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Desenvolvimento Humano I

Aula 6: A teoria cognitiva de Piaget

Apresentação:
A teoria de Jean Piaget aborda o desenvolvimento cognitivo, seu foco está em como a criança aprende, de que forma sua
capacidade cognitiva vai se desenvolvendo na medida em que cresce.

Seus estudos o levaram, entre outros conceitos, a definir que todos nós nascemos com uma estrutura biológica que nos
capacita para interagir com o meio e, à medida que amadurecemos, essas estruturas nos permitem aprimorar essas
capacidades. Veremos nesta aula esse conceito detalhadamente.

Objetivos:
Compreender a teoria cognitiva de Jean Piaget

Identificar os estágios do desenvolvimento cognitivo

Jean Piaget e sua proposta de pesquisa

Jean Claude Piaget foi um psicólogo suíço pioneiro no


estudo do desenvolvimento do pensamento e da
resolução de problemas por parte das crianças.

As observações de Piaget o levaram a compreender que


as crianças menores não pensavam de forma incorreta
em relação às maiores, e sim, de forma diferente. Essa foi
a base de sua teoria.


Jean Piaget (Fonte: Wikipedia.).

Comentário

Piaget desenvolveu suas pesquisas, por meio do método clínico numa combinação de observação e perguntas flexíveis
feitas às crianças, incluindo suas três filhas.

Sua visão corrobora com a de teóricos como Lev Vygotsky e Henri Wallon. Eles compreendem a construção do
conhecimento por meio de um olhar interacionista, no qual, há interação entre sujeito e objeto.

Diferentemente da visão do empirismo que entende a construção do psiquismo por meio da dependência das
experiências sensíveis, e o racionalismo que pressupunha nossa estrutura inata como base para nosso desenvolvimento.

Empirismo Racionalismo
Construção do psiquismo por meio da
dependência das experiências sensíveis  Estrutura inata como base para nosso
desenvolvimento.

Vamos nos aprofundar.

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botões para ver as informações.
Empiristas 

Pensando um pouco mais sobre os empiristas, eles compreendem a construção do conhecimento pelas
experiências dos sentidos, por meio da relação com o ambiente. Os comportamentalistas que eram um dos
representantes desta visão consideram que os estímulos provocados pelo meio resultam em ações,
em um
movimento de estímulo e resposta produzindo conhecimento.

Humanistas 

O humanismo também faz parte da visão comportamentalista e entende que o sujeito como ser individual é o início e
o fim da própria experiência que gera o conhecimento.

Racionalistas 

Para os racionalistas, os processos de aquisição do conhecimento são inatos. Segundo os Gestaltistas, as crianças
nascem com estruturas pré-formadas que condicionam suas experiências perceptuais ao longo de seu
desenvolvimento.

Maturacionais 

Para os maturacionais, aconteceria de acordo com o amadurecimento do corpo, processo compartilhado com todos
da espécie de acordo com a etapa do desenvolvimento que estivessem vivenciando.

A psicanálise também contribuiu para esse modelo, na medida em que, Sigmund Freud postulou que o inconsciente
comanda fortemente ações do homem em seu desenvolvimento, determinando suas ações.

Com isso, entendemos que a teoria de Piaget está relaciona às teorias psicogenéticas, nas quais o psiquismo é
construído
na interação do sujeito e objeto/meio.
Os interesses de Piaget estavam voltados para a compreensão da interação entre as estruturas internas, e os contextos
externos na construção do conhecimento. A partir de suas ideias, surge na educação o termo Construtivismo.

Empirismo: aquisição do conhecimento pelas experiências dos sentidos


vivenciadas através do meio.

Racionalismo: aquisição do conhecimento inato, determinismo.

Interacionismo: a construção acontece na relação do sujeito com o meio.

No texto a seguir, veja como se deu o desenvolvimento da teoria Piagetiana.


O desenvolvimento da Teoria Piagetiana


Clique no botão acima.

Piaget dedicou sua vida à pesquisa sobre a origem e formação do conhecimento, criando um campo de
investigação que chamou de epistemologia genética. Sua teoria estava centrada no desenvolvimento natural do
sujeito, sustentando que esse processo se dá em várias etapas ao longo do seu ciclo de vida. Ao considerar o
termo epistemologia, que significa o estudo no seu
sentido mais amplo, ele denota sua preocupação em apontar
que não existem conhecimentos absolutos.

O início do processo de aquisição do conhecimento seria no nascimento (bebê) e aconteceria em um


determinado ponto de interseção entre o sujeito e o objeto, momento também que se estabelece a construção de
seu psiquismo.

Sua teoria construtivista entende o sujeito como ativo no processo de produção de seu conhecimento,
que se
constrói na interação com o meio a partir da interpretação de suas experiências. Em uma
relação, em que ele
como sujeito afeta e transforma o meio, e é transformado por esse meio que o
provoca por meio de experiências.

