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FACULDADE DE TEOLOGIA E CIÊNCIAS HUMANAS – FATECH

CURSO DE PÓS-GRADUAÇÃO LATO SENSU EM

PSICOPEDAGOGIA CLÍNICA E INSTITUCIONAL

ELIANE MARREIROS DE SOUSA

AVALIAÇÃO E DIAGNÓSTICO EM PSICOPEDAGOGIA CLÍNICA

MACAPÁ – AP

2017
FACULDADE DE TEOLOGIA E CIÊNCIAS HUMANAS – FATECH

CURSO DE PÓS-GRADUAÇÃO LATO SENSU EM

PSICOPEDAGOGIA CLÍNICA E INSTITUCIONAL

ELIANE MARREIROS DE SOUSA

AVALIAÇÃO E DIAGNÓSTICO EM PSICOPEDAGOGIA CLÍNICA

Relatório apresentado à Coordenação

de Pós-Graduação Lato Sensu em

Psicopedagogia Clínica e Institucional,

como requisito para a Conclusão de

Curso, sob orientação da Professora

Especialista Daniele Araújo A. Dias.

MACAPÁ – AP

2017
AVALIAÇÃO E DIAGNÓSTICO EM PSICOPEDAGOGIA CLÍNICA

ELIANE MARREIROS DE SOUSA

Relatório apresentado à Coordenação

de Pós-Graduação Lato Sensu em

Psicopedagogia Clínica e Institucional,

como requisito de Conclusão de Curso,

sob orientação da Professora

Especialista Daniele Araújo A. Dias.

ÁREA DE CONCENTRAÇÃO: Psicopedagogia

_____________________________

Daniele Araújo A. Dias

Professora Orientadora

MACAPÁ – AP

2017
AVALIAÇÃO E DIAGNÓSTICO EM PSICOPEDAGOGIA CLÍNICA

ELIANE MARREIROS DE SOUSA

Aprovado em: ___/___/_____

Conceito: ______

_____________________________

Visto do Professor Avaliador

_______________________________

Visto da Coordenação do CPPEX

MACAPÁ – AP

2017
SUMÁRIO

I. INTRODUÇÃO ......................................................................................................... 6

II. DESENVOLVIMENTO ............................................................................................ 7

2.1. IDENTIFICAÇÕES DA INSTITUIÇÃO ......................................................... 7

2.2. DADOS DE IDENTIFICAÇÃO DO AVALIADO ........................................... 8

2.3. REGISTROS DA QUEIXA ........................................................................... 8

2.4. REGISTROS DESCRITIVOS DOS ENCONTROS. ..................................... 8

2.4.1. Anamnese (Entrevista Familiar) ....................................................... 8

2.4.2. Entrevista Operativa Centrada na Aprendizagem – E. O. C. A. ..... 10

2.4.3. Hora do Jogo .................................................................................. 12

2.4.4. Provas Projetivas ............................................................................ 14

2.4.5. Provas Psicomotoras ...................................................................... 15

2.5. DEVOLUTIVA PSICOPEDAGÓGICA ....................................................... 17

III. CONCLUSÃO ..................................................................................................... 20

IV. REFERÊNCIAS ................................................................................................... 21

ANEXOS ................................................................................................................... 22
ANEXOS

ANEXO 1 – Ficha de Atividades e Frequência .......................................................... 23

ANEXO 2 – E.O.C.A. - Produto ................................................................................. 24

ANEXO 3 – Hora do Jogo ......................................................................................... 25

ANEXO 4 – Provas Projetivas – Par Educativo ......................................................... 26

ANEXO 5 – Provas Projetivas – Eu e meus companheiros ...................................... 27

ANEXO 6 – Provas Psicomotoras – Bancada ........................................................... 28

ANEXO 7 – Provas Psicomotoras – Circuitos ........................................................... 29

ANEXO 8 – Provas Pedagógicas .............................................................................. 30

ANEXO 9 – Devolutiva Psicopedagógica .................................................................. 31


6

I. INTRODUÇÃO

A Psicopedagogia é um campo de conhecimento que estuda o processo de

aprendizagem humana e suas dificuldades, envolvendo a apropriação do

conhecimento, o fracasso escolar e o atendimento às necessidades individuais de

aprendizagem do sujeito, tendo por objetivo a melhoria das condições de

aprendizagem e a potencialização das capacidades individuais da pessoa.

