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Brasileira
Indaial – 2020
1a Edição
Elaboração:
Prof. Renan Subtil Torres
T693s
ISBN 978-65-5663-347-3
ISBN Digital 978-65-5663-342-8
CDD 300
Impresso por:
APRESENTAÇÃO
Saudações, caro acadêmico! O presente material, o qual se encontra em suas
mãos ou na tela de seus aparelhos digitais, é fruto de um zeloso trabalho da UNIASSELVI
que almeja apresentar a você a relevância das principais abordagens e autores
trabalhados na Sociologia Brasileira. Por meio de nosso livro didático, entraremos
em contato com o desenvolvimento da Sociologia em território brasileiro, tão como
conheceremos um pouco do trabalho intelectual de cada um dos autores que mais
contribuíram para o pensamento acerca da sociedade de nosso país.
GIO
Olá, eu sou a Gio!
ENADE
Acadêmico, você sabe o que é o ENADE? O Enade é um
dos meios avaliativos dos cursos superiores no sistema federal de
educação superior. Todos os estudantes estão habilitados a participar
do ENADE (ingressantes e concluintes das áreas e cursos a serem
avaliados). Diante disso, preparamos um conteúdo simples e objetivo
para complementar a sua compreensão acerca do ENADE. Confira,
acessando o QR Code a seguir. Boa leitura!
LEMBRETE
Olá, acadêmico! Iniciamos agora mais uma
disciplina e com ela um novo conhecimento.
REFERÊNCIAS...................................................................................................................... 54
REFERÊNCIAS.....................................................................................................................109
REFERÊNCIAS.....................................................................................................................168
UNIDADE 1 -
O PENSAMENTO SOCIAL
BRASILEIRO DOS SÉCULOS
XIX E XX
OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM
A partir do estudo desta unidade, você deverá ser capaz de:
PLANO DE ESTUDOS
A cada tópico desta unidade você encontrará autoatividades com o objetivo de
reforçar o conteúdo apresentado.
CHAMADA
Preparado para ampliar seus conhecimentos? Respire e vamos em frente! Procure
um ambiente que facilite a concentração, assim absorverá melhor as informações.
1
CONFIRA
A TRILHA DA
UNIDADE 1!
Acesse o
QR Code abaixo:
2
UNIDADE 1 TÓPICO 1 -
1 INTRODUÇÃO
Pensar a sociedade na qual estamos inseridos demanda um esforço no sentido
de considerarmos todos os elementos que a constitui. Isso significa que o pensamento
sociológico lançado a determinado território parte da ideia de que toda sociedade é
constituída por seus aspectos sociais. Ou seja, toda sociedade é constituída por suas
condições materiais e históricas, tão como por todo e qualquer tipo de manifestação
humana, sendo ela cultural, artística ou filosófica.
3
A ideia de pensamento social corresponde em parte à constatação
de que a riqueza dos processos sociais e culturais jamais é revelada
plenamente quando utilizamos tão somente os métodos e recursos
de uma determinada disciplina como a sociologia, a antropologia ou
história. O pensamento social é construído transpondo barreiras e
limites de disciplinas e campos de conhecimento, combinando, em
muitos casos, dados empíricos e fatos com percepções extraídas da
poesia, do romance, do teatro.
FONTE: <https://www.sohistoria.com.br/ef2/indios/index_clip_image002.jpg>.
Acesso em: 30 abr. 2020.
4
As múltiplas sociedades nativas eram complexas, porém possuíam algumas
características comuns como a divisão social do trabalho. Geralmente, os homens
eram responsáveis pela caça, pesca, construção de habitações, guerras dentre
outras atividades. As mulheres costumavam se incumbir dos cuidados com a família,
confecção de vestimentas, preparo de alimentos, agricultura do milho, feijão, abóbora,
batata-doce, amendoim, mandioca e outros tipos de trabalho. Quase sempre havia uma
hierarquia bem estabelecida e líderes específicos, além de pessoas especializadas nos
cuidados à saúde e referências espirituais.
DICAS
Muitos dos registros acerca da cultura dos povos nativos, que viveram na
época das primeiras expedições portuguesas ao Brasil, foram retratados
pela Carta de Pero Vaz de Caminha, escrivão da expedição de Pedro Álvares
Cabral, que destinou, ao então rei de Portugal, Dom Manuel, suas primeiras
impressões sobre o território recém explorado.
A carta pode ser acessada por meio do endereço eletrônico a seguir: http://
objdigital.bn.br/Acervo_Digital/livros_eletronicos/carta.pdf.
5
A colonização de nossas terras não foi a primeira ideia dos portugueses após a
chegada de Pedro Álvares Cabral em sua primeira expedição ao Brasil, cujo desembar-
que foi no dia 22 abril de 1500, onde hoje é o estado da Bahia. Buscando por insumos
comercializáveis, que poderiam ser alternativa ao então lucrativo comércio oriental de
especiarias, os portugueses se decepcionaram à primeira vista, pelo fato de não encon-
trarem recursos naturais como metais preciosos no litoral brasileiro. Logo descobriram o
Ibirapitanga ou Arabutã, que tempos depois ficaria conhecida como Pau-brasil. Tratava-se
de uma árvore abundante em território nacional, tão como em diversas outras localidades
da América e ilhas próximas. O nome dela tem origem da cor vermelha de seu interior,
que lembrava brasa. Chamada inicialmente de pau-de-tinta pelos portugueses, logo ficou
conhecida como Pau-brasil que, tempo depois, inspiraria o nome de nosso país.
FONTE: <https://escolaeducacao.com.br/wp-content/uploads/2020/01/ciclo-do-pau-brasil-2-750x430.
jpg>. Acesso em: 6 maio 2020.
6
Toda essa movimentação de mercadorias ao longo da costa brasileira atraía a atenção
de outros povos. Os franceses eram os principais interessados nessa nova fonte de riquezas. Eles
faziam alianças com tribos inimigas dos portugueses e atacavam o litoral em busca do domínio
da transação mercantil do Pau-brasil. A fim de se defender dos ataques franceses, Portugal
decide organizar expedições guarda-costas para o Brasil, que eram caravelas armadas
enviadas para patrulhar os mais de 8 mil quilômetros de litoral e refrear a ameaça estrangeira.
Diante às disputas que pelo vasto território brasileiro e seus abundantes recursos
naturais, surge a demanda pela garantia dessas terras por parte de Portugal. Foi assim que,
no ano de 1534, o então rei português, Dom João III, decide implementar um programa de
ocupação efetiva do Brasil. Esse ano foi o marco final do chamado Período Pré-Colonial, a
partir do qual a coroa portuguesa decide enviar pessoas para colonizar o território brasileiro. Tal
estratégia serviu para estabelecer os domínios portugueses sobre as terras recém-tomadas
pelos europeus, dificultando a entrada de outros povos que estavam em busca das riquezas
encontradas em terras tupiniquins. Vale salientar que o Pau-brasil era apenas um dos inúme-
ros recursos naturais descobertos, até então, no que hoje corresponde aos limites brasileiros.
Diversas outras riquezas ainda viriam a ser descobertas pelos invasores portugueses, am-
pliando ainda mais seus interesses sobre o território dominado a partir do ano de 1500.
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Agora que exploramos as principais características do primeiro período após
à entrada dos portugueses no território que hoje corresponde ao Brasil, estudaremos
outra fundamental fase da ocupação dessas terras: o Período Colonial. Por meio
dos estudos dessa outra importante etapa do desenvolvimento social brasileiro,
construiremos as bases para a investigação acerca da produção e desenvolvimento do
pensamento sociológico de nosso país.
O tratado consistia em uma divisão de terras por meio de uma linha imaginária.
Essa linha cortava o Brasil de norte a sul, do que hoje corresponde ao estado do Pará até
Santa Catarina. De acordo com o tratado que objetivava pôr fim às disputas pelas terras
americanas entre os dois reinos, tudo o que situava a oeste da linha pertenceria à Coroa
Castela e, a leste, do Reino de Portugal. Anos depois esse tratado foi revogado a pedido
dos portugueses ao perceberem a vastidão ainda inexplorada ao centro e a oeste do
que hoje corresponde à América Latina.
Por volta do ano de 1534, o então rei de Portugal, Dom João III, divide o Brasil
em sesmarias, que consiste em pedaços de terras demarcados por meio de linhas
imaginárias traçadas vertical e horizontalmente com relação ao mapa do território
nacional. Cada um desses pedaços de terra era destinado a um nobre escolhido pelo rei.
As terras delimitadas não eram posse de seus destinatários, os chamados donatários.
Cada donatário tinha direito de ocupar o território e produzir riquezas dentro dele,
porém, a decisão acerca da destituição dos territórios e/ou substituição dos donatários
estava nas mãos do rei. Cada um dos donatários recebia uma Carta de Doação, que
consistia em um documento que assegurava que cada uma das sesmarias era delegada
a um administrador específico.
A Carta Foral, por sua vez, era o documento em que constavam as diretrizes de
posse da sesmaria, ou seja, as instruções acerca daquilo que o donatário pode ou não
pode fazer em relação à ocupação do espaço que tomaria conta a partir do momento
em que recebesse sua Carta de Doação.
8
As faixas de terra, cuja gestão era passada de pais para filhos, foram batizadas
de Capitanias Hereditárias. A partir do ano de 1934, o país passou a ser dividido
em 15 Capitanias Hereditárias que seriam distribuídas entre 12 donatários. Cada uma
das sesmarias que vieram a se tornar Capitanias Hereditárias, recebia um nome e
era concedida aos respectivos donatários, incumbidos da tarefa de ocupar e produzir
riquezas em seus territórios.
FONTE: <http://opiniaoenoticia.com.br/wp-content/uploads/tordesilhas.jpg>.
Acesso em: 15 maio 2020.
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É importante termos em mente que o processo de formação colonial de nosso
país não se deu de maneira pacífica, muito menos democrática. A terra, que já possuía
moradores há milênios, fora dividida em vários pedaços que agora passariam a ser
jurisdição de um donatário europeu, mesmo que sem a aprovação de muitos povos
nativos. Foram muitas as batalhas que foram travadas entre nativos e colonizadores
europeus. Anteriormente ao loteamento e distribuição das terras litorâneas do Brasil,
existiam conflitos em torno da ocupação de seu território vasto e rico em recursos
naturais. Além da diversidade da fauna e da flora brasileira, a água é abundante e escoa
por meio de gigantescos rios. Diversas populações vivenciavam disputas por territórios
que dispunham de tais recursos fundamentais para a sobrevivência.
O século XVI foi marcado por batalhas como o Cerco de Igarassu que,
conforme Hans Staden (1945), consistiu em um levante realizado pelos índios caetés
contra os portugueses que, dentre outros fatores motivacionais, escravizaram membros
de sua etnia. O cerco ocorreu em uma vila de Pernambuco, entre 1549 e 1551, conforme
alguns historiadores, os quais nem sempre entram em consenso quanto à data oficial da
resistência. Em 1562, foi realizado o Cerco de Piratininga, que foi a união entre índios
carijós, guaianás, guarulhos e tupiniquins, organizados contra a dominação portuguesa.
O fato ocorreu em São Paulos dos Campos de Piratininga, quando as etnias indígenas
reunidas atacaram a vila onde portugueses aliados a tupiniquins se defenderam da
ofensiva. Isso evidencia a existência da aliança, não só entre índios de diferentes tribos,
mas entre “homens brancos” (europeus) e indígenas (nativos).
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Mais tarde, entre os anos de 1554 a 1567, foi formada a Confederação dos Ta-
moios que era composta majoritariamente pelo povo Tupinambá, por sua vez composto
por tribos Tupiniquins, Aimorés e Terminós. Tratava-se de um dos primeiros grandes con-
flitos entre os povos originários, que reivindicavam sua liberdade tão como a retomada de
suas terras, e homens brancos, especialmente portugueses e franceses, que ocupavam
um território que compreendia parte do litoral paulista e fluminense. A Guerra dos Ai-
morés foi outro importante episódio de resistência por parte dos povos nativos. Os Ai-
morés eram povos que habitavam o território que hoje corresponde aos estados de Minas
Gerais e Espírito Santo e resistiram à colonização portuguesa por mais de um século.
Essa guerra, que durou aproximadamente de 1555 a 1673, foi composta por di-
versas batalhas, dentre elas a Batalha do Cricaré. Essa batalha ocorreu na Capitania
de Espírito Santo, mais especificamente no Povoado de Cricaré, onde uma ofensiva li-
derada por Vasco Fernandes Coutinho, donatário responsável pela referida sesmaria,
desembarcou com sua armada vinda do litoral do que hoje corresponde à Bahia. Apesar
da difícil batalha que custou a vida de vários nativos e colonizadores, os Aimorés con-
seguiram afastar a tropa que defendia os domínios de Vasco Fernandes Coutinho, cujo
comandante, Fernão de Sá, morrera neste combate. Após a retirada dos colonizadores
invasores, os Aimorés destruíram as feitorias dos bandeirantes por volta do ano de 1558.
A Guerra dos Bárbaros foi um massacre contra o povo Tapuia, que era composto
por grupos culturais que compreendia o povo Jê, Tarairiu, Cariri e outros grupos que
não eram classificados pelos cronistas da época. Alguns dos povos que podem ser
citados entre os não batizados pelos colonizadores são os Sucurú, os Bultrim, os Ariu,
os Pega, os Panati, os Corema, os Paiacu, os Janduí, os Tremembé, os Icó, os Carateú,
os Carati, os Pajok, os Aponorijon e os Gurgueia. Toda essa diversidade fora ignorada
pelos invasores europeus que, por meio de um processo de aculturação que operava
11
através da catequização e alfabetização compulsória de nativos às línguas e crenças
europeias, apagou culturas altamente complexas e de ciência avançada. O domínio dos
Tapuia sobre os saberes advindos da interação homem-natureza, poderiam, hoje, nos
proporcionar diversas soluções à vida em sociedade, como a cura de diversos males
e doenças, tão como uma dinâmica social mais harmoniosa e menos destrutiva em
relação aos recursos naturais e seres humanos que coexistem contemporaneamente.
DICAS
“Uma índia-velha cachimbeira conta a seus netos a história de luta de
seus antepassados contra as invasões dos colonizadores do nordeste
do Brasil, provocadas pela expansão da pecuária bovina. A historiografia
oficial denominou os confrontos de guerra dos bárbaros. Resta-nos
saber se são bárbaros os índios ou os europeus”, tal frase se encontra na
descrição da animação feita sob direção de Júlia Manta, recontando sob a
perspectiva de uma índia Tapuia remanescente do terrível massacre que,
entre os séculos XVII e XVIII, tirou a paz dos povos nativos do nordeste
brasileiro: A Guerra dos Bárbaros: vale a pena conferir essa interessante
obra brasileira que retrata, por meio de desenhos, a força e resistência
dos povos originários do Brasil contra as mazelas da colonização
europeia. O vídeo pode ser assistido por meio do sítio eletrônico a seguir:
https://www.youtube.com/watch?v=e5duD0qNCrU.
A mão de obra escrava proveniente dos negros africanos foi fruto do tráfico de
pessoas, intensificado durante as expedições portuguesas à costa africana no século
XV. Após esse período, o comércio escravista se tornou uma atividade muito lucrativa
para os colonizadores. Os escravos negros possuíam habilidades, tanto no cultivo da
cana-de-açúcar – que já era uma das atividades portuguesas nas ilhas do Atlântico –
12
quanto na criação de gado. Conforme Boris (1996), entre os anos de 1550 e 1855, cerca
de 4 milhões de negros, em sua maioria jovens e do sexo masculino, entraram no Brasil
pelos portos utilizados para seu comércio.
O povo negro, assim como os nativos brasileiros, também resistiu contra a cruel domi-
nação europeia sobre as terras do Brasil. Foram inúmeros os levantes, guerras e batalhas contra
o sistema escravagista da época. É muito importante nos lembrarmos que o nosso país foi o
último a abolir legalmente a escravidão dos negros africanos que para cá foram trazidos.
No ano de 1758 fora abolida a escravidão dos índios e, somente em 13 de maio de 1888, os
escravos negros do Brasil foram libertados das senzalas por meio da assinatura da Lei Áurea.
Contudo, a abolição da escravatura em terras brasileiras não foi um simples ato de benevolên-
cia da nobreza, mas resultado de intensas e sangrentas batalhas em nome da liberdade.
Cabe salientar que o povo negro brasileiro muito sofreu após a abolição
da escravidão. Assolados pela fome, escassez de empregos remunerados, falta de
moradias, o povo negro foi empurrado para longe do convívio do branco, concentrando-
se em localidades que hoje são chamadas de periferias.
Os escravos negros, muitas vezes, conseguiam fugir das senzalas, que eram
os barracões e outras habitações insalubres e inseguras construídas pelos senhores
de escravos (“donos” das pessoas que eram traficadas para mão de obra escrava) para
abrigar o povo capturado em terras africanas. Esses escravos, então, associavam-se
e formavam comunidades denominadas quilombos, onde passavam a se concentrar
e acolher os demais negros fugitivos. Os quilombolas, moradores dos quilombos,
eram comumente surpreendidos por ofensivas de capitães do mato, empregados dos
senhores de escravos que caçavam e castigavam os fugitivos. Cabe salientar que
muitos desses capitães do mato eram negros que ganhavam algumas regalias de seus
senhores em troca de seus serviços, dentre elas a delação de escravos que planejavam
fugir e a aplicação de penas físicas e diversos tipos de tortura.
• Quilombo dos Palmares: liderado por Zumbi dos Palmares e sua esposa Dandara,
foi o maior quilombo brasileiro, situado onde hoje fica o estado do Alagoas,
concentrando boa parte dos escravos fugitivos e soltos voluntariamente.
