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Aprender e Ensinar: Significados e Mediações1

Alexandre de Souza Athaide2

O processo definido como aprendizado pode ser compreendido como o processo


de alteração da nossa forma de pensar e agir, já o processo de ensinar é o momento de
partilha social dos saberes que se acumulam através da própria experiência. Apesar de
este processo de aprendizado/ensino ser característico do existir humano, ele não deixa
de se revestir de alguma complexidade. Deste modo, o autor do texto busca elencar
alguns recursos teóricos para, de uma forma esclarecida, apresentar o que ele chama de
maravilhoso mundo da aprendizagem e desenvolvimento. (SOUSA, 2003, p. 36).
O ensino em si possui sua característica de socialização; uma atividade
comunicativa. O autor salienta de que quando a arte de ensinar possui uma
intencionalidade, esta toma contornos de complexidade e marcam as relações pelas
motivações dos intervenientes, pelos conteúdos e códigos utilizados. Através de André
Giordan, (apud SOUSA, 2003, p. 37), o autor cita três modelos que se formaram ao
entorno do conceito de aprender, do ponto de vista de quem ensina.
O primeiro modelo descrevendo o aprendiz como possuindo um cérebro vazio,
onde há uma linearidade entre emissor e receptor. Este modelo não julga pertinente o
saber já adquirido, frutos da experiência do existir individual. O aluno não possui o
aprender autônomo e habitua-se a uma aprendizagem mecânica. No segundo modelo o
protagonismo é exercido pelo professor e pelo meio exterior de manipulação das
associações. O sucesso deste aprendizado é dado pela quantidade de aprendizados
realizados. A terceira categoria defende uma interação entre as estruturas do sujeito e o
objeto de estudo. Esta concepção ficou conhecida como construtivista, porque vê no
sujeito uma espiral de desenvolvimento e aprendizagem, onde a estruturação dos
esquemas mentais é assegurada pela dinâmica da adaptação. O ponto comum destas

1
Síntese do Texto Aprender e Ensinar: Significados e Mediações de Óscar C. de Sousa,
elaborada para a disciplina de Estágio de Docência I: Pedagogia Universitária, ministrada pela Prof, Dra
Flavia Caimi.
2
Mestrando em Educação pela Universidade de Passo Fundo.
concepções é a aprendizagem do aluno, apesar de os modelos divergirem entre seus
conceitos.
A reflexão da aprendizagem é as indagações sobre a natureza dos processos de
aprendizagem a que estamos expostos. A aprendizagem enquanto processo natural,
inerente aos seres vivos, independentes da complexidade destes seres. É através da
interação que estes organismos mais ou menos complexos processam informações que
permitem identificar os estímulos do meio interno ou externo.
Piaget (apud SOUSA, 2003, p.39) atribuiu à aprendizagem o conceito biológico
de adaptação, que mais tarde viria integrar seu modelo de construção cognitiva; Piaget
afirmaria que toda aprendizagem é uma adaptação, associando-a ao processo de
desenvolvimento. Ainda nesta perspectiva, os organismos dotados de sistema nervoso
apresentam comportamentos ditados pela hereditariedade e/ou em consequência da
inter-relação com o meio ambiente.
No homem, segundo a conceituação de Piaget, há um número reduzido de
padrões de comportamento inatos, mas é a partir deles que constrói toda sua estrutura
cognitiva, afetiva e social. Constituem fatores de desenvolvimento a maturação interna
de natureza hereditária, as experiências a que se expõe o sujeito, experiências físicas e
sociais. Ainda é um fator determinante de desenvolvimento a própria transmissão social
entre sujeitos que diversifica as experiências e torna multicultural a aprendizagem.
A aprendizagem ao longo da vida propicia experiência e garante com isso, a
sobrevivência. Claro que o homem não se reduz a adquirir conceitos observados em seu
meio ambiente. A capacidade de raciocinar de buscar fundamentos sobre sua
experiência e trajetória insere em sua própria vida o elemento reflexivo. As
observações, as ações e os aprendizados refletidos, constituem um corpo de saberes
conservado, primeiro na memória e que, quando partilhados, tornam-se públicos,
patrimônio da humanidade.
Além de uma herança biológica, o indivíduo possui uma herança cultural,
científica e artística que contribui para a construção do sujeito, (pessoal/social), definido
pelo conceito da ontogênese. Acresce dizer que o patrimônio que herdamos não é
estático, seu domínio produz novas curiosidades que se transformam em novos saberes.
As novas tipologias da aprendizagem surgem desta reflexão humano acerca do próprio
saber, e é na apropriação destes saberes que reside alguns problemas relacionados com a
aprendizagem.
A psicologia desde a sua origem interessou-se pelo tema da aprendizagem. No
princípio do século XX apresentaram-se dois paradigmas distintos na abordagem de
questões da psicologia da aprendizagem. O primeiro por John Watson, Edward
Thorndike e Burrhus Skinner, teve origem na corrente empirista e adaptou-se às
exigências do positivismo científico. A afirmação desta linha de pensamento é de que
tudo o que somos é resultado de associações entre estímulos e respostas.
O modelo impôs-se no panorama da pesquisa cientifica durante a primeira
metade do século XX sob a designação de behaviorismo. Este modelo se recusou a falar
da mente e da atividade subjetiva do individuo e tomavam as associações como
conexões neuromusculares do sujeito. Aprender é associar e ensinar é programar. Neste
contexto o meio ambiente e o professor são elementos motivadores, quer porque propõe
aprendizagens, quer porque fornecem estímulos para associações.
O segundo paradigma é a Gestalt, afirmando primado da totalidade, da
configuração sobre as partes e da atividade do sujeito na construção da percepção.
Aprender é compreender e integrar num todo que se reconstrói permanentemente. A
corrente cognitiva tem aqui sua origem. O professor aparece como mediador e deve
estra atento ao sujeito, à sua construção pessoal e à natureza própria do conteúdo.

