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Metodologia
do Ensino
Religioso
Prof.ª Gabriele Greggersen
Indaial – 2023
1a Edição
Elaboração:
Prof.ª Gabriele Greggersen
204p.
ISBN 978-85-459-2352-7
ISBN Digital 978-85-459-2346-6
“Graduação - EaD”.
1. Didática 2. Metodologia 3. Religião
CDD 371.07
Bibliotecário: João Vivaldo de Souza CRB- 9-1679
Impresso por:
APRESENTAÇÃO
Caro acadêmico, bem-vindo à Disciplina Didática e Metodologia do Ensino
Religioso. Esperamos que ao longo deste curso possamos nos conhecer melhor e
trabalhar juntos para a construção de conhecimentos úteis na sua formação como
professor e pesquisador de Ensino Religioso.
Preparado para essa aventura? Então vamos lá, sem mais delongas!
Bons estudos!
GIO
Olá, eu sou a Gio!
QR CODE
Olá, acadêmico! Para melhorar a qualidade dos materiais ofertados a você – e
dinamizar, ainda mais, os seus estudos –, nós disponibilizamos uma diversidade de QR Codes
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acesse um conteúdo interativo relacionado ao tema que você está estudando. Para utilizar
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aproveitar essa facilidade para aprimorar os seus estudos.
ENADE
Acadêmico, você sabe o que é o ENADE? O Enade é um
dos meios avaliativos dos cursos superiores no sistema federal de
educação superior. Todos os estudantes estão habilitados a participar
do ENADE (ingressantes e concluintes das áreas e cursos a serem
avaliados). Diante disso, preparamos um conteúdo simples e objetivo
para complementar a sua compreensão acerca do ENADE. Confira,
acessando o QR Code a seguir. Boa leitura!
LEMBRETE
Olá, acadêmico! Iniciamos agora mais uma
disciplina e com ela um novo conhecimento.
REFERÊNCIAS.....................................................................................................................132
PRINCÍPIOS
PEDAGÓGICOS DO
ENSINO RELIGIOSO
OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM
A partir do estudo desta unidade, você deverá ser capaz de:
PLANO DE ESTUDOS
A cada tópico desta unidade você encontrará autoatividades com o objetivo de
reforçar o conteúdo apresentado.
CHAMADA
Preparado para ampliar seus conhecimentos? Respire e vamos em frente! Procure
um ambiente que facilite a concentração, assim absorverá melhor as informações.
1
CONFIRA
A TRILHA DA
UNIDADE 1!
Acesse o
QR Code abaixo:
2
UNIDADE 1 TÓPICO 1 -
CONCEITO DE EDUCAÇÃO, PEDAGOGIA
E ENSINO RELIGIOSO
1 INTRODUÇÃO
Essas e outras questões serão o nosso norte nesse primeiro tema de aprendizagem.
Vem conosco!
Quem ensina marca e distingue para o aluno aquilo que ele deve aprender.
Nesse sentido, ensinar nunca é um ato solitário ou de mão única, da mesma forma que
não se pode inscrever nada no vazio. É preciso ter o objeto, a contraparte do aprender,
que, além de objeto, é também sujeito de sua aprendizagem. Ensinar e aprender são
3
dois lados inseparáveis da mesma moeda. Não se pode aprender, sem que haja ensino,
observando que até coisas podem ensinar, como a natureza, por exemplo, ou um livro,
ou a vida. E não se pode dizer que houve ensino, sem que tivesse havido aprendizagem.
4
Esse é o entendimento da educação formal ou escolar e como área do
conhecimento. Ele está relacionado a uma ciência, à pedagogia e sua área disciplinar, à
didática ou metodologia.
NOTA
Nesse material, vamos usar didática como sinônimo de metodologia,
embora alguns estabeleçam a diferença de que a primeira é mais teórica e
a segunda, mais prática.
ATENÇÃO
Então a educação tem essas duas dimensões ao mesmo tempo: a de formação
e a de conduta de acordo com os ditames da cultura de um povo. Nenhuma
invalida a outra. Na verdade, ambas se complementam dialeticamente.
5
Presente em todas as fases de nossa vida – pois em nosso cotidiano
educamos e somos educados –, além de perpassar os diferentes
espaços que ocupamos, a educação tem como objetivo contribuir
para o desenvolvimento integral do ser humano, seja no exercício da
cidadania, seja na sua qualificação para o trabalho.
Mas a educação também possibilita o acesso à cultura. O binômio
educação e cultura favorece a construção da identidade nacional
do brasileiro. A escola, um dos espaços privilegiados para que a
educação e a cultura possam ser aprendidas e experienciadas, pode
inserir o aluno, no dia a dia, em um universo cultural mais amplo
(JUNQUEIRA; RODRIGUES, 2012, p. 14).
Mais adiante, eles alertam para o sentido original da palavra cultura, que está
relacionada ao cultivo e sua evolução ao longo da história:
Então cultura tem a ver com o cuidado e a criação. Tem a ver com os costumes e
valores que impregnam um way of life ou modo de vida específico. Com relação à cultura
de um país, nos referimos aos seus costumes e peculiaridades. E quando dizemos que
alguém é culto, significa que ele é entendido de sua cultura e que tem estudo, ou seja,
que é educado.
INTERESSANTE
O termo alemão Bildung, que é formação, no sentido de cultura, é uma
derivação de Bild, figura, imagem ou pintura, o que nos remete à ideia
judaico-cristã de que o homem é feito à imagem e semelhança de Deus.
Somos, como o termo clássico o diz, imago dei, ou seja, imagem divina. Assim,
para ele, tudo começa no imaginário, na capacidade de refletir essa imagem,
atualizando o ser que ele foi pensado (ele foi, por assim dizer, “bolado” por
Deus) para ser, principalmente através da cultura e da educação.
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Mas, etimologicamente, o que significa educação propriamente dita? Como se
deve saber, etimologicamente a palavra educação vem de educere, no latim, que se
compõem do sufixo “e”, que significa “extrair”, “pôr para fora”, e a raiz “ducere”, que quer
dizer conduzir, guiar. Então, a educação implica em um movimento de dentro para fora,
de atualização de potencialidades que estão implícitas no ser do educando, requerendo
uma atualização ou, em termos aristotélicos, transformação de potências em ato.
A palavra educação significa ainda que se trata de algo dinâmico – e não parado
e estático, em que o professor fica falando e o aluno, entediado, ouvindo – que implica
em movimento, e que é guiado por alguém, o professor. Ele é que se encarrega do
ensino, mas como mediador, e não como ditador. Eis o sentido exato do pedagogo,
aquele que guia, que conduz.
Perceba que, esse “guiar” não é do professor arrastando o aluno para onde
bem ele entender, mas levando pela mão, como os pedagogos escravos gregos faziam
com os seus pupilos na época do Império Romano. Isso dá a ideia de participação, de
empatia e de inclusão.
Entre os gregos, a pedagogia também era entendida como Paideia, que significa
movimento de passagem, abrir-se e lançar-se ao novo. Ela envolve mais do que apenas
conteúdos, mas também valores, princípios para a formação do caráter, educação física
e artística e tudo o mais envolvido na educação, entendida de forma global e holística.
7
A escola se constitui em um espaço privilegiado para essa questão
da aprendizagem sistematizada, desde que seja provocadora e
compreenda, num sentido totalmente amplo, a cultura da sociedade.
Nesse momento, recorde-se a proposta grega da paideia, não como
um aspecto exterior da vida, incompreensível, fluido e anárquico, mas
como autenticidade do ser humano, que envolve aspectos físicos,
estéticos, morais, religiosos e políticos, ou seja, uma educação
integral. Todo esse processo é histórico e contextualizado e implica
no contexto cultural (JUNQUEIRA; RODRIGUES, 2012, p. 135-136).
Esse contexto cultural nos faz lembrar o termo alemão para educação, Bildung,
que já destacamos e nos faz refletir sobre as circunstâncias que fazem essa Bildung
acontecer. Ora, a arte de ensinar e fazer aprender é a didática, à qual, de acordo ainda
com o dicionário, a educação está relacionada. O que se quer dizer quando, por exemplo,
se afirma que fulano é um bom professor? Não é que ele ensina efetivamente, que tem
uma boa “didática”? Ora, a didática nada mais é do que a ciência ou arte do bem-ensinar.
É a metodologia e o recurso pedagógico de que ele se vale para ensinar, portanto.
Mas será que o professor de boa didática é aquele que sabe apenas “transmitir”
ou pior, “repassar” os conhecimentos, como se costuma dizer popularmente? Ora,
transmitir é a qualidade do rádio, do telefone e da internet, que transmite ondas e
mensagens respectivamente. Será que o ensino é uma via de mão única assim?
É claro que não! Como Paulo Freire (1921-1997) bem dizia, o professor-transmissor
é aquele da educação bancária, o “dador de aula”, aquele que emite o cheque e deixa
que a burocracia bancária o “troque em miúdos”. É aquele que deposita o saber no
cérebro do aluno, pouco se importando se ele aprendeu ou não ou pouco contando com
a participação dele no processo de construção do saber.
DICA
Então, fica a dica: educar e sua ciência, a pedagogia; ensinar e a sua ciência, a
didática; são termos que significam muito mais do que parece numa primeira
mirada e demandam uma investigação e reflexão muito mais profunda.
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ATENÇÃO
Religião vem de religio e religare, que significa religar o relacionamento entre
o ser humano e Deus ou os deuses. Tudo que é religioso serve para essa
religação do ser humano com a divindade, o sagrado e, por tabela, com o
nosso meio, que foi criado por Deus e temos a incumbência de administrar.
Mas qual a relação da religiosidade com o ser humano? Como ela se insere na
natureza humana? No entendimento de Junqueira e Rodrigues (2012, p. 15):
Então, estão enganados aqueles que pensam que o Ensino Religioso é uma perda
de tempo, pois a religião faz parte da natureza humana, como a razão, a imaginação, a
sensibilidade artística etc. Seria tão errado deixar de fora o Ensino Religioso do currículo
quanto a matemática, o português e a educação artística ou qualquer outra área
essencial da existência humana.
ESTUDOS FUTUROS
Como veremos mais adiante, até mesmo a nossa Constituição atual e a LDB
veem a religião como parte integrante do ser humano e como área a ser
contemplada no currículo escolar, equiparada a todas as demais áreas.
9
Apontando causas e efeitos, relações entre seres, valores morais
e também sustentação ao poder político, a religião, na maioria das
culturas, valida uma visão de mundo única para toda a sociedade
e fornece a seus membros uma comunidade de ação e de destino.
Essa visão de mundo é transmitida e perpetuada pelo mito. E o mito
não é apenas uma narrativa fantasiosa, uma imaginação humana,
mas é a maneira de narrar para si mesmo a sua origem e a de
toda a realidade, além de apresentar respostas para os fenômenos
naturais e cósmicos. Assim o mito traz união, agrega e deixa suas
marcas na sociedade. Se assim não for, se o mito não representar o
que é humano e os valores sociais, perde seu sentido (JUNQUEIRA;
RODRIGUES, 2012, p. 64).
Ou então, o que é pior, entendemos mito hoje em dia como sendo uma inverdade,
uma mentira, como os fake-news, por exemplo. Contudo, o fato é que tanto religião
quanto o mito tangem o transcendente, ou seja, aquilo que vai além do aqui e agora,
ingressando no mundo do sobrenatural e do miraculoso.
INTERESSANTE
Muitos personagens dos quadrinhos de hoje, os super-heróis, herdaram
dos mitos esse caráter sobrenatural e messiânico que aparece quando os
heróis salvam a humanidade usando poderes acima dos humanos e quando
se sacrificam e, às vezes, até morrem pela humanidade.
A religião e o mito dão sentido à vida. Você nunca viu alguém se voltar para a
religião, ou você mesmo já não se voltou para ela em busca de sentido para a vida? Ou
depois de uma crise existencial, em que você ou a pessoa começou a se perguntar a
respeito de certas coisas que parecem não ter cabimento no mundo?
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Conforme conclui Junqueira e Rodrigues (2012, p. 65): “É certo que a religião não
é o único meio de se dar sentido à vida, muito menos a única forma dessa abertura ao
outro; contudo, ela continua um caminho deveras significativo na história da humanidade.”
As sociedades que não são mais teocêntricas (usam a Deus como referência
para compreender o mundo), mas antropocêntricas, como as sociedades modernas,
já não contam mais muito com o mito e as demais manifestações religiosas como
os rituais, que eram tão abundantes em outras épocas para perpetuar a cultura e as
tradições tão importantes para a identidade e preservação de uma sociedade. Cada dia
cresce mais a população dos “sem religião”.
DICA
Leia artigo sobre o aumento da população jovem dos “sem religião”. Acesse
em: https://cutt.ly/v7J24Ho
Assim, o Ensino Religioso tem servido para preencher o gap entre religião e
formação. Mas isso muitas vezes em um sentido pernicioso, de doutrinação, pois
muita gente equipara Ensino Religioso à “aula de religião” que se tem na igreja, seja de
catequese, seja de classe de catecúmenos, seja de Escola Dominical.
IMPORTANTE
De acordo com Santos (2021), é importantíssimo traçar uma diferença
clara entre aulas de religião e Ensino Religioso. Uma das diferenças é que
o Ensino Religioso é um componente curricular, e “como tal deve estar em
diálogo de métodos e conteúdos com os outros componentes curriculares
de forma integrada. E assim como todo componente, ele possui uma
ciência de referência que lhe subsidia os conteúdos e métodos” (SANTOS,
2021, p. 10). Já as aulas de religião são uma prática catequética de
instituições religiosas.
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ciência (embora a teologia não seja propriamente uma ciência, mas, hoje, faz parte das
ciências humanas) e é ministrado por profissionais formados nas Ciências Humanas e
Ciências das Religiões.
A diferença principal é quanto aos objetivos, que nas aulas de religião são
proselitistas, isto é, de angariar adeptos, e as “aulas de Ensino Religioso, conforme a
LDB/96, têm como objetivo um conhecimento que leve ao respeito à diversidade
cultural e religiosa” (SANTOS, 2021, p. 11).
Sabendo disso, não podemos subestimar sua importância, achando que se trata
de um luxo, ou algo acessório, ou de menos importância. Pelo contrário, trazer para fora o
ser significa virar o ser humano do avesso e explorar as suas entranhas mais significativas
e essenciais. Não é para menos que a religião é um fenômeno universal (todas as culturas
têm) e arquetípico (existe desde que o ser humano se viu como ser humano).
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NOTA
De acordo com Junqueira e Rodrigues (2012), essa noção de que somos
criaturas está intimamente ligada à atitude que temos em relação à
natureza e ao cosmo:
Na nostalgia religiosa, o homem exprime
o desejo de viver no cosmo puro e santo,
tal qual era no começo, quando ainda
estava nas mãos do Criador. Para o homem
religioso, a natureza nunca é exclusivamente
natural. Ela está sempre carregada de valor
transcendental. Ele sente necessidade de
mergulhar periodicamente no templo sagrado
para encontrar-se com o Absoluto, o que
ele faz, utilizando-se do ritual. (JUNQUEIRA;
RODRIGUES, 2012, p. 68)
Você já parou para se perguntar por que existem tantas religiões? Ora porque
Deus é multiforme, dando espaço até àqueles que não acreditam nele. E nós somos
tão multiformes quanto ele, pois, de acordo com a interpretação do cristianismo,
somos a sua cópia.
NOTA
Mas nem todas as religiões têm essa noção. O candomblé é uma religião
de raiz africana e nela não há qualquer desejo de encontrar a imagem do
Deus cristão do ocidente, até porque na África só vai surgir a noção do Deus
cristão após o contato com a invasão portuguesa, o mesmo acontece com
os povos mesoaméricos.
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Se Deus, de acordo com a visão cristã, é criador e nos criou a sua imagem e
semelhança, quanto mais quisermos ser nós mesmos, mais teremos que nos aproximar
dele. E quanto mais nos abrimos para ele e para a totalidade e diversidade do mundo
que ele criou, mais descobriremos a nós mesmos.
Assim, o Ensino Religioso não anda apenas de mãos dadas com o pluralismo
religioso e o diálogo inter-religioso, mas também com a educação ecológica e o respeito ao
meio ambiente, pois o mundo natural nada mais é, conforme Leonardo Boff (1999) costuma
dizer, do que a nossa “casa comum” na qual coabitamos, de preferência, em harmonia.
Não é para menos que tantas religiões se confundem com o culto à “mãe
natureza”, pois o tipo de contemplação que ela gera em nós, o tipo de espanto que
experimentamos quando a observamos é parecido com a elevação religiosa, que leva
à adoração. Assim, é importante a você, futuro ou já atuante professor, conhecer a
diversidade das religiões e seus conceitos, a fim de ensiná-la aos seus alunos, numa
abordagem respeitosa e pluralista.
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RESUMO DO TÓPICO 1
Neste tópico, você aprendeu:
• A palavra educação significa que se trata de algo dinâmico e não parado e estático,
o que implica em movimento e que é guiado por alguém, o professor. Eis o sentido
exato do pedagogo, aquele que guia, que conduz.
• Para os gregos, a pedagogia envolve mais do que apenas conteúdos, mas também
valores, princípios para a formação do caráter, educação física e artística e tudo o
mais envolvido na educação, entendida de forma global e holística.
• Ensino Religioso tem respaldo da ciência é ministrado por profissionais formados nas
Ciências Humanas e Ciências das Religiões. É tido como pedagogia por excelência,
como forma de autoconhecimento.
• Cultura tem a ver com o cuidado e a criação, com os costumes e valores que
impregnam um way of life ou modo de vida específico.
• Com relação à cultura de um país, nos referimos aos seus costumes e peculiaridades.
Já em relação a uma pessoa culta, significa dizermos que ele é entendido de sua
cultura e que tem estudo, ou seja, que é educado.
• A palavra educação vem de educere, no latim, que se compõem do sufixo “e”, que
significa “extrair”, “pôr para fora”, e a raiz “ducere”, que quer dizer conduzir, guiar.
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AUTOATIVIDADE
1 Quanto às definições de educação e ensino vistas na unidade, assinale a alternativa
CORRETA:
2 A diferença entre aula de religião e ensino religioso não é apensas conceitual, mas é
metodológica e situacional. Com base nas definições e diferenciações de Santos (2022)
entre aula de religião e ensino religioso, analise as sentenças a seguir:
I - A aula de religião é dada na escola formal como meio de assegurar que os princípios
cristãos sejam preservados e respeitados, portanto não há distinção entre aula de
religião e Ensino Religioso.
II - As aulas de religião são confessionais e visam à promoção dos valores de cada religião,
enquanto o Ensino Religioso é pluralista e visa ao diálogo inter-religioso e ao respeito
entre as religiões.
III - As aulas de religião são dadas nas instituições religiosas, ministradas por clérigos e
líderes religiosos voluntários ou teólogos, enquanto o Ensino Religioso é ministrado
nas instituições de ensino formal ministradas por profissionais formados nas Ciências
Humanas ou Ciências das Religiões.