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• Fuga do Engenho Santana: em 1789, um grupo de escravos fugitivos constituiu
um quilombo dentro do qual se organizaram e construíram um trato para apresentar
aos senhores daquele engenho. Dentre as principais reivindicações estavam o
direito ao lazer, folgas e liberação das manifestações culturais daquele grupo.
• Revolta dos Malês: rebelião organizada por negros livres e escravos da Bahia em
busca da abolição. Esse levante ocorreu no ano de 1835 e foi uma das dezenas de
greves só no estado baiano.
• Rebelião de Carrancas: outra importante rebelião ocorrida, dessa vez, em Minas
Gerais no ano de 1833.
• Revolta de Manoel Congo: levante organizado por Manoel Congo no município de
Vassouras, no Rio de Janeiro. Ocorreu no ano de 1838.
• Balaiada: resistência que ocorreu entre os anos de 1839 a 1842 no Maranhão, na
qual escravos liderados por Cosme Bento das Chagas preocuparam as elites.
FONTE: O autor
15
Consideradas as bases de nossa sociedade, formada pelos povos nativos,
colonizadores europeus e escravos negros trazidos da África, avançaremos para
os períodos posteriores à era colonial. O advento da união do território brasileiro a
Portugal no ano de 1815, somado às crises financeiras e políticas da coroa portuguesa,
impulsionaram uma demanda pela Independência do Brasil, que já não sustentava
tantas cobranças por parte também da Inglaterra. As elites portuguesas pressionavam
pela volta do regime colonial no Brasil, enquanto as elites já estabelecidas em nossas
terras não possuíam esse anseio. O então rei de Portugal, Dom João VI, deixa seu filho –
que viria a se tornar Dom Pedro I – tomando conta da política brasileira até que, no ano
de 1889, é proclamada a República Brasileira.
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Entre 1893 e 1897, ocorre no Brasil a chamada Guerra de Canudos no nordeste
brasileiro. Frente às condições de miséria vivenciadas pelo povo nordestino, assolado
pela fome, seca e violência crescentes, Antônio Conselheiro, autointitulado um “enviado
de Deus”, toma a frente de um movimento que resulta na formação do povoado de
Canudos. As gigantescas proporções que o resultado dos discursos de Conselheiro
tomou, abriu espaço para uma ofensiva das forças republicanas que massacraram o
povo de Canudos. Há relatos que em torno de 20 mil, dos 25 mil habitantes de Canudos,
foram mortos pelo exército. Além disso, aquela cidade foi totalmente destruída nesse
ataque genocida ao povo nordestino, protagonizado pelas forças armadas brasileiras.
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O conflito sócio-político se originou da construção de uma estrada de ferro que
ligaria São Paulo ao Rio Grande do Sul e demandou a expulsão de muitas pessoas de
suas terras. José Maria de Santo Agostinho, líder que se sensibilizou com o sofrimento
daqueles camponeses, posicionou-se contra o regime republicano brasileiro e logo seu
movimento de resistência foi desmantelado pelas forças do governo.
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RESUMO DO TÓPICO 1
Neste tópico, você aprendeu:
• O território que hoje corresponde ao Brasil era habitado por nativos de diversas
etnias antes da chegada dos invasores portugueses.
• Os povos indígenas, como são conhecidos até hoje os povos nativos brasileiros,
possuíam uma cultura altamente desenvolvida, além do domínio sobre os recursos
naturais aqui existentes.
• A invasão portuguesa trouxe consigo a escravidão, tanto dos povos nativos quanto
dos negros trazidos da África para cá.
• A sociedade brasileira foi formada por elementos advindos das culturas nativa,
negra e europeia.
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AUTOATIVIDADE
1 Antes mesmo de ser conhecido como Brasil, o território no qual vivemos era habitado
por diversas etnias nativas. Esses povos eram, em sua maioria, pessoas que viviam
em harmonia com a natureza, além de possuírem política bem organizada e altos
conhecimentos sobre os recursos naturais – que eram muito mais abundantes antes
da invasão portuguesa. A chegada dos europeus em terras brasileiras foi motivo de
muitos conflitos e resistência por parte dos povos que aqui habitavam. Covardemente
explorados pelos colonizadores, os chamados e até hoje conhecidos como indígenas,
foram submetidos a trabalhos braçais por objetos que recebiam em troca por meio do
escambo, quando não eram explicitamente escravizados. De acordo com as lutas por
emancipação protagonizadas pelos povos indígenas no Brasil, classifique V para as
sentenças verdadeiras e F para as falsas:
a) ( ) V – V – V – F.
b) ( ) V – V – V – V.
c) ( ) F – V – V – V.
d) ( ) F – V – F – V.
e) ( ) F – F – F – V.
2 O povo negro que foi trazido por meio de tráfico negreiro e hoje compõe mais da metade
da população brasileira, sempre foi combativo em relação aos abusos cometidos
pelos senhores de engenho do período colonial brasileiro e às sequelas sociais
iniciadas nesse tempo. Embora sejam diversos os relatos históricos que atribuem
à Princesa Isabel e ao 13 de maio à liberdade do povo negro no Brasil, estudamos
20
que o trabalho realizado a favor da plena emancipação dessas pessoas continua
contemporaneamente, porém, protagonizado pelo próprio movimento. Foram
diversos os levantes dos escravos negros, que se rebelavam e se concentravam em
quilombos, reivindicando por direitos que vão desde melhores condições de vida nas
senzalas à liberdade de manifestações culturais e religiosas. Com base nos principais
conflitos que ocorreram em nome da liberdade do povo negro no Brasil, analise as
sentenças a seguir:
I- Zumbi dos Palmares foi um grande líder negro que orientou a resistência do
quilombo dos Palmares, o maior e mais populoso do Brasil, onde ele e sua esposa
Dandara trabalharam a favor da emancipação de seu povo.
II - Era muito comum a prática do suicídio entre o povo negro na época das senzalas,
tão como os abortos realizados por escravas que eram vítimas frequentes de
estupros cometidos pelos senhores de escravos.
III - Dentre as práticas de resistência, que fizeram parte da luta a favor da emancipação
do povo negro no período colonial, estão as greves e os levantes contra os abusos
sofridos durante o regime escravagista.
IV - Apesar da Lei Áurea propor, no dia 13 de maio de 1888, a libertação dos escravos no
Brasil, as dificuldades sociais junto à discriminação e preconceito contra os negros
são sequelas do período escravista até os dias de hoje.
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22
UNIDADE 1 TÓPICO 2 -
SISTEMATIZAÇÃO DA SOCIOLOGIA
NO BRASIL
1 INTRODUÇÃO
A Sociologia no Brasil emergiu de um processo histórico no qual as demandas
pela construção de uma teoria social que atendesse a alguns tipos de interesse. No
presente tópico, abordaremos o processo de organização da Sociologia Brasileira
anterior a sua formalização e institucionalização. Ou seja, analisaremos o período de
nascimento das primeiras análises sociais documentadas por autores genuinamente
brasileiros, que vivenciaram boa parte da história de nosso povo e nossa sociedade.
Desse modo, conseguiremos acompanhar, mesmo que de maneira resumida, a trajetória
que percorreram as análises sociais brasileiras. Serão estudadas desde as experiências
de estudo social pioneiras, realizadas em ambiente e por profissionais não pertencentes
ao meio propriamente sociológico, até o pensamento social científico/acadêmico
contemporâneo, metodologicamente mais avançados.
23
As primeiras formações acadêmicas de pesquisadores sociais, ocorre na
década de 1930 em nosso país. As Ciências Sociais brasileiras foram impulsionadas,
em grande parte, por autores independentes que relatavam suas impressões sobre o
período histórico no qual viveram e seu passado.
Além dos direitos da mulher, Nísia Floresta reivindicava, por meio de seus
escritos, pelos direitos fundamentais dos índios e dos escravos negros brasileiros.
Ela escreveu sobre os direitos das mulheres e os abusos cometidos pelos homens na
sociedade patriarcal na qual estamos inseridos.
24
Foi um grande exemplo de resistência feminina que, em tempos quando a
mulher era dificilmente alfabetizada, forçada a ficar em casa cuidando exclusivamente
da família e dos afazeres domésticos, Nísia Floresta viajou por países como Portugal,
Inglaterra, Alemanha, Grécia, Itália e França, estudando e lecionando para meninas.
Umas de suas obras mais notáveis é Direitos das mulheres e injustiça dos homens
(FLORESTA, 1839), publicada pela primeira vez no ano de 1833. Pode ser considerada
uma das precursoras do movimento feminista brasileiro, inspirando não só mulheres,
mas diversos estratos sociais menos privilegiados, explorados e escravizados.
26
FIGURA 11 – CRUZ E SOUSA
27
O poeta, professor, crítico de história, jornalista, teatrólogo e etnólogo, Antônio
Gonçalves Dias, nasceu em Caxias, no Maranhão, no ano de 1823, sendo um dos
pensadores que ajudaram a construir o pensamento social brasileiro. Fundou a Revista
Literária Guanabara e escreveu para diversos jornais da época. O autor mestiço foi autor
do livro Os Últimos Cantos e grande divulgador da grandeza indígena do Brasil. Exaltava
o povo nativo brasileiro, atribuindo o papel de protagonista aos índios de seus contos. É
autor da famosa Canção do Exílio.
FONTE: <https://s.ebiografia.com/assets/img/authors/go/nc/goncalves-dias-l.jpg>.
Acesso em: 19 maio 2020.
Memórias Póstumas de Brás Cubas – Nesta criação de 1881, o autor nos mostra a
perspectiva de um narrador, Brás Cubas, que decide contar sua história de vida após
sua morte. O livro é cercado de ironia e críticas aos privilégios e a elite da época, uma
das principais obras de Machado de Assis e sempre exigido nos vestibulares.
Dom Casmurro – Esta obra foi publicada pela primeira vez em 1899 e traz o olhar
minucioso do autor sobre a sociedade e um tema polêmico: o ciúme. Isso, além de
uma das mais famosas personagens da literatura brasileira: Capitu.
28
A Mão e a Luva – Segundo romance de Assis, a obra foi publicada em 1874, em folhetins.
Dessa forma, se comparada aos livros anteriores, sua escrita é algo mais superficial e
simples, com um tom novelesco. A trama gira em torno dos relacionamentos burgueses
e da personagem Guiomar, protagonista considerada heroína da história.
Iaiá Garcia – Marcando o fim da fase romântica de Machado de Assis, o livro de 1878,
também reúne detalhes da sociedade daquela época: os interesses, questões de
poder, amores proibidos e casamentos arranjados.
FONTE: <http://machado.mec.gov.br/templates/machado/img/machado.png>.
Acesso em: 19 maio 2020.
29
É claro que o pensamento social brasileiro foi construído por diversos outros
autores que, infelizmente, não poderemos apresentar no presente material. Todavia,
a partir da obra de tais intelectuais, conseguimos identificar os principais problemas
sociais brasileiros vivenciados até o século XIX. A partir daí, podemos explorar as
principais abordagens das Ciências Sociais brasileiras, por mais que ainda não existisse
um campo do saber específico dedicado a esses estudos até então. As principais
inquietações dos autores tributários ao pensamento social do Brasil serão abordadas no
próximo subtópico, que ampliará nosso repertório de autores fundamentais à formação
da Sociologia Brasileira tal como a concebemos hoje. É importante salientar que as
sínteses apresentadas no presente tópico são de caráter introdutório. A complexidade e
vastidão da produção da Teoria Social brasileira demanda pesquisas mais aprofundadas,
tendo em vista o caráter fundamental da História do Brasil para o entendimento da
problemática social nacional.
No século XIX, o autor Tobias Barreto de Menezes já tecia reflexões sobre temas
que abarcavam a Filosofia e Psicologia a fim de compreender o pensamento humano.
Desde o referido período, Menezes (1889) já expressava suas inquietudes em relação à
condição humana e nossos direitos fundamentais. A dominação de determinadas classes
e os efeitos sociais do sistema capitalista faziam parte do pensamento desse autor que
reconhecia a importância da literatura para a construção do pensamento social.
30
[...] Sílvio Romero avança a hipótese de que o estudo deve considerar
o conjunto de elementos assim classificados: primários (ou naturais);
secundários (ou étnicos) e terciários (ou morais). No primeiro plano
as questões mais importantes dizem respeito ao clima e ao meio
geográfico. Aponta-os: “o excessivo calor, ajudado pelas secas na
maior parte do país; as chuvas torrenciais no vale do Amazonas,
além do intensíssimo calor; a falta de grandes vias fluviais entre o S.
Francisco e o Paraíba: as febres de mau caráter reinantes na costa”.
A isto acrescenta: “o mais notável dos secundários é a incapacidade
relativa das três raças que constituíram a população do país. Os
últimos – os fatores históricos chamados política, legislação, usos,
costumes, que são efeitos que depois atuam também como causas”.
Em síntese, as diversas doutrinas acerca do Brasil chamaram a
atenção para aspectos isolados, que cabia integrar num todo único.
O destino do povo brasileiro, a exemplo do que se dava em relação
à espécie humana, estaria traçado numa explicação de caráter
biosociológica, como queria Spencer (MORAES FILHO, 1999, p. 51).
31
RESUMO DO TÓPICO 2
Neste tópico, você aprendeu:
32
AUTOATIVIDADE
1 A Teoria Social brasileira nasceu anteriormente à formação das Ciências Humanas
formais. Foram diversos os pensadores que já problematizavam, principalmente a
partir do século XVIII, a sociedade que se consolidava no Brasil. Dentre os principais
assuntos abordados por tais intelectuais estavam a dominação de classes, patriarcado,
escravidão, formação do povo brasileiro, colonialismo e outros. Considerando a
produção intelectual voltada à Teoria Social brasileira, classifique V para as sentenças
verdadeiras e F para as falsas:
( ) Nísia Floresta, por ser considerada uma das pioneiras não só dos debates feministas
brasileiros como também da ascensão acadêmica feminina, tendo em vista as
dificuldades que a mulheres sofriam e sofrem até hoje em relação ao ingresso na
carreira de educador no Brasil.
( ) Dentre os autores nacionais que escreviam, ainda no século XVIII, sobre o cenário
social brasileiro, muitos trabalhavam como jornalistas, professores, políticos,
poetas e diversas outras ocupações.
( ) Os autores que trabalhavam a favor do abolicionismo escravocrata no Brasil nem
sempre eram de origem afrodescendente, sendo alguns deles políticos, intelectuais,
artistas e outros simpatizantes não negros da causa.
( ) O indianismo é uma das vertentes que surgiram da necessidade que alguns autores
tiveram de resgatar o protagonismo indígena na formação do povo brasileiro, ou
seja, reatribuir aos povos nativos do Brasil o título de brasileiros legítimos, cuja
cultura e etnia foram reduzidas drástica e cruelmente frente à dominação europeia.
a) ( ) V – V – V – F.
b) ( ) V – V – V – V.
c) ( ) F – V – V – V.
d) ( ) F – F – V – V.
e) ( ) F – F – F – V.
33
europeus às terras tupiniquins, serviram de base para formação da Teoria Social
brasileira. Com base nas afirmações sobre as principais abordagens do pensamento
social brasileiro do Período Colonial, analise as sentenças a seguir:
34
UNIDADE 1 TÓPICO 3 -
A INSTITUCIONALIZAÇÃO DA SOCIOLOGIA NO
BRASIL
1 INTRODUÇÃO
No presente tópico, daremos sequência à reconstituição e síntese histórica
iniciada no primeiro tópico, contextualizando o nascimento da Sociologia no Brasil como
campo do conhecimento independente. Trabalharemos também a trajetória dos estudos
sociais brasileiros, analisando a maneira com a qual é inserida, suspensa e retorna à
educação pública nacional.
35
A Reforma Capanema foi uma reforma educacional promovida pelo ministro
da Educação e da Saúde de Getúlio Vargas, Gustavo Capanema, que implementou, no
ano de 1942, uma política educacional alinhada ao seu ideário. A referida reforma foi
responsável pela regulamentação do ensino primário, criou o supletivo para as pessoas
que não puderam concluir os estudos no tempo estabelecido, organizou o ensino
ginasial (4 anos) e colegial (3 anos), estabeleceu o ensino profissional de nível médio
além da criação do “Sistema S” de formação profissional. De acordo com a Agência
Senado, Sistema S é um:
36
• A Herança Histórico-cultural da Sociologia:
º Período dos Pensadores Sociais.
º Período da Sociologia de Cátedra.
37
A institucionalização acadêmica da Sociologia no Brasil ocorreu em me-
ados da década de 1930, com a criação da Escola Livre de Sociologia e
Política de São Paulo (1933) e com a criação da Seção de Sociologia e
Ciência Política da Faculdade de Filosofia da Universidade de São Paulo
(1934). As tentativas, de relacionar o ensino e a pesquisa em Sociologia,
ainda que limitadas e parciais em ambas as instituições, demarcam o
início da chamada etapa da Sociologia Científica, a qual viria a ter seu
apogeu em fins dos anos de 1950 (LIEDKE FILHO, 2005, p. 382).
38
Multiculturalismo;
Identidade Raças;
Nacional; Gênero;
Relações Raciais e
Miscigenação Direitos Humanos;
Democracia Racial;
Racial (Visão Violência;
Estudos de
Pessimista); Desigualdades Sociais;
Temas Comunidade;
Escola Nova e Religiões;
Transição para a
Democratização; Representações Sociais;
Modernidade;
Miscigenação Identidades Sociais;
Dois Brasis.
Racial (Visão Novos Movimentos Sociais;
Otimista). Reativação da Sociedade
Civil
Visão Racista X Sociedade Tradicional
Relativismo; e Sociedade Moderna;
Questão Racial; Modernização,
Autoritarismo X
Problemáticas Liberais X Dependência e
Democratização.
Autoritários; Nacionalismo;
Formação do Subdesenvolvimento
Estado Nacional. e Desenvolvimento.
