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Extensão e Comunicação

Rural

Prof. Antônio Moreira Barroso Neto


Prof.ª Nathalia Thayna Farias Cavalcanti

Indaial – 2022
1a Edição
Copyright © UNIASSELVI 2022

Elaboração:
Prof. Antônio Moreira Barroso Neto
Prof.ª Nathalia Thayna Farias Cavalcanti

Revisão, Diagramação e Produção:


Equipe Desenvolvimento de Conteúdos EdTech
Centro Universitário Leonardo da Vinci – UNIASSELVI

Ficha catalográfica elaborada pela equipe Conteúdos EdTech UNIASSELVI

N469e
Neto, Antônio Moreira Barroso
Extensão e comunicação rural. / Antônio Moreira Barroso Neto;
Nathalia Thayna Farias Cavalcanti. – Indaial: UNIASSELVI, 2022.
137 p.; il.
ISBN 978-85-515-0499-4
1. Extensão rural. – Brasil I. Cavalcanti, Nathalia Thayna Farias. II.
Centro Universitário Leonardo Da Vinci.
CDD 630

Impresso por:
APRESENTAÇÃO
Olá, acadêmico! Seja bem-vindo ao Livro Didático Extensão e comunicação
rural. Sabemos a importância do agronegócio para o nosso país, no âmbito da agricultura
patronal ou familiar. Vemos que esse setor é responsável pela geração de riquezas para
o Brasil e, sem dúvida, para cada família que compõe a atividade agropecuária. Nesse
contexto, levar informações para o campo de forma assertiva é papel fundamental do
técnico, sendo ele o facilitador do processo de aprendizagem no campo. Dessa forma,
a extensão rural é o elo entre a pesquisa científica e o agricultor. Nesse processo –
por vivermos em uma sociedade da informação, em meio a constantes mudanças e
avanços na ciência e tecnologia –, a comunicação ocupa um espaço de crescimento
contínuo e ajuda a disseminar a informação, pelo uso de ferramentas que auxiliam no
processo participativo de mudança no campo.

Como veremos, os conceitos práticos da comunicação no Brasil estão


vinculados ao processo evolutivo da extensão rural no país. O desenvolvimento rural
e a comunicação estão, portanto, interligados, tendo em vista que a comunicação é
utilizada pelos agricultores para tomada de decisão sobre como produzir; pelo Estado
para definição das políticas agrárias; e pelas empresas para basear suas decisões e
fluxos para compra de determinado insumo ou equipamento. Então, a comunicação é o
processo norteador para uma extensão rural efetiva e participativa.

Por meio de leitura, mediação, dialogicidade e dicas práticas em relação ao assunto,


será possível aproximá-lo mais do que vem a ser a extensão e comunicação rural.

Para que isso se torne possível, os conteúdos estão distribuídos em três


unidades, subdivididas em tópicos e subtópicos. Cada tópico abordará algumas questões
fundamentais para a compreensão do nosso tema: extensão e comunicação rural. Ao
final de cada tópico haverá um resumo, que o auxiliará na aquisição do conhecimento, e
a autoatividade, elaborada a fim de que você possa verificar o seu aprendizado.

Na Unidade 1, apresentaremos o conceito e o valor da comunicação na extensão


rural do Brasil. Traremos para discussão a contextualização da realidade rural brasileira,
mostrando como a extensão rural tem papel fundamental no desenvolvimento do
setor agropecuário. Serão apresentadas as principais fases históricas da extensão e
comunicação rural no Brasil e sua organização durante os anos como política pública
para o desenvolvimento da agropecuária brasileira.

Na Unidade 2, continuaremos focando o tema nos princípios da comunicação


e difusão de inovações no meio rural. Apresentaremos a comunicação no processo de
transformação rural, com as diferentes fases do processo de comunicação que auxiliam
na formação da comunicação para difusão de novas tecnologias. Aprenderemos os
diferentes métodos de extensão para comunicação participativa e aprendizado dialógico.
E, para finalizar, na Unidade 3, abordaremos as principais metodologias
participativas e os processos de mobilização da comunidade rural, com foco nas ações
dinamizadoras e nas tecnologias que auxiliam no processo de comunicação.

Bons estudos!

Prof. Antônio Moreira Barroso Neto.


Prof.ª Nathalia Thayna Farias Cavalcanti

GIO
Você lembra dos UNIs?

Os UNIs eram blocos com informações adicionais – muitas


vezes essenciais para o seu entendimento acadêmico
como um todo. Agora, você conhecerá a GIO, que ajudará
você a entender melhor o que são essas informações
adicionais e por que poderá se beneficiar ao fazer a leitura
dessas informações durante o estudo do livro. Ela trará
informações adicionais e outras fontes de conhecimento que
complementam o assunto estudado em questão.

Na Educação a Distância, o livro impresso, entregue a todos os


acadêmicos desde 2005, é o material-base da disciplina. A partir
de 2021, além de nossos livros estarem com um novo visual
– com um formato mais prático, que cabe na bolsa e facilita a
leitura –, prepare-se para uma jornada também digital, em que
você pode acompanhar os recursos adicionais disponibilizados
através dos QR Codes ao longo deste livro. O conteúdo
continua na íntegra, mas a estrutura interna foi aperfeiçoada
com uma nova diagramação no texto, aproveitando ao máximo
o espaço da página – o que também contribui para diminuir
a extração de árvores para produção de folhas de papel, por
exemplo. Assim, a UNIASSELVI, preocupando-se com o impacto
de ações sobre o meio ambiente, apresenta também este
livro no formato digital. Portanto, acadêmico, agora você tem a
possibilidade de estudar com versatilidade nas telas do celular,
tablet ou computador.

Junto à chegada da GIO, preparamos também um novo


layout. Diante disso, você verá frequentemente o novo visual
adquirido. Todos esses ajustes foram pensados a partir de
relatos que recebemos nas pesquisas institucionais sobre os
materiais impressos, para que você, nossa maior prioridade,
possa continuar os seus estudos com um material atualizado
e de qualidade.
QR CODE
Olá, acadêmico! Para melhorar a qualidade dos materiais ofertados a
você – e dinamizar, ainda mais, os seus estudos –, a UNIASSELVI disponibiliza materiais
que possuem o código QR Code, um código que permite que você acesse um conteúdo
interativo relacionado ao tema que está estudando. Para utilizar essa ferramenta, acesse
as lojas de aplicativos e baixe um leitor de QR Code. Depois, é só aproveitar essa facilidade
para aprimorar os seus estudos.

ENADE
Acadêmico, você sabe o que é o ENADE? O Enade é um
dos meios avaliativos dos cursos superiores no sistema federal de
educação superior. Todos os estudantes estão habilitados a participar
do ENADE (ingressantes e concluintes das áreas e cursos a serem
avaliados). Diante disso, preparamos um conteúdo simples e objetivo
para complementar a sua compreensão acerca do ENADE. Confira,
acessando o QR Code a seguir. Boa leitura!

LEMBRETE
Olá, acadêmico! Iniciamos agora mais uma
disciplina e com ela um novo conhecimento.

Com o objetivo de enriquecer seu conheci-


mento, construímos, além do livro que está em
suas mãos, uma rica trilha de aprendizagem,
por meio dela você terá contato com o vídeo
da disciplina, o objeto de aprendizagem, materiais complementa-
res, entre outros, todos pensados e construídos na intenção de
auxiliar seu crescimento.

Acesse o QR Code, que levará ao AVA, e veja as novidades que


preparamos para seu estudo.

Conte conosco, estaremos juntos nesta caminhada!


SUMÁRIO
UNIDADE 1 - COMUNICAÇÃO, CAPACITAÇÃO E MOBILIZAÇÃO NO
DESENVOLVIMENTO RURAL............................................................................ 1

TÓPICO 1 - IMPORTÂNCIA DA COMUNICAÇÃO E EXTENSÃO RURAL NA


FORMAÇÃO PROFISSIONAL................................................................................3
1 INTRODUÇÃO........................................................................................................................3
2 CONTEXTUALIZAÇÃO DA REALIDADE RURAL BRASILEIRA............................................4
3 IMPORTÂNCIA DA EXTENSÃO RURAL................................................................................9
4 POLÍTICA NACIONAL DE ASSISTÊNCIA TÉCNICA E EXTENSÃO RURAL (PNATER).......11
RESUMO DO TÓPICO 1.......................................................................................................... 15
AUTOATIVIDADE................................................................................................................... 16

TÓPICO 2 - ORIGEM DA EXTENSÃO RURAL NO BRASIL..................................................... 19


1 INTRODUÇÃO...................................................................................................................... 19
2 COMUNICAÇÃO RURAL NO BRASIL: HISTÓRIA E DESENVOLVIMENTO........................ 20
3 FASES DA EXTENSÃO RURAL NO BRASIL...................................................................... 22
4 ORGANIZAÇÕES DE ASSISTÊNCIA TÉCNICA E EXTENSÃO RURAL...............................27
RESUMO DO TÓPICO 2......................................................................................................... 30
AUTOATIVIDADE................................................................................................................... 31

TÓPICO 3 - O VALOR DA COMUNICAÇÃO NA EXTENSÃO RURAL..................................... 33


1 INTRODUÇÃO..................................................................................................................... 33
2 SURGIMENTO DOS ESTUDOS DA COMUNICAÇÃO RURAL NO BRASIL ......................... 33
3 COMUNICAÇÃO E O PROBLEMA DE DIFUSÃO DE TECNOLOGIA ................................... 34
4 COMUNICAÇÃO E OS DIFERENTES ENFOQUES DA EXTENSÃO RURAL ....................... 35
LEITURA COMPLEMENTAR..................................................................................................37
RESUMO DO TÓPICO 3......................................................................................................... 39
AUTOATIVIDADE.................................................................................................................. 40

REFERÊNCIAS...................................................................................................................... 42

UNIDADE 2 — PRINCÍPIOS DA COMUNICAÇÃO E DIFUSÃO DE INOVAÇÕES.................... 45

TÓPICO 1 — ABORDAGENS TEÓRICAS SOBRE O PROCESSO DE COMUNICAÇÃO............47


1 INTRODUÇÃO......................................................................................................................47
2 FUNÇÕES DA COMUNICAÇÃO...........................................................................................47
3 FORMAS DA COMUNICAÇÃO............................................................................................ 50
4 COMUNICAÇÃO NO PROCESSO DE DESENVOLVIMENTO.............................................. 53
RESUMO DO TÓPICO 1..........................................................................................................57
AUTOATIVIDADE.................................................................................................................. 58

TÓPICO 2 - A COMUNICAÇÃO E A REALIDADE RURAL....................................................... 61


1 INTRODUÇÃO...................................................................................................................... 61
2 O PAPEL DO COMUNICADOR RURAL................................................................................ 61
3 PROCESSOS DE COMUNICAÇÃO RURAL........................................................................ 64
4 O FUTURO DA COMUNICAÇÃO RURAL.............................................................................67
RESUMO DO TÓPICO 2......................................................................................................... 69
AUTOATIVIDADE...................................................................................................................70
TÓPICO 3 - COMUNICAÇÃO E DIFUSÃO DE INOVAÇÕES....................................................73
1 INTRODUÇÃO......................................................................................................................73
2 A TEORIA DA DIFUSÃO E ADOÇÃO DE INOVAÇÕES E SUA APLICAÇÃO.........................73
3 MÉTODOS DE EXTENSÃO RURAL E COMUNICAÇÃO RURAL ..........................................76
3.1 INDIVIDUAIS .......................................................................................................................................... 76
3.2 GRUPAIS ............................................................................................................................................... 77
3.3 MASSAIS ...............................................................................................................................................78
4 POTENCIALIDADES E LIMITES DA AÇÃO DIFUSIONISTA NA PROMOÇÃO
DO DESENVOLVIMENTO RURAL.......................................................................................79
LEITURA COMPLEMENTAR.................................................................................................. 81
RESUMO DO TÓPICO 3......................................................................................................... 84
AUTOATIVIDADE.................................................................................................................. 85

REFERÊNCIAS.......................................................................................................................87

UNIDADE 3 — METODOLOGIAS PARTICIPATIVAS DE CAPACITAÇÃO E


MOBILIZAÇÃO DA COMUNIDADE RURAL..................................................... 91

TÓPICO 1 — O PAPEL DOS MÉTODOS PARTICIPATIVOS NO PROCESSO


DE PARTICIPAÇÃO POPULAR......................................................................... 93
1 INTRODUÇÃO..................................................................................................................... 93
2 MODELO DIFUSIONISTA E PARTICIPATIVO: POTENCIALIDADES E LIMITES................ 93
3 PRINCÍPIO METODOLÓGICO DO ENFOQUE PARTICIPATIVO...........................................96
4 OS NÍVEIS DE PARTICIPAÇÃO POPULAR........................................................................ 98
RESUMO DO TÓPICO 1........................................................................................................ 101
AUTOATIVIDADE.................................................................................................................102

TÓPICO 2 - AÇÕES DINAMIZADORAS NO ENFOQUE PARTICIPATIVO.............................105


1 INTRODUÇÃO....................................................................................................................105
2 TÉCNICAS DE MODERAÇÃO PARA TRABALHO COM GRUPOS.....................................105
3 TÉCNICAS DE DIAGNÓSTICO PARTICIPATIVO..............................................................107
4 TÉCNICAS DE PLANEJAMENTO, MONITORAMENTO E AVALIAÇÃO PARTICIPATIVA........... 115
RESUMO DO TÓPICO 2........................................................................................................ 118
AUTOATIVIDADE................................................................................................................. 119

TÓPICO 3 - NOVAS TECNOLOGIAS DA INFORMAÇÃO APLICADAS À EXTENSÃO RURAL........ 121


1 INTRODUÇÃO.................................................................................................................... 121
2 EVOLUÇÃO RECENTE DAS TECNOLOGIAS DE INFORMAÇÃO....................................... 121
3 TECNOLOGIAS DA INFORMAÇÃO E COMUNICAÇÃO PARA UMA COMUNICAÇÃO
PARTICIPATIVA ...............................................................................................................123
4 NOVAS TECNOLOGIAS DE COMUNICAÇÃO: EVOLUÇÃO X POTENCIALIDADES..........126
LEITURA COMPLEMENTAR................................................................................................128
RESUMO DO TÓPICO 3........................................................................................................130
AUTOATIVIDADE................................................................................................................. 131

REFERÊNCIAS.....................................................................................................................133
UNIDADE 1 -

COMUNICAÇÃO, CAPACITAÇÃO
E MOBILIZAÇÃO NO
DESENVOLVIMENTO RURAL
OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM
A partir do estudo desta unidade, você deverá ser capaz de:

• compreender os fundamentos teóricos da extensão rural;

• familiarizar-se com o propósito essencial do processo educativo para a extensão rural;

• entender como surgiu a extensão rural no Brasil;

• compreender a evolução da Ater desde o seu início;

• identificar a filosofia que orienta a Ater.

PLANO DE ESTUDOS
Esta unidade está dividida em três tópicos. No decorrer dela, você encontrará
autoatividades com o objetivo de reforçar o conteúdo apresentado.

TÓPICO 1 – IMPORTÂNCIA DA COMUNICAÇÃO E EXTENSÃO RURAL NA FORMAÇÃO


PROFISSIONAL
TÓPICO 2 – ORIGEM DA EXTENSÃO RURAL NO BRASIL
TÓPICO 3 – O VALOR DA COMUNICAÇÃO NA EXTENSÃO RURAL

CHAMADA
Preparado para ampliar seus conhecimentos? Respire e vamos em frente! Procure
um ambiente que facilite a concentração, assim absorverá melhor as informações.

1
CONFIRA
A TRILHA DA
UNIDADE 1!

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2
UNIDADE 1 TÓPICO 1 -
IMPORTÂNCIA DA COMUNICAÇÃO E EXTENSÃO
RURAL NA FORMAÇÃO PROFISSIONAL

1 INTRODUÇÃO

Para iniciar nosso estudo, alguns questionamentos são pertinentes. Qual é a


realidade rural brasileira? O que é a extensão rural? Qual é a sua importância para o país?
Como a comunicação está vinculada a esse processo “rural”?

Para que possamos compreender e refletir sobre essas questões e todos os


aspectos inerentes à comunicação e extensão rural, é necessário conhecer a realidade
brasileira com base nas questões sociais e econômicas que permeiam o meio rural.
Sabemos que o Brasil é um país de muitos contrastes quando nos referimos ao
meio rural, com concentração de renda nas mãos de poucos grandes produtores
que compõem esse cenário. Além disso, verificamos que o emprego tecnológico nas
propriedades rurais brasileiras é diferente em todos os aspectos quando comparamos
pequenos e grandes produtores. Essa realidade se deve às diferentes formas de acesso
à informação que garantem a aplicação de técnicas mais sofisticadas.

Nesse processo de acesso à informação, a comunicação é um fator fundamental


para alcançar o desenvolvimento na produção agropecuária, sendo a extensão rural
um elo importante para a inovação no meio rural. Sua função é conectar os resultados
das pesquisas com a aplicação dos novos conhecimentos e tecnologias por parte dos
produtores rurais. Dessa forma, a extensão rural, disponibiliza conhecimentos para que
os agricultores sejam capazes de aprimorar suas práticas de produção.

Nesse processo de aprimoramento da produção, o desenvolvimento rural e


a comunicação estão interligados, dentro dos diferentes modelos de comunicação.
Assim, a comunicação pode ser utilizada como veículo de mudança social, superando
as contradições presentes na estrutura social. Assim, como um processo social, a
comunicação implica na transferência de tecnologia e de conhecimento técnico entre
instituições e unidades produtivas.

Acadêmico, buscando responder a esses questionamentos, no Tópico 1,


abordaremos a Contextualização da realidade rural brasileira; a Importância da extensão
rural e a Política Nacional de Assistência Técnica e Extensão Rural (PNATER).

3
2 CONTEXTUALIZAÇÃO DA REALIDADE RURAL
BRASILEIRA
A fim de compreendermos a importância da extensão rural e do processo de comu-
nicação para mudanças no campo, precisamos entender o cenário do meio rural brasileiro.

Segundo dados do Censo agropecuário de 2017, o meio rural brasileiro é composto


por 5.073.324 estabelecimentos, perfazendo uma área total de 351.289.816 hectares.
Quanto à utilização das terras, 45% da área total dos estabelecimentos rurais são
compostos por pastagem, 29% por floresta, 18% por lavoura e 8% por outras finalidades.
Isso demonstra a diversidade de produtores e de culturas agropecuárias exploradas no
extenso território brasileiro, um grande desafio para a extensão rural (IBGE, 2019).

De acordo com dados do Censo demográfico de 2010 (IBGE, 2010, [s. p.]), a maior
parte da população brasileira, 84,36%, vive em áreas urbanas. Já 15,64% dos brasileiros vivem
em áreas rurais; as regiões com maiores percentagens de pessoas habitando a zona rural são
a Região Nordeste (26,87%) e a Região Norte (26,47%), como apresentado na Tabela 1.

TABELA 1 – CENSO DEMOGRÁFICO 2010 – POPULAÇÃO URBANA E RURAL

Censo Demográfico 2010 - População urbana e rural


Urbana % Rural % Total
BRASIL 160.925.792 84,36 29.830.007 15,64 190.755.799
Região Norte 11.664.509 73,53 4.199.945 26,47 15.864.454
Região Nordeste 38.821.246 73,13 14.260.704 26,87 53.081.950
Região Sudeste 74.696.178 92,95 5.668.232 7,05 80.364.410
Região Sul 23.260.896 84,93 4.125.995 15,07 27.386.891
Região Centro - Oeste 12.482.963 88,80 1.575.131 11,2 14.058.094
FONTE: Adaptada de IBGE (2010, [s. p.]).

A redução da população rural no Brasil se deu historicamente a partir das


décadas de 1970 e 1980 com o intenso processo de êxodo rural, como apresentado na
figura 1. Entre os principais motivos dessa redução está a mecanização da produção
agrícola (devido ao momento de investimento e crescimento na agricultura patronal
na região Centro-Oeste), que ocasionou o deslocamento de trabalhadores do campo
para as cidades em busca de oportunidades de trabalho. Isso gerou um intenso
processo de metropolização (população urbana ultrapassando os limites das cidades)
e, consequentemente, um intenso processo de urbanização e desenvolvimento de
grandes centros urbanos. Essa situação resultou em grandes impactos no meio rural,
devido à redução de mão de obra e à perda da identidade rural brasileira.

4
DICA
Que tal conhecer de forma mais aprofundada todos os problemas que
permeiam o êxodo rural no Brasil? Ao estudar a importância da extensão
rural no cenário do agronegócio brasileiro é interessante sabermos quais
motivos contribuem para o êxodo rural. Alguns questionamentos precisam
ser respondidos. Qual é o efeito da concentração da produção no êxodo
rural? Qual é a influência do êxodo no crescimento das cidades? Para isso,
recomendamos o artigo da Revista de Política Agrícola intitulado “Êxodo e sua
Contribuição à Urbanização de 1950 a 2010”: https://bit.ly/3D8Eilr.

Segundo Alves, Souza e Marra (2011), a contribuição do êxodo rural foi expressiva
de 1960 a 1980. No entanto, nos anos de 2000 a 2010, foi responsável por apenas 3,5%
de toda a urbanização. Uma das principais causas apontadas para o êxodo rural é a
concentração de produção. Em torno de 9,7% do total dos estabelecimentos contribuiu
com 86,4% do valor bruto da produção. E 70,7% de todos os estabelecimentos foram
responsáveis por apenas 3,4% daquele valor. Estima-se que 11 milhões de pessoas
vivem em situação de pobreza, de acordo com o IBGE (2010).

FIGURA 1 – DESENVOLVIMENTO DA POPULAÇÃO RURAL E URBANA

FONTE: O autor, baseado em IBGE (2010).

Quanto à administração dos estabelecimentos no espaço rural brasileiro, este


é formado por 81% de homens na administração e 18,7% de mulheres, o que mostra a
baixa participação feminina no cenário rural brasileiro, como apresentado na Figura 2.

5
FIGURA 2 – SEXO NA ADMINISTRAÇÃO DOS ESTABELECIMENTOS RURAIS (2017)

FONTE: IBGE (2019, [s. p..]).

Quando nos referimos à idade dos produtores, percebemos que a maior parte
dos produtores estão entre 35 e 64 anos, tanto do sexo masculino como feminino, como
apresentado na Figura 3.

FIGURA 3 – CLASSES DE IDADE DO PRODUTOR (2017)

FONTE: IBGE (2019, [s. p.]).

Quanto à renda bruta per capita do meio rural brasileiro, percebemos que
o Brasil é um país de contrastes, apresentando uma renda bruta per capita muito
variada, com concentração de renda nas mãos de poucos produtores que têm
acesso à informação e à tecnologia. Isso pode ser constatado pelas informações de
escolaridade da comunidade rural.

6
NOTA
Você conhece a sigla IBGE? Sabe seu significado? Precisamos conhecê-la
para entender melhor o nosso conteúdo. IBGE é o Instituto Brasileiro de
Geografia e Estatística, uma instituição pública da administração federal
brasileira criada em 1934 e instalada em 1936 com o nome de Instituto
Nacional de Estatística. Seu fundador e grande incentivador foi o estatístico
Mário Augusto Teixeira de Freitas. O nome atual data de 1938 e a sede do
IBGE está localizada na cidade do Rio de Janeiro.

Ao falarmos em desenvolvimento no campo, um dos principais entraves é a


baixa escolaridade. Segundo dados do Censo agropecuário de 2017 (IBGE, 2019), cerca
de 66% frequentaram até o ensino fundamental e apenas 2% têm ensino superior.
No entanto, esse fator tem sofrido mudanças nos últimos anos: a baixa escolaridade
vem caindo de 75% para 70% para produtores rurais com apenas ensino fundamental
incompleto. Há também melhorias nos percentuais de produtores com fundamental
completo, ensino médio completo e com curso superior, como mostra a Figura 4. Os
resultados mostram que os produtores estão tendo mais acesso à informação, o que
pode auxiliar no desenvolvimento do meio rural.

FIGURA 4 – NÍVEL DE INSTRUÇÃO DO PRODUTOR (2017)

FONTE: IBGE (2019 [s. p.]).

Percebemos que diversos fatores contribuem para uma redução da população


rural e queda nos índices de produção no campo, inviabilizando a atividade. Dentre
esses fatores, a falta de informação para um desenvolvimento econômico e social é o
principal. A pouca renda gerada, a vida nada fácil no campo e o pouco lazer são fatores
que levam ao desestímulo do produtor rural pelo campo. Devido à falta de informações

7
técnicas e de novas tecnologias, os resultados econômicos ficam escassos, o que acaba
por competir com os atrativos das zonas urbanas. De acordo com o Censo agropecuário
de 2017, 82,6% dos produtores rurais possuem remuneração menor do que 2,0 salários-
mínimos mensais; 12% entre 2,0 e 5,0 salários e somente 5% conseguem obter renda
superior a 5,0 salários-mínimos mensais (IBGE, 2019).

DICA
Você sabe o que é o Censo Agropecuário? O censo agropecuário é uma
das variedades de censos realizados no Brasil e que, de modo específico,
investiga as informações sobre os estabelecimentos agropecuários brasileiros
e as atividades agropecuárias neles desenvolvidas. O primeiro Censo
Agropecuário foi realizado no ano de 1920, como parte do recenseamento
geral. Na década de 1930, no entanto, o censo não ocorreu devido à
instabilidade política do país. Nas décadas seguintes, até 1970, foi realizado
em intervalos de dez anos, posteriormente sendo realizado em intervalos
de cinco anos. Para saber mais e verificar os resultados do último censo,
recomendamos o site oficial: https://bit.ly/3NflghY.

Para que possamos entender o ambiente rural brasileiro, é interessante


compreendermos como as novas tecnologias da informação estão entrando nas casas
dos produtores. Dentre as principais tecnologias que podemos citar, temos a internet. O
crescimento mais acelerado da utilização da internet nos domicílios da área rural contribuiu
para reduzir a grande diferença em relação à área urbana. De 2018 para 2019, o percentual
de domicílios em que a internet era utilizada passou de 83,8% para 86,7%, em área urbana;
e aumentou de 49,2% para 55,6%, em área rural (IBGE, 2019). Milanez et al. (2020) afirmam
que a conectividade à internet é um fator fundamental para o desenvolvimento da atividade
agropecuária, pois possibilita elevação da produtividade, redução de custos e consequente
incremento de competitividade devido ao acesso a informações que ajudam nas atividades
diárias no campo. Dessa forma, o negócio rural poderá ir além da porteira.

8
FIGURA 5 – DOMICÍLIOS COM ACESSO À INTERNET (2019)

FONTE: IBGE (2019, p. 6).

Todas as situações apresentadas são alavancadas devido à falta de ações fortes


para o desenvolvimento do produtor rural e promoção social da família, o que leva ao
empobrecimento do produtor, mostrando que se faz necessária uma assistência técnica
especializada que possa levar informações e mudança nos aspectos socioeconômicos.

3 IMPORTÂNCIA DA EXTENSÃO RURAL


Como vimos no tópico anterior, a realidade rural brasileira apresenta uma série de
entraves que podem comprometer o progresso do setor agropecuário. Dos principais pontos
observados, temos a redução da população rural e a baixa escolaridade no campo. Ao associar
tais pontos com a pouca tecnologia e o baixo acesso à informação, temos um cenário caótico
no que tange à aplicação de práticas mais avançadas e sustentáveis de produção. Dessa
forma, faz-se necessário um ambiente que proporcione o fornecimento de comunicação de
forma assertiva para melhoria do ambiente rural. Para essa mudança no campo, a extensão
rural é um fator fundamental como elo entre o produtor rural e as novas tecnologias que lhe
proporcionem melhores rendimentos, maiores lucros e melhoria nas condições sociais.

Antes de falarmos como a extensão rural se aplica nesse panorama, é preciso


sabermos o que é a extensão rural. Primeiro, devemos compreender que o termo
extensão rural não é autoexplicativo, apresentando diferentes definições a depender
da óptica do leitor. Assim, o termo extensão rural pode ser conceituado de três formas
diferentes: como processo, como instituição e como política.
9
Segundo Peixoto (2008), a extensão rural pode ser compreendida como
processo, em sentido literal, o ato de estender, levando conhecimentos de uma fonte
geradora para o receptor final, o produtor rural. Contudo, como processo, em um sentido
amplo, atualmente, extensão rural pode ser entendida como um processo educativo de
comunicação de qualquer natureza, técnica ou não.

Segundo Peixoto (2008), a extensão ainda pode ter uma definição como
instituição, quando ela desempenha um papel nos estados para o processo de
desenvolvimento de pequenos produtores. Dessa forma, há a referência às instituições
estaduais que prestam o serviço de Ater, instituições, as quais veremos no próximo tópico.

Por último, a extensão rural pode ter uma definição como política pública,
nesse caso, referimo-nos às políticas de extensão rural, traçadas pelos governos (fede-
ral, estaduais ou municipais) ao longo do tempo, que podem ser executadas por institui-
ções públicas e privadas. Essa definição será apresentada no subtópico adiante sobre a
Política Nacional de Assistência Técnica.

NOTA
Você conhece a diferença entre extensão rural e assistência técnica? Nos
últimos anos, a sigla Ater – Assistência Técnica e Extensão Rural – vem sendo
usada de forma ampla pelas organizações públicas e privadas como um
termo genérico, dando a falsa impressão de que tais noções são sinônimas
e intercambiáveis entre si. De forma muito clara, poder-se-ia dizer que o
trabalho da extensão rural suplanta os limites da assistência técnica. Assim,
enquanto a assistência técnica se volta a questões de ordem prática, como
oferecer soluções e orientações pontuais, restritas à esfera tecnológica
do estabelecimento rural, a extensão rural contempla objetivos de caráter
social, espacial, ambiental e de longo prazo (CALDAS; ANJOS, 2021).

Tomando por base os diversos aspectos da definição do que é extensão rural,


podemos compreender a importância desta para o desenvolvimento do meio rural brasileiro.
A extensão rural é um elo importante da cadeia de inovação na agropecuária. Segundo
Alves, Santana e Contini (2016), a extensão rural tem sua importância por disponibilizar
conhecimentos para que os agricultores constituam sua tecnologia de produção. No
entanto, alguns questionamentos sobre a extensão rural precisam ser feitos dentro da
definição da palavra extensão. Se extensão deriva do verbo estender que significa abranger
ou levar, o que devemos levar? Para quem iremos levar? Por que vamos fazer isso?

Caldas e Anjos (2021) afirmam que esses questionamentos refletem a própria


natureza de uma prática diretamente relacionada às ciências agrárias, ambientais,
humanas e sociais. Na perspectiva social e humana, se a extensão é somente levar
alguma informação, tecnologia ou conhecimento a algum produtor, seguida de uma
metodologia, outros questionamentos podem ser feitos. Esse produtor pediu essa nova

10
tecnologia? A quem serve essa nova tecnologia? Como ela será disponibilizada? Quais
são os benefícios? Será que a nova tecnologia é melhor que a situação atual? Há uma
comunicação entre o produtor e o portador da nova tecnologia? Esses questionamentos
são norteadores no processo de comunicação e extensão rural, pois darão uma visão
ao futuro extensionista sobre como se comunicar com o produtor para que haja um
intercâmbio de mão dupla entre os agentes da comunicação.

Veremos mais sobre esses questionamentos nos próximos tópicos,


compreendendo o fator comunicação no âmbito de uma extensão rural participativa
para o processo de desenvolvimento rural.

4 POLÍTICA NACIONAL DE ASSISTÊNCIA TÉCNICA E


EXTENSÃO RURAL (PNATER)
Nesse subtópico, veremos a Política Nacional de Assistência Técnica e Extensão
Rural (PNATER), assim, será possível avaliarmos de forma mais detalhada a importância
dessa política no que tange a extensão rural no Brasil e compreendermos como a
extensão rural vista como política pública se aplica em prol de um desenvolvimento
sustentável do meio rural.

Antes de explicarmos a PNATER propriamente dita, devemos entender como


a extensão rural como política pública se estabelece no Brasil, até que percebamos a
importância de cada agente nessa política pública que busca levar desenvolvimento ao
meio rural brasileiro. Para isso, precisamos nos situar nos principais instrumentos legais
que definem os responsáveis pela assistência técnica e extensão rural.

O principal instrumento legal que descreve a base para uma política agrícola no
país é a Constituição de 1988 (BRASIL, 1988). Por meio dela é estabelecido que a política
agrícola do país será construída de forma participativa entre os diferentes atores do
meio “rural” brasileiro. De acordo com o artigo 187, da Constituição Federal:

Art. 187. A política agrícola será planejada e executada na forma da


lei, com a participação efetiva do setor de produção, envolvendo
produtores e trabalhadores rurais, bem como dos setores de
comercialização, de armazenamento e de transportes, levando em
conta, especialmente:
I – os instrumentos creditícios e fiscais;
II – os preços compatíveis com os custos de produção e a garantia
de comercialização;
III – o incentivo à pesquisa e à tecnologia;
IV – a assistência técnica e extensão rural;
V – o seguro agrícola;
VI – o cooperativismo;
VII – a eletrificação rural e irrigação;
VIII – a habitação para o trabalhador rural (BRASIL, 1988, grifo nosso).

