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Design
Indaial – 2020
1a Edição
Elaboração:
Prof.ª Adriana Silva da Silva
S586i
ISBN 978-65-5663-056-4
ISBN Digital 978-65-5663-057-1
CDD 701
Impresso por:
APRESENTAÇÃO
A disciplina de Introdução ao Design tem como objetivo expor alguns conceitos,
definições e teorias do design, sob o contexto histórico mundial e brasileiro a fim de
demonstrar como esta área vem se consolidando ao passar do tempo. A disciplina
também propõe um momento de reflexão sob o âmbito educacional do design,
abordando a pesquisa e o campo de atuação do profissional designer.
QR CODE
Olá, acadêmico! Para melhorar a qualidade dos materiais ofertados a você – e
dinamizar, ainda mais, os seus estudos –, nós disponibilizamos uma diversidade de QR Codes
completamente gratuitos e que nunca expiram. O QR Code é um código que permite que você
acesse um conteúdo interativo relacionado ao tema que você está estudando. Para utilizar
essa ferramenta, acesse as lojas de aplicativos e baixe um leitor de QR Code. Depois, é só
aproveitar essa facilidade para aprimorar os seus estudos.
ENADE
Acadêmico, você sabe o que é o ENADE? O Enade é um
dos meios avaliativos dos cursos superiores no sistema federal de
educação superior. Todos os estudantes estão habilitados a participar
do ENADE (ingressantes e concluintes das áreas e cursos a serem
avaliados). Diante disso, preparamos um conteúdo simples e objetivo
para complementar a sua compreensão acerca do ENADE. Confira,
acessando o QR Code a seguir. Boa leitura!
LEMBRETE
Olá, acadêmico! Iniciamos agora mais uma
disciplina e com ela um novo conhecimento.
REFERÊNCIAS.................................................................................................................... 223
UNIDADE 1 -
CONCEPÇÕES DO
DESIGN E SEU
CONTEXTO HISTÓRICO
OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM
A partir do estudo desta unidade, você deverá ser capaz de:
PLANO DE ESTUDOS
A cada tópico desta unidade você encontrará autoatividades com o objetivo de
reforçar o conteúdo apresentado.
CHAMADA
Preparado para ampliar seus conhecimentos? Respire e vamos em frente! Procure
um ambiente que facilite a concentração, assim absorverá melhor as informações.
1
CONFIRA
A TRILHA DA
UNIDADE 1!
Acesse o
QR Code abaixo:
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UNIDADE 1 TÓPICO 1 -
DEFINIÇÕES E CONCEITOS SOBRE DESIGN
1 INTRODUÇÃO
Quando iniciamos nossos estudos na área do design é comum que a pergunta
“o que é design?” venha à tona, e esse não é um questionamento irrelevante, pois a
complexidade da área faz com que seja difícil identificar seus produtos em algumas
situações.
Cientes desta nomenclatura, avance a leitura para que você conheça alguns
conceitos inerentes à área a fim de lhe auxiliar no entendimento sobre “o que é design”.
Desta forma, você acompanhará, neste tópico, a reflexão de alguns profissionais da área
sobre este tema.
2 O QUE É DESIGN?
Antes de começar com a teoria, você consegue dizer o que é design? Em caso
negativo, consegue ao menos listar algumas coisas que você considera compor, ou não,
o arcabouço do design? Ainda parece complexo? Então tente listar o que não possui
design para você. Acompanhe as imagens a seguir, elas vão lhe dar pistas importantes
sobre o que é design.
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FIGURA 1 – GOLF DIGEST – PENTAGRAM
A Golf Digest é uma revista americana sobre golfe e seu design busca se
conectar com os millenial golfers (geração de jogadores cujas idades variam entre 25 e
34 anos). A versão antiga da revista focava em um público menos jovem, por volta dos
50 anos. Com o novo design, a revista atualizou seus conteúdos e passou a incorporar
matérias sobre estilo de vida. O projeto foi desenvolvido pelo estúdio Pentagram,
que reúne um grande conjunto de designers de renome, como Paula Scher e outros.
Atuando em diversas áreas do design – gráfico e identidade, arquitetura e interiores,
embalagens e produtos, web e experiência digital –, o estúdio foi responsável pelo
desafio de identificar novos métodos para visualização de conteúdo, buscando quebrar
com a monotonia que era presente nas imagens de gramados verdes em contraste com
o céu azul. A tipografia da marca possui terminais arredondados que denotam um tom
divertido, agregando liberdade ao movimento e o pingo vermelho do i foi mantido para
fazer um link com a versão antiga da revista.
DICAS
Para você entender a importância de Paula Scher para o Design, assista
ao episódio Paula Scher: design gráfico da série Abstract: a arte do Design,
disponível na Netflix.
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Com base no exposto, podemos presumir que, dentre os elementos que
constituem o campo do design, está o editorial, que engloba revistas, jornais, livros,
entre outras. Observe a seguir, outro case.
FONTE: <http://www.abre.org.br/galeria_inovacao/fotos/premio_2019_1450.jpg>.
Acesso em: 15 jun. 2020.
A embalagem para a bebida alcoólica Gin Velvo foi vencedora do prêmio nessa
categoria, no ano de 2019. O design foi desenvolvido por Premier Pack e o Brand Owner
(ou seja, o proprietário da marca) é a Velvo Destilaria. A embalagem teve como objetivo
posicionar no mercado um Gin, produzido no Brasil, baseada em referenciais de seus
concorrentes no exterior. A opção do cliente foi o uso de uma garrafa que guardasse
relação com as antigas garrafas de boticário, com vistas a um design contemporâneo e
sofisticado. Além dos aspectos estéticos facilmente identificados, a embalagem conta
com uma economia de material (vidro), usando um processo de fabricação da garrafa
que garante resistência mecânica com o uso de menos matéria prima. A Premier Pack
é uma empresa brasileira de embalagens de vidro, possui uma ampla cartela de clientes
dos ramos de bebida, alimentos, perfumaria e cosméticos.
Agora faça uma pausa e pense em todos os produtos que você consome, para
ser um pouco mais restritivo, pense sobre a sua experiência em um supermercado:
todo e qualquer produto está embalado, desde os mais nobres até mesmo aqueles que
são tão comuns no nosso dia a dia que nem pensamos na importância da embalagem.
Elas garantem que o consumidor tenha informações sobre o produto das mais diversas
ordens (composição, validade etc.), mantêm os produtos conservados e com qualidade
para serem consumidos, facilitam o transporte da fabricação para o ponto de venda
e deste, para a sua casa. Só este exemplo amplia muito sua percepção sobre o que
pode ser design. Avance para o próximo exemplo, no qual você poderá verificar que o
mobiliário também pode ser introduzido dentro da concepção do que é design.
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FIGURA 3 – JARDIM/GARDEN – STUDIO OVO
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FIGURA 4 – TIPOGRAFIA CURITYBA. CYLA COSTA
A tipografia Curityba foi desenvolvida por Cyla Costa e foi inspirada em tipografias
utilizadas na cidade de Curitiba no século XIX, que marcou o surgimento da Tipografia
Paranaense. As referências para a tipografia vieram do acervo imagético da Casa da
Memória de Curitiba. Cyla Costa é designer gráfica e artista tipográfica.
Enfim, essa lista de “coisas que possuem design” é infinita. Elas não serão
abordadas por uma questão de foco em tentar elucidar o que é design, mas incorpore
nos seus pensamentos algumas coisas: design de jogos, design de joias, design da
informação, design de interação, enfim, muitos designs para um único conceito.
Reforçamos, portanto, que os projetos aqui listados são apenas uma parte daquilo que
está dentro dos limites do design.
Agora faça um pequeno esforço para identificar coisas em comum ao que fora
apresentado: além dos aspectos estéticos muito bem elaborados, as peças apresentam
um contexto, denotam a existência de um conceito que orienta as escolhas formais.
Obviamente, o que vemos ali é a superfície do design, mas existe todo um estudo, um
motivo, uma justificativa para o uso de cada um daqueles elementos. É nesse caminho,
imbricado entre ideia e concretude, entre esboço e objeto, que o design se manifesta
naquilo que consideramos sua melhor forma: o projeto.
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Para ampliar mais nossa concepção sobre design, podemos citar aqui alguns de-
signers de grande expressão no contexto nacional e internacional: Walter Gropius (arqui-
teto alemão); Jan Tschichold (tipógrafo alemão); Aloísio Magalhães (designer gráfico bra-
sileiro), Alan Fletcher (designer gráfico queniano); Philippe Stark (designer francês); Ruth
Carter (figurinista americana); Cas Holman (designer americana de brinquedos); Ilse Craw-
ford (designer britânica). A partir desses nomes você poderá realizar pesquisas sobre de-
sign e descobrir novos indícios para lhe ajudar na tarefa de compreender o que é design.
Espero que por meio da leitura deste tópico você comece a perceber que o
design está presente em coisas que você menos espera. Ampliando essa abordagem
sobre o que é design, acompanhe a seguir a perspectiva de alguns teóricos da área.
DICAS
Uma outra perspectiva é apresentada por Daniel Furtado em seu canal
sobre UX Design. O vídeo O que é design? está disponível no YouTube, no
endereço a seguir: https://www.youtube.com/watch?v=zaFEEvHZgjw.
