Você está na página 1de 15

O AUTOR

Gabriel Kaplún
Comunicador e educador, pesquisador e docente da
Universidade da República (Uruguai) e de outras
universidades latino-americanas.
E-ninil: gkaplun@chasque.net

MATERIAL EDUCATIVO1:

APRENDIZADO
Três eixos p~ilri ~inlílisee çonstrut;ão de mensagens educativns: o
eixo çonccitunI, o pedagógico e o coi~~unicacional
etomamos aqui um aspecto experiência de mudança e enriquecimen-

R específico de um trabalho ante-


rior2, desenvolvendo-o d e
modo muito mais ampla. Pre-
cisamente por isso, convém resumir algu-
mas idéias centrais, a fim de facilitar a
to em algum sentido: çonceitual ou
perceptivo, axiológico ou afetivo, de ha-
bilidades ou atitudes etc.

çomprecnsão do que aqui será dito.


a} Entendemos por material educativo
um objeto que facilita a experiência de
aprendizado; ou, se preferirmos, uma ex-
perieiicia mediada para o aprendizado.
Esta definiçiío uparentcmcntc simples tem
várias consequGncias. A que mais nos
importa é a q u e diz que um material
educativo não é apenas um objeto (texto,
rnultimídia, audiovisual ou qualquer ou-
tro) que proporciona informação, mas sim,
em determinado contexto, algo que faci-
lita ou apóia o desenvolvimento de uma
experiência de aprendizado, isto é, uma American Showcase

I . Cornunicaçáo apresentada no V1 Congresso da ALAIC - Associaçio Latino-Americana de Rsquisadorcs da Co-


rnunicaçfio. Santa Cruz dc la Sierra, Rolivia, junho de 2002.
2. KAPLÚN. C. Morertnlr.i "rdirrnrii~or" qrit irti criiicnii. iitni~rtnlpi "iio drlrirn/ii~or"qii~
rrlirrnri (Materiais
"cducativos" que nio educam, materiais "nio cducativos" que ducam) Revista La Piragua. Santiago d o Chilc:
CEAAL, n. 32- 13, 1996. Existe ouira versáo também no Primeiro Congresso In~crnacionaldc Comunicaçãe e Edu-
caçdo. Prndicrr.irit~di*tiinrcrinlr*.~
crItr(-nfri~o.t:
i.i:dririnrkores. oprwlns? (Produçàode mteriais educativos:
coiiiitirirndore.~
educadores, comunicadores ou poctasv). Stio I'aulo: I998.
Comunicação & Educação, São Paulo, (271: 46 a 60,maio/ago. 2003

b) Está claro que, por isso mesmo, atC que uma só pessoa seja capaz de reunir
mesmo um objeto que só proporcione in- rodos eles; costuma haver um complexo
formação pode ser educativo, desde que desafio no que tange 3 formação das equi-
seja utilizado num contexto tal que lhe pos- pes ou no estabelecimento de formas de
sibilite cumprir esta função. Deve-se notar trabalho que permitam efetivamente arti-
que, ademais, muitos materiais que não cular estes saberes e não simplesmente
foram elaborados com intencional idade somá-losou organizá-los em justaposição.
educativa podem cumprir essa função, des-
de que utilizados adequadamente. Assim
pcde suceder com obras literárias, cine- Nota-se que temos usado até aqui
matográficas, plásticas. Desde um o t e m nzaferial e não me~lrzsrrgenz
videoclipe a um conto de Garcia Márquez, eduçativa. Segundo a definiqão
ou uma caricatura de Quino, uma grande
diversidade d e materiais podem ser que se adote de um teimo ou de
educativos em um contexto determinado. outro. qualquer uim dos dois p d e
Por sua vez, e frequente que muitos ma-
ser visto corno mais amplo e
teriais elaborados com fins educativos não
consigam cumprir essa função. Finalmen- como contendo o outro.
te, muitos bons materiais propriamente
educativos procuram afastar-se d o Pode-se entender, por exemplo, o ma-
didatismo, e tendem mais a parecer-se terial como o portador ou veículo de uma
com aqueles outros que não foram reali- mensagem, o suporte ntciiterinl, precisa-
zados com final idade educativa expressa. mente. Em princípio, e para os efeitos
c) O processo de prdução de um mate- destas reflexões, vamos torná-los como
rial educativo é uma tríplice aventura: a da uma unidade, utilizando um ou outro dos
criação, a do próprio material e a do uso termos segundo o uso mais habitual em
posterior, que muitas vezes escapa is inten- cada caso. O que apresentaremos então
ções iniciais e aos cálculos dos criadores3. seria aplicável tanto a um pacote de ma-
Vamos aqui nos deter em parte nessa teriais de um curso a distância para pe-
primeira aventura e em alguns aspectos quenos empresários, quanto um video para
da segunda: a aventura interna, a que o um curso de química orgânica, um
material narra, e como cria-Ia. Remetemos radioteatro para a organização sindical dos
o leitor ao trabalho mencionado, para um camponeses ou um clipe publicitário so-
olhar mais a fundo sobre as outras duas. bre Aids dirigido a jovens urbanos, em-
Convém dizer, com respeito à primeira, bora provavelmente os dois primeiros cos-
que, habitualmente, uma criação de quali- tumem ser chamados mnterinis e os dois
dade requer a conjunção de vários sakres: últimos ntensngens. Note-se que, por ou-
çonceptuais, educativos, comunicacionais, tro lado, mesmo esta denominação depen-
artísticos, tdcnicos. É dificil, no entanto, derá, seguramente, do uso concreto e do

