relação pode ser decorrente
do pouco tempo que esta posse definitiva seja realidade para os assentados. Também outros
empecilhos, como por exemplo, renda produtiva mínima, pode estar impedindo o acesso a
outras modalidades de crédito. Resultados desta natureza, ou seja, ausência de relação entre
posse da propriedade e eficiência, já foram encontrados por Karagiannis e Sarris (2002), como
mencionado na seção que trata dos determinantes da eficiência.

120
A mais importante variável para explicar a eficiência dos assentamentos rurais mato-
grossenses, embora não contemplada nas hipóteses iniciais, é a denominada tempo de acesso a
sede do município, que apresentou sensível diferença entre os dois grupos. A amostra como
um todo se localiza em média a 1,17 horas da zona urbana mais próxima como apresentou a
Tabela 23, sendo o grupo das eficientes o que está mais próximo, cerca de 1,02 horas da zona
urbana e o grupo das ineficientes a 1,43 horas da sede do município mais próximo. Extraindo
os extremos, a diferença entre as médias tem um pequeno aumento, denotando condição ainda
mais favorável aos assentamentos eficientes. O teste estatístico para a média rejeita a um nível
de significância de 10% que as médias do grupo eficiente e do grupo ineficiente sejam iguais.
Desta forma, pode-se concluir que a distância da zona urbana, e conseqüentemente dos
mercados se confirma como fator relevante para a eficiência dos assentados, confirmando
resultados de outros estudos apresentados no capítulo 4. Também Eswaran e Kotwal (1986)
relatam que o acesso aos mercados de fatores leva ao aumento da eficiência. Portanto, um
ponto importante a ser considerado pelo INCRA na criação de um projeto de assentamento é o
isolamento, uma vez que o acesso aos mercados é um fator relevante para o bom desempenho
dos mesmos. Nestes casos, a distância dos mercados poderia ser a mesma minimizada com
melhores e maiores auxílios para transporte da produção para comercialização, transporte
coletivo regular e boa manutenção das estradas de acesso.
A variável energia elétrica, surpreendentemente, se mostrou não importante para a
renda dos assentados mato-grossenses, devido ao fato de a mesma ser ligada às residências, o
que não necessariamente implica na sua utilização para algum processo produtivo ou de
armazenamento de produtos. Isso explicaria o porquê da renda dos assentamentos eficientes
ter se apresentado mais elevada mesmo com menor uso de energia elétrica.
Em geral, como mostra a Tabela 26, a infra-estrutura de moradia dos assentados
eficientes é pior do que a média da amostra (que pode ser observada na Tabela 23) e da
situação dos ineficientes, implicando que renda não necessariamente implica em bem-estar
social. Testes estatísticos para as médias permitem rejeitar a hipótese de que a média do grupo
eficiente ser igual a da amostra, a um nível de significância de 1% para a variável água e
sanitários, e a um nível de significância de 5% para a variável energia elétrica.

121
Tabela 26 – Situação da Infra-estrutura de moradia dos assentamentos rurais.
Grupo de Água Sanitários ligados Energia
Assentamentos encanada a fossa séptica elétrica
Ineficientes 64,4% 8,5% 37,6%
Eficientes 50,5% 0,0% 30,0%
Fonte: Dados da pesquisa.

A infra-estrutura social (educação, saúde e condições de habitação) foi observada por