11
Dessa forma, a Constituição já estabelece como será construída a política
agrícola do país, levando em consideração a assistência técnica e extensão rural como
uma de suas premissas-base. Percebemos, então, que, na Constituição brasileira, a
extensão rural é um fator-chave para o desenvolvimento rural brasileiro.

Outro instrumento legal, anterior à PNATER, que estabelece a construção de uma


política agrícola com bases na assistência técnica e extensão rural é a Lei n. 8.171/1991 (BRASIL,
1991), que dispõe sobre a política agrícola. Essa lei estabelece, em seu artigo 4º, as ações e os
instrumentos da política agrícola, em que estão contempladas as seguintes ações:

I – planejamento agrícola;
II – pesquisa agrícola tecnológica;
III – assistência técnica e extensão rural;
IV – proteção do meio ambiente, conservação e recuperação dos
recursos naturais;
V – defesa da agropecuária;
VI – informação agrícola;
VII – produção, comercialização, abastecimento e armazenagem;
VIII – associativismo e cooperativismo;
IX – formação profissional e educação rural;
X – investimentos públicos e privados;
XI – crédito rural;
XII – garantia da atividade agropecuária;
XIII – seguro agrícola;
XIV – tributação e incentivos fiscais;
XV – irrigação e drenagem;
XVI – habitação rural;
XVII – eletrificação rural;
XVIII – mecanização agrícola;
XIX – crédito fundiário (BRASIL, 1991, grifo nosso).

Após, compreendermos os dois instrumentos legais anteriores à PNATER


e como eles estabeleceram as bases para sua estruturação, é o momento de nos
aprofundarmos no principal instrumento legal que estabelece as políticas públicas para
a assistência técnica e extensão rural.

A Política Nacional de Assistência Técnica e Extensão Rural (PNATER) foi instituída


em 2010 pela Lei n. 12.188/2010 (BRASIL, 2010), sob a orientação do Programa Nacional de
Assistência Técnica e Extensão Rural (PRONATER), alicerçada nos princípios do desenvolvimento
sustentável, com a inclusão da diversidade de categorias e atividades da agricultura familiar.

IMPORTANTE
A Lei n. 12.188, de 11 de janeiro de 2010, institui a Política Nacional de
Assistência Técnica e Extensão Rural (PNATER), estabelecendo os princípios
e objetivos dos serviços de Assistência Técnica e Extensão Rural (Ater) além
de criar o Programa Nacional de Assistência Técnica e Extensão Rural na
Agricultura Familiar e na Reforma Agrária (PRONATER).

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A PNATER é um marco na extensão rural brasileira, pois estabelece as
finalidades e ações de Assistência Técnica (Ater). A PNATER embasa sua finalidade na
construção de processos capazes de contribuir para criação e execução de estratégias
para o desenvolvimento sustentável. Seu princípio está centrado na expansão e
no fortalecimento da agricultura familiar, por meio de metodologias educativas e
participativas voltadas para soluções locais, que viabilizam condições para o exercício
da cidadania e melhoria da qualidade de vida.

Para isso, a PNATER deve seguir os seguintes princípios de acordo com a Lei n.
12.188, de 11 de janeiro de 2010, em seu artigo 3º:

I – desenvolvimento rural sustentável, compatível com a utilização ade-


quada dos recursos naturais e com a preservação do meio ambiente;
II – gratuidade, qualidade e acessibilidade aos serviços de
assistência técnica e extensão rural;
III – adoção de metodologia participativa, com enfoque multidisci-
plinar, interdisciplinar e intercultural, buscando a construção da
cidadania e a democratização da gestão da política pública;
IV – adoção dos princípios da agricultura de base ecológica como
enfoque preferencial para o desenvolvimento de sistemas de
produção sustentáveis;
V – equidade nas relações de gênero, geração, raça e etnia; e
VI – contribuição para a segurança e soberania alimentar e nutricional.
(BRASIL, 2010)

NOTA
Na Lei n. 12.188, de 11 de janeiro de 2010, que cria a PNATER, a Assistência
Técnica e Extensão Rural – ATER é definida como um serviço de educação
não formal, de caráter continuado, que promove processos de gestão da
produção, beneficiamento e comercialização das atividades e serviços
agropecuários e não agropecuários, incluindo as atividades agroextrativistas,
florestais e artesanais.

Pela PNATER, houve um processo que vem revigorando a Ater, por meio de
um trabalho em rede, com participação de instituições estaduais de Ater, movimentos
sociais, organizações não governamentais, prefeituras, sindicatos, universidades
e escolas técnicas, com uma visão local dos processos educacionais com efetivo
controle da sociedade beneficiária. Dessa forma, organismos governamentais e não
governamentais devem trabalhar de forma conjunta para o estabelecimento de visão
holística do processo, englobando a segurança alimentar, unidades familiares e a busca
por uma visão mais sustentável do desenvolvimento rural.

13
INTERESSANTE
Você sabe o que é a DAP? A Declaração de Aptidão ao Programa Nacional
de Fortalecimento da Agricultura Familiar (DAP) é um cadastro utilizado para
identificar e qualificar as Unidades Familiares de Produção Agrária (UFPA) da
agricultura familiar e suas formas associativas organizadas em pessoas jurídicas.
A DAP é um cadastro que permite o acesso do agricultor familiar às políticas
públicas de incentivo à produção e à geração de renda. O documento consta
de dados pessoais do proprietário ou posseiro da terra, além de produtivos
do imóvel rural e da renda da família. A DAP é um instrumento que permite
ao agriculto acessar uma linha de crédito do Pronaf, auxiliando no custeio ou
investimento de um empreendimento de cunho familiar (DECLARAÇÃO, 2019).

Assim, a PNATER se estabelece como uma “ponte” entre uma matriz tecnológica
e um novo processo para o desenvolvimento de estilos de agricultura mais sustentáveis,
buscando uma transição progressiva para processos ecologicamente mais equilibrados
com as relações naturais. Nesse sistema mais sustentável, busca-se um investimento
sério e comprometido com a pesquisa, uma vez que o conhecimento deve ser mais
dinamizado nos processos mais sustentáveis de produção. Esse processo relaciona-se
com o resgate dos conhecimentos populares para uma inserção e aplicação de técnicas
que pensem o local (WAGNER; SANTOS; VELA, 2011).

14
RESUMO DO TÓPICO 1
Neste tópico, você adquiriu certos aprendizados, como:

• A redução da população rural no Brasil se deu historicamente a partir das décadas de 1970
e 1980 com o intenso processo de êxodo rural. Entre os principais motivos que levaram
à redução da população rural está a mecanização da produção agrícola que expulsou
trabalhadores do campo para as cidades em busca de oportunidades de trabalho.

• O êxodo rural gerou um intenso processo de metropolização (população urbana


ultrapassando os limites das cidades), intenso processo de urbanização e
desenvolvimento de grandes centros urbanos e grandes impactos no meio rural,
devido à redução de mão de obra e à perda da identidade rural brasileira.

• A extensão rural pode ser compreendida como processo – ato de estender, levar ou
transmitir conhecimentos de uma fonte geradora ao receptor final, o público rural;
como instituição – quando desempenha um papel nos estados para o processo de
desenvolvimento de pequenos produtores –; e, como política pública – isto é, as
políticas de extensão rural traçadas pelos governos (federal, estaduais ou municipais).

• Os princípios da PNATER são: I – desenvolvimento rural sustentável, compatível


com a utilização adequada dos recursos naturais e com a preservação do meio
ambiente; II – gratuidade, qualidade e acessibilidade aos serviços de assistência
técnica e extensão rural; III – adoção de metodologia participativa, com enfoque
multidisciplinar, interdisciplinar e intercultural, buscando a construção da cidadania
e a democratização da gestão da política pública; IV – adoção dos princípios da
agricultura de base ecológica como enfoque preferencial para o desenvolvimento de
sistemas de produção sustentáveis; V – equidade nas relações de gênero, geração,
raça e etnia; e VI – contribuição para a segurança e soberania alimentar e nutricional.

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AUTOATIVIDADE
1 Segundo dados do Censo do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE,
2010), a partir de 1970 observou-se um grande movimento migratório das populações
da zona rural em direção aos centros urbanos. Sobre as razões desse êxodo rural tão
elevado, assinale a alternativa CORRETA:

FONTE: IBGE - INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA (Brasil). Sinopse do Censo Demo-
gráfico 2010. Rio de Janeiro: IBGE, 2010. Disponível em: https://bit.ly/3qy1VPw. Acesso em: 18 dez. 2021.

a) ( ) Condições como incentivo à migração por parte dos governantes dos grandes
centros urbanos.
b) ( ) Condições de infraestrutura, como estradas, comunicação, saúde e educação.
c) ( ) Características relativas ao solo, relevo, clima, intensidade de chuvas e
temperatura da região.
d) ( ) Condições de produção, como alta produtividade, mão de obra barata e acessível
e boa gestão técnica.

2 As ações extensionistas estão registradas na história da Antiguidade, o termo teve origem


na extensão praticada em universidades inglesas e se consolidou como uma forma ins-
titucionalizada com a participação de universidades americanas. Contemporaneamente,
o termo extensão rural pode ser entendido de três formas diferentes: como processo,
como instituição e como política. Com base no exposto, analise as sentenças a seguir:

I- A extensão rural pode ser definida como organização, uma vez que há diversas
atividades realizadas por instituições federais como a Ater.
II- A extensão rural significa instituição e pode ser definida como o ato de intervenção
público como meio de redistribuição de renda.
III- A extensão rural, como processo, significa, em sentido literal, o ato de estender, levar
ou transmitir conhecimentos da fonte geradora ao receptor final, o público rural.

Assinale a alternativa CORRETA:

a) ( ) As sentenças I e II estão corretas.


b) ( ) Somente a sentença II está correta.
c) ( ) As sentenças I e III estão corretas.
d) ( ) Somente a sentença III está correta.

3 A Política Nacional de Assistência Técnica e Extensão Rural para a Agricultura Familiar


e Reforma Agrária (PNATER) é uma política pública voltada para a melhoria das
condições de vida da população rural. Com base nos objetivos da PNATER, classifique
V para as sentenças verdadeiras e F para as falsas:

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( ) Adoção de metodologia participativa, com enfoque multidisciplinar, interdisciplinar
e intercultural, buscando a construção da cidadania e a democratização da gestão
da política pública.
( ) Assessorar as diversas fases das atividades econômicas, a gestão de negócios,
sua organização, produção, inserção no mercado e abastecimento, observando as
peculiaridades das diferentes cadeias produtivas.
( ) Desenvolvimento rural sustentável, compatível com a utilização adequada dos
recursos naturais e com a preservação do meio ambiente.

Assinale a alternativa que apresenta a sequência CORRETA:

a) ( ) V – F – F.
b) ( ) V – F – V.
c) ( ) F – V – F.
d) ( ) F – F – V.

4 As práticas extensionistas no meio rural foram institucionalizadas no país há mais


de 50 anos. Atualmente, o tema da extensão rural está em constante discussão, no
meio acadêmico, entre os formuladores de políticas públicas, e entre extensionistas.
Há diversos estudos, no Brasil e no exterior, relacionados aos aspectos históricos,
modelos e sistemas, metodologia de ação, formas de organização e casos diversos.
Entretanto, aparentemente há carência de estudos sobre a regulação dessa atividade.
Disserte sobre a importância da extensão rural no Brasil.

5 A Lei n. 12.188, de 11 de janeiro de 2010, instituiu a Política Nacional de Assistência


Técnica e Extensão Rural para a Agricultura Familiar e Reforma Agrária – PNATER e
o Programa Nacional de Assistência Técnica e Extensão Rural na Agricultura Familiar
e na Reforma Agrária – PRONATER. Nessa proposta, ficou estabelecida a prioridade
na destinação dos recursos financeiros da PNATER para o apoio às entidades e aos
órgãos públicos e oficiais de Assistência Técnica e Extensão Rural – Ater. Nesse
contexto, disserte sobre os princípios que fundamentam essa lei.

17
18
UNIDADE 1 TÓPICO 2 -
ORIGEM DA EXTENSÃO RURAL NO BRASIL

1 INTRODUÇÃO
Como vimos no tópico anterior, a extensão rural é a base para o desenvolvimento
do meio rural. A Constituição de 1988 definiu que a extensão rural deve ser levada em
consideração na construção da política agrícola do Brasil.

Percebemos que o agronegócio brasileiro tem se estabelecido cada vez


mais como líder no contexto internacional graças ao arsenal tecnológico e à gestão
competente de seus agricultores. Isso tem levado ao surgimento de grandes empresas
agrícolas, altamente tecnificadas. Por outro lado, esse crescimento não foi estabelecido
no agronegócio brasileiro de forma igualitária pela grande maioria dos produtores rurais,
os quais ficaram à mercê desse processo tecnológico para sua inserção no mercado.

Nos últimos anos, o meio rural brasileiro foi marcado por grandes mudanças e trans-
formações, pois o produtor teve que se adequar em curto espaço de tempo a uma nova rea-
lidade, na qual a agricultura de subsistência deu lugar a uma agricultura tecnificada e conec-
tada com as metodologias de gestão. Dessa forma, o conhecimento se tornou uma “arma”
fundamental para a continuidade da atividade agropecuária em seu pleno desenvolvimento.

Esse avanço tornou-se mais relevante a partir da criação da Empresa Brasileira


de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), em 26 de abril de 1973. Mas, antes deste marco,
a extensão rural já criava raízes em suas diferentes modalidades pelo Brasil, na busca
da transformação da condição brasileira de importador para exportador de alimentos.
Nesses diferentes processos, a extensão rural estruturou-se em diferentes aspectos
socioeconômicos que foram sendo moldados até chegarmos ao modelo atual.

Tendo em vista esses aspectos, as empresas rurais brasileiras estão buscando


a profissionalização por meio da implementação dos processos de gestão. Em virtude
dessa realidade, a comunicação tem ocupado um espaço cada vez mais decisório para
o pleno desenvolvimento do ambiente rural brasileiro, tendo em vista as mudanças
enfrentadas em um mundo cada vez mais tecnológico e pautado na informação.

Assim, alguns questionamentos norteadores serão feitos neste tópico para uma
melhor compreensão do estado atual da comunicação rural. Quais foram os precursores
dessa comunicação no meio rural? Como ela foi estabelecida? Qual era e é sua finalidade?
Como as relações entre difusor e receptor se estabelecem?

Essas e outras questões nos permitirão compreender o desenvolvimento e as


transformações da comunicação e extensão rural no Brasil.

19
2 COMUNICAÇÃO RURAL NO BRASIL: HISTÓRIA E
DESENVOLVIMENTO
Em uma perspectiva ampla, a comunicação pode ser vista como intercâmbio de
mensagens para superar barreiras, por meio de uma influência mútua que supere contradições
presentes na estrutura social. Dessa forma, a comunicação é o elo e, quando bem utilizada,
poderá proporcionar mudanças no contexto social, levando ao desenvolvimento.

Assim, a comunicação pode ser considerada um processo social e tem larga


importância como uma ferramenta fundamental para o processo de extensão rural. Isso
se deve ao fato de que a comunicação rural está interligada ao desenvolvimento rural,
sendo utilizada pelos agricultores para tomada de decisões sobre a forma de produção.

Tendo em vista sua importância, como a comunicação rural chegou ao Brasil? Como
se fez como processo para o desenvolvimento rural? Quais são as fases da comunicação rural?

A comunicação rural no Brasil está vinculada à extensão rural, a qual se divide em


três ciclos de desenvolvimento: humanismo assistencialista, difusionismo produtivista
e humanismo crítico.

A primeira fase da comunicação rural está situada entre 1948 e 1962 e se caracteriza
como a fase do humanismo assistencialista. No Brasil, esse modelo ganha proporções
a partir da década de 1950, ocorrendo simultaneamente com a origem da prática da
extensão rural. O principal objetivo era difundir pacotes tecnológicos que pudessem
levar à modernização das áreas rurais. O tripé norteador foi pesquisa, ensino e extensão.
O modelo foi adaptado pelo Sistema Brasileiro de Extensão Rural para incrementar a
produtividade agrícola e, como consequência, proporcionar melhor qualidade de vida às
comunidades e às famílias pobres, por meio de estratégias puramente assistencialistas.

Esse processo é marcado pelo pós-Segunda Guerra Mundial, com o fortalecimento


dos Estados Unidos como potência mundial, assim influenciando os países para um processo
de modernização agrícola, como um dos braços da reconstrução das estruturas globais pós-
guerra. Gonçalez (2007) afirma que nesse período surge a revolução verde, no âmbito da
produção vegetal e animal, tendo como objetivo oferecer, aos países em desenvolvimento,
avanços tecnológicos, como modernas técnicas de cultivo, utilização de fertilizantes químicos,
defensivos agrícolas e pesquisas para seleção de sementes. Em todos esses aspectos, o
objetivo era o aumento da produtividade para se fazer frente ao cenário de fome.

De 1960 a 1980, surge a fase do difusionismo produtivista. Nessa fase, a comuni-


cação rural brasileira estava baseada, integralmente, no extensionismo, no funcionalismo e no
difusionismo de inovações, aos moldes dos Estados Unidos. Esse modelo, apesar de alguns
sucessos, não gerou bons resultados no Brasil como ocorreu em seu país de origem (Estados
Unidos). Algumas particularidades da agropecuária brasileira não foram levadas em conside-
ração, pois careciam de uma comunicação mais participativa e dialógica.

20
Nesse período, surge a metodologia pedagógica para extensão rural proposta
pelo professor Seaman Knapp, o pai da metodologia de extensão na América do Norte.
Nesta metodologia, o agente de extensão rural tinha a missão de ajudar os agricultores e
ajudar a si próprio. Segundo ele, isso se concretizava no princípio de que o homem pode
duvidar do que ouve, pode duvidar do que vê, só não pode duvidar do que faz. Assim,
origina-se o princípio pedagógico do “aprender a fazer, fazendo”. Dessa forma, sempre
é recomendável usar técnicas de demonstração de métodos ou resultados quando se
pretende introduzir uma tecnologia. Não basta ao técnico conhecer as tecnologias se
não souber como “repassá-las” para os produtores.

INTERESSANTE
Você sabe o que é comunicação dialógica e difusionista? A comunicação dialógica é uma
interação em que cada pessoa envolvida desempenha o papel de locutor e ouvinte. Em outras
palavras, é uma comunicação onde todos têm a chance de se expressar. A compreensão
mútua e a empatia são marcas da comunicação dialógica. Existe uma profunda preocupação e
respeito pelo outro e pela relação entre eles nesse tipo de comunicação.
A comunicação difusionista vem do termo difusionismo. Esse termo é empregado
para designar várias linhas teórico-metodológicas, de orientação funcionalista,
surgidas nos Estados Unidos. Essa forma de comunicação atende aos diversos
segmentos sociais e às diversas modalidades de comunicação (administrativa,
científica, governamental, mercadológica, social e para transferência de
tecnologia). A comunicação difusionista pode ser agrupada em dois focos de
atuação: a comunicação institucional e a comunicação mercadológica, ambas
exercidas pelos profissionais de comunicação. Essa modalidade de comunicação
tem como objetivo o apoio ao processo de transferência de tecnologias a toda a
cadeia produtiva, coordenado pelos pesquisadores e técnicos (PEREIRA, 2013).

A partir dos anos 1970, outro ponto chegou ao debate em torno da comunicação
rural: começou-se a questionar o caráter unidirecional e persuasivo do modelo
difusionista, colocando-se como alternativa uma comunicação com base no diálogo.
Esse debate se estendeu até a década de 1980, com embates entre os apoiadores da
comunicação difusionista e os da comunicação dialógica. É nesse momento que surge
a fase do humanismo crítico.

Segundo Rogers (1995), o modelo difusionista é o processo pelo qual uma


inovação tecnológica é comunicada para vários membros de um sistema social de
forma profissional. Esse método de comunicação visa apenas transmitir a informação
de cima para baixo para a população rural, tornando-a uma mera receptora das
políticas governamentais para o desenvolvimento rural. Esse processo trata-se de
uma comunicação persuasiva, na qual o agricultor e sua família não fazem parte da
transformação da sua realidade.

21
DICA
Para conhecer mais sobre a história do desenvolvimento da agropecuária
brasileira e como houve a participação da extensão rural nesse
processo, veja a plataforma da Embrapa: https://bit.ly/3qzLnXs. Explore
o desenvolvimento do setor agropecuário brasileiro, sua história e
perspectivas futuras. Além disso, aproveite para conhecer os novos
desafios que o extensionista terá que enfrentar no campo.

A partir dos anos 1990, o modelo de comunicação dialógica começou a se


estabelecer com metodologias comunicativas de abordagem que tornavam o agricultor
um agente do processo de comunicação. Esse novo modelo de comunicação tornou-
se mais forte na extensão rural prestada pelas ONGs em detrimento das organizações
oficiais de assistência técnica e extensão rural, pois estas ainda estavam passando pelo
processo de mudança dos meios de comunicação.

Atualmente, o modelo empregado pelo governo federal para a comunicação e


extensão rural no Brasil é embasado em ações educativas, com ênfase na pedagogia
da prática, com apropriação coletiva do conhecimento. Essa comunicação participativa
está destacada como princípio da PNATER, a qual estabelece que deve haver a adoção de
metodologia participativa, com enfoque multidisciplinar, interdisciplinar e intercultural,
buscando a construção da cidadania e a democratização da gestão da política pública.

3 FASES DA EXTENSÃO RURAL NO BRASIL


No subtópico anterior, apresentamos o histórico da comunicação rural no Brasil,
vimos que a comunicação rural se confunde com a extensão rural, logo alguns pontos serão
comuns para compreender este subtópico. Aqui, apresentaremos as fases da extensão rural
de forma a complementar a compreensão do histórico da comunicação rural no Brasil, com
foco nas instituições que auxiliaram o processo de estruturação da extensão rural no Brasil.

Antes dos principais marcos da extensão rural no Brasil no pós-Segunda Guerra,


o Brasil já se colocava como pioneiro para o fomento ao desenvolvimento da agricultura
e exploração das terras, principalmente com a grande chegada de imigrantes europeus.
Em meados do século XIX, o governo imperial do Brasil, na figura do imperador D. Pedro
II já propunha alguns decretos para o fomento da extensão rural e políticas agrícolas,
mesmo que de forma rudimentar (se comparado com o período atual). Em 1859 e 1860
foram criados quatro institutos imperiais de agricultura que possuíam, principalmente,
atribuições de pesquisa e ensino agropecuário, mas também de difusão de informações:

• Decreto nº. 2.500 de 1/11/1859 – criou o Imperial Instituto Baiano de Agricultura.


• Decreto nº. 2.516 de 22/12/1859 – criou o Imperial Instituto Pernambucano de Agricultura.

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• Decreto nº. 2.521 de 20/1/1860 – criou o Imperial Instituto de Agricultura Sergipano.
• Decreto nº. 2.607 de 30/6/1860 – criou o Imperial Instituto Fluminense de Agricultura.

INTERESSANTE
Os decretos que estabeleciam a criação dos institutos imperiais tinham como
foco a realização de exposições, concursos e a publicação de periódicos com
os resultados das pesquisas, estratégias essas que são métodos de extensão
e meio de comunicação. Naquela época se estabelecia um serviço de extensão
rural rudimentar, o qual tinha agricultores profissionais como modelo. Como
exemplo, podemos citar o Decreto nº 2.681, de 3 de novembro de 1860:
https://bit.ly/3D9Je9P, que criou Imperial Instituto Fluminense de Agricultura.

Após o golpe militar republicano, as incipientes estruturas de políticas públicas e


instituições de extensão rural que estavam se formando durante o Império do Brasil foram
esvaziadas, sendo resgatadas apenas em 1906 pelo presidente Affonso Penna, com a re-
criação do Ministério dos Negócios da Agricultura, Indústria e Comércio. A partir de 1910, o
então presidente Nilo Peçanha regulamenta a criação do ensino agronômico que dá origem
à Escola Superior de Agricultura e Medicina Veterinária, instalada no Distrito Federal (então no
Rio de Janeiro). A partir desse momento são criadas as fazendas-modelo que eram apresen-
tação de áreas demonstrativas para auxiliar os agricultores no processo de extensão rural.

QUADRO 1 – DECRETOS PRESIDENCIAIS PARA CRIAÇÃO DE CAMPOS DE DEMONSTRAÇÃO E FAZENDAS MODELO

Decreto presidencial Objeto do decreto


Fazenda Modelo de Criação na fazenda de
Decreto n. 9.333 - de 17 de janeiro de 1912 Santa Monica, município de Valença, estado
do Rio de Janeiro
Campos de Demonstração na fazenda Alta-Mi-
Decreto n. 9.613 - de 13 de junho de 1912
ra, município da Villa do Conde, estado da Bahia
Fazenda Modelo de Criação no município de
Decreto n. 9.868 - de 13 de novembro de 1912
Uberaba, estado de Minas Gerais
Fazenda Modelo de Criação no município de
Decreto n. 10.075 - de 19 de fevereiro de 1913
Caxias, no estado do Maranhão
Fazenda Modelo de Criação na ilha de
Decreto n. 11.875 - de 12 de janeiro de 1916
Marajó, estado do Pará
Fazenda Modelo de Criação no município de
Decreto n. 11.876 - de 12 de janeiro de 1916
Ponta Grossa, estado do Paraná
Fazenda Modelo de Criação, no estado de
Decreto n. 11.882 - de 12 de janeiro de 1916
Pernambuco
FONTE: Peixoto (2008, p. 15).

23
Após a Segunda Guerra Mundial, um novo modelo de extensão se estabelece
aos moldes e influências estadunidenses. O principal marco para extensão rural no Brasil
se inicia em 1948 com a parceria entre o governo do estado de São Paulo (na gestão de
Ademar de Barros) e o então vice-presidente dos Estados Unidos, Nelson Rockefeller,
membro de uma das famílias mais ricas do mundo com influências no campo político,
empresarial, filantrópico e financeiro. O então vice-presidente acabara de fundar a
Associação Internacional Americana (American International Association) destinada a
ajudar o desenvolvimento econômico e social da América Latina. A proposta chegou ao
Brasil pelo estado de São Paulo, com o apoio financeiro para fundar o primeiro Serviço
de Extensão Rural institucional no Brasil, com o objetivo de contribuir para “elevar o nível
de vida das famílias rurais”, mediante o aumento da produtividade agropecuária.

No entanto, a proposta não foi aceita pelo governador Ademar de Barros, tendo
em vista que este não teria o poder de indicar o dirigente do programa de extensão rural
que seria estruturado, cabendo à associação de Nelson Rockefeller indicar o dirigente
que ficaria sob orientação de um nome americano. Por isso, o estado de São Paulo
recusou ser o estado pioneiro de um serviço de extensão rural brasileiro.

Com a recusa do estado de São Paulo, Nelson Rockefeller dirigiu-se ao estado de


Minas Gerais na pessoa do então governador Milton Campos, o qual aceitou prontamente
a proposta nas exigências americanas, e foi fundada a primeira instituição de extensão
rural do Brasil. Nascia então a Associação de Crédito e Assistência Rural, a Acar, uma
associação civil, sem fins lucrativos, de direito privado, incumbida de fundar e executar um
Serviço de Extensão Rural destinado a “elevar o nível de vida das famílias rurais mineiras”.

Esse período é marcado pelo processo de comunicação humanista


assistencialista, pois as iniciativas lideradas pelos extensionistas rurais voltavam-se
tanto a questões de ordem técnica (agronômica) quanto à esfera doméstica. Enquanto
agrônomos orientavam produtores sobre o uso dos insumos modernos, as extensionistas
mulheres, formadas especialmente em pedagogia, economia doméstica, enfermagem
etc., voltavam-se a aspectos ligados à puericultura (cuidado das crianças), melhoria das
condições dos lares (água, construção de fossa séptica etc.), proteção de nascentes e
acesso à água potável, combate a verminoses e doenças.

Após as influências de Nelson Rockefeller e dos interesses americanos,


foram criadas várias Acars pelo país, como apresentado no quadro abaixo. Devido à
aproximação do então presidente Juscelino Kubitschek de Nelson Rockefeller, em 1956
surge a Associação Brasileira de Assistência Técnica e Extensão Rural (ABCAR).

QUADRO 2 – EVOLUÇÃO DO SISTEMA BRASILEIRO DE EXTENSÃO RURAL (1948-1974)

1948 ACAR-MG
1954 ANCAR (CE, PE, BA)
1955 ASCAR-RS, ANCAR (RN, PB)

24
1956 ABCAR, ACARESC
1957 ACAR-ES
1958 ACAR-RJ
1959 ACAR-GO, ACARPA
transformação dos programas estaduais da ANCAR em associações
1962
autônomas, a primeira em SE
1963 ANCARS: autonomia de RN, AL, MA E BA
1964 ANCARS: autonomia de PE, PB e CE
1965 ACAR-Pará, ACAR-MT
1966 ANCAR-PI, ACAR-AM
1967 ACAR-DF
1968 ACAR-AC
1971 ACAR-RO
1972 ACAR-RR
1974 ACAR-AP
FONTE: Peixoto (2008, p.19).

Segundo Caldas e Anjos (2021), nesse período, as associações de extensão rural


trabalhavam em prol do que veio a se chamar “crédito rural supervisionado”, por meio do
qual o extensionista orientava o crédito de custeio e investimento em uma determinada
atividade. Esse modelo encontrou algumas dificuldades na década de 1960, devido ao
receio dos agentes financeiros em financiar pequenos e médios produtores, além da
fraca capilaridade da rede bancária pelo país.

Em meados da década de 1960, surge a fase difusionista produtivista, de


1964 a 1989, considerada o auge da extensão rural brasileira. Essa fase é marcada pela
institucionalização do Sistema Nacional de Crédito Rural (SNCR), que acontece em 1965,
em pleno regime militar. Nessa época, as práticas extensionistas são direcionadas ao
aumento de produção, aos moldes da Revolução Verde. Alguns pontos marcaram essa
fase, como a criação da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), em 1973,
e a criação da Empresa Brasileira de Assistência Técnica e Extensão Rural (Embrater), em
1975. Esse foi o período da implementação dos chamados “pacotes tecnológicos”, os quais
eram desenvolvidos pelas pesquisas da Embrapa e difundidos pela Embrater por meio das
Empresas de Assistência Técnica e Extensão Rural (Emater) espalhadas pelo Brasil. Essa
fase durou até final da década de 1980, quando houve a desestruturação das Emater
pelo país, após o fechamento da Embrater na década de 1990. Muitos estados ficaram
responsáveis pela assistência técnica, não havendo mais a figura central do governo
federal que era feita pela Embrater. Dessa forma, muitas instituições foram esvaziadas ou
fechadas, havendo o sucateamento da estrutura de Ater pelo país.

25
FIGURA 6 – O SISTEMA DE PESQUISA, ASSISTÊNCIA TÉCNICA E EXTENSÃO RURAL

FONTE: Caldas e Anjos (2021, p. 83).

Após a década de 1990, a extensão rural entra na fase de colapso, não havendo
uma estruturação do sistema nacional de assistência técnica por parte do governo federal,
apesar de a Constituição de 1988 colocar a assistência técnica como base para formação
da política agrícola do país. Mesmo com o sucateamento do sistema de Ater público,
em 1994 é criado o Provap (Programa de Valorização da Pequena Propriedade Rural) e
dois anos depois é criado o Pronaf (Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura
Familiar), com objetivo de financiar o custeio e investimento de agricultores familiares.

DICA
Você sabe o que foi a Revolução Verde? A Revolução Verde, coordenada
pelo engenheiro-agrônomo Norman Borlaug, passou a ser muito
difundida depois da II Grande Guerra Mundial (1939-1945). Tratava-
se de um novo pacote tecnológico baseado em mecanização agrícola,
agroquímicos (fertilizantes e defensivos) e sementes melhoradas. Essa
inovação ficou conhecida por melhorar a produção agrícola e aumentar a
produção de alimentos a partir das décadas de 1960 e 1970. Para saber
mais, acesse: https://bit.ly/3usd1GO.

26
Somente nos anos 2000 há um resgate da Ater como política pública, pela
aprovação, em 2004, da Política Nacional de Assistência Técnica e Extensão Rural
(PNATER), a qual estabelece que a extensão rural esteja voltada prioritariamente
para agricultores familiares, assentados, quilombolas, pescadores artesanais e povos
indígenas (como vimos no tópico anterior).

Em 2014, por intermédio do Decreto n. 8.252 é instituída a Agência Nacional de


Assistência Técnica e Extensão Rural (ANATER), com intuito de auxiliar na coordenação
de ações a nível nacional.

