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teoria psicogenética deixa à mostra que a inteligência não é

O DESENVOLVIMENTO HUMANO NA TEORIA DE herdada, mas sim que ela é construída no processo interativo
PIAGET entre o homem e o meio ambiente (físico e social) em que ele
estiver inserido.
O conceito de equilibração torna-se especialmente Em síntese, pode-se dizer que, para Piaget, o equilíbrio é
marcante na teoria de Piaget pois ele representa o fundamento o norte que o organismo almeja mas que paradoxalmente
que explica todo o processo do desenvolvimento humano. nunca alcança, haja vista que no processo de interação podem
Trata-se de um fenômeno que tem, em sua essência, um ocorrer desajustes do meio ambiente que rompem com o
caráter universal, já que é de igual ocorrência para todos os estado de equilíbrio do organismo, eliciando esforços para que
indivíduos da espécie humana mas que pode sofrer variações a adaptação se restabeleça. Essa busca do organismo por novas
em função de conteúdos culturais do meio em que o indivíduo formas de adaptação envolvem dois mecanismos que apesar de
está inserido. Nessa linha de raciocínio, o trabalho de Piaget distintos são indissociáveis e que se complementam: a
leva em conta a atuação de 2 elementos básicos ao assimilação e a acomodação.
desenvolvimento humano: os fatores invariantes e os fatores Para Piaget o comportamento dos seres vivos não é
variantes. inato, nem resultado de condicionamentos. Para ele o
(a) Os fatores invariantes: Piaget postula que, ao nascer, comportamento é construído numa interação entre o meio e o
o indivíduo recebe como herança uma série de estruturas indivíduo.
biológicas - sensoriais e neurológicas - que permanecem Jean Piaget, para explicar o desenvolvimento intelectual,
constantes ao longo da sua vida. São essas estruturas biológicas partiu da idéia que os atos biológicos são atos de adaptação ao
que irão predispor o surgimento de certas estruturas mentais. meio físico e organizações do meio ambiente, sempre
Em vista disso, na linha piagetiana, considera-se que o procurando manter um equilíbrio. Assim, Piaget entende que
indivíduo carrega consigo duas marcas inatas que são a o desenvolvimento intelectual age do mesmo modo que o
tendência natural à organização e à adaptação, significando desenvolvimento.
entender, portanto, que, em última instância, o 'motor' do Ainda segundo Piaget, a adaptação é a essência do
comportamento do homem é inerente ao ser. funcionamento intelectual, assim como a essência do
(b) Os fatores variantes: são representados pelo conceito funcionamento biológico. É uma das tendências básicas
de esquema que constitui a unidade básica de pensamento e inerentes a todas as espécies. A outra tendência é a
ação estrutural do modelo piagetiano, sendo um elemento que organização. Que constitui a habilidade de integrar as
se transforma no processo de interação com o meio, visando à estruturas físicas e psicológicas em sistemas coerentes. Ainda
adaptação do indivíduo ao real que o circunda. Com isso, a segundo o autor, a adaptação acontece através da organização,
e assim, o organismo discrimina entre a miríade de estímulos e assimilação ocorre, por exemplo, quando a criança
sensações com os quais é bombardeado e as organiza em experimenta novas experiências e tenta adaptar esses novos
alguma forma de estrutura. Esse processo de adaptação é então estímulos às suas estruturas cognitivas pré-existentes.
realizado sob duas operações, a assimilação e a acomodação. Piaget define assimilação como
“uma integração à estruturas prévias, que
ESQUEMAS podem permanecer invariáveis ou são mais ou
Antes de prosseguir com a definição da assimilação e da menos modificadas por esta própria integração,
acomodação, é interessante introduzir um novo conceito que é mas sem descontinuidade com o estado
amplamente utilizado quando essas operações, assimilação e precedente, isto é, sem serem destruídas, mas
acomodação, são empregadas. Esse novo conceito que estamos simplesmente acomodando-se à nova situação.”
procurando introduzir é chamado por Piaget de esquema Significa que a criança tenta adaptar o novo estímulo a
(schema). algum esquema que ela já possui até aquele momento. Um
Esquemas são as estruturas mentais ou cognitivas pelas quais os exemplo: uma criança que está aprendendo a reconhecer
indivíduos intelectualmente se adaptam e organizam o meio. animais, e que até aquele momento o único animal que ela
Não são objetos reais, mas são vistos como conjuntos de conhece é o cachorro. Se ela for apresentada a um cavalo, ela
processos dentro do sistema nervoso. Podemos fazer uma irá reconhecê-lo como um cachorro devido à assimilação que
analogia a um arquivo, no qual cada ficha representa um fez entre as características dos dois animais: marrom,
esquema. Os adultos têm muitas fichas ou esquemas e esses quadrúpede, um rabo, pescoço. A criança apenas diferenciará
são usados para processar e identificar a entrada de estímulos. o cavalo do cachorro quando ocorrer o processo chamado
Os esquemas do adulto emergem dos esquemas da criança acomodação.
através da adaptação e da organização. Portanto, o Quando um adulto disser que aquele bicho não é um
desenvolvimento intelectual consiste em um contínuo processo cachorro, mas sim um cavalo, a criança acomodará esse novo
de construção e reconstrução. Os processos responsáveis pela estímulo a uma nova estrutura cognitiva, criando um novo
mudança são assimilação e acomodação. esquema. Agora ela tem um esquema para cachorro e outro
para cavalo.
ASSIMILAÇÃO E ACOMODAÇÃO Piaget define acomodação quando diz que:
A assimilação é o processo pelo qual a pessoa classifica “Chamaremos acomodação (por analogia com os "acomodatos"
um novo dado obtido. Essa classificação ocorre como uma biológicos) toda modificação dos esquemas de assimilação sob
forma de integrar esse dado, que pode ser perceptual, motor a influência de situações exteriores (meio) ao quais se
ou conceitual às suas estruturas cognitivas prévias. Essa aplicam”. Desta forma, acomodação é quando não tem como a
criança associar um novo estímulo com uma estrutura cognitiva que se estabeleça um conflito cognitivo que demande um
pré-existente devido as suas peculiaridades e características esforço do indivíduo para superá-lo a fim de que o equilíbrio
novas. Assim, cria-se um novo esquema. do organismo seja restabelecido, e assim sucessivamente.
Os processos de assimilação e acomodação são No entanto, esse processo de transformação vai depender
complementares e acham-se presentes durante toda a vida do sempre de como o indivíduo vai elaborar e assimilar as suas
indivíduo e permitem um estado de adaptação intelectual (...) interações com o meio, isso porque a visada conquista da
É muito difícil, se não impossível, imaginar uma situação em equilibração do organismo reflete as elaborações possibilitadas
que possa ocorrer assimilação sem acomodação, pois pelos níveis de desenvolvimento cognitivo que o organismo
dificilmente um objeto é igual a outro já conhecido, ou uma detém nos diversos estágios da sua vida. A esse respeito, para
situação é exatamente igual a outra. Piaget, os modos de relacionamento com a realidade são
Dessa perspectiva, o processo de equilibração pode ser divididos em 4 períodos, como destacaremos na próxima
definido como um mecanismo de organização de estruturas seção deste trabalho.
cognitivas em um sistema coerente que visa a levar o indivíduo
a construção de uma forma de adaptação à realidade. Haja TEORIA DA EQUILIBRAÇÃO
vista que o "objeto nunca se deixa compreender totalmente”, o De uma maneira geral, teoria de equilibração é um
conceito de equilibração sugere algo móvel e dinâmico, na ponto de equilíbrio entre a assimilação e a acomodação, sendo
medida em que a constituição do conhecimento coloca o assim considerado um mecanismo de auto-regulador que
indivíduo frente a conflitos cognitivos constantes que assegura à criança “uma interação eficiente dela com o meio-
movimentam o organismo no sentido de resolvê-los. Em ambiente”.
