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FUNDAÇÃO UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO DO SUL

ESCOLA DE ADMINISTRAÇÃO E NEGÓCIOS - ESAN


PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO STRICTO SENSU EM ADMINISTRAÇÃO

EDUARDO CORNETO SILVA

INSTITUCIONALIZAÇÃO DA INTERNET DAS COISAS (IOT) COMO


FERRAMENTA DE GESTÃO NA PECUÁRIA BOVINA DE CORTE DO MATO
GROSSO DO SUL (MS)

Campo Grande, MS
2023
Eduardo Corneto Silva

INSTITUCIONALIZAÇÃO DA INTERNET DAS COISAS (IOT) COMO


FERRAMENTA DE GESTÃO NA PECUÁRIA BOVINA DE CORTE DO MATO
GROSSO DO SUL (MS)

Tese apresentada ao Programa de Pós-Graduação


stricto sensu em Administração da Universidade
Federal de Mato Grosso do Sul (UFMS) como
requisito parcial para obtenção do título de Doutor
em Administração. Área de concentração: Gestão do
Agronegócio e Organizações.

Orientadora: Profª. Drª. Márcia Maria do Santos


Bortolocci Espejo.

Campo Grande, MS
2023
INSTITUCIONALIZAÇÃO DA INTERNET DAS COISAS (IOT) COMO
FERRAMENTA DE GESTÃO NA PECUÁRIA BOVINA DE CORTE DE MATO
GROSSO DO SUL (MS)

Por

Eduardo Corneto Silva

Tese apresentada ao Programa de Pós-Graduação


stricto sensu em Administração da Universidade
Federal de Mato Grosso do Sul (UFMS) como
requisito parcial para obtenção do título de Doutor
em Administração, sendo a banca examinadora
formada por:

___________________________________________________________
Prof.ª. Dra. Márcia Maria dos Santos Bortolocci Espejo – Presidente – Universidade Federal
de Mato Grosso do Sul – UFMS

___________________________________________________________
Prof.ª. Dra. Daniela Callegaro – Universidade Federal do Rio Grande do Sul – UFRGS

___________________________________________________________
Prof.ª. Dra. Fernanda Filgueiras Sauerbronn – Universidade Federal do Rio de Janeiro – UFRJ

___________________________________________________________
Prof. Dr. David Bernard Carter – University of Canberra - Canberra Business School

___________________________________________________________
Prof.ª. Dra. Erlaine Binotto – Universidade Federal de Mato Grosso do Sul – UFMS

___________________________________________________________
Prof. Dr. Guilherme Cunha Malafaia – Universidade Federal de Mato Grosso do Sul – UFMS

Campo Grande, 07 de março de 2023.


AGRADECIMENTO

A Deus por ter me dado saúde e forças para enfrentar as adversidades que encontrei
durante o percurso como doutorando, na vivencia longe da minha cidade e do aconchego dos
meus familiares. Sem, Ele, não conseguiria alcançar mais esse objetivo.
A minha orientadora, Márcia M. S. Bortolocci Espejo, por todo apoio oferecido antes
mesmo de começarmos a vivência acadêmica. Todo o ensinamento, parceria e compreensão
foram essenciais para que a caminhada do doutorado fosse frutífera e sólida. Estendo, em
nome da professora Márcia, meu agradecimento ao grupo de pesquisa, Nupecon, que
colaborou e apoiou meu desenvolvimento como pesquisador.
Ao meu pai Lourivaldo Antônio da Silva e minha mãe Celia Regina Corneto, minha
eterna gratidão pelo carinho e apoio que me deram ontem, hoje e sempre. Desde o dia que
decidi sair do meu estado para realizar o mestrado em São Paulo e agora o doutorado em
Campo Grande, acreditei e senti o apoio e orações de vocês. Ao meus irmãos Ricardo Corneto
e Gleice Corneto meu muito obrigado pelo carinho e apoio de sempre. Meu beijo para minha
sobrinha, Julia, que tive que acompanhar o crescimento de longe, mas perto graças a
tecnologia. Espero que meu esforço a inspire a alçar voos cada vez maiores.
Ao Programa de Pós-Graduação em Administração da Universidade Federal de Mato
Grosso do Sul, universidade onde me graduei e pela qual tenho um enorme carinho. Agradeço
a todo o corpo docente do PPGAd pelos conhecimentos compartilhados e oportunidades
concedidas. Estendo meus agradecimentos, também, a secretária do programa, Cibelly Urias,
que sempre gentil, auxilio-me nas questões burocráticas durante esses quatro anos.
A todos os entrevistados, meu muito obrigado pela colaboração durante esta pesquisa.
A disponibilidade de vocês foi essencial para colocarmos mais uma gota no oceano do
conhecimento.
Agradeço aos meus amigos de infância e em especial ao Anderson Ramires, amigo e
com quem dividi moradia nesses quatro anos. De forma especial, agradeço a turma do
“Churrasco doutoral” que entre um papo científico, ou não, vivemos incríveis momentos. Aos
amigos Douglas Castrillon, José Alexandre, Lidiane Parron e Weslei Maique, meu muito
obrigado.
Por fim, agradeço o apoio da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível
Superior - Brasil (CAPES) - Código de Financiamento 001, pela bolsa de estudos concedida.
RESUMO
A adoção da Internet das Coisas (IoT) na produção de bovinos de corte tem se mostrado
vantajosa para os produtores pecuaristas ao possibilitar melhorias nos processos produtivos e
de gestão, acarretando maior lucratividade e eficiência. Sua inserção no ambiente rural impõe
mudanças institucionais, exigindo que práticas de trabalho sejam desenvolvidas a fim de
institucionalizá-la. Esta tese tem como objetivo propor um framework teórico-conceitual,
consubstanciado na epistemologia estruturalista, sobre o papel de práticas de trabalho
institucional para adoção da Internet das Coisas (IoT), na pecuária bovina de corte, no estado
de Mato Grosso do Sul.. Como objetivos específicos foram definidos: a) apresentar as
possibilidades identificadas, teoricamente, da aplicação da IoT como ferramenta de gestão na
pecuária bovina de corte; b) mapear o campo institucional, por meio da evidenciação dos
atores que trabalham para a adoção da IoT como ferramenta de gestão na bovinocultura de
corte, em Mato Grosso do Sul; c) identificar o trabalho político, técnico e cultural realizado
pelos atores institucionais para institucionalização da IoT, na bovinocultura de corte, no
estado de Mato Grosso do Sul e; d) destacar as práticas de trabalho institucional “inibidoras”
para adoção da IoT, na bovinocultura de corte, no estado de Mato Grosso do Sul. Para atender
a estes objetivos realizou-se uma pesquisa empírica com abordagem qualitativa apoiada pela
realização de entrevistas semiestruturadas e coleta de dados secundários de: (1) dezesseis
atores institucionais do macroambiente do estado de MS que estão ligados a ações voltadas ao
fomento da IoT para a bovinocultura de corte do estado e; (2) oito proprietários e/ou gestores
de fazendas de bovinocultura de corte do estado de MS. O tipo de análise empregada foi a
análise de conteúdo (Bardin, 2009), sendo utilizado o software de análise qualitativa
ATLAS.ti8® na análise dos dados. Como principais resultados foram mapeados os atores
institucionais que tem realizado práticas de trabalho institucional voltadas a adoção da IoT
pela pecuária bovina de corte, sendo estes do setor público federal, setor público estadual,
setor educacional e do setor privado. Foi possível concluir que, apenas, algumas práticas de
trabalho institucional ligadas ao trabalho político, técnico e cultural são realizadas de maneira
ampla pelos atores do macroambiente. Identificou-se que a advocacia, por meio do apoio
político e regulatório, destaca-se no nível mais alto de prioridade como inibidora à adoção da
IoT para as fazendas de bovinocultura. Como resultado final propõe-se um framework
teórico-conceitual que evidencia o papel das práticas de trabalho institucional para adoção da
Internet das Coisas, na bovinocultura de corte, do estado de MS. Os resultados da pesquisa
preenchem a lacuna teórica ao unir três temas até então não investigados de maneira
simultânea (IoT, Pecuária e a teoria do Trabalho institucional). No âmbito prático, o estudo
contribui por evidenciar possibilidades de utilização da IoT no monitoramento, controle,
predição e logística de atividades rurais. Não obstante, evidencia-se a contribuição de elucidar
a teia de relações entre os atores institucionais e suas práticas de trabalho institucional
realizadas no macroambiente do estado de MS, as quais visam sustentar a elaboração de
estratégias e políticas mais eficientes voltadas à adoção da IoT na bovinocultura de corte. De
forma a complementar a análise qualitativa, ao entrevistar gestores de fazenda de
bovinocultura de corte sobre as práticas de trabalho institucional que são inibidoras à adoção
de produtos IoT, como a advocacia e construção de redes normativas, a tese apresenta ações
que devem ser desenvolvidas prioritariamente pelos atores públicos dos governos estaduais e
federal voltadas ao desenvolvimento deste fenômeno, destacando seu potencial impacto
social.

Palavras-chave: Internet das Coisas (IoT), Pecuária bovina de corte, Trabalho Institucional,
Framework teórico-conceitual.
ABSTRACT
The adoption of the Internet of Things (IoT) in the production of beef cattle has proven to be
advantageous for livestock producers by enabling improvements in production and
management processes, resulting in greater profitability and efficiency. Its insertion in the
rural environment imposes institutional changes, demanding that work practices be developed
in order to institutionalize it. This thesis aims to propose a theoretical-conceptual framework,
embodied in structuralist approach, on the role of institutional work practices for the adoption
of the Internet of Things (IoT), in beef cattle, in the state of Mato Grosso do Sul. As specific
objectives were defined: a) to present the theoretically identified possibilities of the
application of IoT as a management tool in beef cattle; b) mapping the institutional field,
through the disclosure of the actors who work for the adoption of IoT as a management tool in
beef cattle, in Mato Grosso do Sul; c) identify the political, technical and cultural work carried
out by institutional actors for the institutionalization of IoT, in beef cattle, in the state of Mato
Grosso do Sul and; d) highlight the “inhibiting” institutional work practices for the adoption
of IoT, in beef cattle, in the state of Mato Grosso do Sul. To meet these objectives, an
empirical research with a qualitative approach was carried out, supported by semi-structured
interviews and the collection of secondary data from: (1) sixteen institutional actors from the
macro environment of the state of MS that are linked to actions aimed at promoting IoT for
beef cattle in the state and; (2) eight owners and/or managers of beef cattle farms in the state
of MS. The type of analysis used was content analysis (Bardin, 2009), using the ATLAS.ti8®
qualitative analysis software for data analysis. As main results, the institutional actors that
have carried out institutional work practices aimed at the adoption of IoT by beef cattle were
mapped, being these from the federal public sector, state public sector, educational sector and
the private sector. It was possible to conclude that only some institutional work practices
linked to political, technical and cultural work are carried out in a broad way by the actors of
the macro environment. It was identified that advocacy, through political and regulatory
support, stands out at the highest level of priority as an inhibitor to the adoption of IoT for
cattle farms. As a final result, a theoretical-conceptual framework is proposed that highlights
the role of institutional work practices for the adoption of the Internet of Things in beef cattle,
in the state of MS. The research results fill the theoretical gap by uniting three themes that
have not been investigated simultaneously (IoT, Livestock and the theory of Institutional
Work). In the practical scope, the study contributes by highlighting possibilities of using IoT
in the monitoring, control, prediction and logistics of rural activities. Nevertheless, the
contribution of elucidating the web of relationships between institutional actors and their
institutional work practices carried out in the macro environment of the state of MS is evident,
which aim to support the elaboration of more efficient strategies and policies aimed at the
adoption of IoT in the beef cattle. In order to complement the qualitative analysis, when
interviewing beef cattle farm managers about the institutional work practices that are
inhibiting the adoption of IoT products, such as advocacy and the construction of normative
networks, the thesis presents actions that must be developed as a priority by public actors
from state and federal governments focused on the development of this phenomenon,
highlighting its potential social impact.

Keywords: Internet of things (IoT), Beef cattle, Institutional work, Theoretical-conceptual


framework.
LISTA DE FIGURAS

Figura 1: Relação recursiva entre instituição e ação.............................................................. 29


Figura 2: Distribuição de pesquisas em atividades agropecuárias ......................................... 46
Figura 3: Modelo teórico da pesquisa ................................................................................... 56
Figura 4: Etapas realizadas na análise dos dados .................................................................. 81
Figura 5: Atores do macro ambiente institucional de Mato Grosso do Sul ............................ 85
Figura 6: Balança de passagem ............................................................................................ 89
Figura 7: Equipamento para monitoramento das informações fisiológicas e comportamentais
de bovinos ........................................................................................................................... 90
Figura 8: Equipamento de suplementação alimentar automática para bovinos ...................... 90
Figura 9: Cocho eletrônico para mensuração do consumo bovino ......................................... 91
Figura 10: Balança voluntária de pesagem e brinco com leitura por RFID ............................ 92
Figura 11: Balança voluntária de pesagem com leitura por RFID ......................................... 93
Figura 12: Síntese das práticas relacionadas ao trabalho político realizadas no macro ambiente
do estado de MS................................................................................................................. 109
Figura 13: Rede normativa criada pelos atores institucionais entrevistados......................... 116
Figura 14: Síntese das práticas relacionadas ao trabalho cultural realizadas no macro ambiente
do estado de MS................................................................................................................. 118
Figura 15: Síntese das práticas relacionadas ao trabalho técnico realizadas no macro ambiente
do estado de MS................................................................................................................. 130
Figura 16: Rede normativa criada no estado de MS para IoT e Bovinocultura de corte ....... 149
Figura 17: Framework teórico-conceitual sobre as práticas de trabalho institucional que
fomentam a IoT como ferreamente de gestão na bovinocultura de corte do estado de MS .. 159

LISTA DE QUADROS

Quadro 1: Relação de teses que utilizam a vertente teórica do Trabalho Institucional ........... 21
Quadro 2: Prática para criação de instituições ...................................................................... 30
Quadro 3: Prática para manter instituições ........................................................................... 31
Quadro 4: Formas, práticas e ações relacionadas a criação de instituições ........................... 37
Quadro 5: Algumas definições para o termo Internet das Coisas........................................... 39
Quadro 6: Clusters de artigos conforme o domínio de aplicação ........................................... 47
Quadro 7: Matriz de amarração metodológica da pesquisa ................................................... 64
Quadro 8: Palavras-chave usadas para busca nos repositórios científicos.............................. 67
Quadro 9: String utilizado para busca nos títulos, resumo e palavras-chave .......................... 68
Quadro 10: Atores institucionais que compõem o público alvo para entrevistas.................... 73
Quadro 11: documentos aplicados na pesquisa ..................................................................... 74
Quadro 12: Fazendas que compõem a amostra entrevistada na etapa 2 ................................. 77
Quadro 13: Referencial de codificação para análise de conteúdo .......................................... 80
Quadro 14: Modelo teórico metodológico conceitual para caracterização qualitativa da
priorização de práticas de trabalho institucional ................................................................... 84
Quadro 15: Frequência de citações para cada prática de Trabalho Institucional .................... 99
Quadro 16: Análise da existência de ações ligadas as práticas de trabalho institucional
segundo os setores entrevistados ........................................................................................ 132
Quadro 17: Análise da existência de práticas de trabalho institucional segundo os setores
entrevistados ...................................................................................................................... 133
Quadro 18: Análise da priorização das práticas de Trabalho Institucional inibidoras a adoção
da IoT pelas fazendas de bovinocultura .............................................................................. 145
Quadro 19: Classificação das práticas de trabalho institucional conforme nível de prioridade
para proposição de ações de trabalho institucional.............................................................. 158
LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

ABDI - Agência brasileira de desenvolvimento industrial.


AC - Análise de conteúdo.
ANATEL - Agência Nacional de Telecomunicações.
ANCP - Associação Nacional de Criadores e Pesquisadores.
BNDES - Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social.
CAR - CONSUMO ALIMENTAR RESIDUAL
CEIP - Certificado Especial De Identificação E Produção.
CEP- Comitê de Ética em Pesquisa.
CNA - Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil.
CNPq - Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico.
Confap - Conselho Nacional das Fundações Estaduais de Amparo à Pesquisa.
CPQD - Centro de Pesquisa e Desenvolvimento em Telecomunicações.
EIGEDIN - Encontro Internacional de Gestão, Desenvolvimento e Inovação.
EMBRAPA - Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária.
Esalq - Escola Superior de Agricultura “Luiz de Queiroz”.
EUA - Estados Unidos da América.
FAMASUL - Federação da Agricultura e Pecuária de Mato Grosso do Sul.
FAPEC - Fundação de Apoio à Cultura e Ensino.
FINEP - Financiadora de Estudos e Projetos.
FUNDECT - Fundação de Apoio ao Desenvolvimento do Ensino, Ciência e Tecnologia de
Mato Grosso do Sul.
ICNA – Instituto CNA.
INPI - Instituto Nacional de Propriedade Intelectual.
IoT - Internet of Things.
M2M - Máquina-a-Máquina.
MAPA - Ministério da Agricultura, Pecuária e abastecimento.
MCTIC - Ministério da Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações.
MIT - Massachute Institute of Technology.
NFC - Near Field Communication.
P&D - Pesquisa e Desenvolvimento.
PIB - Produto Interno Bruto.
PMGZ - Programa de Melhoramento Genético de Zebuínos.
RFID - Radio-Frequency Identification.
RSL - Revisão Sistemática de Literatura.
SEMAGRO - Secretaria de Estado de Meio Ambiente, Desenvolvimento Econômico,
Produção e Agricultura Familiar.
SENAR – Serviço Nacional de Aprendizagem Rural.
TCLE - Termo de Consentimento Livre e Esclarecido.
TIC - Tecnologias da informações e comunicação.
UEMS - Universidade Estadual de Mato Grosso do Sul.
UFMS – Universidade Federal de mato Grosso do Sul.
WSNs - Wireless Sensor Networks.
SUMÁRIO

1 CAPÍTULO I – APRESENTAÇÃO GERAL DO TRABALHO ....................... 12


1.1 INTRODUÇÃO .................................................................................................... 12
1.2 PROBLEMA DE PESQUISA ............................................................................... 14
1.3 OBJETIVOS GERAL E ESPECÍFICOS................................................................ 18
1.4 JUSTIFICATIVA .................................................................................................. 19
1.5 ESTRUTURA DA TESE....................................................................................... 23
2 CAPÍTULO II – REFERENCIAL TEÓRICO E BIBLIOGRÁFICO .............. 25
2.1 TEORIA DE BASE: TRABALHO INSTITUCIONAL NA CRIAÇÃO DE
INSTITUIÇÕES .................................................................................................... 25
2.1.1 Trabalho Institucional Político ........................................................................... 32
2.1.2 Trabalho Institucional Cultural .......................................................................... 34
2.1.3 Trabalho Institucional Técnico ........................................................................... 35
2.2 INTERNET DAS COISAS E SUA APLICAÇÃO NO AMBIENTE RURAL ....... 38
2.2.1 Internet das Coisas (IoT) ..................................................................................... 38
2.2.2 Estado da Arte sobre a adoção da Internet das Coisas na agropecuária .......... 45
2.3 MODELO TEÓRICO DA PESQUISA E PROPOSIÇÕES .................................... 55
3 CAPÍTULO III – MÉTODO E TÉCNICAS DE PESQUISA ............................ 62
3.1 DELINEAMENTO DA PESQUISA...................................................................... 62
3.2 POSICIONAMENTO EPISTEMOLÓGICO ......................................................... 65
3.3 PROCEDIMENTOS DE COLETA, SELEÇÃO E ANÁLISE DA REVISÃO
SISTEMÁTICA DE LITERATURA ..................................................................... 67
3.4 CAMPO DE ESTUDO, PROCEDIMENTOS E TÉCNICAS DE COLETA DE
DADOS................................................................................................................. 69
3.4.1 Etapa empírica 1 – Entrevista com atores do macroambiente .......................... 71
3.4.2 Etapa empírica 2 – Entrevista com gestores e/ou proprietários de fazendas de
bovinocultura de corte ....................................................................................................... 75
3.5 PROCEDIMENTOS DE ANÁLISE DOS DADOS ............................................... 78
4 CAPÍTULO IV – APRESENTAÇÃO DOS RESULTADOS ............................. 85
4.1 MAPEAMENTO DOS ATORES INSTITUCIONAIS NO MACROAMBIENTE
DO ESTADO DE MS............................................................................................ 85
4.1.1 Atores do setor educacional ................................................................................ 86
4.1.2 Atores do setor privado ....................................................................................... 88
4.1.3 Atores do setor público estadual ......................................................................... 94
4.1.4 Atores do setor público federal ........................................................................... 96
4.2 REALIZAÇÃO DE TRABALHO INSTITUCIONAL NO ESTADO DE MS........ 99
4.2.1 Trabalho Político ............................................................................................... 100
4.2.2 Trabalho Cultural ............................................................................................. 110
4.2.3 Trabalho Técnico ............................................................................................... 119
4.3 PRÁTICAS DE TRABALHO INSTITUCIONAL INIBIDORAS NA ADOÇÃO DA
IOT PELAS FAZENDAS DE BOVINO DE CORTE NO ESTADO DE MS ....... 135
5 CAPÍTULO V – ANÁLISE E DISCUSSÃO TEÓRICA DOS RESULTADOS
146
5.1 DISCUSSÃO TEÓRICA DAS PROPOSIÇÕES DE PESQUISA ........................ 146
5.2 PROPOSTA DE UM FRAMEWORK TEÓRICO-CONCEITUAL PARA A
INSTITUCIONALIZAÇÃO DA IOT .................................................................. 157
6 CAPÍTULO VI - CONSIDERAÇÕES FINAIS................................................ 162
6.1 CONCLUSÕES GERAIS .................................................................................... 162
6.2 CONTRIBUIÇÕES DA PESQUISA ................................................................... 164
6.2.1 Contribuições para o campo teórico ................................................................. 164
6.2.2 Contribuições para o campo científico ............................................................. 165
6.2.3 Contribuições para a prática ............................................................................ 166
6.2.4 Contribuições para o desenvolvimento de políticas públicas ........................... 167
6.3 LIMITAÇÕES DA PESQUISA ........................................................................... 168
6.4 SUGESTÕES PARA ESTUDOS FUTUROS ...................................................... 169
REFERÊNCIAS ............................................................................................................... 170
APÊNDICE A – ROTEIRO SEMIESTRUTURADO PARA ENTREVISTA SOBRE
TRABALHO INSTITUCIONAL – ETAPA 1 ................................................................ 183
APÊNDICE B – QUADRO SÍNTESE SOBRE AS QUESTÕES DO ROTEIRO
SEMIESTRUTURADO LIGADAS AO TRABALHO INSTITUCIONAL – ETAPA 1186
APÊNDICE C - ROTEIRO SEMIESTRUTURADO PARA LEVANTAMENTO DOS
INOIBIDORES A ADOÇÃO DA IOT NAS FAZENDAS DE BOVINOCULTURA –
ETAPA 2 .......................................................................................................................... 187
APÊNDICE D – TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO (TCLE)
– ETAPA 1 ....................................................................................................................... 190
APÊNDICE E - TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO (TCLE) -
ETAPA 2 .......................................................................................................................... 192
APÊNDICE F – LISTA DE ARTIGOS QUE COMPUSERAM A REVISÃO
SISTEMÁTICA DE LITERATURA .............................................................................. 194
APÊNDICE G: ANÁLISE DO TRABALHO INSTITUCIONAL POLÍTICO NO
MACRO AMBIENTE DO ESTADO DE MS ................................................................. 197
APÊNDICE H: ANÁLISE DO TRABALHO INSTITUCIONAL CULTURAL NO
MACRO AMBIENTE DO ESTADO DE MS ................................................................. 199
APÊNDICE I: ANÁLISE DO TRABALHO INSTITUCIONAL TÉCNICO NO MACRO
AMBIENTE DO ESTADO DE MS ................................................................................. 200
APÊNDICE J: ANÁLISE DOS INIBIDORES NA ADOÇÃO DA IOT PELAS
FAZENDAS DE BOVINOCULTURA DE MS............................................................... 201
APÊNDICE K: PARECER TÉCNICO ENVIADO PARA AUTORIDADES .............. 203
COMPETENTES E LEGISLADORES - PLANO DE AÇÃO AO GOVERNO DO
ESTADO DE MS VOLTADO A ADOÇÃO DA IOT NA PECUÁRIA BOVINA DE
CORTE 203
12

1 CAPÍTULO I – APRESENTAÇÃO GERAL DO TRABALHO

1.1 INTRODUÇÃO

A população mundial cresceu de maneira acelerada nos últimos anos, tendo como
projeção aumentar dos atuais 7 bilhões de habitantes, para 9 bilhões em 2050 (Dinesh &
Ramesh, 2018). Com isso, até 2050, será necessário produzir 70% mais alimentos, o que
coloca todos os envolvidos na cadeia agroalimentar sob pressão (De Clercq et al., 2018).
Caberá, portanto, aos produtores agropecuários buscar formas de produção mais ágeis e
eficientes, utilizando menos recursos e obtendo-se retornos produtivos superiores (Negrete,
2018).

Entre os países fundamentais para atender a essa demanda, está o Brasil, que se
destaca como um dos maiores produtores agropecuários no mundo (Carraro et al., 2019). O
país desponta como referência mundial em produção de grãos e proteína animal, graças à
adoção de tecnologias que permitem o desenvolvimento de uma agricultura e pecuária de
precisão (Arvanitis & Symeonaki, 2020; Carraro et al., 2019). Tal realidade se evidencia,
quando se observa que o setor agropecuário possui importante representatividade no Produto
Interno Bruto (PIB) nacional, sendo responsável por 21,4% do seu total em 2019, além de
compor cerca de 50% das exportações e 30% do total de empregos no Brasil (Brasil, 2020). O
setor agropecuário é constituído pelas atividades rurais: agricultura, pecuária, pesca e
silvicultura (Barros et al., 2014).

Todavia, apesar de sua relevância mundial no mercado de alimentos, ainda existem


possibilidades para aprimorar a eficiência dos processos, a fim de aumentar a produtividade e
diminuir custos (Brasil & Brasil, 2017). Uma das formas de melhorar os indicadores
produtivos e econômicos consiste no uso de novas tecnologias nos processos de produção,
possibilitando-se, com isso, a introdução de produtos de alto valor agregado no mercado
(Ozdogan et al., 2017).

O movimento de inserção no campo de tecnologias como robôs autônomos,


simulação, cyber security, Internet das Coisas (IoT - Internet of Things), computação em
nuvem, big data, entre outros, constitui a chamada “agricultura 4.0”, que surgiu em alusão à
“indústria 4.0” (Carraro et al., 2019)1. A agricultura 4.0 significa a interação combinada das

1
Aqui, cabe destacar que se utiliza o termo agricultura 4.0 para ser fiel ao termo usado pelos autores, no entanto
os mesmos citam diferentes atividades que constituem a agropecuária.
13

operações agrícolas, oferecendo informações, de forma digital, entre e para todos os setores e
processos agrícolas (Zambon et al., 2019).

As quatro revoluções agrícolas são listadas, por Rose e Chilvers (2018): agricultura
1.0, caracteriza-se pelo uso de energia animal; a inserção do motor à combustão corresponde à
agricultura 2.0; a agricultura 3.0 tem como característica os avanços em produtividade,
associados à mecanização, à revolução verde e à geolocalização; a mudança para a agricultura
4.0 está ligada à adoção de inovações tecnológicas disruptivas que conectam as atividades
realizadas no campo.

As possibilidades de utilização das tecnologias da agricultura 4.0 são diversas dentro


do campo rural, todavia, embora a agricultura brasileira já tenha algumas iniciativas
consideradas como 4.0, ainda existe um caminho a ser percorrido graças às tecnologias
disponíveis não estarem sendo utilizadas em sua amplitude; e, quando o são, o foco de sua
utilização ainda é restrito a questões de custo e velocidade, sem observar seu potencial para
qualidade, confiabilidade e flexibilidade (Carraro et al., 2019).

Em estudo realizado, observando a aplicação de tecnologias 4.0, na agropecuária


brasileira, Carraro et al. (2019) destacam que, entre as mais utilizadas na área rural, estão a
Internet of Things (IoT), Cyber Security e Cloud Computing. A IoT é uma das aplicações
tecnológicas-chave para a operacionalização da agropecuária 4.0, por isso ganha destaque em
diferentes estudos que ligam sua utilização aos avanços na produção rural (Anitha et al., 2018;
Talavera et al., 2017).

A IoT é apontada como uma das principais tendências da internet do futuro (Da Xu et
al., 2014; Khattab et al., 2019). Seu funcionamento ocorre por meio da inserção de
inteligência e conectividade a objetos do cotidiano “coisas”, transformando-os em objetos
inteligentes, capazes de coletar dados, armazenar, transmitir, processar e compartilhar
informações sobre o ambiente em que estão inseridos (Borgia, 2014).

Nesse estudo, adota-se a definição para a Internet das Coisas (IoT), de Whitmore et al.
(2015, p. 261), como “um paradigma onde objetos do cotidiano podem ser equipados com
recursos de identificação, sensoriamento, rede e processamento que permitirão que eles
comuniquem-se entre si e com outros dispositivos e serviços pela Internet para atingir algum
objetivo”.
14

1.2 PROBLEMA DE PESQUISA

A Internet das Coisas destaca-se como uma das inovações que mais recebe incentivos
expressivos por parte dos países (Talavera et al., 2017). A ideia principal que dá força para a
IoT consiste no impacto positivo que a mesma terá sobre várias atividades do cotidiano e do
comportamento de seus usuários (Gershenfeld et al., 2004). Diante disto, não é de se
surpreender que países como os Estados Unidos da América (EUA), China, Inglaterra e Brasil
estejam investindo significativamente nessa tecnologia, a ponto de os EUA listarem a IoT
como uma das seis tecnologias civis disruptivas que podem impactar diretamente no poder do
país (Brasil & Brasil, 2017; Gershenfeld et al., 2004).

A IoT é apontada como uma das tecnologias disruptivas, carro-chefe, na agropecuária


4.0, sendo possível seu emprego no monitoramento, controle, predição e logística de
diferentes atividades produtivas (Carraro et al., 2019; Talavera et al., 2017). Ao coletar,
processar e transmitir informações em tempo real sobre as plantações, criação de gado leiteiro
e de corte, pesca, produção de madeira, e outras diversas atividades dentro do setor
agropecuário, a aplicação da IoT torna-se ilimitada (Anitha et al., 2018; Muangprathub et al.,
2019).

Entre as atividades agropecuárias existentes a pecuária bovina destaca-se como uma


das que mais pode se beneficiar da adoção da Internet das Coisas (Hao et al., 2017; Li et al.,
2015). Pesquisadores da Embrapa Gado de Corte, uma das unidades da, Empresa Brasileira
de Pesquisa Agropecuária, citam em estudo sobre as megatendências da cadeia produtiva da
pecuária de corte brasileira, que a IoT tem potencial de ajudar a suprir o aumento da demanda
por alimentos e ser um dos principais motores de mudança no agronegócio brasileiro até 2040
(Malafaia et al., 2021).

Por meio da IoT, é possível tornar as fazendas de bovinocultura mais inteligentes e


eficientes, pois, com o uso e ajuda de aplicativos e softwares ligados a IoT, os produtores
gerenciam melhor seus rebanhos e conseguem uma economia significativa nos custos
operacionais (Hao et al., 2017; Li et al., 2015). Informações sobre os hábitos e consumos do
dia a dia dos animais, coletadas por microchips, sensores instalados em cochos, balanças e em
outros objetos espalhados pela fazenda, permitem que o acompanhamento seja
individualizado por animal e a tomada de decisão, mais assertiva (Hao et al., 2017; Li et al.,
2015).

No artigo Agricultura 4.0, publicado na edição de janeiro de 2020, da Revista Fapesp,


especialistas na utilização de tecnologias na pecuária afirmam que, quando as máquinas e
15

sensores estão conectados à internet, a coleta de dados torna-se instantânea e contínua, o que
confere ao produtor a capacidade de interferir imediatamente nos processos (Zaparolli, 2020).
Ainda segundo o artigo de Zaparolli (2020), um dos exemplos de sucesso com a implantação
da IoT é o da empresa Agropastoril Paschoal Campanelli, de Bebedouro, município do estado
de São Paulo. Ao fazer uso intensivo de sensores, balanças eletrônicas, chips de rastreamento,
cochos e bebedouros automatizados, a fazenda acelerou o período de engorda do gado
vendido para abate.

Outro exemplo da adoção da IoT na pecuária de corte, apresentado pela revista,


relaciona-se à fazenda Caçadinha, localizada na cidade de Rio Brilhante, sul do estado de
Mato Grosso do Sul (MS). A tecnologia testada na fazenda foi desenvolvida pelo laboratório
da holding holandesa DSM, dona da empresa Tortuga, junto à universidade de Wisconsin,
Estados Unidos, e visa monitorar e controlar o crescimento e ganho de peso dos animais, por
meio um sistema de câmeras 3D (Zaparolli, 2020).

O Estado de Mato Grosso do Sul (MS) desenvolve diferentes estratégias para


incentivar a adoção de tecnologias por parte das fazendas de bovinocultura de corte. Entre
estas ações, cita-se a realização de um desafio tecnológico, voltado ao aprimoramento de
soluções para a rastreabilidade bovina, realizado em 2020 pelo Sistema CNA/SENAR-MS,
junto ao AgroUp - Rede Nacional de Inovação para o Agronegócio (Famasul, 2020). Outra
instituição que desenvolve, no mesmo Estado, ações voltadas à adoção de tecnologias da
informação e comunicação (TIC) é a Embrapa Gado de Corte. A organização, em colaboração
com diferentes parceiros públicos e privados, tem desenvolvido hardwares e softwares que
aprimoram a pecuária nacional e, por consequência, a competitividade da cadeia produtiva da
carne bovina (Embrapa, 2020).

A adoção da IoT, mostra-se vantajosa para os produtores pecuaristas, no entanto sua


inserção é cercada por mudanças no ambiente institucional no qual está sendo inserida,
exigindo-se, com isso, que práticas de trabalho sejam desenvolvidas, a fim de a legitimar (Van
Dijk et al., 2011; Zarpelon et al., 2019). Os atores institucionais, envolvidos diretamente no
setor adotante, seja como órgão de fomento, de pesquisa ou empresa que desenvolve produtos
IoT, precisam realizar, de maneira consciente, intencional e organizada, ações que tornem
essa tecnologia amplamente adotada pelo ambiente organizacional (De Clercq et al., 2018;
Kummitha & Crutzen, 2019).
Para ser adotada de maneira ampla, uma inovação precisa ser legitimada (Binz et al.,
2016). A legitimação é entendida, de acordo com Suchman (1995, p. 574), como "uma
16

percepção generalizada ou suposição de que as ações de uma entidade são desejáveis,


adequadas ou apropriadas dentro de algum sistema socialmente construído de normas,
valores, crenças e definições." Este processo pode ocorrer como consequência de interação
longa e intensa ou de forma rápida e originada de pouca interação social (Alves et al., 2014;
Carrieri et al., 2008).

No caso da IoT, ações como mudanças na legislação, programas de subvenção


econômica, qualificação profissional ou outras estratégias desenvolvidas por atores
institucionais podem fazer com que barreiras estruturais, dificuldades de fomento e de
visualização de uso sejam superadas, melhorando, assim, sua aceitação pelos produtores
rurais (Brasil & Brasil, 2017; Zambon et al., 2019).

O trabalho para realizar mudanças institucionais, de forma intencional e consciente, de


maneira a provocar a sua legitimação, tem como principal lente de estudo a teoria do Trabalho
Institucional (Lawrence & Suddaby, 2006), definido por Lawrence, Suddaby e Leca (2011, p.
52) como “as práticas de atores individuais e coletivos com o objetivo de criar, manter ou
desorganizar instituições”. A instituição, quando vista como elemento analisado pela lente do
trabalho institucional, é definida como “elementos, mais ou menos, duradouros da vida social
que afetam o comportamento e crenças de atores individuais ou coletivos, fornecendo
modelos de ação, cognição e emoção que permitem significado e estabilidade para a vida
social” (Lawrence et al., 2011, p. 53).

No trabalho institucional, lente teórica advinda da teoria neoinstitucional, os atores são


trazidos para o centro da teoria institucional, visto que se busca vislumbrar as práticas
cotidianas e intencionais dos indivíduos e grupos para modificar ou manter o ambiente
institucional em que estão inseridos (Hwang & Colyvas, 2011). Com isso, as instituições são
criadas, mantidas ou desorganizadas por meio de diferentes práticas de trabalho institucional
que, realizadas de forma individual ou coletiva, provocam mudanças institucionais no macro
ou microambiente (Lawrence & Suddaby, 2006; Perkmann & Spicer, 2008).

De acordo com Lawrence e Suddaby (2006), a literatura lista nove práticas de trabalho
institucional destinadas à criação de novas instituições: advocacia, definição, aquisição,
construção de identidade, mudança de associações normativas, construção de redes
normativas, mimetismo, teorização e educação. Estas práticas representam três categorias de
trabalho institucional: o trabalho político, que objetiva reconstruir e desenvolver regras,
direitos de propriedade, obter apoio social e determinar limites como forma de localizar uma
instituição dentro de um sistema social mais amplo. O trabalho cultural, que atua nas ações
17

que visam reconfigurar os sistemas de crenças dos atores (Lawrence & Suddaby, 2006). E o
trabalho técnico que visa constituir estruturas que sugerem, recomendam ou prescrevem as
ações relacionadas à determinada instituição (Lawrence & Suddaby, 2006; Perkmann &
Spicer, 2008).

Entre os objetivos do trabalho institucional - criar, manter ou desorganizar instituições


- este estudo define, como foco de pesquisa, o trabalho institucional realizado pelos atores
para criação de novas instituições. No caso específico desse estudo, o objeto de análise são as
ações de trabalho institucional, desenvolvidas por atores do macroambiente, a fim de
institucionalizar a adoção da Internet das Coisas (IoT) como uma ferramenta de gestão na
pecuária bovina de corte, no estado de Mato Grosso do Sul.

O trabalho institucional se apresenta como um pilar teórico utilizado em pesquisas


sobre inovação em diferentes áreas na agropecuária. Uma dessas pesquisas é a de Hall, Matos
e Bachor (2019) no qual utilizam a teoria para compreender como os empresários do Canadá
podem influenciar as políticas e práticas governamentais na tentativa de difundir a tecnologia
verde pelo país. Outro destaque é Bonomi, Ricciardi e Rossignoli (2019) o qual objetivam
destacar como a utilização de Tecnologia da Informação e Comunicação (TIC) exerce papel
fundamental no setor de frutas e hortaliças, em Verona, Itália, para permitir o crescimento de
novas formas organizacionais que desencadeiam mudanças positivas no ambiente social e
econômico e melhoram a qualidade de vida das pessoas envolvidas.

Além dos textos anteriores, algumas pesquisas que estudam a adoção da IoT na
agropecuária de diferentes países como China, Irã e México, mesmo não utilizando, de
maneira clara, a teoria do trabalho institucional, citam as práticas de advocacia (Jayashankar
et al., 2018), mimetismo (Negrete, 2018), construção de redes normativas (Cedeño et al.,
2018) e teorização (Ronaghi & Forouharfar, 2020), como ações que são ou devem ser
realizadas para que a adoção da IoT tenha êxito dentro dos cultivos estudados.

Binz et al. (2016) acreditam que combinar o trabalho institucional com estudos de
inovação se mostra uma forma útil para avaliar como os atores, em setores embrionários,
conseguem influenciar as instituições existentes, de maneira a se criar confiança generalizada
em uma nova tecnologia. Zarpelon et al. (2019) destacam que, pelo setor rural brasileiro estar
sofrendo contínuos processos de desenvolvimento tecnológico e, mediante a natureza
tradicional do mesmo, as inovações que ali se inserem tendem a forçar movimentos de
mudança institucional que devem ser observados pela lente do trabalho institucional. Diante
disto, as pesquisas devem explorar “como os atores individuais contribuem para a mudança
18

institucional, como essas contribuições se combinam, como os atores respondem aos esforços
uns dos outros e como o acúmulo dessas contribuições leva a um caminho de mudança
institucional” (Lawrence et al., 2011, p. 55).

Como visto, a adoção de inovações tecnológicas no ambiente rural, entre elas a IoT, é
um fenômeno possível de ser observado, por meio da lente teórica do trabalho institucional.
Diante da relevância do estado de MS como produtor de bovinos de corte, do potencial para a
inserção da IoT nesta atividade e da possibilidade de estudar esse movimento pela lente
teórica do trabalho institucional, propõe-se a seguinte questão de pesquisa: Como práticas de
trabalho institucional fomentam a adoção da Internet das Coisas (IoT) como ferramenta
de gestão na bovinocultura de corte do estado de Mato Grosso do Sul?

A tese defendida nesta pesquisa é a de que a realização de práticas de trabalho


institucional, por atores no macroambiente, fomentam a adoção da IoT como ferramenta de
gestão, na pecuária bovina de corte, do estado de Mato Grosso do Sul. Como uma das
inovações apresentadas por esta pesquisa está a proposição de um modelo teórico
metodológico conceitual utilizado, como metodologia para priorizações de práticas de
trabalho institucional voltadas ao fomento de inovações tecnológicas disruptivas, em
diferentes setores produtivos.

1.3 OBJETIVOS GERAL E ESPECÍFICOS

O objetivo geral desta pesquisa é propor um framework teórico-conceitual,


consubstanciado na epistemologia estruturalista, sobre o papel de práticas de trabalho
institucional para adoção da Internet das Coisas (IoT), na pecuária bovina de corte, no estado
de Mato Grosso do Sul.

Os objetivos específicos propostos são:

a) Apresentar as possibilidades identificadas, teoricamente, da aplicação da IoT


como ferramenta de gestão na pecuária bovina de corte.

b) Mapear o campo institucional, por meio da evidenciação dos atores que


trabalham para a adoção da IoT como ferramenta de gestão na bovinocultura
de corte, em Mato Grosso do Sul.

c) Identificar o trabalho político, técnico e cultural realizado pelos atores


institucionais para institucionalização da IoT, na bovinocultura de corte, no
estado de Mato Grosso do Sul.
19

d) Destacar as práticas de trabalho institucional “inibidoras” para adoção da IoT,


na bovinocultura de corte, no estado de Mato Grosso do Sul.

1.4 JUSTIFICATIVA

A relevância e atualidade do tema estudado mostra-se, ao se observar os projetos para


a IoT que estão sendo desenvolvidos pelo governo Federal. Dentre estes, destaca-se o estudo
publicado em 2017 e 2018, “Internet das Coisas: um plano de ação para o Brasil”,
desenvolvido pelo Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) e pelo
Ministério da Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações (MCTIC) que visa propor um
plano de ação estratégica para o país na área de IoT (Brasil & Brasil, 2017). Esse estudo é
composto pelas fases de identificação e aspirações para o Brasil; seleção de verticais (áreas de
adoção) e horizontais (atividades dentro de uma área específica de adoção); elaboração de um
plano de ação (2018-2022) e fase de suporte à implantação. Entre as verticais identificadas
pelo estudo como os principais ambientes a se beneficiar, no país, com a adoção da IoT, estão:
saúde, indústria, cidades e o ambiente rural (Brasil & Brasil, 2017).

A vertical rural, assim como as outras três, recebeu um relatório individual


aprofundado sobre as potencialidades e dificuldades a se enfrentar nesta área de aplicação. O
estudo identifica quatro horizontais importantes para uso da IoT, a saber: uso eficiente de
recursos naturais e insumos; uso eficiente de maquinário; segurança sanitária; e bem-estar
animal/produtividade humana. Como instrumento normativo de suporte à implantação da IoT,
o governo Federal publicou, em julho de 2019, o Decreto nº 9854/2019 que institui o plano
nacional de Internet das Coisas.

Além do estudo realizado pelo MCTIC junto ao BNDES, a IoT aparece entre as
tecnologias estimuladas pelo Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA),
em seu plano estratégico 2020-2027 (Brasil, 2020) e como foco principal em projetos que
estimulam a agricultura 4.0, lançados pela Agência Brasileira de Desenvolvimento Industrial
(ABDI), em 2020.

Para os produtores que adotam a IoT, as diversas aplicações no meio rural facilitam
não só a operacionalização das atividades do dia a dia, como também a gestão de todas estas
atividades (Muangprathub et al., 2019). Por conseguinte, visualiza-se que a adoção de
tecnologias disruptivas pode ajudar os produtores rurais no controle do rebanho, manejo
20

sanitário, controle produtivo, gerenciamento da fazenda, entre outros benefícios que


transformam os processos produtivos tradicionais da pecuária (Hao et al., 2017).

A escolha do estado de Mato Groso do Sul como campo para esta pesquisa se deve,
entre outros aspectos, pela projeção nacional do mesmo como grande produtor de carne
bovina e pelo incentivo à adoção de tecnologias de informação na pecuária. O estado de MS
figura como um dos cinco estados com a maior população de bovinos do Brasil, contando, ao
final de 2021, com uma população de mais de 18 milhões de cabeças, aproximadamente 10%
do rebanho bovino brasileiro (IBGE, 2021). Tratando-se da produção de carne bovina em
Mato Grosso do Sul, o estado aumentou, em 2019, 9,41% a produção em relação ao mesmo
período do ano anterior, com o abate de mais de 3,5 milhões de animais somente no ano de
2019, cerca de 11% de toda a produção de carne bovina nacional (IBGE, 2020). Desta forma,
é possível constatar a competitividade do referido estado no que se refere à produção de
bovinocultura de corte no país.

Além da sua relevância na produção nacional de bovinos, o estado em questão se


destaca no desenvolvimento de tecnologias de informação e comunicação (TIC’s) para a
pecuária. Atores como a Embrapa Gado de Corte, localizada em Campo Grande - MS,
juntamente com parceiros públicos e privados, atua no desenvolvimento de TIC’s para tornar
os processos produtivos e gerenciais mais eficientes e eficazes (Embrapa, 2020). Uma dessas
parcerias ocorre com a Universidade Federal de Mato Grosso do Sul (UFMS); juntas e, com
apoio de empresas da iniciativa privada, produzem tecnologias baseadas em IoT como, por
exemplo, a balança de pesagem automática. A EMBRAPA também desenvolve plataformas
eletrônicas para monitoramento da saúde e bem-estar dos bovinos e aplicativos para gestão
rural como o $uplementa Certo, Custo bov e GerenPec (Embrapa, 2020).

A digitalização no ambiente rural mostra-se um fenômeno potencialmente observado,


por meio da lente teórica do trabalho institucional, visto que mediante a natureza tradicional
do setor, as inovações que ali se inserem tendem a causar movimentos de mudança
institucional (Zarpelon et al., 2019). O que é corroborado por Binz et al. (2016) ao citar que
combinar o trabalho institucional com estudos de inovação permite avaliar como os atores
trabalham a fim de criar novas instituições legitimadas e adotadas de modo generalizada.

Em busca on-line, realizada em novembro de 2022, no catálogo de teses e dissertações


da Capes, foram identificados 25 trabalhos de mestrado e doutorado na área de ciências
sociais aplicadas que utilizaram, como lente principal ou uma das lentes teóricas, a teoria do
Trabalho Institucional. Desta busca, resultaram 13 teses que adotaram a lente teórica referida
21

para estudo de algum tipo de fenômeno na área de gestão. Os temas abordados são diversos
como se pode observar no Quadro 1. A busca por estudos que utilizam o trabalho institucional
como lente teórica não resultou na identificação de pesquisas que a relacionam com a adoção
da IoT, seja na pecuária ou qualquer outra atividade produtiva.

Quadro 1: Relação de teses que utilizam a vertente teórica do Trabalho Institucional


SILVA, CARLOS EDUARDO GUERRA. Movimentos de Intervenção no Marco Regulatório das
Organizações da Sociedade Civil no Brasil: Trabalho e Lógicas Institucionais' 30/06/2014 215 f. Doutorado
em ADMINISTRAÇÃO Instituição de Ensino: UNIVERSIDADE FEDERAL DE MINAS GERAIS, Belo
Horizonte Biblioteca Depositária: Biblioteca Prof. Emílio Guimarães Moura
NOGUEIRA, FERNANDO DO AMARAL. GESTÃO DE MEMBRESIA: A relação entre associação e
associados em três casos brasileiros' 13/08/2014 351 f. Doutorado em ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA E
GOVERNO Instituição de Ensino: FUNDAÇÃO GETÚLIO VARGAS (SP), São Paulo Biblioteca
Depositária: Karl A Boedecker
FREITAS, LAURO SOARES DE. A Institucinalização do Moelo de Gestão Compsat na Polícia Militar de
Minas Gerais sob a Perspectiva Teórica do Translation e Trabalho Institucional' 25/06/2015 271 f. Doutorado
em ADMINISTRAÇÃO Instituição de Ensino: UNIVERSIDADE FEDERAL DE MINAS GERAIS, Belo
Horizonte Biblioteca Depositária: Biblioteca Universitária da UFMG
LIMA, ANA MARIA DE. A institucionalização da cooperação por meio de práticas de trabalho entre atores
locais: um estudo de caso em uma comunidade vulnerável da região amazônica' 16/03/2017 168 f. Doutorado
em ADMINISTRAÇÃO Instituição de Ensino: UNIVERSIDADE DO VALE DO RIO DOS SINOS, Porto
Alegre Biblioteca Depositária: Unisinos
BITTENCOURT, ANELISE CAON. A influência das práticas empreendedoras de uma universidade na
formação de ecossistemas de inovação: um estudo à luz da teoria do trabalho institucional' 18/03/2019 219 f.
Doutorado em ADMINISTRAÇÃO Instituição de Ensino: UNIVERSIDADE DO VALE DO RIO DOS
SINOS, Porto Alegre Biblioteca Depositária: Biblioteca da Unisinos
DEBORTOLI, GUSTAVO. Anatomia de um motim: trabalho de ruptura institucional na polícia militar do
espírito santo' 29/10/2019 253 f. Doutorado em ADMINISTRAÇÃO Instituição de Ensino: UNIVERSIDADE
FEDERAL DO ESPÍRITO SANTO, Vitória Biblioteca Depositária: Biblioteca Central - BC
BONFIM, LEANDRO RODRIGO CANTO. The emergence of hybrid markets from urban innovations: the
case of the bus rapid transit market in curitiba, BRAZIL' 07/03/2020 222 f. Doutorado em
ADMINISTRAÇÃO Instituição de Ensino: UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARANÁ, Curitiba Biblioteca
Depositária: Biblioteca de Ciências Sociais Aplicadas
ZARPELON, FELIPE DE MATTOS. Institutional work practices to foster collaboration in innovation
ecosystems: The cases of Sophia Antipolis and Tecnosinos' 12/05/2020 217 f. Doutorado em
ADMINISTRAÇÃO Instituição de Ensino: UNIVERSIDADE DO VALE DO RIO DOS SINOS, Porto
Alegre Biblioteca Depositária: Biblioteca Unisinos
PALMA, EDUARDO MOREIRA. Aceitação da telemedicina por médicos no brasil: um olhar sob a lente da
teoria institucional' 31/08/2020 159 f. Doutorado em ADMINISTRAÇÃO Instituição de Ensino:
UNIVERSIDADE DO VALE DO RIO DOS SINOS, Porto Alegre Biblioteca Depositária: Biblioteca
Unisinos
SANTANNA, LINDSAY TEIXEIRA. Criação, renovação e interrupção de instituições jurídicas: um estudo
no campo da cachaça de alambique' 31/08/2020 420 f. Doutorado em ADMINISTRAÇÃO Instituição de
Ensino: UNIVERSIDADE FEDERAL DE LAVRAS, Lavras Biblioteca Depositária:
http://repositorio.ufla.br/jspui/handle/1/43559
PETRIN, RENATA. Lobby na dinâmica coevolutiva entre agentes institucionais e instituições: o caso da
interação entre o IMPA e as instituições da matemática' 05/03/2021 312 f. Doutorado em ADMINISTRAÇÃO
Instituição de Ensino: UNIVERSIDADE FEDERAL DE MINAS GERAIS, Belo Horizonte Biblioteca
Depositária: Repositório UFMG
PAIVA, ANDRE LUIZ DE. Mudanças e lógicas institucionais: um estudo sobre trabalhos institucionais no
campo da cachaça de alambique em minas gerais' 27/08/2021 292 f. Doutorado em ADMINISTRAÇÃO
Instituição de Ensino: UNIVERSIDADE FEDERAL DE LAVRAS, Lavras Biblioteca Depositária: undefined
RIBAS, FABIO TEODORO TOLFO. O papel dos atores sociais sobre o processo de inovação social à luz da
22

teoria do trabalho institucional' 07/12/2021 112 f. Doutorado em ADMINISTRAÇÃO Instituição de Ensino:


UNIVERSIDADE DE CAXIAS DO SUL, Caxias do Sul Biblioteca Depositária: Biblioteca da Universidade
de Caxias do Sul
Fonte: Catálogo de Teses e Dissertações da Capes.

Entre as pesquisas listadas, destacam-se três que trabalham com o tema, inovação. A
primeira delas, a tese escrita por Bittencourt (2019), na qual a autora utilizou a Teoria do
Trabalho Institucional para reforçar a centralidade do ator e de suas práticas na promoção de
novas configurações institucionais, com enfoque na formação de um Ecossistema de
Inovação, na Universidade do Vale do Rio dos Sinos (UNISINOS). O segundo trabalho,
desenvolvido por Bonfim (2020), tem como objetivo “analisar como a complexidade
institucional e o trabalho institucional realizado pelos atores sociais podem levar à emergência
de um mercado híbrido no contexto da inovação urbana em sistemas de transporte”. Para
atender ao objetivo proposto, o autor conduziu um estudo de caso único qualitativo sobre o
desenvolvimento do sistema de transporte rápido de ônibus em Curitiba, Brasil. Por último, o
terceiro trabalho, de Zarpelon (2020, p. 23), objetiva “propor um framework teórico sobre a
promoção da colaboração dentro dos limites do ecossistema de inovação através de práticas
de trabalho institucional”. Como campo de pesquisa, o autor estudou os ecossistemas de
inovação de Sophia Antipolis, na França, e Tecnosinos, no Brasil.

O potencial impacto desta tese observa-se nas contribuições para o campo teórico e
científico, e igualmente para a prática e o desenvolvimento de políticas públicas. Como
contribuições para a teoria, destaca-se: a apresentação de um estudo empírico que conecte a
IoT, o agronegócio e a teoria do trabalho institucional; expansão do trabalho de Zarpelon et al.
(2019), atendendo a uma das sugestões para pesquisas futuras apresentadas pelos autores; e a
apresentação de um framework teórico-conceitual sobre a relevância das práticas de trabalho
institucional para fomentar a IoT como ferramenta de gestão na bovinocultura de corte.

Para o campo científico, consolidam-se as contribuições com a publicação dos


resultados desta tese, por meio de três artigos científicos, uma revisão sistemática de literatura
e dois artigos empíricos. As contribuições para prática consistem no detalhamento das práticas
de trabalho institucional realizadas no macroambiente a fim de fomentar a adoção da IoT e o
nível de prioridade das mesmas e; a realização de um projeto de extensão com produtores
rurais e os atores institucionais do estado de MS.

As contribuições também se estendem à proposição de ações para o desenvolvimento


de políticas públicas em todo país, seja diretamente ligadas a fomentar a adoção da IoT para
as fazendas de bovinocultura de corte ou voltadas a atingir os Objetivos de Desenvolvimento
23

Sustentável (ODS) estipulados para todos os países pela ONU em 2012. Os resultados do
estudo estão diretamente relacionados a ODS nº2 que trata da: “Fome zero e agricultura
sustentável: erradicar a fome, alcançar a segurança alimentar, melhorar a nutrição e promover
a agricultura sustentável” (ONU, 2012, p. 1). Mais diretamente a meta nº 2.a “Aumentar o
investimento, inclusive via o reforço da cooperação internacional, em infraestrutura rural,
pesquisa e extensão de serviços agrícolas, desenvolvimento de tecnologia, e os bancos de
genes de plantas e animais, para aumentar a capacidade de produção agrícola nos países em
desenvolvimento, em particular nos países menos desenvolvidos” (ONU, 2012, p. 2).

1.5 ESTRUTURA DA TESE

Esta tese divide-se em capítulos que contemplam tanto a problemática e objetivos do


trabalho, quanto o referencial teórico, objeto de pesquisa, metodologia, resultados e
conclusões do estudo. No total, são seis capítulos divididos como descrição seguinte.

