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CAMINHOS

DE ATER
Revista da Superintendência Baiana de Assistência
Técnica e Extensão Rural (Bahiater),unidade
da Secretaria de Desenvolvimento Rural (SDR),
Governo do Estado da Bahia, 2018

Mulheres de Selo Sementes


Santanópolis Quilombola Crioulas
EXPEDIENTE CAMINH
DE ATER OS
Revis ta da
Super
Técni ca einten dênci a Baian
Exten são a de Assist
Rural – BAHIA ência
TER, 2018

Governador
Rui Costa
Vice-Governador
João Leão
Secretário de Desenvolvimento Rural
Jerônimo Rodrigues
Chefe de Gabinete Mulheres
Santanópo
de
lis Selo
Quilombol Sementes

Jeandro Laytynher Ribeiro


a
Crioula

Coordenadora de Comunicação
Caminhos de ATER
Sílvia Costa
Superintendente de Assistência Técnica
e Extensão Rural da Bahia
Célia Watanabe
Presidente da Fundação Luís Eduardo Magalhães
Francisco Américo Neves de Oliveira
-----------------------------------------------------------------------
CAMINHOS DE ATER – 2018 é uma publicação da Superintendên-
cia Baiana de Assistência Técnica e Extensão Rural (BAHIATER), ór- Mulheres de Santanópolis:
gão vinculado a Secretaria de Desenvolvimento Rural (SDR), em
parceria com a Fundação Luís Eduardo Magalhães (FLEM). enfrentando os desafios
----------------------------------------------------------------------
Equipe de Produção
com o apoio da ATER
Núcleo de Informação e Sistematização – NISB/BAHIATER
Fundação Luís Eduardo Magalhães – FLEM
Ana Cristina Souza dos Santos . . . . BAHIATER/SDR
André Frutuoso . . . . . . . . . . . . . Ascom/SDR
Luciano Barreto . . . . . . . . . . . . . FLEM
Anna Melyssa Batista Neves . . . . . . FLEM
Rosangela Machado . . . . . . . . . . BAHIATER/SDR
Rosemarie Freitas . . . . . . . . . . . . FLEM De geração em geração:
Taciana Teles . . . . . . . . . . . . . . . BAHIATER/SDR
Apoio: Elivan Santos Brito, Fábio Cunha, bons frutos para
Bianca Almeida, Itamar Pereira da Silva dos Santos.
Fotografias
agricultores familiares
André Frutuoso – Ascom/SDR
Luciano Barreto – FLEM
Produção Gráfica
Agapê Design Gráfico
Impressão: GRASB Tiragem: 4.000 exemplares
Endereços
Governo da Bahia
Selo Quilombola Brasileiro:
Superintendência Baiana de Assistência certificação que agrega valor
Técnica e Extensão Rural – BAHIATER
Avenida Dorival Caymmi, 15.649- Itapuã aos produtos de origem
CEP: 41.635-150 - Salvador - BA, Brasil
www.bahiater.sdr.ba.gov.br
Fundação Luís Eduardo Magalhães – FLEM
Rua Visconde de Itaborahy, 845 - Amaralina
CEP: 41.900-000 – Salvador – BA
http://www.flem.org.br

Agricultura familiar e a
produção orgânica: o papel da
ATER na mudança de paradigmas
SUMÁRIO
Convivência sustentável
4 como o semiárido: trajetórias
reveladas pela ATER
24

Comunidade Tupinambá:
8 apicultura fortalece a
agricultura familiar
28

Agricultura familiar e as

12 prcerias institucionais:
Experiências do MAIS ATER 32
em Teolândia

Sementes crioulas: aliadas


16 da agricultura familiar
por gerações
36

FORMATER: ação
20 de formação para
agentes de ATER
40
Caminhos de ATER

CAMINHOS DE ATER
A Bahia concentra o maior número de agricul- Um rural dinâmico, com vida, pressupõe pro-
tores (as) familiares entre os estados brasileiros, cessos de articulação das políticas públicas
em torno de 700 mil, e o maior número de De- que combinem produção de alimentos saudá-
clarações de Aptidão ao Pronaf (DAP). veis com geração de trabalho e renda na base
da agricultura familiar. Essa concepção deter-
Dos 417 municípios baianos, 369 possuem mina o marco legal da agricultura familiar (Lei
menos de 50 mil habitantes, dos quais, 240 nº 11.326/2006) que delimita critérios de en-
municípios possuem menos de 20 mil ha- quadramento e especificidades de seus sujeitos.
bitantes. Considerando a configuração da Diversas políticas públicas e programas foram
economia local, é evidente tratar-se de uma criados, outras reformuladas para qualificação
Bahia Rural, cada vez mais demandante de do atendimento de agricultores e agricultoras
políticas públicas, em especial, de Assistên- familiares, a exemplo do Pronaf e da ATER, sen-
cia Técnica e Extensão Rural – ATER continua- do essa segunda instituída nacionalmente pela
da e qualificada. Lei nº 12.188/20101 e no estado da Bahia, atra-
vés da Lei n° 12.372/20112.

1 – PNATER – Política Nacional de Assistência Técnica e Extensão Rural para a Agricultura Familiar e Reforma Agrária e PRONATER – Programa Nacional de
Assistência Técnica e Extensão Rural na Agricultura Familiar e na Reforma Agrária.
4
2– PEATER – Política Estadual de Assistência Técnica e Extensão Rural para a Agricultura Familiar e PROATER – Programa Estadual de Assistência Técnica e
Extensão Rural na Agricultura Familiar
Caminhos de ATER

A Superintendência Baiana de Assistência Téc- tica públicas e programas para a agricultura


nica e Extensão Rural – BAHIATER3 nasce junto familiar, emissão de documentação, elabo-
com a Secretaria de Desenvolvimento Rural, ração e acompanhamento de projetos, en-
estando a ela vinculada, com a missão de pro- tre outras. Nessa modalidade, a Fundação
mover a gestão e execução de políticas de Assis- Luís Eduardo Magalhães – FLEM, apoia a
tência Técnica e Extensão Rural, especialmente BAHIATER na execução dos serviços.
as que contribuam para a ampliação dos níveis
organizativos e para a elevação da produção e ¥¥ Parceria com organizações da sociedade ci-
da produtividade, visando garantir autonomia vil, selecionadas e contratadas por meio de
econômica e qualidade de vida dos agricultores chamadas públicas. As ações são planejadas
e das agricultoras familiares. em conjunto e monitoradas pela BAHIATER.

“Se muito vale o já feito, mais vale o que será. ¥¥ Parceria com as secretarias municipais de
E o que foi feito é preciso conhecer para agricultura, por meio da ação MAIS ATER,
melhor prosseguir”. 4 onde o Estado apoia a estruturação dos ser-
viços e o município se responsabiliza pela
Em sua origem, a BAHIATER/SDR inaugura um contratação da equipe técnica e custeio das
modelo inovador, combinando diferentes mo- ações. A BAHIATER acompanha o planeja-
dalidades de atendimento, a saber: mento das ações, monitoramento e avalia-
ção, além de contribuir com a formação da
¥¥ ATER direta, através das equipes técnicas equipe da Prefeitura.
sob a gestão BAHIATER que atuam na Supe-
rintendência e nos Serviços Territoriais de ¥¥ Articulação das ações de ATER no âmbito
Apoio à Agricultura Familiar – SETAF. Nes- dos programas Bahia Produtiva e Pró Semi-
se ambiente, além da oferta sistemática da árido da Companhia de Desenvolvimento e
ATER, são realizadas ações de formação, de Ação Regional – CAR, no âmbito da Secreta-
facilitação ao acesso a um conjunto de polí- ria de Desenvolvimento Rural.