PENSADORES
SOCIOLOGIA CRISE E
SOCIAIS (Não
CIENTÍFICA DIVERSIFICAÇÃO
formais);
Etapas da (Cursos de Sociologia (Cassações e Censura);
SOCIOLOGIA
sociologia e Política na USP; NOVA IDENTIDADE
DE CÁTEDRA
Escola Livre Sociologia SOCIOLÓGICA
(Cátedras em
e Política). (Contemporaneidade).
Escolas Normais).
FONTE: Adaptado de Liedke Filho (2005)
39
FIGURA 15 – REFLEXÃO SOBRE AS DIFICULDADES DE ESTABELECIMENTO DA SOCIOLOGIA
NO BRASIL
FONTE: <https://cafecomsociologia.com/wp-content/uploads/2016/02/Untitled-1-2280x1052_c.jpg>.
Acesso em: 3 jun. 2020.
O Golpe Militar de 1964, que deu início ao período da Ditadura Militar no Brasil
(1964-1985), foi marco de inúmeros retrocessos às Ciências Sociais brasileiras. Alguns
dos acontecimentos mais notáveis foram o fechamento, em 1964, do ISEB (Instituto
Superior de Estudos Brasileiros), criado pelo Decreto nº 37.608, de 14 de julho de 1955,
como órgão do Ministério da Educação e Cultura, e as cassações na Universidade de
São Paulo, no ano de 1969. Em contrapartida, surgiram alguns centros privados de
pesquisas como o CEBRAP (Centro Brasileiro de Análise e Planejamento), CEDEC (Centro
de Estudos de Cultura Contemporânea) e o IDESP (Instituto de Estudos Econômicos,
Sociais e Políticos de São Paulo).
40
com a evolução adversa da Sociologia em outros países latino-ame-
ricanos, particularmente do Cone Sul, sob as condições autoritárias,
a Sociologia no Brasil experimentou uma razoável expansão institu-
cional do ensino e da pesquisa (LIEDKE FILHO, 2005, p. 396).
FONTE: <https://www.correio24horas.com.br/fileadmin/acervo/tt_news/Midia_Santana/recorte_jornal013.
jpg>. Acesso em: 4 jun. 2020.
41
O Relatório Final da Comissão da Verdade da UFES (2016), destaca
a fase da Universidade em tempos de ditadura como uma época
de contradições. Por um lado se apresentava um projeto de
modernização da sociedade em que as Universidades ocupavam um
lugar de destaque, e por outro lado e ao mesmo tempo é estruturada
uma política de estado voltada para a repressão e o silenciamento
da sociedade, que constitui o alicerce principal do projeto de
hegemonia do grupo político que assumiu o poder no Brasil em 1964.
As universidades tinham papel estratégico na construção do ideal do
“Brasil Grande” elaborado pelo regime militar (LIMA, 2017, p. 43).
• Ferreira Gullar
• Oscar Niemeyer
42
de Filosofia da Universidade do Brasil, e fez estudos de pós-graduação na UFRJ.
Em janeiro de 1970, deixou o Brasil e partiu para o exílio. Na bagagem, levava cópias
de algumas histórias infantis que estava escrevendo, a convite da revista Recreio.
Trabalhou como jornalista na revista Elle em Paris e no Serviço Brasileiro da BBC de
Londres, além de se tornar professora de Língua Portuguesa na Sorbonne. Nesse
período, participou de um seleto grupo de estudantes na École Pratique des Hautes
Études cujo mestre era Roland Barthes, sob cuja orientação terminou sua tese de
doutorado em Linguística e Semiologia, em Paris. O trabalho resultou no livro Recado
do Nome (1976), sobre a obra de Guimarães Rosa.
FONTE: <https://www.academia.org.br/sites/default/files/academicos/fotografias/ana-maria-machado.
jpg>. Acesso em: 4 jun. 2020.
• Glauber Rocha
43
• Fernando Gabeira
• Augusto Boal
A entrada em vigor do AI-5 fez com que o dramaturgo deixasse o país com
o Teatro Arena, em uma excursão de um ano, entre 1969 e 1970, por EUA, México,
Argentina e Peru. Quando voltou ao Brasil, foi preso e torturado e decidiu seguir para
a Argentina. Boal passaria ainda por uma série de outros países antes de voltar ao
Brasil, em 1984.
• Darcy Ribeiro
44
Xingu. Elaborou para a Unesco um estudo sobre o impacto da civilização sobre grupos
indígenas brasileiros no século XX e, em 1954, colaborou com a Organização Interna-
cional do Trabalho na preparação de um manual sobre os povos aborígenes de todo o
mundo. Foram 12 anos exilado entre o Uruguai, Venezuela, Chile, Peru e México.
• Paulo Freire
45
FIGURA 18 – PAULO FREIRE
46
passando a Sociologia a dedicar-se massivamente a enfocar as
identidades e representações sociais dos movimentos urbanos e
rurais, do movimento sindical, dos movimentos feministas e gay, do
movimento negro e dos movimentos ecológicos. Filosoficamente
poder-se-ia dizer que, em termos clássicos, ocorreu um tipo de
passagem do privilegiamento da questão do “para-si” para o “em-si”
dos movimentos sociais (LIEDKE FILHO, 2005, p. 425-426).
DICAS
Darcy Ribeiro é um dos grandes nomes do Pensamento Social Brasileiro. Intelectual
formado em Medicina e Ciências Sociais, Darcy Ribeiro se interessava por temas ligados
aos povos nativos brasileiros, Cultura e Educação, trabalhando no Ministério da Cultura e
da Educação e também como Chefe da Casa Civil.
Com a implantação do regime militar, exilou-se em diversos países da América Latina onde
continuou sua atuação política, assessorando diretamente presidentes como Allende, no
Chile, e Velasco Alvarado, no Peru. Em uma entrevista concedida ao programa Roda Viva da
TV Cultura no ano de 1988, Darcy tece observações sobre o regime militar brasileiro e suas
consequências à Cultura, Educação e Política brasileiras.
O vídeo pode ser acessado por meio do endereço eletrônico a seguir: https://www.youtube.
com/watch?v=6r7QDo9yHJk. Suas análises são muito importantes e capazes de ampliar
nossas perspectivas sobre a Ditadura Militar no Brasil e suas implicações na Ciência, em
especial, as Ciências Sociais brasileiras.
47
sociológico se produz, logo entra na trama das relações sociais, no
jogo das forças que organizam e movem, tensionam e rompem a
tessitura e a dinâmica da realidade social (IANNI, 1997, p. 25).
48
LEITURA
COMPLEMENTAR
A DIALÉTICA DO DESENVOLVIMENTO CAPITALISTA NO BRASIL
Parece-nos que nenhuma explicação sobre um fenômeno político pode ser boa se
o reduzir a apenas um de seus elementos, e é decididamente ruim se tomar como chave
justamente um fator condicionante externo. Em um mundo caracterizado pela interdepen-
dência e, mais que isso, pela integração, ninguém negaria a influência dos fatores inter-
nacionais sobre as questões internas, principalmente quando se trata de uma economia
como a daquelas denominadas centrais, dominantes ou metropolitanas e de um país
periférico, subdesenvolvido. Mas em que medida esta influência é exercida? Qual é sua for-
ça diante dos fatores internos específicos da sociedade sobre a qual atua? O Brasil, com
seus 90 milhões de habitantes e uma economia industrialmente diversificada, é uma rea-
lidade social complexa, cuja dinâmica foge às interpretações unilaterais, ainda que esteja
condicionada e limitada pelo marco internacional no qual está inserida. Sem uma análise
da problemática brasileira, das relações de força existentes entre os grupos políticos e das
contradições de classe que se desenrolavam sobre a base de uma dada configuração eco-
nômica, não se compreenderá a transformação política ocorrida a partir de 1964. Mais grave,
não será possível relacionar esse desenrolar político à realidade econômico-social que se
encontra em sua base, nem estimar as perspectivas prováveis de sua evolução. Perspecti-
vas que, no final das contas, não se referem apenas ao Brasil, mas a toda a América Latina.
49
que leva a economia brasileira a realizar um considerável esforço de substituição de
importações. A crise mundial de 1929 e suas repercussões sobre o mercado internacional
manteriam a capacidade de importação do país em níveis baixos, acelerando, assim, seu
processo de industrialização.
50
RESUMO DO TÓPICO 3
Neste tópico, você aprendeu:
• A Sociologia Brasileira nasceu das teorias sociais formuladas por diversos intelectuais
das mais variadas áreas do conhecimento, porém, foi reconhecida como campo
independente do saber apenas no início do século XX.
51
AUTOATIVIDADE
1 O início do século XX foi marco de uma série de eventos importantes ao desenvolvimento
da Sociologia Brasileira. Do processo de formalização e institucionalização da
Sociologia no Brasil, de sua ascensão nos ensinos médio e universitário, até os diversos
momentos no qual foi atribuído à disciplina um caráter obrigatório e/ou facultativo nas
escolas brasileiras, a Sociologia resiste no Brasil e ainda constitui uma fundamental
ferramenta utilizada a favor da conscientização e consequente emancipação do povo
brasileiros. Sobre os principais eventos que fizeram parte da história da Sociologia em
território nacional, classifique V para as sentenças verdadeiras e F para as falsas.
a) ( ) V – V – V – F.
b) ( ) V – V – V – V.
c) ( ) V – F – V – F.
d) ( ) V – V – F – F.
e) ( ) F – V – F – F.
52
Essa teoria pode fundamentar algumas políticas adotadas durante o período da Ditadura
Militar do Brasil, principalmente quando consideramos o esforço por parte dos militares
para fechar as universidades, proibir o ensino de Sociologia nas escolas, censurar
literaturas e manifestações artísticas, exilar e matar muitos intelectuais brasileiros. De
acordo com algumas teorias sociais, o referido tipo de prática é voltado à perpetuação
de determinada dinâmica política imposta a certo território. Com base nos possíveis
impactos da Sociologia na política brasileira quando disseminada por meio da educação
pública, analise as sentenças a seguir:
3 O Pensamento Social Brasileiro passou por diversas etapas, dentre elas ascensão e
declínios, principalmente quando consideramos o ensino de Sociologia nas escolas
públicas brasileiras. De acordo com o conteúdo apreendido no último tópico da pre-
sente unidade, disserte em um parágrafo resumindo a trajetória da Sociologia Brasi-
leira desde o início do século XX até os dias atuais, enfocando os principais avanços
e retrocessos em relação à propagação da Teoria Social por meio da Educação.
53
REFERÊNCIAS
ABREU, C. Capítulos da história colonial. Rio de Janeiro: Centro Edelstein de Pesquisa
Social, 2009. 195 p. Disponível em: https://static.scielo.org/scielobooks/kp484/pdf/
abreu-9788579820717.pdf. Acesso em: 5 jun. 2020.
COSTA, A. de O. et al. Memórias das mulheres do exílio. Rio de Janeiro: Paz e Terra,
1980.
FLORESTA, N. Direitos das mulheres e injustiça dos homens. 3. ed. Rio de Janeiro:
[s.n.], 1839.
54
MACHALA, B. N. A reforma do Ensino Médio no Brasil e seu impacto no ensino da
sociologia. Revista Três Pontos, Belo Horizonte, v. 14, n. 2, p. 17-25, 2017. Disponível em:
https://periodicos.ufmg.br/index.php/revistatrespontos/article/view/12360. Acesso
em: 5 jun. 2020.
MARX, K. O capital: crítica da economia política. São Paulo: Boitempo, 2013. (Livro I: o
processo de produção do capital).
STADEN, H. Suas viagens e cativeiro entre os índios do Brasil. São Paulo: Editora
Nacional, 1945.
55
56
UNIDADE 2 —
INTERPRETAÇÕES
CLÁSSICAS SOBRE O BRASIL
OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM
A partir do estudo desta unidade, você deverá ser capaz de:
PLANO DE ESTUDOS
A cada tópico desta unidade você encontrará autoatividades com o objetivo de
reforçar o conteúdo apresentado.
CHAMADA
Preparado para ampliar seus conhecimentos? Respire e vamos em frente! Procure
um ambiente que facilite a concentração, assim absorverá melhor as informações.
57
CONFIRA
A TRILHA DA
UNIDADE 2!
Acesse o
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58
UNIDADE 2 TÓPICO 1 —
SOCIOLOGIA E A INTERPRETAÇÃO
DO BRASIL
1 INTRODUÇÃO
O presente tópico tem como objetivo introduzir a trajetória e as principais
colaborações dos autores que são considerados os pensadores clássicos da Teoria
Social Brasileira. A partir do contexto histórico-espacial, no qual cada um deles foi
formado e produziu, entenderemos alguns fatores que os influenciaram a tecer seus
estudos e atuação política em seus respectivos objetos de interesse.
FONTE: <http://editoraunesp.com.br/blog/icone/homenagem-a-gilberto-freyre>.
Acesso em: 11 jun. 2020.
59
Gilberto Freyre trabalhou também como antropólogo e artista plástico, conside-
rado contemporaneamente como um dos mais importantes sociólogos brasileiros. Filho
de Francisca de Mello Freyre e do professor, advogado e juiz Alfredo Freyre, Gilberto é
considerado um ensaísta, diferente de outros grandes nomes do pensamento social
de sua época. Isso se deve ao fato de que ele não obedeceu à risca os pormenores
acadêmicos já estabelecidos durante sua produção, ou seja, foi um autor que trabalhou
de maneira mais informal em relação à produção da Academia, embora sua leitura seja
obrigatória nos mais diversos cursos da área de Ciências Humanas do Brasil.
Retornou ao Brasil, na década de 1920, após concluir seus estudos nos Estados
Unidos e viajar diversas vezes pela Europa. Retorna a sua casa em Recife, de onde
prosseguiria com boa parte de sua produção intelectual. No ano de 1926, Gilberto Freyre
participa da formulação do Manifesto Regionalista, cujo grupo era contrário à Semana
de Arte Moderna de 1922, de ideologia nacionalista. Os regionalistas reivindicavam o
fim da imposição da cultura europeia pelos modernistas no Brasil, em detrimento da
cultura local, valorizando nossa cultura em tempos em que pouco se fazia em benefício
da mesma.
Sua principal obra é Casa-Grande & Senzala (FREYRE, 2003), publicada no ano
de 1933, extremamente polêmica, é alvo de fortes críticas e elogios até os dias atuais.
O texto possui grande influência da Antropologia Cultural Norte-Americana, tradição de
seu professor Franz Boas, importante nome da Antropologia mundial. Uma das maiores
críticas gira em torno da romantização da miscigenação, comumente estabelecida por
meio do estupro de mulheres brasileiras pelo homem branco e a hipersexualização de
nosso povo. Em outras palavras, Freyre é muito criticado por naturalizar a sexualidade,
muitas vezes compulsória, entre diferentes povos que habitavam o Brasil colonial.
60
FIGURA 2 – PRIMEIRA EDIÇÃO DE CASA-GRANDE & SENZALA DE 1933
FONTE: <https://d2xsuil29zvzbt.cloudfront.net/imagens/img_m/717/364971.jpg>.
Acesso em: 11 jun. 2020.
61
Sérgio Buarque concluiu seu bacharelado em Direito pela Faculdade de Ciências
Jurídicas e Sociais do Rio de Janeiro, no ano de 1925, escrevendo, também, contos e
poemas enquanto cursava sua graduação. Trabalhou em diversos jornais brasileiros até
viajar à Europa, convidado por Assis Chateaubriand, um jornalista, empresário e político
brasileiro que atuava em diversas outras áreas. Na Alemanha e na Polônia teve acesso
à obra de Max Weber, autor da Sociologia Clássica que muito influenciou a produção
intelectual de Sérgio Buarque de Holanda. Retornando ao Brasil, na década de 1930,
devido ao crescimento do movimento nazista alemão, trabalhou para estatais de
notícias. As anotações trazidas da Europa serviram como base de seu livro sociológico e
historiográfico intitulado Raízes do Brasil, primeira e mais influente obra do autor.
Raízes do Brasil (HOLANDA, 1995) é uma obra publicada no ano de 1936 e que
aborda a formação do povo brasileiro, um dos clássicos do Pensamento Social Brasileiro.
O texto reflete sobre a colonização do Brasil e suas implicações a respeito da sociedade
brasileira moderna. Sérgio Buarque também tece reflexões acerca da fragilidade da
hierarquia dos colonizadores do país, apontando que o território brasileiro foi dominado
não só pela nobreza de Portugal, mas também pela Espanha. O autor também disserta
sobre a relação entre disciplina e obediência característicos da educação jesuítica,
predominante no período colonial brasileiro.
FONTE: <https://sebodomessias.com.br/imagens/produtos/0/3665_866.jpg>.
Acesso em: 11 jun. 2020.
62
em um povo que age conforme suas emoções, submisso aos mandos e desmandos de
seus superiores e que consideravam mais os bens privados de sua vida em detrimento
dos bens públicos. De outro modo, o Homem Cordial era aquele que dava preferência
aos interesses próprios, familiares, deixando de lado as relações públicas quando a
demanda é auxiliar os membros de seu grupo.
FONTE: <https://www.pragmatismopolitico.com.br/wp-content/uploads/2017/06/diagnostico-florestan-
-fernandes-racismo-resgatado.jpg>. Acesso em: 12 jun. 2020
FONTE: <https://d1o6h00a1h5k7q.cloudfront.net/imagens/img_m/7863/3358961.jpg>.
Acesso em: 12 jun. 2020.