No capítulo I, “Apresentação geral do trabalho”, estão a introdução, problema de


pesquisa, objetivo geral e específicos, justificativa e apresentação da estrutura do trabalho.

O capítulo II, “Referencial Teórico e Bibliográfico”, traz a lente teórica do Trabalho


Institucional, base teórica escolhida para observar o fenômeno da adoção da Internet das
Coisas na pecuária bovina de corte, no estado de MS. São apresentadas, também a tecnologia
estudada, Internet das Coisas (IoT), e o resultado de uma Revisão Sistemática de Literatura
que evidencia a utilização da IoT dentro do ambiente rural. Por fim, esta parte encerra-se com
a apresentação do desenho conceitual da pesquisa, em que são apresentados o modelo teórico
e quatro proposições teóricas investigadas empiricamente.

No capítulo III, “Método e técnicas de pesquisa”, são apresentados: o delineamento da


pesquisa; posicionamento epistemológico; procedimentos de coleta, seleção e análise da
revisão sistemática de literatura; campo de estudo, procedimentos e técnicas de coleta de
dados; e os procedimentos de análise dos dados.

O capítulo IV, Apresentação dos resultados, traz o mapeamento dos atores


institucionais que atuam no macroambiente para fomentar a IoT na bovinocultura de corte, no
estado de MS. Traz, também, as evidências empíricas sobre a realização do trabalho
institucional político, cultural e técnico e as práticas de trabalho institucional inibidoras a
adoção da IoT pelas fazendas de bovino de corte no estado de MS.

O capítulo V, “Análise e discussão teórica dos resultados”, contempla a discussão


teórica das proposições de pesquisa no qual as proposições levantadas no capítulo II são
24

corroboradas ou refutadas com base nos resultados empíricos e discutidas, com base na
literatura pertinente. Esta parte apresenta igualmente a proposta de um framework teórico-
conceitual para o trabalho institucional, voltado à institucionalização da IoT, na bovinocultura
de corte.

Por fim, no capítulo VI, “Considerações finais”, são apresentadas as principais


conclusões da pesquisa, as contribuições teóricas e práticas que os resultados do estudo
trazem, as principais limitações da pesquisa e as sugestões para estudos futuros.
25

2 CAPÍTULO II – REFERENCIAL TEÓRICO E BIBLIOGRÁFICO

Este capítulo traz para conhecimento a inovação tecnológica estudada, Internet das
Coisas (IoT), sua definição conforme literatura, abrangência dentro do campo de estudo e
aplicação no ambiente rural. É apresentada também a lente teórica do Trabalho Institucional,
base teórica escolhida para observar o fenômeno da adoção da Internet das Coisas como
ferramenta de gestão na pecuária bovina de corte no estado de MS. Por fim, é apresentado o
modelo teórico e as proposições desenvolvidas para a pesquisa.

2.1 TEORIA DE BASE: TRABALHO INSTITUCIONAL NA CRIAÇÃO DE


INSTITUIÇÕES

A teoria institucional é uma abordagem dominante para o estudo das organizações,


seja pelo aspecto econômico, político ou sociológico, no entanto, esta, sofreu e sofre crises em
decorrência de seu próprio aparato teórico (Lawrence et al., 2011). Uma dessas fragilidades é
conseguir explicar as mudanças no nível do campo e como os atores, mesmo sendo vistos em
um mundo institucionalizado com suposições dadas como certas, são capazes de afrontar as
pressões do ambiente institucional e realizar mudanças (Suddaby & Viale, 2011). Diante
destas questões nasceu a teoria neoinstitucional que questiona o reconhecimento da relação
entre as organizações e seu ambiente destacando questões como atores, agência e instituições
(Scott, 2013; Zarpelon et al., 2019).

Com o neoinstitucionalismo a interação de atores, agência e instituições ocupou um


lugar de destaque nos estudos institucionais (Lawrence et al., 2009; Meyer, 2010). Embora os
escritos iniciais tenham focado mais em como as instituições interferem nas práticas e
estruturas organizacionais, levando-as a ações como isomorfismo, os trabalhos publicados em
seguida preocuparam-se em focar nos processos utilizados pelos atores para afetar os arranjos
institucionais onde estão atuantes (Meyer, 2010; Suddaby & Viale, 2011).

A teoria neoinstitucional trouxe para o cerne da discussão uma perspectiva pouco


trabalhada que são as experiências vividas dos atores organizacionais e como elas interferem
nas instituições que as estruturam e são estruturadas por elas (Lawrence et al., 2011; Zarpelon
et al., 2019). Esse novo olhar para as instituições é evidenciado por DiMaggio (1988) onde o
autor desenvolve um entendimento claro de que os profissionais são os principais agentes das
mudanças sociais que ocorrem.

Para responder parcialmente as críticas que surgiram quanto ao papel limitado dos
agentes institucionais, um corpo de pesquisa dentro do neoinstitucionalismo se dedicou a
26

estudar os empreendedores institucionais, definidos como atores organizacionais que


despendem recursos estratégicos ou formas de poder para criar novas instituições ou
transformar as existentes, quando estes atores veem nelas oportunidades de realizar interesses
pessoais ou sociais (DiMaggio, 1988; Lawrence & Suddaby, 2006). Esse movimento
nomeado como empreendedorismo institucional volta sua atenção para a forma como os
atores, com posições estruturais ou com habilidades e poderes sociais únicos, trabalham para
influenciar seu ambiente institucional, por meio de estratégias como liderança técnica, de
mercado, lobby ou outros instrumentos normativos (DiMaggio, 1988; Suddaby & Viale,
2011).

Com o avanço das pesquisas sobre o empreendedorismo institucional algumas críticas,


dentro do campo de pesquisa institucional, foram surgindo devido a alguns fatores, entre eles,
a visão dos atores institucionais como seres racionais e poderosos (Lawrence et al., 2009).
Além disso, percebe-se que a pesquisa sobre empreendedorismo institucional começa com as
instituições ao invés dos indivíduos e quando os mesmos são retratados a tendência é situá-los
dentro de um determinismo estrutural e com habilidades especiais (Lawrence et al., 2009;
Zarpelon et al., 2019).

Durante a crescente utilização do empreendedorismo institucional, mesmo sofrendo


críticas, Lawrence e Suddaby (2006), por meio da revisão de uma ampla literatura empírica
sobre abordagens institucionais em estudos organizacionais, desenvolveram a ideia de
trabalho institucional. Esta vertente da teoria neoinstitucional surge como possibilidade de
minimizar os gaps do empreendedorismo institucional ao incluir ênfase no esforço e rejeitar a
ideia de que a única agência de interesse é aquela associada ao sucesso na mudança
institucional (Hwang & Colyvas, 2011; Lawrence et al., 2011). Além disso, está nova lente
teórica permite com que os atores se distanciem reflexivamente de influências ou pressões
institucionais tendo autonomia para interpretar as ações legitimas que estão a sua disposição
(Hwang & Colyvas, 2011; Lawrence et al., 2011).

Igualmente se pode destacar como avanço do trabalho institucional a mudança de


empreendedores institucionais únicos para a necessidade de uma ampla gama de atores, sendo
eles com habilidades e recursos para atuar como empreendedores ou aqueles que
desempenham apenas o papel de apoio e facilitação desse trabalho (Lawrence et al., 2011).
Ainda, e um dos pontos principais do trabalho institucional, destaca-se a ampliação da agenda
de pesquisa teórica e empírica para todo o ciclo de vida das instituições com a inclusão, junto
27

a criação de instituições, da manutenção institucional e da desinstitucionalização (Hwang &


Colyvas, 2011).

Trabalho institucional é definido por Lawrence, Suddaby e Leca (2011, p. 52) como
“as práticas de atores individuais e coletivos com o objetivo de criar, manter e desorganizar
instituições”. Esta vertente da teoria neoinstitucional traz os atores para o centro da teoria
institucional ao se preocupar com as práticas cotidianas e intencionais dos indivíduos e grupos
para modificar ou manter o ambiente institucional (Hwang & Colyvas, 2011).

A instituição aos olhos dessa vertente teórica possui como características: ser produto
de uma ação intencional, ser organizada e estabelecida e refletir uma sequência de interações
padronizadas (Lawrence & Suddaby, 2006). Diante disto, instituição é definida pela lente do
trabalho institucional como “elementos (mais ou menos) duradouros da vida social que afetam
o comportamento e crenças de atores individuais ou coletivos, fornecendo modelos de ação,
cognição e emoção que permitem significado e estabilidade para a vida social” (Lawrence et
al., 2011, p. 53).

Por mais que o conceito tenha sido cunhado em 2006, pesquisas sobre o papel do
agente institucional, ascensão e queda de vários arranjos institucionais e verificação da ação
intencional sobre as instituições, já vinham sendo estudados de forma dispersa, o que
despertou o interesse de um grupo de autores em estabelecer o trabalho institucional como um
campo de pesquisa (Lawrence et al., 2009; Lawrence & Suddaby, 2006).

Alguns das justificativas para que o trabalho institucional seja visto como um campo
de estudo com potencial para abrir espaço para novas discussões são: a preocupação com
práticas mundanas e intencionais de atores e grupos para manutenção e transformação de
instituições; e o estímulo para mudar o olhar das questões do campo organizacional e
transformações em grande escala para a relação entre as instituições e os atores nelas
inseridos (Bartram et al., 2020; Lawrence et al., 2011). Com isso, “o trabalho institucional
logo se tornou um conceito guarda-chuva e um ponto de convergência em torno do qual os
estudiosos interessados em relatos de agentes sobre o surgimento, manutenção e ruptura de
instituições se uniram” (Hwang & Colyvas, 2011, p. 62).

O estudo sobre trabalho institucional, conforme Lawrence et al. (2013), é uma


discussão acadêmica que pode ser separada em três tipos de pesquisas, as que se preocupam
em enfocar como o trabalho institucional ocorre, as pesquisas que buscam definir o que
constitui o trabalho institucional e as publicações sobre quem são os responsáveis por fazer o
trabalho institucional. Para os autores citados, os estudos que se voltam para o “como”
28

ocorrem sob as tipologias de criação, manutenção e desorganização das instituições. “Quem”


se envolve no trabalho é estudado tendo como foco os atores profissionais e os associados às
profissões. Os estudos que se dedicam a descobrir “o que” constitui o trabalho institucional
aprofundam suas análises em observar a relação do trabalho com a agência, a fim de
identificar o que pode ou não ser “classificado” como aderente a lente teórica. Entretanto,
independente do enfoque dado pela pesquisa, as questões dominantes destes estudos mostram
preocupação em observar o trabalho institucional como um processo e ou como uma
ferramenta de mudança institucional (Zarpelon et al., 2019).

A relação cíclica entre dois elementos intrínsecos dentro do neoinstitucionalismo,


agência e prática, estão diretamente ligados ao nascimento e expansão do estudo do trabalho
institucional (Zarpelon et al., 2019; Zietsma & Lawrence, 2010). Essa relação da agência e
prática com o trabalho institucional fica claro quando se observa que o estudo do trabalho
institucional parte de um interesse no trabalho realizado pelos atores institucionais, ou seja, os
esforços individuais ou coletivos realizados para criar, manter ou encerrar as estruturas
institucionais onde vivem e que lhe impõem papeis, relacionamentos, recursos e rotinas (Binz
et al., 2016; Zarpelon et al., 2019).

A agência no trabalho institucional “não é apenas um efeito da inserção institucional


dos atores, nem está isolada dessa inserção. É uma atividade contínua em que os atores
refletem e operam estrategicamente no contexto institucional onde estão inseridos” (Lawrence
et al., 2011, p. 4). Dentro desta perspectiva teórica a agência humana tem como característica
“a capacidade das pessoas de agir, geralmente considerada como emergindo de intenções
conscientemente mantidas, e resultando em efeitos observáveis no mundo humano” (Gregory
et al., 2011, p. 348).

O conceito de trabalho institucional insiste na necessidade de examinar a agência


como um fenômeno distribuído no qual o agir realizado pelos atores institucionais é realizado
de maneira frequente por meio de esforços coordenados e descoordenados de um número
significativo de atores (Lawrence et al., 2011). Diante disto, os pesquisadores devem explorar
“como os atores individuais contribuem para a mudança institucional, como essas
contribuições se combinam, como os atores respondem aos esforços uns dos outros e como o
acúmulo dessas contribuições leva a um caminho de mudança institucional” (Lawrence et al.,
2011, p. 55).

A orientação para a prática é foco do trabalho institucional, pois essa lente teórica
analisa as práticas e estratégias cotidianas realizadas pelos indivíduos e grupos com a intenção
29

de moldar os padrões institucionais em que estão inseridos (Lawrence & Suddaby, 2006). Pela
perspectiva prática é destacado o trabalho criativo e especializado de atores que independente
de terem êxito, ou não, na modificação institucional estão engajados com as instituições que
os rodeiam (Zarpelon et al., 2019).

Os estudos que usam a teoria institucional como base para pesquisa organizacional
possuem uma visão de relação recursiva entre as instituições e a ação (Figura 1), ou seja,
estão preocupados em entender como as instituições afetam a ação organizacional fornecendo
modelos e mecanismos de regulamentação e, por consequência, como a ação afeta
posteriormente esses modelos e mecanismos reguladores (Lawrence et al., 2009; Lawrence &
Suddaby, 2006). Entretanto, o trabalho institucional se preocupa particularmente com a
relação representada pela segunda seta que parte da ação para a instituição, pois seu foco está
nos efeitos da ação individual e organizacional nas instituições (Lawrence et al., 2009).

As ações intencionais realizadas para modificar o ambiente institucional estão


divididas em algumas altamente visíveis e dramáticas, mas também, outras quase invisíveis e
mundanas realizadas no dia-a-dia que de maneira indireta e despercebida acabam alterando ou
mantendo hábitos e rotinas estabelecidos (Lawrence et al., 2009).

Figura 1: Relação recursiva entre instituição e ação

Instituições Ação

Fonte: Adaptado de Lawrence, Suddaby e Leca (2009).

Para buscar uma compreensão institucional, por meio do efeito das ações nas
instituições, Lawrence et al. (2009) acreditam que o estudo do trabalho institucional deve ser
orientado por três elementos-chave: (1) a consciência, habilidade e reflexividade dos agentes
deve ser evidenciada; (2) as instituições são constituídas por ações mais e menos conscientes
dos atores; e (3) não se deve sair da ação como prática, pois mesmo ações que objetivem
mudar a ordem institucional ocorrem dentro de um conjunto de regras institucionais macro e
micro habituadas. Está visão se consolida quando os autores afirmam que “não negamos nem
30

ignoramos o efeito das instituições sobre a ação, e de fato esses efeitos são cruciais para a
compreensão da natureza do trabalho institucional” (Lawrence et al., 2009, p. 7).

Como já citado anteriormente, uma das diferenças do trabalho institucional para o


empreendedorismo institucional é que o primeiro se preocupa com o ciclo de vida completo
das instituições. Isso fica claro quando se vê os objetivos criar, manter e desorganizar
instituições na própria definição cunhada por Lawrence e Suddaby (2006). A seguir são
apresentados os três objetivos do trabalho institucional “criar, manter e desorganizar
instituições”, bem como, as práticas mais frequentes para operacionalizar cada um deles.

Entre estes três objetivos analisadas, o trabalho voltado para a criação de instituições
é o que ganha maior destaque dentro do campo do trabalho institucional (Lawrence &
Suddaby, 2006; Zarpelon et al., 2019). Em suas pesquisas empíricas Lawrence e Suddaby
(2006) identificaram nove práticas utilizadas pelos atores para se engajar em ações que
resultam na criação de novas instituições (Quadro 2).

Quadro 2: Prática para criação de instituições

Práticas Definição
Corresponde a mobilização de apoio político e regulatório por meio de
Advocacia
técnicas de persuasão social.
Elaboração de sistemas de regras capazes de conferir status ou identidade,
Definição
definir limites para associação e criar hierarquias no campo institucional.
A autoridade governamental ou outro tipo de autoridade coercitiva é usada
Aquisição para criar estruturas de regras que visam conferir direitos de propriedade
aos atores.
Construção de Construção de uma identidade que represente a relação entre um ator e o
identidade campo onde ele opera.
Mudança de Trabalho institucional voltada a reformular associações normativas já
associações existente por meio de novas conexões entre o conjunto de práticas e os
normativas fundamentos morais e culturas já em operação.
A construção de redes é formada por grupos de atores semelhantes que
Construção de
estão diretamente ligados ao cumprimento normativo, monitoramento e
redes normativas
avaliação.
Associação de novas práticas, tecnologias e regras as anteriormente já
Mimetismo
institucionalizadas.
Teorização Nomeação de conceitos e ações novas e criação de causa e efeito.
Educar os atores faz parte de um trabalho cognitivo necessário para o
Educação
sucesso nova instituição.
Fonte: Adaptado de Lawrence e Suddaby (2006).

Ao iniciarem algum trabalho para criar instituições, os atores buscam obter sucesso, ou
seja, uma nova instituição, no entanto, também correm o risco de falhar em fazê-la ao
31

provocar uma ruptura nas instituições existentes ou criar instituições muito diferentes do que
foi originalmente planejado (Lawrence et al., 2009). Tanto esta categoria como a definição
das práticas ligadas a criação de novas instituições são apresentadas com maior detalhe na
próxima subseção.

Manter instituições aparece como segunda categoria de trabalho institucional mais


estudado, sendo vista como necessária, mas negligenciada pelos pesquisadores institucionais
(Zarpelon et al., 2019). Embora historicamente se associe as instituições a mecanismos
automáticos de controle social e de permanência que as ligam a ideia de auto reprodução,
conhecer as práticas de trabalho associadas a manutenção de instituições é relevante, pois
mesmo instituições institucionalizadas e poderosas requerem manutenção para permanecerem
relevantes e eficazes (Lawrence et al., 2009). Entre as práticas levantadas e apresentadas por
Lawrence e Suddaby (2006) estão: habilitação do trabalho; policiamento; dissuasão;
valorização e a demonização; mitologizar; incorporação e rotinização. Estas práticas estão
descritas no Quadro 3 apresentado a seguir.

Quadro 3: Prática para manter instituições

Práticas Definição
Habilitação do Refere-se a criação de normas para facilitar, complementar e ou apoiar as
trabalho instituições existentes.
O policiamento visa garantir o cumprimento das instituições por meio de
Policiamento
fiscalização, auditoria, monitoramento ou outro instrumento regulatório.
A dissuasão tem como objetivo manter a obediência consciente dos
Dissuasão atores institucionais pelo estabelecimento de barreiras coercitivas, a
qualquer movimento de mudança institucional
A prática da valorização e demonização funciona pelo meio da
Valorização e a
apresentação pública de exemplos positivos e, de maneira especial,
demonização
negativos que elucidam as bases normativos de uma instituição.
A prática de mitologizar busca preservar os fundamentos normativos das
Mitologizar
instituições mitologizando a sua história.
Infundir os fundamentos normativos de uma instituição nas rotinas e
Incorporação e práticas organizacionais, por meio de rotinas de contratação, certificação,
rotinização cerimonias de celebração e premiação, ou outros tipos de atividades que
estabelecem rotinas embutidas e ações repetitivas.
Fonte: Adaptado de Lawrence e Suddaby (2006).

Fechando os estudos sobre o ciclo de vida das instituições a, desorganização das


instituições, é a categoria de trabalho institucional que tem recebido ao longo do tempo menos
atenção dos pesquisadores (Lawrence et al., 2011; Zarpelon et al., 2019). Ao tentar
desorganizar as instituições os atores atacam ou minam os mecanismos que servem de
orientação para cumprimento das instituições se utilizando de práticas como: desconexão de
32

sansões/recompensas; a dissociação dos fundamentos morais e minação de suposições ou


crenças (Lawrence & Suddaby, 2006).

A desconexão de sanções/recompensas se materializa quando atores estatais e não


estatais utilizam aparelhos estatais, como o judiciário, para desconectar recompensas e
sansões de práticas, tecnologias ou regras a fim de invalidar instituições poderosas e
institucionalizadas (Lawrence & Suddaby, 2006). Dissociação dos fundamentos morais é uma
prática do trabalho institucional onde as ações, regras ou tecnologias são desassociadas dos
seus fundamentos morais de maneira gradual (Lawrence & Suddaby, 2006). Por fim, a prática
de minar suposições e crenças é eficaz quando consegue retirar os custos associados aos
atores que estão ligados a determinada instituição de tal forma que facilite novas formas de
atuação ou diminua os riscos percebidos nas inovações (Lawrence & Suddaby, 2006).

Com base no exposto sobre a teoria do trabalho institucional duas opções embasam o
desenvolvimento desta pesquisa. A primeira é sobre o tipo de pesquisa utilizando a lente
teórica, neste caso serão observados “como” o trabalho institucional ocorre e “quem” são os
responsáveis por realizá-lo. A segunda definição é sobre o objetivo do trabalho institucional
realizado pelos atores, aqui será observada a criação de novas instituições e não a manutenção
ou desinstitucionalização das existentes. Com base nesta escolha são apresentadas as práticas
de trabalho institucional relacionadas ao trabalho político, técnico e cultural, que segundo
Lawrence e Suddaby (2006) podem ser utilizadas pelos atores para se engajar em ações que
resultam na criação de novas instituições.

2.1.1 Trabalho Institucional Político

Os objetivos do trabalho institucional, como já apresentado, são divididas segundo a


literatura em criar, manter e interromper instituição (Lawrence et al., 2011; Zarpelon et al.,
2019). Para realizar cada um desses objetivos são identificadas práticas em que os atores
institucionais ou grupo de atores se engajam para realizar o trabalho pretendido (Canning &
O’Dwyer, 2016; Lawrence & Suddaby, 2006). Os pioneiros a listarem um conjunto de
práticas como relacionadas ao trabalho institucional de criação de instituições foram
Lawrence e Suddaby (2006). Contudo, para os autores esta lista, por mais que traga práticas
importantes, está longe de ser uma lista exaustiva e que engloba todas possibilidades
existentes.

Na lista apresentada por Lawrence e Suddaby (2006) estão nove práticas distintas:
Advocacia; definição; aquisição; construção de identidades; mudança de associações
normativas; construção de redes normativas; mimetismo, teorização; e educação. Estas
33

práticas, conforme Lawrence e Suddaby (2006) e Perkmann e Spicer (2008), refletem três
categorias de trabalho institucional pelas quais podem resultar a criação de uma instituição:
trabalho político; trabalho cultural; e trabalho técnico. Associadas a cada uma dessas
categorias estão três práticas de trabalho institucional, atores específicos e habilidades que
correspondem ao core principal de atuação dentro do trabalho institucional.

O trabalho político busca, por meio das práticas de advocacia, definição e aquisição,
reconstruir e desenvolver regras, direitos de propriedade, obter apoio social e político, e
determinar limites como forma de localizar uma nova instituição dentro de um sistema social
mais amplo (Lawrence & Suddaby, 2006; Perkmann & Spicer, 2008). Mediante esta forma de
trabalho, os atores relevantes são recrutados em coalizões e redes de estabelecimento de
regras e regulamentações (Perkmann & Spicer, 2008). Habilidades políticas são necessárias
para que os empreendedores institucionais envolvidos neste tipo de trabalho institucional
envolvam outros atores em papeis específicos, de modo que seus interesses sejam semelhantes
aos necessitados pela instituição criada (Perkmann & Spicer, 2008).

A prática da Advocacia trata da mobilização de apoio político e regulatório por meio


de técnicas de persuasão social (Lawrence & Suddaby, 2006; Perkmann & Spicer, 2008).
Como objetivo a advocacia busca redefinir como são realocados os recursos materiais e o
capital social e político necessários na criação de instituições (Binz et al., 2016). Com a
realização de ações políticas e regulatórias atores marginais menos poderosos moldam de
maneira ativa o ambiente institucional, podendo influenciar quando e como as normas
institucionais são percebidas, sendo que quando bem usada, essa prática chega a determinar
quais normas devem ser seguidas e quais podem sofrer violações (Lawrence & Suddaby,
2006).

Na prática da Definição são elaborados sistemas de regras capazes de conferir status


ou identidade, definir limites para associação e criar hierarquias no campo institucional
(Lawrence & Suddaby, 2006; Perkmann & Spicer, 2008). Por meio da definição de processos
como a acreditação formal, criação de padrões e certificação de atores se direcionam a criação
de regras constitutivas que ao invés de restringirem, assim como é comum nas atividades
regulatórias, estabelecem parâmetros de estrutura e práticas para futuras ou potenciais
instituições (Jespersen & Gallemore, 2018; Lawrence & Suddaby, 2006).

Na prática de trabalho institucional denominada Aquisição, a autoridade


governamental ou outro tipo de autoridade coercitiva é usada para criar estruturas de regras
que visam conferir diretos de propriedade e responsabilidades aos atores (Jespersen &
34

Gallemore, 2018; Lawrence & Suddaby, 2006). Na aquisição uma autoridade governamental
tem o papel de realocar os direitos de propriedade, permitindo com isso, criar novos atores e
ou dinâmicas de campo por meio da mudança nas regras relacionais existentes no mercado
(Jespersen & Gallemore, 2018). Elemento comum na aquisição é a negociação de uma
barganha regulatória entre autoridades coercitivas e outro ator interessado o que exige um
grau de compartilhamento de autoridade coercitiva e regulatória entre as partes (Lawrence &
Suddaby, 2006).

Para Lawrence e Suddaby (2006) e Perkmann e Spicer (2008), ao utilizar o trabalho


político, três pontos devem ser destacados: (1) ao utilizar as três práticas ligadas a esse
trabalho um ciclo de reforço mútuo é constituído facilitando a legitimação; (2) as mudanças
institucionais que resultam deste tipo de trabalho tem a característica frequente de envolver a
reconstrução dramática e indiscriminada de instituições, acontecendo de forma revolucionária
e não evolucionária; (3) por mais que a discussão acerca deste trabalho envolva e privilegie o
papel do estado, deve-se observar que ele não é o único ator com poder de autoridade
coercitiva e regulatória que pode interferir no processo institucional.

2.1.2 Trabalho Institucional Cultural

O trabalho cultural atua nas ações que visam reconfigurar os sistemas de crenças dos
atores por meio de práticas como a construção de identidade, mudança de associações
normativas e a construção de redes normativas (Lawrence & Suddaby, 2006). Ao se realizar
o trabalho cultural para a criação de uma instituição se tem como foco estabelecer uma
relação entre as novas ações institucionais com os sistemas de crenças, normas e valores
existentes e amplamente aceitos (Perkmann & Spicer, 2008). Os estudos de Binz et al. (2016)
e Lawrence e Suddaby (2006) permitem definir as práticas que constituem o trabalho cultural
como segue.

A prática da Construção de Identidade é central para a criação de instituição. Esta


prática permite construir uma identidade que represente uma relação entre um ator e o campo
onde ele opera. Contudo, essa prática pode acarretar problemas em sua execução, pois
enquanto alguns atores usam esse momento como forma de se refazer, reconstruir suas
identidades e até contribuir para formá-lo, outros acabam por parar de contribuir ou se retraem
ao não entenderem mais as regras do jogo ou não criarem um sentimento de pertencimento ao
novo campo.

Na Mudança de Associações Normativas são reformuladas as associações normativas


existentes por meio de novas conexões entre um conjunto de práticas e seus fundamentos
35

morais e culturas. Essa mudança associativa não só reformula as conexões como em vários
casos leva a novas instituições que passam a existir de forma paralela, complementar e de
apoio as já existentes.

A Construção de Redes Normativas refere-se a conexões Inter organizacionais que


tornam as práticas normativamente sancionadas. Essa construção de redes é formada por
grupos de atores semelhantes que estão diretamente ligados ao cumprimento normativo,
monitoramento e avaliação. Ao construir redes normativas as coalizões geralmente de atores
diversos se unem para constituir normativas que afetam novas instituições, seja substituindo
estruturas institucionais pré-existentes ou trabalhando de maneira paralela a elas. Estas
instituições recém-formadas surgem imitando as atividades regulatórias que eram esperadas
do estado ou como uma nova estrutura que complementa e apoia o que anteriormente era
desempenhado por órgãos reguladores.

Cada uma das práticas listada anteriormente, segundo Lawrence e Suddaby (2006) e
Perkmann e Spicer (2008) tem como foco a estrutura normativa das instituições atingindo
seus papéis, valores e normas. Ainda, segundo os autores, as práticas apresentadas se
diferenciam na atuação conforme o contexto onde ocorrem, por exemplo: a construção de
identidades trabalha na relação, ator-campo, e concentra seus esforços na relação entre um
ator e o campo institucional onde está situado; a mudança de associações normativas foca o
trabalho na manipulação da relação entre as normas e o campo institucional onde são
executadas (norma-campo); já o trabalho que altera a relação entre os atores que
compartilham de um mesmo campo institucional (ator-ator) são realizados pela construção de
redes normativas.

As categorias de trabalho institucional, político e técnico, são direcionadas


principalmente a situar de forma sólida a instituição criada no campo institucional, contudo
são menos eficazes em tornar os atores ligados culturalmente a uma instituição, esse trabalho
cabe as práticas de trabalho cultural (Lawrence & Suddaby, 2006). Para desenvolver estas
práticas os atores devem possuir habilidades culturais capazes de permitir monitorar e
manipular a opinião e percepção públicas (Perkmann & Spicer, 2008).

2.1.3 Trabalho Institucional Técnico

Por fim, o trabalho técnico é formado por ações que visam constituir estruturas que
sugerem, recomendam ou prescrevem as ações relacionadas a determinada instituição,
alterando assim, categorizações abstratas e seus significados (Lawrence & Suddaby, 2006;
Perkmann & Spicer, 2008). Neste tipo de trabalho estão as práticas de mimetismo, teorização
36

e educação que juntas focam o lado cognitivo das instituições apresentando crenças,
suposições e estruturas que dão significado e compreensão para as ações realizadas na criação
da instituição (Lawrence & Suddaby, 2006; Perkmann & Spicer, 2008). De acordo com
Canning e O’Dwyer (2016) e Lawrence e Suddaby (2006) podem-se definir as práticas que
compõem o trabalho técnico conforme a descrição a seguir.

No Mimetismo, os atores que tentam criar novas instituições buscam ter maior sucesso
associando as novas práticas, tecnologias e regras, as anteriormente já institucionalizadas. Ao
sobrepor as novas estruturas aos velhos modelos se torna facilitada a compreensão e acesso
dessa nova estrutura, permitindo tanto a compreensão dos problemas e deficiências existentes
atualmente como do potencial que a nova instituição tem de resolver conflitos anteriores.

Ao adotar a Teorização como prática de trabalho institucional para criação de


instituição os agentes desenvolvem e especificam categorias abstratas ao mesmo tempo que
elaboram cadeias de causa e efeito entre elas. Um dos aspectos importantes da teorização é a
nomeação de conceitos e ações. A nomeação funciona como um selo de identidade para o que
é novo, fazendo com que entre para o mapa cognitivo do campo organizacional e seja
incorporado e entendido de maneira mais profunda. Outro aspecto relevante na teorização é a
narrativa desenvolvida pelos atores para passarem uma ideia de relação de causa e
temporalidade entre os elementos temporais.

Quanto à Educação, este tipo de prática de trabalho institucional diz respeito a


educação dos atores nas habilidades e conhecimentos necessários para incorporar e
institucionalizar a nova instituição. Educar, os atores, faz parte de um trabalho cognitivo
necessário para o sucesso da mesma, pois ao se criar uma nova instituição, novas práticas e
mecanismos de controle são criados, o que força a adaptação de quem está diretamente
relacionado a ela.

De maneira diferente ao trabalho político que desenvolve regras e regulamentos o


trabalho técnico fornece detalhes de como as instituições funcionam (Lawrence & Suddaby,
2006; Perkmann & Spicer, 2008). No entanto, para que isso ocorra, é necessário que os atores
envolvidos tenham competências analíticas e técnicas que permitirão construir modelos
mentais e visões de mundo compartilhadas (Perkmann & Spicer, 2008).

Perkmann e Spicer (2008) afirmam que ao criar uma instituição os custos aos quais os
atores estão expostos são alavancados, pois se engajam por conta própria, não tendo total
conhecimento dos impactos e aceitação que terá a instituição. Todavia, quando são usadas a
37

mimetização, teorização e educação, alternativas para diminuição dos riscos e esforços são
encontradas (Lawrence & Suddaby, 2006).

Como este estudo está voltado a entender a criação de uma nova instituição, no caso
específico desta pesquisa, a prática de adoção da Internet das Coisas como ferramenta de
gestão na pecuária bovina de corte do estado de Mato Grosso do Sul, serão utilizadas como
variáveis de estudo: as categorias de trabalho institucional, as nove práticas para criação de
instituições e as ações listadas pela teoria que permitem a objetivação destas práticas
(unidades de análise). No Quadro 4, são apresentadas todas as variáveis que são investigadas
empiricamente no estudo.

Quadro 4: Formas, práticas e ações relacionadas a criação de instituições

Categorias de
Práticas para criação
trabalho Unidades de análise
de instituições
institucional
Apoio político e regulatório
Lobby por recursos
Advocacia
Promoção de agendas
Proposição ou ataque a legislação existente
Processo de acreditação formal
Trabalho Político Definição Criação de padrões
Certificação de atores em um campo
Realocação de direitos de propriedade
Mudanças de regras das relações de mercado
Aquisição
Compartilhamento de autoridade coercitiva
ou reguladora
Construção de Desenvolvimento de profissões
identidade Reorientação de identidades
Mudança de associações
Trabalho Cultural Substituição de normas generalizadas
normativas
Construção de redes
Proto-Instituições / Redes de apoio
normativas
Mimetismo Justaposição de velhos e novos modelos
Elaboração de cadeias de causa e efeito
Teorização
Trabalho Técnico Nomeação de novos conceitos e práticas
Educação nas habilidades e conhecimentos
Educação
necessários
Fonte: Elaborado com base em Canning e O’Dwyer (2016); Jespersen e Gallemore (2018);
Lawrence e Suddaby (2006); Perkmann e Spicer (2008) e Binz et al. (2016).

As unidades de análise apresentadas no Quadro 4, foram identificadas teoricamente e


ajudam a entender quais tipos de ações os atores individuais ou coletivos podem realizar para
que as práticas se consolidem e por consequência as categorias de trabalho institucional. Ao
38

realizar a advocacia, por exemplo, os atores podem lançar mão de quatro ações, listadas pela
teoria, sendo elas: apoio político e regulatório; lobby por recursos; promoção de agendas e;
proposição ou ataque a legislação existente. Outras práticas, no entanto, possuem menos
ações, por exemplo, a prática “educação”.

As ações listadas no Quadro 4 servirão como base teórica para construção do roteiro
de entrevista para a etapa 1 e etapa 2 que objetivam, respectivamente, a identificação das
práticas de trabalho institucional que foram ou estão sendo realizado pelos atores
institucionais e das práticas inibidoras a adoção da IoT para as fazendas de bovinocultura de
corte no estado de MS.

2.2 INTERNET DAS COISAS E SUA APLICAÇÃO NO AMBIENTE RURAL

A seguir são destacadas as definições, estruturas e possibilidades de utilização que


cercam o paradigma tecnológico estudado, IoT. Além disso, é apresentado o estado da arte
sobre a IoT e suas diferentes potencialidades dentro da agropecuária.

2.2.1 Internet das Coisas (IoT)

A Internet das Coisas (IoT - Internet of Things) tem se destacado nos últimos anos
como uma das principais tendências dentro das tecnologias da informações e comunicação
(TIC) (Da Xu et al., 2014; Miorandi et al., 2012). A IoT representa a evolução em número e
tipo de dispositivos tecnológicos já existentes, a fim de gerar um ambiente onde sensores e
atuadores conectados são incorporados ao nosso redor (Gubbi et al., 2013; Whitmore et al.,
2015).

Ao embutir inteligência em objetos do cotidiano, estes itens físicos se transformam em


objetos inteligentes que coletam informações do ambiente, interagem com o mundo físico e
também com outros dispositivos (Borgia, 2014; Mattern & Floerkemeier, 2010). Estes objetos
conectados formam em torno de nós uma variedade de coisas que, por meio de sensores,
geram uma grande quantidade de dados que precisam ser armazenados, processados e
apresentados de forma a auxiliar nas tomadas de decisões e na melhoria da qualidade de vida
das pessoas (Gubbi et al., 2013).

O termo Internet of Things (IoT) teve sua origem atribuída a Kevin Ashton, um dos
fundadores do Auto-ID Center no Massachute Institute of Technology (MIT), que, em 1999,
cunhou este termo em referência aos projetos desenvolvidos pela comunidade que visavam
formar uma infraestrutura entre empresas composta por Radio-Frequency Identification
(RFID) (Gubbi et al., 2013; Wortmann & Flüchter, 2015).
39

“Internet das Coisas” vem da união de duas palavras “internet” e “coisas” que juntas
ganham um significado de inovação disruptiva no cenário das tecnologias da informação e
comunicação (Atzori et al., 2010; Li et al., 2015). A internet é definida por Madakam et al.
(2015) como um sistema global de redes de computadores, públicos, privados, acadêmicos,
empresariais e governamentais, que funcionam por meio de protocolos padrão da internet. Já
as “coisas”, dentro da lente da IoT, podem ser qualquer objeto ou ser vivo que possa ser
distinguido por meio de endereçamentos únicos (Madakam et al., 2015). Para esses autores, os
objetos do dia-a-dia são tanto dispositivos dotados de alguma tecnologia e eletrônica,
exemplo, celulares, máquinas industriais, eletrodomésticos e lâmpadas, como objetos não
eletrônicos, por exemplo, roupas, animais, pessoas, alimentos, plantas, moveis, entre outros.

Nas comunidades de pesquisa a IoT é definida a partir de variados aspectos, seja por
utilizar diferentes tecnologias, aplicações ou visão do que são as “coisas”, por isso, diferentes
definições surgem na literatura (Bandyopadhyay & Sen, 2011). A seguir são apresentadas
algumas dessas definições (Quadro 5) trazidas por pesquisas que situam seu entendimento
sobre a Internet das Coisas.

Quadro 5: Algumas definições para o termo Internet das Coisas

Definições de “Internet das Coisas” presentes na literatura Autor


Rede mundial de objetos interconectados e unicamente endereçáveis, com base Atzori et
em protocolos de comunicação padrão. al. (2010)
Termo usado como uma palavra-chave guarda-chuva para cobrir vários
aspectos relacionados à extensão da Internet e da Web no reino físico, por meio Miorandi et
da implantação generalizada de dispositivos espacialmente distribuídos com al. (2012)
identificação incorporada, detecção e / ou capacidades de atuação.
Objetos, dispositivos sensores, infraestrutura de comunicação, unidade
Khan et al.
computacional e de processamento que pode ser colocada na nuvem, sistema
(2012)
de tomada de decisão e invocação de ação.
Uma evolução radical da Internet atual em uma rede de objetos interconectados
que não apenas coleta informações do ambiente (detecção) e interage com o
Gubbi et al.
mundo físico (atuação/comando/controle), mas também usa os padrões
(2013)
existentes da Internet para fornecer serviços de transferência de informações,
análises, aplicativos e comunicações.
Paradigma emergente que consiste em um continuum de coisas endereçáveis de
Borgia
maneira exclusiva que se comunicam entre si para formar uma rede dinâmica
(2014)
mundial.
Paradigma de comunicação, recente, que prevê um futuro próximo, no qual os
objetos da vida cotidiana serão equipados com microcontroladores,
Zanella et
transceptores para comunicação digital e pilhas de protocolo adequadas que os
al. (2014)
tornarão capazes de se comunicarem entre si e com os usuários, tornando-se
parte integrante da Internet.
40

Novo paradigma de tecnologia concebido como uma rede global de máquinas e Lee e Lee
dispositivos capazes de interagir uns com os outros. (2015)
Rede aberta e abrangente de objetos inteligentes que têm a capacidade de se Madakam
auto-organizar, compartilhar informações, dados e recursos, reagindo e agindo et al.
diante de situações e mudanças no ambiente. (2015)
Rede mundial (World Wide Network) de objetos endereçáveis exclusivamente Zambon et
interconectados por meio de protocolos de comunicação padrão. al. (2019)
Fonte: Elaborado pelo autor

Por mais que não se tenha, ainda, uma definição única utilizada para definir a Internet
das Coisas, algumas características quanto ao seu conceito podem ser elencadas com base nas
definições apresentadas. Como características-chave da IoT estão: heterogeneidade de
dispositivos e aplicação; visão da IoT como um paradigma; estrutura formada por objetos,
sensores e dispositivos que constituem uma infraestrutura de processamento e comunicação;
interconexão dos objetos que formam uma rede mundial e; endereçamento e protocolos de
comunicação para funcionamento das “coisas”.

Por abranger diferentes características e ser adequada para representar as variadas


possibilidades de aplicação no ambiente de estudo determinado para esta pesquisa, pecuária
bovina de corte, foi escolhida para entendimento da IoT a definição apresentada por
Whitmore et al. (2015, p. 261) que a define como “um paradigma onde objetos do cotidiano
podem ser equipados com recursos de identificação, sensoriamento, rede e processamento que
permitirão que eles se comuniquem entre si e com outros dispositivos e serviços pela Internet
para atingir algum objetivo”.

O vasto número de dispositivos inteligentes interconectados e a volumosa quantidade


de informações geradas abre oportunidades para novos serviços que trarão benefícios para a
sociedade, meio ambiente e economia (Borgia, 2014). Em sua perspectiva econômica a IoT
tem potencial de afetar todos os setores produtivos, trazendo as indústrias, principalmente
físicas (agricultura, construção, transporte, manufatura, etc.) para perto do mundo cibernético,
mudando a forma de fazer negócios, de produzir, de desenvolver estratégias e alocar
investimentos (Borgia, 2014; Dolin, 2006).

As seguintes expectativas sobre os benefícios da adoção da Internet das Coisas são


apontadas por Mattern e Floerkemeier (2010, p. 247):
[...] do ponto de vista comercial, aumento da eficiência dos processos de negócios e
redução de custos na logística de armazéns e nas indústrias de serviços (por
automatização e terceirização para o cliente), melhoria na retenção de clientes e
vendas mais direcionadas e novos modelos de negócios envolvendo coisas
inteligentes e serviços associados. É interessante do ponto de vista social e político
o aumento geral da qualidade de vida devido aos consumidores e cidadãos poderem
41

obter informações mais completas, devido à melhoria do atendimento às pessoas que


precisam de ajuda graças a sistemas de assistência inteligentes, e também devido ao
aumento da segurança, por exemplo nas estradas. Do ponto de vista pessoal, o que
mais importa são os novos serviços possibilitados por uma Internet das Coisas que
tornem a vida mais agradável, divertida, independente e também mais segura, por
exemplo, localizando coisas que se perdem, como animais de estimação ou mesmo
outras pessoas.
A Internet das Coisas vem sendo foco de pesquisa e investimento no Brasil e no
mundo (Brasil & Brasil, 2017; Madakam et al., 2015). A empresa de consultoria em gestão,
McKinsey Global Institute, realizou uma pesquisa onde identificou tecnologias disruptivas
que até 2025 impactarão mudanças profundas na vida dos cidadãos, nos negócios e em toda a
economia global (Borgia, 2014). Entre as tecnologias listadas está a IoT, onde estima-se que
até 2025 os benefícios econômicos anuais com sua utilização devem variar entre 3,6 a 11,1
trilhões de dólares (Borgia, 2014).

Os impactos positivos proporcionados pela utilização da IoT colocam-na como uma


das áreas mais importantes da tecnologia futura, recebendo atenção de diversos setores
produtivos e de países que buscam aumentar sua competitividade (Lee & Lee, 2015; Li et al.,
2015). Entre alguns exemplos, pode-se destacar o Conselho Nacional de Inteligência dos
Estados Unidos que listou a IoT como uma das seis “Tecnologias Civis Disruptivas” que
impactarão o poder nacional nos próximos anos (Atzori et al., 2010). Na União Europeia,
projetos de tecnologia e inovação estão investindo milhões em IoT (Li et al., 2015). O Brasil
também não fica para trás nesse movimento em busca de avanços na IoT tendo o governo
federal junto ao Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) e o
Ministério da Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações (MCTIC) lançado em 2017 o
estudo “Internet das Coisas: um plano de ação para o Brasil” (Brasil & Brasil, 2017).

Como destacado anteriormente na definição de IoT, os objetos inteligentes podem se


comunicar tanto com outros objetos como com humanos. Essa visão representa uma quebra
no paradigma da internet convencional onde a comunicação ocorria apenas de humano para
humano, pois com o uso da internet, uma rede de sensores e outros tipos de tecnologias, a
comunicação entre Máquina-a-Máquina (M2M) e Máquina-humano tornou-se, também,
realidade (Borgia, 2014; Khan et al., 2012; Tan & Wang, 2010). O termo M2M demonstra e
enfatiza que a IoT não se refere a nenhuma tecnologia de comunicação especifica, sendo
possível, por meio, de uma série de tecnologias com e sem fio que dispensam qualquer
intervenção humana (Borgia, 2014; Khan et al., 2012). Isso é possível devido inserção de
tecnologias em objetos conectados de modo que eles mesmos se comunicam, trocam
42

informações, tomam decisões, invocam ações e fornecem serviços aos seus usuários diretos e
indiretos (Khan et al., 2012; Whitmore et al., 2015).

A Internet das Coisas é composta por uma estrutura ou arquitetura de várias camadas
que contemplam desde a captação de dados no campo até a divulgação e utilização destas
informações (Bandyopadhyay & Sen, 2011; Khan et al., 2012). Estas camadas devem ser
desenvolvidas visando atender aos requisitos de setores dispersos como empresas, sociedade,
institutos, fazendas, governo, etc. (Bandyopadhyay & Sen, 2011). Neste trabalho a
apresentação da estrutura para a IoT seguirá as cinco camadas apresentadas por Khan et al.
(2012): camada de percepção (ou borda); camada de rede; camada de middleware; camada de
aplicação; e camada de negócios.

A camada de percepção (ou borda) é a camada onde estão os objetos físicos e


dispositivos sensores. Estes dispositivos sensores constituem a camada de hardware
implantada no campo que identifica e coleta informações sobre localização, temperatura,
umidade, etc, por meio de RFID, códigos de barras 2D, sensor infravermelho ou outro tipo de
tecnologia.

A camada de rede, também chamada como camada de transmissão, transfere de forma


segura as informações dos dispositivos sensores (camada de percepção) para um sistema onde
serão processadas as informações (camada de Middleware). Esta transmissão pode ocorrer por
meio de tecnologias com ou sem fio como 3G, Wifi, Bluetooth, infravermelho, ZigBee ou
outra.

Camada de middleware é responsável por funções críticas como o gerenciamento de


dispositivos, de informações, filtragem de dados, agregação de dados, análise semântica e
outros serviços realizados pelos dispositivos na IoT (Bandyopadhyay & Sen, 2011; Khan et
al., 2012). Como cada dispositivo se comunica e conecta apenas com dispositivos que fazem o
mesmo tipo de serviço, cabe a camada de middleware gerenciar as informações da camada de
rede armazenadas nas bases de dados para que os processos da IoT sejam executados
(Bandyopadhyay & Sen, 2011; Khan et al., 2012).

A quarta camada é a camada de aplicação que permite gerenciamento global da


aplicação das informações coletadas pela IoT em áreas como saúde, agricultura, cidade
inteligente, transporte, etc. Por fim, a camada de negócios é responsável por gerenciar o
sistema de IoT por meio de aplicativos e serviços. Nessa camada são construídos e
apresentados ao usuário final gráficos, modelos, fluxogramas, entre outras ferramentas que
demonstram os resultados da utilização realizada pela camada de aplicação.
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As camadas que compõem a arquitetura da IoT constituem três fases pelas quais
ocorrem o processamento das informações coletadas pelos dispositivos IoT, evidenciando a
interação do mundo físico com o cibernético: fase de coleta; fase de transmissão; e fase de
processo, gestão e utilização (Borgia, 2014). Em cada fase, tecnologias e protocolos
específicos são utilizados para atender propósitos e funções diferentes, a saber:

(i) Fase de coleta: fase em que são detectadas e coletadas informações do


ambiente físico (temperatura, umidade, calor, etc) e dos objetos (identificação,
estado, nível de bateria) por meio de tecnologias como sensores, câmeras,
GPS, Bluetooth, ZigBee, Wireless Sensor Networks (WSNs), Near Field
Communication (NFC), etc (Borgia, 2014; Gubbi et al., 2013).

(ii) Fase de transmissão: fase que ocorre depois que os dados são coletados, devido
à necessidade dos dados serem transportados por meio da rede para os
aplicativos que irão processá-los e a outros servidores externos (Borgia, 2014).
As tecnologias que compõem essa fase são, entre outras, a Ethernet, wi-fi e
satélite (Borgia, 2014).

(iii) Fase de processamento, gerenciamento e utilização: nesta fase os dados que


estão na nuvem são processados, analisados e as informações geradas
encaminhadas e acessadas por aplicativos e serviços que permitem tomadas de
decisões e desenvolvimento de estratégias (Borgia, 2014; Lee & Lee, 2015).

Nos aplicativos virtuais ocorre a interação entre as “coisas” e entre as “coisas” e o


usuário, de maneira confiável e robusta, por isso, estes aplicativos devem ser desenvolvidos
com inteligência capaz de monitorar o ambiente, identificar problemas, e potencialmente
resolver problemas sem a intervenção humana (Borgia, 2014; Lee & Lee, 2015). Por mais que
os aplicativos que conectam dispositivos de IoT a outros dispositivos não precisem,
necessariamente, de uma interface amigável com visualização de dados, os aplicativos
centrados em auxiliar os humanos a tomar decisões devem ser intuitivos, completos, atraentes
e de fácil compreensão e manipulação, pois nem todos os usuários possuem conhecimento
técnico suficiente para entender as linguagens tecnológicas, mas todos necessitam tomar
decisões de maneira rápida e assertiva (Borgia, 2014; Gubbi et al., 2013).

As áreas de aplicação onde a IoT pode ser inserida são tão numerosas quanto diversas,
pois boa parte das áreas que rodeiam o dia-a-dia da população, estão interessadas e são
passíveis de sua utilização em alguma escala (Wortmann & Flüchter, 2015). As
potencialidades oferecidas pela IoT fazem com que inúmeras aplicações possam ser pensadas,
44

estando algumas já mais proeminentes e em expansão, enquanto outras são vistas como
aplicações futurísticas (Atzori et al., 2010; Da Xu et al., 2014). A seguir são destacados
algumas, entre várias outras, áreas de aplicações onde a IoT tem potencial de provocar
mudanças e trazer benefícios.

i. Aplicação na indústria: a IoT faz parte das tecnologias que compõem a chamada
indústria 4.0 tendo potencial para aumentar a lucratividade, reduzir custos e melhorar a
eficiência operacional em todos os processos da cadeia produtiva industrial (Khan et
al., 2012; Wortmann & Flüchter, 2015).

ii. Monitoramento climático: com a utilização de dispositivos IoT é possível o


monitoramento do excesso ou escassez de água em determinados ambientes,
mudanças bruscas na umidade e temperatura, existência de alguns agentes nocivo a
saúde no ar, entre outras aplicações (Khan et al., 2012)

iii. Previsão de desastres naturais: por meio dos sensores instalados em locais estratégicos
como rios, córregos e morros a detecção de deslizamentos de terras, furações,
terremotos, enchentes, etc., poderão ser previstas com antecedência o que evitaria
prejuízos sociais e econômicos (Khan et al., 2012).

iv. Casas inteligentes: a utilização da IoT em casas inteligentes é uma realidade que vem
avançando a cada ano (Khan et al., 2012; Stankovic, 2014). Isso se deve ao
desenvolvimento de dispositivos inteligentes que monitoram o consumo de energia e
água, detectam emergências de segurança e saúde, permitem a comunicação entre os
eletroeletrônicos e eletrodomésticos, além de automatizar várias atividades realizadas
diariamente pelos usuários (Atzori et al., 2010; Khan et al., 2012).

v. Aplicações em saúde: entre as possibilidades na área médica estão utilizações tanto


individuais como públicas de rastreamento de objetos e pacientes, monitoramento de
temperatura, glicose, colesterol, pressão arterial, da ingestão de medicamento e suporte
para vida independente (Atzori et al., 2010; Khan et al., 2012).

vi. Transporte e logística: a IoT pode fornecer melhor controle e gerenciamento de


transporte e logística ao utilizar tecnologias para aprimorar a segurança nas estradas e
transporte públicos, fiscalizar infrações legais, programação de emergência móvel,
redução da poluição, sistemas anti-furto, melhorar rotas, diminuir engarrafamentos e
controlar o tráfego (Atzori et al., 2010; Khan et al., 2012).
45

vii. Cidades inteligentes: as cidades inteligentes podem se beneficiar com os dispositivos


de IoT no monitoramento da qualidade do ar, iluminação pública, segurança pública,
descobrindo rotas de emergência, prevenindo enchentes, entre outras aplicações que
diminuiriam os custos públicos e melhoraria a qualidade de vida da população (Khan
et al., 2012; Zanella et al., 2014).

viii. Aplicação na agricultura: diferentes sensores podem coletar dados no campo,


processar e fornecer informações para que os produtores melhorem seus processos
produtivos, tornando-os mais limpos, econômicos, lucrativos e socialmente
responsáveis (Khan et al., 2012; Talavera et al., 2017). Por meio dos sensores
instalados na área rural o produtor pode aumentar a competitividade dos produtores
agrícolas, melhorar a qualidade e bem-estar animal, aumentar a qualidade dos
produtos in natura, diminuir a aplicação de defensivos agrícolas, usar racionalmente a
água na irrigação, entre outras possibilidades que serão exploradas no subcapítulo
seguinte (Dinesh & Ramesh, 2018; Negrete, 2018).

Entre as possíveis aplicações citadas anteriormente a agropecuária é um campo de


estudo que ganhou relevância nos últimos anos (Balamurugan et al., 2016; Jayashankar et al.,
2018; Pillai & Sivathanu, 2020). Na próxima seção é apresentado com maior detalhamento
outras possibilidades de adoção na agricultura e em todas as atividades produtivas que
compõem a agropecuária.

2.2.2 Estado da Arte sobre a adoção da Internet das Coisas na agropecuária

A aplicação e o estudo sobre a adoção da Internet das Coisas na indústria 4.0 estão
mais sedimentadas do que seu entendimento e utilização no ambiente rural (Negrete, 2018;
Wollschlaeger et al., 2017). Entretanto, um campo diversificado e amplo como a agropecuária
fornece diferentes possibilidades para que novas tecnologias possam tornar as atividades mais
eficientes, inteligentes e ecologicamente sustentáveis (Balamurugan et al., 2016; Corallo et
al., 2018).

A IoT no ambiente rural torna-se uma tecnologia promissora para fundamentar as


fazendas inteligentes, pois devido aos vários dados que são adquiridos, processados,
gerenciados e disseminados, as propriedades conseguem integrar sistemas e serviços de forma
a tornarem seus processos mais eficientes (Arvanitis & Symeonaki, 2020). Além disso, a IoT
serve como base para o surgimento de novos sistemas de informações para gestão de fazendas
que permitirão que as mesmas se tornem nós ativos nas cadeias de valor agrícolas (Arvanitis
& Symeonaki, 2020).
46

Ao reunir informações coletadas por diferentes sensores e etiquetas de RFID, as


aplicações da IoT se tornam ilimitadas (Ozdogan et al., 2017). Algumas possíveis utilizações
da IoT, nestas atividades, são encontradas na literatura, por exemplo: na agricultura, seu uso
pode abranger aplicações no monitoramento das condições ambientais, no controle de pragas,
crescimento de cultivares, umidade do solo, qualidade do grão, entre outros (Jiao et al., 2014;
Pillai & Sivathanu, 2020); na pecuária, pode-se encontrar a IoT em sistemas voltados para
monitoramento dos animais, controle de parasitas e ganho de peso (Hao et al., 2017; Pereira et
al., 2020). Na pesca, pesquisas apresentam soluções para monitoramento da localização dos
peixes, da qualidade da água e na rastreabilidade dos produtos frescos (Corallo et al., 2020;
Hassan et al., 2019); Por fim, na silvicultura a IoT pode apoiar o monitoramento do
crescimento das árvores, controle da atuação de invasores na floresta e outras aplicações
(Putra, 2019).