A relevância do estágio supervisionado se dá pela oportunidade de

aperfeiçoamento e entrelaçamento do conhecimento teórico com a construção de

um exercício profissional no campo de atuação da Psicopedagogia Clínica,

oportunizando colocar em prática os conhecimentos e informações adquiridos no

decorrer das aulas teóricas.

O presente trabalho consiste em um relato descritivo da experiência do

Estágio Supervisionado realizado na Clínica Psicopedagógica da Faculdade de

Teologia e Ciências Humanas – FATECH, no período de 28 de agosto a 15 de

setembro de 2017, tendo como avaliado a criança E. M. O. de 3 anos e 10 meses de

idade, que apresenta agitação motora intensa e grande desatenção.

O estágio supervisionado baseou-se na experiência da Avaliação e

Diagnóstico Psicopedagógico e, com este objetivo, tendo como fundamento as

experiências e estudos propostos por Jean Piaget, Sara Paín, Jorge Visca e Maria

Lúcia Lemme Weiss, para a realização da avaliação psicopedagógica de E. M. O.

foram realizados oito encontros, tendo como instrumentos de diagnóstico a

Anamnese, a Entrevista operativa Centrada na Aprendizagem (E. O. C. A), as

Provas Projetivas, as Provas Psicomotoras de bancada e circuitos e as Provas

Pedagógicas, tendo como resultado a Devolutiva Psicopedagógica.


7

II. DESENVOLVIMENTO

O diagnóstico psicopedagógico é uma observação em que se descreve

minuciosamente um problema, o qual relaciona-se diretamente com as dificuldades

de aprendizagem da pessoa que está sendo avaliada.

A psicopedagogia utiliza recursos de várias áreas do conhecimento humano

para a compreensão do ato de aprender. Neste sentido Scoz (1994, p. 22) nos diz

que:

(...) os problemas de aprendizagem não são restringíveis nem a

causas físicas ou psicológicas, nem a análises das conjunturas

sociais. É preciso compreendê-los a partir de um enfoque

multidimensal, que combine fatores orgânicos, cognitivos, afetivos,

sociais e pedagógicos, percebidos dentro das articulações sociais.

O ponto decisivo do diagnóstico é o obstáculo encontrado no processo

de aprendizagem, tendo como finalidade obter uma compreensão global da forma de

aprender do avaliado e as dificuldades encontradas por ele neste processo. Esses

dados nos levarão a um prognóstico e aos encaminhamentos psicopedagógicos que

possam contribuir na superação dos problemas de aprendizagem e potencialização

das capacidades da pessoa.

2.1. IDENTIFICAÇÕES DA INSTITUIÇÃO

O Estágio Supervisionado foi realizado na Clínica Psicopedagógica da

Faculdade de Teologia e Ciências Humanas – FATECH, criada neste ano de 2017

com o objetivo de atender alunos do Curso de Pós-Graduação em Psicopedagogia

nas atividades práticas em psicopedagogia e no estágio supervisionado.


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2.2. DADOS DE IDENTIFICAÇÃO DO AVALIADO

Nome: E. M. O.

Data de Nascimento: 17.10.2013

Sexo: Masculino

Filiação: Pai: E. C. O. Mãe: R. M. S.

Série: Ainda não frequenta a escola.