3. Esta idéia de "tríplice aventura" estS baseada em texto de AMPUERO, J. Refi~xiriries.cobre Ia rr~~irriiiirariíiii
y In
edirroriríii íhoiri1n6riic1.vgrfifiíhor (Reflexks sobre a comunicação e a educaqáo com meios grificm). In.: Los médios
si pueden educar (Sim, a rnidia pcdc cducar). Lima: Calandria, 1992.
Material educativo: a experiência de aprendizado

canal utilizado: se o video de química for mencionados acima, um eixo conceitual


passado na televisão, talvez o chamemos poderia ser "as possibilidades abertas -
nrensngern e se o radioteatro for distribuí- e as que nfio siio abertas - pela informá-
do em cassetes para uso gnipal, provavel- tica para o melhor funcionamento dos
mente o chamaremos ntnterinl. sistemas d e informação das pequenas
empresas". Ou, e m outro dos casos, o
eixo conceitual poderia ser "a dupla jor-
nada das mulheres que trabalham fora
d o lar" e que, quando voltam a ele, de-
Voltemos agora ao que chamamos vem realizar as tarefas domésticas.
aventura da crinçiro de um material ou A partir daqui, o perito na matéria po-
de uma mensagem educativa, em seu as- der6 apresentar os principais temas a in-
pecto - aparentemente - mais monótono cluir, a ordem lógica mais habitual etc. No
ou menos aventureiro: a investigaçãopré- primeiro caso, serão certamente incluídos
vin que, na verdade, faz parte inquestio- o conceito de sistema de informação, os
nável de todo processo criativo. Normal- sistemas inforrnatizados, hnrdwnrc,
tnente, a criação d e um material sofiiunre e desenvolvimento, todos em re-
educativo requer dois tipos de pesquisa: lação i pequena empresa. N o segundo
uma de tipo fentcitico e outra de tipo dia- caso, aspectos tais como a distribuição de
gmóstico. Ou seja, de um lado temos que papéis por gênero, os problemas da entra-
conhecer a fundo a matéria em questão, da da mulher no mercado de trabalho, o
os conceitos que a articulam, os mais im- emprego do tempo de homens e mulheres
portantes debates suscitados por ela etc. e as aliernativas possíveis. Seri preciso
Quer se trate de direito do trabalho, quer estabelecer os ternas principais e os se-
se trate dos sistemas de informação, do cundários e sua inter-relação, imaginar
emprego juvenil ou do rnachismo, será algum tipo d e rede lógica ou mapa
preciso ler o que alguns autores impor- çonceitual em nível de tentativa.
tantes disseram sobre o tema, conhecer
3 opiniio de alguns peritos, ou incorpo-
rar alguns destes peritos U equipe de pro- No critarito, a opiriiao de peritos
dução, o que não dispensará aos demais ou a leitura de fp-rto,T ~ i ã a
da leitura de alguns dos textos que este bastark devernos conhecer
perito usa, ou de alguma síntese por ele
mesmo elaborada. Depois disso, será também os corrrextos
preciso escolher as idéias centrais que pedagógicos e, psincipali~iente,
serão abordadas pelo material, bem os szijeitos aos quais esta
como o tema ou temas principais atra-
vés dos quais se procurará gerar uma destinado o material.
experiência de aprendizado.
A isto chamaremos aqui o eixo Isso é muito mais do que identificá-los
conceirual d o material. Assim, por com algumas categorias formalizadas de
exemplo, volltando a alguns dos temas idade, sexo, ocupação, origem geográfica,
Comunicação & Educação,São Paulo, (27): 46 a 60, maiolago. 2003

social etc. Implica realizar um trabalho melhor, ou pela primeira vez, que a
de pré-alimeriração4 da mensagem informática realiza uma série de tarefas
educativa a elaborar, saber o q u e sabem, que consomem muitas horas além das que
o que querem, o que pensam, imaginam, dedica ao seu trabalha remunerado, e que
ignoram do tema em questão, e a quais isso não é uma coisa tão natural como ele
necessidades nosso material poderia res- imaginava. Finalmente, terão ficado aber-
ponder. Isto será decisivo para construir tos caminhos que ele pode petcomr na
o que chamaremos aqui de eixo pedngó- compreensão dos usos da informática ou
g i m . Significa, além de tudo, conhecer dos papéis do gênero.
seus códigos e seu universo cultural. Isso Mas ele não consegue ter idéia do rumo:
facilitará e muito a construção do que o caminho tem duas pontas e, para delineá-
aqui chamaremos o eixo cumunicncionnL 10, é preciso conhecer bem o ponto de
partida. Parafraseando Alice no pois dos
ntarnvilhas, pode-se dizer q u e "se não
sabes de onde partes, o caminho é indife-
rente". Neste caso, o ponto de partida é
O eixo pedagógico é, ou deveria ser, vital e determinante, porque é precisamen-
segundo nos parece, o articulador princi- te o lugar onde o destinatário está, relati-
pal de um material educativo, se é que que- vamente ao eixo conceitual proposto.
remos que ele seja realmente educativo. E Como dizem, com razão, sob diversos
através dele que estabeleçerernos um pon- matizes e nomes, as correntes constniti-
to de partida e um ponto de chegada, em vistas, para que qualquer aprendizado seja
termos de tentativa, para o destinatário do possível, é fundamental conhecer as "idéi-
material. Ou seja, é assim que lhe propo- as prévias" dos sujeitos, com respeito ao
mos um caminho, que ele é convidado a tema a ser abordado" Ou,como preferi-
percorrer uma nova perspectiva que que- mos aqui, as "idéias çonstnitoras" dos su-
remos abrir para ele, ou que lhe propo- jeitos: aquelas sobte as quais, com as quais
mos que descubra. Ao fim desse caminho e, frequentemente, contra as quais se vai
pdlerá ele, ou não, ter efetivamente mu- tentar construir urna nova prcepqão, uma
dado ou enriquecido algumas de suas con- nova conceituaiização, habilidade etc.
cepções, percepções, valores etc. De qual- Quando este diagnóstico é feito com
quer modo, pelo menos a possibilidade rigor, costuma aparecer um leque de pro-
estar5 aberta. blemas complexos, que p d e m obrigar-
Por exemplo, o destinatário compreen- nos a revisar o rumo proposto inicialmente
derá melhor, o u pela primeira vez, que os e o próprio eixo çonceitual, obrigando,
sistemas informáticos lhe oferecem algu- inclusive, novas pesquisas neste terreno.
mas possibilidades q u e ele não conhecia, E mesmo quando o rumo tenha sido çon-
e não lhe oferecem outras que ele imagi- firmado, é muito provável que o caminho
nava que tinham. E ainda, compreenderá tenha que ser modificado. Não é a mesma