última instância, a concepção do desenvolvimento humano, na A equilibração é necessária porque se uma pessoa só
linha piagetiana, deixa ver que é no contato com o mundo que assimilasse estímulos, ficaria com poucos esquemas, incapaz de
a matéria bruta do conhecimento é 'arrecadada', pois que é no detectar diferenças entre as coisas. O contrário também é
processo de construções sucessivas resultantes da relação verdadeiro: uma pessoa que só acomodasse os estímulos
sujeito-objeto que o indivíduo vai formar o pensamento lógico. acabaria com muitos esquemas cognitivos, gerando uma taxa
É bom considerar, ainda, que, na medida em que toda de generalização muito baixa que teria como conseqüência que
experiência leva em graus diferentes a um processo de tudo iria parecer novo, seria incapaz de perceber que certas
assimilação e acomodação, trata-se de entender que o mundo coisas pertencem à mesma classe.
das idéias, da cognição, é um mundo inferencial. Para avançar
no desenvolvimento é preciso que o ambiente promova
condições para transformações cognitivas, id est é necessário
ESTÁGIOS COGNITIVOS
As teorias de Jean Piaget tentam nos explicar como se Sensório Motor (0 a 2 anos)
desenvolve a inteligência nos seres humanos. Daí o nome dado É o período que vai do recém-nascido até os dois anos
a sua ciência de Epistemologia Genética, que é entendida de idade da criança, antes do surgimento da fala, sendo
como o estudo dos mecanismos do aumento dos marcado pelo desenvolvimento mental.
conhecimentos. Representa a evolução psíquica através da percepção e
Esta teoria epistemológica (epistemo = conhecimento; e dos movimentos de todo o universo que cerca a criança que, a
logia = estudo) é caracterizada como interacionista. A partir de reflexos neurológicos básicos, começa a construir
inteligência do indivíduo, como adaptação a situações novas, esquemas de ações para assimilar mentalmente o meio.
portanto, está relacionada com a complexidade desta interação A assimilação sensório-motora do mundo exterior inicia-
do indivíduo com o meio. se com o desenvolvimento de noções de objeto, em que o
O desenvolvimento do indivíduo inicia-se no período bebê traz tudo para perto de seu corpo. A inteligência é
intra-uterino e vai até aos 15 ou 16 anos. Piaget diz que a essencialmente prática, baseando-se em exercícios de
embriologia humana evolui também após o nascimento, aparelhos reflexos: coordenações sensoriais e motoras de
criando estruturas cada vez mais complexas. A construção da fundo hereditário, que correspondem a tendências instintivas,
inteligência dá-se, portanto em etapas sucessivas, com como a nutrição.
complexidades crescentes, encadeadas umas às outras. A isto O desenvolvimento da inteligência e da vida afetiva
Piaget chamou de “construtivismo sequencial”. apresenta três estágios: o dos reflexos, o da organização das
O indivíduo constrói e reconstrói continuamente as percepções e hábitos e o da inteligência sensório-motora
estruturas que o tornam cada vez mais apto ao equilíbrio. propriamente dita.
Essas construções seguem um padrão denominado de O recém-nascido assimila uma parte de seu universo aos
estágios ou períodos que seguem idades mais ou menos reflexos de sucção, que melhoram com o exercício: o recém-
determinadas. nascido mama melhor no decorrer dos dias. Esses reflexos
A importância de se definir os períodos de conduzem à uma generalização da atividade: o lactente passa a
desenvolvimento da inteligência reside no fato de que, em cada sugar tudo o que está ao seu alcance, não somente a mama,
um, o indivíduo adquire novos conhecimentos ou estratégias mas também o polegar e objetos.
de sobrevivência, de compreensão e interpretação da Seus movimentos dos braços são coordenados com a
realidade. A compreensão deste processo é fundamental para sucção (já sendo o segundo estágio).
que os profissionais possam também compreender com quem
estão trabalhando.
Estes exercícios reflexos vão tornando-se mais Existem dois tipos de fatores que constroem estes atos
complexos por interação nos hábitos e percepções organizadas, de inteligência. Primeiro, as condutas que se diferenciam até
surgindo novas condutas com a ajuda da experiência. atingir uma maleabilidade suficiente para registrar os resultados
Da quinta semana em diante, iniciam-se os gestos de da experiência. “É assim que nas ‘reações circulares’ o bebê
virar a cabeça na direção de um ruído, seguir um objeto em não se contenta mais apenas em reproduzir os movimentos e
movimento, reconhecer pessoas são alguns deles. gestos que o conduziram a um efeito interessante, mas os varia
Entre três a seis meses, o bebê começa a pegar o que vê intencionalmente para estudar os resultados destas variações,
e esta capacidade de preensão, seguida de manipulação, entregando-se a verdadeiras explorações ou ‘experiências para
aumenta a formação de hábitos novos. viver’”. Um bom exemplo é analisar crianças de 12 meses, que
O lactente passa a reproduzir movimentos novos a partir jogam objetos no chão, analisando sua trajetória.
da assimilação dos movimentos anteriores (reação circular), Uma ação capaz de ser repetida e generalizada para
formando um esquema sensório-motor unindo os hábitos situações novas pode-se comparar à uma espécie de conceito
motores novos e os perceptivos, representando a forma mais sensório-motor: compreende-se o objeto através do uso, que
evoluída de assimilação. será mais tarde uma assimilação por meio das noções e do
O terceiro estágio é o mais importante no pensamento.
desenvolvimento da criança: o da inteligência prática ou Estes ‘esquemas de ação’ se coordenam entre si, de
sensório-motora, que aparece bem antes da linguagem – maneira que uns determinam o fim da ação total e outros lhe
pensamento interior com emprego verbal (linguagem sirvam de instrumentos, começando a inteligência
interiorizada). É uma inteligência totalmente prática, que se propriamente dita.
refere à manipulação de objetos e que só utiliza percepções e A finalidade deste desenvolvimento intelectual é
movimentos organizados em “esquemas de ação”, ao invés de transformar a representação das coisas, invertendo a posição
palavras e conceitos. Exemplo: pegar objetos como suporte inicial da criança em relação aos objetos e o universo à sua
para puxar outro objeto, que ocorre por volta dos 18 meses. volta, pois no inicio do desenvolvimento mental, a criança não
A criança passa a coordenar suas ações com um objetivo diferencia seu corpo e o mundo exterior, as experiências
previsto, como o uso de um instrumento para alcançar o vividas por ela não são relacionadas nem à consciência pessoal
objeto, que necessita compreender antecipadamente a relação “eu” nem à objetos entendidos como “exteriores”.
entre ela e o objeto, para descobrir o instrumento como meio. “São simplesmente dados em um bloco indissociado,
Outro exemplo é aproximar o objeto puxando a cobertura ou [...] tudo que é percebido é centralizado sobre a própria
o suporte sobre o qual está colocado, por volta do fim do 1º atividade.”.
ano.
A consciência começa por um egocentrismo efeito gerado. Exemplo: o lactente descobre a agitação de
inconsciente e integral, em que a criança constrói uma brinquedos pela causalidade de puxar um cordão.
realidade interna ou subjetiva, vendo-se no centro, até que o A construção do espaço é paralela à causalidade, que
desenvolvimento da inteligência levem-na à construção de um permite à inteligência sensório-motora sair do egocentrismo
universo objetivo: o próprio corpo aparece como elemento inconsciente radical para se situar num universo.
entre os outros, opondo-se à vida interior. A evolução da afetividade durante os dois primeiros
Durante os dois primeiros anos de vida, este anos pode ser dividida em: sentimentos e pensamento. O
desenvolvimento intelectual caracteriza-se por quatro processos elemento mais importante para se analisar a vida mental é a
fundamentais: construções de categorias do objeto e do espaço, conduta, que integra movimentos e inteligência. Mas toda
da causalidade e do tempo, sendo estas categorias práticas ou conduta implica modificações e valores dos fins: os
de ação pura e não ainda como noções do pensamento. sentimentos.
O esquema prático do objeto é a capacidade de mantê-lo na Dessa forma, afetividade e inteligência passam a ser
memória mesmo quando não o temos mais ao alcance de indissociáveis e constituem os dois aspectos complementares
nossa vista. de toda conduta humana.