2.3. REGISTROS DA QUEIXA

A mãe relata que E. M. O. apresenta agitação motora intensa, desatenção e

repetição de palavras e frases. Tem dificuldades para manter a atenção em tarefas e

atividades lúdicas ou educacionais, não conseguindo se concentrar em uma única

tarefa, mudando frequentemente de uma tarefa para outra sem completar a primeira,

tornando-se necessário que a mãe insista repetidas vezes para que E. M. O. termine

pequenas tarefas do dia-a-dia por distrair-se facilmente com os estímulos do

ambiente.

2.4. REGISTROS DESCRITIVOS DOS ENCONTROS.

2.4.1. Anamnese (Entrevista Familiar)

A anamnese é a entrevista familiar realizada com os pais ou responsáveis,

antes mesmo do início dos atendimentos com a criança, tendo como objetivo

conhecer sua história de vida desde sua concepção, gestação e nascimento; colher

informações a respeito do indivíduo, da queixa, da expectativa familiar sobre aquele


9

indivíduo; levantar dados das primeiras aprendizagens, evolução geral, história

clínica, história da família nuclear, história das famílias materna e paterna e história

escolar, possibilitando a integração do passado, presente e futuro do paciente no

seio da família.

Para Paín (1992), a primeira entrevista é muito importante, pois, esse olhar

essa escuta é fundamental, é nesse relato que os pais expressam o motivo da

consulta: o significado do sintoma na família e o significado do sintoma para a

família. Através da anamnese, ressaltamos o ponto de vista da família sobre a

história da criança, seus preconceitos, expectativas, afetos, conhecimentos e tudo

aquilo que é depositado sobre ele.

Com intuito de ter melhor conhecimento sobre a história de vida de E. M. O.,

foi realizada no dia 28 de agosto de 2017 a Anamnese com sua mãe R. M. S. que

nos contou a história da criança desde sua concepção, pois, segundo Weiss (1992,

p. 64), “A história do paciente tem início no momento da concepção e vêm reforçar a

importância desses momentos na vida do indivíduo e, de algum modo, nos aspectos

inconscientes de aprendizagem”.

R. M. S. relatou que E. M. O. é fruto de uma gravidez desejada e que a

mesma fez o pré-natal e não consumiu bebidas alcoólicas durante toda a gravidez

que, em geral, foi bem tranquila. O nascimento se deu por parto normal induzido, já

que haviam passado 10 dias da data prevista para o parto. A adaptação neonatal foi

tranquila para ambos. E M. O. sentou, andou e falou em idade considerada dentro

da normalidade.

A família de E. M. O. é composta pela mãe, avó, tia e dois primos. Ele passa

o dia em casa aos cuidados da tia materna, porque a mãe trabalha das 9h40 às 19h.

Os pais são separados desde a gestação e o genitor não participou da entrevista,


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pois este é pouco presente na vida da criança. A mãe foi bastante receptiva,

respondeu a todas as perguntas com precisão e em nenhum momento demonstrou

insegurança no que falava. Segundo Paín (1992), o psicopedagogo precisa estar

atento à fala os pais, buscando, nas entrelinhas, nos atos falhos e nos lapsos, dados

significados que o inconsciente deixa escapar durante a entrevista.

E. M. O. tem acesso a telefone celular, tablet e internet, recebendo diversos

tipos de estímulos tecnológicos, visuais e auditivos, além de estímulos recebidos da

família, que o influenciaram a aprender letras, palavras, cores, formas geométricas e

um vocabulário consideravelmente extenso para a idade, conhecendo até mesmo

palavras em inglês. É uma criança carinhosa e alegre, que se relaciona com muita

facilidade com outras pessoas, mas, apresenta atitudes egocêntricas que, segundo

Jean Piaget (2012), é característica do período Pré-operatório em que a criança se

encontra, sendo ciumento e querendo atenção exclusiva da mãe, além de

apresentar grande agitação e baixo nível de atenção.

