Você está na página 1de 15

PERCEPÇÃO DOS AGRICULTORES SOBRE O SERVIÇO DE ASSISTÊNCIA

TÉCNICA E EXTENSÃO RURAL NO MUNICÍPIO DE ALTA FLORESTA/MT: UM


ESTUDO DE CASO

João Paulo Eloia Nascimento Ponce1


Delmonte Roboredo2
Cícero Rogério H. Laluce3
Ana Luisa A. de Oliveira 4
Edmar Santos Moreira 5

GT6 - Assistência Técnica e Extensão Rural

Resumo
O presente trabalho teve por objetivo analisar se os métodos utilizados pelos extensionistas
estão em consonância com as diretrizes da Política Nacional de Assistência Técnica e Extensão
Rural, segundo a ótica dos atores sociais envolvidos nesse processo. Para tanto, foi realizado
entrevistas com aplicação de questionários semiestruturados com perguntas abertas e fechadas
para melhor compreender a praxis extensionista realizada na Comunidade Estrela do Sul,
município de Alta Floresta-MT. As informações geradas seguiram parâmetros da avaliação
quali-quanti que foram analisadas por intermédio da estatística descritiva e teste de proporção
(x²) para melhor compreensão dos resultados. Depreende-se pelos dados obtidos que a prática
extensionista vem sendo praticada no formato cartesiano e não há política pública de apoio à
permanência das famílias no espaço rural. O processo de educação construtivista por parte dos
extensionistas deve estar voltado ao engajamento social e valorização das famílias dos
agricultores como sujeitos e não como meros objetos.
Palavras-chave: Agricultura familiar, Sustentabilidade, Comunicação, Participação.

1. Introdução
No Brasil o serviço de Extensão Rural foi criado oficialmente em 1948, com a finalidade
de introdução de novas tecnologias para fomentar os meios de produção e proporcionar
melhorias na qualidade de vida dos agricultores e em meados de 1956 foi criada a Associação

1
Engenheiro Agrônomo, autônomo, joao_eloia@outlook.com
2
Professor da Universidade do Estado de Mato Grosso, roboredo@unemat.br
3
Professor da Universidade do Estado de Mato Grosso, rogeriolalucci@unemat.br
4
Professora da Universidade do Estado de Mato Grosso, aluisamt@gmail.com
5
Acadêmico da Universidade do Estado de Mato Grosso, edmar.moreira@unemat.br
Campinas - SP, 12 a 14 de junho de 2019
Faculdade de Engenharia Agrícola
Av. Cândido Rondon, 501 - Barão Geraldo 13083-875
Brasileira de Crédito e Assistência Rural (ABCAR) com intuito de subsidiar pequenos projetos
voltados para o espaço rural. Com o passar dos anos e sucessivas alterações e reformulações
em seu perfil, a ABCAR foi realocada para Empresa Brasileira de Assistência técnica Extensão
Rural (EMBRATER) que passou a ser vinculada ao ministério da agricultura, facilitando a
articulação entre as entidades de extensão com apoio do governo federal através de repasse
financeiros, alinhando a extensão rural as políticas de desenvolvimento do meio rural
preconizadas naquele período.
Desde então a extensão rural vem trabalhando principalmente na integração de
estratégias tecnológicas para melhor servir o produtor. É inegável a importância desses
profissionais no campo, atuando de forma direta e indireta na cadeia produtiva em busca do
aprimoramento dos meios de produção, para suprir a crescente demanda de alimentos.
Historicamente a busca dessas mudanças tem sido praticada, via de regra, pelo modelo
de extensão difusionista de “transferência” de conhecimento, ou seja, de forma vertical, que
acaba não contribuindo para formação de uma consciência crítica e construtivista que coloque
a família e sua comunidade como sujeitos do processo. O procedimento metodológico
empregado pelo extensionista durante esse período denominado de difusionismo/produtivista
buscava persuadir o produtor a aceitar as soluções prontas ou fórmulas de sucesso, as quais,
não se preocupavam com a degradação do ambiente, ou seja, com as externalidades negativas
de sua ação que agrediam de forma indiscriminada os recursos naturais e a família rural, na
maioria das vezes frustrava ainda mais o agricultor/a. Isso se dava porque o extensionista agia
racionalizando o que se passa na propriedade, compreendendo apenas o ciclo produtivo;
desenvolvendo apenas ações compartimentadas (HOARE, 1986), atomizadas, pois não
adotavam uma visão holística e sistêmicas das unidades produtivas.
Segundo Freire (1983), essa “transferência” de conhecimentos, via “educação
bancária”, acaba não contribuindo para formação de uma consciência crítica do ponto de vista
do produtor rural. Portanto, era necessário um novo paradigma, um engajamento de
extensionistas comprometidos com o desenvolvimento rural sustentável, capacitados e com
caráter participativo voltado a inovação, e a busca de novas estratégias de transformação no
cenário rural.
A percepção dos agricultores, de suas organizações de representação, dos movimentos
sociais, de estudiosos do desenvolvimento rural, de organizações governamentais e não
governamentais a partir de um processo democrático, coordenado pelo Ministério do

