Você está na página 1de 13

Jean Piaget foi um psicólogo suíço, famoso por suas contribuições à psicologia

do desenvolvimento. Ele propôs uma teoria construtivista do desenvolvimento


cognitivo que afirma que as crianças constroem ativamente seu próprio conhecimento
do mundo, em vez de simplesmente receber informações dos adultos ou do ambiente.

Piaget escreveu vários livros importantes sobre o desenvolvimento infantil,


incluindo "A linguagem e o pensamento na criança", "A representação do mundo na
criança", "O juízo moral na criança", "O nascimento da inteligência na criança", "A
construção do real na criança" e "A formação do símbolo na criança". Seus livros
exploram como as crianças constroem seu conhecimento do mundo em diferentes
áreas, incluindo linguagem, percepção, moralidade e pensamento lógico.

Um tema central em sua teoria é a ideia de que as crianças passam por


estágios sequenciais de desenvolvimento cognitivo, cada um com suas próprias
características e limitações. Os estágios incluem o estágio sensório-motor (do
nascimento aos 2 anos), o estágio pré-operatório (de 2 a 7 anos), o estágio operatório
concreto (de 7 a 11 anos) e o estágio operatório formal (a partir dos 11 anos). Em cada
estágio, as crianças adquirem novas habilidades e conceitos que lhes permitem
entender e interagir com o mundo de maneiras cada vez mais sofisticadas.

Outro conceito importante em sua teoria é a noção de que as crianças


constroem seu conhecimento através de um processo de assimilação e acomodação.
A assimilação envolve incorporar novas informações em esquemas de conhecimento
existentes, enquanto a acomodação envolve modificar esses esquemas para
acomodar informações novas e diferentes. Piaget acreditava que esse processo de
equilíbrio entre assimilação e acomodação é fundamental para a aprendizagem e o
desenvolvimento cognitivo.

Noção de inteligência

Sobre o CONHECIMENTO a filosofia parte de três explicações ou perspectivas


distintas. Inatismo, empirismo e interacionismo.

Inatismo
De acordo com o inatismo, a inteligência é principalmente determinada por
nossos genes e herança biológica. Nesse ponto de vista, a inteligência é vista como
um talento que já é inato em nós quando nascemos e se manifesta naturalmente à
medida que crescemos, com pouca influência do ambiente. Uma maneira de
representar essa relação é: S → O, o que significa que o conhecimento já existe no
sujeito e é externamente manifestado.

Empirismo
De acordo com o empirismo, o ambiente e as experiências têm grande
influência nos indivíduos, ao contrário da ideia inatista. Segundo essa teoria, as
pessoas nascem como uma folha em branco e sua inteligência é moldada pelo que
aprendem e pelos estímulos que recebem do meio em que vivem. Isso é chamado de
positivismo lógico e ajudou a desenvolver as ciências. Resumindo graficamente essa
relação, temos: S ← O, ou seja, o conhecimento vem do ambiente e é absorvido pelo
sujeito.

Internacionalismo
Segundo Piaget, a inteligência é construída através das interações entre o
sujeito e o ambiente, em um processo contínuo e único para cada indivíduo. Essa
construção não depende apenas da genética ou do ambiente, mas da interação entre
ambos. O conhecimento não é algo predeterminado, mas sim construído a partir da
interação entre o sujeito e o objeto. Piaget usa o termo "construtivismo" para descrever
essa ideia de que o conhecimento é construído em um processo dinâmico e aberto. A
relação entre o sujeito e o objeto é interdependente, sendo indissociável, irredutível e
complementar.

Modelos pedagógicos
As correntes epistemológicas influenciaram procedimentos pedagógicos a
partir das concepções filosóficas nas quais se apoiavam:

• Inatismo: pedagogia não diretiva ou pedagogia centrada no aluno: o aluno é


o centro de todo o processo pedagógico (P←A).

• Empirismo: pedagogia diretiva ou pedagogia centrada no professor: o


professor é o centro de todo o processo pedagógico (P→A).

• Construtivismo: pedagogia relacional ou pedagogia centrada na relação:


não existe uma relação polarizada; tanto o aluno quanto o professor têm importância
durante o processo pedagógico, estabelecem uma relação de troca (P↔A).