2.4.2. Entrevista Operativa Centrada na Aprendizagem – E. O. C. A.

A Entrevista Operativa Centrada na Aprendizagem (E. O. C. A.) é um

instrumento de avaliação psicopedagógica idealizado pelo psicólogo argentino Jorge

Visca, tendo como objetivo estudar as manifestações cognitivas e afetivas da

conduta do entrevistado em situação real de aprendizagem.

Segundo Visca (1987, p. 73):

...em todo momento, a intenção é permitir ao sujeito construir a entrevista

de maneira espontânea, porém dirigida de forma experimental. Interessa

observar seus conhecimentos, atitudes, destrezas, mecanismos de

defesas, ansiedades, áreas expressão da conduta, níveis de operatividade,

mobilidade horizontal e vertical, etc.


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A E. O. C. A. é realizada no início do diagnóstico, antes da aplicação das

provas. Consiste em pedir ao avaliado que mostre o que ele sabe fazer, o que lhe

ensinaram a fazer e o que aprendeu a fazer, utilizando-se de materiais colocados

em uma caixa, tais como: folhas de ofício, borracha, caneta, tesoura, régua, livros ou

revistas, cola, lápis, massinha de modelar, lápis de cor, giz de cera, quebra-cabeça

ou ainda outros materiais que julgar necessários de acordo com a idade e a

escolaridade do avaliado.

Durante a realização da E. O. C. A., é necessário observar: a temática, que

envolve tudo aquilo que o sujeito diz, tendo sempre um aspecto manifesto e outro

latente; a dinâmica, que consiste em tudo que o sujeito faz, sua postura corporal,

gestos, tom de voz, modo de sentar e manipular os objetos; e o produto de seu

trabalho, aquilo que ele deixa registrado no papel (escritos, desenhos, leituras,

dobraduras, etc. Essa observação permitirá uma primeira avaliação do nível

pedagógico, contribuindo na identificação da dificuldade de aprendizagem e de que

ordem é essa dificuldade (orgânica, cognitiva, emocional, etc.).

Na E. O. C. A. realizada no dia 01 de setembro de 2017 com E. M. O., foi

utilizada uma caixa plástica contendo lápis, lápis de cor, giz de cera, massinha de

modelar, bisnagas para massinha de modelar, uma bola, papel branco, quebra-

cabeça, borracha, régua, tesoura, e outros materiais de diversos tamanhos e cores.

Ao ver a caixa, antes mesmo de ser aberta, E. M. O. ficou eufórico e a

chamou de “caixa de surpresas”, identificou as figuras que decoravam a caixa e

suas cores. Assim que os materiais foram dispostos na mesa E. M. O., de imediato

abraçou-se com uma bola, depois começou a pegar os outros objetos tentando

segurá-los todos ao mesmo tempo.


12

Em relação à Temática, E. M. O. mostrou-se uma criança muito ativa,

inteligente e curiosa, expressando felicidade e iniciativa e demonstrando tudo que

sabia fazer com os materiais antes mesmo que lhe fosse solicitado. Foi muito

comunicativo durante a entrevista, conversando com a psicopedagoga sem

constrangimento, verbalizando bem as palavras e expressando com facilidade suas

ideias, gostos e vontades. Conhece letras, cores, formas geométricas e manifestou

interesse por questões e objetos voltados à aprendizagem como lápis de cor, papel,

desenhos, etc.

Quanto à Dinâmica, E. M. O. gesticulava muito ao falar, mas sabia usar

adequadamente seu tom de voz. Mostrou-se desorganizado e descuidado,

ocupando de maneira desordenada todo o espaço disponível. Apresentou alto nível

de desatenção intercalado com breves momentos de atenção e concentração, sendo

persistente e paciente na execução das tarefas e demonstrando conhecer a utilidade

dos materiais disponíveis.