3 Muitos combatem o Ensino Religioso, por nos encontrarmos num Estado laico, ou acham
o Ensino Religioso uma perda de tempo. Diante disso, classifique V para as sentenças
verdadeiras e F para as falsas:
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( ) O Ensino Religioso é fundamental no currículo escolar, mesmo de um Estado laico, pois
diz respeito à essência do ser humano. É ele virado do avesso, por assim dizer.
( ) O Ensino Religioso é fundamental, pois é a salvaguarda dos valores cristãos numa
sociedade e para a preservação da moralidade, sem os quais essa sociedade sucumbe
ao mal e ao pecado.
( ) O Ensino Religioso é fundamental no currículo escolar, mesmo de um Estado laico, pois
somos criaturas e como tais, precisamos falar e refletir sobre a força que nos criou para
o autoconhecimento.
4 Numa situação hipotética, imagine que você é coordenador de uma escola de ensino
básico e você acabou de contratar um professor de Ensino Religioso, que era formado
em teologia por uma faculdade isolada. Um dos alunos reclamou que o professor estava
fazendo proselitismo a favor do cristianismo nas aulas e que estava ensinando apenas
a doutrina cristã e nenhuma outra. Qual seria a sua reação, sendo que vivemos num
Estado em que se promove o ensino a-confessional?
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UNIDADE 1 TÓPICO 2 -
HISTÓRIA DO ENSINO RELIGIOSO
1 INTRODUÇÃO
Caro acadêmico, A essa altura, sua pergunta pode ser: de onde, afinal de contas,
surgiu a religião? Como já dissemos, ela surgiu há muito tempo, há tempos ancestrais,
quando o ser humano começou a se distinguir dos outros animais. Os animais não têm
rito, não têm culto, não tem mitologia e nem história.
Já a religião e seu ensino têm história, tanto no Brasil como no mundo. Quais
são os seus momentos e personagens principais? Vamos ouvi-la?
Para isso, vamos nos valer de uma disciplina chamada história das religiões ou
Religiões comparadas. Pergunta-se ainda como a religião se tornou objeto de ensino e
como lidar com a contradição entre o Estado laico e o Ensino Religioso.
19
O mito judaico-cristão de Adão e Eva e o Jardim do Éden é amplamente conhecido
não preciso repetir aqui, mas o autor destaca duas histórias interessantes, a do povo
Yorubá, cuja história de criação do homem é bem parecida com o mito de criação judaico-
cristão e a narrativa da criação do hinduísmo. Quanto ao Yorubá, relata o seguinte:
Já o mito hindú diz que Deus era grande e solitário e um dia resolveu se dividir
em dois, criando o homem e a mulher de cada uma das metades. Como eram feitos do
mesmo Deus, a mulher resolveu se esconder e se transformou em vaca, e logo o seu
marido se transformou em touro e assim se formou o gado. Então ela se transformou
em égua, e ele, em cavalo e também em jumenta, e ele se transformou em jumento. E
assim eles procriaram e trouxeram à luz filhotes dotados de cascos.
Da mesma forma foram criados a cabra e o bode, com seus cabritinhos; a ovelha
e o carneiro e suas ovelhinhas; e todos os demais seres foram assim criados a partir do
mesmo Deus. E explica Brito (2023, p. 11):
Mudando para as nossas terras, quase todos os mitos de origem das tribos
indígenas Guarani associam a criação do mundo ao Deus Tupã, o deus sol, e à deusa
Araci (ou Jaci) a deusa lua. Os dois desceram à terra numa região do atual Paraguai
chamada Arégua e a partir dessa localidade criaram tudo o que existe. Os seres humanos
foram criados a partir de estátuas de argila, misturadas a outros elementos da natureza.
E quem eram as figuras, além dos pais, que contavam essas histórias simbólicas
chamadas mitos? Quem eram os educadores? Os povos indígenas têm o seu pajé, que
orienta o cacique nas tomadas de decisões e invoca os espíritos para isso. O pajé não
20
é somente o líder religioso, ele também cuida da educação dos meninos e meninas e
inclusive dos adultos para uma convivência em harmonia. Mas também na guerra, ele é
o maior conselheiro.
Mais tarde o ensino judaico se dava nas sinagogas, onde se ensinava a Torá (Lei
mosaica) e a Mezuzá (parte dessa lei). As sinagogas abrigavam os mestres da lei, os
fariseus, que se encarregavam da educação e garantiam que toda a criança aprendesse
a Torá de cor e salteado; os saduceus, que cuidavam da manutenção do templo
(aristocratas opositores aos fariseus); e os escribas, que se dedicavam à lei escrita (liam
e interpretavam as leis).
IMPORTANTE
Então, para muçulmanos e judeus, educação e religião se misturavam e se
misturam até hoje.
Outras duas civilizações antigas, a dos gregos e a dos romanos, tinham os seus
filósofos, que constituíam “escolas”, ou melhor, grupos de mestre e discípulos, em torno
de seus ensinamentos, os quais ensinavam, enquanto andavam pelos bosques. Os
sofistas, que também eram filósofos, eram mestres que cobravam honorários por seus
ensinamentos. Sócrates se opunha aos sofistas, não cobrando honorários e porque eles
tinham uma moral duvidosa. Por esses motivos ocultos e outros tantos, Sócrates era
uma figura polêmica e incômoda e acabou sendo acusado de ser corruptor dos jovens
e condenado por isso e por ser considerado herege, pois, apesar de politeísta, ele era
confidente de apenas um Deus (Apolo). Sócrates foi condenado à morte e preferiu se
matar tomando cicuta a se tornar um exilado e fugitivo da sua amada polis (cidade).
21
Essa história foi registrada por Platão, discípulo de Sócrates, já que seu mestre
não quis deixar nada por escrito. Ele sistematizou o método da maiêutica (que significa
parteira) do seu mestre Sócraates, registrado nos famosos diálogos de Platão. Aristóteles,
discípulo de Platão, fez uma revisão do pensamento dualista e idealista de seu mestre e
instituiu a teologia, ao lado da filosofia, como a mãe de todas as ciências.
IMPORTANTE
Nesse período (Idade Média), educação e religião continuavam misturadas
e indistintas.
22
Figura 2 – Mosteiro medieval
Fonte: https://cdn.pixabay.com/photo/2021/08/20/14/53/monastery-6560623_960_720.jpg.
Acesso em: 23 mar. 2023.
ATENÇÃO
Esse fenômeno de abuso religioso acontece sempre que alguém ou
alguma instituição ganha poder demais. E, de fato, ao longo da Idade
Média, a Igreja foi se estruturando e se tornando mais poderosa, tão
poderosa que concorria com o poder dos reis e se tornou corrupta.
23
Na figura a seguir, temos uma representação das artes liberais, originária da
Idade Média, sendo a teologia o centro e logo abaixo a filosofia e orbitando em torno
delas, as demais ciências, entre elas, a música.
Fonte: https://uploads1.wikiart.org/images/herrad-of-landsberg/seven-liberal-arts-folio-32r.jpg!Large.jpg.
Acesso em: 4 abr. 2023.
24
No século XVII sugiram também as primeiras Escolas Dominicais que visavam
ensinar a ler e escrever, inicialmente pensadas para tirar as crianças, que trabalhavam
nas minas de carvão, das ruas, mas também para ensinar a ler a Bíblia. Com o tempo,
essas escolas foram se secularizando, dando origem aos modernos sistemas escolares.
IMPORTANTE
Portanto, o Ensino Religioso está na origem de todo o sistema de ensino e
devemos a ele a democratização do ensino que temos hoje.
DICA
Para uma compreensão mais profunda da história das religiões pelo mundo, recomento do
livro de Jostein Gaarder, Victor Hellern e Henry Notaker: O livro das religiões, da Editora Cia
das Letras, de 2005.
25
o modernismo e sua crítica contra a religião e, principalmente, pelo pós-modernismo
e seu pluralismo religioso, quando a Igreja Católica tem seu poder mundial reduzido e
concorrido com outras religiões e os sem-religião.
DICA
Assista ao filme que se refere à lista dos livros proibidos da época da Inquisição: O Nome
da Rosa, com título original alemão Der Name der Rose (original), dirigido por Jean-Jacques
Annaud, produzido em 1986. A seguir, uma sinopse do filme:
Fonte: https://filmow.com/o-nome-da-rosa-t5722/ficha-tecnica/.
Acesso em: 27 jan 2023.
26
A educação estava refém, até meados do séc. XVIII, dos jesuítas que
monopolizavam o ensino, quando houve a reforma pombalina, que acabou com a
escravidão e expulsou e prendeu por traição os jesuítas do país.
Mas o que foi preciso acontecer, para que as coisas começassem a mudar? Foi
preciso mudar a forma de governo. Como comenta Junqueira:
27
Ao longo desse período discutiu-se intensamente a legitimidade do Ensino
Religioso nas escolas, mas na prática, cada professor “puxava a sardinha para o seu
lado” e predominou o caráter confessional e proselitista.
28
essa finalidade, nova proposta ocorreu em 1971, ocasião em que
foi promulgada a Lei de Diretrizes e Bases para o ensino de 1º e 2º
Graus, de n.º 5.692/71, que, em seu artigo 7º (sem revogar totalmente
a LDB de 1961), repetiu o dispositivo da Carta Magna de 1968 e a
Emenda Constitucional n.º 1/69. Esta inseriu o Ensino Religioso nos
horários regulares, o que acabou por criar as áreas de estudos de
Moral e Cívica, Artes e Educação Física, com o intuito de formar
alunos voltados ao civismo e à moral, concernentes ao regime militar
(PAULY, 2004) (JUNQUEIRA, 2015, p. 7).
ESTUDOS FUTUROS
Nesse período também é criado o já mencionado Fórum Nacional Permanente
do Ensino Religioso (FONAPER), ao qual vamos nos dedicar mais adiante.
Com a Lei 9.475 (MEC, 1997), que modificou esse artigo da LDB, foi revogado o
caráter voluntário e não remunerado da oferta de Ensino Religioso nas escolas.
29
para a habilitação e a admissão dos professores. Competiria também
aos sistemas de ensino ouvirem entidade civil, constituída pelas
diferentes denominações religiosas, para a definição dos conteúdos
do Ensino Religioso (MEC. Lei 9.475 [22 de julho de 1997, que dá
nova redação ao artigo 33 da Lei (9.394/96) de Diretrizes e Bases da
Educação Nacional], 1997). (JUNQUEIRA, 2015, p. 9)
30
Vemos no quadro uma evolução do Ensino Religioso confessional do tipo
catequético e seguindo o método tradicional; para o democrático, dialogal e pluralista,
mais adequado a um Estado laico, como é o brasileiro, em que há separação entre
Estado e Igreja.
IMPORTANTE
Assim, a questão do Ensino Religioso nas escolas, dado que o Estado é
laico no Brasil, tornou-se pomo da discórdia para muita gente favorável e
contra esse ensino.
Os favoráveis dizem que, afinal de contas, o Ensino Religioso foi a origem de tudo
e devemos dar crédito a ele. Além do mais, ele é um direito assegurado pela Constituição
e toca em questões essenciais ao ser humano, como aquela sobre o sentido da vida, da
ética e dos valores que passam despercebidos pelas outras disciplinas.
Isso me faz lembrar de uma história budista que diz que Siddhartha, o Buda,
e seus discípulos viveram na floresta em silêncio por seis anos. A sua prática ascética
fazia com que se alimentassem apenas do que a natureza lhes oferecesse num esforço
por fortalecer as suas mentes e esquecer os seus corpos.
Num belo dia, o Buda ouviu um músico, que passava num barco, dizer a seu aluno
as palavras que calariam fundo nele: “Se apertares esta corda demais, ela arrebenta; e
se a deixares solta demais, ela não toca." Elas o fizeram ter um insight de que ele estava
todos esses anos andando pelo caminho errado.
Então ele deixou de lado suas práticas ascéticas para escândalo de seus
discípulos, que o questionaram. Quando ele os convidou para se alimentarem com ele,
eles disseram que não poderiam mais segui-lo, pois ele teria abandonado a sua busca
pela iluminação, traindo os seus votos.
31
A isso, Buda respondeu que aprender é mudar e que o caminho para a iluminação
é a linha tênue entre dois lados opostos. Em suma, o caminho da iluminação é o caminho
do meio e esse foi o ensinamento dele pelo resto de sua vida para toda a humanidade.
32
RESUMO DO TÓPICO 2
Neste tópico, você aprendeu:
• Na antiguidade a educação religiosa se dava, além das próprias práticas religiosas, por
meio de histórias que eram contadas de pai para filho e de mãe para filha e também
pelos líderes religiosos. Sendo os mais populares os mitos de criação.
• Mais tarde o ensino judaico se dava nas sinagogas, onde se ensinava a Torá (Lei
mosaica) e a Mezuzá (parte dessa lei).
• Outras duas civilizações antigas, a dos gregos e a dos romanos, tinham os seus
filósofos, que constituíam “escolas”, ou melhor, grupos de mestre e discípulos, em
torno de seus ensinamentos, os quais ensinavam, enquanto andavam pelos bosques.
• Na Era Cristã, com a chegada de Jesus, considerado por muitos o mestre os mestres,
revisou-se a lei mosaica dos judeus e deu-se continuidade à educação pela relação
mestre-discípulo e organizaram-se as comunidades religiosas chamadas igrejas.
• Os jesuítas seguiam um documento chamado Ratio Estudiorum, que incluía uma lista de
livros proibidos, o currículo e uma série de regras que deveriam ser seguidas nas escolas.
33
AUTOATIVIDADE
1 O Ensino Religioso surgiu junto com a civilização. Na educação, sobre a história do
Ensino religioso no mundo, assinale a alternativa CORRETA:
2 A teologia, na idade média, continuava imperando como mãe de todas as ciências. Nas
universidades, formalizou-se o currículo das artes liberais, o Trivium (lógica, gramática,
retórica) e o Quadrivium (aritmética, música, geometria, astronomia), de origem grega, e
a Questio Disputata, que era uma metodologia dialética de perguntas e respostas que
serviam de base às aulas de todas as matérias, mas principalmente de teologia. Diante
nisso, analise as sentenças a seguir:
I - A Idade Média foi um período de trevas onde nada de novo se inventou ou criou.
II - A Idade Média foi um período curto da história em que predominou a Santa Inquisição.
III - A Idade Média foi um período longo da história em que se criaram muitas coisas novas,
como por exemplo, as universidades.
34
católica, basicamente jesuíta. Embora por algum tempo essa ordem religiosa tenha sido
expulsa dos domínios portugueses, isso não foi suficiente para se criar uma estrutura
razoavelmente laica de ensino (CHIZZOTI, 1996; CUNHA, 2007; SAVIANNI, 2007).
4 No debate sobre o Ensino Religioso na escolas formais básicas do Brasil, cite dois
argumentos favoráveis e dois contrários.
5 A Reforma Protestante trouxe grandes novidades tanto para a religião quanto para
a educação. Tendo isso como base, avalie os avanços trazidos pela Reforma para o
Ensino Religioso.
35
36
UNIDADE 1 TÓPICO 3 -
ENSINO RELIGIOSO E FENOMENOLOGIA
1 INTRODUÇÃO
E tal cultura varia de povo para povo e é tão peculiar quanto a identidade do
indivíduo. Tanto que cada povo tem a sua bandeira e o seu hino nacional diferenciado.
37
INTERESSANTE
Você já pensou se todas as pessoas fossem iguais no mundo? Como seria
monótono, sem graça e sem avanços? Sim, porque todos fariam as mesmas
coisas, teriam as mesmas opiniões, teriam o mesmo tipo de amigos,
vestiriam as mesmas roupas e para onde iria a economia desse jeito?
38
“Nada disso “, interrompeu o que tinha apalpado a orelha. “Se alguma
coisa se parece é com um grande leque aberto”. O que apalpara a
tromba deu uma risada e interferiu: “Vocês estão por fora. O elefante
tem a forma, as ondulações e a flexibilidade de uma mangueira de
água…”. “Essa não”, replicou o que apalpara a perna, “ele é redondo
como uma grande mangueira, mas não tem nada de ondulações nem
de flexibilidade, é rígido como um poste…”. Os cegos se envolveram
numa discussão sem fim, cada um querendo provar que os outros
estavam errados, e que o certo era o que ele dizia. Evidentemente
cada um se apoiava na sua própria experiência e não conseguia
entender como os demais podiam afirmar o que afirmavam. O príncipe
deixou-os falar para ver se chegavam a um acordo, mas quando
percebeu que eram incapazes de aceitar que os outros podiam ter
tido outras experiências, ordenou que se calassem. “O elefante é
tudo isso que vocês falaram.”, explicou. “Tudo isso que cada um de
vocês percebeu é só uma parte do elefante. Não devem negar o que
os outros perceberam. Deveriam juntar as experiência (sic) de todos
e tentar imaginar como a parte que cada um apalpou se une com as
outras para formar esse todo que é o elefante” (COSTA, 2014, s. p.).
A experiência das coisas que cada homem pode ter é sempre limitada.
Por isso, a sensatez obriga a levar em conta também as experiências
dos outros para se chegar a uma síntese.
Em seguida, ele faz uma aplicação à verdade. Ninguém é dono dela. Todos
temos visões parciais, baseadas na nossa própria experiência, muitas vezes incoerentes
e incompletas, e todos tendemos a absolutizar a nossa experiência na definição do que
achamos ser a verdade.
Mas o que não concordamos e que ele dá a entender é que, portanto, a verdade
não exista. Não sermos donos da verdade não significa que ela não exista “lá fora” e que
não tenhamos acesso a partes dela. (Isso seria cair no relativismo.) É o que a parábola
está dizendo também: que temos, sim acesso a certas verdades, embora sempre
limitadas e muitas vezes incoerentes e aparentemente absurdas.
Isso é uma lição de humildade para nos ensinar que não temos um conhecimento
maior ou melhor do que ninguém e que precisamos respeitar a visão do outro por
mais distinta da nossa que pareça ser e por mais absurda que nos pareça, a princípio.
Devemos deixar de ser inquisidores, como os executores da Santa Inquisição e devemos
passar a ser observadores e ouvintes da realidade.
39
A parábola também nos ensina algo sobre o objeto elefante: que ele é diverso e
pode ser visto por vários ângulos e de várias perspectivas sem deixar de ser ele mesmo
e único. Essa é a moral da dialética da unidade na diversidade. Só sendo diversos,
podemos ser um; e só sendo um, podemos ser diversos.
Esse objeto pode ser aplicado ao ser humano em suas múltiplas facetas e
sua unicidade, apesar delas. O ser humano é múltiplo e uno ao mesmo tempo! Parece
loucura para a nossa cabeça dualista, excludente e maniqueísta em que uma coisa só
pode ser rígida ou flexível, peluda ou lisa etc.
O mesmo se aplica à cultura como um todo. Ela é una e diversa, como querem
nos ensinar as teorias do multiculturalismo e, ainda mais, da interculturalidade. O
multiculturalismo contempla e valoriza a diversidade e o colorido das culturas e os
aplaude. Já a interculturalidade dá um passo além, dizendo que essas culturas podem
e devem se comunicar e estabelecer trocas dialogais, pois uma não existe sem a outra:
a identidade, sem a alteridade.