Campinas - SP, 12 a 14 de junho de 2019


Faculdade de Engenharia Agrícola
Av. Cândido Rondon, 501 - Barão Geraldo 13083-875
Desenvolvimento Agrário (MDA), sobre a necessidade de mudança, fez com que novas
metodologias do serviço Assistência Técnica e Extensão Rural (ATER) fossem pensadas e se
concretizaram na Lei 12.188 (BRASIL, 2010) que trata da Política Nacional de Assistência
Técnica e Extensão Rural (PNATER). Essa lei preconiza um novo olhar sobre o serviço de
ATER, um novo profissional mais compromissado com a perspectiva social, cultural, ambiental
e econômica dos produtores rurais e de suas famílias. Essa nova postura profissional, agora
“compromissada” com o desenvolvimento sustentável do meio rural vai ao encontro do que
Caporal (2009) relata ao citar que
a experiência prática está ensinando que, para desenvolver uma
agricultura sustentável, os profissionais da extensão devem mudar seus
compromissos e sua forma de ação, deixando de atuar como um experto
transferidor de tecnologias, passando a atuar como “um facilitador que
trabalha com os agricultores para aprender, desenvolver tecnologias e
transformar-se em experto. (CAPORAL, 2003, p.10)
Mais do que qualificada, agora a nova ATER deve ter um compromisso político, ético
e social para que de fato a nova PNATER se efetive na prática. Ainda segundo Caporal (2009),
a nova ATER deve buscar trabalhar propondo e apoiando mudanças nos sistemas produtivos
atuais para processos mais sustentáveis, processos estes entendidos como resultado de novos
aprendizados em novas formas de se construir conhecimento pautadas por iniciativas
persistentes e destinadas a melhorar as relações dos homens entre si e destes com a natureza,
respeitando os limites ecossistêmicos.
Como mudar o modelo hegemônico? A visão holística e sistêmica rompe os paradigmas
convencionais da relação entre os produtores e os extensionistas, propiciando maior harmonia
entre esses atores no processo de desenvolvimento do meio rural, na busca de uma relação
harmoniosa entre o homem e natureza.
Nesse novo cenário o serviço de ATER precisa ter papel fundamental na economia da
agricultura familiar, na produção de alimento de qualidade, na soberania e segurança alimentar
das famílias, na agregação de valor da produção, no desenvolvimento de práticas de
conservação do ambiente, nas questões associativas e comunitárias, na transição para sistemas
de produção mais sustentáveis entre outras. Ou seja, o extensionista deve ser o profissional que
contribui para o fortalecimento do produtor abarcando as multidimensões do espaço rural,
concepção bem diferente da preconizada em 1974 que era resumida a aspectos tecnológicos, de