Referente ao Produto, o avaliado produziu desenhos/rabiscos (Anexo 2),

porém, não conseguiu contar ou falar sobre o que havia desenhado. Demonstrou

prazer ao terminar e mostrar as atividades que realizava como separar objetos por

cores e formas, desenhar e modelar as massinhas.

2.4.3. Hora do Jogo

"É no brincar, e somente no brincar, que o indivíduo, criança ou adulto, pode

ser criativo e utilizar sua personalidade integral: e é somente sendo criativo que o

indivíduo descobre o eu (self)" (Winnicott, 1971/1975: pg. 79-80).

A Hora do Jogo é um importante instrumento de análise e levantamento de

dados no diagnóstico psicopedagógico, que consiste na observação da dinâmica


13

da aprendizagem, compressão dos processos cognitivos, modelos de aprendizagem

e suas relações, sendo ainda uma ferramenta de intervenção capaz de desenvolver

a percepção, ação, integração, interação, e a autonomia do sujeito.

Na abordagem psicopedagógica os jogos representam situações-problemas

a serem resolvidos, pois envolvem regras, apresentam desafios e possibilitam

observar como o sujeito age frente a eles, qual sua estrutura de pensamento, como

reage diante de dificuldades. O foco de atenção do psicopedagogo é a reação do

sujeito diante das tarefas, considerando resistências e bloqueios, lapsos, hesitações,

repetição, sentimentos de angústia. Portanto, a Hora do Jogo colabora de modo

significativo para a compreensão dos processos cognitivos, afetivo-emocionais,

sociais e a relação do sujeito com a aprendizagem.

No dia 05 de setembro de 2017 foi aplicado com o avaliando o instrumento a

Hora do Jogo (ANEXO 3) com a utilização dos jogos “Dominó da Alfabetização”,

“Memória”, “Quebra-cabeça” e “Pequeno Construtor” que nos possibilitaram a

observação da concentração, memória, raciocínio lógico e percepção do avaliado

No Dominó da Alfabetização percebemos em E. M. O. o conhecimento das

letras e a associação das imagens com as letras e palavras; no Jogo da Memória ele

conseguia reconhecer as figuras iguais, mas apresentou um pouco de dificuldade

em memorizar a localização das figuras; no Quebra-Cabeça E. M. O. precisou de

ajuda porque dispersava com facilidade observando os outros joguinhos da

prateleira, demonstrando curiosidade e ansiedade, e não conseguia manter a

atenção no jogo que estava sendo realizado; no Pequeno Construtor a criança

precisou ser estimulada, pois, não percebia como as figuras geométricas poderiam

formar imagens, mas reconhecia e sabia os nomes das formas e das cores.
14

Durante a realização das atividades E. M. O. foi muito falante e comunicativo

e muito motivado. Apresentou grande agitação motora, o que dificultou para que

mantivesse a atenção e concentração nos jogos. Se divertiu muito e comemorava ao

ganhar e ao perder.

2.4.4. Provas Projetivas

As Provas Projetivas psicopedagógicas foram organizadas pelo psicólogo

argentino Jorge Visca e, segundo ele, são recursos, dentre outros, para a

compreensão de variáveis emocionais que condicionam, de forma positiva ou

negativa a aprendizagem, investigando os vínculos que o sujeito pode estabelecer

em três grandes domínios: o escolar, o familiar e consigo mesmo.

Através das provas projetivas pretende-se que haja a manifestação do

inconsciente, sem medos e/ou repressões. Aparecem aqui, através de estímulo,

manifestações inconscientes com marcas deixadas pelas vivências dos sujeitos.

Jorge Visca (2008) observa que a interpretação de cada técnica projetiva

deve ser realizada em função do sujeito em particular, não sendo necessário aplicar

todas as provas, somente aquelas que se considerem necessárias em função do

que se observou, sendo que os critérios para interpretação devem somar-se aos

critérios gerais do diagnóstico para interpretação das provas.