A alteridade foi estudada por Buber (2001) numa perspectiva judaico-cristã, que
chamou em seu livro homônimo de “eu e tu”, como nos explica Junqueira e Rodrigues (2012):
Mas o outro humano também é misterioso em grande parte e muitas vezes nos
surpreende. Muitas vezes o outro com que nos deparamos é um elefante, e nós somos os
cegos, desejosos de o explorar e descobrir. Muitas vezes o interpretamos mal e entramos
em conflito com ele, mas nada como a re-sistência para nos oferecer um respaldo para
darmos significado a nossa ex-istência e garantirmos a nossa sub-sistência. O outro,
assim, pode nos remeter às questões essenciais da vida e ao próprio Deus.
40
Costa (2023) também faz uma aplicação da parábola dos cegos e do elefante à
religião: que todas elas são parciais e igualmente belas, e acrescentamos que todas elas
precisam se unir para dar conta do todo uno que todas elas representam.
IMPORTANTE
Não precisamos de uma grande religião que abarque todas as outras,
ela seria despótica e reivindicaria ser a única verdadeira. Precisamos unir
a causa da luta conjunta das religiões pela paz, harmonia, justiça e um
mundo melhor.
Nesse sentido, conforme nos alerta Santos (2021), o Ensino Religioso não pode ser
um corpo estranho dentro do currículo escolar, mas deve dialogar interdisciplinarmente
com as demais áreas do saber para abarcar uma porção maior da realidade e buscar a
união em torno da causa da paz mundial e da justiça social.
Esse componente, que não necessariamente tem que ser assumido por um
religioso, mas apenas por um profissional da área de humanas, de preferência de
Teologia ou Ciências das Religiões, deve ser o que mais valoriza a diversidade não
apenas religiosa, mostrando a riqueza de rituais, livros sagrados, festas, dogmas etc.,
mas também cultural, que no caso do Brasil é um prato cheio.
NOTA
Para efeito, neste material estamos usando Ciências das Religiões e não Ciência da
Religião ou Ciências da Religião. A diferença é explicitada por Rodrigues (2013, p. 234):
41
Ciências da Religião supõe o estudo do objeto religião a
partir de um conjunto de disciplinas (filosofia, ciências sociais
da religião, psicologia, história etc.), configurando a área como
de enfoque multidisciplinar (TERRIN, 2003).
Ciências das religiões (sic) designaria uma área multidisciplinar
cujo objeto seriam as diferentes religiões (FILORAMO, PRANDI,
1999; ). Não se admite que há um fenômeno singular
(denominado de religião), mas diversas religiões particulares
que devem ser consideradas em sua peculiaridade.
Essa metodologia faz frente àqueles que dizem que não se deve praticar o
Ensino Religioso na escola formal porque não é ciência. Toda ciência tem um objeto de
estudo verificável e um método de investigação. Contudo, a religião só tem o sagrado,
que não pode ser verificado. A teologia tem Deus, o que é mais difícil ainda de verificar.
Eis o traço típico das ciências relativas a fenômenos complexos que não podem
ser quantificados, nem analisados ou dissecados no laboratório. Elas não podem ser
reduzidas, a exemplo das teorias reducionistas, como as cientificistas, positivistas,
cartesianas e racionalistas querem fazer. Elas são Ciências Humanas, e como tais,
consideram toda a complexidade do ser humano em suas dimensões psicológica, social,
histórica, religiosa etc.
42
têm por objeto o fenômeno religioso, particularmente o sagrado, e muitos teóricos das
Ciências das Religiões adotaram a fenomenologia como o seu método de estudo, mas
isso, não sem polêmicas e controvérsias.
ATENÇÃO
É recente no Brasil a expressão Ciências das religiões, que surgiu da
confluência entre teologia e ciências sociais, sendo que sua metodologia
ainda não está clara.
43
Acontecimento passível de observação; manifestação, sinal, sintoma:
fenômeno da natureza.
[Filosofia] Tudo o que está sujeito à ação dos nossos sentidos, ou que
nos impressiona de um modo qualquer (física, moralmente etc.).
Aquilo que se consegue explicar de maneira científica...[Filosofia]
Absorção imaginativa de um objeto, através dos sentidos, sendo este
reconhecido (sem reflexão) pela consciência (FENÔMENO, 2023, s. p.).
Então, o fenômeno é a ocorrência como ela aparece, como ela se manifesta aos
sentidos conscientes. Isso exige de nós uma interpretação, portanto, a fenomenologia
sempre vem acompanhada de uma hermenêutica, que é a arte da interpretação.
DICA
Veja a aula inaugural de um curso de Fenomenologia da religião. Acesse
em: https://www.youtube.com/watch?v=fGmYD3v_wqo.
44
meio de uma faculdade que extrapola a razão. Antes disso, interessa
reconhecer que a religião se singulariza na experiência do crente,
razão pela qual compreendê-la requer imergir no universo das ideias
e das práticas religiosas, a fim de que pelo conhecimento dos termos
dos religiosos se faça uma aproximação, mesmo que assintótica,
do que ela significa em termos de experiência do ser-no-mundo
(RODRIGUES, 2013, p. 238).
45
Assim, o Sagrado pode ser estudado nos prédios, paisagens, símbolos e objetos
sagrados dentro do espaço religioso e deve ser respeitado como tal. Entra aí o papel do
símbolo, como portador de sentidos não apenas do sagrado, mas de todos os sentidos
que cabem no imaginário humano. Não é para menos que além de religioso e social, o
ser humano é um ser simbólico.
ATENÇÃO
Nessa abordagem fenomenológica, o professor deixa de ser o detentor do
conteúdo e passa a ser mediador de conhecimentos, que partem do que o
aluno já sabe e voltam a sua prática social, enriquecidos de saber e de uma
nova consciência, mais respeitadora e tolerante.
46
A figura a seguir representa a felicidade que pode ser alcançada com uma
religiosidade bem resolvida e respeitosa do outro e com a diversidade.
Fonte: https://elements.envato.com/pt-br/happiness-in-religion-diversity-KFY4HWG.
Acesso em: 28 jan. 2023.
ESTUDOS FUTUROS
E para garantir essa felicidade é preciso que o professor tenha uma visão de neutralidade
e análise objetiva e igualitária do fenômeno religioso. É preciso que a legislação do Ensino
Religioso não siga os ditames das instituições religiosas, mas do governo, como recomendam
as leis mais recentes, sendo que este é mais objetivo na definição do
currículo, sendo que as instituições religiosas podem apenas influenciar
as leis como consultores e a formação dos professores para o Ensino
Religioso pelas faculdades de teologia e cursos de ciências das religiões
e isso, através de entidades reconhecidas e abertas ao diálogo inter-
religioso como a ASSINTEC e o FORNAPER, às quais nos dedicaremos
na Unidade 2.
47
E paradoxalmente, a diferença entre os povos, particularmente entre as religiões,
apesar de ser o pomo da discórdia em muitos conflitos, é, ao mesmo tempo, a solução
para acabar com eles:
Apesar de a religião ter sido o motivo para violência e exclusão em todo o mundo,
o Papa João Paulo II e o Dalai Lama são unânimes em dizer que isso é uma corrupção do
verdadeiro sentido da religião, que sempre visou à paz, harmonia e colaboração entre os
povos. Os mesmos que usam a religião para cometer violência são os que a usam como
arma política para a opressão.
IMPORTANTE
O diálogo inter-religioso serve precisamente para corrigir essas distorções:
48
Com o fenômeno da globalização, as fronteiras entre os países e as culturas e o
indivíduos se apagaram e mesclaram, o que se aplica à religião, cujos símbolos “passam
a circular livremente, podendo, inclusive, ser utilizados por atores religiosos distintos”
(TEIXEIRA, 2023, p. 22).
Como lidar com as fronteiras é uma das questões mais importantes nesse
processo de conversação, que implica em reconhecer o outro em sua diferença na
semelhança, e aprender com ele. Implica ainda na aceitação incondicional do outro,
rompendo com o paradigma da competitividade e instaurando o domínio do amor.
Como já dizíamos, não se trata de criar uma religião única, capaz de abarcar
todas as outras e acabar com as diferenças, pelo que ela correria o risco de querer
tornar-se hegemônica; mas de criar uma nova consciência:
49
Para fazer frente a essas objeções, Teixeira propõe outra perspectiva de diálogo
inter-religioso, que crê ser capaz de levar à paz real:
ATENÇÃO
Ora, generosidade e gratuidade são qualidades em falta grave nos dias de
hoje, em que tudo se move em torno de interesses. A pergunta que fica é
como criar espaços para o efetivo diálogo, se estamos demasiadamente
ocupados em correr atrás de nossos interesses?
Nesse sentido, o diálogo inter-religioso não é um meio para um fim, que seria a
conversão das pessoas a determinada religião, mas apenas de todos para Deus.
50
NOTA
Em seguida, Teixeira (2023, p. 27) elenca e esmiúça algumas condições
para que o diálogo inter-religioso efetivamente aconteça, quais sejam:
a) a humildade;
b) o reconhecimento do valor da alteridade;
c) a fidelidade à tradição;
d) a abertura à verdade;
e) a capacidade de compaixão.
O autor encerra com uma convocação de todos os cristãos para uma especial
atenção ao diálogo inter-religioso, que reproduzimos na íntegra:
DICA
Assista à entrevista de Faustino Teixeira sobre o diálogo inter-religioso.
Acesse em: https://www.youtube.com/watch?v=NRqy9IRGf54.
51
E o que o diálogo inter-religioso tem a ver com o Ensino Religioso e sua didática?
Muito, diria eu. Se o Ensino Religioso não formar para o diálogo inter-religioso, conforme
explicitado aqui, para nada mais servirá. Formar religiosamente um indivíduo é prepará-
lo para abrir-se para a diversidade das religiões e dialogar com elas, engajando-se na
causa do diálogo inter-religioso, que é a metodologia por excelência para se alcançar a
paz mundial, numa sociedade globalizada e multicultural.
Assim, a aula de Ensino Religioso será esse espaço sonhado por Teixeira, do
diálogo e da parada em meio ao dia a dia corrido de cada um e da escola, para refletir
sobre coisas que nenhuma outra disciplina é capaz de parar para pensar, mas todas são
convidadas a parar para pensar em conjunto a partir do exemplo do professor de Ensino
Religioso, numa abordagem inter-, pluri- e transdisciplinar.
52
apenas de conteúdos, mas de pessoas (professores e alunos) no que podemos chamar
de diálogo. E nunca os participantes de uma aula interdisciplinar sairão os mesmos de
como entraram na aula.
Ideias como essa não devem ser uma receita de bolo, mas convido a você,
futuro professor e pesquisador de Ensino Religioso, a usar a sua criatividade para criar
atividades interessantes que possam envolver toda a comunidade escolar trazendo as
pautas da religião para o debate coletivo.
53
LEITURA
COMPLEMENTAR
CIÊNCIA DA RELIGIÃO E ENSINO RELIGIOSO. EFEITOS DE DEFINIÇÕES E
INDEFINIÇÕES NA CONSTRUÇÃO DOS CAMPOS
INTRODUÇÃO
[…] O presente artigo visa explanar a relação que vem se estabelecendo entre
Ciência da Religião e Ensino Religioso como alternativa para a tematização do tema
religioso nas escolas públicas laicas. Objetiva-se uma análise que problematize
as implicações de propor o Ensino Religioso como componente sob orientação
da Ciência da Religião. As perguntas que o orientam, pois, visam refletir: 1) Em
que medida avançamos ou não quando afirmamos que o Ensino Religioso nas
escolas deve proceder segundo uma abordagem fenomenológica? 2) O que dizemos
ser Fenomenologia da Religião atende à especificidade do Ensino Religioso-Laico? […]
54
ausência da Teologia moderna e crítica nos programas de Ciência da Religião no Brasil;
3) à forte presença de estudos empíricos na Ciência da Religião brasileira e; 4) à
lacuna de estudos que aprofundem a questão da especificidade da área de Ciência
da Religião no Brasil, em relação a outras áreas, como Sociologia, Antropologia,
Psicologia, História e Geografia.
55
Sugiro que, mesmo sob a influência da Teologia da libertação e insights do
materialismo histórico, a jovem Ciência da Religião no Brasil insere-se do campo das
Humanidades quando visa à compreensão do fenômeno religioso não exclusivamente
pelos métodos de tônica quantitativa, descritiva e ou classificatória. Uma intuição que,
em alguma medida, se alinha com o que propôs Gross ao afirmar: a Ciência da Religião
como uma área de estudos de caráter humanista e de natureza compreensiva.
Por ‘humanista’ entende-se aqui o conjunto de conhecimentos relativos ao espírito
humano que transcende a sua dimensão meramente quantitativa e explicativa.
56
interpretar o fenômeno religioso como se manifesta. Etimologicamente, o entendimento
de fenômeno denota qualquer objeto possível de experiência como aparece ou
como pode ser percebido.
57
importante autor da Ciência da Religião estrangeira: W. Brede Kristensen (1867-1953).
Com ele, a Fenomenologia da Religião, na condição de possibilidade de abordagem da
religião, se robustece com uma metodologia sistemática que prevê tanto descrição
quanto comparação, mas não apenas isso.
58
Como consequência, as análises sobre o fenômeno religioso que atinem
apenas para a parte física da religião ou para a religião como projeção de relações
sociais acarretariam entendimentos reducionistas do fenômeno e ocultariam o real
problema, que seria o do sentido. Isso posto, o fenômeno religioso seria conhecível
porque as categorias pelas quais se comunica se constituem com base num material
sensorial bruto: a vida social, a linguagem, a cultura, o contexto histórico.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
59
Em terceiro lugar, entende-se aqui que a Ciência da Religião é uma ciência
interpretativa, e isso lhe confere a dignidade de não se colocar acima de nenhuma outra
ciência, tampouco acima do tema que a move: o fenômeno religioso. Mas, porque seu
tema exclusivo é a religião e as formas como se expressa, atinando para os termos
que internamente a constituem e para a experiência dela, testemunhada nas narrativas
de quem a vivencia, entendo que a Ciência da Religião tem o potencial de servir ao
Ensino Religioso teórica e metodologicamente. Mesmo que, na condição de campos
em construção, tanto uma quanto a outra possuem na perspectiva fenomenológica
um caminho dialógico, porque compreensivo, para construção de uma aprendizagem
significativa que alimente uma sociedade pluralista e mais cidadã.
Pode-se dizer, então, que a fenomenologia constitui aquilo que une as duas
pontas e estabelece ligação entre o mundo das ideias e o ambiente escolar. Logo, falar
sobre Ensino Religioso hoje pressupõe que sua prática docente requer preenchimento,
isto é, pesquisa, estudo, observação, comparação, análise e, finalmente, compreensão.
Caso contrário, as aulas de Ensino Religioso permanecerão envolvidas no imbróglio
entre ensinar sobre religião e fazer proselitismo. Algo que no momento atual não mais
tem sentido, tendo em vista a produção científica sobre Ensino Religioso publicada e
em circulação, a trajetória da Ciência da Religião no Brasil e o recente quadro histórico
e político envolvendo a penetração e atuação crescente de religiosos na arena pública
de debates.
60
RESUMO DO TÓPICO 3
Neste tópico, você aprendeu:
• A cultura é o que diferencia o ser humano do animal e o que determina a sua forma
de viver, de se relacionar, de se vestir, de morar, de se alimentar, de trabalhar, de rezar,
de usar o seu lazer, de contemplar e criar a arte etc. E também determina a relação do
ser humano com a natureza e com a sociedade.
• Aplicado à religião, o fenômeno é tudo aquilo que se manifesta aos sentidos e que
está singularmente ligado ao sagrado.
61
AUTOATIVIDADE
1 Com base na parábola dos cegos e do elefante, compreender a diversidade cultural e
religiosa é fundamental para o Ensino Religioso de qualidade. Pensando nisso, assinale a
alternativa CORRETA:
a) ( ) A diversidade é válida por ela mesma, porque é mais interessante, colorida e divertida.
b) ( ) A diversidade sempre visa uma unidade maior que está por trás da parábola dos
cegos e do elefante.
c) ( ) A moral da parábola dos cegos e do elefante é que não existe nenhuma verdade.
d) ( ) A parábola dos cegos e do elefante quer nos ensinar que somos todos iguais e por
isso precisamos respeitar uns aos outros.
2 Não sermos donos da verdade não significa que ela não exista “lá fora” e que não
tenhamos acesso a partes dela. (Isso seria cair no relativismo.) Com base, ainda, na
parábola dos cegos e do elefante, analise as sentenças a seguir:
I - Ela quer dizer que a visão do elefante é uniforme, portanto não devemos fazer distinção
entre as formas de enxergá-lo.
II - Ela quer dizer que temos que ser humildes para aceitar a verdade dos outros, por mais
que ela possa parecer absurda para nós.
III - Ela quer dizer que ninguém é dono da verdade e que podemos chegar mais perto dela,
se unirmos as nossas visões parciais.
62
Assinale a alternativa que apresenta a sequência CORRETA:
a) ( ) F – V – V.
b) ( ) V – F – V.
c) ( ) F – V – F.
d) ( ) V – V – F.
5 De acordo com o que foi estudado nesse tópico, o diálogo inter-religioso é o caminho
a ser percorrido para se promover as bases e condições para um Ensino Religioso de
qualidade. Disserte sobre qual o papel desse movimento no Ensino Religioso.
63
REFERÊNCIAS
BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil de 1988. Brasília, DF: Pre-
sidência [da] República, [2016]. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/
constituicao/constituicao.htm. Acesso em: 26 jan. 2023.
BOFF, L. Saber Cuidar: ética do humano – compaixão pela terra. Petrópolis, RJ: Vozes, 1999.
BUBER, M. Eu e tu. Trad., intr. e notas Newton Aquiles Von Zuben. São Paulo: Centauro, 2001.
EDUCAÇÃO. In: Dicionário on-line de português. Dicio. 2023b. Disponível em: ht-
tps://www.dicio.com.br/educacao/. Acesso em 24 jan. 2023.
64
JUNQUEIRA, S. Educação e História do Ensino Religioso. Pensar a Educação em Re-
vista, Curitiba/Belo Horizonte, v. 1, n. 2, p. 5-26, jul./set. 2015.
65
66
UNIDADE 2 —
CURRÍCULO NACIONAL
E ESTADUAIS DE ENSINO
RELIGIOSO
OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM
A partir do estudo desta unidade, você deverá ser capaz de:
PLANO DE ESTUDOS
A cada tópico desta unidade você encontrará autoatividades com o objetivo de reforçar
o conteúdo apresentado.
CHAMADA
Preparado para ampliar seus conhecimentos? Respire e vamos em frente! Procure
um ambiente que facilite a concentração, assim absorverá melhor as informações.
67
CONFIRA
A TRILHA DA
UNIDADE 2!