Para levantamento da literatura que contempla a utilização da IoT na agropecuária e


identificação dos domínios onde a IoT pode ser utilizada, foi desenvolvida uma revisão
sistemática de literatura em julho de 2020.Os procedimentos metodológicos para a realização
da RSL e cumprimento das etapas de pesquisa, seguiram uma combinação das estruturas
propostas por Suess-Reyes e Fuetsch (2016) e Talavera et al. (2017).

O detalhamento dos procedimentos metodológicos realizados para levantamento das


informações da RSL está apresentado no subcapítulo 4.2. A seguir são apresentados os
resultados da análise realizada sobre a amostra de pesquisas selecionadas.

Figura 2: Distribuição de pesquisas em atividades agropecuárias

Fonte: Dados da pesquisa.

Quando se observa a atividade agropecuária na qual as pesquisas estão ligados é


possível destacar um certo predomínio dos estudos no campo da agricultura (Figura 2). No
total são 26 pesquisas que destacam alguma aplicação da IoT nesta área. Na segunda e
47

terceira posição estão a pecuária e pesca, ambas com 5 citações cada. Por último, ficaram as
pesquisas desenvolvidas na atividade de silvicultura. Duas pesquisas desenvolveram estudos
em mais de uma atividade sendo uma pesquisa que realizou uma survey com pecuaristas e
agricultores para verificar os antecedentes da adoção da IoT e outra que estudou o
desenvolvimento de uma plataforma de IoT em nuvem para ser usada tanto na agricultura
como na pesca.

As pesquisas analisados foram classificados e agrupados em quatro domínios (Quadro


6): (1) monitoramento, (2) controle (3) predição, (4) logística, definidos conforme artigo de
(Talavera et al., 2017), que correspondem ao principal potencial de utilização das inovações
propostas pelos trabalhos. Ao todo são 39 pesquisas que constituem a amostra estudada, no
entanto, apenas 36 pesquisas estavam relacionados diretamente a algum dos domínios
estabelecidos.

Quadro 6: Clusters de trabalhos conforme o domínio de aplicação

Domínio de aplicação Principais estudos

(Alipio et al., 2019; Cao; Chen, 2020; Chung et al., 2020;


Corallo et al., 2020; De Souza et al., 2019; Hao et al., 2017;
Harun et al., 2019; Hassan et al., 2019; Jiao et al., 2014; Khattab
Monitoramento et al., 2019; Li et al., 2015; Liao et al., 2017; Mehra et al., 2018;
Morais et al., 2018; Pereira et al., 2020; Popović et al., 2017;
Putra, 2019; Taneja et al., 2020; Velumani et al., 2020;
Zervopoulos et al. 2020)
(Domínguez-Niño et al., 2020; Goap et al., 2018; Janpla et al.,
Controle 2019; Muangprathub et al., 2019; Nawandar et al., 2019; Torres
et al., 2020; Wang et al., 2019; Wang et al., 2020)
(Dos Santos et al., 2019; Gao et al., 2019; Gill et al., 2017;
Predição Kocian et al., 2020; Köksal; Tekinerdogan, 2019; Mazon-Olivo
et al., 2018)
Logística (Bhimanpallewar; Narasingarao, 2020; Yan et al., 2017)

Fonte: Dados da pesquisa.

O primeiro domínio de aplicação apresentado é o domínio de monitoramento. No


total são 20 estudos que apresentam algum sistema, aplicativo, plataforma, estrutura ou outro
tipo de tecnologia baseada em IoT que visa realizar o monitoramento de variados aspectos da
produção agropecuária. Estas tecnologias utilizam sensores de temperatura, ar, umidade, solo,
água, oxigênio, movimento, pragas, luz e outros mais, para fornecer informações precisas e no
tempo certo para que os produtores possam tomar decisões acerca da sua produção. Outras
tecnologias buscam ao máximo diminuir a interferência humana nesse processo de produção
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utilizando os sensores de medição para se comunicarem com outros dispositivos inteligentes


que realizam desde decisões simples como ligar a irrigação até as mais complexas. As
pesquisas que fazem parte deste domínio foram divididos em subdomínios como:
monitoramento do ambiente; monitoramento animal; monitoramento de plantas;
monitoramento de pragas; e monitoramento de produtos.

Quanto ao Monitoramento do ambiente, dentre os dispositivos desenvolvidos para


monitorar o ambiente de produção o sistema de baixo custo apresentado na pesquisa de
Pereira et al. (2020) surge como uma alternativa para monitorar de maneira ágil a
temperatura, umidade, teor de amônia e luminosidade de granjas de aves. O sistema foi
testado em 2017 em um ambiente experimental do Instituto Federal de Minas Gerais
localizado na cidade de Campus Machado, MG/ Brasil. Os resultados mostraram que usando
o sistema é possível registrar e rastrear os parâmetros definidos permitindo tomada de decisão
por parte do avicultor de maneira mais rápida e assertiva. Jiao et al. (2014) apresentam um
sistema de monitoramento ambiental para fazendas com base em IoT. Os dados coletados
pelo sistema são a temperatura do solo, umidade do solo, temperatura do ar, umidade do ar e
radiação fotossintética. Assim como no estudo anterior este sistema foi testado em um
ambiente experimental de uma instituição de ensino, a Universidade Agrícola de Anhui, na
China. Os resultados evidenciaram a boa pontualidade e precisão das informações do campo
necessárias para a gestão da fazenda. Também direcionado ao monitoramento ambiental na
criação de aves o estudo de Li et al. (2015) traz um sistema inteligente baseado em IoT para
galpão de criação de galinhas. Este sistema visa realizar o monitoramento on-line da
temperatura, ar, CO2, intensidade da luz, umidade, vento e outros indicadores para auxiliar na
gestão do galinheiro. Os testes foram realizados em uma granja de aves da China e teve como
resultado o monitoramento preciso dos indicadores.

Com relação ao Monitoramento animal, os autores Chung et al. (2020) realizaram


estudos com biossensores e tecnologia de comunicação por rádio frequência para monitorar o
nível de estresse térmico em vacas leiteiras. A ideia dessa tecnologia portátil e vestível foi,
por meio de sensores de temperatura implantados na orelha dos animais, eliminar o
envolvimento humano no processo de bem-estar animal automatizando a detecção de
mudanças no animal e no ambiente. O protótipo foi testado durante cinco dias em três vacas
da raça holandesa em uma fazenda nos Estados Unidos. Detectou-se que estes sensores são
tão eficientes como os de medição corporal central, vaginal, e podem funcionar como meio de
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ativação automática de ventiladores ou outros dispositivos que melhores a temperatura


corporal do animal.

Hassan et al. (2019) testaram tecnologias sem fio para constituir a chamado Internet of
Fish (IoF) a fim melhorar o monitoramento na produção de peixes em ambiente marítimo. Os
testes foram realizados em uma fazenda de peixes marinhos na Noruega e como resultado se
observou que a utilização de tecnologias baseadas em IoT são viáveis para aplicações em
telemetria de peixes em diversos ambientes de piscicultura. Por fim, outro exemplo de
tecnologia desenvolvida para monitoramento animal foi o aplicativo de IoT apresentado por
Taneja et al. (2020) que visa detectar claudicação, irregularidade no fluxo de sangue nas
pernas devido a alguma obstrução em uma ou várias artérias, em gado leiteiro. Os autores
dissertam que a detecção de claudicação é cara e tardia em animais o que causa problemas na
saúde do gado e pode reduzir a produtividade. Os testes com a tecnologia foram realizados em
um rebanho de 150 vacas leiteiras em Waterford, Irlanda. Os resultados apontam que a
claudicação pode ser detectada com até três dias de antecedência, permitindo que o animal
seja isolado e tratado de maneira rápida.

Com relação ao Monitoramento de plantas, desenvolver um sistema para medir de


maneira inteligente os anéis de árvores (diâmetro do tronco) lenhosas usando a IoT e
incorporando sensores de ultrassom para monitorar e anotar as medições foi o objetivo do
estudo de Putra (2019). O sistema foi desenvolvido para medição de árvores de várias
espécies como o mogno, teca, seda entre outros. Contudo, os testes experimentais foram
realizados apenas em uma floresta de seda na Indonésia. Os resultados evidenciaram que o
sistema tem potencial para ser usado como um dendrômetro eficaz, rápido e de baixo custo
por pequenos e médios produtores. Mehra et al. (2018) apresentam um sistema hidropônico
inteligente baseado em IoT que usa redes neurais profundas para monitorar o crescimento de
plantas de tomate. O sistema foi testado em uma estufa de produção de tomate hidropônico na
Índia e se mostrou adequado para operar o bombeamento da água, acender as luzes, ligar o
ventilador e outras atividades da estufa. Um sistema automático para estimativa da data de
cabeçalho do trigo, por meio de imagens diárias de alta resolução, foi proposto por Velumani
et al. (2020). O sistema foi aplicado e validado durante nove cultivares de trigo, três anos, em
47 locais experimentais espalhados pela França. Os resultados dos testes demonstraram que o
método proposto fornece boas estimativas das datas de cabeçalho quando comparado as
medições feitas de forma visual por especialistas.
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Para Monitoramento de pragas nas lavouras de batata e tomate foi desenvolvido por
Khattab et al. (2019) um sistema baseado em IoT para detecção e previsão do surgimento de
doenças epidêmicas no campo. Para testar o sistema foram realizados experimentos de campo
em safras de batata e tomate em 2017 e 2018 nas cidades de Beheira e Fayoum, Egito. Os
resultados mostraram que o sistema é capaz de detectar de maneira antecipada o surgimento
de doenças como a ferrugem nas lavouras. Permitindo redução no número de aplicações de
defensivos químicos e os resíduos nos alimentos, melhorando a qualidade dos produtos. Cao e
Chen (2020) também apresentam um sistema de monitoramento e alerta precoce para
surgimento da peste tardia da batata, no entanto esse sistema tem como método a medição de
esporos de Phytopht que estão no ar. Os testes foram realizados em um campo experimental
da China e demonstram que o sistema pode reconhecer e contar de maneira rápida os esporos
que estão no ar permitindo um controle mais eficaz da situação epidêmica.

Sobre Monitoramento de produto, um sistema para monitoramento de fatores


intrínsecos e extrínsecos do envelhecimento do vinho do Porto, Tawny, em barris de madeira
foi a proposta elaborada por Morais et al. (2018). O monitoramento do pH do vinho, oxigênio
dissolvido e potencial redox é importante para otimizar e gerenciar a variabilidade natural do
vinho o que por sua vez fornece maior qualidade no produto final. O estudo foi realizado em
uma vinícola que utiliza barris de carvalho localizada na região do Douro, Portugal. Os
resultados mostram que o sistema de monitoramento é capaz de detectar diferenças entre os
barris de madeira e as condições de armazenamento.

O domínio definido como, controle, aborda pesquisas que tem como foco de pesquisa
o desenvolvimento ou melhoria de sistemas de controle de irrigação e alimentação de animais.
Entre os objetivos desses sistemas estão: executar de forma inteligente o controle do uso da
água; diminuir e otimizar seu uso; diminuir a necessidade da intervenção humana no processo
de irrigação, diminuir os custos produtivos, entre outros. No total são oito trabalhos
correspondentes a este domínio, sendo sete deles sobre irrigação e um sobre controle de
alimentação animal. A seguir são apresentados alguns exemplos que tratam sobre irrigação e
o artigo sobre alimentação animal.

Quanto ao Controle de irrigação, o primeiro exemplo apresentado é o estudo


desenvolvido por Wang et al. (2020). A pesquisa tem como objetivo descrever uma solução
cibernética de circuito fechado que gerencia a irrigação por meio da integração do sistema de
irrigação automática, WISA, com uma ferramenta de suporte a decisão agrícola, IrrigWeb.
Para desenvolver essa solução os autores utilizam os programas Uplink e Downlink. Os testes
51

foram realizados em uma fazenda de cana-de-açúcar no nordeste australiano e tiveram como


resultados tanto uma programação correta de irrigação como benefícios econômicos para os
agricultores.

Muangprathub et al. (2019) propõem o desenvolvimento de um sistema de irrigação


com base em rede de sensores sem fio (WSN) ideal para culturas agrícolas. Os dados
coletados por esse sistema para auxiliar no controle de irrigação são umidade, temperatura e
umidade do solo. O sistema foi testado em três casos diferentes, aldeias, localizadas na
província de Suratthani, Tailândia. Os testes ocorreram durante cinco meses e trouxeram
como resultados benefícios para a agricultura como o controle de umidade do solo, aumento
de produtividade e redução de custos produtivos. Também como exemplo de sistema para
controle de irrigação o estudo de Domínguez-Niño et al. (2020) demonstra a viabilidade de
um sistema de irrigação baseado em IoT, o IRRIX, em pomares que possuem tamanho de
árvores diferentes. Para testar o sistema IRRIX o mesmo foi aplicado por dois anos em dois
setores, um com árvores mais velhas e outro com árvores mais novas, de um pomar de maças
na Espanha. Os resultados mostraram a viabilidade do sistema para aplicação em culturas com
diferentes características no mesmo local.

Quanto ao Controle de alimentação, os pesquisadores Janpla et al. (2019), na busca


por viabilizar uma piscicultura automática que possa ser instalada em casa, desenvolveram na
Tailândia um sistema automático de alimentação de peixes usando a IoT. Este sistema visa
resolver o problema de proprietários que não conseguem alimentar os peixes na hora e
quantidade certas. O sistema, que vai se adaptando ao longo do crescimento dos peixes, foi
testado em um experimento com 80 bagres durante 142 dias. Os resultados demonstram que
por mais que o sistema precise de ajustes, quanto a sua funcionalidade, ele é uma alternativa
viável para esse tipo de produção.

O domínio alcunhado como predição traz pesquisas que foram desenvolvidos


pensando em propor um sistema, designer, tecnologias ou estrutura que funcione como um
fornecedor e gerenciador de informações do campo para que os produtores tomem decisões de
maneira mais assertiva. Estes sistemas se utilizam de sensores, Tecnologias de Informações e
Comunicação (TIC) e outras tecnologias para auxiliar na detecção do surgimento de
anomalias durante o processo produtivo, na provisão de crescimento das produções
agropecuárias e na gestão como um todo da fazenda.

Para, Anomalias no processo produtivo, são listadas as pesquisas que desenvolvem


algum tipo de sistema que permita obter informações sobre as mudanças de indicadores
52

produtivos para tomada de decisão proativa. O trabalho escrito por Santos et al. (2019)
apresenta o sistema AgriPrediction que combina sistemas de alcance de rede sem fio com
mecanismos de previsão para antecipar possíveis disfunções na cultura em produção. Esse
sistema notifica o agricultor assim que situações anormais aparecem permitindo que ações
corretivas de forma antecipada sejam adotadas. O AgriPredtiction, por meio de uma estrutura
de sensores, consegue medir aspectos como a umidade, luminosidade, clorofila da planta,
radiação solar, temperatura e outras informações mais. Para avaliação da funcionalidade do
sistema os autores brasileiros montaram uma estufa para cultivo de rúcula e fizeram
experimentos durante alguns ciclos de cultivo. Os resultados mostraram que o cultivo da
rúcula com o sistema proposto obteve ganhos de 17,94% no tamanho das folhas e de 14,29%
no peso em relação a um cultivo padrão.

O trabalho escrito por Gao et al. (2019) teve como objetivo desenvolver um sistema de
controle e rastreamento de pisciculturas baseadas em IoT que permite coletar, armazenar,
analisar, prever, rastrear e consultar os dados sobre a qualidade da água da lagoa onde os
peixes foram criados. Por meio de sensores de temperatura, pH, oxigênio, condutividade
elétrica e turbidez da água conectados as bombas de água, aeradores, alimentadores e outros
equipamentos os piscicultores podem controlar e gerenciar de forma inteligente o tratamento
da água da lagoa e a produção dos peixes. Os testes foram realizados em uma fazenda de
peixes localizada na China durante um mês e mostraram que o sistema pode prever de
maneira eficaz os indicadores da água.

Sobre o Crescimento de culturas, um sistema de apoio a decisão agrícola baseado em


IoT foi proposto por Kocian et al. (2020) para previsão do crescimento de culturas. O sistema
funciona combinando informações ambientais como temperatura, irradiação solar e pressão
atmosférica com parâmetros indicativos de cultivo para as culturas. Os testes foram realizados
com três ciclos de cultivo de alface em uma horticultura da Itália. Os resultados mostram que
o sistema prevê com eficácia os parâmetros de crescimento das plantas permitindo que
decisões sobre o cultivo sejam tomadas com antecedência.

Quanto à Gestão do campo, neste subdomínio estão listadas pesquisas que


desenvolveram sistemas para facilitar a gestão geral do campo. Gill et al. (2017) desenvolvem
em seu estudo um sistema de informações automáticas baseado em nuvem para prestar uma
agricultura como serviço. Esse sistema gerencia vários dados relacionados a agricultura de
diferentes usuários para fornecer informações necessárias de maneira automática aos usuários.
53

O desempenho do sistema foi testado em um ambiente de nuvem na Austrália e seus


resultados mostram que o sistema tem um melhor serviço em relação a outros existentes.

Na pesquisa de Köksal e Tekinerdogan (2019) os autores propõem-se a desenvolver


um designer de arquitetura para projeção de sistemas de informações gerenciais de fazendas
baseados em IoT. Para ilustrar o designer proposto foram realizados estudos de caso, em uma
fazenda de trigo na região de Konya, Turquia. Os resultados evidenciaram que a abordagem
era eficaz e prática, sendo útil para derivar futuras arquiteturas de sistemas de informações
gerenciais de fazendas. Por fim, uma arquitetura para o gerenciamento automático de decisões
estruturadas, baseadas em aplicativos de agricultura de precisão que utilizam a IoT, foi
desenvolvida por Mazon-Olivo et al. (2018). Esta arquitetura nomeada como RECEP foi
testada por meio da sua integração a um sistema de irrigação inteligente em um campo de
produção de banana localizado em Machala no Equador. Os resultados obtidos com os testes
mostram que o RECEP é uma estrutura viável de baixo custo para pequenas e grandes
produtores.

O último domínio corresponde a pesquisa que desenvolveram seus estudos a fim de


propor e implementar melhorias na logística tanto na parte de transporte na cadeia de
suprimento, como na produção dentro das propriedades rurais. Ao todo, dois estudos
constituem esse domínio ao proporem formas de melhorar o transporte dos produtos até os
clientes finais, diminuir custos com transporte, melhorar o acesso a informações sobre os
produtos, aumentar as informações sobre o processo logístico e proporcionar maior eficiência
a todo processo de produção.

Em relação à Produção, desenvolver um robô de micro-dosagem de semeadura e


fertilização baseado em rodas, AgriRobot, para plantar cereais, oleaginosas e leguminosas foi
o objetivo do estudo realizado por Bhimanpallewar e Narasingarao (2020). Este robô controla
o número de sementes e quantidade de fertilizante que são aplicados em cada ponto da
plantação. Para avaliar a eficácia da tecnologia proposta foi realizado um experimento com o
protótipo desenvolvido em seis solos diferentes da Índia. Como resultado foi identificado que
com o AgriRobot é possível reduzir o custo e dependência de recursos humanos na hora de se
plantar.

Por fim, com relação ao Transporte, Yan et al. (2017) propõem a coordenação da
cadeia de suprimentos em ambientes de IoT nos níveis do fabricante, distribuidor e varejista,
por meio de um modelo de contrato aprimorado de compartilhamento de receita. Este contrato
aprimorado é direcionado para cadeia de suprimentos de produtos frescos e como forma de
54

validar o modelo foi realizada a análise da cadeia de suprimento de uma empresa chinesa de
aquicultura. Como resultado os autores concluíram que o contrato de compartilhamento de
receita permite determinar a solução ideal para alcançar lucro máximo, facilita a tomada de
decisão e aprimora a distribuição de lucros entre os níveis da cadeia de suprimento.
55

2.3 MODELO TEÓRICO DA PESQUISA E PROPOSIÇÕES

A adoção da IoT no ambiente rural, em especial na pecuária, coloca em prática a ideia


de pecuária 4.0, com destaque para o conceito de smart farm (Rose & Chilvers, 2018). O
estado de Mato Grosso do Sul (MS), por ser um dos maiores produtores de bovinos de corte
do país, pode se beneficiar diretamente com a adoção desta tecnologia (Embrapa, 2020;
IBGE, 2020b). Por meio de sensores embarcados em diferentes objetos, animados e
inanimados, as fazendas podem coletar diferentes dados que, processados, gerenciados e
aplicados de maneira correta, tornam o processo produtivo dos bovinos e de gestão da
propriedade mais eficientes (Talavera et al., 2017).

Estudos demonstram diversos benefícios no monitoramento, controle, predição e


logística que a IoT pode trazer para as propriedades produtoras de bovinos de corte (Santos et
al., 2019; Jiao et al., 2014; Talavera et al., 2017). Entretanto, a adoção dessa inovação tende a
forçar movimentos de mudança institucional, decorrentes da natureza tradicional do setor
(Zarpelon et al., 2019). Por isso, para que a IoT se torne uma prática amplamente
desenvolvida e adotada como ferramenta de gestão na bovinocultura de corte, fazem-se
necessários esforços intencionais e conscientes dos atores individuais e coletivos que atuam
no macroambiente.

A lente teórica do Trabalho Institucional, proposta inicialmente por Lawrence e


Suddaby (2006) e utilizada por outros autores, entre eles, Hall, Matos e Bachor (2019),
Jespersen e Gallemore (2018) e Zarpelon et al. (2019), mostra-se uma teoria adequada para
observar os esforços realizados pelos atores do estado, a fim de institucionalizar a IoT na
bovinocultura de corte.

Da perspectiva do trabalho institucional, para se institucionalizar uma inovação em


nível de campo, é necessário que os atores individuais e coletivos se engajem na realização de
ações que representam nove diferentes práticas de trabalho institucional (Perkmann & Spicer,
2008), sendo que tais práticas refletem três categorias de trabalho, o trabalho político, o
cultural e o técnico (Lawrence & Suddaby, 2006).

A seguir, é apresentado, na Figura 3, o modelo teórico desenvolvido para esta pesquisa


pelo qual se busca representar a relação do trabalho institucional, realizado com a adoção da
Internet das Coisas (IoT) como ferramenta de gestão na pecuária bovina de corte, no estado de
Mato Grosso do Sul. Segundo este modelo, as práticas de trabalho institucional, representadas
56

pelas categorias de trabalho institucional, fomentam, de maneira direta, independente e


similarmente, a criação da instituição objeto de estudo.

Figura 3: Modelo teórico da pesquisa

Fonte: Elaborado pelo autor.

Entre as práticas ligadas ao trabalho político, a literatura destaca a advocacia,


definição e a aquisição (Jespersen & Gallemore, 2018). Na advocacia, os atores de um campo,
autoridade governamental ou outro tipo de autoridade regulatória utilizam-se de técnicas de
persuasão social como o lobby, mudanças da legislação, promoção de reuniões e outros, para
mobilizar apoio político e regulatório para uma inovação (Binz et al., 2016). Wahid e Sein
(2014), apontam que o trabalho político foi realizado com vistas a mobilizar apoio de
autoridades superiores e atores altamente legítimos no campo, a fim de legitimar o e-
Procurement no governo local indonésio. Outro exemplo é o estudo realizado por Ronaghi e
Forouharfar (2020), o qual afirma que a realização de políticas de apoio financeiro e de
utilização da internet, por parte de Organizações Estatais Agrícolas e do Ministério das
Tecnologias da Informação e Comunicação do Irã, são essenciais para facilitar a adoção da
IoT pelos produtores rurais do país.

A prática de definição tem como característica a realização de ações de trabalho


institucional que objetivam criar e esclarecer papéis, definir padrões e responsabilidades no
campo institucional (Jespersen & Gallemore, 2018; Lawrence & Suddaby, 2006). Por ser um
ambiente de inovação ainda em desenvolvimento, os projetos, as políticas e todas as
atividades voltadas a fomentar a IoT como ferramenta para a bovinocultura de corte não
57

possuem uma definição clara sobre responsabilidades e regras, sendo assim faz-se necessária
sua realização (Zietsma & Lawrence, 2010). A prática de definição na IoT não fica restrita
apenas ao estabelecimento de regras e ao processo de certificação dos atores que atuam no
campo, também percorre a utilização dos dados gerados pelas dezenas de objetos IoT
utilizados nas propriedades. Jayashankar et al. (2018) mencionam as preocupações dos
agricultores com a propriedade e a privacidade de seus dados no nível da fazenda; os mesmos
questionam se os agricultores têm apenas o direito de acessar seus dados originados da IoT ou
detêm a posse sobre eles.

Ao se observar a prática de aquisição, identificam-se ações realizadas por atores com


autoridade governamental que objetivam realocar direitos de propriedade, mudanças de regras
nas relações de mercado e compartilhamento de autoridade coercitiva, em um determinado
campo (Lawrence & Suddaby, 2006). Segundo Jespersen e Gallemore (2018, p. 7), a literatura
que trata da prática de aquisição “se preocupa em esclarecer os tipos de direitos conferidos
aos proprietários de recursos relevantes e se os proprietários possuem ou não agência sobre a
propriedade que habitam, uma questão inerentemente política”.

O trabalho político é realizada como um meio de adequar o grau em que as


características normativas de uma nova instituição são compatíveis com os interesses e
agendas dos potenciais adotantes (Obeng Adomaa et al., 2022). Lawrence e Suddaby (2006)
alegam que, apesar das características e objetivos particulares, a realização das práticas
ligadas ao trabalho político parece exercer um reforço mútuo em que a advocacia funciona
como importante meio para definição de regras que conferem status e privilégios. Por sua vez,
a aquisição de direitos restringe e constitui quais serão os atores com preferência na defesa
por recursos, direito de propriedade e limites. Portanto, a adoção de uma nova tecnologia pode
ser institucionalizada em decorrência da realização de práticas de trabalho que refletem
abertamente o trabalho político; logo, é apresentada a seguinte proposição.

Proposição 1: a realização de práticas ligadas ao Trabalho Institucional Político


fomenta a adoção da IoT como ferramenta de gestão na bovinocultura de corte, no estado de
Mato Grosso do Sul.

O trabalho cultural é realizado com objetivo de reconfigurar os sistemas de crenças


dos atores, por meio de práticas como a construção de identidade, mudança de associações
normativas e a construção de redes normativas (Lawrence & Suddaby, 2006). Por meio da
realização dessas práticas, os atores estabelecem a relação entre as características de uma
nova instituição e os valores culturais, crenças e práticas de tomada de decisão existentes e
58

amplamente aceitos pelos potenciais adotantes (Obeng Adomaa et al., 2022; Perkmann &
Spicer, 2008).

A teoria institucional observa a prática da construção de identidade como uma forma


de trabalho associada ao desenvolvimento de profissões, seja pelo surgimento de novas
profissões, seja pela reorientação das existentes (Lawrence & Suddaby, 2006). A criação de
uma identidade associada à nova instituição foi uma das maneiras encontradas por Wahid e
Sein (2014) para criação de uma consciência coletiva, no início do processo de
institucionalização do e-Procurement, no governo da Indonésia. Também Zhang, Wang e
Duan (2016) destacam a construção de identidade como algo importante, porém na
perspectiva de reorientar os conhecimentos e habilidades dos profissionais que estão no
ambiente rural, para que a adoção e difusão de sistemas de informação, baseados em IoT,
sejam abrangentes.

Na mudança de associações normativas, os atores institucionais reformulam as


associações normativas já existentes, refazendo suas conexões por meio de uma perspectiva
normativa alternativa (Binz et al., 2016). O objetivo, com esta prática, consiste em criar uma
base moral e cultural para as novas instituições (Bartram et al., 2020). No trabalho voltado a
institucionalizar a IoT na bovinocultura, uma das formas de mudança associativa encontrada
na literatura é por meio da adoção do dispositivo MooCare, no qual os produtores abandonam
as velhas práticas de produção leiteira para se beneficiar das informações instantâneas sobre
os animais que a automação dos processos proporciona (Rosa Righi et al., 2020).

A realização de ações ligadas à construção de redes normativas são vistas como


conexões interorganizacionais, em que grupos de pares atuam no cumprimento,
monitoramento e avaliação de novas práticas e ações, com o objetivo as tornar
normativamente sancionadas (Lawrence & Suddaby, 2006). Além disso, as redes normativas
são indispensáveis, quando existe a necessidade de superar desafios complexos que impedem
a criação de novas instituições (Jespersen & Gallemore, 2018). Construir um ambiente para
cooperação e participação em torno do pagamento por serviços ecossistêmicos correspondeu a
uma das formas usadas pelos atores da Indonésia para que essa prática fosse institucionalizada
(Jespersen & Gallemore, 2018). A cooperação também é citada como forma de aumentar a
lucratividade e de obter resultados econômicos mais altos para as empresas que desenvolvem
produtos IoT para as Smart farms finlandesas (Cedeño et al., 2018).

As três formas de trabalho institucional mencionadas anteriormente têm em comum o


enfoque à estrutura normativa das instituições, atendendo aos papéis, valores e normas que as
59

sustentam (Lawrence & Suddaby, 2006). A diferença, no entanto, está na relação de cada uma
com o campo. Na construção de identidade, observa-se a interação entre o ator e o campo; na
mudança de associações normativas, a interação ocorre entre a norma e o campo; e, por fim, a
construção de redes normativas demonstra uma relação ator-ator (Lawrence & Suddaby,
2006). Diante os conhecimentos sobre as práticas que constituem o trabalho cultural e a forma
como são executadas a fim de institucionalizar inovações tecnológicas, apresenta-se a
proposição seguinte.

Proposição 2: a realização de práticas ligadas ao Trabalho Institucional Cultural


fomenta a adoção da IoT como ferramenta de gestão na bovinocultura de corte, no estado de
Mato Grosso do Sul.

No trabalho institucional técnico, os atores criam uma nova instituição, por meio de
três práticas de trabalho: mimetismo, teorização e educação (Binz et al., 2016), as quais estão
relacionadas ao pilar cognitivo-cultural das instituições; e quando realizadas, constroem
“modelos mentais” e visões de mundo, compartilhadas ao mesmo tempo, e que alteram as
categorizações abstratas e seus significados dentro do campo (Lawrence & Suddaby, 2006;
Perkmann & Spicer, 2008).

No mimetismo, as novas tecnologias associam-se a algo já existente e


institucionalizado, facilitando, assim, sua aceitação e institucionalização no ambiente
institucional e organizacional (Jespersen & Gallemore, 2018). Rutherford e Schultz (2019)
mencionam que, quando as novas instituições surgem em um contexto institucional denso,
uma das opções a ser adotada pelos atores consiste em aninhá-las dentro do contexto de
instituições formais já existentes. Em uma perspectiva de adoção de sistemas IoT, Chuang,
Wang e Liang (2020) alegam, como resultado de um estudo, que o suporte organizacional
fornecido pelas agências de administração agrícola foi o fator mais decisivo na intenção de
adoção da tecnologia IoT por jovens agricultores de Taiwan. Para eles, a utilização das
organizações de agricultores existentes para promover a aplicação e a transformação da
agricultura inteligente no país significou um ganho na divulgação dessa tecnologia.

A prática de teorização visa desenvolver e especificar categorias abstratas e elaborar


cadeias de causa e efeito para as novas instituições criadas (Binz et al., 2016). Hall, Matos e
Bachor (2019), mencionam em sua pesquisa que, embora a demonstração da viabilidade
tecnológica de produtos inovadores seja necessária, a mesma se torna insuficiente; por isso, é
preciso que as empresas que desenvolvem estas tecnologias se engajem em um trabalho
institucional de teorização para articular os benefícios da tecnologia aos atores reguladores,
60

responsáveis por ações no nível macro. Para produtos IoT, a realidade é semelhante; segundo
Ronaghi e Forouharfar (2020), os atores formuladores de políticas agrícolas devem promover
a IoT em uma agricultura inteligente, demonstrando e justificando os benefícios e as
facilidades da mesma em cantos distantes e remotos do país.

Por fim, a prática de educação acontece com o objetivo de desenvolver habilidades e


conhecimentos necessários para apoiar a nova instituição (Perkmann & Spicer, 2008). Essa
prática institucional faz parte de um trabalho cognitivo importante, tendo em vista a
necessidade que os atores têm de se adaptar diante das novas conexões e mecanismos de
controle que surgem junto à nova instituição (Lawrence & Suddaby, 2006). A educação dos
atores nas habilidade e conhecimentos necessários na adoção de produtos IoT são críticos para
o sucesso da aceitação e difusão dos sistemas de informação agrícolas, visto que muitos
trabalhadores rurais não possuem conhecimento mínimo para acessar, utilizar, responder e
atuar com as informações geradas por esses dispositivos (Zhang et al., 2016).

As três últimas formas de trabalho institucional mencionadas possuem como foco o


lado cognitivo das instituições, realizadas no intuito de alterar as crenças, suposições e
estruturas existentes e criar novas para sustentar as inovações, fruto do trabalho de atores
individuais e coletivos. Diante disto, acredita-se que o fomento a adoção da IoT, nas fazendas
de bovinocultura, pode resultar da realização de práticas relacionadas ao trabalho técnico.
Desta forma, apresenta-se a proposição que se segue.

Proposição 3: a realização de práticas ligadas ao Trabalho Institucional Técnico


fomenta a adoção da IoT como ferramenta de gestão na bovinocultura de corte, no estado de
Mato Grosso do Sul.

O desenvolvimento de estudos, empregando a lente do trabalho institucional, utiliza,


como foco de análise, tipos diferentes de práticas de trabalho institucional como: a advocacia
(Empson et al., 2013), construção de identidade (Muzio et al., 2010), teorização (Hall et al.,
2019), construção de redes normativas (Michel, 2020), entre outros. No entanto, a importância
que a realização de uma prática possui em relação a outras para obter êxito na difusão e
institucionalização de inovações no campo organizacional é pouco explorada na literatura. O
estudo realizado por Chiwamit, Modell e Yang (2014) enfoca as inovações inseridas na
contabilidade gerencial, de maneira especial, a institucionalização do Economic Value Added
(EVA ™). Como resultado, os autores mencionam que, para a institucionalização do EVA™,
foi necessário maior esforço relacionado às práticas de trabalho político e cultural. No caso da
adoção de novas práticas no ciclo de gestão financeira, em municípios do Brasil, os autores
61

Lino et al. (2019) alegam que a teorização representou o tipo de trabalho institucional mais
relevante para superar as resistências por parte dos atores públicos que iriam adotar tais
inovações.

A escolha por utilizar um ou outro tipo de trabalho pode depender, também, da fase de
legitimação em que uma inovação está no ambiente ou de quem está realizando este trabalho
institucional. Binz et al. (2016) alegam que formas específicas de trabalho institucional estão
relacionadas a cada uma das três fases, validação local, difusão e validação geral pelas quais
uma inovação precisa passar durante o processo de legitimação. Já Kaartemo et al. (2020)
constatam, em estudo sobre a criação de modelos de mercado, que o trabalho institucional
realizado pelos atores públicos difere em relação ao desenvolvido pelas instituições privadas.
Em vista desses resultados, acredita-se que existam práticas denominadas, aqui, inibidoras, as
quais, ao ser realizadas, impactam, de maneira direta, na intenção de adoção da IoT pelas
fazendas de bovinocultura de MS, de maneira que se apresenta a última proposição
subsequente.

Proposição 4: existem práticas de trabalho institucional inibidoras à adoção da IoT


como ferramenta de gestão na bovinocultura de corte, no estado de Mato Grosso do Sul.
62

3 CAPÍTULO III – MÉTODO E TÉCNICAS DE PESQUISA

A seguir, apresentam-se as estratégias metodológicas utilizadas para o


desenvolvimento da pesquisa. Neste capítulo, registram-se as informações sobre a
caracterização da pesquisa, a matriz de amarração metodológica e as fontes e procedimentos
para coleta dos dados primários e secundários. Além disso, estão descritas, também, as
técnicas de análise utilizadas para os dados teóricos e empíricos, bem como as ferramentas de
suporte para análise qualitativa utilizadas.

3.1 DELINEAMENTO DA PESQUISA

Esta pesquisa é caracterizada quanto aos seus fins como exploratória a qual
proporciona maior familiaridade com o fenômeno observado, com o objetivo de torná-lo mais
explícito e/ou auxiliar na construção de hipóteses e proposições (Munaretto et al., 2013;
Piovesan & Temporini, 1995). O planejamento de uma pesquisa exploratória é bastante
flexível, de tal forma que possibilita a consideração de diferentes aspectos ligados ao
fenômeno estudado (Gil, 2002).

O caráter exploratório desta pesquisa justifica-se pela busca em explorar teórica e


empiricamente a realização de trabalho institucional para fomentar a adoção da IoT como
ferramenta de gestão na bovinocultura de corte. O campo de estudo é o estado de Mato
Grosso do Sul. Também se propõe identificar e destacar os tipos de trabalho institucional que
se configuram como inibidores na adoção da IoT pelas fazendas de bovinocultura de corte do
estado.

Para atingir ao objetivo da pesquisa, propor um framework teórico-conceitual,


consubstanciado na epistemologia estruturalista, sobre o papel de práticas de trabalho
institucional para adoção da Internet das Coisas (IoT) na pecuária bovina de corte, no estado
de Mato Grosso do Sul, optou-se pela realização das seguintes etapas de pesquisa.

Na etapa teórica de coleta de dados, voltada a atender o objetivo específico “a”, os


domínios de utilização da IoT na pecuária bovina foram identificados por meio de uma
Revisão Sistemática de Literatura (RSL). Na RSL, realizada em julho de 2020, nas bases de
dados Scopus e Web of Science, optou-se pela busca desses domínios em todas as atividades
agropecuárias para obter maior retorno de artigos e expandir as possibilidades de utilização da
IoT no ambiente rural. O protocolo para realização da RSL é detalhado na próxima seção
deste capítulo.
63

Foram cumpridas duas etapas empíricas para coleta de dados as quais tiveram como
campo de pesquisa o estado de Mato Grosso do Sul (MS). A etapa 1 focou nas práticas de
trabalho institucional, desenvolvidas pelos atores institucionais do estado de MS e do governo
Federal. Os resultados desta etapa buscaram responder aos objetivos específicos “b” e “c”, ou
seja, evidenciar os atores institucionais que desenvolvem algum tipo de trabalho institucional
voltado à adoção da IoT pelas fazendas de bovinocultura, assim como os tipos de trabalho
político, técnico e cultural realizados no macroambiente do estado de MS. A etapa 2
relaciona-se ao objetivo específico “d” e visa destacar, de acordo com a fala de atores do
ambiente organizacional, fazendas de bovinocultura de corte, quais tipos de trabalho
institucional impactam como inibidores na adoção da IoT pelas fazendas de bovinocultura de
corte, no estado.

Utiliza-se como processo de pesquisa empírica uma abordagem qualitativa que


apresenta como característica ser analítica e explicativa dos dados obtidos, sendo assim a
mesma é regida pelas conclusões e reflexões geradas pelos dados, diante da complexidade da
sociedade onde foram geradas (Tuzzo & Braga, 2016). A pesquisa qualitativa utiliza um
designer fluido, evolutivo e dinâmico, em oposição a designers mais estruturados,
encontrados em pesquisas quantitativas (Corbin & Strauss, 2014). Algumas razões são
destacadas por Corbin e Strauss (2014) como frequentes na escolha de pesquisadores por
métodos qualitativos: a capacidade de explorar as experiências internas dos participantes;
explorar áreas que ainda não foram completamente exploradas; descobrir variáveis relevantes
que, posteriormente, podem ser testadas de maneira quantitativa; e adotar uma abordagem
holística e abrangente para o estudo dos fenômenos.

A matriz de amarração é uma ferramenta pela qual, mediante uma abordagem


sistêmica, é verificada a consistência e sintetização da intervenção planejada e da metodologia
empregada (Telles, 2001). Ao não utilizar a matriz de amarração, o pesquisador priva-se de
uma visualização ampla e concreta do trabalho, possibilitando a ocorrência de equívocos e
dificuldades na definição, encaminhamento, encadeamento e na apresentação dos resultados
da pesquisa (Telles, 2001).

A seguir, tem-se a matriz de amarração metodológica desta pesquisa (Quadro 7).


64

Quadro 7: Matriz de amarração metodológica da pesquisa

Método de Técnica
Questão de Objetivo Etapa de
Objetivos específicos levantamento de análise
pesquisa geral pesquisa
de dados dos dados
a) Identificar
Como práticas de trabalho institucional fomentam a adoção da Internet das Coisas (IoT) como

sobre o papel de práticas de trabalho institucional para adoção da Internet das Coisas (IoT) na
Propor um framework teórico-conceitual, consubstanciado na epistemologia estruturalista, teoricamente as
possibilidades de Revisão
Análise da
ferramenta de gestão na bovinocultura de corte do estado de Mato Grosso do Sul?

aplicação da IoT Teórica sistemática de


literatura
como ferramenta de literatura
gestão na pecuária
bovina de corte.
pecuária bovina de corte do estado de Mato Grosso do Sul.

b) Mapear o campo
institucional por meio
da evidenciação dos
atores que trabalham Entrevista,
para a adoção da IoT documentos Análise de
como ferramenta de primários e conteúdo
gestão na secundários
bovinocultura de
corte de Mato Grosso
do Sul. Etapa 1
c) Identificar o
trabalho político,
técnico e cultural
Entrevista,
realizado pelos atores
documentos Análise de
institucionais para
primários e conteúdo
institucionalização da
secundários
IoT na bovinocultura
de corte no estado de
Mato Grosso do Sul
d) Destacar as
práticas de trabalho
institucional
“inibidoras” para Análise de
Etapa 2 Entrevistas
adoção da IoT na conteúdo
bovinocultura de
corte do estado de
Mato Grosso do Sul.
Fonte: Elaborado pelo autor.
65

3.2 POSICIONAMENTO EPISTEMOLÓGICO

Pode-se definir paradigma como uma estrutura ou um conjunto básico de suposições e


crenças que orientam a ação do pesquisador, na percepção de mundo (Khan, 2014). Guba e
Lincoln (1994) complementam esta visão, ao apontar que o paradigma é baseado em
pressupostos ontológicos, epistemológicos e metodológicos. O pesquisador qualitativo deve
escolher uma posição interpretativa sobre cada um desses pressupostos, sendo que essas
escolhas implicam diretamente na forma de projetar e conduzir a pesquisa (Creswell &
Inquiry, 2007). Tais posturas interpretativas moldam, de acordo com Creswell e Inquiry
(2007), os indivíduos estudados; os tipos de questões e problemas examinados; as abordagens
para coleta de dados, a análise de dados, a redação e avaliação; e o uso da informação para
mudar a sociedade ou contribuir para a justiça social.

A questão ontológica trata da natureza da realidade e respectivas características


(Creswell & Inquiry, 2007): “Qual é a forma e a natureza da realidade e, portanto, o que pode
ser conhecido sobre ela?” (Guba & Lincoln, 1994, p. 108). Quando o pesquisador realiza
pesquisa qualitativa, abraça a existência de múltiplas realidades as quais busca evidenciar, por
meio de várias citações baseadas nas falas reais de diferentes indivíduos, com perspectivas
diferentes (Creswell & Inquiry, 2007). Os pressupostos metodológicos, por sua vez, trazem os
procedimentos de pesquisa qualitativos que o pesquisador utilizou para coleta e análise dos
dados (Creswell & Inquiry, 2007). Como o investigador pode descobrir o que quer que
acredite que possa ser passivo de conhecimento, vai depender da forma de investigação
metodológica que adotará durante a pesquisa (Guba & Lincoln, 1994). Os pressupostos
metodológicos deste trabalho estão apresentados detalhadamente em outras seções do capítulo
em que consta a metodologia.

Faria (2012) define questão epistemológica como o estudo dos conhecimentos que
objetivam o saber científico, tecnológico e filosófico. Para o autor, a epistemologia está
diretamente relacionada à ontologia por tentar explicar a natureza do conhecimento e a forma
como estes são produzidos: “(i) os meios para determinar a validade da informação; (ii) a
formulação e uso do método científico; (iii) os tipos de argumentos usados para chegar a
conclusões e; (iv) as implicações dos métodos e modelos científicos para as ciências" (Faria,
2012, p. 3).

O pressuposto epistemológico evidencia como o pesquisador sabe o que sabe, ou seja,


em um estudo qualitativo os pesquisadores aproximam-se o máximo possível dos
participantes estudados (Creswell & Inquiry, 2007): “Na prática, os pesquisadores qualitativos
66

realizam seus estudos no "campo", onde os participantes vivem e trabalham - esses são
contextos importantes para entender o que os participantes estão dizendo” (Creswell &
Inquiry, 2007, p. 18).

As principais epistemologias dentro dos estudos na área das ciências sociais aplicadas
são: positivismo, funcionalismo, estruturalismo, fenomenologia, pragmatismo e materialismo
histórico (Faria, 2012). Nesta tese, a dimensão epistemológica utilizada é o estruturalismo,
pois como a preocupação central é observar a relação entre o trabalho institucional realizado e
a adoção da IoT por fazendas de bovinocultura de corte, no estado de MS, acredita-se que o
estruturalismo seja uma epistemologia adequada à esta pesquisa.

O estruturalismo é uma construção epistemológica iniciada pelo etnólogo Claude


Lévi-Straus (Thiry-Cherques, 2006) com o qual as postulações do estruturalismo ganhou
corpo como corrente filosófica e passou a figurar como epistemologia dentro das ciências
humanas, sociais e da ciência da gestão (Thiry-Cherques, 2006). Motta (1970) afirma que, no
estruturalismo, consideram-se os fenômenos ou elementos em relação a sua totalidade, ou
seja, o seu valor de posição. O autor ainda afirma que, além da característica comparativa,
existe o aspecto totalizante, visto que, para o referido método de análise, é de especial
importância entender como as partes se relacionam na constituição do todo.

Na perspectiva estruturalista, o princípio fundamental é que, detrás das relações


concretas, deve-se buscar a estrutura subjacente e inconsciente, obtida pela construção
dedutiva de modelos abstratos (Piaget, 1968). Para esta epistemologia, a concepção do
conhecimento reside nas relações, na estrutura e na totalidade, ou seja, o conhecimento deve
ser construído pelo sujeito, no momento em que compreende as relações entre os elementos
que constituem a estrutura (Faria, 2012, p. 3).

Em conformidade com Thiry-Cherques (2006), o entendimento do procedimento


metodológico do estruturalismo passa por compreender o que é estrutura. Para o autor, “uma
estrutura é um sistema relacional ou um conjunto de sistemas relacionais, tais como as
relações de parentesco, os esquemas de controle de tráfego, os códigos de etiqueta, etc. Cada
um dos seus elementos depende dos outros e é determinado por sua relação com eles” (Thiry-
Cherques, 2006, p. 142). Diferentemente de um sistema, a estrutura não é um conjunto de
entidades interdependentes e harmonicamente funcionais e, sim, uma representação lógica das
relações possíveis entre elementos de um domínio psicossocial (Thiry-Cherques, 2006).

A epistemologia estruturalista tem sido utilizada em diferentes temas de pesquisa


dentro das ciências sociais aplicadas e, em especial, na administração. Dentre esses, cita-se o
67

estudo de Souza Neto e Mello (2009) no qual comenta que as pesquisas atuais de marketing
estão se utilizando de pressupostos teóricos e metodológicos estruturalistas para compreender
o modo como ocorrem práticas de consumo de determinados grupos ou cultura. Outro estudo,
aqui indicado, de Cezarino et al. (2019), utiliza uma abordagem estruturalista para desenhar
um framework que visa indicar caminhos para o posicionamento estratégico das economias
emergentes, em relação à implementação da indústria 4.0 e a economia circular no Brasil.

3.3 PROCEDIMENTOS DE COLETA, SELEÇÃO E ANÁLISE DA REVISÃO


SISTEMÁTICA DE LITERATURA

O protocolo de trabalho elaborado para o desenvolvimento da Revisão Sistemática de


Literatura contempla os seguintes elementos: questão de pesquisa, estratégia de pesquisa,
critérios para inclusão e exclusão das pesquisas e a estrutura de análise e de apresentação dos
resultados. A questão de pesquisa definida para a RSL é “Quais as possibilidades de
utilizações da Internet das Coisas (IoT) em atividades agropecuárias?”.

Para busca das pesquisas que compuseram a RSL, foram escolhidos, como base de
dados, dois repositórios científicos, Web of Science e Scopus, amplamente utilizados em
revisões sistemáticas em razão da grande quantidade de revistas e eventos indexados,
possibilitando, com isso, um universo de pesquisa abrangente. A definição das palavras-
chave, para busca automática nos repositórios, partiu da seleção de termos de pesquisa que se
relacionam diretamente às variáveis estudadas nesta revisão que são Internet das Coisas e
agropecuária. Estas palavras-chave foram divididas em dois grupos, conforme se observa no
Quadro 8, sendo o Grupo 1 composto pela palavra internet of things; e o Grupo 2, por
palavras relacionadas às atividades que compõem a agropecuária.

Quadro 8: Palavras-chave usadas para busca nos repositórios científicos

Grupo 1:
Internet of Things
Grupo 2:
Agricultural, agriculture, farming, precision agriculture, livestock, husbandry,
precision livestock, forestry, silviculture e fishing.
Fonte: Elaborado pelo autor.

Os termos relacionados à agropecuária dizem respeito às atividades da agricultura,


pecuária, silvicultura e pesca que, de acordo com Barros et al. (2014), fazem parte do
segmento agropecuário. Além disso, foram utilizados os termos agricultura e pecuária bovina
de corte os quais aparecem, com frequência, em pesquisas desta temática. Ambos os grupos
foram compostos por palavras na língua inglesa, pois estes repositórios científicos têm, em
68

sua grande maioria, artigos que apresentam, no mínimo, o título e resumo em inglês. A
operação lógica para busca avançada de artigos foi realizada por uma string de pesquisa que
combina os termos presentes nos dois grupos de palavras-chave (Quadro 9).

Quadro 9: String utilizado para busca nos títulos, resumo e palavras-chave

TITLE-ABS-KEY: ("Internet of Things") AND (agricultural OR agriculture OR farming


OR “precision agriculture” OR livestock OR husbandry OR “precision livestock” OR
forestry OR silviculture OR fishing)
Fonte: Elaborado pelo autor.

Filtros primários foram utilizados durante o processo de busca dos arquivos nos
repositórios científicos, a fim de se reduzir o número de artigos gerados, bem como aprimorar
a seleção dos mesmos para melhor responderem à questão de pesquisa. Os filtros são
apresentados a seguir:

 Os documentos precisam ser artigos publicados em journals.

 Os artigos devem estar publicados em Inglês, Espanhol ou Português.

 A área de publicação do artigo deve ser uma das grandes áreas pré-definidas pelos
repositórios científicos: Negócios, Gestão e Contabilidade; Ciências Agrícolas e
Biológicas; Economia, Econometria e Finanças ou; Multidisciplinar.

Os critérios para inclusão e exclusão dos artigos, na amostra final, foram


desenvolvidos e aplicados sobre o título, resumo e palavras-chave. Como critérios de
inclusão, foram definidos:

 Pesquisas que apresentem a utilização da IoT em alguma atividade agropecuária.

 Pesquisas que apresentem e testem empiricamente um artefato (tecnologia) que apoie a


utilização da IoT na agropecuária.

Para exclusão do artigo da amostra final a ser analisada, o documento deveria atender
a um ou mais dos critérios apresentados abaixo.

 Pesquisas que não tratassem da agropecuária.

 Artigo teórico ou sem acesso disponível para download.

 Artigo duplicado.

 Tema não trate diretamente da IoT.

 Que somente desenvolva um artefato (Tecnologia) baseada em IoT, sem teste


empírico.
69

A análise das pesquisas foi composta pela extração das seguintes informações: autores,
ano de publicação, journal publicado, métodos científicos utilizados, setor/atividade da
agropecuária ao qual a tecnologia está vinculada, países de estudo, sugestões para pesquisas
futuras e os domínios de aplicação principais à qual a inovação baseada em IoT se aplica. Os
domínios de aplicação do artefato, baseada em IoT, seguem um agrupamento proposto por
Talavera et al. (2017): Controle, Monitoramento, Predição ou Logística. No entanto, ficou
aberta a possibilidade de inserção de algum outro domínio que poderia emergir da análise dos
trabalhos.
Tendo como base o protocolo de pesquisa apresentado anteriormente, dois
pesquisadores realizaram, de forma independente, as buscas na Web of Science e Scopus, em
junho de 2020. A string de pesquisa (Quadro 9) foi inserida no campo de busca, limitando-se
ao título, resumo e palavras-chave dos artigos. Não houve limitação de tempo de publicação
dos artigos para busca.
A busca sistemática resultou na identificação primária de 4.588 documentos, sendo
1.385 na base Web of Science e 3.203, na Scopus. Nesta primeira etapa, foram aplicados os
filtros estabelecidos, a saber, idioma, área de publicação e tipo de arquivo. Desta primeira
filtragem, foram excluídos 4.294 arquivos, restando para a próxima etapa, seleção, 294
artigos.
Na etapa de seleção, para inclusão na amostra final, os estudos remanescentes tiveram
seus resumos lidos pelos dois pesquisadores, sendo que os critérios de inclusão e exclusão
foram aplicados. O primeiro critério de exclusão, artigos duplicados, resultou na eliminação
de 67 trabalhos. No segundo, 24 pesquisas estavam fora da agropecuária. Identificaram-se 36
trabalhos apenas teóricos. Sem acesso disponível para download, foram 10; e 26 pesquisas
não tratavam diretamente da IoT. Por fim, o critério que resultou na exclusão do maior
número de trabalhos, 92, que somente desenvolveram um artefato (Tecnologia), baseada em
IoT, sem teste empírico. Ao final, 39 estudos compuseram a amostra utilizada para análise
(Apêndice F).

3.4 CAMPO DE ESTUDO, PROCEDIMENTOS E TÉCNICAS DE COLETA DE


DADOS

O campo de estudo desta pesquisa é o estado de Mato Grosso do Sul. A partir desse
elemento, foram selecionados para pesquisa: (1) os atores institucionais, individuais e
coletivos, públicos e privados, do macroambiente do estado, que estejam ligados à realização
de ações envolvendo a IoT e bovinocultura de corte; (2) órgãos do governo Federal que atuam
70

na realização de políticas voltadas ao fomento da inovação e ao desenvolvimento da pecuária


nacional; e (3) fazendas produtoras de bovinos de corte, situadas no estado de MS.

Durante a realização desta pesquisa, enfrentou-se uma grave crise de saúde pública,
resultante da pandemia da covid-19, período este em que se adotaram medidas com o objetivo
maior de se garantir a saúde de todos os envolvidos e obedecer às diretrizes sanitárias
impostas pelo Ministério da Saúde. Com isso, as entrevistas que compõem as etapas empíricas
1 e 2 foram realizadas 100% de maneira remota, com o apoio do aplicativo Google Meet e de
ligação telefônica.

Por se tratar de uma pesquisa com seres humanos e, em consonância com normativas do
Conselho Nacional de Saúde – CNS: Resolução 466/2012 (Resolução No 466, 2022) e
Resolução 510/2016 (Resolução No 510, 2016), para a coleta de dados empíricas, fez-se
necessária a submissão deste projeto na Plataforma Brasil, para apreciação do Comitê de Ética
em Pesquisa (CEP), da Universidade Federal de Mato Grosso do Sul – UFMS, e em
atendimento da Comissão Nacional de Ética em Pesquisa – CONEP. A submissão foi
realizada em 02/03/2021; e em 30/03/2021 houve retorno do CEP, com o parecer nº.
4.620.281, com status pendente, para o qual foi elaborada carta-resposta com os devidos
ajustes e esclarecimentos e enviada para apreciação do CEP. O retorno pela plataforma Brasil
veio no dia 18/05/2021, com o parecer de número 4.717.611, no qual consta a situação do
projeto como APROVADO. Após esta etapa, iniciou-se a validação dos instrumentos e a
coleta dos dados empiricamente.

Os entrevistados que compõem a amostra pesquisada empiricamente foram


informados sobre a existência do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE) e da
necessidade de assinatura de cada um deles para participar da pesquisa. Os entrevistados
receberam o arquivo para assinatura por e-mail ou mensagem do WhatsApp e retornaram os
arquivos assinados pelos mesmo locais. Os termos assinados foram arquivados junto aos
demais documentos relacionados ao comitê de ética. Para cada etapa empírica, foi
desenvolvido um TCLE específico, como pode ser apreciado nos Apêndices D e.