Campinas - SP, 12 a 14 de junho de 2019


Faculdade de Engenharia Agrícola
Av. Cândido Rondon, 501 - Barão Geraldo 13083-875
produção e comercialização. Na nova ATER as dimensões a serem trabalhadas são mais
abrangentes, pois constitui
um processo de educação não formal, de caráter continuado no meio
rural, que promove a gestão, produção, beneficiamento e
comercialização das atividades e dos serviços agropecuários e não
agropecuários, inclusive das atividades agroextrativistas, florestais e
artesanais (BRASIL, 2010).
A construção desse processo de educação não formal requer um vínculo de
credibilidade, comprometimento, mas acima de tudo uma boa comunicação entre extensionistas
e produtores, onde haja clareza e transparência nas palavras para que se estabeleça um equilíbrio
entre produtor e extensionista, refletindo também nos meios de produção (FREIRE, 1983;
ZUIN et al., 2011). Assim, para que o extensionista possa contribuir de fato com os agricultores
é imprescindível que ele conheça os atores, as pessoas e acima de tudo a realidade local. Muitos
são os métodos preconizados para que o extensionista possa fazer uma primeira leitura da
realidade, dentre estes, o diagnóstico rural participativo (VERDEJO, 2006) de fundamental
importância para alicerçar as ações que nortearão as atividades extensionistas.
Segundo Farias et al. (2012), um diagnóstico participativo revela o contexto de uma
comunidade ou de um grupo determinado de pessoas, além disso, procura entender as principais
características sociais, ambientais e econômicas da realidade na qual vive. O diagnóstico
participativo deve possibilitar conhecer os diversos fatores que compõe a dinâmica da família
e da comunidade como a qualidade de vida, desenvolvimento social, obtenção de renda, nível
tecnológico das atividades agropecuárias, questões básicas como saúde, educação, segurança,
aspectos culturais e ambientais. Desse modo a comunidade também consegue enxergar de
forma clara a natureza dos seus problemas, e juntos construir estratégias e soluções necessárias.
Independentemente do método a ação do extensionista requer uma imersão na realidade,
uma proximidade constante com os sujeitos do espaço rural que devem ser os agricultores e
suas famílias para que possam construir laços que possibilitem os avanços necessários na
construção do desenvolvimento sustentável. Todavia, para Zuin et al. (2011), o ponto de partida
da ação extensionista deve ser o conhecimento da realidade local, mas as propostas
metodológicas utilizadas têm sido empregadas isoladamente, fragmentadas. Neste contexto, o
objetivo deste trabalho é avaliar a percepção dos produtores rurais sobre a práxis extensionistas
praticadas na Comunidade Estrela do Sul, no município de Alta Floresta - MT, de forma a

Campinas - SP, 12 a 14 de junho de 2019


Faculdade de Engenharia Agrícola
Av. Cândido Rondon, 501 - Barão Geraldo 13083-875
analisar o processo metodológico empregado pelos extensionistas com base nas diretrizes da
Política Nacional de Assistência Técnica e Extensão Rural para a Agricultura Familiar e
Reforma Agrária (PNATER).

2. Materiais e Métodos
O presente trabalho foi realizado na comunidade Estrela do Sul, localizada no setor Sul
do município de Alta Floresta, situado no extremo norte do estado de Mato Grosso na depressão
da Amazônia Meridional, entre as latitudes 9º 30’ a 10º 8’ Sul e longitudes 56º 27’ a 55º 30’
Oeste (Figura 1), com área de 8.976,19 km2 e população de 49.164 habitantes, dos quais 42.787
(86,9%) residem na zona urbana e 6.446 (13,1%), na área rural (IBGE, 2010).
O clima do município, segundo a classificação de Köppen é do tipo Am, com
temperatura média anual em torno de 26ºC e precipitação média anual em torno de 2800 mm
(ALVARES et al., 2014). A vegetação predominante é a floresta ombrófila aberta (IBGE,
2012).

Figura 1 - Localização do município de Alta Floresta e da Comunidade Estrela do Sul. Fonte:


Os autores (2017)