Pedagogia diretiva, não diretiva e relacional

De acordo com Becker (2001) Existem três modelos pedagógicos na relação


ensino-aprendizagem: a pedagogia diretiva, a pedagogia não diretiva e a pedagogia
relacional.

Na pedagogia diretiva, o professor é o centro do processo educativo e o


detentor do saber, enquanto o aluno é visto como um receptáculo vazio que irá
receber o conhecimento difundido verbalmente pelo professor. Essa prática
pedagógica é fundamentada na epistemologia empirista, que acredita que a origem do
conhecimento está no meio físico ou social, e o sujeito (aluno) é compreendido como
uma folha de papel em branco, uma tábula rasa, receptáculo de toda informação
impressa de fora para dentro.

Já na pedagogia não diretiva, o aluno é o centro do processo educativo e o


professor é apenas um facilitador do processo de aprendizagem. Ele compreende que
o estudante traz em si todo o conhecimento e que a sua função é de auxiliá-lo na
conscientização e organização desse conteúdo à consciência. Essa prática
pedagógica é fundamentada na epistemologia inatista ou apriorismo, que acredita que
o ser humano nasce com o conhecimento programado em sua bagagem genética e, à
medida em que ocorre o seu desenvolvimento, esse conhecimento é revelado,
portanto, de dentro para fora.

Por fim, na pedagogia relacional, não há predomínio do professor ou do aluno


no processo educativo, e a relação pedagógica ocorre a partir da construção do
conhecimento pelo aluno em função das situações-problema apresentadas pelo
professor. Nesse processo, professor e aluno determinam-se mutuamente e é em uma
relação de respeito mútuo que o conhecimento é apresentado pelo professor.
PRINCIPAIS CONCEITOS DA TEORIA PIAGETIANA

O processo de equilibração majorante

O processo de equilibração majorante, que é parte da teoria de Piaget sobre o


desenvolvimento da inteligência humana. Abaixo estão as definições de alguns dos
principais conceitos teóricos de Piaget:

• Epistemologia genética: estuda o desenvolvimento do pensamento da


criança até a chegada ao raciocínio adulto (lógico-científico).

• Esquema: unidade estrutural básica de pensamento ou ação que muda


e adapta-se com a interação do indivíduo com o meio.

• Assimilação: tentativa do sujeito de solucionar uma situação utilizando


uma estrutura mental já formada.

• Acomodação: tentativa do sujeito de solucionar uma situação


modificando as estruturas antigas e construindo novas maneiras de agir.

• Adaptação: favorece a adaptação do organismo ao meio, estreitamente


ligada à assimilação e acomodação.

O processo de adaptação é dinâmico e envolve a assimilação e a acomodação,


permitindo ao sujeito maior competência e habilidade para lidar com as situações do
cotidiano.

• Conflito cognitivo: quando buscamos conhecimento, o contato com o


meio gera desafios que provocam desequilíbrio e geram um conflito cognitivo, que é
positivo e motiva a assimilação e acomodação, levando ao desenvolvimento.

• Equilibração majorante: é o processo em que o sujeito busca um


equilíbrio cada vez melhor, modificando sua organização mental para compreender a
realidade. Esse processo é contínuo e não termina na adolescência.

• Abstração empírica: é a extração de uma propriedade dos objetos ou


ações, como peso, textura ou força.

• Abstração reflexionante: além de extrair características dos objetos, a


criança cria relações entre eles, como a relação "maior que/menor que" entre dois
carrinhos. Esse tipo de abstração leva ao conhecimento lógico-matemático.
OS ESTÁDIOS DO DESENVOLVIMENTO COGNITIVO SEGUNDO PIAGET

Estágio Sensório-Motor (do nascimento aos 2 anos): Neste estágio, a


criança aprende sobre o mundo através dos seus sentidos e movimentos. Ela começa
a desenvolver a capacidade de pensar simbolicamente e a coordenar ações para
atingir um objetivo.
Exemplo: um bebê que chora para chamar a atenção da mãe quando tem
fome.
As subdivisões desse estágio estão abaixo:

1 - Exercícios reflexos (0 a 1 mês): Neste subestágio, o recém-nascido age


exclusivamente por meio de reflexos inatos e automáticos, sem controle voluntário.
Por exemplo, ele suga automaticamente quando algo é colocado em sua boca ou
fecha os olhos quando exposto a uma luz brilhante.