A partir de suas observações, Piaget dividiu o desenvolvimento cognitivo em quatro estágios, e condicionou o
desenvolvimento de cada um deles três processos inter-relacionados como base, a saber: organização,
adaptação e equilibração.
Dentro de sua teoria, a criança herda estruturas biológicas, sensoriais e neurológicas que irão
preparar suas
estruturas mentais ou esquemas cognitivos. Esses esquemas são padrões de pensamento, que se subdividem
em três tipos: os comportamentais, no qual a criança não conceitua os objetos, mas sim, o que pode fazer com
eles. Uma criança de 10 meses vê o carrinho somente como algo que ela pode empurrar.

Nos esquemas simbólicos já são capazes de formar uma representação mental, ou imagem. Já utilizam as
experiências vivenciadas mentalmente para alcançar suas metas. Sabe quando uma criança observa
a outra
fazendo escândalo no shopping, passado um tempo faz o mesmo, sem nunca ter feito antes. A imagem vista
ficou armazenada lá nos seus esquemas. Isso normalmente começa a acontecer no segundo ano de vida da
criança.

Quando falamos nos esquemas operacionais, as crianças estão chegando aos 7 anos de idade. Nesse caso, as
atividades mentais envolvem ações para se chegar a conclusões de ordem lógica.

Segundo Piaget, nosso conhecimento se constrói a partir de dois processos intelectuais inatos, a
organização,
que estará sempre promovendo a adaptação, e a adaptação como segundo processo, que
para ocorrer
necessitará de duas atividades complementares: assimilação e acomodação. Dessa forma,
teremos o
crescimento cognitivo do indivíduo, que irá acontecer em quatro estágios. Vamos tentar
organizar inicialmente
por meio do esquema abaixo.

Descrição do esquema:

Sujeito epistêmico interage com o meio a partir de suas ações, adquire novas informações que provocam o
desequilíbrio entre seus esquemas ou estruturas cognitivas e o meio.

A estrutura busca por organização, através do processo de adaptação, que aciona suas atividades
complementares, a assimilação e a acomodação.
A assimilação busca absorver e incorporar a nova informação aos esquemas ou estruturas cognitivas já
existentes, com o objetivo de adaptar as novas informações sobre o ambiente. Por exemplo, uma criança só
conhece lagos, quando vai praia diz: que lago grande.

Nesse caso, ela buscou incorporar a informação nova a um esquema existente. Mas continuou olhando e achou
estranho ter tanta areia, ter ondas, então ela diz: isso não é um lago, o que é? Neste momento ela inclui
novas
informações, modificando e transformando a estrutura cognitiva já existente.

Quando a criança estabelece a passagem da assimilação para a acomodação da nova experiência/informação


ocorre a equilibração. A restauração do seu estado de equilíbrio. Estado que em breve deixará de estar em
equilíbrio porque novos estímulos virão através de sua interação com o meio e, desta forma, o processo
acontecerá novamente, de forma cíclica, ocorrendo o desenvolvimento cognitivo.

Considerando a maneira como Piaget compreendia o desenvolvimento cognitivo, e os esforços da criança para a
compreensão de seu mundo vamos conhecer agora os estágios do desenvolvimento propostos por ele.

Estágios do desenvolvimento cognitivo


Para Piaget todos os sujeitos passariam pelos quatro estágios do desenvolvimento na mesma sequência, não sendo
possível pular ou retroceder os estágios.

Avançar de um estágio para o outro dependeria do amadurecimento do sistema nervoso central, da capacidade
do
cérebro de absorver maior quantidade de informações e de raciocínio, é preciso o desenvolvimento neurológico do sujeito.
Ele compreende o processo como universal, mas ressaltava que cada um vivenciaria
de modo particular, único, cada um
dos estágios.

Segundo Piaget, os estágios são:

1. Sensório-motor

2. Pré-operacional
3. Operatório-concreto

4. Lógico-formal

Vejamos cada estágio, no texto a seguir.


Estágios de desenvolvimento cognitivo


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Primeiro estágio: Sensório-motor nascimento aos 2 anos

Este primeiro estágio pode ser subdividido em seis etapas, quando ocorrem as experiências iniciais do
desenvolvimento cognitivo.

1ª Reflexos – usam seus reflexos (nascimento ao 1 mês)

Exemplo: o sugar do peito da mãe ou mamadeira.

2ª Reações circulares primárias – repetição de movimentos vivenciados ao acaso que produzem uma sensação
agradável (1 a 4 meses)

Exemplo: quando pega o pezinho e leva a boca.

3ª Reações circulares secundárias – são movimentos com uma intenção, mas não com um objetivo específico (4
a 8 meses)

Exemplo: pega a papinha do prato com a mão amassa e fica olhando.

4ª Coordenação de esquemas secundários – neste momento, há intenção e objetivo para ser alcançado,

utilizam conhecimentos aprendidos como suporte (8 a 12 meses)

Exemplo: a criança escolhe o brinquedo sabendo o que ele irá lhe proporcionar.

