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PSICOLOGIA DA EDUCAÇÃO

Prof.ª Me. Waléria Henrique dos Santos Leonel


waleria.leonel@unicesumar.edu.br
1
Unidade III

• DESENVOLVIMENTO SÓCIOCOGNITIVO NA
INFÂNCIA E NA ADOLESCÊNCIA.

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• Psicologia da Educação - visão construtivista
de desenvolvimento e aprendizagem (COLL,
2004, p. 107).
A ideia central do construtivismo, de que o
conhecimento e a aprendizagem são resultado
de uma dinâmica em que a ação do sujeito é o
fator decisivo.
• Construtivismo tem Jean Piaget como principal
representante.

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O desenvolvimento segundo
Jean Piaget
• Jean Piaget, na busca pela gênese do
desenvolvimento intelectual, desenvolveu, a
partir da observação e da experimentação com
crianças, um modelo biológico de
desenvolvimento, isto é, uma teoria do
DESENVOLVIMENTO DA INTELIGÊNCIA.

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• Piaget compreende o desenvolvimento
cognitivo como algo dinâmico:
• “Posto que a inteligência existe na ação,
modificando-se numa sucessão de estágios
que compreendem: uma gênese, uma estrutura
e a mudança das mesmas” (PILETTI;
ROSSATO; ROSSATO, 2014 p. 43).

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• Pensando nos aspectos intelectuais, no que se
refere ao desenvolvimento mental, há três
fatores que formam esses processos: o
maturacional, a experiência ativa dos sujeitos
sobre os objetos e o fator interacional ou
transmissões sociais.

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• A gênese parte de uma estrutura e chega a
outra, no qual é preparada por estruturas mais
elementares, mas que se sintetizarão numa
estrutura final.

• As primeiras estruturas surgem com o


nascimento, estágio sensório motor, no qual
predomina o biológico no desenvolvimento.

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• O processo de “crescimento” das estruturas se
efetiva por meio de equilibrações sucessivas.
• A partir de um objeto ou situação nova,
assimila esse objeto em alguma estrutura pré-
existente ou promove ajustes no objeto ou em
suas estruturas mentais para assimilá-lo, em
um processo de acomodação, voltando ao
equilíbrio.

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• O processo de equilibração visa à adaptação
do indivíduo às perturbações do meio.
• Do processo de adaptação resultam esquemas
de assimilação.
• O esquema funciona como um conceito prático,
ou seja, na presença de um objeto novo, a
criança tenta assimilá-lo aplicando-lhe todos os
esquemas de que dispõe.

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• Para Piaget (1978), a inteligência se desenvolve por
etapas, a partir da vida orgânica (reflexos,
coordenações sensoriais e motoras) até chegar ao
conhecimento lógico-matemático.

• Em cada uma das etapas do desenvolvimento,


existem condutas novas, novas formas de ação sobre
os objetos que se agrupam em sistemas, sempre em
estado de elaboração.

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• As etapas do desenvolvimento mental são
descritas por Piaget (1978) em estágios, que se
caracterizam pela aparição de estruturas
originais cuja construção o distingue dos
estágios anteriores.

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Estágios de desenvolvimento
segundo Piaget
• “Uma organização progressiva, cujas raízes se
encontram na vida orgânica e cuja evolução se
dá por um processo de adaptação cada vez
mais preciso à realidade. A vida mental, como
aliás a própria vida orgânica, tende a assimilar
progressivamente o meio ambiente e realiza
esta incorporação graças a estruturas cujo raio
de ação é cada vez maior” (PIAGET, 1936
apud CHIAROTTINO, 1972).

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Período Sensório-Motor

• Período Sensório-Motor - nascimento até um ano e


meio, dois anos.

• A criança passa do nível neonatal, no qual é marcado


pelos reflexos inatos, para o nível no qual é capaz de
realizar uma organização perceptiva e motora do
meio (FONTANA; CRUZ, 1997).

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• A criança, nesse período, reflete o mundo e
não consegue se diferenciar dele, ela age
sobre ele, assim, ela vai conhecendo o mundo,
a partir dos reflexos inatos, vai assimilando
novos elementos do meio, com isso, sendo
transformada por esses elementos, isto é, vai
acomodando os novos estímulos .