Durante os primeiros meses, o lactente não percebe os Sendo assim, o 1º estágio corresponde a reflexos afetivos
objetos situando-os no espaço, reconhecem apenas certos (emoções primárias) relacionando com o sistema fisiológico
quadros sensoriais familiares, mas não os situam quando fora das atitudes ou posturas.
do campo perceptivo. Não atribuem um corpo no espaço O 2° estágio (percepções e hábitos) corresponde aos
quando não o vê mais. afetos perceptivos ligados às atividades próprias: o agradável, o
Só por volta do final do 1º ano que os objetos são prazeroso, o sucesso ou fracasso, que dependem da própria
procurados depois que saem do campo de percepção, ação. Resulta um egocentrismo geral: o lactente passa a se
iniciando a exteriorização do mundo material. interessar por seu corpo e seus movimentos. É um narcisismo
A elaboração do espaço ocorre devido à coordenação de sem consciência pessoal.
movimentos, estando relacionado ao desenvolvimento da O 3° nível de afetividade é caracterizado pela escolha do
inteligência sensório-motora e à construção de objetos, objeto, através da elaboração de um universo exterior.
compreendido a partir das ações. Objetivando os sentimentos e projetando-os sobre as outras
A causalidade está ligada à atividade em seu atividades que não apenas a do “eu”.
egocentrismo, entre um resultado empírico e uma ação Surge o sentimento ligado aos atos intencionais.
qualquer que o atraiu. Une-se a causa de uma ação sobre o
A escolha do objeto refere-se primeiro à pessoa da mãe, quais não sabe o nome ainda), super determinação
depois à pessoa do pai e dos próximos. Começa o (“teimosia”), egocentrismo (tudo é “meu”, não consegue se
desenvolvimento das empatias. colocar, abstratamente, no lugar do outro), etc.
Inteligência Intuitiva - dos 4 anos aos 7 anos,
Pré-operatório (2 à 7 anos) aproximadamente.
É nesta fase que surge, na criança, a capacidade de Neste período já existe um desejo de explicação dos
substituir um objeto ou acontecimento por uma representação fenômenos. É a “idade dos porquês”, pois o indivíduo
(PIAGET e INHELDER, 1982), e esta substituição é possível, pergunta o tempo todo, não aceita a idéia do acaso e tudo deve
conforme PIAGET, graças à função simbólica. Assim este ter uma explicação. Distingue a fantasia do real, podendo
estágio é também muito conhecido como o estágio da dramatizar a fantasia sem que acredite nela. Seu pensamento
Inteligência Simbólica. continua centrado no seu próprio ponto de vista. Já é capaz de
Inteligência Simbólica - dos 2 anos aos 4 anos, organizar coleções e conjuntos sem, no entanto incluir
aproximadamente. conjuntos menores em conjuntos maiores (rosas no conjunto
Neste período surge a função semiótica que permite o de flores, por exemplo). Quanto à linguagem não mantém uma
surgimento da linguagem, do desenho, da imitação, da conversação longa, mas já é capaz de adaptar sua resposta às
dramatização, etc.. Podendo criar imagens mentais na ausência palavras do companheiro.
do objeto ou da ação é o período da fantasia, do faz de conta, A Inteligência Simbólica e Intuitiva são também comumente
do jogo simbólico. Com a capacidade de formar imagens apresentados como Período Pré-Operatório.
mentais pode transformar o objeto numa satisfação de seu
prazer (uma caixa de fósforo em carrinho, por exemplo). É Operatório-concreto (7 a 11 anos)
também o período em que o indivíduo “dá alma” (animismo) As crianças estão desenvolvendo conceitos de número,
aos objetos ("o carro do papai foi 'dormir' na garagem"). A relações, processos e assim por diante. Elas estão se tornando
linguagem está a nível de monólogo coletivo, ou seja, todos capazes de pensar através de problemas, mentalmente, mas
falam ao mesmo tempo sem que respondam as argumentações sempre pensam em objetos reais (concretos), não em
dos outros. Duas crianças “conversando” dizem frases que não abstrações. Estão desenvolvendo habilidade maior de
têm relação com a frase que o outro está dizendo. Sua compreender regras.
socialização é vivida de forma isolada, mas dentro do coletivo. Em média, a criança de mais ou menos sete anos de
Não há liderança e os pares são constantemente trocados. idade começa a passar do estágio do pensamento intuitivo para
Existem outras características do pensamento simbólico o estágio das operações concretas.
como, por exemplo, o nominalismo (dar nomes às coisas das
Em resumo, dizemos que a criança atua no estágio das tempo, cresce o desejo de estar com outras crianças, de ter
operações concretas quando é capaz de: organizar as jogos em grupo, começar a formar grupinhos, clubes e facções.
experiências num todo consistente, fazer juízo racional de suas E certamente, as crianças se vêem umas às outras sob uma
experiências, fazer classificações e agrupamentos, conservar nova luz – à luz da posição social.
estas classificações e agrupamentos, tornar reversíveis as
operações que efetuam e pensar sobre um evento de diferentes Operatório-formal (11 anos em diante)
perspectivas, simultaneamente. Compreende a fase apartir dos 12 anos, neste período a
Pensamento e raciocínio: a criança pode efetuar criança, amplia as capacidades conquistadas na fase anterior, e
operações mentalmente, embora continue pensando em já consegue raciocinar sobre hipóteses na medida em que ela é
objetos reais quando o faz. É capaz de conservar quantidades, capaz de formar esquemas conceituais abstratos e através deles
comprimentos, números, etc. – isto é, mantê-los constantes em executar operações mentais dentro de princípios da lógica
sua mente, apesar do reagrupamento de partes ou mudanças formal. Com isso, conforme aponta Rappaport a criança
na aparência. Ela pode tornar reversíveis as operações – adquire "capacidade de criticar os sistemas sociais e propor
desfaze-las, mentalmente, permitindo assim a exploração novos códigos de conduta: discute valores morais de seus pais
mental de vários procedimentos com a habilidade de retornar e constrói os seus próprios (adquirindo, portanto, autonomia)".
ao início, sempre que necessário. De acordo com a tese piagetiana, ao atingir esta fase, o
Honestidade: antes a criança “mentia” – como é natural indivíduo adquire a sua forma final de equilíbrio, ou seja, ele
– simplesmente para embelezar, inventar ou repetir as consegue alcançar o padrão intelectual que persistirá durante a
experiências de outros sem qualquer real intenção de enganar idade adulta. Isso não quer dizer que ocorra uma estagnação
com malícia. Ela torna-se capaz de desassociar a “verdade” de das funções cognitivas, a partir do ápice adquirido na
situações temporárias e específicas (isto é, vê a verdade com adolescência, como enfatiza Rappaport, "esta será a forma
uma idéia e não meramente como parte de uma situação predominante de raciocínio utilizada pelo adulto. Seu
específica). Ela pode, quando as condições favorecem, fazer desenvolvimento posterior consistirá numa ampliação de
tentativas conscientes de enganar através da mentira. Ela tem conhecimentos tanto em extensão como em profundidade,
um conceito de moralidade. Em suma, desenvolveu uma mas não na aquisição de novos modos de funcionamento
consciência – baseada, pelo menos em parte, no respeito pelos mental".
outros e na consciência da obediência coletiva de regras e Para Piaget, existe um desenvolvimento da moral que
expectativas. ocorre por etapas, de acordo com os estágios do
Comportamento social: as crianças estão crescendo desenvolvimento humano. Para Piaget , "toda moral consiste
quanto ao respeito que elas têm pelos outros. Ao mesmo num sistema de regras e a essência de toda moralidade deve
ser procurada no respeito que o indivíduo adquire por estas aplicar o raciocínio lógico a todas as questões que lhes são
regras". Isso porque Piaget entende que nos jogos coletivos as impostas.
relações interindividuais são regidas por normas que, apesar de Um exemplo seria lhe pedem para analisar um
herdadas culturalmente, podem ser modificadas provérbio como “de grão em grão, a galinha enche a papo” a
consensualmente entre os jogadores, sendo que o dever de criança trabalha com a lógica da idéia (metáfora) e não com a
'respeitá-las' implica a moral por envolver questões de justiça e imagem de uma galinha comendo grãos.
honestidade. O pensamento hipotético dedutivo é o mais importante
Piaget argumenta que o desenvolvimento da moral aspecto apresentado nessa fase de desenvolvimento, pois o ser
abrange três fases: humano passa a criar hipóteses para tentar explicar e resolver
(a) anomia (crianças até cinco anos), em que a moral não os problemas, o foco desvia-se do que "é" para o que "poderia
se coloca, ou seja, as regras são seguidas, porém o indivíduo ser".