4 ORGANIZAÇÕES DE ASSISTÊNCIA TÉCNICA E


EXTENSÃO RURAL
Como estudamos no subtópico anterior (Fases da extensão rural no Brasil), a
primeira instituição a se estabelecer foi a Associação de Crédito e Assistência Rural (Acar),
que deu bases para criação da Associação Brasileira de Assistência Técnica e Extensão
Rural (Abcar). Em seguida (década de 1970), surgiam a Embrater e Ematers. Mas como estão
as organizações que cuidam da assistência técnica hoje? Quais são os atores da Ater?

Após a descentralização do serviço de extensão rural, com o fim da Embrater,


muitos estados extinguiram suas organizações de assistência técnica ou as
reformularam. No reestabelecimento das Ater no Brasil, temos a Agência Nacional de
Assistência Técnica e Extensão Rural (ANATER).

A Agência Nacional de Assistência Técnica e Extensão Rural (ANATER), pessoa


jurídica de direito privado sem fins lucrativos, de interesse coletivo e de utilidade pública,
foi instituída pelo Decreto n. 8.252, de 26 de maio de 2014 e estas são suas finalidades:

• Promover, estimular, coordenar e implementar programas de assistência técnica e exten-


são rural, com vistas à inovação tecnológica, com enfoque econômico, ambiental e social.
• Promover a integração do sistema de pesquisa agropecuária e do sistema de
assistência técnica e extensão rural, levando as novas tecnologias para o campo.
• Apoiar a utilização de tecnologias sociais e os saberes tradicionais pelo público
previsto no artigo 3° do Decreto n. 8.252, de 26 de maio de 2014.
• Credenciar e acreditar prestadoras (pessoas físicas e jurídicas) de serviços de
assistência técnica e extensão rural.
• Promover capacitação continuada para a qualificação de profissionais de assistência
técnica e extensão rural com foco no desenvolvimento rural sustentável.
• Contratar serviços de assistência técnica e extensão.
• Articular-se com os órgãos públicos e pessoas jurídicas de direito público e privado,
para cumprimentos dos objetivos da extensão rural para o país.
• Colaborar e contribuir com os estados e municípios em prol da implantação e
operação de mecanismo com objetivos afins aos da ANATER.

27
• Monitorar e avaliar os resultados da aplicação dos projetos de assistência técnica e
extensão rural dos seus prestadores de serviços e conveniados.
• Contribuir para o fortalecimento e ampliação dos serviços de assistência técnica e extensão
rural para o público previsto no artigo 3° do Decreto n. 8.252, de 26 de maio de 2014.
• Articular com os órgãos públicos estaduais de extensão rural a compatibilização,
a atuação em cada unidade da federação, ampliando a cobertura da prestação de
serviços aos agricultores.

DICA
Você conhece a história da ANATER e suas ações? Recomendamos este vídeo:
https://bit.ly/3uomeA2. Além disso, recomendamos o site: https://www.anater.
org/. No site e no vídeo, você conhecerá um pouco sobre as ações da ANATER
e sua história, além de conhecer as principais notícias sobre Ater no Brasil.

Além da ANATER, temos a Asbraer, uma associação de entidades de Ater


formada por um conjunto de organizações de Ater estaduais que buscam ações
conjuntas para fortalecimento de políticas públicas em prol da Ater estadual e nacional.
As organizações estaduais associadas à Associação Brasileira das Entidades Estaduais
de Assistência Técnica e Extensão Rural (Asbraer) estão representadas na Figura 7.

FIGURA 7 – ENTIDADES PARTICIPANTES DO SISTEMA NACIONAL DE ATER

FONTE: ASBRAER ([2017]).


28
Na figura, percebemos a relevância da capilaridade dos sistemas de extensão
rural estaduais que ainda estão presentes no país. Como apresentado na imagem,
a maior parte das Emater foram fechadas ou mudaram de foco nos estados após a
extinção da Embrater. Essa situação reflete a descentralização e a desestabilização do
serviço de Ater no país na década de 1990.

DICA
Você conhece a história da Asbraer e os principais dados estatísticos sobre
Ater no Brasil e nos estados? Acesse a plataforma da Asbraer: https://bit.
ly/3Ld3yKo, e se aprofunde sobre a Ater no Brasil e sua atuação.

Segundo dados da Asbraer (2017), há mais de 12 mil extensionistas atendendo


2.062.256 beneficiários espalhados nas cinco regiões brasileiras. Os estados com maior
número de extensionistas são Rio Grande do Sul, Minas Gerais, Paraná e Ceará. Assim,
vemos que o desenvolvimento do agronegócio nacional está atrelado às diferentes políticas
públicas federais, estaduais ou municipais que levam a assistência técnica e extensão rural
aos diferentes cantos do Brasil através dos profissionais da assistência técnica.

INTERESSANTE
O termo agronegócio – também chamado de agribusiness ou agrobusi-
ness, foi idealizado por John Davis e Ray Goldberg em 1957. Para eles,
setores que lidam com as atividades relacionadas à agricultura não podem
ser considerados isoladamente, mas devem ser considerados correlacionados
em um sistema econômico, o qual se denominou agronegócio.
Dessa forma, agronegócio seria o conjunto de negócios relacionados à
agricultura, estendendo-se à pecuária, dentro do ponto de vista das relações
econômicas. Assim toda a cadeia produtiva e de suprimentos faz parte desse
sistema que gera valor independentemente do tamanho do produtor.
Portanto, o agronegócio pode ser compreendido como a soma total das
operações de produção e distribuição de suprimentos agrícolas, das operações
de produção na unidade de produção, do armazenamento, do processamento
e da distribuição dos produtos agrícolas e dos itens produzidos por meio deles
(DAVIS; GOLDBERG, 1957).

29
RESUMO DO TÓPICO 2
Neste tópico, você adquiriu certos aprendizados, como:

• A comunicação rural no Brasil está vinculada à extensão rural, a qual se divide


em três ciclos de desenvolvimento: humanismo assistencialista, difusionismo
produtivista e humanismo crítico.

• A primeira fase da comunicação rural, de 1948 a 1962, caracteriza-se como a fase


do humanismo assistencialista. Esse modelo de comunicação rural se inicia, no
Brasil, no começo da década de 1950, ocorrendo simultaneamente com a origem da
prática da extensão rural. O principal objetivo era difundir pacotes que pudessem
levar à modernização tecnológica das áreas rurais. O tripé norteador foi pesquisa,
ensino e extensão. O modelo foi adaptado pelo Sistema Brasileiro de Extensão Rural
para incrementar a produtividade agrícola e, como consequência, proporcionar
melhor qualidade de vida para comunidades e famílias pobres, por meio de um
trabalho puramente assistencialista;

• A primeira instituição de extensão rural do Brasil foi a Associação de Crédito e Assistência


Rural, a Acar, nascida em Minas Gerais em 1948, devido à influência de Nelson Rockefeller.
Tratava-se de uma associação civil, sem fins lucrativos, de direito privado, incumbida
de fundar e executar um Serviço de Extensão Rural, destinado a “elevar o nível de
vida das famílias rurais mineiras”. Em 1955, houve a aproximação do então presidente
Juscelino Kubitschek de Nelson Rockefeller, que culminou, em 1956, com o surgimento
da Associação Brasileira de Assistência Técnica e Extensão Rural (Abcar).

• Após a descentralização do serviço de extensão rural, com o fim da Embrater, muitos


estados extinguiram suas organizações de assistência técnica ou as reformularam.
No reestabelecimento das Ater no Brasil, temos a Agência Nacional de Assistência
Técnica e Extensão Rural (ANATER).

30
AUTOATIVIDADE
1 Segundo Olinger (1996), o desenvolvimento rural e a comunicação estão conectados.
Isso ocorre porque a comunicação é usada pelos agricultores na tomada de decisões
no que diz respeito à produção e à convivência. É também utilizada pelo Estado para
definir suas medidas de política agrária e pelas empresas para basear suas decisões nas
informações sobre necessidade de insumos e equipamentos e de disponibilidade de
produtos para alimentação e agroindústria. De acordo com o modelo de comunicação
sugerido por Bordenave (1983), assinale a alternativa CORRETA:

FONTE: OLINGER, G. Ascenção e decadência da extensão rural no Brasil. Florianópolis: EPAGRI, 1996.

a) ( ) Considera que a escolha de um modelo de comunicação em um país deve levar em


consideração a evolução política, social e financeira do local do país a ser alcançado.
b) ( ) Sugere que, com a introdução de tecnologias de informação no meio rural, a
escolha de um modelo de comunicação depende de instrumentos políticos e
ferramentas metodológicas.
c) ( ) Considera que a escolha de um modelo de comunicação em detrimento de outro
ocorre conforme as prioridades determinadas pelo modelo de desenvolvimento
adotado pelo país.
d) ( ) Sugere que as condições de organização dos agricultores, a política agrária e financeira
são fundamentais para a adoção do modelo ideal de comunicação em um país.

2 A extensão rural no Brasil surgiu com o objetivo de superar o atraso na agricultura,


servindo para que o homem rural entrasse em uma dinâmica de produzir mais,
com melhor qualidade e maior rendimento. Tratava-se de um modelo com raízes
“difusionistas”, que visava divulgar, impor ou estender um conceito, sem levar em
conta as experiências e os objetivos das pessoas atendidas. Dentro desse processo
difusionista, a extensão rural no brasil, passou por três fases de evolução. Considerando
as características desse processo evolutivo, analise as sentenças a seguir:

I- Humanismo assistencialista: pequenos agricultores; família rural; orientação


pedagógica baseada em “ensinar a fazer, fazendo”; cria grupos de agricultores e
jovens rurais; estimula a organização e o associativismo rural autônomos.
II- Difusionismo crítico: pequenos e médios produtores; família rural; orientação
pedagógica dialógica, problematizadora.
III- Humanismo produtivista: pequenos, médios e grandes produtores; família rural;
orientação dialógica baseada em diálogos produtivos; estimula a população a formar
pequenos grupos de produtores.

31
Assinale a alternativa CORRETA:

a) ( ) As sentenças I e II estão corretas.


b) ( ) Somente a sentenças II está correta.
c) ( ) As sentenças I e III estão corretas.
d) ( ) Somente a sentença III está correta.

3 Dentro do sistema cooperativista, entende-se por Organizações Rurais os sindicatos


(patronais e de trabalhadores) e as associações de produtores ou criadores. Pode-se
citar como exemplo de serviço de Ater o Serviço Nacional de Aprendizagem Rural
(Senar). Esse serviço faz parte das organizações rurais sindicais, voltado à capacitação
de mão de obra. De acordo com o estabelecido pela PNATER para as organizações
prestadoras de serviço, classifique V para as sentenças verdadeiras e F para as falsas:

( ) As organizações rurais contratam seu próprio staff de extensão e proveem serviços


gratuitos aos membros.
( ) ONGs contratam staff técnico de serviços pagos financiados pelos agricultores.
( ) No setor privado, companhias privadas proveem alguns serviços de extensão com
taxas gratuitas.

Assinale a alternativa que apresenta a sequência CORRETA:

a) ( ) V – F – F.
b) ( ) V – F – V.
c) ( ) F – V – F.
d) ( ) F – F – V.

4 A trajetória do serviço de extensão rural no Brasil engloba três momentos distintos


quanto à orientação filosófica e ao modelo operacional predominantes em cada
um deles, que são coerentes com as formas de intervenção do Estado e as
macrodefinições políticas dos seus planos de desenvolvimento. Disserte sobre estes
períodos, destacando as peculiaridades de cada um deles.

5 Observa-se diversidade de modelos de provisão e financiamento dos serviços de


Ater. Nessa proposta, a relação entre os produtores e os consumidores se torna mais
próxima, pois há uma modificação na atitude e uma maior atenção no aspecto relativo
à qualidade e na forma de produção. Nesse contexto, disserte a respeito das opções
para a provisão e financiamento de serviços pluralísticos de extensão, ressaltando a
fonte de financiamento do serviço e o provedor.

32
UNIDADE 1 TÓPICO 3 -
O VALOR DA COMUNICAÇÃO NA EXTENSÃO
RURAL

1 INTRODUÇÃO

No tópico anterior, estudamos o histórico da comunicação rural e como esta se


desenvolveu no país, identificamos três fases da comunicação rural que se entrelaçam
com a história da extensão rural no Brasil, as quais são humanismo assistencialista,
difusionismo produtivista e humanismo crítico.

Compreender o histórico da comunicação e como ela se desenvolveu no país


é fator fundamental para entendermos o valor da comunicação na extensão rural.
Para o extensionista, a comunicação é ferramenta fundamental para realização do seu
trabalho, que é cooperar com ações em prol do desenvolvimento rural. Nesse processo de
desenvolvimento, a comunicação se faz presente como ferramenta colaboradora para a
estruturação das relações sociais entre agricultor e extensionista. Outro ponto relevante
no processo de comunicação está no seu uso pelo Estado para compreensão da realidade
do agricultor e na elaboração de política agrária que venha se adequar à realidade dos
agricultores. Para as empresas, a comunicação tem valor na tomada de decisões sobre os
critérios da compra de insumos e equipamentos para melhoria da produção.

Dessa forma, a escolha do modelo de comunicação é fator fundamental, tendo


em vista que a comunicação é a ferramenta que determina o modelo de desenvolvimento
agrícola que será adotado no país. Nesse processo, a comunicação tem seu valor, pois
oportuniza a proximidade entre técnico e produtores rurais, por meio de uma relação de
troca, na qual o técnico busca compreender as necessidades dos produtores.

Acadêmico, para melhor compreensão do valor da comunicação, no Tópico 3,


abordaremos de forma sucinta o foco dos estudos de comunicação rural que surgiram
no Brasil, a comunicação dentro do processo de difusão de tecnologia e a comunicação
nos diferentes enfoques da extensão rural.

2 SURGIMENTO DOS ESTUDOS DA COMUNICAÇÃO


RURAL NO BRASIL

Como vimos anteriormente, a comunicação rural no Brasil passou por um
processo de educação persuasiva à comunicativa, com uma mudança na visão
difusionista para uma visão mais dialógica do processo de comunicação.

33
A comunicação rural surge no Brasil no período pós-segunda guerra com uma
concepção baseada na difusão de tecnologias das zonas urbanas até o campo, dentro
da premissa de reconstrução da economia global.

No processo de estruturação da comunicação rural no Brasil, ela passa de uma


visão apenas de informação em revistas e ações de campo para uma comunicação
mercadológica no pós-guerra. Nesse período, há o caráter comercial do processo de
comunicação. Isso se deve ao fato da formação do chamado “pacote tecnológico”, que
levava ao produtor rural uma visão meramente mercadológica para atender aos anseios
por uma revolução na agricultura. Dessa forma, fatores locais e identidades comunitárias
começaram a ser perdidos dentro desse processo de comunicação.

Apesar do grande sucesso nas décadas de 1970 e 1980 na extensão rural brasileira,
a comunicação passou a ser trabalhada sem se compreender a realidade do produtor
rural, não havendo o processo de troca que estabelecesse uma visão compartilhada nas
decisões em busca do desenvolvimento econômico e social. Esse modo de comunicar
foi sendo alterado pelos estudos e críticas que surgiram após a década de 1980, com
um pensamento mais humanista e social do processo de comunicação, auxiliada na
implementação e no sucesso da extensão rural.

Assim, a construção teórica da comunicação rural pode ser separada em dois


momentos: o difusionismo e a concepção dialógica.

No entanto, apesar da evolução ocorrida nos meios e instrumentos utilizados pela


comunicação, sua concepção é praticamente a mesma desde sua origem até os dias
atuais. A mensagem transmitida continua sendo direcionada e restrita para pequenos
grupos, mesmo com revolução tecnológica que permite alcançar, simultaneamente,
maior público e até muitos milhões de pessoas de todo o mundo, de uma só vez. Isso
comprova a necessidade de uma mudança na estratégia de comunicação para que ela
seja mais participativa na construção do ambiente rural (ALVES; VALENTE JÚNIOR; 2006).

3 COMUNICAÇÃO E O PROBLEMA DE DIFUSÃO DE


TECNOLOGIA
O que sinaliza para avanços socioeconômicos na vida dos produtores rurais em
geral é o uso mais intensivo de tecnologia, muitas vezes necessária para os pequenos
produtores, devido ao seu baixo nível de capacitação, que possa garantir uma boa
produção e qualidade de vida. Dados dos censos agropecuários do Instituto Brasileiro de
Geografia e Estatística (IBGE), apontam que os maiores problemas de produção e renda
na agricultura são observados, principalmente, nos grupos dos médios e pequenos
produtores, tendo em vista sua baixa instrução e emprego de tecnologias. A aplicação
de tecnologias por esses dois segmentos produtivos é limitada por inúmeros fatores,
como acesso ao capital e à tecnologia (ALVES; SANTANA; CONTINI, 2016).

34
Mas como a comunicação rural pode auxiliar nesse processo? Quais os principais
problemas?

Por muito tempo, a comunicação rural passou a ser apenas um modelo de


difusão de tecnologias, o que pode ter dificultado as ações de extensão no campo.

Rogers (1995) afirma que esse modelo de comunicação se caracteriza pela busca por
difusão de informações sem conhecer os processos que foram estruturantes de determinada
sociedade e compreende quatro aspectos do processo de integração da inovação:

• Os atributos da inovação (positivos e/ou negativos) percebidos pelos potenciais usuários.


• As características do usuário que podem influenciar esse processo.
• Os estágios do processo de decisão­adoção.
• O estudo da taxa de adoção de uma inovação ao longo do tempo.

Esse modelo de comunicação, muito empregado na segunda fase da extensão rural no


Brasil, trouxe alguns avanços, mas também deixou suas marcas de insucesso na construção do
desenvolvimento agrícola do país, deixando marcados os principais problemas sociais.

No entanto, Freire (1991) afirma que, apesar das críticas ao sistema de


comunicação difusionista, a sociedade industrial gerou riquezas por meio do processo
de implementação de novas tecnologias para altas produtividades. Para Freire (1991),
a alta produtividade é fruto do progresso técnico por meio de seus componentes de
inovação, per si, ou a primeira aplicação de alguns aspectos do conhecimento científico
com sucesso econômico e adoção do melhor das práticas tecnológicas disponíveis.

Dessa forma, os problemas da comunicação difusionista foram os ruídos de


comunicação entre os sujeitos do processo comunicacional, muito devido à visão dos
gestores da extensão rural como a formação dos extensionistas. Para obter sucesso
e atingir os objetivos de uma comunicação fluida e participativa para construção e
desenvolvimento de novas tecnologias para o campo, é preciso agregar o produtor rural
nas decisões de implementação de novas técnicas e tecnologias, por uma comunicação
participativa. Isso coloca o produtor rural no centro de decisões, tornando-o um “caçador”
de melhorias de práticas técnicas para manutenção das capacidades e avaliação de
informações que auxiliem no desenvolvimento rural.

4 COMUNICAÇÃO E OS DIFERENTES ENFOQUES DA


EXTENSÃO RURAL
Segundo Alves e Valente Júnior (2006), a comunicação pode apresentar enfoques
bem diferenciados, atraindo a atenção de políticos, espectadores e estudiosos. No entanto,
independente do seu enfoque, a comunicação tem uma importância fundamental dentro
do processo social, por representar uma necessidade básica da pessoa humana.

35
Com as novas questões econômicas, sociais e ambientais, a extensão e
a comunicação rural vêm sofrendo mudanças com enfoques fundamentados na
sustentabilidade e na condição social como premissas para o trabalho dos extensionistas.

Dessa forma, a extensão rural vem passando por transformações auxiliadas por
uma visão mais holística do processo e de uma comunicação mais humanista, a qual
permite compreender a necessidade vigente no âmbito da sustentabilidade. Isso leva
a uma reformulação do pensamento e das ações do extensionista e da aplicação das
políticas públicas. Percebamos que o enfoque puramente mercadológico foi deixado de
lado e agora prevalecem os enfoques social e ambiental.

Nessa mudança, a agroecologia ganha espaço como uma nova visão de se pensar
a extensão rural. Assim, a mudança do extensionista passa de um enfoque químico-
mecânico para uma visão de resolução de questões do enfoque socioambiental. Assim,
nasce o enfoque sustentável como uma resposta aos resultados destrutivos do modelo
desenvolvimentista e das tecnologias, implantado depois da Segunda Guerra Mundial.

Prezados acadêmicos, podemos concluir que a extensão rural tem importância


fundamental no processo de comunicação de novas tecnologias, geradas pela pesquisa,
e de conhecimentos diversos, essenciais ao desenvolvimento rural no sentido amplo,
com visão econômica, social e ambiental.

36
LEITURA
COMPLEMENTAR
O VALOR DA COMUNICAÇÃO NA EXTENSÃO RURAL

Antonio José de Oliveira

A Comunicação Social, na verdade, desperta, nos extensionistas, nos agricultores


e nas famílias rurais assistidas, a consciência de que o trabalho de Extensão Rural não é,
simplesmente, para quebrar a resistência do homem do campo, como que o obrigando
a adotar práticas agropecuárias e gerenciais.

Não há necessidade de estudos aprofundados, para chegar-se à conclusão de


que a Comunicação Social, no Serviço de Extensão Rural, além de um instrumento de
divulgação e promoção, é peça importante e fundamental, quando da transferência de
tecnologias agropecuárias e gerenciais, mediante a troca de saberes extensionista/
agricultor e na valorização dos clientes interno e externo.

O Serviço Brasileiro de Assistência Técnica e Extensão Rural usa os diversos


meios de Comunicação de Massa, sem falar da Comunicação Interpessoal (diálogo com
os agricultores), quando da troca de saberes (repasse de tecnologias agropecuárias
e gerenciais), com vistas ao aumento da produção, produtividade das lavouras e da
pecuária, da renda líquida, da geração de empregos, no meio rural, e, consequentemente,
à melhoria das condições de vida das famílias sertanejas.

O certo é que a Extensão Rural, por intermédio dos extensionistas, tem a


Comunicação Social, em suas diversas modalidades, como componente obrigatório na
busca do desenvolvimento rural sustentado. E não pode ser diferente, haja vista que,
ao prestar serviços de assistência técnica e extensão rural, contribui para mudanças no
comportamento de seu público-alvo. Segundo declaração de Nélson de Araújo Queiroz,
no folheto “O Rádio na Extensão Rural”, decisões só se tomam com base em informações.
É dele, ainda, o pensamento de que, por meio do rádio, do jornal, da televisão, do filme,
da mídia eletrônica – e acrescento – da Comunicação Interpessoal, o homem sai do seu
isolamento para uma vivência cosmopolita, que altera hábitos, costumes e a própria cultura.

Como a Extensão Rural exerce um papel fundamental, no meio campestre, pois


trabalha com a educação não formal dos agricultores, precisa ter responsabilidade de
formar um indivíduo/cidadão, sobretudo no mundo globalizado, com a visão de futuro,
com novas habilidades e acompanhando o que se passa, também, fora da sua porteira.
Em síntese: exercer, responsavelmente, o seu direito de cidadania. Isso, porém, somente
é possível com o uso dos meios massais de Comunicação, o Interpessoal e o Grupal.

37
Agora, afirmo, categoricamente, que a Extensão Rural não deve, nem pode, por
meio da Comunicação Social, seja lá de que modalidade for, manipular o seu público-
alvo, como o fez nos tempos da Ditadura (regime discricionário), quando cumpria
ordens, advindas dos escalões superiores, que empurravam os abomináveis “pacotes
agrícolas”, elaborados em gabinetes refrigerados de Brasília-DF, num total desrespeito
ao agricultor. Esqueciam-se de que, afinal, ele sempre será o sujeito (o correto) do seu
desenvolvimento e não um mero objeto a ser manipulado por uma elite cultural e de
elevado poder político e econômico, que, na época, se julgava com o direito de conduzir
os destinos dos que não faziam (e ainda não fazem) parte da classe dominante no Brasil.

Ante o exposto, mister se faz que a Extensão Rural, além de conhecer e aplicar os
princípios sociológicos, psicológicos, antropológicos e éticos, aplique, também, os princípios
da Comunicação Social, pois o extensionista é, antes de tudo, um Educador informal e não
um mero repassador (despejador) de inovações tecnológicas agropecuárias e gerenciais.
E o extensionista deve estar consciente de que essa Comunicação é uma forte aliada, no
trabalho diário, com as famílias rurais, na busca incessante por melhores condições de vida
para a sofrida gente sertaneja, sobretudo os agricultores de base familiar, ou seja, que têm,
na Agropecuária, a sua principal ocupação, fonte de renda e para a velha lei da sobrevivência.

Encerrando meus comentários sobre a Comunicação Social, aplicada na Extensão


Rural, vale citar, dentre os estudiosos da Ciência da Comunicação Social, Juan Diaz
Bordenave, que assim se manifestou em uma de suas obras: “Comunicação Rural deve ser
entendida e praticada não para ocultar a realidade ou desviar os produtores de seus reais
problemas, nem para controlar seu conhecimento sobre sua verdadeira situação e suas
causas, mas para aproximar-se da verdade total, dos problemas concretos e condicionantes
do desenvolvimento rural” E disse ainda: “Somente quando concebida dessa forma, a
Comunicação contribuirá para dinamizar as potencialidades latentes e a criatividade, de
análise crítica, de verdadeira participação e de expressão autêntica dos produtores”.

Por último, faço questão de citar, novamente, Bordenave, por afirmar: “A


Comunicação conscientiza a população, para participar, ativamente, nos processos de
mudança social e de construção de uma sociedade democrática e participativa”.

FONTE: OLIVEIRA, A. J. de. O valor da comunicação na extensão rural. Asbraer, [s. l.], [2017]. Disponível em:
https://bit.ly/3IvTGK1. Acesso em: 4 jan. 2022.

38
RESUMO DO TÓPICO 3
Neste tópico, você adquiriu certos aprendizados, como:

• No processo de estruturação da comunicação rural no Brasil, ela passa de uma


visão apenas de informação em revistas e ações de campo para uma comunicação
mercadológica no pós-guerra.

• Para obter sucesso e atingir os objetivos de uma comunicação fluida e participativa


para construção e desenvolvimento de novas tecnologias para o campo, é preciso
agregar o produtor rural nas decisões de implementação de novas técnicas e
tecnologias, por meio de uma comunicação participativa. Isso coloca o produtor rural
no centro de decisões, tornando-o um “caçador” de melhorias de práticas técnicas
para manutenção das capacidades e avaliação de informações que auxiliem no
desenvolvimento rural.

• A comunicação, no âmbito da extensão rural no Brasil, pode ser analisada a partir da


separação em dois momentos: o difusionismo e a concepção dialógica. Dessa forma,
o estudo da comunicação rural no Brasil passa obrigatoriamente pela compreensão
da discussão que se desenvolveu em torno do assunto ao longo dos anos.

39
AUTOATIVIDADE
1 A comunicação Rural no Brasil iniciou por volta de 1950, simultaneamente, com a origem
da prática da extensão rural. Teve como objetivo disseminar pacotes que pudessem
levar à modernização, da base tecnológica nas zonas urbanas, até a zona rural,
fundamentando-se no tripé: ensino, pesquisa e extensão. Considerando a difusão de
tecnologias no campo por meio da comunicação rural, assinale a alternativa CORRETA:

a) ( ) Originou-se no início da Segunda Guerra Mundial (1939), a Alemanha começou


disseminar a perspectiva de crescimento agrícola à população. O mundo se viu
diante da necessidade de transformar o modo de produção.
b) ( ) Surgiu com a chamada Revolução Verde, que teve como objetivo oferecer aos
países e à população modelos de produção agrícola, que ao mesmo tempo
permitiam o combate à fome e a preservação do ambiente .
c) ( ) Surgiu diante da necessidade de reconstrução de novas estruturas, pois era
necessário oferecer condições mínimas de sobrevivência à população. A
agricultura volta a ocupar um lugar de destaque nos cenários econômico e social.
d) ( ) Originou-se da necessidade de integrar a produção vegetal à animal, disseminando
informações no campo, e principalmente em áreas urbanas.

2 As particularidades da atividade agrícola trazem dificuldades na propagação da informação


para produtores rurais e sua utilização nas unidades de produção, por isso existem serviços
de extensão, geralmente sob a responsabilidade do governo. Em seu trabalho sobre
transferência da informação para comunidades rurais, Lawani (1981) destaca a existência
da polarização mundial entre abundância e pobreza da informação. Sobre a disparidade de
disponibilidade e acesso à informação, analise as sentenças a seguir:

FONTE: LAWANI, S.M. Agricultural documentation and the transfer of scientific information to rural communities. Ed-
ucation and training for Library and Information Services in a predominantly non-literate society with particular ref-
erence to Agricultural and Rural development. FID/ET Technical Meeting, Ibadan, 1981. Anais [...]. Ibadan: FID, 1981.

I- Ocorre em nível mundial, nacional e regional, em países menos desenvolvidos, em


que a informação, nas zonas rurais, é escassa e nas áreas urbanas é altamente
difundida.
II- Ocorre tanto em nível mundial, como em nível nacional, em países menos
desenvolvidos, por exemplo, nos quais a informação em áreas urbanas é escassa e
nas áreas rurais é praticamente inexistente.
III- Ocorre principalmente em nível nacional, em países desenvolvidos, e em
desenvolvimento, em que há uma grande disseminação das informações, tanto no
meio urbano, quanto no meio rural.

40
Assinale a alternativa CORRETA:

a) ( ) As sentenças I e II estão corretas.


b) ( ) Somente a sentença II está correta.
c) ( ) As sentenças I e III estão corretas.
d) ( ) Somente a sentença III está correta.

3 A Política Nacional de Assistência Técnica e Extensão Rural para a Agricultura Familiar


e Reforma Agrária é uma política pública voltada para a melhoria das condições de
vida da população rural. Com base nos objetivos da PNATER, classifique V para as
sentenças verdadeiras e F para as falsas:

( ) Adoção de metodologia participativa, com enfoque multidisciplinar, interdisciplinar


e intercultural, buscando a construção da cidadania e a democratização da gestão
da política pública.
( ) Assessorar as diversas fases das atividades econômicas, a gestão de negócios,
sua organização, a produção, inserção no mercado e abastecimento, observando
as peculiaridades das diferentes cadeias produtivas.
( ) Desenvolvimento rural sustentável, compatível com a utilização adequada dos
recursos naturais e com a preservação do meio ambiente.

Assinale a alternativa que apresenta a sequência CORRETA:

a) ( ) V - F - F.
b) ( ) V - F - V.
c) ( ) F - V - F.
d) ( ) F - F - V.

4 As práticas extensionistas foram institucionalizadas no Brasil há cerca de 50 anos. O


termo extensão rural não é autoexplicativo, o seu conceito foi evoluindo ao longo do
tempo conjuntamente com as mudanças de estrutura econômico-social e cultural de
cada país. Contemporaneamente o termo extensão rural pode ser entendido de três
maneiras diferentes. Disserte sobre as formas de extensão.

5 As metodologias em extensão rural sofreram mudanças com o passar do tempo.


Nesse contexto, é possível notar diferenças entre as formas de classificação das
metodologias em Ater. Nesse contexto, disserte a respeito do modelo de extensão
difusionista e caracterize-o.

41
REFERÊNCIAS
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IBGE - INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA (Brasil). Censo


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WAGNER, S. A. et al. Métodos de comunicação e participação nas atividades de


extensão rural. Porto Alegre: UFRGS, 2011.

44
UNIDADE 2 —

PRINCÍPIOS DA
COMUNICAÇÃO E DIFUSÃO
DE INOVAÇÕES
OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM
A partir do estudo desta unidade, você deverá ser capaz de:

• desenvolver visão crítica do desempenho e do potencial da extensão rural;

• compreender o papel da comunicação no âmbito da extensão rural;

• entender os processos de comunicação rural;

• conhecer os métodos de extensão e comunicação rural.

PLANO DE ESTUDOS
Esta unidade está dividida em três tópicos. No decorrer dela, você encontrará
autoatividades com o objetivo de reforçar o conteúdo apresentado.

TÓPICO 1 - ABORDAGENS TEÓRICAS SOBRE O PROCESSO DE COMUNICAÇÃO


TÓPICO 2 - A COMUNICAÇÃO E A REALIDADE RURAL
TÓPICO 3 - COMUNICAÇÃO E DIFUSÃO DE INOVAÇÕES

CHAMADA
Preparado para ampliar seus conhecimentos? Respire e vamos em frente! Procure
um ambiente que facilite a concentração, assim absorverá melhor as informações.

45
CONFIRA
A TRILHA DA
UNIDADE 2!

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46
UNIDADE 2 TÓPICO 1 —
ABORDAGENS TEÓRICAS SOBRE O
PROCESSO DE COMUNICAÇÃO

1 INTRODUÇÃO
Sabemos que o processo de comunicação é um elemento necessário para
qualquer relação de transmissão de informação e de busca de conhecimento.
Conceitualmente, a comunicação sempre passou por transformações significativas.
Estabelecida como uma disciplina nos Estados Unidos, durante o período entre guerras
e na Segunda Guerra Mundial, foi originalmente concebida como mais uma ferramenta
de propaganda de guerra, favorecendo a natureza persuasiva, unilinear e arbitrária da
ação de informar, deixando pouco espaço para respostas ou feedback do destinatário.