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• Inicialmente, a criança assimila os dados do
meio exterior aos esquemas reflexos
hereditários (sucção, preensão, choro e
atividade corporal indiscriminada).
• Nessa fase, a criança é totalmente egocêntrica,
seu próprio corpo é a única referência comum e
constante.

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• É um período de transição entre o orgânico e o
intelectual, no qual não se pode, ainda, falar em
inteligência.
• Falta de intencionalidade e de diferenciação entre
meios e fins.
• Aos poucos, suas ações começam a ganhar
intencionalidade e levam a criança a repetir os
movimentos, como, por exemplo, agarrar um
brinquedo que faz barulho, isto é, ela age para atingir
um propósito.

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• A criança não possui, ainda, imagens mentais
dos objetos, portanto não há a “permanência”
do objeto na mente.
• O reconhecimento refere-se mais à própria
ação do que aos objetos. É uma fase de
imitação.

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• Os progressos do período sensório-motor
resultam na passagem da ação à
representação, ou seja, a inteligência sensório-
motora refere-se à adaptação do indivíduo ao
mundo dos objetos, não envolve socialização
no sentido de obediência a regras comuns nem
conceitualização, mas apenas realizações
práticas.

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• Esse é o período da construção intelectual do
objeto, da elaboração de um universo exterior –
os objetos passam, ao final do período, a
serem concebidos como exteriores ao eu e
independentes dele.

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Período Pré-Operacional

• Nesse período, que vai de dois a sete anos, as


ações sensoriais-motoras começam a implicar
representação e a criança passa a representar
mentalmente o mundo externo e suas próprias
ações, a criança os interioriza. Essa
capacidade de representação oportuniza
condições para a aquisição da linguagem. A
criança começa a elaborar a diferenciação
entre o eu e o mundo (FONTANA; CRUZ,
1997).
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• Período do pensamento intuitivo - considerada
como um progresso no desenvolvimento.
• As ações sensoriais-motoras começam a
implicar representação.
• Função simbólica - aquisição da linguagem, o
brinquedo simbólico e a imitação diferenciada
(aquela que se produz na ausência do modelo
correspondente) surgem ao mesmo tempo.

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• Função simbólica - capacidade de distinguir
os significantes (símbolos individuais e
coletivos) dos significados (objetos ou fatos) e
de evocar, graças a esses significantes, os
significados não percebidos na ocasião.
• É por meio da função simbólica que a criança
será capaz de representar suas ações ou
objetos que estão fora de sua percepção atual.

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Piaget - a função simbólica é mais ampla do
que a linguagem.
• A linguagem é uma forma particular de função
simbólica, o que indica que o pensamento
precede à linguagem e essa se limita a
transformá-lo, ajudando a alcançar formas de
abstração mais móvel do pensamento.

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• Nesse período, a criança, ainda, não é capaz
de se colocar no lugar do outro, nem de avaliar
seu próprio pensamento. De acordo com
Fontana e Cruz (1997), os processos de
raciocínio lógico e os conceitos demoram,
também, um longo tempo para se desenvolver.

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• Nesse período, ocorre a interiorização dos
esquemas de ação, o que quer dizer
representação desses esquemas.
• Ainda egocêntrica.
• Pensamento da criança é pré-lógico, dominado
pelo mecanismo da intuição. Diante de um
problema prático, suas respostas se baseiam
em configurações perceptivas ou em atuações
de ensaio e erro.

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• Também não consegue ver mais de um
aspecto de um problema ao mesmo tempo, ela
fixa-se sempre em um de cada vez. A criança
não é capaz de raciocinar levando em conta as
relações entre as várias dimensões envolvidas,
ainda, o tipo de percepção que tem dos objetos
determina o tipo de raciocínio que faz sobre
eles (FONTANA; CRUZ, 1997).

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• Esta fase (quatro, cinco anos) - a criança não
faz análise de relações.
• Classificar e seriar ocorre sem analisar.

• Ex.: provas piagetianas.

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• No final do período, a criança evolui em
direção à reversibilidade e da noção de
conservação.

• Nesse período, não há, ainda, um


comportamento operatório ou lógico, mas há
uma preparação para ele.