Acesse o
QR Code abaixo:
68
UNIDADE 2 TÓPICO 1 —
DECISÃO JUDICIAL E CURRÍCULOS
ALTERNATIVOS
1 INTRODUÇÃO
Caro acadêmico, neste tema de aprendizagem, aprenderemos sobre os
argumentos que levaram à decisão judicial do STF de permitir o Ensino Religioso nas
escolas públicas e privadas do sistema de ensino oficial.
69
INTERESSANTE
Por mais que a Constituição de 1891 tenha levado a sério o laicismo, não
mencionando o Ensino Religioso, por irônico que pareça, nela o cidadão só
é considerado como tal se professar a fé católica.
O fato é que, como muito bem reforça Santos (2021), o Ensino Religioso é a
única disciplina do currículo mencionada nas Constituições e nas LDB, e sempre com o
modelo confessional católico:
Fora isso, desde 1946, a religiosidade é garantida como direito, mas a mais
recente Carta Magna é mais explícita. Conforme seu Artigo 5º,
70
Como você pode ver, a religião é um direito inviolável e esse direito reflete a
Carta dos Direitos Humanos de 1948, que diz em seu décimo oitavo artigo que:
NOTA
De acordo com a LDB 9.394/96, é assegurado o direito de prova
substitutiva àquele aluno que não pode comparecer à prova regular por
motivos religiosos.
71
Gonzalez e Dias (2022, p. 195) chamam a atenção para o fato de todas as LDB,
até hoje, mencionarem o Ensino Religioso, mas apenas a Lei 9.394/96, alterada pela
Lei 9.475/1997, o considera parte da formação cidadã, “reconhecendo a diversidade e
delegando a cada sistema de ensino o estabelecimento de normas para habilitação e
admissão do professor dessa disciplina (…)”.
IMPORTANTE
Com isso, o Ensino Religioso ficou “entre a cruz e a espada”, entre o poder
governamental e o religioso, tornando-se uma terra de ninguém, confusa e
propensa a ser tomada de assalto por algum poder religioso trasvestido de
pluralidade, mas na verdade defensor da confessionalidade. A polêmica em
torno do Ensino Religioso, particularmente o confessional em um Estado laico,
foi tanta que houve um processo, a cujo resultado nos dedicamos a seguir.
Art. 19. É vedado à União, aos Estados, ao Distrito Federal e aos Municípios:
I – estabelecer cultos religiosos ou igrejas, subvencioná-los,
embaraçar-lhes o funcionamento ou manter com eles ou seus
representantes relações de dependência ou aliança, ressalvada, na
forma da lei, a colaboração de interesse público. (...)
III – criar distinções entre brasileiros ou preferências entre si
72
Portanto, parece que o Ensino Religioso catequético e confessional, que
promove uma só religião, é inconstitucional. Isso gerou um processo junto ao STF, o que
deu um “bafafá” e tanto.
Mas a presidente, Carmem Lúcia, deu o voto de minerva dizendo que o fato de
o Ensino Religioso ser facultativo compensa qualquer confessionalidade, preservando
a liberdade do aluno que não professa a religião oferecida, de não comparecer às aulas.
A decisão judicial vale apenas para as escolas públicas, sendo que as particulares
seguem apenas o dito na LDB.
Veja como Gozalez e Dias (2022, p. 197) resumem o assunto, afirmando que
a Procuradoria Geral havia proposto, em sua Ação direta de Inconstitucionalidade,
que o Ensino Religioso não fosse vinculado a uma religião específica nas escolas
públicas e que fosse proibida a admissão de representantes das confissões religiosas
como professores. Sugeriu ainda “que a disciplina de ensino religioso, cuja matrícula é
facultativa, fosse voltada para a história e a doutrina das várias religiões, ensinadas sob
uma perspectiva laica […]”.
Mas a decisão judicial foi no sentido de permitir o ensino confessional nas escolas
públicas e que isso não feriria a laicidade do Estado. Acontece que na BNCC o Ensino
Religioso adquiriu todo um cunho não confessional, mesmo sendo ele facultativo.
73
DICA
Para uma crítica à decisão judicial, consulte o artigo Decisão do STF sobre
o ensino religioso: quem ganhou e quem perdeu? no site da UFF. Acesse em:
http://ole.uff.br/decisao-do-stf-sobre-o-ensino-religoso-quem-ganhou-e-
quem-perdeu/.
3 CURRÍCULOS ALTERNATIVOS
Historicamente, o Estado do Paraná e, especialmente, o município de Curitiba são
os que mais se interessaram em emitir pareceres e leis para regulamentar o Ensino Religioso.
DICA
Para o material disponibilizado pela prefeitura do município de Curitiba,
consulte:https://educacao.curitiba.pr.gov.br/conteudo/documentos-
er/113042.
74
Assim, podemos perceber uma ampla variedade do entendimento do Ensino
Religioso, dependendo do Estado da federação e que, portanto, o debate sobre a
laicidade do Estado ainda está longe de ser um ponto de comum acordo.
Ele começa com uma discussão de Santos (2018) sobre o “Estado Laico, a
laicidade e o Ensino Religioso”. Nele aprendemos que laicidade, laicismo e laico, longe
de significar ateu, sem religião ou contrário a ela, vem do grego laon de onde vem laicos
e que significa “o povo em sentido lato, tão abrangente ou tão universal quanto possível.
Como já mencionado, na nossa constituição, no Artigo 19, ela não pode admitir
o ensino de uma só religião, que é o modelo confessional, mas deve defender um
ensino pluralista. No entanto, a mesma lei garante a liberdade religiosa, de modo que
o Ensino Religioso nas escolas é permitido. A solução para o impasse, de acordo com
Santos (2018) é que não se confunda ensino religioso com aulas de religião, conforme já
discutido na Unidade 1 desse material.
75
II- recusar fé aos documentos públicos;
III- criar distinções entre brasileiros ou preferências entre si
(BRASIL, 1988, apud SANTOS, 2018, p. 17, grifo nosso).
Alguns acham que a consulta aos pais quanto à religiosidade dos filhos resolveria
o problema. O que essas pessoas esquecem é que, com isso, cria-se uma distinção e
um constrangimento para aqueles sem religião ou de religião minoritária, o que é uma
forma de discriminação.
A lei também diz que os conteúdos e os requisitos para a seleção dos professores
vão por conta das autoridades religiosas, o que faz surgir uma relação de dependência
entre Estado e religião.
76
IMPORTANTE
O modelo aconfessional, então, é aquele que valoriza todas as religiões,
focando no que as ciências humanas: a psicologia, a sociologia, a história, a
antropologia, a filosofia etc., têm a dizer sobre elas.
De acordo com isso, declara-se que é preciso um Ensino Religioso que supere o
dogmatismo do período da Colônia e do Império e que se abracem os ideais republicanos
da separação entre Estado e Igreja. E os articuladores preconizam que o Ensino Religioso
serve para a formação para a cidadania:
77
Tratado nesta perspectiva, o Ensino Religioso contribuirá para superar
desigualdades étnico-religiosas, para garantir o direito Constitucional
de liberdade de crença e de expressão e, por consequência, o
direito à liberdade individual e política. Desta forma atenderá um
dos objetivos da educação básica que, segundo a LDB 9.394/96, é
o desenvolvimento da cidadania (ESTADO DO PARANÁ, 2008, p. 46)
Mas a crítica mais conhecida é a de Marx (1993, p. 77-78), para quem a religião
“é o ópio do povo”, que foi influenciado por Feuerbach e por Espinoza para dizer que
ela faz parte da superestrutura ou da ideologia para alienar o povo de sua condição de
opressão. A filosofia serviria para libertação do homem dessa condição subserviente
e para a sua emancipação: “A religião é o suspiro da criatura oprimida, o íntimo de um
mundo sem coração e a alma de situações sem alma. É o ópio do povo” (MARX apud
ESTADO DO PARANÁ, 2008, p. 52).
78
INTERESSANTE
Você já parou para refletir sobre as relações entre a economia e a religião;
sobre o motivo por que a maioria dos países protestantes são desenvolvidos?
Pois é, Max Weber teorizou sobre isso, estabelecendo um paralelo entre o que
chamou de o “espírito” do protestantismo e o desenvolvimento econômico. Para ele, os
protestantes valorizam o trabalho e a máxima produtividade, dando-lhe valor de religião,
por isso, progridem.
Já Kant confessa que crê em um Deus de forma absoluta e que isso está
intimamente relacionado a sua ética:
Para Kant, Deus é uma condição da razão prática, pois toda ética precisa de um
legislador supremo e externo ao ser humano, capaz de penetrar no íntimo da consciência
de cada um, e seus representantes, os sacerdotes, devem exercer o controle moral do povo.
As Diretrizes encerram essa parte teórica falando da tribo Guarani, para quem a
religiosidade é tudo e que, tendo poucos mitos, têm muitos pensamentos a respeito do
assunto. Como as religiões indígenas, todas as religiões devem ser levadas em conta no
Ensino Religioso.
79
Paisagem Religiosa - à materialidade fenomênica do Sagrado, a qual
é apreendida através dos sentidos. É a exterioridade do Sagrado e
sua concretude, os espaços Sagrados.
Universo Simbólico Religioso - à apreensão conceitual através da
razão, pela qual concebe-se (sic) o Sagrado pelos seus predicados
e reconhece-se a sua lógica simbólica. É entendido como sistema
simbólico e projeção cultural.
Texto Sagrado - à tradição e à natureza do Sagrado enquanto
fenômeno. Neste sentido é reconhecido através das Escrituras
Sagradas, das Tradições Orais Sagradas e dos Mitos (ESTADO DO
PARANÁ, 2008, p. 58).
Já o universo simbólico religioso diz respeito aos símbolos que estão presentes
no universo humano desde que o homem se tornou civilizado e o distingue do animais,
não apenas os símbolos religiosos. Eles servem para a comunicação e, no caso dos
símbolos religiosos, para a unificação entre o universo humano e o divino.
80
Conforme os articulistas das Diretrizes:
INTERESSANTE
A força e poder das Escrituras Sagradas cristãs na nossa cultura podem
ser mensurados pela expressão de que um documento é “uma Bíblia”
para determinado grupo, querendo dizer que ele traz toda a orientação
necessária para aquele campo.
81
E quanto à metodologia e a didática, que é o que nos interessa aqui? O que o
documento diz? A metodologia é abordada na parte de encaminhamentos metodológicos
e recomenda-se efusivamente superar o modelo de ensino tradicional, conteudista e
que, num primeiro momento, se diagnostique o que os alunos sabem sobre o tema de
forma assistemática, levantando as primeiras questões relativas a ele.
ATENÇÃO
É preciso atentar também para que o ponto de vista pelo qual se abordam
as religiões seja o laico e não o religioso, sem que se privilegie nenhuma
religião específica. Atenção também para a fonte das informações veiculadas
em sala, que sejam laicas e neutras, e para a liberdade de crença do aluno.
A avaliação pode, assim, servir para medir até que ponto o conteúdo ministrado
está contribuindo para promover certas atitudes e comportamentos de respeito ao
próximo no aluno e pode servir de indicativo para o replanejamento e para a justificativa
da disciplina no currículo escolar.
82
E para encerrar, os articulistas observam:
ESTUDOS FUTUROS
Vamos falar mais sobre avaliação na Unidade 3 deste material.
Então, gostou desse tema de aprendizagem? Espera que vem mais por aí.
83
84
RESUMO DO TÓPICO 1
Neste tópico, você aprendeu:
• A Lei 9.394/96, alterada pela Lei 9.475/1997, o considera parte da formação cidadã,
“reconhecendo a diversidade e delegando a cada sistema de ensino o estabelecimento
de normas para habilitação e admissão do professor dessa disciplina...”
• A laicidade, laicismo e laico, longe de significar ateu, sem religião ou contrário a ela,
vem do grego laon de onde vem laicos e que significa “o povo em sentido lato, tão
abrangente ou tão universal quanto possível.
• BNCC o Ensino Religioso adquiriu todo um cunho não confessional, mesmo sendo
ele facultativo.
• O Ensino Religioso está longe de ser um ponto pacífico e está rodeado de polêmicas.
85
AUTOATIVIDADE
1 O que mais se enfatizou na discussão durante o processo no STF foi a confessionalidade,
ou seja, que, se uma determinada religião poderia ser ensinada nas escolas, ela seria
inconstitucional, já que vivemos em um Estado Laico. Quanto à decisão judicial do STF
sobre o Ensino Religioso confessional, assinale a alternativa CORRETA:
a) ( ) Com a decisão judicial, o Ensino Religioso passa a ser admitido somente no modelo
confessional nas escolas públicas de Ensino Fundamental.
b) ( ) Com a decisão judicial, as aulas de Ensino Religioso são consideradas constitucionais
e podem ser ministradas, inclusive no modelo confessional.
c) ( ) Com a decisão judicial, a frequência às aulas de Ensino Religioso passa a ser
obrigatória no Ensino Fundamental.
d) ( ) Com a decisão judicial, o Ensino Religioso passa a ser admitido somente no modelo
aconfessional nas escolas públicas de Ensino Fundamental.
86
( ) A laicidade do Estado implica que o professor não deve impor conteúdos, mas ser uma
ponte entre os saberes religiosos e a experiência do aluno.
( ) O professor deve ser capacitado a respeitar as diferenças e a diversidade religiosa
brasileira, se quiser ser coerente com um Estado laico.
( ) O professor deve adotar o modelo tradicional de ensino, pelo qual ele pode preservar a
cultura e as tradições cristãs, como deve ser num Estado laico.
5 O Fonaper é um órgão religioso que criou os PCNER. Por mais que ele tenha por discurso
o não proselitismo, o pluralismo e o diálogo religioso, disserte sobre o argumento de
Toledo e Amaral (2005) sobre a legitimidade desse documento.
87
88
UNIDADE 2 TÓPICO 2 -
BASE NACIONAL COMUM CURRICULAR
1 INTRODUÇÃO
Caro acadêmico, você pode se perguntar, o que representou a Base Nacional
Comum Curricular? Foi um esforço do governo, ouvidas as diversas entidades de classe,
professores, pais, sociedade civil, em criar uma plataforma única de currículo adotada por
todo o Brasil para unificar o ensino básico no país. Havia, na época de sua criação, até um
site do governo que permitia a participação de qualquer cidadão nos debates.
ATENÇÃO
Essa ênfase da BNCC no Ensino Religioso como ciência é polêmica, não só
porque se pode questionar se a religião pode receber tratamento científico,
mas também porque toda a discussão demonstra um pressuposto
positivista, como se a escola só pudesse ensinar ciências. Longe disso, como
vimos na Unidade 1, o conceito de educação, no sentido de Paidéia, envolve
a formação do ser humano como um todo, não apenas nos seus aspectos
demonstráveis e estudáveis cientificamente, mas também nos éticos,
estéticos e existenciais.
89
Gonzalez e Dias (2022) contam a história de como a BNCC passou por várias
versões, em que ora o Ensino Religioso era vinculado ao campo das Ciências Humanas,
ora era tratado como área do conhecimento isolada, sendo que na versão final ficou
como área do conhecimento, o que foi posteriormente revisto. Houve até uma versão
em que o Ensino Religioso não foi previsto. Nessa versão que suprimia essa disciplina
também foi subtraída, devido a pressões das bancadas evangélica e católica, os
termos “identidade de gênero” e “orientação sexual”, mostrando como a discussão da
inclusividade de religião também perpassa pela inclusividade de gênero:
NOTA
Como os autores destacam, a questão da “identidade de gênero” e
“orientação sexual” permaneceu de fora da BNCC da mesma forma que o
Ensino Religioso, como já havia sido excluído o problema racial. Isso servia à
ala mais conservadora da sociedade, que pretendia monopolizar o debate e
as decisões sobre esses assuntos.
Mas, afinal, qual versão devemos seguir? Neste material, vamos analisar a versão
final que levou cinco audiências públicas, de julho a agosto de 2017, para ser aprovada.
E, após uma breve introdução, o documento sempre começa com o estabelecimento de
objetivos para cada área. No caso do Ensino Religioso, os objetivos comuns estabelecidos
pela BNCC são:
90
No primeiro objetivo, chama a atenção à equiparação entre conhecimentos
religiosos, culturais e estéticos, sendo que a religião não é vista como fenômeno isolado,
mas atrelado à cultura e à arte. As palavras “manifestações” e “percebidas” sugerem a
adoção do método fenomenológico para o tratamento dos assuntos religiosos.
O segundo objetivo faz a ponte entre o Ensino Religioso, com seus direitos à
liberdade de expressão, estabelecidos na Constituição, e os Direitos Humanos, definidos
na Declaração Universal dos Direitos Humanos.
INTERESSANTE
Até que ponto um ateu, agnóstico ou sem religião pode se interessar pelo
Ensino Religioso? Eu conheço um agnóstico que é frequentador mais fiel
do culto do que muito crente. Se o Ensino Religioso tratar com respeito e
inclusão os secularistas, e se for ministrado sem proselitismo e dogmatismo,
pode atraí-los, sim, para os conteúdos do Ensino Religioso, já que eles, como
qualquer outro ser humano do planeta, possuem a dimensão religiosa e,
portanto, se importam com os temas concernentes à religião.
A religião é vista como parte da cultura. Seu ensino não deve privilegiar
nenhuma religião específica e deve considerar inclusive interpretações seculares da
vida, principalmente no Ensino Fundamental, onde deve predominar a pesquisa e o
diálogo como meios para impedir qualquer tipo de discriminação:
91
de saberes, visando o desenvolvimento de competências
específicas. Dessa maneira, busca problematizar representações
sociais preconceituosas sobre o outro, com o intuito de combater a
intolerância, a discriminação e a exclusão (BRASIL, 2018, p. 436).
92
5. Analisar as relações entre as tradições religiosas e os campos da
cultura, da política, da economia, da saúde, da ciência, da tecnologia
e do meio ambiente.
6. Debater, problematizar e posicionar-se frente aos discursos e
práticas de intolerância, discriminação e violência de cunho religioso,
de modo a assegurar os direitos humanos no constante exercício da
cidadania e da cultura de paz (BRASIL, 2018, p. 437).
Essa parte da BNCC pretende garantir que o aluno conheça as diversas religiões
e seus contextos filosóficos, científicos, éticos e estéticos. Vale aqui o conhecimento e a
habilidade de pesquisa do professor, que também pode incentivar o aluno a pesquisar. O
importante nessa competência é que nenhuma religião, em particular, seja privilegiada
e todas sejam tratadas com respeito e consideração.
93
O professor não deve tratar a religião como um fenômeno isolado, mas como
intimamente associada a essas demais áreas da vida humana, particularmente ao meio
ambiente, já que a natureza tem valor de sagrada para várias religiões.
94
Também a distribuição das unidades temáticas dá muito mais ênfase ao tema
das crenças religiosas e filosofias de vida, sendo que o professor é convidado a se educar
para não privilegiar nenhuma crença em particular.