Bittencourt et al (1998) em outros estudos já mencionados como fator motivador do sucesso
dos assentamentos. No entanto, não se confirma em Mato Grosso, talvez por serem
assentamentos mais recentes, onde a infra-estrutura está em fase de implantação em 10 dos 27
assentamentos eficientes, segundo dados do Censo da Reforma Agrária (SPAROVEK, 2002).
Para os casos de melhor renda e pior infra-estrutura pode-se acreditar que talvez a
carência destes fatores esteja causando motivação aos carentes para buscar melhores
condições de vida. Como mencionado anteriormente, Fernández e Ferreira (2004) detectaram
num estudo amostral de assentamentos em Mato Grosso que as condições de vida em geral
melhoraram para a grande maioria dos assentados, após o acesso a terra. Assim, pode estar
ocorrendo que os que já possuem melhor infra-estrutura de moradia estejam mais satisfeitos e,
ao contrário dos mais carentes nestes quesitos, menos motivados a melhorar ainda mais sua
situação.
Famílias mais numerosas, representadas por mais mão-de-obra familiar são observadas
no grupo dos assentamentos ineficientes. Estes assentamentos utilizaram um equivalente de
3,8 pessoas adultas nos serviços da propriedade, superior a média da amostra (Tabela 23) e do
grupo das eficientes foram de apenas 3,5. Pode estar ocorrendo excesso de mão-de-obra nos
assentamentos ineficientes ou ainda maior incidência do uso de mão-de-obra contratada nos
assentamentos eficientes, questão esta não contemplada no questionário do Censo da Reforma
Agrária (SPAROVEK, 2002). Porém, o teste estatístico da média confirma que o grupo
eficiente utiliza realmente menos mão-de-obra que a amostra como um todo, em um nível de
significância de 5%.
Além destas variáveis outras questões importantes merecem ser destacadas, entre elas
o fato de a produção coletiva ter apresentado ausência de relação com a eficiência. Apenas um
assentamento, o Laranjeira I, com maior área de produção coletiva entre todos os
assentamentos estudados, 1.189 hectares, é ineficiente, com renda média de R$ 100,00
mensais por família. Neste caso específico, a área coletiva não tem servido para melhorar a
122
renda dos assentados, embora possa estar melhorando o autoconsumo de alimentos. Portanto,
não se confirma em Mato Grosso a expectativa de que as áreas coletivas estariam associadas
aos assentamentos eficientes, de elevada renda como encontrado na pesquisa de Bittencourt et
al (1998).
As condições de estradas de acesso são piores para os ineficientes e dos 24
assentamentos classificados nesta categoria, 63% estão classificados nas piores condições de
forma de acesso para a amostra como um todo. As respostas evidenciam estradas de terra em
más condições, muitas vezes não trafegáveis em parte do ano. Também neste grupo de
assentamentos ineficientes apenas dois assentamentos têm estradas em maior parte ou
totalmente asfaltadas. Para o grupo dos eficientes as péssimas condições de estradas foram
observadas para 41% dos assentamentos, com seis assentamentos, tendo estradas asfaltadas
ligando os mesmos à sede do município.
Os assentamentos ineficientes contam em geral mais famílias assentadas que os
eficientes. São 24, somando 2.857 famílias, sendo o mínimo de 22, o máximo de 264 e a
média de 119 famílias por projeto. Os 27 assentamentos eficientes somam 1.944 famílias
assentadas, com o mínimo de 15, o máximo de 230 e a média de 72. Extraindo os extremos a
diferença entre as médias dos dois grupos permanece estável.
Quanto à variável “ano de criação”, indicando o tempo de existência do projeto de
assentamento, tanto para a amostra total como o grupo de assentamentos classificados como
ineficientes, tinham em média quatro anos de existência, enquanto o grupo oposto tinha em
média três anos de criação. Apesar de ser uma diferença pequena, a variável serve para indicar
que os primeiros anos após o acesso a terra não tem proporcionado melhoras significativas
aos assentados, comparativamente ao ano em que receberam a mesma.
A renda complementar, externa à propriedade, é buscada por 40% dos ineficientes,
enquanto no grupo dos eficientes 35% necessitam da mesma, valor idêntico ao da média geral
da amostra. Os benefícios sociais (do tipo bolsa ou vales, entre outros) também são recebidos
por 81% das famílias dos assentamentos ineficientes. Enquanto 65,6% das famílias dos
assentamentos eficientes recebem os mesmos, a média do grupo como um todo é de 62,7%,
resultado confirmado pelo teste de hipótese para a média a um nível de significância de 1%. O
que se nota neste item é que os assentamentos ineficientes têm menor renda e mais
necessidade de complementá-la com serviços externos à propriedade ou benefícios sociais. Os
mais eficientes conseguem obter mais sustentabilidade do próprio lote recebido, o que
confirma a constatação do estudo realizado por Guanziroli (1994), cujos resultados são
brevemente apresentados no quarto capítulo.

123
Quanto aos auxílios para saúde, educação, tanto assentamentos eficientes como os
ineficientes têm, na maioria dos casos, auxílio de apenas um órgão, a prefeitura municipal.
Logo, esta variável não se mostra importante para a renda dos mesmos. Já com referência aos
auxílios à produção e à comercialização, é notável que o grupo ineficiente tenha mais auxílios
para produção e comercialização. Como este apoio institucional pode ser de diversos tipos,
como inclusão nas feiras públicas municipais, transporte para a produção, empréstimo ou
aluguel de máquinas agrícolas, fornecimento de insumos ou assistência técnica, ele pode não
estar sendo realizado de maneira a melhorar a renda dos mesmos, ou ainda de forma irregular,
sem continuidade. Um dos fatores que leva a esta conclusão são as informações sobre a
assistência técnica, não inclusas nas variáveis do modelo, por questão de inconsistência da
resposta dos entrevistados sobre o número de beneficiários atendidos pelo serviço, mas, que
indicam que os assentamentos de Mato Grosso são quase completamente desprovidos desta
orientação técnica.
Os assentamentos classificados como ineficientes também utilizam mais tratores, cerca
de 3,5 por assentamento, enquanto o grupo eficientes está abaixo da média da amostra (tabela
23) com 1,8 tratores por assentamento, resultado confirmado pelo teste estatístico para a
média a um nível de significância de 5%. Se considerado o número de tratores por família, os
ineficientes têm um trator em média para cada 30 famílias. Entre os eficientes este total sobe
para 40. Tal resultado é contrário ao argumento do processo tecnológico, e, para encontrar
uma justificativa para o fato, seria necessário conhecer os tipos de culturas destes
assentamentos e saber se as mesmas são intensivas em mão-de-obra ou em capital. Embora
não se possa quantificar, os dados originais do Censo da Reforma Agrária (SPAROVEK,
2002) apontam que ambos os grupos (de assentamentos rurais classificados como eficientes
ou ineficientes) têm como principal atividade de geração de renda a pecuária. Também são
muito comuns as atividades de produção de lavouras de grãos ou tu bérculos e a produção
diversificada. No entanto, nota-se que atividades de suinocultura, avicultura, fruticultura e
horticultura são muito mais comuns no grupo de assentamentos ditos eficientes do que entre
os 24 classificados como ineficientes. Esta observação pode ser uma possível explicação para
a diferença de renda e do menor uso de tratores entre os grupos estudados.
Também as associações estão em maior número entre os assentamentos ineficientes,
1,4, enquanto há em média apenas 1,07 por assentamento eficiente, o que indica que a
quantidade de associações não é importante para aumentar a renda, e provavelmente a
organização política da mesma.