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materiais, cores e formas, observando as particularidades do projeto, estamos, de
fato, dizendo que tudo é design. Essa postura acaba esvaziando o próprio conceito,
tornando-o uma prática universal de produção.
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O livro Conceitos-chave em Design, organizado por Luiz Antonio Coelho (2008),
apresenta uma série de verbetes relacionados com a atividade do design em diversos
campos. Consultando o verbete design, somos inicialmente advertidos sobre o caráter
polissêmico da palavra, cujos sentidos podem contemplar “designar, indicar, representar,
marcar, ordenar, dispor, regular” (COELHO, 2008, p. 189) e enquanto significado, pode
abranger termos como “invento, planejamento, projeto, configuração” (COELHO, 2008,
p. 189), denotando assim, sua distinção em relação à palavra desenho (drawing em
inglês). Além disso, como alerta o filósofo tcheco, naturalizado no Brasil, Vilém Flusser
(2013), a palavra design tem origem no idioma inglês e pode ser substantivo ou verbo.
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Na concepção do usuário, uma visão simplista: design é design. Já para o
fabricante, design está relacionado com o uso de insumos de forma rentável, com
estética para seduzir os clientes e otimizando custos na produção. Para o crítico marxista,
o design tem como função aumentar as vendas de algo com aparência nobre que pode
aumentar ou qualificar seu valor. O designer se coloca como um mediador na resolução
de problemas entre homem e meio, enquanto o advogado defenderia a necessidade de
adaptação de um ambiente às necessidades físicas e psíquicas do homem.
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Nesta perspectiva, ele associa criatividade à inteligência e aposta na capacidade
de ampliação do conhecimento, potencializando a capacidade de conectar informações
aparentemente desconexas, criar novas relações para ressignificar coisas com poder de
síntese inovadoras e admiráveis. Aponta para o fato de o designer ter um ótimo senso de
observação, atenção e grande poder de análise, orientado por métodos que primem pela
flexibilidade e eficiência. Desta forma, o designer consegue entender as necessidades
dos clientes, propondo soluções eficientes e flexíveis.
Uma questão muito importante no contexto do design é que ele não deve ser
exclusivamente uma questão de gosto, tão pouco um meio para a expressão das ideias
do designer (porém, isso não quer dizer que também não possa ser, mas essa é uma
outra discussão). Quando afirmamos isso, queremos dizer que o designer é responsável
por comunicar aquilo que o cliente está solicitando, embora suas preferências estéticas
sejam ativadas no processo criativo, o compromisso do designer é comunicar com base
naquilo que o contexto da comunicação está exigindo, dirigindo-se ao público alvo
desejado (HOLLIS, 2000).
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Cará (2010) apresenta no livro Do desenho industrial ao design no Brasil, as
definições para design propostas pelo International Council of Societies of Industrial
Design (Conselho Internacional das Sociedades do Design Industrial – ICSID), hoje
conhecido como World Design Organization (Organização Mundial do Design – WOD).
É interessante perceber as transformações desse conceito com o passar do tempo,
pois isso denota o caráter atualizador do design, que atua em consonância com as
preocupações e tecnologias do seu tempo.
Ele é impulsionado pela inovação que propicia sucesso nos negócios, gerando
uma melhor qualidade de vida por meio de produtos, sistemas, serviços e experiências
inovadoras. De perspectiva transdisciplinar, a profissão é calcada na criatividade para
resolver problemas e criar soluções conjuntas, visando melhorias em diversos setores.
Para o WOD, o design industrial viabiliza um olhar otimista para o futuro, unindo
inovação, tecnologia, pesquisa, negócios, clientes, gerando vantagens competitivas
em diversos níveis: econômico, social e ambiental. Ainda na perspectiva da WOD, o ser
humano é o centro do processo, e a compreensão das necessidades dos usuários parte
de uma abordagem de empatia e processos pragmáticos.
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intelectuais, assim, o design atende tanto a dimensão do projeto (expresso por meio de
esboços ou modelos) quanto à dimensão projetual (expresso por meio da engenharia,
por exemplo).
O termo organizar relaciona-se com o design, pois ele é o meio através do qual
mensagens são expressas, portanto, esse termo refere-se ao modo como iremos atuar
junto ao cliente ou empresa. Não nos ateremos, aqui, nos processos do design, mas a
organização é sempre importante em qualquer atividade que você intente desempenhar.
Todo ato comunicativo pressupõe uma estratégia: observe como uma criança
pede um brinquedo novo para os pais. Várias coisas mudam, tom de voz, postura,
expressão corporal, entre outras. Com o design é assim: dependendo do que você
pretende dizer e para quem quer dizer, você vai assumir uma postura, um tom de voz e
uma maneira específica de expressar aquelas informações.
Partindo deste mesmo exemplo, uma criança consegue planejar o modo como
irá abordar um adulto para fazer uma solicitação, no campo do design, precisamos
planejar como vamos comunicar, qual tipo de mídia ou material é mais adequado aquilo
que se pretende dizer, qual o melhor momento para lançar um produto a mais.
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Esboço, desenho, configuração, manipulação, construção, programação são
ações que orientam o desenvolvimento do projeto. Considere que a ideia de representar,
no design, está relacionada ao fato de o design se colocar no lugar de algo para transmitir
uma informação, uma mensagem. Essa representação pode ser orientada pelo estilo ou
conceito da peça que está sendo desenvolvida.
ESTUDOS FUTUROS
A discussão sobre o que é design é longa e certamente não será esgotada
aqui. No próximo tópico você acompanhará a história do design no mundo,
o que lhe permitirá gerar e aprofundar outras reflexões.
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RESUMO DO TÓPICO 1
Neste tópico, você aprendeu:
• Existem diversas reflexões que buscam delinear aquilo que se deve entender por
design.
• Existe uma série de incertezas diante dessas classificações e que a discussão não
se esgota nos aspectos que apresentados.
• O design é uma palavra que engloba uma série de atividades profissionais e que
essas atividades estão presentes de diversas formas no nosso cotidiano: seja na
embalagem de um produto, seja no projeto de um móvel, na estrutura de uma
letra, na identificação ou definição de um público, entre outras.
• Apesar de não haver ainda uma definição concreta sobre o que é design, muitos
teóricos já expuseram suas reflexões sobre o tema e existem alguns elementos
que se repetem ao longo das explanações, são eles: projeto, organização, esboço,
desenho, entre outras palavras já mencionadas ao longo do texto.
• De posse destas informações esperamos que você assuma uma posição mais
crítica a respeito do design, no sentido de compreender que tudo que é produzido
de forma industrial perpassa uma etapa projetual que independe dos nossos
juízos de valor ou gosto e é neste ponto que encontramos a natureza do design.
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AUTOATIVIDADE
1 A partir da leitura do capítulo, te convidamos a tentar consolidar todas as informações
aqui apresentadas. Portanto, formule um parágrafo construindo o seu entendimento
sobre o que é design.
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UNIDADE 1 TÓPICO 2 -
PERSPECTIVA HISTÓRICA MUNDIAL DO
DESIGN
1 INTRODUÇÃO
Como você viu no tópico anterior, a definição da profissão do designer é muito
recente, se observarmos o que diz respeito à formação profissional, a atividade e
aos seus objetivos. Este tópico nos dará subsídios para as narrativas históricas que
apresentaremos no âmbito internacional.
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2 OS PRIMÓRDIOS DO DESIGN
Os primeiros historiadores do design buscavam delinear o campo consagrando
o que e quem produzia design, logo, um grande conjunto de obras de grande
representatividade já estão disponíveis a todo e qualquer leitor. Nos interessa aqui
apresentar o contexto, de forma que designers e suas respectivas produções assumam
a posição de representação de um espaço de tempo. Além disso, conhecer o legado
histórico, no campo do design, nos permitirá romper as barreiras dicotômicas que tanto
assolam esta área: forma/função; aparência/uso; mercado/sociedade; arte/design.
Não existe regra que indique se o texto deve ser sobreposto a imagem, ou se
ambos devem ser usados em conjunto ou não, é possível que um seja mais proeminente
que o outro. Para Hollis (2000) a palavra gravada sobre uma superfície qualquer,
representa o registro da fala. Através do tratamento gráfico da palavra consegue-se ir
além do seu sentido semântico ultrapassando, assim, essa limitação. Por exemplo, ao
ampliar ou reduzir um texto, ao usar uma espessura de linha mais ou menos espessa, o
designer consegue imprimir sensações ao texto, desta forma, ele é responsável por criar
uma expressão única. Para pensar sobre o quanto a qualidade gráfica de um texto pode
modificar a experiência de leitura, pense na palavra PARE e observe a imagem a seguir:
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FIGURA 5 – PLACA DE TRÂNSITO PARE
FONTE: <https://www.lojaviaria.com.br/placa-de-pare-parada-obrigatoria-r-1>.
Acesso em: 29 jun. 2020.
FONTE: A autora
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Frascara (2000) afirma que por algum tempo, desde a criação dos primeiros
processos de impressão, a produção de mensagens gráficas estava mais próxima das
atividades realizadas por um impressor do que de um designer, uma vez que cabia
a este profissional avaliar a qualidade daquilo que estava sendo produzido. Com o
desenvolvimento da prensa de Johannes Gutenberg (-1468), a difusão da informação
cresceu e novos modos de produzir peças gráficas surgiram. A partir do ano de 1890, os
processos de comunicação passaram a contar com uma variedade maior de processos.