3 – Até então, a ATER estatal vinha sendo ofertada pela Empresa Baiana de Desenvolvimento Agrícola – EBDA, extinta em 2014 e que por sua vez, sucedeu a
Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural da Bahia – EMATERBA.
4 – Milton Nascimento 5
Caminhos de ATER

A conjugação desses esforços se expressa nos seguintes resultados entre os anos de 2015 a 2018:

Famílias atendidas por ATER Indireta


Contratos encerrados em 2015 e 2016 35.520
Contratos vigentes 40.320
Novas Chamadas 2018 (mulheres e agroecologia) 12.420
Parceria Ceplac/Coopafs/CAR 10.000
Bahia Produtiva 12.893
Pró Semiárido 13.400
Mais Ater Municípios 5.400
Famílias atendidas por ATER direta – Equipe BAHIATER
Projeto Dom Hélder Câmara 3.720
Equipes SETAF 26.500
TOTAL GERAL 160.173

Total de Agricultores(as) com DAP (Vigentes) 619.343


Total de DAP Jurídica (Vigentes) 1.433
O total de DAP vigentes engloba esforços das equipes técnicas da BAHIATER, Ceplac, Sindicatos da base da Contag e Fetraf, Fundação Palmares, INCRA,
6 CDA.
Caminhos de ATER

Adesão ao Programa Garantia Safra


2014/2015 299.277 famílias
2015/2016 267.619 famílias
2016/2017 254.888 famílias
2017/2018 282.590 famílias
Formação de agentes de ATER e agricultores multiplicadores (FORMATER)
Agentes de ATER 600
Agricultores Multiplicadores 1.500
Fonte: Bahiater/SDR, 2018

Os Caminhos de ATER ainda a serem trilhados


evidenciam uma série de desafios, desde a am-
pliação do número de famílias atendidas, mais
parcerias consolidadas, sistema estadual de
ATER estruturado, até a repartição de compe-
tências entre entes federados para o financia-
mento dessa importante política pública.

Para pensar o futuro, é imprescindível colocar


em cena as lições diárias apreendidas nesses
quatro anos demarcados pela combinação de
diferentes abordagens para a oferta de ATER.
Por assim atuar, a BAHIATER se propõe, através
dessa publicação, visibilizar suas experiências
com a finalidade de estimular o debate sobre a
ATER que queremos.

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Caminhos de ATER

MULHERES DE SANTANÓPOLIS
ENFRENTANDO OS DESAFIOS COM APOIO DA ATER

Um olhar mais atento, um jeito que conversa com temperos prontos feitos com produtos que culti-
as plantas e chama pelo nome os animais que vam no quintal, investindo o lucro das vendas na
cria, aliados a uma delicadeza firme, resistente às própria produção.
adversidades de um semiárido que, de tempo em
tempo, coloca em prova a esperança de que em A expressão da agricultora em destaque permite
se plantando tudo dá. É compartilhando desta dimensionar a participação do serviço de assis-
esperança que mulheres da Associação Comu- tência técnica na região. Os agentes de ATER pro-
nitária dos Agricultores Familiares do Saco dos movem uma relação de parceria e troca de sabe-
Mulatos se reúnem, às quintas-feiras, para vender res com os agricultores assistidos, com resultados
seus produtos na Feira da Agricultura Familiar de amplamente positivos.
Santanópolis, município localizado no Território
Portal do Sertão. Com o incentivo da Associação, Desde 2015, a ATER em Santanópolis é presta-
por meio de palestras e cursos, e das orientações do de duas maneiras: direta, realizada por téc-
do serviço de Assistência Técnica e Extensão Ru- nicos extensionistas e engenheiros agrônomos
8 ral – ATER, as agricultoras podem comercializar os da Superintendência Baiana de Assistência
Caminhos de ATER

vida mais saudável e sustentável”, afirma Veruzia


“Nosso trabalho é coletivo, Cerqueira, técnica agropecuária da CEDITER.
todas produzem e tudo vai
para feira, desde hortaliças, É exatamente o que aconteceu com Juliana Cos-
ta, 57 anos, agricultora da Associação Comuni-
frutas, mudas até artesanato
dade Sítio do Ceilão em Santanópolis. Há quatro
e comidas feitas com nossos anos, desde que começou a receber assistência
produtos”. técnica continuada, sua propriedade tem expan-
dido e alcançado uma diversidade atrativa, com
Iracema de Jesus Bento, agricultora plantas medicinais e ornamentais; criação de
familiar. Comunidade rural Saco dos
Mulatos, município de Santanópolis, animais; mudas de cactos e babosa; hortaliças;
Território Portal do Sertão. temperos prontos; galinha caipira, ovos de quin-
tal, maracujá e até linhaça e, além disso, investe
Técnica e Extensão Rural – BHIATER/Secretaria na fabricação de subprodutos, como xaropes,
de Desenvolvimento Rural – SDR e; indireta, garapas e meladinhas. A agricultora se tornou
por meio de chamada pública, prestada pela uma agricultora farol, pois a experiência exitosa
Comissão Ecumênica dos Direitos da Terra de ATER na propriedade serve de exemplo para
(CEDITER), com sede em Irará. outros agricultores.

Dois fatores importantes para obter um serviço As peculiaridades do semiárido são desafios para
de ATER de qualidade são a disponibilidade e a o trabalho de ATER na região. O ambiente exige
confiança na relação do agricultor com a equipe uma assistência técnica continuada, que insista
da assistência técnica. “No início os agriculto- em soluções para a permanência do agricultor
res testam as orientações e comprovam o que no campo. Por isso, os agricultores são incentiva-
dá certo, são os agricultores experimentadores. dos a se reunirem em associações e cooperativas
Aos poucos, a relação de confiança se estabele- para o enfrentamento das dificuldades. Assim
ce e, mesmo com as dificuldades, percebem que surgiu a Associação Comunitária dos Agricultores
a lida no campo é capaz de proporcionar uma Familiares do Saco dos Mulatos em Santanópolis, 9
Caminhos de ATER

“Os técnicos vêm aqui e


ajudam em tudo, desde o
cultivo até a organização das
feiras, e ainda trazem outros
agricultores para aprender
com a gente”.
Iracema de Jesus Bento, agricultora familiar.
Comunidade rural Sítio do Ceilão, município
de Santanópolis, Território Portal do Sertão.

fundada em 2013, hoje com 150 associados que


dividem as despesas e a construção da sede da
Associação.
22 anos, estudante e moradora de Santanópolis,
UM OLHAR PARA O FUTURO que visa levar conhecimentos para a zona rural
e trabalhar com crianças, na perspectiva da mul-
A ampliação dos serviços de assistência técnica, tiplicação das boas práticas e dos cuidados com
o investimento em estruturas que auxiliem aos o meio ambiente. “Acredito que temos muito a
agricultores, a força e a fé das mulheres mais ex- contribuir na lida diária das nossas mães, tias
perientes percorrem os caminhos da esperança e avós, facilitando o trabalho através de novas
de quem vive em Santanópolis. formas de cultivo e manejo, utilizando as redes
sociais para divulgar os produtos a venda nas
Mas os jovens chegam para dar continuidade feiras, mostrar que podemos produzir outras
e fazer a diferença no campo, pois podem usar coisas nos períodos de estiagem, seja na culi-
a facilidade em lidar com as tecnologias para nária, produtos medicinais e até estéticos. Daí
auxiliar no cultivo, produção e comercialização os jovens vão se incentivando e permanecendo
10 dos produtos. Jovens como Lindinalva Ferreira, aqui”, reflete. •
Caminhos de ATER

“Sempre vivi no campo!


Plantava, mas produzia
pouco. A assistência dos
técnicos me ajudou muito e
hoje eu tenho mais produtos.
Tudo natural, sem veneno”.
Lúcia Ferreira (Dona Luzia), agricultora
familiar. Fazenda Alto do Tanque,
Santanópolis.