64
FIGURA 7 - UMA DAS EDIÇÕES DO LIVRO A INTEGRAÇÃO DO NEGRO NA SOCIEDADE DE CLASSES DE
FLORESTAN FERNANDES
65
Os pais de Caio Prado Júnior, Caio e Antonieta Silva Prado, sempre foram ligados à
política, portanto, desde jovem o sociólogo teve contato com o meio, iniciando sua carreira
nas atividades no campo pelo Partido Democrático (PD) no ano de 1928, contribuindo
ativamente com a Revolução de 1930. Filiou-se ao Partido Comunista Brasileiro (PCB),
viajou para estudar na União Soviética em 1933, assumiu a vice-presidência da Aliança
Nacional Libertadora, foi preso por dois anos e se exilou na Europa. Quando retornou ao
Brasil, em 1940, publicou Formação do Brasil Contemporâneo (PRADO JÚNIOR, 1961),
considerada sua mais importante obra e um clássico do Pensamento Social Brasileiro, no
qual disserta sobre a formação histórica do Brasil. Juntamente a nomes como Monteiro
Lobato, Caio Prado Júnior funda a Editora Brasiliense.
FIGURA 9 – CAPA DE UMA DAS VERSÕES DA OBRA FORMAÇÃO DO BRASIL CONTEMPORÂNEO DE CAIO
PRADO JÚNIOR
66
Juntos, os quatro autores brevemente apresentados anteriormente,
representam os principais intérpretes do Brasil, pertencentes à segunda geração de
pensadores que contribuíram com a Teoria Social Brasileira: a geração científica. Como
vimos na unidade anterior, a primeira geração de contribuintes do Pensamento Social
Brasileiro fazia parte de um grupo ainda não formalizado de pensadores. Ou seja, não
eram pensadores considerados sociólogos pelo fato de ainda não existir um campo do
saber independente e destinado a ao pensamento voltado à Sociedade no Brasil. Um
dos pensadores que representou a ruptura com a primeira geração dos pensadores
sociais brasileiros foi Gilberto Freyre, apesar de ser um autor que pouco acompanhou as
normas acadêmicas emergentes em sua época.
67
RESUMO DO TÓPICO 1
Neste tópico, você aprendeu:
• Gilberto Freyre foi um pensador brasileiro que muito contribuiu com as análises
acerca da formação do povo brasileiro, enfatizando a mestiçagem como um
processo fundamental para o entendimento da mesma.
68
AUTOATIVIDADE
1 Sabemos que a primeira geração de pensadores que contribuiu para o desenvolvimento
do Pensamento Social Brasileiro não teve sua origem intelectual dentro dos muros de
universidades ou escolas especializadas na teorização acerca de nossa Sociedade.
Foram indivíduos e grupos de diversas naturezas que lançaram mão das primeiras
análises relacionadas à formação e funcionamento da dinâmica social do Brasil, desde
os povos originários até políticos, artistas, professores jornalistas e diversos outros
profissionais que somaram com a construção da Teoria Social Brasileira até o início
do século XX. A partir da década de 1930, emergem no Brasil as primeiras instituições
e grupos dedicados exclusivamente às investigações voltadas à Sociologia e
Política, formando nossos primeiros profissionais formalmente reconhecidos pela
Academia. Eis que nasce a segunda geração de pensadores sociais brasileiros:
aqueles submetidos aos métodos e aceitação científicos. Sobre essa nova etapa do
Pensamento Social Brasileiro, analise as sentenças a seguir:
69
destacar alguns dos expoentes do Pensamento Social Brasileiro, considerados os
principais intérpretes do Brasil. Com base no exposto, classifique V para as sentenças
verdadeiras e F para as falsas:
a) ( ) V – V – V – F.
b) ( ) F – V – V – V.
c) ( ) V – F – V – V.
d) ( ) V – V – V – V.
e) ( ) F – F – F – F.
70
UNIDADE 2 TÓPICO 2 -
GILBERTO FREYRE, SÉRGIO BUARQUE
DE HOLANDA E A FORMAÇÃO DO
POVO BRASILEIRO
1 INTRODUÇÃO
O presente tópico pretende aprofundar os conhecimentos acerca da obra
de Gilberto Freyre e Sérgio Buarque de Holanda, dois dos principais intérpretes do
Brasil. Para tanto, adentraremos seus mais notáveis escritos com o intuito de melhor
compreendermos as contribuições desses intelectuais ao Pensamento Social Brasileiro,
principalmente no que toca a formação e desenvolvimento do povo brasileiro.
DICAS
O Culturalismo é uma vertente de estudos voltados à compreensão de
comportamentos individuais e coletivos por meio a análise a cultura à qual o
sujeito ou grupo está inserido. O Culturalismo é muito difuso em campos do
saber como a Psicologia e as Ciências Sociais, no caso do último, emergiu no
seio da Antropologia com os estudos de europeus direcionados aos povos,
sobretudo, tribais com os quais se deparavam em meio a suas expedições.
O povo Brasileiro é um documentário, disponível na plataforma YouTube,
que demonstra um pouco dos estudos culturalistas brasileiros, evidenciando
como a cultura de nossos povos ancestrais, nativos do Brasil, influenciaram na
formação de nosso povo tal como se apresenta hoje em dia. O documentário
pode ser acessado por meio do seguinte link: https://www.youtube.com/
watch?v=TMNulMYchm0&ab_channel=Funda%C3%A7%C3%A3oLeonelBrizo
laFLB-AP. Aproveite!
72
Por meio de Casa-Grande & Senzala, Freyre (2003) consegue desmistificar a
ideia de hierarquias raciais, que consiste em conceber a existência de raças e/ou etnias
superiores e inferiores. O pensador refutou as teorias que tentavam inferiorizar os negros.
Além disso, a obra concebe o patriarcalismo – sistema social no qual o homem adulto
possui privilégios sociais, morais, políticos entre outros – como um fator importante no que
diz respeito à formação de nosso povo. Freyre (2003) acredita que o patriarcado dominou
também as relações raciais, submetendo negros e índios aos mandos e desmandos
dos senhores de engenho: geralmente descendentes europeus brancos que possuíam
grandes propriedades de terra, nas quais a produção agrícola era impulsionada por meio
da mão de obra escrava.
73
de outros países, ainda sim era um sistema extremamente violento, sendo comum
o fato de escravas serem frequentemente estupradas por seus “senhores”. Gilberto
Freyre apresenta uma perspectiva mais complexa em relação à concepção simplista
entre escravos e seus “donos”. O autor apresenta o patriarca como dono de diversos
outros personagens além de seus escravos, como de sua esposa, seus filhos e demais
elementos que compunham o engenho do qual eram gestores.
Outros conceitos importantes na teoria de Freyre (2003) e que lhe atribuiu muitas
críticas é o da sexualidade e da sensualidade dos povos tropicais. Para o autor, as condições
climáticas dos trópicos seriam um fator que contribuía para a fluidez sexual dos povos
nativos em relação ao que acontecia na Europa. A sensualidade de nossos povos seria
74
então aflorada pelo clima. O pensador sustentava a ideia de que as condições climáticas
colaborariam com o desenvolvimento de uma suposta falta de pudor dos brasileiros. Cabe
relembrarmos que muitos relatos da mestiçagem entre brancos e negros no Brasil ocorreu
de maneira compulsória, ou seja, as negras escravas eram comumente estupradas por
seus senhores, sendo equivocada a perspectiva freyriana de que isso acontecia de forma
natural, bonita ou romântica. A linguagem utilizada por Freyre (2003) no trecho a seguir
evidencia sua perspectiva “hipersexualizada” acerca do papel da negra: mulher destinada
à satisfação das inúmeras necessidades do homem branco, inclusive as sexuais.
75
diversas naturezas, violência física e psicológica, torturas e castigos inimagináveis. A
punição destinada aos escravos que tentavam fugir ou demostravam algum tipo de
resistência às condições subumanas de existência nos engenhos brasileiros, era muitas
vezes o “tronco”, no qual eram chicoteados em frente aos seus familiares, amigos e
demais trabalhadores, comumente resultante na morte deles.
IMPORTANTE
Uma personagem que ilustra muito bem as torturas sofridas pelos escravos, em especial
as escravas brasileiras, é a escrava Anastácia. Ela foi um dos inúmeros exemplos de luta
e resistência aos maus tratos, tortura e abusos, inclusive sexuais, cometidos pelos seus
senhores. Era conhecida por uma beleza particular que chamava a atenção de seus
estupradores, porém, relutante em se entregar aos abusos, sofria a ira de seus donos que a
sentenciaram a usar uma máscara de ferro pelo resto de sua vida, retirada apenas quando
se alimentava. Depois de uma vida inteira de sofrimento, Anastácia teve seus restos mortais
enterrados na Igreja do Rosário, que logo desapareceram em um incêndio. Anastácia é
considerada santa por religiões de matriz afro-brasileira e possui muitos devotos no Brasil.
Segundo eles, Anastácia realizava milagres, dentre eles o da cura de enfermos e feridos.
Sua biografia é recontada em diversos livros
Podemos concluir que a obra Casa-Grande & Senzala (FREYRE, 2003), ao mesmo
tempo em que é alvo de críticas voltadas a sua linguagem e suposta simpatia aos senho-
res de engenho, é reconhecida como um dos textos mais importantes para se entender o
processo de desenvolvimento do povo e da cultura brasileira. O livro consegue descrever,
de maneira minuciosa, vários elementos e comportamentos com os quais teve contato,
porém, é claro, sob uma perspectiva de uma pessoa pertencente à classe aristocrata de
seu tempo. Devemos, portanto, considerar que sua linguagem sexualizada e/ou a visão
romântica da escravidão no Brasil, pode ser explicada pela vivência do autor em detrimen-
to da vivência dos negros que passaram pelos suplícios da escravidão.
76
Antonio Candido (1993, 1995), por exemplo, foi um dos críticos a dar
mais ênfase a uma interpretação dualista de Gilberto Freyre. Tanto no
famoso prefácio a Raízes do Brasil, quanto no artigo “Aquele Gilberto”,
publicado à época da morte de Freyre e depois republicado em Re-
cortes, Candido constrói um esquema dualista para entender Freyre.
Para ele, o autor de Casa grande & senzala seria um escritor que ainda
detinha a visão senhorial e aristocrática da história brasileira e que, no
entanto, também havia sido um inovador capaz de ter seus momen-
tos progressistas e de trazer no bojo de sua interpretação do Brasil
elementos que problematizavam a visão senhorial do país. Fernando
Henrique Cardoso (1993, p.25) segue o mesmo padrão argumentativo
de Candido ao afirmar que “[o] encanto do livro de Gilberto Freyre é
que ele, ao mesmo tempo em que desvenda, oculta e mistifica”. O que
se pode concluir da leitura de Candido e Cardoso é que tanto a luci-
dez crítica quanto a mistificação saudosista fazem parte da obra de
Freyre. Entretanto, não há em seus argumentos nenhuma explicação
de como essa configuração peculiar funciona, ou seja, como tais linhas
de força ideológicas interagem entre si (MELO, 2009, p. 280).
ATENÇÃO
Quando lemos um texto conhecido, é de fundamental importância
que pesquisemos suas possíveis críticas, advindas de outros leitores,
com diferentes perspectivas. Esse estudo faz com que ampliemos nossa
percepção do texto e que possamos enxergar com outros olhos alguns
detalhes que comumente deixamos passar despercebidos, além de conceber
novas interpretações daquelas palavras. Uma dica importante para o
momento de leitura das críticas, especialmente se forem feitas por outros
intelectuais conhecidos, é fazer uma breve pesquisa da classe social, tradição
e posicionamento ideológico de cada autor. Esses fatores podem exercer
muita influência na perspectiva e, consequentemente, na interpretação de
determinados autores a respeito de cada Teoria Social criticada. Por exemplo:
um autor ex- escravo pode ter uma perspectiva completamente diferente de
um autor descendente de escravocratas. Por isso, é importante pesquisarmos
os autores e críticos de todos os textos aos quais temos acesso.
77
Em suma, podemos afirmar que a ideia central de Gilberto Freyre foi a respeito
da dinâmica da casa-grande e da senzala, que os elementos sociais, culturais, políticos
e econômicos fundamentais do Brasil se moldaram. Em outras palavras, o processo
histórico brasileiro seguiu mais ou menos a mesma dinâmica de seus primórdios, do
período colonial. A partir desse período, houve pequenas modificações nas atividades
produtivas, no sistema escravista entre outros elementos que não abalaram as estruturas
sociais brasileiras. Ou seja, por mais que a aristocracia agrária tenha se retraído, os
negros brasileiros não estejam mais sob regime de escravidão, as casas-grandes e
senzalas se tornaram obsoletas, ainda sim existe um abismo entre as classes: uma
elite social continua existindo, os sobrados se tornaram mansões nos dias de hoje, os
mocambos hoje compõem as favelas e as pessoas que lá habitam são majoritariamente
o povo negro, famílias migradas das zonais rurais, nordestinos e seus descendentes.
78
3 SÉRGIO BUARQUE DE HOLANDA E O DESENVOLVIMENTO
SOCIAL DO BRASIL
Sérgio Buarque de Holanda é autor de outra obra fundamental à compreensão
da formação de nossa sociedade a partir do regime colonial no Brasil. Uma de suas
mais importantes obras recebe o título de Raízes do Brasil (HOLANDA, 1995), publicada
pela primeira vez no ano de 1936, na qual o pensador discorre sobre a construção das
relações sociais brasileiras sob uma perspectiva de desenvolvimento histórico. Para
Holanda (1995), nosso país herdou características sociais fundamentais determinadas
pelo colonialismo e que refletem no tipo de política predominante até os dias de hoje.
Em suma, Sérgio Buarque de Holanda nos apresenta o colonialismo como o fator que
deu origem às principais heranças políticas e sociais do Brasil.
Os tipos ideais não são conceitos inflexíveis, que objetivam colocar fenômenos
sociais dentro de caixas conceituais, mas sim, conceitos que podem variar de acordo com
a evolução do raciocínio em relação a determinado objeto social.
79
A metodologia empregada por Holanda em Raízes do Brasil, implica
concebermos a sociedade como um conjunto de modelos ou grupos de pessoas. Em
outras palavras, o autor enquadra os principais atores que compõem a dinâmica social
brasileira, desde o período colonial, em diferentes classes. Alguns dos exemplos de
pares ideais adotados por Holanda (1995) são “aventureiros” e “trabalhadores”, “urbano”
e “rural” entre outras classificações que são apresentadas no curso de toda a obra.
O primeiro paradigma que Holanda (1995) quebra, quando sua obra é comparada
a estudos e teorias anteriores, é o de que o Brasil fora colonizado puramente pelo
povo português. Para o pensador, as terras brasileiras, assim como praticamente toda
a América Latina, foram dominadas pelos povos ibéricos, ou seja, em sua maioria
portugueses e espanhóis. Sérgio Buarque de Holanda identifica em Espanha e Portugal
algumas características peculiares em relação ao resto da Europa, garantindo melhores
condições à dominação do Brasil.
80
Outra notável característica que Espanha e Portugal compartilhavam, ressaltada
por Holanda (1995), e que facilitou a colonização do Brasil e muitos outros países latino-
americanos pelos povos ibéricos foi a ausência de uma hierarquia feudal tão imponente
quanto a que havia em outros países europeus. Essa falta de uma hierarquia forte nos
dois referidos países, facilitou a ascensão, crescimento e fortalecimento da burguesia
mercantilista, classe que se destacou na busca pela expansão do mercado e,
consequentemente, das expedições marítimas. Sérgio Buarque de Holanda sustenta a
ideia de que essa falta de organização por parte das nobrezas ibéricas, que impuseram
poucos limites às transações mercantis da burguesia, resultou na maior autonomia
econômica de Portugal e Espanha, que tiveram mais oportunidades de se aventurar
pelos mares em busca de maiores riquezas.
Holanda (1995) acredita que Portugal passou por muitas mazelas governamentais,
embora tenha sido um grande império, inclusive se tornando o primeiro Estado Nacional.
Com o advento de ocorrências como, por exemplo, as dívidas acumuladas com a Inglaterra
e conflitos com a Espanha e Holanda, Portugal se desestabilizou administrativamente.
Uma das consequências de tais desafios enfrentados pela coroa portuguesa foi a
concessão involuntária das boas condições de desenvolvimento das quais gozou a
burguesia mercantil daquele país.
81
Voltando ao conceito de tipos ideais que Sérgio Buarque de Holanda herdou de
Max Weber, trabalhando-o de maneira intensa em sua obra, analisaremos um par ideal
considerado por ele fundamental à formação da sociedade brasileira: o “aventureiro” e o
“trabalhador” (HOLANDA, 1995).
O “trabalhador”, por sua vez, é o sujeito que volta sua atenção muito mais ao
trabalho em sua manifestação prática e nos seus resultados diretos em relação a sua
sobrevivência. Utilizando o mesmo exemplo empregado ao aventureiro, podemos dizer que
o trabalhador se preocupa muito mais na forma com a qual realizará o trabalho na lavoura
(que não será realizado pelo aventureiro) e na maneira com a qual ele proverá seu sustento.
De outro modo, o trabalhador é aquele indivíduo que pensa no resultado imediato de seus
serviços e nos motivos pelo qual dispende sua energia no trabalho por ele realizado.
82
Sendo o par ideal explanado anteriormente considerado uma das bases da
formação social brasileira, Sérgio Buarque de Holanda enquadra os portugueses
e espanhóis como sendo os aventureiros, sendo os indígenas e negros africanos
concebidos como os trabalhadores que, em um primeiro momento colonial brasileiro,
compuseram nosso povo e nossa cultura. Os colonizadores europeus eram aventureiros
por objetivarem a multiplicação de suas riquezas com a exploração das terras dominadas,
lançando-se em aventuras marítimas que culminaram com a invasão e domínio de vários
territórios do Globo, inclusive o Brasil. Os africanos escravizados e trazidos para cá, junto
aos povos nativos que foram submetidos ao trabalho escravo ou demasiadamente
exploratório pelos europeus, dão origem a uma classe de trabalhadores que Holanda
(1995) afirma existir até os tempos modernos (quem sabe, contemporâneos).