O estilo de estudo observacional adotado nesta pesquisa é o estudo cross-sectional


study (corte transversal); o qual analisa os dados de um subconjunto representativo da
população, considerando-se um momento específico do tempo, ou seja, um único momento do
fenômeno estudado (transversal) (Karahanna et al., 1999). A maioria das informações
coletadas durante as entrevistas é de domínio público e mesmo as que não o são, não foi
solicitada, por parte dos entrevistados, autorização específica ou acordo de cooperação para
71

que os dados fossem cedidos, apenas a assinatura do TCLE. Os atores entrevistados que
possuíam dados privados e/ou secretos expressaram essa questão durante as entrevistas,
relatando quais informações não deveriam ser utilizados no âmbito da pesquisa.

Como comentado, o estudo é dividido em duas etapas empíricas que se assemelham


metodologicamente. A seguir, são apresentadas as informações metodológicas específicas
sobre cada etapa de pesquisa.

3.4.1 Etapa empírica 1 – Entrevista com atores do macroambiente

A primeira etapa tem como objetivo evidenciar os atores institucionais e o trabalho


institucional político, cultural e técnico realizados para fomentar a adoção da Internet das
Coisas (IoT) como ferramenta de gestão na bovinocultura de corte, no estado de Mato Grosso
do Sul. Esta etapa foi desenvolvida por meio de duas técnicas de coleta de dados em pesquisa
qualitativa: entrevista e pesquisa documental. As entrevistas em pesquisas qualitativas devem
considerar duas etapas: a especificação dos dados que devem ser coletados e como as
perguntas serão formuladas (Creswell, 2010). Como forma de elaboração do roteiro para
entrevista, pode-se adotar uma estrutura informal, focalizado, semiestruturado ou estruturado
(Creswell, 2010).

A pesquisa documental consiste no exame de materiais de natureza diversa, que ainda


não tiveram um tratamento analítico ou que serão reexaminados para buscar novas
interpretações, com o intuito de responder ao objetivo proposto para análise (Creswell, 2010;
Godoy, 1995). Os benefícios de se utilizar documentos qualitativos como fonte de dados é
que eles se constituem de uma fonte não reativa, ou seja, as informações se mantêm as
mesmas, mesmo depois de um longo período de tempo; além disso, a análise documental é
interessante para estudar períodos de tempo maiores (Godoy, 1995).

Para essa etapa da pesquisa, as entrevistas foram realizadas, seguindo-se um roteiro


semiestruturado (Apêndice A), desenvolvido com base nas ações apontadas pela literatura
como formas de se realizar as práticas de trabalho institucional. O roteiro de entrevista
também conta com questões sobre o conhecimento que o ator entrevistado tem sobre o tema
estudado e as ações desenvolvidas por ele que possuam, como plano de fundo, a adoção da
IoT na bovinocultura de corte. No Apêndice B, é possível visualizar quais variáveis teóricas
foram utilizadas para elaboração das perguntas realizadas durante as entrevistas.

A validação do roteiro de entrevista foi realizada por três pesquisadores acadêmicos,


sendo concretizado em duas rodadas. Na primeira rodada, duas pesquisadoras da área de
inovação em administração: uma, da Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade
72

da Universidade de São Paulo (FEA/USP); e outra, da Universidade do Vale do Rio dos


Sinos, as quais analisaram o roteiro semiestruturado de entrevista e teceram críticas e
contribuições sobre o mesmo. Após a adequação do roteiro às observações pertinentes, o
mesmo foi direcionado a um professor pesquisador do programa de informática aplicada, da
Universidade Federal de Mato Grosso do Sul, que apresentou suas observações sobre o
roteiro, as quais foram avaliadas e incorporadas na versão final do instrumento.

A seleção dos respondentes ocorreu inicialmente por duas formas: (1) contato do
pesquisador com uma empresa privada que fornece produtos IoT para as fazendas produtoras
de bovinos no estado, ocorrido em 2019, durante a participação em um evento sobre inovação,
promovido pelo SENAR-MS, na cidade de Dourados-MS; e (2) busca na internet, na página
do Google®, por trabalhos acadêmicos, reportagens e publicações diversas, utilizando como
estratégia de pesquisa os termos “IoT”, “Internet das Coisas” e “Mato Grosso do Sul”. Como
resultado da busca na internet surgiram mais sete nomes de atores do estado que poderiam
fazer parte da amostra pesquisada. Em um segundo momento, novos entrevistados foram
selecionados, mediante o uso da estratégia de amostragem não probabilística, denominada
snowball (Bola de neve). Esta estratégia consiste em selecionar, por meio da indicação de
fontes já entrevistadas, novas fontes de dados para compor a amostra da pesquisa (Vinuto,
2014). Desta forma, o número de entrevistados e sua relação com o fenômeno estudado se
tornam maior.

Para compor a amostra entrevistada, os atores institucionais precisavam atender ao


critério de: realizar ou ter realizado algum projeto que contemplasse direta ou indiretamente a
tecnologia IoT e a bovinocultura de corte, no estado de MS. A partir deste critério, foram
selecionados e entrevistados 16 atores institucionais que compuseram a população final desta
etapa de pesquisa. Aqui se refere como população total estudada, pois não foram identificados
nenhum outro novo entrevistado, nem pela técnica do snowboall, nem pela pesquisa na
internet. Diante disto, acredita-se que todos os atores institucionais que atendem aos critérios
da pesquisas foram identificados e entrevistados. Os entrevistados foram divididos em: setor
público federal, setor público estadual, setor privado e setor educacional

O Quadro 10 apresenta a lista de atores institucionais que fazem parte da amostra


entrevistada e cujos documentos publicados, caso existam, foram coletados como fonte de
dados secundários.
73

Quadro 10: Atores institucionais que compõem o público alvo para entrevistas

Tempo de
Código Setor Área de atuação Págs. Data
entrevista
SE01 Docente área da
Setor Educacional 01:01:51 14 05/04/2022
computação
SE02 Setor Educacional Incubadora de empresas 00:53:24 8 11/03/2022
SE03-1 Setor Educacional Docente/Pesquisador 00:43:50 12 15/03/2022
SE03-2 Setor Educacional Docente/Pesquisador 01:02:07 16 28/03/2022
SE04-1 Setor Educacional Docente/Pesquisador 00:59:30 15 30/09/2021
SE04-2 Setor Educacional Docente/Pesquisadora 00:53:59 15 08/10/2021
SP01 Setor Privado Pecuária de precisão 00:41:46 13 14/12/2021
SP02 Setor Privado Sócio proprietário 00:54:48 12 12/05/2022
SP03 Setor Privado Customer Sucess 01:19:55 23 14/06/2022
SP04 Setor Privado Sócia proprietária 01:05:01 15 08/03/2022
SP05 Setor Privado Sócio proprietário 00:57:25 15 07/12/2021
SP06 Analista da área de
Setor Privado 00:37:40 11 22/10/2021
inovação
SP07 Centro de excelência em
Setor Privado 00:40:06 9 08/10/2021
Bovinocultura de Corte
SPE01 Setor Público
Diretor presidente 00:46:19 13 20/10/2021
Estadual
SPE02-1 Superintendência de
Setor Público ciência e tecnologia,
00:46:17 12 14/10/2021
Estadual produção e agricultura
familiar
SPE02-2 Setor Público Coordenadoria de ciência,
00:32:47 8 22/10/2021
Estadual tecnologia e inovação
SPF01 Setor Público Supervisor de Tecnologia
01:28:00 25 29/09/2021
Federal da Informação
SPF02 Setor Público Departamento de Apoio à
00:54:22 14 15/07/2022
Federal Inovação Agropecuária
SPF03 Setor Público Coordenadoria Geral de
00:45:59 11 05/08/2022
Federal Transformação Digital
Fonte: Elaborado pelo autor.

No total, foram entrevistados 16 atores institucionais, indicados pelo código formado


pelo setor onde o ator está vinculado e a posição dentre os entrevistados daquele setor: SE
(setor educacional); SP (setor privado); SPE (setor público estadual) e; SPF (setor público
federal). Os atores entrevistados foram ordenados seguindo a classificação alfabética do setor
e o nome da organização entrevistada. Nota-se que algumas organizações possuem mais de
um respondente; isso deve-se pela necessidade de entrevistar mais de um responsável para
coleta de informações buscadas na pesquisa, seja por indicação do primeiro entrevistado, seja
por escolha do pesquisador para esclarecimentos adicionais. Nestes casos, os respondentes
foram indicados com “-1” ou “-2”.
74

O contato com as organizações entrevistadas ocorreu por meio de ligação telefônica,


mensagem de WhatsApp® ou envio de e-mail. Durante o contato inicial, o pesquisador
responsável apresentou, de maneira detalhada, a pesquisa, solicitou a participação da
organização e pediu a indicação do respondente mais adequado para ser entrevistado, podendo
ser gestores, técnicos e/ou pesquisadores. Após aceite para participar da pesquisa, o
entrevistado (a) definiu (a) o melhor dia e horário para que a entrevista ocorresse. Diante da
definição, foi criado um link de reunião no Google Meet® e enviado por e-mail ou
WhatsApp®. Todas as entrevistas foram realizadas por videochamada, utilizando-se o site
citado anteriormente. Ao início da entrevista, solicitou-se a permissão para a gravação da
reunião e, havendo a autorização, a gravação era iniciada. No total, são mais de 17 horas de
entrevistas gravadas o que resultou em 261 páginas de conteúdo transcrito.

Os dados secundários, coletados nesta etapa da pesquisa, correspondem a documentos


que englobam leis, normativas, artigos, dissertações, teses e, também, publicações e
reportagens que constavam nos sites dos 16 entrevistados até o dia 11/08/2022; todos
relacionados à IoT e bovinocultura. A data de 2017 foi estipulada como prazo mínimo para
publicação desses dados, tendo em vista que é o período que contempla o lançamento do
estudo “Internet das Coisas: um plano de ação para o Brasil”, desenvolvido pelo BNDES e o
MCTIC, em 2017. No Quadro 11, a seguir, é possível visualizar o total de arquivos coletados
em cada um dos atores entrevistados.

Quadro 11: Documentos aplicados na pesquisa

Entrevistado Fonte Total


SE01 Site da organização 1
SE02 Site da organização 1
SE03 Site da organização/Site de busca 0
SE04 Site da organização/Internet 11
SP01 Site da organização 1
SP02 Site da organização/Internet 0
SP03 Site da organização/Internet 0
SP04 Site da organização/Internet 0
SP05 Site de busca 1
SP06 Site da organização/Internet 0
SP07 Site da organização 3
SPE01 Site da organização 2
SPE02- Site da organização 3
SPF01 Site da organização 2
SPF02 Site da organização 5
SPF03 Site da organização 5
Total 35
Fonte: Elaborado pelo autor.
75

A triangulação, de acordo com Yin (2015), pode ser de quatro tipos diferentes: por
múltiplas fontes de dados; entre diferentes pesquisadores; por meio da teoria; e a triangulação
metodológica. Em uma pesquisa científica, é necessário que existam fontes diversas de dados
que convergirão em uma triangulação, a fim de se responder às proposições desenvolvidas
previamente (Creswell, 2010; Yin, 2015). Nesta pesquisa, a triangulação foi realizada por
meio do confronto dos dados adquiridos nas múltiplas fontes de evidências.

A saturação teórica ocorre quando nenhum novo elemento, capaz de trazer novas
informações, é encontrado, deixando de ser, assim, necessária a continuidade da coleta dos
dados, pois o que surge não tem a capacidade de alterar a compreensão do fenômeno estudado
(Nascimento et al., 2018). No caso dessa tese, identificou-se a saturação teórica, ao se deparar
com a escassez de entrevistados no campo de pesquisa.

3.4.2 Etapa empírica 2 – Entrevista com gestores e/ou proprietários de fazendas de


bovinocultura de corte

A segunda etapa empírica desta pesquisa visa destacar as práticas de trabalho


institucional “inibidoras” na adoção da IoT para as fazendas de bovinocultura de corte, no
estado de Mato Grosso do Sul. Ou seja, qual prática de trabalho institucional ao não ser
realizada, inibe a adoção de produtos IoT pelas fazendas produtoras de bovinos de corte. Para
obter tal resultado, de maneira empírica, foram realizadas entrevistas semiestruturadas, com
gestores e/ou proprietários de fazendas do estado de MS que trabalham com bovinos de corte
e que adotam ou tenham, no mínimo, conhecimento sobre a tecnologia IoT estudada.

O intuito foi identificar, no caso das fazendas que possuem algum produto IoT, qual
ou quais tipos de trabalho institucional foram importantes para que adotasse essa tecnologia.
No caso das fazendas que ainda não o (os) adotam, quais tipos de trabalho institucional são
entendidos como imprescindíveis para fazer com que essa adoção ocorra em um futuro
próximo.

Para a realização das entrevistas com os responsáveis pelas fazendas de bovinocultura


de corte, foi utilizado um roteiro semiestruturado de pesquisa (Apêndice C), desenvolvido
como base nas práticas de trabalho institucional destacadas teoricamente (Quadro 4); as
práticas de trabalho institucionais identificadas empiricamente, na etapa 1, e questões abertas
que procuraram situar a fazenda entrevistada quanto à produção bovina, processo de inovação
e ação de adoção de produtos IoT. Como a amostra de entrevistados, nesta etapa, é composta
por dois públicos: fazendas que adotaram produtos IoT e fazendas que ainda não os adotam,
mas possuem interesse futura, desenvolveu-se um roteiro de entrevista único, mas abrangente
76

que possui perguntas específicas para cada público entrevistado e perguntas gerais, para os
dois grupos. No entanto, todas estão dentro das mesmas características teóricas.

A validação do roteiro de entrevista para esta etapa da pesquisa foi realizada por
especialistas teóricos e de mercado. O primeiro especialista ouvido é consultor técnico da
COIMMA, empresa agropecuária, com atuação nacional, que fornece para o mercado
produtos IoT, voltados à bovinocultura. A segunda avaliadora é professora da área de
computação da Universidade Estadual de Mato Grosso do Sul (UEMS) e sócia de uma
empresa de tecnologia para pecuária bovina. O terceiro e último a avaliar o roteiro de
entrevista foi o analista, responsável pela gerência-geral de tecnologia da informação da
Embrapa. Foi solicitado aos três avaliadores que tecessem críticas sobre o roteiro de entrevista
a ser aplicado nas fazendas. Quando pertinentes ao objetivo da pesquisa, os comentários
foram avaliados e incorporados ao roteiro semiestruturado.

Foram adotados os seguintes critérios para seleção das fazendas entrevistadas a serem
pesquisadas: a propriedade rural deveria ser sediada no estado de MS; trabalhar com
bovinocultura de corte; participar de algum programa de melhoramento genético; e que, a
figura do proprietário, gestor ou funcionário responsável conhecesse, no mínimo, um dos
produtos IoT em comercialização no mercado. Como a variedade desses produtos ainda é
baixa e a disponibilidade no mercado é recente, saber que o entrevistado conhece
minimamente algum dos produtos IoT citados permitiu identificar, com maior fidelidade, a
visão do mesmo sobre o produto e o que poderia ser feito a nível de práticas de trabalho
institucional para que a fazenda ou outras fazendas se propusessem a adotar tais produtos
como ferramenta de gestão.

Diante desses critérios, para tentativa de contato, foram utilizadas duas listas de
clientes de associações, voltadas ao melhoramento genético de bovinos. Acredita-se que a
chance de as fazendas que estejam nesta lista conhecer produtos IoT seja maior, pois os
produtos IoT mais sedimentados no mercado são justamente utilizados em processos de
melhoramento genético. A primeira lista utilizada, do Programa Embrapa de Melhoramento
de Gado de Corte – GENEPLUS, disponibiliza, em seu site, uma relação com 79 fazendas de
MS que trabalham com melhoramento genético do gado da raça nelore. A segunda lista, da
Associação Nacional de Criadores e Pesquisadores (ANCP), contém o nome de 55 fazendas
de MS, cadastradas em seu programa, sem identificação de raça bovina. Como nas duas listas
o pesquisador, somente teve acesso ao nome e cidade em que as fazendas estavam
localizadas, foi necessária uma busca na internet para tentar encontrar o número telefônico
77

dessas propriedades; no entanto cerca de 60% do total de fazendas listadas ou não possuíam
telefone cadastrado, ou não atenderam às ligações.

O contato com as fazendas ocorreu via telefone ou mensagem do WhatsApp®. No


primeiro contato, o pesquisador apresentava-se e informava o objetivo da pesquisa. Era
questionado se o responsável pela fazenda conhecia alguns dos produtos IoT disponíveis no
mercado. Caso a resposta fosse positiva, solicitava-se a participação do mesmo na pesquisa.
No total, foram oito gestores e/ou proprietários de fazendas, entrevistados em diferentes
cidades do estado de MS. No Quadro 12, é possível visualizar o código de identificação para
cada uma das fazendas, o cargo do respondente, a cidade na qual a fazenda se localiza, o
tempo de entrevista e o número de páginas transcritas. As entrevistas foram realizadas via
telefone ou Google Meet®, permitindo a gravação, com a autorização do entrevistado e a
assinatura do TCLE (Apêndice E). Apenas um entrevistado solicitou responder ao roteiro de
entrevista de maneira escrita. Para isso, foi enviado um e-mail com as informações da
pesquisa e o arquivo Word, com o roteiro. O responsável respondeu às perguntas no próprio
arquivo Word e retornou-o por e-mail.

Quadro 12: Fazendas que compõem a amostra entrevistada na etapa 2

Tempo de
Código Cidade Área de atuação Págs. Data
entrevista
FAZA01 Terenos - MS Gerente Geral 00:39:34 10 05/09/2022
FAZA02 Terenos - MS Gerente comercial 01:00:57 13 08/09/2022
FAZA03 Maracaju - MS Proprietária/Gerente - 5 13/09/2022
FAZN04 Anastácio - MS Proprietário 00:33:57 7 03/10/2022
António João -
FAZN05 Proprietário 00:30:28 7 20/10/2022
MS
FAZN06 Bela Vista - MS Proprietário 00:24:44 7 21/10/2022
FAZN07 Juti - MS Administrador 00:21:39 6 23/10/2022
Campo Grande - Proprietária/
FAZN08 00:16:17 5 09/11/2022
MS Responsável técnica
Fonte: Elaborado pelo autor.

As fazendas que compõem a pesquisa foram classificadas pela data de realização da


entrevista e identificadas com um código, formado por FAZ (Fazenda) + A (adotante) ou N
(Não adotante) + Ordem numérica. O total de entrevistas ocorreu pelas especificações
necessárias para participar da pesquisa, difícil acesso às fazendas e baixa aceitação em fazer
parte da pesquisa. No entanto, a saturação dos dados, nesta etapa empírica, foi identificada,
visto que as últimas entrevistas já não traziam novas informações à pesquisa; deixando de ser,
assim, necessária a continuidade da coleta dos dados (Nascimento et al., 2018).
78

3.5 PROCEDIMENTOS DE ANÁLISE DOS DADOS

Como método de análise dos dados, adotou-se a análise de conteúdo (AC), proposta
por Bardin (2009). O procedimento para análise dos dados das duas etapas empíricas foi o
mesmo, variando apenas a fonte dos dados. A análise de conteúdo consiste em um conjunto
de técnicas de análise de dados textuais ou em outros formatos que, por meio de
procedimentos sistemáticos e objetivos, compreende criticamente o sentido das comunicações
e seus significados explícitos ou implícitos (Bardin, 2009).

A realização da análise de conteúdo, segundo descrito por Bardin (2009), organiza-se


em três fases cronológicas, sendo elas: 1) pré-análise, 2) exploração do material; e 3)
tratamento dos resultados, inferência e interpretação.

A fase de pré-análise tem o objetivo de tornar operacionais e sistematizadas as ideias


iniciais para execução de um plano de análise. Nesta fase, é estabelecido um programa de
análise preciso, porém flexível, que permita a introdução de novos procedimentos, caso seja
necessário. Para operacionalizar a organização do material a ser analisado, cinco etapas
devem ser seguidas: (a) leitura flutuante, na qual se estabelece o contato primário com os
documentos que serão analisados, permitindo que impressões e orientações surjam de maneira
espontânea; (b) escolha de documentos, consiste em definir, dentre o universo de documentos,
o que será analisado para se atender aos objetivos propostos; (c) formulação das hipóteses e
dos objetivos, os quais orientam a análise desenvolvida pelo pesquisador; (d) referenciação
dos índices e elaboração de indicadores, que envolve determinar os índices que comporão a
análise e seus significados; e (e) preparação do material antes da análise efetiva do conteúdo.

Na fase de exploração do material, são realizadas a codificação, a decomposição, a


classificação e a categorização do material textual coletado. Está é uma fase longa e exaustiva
que coloca em prática todas as definições determinadas previamente para análise.

Na terceira fase, tratamento dos resultados, inferência e interpretação, os resultados


brutos são tratados, de tal forma que se tornem significativos e válidos para entendimento do
fenômeno estudado. Neste momento da análise, ocorrem as interpretações inferenciais, de
forma reflexiva e crítica.

Para Bardin (2009), tratar o material é codificá-lo, ou seja, transformá-lo, segundo


regras precisas, por meio de recortes, agregação e enumeração em um conteúdo suscetível de
esclarecer as características do texto. Creswell (2010) corrobora esta ideia, ao afirmar que o
79

processo de codificação realiza a organização de fragmentos de imagens e textos em


segmentos que representam uma informação importante para responder à questão de pesquisa.

A utilização da análise de conteúdo, nesta pesquisa, sustenta-se ao se observar que


esse método tem ganhado destaque em estudos na área de administração, principalmente nas
pesquisas qualitativas, por permitir uma abordagem analítica crítica e reflexiva dos
fenômenos estudados e por possuir técnicas refinadas (Mozzato & Grzybovski, 2011).

Na análise de conteúdo, em razão da grande quantidade de dados, o pesquisador pode


facilmente se desviar do foco de pesquisa, mesmo que tenha uma pergunta de pesquisa clara.
Diante desta possibilidade, Schreier (2012) propõe a utilização de um quadro de codificação
ou referencial de codificação que seleciona certos aspectos-chave, chamados de
dimensões/categorias, principais e secundárias, que são o foco da sua análise. A especificação
dessas categorias e subcategorias pode seguir, de acordo com Schreier (2012), a lógica
dedutiva de pesquisa descrita por Kripka et al. (2015, p. 63), do seguinte modo: “No método
dedutivo, as categorias são construídas antes de se proceder a análise do “corpus” da pesquisa,
ou seja, do texto produzido. São chamadas de categorias “a priori”, sendo deduzidas de teorias
explícitas já existentes”.

Nesta tese, a lógica de análise escolhida foi o método dedutivo, utilizando-se, como
categorias, as categorias amplas de trabalho institucional, como subcategorias, as práticas de
trabalho institucional, e como, unidades de análise, as formas de trabalho institucional citadas
pela literatura como ações pelas quais os atores realizam tais práticas. Contudo, a análise não
seguiu um processo dedutivo fechado, permitindo que novas categorias ou subcategorias
emergissem dos dados analisados. Com isso, para a etapa 2, já se incluiu uma nova prática de
trabalho institucional que emergiu da análise dos dados da etapa 1, Pesquisa e
Desenvolvimento. No Quadro 13, é apresentado o referencial de codificação para análise de
conteúdo realizada.
80

Quadro 13: Referencial de codificação para análise de conteúdo

Categorias Subcategorias Unidades de análise


Apoio político e regulatório
Lobby por recursos
Advocacia
Promoção de agendas
Proposição ou ataque a legislação existente
Processo de acreditação formal
Trabalho
Definição Criação de padrões
Político
Certificação de atores em um campo
Realocação de direitos de propriedade
Mudanças de regras das relações de mercado
Aquisição
Compartilhamento de autoridade coercitiva ou
reguladora
Criação de novas profissões
Construção de identidade
Reorientação de identidades
Trabalho Mudança de associações
Substituição de normas generalizadas
Cultural normativas
Construção de redes
Proto-Instituições / Redes de apoio
normativas
Mimetismo Justaposição de velhos e novos modelos
Elaboração de cadeias de causa e efeito
Trabalho Teorização
Nomeação de novos conceitos e práticas
Técnico
Educação Conhecimento e habilidade necessárias
Pesquisa e Desenvolvimento Desenvolvimento de pesquisas e produtos
Fonte: Elaborado pelo autor.

Como comentado, os dados que compõem a Etapa Empírica 1 são formados pelas
transcrições das entrevistas com atores institucionais, ligados ao fenômeno estudado, no total
de 261 páginas; e por dados secundários, coletados nos sites das organizações entrevistadas,
no total de 154 páginas. As entrevistas foram gravadas, mediante autorização, e transcritas
posteriormente, constituindo, junto com os dados secundários, o corpo textual utilizado para a
análise de conteúdo. Na Etapa Empírica 2, 60 páginas correspondem à transcrição das
entrevistas gravadas com gestores e/ou proprietários das fazendas produtoras de bovinos de
corte, no estado de MS. As transcrições das entrevistas realizadas em vídeo ou áudio, em
ambas as etapas de pesquisa, foram apoiadas com a utilização do site, Transkriptor®.

Ao total, as etapas para análise dos dados foram divididas em nove partes que
compreendem desde a transcrição das entrevistas, preparação de todo o corpo textual
utilizado, importação dos arquivos para o software de análise qualitativa, codificação do
material seguindo o referencial de codificação e codificação livre, geração dos relatórios do
Atlas.ti8, tratamento dos dados e apresentação, análise teórica e discussão dos resultados
empíricos.
81

A Figura 4 apresenta as principais etapas realizadas durante a análise de conteúdo, pré,


durante e pós a utilização do Atlas.ti8®.

Figura 4: Etapas realizadas na análise dos dados

Fonte: Elaborado pelo autor.

Todos os dados coletados foram analisados com o auxílio do software de análise


qualitativa, ATLAS.ti8®. A utilização de Softwares para este tipo de análise facilita a
codificação, categorização, geração de relatórios e outras atividades de apoio à análise, em um
grande volume de dados, de maneira prática e confiável (Creswell, 2010; Schreier, 2012).

Após a codificação dos dados empíricos, utilizando-se as categorias e subcategorias


anteriormente citadas, foram gerados os relatórios de codificação, arquivo Word, a partir dos
quais foi realizada a estruturação em quadros no Excel. Esses arquivos permitiram a
descrição, análise e discussão dos resultados. As unidades de análise, que são as ações
características de cada prática de trabalho institucional, identificadas na literatura, não foram
utilizadas como códigos no ATLAS.ti8® e, sim, na etapa de tratamento dos dados, que
ocorreu diante os relatórios de codificação gerados pelo software de análise qualitativa.

De acordo com os resultados obtidos nas etapas 1 e 2, diante a análise de conteúdo,


foram definidos critérios qualitativos para classificação: da existência das práticas de trabalho
82

institucional no macroambiente do estado de MS (etapa 1) e; do nível de incidência como


inibidor a adoção de produtos IoT, das práticas de trabalho institucional observadas (etapa 2).

Para definição da existência das práticas de trabalho institucional no macroambiente


do estado de MS, etapa 1: (1) foi observada a existência das unidades de análise em cada
grupo de atores entrevistados e; (2) a existência das práticas de trabalho institucional em cada
grupo de atores entrevistados.

1 - Unidades de análise versus existência segundo os grupos de atores entrevistados. A


estratégia definida para classificar as dezenove unidades de análise investigadas em “existe”,
“existe parcialmente” ou “não existe”, para cada grupo de atores institucionais entrevistados,
utilizou, como parâmetro, o número de respostas positivas observadas. Com base na
afirmação da existência de determinada unidade de análise no macroambiente, estabeleceu-se
uma porcentagem que permitiu classificá-la conforme segue: caso um total igual ou superior a
70% dos atores entrevistados, em cada grupo, tenham destacado uma unidade como existente
no macroambiente, a mesma foi listada como existe (E); caso o número de afirmações
positivas sobre a existência de uma unidade tenha ficado entre 30% até 69%, a mesma foi
classificado como existe parcialmente (EP); abaixo de 30%, tal unidade foi listada como não
existe (NE) no macroambiente.

2 - Práticas de trabalho institucional versus existência segundo os grupos de atores


entrevistados. Para apresentar os resultados sobre a existência das dez práticas de trabalho
institucional em cada um dos setores entrevistados, as unidades de análise foram agregadas.
Nos casos em que uma prática de trabalho, por exemplo, a advocacia, tenha mais de uma
unidade de análise, apenas uma dessas unidades classificada como existe já foi suficiente para
assinalar tal prática como “E”, visto que tais unidades de análise não são dependentes e, sim,
indicações de ações características de sua realização (Lawrence & Suddaby, 2006). Se a
classificação máxima das unidades de análise, relacionadas à determinada prática, estiverem
listadas como existe parcialmente, a prática correspondente é assinalada como “EP”. No caso
de todas as ações serem não existe, a prática é classificada como “NE”. Esta análise foi
realizada para cada um dos setores.

Com base neste último resultado: práticas de trabalho institucional versus existência
segundo os grupos de atores entrevistados, é observado o macroambiente de MS como um
todo, ou seja, agrega-se todos os grupos de respondentes em apenas um. No caso de a maioria
dos setores estarem listados com resultado semelhante, a classificação final seguiu a
classificação predominante. Por exemplo, no caso de uma prática estar listada como “existe”,
83

em quatro ou três setores, considerou-se que esta prática, existe, no macroambiente. O mesmo
raciocínio foi utilizado para as outras classificações, existe parcialmente e não existe. Nos
casos em que dois setores estão classificados como não existe ou existe, e dois setores como
existe parcialmente, optou-se por avaliar o macroambiente de acordo com a classificação
“extrema”. Nos casos em que dois setores estão listados como existe e dois como não existe,
classifica-se como existe parcialmente.

Para determinar o nível de incidência de uma prática de trabalho institucional como


inibidora a adoção de produtos IoT, etapa 2, utilizou-se, como critério de classificação
qualitativa, o número de respostas positivas para cada unidade investigada, ou seja, sua
indicação pelos entrevistados como uma prática capaz de influenciar diretamente na intenção
de adoção de produtos IoT. Caso uma unidade analisada tenha recebido 80% ou mais de
respostas positivas sobre seu papel inibidor, a mesma foi qualificada como de nível inibidor
Alto; entre 79% até 50% de respostas positivas foi qualificada como nível Médio; entre 49%
até 10% classificada como nível Baixo; abaixo de 10% é vista como Inexistente como
inibidor.

Uma das inovações apresentadas por esta pesquisa é a proposição de um modelo


teórico metodológico conceitual, Quadro 14, utilizado como metodologia para priorização de
práticas de trabalho institucional voltadas ao fomento de inovações tecnológicas disruptivas,
em diferentes áreas. Com base nesse modelo metodológico é possível elaborar um framework
teórico-conceitual sobre o papel de práticas de trabalho institucional no fomento a tecnologias
disruptivas, adaptado ao campo empírico investigado na pesquisa. A lógica estabelecida para
priorizar as práticas de trabalho institucional, considera, primeiramente, o nível como inibidor
a adoção da tecnologia (alto, médio ou baixo) e, segundamente, os resultados da existência ou
não de determinada prática, dentro do macroambiente observado.
84

Quadro 14: Modelo teórico metodológico conceitual para caracterização qualitativa da


priorização de práticas de trabalho institucional

Caracterização qualitativa para priorização de práticas de trabalho


institucional
Nível como inibidor Existência no Macroambiente Nível de priorização
Alto Não existe Nível 1
Alto Existe parcialmente Nível 2
Alto Existe Nível 3
Médio Não existe Nível 4
Médio Existe parcialmente Nível 5
Médio Existe Nível 6
Baixo Não existe Nível 7
Baixo Existe parcialmente Nível 8
Baixo Existe Nível 9
Fonte: Elaborado pelo autor.

Ao utilizar os critérios determinados tem-se a seguinte análise: considerando as


práticas listadas no nível alto como inibidor: caso a mesma não for realizada no
macroambiente, o nível de prioridade será 1; caso exista parcialmente, será classificada como
nível 2; em casos que uma prática é listada como existente, a mesma é classificada no nível 3.
Para as práticas de trabalho institucional listadas no nível médio como inibidor: caso não for
realizada no macroambiente, o nível de prioridade será 4; caso exista parcialmente, será
classificada no nível 5; ao ser identificada como existente, a mesma será classificada no nível
6. Processo similar de classificação foi estabelecido para as práticas de trabalho que possuem
nível baixo como inibidor, até que a prática existente seja listada no nível 9. Assim, quanto
mais uma prática de trabalho for considerada inibidora, entretanto for menos realizada pelos
atores institucionais, mais prioritárias são as ações institucionais exigidas.
85

4 CAPÍTULO IV – APRESENTAÇÃO DOS RESULTADOS

Neste capítulo, são apresentados os resultados da Etapa Empírica 1, realizada com


atores institucionais do macroambiente do estado de MS e do governo Federal, ligados direta
ou indiretamente à adoção da IoT na bovinocultura de corte, no estado de MS. Também são
apresentados os resultados da etapa 2, na qual foram realizadas entrevistas com fazendas de
bovinocultura de corte que adotam ou não produtos IoT, voltados para o setor. Como
resultados, apresentam-se o mapeamento dos atores que estão atuando na institucionalização
da IoT, as práticas de trabalho institucionais realizadas até o momento e as práticas inibidoras
à adoção desta tecnologia.

4.1 MAPEAMENTO DOS ATORES INSTITUCIONAIS NO MACROAMBIENTE


DO ESTADO DE MS

A seguir, são apresentados os atores institucionais entrevistados (Figura 5), assim


como as ações desenvolvidas pelos mesmos que impactam direta ou indiretamente a adoção
da IoT na bovinocultura de corte, no estado de Mato Grosso do Sul. Os atores entrevistados
foram divididos em quatro grupos que representam: instituições de ensino médio e superior,
federais, estaduais ou privadas; atores da iniciativa privada, em qualquer área de atuação, que
realizam atividades de comércio, assistência e outras, no estado de MS; atores do Setor
Público Estadual; e atores do Setor Público Federal.

Figura 5: Atores do macro ambiente institucional de Mato Grosso do Sul

Fonte: Elaborado pelo autor.


86

4.1.1 Atores do setor educacional

O SE01 faz parte do programa de expansão da rede federal de educação profissional,


científica e tecnológica, do Ministério da Educação (MEC). Implantada em 2017, a instituição
de ensino possui dez unidades em todo o estado de MS, região em que oferta formação inicial
e continuada, formação tecnológica, superior e de pós-graduação. O contato da instituição de
ensino com a aplicação da IoT na bovinocultura de corte acontece pelo desenvolvimento de
projetos de ensino e pesquisa dos quais o professor e pesquisador entrevistado participa. O
projeto em desenvolvimento é um colar de monitoramento dos bovinos, ainda em fase
experimental. Segundo o entrevistado, “eu desenvolvi um colar eletrônico para fazer o
monitoramento dos animais, mas não era só o monitoramento para saber onde o animal está
dentro da pastagem. Esse colar ele gera vários tipos de dados”. O colar funciona da seguinte
forma:

Então, tem um chipezinho do tamanho da ponta do dedo e eu integrei isso com


outros sensores, sensores de temperatura, sensor de umidade, com GPS. E aí o que
que a gente fez? A gente encapsulou isso num quadradinho, numa caixinha e
prendeu isso no pescoço do animal através de um cinto de couro. (SE01)
Além do colar eletrônico, ainda é desenvolvido, na instituição de ensino, outro projeto
de pesquisa, em parceria com o SE03 no qual foi criado um software para gerenciamento dos
dados coletados pelos equipamentos IoT, utilizados na fazenda-escola da organização
parceira.

A instituição salesiana de ensino superior, SE02, possui quase 30 anos de atuação no


estado de MS. Com sede em Campo Grande, a organização entrevistada oferta cursos de
graduação, especialização, mestrado e doutorado, em diferentes áreas do conhecimento. O
contato da instituição pesquisada com projetos de IoT para a bovinocultura de corte acontece
por meio da existência de uma incubadora de empresas que sedia e já sediou duas startups que
desenvolvem produtos com a referida tecnologia. Uma delas é o SP05, já graduada pela
incubadora; e a outra é o SP04, que ainda está incubada.

A universidade SE03 foi criada em 1994 e possui 15 campus espalhados pelo estado
de MS. Com oferta de cursos de graduação, especialização, mestrado e doutorado, a
organização entrevistada objetiva atender às necessidades da região e ajudar no
desenvolvimento tecnológico e social do estado. Ao realizar as entrevistas com docentes
pesquisadores da universidade, pôde-se identificar que a universidade tem um projeto de
zootecnia de precisão e um setor específico para bovinocultura de corte. Diante disso, o
contato da organização com a adoção da IoT para bovinocultura de corte ocorre em dois
87

momentos: primeiro, por meio dos aparelhos IoT instalados nos animais da fazenda
experimental da universidade, como se observa no comentário a seguir:

Então, além da identificação numérica visual, nós temos, hoje, também, a


identificação por bóton eletrônico que é por RFID a leitura. Nós usamos o sistema
da Allflex, uma parceria que nós fizemos com a empresa e ela nos forneceu um
leitor e nos forneceu um desconto na compra dos bótons e dos brincos, então a gente
tem usado isso. (SE03-2)
Essa iniciativa de adoção de tecnologias IoT, na fazenda experimental, está crescendo,
porém, segundo o SE03-2, “ela vem sendo evoluída de maneira lenta e a ferro e fogo, vamos
dizer assim, porque nós temos bastante resistência por parte dos funcionários, por parte dos
alunos e principalmente por parte financeira”. O segundo contado do SE03 com a IoT
acontece pela execução de um projeto de pesquisa, desenvolvido junto ao SE01, para
desenvolvimento de um software para gestão de dados que são coletados na fazenda-escola.

A universidade SE04 é uma instituição pública de ensino, pesquisa e extensão que, há


43 anos, oferta cursos de graduação e de especialização lato e stricto senso, no estado de MS.
O contato da instituição de ensino com projetos de IoT para a pecuária bovina foi apresentado
por dois olhares: um, de quem está em contato com o desenvolvimento de produtos e projetos
de pesquisa, com base nessa tecnologia; e outro, de quem tem a visão de pesquisador da área
de gestão.

O entrevistado SE04-1 é professor e pesquisador da universidade e realiza um projeto


de pesquisa no campus de Naviraí, no qual estuda sobre a adoção de tecnologias 4.0,
incluindo a IoT na agropecuária. O entrevistado, inclusive, publicou e apresentou um artigo,
como resultado inicial do seus estudos, no Encontro Internacional de Gestão,
Desenvolvimento e Inovação (EIGEDIN). Somando-se aos artigos publicados pelo
entrevistado, ainda foi possível encontrar, no banco de trabalhos da universidade, algumas
dissertações e teses publicadas por alunos e docentes da instituição sobre a temática da adoção
da IoT; seja de maneira ampla na agropecuária, seja em pesquisas específicas para a
bovinocultura de corte.

Outro projeto que envolve a adoção de IoT na pecuária foi apresentado pela
entrevistada SE04-2, professora e pesquisadora da área de computação. Segundo ela, há
alguns anos, na universidade, há um mestrado em computação aplicada que tem desenvolvido
estudos sobre a implementação da IoT na bovinocultura de corte. Conforme cita a
entrevistada SE04-2, diferentes projetos estão em elaboração dentro do programa de
mestrado:
88

A gente tem projetos nessa área, né? Estamos estudando, ainda, algumas formas de
como implementar a Internet das Coisas na pecuária, então, muitas das coisas ainda
estão em fase de projeto. Aqui na universidade tem o mestrado profissional que é
bastante voltado para a área da pecuária e a gente tem vários projetos junto com o
SPF01, pois a gente trabalha em conjunto com o SPF01. Até o projeto meu com o
Camilo, é justamente pra gente conseguir centralizar essas informações e montar
uma infraestrutura de IoT. (SE04-2)
Além das ações citadas anteriormente, a universidade ainda desenvolve, junto ao
SPF01 e ao SP02, protótipos de um alimentador automático, com tecnologia IoT, para
fornecimento de ração aos bovinos. Este projeto tem um aporte financeiro de mais de 353 mil
reais, captados pela universidade junto ao Ministério da Agricultura, Pecuária e
Abastecimento (MAPA) e cuja realização, segundo os pesquisadores, irá beneficiar a
comunidade científica, ao permitir que novas pesquisas sejam realizadas, além de funcionar
como um showroom para produtores e empresários que venham a conhecer a tecnologia e
queiram implantá-la em suas propriedades.

4.1.2 Atores do setor privado

O SP01 é uma empresa paulista de produtos agropecuários que atua nacional e


internacionalmente, há mais de 70 anos, no mercado da pecuária bovina. Em seu site
institucional, a empresa coloca-se como a maior da América do Sul no fornecimento de
troncos e balanças para bovinos, além de destacar seu objetivo que é contribuir para a
evolução da pecuária nacional, ofertando produtos inovadores que geram valor, eficiência,
segurança e bem-estar animal. Entre seus principais produtos, estão troncos para manejo e
balanças para pesagem de bovinos e de caminhões. Sua relação com a oferta de produtos para
pecuária de precisão está na disponibilização, ao mercado, de uma balança eletrônica de
passagem (Figura 6) que possui a IoT como tecnologia-base.

Essa balança é colocada entre o pasto e o cocho ou o bebedouro e possui um conjunto


de tecnologias como: antena de envio de dados via radiofrequência, painel fotovoltaico, placa
leitora de RFID, sensores, barra de pesagem e central de processamento de dados. Este
equipamento ajuda o produtor pecuarista a coletar e monitorar diariamente o ganho de peso
do rebanho. Essa balança de passagem, cujo nome comercial será mantido em sigilo, foi
desenvolvida em parceria com os entrevistados SPF01 e SE04 e permite a gestão da produção
pecuária da fazenda, por meio da coleta de informações diárias sobre os animais.
89

Figura 6: Balança de passagem

Fonte: Site da empresa.

O entrevistado SP02 é uma startup brasileira, sediada em Campo Grande, MS, que tem
como foco o desenvolvimento de soluções tecnológicas inovadoras, e que surgiu dentro do
organização entrevistada SE04. Atualmente, a organização está incubada na mesma
organização em que surgiu. Entre seus principais produtos, todos ainda em fase de teste, estão
dois baseados em IoT. O primeiro é uma plataforma de monitoramento bovino, desenvolvida
em parceria com o SPF01 e o SE04. Esta plataforma conta com dispositivos acoplados em
uma espécie de cabresto para coleta dos dados junto aos bovinos (Figura 7). Além disso,
possui equipamentos para transmissão, análise e apresentação dos dados coletados. As
principais informações coletadas, segundo o entrevistado, são “(...) algumas informações
fisiológicas do animal, como a temperatura do animal e frequência cardíaca e respiratória do
animal”.

Outro produto que ainda está em fase de teste e possui tecnologia IoT é um
equipamento de suplementação alimentar automatizado, que fica no meio do pasto,
fornecendo ração com horário e quantidade programados (Figura 8). Este produto está sendo
desenvolvido, também, em parceria com o SPF01 e SE04:

(...) é um dispositivo totalmente autônomo ali no pasto que tem comunicação com a
internet por meio de uma estação base. Então, todos os eventos que acontecem são
enviados para a estação base, ela envia esses dados para a nuvem e por meio da
estação base é possível configurar o equipamento e fazer o monitoramento da
suplementação de todos os lotes. (SP02)
90

Figura 7: Equipamento para monitoramento de informações fisiológicas e comportamentais


de bovinos

Fonte: Santos (2019).

Figura 8: Equipamento de suplementação alimentar automática para bovinos

Fonte: UFMS (2022)

O SP03 é uma empresa mineira, criada em 2012, com o objetivo de desenvolver e


disponibilizar ao mercado soluções para pecuária de precisão. Atualmente, possui mais de 200
mil animais monitorados, mais de 2 mil equipamentos instalados e clientes em diferentes
países como Brasil, Argentina e Austrália. A organização entrevistada fornece para
produtores, empresas, universidades e centros de pesquisa, equipamentos e tecnologias IoT
como: bebedouro eletrônico, balança de pesagem eletrônica, cocho eletrônico e gaiola de
91

metabolismo, utilizados para prestação de quatro tipos de serviço diferentes, voltados tanto ao
mercado como para desenvolvimento científico.

Entre os dois principais serviços prestados pela empresa para a bovinocultura de corte,
(cada serviço possui um nome comercial que será mantido em sigilo) estão: o primeiro
serviço é realizado com a balança de pesagem eletrônica voluntária e funciona instalando o
equipamento em frente a um bebedouro no curral. A balança reconhece o animal por meio do
brinco eletrônico e envia automaticamente as pesagens coletadas para a nuvem que armazena
estas informações e as envia, em tempo real, para um sistema que realiza a análise estatística,
gera alertas e dá suporte para as tomadas de decisão. O dispositivo utilizado para a prestação
desse serviço é similar ao do SP01.

O segundo serviço prestado é a prova de eficiência alimentar, realizada para seleção de


animais reprodutores de alta qualidade genética, realizado com a instalação de dois
equipamentos IoT, a saber, a balança voluntária e o cocho eletrônico, funcionando da seguinte
forma: o cocho e a balança reconhecem cada animal através do brinco eletrônico, por meio de
leitores RFID, e enviam, de maneira automática, os dados da alimentação e peso para a
nuvem que armazena e envia estas informações para o sistema. A Figura 9 e a Figura 10,
apresentadas a seguir, trazem imagens da utilização, in loco, dos equipamentos, em uma
fazenda na cidade de Terenos, MS. O sistema realiza a análise estatística, gera alertas e
disponibiliza as informações para tomada de decisão. Nas palavras da entrevistada, “Eu já
adianto para você que em eficiência alimentar nós temos noventa e seis por cento do mercado.
Então, com certeza nós somos a referência”.

Figura 9: Cocho eletrônico para mensuração do consumo bovino

Fonte: Acervo pessoal do autor (2022).


92

Figura 10: Balança voluntária de pesagem e brinco com leitura por RFID

Fonte: Acervo pessoal do autor (2022).

O SP04 é uma startup sul-mato-grossense, iniciada em 2021, que surgiu da união de


especialistas em desenvolvimento de soluções para pecuária de precisão. Em conformidade
com a proprietária entrevistada, “Seu principal objetivo é desenvolver e comercializar
soluções tecnológicas para apoiar pecuaristas na biometria de bovinos de forma inovadora,
fácil e apoiada em Visão Computacional e Inteligência Artificial”. A intenção da startup é
desenvolver produtos para que, em “um mundo conectado”, palavras da entrevistada, seus
produtos possam utilizar tecnologia IoT para facilitar a prestação de seus serviços. Entre os
produtos que a startup pretende oferecer ao mercado, estão: sistema de identificação de
bovinos, sistema de estimativa de massa de bovinos, sistema de classificação de escore
corporal de bovinos para classificar ponto de abate e Software para contagem automática de
bovinos. Atualmente, a startup está incubada na incubadora de empresa do SE02.

O SP05 também é uma startup sul-mato-grossense, iniciada em 2016, que fornece ao


mercado equipamentos de pesagem automatizados, voltados para pecuária de precisão (Figura
11). Baseados na tecnologia IoT, os equipamentos de pesagem são aplicados em dois
sistemas: (1) sistema de pesagem estática, no qual a balança é acoplada em frente ao
bebedouro, em baias de confinamento ou praças de alimentação a pasto; e (2) sistema de
pesagem dinâmica, em que as balanças, denominadas balanças de passagem, coletam os dados
da pesagem dos animais, enquanto eles se locomovem de um local de alimentação para um
bebedouro ou vice-versa. Conforme o site da organização, a empresa apresenta-se como
93

jovem, atenta ao mercado e às novas tecnologias que desenvolvem serviços e tecnologias


descomplicadas, acessíveis, de fácil instalação e manutenção para os pecuaristas. A empresa
tem como objetivo, com o mínimo de intervenção humana, realizar o monitoramento dos
animais, auxiliando na tomada de decisão, na pecuária intensiva. A empresa já conta com
mais de 5 mil animais monitorados e quase 40 equipamentos instalados em diferentes estados
do Brasil, incluindo o MS, e no Paraguai.

Figura 11: Balança voluntária de pesagem com leitura por RFID

Fonte: Site da empresa.

O SP06 é uma organização brasileira privada, de serviço social, sem fins lucrativos,
que presta apoio às micro e pequenas empresas desde 1972. Com objetivo de capacitar e
promover o desenvolvimento econômico e competitivo das empresas assistidas, a organização
fornece cursos de capacitações, consultoria e outros diferentes serviços que estimulam o
empreendedorismo no Brasil. Trata-se de uma organização nacional, que possui unidades
administrativas e educacionais em todos os estados do país, desenvolvendo ações específicas
para cada região. A organização entrevistada não possui, em Mato Grosso do Sul, projeto
exclusivo voltado à IoT, contudo esta tecnologia permeia as atividades de inovação da
organização. Isso ocorre, pois a mesma tem como papel ofertar ambientes de inovação no
estado os quais podem receber diferentes tipos de ideias e projetos inovadores, até projetos
voltados à adoção da IoT para a bovinocultura de corte.

Entre as principais ações desenvolvidas que podem receber projetos de IoT, estão o
laboratório de inovação, editais de fomento à inovação, lançados nacionalmente, e a criação
de ecossistemas de inovação, nas diferentes cidades do estado de MS. Segundo a entrevistada:
94

Dentro do trabalho que eu estou realizando nós estamos fomentando a implantação


de ecossistemas de inovação aqui no estado. (...) Quando a gente mapeia a gente
coloca, verifica, um planejamento estratégico para aquela região, para aquele
município para fomentar o ecossistema. (SP06)
De acordo com a entrevistada, algumas cidades no estado como Dourados, Campo
Grande, Três Lagoas e Chapadão do Sul, já estão na fase de construção do planejamento para
instalação do ecossistema de inovação. Cada cidade ou região tem setores definidos para atuar
junto ao ecossistema e, como o estado se destaca na produção rural, o setor do agronegócio
está presente em todos os ecossistemas em planejamento atualmente. A entrevistada destaca
que a ideia do ecossistema é integrar diversos atores públicos e privados da região para que,
juntos, possam desenvolver projetos inovadores: “E aí existem algumas ações que começam
quando as instituições elas começam a conversar e a gente aproxima cada vez mais e quebra
essas barreiras, daí elas começam a fazer ações em conjuntos” (AEI10).

O SP07 é uma das 27 organizações sindicais de grau superior que integram a


Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil. Esta organização é uma sociedade criada
em 1977, com personalidade jurídica própria de direito privado, que atua como federação da
agricultura e pecuária no estado de MS. Com sede em Campo Grande, a organização
congrega atualmente 69 sindicatos rurais e atua com foco no desenvolvimento sustentável do
agronegócio do estado. Seu contato com a IoT ocorre de maneira indireta, pelas ações de
inovação para o agro desenvolvidas pela organização. Entre essas ações, estão a realização de
eventos ligados à Rede Nacional de Inovação para o Agronegócio e à posse de uma cadeira na
Câmara Agro 4.0.

4.1.3 Atores do setor público estadual

O SPE01 trata-se de uma fundação do estado de MS, que desenvolve projetos de


apoio ao desenvolvimento do ensino, ciência e tecnologia e diretamente ligada ao SPE02
como executora das ações da secretaria: “Geralmente quando a gente vai fazer ações, editais
de pesquisas, de apoio, contratação de estagiários, a gente faz através do SPE01. (...) A SPE02
quando vai fazer aportes pra apoio a pesquisa faz através do SPE01” (SPE02-1). Assim como
a secretaria à qual a fundação está ligada, os projetos executados não são destinados
exclusivamente à IoT. No entanto, em sua aplicação na pecuária, a IoT já está presente como
tecnologia contemplada nas ações realizadas pelo SPE01. De acordo com o diretor presidente
da fundação, os projetos lançados destinam-se a fomentar desde pesquisas científicas e ideias
inovadoras, até mesmo empresas já em início de mercado. Entre as ações executadas, estão a
realização de eventos científicos destinados à divulgação de tecnologias 4.0 no agronegócio e
95

“linhas de fomento para o capital humano”, nome dado pela fundação às bolsas de estudo
concedidas para alunos de ensino médio, graduação, mestrado e doutorado.

Outra ação de relevância para o estado é o lançamento de editais para subvenção


econômica, conforme explica o entrevistado SPE01: “Hoje o estado junto com a FINEP e
outros órgãos podem fomentar empresas, novas empresas ou quem tá começando somente
com a ideia via subvenção econômica que é o recurso que você só quer prestação de contas
em relação ao resultado”. Entre os exemplos desses editais, estão o Centelha, já na sua
segunda edição, em 2022; e o Tecnova:

Tem o que a gente chama de economias do futuro, que tem até em outra área, que
são o projeto Centelha e agora o Tecnova que são as subvenções econômicas e os
bônus tecnológicos. Se você observar os nossos editais do Centelha essas
tecnologias já estão presentes. Blockchain está sempre presente, Internet das Coisas,
machinelearning também, inteligência artificial, Bigdata, todos já estão previstos
nesses editais. (SPE01)
Entre os entrevistados do setor público do estado de Mato Grosso do Sul, está o
SPE02, uma secretaria do estado, responsável por projetos em todas as áreas de
desenvolvimento agropecuário, inclusive, ciência, tecnologia e inovação. De acordo com o
SPE02-2, esta secretaria “executa toda a parte de projetos junto a FINEP2 e CNPq3. Então, a
gente escreve os projetos e capta recurso financeiro e também a gente realiza feiras e eventos
ligadas a ciência e tecnologia”. As ações do ator entrevistado, voltadas à adoção da IoT na
pecuária, não são exclusivas para a tecnologia, no entanto projetos que utilizam a IoT na
bovinocultura de corte podem ser contemplados, em razão da amplitude das tecnologias
aceitas pelos programas lançados. Entre essas ações, constam feiras de inovação para o agro,
eventos sobre tecnologias 5G e editais de subvenção econômica:

A gente tem inclusive trabalhado junto com o Ministério da Agricultura. O


Ministério da Agricultura tá querendo trazer agora pra Ponta Porã uma
demonstração da tecnologia 5G aplicada aí no setor rural, não vou falar nem na
agricultura, nem na pecuária, mas ela tá programando agora pra até o final do ano
fazer essa demonstração lá no IFMS de Ponta Porã. (SPE02-1)
Então a gente como ciência e tecnologia fez o levantamento do que nós tínhamos de
atuação e atividade no estado que já estaria pronto para 5G e o que poderia ser
demonstrado embaixo da antena, né? Então, a gente fez esse levantamento dos
brincos, os colares, as máquinas, as contagens de rebanho. Então, a gente fez esse
mapeamento de ações de IoT para poder se fazer esse demonstrativo lá em Ponta
Porã que a gente mandou o projeto para o Ministério da Comunicação ver se aprova
ou não para a gente fazer esse evento. (SPE02-2)

2
A Financiadora de Estudos e Projetos (FINEP) é uma empresa pública brasileira de fomento à ciência,
tecnologia e inovação em empresas, universidades, institutos tecnológicos e outras instituições públicas ou
privadas, sediada no Rio de Janeiro. Fonte:
3
Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (até 1974, Conselho Nacional de Pesquisas,
cuja sigla, CNPq, se manteve) é uma entidade ligada ao Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovações (MCTI)
para incentivo à pesquisa no Brasil. Fonte:
96

4.1.4 Atores do setor público federal

O ator institucional entrevistado, SPF01, é uma empresa pública de pesquisa


agropecuária, ligada ao SPF02. Com mais de 40 centros de pesquisa espalhados pelos Brasil,
possui, em Campo Grande, MS, uma unidade de pesquisa para gado de corte, referência em
todo o mundo. Atuando como centro de integração entre as instituições de formação superior,
escolas agrotécnicas e empresas do setor do agro, o SPF01 tem desenvolvido, ao longo dos
anos, diferentes trabalhos, utilizando a Internet das Coisas para processos de monitoramento e
controle de bovinos de corte: “Em relação ao que a nossa instituição tem feito, a gente tem
uma área inteira que iniciou a cerca de vinte anos atrás na linha de pecuária de precisão, tá?
Que são os primórdios da chamada pecuária digital”. O entrevistado ainda lista algumas
iniciativas desenvolvidas junto com parceiros, ao longo desse período:

Então, lá atrás a gente começou já com o desenvolvimento inclusive de hardware


que hoje são componentes de IoT, chamados objetos inteligentes. A gente começou
lá atrás utilizando a identificação por meio do chip bólos que é o chip intra-ruminal e
brincos. E a partir dessa pesquisa inicial a gente também começou com a balança de
passagem dentro do mangueiro digital. (...) Então a gente tem toda uma área, o
mangueiro digital, que é um complexo de campos experimentais e laboratórios.
(SPF01)
A balança de passagem, citada no trecho anterior, é um produto desenvolvido pela
empresa, junto com o SP01 e o SE04. O produto já está disponível ao mercado e consolida-se
como um dos principais do SP01. O entrevistado destaca também que “a gente pode dizer que
esse foi o primeiro projeto, o primeiro produto IoT que nós tivemos dentro do SPF01 e dentro
da pecuária brasileira”.