Nessa pesquisa adotou-se o estudo de caso por se tratar de um estudo profundo, que visa
obter conhecimento amplo e detalhado da Comunidade Estrela do Sul, bem como constituir
estudo empírico que permite investigar em profundidade um fenômeno contemporâneo (o
“caso”) (YIN, 2015).
Alguns objetivos dos estudos de caso são destacados por Gil (2009): i) explorar
situações da vida real cujos cenários que não estão claramente definidos; 2) descrever a situação
do contexto em que está sendo feita determinada investigação; 3) explicar as variáveis causais
de determinado fenômeno em situações complexas que não permitam o uso de experimentos.
Campinas - SP, 12 a 14 de junho de 2019
Faculdade de Engenharia Agrícola
Av. Cândido Rondon, 501 - Barão Geraldo 13083-875
O primeiro passo da pesquisa foi realizar uma reunião com as lideranças da Comunidade
Estrela do Sul com a finalidade de informar os objetivos e motivações da pesquisa e de articular
apoio para execução da mesma.
A pesquisa baseou-se inicialmente nos dados secundários obtidos através de
monografias e informações informais obtidas junto a Empaer e Secretaria Municipal de
Agricultura que realizam serviços de ATER no município. Enquanto que os dados primários
foram obtidos por intermédio de 12 entrevistas com os agricultores familiares que moram na
Comunidade Estrela do Sul utilizando um questionário semiestruturado com perguntas
fechadas para caracterizar os agricultores entrevistados e as abertas para entender a ótica das
famílias quanto às práxis do serviço de ATER na comunidade. Segundo Wanderley (2011), as
perguntas abertas são importantes, pois parte-se do princípio que os agricultores, como sujeitos
do processo, conhecem a realidade do ambiente em que vivem e trabalham, e portanto, podem
contribuir na pesquisa expondo seus pensamentos quanto aos temas pesquisados. As entrevistas
seguiram os preceitos de Richardson et al. (2012), que também recomendam que o questionário
seja testado na forma de pré-teste, visando ajustar as perguntas formuladas a agricultores que
convivem com a mesma realidade da população amostrada (MEIHY, 2005).
Os dados coletados foram analisados por meio de estatística descritiva, para verificar o
comportamento das variáveis pesquisadas. A tabulação dos dados foi feita no software Excel
em seguida, para proceder à análise estatística, as perguntas foram divididas e agrupadas em
respectivas categorias, onde em cada categoria foi computado a proporção de respostas. Cada
pergunta foi submetida ao teste de Qui-Quadrado a 5% de probabilidade, que buscou verificar
existência ou não de diferença estatística entre as categorias de cada questionamento. Para
realizar o teste de Qui-quadrado foi utilizado o software livre R, por meio do comando chisq.test
(DEVELOPMENT CORE TEAM, 2015).

3. Resultados e Discussão
A comunidade Estrela do Sul é formada em sua maioria, por imigrantes sulistas, e
nordestinos que estão nas propriedades em média a 24 anos, ou seja, são colonizadores do início
da década de 1990 que em sua grande maioria (83%) vieram para a região motivados pela
implantação da cultura do café, apenas 8% vieram no ciclo do garimpo e 9% com intensão de
trabalhar com a pecuária.
As famílias entrevistadas têm em média 4 indivíduos, mas apenas 2 residem na

Campinas - SP, 12 a 14 de junho de 2019


Faculdade de Engenharia Agrícola
Av. Cândido Rondon, 501 - Barão Geraldo 13083-875
propriedade e o grau de escolaridade é baixo, dos 12 entrevistados apenas 2 concluíram o ensino
médio, o restante na sua maioria não concluiu o ensino fundamental.
As propriedades variam de 2,5 hectares a 61 hectares, sendo que em 100% das
propriedades predominam áreas de pastagem e apenas um dos entrevistados possui uma área
de 2 hectares de agricultura, a principal atividade produtiva é a pecuária de corte presente em
50% das propriedades e a pecuária de leite está presente em 33% delas, os outros 17% arredam
suas terras.
É importante destacar que em menos de 40 anos, ocorreu uma mudança radical no
cenário rural da comunidade, tendo em vista que neste território as culturas do café e cacau
eram as principais atividades exploradas até meados da década de 1990, mas devido ao baixo
preço do café, incidência da vassoura de bruxa no cacau e a presença do garimpo no município,
a maioria dos agricultores desistiram da atividade agrícola, forçando as famílias a migrarem
para a pecuária, enquanto outros desestimulados por completo venderam sua propriedade e
foram morar na cidade.
Um fator que mitigou a ampliação do êxodo rural foi o PRONAF (Programa Nacional
de Fortalecimento da Agricultura Familiar), uma linha de crédito rural com encargos
financeiros fortemente subsidiado. O programa ao possibilitar a mudança de atividade
produtiva, ajudou também a manter parte da população no campo, pois entre outros fatores da
região que favorecem a pecuária como o fato de apresenta menor risco, garantia de renda e
demanda menor quantidade de mão de obra.