Com isso, no período da Revolução Industrial – que teve seu início entre 1760 e
1840 –, uma grande transformação nos processos de comunicação gráfica aconteceu.
Esse período foi marcado pela passagem da sociedade agrícola para a industrial, o que
ocasionou uma radical transformação social e econômica.
Foi neste período que o conceito de design industrial que conhecemos hoje
começou a ser consolidado. A Revolução Industrial foi uma cisão entre o projeto de
manufatura e a divisão do trabalho, ou seja, até então um único artesão dava conta da
totalidade de um projeto, com a industrialização houve uma compartimentalização da
produção (BÜRDEK, 2006). Essa característica da Revolução Industrial será contestada
na década de 1970 conforme veremos em breve neste livro.
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Obviamente, este contexto de euforia e superprodutividade impactou as socieda-
des. Era comum jornadas de trabalho de 13 horas, o uso da força de trabalho de crianças,
desestruturação econômica. A sociedade passou a deixar de lado questões humanistas e
deflagraram sua atenção para bens materiais. As Revoluções Francesa e Americana au-
mentaram as desigualdades sociais, e em contrapartida, ampliou-se o acesso à educação
para todas as classes. Com isso, aumentou o número de leitores, tornando a comunicação
gráfica uma atividade importante. Devido ao desenvolvimento tecnológico, o custo de
produção do material reduziu, fazendo com que a produção de impressos fosse maior,
viabilizando a produção de materiais em massa (MEGGS; PURVIS, 2009).
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FIGURA 7 – JOGO DE CHÁ HENRY COLE FIGURA 8 – SOPEIRA HENRY COLE
DICAS
Para conhecer um pouco mais sobre as Exposições Internacionais assista
ao vídeo Exposições Universais – 1851-2020, disponível, no YouTube, no
endereço a seguir: https ://www.youtube.com/watch?v=AC6mX74-7U0.
William Pickering foi responsável pela edição do livro The elements of Euclid
(Os elementos de Euclides, 1847) no qual apresenta diagramas e símbolos que eram
impressos com xilogravuras e com brilhantes cores primárias. Ele utilizou a cor em
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substituição da rotulação alfabética convencional na identificação de linhas, figuras e
formas nas aulas de geometria. Observe na figura a seguir a qualidade gráfica do projeto
de Pickering.
FONTE: <https://wolfsonianfiulibrary.files.wordpress.com/2011/08/xb1990-1009_060.jpg>.
Acesso em: 15 jun. 2020.
O contexto da decadência dos livros perdurou até o final do século XIX e, a partir
deste momento, os livros passaram a se destacar novamente. O movimento Arts and
Crafts, que teve origem na Inglaterra, surgiu como uma reação aos problemas social,
moral e artístico constituído pela Revolução Industrial. Basicamente este movimento
enaltecia o design e o retorno aos ofícios manuais e eram contra os bens resultantes
da produção em massa. William Morris (1834-1896) encabeçou o movimento e defendia
que os propósitos fossem claros, e que se guardasse fidelidade à natureza dos materiais,
dos métodos de produção, da expressão pessoal (da parte do designer) e do trabalhador
(MEGGS; PURVIS, 2009).
O movimento Arts and Crafts foi inspirado pelas ideias do artista e escritor
John Ruskin (1819-1900), que questionava sobre como a sociedade conseguiria
influenciar a vida de seus membros visando a felicidade e a dignidade destas pessoas.
Ruskin era contra a economia mercantil e defendia a união entre arte e trabalho a
serviço da sociedade. Para ele, a industrialização e o desenvolvimento tecnológico
reforçavam a cisão entre arte e sociedade, iniciada no Renascimento. Como resultado
houve o isolamento do artista, menor desenvolvimento criativo e o design produzido
por engenheiros passou a ser mais valorizado, ainda que estes não se mostrassem
preocupados com questões estéticas. Ruskin atentou-se, também, para questões de
justiça social, atuando como defensor da melhora da habitação para trabalhadores
industriais, bem como o desenvolvimento de um sistema nacional de educação e
benefícios de aposentadoria para idosos. Deste período resultam objetos expressivos do
design, em que podemos destacar a Cadeira Thonet nº 14 projetada por Michel Thonet.
Sua importância para o design se dá pelo método criado por Thonet para curvar madeira
a partir de um mecanismo a partir de vapor (BÜRDEK, 2006; MEGGS; PURVIS, 2009).
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William Morris foi figura de destaque no desenvolvimento do design de interiores.
A casa em que viveu com a esposa Jane Burden, conhecida como Red House, foi
projetada por Phillip Web. O desenho da casa tem origem em um planejamento funcional
de espaço interior. Ao mobiliá-la, Morris deparou-se com os produtos e móveis vitorianos
que estavam em estado lastimável. Diante dessa situação, Morris funda a empresa de
decoração artística com outros dois amigos: a Morris, Marshall, Faulkner and Company,
em 1861. A empresa montou showrooms em Londres e envolveu uma grande diversidade
de profissionais: desde tecelões e tintureiros, a ceramistas e ladrilheiros. É o autor de
pelo menos 500 projetos de papéis de parede, tecidos, carpetes e tapeçarias. Em 1875 a
empresa passou por reformulações e Morris passou a ser o único funcionário (BÜRDEK,
2006; MEGGS; PURVIS, 2009).
FONTE: <https://pt.wikiarquitectura.com/wp-content/uploads/2017/08/William-Morris-Red-House-interior-
-1024x692.jpg>. Acesso em: 15 jun. 2020.
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FIGURA 11 – RÓTULO EM ESTILO ART NOUVEAU
FONTE: <https://n.i.uol.com.br/licaodecasa/ensfundamental/artes/cartaz-nouveau.jpg>.
Acesso em: 15 jun. 2020.
O Art Nouveau foi um movimento marcado pela temática botânica, com linhas
sinuosas e peças bem ornamentadas, com o uso de molduras características desta
linguagem. A tipografia possui um estilo mais orgânico e as linhas possuem extremidades
sinuosas, explorando o movimento por meio de traços longos. Este estilo decorativo
atuou sobre as artes projetuais (arquitetura, design de mobiliário, produto, moda e artes),
foi aplicado em cartazes, embalagens, bules, pratos, colheres, escadas, entre outros
(MEGGS; PURVIS, 2009). Um dos nomes expressivos deste período é o belga Henry Van
de Velde (1863-1957) que desenvolveu móveis, objetos e interiores. Diferente de Moris,
em de Velde fomentava a ideia de uma consciência elitista e individual (BÜRDEK, 2006).
A virada do século XIX para o século XX foi marcada pelo questionamento das
convenções e a busca por novos caminhos que pudessem alterar a situação cultural.
Assim, designers de arquitetura, moda, artes gráficas e produtos, buscaram novas
formas de expressão que foram fortalecidas pelos avanços tecnológicos e industriais.
O Art Nouveau, que contestou as convenções do período vitoriano, demonstrou que
criar formas era viável, e a produção de formas geometrizadas por artistas austríacos e
alemães, apontaram para a possibilidade de explorar a abstração no design, trazendo à
tona uma nova filosofia estética (MEGGS; PURVIS, 2009).
Essa nova concepção de design foi marcada por nomes como do arquiteto
estadunidense Frank Lloyd Wright (1867-1959), e que serviu de inspiração para aqueles
que estavam evoluindo das formas curvas do Art Nouveau para uma estética mais
retilínea na organização do espaço. Wright negava o historicismo e buscava uma filosofia
da “arquitetura orgânica” e a “realidade do edifício”, considerando não apenas a fachada,
mas sim os espaços internos e dinâmicos por onde as pessoas transitavam. Para Wright,
a essência do design é o espaço, suas obras foram influenciadas pelo design japonês, do
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qual extraiu a ideia de busca pela proporção harmoniosa e poesia visual e das referências
pré-colombianas, extraiu a ornamentação, controlada a partir de repetição matemática
(MEGGS; PURVIS, 2009). Destacaram-se os trabalhos dos designers Josef Hoffmann
(1870-1956), Joseph Olbrich (1867-1908) e Otto Wagner (1841-1918), que criaram uma
associação artística que viera a desenvolver uma linguagem formal reduzida que
primava pelo uso de ornamentos geométricos. Surge assim a Wiener Wekstäten que
produzia móveis para a classe burguesa da época (BÜRDEK, 2006).
Outro nome marcante nesse período foi o de Peter Behrens (1868-1940), que
propôs uma reforma no campo da tipografia, sendo o precursor no uso de tipos sem
serifas e no uso de grids para delimitar os espaços em seus layouts. Recebeu o título de
primeiro designer industrial em face ao reconhecimento dos projetos de produtos que
desenvolveu para a indústria.
FIGURA 12 – MARCA AEG E CAPAS PARA MANUAL DE ORIENTAÇÃO DE PAVILHÃO DA AEG – PETER
BEHRENS
FONTE: <https://designhistoryresearch.files.wordpress.com/2010/11/538225674_cfad436fa0.jpg>.