A comunicação rural no Brasil surgiu na década de 1950, coincidindo com


as origens da extensão rural. Na década de 1990, com o advento das tecnologias de
informação e comunicação na zona rural, pautadas nas concepções teóricas do modelo
de comunicação de Paulo Freire e Juan Bordenave, a comunicação rural adotou uma
perspectiva educativa, dialógica e transformadora (SILVA; MÜLLER, 2015). O extensionista
passou a ter como papel proporcionar mudanças a partir de ferramentas de construção
participativas. Assim, a comunicação rural tornou-se mais participativa, com produtores
rurais envolvidos na produção e divulgação de informações do setor agropecuário.

Neste Tópico 1, vamos aprofundar nossos conhecimentos sobre a comunicação,


entender suas funções e formas e como ela promove o desenvolvimento. Vamos lá?!

2 FUNÇÕES DA COMUNICAÇÃO
A comunicação desempenha muitas funções, como informar, conscientizar,
educar, persuadir, motivar, entreter etc., tendo papel importante na disseminação de
informações relacionadas a qualquer forma de atividade humana.

De modo geral, a comunicação é o processo de troca de mensagens, ideias,


fatos, opiniões ou sentimentos. Ela fornece as informações que os indivíduos e os
grupos precisam para tomar decisões, transmitindo os dados necessários para identificar
e avaliar as escolhas. Assim, a comunicação ajuda a facilitar a tomada de decisões.
A relação entre comunicação e tomada de decisão é inseparável, pois a tomada de
decisão deve contar com a informação. Assim, a decisão é o mecanismo de disparo da
comunicação (LENGEL; DAFT, 1988).

47
A má comunicação é provavelmente a fonte de conflito interpessoal mais
frequentemente citada. A comunicação perfeita ocorreria quando um pensamento
ou ideia fosse transmitido de modo que o receptor percebesse exatamente a mesma
imagem mental percebida pelo emissor. A comunicação perfeita nunca pode ser
alcançada devido a várias razões que discutiremos mais adiante. Neste tópico, vamos
entender as funções da comunicação.

Para colocar em funcionamento todas as funções da comunicação de forma


eficaz, os indivíduos precisam ter consciência sobre os métodos e abordagens
necessários para tornar essas funções significativas e vantajosas. As funções da
comunicação estão explicitadas no Quadro 1.

QUADRO 1 - FUNÇÕES DA COMUNICAÇÃO

FUNÇÃO OBJETIVO
Informar outras pessoas sobre o que sabemos – fatos,
informações e conhecimento. As informações são
Função informativa compartilhadas para orientar as pessoas sobre os
processos e procedimentos necessários para operar
com eficiência e eficácia.
Instruir as pessoas sobre o que fazer, quando e onde
Função instrutiva
fazer, e por que e como fazer.
Influenciar a opinião de outras pessoas para acreditarem
e aceitarem sua posição ou reivindicação sobre uma
Função persuasiva
questão ou problema; pensando em estratégias sobre
como persuadi-las a mudar perspectivas ou opiniões.
Atrair e direcionar as metas propostas no projeto. No
processo, usamos uma linguagem positiva para fazê-
Função de motivação
los perceber que suas ações os levam a algo benéfico
para o seu ser.
Manter o controle sobre a atitude e o comportamento
Regulamentação/ Controle de outras pessoas, bem como para orientar ou
repreender quando algo foge do que está previsto.
Pautada no acolhimento, ajuda a iniciar, manter, regular
Interação social ou encerrar diálogos na perspectiva positiva. A linguagem
não verbal é mais fortemente utilizada nessa função.
FONTE: Adaptado de Fernandez e Suarez (2016).

No caso da comunicação rural, é consenso que são necessárias habilidades e


atitudes específicas para estabelecer um diálogo coerente, em que o emissor e o receptor
devem concordar em vocabulário, relações de relacionamento e valores, buscando a
confiança mútua como a estrutura necessária para estabelecer a comunicação em

48
ambas direções (BERNARDES; BONFIM, 2016). Como já abordado, entre os anos 1970
e 1980, as críticas promulgadas por Freire possibilitaram o questionamento ao modelo
difusionista que surgia pautando a inclusão da comunicação rural como disciplina
nos currículos de faculdades de comunicação no Brasil. A compreensão freireana de
educação é a fundamental fonte inspiradora de experiências de comunicação popular e
alternativa que se ampliaram no meio urbano ligadas a movimentos sociais, sindicais e
a comunidades eclesiais (HILLIG; FROEHLICH 2008).

IMPORTANTE
A função persuasiva foi a mais utilizada na extensão rural no modelo
difusionista. Os extensionistas costumam persuadir os agricultores a
adotarem novas práticas, principalmente, pacotes tecnológicos.

Nesse sentido, a comunicação rural surge como transformação paradigmática da


transferência em si para o compartilhamento e troca de saberes. Ela está voltada a focar
na relação/ interação/ vínculo/ associação comunicacional (DUARTE; SOARES, 2011). A
participação organizada da população rural - antes fundamentada em ferramenta de diálogo
para as políticas agrícolas -, fica voltada para o desenvolvimento crítico, de alcance de poder,
e cresce a sua autonomia e soberania. Desse modo, a comunicação rural contrai funções
novas, com demonstração máxima do diálogo e participação da perspectiva transformadora,
utilizando todos os meios da cultura popular para se expressar (BORDENAVE, 1988).

Assim, o objetivo essencial da comunicação extensionista é conseguir alcançar


e dialogar com a diversidade das populações rurais no campo. É preciso a valorização e
os méritos de suas culturas e técnicas tradicionais, criar formas para que elas possam ser
resguardadas, e também apresentar-lhes as inovações e os aperfeiçoamentos para que
possam potencializar seus conhecimentos produtivos. Portanto, o desafio é complexo
para os extensionistas, para conduzir as ações voltadas no investimento de instrumentos
e em meios de educação e de conscientização das populações rurais, sobre os processos
necessários para a condução de suas atividades do campo (MAGNONI; MIRANDA, 2017).

De acordo com Acunzo (2007), a comunicação cumpre três funções básicas:

1. Compartilhar conhecimento, visão e novas perspectivas de desenvolvimento.


2. Fornecer ferramentas de negociação e foco de políticas entre as diferentes partes.
3. Facilitar processos de comunicação, plataformas, meios e serviços sobre temas
prioritários de desenvolvimento.

49
A comunicação, na relação técnico/agricultor, pode transformar-se em uma im-
portante ferramenta, uma vez que possibilita o contato direto com as partes envolvidas
e um entendimento melhor das atividades a serem executadas no campo. Isso porque,
a comunicação, por meio de seus métodos de trabalho, impacta no processo de mobi-
lização social dos atores locais do meio rural, possibilitando também o surgimento e o
fortalecimento de conexões entre os participantes e os agentes dos projetos de mobili-
zação e de desenvolvimento rural (LIMA et al., 2014).

As funções de comunicação no desenvolvimento rural incluem:

• Facilitar a troca de opiniões e informações entre agricultores e organizações.


• Contribuir para a implementação e coordenação dos projetos de desenvolvimento.
• Garantir que as inovações sejam adotadas e disseminadas nas áreas rurais.
• Sensibilizar as zonas rurais para promover a participação.
• Apoiar as atividades de educação e conscientização.
• Assegurar a cooperação e a coordenação entre os setores rural e agrícola das
organizações.

Essas funções desempenham papéis importantes no desenvolvimento rural:


aproximam os produtores rurais de novas ferramentas tecnológicas para o cultivo,
possibilitam o conhecimento de formas de obtenção de crédito para investimentos em
insumos e matéria-prima e, ainda, ajudam na obtenção de informações sobre problemas
que podem atingir o campo.

3 FORMAS DA COMUNICAÇÃO
Desde a época em que as pessoas ainda viviam em cavernas, a comunicação
tem desempenhado um papel cada vez mais importante para a civilização humana na
construção e desenvolvimento da sociedade. Afinal, permite a troca de ideias entre as
pessoas, o registro de notícias e dados que nos permitem articular nossa trajetória e nos
construir como sujeitos. No entanto, ferramentas e técnicas de comunicação têm sido
reservadas a minorias poderosas e hegemônicas em várias formações sociais ao longo
da história. A conquista desse direito, a compreensão e uso da arte da comunicação
são fruto das lutas da sociedade civil organizada em busca de igualdade, democracia,
liberdade e desenvolvimento econômico e social (SPENILLO, 2006).

Os avanços da tecnologia têm impulsionado mudanças nas formas de comunicação,


principalmente com o advento das tecnologias de informação e comunicação capazes de
atender às necessidades de informação do meio rural (SILVA; MÜLLER, 2015).

O campo de fluxo de mensagens deve ser entendido como o canal de


comunicação responsável pelo deslocamento espacial e/ou temporal da mensagem; o
que veicula a mensagem e é feito pelo emissor; o sistema de signos, entendido como
um código, que pode ser verbal ou não verbal, primeiro usando fala e/ou texto e segundo

50
pode ser constituído pelos mais variados meios e técnicas. O sistema de comunicação
é realizado pelo elemento ao qual a mensagem se refere, que pode corresponder
aos objetos físicos ou aspectos abstratos que compõem a situação ou contexto de
comunicação, que é chamado de elemento de referência. Receber a mensagem não
significa necessariamente entendê-la. Podem ocorrer problemas de comunicação de
qualquer um dos itens acima, por exemplo, as mensagens podem ser recebidas, mas
não compreendidas quando o remetente e o destinatário não têm uma base comum; ou
quando a comunicação é limitada porque há poucos sinais em comum (TELLES, 2010).

Mesquita (1997) destacou que os canais de comunicação não verbal: podem ser
classificados em dois grupos: o primeiro grupo refere-se ao corpo e aos movimentos
humanos e o segundo grupo refere-se ao produto das ações humanas. O primeiro
apresenta diferentes unidades expressivas como rosto, olhar, olfato, linguagem, gestos,
ações e posturas. O segundo também apresenta algumas unidades de expressão
como moda, objetos do cotidiano e arte, até mesmo a organização do espaço: material
(individual e coletivo) e ambiental (doméstico, urbano) e rural.

Os pontos principais da comunicação não verbal são:

• Fatores como a motivação, a atitude, a experiência e o conhecimento podem


influenciar o desenvolvimento dessas habilidades de codificação e decodificação
de sinais não verbais.
• O conhecimento das teorias e pesquisas dessa área (comunicação não verbal) pode
permitir ao indivíduo uma melhor compreensão das comunicações interpessoais,
bem como melhor autoconhecimento.
• A experiência e o treinamento das habilidades de emitir e receber sinais não verbais
podem tornar o indivíduo ainda mais habilidoso, mais sensível para codificar e/ou
decodificar sinais não verbais.

INTERESSANTE
Vários pesquisadores revelaram que a comunicação não verbal constitui
cerca de 55% de nossas comunicações diárias. São sinais sutis captados
como parte de nossa função biológica. O principal tipo de comunicação é feito
com o tom de voz. Esse tipo de comunicação representa quase 38% de toda
a comunicação que fazemos todos os dias. Juntamente com o tom de voz,
o estilo de falar, a qualidade da voz, o estresse, as emoções ou a entonação
servem ao propósito da comunicação. Esses aspectos não são verbais.

51
Quanto à comunicação verbal, ela ocorre casos concretos, com os quais estabelece
seus vínculos. Também estabelece associações com outras linguagens presentes nessas
situações: gestos, entonação etc. (BACCEGA, 1996). Em termos gerais, comunicação
verbal significa comunicação apenas na forma de palavras faladas. Mas, no contexto dos
tipos de comunicação, a comunicação verbal pode ser na forma falada ou escrita.

Assim, a forma verbal pode ser oral ou escrita conforme explicado a seguir.

• Comunicação escrita: esse tipo de comunicação envolve qualquer tipo de troca de


informações na forma escrita. Por exemplo, e-mails, textos, cartas, relatórios, SMS,
publicações em plataformas de redes sociais, documentos, manuais, cartazes etc.
• Comunicação oral: utiliza a fala, direta ou indiretamente, como canal de
comunicação. Essa comunicação verbal pode ocorrer em um canal que transmite
informações em apenas uma forma, ou seja, o som. Pode ocorrer pessoalmente ou
por telefone, por meio de notas de voz ou salas de bate-papo etc.

Cabe destacar, também, que a comunicação pode ser realizada de duas formas
e que há momentos em que uma deve ser usada em detrimento da outra: por exemplo,
ao fazer um discurso, usamos o tipo formal; ao fazer planos de um experimento em
campo, usamos o tipo informal.

A comunicação formal é um fluxo de informações enviado e recebido de canais


formalmente estabelecidos. Geralmente está ligada ao status formal e a ocupações
hierárquicas de uma pessoa. São características da comunicação formal:

• Fluxo ordenado de informações.


• Ajuda na fixação de responsabilidades para uma melhor eficiência.
• Pessoas com hierarquia maior têm controle total da natureza e direção da comunicação;
• fluxo de instrução específico, claro e definido.

A comunicação formal pode ser ascendente, descendente, horizontal e


diagonal. A comunicação descendente ocorre de superiores para subordinados,
hierarquicamente falando. Esse  tipo de comunicação  pode ser na forma de ordens,
instruções, políticas, programas etc. A comunicação ascendente ocorre quando
as mensagens são transmitidas de baixo para cima na hierarquia. A comunicação
horizontal, por sua vez, ocorre entre duas ou mais pessoas que trabalham nos mesmos
níveis. Por fim, a comunicação diagonal se trata de uma troca de informações entre as
pessoas em um nível diferente de instrução.

A comunicação informal é baseada nas relações pessoais. É um tipo de


comunicação não estruturada, não oficial e não planejada. Não segue os canais formais
estabelecidos pela gestão. Muitas vezes, flui entre amigos e íntimos e está relacionada a
assuntos pessoais e não "posicionais". A comunicação informal é resultado da interação
social e satisfaz o desejo natural das pessoas de se comunicarem umas com as outras.
São características da comunicação informal:

52
• É um canal de comunicação flexível e confiável.
• Cria cooperação mútua.
• Pode funcionar como uma ajuda valiosa na comunicação de valores e moral.
• É útil na construção do trabalho em equipe na organização.
• Fornece feedback eficaz.
• Complementa a comunicação formal.

4 COMUNICAÇÃO NO PROCESSO DE DESENVOLVIMENTO


Inicialmente, precisamos entender o que seria o desenvolvimento. Ele é
entendido como um processo de mudanças qualitativas e quantitativas vivenciadas
por um grupo humano, levando ao seu bem-estar pessoal e social em diferentes
ordens: política, econômica, cultural etc. O desenvolvimento está focado não apenas
no humano, mas também no natural e precisa ser definido de forma autônoma pelos
próprios sujeitos da mudança (endógeno), sem comprometer o bem-estar das gerações
futuras (sustentável) (BARANQUERO, 2007).

O primeiro momento de claro debate sobre o desenvolvimento, ocorreu após a


Segunda Guerra Mundial. A experiência do planejamento econômico durante a Segunda
Guerra Mundial preparou toda uma geração de economistas, administradores e políticos
para aplicar os mecanismos de regulação econômica necessários para sustentar a
economia (CARNIELLO; SANTOS, 2013).

A comunicação para o desenvolvimento baseia-se na premissa de que o


desenvolvimento rural bem-sucedido exige a participação consciente e ativa dos agricultores,
pois em última análise, o desenvolvimento rural não pode ocorrer sem mudanças de atitudes e
comportamentos entre as pessoas envolvidas. Para tanto, comunicação para o desenvolvimento
é o uso planejado e sistemático da comunicação, por meio de canais interpessoais, audiovisuais
e meios de comunicação de massa: coleta e troca de informações entre todos os envolvidos
no planejamento de uma iniciativa de desenvolvimento. A comunicação fortalece o
desenvolvimento ao aprimorar as habilidades pedagógicas e de comunicação dos agentes de
desenvolvimento (em todos os níveis) para que possam dialogar mais efetivamente com seu
público e ao possibilitar aplicar a tecnologia da comunicação aos programas de treinamento e
extensão, particularmente no nível de base, a fim de melhorar sua qualidade e impacto.

Assim, a comunicação pode ajudar a garantir que um plano de ação de um


projeto de desenvolvimento leve em conta as atitudes, necessidades percebidas e
capacidades das pessoas.  Muitos projetos falharam no passado porque foram feitas
suposições sobre a vontade e a capacidade da população rural de absorver novas
tecnologias e infraestruturas de desenvolvimento em seu modo de vida e trabalho.

Nesse sentido, devemos compreender que a comunicação tem um papel


central para facilitar o compartilhamento de informações, a geração de conhecimento
e o diálogo para tomada de decisão participativa. Uma das razões pelas quais a

53
população rural tende a ter má representação política e ser menos organizada do que
as comunidades urbanas, é que ela sofre de inúmeros “acessos,” barreiras, incluindo:
analfabetismo, infraestrutura e serviços de telecomunicações inexistentes, baixa renda
para comprar e usar os meios de comunicação, sobretudo as mulheres, com papéis
socialmente construídos que inibem a participação na tomada de decisões.

Desse modo, é preciso destacar que as comunidades rurais e os agricultores


familiares precisam de um meio para exercer seus direitos de expressão e opinião,
culturais e linguísticos, de buscar e divulgar informações através de qualquer meio. A
comunicação para desenvolvimento pode possibilitar aos agricultores familiares uma
maneira de expressão coletiva de sua identidade, ao mesmo tempo em que reivindicam
e desfrutam de seus direitos.

Essa opção de desenvolvimento implica assumir a natureza política da extensão


rural, que deve apoiar um projeto plenamente comprometido com a melhoria de vida e
formação dos cidadãos. Devem também potencializar a convivência com a sociedade,
atendendo às suas necessidades, na agricultura, principalmente na escala familiar. Do ponto
de vista da agricultura familiar, deve-se considerar sua natureza multifuncional, econômica
e lógica, bem como a cultura camponesa. Valorizar e reconhecer que existe uma cultura
local, que é passada de geração em geração de agricultores tradicionais e deve ser tomada
como referência no processo educativo considerando saberes locais, diálogo de saberes,
reconhecendo o patrimônio imaterial formado localmente (SOUZA; GOMES, 2008).

O desenvolvimento rural é um processo de mudança complexo e harmonioso,


que requer a intervenção próxima de muitos fatores. Um desses elementos é a
comunicação, entendida como parte do processo educativo e como programa e fluxo
sistemático de informações entre os diversos interlocutores ou segmentos da sociedade
envolvidos no processo de desenvolvimento, de forma a tornar sua participação mais
consciente, completa e efetiva (PEREIRA; OLIVEIRA, 2018).

Bordenave (1988, p. 32), comenta que a comunicação rural é hoje considerada


um importante fator de desenvolvimento, complementando que:

É concebido como um fluxo bidirecional, programado e sistemático


de mensagens informativas, motivacionais ou cognitivas, com o
objetivo de facilitar sua reciprocidade e tornar sua participação no
desenvolvimento rural mais consciente, organizada e efetiva.

Segundo Pereira e Oliveira (2018), a comunicação é de fundamental importância para


promover o desenvolvimento das comunidades, desempenhando diversas funções, como:

• Manter as pessoas informadas sobre seus direitos e obrigações.


• Proteger e fortalecer os valores básicos da democracia social e do desenvolvimento
sustentável, como cooperação e equilíbrio ecológico.

54
• Educar e capacitar a população aumentando seus conhecimentos, enriquecendo
seu vocabulário, reforçando seus valores positivos, ensinando tecnologias e
métodos de socialização.
• Promover a identificação coletiva dos problemas comunitários e sua articulação.
• Catalisar a reflexão comunitária sobre a realidade e suas questões, estado e mercado.
• Fortalecer e enriquecer as culturas locais, regionais e nacionais, respeitando a
diversidade cultural.

A ausência de políticas públicas voltadas para a inclusão digital para o meio rural
no Brasil é uma lacuna principal para o avanço da comunicação rural, devido ao não
reconhecimento da importância do crescimento populacional rural inclusivo. A entrada
digital é estratégica para o desenvolvimento econômico e para a permanência da nova
geração neste espaço. É necessária uma especial atenção por parte dos produtores
de informação, sejam eles jornalistas ou extensionistas, com objetivos direcionados a
diversos nichos da cadeia agropecuária. Portanto, a comunicação rural deve estar atenta
às necessidades e competências locais, pois deseja atuar como mediadora interna na
construção de um espaço de discussão e externamente na interação da comunidade
com outros órgãos da sociedade (SPENILLO, 2006).

Em contexto nacional e internacional cada vez mais complexos, é importante a


formação de equipes multidisciplinares para desenhar e implementar políticas públicas,
programas e ações permanentes e estratégicos no meio rural. Por se tratar de um
setor social e produtivo importante para o país, é importante ter uma comunicação
diferenciada e de qualidade para representar a diversidade de setores e interesses
sociais por meio de diversos meios (MAGNONI; MIRANDA, 2017). Bieger e Bieger (2016)
enfatizam que a comunicação deve atuar como promotora do desenvolvimento local,
ajudando a promover a inclusão e aumentar a produtividade da propriedade, bem como
evitar a migração dos jovens, de forma democrática e acessível.

Nesse sentido, a relevância da comunicação ajuda a compreender novos modelos


de desenvolvimento e, a partir do diálogo, empodera os atores para a participação
em determinado grupo social. A consideração da cultura popular como estratégia de
comunicação com as comunidades rurais está automaticamente associada à seleção
de metodologias e práticas condizentes com os princípios e direcionamentos de uma
nova proposta de apoio técnico e de extensão rural (SOUZA; GOMES, 2008).

Nobrega et al. (2008) pontua que o uso de novas ferramentas de comunicação


por si só não é sinônimo de transformação social, principalmente para os agricultores
que vivem na linha da pobreza, com todos os constrangimentos que isso acarreta.
É necessário adotar um conceito de comunicação que ultrapasse os limites dos
métodos tradicionais de comunicação. Incluindo a comunicação interpessoal, os
meios comunitários e as modernas tecnologias da informação, a comunicação para
o desenvolvimento apresenta-se como um "processo" ou "ferramenta" que promove
a participação e a mudança social, útil na gestão de projetos orientados para o

55
desenvolvimento. Assim, por comunicação para o desenvolvimento, entendemos um
processo baseado no diálogo, na troca de conhecimentos e habilidades e no debate
para a mudança social (NOBREGA et al., 2008).

IMPORTANTE
O papel da comunicação no desenvolvimento é ajudar as pessoas em todos
os níveis a se comunicarem e capacitá-las a reconhecer questões importantes
e encontrar bases comuns para ações transformadoras - sociais, econômicas,
ambientais e culturais.

56
RESUMO DO TÓPICO 1
Neste tópico, você adquiriu certos aprendizados, como:

• A comunicação rural nasce como mudança de paradigma, de transferência única


de informações para o compartilhamento e troca de saberes. Foca na relação/
interação/ vínculo/ associação comunicacional, na geração de conhecimento e no
diálogo multissetorial para tomada de decisão participativa.

• As funções comunicativas podem ocorrer de diversas formas, que incluem informar,


instruir, persuadir, motivar, controlar e integrar. Assumindo determinadas funções,
ela pode impactar, promover o fortalecimento das populações rurais, o processo de
mobilização e o desenvolvimento rural.

• O canal de comunicação pode ser não verbal ou verbal. O não verbal é a soma
total do fisicamente observável, como gestos com as mãos, linguagem corporal,
expressões faciais, tom de voz, postura, toque, olhar e outros. Já o verbal só se dá
em situações concretas, com as quais estabelece seus vínculos, portanto, inclui
tanto a comunicação falada quanto a escrita. A forma de comunicação também
pode ser formal, que segue canais preestabelecidos, e informal, resultado da
interação social, não apresentando estruturas planejadas.

• A comunicação possui uma importância fundamental para a promoção do


desenvolvimento das comunidades, podendo ser uma ferramenta para facilitar o
compartilhamento de informações, a geração de conhecimento e o diálogo para
tomada de decisão participativa. Ela promove um diálogo com as populações rurais
na perspectiva da participação e da transformação do contexto local.

57
AUTOATIVIDADE
1 A comunicação é resultado do compartilhamento de informações. Trata-se de
uma atividade central da associação humana em geral e do progresso, bem como
do desenvolvimento em particular. Desempenha muitas funções, como informar e
gerar conscientização, educar, persuadir, motivar, entreter etc. Sobre a comunicação,
assinale a alternativa CORRETA:

a) ( ) A função principal da comunicação é persuadir. Isso pode influenciar em direção


a uma nova ideia, técnica e comportamento, ou seja, possui como objetivo
comunicativo influenciar as atitudes e/ou comportamento do público-alvo.
b) ( ) Através da comunicação unidirecional, as partes podem trocar suas opiniões,
atitudes, sentimentos, novidades, mensagens, informações, dados etc. A
comunicação pode ser definida de várias maneiras.
c) ( ) As funções da comunicação variam conforme se deve determinar a função da
comunicação. Em certas circunstâncias, a situação ou posição pode ter uma, duas
ou três outras funções. Por exemplo, informar, controlar, persuadir e coordenar.
d) ( ) A comunicação, na medida em que coloca em foco diversas influências culturais
no centro de comunicação, tende a trazer para o entendimento comum novas
ideias que inevitavelmente surgem e dificultam o processo de comunicação.

2 Nossa existência está intimamente ligada à comunicação que usamos, e a


comunicação verbal desempenha muitas funções em nossas vidas diárias. Usamos a
comunicação verbal para definir a realidade, organizar, pensar e moldar atitudes. Com
base nas compreensões sobre a comunicação verbal, analise as sentenças a seguir:

I- O sucesso da comunicação verbal depende não apenas da capacidade de fala de um


indivíduo, mas também das habilidades de escuta. A eficácia com que um indivíduo
ouve o assunto decide a eficácia da comunicação. A comunicação verbal é aplicável
tanto em situações formais como informais.
II- A comunicação verbal usa um único canal de comunicação, a voz humana, que fala
uma única palavra de cada vez.
III- No caso da comunicação verbal, o feedback é imediato, pois há transmissão e
recepção simultâneas da mensagem pelo emissor e receptor, respectivamente.

Assinale a alternativa CORRETA:

a) ( ) As sentenças I e II estão corretas.


b) ( ) Somente a afirmativa II está correta.
c) ( ) As sentenças I e III estão corretas.
d) ( ) Somente a sentença III está correta.

58
3 A comunicação formal é definida como a comunicação em que a informação é
alcançada através de canais ou rotas adequadas enquanto a comunicação informal
é definida como a comunicação que não adota métodos formais de comunicação.
Sobre as diferenças entre essas duas formas de comunicação, classifique V para as
sentenças verdadeiras e F para as falsas:

( ) Como a conhecemos, a comunicação formal também é chamada de comunicação


oficial. A comunicação formal geralmente segue uma estrutura ou canais
específicos, como e-mails, enquanto a comunicação informal geralmente pode
fluir livremente em qualquer direção.
( ) A comunicação formal é rápida. Por outro lado, a comunicação informal geralmente
é demorada e pelo nível de informações compartilhadas é mais fácil de compreender.
( ) A comunicação formal é mais confiável, pois segue um padrão definido pela
organização. Em contraste, a comunicação informal decola por conta própria e
estabelece seu próprio curso.

Assinale a alternativa que apresenta a sequência CORRETA:

a) ( ) V – F – F.
b) ( ) V – F – V.
c) ( ) F – V – F.
d) ( ) F – F – V.

4 A função última da comunicação é facilitar o processo de tomada de decisão. Por meio da


comunicação, as informações são disponibilizadas para que indivíduos e grupos possam se
reunir, trocar dados e conhecimentos para identificar e avaliar alternativas. Nesse sentido,
disserte sobre a função persuasiva e a regulamentação/controle da comunicação.

5 As estratégias que incluem a comunicação para o desenvolvimento como um


aspecto significativo do desenvolvimento rural são extremamente necessárias. Nesse
sentido, devemos considerar a necessidade do estabelecimento de uma política de
comunicação que apoie a extensão rural para o desenvolvimento rural, também que
potencialize os agricultores nos processos de tomadas de decisão. Nesse contexto,
disserte sobre as possibilidades da comunicação no desenvolvimento rural.

59
60
UNIDADE 2 TÓPICO 2 -
A COMUNICAÇÃO E A REALIDADE RURAL

1 INTRODUÇÃO
O poder dos meios de comunicação na sociedade global é inegável. A
comunicação reestruturou a forma como as pessoas interagem e criou a cultura da
mídia. As identidades coletivas foram reformuladas através dos meios de comunicação
de massa, ou seja, os meios de comunicação tiveram uma função importante na vida
das pessoas (ESPEORINI; POZENATO, 2010).

A comunicação rural, certamente, não será uma solução para todos os problemas
ou dificuldades vivenciadas no meio rural, mas sua proximidade com a área poderá arbitrar
saídas, apontar excessos e abordar a questão na proporção que representa importância
para o país (BRAGA; CARVALHO, 1999). Nos dias atuais, embora avanços já tenham sido
alcançados com as políticas agrícolas e os movimentos sociais, a comunicação nas áreas
rurais raramente vem dos próprios agricultores. Isso se deve ao fato de que as iniciativas
são raciocinadas e temidas no âmbito exclusivo do campo da extensão.

Para mudar o cenário, é preciso que o papel do comunicador rural siga na lógica da
participação dos agricultores nos processos de comunicação, na perspectiva educativa.
Assumindo essa função, o extensionista irá garantir que o processo de comunicação
seja eficaz. E, no futuro, a partir das Tecnologias de Informação e Comunicação - TICS,
as populações rurais possam estar integradas nos projetos de desenvolvimentos.

Neste tópico, vamos entender melhor qual é esse papel do comunicador, quais
são os caminhos a seguir nos processos de comunicação rural e o que esperar do futuro
da comunicação rural.

2 O PAPEL DO COMUNICADOR RURAL


A história da comunicação aponta a forma que os comunicadores podem
contribuir para a realização de ideias e aspirações no processo humano, essas funções
do comunicador são detalhadas por Bordenave (1976, p. 18):

1. como ferramenta de distribuição de informações;


2. como instrumento de instrução ou ensino;
3. como instrumento de persuasão e mudança de valores e atitudes;
4. como instrumento de expressão pessoal, de aproximação e inter-
relação entre as pessoas;
5. como instrumento de participação na tomada de decisões;
6. como instrumento de mudança política e social, por meio da
dinamização dos processos sociais de ação coletiva.

61
Bordenave (1976) aponta que a maneira de usar a comunicação (de forma
vertical, forma dialógica, participativa, solidária, autoritária ou persuasiva) irá depender
das opções ideológicas e dos padrões de desenvolvimento que se pretende seguir.

O objetivo de muitas atividades na comunicação rural, lideradas pelos técnicos


extensionistas, é preservar a agricultura e a pecuária de pequena escala, patrimônio social
e cultural essencial do Brasil, sem desconsiderar a agricultura em larga escala, como o
agronegócio (MAGNONI; MIRANDA, 2017). Para ter sucesso no papel que irá desenvolver,
o profissional deve atuar de determinada forma, especificada por Berlo (2003): o indivíduo
não deve se contradizer ou ser desconexo consigo; deve focar no comportamento humano,
ou seja, falar em termos de comportamento recíproco; ser específico e coeso com os
meios pelos quais as pessoas se comunicam. Além desses pontos, os comunicadores
devem desenvolver um processo de comunicação participativo e estratégico.

Nesse sentido, o papel do comunicador rural deve ser em torno dos objetivos a seguir:

• Buscar ser um facilitador.


• Apoiar a análise da situação para identificação de problemas e causas.
• Nortear o uso de tecnologias.
• Avaliar junto as probabilidades de risco e a incerteza.
• Ser gestor de processos de desenvolvimento local.

A comunicação é de grande importância no contexto social porque fornece a


base fundamental para a humanidade. Quando é necessário transmitir informação para
o meio rural, a forma como o comunicador vai transmitir para um determinado público
tem maior peso social devido à especificidade do público-alvo. Diante da realidade da
população rural atual, de fundamental importância para o crescimento e desenvolvimento
das indústrias, agricultura, educação e até sustentabilidade, a comunicação é a chave
para a transformação, possibilitando o acesso das pessoas, principalmente dos pequenos
agricultores, a informações que são importantes para a vida rural. O processo de diálogo
com a população rural não precisa ser muito simples, muito direto, mas eficaz e adequado
à realidade. Devemos lembrar que ele consegue entender as mensagens certas, basta
colocá-las no contexto certo sem subestimar sua compreensão (PEREIRA; OLIVEIRA, 2018).

Segundo Freire (1983, p. 45), “[…] comunicar é comunicar-se em torno do significado


significante”. Assim, na comunicação não há sujeito passivos. Os sujeitos concordam com
seus objetos ideológicos para transmitir seu conteúdo. O que caracteriza a comunicação, na
medida em que se comunica por meios de comunicação, é que ela é dialógica, assim como
o diálogo é comunicativo. Portanto, para que o ato de comunicação seja eficaz, é necessário
haver um acordo entre os sujeitos, uma comunicação recíproca. Ou seja, a expressão verbal
de um dos sujeitos deve ser percebida dentro de um quadro de expressão comum ao outro.