Colaboraram com informações e acompanhamento

Rubens Guimarães
Engenheiro Agrônomo da Bahiater/SDR, lotado no Setaf Portal do Sertão;
rubens.ferreira@bahiater.ba.gov.br

Veruzia Cerqueira
Técnica Agropecuária da Comissão Ecumênica dos Direitos da Terra - CEDITER.
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Caminhos de ATER

DE GERAÇÃO EM GERAÇÃO
BONS FRUTOS PARA AGRICULTORES FAMILIARES

O fim de tarde se aproxima, a água da irrigação e decidiu apostar em sobreviver da lavoura e


na plantação de Seu José Pereira Jacó, mais co- conquistar renda a partir da comercialização
nhecido como Zeca da Horta. Olhos atentos ao da produção rural.
quintal produtivo que, hoje, conta com mais de
30 espécies de cultivos entre hortaliças, frutas e Para ele, o serviço de ATER foi essencial e o orien-
verduras. tou como produzir com base na agroecologia e
utilizar defensivos orgânicos, o que fez aumen-
O convívio com o campo começou desde crian- tar sua produção e diversificar com os cultivos
ça na vida de Zeca, mas o desejo de ir para ci- de cenoura, repolho, couve, coentro, cebolinha,
dade grande foi maior. Nesse caminhar, ele tomate cereja, beterraba, aipim, entre outros. O
trabalhou 25 anos em empreiteiras e no ramo agricultor familiar atualmente consegue uma
da jardinagem, em Salvador, mas “a saudade e renda mensal de mais de dois salários mínimos.
a liberdade de trabalhar no campo falou mais
forte”. Já faz quatro anos que o agricultor fami- Maria da Luz e José Carlos dos Santos, esposa e
12 liar retornou ao município de Coração de Maria filho de seu Zeca, respectivamente, montam o
Caminhos de ATER

TRADIÇÃO FAMILIAR
“Com as orientações,
Seguindo os passos do pai Zeca da Horta, o jo-
aproveitamos de tudo que vem agricultor José Carlos dos Santos, 26 anos,
temos aqui, para fazer adubo abdicou do trabalho de ajudante de mecânico,
e outras coisas e parte melhor no Polo Petroquímico, na cidade de Camaçari,
é que trabalhamos juntos, em para se dedicar de maneira integral ao ofício
frente da nossa casa” do trabalho rural. Jó, como é popularmente
conhecido na comunidade, garante que sua
Maria da Luz, agricultora familiar. qualidade de vida hoje é outra, produzindo
Comunidade rural Caboatã, município de alimentos saudáveis, que garantem uma renda
Coração de Maria, Território Portal do Sertão de R$700,00 a R$800,00 por semana, como re-
velou. E, quando o assunto é ATER, afirma que
a orientação técnica agrega valor à produção,
time familiar que labutam no rural e mostram aumentando consideravelmente a renda. Sua
que é possível a permanência no campo com produção tem credibilidade e um lugar reco-
dignidade, renda e qualidade de vida. nhecido no mercado local, fruto de sua busca
constante por mais conhecimentos sobre pro-
Para os técnicos da BAHIATER esta proprie- dução orgânica e pela certificação participa-
dade funciona como uma vitrine que mostra tiva. Com produtos certificados pela ABC Or-
que é possível produzir agroecologicamente gânicos, Jó tem pontos garantidos de vendas
e que pode ser muito rentável. Esta experiên- nas feiras livres semanais de Coração de Maria
cia de horta se tornou uma unidade didática, e da Universidade Estadual de Feira de Santa-
servindo de exemplo para os técnicos e agri- na – UEFS, além do armazém local de produtos
cultores. agroecológicos. 13
Caminhos de ATER

TECNOLOGIA E COMÉRCIO

Com o intuito de fidelizar os clientes e adquirir ou- “A assistência técnica orienta


tros, Jó também utiliza a tecnologia a favor do seu sobre tudo que a gente
negócio. Ele criou um grupo de conversa num apli- leva para a feira. Vendemos
cativo de mensagens, e mantém os membros in- rapidinho, pois é saúde que
formados sobre seus cuidados com a lavoura por levamos aos nossos clientes.”
meio de vídeos e fotos da horta, promovendo a
qualidade dos produtos e o consumo dos alimen- José Pereira Jacó (Zeca da Horta) -
tos in natura, obtendo aumento nas vendas. Agricultor familiar na comunidade rural
Caboatã, município de Coração de Maria

“Às vezes fazemos o trabalho Se a tarefa é conquistar uma nova clientela, o


de um jeito e os técnicos objetivo tem sido cumprido. Hildete de Melo, en-
(ATER) mostram outras formas genheira civil da Unidade de Infraestrutura (UNI-
que facilitam nosso trabalho e FRA) da UEFS, ficou encantada com o colorido
presente na barraca de Jó: “É a primeira vez que
garantem mais qualidade do
visito a feira e me chamou atenção a diferença do
cultivo” tamanho e as cores dos alimentos. Fico bem pre-
ocupada com o que compro, pois tenho medo
José Carlos dos Santos (Jó da Feira) -
Agricultor familiar na comunidade rural de consumir alguns produtos, como o tomate e o
Caboatã, município de Coração de Maria. morango. Tenho uma filha de dois anos e fiz mui-
tas mudanças na alimentação, busco frutas e ver-
duras orgânicas”, finaliza a servidora pública. •

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Caminhos de ATER

De geração em geração “Já joguei 100 anos para trás. A pessoa quando
gosta de trabalhar ‘atura’ mais e eu trabalhei
A agricultora familiar Josefa Falcão, de 106 muito na roça e em casa”, lembra.
anos, tia de Zeca da Horta e tia avó de Jó, é a
inspiração para toda a família. Devota de Santo
Antônio, D. Josefa não não teve filhos bioló-
gicos, mas ajudou na criação dos sobrinhos e
acredite, teve 201 afilhados entre batismos e
casamentos. Hoje, mora no município de Cora-
ção de Maria, e conta que a convivência com
o rural sempre fez parte de sua vida, um fator
determinante para saúde e para não fazer uso
de nenhum medicamento.

INFORMAÇÃO

Certificação Participativa

Agricultores e agricultoras interessados em buscar uma certificação participativa, por meio


de selo orgânico para os produtos da agricultura familiar, e com isso agregar valor à produção
de base agroecológica e orgânica, precisam seguir os seguintes passos: – associar-se a um
Organismo Participativo de Avaliação de Conformidade – OPAC, credenciado pelo Ministério
da Agricultura, Pecuária e Abastecimento – MAPA; investir entre R$80,00 a R$150,0/ano para
monitoramento e avaliação do seu plantio; e ter uma produção livre de agrotóxico ou qual-
quer intervenção química.

O OPAC atua na regulação, avaliação, verificação e ateste dos produtos, estabelecimentos, pro-
dutores ou processadores, com autonomia para certificar os agricultores que estão em confor-
midade com a produção de orgânicos. Se, após a fiscalização feita pelo núcleo e aprovação da
auditoria externa anual, estiver tudo em conformidade com as práticas, os agricultores rece-
bem ou renovam o Selo do SisOrg nos rótulos de seus produtos, o que permite comercializá-
-los como orgânicos, em Mercados Institucionais como o Programa de Aquisição de Alimentos
(PAA) e o Programa Nacional de Alimentação Escolar (PNAE), com acréscimo de 30% no valor
dos produtos e, venda direta em feiras, indústrias, processadores, mercados, supermercados,
lanchonetes, restaurantes, internet e, até mesmo para exportação.

Atualmente, na Bahia existem dois OPAC: – Rede Povos da Mata, com núcleos de produtores
certificados nos territórios, Litoral Sul, Baixo Sul, Costa do Descobrimento e Irecê; – e ABC Or-
gânicos, nos territórios Piemonte da Diamantina, Portal do Sertão, Metropolitano de Salvador,
Piemonte Norte do Itapicuru, Sisal e Sertão do São Francisco.