2 - Reações circulares primárias (1 a 4 meses): Neste subestágio, a criança


começa a coordenar seus reflexos para realizar ações repetitivas, que geram uma
sensação agradável. Por exemplo, o bebê pode descobrir que pode chupar o próprio
dedo, e passa a fazê-lo repetidamente.

3 - Reações circulares secundárias (4 a 8 meses): Neste subestágio, a


criança começa a explorar ativamente seu ambiente, coordenando seus movimentos
para produzir resultados interessantes. Por exemplo, a criança pode balançar um
chocalho e perceber que o som é produzido repetidamente.

4 - Coordenação de esquemas secundários (8 a 12 meses): Neste


subestágio, a criança começa a coordenar diferentes ações para atingir um objetivo
específico. Por exemplo, a criança pode empurrar um objeto para fora de seu alcance
com outro objeto, ou procurar um brinquedo que ela viu esconderem.

5 - Reações terciárias (12 a 18 meses): Neste subestágio, a criança começa


a experimentar com variações em suas ações para ver o que acontece, ou seja,
começa a fazer tentativas diferentes para ver as consequências que cada uma delas
gera. Por exemplo, a criança pode jogar um objeto de formas diferentes para ver se
ele faz barulho ou se rola mais longe.

6 - Início da representação simbólica (18 a 24 meses): Neste subestágio, a


criança começa a usar símbolos para representar objetos e eventos do mundo real.
Por exemplo, a criança pode apontar para uma cadeira e dizer "mamãe senta aqui", ou
usar um pedaço de papel como telefone, falando com ele como se fosse uma pessoa.
Estágio Pré-Operacional (dos 2 aos 7 anos): Neste estágio, a criança
começa a usar símbolos (palavras e imagens) para representar objetos e eventos do
mundo real. Ela também começa a ter a capacidade de pensar sobre o pensamento
dos outros.
Exemplo: uma criança que usa uma caixa vazia como se fosse um carro.

Esta fase é dividida em 8 subdivisões

1 - Pensamento egocêntrico: as crianças têm dificuldade em perceber que


outras pessoas têm pontos de vista diferentes dos seus próprios.
Exemplo: Uma criança pode acreditar que todos os seus amigos gostam da
mesma comida ou brinquedo que ela, porque é o que ela gosta.

2 - Pensamento animista, artificialista e finalista: as crianças atribuem vida,


intenções e vontades a objetos inanimados ou eventos naturais, criando explicações
fantasiosas.
Exemplo: Uma criança pode pensar que a nuvem chuvosa está "chorando"
porque está triste.

3 - Centração: as crianças se concentram em apenas um aspecto da situação


ou objeto, ignorando outras informações importantes.
Exemplo: Uma criança pode pensar que uma torre de 10 blocos é mais alta do
que uma torre de 5 blocos, mesmo que a torre de 5 blocos seja mais larga.

4 - Pensamento transdutivo: as crianças estabelecem conexões causais


entre eventos que não têm relação direta.
Exemplo: Uma criança pode pensar que um raio caiu porque ela falou algo ruim
para a mãe.

5 - Conservação e reversibilidade: as crianças têm dificuldade em entender


que as quantidades ou características de objetos podem ser mantidas mesmo que sua
aparência mude.
Exemplo: Uma criança pode acreditar que um copo tem mais líquido se for
despejado em um recipiente mais largo e baixo, mesmo que a quantidade seja a
mesma.

6 - Justaposição: as crianças não conseguem compreender que duas coisas


diferentes podem ser relacionadas entre si.
Exemplo: Uma criança pode acreditar que a lua e as estrelas são objetos
próximos, já que aparecem juntos no céu.

7 - Relacionamento social: as crianças começam a perceber a importância do


relacionamento com outras pessoas, mas ainda têm dificuldade em entender as regras
sociais e emoções dos outros.
Exemplo: Uma criança pode achar que um amigo está chateado por ela não ter
compartilhado um brinquedo, sem perceber que o amigo pode estar com fome ou
cansado.