Além das parcerias temporárias voltadas ao desenvolvimento específico de produtos


baseados em IoT, o entrevistado ainda destaca a parceria perene que possui com o SE04, por
meio da qual ambos comandam uma área de pesquisa que recebe, todo ano, alunos de
mestrado que desenvolvem tecnologias de computação aplicada à pecuária. O entrevistado
acrescenta que, recentemente, o SPF01 firmou importante parceria com a HUAWEI, empresa
chinesa de tecnologia, e com o Centro de Pesquisa e Desenvolvimento em Telecomunicações
(CPQD), empresa de telecomunicações brasileira, para desenvolvimento de outro projeto
voltado a IoT:

Então, essa parceria tripartite tá possibilitando que a gente crie dentro da unidade um
campo experimental com rede IoT e esse campo ele vai utilizar algoritmo de
inteligência artificial para monitorar bem-estar animal e predizer ganhos de
produtividade como uma fase 1 do projeto, mas a nossa ideia é que esse projeto
persista. (SPF01)
97

O respondente SPF02, trata-se de um ministério do poder Executivo Federal que tem


como competência a formulação e implementação de políticas para o desenvolvimento do
agronegócio no Brasil. Com mais de 160 anos de atuação, o SPF02 exerce suas atividades nos
estados brasileiros, por meio das Superintendências Federais de Agricultura e, também, por
órgãos vinculados à entidade como, por exemplo, o SPF01. O trabalho executado com base na
IoT é realizado de maneira transversal e não direcionado a uma cadeia produtiva específica,
como afirma o coordenador do departamento de apoio à inovação agropecuária:

Eu vou lhe falar de maneira transversal. A gente não escolhe uma cadeia específica.
(...) Assim que a gente chegou, a gente procurou fazer alguns estudos de cenários
futuros e definiu cinco eixos estratégicos de atuação na área de inovação do
ministério: sustentabilidade; bioeconomia; inovação aberta; agricultura digital e
foodtechs. (SPF02)
Dentro do planejamento realizado para as atividades relacionadas à IoT,
desenvolveram-se algumas iniciativas, entre elas, a criação, em parceria com o SPF03, da
Câmara Agro 4.0. Nas palavras do entrevistado, dentro do site da Câmara, “(...) tem uma série
de documentos e o principal deles que pode servir de subsídio para teu trabalho é o plano de
ação da Câmara Agro 4.0, pois ele leva em consideração, primordialmente, a implementação
do Plano Nacional de Internet das Coisas”.

O Plano Nacional de Internet das Coisas, de responsabilidade do SPF03, é transversal,


abrangendo áreas como cidade, indústria, saúde e agropecuária. Conforme afirma o
entrevistado: “Nós, SPF02, somos responsáveis pela implementação da ação focada no plano
de implementação da IoT na questão do agro e a câmara foi construída para isso, como um
instrumento de implementação”. São mais de cem instituições públicas e privadas que
participam das reuniões da Câmara Agro 4.0, levando demandas para o setor e contribuindo
com o planejamento e a realização de estratégias de inovação para toda a agropecuária
nacional.

Além da criação da câmara, o SPF02 ainda realiza outras ações como, por exemplo, a
abertura de editais, junto a órgãos como a ABDI, FINEP e BNDES, para apoiar ideias e
empresas que estejam desenvolvendo projetos de inovação para o agro. Outra ação destacada
pelo entrevistado é a busca por estabelecer, fomentar e fortalecer ecossistemas regionais, em
cidades ou regiões, voltados à inovação agropecuária no país. Para o estado de Mato Grosso
do Sul, foi celebrado um “protocolo de intenções”, com todo estado, pois existiam algumas
iniciativas dispersas e, por isso, fazia mais sentido ao SPE02 celebrar esse acordo, de maneira
conjunta.
98

Sendo as ações do ministério para o agro transversais, o objetivo da organização é


construir um ambiente favorável para que todos os tipos de tecnologias sejam fomentadas,
inclusive a IoT. Assim, com vistas a disseminar essas informações sobre as inovações e
projetos que estão sendo realizadas em todo o país, criou-se o portal Agrohub Brasil:

A gente percebeu que nos últimos três anos teve uma revolução nessa questão de
agricultura digital só que as informações não estavam muito fáceis de visualizar e
então, a gente criou e lançou no começo do ano um portal Agro Hub Brasil. Lá a
gente tem um conjunto de informações de quais são os ambientes de inovação, são
mais de cinquenta, os hubs existentes e as aceleradoras focados em agropecuária.
Tem também quais são os ecossistemas regionais que a gente tem trabalhado e
quais são as startups. (SPF02)
Por fim, o SPF03 é, assim como o entrevistado anterior, parte de um ministério do
poder Executivo Federal. Criado em 1985, este ministério é responsável por formular e
implementar a política nacional de ciência e tecnologia no país. Suas ações, direcionadas à
IoT, começaram em 2016, com a realização de um estudo chamado “Internet das Coisas, um
plano de ação para o Brasil”, realizado em parceria com o Banco Nacional de
Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES). Depois da conclusão e publicação do
estudo, foi lançado o Plano Nacional de Internet das Coisas, que definiu quatro verticais de
atuação no país: cidade, indústria, saúde e agropecuária.

Durante a entrevistada, foram citados diferentes projetos em nível nacional para apoiar
iniciativas de inovação nas quatro verticais estabelecidas pelo plano de IoT. No entanto, essas
ações são abrangentes e perpassam diferentes tipos de tecnologia e áreas de implementação,
sendo assim não são realizados projetos específicos em nível nacional para a IoT, assim como
a aplicação destes na pecuária de corte. Os mesmos podem, ou não, ser contemplados, já que
os editais possuem um leque de tecnologias atendidas. Cabe ao SPF03:

A gente trabalha mais... a nossa área do ministério é pesquisa, desenvolvimento e


inovação, entendeu? A nossa função aqui é apoio a pesquisa. (...) O que a gente tenta
resolver é buscar recursos para ajudar essas outras instituições que estão mais com a
mão na massa lá no agro, como o SPF02, SPF01 e outras. Ajudar a buscar soluções
por meio de recursos e também que a gente possa fazer pesquisa, porque o nosso
objetivo aqui é pesquisa, desenvolvimento em inovação. É isso que a gente faz aqui.
(SPF03)
Em 2020, o ministério criou a Coordenadoria Geral de Transformação Digital, que
possui, como pano de fundo, a estratégia brasileira de transformação digital. Uma das
principais ações realizadas por essa coordenadoria foi a criação das câmaras destinadas a cada
uma das verticais do plano nacional de IoT; entre elas, uma específica para o agro, gerida em
parceria com o SPF02. Sendo assim, as ações realizadas pelo entrevistado mais direcionadas à
IoT e à aplicação da mesma na pecuária de corte são realizadas por meio da Câmara Agro 4.0.
99

4.2 REALIZAÇÃO DE TRABALHO INSTITUCIONAL NO ESTADO DE MS

As análises apresentadas a seguir buscam identificar a existência de práticas de


trabalho institucional, de acordo com a análise da fala de cada um dos atores institucionais
entrevistados e dos dados secundários. Como anteriormente destacado, a forma de codificação
dos dados empíricos foi dedutiva e seguiu como base as práticas de trabalho institucional
elencadas pelos autores Lawrence e Suddaby (2006), as quais dividem os diferentes tipos de
trabalho institucional em três categorias amplas: trabalho político; trabalho cultural e trabalho
técnico; e em nove práticas diferentes: advocacia, definição, aquisição, construção de
identidade, mudança de associações normativas, construção de redes normativas, mimetismo,
teorização e educação. Vale destacar que, mesmo a codificação sendo orientada de forma
dedutiva, deixou-se aberta a possibilidade de novas formas de trabalho institucional
emergirem dos dados. Diante disso, os resultados da análise de conteúdo destacam a
identificação de uma nova prática de trabalho realizada pelos atores, a “Pesquisa e
Desenvolvimento”.

Cada entrevista e documento tiveram o respectivo conteúdo codificado para


identificação da realização e existência das práticas de trabalho citadas anteriormente.
Visualiza-se, no Quadro 15, a frequência com que cada uma dessas práticas é destacada pelos
entrevistados. Os códigos, com maior frequência, foram a advocacia, construção de redes
normativas, P&D e definição.

Quadro 15: Frequência de citações para cada prática de Trabalho Institucional

Prática de Trabalho Institucional Frequência de citações


Advocacia 152
Definição 59
Aquisição 37
Construção de identidade 49
Mudança de associações normativas 17
Construção de redes normativas 86
Mimetismo 17
Teorização 41
Educação 49
Pesquisa e Desenvolvimento (P&D) 75
Total 582
Fonte: Dados da pesquisa
100

4.2.1 Trabalho Político

Ligado principalmente ao pilar regulatório, o trabalho político possibilita construir


regras e regulamentos que permitirão a defesa de uma nova instituição para outros atores
(Binz et al., 2016; Perkmann & Spicer, 2008). Essa defesa ocorre, ao se realizar atividades
como persuasão social, acesso a recursos, definição de limites e investidura de papéis e
direitos específicos a determinados atores, interessados na criação de uma nova instituição
(Lawrence & Suddaby, 2006; Perkmann & Spicer, 2008). As práticas de trabalho
institucional, ligadas ao trabalho político, são Advocacia, Definição e Aquisição. O Apêndice
G permite a visualização de quais atores institucionais entrevistados apontam conhecer a
realização de ações ligadas diretamente ao trabalho político, no estado de MS.

4.2.1.1 Advocacia

As ações listadas pela literatura que caracterizam a advocacia são apoio político e
regulatório; realização de lobby por recursos; promoção de agendas; e proposição ou ataque à
legislação existente.

Ao realizar a análise dos dados com foco na identificação de ações de apoio político e
regulatório, constatou-se que treze atores entrevistados dizem ter conhecimento de projetos
dessa natureza. Contudo, a falta de apoio político por parte do estado de MS foi um destaque
recorrente nas falas dos entrevistados. Diferentes atores relatam sentir falta de ações do
governo, voltadas especificamente à IoT ou que pelo menos que contemplem esta tecnologia.
Tal descontentamento é corroborado pelo próprio SPE02, órgão do governo do estado, que
cita serem pequenas as iniciativas no estado. As poucas ações visualizadas em nível estadual
são apresentadas a seguir.

De acordo com os entrevistados SPE01 e SPE02, o apoio político realizado em nível


estadual é desenvolvido em colaboração com o setor público estadual. No entanto, as práticas
realizadas pelos atores citados não são exclusivas à tecnologia IoT e nem à bovinocultura de
corte. A escolha por destacar esses programas como ações de apoio político relevantes à
institucionalização da IoT na bovinocultura de corte ocorre, justamente, pela diversificação
dos mesmos, o que permite que empresas e projetos que atuam nessa temática sejam
selecionados e contemplados.

O SPE01 cita o apoio a projetos de IoT, por meio de dois caminhos principais: o
primeiro, mediante editais de apoio à pesquisa, em diferentes níveis educacionais, como
menciona o entrevistado: “Aí você tem algumas linhas de fomento daquilo que a [SPE01]
101

chama de Capital Humano que são nossas bolsas: várias bolsas de mestrado, doutorado, pós-
doutorado. Na verdade já tem bolsas hoje desde o ensino médio, ensino superior também tem
bolsas”. A segunda forma de apoio político ocorre por meio da realização de programas
voltados a estimular a criação de empreendimentos inovadores e disseminar a cultura
empreendedora no estado de MS: Centelha MS e Tecnova. Esses programas são realizados
em parceria com o SPE02, como se pode observar na fala do entrevistado: “A gente fomenta
muito as inovadoras através de dois programas FINEP que a gente capta recurso, e a [SPE01]
aplica, que é o Centelha e o Tecnova. São subvenções econômicas sem devolução”.

O programa Centelha MS tem o objetivo de oferecer capacitações, recursos


financeiros e suporte para transformar ideias em negócios de sucesso. O programa é uma
iniciativa promovida pelo Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovações (MCTI), a
Financiadora de Estudos e Projetos (Finep), o Conselho Nacional de Desenvolvimento
Científico e Tecnológico (CNPq), o Conselho Nacional das Fundações Estaduais de Amparo à
Pesquisa (Confap), e a Fundação CERTI. Em Mato Grosso do Sul, a executada do programa é
o SPE01, com apoio do SPE02 e do Governo do estado de Mato Grosso do Sul.

Foram lançados dois editais Centelha MS; o primeiro, em 2019, no qual 30 projetos
foram selecionados e contemplados, com um aporte de 60 mil reais. Entre os projetos
contemplados, estão três que trabalham com IoT na agricultura e um com IoT na pecuária de
corte. Em 2021, foi lançada a segunda edição do Centelha MS, que ainda está em fase de
análise dos projetos submetidos. De acordo com os editais preliminares, mais quatro projetos,
que trabalham com a temática da Internet das Coisas para a agropecuária, estão pleiteando o
apoio por meio da programa.

O programa Tecnova está na segunda edição, 2019, e objetiva promover o


desenvolvimento econômico, social e tecnológico do estado, estimulando as empresas a
propor projetos para produtos ou serviços inovadores. Como cita o SPE01, “O Tecnova é pra
quem já tem o produto, o serviço, o processo desenvolvido, ou pelo menos no protótipo. No
Tecnova ele pode receber até duzentos mil reais pra desenvolver o seu produto e serviço ou
processo inovador”. Em sua última edição, dois projetos de IoT para a bovinocultura de corte
foram contemplados, sendo eles, o SP02 e o SP05.

As ações de apoio político e regulatório, realizadas por entidades do governo estadual,


da qual os entrevistados SE01, 02, 03, 04, 06, 08, 09 e 10 dizem ter conhecimento, são o
Centelha MS e o Tecnova, apresentados anteriormente:
102

O Governo rodou dois editais e vai rodar o terceiro agora de forma estadual. Então
eles rodaram o Centelha, depois rodou o Tecnova que foi, se eu não me engano para
dez empresas. A gente foi selecionado como uma delas. A gente pegou duzentos mil
a fundo perdido pra desenvolver a nossa solução de balança móvel que está em
desenvolvimento. (SP05)
Eu tenho visto, como eu disse, alguns editais da [SPE01], por exemplo. Aí já tem o
Centelha também, né? Centelha MS tem trazido essa questão da inovação. Eu acho
que eles têm dado oportunidade sim, mas eu acho que precisa mais. (SE02-1)
Durante as entrevistas, algumas ações de apoio político, voltadas a IoT, também foram
identificadas em nível Federal. Os SPF02 e SPF03 listaram variadas ações realizadas em
conjunto por eles, em nível nacional, de maneira ampla quando se observa a aplicação da IoT.
Contudo, essa ações impactam todas os atores nacionais que queiram trabalhar com IoT para a
bovinocultura de corte. A primeira e mais conhecida delas é a realização do estudo “Internet
das Coisas: um plano de ação para o Brasil” que teve início em janeiro de 2017 e foi
encerrado com o lançamento do “Plano de Ação”, um documento que contém 60 iniciativas
propostas pela equipe gestora para quatro verticais diferentes: Cidade, Saúde, Rural e
Indústria.

Como forma de colocar em prática as ações traçadas pelo estudo sobre IoT, surgiu o
Decreto Nº 9.854, de 25 de junho de 2019, que institui o Plano Nacional de Internet das
Coisas e que dispõe sobre a Câmara de Gestão destinada a acompanhar a implementação do
Plano. Em agosto de 2019, lançou-se a Câmara Agro 4.0 que ficou responsável pela
implementação da ação focada do Plano de IoT, na questão do agro. Dentro da câmara, foram
assinados diversos protocolos de intenções com cidades, regiões e estados como, por
exemplo, o Mato Grosso do Sul, que visam criar ecossistemas regionais de inovação:

(...) a gente formaliza com esses protocolos mais como um instrumento de confirmar
assim os interesses, as intenções do que como uma exigência de que o estado se
comprometa com algo. É simplesmente entender que esse é o futuro e que a gente
tem que caminhar em conjunto e dar as condições para que as instituições de
pesquisa, as empresas e o produtor rural, principalmente, estejam dialogando para
construir essa agenda. Sem esse diálogo é difícil, não adianta. É nesse sentido aí que
a gente tem trabalhado, o político!! Não tem como, o papel do [SPF02] é política e
programas, mas quem executa são as universidades, são as instituições de pesquisas,
são os atores locais. (SPF02)
A existência de ações de Lobby4, no estado de MS, foram citadas por três atores
entrevistados, sendo que dois deles, declaram já ter realizado lobby junto ao governo do
estado; e o terceiro afirma ter conhecimento da realização de lobby por de outras empresas.

4
Lobby é a “atividade de pressão por parte de um grupo organizado, a fim de exercer influência no voto de
parlamentares, conforme determinados interesses”. Fonte: https://www.estadao.com.br/politica/lobby-entenda-o-
que-significa-e-o-que-e-permitido-fazer-no-brasil.
103

Um dos entrevistados comenta que conversou com o secretário de estado, responsável


pela Secretaria de Estado de Meio Ambiente, Desenvolvimento Econômico, Produção e
Agricultura Familiar (SEMAGRO), e com o diretor da Fundação de Apoio ao
Desenvolvimento do Ensino, Ciência e Tecnologia do estado de Mato Grosso do Sul
(Fundect), para apresentar sua empresa e solicitar apoio político na forma de editais e
chamadas públicas.

Outro entrevistado alega participar de reuniões que tratam de projetos de fomento à


inovação no estado de MS e ser o único representante, em diversas ocasiões, da iniciativa
privada. Para ele é fundamental a atuação ativa dessas empresas para que digam o que é
importante para elas. Este é um ponto que causa indignação ao entrevistado, conforme
podemos observar na fala do mesmo a seguir:

Até, por isso, teve reunião, tem umas duas semanas, de conversas sobre esse
movimento, daí só tinha eu de representante de empresa lá. Quarenta pessoas e o
resto era governo, era secretaria de inovação municipal, era pô, mas a gente tá
discutindo o que que deve ser beneficiado e o que deve ser de benefício para as
empresas, mas não tem empresa. Então assim, eu expus a minha situação, eu expus
as minhas necessidades (SP05).
Um terceiro entrevistado do setor privado indica não ter realizado a prática de lobby,
dentro do estado de MS, no entanto cita ter conhecimento de duas situações em que isso
ocorreu: a primeira, realizada por sindicatos rurais de alguns municípios do estado que
procuraram órgãos do governo estadual para solicitar políticas de capacitação dos
trabalhadores rurais para as tecnologias da agropecuária 4.0, entre elas, as fornecidas pela
empresa. A segunda, realizada por iniciativas privadas, com intuito de trazer o 5G de maneira
mais rápida e ampla para o estado.

Algumas práticas de lobby para a IoT são citadas por entrevistados como existentes
em nível Federal. Tais ações ocorrem frequentemente dentro da Câmara Agro 4.0, conforme o
SPF02:

A própria Câmara 4.0 é uma das instâncias onde isso acontece. Na câmara agro 4.0,
são mais de cem instituições, eu diria que oitenta por cento são representantes do
setor produtivo, mas eu não estou falando só de produtivo da pecuária e da
agricultura. Eu diria que maior parte das instituições que estão lá são das áreas de
tecnologia, operadoras, a questão de semicondutores da área digital, conectividade,
automação. (SPF02)
A promoção de agendas foi identificada na fala de seis entrevistados, sendo que três
deles declaram possuir uma programação de ações voltadas para IoT; e outros três referem,
apenas, ter conhecimento sobre a existência de agendas estaduais ou federais. Entre os três
atores entrevistados que afirmam possuir agendas de trabalho, dois deles, SPF02 e SPF03,
104

possuem ações traçadas para a IoT, no entanto estas são para todo o país e não direcionadas
exclusivamente à pecuária. O terceiro ator possui uma agenda de trabalho para o estado de
MS, contudo a mesma não é direcionada a IoT e, sim, à inovação de forma geral.

A agenda traçada pelo SPF03 diz respeito ao plano de ações estratégicas de 2021-
2024, definido pelo órgão do poder executivo federal para a Internet das Coisas no Brasil.
Essas ações estratégicas estão no site institucional do órgão e possuem 60 ações divididas
entre diferentes horizontais: Viabilidade Econômica; Regulatório, Segurança e Privacidade;
Infra. Conectividade e Interoperabilidade; Capital Humano; Inserção Internacional; e Ciência,
Tecnologia e Inovação.

O entrevistado SPF02, também um órgão do poder Executivo Federal, citou que


definiu diferentes agendas para a IoT no país. Uma dessas agendas destacadas na entrevista é
em relação ao papel que o órgão desempenha, com o objetivo de estabelecer, fomentar e
fortalecer os ecossistemas regionais de inovação agropecuária no país. Para isso, estão sendo
firmados protocolos de intenção com cidades, regiões e estados.

Outra agenda do SPF02 é com a conectividade na área rural. Segundo o entrevistado,


uma pesquisa do IBGE de 2017 estimou que 70% da área rural do país não têm cobertura de
internet. Diante desse dado, o entrevistado encomendou, junto à Escola Superior de
Agricultura “Luiz de Queiroz” (Esalq), um estudo, em 2019, no qual foram mapeados os
cenários possíveis de conectividade no ambiente rural. Como resultado, estimou-se que, para
que esse número seja reduzido a 50%, serão necessárias mais 4.400 torres de distribuição de
internet. Duas ações foram destacadas pelo entrevistado como maneiras de tentar reduzir o
problema de conexão no campo: a primeira foi a articulação com as entidades responsáveis
pelo leilão 5G: “O [SPF02] participou das discussões do edital para 5G e solicitou que fossem
inseridas contrapartidas nas rodovias federais, pois boa parte cortam o país e fazem parte da
logística agropecuária. E também em municípios com mais de seiscentos habitantes e boa
parte são rurais, são municípios rurais” (SPF02). A segunda refere-se à participação como
membro, com um assento fixo no Fundo Universal dos Sistemas de Telecomunicações
(FUST).

Uma terceira agenda, destacada pelo SPF02, é o plano de ação definido para a Câmara
Agro 4.0, entre os anos de 2021-2024, publicado no site da Câmara e que tem como
prioridade:

Nesse plano de ação temos quatro prioridades: Primeiro é o desenvolvimento


tecnológico de PDI, focado em agro 4.0; A segunda é a formação profissional em
105

capacitação, preparação da mão-de-obra para o futuro. Então, entra a análise das


matrizes curriculares dos cursos, proposição de cursos de capacitação desde o nível
técnico até a pós-graduação. Interlocução com os órgãos que definem isso, o MEC,
Conselhos Profissionais, entre outros; O terceiro tema é a integração das cadeias
produtivas e; o quarto tema é conectividade rural. (SPF02)
Como citado anteriormente, apenas um ator entrevistado referiu possuir agenda de
trabalho voltada para inovação no estado de MS, SP06. Essa é a mesma agenda da qual os
SP05, SP07 e SPF01 dizem ter conhecimento. A proposta de agenda do SP06 consiste no
desenvolvimento de ecossistemas de inovação, em cidades e regiões do estado de MS. Estes
ecossistemas têm como objetivo fortalecer e fomentar a inovação em diversas áreas, sendo a
principal delas o agronegócio que é um mercado importante, segundo a entrevistada:

Então assim, o ecossistema ele é composto aí por várias instituições, (...) composto
pela academia, por governo e o que puder participar em termos de governo do estado
como a FUNDECT, prefeituras, as empresas privadas e as instituições do sistema S.
Quando a gente mapeia a gente coloca, verifica, um planejamento estratégico para
aquela região, para aquele município para fomentar o ecossistema. (SP06)
Ao investigar a proposição de novas legislações e ou ataque as legislações existentes,
três atores entrevistados, SPE01, SPF02 e SPF03, relatam conhecer a existência de leis e
decretos voltados à IoT. Após pesquisa em sites na internet, no site do governo Federal e falas
de alguns dos entrevistados, identificou-se, sobre IoT, uma resolução, um decreto e uma lei;
todos em nível federal. No entanto, os mesmos não regem especificamente sobre a IoT na
pecuária e, sim, sobre a utilização desta tecnologia, em qualquer área dentro do território
nacional.

O primeiro aparato legal, criado para a IoT, foi o “DECRETO Nº 9.854, DE 25 DE


JUNHO DE 2019” o qual “Institui o Plano Nacional de Internet das Coisas e dispõe sobre a
Câmara de Gestão e Acompanhamento do Desenvolvimento de Sistemas de Comunicação
Máquina a Máquina e Internet das Coisas” (Decreto No 9.854, 2019, p. 10). Neste documento,
são dispostos alguns pontos como:

Art. 1º Fica instituído o Plano Nacional de Internet das Coisas com a finalidade de
implementar e desenvolver a Internet das Coisas no País e, com base na livre
concorrência e na livre circulação de dados, observadas as diretrizes de segurança da
informação e de proteção de dados pessoais.
Art. 4º Ato do Ministro de Estado da Ciência, Tecnologia, Inovações e
Comunicações indicará os ambientes priorizados para aplicações de soluções de IoT
e incluirá, no mínimo, os ambientes de saúde, de cidades, de indústrias e rural.
(Brasil, 2019, p. 10)
O segundo documento legal publicado foi a “RESOLUÇÃO Nº 735, DE 3 DE
NOVEMBRO DE 2020” que “altera o regulamento sobre exploração do serviço móvel
pessoal por meio de rede virtual, o regulamento geral de portabilidade e o regulamento geral
de direitos do consumidor de serviços de telecomunicações” (Resolução No 735, 2020, p. 5).
106

O terceiro e último documento legal, foi lançado pelo governo Federal, é a “LEI Nº
14.108, DE 16 DE DEZEMBRO DE 2020”, também conhecida como Lei da Internet das
Coisas. No entanto, a referida Lei não regula a Internet das Coisas (IoT) e, sim, refere-se à lei
de direito tributário que se aplica à IoT, com fins de reduzir a zero a alíquota de determinadas
taxas e contribuições para as comunicações realizadas de máquina a máquina. Com isso,
desde 1º de janeiro de 2021 e pelo período de cinco anos, as comunicações efetuadas por
objetos IoT não são oneradas com as mesmas taxas e contribuições que incidem legalmente
sobre a telefonia móvel e demais serviços de telecomunicações no Brasil.

Em relação a existência de um aparato legal sobre IoT no estado de MS, os


entrevistados afirmaram desconhecer a existência do mesmo; informação está confirmada
pelo SPE02-2: “Em termo de arcabouço legal a gente ainda não pensou nisso. Não surgiu
ainda a necessidade”. No entanto, para tecnologias e projetos de inovação em geral, o ator
institucional do estado de MS, SPE01, afirma existir um decreto local ligado ao marco legal
de ciência e tecnologia:

Com a lei, nós preparamos nosso decreto, foi o quarto estado a ter sua
regulamentação da lei de ciência e tecnologia do país, ou seja, desde 2018 nós
estamos aptos a aplicar de forma mais ágil, efetivo e moderna recursos utilizando o
marco legal de ciência e tecnologia. Isso dá uma flexibilidade de colocação do
recurso na mão do pesquisador ou da pessoa que recebe subvenção econômica de
forma mais rápida, ágil. (SPE01)
Em busca, na internet, foram identificados apenas dois aparatos legais no estado de
MS, voltados para inovação, embora não específicos à IoT. Estes documentos são: o Decreto
Estadual “Nº 15.116, DE 13 DE DEZEMBRO DE 2018”, e a “LEI Nº. 6.786, DE 9 DE
MARÇO DE 2022”, promulgada pelo poder Executivo de Campo Grande. A lei nº. 6.786, de
9 de março de 2022, institui a política municipal de desenvolvimento da inovação e tecnologia
no ambiente produtivo urbano e rural de Campo Grande (LEI n. 6.786, 2022). O Decreto nº
15.116 visa “Regulamentar a Lei Federal nº 10.973, de 2 de dezembro de 2004, no tocante a
normas gerais aplicáveis ao estado de Mato Grosso do Sul, e dispõe sobre outras medidas em
matéria da política estadual de ciência, tecnologia e inovação” (Decreto n. 15.116, 2018, p. 2).

4.2.1.2 Definição

Durante a análise das entrevistas, constatou-se a existência de três tipos de ações que
caracterizam o trabalho de definição: processos de acreditação formal, criação de padrões e
certificação de atores em um campo. De acordo com os resultados, não foram identificadas
ações de criação de padrões, nas falas dos atores entrevistados.
107

Ações relacionadas aos processos de acreditação formal foram citadas por sete atores
entrevistados, no entanto a acreditação observada ficou restrita à realização de projetos de
pesquisa com IoT que envolvam testes em animais. Na realização de pesquisas para
desenvolvimento de produtos IoT para a bovinocultura de corte, é necessário que os testes de
campo sejam liberados pelo comitê de ética da universidade ou pelo centro de pesquisa ao
qual o projeto está ligado.

No caso dos entrevistados SE03 e SE04, as universidades possuem um comitê de ética


que avalia e certifica os projetos próprios e, em parceria com terceiros, aqueles desenvolvidos
no âmbito da instituição de ensino. Este processo é observado na fala da entrevistada SE04-2:
“O que a gente tem para parte de pesquisa quando vai fazer experimentos com os animais é
que a gente tem que passar pelo Comitê de ética, esse tipo de coisa”. E do entrevistado SE03-
1:

A gente tem o CUA dentro da instituição, o comitê de ética no uso de animais. Para
a gente fazer a pesagem desses animais, trabalhar com os animais a gente precisa
dessa certificação, dessa aprovação do comitê de ética, porque queira ou não a
pesagem acaba causando um certo estresse para os animais. (SE03-1)
O governo do estado de MS, como cita o SPE02, não realiza ações de acreditação
voltadas para utilização da IoT: “as empresas não precisam passar por nada no estado,
absolutamente. Elas funcionam por conta e risco próprio. A única coisa que elas podem passar
pelo estado é se elas vão pegar recurso de crédito, por exemplo FCO em Mato Grosso do Sul”
(SPE02-2).

Ao se analisar a certificação de atores em um campo, foram identificados dois tipos


de certificações limitadas ao pedido de patentes e à utilização de componentes eletrônicos
para construção de produtos IoT. De acordo com o SPF01, “não existem certificações macro
para tecnologia IoT fornecida principalmente pelo governo, nem nada assim. Isso não”.
Segundo ele, isso ocorre, quando as empresas fabricantes de produtos IoT lidam com
determinadas tecnologias digitais como, por exemplo, sensores e equipamentos de
radiotransmissão. Neste caso, elas ficam sujeitas a regras da Agência Nacional de
Telecomunicações (ANATEL) as quais versam sobre a regulamentação desses equipamentos:

No caso da Anatel, (...) se você não tiver, por exemplo, o registro do rádio, o rádio
homologado pela Anatel, se você desenvolve um equipamento e não faz a
regulamentação devida junto a ANATEL, você não vai ter como comercializar ele
no Brasil, porque todos os equipamentos radiotransmissores eles precisam ser
homologados pela Anatel. (SPF01)
A segunda forma de definição ligada à certificação dos atores, refere-se ao registro de
patentes. Os atores SE01, SE04, SP01, SP02 e SPF01 dizem já ter solicitado alguma patente
108

referente às soluções tecnológicas, baseadas em IoT e desenvolvidas por eles. O pedido de


patente é importante para essas organizações, pois corresponde à certificação legal conferida
pelo Instituto Nacional de Propriedade Intelectual (INPI) que permite a exploração exclusiva
de inventos tecnológicos.

4.2.1.3 Aquisição

Na análise de conteúdo realizada sobre as entrevistas, buscou-se identificar três ações


destacadas pela literatura como possíveis, dentro da prática de aquisição: realocação de
direitos de propriedade; mudança de regras nas relações de mercado; e compartilhamento de
autoridade coercitiva ou reguladora. De acordo com os dados analisados, apenas o SPF03
afirma realizar alguma ação voltada à realocação de direitos de propriedade e ao
compartilhamento de autoridade coercitiva ou reguladora. Os demais entrevistados dizem
desconhecer e não realizar qualquer tipo de ação que se configura dentro da prática de
aquisição.

No caso específico do SPF03, entende-se que houve a prática de aquisição, pois foi
firmado, junto ao SPF02, um acordo de cooperação, no qual as ações nacionais voltadas para
a IoT no ambiente rural ficam a cargo do parceiro especializado em desenvolver políticas para
o ambiente do agronegócio. Conforme afirma a entrevistada: “É porque a câmara do agro, nós
fazemos a gestão junto com o [SPF02]. E a grande maioria das ações que são financiadas no
âmbito da Câmara do agro elas são executadas pelo [SPF02], [SPF01] e essas instituições que
são ligadas ao agro no Brasil”.

Como responsável, no país, pela execução do plano nacional para IoT, voltado para o
agro, cabe ao SPF02 realizar o planejamento estratégico para a área do agro; elaborar o plano
de ação; realizar parcerias para fomento da tecnologia; estabelecer, fomentar e fortalecer os
ecossistemas regionais de inovação agropecuária no país; fechar acordos de cooperação;
lançar editais e chamadas públicas para fomento de projetos de inovação; e a atuação no
âmbito regulatório. Estas ações são realizadas, a fim de se dar cumprimento ao plano de ação
elaborado para a Câmara Agro 4.0:

Quando questionados se algum órgão de regulamentação realizou mudanças nas


regras de relações de mercado para os produtos IoT, os atores entrevistados dizem
desconhecer e não existir ações como essa no ambiente institucional. Conforme comenta o
SE01, “se uma pessoa de fora quiser abrir uma empresa e começar a desenvolver produtos
IoT ela não vai ter problema nenhum”. Mesmo os órgãos da esfera federal referem não existir
109

ações como essas: “o [SPF02] não entra nessa seara em questão de mercado. Elas devem estar
regulares no país, ter CNPJ, todas as questões legais para construção de uma empresa.
Atender as questões tributárias, a legislação trabalhista, tudo isso”. (SPF02).

No entanto, ações que facilitam o acesso desses produtos IoT ao mercado da pecuária
são citadas pelo SE02 como algo que deveria acontecer. Quando questionado sobre quais
eram os principais problemas enfrentados para poder desenvolver e comercializar esses
produtos pelas empresas que trabalham com Internet das Coisas e pecuária de precisão, o
entrevistado cita que deveriam existir mecanismos, por parte do governo, que forcem a
adoção dessas tecnologias:

Uma questão é o acesso às vezes ao mercado. né? Essa é uma das questões. Outro
ponto é criar mecanismos que faça com que esses grandes produtores adotem esses
sistemas para gerar maiores informações sobre rastreabilidade e agregar valor ao
produto. (SE02)
As principais ações relacionadas à execução do trabalho político, identificadas nas
falas dos atores entrevistados e nos documentos publicados pelos mesmos, estão sintetizadas
na Figura 12, apresentada a seguir.

Figura 12: Síntese das práticas relacionadas ao trabalho político realizadas no macro ambiente
do estado de MS

Fonte: Dados da pesquisa.


110

Conforme as informações colhidas empiricamente, constatou-se, pela fala de


diferentes atores estaduais e federais, que a prática da advocacia possui mais ações realizadas
no macroambiente do estado de MS. As ações relacionadas à prática de definição são poucas
e realizadas principalmente por atores do setor público federal. Sobre às ações relacionadas à
prática de aquisição, constatou-se apenas a realizada pelo SPF03, que definiu, por meio de um
acordo de cooperação, a responsabilidade do SPF02 pela elaboração de ações estratégicas
relacionadas à IoT para o ambiente rural a nível nacional.

4.2.2 Trabalho Cultural

A segunda categoria de trabalho institucional voltada à criação de instituições,


trabalho cultural, possui três práticas destacadas pela literatura: construção de identidade,
mudança de associações normativas e construção de redes normativas. Estas práticas incluem
ações direcionadas a reconfigurar o sistema de crenças, papéis, valores e normas que
sustentam as instituições e a relação entre o ator e o campo onde este opera (Jespersen &
Gallemore, 2018; Lawrence & Suddaby, 2006). Por meio dessas práticas, estimulam-se
formas comuns de agir e de se comportar, o que possibilita enquadrar as instituições em
termos de valores mais amplos e comuns (Perkmann & Spicer, 2008). A análise das
entrevistas é apresentada no Apêndice H.

4.2.2.1 Construção de identidade

Durante a análise das entrevistas, foram investigadas duas ações relacionadas à


construção de identidade: desenvolvimento de novas profissões e reorientação de identidades.
Segundo os achados empíricos, a criação de novas profissões não foi uma ação realizada pelos
atores e nem observada como existente no ambiente. Em relação à reorientação de
identidades, treze entrevistados referiram ter ocorrido alguma alteração no perfil dos
profissionais existentes, seja nos que atuam no desenvolvimento de produtos IoT ou naqueles
que estão nas fazendas de bovinocultura de corte.

O desenvolvimento de novas profissões foi destacado, pela maior parte dos atores
entrevistados, como não necessário para que a adoção da IoT seja institucionalizada,
conforme retratado nas falas dos entrevistados SE01: “Eu acho que não precisa de novas
profissões, porque o que acaba acontecendo é que na verdade você precisa de profissionais
que tenham uma formação e conhecimento de outras áreas também”; e também do SE03-1:
“Eu acho que não há necessidade de mais profissões. Eu só acho que existe a necessidade de
um contato maior, de um network maior entre as profissões que já existem”.
111

Consoante os entrevistados, a visão da não necessidade de novas profissões decorre da


integração necessária para desenvolver produtos IoT, voltados à bovinocultura. Como esses
produtos e serviços envolvem duas áreas distintas, a TIC e o ambiente rural, é necessária uma
integração maior entre os profissionais desses dois ambientes para criar soluções com alta
inovação tecnológica e usabilidade comprovada. Caso essa integração não aconteça, as
empresas que se dispõem a desenvolver esses produtos passam por problemas para competir
no mercado, como afirma o SE04-1: “(...) sempre tem um gap. Ou está faltando um pouco
mais de conhecimento da questão agronômica, no caso da pecuária, da questão zootécnica, ou
está faltando um conhecimento na parte de informática, de como funciona essas estruturas”.

Diante dessa necessidade de conhecimentos diversos para trabalhar com a IoT no


ambiente rural, alguns entrevistados acreditam que a melhor solução seja formar equipes
multidisciplinares que possam solucionar todas as necessidades do projeto. Para o SE03-1, um
network maior entre as profissões que já existem, como a computação, zootecnia, veterinária,
agronomia e afins, será capaz de criar projetos onde os profissionais conseguem lidar muito
bem com equipe e multidisciplinaridade. Pensamento corroborado pelos SE01 e SPF01:

O que você precisa na verdade é ter um corpo.., às vezes você não precisa nem que
eu saiba tudo, mas você precisa ter, para desenvolver esse tipo de solução, um corpo
multidisciplinar, uma equipe multidisciplinar em que as pessoas têm, pelo menos,
um conhecimento da outra área envolvida. Um engenheiro da computação que sabe
um pouco de veterinária, o veterinário que tem uma ideia de computação, dos
dispositivos. (SE01)
Em oposição aos demais atores entrevistados, o SE03-2 acredita que haja a
necessidade de se criar uma nova profissão, capaz de gerar essas tecnologias e fazer o uso
correto delas; profissão que ele denomina como “agroinformata”. Segundo ele, “A gente
precisa criar aí o cara que entende de computação, entende de processamento de dados e
entende da agropecuária para fazer essa conexão. Esses profissionais são raros hoje em dia e
quando existem são muito caros, são muito valorizados”. O entrevistado acredita que as
universidades não estão preparando esse profissional que será altamente demandado e bem
remunerado pelo mercado.

Quando se observa a ação de reorientação de identidade, identifica-se que a visão dos


entrevistados está relacionada a dois públicos: os profissionais que atuam no mercado,
desenvolvendo e fornecendo produtos IoT; e os profissionais, nas fazendas, utilizando essas
tecnologias no dia a dia.

Em relação aos profissionais que desenvolvem essas tecnologias, a readaptação e


aquisição de novas habilidades são vistas como uma realidade exigida pelo mercado, como
112

alega o SP04: “Muitos têm que se adaptar. A gente tem histórico de programadores antigos
que tem um bom histórico, mas não estão habituados com tecnologia habilitadoras
principalmente”. Quando estes profissionais não chegam preparados, algumas empresas
desempenham esse papel, como relata o SP03, “a gente precisa muito desse tipo de
profissional que seja adaptado ou adaptável conforme a necessidade que a gente tem... Então a
gente tem feito muito mais é isso, adaptar o nosso profissional para que ele entenda esse
meio”.

O SE02 cita como exemplo a experiência que teve com uma das startups incubadas na
universidade na qual os proprietários, que são engenheiros de computação, sentiram a
necessidade de entender quais eram as complexidades do campo rural para desenvolver seus
produtos: “Então eles tiveram que conhecer um pouco dos aspectos zootécnicos, veterinários
e comportamentais do animal para que eles conseguissem extrair ali os dados que eles
requerem para atender o serviço ou produto deles”.

Em relação aos profissionais que atuam dentro da fazenda e que estão expostos à
utilização desses dispositivos IoT, a readaptação e o desenvolvimento de novas habilidades
também é uma necessidade, segundo os entrevistados. Para o SPF01, existem duas formas de
suprir essa exigência: “ou você pega profissionais novos no mercado que realmente tenham
essa condição de lidar com essas tecnologias ou você capacita os profissionais que você já
tem na fazenda. Isso precisa ser feito. Isso é uma exigência dessa nova realidade baseada em
IoT”. O SP04 corrobora esta ideia ao alegar que, no momento em que os produtos IoT se
estabelecerem no mercado, serão necessários treinamentos por parte das empresas
fornecedoras ou políticas públicas que amparem esses profissionais.

A visão, para alguns entrevistados, é de que a construção de identidade deve ser


efetivada no sentido de reorientar a identidade e fornecer uma adaptação para os profissionais
que já atuam dentro das fazendas de bovinos de corte: “Eu acredito que em relação ao uso
dentro da fazenda eu acho que são os mesmos profissionais e na verdade assim a tecnologia
ela tem que ser facilitada para ser adotada na fazenda” (SP02). Ao adotar essas tecnologias, o
objetivo não deve ser tirar emprego e, sim, preservar e qualificar a mão de obra existente,
como mencionam os entrevistados SP04: “As pessoas não vão ser substituídas de forma
alguma, porque elas só vão ser mais preservadas. Só vai diminuir a lida direta, mas elas
precisam adquirir novos conhecimentos para conseguir até apoiar esse tipo de tecnologia”; e o
SE03-2:
113

Não que vai sumir os empregos, as pessoas não vão deixar de trabalhar só porque
tem a tecnologia. “Ah, então agora tem uma estrutura lá no meio do campo que pesa
o animal toda vez que ele vai comer, toda vez que ele vai beber água, então agora o
peão deixou de existir?” Pelo contrário, tem que ir lá todo dia, ver se tá tudo certo,
se o equipamento tá funcionando, se não tá com nenhum problema, então vai mudar
as relações nesse sentido. (SE03-2)
Os entrevistados SP01 e SP05 mencionam, por sua vez, um aspecto interessante sobre
a reorientação de identidade, ao destacar o surgimento de novas gerações de filhos e netos de
proprietários das fazendas que já estão vindo para o campo com uma mentalidade voltada
para inovações.

A gente vê muito cliente também que quem vai pagar é o pai, mas quem tá
assumindo o negócio é o filho. Então é um cara da terceira geração, um cara que já
tá nesse mundo nosso. Ele já entende de tecnologia, ele é muito mais aberto e adepto
a isso. Então esse é o perfil aí. (SP01)
Então assim, tá vindo filhos dessas pessoas. Tá tendo uma qualificação em cima de
utilização de tecnologia, mas uma qualificação não de treinamento, mais de
usabilidade, de uso do dia a dia. Assim, hoje a maioria dos nossos clientes que são
fazenda empresa, tem alguém lá que gere toda a parte de conectividade na fazenda,
que gere toda a parte de sistema da fazenda, porque a fazenda ela evoluiu. (SP05)
Estas afirmações evidenciam que os novos profissionais que se inserem nas “fazendas
empresas” e aqueles que iniciam a sucessão das atividades dentro da propriedade familiar,
possuem maior qualificação tecnológica e são propensos a priorizar o investimento em
tecnologia para melhorar a produtividade e a gestão da propriedade.

4.2.2.2 Mudança de associações normativas

No trabalho institucional voltado à mudança de associações normativas são


realizadas ações que reformulam a relação entre as normas e o campo onde estas são
produzidas. Este processo ocorre ao serem criadas novas conexões entre um conjunto de
práticas existentes e os fundamentos morais e culturais ligados a elas (Lawrence & Suddaby,
2006). Do total de atores entrevistados, foi possível identificar que sete deles citam ações que
mudam, em algum grau, as conexões existentes entre as normas e o campo graças à adoção da
IoT:

Hoje um dos principais pontos da utilização da tecnologia é o bem-estar animal.


Então, a gente entra para alterar a forma como ainda é feita em diversos locais que é
a movimentação do animal no mangueiro. Assim, quando se utiliza nossa
tecnologia, você vai levar o animal para o mangueiro somente para uma vacinação,
que daí não tem o que se fazer ou para o embarque dos animais. (SP05)
(...) quando a gente pega essas tecnologias de bem-estar animal de certa forma
favorece, sim, o melhor manejo desses animais, as chamadas boas práticas
agropecuárias, porque você busca isso. Principalmente nessas tecnologias de bem-
estar ou de acompanhamento mesmo de ganho de produtividade, porque a partir do
momento que o animal não tá nas melhores práticas ou tá ferido, alguma coisa
assim, ele naturalmente vai perder peso, pois ele tá incomodado. (SPF01)
114

A questão do bem-estar animal, discutida na pecuária bovina há alguns anos, favorece


ações desenvolvidas de diferentes formas para melhorar a movimentação animal, no intuito de
criar um ambiente antiestresse. Com a chegada de novas tecnologias, entre elas, as baseadas
em IoT, a adoção dessas práticas tornou-se mais facilitada, por causa da alteração na forma de
se executar atividades diárias que, antes, demandavam intensa movimentação e estresse dos
animais. Este ponto fica claro, na fala do SP05: “O principal ponto da utilização da balança de
passagem é, o animal ele se pesa e muitas vezes mais tranquilo que uma pesagem de tronco,
porque não tem ninguém lá, não tem ninguém batendo no animal, não tem ninguém dando
choque no animal, não tem ninguém apertando o animal”.

A utilização das tecnologias IoT trouxe, para a pecuária de precisão, a possibilidade de


abandonar práticas antigas de manejo animal que geram ineficiência no ganho de peso e
prejudicam a receita final dos criadores. Como afirma o SE03-2, “antigamente você tinha que
tirar o animal do campo, trazer pra dentro do curral, pesar animal por animal, o que acaba
gerando um estresse do manejo querendo ou não. Muitas vezes o animal acaba até tendo uma
redução do seu desempenho por conta desse estresse”. Essa perda de desempenho é
significativa, conforme afirma o SE01: “Se você pega um animal e leva ele para o curral para
pesar, ele perde cerca de dois quilos. Sabia disso? Então quanto menos manejo melhor para
engorda”. Diante disto, investir em tecnologias que ajudem a aumentar a lucratividade se
tornou um diferencial para os produtores rurais:

(...) o produtor rural ele está pensando em bem-estar animal depois que ele foi
convencido de que isso é benéfico para ele. E quando ele entende que o animal que é
produzido com qualidade de vida produz mais. Um animal menos estressado gera
mais lucro. Então a hora que você falar isso ele muda totalmente o conceito dele e
ele entende. O sistema de produção mostrou que é melhor você tratar o animal de
maneira correta que você vai ganhar mais. (SE03-2)
Além de melhorar a lucratividade graças à maior eficiência produtiva, a mudança para
práticas de manejo mais corretas e voltadas para o bem-estar animal tem se tornado uma
exigência do mercado consumidor, como afirma o SE04-1: “O mercado consumidor já não
permite mais maus tratos e se isso aparecer, com certeza, tem sérios problemas para o
produtor, para ele comercializar até para os frigoríficos, para todo sistema. Isso já é uma
realidade”. O SE03-1 corrobora essa afirmação e ainda cita a importância dessas novas
tecnologias 4.0 para atender às demandas dos clientes:

Essa é uma tendência, o consumidor ele quer saber como é que esses animais são
criados e a tecnologia 4.0 nos ajuda muito com isso, porque, por exemplo, é possível
que vários trabalhos surjam aí com o objetivo de identificar a vocalização dos
animais, associando isso a uma dor ou a um estresse ou o próprio monitoramento.
(SE03-1)
115

Cientes da cobrança por processos produtivos mais eficientes e corretos quanto ao


bem-estar animal, as empresas que comercializam produtos IoT adaptaram seu discurso e
produtos para serem os mais amigáveis e corretos possível. Isso é percebido na fala de alguns
dos entrevistados do setor privado, como o (SP05): “Esse é o ponto que a gente buscou muito
para que a gente pudesse ter um aceite também dos nossos clientes. E a gente sabia que se a
gente tivesse algum empecilho, na parte em cima de bem-estar animal, isso ia dificultar muito
a inserção da tecnologia nas fazendas”. E também, de SP04:

Inclusive, a gente vislumbra um mercado de pessoas que estão preocupadas com isso
mesmo. Consumir carne de animal que não passou por um processo de ferro quente,
que não ficou preso. Um animal mais livre, que comeu à vontade, que teve a curva
de alimentação dele atendida. E a gente acredita que existe um mercado para isso,
para o boi verde, para o boi criado só no Pantanal. E esses nichos de mercados eles
são interessantes e eles procuram a gente. (SP04)
Mostra-se, diante o observado, a preocupação crescente das empresas que
desenvolvem produtos IoT para a bovinocultura de corte, em colocar no mercado produtos
que estejam adequados as práticas de bem-estar animal. Consumidores estão preocupados em
adquirir produtos de proteína animal de fazendas e empresas que não tenham adotado práticas
nocivas e prejudiciais à saúde dos animais. Como seus produtos IoT fazem parte dos
processos de produção dos bovinos, adequá-los a essas novas exigências passou a ser parte
indispensável para essas empresas.

4.2.2.3 Construção de redes normativas

Para análise das entrevistas empíricas, a fim de detectar a existência da prática de


construção de identidade, foi observada a criação de protoinstituições, definidas por Vellema
et al. (2020) como novas estruturas de trabalho e governança, resultantes da ação de múltiplos
atores colaboradores. No caso específico desta pesquisa, foram identificados como
protoinstituições as redes de parcerias criadas pelos atores no estado de MS, para
desenvolvimento de produtos, pesquisa e fomento à adoção da Internet das Coisas na
bovinocultura do estado.

De acordo com as parcerias identificadas nas falas de cada ator entrevistado, foi
possível elaborar a Figura 13. A rede nela apresentada é formada apenas pelos 16 atores
institucionais relacionados neste trabalho, contudo todos os atores relevantes que trabalham
com a aplicação da IoT na bovinocultura do estado e que foram citados nas entrevistas estão
contemplados na pesquisa.
116

Figura 13: Rede normativa criada pelos atores institucionais entrevistados

Fonte: Dados da pesquisa.

Os cinco atores com as maiores redes de colaboração são, respectivamente: SPF01,


SE04, SE02, SP06 e SPE02. Porém, todos os entrevistados citaram participar de alguma rede
de cooperação destinada ao desenvolvimento de projetos para a tecnologia estudada. A
parceria mencionada pelos entrevistados pode se configurar por diferentes objetivos como,
por exemplo, o desenvolvimento de produtos, pesquisas, projetos de fomento ou apoio em
incubação de empresas.

A rede de cooperação construída pelo SPF01 foi a maior e mais diversa, em termos de
objetivo pretendido. No total, o entrevistado cita parcerias com outros nove entrevistados,
sendo algumas delas criadas para determinados projetos; e outras, perenes. Entre as parcerias
temporárias, tem-se, como exemplo, a realizada junto ao SE04 e SP01, que objetivou o
desenvolvimento, em 2016, de uma balança de passagem, com tecnologia IoT. Para o SPF01
,essa parceria gerou “nosso equipamento de maior sucesso em IoT, que é a balança de
passagem”. A parceria firmou-se da seguinte forma, como cita o SP01:

A [SP01] ela tem já um know-how em questão de pesagem animal, já tem também a


questão de software para as balanças de pesagem. A [SPF01] tem o know-how
científico e da pecuária de corte. A [SE04], também, tem esses mesmos
conhecimentos técnicos, científicos e de desenvolvimento. E ai o pessoal casou as
ideias e criou o produto. (SP01).
Outra parceria que resultou em produto foi a desenvolvida com o SE04 e SP02, da
qual surgiu a “Bovine Electronic Plataform (BEP), plataforma eletrônica que possibilita o
117

monitoramento da saúde e bem-estar de bovinos nos diversos sistemas de produção” (SPF01).


Outro produto que está sendo desenvolvido, em conjunto por estes atores, é um alimentador
automático para bovinos de corte o qual ainda está em fase de prototipação e testagem.

Um segundo projeto, este de maior porte, está sendo desenvolvido junto com a
Huawei e o Centro de Pesquisa e Desenvolvimento em Telecomunicações (CPQD), com
utilização das tecnologias do SP01 e SP02. Este projeto tem como objetivo:

Essa parceria tripartite tá possibilitando que a gente crie dentro da unidade um


campo experimental com rede IoT e esse campo ele vai utilizar algoritmo de
inteligência artificial para monitorar bem-estar animal e predizer ganhos de
produtividade como uma fase 1 do projeto, mas a nossa ideia é que esse projeto
persista. (SPF01)
Entre as principais parcerias perenes que o SPF01 possui, está a realizada com o SE04,
na qual ambos desenvolvem projetos voltados à pecuária de precisão, dentro do programa de
mestrado profissional em computação aplicada. Esta rede de cooperação é a mais estruturada
e prospera entre as observadas, pois já rendeu produtos IoT, dissertações e artigos
internacionais, sendo destacada por diferentes entrevistados como uma parceria importante
para a institucionalização da IoT na bovinocultura do estado:

A gente tem um programa dentro da [SPF01], que é junto com a [SE04] que é um
programa de mestrado profissional. Então esse programa de mestrado profissional,
ele favorece que todo ano a gente tem diversos trabalhos sendo desenvolvidos aonde
você, em pares de pesquisadores das duas instituições, desenvolve tecnologias de
pecuária digital. (SPF01)
O SE04 constituiu a segunda maior rede de cooperação identificada. Além das
parcerias com o SPF01 e SP01, citadas anteriormente, a universidade também possui
cooperação com os SP02 e SP05. O SP05 foi incubada durante dois anos, na incubadora de
empresas da universidade, tendo recebido a “graduação”, em julho de 2022. Já, o SP02 ainda
está recebendo mentoria na incubadora da universidade, além de ter dois produtos em parceria
com a mesma: um em comercialização e outro, em prototipagem.

O SP06 aparece como um ator relevante na construção de redes de cooperação, devido


ao projeto de criação de um ecossistema de inovação que está desenvolvendo em todo estado
de MS. E, também, pela parceria que possui com o SPE02 para prestar mentoria aos negócios
selecionados pelo Centelha e o Tecnova, que são editais de subvenção econômica para
projetos e ideias inovadoras no MS. Em relação ao ecossistema encabeçado pelo SP06, a
entrevistada cita que “O ecossistema ele é composto aí por várias instituições, como por
exemplo, pela academia, por governo do estado, prefeituras, as empresas privadas e as
instituições do sistema S”.
118

Um exemplo de rede de cooperação importante para a institucionalização da IoT no


estado de MS foi construído pelos SPF02 e SPF03, ambos do setor público federal. Por mais
que não seja uma rede que possui muitos atores conectados dentro do estado de MS, as ações
desenvolvidas por essa rede impactam diretamente a realização de projetos e políticas
voltadas para esta tecnologia no estado.