Acesso em: 15 jun. 2020.
NOTA
Serifa é um elemento da tipografia compostos por pequenos traços ou
prolongamentos localizados ao final das hastes do tipo. Essas tipografias são
conhecidas como sans-serif, grotescas ou góticas. O grid é uma estrutura
geométrica que auxilia na distribuição e organização dos elementos no espaço.
Além da marca da AEG Behrens foi responsável pelo design de alguns produtos:
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FIGURA 13 – VENTILADOR PETER BEHRENS – AEG
FONTE: <https://i.pinimg.com/236x/d9/97/1d/d9971dedc1fa158ca579b9a0e6c4f670--peter-behrens-i-
ron-table.jpg>. Acesso em: 15 jun. 2020.
FONTE: <https://i.pinimg.com/474x/a6/bc/fa/a6bcfac46f1366a63a0fe08ec9422358.jpg>.
Acesso em: 15 jun. 2020.
FONTE: <https://assets.catawiki.nl/assets/2018/7/11/8/2/c/thumb5_82c81958-c8bc-475f-9516-871e-
52a58cde.jpg>. Acesso em: 15 jun. 2020.
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Antes do século XX, os serviços de comunicação visual eram ofertados por
artistas comerciais; tipógrafos, ilustradores e retocadores. Basicamente, o artista
comercial criava os layouts, os tipógrafos desenhavam os textos e orientavam a
composição, os ilustradores desenhavam desde diagramas mecânicos até desenhos
de moda, e os retocadores finalizavam o layout para sua reprodução. A produção deste
período era basicamente em branco e preto, impressas em papel (na maioria das vezes
em apenas um lado da folha), isso fez com que relações como cheio e vazio, figura e
fundo, se tornassem decisivas no processo de criação (HOLLIS, 2000).
FONTE: <http://1.bp.blogspot.com/_KHWOdx4Qak4/SORN7PHWlAI/AAAAAAAAABE/6BLHZqOPURA/
s320/v.gif>. Acesso em: 15 jun. 2020.
30
FIGURA 17 – CHALEIRA. HENRY VAN DE VELDE
FONTE: <https://dam-13749.kxcdn.com/wp-content/uploads/2019/08/cropped-Henry-Van-de-Velde-Tea-
pot-1904-2.jpg>. Acesso em: 15 jun. 2020.
DICAS
Para conhecer um pouco sobre a História da Bauhaus, assista ao vídeo de Paulo
Biacchi, A primeira escola de design do mundo. O vídeo está disponível no endereço:
https://www.youtube.com/watch?v=ERrzzMFAeNY.
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Estes movimentos de vanguarda têm origem em um espírito inovador perceptível
em todas as artes deste período. Fomentam, assim, a criação de manifestos, de novos
estilos artísticos, de novas publicações e incorporaram arquitetos e educadores que
expressavam verbalmente suas posições.
FONTE: <http://www.monografica.org/prova/wp-content/uploads/2011/12/Der-Dada.jpg>.
Acesso em: 15 jun. 2020.
A capa desse jornal representa a liberdade que era tão exaltada pelos membros
do movimento, a irracionalidade e a oposição ao estado e ao seu tempo, bem como às
exposições de arte do período. Os membros do De Stijl também comunicaram suas con-
cepções estéticas por meio das formas (FRASCARA, 2000). Neste estilo podemos apre-
sentar o logotipo geométrico desenhado por Theo Van Doesburg (1883-1931), em 1917:
32
FIGURA 19 – CARTÃO DE STIJL – THEO VAN DOESBURG
FONTE: <https://www.idesign.wiki/wp-content/uploads/2015/11/theo_van_doesburg_138-768x762.
jpg>. Acesso em: 15 jun. 2020.
33
Jan Tschichold (1902-1974) é outro designer influenciado pelos construtivistas,
que utilizou da tipografia para criar uma organização visual, sem se desprender do
aspecto estético, passando a compô-la como elemento que constitui a informação.
Assim, o design dedicou-se a pensar sobre como agrupar e estabelecer sequências e
hierarquias que permitissem a realização de uma leitura organizada (FRASCARA, 2000).
FONTE: <https://sep.yimg.com/ay/artbook/ellen-lupton-on-herbert-bayer-s-indelible-Bauhaus-universal-
-lettering-1.gif>. Acesso em: 15 jun. 2020.
34
A Bauhaus primava por alguns princípios: coerência, economia e simplicidade, e
estes guardavam relação com a beleza e com a funcionalidade. Em decorrência desses
princípios, erigiu-se um dos pilares do design a partir da funcionalidade, ou seja, na
implicação do uso de processos mais simplificados, passando a ser entendido como
um estilo próprio, logo, faz parte do processo de design, sendo assim um critério para
sua avaliação. É necessário, porém, ao visualizar o alfabeto de Bayer, considerar que
estudos sobre legibilidade eram limitados e incipientes (FRASCARA, 2000).
O design, nos Estados Unidos, foi influenciado por imigrantes europeus que trou-
xeram consigo as sementes da vanguarda europeia. Ao longo dos anos 1940, os Estados
Unidos passaram a incorporar estes conceitos. Enquanto o design europeu era marcado
pela teoria e pela estruturação, os americanos desenvolveram um estilo mais pragmático
e intuitivo caracterizando uma menor formalidade na organização do espaço.
35
FIGURA 23 – CARTAZ PLAST (1972) DE ARMANDO TESTA
FONTE: <https://i.pinimg.com/236x/41/1f/2b/411f2b812c57b9e3b2a5dc6d45d82a11--vintage-graphic-
-vintage-posters.jpg>. Acesso em: 15 jun. 2020.
Este cartaz foi produzido para uma exposição de borrachas e plásticos em 1972
em Milão. Testa apresenta uma mão de material sintético equilibrando uma bola de
plástico. Na peça, o conceito é tão enfático que dispensa qualquer tentativa de tradução
da mensagem.
36
DICAS
A Escola de Design de Ulm é referência para o design. Assista ao vídeo que conta a
sua história, A Escol de Design de Ulm, disponível no YouTube no endereço: https://
www.youtube.com/watch?v=QLfTwFR5Gho.
Por volta da década de 1950, livros infantis adotaram um estilo mais simples
e a publicidade de produtos diversos passou a explorar textos sintéticos, deixando
espaço maior para avisos mais assertivos. Neste mesmo período, discussões sobre
legibilidade tornaram-se mais frequentes e a partir daí concluiu-se que além de
simples, um bom design precisa ser legível. A simplicidade como fator determinante
no design acabou sendo aplicada nas mais diversas áreas, e a pesquisa de Smith e
Watkins, desenvolvida na Universidade de Reading (na Inglaterra, em 1972), apontaram
que materiais didáticos também eram influenciados pela simplicidade ao transmitir
uma informação. (FRASCARA, 2000).
A década de 1970 foi marcada pela crença de que a Idade Moderna se findava
na arte, no design, na política e na literatura. As normas culturais passaram novamente
a serem questionadas, o que resultou no enfrentamento das instituições tradicionais.
As doutrinas relativas ao modernismo também foram contestadas e as mulheres
começaram a lutar por igualdade, fomentando a diversidade cultural. A estética moderna
já não atendia mais às necessidades da sociedade pós-industrial. Surge o termo pós-
modernismo que vinha trazer os novos ares da mudança cultura. No campo do design,
o pós-modernismo buscava o rompimento com o Estilo Internacional que havia sido
consolidado pela Bauhaus (MEGGS; PURVIS, 2009).
37
contexto do designer menor restrito às técnicas de impressão. Estudos sobre design da
informação tiveram início neste período através dos estudos de Richard Saul Wurman
(1935-) e, ao final dos anos 1980, o design foi incorporado ao marketing (HOLLIS, 2000).
ESTUDOS FUTUROS
Na Unidade 2 avançaremos no estudo sobre o design contemporâneo e como a
digitalização transformou os processos de produção de design.
38
RESUMO DO TÓPICO 2
Neste tópico, você aprendeu:
• O design sofreu fortes influências do contexto social no qual ele atua com objetivos
a atender ou gerar necessidades nas pessoas do contexto artístico, as quais muitas
serviram como base para a quebra dos paradigmas estéticos construídos para o
design.
39
AUTOATIVIDADE
1 Duas escolas que transformaram o design foram Bauhaus e Ulm. Construa um texto
de, no máximo, duas laudas falando sobre a importância das duas escolas para o
design.
40
UNIDADE 1 TÓPICO 3 -
PERSPECTIVA HISTÓRICA BRASILEIRA DO
DESIGN
1 INTRODUÇÃO
No tópico anterior, você conheceu um pouco sobre o desenvolvimento do design
no contexto histórico, desde os primeiros registros da área, passando pela criação da
impressora de Johannes Gutemberg, pela Revolução Industrial e registrando o impacto
social, político, econômico que gerou.
Como objeto de estudos deste Livro Didático, optamos por separar o contexto
do design brasileiro do design mundial, pelo fato deste ter se estabelecido no Brasil da
forma que conhecemos hoje. Outro fator que colabora para essa separação diz respeito
aos fatos históricos do Brasil acontecerem de forma distinta dos outros países.