Colaborou com informações e acompanhamento

Daniel Dourado
Engenheiro Agrônomo, especialista em Agroecologia,
Bahiater/SDR, Setaf Portal do Sertão;
daniel.dourado@bahiater.ba.gov.br
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Caminhos de ATER

SELO QUILOMBOLA BRASILEIRO:


CERTIFICAÇÃO QUE AGREGA VALOR AOS
PRODUTOS DE ORIGEM

EMISSÃO NA BAHIA rural, cultura e acolhimento para todos os


oprimidos da sociedade (negros, índios e
“... Negro correndo livre, colhendo, plantando brancos).
por lá. Se Palmares ainda vivesse em Palmares
queria ficar... Se Palmares não vive mais, fare- O resultado histórico dos Quilombos (prin-
mos Palmares de novo...” cipalmente o de Palmares) tornou-se uma
metáfora para designar território.Tudo que
Os trechos do poema Quilombos, escrito é produzido neste ambiente traz em sua es-
pelo saudoso José Carlos Limeira, destacam sência um traço étnico-cultural, com proce-
a história de resistência e força de negros e dência e valor. Nesse contexto de respeito
negras, que eram escravizados e, após fugir a história identitária do povo quilombola é
das senzalas, faziam de sua nova morada, que surge o Selo Quilombo do Brasil, para
16 um território de enfrentamento, produção certificar os produtos de origem.
Caminhos de ATER

O Selo abrange todas as comunidades do


território brasileiro e garante a identificação “O selo tem muita
da origem dos produtos da agricultura, do importância para nós, mostra
extrativismo e também do artesanato. A cer- a procedência do que foi
tificação está relacionada a um processo de
construído, nos fortalece e
agregação de valor aos produtos, além de
contribuir com a elevação da autoestima, pois
ajuda a agregar valor aos
atesta que os quilombos produzem com qua- produtos quilombolas.”
lidade, diversidade e respeito, ajudando no José Ramos de Freitas - Coordenador
sentimento de pertencimento. Nacional de Articulação das Comunidades
Negras Rurais Quilombolas (CONAQ).
Para ser contemplado com o selo é funda-
mental que todos os integrantes da comu- Quem tem o selo tem uma pontuação dife-
nidade quilombola tenham, de maneira in- renciada em participação nos editais, na co-
dividual, a Declaração de Aptidão ao Pronaf mercialização institucional como o Programa
(DAP) Quilombola, e a DAP Jurídica da Co- de Aquisição de Alimentos (PAA) e Programa
munidade, documentos que asseguram di- Nacional de Alimentação Escolar (PNAE), o que
reitos para os produtores e produtoras que estimula e qualifica os produtos oriundos dessas
vivem na área rural. comunidades.

Além da junção das DAPs, a comunidade que plei- QUILOMBO DO BARROSO


teia o selo precisa também ter a certificação de
auto definição reconhecida pela Fundação Cultu- Entre os quilombos contemplados com o Selo
ral Palmares. De posse dos documentos, a Supe- Quilombos do Brasil está o Quilombo do Barroso,
rintendência de Agricultura Familiar – SUAF, órgão situado no município de Camamu, Território de
vinculado a Secretaria de Desenvolvimento Rural Identidade Baixo sul, onde 35 famílias sobrevivem
– SDR, envia os mesmos para Brasília, onde serão da agricultura familiar com produção de mandio-
analisados pela secretaria Especial de Agricultura ca, cacau e seus derivados, banana da prata e da
Familiar e do Desenvolvimento Agrário – Sead. terra, acerola, graviola, cupuaçu, cravo e aipim.

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Caminhos de ATER

cal que se instalará a cozinha lá no Barroso”,


informa Luciano Lima, técnico do SASOP.
“ O selo foi uma conquista
que se transformou em A comunidade reconhece a importância da
realidade, ele confirma e Assistência Técnica e Extensão Rural – ATER
reconhece a qualidade dos no processo produtivo, que atua no campo
nossos produtos”. agroecológico, contemplando, ainda, o for-
talecimento das mulheres, quintais produti-
Ana Célia Pereira - Presidente da vos e manejo agroflorestal.
Associação de Moradores do Barroso.
Quilombo do Barroso, município de
Camamu, Território Baixo Sul. PRESERVAÇÃO
E MEMÓRIA

O Barroso recebe serviço de ATER da Quem visita o Quilombo do Barroso, além da


BAHIATER, por meio da Organização Servi- diversidade produtiva oriunda da produção
ços de Assessoria a Organizações Populares rural, encontra, também, um local de preser-
Rurais (SASOP), selecionada via chamada vação e memória da comunidade. O Centro
pública. A ATER apoiou o Quilombo do Bar- Quilombola do Barroso Daniel Docílio, é uma
roso na apresentação de proposta no Edital espécie de museu que armazena objetos e
Sócio Ambiental, no valor de R$180.000,00 utensílios, representando a cultura, a resistên-
para construção da cozinha comunitária. O cia e a fé dos moradores do quilombo. “Esse é
aporte é do Bahia Produtiva, Programa exe- um trabalho que já vem sendo desenvolvido
cutado pela Companhia de Desenvolvimen- há um tempo e esperamos que a cada dia pos-
to e Ação Regional – CAR, empresa pública samos guardar mais objetos que contem a his-
vinculada à Secretaria de Desenvolvimento tória da nossa gente”, afirma Antônio Correia
Rural – SDR. “Tudo já foi licitado, a empresa dos Santos, um dos moradores mais antigos
18 contratada já iniciou a terraplenagem do lo- do quilombo. •
Caminhos de ATER

“A agricultura cresce muito


mais com apoio da ATER,
somos prova disso, antes
éramos escravos do cacau,
hoje, o quilombo assistido
“ A agricultura familiar é é mais organizado e pode
que sustenta a nação, sem escolher o que vai cultivar”
ela seria impossível a nossa
sobrevivência” Ana Célia Pereira - Presidente da
Associação de Moradores do Barroso.
Antônio Correia dos Santos, morador Quilombo do Barroso, município de
antigo e griot do Quilombo do Barroso. Camamu, Território Baixo Sul.
Quilombo do Barroso, município de
Camamu, Território Baixo Sul.

INFORMAÇÃO
A Bahia lidera o ranking dos Selos, o Estado ocupa o primeiro lugar com a entrega de 51 selos
para comunidades quilombolas. A SDR, por meio da SUAF e BAHIATER, desempenha um papel
estratégico, para que as comunidades quilombolas obtenham a certificação que também garan-
te acesso às políticas públicas direcionadas ao segmento.

Selo SIPAF

Ao requerer o Selo Quilombos do Brasil, automaticamente, também é solicitado, o Selo de Iden-


tificação da Participação da Agricultura Familiar (Sipaf ). A Bahia é o único estado que tem uma
política fiscal para as cooperativas usuárias do SIPAF. Oferece crédito para os produtos com o
selo, a partir do Decreto Estadual nº 13.780/2012 (Artigo 270 Inciso X). Com o selo, são concedi-
dos créditos presumidos do ICMS para fins de compensação com o tributo devido em operações
ou prestações subsequentes e de apuração do imposto a recolher.

Colaboraram com informações e acompanhamento

Edmilton Cerqueira
Coordenador de Povos e Comunidades Tradicionais da Bahiater

Luciano Lima
SASOP, coordenador da equipe técnicos de Ater no Baixo Sul
edmilton.cerqueira@bahiater.ba.gov.br

Raimunda Maria dos Santos


Técnica de políticas para as mulheres, jovens e comunidades tradicionais da SUAF
raimunda.santos@sdr.ba.gov.br
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Caminhos de ATER

AGRICULTURA FAMILIAR
E A PRODUÇÃO ORGÂNICA:
O PAPEL DA ATER NA MUDANÇA DE PARADIGMAS

Se o campo não planta, a cidade não janta, conhecido dizer dos movi-
mentos sociais em forte alusão ao protagonismo que a agricultura familiar
exerce no cotidiano da população brasileira.
Nas andanças pelo nosso rural, encontramos a A produção rural e a comercialização dos ali-
agricultora familiar Maria Leandra Conceição, mentos da agricultura familiar, transformou a
da comunidade rural Maria de Bié, município de vida da agricultora que tira por mês em torno
Valença, que registra os avanços alcançados na de dois salários mínimos. D. Liu, como Maria Le-
produção, nos últimos quatro anos (2015-2018), andra é conhecida na comunidade, comercializa
com as orientações da assistência técnica, que seus produtos no Programa de Aquisição de Ali-
promoveu mudanças na forma de trabalhar em mentos (PAA) municipal, na Feira da Agricultura
seu quintal produtivo, colhendo bons resulta- Familiar, que acontece semanalmente no Setaf
20 dos na comercialização. Valença, e também abastece uma loja de pro-
Caminhos de ATER

dutos orgânicos no Espaço Solidário, também


em Valença. A qualidade dos seus produtos
contribui para fidelização de clientes, a exem- “A ATER tem contribuído para
plo de Johanna Catherine, nutricionista, que faz a emancipação econômica e
suas compras regularmente com a agricultora. social das famílias, por meio
“Nossa alimentação é nosso primeiro remédio. da produção, comercialização
A agricultura familiar é muito boa, une ao mes- e agregação de valor aos
mo tempo quem trabalha e quem consome. Os produtos”
produtos são de qualidade e com o sabor bem
diferente”, pontua a nutricionista. Cláudia Silva, Coordenadora de Projetos
da Unisol Brasil, no Território do Baixo Sul.
ATER POR MEIO DE
CHAMADA PÚBLICA