124
Apesar das melhores condições gerais, os 24 assentamentos classificados pela técnica
DEA como ineficientes têm renda média de R$ 191,08, enquanto a média para a amostra
como um todo é de R$ 269,92, e a renda média do grupo eficiente de R$ 325,92. Também os
testes estatísticos apontam que em um nível de significância de 1%, tanto o grupo dos
eficientes como os ineficientes têm médias diferentes da amostra como um todo.
Além desta análise geral, alguns casos eficientes podem ser detalhados para que se
conheça melhor o perfil dos projetos de assentamento eficientes de Mato Grosso.
Um destes é o assentamento Tamboril, identificado com maior número de vezes como
referência para outros assentamentos menos eficientes e pode ser descrito da seguinte
maneira: foi criado no ano de 1999, e o crédito para material de construção já havia sido
parcialmente concedido, assim como o acesso ao PRONAF-A. No entanto, os títulos de posse
não haviam sido entregues nem o projeto estava consolidado. Recebiam auxílio da prefeitura
para saúde, educação e para as estradas de acesso. Mas nenhum órgão concedia o mesmo
auxílio para produção ou comercialização e para lazer e religião.
O projeto Tamboril localiza-se razoavelmente próximo da zona urbana, pois a
distância da sede do município é de apenas 0,25 decimais de hora. A variável ‘condições de
acesso’ foi classificada como “menor parte ou nenhum percurso em estrada asfaltada e maior
parte ou todo em estrada de terra em boas condições o ano inteiro”. Segundo os entrevistados,
aproximadamente 58 famílias residiam no projeto em 2002 e a maior parte destas residiam em
casas definitivas de madeira ou alvenaria localizadas nas parcelas. Apenas 17% tinham
abastecimento regular de água de boa qualidade e nenhuma tinha acesso à energia elétrica ou
banheiros ligados à fossa séptica. Nem mesmo as instalações coletivas eram ligadas à rede de
energia elétrica e também não havia geradores no assentamento.
Neste mesmo assentamento não havia tratores particulares e apenas 17% das famílias
tinham acesso a tratores alugados ou emprestados. Ausente de transporte coletivo regular para
a cidade, e também sem escola de ensino fundamental dentro do projeto. A parceria da
prefeitura para a educação se dá em forma de transporte escolar e os entrevistados afirmam
que todas as crianças das famílias assentadas freqüentam a mesma e que também há
transporte escolar para os estudantes do ensino médio.
Há no Tamboril, em média, seis pessoas por família se dedicando as atividades com
produção agrícola, pecuária ou extrativista, sendo em média dois adultos. Não há área de
produção coletiva e os lotes são de 23 hectares em média. Cerca de 84% das mesmas recebem
o PRONAF-A, mas nenhuma tem acesso ao PRONAF C ou D. Apesar das inúmeras
dificuldades, a renda média mensal destas famílias é de R$ 300,00, o que corresponde a 1,5