83
FIGURA 15 – REFLEXÃO SOBRE NOVAS ROUPAGENS PARA A CULTURA COLONIAL QUE SOBREVIVE NA
CONTEMPORANEIDADE
O trecho anterior apresenta, por meio de outro exemplo, a transição entre duas
relações de trabalho fundamentalmente iguais, que passaram por adaptações ao longo
da história que mascararam as mesmas condições dos aventureiros, que, nesse caso,
é o proprietário de determinada corporação e os trabalhadores, representados pelos
funcionários, que perpetuam a mesma dinâmica anterior, porém, sob regime trabalhista
diferente do qual eram submetidos anteriormente.
84
Outro importante conceito de Holanda (1995), que inovou o Pensamento Social
Brasileiro de sua época, foi o de homem cordial. O autor sustenta a ideia de que o
homem cordial moldou as bases da cultura e política brasileiras. Trata-se de um homem
que, por meio de uma política orientada por um personalismo, construiu um povo
cordial. No entanto, o conceito de cordial para Sérgio Buarque de Holanda (1995), não é o
sinônimo de benevolência, educação, altruísmo ou quaisquer outros adjetivos positivos.
De acordo com Holanda (1995), cordial, palavra derivada do latim cordis, que
significa coração, possui uma conotação de guiado pelo afeto. Isso não quer dizer
que o brasileiro seja essencialmente compreensivo ou afável. Porém quer dizer que o
sujeito construído por meio, principalmente, do caráter do perfil europeu colonizador,
é guiado através de seus interesses particulares, em especial, interesses familiares.
Simplificando, o homem cordial de Sérgio Buarque de Holanda (1995) é, grosso modo,
o homem que coloca os interesses privados acima dos interesses públicos, comuns ao
restante da sociedade.
85
recebemos, de forma quase exclusiva, até aproximadamente o final do século XVIII.
Esse modelo de educação era baseado no culto à disciplina e obediência, que submetia
nossos educandos a um tipo de respeito cego a indivíduos de prestígio, como alguns
militares, por exemplo.
A disciplina não era fomentada devido a uma visão estratégica, que poderia prover
aos indivíduos alguns benefícios pessoais ou coletivos por meio de algum tipo específico
de atitude, mas de forma a moldar os sujeitos pela imposição de um comportamento
submisso, considerado ideal pelos educadores. Sendo assim, podemos dizer que fomos,
durante muito tempo (quase três séculos), educados para respeitar pessoas ao invés
de ideias (personalismo), obedecendo a concepções políticas individuais, privadas, em
detrimento das demandas e posicionamentos coletivos, públicos.
86
do povo que possui acesso aos estudos e cargos que demandam esforços acadêmicos,
busquem a esfera pública por meio de outras funções políticas. Porém, sua atuação se
limita aos valores e costumes apreendidos no seio familiar, o que a faz, comumente,
lançar mão de políticas públicas alinhadas aos interesses domésticos.
O trecho anterior pode ser entendido como uma tentativa de Holanda (1995) de
explicar as raízes da tradição política do Brasil, um país fundado sobre valores estritamen-
te familiares, personalistas e individualistas. A cordialidade se resume em um afeto desti-
nado muito mais aos nossos iguais imediatos, ou seja, nossa família, do que uma emoção
voltada ao reconhecimento de toda uma classe à qual pertencemos e que é alheia ao
nosso meio familiar. Sendo assim, o contexto político brasileiro, dominado por aqueles
cuja posição social privilegiada os permite estudar, herda de nossos antepassados mem-
bros quase sempre pertencentes à elite “bacharelada”, aos quais se refere Sérgio Buarque
de Holanda (1995), àqueles que se formaram e ingressaram na carreira política.
87
RESUMO DO TÓPICO 2
Neste tópico, você aprendeu:
88
AUTOATIVIDADE
1 Gilberto Freyre é considerado um dos maiores contribuintes do Pensamento Social
Brasileiro, trabalhando principalmente o processo de formação do povo brasileiro por
meio de sua perspectiva sobre a mestiçagem ou miscigenação. Embora tenha sofrido
muitas críticas com o passar dos tempos, sua obra contribuiu com a reconstrução
dos elementos fundamentais que constituíram a dinâmica social brasileira: a casa-
grande e a senzala. Partindo do pressuposto freyriano que esses dois elementos,
intimamente interligados, moldaram as bases da cultura e da política brasileiras,
analise as sentenças a seguir sobre o processo de formação de nosso povo:
89
que, contrapostos ou não, evoluíram de acordo com o processo histórico e moldaram a
sociedade brasileira até a modernidade. De acordo com o que estudamos no presente
tópico, classifique V para as sentenças verdadeiras e F para as falsas:
a) ( ) V – V – V – V.
b) ( ) V – F – V – V.
c) ( ) V – V – F – V.
d) ( ) F – F – V – V.
e) ( ) V – V – F – F.
3 Sabemos que Gilberto Freyre e Sérgio Buarque de Holanda são dois grandes autores
brasileiros que muito contribuíram com a construção das bases da Teoria Social
Brasileira, principalmente no que diz respeito à era científico/acadêmica que nasceu
no início do século XX. Isso não significa que os pensadores que contribuíram com o
Pensamento Social Brasileiro, anteriormente, não foram de grande importância nesse
processo. Dentre limitações e perspectivas muito criticadas contemporaneamente,
os referidos autores foram responsáveis por grandiosas inovações no que diz respeito
à reconstrução de um Brasil ainda desconhecido por muitos até o século passado.
Com base no conteúdo estudado no presente tópico, resuma, com suas palavras, as
principais contribuições de cada um desses autores aos estudos de nossa sociedade.
90
UNIDADE 2 TÓPICO 3 -
FLORESTAN FERNANDES E CAIO
PRADO JÚNIOR
1 INTRODUÇÃO
O terceiro e último tópico da Unidade 2 de nosso material apresentará as ideias
centrais de outros dois grandes nomes do Pensamento Social Brasileiro: Florestan
Fernandes e Caio Prado júnior. Abordaremos os principais conceitos trabalhados em
suas obras mais importantes, destacando suas abordagens e inovações em relação à
perspectiva sociológica construída no Brasil.
91
autor “militante”, ou seja, que abre mão da neutralidade proposta pela Sociologia científica,
posicionando-se a favor de uma classe social específica: a trabalhadora. Bastos (2015)
sustenta a ideia de que Florestan Fernandes facilitou o entendimento acerca da estrutura
social brasileira, partindo do estudo da realidade das classes menos privilegiadas.
[...] opera com a afirmação de que o elo mais fraco da corrente social
ilustra o funcionamento da sociedade [e que, portanto,] a escolha
para análise de um grupo que carrega desvantagens maiores do que
outros para integrar-se socialmente implica uma admissão teórico-
metodológica: a partir da periferia percebe-se melhor o movimento
da sociedade, possibilitando, assim, a percepção dos princípios que a
articulam (BASTOS, 2015, p. 49).
Florestan Fernandes possui uma obra muito extensa, porém, as duas obras que
ganharam maior destaque devido às inovações que concedeu à Teoria Social Brasileira
foram, sua dissertação de mestrado intitulada A Organização Social dos Tupinambá
(FERNANDES, 1963) e A Integração do Negro na Sociedade de Classes (1978). Ambas
as obras romperam com as ideias de Gilberto Freyre, que resultaram numa concepção
de “democracia racial” existente no Brasil que, até então (década de 1940), estavam
em alta entre os intelectuais da época. Embora Freyre não tenha utilizado o termo
democracia racial em sua obra e desmentir essa ideia em entrevista posteriormente, era
muito comentado que o pensamento freyriano induzia a crença na existência de uma
igualdade entre as raças que se miscigenaram e compuseram nosso povo.
92
funcionalmente, ocorrem amplas flutuação em torno e abaixo ou
acima desse mínimo. As sociedades do Novo Mundo não constituem
exceção a essa regra. Ao contrário, elas mostram como as
contingências da conquista, da colonização e da integração nacional
afetaram, por vezes de modo dramático e profundo, a amplitude, o
curso e os efeitos de “expansão da civilização ocidental” nesta parte
do globo (FERNANDES, 2008, p. 98).
Uma das teorias de Florestan Fernandes que ganhou destaque entre os pensadores
sociais brasileiros é a do Capitalismo Dependente (FERNANDES, 1975), contexto sócio-políti-
co-econômico no qual o Brasil está inserido. Dentre outras consequências desse modelo capi-
talista, especialmente em relação à América Latina, está a submissão do bloco de países latino-
-americanos à dinâmica político-econômica capitaneada principalmente por países europeus
e pelos Estados Unidos da América. A referida tese denuncia a submissão da trama produtiva
brasileira não só às exigências de uma burguesia interna, mas também à burguesia estrangeira
à qual a nacional está submetida. Ou seja, o trabalho de produção de riquezas brasileiro deve
suprir as demandas tanto da hegemonia local, quanto das elites burguesas europeia e esta-
dunidense. Tal sistema financeiro internacional reflete na superexploração do trabalho e na
dificuldade de absorção das riquezas que produzimos pela nossa própria sociedade.
93
DICAS
Partindo do pressuposto que as ideias originárias dos discursos proferidos
por pensadores, não só da área social, mas de quaisquer campos do
conhecimento, são compreendidas de maneira mais clara quando
acessadas em forma articulada e na íntegra, torna-se imprescindível
acompanharmos suas conversas, aulas e entrevistas (quando possível, é
claro). Sendo assim, apresentamos uma entrevista de Florestan Fernandes
concedida ao programa Vox Populi, que pode ser acessada no endereço
eletrônico a seguir: https://www.youtube.com/watch?v=dPAYUfcwR0E.
Por meio dela conseguimos nos aproximar ainda mais dos argumentos
construídos pelo autor de forma didática, complementando a leitura de sua
obra que também é fundamental ao entendimento de seu pensamento.
94
FIGURA 18 – REFLEXÃO SOBRE A DIFICULDADE NO QUE TANGE À INTEGRAÇÃO DO NEGRO NA
SOCIEDADE DE CLASSES
FONTE: <https://observatorio3setor.org.br/wp-content/uploads/2019/04/1-racismo.jpg>.
Acesso em: 14 jul. 2020.
Outra tese muito importante e inovadora elaborada por Fernandes (1978), ressalta
a resistência de uma parcela do povo negro brasileiro em relação a sua integração à
nova dinâmica social pós-escravidão. Segundo o pensador, muitos negros que estavam
inseridos ou tiveram contato direto com a trama escravista, sendo ex-escravos ou seus
descendentes, tomavam consciência de que as novas modalidades de trabalho a eles
oferecidas davam continuidade à exploração que sofriam durante regime de escravidão.
A recusa pelos novos trabalhos que seguiam submetendo o negro brasileiro a condições
precárias resultaria na busca por outras alternativas para sua sobrevivência. Atividades
ilícitas, ou consideradas criminosas pela classe hegemônica brasileira, estariam cada
vez mais presentes na vida do negro no Brasil.
95
O compromisso de Florestan Fernandes com a mudança da condição inferior do
negro no Brasil se manifesta em sua obra. O sociólogo ressalta a importância da luta de
classes por meio de movimentos sociais que reivindiquem melhores condições de vida
ao povo negro. A organização de ações que denunciam a desigualdade, o racismo, a
discriminação, a falta de oportunidades dentre outras diversas dificuldades enfrentadas
cotidianamente pelos negros brasileiros seriam, conforme o autor, um trabalho que
proporcionaria ao negro, de forma gradual, melhores condições de vida em meio à
sociedade de classes (FERNANDES, 1978).
Cabe ressaltar que a obra de Florestan Fernandes é muito vasta e não se limita ape-
nas às obras estudadas no presente subtópico. Por se tratar de um dos maiores pensadores
brasileiros, que é considerado um dos maiores sociólogos da América Latina e do mundo, o es-
tudo de sua produção intelectual é imprescindível a uma análise de aspectos fundamentais da
sociedade brasileira. Portanto, é obrigatória a leitura de seus escritos àqueles que pretendem
contribuir com a Teoria Social Brasileira, com a teoria e/ou com políticas em âmbito nacional.
96
Caio Prado Júnior (1961) identifica na economia implantada no Brasil, desde o
período pré-colonial, as bases de nossa cultura e política. O intelectual se depara, aos
estudar os diversos ciclos econômicos brasileiros identificados pelos historiadores,
com padrões culturais engendrados por cada modelo econômico aqui desenvolvido.
Por exemplo, no início do século XVI, a partir da invasão dos primeiros europeus, Prado
Júnior (1961) observa um tipo de cultura emergente da dinâmica extrativista do Pau-
brasil. Essa cultura foi forjada devido à submissão dos povos nativos aos trabalhos de
extração da madeira que era comercializada no exterior.
O intelectual disserta sobre toda uma cultura que nasce em torno das atividades
econômicas centrais do Brasil, desde sua colonização. Ele concebe, por exemplo, o clico
econômico da cana-de-açúcar, como fator originário de uma “cultura da cana”, que
moldou aspectos culturais e políticos brasileiros que, até a contemporaneidade, pouco
sofreram mudanças estruturais significativas (PRADO JÚNIOR, 1961).
Caio Prado Júnior (1961) destaca um caráter pouco racional em relação à ocupação
do Brasil pelos povos ibéricos. Isso quer dizer que se houve de fato uma racionalidade
em torno da utilização de nosso território, ela estaria muito mais voltada à exploração
de nossos recursos do que à construção de uma sociedade voltada ao crescimento
econômico e/ou à habitação do local. Nesse sentido, o conceito de “colônia de exploração”
e “colônia de povoamento”. A colonização de nosso país e dos demais da América Latina,
estaria muito mais voltada à exploração dos recursos naturais e produção de riquezas do
que propriamente ao povoamento por parte dos europeus ibéricos.
98
Comparando a colonização latino-americana com a colonização da América do
Norte, sobretudo a consolidada nos Estados Unidos da América, Caio Prado Júnior (1961)
aponta uma dualidade em relação às intenções dos colonizadores europeus na América.
Enquanto na América Latina a colonização estivesse voltada muito mais à exploração e
impulsionamento do capitalismo europeu, nos Estados Unidos, a colonização seria mais
racionalizada no sentido da construção de um país cujo povoamento seria o objetivo
maior dos europeus. Essa concepção provocou muitos debates no mundo acadêmico e,
até os dias de hoje, discutem-se algumas teses do autor.
99
FIGURA 21 – REFLEXÃO ACERCA DA SOBREPOSIÇÃO DA ECONOMIA SOBRE OS DEMAIS
ASPECTOS DA FORMAÇÃO DO BRASIL CONTEMPORÂNEO
100
LEITURA
COMPLEMENTAR
AGRARISTAS POLÍTICOS BRASILEIROS
Raimundos Santos
[...]
101
O modelo caiopradiano da revolução “agrária e nacional” – na aparência,
simples inversão da fórmula “anticolonialista e agrária antifeudal” prescrita pela III
Internacional aos países coloniais e dependentes – sugere uma grande transformação
ao modo americano, no sentido de que aqui também era possível buscar dinamismo
em um Oeste (o largo mercado rural) complementar a um Leste (nossa industrialização)
insuficientemente modernizado. Diversamente da tradição comunista, Caio Prado atribui
essa função a um protagonismo popular não camponês assentado em reivindicações
trabalhistas da força de trabalho dos grandes setores da agropecuária, mobilizada por
sindicatos estáveis e espalhados pelos municípios brasileiros. Fazendo decorrer a ideia
de revolução agrária da sua interpretação de Brasil, o clássico pensa na renovação do
mundo rural como avivamento de um capitalismo débil que, entregue à própria lógica,
ver-se-ia incapaz de modernizar o país e abrir espaço aos contingentes devastados,
particularmente os excluídos do sistema produtivo agrário.
102
apresenta nenhum sintoma ponderável da ação dessas forças. As reivindicações dos
trabalhadores empregados na grande exploração rural brasileira vão noutro sentido que
não o do fracionamento da base fundiária em que se assenta aquela grande exploração; e
o da transformação deles, de empregados que são, em pequenos produtores individuais
e autônomos. As reivindicações desses trabalhadores são as de ‘empregados’, que é a
sua situação econômica e social. A saber, reivindicações por melhores condições de
trabalho e emprego” (PRADO JÚNIOR, 1963, p. 6-7).
103
Mediado por tal tipo de movimento social, em Caio Prado o tema do trabalho não
é mobilizado de modo impreciso nem constitui simples evocação do princípio marxista-
leninista da superioridade operária em relação aos seus aliados, mas advém de uma
interpretação de Brasil. Aliás, a propósito da “questão política do campo”, registre-se
um ponto da bibliografia que está a merecer tratamento: por trás da busca da “questão
política no campo” ou da “questão nevrálgica”, como preferia o historiador, radicam, a
rigor, imagens de Brasil diferenciadas por suas origens e significados singulares. Em uma
comparação entre Caio Prado e José de Souza Martins, já se apontou o par exploração
versus expropriação (FARIA, 1990) como uma polaridade que distingue os autores em
suas ênfases no trabalhismo e na terra, respectivamente.
Também se sugeriu que esse mesmo par não apenas diferencia sindicatos e
ligas camponesas, negociação e confronto, pressão por políticas públicas e reivindicação
de terra, como também, no fundo, configura dois estilos de mobilização agrária. Vistos
de um ponto amplo, tais polaridades expressam linhagens de interpretação do Brasil,
cujas construções explicitam – isso é importantíssimo – modos desiguais de conceber
a conexão teoriaprática; ponto este sempre reivindicado pelos grandes nomes desses
mesmos campos intelectuais, sobressaindo-se Caio Prado Júnior como outsider do
primeiro deles. Vale dizer, um militante pouco valorizado pelo partido comunista como um
dos clássicos do nosso ensaísmo e não assumido plenamente, mediante interpelações
a sua teoria do Brasil e excursos sobre a revolução, proveitosos que teriam sido para o
pecebismo contemporâneo.