ainda não está mobilizado pelas relações bem x mal e sim pelo
sentido de hábito, de dever; AS CONSEQÜÊNCIAS DO MODELO PIAGETIANO
(b) heteronomia (crianças até nove, dez anos de idade), PARA A AÇÃO PEDAGÓGICA
para eles a moral é a autoridade, ou seja, as regras não Ao que se sabe, ele [Piaget] nunca participou
correspondem a um acordo mútuo firmado entre os jogadores, diretamente nem coordenou uma pesquisa com objetivos
mas sim como algo imposto pela tradição e, portanto, imutável; pedagógicos. Não obstante esse fato, de forma contraditória
(c) autonomia, corresponde ao último estágio do aos interesses previstos, portanto, o modelo piagetiano,
desenvolvimento da moral, em que há a legitimação das regras curiosamente, veio a se tornar uma das mais importantes
e a criança pensa a moral pela reciprocidade, quer seja o diretrizes no campo da aprendizagem escolar, por exemplo,
respeito a regras é entendido como decorrente de acordos nos USA, na Europa e no Brasil, inclusive.
mútuos entre os jogadores, sendo que cada um deles consegue As tentativas de aplicação da teoria genética no campo
conceber a si próprio como possível 'legislador' em regime de da aprendizagem são numerosas e variadas, no entanto os
cooperação entre todos os membros do grupo. resultados práticos obtidos com tais aplicações não podem ser
Para Piaget, a criança não se limita mais a representação considerados tão frutíferos. Uma das razões da difícil
imediata nem somente as relações previamente existentes, mas penetração da teoria genética no âmbito da escola deve-se,
ela é capaz de pensar em todas as relações possíveis, buscando principalmente, segundo o autor, "ao difícil entendimento do
soluções lógicas a partir de hipóteses e não apenas pela seu conteúdo conceitual como pelos métodos de análise
observação da realidade. As estruturas cognitivas alcançam seu formalizantes que utiliza e pelo estilo às vezes 'hermético' que
nível mais elevado de desenvolvimento e tornam-se aptos a caracteriza as publicações de Piaget" ressalta, também, que a
aplicação educacional da teoria genética tem como fatores o objeto a conhecer não deve estar nem além nem
complicadores, entre outros: aquém da capacidade do aprendiz conhecedor.
a) as dificuldades de ordem técnica, metodológicas e Por outro lado, como contribuições contundentes da
teóricas no uso de provas operatórias como teoria psicogenética podem ser citados, por exemplo:
instrumento de diagnóstico psicopedagógico, a) a possibilidade de estabelecer objetivos educacionais
exigindo um alto grau de especialização e de uma vez que a teoria fornece parâmetros importantes
prudência profissional, a fim de se evitar os riscos de sobre o 'processo de pensamento da criança'
sérios erros; relacionados aos estádios do desenvolvimento;
b) a predominância no "como" ensinar coloca o objetivo b) em oposição às visões de teorias behavioristas que
do "o quê" ensinar em segundo plano, contrapondo- consideravam o erro como interferências negativas
se, dessa forma, ao caráter fundamental de no processo de aprendizagem, dentro da concepção
transmissão do saber acumulado culturalmente que é cognitivista da teoria psicogenética, os erros passam a
uma função da instituição escolar, por ser esta de ser entendidos como estratégias usadas pelo aluno na
caráter preeminentemente político-metodológico e sua tentativa de aprendizagem de novos
não técnico como tradicionalmente se procurou conhecimentos (PCN, 1998);
incutir nas idéias da sociedade; c) uma outra contribuição importante do enfoque
c) a parte social da escola fica prejudicada uma vez que o psicogenético foi lançar luz à questão dos diferentes
raciocínio por trás da argumentação de que a criança estilos individuais de aprendizagem; (PCN, 1998);
vai atingir o estágio operatório secundariza a noção entre outros.
do desenvolvimento do pensamento crítico; Em resumo, as relações entre teoria psicogenética x
d) a idéia básica do construtivismo postulando que a educação, apesar dos complicadores decorrentes da "dicotomia
atividade de organização e planificação da aquisição entre os aspectos estruturais e os aspectos funcionais da
de conhecimentos estão à cargo do aluno acaba por explicação genética" e da tendência dos projetos privilegiarem,
não dar conta de explicar o caráter da intervenção em grande parte, um reducionismo psicologizante em
por parte do professor; detrimento ao social, pode-se considerar que a teoria
e) a idéia de que o indivíduo apropria os conteúdos em psicogenética trouxe contribuições importantes ao campo da
conformidade com o desenvolvimento das suas aprendizagem escolar.
estruturas cognitivas estabelece o desafio da
descoberta do "grau ótimo de desequilíbrio", ou seja,
DESENVOLVIMENTO E APRENDIZAGEM comportamento e elaborar hipóteses de como as características
– segundo VIGOTSKY humanas se formam ao longo da história do indivíduo.
Vygotsky acredita que as características individuais e até
Foi o primeiro psicólogo moderno a sugerir os mesmo suas atitudes individuais estão impregnadas de trocas
mecanismos pelos quais cultura torna-se parte da natureza de com o coletivo, ou seja, mesmo o que tomamos por mais
cada pessoa ao insistir que as funções psicológicas são um individual de um ser humano foi construído a partir de sua
produto de atividade cerebral. Conseguiu explicar a relação com o indivíduo. Suas maiores contribuições estão nas
transformação dos processos psicológicos elementares em reflexões sobre o desenvolvimento infantil e sua relação com a
processos complexos dentro da história. aprendizagem em meio social, e também o desenvolvimento
Vygotsky enfatizava o processo histórico-social e o papel do pensamento e da linguagem.
da linguagem no desenvolvimento do indivíduo. Sua questão
central é a aquisição de conhecimentos pela interação do DESENVOLVIMENTO E APRENDIZAGEM: A ZONA
sujeito com o meio. Para o teórico, o sujeito é interativo, pois DE DESENVOLVIMENTO PROXIMAL
adquire conhecimentos a partir de relações intra e
interpessoais e de troca com o meio, a partir de um processo Para J. Piaget, dentro da reflexão construtivista sobre
denominado mediação. desenvolvimento e aprendizagem, tais conceitos se inter-
Vygotsky trouxe uma nova perspectiva de olhar às relacionam, sendo a aprendizagem a alavanca do
crianças. Ao lado de colaboradores como Luria, Leontiev e desenvolvimento. A perspectiva piagetiana é considerada
Sakarov, entre outros, apresenta-nos conceitos, alguns já maturacionista, no sentido de que ela preza o desenvolvimento
abordados por Jean Piaget, um dos primeiros a considerar a das funções biológicas – que é o desenvolvimento - como base
criança como ela própria, com seus processos e nuanças, e não para os avanços na aprendizagem.
um adulto em miniatura. Já na chamada perspectiva sócio-interacionista, sócio-
O teórico pretendia uma abordagem que buscasse a cultural ou sócio-histórica, abordada por L. Vygotsky, a relação
síntese do homem como ser biológico, histórico e social. Ele entre o desenvolvimento e a aprendizagem está atrelada ao fato
sempre considerou o homem inserido na sociedade e, sendo de o ser humano viver em meio social, sendo este a alavanca
assim, sua abordagem sempre foi orientada para os processos para estes dois processos. Isso quer dizer que os processos
de desenvolvimento do ser humano com ênfase da dimensão caminham juntos, ainda que não em paralelo.
sóciohistórica e na interação do homem com o outro no Os conceitos sócio-interacionistas sobre
espaço social. Sua abordagem sócio-interacionista buscava desenvolvimento e aprendizagem se fazem sempre presentes,
caracterizar os aspectos tipicamente humanos do impelindo-nos à reflexão sobre tais processos. Como lidar com
o desenvolvimento natural da criança e estimulá-lo através da independentemente, e o nível de desenvolvimento proximal,
aprendizagem? Como esta pode ser efetuada de modo a demarcado pela capacidade de solucionar problemas com
contribuir para o desenvolvimento global da criança? ajuda de um parceiro mais experiente. São as aprendizagens
Em Vygotsky, ao contrário de Piaget, o desenvolvimento que ocorrem na ZDP que fazem com que a criança se
– principalmente o psicológico/mental (que é promovido pela desenvolva ainda mais, ou seja, desenvolvimento com
convivência social, pelo processo de socialização, além das aprendizagem na ZDP leva a mais desenvolvimento, por isso
maturações orgânicas) – depende da aprendizagem na medida dizemos que, para Vygotsky, tais processos são indissociáveis.
em que se dá por processos de internalização de conceitos, que É justamente nesta zona de desenvolvimento proximal
são promovidos pela aprendizagem social, principalmente que a aprendizagem vai ocorrer. A função de um educador
aquela planejada no meio escolar. escolar, por exemplo, seria, então, a de favorecer esta
Ou seja, para Vygotsky, não é suficiente ter todo o aprendizagem, servindo de mediador entre a criança e o
aparato biológico da espécie para realizar uma tarefa se o mundo. Como foi destacado anteriormente, é no âmago das
indivíduo não participa de ambientes e práticas específicas que interações no interior do coletivo, das relações com o outro,
propiciem esta aprendizagem. Não podemos pensar que a que a criança terá condições de construir suas próprias
criança vai se desenvolver com o tempo, pois esta não tem, por estruturas psicológicas. É assim que as crianças, possuindo
si só, instrumentos para percorrer sozinha o caminho do habilidades parciais, as desenvolvem com a ajuda de parceiros
desenvolvimento, que dependerá das suas aprendizagens mais habilitados (mediadores) até que tais habilidades passem
mediante as experiências a que foi exposta. de parciais a totais.