125
salários mínimos em 2002, ano da coleta dos dados. A infra-estrutura básica estava ainda em
fase de implantação, embora já houvesse três anos que o projeto havia sido criado. As famílias
tinham como principal atividade de geração de renda a produção de lavouras de grãos,
tubérculos ou plantas estimulantes.
Outro caso eficiente que merece destaque é o assentamento ‘Margarida Alves’, criado
no ano 2000, com cerca de 160 famílias assentadas. Localizado a 0,5 decimais de hora da sede
do município mais próximo, com acesso por estradas asfaltadas. Neste assentamento,
aproximadamente 90% das famílias têm água de boa qualidade encanada nas residências, bem
como energia elétrica. No entanto, nenhuma tem sanitários ligados a fossa séptica. Todas já
receberam crédito para material de construção e residem em casas próprias e definitivas
localizadas nas próprias parcelas.
Os lotes do ‘Margarida Alves’ têm tamanho de apenas 25 hectares, e a principal
atividade é a pecuária, mas também atuam na plantação de lavouras, horticultura e
fruticultura. Pouco mais de 10% das famílias produzem apenas para subsistência, disseram os
entrevistados. Há quatro tratores no projeto, o que implicaria em um trator para cada 40
famílias, e cerca de 90% das famílias recebem recursos do PRONAF-A para iniciar suas
atividades. A renda média das famílias deste assentamento é de R$ 600,00 mensais.
Nestes dois exemplos pode-se observar que há produções menos comuns, como
horticultura e fruticultura, praticadas por assentados como atividade principal no lote. Isto
ocorre ainda em vários outros assentamentos do grupo dos eficientes. Tal fato permite supor
que as atividades menos comuns que a lavoura e a pecuária, acima citadas, podem estar sendo
a origem da superioridade de renda dos mesmos. Entretanto, não se descartam outros motivos
que possam estar gerando maior produtividade e renda entre assentados com mesma atividade
principal. Também se nota nestes dois casos que a energia elétrica e o número de tratores não
determinam a ineficiência, mas que têm colaborado pouco para os assentados mato-
grossenses ampliarem a renda. Também se reforça que o tamanho dos lotes, relativamente
pequeno, não tem sido impeditivo para níveis de renda melhores que da maioria.
Também é importante notar que entre o grupo dos assentamentos relativamente
eficientes, há três com renda média de R$ 600,00, a maior da amostra. Estes assentamentos
são ‘Margarida Alves’, ‘Maria Tereza’ e Montecchi, apresentando elevado número de
beneficiários que receberam o PRONAF-A, no mínimo de 84% das famílias. Desta forma,
acredita-se que o crédito é fundamental para as famílias que ao receberem a terra não possuam
recursos financeiros próprios para se estruturar.

126
8 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Diante dos resultados encontrados e expostos, ao longo deste trabalho, apenas as


hipóteses da grande diversidade, entre os assentamentos rurais mato-grossenses e da relação
inversa entre tamanho dos lotes e a eficiência, foram confirmadas. Informações mais
detalhadas acerca destes assentamentos permitiriam desvendar o que há por trás dos
resultados que contrariam a teoria convencional e as hipóteses iniciais. Muitas destas
informações não puderam ser utilizadas, devido à discrepância nas respostas, resultante da
metodologia empregada pelo Censo da Reforma Agrária de 2002.
A principal conclusão da aplicação de DEA ao dados dos assentamentos rurais foi que
a distância da zona urbana e as condições das estradas de acesso foram determinantes para a
renda dos assentados e deduz-se que a mesma seja uma proxy da distância e condições de
acesso a mercados.
Embora a distância de centros urbanos seja inevitável para a localização de alguns
assentamentos em Mato Grosso, devido às características demográficas do estado, o INCRA
deveria, nestes casos, se concentrar em manter parcerias para garantir transporte da produção
e boas condições das estradas de acesso e, assim, garantir aos assentados melhores condições
de acesso aos mercados, e, por conseqüência, maior renda.
Embora os resultados da aplicação da metodologia DEA aos dados da pesquisa não
tenham apontado o crédito do PRONAF-A como fator determinante da eficiência, não se pode
afirmar que o mesmo seja indispensável para boas condições de renda. Muitos estudos já
comprovaram a importância do mesmo. No entanto, pode estar ocorrendo desvios de
aplicação, não sendo o mesmo empregado de forma produtiva, ou ainda em quantidade
insuficiente para impulsionar o desenvolvimento produtivo dos novos assentados.
Acredita-se que seria muito importante uma modalidade de crédito para financiar
artesanatos, bens processados ou industrializados no local como queijo, farinha de mandioca,
polpa de frutas, vassouras de sorgo, entre outras, para garantir fontes alternativas de renda que
poderiam melhorar consideravelmente a situação financeira dos assentados.

127
Como já mencionado, embora as informações do Censo da Reforma Agrária
(SPAROVEK, 2002) não permitam quantificar o número de famílias que recebam assistência
técnica, pode-se afirmar que são muito poucos os assentados que recebem a mesma. Acredita-
se que uma assistência técnica direcionada a desenvolver sistemas de produção diversificados
para os novos produtores rurais, mais adequados e rentáveis para suas condições de quadro
natural e financeiras, seria importante no sentido de melhorar a renda dos mesmos, uma vez
que se observa que entre os assentamentos com melhores níveis de renda, a horticultura e
fruticultura são atividades mais comuns.
Foram ainda observados lotes de tamanho muito variados entre assentamentos
localizados em um mesmo município, com diferenças significativas de áreas de reserva legal
e de área útil. Portanto, caberia ao INCRA redimensionar melhor o tamanho dos mesmos,
buscando adequação entre as áreas de reserva, potencialidades do quadro natural e atividades
produtivas, presentes no município de localização do projeto.
Não foi possível observar as condições do quadro natural da localização dos
assentamentos. Muitas vezes, fatores como solos inférteis, falta ou excesso de água, podem
tornar a área do assentamento inviável para produção agropecuária, ficando os efeitos desta
natureza obscuros na presente análise. Outros aspectos importantes que limitaram a análise
foram: o valor bruto da produção ou apenas a renda produtiva (sem inclusão de benefícios
sociais) deveria substituir a renda média mensal dos assentados; insumos utilizados;
informações quantitativas sobre número de famílias por atividade produtiva principal; entre
outros.
Da mesma forma que muitos assentamentos rurais do restante do Brasil, os mato-
grossenses também sofrem com graves problemas sociais. Muitos estão longe de alcançar a
sustentabilidade, dependendo fortemente de trabalhos exógenos a propriedade e de benefícios
sociais para sobreviver, além das graves condições de infra-estrutura social e de moradia.
Desta forma, é preciso refletir sobre a continuação da criação desta massa de pobreza rural
caso não se tenha condições de auxiliá-los no seu processo de crescimento e desenvolvimento.
Talvez, a primazia pela qualidade, ao invés da quantidade, poderia minimizar a pobreza no
campo, além de diminuir os elevados índices de desistência e abandono, amplamente
criticados em argumentos contrários a esta política de redistribuição de terras.