Percepção dos Agricultores sobre o Serviço de ATER na comunidade


O serviço de assistência técnica e extensão rural na comunidade é praticado
principalmente pela EMPAER-MT (Empresa Mato-Grossense de Pesquisa, Assistência
Técnica e Extensão Rural) em concordância com o disposto no programa nacional de
assistência técnica e extensão rural na agricultura familiar e na reforma agrária (PRONATER),
conforme disposto no art. 6° da lei 12.188 (BRASIL, 2010, p. 1). A EMPAER de Mato Grosso
que tem como missão gerar conhecimento tecnologia e praticar a extensão na busca do
desenvolvimento sustentável do meio rural, com prioridade à agricultura familiar (EMPAER,
2017).
No município de Alta Floresta, entre os órgãos públicos que realizam o serviço de ATER
há a Empaer e a Secretaria Municipal de Agricultura. Todavia ao consultar os agricultores sobre

Campinas - SP, 12 a 14 de junho de 2019


Faculdade de Engenharia Agrícola
Av. Cândido Rondon, 501 - Barão Geraldo 13083-875
as entidades que prestam serviços de ATER na Comunidade Estrela do Sul eles informaram
(41,7%) que somente a Empaer realiza atividades na Comunidade Estrela do Sul, enquanto que
as demais famílias (58,3%) relataram que não receber nenhuma espécie de assistência técnica
de espécie (Figura 1).

Figura 1 - Entidade que presta serviços de ATER na Comunidade Estrela do Sul. Alta
Floresta-MT.

58,3%
41,7%

Empaer Não souberam responder

Fonte: Dados da pesquisa (2017).

Os agricultores ao serem indagados sobre os serviços de ATER praticado pelo órgão


público responderam que tem interesse em receber os técnicos de ATER. No entanto,
destacaram vários problemas inerentes a práxis dessa importante política pública. Entre as
respostas (Figura 2), destaca-se a “falta de técnicos” onde 59% dos entrevistados reconhecem
que há poucos técnicos para atender o município e também a falta de periodicidade (17%).
As respostas dos entrevistados quanto a qualidade do trabalho da ATER recebido nas
propriedades corroboram para nossa observação de falta de adequação as novas diretrizes da
PNATER, pois 75% dos entrevistados considera o trabalho dos técnicos razoável ou ruim,
apenas 25 % consideram o trabalho da ATER como bom.
Baseado nas informações dos entrevistados o grande gargalo do serviço prestado

Campinas - SP, 12 a 14 de junho de 2019


Faculdade de Engenharia Agrícola
Av. Cândido Rondon, 501 - Barão Geraldo 13083-875
no município de Alta Floresta/MT está relacionado com a falta de diálogo entre iguais
conforme recomenda Freire (1983). Ao longo da história, via de regra, os agentes da
extensão têm se relacionado de forma verticalizada com os agricultores, despejando
informação, sem ao menos entender de que forma suas orientações estão sendo
absorvidos (compreendidas) por seus interlocutores, criando assim um abismo entre esses
dois atores sociais no espaço rural. Os problemas da estrutura social e física vivenciados
pelas entidades de ATER acabam contribuindo para o grave estado atual de
distanciamento dos extensionistas do convívio com os agricultores, como foi relatado. A
falta de técnico compromete em muito o trabalho no acompanhamento das atividades de
campo, lembrando que no município, segundo IBGE (2010), a população rural está em
torno de 6.446 habitantes distribuída em 2.930 imóveis rurais.

Figura 2 - Opinião dos agricultores sobre os problemas relacionados ao serviço


de ATER na Comunidade Estrela do Sul. Alta Floresta - MT.
Alta dem anda; 8%

Des igualdade de
atendim ento; 8%

Falta de Periodicidade;
17%

Falta de técnicos ; 59%

Falta de inform ação; 8%

Fonte: Dados da pesquisa (2017)

Apesar do cenário negativo os entrevistados (50%) afirmam que o serviço de


ATER é de suma importância para eles, pois auxilia na condução das atividades e
orientam o manejo da propriedade (Figura 3), apenas 16,7% não soube responder ou não
responder.
Com esses dados fica claro a necessidade de agentes de apoio no meio rural

Campinas - SP, 12 a 14 de junho de 2019


Faculdade de Engenharia Agrícola
Av. Cândido Rondon, 501 - Barão Geraldo 13083-875
fomentando uma participação comunitária, auxiliando e conduzindo de forma
participativa as atividades do produtor rural, entre outros aspectos. É inegável que o
serviço de ATER atua no processo de transformação e construção do desenvolvimento
da cadeia produtiva da agricultura familiar. Aproveitando o trabalho de Franco (2007),
em virtude do que foi mencionado, fica óbvio a importância da ATER.