Para implantação do Plano Nacional de Internet das Coisas, voltado à área rural, foi
constituída a “Câmara Agro 4.0”, gerida pelos dois atores citados acima e composta por mais
de 100 organizações público-privadas que deliberam sobre as questões da agropecuária 4.0.
Segundo o entrevistado SPF02, “A câmara foi construída para isso, como um instrumento de
implementação do plano nacional para IoT. E eu diria que hoje é a instância de maior
interlocução com o setor produtivo no tocante a Internet das Coisas e a agricultura 4.0”.

Figura 14: Síntese das práticas relacionadas ao trabalho cultural realizadas no macro ambiente
do estado de MS

Fonte: Dados da pesquisa.

De acordo com os dados empíricos, as principais ações relacionadas à execução do


trabalho cultural são sintetizadas na Figura 14. As principais ações que representam a
execução da prática de construção de identidades no macroambiente estão relacionadas à
119

reorientação de identidades dos profissionais do mercado, dos estudantes e dos trabalhadores


das fazendas. As ações que representam a execução da prática e mudança de associações
normativas são ligadas à mudança das normas de bem-estar animal que são impactadas pela
utilização do dispositivos IoT. Por fim, a construção de redes normativas foi citada por todos
os atores entrevistados como algo que ocorre por meio da construção de redes de cooperação
que visam fomentar, desenvolver produtos e pesquisas e superar desafios como a falta de
recursos.

4.2.3 Trabalho Técnico

A realização do trabalho técnico objetiva construir modelos mentais e visões de


mundo compartilhadas, ao se focar no lado cognitivo-cultural das instituições (Jespersen &
Gallemore, 2018). Por meio de práticas como o mimetismo, teorização e educação, os atores
institucionais podem fornecer modelos detalhados de como as novas instituições funcionam,
dando a elas um grau de rigor dentro do ambiente (Lawrence & Suddaby, 2006; Perkmann &
Spicer, 2008).

Ao analisar os dados coletados empiricamente, observou-se o estabelecimento de uma


nova forma de trabalho institucional, a “Pesquisa e Desenvolvimento (P&D)”. Esse tipo de
trabalho institucional destaca-se e mostra-se relevante, pois, por meio dele, observa-se um
fenômeno que está em desenvolvimento, a adoção da IoT na bovinocultura de corte. Os tipos
de trabalho listados dentro da categoria do trabalho técnico tiveram uma alta frequência nas
falas dos atores entrevistados no estado de MS (Apêndice I), principalmente por parte do setor
educacional e privado.

4.2.3.1 Mimetismo

A realização da prática de trabalho institucional, mimetismo, foi destacada na fala de


oito entrevistados. O mimetismo, segundo alguns entrevistados, é prática sine qua non dentro
das ações realizadas com Internet das Coisas. Para o SE04, “Acho que tudo na Internet das
Coisas, quase tudo, já é reaproveitamento. Claro que você tem alguns desenvolvimentos de
algumas tecnologias novas, mas a maioria veio nessa ideia de integração”. Na fala do
entrevistado SPF01, sobre a prática de mimetismo dentro da pecuária de precisão, nota-se a
mesma ideia de integração de tecnologias já existentes para formar um ambiente IoT:

Mesmo porque o que que é a Internet das Coisas? Se a gente for pensar, por
exemplo, equipamentos de pecuária de precisão, eles já existem há vinte anos, trinta
anos, só que eles estão soltos.? Quando a gente fala em Internet das Coisas,
normalmente tá pensando em integração, mas são os mesmos equipamentos, sabe?
(SPF01)
120

Dentre as instituições de educação pesquisadas, que desenvolvem projetos de pesquisa


para a bovinocultura de corte, utilizando a IoT, duas citam a utilização de algumas tecnologias
já existentes para realização de suas pesquisas. Como exemplo, o SE03 aponta que “São
tecnologias que já existiam e que foram sendo aperfeiçoadas. E a metodologia de trabalho,
também, foi sendo aperfeiçoada. Então é um complemento realmente. A gente utiliza essas
tecnologias que já existiam pra chegar a algo mais, vamos dizer assim, lapidado”. Ainda com
o mesmo olhar, o SE01 cita que, para ele, não precisa se criar tecnologias novas e, sim,
organizar as que já existem:

Então, fala assim, ah você teve que criar uma coisa totalmente nova para fazer em
pecuária? Não, o que eu fiz foi pegar tecnologias que já estão aí e alterar alguma
coisa. Basicamente isso, né? Não precisa criar um microcontrolador novo. É isso que
eu estou querendo dizer. Não precisa criar um capacitor diferente na área de
eletrônica. Os componentes já estão aí e você precisa só organizar isso para criar
essa solução. (SE01)
Os produtos IoT em comercialização também utilizam tecnologias já existentes no
mercado. De acordo com os resultados das entrevistas, foi possível identificar que atores que
prestam diferentes serviços para os bovinocultores do estado de MS se utilizam da prática de
mimetismo. O primeiro deles é o SP03, que realiza serviços voltados para a prova de
eficiência alimentar de bovinos. Segundo o entrevistado, o cocho, a balança e o brinco
utilizados já estavam disponíveis no mercado e sua estratégia foi unir essas infraestruturas, a
fim de prestar um serviço diferenciado ao mercado. O SP01 cita a utilização de sensores
infravermelhos, encontrados facilmente em porta de lojas, brincos e balança de pesagem, para
desenvolver as balanças eletrônicas que comercializa:

Olha, o que eu vejo em eficiência alimentar é que nada se cria, tudo se transforma.
Então, se a gente parar para pensar na nossa estrutura de equipamento é algo
relativamente simples. Uma balança de pesagem? Já existia. Um cocho? Já existia.
(...) E o brinco de identificação, a quanto tempo se utilizam esse brinco de
identificação?! (...) Aí eu percebo muito mais isso, essa visão de unir tecnologias, de
unir infraestruturas que já existiam em prol dessa novidade para a eficiência
alimentar. (SP03)
Ora os sensores infravermelhos por exemplo são sensores similares a sensores de
porta de loja. (...) esses sensores eles tem a comunicação, cortou a comunicação,
opa, entrou o animal aqui. Se ele não saiu e cortou a comunicação de novo, ele está
entre os dois raios, ele está ali dentro. (...) Então isso daí foi espelhado em algo que
já existia. (...) Esses brincos tem um chip dentro dele também, então também é algo
em cima de algo que já existia, mas foi acoplado ao produto. (SP01)
Algumas empresas usam tecnologias e estruturas já presentes nas fazendas de
bovinocultura para prestar seus serviços. O primeiro caso é do SP01, que integra seu produto
a softwares de gestão já utilizados pelo fazendeiro: “Quando ele já faz uso de algum software
e ele tem todas as pesagens dos animais, por exemplo, se ele quiser, ele faz uso de outro
software de gestão e ele tira essas pesagens da balança, exporta esses dados e joga no software
121

dele pra fazer parte da gestão dele”. Um segundo exemplo refere-se ao SP04 que utiliza da
estrutura física da fazenda para instalar seus produtos, como cita a entrevistada: “A gente
coloca as nossas câmeras no tronco, no local lá onde eles pesam e manejam, então a gente já
aproveita a estrutura existente da propriedade e a gente usa câmeras de segurança residenciais
que são as mais baratas, mais fáceis de adquirir”.

A prática de mimetismo, por mais que seja essencial na IoT, não é a única maneira de
se avançar nesse ambiente tecnológico, de maneira que se faz necessário o desenvolvimento
de novas tecnologias por empresas privadas e ou centros de pesquisa. O AEI04 traz, em sua
fala, a ideia de algo novo demandado pelo mercado: “Claro que na Internet das Coisas você
estimula o desenvolvimento de novas tecnologias, também. É um ciclo que se retroalimenta.
Você aproveita o que já tinha, tenta integrar, cria novas possibilidades e isso você gera
demanda para criar novas tecnologias”.

4.2.3.2 Teorização

Na teorização, os atores institucionais buscam institucionalizar a IoT na bovinocultura


de corte, por meio de ações como nomeação de novos conceitos e práticas e elaboração de
cadeias de causa e efeito (Perkmann & Spicer, 2008). As duas ações foram investigadas junto
aos entrevistados e, como resultado, foi possível identificar que nove entrevistados declararam
existir alguma ação voltada a elaborar cadeias de causa e efeito; e 6 dizem existir nomeação
de novos conceitos.

As duas formas identificadas empiricamente para elaboração de cadeias de causa e


efeito para a IoT na bovinocultura de MS são: a publicação acadêmica e a participação das
empresas privadas e pesquisadores em feiras e eventos que reúnem produtores do setor. O
SE03-1 acredita que “na minha função de pesquisador e como eu disse, na tentativa de sanar
uma dor do pecuarista, eu sempre tento deixar claro o que realmente traz de benefício e o que
realmente traz de, não vou dizer malefício, mas que pode onerar o custo de produção”.
Algumas empresas privadas destacam, nas falas, esse cuidado de levar informações sobre a
adoção da IoT para o maior número possível de produtores e, por isso, procuram participar de
eventos, palestras, feiras, dias de campo e outros momentos que possibilitam levar e
demonstrar sua tecnologia:

O Mato Grosso do Sul, ele é um estado altamente produtivo. Então, os produtores,


eles querem, sim, saber de número. eles querem entender, eles querem ter uma
resposta sobre isso, mas eles ainda estão passando por essa fase de compreenderem a
importância da eficiência alimentar. Esse trabalho a gente tem realizado, tanto com
as visitas, as participações, as palestras, quanto com as redes sociais e participações
na área de marketing para tentar desenvolver isso junto com o produtor. (SP03)
122

Toda vez que a gente é convidado para ir a um evento, num leilão, numa feira, a
gente tenta demonstrar para eles que os problemas que eles já têm podem ser
resolvidas com tecnologia. A gente percebe que a Embrapa tem um programa grande
disso daí de levar esse conhecimento. As universidades, a UFMS com o programa de
mestrado profissional deles lá da Facon. E o 5G vai ser importantíssimo para isso.
(SP04)
Mesmo não atuando de maneira direta, alguns atores entrevistados desempenham
ações de teorização se utilizando de parceiros como fundações, entidades de classe e empresas
públicas e privadas para disseminar informações sobre benefícios e problemas que a adoção
da IoT pode trazer às propriedades produtoras de bovinos de corte:

(...) os projetos têm acontecido e a forma de chegar para eles que aí a gente utiliza
muito o nosso canal de comunicação que é o mídia-ciência. Mas como é um público
específico a gente utiliza muito as fundações de pesquisa, tipo a Fundação
Chapadão, em Chapadão do Sul, e a Fundação MS, em Maracaju. A gente acaba
dialogando com esse produtor por meio das ICTs ou fundação de pesquisa ou as
próprias Embrapas que são nosso canal. (SPE01)
O que a gente faz é tudo por meio das câmaras. A gente usa essas instituições que
participam das câmaras para poder divulgar os assuntos no setor, entendeu? A gente
faz um edital e a gente divulga para todas essas instituições e elas levam essas
informações para o setor. (SPF03)
Alguns entrevistados referem acreditar que existe uma boa divulgação no estado de
MS da tecnologia IoT como, por exemplo, o SP01: “Olha eu acho que hoje é bem divulgado.
O caso mais explícito é o caso da balança que foi desenvolvida lá no [SPF01] junto com [o
SP01]. Hoje tem muita gente produzindo e o pessoal realmente tá adotando a tecnologia”.
Contudo, outros entrevistados citam não visualizar uma boa divulgação e mencionam o fato
de ainda existir vários produtos em fase de desenvolvimento como um impeditivo para uma
boa divulgação da tecnologia, como mencionam o SE01 e o SE04-1:

Então eu acho que a partir do momento que você tiver o produto formatadinho,
bonitinho ali, pronto para entregar, aí as pessoas vão descobrir os benefícios. O
negócio é que como a gente está muito na pesquisa em alguns dispositivos ainda não
chegaram para o mercado. Está muito na divulgação científica ainda e esse que é o
problema. (SE01)
Eu acho que esse é um dos grandes problemas, porque se fala que vale a pena, tem
vários benefícios, só que ainda demonstrar mesmo assim ó, aumentou tantos por
cento, gastou tanto e teve tanto de retorno em tanto tempo, isso ainda é bem frágil.
Aqui no Estado por exemplo, não tem. (SE04-1)
Quando se observa a adoção desses dispositivos de IoT pelas propriedades rurais
produtoras de bovinos de corte, é possível constatar, pela fala dos entrevistados, que esse
número é baixo. Isso decorre, segundo eles, da dificuldade de se realizar a ampla divulgação
sobre os benefícios e adversidades que os produtores de bovinos de corte terão, ao adotar um
dispositivo IoT. Tal fato é observado na fala do SPF02 e do SE03-2:

Quando vamos falar em adoção, com a quantidade de propriedades que a gente


possa considerar que estão adotando, aí sim não caminham no mesmo ritmo. Por
123

isso, a gente tem trabalhado muito com os ecossistemas regionais, com projetos
pilotos. Tem que mostrar para o produtor que ele não está tendo um custo, que ele
está fazendo um investimento, está otimizando, tá investindo em rastreabilidade,
uma série de questões. (SPF02)
A divulgação de informações sobre os produtos IoT tem sido uma agenda de trabalho
para algumas organizações, como cita o SPF02: “existe um trabalho nosso e de todas as
instituições que atuam no segmento para tentar levar essa informação para o produtor tomar a
decisão. Mas assim, não é algo simples e geralmente o produtor ele é, principalmente na
cadeira da pecuária de corte, mais conservador”. Também o SPE02-2: “(...) é o próximo
passo. Hoje o estado enxerga que faz parte da política pública a comunicação, que era uma
coisa que não fazia, cabia ao cidadão procurar. Então é, também, ação do estado divulgar isso
e atrair novos produtores. O próximo passo são as tecnologias de IoT”.

Outros entrevistados, no entanto, acreditam não ser a falta de divulgação o maior


problema para a baixa adoção das tecnologias IoT nas fazendas. Para o SPF02, “O problema é
outro, (...) a gente sabe que o produtor é muito pragmático e ele adota tecnologia que faz
sentido para o seu dia a dia. Que reduza custo ou aumente receita e esse convencimento não é
trivial. Ele, realmente, precisa ter e enxergar isso acontecendo”. O SE01 corrobora o
apresentado e ainda complementa:

Eu acho que a primeira dificuldade assim é convencer o mercado de que o mercado


precisa disso. Primeiro, o mercado tem que entender que se ele adotar essas
tecnologias vai ter uma melhoria. Hoje o mercado não tem essa necessidade. Então
acho que precisaria de um convencimento de que isso é importante e que vai trazer
melhorias, inclusive não só de desempenho econômico, mas também de ganhos
ambientais. (SE01)
Ao se observar a realização e existência de ações voltadas à nomeação de novos
conceitos e práticas, foi possível identificar que os atores que mais executam ações com esse
fim são as empresas privadas que desenvolvem e comercializam produtos para bovinocultura
baseados em IoT. Como exemplo, pode-se observar o SP03:

É algo que as vezes a gente não para, para pensar, né? Mas no final das contas eu
acho que a gente tem quase que uma nova língua que envolve a eficiência alimentar.
Porque a gente fala muito “CAR” por exemplo. A grande maioria das pessoas nunca
escutou o que que é CAR. CAR é consumo alimentar residual. (...) Então, agora
analisando eu acho que sim, a gente tem um dicionário completamente novo, que a
gente repassa para os produtores, para os funcionários, para o pessoal da fazenda e
explica para eles o que que funciona. (SP03)
Outro exemplo de nova terminologia é no nome dado à balança de passagem,
desenvolvida pelos entrevistados SE04, SPF01 e SP01 cujo nome não será divulgado, por ser
o único produto comercializado com esta identificação; no entanto, por mais que esse produto
tenha seu nome comercial, a empresa prefere utilizar em determinadas ocasiões um termo
124

mais fácil de ser entendido pelos produtores: “É a própria [nome do produto], às vezes a gente
chama também para o cliente entender que é uma balança de passagem. O animal passa e já
pesa, né? Então essa é a terminologia mais usada” (SP01).

Em algumas ocasiões, os desenvolvedores ou comerciantes desses produtores não


adotam termos novos e, sim, nomes usados cotidianamente, na “lida” da fazenda, para causar
aproximação maior com os produtores, como exemplifica o SP04: “Olha, por enquanto como
a gente tá bem no começo da tecnologia, principalmente chegando lá na fazenda, a gente tenta
adotar o termo que eles já usam para que não espante, não tenha a rejeição da tecnologia”.
Esse cuidado em utilizar termos que sejam de fácil compreensão pelos produtores rurais
também é citado na fala de outros entrevistados, a exemplo do SPF01:

Existem terminologias novas, mas nada que mude muito, sabe? Na verdade, a
tecnologia se adapta ao mundo pecuário. Normalmente, quando você digitaliza isso,
até por uma questão comercial, mercadológica o que você faz é o inverso. Você traz
esses nomes que são utilizados pelos produtores para o mundo digital, então você
vai chamar de brete digital, ovo eletrônico, e assim por diante. (SPF01)
Os resultados das entrevistas demonstram que a criação de novas terminologias não é
algo buscado pelos desenvolvedores de produtos IoT. Na verdade, o caminho é inverso visto
que nomes cotidianamente utilizados dentro das atividades pecuárias são adaptados as novas
tecnologias. Isso se deve a uma questão comercial e mercadológica visualizada pelas
empresas, pois nomes muito tecnológicos e terminologias diferentes podem atrapalhar a
adoção desses produtos.

4.2.3.3 Educação

Entre os dezesseis atores entrevistados para a pesquisa, apenas quatro dizem visualizar
alguma ação voltada à educação. Observa-se que, entre os atores privados que dizem realizar
algum tipo de ação voltada à educação, essas ações apresentam a tendência de serem locais e
específicas a um grupo restrito. Isso fica destacado na fala do SP01:

Ainda mais que eu mando, por exemplo, depois que instalou lá, eu mando os
tutoriais para o cliente e falo: dá uma olhada aí, rapidinho, só procê ver como
funciona o negócio. Como cê cadastra aí e o que cê vai olhar principalmente aí. O
que ele pode te proporcionar, né? (SP01)
O entrevistado SP03 menciona duas situações em que a realização da prática de
educação se faz necessária para ele: Primeiro, “quando um produtor vai iniciar algum teste,
alguma avaliação, nós temos os treinamentos que são ofertados para toda a equipe da fazenda
e para todos aqueles que trabalham junto à equipe da fazenda. Esse treinamento ele pode tanto
ser presencial, como online” (SP03). O treinamento da equipe é um pré-requisito para que se
possa iniciar a prova de eficiência alimentar. A segunda situação onde ocorre a prática de
125

educação é na formação dos funcionários da empresa. Para o SP03, como a formação na área
da pecuária de precisão é baixa ou quase inexistente na graduação ou em cursos disponíveis
no mercado, cabe a eles apresentar o mínimo do ambiente para os funcionários entrantes:

Para você ter uma ideia sempre que profissionais novos entram na empresa eles
passam por alguns dias de treinamento sobre termos básicos de pecuária. Tipo
“gente, isso é um boi, isso é uma vaca, existe cria, recria e engorda. O animal se
alimenta disso, demora por tanto tempo para...”. Então a gente tem feito muito mais
é isso, adaptar o nosso profissional para que ele entenda esse meio. (...) do que
encontrar diretamente esse profissional já cem por cento capacitado. (SP03)
Entre os atores entrevistados do setor educacional, alguns dizem realizar algum tipo de
ação voltada a educar os atores, com conhecimento e habilidades necessárias sobre a adoção
da IoT na bovinocultura de corte, contudo o número de pessoas que adquirem uma
experiência mais completa nessa temática é restrito aos alunos que participam de projetos de
pesquisa, desenvolvidos pelos docentes. Como se observa pela fala do SE01: “Acaba
acontecendo na UEMS, por exemplo, como você tem o pessoal ali trabalhando na iniciação
científica (...) Então, os estudantes que saem formados ali acabam tendo contato por causa da
iniciação científica, por causa de pesquisa”. E pela fala do SE04, que possui um programa de
pós-graduação em computação aplicada, no qual desenvolve pesquisas na pecuária de
precisão, em parceria com o SPF01:

Como eu disse, tiveram alunos nossos que aí, assim, tendo esse conhecimento um
pouco do domínio desse ambiente, começaram a desenvolver, trabalhar na parte
mais de desenvolvimento de software. Como eu ainda não tenho nada implantado
então, ainda não surgiu um curso, porque a gente sabe que tem alguns cursos mais
genéricos. (...), mas eu não sei exatamente o que eles fornecem de informação.
(SE04)
A formação dos demais alunos da comunidade acadêmica e o público externo
interessado fica restrita a eventos e cursos generalistas que perpassam o tema da IoT. Alguns
desses eventos foram observados em documentos secundários, coletados na internet como,
por exemplo, o Programa “Mover”, realizado em 2019, e o seminário “MS 2019: Parcerias
estratégicas para o desenvolvimento baseado na tecnologia e na inovação”, realizado pelo
SE04.

Uma das críticas observadas na fala de alguns entrevistados é quanto à destinação


dessas ações de educação para o público do campo: “Olha, especificamente ao produtor, eu
acredito que ainda não há e se tiver eu desconheço” (SE03-1). Para eles, o grande público
interessado da área rural não tem acesso aos poucos cursos ofertados pelas organizações do
estado:

O SENAR tem oferecido. As próprias instituições de ensino, as universidades têm


oferecido. Só que eu percebo que o acesso para o público interessado acaba tendo
126

algumas barreiras. Às vezes o grande público interessado está na área rural e aí


acaba não tendo possibilidade. O campo ainda não tem acesso de qualidade ou,
enfim, um ambiente, um espaço, onde possa estar frequentando e tendo acesso a
essas aulas. (SE02)
Alguns entrevistados, quando indagados sobre a existência, no estado de MS, de
práticas de educação para fornecer conhecimento e habilidades sobre a utilização da IoT na
pecuária de precisão dizem desconhecer existência das mesmas, como é o caso do SE03-02:
“Desconheço, nunca vi. Quando você vê, você não vê ela conectada dessa forma. Você pode
ver um curso que ensina informática. Aí você tem um curso que ensina pecuária, mas um
curso que vai fazer a ponte entre as duas coisas, muito pouca coisa”. Fala corroborada pelo
SE04-1:

Olha, com quem eu já conversei seja o engenheiro agrônomo ou cientista de dados


eles aprenderam na raça mesmo, na prática. E formalmente é mais esses cursos de
curta duração assim. Eu ainda não vi ninguém que tem uma formação, uma
especialização ou um mestrado profissional, algo nesse sentido. É mais mão na
massa mesmo, lendo tutorial na internet, entrando em contato com as empresas que
oferecem esses sensores, esses aplicativos, mais nesse sentido. (SE04-1)
A defasagem na formação dos profissionais da área de informática e de cursos ligados
ao ambiente rural constituem-se um ponto que se destacou com frequência durante a fala de
alguns entrevistados. Para eles, uma formação multidisciplinar e focada nas demandas da
pecuária de precisão é exigida, pois o perfil dos profissionais formados pelas universidades
que chegam ao mercado de trabalho não está indo ao encontro das expectativas e necessidades
das empresas que trabalham com produtos IoT para a bovinocultura:

O pessoal, geralmente, durante a graduação não adquire conhecimento em cima das


tecnologias que a gente trabalha. Por quê? Porque a gente tem uma defasagem de
ensino em cima de coisas atuais. Hoje a tecnologia ela muda muito rapidamente.
(SP05)
Você imagina, nós estamos formando os nossos alunos que vão entrar para o
mercado de trabalho e eles não são ligados nesse tipo de tecnologia. Então como é
que eu posso esperar que daqui quinze anos isso vai estar lá no campo se os meus
alunos não viram isso. (SE03-2)
Se a gente conseguisse já moldar os profissionais para que eles chegassem mais
preparados no mercado de trabalho também é muito mais interessante para a gente.
(SP03)
O SPF02 menciona a existência de um plano de ação para 2021-2024 que apresenta
quatro prioridades; sendo a segunda delas “a formação profissional, capacitação e preparação
da mão de obra para o futuro. Então, entra a análise das matrizes curriculares dos cursos e
proposição de cursos de capacitação desde o nível técnico até a pós-graduação”. Para elaborar
esse planejamento, foi constituído um grupo de trabalho dentro da Câmara Agro 4.0, a fim de
traçar os objetivos pretendidos.
127

Então esse grupo de trabalho que foi construído na câmara é para discutir isso,
justamente. O que é visto de agricultura 4.0 na matriz curricular do curso de
agronomia, veterinária? Nada. O que que é visto de agropecuária num curso de TI?
Nada. Os profissionais saem puros e tem que buscar uma pós-graduação ou na
prática e ir construindo isso no seu dia a dia. Mas são trabalhos difíceis, porque
alterar matriz curricular não é o corriqueiro. (SPF02)
Os desafios na formação de profissionais para trabalhar com a pecuária de precisão é
algo conhecido pelos atores institucionais do setor público federal entrevistados. Mesmo
ainda não realizando alguma prática de educação específica para essa temática, esses atores
sabem da necessidade da referida prática para o país, de modo que tem priorizado ações para
sanar esse gap.

4.2.3.4 Pesquisa & Desenvolvimento

Lawrence e Suddaby (2006), listam nove conjuntos de práticas, nas quais os atores se
engajam para criar novas instituições, no entanto os mesmos deixam claro que os tipos de
trabalho institucional listados não apresentam uma relação exaustiva de todas as práticas
possíveis de serem desenvolvidas com o objetivo de criar instituições. Diante disso, durante a
análise de conteúdo despendida sobre as entrevistas com atores institucionais ligados a IoT no
estado de MS, uma nova forma de trabalho institucional emergiu aos olhos dos pesquisadores.
A “Pesquisa e Desenvolvimento (P&D)” destacou-se como uma prática de trabalho, na fala de
diferentes atores, mostrando-se relevante em um fenômeno em transformação que é a adoção
da IoT na bovinocultura de corte.

A decisão por não relacionar as práticas de P&D ao trabalho institucional da educação


se deve pelo objetivo das ações realizadas em ambas. Na educação, o objetivo é educar os
atores com as habilidades e conhecimentos necessários para que uma nova instituição se
legitime, seja pela oferta de cursos, seja na realização de eventos ou outras ações formais e
informais. Na P&D, foi identificado que as ações realizadas objetivam fomentar o campo
científico sobre a utilização de tais tecnologias na pecuária, ao mesmo tempo em que pode
resultar em novas soluções tecnológicas baseadas em IoT ou na adaptação das existentes para
trabalhar dentro desse novo paradigma 4.0.

Os atores que realizam ações de P&D, no estado de MS, podem ser divididos em dois
grupos: atores que executam pesquisas e desenvolvem produtos IoT; e os atores que possuem
projetos que incentivam e apoiam o desenvolvimentos de novas pesquisas e produtos.

Um dos exemplos de produtos IoT, fruto de P&D desenvolvido no estado de MS, são
as balanças de passagem. O produto comercializado pelo SP01 foi desenvolvido em parceria
com os atores SE04 e SPF01, como explica o SP01: “A SPF01 tem o know-how científico e
128

da pecuária de corte. A SE04, também, esses mesmos conhecimentos técnicos, científicos e de


desenvolvimento e o pessoal casou aí as ideias e criou o produto”. De acordo com o
entrevistado, a empresa ainda continua desenvolvendo melhorias para a balança de passagem,
pois o mercado tem solicitado que este produto seja mais eficiente e potente.

O SPF01 tem parceria para P&D com diferentes atores do estado, como já apresentado
no tópico que trata sobre a construção de redes normativas no estado de MS. Dentre suas
parcerias, a mais perene é com o SE04, sendo que, juntas, são responsáveis por desenvolver
diferentes projetos de pesquisa, voltados à utilização a IoT na pecuária de corte, no mestrado
acadêmico em computação aplicada. Além das ações acadêmicas, o entrevistado também
mantém parcerias com empresas privadas, com o objetivo de desenvolver e testar novos
produtos IoT que poderão ser ofertados futuramente ao mercado. Este papel de articulador
para realização de P&D é destacado na fala do entrevistado:

Hoje a gente tem o núcleo de tecnologia da informação e dentro dele tem um


laboratório chamado “Plislar” que é um laboratório voltado especificamente para
essa questão de articulação de projetos de pecuária digital. E a gente tem um outro
grupo que é o Mangueiro Digital, que é lá do Pedro Paulo, que é um complexo de
campos experimentais, com laboratório também, que é para atuação, principalmente
na parte de sanidade animal, junto com a pecuária digital. (SPF01)
Eu diria até que nós somos uma das instituições líderes nesse sentido em nível de
Brasil. Tanto é que a gente tem toda uma área própria de pecuária digital onde a
gente tá constantemente soltando novos ativos digitais voltados para pecuária. A
gente tem softwares, de aplicativos, dispositivos e tudo mais que já estão no
mercado. (SPF01)
O setor educacional destaca-se quanto à realização de projetos de P&D sobre IoT e
pecuária bovina. O SE03-2 menciona que a zootecnia de precisão que, segundo ele, engloba a
pecuária de precisão, suinocultura de precisão, avicultura 4.0, entre outros temas, tem
despontado muito fortemente, incentivando pesquisadores a fazer projetos e pesquisas nessa
área; algo que para ele era distante e que, agora, já se organiza em um departamento dentro do
curso de zootecnia da universidade.

Outra universidade que tem dado destaque à pesquisa de tecnologias 4.0 para a
agropecuária, o que inclui a IoT, é o SE04. Na visão do entrevistado SE04-1, a instituição tem
priorizado pesquisas com essa temática entre os projetos fomentados pela universidade:

A (SE04), principalmente nessa gestão que já está no segundo mandato, o


agronegócio e a parte de tecnologia, empreendedorismo é bem forte. Então assim,
tudo que aparece nesse sentido tem preferência. Então, todas as coisas que eu tô
criando e apresentando em editais, essas coisas tá sendo aprovada, porque é uma das
linhas assim de preferência, muito alinhado com também o Governo Federal. (SE04-
1)
129

Entretanto, a falta de recursos para desenvolver os atuais e até novos projetos sobre
essa temática foi citada pelo SE04-2 como um impeditivo que impacta bastante o trabalho dos
pesquisadores. Como alega a entrevistada, “as possibilidades são muitas. A questão que a
gente ainda não tem nem financeiramente e estamos sem verba de projeto nos últimos anos.
Isso impacta bastante (...)”. Mesmo utilizando equipamentos de baixo custo, os pesquisadores
precisam de “um dinheirinho”, segundo ela, para conseguir trabalhar. Uma alternativa
escolhida para ultrapassar essas limitações é a parceria com empresas privadas que possuem
mais recursos:

A gente sempre foca num custo que seja baixo, que seja baseado em tecnologias
abertas, que não fique dependente de uma única empresa. Apesar que às vezes você
acaba tendo que fazer, por exemplo, o caso da balança de passagem, você acaba
tendo que fazer a parceria com a empresa pra produzir, porque a gente não tem
como produzir o equipamento, mas de qualquer forma você passa o Knowhow e fica
com a patente. (SE04-2)
Alguns atores entrevistados não realizam diretamente pesquisa e desenvolvimento de
produtos voltados à IoT, no entanto dizem ter, como prerrogativa, o objetivo de fazer o
fomento ao ensino, ciência e tecnologia do estado de Mato Grosso do Sul. Este apoio, de
acordo com o SPE01, vem em forma de várias ações como a concessão de fomento para
aquilo que ele chama de “capital humano”, que são bolsas de pesquisa para o ensino médio,
via Pintec, ensino superior, bolsas de mestrado, bolsas de doutorado e bolsas de pós-
doutorado. O entrevistado SPE01 alega que “atualmente a gente cobre oitenta por cento de
todas as bolsas de doutorado e mestrado necessárias no estado de Mato Grosso do Sul”.

Uma segunda forma de investir em P&D, citada pelo entrevistado, é em “economias


do futuro”. Neste caso, participam o projeto Centelha e o Tecnova que fornecem subvenção
econômica para empresas com produtos ou ideias inovadoras, selecionadas nos programas
citados.

Duas ações voltadas ao fomento da P&D para a IoT na bovinocultura no estado de


MS, de maneira direta ou indireta, foram identificados durante a análise dos dados empíricos.
O primeiro projeto é a criação de um ecossistema de inovação, em diferentes cidades e
regiões do estado o qual está sendo encabeçado pelo SP06 e que conta com a participação de
diversos agentes públicos e privados que atuam com inovação de diferentes tipos. Um destes
agentes é o SPE02-2 que cita algumas das ações pretendidas pelo ecossistema:

(...) é esse grupo que tá se reunindo periodicamente pra tentar botar um Hub de
inovação aqui em Campo Grande, botar pra funcionar o parque tecnológico de Ponta
Porã, fazer o mapeamento e atrair novos negócios no âmbito da inovação. A gente
fez um mapeamento e a gente vai trabalhar em automação, saúde, agronegócio e
construção. Esses são os quatro eixos do ecossistema de inovação.
130

A outra ação voltada a fomentar a P&D, no entanto, EM nível nacional, é estabelecia


pelo acordo de cooperação realizado pelos SPF02 e SPF03. No “Plano de Ação 2021-2024”,
publicado no site do SPF02, elenca-se um rol de ações a serem empreendidas; entre elas,
destaca-se o item IV que versa sobre:

IV - Promover Polos Tecnológicos Agropecuários com o objetivo de fomentar


coordenadamente a pesquisa, o desenvolvimento tecnológico e o surgimento de
novos negócios a partir da mobilização dos diversos atores do ecossistema de
inovação brasileira, tais como: universidades; instituições científicas e tecnológicas;
empresas e produtores reais demandantes de soluções tecnológicas; empresas
nascentes de base tecnológica (startups e spinoffs); empresas ofertantes de
tecnologia, entidades do Sistema S e órgãos ou entidades da administração pública
federal, estadual ou municipal, entre outros. (Brasil, 2021)

As ações identificadas nas falas dos atores entrevistados e nos documentos publicados
pelos mesmos, relacionadas à execução do trabalho técnico, estão sintetizadas na Figura 15.

Figura 15: Síntese das práticas relacionadas ao trabalho técnico realizadas no macro ambiente
do estado de MS

Fonte: Dados da pesquisa.

As três práticas de trabalho institucional técnico identificadas teoricamente e a prática


que emergiu das análises empíricas foram citadas por distintos atores como, existentes. Com
isso, diferentes visões foram apresentadas pelos entrevistados para sustentar os próprios
argumentos. O mimetismo foi citado dentro de uma perspectiva tecnológica e de estrutura das
131

propriedades rurais. Para a teorização, alguns atores citam a necessidade ou não da criação de
novas terminologias para os produtos IoT e, também, como algumas organizações têm
desenvolvido ações de divulgação das relações de causa e efeito dos produtos IoT. Em relação
à educação, os atores mencionam como esta prática é falha no estado e quais os planos para
superar esse desafio. Para a prática de P&D, são citados os atores que mais realizam essa ação
e quais as formas de incentivo estão presentes no estado de MS.

As informações apresentadas até aqui permitem realizar algumas análises a fim de


evidenciar como práticas de trabalho institucional são concretizadas no macroambiente do
estado de MS, quais ações estão sendo priorizadas até o momento pelos atores institucionais e
quais são os setores que estão empenhados em fomentar a tecnologia IoT para a bovinocultura
de corte do estado. Os resultados sobre a etapa 1 serão utilizados como suporte para discutir
empírica e teoricamente as proposições de pesquisa expostas anteriormente.

O primeiro resultado apresentado é a existência das dezenove unidades de análise


investigadas, em cada setor entrevistado do estado de MS (Quadro 16). Para classificar as
unidades de análise em “existe”, “existe parcialmente” ou “não existe”, utilizou-se os
parâmetros descritos no capítulo de metodologia. Esses parâmetros seguem o número de
respondentes positivos para cada unidade observada, ou seja, a indicação pelos entrevistados
de que uma ação de trabalho institucional está sendo realizada no estado de MS com intuito
de fomentar a IoT. Sendo assim, caso um total igual ou superior a 70% dos respondentes, em
cada setor, tenham destacado tal ação como existente, a mesma foi listada como “E”. Caso o
número de afirmações positivas sobre a existência de tal ação tenha ficado entre 30% até
69%, foi classificado como “EP”. Abaixo de 30%, tal ação é listada como “NE”.
132

Quadro 16: Análise da existência de ações ligadas as práticas de trabalho institucional segundo os setores entrevistados

Setor Setor
Setor Setor
Trabalho Institucional Unidades de análise Público Público
Educacional Privado
Estadual Federal
Apoio político e regulatório E EP E E
Lobby por recursos NE NE NE EP
Advocacia
Promoção de agendas NE EP NE E
Proposição ou ataque a legislação existente NE NE EP EP
Processo de acreditação formal E NE NE E
Trabalho
Definição Criação de padrões NE NE NE NE
Político
Certificação de atores em um campo EP NE NE EP
Realocação de direitos de propriedade NE NE NE EP
Mudanças de regras nas relações de mercado NE NE NE NE
Aquisição
Compartilhamento de autoridade coercitiva
NE NE NE NE
ou reguladora
Construção de Criação de novas profissões NE NE NE NE
identidade Reorientação de identidades E E EP EP
Trabalho Mudança de associações
Substituição de normas generalizadas EP EP NE EP
Cultural normativas
Construção de redes
Proto-Instituições / Redes normativas E E E E
normativas
Mimetismo Justaposição de velhos e novos modelos E EP NE EP
Elaboração de cadeias de causa e efeito EP EP EP EP
Trabalho Teorização
Nomeação de novos conceitos e práticas EP EP NE EP
Técnico
Educação Conhecimento e habilidades necessárias EP NE EP NE
Pesquisa Desenvolvimento de pesquisas e produtos E E E E
(Legenda: E = Existe; EP = Existe Parcialmente; NE = Não Existe)

Fonte: Dados da pesquisa.


133

O Quadro 17 exibe a existência das práticas de trabalho institucional, por setor e no


macroambiente do estado de MS. Os parâmetros para apresentar estas duas informações
foram apresentados detalhadamente no capítulo de metodologia e serão revisitados a seguir.

Quadro 17: Análise da existência de práticas de trabalho institucional segundo os setores


entrevistados

Setor Setor Setor


Setor Setor Macro
Público Público
Educacional Privado ambiente
Trab. Institucional Estadual Federal
Advocacia E EP E E Existe
Trabalho Existe
Definição E NE NE E
Político parcialmente
Aquisição NE NE NE EP Não existe
Construção de
E E EP EP Existe
identidade
Mudança de
Trabalho Existe
associações EP EP NE EP
Cultural parcialmente
normativas
Construção de
E E E E Existe
redes normativas
Existe
Mimetismo E EP NE EP
parcialmente
Existe
Trabalho Teorização EP EP EP EP
parcialmente
Técnico
Educação EP NE EP NE Não existe
Pesquisa &
E E E E Existe
Desenvolvimento
(Legenda: E = Existe; EP = Existe Parcialmente; NE = Não Existe)

Fonte: Dados da pesquisa.

Para apresentar os resultados, por setor, as unidades de análise foram agregadas à


prática de trabalho institucional correspondente. Nos casos em que uma prática de trabalho,
por exemplo, a advocacia, tenha mais de uma unidade de análise, apenas uma dessas unidades
classificada como existe já foi suficiente para assinalar tal prática como “E”, visto que tais
unidades de análise não são dependentes e, sim, indicações de ações características de sua
realização. Se a classificação máxima das unidades de análise, relacionadas à determinada
prática, estiver listada como existe parcialmente, a prática correspondente é assinalada como
“EP”. No caso de todas as ações serem não existe, a prática é classificada como “NE”. Esta
análise foi realizada para cada um dos setores, observando-se os atores institucionais
correspondentes.
134

O segundo resultado, coluna Total, apresenta a existência de uma prática de trabalho


institucional no todo do macroambiente institucional do estado de MS, ou seja, agrega todos
os setores em apenas um. Para chegar a este resultado, foi realizada uma avaliação qualitativa
quanto à existência dessas práticas. Como são quatro setores, no caso de a maioria dos setores
estarem listados com um resultado semelhante, a classificação final seguiu o que se apresenta
predominante. Por exemplo, no caso de uma prática de trabalho institucional estar listada
como “existe”, em quatro ou três setores, considerou-se que esta prática, existe, no
macroambiente. O mesmo raciocínio foi utilizado para as outras classificações, existe
parcialmente e não existe.

Nos casos em que dois setores estão classificados como não existe ou existe, e dois
setores com a classificação existe parcialmente, optou-se por avaliar o macroambiente de
acordo com a classificação “extrema”, como no caso das práticas de construção de identidade
e educação. Nos casos em que dois setores estão listados como existe e dois como não existe,
classificou-se como existe parcialmente. E, por fim, para a prática de mimetismo, optou-se
por classificar como existe parcialmente, pois foi a classificação mais listada nos setores
observados.
135

4.3 PRÁTICAS DE TRABALHO INSTITUCIONAL INIBIDORAS NA ADOÇÃO


DA IOT PELAS FAZENDAS DE BOVINO DE CORTE NO ESTADO DE MS

Os resultados apresentados aqui são qualitativos, obtidos mediante uma amostra


pequena de fazendas, o que não admite a generalização para todas as fazendas produtoras de
bovinos de corte do estado e do país; no entanto, permite inferir sobre quais, entre as dez
práticas de trabalho institucional apresentadas no subcapítulo anterior, funcionam como
potencial inibidoras para adoção da IoT.

Assim como no subcapítulo anterior, as práticas de trabalho institucionais foram


investigadas por meio de ações (unidades de análise) destacadas teoricamente como
características de determinada prática observada. Contudo, nesta etapa empírica, quatro
unidades de análise foram excluídas ou agrupadas às demais em razão dos resultados obtidos
na Etapa 1.

O Apêndice J traz a avaliação de cada ator organizacional entrevistado, fazenda, sobre


determinada unidade de análise. Caso o entrevistado entenda que esta ação é um inibidor para
sua adoção à célula correspondente, a mesma foi assinalada com “Sim”; caso contrário, foi
identificada com “Não”. Caso o respondente não tenha emitido opinião sobre determinada
unidade de análise, a mesma foi marcada com um traço.

Todas as três práticas ligadas ao trabalho institucional político foram apontadas


pelos entrevistados como inibidores na adoção de produtos IoT pelas fazendas de
bovinocultura de corte. Contudo, nem todas as ações características à realização do trabalho
político foram destacadas como relevantes pela maioria dos entrevistados. Entre as oito
unidades de análise investigadas, apenas três delas se mostraram relevantes, uma em cada tipo
de prática de trabalho institucional.

A prática de advocacia foi observada por meio de três ações: apoio político e
regulatório; lobby por recursos; e proposição ou ataque à legislação existente. Apenas o apoio
político e regulatório foi apontado pela maior parte dos entrevistados como inibidor na adoção
de produtos IoT pelas fazendas produtoras de bovinos de corte.

O apoio político e regulatório foi a única ação dentro da advocacia apontada pela
maioria dos entrevistados como uma questão importante na decisão de adoção ou não de
produtos IoT como ferramenta de gestão dentro das suas fazendas de bovinocultura. Esta
visão vem junto com a constatação da realidade apresentada pelos entrevistados sobre as
136

ações desenvolvidas pelo governo do estado de MS para tais tecnologias. Ao ser questionados
sobre o conhecimento que possuem sobre ações do governo, os entrevistados alegaram:

Não tenho conhecimento nenhum, assim, nunca foi mostrado para nós. Se tiver, mas
eu acredito que não tenha, porque nunca foi mostrado. E uma das propriedades, das
principais propriedades no estado que tem esse equipamento é a gente, então acho
que não tem. (FAZA01)
O estado praticamente não tem feito nada nesse quesito, Entendeu? O que tem são as
próprias empresas que produzem os equipamentos que ficam divulgando essa marca.
O estado hoje nesse quesito não vi nada. Eu particularmente não vi nada nesse
ponto. (FAZN06)
Nota-se, a partir da crítica dos entrevistados, que faltam ações por parte do governo de
MS para fomentar a adoção da IoT pelas fazendas de bovinocultura de corte. Os próprios
entrevistados mencionam quais políticas de apoio poderiam ser realizadas para que a intenção
de adoção fosse positiva. Para cinco dos entrevistados, principal política que deveria ser feita
envolve a concessão de crédito. Segundo a FAZN06, não existe crédito específico para as
tecnologias IoT. Caso ele queira adquirir algum desses produtos, teria que recorrer a crédito
para infraestrutura, pois não tem um específico para esta atividade-fim.

A possibilidade da oferta de crédito, também, é mencionada por outros entrevistados:

Rapaz, falta crédito. O cara só fala, exige mundos e fundos. Eles vêm na
propriedade, é obrigado a deixar reserva, cuidar de água, brejo essas coisas todas.
Falta incentivo governamental, a conscientização, incentivo, tudo mais. (FAZN04)
Crédito igual foi feito, por exemplo, para a energia solar. A gente já colocou energia
solar em quase tudo. Todas as propriedades nossa. Pegamos financiamento, uma
belezinha. E ele mesmo se paga, né? Então o principal é crédito a juros descentes.
(FAZN08)
A realização de lobby não foi apontada como ação relevante, para cinco entre oito
entrevistados. Segundo a FAZA01, quando questionado sobre a existência de algum grupo de
interesse que estava atuando junto ao governo do estado de MS ou a algum político para
busca de recursos para essas tecnologias IoT, o mesmo afirmou: “Não, não tem. Esse tipo de
grupo não tem. É realmente é um negócio que tem que ser feito bem particular porque o
estado, o governo não incentiva”. Um dos entrevistados mostrou-se reticente ao envolvimento
da classe política nessas ações: “Olha se for político envolvido nessa parte não dá. Só se for
política para desenvolvimento de vias de créditos essas coisas, mas a nível de política não me
interessaria não”.

Entre as três fazendas que citaram ser a realização de lobby interessante para elas, a
FAZN06 menciona que a falta de união de produtores, associações de classe ou até das
empresas, responsáveis por desenvolver o setor de bovinocultura de corte no país, prejudica o
avanço na adoção desses produtos IoT. Para ele:
137

Toda movimentação é interessante, né mano? Eu acho que os produtores precisam é


cada vez ter mais essa união. Eu acho que esse é o grande, senão, nosso hoje. Eu
acho que o Geneplus, a ANCP e o PMGZ ficam muito separados e não se unem para
estar trabalhando em cima disso. Eu acho que é preciso um pouquinho mais de
união. Como você já viu, toda a classe é desunida. E a classe ruralista não é
diferente. Cada um quer puxar sardinha para o seu lado e acaba que não tem união
né? Essa é a grande verdade. (FAZN06)
Ressalta-se, diante dessa fala, que a ação conjunta, entre os produtores e as empresas;
e entre estes e as empresas privadas e entidades que trabalham com a bovinocultura de corte
no estado de MS, faz-se necessária para impulsionar a existência de políticas que incentivem a
adoção de inovações disruptivas como a IoT. A desunião entre esses atores atrasa o avanço
tecnológico na área da pecuária, pois, como cita o entrevistado, este é um dos principais
gargalos, nesse processo de institucionalização.

Sete, entre os oito entrevistados, disseram que a existência de leis, normativas e/ou
regulamentações, acerca da adoção da IoT, não interferem na sua intenção de adoção desses
produtos. A FAZN05 alega que “Lei, na verdade, não representaria nada isso aí né? Para mim
independe se tem lei ou não”. Enquanto a FAZN04 cita que “Minha opinião, Eduardo. Eu
acho que em vez de existir mais leis, eles deviam simplificar as leis. Criou o precoce MS, mas
só o confinamento do JBS que atende eles mesmo. O resto ninguém atende”.

Ao indagar os entrevistados sobre qual seria o impeditivo principal para ainda não
terem adotado nenhum dos produtos IoT disponíveis no mercado nacional, o principal motivo
destacado foi o custo, tanto dos produtos, como das mudanças estruturais e de gestão que
devem ser realizadas para adoção. Destaca-se, diante disso, que o custo é um ponto
importante para os produtores. As falas dos entrevistados mostradas a seguir corroboram a
assertiva anterior: “Eu diria questão da própria estruturação, custos e a coisa tem que ser feita
devagar, né? Vontade não falta, cabe na fazenda, mas muitas vezes não cabe no bolso, tá?”
(FAZN04). E para o entrevistado FAZN05:

Principalmente custo. O primeiro seria o custo. Aí na parte de mão de obra a gente


treina, né? Mas o custo é o principal entrave no momento. E outra coisa, pensando
na nossa internet ainda, porque nossa internet é via rádio, então você tem que pensar
no custo do produto e pensando na internet também, porque esses dados não podem
ter falha. (FAZN05)
A prática de definição foi investigada por meio de duas óticas. A primeira, relacionada
ao processo de acreditação formal, no qual se observou a necessidade de as empresas
fornecedoras de produtos IoT serem acreditadas por algum órgão regulamentador. A segunda
foi a certificação de atores, em um campo que buscou verificar se receber alguma certificação
por utilizar os produtos IoT seria algo positivo para a adoção dessas tecnologias.
138

A necessidade de acreditação das empresas fornecedoras de produtos IoT não se


mostrou como inibidora para a adoção da tecnologia em foco, ao contrário, foi um ponto de
crítica para alguns entrevistados. A FAZN04, por exemplo, declara ter ressalvas sobre quem
iria certificar essas empresas: “É, a gente pode considerar, mas tem que ver quem é que vai
fazer essa certificação, né? Em se tratando de Brasil, hum”.

Quando questionadas se possuem algum tipo de certificação pela utilização de


produtos IoT, as fazendas, que possuem esse tipo de tecnologia implantada, dizem não ocorrer
nada relacionado a isso, como alega a FAZA02: “Passa por uma certificação, mas ela é do
CEIP (Certificado Especial de Identificação e Produção). O Ministério da Agricultura que
fornece”.

Ao se perguntar se a possibilidade de receber uma certificação especial seria algo


positivo na sua intenção de adoção, a resposta foi positiva para seis dos oito entrevistados. A
FAZN06 menciona: “eu acho que todo certificado que você ganha, traz algum know-how para
você estar divulgando a sua marca. Eu acho que isso agrega, né? E isso vem agregar na hora
que você está divulgando a sua marca. Isso ajuda muito”. Esta mesma visão é encontrada na
fala da FAZN08: “Se você tiver um certificado desse tipo, isso traz credibilidade, confiança, o
cliente confia mais. Ajuda no marketing. Ajudaria a atingir novos mercados, facilita crédito.
Acho que tudo”. Para a FAZN04, seria interessante: “Talvez um selo da Embrapa Gado de
Corte para a gente, alguma coisa nesse sentido, né? E que fosse um pouco mais divulgado,
fosse uma coisa, assim, mais comentada, avisada e tudo, né?”.

Ao analisar a prática de aquisição procurou-se observar o impacto de duas ações na


intenção de adoção da IoT pelas fazendas: realocação de direitos de propriedade e mudança
de regras nas relações de mercado. Em relação à realocação de direitos de propriedade,
identificou-se que todos os entrevistados não veem a interferência do governo ou outro órgão
regulamentador na definição de diretos de propriedade como algo interessante para o mercado
de produtos IoT. Para a FAZN04, caso ações como essas ocorressem, teria um impacto
negativo para eles: “Impacta, principalmente se o governo federal for o que tem hoje. O
governo do estado não inspira confiança. O cara vem do agro e foi o que mais ferrou a agro”.
Evidencia-se, portanto, na fala do entrevistado, a baixa confiança de alguns produtores
pecuaristas nas políticas públicas de inovação para o agronegócio que estão sendo realizadas
pelo governo Federal e do estado de MS.

Ao se observar a mudança de regras nas relações de mercado, cabe destacar que os


entrevistados veem a criação de novas dinâmicas de campo como algo positivo, desde que
139

seja benéfico as suas operações como, por exemplo, vantagens de mercado ao utilizar essas
tecnologias. Esse benefício de mercado por utilizar produtos IoT já existe, de maneira não
formal, como cita o entrevistado FAZA02: “Sim, existe um benefício de valor agregado,
porque como havia comentado, hoje o pecuarista tá muito preocupado em alimentação, a
suplementação dos animais e qual que é o período que ele vai conduzir esses animais até o
abate”. No entanto, de acordo com os entrevistados, se as fazendas obtivessem, por meio de
um órgão governamental ou autoridade coercitiva, a possibilidade de acesso a mercados,
bonificações ou outras vantagens, a adoção seria algo positivo.

Entre as práticas ligadas ao trabalho institucional cultural, duas delas foram


apontadas como inibidoras: construção de identidade e construção de redes normativas. A
prática de trabalho institucional, mudança de associações normativas, foi citada por cinco,
entre os oitos entrevistados, como algo que não influencia na hora de adotar produtos IoT.
Para eles, questões como bem-estar animal, treinamento dos funcionários, cursos,
aperfeiçoamento, treinamento ou outras questões que poderiam sofrer alterações, caso
produtos IoT fossem adotados, já são praticadas atualmente, o que não exigiria um esforço
grande por parte dessas fazendas:

Na verdade a gente vem trabalhando há muito tempo já com bem-estar animal,


muito focado nisso, entendeu? Então a gente trabalha sem gritaria, sem pancada, não
tem choque no Mangueira. Eu acredito que do que nós estamos fazendo não tem
muita coisa assim para ter restrição, sabe? (FAZN06)
Sobre a prática de construção de identidade que se caracteriza na criação ou
reorientação de profissões, seis, dos oitos entrevistados, citam entender que essa formação
especializada ou o surgimento de profissionais especializados para trabalhar com IoT é algo
relevante na sua escolha pela adoção desses produtos. Na busca por profissionais mais
atualizados, a FAZA03 cita que “Hoje procuramos capacitar nossa equipe e investir em
parcerias com universidades para termos estagiários e jovens profissionais trabalhando
conosco”.

O caminho da qualificação profissional também foi adotado pela FAZA01, que cita:
“teve que qualificar as pessoas dentro da fazenda que não entendiam do equipamento. Daí a
gente teve que dar o treinamento e com a utilização diária ali a gente conseguiu fazer com que
eles ficassem bem treinados”. Hoje, a FAZA01 conta com uma pessoa específica, veterinária,
que trabalha, olhando os dados diariamente: “todo dia ela olha os dados para ver se não tem
nenhum problema, porque assim, para coletar esses dados a gente precisou ter um processo
140

muito diário, é todo um cuidado muito específico, senão você tem muita perca de dados,
sabe? Isso é um equipamento sensível”.

A existência de profissionais qualificados para trabalhar com a IoT também é um


ponto de destaque na fala da FAZN06, tendo em vista que, segundo o entrevistado, “não
adianta nada você mensurar se você não tiver alguém que faça essa leitura, né? Eu acho que
isso é muito primordial. Porque não adianta eu ter um monte de dados e não ter alguém que
faça interpretação disso. Com certeza, isso seria de grande valia”. Para a FAZN05, o número
de profissionais especializados, nessa área, tem aumentado nos últimos anos: “Olha, eu
imagino que tenha aumentado e já está aumentando. já tem bastante zootecnista nessas partes
ai. Eu acho importante, porque quanto mais profissionais na área trazendo dados positivos
melhor”.

A construção de redes normativas foi uma prática em que quatro dos entrevistados
disseram impactar na própria decisão, na hora de adotar os produtos IoT: balanças e cochos
comercializados pelo SP03 e as balanças de passagem, comercializadas pelos SP01 e SP05.
Quando questionados sobre necessidade da existência de grupos de empresas, produtores ou
associações trabalhando para poder desenvolver atividades diversas voltadas a facilitar a
adoção desses produtos, os entrevistados externaram a visão desta existência como algo
importante para eles. Segundo a FAZN06, “eu acho que isso seria de grande valia, com
certeza. E nós não temos ninguém hoje que apoia essas tecnologias, né? Até esses programas
de melhoramento não tem muito incentivo da parte deles para você utilizar isso. Com certeza
faria muita diferença”.

Como o custo para adoção desses produtos é alto, segundo os entrevistados, a criação
de grupos de produtores que compartilhassem as tecnologias do SP03 para realização de
prova de eficiência alimentar seria uma maneira de superar os desafios para preencher essa
lacuna dentro de seus processos de melhoramento genético. Para o entrevistado FAZN05:

Se tiver alguma parceria, alguma coisa que seja bom para os dois lados, às vezes
poderia até ter implantado. E a gente gosta muito da parceria, a gente acha que a
parceria é um caminho, né? De repente se aparecer alguma coisa a gente não tem
nada contra não, mas eu acho que toda parceria tem que ser bom para os dois lados,
né? (FAZN05)
As práticas ligadas ao trabalho institucional técnico destacaram-se como inibidoras à
adoção da IoT, de acordo com parte dos entrevistados. Todas as quatro práticas de trabalho
institucional tiveram a maior parte dos respondentes destacando que a sua realização seria um
ponto importante na hora de adotar algum dos produtos IoT disponível no mercado. Apenas a
141

questão da existência de novas terminologias foi destacada como algo indiferente, na intenção
de adoção dessas fazendas.