4. KAPLÚN, M.Unia pedagogia de ia tomunlcaci6n.(Um pedagogia da comunimçio). Madri: Ed.de La Torre, 1998.
5 . AUSUBEL, D.,NOVAK, J. 11.. HANNESIAN, H. Psicologia educativa um punto de vista cogn~scitivo.(hico-
logia educativa: um ponto de vista cognoscitivo). Mfxico: Li Trillas, 1987.
Material educativo: a experiência de aprendizado

coisa ir a La Paz saindo d e Lima que acreditou que a informática mudaria tudo
saindo de Buenos Aires. e logo se desiludiu. Descobriu, por exern-
Para a pesquisa sobre as idéias cons- plo, tarde demais, que não saberia util izá-
trutoras dos destinatários podem existir Ia, que tinha que contratar alguém, enca-
muitos caminhos sistemáticos\ mas, no recendo os custos, para ler, finalmente,
mínimo, é preciso conversar sobre o tema numa planilha eletrônica, as mesmas con-
com os sujeitos que serio, potencialmente, tas que até então fazia no caderno, a mão,
usuários do material. Às vezes, bastlir5 ape- e sem grandes dificuldades,.. Conhecer
nas recordar algumas conversas quejá lenha- bem este e outros casos de fracassos com
mos feito com alguns deles anteriormente. a infomática será um elemento chave para
Em qualquer caso, seri muito conveniente, que pensemos nosso material.
na hora da resenha, expressar as idéias o Qual é o caminho a ser proposto, então,
mais fielmente possível, segundo a maneira a partir daqui? Neste caso, em princípio,
que os próprios sujeitos o fizeram. surgem dois e i m pedngrig icos simulteneos,
Tomemos como exemplo o caso do ma- o que toma mais complexa a tarefa:
terial sobre infomiitica para a pequena em- - Da informática como traste inútil e
presa7. Poderíamos encontrar. ao menos. cusioso h sua valorização como fer-
duas idéias construtoras contraditórias: ramenta que melhora os processos e
- A ir?forn~rificn níio vni ??teservirpnrri poupa esforços no manejo da infor-
iindn. i? pum conversa mole prn nr- maçio de uma pequena empresa.
rnizcor rijillieiro da gente. - Da informática como varinha m5gi-

- Se eu rivesse cornpirtncior; r ~ d oseria ça que resolve tudo, i sua aplicaçiis


difemnte; fnrin tudo iiicii In rrlelltor e racional e medida, unicamente nos
niais rkpido. lugares e casos em que vale a pena.
Haver6 também aqueles que apresen- Como se vê, e m ambos os casos
tam uma mescla dessas duas tendências, estnmos propondo o questionamento, de
o quc é lógico, porque ambas são parcial- algum modo, das idéias prévias dos su-
inente verdadeiras e parcialmente falsas. jeitos que usarão o material. Isto quer di-
Uma variante interessante poderia ser: zer que vamos apresentar-lhes um co~y7i-
coiriprei rtni conipritodor e itr7o nie seniiu to cnnceitirrrl8 . Isto implica em tornar pro-
por0 itcrdo; ngorn, quenii usa - i filho,
nieu blemática a conccpção inicial do sujeito.
pnrn j o g ~ . Indagando
. um pouco mais, O caminho proposto por este duplo eixo
poderemos descobrir, provavelmente, que pedagógico se dispõe a gerar uma insntis-
o ponto de partida foi o de alguém que fnçíio coiiceitunP , desconstruir algumas
G Uma refertncia mais ampla a rcspeito encontra-se no artigo: KAPLÚN. G. Mairrinle~"<dttratii,r>s'*.. r ~ prif
.
7. O cxcmpIo em qucsiáo, quc foi parcialmcnic modificado para cstc artigo, rcícre-sc a um matcfial para curso a
distincia pela Inrcrnet, para micro c pcqucnos cmprcs5rins, atualrncnlc cm etapa de produçào na Faculdade de
Engenharia da Univcsidadc da Rcpúhlica d o Umguai. IA- rtil)rtiiálrr*nf i i i Ifl pcqrrc.Cn ~iiipn'.\a( A informitica na
pequena cmprcsa). A produção deste nutcrial cstfi a cargo de uma equipe intcrdisciplinardc cngcnheiros informáticos.
cducornunicadores r: planejadores grjficos. coordenados por R. Motz.
R. O conflito cognitivo. como prefere chami-10 PILLAR, E. G m s i . Ben.oii.itniir iiri r.oinriír>do aprc.ridtr:Revista
d o GEEMPA. Porto Alegre: 1994.
9. POSNEK, G. I . Acrniiroliariori - f n .irieirt!fir~.o~r~epIioti:Iriward n tbrrity ($roiicrpliral chnirgc ( A concepção da
ciência air;ives da teoria da mudança conceitual). Scicnce education, n. 66, v. 2, 1982. Cif. por MIRANDA, R. P c
G ALLEGO-BADILLO, R. Corrit-iiicf r~nii.itnrriii~i.\inr.13r lor iiiapn.i r w i r vpriinles ri In ;tario dt 10 imii.~fi)niinrr(h
itireler-
r i d . (Corrcntcs consinitívis~%.i
hmps c o m i w i s h (&a da t n n s r m ~ ç j ointel~tiial) FA Magistério, 1%
Comunicação & Educação,Sõo Paulo, (27):c16 a 60, maiolago.2003