41
Recentemente, empresas e designers perceberam a necessidade comercial de
organizar sua produção e seus projetos por meio de portfólios, objetivando apresentar
aos clientes aquilo que é de sua autoria, no entanto, ainda carecemos de outras estru-
turas de registros abrangentes e que nos permitam interpretar a passagem do tempo,
assim como a interferência do contexto histórico por meio dessas narrativas gráficas.
Para Cardoso (2005), chamar de designer alguém como Eliseu Visconti (1866-1944),
cujo trabalho é de suma importância para a área, pode mascarar diferenças primordiais
entre o que fora produzido em 1870 e o que é produzido atualmente. Portanto, transpor o
conceito de designer para o passado, esperando que ele tenha o mesmo valor semântico da
atualidade é um problema para o historiador, sendo fundamental que a história atue como
um catalisador, nos permitindo reavaliar os pressupostos e determinar o sentido dado aos
termos. As artes desenvolvidas no século XIX ainda eram inconsistentes, uma vez que ha-
via também uma dificuldade em compreender como as artes aplicadas à indústria agrega-
riam valor aos produtos, consequentemente as influências do design e as transformações
que ele engendraria ainda eram muito nebulosas segundo Landim (2010).
42
Cabe ressaltar, aqui, que data de antes de 1960 o registro de projetos
que guardavam em si uma ampla complexidade conceitual, baseado no uso de
tecnologias, orientadas por um valor econômico, aplicável para a produção em escala
e, consequentemente, distribuído para consumo de produtos industrializados. Daí se
justifica a necessidade da compreensão de um passado projetual que anteceda 1960.
As sanções estabelecidas pela Coroa portuguesa ao Brasil nos séculos XVI, XVII
e XVIII baniu o processo de impressão das atividades desenvolvidas aqui. Com a chegada
da Impressão Régia os processos de impressão retornam ao território nacional. Os
primeiros equipamentos tipográficos chegaram ao Brasil junto com a corte portuguesa
em 1808, nos porões da esquadra de dom João VI, e eram muito semelhantes aos que
Johannes Gutemberg havia desenvolvido centenas de anos antes. Após a liberação do
ofício de monopólio estatal, a atividade se alastrou rapidamente. Com isso, características
da linguagem gráfica desenvolvidas no país, neste período, foram influenciadas pela
tipografia de chumbo, suas coleções de tipos e ornamentos.
43
O estilo Chippendale foi transformado para uma estética brasileira inserindo a
palinha como material e as frutas tropicais como ornamento. O estilo Chippendale é em
referência ao marceneiro inglês Thomas Chippendale (171-1779) quando ele publica o
livro The Gentleman and Cabinet-Marker’s Director, um manual que apresenta diretrizes
de seu estilo (BRANDÃO, 2010).
DICAS
Assista à entrevista de Chico Homem de Melo sobre a História do Design no
Brasil, o vídeo está disponível no Youtube no endereço: https://www.youtube.
com/watch?v=mK_k9sB-69w.
44
FIGURA 24 – RELAÇÃO DE DESPACHOS
FIGURA 25 – REVISTA ILLUSTRADA N° 498
DE 13 DE MAIO DE 1808
FONTE: Melo e Ramos (2012, p. 27) FONTE: Melo e Ramos (2012, p. 49)
45
Outro marco foi a primeira página do jornal A Província de São Paulo, publicada
em 16 de novembro de 1889 a qual saudava a Proclamação da República e a bandeira da
República que é o signo da identidade visual do Brasil até os dias de hoje.
46
estrangeiros, e logo cedeu espaço para profissionais brasileiros, cujos trabalhos eram
de alta qualidade gráfica (MELO; RAMOS, 2012). Observe na imagem a seguir que os
elementos característicos do movimento Art Nouveau – sinuosidade das linhas, motivos
botânicos, conexão entre os elementos, arabescos, desenho tipográfico e influência dos
grafismos na ilustração – podem ser verificados na capa da revista Renascença de 1904.
NOTA
A zincografia é um processo de impressão planográfica que utilizava placas de
zinco.
47
A cidade era o cenário da vida moderna, palco dos conflitos populares, lutas pela
causa das mulheres e trânsito de veículos. Este contexto inspirava os ilustradores das
revistas. Observe a capa da revista O Parafuso e reflita sobre os elementos compositivos
presentes nela: uma transposição gráfica do contexto social do Brasil daquele período.
48
FIGURA 32 – CAPA REVISTA O MALHO
FIGURA 31 – CAPA NÓS (1917 – CORREIA DIAS)
(1919 – DI CAVALCANTI)
FONTE: Melo e Ramos (2012, p. 73) FONTE: Melo e Ramos (2012, p. 89)
NOTA
A autotipia é uma fotogravura utilizada para reproduzir fotos em tons de cinza.
49
Deste período, resultam obras icônicas como o programa para a Semana de
1922 de Di Cavalcanti, marcada pela ausência de ornamentos, com traços angulares
e trazendo uma proximidade com a aspereza do expressionismo. Já a tipografia
desenvolvida e apresentada na capa da primeira edição da revista Klaxon é composta
por um arranjo tipográfico sem precedentes no território nacional (MELO; RAMOS, 2012).
FONTE: Melo e Ramos (2012, p. 120) FONTE: Melo e Ramos (2012, p. 120)
Esse período é marcado pela transição do Art Nouveau para o Art Déco,
característico pela geometrização das formas. Monteiro Lobato se destaca no cenário da
produção de livros devido a sua preocupação com a qualidade gráfica dos mesmos. Sua
ousadia pode ser percebida na tiragem de 50 mil exemplares de A menina de narizinho
arrebitado. A revista Cruzeiro, dirigida por Assis Chateaubriand, foi por 40 anos a revista
de maior influência no cenário nacional, foi um sucesso comercial marcada por diversos
aspectos inovadores e voltada para um público geral. A revista Para Todos, sob direção
de arte de J. Carlos, é marcada pelo seu traço Art Déco, ele é um dos representantes de
maior evidência no design editorial brasileiro. As capas são atraentes, com movimento,
amplo uso de fotografia, uso de papel couché e impressão de alta qualidade.
50
FIGURA 35 – CAPA DO LIVRO A MENINA
FIGURA 36 – CAPA REVISTA PARA TODOS (ARTE DE J.
DE NARIZINHO ARREBITADO
CARLOS – 1928)
(ARTE DE VOLTONINO – 1920)
FONTE: Melo e Ramos (2012, p. 104) FONTE: Melo e Ramos (2012, p. 141)
51
DICAS
Assista ao curta Artes: Design Brasileiro (Parte 1 e 2) para aprofundar seus
conhecimentos sobre a História do Design no Brasil, o vídeo está disponível no
YouTube nestes links: https://www.youtube.com/watch?v=b4Xl-EjF0V4 e https://
www.youtube.com/watch?v=u2ljvVZfrIo.
52
FIGURA 40 – ANUÁRIO DE PERNAMBUCO IGURA 41 – LOGOTIPO FOTOPTICA
(MANOEL BANDEIRA – 1934) (BERNARD RUDOFSKY – 1939)
FONTE: Melo e Ramos (2012, p. 179) FONTE: Melo e Ramos (2012, p. 154)
53
Em 1937 foi criado o Serviço de Patrimônio Histórico e Artístico Nacional, este
órgão foi destinado ao estudo e programas de preservação dos bens culturais brasileiros,
o que resultou no início da historiografia do mobiliário brasileiro, segundo Brandão
(2010). Lúcio Costa escreveu um artigo que seria utilizado na introdução do álbum de
fotografias de móveis brasileiros que seria enviado à Feira Internacional de Nova York.
Este texto nunca foi impresso, sendo futuramente publicado pela revista número três
do Serviço de Patrimônio Histórico e Artístico Nacional. O texto apresentava um estudo
do mobiliário luso-brasileiro dividido em três grandes períodos:
FONTE: Melo e Ramos (2012, p. 235) FONTE: Melo e Ramos (2012, p. 219)
54
FIGURA 46 – CAPA ABC DE CASTRO ALVES FIGURA 47 – CAPA DE JOAQUIM
(DE SANTA ROSA (1941) (DI CAVALCANTI 1947)
FONTE: Melo e Ramos (2012, p. 223) FONTE: Melo e Ramos (2012, p. 239)
55
O mercado de revistas e jornais passaram a se comprometer com essa
necessidade: de ter na fotografia o elemento de destaque da informação. Entre 1950 e
1960, um crescente criativo tomou o país e isso impactou a cultura e a economia. Nesse
período, Juscelino Kubitschek constrói a nova capital do país em Brasília, fomentando
ainda mais a ideia de industrialização e o desenvolvimento cultural alinha-se ao plano
de desenvolvimento econômico. O construtivismo assinalou a entrada do Brasil na
modernidade, o qual reverberou em diversos setores, inclusive no design e esse período,
marcado pelo manifesto Concreto e Neoconcreto, pressupôs-se uma revolução formal
(MELO; RAMOS, 2012).
IMPORTANTE
A Escola de design de Ulm tinha sede na cidade de Ulm, Alemanha. Foi fundada
em 1953 por Max Bill e outros, e tinha como objetivo promover os princípios
de Bauhaus. Seu fechamento ocorreu em 1968 por motivações políticas e
financeiras.