Ainda bem que as Diretrizes dos cursos de Ciências das Religiões já preveem
a formação do professor de Ensino Religioso, de uma maneira plural e inclusiva. Os
autores reconhecem que a BNCC já tem um pressuposto científico que dá conta da
questão da laicidade, mas que ainda está muito preocupada com a transposição de
conteúdos e pouco com o currículo oculto, que traz implícitos os conflitos de interesse
das diferentes facções religiosas no Brasil.
NOTA
Como se sabe, o currículo oculto é tudo aquilo no currículo que representa o
não-dito, aquilo que é dito “pelas beiradas e nas entrelinhas”. Se o currículo é
um rio, o currículo oculto é o que se acumula nas suas margens.
95
Entretanto, muitas vezes, o Ensino Religioso tem seguido diretrizes autônomas e
independentes, promovendo o proselitismo e o dogmatismo. Por isso, ele foi incorporado
à BNCC e atrelado às Ciências Humanas. Os autores discordam da decisão do STF, de
declarar como constitucional o Ensino Religioso confessional, pois, na prática, como
acontece no Estado do Rio de Janeiro, ele é oferecido nas modalidades católica e
protestantes, ignorando as demais religiões e contradizendo o pluralismo religioso que
deve haver na matéria.
Eles também questionam a falta de definição da lei a respeito dos profissionais que
devem ministrar o Ensino Religioso, sendo que são admitidos padres, pastores, religiosos
e licenciados de várias Ciências Humanas ou religiosos sem formação nenhuma. Façanha
e Stephanini questionam, ainda, por que os livros didáticos do Ensino Religioso privilegiam
a religião cristã, sem que o MEC oriente o que eles devem ensinar.
96
Outra autora, que analisa o Ensino Religioso na BNCC, Santos (2021), pondera que
a BNCC teve várias versões e surgiu a partir de debates entre docentes e especialistas
de cada área. Ela nos faz lembrar, ainda, que a instituição de uma base curricular comum
já estava prevista na Constituição e na LDB e foi seguida dos Parâmetros Curriculares
Nacionais que não mencionam o Ensino Religioso em nenhum momento. A BNCC é
anunciada ainda no Plano Nacional de Educação.
97
Uma característica típica da BNCC é a sua ênfase nas competências, refletindo as
pesquisas mais recentes na área de educação. Quanto ao Ensino Religioso, ele foi incluído
nas Ciências Humanas na primeira e na segunda versão da BNCC, mas é dado tratamento
especial na terceira, o que, de acordo com a autora, é problemático, já que o Ensino
Religioso não é visto como parte do campo das Ciências Humanas, mas como área de
conhecimento, contradizendo as primeiras duas versões da BNCC, conforme ela explica:
ATENÇÃO
O fato de o Ensino Religioso ter sido considerado área de conhecimento e não
parte das Ciências Humanas tem várias implicações. Primeiro, que as decisões
em torno dele passam a ser assumidas por entidades religiosas e não, pela
ciência. Segundo, destrói as possibilidades de interdisciplinaridade com outras
disciplinas curriculares. E, finalmente, faz do Ensino Religioso um “estranho no
ninho” do qual ninguém tem motivação de participar, pois, de acordo com os
positivistas, tem pouca ou nenhuma utilidade na formação do aluno.
98
Felizmente, nem todas as questões em torno do Ensino Religioso na BNCC são
tão polêmicas, mas, apesar de haver uma unanimidade entre as versões da BNCC sobre
o objeto do Ensino Religioso, que seria o conhecimento religioso, não há um consenso
sobre o significado disso, da mesma forma que acontece com as Ciências Humanas, o
que tem a vantagem de elas serem adaptáveis às diferentes realidades.
99
Cabe observar que a definição apresentada pelas primeira e segunda
versões da BNCC (BRASIL, 2015a, 2016a) não consideram o Ensino
Religioso uma transposição didática das Ciências da Religião
(JUNQUEIRA, 2013), mas uma abordagem diferenciada dos temas
que serão trabalhados pelas Ciências Humanas. A terceira versão do
texto (BRASIL, 2018) demarca as Ciências da Religião como espaço
preferencial de produção do conhecimento. A definição de uma ciência
como referência pode ser considerada um ganho para o conteúdo,
uma vez que lhe demarca a identidade e a validação científica. E, em
certa medida, lhe provê um espaço de construção do conhecimento
separado dos outros conteúdos que integram as Ciências Humanas
– o que é, no mínimo, irônico, posto que para a CAPES as Ciências da
Religião integram a Grande Área de Ciências Humanas (MINISTÉRIO DA
EDUCAÇÃO, 2018c apud SANTOS, 2021, p. 11).
100
A autora conclui que os documentos oficiais concordam que o Ensino Religioso
contribui para a formação do indivíduo para a cidadania e para uma presença da religião
de forma mais inclusiva na sociedade, que combata toda forma de violência e que seja
diversa e respeitosa das diferenças. Assim, o Ensino Religioso se mostra benéfico desde
que seja de uma maneira não confessional, como querem as manifestações populares
em torno do Ensino Religioso:
ATENÇÃO
Podemos concluir que a BNCC representa um avanço nas discussões em
torno do Ensino Religioso, pois, mesmo ele sendo ainda confessional em
vários Estados do Brasil, preconiza um ensino que vai além das aulas de
religião catequéticas, que promova o diálogo, o pluralismo e o respeito
às diferentes religiões. Entretanto, ainda não se tem um mecanismo para
garantir o não proselitismo e a efetiva inclusão de todas as religiões no
diálogo a respeito do currículo, que é uma prerrogativa dos movimentos
sociais e das entidades como a Assintec e o Fonaper de promoverem.
101
102
RESUMO DO TÓPICO 2
Neste tópico, você aprendeu:
• O currículo oculto é tudo aquilo no currículo que representa o não-dito, aquilo que é
dito “pelas beiradas e nas entrelinhas”.
• A BNCC passou por várias versões, em que ora o Ensino Religioso era vinculado ao campo
das Ciências Humanas, ora era tratado como área do conhecimento isolada, sendo que
na versão final ficou como área do conhecimento, o que foi posteriormente revisto.
103
AUTOATIVIDADE
1 Dentre os objetivos comuns estabelecidos pela BNCC para o Ensino Religioso, o
primeiro, chama a atenção à equiparação entre conhecimentos religiosos, culturais
e estéticos, sendo que a religião não é vista como fenômeno isolado, mas atrelado à
cultura e à arte Quanto ao que a BNCC estabelece sobre o Ensino Religioso, assinale a
alternativa CORRETA:
a) ( ) A BNCC preconiza que o Ensino Religioso deve ser confessional em todo o país.
b) ( ) A BNCC diz que o Ensino Religioso deve ser de frequência obrigatória para os alunos
das escolas públicas de todo o país.
c) ( ) A BNCC diz que a avaliação da disciplina Ensino Religioso é válida e pode redundar
em aprovação ou reprovação do aluno da escola pública de todo o país.
d) ( ) A BNCC diz que o Ensino Religioso deve ser pluralista e que deve promover o diálogo
entre as alteridades e religiões de todo o país, de forma inclusiva e solidária.
I - Um dos objetivos do Ensino Religioso na BNCC é que ele seja atrelado a valores e
princípios éticos, além da cidadania, pela qual é associado aos direitos humanos.
II - Um dos objetivos do Ensino Religioso é promover o cristianismo, particularmente o
católico, como religião mais qualificada para cuidar da formação moral dos educandos.
III - Um dos objetivos do Ensino Religioso é contribuir para o diálogo entre os que creem em
diversas religiões, incluindo aqueles que não seguem nenhuma.
104
( ) Na versão final da BNCC, a religião, que é o objeto do Ensino Religioso, não é classificada
como ciência, sendo que recebe um tratamento diferenciado no currículo que é
proposto para as escolas.
( ) É preciso que os professores sejam treinados em cursos de capacitação para que
ponham em prática o que é proposto para o Ensino Religioso na BNCC.
( ) A BNCC preconiza um Ensino Religioso emancipador, capaz de formar o cidadão crítico
consciente, que escreve sua própria história.
4 A última versão da BNCC (2018) trata o Ensino Religioso como área de conhecimento e
não ciência humana. Disserte sobre as dificuldades que isso pode trazer para o campo e
para a legitimidade do Ensino Religioso no currículo escolar.
5 Os objetivos da BNCC falam em inclusão das visões de mundo secularistas. Disserte sobre
a possibilidade de um ateu, agnóstico ou sem-religião interessar-se pelos conteúdos do
Ensino Religioso.
105
106
UNIDADE 2 TÓPICO 3 -
INSTITUIÇÕES DE PROMOÇÃO
DO ENSINO RELIGIOSO
1 INTRODUÇÃO
Caro acadêmico, para começar, vou contar uma história da sabedoria budista,
chamada “reconhecendo o verdadeiro valor”:
Havia dois povos divididos por um rio, que irrigava a cultura de ambas as
comunidades. Certo dia, houve uma seca e a água não dava mais para irrigar a terra de
todos. Assim, os povos começaram a brigar entre si, até declararem guerra.
O Buda resolveu, então, fazer uma visita, e perguntou para os líderes de ambos
os povos o que era mais precioso para eles: o sangue dos seus súditos ou a água do
rio. Ambos concordaram que o mais valioso era o sangue do povo. Portanto, concluiu
o Buda, não vale a pena colocar em risco uma coisa mais valiosa por uma, menos. Foi
assim que os povos resolveram fazer as pazes e dividir a água até que, no ano seguinte,
voltou a chover e houve água suficiente para todos.
DICA
Veja essa e mais histórias budistas em: http://www.maisbelashistoriasbudistas.
com/historia.htm. Acesso em 25 mar. 2023.
107
Essa história se aplica à relação entre as religiões, que muitas vezes guerreiam
entre si, pois não vale a pena aplicar a violência em nome de um Deus justo e bondoso.
Isso é, até mesmo, contraditório. Devemos usar da solidariedade para dividir o poder até
que ele seja suficiente para todas as partes interessadas.
No caso do Ensino Religioso, ele ficou por conta da Igreja Católica Apostólica
Romana desde a época da Colônia até recentes dias, em que entidades se mobilizaram
para contribuir ao debate do Ensino Religioso, como a Assintec, de origem religiosa, à
qual vamos nos dedicar no próximo item.
Já no item final, vamos falar do Fonaper, que tem um cunho mais acadêmico e
é formado por professores e especialistas da área, com várias vinculações religiosas ou
nenhuma. É importante, nesse percurso, você entender que a sociedade não é dirigida
apenas por forças políticas oficiais e externas, distantes do nosso dia a dia e que vêm
de cima para baixo, mas também por movimentos que vêm diretamente do povo e que
tentam contrabalançar as forças que tradicionalmente ditam as regras do jogo político.
Vamos lá?
2 ASSINTEC
108
Para se descobrir algo sobre uma instituição, nada como começar com o que
ela fala de si mesma. Segundo o site da Assintec (2023a), essa é uma “Entidade civil de
caráter educativo e cultural” com sede em Curitiba, que foi fundada oficialmente em 2
de janeiro de 1973, em decorrência dos esforços do grupo ecumênico de Curitiba, ligado
à Igreja Católica Apostólica Romana. A data comemora o convênio da entidade com
a Secretaria Estadual de Educação do Paraná e a Secretaria Municipal de Educação
de Curitiba. Ela passou por várias fases e, hoje, tem por missão promover “o Ensino
Religioso, o diálogo inter-religioso e o respeito às diferenças culturais e religiosas.” Ela
Eis a sua “Carta de Princípios” (ASSINTEC, 2005, s. p.), que é uma declaração de
intenções e valores, os quais comentaremos a seguir:
109
• Nenhum indivíduo será discriminado, constrangido ou censurado
por causa de sua Fé, de suas crenças ou práticas religiosas.
Não é só o indivíduo que tem liberdade religiosa, mas também os grupos, que
devem dialogar entre si e não guerrear para chegarem a pontos comuns de luta por uma
sociedade mais igualitária e justa.
Mais uma vez, a Carta mostra harmonia com a legislação, que na LDB 93934/96
proíbe qualquer forma de proselitismo.
110
Então, claramente a instituição quer promover todos os valores até aqui
defendidos por nós quanto ao pluralismo e o diálogo inter-religioso e, por outro lado,
foca na questão do Ensino Religioso. Mas de onde surgiram esses valores? Surgiram
de atividades isoladas de cunho filantrópico e religioso. Foi nesse contexto, numa
campanha de combate à fome, que surgiu a ideia da Assintec:
É uma pena que essas atividades muitas vezes são restritas ao Estado do
Paraná e à cidade de Curitiba. O informativo traz ainda o depoimento de pessoas que,
de uma forma ou de outra, usufruíram das atividades da Assintec e tiveram sucesso em
suas carreiras na área do Ensino Religioso.
111
praticavam uma educação proselitista e dogmática, apesar desse modelo, na época, já
ter sido questionado pela sociedade pluralista. Contudo, a falta de regulamentação e de
cursos de licenciatura para professores de Ensino Religioso fez com que as entidades
religiosas ditassem as regras.
112
tradições religiosas e evidencia-se ainda o distanciamento do Ensino
Religioso das demais disciplinas escolares.
Cumpre destacar que, desde 1995, os debates instaurados pelo Fórum
Nacional Permanente do Ensino Religioso – Fonaper, constituído por
um grupo de educadores ligados às escolas, entidades religiosas,
universidades e secretarias de educação, permitiam rever e avaliar
os aspectos relativos ao Ensino Religioso, trazendo para o debate
a diversidade cultural e religiosa brasileira, bem como buscando
encaminhamentos para uma nova forma curricular desta disciplina
(ASSINTEC, 2023b, p. 9-10).
113
entendida como princípios e condutas de religiões específicas, e o
conhecimento religioso, passível de transmissão pela escola. Em
virtude da ausência de uma legislação nacional, o Fonaper passou
a ter atuação destacada na regulamentação do conteúdo do ensino
religioso, inclusive na inclusão do ensino religioso na Base Nacional
Comum Curricular (BNCC) (GONZALEZ; DIAS, 2022, p. 196).
Quanto ao seu histórico ainda, o site do Fonaper informa que a entidade foi
instalada em 1995, por ocasião da 29ª assembleia do CIER (Conselho de Igrejas para o
Ensino Religioso), uma instituição ecumênica de 25 anos de existência, que contou com
a presença de 42 instituições religiosas e educacionais. Foram colhidas sugestões para a
Carta de Princípios do Fonaper e criou-se uma comissão para redigir e aprovar a mesma.
Ela se centra no direito do aluno a um Ensino Religioso aberto para o transcendente e na
reflexão livre, sem descriminações. A Carta diz o seguinte:
1. Garantia que a Escola, seja qual for sua natureza, ofereça Ensino
Religioso ao educando, em todos os níveis de escolaridade,
respeitando as diversidades de pensamento e opção religiosa e
cultural do educando;
2. Definição junto aos Sistemas de Ensino do conteúdo
programático do Ensino Religioso, integrante e integrado às
propostas pedagógicas;
3. Contribuição para que o Ensino Religioso expresse sua vivência
ética pautada pela dignidade humana;
4. Exigência de investimento real na qualificação e capacitação de
profissional para o Ensino Religioso, preservando e ampliando
as conquistas, de todo magistério, bem como garantindo
condições de trabalho e aperfeiçoamentos necessários.
(FONAPER, 2023, s. p.)
114
epistemológicos e históricos associados ao Ensino Religioso e às práticas religiosas,
sem privilegiar nenhuma religião em particular. Neles ainda, se lançam os fundamentos
do Ensino Religioso adaptados à legislação em vigor. O texto do site conclui que:
Com base nos seus princípios, o Fonaper foi atuante nesses mais de 25 anos
de existência, com um papel essencial, por exemplo, nos debates sobre o Acordo
Brasil-Santa Sé (2009), e na formulação da BNCC. Inclusive, ele mobilizou a sociedade
para a inclusão do Ensino Religioso na BNCC, contatando e acionando “instituições
privadas, religiosas, secretarias de educação, além de faculdades e universidades que
possuíam cursos de graduação ou stricto sensu em Ciências da Religião” (GONZALEZ;
DIAS, 2022, p. 200).
A sua principal missão foi a de criar Parâmetros para o Ensino Religioso logo
após a promulgação da LDB 9.394/96, de forma a acabar com o ensino proselitista e
dogmático, transformando o Ensino Religioso em uma disciplina do currículo, como
todas as outras. Segundo Toledo e Amaral (2005), o objetivo do Fonaper foi de combater
o sentido proselitista do Ensino Religioso, desvinculando-o da Igreja Católica e assim,
solucionando o impasse da inconstitucionalidade do Estado laico oferecendo ensino
confessional e assim também o do ônus aos cofres públicos.
De acordo com Santos (2021, p. 10-11), a existência do Fonaper pode estar ligada
à falta de discussão da questão da laicidade na BNCC, talvez porque a questão estava
resolvida para os integrantes do Fonaper, como explica o autor:
115
Conclui-se, portanto, que os redatores optaram por não levar a
discussão sobre o conceito de laicidade para o documento – embora
não tenham, em nenhum momento, feito afirmações contraditórias
sobre essa premissa. Por ocasião de futuras revisões da BNCC, seria
importante inserir essa discussão. Em primeiro lugar, porque ajuda
o leitor a compreender os objetivos do Ensino Religioso. Depois,
porque o desenvolvimento epistemológico que se espera para o
conteúdo poderá alimentar outras correntes teóricas, e as premissas
do Fonaper podem deixar de ser hegemônicas em nosso país.
Vamos analisar, agora, o documento que o Fonaper ajudou a criar: os PCN de ER.
Afirma-se ainda que não se deve ensinar práticas e regras de comportamento no Ensino
Religioso, pois elas fazem parte das religiões específicas. E que, como todo conhecimento, ele
se constrói no diálogo com outros saberes, sendo, por excelência, interdisciplinar.
116
Em “culturas e tradições religiosas” são estudadas as tradições religiosas e suas
explicações para a existência humana, sua ética, sua teodiceia, tradições naturais e
reveladas, a partir da confluência entre filosofia, história, psicologia e sociologia nas
tradições religiosas, sem que se delimite “de maneira absoluta e definitiva um critério
epistemológico unívoco” (VIESSER, 1997, s.p.).
117
Rituais: a descrição de práticas religiosas significantes, elaboradas
pelos diferentes grupos religiosos;
Símbolos: a identificação dos símbolos mais importantes de cada
tradição religiosa comparando seu(s) significado(s);
Espiritualidades: o estudo dos métodos utilizados pelas diferentes
tradições religiosas no relacionamento com o Transcendente, consigo
mesmo, com os outros e o mundo (VIESSER, 1997, s.p.).
Essa moral está iluminada pela ética, cujas funções são muitas,
salientando-se a crítica e a utópica. A função crítica, pelo discurso
ético, detecta, desmascara e pondera as realizações inautênticas
da realidade humana. A função utópica projeta e configura o ideal
normativo das realizações humanas (VIESSER, 1997, s.p.).