Devemos compreender que comunicação rural consiste em um conjunto de


métodos e meios que permitem o contato com o agricultor para que ele entenda a utilidade
das tecnologias que lhe são propostas, participe das tomadas de decisão e perceba o técnico

62
como um facilitador dos processos de desenvolvimento rural. O agente de extensão deve
deter de um papel em que compartilhe dos seus interesses em conjunto com os interesses
das populações rurais, ele não deve se esquecer de se envolver e se comunicar com o
agricultor na perspectiva educativa, assim como proposto por Paulo Freire.

Franco et al. (2019) destacam que, em essência, cabe ao extensionista uma


orientação pedagógica de diálogo e problematização, com foco nos agricultores deixados
para trás pela modernização seletiva. Reconhece os extensionistas como catalisadores
de processos sociais e promotores de desenvolvimento. Os autores apontam que a
tecnologia é considerada essencial, mas complementar ao processo de promoção do
desenvolvimento, e ao mesmo tempo deve ser relevante para a localidade e a sociedade.

Aramburo (2001) aponta que a comunicação rural está localizada na esfera


camponesa, na qual os meios de expressão cultural são típicos dos agricultores, e que a
participação não é apenas um chavão. Se todas as responsabilidades de uma atividade
não forem totalmente assumidas e os riscos envolvidos em um processo de mudança
não forem executados, a palavra “participação” torna-se apenas mais uma “muleta”. No
âmbito da comunicação rural, o extensionista deve buscar um processo participativo
que inclui os seguintes elementos.

• Participação na seleção e elaboração de meios e métodos. Essa atividade


não é comum em áreas rurais. Implica também todo um processo de pesquisa
participativa para estabelecer as categorias de mensagens, canais e todos os
símbolos dos destinatários.
• Participação como a capacidade de discutir, comentar e modificar
mensagens e técnicas de comunicação. Essa prática parece “inconsistente” aos
olhos dos extensionistas, pois sua principal preocupação é se sua mensagem chega
ou não a eles, se sua tecnologia será adotada ou não.
• Participação como possibilidade de os agricultores se expressarem através
da mídia e aparecerem nela. Essa prática permite internalizar as condições de
expressão popular como meio de participação.

Aramburo (2001) ainda comenta que processos participativos da comunicação rural


criam novas formas de relacionamento entre as comunidades. Comportamentos e atitudes
favoráveis são adquiridos em relação a intervenções e agentes externos que, sem eles,
seriam praticamente impossíveis. Isso exige a necessidade de considerar um novo perfil do
comunicador para o desenvolvimento e, especificamente, para o comunicador rural.

Como visto, a identificação e a inserção no meio rural não é suficiente. A formação


acadêmica e profissional também não é suficiente. Levando em conta o processo de mudança
social e societária que se deseja construir para dar passos significativos na marcha para o
desenvolvimento, é imprescindível que o comunicador rural tenha uma responsabilidade
específica: Fazer as pessoas quererem resolver seus problemas (motivação); saber como
resolvê-los (informações); e, finalmente, poder resolvê-los (treinamento).

63
3 PROCESSOS DE COMUNICAÇÃO RURAL
No processo de comunicação, deve-se notar que há uma combinação de
eventos operando em muitas dimensões de tempo, espaço, dinâmicas e não estáticas.
Segundo Berlo (2003), todas as atividades de comunicação humana têm uma origem,
uma pessoa ou um grupo de pessoas tem um propósito e uma razão para participar
da comunicação. Uma origem estabelecida, com ideias, necessidades, intenções,
informações, intenções em um código, em um conjunto sistemático de símbolos e um
objeto para comunicação.

O processo de comunicação é a diretriz para uma comunicação eficaz. Por meio


do processo de comunicação, um significado comum é compartilhado entre o emissor
e o receptor. Quem acompanha o processo de comunicação terá a oportunidade de se
tornar mais eficaz em todos os aspectos de sua carreira. O processo de comunicação
tem seis componentes principais, esses componentes incluem fonte, codificador/
comunicador, receptor, meios, mensagem e objetivo. A comunicação começa com a
fonte e termina com o objetivo.

Esses processos são detalhados por Curvo Filho (1979):

• Fonte: a fonte primária que gera a mensagem, ou seja, o conhecimento tecnológico.


• Codificador/comunicador: é alguém cuja principal preocupação é entregar a
mensagem (conhecimento tecnológico), em uma linguagem (código) que possa ser
decodificada pelo receptor, assim como entregá-la ao transmissor (fonte). Questões
observáveis precisam ser estudadas. Essas são basicamente funções especializadas
do extensionista com a ajuda de um especialista em comunicação.
• Receptor: aquele que aplica conhecimentos tecnológicos. Observa os resultados reais da
aplicação, aceita ou rejeita a tecnologia. Esse é essencialmente o papel dos agricultores.
• Meios: são os canais, meios, métodos e recursos pelos quais a fonte, o codificador
e o receptor enviam e recebem mensagens.
• Mensagem: conhecimento tecnológico e opiniões, atitudes e questões relacionadas.
• Objetivo: tanto no envio quanto no recebimento de uma mensagem, a fonte, o codificador
e o receptor têm um objetivo em mente, ou seja, uma necessidade a ser atendida.

64
FIGURA 1 - PROCESSO DE COMUNICAÇÃO

FONTE: Adaptada de Curvo Filho (1979).

Como já mencionado, a primeira parte deste modelo de comunicação é a


fonte.  Toda comunicação deve vir de alguma fonte.  A fonte pode ser uma pessoa, um
grupo de pessoas, uma organização, como associações e cooperativas, ou uma instituição.
Vários fatores determinam como uma fonte irá operar no processo de comunicação. Eles
incluem as habilidades de comunicação da fonte - habilidades para pensar, escrever,
desenhar, falar.  Também incluem atitudes em relação ao público, ao assunto, a você
mesmo ou a qualquer outro fator pertinente à situação. O conhecimento do assunto, do
público, da situação e de outros antecedentes também influencia a maneira como a fonte
opera.  O mesmo acontecerá com a origem social, educação, amigos, salário, cultura -
tudo às vezes chamado de contexto sociocultural em que a fonte vive.

A mensagem tem a ver com o pacote a ser enviado pela fonte. O código ou idioma
deve ser escolhido. Em geral, pensamos em código em termos de idiomas naturais - no
nosso caso, o português. Às vezes usamos outras linguagens - música, arte, gestos. Em
todos os casos, observe o código em termos de facilidade ou dificuldade para a
compreensão do público. Dentro da mensagem, selecione o conteúdo e organize-o para
atender o tratamento aceitável para determinado público ou canal específico. Se a fonte
fizer uma escolha ruim, a mensagem provavelmente falhará.

O meio é o canal, o método pelo qual a mensagem será transmitida: TV,


WhatsApp, telefone, jornal, rádio, carta etc. O tipo e o número de canais a serem usados
podem depender em grande parte da finalidade. Em geral, quanto mais você puder usar
e quanto mais adaptar sua mensagem às pessoas que "recebem" cada canal, mais
eficaz será sua mensagem.

O receptor torna-se o elo final no processo de comunicação.  O receptor é a


pessoa, ou pessoas, que compõe o público de sua mensagem.  Todos os fatores que
determinam como uma fonte operará se aplicam ao receptor. Pense nas habilidades de

65
comunicação em termos de quão bem um receptor pode ouvir, ler ou usar seus outros
sentidos. As atitudes dizem respeito a como um receptor pensa na fonte, em si mesmo,
na mensagem e assim por diante. O receptor pode ter mais ou menos conhecimento
do que a fonte.  O contexto sociocultural poderia ser diferente em muitos aspectos
daquele da fonte, mas a origem social, educação, amigos, salário, cultura ainda estariam
envolvidos. Cada um afetará a compreensão do receptor da mensagem.

As mensagens àsvezes não cumprem seu propósito porvários motivos. Frequentemente,


a fonte não tem conhecimento dos receptores e de como eles veem as coisas. Certos canais
podem não ser tão eficazes em determinadas circunstâncias. O tratamento de uma mensagem
pode não caber em um determinado canal ou alguns receptores simplesmente podem não
estar cientes, interessados ou capazes de usar certas mensagens disponíveis.

INTERESSANTE
Aristóteles foi o primeiro a tomar a iniciativa e desenhar o modelo de
comunicação. O Modelo de Comunicação de Aristóteles pode ser considerado
um modelo de comunicação unidirecional, no qual o emissor envia a informação
ou uma mensagem ao receptor para influenciá-lo e fazê-lo responder de
acordo. Esse modelo é considerado a regra de ouro para se destacar em falar
em público, seminários, palestras situações em que o remetente deixa claro
seu ponto de vista, eles respondem de acordo. Não há feedback.

O processo de comunicação tem múltiplas barreiras. O comunicado pretendido


será frequentemente perturbado e distorcido, levando a uma condição de mal-entendido e
falha de comunicação. As barreiras para uma comunicação eficaz podem ser de vários tipos,
como semânticas, psicológicas e físicas. Veremos esses tipos em detalhes no Quadro 2.

QUADRO 2 - BARREIRAS DO PROCESSO DE COMUNICAÇÃO

BARREIRAS SEMÂNTICAS BARREIRAS PSICOLÓGICAS BARREIRAS FÍSICAS


Ocorrem frequentemente na co- Assim como as barreiras se- São comuns, mas não menos
municação verbal, no caso de se mânticas, as barreiras psicológi- prejudiciais à comunicação. As
estabelecer uma situação de co- cas nem sempre são declaradas, barreiras físicas talvez sejam
municação entre indivíduos de de modo que é improvável que as menos levadas em conta
diferentes origens culturais. Não os indivíduos as vejam como a pelos comunicadores ignoran-
apenas os vocabulários são dife- causa do "ruído" ou "vazamen- tes. As condições em que a co-
rentes, mas os significados das to" em sua comunicação. Dife- municação ocorre podem criar
palavras também variam muito renças de status ou posição em esse tipo de bloqueio - sala mal
entre os indivíduos no processo. uma escala social (real ou imagi- iluminada, muito quente ou
Muitas vezes, como agravante, nária) podem interferir e causar muito fria, ruídos externos, ca-
temos a falta de capacidade de sérios problemas na comunica- deiras desconfortáveis, horá-
"traduzir" o significado de uma ção intercultural. Por exemplo, rios inadequados, tudo isso são

66
palavra para outra. Elas podem se o agricultor achar que o condições padrão, que nem
ser superadas com o reconhe- técnico é muito superior a sempre exigem observação e
cimento da necessidade de ele, pode bloquear o fluxo de reparo. Uma barreira física mui-
usar um código ou linguagem comunicação. As diferenças to importante é a apresentação
mais simples e claro, exemplos nas preferências também po- desorganizada e confusa da
concretos. Além disso, símbo- dem distorcer a comunicação, mensagem pelo comunicador.
los não verbais, como figuras, com todos se concentrando
ilustrações e modelos, podem na mensagem de um ângu-
auxiliar na comunicação, no lo diferente. Por exemplo, um
esclarecimento e no nivela- comerciante, em comunicação
mento de conceitos. com um filantropo, discutindo
os preços dos alimentos.
FONTE: Adaptado de Oliveira et al. (2009).

A maioria das pessoas está familiarizada com as dificuldades semânticas, mas


poucas dão atenção especial às barreiras psicológicas e físicas, embora essas três sejam
encontradas com igual frequência em tarefas de comunicação de alto nível: orientação
educacional (OLIVEIRA et al., 2009).

4 O FUTURO DA COMUNICAÇÃO RURAL


A comunicação rural era então vista como uma aliada indispensável para a
entrada de tecnologias inovadoras. Nesse sentido, o agricultor familiar se desenvolveu
em relação à recepção de informações, pois depende dela para realizar suas atividades
produtivas, econômicas e sociais. As tecnologias da informação que lhes são fornecidas
são a porta de entrada para tecnologias avançadas e, portanto, para um novo modelo de
produção (BIEGER; BIEGER, 2016).

A comunicação rural no futuro, deve ser praticada por um extensionista que tenha
consciência de sua missão no meio ambiente, seja solidário com a operação e tenha uma
concepção clara da diferença básica entre rural e urbano, conhecendo e respeitando
o meio rural. A comunicação rural será acompanhada de amplo suporte tecnológico e
cibernético, distante da percepção da maioria da classe camponesa brasileira. Caberá ao
comunicador rural filtrar o que é útil e descartar o que não é, o que obviamente exigirá
que esse especialista tenha algum conhecimento técnico do meio ambiente. Os novos
extensionistas rurais deverão discutir conceitos de meio ambiente, para alertar, argumentar,
condenar e denunciar atos contra a natureza, o bem mais precioso de uma nação, e devem
estar bem-informados sobre os temas que chegarão à mídia ao longo no próximo milênio,
como propriedade intelectual, biodiversidade e transgênicos. Esse especialista precisará
de uma compreensão clara da diferença entre aprimoramento genético e modificação
genética. Os comunicadores profissionais, olhando para o campo de amanhã, deverão estar
atentos e prontos para não cair nas armadilhas internacionais, com o único objetivo de lucro
e mudança ambiental, sob a proteção de propagandas do capital (BRAGA; CARVALHO, 1999).

67
O setor de tecnologia da informação terá ainda mais vez no processo de
comunicação da extensão rural. A base de transmissão para ter acesso à informação será
aprimorada ainda mais. Estudos apontam que o acesso do agricultor à informação e sua
capacidade de estabelecer comunicação garantirão o renascimento econômico, social
e cultural do meio rural. Vale destacar que, para isso, é necessário haver investimentos
na área, assim como já mencionado. A internet poderá ajudar os agricultores a divulgar
suas questões e problemas e encaminhá-los às autoridades competentes, garantindo
que eles os compartilhem uns com os outros. Os agricultores poderão ter acesso a várias
bases de dados na internet e obter informações sobre os desenvolvimentos recentes
que podem afetar as condições específicas de suas áreas.

O extensionista rural, até lá, deverá ter passado por capacitações para adoção
de Tecnologias da Informação e Comunicação (TICs) nas suas ações de intervenção
e será um facilitador nesse processo. As TICs vêm provando ser importantes para os
usuários da internet, as experiências mostram que vários meios de comunicação são
valiosos para auxiliar os produtores agrícolas com informações e conselhos sobre
inovações agrícolas, preços de mercado, infestações de pragas e alertas climáticos.

Nesse sentido, a comunicação rural no futuro passará por transformações no


uso das ferramentas adotadas para as ações de Ater. O acesso às TICs poderá ajudar
os agricultores de várias maneiras. A mídia tradicional e as novas TICs desempenharam
papel importante na difusão de informações para as comunidades rurais e agora têm
muito mais potencial, com o uso de telefones celulares e tecnologia de mensagens, os
agricultores podem obter acesso a informações de forma rápida. As disponibilidades de
informações de mercado também permitem que os agricultores verifiquem os preços
que recebem em relação aos preços vigentes no mercado, como também tenham
acesso a mercados específicos por meio do e-commerce.

ESTUDOS FUTUROS
Na Unidade 3, iremos aprofundar sobre as potencialidades das TICs no
meio rural e entender qual é o papel do extensionista nesse processo.

68
RESUMO DO TÓPICO 2
Neste tópico, você adquiriu certos aprendizados, como:

• O comunicador rural deve ter o papel de facilitador dos processos de desenvolvimento,


trabalhando na perspectiva participativa, instruindo sobre o uso das tecnologias,
apoiando os agricultores na resolução dos problemas. Ele deve atuar na mobilização
e organização dos agricultores para a participação e promover a articulação em
busca do desenvolvimento rural.

• O termo processo de comunicação se refere à troca de informações (uma mensagem)


entre duas ou mais pessoas. Para que a comunicação seja bem-sucedida, ambas
as partes devem ser capazes de trocar informações e se entender. Se o fluxo de
informações for bloqueado por algum motivo ou as partes não puderem se fazer
entender, a comunicação falhará. O processo de comunicação tem múltiplas barreiras
que impedem uma comunicação eficaz, como semânticas, psicológicas e físicas.

• O processo de comunicação envolve tanto o emissor da mensagem quanto o


receptor. Ele começa com a formação de ideias pelo emissor, que então transmite
a mensagem por meio de um canal ou meio para o receptor. O receptor é quem
aplica os conhecimentos, no caso, o agricultor. Existem seis elementos importantes
do processo de comunicação: fonte, codificador/comunicador, receptor, meios,
mensagem e objetivo.

• O futuro da comunicação deverá estar pautado na perspectiva na inclusão das TICs


nas atividades de Ater. O extensionista deverá deter informações para trabalhar
em um viés da sustentabilidade da produção agrícola e os meios de comunicação
digitais serão ferramentas importantes na propriedade rural, diminuindo os índices
de pobreza e as desigualdades do meio rural.

69
AUTOATIVIDADE
1 O técnico extensionista é responsável por fornecer o conhecimento e as informações
que permitirão ao agricultor entender e tomar uma decisão sobre uma determinada
inovação e, em seguida, comunicar esse conhecimento ao agricultor. Sobre o papel
do comunicador rural, assinale a alternativa CORRETA:

a) ( ) O comunicador rural possui conhecimentos técnicos que devem ser repassados


aos agricultores. O trabalho do técnico está baseado em políticas governamentais,
não ocorrendo a participação dos agricultores nas tomadas de decisões.
b) ( ) O comunicador rural deve trabalhar com a linguagem verbal, uma vez que a
linguagem não verbal poderá dificultar a compreensão da mensagem pelo
receptor. Essa habilidade é a base de toda atividade extensionista.
c) ( ) Uma conversa deve ser um processo de comunicação de mão dupla em que o
técnico extensionista deve ser sensível ao efeito que está produzindo e estar
preparado para reagir positivamente.
d) ( ) O papel do comunicador é exclusivamente colaborar nos processos de organização
dos agricultores para eles poderem enfrentar seus problemas, em uma direção
considerada desejável pela agência de mudança.

2 A comunicação também deve ser entendida como um processo, porque, embora


suas etapas possam ser separadas para fins de análise, a inter-relação entre elas é
um dos aspectos mais importantes para a eficácia da comunicação. Com base nas
etapas do processo de comunicação rural, analise as sentenças a seguir:

I- Na extensão rural, a fonte é o extensionista, portanto este deve possuir habilidade


para escrever, falar, ilustrar, demonstrar, argumentar, discutir, dramatizar e inquietar,
além de ter conhecimento e atitude em relação ao assunto, ao público e ao meio
ambiente, ou seja, experiências, formação cultural, formação acadêmica etc.
II- A mensagem é a forma como o propósito da fonte deve ser expresso, isto é, em que
os objetivos e intenções da fonte são convertidos em um conjunto de símbolos, isso
deve ocorrer por meio de código, conteúdo e tratamento.
III- O receptor é o condutor da mensagem, que pode ser, por exemplo, transmitida pelo
ar, para ser ouvida; impressa, para ser lida etc.

Assinale a alternativa CORRETA:

a) ( ) As sentenças I e II estão corretas.


b) ( ) Somente a sentença II está correta.
c) ( ) As sentenças I e III estão corretas.
d) ( ) Somente a sentença III está correta.

70
3 Existem barreiras na comunicação e estas podem ocorrer em qualquer fase do
processo. As barreiras podem fazer com que sua mensagem fique distorcida e,
portanto, você corre o risco de os técnicos serem mal-entendidos. A comunicação
eficaz envolve superar essas barreiras e transmitir uma mensagem clara e concisa.
Sobre as barreiras no processo de comunicação, classifique V para as sentenças
verdadeiras e F para as falsas:

( ) Semântica: as mesmas palavras e símbolos carregam significados diferentes para


pessoas diferentes. Dificuldades na comunicação surgem quando o emissor e o
receptor da mensagem usam palavras ou símbolos em sentidos diferentes.
( ) Física: ocorre quando o significado da mensagem é perdido durante a codificação
da mensagem. Distrações físicas também estão presentes, como iluminação ruim,
sentar-se desconfortavelmente, sala anti-higiênica, e afetam a comunicação.
( ) Psicológica: é a influência do estado psicológico dos comunicadores (emissor e
receptor), simultaneamente, que cria um obstáculo para uma comunicação eficaz.

Assinale a alternativa que apresenta a sequência CORRETA:

a) ( ) V – F – F.
b) ( ) V – F – V.
c) ( ) V – V – F.
d) ( ) F – F – V.

4 O comunicador rural é um agente de mudança e intervém para trazer transformações


e ajudar a melhorar a vida dos agricultores e de suas famílias. Ele assume um papel
importante no desenvolvimento rural. Nesse contexto, pontue os papéis que o
comunicador rural pode assumir nos serviços de Ater.

5 As necessidades de informação da população rural tornam-se mais diversas e


iminentes. Os rápidos avanços tecnológicos oferecem novos métodos e oportunidades
para a disseminação e compartilhamento da informação e do conhecimento. Disserte
sobre o futuro da comunicação no Brasil.

71
72
UNIDADE 2 TÓPICO 3 -
COMUNICAÇÃO E DIFUSÃO DE INOVAÇÕES

1 INTRODUÇÃO

A teoria da difusão de inovações é provavelmente a teoria da comunicação mais


citada, resumida e aplicada. Percebeu-se que o modelo clássico de difusão poderia ser
aplicado de forma útil ao processo de desenvolvimento socioeconômico.

O processo de decisão de adoção da difusão ocorre pelo conhecimento ou


consciência da inovação, persuasão (reações e avaliações da inovação), decisão
(obter, comprar, experimentar), implementação (adquirir, ajustar, aplicar, incluindo um
período de "julgamento justo") e confirmação (incluindo exibição pública da adoção e
recomendação da inovação a outros).

Os canais de comunicação desempenham um papel importante na difusão.


Como a inovação é um novo produto, processo ou ideia, ela deve ser comunicada
aos potenciais adotantes para que eles avaliem seus atributos e decidam se devem
experimentá-la e, eventualmente, adotá-la. Canais eletrônicos de mídia de massa,
como televisão e rádio, são úteis para aumentar a conscientização sobre a inovação.

Um grande desenvolvimento na conceituação de uma inovação foi a percepção


de que uma inovação não é uma entidade fixa, estática e objetiva. Em vez disso, é
contextual, flexível e dinâmica. Pode ser adaptada e reinventada.

Neste último tópico da Unidade 2, vamos entender sobre o conceito da teoria da


difusão, os processos de sua adoção e aplicabilidade, aprofundando sobre os métodos na
extensão rural, na perspectiva de difusão das inovações e, por fim, nas potencialidades
e limites da ação difusionista na promoção do desenvolvimento rural.

2 A TEORIA DA DIFUSÃO E ADOÇÃO DE INOVAÇÕES E


SUA APLICAÇÃO
A teoria da difusão da inovação, criada em 1962 por Rogers, surgiu na
comunicação para esclarecer como, ao longo do tempo, uma ideia ou produto tem
força e se espalha no grupo populacional. Como resultado desse transbordamento as
pessoas, dentro da estrutura de um sistema social, adotam uma ideia nova, um novo
comportamento ou um novo produto. Adoção significa que uma pessoa está fazendo
algo diferente do que estava fazendo antes (ou seja, comprar ou usar um novo produto,
absorver e adotar um novo comportamento etc.).

73
Mas o que é a difusão?

Difusão é o processo pelo qual uma inovação é comunicada através


de certos canais ao longo do tempo entre os membros de um sistema.
É um tipo especial de comunicação, em que as mensagens são
preocupadas com novas ideias. A comunicação é um processo no
qual os participantes criam e compartilham informações uns com os
outros para chegar a um entendimento mútuo. Esta definição implica
que a comunicação é um processo de convergência (ou divergência)
à medida que dois ou mais indivíduos trocam informações para se
aproximarem um do outro (ou à parte) nos significados que atribuem
a certos eventos. (ROGERS, 1971, p. 5)

A “nova ideia” que o autor menciona é a novidade, o conteúdo da mensagem


de comunicação, que gera a difusão. A novidade significa que algum grau de incerteza
está envolvido. A incerteza implica uma falta de previsibilidade, sendo a informação
um dos principais meios de reduzir a incerteza. O efeito de difusão é o grau cumulativo
crescente de influência sobre um indivíduo para ele adotar ou rejeitar uma inovação,
resultando a partir da ativação de redes de pares sobre uma inovação em um sistema.
O ambiente de comunicação do sistema em relação à inovação muda à medida que
aumenta o número de indivíduos no sistema adotado (ROGERS, 1971).

A chave para a adoção é que a pessoa deve perceber a ideia, comportamento


ou produto como novo ou inovador. É por meio disso que a difusão é possível. A adoção
de uma nova ideia, comportamento ou produto (isto é, "inovação") não acontece
simultaneamente em um sistema social; ao contrário, é um processo pelo qual algumas
pessoas são mais aptas a adotar a inovação do que outras. Ao promover uma inovação
para uma população-alvo, é importante entender as características da população-alvo
que ajudarão ou dificultarão a adoção da inovação.

Hillig e Froehlich (2008) comentam que a inovação é uma ideia, procedimento,


produto ou serviço que um indivíduo considera “novo”, sendo diferente do que existia
anteriormente, é novo para ele e não necessariamente para os outros. A experiência tem
demonstrado que a mera existência de uma inovação, mesmo considerada "boa", não
garante que ela seja amplamente aceita pelos potenciais usuários; inovação pode não
ser aceita ou mesmo superada por outra inovação considerada não tão boa.

Rogers (1971) identifica cinco atributos de inovações que têm uma forte
influência sobre se e quão rápido uma inovação é adotada. Ele observa que esses não
precisam ser atributos reais de uma inovação - é importante apenas para sabermos
como um potencial adotante percebe a inovação.

• Vantagem relativa: a vantagem relativa percebida de uma inovação é o grau em que


ela é percebida como melhorando uma inovação anterior. Isso pode se manifestar
como maior lucratividade ou aumento de status social, por exemplo. Inovações
preventivas - aquelas cujos efeitos podem não ser imediatamente visíveis, ou
podem nunca se materializar porque seu objetivo é prevenir um evento indesejável

74
- são percebidas como tendo uma vantagem relativa muito baixa. Incentivos (por
exemplo, dinheiro ou amostras grátis) podem ser usados para aumentar a vantagem
relativa percebida de uma inovação. No entanto, adoções motivadas por incentivos
podem ser menos sustentáveis, com os adotantes possivelmente rejeitando a
inovação quando o incentivo deixa de existir. A vantagem relativa está positivamente
relacionada à taxa de adoção de uma inovação.
• Compatibilidade: a compatibilidade percebida de uma inovação descreve o quão
consistente ela é em relação aos valores, experiências e necessidades de um indivíduo.
O grau de compatibilidade determina a mudança de comportamento necessária para
adotar uma inovação. Assim, em vez de introduzir uma inovação incompatível em
um sistema social, a adoção pode ser mais fácil quando a inovação é dividida em
várias inovações mais compatíveis que podem ser adotadas em sequência - cada
uma exigindo apenas uma pequena mudança de comportamento. A compatibilidade
está positivamente relacionada com a taxa de adoção de uma inovação.
• Complexidade: a complexidade percebida de uma inovação descreve o quão difícil
parece compreender e usar a inovação. Um alto grau de complexidade pode ser
uma forte barreira contra a adoção. A complexidade está negativamente relacionada
com a taxa de adoção de uma inovação.
• Experimentação: a experimentação percebida de uma inovação é o grau em que
ela pode ser experimentada em uma base probatória. Um teste pessoal de uma
inovação é uma maneira eficaz de reduzir a incerteza. Como tal, a experimentação
está positivamente relacionada à taxa de adoção de uma inovação.
• Observabilidade: a observabilidade percebida de uma inovação é o grau em que
outros podem observar os resultados de uma inovação. Observar um par pode ser
um proxy para um teste de uma inovação. A observabilidade está positivamente
relacionada à taxa de adoção de uma inovação.

De acordo com a teoria da difusão de inovações, o pressuposto é que os


inovadores são mais bem informados do que os adotantes tardios e possuem mais
capital social dentro, mas também fora de sua comunidade local. Os agricultores que
são potenciais adotantes e os que já adotaram ficam sabendo desses benefícios por
meio de um processo de retroalimentação de informações às quais eles têm acesso
por fazerem parte de uma comunidade. Conhecer os benefícios das tecnologias tem
influência no processo de adoção dessas tecnologias.

A aplicação ocorre pelos canais de comunicação, que podem variar dependendo da


natureza da inovação e do tamanho do público potencial. No mundo atual, as tecnologias
da informação como a internet e os telefones celulares - que combinam aspectos da
mídia de massa e canais interpessoais, representam formidáveis ferramentas de difusão.

A internet é considerada como uma das tecnologias mais transformadoras


que mudaram a forma como as pessoas aprendem, brincam, criam, se comunicam e
trabalham. Através dos canais formais e informais das comunidades rurais são abordados
fenômenos importantes para o desenvolvimento agrícola, como a difusão de inovações

75
sociais e tecnológicas, o surgimento de lideranças, movimentos cooperativos e, mais
recentemente, a defesa coletiva da agroecologia e o movimento com a participação da
população rural do país (HILLIG; FROEHLICH 2008).

3 MÉTODOS DE EXTENSÃO RURAL E COMUNICAÇÃO


RURAL
Os métodos de extensão rural são as ferramentas e técnicas usadas para
criar situações nas quais a comunicação pode ocorrer entre a população rural
e os extensionistas. Eles são os métodos de estender novos conhecimentos
e habilidades para a população rural, chamando sua atenção para eles,
despertando seu interesse e ajudando-os a ter uma experiência bem-sucedida
da nova prática. É necessária uma compreensão adequada desses métodos e
sua seleção para um tipo específico de trabalho.

Uma maneira de classificar os métodos de extensão é de acordo com


seu uso e natureza do contato. Em outras palavras, se são usados para contatar
pessoas individualmente, em grupos ou em massa, com base na natureza do
contato. Eles são divididos em métodos de contato individual, em grupo e em
massa que veremos nos tópicos a seguir.

3.1 INDIVIDUAIS
Os métodos individuais, embora menos abrangentes, são importantes para o
extensionista em termos do conhecimento que ele precisa obter da comunidade e da
confiança que pode obter das lideranças e do público rural. Embora os extensionistas devam
usar métodos de massa e de grupo para alcançar um grande número de pessoas e incentivar
a ação conjunta no planejamento e implementação do projeto, o contato pessoal serve a
muitos propósitos essenciais. A influência pessoal do extensionista é importante para garantir
a cooperação, a participação nas atividades de extensão e a adoção de fazendas e benfeitorias.
Os métodos individuais também podem conhecer as condições da população rural e da
própria comunidade. No entanto, devemos ter em mente que os métodos individuais têm um
custo muito alto, portanto, seu uso deve ser muito objetivo (PEREIRA et al., 2009).

O método individual pode ocorrer por meio de visitas, contato e entrevistas,


comentados por Pereira et al. (2009) e Balem (2015):

• Visita: um importante método de extensão, proporciona um meio de comunicação


pessoal entre as famílias rurais e os extensionistas, em um ambiente onde eles podem
discutir e trocar informações de forma eficaz, privada, sem distrações ou interrupções.
A visita inclui uma ação planejada para implementar a agenda da Ater. Tem um alto
custo devido ao escopo limitado e à individualidade. Os extensionistas agrícolas devem
prestar atenção para não se concentrar sempre em visitar a mesma família.

76
• Contato: trata-se de um método não planejado que ocorre em situações
imprevistas e em diversos locais, na sede, escritório ou campo, onde os técnicos
se comunicam com o público com informações relacionados ao trabalho da Ater. O
público é abordado por uma ampla variedade de contatos, podendo incluir aqueles
direto ou indiretamente envolvidos no plano de trabalho. Embora o contato pessoal
não seja possível, as ligações telefônicas têm a vantagem de que os agricultores ou
extensionistas podem iniciar.
• Entrevista: é um método adotado no consultório, no local e no campo, por meio do
qual o técnico visa conhecer situações e acontecimentos, identificar problemas e avaliar
o trabalho. Deve ser cuidadosamente planejada e bem executada. Permite conhecer
a realidade rural, após a recolha da informação. Ajuda na seleção do público e da
comunidade para trabalhar com a realidade. Requer preparação adequada e credibilidade
por parte do entrevistador, também requer sinceridade nas respostas dos entrevistados.
Também requer uma boa aplicação e uma boa análise dos dados coletados.

3.2 GRUPAIS
Os métodos de grupo são métodos de abordagem a um determinado grupo de
agricultores, que foram previamente identificados pelo pessoal de extensão e, portanto,
tornam-se mais eficazes do que os métodos individuais. A escolha depende do objetivo
buscado com ação ampliada (BALEM, 2015).