8 - Sincretismo: as crianças têm dificuldade em separar suas experiências


pessoais e subjetivas de informações objetivas e culturais.
Exemplo: Uma criança pode acreditar que o Papai Noel é um ser real, mesmo
que seus pais expliquem que ele é apenas uma figura imaginária.
Estágio Operacional-Concreto (dos 7 aos 12 anos): Neste estágio, a criança
começa a pensar de forma mais lógica e concreta, mas ainda tem dificuldade em
pensar sobre ideias abstratas. Ela começa a entender conceitos como conservação
(por exemplo, que a quantidade de líquido em um copo não muda se você mudar a
forma do copo) e relações causais.
Exemplo: uma criança que consegue fazer operações matemáticas simples,
como somar e subtrair.

Podemos dividir os progressos da criança, a título didático, em três domínios,


lembrando que na vida prática ocorrem interligados:

1 - Nas condutas e na socialização;


2 - No pensamento, com as operações racionais;
3 - Afetividade, vontade e sentimentos morais.

1 - Nas condutas e na socialização: Neste domínio, a criança desenvolve


habilidades motoras e aprende a interagir socialmente com outras pessoas. Ela
aprende a se comunicar, a compartilhar e a respeitar regras sociais.
Por exemplo, uma criança aprende a pegar objetos e a andar, aprende a falar
com outras pessoas e a seguir regras em jogos.

2 - No pensamento, com as operações racionais: Neste domínio, a criança


desenvolve habilidades cognitivas e de resolução de problemas. Ela aprende a pensar
logicamente e a resolver problemas de forma independente.
Por exemplo, uma criança aprende a contar, a classificar objetos por tamanho e
a fazer conexões lógicas entre ideias.

3 - Afetividade, vontade e sentimentos morais: Neste domínio, a criança


desenvolve habilidades emocionais e morais. Ela aprende a controlar suas emoções, a
entender a empatia e a diferença entre certo e errado.
Por exemplo, uma criança aprende a compartilhar, a ser solidária e a entender
quando suas ações podem causar tristeza ou alegria em outras pessoas.
Estágio Operacional-Formal (dos 12 aos 15 anos): Neste estágio, a criança
começa a pensar de forma abstrata e hipotética e a entender ideias complexas e
simbólicas. Ela também começa a ter a capacidade de pensar sobre pensamentos
hipotéticos e de resolver problemas de forma sistemática.
Exemplo: um adolescente que consegue entender conceitos como justiça e
equidade, e é capaz de resolver problemas complexos de matemática ou lógica.

Essa fase é separada em 3 partes

1 - Operações abstratas: o pensamento formal;


2 - Conquista da personalidade;
3 - Inserção na sociedade dos adultos.

1 - Operações abstratas: Nessa fase, o adolescente é capaz de pensar de


forma mais sistemática, lógica e hipotética, lidando com conceitos abstratos. Ele é
capaz de raciocinar sobre possibilidades, hipóteses e consequências, mesmo que não
sejam imediatamente observáveis. Por exemplo, um adolescente pode ser capaz de
entender o conceito de justiça e perceber a importância de um sistema legal justo e
equitativo para uma sociedade.

2 - Conquista da personalidade: Nessa fase, o adolescente está em busca de


sua identidade e tenta responder perguntas como "Quem sou eu?" e "O que eu quero
ser?". Ele está em constante busca por autoconhecimento e autoafirmação, o que
pode levar a mudanças frequentes de comportamento, estilo e gostos. Por exemplo,
um adolescente pode experimentar diferentes hobbies e atividades para descobrir
seus interesses e identidade.

3 - Inserção na sociedade dos adultos: Nessa fase, o adolescente começa a


se preparar para se tornar um membro da sociedade adulta e assume novas
responsabilidades. Ele começa a se interessar mais por questões políticas, sociais e
econômicas, e a pensar em sua carreira e futuro profissional. Por exemplo, um
adolescente pode começar a pesquisar sobre diferentes faculdades e carreiras e
planejar seu futuro acadêmico e profissional.

