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As Teorias de Aprendizagem Cognitivistas –

Epistemologia Genética de Jean Piaget

Teoria Construtivista de Jean Piaget

Gambelas, Abril de 2017


Teoria Construtivista de Jean Piaget

a) Quais os principais conceitos e as principais características da Teoria


Piagetiana.

Jean Piaget, teórico cognitivista, defendia que o comportamento dos seres vivos
era produto da interação do indivíduo com o meio, e não uma componente inata.
Também para si, a inteligência era resultado da adaptação individual a situações novas,
pelo que, quanto mais complexas fossem as interações do sujeito com o meio, maior
seria a sua “inteligência”. Partindo destas duas caraterísticas, podemos percecionar a
ênfase que era dada ao organismo e ao meio. Ao longo da vida, o sujeito vai construindo
diferentes modelos da realidade, que gradualmente alcançam novos níveis de
complexidade. Deste modo, o indivíduo dispõe de um sistema de relações entre os seus
conhecimentos, o que permite a integração de novos conhecimentos. Contudo, o
indivíduo precisa de estar preparado para o receber, isto é, tem de haver nessa base de
sabedoria um conhecimento anterior que permita ao indivíduo adquirir e transformar o
novo conhecimento.
Embora o conhecimento do indivíduo seja o somatório da sua interação com o
meio envolvente, este desenvolve-se sob uma estrutura hereditária prévia, que dotará o
sujeito de representações básicas, permitindo a aquisição de novos conhecimentos. Por
sua vez, são originados sistemas caraterísticos de etapas comuns a todos os sujeitos.
Deste modo, a inteligência desenvolve-se em estágios sucessivos de complexidade
crescente, onde um estágio é resultado do estágio anterior.
De acordo com Piaget, a inteligência carateriza-se como um mecanismo de
adaptação a uma nova situação, implicando a construção contínua de novas estruturas
que fornecem ao indivíduo capacidades para compreender a realidade e estabelecer
ligações com ela. É importante referir que a o conhecimento se regula pela aliança entre
a maturação e a experiência, regidas pela equilibração (Merchán, 2000). Dentro da
inteligência, podemos considerar quatro fatores relevantes, sendo eles a maturação, a
experiência, a transmissão social, e o processo de equilibração, que em conjunto
contribuem para o processo de desenvolvimento do indivíduo.
A maturação, base biológica comportamental, carateriza-se pelo
amadurecimento das estruturas biológicas em contacto com o meio. De seguida, temos a
experiência, que representa o contacto do organismo com o meio ou a interação do
sujeito com o meio, que procuram extrair caraterísticas físicas, não dos objetos mas
sobre a ação tida sobre eles. Para complementar este processo de desenvolvimento,
falamos também de transmissão social evidenciada pela adaptação das experiências
histórico-culturais, como os valores, a linguagem, os costumes e padrões culturais e
sociais, que serão processados em paralelo com o esquema de assimilação (estrutura
cognitiva). Por último, temos o processo de equilibração, considerado a essência do
processo adaptativa que coordena os fatores anteriormente mencionados, gerando
estados progressivos de equilíbrio. É um processo de auto-regulação interna do
organismo, que procura encontrar o reequilíbrio, perante a presença de desajustes. Mais
especificamente quando o indivíduo adquire novos conhecimentos, e precisa de os
adaptar no seu sistema de relações.
Após uma breve abordagem da inteligência, é importante salientar que para
Piaget a aprendizagem alude à aquisição de uma determinada resposta, que pode ser