Teorias Sobre Aprendizagem


Teoria do Processamento da Informação: Mecanismos e processos que
interferem nas nossas aprendizagens.

A teoria do processamento da informação é um ramo da psicologia cognitiva que


tem como objetivo geral desvendar a teia de processos cognitivos quer na aprendizagem
geral, quer na aprendizagem específica. Esta vê o sujeito como um sistema que processa
informação e que se empenha em resolver um problema. O paradigma procura o
impulso de entrada input que desencadeia o processo e termina com uma resposta
output, que pode ser uma resposta guardada, evocada, uma resposta motora, uma
resposta verbal, um juízo.
Na perspectiva mencionada o grande responsável pela execução e garantia da
aprendizagem é o sistema nervoso central e periférico, dotado de complexidade e
especialidades. Tal teoria faz menção a três fases no processo de aprendizagem; a fase
de recepção da informação; fase de tratamento e análise, realizada pela memória de
curto prazo; e a fase de armazenamento e evocação da informação. Em relação a
primeira fase, o sujeito se expõe às influencias do meio, mas não se comporta como um
sujeito passivo. Esta atividade de recepção sensorial do sujeito é assegurada por uma
memoria sensorial, capaz de reter a informação. A segunda fase é assegurada pela
memória de curto prazo, que retém a informação por um período não superior a dez
segundos. Esta limitação estende-se a incapacidade de desempenhar mais do que uma
operação em cada momento. A forma comum de ultrapassá-la é a de tornar uma das
atividades automáticas.
A terceira fase, assegurada por uma memória de longo prazo ilimitada na
informação capaz de guardar e no tempo implicado. Conserva o material codificado em
forma de sons, imagens, palavras, de proposições e tem a função de guardar e de
reproduzir informações, representações, imagens, procedimentos e sentidos. Estas três
fases são unidirecionais, mas interativas. A dinâmica do processo permite trabalhar com
a informação que vem dos sentidos ou fazer intervir nos mecanismos internos do sujeito
para monitorizar a informação sensorial.
Os investigadores da psicologia cognitiva concordam que a informação é
distribuída por várias zonas corticais e que há dois sistemas de memória: a declarativa e
a procedimental. Na base do conhecimento declarativo estão os conceitos, as suas
designações e as expressões das suas relações; o conhecimento procedimental é
desencadeado a partir da verificação de um conjunto de condições, que ativam
comportamentos ou condições verbais ou motores.

David Ausubel e a Aprendizagem Significativa

David Ausubel psicólogo contemporâneo, interessado como o conhecimento é


organizado na mente humana. Introduziu conceitos fundamentais de estrutura cognitiva
e de aprendizagem significativa. A estrutura cognitiva aparece como elemento onde se
inclui as estruturas mentais como os conteúdos. Uma boa organização facilita a
aprendizagem, enquanto uma organização pouco clara dificulta a progressão.
Relativo à aprendizagem significativa, é necessário que a informação fornecida,
sob forma de conceitos ou de proposições, se integre no que o aluno já sabe e possa ser
expressa por outros símbolos ou por outras palavras. O professor deve garantir que o
ensino aconteça como um conjunto de conceitos e ideias significativas. O contrário de
uma aprendizagem significativa seria uma aprendizagem mecânica, reprodutiva e
memorizada, onde há dificuldade em tornar uma proposição conceitual, substantiva,
tomar conteúdo reflexivo.
Para facilitar esta aprendizagem significativa, Ausubel (apud SOUSA, 2003, p.
51) recomenda o uso de organizadores prévios, enquanto conjunto ativadores que
sugerem que antes que um assunto seja introduzido, que seja apresentado em
linguagem, conceitos, familiares ao aluno e formulados em um nível mais abrangente.
Constituem organizadores prévios: citação, imagem, filme. A informação chegaria ao
estudante por recepção ou descoberta. Na forma da descoberta o aprendido é aprendido
não é apresentado pelo professor na sua forma final, mas descoberto e mensurado pelo
aluno.
Se cruzarmos o modo como a informação é apresentada com o modo como é
guardada, podemos conceber quatro combinações: aprendizagem receptiva
significativa, quando a informação é elaborada pelo professor, sendo integrada
cognitivamente pelo aluno. Aprendizagem receptiva mecânica, quando a informação é
recebida e memorizada. Aprendizagem por descoberta significativa, quando o aluno
organiza a informação e integra em sua cognição. Aprendizagem por descoberta
mecânica, quando depois de ele próprio ter preparado a informação, resolve memoriza-
la.