UNISOL vas de Apoio à Economia Familiar – ASCOOB,


Os agricultores familiares de Valença, contam com responsável pelo atendimento de 720 famílias
serviço de assistência técnica e extensão rural ofer- nos municípios de Camamu, Ibirapitanga, Itu-
tado pela Superintendência Baiana de Assistência berá, Teolândia, Valença, Igrapiúna e Presiden-
Técnica e Extensão Rural – BAHIATER órgão vincu- te Tancredo Neves.
lado a Secretaria de Desenvolvimento Rural – SDR,
através de parceria com a Central de Cooperativas A ASCOOB atua na organização dos núcleos
e Empreendimentos Solidários – UNISOL Brasil e associações, além de fortalecer o trabalho
entidade selecionada pela Chamada Pública ATER da transição agroecológica, incentivando as
Sustentabilidade, com atuação nos municípios de famílias a produzir, consumir e se preparar
Valença, Taperoá e Jaguaripe. para a comercialização. Para os processos
interativos com as famílias utilizam meto-
ASCOOB dologias como seminários, dias de campos
Outra entidade parceira da Bahiater nessa mes- e práticas, divulgando a importância da pro-
ma modalidade, é a Associação das Cooperati- dução orgânica. 21
Caminhos de ATER

TECNOLOGIA CRIATIVA

Edilza Maria de Jesus, agricultora familiar da


comunidade Rusilhas, Município de Ituberá,
Território Baixo Sul, é uma das assistidas pela
ASCOOB. A assistência técnica modificou todo
processo produtivo utilizado na unidade pro-
dutiva familiar. Com o incentivo para produção
orgânica, a família de Edilza colocou em prática
uma tecnologia social de baixo custo e de re-
sultados promissores no processo de irrigação
das hortaliças, utilizando um aspersor com o
uso de um canudo, um prego e um arame, o
que provocou uma grande economia nos gas-
tos de produção.

Ivamar Santos, esposo de D. Edilza, um chef de


cozinha com especialidade em peixes e frutos do
mar, em São Paulo, deixou o trabalho na cidade
grande para se dedicar a agricultura junto com a
família e, hoje, comercializa seus produtos no mer-
cado local de Ituberá. •

22
Caminhos de ATER

“Hoje nós sabemos a


quantidade e dosagem para
cada planta. Sabemos como
usar a urina e o esterco
da vaca, a manipueira,
compostagem, e outras
misturas, produzindo bem
melhor”.
Edilza Maria de Jesus, agricultora familiar
da comunidade Rusilhas, município
de Ituberá, Território do Baixo Sul.

Colaborou com informações e acompanhamento

Antônia Germana
Coordenadora de ATER da ASCOOB;
antonia.santos@sistemaascoob.com.br
23
Caminhos de ATER

CONVIVÊNCIA SUSTENTÁVEL
COM O SEMIÁRIDO:
TRAJETÓRIAS REVELADAS PELA ATER

O carro passa, a poeira levanta do chão de Na Bahia, no município de Juazeiro, encrava-


terra e se junta com as árvores do caminho. do na região semiárida, em pleno polígono
O sol forte dá o tom de uma paisagem for- das secas, norte do Estado, Território de Iden-
temente associada com a seca e biodiversi- tidade Sertão do São Francisco, encontramos
dade características. A vida corre solta e a bons exemplos dessa convivência sustentável
convivência produtiva na caatinga é cada com o semiárido.
vez mais real. O Bioma Caatinga, caracteri-
zado pela biodiversidade adaptada às altas Na comunidade rural Lagoa do Boi, o conhe-
temperaturas e à escassez de água, no Nor- cimento dos agricultores foi aprimorado com
deste brasileiro, ocupa uma área de mais de a chegada do serviço de Assistência Técnica
800 mil km². De acordo com os dados do Ins- e Extensão Rural – ATER, realizado pela Supe-
tituto Brasileiro de Geografia e Estatística – rintendência Baiana de Assistência Técnica e
IBGE, atualmente, 70% da população baiana Extensão Rural – BAHIATER, órgão vinculado
24 vive em região semiárida. à Secretaria de Desenvolvimento Rural – SDR,
Caminhos de ATER

produtivos com forragens. Entre outras ações,


o serviço de ATER contribui fazendo cálculos
de quantos animais podem ser criados naque-
“A palma ajudou a superar la área, orientando o agricultor na opção por
a falta de alimentação para animais que consomem menos água, como os
os animais e muitas outras caprinos, que são mais seletivos e degradam
coisas. Tudo se transformou e menos a caatinga”, destaca André Luís Pereira,
a produção aumentou”. veterinário e coordenador da chamada públi-
ca ATER Sustentabilidade no IRPAA.
José Ailton Ferreira (Tito), agricultor
familiar da comunidade rural Lagoa do
Boi, município de Juazeiro. Os técnicos do IRPAA incentivam com sucesso
o reúso das águas cinzas (águas residuais não
industriais e derivadas de processos domés-
ticos). “Na propriedade de Tito (José Ailton
através de parceria com o Instituto Regio- Ferreira, agricultor familiar da comunidade
nal da Pequena Agropecuária Apropriada – rural Lagoa do Boi), o reúso das águas cinzas
IRPAA, entidade selecionada pela Chamada é de 500 litros por semana, podendo irrigar
Pública ATER Sustentabilidade. 500 plantas, gerando cinco toneladas de pal-
ma por corte anual”, relata Josemário da Silva,
A assistência técnica chegou na região com o técnico do IRPAA.
objetivo de auxiliar os agricultores e agricul-
toras com as produções existentes e compar- AS CRIAÇÕES
tilhar experiências com o semiárido, atuando
na melhoria produtiva. A pecuária, plantio José Lindomar Nunes, agricultor familiar de
de forrageiras e outras adaptadas ao clima Cipó, comunidade rural de Juazeiro, possui
são fatores preponderantes para conviver em sua Unidade Produtiva Familiar (UPF), um
no semiárido. “Criar animais que se adaptam plantel de 35 animais entre bodes e cabras.
melhor, que bebam menos água, que sejam Entre as cabras de leite, algumas chegam a

25
Caminhos de ATER

produzir de 5 a 7 litros por dia. O volume des- conseguimos transformar a forma de ver as
sa produção garante ao produtor rural mais coisas, agora estamos com uma vida mais dig-
de R$2.000,00 por mês, afinal “leite é igual a na e confortável”, afirma Cleidiane Alves, filha
pão, tem venda de domingo a domingo”, com- de Dona Irene da Silva, que juntas cuidam do
para. O serviço de ATER orientou e estimulou galinheiro no quintal produtivo, que fica na La-
o processo produtivo, principalmente em re- goa do Jacaré, comunidade rural de Juazeiro.
lação ao manejo sustentável para garantir a No local, o foco maior é a de postura, que de
segurança alimentar do rebanho em tempos acordo com a alimentação, pode produzir um
de estiagem. ovo por dia. A ATER orienta sobre os cuidados
com o manejo sanitário, as adaptações para ga-
Outra atividade da região, é a criação de aves, linheiros e sobre organizar os custos.
em especial galinhas caipiras de corte ou de
postura, um dos horizontes produtivos para De olho no hábito sertanejo e nas tendências
agricultores familiares que vivem no semiárido de alimentações saudáveis, a Cooperativa de
e com retorno financeiro rápido e garantido. Agropecuária Familiar de Massaroca e Região
“Antes a gente criava galinha só para consumo, – COOFAMA observou um nicho de mercado
depois despertamos que poderíamos ganhar que gera emprego e renda para os agriculto-
dinheiro também. Com a assessoria técnica res que possuem galinheiros, surgiu então o

