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Módulo | Desenvolvimento Humano e a

Aprendizagem
Texto 3
5Teorias de desenvolvimento humano
Elas estudam como os indivíduos se desenvolvem e se comportam nas diferentes etapas da vida.
Assim, de seguida, iremos descrever as quatro principais teorias sobre o desenvolvimento
humano, nomeadamente: i) de Jean Piaget; ii) de Erik Erikson; iii) de Lev Vygotsky; iv) de
Sigmund Freud. Para cada uma das teorias de desenvolvimento, importa analisar, sobretudo, a
sua concepção sobre o desenvolvimento humano e as fases ou estádios de desenvolvimento. Para
melhor aprofundamento de cada teoria, recomenda-se que o formador não aborde mais que uma
teoria de desenvolviemento por aula. Os formandos podem complementar os estudos com
leiutras de outras fontes sobre o tema.

3.5.1 Teoria de desenvolvimento de Jean Piaget

A ideia principal de Piaget é de que as habilidades cognitivas se desenvolvem, a partir da


interacção do indivíduo com o seu ambiente. É através desta constante interacção que a criança
desenvolve as suas próprias ideias e conceitos sobre o ambiente que a rodeia, na tentativa de
fazer sentido e adaptar-se ao mesmo.

Piaget considerou o desenvolvimento de habilidades cognitivas e o crescimento de


conhecimentos como um processo contínuo, sequenciado e dividido em fases. Ao longo do seu
desenvolvimento, a criança passa de uma fase para outra, através da maturação biológica e
exploração do meio.

Para explicar o desenvolvimento humano, em função dos estágios, Piaget apresenta como
principais conceitos, os seguintes: o esquema, a assimilação, a acomodação, a adaptação e o
equilíbrio. Estes conceitos são definidos pelo autor, conforme se estabelece no quadroabaixo.
Quadro 4: Principais conceitos da teoria de desenvolvimento de Piaget

Principais
Definição
conceitos
É considerado como sendo as estruturas mentais ou cognitivas pelas quais os
indivíduos intelectualmente organizam o meio. Estas se modificam com o
desenvolvimento mental e que se tornam cada vez mais refinadas, à medida que a
criança se torna mais apta a generalizar os estímulos.
O esquema

Por este motivo, os esquemas cognitivos do adulto são derivados dos esquemas
sensório-motores da criança e os processos responsáveis por essas mudanças nas
estruturas cognitivas são a assimilação e a acomodação.
É o processo cognitivo de colocar (classificar) novos eventos em esquemas
existentes. É a incorporação de elementos do meio externo (objecto,
acontecimento, etc) a um esquema ou estrutura do sujeito.
A assimilação
Em outras palavras, é o processo pelo qual o indivíduo cognitivamente capta o
ambiente e o organiza possibilitando, assim, a ampliação de seus esquemas. Na
assimilação o indivíduo usa as estruturas que já possui.
•É a modificação de um esquema ou de uma estrutura em função das
particularidades do objecto a ser assimilado.

A •A acomodação pode ser de duas formas, visto que se pode ter duas alternativas:
acomodação
•Criar um novo esquema no qual se possa encaixar o novo estímulo.

•Mobilizar um já existente de modo que o estímulo possa ser incluido nele.


A adaptação É o balanço entre a assimilação e acomodação.
É o processo da passagem de uma situação de menor equilíbrio para uma de maior
A equilibração equilíbrio. Uma fonte de desequilíbrio ocorre quando se espera que uma situação
ocorra de determinada maneira e esta não acontece.

Estágios de desenvolvimento de Piaget


Em função dos conceitos básicos apresentados por Piaget, os quais constituem as funções básicas
do desenvolvimento, é possível apresentar os estágios de desenvolvimento segundo o autor,
nomeadamente:

i. estágio sensório-motor
ii. estágio-pré-operatório,
iii. estágio de operações concretas; e
iv. estágio das operações formais.

O estágio sensório-motor (0-2 anos), inicia com o nascimento do bebé. À nascença, o bebé
possui apenas um conjunto de esquemas reflexos sensório-motores, com os quais interage com o
meio.

Neste estágio, a partir de reflexos neurológicos básicos, o bebé começa a construir esquemas de
acção para assimilar mentalmente o meio. A inteligência é prática. As noções de espaço e tempo
são construídas pela acção. O contacto com o meio é directo e imediato, sem representação ou
pensamento. Por exemplo, o bebé pega o que está na sua mão; “mama” o que é posto na sua
boca; “vê” o que está diante de si. Aprimorando esses esquemas, é capaz de ver um objecto,
pegá-lo e levá-lo à boca.

Estas interacções levam às primeiras assimilações e acomodações, passando, quase


imperceptivelmente, dos meros reflexos às primeiras acções intencionais; à formação de novos
esquemas de acção, dando lugar a uma diferenciação progressiva entre o eu e o mundo.

No fim deste estágio, a assimilação e a acomodação sensório-motoras atingem um equilíbrio


estável. Os conteúdos são ferramentas de ensino-aprendizagem para o desenvolvimento das
funções psicológicas superiores.

O estágio pré-operatório (2 - 6/7 anos), também designado de “inteligência simbólica”, ocorre


por volta dos dois anos, momento em que surge a capacidade de representação: a criança é capaz
de antecipar a trajectória dos objectos em movimento; de evocar situações não directamente
percepcionadas, através da imitação, do jogo e da linguagem.
Para resolver situações problemáticas, a criança deixa de recorrer sistematicamente à acção
prática, porque se torna capaz de antecipar mentalmente os seus efeitos. As acções deixam de ser
exclusivamente práticas e passam a ser também mentais, mas ainda não integradas em estruturas
de inteligência coerentes.