56
FIGURA 50 – POLTRONA MOLE DE FIGURA 51 – POLTRONA VERGA
SÉRGIO RODRIGUES SÉRGIO RODRIGUES
57
FIGURA 53 – CAPA DISCO SAMBA E OUTRAS COISAS
FIGURA 54 – TUPI (MARIO FANUCHI 1950)
(JOSELITO 1950)
FONTE: Melo e Ramos (2012, p. 252) FONTE: Melo e Ramos (2012, p. 246)
DICAS
Um dos nomes mais importantes do design brasileiro é Alexandre Wollner.
O documentário Alexandre Wollner e a formação do design moderno no Brasil
apresentam uma entrevista realizada com o designer, na qual ele conta como
foi a sua vivência no design. Disponível no endereço: https://www.youtube.com/
watch?v=s7LOZLMRRO0.
58
INTERESSANTE
Para entender melhor sobre o movimento Tropicalista Ascenção e Debates,
assista ao vídeo no YouTube, disponível no link https://www.youtube.com/
watch?v=CrNOZ9ri9_A.
Esse período influenciou o design, tanto pela atmosfera estimulante quanto pelo
cerceamento da liberdade de expressão. Ainda assim, o Jornal da Tarde e o Pasquim são
referências de publicações revolucionárias. A música, destaque na cena cultural, trouxe
nas capas de discos de diversos artistas, fonte para refletir sobre as influências da arte
no contexto do design. As capas da Bossa Nova guardavam a expressão dos padrões
estéticos modernistas a grosso modo, e o mesmo se aplica às capas de músicos da
MPB. Já nas capas tropicalistas vê-se a representação da vanguarda internacional, com
influências do psicodelismo e da Pop Art (MELO, 2006).
59
FIGURA 56 – DESENHO INDUSTRIAL DE 1968 FIGURA 57 – CAPA REALIDADE (BARRETO FILHO
(GOEBEL WEYNE) 1966)
FONTE: Melo e Ramos (2012, p. 355) FONTE: Melo e Ramos (2012, p. 400)
60
FIGURA 60 – CAPA RAPOSA
(OSWALDO MIRANDO – 1978)
FIGURA 59 – REDE GLOBO
(HANS DONNER – 1975)
61
A década de 1980 é marcada pelo nascimento de diversas bandas de rock e
pelo fim da ditadura. José Sarney sobe ao poder e em 1989 Fernando Collor foi eleito
presidente. A economia estava descontrolada, marcando um período de inflação
flutuante. Diante deste contexto negativo, o pop rock surgiu como um catalisador da
criatividade brasileira. As escolas de design passaram por mudanças significativas ao
longo destes 20 anos, o modernismo caiu e deu espaço ao pós-modernismo. Surgiram
ideias múltiplas e a pluralidade passou a ser a palavra de ordem. Rupturas importantes
aconteceram em diversos setores, a fragmentação da imagem se estabeleceu enquanto
linguagem – processo fomentado pela cultura digital. Destaque para a empresa SAO,
que atuava com design corporativo e foi a criadora de um modelo de negócios inovador:
ter um escritório de design junto a uma empresa de publicidade, um modelo que, apesar
de ter gerado sucesso, não se consolidou (MELO; RAMOS, 2012).
Na década de 1980, o design de móveis passa a contar com uma gama maior de
materiais voltando-se para uma produção próxima ao artesanal. Os profissionais voltam-
se para a globalização, abandonam o funcionalismo abrindo espaço para um design
mais intuitivo e irreverente (REGO; CUNHA, 2016). Influenciados por estes fatores, em
1989 os irmãos Campana montam seu escritório. Exploram a reutilização de materiais
(plástico, borracha, bichos de pelúcia, corda, tijolos etc.).
62
FIGURA 65 – HOLLYWOOD ROCK (BOB GUEIROS –1987)
63
FIGURA 68 – LOGOTIPO REDE GLOBO (HANS DONER – 1999)
FONTE: Melo e Ramos (2012, p. 668) FONTE: Melo e Ramos (2012, p. 679)
DICAS
Assista ao vídeo Panorama do design no Brasil, disponível no Youtube no
endereço: https://www.youtube.com/watch?v=D4Tyw7iUrXk
64
Inicia-se aqui outro marco da história do design que ainda está em fase de
construção, voltado para o design dos anos 2000, e esse será um tema que voltaremos
na Unidade 2 deste livro. Refletir sobre o processo de instauração do design no Brasil nos
faz perceber que, ainda que algumas atividades relativas ao campo do design fossem
desenvolvidas no Brasil desde meados do século XIX, foi no século XX que podemos
perceber uma maior rapidez nas transformações quando comparamos com aquelas
ocorridas no design ao redor do mundo. É importante que você tenha em mente que
hoje você começa a ajudar a construir a história do design contemporâneo. No tópico
a seguir você irá estudar os caminhos percorridos para a implementação do ensino em
Design no Brasil.
65
RESUMO DO TÓPICO 3
Neste tópico, você aprendeu:
• A instauração do design no Brasil remonta ao século XIX ainda que a área tenha
passado por um processo de popularização a partir de meados do século XX.
66
AUTOATIVIDADE
1 Escolha um período entre os que foram apresentados (Primeiro período – século XIX:
era da tipografia de chumbo; Segundo período – de 1900 a meados do século XX:
era da ilustração; Terceiro período – de meados do século XX aos anos 1980: era da
fotografia; Quarto período – a partir dos anos 1990: era digital) e construa uma linha
do tempo com os artefatos de design que você julgar interessante. Tente contemplar
uma diversidade nos objetos (gráfico, mobiliário, arquitetura etc.). Não esqueça de
informar o período de produção e quem foi o designer responsável.
67
68
UNIDADE 1 TÓPICO 4 -
PERSPECTIVAS HISTÓRICAS NA FORMAÇÃO
DO DESIGNER NO BRASIL: ENSINO, PESQUISA
E CAMPO DE ATUAÇÃO
1 INTRODUÇÃO
No tópico anterior, você acompanhou o contexto histórico de implementação
do design no Brasil. Uma leitura atenta do tópico dois e três, mostra que, embora o
desenvolvimento do design no país tenha acontecido em períodos desencontrados do
que temos no contexto mundial.
Fomos arrebatados por questões muito similares que fizeram com que o design
brasileiro constituísse a sua própria identidade. Essa identidade é perpassada pela arte
e pelos diversos acontecimentos políticos e sociais que constituem a história do país.
O discurso moderno não foi suficiente para defender o ensino do design numa
perspectiva estético-projetiva. Destacou-se, no entanto, uma ênfase nas exigências
da produção, focada nas tecnologias disponíveis, nas questões de ordem econômica,
nas exigências do mercado, nas necessidades do desenvolvimento local, que criou uma
ideia ampla do papel do desenho industrial inserido no contexto social (CARÁ, 2010).
69
Não compreender o desenho industrial como uma tarefa estético-projetiva,
cercou a disciplina de questões negativas, pois, não raramente, confundia-se desenho
industrial com arte, fazendo com que se confundisse, também, a atividade desse
profissional com o fato de embelezar produtos industrializados.
INTERESSANTE
Assis Chateaubriand é um nome muito importante no contexto da comunicação.
Acesse o link Acesse o vídeo A biografia do Brasil – Assis Chateaubriand link
https://www.youtube.com/watch?v=W9PjHWc0dAM para conhecer um pouco
mais de sua persona.
70
DICAS
Assista ao vídeo sobre a criação do MASP, Conhecendo Museus - Ep. 10: Museu
de Arte de São Paulo - MASP, disponível no endereço: https://www.youtube.com/
watch?v=fuCQdmlAxVA.
IMPORTANTE
O estúdio Forminform foi criado em 1958, em São Paulo, por Geraldo de Barros,
Rubens Martins, Walter Macedo e Alexandre Wollner, assim que regressou
de Ulm. Atuaram no escritório Karl Heinz Bergmiller, Ludovico Martino, Décio
Pignatari, German Lorca e outros profissionais.
71
As discussões sobre educação culminaram com a 1ª LDB de 1961, que flexibilizou
o ensino, possibilitando o acesso ao ensino superior independente do curso. Possibilitou a
migração interna do aluno de um outro ramo de ensino, via aproveitamento de estudos e
norteou os 8 grandes eixos da educação: 1) dos fins da educação; 2) do direito à educação;
3) da assistência social escolar; 4) da liberdade de ensino; 5) da administração do ensino;
6) da educação de grau primário; 7) dos recursos para educação (COUTO, 2008).
Esse grupo era liderado por Raymundo Ottoni de Castro Maya. Para eles, a
indústria deveria ter um padrão composto por uma expressão formal, de acordo com o
período e apostavam na arte, na arquitetura e na cultura moderna (NIEMEYER, 2007).
A criação de uma escola de design no MAM foi proposta por Max Bill, que havia
ficado impressionado com a arquitetura do prédio moderno do museu, projetado por
Afonso Eduardo Reidy. Além disso, Bill propôs algumas alterações para que o prédio fosse
apto para abrigar uma escola com características particulares. Objetivava-se, portanto,
propiciar aos estudantes um ambiente que suportasse atividades criativas, artísticas e
que gerasse uma forma de arte que estivesse em consonância com o contexto social
da época (NIEMEYER, 2007).