No dia 08 de setembro de 2017 foi feita com E. M. O. a tentativa de

realização das provas projetivas “Par Educativo” (Anexo 4) e “Eu e meus

companheiros” (Anexo 5), mas, por ainda ser uma criança muito jovem e que ainda

não frequenta a escola, tornou-se difícil a aplicação desse instrumento, pois E. M. O.

encontra-se na fase pré-operatória de desenvolvimento, onde constrói conceitos a

partir das experiências visuais concretas e mesmo que apresente a capacidade de


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atuar de forma lógica e coerente, apresentará um entendimento da realidade

desequilibrado em função da ausência de esquemas conceituais.

Como pode ser visto nos anexos 4 e 5, quase não é possível visualizar os

desenhos de E. M. O., porém os mesmos estão dentro do padrão esperado para a

idade. A criança apresentou uma atenção muito dispersa e quando era perguntado o

que havia desenhado não sabia responder, apenas apontava para o desenho e

repetia o que lhe era perguntado.

2.4.5. Provas Psicomotoras

A psicomotricidade é uma ciência que estuda o ser humano em sua

totalidade, nunca separando o corpo (sinestésico), o sujeito (relacional) e a

afetividade, ou seja, ela busca por meio da ação motora, estabelecer o equilíbrio do

indivíduo, conduzindo-o à possibilidade de encontrar seu espaço e de se identificar

no meio em que vive.

A psicomotricidade se estrutura em três pilares: o querer fazer (emocional), o

poder fazer (motor) e o saber fazer (cognitivo). É importante que ocorra um equilíbrio

entre eles, caso contrário pode acarretar uma desestruturação no processo de

aprendizagem da criança, pois ela usa o corpo como ponto de referência para

conhecer e interagir com o meio, quando há uma desorganização um desequilíbrio

no mesmo, pode ser prejudicado o seu desenvolvimento intelectual, social e até

mesmo afetivo-emocional, porque faz com que não acredite em suas

potencialidades, prejudicando também a aprendizagem escolar, visto que algumas

habilidades psicomotoras são necessárias à aprendizagem e ao próprio

desenvolvimento.
16

A maior contribuição do instrumento de avaliação psicomotora é fornecer

pistas para detectar e identificar na criança dificuldades psicomotoras que estejam

prejudicando suas habilidades corporais e consequentemente seu processo de

aprendizagem e seu relacionamento afetivo com o meio.

No dia 08 de setembro de 2017 foram aplicadas a E. M. O. as provas

psicomotoras de bancada onde percebemos a necessidade de melhor

desenvolvimento da motricidade fina, pois o mesmo apresenta dificuldade em

segurar a tesoura ou o lápis e pressão palmar fraca, quase não sendo possível

enxergar seus traços no papel. Apresenta predominância de lateralidade esquerda

(é canhoto).

No dia 12 de setembro de 2017 foram aplicadas a provas psicomotoras de

Circuitos, onde E. M. O. demonstrou uma boa motricidade global, movimentando-se

bem ao andar livremente, pegar com as duas mãos e arremessar com uma das

mãos. A lateralidade é simples em si, reconhecendo os comandos de direita e

esquerda somente quando é reforçado. Apresentou bom equilíbrio ao andar com um

pé na frente do outro, ficar parado e manter-se em um pé, mas, teve dificuldade em

andar em linhas retas e curvas, pois, não olha por onde anda por conta de sua

agitação motora, desatenção e dispersão, o que também contribui para que não

compreenda os comandos e, consequentemente, não execute corretamente as

tarefas.

2.4.6. Provas Pedagógicas

Provas pedagógicas têm como principal objetivo a análise do avaliando no

que se refere ao seu desempenho nos conteúdos escolares. Entre outros aspectos,

interessa conhecer o nível de leitura rápida e o tipo de erros cometidos, o nível de


17

compreensão e estratégias motoras, a qualidade da caligrafia e seu grau de

automatização, o nível de ortografia, o cálculo matemático automático, a qualidade

das estratégias de solução dos problemas matemáticos, os hábitos de estudo e

autonomia pessoal, a capacidade de resumir a ideia principal de um texto, a

capacidade para definir conceitos e a riqueza de vocabulário.