obtida de modo sistemático, aprendida em função da experiência. No que concerne ao
desenvolvimento, define-se como uma aprendizagem real, e o responsável pela
formação de conhecimento.
Piaget descreve quatro estágios do desenvolvimento genético-cognitivo:
Sensório-Motor (0-2 anos); Pré-Operatório (2-7 anos); Operatório-Concreto (7-12 anos)
e Operatório Lógico-Formal (12-16 anos).
Todavia, para que o processo de construção do conhecimento seja melhor
compreendido é crucial conhecer alguns conceitos, tais como: a organização, a
adaptação, a assimilação e acomodação, o esquema e a experiência física e lógico-
matemática.
Comecemos pela adaptação e organização. Estes dois termos são vistos como
“processos indissolúveis do pensamento”. O pensamento é construído pela
interiorização da ação, e organizado pela constituição de esquemas, através do processo
de adaptação. Assim, pode ser dito que a adaptação não provém de uma fonte
desorganizada, já que tem uma organização inicial base, expressa no esquema.
Como referido anteriormente, a adaptação é um processo dinâmico e contínuo,
onde existe uma interação entre a estrutura hereditária do organismo e o meio externo.
Revela-se um equilíbrio contínuo entre a assimilação e a adaptação, processos distintos,
todavia, indissociáveis. Na adaptação, o sujeito altera o meio e o meio também o altera.
Seguindo esta linha de pensamento, a assimilação consiste num processo
cognitivo através do qual o sujeito integra uma nova informação às estruturas cognitivas
anteriores. Por exemplo, quando uma criança tem uma nova experiência como ouvir um
som novo, ela vai tentar adaptar esse novo estímulo às estruturas cognitivas que possui.
Um outro exemplo é uma criança que está a aprender a reconhecer animais, e o único
animal que ela conhece e que está organizado em forma de esquema é o cão. Se for
apresentando um animal com semelhanças ao cão, como o cavalo, ela dirá também que
é um cão. A criança conseguir fazer a diferença entre um cavalo e o cão, será possível
devido ao processo de acomodação. Por exemplo, o facto de dizer que é um cavalo,
quando na verdade é um cão. Os pais corrigem e dizem que é um cavalo, quando a
criança é corrigida ela irá acomodar esse estímulo a uma nova estrutura cognitiva e
assim cria um novo esquema. A acomodação é, então, a modificação dos esquemas de
assimilação através da influência de situação externas.
Piaget afirma que não existe assimilação sem acomodações, nem acomodações
sem assimilação. Ou seja, no primeiro caso significa que a assimilação de uma nova
informação dá-se primeiro em esquemas que já existem, que foram acomodados em
fases anteriores. No segundo caso, significa que uma nova informação é acomodada
através da sua assimilação no sistema cognitivo.
O esquema é um modelo de atividade que o organismo usa para incorporar a
informação recebida/extraída do meio. Inicialmente, os esquemas são os reflexos, e a
partir daí, os restantes esquemas vão sendo concebidos, funcionando como um ponto de
partida para as interações sujeito-meio. Conclui-se que a adaptação faz referência à
construção de esquemas, e estes são as estruturas mentais/cognitivas pelas quais o
indivíduo organiza e se adapta ao meio (Wadsworth, 1996). Por exemplo, quando uma
criança nasce ela apresenta poucos esquemas, porém, consoante se desenvolve vai
amplificando o número de esquemas, bem como a sua diferenciação.
Já a experiência física e lógico-matemática é um conceito essencial na
constituição do esquema e caracteriza-se pela ação do indivíduo sobre o objeto de
conhecimento.