Neste modelo, o sujeito – no caso, a criança – é Temos que trabalhar, portanto, com a estimativa das
reconhecida como ser pensante, capaz de vincular sua ação à potencialidades da criança, potencialidades estas que, para
representação de mundo que constitui sua cultura, sendo a tornarem-se desenvolvimento efetivo, exigem que o processo
escola um espaço e um tempo onde este processo é de aprendizagem, os mediadores e as ferramentas estejam
vivenciado, onde o processo de ensino-aprendizagem envolve distribuídas em um ambiente adequado.
diretamente a interação entre sujeitos. Temos portanto uma interação entre desenvolvimento e
Essa interação e sua relação com a imbricação entre os aprendizagem, que se dá da seguinte maneira: em um contexto
processos de ensino e aprendizagem podem ser melhor cultural, com aparato biológico básico interagir, o indivíduo se
compreendidos quando nos remetemos ao conceito de ZDP. desenvolve movido por mecanismos de aprendizagem
Para Vygotsky, Zona de Desenvolvimento Proximal (ZDP), é a provocados por mediadores.
distância entre o nível de desenvolvimento real, ou seja,
determinado pela capacidade de resolver problemas
Para Vygotsky, o processo de aprendizagem porque permite a interação social e, ao mesmo tempo,
deve ser olhado por uma ótica prospectiva, ou organiza o pensamento.
seja, não se deve focalizar o que a criança Para Vygotsky, a aquisição da linguagem passa por três
aprendeu, mas sim o que ela está aprendendo. fases: a linguagem social, que seria esta que tem por função
Em nossas práticas pedagógicas, sempre denominar e comunicar, e seria a primeira linguagem que
procuramos prever em que tal ou qual surge. Depois teríamos a linguagem egocêntrica e a linguagem
aprendizado poderá ser útil àquela criança, não interior, intimamente ligada ao pensamento.
somente no momento em que é ministrado, A linguagem egocêntrica
mas para além dele. É um processo de A progressão da fala social para a fala interna, ou seja, o
transformação constante na trajetória das processamento de perguntas e respostas dentro de nós
crianças. As implicações desta relação entre mesmos – o que estaria bem próximo ao pensamento,
ensino e aprendizagem para o ensino escolar representa a transição da função comunicativa para a função
estão no fato de que este ensino deve se intelectual. Nesta transição, surge a chamada fala egocêntrica.
concentrar no que a criança está aprendendo, e Trata-se da fala que a criança emite para si mesmo, em voz
não no que já aprendeu. Vygotksy firma está baixa, enquanto está concentrado em alguma atividade. Esta
hipótese no seu conceito de zona de fala, além de acompanhar a atividade infantil, é um
desenvolvimento proximal (ZDP). instrumento para pensar em sentido estrito, isto é, planejar
uma resolução para a tarefa durante a atividade na qual a
criança está entretida.
AS FUNÇÕES DA A fala egocêntrica constitui uma linguagem para a pessoa
Para Vygotsky, a relação entre pensamento
LINGUAGEM mesma, e não uma linguagem social, com funções de
e linguagem é estreita. A linguagem
A linguagem é, (verbal, gestual e escrita) é nosso comunicação e interação. Esse
antes de tudo, social. instrumento de relação com os outros e, “falar sozinho” é essencial porque Neste momento, a
Portanto, sua função por isso, é importantíssima na nossa ajuda a organizar melhor as idéias criança faz a maior
inicial é a comunicação, constituição como sujeitos. Além disso, é e planejar melhor as ações. É descoberta de sua
expressão e compreensão. através da linguagem que aprendemos a
pensar(Ribeiro, 2005).
como se a criança precisasse falar vida: todas as coisas
Essa função comunicativa para resolver um problema que, têm um nome.
está estreitamente nós adultos, resolveríamos apenas Stern
combinada com o no plano do pensamento /
pensamento. A comunicação é uma espécie de função básica raciocínio.
Uma contribuição importante de Vygotsky e seus verbalizar, ou demoramos ainda um tempo para achar as
colaboradores, descrita no livro Pensamento e Linguagem, do palavras certas para exprimir um pensamento.
mesmo autor, é o fato de que, por volta dos dois anos de O pensamento não coincide de forma exata com os
idade, o desenvolvimento do pensamento e da linguagem – significados das palavras. O pensamento vai além, porque
que até então eram estudados em separado – se fundem, capta as relações entre as palavras de uma forma mais
criando uma nova forma de comportamento. complexa e completa que a gramática faz na linguagem escrita
Este momento crucial, quando a linguagem começa a e falada. Para a expressão verbal do pensamento, às vezes é
servir o intelecto e os pensamentos começam a oralizar-se – a preciso um esforço grande para concentrar todo o conteúdo de
fase da fala egocêntrica – é marcado pela curiosidade da uma reflexão em uma frase ou em um discurso. Portanto,
criança pelas palavras, por perguntas acerca de todas as coisas podemos concluir que o pensamento não se reflete na palavra;
novas (“o que é isso?”) e pelo enriquecimento do vocabulário. realiza-se nela, a medida em que é a linguagem que permite a
O declínio da vocalização egocêntrica é sinal de que a transmissão do seu pensamento para outra pessoa.
criança progressivamente abstrai o som, adquirindo capacidade Finalmente, cabe destacar que o pensamento não é o
de “pensar as palavras”, sem precisar dizê-las. Aí estamos último plano analisável da linguagem. Podemos encontrar um
entrando na fase do discurso interior. Se, durante a fase da fala último plano interior: a motivação do pensamento, a esfera
egocêntrica houver alguma deficiência de elementos e motivacional de nossa consciência, que abrange nossas
processos de interação social, qualquer fator que aumente o inclinações e necessidades, nossos interesses e impulsos,
isolamento da criança, iremos perceber que seu discurso nossos afetos e emoções. Tudo isso vai refletir imensamente na
egocêntrico aumentará subitamente. Isso é importante para o nossa fala e no nosso pensamento.
cotidiano dos educadores, em que eles podem detectar
possíveis deficiências no processo de socialização da criança.

DISCURSO INTERIOR E PENSAMENTO


O discurso interior é uma fase posterior à fala
egocêntrica. É quando as palavras passam a ser pensadas, sem
que necessariamente sejam faladas. É um pensamento em
palavras. Já o pensamento é um plano mais profundo do
discurso interior, que tem por função criar conexões e resolver
problemas, o que não é, necessariamente, feito em palavras. É
algo feito de idéias, que muitas vezes nem conseguimos
HENRI WALLON: PSICOLOGIA E EDUCAÇÃO O ORGANISMO EM DESENVOLVIMENTO NA
CONSTITUIÇÃO DA PESSOA
O desenvolvimento tem seu início na relação do
Henri Wallon, além de elaborar uma teoria sobre o organismo do bebê recém-nascido, essencialmente reflexos e
desenvolvimento humano, em virtude de sua preocupação movimentos impulsivos, também chamados descargas motoras,
com a educação, escreveu também sobre suas idéias com o meio humano que as interpreta. Nesta fase distingue-se
pedagógicas apontando bases que a psicologia pode oferecer à apenas estados de bem-estar ou desconforto. São as reações do
atuação pedagógica e o uso que a pedagogia pode fazer dessas ambiente humano, representado pela mãe, motivadas pela
bases, além de se nutrir da experiência pedagógica. interpretação da mímica do bebê que permitem distinguir as
Além dos textos voltados para a educação, Wallon emoções básicas. Essa mímica não é casual, mas um recurso
expressou suas idéias pedagógicas também no Projeto biológico da espécie, essencialmente social, que faz do bebê
Langevin-Wallon, um projeto de reforma para o ensino da um ser capaz de produzir, no ambiente humano, ainda
França que ele elaborou juntamente com físico Paul Langevin, representado pela mãe, um efeito mobilizador para sobreviver.
e que não chegou a ser implantado. Desta forma é a dimensão motora que dá a condição
Apesar disso, a teoria de desenvolvimento de Wallon é inicial ao organismo para o desenvolvimento da dimensão
ainda hoje pouco divulgada nos meios educacionais. afetiva.
