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Resumo
O presente trabalho teve por objetivo analisar se os métodos utilizados pelos extensionistas
estão em consonância com as diretrizes da Política Nacional de Assistência Técnica e Extensão
Rural, segundo a ótica dos atores sociais envolvidos nesse processo. Para tanto, foi realizado
entrevistas com aplicação de questionários semiestruturados com perguntas abertas e fechadas
para melhor compreender a praxis extensionista realizada na Comunidade Estrela do Sul,
município de Alta Floresta-MT. As informações geradas seguiram parâmetros da avaliação
quali-quanti que foram analisadas por intermédio da estatística descritiva e teste de proporção
(x²) para melhor compreensão dos resultados. Depreende-se pelos dados obtidos que a prática
extensionista vem sendo praticada no formato cartesiano e não há política pública de apoio à
permanência das famílias no espaço rural. O processo de educação construtivista por parte dos
extensionistas deve estar voltado ao engajamento social e valorização das famílias dos
agricultores como sujeitos e não como meros objetos.
Palavras-chave: Agricultura familiar, Sustentabilidade, Comunicação, Participação.
1. Introdução
No Brasil o serviço de Extensão Rural foi criado oficialmente em 1948, com a finalidade
de introdução de novas tecnologias para fomentar os meios de produção e proporcionar
melhorias na qualidade de vida dos agricultores e em meados de 1956 foi criada a Associação
1
Engenheiro Agrônomo, autônomo, joao_eloia@outlook.com
2
Professor da Universidade do Estado de Mato Grosso, roboredo@unemat.br
3
Professor da Universidade do Estado de Mato Grosso, rogeriolalucci@unemat.br
4
Professora da Universidade do Estado de Mato Grosso, aluisamt@gmail.com
5
Acadêmico da Universidade do Estado de Mato Grosso, edmar.moreira@unemat.br
Campinas - SP, 12 a 14 de junho de 2019
Faculdade de Engenharia Agrícola
Av. Cândido Rondon, 501 - Barão Geraldo 13083-875
Brasileira de Crédito e Assistência Rural (ABCAR) com intuito de subsidiar pequenos projetos
voltados para o espaço rural. Com o passar dos anos e sucessivas alterações e reformulações
em seu perfil, a ABCAR foi realocada para Empresa Brasileira de Assistência técnica Extensão
Rural (EMBRATER) que passou a ser vinculada ao ministério da agricultura, facilitando a
articulação entre as entidades de extensão com apoio do governo federal através de repasse
financeiros, alinhando a extensão rural as políticas de desenvolvimento do meio rural
preconizadas naquele período.
Desde então a extensão rural vem trabalhando principalmente na integração de
estratégias tecnológicas para melhor servir o produtor. É inegável a importância desses
profissionais no campo, atuando de forma direta e indireta na cadeia produtiva em busca do
aprimoramento dos meios de produção, para suprir a crescente demanda de alimentos.
Historicamente a busca dessas mudanças tem sido praticada, via de regra, pelo modelo
de extensão difusionista de “transferência” de conhecimento, ou seja, de forma vertical, que
acaba não contribuindo para formação de uma consciência crítica e construtivista que coloque
a família e sua comunidade como sujeitos do processo. O procedimento metodológico
empregado pelo extensionista durante esse período denominado de difusionismo/produtivista
buscava persuadir o produtor a aceitar as soluções prontas ou fórmulas de sucesso, as quais,
não se preocupavam com a degradação do ambiente, ou seja, com as externalidades negativas
de sua ação que agrediam de forma indiscriminada os recursos naturais e a família rural, na
maioria das vezes frustrava ainda mais o agricultor/a. Isso se dava porque o extensionista agia
racionalizando o que se passa na propriedade, compreendendo apenas o ciclo produtivo;
desenvolvendo apenas ações compartimentadas (HOARE, 1986), atomizadas, pois não
adotavam uma visão holística e sistêmicas das unidades produtivas.
Segundo Freire (1983), essa “transferência” de conhecimentos, via “educação
bancária”, acaba não contribuindo para formação de uma consciência crítica do ponto de vista
do produtor rural. Portanto, era necessário um novo paradigma, um engajamento de
extensionistas comprometidos com o desenvolvimento rural sustentável, capacitados e com
caráter participativo voltado a inovação, e a busca de novas estratégias de transformação no
cenário rural.
A percepção dos agricultores, de suas organizações de representação, dos movimentos
sociais, de estudiosos do desenvolvimento rural, de organizações governamentais e não
governamentais a partir de um processo democrático, coordenado pelo Ministério do
2. Materiais e Métodos
O presente trabalho foi realizado na comunidade Estrela do Sul, localizada no setor Sul
do município de Alta Floresta, situado no extremo norte do estado de Mato Grosso na depressão
da Amazônia Meridional, entre as latitudes 9º 30’ a 10º 8’ Sul e longitudes 56º 27’ a 55º 30’
Oeste (Figura 1), com área de 8.976,19 km2 e população de 49.164 habitantes, dos quais 42.787
(86,9%) residem na zona urbana e 6.446 (13,1%), na área rural (IBGE, 2010).