b) As principais diferenças entre uma sala de aula que privilegia o ensino


tradicional, baseado nas Teorias Behavioristas/comportamentalistas e uma sala de
aula construtivista baseada nas teorias Cognitivistas.

De forma geral, podemos afirmar que todos crescemos num ensino baseado nas
teorias behavioristas/comportamentalistas, o dito ensino tradicional. Contudo, teóricos
cognitivistas, alertaram para a existência de outro tipo de ensino baseado no
construtivismo. Embora ainda exista uma pequena minoria, podemos destacar uma
escola no nosso país onde predomina o ensino construtivista – a escola da ponte.
Para existir um ensino construtivista, o estudante deve privilegiar de um
ambiente onde possa ser confrontado com os problemas, e em cuja resolução, possa ser
encorajado a explorar novas possibilidades, criar soluções alternativas e, especialmente,
haver colaboração com outros estudantes, para que seja encontrada uma melhor solução
para a resolução desses problemas.
Contrariamente a este ponto de vista construtivista, existem as salas de aula
behavioristas, ditas tradicionais, onde o aluno recebe de forma passiva a informação que
terá de aprender, sendo esta concedida não só pelo professor mas também pelos livros.
Neste tipo de ensino, o aluno é motivado a encontrar uma resposta correta, guiando-se
pelo método do professor, o que impede o aluno de inventar soluções e construir o seu
próprio conhecimento. Deste modo, os estudantes não têm necessidade de averiguar a
veracidade o método utilizado para a resolução dos problemas.
Consequentemente, na visão tradicional da aprendizagem, o conhecimento é
visto como uma representação do mundo real, independentemente da pessoa que o
retém. Em contra partida, o construtivismo foca o conhecimento baseado na experiência
no mundo real, descartando a ideia de conhecimento independente do indivíduo.
De um ponto de vista construtivista, o aprendiz é visto como tendo um papel
ativo, tem capacidade para adquirir informação ativamente através da construção de
conhecimento sob um conhecimento anterior, que o ajudará a enfrentar novas situações.
Um princípio importante na escola construtivista, é a colaboração, como mencionado
anteriormente, visto que, por exemplo, não existe uma sequenciado ano letivo, mas sim
uma sala onde constam todos os elementos dos diversos anos. Assim os alunos mais
velhos podem, para além de ensinar/transmitir conhecimentos aos mais novos,
reverberar a informação aprendida, reforçando-a e no caso de existir alguma lacuna na
sua aprendizagem, acabam por a colmatar. Este é um dos grandes benefícios da escola
construtivista, ao invés de limitar os alunos à exposição perante determinada
informação, leva a que a sua aprendizagem seja mais liberal e modelada.

c) Os princípios que devem guiar a aprendizagem segundo as Teorias


Cognitivistas.
Segundo as Teorias Cognitivistas, os professores devem seguir vários princípios de
forma a guiar a aprendizagem tais como encorajar e aceitar a autonomia e iniciativa dos
estudantes; usar dados básicos e fontes primárias juntamente com materiais
manipulativos, interativos e físicos; utilizar a terminologia "classificar", "analisar",
"predizer" e "criar" quando estruturam as tarefas; permitir que os estudantes conduzam
as aulas, alterem estratégias instrucionais e conteúdo; encorajar os estudantes a dialogar
com o professor e entre si e a resolverem problemas abertos e perguntarem uns aos
outros. É ainda importante que os professores envolvam os estudantes em experiências
que podem apresentar contradições às hipóteses inicialmente estabelecidas e estimulem
a sua discussão; que proporcionem tempo para que os estudantes construam relações e
metáforas e que mantenham a curiosidade do aluno através do uso frequente do modelo
de ciclo de aprendizagem.
Deste modo, pode concluir-se que o requisito mais importante para a construção
de um "ambiente construtivista" é a tomada de consciência por parte do professor da
importância do "educador-educando", e que todos os processos de aprendizagem
passam necessariamente por uma interação muito forte entre o sujeito da aprendizagem
e o objeto (seja o professor, o computador, os colegas, o assunto). Unicamente a partir
desta interação completa é que pode ser afirmado que estamos “a construir” novos
estágios de conhecimento, tanto no aprendiz como no feiticeiro.
Em suma, as teorias cognitivistas abrangem um maior nível de compreensão
sobre o modo como as pessoas aprendem, partindo do princípio que a aprendizagem
resulta da construção de um esquema de representações mentais que se ativam pela
participação ativa do sujeito, resultando no processamento de informações que serão
internalizadas e transformadas em conhecimento.

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