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Período das operações concretas

• Ele acontece, apenas, no final do período pré-


operatório, após realizar muitas equilibrações,
o pensamento da criança assume a forma de
operações intelectuais (FONTANA; CRUZ,
1997).
• Sete aos doze anos - no qual se alcança uma
determinada reversibilidade e que comporta um
aspecto lógico: uma operação reversível é uma
operação que admite a possibilidade de sua
inversa.
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• Para Piaget, uma operação é uma ação
interiorizada, reversível e coordenada em uma
estrutura total.
• No período operacional concreto, essa ação se
efetiva sempre a partir da realidade concreta,
de uma ação concreta e evolui para um estágio
de ações proposicionais, abstratas.

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• Haverá operação quando houver noção de
conservação de um todo.

• A noção de conservação apresenta três


resultados possíveis, que demonstram a
evolução mental da criança: nenhuma
conservação, conservação suposta sem
certeza e conservação afirmada como
evidente.

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• Nesse período, a criança passa a compreender
o ponto de vista de outras pessoas. Dessa
forma, nessa fase, são estabelecidas as bases
para o pensamento lógico, que é próprio do
período final do desenvolvimento cognitivo
(FONTANA; CRUZ, 1997).

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• Segundo Fontana e Cruz (1997, p. 52), por
meio das “operações- inicialmente só aplicáveis
a objetos concretos e presentes no ambiente-
os conhecimentos construídos anteriormente
pela criança vão se transformando em
conceitos”.

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Período das operações formais ou
proposicionais
• Doze anos – atinge a reversibilidade completa.

• A criança se torna capaz de levantar hipóteses-


pensamento hipotético-dedutivo ou formal.
• É, apenas, na adolescência que a pessoa
torna-se capaz de pensar de forma abstrata.

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• Nesse período, o pensamento sobre
possibilidades, acontecimentos futuros,
conceitos abstratos, é cada vez mais
articulado. O adolescente agora é capaz de
pensar sobre seu próprio pensamento, estando
consciente das operações mentais que realiza
(FONTANA; CRUZ, 1997).

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• Segundo Wadsworth (1997), na teoria
piagetiana, o adolescente com as operações
formais desenvolvidas pode lidar com as mais
variadas classes de problemas, raciocinando
de forma efetiva sobre o presente, passado e
futuro, também sobre problemas proposicionais
verbais e problemas hipotéticos.

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• O pensamento de Piaget em relação a adolescência diz
que:
• O desenvolvimento na adolescência é um marco que se
estende até a idade adulta, haja vista que, atingido o grau
de maturidade mental representado pela oportunidade de
realizar operações mentais formais, essa será a forma
predominante de raciocínio utilizada pelo adulto. Isso não
significa que o indivíduo para de desenvolver-se, mas que
ocorrerá uma ampliação de conhecimentos tanto em
extensão como em profundidade e que não haverá, por
outro lado, a aquisição de novos modos de funcionamento
metal (PILETTI,ROSSATO; ROSSATO 2014, p.181).

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Conceitos gerais acerca do
desenvolvimento mental
Necessidades e interesses - características
comuns em todas as idades.
• 1. Toda necessidade busca incorporar as
coisas e pessoas à atividade própria do sujeito,
ou seja, assimilar o mundo exterior às
estruturas já construídas.
• 2. Toda atividade tende a reajustar as
estruturas em função das transformações
ocorridas, ou seja, acomodá-las aos objetos
externos.
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• Ao equilíbrio destes processos de assimilação
e acomodação denomina-se adaptação.

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• Percepção e movimentos elementares
(preensão etc.).
• Referem-se, primeiramente, aos objetos
próximos já que a memória e a inteligência
prática permitem, ao mesmo tempo, reconstruir
o estado imediatamente e antecipar as
transformações próximas.
• O pensamento intuitivo reforça essas duas
capacidades.

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• Essa evolução culmina com a inteligência
lógica - sob a forma de operações concretas e,
finalmente, de deduções abstratas.

41
• Para Piaget, o desenvolvimento mental é uma
organização progressiva, resultante da ação
do indivíduo sobre o meio, ação concreta
inicialmente e formal ao final do processo de
desenvolvimento.