O clima do município, segundo a classificação de Köppen é do tipo Am, com
temperatura média anual em torno de 26ºC e precipitação média anual em torno de 2800 mm
(ALVARES et al., 2014). A vegetação predominante é a floresta ombrófila aberta (IBGE,
2012).
Nessa pesquisa adotou-se o estudo de caso por se tratar de um estudo profundo, que visa
obter conhecimento amplo e detalhado da Comunidade Estrela do Sul, bem como constituir
estudo empírico que permite investigar em profundidade um fenômeno contemporâneo (o
“caso”) (YIN, 2015).
Alguns objetivos dos estudos de caso são destacados por Gil (2009): i) explorar
situações da vida real cujos cenários que não estão claramente definidos; 2) descrever a situação
do contexto em que está sendo feita determinada investigação; 3) explicar as variáveis causais
de determinado fenômeno em situações complexas que não permitam o uso de experimentos.
Campinas - SP, 12 a 14 de junho de 2019
Faculdade de Engenharia Agrícola
Av. Cândido Rondon, 501 - Barão Geraldo 13083-875
O primeiro passo da pesquisa foi realizar uma reunião com as lideranças da Comunidade
Estrela do Sul com a finalidade de informar os objetivos e motivações da pesquisa e de articular
apoio para execução da mesma.
A pesquisa baseou-se inicialmente nos dados secundários obtidos através de
monografias e informações informais obtidas junto a Empaer e Secretaria Municipal de
Agricultura que realizam serviços de ATER no município. Enquanto que os dados primários
foram obtidos por intermédio de 12 entrevistas com os agricultores familiares que moram na
Comunidade Estrela do Sul utilizando um questionário semiestruturado com perguntas
fechadas para caracterizar os agricultores entrevistados e as abertas para entender a ótica das
famílias quanto às práxis do serviço de ATER na comunidade. Segundo Wanderley (2011), as
perguntas abertas são importantes, pois parte-se do princípio que os agricultores, como sujeitos
do processo, conhecem a realidade do ambiente em que vivem e trabalham, e portanto, podem
contribuir na pesquisa expondo seus pensamentos quanto aos temas pesquisados. As entrevistas
seguiram os preceitos de Richardson et al. (2012), que também recomendam que o questionário
seja testado na forma de pré-teste, visando ajustar as perguntas formuladas a agricultores que
convivem com a mesma realidade da população amostrada (MEIHY, 2005).
Os dados coletados foram analisados por meio de estatística descritiva, para verificar o
comportamento das variáveis pesquisadas. A tabulação dos dados foi feita no software Excel
em seguida, para proceder à análise estatística, as perguntas foram divididas e agrupadas em
respectivas categorias, onde em cada categoria foi computado a proporção de respostas. Cada
pergunta foi submetida ao teste de Qui-Quadrado a 5% de probabilidade, que buscou verificar
existência ou não de diferença estatística entre as categorias de cada questionamento. Para
realizar o teste de Qui-quadrado foi utilizado o software livre R, por meio do comando chisq.test
(DEVELOPMENT CORE TEAM, 2015).
3. Resultados e Discussão
A comunidade Estrela do Sul é formada em sua maioria, por imigrantes sulistas, e
nordestinos que estão nas propriedades em média a 24 anos, ou seja, são colonizadores do início
da década de 1990 que em sua grande maioria (83%) vieram para a região motivados pela
implantação da cultura do café, apenas 8% vieram no ciclo do garimpo e 9% com intensão de
trabalhar com a pecuária.
As famílias entrevistadas têm em média 4 indivíduos, mas apenas 2 residem na
Figura 1 - Entidade que presta serviços de ATER na Comunidade Estrela do Sul. Alta
Floresta-MT.
58,3%
41,7%
Des igualdade de
atendim ento; 8%
Falta de Periodicidade;
17%
50,0%
50,0%
40,0%
30,0%
0,0%
Auxilia a entender Não soube Orienta no Repassa Se tivesse seria
a condução da UP responder planejamento das informação correta ótimo
atividades do sitio na condução da
UP
59%
60%
50%
40%
30%
25%
20%
10% 8% 8%
0%
Semestral Trimestral Mensal Não responderam porque
não receber o serviço de
ATER
25,0%
8,3%
4. Considerações Finais
Analisando a percepção dos agricultores sobre o serviço de ATER prestado na
Comunidade Estrela do Sul, podemos considerar que este ainda não atende os princípios
nem objetivos pressupostos contidos na PNATER, posto que a prática extensionista
predominante ainda está embasada no velho paradigma difusionista, sendo praticada de
forma cartesiana.
A não adoção de métodos participativos no serviço de ATER diminui a eficiência
e agrava o problema do déficit de técnicos, pois o alcance do método grupal é muitíssimo
maior do que o individual, sobretudo quando se emprega ferramentas participativas.
Mesmo diante de todas as dificuldades o extensionista deve priorizar a educação
construtivista, estar voltado ao engajamento social e valorização das famílias, colocando
o agricultor como sujeitos do processo. Desta forma, o serviço de ATER contribuirá para
o desenvolvimento sustentável do espaço rural.
5. Referências Bibliográficas