Neste contexto, a criança “pré-operatória” volta a passar por um novo tipo de egocentrismo,
agora já não ao nível da acção, mas ao nível do pensamento. Por egocentrismo do pensamento
infantil, Piaget entende a indiferenciação entre o ponto de vista próprio e o ponto de vista do
outro; em outras palavras, a criança assume que outras pessoas vêem o mundo do mesmo ponto
de vista como ela.

Uma outra tendência é que a criança pára a concentração nas experiências individuais e a
concentração dos aspectos mais salientes dos objectos ou situações, o que leva a negligenciar
outros. Caracteriza-se, principalmente, pela interiorização de esquemas de acção construídos no
estágio anterior (sensório-motor). Assim, a criança deste estágio, geralmente apresenta as
características abaixo:

 É egocêntrica, centrada em si mesma e não se consegue colocar, abstratamente, no lugar


do outro.
 Não aceita a idéia do acaso e tudo deve ter uma explicação (é a fase dos “porquês”).
 Já pode agir por simulação, “como se”.
 Possui percepção global sem discriminar os detalhes.
 Deixa-se levar pela aparência sem relacionar os factos.

Uma demonstração da característica de uma criança deste estágio ocorre, por exemplo, quando
se mostra a ela, duas bolinhas de massa iguais e dá-se a uma delas a forma de salsicha. A criança
nega que a quantidade de massa continue igual, pois as formas são diferentes. Não relaciona as
situações.

Um outro exemplo, tendo dois copos com água, com a mesma quantidade, mas sendo um mais
comprido e o outro baixo/largo, ao solicitar-se a uma criança de 6 a 7 anos para identificar o
copo com maior quantidade do líquido, ela tende a seleccionar o mais comprido, devido ao
pensamento ainda irreversível.
Quer dizer, nesse agir da criança, há também uma rigidez de pensamento, em termos de
estabelecimento de relações entre os factos. É a irreversibilidade do pensamento, ou seja, a
criança ainda não possui a capacidade de pensar sobre algo e depois fazer o caminho inverso.

Por exemplo, se você disser a uma criança que o caminho da sua casa para a praia é de 5 km e,
depois, perguntar, voltando pelo mesmo lugar, qual é a distância da praia para a casa dela, a
criança poderá ficar confusa e responder 10 Km ou outra distância. Na escola, observa-se que
ainda não são capazes de fazer as operações matemáticas de adição e subtracção com números.
No final desse período, ocorre uma diminuição considerável do egocentrismo. O jogo simbólico
vai-se transformando em jogo de regras e a socialização vai-se estruturando em torno da
cooperação.

O estágio das operações concretas (7-11/12 anos): neste estágio, a criança desenvolve estruturas
cognitivas organizadas de forma estável, que lhe permitem um pensamento lógico face ao mundo
que a rodeia. Assim, no estágio operatório concreto, o pensamento da criança deixa de ser
egocêntrico, passando a ter capacidade de descentração e reversibilidade intelectuais cada vez
mais generalizadas, que se manifestam, por exemplo, no que concerne ao exemplo anterior
relacionado à identificação do copo com maior quantidade do líquido. Neste estágio, a criança
deixa de fixar apenas o tamanho, mas sim, abstrai-se também para o volume como elemento de
comparação, pois o pensamento já é reversível na observação das quantidades, líquidos, massa,
peso, e volume.

Portanto, neste estágio a criança desenvolve noções de tempo, espaço, velocidade, ordem,
casualidade, já sendo capaz de relacionar diferentes aspectos e abstrair dados da realidade. Não
se limita a uma representação imediata, mas ainda depende do mundo concreto para chegar à
abstração. E desenvolve a capacidade de representar uma acção no sentido inverso de uma
anterior, anulando a transformação observada (reversibilidade).

Por exemplo, despeja-se a água de dois copos em outros, de formatos diferentes, para que a
criança diga se as quantidades continuam iguais. A resposta é afirmativa, uma vez que a criança
já diferencia aspectos e é capaz de “refazer” a acção.
No entanto, estas novas estruturas cognitivas só se aplicam a situações concretas. Na resolução
de problemas abstractos, a criança volta a manifestar dificuldades semelhantes às do estágio
anterior.

O estágio das operações formais (a partir dos 11/12 anos): neste estágio vão desenvolver-se
estruturas cognitivas de natureza abstracta, que permitem não só pensar o real, mas também o
possível, construir cenários hipotéticos de forma lógica e coerente, que constituem o raciocínio
hipotéticodedutivo.

Com isso, a representação agora permite a abstração total. A criança não se limita mais a
representação imediata nem somente às relações previamente existentes, mas é capaz de pensar
em todas as relações possíveis logicamente, procurando soluções a partir de hipóteses e não
apenas pela observação da realidade.

Em outras palavras, as estruturas cognitivas da criança alcançam o seu nível mais elevado de
desenvolvimento e tornam-se aptas a aplicar o raciocínio lógico a todas as classes de
problemasFace a isso, por exemplo, pedem a uma criança para analisar um provérbio como “de
grão em grão, a galinha enche o papo”, a criança trabalha com a lógica da idéia (metáfora) e não
com a imagem de uma galinha comendo grãos.

Decorre daqui a capacidade auto-reflexiva, de pôr em causa o estado das coisas, quer ao nível
pessoal, quer a níveis familiar e social, o qual caracteriza o pensamento do adolescente.

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