Figura 3 - Importância do serviço de assistência técnica extensão rural. Comunidade


Estrela do Sul. Alta Floresta-MT.
60,0%

50,0%
50,0%

40,0%

30,0%

20,0% 16,7% 16,7%

10,0% 8,3% 8,3%

0,0%
Auxilia a entender Não soube Orienta no Repassa Se tivesse seria
a condução da UP responder planejamento das informação correta ótimo
atividades do sitio na condução da
UP

Fonte: Dados da pesquisa (2017)

O baixo número de profissionais ligados ao ramo da extensão rural pública acarreta


uma série de entraves como, por exemplo, a periodicidade das visitas técnicas, e
consequentemente o acumulando de serviços e reclamações por parte dos produtores.
Grande parte desse atraso se dá por falta da estrutura para incorporação de novos
colaboradores destinados a trabalhar com ATER (SEPULCRI & PAULA, 2008).
O trabalho do extensionista preconizado na PNATER requer uma presença constante, a
construção de laços que vão além da simples transferência de conhecimento ou de repasse de
informações, como já foi mencionado é preciso compromisso com o processo de
desenvolvimento da família, da unidade produtiva e da comunidade.
Um dos princípios básicos da PNATER (BRASIL, 2010) consiste na “adoção de
metodologia participativa, com enfoque multidisciplinar, interdisciplinar e intercultural,

Campinas - SP, 12 a 14 de junho de 2019


Faculdade de Engenharia Agrícola
Av. Cândido Rondon, 501 - Barão Geraldo 13083-875
buscando a construção da cidadania e a democratização da gestão da política pública”. E na
maioria das vezes, a não adoção da prática construtivista deve-se ao fato de que, os responsáveis
dos órgãos de ATER e também de muitos extensionistas, não conseguem enxergar o agricultor
como sujeito do processo e sim, como mero objeto, não dialogando de forma horizontal com
eles (FREIRE, 1983).
No caso do estudo aqui apresentado, nas condições atuais do trabalho de ATER,
fica evidente a falta de condições de cumprir os objetivos da PNATER, pois segundo os
entrevistados onde acontecem as visitas estas são mensais (8%), semestrais (8%) e
trimestrais (25%). Todavia, 59% dos entrevistados não souberam responder porque não
recebem o serviço de ATER. A falta de constância nas visitas não só diminui o potencial
de desenvolvimento das atividades como proporciona insatisfação e descontentamento
sobre o serviço prestado (Figura 4).

Figura 4 - Periodicidade dos serviços de ATER na Comunidade Estrela do Sul. Alta


Floresta-MT.
70%

59%
60%

50%

40%

30%
25%

20%

10% 8% 8%

0%
Semestral Trimestral Mensal Não responderam porque
não receber o serviço de
ATER

Fonte: Dados da pesquisa (2017)