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Economia Rural, Rio de Janeiro, v. 42, n. 2, p.201-222, abr/junho 2004.

135
ANEXO A

Scores de eficiência para 168 assentamentos rurais

Assentamento Rural Score de Eficiência


04 de Outubro 1,00000
17 de Março 1,00000
Aerorancho 1,00000
Aguaçú 1,00000
Alminhas 1,00000
Alto Paraíso 1,00000
Alvorada 1,00000
Ana Paula 1,00000
Aracaty 1,00000
Arinos 1,00000
Aymore 1,00000
Azulona Gameleira 1,00000
Bandeirantes 1,00000
Barranqueira 1,00000
Baus 1,00000
Baxiu 1,00000
Bela Vista 1,00000
Boa Esperança 1,00000
Boa Esperança I, II e III 1,00000
Boa Vista 1,00000
Bojui 1,00000
Bonanza 1,00000
Bosmagi 1,00000
Brasil Novo 1,00000
Brasipaiva 1,00000
Brumado 0,89954
Cachoeira da União 1,00000
Caeté 1,00000
Califórnia 1,00000

136
Scores de eficiência para 168 assentamentos rurais (continuação)

Assentamento Rural Score de Eficiência


Campinas 1,00000
Campo Limpo 1,00000
Cana Brava I 1,00000
Cancela 0,42534
Caracol 1,00000
Carlos Mariguela 1,00000
Chão do Amanhã 1,00000
Chapadinha 1,00000
Colniza II 1,00000
Colônia Bom Jesus 1,00000
Colônia dos Mineiros 1,00000
Corgão 0,76450
Corixo 1,00000
Coronel Ary 1,00000
Córrego da Onça 1,00000
Córrego Rico 1,00000
Cotrel 1,00000
Cotriguaçu Cederes 1,00000
Coutinho União 0,36373
Ena 1,00000
Estrela 0,92418
Estrela do Oriente 1,00000
Fica Faca 1,00000
Florestan Fernandes 1,00000
Formosa 1,00000
Gato Preto 1,00000
Guapirama 0,86310
Guaporé 1,00000
Horizonte II 1,00000
Igarapé do Bruno 1,00000
Ipê 0,42662
Ipe Roxo 1,00000
Julieta 0,96398
Juruena I 1,00000
Lago de Pedra 1,00000
Laranjeira I 0,78420
Limoeiro 1,00000

137
Scores de eficiência para 168 assentamentos rurais (continuação)

Assentamento Rural Score de Eficiência


Macife II 1,00000
Macuco 1,00000
Mãe Maria 1,00000
Manah 1,00000
Margarida Alves 1,00000
Maria Tereza 1,00000
Martins 1,00000
Miranda Estância 1,00000
Mirassolzinho II 1,00000
Mogiana II 1,00000
Monte das Oliveiras 1,00000
Monte Verde 1,00000
Montecchi 1,00000
Morrinho 1,00000
Natal 1,00000
Nova Alvorada 1,00000
Nova Esperança I 1,00000
Nova Floresta 1,00000
Novo Horizonte 1,00000
Novo Horizonte do Norte 1,00000
Novo México 1,00000
Ouro Branco 0,90552
Padovani 0,32873
Padronal 1,00000
Pai Joaquim 1,00000
Paiol 1,00000
Paloma 1,00000
Paredão 1,00000
Paulo Freire 1,00000
Pedra 90 1,00000
Piau 1,00000
Piracicaba 0,98654
Piratininga 0,79751
Pontal 1,00000
Pontal do Glória 0,38786
Porto Esperança 1,00000
Pouso Alegre 1,00000
Presidente 1,00000

138
Scores de eficiência para 168 assentamentos rurais (continuação)

Assentamento Rural Score de Eficiência


Primavera 1,00000
Providência I 1,00000
Providência III 1,00000
Quilombo 0,50422
Raizama 1,00000
Rancho Amigo 1,00000
Rancho da Saudade 1,00000
Resistência 1,00000
Ribeirão das Pedras 1,00000
Rio Alegre 1,00000
Rio Borges 1,00000
Rio Branco 0,60166
Rio Cuiabá 1,00000
Ritinha 0,90005
Roncador 1,00000
Sadia III 1,00000
Sandrini 1,00000
Santa Carmem 1,00000
Santa Helena 1,00000
Santa Helena II 1,00000
Santa Helena III 1,00000
Santa Irene 1,00000
Santa Izabel 1,00000
Santa Lucia 1,00000
Santa Lucia II 1,00000
Santa Maria 1,00000
Santa Rosa 1,00000
Santa Rosa I 1,00000
Santana da Água Limpa 1,00000
Santo Antônio da Fartura 1,00000
Santo Antônio do Beleza 1,00000
Santo Antônio do Fontoura II 1,00000
Santo Expedito 1,00000
São Benedito 1,00000
São Gabriel 0,46705
São José 0,99448
São José da Vila Rica 0,96694
São Luiz 1,00000
São Manoel 1,00000
São Saturnino 1,00000