Psicogenética, essencialmente sociocultural e relativista, A criança humana atua primeiro, não no mundo físico,
com forte lastro orgânico, a teoria de Wallon considera o mas no ambiente humano. A mobilização do outro se faz pela
desenvolvimento da pessoa completa integrada ao meio em emoção. É da protoconsciência, emocional, subjetiva que irá se
que está imersa, com os seus aspectos afetivo, cognitivo e desenvolver a consciência reflexiva. A vida psíquica é resultante
motor também integrados. do encontro da vida orgânica com o meio social.
Assim, a ênfase é para a integração – entre organismo e Esse processo de desenvolvimento está ancorado no
meio e entre as dimensões: cognitiva, afetiva, e motora na desenvolvimento neurológico, como sua condição e limite. A
constituição da pessoa. A pessoa é vista como o conjunto maturação orgânica é considerada condição para o
funcional resultante da integração de suas dimensões, cujo desenvolvimento e permite descreve-lo em estágios sucessivos
desenvolvimento se dá na integração de seu aparato orgânico e integrados. “A maturação orgânica é indispensável à evolução
com o meio, predominantemente o social. funcional”.
Os primeiros meses de vida caracterizam-se por uma
fusão total com o meio e pelo desenvolvimento rápido e
completo dos automatismos emocionais responsáveis pela
mobilização do meio humano para a satisfação das condições de desenvolvimento motor, e se alterna e conflitua
necessidades dos bebês. Estes automatismos dependem de com ela.
centros nervosos especiais e aparecem na criança como fato de A cognição é vista como parte da pessoa completa que
maturação. só pode ser compreendida integrada a ela, cujo
O desenvolvimento das funções depende tanto de desenvolvimento se dá a partir das condições orgânicas da
condições de maturação como de exercícios capazes de espécie, e é resultante da integração entre seu organismo e o
desenvolvê-las, portanto condições do meio. No estágio meio, predominantemente o social. Assim, o desenvolvimento
sensório-motor, a criança realiza um extenso e diferenciado é condicionado tanto pela maturação orgânica, como pelo
acordo entre as percepções e os movimentos. Esta relação em exercício funcional, propiciado pelo meio. Segundo Wallon
sua forma mais simples é o ato reflexo, ou seja, a uma (1979):
determinada excitação corresponde um determinado
movimento. Com a maturação neurológica, os reflexos são O que permite à inteligência essa transferência
inibidos e a criança se torna capaz de realizar exercícios do plano motor para o plano especulativo não é
sensório-motores que conduzem a um duplo resultado: ligar o evidentemente explicável no desenvolvimento
efeito perceptível aos movimentos próprios para produzi-los, e do indivíduo (...) mas nele pode ser identificada
diversificar os movimentos e os efeitos possíveis. Coordenando [a transferência] (...) são as aptidões da espécie
mutuamente os campos sensorial e motor, completa-se o que estão em jogo, em especial as que fazem do
arranjo funcional da atividade conforme as suas atividades homem um ser essencialmente social.
objetivas.
É a ação motriz que regula o aparecimento e o A evolução da espécie humana fez do homem um ser
desenvolvimento das funções mentais. O movimento geneticamente social, desenvolvendo nele aptidões específicas.
espontâneo se transforma aos poucos em gesto, que, ao ser A função simbólica é a aptidão específica da espécie humana
realizado a partir de uma intenção, se reveste de significação que se refere ao poder de encontrar, para um objeto, a sua
ligada à ação, voltada para a realização da cena, fora da qual representação e, para esta representação, um signo. O
nada significa. desenvolvimento deste potencial pela espécie tem na sua base
O desenvolvimento das funções psicológicas superiores a vida em sociedade que pressupõe objetivos comuns e
se dá, portanto, a partir do desenvolvimento das dimensões necessidade de comunicação. Assim, o desenvolvimento da
motora e afetiva. É a comunicação emocional que dá acesso ao inteligência se processa em um organismo a priori capaz disso,
mundo adulto, ao universo das representações coletivas. A dependendo para tanto de seu encontro com o meio social
inteligência surge depois da afetividade, e a partir das
Partes da pessoa completa, as funções psicológicas A primeira, chamada lei da alternância funcional, indica
superiores, que se desenvolvem a partir de exercícios duas direções opostas que se alternam ao longo do
funcionais motores, serão mais tarde nutridas da sua inibição e desenvolvimento: uma centrípeta, voltada para a construção do
não de sua estimulação. O movimento que se encontra na eu e a outra centrífuga, voltada para a elaboração da realidade
gênese da representação e a acompanha durante sua evolução externa e do universo que a rodeia. Essas duas direções se
inicial, termina por ser inibido por ela, condição necessária ao manifestam alternadamente, constituindo o ciclo da atividade
desenvolvimento das funções mentais específicas da funcional.
representação pura A segunda é a lei da sucessão da preponderância
O desenvolvimento não se dá de maneira linear e funcional, na qual as três dimensões ou subconjuntos
contínua, mas por integração de novas funções e aquisições às preponderam, alternadamente, ao longo do desenvolvimento
anteriores. A acumulação quantitativa de funções culmina na do homem: motora, afetiva e cognitiva. A função motora
evolução qualitativa das mesmas a partir de uma nova predomina nos primeiros meses de vida da criança, enquanto
organização em que as dimensões motora, afetiva e cognitiva se as funções afetivas e cognitivas se alternam ao longo de todo o
integram de maneira diversa da fase anterior, alternando-se no desenvolvimento, ora visando a formação do eu
exercício de predominância de uma sobre as demais. A (predominância afetiva), ora visando o conhecimento do
preponderância de um dos aspectos sobre os demais é mundo exterior (predominância cognitiva).
decorrente da sua integração, que é plástica, dinâmica e A última lei, chamada de lei da diferenciação e
resultante da superação da oposição de um em relação aos integração funcional, diz respeito às novas possibilidades que
outros. não se suprimem ou se sobrepõem às conquistas dos estágios
Uma visão de conjunto, em que as dimensões da pessoa anteriores, mas, pelo contrário, integram-se a elas no estágio
se integram de forma dinâmica, alternando-se em relação à subsequente.
predominância de uma frente às demais é necessária para a A integração dos três subconjuntos funcionais – motor,
compreensão da concepção de desenvolvimento walloniana. A afetivo e cognitivo – constitui o último e quarto subconjunto
integração não é um estado alcançado ao final de um processo, funcional, denominado por Wallon pessoa. Para Wallon, em
mas define a condição plástica, o equilíbrio dinâmico da qualquer momento, ou fase do desenvolvimento, a pessoa é
pessoa em desenvolvimento. sempre uma pessoa completa.
Wallon admite, a existência de três leis que regulam o Outra tendência apontada por Wallon, manifesta no
processo de desenvolvimento da criança em direção ao adulto: desenvolvimento da pessoa completa é a de caminhar do
a lei da alternância funcional, a da preponderância funcional e sincretismo em direção à diferenciação. Movimentos,
a da integração funcional sentimentos e idéias são a princípio vividos de uma maneira
global, até mesmo confusa, quando a pessoa não tem clareza aos poucos, cede terreno aos sentimentos e depois às
da situação. Aos poucos, tornam-se mais claros e adequados às atividades intelectuais.
necessidades que a situação apresenta. Sobre esta questão, nos As emoções são instantâneas e diretas e podem
diz Mahoney (2000): expressar–se como verdadeiras descargas de energia. Quando
isto ocorre, elas têm o poder de se sobrepor ao raciocínio e ao
Desenvolver-se é ser capaz de responder com conhecimento.
reações cada vez mais específicas a situações A afetividade evolui conforme as condições
cada vez mais variadas maturacionais de cada pessoa e com formas de expressões
diferenciadas, que se configuram como um conjunto de
A Teoria das Emoções é de grande importância na obra significados que o indivíduo adquire nas relações com o meio,
de Wallon. Segundo o autor, a emoção é a exteriorização da com a cultura, ao longo da vida. Os significados representam
afetividade, um fato fisiológico nos seus componentes para cada pessoa as diferentes situações e experiências
humorais e motores e, ao mesmo tempo, um comportamento vivenciadas num determinado momento e ambiente social. Por
social na sua função de adaptação do ser humano ao seu meio: este motivo afetividade não permanece imutável ao longo da
trajetória da pessoa.