Aqui os conteúdos são determinados pela alteridade (ou relação com o outro),
valores e limites estabelecidos por cada tradição religiosa. Esse tratamento didático
dado aos conteúdos do Ensino Religioso visa, como qualquer outra disciplina curricular,
respeitar a liberdade de expressão e evitar o proselitismo, valorizando a pluralidade e a
diversidade das religiões.
É preciso observar aqui que ética se distingue da moral por se referir aos
princípios gerais e universalizáveis da conduta humana e não a práticas pontuais e
circunstanciais. Nesse sentido, o ensino da ética é muito diferente da doutrinação ou do
mero “moralismo” que caracteriza tantas aulas de catequese.
118
Os articulistas do documento também se preocuparam em combater os
modelos confessional e interconfessional preconizados pela LDB, pois não refletem
mais a realidade brasileira e promovem o proselitismo. Para isso, foi preciso redefinir
o termo “religião” de “religação” para “releitura”. em outras palavras, não se trata mais
de uma vinculação do indivíduo à divindade específica de uma religião, mas de uma
interpretação do mundo, a partir da religião em seu sentido universalizável.
NOTA
O Ensino Religioso foi instituído como “disciplina escolar” pelo Resolução CNE/
CEB nº 04/2010 e a Resolução CNE/CEB nº 07/2010, que o reconheceram
como uma das cinco áreas de conhecimento do Ensino Fundamental.
119
ATENÇÃO
Na religião, como em qualquer outro campo de poder, existe o grupo
que detém a supremacia, ou domínio hegemônico. O grupo político no
poder precisa do poder de persuasão hegemônico, ou, especificamente,
das instituições civis que formam a opinião pública, para criar o consenso
necessário as suas investiduras políticas. “O Estado obtém e exige
consenso, mas também educa esse consenso” (Gramsci, 1991, p.230). Isso
é feito através da sociedade civil, que representa o aparelho de criação
de consenso, enquanto a sociedade política detém o poder de coerção
(TOLEDO; AMARAL, 2023, p. 6).
Mas qual foi e tem sido, você poderia perguntar, a reação da Igreja a essas
ameaças a sua hegemonia e poder? Com a modernidade e os desafios por ela
impostos, alguns segmentos da Igreja (excetuando os segmentos mais conservadores
e tradicionalistas) mudaram sua estratégia tradicional de combate à modernidade, para
defensores dos direitos do homem e combatente do proselitismo, coisa de que todas as
religiões podem se beneficiar.
120
Também é possível ver as semelhanças dos PCNER com “as diretrizes atuais
dos Jesuítas, contidas na Congregação Geral XXXIV (1995) da Companhia de Jesus”
(TOLEDO; AMARAL, 2023, p. 10), que falam em “diálogo inter-religioso”, pluralismo e
promoção da justiça.
Os autores resolvem que a questão do Ensino Religioso não pode ser definida com
base em direitos atribuídos ao indivíduo particular, sendo que os interesses privatistas não
podem sobrepujar os públicos numa república, muito menos na Escola Pública. Então, eles
são contra o Ensino Religioso nas escolas e contra a orientação oferecida pelos PCNER,
por serem representantes de interesses particularistas católicos. E resumem:
121
Como podemos ver, o Fonaper, assim como a Assintec, contribuiu muito para o
avanço no campo do Ensino Religioso. Se quisermos comparar a Assintec ao Fonaper,
poderíamos dizer que eles têm Cartas de Princípios semelhantes e, também, uma missão
parecida, mas o Fonaper tem um pano de fundo mais isento e científico e, assim, pode
contribuir mais efetivamente para um Ensino Religioso pluralista e aberto ao diálogo.
Nesse sentido, temos que lembrar aqui também dos movimentos sociais, que
assumem um papel fundamental na defesa dos interesses da sociedade contra as
políticas hegemônicas que tendem a calar as minorias e sua defesa de direitos. Sem
esses movimentos e a bandeira que eles levantam, a sociedade seria mais injusta e
excludente e com eles muito mais vozes são ouvidas, pondo em prática os princípios de
diversidade e pluralismo da sociedade democrática.
Bons estudos!
122
LEITURA
COMPLEMENTAR
ORGANIZAÇÕES RELIGIOSAS
Valmir Biaca
[…]
123
Algumas organizações têm uma participação mais efetiva das mulheres e
outras menos, dependendo da sua estrutura interna, de sua doutrina e dos seus
preceitos. Existem religiões patriarcais onde o papel do homem na hierarquia religiosa
é preponderante (religião católica: Papa, Bispo, Padre) e outras em que as funções mais
importantes são próprias das mulheres e por isso são matriarcais (Religiões de matriz
africana: Mãe de Santo, Ialorixá).
[...]
124
Estão organizados em duas partes sendo a parte administrativa, como qualquer
Organização Não Governamental: Conselho diretor, Conselho fiscal, Presidente, Secretário
e Tesoureiro, eleitos pela assembleia de membros associados; e a parte Doutrinaria/
Religiosa: Temos um Conselho, eleito pela assembleia dos associados, dirigido por um
presidente, que por sua vez escolhe os dirigentes dos setores de estudos e práticas
Espíritas da Entidade.
[…]
A primeira questão que temos que ter em mente é que o conceito de religião
adotado pela tradição judaico cristã no ocidente. As religiões nativas se organizam de
uma forma diferente da chamada religião moderna. As categorias de sagrado e profano
não se aplicam da mesma forma, pois nas religiões nativas tudo aquilo que é considerado
profano para as religiões modernas é também sagrado para as nativas, contemplando
assim todos os aspectos da vida, sendo que a vivência cotidiana e suas expressões
religiosas formam todo um sistema de representações simbólicas do qual emerge sua
espiritualidade nativa.
Da mesma forma temos que atender para o fato de que o conceito de religião
dos povos nativos se diferencia da ideia de religião como religare, ou religação, ou seja,
no sentido propriamente religioso do termo; e religião como religiosus, que remete a
uma concepção de caráter predominantemente ético-jurídico. Na primeira acepção
“religião procede de religio, vocábulo relacionado com religatio que é a substantivação
de religare (religar; vincular; atar). A condição de ser religioso é estar religado a Deus
e, portanto, subordinar-se à divindade. contempla todos os aspectos da vida, sendo
que a vivência cotidiana e suas expressões religiosas formam todo um sistema de
representações simbólicas do qual emerge sua espiritualidade.
Assim, as religiões nativas não possuem uma estrutura humana organizada nos
mesmo moldes que as demais organizações religiosas. Tratando especificamente dos
povos indígenas Guarani, eles possuem uma espécie de curandeiro chamado Xamoi (pajé),
mas que não possui autoridade sobre os membros do clã, ele é uma sábio conhecedor das
125
plantas que curam, que dá conselhos e contas (sic) histórias sobre os antepassados. Na
estrutura hierárquica de cada povo indígena possui mitos e tradições particulares, e em
algumas delas existem figuras e heróis que marcam sua espiritualidade.
126
pelos sacerdotes, na sua vida religiosa e na vida religiosa do terreiro sob a sua direção.
Atualmente, devido a expansão dessas religiões de cultos afro-brasileiros, muitos líderes
religiosos não são de origem africana.
Assim, é digno de nota, nem sempre os parentes, mesmos os mais próximos, são
contemplados nesse “testamento”. Isso ocorre para provar a isenção de ânimo com que
são escolhidos os “herdeiros”, levando-se em conta, apenas, seus dotes e qualidades
dentro da lei dessa tradição religiosa. De modo geral, a hierarquia em um terreiro de
candomblé é a que se segue: Babalorixá: é o pai-de-santo (sic). Compete-lhe exercer
toda a função característica do seu cargo: presidir rituais; preparar e iniciar “filhos de
santo” dentro do ritual próprio, preparar os Orixás e “assentos” respectivos; resolver
qualquer questão surgida dentro do terreiro ou de pessoas que a ele recorram; observar
e corrigir a execução de todos os preceitos do ritual que pratica; marcar o ritmo a ser
observado e obedecido pelos tocadores de ilús (tambores), ensinar, educar e corrigir os
“filhos de santos” por ele feitos na prática e execução dos preceitos.
Alguns, ainda, praticam a cura, devido à carência de médicos nos locais em que
habitam e, também, por opção própria, o que leva seus filhos doentes a recorrerem aos
seus conhecimentos do emprego de ervas e plantas, bem como dos rituais de cura.
Ialorixá: é a mãe de santo, líder dos terreiros, com função, atribuição e direitos idênticos ao
do babalorixá. Ogã Kalofé: “padrinho” escolhido pelos Orixás, “confirmado e entronizado”,
tem deveres para com o terreiro. Recebe as mesmas homenagens e o mesmo respeito que
o babalorixá ou ialorixá. Ogã-nilu: batedor de atabaque. Ogã-alabê: chefe dos tocadores
de atabaque. Axogum: responsável pelo sacrifício de animais ofertados aos orixás. Ebômi:
filha de santo, com mais de 7 anos de feita. Equede: encarregada de organizar as festas;
cuidar dos orixás “incorporados” e de seus objetos. Iaô: noviça, “filha de santo” recém-
feita. Ialaxé: zeladora dos “axés”. Iabassé: cozinheira dos orixás.Peji-gã: organizador da
ordem geral dos preceitos. Exi de Orixá: filho de santo em geral.
[...]
Fonte: http://www.ensinoreligioso.seed.pr.gov.br/arquivos/File/boletins_informativos_assintec/informati-
vo_assintec_39.pdf. Acesso em: 13 abr. 2023.
127
128
RESUMO DO TÓPICO 3
Neste tópico, você aprendeu:
129
AUTOATIVIDADE
1 A Associação Inter-religiosa de Educação (Assintec), como o próprio nome diz, visa ao
intercâmbio entre as religiões em torno da educação. Seu caráter não é confessional,
mas inter-religioso, ou seja, envolve e diz respeito a todas as religiões. Com relação
ao papel da Assintec na operacionalização do Ensino Religioso no Estado do Paraná,
particularmente na cidade de Curitiba, assinale a alternativa CORRETA:
a) ( ) Ela contribuiu e contribui com consultoria às SME e à SEE do Paraná e com cursos e
materiais didáticos e de formação de professores concernentes ao Ensino Religioso.
b) ( ) Ela foi a única a propor a redação da nova LDB9.394/96, que prevê o Ensino Religioso
como obrigatório para a oferta e facultativo para a participação.
c) ( ) Ela foi a única a propor a redação da BNCC quanto ao Ensino Religioso e contribui
para a sua implantação nas escolas.
d) ( ) Ela foi contratada para redigir exclusivamente os PCNER que o governo não teve
competência para redigir por si mesmo.
130
3 Foram colhidas sugestões para a Carta de Princípios do Fonaper e criou-se uma comissão
para redigir e aprovar a mesma. Ela se centra no direito do aluno a um Ensino Religioso
aberto para o transcendente e na reflexão livre, sem descriminações. Quanto à Carta de
Princípios do Fonaper, classifique V para as sentenças verdadeiras e F para as falsas:
( ) Garantia que a Escola, seja qual for sua natureza, ofereça Ensino Religioso ao educando,
em todos os níveis de escolaridade, respeitando as diversidades de pensamento e
opção religiosa e cultural do educando.
( ) Exigência de investimento real na qualificação e capacitação de profissional para o
Ensino Religioso, preservando e ampliando as conquistas, de todo magistério, bem
como garantindo condições de trabalho e aperfeiçoamentos necessários.
( ) Garantia que a Escola, seja qual for sua natureza, ofereça Ensino Religioso ao educando,
em todos os níveis de escolaridade, respeitando as diversidades de pensamento e
opção religiosa e cultural do educando.
4 De acordo com o site do Fonaper, uma das frentes de luta da instituição é o combate ao
racismo estrutural, que o Brasil tem a chance de vencer. Discorra num texto dissertativo,
como o Ensino Religioso pode ajudar a combater o racismo no Brasil, considerando a
contribuição das instituições de apoio a ele existentes no país.
131
REFERÊNCIAS
ASSINTEC. Assintec, 2005. Carta de princípios. Disponível em: http://www.assintec.
org/principios-da-assintec. Acesso em: 13 abr. 2023.
132
FAÇANHA, M. B., STEPHANINI, V. Aspectos do Ensino Religioso na Base Nacional Co-
mum Curricular: os fundamentos para educação de qualidade. Rev. Pistis Prax. Teol.
Pastor., Curitiba, v. 13, n. 1, p. 477-496, jan./abr. 2021. Disponível em: https://fonaper.
com.br/wp-content/uploads/2021/06/ASPECTOS-DO-ENSINO-RELIGIOSO-NA-BASE-
-NACIONAL-COMUM-CURRICULAR.pdf. Acesso em: 4 fev. 2023.
FONAPER. Fonaper, c2023. Seu direito, nossa luta. Disponível em: http://fonaper.com.
br. Acesso em: 7 fev. 2023.
ONU. Organização das Nações Unidas. Declaração Universal dos Direitos Humanos
[1948]. Adotada e proclamada pela resolução 217 A (III) da Assembleia Geral das Na-
ções Unidas, Brasília, 1998. Representação da Unesco no Brasil. Disponível em: https://
www.oas.org/dil/port/1948%20Declaração%20Universal%20dos%20Direitos%20Hu-
manos.pdf. Acesso em: 11 abr. 2023.
133
SANTOS, T. B. dos. O ensino religioso no projeto dos colégios fundados pelo
protestantismo de missão em Belo Horizonte/MG: um estudo das concepções,
práticas e perspectivas. 2019, 329 p. TCC (Pós-Graduação em Ciências da Religião) –
Universidade Católica de Minas Gerais, Belo Horizonte, 2019.
TEIXEIRA, M. Conjur, 2017. Por maioria, Supremo permite ensino religioso confessional
nas escolas públicas. Disponível em: https://www.conjur.com.br/2017-set-27/stf-per-
mite-ensino-religioso-confessional-escolas-publicas. Acesso em: 1 fev. 2023.
134
UNIDADE 3 —
ELEMENTOS DA DIDÁTICA
E METODOLOGIA DO
ENSINO RELIGIOSO
OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM
A partir do estudo desta unidade, você deverá ser capaz de:
PLANO DE ESTUDOS
A cada tópico desta unidade você encontrará autoatividades com o objetivo de reforçar
o conteúdo apresentado.
CHAMADA
Preparado para ampliar seus conhecimentos? Respire e vamos em frente! Procure
um ambiente que facilite a concentração, assim absorverá melhor as informações.
135
CONFIRA
A TRILHA DA
UNIDADE 3!
Acesse o
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136
UNIDADE 3 TÓPICO 1 —
PROJETO PEDAGÓGICO
E ENSINO RELIGIOSO
1 INTRODUÇÃO
Caro acadêmico, neste tema de aprendizagem, vamos nos dedicar à teoria do
Projeto Pedagógico, criada no contexto do Planejamento de Ensino. Vamos discutir o
seu sentido e objetivos, suas funções e elementos constituintes especificamente para
o Ensino Religioso.
E você estará certo com sua reação de estranheza, pois a ideia não veio do meio
educacional e, sim, empresarial. Já ouviu falar de Planejamento Estratégico na área de
administração? Pois é, o Projeto Político Pedagógico (PPP) se inspira nele.
137
O Plano Diretor envolvia o calendário escolar, a infraestrutura de escola e previsões
orçamentárias, dentre outros, mas o PPP inclui muito mais do que isso, como veremos.
Em seguida, vamos aos objetivos, que são verbos que podem seguir a Taxonomia
de Bloom para serem elaborados e que não devem se concentrar naqueles em que o
sujeito seja o professor, o que refletiria um ensino bastante tradicional, concentrado no
professor, e não no aluno.
NOTA
A classificação proposta por Bloom dividiu as possibilidades de aprendizagem
em três grandes domínios: o cognitivo, o afetivo, e o psicomotor. Por isso a
classificação de Bloom é denominada hierarquia: cada nível é mais complexo
e mais específico que o anterior.
138
Os objetivos da Taxonomia de Bloom são todos centrados no aluno. E temos um
detalhamento na figura a seguir:
A seguir, temos o conteúdo, que talvez fosse a primeira coisa a ser analisada, mas
que não deve ser conteudista. Ele deve seguir as Diretrizes e Parâmetros Curriculares
Nacionais, bem como a BNCC da disciplina, conforme vimos na Unidade 2 deste material.
É bom, ainda, acrescentar uma bibliografia das obras consultadas para o Plano
de Ensino e necessárias para as aulas.
DICA
Para um exemplo de plano de ensino anual, consulte https://cutt.ly/
e719vdm. Acesso em: 30 mar. 2023.
Para dicas de como planejar no ensino religioso, veja: https://youtu.be/
m1KZf4ErSW0. Acesso em: 30 mar. 2023.
139
Mas se o Planejamento de Ensino envolvia tudo isso, porque inventar mais o
PPP? Vamos consultar os especialistas?
De acordo com Nogueira (2009), o PPP não serve apenas para cumprir o que
reza a LDB 9394/96, que o torna obrigatório nas escolas de todos os níveis e não deve
ser mais um papel na gaveta do diretor de escola e do coordenador de curso.
O autor admite que nós, educadores, muitas vezes vivemos no mundo dos
sonhos, sem estratégias para colocá-los em prática e, ao invés de aproveitar os
momentos semestrais de planejamento para isso, essas reuniões acabam sendo apenas
burocráticas e tediosas.
Muitos confundem metas com objetivos. Para esclarecer isso, vamos consultar
o dicionário Priberam. De acordo com ele, a meta vem do:
[...] (latim meta, -ae, cone, pirâmide, objeto cônico, marco, baliza) […]
1. Poste ou sinal que marca o ponto onde termina uma corrida (ex.:
o cavalo chegou à meta exausto; os dois atletas cortaram a meta
quase ao mesmo tempo).
140
3. Aquilo que constitui um ponto ou um valor que não deve ser
ultrapassado (ex.: a meta de endividamento foi ultrapassada). =
BALIZA, LIMITE, MARCO
Embora eles possam ser usados como sinônimos, a meta é algo alcançável,
tangível; e o objetivo, nem sempre.
DICA
Nogueira (2009) dá dicas e abre o caminho das pedras para a implantação
do PPP nas escolas. Recomendamos que, se você ficou interessado em
saber mais, leia o livro inteiro, que é muito prático e funcional.
Após falar sobre a postura do professor para viabilizar uma educação participativa,
citando Paulo Freire (1996) e sua Pedagogia da Autonomia, R. A. Freire (2016) aponta para
o artigo 12 da LDB 9394/96, que torna o PPP obrigatório, nos incisos I, IV, VI e VII, que falam
da participação da família e da comunidade no seu processo de elaboração:
141
Mas isso só acontece se o PPP servir para flexibilizar o currículo, revisando e
readaptando-o de tempos em tempos, em uma comunidade cheia de mudanças e novas
realidades e numa escola em que o professor deve ser um investigador, sempre pronto
a se atualizar e capacitar e para interagir com o aluno na construção do conhecimento.
Inspirando-se em Paulo Freire (1996), o professor não deve viver na ilusão de que detém
todo o saber pronto e acabado, e deve considerar e trazer à baila os conhecimentos
prévios e a cultura do aluno.