das concepções iniciais, o que não é o mes- primeira instância, ou daquele que o
mo que destrui-las: com esse mesmo ma- ordenamento sequencial "lógico" costu-
teria1 de base, teremos que realizar tam- ma propor. Por exemplo:
bém a nova construção ou rec~nstnição'~.
A partir daqui, é possível pensar em - Definir os conceitos básicos (siste-
diversos itinerários pedagógicos, a serem mas de infomaqão etc.)
propostos com o material. Por exemplo" : -Ver os usos da infomática na peque-
- identificação das idéias construtoras na empresa
dos sujeitos, com exemplos concre- - (Eventualmente, apresentar pergun-
tos que as expressem. O caso do fra- tas ou exercícios que permitam ava-
casso mencionado pode ser ideal, liat o que foi apendido).
porque reúne ambas as tendências
principais. Um percurso deste tipo não só é mais ári-
- Apresentação do contraste entre as do, como também corre o risco de não pos-
idéias construtoras, mostrando, por sibilitar nenhuma mudança conceitual pm-
exemplo, as saídas possíveis para o funda, funcionandocomo uma rnetotlologin
fracasso inicial e analisando algumas da sripelfici~lidncie'',na qual os sujeitos
de suas causas. continuam, basicamente, pensando que a
- Introdução, de modo gradual e aces- infomática é mágica ou inútil
sivel, de conceitos utilizados pelos
peritos nesta irea, úteis para a toma-
da de decisões sobre a introducão da É necess6xjo fazer nota- trimb6n1
informática nas pequenas empresas: que a pesquisa sobre idéiris
sistema d e informação, sofrwnrc, coiistrutoras ficar só
Iznrdwflre,desenvolvimento.
- Atividades que permitam a aplica- no p01it0 de pai-ticia.
ção destes conceitos aos exemplos e Frequentemente, e necessh~io
contra-exemplos iniciais, e sobretu-
explorá-las, tairibém, nos pontos
do a outros casos, incluindo os dos
próprios
- .
usuários do de inturnedi$rios do ~aiiiillli0.
modo a facilitar a sua apropriação.
Por exemplo: que pensarão os sujeitos
Como se vê, este caminho difere mui- sobre os sistemas d e informação? Pode-
to do de expor, simplesmente, Q que o remos encontrar coisas como estas:
eixo conceitual poderia ter sugerido e m - Sei 15... o que será isso ?

10. RODRIG UEZ IBANEZ. M L. h roiivtr~icriiiirrilrrtiwi de1 rniinriiiri~iitneri 10 P ~ I I C I E T ~ (popr~kor


~II ( A mnstru-
$30 coleciva do conhccimento na educação popular). PROCEP. La Paz: CEAAL, 1997. Rodriguet ciia. por sua vez.
traballios de M U ~ A ,M . K. h dt*(r)roiirrrirrrirMiroriin aylrdcr pnrn iriiia iirrewr rirlrirra csrnlar ( A dc(s)constru~âo
como ajuda para uma nova cultura escolar). Mímeo. ç d.
I I . Seguimos aqui, de modo íicxível, n proposta de DRIVER, R. Psiroli~~in rr~griorri/ii,ne mqrreiirnr rnrir~piirni.~
dri~alirr~os.In: O ensino das riCncias. n. 4, ( I ) , 1986. Scgundo MIRANDA, R. F. c GALLEGO-BADILLO, R .
Cnrririites rntistrurrrrmlas... rip. rii.
12. CARRASCOSA, I. 'Raiamimto didActim em Ia enseiiama dc 10s ermm conceptuales (Tratamento dídStico
no ensino dos erros conceiiuais). liniversidade de Valencia. 1987. Segundo PEREZ MIRANDA, R. c GALLEGO-
.
RAD1 LLO R. Ccirri~iir~c ... op rrt.
r mt.i/rirrfivi.itn
Material educativo: a experiência de aprendizado

- Eu não tenho computador, estava ram feitas pelns mulheres ...