A falta de apoio aos agricultores familiares não ocorre somente na Comunidade


Estrela do Sul e na maioria dos municípios brasileiros, mas também em outros países
conforme pesquisa realizada por Landini e Bianqui (2017) sobre a qualidade do serviço
de ATER no Paraguai. Depreende-se no artigo que a percepção dos agricultores
Campinas - SP, 12 a 14 de junho de 2019
Faculdade de Engenharia Agrícola
Av. Cândido Rondon, 501 - Barão Geraldo 13083-875
paraguaios não é diferente dos agricultores da Estrela do Sul, senão vejamos
- La asistencia técnica y el apoyo recibido de parte del MAG
[Ministerio de Agricultura y Ganadería] es considerado insuficiente.
Se espera una mayor cobertura a nivel de asistencia técnica y apoyos
públicos.
- Los beneficiarios esperan que la asistencia técnica y el apoyo público
les permitan incrementar sus conocimientos, mejorar su producción y,
en definitiva, mejorar su calidad de vida.
- Visitar las fincas de los productores aparece como algo esencial, en
tanto forma de ver que le pasa a los productores, cuáles es la situación
de sus cultivos y cuáles son sus problemas. Esto implica la expectativa
de que la labor de los extensionistas parta de sus problemas reales y
no de planificaciones abstractas u objetivos ajenos. (LANINI e
BIANQUI, 2017, p. 124-125)
Como se esperava ocorre uma baixa frequência de visitas individuais, método esse
difícil de ser empregado em grande escala devido a deficiência de técnicos no município,
procurou-se conhecer a frequência de reuniões realizadas pelos técnicos da ATER, uma
vez que nesse caso essa seria uma metodologia de trabalho que amenizaria o problema
de frequência nas propriedades, contudo quando perguntado aos entrevistados como são
feitas as reuniões de ATER, a minoria respondeu que as reuniões são ótimas (Figura 5).
Consequentemente, as respostas indicam que apesar do número insuficientes de técnicos
para atender a demanda, os trabalhos não têm sido feitos nos princípios da nova
PNATER, ou seja, com metodologias participativas.
Levando em consideração a falta de oportunidade no cenário atual do município,
muitos produtores vêm resistindo no campo como podem, investindo suas forças e
recursos na atividade de menor risco, que necessita de pouca mão de obra e tenha garantia
de retorno financeiro como a pecuária de leite e corte. Algumas iniciativas têm surgido
para intensificar as atividades produtivas na comunidade como o sistema balde cheio,
programa do governo federal, disseminado pela Empresa Brasileira de Pesquisa
Agropecuária (EMBRAPA), assim como a integração lavoura-pecuária (ILP). Todavia a
maioria (92%) estão desacreditados em adotar novas práticas agropecuárias e/ou executar
outras atividades. Com esse pensamento criam barreiras no desenvolvimento da produção
na comunidade. Atualmente restrita, apenas e tão somente a pecuária de corte e leite.

Campinas - SP, 12 a 14 de junho de 2019


Faculdade de Engenharia Agrícola
Av. Cândido Rondon, 501 - Barão Geraldo 13083-875
Figura 5 - Como são feitas as reuniões de ATER na comunidade Estrela do Sul. Alta
Floresta-MT.
66,7%

25,0%

8,3%

Nunca participou de Não soube responder Reunião muito boa


reunião de ATER na
comunidade.

Fonte: Dados da pesquisa (2017)

4. Considerações Finais
Analisando a percepção dos agricultores sobre o serviço de ATER prestado na
Comunidade Estrela do Sul, podemos considerar que este ainda não atende os princípios
nem objetivos pressupostos contidos na PNATER, posto que a prática extensionista
predominante ainda está embasada no velho paradigma difusionista, sendo praticada de
forma cartesiana.
A não adoção de métodos participativos no serviço de ATER diminui a eficiência
e agrava o problema do déficit de técnicos, pois o alcance do método grupal é muitíssimo
maior do que o individual, sobretudo quando se emprega ferramentas participativas.
Mesmo diante de todas as dificuldades o extensionista deve priorizar a educação
construtivista, estar voltado ao engajamento social e valorização das famílias, colocando
o agricultor como sujeitos do processo. Desta forma, o serviço de ATER contribuirá para
o desenvolvimento sustentável do espaço rural.

5. Referências Bibliográficas

ALVARES, C. A.; STAPE, J. L.; SENTELHAS, P. C. et al. Köppen’s climate classification