Assim, o currículo, segundo Coll, citado por Freire (2016) passa por uma análise
da realidade nos seus aspectos pedagógicos, socioantropológicos, psicológicos e
epistemológicos. O currículo que leva em conta a realidade nesses múltiplos aspectos é
complexo e dialético, não linear, fragmentário e simplista.
Em seguida, Freire (2016) fala sobre avaliação, a que vamos nos dedicar no
subtema a seguir. Mas vamos nos demorar mais um pouco sobre o PPP e sua importância
para o Ensino Religioso.
A autora se dedica, então, à formação visada pelo PPP que é para a cidadania,
o que envolve a religião, o que se dá, ao menos nos Parâmetros Curriculares Nacionais
(PCN) pelos temas transversais:
142
DICA
Para os PCNs de 1ª à 4ª séries, consulte: https://cutt.ly/o715IHq. Acesso em:
14 fev. 2023. Para os PCNs de 5ª a 8ª séries, acesse: https://cutt.ly/j715GHw.
Acesso em: 14 fev. 2023. E o link dos temas transversais é: http://portal.mec.
gov.br/seb/arquivos/pdf/ttransversais.pdf. Acesso em: 14 fev. 2023.
No Ensino Religioso, esse pilar diz respeito a identificar as múltiplas religiões e suas
práticas, bem como reconhecer e respeitar o fenômeno religioso quando deparado com ele.
143
Quanto ao terceiro pilar:
IMPORTANTE
Esse pilar é particularmente importante no Ensino Religioso, pois o convívio
pacífico entre as religiões é o maior desafio dessa parte da educação e diz
respeito diretamente à sua razão de ser, que é a paz e a solidariedade entre
as religiões. Só pelo "com-vívio" é que esses objetivos podem ser alcançados.
144
DICA
Holismo é a doutrina que concebe o indivíduo como um todo que não se
explica apenas pela soma das suas partes, apenas podendo ser entendido
em sua integridade. Também é uma concepção, nas ciências humanas e
sociais, que defende a importância da compreensão integral dos fenômenos
e não a análise isolada dos seus constituintes (HOLISMO, 2023).
Holístico, portanto é tudo aquilo que se refere à totalidade e integralidade das coisas.
E a autora resume:
Ela nos faz lembrar ainda que o grande pilar, para além de todos esses é o professor,
que precisa ser reflexivo, ou seja, precisa refletir sobre a sua prática e não há nenhuma
ferramenta melhor para isso do que o planejamento, que inclui o currículo e a avaliação
constante. Isso permite um ensino de qualidade que reflita a realidade escolar cotidiana.
Para que esse processo se dê na prática, é preciso que se criem espaços não
excessivamente burocráticos e controlados, mas efetivamente democráticos para
permitir a reflexão dos docentes sobre a sua prática pedagógica e criação de soluções
para os problemas enfrentados, lembrando que ninguém tem soluções definitivas e que
é preciso atentar para a necessidade de mudança constante para adaptação à realidade
diversa e mutante.
145
Para isso, o gestor tem que ser um líder efetivo, que não trabalha sozinho, mas
sabe orquestrar os esforços em torno dos objetivos, metas e princípios definidos no
PPP e que trabalhe em equipe e através de colegiados. Ele deve conhecer e investigar
as necessidades da escola e sempre estimular a reflexão dos professores sobre a sua
prática, sua formação continuada e a sua atuação como agentes de transformação.
• bases legais;
• modalidade de ensino;
• projetos;
• princípios e valores;
• plano de ações e metas (FREIRE, 2016, p. 60).
Considerando tudo isso, o PPP deve ser inclusivo, não apenas de pessoas com
necessidades especiais, mas de todas as minorias da sociedade, deve ser dialogal,
democrático, cidadão e com currículo flexível, adaptável às necessidades do indivíduo
bem como às “peculiaridades e necessidades regionais” (FREIRE, 2016, p. 62).
Por isso é que o Ensino Religioso é tão importante, pois permite a inclusão de
pessoas de convicções religiosas diferentes. A autora não menciona, mas não custa
acrescentar que o PPP deve levar em conta também a diversidade das crenças e
convicções religiosas, para que elas sejam consideradas e devidamente respeitadas.
146
Além disso, a autora frisa ainda que o PPP deve dar acesso à escolarização
regular de todos os discentes, respeitando as diferenças e a diversidade, reavaliando
sempre as suas práticas e ações para tomar providências corretivas sempre que
preciso. Por isso a avaliação deve ser constante, dando oportunidade ao feedback tão
necessário ao replanejamento.
3 AVALIAÇÃO DE APRENDIZAGEM
Como sempre fazemos, perguntamo-nos, no início dos subtemas o que os
termos significam. E qual é a da avaliação, afinal de contas?
DICA
Há palestras do especialista em avaliação de aprendizagem, Cipriano
Luckesi, no Youtube. Vale a pena conferir as seguintes:
Avaliação da aprendizagem – Cipriano Luckesi. Disponível em: https://www.
youtube.com/watch?v=JqSRs9Hqgtc. Acesso em: 15 fev. 2023.
SME em diálogo - Avaliação para a aprendizagem - Prof. Dr.
Cipriano Carlos Luckesi. Disponível em: https://www.youtube.com/
watch?v=OO2YscAwrqg&t=85s. Acesso em: 15 fev. 2023.
147
Isso está muito longe da má intenção que está muitas vezes por trás das
chamadas “pegadinhas” em determinadas provas, que visam “puxar o tapete” do aluno
e induzi-lo ao erro.
Está longe também do aspecto punitivo que algumas provas adquirem nas mãos
de determinados professores “linha dura” que as usam como armas ou instrumentos
de chantagem para alcançar o que desejam. Nada como ameaçar aplicar uma “prova
surpresa” para conseguir que a classe faça silêncio, por exemplo. E é assim que a mera
palavra “prova” causa tanto horror e pesadelos nos alunos.
148
Assim, o ato de avaliar pode ser comparado à investigação científica, que tem um
objeto a ser analisado. O cientista se dedica com todo afinco e usando uma metodologia
ao objeto a ser investigado. No caso da avaliação, esse objeto é um ser humano, que
deve ser levado em conta com toda a sua complexidade e subjetividade.
Luckesi (2021) usa ainda outras duas metáforas para explicar o que vem a ser
avaliação, que é a da reta, em que o ponto zero é a coisa em si, o ponto da indiferença e
polo negativo e positivo como as qualidades avaliadas sobre essa realidade. Não existe
indiferença ou neutralidade na avaliação, só a coisa em si.
O segundo passo é descrever a realidade de tal forma que ela possa ser
qualificada, através de uma coleta de dados criteriosa. E o autor compara a avaliação
sistemática com a avaliação que fazemos no cotidiano:
149
Já o terceiro passo é “atribuir qualidade à realidade descrita” (LUCKESI, 2021, p.
267), o que pode envolver diferentes níveis de subjetividade, coisa que uma avaliação
sistemática e rigorosa tenta evitar. E o autor resume:
Quanto ao uso diagnóstico, ele é o que mais damos aos resultados de nossas
ações cotidianas, automaticamente, como explica o autor:
150
Resumidamente, enquanto o uso diagnóstico subsidia a tomada de ação que
pode se dar durante o andamento da avaliação, o uso probatório estabelece o resultado
de aprovação ou reprovação do processo completo.
Finalmente o uso seletivo se dá, como o próprio nome diz, quando resulta numa
seleção, o que acontece em concursos públicos ou privados e em processos de seleção
dos melhores produtos de determinado ramo.
151
E de fato, na escola, a avaliação costuma ser no final do semestre ou do
bimestre, com resultados definitivos e classificatórios. Ela é extremamente excludente e
classificatória, valorizando a competição e a vitória dos considerados mais aptos.
IMPORTANTE
Ora, se o professor adotar uma postura diagnóstico/probatória, ele poderá
contribuir para amenizar a exclusão e promover um ensino como queria
Comênio (1592-1670), de “tudo a todos”. Uma avaliação menos probatório/
seletiva e mais diagnóstico/probatória não só permite acabar com o
afunilamento dos alunos com acesso a níveis superiores de educação,
permitindo a mais jovens ter acesso ao ensino, mas também torna o
processo avaliativo menos oneroso e penoso e mais prazeroso.
152
O autor nos faz lembrar ainda dos quatro elementos da boa educação: acolher,
nutrir, sustentar, e avaliar; sendo que o acolher implica em partir do pressuposto de que
todos podem aprender e são bem-vindos no processo; nutrir é alimentar o educando
com conteúdos de primeira; sustentar é realimentar o educando e demonstrar-lhe amor,
quando se percebe que ele não está acompanhando; e avaliar é “observar a qualidade
da aprendizagem dos estudantes e os consequentes resultados alcançados frente aos
atos de ensino” (LUCKESI, 2021, p. 398), sendo que a avaliação, se for negativa, não
servirá para excluir mas para corrigir o processo para que todos tenham a chance de
aprender. “E... certamente aprenderão com os nossos cuidados” (LUCKESI, 2021, p. 398).
O autor conclui que:
De acordo com Col (apud FREIRE, 2016) a avaliação, a princípio, deve ser
diagnóstica para se conhecer o aluno, para depois se dar pelo acompanhamento e
observação da evolução do aluno ao longo do processo de ensino-aprendizagem. Os
professores mais experientes desenvolvem uma intuição e sensibilidade especial para
as dificuldades e bloqueios dos alunos e são flexíveis o bastante para se adaptar às
suas necessidades.
A avaliação formativa, por sua vez, segundo Freire (2016), é contínua e leva em
conta todo o desempenho do aluno e não apenas um momento avaliativo específico. Ela
aplica os princípios do construtivismo, pelos quais os erros não são punidos, mas vistos
como parte do processo de aprendizado do aluno. Segundo a autora, a autoavaliação,
em que o indivíduo ou instituição se avalia a si mesma, inclusive a institucional, é uma
forma da avaliação formativa.
Já a avaliação somativa
[…] leva em conta, basicamente, os resultados, sendo essa a (sic)
ainda a avaliação mais comumente vista atualmente. Esse tipo de
avaliação traz números e conceitos objetivos que auxiliam os órgãos
gestores das escolas e do governo na tomada de decisões, uma vez
que estabelece uma classificação para a análise do aprendizado
(FREIRE, 2016, p. 20).
153
O IDEB, Índice de desenvolvimento da Educação Básica, é um exemplo de forma
de avaliação somativa, além das provas tradicionais. Infelizmente, esse tipo de avaliação
muitas vezes é usado para punir o aluno e como ferramenta para chantageá-lo.
E o famoso Enem? Ou o vestibular? Você já deve ter passado por algum deles.
São traumáticos, não são? E até que ponto realmente medem o desempenho e a
capacidade do candidato?
154
RESUMO DO TÓPICO 1
Neste tópico, você aprendeu:
155
AUTOATIVIDADE
1 Um projeto político-pedagógico é um documento que orienta as ações e decisões de
uma instituição de ensino, estabelecendo suas metas, objetivos e princípios pedagógicos.
Quanto ao Projeto Político Pedagógico assinale a alternativa CORRETA:
a) ( ) Que ele veio atualizar o Plano Diretor da Escola, sendo um documento, como
aquele, que é guardado a sete chaves no arquivo da escola e ao qual só o diretor
tem acesso.
b) ( ) Que ele é a identidade da escola, envolvendo missão, visão, objetivos, comunidade
e público-alvo e muito mais.
c) ( ) Que ele é uma condição imposta pela LDB 9394/96 que deve ser seguida cega e
mecanicamente, sem maiores discussões.
d) ( ) que ele é um documento elaborado pelo diretor da escola, que afinal de contas, a
conhece melhor e tem a maior competência para elaborá-lo.
2 Quanto aos quatro pilares da educação: aprender a conhecer; aprender a fazer; aprender
a viver junto e aprender a ser, analise as sentenças a seguir:
3 A avaliação tem um conceito que vai além do dar uma nota. Com relação ao seu conceito
discutido neste tema de aprendizagem, classifique V para as sentenças verdadeiras e F
para as falsas:
156
( ) A avaliação é unicamente o momento em que se quantifica o aprendizado com notas
de 0 a 10 e se aprova ou reprova o aluno.
( ) Avaliar é dar o aval, ou seja, é aprovar de antemão o educando, considerando suas
potencialidades.
( ) Avaliar é sempre um ato de amor, que faz parte dos elementos da boa educação que
são, além de avaliar, acolher, nutrir e sustentar.
a) ( ) V – F – F.
b) ( ) F – V – V.
c) ( ) F – V – F.
d) ( ) F – F – V.
157
158
UNIDADE 3 TÓPICO 2 -
MÉTODOS E TÉCNICAS
DO ENSINO RELIGIOSO
1 INTRODUÇÃO
Caro Acadêmico, neste tema de aprendizagem, vamos aprender e conceituar o
que é método, metodologia e o que, didática.
Vamos estudar, ainda, as tendências pedagógicas como base para que você
possa decidir qual delas abraçar. Falaremos principalmente de métodos e técnicas que
essas escolas utilizam e como elas se aplicam ao Ensino Religioso.
Mas antes de começarmos, vamos contar mais uma história budista (os budistas
são bons em contar histórias) que nos diz muito em relação à metodologia. Estava, um
dia, Buda andando pela floresta com seu discípulo Ananda e ficou com muita sede.
Pediu ao discípulo que voltasse três quilômetros até um rio que eles acabaram de passar
e colhesse água na tigela dele. Quando Ananda chegou lá, um carro de boi passou e
revolveu toda a lama da água, de modo que ela ficou imprópria para ser tomada.
Quando Ananda voltou para o Buda, Ananda sugeriu que ele fosse à frente, pois
ouviu dizer que tinha um rio, três ou quatro quilômetros mais para frente. Mas Buda
ordenou para que ele voltasse atrás, pois àquela hora o rio já estaria sem lama e que
esperasse, caso ainda estivesse impróprio para tomar.
Ananda ficou revoltado, pois a sua solução lhe parecia mais razoável, mas,
assim mesmo, obedeceu. Quando chegou ao rio, esse ainda não estava completamente
sem lama, de modo que ele teve que esperar. Daí a mais alguns minutos, a água ficou
cristalina e ele a levou ao mestre.
Ao chegar lá, agradeceu ao Buda, pois tinha aprendido uma grande lição: que
não adianta avançar, quando as coisas ainda não estão assentadas na mente e que é
melhor recuar e esperar, do que ir à frente, para o desconhecido.
159
Figura 3 – O riacho e a mente de Ananda
DICA
Veja essa história, chamada “O Riacho e a mente de Ananda” e muitas outras
em http://www.maisbelashistoriasbudistas.com/historia.htm.
Acesso em 31 mar. 2023.
160
tem várias técnicas e as ciências têm métodos e técnicas. E a ciência que estuda os
métodos é a didática. Mas essa é muito mais do que apenas isso. Ela envolve toda uma
filosofia, antropologia, sociologia e psicologia próprias.
Mais adiante, a autora analisa o que então vem a ser a ciência da didática:
Didática, então, é uma ciência, mas também uma arte. Ela envolve estratégias
de ensino, procedimentos e recursos para a aprendizagem. De acordo com o dicionário
Priberam, trata-se da
161
INTERESSANTE
Há uma controvérsia, pelo fato de ser uma arte, se a didática é ciência, tanto
que ela foi banida dos currículos de formação de professores por algum
tempo. Mas hoje, quer se queira chamar de “Didática”, ou “Metodologia de
ensino”, ou ainda de “Prática de ensino”, ela não só é admitida, como vista
como fundamental nos currículos de pedagogia e licenciaturas.
E a didática no Brasil pode ser classificada em escolas, que ora valorizam mais
o educador, ora o educando. Elas também são chamadas de “tendências pedagógicas”.
É importante estudarmos as tendências pedagógicas pois, como futuros professores
de Ensino Religioso, não devemos simplesmente reproduzir as tendências que mais
se consagraram, que são as tradicionais, mas pesquisar o que outras tendência têm a
oferecer. E temos duas categorias: as liberais ou seja, que apoiam o capitalismo e sua
forma de vida; e as progressistas, que fazem a sua crítica.
DICA
Saiba mais sobre as máquinas de ensinar no site da UFRGS, disponível em:
https://www.ufrgs.br/psicoeduc/behaviorismo/maquina-de-ensinar-de-
skinner-1/. Acesso em 20 fev. 2023.
162
Para essa tendência, o planejamento é crucial e determinante da aprendizagem.
Ela também valoriza os métodos e as técnicas que são consideradas garantias para o
sucesso do aprendizado. Daí também ser chamado de tecnicismo. No Ensino Religioso
é usado pelos cursos a distância.
163
A relação professor-aluno é quase anárquica, sendo que o aluno tem autonomia
para tomada de decisão e para o seu comportamento, que não deve ser reprimido. Os
inspiradores são A.S. Neil (1883-1973), C. Rogers (1902-1987), e D. Ausubel (1918-2008).
DICA
Conheça a incrível escola de Summerhill, fundada por A.S. Neil, disponível em:
https://pt.wikipedia.org/wiki/Summerhill_School. Acesso em 20 fev. 2023.
164
Posso dar um exemplo de tendência libertária e crítico-social a partir da
Educação de Jovens e Adultos (EJA) em que um professor ficou dando aulas de
política, a partir de recortes de jornal aos seus alunos, mas eles fracassaram na prova
do supletivo para alcançar o seu certificado. Ele valorizou a conscientização e deixou de
lado os conteúdos.
À segunda pergunta, ele pode se fazer outra pergunta: o que de pior que pode
acontecer se as coisas “saírem do controle”. O que é “sair do controle” afinal de contas? É
ter uma classe mais barulhenta? Normalmente o que temos são fantasias de catástrofes
que dificilmente se realizarão na prática e o “fora de controle” em geral é mais controlável
do que parece.
165
Mas, afinal, porque essa fixação pelo controle? Será que dar aula é uma questão
de poder e nada mais? Em que “manda quem pode e obedece quem tem juízo”?
As metodologias ativas pedem para o professor deixar de lado esses medos, que
são naturais, pois todos nós temos medo da mudança e dos hábitos tradicionais, e ser
mais arrojado no seu método de ensino, arriscando deixar o aluno participar efetivamente.
ATENÇÃO
Para isso, ele precisa levar em conta que há aqueles alunos que preferem
ser deixados em paz, ou preferem o ensino tradicional, mas esses são
os mais raros hoje em dia e os restantes normalmente só precisam de
certo estímulo para passarem a participar. Nada como uma boa dinâmica
de grupo para acabar com os medos de mudança tanto de professores
quanto de alunos.
A realidade de hoje ajuda muito nessa mudança, pois as TIC estão cada vez
mais presentes e exigem autonomia do aluno. Assim, o ensino tradicional está cada vez
mais obsoleto, sendo que as demais tendências pedagógicas estão sendo mais e mais
estudadas e consideradas. E as metodologias ativas tentam extrair o que há de bom em
cada uma delas.