Os métodos de grupo permitem a troca de opiniões entre os técnicos e o


público. Ou seja, por meio de perguntas e respostas, formam-se opiniões sobre os
temas discutidos ou apresentados. A vantagem da abordagem em grupo é que mais
pessoas podem ser alcançadas ao mesmo tempo, sem qualquer impedimento entre o
produtor e o técnico extensionista. O método de grupo também facilita a descoberta de
líderes comunitários, organizações de produtores e desenvolvimento humano por meio
de discussões, demonstrações e apresentações informativas. Eles permitem a troca
de experiências, possibilitando mudanças no ensino e nos métodos a um custo menor
(PANIAGO JÚNIOR, 2015).

Existem diversas formas de realizar os métodos grupais, que são apresentadas


por Pereira et al. (2009) e Paniago Júnior (2015):

• Unidade de demonstração (DU): método para demonstrar a adoção de uma ou


mais tecnologias e seus benefícios ao longo do tempo. Sua implementação envolve
o uso de uma ou mais práticas comprovadamente eficazes e rentáveis, em uma
determinada cultura ou criação, com o objetivo de ser acompanhada por um grupo
de produtores, avaliada e aplicada. Exemplo de DU: testar uma nova variedade de
uma determinada cultura, consórcio e adubação verde.
• Reunião: método amplamente utilizado na extensão rural. Tem muitas formas:
conferência, seminário, congresso. Destina-se a informar e/ou formar em novas
tecnologias e/ou discutir diversos temas. Estimula a formação de lideranças,

77
associações e organizações de agricultores. Exemplos de temas para reuniões:
formar uma cooperativa, formar um mutirão para consertar uma ponte e uma
conferência de febre aftosa.
• Curso: em suma, visa capacitar os agricultores no uso de tecnologias complexas ou
de um conjunto de técnicas, ou em sistemas de produção completos. Geralmente
dura mais de um dia, é trabalhoso e o custo pode ser alto (viagem, alimentação,
hospedagem). Exemplos de tópicos do curso: manejo integrado de pragas, plantio
direto e inseminação artificial;
• Dia de campo: método planejado para demonstrar, dentro de uma unidade de produção,
a eficácia de uma série de práticas agrícolas bem-sucedidas, com o objetivo de motivar
os produtores a adotá-las. Normalmente, o evento acontece na propriedade de um
produtor rural com acesso a tecnologias ou experimentos de campo, tanto em pesquisa
quanto em extensão. Pode ser usado para abordar temas como uso de leguminosas,
manejo integrado de pragas, manejo de pastagens e conservação do solo.
• Dia especial: voltado para a integração social e cultural, fortalecendo as relações
pessoais e sociais, além de transmitir e coletar diversas informações. Pode ser
utilizado para celebrar, inaugurar, iniciar ou estimular determinados programas ou
ações de caráter social, cívico ou comunitário.
• Propriedade demonstrativa (PD): trata de todas as técnicas de uma lavoura ou
de uma construção que produzem, motivam e formam agricultores. Requer o uso de
outros métodos e condições operacionais que sejam representativos da maioria dos
agricultores. Por exemplo, uma PD de produção agrícola, arroz inundado.

3.3 MASSAIS
Objetivam atender o público em geral, visam atender as pessoas em massa, isto
é, um número significativo e indeterminado de pessoas com alcance indefinido. Exemplos
de métodos de massa: concursos, campanhas, exposições, rádio, TV, jornais, revistas,
filmes, artigos, ferramentas de bate-papo, multimídia, hipermídia. É o agrupamento de
mídias em um único dispositivo, por exemplo, site da Emater (LOPES, 2016).

Sua relação custo-benefício é muito baixa, pois as mensagens atingem um


grande número de pessoas de forma rápida e eficiente (MEDRONHA, 2016). Em geral,
os meios de comunicação de massa são utilizados para formar a opinião pública
e, em certa medida, para transmitir conhecimentos e técnicas de forma simples e
sucinta (HILLIG; FROEHLICH, 2008).

78
IMPORTANTE
A comunicação de massa desempenhou um papel importante
na promoção da “modernização” para o povo. O rádio foi um dos
principais instrumentos utilizados. Líderes nacionais, burocratas e
especialistas difundiam adoção de ideias novas e o que elas atrairiam
para a vida das pessoas. Eles conversaram longamente sobre métodos
agrícolas, curas para doenças, a importância de mandar as crianças
para a escola, as vantagens de ter menos filhos, a conveniência de ter
um governo estável e assim por diante.

4 POTENCIALIDADES E LIMITES DA AÇÃO DIFUSIONISTA


NA PROMOÇÃO DO DESENVOLVIMENTO RURAL
A difusão de tecnologia, ou o também conhecido o modelo difusionista, foi
largamente abraçada no Brasil nas políticas de desenvolvimento e comunicação. Nesse
período, ocorreram investimentos para área rural como créditos com maior facilidade e
redução de taxa de juros, mecanização da agricultura, pesquisas sobre variedades de
sementes mais resistentes, o advento da televisão nos serviços de Ater. Além disso, foi a
partir da ação difusionista que houve abertura para uma comunicação rural participativa.

Essa estratégia é vista como um conceito da Teoria da Modernização para desenvolver


e aplicar as inovações necessárias. Essa tradição de difusionismo tem sido fortemente criticada
por Paulo Freire, por não aceitar que os agricultores participem ou interfiram no processo
decisório, vendo-os como objetos de ação (fontes passivas) ao invés de não sujeitos a isso,
e fortalecer sistemas sociais opressores em que as decisões dos agricultores são fortemente
condicionadas por mecanismos de poder e controle (BELTRÃO, 2010).

Na década de 1980, diversas críticas ao modelo difusionista surgiram, sobretudo


na América Latina, sendo foi fortemente seguidas pelo processo de influência da
comunicação rural para o desenvolvimento. Estudos posteriores desafiaram os
teóricos da difusão. Primeiro, os críticos da Revolução Verde fizeram perguntas sobre a
adequação da pesquisa realizada. Eles observaram que, embora baratas em si mesmas,
as variedades da Revolução Verde muitas vezes faziam parte de pacotes de inovações
que exigiam um investimento de capital considerável muito além dos meios do agricultor
e que causavam severos danos, como degradação do solo, perda de biodiversidade,
poluição do solo e da água, pragas, concentração de renda e desigualdade social.

A ação difusionista utilizou vários canais de comunicação: reuniões comunitárias,


apresentações em dias de campo, informações radiofônicas, periódicos, manuais agrícolas
e convencimento de formadores de opinião pública com o objetivo de atingir as unidades
familiares rurais. É um movimento em torno da adoção de tecnologia em áreas rurais, com
cursos de capacitação, mutirões e conversas informais. O difusionismo também passa a

79
se expressar no espírito moderno: as inovações estavam para resolver os problemas das
práticas antigas; o "velho" está sendo desenraizado pelo "novo", tanto no campo quanto na
cidade. O difusionismo inculcou ideias depreciativas nos citadinos das grandes cidades,
espalhando os estereótipos dos camponeses como "mal-educados", "rebeldes", "refratários".
Aos poucos, o Estado brasileiro integrou a ideia de que os agricultores brasileiros tinham
conhecimentos desatualizados sobre agricultura (DUARTE; SOARES, 2011).

No período do modelo difusionista, o desenvolvimento rural era pautado no


aumento da produção da área cultiva, voltado para o agronegócio, basicamente na
exportação de produtos agrícolas. Na década de 1990, a partir das críticas a esse modelo,
e com base nas compreensões de Freire e Bordenave o desenvolvimento rural passou
da perspectiva unilateral de produção agrícola e voltou-se a olhar o rural como um todo,
considerando a agricultura familiar, as tradições e culturas e, também, a desigualdade.

IMPORTANTE
No período difusionista a Ater integrou o conjunto de instrumentos de
política de modernização da agricultura brasileira, ao lado do crédito
rural subsidiado, da pesquisa e dos incentivos para implantação de
indústrias de máquinas e insumos agrícolas. Nesse período, ampliou-se
a abrangência dos serviços de Ater que passam a chegar a cerca de 80%
dos municípios brasileiros.

80
LEITURA
COMPLEMENTAR
O NOVO RURAL E A COMUNICAÇÃO

Verônica Crestani Viero


Renato Santos de Souza

No século XVII a relação urbano/rural era vista como uma dicotomia, ou seja,
duas realidades extremamente diferentes. O meio urbano era sinônimo de progresso e
o meio rural era identificado como atrasado e velho. Esta ruptura é atribuída ao conflito
de duas realidades sociais diferentes.

Todavia, desde a década de 70, essas noções mitificadas têm passado por
uma revisão fundamentada na transformação estrutural no meio considerado rural.
As mudanças verificadas nas relações sociais e de trabalho no campo e na cidade
resultaram na alteração das noções de rural e urbano, tornando cada vez mais difícil
delimitar as suas fronteiras.

Até a década de 80, além do agricultor de subsistência, ainda era comum a


presença de aventureiros, curiosos e especuladores que, graças ao subsídio estatal e
ao protecionismo, obtiveram lucro na atividade agrícola mesmo com pouca capacidade
de gerenciar e produzir. Entretanto, os anos 90 marcam a derrubada dos conceitos de
intervenção urbana, homogeneidade e subdesenvolvimento relacionados à agricultura.

De acordo com Bordenave (2003), os últimos trinta anos foram marcados por
mudanças profundas no meio rural, dentre as quais pode-se destacar: a proporção
da população que permanece no campo está se reduzindo em todos os países; a
agricultura empresarial, ou “agribusiness”, apoiada por grandes indústrias de insumos
agropecuários, penetra agressivamente no campo e ameaça a sobrevivência da
pequena e da média propriedade, em especial, de agricultura familiar; as fronteiras entre
o rural e o urbano estão cada vez mais difusas, acentuando-se o domínio do urbano
sobre o rural, principalmente devido ao desenvolvimento dos meios de transporte, a
penetração do rádio e da televisão, o crescente desejo por educação e o crescimento
das cidades interioranas; os habitantes do meio rural passaram a sentir a necessidade
de estarem informados e atualizados, inclusive mediante o acesso a Internet, todavia,
os sistemas de comunicação não se preocupam em satisfazer essa necessidade, pelo
contrário, seus conteúdos estimulam a urbanização e não a permanência do homem
no campo; os movimentos de integração regional, como o Mercosul, tem determinado
a necessidade de que os produtores rurais se tornem competitivos, ou seja, que

81
coloquem no mercado produtos de qualidade com preços reduzidos. A consequência é o
aumento na necessidade de educação e capacitação, tanto em processos de produção
agropecuária, quanto em processos de comercialização.

Cada vez mais, o mundo rural engaja-se na realidade de constante transformação


própria do urbano, e, desta maneira, está se inserindo na Sociedade da Informação,
utilizando se de novas técnicas e instrumentos que facilitem a troca de informações e
a tomada de decisão.

As transformações no ambiente agrícola e na própria sociedade resultaram em


mudanças nos papéis, na atuação e nas formas de relacionamento dos atores sociais
envolvidos com a utilização de tecnologias no campo. “As mudanças de paradigmas
da comunicação, particularmente na última década, são causa e consequência das
transformações estruturais na agricultura” (CASTRO E DUARTE, 2004, p. 51).

O conceito de informação rural - bastante utilizado nas décadas de 50 e 60


quando predominava o modelo de difusão de inovações tecnológicas - vem sendo, cada
vez mais, substituído pelo de comunicação rural, visto que a informação prima pela
difusão unilateral e a comunicação é um processo que se dá entre os participantes que
ora assumem papel de emissores e ora assumem o papel de receptores, dialogando
entre si. Nesse sentido, a comunicação rural adquire um caráter mais participativo, sendo
os produtores rurais atuantes na produção e veiculação de notícias do setor agrícola.

Consequentemente, segundo Bordenave (2003), a comunicação, mais que um


processo de TRANSMISSÃO e DIFUSÃO, passa a ser um processo de RELACIONAMENTO
entre as pessoas, que se realiza mediante a LINGUAGEM, ou seja, os códigos e os meios
utilizados em um determinado CONTEXTO físico, social e cultural. Para o referido autor
(1988), a comunicação humana, enquanto processo, não se divide em rural e urbana,
visto que seus meios e mensagens alcançam todas as pessoas, independentemente
do lugar onde moram. Todavia, o homem rural apresenta códigos e meios próprios
para se comunicar, o que caracteriza o seu estilo de vida agrícola. Porém, essa noção
vem perdendo sua importância, tendo em vista a grande aproximação entre o meio
rural e o urbano. A medida que se desenvolve a consciência de que o processo de
desenvolvimento não consiste somente na introdução de tecnologias modernas e no
crescimento econômico, o antigo conceito de comunicação, que era equivalente a mera
difusão de mensagens informativas, persuasivas ou instrutivas, foi substituído pelo
conceito de “comunicação como relação entre as pessoas” (BORDENAVE, 2002).

Nesse contexto, a comunicação adquire uma importância fundamental para a


promoção do desenvolvimento das comunidades, desempenhando inúmeras funções,
tais como: manter a população informada sobre seus direitos e obrigações; defender e
fortalecer os valores básicos da democracia social e do desenvolvimento sustentável,
como equidade, cooperação e equilíbrio ecológico; educar e capacitar a população
aumentando seus conhecimentos, enriquecendo seu vocabulário, fortalecendo

82
seus valores positivos, ensinando tecnologias e socializando métodos; promover a
identificação coletiva dos problemas comunitários e sua articulação; catalizar a reflexão
comunitária sobre a realidade e seus problemas; apoiar a organização e facilitar o
“empoderamento” da sociedade civil frente ao Estado e ao mercado; e fortalecer e
enriquecer a cultura local, regional e nacional, respeitando as diversidade culturais.

FONTE: VIERO, V. C.; SOUZA, R. S. Comunicação rural on-line: promessa de um mundo sem fronteiras. In:
CONGRESSO DA SOCIEDADE BRASILEIRA DE ECONOMIA, ADMINISTRAÇÃO E SOCIOLOGIA RURAL, 2008,
Rio Branco. Anais […]. Rio Branco, Acre, 2008.

83
RESUMO DO TÓPICO 3
Neste tópico, você adquiriu certos aprendizados, como:

• A comunicação é um processo no qual os participantes criam e compartilham


informações uns com os outros para alcançar o entendimento mútuo. A difusão
é uma forma especial de comunicação relacionada a novas ideias. É uma forma
específica de mudança social, definida como um processo pelo qual ocorre alteração
na estrutura e função de um sistema social.

• No estudo da inovação, o termo difusão é mais frequentemente usado para descrever


o processo pelo qual indivíduos ou grupos na sociedade/economia adotam uma
nova tecnologia ou substituem tecnologia antiga por nova.

• A inovação como construção social é criada na interação da consciência e da


necessidade de inovação (utilidade, aceitabilidade, compatibilidade da inovação,
necessidade de superar o existente e conhecido), abertura e foco na criação de um
sistema de inovação social e em personalidades criativas.

• Uma maneira de classificar os métodos de extensão é de acordo com seu uso e


natureza do contato. O método individual oferece oportunidades para contato pessoal
ou entre a população rural e os extensionistas. No método em grupo, os agricultores
são contatados em um grupo que geralmente tem um interesse comum, os técnicos
oferecem uma oportunidade para a troca de ideias, para discussões sobre problemas
e recomendações técnicas. O método de contato em massa aborda um grande
número de pessoas para divulgar uma nova informação e ajudá-los a usá-la.

84
AUTOATIVIDADE
1 A teoria da difusão de inovações busca explicar como e por que novas ideias e práticas
são adotadas, potencialmente espalhadas por longos períodos. A teoria de Difusão de
Inovações explica como a comunicação é usada para influenciar a adoção dessas
novas ideias. Sobre essa teoria, assinale a alternativa CORRETA:

a) ( ) A difusão de novas ideias e produtos é um processo importante na sociedade mo-


derna, com a introdução cada vez mais frequente de novas descobertas científicas,
tecnologias, mídia, bem como regulamentações governamentais e organizacionais.
b) ( ) O modelo aponta que as pessoas são mais resistentes a adotar novas ideias,
produtos ou comportamentos com base em suas avaliações das ideias
comunicadas a elas.
c) ( ) O processo de difusão da inovação descreve a disseminação planejada e
espontânea de novas ideias, embora atividades de difusão estrategicamente
planejadas possam reduzir significativamente a adoção de inovações.
d) ( ) Esse processo de difusão envolve a criação ativa e a fragmentação de infor-
mações sobre as inovações entre as pessoas para promover o entendimento a
determinados grupos.

2 A teoria da difusão de inovações de Everett Rogers oferece uma estrutura testada


pelo tempo para analisar alguns dos fatores que podem ter contribuído para o sucesso
ou fracasso de uma inovação. Rogers foi fundamental para estabelecer este estudo
sistemático sobre as formas como as inovações são introduzidas e adotadas por
usuários em potencial. Sobre os atributos das inovações, analise as sentenças a seguir:

I- Compatibilidade é o grau em que uma inovação parece ser melhor do que qualquer
outra alternativa.
II- Observabilidade é o grau em que a inovação pode ser observada e experimentada
em primeira mão.
III- Complexidade é o grau em que a inovação é vista como difícil de entender ou usar.
As pessoas são menos propensas a adotar produtos complexos ou difíceis de usar.

Assinale a alternativa CORRETA:

a) ( ) As sentenças I e II estão corretas.


b) ( ) Somente a sentença II está correta.
c) ( ) As sentenças II e III estão corretas.
d) ( ) Somente a sentença III está correta.

85
3 Os métodos de extensão são as ferramentas e técnicas usadas para as situações nas
quais a comunicação pode ocorrer entre a população rural e os profissionais de extensão.
Uma maneira de classificar os métodos de extensão é de acordo com seu uso e natureza
do contato, como individual, em grupo ou em massa. Sobre os métodos da extensão e
comunicação rural, classifique V para as sentenças verdadeiras e F para as falsas:

( ) Métodos de contato individual: os métodos de extensão nesta categoria oferecem


oportunidades de contato pessoal entre a população rural e os profissionais de
extensão. Esse método é ineficiente no ensino de novas habilidades.
( ) Métodos de contato em grupo: esses grupos geralmente são formados em torno de
um interesse comum também envolvem um contato presencial com as pessoas e
possibilitam a troca de ideias, discussões sobre problemas e recomendações técnicas.
( ) Método de contato em massa: o extensionista tem que se aproximar de um grande
número de pessoas para divulgar informações. Esses métodos são mais úteis para
conscientizar as pessoas sobre as novas tecnologias de forma rápida.

Assinale a alternativa que apresenta a sequência CORRETA:

a) ( ) V – F – F.
b) ( ) V – F – V.
c) ( ) F – V – V.
d) ( ) F – F – V.

4 Os métodos de extensão podem ser definidos como ferramentas utilizadas para criar
situações em que novas informações possam circular entre o extensionista e as
comunidades agrícolas. É função do extensionista utilizar os métodos de extensão
que oportunizam a melhor compreensão da população rural. O método em grupo é
utilizado em diversas ações de Ater, disserte sobre seu formato e possibilidades.

5 A característica principal do modelo difusionista pode ser resumida como a reorientação


pedagógica massiva da extensão rural para a difusão dos pacotes tecnológicos,
via uma série de métodos que preconizavam a demonstração, o “aprender a fazer
fazendo" e o experimental. A adoção desse método trouxe vários impactos negativos,
disserte sobre esses impactos.

86
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90
UNIDADE 3 —

METODOLOGIAS
PARTICIPATIVAS DE
CAPACITAÇÃO E MOBILIZAÇÃO
DA COMUNIDADE RURAL
OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM
A partir do estudo desta unidade, você deverá ser capaz de:

• capacitar para o planejamento de programas de extensão rural e para o uso


adequado e eficiente dos métodos de extensão rural;

• compreender a aplicação dos principais métodos participativos de extensão rural;

• entender os desafios do processo de comunicação rural;

• enfocar a transferência da tecnologia e a difusão de inovações entre produtores;

• proporcionar aos acadêmicos a formação básica necessária à reflexão crítica acerca


das relações sociais na agropecuária nacional.

PLANO DE ESTUDOS
Esta unidade está dividida em três tópicos. No decorrer dela, você encontrará
autoatividades com o objetivo de reforçar o conteúdo apresentado.

TÓPICO 1 – O PAPEL DOS MÉTODOS PARTICIPATIVOS NO PROCESSO DE PARTICIPAÇÃO


POPULAR
TÓPICO 2 – AÇÕES DINAMIZADORAS NO ENFOQUE PARTICIPATIVO
TÓPICO 3 – NOVAS TECNOLOGIAS DA INFORMAÇÃO APLICADAS À EXTENSÃO

CHAMADA
Preparado para ampliar seus conhecimentos? Respire e vamos em frente! Procure
um ambiente que facilite a concentração, assim absorverá melhor as informações.

91
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A TRILHA DA
UNIDADE 3!

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92
UNIDADE 3 TÓPICO 1 —
O PAPEL DOS MÉTODOS PARTICIPATIVOS NO
PROCESSO DE PARTICIPAÇÃO POPULAR

1 INTRODUÇÃO
A abordagem da extensão rural passou por mudanças nas últimas décadas, para
refletir o desenvolvimento de um novo paradigma que enfatiza a sustentabilidade e a
aprendizagem participativa, a fim de proporcionar a capacitação local das populações
rurais e o fortalecimento do campo. Dessa forma, podemos considerar que a extensão
rural, na sua forma contemporânea de atuação, afastou-se do modelo extensionista
fundamentado nos pacotes da “Revolução Verde” (CARVALHO et al., 2008). Nesse formato,
as ações dos extensionistas vêm utilizando métodos participativos, que podemos entender
como ferramentas de trabalho que auxiliam na compreensão das necessidades básicas
dos agricultores, levando em consideração seus desejos e os potenciais existentes,
buscando valorizar os conhecimentos da população do campo, a sua cultura, e incorporá-
los ao processo de disseminação e aprendizagem tecnológica (OLIVEIRA; SILVA, 2015).

Nesse sentido, os técnicos de Ater necessitam pensar as concepções que


orientam as suas ações para que considerem os conhecimentos e experiências de vida
das populações rurais. Assim, as ações devem ser pautadas em uma via de mão dupla,
na perspectiva de fazer com eles e para eles. E devemos pensar: como fazer isso? Quais
são as ferramentas existentes? Quais são os impactos?

Neste tópico, faremos referência à trajetória histórica do modelo de atuação


dos serviços de Ater no Brasil e a forma de atuação atual, na perspectiva participativa.
Abordaremos os princípios dos métodos participativos e os níveis de participação popular.

2 MODELO DIFUSIONISTA E PARTICIPATIVO:


POTENCIALIDADES E LIMITES
O modelo difusionista (1963-1984) esteve pautado no desenvolvimento rural
com a introdução e difusão de práticas dos agricultores voltadas à maior eficiência
produtiva (BORDENAVE, 1985). Esse modelo visou melhorar a produção dos médios
e grandes agricultores e potencializar o aumento da área cultivada, com adoção de
práticas para modernização técnica da agricultura, como máquinas e implementos
agrícolas; sementes melhoradas; adubos químicos e agrotóxicos.

93
O marco para estabelecer as ações difusionistas da extensão rural no Brasil foi a
institucionalização do Sistema Nacional de Crédito Rural (SNCR), que promulgou a Lei n. 4.829
de 1965, cujo objetivo era financiar parte do capital de giro da produção, comercialização de
produtos agrícolas; estímulo à formação de capital e aceleração da adoção e modernização
da tecnologia (DORNELAS, 2020). Esse modelo também é marcado pela criação da Empresa
Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) e da Empresa Brasileira de Assistência
Técnica e Extensão Rural (Embrater), em 1975. Na concepção dessas entidades públicas, a
extensão rural era responsável pela promoção das tecnologias no campo.

Passemos a refletir o seguinte questionamento: como era a atuação do técnico


extensionista nesse período? No modelo difusionista, a relação estabelecida entre
extensionistas e agricultores era a interação sujeito-objeto. No topo dessa relação
está o técnico, que possui cientificamente o "maior" conhecimento, e os agricultores
aceitavam passivamente as ditas orientações, a partir de um curto diálogo. O papel do
extensionista era ser um formador, com atribuição de fiscalizar a emissão de crédito e
orientar sua utilização, de forma a "modernizar" o "atraso" do meio rural brasileiro, pois a
obtenção de crédito incentivava a compra de insumos, como pesticidas, fertilizantes e
máquinas, para aumentar a produção e, assim, utilizar práticas agrícolas sem levar em
conta a estrutura social, econômica e ambiental (MARINHO; FREITAS, 2015).

Essa situação evidencia o chamado autoritarismo cultural, em que o conhecimento


dos produtores é completamente ignorado. Outra fonte de crítica a essa abordagem é o
reconhecimento de que o objetivo final do processo é a difusão e utilização da tecnologia,
ao invés de atender às necessidades das famílias rurais ou às demandas das comunidades
(CALDAS; ANJOS, 2021). Podemos entender que a finalidade dos serviços de extensão
rural na época era ampliar as políticas de crédito, recursos, investimentos, comercialização
e produção, principalmente as commodities agrícolas.

Nesse sentido, as principais características do modelo de difusão foram:

• Atuação dos agentes voltada para a construção e assessoramento de projetos de


investimento de acesso a crédito de produtos específicos.
• Difusão de tecnologias para alcance generalizado pelos agricultores, com foco na
produção e produtividade das propriedades rurais.
• Táticas de desenvolvimento e intervenção voltadas aos aspectos técnicos da produção,
sem considerar questões culturais, sociais ou ambientais das comunidades rurais.

Esse formato da extensão rural fez com que pesquisadores, técnicos e


extensionistas passassem a analisar as possibilidades de uma nova abordagem
considerando as especificidades, o diálogo e o conhecimento do público atendido. Com
esse novo olhar, as ações direcionadas para uma visão participativa para a extensão
rural no Brasil passaram a ser evocadas anos 1980 e início da década de 1990 como um
novo paradigma (OLIVEIRA; SILVA, 2015). Desse modo, o modelo tradicional (difusionista)
de extensão rural passava então a ser deixado de lado para dar lugar a uma nova
perspectiva, voltada para uma melhor comunicação entre técnicos e agricultores.

94
O modelo participativo surgiu nesse contexto. Um marco, iniciado no Brasil em 2003, foi
a proposta de Assistência Técnica e Extensão Rural (Ater), cujos parâmetros eram desenvolver
outro mecanismo de construção compartilhada, relacionado à inclusão de questões socioam-
bientais e novos temas, como metodologias participativas, políticas públicas de fortalecimento
da agricultura familiar, relações de gênero e agroecologia (CAPORAL; RAMOS, 2006).

Essa proposta, defendida por muitos autores, foi fortalecida e deu início à Política
Nacional de Assistência Técnica e Extensão Rural (PNATER), promulgada pela Lei n.
12.188, de 11 de janeiro de 2010 (BRASIL, 2010). A lei de Ater defende que os profissionais
de extensão rural precisam de conhecimentos e habilidades para encontrar uma forma
mais participativa de trabalho, um contexto de ações educacionais engajadas para o
desenvolvimento rural das comunidades. Portanto, o uso de metodologias participativas
tornou-se importante na construção desse diálogo entre os agricultores e os produtores.

Contudo, existem críticas à atuação considerando conhecimentos tradicionais, que


para muitos são mais acessíveis e que no campo da participação se tornam cada vez mais
importantes. Para a maioria dos especialistas, não se trata de conhecimento "científico" e,
portanto, podem levar os técnicos a interpretações incorretas da realidade (ZITZKE, 2012).

IMPORTANTE
A PNATER visa colaborar com a promoção do desenvolvimento rural
sustentável e com o uso consciente dos recursos naturais. Essa política
propõe uma educação dialógica entendida como a Nova Extensão Rural.

Podemos entender que o modelo de extensão participativo surgiu como promotor


do desenvolvimento rural, na crítica ao modelo difusionista voltado à difusão de pacotes
tecnológicos. Nessa perspectiva, é proposta uma nova concepção de construção do
conhecimento e de formulação de respostas às questões vivenciadas pelas populações
mais excluídas no campo. Isso implica novas formas de tomada de decisão e novas
formas de realização da intervenção de pesquisa também. No modelo participativo, os
agricultores são colocados como protagonistas na busca de respostas que atendam aos
seus próprios interesses, valorizando o conhecimento tradicional (CORRALES, 2017).

Assim, no modelo participativo, não é suficiente apenas passar a informação


aos agricultores. Para que a participação exista, as pessoas devem estar inseridas de
fato no processo, contribuindo para o planejamento, desenvolvimento, gestão e análise
dos resultados (CAPORAL; COSTABEBER, 2004). Dal Soglio (2017) contribui para esse
entendimento, ressaltando a importância de desenvolver habilidades de comunicação
e entender a realidade local.

95
As principais características do modelo participativo são:

• Foco no agricultor e nas necessidades das comunidades rurais dentro do contexto


que vivem, para além de uma óptica da produtividade.
• Abordagens como sistemas de aprendizagem e interação. A atuação do técnico
extensionista é de forma participativa em que todas as visões dos agricultores são
consideradas nas atividades.
• O papel do "especialista" é o de facilitador, na busca por ações de visem melhorar
a vida no campo, incluindo a construção e o fortalecimento das instituições locais,
aumentando assim a capacidade das pessoas de iniciar ações por conta própria.

ESTUDOS FUTUROS
No Tópico 2, iremos aprofundar as formas de atuação do técnico
extensionista na utilização das ferramentas metodológicas com enfoque
participativo.

No caminho evolutivo que envolveu as diferentes abordagens participativas,


muitos avanços foram obtidos em comparação com a transferência de tecnologia
predominante. Essa nova perspectiva exige que o extensionista seja um mediador
de saberes e conhecimentos e um ator no desenvolvimento das comunidades rurais
(CAPORAL; RAMOS, 2006).

Os princípios e objetivos que norteiam o modelo participativo baseiam-se em propostas


de intervenção no campo voltadas à promoção do desenvolvimento rural sustentável.

3 PRINCÍPIO METODOLÓGICO DO ENFOQUE


PARTICIPATIVO
Nas últimas duas décadas, as ações de intervenção orientadas por metodologias
participativas têm sido reconhecidas como um instrumento metodológico que pode servir
em atividades de mediação, orientação e de intervenções com base nos seus princípios
éticos, no reconhecimento de valores e elementos culturais. Nesse sentido, o enfoque
participativo, constitui um olhar para o processo em que cada um, individualmente, e todos
no coletivo, se posicionam frente aos problemas, em ver a realidade mais criticamente
para construção e implementação de estratégias de desenvolvimento (ZITZKE, 2012).

Devemos entender que maiores mudanças são necessárias no que diz respeito às
visões dos extensionistas, que devem ser levadas em consideração no desenvolvimento
de estratégias de atuação. Isso porque temos em vista que os quadros tradicionais de
formação dos extensionistas estão centrados na figura do formador – normalmente

96
considerado um 'especialista' – e que tendem a persistir sem o reconhecimento da
existência de metodologias alternativas que proporcionem a facilitação de processos
reflexivos ou na troca de conhecimentos e experiências (LANDINI; BRITES; REBOLÉ, 2017).

Para começar a entender o princípio metodológico do enfoque participativo, é


necessário romper com a perspectiva de tratar o agricultor como um objeto, uma vez
que o enfoque participativo reforça a necessidade de cooperação, tanto no contexto
local como no global, de forma mais transparente e democrática. Compartilhando
conhecimento e construindo saberes, as comunidades assumem o controle de seu
próprio desenvolvimento, de seu papel na gestão do contexto local, promovendo o
desenvolvimento sustentável (DAL SOGLIO, 2017).

Os princípios metodológicos apresentados por Borba (1988 apud Corrales, 2017)


destacam as principais questões nos processos com enfoque participativo, as quais
estão elencadas a seguir.

1. Autenticidade e compromisso: a base de conhecimento deve ser respeitada, o


técnico não deve se disfarçar de agricultor, na perspectiva de buscar a integração
com as populações rurais. Há espaço dedicado a esses profissionais, para que
possam demonstrar seu compromisso com as causas e ao mesmo tempo trazer
para o seu conhecimento disciplinar a perspectiva de reconhecer a necessidade de
desenvolver uma visão sistemática do contexto local, interdisciplinar, compatível
com o conhecimento comum.
2. Antidogmatismo: dentro de um campo de diferentes identidades, existe a
possibilidade da autonomia do olhar frente ao contexto que se apresenta, sem deixar
de haver um diálogo produtivo e a busca pelas convergências de propósitos.
3. Restituição sistêmica: o conhecimento dos agricultores deve ser restaurado de forma
sistemática e organizada, para permitir discussão crítica e enriquecimento dos saberes.
4. Retorno (“feedback”) aos/às intelectuais orgânicos: refere-se às ações
comprometidas desses profissionais em relação a causas populares. Ao mesmo
tempo que contribuem para a reprodução sistemática do conhecimento nas
comunidades rurais, permitem também um maior nível de discussão científica sobre
o que se faz no campo, formando uma visão integrada do contexto rural.
5. Ritmo e equilíbrio de ação-reflexão: esse processo prevê uma sincronicidade
contínua entre a reflexão e a ação no campo, representando um ato de equilíbrio
intelectual permanente, sempre em contato com a base social.
6. Ciência modesta e técnicas dialogais: pressupõe a humildade no funcionamento
do aparato científico e nos conceitos técnicos, como pré-condições para o
desempenho das tarefas necessárias ao nível de desenvolvimento das comunidades
rurais. Deve-se romper a assimetria das relações sociais além de incorporar as pessoas
como indivíduos ativos e pensantes no esforço de construção do conhecimento.