Assim, à luz desse tipo de associação entre pensamento social e político, Caio
Prado se nos afigura não apenas como pensador agrarista, mas também um dos pu-
blicistas constituintes do marxismo político brasileiro, como temos sugerido desde o
princípio destas páginas. Ou seja, e dizendo de modo paradoxal, Caio Prado e Alberto
Passos Guimarães (voltando ao outro autor comunista) respondem pelos registros mais
expressivos dos êxitos de um partido que se esgotou com o fim da URSS. E falamos em
êxitos, não obstante o partido comunista se exaurir na passagem aos anos 1990, após
haver sido, em menos de um decênio, deslocado pelos novos grupos petistas, com a
ajuda da Igreja, tanto do associativismo quanto do mundo intelectual. E isto mesmo
que, neste mundo intelectual, os comunistas tenham produzido controvérsias de vários
temas da chamada revolução brasileira, sempre expondo os seus argumentos, intramu-
ros e na esfera pública, quer nas suas publicações quer em espaços da mídia nacional.
104
está o valor da contribuição dos comunistas para a melhora do mundo rural, tanto em
termos da extensão de direitos (por meio do agrarismo sindical-camponês) quanto em
relação ao que chamavam de “medidas parciais de reforma agrária”, cuja proposição
mais significativa – recordem-se os tempos – teve início no imediato pré-64.
[...]
FONTE: SANTOS, R. Agraristas políticos brasileiros. Rio de Janeiro: Centro Edelstein de Pesquisas Sociais,
2008. p. 13-20. Disponível em: https://static.scielo.org/scielobooks/59grm/pdf/santos-9788599662816.
pdf. Acesso em: 7 out. 2020.
105
RESUMO DO TÓPICO 3
Neste tópico, você aprendeu:
• Caio Prado Júnior percebeu padrões sociais no Brasil que sofreram poucas
mudanças estruturais desde o período colonial.
106
AUTOATIVIDADE
1 Florestan Fernandes é um dos pensadores brasileiros que mais contribuíram com a
Teoria Social, não só brasileira, mas de um âmbito mundialmente abrangente. Sua
influência marxista e sua vivência adquirida em um contexto de severas dificuldades
sociais em um Brasil em pleno desenvolvimento industrial, foram características que
o autor afirma contribuírem com o teor de sua vasta obra. Partindo do pressuposto
que observar de perto a realidade material que nos circunda constitui, juntamente ao
conhecimento do processo histórico que a moldou, uma forte base à compreensão
de nossa sociedade, podemos considerar o trabalho de Florestan Fernandes uma
obra completa e muito significativa, tanto dentro como fora do espaço acadêmico.
Considerando o conteúdo estudado no presente tópico e as principais contribuições
de Florestan Fernandes, analise as sentenças a seguir:
2 Caio Prado Júnior representa outro intelectual brasileiro que inovou em sua perspectiva
acerca da formação do Brasil contemporâneo. Para o sociólogo, a economia assumiu
um papel importante na formação de nossa cultura e, consequentemente, de nossa
política. O pensador acreditava também na existência de um “sentido da colonização”,
que orientava as transformações culturais brasileiras a partir de seu desenvolvimento
histórico. Outros dois conceitos importantes trabalhados em sua obra são os de
107
“colônia de exploração” e “colônia de povoamento”, que consistem em classificações
das colônias americanas de acordo com a intenção dos colonizadores europeus
em relação a ocupação do novo continente. Sobre a teoria de Caio Prado Júnior,
classifique V para as sentenças verdadeiras e F para as falsas:
( ) Caio Prado Júnior focou seus estudos no papel dos povos indígenas e do negro no
desenvolvimento do cultural do Brasil.
( ) Ao analisarmos a obra de Caio Prado Júnior, identificamos o papel preponderante
da Economia no desenvolvimento social do Brasil.
( ) Para Caio Prado Júnior, o Brasil pode ser considerado uma colônia de povoamento,
uma vez que os povos ibéricos sempre tiveram a intenção de fixar colônias de seus
povos aqui a fim de desenvolver a Economia da colônia.
( ) Caio Prado Júnior identificou diferentes padrões de colonização nos Estados
Unidos da América em relação aos países latino-americanos.
( ) O pensador brasileiro Caio Prado Júnior, identifica em sua obra um sentido
explorador no que tange à ocupação ibérica em nosso território.
a) ( ) V – V – V – F – F.
b) ( ) F – V – V – V – V.
c) ( ) F – F – F – F – V.
d) ( ) F – V – F – V – V.
e) ( ) V – F – F – V – V.
108
REFERÊNCIAS
BASTOS, E. R. Sessenta anos da publicação de um relatório exemplar. Sinais Sociais,
Rio de Janeiro, v. 10, n. 28, p. 29-54, maio/ago. 2015.
109
110
UNIDADE 3 —
TEMAS DA SOCIOLOGIA
BRASILEIRA
OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM
A partir do estudo desta unidade, você deverá ser capaz de:
PLANO DE ESTUDOS
A cada tópico desta unidade você encontrará autoatividades com o objetivo de reforçar
o conteúdo apresentado.
CHAMADA
Preparado para ampliar seus conhecimentos? Respire e vamos em frente! Procure
um ambiente que facilite a concentração, assim absorverá melhor as informações.
111
CONFIRA
A TRILHA DA
UNIDADE 3!
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112
UNIDADE 3 TÓPICO 1 —
RAÇA E IDENTIDADE NO
PENSAMENTO SOCIOLÓGICO
BRASILEIRO
1 INTRODUÇÃO
O conteúdo estudado nas unidades anteriores enfatizou, dentre outros assuntos,
a multiplicidade de matrizes étnicas que compõem o Brasil. Tal fato contribui para que os
debates em torno do tema raça estejam constantemente presente no meio sociológico
brasileiro. Além disso, os debates identitários de maneira geral, ganham amplo espaço
de discussões, sobretudo na contemporaneidade.
113
O autor Clóvis Moura (1992), reconstrói a trajetória do povo negro no Brasil,
concebendo-o como “o grande povoador” do nosso território. O sistema escravagista
foi responsável pelo tráfico em massa de africanos para as terras tupiniquins tomadas à
força pelos colonizadores europeus. Por isso, de acordo com o autor, os negros africanos
constituem um povo de suma importância à construção política, social, econômica e
cultural de nosso povo, embora tenha sido excluído do usufruto das riquezas produzidas
em nossas terras.
Portanto, não é novidade, pelo menos desde o começo do século XX, que
os negros africanos trazidos para o Brasil constituem boa parte de nossa história.
No entanto, devemos estar cientes da luta desse povo pelo reconhecimento de sua
condição de ator fundamental na construção de nossa sociedade, por condições iguais
de trabalho, habitação, sociabilidade e, enfim, melhores condições de vida no Brasil
contemporâneo.
114
com as palavras de Moura (1992), ganha destaque entre as lutas dos negros no Brasil.
Por se tratar de um processo puramente violento, o escravismo, conforme Moura (1992),
demandou, e demanda até hoje, uma resposta violenta como instrumento de ruptura.
Ou seja, não seriam possíveis as conquistas do povo negro, inclusive a abolição formal
da escravidão (erroneamente atribuída à princesa Isabel, que outorgou a Lei Áurea), por
outras vias políticas que não envolvessem o radicalismo da ação direta e violenta de
emancipação do povo negro escravizado no Brasil.
115
A contribuição cultural do negro foi pouco relevante na formação
daquela protocélula original da cultura brasileira. Aliciado para
incrementar a produção açucareira, comporia o contingente
fundamental da mão de obra. Apesar do seu papel como agente
cultural ter sido mais passivo que ativo, o negro teve uma importância
crucial, tanto por sua presença como a massa trabalhadora que
produziu quase tudo que aqui se fez, como por sua introdução
sorrateira mas tenaz e continuada, que remarcou o amálgama racial
e cultural brasileiro com suas cores mais fortes (RIBEIRO, 1995, p. 114).
ATENÇÃO
O MNU (Movimento Negro Unificado) possui como principal objeto o enfrentamento
ao racismo no Brasil. O MNU, por meio de seu Plano de Lutas do MNU, aprovado no
17º Congresso Nacional, realizado em Salvador/BA, em 2014, divulgou seu Plano de
Enfretamento ao Racismo, cujos principais parágrafos de seu estatuto versam: realizar
campanhas de enfrentamento ao racismo, ao racismo institucional, à intolerância religiosa,
ao machismo, à homofobia, à lesbofobia e à transfobia; fortalecer e ampliar em nível
nacional a campanha “Não dê Bola pro Racismo”; apoiar/realizar campanhas contra o tráfico
de mulheres e homens negros; contra a exploração sexual e tráfico de crianças e
jovens negros; organizar debate sobre economia criativa e etnodesenvolvimento
voltado à população negra; realizar seminários com as seguintes temáticas:
juventude, mulheres negras, LGBT, infância e adolescência; realizar seminários/
encontros com operadores do direito filiados ao MNU; cobrar nos editais de
concursos públicos e processos seletivos a igualdade de direitos étnicos e
religiosos respeitando a expressão da identidade do povo negro e de religião
de matriz africana. Mais informações podem ser acessadas por meio do
endereço eletrônico a seguir: https://mnu.org.br/mnu/.
116
O movimento negro no Brasil conta, desde o ano de 1975, com o Instituto de
Pesquisa das Culturas Negras (IPCN), que fomenta a capacitação de militantes que
atuam em diversas instâncias. O IPCN contribui com a luta racial negra no interior de
espaços políticos, culturais, intelectuais e diversos outros, sempre buscando o fim do
racismo brasileiro e os Direitos Humanos fundamentais até hoje negado aos negros.
O IPCN atuou junto ao Grêmio Recreativo de Arte Negra Escola de Samba Quilombo
(GRANESQ) e também em blocos afros, como o Agbara Dudu. Auxiliou bailes de Black
Music realizados em baixo do Viaduto Negrão de Lima, no bairro de Madureira, zona
norte carioca, e outros locais onde as comunidades negras se concentravam.
FONTE: <http://artememoria.org/wp-content/uploads/2018/11/ATO-CONTRA-O-RACISMO-1024x691.
jpg>. Acesso em: 5 ago. 2020.
DICAS
Algumas atividades do Zacimba Gaba são acompanhadas por meio de sua
página oficial no Facebook, acessada através do link https://www.facebook.
com/Coletivo-Zacimba-Gaba-ES-628179580924265/?ref=page_internal.
117
INTERESSANTE
Para quem não sabe, Zacimba Gaba foi princesa de Cabinda, na Angola,
foi captura e trazida para o Brasil há cerca de 300 anos. Quem arrematou
Zacimba, entre aproximadamente doze negros trazidos para o Porto
da Aldeia de São Matheus, situado na Capitania do Espírito Santo, foi o
fazendeiro português José Trancoso. A princesa sofreu diversos tipos de
violência durante anos, inclusive estupro. Ela é mais um, entre múltiplos
exemplos de pessoas capturadas na África e trazidas ao Brasil para
trabalhar sob o regime de escravidão. Prova do desrespeito branco
em relação à nobreza africana, submetida aos terrores do regime
escravocrata brasileiro.
O debate racial no Brasil não se limita apenas ao povo negro trazido da África.
O povo nativo brasileiro, denominado “indígena” desde a época da invasão europeia,
sobrevive até os dias de hoje em meio à dominação sócio-político-cultural dos invasores.
118
Contemporaneamente, o maior dos desafios do nativo brasileiro é a resistência
às imposições sociais do homem branco invasor. Comparado aos tempos de colonização
europeia no Brasil, são poucos os remanescentes de tribos indígenas concentrados
no território brasileiro, menos ainda aqueles que conservam sua cultura e costumes
ancestrais frente à dominação colonizadora.
119
FIGURA 3 – POVOS NATIVOS REMANESCENTES NO BRASIL
O debate racial em torno dos povos negro e nativo, hoje, transcendem o espaço
acadêmico, ganhando as ruas e as mais diversas instâncias sociais. Os diálogos e
enfrentamentos objetivam, principalmente, a emancipação dos povos que constituem
a civilização brasileira. O sentido da palavra emancipação aqui empregado, consiste na
busca por condições mais justas de sobrevivência frente à parcela da sociedade mais
privilegiada em relação ao sistema social, político, econômico e cultural predominante no
Brasil. Esse sistema é imposto desde os tempos coloniais brasileiros e perdura, sem grandes
modificações estruturais, até os dias de hoje.
Roberto Damatta é um autor brasileiro que também estuda povos nativos brasileiros.
Um dos aspectos que o referido pensador ressalta acerca de povo originário do Brasil é,
dentre diversos outros, sua organização social e aspectos gerais de sua cultura. O trecho a
seguir diz respeito aos costumes de alguns povos nativos brasileiros e a concepção que os
mesmos possuem acerco do conceito de tempo.
120
Assim, do mesmo modo que ocorre entre os apinayé do Brasil Central,
grupo tribal que eu mesmo estudei e pesquisei (Cf. DaMatta, 1976), a or-
ganização de grupos de idades ajuda a sublinhar etapas de tempo pela
referência a uma formalização típica dessas sociedades e, obviamente,
não depende de qualquer característica ambiental natural. Os apinayé -
como os nuer - marcam uma duração ou um evento do passado fazendo
referência a um parente mais velho; como, por exemplo: "isso aconteceu
no tempo em que meu Geti (avô) era moço..." Além disso, os nuer assina-
lam o tempo por meio de certas atividades. Mas ele jamais é individualiza-
do como algo concreto, conforme acontece conosco. É Evans-Pritchard
quem diz: "Os nuer não possuem uma expressão equivalente ao 'tempo'
de nossa língua e portanto, não podem, como nós, falar do tempo como
se fosse algo concreto, que passa, pode ser perdido, pode ser economiza-
do e assim por diante. Não creio que eles jamais tenham a mesma sensa-
ção de lutar contra o tempo ou de terem de coordenar as atividades com
uma passagem abstrata do tempo, porque seus pontos de referência são
principalmente as próprias atividades sociais, que, em geral, têm o caráter
de lazer." E conclui Evans-Pritchard, ironicamente: "Os nuer têm sorte"(Cf.
EvansPritchard, 1978: 116) (DAMATTA, 1997, p. 22-23).
121
cial que essa identidade assume. Posição social significa, no presente contexto, as im-
plicações relacionais às quais sua identidade de gênero está submetida. Isso quer dizer
que a sociedade assume maneiras distintas de relacionar com determinados gêneros.
123
Em outra de suas obras, Saffioti (2004) aborda com mais ênfase as consequências
violentas do patriarcado em relação não somente às mulheres, mas à violência sofrida por
diversas outras classes devido à grande desigualdade vivida no Brasil. Além disso, a autora
sustenta a teoria de que as desigualdades abrem espaço para conflitos que serão superados
apenas quando a sociedade evoluir e negar suas contradições por meio do conhecimento. Sa-
ffioti (2004) acredita que o conhecimento, assim como o preconceito, é algo construído social-
mente, ou seja, a desigualdade é algo que nasce, é sustentado e perpetuado pelos indivíduos.
FONTE: <https://static.todamateria.com.br/upload/un/os/unoscuantospiquetitosfridakahlo-cke.jpg>.
Acesso em: 18 ago. 2020.
124
QUADRO 1 – LISTA COM AS PRINCIPAIS CLASSIFICAÇÕES DE ORIENTAÇÃO SEXUAL E IDENTIDADE DE
GÊNERO EMPREGADAS CONTEMPORANEAMENTE
• Lésbica: mulheres que sentem atração romântica ou sexual por outras mulheres.
• Gay: homens que sentem atração romântica ou sexual por homens. O termo também
pode ser utilizado para mulheres homossexuais.
• Bissexual: pessoas que sentem atração (afetiva ou sexual) por ambos os sexos.
• Transgênero: pessoas que não se identificam com seu sexo biológico e estão em
trânsito entre gêneros.
• Transsexual: são pessoas que se identificam com um sexo diferente do seu
nascimento. Por exemplo: uma pessoa que nasceu homem, mas se identifica como
mulher, é uma mulher transgênero.
• 2/Two-Spirit (Dois-Espíritos): utilizado por nativos norte-americanos para
representar pessoas que acreditam ter nascido com espíritos masculino e feminino
dentro delas.
• Queer: pode ser considerado um termo “guarda-chuva”, englobando minorias
sexuais e de gênero que não são heterossexuais ou cisgênero.
• Questionando: pessoas que ainda não encontraram seu gênero ou orientação
sexual – estão no processo de questionamento, ainda incertos sobre sua identidade.
• Intersex: é uma variação de características sexuais que incluem cromossomos
ou órgãos genitais que não permitem que a pessoa seja distintamente identificada
como masculino ou feminino.
• Assexual: é a falta de atração sexual ou falta de interesse em atividades sexuais –
pode ser considerado a “falta” de orientação sexual.
• Aliado: são pessoas que se consideram parceiras da comunidade LGBTQ+.
• Pansexual: é a atração sexual ou romântica por qualquer sexo ou identidade de
gênero.
FONTE: <https://cutt.ly/VgYljFz>. Acesso em: 18 ago. 2020.
125
A organização contribui para a construção de uma nova sociedade, que seja
democrática e na qual nenhuma pessoa seja vítima de discriminação, coerção e/ou
violência, por causa de suas orientações sexuais e identidades de gênero.