Apesar de E. M. O. ainda não frequentar a escola, na avaliação pedagógica

realizada no dia 15 de setembro de 2017, mostrou-nos conhecer, números e

quantidades, cores, formas geométricas, letras e pequenas palavras, além de

apresentar um extenso e rico vocabulário. Apresenta baixa concentração em

assuntos de interesse pedagógico (desenhos e atividades) e dificuldades em seguir

sequências lógicas nas tarefas, necessitando de modelos visuais que facilitem a

compreensão.

2.5. DEVOLUTIVA PSICOPEDAGÓGICA

“É preciso dar aos pais o tempo que necessitarem para diminuir seu medo

de ouvir e também ampliar ao máximo a atitude afetiva de acolhimento, de

compreensão por parte do terapeuta”. (WEISS,1992)

A devolução psicopedagógica é uma comunicação verbal e escrita, feita ao

paciente e aos pais ou responsáveis, apresentando os resultados obtidos através da

avaliação. Segundo Weiss, no caso da criança, é preciso fazer a devolução

utilizando-se de uma linguagem adequada e compreensível para sua idade para que

não fique parecendo que há segredos entre o terapeuta e os pais, ou que o

terapeuta os traiu (1992, p. 130).


18

É importante que se toque inicialmente nos aspectos positivos e

capacidades do paciente para que o mesmo se sinta valorizado. Muitas vezes a

criança já se encontra com sua autoestima tão baixa que a revelação apenas dos

aspectos negativos acabam perturbando-o ainda mais, o que acaba dificultando

novas conquistas. Depois deverão ser mencionados os pontos causadores dos

problemas de aprendizagem.

Deverão ser citadas as recomendações e as indicações que se julgue

necessárias para a superação das dificuldades e potencialização das capacidades

da pessoa. Isto evita que o problema levantado pelo diagnóstico fique sem uma

posterior solução.

No caso de E. M. O. que é uma criança de apenas 3 anos, a devolutiva

psicopedagógica foi feita unicamente com sua mãe R. M. S. onde foi informada que,

em relação aos aspectos cognitivos, E. M. O. apresenta boa memória, precisando

sempre de reforço quanto à memória recente. A criança não mantém o foco nas

atividades, apresentando dificuldades em manter a atenção e a concentração.

Quanto aos aspectos pedagógicos E. M. O., apesar de ainda não ser

alfabetizado, demonstrou conhecer letras, números e cores, tendo a coordenação

motora fina presente, mas apresentando pressão palmar fraca. Faz desenhos dentro

do padrão esperado para a idade e apresenta grande interesse por jogos de encaixe

e de criatividade.

Em relação aos aspectos afetivos e sociais a criança apresenta facilidade de

interação e comunicação, mesmo com adultos, demonstrando facilidade na fala e

um vocabulário extenso, falando naturalmente sobre seus sentimentos, gostos e

preferências, porém, teve dificuldade e compreender e seguir alguns comandos por


19

conta de sua dispersão e desatenção, chegando a apresentar o olhar disperso e

repetição intensa de palavras e frases.

Quanto à motricidade, E. M. O. apresentou intensa agitação motora e

desatenção, não permanecendo sentado durante a realização das tarefas de

bancada, andando e correndo por todos os espaços. Teve dificuldades quanto ao

equilíbrio por não olhar por onde anda e lateralidade simples, só reconhecendo

comando de direita e esquerda quando reforçado.

Com isso, diante da análise dos instrumentos aplicados na avaliação de E.