É importante lembrar que cada criança pode desenvolver essas


habilidades em ritmos diferentes e que alguns indivíduos podem não atingir o
estágio formal de operações. Além disso, o desenvolvimento cognitivo é
influenciado pela experiência e pelo ambiente em que a criança cresce.
O DESENHO EM UMA PERSPECTIVA PSICOGENÉTICA

Segundo Piaget, o desenho é uma função de pensamento simbólica e


semiótica que surge na criança por volta dos 2 anos de idade. Já Luquet, que estudou
a evolução do grafismo infantil, considera o desenho uma imitação do real através de
uma representação e destaca o realismo como uma característica fundamental do
desenho infantil. Ele demonstra que o desenho evolui em quatro etapas e que o
realismo do desenho infantil sofre modificações ao longo do desenvolvimento da
criança. O realismo do desenho infantil ocorre em diferentes fases:

1 - Realismo fortuito (2 e 3 anos);


2 - Realismo malsucedido (3 e 4 anos);
3 - Realismo intelectual (4 a 8/9 anos);
4 - Realismo visual (8/9 a 11/12 anos).

1 - Realismo fortuito (2 e 3 anos): Nesta fase, a criança desenha de forma


fortuita e sem intenção, sem preocupação com a semelhança do desenho com a
realidade.

2 - Realismo malsucedido (3 e 4 anos): Nesta fase, a criança já tem uma


intenção de desenhar objetos, mas ainda não possui as habilidades motoras
necessárias para representar com precisão as formas dos objetos.

3 - Realismo intelectual (4 a 8/9 anos): Nesta fase, a criança já é capaz de


desenhar formas mais precisas e detalhadas, mas ainda não consegue representar as
formas de todos os objetos de forma realista. Ela utiliza conceitos mentais e
estereótipos para desenhar objetos.

4 - Realismo visual (8/9 a 11/12 anos): Nesta fase, a criança já é capaz de


representar de forma mais precisa e realista a aparência dos objetos, utilizando a
observação visual e o domínio das técnicas de desenho.
Lowenfeld também estudou o grafismo infantil e separou da seguinte forma

Garatujas (2 aos 4 anos): Nessa fase, a criança faz rabiscos e traços sem
intenção, explorando a motricidade e descobrindo as possibilidades do grafismo.

Pré-Esquemática (4 aos 7 anos): Nessa fase, a criança começa a utilizar


formas básicas e símbolos para representar objetos de forma mais reconhecível, mas
ainda sem preocupação com proporções ou perspectiva.

Esquemática (7 aos 9 anos): Nessa fase, a criança passa a utilizar formas


geométricas simples e a se preocupar mais com a organização e proporções dos
desenhos, mas ainda sem muitos detalhes.

Realismo (9 aos 12 anos): Nessa fase, a criança já é capaz de representar


objetos e pessoas de forma mais realista e detalhada, utilizando técnicas e conceitos
aprendidos e aprimorados ao longo das fases anteriores.
O MÉTODO CLÍNICO DE PIAGET

Avaliação da inteligência segundo a abordagem psicométrica e a abordagem


psicogenética

A abordagem psicométrica é baseada em testes padronizados que avaliam


habilidades mentais como a capacidade de raciocínio, a memória, a compreensão
verbal e outras. Esses testes são aplicados de forma individual e os resultados são
comparados com uma norma estabelecida para a população. A avaliação é feita
através de medidas quantitativas, como o quociente de inteligência (QI).

Já a abordagem psicogenética, também chamada de cognitiva, é baseada na


teoria do desenvolvimento cognitivo de Jean Piaget. Segundo essa abordagem, a
inteligência é vista como um processo de construção contínua, que se desenvolve
através da interação da criança com o meio ambiente. A avaliação é feita através da
observação do comportamento da criança em situações concretas e da análise das
respostas dadas por ela.

O método clínico de Piaget consiste na observação sistemática do


comportamento da criança em situações específicas, para identificar as etapas do seu
desenvolvimento cognitivo. A partir dessa observação, é possível compreender como a
criança pensa, raciocina e aprende, e assim avaliar a sua inteligência de acordo com a
abordagem psicogenética.

Resumindo, enquanto a abordagem psicométrica se baseia em testes


padronizados e medidas quantitativas, a abordagem psicogenética enfatiza a
observação do comportamento da criança e a análise do seu desenvolvimento
cognitivo. E o método clínico de Piaget é uma forma de avaliar a inteligência de acordo
com a abordagem psicogenética, através da observação sistemática do
comportamento da criança.

Procedimentos do experimentador

O método clínico de Piaget é uma técnica de entrevista com crianças, em que o


experimentador faz perguntas para investigar o pensamento da criança. Durante a
entrevista, o experimentador elabora perguntas e avalia a qualidade e abrangência
das respostas da criança.