Podemos concluir o tópico dizendo que em uma sociedade fundada sobre terras
colonizadas, na qual a escravidão foi formalmente abolida em tempos recentes e o pa-
triarcado interfere diretamente sobre a cultura nacional, a desigualdade se torna presente
no cotidiano das pessoas e engendra diversos tipos de violência. O preconceito, discri-
minação e demais agressões sociais são fruto de um processo histórico que só pode ser
modificado por meio de resistências organizadas, portanto, coletivos e organizações de
classes são sempre um caminho rumo a rupturas comportamentais no seio da sociedade.
126
RESUMO DO TÓPICO 1
Neste tópico, você aprendeu:
• O povo brasileiro foi formado por três raças fundamentais: brancos, negros e nativos
americanos.
• A resistência negra, assim como o movimento dos povos nativos brasileiros, é muito
forte no Brasil, conquistando por meio de lutas, conflitos e resistências, múltiplos
direitos a esses dois povos cruelmente dominados pela colonização europeia.
127
AUTOATIVIDADE
1 O Brasil é um país cujo povo é formado por múltiplas etnias, uma das consequências
sociais de toda essa riqueza racial coexistente num mesmo território é a discriminação
e o racismo – graves problemas sociais que abrem espaço para a violência. Como
todo o tipo de opressão é passível a resistências de inúmeras naturezas, não seria
diferente com relação à violência racial brasileira que oprime, principalmente, pessoas
de matrizes étnicas africanas e nativas, desde o período colonial. Nesse contexto
de desigualdade racial, emergem movimentos sociais a favor da emancipação,
reivindicação por igualdade de oportunidades, fim da crueldade contra classes menos
privilegiadas socialmente dentre outras lutas. Os movimentos negro e indígena do
Brasil foram muito importantes para esses dois grupos étnicos. Considerando os
desafios e conquistas de tais movimentos sociais, analise as sentenças a seguir:
2 Outra herança que engendra muita violência no seio da sociedade brasileira é o sis-
tema familiar patriarcal. O patriarcado implica em uma cultura que supervaloriza a
figura masculina, sobretudo, a dos homens adultos heterossexuais. Todo esse enal-
tecimento do masculino abre espaço para uma subcultura machista, que permeia o
tecido social nacional fazendo vítimas. As vítimas do machismo que sofrem de ma-
128
neira mais direta com tal subcultura, herdada de nossas raízes colonizadas, são as
mulheres. Todavia, muitas outras pessoas também são vítimas de tais violências. Em
resposta às violências sofridas pelos homens de nossa sociedade, emerge o feminis-
mo brasileiro: conjunto de movimentos sociais e políticos que possuem como princi-
pais objetivos o empoderamento feminino, igualdade de direitos civis e ruptura com
os padrões patriarcais da sociedade. Considerando esse importante movimento de
luta feminina no Brasil, classifique V para as sentenças verdadeiras e F para as falsas:
a) ( ) V – F – V – F – V.
b) ( ) V – V – V – F – V.
c) ( ) V – V – F – F – V.
d) ( ) F – F – V – V – V.
e) ( ) F – V – V – V – F.
129
130
UNIDADE 3 TÓPICO 2 -
MODERNIZAÇÃO BRASILEIRA
1 INTRODUÇÃO
O Brasil é um país vasto em território e recursos naturais que passou por um
processo histórico particular em relação à América Latina e ao mundo. Apesar de ser
uma nação que foi moldada sob os ditames do imperialismo europeu e habitado de
maneira exploratória, o Brasil passou por um período de vultosos avanços materiais
e tecnológicos durante os últimos séculos, continuando a se desenvolver até a
contemporaneidade.
Além da demanda por mão de obra livre, pois essa também seria consumidora
da produção nacional, multiplicando os lucros dos grandes produtores, ainda existia a
demanda por extensões mais vastas de terra para o cultivo do café. Foi o que aconteceu
na expansão para a produção em direção ao oeste paulista: imensidões de mata
atlântica foram derrubadas para a implantação daquela cultura extensiva. Com as terras
já preparadas para o cultivo, faltava agora a modernização dos “braços” que produziam
o café. Sendo assim, foram implantadas, com mais intensidade, técnicas mecanizadas
transporte, pilagem, ensacamento, pesagem. entre outros.
131
A alta produtividade do café, que passou a ser voltada para o mercado exterior,
fez com que aumentasse a demanda por transportes em massa do produto para os
portos, cuja produção partia por meio de navios para outros países. Foi assim que o
Brasil passou a investir massivamente em ferrovias e grandes locomotivas para que o
escoamento do café fosse realizado de maneira mais rentável. Nasce, então, uma série
de importantes linhas férreas que impulsionaram a modernização brasileira.
IMPORTANTE
O desenvolvimento do transporte ferroviário na Inglaterra foi consequência direta da
Revolução Industrial, que começou a ganhar força em 1830. Com isso, Dom Pedro II
viu a necessidade de colocar o Brasil nos trilhos também. Foi aí que surgiu a ideia das
construções das estradas de ferro, que seria um importante passo para uma nova era
para a nação brasileira. Apesar de ser algo grandioso e que revolucionaria a economia
nacional, as pessoas deram pouca importância ao fato. Foi só após Irineu Evangelista de
Souza, o Visconde de Mauá, construir a primeira ferrovia do país, chamada de Estrada de
Ferro Mauá, que o povo finalmente se deu conta do que estava acontecendo. A
inauguração oficial aconteceu no dia 30 de abril de 1854, onde circulava pela
primeira vez a Baroneza, guiada pelo Visconde num trecho de 14,5 Km a uma
velocidade de 36 Km/h. O evento foi tão importante para a época que contou
com a presença do Imperador Dom Pedro II e de toda a sua Comitiva Imperial.
FONTE: <https://amantesdaferrovia.com.br/blog/a-baroneza-o-primeiro-trem-do-bra-
sil>. Acesso em: 25 ago. 2020.
132
A modernização do transporte não foi o único avanço promovido pela cultura do
café no Brasil. A vida nas cidades mudou de maneira drástica com o crescimento econô-
mico, físico e populacional de algumas delas. São Paulo, por exemplo, central econômica
do Brasil, foi impulsionada pela prosperidade na produção cafeeira daquele período. Mon-
teiro Lobato (2009) retrata em sua obra, mesmo que de uma maneira um tanto quanto
romantizada, o crescimento paulista a partir da cultura do café do final do século XIX.
133
de maneira plena dos benefícios da modernização do Brasil, por outro, existe uma
maioria de indivíduos que sofre com a superexploração do trabalho, com a miséria, com
a violência e outras sobras da produção de riquezas no país. Contemporaneamente,
nosso território é marcado por um abismo social que pode ser retratado pela Figura 8,
a qual mostra como algumas pessoas são privilegiadas economicamente, vivendo em
apartamentos seguros e confortáveis no Rio de Janeiro, habitam ao lado de uma grande
quantidade de brasileiros que vivem as piores mazelas do capitalismo.
FONTE: <https://aventurasnahistoria.uol.com.br/media/uploads/legacy/2018/11/28/favela-rj-1116795.
jpg>. Acesso em: 26 ago. 2020.
134
maior potência de todo o globo. Sendo assim, abordaremos, no próximo subtópico, o
processo de desenvolvimento e modernização brasileiros a partir do fim da Primeira
Guerra Mundial.
O Brasil, grande exportador do café, que no final da Primeira Guerra era nosso
principal produto, tinha os Estados Unidos como um dos principais compradores de
nossa mercadora. Nossa economia, que girava em torno da produção cafeeira, agora,
nos anos 1920, era impulsionada com a entrada de novas máquinas industriais e novas
tecnologias.
135
FIGURA 9 – A MODERNIZAÇÃO BRASILEIRA E AS PRIMEIRAS TRANSMISSÕES A RÁDIO OCORRIDAS NA
DÉCADA DE 1920
FONTE: <https://informa.life/wp-content/uploads/2012/09/old_radio_1.jpg>.
Acesso em: 24 ago. 2020
INTERESSANTE
No dia 7 de setembro de 1922, o País celebrava os primeiros cem anos de existência
fora das amarras do governo português. A cidade do Rio de Janeiro, então capital federal,
comemorava a data com alguns eventos oficiais – entre eles uma exposição
que trazia, pela primeira vez ao território nacional, os principais aparelhos e
instrumentos da tecnologia da radiodifusão, que já haviam atingido uma escala
considerável em território norte-americano. Para demonstrar o funcionamento
do principal “invento” da época, uma transmissão experimental foi realizada,
tendo como palco o tradicional Teatro Municipal. Dali o público ouviu a voz do
então presidente, Epitácio Pessoa, declamando as vantagens daquela nova
tecnologia, seguida dos arranjos da ópera O Guarani, obra do compositor
Carlos Gomes. Esses foram os sons da primeira transmissão radiofônica
oficial da História do Brasil.
136
Uma das principais ações advindas do Estatuto da Terra foi a concessão de
crédito para produtores rurais investirem em suas respectivas produções. A medida
foi positiva para alguns trabalhadores do campo que, com acesso a maquinários mais
modernos, melhores insumos e defensivos agrícolas. Lembrando que defensivo agrícola
é um nome mais brando atribuído aos agrotóxicos, contribuindo para o disfarce de
algumas das consequências destrutivas ao ser humano da produção em massa. Além
dos prejuízos à saúde das pessoas, outra consequência social da modernização da
agropecuária no Brasil é o monopólio de alguns poucos latifundiários que, prosperando
a partir das ações do Estatuto da Terra, começaram a ocupar e concentrar cada vez
mais terras para produzir, cultivando verdadeiros impérios. A formação de tais impérios
foi extremamente prejudicial a milhares de famílias brasileiras que vivem no campo e
ficaram sem terras para produzir, formando as primeiras resistências contra os efeitos
deletérios da produção latifundiária.
ATENÇÃO
Nos países centrais do sistema capitalista, a democratização do acesso à terra, a reforma
agrária foi uma das principais políticas para destravar o desenvolvimento social e econômico,
produzindo matéria prima para a nascente indústria moderna e alimentos
para seus operários. No Brasil, nem mesmo as transformações políticas e
econômicas para o desenvolvimento do capitalismo foram capazes de afrontar
a concentração de terras. Ao longo de cinco séculos de latifúndio, também
foram travadas lutas e resistências populares. As lutas contra a exploração e, por
conseguinte, contra o cativeiro da terra, contra a expropriação, contra a
expulsão e contra a exclusão, marcam a história dos trabalhadores. A
resistência camponesa se manifesta em diversas ações e, nessa marcha,
participa do processo de transformação da sociedade.
137
IMPORTANTE
Desde meados do século XX, novas feições e formas de organização foram criadas na luta
pela terra e na luta pela reforma agrária. Nas diferentes regiões do país, contínuos conflitos
e eventos formaram o campesinato no princípio da segunda metade do século passado.
A ditadura implantou um modelo agrário mais concentrador e excludente, instalando uma
modernização agrícola seletiva, que excluía a pequena agricultura. O regime militar foi
duplamente cruel e violento com os camponeses. Por um lado – assim como todo
o povo brasileiro – os camponeses foram privados dos direitos de expressão,
reunião, organização e manifestação, impostos pela truculência da Lei de
Segurança Nacional e do Ato Institucional nº 5. Por outro, a ditadura implantou um
modelo agrário mais concentrador e excludente, instalando uma modernização
agrícola seletiva, que excluía a pequena agricultura, impulsionando o êxodo
rural, a exportação da produção, o uso intensivo de venenos e concentrando
não apenas a terra, mas os subsídios financeiros para a agricultura.
FONTE: <https://mst.org.br/wp-content/uploads/2019/11/84-861.png>.
Acesso em: 25 ago. 2020.
138
O governo imperial brasileiro estimulou a imigração europeia em massa para
o Brasil, com o intuito de ocupar regiões ainda despovoadas pelo povo colonizador,
além de suprir as demandas por trabalhadores livres nas lavouras de café. Sendo assim,
diversas famílias de origem italiana, alemã, dentre outras nacionalidades, vieram para o
país em busca de oportunidades de emprego e melhores condições de vida, fugindo da
pobreza vivida na Europa.
O contato com outros povos, advindos de outros países europeus e que ainda
não haviam se estabelecido no Brasil, modificou, de maneira significativa, a sociedade
brasileira, sobretudo, nossas relações sociais e nosso desenvolvimento urbano. Nossa
cultura ficou ainda mais miscigenada, enriquecendo, por um lado, as relações entre
pessoas de diferentes nacionalidades e, por outro lado, acentuando conflitos entre
diferentes etnias, resultando na potencialização de violências como o racismo.
139
tecnologia, restava ao intelectual engajado explicar as causas dos
“entraves históricos” ao desenvolvimento nacional em países como o
Brasil, rico e pobre ao mesmo tempo. Aliás, se existe um traço peculiar
que pode ser atribuído à “geração isebiana”, com todo o exagero
que essa expressão contém, esse traço pode ser reconhecido na
atenção contínua às concomitâncias da sociedade. Trata-se de outra
herança da Cepal: perceber que o subdesenvolvimento não é uma
situação assemelhada ao passado do mundo desenvolvido. É, ao
contrário, concomitante a ele e, na maioria dos casos, resultante da
deterioração nos termos de troca entre as partes (PINTO, 2005, p. 8).
Uma das causas desse retrocesso quanto ao abismo social entre classes
econômicas no Brasil foi, dentre outras, a entrada de uma política trabalhista que
desrespeita as normas da Consolidação das Leis do Trabalho brasileira.
140
Um bom exemplo dessa precarização do trabalho decorrente do incentivo
neoliberal estadunidense é o sistema de fast-food. As redes estrangeiras de
alimentação rápida, submetem os brasileiros a escalas de trabalho pagas por hora, com
um salário base muito inferior a um salário mínimo, sendo o complemento dessa renda
responsabilidade do empregado, independentemente do movimento do comércio ou
quaisquer outros fatores que influenciem as vendas.
141
Essa nova inclinação de gestores públicos – sejam eles políticos e/ou pessoas
que ocupam cargos que regulamentam a dinâmica social – à adoção de técnicas
utilizadas no meio empresarial para o estímulo à produtividade e ao lucro é, conforme
Torres (2016), altamente prejudicial à parcela da população que trabalha mais por
salários menores.
Para Pacheco Júnior (2018), Caio Prado sustenta a ideia de que no Brasil e na
maioria dos países da América Latina, existiu um padrão de colonização explorador, no
qual o lucro destinado aos países do exterior se sobressaía em detrimento das demandas
internas do país. Enquanto isso, nas zonas temperadas da América, a ocupação das
terras pelos colonizadores era muito mais voltada à habitação e enriquecimento locais.
142
Para as regiões situadas nas zonas temperadas da América, dirigiram-
se fundamentalmente os ingleses, em função dos processos político-
religiosos e econômicos que passavam no velho continente. Por um
lado, a Inglaterra vivia um processo de privatização das suas áreas de
pastagens, com os cercamentos das terras e a expulsão dos camponeses
para as cidades; era o período de gestação das indústrias e uma
nova forma de produção material da vida nas áreas em processo de
urbanização; por outro lado, uma forte perseguição político-religiosa
aos puritanos ingleses. Caio Prado (2000) nos mostra que esse tipo de
colonização parte de condições e circunstâncias especiais, pois nada
tem a ver com a ação de traficantes e exploradores sedentos por lucro.
Cita o autor: “o que os colonos desta categoria têm em vista é construir
um novo mundo, uma sociedade que lhes ofereça garantias que no
continente de origem já não lhes são mais dadas” (PRADO JÚNIOR,
2000, p. 15 apud PACHECO JÚNIOR, 2018, p. 32).
FONTE: <https://outraspalavras.net/wp-content/uploads/2020/07/ASasASasAS.jpg>.
Acesso em: 28 ago. 2020.
143
Florestan Fernandes (1975) acredita que a modernização no Brasil faz parte de
um processo histórico intitulado revolução burguesa, que influenciou a construção
do país sob os moldes capitalistas europeus. Embora influenciadas pela Europa
colonizadora, a cultura e a política brasileiras foram construídas de maneira peculiar,
considerando as tradições nativas, colonizadoras e dos escravos trazidos para cá.
Mais tarde, durante os séculos XIX e XX, a produção cafeeira brasileira foi a
grande impulsionadora de nossa economia, trazendo avanços tecnológicos à agricultura,
transporte e à urbanização. A partir daí, a modernização do Brasil avançou de maneira mais
intensa, refletindo no êxodo rural, crescimento exponencial das cidades e suas populações.
O investimento industrial que o país recebeu durante o século XX deu prosseguimento
aos avanços tecnológicos que modificaram nossas relações de trabalho, produção e
distribuição das riquezas aqui produzidas.
144
cultural miscigenada e diversos outros fatores. Os movimentos sociais também fizeram
parte de nosso processo modernizador, auxiliando na luta pela distribuição de nossos
recursos naturais e acesso às riquezas brasileiras àqueles que a produzem de maneira
mais direta e intensa: por meio do trabalho braçal nem sempre assalariado.
145
RESUMO DO TÓPICO 2
Neste tópico, você aprendeu:
146
AUTOATIVIDADE
1 O processo de modernização do Brasil envolve uma série de fatores que constituem
peculiaridades em nosso desenvolvimento quando comparado a outros países do
globo. Colonizados por europeus, cujo objetivo maior era a exploração dos recursos
naturais aqui existentes. Enquanto outras partes do continente americano eram ocu-
padas com vistas à construção de uma civilização desenvolvida, plenamente habitá-
vel e com clima semelhante ao da Europa, nossas terras eram destinadas ao lucro dos
senhores e descendentes colonizadores. Isso implicou na formação de modelos de
política, cultura e economia moldados de forma a dar atenção às demandas estran-
geiras, à busca pelo enriquecimento dos invasores por meio da exploração da mão de
obra nativa e africana, intermediada pelo escambo e a escravidão. Considerando as
particularidades da modernização brasileira em relação ao resto do mundo, classifi-
que V para as sentenças verdadeiras e F para as falsas:
a) ( ) V – V – V – V – V.
b) ( ) V – V – V – F – V.
c) ( ) V – V – F – V – V.
d) ( ) F – V – V – V – F.
e) ( ) V – F – V – V – V.