map for Brazil. Meteorologische Zeitschrift, Johannesburg, v.22, n.6, p.711-728, 2014.
BRASIL. Casa Civil. Lei nº 12.188 de 11 de janeiro de 2010, que institui a Política Nacional
de Assistência Técnica e Extensão Rural para a Agricultura Familiar e Reforma Agrária. 2010.
Campinas - SP, 12 a 14 de junho de 2019
Faculdade de Engenharia Agrícola
Av. Cândido Rondon, 501 - Barão Geraldo 13083-875
6 p.
CAPORAL, F. R. Agroecologia: uma nova ciência para apoiar a transição a agriculturas mais
sustentáveis. Brasília. 2009.
CAPORAL, F. R. Bases para uma nova ATER pública. Janeiro, 2003. Acessado em
05/02/2017. Disponível em: http://w3.ufsm.br/extensaorural/art4ed10.pdf.
DEVELOPMENT CORE TEAM. R: A language and environment for statistical
computing. Acessado em 15/08/2017. Disponível em: http://www.R-project.org.
EMPAER (Empresa Mato-Grossense de Pesquisa, Assistência e Extensão Rural). Histórico.
2017. Acessado em 30/05/2017. Disponível em: http://www.empaer.mt.gov.br/empaer.
FARIAS, R. A. et al. Diagnóstico Social, Econômico e Ambiental e Planejamento
Participativo. Alta Floresta: Instituto Centro de Vida, 2012. Acessado em 12/01/2018.
Disponível em: https://www.icv.org.br/wp-
content/uploads/2013/08/29132cartilha_cotriguacu.pdf.
FRANCO, C. F. de O. Dinâmica da Difusão de Tecnologia no Sistema Produtivo da
Agricultura Brasileira. EMEPA-PB. João Pessoas-PB, 2007. Acessado em 20/10/2016.
Disponível em: https://pt.scribd.com/document/93646287/difusao-de-tecnologia.
FREIRE, P. Extensão ou comunicação? Rio de Janeiro: Paz e Terra. 1983.
GIL, A. C. Como elaborar projetos de pesquisa. 4. ed. São Paulo: Atlas, 2009.
HOARE, P. Strategies in the transfer of technology. In: JONES, G.E. (Ed). Investing in rural
extension: strategies and goals. Londres: Elsevier. 1986.
IBGE (INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATISTICA). População 2010:
informações completas. Alta Floresta, 2010. Acessado em 02/07/2017. Disponível em:
http://www.ibge.gov.br/cidadesat/xtras/perfil.php?codmun=510025&search=matogrosso| alta-
floresta.
______. Manual técnico da vegetação brasileira. Rio de Janeiro: IBGE, 2012.
LODI, J. B. A entrevista: teoria e prática. Rev. latino-am. Enfermagem, Ribeirão Preto, n. 3,
v. 4, p. 75-88, 1996.
LANDINI, F. P.; BIANQUI, V. P. Construcción de estándares de calidad para el servicio de
extensión del ministerio de agricultura y ganadería del Paraguay. Agroalimentaria. v. 24, n.
46; enero-junio, p.119-132, 2018.
MEIHY, J. C. S. B. Manual de história oral. São Paulo: Edições Loyola, 2005.
RICHARDSON, R. J.; PERES, J. A. de S.; WANDERLEY, J. C. V. et al. Pesquisa Social:
métodos e técnicas. São Paulo: Atlas, 2012.
SEPULCRI, O.; PAULA, N. O Estado e seus impactos na Emater-Pr. Revista Paranaense de
Desenvolvimento, n.114, p.87-110, 2008. Acessado em 20/07/2017. Disponível em:
http://www.ipardes.gov.br/ojs3/index.php/revistaparanaense/article/view/14.
VERDEJO, M. E. Diagnóstico Rural Participativo: Guia Prático DRP. Brasília: MDA, 2006.
WANDERLEY, M. N. B. Um saber necessário: os estudos rurais no Brasil. Campinas:
Campinas - SP, 12 a 14 de junho de 2019
Faculdade de Engenharia Agrícola
Av. Cândido Rondon, 501 - Barão Geraldo 13083-875
Unicamp, 2011.
YIN, R. K. Estudo de caso: planejamento e métodos. Porto Alegre: Bookman, 2015. 290p.
ZUIN, F. L. S.; ZUIN, P. B.; MANRIQUE, M. A. D. A comunicação dialógica como fator
determinante para os processos de ensino aprendizagem que ocorrem na capacitação rural: um
estudo de caso em um órgão público de extensão localizado no interior do Estado de São Paulo.
Ciência Rural, Santa Maria, n.5, v.41, 2011.

Campinas - SP, 12 a 14 de junho de 2019


Faculdade de Engenharia Agrícola
Av. Cândido Rondon, 501 - Barão Geraldo 13083-875

Você também pode gostar