para comprar, mas ainda não pude ... - Dlrplnjornada ? Isso niie é exagero ?
- Eu tenho, já comprei. O interessante é que tarnbem as m u l h e ~ s
Surge, então, a necessidade de provo- costumam apresentar idéias deste tipo: 'eu
car um novo conflito çonceitual, porque, não tmbalho, sou dona de casa..,". ''Os ho-
na verdade, qualquer empresa tem sem- mens R ~ servem
O pm fazeressas coisas.,."etc.
pre um sistema de infomação, mesmo que Duas caracteristicas parecem destacar-
não tenha computadores. Anotar as contas se destas idéias: a invisibilidade e a natu-
em um caderno, ter um fichíirio de clientes ralidade. O trabalho doméstico não é '"ta-
ou guardar as faturas numa gaveta, tudo balho" e, de qualquer modo, é natural que
isso compõe um sistema de informação, seja feito pelas mulheres. A partir daí,
ainda que não existam computadores. A poderemos ver também aqui um duplo
compreensão deste aspecto é fundamental eixo pedagógico :
para o nosso eixo pedagógico, para que - Da invisibilidade à visibilização do
se possa discernir quando convém e trabalho doméstico.
quando niio convkm introduzir ferramentas - Da "naturalização" dos papéis atri-
informáticas. Também aqui, partir de um buídos aos homens e mulheres, 5 sua
exemplo que mostre as idéias construtoras revisão, enquanto produto histórico
mencionadas e discuti-las, pode ser mui- cultural.
to mais produtivo do que começar direta- U m itinerário pedagógico possível, que
mente por expor o conceito de sistemas abarcasse estes dois eixos, poderia ser o
de informação. seguinte :
- Identificação c dramatização das
idéias construtoras dos sujeitos.
-Tensionarnento destas idéias: se o tra-
V~ltandoagora ao caso do material so- balho doméstico não existe, que
bre 'b dupla jornada da mulher trabalha- aconteceria se realmente ele não fos-
dora"[\ podemos novamente fazer-nos a se feito? Ou seja: se é natural que ele
pergunta: que pensarão os sujeitos aos seja feito unicamente pelas mulhe-
quais é dirigida a mensagem? Comece- res, que aconteceria se fosse feito
mos, em principio, por um sujeito amplo: pelos homens ?
os homens (varões) adultos, talvez mais - Informação sobre o que o trabalho
precisamente de setores médios e opera- doméstico traz consigo, concretamen-
rios. Podemos imaginar idéias construto- te, por exemplo, em horas diárias de
ras como as seguintes: dedicação. EIementos que facilitem a
- Minha rn~tlherri& trnbalha. Sújcn reflexão sobre a interiorização natu-
em casa. ralizada dos pap5is.
- E, nós dois ircrb~lhnr~ios, itins, en- - Sugestões sobre diálogos e negocia-
j r n ... ns coisas rle cnsn senzpre fo- ções que podem ser abertas em tor-

13. Es!e exemplo foi tomado. com algumas modifícações, de um capíiulo de uma série de audidramas para uso
radial e gnipl, escrita e dirigida pelo autor: Mrdin Num~rjo.Mrrjrrer tmbojnrlrirnr. (Meia laranja. Mulhcrcs traba-
lhadoras). Montevidtu: Grupo Apones. IT393.

52
-
Material educativo: a experiência de aprendizado

meira coisa é ter um bom banco de expe-


Resuiilindo, o eixo pedagógico riências, códigos, histiirias, imagens que
expressa o carniiiho qire provêm dos próprios destinatários. Odo-
estniiios convidando alguém a res e sabores, coslturnes e piadas, causos e
detalhes culturais de todo tipo devem en-
percorrer. que pessoas estamos c her nossa mochila.
convidando e onde estão essas E,junto a isso, uma grande criatividade,
pessoas antes de partir. ou seja, uma grande capacidade de b i n -
car. Jogos de palavras ou de imagens, jo-
gos de sentido e sentimentos. Será preci-
Pode sucedes que, ao construir este so inventar histórias, criar personagens,
eixo, ao imaginar este caminho, nos de- inventar paisagens visuais ou sonoras.
mos conta de que não é possível, que os Será preciso compor cançGes, inventar
caminhantes podem não aceitar o convi- brincadeiras, escrever cartas ou poemas.
te, ou aceita-lo e descobrir que o caminho Será preciso animar-se a romper moldes
é intransitável e desanimador. Pode scr para que a mensagem educativa não seja,
que não tenhamos pcnsado bem nas pes- uma vez mais, equivalente a um serrnao
soas convidadas e no objetivo do convite. impresso, ou a uma chatice audiovisual.
AS vezes é preciso voltar ao começo, re- Tudo isso sempre girando em torno ao
pensando, inclusive, o eixo conceiiual. nosso eixo pedag6gico.
Provavelmente, muitas idéias ser50 des-
prezadas, porque ~~Nofrrilcioiinr~r:histórias
inverossimeis, personagens que não con-
vencem. produções impossíveis ...
Pode parecer que o pluiio do eixo pe-
dagógico e o itinerário correspondente \

sejam suficientes para definir coinpleta- As vczes. isto succcie posque


mente o material. Todavia, nos falia aiil- f'c)rc;limos as coisas parri que
da o inodo concreto de percorrê-lo ou,
qucrn sabc, o veículo no qual o percorre- m nosso eixo
c ~ ~ t r cno
remos. Ainda que o importante seja o ca- pedagógico, pecrindo por
minho, pode ser que, novamente, se deva clln'ntisnlo. pecado mortal de
revcr algumas de nossas definições ante-
riores: se formos de carro, alguns cami- tnn tos miiterirris educativos.
nhes não são adequados, porque só po-
dem ser feitos a pé, inclusive para que se Aparecem, por exemplo, personagens
vejam melhor certos detalhes que não são que não s30 verdadeiros personagens, mas
vistos da janela de um carro. Claro esta sim macacos sibios, que fazem discursos.
que, de carro, se vai mais ripido e mais Outras vezes, as idéiaçfiircionnnt em si
longe, ao mesmo tempo. mesmas, tanto que nos eniusiasrnamos:a his-
Agora, nosso ofício de comunicadores tória nos agarra, os jogos são divertidos, a
entra em jogo. Novamente as sujeitos vão música pega.. Mas quando queremos pôr
nos dar parte importante da chave. A pri- tudo isso de acordo com o eixo pedagógicol
Comunicação & Educação,São Paulo, (271: 46 a 60, maiolago.2003

