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Psicologia da Educação
Ana Lucia Gomes
Aula 05 – Texto 01
Epistemologia genética
“A inteligência é o que você usa quando não sabe o que fazer” (Jean Piaget)
Jean Piaget (1896-1980) ao desenvolver sua teoria buscava explicar como o homem
conhece, dessa forma, seus trabalhos versaram sobre o desenvolvimento cognitivo
(Dolle, 1995). Piaget resolveu investigar como o homem constrói o seu
conhecimento, a partir de uma insatisfação com as explicações oferecidas pela
psicologia e pela filosofia que relacionavam o homem e o conhecimento.
Para este teórico, a ação praticada pelo indivíduo, não seria apenas uma reação a um determinado
estímulo. Tampouco, o conhecimento não deveria ser entendido como uma instância inata que
seria “ativada”, por exemplo, através do ensino adequado. Para Piaget, o conhecimento é uma
construção estabelecida pela relação existente entre elementos internos e externos ao homem,
levando-o a desenvolver ações gradativamente mais eficientes junto ao meio (Piaget, 2002). A
ação para Piaget reflete o modo como o indivíduo pensa e compreende a realidade à sua volta,
expressando o nível cognitivo em que se encontra.
Estruturas cognitivas
As estruturas cognitivas podem ser definidas como formas de organização da atividade mental,
sendo mobilizadas ao longo da interação do indivíduo com o ambiente sociocultural (Dolle e
Bellano, 1996). Assim, conforme o indivíduo é estimulado e reage aos desafios propostos, as
estruturas podem se transformar, tornando-se aos poucos, mais complexas dando origem a um
conjunto de estruturas específicas, que vão orientar o funcionamento do pensamento, ao longo das
quatro fases do desenvolvimento cognitivo. Neste sentido, quanto mais estimulador for o ambiente
e mais ativo for o indivíduo, melhor e mais estável, será a organização das estruturas cognitivas,
contribuindo assim, para o pleno desenvolvimento da sua inteligência.
Desse modo, o meio tem uma importância vital para o desenvolvimento cognitivo, porque tem
como função provocar desequilíbrios, levando o indivíduo a mobilizar suas estruturas mentais para
recuperar o estado de equilíbrio, através da apropriação da nova informação. Segundo Piaget
(1937, p 311),
“a inteligência não começa nem pelo conhecimento do self nem pelo das coisas
como tais, mas, sim, pela sua interação e é orientando-se simultaneamente em
direção aos dois polos dessa interação [indivíduo e meio] que ela organiza o
mundo, organizando-se a si mesma”.
O meio, portanto, deve ser instigador e propor desafios, colocando o indivíduo em situações que
favoreçam a sua posição ativa e a expressão da sua criatividade. Assim, o indivíduo tem suas
possibilidades cognitivas potencializadas, permitindo-o avançar na construção do seu
conhecimento e a ampliar o seu repertório de ações, auxiliando-o em suas interações futuras (Dolle
e Bellano).
Importante destacar que quando falamos em “desafiar o indivíduo”, considera-se o desafio que
pode ser solucionado pelo indivíduo mediante esforço e investimento. Caso o desafio proposto
exija uma forma de organização estrutural que ultrapassa o seu nível cognitivo, existe uma grande
chance de o indivíduo fracassar, pois as suas ações terão como referência, as estruturas que ele tem
e as possibilidades que apresentam para se reorganizarem. Assim, o indivíduo pode não encontrar
a solução para o problema proposto, por tender a realizar ações repetitivas, que refletem a forma
como o seu pensamento está organizado, levando-o a “persistir no erro”. Também é bastante
comum, ante o desafio “insolúvel”, a ocorrência do abandono da atividade, em função de ser
entendida como “impossível” de ser resolvida.
Outro ponto, que merece atenção, diz respeito às atividades que, ao contrário, não são desafiadoras,
ou seja, que não levam o indivíduo a pensar ou a criar novas formas de solução. Estas atividades,
também podem levar o indivíduo a atuar de forma “rígida”, repetindo os repertórios de ação que
possuem, por não ter saído do estado de equilíbrio cognitivo.
Assim, na situação escolar as propostas pedagógicas pautadas na repetição são importantes, pois
permitem a fixação e automação da aprendizagem, mas apresentam uma contribuição limitada para
o desenvolvimento da inteligência do aluno. Desta forma, o professor deve propor atividades
variadas que exijam do aluno o uso de diferentes recursos cognitivos para que sejam solucionadas.
Verifica-se que no processo de equilibração a construção das novas estruturas cognitivas se apoia
nas estruturas anteriores, deixando-as gradativamente mais complexas. Dessa forma, uma estrutura
é estruturante – em relação a que está por vir – e estruturada “em relação à anterior de cuja
transformação se origina” (Seminério, 1996, p. 27). Essas inter-relações estruturais podem ser
esquematizadas pela figura1.
Objeto A
Estrutura 1
E1
E2
Objeto B
De acordo com Piaget (1967, p. 13), a assimilação e a acomodação são funções indissociáveis e
complementares (Figura 4), tendo em vista que,
EQUILÍBRIO
NOVA SITUAÇÃO
DESEQUILÍBRIO
ACOMODAÇÃO
Desta forma, verificamos que a adaptação resultante do processo de equilibração é sempre relativa,
não havendo significação absoluta, em função das relações estabelecidas entre estados e
transformações, equilíbrios e desequilíbrios, assimilações e acomodações, conforme podemos
verificar na matriz representada pela figura 5 (Dolle e Bellano, 1995).