Quando questionados sobre o mimetismo que se caracterizaria pela possibilidade de


associar os produtos IoT às tecnologias, estruturas e aos processos já em operação pela
fazenda, seis, dentre os oito entrevistados, disseram ser este um inibidor na intenção de adotar
esse produtos IoT. Segundo eles, a necessidade de construir novas estruturas e mudar os
processos existentes demandariam mais investimentos. Estes, aliados ao alto preço dos
produtos, inviabilizariam a aquisição ou, no mínimo, atrasariam a adoção da referida
tecnologia. Isso fica evidente na fala do entrevistado FAZN08 :“Não seria um empecilho, mas
atrasa mais, né? Porque você tem que fazer mais investimento, mas não é um empecilho. Se
não fosse nada muito mirabolante”.

Nas fazendas em que já se adotaram esses produtos, a necessidade de construir novas


estruturas para instalação desses produtos IoT se fez necessária, por isso se destacou essa
prática como uma inibidora. Esta necessidade de mudança se observa na fala dos
entrevistados FAZA03: “Conectividade, processo de melhoria da estrutura da balança, no
começo os animais tiveram acesso aos fios e estragaram bastante, mas isso foi evoluindo ao
longo do tempo”. E na FAZA01: “Na verdade, assim, a gente estava trocando de fazenda
quando iniciamos o processo, então a gente estava construindo o confinamento. Então a gente
teve que adaptar essa parte do confinamento já dentro dos moldes do Intergado”.

Ao se observar a prática de teorização, a ação de elaboração de cadeias de causa e


efeito foi destacada por cinco, dentre os oito entrevistados, como algo importante na adoção
dos produtos IoT. Segundo o entrevistado FAZA02, um dos problemas iniciais na doção
desses produtos foi a falta de informação: “O que teve principalmente, inicial, foi questão de
informação. E como a tecnologia adotada era muito nova aí a gente ficou meio que inseguros
na adaptação de como que ia ser feita as leituras, como que eram medidas, mensurações e
como que eram lidos esses animais”. Segundo a FAZN06, a divulgação sobre os benefícios e
problemas enfrentados, ao se adotar essas tecnologias IoT, é muito falha: “Não, isso é muito
falho, porque assim, hoje se você for conversar com vários pecuaristas que precisam de
animais avaliados na questão de desempenho, acabamento de gordura, CAR, etc., hoje tem
muito pouco conhecimento, tem muito pouca divulgação em cima dessa realidade”.

Mesmo sendo destacada como falha e limitada, a divulgação de informações sobre os


produtos IoT chega para algumas fazendas da região, por diferentes meios. A FAZA03
destaca que “essas inovações tecnológicas para o campo chega através das universidades,
142

tanto as federais como as particulares. E também por meio de instituições de pesquisa como a
Embrapa e as instituições particulares, como a própria Intergado e outras instituições que
fornecem ferramentas tecnológicas”. No entanto, o entrevistado cita que essas mesmas
informações não são comumente apresentadas por órgãos governamentais os quais estão em
contato direto com os produtores rurais: “Agora, por órgãos governamentais é bem sazonal
através de palestras e convenções, mas muito sazonalmente” (FAZA03).

O entrevistado FAZN04 coloca a prática de teorização como prioritária, dentro das


práticas de trabalho institucional que devem ser realizadas. Segundo ele, a conscientização
sobre a importância da utilização dessas tecnologias é algo falho e que causa conflitos dentro
do mercado de bovinos:

Rapaz eu acho que precisa primeiro é a conscientização. A conscientização, porque


veja bem, ainda a maioria dos animais o pessoal quer valor no vulto. Quando você
fala que você vende no peso da balança tem gente que não quer. A gente precisa
adotar essa prática, né? Tem que se tornar algo mais costumeiro. Acho que você se
conscientizar e fazer, porque hoje a nível de Brasil inteiro acho que no máximo dez
por cento tem balança na fazenda. E desses dez por cento acho que cinco usa,
metade usa, talvez seis por cento. (FAZN04)
Evidencia-se, de acordo com as falas dos entrevistados, que a teorização tem
importante papel na intenção de adoção das fazendas de bovinocultura, visto que quanto mais
informações disponíveis sobre os produtos, mais os produtores se sentem confiantes para
adquirir a tecnologia IoT. Entretanto, os mesmos citam que as poucas ações realizadas no
estado são “falhas” e realizadas por órgãos que, muitas vezes, não têm acesso e nem
influência sobre grande quantidade de produtores pecuaristas.

Ao se observar a prática de trabalho institucional da educação, seis entrevistados


citam a mesma como inibidora à adoção de produtos IoT como ferramenta de gestão dentro da
propriedade. Ao ser questionado se a existência de cursos de capacitação e formação seriam
relevantes na intenção de adoção da IoT, a FAZN06 cita: “Com certeza, com certeza. Isso
seria muito bom, isso seria ótimo se tivesse. Seria fantástico”. Entre as fazendas que já
adotaram algum produto IoT, a FAZA03 cita essa questão educacional como relevante e
afirma que um dos problemas que enfrentou, no início do processo de adoção, foi a
necessidade dos funcionários em aprender a lidar com esta tecnologia por causa da falta de
conhecimento.

Entre os entrevistados, a unanimidade foi para a falta de cursos de capacitação


fornecidas por entidades rurais e governamentais no estado de MS. A FAZA02 alega que
nessas organizações: “Existem muitos outros cursos, capacitações para outros setores, para
143

capatazes, para reprodução, para manejo de nutrição, para a formulação de ração, mas para a
parte de tecnologia IoT eu nunca vi”. Essa visão é corroborada pela FAZA01: “Não tem nada
do governo que de treinamento e incentive essas tecnologias, isso daí eu tenho certeza que
não tem nada, sabe?”. E pela FAZN05: “No Senar tem muitos cursos, mas é muito isolado.
Quem usa mais essa tecnologia é a parte de melhoramento animal, então o SENAR ainda está
focado em outras tecnologias, cursos mais básicos para aos produtores e funcionários”.
Ressalta-se, portanto, a crítica dos entrevistados quanto ao papel que o Senar e outras
entidades de assistência rural possuem na oferta de cursos focados em tecnologias como a IoT
para as produtores de bovinos de corte do estado de MS.

Quando questionados sobre quais órgãos poderiam oferecer formação a respeito da


tecnologia IoT, alguns entrevistados citaram que tanto órgãos públicos como privados seriam
organizações interessantes para isso. A FAZN06 alega que: “qualquer oferta neste espaço
seria legal, tanto privados, quanto no sindicato rural. Vamos dizer que fosse através de um
SENAR da vida, por exemplo, eu acho que já ajudaria muito até a questão de custo, mas das
duas formas seria interessante”. Já a FAZN05 cita que essa qualificação deve chegar pela
empresa que está comercializando os produtos IoT: “Quem vende já vai vender o pacote
completo com assistência. Isso é importante, porque mesmo quem lida diretamente com
internet tem que saber assimilar os dados e passar para os programas de melhoramento”.

A existência de práticas de pesquisa e desenvolvimento P&D foi citada por quatro


entrevistados como relevante para sua intenção de adoção. O entrevistado FAZN06 acredita
que a existência de P&D: “é de suma importância você ter cada dia mais pesquisas e novos
produtos dentro dessas coisas, ajuda muito”. Assim como a FAZN05 que afirma achar que
quanto mais tecnologias para a área rural, melhor.

Quando questionados sobre as atividades para as quais os entrevistados acreditavam


que os produtos IoT poderiam trazer benefícios para seu processo produtivos, as respostas
variaram de acordo com o tipo de produto IoT que as fazendas já adotavam ou tinham
interesse em adotar. Entre as quatro domínios levantados teoricamente, monitoramento,
controle, predição e logística, apenas a atividade de controle não foi citada.

Três fazendas mencionaram que o objetivo com a adoção das balanças de passagem é
monitorar o ganho de peso dos animais para ter mais informações na hora de comercializar
seus produtos. A FAZ03, por exemplo, cita que a balança de passagem possibilitará
“Monitorar individualmente e diariamente os animais do confinamento para entender a
lucratividade de cada um e formar lotes mais homogêneo com o intuito de aumentar a
144

lucratividade”. Já a FAZ04 acredita que “a balança eu acho que é uma das melhores
ferramentas da propriedade. Não é a mais cara, é um investimento e não exige tanto dinheiro.
É um dos melhores indicativas que tem, pois é ela que vai dizer para você qual o animal que
melhor se adapta e qual pasto é melhor para sua região”.

Quando observadas as fazendas que têm adotado ou possuem interesse em adotar os


produtos da Intergado para prova de eficiência alimentar, para quatro fazendas no total, o
objetivo com a adoção foi a predição. Por meio dessas tecnologias, os produtores conseguem
levantar informações sobre consumo e ganho de peso de cada animal testado, permitindo,
assim, predizer quais animais serão mais eficientes em relação ao CAR. A FAZA02 declara:
“a gente decidiu fazer a medição do consumo alimentar desses animais, justamente por que
estava aumentando os insumos e isso preocupa por que cerca de 80% dos custos de uma
propriedade rural é voltada a nutrição animal”. A FAZ01 alega que “A gente busca animais
eficientes. Hoje a gente sabe do valor que a nutrição tem dentro da pecuária, então houve essa
necessidade de buscar animais mais eficientes, melhorando realmente a rentabilidade dentro
da propriedade”.

Apenas a FAZN07 mencionou que pretende adotar produtos IoT, no caso específico,
as balanças de passagem, para melhorar o processos logísticos da propriedade. Segundo o
gestor entrevistado, a identificação dos animais por brinco impresso e a necessidade de
movimentá-los até o curral para pesagem representam um problema para eles: “Ah, você não
perder muito tempo levando até o curral, porque você perde muito tempo no curral para ver
número, tem número que apaga, né”.

De acordo com as informações apresentadas nas entrevistas da etapa 2, foi possível


elaborar o Quadro 18, exibido a seguir, que classifica as unidades de análise, conforme o nível
de incidência, como inibidoras, para as fazendas de bovinocultura de corte do estado de MS.
Como foram, oito, o número de entrevistados, ao empregar os parâmetros de classificação
expostos na seção de metodologia, tem-se o seguinte resultado para o nível de incidência:
Alto (8 – 7 respondentes); Médio (6 – 4 respondentes); Baixo (3 -1 respondentes); Inexistente
(0).

Ao analisar as dez práticas de trabalho institucional listadas, teórica e empiricamente,


em relação ao potencial de cada uma como inibidora na adoção de produtos IoT, constata-se
que apenas a advocacia é classificada no nível alto de incidência, ou seja, para sete, entre oito
entrevistados, o apoio político, mediante ações de fomento por parte de órgãos do governo do
estado ou do governo federal, são essenciais para que a intenção de adoção seja alta.
145

Quadro 18: Análise da incidência das práticas de trabalho institucional como inibidoras a
adoção da IoT pelas fazendas de bovinocultura

Nível de incidência como


Trabalho Práticas de trabalho
Unidades de análise inibidor
institucional institucional
Alto Médio Baixo Inexiste
Apoio político e regulatório X
Lobby por recursos X
Advocacia
Proposição ou ataque a
X
legislação existente
Processo de acreditação formal X
Trabalho
Definição Certificação de atores em um
Político X
campo
Realocação de direitos de
X
propriedade
Aquisição
Mudanças de regras nas
X
relações de mercado
Construção de Criação/Reorientação de
X
identidade profissões
Trabalho Mudança de Substituição de normas
X
Cultural associações normativas generalizadas
Construção de redes Proto-Instituições / Redes
X
normativas normativas
Justaposição de velhos e novos
Mimetismo X
modelos
Elaboração de cadeias de causa
X
e efeito
Teorização
Trabalho Nomeação de novos conceitos
X
Técnico e práticas
Educação nas habilidades e
Educação X
conhecimentos necessários
Pesquisa e Desenvolvimento de pesquisas
X
Desenvolvimento e produtos
Fonte: Dados da pesquisa.

As práticas de construção de identidade, construção de redes normativas, pesquisa e


desenvolvimento, mimetismo, teorização, definição, aquisição e educação estão no nível
médio, quanto ao impacto na intenção de adoção de produtos IoT. O que pode representar
que, somente após serem beneficiados com ações ligadas à advocacia, os proprietários
pecuaristas deverão levar em consideração a existência de ações ligadas às práticas de
trabalho listadas no nível médio. Por fim, a prática de mudança de associações normativas é a
única listada no nível mais baixo como inibidora na intenção de adoção. Neste sentido, pode
representar que, mesmo que existam ações sendo realizadas relacionadas a essa prática, elas
pouco ou nada influenciaram na decisão de adotar produtos IoT, por parte dos responsáveis
pelas fazendas.
146

5 CAPÍTULO V – ANÁLISE E DISCUSSÃO TEÓRICA DOS RESULTADOS

Este capítulo apresenta a análise e discute, à luz da literatura, os dados coletados


empiricamente junto aos atores institucionais e às fazendas de bovinocultura do estado de
Mato Grosso do Sul. Além disso, é proposto um framework teórico-conceitual que visa
estruturar as práticas de trabalho institucional voltadas à adoção da IoT pelas fazendas de
bovinocultura de corte.

5.1 DISCUSSÃO TEÓRICA DAS PROPOSIÇÕES DE PESQUISA

Tendo como referência os resultados sobre a existência das práticas de trabalho


institucional no macroambiente do estado de MS, Quadro 17, e a identificação dos inibidores
na adoção da IoT, Quadro 18, é possível discutir as proposições levantadas teoricamente com
foco a corroborá-las ou refutá-las.

Proposição 1: a realização de práticas ligadas ao Trabalho Institucional Político


fomenta a adoção da IoT como ferramenta de gestão na bovinocultura de corte, no estado de
Mato Grosso do Sul.

Os resultados apresentados respaldam a confirmação da proposição 1, ou seja, existem


práticas ligadas ao trabalho político que estão sendo realizadas no macroambiente do estado
de MS com o objetivo de fomentar a adoção da IoT, uma ferramenta de gestão na
bovinocultura de corte. Contudo, entre as três práticas ligadas ao trabalho político, apenas a
advocacia tem sido realizada com maior empenho pelos atores do estado. A prática de
definição foi citada apenas por dois setores como existente, sendo classificada no todo como
“existe parcialmente”. A realização da prática de aquisição não foi percebida como existente
pela maioria dos entrevistados.

Entre as quatros unidades de análise ligadas, a advocacia, pôde-se concluir que apenas
o apoio político e regulatório está recebendo uma ação efetiva por parte dos atores
institucionais do estado de MS. De acordo com o campo, as principais ações políticas, em
nível local, são desenvolvidas pela parceria entre aos SPE01 e SPE02, setor público estadual,
no qual as organizações utilizam dois caminhos para apoiar o desenvolvimento de projetos
voltados a IoT na bovinocultura: o primeiro, por meio de editais de apoio à pesquisa, com
concessão de bolsas de estudo, desde o ensino médio até a pós-graduação. O segundo, por
meio de dois programas de fomento à inovação, Centelha MS e Tecnova, que fornecem
subvenções econômicas, sem devolução a empresas locais, selecionadas por edital. Esses
resultados se assemelham ao encontrado no estudo de Wahid e Sein (2014), no qual o apoio
147

político mostrou-se uma interessante ferramenta para endossar a realização de pesquisa e


projetos que utilizam a IoT para a bovinocultura de corte.

Algumas ações de apoio político foram citadas pelos atores entrevistados SPF02 e
SPF03 como executadas pelo governo Federal. O primeiro e mais conhecido em nível
nacional foi o estudo intitulado “Internet das Coisas: um plano de ação para o Brasil” do qual
decorreu o Plano Nacional de Internet das Coisas e a Câmara Agro 4.0. A realização de ações
por parte do governo Federal surge como estratégia nacional de defesa da inovação,
mostrando que a mesma tem interesse e apoio regulatório por parte desses atores (Jespersen &
Gallemore, 2018).

Mesmo com as ações executadas por parte do governo do estado de MS, é perceptível,
na falas dos atores educacionais e privados, que falta apoio político, visto que os mesmos
dizem serem raras ações do governo voltadas especificamente à IoT ou que, ao menos,
contemplem esta tecnologia. A falta de ação por parte do estado é confirmada pelo próprio
ator institucional SPE02, órgão do governo do estado, no qual ele cita serem pequenas as
iniciativas realizadas. Diante deste fato, a necessidade de políticas públicas mais efetivas para
a IoT é uma realidade destacada pelos atores entrevistados que não se limita à realidade do
estado de MS. A pesquisa realizada por Chuang, Wang e Liang (2020), com produtores de
Taiwan, também sugere, como resultado, a necessidade das agências de administração
agrícola locais taiwanesas desenvolver políticas agrícolas inteligentes, voltadas para a IoT.

A realização de programas que apoiem financeiramente pesquisas, empresas e


fazendas que queiram trabalhar com a IoT é uma prática importante para o desenvolvimento
tecnológico local (Das, 2022). Porém, quando não realizados, se tornam objeto de proposição,
como foi observado na fala das fazendas entrevistadas na Etapa 2 (Zhang et al., 2016). Esse
anseio não é somente dos entrevistados desta pesquisa, pois, como mostra Ronaghi e
Forouharfar (2020), a falta de recursos financeiros também impacta as atividades de
produtores do Irã, de tal maneira que os resultados da pesquisa revelam que os autores
sugerem que a Organização Estatal Agrícola no Irã, como organização governamental, facilite
as condições para os agricultores do país, por meio de políticas de apoio financeiro, a fim de
possibilitar financeiramente a compra e a instalação de tecnologias IoT.

Dentro da prática de definição, apenas o processo de acreditação formal foi


classificado como existente, de modo parcial, no macroambiente do estado de MS. A
acreditação citada limitou-se ao processo pelos quais os atores educacionais e os centros de
pesquisa precisam passar para desenvolver projetos de IoT que realizam testes em animais.
148

Segundo os entrevistados SE03 e SE04, para desenvolver produtos IoT para a bovinocultura
de corte, é necessário que os testes de campo sejam liberados pelo Comitê de Ética Animal da
universidade à qual o projeto está ligado. Só após o reconhecimento pelo Comitê de Ética
Animal (CUA) da observância, pelo projeto de todos os padrões especificados, é feita a
liberação para realização dos testes envolvendo animais. A realização da prática de definição
foi destacada, também, em Obeng Adomaa et al. (2022), no qual os autores citam a
incorporação de serviços de certificação como novos caminhos alternativos para
implementação das Boas Práticas Agrícolas (BPAs).

Diante do exposto, o governo do estado de MS não realiza nenhuma ação de


acreditação relacionada à IoT, contudo possui programas que geram bonificação aos
pecuaristas pela realização de outras práticas como, por exemplo, manejo, utilizando as
práticas de bem-estar animal, pastejo rotacionado, entre outros. Inserir a IoT como uma dessas
práticas bonificáveis é uma possibilidade para que se estimule a adoção de produtos IoT no
estado de MS.

Proposição 2: a realização de práticas ligadas ao Trabalho Institucional Cultural


fomenta a adoção da IoT como ferramenta de gestão na bovinocultura de corte, no estado de
Mato Grosso do Sul.

De acordo com a análise dos resultados empíricos, é possível confirmar a proposição


2, pois as práticas de construção de identidade, mudança de associações normativas e
construção de redes normativas são realizadas em alguma proporção no macroambiente do
estado de MS. Para os entrevistados, as práticas mais realizadas de trabalho cultural são: a
construção de redes normativas, apontada, por todos os setores, como existente; a construção
de identidade, indicada por dois setores como existente e dois setores como existe
parcialmente; e a mudança de associações normativas, listada pela maioria como existente de
modo parcial.

Como exemplo de atuações ligadas à construção de redes normativas, observou-se a


formação de redes de cooperação, criadas pelos atores do estado de MS, que objetivam
superar a falta de apoio político e desenvolver produtos, pesquisas e ações que fomentem a
adoção da IoT pelo setor rural (Lawrence & Suddaby, 2006). A cooperação para
desenvolvimento de produtos e pesquisa não é exclusividade do estado de MS. Cedeño et al.
(2018) apontam que todas as empresas que querem aumentar sua lucratividade e obter
resultados econômicos mais altos precisam cooperar, cada vez mais entre si mesmas, para
desenvolver modelos de negócios inovadores e inteligentes, utilizando a IoT.
149

Com base nas falas dos entrevistados, foi possível elaborar uma representação
esquemática da rede de cooperação desenvolvida no estado de MS para atuação em IoT e
bovinocultura de corte (Figura 16). Por ordem de intensidade, os atores com maior destaque
foram, respectivamente, Embrapa, UFMS, Sebrae, Semagro e UCDB. Como os desafios à
adoção da IoT pela pecuária são muitos, uma das formas mais eficazes de os superar é os
governos, as agências centrais, regionais e locais trabalharem juntos, como força motriz, com
o objetivo de desenvolver iniciativas para a adoção desta tecnologia (Zhang et al., 2016).

Figura 16: Rede normativa criada no estado de MS para IoT e Bovinocultura de corte

Fonte: Elaborado pelo autor.

A Embrapa possui a maior e mais diversa rede de cooperação, em termos de objetivo


pretendido. Ao todo, nove entrevistados citaram possuir algum tipo de parceria com este ator
institucional, sendo algumas delas criadas para determinados projetos; enquanto outras são
perenes. A organização dos atores em redes de colaboração traz benefícios para todos os
envolvidos, possibilitando até a co-construção de estratégias para fomentar a IoT (Michel,
2020). A parceria de maior “sucesso” realizada pelo ator citado foi junto ao UFMS e a
Coimma. Desta parceria, resultou um dos mais consolidados produtos IoT disponíveis para a
bovinocultura de corte no país, a balança de passagem. A parceria mais duradoura e produtiva
é com a UFMS, por meio da qual, juntos, desenvolvem projetos voltados à pecuária de
precisão, no programa de mestrado profissional em computação aplicada da universidade.
150

A existência de um ator institucional, desenvolvendo pesquisas com base na IoT, que


possui reconhecimento nacional e internacional no setor da pecuária, como é o caso da
Embrapa, contribui para que os projetos envolvendo essa tecnologia sejam fortalecidos
nacionalmente. Tal fato corrobora com Chuang, Wang e Liang (2020) ao mencionarem que
tanto as agências de administração agrícola de Taiwan, quanto os operadores de IoT locais
devem promover a aplicação e a transformação da agropecuária do país, por meio dessa
tecnologia.

O Sebrae destaca-se como o terceiro ator com a maior rede de cooperação no estado de
MS, no entanto as parcerias desenvolvidas entre ele e os demais atores não visam ao
desenvolvimento de produtos ou pesquisas e, sim, à estruturação de um ecossistema de
inovação que envolva todos os setores do estado de MS, no qual parcerias, projetos e outras
ações possam surgir de maneira espontânea. O papel da empresa, nesse projeto, é como
articulador responsável por colocar em prática as ações da Câmara Agro 4.0 que objetivam
criar ecossistemas regionais de inovação por todo o país. Ambientes como esse, em que a
troca de experiências e recursos entre entidades podem ocorrer livremente, é uma das
soluções em longo prazo para o avanço da agropecuária 4.0, em países em desenvolvimento,
como é o caso da China e do Brasil (Zhang et al., 2016).

A forma como a prática de construção de identidade está sendo realizada no estado de


MS é por meio da reorientação de identidades (Binz et al., 2016). Ao existir profissionais
especializados e preparados para atuar com a IoT, a legitimação desta tecnologia torna-se
facilitada, visto que esses profissionais operarão como legitimadores (Muzio et al., 2010). Os
entrevistados mencionam a ocorrência de alterações no perfil dos profissionais, seja naqueles
que atuam no desenvolvimento de produtos IoT, ou naqueles que estão nas fazendas de
bovinocultura de corte. Para a maioria dos entrevistados, não se faz necessário criar novas
formações profissionais para atuar com a IoT na pecuária bovina de corte. Espera-se,
portanto, a reorientação no perfil desses profissionais, no sentido de estar aptos a trabalhar de
forma multidisciplinar, pois o desenvolvimento e a adoção desses produtos exigem
conhecimentos em TIC e agropecuário (Talavera et al., 2017).

A necessidade de reorientar os profissionais para atuar com a IoT já é vista pelos


entrevistados como uma realidade exigida pelo mercado. Tal constatação reforça que os
fatores humanos foram e sempre serão críticos para o sucesso da adoção e difusão dos novas
tecnologias da pecuária 4.0 (Bosch-Sijtsema & Gluch, 2021). Logo, aumentar a
conscientização, a educação e a formação desses profissionais, será essencial para que
151

continuem a desempenhar o papel importante de disseminar e aprimorar os modelos de gestão


baseados em IoT (Zhang et al., 2016).

Um aspecto interessante sobre a reorientação de identidade a se destacar é que se pode


mudar o perfil dos profissionais que estão no campo, como comentado por alguns
entrevistados. Eles destacam que, conforme as novas gerações estão assumindo as atividades
no campo, uma mentalidade aberta à inovação tem aparecido. Estes profissionais já chegam
com maior qualificação e são propensos a investir em tecnologias disruptivas que melhorarão
a produtividade e gestão da propriedade. Esta visão vai ao encontro de Negrete (2018) de que
o capital humano para aplicar a Internet das Coisas no ambiente rural é garantido, contudo é
preciso enfatizar que isso é feito, motivando-se os estudantes e graduados a se concentrar na
aquisição dos conhecimentos e habilidades necessários.

Por fim, a terceira prática relacionada ao trabalho cultural, mudança de associações


normativas, foi citada como algo que existe parcialmente, segundo os entrevistados. A
mudança normativa mais citada está relacionada às normas de bem-estar animal (Jespersen &
Gallemore, 2018). Há alguns anos, discute-se a adoção de práticas de bem-estar animal na
pecuária bovina. Para os entrevistados, uma das formas de se colocar em exercício essas
práticas é por meio da adoção tecnológica. Ao adotar, por exemplo, um brinco com microchip
e uma balança de passagem, produtos IoT disponíveis no mercado, além de poder coletar e
visualizar todas as informações do ciclo de vida dos animais, de maneira mais eficiente,
abandonam-se muitas práticas inadequadas de manejo institucionalizadas, como é o caso da
marcação a ferro e movimentação dos animais para pesa periódica (Wahid & Sein, 2014).

Além do impacto nas receitas por causa da menor lucratividade por animal, a
comercialização dos produtos de pecuaristas que ainda adotam práticas inadequadas de
manejo está no radar de consumidores cada vez mais conscientes e de países que exigem
certificações que comprovem as práticas de manejo adequadas e sustentáveis. A União
Europeia, por exemplo, assinou, em dezembro de 2022, um acordo sobre lei que impede a
importação de carne de animais criados em áreas desmatadas (Money Times, 2022). Por meio
das inovações baseadas em IoT, os produtores podem atender a essas exigências do mercado,
criando um sistema de rastreabilidade baseado na IoT, para fornecer informações sobre o
produto do campo até a mesa, satisfazendo às novas necessidades do consumidor (Talavera et
al., 2017).
152

Proposição 3: a realização de práticas ligadas ao Trabalho Institucional Técnico


fomenta a adoção da IoT como ferramenta de gestão na bovinocultura de corte, no estado de
Mato Grosso do Sul.

De acordo com a análise de conteúdo realizada a partir dos dados coletados


empiricamente, é possível confirmar a proposição 3. Todavia, é preciso observar que nem
todas as práticas de trabalho institucional relacionadas ao trabalho técnico estão sendo
realizadas no estado de MS. A prática de educação, por exemplo, foi citada como não
existente pelos entrevistados; enquanto que, na visão dos entrevistados, as práticas de
mimetismo e teorização existem de maneira parcial. A única prática que existe, segundo a
maioria dos respondentes, é a de pesquisa & desenvolvimento.

A prática de P&D mostrou-se pertinente para a criação da nova instituição baseada em


IoT, diante do contexto em que está inserida, ou seja, de transformação tecnológica na
pecuária bovina (Zarpelon, 2020). Ao realizar projetos dessa natureza, os atores institucionais
contribuem para o conhecimento científico sobre a utilização de tais tecnologias na pecuária,
ao mesmo tempo em que os mesmos podem resultar em novas soluções tecnológicas baseadas
em IoT. Esta é uma importante atividade em um cenário de inovação, uma vez que, como as
tecnologias ainda estão sendo desenvolvidas, é necessário o surgimento de produtos cada vez
mais aprimorados e eficientes que ajudem a superar problemas de sistemas anteriores,
incluindo custo, faixa de cobertura e usabilidade em ambientes externos (Gsangaya et al.,
2020).

Os atores que realizam ações de P&D no estado de MS são divididos em dois grupos:
os atores que executam pesquisas e desenvolvem produtos IoT; e os atores que gerenciam
projetos de fomento para apoio a essas pesquisas. Entre as ações executadas, estão a
concessão de bolsas de pesquisa ao ensino médio, via Pintec, ao ensino superior, bolsas de
mestrado, doutorado e bolsas de pós-doutorado. Para as empresas, o apoio concretiza-se pela
realização do Centelha MS e Tecnova. Os principais produtos IoT, frutos de P&D
desenvolvido no estado de MS, são as balanças de passagem, comercializadas pelo SP01 e
SP05. Outros produtos como os alimentadores automáticos e dispositivos de monitoramento
das características biológicas devem chegar ao mercado brevemente.

A prática de mimetismo foi citada apenas por oito atores entrevistados, por isso foi
classificada como existente de modo parcial dentro do macroambiente do estado de MS. Entre
os objetivos do mimetismo, está a associação de novas práticas, tecnologias e regras para algo
já existente e institucionalizado, de modo a facilitar sua aceitação no ambiente institucional e
153

organizacional (Lawrence & Suddaby, 2006). Quando se trata de IoT, por mais que o
mimetismo não seja a única forma de desenvolver esse paradigma, esta é uma prática sine qua
non, conforme cita os entrevistados, pois quase todas as tecnologias utilizadas em um
universo IoT são reaproveitadas de outras inovações. Esta prática mostra-se interessante,
porque, em cenários resistentes e com altos custos, unir o “novo” e o “velho” libera o
potencial dessas novas tecnologias (Sahay et al., 2018).

A pecuária bovina de corte, assim como outros ambientes rurais possuem um contexto
institucional denso, ao se observar a abertura para adoção tecnológica, por isso inserir
mudanças nas práticas de produção e gestão do gado se torna mais rapidamente viável,
quando podem ser aninhadas dentro de instituições já formalizadas, prática encontrada no
estado de MS (Rutherford & Schultz, 2019). Os atores do setor educacional, por exemplo,
citam utilizar, de maneira frequente, tecnologias já existentes para criar novos produtos,
dando aos mesmos nova usabilidade, aperfeiçoando e adequando-os às exigências de seus
projetos. O mesmo é citado pelas empresas que já estão com produtos IoT sendo
comercializados no mercado. A exemplo, pode-se observar as balanças de passagem, as quais,
segundo os entrevistados, contêm sensores infravermelhos similares aos encontrados em porta
de lojas.

As duas ações relacionadas à prática de teorização, nomeação de novos conceitos e


práticas; e elaboração de cadeias de causa e efeito, foram classificadas como existentes, de
modo parcial, por todos os setores entrevistados (Lawrence & Suddaby, 2006; Perkmann &
Spicer, 2008). Ao se analisar a elaboração de cadeias de causa e efeito, identificou-se que a
mesma ocorre de duas maneiras no estado de MS: (1) publicação acadêmica, por meio de
artigos, dissertações e teses; e (2) participação de empresas privadas e pesquisadores em feiras
e eventos que reúnem produtores do setor.

Os órgãos públicos entrevistados dizem que a divulgação sobre a IoT para os


produtores rurais é algo que estão realizando dentro das suas possibilidades ou que representa
uma das próximas ações a ser executada, no entanto citam que esta não é uma tarefa fácil, em
razão do perfil conservador dos pecuaristas. A fala desses entrevistados vai ao encontro de
Ronaghi e Forouharfar (2020) no qual mencionam que os formuladores de políticas agrícolas
de um estado devem promover a IoT para uma agropecuária inteligente, destacando os
benefícios e apresentando os custos que esta tecnologia irá gerar na adoção.

Em relação à nomeação de novos conceitos, identificou-se empiricamente que os


atores que mais realizam essa ação são as próprias empresas privadas que desenvolvem e
154

comercializam seus produtos para bovinocultura baseados em IoT. Como exemplo, tem-se a
balança de passagem que recebe o nome de Balpass; o cocho eletrônico que é o e-feeder; e o
Bovine Electronic Plataform (BEP). O próprio termo IoT e as tecnologias que a compõem,
como a redes de sensores sem fio (RSSF), computação em nuvem (CN) e outros, são
desconhecidos para uma boa parte da população (Aydin & Aydin, 2020). Entretanto, está é
uma prática pouco realizada pelos pesquisadores e até por empresas que comercializam
produtos IoT. Eles afirmam que preferem não adotar termos novos e, sim, nomes usados
cotidianamente na “lida” da fazenda, pois isso gera uma compreensão facilitada da
funcionalidade dos produtos e maior aproximação com os produtores.

A única prática de trabalho institucional, ligada ao trabalho técnico, que não foi
observada empiricamente como existente no macroambiente do estado de MS foi a educação.
O que se mostra contrário ao mencionado em diferentes estudos sobre trabalho instrucional e
IoT, ou seja, há necessidade de educar os atores para que eles estejam aptos a adotar e
colaborar com a nova instituição (Binz et al., 2016; Wahid & Sein, 2014). Para os
entrevistados, não são realizadas ações de educação suficientes para fomentar a IoT como
ferramenta de gestão na pecuária bovina no estado, nem por órgãos públicos, nem privados.
Tal fato é preocupante, porque, diante a baixa alfabetização em TIC dos profissionais que
empreendem para o setor rural e, principalmente, de quem está no dia a dia nas fazendas, os
mesmos não conseguem entender os benefícios do uso de tecnologias emergentes para a
aquisição de conhecimento e informação sobre atividades produtivas (Zhang et al., 2016).

Atores entrevistados do setor educacional dizem realizar algum tipo de ação voltada a
educar os estudantes, com conhecimentos e habilidades necessárias sobre a adoção da IoT na
bovinocultura de corte, porém o número de alunos expostos a esse conhecimento é mínimo,
em relação ao total existente, sendo que apenas os alunos que participam de projetos de
pesquisa desenvolvidos pelos docentes têm acesso a essas formações. Ao público externo
interessado, fica restrita a participação em eventos e cursos generalistas.

A necessidade de realizar ações de educação nessa temática é de conhecimento de


todos os atores, inclusive do setor público federal (Jespersen & Gallemore, 2018). Por mais
que eles mesmos digam ainda não realizar ações para sanar esse problema, isso tornou-se uma
prioridade para eles, tanto que, conforme referiu o SPF02, no plano de ação para 2021-2024,
para a câmara agro 4.0, uma das prioridades listadas é a “a formação profissional, capacitação
e preparação da mão-de-obra para o futuro”. Portanto, estas ações fazem-se necessárias para
155

uma mudança em longo prazo no perfil dos profissionais que têm papel importante para
disseminar e incorporar tecnologias no ambiente rural (Zhang et al., 2016).

Proposição 4: Existem práticas de trabalho institucional inibidoras a adoção da IoT


como ferramenta de gestão na bovinocultura de corte no estado de Mato Grosso do Sul..

A análise dos dados coletados por meio da Etapa Empírica 2, entrevistas com
responsáveis por fazendas de bovinocultura de corte do estado de MS, trazem resultados que
permitem corroborar a proposição 4. Ao observar as práticas de trabalho institucional como
possíveis inibidoras à adoção de produtos IoT pelas fazendas de bovinocultura, evidencia-se
que nem todas as ações realizadas pelos atores institucionais demonstram o potencial de
fomentar a adoção dessa tecnologia (Chiwamit et al., 2014).

A existência das práticas de trabalho institucional que se destacam como inibidoras


pôde ser visualizada no Quadro 18, no qual se apresenta a incidência com que cada unidade
de análise foi indicada pelos gestores das fazendas como práticas inibidoras, na intenção
destes na adoção da IoT. Entre as 15 unidades de análise investigadas, seis foram classificadas
como de incidência baixa ou inexistente. Oito foram classificadas no nível médio e apenas
uma, no nível mais alto.

Ao se observar as dez práticas de trabalho institucional, só uma, mudanças de


associações normativas, não foi classificada minimamente como inibidora. As oito práticas de
trabalho, listadas no nível médio, são: definição, aquisição, construção de identidade,
construção de redes normativas, mimetismo, teorização, educação e P&D. Apenas a
advocacia desponta no nível alto como um inibidor na adoção da IoT. O resultado encontrado
assemelha-se ao apresentado por Chiwamit, Modell e Yang (2014) de que o trabalho político
é um dos principais na institucionalização de uma inovação dentro do setor organizacional.

Entre os pontos que influenciaram os entrevistados a listar a advocacia como a


principal prática de trabalho institucional inibidora, está a necessidade de apoio político e
regulatório para a concessão de crédito, a qual, segundo eles, faz-se indispensável diante do
elevado custo que os produtos IoT possuem para aquisição e instalação. O elevado custo na
adoção destas tecnologias, também, foi destacado por Da Rosa Righi et al. (2020) como fator
crítico para a margem de lucro dos produtores.

Para alguns entrevistados, uma das ações de advocacia que pode ser realizada pelo
governo estadual e que ajudará a mitigar esse problema é a oferta de linhas de crédito
específicas para esse tipo de inovação, assim como foi feito para instalação de energia solar e
156

outras já existentes e disseminadas no mercado. Sugestão semelhante à encontrada em


Ronaghi e Forouharfar (2020) no qual é sugerido que a Organização Estatal Agrícola do Irã
forneça apoio financeiro, por meio de empréstimos de longo prazo, com juros baixos, para
produtores de baixa renda.

A sugestão de alguns entrevistados quanto a oferta de linhas de crédito destoa, em


parte, do que foi exposto pelos atores SPF02 e SPF03 que mencionam que uma das conquistas
alcançadas para a IoT no ambiente rural foi a inserção de linhas de financiamento para
ciência, tecnologia e inovação no Plano Safra, no Programa Nacional de Fortalecimento da
Agricultura Familiar (PRONAF) e no Fundo de Financiamento do Centro-Oeste (FCO). Com
isso, itens da agropecuária 4.0, como a IoT, passaram a ser financiados pelo governo para os
produtores rurais de pequeno e médio porte. O problema, neste caso, pode estar na teorização
destacada por Lino et al. (2019) como uma das práticas necessárias para superar o baixo
conhecimento sobre os produtos IoT e a resistência que os proprietários rurais possuem em
relação à mesma.

Empiricamente, a teorização também foi destacada como prática importante para


institucionalizar a IoT. Os entrevistados que destacam a teorização como inibidora citam que
os benefícios, possibilidades e problemas que a adoção de produtos IoT pode trazer para os
produtores rurais precisam ser melhor divulgados pelas organizações governamentais ou
associações que estão em contato direto com os produtores. Resultado semelhante ao
encontrado em Chuang, Wang e Liang (2020) no qual destacam que a falta de informação
sobre produtos IoT afetou diretamente a utilidade percebida e a facilidade de uso percebida de
jovens produtores rurais de Taiwan, impactando a intenção de uso desses produtos. E, em
Jayashankar et al. (2018), que teve como objetivo estudar os antecedentes da adoção da
Internet das Coisas (IoT) entre os agricultores de Iowa, EUA, a fim de determinar como a
confiança na tecnologia influencia a adoção da mesma.
157

5.2 PROPOSTA DE UM FRAMEWORK TEÓRICO-CONCEITUAL PARA A


INSTITUCIONALIZAÇÃO DA IOT

A análise dos dados empíricos, coletados junto aos atores institucionais, Etapa 1, e aos
gestores das fazendas de bovinocultura de corte de MS, Etapa 2, permitiram obter dois
resultados: o primeiro, quanto à existência de práticas de trabalho institucional voltadas para a
IoT no macroambiente do estado de MS; e o segundo, sobre as práticas de trabalho
institucional inibidoras à adoção de produtos IoT. Tendo como base esses resultados, foi
possível: (1) realizar uma análise qualitativa para estabelecer o nível de prioridade, de cada
prática de trabalho institucional, para a proposição de ações que fomentam a adoção de
produtos IoT pelas fazendas de bovinocultura de corte e; (2) propor um Framework teórico-
conceitual sobre o papel de práticas de trabalho institucional para adoção da Internet das
Coisas (IoT), na pecuária bovina de corte, no estado de Mato Grosso do Sul.

Para realizar estas análises foi utilizado o modelo teórico metodológico conceitual,
Quadro 14, apresentado detalhadamente na seção de métodos. A metodologia de priorização
proposta considera, primeiramente, os resultados identificados na Etapa 2 e, na sequência, os
resultados da Etapa 1, ou seja, primeiro, o nível como inibidor; e segundo, a sua existência
dentro do macroambiente. Optou-se, nesta pesquisa, por analisar apenas as práticas que
apresentaram incidência alta e média como inibidoras. A ordem de qualificação para
priorização foi definida, como exposto, no entanto, o campo empírico foi analisado como se
apresenta, com isso, nos casos em que uma relação, inibidor versus existência, não foi
observada, a próxima relação correspondeu ao nível de prioridade seguinte.

A qualificação, quanto ao nível de prioridade, ocorreu da seguinte forma: práticas de


trabalho institucional indicadas no nível alto como inibidor e como existentes no
macroambiente, foram classificadas no nível 1. As práticas de trabalho com incidência média
como inibidor e que não existam no macroambiente, estão no nível de prioridade 2. Caso uma
prática tenha incidência média como inibidor e exista parcialmente no macroambiente, a
mesma foi classificada no nível 3. As práticas de trabalho com incidência média como
inibidor e listadas como existentes no macroambiente, foram classificadas no nível 4. Assim,
quanto mais uma prática de trabalho for considerada inibidora na ótica dos gestores das
fazendas, entretanto for menos realizada pelos atores institucionais, mais prioritária são as
ações institucionais exigidas.

O Quadro 19 apresenta as informações sobre existência, grau de incidência como


inibidor e o nível de prioridade para cada prática de trabalho institucional. Estas informações
158

permitem visualizar se o que é considerado como inibidor na adoção pelas fazendas, tem sido
realizado a nível macro pelos atores institucionais individuais e coletivos no estado de MS;
além da prioridade de ações institucionais que cada prática de trabalho necessita.

Quadro 19: Classificação das práticas de trabalho institucional conforme nível de prioridade
para proposição de ações de trabalho institucional

Práticas de
Trabalho Macro Nível de
trabalho Unidades de análise Inibidor
institucional ambiente prioridade
institucional
Apoio político e
Existe Alto 1
regulatório
Advocacia Lobby por recursos Não existe Baixo -
Proposição ou ataque a
Não existe Baixo -
legislação existente
Processo de acreditação Existe
Trabalho Baixo -
formal parcialmente
Político Definição
Certificação de atores em
Não existe Médio 2
um campo
Realocação de direitos de
Não existe Inexistente -
propriedade
Aquisição
Mudanças de regras nas
Não existe Médio 2
relações de mercado
Construção de Reorientação de
Existe Médio 4
identidade profissões
Mudança de
Trabalho Substituição de normas Existe
associações Baixo -
Cultural generalizadas parcialmente
normativas
Construção de Proto-Instituições / Redes
Existe Médio 4
redes normativas normativas
Justaposição de velhos e Existe
Mimetismo Médio 3
novos modelos parcialmente
Elaboração de cadeias de Existe
Médio 3
causa e efeito parcialmente
Teorização
Nomeação de novos
Não existe Baixo -
Trabalho conceitos e práticas
Técnico Educação nas habilidades
Educação e conhecimentos Não existe Médio 2
necessários
Desenvolvimento de
Pesquisa e
pesquisas e produtos Existe Médio 4
Desenvolvimento
novos
Fonte: Elaborado pelo autor.

O framework teórico-conceitual, Figura 17 traz uma visão empírica sobre as práticas


de trabalho institucional que são prioritárias dentro do macroambiente para fomentar a IoT no
estado de MS. Como menciona Motta (1970), uma estrutura é sempre a teoria de um sistema
159

de aparências, por isso ela não pode ser apreendida diretamente na realidade concreta, sendo
necessário estabelecer modelos teóricos capazes de apresentá-los e explicá-los.

Figura 17: Framework teórico-conceitual sobre as práticas de trabalho institucional que


fomentam a IoT como ferreamente de gestão na bovinocultura de corte do estado de MS

Fonte: Elaborado pelo autor.

Apenas o apoio político e regulatório, ligado à advocacia, é listado como uma ação
que tem potencial alto como inibidor na adoção, sendo realizado de maneira significativa
dentro do macroambiente do estado, nível de prioridade 1. Este resultado é relevante para o
fenômeno estudado, visto que o ambiente institucional regulatório desempenha papel
importante na transformação do comportamento dos cidadãos ao estabelecer um lugar de
apoio ao desenvolvimento e adoção da IoT na bovinocultura de corte (Kummitha & Crutzen,
2019). No entanto, os produtores que citam ser esta uma prática inibidora tem como
argumento a realização de ações de criação e acesso a linhas de crédito para compra de
produtos IoT; algo que o governo do estado e o governo Federal tem feito pouco.
160

Dentre as práticas realizadas de maneira parcial no estado de MS, mas que não foram
identificadas no macroambiente, nível de prioridade 2, estão: definição, aquisição e educação.
As ações voltadas a essas práticas devem ser priorizadas pelos atores institucionais, pois, sem
um incentivo, a utilização decorrente de vantagens de mercado que as diferenciem dos demais
concorrentes e a impossibilidade de capacitar seus funcionários para utilizar essas tecnologias,
farão com que os produtos IoT demandem um custo de aquisição e manutenção alto, mas sem
o retorno econômico e de eficiência esperado pelas fazendas (da Rosa Righi et al., 2020).

As práticas de trabalho institucional listadas com incidência média como inibidores e


realizadas parcialmente pelos atores institucionais são nível de prioridade 3: mimetismo e
teorização. Por mais que não sejam o principal ponto considerado quando os responsáveis
pelas fazendas de bovinocultura estudam adotar produtos IoT em seus processos produtivos,
essas práticas devem ser intensificadas e priorizadas pelos atores do estado, pois permitirão
que esta tecnologia seja amplamente institucionalizada e que traga os benefícios esperados
para todo o setor (Wahid & Sein, 2014).

Entre as práticas consideradas no nível médio como inibidoras e que estão sendo
realizadas no macroambiente do estado de MS, estão a construção de identidade, construção
de redes normativas e P&D, nível de prioridade 4. Essas práticas visam qualificar os
profissionais do mercado e das fazendas para trabalhar com produtos IoT cada vez mais
eficientes e diversos para a bovinocultura (Muzio et al., 2010). Além disso, permitem que
redes de cooperação distintas sejam criadas dentro do estado, fortalecendo-se as iniciativas
voltadas à IoT, desde projetos de P&D, de subvenção econômica, até troca de equipamentos
para superar desafios como a falta de recursos (Muilerman & Vellema, 2017).

Diferentemente do que se observou, de maneira teórica, em Jespersen e Gallemore


(2018) e Perkmann e Spicer (2008), nem todos as práticas de trabalho institucional se
mostraram relevantes para fomentar a inovação tecnológica estudada, assim como nem todas
apresentam o mesmo nível de prioridade na realização de ações de trabalho institucional por
parte dos atores. As práticas listadas no nível 2, 3 e 4 mostraram-se importantes para fomentar
a adoção da IoT no estado de MS, mas representam algo com que os produtores pecuaristas se
preocupam depois que o problema da falta de apoio político é superado.

Somente quando se sentem seguros quanto à capacidade de adquirir esses produtos


IoT é que os proprietários/gestores das fazendas começam a se preocupar com certificação,
vantagens de mercado, qualificação profissional, utilização de estruturas e outras ações
relacionadas às práticas de trabalho institucional. Esse resultado sugere que a junção das
161

práticas de primeiro, segundo, terceiro e quarto nível representam os esforços de trabalho


institucional que devem ser dispendidos no intuito de fomentar a IoT na bovinocultura de MS,
mas devem ser vistas e priorizadas de maneira estratégica (Motta, 1970).

É preciso que os atores institucionais individuais e coletivos que atuam no


macroambiente do estado de MS se empenhem para que práticas prioritárias de trabalho
institucional sejam foco das ações, projetos e políticas públicas realizadas no macroambiente.
No entanto, isso só será possível com o envolvimento de diferentes atores que visem realizar
ações e interações que, acumuladas ao longo do tempo, serão capazes de originar a criação da
nova instituição (Binz et al., 2016).

Corroborando esta visão e observando a agência no trabalho institucional Empson et


al. (2013) destacam que é improvável que indivíduos isolados possam conduzir mudanças
institucionais, cabendo a eles utilizarem a agência compartilhada para alcançar seus objetivos.
Contudo, essas contribuições dentro da microdinâmica do trabalho institucional precisam
estar combinadas e preocupadas em responder aos esforços uns dos outros para que, assim,
seja gerado um acúmulo de trabalho capaz de modificar instituições já presentes e enraizadas
dentro de um setor tão tradicional como a pecuária bovina de corte (Lawrence et al., 2011).
162

6 CAPÍTULO VI - CONSIDERAÇÕES FINAIS

Neste capítulo, é recordado o objetivo desta tese e apresentado como o mesmo foi
abordado e respondido. Além disso, são apresentados os principais resultados, as
contribuições para a teoria e prática, as limitações enfrentadas durante o desenvolvimento da
pesquisa e, por fim, listadas sugestões para pesquisas futuras.

6.1 CONCLUSÕES GERAIS

O presente trabalho foi realizado com apoio da Coordenação de Aperfeiçoamento de


Pessoal de Nível Superior - Brasil (CAPES) - Código de Financiamento 001.

Essa tese tem como objetivo propor um framework teórico-conceitual,


consubstanciado na epistemologia estruturalista, sobre o papel de práticas de trabalho
institucional para adoção da Internet das Coisas (IoT) na pecuária bovina de corte, no estado
de Mato Grosso do Sul. Para tal, foi realizada uma pesquisa empírica com abordagem
qualitativa, sustentada na realização de entrevistas semiestruturadas e na coleta de dados
secundários de atores do macro e microambiente do estado de MS, ligados a pecuária bovina
de corte e a tecnologia IoT.

O objetivo principal desdobra-se em quatro objetivos específicos: a) Identificar


teoricamente as possibilidades de aplicação da IoT como ferramenta de gestão na pecuária
bovina de corte; b) Mapear o campo institucional por meio da evidenciação dos atores que
trabalham para a adoção da IoT como ferramenta de gestão na bovinocultura de corte de Mato
Grosso do Sul; c) Identificar o trabalho político, técnico e cultural realizado pelos atores
institucionais para adoção da IoT na bovinocultura de corte no estado de Mato Grosso do Sul;
e d) Destacar as práticas de trabalho institucional “inibidoras” para adoção da IoT na
bovinocultura de corte do estado de Mato Grosso do Sul.

Para atender ao objetivo específico (a), foi realizada uma revisão sistemática de
literatura, nas bases de dados Scopus e Web of Science. Como principais resultados,
identificou-se que a IoT pode agregar valor em diferentes atividades na agropecuária como,
por exemplo, para o monitoramento de pragas, do ambiente e dos animais, no controle de
irrigação e alimentação dos animais, na predição de anomalias no processo produtivo e na
logística de produtos dentro e fora da fazenda.

Para atender aos objetivos (b) e (c), foram realizadas entrevistas semiestruturadas e
coleta de documentos secundários, com dezesseis atores institucionais, com a finalidade de
163

identificar quem são e como realizam ações de trabalho institucional, voltadas a


institucionalizar a IoT na bovinocultura de corte do estado de MS.

De acordo com a pesquisa empírica, foram mapeados os principais atores do


macroambiente que realizam práticas de trabalho institucional, voltadas a IoT para a
bovinocultura de corte. Foi possível dividir os atores institucionais em quatro setores
principais, sendo eles: setor educacional, setor privado, setor público estadual e o setor
público federal. No setor educacional, estão quatro atores, sendo uma instituição de educação
superior, básica e profissional, duas universidades públicas e uma universidade particular.
Entre as organizações do setor privado, estão três empresas com atuação nacional e
internacional, duas startups sul-mato-grossenses, uma entidade sindical e uma entidade
privada de apoio à micro e pequenas empresas. Entre os atores do setor público estadual, estão
uma fundação e uma secretaria, ligadas ao governo do estado. Por fim, entre os três atores
federais, estão dois ministérios e uma empresa pública.

Em relação ao objetivo (c), foi possível concluir que nem todas as práticas de trabalho
institucional ligadas ao trabalho político, técnico e cultural são realizadas pelos atores, a fim
de institucionalizar a adoção da IoT na bovinocultura de corte do estado de MS. As práticas
de aquisição e educação não foram visualizadas pelos entrevistados como existentes no
macroambiente do estado. As práticas de definição, mudança de associações normativas,
mimetismo e teorização foram listadas como existentes, mas, de modo parcial, pelos
entrevistados. Apenas as práticas de advocacia, construção de identidade, construção de redes
normativas e P&D foram listadas pela maioria dos atores entrevistados como práticas que
possuem ações realizadas de maneira efetiva.

Para destacar as práticas de trabalho institucional inibidoras à adoção da IoT, (d),


foram realizadas entrevistas com oito fazendas de bovinocultura de corte do estado de MS que
adotam ou possuem a intenção de adotar produtos IoT, como ferramenta de gestão. Como
conclusões, identificou-se que a advocacia, por meio do apoio político e regulatório, destacou-
se dentro do nível mais alto de incidência como inibidora para as fazendas de bovinocultura.
A prática de mudança de associações normativas não foi identificada como inibidora à
adoção. As oito demais práticas estão listadas no nível médio como inibidoras a adoção.

Por fim, é apresentado um framework teórico-conceitual que, por meio da análise


qualitativa dos resultados das duas etapas empíricas, estabeleceu o nível de prioridade para
cada prática de trabalho institucional, para a proposição de ações que visam fomentar a
adoção da IoT pelas fazendas de bovinocultura de corte do estado de MS. Conclui-se que a
164

prática de advocacia é a que mais impacta o fomento a adoção da IoT, sendo classificada no
nível 1 de prioridade de realização dentro do macroambiente. No nível 2 de prioridade, estão
as práticas de definição, aquisição e educação. As práticas de mimetismo e teorização estão
no nível 3. No nível 4, estão a construção de identidade, construção de redes normativas e
P&D.

Os dados empíricos permitem concluir que nem todas as práticas de trabalho


institucional são desenvolvidas na mesma intensidade no macroambiente do estado de MS e
que existem prioridades diferentes para realização dessas práticas. Por isso, ciente da
relevância que cada prática de trabalho institucional tem para alterar a intenção de adoção de
produtos IoT, é preciso que os atores institucionais intensifiquem o desenvolvimento de ações
de fomento de acordo com sua prioridade.

6.2 CONTRIBUIÇÕES DA PESQUISA

Considerando os resultados dessa tese, apresentam-se as contribuições observadas para


o campo teórico (6.1), campo científico (6.2), para a prática (6.3), e para o desenvolvimento
de políticas públicas (6.4).

6.2.1 Contribuições para o campo teórico

Como contribuições para o campo teórico, pode-se destacar a possibilidade de agregar


estudos empíricos ao campo do conhecimento da IoT, do agronegócio e da teoria do trabalho
institucional. A relação destes três temas é algo ainda não observado, de acordo com
pesquisas realizadas nas bases de dados Scopus e Web of Science. Alguns artigos utilizam o
trabalho institucional para investigar fenômenos que ocorrem no agro, mas não de maneira
específica a inovações tecnológicas e à Internet das Coisas. Os estudos que pesquisam a IoT
costumam se furtar da investigação empírica, encerrando, muitas vezes, seus resultados na
proposição de um artefato tecnológico. Por isso, por ser uma pesquisa qualitativa, os
conhecimentos empíricos apresentados por esta tese agregam uma visão aprofundada e
contextualizada da realidade da adoção tecnológica no ambiente rural.