Jerome Bruner e a Teoria de Instrução

Bruner, um dos representantes mais autênticos e importantes do movimento


cognitivistas. Integrado na tradição gestaltiana, pensa que a finalidade de todo ensino é
permitir que o aluno compreenda a estrutura do objeto em estudo e a partir daí, consiga
relacionar com outros saberes.
Aprender a estrutura é aprender como as coisas se relacionam, é captar os
princípios gerais e fundamentais, garantido que a informação não seja esquecida com o
tempo. Para Bruner, em cada etapa do seu desenvolvimento o sujeito tem uma forma
peculiar de conceber o mundo e de o explicar; o ensino funciona como um elemento de
adaptação de conceitos ao modo de entendimento de quem recebe o entendimento. Há
três estádios de desenvolvimento cognitivo: a ativa, a icónica e a simbólica.
No estádio de representação ativa a criança aprende desenvolvendo hábitos que
lhe permitem resolver problemas simples. Nesta fase a criança ainda não consegue
resolver problemas através da manipulação da realidade. Na representação icónica a
criança se utiliza de imagens para manipular os objetos da realidade e compreendê-los.
As ações são interiorizadas e gozam de reversibilidade. Já na representação simbólica, a
criança recorre a símbolos que lhe permitem categorizar o conhecimento, construir
hipóteses, não se limitando à objetividade diante de si. Bruner pensa no ensino enquanto
uma adequação entre este ensino e o modo de representação do sujeito3
Bruner também propôs uma teoria de instrução com a ambição de ensinar a
ensinar, pois considera que as teorias da aprendizagem são insuficientes para orientar os
professores na atividade em sala de aula. Tal teoria mencionada é prescritiva, apresenta
um conjunto de regras para que a intervenção do educador e a atividade do aluno
atinjam seu objetivo. Tal teoria assenta-se em quatro princípios fundamentais:
motivação, estrutura, sequencia e reforço.
A Motivação é afetada por variáveis de natureza cultural, motivacional, pessoal,
tradições culturais e naturalmente, a classe social. O processo de educação é
essencialmente social e registra-se pela inter-relação professor-aluno e aluno-aluno. Há
três fases deste processo: a ativação, a manutenção e a direção. A ativação pode ser
representada pela curiosidade. A curiosidade é m ótimo incentivo, para a incerteza e a
ambiguidade. A rotina reduz o desejo de experimentar alternativas.
A estrutura leva em conta três princípios, cada um deles afetando, à sua maneira,
a aprendizagem do aluno: modo, economia e poder de representação. A economia diz
respeito à quantidade de informação que o sujeito pode reter na mente, de forma a
compreendê-la. Quanto mais passos para processar uma informação, menor a economia.
A sequência enquanto sequencialidade facilita o domínio de um assunto, pois o objetivo
d instrução é levar o sujeito à compreensão de um problema. A sequencialidade
enquanto encadeamento lógico fornece indicações pertinentes para a escolha dos modos
de representação.
O processo de instrução deve assegurar uma informação positiva ou uma
correção no tempo certo. A aprendizagem e a solução de problemas podem ser

3
A linguagem é um instrumento privilegiado que permite a passagem progressiva do
pensamento concreto ao abstrato.
repartidas por fases; claro que um dos objetivos do processo de instrução é a crescente
autonomia do sujeito, onde o professor deve orientá-lo, para assumir gradualmente sua
autocorreção. Cabe ao professor enquanto mediador entre comunidade, os saberes e o
aluno, dominar a estrutura dos conteúdos e estar atento à estrutura do sujeito. Nessa
proposta cabe ao aluno orientar sua vontade de aprender, tendo em conta as
especialidades e aptidões .

Referências

SOUSA, Óscar de. Aprender e ensinar: significados e mediações. In: TEODORO,


António; VASCONCELOS, Maria Lucia (Orgs.). Ensinar e aprender no ensino
superior: por uma epistemologia da curiosidade na formação universitária. São Paulo:
Cortez/Mackenzie, 2003, p. 35-60.

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