M. O. percebeu-se que o mesmo apresenta traços e características de Déficit de

Atenção, que tem como características marcantes a facilidade de distração com

devaneios frequentes (imaginação "viajante") ou com estímulos do ambiente,

desorganização, procrastinação e esquecimento.

Como recomendações e encaminhamentos foram sugeridos o atendimento

da criança por uma equipe multiprofissional, observações constantes acerca da

desatenção e sua possível evolução, sessões psicopedagógicas com atividades que

reforcem áreas de atenção e concentração e a matrícula na Educação Infantil para

estimular o interesse da criança por questões pedagógicas e o desenvolvimento da

coordenação motora fina.


20

III. CONCLUSÃO

O Estágio Supervisionado foi uma grata experiência que possibilitou-me

compreender de forma mais concreta a importância da atuação do psicopedagogo

clínico em sua prática profissional.

Através da observação do processo de avaliação psicopedagógica da

criança E. M. O., foi possível vivenciar o caminho percorrido durante este processo

com seus diversos percalços e instrumentos, desde a entrevista familiar, passando

pela aplicação das diversas provas que havíamos estudado nas aulas teóricas, até à

devolutiva apresentada à família.

Pude, ainda, perceber que avaliar uma criança que apresenta algum tipo de

dificuldade de aprendizagem acarreta a responsabilidade de estimular a superação

de suas limitações, ampliando sua satisfação e prazer em aprender. É uma

experiência muito compensadora, tanto para o psicopedagogo, quanto para a

criança e para a família, pois, além da contribuição para a melhoria da

aprendizagem e, consequentemente, de vida dessa criança, criam-se laços de

confiança, carinho e de amizade.

Esse processo de descobertas e aprendizagens foi de suma importância

para a minha formação acadêmica e minha experiência não só profissional, como

também, pessoal.
21

IV. REFERÊNCIAS

BOSSA, Nádia A. A psicopedagogia no Brasil: contribuições a partir da prática.


2ª ed. Porto Alegre: Artes Médicas Sul, 2000.

PAÍN, Sara. Diagnóstico e tratamento dos problemas de aprendizagem. 4ª ed.


Porto Alegre: Artes Médicas Sul, 1992.

PIAGET, Jean. Epistemologia Genética: tradução Álvaro Cabral, 4ª ed. – São


Paulo. WMF Martins Fontes, 2012.

SCOZ, Beatriz. Psicopedagogia e realidade escolar: o problema escolar e de


aprendizagem. 6ª ed. Petrópolis: Vozes, 1994.

VISCA, Jorge. Clínica Psicopedagógica: Epistemologia convergente. Porto


Alegre: Artes Médicas, 1987.

____________. Técnicas projetivas Psicopedagógica e pautas gráficas para a


sua interpretação. Buenos Aires. Visca e Visca Editores, 2008.

WEISS, Maria Lúcia Lemme. Psicopedagogia Clínica: Uma Visão Diagnóstica.


Porto Alegre: Artes Medicas, 1992.

__________________. Psicopedagogia Clínica: uma visão diagnóstica dos


problemas de aprendizagem escolar. 12ª ed. Rio de Janeiro: Lamparina, 2007.

WINNICOTT, D. W. O brincar e a realidade. Trad. José Octavio de Aguiar Abreu e


Vanede Nobre. Rio de Janeiro: Imago, 1971/1975.
22

ANEXOS
23

ANEXO 1 – Ficha de Atividades e Frequência


24

ANEXO 2 – E.O.C.A. - Produto


25

ANEXO 3 – Hora do Jogo


26

ANEXO 4 – Provas Projetivas – Par Educativo


27

ANEXO 5 – Provas Projetivas – Eu e meus companheiros


28

ANEXO 6 – Provas Psicomotoras – Bancada


29

ANEXO 7 – Provas Psicomotoras – Circuitos


30

ANEXO 8 – Provas Pedagógicas


31

ANEXO 9 – Devolutiva Psicopedagógica

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