Para isso, o experimentador deve saber observar e buscar algo preciso a cada
instante, tendo uma hipótese de trabalho para investigar.

Durante a entrevista, o experimentador deve acompanhar o raciocínio da


criança, buscar justificativas para suas respostas e verificar a certeza com que ela
responde. O experimentador deve evitar ambiguidades nas respostas dadas pela
criança.

Para concretizar esses procedimentos, o experimentador deve utilizar três tipos


de perguntas: perguntas de exploração, perguntas de justificação e perguntas de
contra-argumentação.
As perguntas de exploração têm como objetivo fazer aflorar a noção cuja
existência e estruturação se quer comprovar.
As perguntas de justificação centram o sujeito sobre as razões do estado atual
do objeto e nas explicações concernentes a sua produção e à legitimação de seu
ponto de vista.
As perguntas de contra-argumentação têm como objetivo estabelecer se as
aquisições da criança são ou não estáveis e qual o grau de equilíbrio de suas ações
ante os problemas, bem como apreender sua atividade lógica profunda.

Respostas e reações dos sujeitos

Existem três níveis de respostas que a criança pode ter quando é apresentada
a um problema.

No primeiro nível, a criança não entende o problema ou responde de forma


errada, mas acredita que está certa.

No segundo nível, a criança fica confusa e não tem certeza da resposta, por
isso suas respostas podem oscilar. Ela tenta resolver o problema por tentativa e erro.

No terceiro nível, a criança consegue entender o problema e encontrar uma


solução adequada. Ela pode cometer erros, mas sabe como lidar com eles de forma
antecipada, corrigindo ou compensando-os.

Piaget identificou cinco reações que as crianças podem apresentar durante o


método clínico.
1. A primeira é o "não importismo", quando a criança não se interessa
pela pergunta e responde qualquer coisa sem esforço.
2. A segunda é a "fabulação", quando a criança inventa uma história
como resposta sem reflexão.
3. A terceira é a "crença sugerida", quando a criança responde para
agradar o examinador e não para expressar sua própria reflexão.
4. A quarta é a "crença desencadeada", quando a criança reflete e
encontra a resposta por seus próprios recursos, mas influenciada pelo interrogatório.
5. E a quinta é a "crença espontânea", quando a criança já tem a
resposta pronta, sem precisar raciocinar.

O objetivo do experimentador é incentivar as crenças desencadeadas, pois são


produto original do pensamento da criança e ajudam na construção do conhecimento e
no desenvolvimento das estruturas operatórias do pensamento. O método clínico
também pode ser usado como estratégia pedagógica construtivista pelos professores.
ESTÁGIOS DO DESENVOLVIMENTO MORAL

Afetividade e interação social em Piaget

Segundo Piaget, a afetividade e a interação social são fundamentais para o


desenvolvimento moral da criança em cada um dos seus estágios.

Estágio pré-operatório (2 a 7 anos):


Nesse estágio, a criança ainda é egocêntrica, ou seja, ela vê o mundo a partir
de sua própria perspectiva e não consegue se colocar no lugar do outro. Ainda assim,
ela já é capaz de ter algumas noções morais, como a de que certas ações são certas
ou erradas. A afetividade nessa fase é importante para a criança aprender a lidar com
suas próprias emoções e também para compreender as emoções dos outros. A
interação social, por sua vez, ajuda a criança a perceber que existem outros pontos de
vista além do seu próprio.

Estágio operatório concreto (7 a 12 anos):


Nesse estágio, a criança já é capaz de se colocar no lugar do outro e entender
as perspectivas diferentes das suas próprias. A afetividade continua sendo importante,
especialmente no que se refere ao estabelecimento de valores morais. A interação
social, por sua vez, permite que a criança compreenda melhor as regras e normas
sociais.

Estágio das operações formais (12 anos em diante):


Nesse estágio, a criança já é capaz de raciocinar sobre questões abstratas e
hipotéticas. A afetividade continua sendo importante, mas agora de uma forma mais
complexa, já que a criança é capaz de refletir sobre suas próprias emoções e valores.
A interação social é fundamental para que a criança compreenda a importância do
diálogo e do debate para a construção de ideias e valores morais mais complexos.