26
Caminhos de ATER

entreposto de ovos caipira batizado de Ovos


da Caatinga. Construído em parceria com o IR- “Além do manejo, aprendi
PAA, o entreposto serve para escoar a produção armazenar silo e feno,
da comunidade de Massaroca e regiões circun-
economizando muito”.
vizinhas. Os envolvidos nessa iniciativa buscam
conquistar o Selo Inspeção Municipal (SIM), que José Lindomar Nunes, agricultor familiar
assistido de Cipó, comunidade
está em processo de certificação, e será um re- rural Lagoa do Boi, município de Juazeiro
forço para qualificar a comercialização. •

INFORMAÇÃO
O IRPAA atua junto aos agricultores familiares de maneira didática e pedagógica. Para os pro-
cessos interativos com as comunidades utilizam uma metodologia de imagens, práticas e dis-
cussões em plenárias. Os conteúdos que dialogam com a convivência sustentável com o semi-
árido foram sistematizados e transformados em cartilhas ilustrativas e criativas que registram
o passo a passo do processo produtivo e as formas de sobrevivências das produções no semiá-
rido, tais como: a) A busca da água no sertão; b) Cabras e ovelhas: a criação no sertão; c) A roça
no semiárido.

Colaboraram com informações e acompanhamento

Jamile Rocha
Técnica em Zootecnia e técnica de campo pelo IRPAA

José Moacir dos Santos


Coordenador do Eixo a Produção Agropecuária/IRPAA

Gilmar Nogueira
Tesoureiro da Cooperativa de Agropecuária Familiar de Massaroca e Região – COOFAMA 27
Caminhos de ATER

COMUNIDADE TUPINAMBÁ:
APICULTURA FORTALECE A AGRICULTURA FAMILIAR
Levanta essa aldeia,
levanta com a força de Deus,
levanta essa aldeia,
levanta olha eu sou filho seu!
Levanta sem demorar,
levanta a Aldeia Tupinambá
Vamos trabalhar, vamos trabalhar
com a força de Deus, vamos trabalhar...

Primeiros habitantes do nosso país, guar-


diões de mistérios e saberes que dialogam
com universo místico, da religiosidade e da
natureza. Os índios têm uma compreensão
Cacique Alício Francisco do Amaral, Acuípe de Cima,
28 mais aprofundada do sentido e significado Ilhéus, Território Baixo Sul
Caminhos de ATER

“Nosso trabalho é corrido,


fazemos mutirões e as
mulheres fazem parte de
tudo, desde o artesanato,
passando pela pescaria,
limpeza da roça, cuidados
com a horta, plantios, até
a captura das abelhas e
produção do mel”.
Elielma Souza do Amaral, agricultora
familiar da comunidade indígena do Sítio
Mangueira, região de Acuípe de Cima,
município Ilhéus, Território Litoral Sul.

da terra e, em especial, da agricultura fami-


liar. A comunidade indígena Acuípe de Cima,
município de Ilhéus, de maneira tradicional,
começa o dia com saudações aos Encantados
e com o pedido de licença para iniciar os tra-
balhos, entoando uma cantiga cuja as estro-
fes abrem essa matéria.

HISTÓRIA E CONTEMPORANEIDADE

Quando o agricultor investe em conhecimento,


técnica e tecnologia na sua propriedade desco-
bre que pode plantar, cultivar, criar e seguir por gena Tupinambá do Acuípe de Cima – AITAC,
diversos caminhos agrícolas que, desde os pri- decidiu investir em apicultura na sua comuni-
mórdios da história da civilização, contribuem dade, atividade econômica que vem desem-
para a permanência das famílias no campo. Até penhando um papel importante no desenvol-
hoje, este é um dos grandes benefícios da agri- vimento produtivo da referida comunidade no
cultura, principalmente a familiar, incentivar a Litoral Sul da Bahia. A visão diferenciada dos
continuidade de mulheres e homens nas suas indígenas, cujo foco era atuar exclusivamente
propriedades, gerindo negócios, construindo so- no cultivo e beneficiamento da mandioca, se
nhos e, ainda, oferecendo qualidade de vida para somou à existência de ambiente favorável para
suas famílias e para a sociedade. potencializar a produção: ter pasto apícola pro-
pício, ambiente úmido da região cacaueira de
Apíário, perculado, pasto apícola, própolis e néc- florada silvestre, e, serviço de assistência técni-
tar? Só um momento. Acho que esse assunto me ca continuado, já rende bons frutos, ou melhor,
interessa. Desta forma, depois que participou rende mel de excelente qualidade. O mel extra-
de curso e palestra sobre produtividade do ído no sítio está em processo de certificação,
mel, Alberto Lopes Costa, da Associação Indí- e somado ao fato de ser produzido por uma 29
Caminhos de ATER

comunidade indígena que recebe orientações


técnicas e segue as práticas agroecológicas,
agrega valor à produção.

ATER INDICA OUTROS CAMINHOS

A chegada da assistência técnica facilitou a su-


peração de algumas dificuldades encontradas
na realização da atividade apícola na comu-
nidade. As orientações técnicas contribuíram
para escolha do local adequado para o apiário
e o tratamento correto para os enxames rece-
bidos por doações. Hoje, essa atividade bene-
ficia 20 famílias. Mas é certa a ampliação do
negócio, pois, a presença mais constante da
ATER, da produção até a comercialização, vem
despertando o interesse de novos apicultores, “Temos muita vontade que a
que começam a lutar por uma casa de mel
apicultura dê certo na nossa
para beneficiamento do produto.
comunidade de uma maneira
A comunidade indígena recebe serviços grandiosa e para produzir mais
como a emissão da Declaração de Aptidão precisamos de uma estrutura
ao Programa Nacional de Fortalecimento da melhor e ainda mais
Agricultura Familiar (DAP), organização de assistência técnica”.
outras documentações, como o CNPJ, estru-
tura das unidades produtivas, diversificação Alberto Lopes Costa, da Associação
de culturas, cursos e capacitações com base Indígena Tupinambá do Acuípe de Cima,
na agroecologia e produção de orgânicos. municípío de Ilhéus, Território Litoral Sul.
E, ainda, auxílio na construção dos apiários;

30
Caminhos de ATER

um desses apiários é chamado pelos índios


de Rainha Jaci, em referência a lua cheia, e
tem o objetivo de produzir abelhas rainhas,
mas, por enquanto, acondicionam as abe-
lhas recém capturadas, para serem alimen-
tadas e, posteriormente, transferidas para o
apiário referência.

O serviço de assistência técnica e extensão rural


ofertado pela Superintendência Baiana de As-
sistência Técnica e Extensão Rural – Bahiater, ór-
gão vinculado a Secretaria de Desenvolvimento
Rural – SDR, utiliza como metodologia para os
processos interativos com a comunidade, cur-
sos e palestras que abordam desde a captura
das abelhas, manejo dos apiários, multiplicação
de enxame, além de visitas técnicas às unidades
produtoras. Os serviços podem ser solicitados
na sede do Serviço Territorial de Apoio a Agri-
cultura Familiar – SETAF que atende a região. •

Colaborou com informações e acompanhamento:

Adnoelson Souza Amaral


Associação Indígena Tupinambá do Acuípe de Cima – AITAC
31
Caminhos de ATER

AGRICULTURA FAMILIAR E AS
PRCERIAS INSTITUCIONAIS:
EXPERIÊNCIAS DO MAIS ATER EM TEOLÂNDIA

Um complemento que reforça o serviço de Assis- para o investimento na agricultura familiar. São
tência Técnica e Extensão Rural – ATER no Estado da equipamentos que auxiliam e facilitam atividades
Bahia. Esta é a ação do MAIS ATER, modalidade ofer- de assistência técnica. Além do suporte tecnológi-
tada pela Superintendência Baiana de Assistência co, são oferecidas capacitações específicas, como
Técnica e Extensão Rural – BAHIATER, órgão vincu- as voltadas para o plantio da banana-da-terra e do
lado à Secretaria de Desenvolvimento Rural – SDR. cacau, que beneficiam os agricultores do povoado
do Km 85. Teolândia, Território Baixo Sul foi o pri-
Com mais de 300 famílias cadastradas, o MAIS meiro município beneficiário do MAIS ATER.
ATER trabalha em parceria com a prefeitura mu-
nicipal de Teolândia, através da secretaria de
agricultura. BANANA-DA-TERRA