• O indivíduo transforma o ambiente à medida


que sua ação promove transformações nele
próprio.

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• Para Piaget, só há aprendizagem quando há
acomodação, ou seja, uma reestruturação da
estrutura cognitiva (esquema de assimilação
existente) do indivíduo, que resulta em novos
esquemas de assimilação.
• Quando há um rompimento da mente por parte
por experiências não assimiláveis, a mente
busca se reestruturar, buscando um novo
equilíbrio.

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Processo de reequilibração

• Equilibração majorante - quando o equilíbrio


da mente é rompido por experiências não
assimiláveis - a mente se reestrutura
(acomodação) a fim de construir novos
esquemas de assimilação e atingir novo
equilíbrio.
• Equilibração - é um fator preponderante no
desenvolvimento mental e na aprendizagem do
indivíduo - é a força impulsionadora do
desenvolvimento intelectual.
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Piaget

• Ensinar significa provocar desequilíbrios no


organismo (mente) do aluno para que ele,
procurando o reequilíbrio (equilibração
majorante), se reestruture cognitivamente e
aprenda.

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• A capacidade de se reestruturar mentalmente é
o mecanismo de aprender do indivíduo –
sua capacidade de reestruturar-se
mentalmente buscando um novo equilíbrio
(novos esquemas de assimilação para adaptar-
se à nova situação).

• O ensino deve, portanto, ativar esse


mecanismo (MOREIRA, 1999).

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Desenvolvimento moral

• Segundo Wadsworth (1997), o


desenvolvimento do raciocínio moral inicia-se
no período sensório-motor e podemos dizer
que está em seu maior nível quando o
desenvolvimento das operações formais e o
desenvolvimento afetivo estão solidificadas.

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• O desenvolvimento moral vai evoluindo com o
avanço e a faixa etária da criança. Na
adolescência, eles já apresentam uma
compreensão sobre a Codificação de regras,
no qual reconhecem que as regras são
necessárias para cooperação e participação
em jogos.

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• Em relação ao ato de mentir, outro ponto
discutido por Piaget, ocorre um
amadurecimento sobre estes atos com a
chegada da adolescência, sendo as intenções
o principal critério de avaliação da mentira.
Sobre o conceito de Justiça, o adolescente
começa a apresentar um declínio do
egocentrismo intelectual e surge a
preocupação em respeitar o ponto de vista dos
outros (WADSWORTH, 1997).
49
• O desenvolvimento moral ocorre paralelamente
ao desenvolvimento intelectual e está
condicionado às possibilidades de cada
estágio.

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Fases no desenvolvimento moral

• Anomia - até os 5 anos, a criança segue as regras,


mas não à compreende enquanto moral.

• Heteronomia - ocorre em crianças até 9, 10 anos de


idade, no qual a moral é vista como autoridade.

• Autonomia - período que a criança já compreende as


regras seu respeito considerado o último estágio do
desenvolvimento moral.

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• Piaget (1971) complementa que, no
desenvolvimento moral, a heteronomia e a
autonomia são tendências antagônicas,
inicialmente, a criança apresenta uma
tendência à heteronomia ou moral da
obediência.

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Moral da obediência e moral de
cooperação
• A partir dos sete anos, surge um novo
sentimento decorrente de novas formas de vida
social.
• Interagindo com o grupo de iguais, com outros
grupos sociais, nas condutas relacionais, a
criança constrói princípios de
autorreconhecimento e autovalorização,
movida por ideias de reciprocidade e justiça.

53
• Jogos de regras, brincadeiras coletivas, levam
a superação do egocentrismo resultando em
uma moral de cooperação e de autonomia –
a moral do bem, da autoconsciência.

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Concluindo

• É preciso apontar que conhecer as


características descritas por Piaget em relação
ao desenvolvimento humano, favorecerá a uma
maior compreensão desse indivíduo em todas
as suas etapas da vida, contribuindo para uma
maior efetivação da prática pedagógica.

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PSICOLOGIA DA EDUCAÇÃO

Prof.ª Me. Waléria Henrique dos Santos Leonel


waleria.leonel@unicesumar.edu.br
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