...As emoções, são a exteriorização da A afetividade, corresponde à energia que mobiliza o ser
afetividade(....) Nelas que assentam os em direção ao ato, enquanto a inteligência corresponde ao
exercícios gregários, que são uma forma poder estruturante que o modela a partir dos esquemas
primitiva de comunhão e de comunidade. As disponíveis naquele momento.
relações que elas tornam possíveis afinam os Para Wallon, a emoção precede nitidamente o
seus meios de expressão, e fazem deles aparecimento das condutas do tipo cognitivo e é um processo
instrumentos de sociabilidade cada vez mais corporal que, quando intenso, pode impulsionar a consciência
especializados. a se voltar para as alterações proprioceptivas, prejudicando a
percepção do exterior. Em virtude de seu poder de sobrepor-
A emoção, antes da linguagem, é o meio utilizado pelo se à preponderância da razão, é necessário, segundo Wallon,
recém–nascido para estabelecer uma relação com o mundo manter-se uma “baixa temperatura emocional” para que se
humano. Gradativamente, os movimentos de expressão, possa trabalhar as funções cognitivas.
primeiramente fisiológica, evoluem até se tornarem A emoção é capaz de preponderar sobre a razão sempre
comportamentos afetivos mais complexos, nos quais a emoção, que à última faltem recursos para controlar a primeira. O
desenvolvimento deve conduzir à predominância da razão, grupo social. Portanto, a pessoa deve ser vista integrada ao
pois, para Wallon, “a razão é o destino final do homem”. meio do qual é parte constitutiva e no qual, ao mesmo tempo,
A integração entre as dimensões motora, afetiva e se constitui. A este respeito nos diz Wallon (1975):
cognitiva, conceito central da teoria de Wallon, é claramente
descrito por Mahoney (2000): Sem dúvida que o papel e o lugar que aí ocupa
[a criança] são em parte determinados pelas
O motor, o afetivo, o cognitivo, a pessoa, suas próprias disposições, mas a existência do
embora cada um desses aspectos tenha grupo e as suas exigências não se impõem
identidade estrutural e funcional diferenciada, menos à sua conduta. Na natureza do grupo, se
estão tão integrados que cada um é parte os elementos mudam, as suas reações mudam
constitutiva dos outros. Sua separação se faz também.
necessária apenas para a descrição do processo.
Uma das conseqüências dessa interpretação é A constituição da pessoa se dá de acordo com suas
de que qualquer atividade humana sempre condições de existência. O meio social e a cultura constituem
interfere em todos eles. Qualquer atividade as condições, as possibilidades e os limites de desenvolvimento
motora tem ressonâncias afetivas e cognitivas; para o organismo.
toda disposição afetiva tem ressonâncias Durante a primeira etapa, denominada por Wallon de
motoras e cognitivas; toda operação mental tem Estágio Impulsivo, os atos da criança têm o objetivo de chamar
ressonâncias afetivas e motoras. E todas essas a atenção do adulto por meio de gestos, gritos e expressões,
ressonâncias têm um impacto no quarto para que ele satisfaça as suas necessidades e garanta assim a sua
conjunto: a pessoa. sobrevivência.
Durante o desenvolvimento, a simbiose respiratória do
feto se transforma em simbiose alimentar no recém-nascido e,
O PAPEL DO MEIO NA CONSTITUIÇÃO DA PESSOA por volta dos três meses, em simbiose afetiva, característica
O conceito de meio é fundamental na teoria walloniana. específica da espécie humana. A esta fase Wallon chama de
Nela, como já foi acima referido, a pessoa constitui-se na Estágio Emocional.
integração de seu organismo com o meio, estando o social A criança aos poucos aprende a contagiar o adulto com
sobreposto ao natural. As atitudes da pessoas são consideradas sorrisos e sinais de contentamento, o que caracteriza laços de
complementares às do meio, tanto quanto determinadas pelas caráter afetivo com aqueles que estão à sua volta, e demonstra
suas disposições individuais e pelo papel e lugar que ocupa no
necessidade de manifestações afetivas, necessidade que precisa É somente no Estágio do Personalismo, que vai dos três
ser satisfeita para que tenha um desenvolvimento satisfatório. aos cinco anos, que a criança realmente se diferencia do outro,
Para que a humanidade possa sobreviver, é necessário que toma consciência de sua autonomia em relação aos
que a imperícia do recém-nascido afete o outro e provoque demais. Ela percebe as relações e os papéis diferentes dentro
nele sentimentos de solidariedade; é a garantia de do universo familiar, ao mesmo tempo que se percebe como
sobrevivência da espécie. Este, para Wallon, é o maior um elemento fixo, como ser o filho mais velho ou o mais novo,
indicador de que o meio social é privilegiado para a criança em ser filho e irmão, assim por diante.
desenvolvimento, e para o homem adulto, em relação ao meio Nessa idade, a criança também costuma ingressar na
físico. escola maternal, inserindo-se numa comunidade de crianças
A criança, que está primeiramente ligada à mãe, aos semelhantes a ela, onde as relações serão diferentes das
poucos diferencia outras pessoas que desempenham papéis relações familiares. As necessidades dessa faixa etária ainda
significativos em relação a ela, como, por exemplo, pai, avós, exigem do professor cuidados de caráter pessoal, diretos, quase
tios e padrinhos. Sua sociabilidade se amplia rapidamente como os de mãe.
quando começa a andar e a falar. Andando, a criança pode Na etapa seguinte, denominada Categorial, idade de
interagir mais com o ambiente que o cerca. A aquisição da escolaridade obrigatória na maioria dos países, o
linguagem a possibilita ao nomear objetos e pessoas, desenvolvimento cognitivo da criança está aguçado e a sua
diferenciá-los. sociabilidade ampliada. A criança se vê capaz de participar de
Nesta etapa, denominada por Wallon de Estágio vários grupos com graus e classificações diferentes segundo as
Sensório-Motor, a criança aprende a conhecer os outros como atividades de que participa. Esta etapa é importante para o
pessoas em oposição à sua própria existência. desenvolvimento das aptidões intelectuais e sociais da criança.
É o tempo dos jogos espontâneos de alternância, do Vivenciar a necessidade de se perceber como indivíduo,
interesse por atos que unem duas pessoas ou, principalmente, e, ao mesmo tempo, de medir sua força em relação ao grupo
papéis diferentes, como por exemplo, o jogo de dar e receber social a que pertence, faz desta fase um período crítico do
tapinhas, de esconder e ser escondido pela almofada, etc. processo de socialização, pois segundo Wallon (1975):
Esses jogos alargam o horizonte e a vivência da criança,
pois fazem com que ela conceba relações mais ricas. Nesse Há tomada de consciência pelo indivíduo do
período, a criança ainda está estreitamente dependente do grupo de que faz parte, há tomada de
outro, pois seu processo de individuação está apenas se consciência pelo grupo da importância que
iniciando. Ela ainda vive sua relação com o outro de maneira pode ter em relação aos indivíduos.
bastante sincrética, sem se diferenciar claramente dele.
A adolescência, que para Wallon tem início aos 12 anos pessoas que cuidam dela desde o nascimento, são feitos de
com a puberdade, é marcada por transformações de ordem emoções e não apenas cognições.
fisiológica, mudanças corporais impostas pelo amadurecimento Baseou suas idéias em quatro elementos básicos que
sexual, assim como transformações de ordem psíquica com estão todo o tempo em comunicação: afetividade, emoções,
preponderância afetiva. movimento e formação do eu.