Conveniados por demanda espontânea, os mu- Os agricultores Maria do Amparo e Adriano de


32 nicípios recebem recursos do Governo do Estado Jesus, fazem parte das 44 unidades de famílias
Caminhos de ATER

cadastradas na Associação de Pequenos Produ- de seus 60 hectares de terra, na comunidade do


tores e Trabalhadores Rurais da Região do Km Km 85, em Teolândia. São cerca de 20 mil pés de
85, em Teolândia. Eles solicitaram o acompanha- cacau e 2 mil pés de banana.
mento de um técnico especializado no plantio de
banana-da-terra, e hoje se sentem motivados a Para iniciar a produção do cacau orgâni-
permanecer na propriedade, onde outrora, pre- co, a propriedade passou pelo processo de
ocupados com a produção, pensavam desistir e transição agroecológica. Com adubação re-
migrar para a cidade. O jovem casal produz cer- comendada pelos critérios técnicos de agri-
ca de 400 pés de banana-da-terra e 800 pés de cultura orgânica, novos clones resistentes
cacau. É da agricultura que sobrevivem. Criam a foram plantados. Desde 2013, Piropo passou
filha Ayla Beatriz (quatro anos), e afirmam querer a comercializar a maior parte de sua produ-
fazer da pequena, uma grande agricultora. ção com uma esmagadora internacional. A
renovação das plantações com clones resis-
Maria e Adriano comercializam os produtos em tentes, mudas produzidas pela Bofábrica,
Santo Antônio de Jesus, município distante cerca fez a vassoura-de-bruxa diminuir e planta-
de 90 km de Teolândia. Antes, com todo o esforço, ções antigas foram substituídas por bana-
conseguiam garantir uma renda de R$800,00/mês. nas que dão sombra às novas mudas de ca-
Com o apoio da assistência técnica, a produção au- cau plantadas, e estão crescendo com uma
mentou efetivamente resultando numa melhor co- variedade melhor.
mercialização que garante, hoje, uma renda de cer-
ca de R$2.000,00, com expectativas de melhorias. O Certificado de Produção Orgânica e a as-
sistência técnica recebida auxiliaram o agri-
cultor familiar no registro da empresa Barra
CACAU de Cacau, que ele e sua esposa, Dona Maria
do Carmo, comercializam no sul do estado e
Há 17 anos, o agricultor familiar Carlos Piropo em cidades como Salvador, Petrolina e Jua-
tem o cacau como sua maior plantação dentro zeiro.

33
Caminhos de ATER

gente chegar em uma propriedade e dizerem:


ah, meu pai fazia assim, meu avô fazia desse
“Não conhecia todo o jeito, então eu vou fazer como eles. Hoje não!
processo do plantio à Essa turma tem outra mentalidade depois dos
colheita da banana. A cursos de aperfeiçoamento, e estão se dando
BAHIATER ajudou muito com muito bem por isso”, afirma Jorge Luís Sou-
as orientações, vejo que as za, Engenheiro Agrônomo da BAHIATER, que
acompanha outros 54 agricultores familiares
coisas só tendem a melhorar”
da região.
Adriano de Jesus, produtor de banana da
terra, região km 85, Teolândia.
COMUNIDADE DO KM 85

A Associação de Pequenos Produtores e Traba-


lhadores Rurais da Região do Km 85, presidida
APERFEIÇOAMENTO por Maria da Glória Santana, possui duas uni-
dades de beneficiamento. Estas unidades são
O MAIS ATER, serviço prestado pela BAHIATER, utilizadas para a produção de polpas de cacau,
tem oferecido assistência técnica e qualificação graviola, cupuaçu e goiaba, comercializadas para
aos agricultores familiares da região de Teolân- o Programa Nacional de Alimentação Escolar
dia. Os cursos envolvem orientações desde a (PNAE) e Programa de Aquisição de Alimentos
plantação até a colheita e a comercialização. In- (PAA). Os produtos são vendidos por 22 agriculto-
formações relacionadas a emissão de documen- ras cadastradas na Cooperativa Agroindustrial de
tos, como CEFIR, DAP, IPR, Incra também fazem Teolândia – COOPATEL, assistidas pela BAHIATER.
parte do aperfeiçoamento.
A produção agrícola gera renda para todas as
Depois da banana, o cacau é a segunda maior famílias da comunidade. Um projeto da Asso-
produção da área agrícola de Teolândia. Os ciação prevê a criação de uma feira comunitária
desempenhos positivos dessas culturas são ainda em 2018. Recentemente, a comunidade
resultados da eficiência da ATER, que promo- do Km 85, em Teolândia, foi beneficiada com
ve mais conhecimento aos agricultores fami- equipamentos pelo Sistema Nacional de Cadas-
liares da região. “Antigamente, era comum a tro Ambiental Rural (CAR), através de projetos

34
Caminhos de ATER

de estruturação para o processamento da ma- ra familiar local é a banana-da-terra, tipo Mara-


téria-prima produzida pela agricultura familiar. nhão. Em 2016, o município chegou a produzir
quase 100 mil toneladas de banana, e rendeu
A maior dificuldade da comunidade era a falta de R$ 51 milhões, o que evidencia a relevância da
água. A associação solicitou, em 2013, a implan- cadeia produtiva no munícipio, que também está
tação do Programa Água Para Todos, do Governo investindo na produção de cacau e na fruticultura
do Estado, e nunca mais tiveram problemas, se- diversificada. De acordo com o Instituto Brasileiro
gundo Maria da Glória, presidente da Associação. de Geografia e Estatística – IBGE, no levantamen-
to de 2018, o município passou a ocupar o segun-
TEOLÂNDIA do lugar no ranking estadual e o 27º no ranking
nacional na produção. “A agricultura é o segun-
Localizada noTerritório Baixo Sul, distante 197 do maior contribuinte do Produto Interno Bruto
km da Capital, com aproximadamente 15 mil (PIB) do município. O grande gargalo era fazer a
habitantes, cerca de 67% da população vive na agricultura se desenvolver, ou seja, levar conhe-
zona rural, o que faz de Teolândia um município cimento ao pequeno agricultor e suas famílias.
essencialmente agrícola. Com o Mais ATER, da Bahiater, melhoramos a
qualidade do atendimento aos agricultores fami-
Segundo dados da Secretaria de Agricultura de liares”, afirmou João Neto Quaresma, secretário
Teolândia, o produto carro-chefe da agricultu- municipal de Agricultura da prefeitura. •

Colaboraram com informações e acompanhamento

Jorge Luís Souza


Engenheiro Agrônomo, Técnico de ATER da BAHIATER/SDR

Abílio Cardoso
Técnico Agropecuário, MAIS ATER da BAHIATER/SDR.