Anomia, heteronomia, semiautonomia, autonomia moral

Para Piaget, a moralidade é construída por meio da interação social e do


desenvolvimento cognitivo da criança. Ele propõe quatro estágios de desenvolvimento
moral e quatro tipos de moralidade: anomia, heteronomia, semiautonomia e autonomia
moral.

Anomia: é a ausência de regras e valores morais. Nesse estágio, a criança


não entende a necessidade de seguir regras sociais, nem tem senso de certo e
errado. Exemplo: uma criança pequena que ainda não entende que é errado pegar o
brinquedo do amigo sem pedir permissão.

Heteronomia: é a obediência às regras e valores impostos pela autoridade,


sem questionamentos ou compreensão do seu significado. Nesse estágio, a criança
segue as regras por medo de punição ou pela expectativa de recompensa. Exemplo:
uma criança que não coloca a mão no fogo porque a mãe disse que não pode.

Semiautonomia: é a compreensão de que as regras e valores morais são


estabelecidos pela sociedade e podem ser discutidos e modificados coletivamente,
mas ainda com base em princípios externos. Nesse estágio, a criança começa a
questionar as regras e entender que há diferentes pontos de vista. Exemplo: uma
criança que entende que não pode falar palavrões na escola porque é uma regra da
escola e isso ajuda a manter um ambiente de respeito.
Autonomia: é a internalização das regras e valores morais, baseados em
princípios universais e na compreensão dos impactos das ações individuais na
sociedade. Nesse estágio, a criança segue as regras e age de acordo com seus
princípios internos, sem precisar de controle externo. Exemplo: uma criança que sabe
que é errado mentir e decide falar a verdade mesmo que isso possa trazer
consequências negativas para ela.

O jogo em uma em perspectiva psicogenética

Para Piaget, os jogos são uma das principais atividades que as crianças
utilizam para aprender e desenvolver seu pensamento e habilidades cognitivas. Ele
acreditava que as crianças constroem seu conhecimento a partir da interação com o
ambiente, e que os jogos são uma forma importante de interação.

Os jogos permitem que as crianças experimentem diferentes papéis, regras e


situações, o que as ajuda a desenvolver a imaginação, a criatividade, a resolução de
problemas e a capacidade de adaptação a diferentes contextos. Além disso, os jogos
ajudam a criança a se relacionar com outras pessoas, a entender as regras sociais e a
desenvolver habilidades sociais, como a cooperação, o respeito e a empatia.

Portanto, para Piaget, os jogos são importantes porque permitem que as


crianças explorem e experimentem o mundo ao seu redor, construam seu
conhecimento e desenvolvam suas habilidades cognitivas e sociais de maneira lúdica
e prazerosa. Ele identificou quatro tipos de jogos diferentes, cada um adequado para
diferentes estágios do desenvolvimento infantil:

Jogo de exercício: é o primeiro tipo de jogo que a criança desenvolve e ocorre


no estágio sensório-motor, de 0 a 2 anos. É caracterizado pela repetição de
movimentos, sem um objetivo claro além do prazer da atividade em si. Por exemplo,
um bebê pode repetidamente jogar um objeto no chão e pegá-lo de volta.

Jogo simbólico: ocorre no estágio pré-operatório, dos 2 aos 6 anos. É quando


a criança começa a desenvolver a capacidade de usar símbolos e imaginar coisas que
não estão presentes no momento. Por exemplo, brincar de casinha ou de faz de conta,
onde a criança imagina ser um personagem em uma história inventada.

Jogos de construção: ocorrem durante a transição entre o estágio pré-


operatório e o estágio operatório, por volta dos 6 anos. São jogos que envolvem a
construção de objetos com blocos, legos, peças de quebra-cabeça, entre outros. A
criança aprende a organizar e manipular objetos de forma mais complexa.

Jogo de regra: ocorre no estágio operatório, entre os 7 e 15 anos. Neste


estágio, a criança começa a compreender a importância de regras e convenções
sociais. Os jogos de regra envolvem a aplicação de regras claras e compartilhadas
entre os jogadores. Exemplos incluem jogos de tabuleiro, jogos de cartas, futebol,
basquete, entre outros. A criança aprende a cooperar com os outros jogadores,
respeitar as regras e a importância da justiça e da equidade.

Você também pode gostar