147
dos Estados Unidos da América que conquistou a hegemonia mundial nesse aspecto
após o primeiro grande conflito global, refletiu na intensificação da exportação
cafeeira para o mesmo país norte-americano. Considerando o conteúdo estudado no
Tópico 2 da terceira unidade de nosso livro didático, analise as sentenças a seguir:
148
UNIDADE 3 TÓPICO 3 -
SOCIOLOGIA BRASILEIRA PÓS-1970:
NOVOS OLHARES
1 INTRODUÇÃO
Devemos ter em mente que a Sociologia Brasileira, assim como qualquer outro
estudo, prática, trabalho ou quaisquer manifestações humanas, passou e passa por um
processo histórico que a molda de maneira constante. Isso significa que o pensamento
humano, por se tratar de algo fluido e integralmente em estágio de metamorfose, está
passível a sofrer modificações ao passar dos tempos, de acordo com os fatores externos,
materiais e imateriais que o influenciam.
149
Nós não devíamos, nem podíamos recuar diante da resistência dos
ortodoxos, em face da extensão crescente da sociologia nos domínios
da educação. O manifesto, em que a educação se encara como um
processo social e se põe em relevo “o predomínio da ação que exercem
os fatores sociais sobre os indivíduos”, acusa, certamente, na base e no
desenvolvimento de seus princípios e de seu plano, uma consciência
profunda das transformações que o poder crescente da indústria
e do comércio impõe aos espíritos como às coisas, e, portanto, “o
ponto de vista sociológico”, que considera um fato de estrutura social
as transformações consequentes no sentido e na organização das
instituições pedagógicas. É desse ponto de vista sociológico que aí se
estuda a posição atual do problema dos fins de educação; é ele que
nos fez encarar a educação como “uma adaptação ao meio social”, um
processo pelo qual o indivíduo “se penetra da civilização ambiente”; é
ele ainda que nos levou a compreender e a definir a posição da escola
no conjunto das influências cuja ação se exerce sobre o indivíduo,
envolvendo-o do berço ao túmulo (AZEVEDO et al., 2010, p. 26-27).
Podemos afirmar que, da década de 1930 ao final da década de 1950, os debates acer-
ca de uma educação mais igualitária, libertadora e com grande potencial de transformação
social estavam acalorados. Os intelectuais da época, tão como as forças dominantes, tinham
plena consciência do poder transformador e libertador da Educação. Sendo assim, o conflito de
interesses entre essas duas classes que, de um lado prezava pela libertação de nosso povo por
meio da educação e de outro resistia em nome da exploração de nosso trabalho, intensificou-se.
ATENÇÃO
Os anos 1950 e 1960 foram marcados por um intenso debate sobre a educação
brasileira. Muitos intelectuais e movimentos sociais formularam propostas para a
organização de um sistema nacional de ensino mais democrático e popular, que
superasse as desigualdades socioculturais, formasse cidadãos consciente de seus
direitos e preparados para desafios econômicos. O Brasil era considerado uma
pátria “mal-educada”, com índices de analfabetismo alarmantes. A polarização
política que antecedeu ao golpe de 1964 também atingiu a educação. A sociedade
brasileira fervilhava com projetos educacionais humanistas e inovadores que,
mais tarde, sofreram diretamente os impactos da repressão.
150
Os encontros dos profissionais da educação superior brasileira com os técnicos es-
tadunidenses, resultaram na produção do Relatório Meira Matos, nome do coronel do exército
que o redigiu, orientando a reforma universitária e do ensino fundamental em nosso país.
FONTE: <https://s1.static.brasilescola.uol.com.br/be/conteudo/images/dm10(1).jpg>.
Acesso em: 29 ago. 2020.
DICAS
A fim de melhor compreendermos os acontecimentos que interferiram na
dinâmica educacional brasileira do período militar, sugerimos que assista
ao documentário Educação na Ditadura: a marca da repressão, disponível
na plataforma YouTube, por meio do endereço: https://www.youtube.com/
watch?v=YqDgaGNDads&ab_channel=UNIVESP. Nele temos acesso a uma
série de entrevistas com especialistas sobre o assunto, que remontam as
principais mudanças e retrocessos que a ditadura militar brasileira provocou
ao modelo educacional do país.
Rosa, Ribeiro Júnior e Torres (2018) identificam em sua obra uma tendência à
adoção de métodos educacionais estadunidenses em escolas brasileiras, semelhante
ao que ocorreu durante o regime militar brasileiro. Esse fato evidencia que o modelo
educacional implementado durante a ditadura militar ainda possui resquícios na
educação contemporânea.
151
O ponto que mais chama a atenção na tentativa de implementação de políticas
educacionais estrangeiras, principalmente estadunidenses, revela o despreparo ou, até
mesmo, a falta de interesse e nosso corpo político em uma educação libertadora para o
nosso povo. Uma educação desconectada de nossa realidade material e nossa cultura,
representa um grande perigo ao desenvolvimento de nosso povo, que fica à mercê das
demandas políticas e econômicas de países imperialistas. A perseguição aos ideais
marxistas, que se contrapunham à exploração do trabalho, à desigualdade e à miséria
a qual é submetido nosso povo, foi um dos fatores que mais influenciaram os moldes
educacionais brasileiros durante a ditadura militar.
A educação superior foi a mais lesada com essa disputa ideológica que resultou
em censuras de obras de diversas naturezas, destruição de acervos inteiros de livros,
perseguição, exílio, tortura e morte de intelectuais, dentre uma infinidade de outras
barbaridades cometidas pelos militares em solo brasileiro.
IMPORTANTE
Livros são fundamentais para a formação cultural e política da população, para a
preservação da memória dos povos, além de serem essenciais para a educação. O regime
militar brasileiro impôs a censura contra livros que considerava perigosos, subversivos
ou imorais. Nessa sessão, você conhecerá uma “biblioteca proibida” de livros censurados
e saberá o que os censores escreviam sobre essas obras. Ao mesmo tempo, a ditadura
sustentou a modernização de grandes grupos editoriais, favorecendo a concentração do
poder econômico nas mãos de poucos empresários. Mas para os militares, censurar
os livros não era suficiente: era preciso incentivar uma modernização editorial
com controle político rígido. Essa ação se fez com o apoio à indústria gráfica e à
produção de papel, além da criação de programas governamentais de compra de
livros escolares, que favoreceram determinadas empresas e difundiram manuais
alinhados com os valores conservadores.
O regime militar foi responsável por muitas modificações nas diretrizes básicas
da educação brasileira. A Lei nº 5.692, de 11 de agosto de 1971, marca um momento de
inserção da ideologia dos ditadores por meio da educação pública.
152
A introdução dessas novas disciplinas foi acompanhada do deslocamento das
disciplinas de Filosofia e Sociologia. Isso se deve ao fato de que os principais nomes
tributários de tais campos do saber, que outrora tinham seus conteúdos lecionados de
maneira obrigatória nas escolas públicas brasileiras, eram considerados subversivos à
ideologia dos ditadores daquele período sombrio, violento e opressivo pelo qual o Brasil
passou ao ser submetido ao governo militar compulsório.
Isso quer dizer que a Sociologia recebeu maior atenção em diversas partes do
mundo, sendo concebida como um campo independente do conhecimento em vários
países. Até então, os estudos sociológicos haviam alcançado um momento de maior
cientificidade e desprendimento de ideologias em relação aos períodos anteriores. Ou
seja, nascia uma ciência livre de utilitarismos e voltada muito mais à compreensão dos
fenômenos sociais do que a busca pelo enriquecimento, por exemplo.
153
A partir da década de 1970, o Brasil viveu a chamada Crise da Sociologia. O
regime militar brasileiro foi um dos principais fatores que contribuíram para a emergência
dessa crise.
154
Até os anos 1970, as Ciências Sociais foram forjadas de forma a atender aos
interesses reformistas dos militares no Brasil. Já, durante as décadas de 1970 e 1980,
a Sociologia passa por transformações e retornam, em certa medida, aos seus moldes
mais voltados ao entendimento da sociedade e seus fenômenos, desprendendo-se
dos interesses estritamente dominadores e economicistas de tempos de ditadura.
Sendo assim, a Sociologia retoma seu fluxo evolutivo, de maneira limitada, devido aos
mandos e desmandos dos militares em nosso território, porém, retomando aos objetos
de estudo anteriores e lançando mão de novas pesquisas. Sobre a manipulação das
Ciências Sociais dos anos 1960 até 1970, Alves (2010, p. 28) afere que:
A Sociologia Brasileira passa, a partir das décadas de 1970 e 1980, a receber maio-
res influências de autores, sobretudo europeus, que realizavam abordagens mais volta-
da à questão das subjetividades, liberdades individuais entre outras. Além disso, emerge
uma interdisciplinaridade no interior da Sociologia que transcende o espaço, até mesmo,
das Ciências Humanas. Estariam inseridas nos estudos sociológicos, com cada vez mais
frequência, problemáticas que adentram temas mais comumente abordados nas Ciên-
cias da Natureza, Filosofia, Medicina dentre outras áreas do conhecimento humano.
155
FIGURA 15 - REFLEXÃO SOBRE A REPRESSÃO AOS INTERESSES ESTUDANTIS CONSIDERADOS
SUBVERSIVOS PELO REGIME MILITAR BRASILEIRO
FONTE: <https://static.poder360.com.br/2018/12/Top-Midia-1-868x644.jpg>.
Acesso em: 30 ago. 2020.
156
sociológicas que auxiliam no processo de libertação de nosso povo, na ampliação das
liberdades individuais, no combate à miséria e à violência, dentre outras inúmeras
possíveis intervenções. Os estudos sociais brasileiros e latino-americanos podem nos
servir de ferramentas utilizadas a favor da mudança de paradigmas que dificultam o
desenvolvimento da humanidade, tanto daqui, como de todo o Planeta.
157
Se a teoria do desenvolvimento e do subdesenvolvimento eram o
resultado da superação do domínio colonial e do aparecimento de
burguesias locais desejosas de encontrar o seu caminho de partici-
pação na expansão do capitalismo mundial; a teoria da dependência,
surgida na segunda metade da década de 1960, representou um es-
forço crítico para compreender a limitações de um desenvolvimento
iniciado num período histórico em que a economia mundial estava já
constituída sob a hegemonia de enormes grupos econômicos e po-
derosas forças imperialistas, mesmo quando uma parte delas entra-
va em crise e abria oportunidade para o processo de descolonização
(SANTOS, 2020, p. 18).
Vânia Bambirra é uma intelectual brasileira que também fez parte do processo
de desenvolvimento da Teoria da Dependência. Em uma entrevista, a autora marxista
conta um pouco da trajetória do grupo de pensadores que compuseram essa importante
158
teoria que nos ajuda a compreender o processo histórico pelo qual o Brasil esteve e
está inserido. A partir da compreensão de tal processo histórico é possível entender
melhor as condições de desenvolvimento de nosso país, condições que podem ajudar a
explicar nossas disparidades sociais.
E a gente então começou, era um grupo grande, era muita gente envol‐
vida... nós começamos [a estudar O Capital [...] fomos interrompidos
pelo golpe [...] A ideia da teoria da dependência não tinha desabrocha‐
do. Claro que nas teses da Polop já havia, já se percebia, já estava ano‐
tado que as burguesias nacionais eram vinculadas ao imperialismo, a
ideia da classe dominante dominada, que a gente vai desenvolver de‐
pois no Chile... Eu me lembro que você me perguntou pelo telefone... se
por acaso a teoria da dependência tinha surgido na UnB. Eu digo que
não, que realmente ela desabrochou, a equipe mesmo... foi composta na
Faculdade de Economia da Universidade do Chile e no Centro de Estu‐
dios Socio-Económico (Ceso) (BAMBIRRA, 2013, p. 32).
159
LEITURA
COMPLEMENTAR
SUBDESENVOLVIMENTO E REVOLUÇÃO
As simplificações nas quais, por sua limitação natural, este trabalho possa
incorrer não devem fazer o leitor esquecer esta premissa fundamental.
160
políticas relativamente estáveis. Chile, Brasil e, pouco depois, Argentina aumentam sensi-
velmente neste período seu comércio com as metrópoles europeias, baseado na exporta-
ção de alimentos e matérias-primas como cereais, cobre, açúcar, café, carnes, couro e lã.
Nos países centrais, por sua vez, aumenta o desenvolvimento da indústria pesada,
com a tecnologia que lhe corresponde, e a economia se orienta a uma maior concentração
das unidades produtivas, dando lugar ao surgimento dos monopólios. Esses traços,
gerados pela acumulação capitalista realizada nas etapas anteriores, aceleram o processo
e forçam o capital a buscar campos de aplicação fora das fronteiras nacionais, mediante
empréstimos públicos e privados, financiamentos, aplicação em ações e, em menor
medida, investimentos diretos. Portanto, diferentemente dos créditos externos utilizados
antes e que correspondiam a operações comerciais compensatórias, a função que
assume agora o capital estrangeiro na América Latina é subtrair abertamente uma parte
da mais-valia criada dentro de cada economia nacional, o que aumenta a concentração
do capital nas economias centrais e alimenta o processo de expansão imperialista.
161
principal produto de exportação cair nas mãos do capital estrangeiro - como é o caso
do Chile, primeiro com o salitre e logo com o cobre, ou da Argentina com os frigoríficos
e do Brasil com o controle da exportação de café.
Contudo, nos países em que a atividade principal de exportação está sob o con-
trole das classes dominantes locais existe uma certa autonomia das decisões de inves-
timento – condicionada, evidentemente, pela dependência da economia frente ao mer-
cado mundial. Em geral, o excedente é aplicado no setor mais rentável da economia, que
é precisamente a atividade de exportação que mais excedente produziu (o que explica
a afirmação sobre a tendência à monoprodução); porém, para atender o consumo das
camadas da população que não têm acesso aos bens importados, ou então como defesa
contra as crises cíclicas que afetam regularmente as economias centrais, parte do ex-
cedente se orienta também para atividades vinculadas ao mercado interno. Por isso, em
alguns países – como a Argentina, o Brasil ou o Uruguai –, ao lado de uma indústria vincu-
lada essencialmente à exportação (frigorífico, moinhos etc.), desenvolve-se uma indústria
leve que produz para o mercado interno, indo além do nível artesanal e dando lugar, pro-
gressivamente, à implementação de núcleos fabris de relativa importância.
162
bens primários. Uma parte variável da mais-valia que aqui se produz é drenada para as
economias centrais, pela estrutura de preços vigente no mercado mundial, pelas práticas
financeiras impostas por essas economias ou pela da ação direta dos investidores
estrangeiros no campo da produção.
163
partes sempre crescentes da mais-valia nos centros integradores. O aumento do
excedente passível de ser investido que estes centros dispõem, por muito que seja
malgasto em atividades não produtivas – como a indústria bélica e a publicidade –,
acarreta um aumento constante dos investimentos diretos nas economias periféricas,
através dos quais se realiza progressivamente a integração do sistema produtivo destas
economias ao sistema do centro integrador.
164
RESUMO DO TÓPICO 3
Neste tópico, você aprendeu:
• A Sociologia foi uma das disciplinas banidas do currículo escolar durante o regime
ditatorial.
165
AUTOATIVIDADE
1 A Sociologia no Brasil é, tão como no restante do mundo, uma disciplina responsável
pela ampliação da percepção das pessoas em relação ao funcionamento da sociedade,
suas implicações políticas, as injustiças e violências cometidas pelos governantes
e outras classes, dentre uma infinidade de fenômenos. O poder de desconstrução
de valores petrificados e, por vezes, ultrapassados, além da capacidade de elevar os
níveis de consciência e níveis de raciocínio que possui a Sociologia, foram fatores
que abalaram e continuam abalando as classes dominantes de todo o mundo. Isso
acontece devido à alienação à qual nosso povo é submetido, pois é necessário que o
povo esteja alienado da realidade social. Isso serve para que as classes dominadoras
possam explorar seu trabalho e produzir riquezas das quais os trabalhadores
que a produzem, de fato, não usufruem. Considerando os aspectos mencionados
anteriormente acerca da importância da Sociologia, classifique V para as sentenças
verdadeiras e F para as falsas:
a) ( ) V – V – V – V – F.
b) ( ) V – V – F – V – F.
c) ( ) F – F – V – V – V.
d) ( ) V – F – V – F – V.
e) ( ) V – V – V – F – V.
166
e outros países que se interessavam, sobretudo, na instalação de suas empresas em
nosso solo. Nesse contexto, emergiram muitos movimentos sociais que reivindicavam
por uma grande variedade de direitos tolhidos pelos militares, lutavam contra as violên-
cias e outros abusos cometidos pelo exército. A resposta dos ditadores foi truculenta,
resultando no exílio, prisão, morte e tortura de diversos professores, artistas, líderes e
membros de movimentos sociais libertários e contrários ao regime instaurado no ano
de 1964. Considerando os absurdos cometidos pelo regime ditatorial no Brasil, e que
foram relatados em nosso material de estudo, analise as sentenças a seguir:
167
REFERÊNCIAS
ALVES, P. C. A teoria sociológica contemporânea: da superdeterminação pela teoria à
historicidade. Revista Sociedade e Estado, Brasília, v. 25, n. 1, jan./abr. 2010. Disponível
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168
FERNANDES, F. A integração do negro na sociedade de classes. São Paulo: Ática,
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PRADO JÚNIOR. C. História econômica do Brasil. São Paulo: Círculo do Livro, 1981.
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169
PRADO JÚNIOR. C. Formação do Brasil contemporâneo: colônia. Brasília: Editora
Brasiliense, 1961.
170