João Neto Quaresma


Secretário Municipal de Agricultura de Teolândia.
35
Caminhos de ATER

SEMENTES CRIOULAS:
ALIADAS DA AGRICULTURA FAMILIAR POR GERAÇÕES

Muitos consumidores, certamente, nem se dão orientações técnicas, se as sementes forem


conta que, do plantio até a comercialização fi- guardadas de maneira correta, com recipien-
nal, a produção rural passa por um longo pro- tes bem higienizados e livres de gorgulhos, elas
cesso. Sementes crioulas, sementes da terra ou chegam a durar até cinco anos.
sementes da paixão, desempenham um papel
especial para se conseguir uma boa colheita, BANCOS DE SEMENTES
pois são sementes tradicionais que, na maioria
das vezes, passaram de geração para geração e Os bancos de sementes são referências para os
não sofreram modificações genéticas. agricultores familiares que desejam produzir de
maneira agroecológica. Com o apoio dos ban-
Com o objetivo de garantir uma produção rural cos, eles aprendem a selecionar e conhecer téc-
de qualidade, agricultores familiares da comuni- nicas de armazenamento, que vão desde o plan-
dade de Olaria, município de Campo Formoso, tio até a colheita, além de ser informados sobre
Território Piemonte Norte do Itapicuru, implan- o tempo ideal para seleção que deve ser segui-
taram um Banco de Sementes para garantir a do à risca. Para participar dos bancos, os agricul-
36 sustentabilidade na plantação. Conforme as tores contribuem com cinco litros de sementes,
Caminhos de ATER

que são testadas e os potenciais germinativos soberania alimentar. As sementes, a partir do


avaliados. Ao se tornarem integrantes, os agri- momento que ocorram as chuvas, garantem
cultores passam a ser guardiões das sementes. o alimento das famílias não só hoje, mas para
gerações futuras, mantendo a carga genética”,
“Os bancos são uma garantia de sementes de afirma Naara Carvalho, licenciada em Ciências
qualidade, ajudam na permanência dos agri- Agrárias e uma das técnicas da Federação dos
cultores no campo e auxiliam o processo de Trabalhadores na Agricultura Familiar – FETRAF,
entidade selecionada por Chamada Pública, que
presta serviço de ATER em Campo Formoso, em
parceria com a BAHIATER.
“Vamos completar um ano e
atualmente há 35 variedades
de sementes em nosso banco. Toda sistematização das informações referente as
Essas sementes vêm dos sementes são pautadas nas Fichas Agroecólogi-
nossos antepassados e a até cas, disponibilizadas pelo Ministério da Agricul-
tura e da Pecuária – MAPA, na qual consta a base
hoje cultivamos, sem utilizar
científica do que já foi testado e comprovado.
veneno. Elas que ajudam
a garantir a produção, a Do ponto de vista ambiental, é impossível dis-
qualidade e o bom paladar sociar as práticas de ATER da preservação da
dos produtos que colhemos”. sociobiodiversidade, pois a agricultura familiar é
uma das maiores aliadas a preservação do meio
José Ribeiro Neto, responsável pela ambiente, assim as sementes de qualidade pre-
logística de guardar, armazenar e cisam ser associadas a um solo bem cuidado. A
distribuir as sementes no Banco de região em destaque possui muitas áreas degra-
Semente da Comunidade de Olaria, dadas pelo manejo incorreto e as orientações
município de Campo Formoso, Território
dos agentes de ATER são fundamentais, pois
Piemonte Norte do Itapicuru.
ajudam a compreender o processo de degra-
dação do solo, o uso de sementes de feijão de 37
Caminhos de ATER

porco na recuperação, a forma de plantio direto, melhor no campo relata que “hoje está melhor,
direcionando para um plantio mais consciente plantamos manga, mamão, maracujina e vamos
de base agroecológica e um manejo mais sus- vendendo a produção, o que lucra a gente utili-
tentável da unidade produtiva. za para o nosso sustento”. Junto ao plantio, seu
João também foi beneficiado com alguns alevi-
GUARDIÕES E GUARDIÃS nos o que tem motivado ele investir no ramo da
piscicultura com boas perspectivas. •
Dona Léa Maria da Silva, é uma guardiã. Mulher
polivalente, de sorriso largo e muita disposi-
ção, atua com muita dedicação na preservação “Viver da agricultura é bom
de sementes crioulas, pois acredita que é um porque ficamos perto da
importante passo para produção de alimentos
família. Com a ATER aprendi
saudáveis. Ela cuida de sua horta de acordo com
as orientações recebidas e comercializa tem-
as técnicas de produção
peros processados por ela mesma. Nas horas de horta, o sistema de
vagas, ainda arruma tempo para fazer crochê gotejamento para irrigar e
e transformar o colorido do seu artesanato em não usar veneno.”
mais uma possibilidade de renda.
Léa Maria da Silva, agricultora familiar,
João de Jesus Silva, conhecido popularmente guardiã do Banco de Semente da
como João Manteiga, é também um dos guar- Comunidade de Olaria, Campo Formoso,
diões do banco de sementes. Antes das tecno- Território Piemonte Norte do Itapicuru.
logias sociais e orientações de como conviver

38
Caminhos de ATER

INFORMAÇÃO
INTERAÇÃO E CONHECIMENTO

Com o intuito de incentivar a leitura e a promoção do conhecimento no meio rural, além de ser
uma ocupação para as crianças, enquanto os pais estão nos cuidados com a produção, o projeto
itinerante Arca das Letras, criado pelo extinto Ministério do Desenvolvimento Agrário – MDA, e
implantado em Campo Formoso com o apoio da Federação dos Trabalhadores na Agricultura Fa-
miliar do estado da Bahia – Fetraf, funciona na Associação Comunitária de Olaria, e realiza ações
educativas itinerantes, atividades práticas de leitura e escrita que empolgam toda comunidade.

Colaboraram com informações

Priscila Dias e Rosiane Alves da Silva


Agentes de leitura no projeto itinerante Arca das Letras.
39
Caminhos de ATER

FORMATER:
AÇÃO DE FORMAÇÃO PARA AGENTES DE ATER

A formação se constitui em importante base para diálogo com organizações da sociedade civil re-
a Assistência Técnica e Extensão Rural, ATER. É a presentativas da agricultura familiar, elaboraram
partir desses processos sistemáticos ou daqueles em 2016, o Plano Estadual de Formação de Agen-
na lida prática do dia a dia que as equipes técni- tes de Assistência Técnica e Extensão Rural da
cas contribuem com a autonomia de agricultores Bahia – FORMATER, com o intuito de orientar os
e agricultoras familiares para o desenvolvimento processos de formação, qualificação e capacitação
de suas atividades em suas unidades produtivas. dos (as) Agentes de ATER no Estado da Bahia e de
São espaços de encontro entre saberes preexis- agricultores multiplicadores dos 27 territórios de
tentes e de conhecimentos já sistematizados, identidade, servindo como aporte teórico, meto-
para ampliação das possibilidades de trabalho e dológico e orientador para fortalecer a efetivação
renda para a agricultura familiar combinado com da Política Estadual de ATER (Lei nº 12.188/10).
a interação entre seres humanos e a natureza.
O FORMATER define um conjunto de diretrizes,
Por essa razão, a Superintendência Baiana de As- ações estratégicas, orientações e procedimen-
sistência Técnica e Extensão Rural – BAHIATER/ tos metodológicos para serem utilizados como
Secretaria de Desenvolvimento Rural – SDR, em referencial no planejamento e execução de pro-
40
Caminhos de ATER

gramas e atividades de formação pelos profis- dológica e conceitual na prestação de serviços


sionais das instituições da Rede de ATER com- de ATER, conforme princípios preconizados na
posta pelas equipes técnicas da Bahiater, das legislação nacional e estadual de ATER.
organizações parcerias e das secretarias munici-
pais de agricultura.
A formação se constitui
Eixos estratégicos do FORMATER:
em importante base para a
1. Metodologias Inovadoras nos serviços de ATER Assistência Técnica e Extensão
2. Políticas Públicas para Agricultura Familiar e Rural, ATER. É a partir desses
Povos e Comunidades Tradicionais
processos sistemáticos ou
3. Economia Solidária
4. Sistema de Produção Agroecológica daqueles na lida prática do
5. Gênero, Geração e Etnia dia a dia que as equipes
técnicas contribuem com a
As ações de formação, de caráter processual e
contínuo, são facilitadas por quadros técnicos autonomia de agricultores e
da Bahiater e das instituições parceiras. Cum- agricultoras familiares
prem o papel de constituir uma unidade meto-

Colaboraram com informações e acompanhamento


Dário Nunes
Coordenador Técnico de Formação da Diretoria de Assistência Técnica
e Extensão Rural-DATER/BAHIATER/SDR
dario.nunes@bahiater.ba.gov.br

Jussara de Almeida Guerreiro


Técnica da Diretoria de Assistência Técnica e Extensão Rural-DATER/BAHIATER/SDR
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