139
Scores de eficiência para 168 assentamentos rurais (continuação)

Assentamento Rural Score de Eficiência


São Sebastião 1,00000
Sapicua 1,00000
Seringal 1,00000
Serra Negra 1,00000
Serra Nova II 1,00000
Tabajara 1,00000
Tabajara I 1,00000
Tamboril 1,00000
Tatuiby 1,00000
Tiete 1,00000
Triunfo 0,75551
União de Todos 0,90728
União Flor da Serra 1,00000
Vale da Esperança 1,00000
Vale do Amanhecer 1,00000
Vale do Sol 1,00000
Vale Verde 0,65854
Vereda 1,00000
Vida Nova 0,48842
Vila Nova 1,00000
Vinte e Oito de Outubro 1,00000
Voltinha 1,00000
Xavante Figura A 1,00000
Xavantinho 1,00000

140
ANEXO B

Histogramas para as 26 variáveis utilizadas na análise da eficiência para os 168


assentamentos da amostra

50
Series: ACESSO
Sample 1 168
40 Observations 168

Mean 1.169167
30 Median 0.830000
Maximum 5.500000
Minimum 0.000000
20 Std. Dev. 1.003570
Skewness 1.680609
Kurtosis 5.943288
10
Jarque-Bera 139.7251
Probability 0.000000
0
0 1 2 3 4 5

40
Series: AGUA
Sample 1 168
Observations 168
30
Mean 0.620219
Median 0.700000
Maximum 1.000000
20
Minimum 0.000000
Std. Dev. 0.305382
Skewness -0.574374
10 Kurtosis 1.942997

Jarque-Bera 17.05814
Probability 0.000198
0
. .2 .4 . . 1.
00 0 0 06 08 0

141
30
Series: ANO
Sample 1 168
25 Observations 168

20 Mean 1998.083
Median 1998.000
Maximum 2002.000
15
Minimum 1995.000
Std. Dev. 2.137256
10 Skewness 0.171758
Kurtosis 1.944450
5
Jarque-Bera 8.625326
Probability 0.013398
0
1 9 9 5 .0 01 9 9 6 .2 51 9 9 7 .5 01 9 9 8 .7 52 0 0 0 .0 02 0 0 1 .2 5
140
Series: ASSOCIACOES
120 Sample 1 168
Observations 168
100
Mean 1.255952
Median 1.000000
80
Maximum 5.000000
Minimum 0.000000
60 Std. Dev. 0.811571
Skewness 2.536163
40 Kurtosis 11.35783

20 Jarque-Bera 669.0733
Probability 0.000000
0
0 1 2 3 4 5
120
Series: AUX_EDUCACAO
Sample 1 168
100
Observations 168

80 Mean 1.244048
Median 1.000000
Maximum 3.000000
60
Minimum 0.000000
Std. Dev. 0.552588
40 Skewness 0.684226
Kurtosis 3.838582
20
Jarque-Bera 18.03118
Probability 0.000122
0
0.0 0.5 1.0 1.5 2.0 2.5 3.0

100
Series: AUX_LAZER
Sample 1 168
80 Observations 168

Mean 0.523810
60 Median 0.000000
Maximum 3.000000
Minimum 0.000000
40 Std. Dev. 0.618598
Skewness 0.899009
Kurtosis 3.534081
20
Jarque-Bera 24.62678
Probability 0.000004
0
0 .0 0 .5 1 .0 1 .5 2 .0 2 .5 3 .0

142
80
Series: AUX_PRODUCAO
Sample 1 168
Observations 168
60
Mean 0.839286
Median 1.000000
Maximum 3.000000
40
Minimum 0.000000
Std. Dev. 0.784050
Skewness 0.662850
20 Kurtosis 2.951767

Jarque-Bera 12.31864
Probability 0.002114
0
0 .0 0 .5 1 .0 1 .5 2 .0 2 .5 3 .0

100
Series: AUX_SAUDE
Sample 1 168
80 Observations 168

Mean 1.250000
60 Median 1.000000
Maximum 3.000000
Minimum 0.000000
40 Std. Dev. 0.616636
Skewness -0.057634
Kurtosis 2.657387
20
Jarque-Bera 0.914690
Probability 0.632962
0
0 .0 0 .5 1 .0 1 .5 2 .0 2 .5 3 .0