72
A Escola Técnica de Criação (ETC) iniciou suas atividades em 1958 e a
responsabilidade da criação do currículo da escola ficou a cargo de Tomás Maldonado
e de contribuições de Max Bill. Os profissionais formados pela ETC aliavam capacidade
criativa com conhecimento tecnológico, avançado e culturalmente embasado. Era um
curso pago, com possibilidades de bolsas de ensino, desde que as aptidões artísticas
fossem atestadas.
73
Alguns artigos publicados por Cláudio Ceccon e Flávio de Aquino, em 1964, tem
a Escola Superior de Desenho Industrial como tema. Eles buscavam explicar a proposta
de ensino que viria a ser implementada, apresentando objetivos, expectativas, grade
curricular, avaliações e um relato da experiência do primeiro ano da escola (CARÁ, 2010).
A direção da ESDI foi dada a Mauricio Roberto, arquiteto, cuja relação com o design
se dava por meio de interesses secundários, uma vez que seu foco era a arquitetura. O
corpo docente era formado por Flávio d’Aquino, Aloísio Magalhães, Alexandre Wollner,
Euryalo Cannabrava, Antonio Gomes Penna, Zuenir Carlos Ventura, Karl Heinz Bergmiller
e Orlando Luiz de Souza Costa. A seleção dos estudantes se dava por meio de vestibular.
A escola tinha foco no mercado de trabalho e previa a possibilidade de mudanças,
conforme identificadas as necessidades do mercado. Assim, a ESDI organizou seu
curso em torno de disciplinas de projeto, sendo este o cerne da formação do designer.
A liberdade no funcionamento da escola fez com que a ESDI fosse definida como órgão
descentralizado, relativamente autônomo do Departamento de Cultura. Em 1976 a ESDI
foi incorporada pela UERJ (NIEMEYER, 2007).
Como falado no início do tópico, neste período ainda não havia clareza sobre o
que seria a função do designer. Ainda que os artigos de Décio Pignatari (A profissão do
desenhista industrial e O desenhista industrial) e de Lúcio Grinover (Desenho Industrial)
abordassem o tema, a contribuição dos mesmos ainda não havia sido suficiente para
consolidar a ideia do que é a profissão do desenhista industrial (CARÁ, 2010). Foi com a
contribuição de Magalhães, Wollner e Bergmiller que o caminho para uma definição da
área e da profissão, começou a ser trilhado. A ESDI passou por algumas transformações
ao longo dos anos, mas sua contribuição ao contexto acadêmico do design continua
sendo de máxima importância.
Um tema ainda atual nos cursos de design diz respeito à formação acadêmica,
em que algumas instituições defendem uma formação mais generalista, pois, nesta
perspectiva compartimentar, o conhecimento levaria o profissional à uma prática pobre.
Já a formação integral, defende a superficialidade do curso, tornando o designer um
especialista em assuntos gerais, sem desenvolver habilidades consistentes. Esse ponto
foi considerado na escrita da segunda LDB (NIEMEYER, 2007).
74
Reforma Universitária conferiu ao Conselho Federal da Educação, a competência em
fixar currículos dos cursos de graduação brasileiros. Decorre disso os currículos mínimos
profissionais dos cursos de graduação e suas habilitações, às Instituições de ensino
coube a escolha dos componentes curriculares complementares (optativas). Formou-
se, assim, profissionais presos às estruturas rígidas, com pouco ou nenhum senso de
mudança social, tecnológica e científica focados no processo de desenvolvimento da
sociedade (COUTO, 2008).
Com isso, a educação deveria pautar-se nos Artigos 206, 207 e 208, que tratam
dos deveres da educação brasileira:
75
Segundo Couto (2008), em abril de 1994, a Secretaria de Educação Superior do
Ministério da Educação e do Desporto criou a comissão de especialistas de Ensino das Artes
e do Design (CEEARTES). Ela representava associações e instituições de ensino nas áreas
de Artes Plásticas, Música, Dança, Teatro, Educação Artística e Design. Suas atividades
encerraram em dezembro de 1994 e uma nova comissão foi criada somente em 1996.
A 3ª LDB, de 1996, partia de uma análise crítica do cenário educacional, que pos-
sibilitou a ampliação da dimensão política das instituições de ensino superior, tornando-as
responsáveis pelas respostas às efetivas demandas sociais e aos avanços tecnológicos e
científicos do país. No campo do design, vemos a influência da pedagogia e de metodo-
logias do design alemão na Escola Superior de Desenho Industrial. Lucy Niemeyer revela,
em seu livro Design no Brasil: origens e instalação (2007), o contexto político de criação
das escolas de design de maior relevância na história do país (COUTO, 2008).
76
Em 1997, as diretrizes curriculares de bacharelados em design tiveram início
sob a regência da CEEARTES. Só em março de 1998, foi criada a CEEDESIGN (Comissão
de Especialistas de Ensino das Artes e do Design) que estabeleceu alguns princípios
básicos (COUTO, 2008):
77
4. Incentivar uma sólida formação geral, necessária para que o futuro
graduado possa vir a superar os desafios de renovadas condições
de exercício profissional e de produção do conhecimento,
permitindo variados tipos de formação e habilitações diferenciadas
em um mesmo programa.
5. Estimular práticas de estudos independentes, visando uma
progressiva autonomia profissional e intelectual do aluno.
6. Encorajar o reconhecimento de conhecimentos, habilidades e
competências adquiridas fora do ambiente escolar, inclusive as
que se refiram à experiência profissional julgada relevante para
área de formação considerada.
7. Fortalecer a articulação da teoria com a prática, valorizando
a pesquisa individual e coletiva, assim como os estágios e a
participação em atividades de extensão, as quais poderão ser
incluídas como parte da carga horária.
8. Incluir orientações para a condução de avaliações periódicas, que
utilizem instrumentos variados e sirvam para informar, a docentes
e discentes, acerca do desenvolvimento das atividades didáticas
(BRASIL, 2002, p. 3).
Neste momento, você deve estar se perguntando como iniciar uma pesquisa
em design, e o mais óbvio seria responder “por um problema”. Isso nos coloca num
paradoxo, se produzir design está relacionado à solução de problemas e a pesquisa
em design está relacionada à solução de um problema, logo, toda produção em design
é uma pesquisa? Bom, a resposta para essa pergunta pode ser sim ou não. Mas vamos
com calma, pois o assunto demanda cautela. Podemos dizer que a pesquisa em design
decorre de um problema projetual ou conceitual/teórico. Em grande parte, questões
projetuais são amplamente discutidas a nível de graduação, porém, não exclusivamente.
No entanto, a grande parte dos cursos de graduação pressupõe o desenvolvimento de
um trabalho de conclusão de curso que tenha foco no projeto. Já as pesquisas de ordem
conceitual/teórica são desenvolvidas em grande parte em cursos de pós-graduações. A
dica aqui é que antes de se focar em um projeto ou numa pesquisa, você tente identificar
qual área do design está mais alinhada com seus interesses pessoais e profissionais.
78
Falar sobre o campo de atuação do designer nos dias de hoje é cair em um grande
e, por vezes, redundante emaranhado de nomenclaturas que nos levam, cada vez mais,
a um afunilamento da profissão. Esse cenário é possível devido a profusão de suportes
e mídias que a sociedade contemporânea tem lidado nas rotinas mais básicas: desde
assistir a um filme no streaming de sua preferência, até realizar transações bancárias
por meio do seu smartphone. O design se fragmentou tanto, e não entenda isso como
um aspecto negativo da área, que hoje precisamos cada vez mais de especialistas em
assuntos bem específicos. Outro fator é que, apesar desta especificidade, também é
necessário ter um contexto amplo do design. Experimente colocar num buscador na
internet a combinação “design” e “profissão”. Certamente o número de links será bem
expressivo, assim como a diversidade de respostas.
NOTA
O termo streaming serve para indicar as transmissões contínuas de distribuição
de conteúdo multimídia via internet.
Para que você vislumbre um pouco da diversidade do design, segue aqui uma
lista de alguns resultados encontrados em uma breve pesquisa, desenvolvida em um
site de busca na internet:
• Design digital.
• Design de produto.
• Design gráfico.
• Design de embalagens.
• Design de serviços.
• Design de interiores.
• Design de ambientes.
• Design têxtil.
• Design social.
• Design de softwares.
• Ecodesign.
• Design automobilístico.
• Design da informação.
• Design de tipos.
• Design de mobiliário.
• Design de animação.
• Design de joias.
• Design de games.
79
• Design de autor.
• Design de interface e interação.
• Design de moda.
• Design editorial.
• Design de identidade.
• Design de experiência.
DICAS
Assista ao vídeo Qual área de design escolher? Para conhecer um pouco sobre
algumas áreas do design, disponível no YouTube, neste link: https://www.
youtube.com/watch?v=J9rDtUxIo68.
Não se preocupe, é muito cedo para que você tenha domínio sobre todas as
áreas do design, afinal, estamos aqui fazendo uma breve introdução a este contexto. Este
volume de atuações gera, em território brasileiro, a problemática do não reconhecimento
da profissão do design. Imagino que neste momento você possa estar pensando: “Nossa!
Como?”. Mas é isso mesmo, ainda não temos o reconhecimento dessa profissão.