vemos que ele ficou longe... Estamos indo aglutine o conjunto e que se ligue bem com
muito mpidamente, e pot um lindo caminho, nosso eixo pedagógico. Talvez seja preciso
só que esse caminho nos leva para o outro começar a trabalhar com os personagens e
lado. E a cesta de pp5is volta a funcionar... situações e ver o que acontece. Por onde
A história tem que agradar-nos (se não, a começar? Podemos experimentar primeiro
quem agradará?), mas não fitarna exreven- o decepcionado, que é um personagem
do (só}para n6s mesmos. O pecado esteticista ideal porque passou do otimismo i n f o d t iça
é quase taodaninhocomo o didatista. Apenas à tecnofobia, os dois extremos sobreos quais
quase: seguramente,destas idkias iniciais (que queremos trabalhar, em busca de uma alter-
é m e l h o r n ã o d ~ t m l m n t e@)em sair, nativa equilibrada. Vejamos :
afinal, as que nos ajudarão a construir nosso - Alfredo tem uma pequena fábrica de
eixo cornunicacional: a figura retórica ou massas alimentícias, que toca com
@tica, a metáfora adequada. sua mulher e dois empregados. Tra-
Talvez, para o nosso material sobre siste- balham em local alugado, tem uma
mas de informação para a pequena empresa rn5quina de amassar, uma máquina
baste criar alguns personagens que tenham de fazer espaguete, uma de ravioli, a
um vinculo verossímil entre si: pequenos caixa registradora e todos os utensi-
empw6rios de uma mesma localidade, des- lios necessários para a fabricação. 0 s
confiados, entusiasmados ou desiludidos empregados trabalham no preparo
com as possibilidades da infomática. Reu- das massas e um deles faz também
ni-los, onde? Num bar em que costumam as entregas. A mulher atende a fre-
encontrar-se? Na sede de uma associação guesia, cobra , recebe os pedidos te-
profissional que os congrega? O primeiro é lefônicos e se ençatrega das compras.
um pouco batido, o segundo pode ser força- Alfredo dirige tudo: desde empaco-
do... O negocio é encontrar oportunidades tar as massas até atender aos domin-
para que comentem suas aventuras e des- gos, quando tem mais gente, inclusi-
venturas informáticas de modo natural e ve consertar qualquer máquina que
convincente. A tontura que causou a um esteja com defeito ou verificar as con-
deles, um vendedor exagerado, desses que, tas. Agora está pensando em ampliar
quando vamos comprar um micro, nos que- o negócio: comprar, talvez, mais uma
rem convencer de que o melhor é uma rede máquina, ou um computador, que até
com vários terminais e um par de impresso- agora não tiveram. É nroder-
ras a laser. Ou ainda a simpatia inicial de nizar-se, diz ele. Por isso, foi pedir
outro vendedor, desses que nos vendem sem- crédito no Banco. Exigiram-lhe um
pre a mais barato, sendo que, dois meses monte de papéis e dados: a media do
depois, percebemos que não pdemos car- faturamento mensal, os custos de pro-
regar nem mais um programa, porque a má- dução, o s ativos fixos ...Muitas
quina dh pnu a cada dez minutos... perguntas ele não soube responder.
O funcionirio do Banco disse qual-
quer coisa como 'Se ele tinhnpm-
blenilas com seu sistema de infomtn-
A história vai tomando cor. Falta- os ain- çiio". Alfredo pensou: "que dinbo
da, no entanto, um eixo, uma idéia forte que serh isso ? Eu niio fenl~onenhurn
Material educativo: a experiência de aprendizado

sistentn de infornrnçíio !" - eixo pedagógico: da informática


"cara porém inútil" i infomática Útil
Pode ser um bom ponto para começar e eficiente; das ilusões mágicas ao
a discutir sobre que é um sistema de in- realismo infomático.
formação. E se continuarmos n história de - eixo comunicacional: a história de
Alfredo? Não poderia servir-nos de eixo? Alfredo, um entusiasta decepcionado,
Neste caso, seria preciso incorporar ou- ou Espaguete & microships.
tros personagens do seu ambiente, como
sua mulher. Alfredo poderia terminarcon-
seguindo um modesto empréstimo, com- Resta-nos ainda muito trdx~lho,
prando um computador inadequado, fican- para assegurar niio sd que cada
do decepcionado etc. Talvez um de seus eixo fuiicione por si, mas que
clientes tenha, por sua vez, uma loja de
ferragens que incorporou, com êxito, a também haja uma sólida
informática ao seu trabalho; quando coeiencia entre os três,
Alfredo contar-lhe o s seus info-proble-
recordando sempre a
mas, cte poderá responder com a sua ex-
periência, melhor assessorada e mais po- centralidade do eixo pedagúçico.
sitiva. No fim das contas, o lugar de en- e o "fio-tera'\~~n0 desfirlatúrio
contro p d e ser esse, a indústria de mas-
sris alimentícias. Ao menos aqui, no Rio
e suas idéias construtçisas.
da Prata, onde a descendência italiana 6
vasta, os raviolis do domingo são uma tra- Vejamos agora, brevemente, em for-
dição. De passagem, nota-se que as mas- mato radio-teatral, o caso do material
sas são um elemento graficamente diver- sobre o trabalho doméstico de homens
tido, que podemos usar para muitas coi- e mulheres que trabalham fora do lar.
sas: espaguetes que se transformam em Para abordarmos o eixo da invisibilidade
fios, raviolis que viram itiicroships ctc. i visuulização do trabalho dom&stIco,
Ser5 preciso experimentar, ver se fun- um bom recurso para produzir o confli-
ciona realmente, mas, em principio, o es- to conceitual é tensionar a corda. Exis-
pn,qideres h microclzip parecem insinuar tem muitas coisas que não sabemos que
u m prato interessante, um eixo existem, até o dia em que nos faltam.
comunicacional prometedor, Talvez seja Como conseguir este propósito ? Uma
preciso mudar o nome do material: "Sis- bomba nêutron que acabasse só com as
temas de informação para a pequena em- mulheres? Um pouco forçado... Talvez
presa" parece um pouco insosso. outra alternativa. ..