60
Series: BENEFICIOS
Sample 1 168
50
Observations 168

40 Mean 0.221223
Median 0.165000
Maximum 0.900000
30
Minimum 0.000000
Std. Dev. 0.175721
20 Skewness 1.625146
Kurtosis 5.525484
10
Jarque-Bera 118.5973
Probability 0.000000
0
0 .0 0 0 0 .1 2 5 0 .2 5 0 0 .3 7 5 0 .5 0 0 0 .6 2 5 0 .7 5 0 0 .8 7 5
140
Series: CREDITO_MC
120 Sample 1 168
Observations 168
100
Mean 0.726190
Median 1.000000
80
Maximum 1.000000
Minimum 0.000000
60 Std. Dev. 0.447245
Skewness -1.014506
40 Kurtosis 2.029223

20 Jarque-Bera 35.41510
Probability 0.000000
0
0 .0 0 .2 0 .4 0 .6 0 .8 1 .0

143
10 0
Series: ENERGIA_ELETRICA
Sample 1 168
80 Observations 168

Mean 0.378874
60 Median 0.000000
Maximum 1.000000
Minimum 0.000000
40 Std. Dev. 0.440206
Skewness 0.414868
Kurtosis 1.278150
20
Jarque-Bera 25.57262
Probability 0.000003
0
0.0 0.2 0.4 0.6 0.8 1.0
100
Series: ESCOLA
Sample 1 168
80 Observations 168

Mean 0.488095
60 Median 0.000000
Maximum 1.000000
Minimum 0.000000
40 Std. Dev. 0.501353
Skewness 0.047633
Kurtosis 1.002269
20
Jarque-Bera 28.00004
Probability 0.000001
0
0 .0 0 .2 0 .4 0 .6 0 .8 1 .0
80
Series: FORMA_ACESSO
Sample 1 168
Observations 168
60
Mean 4.136905
Median 4.000000
Maximum 6.000000
40
Minimum 1.000000
Std. Dev. 1.303728
Skewness -1.067896
20 Kurtosis 3.533812

Jarque-Bera 33.92593
Probability 0.000000
0
1 2 3 4 5 6
50
Series: LOTE
Sample 1 168
40 Observations 168

Mean 49.49405
30 Median 44.00000
Maximum 201.0000
Minimum 2.000000
20 Std. Dev. 33.44439
Skewness 1.510097
Kurtosis 6.276566
10
Jarque-Bera 139.0022
Probability 0.000000
0
0 20 4 0 6 0 8 0 1 0 0 1 2 0 1 4 0 160 1 8 0 2 0 0

144
50
Series: MAO_DE_OBRA
Sample 1 168
40 Observations 168

Mean 3.659226
30 Median 3.500000
Maximum 6.750000
Minimum 1.750000
20 Std. Dev. 0.943551
Skewness 0.658916
Kurtosis 3.609145
10
Jarque-Bera 14.75417
Probability 0.000625
0
2 3 4 5 6 7
40
Series: NAO_SUBSISTENCIA
Sample 1 168
Observations 168
30
Mean 0.371250
Median 0.200000
Maximum 1.000000
20
Minimum 0.000000
Std. Dev. 0.327919
Skewness 0.731840
10 Kurtosis 1.994671

Jarque-Bera 22.07131
Probability 0.000016
0
0.0 0.2 0.4 0.6 0.8 1.0
140
Series: ORGAN_MORADIA
120 Sample 1 168
Observations 168
100
Mean 1.994048
Median 1.000000
80
Maximum 7.000000
Minimum 1.000000
60
Std. Dev. 2.095038
Skewness 1.779202
40 Kurtosis 4.331859

20 Jarque-Bera 101.0526
Probability 0.000000
0
1 2 3 4 5 6 7
160
Series: PA_CONSOLIDADO
Sample 1 168
Observations 168
120
Mean 0.071429
Median 0.000000
Maximum 1.000000
80
Minimum 0.000000
Std. Dev. 0.258309
Skewness 3.328201
40 Kurtosis 12.07692

Jarque-Bera 886.8876
Probability 0.000000
0
0.0 0.2 0.4 0.6 0.8 1.0

145
200
Series: PROD_COLETIVA
Sample 1 168
Observations 168
150
Mean 0.047619
Median 0.000000
Maximum 1.000000
100
Minimum 0.000000
Std. Dev. 0.213596
Skewness 4.248529
50 Kurtosis 19.05000

Jarque-Bera 2308.617
Probability 0.000000
0
0.0 0.2 0.4 0.6 0.8 1.0
40
Series: PRONAF_A
Sample 1 168
Observations 168
30
Mean 0.627000
Median 0.835000
Maximum 1.000000
20
Minimum 0.000000
Std. Dev. 0.372056
Skewness -0.850218
10 Kurtosis 2.042740

Jarque-Bera 26.65481
Probability 0.000002
0
0.0 0 .2 0 .4 0.6 0 .8 1 .0
160
Series: PRONAF_C_D
Sample 1 168
Observations 168
120
Mean 0.017133
Median 0.000000
Maximum 1.000000
80
Minimum 0.000000
Std. Dev. 0.094629
Skewness 8.271087
40 Kurtosis 79.00460