166
O que a aprendizagem significativa diz, em essência, é que aprendemos a
partir de conhecimentos prévios que são articulados de maneira dialética e interativa
a novos conhecimentos, principalmente aqueles com lastro na experiência concreta e
significativa, e, assim, dá-se o desenvolvimento. Isso é especialmente importante no
Ensino Religioso, que lida como o fenômeno sagrado:
167
IMPORTANTE
Apesar de termos de lidar com a realidade a partir das ideias, não precisamos
ficar apenas no nível das ideias, como querem os autores, pelo que recaem
num idealismo e relativismo perigoso. Há uma realidade inabarcável mas
não menos real, toda para explorarmos aí fora.
Vamos utilizar a mesma estratégia que usamos com o termo didática para nos
aproximarmos do conceito de metodologias ativas, explicitando primeiramente o que
elas não são.
Principalmente, metodologia ativa não é uma desculpa para não dar ou não
preparar aula. Já viram aquele professor que dá seminário para os alunos, para eles
darem conta da matéria que era de sua responsabilidade? Isso acontece muito no
Ensino Religioso. Pois é: as metodologias ativas não se prestam para isso.
168
Ou então a questão das “bolhas no ar”, em que você sai de uma aula em que
há muita discussão, mas você se pergunta, efetivamente, o que foi que você aprendeu.
E você pode se perguntar em termos práticos, se existe algum roteiro para essas
metodologias. Quanto à ABP, temos o seguinte esquema:
169
5. formulação dos OBJETIVOS de aprendizagem;
6. busca de NOVOS CONHECIMENTOS (fontes de informação);
7. REVISÃO das hipóteses iniciais e SÍNTESE dos conhecimentos
atualizados (GREGGERSEN, 2022, p. 63).
A ABProj depende do tipo de projeto que se quer propor, que pode ser do tipo
explicativo, que é basicamente teórico; do tipo construtivo, que gira em torno de um
produto final; ou do tipo investigativo, que envolve uma investigação mais profunda.
DICA
Veja uma aula sobre o passo a passo do Estudo de Caso em https://
www.youtube.com/watch?v=k9Gv3W0MfNQ. Acesso em 24 fev. 2023. O
interessante está do começo ao oitavo minuto.
Dentre os critérios para a boa metodologia ativa podemos dizer que ela é:
• construtivista – deve se basear em aprendizagem significativa;
• colaborativa – deve favorecer a construção do conhecimento
em grupo;
• interdisciplinar – deve proporcionar atividades integradas a
outras disciplinas;
• contextualizada – deve permitir que o educando entenda a
aplicação deste conhecimento na realidade;
• reflexiva – deve fortalecer os princípios da ética e de valores morais;
• crítica – deve estimular o educando a buscar aprofundamento
de modo a entender as limitações das informações que chegam
até ele;
• investigativa – deve despertar a curiosidade e a autonomia,
possibilitando ao educando a oportunidade de aprender a aprender;
• humanista – deve ser preocupado e integrado ao contexto e
inclusão social;
• motivadora – deve trabalhar e valorizar a emoção;
• desafiadora – deve estimular o estudante a buscar soluções.
170
As metodologias ativas são tão importantes no Ensino Religioso porque
fomentam a autonomia e reflexão crítica do sujeito, a fim de que ele possa vivenciar
inteiramente a sua liberdade religiosa e conhecer as demais de forma respeitosa e
detalhada. Assim, pode-se contribuir para uma sociedade mais tolerante e solidária no
que diz respeito às religiões.
Vamos agora falar de uma das metodologias ativas para a avaliação. Segundo
Col, citado por Freire (2016) ainda, a forma de registro das observações do aluno no
sentido de avaliá-lo pode servir para tornar o processo transparente e democrático.
Um dos instrumentos de registro de atividades é o portfólio, que é muito interessante
aplicado ao Ensino Religioso.
Vieira (2002, p. 151), inspirada em outros autores, estabelece os passos que são
necessários para o trabalho com portfólio, quais sejam:
171
o estabelecimento do objetivo do portfólio por parte do docente;
o estabelecimento das finalidades de aprendizagem por parte de
cada estudante; a integração das evidências e experiências de
aprendizagem; a seleção das fontes que comporão o portfólio e a
reflexão do estudante acerca de seu próprio desenvolvimento.
172
IMPORTANTE
Apesar de ser mais trabalhoso, o método avaliativo do porfólio é extremamente
interessante para o Ensino Religioso porque não tendo reprovação, há espaço
para inovação no processo avaliativo. Além disso, o portfólio é adequado para
levar em conta a diversidade e integralidade da realidade religiosa, formando
para a autonomia, criatividade e cidadania, coisas que, como já vimos, estão
no horizonte dos objetivos do Ensino Religioso.
No mesmo sentido e com dicas para o planejamento, foi escrito o livro Ensino
Religioso na prática: sequências didáticas para a educação infantil e os anos iniciais
do Ensino Fundamental, de J.C. Souza (2022), que traz sugestões práticas voltadas
para professores de Ensino Religioso e estudantes de Ciências das Religiões que
estejam em diálogo com a educação, para a estruturação de aulas, com base nas
recomendações da BNCC.
173
RESUMO DO TÓPICO 2
Neste tópico, você aprendeu:
• As metodologias ativas, o que são e o que não são e sua relação com o fenômeno
religioso e o Ensino Religioso.
174
AUTOATIVIDADE
1 A didática faz parte da ciência pedagógica, sendo responsável por estudar os processos de
ensino-aprendizagem. De acordo com essa definição e o visto no tema de aprendizagem,
assinale a alternativa CORRETA:
175
( ) A metodologia ativa é o uso mecânico de meios audiovisuais ou Tecnologias de
Informação e Comunicação (TICs) e do ensino programado.
( ) A metodologia ativa serve para disfarçar quando não deu tempo de preparar o conteúdo
e transferir a responsabilidade da aula para o aluno.
( ) A metodologia ativa serve para evitar aulas muito teóricas e promove a construção de
“bolhas no ar”.
a) ( ) V – F – F.
b) ( ) F – F – F.
c) ( ) F – V – F.
d) ( ) F – F – V.
176
UNIDADE 3 TÓPICO 3 -
APRENDIZAGEM VIVENCIAL
E ENSINO RELIGIOSO
1 INTRODUÇÃO
Mas o que são tipos psicológicos? De acordo com Ramos (2005) eles se inspiram
nas pesquisas e tipologia elaboradas por Carl Gustav Jung (1875-1961) e ampliadas por
Myers e Briggs (1995).
A tipologia de Jung parte de dois tipos essenciais: o introvertido, que se volta para
dentro e se orienta, em suas atitudes por valores internos, subjetivos; e o extrovertido,
que se volta para fora, e se orienta por fatores objetivos, externos.
177
Figura 4 – Disposição de introvertida e extrovertida
178
Figura 5 – Disposições da consciência
179
Mantém adequada relação com os objetos exteriores. Segue as
regras gerais de convivência socialmente aceitas, tendendo a
permanecer fiel aos valores sociais que lhe são inculcados desde
a infância. É acolhedor e afável. Costuma ter um grande círculo de
amigos. Guia-se pelo julgamento valorativo do que lhe agrada ou não
no mundo exterior: pessoas, ideias e objetos. O ponto fraco desse
tipo é o pensamento. Atrás de sua aparente afabilidade, muitas
vezes esconde pensamentos sem juízos fundamentados, reflexões
preconceituosas e teimosias. Quando o controle do sentimento
falha, surgem pensamentos de autodesvalorização, principalmente
sobre sua capacidade intelectual. Estes fenômenos são decorrentes
de uma função pensativa introvertida inferior e que, sendo mais
inconsciente, possui uma significativa autonomia sobre a psique.
Esse tipo é geralmente encontrado em socialites, profissionais da
moda, modelos, publicitários, arquitetos, decoradores, donas de
casa, entre outras profissões.
Sua fraqueza é a intuição, mas ela aflora do nível subconsciente quando ele deve
explicar coisas misteriosas, quando ele apela para o misticismo de forma surpreendente
para quem está acostumado com o seu realismo.
Embora consiga identificar seus sentimentos, não é fácil para ele expressá-los.
É considerado frio por alguns ao seu redor. Tem sentimentos profundos e extremos: ou
ama, ou odeia.
180
Fica perdido quando os sentimentos tomam conta e ele explode, o que o deixa
fora do sério. É quando as funções inferiores de extroversão tomam conta. Tem crises
de ansiedade. Normalmente abraça profissões como a de matemático, físico, filósofo,
psicólogo, teólogo, sociólogo, dentre outras.
IS (Sentimental introvertido)
Esse estilo projeta o que os outros pensam dele de forma negativa, sendo
que se submete a uma função extrovertida inferior que é inconsciente e tem relativa
autonomia sobre o quadro psicológico do indivíduo.
181
Tabela 1 – Elementos dos tipos psicológicos
182
DICA
Veja a descrição completa dos 16 tipos no artigo de Ramos (2005),
disponível em: https://periodicos.sbu.unicamp.br/ojs/index.php/etd/article/
view/779/794. Acesso em: 21 fev. 2023.
E veja, ainda, um site que descreve os 16 tipos psicológicos em inglês e um
teste do tipo psicológico que pode ser realizado em português: https://
keirsey.com/. Acesso em: 21 fev. 2023.
DICA
"Nas palavras do próprio Mandela, ubuntu é um espírito comunitário, que
significa 'Respeito, solicitude, compartilhar, cuidar, confiar, abertura para o
outro'” (STAROSKY, 2020, p. 227).
Quanto aos ENFJ, podemos citar Tolstói, o Papa João Paulo II e o bispo Desmond
Tutu. Trata-se de líderes muito carismáticos que dão muito valor à coletividade.
Storosky faz uma análise minuciosa do personagem João e seu perfil religioso.
183
Entre os INFJ, podemos citar T.E.Lawrence (Lawrence da Arábia), C.S. Lewis.
Martinho Lutero e Gandhi.
Como ISTJ podemos, segundo Starosky (2020), citar Bento XVI, e Madre Teresa
de Calcutá como ISFJ.
Starosky (2020) também faz uma investigação dos quatro evangelistas quanto
aos seus tipos psicológicos.
A modo de conclusão, o autor alerta para que as diferenças dos polos I/E, S/N,
F/T e J/P nas práticas espirituais e devocionais seja levadas em conta, sendo que os
líderes religiosos que privilegiam um em detrimento de outro
[…] construirão uma igreja facciosa que absolutiza a justiça (T) e sufoca
a caridade (F); ou que favorece o rigor da lei (SJ) em detrimento da
legítima criatividade (SP); que impõe misticismos intimistas (NF) a
uma maioria de fiéis que busca apenas a orientação para o prosaico
quotidiano (S) etc. Sem falar nas particularidades mais detalhadas dos
dezesseis tipos desenhados por Keirsey. É um alerta sobretudo para os
líderes e ministros de cada comunidade, sempre tentados a criar uma
igreja à sua imagem e semelhança (STAROSKY, 2020, p. 304).
Tal alerta vale não só para o líder religioso, mas também para o professor,
que tende a dar aula apenas para o tipo psicológico e estilo de aprendizado que lhe é
congênere. Trata-se de um narcisismo daqueles que impõe como padrão e, no caso dos
religiosos, com ares de absoluto, os seus próprios valores e jeito de ser.
O autor nos faz lembrar que conversar vem de verter-se um para o outro e que
o diálogo sempre implica numa abertura para a especificidade e identidade do outro. Ele
estabelece as bases para o entendimento. Permite colocar-se no lugar do outro e ver o
mundo através de seus olhos. A falta dessa abertura bem humorada para a diversidade
é que leva à violência e até ao desejo de eliminar o outro, como faziam os gregos com
os estrangeiros bárbaros.
184
IMPORTANTE
Você deve se perguntar qual a solução para as violências cada vez mais
frequentes em relação à religião, sejam verbais e psicológicas, no discurso
de ódio, sejam físicas. Para o autor, ela se encontra no diálogo. Pois o diálogo
pode levar à cura de desvios como a vontade de violência (STAROSKY, 2020).
Com esse conhecimento, finalmente, é possível que o líder religioso seja mais
um clínico geral do que um cirurgião, que sabe muito de anatomia e de cortar partes do
corpo, mas nem sempre entende a inteireza da saúde do paciente.
O autor termina a sua tese com uma citação de C. S. Lewis que, em seu livro O
problema do Sofrimento, exalta a diferença, lembrando que não se faz uma orquestra
com um tom e um instrumento só, e que a unidade só existe graças à diversidade.
185
Mas como isso tudo se aplica ao ensino e, particularmente, à aprendizagem?
Pois é, a partir dos tipos psicológicos, um pesquisador chamado David Kolb (1984)
e sua equipe desenvolveram uma teoria que classifica os Estilos de Aprendizagem. De
acordo com Cerqueira (2008, p. 5):
ATENÇÃO
Para isso, Kolb (1984) inspirou-se nas pesquisas de Lewin (1890-1947) sobre
a psicologia do aprendizado, e associou o aprendizado diretamente ao
desenvolvimento, coisa que poucas teorias da sua época faziam. Ele também
bebeu da fonte de Rogers (1902-1987) e seu personalismo, Piaget (1896-1980)
e seu construtivismo e Paulo Freire (1996) e sua pedagogia da autonomia.
186
• a estrutura afetiva na experiência concreta resulta em vivência
de sentimentos mais importantes;
• a estrutura perceptual na observação reflexiva resulta em
observações mais aguçadas;
• a estrutura simbólica na conceituação abstrata resulta na
criação de conceitos mais apurados;
• a estrutura comportamental na experimentação ativa resulta em
atos maiores e mais complexos.
187
Figura 6 – Dimensões estruturais do processo de aprendizagem vivencial
188
O resultado é bem estudado em profissionais da saúde, da administração e da
educação, sendo que a maioria dos estudantes universitários das áreas de humanas
é assimilador. Isso pode ser devido ao processo de seleção dos candidatos que já
pressupõem o estilo assimilador, como todo o sistema de ensino universitário privilegia.
189
O professor que segue esse modelo, além de respeitar o estilo de aprendizagem
do aluno, estrutura a sua aula de modo a ela começar com algo conhecido, que é concreto
e significativo para o aluno: uma notícia de jornal, uma música, uma ilustração com algo
concreto, problematizado. Depois, ele passa para o brainstorming da solução do problema.
Em seguida, ele passa para a teorização e para os conceitos abstratos. Finalmente, ele faz
uma aplicação prática da teoria para permitir ao aluno ver o sentido de tudo aquilo.
DICA
Conheça o conceito de brainstorming em: https://www.significados.com.br/
brainstorming/. Acesso em: 25 fev. 2023.
IMPORTANTE
No campo do Ensino Religioso, essa metodologia não apenas é interessante
porque leva em conta a peculiaridade do estilo de aprendizagem do
educando, mas também porque enche de significado a teoria sobre as
diversas religiões e fenômenos do sagrado. Assim é possível tratar o
fenômeno religioso em sua especificidade pragmática, sem julgar o certo e
o errado. Aplicando essa metodologia, é possível tornar as aulas de religião
mais atraentes, interessantes e significativas, levando em conta que a
frequência às aulas é voluntária.
190
Gostou desse tema de aprendizagem? Com isso, finalizamos a disciplina e
desejamos a você todo o sucesso em sua carreira, e que você seja um profissional
competente e consciente, capaz de contribuir para um mundo melhor e mais solidário.
191
LEITURA
COMPLEMENTAR
APRENDIZAGEM VIVENCIAL NO MERCADÃO MUNICIPAL DE CAMPO GRANDE/MS
Introdução
2. Referencial Teórico
192
Segundo Gresele e Cavalcanti Neto (2008), em seu artigo: Aprendizagem
Vivencial: uma análise do estilo de aprendizagem do discente de Administração do médio
oeste paranaense sob a ótica de Kolb, apresentado no V Congresso Brasileiro Virtual de
Administração (CONVIBRA), em 2008, é preciso conhecer, discutir e aplicar as práticas
vivências da melhor maneira possível, levando em consideração as características
individuais e as diferentes formas de aprender.
193
2.2. A Construção de metodologias ativas no ensino da Administração
194
O Mercadão Municipal de Campo Grande é um dos principais pontos turísticos
da capital, com fluxo médio de clientes/dia que varia de 5.000 a 10.000 pessoas em
períodos festivos, como Páscoa e Natal. De acordo com o gestor do mercado, Sr. Daniel
Amaral, nos últimos 5 anos houve um aumento médio de 60% no fluxo de clientes, o que
sinaliza o potencial de crescimento dos mercados de produtos regionais em coerência
com o crescimento desse mercado no Brasil e no Mundo (UNIVERSIDADE FEDERAL DO
MATO GROSSO DO SUL, 2016).
3. Material e Métodos
Como mostram Mahboubian (2010) e Roesch (2007), o método do caso foi usado
em treinamento gerencial há cerca de um século nas universidades americanas e, mais
recentemente, na Europa e na Ásia. Ferlie, McGivern e Moraes (2010) argumentam
195
que o método do caso de Harvard era "um legado passado de faculdades de direito
para escolas de negócios". No Brasil, os casos de ensino ainda são pouco utilizados
e o volume de publicações de casos brasileiros é pequeno, mas a demanda por esse
recurso pedagógico tem aumentado.
4. Resultados e Discussão
196
2 - Qual a estratégica genérica recomendada para o mercadão, justificando a resposta:
197
5. Conclusões
A adesão por parte dos discentes foi positiva, já que a maioria participou das
atividades de campo à apresentação final dos resultados. A atividade também foi
proposta como avaliação final da disciplina, o que pode ter fortalecido a adesão.
198
RESUMO DO TÓPICO 3
Neste tópico, você aprendeu:
• Os estilos de aprendizagem.
199
AUTOATIVIDADE
1 De acordo com o visto neste tema de aprendizagem, os tipos psicológicos partem de
uma polarização essencial. Tendo isso em conta, assinale a alternativa CORRETA:
2 Myers e Briggs acrescentaram um par aos tipos psicológicos de Jung. Quanto a isso,
analise as sentenças a seguir:
200
Assinale a alternativa que apresenta a sequência CORRETA:
a) ( ) V – F – F.
b) ( ) V – F – V.
c) ( ) F – V – V.
d) ( ) F – F – V.
201
REFERÊNCIAS
ASSUNÇÃO. T. V. de. Inventário de estilos de aprendizagem de Kolb: estudos iniciais so-
bre a importância da identificação dos estilos de aprendizagem de alunos da graduação.
Anais do 15º Congresso Internacional de Tecnologia na Educação Brasil, Recife,
Setembro de 2017. Disponível em: https://cutt.ly/a73Lp46. Acesso em: 22 fev. 2023.
202
LIECHOCKI, B. K. Práticas inclusivas no Ensino Religioso. Curitiba: Appris, 2020.
META. In: Dicionário da língua portuguesa. Lisboa: Priberam Informática, 1998. Dis-
ponível em: https://dicionario.priberam.org/meta. Acesso em: 16 fev. 2023.
203
ANOTAÇÕES
204