Portanto, resumindo: Marta (narrando, off) - Naquele


- eixo conceitual: as possibilidades dia começou a greve ...
oferecidas pela informática - e as que Vozes rle hoiliens, ssilperpostris.
não são oferecidas - para o melhor - Mas o que é que aconteceu?
funcionamento dos sistemas de infor- -Você está louca?
mação das pequenas empresas . -Está falando sério?
Comunicação & Educação,São Paulo, (27): 46 a Ma, maiolago.2003

-Você deve estar ruim da cabeça. Como se vê, o recurso permite que se
-O que é que te deu, de repente? abordem ambos os eixos: o da invisibi lidade
M n m - Não, nem estávamos lou- e o da naturalidade dos papéis.
cas, nem aquilo tinha dado de repen- Recordemos, portanto:
te ... Tínhamos pensado muito, foi - eixo çonceitual: a dupla jornada da
custoso, mas, afinal, resolvemos ... mulher trabalhadora
Vozes de homens e de çrinnçns, - eixo pedagógico: da invisibilidade à
superposrns. visibilidade do trabalho doméstico
- Bem, esta cozinha esta um lixo! das mulheres
- Mãe, não tem café? - eixo comunicacional: a greve "dos
- Raquel, olha a criança, ela está pratos caídos".
chorando ... S e preferirmos tomar o eixo peda-
- Cadê a marmita pra levar pro gógico d a naturalidade d o trabalho
trabalho? doméstico, poder-se-ia optar pelo
Mnrta - Quando começamos a tra- recurso do absurdo: um mundo em que
tar do assunto, a coisa toda não me se invertessem os papéis tradicionais.
convencia. E, na verdade, ainda não Também aqui caberiam doses abundantes
tenho muita certeza... de humor e uma aguda oportunidade
Roberto (o rnnrido de MnfiaJ- O para a reflexãot5.
que? Greve de dona de casa? Eu sa- A propósito, digamos que o humor e o
bia que esse negócio de trabalhar absurdo costumam ser ferramentas de
fora não ia dar certo... Está aí, já. grande utilidade para provocar conflitos
virou a cabeça ... conceptuais não destrutivos: se consegui-
mos rir de uma situação que de algum
Parece que funciona. E urna greve é uma modo nos inclui, conseguiremos rir de nós
boa oporlunidade para introduzir pouco a mesmos, primeiro passo para começar a
pouco muitos elementos sobre os p a e i s e pensar-nos criticamente.
sua naturalidade, sobre como as próprias
mulheres o assumem, sobre a função da
educaç50 e dos meios de comunicação nes- O absurdo, c10 exagerar ou i~tveitet.
sa interiorização etc. P d e haver negocia- uma sihizição, ao seguir at6 o filial
ções (quantas horas deveriam ser pagas pelo um princípio aparentemente
trabalho domésrico?), rnedidas de apoio sim-
bólico (a professora que ensina as crianças natural e eçom'lirneiite aceito, põe
"papai n m s n a mssn "1, declarações do em quest5o essa naturalidade e
Ministério do Trabalho ... Num delicado
essa aceitaç50.
equilíbrio entre o bom humor e a reflexão,
o dia de greve p d e ir transcomendo, sem
mudar nada imediatamente, mas pmuran- Está claro que o eixo comunicacional
do que não fique tudo igual... não é meramente instrumental, puro

15. Esta 6 a opção adotada por J. h p e z Vigil, para um tema muito semelhante. em um capitulo de sua skric para o
hdio. Um paisano me conto (Um companheiro me contou) Quito: ALER, s d.
Material educativo: a experiência de aprendizado