Jarque-Bera 42352.40
Probability 0.000000
0
0 .0 0 .2 0 .4 0 .6 0 .8 1 .0

120
Series: RENDA
Sample 1 168
100 Observations 168

80 Mean 269.5952
Median 300.0000
Maximum 600.0000
60
Minimum 100.0000
Std. Dev. 114.1544
40 Skewness 0.644648
Kurtosis 4.875979
20
Jarque-Bera 36.27107
Probability 0.000000
0
100 150 200 250 30 0 350 400 450 500 550 600

146
50
Series: RENDA_COMPLEMEN
Sample 1 168
40 Observations 168

Mean 0.374717
30 Median 0.300000
Maximum 1.000000
Minimum 0.000000
20 Std. Dev. 0.287135
Skewness 0.631633
Kurtosis 1.993307
10
Jarque-Bera 18.26492
Probability 0.000108
0
0.0 0.2 0.4 0.6 0.8 1.0

140
Series: SANITARIOS
120 Sample 1 168
Observations 168
100
Mean 0.098753
Median 0.000000
80
Maximum 1.000000
Minimum 0.000000
60
Std. Dev. 0.243746
Skewness 2.639540
40 Kurtosis 8.630572

20 Jarque-Bera 417.0041
Probability 0.000000
0
0 .0 0 .2 0 .4 0 .6 0 .8 1 .0
160
Series: TITULO_POSSE
Sample 1 168
Observations 168
120
Mean 0.071429
Median 0.000000
Maximum 1.000000
80
Minimum 0.000000
Std. Dev. 0.258309
Skewness 3.328201
40 Kurtosis 12.07692

Jarque-Bera 886.8876
Probability 0.000000
0
0 .0 0 .2 0 .4 0 .6 0 .8 1 .0
50
Series: TRATORES
Sample 1 168
40 Observations 168

Mean 2.226190
30 Median 1.500000
Maximum 27.00000
Minimum 0.000000
20 Std. Dev. 3.085027
Skewness 4.146165
Kurtosis 29.24174
10
Jarque-Bera 5301.741
Probability 0.000000
0
0 2 4 6 8 10 12 14 16 18 20 22 24 26 28

147
ANEXO C

VBA para modelo DEA CCR output orientado multiplicativo

Sub CCR_Primal_Output_Orientado()

Dim i
For i = 1 To 168
Range(Cells(2, i + 2), Cells(27, i + 2)).Copy
Range("FO2:FO27").PasteSpecial

SolverReset
SolverOk SetCell:="$B$31", MaxMinVal:=2, ByChange:="$B$205:$B$230"
SolverAdd CellRef:=Range("B205:B216"), relation:=3, _
formulatext:="$D$205:$D$216"
SolverAdd CellRef:=Range("B230"), relation:=3, _
formulatext:="$D$230"
SolverAdd CellRef:=Range("B222:B229"), relation:=4
SolverAdd CellRef:=Range("B217:B221"), relation:=5
SolverAdd CellRef:=Range("B34"), relation:=2, _
formulatext:="$D$34"
SolverAdd CellRef:=Range("B35:B202"), relation:=1, _
formulatext:="$D$35:$D$202"

SolverOptions MaxTime:=100, Iterations:=1000, Precision:=0.000001, AssumeLinear _


:=True, StepThru:=False, Estimates:=1, Derivatives:=1, SearchOption:=1, _
IntTolerance:=5, Scaling:=False, Convergence:=0.0001, AssumeNonNeg:=True

SolverSolve UserFinish:=True
SolverFinish KeepFinal:=1

Range("B31:B31").Copy
Range(Cells(234, i + 1), Cells(234, i + 1)).PasteSpecial _
Paste:=xlPasteValues, Operation:=xlNone, SkipBlanks _
:=False, Transpose:=False
Range("B205:B230").Copy
Range(Cells(235, i + 1), Cells(260, i + 1)).PasteSpecial
Next
End Sub

148
ANEXO D

VBA para modelo DEA CCR output orientado envelope

Sub CCR_Dual_Output_Orientado()

Dim i

For i = 1 To 168
Range(Cells(i + 2, 2), Cells(i + 2, 27)).Copy
Range("b171:aa171").PasteSpecial

SolverReset
SolverOk SetCell:="$B$174", MaxMinVal:=1, ByChange:="$B$401:$B$595"
SolverAdd CellRef:=Range("B176:B201"), relation:=2, _
formulatext:="$D$176:$D$201"
SolverAdd CellRef:=Range("B204:B398"), relation:=3, _
formulatext:="$D$204:$D$398"

SolverOptions MaxTime:=10000, Iterations:=100000, Precision:=0.000001, AssumeLinear


_
:=True, StepThru:=False, Estimates:=1, Derivatives:=1, SearchOption:=1, _
IntTolerance:=5, Scaling:=False, Convergence:=0.0001, AssumeNonNeg:=True

SolverSolve UserFinish:=True
SolverFinish KeepFinal:=1

Range("B401:B595").Copy
Range(Cells(599, i + 1), Cells(793, i + 1)).PasteSpecial

Next

End Sub

149
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