No enfoque participativo, deve-se facilitar processos de mudança das pessoas


e grupos assistidos nos seus conhecimentos, habilidades e atitudes. Na prática, essa
metodologia apoia os agricultores para que reconheçam, analisem sua situação e definam

97
tarefas e objetivos, habilitando-os a encontrar e desenvolver soluções sustentáveis, buscando
uma mudança no comportamento das pessoas para que elas sejam cada vez mais capazes
de se autogerenciar, alcançando assim melhores condições de vida no meio rural.

DICA
Para aprofundar seus conhecimentos sob enfoque participativo sugerimos a
leitura do livro: https://bit.ly/3JCUiyQ. Os conteúdos e abordagens objetivam
o desenvolvimento das capacidades, habilidades e atitudes de moderação
de processos participativos.

4 OS NÍVEIS DE PARTICIPAÇÃO POPULAR


Nas últimas duas décadas, a participação tem sido a principal construção
retórica e prática que mudou a maneira como as pessoas se engajam em seu próprio
desenvolvimento e tem sido apontada como o padrão da prática de desenvolvimento,
principalmente porque se baseia nas concepções de modernidade, democracia,
tolerância para as diferenças e representação do todo. Os estudiosos têm reconhecido
a participação popular como princípio fundamental para impulsionar a eficácia e a
sustentabilidade nas ações de desenvolvimento.

Para entender os níveis de participação, precisamos entender o conceito e a base


da participação. Então, o que é participação popular? O termo participação popular se
refere a uma concepção mais ampla do que somente um movimento sindical ou política
partidária. O termo, na maioria das vezes, refere-se às classes mais baixas, seu início se
deu no contexto da participação cidadã durante os anos de 1930 e 1940, relacionado ao
surgimento de políticas públicas. A ideia da participação popular surgiu justamente para
diferenciá-la de outra concepção de sociedade, ela significa uma força social essencial
para fazer as conquistas saírem papel e promover as mudanças necessárias (VALLA, 1998).
Marinho e Freitas (2015, p. 17) apontam que “[…] a participação não é simplesmente um
instrumento para a resolução de problemas, ela representa uma necessidade humana”.

Existem diferentes níveis de participação, Pesce Júnior e Cordioli (2021)


destacam que participar significa “participar / tornar-se parte do processo”, ou seja, está
além da presença em um ambiente. O processo participativo, portanto, ultrapassa o
trabalho participativo, caracterizando-se como uma filosofia de trabalho que permeia
todas as dinâmicas e culturas organizacionais. A participação exige que os indivíduos
sejam sujeitos do processo, bem como é preciso a sua participação efetiva na análise
da situação. Essa forma de participação ocorre em diferentes níveis, conforme Quadro 1.

98
QUADRO 1 – NÍVEIS DE PARTICIPAÇÃO POPULAR

Nível de participação Características


Os participantes ouvem o que vai acontecer ou o que já
aconteceu. É um anúncio unilateral, não ocorre a escuta
Participação passiva
das respostas das pessoas. As informações compartilhadas
pertencem apenas a profissionais externos.
Participação no Os participantes respondem a perguntas pré-formuladas
fornecimento de em questionários ou entrevistas e não influenciam a
informações formulação ou interpretação das questões.
Os participantes são consultados por agentes externos que
podem definir ambos problemas e soluções de acordo com
Participação por consulta respostas. Tal processo consultivo não concede nenhuma
participação na tomada de decisões e os profissionais não
têm a obrigação de levar em consideração as opiniões.
São oferecidos recursos, como trabalho ou terra, em
troca de outros incentivos materiais, mas não estão
Participação para
envolvidos na experimentação ou no processo de
incentivos materiais
aprendizagem. É comum não prolongar as atividades
quando os incentivos acabam.
A participação ocorre com a formação de grupos para
atender a objetivos predeterminados por agentes
Participação funcional externos. Esses grupos são geralmente formados após
decisões importantes terem sido tomadas, mas podem
se tornar autodependente.
As pessoas participam de análises conjuntas na condução
dos planos de ação e na formação de novas ações. Tende
a envolver metodologias interdisciplinares que buscam
Participação interativa múltiplas perspectivas e fazem uso de processos de
aprendizagem sistêmicos e estruturados. Os participantes
assumem controle das decisões locais e, portanto, as
pessoas têm interesse na permanência do grupo.
A participação ocorre com iniciativas independentes de
fatores externos. Essa mobilização autoiniciada e a ação
Automobilização
coletiva podem ou não desafiar a distribuição desigual
de riqueza e poder existente.
FONTE: Adaptado de (TONESS, 2001).

A participação só se materializa a partir de estruturas organizacionais coletivas


e, para isso, as populações interessadas devem buscar os mecanismos necessários para
tal. Isso significa que essas populações devem ser responsabilizadas, desde o início, pelas
ações como um todo e buscar os resultados. A participação se refere ao conhecimento e,
como tal, não é algo que atores externos possam transferir para a comunidade.

99
Assim, o papel do agente externo é o de facilitador na interação entre os
sujeitos da ação educativa, que busca fortalecer a autoestima e a confiança dos
indivíduos. Dessa forma, a participação torna-se efetiva no aumento da capacidade de
negociação e no exercício conjunto da força interna da comunidade. Para atingir esse
nível, entretanto, é essencial que atores externos subsidiem as populações na prática
do refletir-agir-refletir, a fim de que construam seu conhecimento da realidade de forma
crítica (CAMPOLIN; FEIDEN, 2011).

IMPORTANTE
A participação popular foi preconizada na Constituição de 1988, em que
uma série de medidas foram incorporadas ao desenvolvimento de políticas
públicas, a partir do estímulo à participação representativa dos produtores
rurais, organização coletiva e ações territoriais.

100
RESUMO DO TÓPICO 1
Neste tópico, você adquiriu certos aprendizados, como:

• No modelo difusionista, a extensão rural estava voltada à difusão de tecnologias


para o campo e à ausência da participação dos beneficiários, tanto na elaboração
como na execução dos projetos.

• No modelo participativo, o extensionista não é mais um distribuidor da tecnologia,


mas uma pessoa que questiona práticas, recomenda alternativas, monitora e analisa
problemas, de forma participativa, para buscar soluções possíveis, para trazer
mudanças nas atitudes e comportamentos na perspectiva do desenvolvimento
rural sustentável.

• O enfoque participativo tem como foco o agricultor como protagonista do processo,


trabalhando na troca de conhecimento e saberes. Os princípios metodológicos são
baseados na autenticidade e compromisso; antidogmatismo; restituição sistêmica;
retorno (“feedback”) aos/às intelectuais orgânicos; ritmo e equilíbrio de ação-
reflexão; ciência modesta e técnicas dialogais.

• Ao usar e interpretar o termo participação, este deve ser qualificado por referência
ao tipo de participação. Os processos com enfoque participativo assumem um
aprendizado cumulativo de todos os participantes, buscam a diversidade de muitas
perspectivas e apreciam o que diferentes indivíduos e grupos enfrentam em
diferentes avaliações das situações.

101
AUTOATIVIDADE
1 Os serviços de Ater no modelo difusionista promoveram a disseminação de práticas
conservacionistas na agricultura brasileira, associados à Revolução Verde. Esse
modelo esteve estruturado com o objetivo principal de difundir, por meio de subsídios,
pacotes tecnológicos. Nesse contexto, sobre a atuação do técnico extensionista no
período difusionista, assinale a alternativa CORRETA:

a) ( ) Atuação voltada à orientação de práticas buscando a produtividade agrícola,


promovendo acesso e fortalecimento da cadeia agroindustrial (sementes, defensivos,
máquinas e implementos), na óptica da sustentabilidade e do abastecimento alimentar.
b) ( ) Orientação técnica com ação interventiva, voltada ao atendimento dos
agricultores em uma perspectiva de difusão de pacotes tecnológicos a partir de
diagnósticos e planejamentos de ações pautadas no diálogo democrático.
c) ( ) Serviços objetivando integrar as inovações aos agricultores, criando uma reação
em cadeia, prologando o tempo da criação de uma inovação dos centros de
pesquisa e sua disseminação para os agricultores.
d) ( ) Tratamento do agricultor como um empresário que devia seguir certas tecnologias
para aumentar seus lucros, no modelo difusionista.

2 As metodologias participativas contribuem com as oportunidades de expressão,


pois visam facilitar a capacidade de tomada de decisão, elas assumem um processo
de aprendizagem e flexibilidade, enquadrando-se em diversos contextos sociais,
econômicos e ambientais. Com base nas concepções das metodologias participativas,
analise as sentenças a seguir:

I- Na utilização das metodologias participativas, a interação entre especialistas e


diferentes grupos de pessoas locais cria um processo de aprendizagem, dificultando
o consenso sobre os rumos da mudança por divergentes opiniões.
II- O uso de métodos participativos requer treinamento, prática, sensibilidade, criatividade
e síntese na organização das ideias e sugestões desenvolvidas nas discussões.
III- O papel do especialista em participar da metodologia é o de um facilitador colaborando
com a identificação das análises dos seus próprios contextos, identificando os
problemas e as potencialidades existentes.

Assinale a alternativa CORRETA:

a) ( ) As sentenças I e II estão corretas.


b) ( ) Somente a sentença I está correta.
c) ( ) As sentenças II e III estão corretas.
d) ( ) Somente a sentença III está correta.

102
3 A participação popular faz parte da linguagem de muitos projetos de desenvolvimento,
objetiva motivar a escuta e inserção em diálogos nos processos de tomadas de
decisão e ocorre em diferentes níveis. Com esse entendimento, classifique V para as
sentenças verdadeiras e F para as falsas:

( ) Na participação funcional, os participantes se dividem em grupos que perseguem


objetivos fixados anteriormente pelo projeto. Na fase de execução, participam da
tomada de decisões e se tornam independentes no transcurso do projeto.
( ) Na participação interativa, os participantes são incluídos na fase de análise e
definição do projeto. Participam plenamente do planejamento e da execução.
( ) Na participação passiva, leva-se em consideração a opinião do participante; integram-
se as opiniões no enfoque da pesquisa, mas o grupo não tem poder de decisão.

Assinale a alternativa que apresenta a sequência CORRETA:

a) ( ) V – F – F.
b) ( ) V – F – V.
c) ( ) F – V – F.
d) ( ) V – V – F.

4 Há algumas décadas, foram desenvolvidos os métodos participativos que incluem


os agricultores familiares desde a concepção do projeto até as ações de intervenção,
transformando-os em agentes no processo, valorizando seus conhecimentos e
respeitando seus anseios. Disserte sobre o modelo participativo, comentando como
surgiu e suas principais características na extensão rural.

5 O enfoque participativo possui ferramentas e técnicas que permitem a qualificação


da comunicação de dois ou mais atores de realidades diferentes. O desafio é criar
estratégias para colocá-las em prática efetiva nas ações de Ater, respeitando seus
princípios metodológicos. Nesse contexto, disserte sobre quais são os princípios da
abordagem participativa.

103
104
UNIDADE 3 TÓPICO 2 -
AÇÕES DINAMIZADORAS NO ENFOQUE
PARTICIPATIVO

1 INTRODUÇÃO
Como já mencionamos, na abordagem participativa a ação visa avaliar o
conhecimento e a experiência dos agricultores. Nesse sentido, para os extensionistas
rurais, isso significa que eles não são apenas agentes de tecnologias impostas
externamente, mas precisam ser catalisadores para ajudar as comunidades rurais a
alcançarem os objetivos traçados.

Portanto, os extensionistas precisam entender que isso significa aprender a


interagir de perto com grupos e comunidades, tornando-se ouvintes e facilitadores, e
estabelecendo um processo de comunicação bidirecional entre a comunidade e as agências
de serviço rural. Na última década, ferramentas com enfoque participativo tornaram-
se frequentes. No entanto, na prática, essas ferramentas ainda são constantemente
utilizadas de forma isolada do contexto geral e é necessário integrá-las.

A abordagem participativa se baseia no respeito às opiniões de todos e as


contribuições devem ser apreciadas. Neste tópico, exploraremos as ferramentas
disponíveis no processo participativo, que devem ser adotadas pelos extensionistas
e adaptadas a cada situação encontrada, levando em consideração características
sociais, políticas, culturais, técnicas e outras (PESCE JÚNIOR; CORDIOLI, 2021).

Assim, é necessária uma postura diferenciada entre os extensionistas e os


agricultores. Em sua função, os extensionistas devem compreender as ferramentas
metodológicas para realizar suas ações. Neste tópico, vamos conhecer as ferramentas
existentes e as possibilidades de aplicação no campo.

2 TÉCNICAS DE MODERAÇÃO PARA TRABALHO COM


GRUPOS
Em geral, a dinâmica de grupo é uma ferramenta que visa “aprender a
aprender”, rompendo estereótipos e mudando conceitos arraigados, permitindo novas
perspectivas sobre a realidade. As técnicas de moderação em grupo são formas de reunir
informações e recursos para resolver problemas e estreitar relações para promover o
crescimento coletivo. As principais técnicas comumente utilizadas no trabalho de Ater
são: dramatização; grupo de cochicho; mesa redonda; discussão circular; philips 66 ou
fracionamento; tempestade de ideias e visualização móvel (PEREIRA et al., 2009).

105
• Dramatização: método pelo qual um grupo estuda um determinado tema, situação
social por meio de um processo de grupo criativo orientado por um instrutor, no
caso o extensionista. Atuar na cena da vida permite que o indivíduo se coloque
no lugar dos outros, experimente sensações, percepções e compreensões. Permite
que o resto do grupo aprenda, compreenda observando e também analise o que
aconteceu. É importante observar o desenvolvimento de personagens, ações,
expressões verbais e emocionais (ALBERICH et al., 2009).
• Grupo de cochicho: esta dinâmica envolve dividir os participantes em um grande
grupo ao meio para discutir um problema. É chamado de cochicho, uma vez que
as pessoas falam baixo. É fácil de aplicar, podendo ser utilizado para grupos de até
50 pessoas. A dinâmica pode ser aplicada quando se quer criar oportunidades para
a participação de todos os indivíduos, ou para obter considerações com olhares
amplos para diferentes assuntos (PEREIRA et al., 2009).
• Mesa redonda: discutir um tema-chave com um debate mais aprofundado, por meio
de palestrantes apresentando suas ideias. Ocorre em eventos maiores e é usado
quando o tópico não foi solidificado e gerou discussão. Pode ter um caráter decisório,
onde os membros decidem o destino de algo democraticamente (LOPES, 2016).
• Discussão circular: a discussão começa com o estabelecimento de um limite
de tempo para cada pessoa e a apresentação de uma questão que precisa ser
respondida ou discutida por todo o grupo. Quando todos entenderem o problema,
alguém se apresentará para iniciar a discussão. Quando acaba o tempo, a pessoa ao
lado inicia, e assim por diante, até que todos falem (SOUSA et al., 2009).
• “Phillips 66” ou split: é outra forma de discussão em pequenos grupos criada por
J. Donald Phillips na qual seis pessoas discutem um problema por seis minutos. Foi
desenvolvido em quatro etapas. Primeiramente, o moderador, responsável pelo encontro
dos membros da sala, apresenta ao grande grupo uma questão. Em seguida, o moderador
divide o grande grupo em seis subgrupos e pede a todos que escolham seu moderador
e relator e, em seguida, inicia as discussões. Na terceira etapa, o relator de cada grupo
apresenta a conclusão. Na quarta etapa, o moderador conduzirá as discussões com todos
os grupos para chegar a uma conclusão final (OLIVEIRA; SILVA, 2015).
• Ideia de tempestade: os participantes fazem um brainstorming de uma pergunta
individual, com um tempo determinado e só então o indivíduo se comunica com os
outros e visualiza suas opiniões. A ferramenta se apresenta em 4 passos:
1- Passo 1 Brainstorming: as ideias são registadas no cartão; em cada forma, há
apenas uma ideia; as fichas são recolhidas pelo moderador do grupo sem ele
saber a sua origem
2- Passo 2 Classificar: os cartões são agrupados de acordo com os critérios
estabelecidos pelo próprio grupo – ideias repetitivas são descartadas.
3- Passo 3 Avaliação: os arquivos são lidos, esclarecidos, discutidos, avaliados e
finalizados; as semelhanças, contradições e diferenças são discutidas.
4- Passo 4 Conclusão: o grupo discute e escolhe um nome para cada grupo; as
conclusões são fixadas na mesa; o moderador prepara a apresentação. Durante a
plenária, os resultados alcançados pelos diferentes grupos são apresentados pelos
representantes de cada grupo, visualizando diretamente suas conclusões. Após
discussão, sistematização e síntese, conclusões gerais são traçadas (KUMMER, 2007).

106
• Visualização móvel: a visualização móvel é uma parte importante de um processo
participativo, uma vez que a capacidade de aprender é aprimorada e facilitada à
medida que podemos ver e interpretar certas informações em vez de apenas ouvi-las.
Portanto, a visualização móvel inclui a apresentação de um debate, a apresentação
de um tema etc. e é portátil, pois permite organizar as ideias, com grande flexibilidade
e permite diferentes opções de layout. O sistema de comunicação é baseado no uso
de tags, onde as informações são registradas com um marcador (CORDIOLLI, 1998).

O uso dessas técnicas participativas, e como elas podem garantir que sejam
tomadas decisões que reflitam os reais interesses do público envolvido na intervenção,
vai depender da percepção que o agente externo terá e sua forma de intervenção
(MILAGRES, 2016). Isso aponta a importância da experiência e abordagem prática do
técnico extensionista.

É importante destacar que a adoção de uma abordagem participativa se


baseia na implementação de etapas, que são utilizadas junto com as técnicas acima
apresentadas, como:

• Mobilização: moldada por atividades identificadas, mobilização e seleção do público.


• Diagnóstico e planejamento: atividades de levantamento de informações,
identificando as reais necessidades de quem tem poucos recursos e de outros.
• Ação: composta por ações de intervenção técnica promotoras de mudanças
multidisciplinares, coletivas e individuais podendo ser pontuais ou sequenciais.
• Avaliação e monitoramento: composta pelo feedback das ações desenvolvidas e a
fim de observar e controlar continuamente as atividades e a evolução dos resultados.

3 TÉCNICAS DE DIAGNÓSTICO PARTICIPATIVO


Os métodos participativos são um mecanismo para realizar intervenções que
busquem motivar a participação das pessoas no contexto em que vivem. Para isso,
utiliza técnicas que visam promover a participação da população de forma crítica e
consciente, uma dessas técnicas é o diagnóstico participativo.

Segundo Marinho e Freitas (2015), as discussões relacionadas ao uso de


métodos participativos na Ater costumam apontar para diferentes nomenclaturas e
siglas, entre as quais podemos destacar: Diagnóstico Participativo (DP), Diagnóstico de
Desenho, Diagnóstico Rápido Participativo (DRP), Diagnóstico Rural Participativo (DRP),
Diagnóstico Rápido Participativo Emancipador (DRPE), Diagnóstico Rápido Participativo
Ambiental (DRPA) e Diagnósticos Rápidos de Sistemas Rurais (DRSR).

Em geral, usaremos o nome Diagnóstico Rural Participativo (DRP) para tentar nos
referir à variedade de novas metodologias. As técnicas de DRP, assim como outros métodos
utilizados nas metodologias participativas, procuram resolver o problema das realidades

107
locais, traduzindo os problemas identificados para a realidade humana com uma visão mais
ampla, respeitando os valores da cultura local (FREITAS; DIAS; FREITAS, 2016).

NOTA
A palavra "rural" na sigla DRP é muito mais do que uma referência às suas
origens, muitas ferramentas da metodologia foram desenvolvidas no Centro
das Ciências Agrícolas na Universidade de Chiang Mai, norte da Tailândia, na
segunda metade da década de 1970 (FARIA; FERREIRA NETO, 2006).

Antes de nos aprofundarmos nas ferramentas que fazem parte do DRP, precisamos
entender quais são os benefícios e os desafios do DRP, explicitados no Quadro 2.

QUADRO 2 – PONTOS FORTES E DESAFIOS DO DRP

BENEFÍCIOS DESAFIOS
Precisa considerar e trabalhar com respon-
Empodera classes mais pobres e excluídas.
sabilidades pessoais e ética profissional.
Possibilita que grupos avaliem suas
Interagir com membros da comunidade,
realidades, colaborando para que consigam
requer resolução de questões éticas e
expressar suas propriedades e apoiando no
equitativas.
planejamento e desenvolvimento de ações.
Mudanças na forma de organização passam
Precisa de organizações participantes para
a ocorrer a partir de uma reorientação dos
garantir a participação por muito tempo no
agentes externos na perspectiva da aprendi-
processo.
zagem aberta entre si e com a comunidade.
Promove processos comunitários por meio
da teoria, identificação, diagnóstico, pla- Qualidade da formação, que prejudica
nejamento, implantação, monitoramento a análise das diferenças sociais e da
e desenvolvimento, todos de forma parti- importância do comportamento.
cipativa com participação cidadã.
Identifica as prioridades de pesquisa e a ca-
Pedidos conflituosos de financiadores, que
pacidade dos agricultores de projetar, con-
levam a uma participação prejudicada.
duzir e avaliar seus próprios experimentos.
Incentiva e permite a expressão local e a Necessita de mais troca de boas e más
exploração da diversidade. experiências em rede.
Considera as políticas dentro das organi-
zações e em diferentes níveis de governo: Foco em processos ao invés de resultados.
local, regional e nacional.
FONTE: Adaptado de (CHAMBRERS E GUIJT, 1995).

108
O DRP é voltado para a participação interativa, ou seja, a participação dos
beneficiários em todas as fases de um projeto. Sua implementação requer vontade
política e institucional, especialmente na execução de um projeto (VERDEJO, 2010).
No Guia Prático do DRP, Verdejo (2010) fornece as ferramentas que compõem o DRP,
que são: observação participante, entrevistas semiestruturadas, mapas e maquetes,
travessia, calendários, diagramas, matrizes e análise de gênero.

• Observação participante: ferramenta para os estágios iniciais da pesquisa, serve


para conhecer a realidade da comunidade e construir confiança para compartilhar
o tempo com a comunidade. É fundamental entender por que e como agem de
determinada maneira, antes de opinar e sugerir uma solução (VERDEJO, 2010).
• Entrevista semiestruturada: a entrevista é essencial quando é necessário
identificar práticas, crenças, valores e classificar grupos sociais. Pretende-se “incitar”
mais ou menos a liberdade de expressão, mas cumprir os objetivos da investigação
e dar sentido no contexto a ser investigado (DUARTE, 2004). No DRP, a entrevista
deve ser realizada por duas pessoas: uma conduzindo a entrevista e a outra sendo
o único responsável pelas anotações e ideias. A opinião do entrevistado deve ser
respeitada sem, necessariamente, que se compartilhe dela (VERDEJO, 2010).
• Mapa e maquetes: os mapas são usados para planejamento, discussão e análise
das informações exibidas. Eles podem ser feitos em papel ou com qualquer material
de base e permitem que todos os membros da comunidade participem. São uma das
ferramentas mais populares do DRP; como todas as informações são geradas em
grupos, os resultados são apresentados a toda a comunidade (PEREIRA et al., 2009).

Existem várias possibilidades com os mapas. Os mapas de recursos naturais


mostram os diferentes elementos de uso do espaço, com foco principal nos recursos
naturais. Representa-se áreas habitadas, recursos de flora e fauna, áreas de cultivo,
construção de infraestrutura social, áreas de problema e conflito, limites etc.

FIGURA 1 – MAPA DE RECURSOS NATURAIS NO DRP

FONTE: Verdejo (2010, p. 31).


109
No mapa social, sua elaboração tem como objetivo analisar a situação social
e discutir necessidades e potencialidades existentes. Ele coleta informações sobre as
condições de vida, como acesso a água potável, energia elétrica, qualidade da moradia.

FIGURA 2 – MAPA SOCIAL NO DRP

FONTE: Verdejo (2010, p. 32).

Os mapas da comunidade enfocam informações sobre as condições de vida,


como acesso à água potável, eletricidade e qualidade da habitação. Além disso, visu-
alizam a estrutura social da comunidade, seus habitantes etc. O mapa da comunidade
se assemelha à técnica do Mapa Social, contudo este mapeamento visa criar uma con-
cepção do estado atual da comunidade em relação às suas potencialidades e limitações
nas áreas de produção, sociais, sanitárias etc.

110
FIGURA 3 – MAPA DA COMUNIDADE NO DRP

FONTE: Verdejo (2010, p. 32).

O mapa da propriedade apresenta detalhes da infraestrutura produtiva e


social do imóvel. Em geral, vários mapas de propriedade ou diferentes zonas são criados
para dar uma melhor visão geral da organização produtiva no nível do local.

FIGURA 4 – MAPA DA PROPRIEDADE NO DRP

FONTE: Verdejo (2010, p. 33).

O mapa dos fluxos econômicos mostra a relação entre os diferentes


elementos do sistema produtivo dentro e fora da comunidade. Pretende-se representar
as interações entre esses elementos (agricultura, pecuária, silvicultura, irrigação,
serviços, comercialização etc.).

111
FIGURA 5 – MAPA DE FLUXOS ECONÔMICOS NO DRP

FONTE: Verdejo (2010, p. 34).

Travessia é a técnica que fornece uma visão geral do funcionamento e da


estrutura da unidade familiar / sistema agrícola. É essencial perceber que o tempo é
gasto fazendo perguntas sem definir direções possíveis.

Trata-se de um momento de “exercícios de escuta” para encontrar maneiras de


identificar as inovações que as famílias fazem, não há necessidade de perguntas. As informações
captadas serão usadas para determinar estratégias de ações futuras (PEREIRA et al., 2016).

FIGURA 6 – FERRAMENTA DA TRAVESSIA NO DRP

FONTE: Verdejo (2010, p. 37).


112
Verdejo (2010) afirma que o calendário permite a análise de todos os aspectos
do tempo. Podem ser assinaladas as atividades que mais ocupam tempo, o tempo de
diferentes safras e seus respectivos trabalhos no período agrícola.

Existem diversos tipos de calendários que o autor apresenta, sendo eles:

• Calendário agrícola: exibe informações sobre as épocas agrícolas e atividades


produtivas na comunidade.
• Calendário de atividades: mostra o cronograma por áreas de intervenção, tais
como: agrícola, social, outras fontes de renda e trabalho etc.
• Calendário sazonal (ciclo agrícola): apresenta em conjunto as relações entre os
ciclos naturais das estações, tais como: períodos de chuva, seca, temperatura etc.
e em outros ciclos, como renda, emprego, crédito etc.
• Calendário histórico: representa as sucessões históricas, com as mudanças que
causaram no sistema de produção e no ambiente em um tempo predeterminado.

Os diagramas permitem analisar todos os aspectos complexos e inter-


relacionados de forma acessível. As técnicas mais conhecidas e utilizadas nessa
ferramenta são as seguintes.

• Árvores de problemas: as árvores de problemas têm um potencial especial para


promover o protagonismo dos agricultores familiares na análise e compreensão das
causas e efeitos de um determinado problema identificado pela comunidade em
projetos participativos (DIAS et al., 2018).

FIGURA 7 – ÁRVORE DE PROBLEMA NO DRP

FONTE: Verdejo (2010, p. 42).


113
• Diagrama de Venn: este é um diagrama de círculos de diferentes tamanhos,
organizados para mostrar as relações existentes nas tomadas de decisão e no
desenvolvimento da comunidade. Cada círculo representará, com palavras e / ou
desenhos, um grupo (formal ou informal) da sociedade em questão. O tamanho
do círculo representa a força desse grupo, ou seja, sua capacidade de atingir seus
objetivos de forma eficaz. A distância entre os círculos representa a relação entre
esses grupos (FARIA; FERREIRA NETO, 2006).

FIGURA 8 – ÁRVORE DE PROBLEMA NO DRP

FONTE: Verdejo (2010, p. 43).

Quanto às matrizes, têm como finalidade comparar diferentes categorias para


poder classificá-las, analisá-las, hierarquizá-las ou avaliá-las. A técnica mais utilizada é
a Matriz SWOT, mais conhecida como FOFA, sigla que significa Forças, Oportunidades,
Fraquezas e Ameaças. A metodologia SWOT é um sistema completo, mas simplificado.
Este exercício tem a vantagem de incluir elementos externos que podem influenciar a
realidade local (GEILFUS, 2002).

114
FIGURA 9 – MATRIZ FOFA NO DRP

FONTE: Verdejo (2010, p. 48).

A análise de gênero revela como as diferenças de gênero definem os direitos, res-


ponsabilidades e oportunidades de todos na sociedade. Essas ferramentas fornecem meios
de coleta e análise de dados de gênero como uma variável na organização do desenvolvi-
mento familiar e comunitário. Os métodos, portanto, fornecem novas perspectivas sobre o
contexto regional e permitem uma compreensão mais ampla da situação da comunidade,
facilitando a construção de uma agenda de desenvolvimento mais ampla e eficaz. Os indi-
cadores de gênero podem ser baseados nas seguintes questões: divisão do trabalho, fonte
de renda, tipos de gastos e disponibilidade de tempo (GARRAFIEL; NOBRE; DAIN, 1999).

4 TÉCNICAS DE PLANEJAMENTO, MONITORAMENTO E


AVALIAÇÃO PARTICIPATIVA
Conforme discutido, para aplicar metodologias participativas, é essencial realizar
o planejamento, o monitoramento e a avaliação das atividades pensadas junto com
as comunidades rurais. Como primeiro passo, devemos entender que o planejamento
determina o caminho a seguir para alcançar uma situação melhor no futuro. Para isso,
o plano de ação é desenvolvido em algum momento. Segundo Kummer (2007), cada
planejamento é caracterizado por seus elementos básicos, tais como:

115
• Racionalidade: simplificar tarefas e tempo para maior rendimento e menores gastos.
• Tomada de decisões: visão do que se espera alcançar com o estabelecimento de
compromissos.
• Futurismo: construindo a realidade futura com melhor significado.

O planejamento pode ser estratégico: consiste em identificar metas e mudanças


desejadas; identificar soluções e atividades comuns a serem seguidas; apresenta-se de
médio e longo prazo. E pode ser operacional, que se refere ao planejamento detalhado;
identifica as atividades mais específicas, os envolvidos, os recursos financeiros e
humanos e o tempo necessário; é de curto prazo (geralmente um ano). O planejamento
participativo deve ser alavancado, pois é um pré-requisito para que ações produzam os
impactos positivos desejados.

O planejamento é realizado após identificação dos problemas e necessidades


da comunidade ou grupo, desse modo é necessário conduzir para:

1. Informar sobre o que foi identificado no diagnóstico/pesquisa.


2. Analisar em conjunto com a comunidade as causas subjacentes aos problemas
identificados e sugerir possíveis soluções.
3. Identificar possíveis organizações locais para ajudar a promover uma série de soluções;
4. Desenvolver um cronograma do trabalho a ser feito para atender às necessidades
identificadas.
5. Chegar a acordo sobre critérios e indicadores que permitam à comunidade ver se o seu
trabalho para atender às necessidades identificadas está realmente levando à melhoria.

Após essa análise, os resultados e as informações são repassadas para o todo,


que negocia por consenso. Isto é, há um acordo geral de cada grupo para traçar as ações
de intervenção voltadas a mudanças de forma multidisciplinar e a visão da comunidade
para que todos tenham acesso a sua experiência.

Um dos problemas que existem é este: muitos projetos planejados não possuem
uma cultura de monitoramento e avaliação. O monitoramento é uma ferramenta de
controle contínuo de uma determinada realidade. Assim, de acordo com Kummer (2007),
deve ser realizado de acordo com determinados critérios:

• Ética: informações sobre como se dará o processo avaliativo para todos os


envolvidos, antes de iniciar o processo.
• Credibilidade: relação de confiança entre avaliadores e avaliados.
• Utilidade: disseminação dos resultados da avaliação que atenda às expectativas
dos envolvidos.
• Viabilidade: todo o processo de avaliação deve ser viável economicamente (recursos
financeiros) e tecnicamente (compatível com a realidade que se apresenta).

116
Desse modo, a avaliação é necessária para realizar a verificação de desempenho
e grau de satisfação, saber quais partes interessadas colaboram de forma coordenada,
permitindo retroalimentação e ajustes ao longo da sua execução. Para que seja eficaz,
o desempenho dos agentes de extensão deve ser avaliado pelos próprios agricultores e
não apenas pelas camadas superiores de uma organização centralizada. Nesse sentido,
para que o agricultor passe a orientar o processo, é necessário atribuir responsabilidades
a ele. Nos melhores sistemas de extensão, as avaliações de desempenho são baseadas,
pelo menos em parte, no feedback dos agricultores.