braço executor d o eixo conceitual. As visual, em contextos educativos formais


palavras nos constroem, a linguagem é e não formais etc.
a base material do pensamento e entre Na realidade, sua origem é ex posr:
a m b s existe uma unidade inseparávelI6. surgiu a partir de sucessivas tentativas
Pensamos com palavras e as palavras d e explicação a outras pessoas do nos-
nos pensam. Elaborar um material não so trabalho na produção de mensagens
é apenas trnnsmitir um conhecimento já educativas e seus s e ~ r c r i o sque, na ver-
existente, mas sim, em certa medida, dade, ignoravamos ... E, ainda, da ten-
produzir o novo. O eixo comunicacional tativa d e explicitar o q u e intuíamos
pode levar-nos a repensar também os como problemas típicos e m muitas
outros dois, a história que se põe em mensagens educativas, incluídas mui-
marcha adqilire vida própria e pode tas de nossa autoria.
mostrar-nos possibilidades inéditas, que Podemos dizer agora que, além das ca-
não tínhamos imaginado em nosso pro- rências técnicas, qualidade de produção
jeto original, problemas não previstos etc., os problemas centrais dos materiais
no começo, um uso da inforrnitica que educativos costumam ter a ver cem a i i i -
não estava no nosso plano, uma respos- çongruêncin entre os três eixos - à qual
ta masculina que mulher alguma espe- já nos referimos - ou com o nchnrnrneiiro
rava ... Estas tensões podem levar-nos a dos três eixos sobre u m deles (ou a
revisar novamente a congruência e a desnpariçfio dos outros).
pertinência de toda a apresentaqão. O ac/~nfnniento mais habitual costuma
produzir-se sobre o eixo conçeitual: "se é
AS MENSAGENS PLANAS para falar das possibilidadesda informática,
vamos falar disso, então ..." Sem levar em
Obviamente, uma análise mais com- conta o destinatário da mensagem, sem
pleta deve incorporar os contextos e si- nenhum esforço comunicacional especifi-
tuações eduçativas nos quais a rnensa- co, começa a surgir um longo texto que
gem seja utilizada, as características do acumula informação sobre o tema, mui-
meio específico, do formato e outros. to correta tecnicamente, mas pouco útil
Remetemos o leitor, neste sentido, a pedagogicamente e de leitura pesada. Se
nossa trabalho anterior ji mencionado". é para falar da dupla jornada, então va-
De toda maneira, insistimos que, a nos- mos falar: quem é que não sabe que quan-
so ver, este esquema conceitual parece, do a mulher chega do trabalho tem que
em princípio, válido para situações e fazer as tarefas do lar, enquanto seu com-
possibilidades muito diversas. Já traba- panheiro descansa? A partir disso estm-
lhamos com ele tanto em formatos lon- tura-se um discurso muito correto politi-
gos (radioteatro) como cirrtos (inserções camente, mas com pouca eficácia peda-
radiais}, em mídia impressa ou audio- gógica e pouca força çornunicacional.

I 6 Sobre e s u questiio. veja: VYGQTSKI. L Penmmento e linguagem. São Paulo: Manins Fontcs, 1987. Também
RRUNER,.! Açción, pensamiento y Icnguaje (Açào, pcnsmento e linguagrn). Barcelona: Alianza, 19M.
1 7. KAPLUN, G. Mntrr1nle.i " p d f l rnirivcrr ... cip. ri!.
"
Comunicaçao & Educação,São Paulo, (27): 46 a 60, maiolago.2003

2. Pedagógico
Este tipo de mensagens planas 3. Comunicacional
é o que costuma sair de uma 4. Conçei tual-Pedagógico
equipe integrada 5. Conceitual-comunicacionaE
6. Pedagógico-comunicacional
exclusiva~~lente por peritos no
tema, seni a preseqa de As três primeiras são versões lineares,
com um único eixo, as t&s últimas são pla-
educadores, comunicadores, ou nas, articuladas sobre dois eixos. Mas um
eduçomunicadores, como bom material educativo é tridiiensional.
alguns preferirnos chamar-nos. Digamos finalmente que, utilizada para
a planificação e prdução de mensagens, a
ferramenta dos eixos pode ajudar a guiar
Claro que também há achatamento so- os processos de investigação prévios e de
bre o pedagógico ou sobre o comuni- avaliação posterior e, sobretudo, serve de
cacionnl, materiais pouco sólidos bússola durante o processo criativo. Utili-
conceitualmente ou invertebrados peda- zada corno ferramenta de análise, permite
gogicamente... Enfim, imagine o leitor o detectar as incongniencias e acharnmen-
que sucederia em cada um dos seis possi- tos, localizandoas dimensões descuidadas.
veis achatamentos. Quando a dimensão débil é a pedagógica,
o material pode ter, além de problemas de
Eixos presentes pertinência, o defeito de perder de vista o
1. Conceitual sujeito ao qual está destinado.

PESQUISA PK&ALIMENTACÃO

rP ~ I ~ O S T T I
TEMATICA
EXTOS
I DI.~GN~STICO
SUJ EITOSICOYTEXTOS
I
cbnrcos
ID~~A CONSTRLTTOR,\S
S UNiVERSO CU CTtrR?\L

I I
CONFLITOS ÇOVCEITUAIS
1
I
-
Criatiridade jogn

I
EIXO CONCEITUAL EIXC) COMIJNICACIOWAL
I

DESENVOLVIMENTO
ORGANIZAÇÃO
TEMÁTICA
ITINERÁRIO
PEDAGOGICO
< > NARRATIVO
Material educativo: a experiência de aprendizado

Resumo: O autor propõe trks eixos para a (Educational material:theexperience of learning)


analise e construção de mensagens
educativas: o eixo conceitual, o pedagógico Abstract The author proposeç three axles to
e o comunicacional.O primeiro se refere aos analyze and build educational rneççages: the
conteúdos, sua seleção e organização. A conceptual, the pedagogical, and the
construção do segundo implica uma analise cornmunicational axles. The firçt one deals with
dos destinatários da mensagem, propondo content, its selectíon end organization. Building
identificar suas iddias construtoras e os pos- thesemnd one implias in analyzing the message
siveis conflitos conceituais a provoçar. Final- receiver, proposingto identify their building ideas
mente, o eixo comunicacional propóe, atravbs and the possible conceptual oonflicts they may
de algum tipo de figura retórica ou poética. cause. Finally, t he communicational axfe
um modo concreto de relação com os desti- proposes, thraugh some type of rhetorical or
natarios. O eixo pedagligico, segundo sugere poetic figure, a concrete mode of relationships
o autor, B o articulador dos outros dois, embo- with the receiver. The pedagogical axle, as the
ra a relação entre eles seja dinâmica e de author çuggests, is the articulator of the other
mútua interdependência. two, although the relationship among them
seerns to be dynamic and one of mutual
Palavras-chave: eixo conceitual, eixo pedagb- interdependency.
gico, eixo cornunicacional, material educativo,
mensagem, destinat8rio Key words:conceptual axle, pedagogical axle,
communicational axle, educational material,
rnessage. receiver.

Você também pode gostar