Uma segunda contribuição teórica desta pesquisa consiste em expandir o trabalho de


Zarpelon et al. (2019), ao se debruçar sobre uma das sugestões de pesquisa futuras
apresentadas pelos autores, no qual os mesmos citam ser a adoção da inovação tecnológica no
agronegócio brasileiro um fenômeno potencial para análise, por meio da lente teórica do
trabalho institucional.
165

Outra contribuição teórica é a apresentação de um framework teórico-conceitual sobre


a relevância das práticas de trabalho institucional para fomentar a IoT como ferramenta de
gestão na bovinocultura de corte. Este modelo foi desenvolvido com base nas informações
observadas no estado de MS, mas pode servir como instrumento para investigação em outras
localidades e atividades do agronegócio.

6.2.2 Contribuições para o campo científico

As contribuições para o campo científico consolidam-se na publicação dos resultados


dessa tese, por meio de três artigos científicos, sendo esses, uma revisão sistemática de
literatura e dois artigos empíricos.

O primeiro artigo resultante dessa tese é a revisão sistemática de literatura, realizada


nas bases de dados Scopus e Web of Science, que objetivou levantar o estado da arte sobre a
adoção da Internet das Coisas na agropecuária. O título do artigo é “Possibilidades de adoção
da Internet of Things (IoT) na agropecuária brasileira: uma revisão sistemática de literatura”.
Este artigo foi submetido à revista Interações (Campo Grande), classificada no quadriênio
2017-2020, com o qualis A3.

O primeiro artigo empírico tem como título prévio “As práticas de trabalho
institucional que fomentam a adoção da Internet of Things (IoT) na pecuária bovina de corte
brasileira”. Este artigo terá como base teórica a lente do trabalho institucional e como unidade
de análise os órgãos de fomento à produção rural e à ciência e tecnologia do governo Federal
e os atores institucionais do estado de Mato Grosso do Sul. O objetivo é enviar este artigo
para o Journal of Management Studies (Oxford), classificada no quadriênio 2017-2020, com o
qualis A1.

O segundo artigo empírico tem como título prévio “Práticas de trabalho institucional
inibidoras a adoção da Internet of Things (IoT) pela pecuária bovina de corte brasileira”. Este
artigo terá como base teórica a lente do trabalho institucional e como unidade de análise os
pecuaristas que atuam no estado de Mato Grosso do Sul. O objetivo é enviar este artigo para o
journal, RAUSP MANAGEMENT JOURNAL, classificada no quadriênio 2017-2020 com o
qualis A2.

Além dos artigos, também será produzido um vídeo de, aproximadamente, dez
minutos, apresentando os principais resultados da pesquisa para ser postado no canal oficial
do Youtube do Núcleo de Pesquisas e Estudos em Controle Gerencial (Nupecon), grupo de
166

pesquisa coordenado pela orientadora desta pesquisa, da qual o pesquisador faz parte. E uma
“nota de pesquisa”, para publicação em sites e revistas não acadêmicas.

6.2.3 Contribuições para a prática

Entre as contribuições para a prática trazidas pelos resultados desse trabalho, pode-se
citar o levantamento, por meio da RSL, das possibilidades de utilização da IoT no
monitoramento, controle, predição e logística de atividades rurais brasileiras. Essas diferentes
possibilidades de utilização da IoT podem estimular empresas e centros de pesquisa a investir
no desenvolvimento de novos produtos IoT.

Outra contribuição pretendida por esse estudo é o detalhamento das práticas de


trabalho institucional, realizadas no macroambiente do estado de MS, e seu nível de
prioridade como inibidor na adoção da IoT. Com a hierarquização das práticas de trabalho
institucional, a elaboração de estratégias e políticas, por parte de atores públicos federais,
estaduais e privados, podem ser direcionadas as que mais impactam na intenção de adoção
dos proprietários, dispendendo esforços conscientes e eficientes para impulsionar e estruturar
a IoT nesse setor produtivo. Além disso, empresas, entidades de pesquisa e proprietários
rurais podem ter ciência do que já tem sido realizado em nível nacional e estadual e que estão
à disposição para obter recursos financeiros, intelectual e de outra natureza.

Os resultados permitem auxiliar no desenvolvimento de ações voltadas a atender os


Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS), estipulados pela ONU, em 2012.
Principalmente a ODS nº2 que trata da: “Fome zero e agricultura sustentável: erradicar a
fome, alcançar a segurança alimentar, melhorar a nutrição e promover a agricultura
sustentável” (ONU, 2012, p. 1). Mais diretamente a meta nº (2.a) “Aumentar o investimento,
inclusive via o reforço da cooperação internacional, em infraestrutura rural, pesquisa e
extensão de serviços agrícolas, desenvolvimento de tecnologia, e os bancos de genes de
plantas e animais, para aumentar a capacidade de produção agrícola nos países em
desenvolvimento, em particular nos países menos desenvolvidos” (ONU, 2012, p. 2).

Como contribuições práticas pretendidas estão, ainda: (1) a realização de um projeto


de extensão para os produtores rurais do estado de MS no qual serão apresentados os produtos
IoT disponíveis no mercado, as empresas fornecedoras, os possíveis meios para obter
financiamento para aquisição desses produtos e os benefícios que os mesmos podem lograr
com sua adoção; e (2) reunião com atores institucionais do estado de MS para apresentar o
cenário atual sobre as ações de trabalho institucional realizadas no macroambiente e as
167

práticas que se destacam como potenciais inibidoras à adoção de produtos IoT pelas
propriedades de bovinocultura do estado.

6.2.4 Contribuições para o desenvolvimento de políticas públicas

As proposições apresentadas neste tópico fazem parte das contribuições para a


sociedade que essa tese busca entregar. As mesmas são listadas a seguir e encaminhadas em
um documento a ser enviado aos entrevistados do poder público federal, estadual e às
organizações privadas entrevistadas (Apêndice K).

 Desenvolver ações de apoio político e regulatório, voltadas à disponibilização de


recursos para novas empresas que queiram trabalhar com IoT para a bovinocultura de corte,
para o desenvolvimento de projetos de pesquisas, realizados por universidades e centros de
excelência em bovinocultura e para as fazendas que se interessem em incorporar produtos IoT
em suas atividades.

 Intensificação de programas de apoio político e regulatório, voltados à


disponibilização de recursos para projetos ligados à IoT e à pecuária bovina, em empresas e
centros de pesquisa do estado de MS.

 Criação de uma instituição financeira estadual ou preparação das existentes para


fornecer linhas de crédito voltadas para adoção de tecnologias no setor rural, facilitando,
assim, que produtores pecuaristas adquiram produtos IoT e os inserira no processo de
produção.

 Mudança nas regulamentações do mercado para que fazendas que utilizem produtos
IoT possam obter vantagem em comparação a seus concorrentes no acesso a novos clientes
nacionais e internacionais.

 Elaboração de um programa de certificação para pecuaristas que utilizam produtos IoT


na produção de bovinos de corte, a fim de gerar diferenciação e benefícios comerciais para
essas empresas.

 Criação de programas de educação profissional que forneçam formação e qualificação


para utilização e desenvolvimento de produtos IoT. Público-alvo: estudantes, profissionais do
mercado, produtores rurais e trabalhadores rurais.

 Construção de redes de cooperação para desenvolvimento de programas de fomento,


para o desenvolvimento de projetos de P&D e para a adoção de produtos IoT pelos
produtores.
168

Algumas dessas ações demandam maiores esforços por parte dos atores institucionais
para que sejam estruturadas e colocadas em prática local e nacionalmente, no entanto elas não
precisam vir de esforços solitários e dispendiosos de um único ator e, sim, realizadas de forma
integrada entre vários deles. Os esforços coletivos para institucionalizar essa tecnologia
gerarão maior rapidez no efeito e assertividade por parte dos atores.

6.3 LIMITAÇÕES DA PESQUISA

Algumas limitações foram identificadas durante a realização dessa pesquisa. A


primeira delas é em relação a profundidade e historicidade da mudança institucional presente
no campo estudado. O estágio de institucionalização da IoT dentro da pecuária bovina de
corte no estado de Mato Grosso do Sul ainda é insipiente, sendo poucas as ações de trabalho
institucional realizadas no macroambiente e sua adoção inicial pelas fazendas de
bovinocultura. Lawrence et al. (2009) e Zarpelon et al. (2019) citam ser interessante a
observação da realização do trabalho institucional dentro de um processo longitudinal, no
entanto, como as ações a nível nacional voltadas à IoT se intensificaram a partir de 2017 e
ainda caminham a passos vagarosos, optou-se por realizar um estudo vertical, sem a intenção
de traçar uma linha de temporalidade para as ações de trabalho institucional que vêm sendo
realizadas para essa tecnologia na pecuária bovina do estado.

Como limitação destaca-se, também, o objetivo do trabalho institucional observado.


Lawrence et al. (2011) citam que o trabalho institucional corresponde as práticas de atores
individuais e coletivos que objetivam criar, manter ou desorganizar instituições, contudo,
nesta pesquisa, optou-se por observar apenas as práticas destinadas a criação de uma
instituição. Essa escolha limitou a observação do fenômeno como um todo, visto que as ações
realizadas no macro e microambiente para manter as práticas de produção tradicionais e
menos eficientes não foram observadas.

As relações de poder, tensão, pressão e resistência não foram observados nesta


pesquisa. A preocupação central voltou-se para os atores, as ações de trabalho institucional
realizadas e como elas impactam no fomento a adoção da tecnologia estudada, diante disto, os
resultados não foram conectados com a literatura sociológica que direciona o olhar a uma
pesquisa crítica. Ainda que poder e instituições possam estar intimamente relacionados, como
essa relação se desenrolou nos contextos empíricos observados, não foi observado (Zarpelon
et al., 2019).
169

6.4 SUGESTÕES PARA ESTUDOS FUTUROS

A utilização da lente teórica do trabalho institucional para observar o trabalho


realizado por diferentes atores com intuito de fomentar a adoção da IoT se mostra
interessante, ao trazer luz para diferentes ações que podem ser realizadas pelos atores do
macroambiente e as diversas possibilidades de utilização que essa tecnologia tem no ambiente
rural. Diante disso, novos estudos podem ser realizados, contribuindo para o avanço da teoria,
da agropecuária 4.0 e no desenvolvimento de políticas públicas.

Estudos adicionais que objetivam estudar o trabalho realizado para institucionalizar a


IoT em outras áreas da pecuária bovina como a leiteira, e em outras atividades agropecuárias
como a agricultura se mostram potenciais campos de análise. Durante a realização da pesquisa
empírica, alguns entrevistados citaram que a adoção de produtos IoT está mais avançada na
agricultura que na pecuária, por isso, observar o que tem sido feito de trabalho institucional
para isso trará informações adicionais para os formuladores de políticas públicas em outras
áreas.

Os países que mais publicam sobre a adoção da IoT na agropecuária é a China e a


Índia; além deles, países que são referência em produção de bovinos de corte como os Estados
Unidos, México, Austrália e Argentina se mostram locais interessantes para pesquisas que
investiguem como estão sendo realizadas as ações para tornar a IoT uma ferramenta
institucionalizada na bovinocultura desses países. Com esses resultados, será possível
comparar os esforços que estão sendo realizados no Brasil em relação a outros países, além de
outras análises como, por exemplo, a posição do país como um incentivador da pecuária 4.0.

A realização de uma pesquisa quantitativa com pecuaristas de corte de todas as regiões


do Brasil se apresenta uma estratégia interessante para identificar as principais práticas de
trabalho institucional inibidoras à adoção de produtos IoT como ferramenta de gestão. A
pesquisa quantitativa, com uma amostra significativa de respondentes, trará a possibilidade de
generalização e confiabilidade maior dos resultados que suportarão o desenvolvimento de
políticas de fomento nacional e estaduais para esta tecnologia.

Por fim, alguns pontos identificados como resultados podem indicar gaps para
pesquisas futuras, entre eles: a lacuna entre o que se desenvolve de tecnologia nas
universidades e sua adoção no mundo prático; a baixa cooperação entre os atores que
desenvolvem tecnologias; falta de estimulo governamental para desenvolvimento de projetos
e produtos de IoT e; baixa qualificação profissional para tecnologias 4.0.
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183

APÊNDICE A – ROTEIRO SEMIESTRUTURADO PARA ENTREVISTA SOBRE


TRABALHO INSTITUCIONAL – ETAPA 1

QUESTÕES GERAIS SOBRE A IOT

1. Qual conhecimento a organização onde atua possui sobre tecnologias de Internet das
Coisas voltadas para a pecuária bovina de corte?
2. Qual ou quais setores dentro da organização onde atua são os responsáveis por desenvolver
estratégias para este tipo de tecnologia?
3. O interesse da organização onde atua é individual ou se trata de um interesse coletivo
voltado para incentivar a adoção da IoT na pecuária bovina de corte de MS?
4. Qual interesse sua organização tem em incentivar a adoção da IoT na pecuária bovina de
corte de MS?
5. Quais benefícios a IoT pode trazer para a pecuária bovina de corte de MS?
6. Quais as principais dificuldades que se apresentam na adoção da IoT na pecuária bovina de
corte de MS? Como estão superando?
7. O que sua organização tem feito para concretizar a adoção da IoT na pecuária bovina de
corte de MS?
8. Quais outros agentes públicos ou privados você indica para que eu possa entrevistar?

QUESTÕES RELATIVAS AO TRABALHO INSTITUCIONAL

Breve apresentação sobre Trabalho Político e suas práticas: O trabalho político busca por
meio das práticas de advocacia, definição e aquisição, reconstruir e desenvolver regras,
direitos de propriedade, obter apoio social e político, e determinar limites como forma de
localizar uma nova instituição dentro de um sistema social mais amplo (T. B. Lawrence &
Suddaby, 2006; Perkmann & Spicer, 2008). Na prática de Advocacia é mobilizado o apoio
político e regulatório, por meio de técnicas diretas e deliberadas de persuasão social. Na
Definição são elaborados sistemas de regras capazes de conferir status ou identidade, definir
limites para associação e criar hierarquias no campo institucional. Na Aquisição uma
autoridade governamental tem o papel de realocar os direitos de propriedade meio da
mudança nas regras relacionais existentes no mercado.

9. Você tem conhecimento de quais políticas estaduais existem para regulamentar o


desenvolvimento e a adoção da IoT para as fazendas de pecuária bovina de corte no MS?
184

10. Você tem conhecimento de algum grupo de interesse que tenha procurado políticos ou
órgãos do governo estadual para pressionar a formalização da IoT na pecuária bovina de
corte de MS?
11. Quais agendas de trabalho, ligadas ao governo do estado, foram propostas para estruturar a
adoção da IoT no estado?
12. Foram propostas novas legislações estaduais ou mudanças nas existentes para incentivar e
facilitar a adoção da IoT nas fazendas de bovinocultura de corte?
13. Quais são as regras legais ou termos contratuais específicos para atuação no
desenvolvimento, comercialização ou adoção da IoT na pecuária bovina de corte?
14. Quais são os métodos utilizados para avaliação e certificação das empresas permitidas a
trabalhar com o desenvolvimento e comercialização da IoT no estado? E para as fazendas
adotantes?
15. Como ocorre a certificação dos atores permitidos a trabalhar com a IoT na pecuária bovina
de corte?
16. Quais foram as alterações realizadas, por órgãos estaduais, sobre o direito de produção e
comercialização da IoT para bovinocultura de corte?
17. O governo estadual interfere diretamente no livre mercado da IoT para pecuária bovina de
corte?
18. Além do Governo estadual, algum outro órgão atua como autoridade de regulamentação e
fiscalização sobre as operações com a IoT?

Breve apresentação sobre Trabalho Cultural e suas práticas: O trabalho cultural


atua nas ações que visam reconfigurar os sistemas de crenças dos atores mediante adoção de
práticas como a construção de identidade, mudança de associações normativas e a construção
de redes normativas (LAWRENCE; SUDDABY, 2006). A Construção de Identidade
estabelece uma relação de identidade entre um ator e o campo onde ele opera. Na Mudança de
Associações Normativas são reformuladas as conexões entre conjuntos de práticas e os
fundamentos morais e culturais dessas práticas. Por fim, na Construção de Redes Normativas
são criadas conexões Interorganizacionais a fim de tornar as práticas normativamente
sancionadas, monitoradas e avaliadas.

19. Quais são as profissões ou tipos de profissionais que surgiram para atuar na adoção da IoT
pela pecuária bovina de corte de MS?
20. Quais mudanças os profissionais que atuam no mercado tiveram que fazer para trabalhar
com a adoção da IoT nas fazendas de pecuária bovina de corte de MS?
185

21. Houve modificações no que se considerava como correto ou culturalmente aceitável nas
práticas da pecuária bovina de corte de MS após se adotar a IoT?
22. Foram criadas no estado alianças ou grupos de trabalho entre diferentes organizações com
objetivo de tornar as práticas ligadas a adoção da IoT aceitas, monitoradas ou avaliadas
constantemente? Qual a função desses grupos?

Breve apresentação sobre Trabalho Técnico e suas práticas: O trabalho técnico é


formado pelas práticas de mimetismo, teorização e educação que juntos focam o lado
cognitivo das instituições, apresentando crenças, suposições e estruturas que dão significado e
compreensão para as ações realizadas na criação e institucionalização da instituição (T. B.
Lawrence & Suddaby, 2006; Perkmann & Spicer, 2008). No Mimetismo os atores tentam
associar um conjunto existente de práticas, tecnologias e regras tidas como certas, as novas
ações que estão sendo criadas. A Teorização, por sua vez, desenvolve e especifica categorias
abstratas ao mesmo tempo que elabora cadeias de causa e efeito entre elas. Já na Educação
são desenvolvidas ações para “educar” os atores nas habilidades e conhecimentos necessários
para incorporar a instituição.

23. Quais tipos de práticas, tecnologias e regras, já em operação, foram utilizados para auxiliar
na estruturação e adoção da IoT na pecuária bovina de corte de MS?
24. Os benefícios e problemas enfrentados pela utilização da IoT são claramente apresentados
ao ponto de incentivar ou inibir a adoção da IoT na pecuária bovina de corte?
25. Novas terminologias foram criadas para as práticas que são de uso específico da IoT
voltadas a pecuária bovina de corte?
26. Quais tipos de cursos de capacitação são oferecidos para profissionais, empresários ou
produtores que queiram trabalhar com a IoT na pecuária bovina de corte? Quais
instituições oferecem esses cursos?
186

APÊNDICE B – QUADRO SÍNTESE SOBRE AS QUESTÕES DO ROTEIRO SEMIESTRUTURADO LIGADAS AO TRABALHO


INSTITUCIONAL – ETAPA 1
Categorias de
Práticas para criação de
trabalho Ações relacionadas a cada prática Questões Fundamentação teórica
instituições
institucional
Apoio político e regulatório Q9
Lobby por recursos Q10
Advocacia
Promoção de agendas Q11
Proposição ou ataque a legislação existente Q12
Canning e O’Dwyer (2016); Jespersen e
Processo de acreditação formal Q13
Gallemore (2018); Lawrence e Suddaby
Trabalho Político Definição Criação de padrões Q14
(2006); Perkmann e Spicer (2008) e Binz
Certificação de atores em um campo Q15 et al. (2016).
Realocação de direitos de propriedade Q16
Mudanças de regras das relações de mercado Q17
Aquisição
Compartilhamento de autoridade coercitiva ou
Q18
reguladora
Criação de novas profissões Q19
Construção de identidade
Reorientação de identidades Q20 Canning e O’Dwyer (2016); Jespersen e
Mudança de associações Gallemore (2018); Lawrence e Suddaby
Trabalho Cultural Substituição de normas generalizadas Q21
normativas (2006); Perkmann e Spicer (2008) e Binz
Construção de redes et al. (2016).
Proto-Instituições / Redes de apoio Q22
normativas
Mimetismo Justaposição de velhos e novos modelos Q23
Elaboração de cadeias de causa e efeito Q24 Canning e O’Dwyer (2016); Jespersen e
Teorização Gallemore (2018); Lawrence e Suddaby
Trabalho Técnico Nomeação de novos conceitos e práticas Q25
(2006); Perkmann e Spicer (2008) e Binz
Educação nas habilidades e et al. (2016).
Educação Q26
conhecimentos necessários
187

APÊNDICE C - ROTEIRO SEMIESTRUTURADO PARA LEVANTAMENTO DOS


INOIBIDORES A ADOÇÃO DA IOT NAS FAZENDAS DE BOVINOCULTURA –
ETAPA 2

Perguntas sobre informações gerais da fazenda e do processo produtivo dos bovinos de


corte.
 Geral
1. Onde a fazenda fica localizada?
2. Como é a estrutura de gestão da fazenda?
3. Com quantas cabeças vocês trabalham no momento?
4. Vocês trabalham com quais etapas produtivas dos bovinos de corte (cria, recria,
engorda ou mais de um ciclo)? Raça
5. A forma de criação que vocês trabalham é extensiva (pasto), intensiva (confinamento)
ou mista?
6. A fazenda costuma investir em inovações para a produção de bovinos?
7. A fazenda possui conexão com a internet? De qual tipo (operadora, satélite, etc)?
Como é a cobertura nas áreas de manejo?
8. Quais produtos IoT você conhece?
9. Qual seria mais interessante para vocês?
10. Quais benefícios você visualiza com a utilização desses dispositivos IoT?
 Para fazendas não adotantes
11. Por que você não adota?
12. Quais os principais obstáculos que impedem vocês de adotarem algum desses
dispositivos IoT?
13. O que poderia ser feito a nível local, estadual e nacional para que você mudasse de
ideia e implantasse na fazenda?
14. Você acredita que algum equipamento com tecnologia IoT traria impacto atualmente
para seu processo produtivo? (Balança automática, cocho, colares com sensores,
fábrica de ração)
 Para fazendas adotantes
15. Qual foi o objetivo da fazenda com a adoção da IoT (identificar dispositivo e focar
nele)?
16. Como foi o processo de instalação da tecnologia na fazenda?
17. Quais áreas estão envolvidas na adoção da tecnologia?
18. Quem é responsável pelo manejo das tecnologias baseadas em IoT na fazenda?
19. Quais foram os principais Obstáculos e Dificuldades na adoção?
20. Quais são os principais Impactos Internos que essa tecnologia trouxe para a fazenda?
21. Como vocês utilizam as informações que são geradas pelos dispositivos IoT? Tem
algum software de manejo?

 Perguntas sobre Trabalho institucional no estado de MS – Faz não adotantes


22. A existência de políticas públicas que incentivam a adoção das tecnologias baseadas
em IoT (crédito, projetos, leis...) faria você avaliar a adoção na sua fazenda?
23. Você consideraria adotar algum produto IoT por saber da existência de grupos de
interesse que procuram atuar junto ao governo do estado para pressionar ações
voltadas para essas tecnologias no MS?
24. Você consideraria adotar dispositivos IoT se soubesse da existência de leis e normas
que regulamentam a comercialização ou uso desses produtos?
188

25. A necessidade das empresas fornecedoras de receber uma certificação para fornecer
esse tipo de tecnologia faria com que você considerasse a adoção desses produtos?
26. O recebimento de uma certificação diferenciada para sua fazenda ou produto, por
utilizar algum equipamento IoT, faria com que você pensasse sobre a adoção?
27. A definição por parte do governo de quem deve produzir e comercializar essas
tecnologias IoT impactam na sua avaliação de adoção?
28. A possibilidade de obter vantagem de mercado ao adotar esses dispositivos IoT faria
você considerar a adoção?
29. A existência no mercado de profissionais formados especificamente para trabalhar e
prestar assistência para essas tecnologias faz com que você pondere a adoção desses
produtos IoT?
30. A necessidade de mudanças nas práticas de produção dos bovinos de corte para a
adoção dessa tecnologia (lida, bem-estar, etc) faria avaliar a adoção?
31. A existência de grupos de empresas ou produtores que desenvolvam trabalhos de
apoio a adoção ou utilização dessas tecnologias IoT é algo relevante para que você
adote?
32. A possibilidade de utilizar as mesmas estruturas ou processos que vocês já possuem
para adotar a IoT impacta na sua intenção de utilizar esses equipamentos?
33. Você avaliaria a adoção desses produtos IoT se existisse maior divulgação de
informações sobre a sua utilização nas mídias sociais, sindicatos ou outro ambiente
(benefícios ou problemas)?
34. A necessidade de aprender novos nomes ou terminologias provenientes da adoção
desses dispositivos IoT na produção dos bovinos, faria com que você considerasse a
adoção?
35. Você analisaria a adoção de produtos IoT se fossem amplamente ofertados cursos de
capacitação e formação para utilização dessas tecnologias na fazenda? Quem poderia
oferecer?
36. A existência de pesquisas para desenvolvimento produtos IoT estimula uma intenção
de adoção por parte da fazenda?

 Perguntas sobre Trabalho institucional no estado de MS – Fazendas adotantes


37. Você tem conhecimento da existência de alguma política pública para incentivar a
adoção das tecnologias baseadas em IoT (crédito, projetos, leis...)? Esse apoio fez
diferença na hora de optar por essa inovação?
38. Você sabe da existência ou participa de grupos que estão trabalhando junto ao governo
do estado para tornar ampla a adoção da IoT para a pecuária bovina de corte no MS?
39. Você sabe se existe uma agenda de trabalho (projetos) para tratar dessa tecnologia aqui
no estado de MS?
40. Vocês têm que obedecer alguma lei ou norma para poder utilizar essas tecnologias da
Intergado?
41. Existe um processo de fiscalização por parte do governo estadual ou outro órgão
regulamentador para a instalação e uso da IoT?
42. Tem alguma padronização de trabalho que vocês têm que seguir para trabalhar com
essas tecnologias? De quem vem esses padrões?
43. Vocês receberam algum tipo de certificação por utilizar essas tecnologias da
Intergado?
44. Ao se adotar essas tecnologias da Intergado, vocês tiveram alguma mudança de
atuação no mercado, preferência na comercialização, algum benefício de mercado?
45. Quais tipos de profissionais vocês tem para trabalhar com as tecnologias da Intergado
dentro da produção, houve necessidade de contratar novos profissionais, formação?
189

46. Houve mudanças na prática de produção dos bovinos de corte depois da adoção dessa
tecnologia (lida, bem-estar, etc)?
47. Vocês se depararam com informações sobre a utilização da IoT que poderiam inibir ou
incentivar a adoção?
48. Houve a necessidade de aprender novos nomes sobre as operações que vocês realizam
com apoio da IoT (terminologias)?
49. Vocês foram submetidos a algum tipo de curso de capacitação para operarem a
tecnologia? Se sim, qual instituição ofereceu?
50. Tem conhecimento da existência de pesquisas para desenvolvimento produtos IoT
estimula uma intenção de adoção por parte da fazenda?
190

APÊNDICE D – TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO


(TCLE)5 – ETAPA 1
Você está sendo convidado (a) a participar como voluntário na pesquisa
“Institucionalização da Internet das Coisas (IoT) como ferramenta de gestão na
pecuária bovina de corte de Mato Grosso do Sul (MS)”, desenvolvida pelo
pesquisador Eduardo Corneto Silva.
Este estudo tem por objetivo analisar o papel das práticas de trabalho
institucional para adoção da Internet das Coisas (IoT) na pecuária bovina de corte do
estado de Mato Grosso do Sul. Para isso, serão entrevistados gestores e técnicos de
organizações públicas e privadas que atuam ou atuaram diretamente na estruturação e
incentivo a adoção da IoT pela bovinocultura de corte no estado de MS.
Sua participação é voluntária, isto é, ela não é obrigatória, e você tem plena
autonomia para retirar sua participação a qualquer momento. Você não terá prejuízo
algum caso decida não consentir sua participação, ou desistir da mesma. Contudo, ela é
muito importante para a execução da pesquisa.
Para participar da pesquisa será necessário responder as 26 perguntas conduzidas
pelo pesquisador, a partir de um roteiro semiestruturado. A duração da entrevista levará
cerca de 1 (uma) hora. As entrevistas serão realizadas de maneira remota com a
utilização de aplicativos como Google Meet, Zoom ou outro que melhor se adequar as
condições do entrevistado. Caso aceite participar será direcionado com antecedência um
link para o endereço eletrônico do respondente. Na impossibilidade de realização da
entrevista de forma remota será agendada sua realização de maneira presencial,
seguindo todas as normas de biossegurança definidas pelo Ministério da Saúde.
Sua participação trará benefícios a ciência nacional, pois as informações
coletadas ajudarão no avanço do entendimento sobre a utilização de Tecnologias de
Informação e Comunicação, como a IoT, na bovinocultura de corte. Além disso, as
informações apresentadas pelo estudo contribuirão para que organizações que atuam na
bovinocultura de corte no estado de MS possam desenvolver estratégias que facilitem e
melhorem a adoção da IoT.
Participar deste estudo poderá trazer-lhe os seguintes desconfortos: caso a
entrevista for presencial terá que receber o pesquisador em local previamente acordado,
com horário e dia marcado para participar da entrevista, mediante assinatura de TCLE,
além de seguir as normas de biossegurança contra a Covid-19; no caso de entrevista à
distância, precisará ter acesso à dispositivo móvel e/ou internet para a realização; além
disso, há sempre a possibilidade de constrangimento com uma ou mais pergunta
realizadas pelo pesquisador.
Os dados coletados nesta pesquisa serão mantidos arquivados pelo prazo de 5
anos no formato de arquivo digital sob a responsabilidade do pesquisador, conforme
Resolução CNS/MS nº466/2012. Os resultados desta pesquisa serão publicados em
meios eletrônicos como parte dos resultados de uma tese e em artigos originados da
mesma.
Estando de acordo em participar, mediante assinatura do TCLE, asseguramos a
confiabilidade e confidencialidade dos dados obtidos durante essa pesquisa, sendo os
mesmos acessados apenas pelos pesquisadores envolvidos no estudo, restritos a uso
5
Rubrica participante: Rubrica pesquisador:
191

científico e qualquer característica, nome ou evento que possibilite a identificação dos


participantes será modificado.
Esta pesquisa não deve lhe ocasionar nenhuma despesa e a legislação brasileira
não permite que você tenha qualquer compensação pela sua participação. Ao participar
da entrevista, você receberá uma via deste Termo de Consentimento Livre e Esclarecido
– TCLE, onde consta a identificação, telefone e endereço dos pesquisadores
responsáveis, bem como, localização e contato do Comitê de Ética em Pesquisa com
Seres Humanos vinculado à Universidade Federal de Mato Grosso do Sul. Lembramos
também que essa pesquisa está pautada na Resolução 466/2012 de 12 de dezembro de
2012 e Resolução 510/2016 de 7 de abril de 2016, de acordo com o CNS (Conselho
Nacional de Saúde), respeitando as diretrizes e normas regulamentadoras de pesquisas
envolvendo seres humanos.
Agradecemos antecipadamente a atenção e nos colocamos à sua disposição para
quaisquer esclarecimentos. Em caso de dúvidas contatar o responsável pela pesquisa:
Eduardo Corneto Silva. Aluno do Programa de Pós-Graduação em Administração
(PPGAD) da Universidade Federal de Mato Grosso do Sul (UFMS). Telefone: (67)
99998-5691. E-mail: eduardo_corneto@hotmail.com.
Em caso de dúvida quanto à condução ética do estudo, entre em contato com o
Comitê de Ética em Pesquisa da UFMS (CEP/UFMS), localizado no Campus da
Universidade Federal de Mato Grosso do Sul, prédio das Pró-Reitorias ‘Hércules
Maymone’ – 1º andar, CEP: 79070900. Campo Grande – MS; e-mail:
cepconep.propp@ufms.br; telefone: 67-3345-7187; atendimento ao público: 07:30-
11:30 no período matutino e das 13:30 às 17:30 no período vespertino.
Solicitamos a permissão para gravação da entrevista a fim de permitir uma
análise mais detalhada durante o processo de tratamento dos dados, somente a partir
desse consentimento será realizada a gravação.
Autorização para gravação em áudio e/ou vídeo das entrevistas
( ) Marque esta opção se você concorda que durante sua participação na pesquisa seja
realizada gravação em áudio e ou vídeo;
( ) Marque esta opção se você NÃO concorda que durante sua participação na pesquisa
seja realizada gravação em áudio e ou vídeo.

______________________________
Nome e assinatura do (a) participante

Eduardo Corneto Silva


Nome e assinatura do pesquisador

Local: Data:
192

APÊNDICE E - TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO


(TCLE)6 - ETAPA 2
Você está sendo convidado (a) a participar como voluntário na pesquisa
“Institucionalização da Internet das Coisas (IoT) como ferramenta de gestão na
pecuária bovina de corte de Mato Grosso do Sul (MS)”, desenvolvida pelo
pesquisador Eduardo Corneto Silva.
Este estudo tem por objetivo analisar o papel das práticas de trabalho
institucional para adoção da Internet das Coisas (IoT) na pecuária bovina de corte do
estado de Mato Grosso do Sul. Para isso, serão entrevistadas fazendas, sediadas em
Mato Grosso do Sul, que conheçam algum dispositivo IoT pesquisado, e que adotem ou
não algum desses produtos em seu processo produtivo de bovinos de corte.
Sua participação é voluntária, isto é, ela não é obrigatória, e você tem plena
autonomia para retirar sua participação a qualquer momento. Você não terá prejuízo
algum caso decida não consentir sua participação, ou desistir da mesma. Contudo, ela é
muito importante para a execução da pesquisa.
Para participar da pesquisa será necessário responder a cerca de 30 perguntas
conduzidas pelo pesquisador, a partir de um roteiro semiestruturado. A duração da
entrevista levará de 20 a 40 minutos. As entrevistas serão realizadas de maneira remota
com a utilização de aplicativos como Google Meet, Zoom ou outro que melhor se
adequar as condições do entrevistado. Caso aceite participar será direcionado com
antecedência um link para o endereço eletrônico do respondente. Na impossibilidade de
realização da entrevista de forma remota será agendada sua realização de maneira
presencial, seguindo todas as normas de biossegurança definidas pelo Ministério da
Saúde.
Sua participação trará benefícios a ciência nacional, pois as informações
coletadas ajudarão no avanço do entendimento sobre a utilização de Tecnologias de
Informação e Comunicação, como a IoT, na bovinocultura de corte. Além disso, as
informações apresentadas pelo estudo contribuirão para que organizações que atuam na
bovinocultura de corte no estado de MS possam desenvolver estratégias que facilitem e
melhorem a adoção da IoT.
Participar deste estudo poderá trazer-lhe os seguintes desconfortos: caso a
entrevista for presencial terá que receber o pesquisador em local previamente acordado,
com horário e dia marcado para participar da entrevista, mediante assinatura de TCLE,
além de seguir as normas de biossegurança contra a Covid-19; no caso de entrevista à
distância, precisará ter acesso à dispositivo móvel e/ou internet para a realização; além
disso, há sempre a possibilidade de constrangimento com uma ou mais pergunta
realizadas pelo pesquisador.
Os dados coletados nesta pesquisa serão mantidos arquivados pelo prazo de 5
anos no formato de arquivo digital sob a responsabilidade do pesquisador, conforme
Resolução CNS/MS nº466/2012. Os resultados desta pesquisa serão publicados em
meios eletrônicos como parte dos resultados de uma tese e em artigos originados da
mesma.
Estando de acordo em participar, mediante assinatura do TCLE, asseguramos a
confiabilidade e confidencialidade dos dados obtidos durante essa pesquisa, sendo os

6
Rubrica participante Rubrica pesquisador
193

mesmos acessados apenas pelos pesquisadores envolvidos no estudo, restritos a uso


científico e qualquer característica, nome ou evento que possibilite a identificação dos
participantes será modificado.
Esta pesquisa não deve lhe ocasionar nenhuma despesa e a legislação brasileira
não permite que você tenha qualquer compensação pela sua participação. Ao participar
da entrevista, você receberá uma via deste Termo de Consentimento Livre e Esclarecido
– TCLE, onde consta a identificação, telefone e endereço dos pesquisadores
responsáveis, bem como, localização e contato do Comitê de Ética em Pesquisa com
Seres Humanos vinculado à Universidade Federal de Mato Grosso do Sul. Lembramos
também que essa pesquisa está pautada na Resolução 466/2012 de 12 de dezembro de
2012 e Resolução 510/2016 de 7 de abril de 2016, de acordo com o CNS (Conselho
Nacional de Saúde), respeitando as diretrizes e normas regulamentadoras de pesquisas
envolvendo seres humanos.
Agradecemos antecipadamente a atenção e nos colocamos à sua disposição para
quaisquer esclarecimentos. Em caso de dúvidas contatar o responsável pela pesquisa:
Eduardo Corneto Silva. Aluno do Programa de Pós-Graduação em Administração
(PPGAD) da Universidade Federal de Mato Grosso do Sul (UFMS). Telefone: (67)
99998-5691. E-mail: eduardo_corneto@hotmail.com.
Em caso de dúvida quanto à condução ética do estudo, entre em contato com o
Comitê de Ética em Pesquisa da UFMS (CEP/UFMS), localizado no Campus da
Universidade Federal de Mato Grosso do Sul, prédio das Pró-Reitorias ‘Hércules
Maymone’ – 1º andar, CEP: 79070900. Campo Grande – MS; e-mail:
cepconep.propp@ufms.br; telefone: 67-3345-7187; atendimento ao público: 07:30-
11:30 no período matutino e das 13:30 às 17:30 no período vespertino.
Solicitamos a permissão para gravação da entrevista a fim de permitir uma
análise mais detalhada durante o processo de tratamento dos dados, somente a partir
desse consentimento será realizada a gravação.
Autorização para gravação em áudio e/ou vídeo das entrevistas
( ) Marque esta opção se você concorda que durante sua participação na pesquisa seja
realizada gravação em áudio e ou vídeo;
( ) Marque esta opção se você NÃO concorda que durante sua participação na pesquisa
seja realizada gravação em áudio e ou vídeo.

______________________________
Nome e assinatura do (a) participante

Eduardo Corneto Silva


Nome e assinatura do pesquisador

Local: Data:
194

APÊNDICE F – LISTA DE ARTIGOS QUE COMPUSERAM A REVISÃO


SISTEMÁTICA DE LITERATURA
Titulo Autor Ano Journal
Advance journal
Design of farm environmental monitoring system based on
Jiao et al. 2014 of food science
the internet of things
and technology.
Transactions of
the Chinese
Intelligent monitoring system for laminated henhouse
Li et al. 2015 Society of
based on Internet of Things
Agricultural
Engineering
On precisely relating the growth of Phalaenopsis leaves to Computers and
greenhouse environmental factors by using an IoT-based Liao et al. 2017 Electronics in
monitoring system Agriculture.
Journal of
Organizational
IoT Based Agriculture as a Cloud and Big Data Service:
Gill et al. 2017 and End User
The Beginning of Digital India
Computing
(JOEUC).
Computers and
Architecting an IoT-enabled platform for precision
Popović et al. 2017 Electronics in
agriculture and ecological monitoring: A case study
Agriculture.
International
Design and implementation of IoT-based beef cattle Agricultural
Hao et al. 2017
breeding system Engineering
Journal.
Industrial
Three-level supply chain coordination of fresh agricultural
Yan et al. 2017 Management &
products in the Internet of Things
Data Systems.
Computers and
An IoT based smart irrigation management system using
Goap et al. 2018 electronics in
Machine learning and open source technologies
agriculture.
Journal of
IoT adoption in agriculture: the role of trust, perceived Business &
Jayashankar et al. 2018
value and risk Industrial
Marketing.
Computers and
Rules engine and complex event processor in the context Mazon-Olivo et
2018 Electronics in
of internet of things for precision agriculture al.
Agriculture.
Computers and
IoT based hydroponics system using Deep Neural
Mehra et al. 2018 Electronics in
Networks
Agriculture.
Computers and
Distributed monitoring system for precision enology of the
Morais et al. 2018 Electronics in
Tawny Port wine aging process
Agriculture.
Engineering in
On the design of Nutrient Film Technique hydroponics Agriculture,
Alipio et al. 2019
farm for smart agriculture Environment and
Food.
Improved Internet of Things (IoT) monitoring system for Computers and
Harun et al. 2019
growth optimization of Brassica chinensis Electronics in
195

Agriculture.
AgriPrediction: A proactive internet of things model to Computers and
anticipate problems and improve production in agricultural Dos Santos et al. 2019 electronics in
crops agriculture.
An intelligent IoT-based control and traceability system to Computers and
forecast and maintain water quality in Gao et al. 2019 electronics in
freshwater fish farms agriculture.
International
Journal of
Development of automatic home-based fish farming using
Janpla et al. 2019 Recent
the internet of things
Technology and
Engineering.
Architecture design approach for IoT-based farm Köksal e Precision
2019
management information systems Tekinerdogan. Agriculture.
Internet of Fish: Integration of acoustic telemetry with Computers and
LPWAN for efficient real-time monitoring of fish in Hassan et al. 2019 Electronics in
marine farms Agriculture.
Computers and
Continuous monitoring seed testing equipaments using
De Souza et al. 2019 Electronics in
internet of things
Agriculture.
Computers and
Muangprathub et
IoT and agriculture data analysis for smart farm 2019 Electronics in
al.
Agriculture.
Computers and
IoT based low cost and intelligent module for smart
Nawandar et al. 2019 Electronics in
irrigation system
Agriculture.
Information
A new low-cost sensing system for rapid ring estimation
Putra. 2019 Processing in
of woody plants to support tree management
Agriculture.
Computers and
An IoT-based cognitive monitoring system for early plant
Khattab et al. 2019 Electronics in
disease forecast
Agriculture.
Computers and
Architecture framework of IoT-based food and farm
Verdouw et al. 2019 Electronics in
systems: A multiple case study
Agriculture.
Smarter irrigation scheduling in the sugarcane farming International
Wang et al. 2019
system using the Internet of Things Sugar Journal
International
Journal of
AgriRobot: Implementation and evaluation of an
Bhimanpallewar Agricultural
automatic robot for seeding and fertiliser microdosing in 2020
e Narasingarao. Resources,
precision agriculture
Governance and
Ecology.
Differential irrigation scheduling by an automated Agricultural
Domínguez-Niño
algorithm of water balance tuned by capacitance- 2020 Water
et al.
type soil moisture sensors Management.
Computers and
Environmental monitoring in a poultry farm using an
Pereira et al. 2020 Electronics in
instrument developed with the internet of things concept
Agriculture.
Wireless Sensor Network Synchronization for Precision Zervopoulos et Agriculture-
2020
Agriculture Applications al. Basel
Computers and
Using implantable biosensors and wearable scanners to
Chung et al. 2020 Electronics in
monitor dairy cattle's core body temperature in real-time
Agriculture.
196

Computers and
Dynamic Bayesian network for crop growth prediction in
Kocian et al. 2020 Electronics in
greenhouses
Agriculture.
Machine learning based fog computing assisted data- Computers and
driven approach for early lameness detection in dairy Taneja et al. 2020 Electronics in
cattle Agriculture.
Business process modeling in aquaculture for Knowledge and
environmental sustainability and fish traceability: A case Corallo et al. 2020 Process
study in Italian region Management.
Benchmarking:
Adoption of internet of things (IoT) in the agriculture
Pillai e Sivathan. 2020 An International
industry deploying the BRT framework
Journal
An automatic method based on daily in situ images and Field Crops
Velumani et al. 2020
deep learning to date wheat heading stage Research.
Revista de la
Facultad de
Development of real-time monitoring and early warning
Cao e Chen. 2020 Agronomia de la
system platform of internet of things for potato late blight
Universidad del
Zulia.
Computers and
Multilevel data fusion for the internet of things in smart
Torres et al. 2020 Electronics in
agriculture
Agriculture.
Computers and
Development of a closed-loop irrigation system for
Wang et al. 2020 Electronics in
sugarcane farms using the Internet of Things
Agriculture.
197

APÊNDICE G: ANÁLISE DO TRABALHO INSTITUCIONAL POLÍTICO NO MACRO AMBIENTE DO ESTADO DE MS

(Continua)
Trabalho institucional Trabalho Político
Práticas para criação de
Advocacia Definição
instituições
Apoio Proposição ou Processo de Certificação
Lobby por Promoção Criação de
Indicação Setor de atuação político e ataque a legislação acreditação de atores em
recursos de agendas padrões
regulatório existente formal um campo
SE01 Setor Educacional E NE NE NE E NE E
SE02 Setor Educacional E NE NE NE NE NE NE
SE03 Setor Educacional E NE NE NE E NE NE
SE04 Setor Educacional E NE NE NE E NE E
SP01 Setor Privado NE NE NE NE NE NE E
SP02 Setor Privado E NE NE NE E NE NE
SP03 Setor Privado NE E - NE NE NE E
SP04 Setor Privado E NE NE NE NE NE NE
SP05 Setor Privado E NE E NE NE NE NE
SP06 Setor Privado E NE E NE NE NE NE
SP07 Setor Privado NE NE E NE NE NE NE
SPE01 Setor Público Estadual E NE NE E NE NE NE
SPE02 Setor Público Estadual E NE NE NE NE NE NE
SPF01 Setor Público Federal E NE E NE E NE E
SPF02 Setor Público Federal E E E E E NE E
SPF03 Setor Público Federal E E E E E NE NE
(Legenda: E = Existe; EP = Existe Parcialmente; NE = Não Existe)
198

(Conclusão)

Trabalho institucional para


Trabalho Político
criação de instituições
Práticas para criação de
Aquisição
instituições
Mudanças de regras Compartilhamento de
Realocação de direitos
Indicação Setor de atuação nas relações de autoridade coercitiva
de propriedade
mercado ou reguladora
SE01 Setor Educacional NE NE NE
SE02 Setor Educacional NE NE NE
SE03 Setor Educacional NE NE NE
SE04 Setor Educacional NE NE NE
SP01 Setor Privado NE NE NE
SP02 Setor Privado NE NE NE
SP03 Setor Privado NE NE NE
SP04 Setor Privado NE NE NE
SP05 Setor Privado NE NE NE
SP06 Setor Privado NE NE NE
SP07 Setor Privado - - -
SPE01 Setor Público Estadual - - -
SPE02 Setor Público Estadual NE NE NE
SPF01 Setor Público Federal NE NE NE
SPF02 Setor Público Federal NE NE NE
SPF03 Setor Público Federal E NE NE
(Legenda: E = Existe; EP = Existe Parcialmente; NE = Não Existe)

Fonte: Dados da pesquisa.


199

APÊNDICE H: ANÁLISE DO TRABALHO INSTITUCIONAL CULTURAL NO MACRO AMBIENTE DO ESTADO DE MS


Trabalho institucional Trabalho Cultural
Práticas para criação de Mudança de associações Construção de redes
Construção de identidade
instituições normativas normativas
Criação de novas Reorientação de Substituição de normas Proto-Instituições /
Indicação Setor de atuação
profissões identidades generalizadas Redes normativas
SE01 Setor Educacional NE E NE E
SE02 Setor Educacional - E - E
SE03 Setor Educacional NE E E E
SE04 Setor Educacional NE E E E
SP01 Setor Privado - E NE E
SP02 Setor Privado NE E E E
SP03 Setor Privado NE E E E
SP04 Setor Privado NE E E E
SP05 Setor Privado NE E E E
SP06 Setor Privado - E - E
SP07 Setor Privado - - - E
SPE01 Setor Público Estadual NE E - E
SPE02 Setor Público Estadual - - - E
SPF01 Setor Público Federal NE E E E
SPF02 Setor Público Federal NE E - E
SPF03 Setor Público Federal - - - E
(Legenda: E = Existe; EP = Existe Parcialmente; NE = Não Existe)

Fonte: Dados da pesquisa.


200

APÊNDICE I: ANÁLISE DO TRABALHO INSTITUCIONAL TÉCNICO NO MACRO AMBIENTE DO ESTADO DE MS


Trabalho institucional Trabalho Técnico
Práticas para criação de Pesquisa e
Mimetismo Teorização Educação
instituições Desenvolvimento
Educação nas
Nomeação de
Justaposição de velhos Elaboração de cadeias habilidades e
Indicação Setor de atuação novos conceitos e P&D
e novos modelos de causa e efeito conhecimentos
práticas
necessários
SE01 Setor Educacional E E NE E E
SE02 Setor Educacional - - - E E
SE03 Setor Educacional E E E NE E
SE04 Setor Educacional E NE E NE E
SP01 Setor Privado E NE E - E
SP02 Setor Privado E NE E NE E
SP03 Setor Privado E E E NE E
SP04 Setor Privado E E NE NE E
SP05 Setor Privado - E NE NE E
SP06 Setor Privado - E - NE E
SP07 Setor Privado - - - E -
SPE01 Setor Público Estadual - E - E E
SPE02 Setor Público Estadual - NE - NE E
SPF01 Setor Público Federal E NE E NE E
SPF02 Setor Público Federal - E - NE E
SPF03 Setor Público Federal - E - NE E
(Legenda: E = Existe; EP = Existe Parcialmente; NE = Não Existe)

Fonte: Dados da pesquisa.


201

APÊNDICE J: ANÁLISE DOS INIBIDORES NA ADOÇÃO DA IOT PELAS FAZENDAS DE BOVINOCULTURA DE MS

(Continua)
Trabalho institucional Trabalho Político
Práticas para criação de
Advocacia Definição Aquisição
instituições
Apoio Proposição ou Processo de Certificação Realocação de Mudanças de regras
Lobby por
Indicação político e ataque a legislação acreditação de atores em direitos de nas relações de
recursos
regulatório existente formal um campo propriedade mercado
FAZA01 Não Não Não Não Sim Não Sim
FAZA02 Sim Não Não Não Não Não Sim
FAZA03 Sim Não Não Não Sim Não -
FAZN04 Sim Não Não Não Sim Não Sim
FAZN05 Sim Não Não Sim Não Não Não
FAZN06 Sim Sim Sim Não Sim Não Sim
FAZN07 Sim Sim Não Não Sim Não Sim
FAZN08 Sim Sim Não Não Sim Não Sim
(Legenda: E = Existe; EP = Existe Parcialmente; NE = Não Existe)
202

(Conclusão)
Trabalho
Trabalho Cultural Trabalho Técnico
institucional
Práticas para Mudança de Construção
Construção Pesquisa e
criação de associações de redes Mimetismo Teorização Educação
de identidade Desenvolvimento
instituições normativas normativas
Justaposição Educação nas
Criação / Substituição Elaboração Nomeação de Desenvolvimento
Proto- de velhos e habilidades e
Indicação Reorientação de normas de cadeias de novos conceitos de pesquisas e
Instituições novos conhecimentos
de profissões generalizadas causa e efeito e práticas produtos
modelos necessários
FAZA01 Sim Não - Sim Sim Não Não -
FAZA02 Sim Sim - Sim Sim Sim Sim Sim
FAZA03 Não Não - Sim Não Não Sim -
FAZN04 Sim Não Sim Sim Sim Não Sim -
FAZN05 Sim Não Sim Não Não Não Sim Sim
FAZN06 Sim Não Sim Sim Sim Não Sim Sim
FAZN07 Sim Sim Sim Sim Não Não Não Sim
FAZN08 Não Sim Não Não Sim Não Sim Não
(Legenda: E = Existe; EP = Existe Parcialmente; NE = Não Existe)

Fonte: Dados da pesquisa.


203

APÊNDICE K: PARECER TÉCNICO ENVIADO PARA AUTORIDADES


COMPETENTES E LEGISLADORES - PLANO DE AÇÃO AO GOVERNO DO
ESTADO DE MS VOLTADO A ADOÇÃO DA IOT NA PECUÁRIA BOVINA DE
CORTE

Considerando os resultados obtidos na pesquisa “Institucionalização da Internet das


Coisas (IoT) como ferramenta de gestão na pecuária bovina de corte de Mato Grosso Do
Sul (MS)”, desenvolvida por Silva (2023), evidencia-se que:

1. Os atores institucionais ligados a projetos que fomentam a adoção da Internet


das Coisas na bovinocultura de corte no estado de Mato Grosso do Sul estão
divididos em quatro setores: setor educacional, setor privado, setor público
estadual e o setor público federal.

2. As práticas de trabalho institucional de advocacia, construção de identidade,


construção de redes normativas e P&D foram listadas pela maioria dos atores
entrevistados na pesquisa como práticas que possuem ações realizadas no estado
de MS. Já as práticas de aquisição e educação não foram visualizadas pelos
entrevistados como existentes.

3. As práticas de trabalho institucional que se destacam como inibidoras na adoção


da IoT pelas fazendas de bovinocultura de corte e que devem ser priorizadas na
realização de ações, por parte dos atores do estado de MS, seguem a seguinte
ordem: Apoio político e regulatório; Certificação de atores; Mudanças de regras
de mercado; Formação educacional para a IoT; Mimetismo; Teorização sobre
IoT; Criação/Reorientação de profissões; criação de Redes normativas e;
Desenvolvimento de pesquisas e produtos IoT.

Dessa forma, recomenda-se para as autoridades competentes e legisladores, as seguintes


ações:

A. Intensificação de programas de apoio político e regulatório voltados a


disponibilização de recursos para projetos ligados a IoT e a pecuária bovina em
empresas e centros de pesquisa do estado de MS.

Meta: Beneficiar quarenta projetos de P&D, por ano, com recursos financeiros para
desenvolverem produtos e pesquisas para a bovinocultura com produtos IoT. - Atores
institucionais envolvidos: Semagro e Fundect. - Tempo de realização: 6 meses.
204

B. Criação de uma instituição financeira estadual ou preparação das existentes para


fornecer linhas de crédito voltadas para adoção de tecnologias no setor rural,
facilitando assim, que produtores pecuaristas adquiram produtos IoT e inserira-os
no processo de produção.

Meta: Financiar a aquisição de produtos IoT para cinquenta propriedades de


bovinocultura do estado de MS - Atores institucionais envolvidos: Semagro e Governo
Federal. - Tempo de realização: 12 meses.

C. Mudança nas regulamentações do mercado para que fazendas que utilizem produtos
IoT possam obter vantagem em comparação a seus concorrentes no acesso a novos
clientes nacionais e internacionais.

Meta: Instituir arcabouço legal e programa de acreditação para que empresas que
adotem a tecnologia IoT sejam beneficiadas na comercialização externa e interna.
Atores institucionais envolvidos: Semagro e Governo Federal. - Tempo de realização:
12 meses.

D. Elaboração de um programa de certificação para pecuaristas que utilizam produtos


IoT na produção de bovinos de corte, a fim de gerar diferenciação e benefícios
comerciais para essas empresas. O governo do estado de MS possui um programa
de bonificação financeira para produtores pecuaristas que seguem determinadas
práticas como: participação em associação de produtores, programa de boas
práticas agropecuárias da Embrapa, manejo de pastagem rotacionado, identificação
animal, entre outros. Inserir a utilização de produtos IoT entre estas bonificações
poderia trazer maior predisposição das fazendas em adotar.

Meta: Cadastrar 100% das propriedades do estado que adotem produtos IoT no
programa de bonificação por adoção tecnológica. Atores institucionais envolvidos:
Semagro. - Tempo de realização: 6 meses.

E. Criação de programas de educação profissional que forneçam formação e


qualificação para utilização e desenvolvimento de produtos IoT. Público alvo:
estudantes, profissionais do mercado, produtores rurais e trabalhadores rurais.

Meta: Oferecer, no mínimo, cinco disciplinas, cursos, palestras, oficinas e afins para
alunos, produtores e trabalhadores rurais, por meio de parcerias entre instituições
públicas e privadas. Atores institucionais envolvidos: Semagro, Sistema Famasul e
universidades públicas e privadas do estado de MS. - Tempo de realização: 12 meses.
205

F. Construção de redes de cooperação para desenvolvimento de programas de


fomento, para o desenvolvimento de projetos de P&D e para a adoção de produtos
IoT pelos produtores.

Meta: Aumentar em 50% o número de parcerias voltadas a IoT entre instituições


públicas, entre instituições públicas e privadas e entre fazendas de bovinocultura. Atores
institucionais envolvidos: Semagro, Sebrae, Sistema Famasul e universidades públicas e
privadas do estado de MS. - Tempo de realização: 12 meses.

Tendo em vista os apontamentos apresentados acima, recomendamos os itens para


apreciação.

___________________________________________

Eduardo Corneto Silva

Doutor em administração pela Fundação Universidade Federal de Mato Grosso do Sul

___________________________________________

Drª Márcia Maria dos Santos Bortolocci Espejo

Fundação Universidade Federal de Mato Grosso do Sul

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