ATENÇÃO
A avaliação refere-se à revisão sistemática das informações a fim de
avaliar a efetividade de resultados esperados e apoiar decisões futuras. O
monitoramento deve ser realizado com frequência para verificar se as metas
e objetivos estão sendo alcançados e para reprogramar as ações de acordo
com as lições aprendidas até o momento. Monitorar é importante para avaliar.

117
RESUMO DO TÓPICO 2
Neste tópico, você adquiriu certos aprendizados, como:

• Trabalhando em grupos é possível abordar uma situação de diferentes ângulos,


as equipes podem contribuir com uma visão mais ampliada dos problemas e as
possíveis soluções de uma comunidade da sua realidade. O desempenho e os
resultados podem ser maiores do que a soma dos membros individuais.

• O DRP é um método de promoção do desenvolvimento autônomo da comunidade


através de um conjunto de técnicas de animação, independentemente de
intervenções externas, devendo, contudo, considerar aspectos sociais e econômicos
da localidade.

• O DRP pode contribuir para a organização dessas comunidades, principalmente por


meio da valorização do trabalho em grupo, da organização e do planejamento de
atividades coletivas e comunitárias.

• O planejamento participativo é o processo pelo qual as ações são estruturadas e


organizadas com base no pensamento e na decisão da maioria, para o benefício da
coletividade. O monitoramento e a avaliação devem ser vistos como uma atividade
que permite uma melhor gestão de qualquer projeto ou intervenção existente.
O monitoramento garante que informações importantes não sejam perdidas e a
avaliação possibilita um feedback dos agricultores sobre as ações realizadas.

118
AUTOATIVIDADE
1 Nas técnicas de grupo, o sucesso da avaliação das necessidades depende de
liderança/ mediador competente e de participantes dispostos a participar ativamente
no processo de grupo interativo, objetivando resolver problemas e estreitar as
relações. Em relação à técnica de grupo, assinale a alternativa CORRETA:

a) ( ) É fundamental o grupo de pessoas com interesses diferentes e traz como


vantagem a possibilidade de ser aplicado a grupos com distintos níveis de
conhecimento, tendo, portanto, um grande alcance de público.
b) ( ) A função do extensionista limita-se à organização e à condução do encontro,
considerando o horário e local mais adequados para o agricultor.
c) ( ) Deve tratar de um tema específico, visto que é de natureza técnica, além de
planejar, avaliar o andamento das atividades e planejar as atividades futuras, para
atender aos interesses do grupo.
d) ( ) Nas técnicas de grupo não há integração entre os participantes durante as
atividades de diagnóstico e avaliação para não interferir nos resultados levantados.

2 O DRP se constitui como um instrumento metodológico de identificação de problemas,


suas causas e possíveis soluções, a partir da interação dialógica entre os atores
sociais de forma participativa. Sobre suas concepções, analise as sentenças a seguir:

I- Os DRPs expressam um conjunto racional de etapas sistematicamente ordenadas


para alcançar determinadas finalidade, são simples dinâmicas para tornar as
intervenções mais “animadas”.
II- Os DRPs podem ser utilizados no diagnóstico e tomadas de consciência de situações-
problema, de oportunidades e outros que devem ser enfrentados e como instrumento
para planejamento, monitoramento e avaliação nos processos de desenvolvimento
socioambiental.
III- Os DRPs apresentam inflexibilidade nas ferramentas metodológicas, necessitando
reavaliar e replanejar determinas situações e contextos.

Assinale a alternativa CORRETA:

a) ( ) As sentenças I e II estão corretas.


b) ( ) Somente a sentença II está correta.
c) ( ) As sentenças I e III estão corretas.
d) ( ) Somente a sentença III está correta.

3 No DRP é importante que os técnicos extensionistas, que realizam o trabalho de


campo na perspectiva de serem facilitadores de um processo, busquem a participação
equitativa de homens e mulheres, sendo eles os protagonistas. Sem essa atitude, o

119
DRP está fadado ao fracasso. Nesse contexto, para utilização dos DRPs, é importante
estar atento a determinadas questões, assim, classifique V para as sentenças
verdadeiras e F para as falsas:

( ) A representação de cada membro da comunidade é importante, mas nem sempre


é garantida, o que significa que os resultados não terão boa aproximação da
realidade que vivem.
( ) Todas as informações necessárias para a formulação de um projeto podem ser
coletadas por meio do DRP.
( ) No DRP, há necessidade de técnicos capazes de analisar as informações e validá-
las junto à comunidade e adotá-las como um fim e não como um meio de facilitar
a participação da população rural.

Assinale a alternativa que apresenta a sequência CORRETA:

a) ( ) V – V – F.
b) ( ) V – F – V.
c) ( ) F – V – F.
d) ( ) F – F – V.

4 O técnico extensionista deve ter conhecimento e habilidades das ferramentas do


DRP na perspectiva de trabalhar com ações comprometidas com o desenvolvimento
rural sustentável no campo, visando o enfrentamento e a busca de solução para os
problemas do campo. Nesse contexto, disserte sobre a ferramenta Mapas e suas
potencialidades.

5 Em uma abordagem participativa, o monitoramento e avaliação participativa deixam


de ser feitos exclusivamente por atores externos e passam a utilizar e valorizar atores
locais, aumentando sua eficácia pelo uso de diferentes perspectivas. Disserte sobre
como essas etapas funcionam e as suas possibilidades.

120
UNIDADE 3 TÓPICO 3 -
NOVAS TECNOLOGIAS DA INFORMAÇÃO
APLICADAS À EXTENSÃO RURAL

1 INTRODUÇÃO

A sociedade rural no Brasil passou por profundas transformações econômicas


e sociais, especialmente na década de 1970, quando se intensificou o processo de
modernização da agricultura. Mas foi a partir dos anos de 1990 que esse processo
se acentuou. A expansão da eletrificação rural para uma população cada vez mais
ampliada, a forte industrialização, que criou empregos nos setores secundário e
terciário da economia, e a expansão das Tecnologias de Informação e Comunicação
(TIC) fortaleceram as mudanças no meio rural (FRAGA; FIÚZA, 2019).

As TICs fornecem novas fontes de informação abrindo outros canais de


comunicação: para comunidades rurais e organizações agrícolas. Essa rede é uma forma
de diminuir as falhas, se houver, no desenvolvimento dos extensionistas, na capacitação
da população rural e dos produtores agrícolas, por meio do diálogo e da interação (ARAÚJO,
2013). Ao estudar essa metodologia utilizada em diversas áreas do mundo, espera-se
contribuir com a formação do pensamento quanto a sua importância na extensão rural.

As TICs têm sido utilizadas na extensão rural colaborando com o alcance e


efetividade das ações dos agentes de Ater, apresentando-se como instrumentos
facilitadores e operacionais das atividades. O desenvolvimento das ferramentas da TIC
será abordado neste tópico, a fim de permitir compreender o seu potencial nas novas
práticas comunicacionais no campo.

2 EVOLUÇÃO RECENTE DAS TECNOLOGIAS DE


INFORMAÇÃO
As TICs são um dos fatores responsáveis por mudanças profundas no
mundo. Portanto, junto com a dinâmica da inovação, as TICs são essenciais para o
desenvolvimento. A partir da década de 1960, durante a revolução tecnológica iniciada
no final da Segunda Guerra Mundial, deu-se forma à sociedade da informação, que em
pouco tempo modificou muitos aspectos do cotidiano. O sistema tecnológico atual
tem suas raízes na década de 1970, época em que surgiram uma série de invenções e
descobertas, como o microprocessador, principal difusor da microeletrônica. Desde a
década de 1980, a produtividade, a inovação contínua e o progresso tecnológico têm
sido os motores do desenvolvimento econômico no país (PEREIRA; SILVA, 2021).

121
Nesse período, ocorreu uma série de mudanças tecnológicas nos computadores
e nos escritórios. À medida que a tecnologia da informação passou a ser utilizada com fre-
quência, os controles de banco de dados tornaram-se facilmente acessíveis, os softwares
desenvolvidos a baixo custo passaram a dominar o mercado. A tecnologia passou por uma
grande aceleração que levou a uma série de mudanças, como a globalização das ferramen-
tas de TI e o advento de tecnologias cada vez mais avançadas que tornaram os compu-
tadores uma ferramenta indispensável na organização (STIVAL; CARLOS; ALMEIDA, 2013).

Em 1990, a revolução da informação adotada pela tecnologia da informação, mí-


dia, microeletrônica e telecomunicações produziu um aumento dramático na velocidade
de processo de desenvolvimento e difusão das TICs (ARAÚJO, 2013). Parte dessa revolu-
ção das TICs está ligada à lógica das redes: a morfologia da rede parece se adaptar bem à
complexidade crescente da interação e aos padrões de desenvolvimento imprevisíveis que
decorrem do poder criativo dessa interação. Essa configuração topológica, a rede, agora
pode ser implementada fisicamente em todos os tipos de processos e organizações, graças
à tecnologia da informação. Mesmo assim, grandes áreas do mundo e uma parcela signifi-
cativa da população estão longe desse sistema tecnológico. Além disso, a taxa de difusão
de tecnologia é seletiva, tanto social quanto funcionalmente (MONTEIRO; PINHO, 2007).

Embora as classes sociais mais pobres, situadas nas zonas periféricas, e a


zona rural do Brasil apresentem limitações de acesso à internet, existe uma evolução
significativa no alcance da tecnologia. De acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia
e Estatística (IBGE, 2017), através da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios
Contínua (PNAD), em 2016, 69,3% das pessoas tinham acesso à internet, no ano de
2017 esse número passou para 74,9% e o acesso seu deu, segundo a maioria dos
entrevistados, pelo telefone celular móvel. Em 2017, 81,9% da população urbana possuía
telefone celular, contudo apenas 55,8% possuíam celular na zona rural. A pesquisa
apontou também que os principais motivos de os entrevistados não acessarem à
internet foram: não ter domínio para usar a internet, falta de interesse em acessar e
falta de serviços e acesso à internet em determinados locais.

A difusão da informação está aumentando exponencialmente, deve-se a uma


combinação de três fatores principais: a convergência da base tecnológica, através da
adoção da forma digital na criação e manipulação de conteúdo; o desenvolvimento
informático, permitindo um processamento mais rápido e com custos cada vez mais
baixos; e o desenvolvimento de meios de comunicação, possibilitando a expansão da
internet (MASSRUHÁ; LEITE, 2017).

Devemos entender que, para evolução, é necessário um mercado em crescimento


para habilidades avançadas que estimulará a capacidade local de dimensionar, modificar
e manter projetos bem-sucedidos. A gestão da tecnologia da informação (TI) utiliza a
internet como ferramenta essencial para cooperar com o desenvolvimento de novas
tecnologias da informação, e possibilitar a transmissão de informações em velocidades
recordes. O agente de mídia típico desta nova era é a internet. Hoje, a web pode ser

122
redefinida como uma camada (base, fundação) para construir serviços, como os de
bancos, empresas de comércio eletrônico, fornecimento de publicações digitais, assim
é uma ferramenta fundamental para a construção de redes (JAMIL; NEVES, 2000).

O crescimento dos meios de comunicação cria novas formas de ação e interação


e novos tipos de relações sociais – formas muito diferentes daquelas que prevaleceram
em grande parte da história humana. Isso dá origem a complexas reorganizações
de padrões de interação humana no espaço e no tempo. Com o desenvolvimento
dos meios de comunicação, a interação é separada do ambiente físico, para que os
indivíduos possam interagir entre si, mesmo que não estejam no mesmo ambiente
espaço-temporal. Assim, o uso de meios de comunicação oferece novas formas de
interação que se estendem no espaço (e possivelmente no tempo), e fornecem uma
gama de características que as distinguem das interações face a face (THOMPSON,
2008). A tecnologia da informação e comunicação está gradativamente sendo aceita
pela população rural, permitindo a ampliação dos canais de informação.

IMPORTANTE
Por muito tempo as TICs foram utilizadas apenas como instrumentos
de difusão de informações; com sua evolução elas vêm sendo adotadas
como ferramentas de inclusão nas seguintes áreas: política, educação,
social, econômica e cultural e são aliadas na democratização do acesso à
informação no processo participativo.

3 TECNOLOGIAS DA INFORMAÇÃO E COMUNICAÇÃO


PARA UMA COMUNICAÇÃO PARTICIPATIVA
As TICs fazem a mediação com as relações comunicacionais entre as pessoas
(AREND; DEPONTI; KIST, 2016). Os meios de comunicação são classificados em áudio
(telefone e rádio), escrita (jornais e revistas), audiovisual (televisão e cinema). Em muitos
usos, eles formam multimídia e hipermídia. Multimídia é referente ao uso simultâneo
de múltiplas mídias (por exemplo, rádio, televisão e jornais) e hipermídia é a coleção
de múltiplas mídias em um dispositivo (por exemplo: Novo site). Esses meios visam
atingir as pessoas, isto é, um número grande e desconhecido de pessoas, garantindo a
velocidade com que a mensagem chega ao público (PEREIRA et al., 2009).

Nesse sentido, muitos serviços de extensão em todo o mundo empregam TIC, incluindo
rádio e televisão, que são as formas mais tradicionais para disseminar informações rapidamente
para um público amplo. A realização de determinadas ações via TIC é mais barata do que por
meio de visitas de extensionistas, um número maior de agricultores pode ser alcançado por uma
intervenção de informação com determinados recursos de tecnologia (STEINKE et al., 2021).

123
E podemos nos perguntar, como utilizar as TICs nos serviços de Ater na busca
por uma comunicação participativa? Existem diversas formas de implantar as TIC, a
utilização dos recursos pode ser na disseminação em massa de informações agrícolas,
uma adaptação contextual pode ser apropriada em alguns casos, por exemplo, para
previsões climáticas sazonais. Os aplicativos móveis podem aliviar alguns preconceitos
espaciais na seleção de alvos de extensão.

De acordo com a Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a


Agricultura – FAO (2020) no Brasil, exemplos de iniciativas desenvolvidas por empresas
públicas de extensão rural têm usado as TICs por meio de serviços de comunicação remota;
videoconferência; ensino a distância (EaD) e uso de redes sociais, entre outros. Contudo,
existe a necessidade de investimentos para aprimorar as ações da Ater diante da agricultura
4.0; uma maior articulação entre pesquisa, extensão e ensino para maximizar as ações
de Ater; e a necessidade de consolidar o Programa Ater Digital como motor de políticas
públicas nesta temática. O Programa Ater Digital visa fortalecer o sistema de Ater brasileiro
por meio da promoção da difusão do uso das TICs nas atividades dos extensionistas,
ampliando o acesso dos agricultores a empresas modernas e eficientes serviços. Esse
programa é composto por quatro projetos estratégicos: organização e troca de informações
e conhecimentos; modernização da infraestrutura de tecnologia; compartilhamento de
sistema e aplicativo; e centros-piloto para gestão da informação e tecnologia (FAO, 2020).

O Agro 4.0 usa métodos de computação de alto desempenho, redes de


sensores, comunicação máquina a máquina (M2M), conectividade de dispositivo móvel,
computação em nuvem, métodos analíticos e soluções para processar grandes volumes
de dados e criar sistemas de suporte à decisão de gerenciamento. Além disso, visa
aumentar as taxas de produtividade, fazer uso eficiente de insumos, reduzir custos de
mão de obra, melhorar a qualidade do trabalho e a segurança do trabalhador e reduzir
o impacto no meio ambiente. Inclui agricultura de precisão e pecuária e automação
agrícola e robótica (MASSRUHÁ; LEITE, 2017).

Na sociedade contemporânea, os recursos e métodos didáticos usados na


extensão rural estão sendo (re)desenvolvidos para fornecer respostas mais rápidas. A TIC
no serviço de Ater deve assentar-se em três pilares: no processo de formação contínua,
inovação e participação das pessoas; com o agricultor como protagonista e sujeito de
seu desenvolvimento; e com a comunidade como mediadora do ato educativo. Essa
orientação reforça que a construção do conhecimento continua sendo um fio condutor
na relação entre extensionistas e agricultores familiares e suas formas de associação.
A mudança está na forma como essas relações se estabelecem, ou seja, os ambientes
virtuais e as ferramentas digitais, já presentes no cotidiano dos agricultores familiares,
produtores e demais segmentos da sociedade, passam a ser vistos como espaços de
produção de conhecimento, propícios ao desenvolvimento de novas aprendizagens. O
espaço de diálogo, que ocorre diretamente na privacidade de residências e propriedades
rurais, dá lugar a espaços virtuais (GOVERNO DE MINAS GERAIS, 2020).

124
Por meio do uso de comunicação e metodologias apropriadas para manter a
qualidade das intervenções, um grande número de agricultores e organizações podem
obter melhorias nos processos de produção e capacidade, acesso a serviços, crédito,
suporte técnico, ensino a distância, aumento dos canais de comercialização e outros
serviços. A comunicação digital também pode melhorar o desempenho dos serviços
de extensão por meio de novas formas de cooperação com a sociedade civil e o setor
privado, incluindo a terceirização de atividades de consultoria. E, a partir disso, a
equipe de extensão pode se concentrar principalmente na criação de conteúdo e criar
oportunidades de emprego para jovens em áreas rurais com experiência em tecnologia.

O acesso e o uso das TICs representam o empoderamento dos agricultores


familiares e atores a participarem da dinâmica rural, e uma necessidade diante da
competitividade do mercado atual. É importante destacar que as condições da
infraestrutura de telecomunicações nas áreas rurais impedem o acesso efetivo a
todo o potencial dessas tecnologias. Em alguns casos, mesmo com alto investimento,
o agricultor não consegue acessar um serviço melhor ou mesmo utilizá-lo de forma
correta (GODOY; SANSSANOVIEZ; PEZARICO, 2020).

Torres et al. (2013) destacam que é por meio da troca, compartilhamento de


ideias e pensamentos que as pessoas criam e mudam a forma de suas ações no mundo.
Quando as pessoas usam a internet para compartilhar informações, experiências e
conhecimento, elas constroem uma linguagem comum de significados e expressões
que lhes permite se engajar em comunicação e diálogo multidirecional.

É importante destacar que as ações de investimentos na Ater a partir das TICs


podem apresentar alguns entraves para o desenvolvimento, como:

• Falta de cultura digital nas organizações e entre os extensionistas, provocando uma


resistência ao uso.
• Conhecimentos limitados na área da tecnologia por parte dos extensionista e
agricultores.
• Ferramentas, espaços e serviços voltados apenas a “dar informação”, sem o apoio efetivo.
• Pouco investimento em treinamento na área digital para a população rural e ausência
de softwares específicos para a extensão rural.

Uma outra dificuldade com a utilização dessas ferramentas é que os agricultores,


muitas vezes, podem perder as transmissões de rádio ou TV porque estão ocupados com
trabalho agrícola ou tarefas domésticas, ou porque os conteúdos podem ser percebidos
como irrelevantes. Também é preciso avaliar que o acesso à TIC pela população rural
costuma ser distribuído de maneira desigual, podendo agravar as assimetrias de
informações entre agricultores, mais ricos e mais pobres, ou homens e mulheres. É
imprescindível o técnico extensionista ficar atento a não estar reproduzindo os métodos
do modelo difusionista apenas no repasse de informação.

125
Para tanto, é necessário promover a universalização dos serviços, projetar
soluções e promover ações relacionadas à expansão e melhoria da infraestrutura
de acessibilidade; treinar o servidor, para que a pessoa, informada e consciente,
possa utilizar os recursos disponibilizados pelas tecnologias; e o desenvolvimento de
ferramentas para publicação de conteúdo na internet. Portanto, em um momento
em que a extensão rural defende a importante conscientização dos extensionistas e
trabalha com recomendações para construir conhecimento compartilhado, sugere-se o
uso efetivo das TICs como uma ferramenta que possibilita o ambiente de aprendizagem
e aproximação de pessoas, mercados e países (MONTEIRO; PINHO, 2007).

Nesse sentido, para implementar as TICs, é necessário avaliar seu poder de tomada
de decisão, como são criadas, formatadas, processadas, armazenadas e disponibilizadas ao
público, além de avaliar como isso afeta cada pessoa. A tecnologia da informação moderna
oferece muitas oportunidades para coletar, organizar e compartilhar horizontalmente as
contribuições de conhecimento dos agricultores (JAMIL; NEVES, 2000).

DICA
Para conhecer mais sobre as possibilidades das TICs nos serviços de Ater,
indicamos o Debate: https://bit.ly/37Q9gmU, promovido pelo Fórum Nacional
de Professores de Extensão Rural. O debate contribui para o entendimento
sobre as possibilidades e as impossibilidades vinculadas a Ater digital, focando
em diálogos para uma Ater participativa.

4 NOVAS TECNOLOGIAS DE COMUNICAÇÃO: EVOLUÇÃO


X POTENCIALIDADES
As inovações tecnológicas no campo da comunicação somam-se no campo da
Tecnologia da Informação (TI) e integram um grande número de capacidades técnicas,
estabelecendo as Novas Tecnologias da Comunicação, conhecidas, também, por
Comunicação Telemática – tele (comunicação) + (infor) mática. As NTC se apresentam
na adaptação das formas tradicionais de comunicação para a eletrônica, que (re)
aparecem sob muitas facetas e nomes diferentes.

O uso da NTC oferece a possibilidade de maior produtividade, pode melhorar a


qualidade do produto, leva em conta menores taxas de intervenção externa. Apresenta
potencial na economia de tempo, custos de transporte e poluição ambiental. Contudo,
preocupa o crescente isolacionismo do indivíduo em seu território, longe da abundância de
trocas coletivas e mútuas, decorrentes dos contatos face a face. Além disso, com a reutilização
do espaço interior como um local de trabalho eficaz, o espaço privado é combinado com o

126
espaço público, seguindo a tendência da cultura pós-moderna de apagar a fronteira entre
privacidade e vida profissional, o que representa um impacto relevante, tanto na organização
social como nas relações mais subjetivas e de nível humano (TARGINO, 1995).

O uso adequado das NTC e a capacidade de encontrar e pesquisar novas


informações permitem que os indivíduos saibam como lidar com esses elementos para
tomar decisões e resolver problemas. A cultura emergente cria a sensação de que, em
primeiro lugar, não podemos passar por toda essa transição e, em segundo lugar, em
qualquer caso, não podemos parar de pensar nessa transição porque ela acontece de
forma rápida e envolve simultaneamente (ADAMS; SOUZA, 2016).

Atualmente, estamos passando por uma nova transição social que mudou
a sociedade ao longo do tempo. Cada vez mais, em diferentes ambientes, como
residências, trabalho e escolas, a modernização das novas tecnologias de comunicação
e seus avanços podem influenciar o comportamento e a intervenção humana e interferir
em suas relações com os outros. A tecnologia está mudando a maneira como as pessoas
se comunicam umas com as outras.

As TICs são uma tecnologia que não só permite a comunicação entre as pessoas,
mas também abre novas possibilidades através da comunicação entre máquinas ou
entre objetos, o que se denomina "Internet das Coisas", uma das visões da internet do
futuro. A interação homem-máquina, máquina e humano desempenhando um papel
fundamental. Recentemente, a incorporação das TICs nos mais diversos produtos e
novas capacidades de comunicação abriram grandes oportunidades de inovação em
áreas de atividade econômica mais tradicionais, sendo uma potencialidade (VIOLATO;
LOURAL, 2012). Isso garante melhoria em diversos serviços comumente usados pela
população brasileira, possibilitando melhor abrangência e acesso.

Tem ocorrido um crescimento proporcional no uso de tecnologia para apoiar o


aprendizado, alimentado pelo uso crescente de softwares integrados, como ambientes
virtuais de aprendizado, como também um crescimento na quantidade e variedade
de recursos para apoiar a pesquisa. Os tipos de ferramentas de software, sistemas
de hardware e ambientes online também aumentaram em variedade e complexidade,
com ferramentas agora disponíveis para dar suporte a tudo, desde gerenciamento de
publicação de pesquisa até avaliação e monitoramento on-line.

As TICs oferecem acesso a uma vasta gama de experiências diversas e


diferentes que podem aprofundar os conhecimentos; o contato com a experiência
é um ingrediente-chave para uma aprendizagem eficaz. As TICs, mesmo as básicas
tecnologias de comunicação, têm o potencial não apenas para fornecer um aumento
único na renda das pobres regiões, mas para acelerar todo o processo de crescimento,
geralmente tornando mais fácil para produtores isolados melhorarem suas práticas.

127
LEITURA
COMPLEMENTAR
FUTURO DAS TICS NA AGRO 4.0

Silvia Maria Fonseca Silveira Massruhá


Maria Angélica de Andrade Leite

Diante dos desafios apresentados na agricultura, principalmente o de aumentar


a produção agrícola sem ampliar a área plantada significativamente, surgem novas
oportunidades para a utilização de inovações na área de TIC. As tendências apontam
que o setor agropecuário demandará novas TICs para gestão de dados, informações e
conhecimentos em todas as etapas da cadeia produtiva em uma nova infraestrutura
onde os mundos físico e digital estão totalmente interconectados (MASSHRUÁ, 2015).

Os avanços da ciência e tecnologia contribuíram significativamente na produção


de alimentos no mundo. A capacidade produtiva na agricultura cresceu entre 2,5 e
3 vezes nos últimos 50 anos. Isto permitiu, em um âmbito global, que o aumento na
produção de alimentos acompanhasse o aumento populacional. Além do aumento da
demanda, a produção de alimentos enfrenta outros desafios que tornam o contexto ainda
mais complexo, como: as mudanças climáticas, que interferem na capacidade produtiva;
e restrição de recursos naturais, como a água e o solo. O papel da inovação passa a
ser essencial para garantir que as próximas gerações possam ser alimentadas com
qualidade. Para isso, é preciso que ocorra uma transformação na forma como produzimos
os alimentos. Não basta aumentar a produtividade, é preciso utilizar uma abordagem
mais abrangente, que envolva produção e consumo sustentável, de forma a garantir
a segurança alimentar para as futuras gerações (AGROSMART, 2016). A garantia desse
futuro envolve o uso de tecnologias digitais avançadas, no processo de produção agrícola,
para que essas inovações tecnológicas promovam uma agricultura conectada, intensiva
em conhecimento, com altos níveis de produtividade e de sustentabilidade, com redução
de custos e melhoria nas condições de trabalho no campo (REDAÇÃO AGRISHOW, 2016).

A busca pela otimização no uso dos recursos naturais e insumos fará com que a
fazenda do futuro seja massivamente monitorada e automatizada. Sensores dispersos
por toda a propriedade e interligados à Internet (Internet das Coisas) gerarão dados em
grande volume (Big Data) que necessitarão ser filtrados, armazenados (computação em
nuvem) e analisados. A força de trabalho humana não será capaz de gerenciar essa
quantidade de dados, necessitará de algoritmos cada vez mais aprimorados por meio
de técnicas de inteligência computacional e computação cognitiva para auxiliá-los no
processo de análise. Após a análise, o ciclo é fechado por meio de comandos remotos
aos tratores e implementos agrícolas que, munidos de GPS, farão intervenções pontuais

128
apenas onde necessário para otimizar custo, produção e impacto no meio ambiente
(MASSRUHÁ, 2015). Tem-se a agricultura conectada permitindo que de casa, ou da
sede da fazenda, produtores possam acompanhar remotamente, pelo computador,
tablet ou smartphone, o desempenho de suas máquinas nas lavouras por telemetria, a
transmissão automática de dados via sinal de telefonia celular (CIGANA, 2016).

Nesse ambiente interligado, onde a geração de conhecimento, a mobilidade e


o aumento da oferta de aplicativos para dispositivos móveis é um mercado crescente,
espera-se que na era da Agro 4.0, o agronegócio, incluindo também os agricultores
familiares, possam usufruir dos benefícios desta oferta de tecnologia e conhecimento
em suas propriedades, propiciando competitividade e melhoria de renda, além do
aumento da oferta de alimentos para o Brasil.

FONTE: MASSRUHÁ, S. M. F. S.; LEITE, M. D. A. Agro 4.0-rumo à agricultura digital. In: JC na Escola Ciência,
Tecnologia e Sociedade: mobilizar o conhecimento para alimentar o Brasil. Anais [...]. São Paulo: 2017.

129
RESUMO DO TÓPICO 3
Neste tópico, você adquiriu certos aprendizados, como:

• As TICs se espalharam pelo mundo a uma alta velocidade. Isso aconteceu em menos
de duas décadas, entre as décadas de 1970 e 1990, por uma característica lógica
dessa revolução tecnológica: a aplicação imediata no desenvolvimento de tecnologia
que cria, conecta o mundo através de uma série de tecnologias da informação.

• Por meio do uso de comunicação digital e metodologias apropriadas um grande


número de agricultores e organizações podem ter melhorias nos processos
produtivos. Para serviços de extensão, a manutenção de serviços digitais requer
investimentos nas ferramentas e treinamento de pessoal.

• As mídias digitais também podem melhorar o desempenho dos serviços de extensão


por meio de novos tipos de colaboração e, também, com o setor privado.

• As novas tecnologias da informação introduziram um outro tipo de racionalidade


à tecnologia da informação. Elas possibilitam troca de informações, amplitude
nos processos comunicativos e o desenvolvimento econômico, mas, também, o
individualismo da sociedade pela diminuição do contato presencial.

130
AUTOATIVIDADE
1 A evolução das TICs no Brasil e no mundo oferece o acesso relativamente fácil a
grandes quantidades de informações por meio de uma variedade de mecanismos
diferentes, impactando diretamente na economia e na sociedade. Sobre a evolução
das TIC, assinale a alternativa CORRETA:

a) ( ) Durante a Primeira Guerra Mundial, ocorreram as principais descobertas


tecnológicas em eletrônica, o primeiro computador programável e o transistor
foram advindos desse período.
b) ( ) O crescimento das redes se deve aos avanços das telecomunicações e da
tecnologia, que possibilitaram a integração dos computadores em rede por volta
de 1940. Essas mudanças não se concretizaram.
c) ( ) A década de 1980, conhecida como uma interrupção no progresso tecnológico, afetou
o desenvolvimento de novas tecnologias e o desenvolvimento econômico no país.
d) ( ) No final da década de 1990, ocorreu uma mudança tecnológica, o poder da
comunicação da internet com o computador, que permitiria a interconexão em
dispositivos móveis.

2 As TICs também podem criar efeitos negativos e indesejáveis. As discussões sobre


seu uso e suas possibilidades de adoção pelos técnicos extensionistas devem ser
pensadas e discutidas de forma a evitar os privilégios no campo. O seu uso está
relacionado ao acesso a televisão, computador, celular, internet, aos quais uma
grande parte das pessoas que vivem em zona rural não têm acesso. Em relação às
limitações das TICs nas ações da Ater, analise sentenças a seguir:

I- O uso da internet pode ser um motivo para conflitos, interrupção dos interesses das
partes envolvidas e exclusão de determinadas comunidades.
II- Os técnicos extensionistas com limitações no uso da realidade da agricultura, no
repasse de informações, poderão replicar modelos do difusionismo.
III- Existem diversas ferramentas apropriadas para as especificidades da população no campo
e técnicos capacitados para seu uso, mas há uma falta de interesse nas suas adoções.

Assinale a alternativa CORRETA:

a) ( ) As sentenças I e II estão corretas.


b) ( ) Somente a sentença II está correta.
c) ( ) As sentenças I e III estão corretas.
d) ( ) Somente a sentença III está correta.

131
3 As sociedades rurais estão atualmente passando por mudanças importantes. O uso das
TICs destaca um aspecto dessa transição. O estilo de vida da população rural está cada
vez mais entrelaçado com as conexões feitas pela "sociedade em rede". Em relação ao
impacto das TICs, classifique V para as sentenças verdadeiras e F para as falsas:

( ) As TICs auxiliam na tomada de decisão e visam diminuir as etapas de monitoramento


e avaliação.
( ) Existe uma correlação positiva entre TICs aprimoradas e o crescimento econômico
que revela que as TICs estimulam o desenvolvimento das sociedades.
( ) As TICs possibilitam o aprendizado das pessoas, o compartilhamento dos conhecimentos
e provocam uma comunicação mais fácil entre pessoas e organizações.

Assinale a alternativa que apresenta a sequência CORRETA:

a) ( ) V – F – F.
b) ( ) V – F – V.
c) ( ) F – V – V.
d) ( ) F – F – V.

4 As TICs têm o potencial não apenas para fornecer informações à sociedade, mas
proporcionar acesso a educação, mercados e investimentos; com efeito, as TICs
podem promover mudanças positivas no meio rural. Disserte de que formas as TICs
podem ser utilizadas na extensão rural.

5 As novas tecnologias da comunicação apontam para novas relações sociais e


econômicas. No meio rural, podem proporcionar realidades divergentes, o que carece
de adequação para acompanhar o dinamismo. Com investimentos na perspectiva de
uma implantação igualitária e ações dentro do contexto de cada comunidade, as NTC
podem ser uma ferramenta importante na promoção do desenvolvimento rural. Nesse
contexto, disserte sobre de que forma a NTC pode promover o desenvolvimento rural.

132
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