5ª Reações circulares terciárias – nesta fase, são movidas pela curiosidade, utilizam seus aprendizados
anteriores para
atingir seus novos objetivos, na resolução de problemas adotam a estratégia da tentativa-erro (12
a 18 meses)

Exemplo: tenta carregar pegar um brinquedo pesado até um determinado lugar, como não consegue resolver
empurrando-o, ficando satisfeito com a conquista.

6ª Combinações mentais – este estágio se encerra coma as seguintes aquisições: representação de eventos
mentais, avalia a resolução do problema sem precisa usar a ação, pensamento simbólico, uso de símbolos como
palavras e gestos, e sabem
fingir (18 a 24 meses)

Exemplo: Jogos de encaixe de formas geométricas.

Para Piaget, nesse período do ciclo vital, a criança deve desenvolver os conceitos, e portanto, habilidades para o
entendimento sobre a permanência dos objetos, conhecimento espacial, causalidade, números, categorização e
imitação.

Segundo estágio: Pré-operacional 2 anos – 6/7 anos

Esse estágio traz o amadurecimento dos aprendizados iniciados no estágio anterior, principalmente no que diz
respeito à capacidade do pensamento simbólico, a aquisição da linguagem é uma grande conquista neste
momento.
No estágio sensório-motor, a criança tinha necessidade de estar na presença da pessoa ou o objeto para pensar
nele. Já no
estágio pré-operacional, o conceito e habilidade de usar símbolos já estão presentes possibilitando a
criança de pensar no
objeto, evento ou pessoa sem estar em contato com ele. Por exemplo, quando Bruno
pergunta sobre o cachorro do seu vizinho
que viu no elevador no dia anterior.

Considerando as aquisições, elas também poderão atribuir qualidades a pessoas e objetos além do que
realmente possuem, como
a vassoura sendo um cavalinho. Já compreendem que suas ações trazem
consequências, e conseguem organizar por tamanho,
altura, ou seja, categorizar. Nesse estágio, as crianças
estão aptas a iniciarem o desenvolvimento da empatia.

Com relação aos aspectos a serem desenvolvidos, Piaget menciona a centralidade, o egocentrismo, o animismo e
a dificuldade
em distinguir o que é real da aparência externa (pessoas fantasiadas de personagens).

Terceiro estágio: Operatório-concreto 6/7 anos – 11/12 anos

Nesta fase, as crianças já estão menos egocêntricas, conseguindo ter uma visão mais ampla do que está ao seu
redor. Com isso, ganham a capacidade de resolver problemas utilizando recursos concretos, ainda que, com
certas limitações.

Algumas habilidades como pensamento espacial, seriação e inferência transitiva, raciocínio indutivo e dedutivo e
conservação são adquiridas neste estágio. Enquanto outras são aprimoradas, como a capacidade de utilização
dos números e a competência nas
categorizações.

Quarto estágio: Lógico-formal 12 em diante

Chegamos ao último estágio, no qual a criança/adolescente irá desenvolver a capacidade do pensamento


abstrato, da lógica. Se torna capaz de questionar o mundo a sua volta e a buscar soluções que tornem esse
mundo melhor. Na maioria das vezes, são soluções utópicas próprias da adolescência, porém, Piaget menciona
essas soluções como uma inabilidade do início desta fase.

O esperado é que com o amadurecimento as ideias se tornem coerentes com as possibilidades apresentadas
dentro da realidade. Nesse estágio, ainda teremos a aquisição das habilidades de compreensão da linguagem
figurada, de conceitos científicos e filosóficos, construção de hipóteses e a capacidade de pensar sobre si
mesmo.

Piaget por meio de sua teoria contribuiu significativamente para o entendimento do desenvolvimento cognitivo ao
longo do nosso ciclo vital, seus referenciais têm norteado práticas educacionais, avaliações psicopedagógicas,
elaboração de projetos de promoção e prevenção da saúde. Sendo uma fonte importante de informação para a
construção de seus projetos, intervenções e práticas.
Atividade
1. Descreva os dois processos complementares à adaptação propostos por Jean Piaget.

2. Segundo Piaget, todos os sujeitos vivenciarão os quatro estágios do desenvolvimento, qual o processo que permitirá que
cada um possa avançar de um estágio para o outro?

3. Com relação ao quarto estágio do desenvolvimento cognitivo, mencione três capacidades adquiridas e incorporadas a
esquemas cognitivos do sujeito.

Referências

ABREU, Luiz Carlos de et al. A epistemologia genética de Piaget e o construtivismo. Rev. bras. crescimento desenvolv. hum.,
São Paulo, v. 20, n. 2, p. 361-
366, ago. 2010. Disponível em //pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0104-
12822010000200018&lng=pt&nrm=iso. Acesso em: 30 jul. 2019.

PAPALIA, D. E.; OLDS, S. W.; FELDMAN, R. D. Desenvolvimento humano. 10. ed. Porto Alegre: Artmed, 2010.

SHEEHY, Noel. 50 Grandes psicólogos: suas ideias, suas influências. São Paulo: Contexto, 2006.

Próxima aula

Vygotsky: a teoria histórico-social

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