Nesse estágio, denominado Predominância Funcional
ou Adolescência, os sentimentos se alternam procurando MOVIMENTO- as emoções da organização dos
buscar a consciência de si na figura do outro, contrapondo–se a espaços para se movimentarem. Deste modo, a
ele, além de incorporar uma nova percepção temporal. motricidade tem um caráter pedagógico tanto pela
O meio social e cultural passam a ser de grande qualidade do gesto e do movimento, quanto pela
importância. Os adolescentes tornam-se intolerantes em maneira com que ele é representado. A escola ao
relação às regras e ao controle exercidos pelos pais, e insistir em manter a criança imobilizada acaba por
necessitam identificar-se com seu grupo de amigos. limitar o fluir de fatores necessários e importantes para
Na adolescência torna-se bastante visível a forma como o o desenvolvimento completo da pessoa.
meio social condiciona a existência da pessoa, configurando-
se a personalidade de maneiras diversas. Enquanto os
adolescentes de classe média exteriorizam seus sentimentos e
EMOÇÕES- é altamente orgânica, ajuda o ser
questionam valores e padrões morais, os de classes operárias,
humano a se conhecer. A raiva, o medo, a tristeza, a
que enfrentam precocemente a realidade social do adulto, a
alegria e os sentimentos mais profundos possuem uma
necessidade de trabalho, vivem essa fase de outra maneira, pois
função de grande relevância no relacionamento da
têm de contribuir para a subsistência da família.
criança com o meio.
Na sucessão de estágios há uma alternância entre as
formas de atividades e de interesses da criança, denominada de
"alternância funcional", onde cada fase predominante (de
dominância, afetividade, cognição), incorpora as conquistas
realizadas pela outra fase, construindo-se reciprocamente, num
permanente processo de integração e diferenciação.
Wallon enfatiza o papel da emoção no desenvolvimento
humano, pois, todo o contato que a criança estabelece com as
AFETIVIDADE- possui papel fundamental no enquanto a cultura específica e o conhecimento técnico
desenvolvimento da pessoa pois é por meio delas que afastam-nos, ao individualizá-los e diferenciá-los.
o ser humano demonstra seus desejos e vontades. As A cultura é, para Wallon, ao mesmo tempo, fator
transformações fisiológicas de uma criança (nas constituinte da pessoa e representante das aptidões totais do
palavras de Wallon, em seu sistema neurovegetativo) homem genérico, à medida que é constituída pela totalidade
revelam importantes traços de caráter e personalidade. dos homens de determinada época e lugar.

FORMAÇÃO DO EU- a construção do eu depende CONTRIBUIÇÕES DA TEORIA À EDUCAÇÃO


essencialmente do outro. Com maior ênfase a partir
de quando a criança começa a vivenciar a "crise de Wallon chama de humanismo ampliado a concepção
oposição", na qual a negação do outro funciona como que implica a plena realização do homem em cada indivíduo.
uma espécie de instrumento de descoberta de si O homem completo só é concebido em sua forma universal
própria. Isso acontece mais ou menos em torno dos 3 atribuindo-lhe o poder de compreender, ponderar e escolher.
anos, quando é a hora de saber que "eu" sou. Uma educação humanista, segundo Wallon, deve
Imitação, manipulação e sedução em relação ao outro considerar todas as disposições que constituem o homem
são características comuns nesta fase. completo, mesmo estando desigualmente repartidas entre os
indivíduos, pois qualquer indivíduo potencialmente pode se
desenvolver em qualquer direção, a depender de seu aparato
Para Wallon o processo de socialização da pessoa não biológico e das condições em que vive.
se dá apenas no seu contato com o outro nas diversas etapas Segundo Wallon, como uma aptidão só se manifesta se
do desenvolvimento e da vida adulta, mas também no contato encontrar ocasião favorável e objetos que lhes respondam.
com a produção do outro. O encontro com o texto, com a Muitas aptidões novas poderiam manifestar-se no encontro das
pintura ou com a música produzida pelo outro, propicia a necessidades psicológicas das crianças e as necessidades
identificação como homem genérico e, ao mesmo tempo, a crescentes da sociedade.
diferenciação como homem concreto, o que contribui ao Assim, o acesso à cultura é função primordial da
processo de individuação e constituição do eu. É por isso que, educação formal, pois ela é a expressão do florescimento das
segundo Wallon, a cultura geral aproxima os homens, à criações e das aptidões do homem genérico, universal, sejam
medida que permite a identificação de uns com outros, manuais, corporais, estéticas, intelectuais ou morais. A escola
é parte das condições de existência na qual a pessoa se
desenvolve e constitui, devendo intervir neste processo de para isso seria necessário haver escola para todos onde cada
maneira a promover o desenvolvimento de tantas aptidões um pudesse encontrar, segundo suas aptidões, todo o
quantas for possível. desenvolvimento intelectual, estético e moral que fosse capaz
O Projeto Langevin-Wallon propunha uma educação de assimilar. Oferecida uma base comum, dever-se-ia também
integral do pré–escolar até a universidade e tinha na sua gênese propiciar condições para que a criança, experimentando,
a preocupação com a formação dos valores éticos e morais, descobrisse suas tendências de acordo com seu estágio de
pois considerava a escola um espaço social adequado para tal. desenvolvimento:
Visando uma educação preocupada com a formação geral 1- dos três aos onze anos, as aptidões parecem não
sólida, para a autonomia, a cidadania e a orientação contribuir de maneira eficiente. Exatamente por este
profissional, fundamentadas pelos princípios de justiça, motivo, o momento seria propício, segundo Wallon,
igualdade e respeito à diversidade, o projeto sistematizou e para orientar e cultivar todas elas, cada uma de
sugeriu etapas consecutivas que priorizassem aspectos e acordo com sua natureza: manual, corporal, estética,
necessidades específicas de cada faixa etária, respeitando o intelectual e moral.
desenvolvimento afetivo, cognitivo de socialização e maturação 2 - entre onze e quinze anos, sobre um fundo de
biológica de cada indivíduo. aquisições comuns, emergem aptidões mais
Os programas educacionais deveriam ser reformados de particulares, mais pessoais, mais originais que devem
maneira que toda aptidão pudesse ser orientada, cultivada encontrar tarefas que ajudem no desenvolvimento. A
segundo sua natureza, de forma que o ensino recebido fosse oferta de alternativas deveria ser ampla o suficiente
uma preparação suficiente para o exercício de qualquer função para permitir à criança, ao exercitar e desenvolver
que poderia oferecer-se mais tarde. novas funções, reconhecer suas preferências e seus
Wallon acreditava serem as aptidões cultivadas, dificuldades.
desenvolvidas em contato com a cultura, e não inatas, embora 3 - à universidade caberia a formação profissional, a
elas dependam também de condições orgânicas. Por isso investigação científica e a difusão da cultura
atribuiu à escola, como função primordial, dar acesso a cultura associando uma cultura geral superior a uma
visando o cultivo das aptidões, pois só podem exercer as especialização muito avançada.
disposições que constituem o homem completo – Wallon afirma que o meio e a cultura condicionam os
compreender, ponderar e escolher – aqueles aos quais for valores morais e sociais que a criança incorporará, e que
dado a conhecer a cultura de seu tempo. devem ser cultivados os valores de solidariedade e justiça.
Wallon acreditava que todos deveriam ter Insiste na importância de o professor conhecer as condições de
oportunidades iguais, inclusive ao respeito à singularidade, e existência de seu aluno, para saber quais os valores que nela
estão sendo cultivados, nos outros meios em que está imersa, e O professor pode, desta forma, auxiliar o adolescente
saber como cultivar aqueles que são seu objetivo. em suas indecisões e angústias, propondo atividades que
A partir de sete anos, a criança vive, ao mesmo tempo, propiciem o reconhecimento de suas tendências e o cultivo de
sentimentos e situações de cooperação, exclusão e rivalidade. aptidões e orientando a proposição de metas e objetivos
Caberia ao professor intervir, propondo atividades que futuros.
privilegiem trabalhos em grupo e atitudes de cooperação, em
relação aos trabalhos individuais, uma vez que, nessa época,
podem acirrar-se rivalidades em detrimento da solidariedade.
Além disso, o momento é propício para preparar a criança
para a etapa seguinte que é a adolescência.
Diante do adolescente, compreendendo as
características de seu estágio de desenvolvimento, o professor
pode atuar no sentido de ajudá-lo a distinguir valores sociais e
morais.
A responsabilidade é um dos sentimento que o
educador deve buscar promover no adolescente, uma vez que
ela tem ingredientes capazes de mobilizar essa faixa etária
graças às suas características específicas, pois responsabilidade
representa, segundo Wallon (1975):
Tomar a seu cargo o êxito de uma ação que é
executada em colaboração com outros ou em
proveito de uma coletividade. A
responsabilidade confere um direito de
domínio, por uma causa mas também um
dever de sacrifício, o que significa que o
adolescente responsável é aquele que deve se
sacrificar maior, por tarefas sociais que
contribuem para o crescimento e
desenvolvimento da coletividade e do grupo.

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