TRANSFORMAÇÕES
ASSIMILAÇÃO ACOMODAÇÃO
De acordo com Piaget, o conhecimento é construído pelo indivíduo de forma gradativa ao longo
de quatro estágios: sensório-motor, pré-operatório, operatório concreto e operatório formal. Cada
período compreende uma faixa etária referencial, pois considera o sujeito epistêmico, entendido
como ideal. As faixas etárias servem como referência, pois na realidade, verificamos que há
indivíduos que saem ou entram mais cedo ou mais tarde, em cada período, em função da qualidade
da interação que experienciaram.
Quanto mais estimulada for a criança, maior é a possibilidade dela passar mais cedo para outro
estágio do desenvolvimento. Por exemplo, o período sensório-motor, referencialmente,
compreende a faixa etária de 0 a 2 anos. No entanto, podemos verificar características do
pensamento pré-operatório em crianças que ainda não completaram dois anos. Também é possível
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encontrarmos crianças de dois anos e meio que ainda apresentam características do pensamento
sensório-motor.
Cada uma das fases do desenvolvimento cognitivo possui um conjunto específico de estruturas
que levam o indivíduo, dentro de cada estágio, a agir de forma “padronizada”, por apresentarem
mesmas características de pensamento. A passagem pelas quatro fases do desenvolvimento é
obrigatória, não existindo a possibilidade de “pular” fases ou de alterar a ordem em que ocorrem.
Reação circular primária (1-4 meses): ações são executadas pelo bebê tendo como
referência o seu próprio corpo (Por exemplo: brincar com os pés e mãos).
Reação circular secundária (4-8 meses): o bebê é capaz de realizar ações de forma
repetitiva tendo como referência o ambiente externo. Pode repetir ações, que já sabe
fazer, na presença de um modelo. (Por exemplo: pegar objetos, bater palmas).
Reação circular terciária (12-18 meses): experimenta novas formas de ação a partir
do efeito que elas produzem, despertando o seu interesse em repeti-las.
• Construção do objeto permanente (início 1- 4 meses e consolidação aos 18-24 meses). Esse
conceito é muito importante e imprescindível para a fase seguinte. Através dessa
construção a criança entende que as coisas continuam a existir no mundo, apesar de não
estarem em seu campo de visão. Assim, ela pode buscar por um brinquedo, indo procurar
no último lugar que o tenha visto ou procurar por alguém que tenha saído.
Inteligência representativa.
Fenomenismo: Estabelecimento de um laço causal entre fenômenos que são vistos como
próximos pelas crianças. (Ex.: acreditar que a sombra da árvore é a mesma da mesa).
Finalismo: Cada coisa tem uma função e uma finalidade que justificam sua existência e
suas características. Ex.: as nuvens se deslocam para chover em outro lugar.
Artificialismo: As coisas são produtos da fabricação e vontade humana. (Ex.: lagos e rios
construídos pelo homem).
Animismo: é vivo tudo aquilo que se move sozinho. (Ex.: o relógio é vivo porque os
ponteiros se movem).
Ausência de conservação
Ausência de reversibilidade
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Incapacidade que a criança possui de voltar mentalmente ao estágio inicial de uma
situação para compreender o seu desenvolvimento. A figura 6 também serve para
ilustrar isso. Inicialmente, a criança sabe que há a mesma quantidade de água nos
dois copos. Ela afirma que se ela beber um copo e o amigo beber o outro, ambos
vão beber o “mesmo tanto” de água, mas ao transpor o líquido de um dos copos
para outro de formato diferente, pela dificuldade que possui em evocar a situação
inicial, ela se deixa influenciar pelos aspectos perceptivos,(que neste caso é a altura
do copo), levando-a a afirmar que agora, não bebem o “mesmo tanto de água”, pois
no copo comprido “tem mais água”.
• Início da construção lógica onde os dados podem ser analisados de forma integrada e
coerente.
• A ação da criança operatória concreta é melhor desenvolvida quando ela pode usar
elementos concretos como apoio (Por exemplo: contar com palitos, fazer problemas
matemáticos desenhando os elementos).
Através da teoria do desenvolvimento cognitivo proposta por Jean Piaget, entendemos que a
inteligência é uma construção que assume diferentes formas, em acordo com os estágios
cognitivos. Cada uma das fases do desenvolvimento permite ao indivíduo apreender o mundo
de forma específica. Dessa forma, sua teoria é importante, pois serviu como referência para
outros estudos, como os desenvolvidos por Emília Ferreiro, sobre a aprendizagem da
linguagem escrita, bem como, fundamenta o desenvolvimento de metodologias de ensino,
como o conhecido construtivismo.
Referência Bibliográfica
DOLLE, J. M. (1995). Para compreender Jean Piaget. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan,
DOLLE & BELLANO (1996). Essas crianças que não aprendem. Rio de Janeiro: Petrópolis.
_________. (1995). Seis estudos de psicologia. 21ª edição revista. Rio de Janeiro: Forense
Universitária.