Com o que você estudou no Tópico 1, já pode inferir que o design é um dos
responsáveis pelo seu bom desempenho na leitura deste texto, independentemente de
você estar lendo no computador, smartphone ou impresso. Existe um design por trás
disto, e ele foi pensado na efetividade do conteúdo e no seu conforto. No Tópico 2 você
viu que a profissão existe em diversos lugares do mundo e, no Tópico 3, que no Brasil,
ainda que não sob a nomenclatura do design, a profissão atravessou os séculos e foi se
atualizando ao passar do tempo.
E para que você não fique desesperançoso, ou que isso lhe faça desistir do
curso, sugiro que você faça a leitura do veto despachado pela então presidenta
Dilma Rousseff acerca da regulamentação da profissão de designer em 2015. Reflita
criticamente sobre o que está posto ali e tente identificar alguns indícios dos motivos
para o veto. Que isso sirva de estímulo às suas reflexões sobre design e que você consiga
perceber que talvez não esteja tão errado termos a área de “design de sobrancelhas”.
Se o design contemporâneo tem alguns elos a serem fechados, talvez esse seja apenas
mais um deles. É preciso desvestir o olhar de amarras prioritariamente acadêmicas para
transcender aquilo que o próprio design tem buscado ser: um reflexo do seu tempo.
80
Despacho da presidenta Dilma Rousseff no ano de 2015 acerca da
regulamentação da profissão de designer
Atualmente, um novo projeto tramita pela Câmara. Leia, a seguir, parte do projeto
de lei nº 6.808, de 2017, proposto pelo Sr. Antonio Carlos Mendes Thame, o qual dispõe
sobre a regulamentação do exercício profissional de designer e dá outras providências.
Ressaltamos que, aqui, você encontrará parte do documento, sugerimos que busque o
documento para leitura na íntegra. Elencamos alguns dos temas discutidos no capítulo
e sugerimos que você, acadêmico, reflita sobre a necessidade dessa regulamentação e
sobre seus prós e contras.
É interessante que você faça a análise do motivo que levou ao veto do projeto
e analise, a partir da nova proposta, se ela, de fato, contempla as necessidades dos
designers e da população em geral.
81
LEITURA
COMPLEMENTAR
PROJETO DE LEI Nº 6.808, DE 2017
[...]
CAPÍTULO I
DA CARACTERIZAÇÃO E ATRIBUIÇÕES PROFISSIONAIS
Art. 2º Designer é, para os fins desta Lei, todo aquele que desempenha atividade
especializada de caráter técnico-científico, criativo e artístico para a elaboração de
projetos de design passíveis de seriação ou industrialização que atendam, tanto
no aspecto de uso quanto no aspecto de percepção, necessidades materiais e de
informação visual.
82
III- aos que possuam devidamente revalidado e registrado no País diploma de
instituições estrangeiras de ensino superior de Design ou os que tenham esse
exercício amparado por convênios internacionais de intercâmbio.
CAPÍTULO II
DO USO DO TÍTULO PROFISSIONAL
83
CAPÍTULO III
DO EXERCÍCIO ILEGAL DA PROFISSÃO
Art. 7° A partir da entrada em vigor desta Lei, a pessoa física ou jurídica que
usar a denominação designer ou empresa de design sem cumprir os critérios acima
estabelecidos estará sujeita a advertência, após denúncia ao órgão fiscalizador, com
um prazo de 180 (cento e oitenta) dias para regularizar sua situação. Esgotado esse
prazo, a pessoa ou empresa que permaneça em desacordo com esta Lei estará sujeita
às sanções previstas no Decreto-Lei nº 3.688, de 3 de outubro de 1941.
CAPÍTULO IV
DA RESPONSABILIDADE E AUTORIA
Art. 8º Para efeitos legais, os projetos de design serão considerados obras intelectuais
nos termos da Lei nº 9.610, de 19 de fevereiro de 1998 – Lei de Direito Autoral, vigente no País.
CAPÍTULO V
DA FISCALIZAÇÃO DO EXERCÍCIO DA PROFISSÃO
Art. 10. Os profissionais que preenchem os requisitos previstos nesta Lei ficam
obrigados ao registro no Ministério do Trabalho e Emprego.
Art. 11. A pessoa física e jurídica de que trata esta Lei responde administrativa, civil
e penalmente pelos danos causados em decorrência do exercício da atividade profissional.
CAPÍTULO VI
DO REGISTRO PROFISSIONAL E DA VIGÊNCIA
Art. 12. Os profissionais habilitados na forma desta Lei somente poderão exercer
a profissão após registro no Ministério do Trabalho e Emprego.
84
JUSTIFICATIVA
85
de cursos no país, mais de 380 faculdades, deve haver obrigatoriamente uma instancia
de verificação da competência mínima necessária ao exercício da profissão. Design
está entre as áreas que têm especificidades técnicas que precisavam ser avaliadas por
especialistas na área, semelhante a carreiras como a dos arquitetos ou dos engenheiros.
Portanto o Design não é uma profissão nova. Essa sacrificada profissão continua
sem este instrumento fundamental de exercício, legitimação e reconhecimento que é
a Regulamentação dos Designers. Sem essa regulamentação, o profissional não pode
assinar seus próprios projetos, ser contratado por órgãos públicos e alguns concursos
exigem um arquiteto junto para assinar em seu lugar. Também não pode participar de
licitações, pregões e tantas outras oportunidades de mercado.
À luz de todo o exposto, solicito aos nobres pares o apoio necessário à célere
aprovação da presente proposição, lembrando que esta providência, em nível internacional,
já foi efetivada na década de 70, tanto pelos Estados Unidos como pela Europa.
86
RESUMO DO TÓPICO 4
Neste tópico, você aprendeu:
• O contexto da pesquisa nas academias no Brasil foi permeado por diversos eventos
políticos e conheceu algumas das profissões da área do design.
87
AUTOATIVIDADE
1 Analise a grade curricular de seu curso e identifique as disciplinas que são de seu
maior interesse, justifique a sua escolha. Reflita sobre a área do design lhe desperta
mais interesse e como essas disciplinas podem colaborar com a sua formação
profissional.
88
UNIDADE 2 —
ENTENDENDO O CONTEXTO
CONTEMPORÂNEO DO
DESIGN
OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM
A partir do estudo desta unidade, você deverá ser capaz de:
• identificar os caminhos que se anunciam no campo do design por meio das tendências
que nos guiam para o futuro na profissão.
PLANO DE ESTUDOS
A cada tópico desta unidade você encontrará autoatividades com o objetivo de
reforçar o conteúdo apresentado.
CHAMADA
Preparado para ampliar seus conhecimentos? Respire e vamos em frente! Procure
um ambiente que facilite a concentração, assim absorverá melhor as informações.
89
CONFIRA
A TRILHA DA
UNIDADE 2!
Acesse o
QR Code abaixo:
90
UNIDADE 2 TÓPICO 1 —
AS PERSPECTIVAS DO DESIGN
CONTEMPORÂNEO
1 INTRODUÇÃO
Falar em design na contemporaneidade pressupõe um olhar atento ao seu
desenvolvimento ao longo do tempo, com atenção especial ao contexto artístico que foi
construído no período do modernismo.
Bons estudos!
91
Foi preciso o mundo acompanhar a consolidação de duas Guerras Mundiais,
morte em massa de pessoas, outras guerras, fome, miséria, violência para que os
pressupostos de progresso da modernidade fossem revistos. Nem mesmo as conquistas
espaciais e os avanços das ciências foram suficientes para manter o espírito progressista
em alta (RAHDE; CAUDURO, 2005). Para falar em design na contemporaneidade é
preciso considerar a mudança ocorrida em nível mundial, que inicialmente era orientada
pela ideia de produção em massa – tudo igual e em grande quantidade para todos – a
qual cedeu espaço para a personalização (CARDOSO, 2013).
92
O pós-modernismo foi permeado por uma reação e não simplesmente
uma rejeição ao moderno e suas regras, no design percebe-se a não limitação ou
diferenciação entre alta e baixa cultura popular, ampliando, assim, as possibilidades e
a expressividade da linguagem visual, tornando-se mais íntimo da cultura dominante.
Surgem formas híbridas de comunicação e as características expressivas da arte
passam a ser exploradas (BOMENY, 2012).
A aparência das coisas começa a ser valorizada, assim, design, embalagem, publi-
cidade – a imagem de um produto ou serviço – precisa ser interessante. Adquirimos mais
que produtos, consumimos signos, objetos de desejo, buscamos diferenciação nos produ-
tos, a abundância ao invés da economia de elementos. A publicidade inaugura um apelo
emocional ao invés de salientar a performance dos produtos (RAHDE; CAUDURO, 2005).
93
A mistura de ideias e representações do pós-moderno objetiva incluir sem excluir,
passa por uma desconstrução extraindo diferenças e polissemias que se apresentam à
percepção explorando novos significados para o imaginário. Os cânones propostos pelas
escolas e movimentos são discutidos e colocados à prova, diante da busca por uma
liberdade de construir e criar imagens. O pós-moderno leva o design a outras direções,
converge conhecimento racional e onírico reinterpretando e transformando conceitos
estéticos que resultam em imagens complexas (RAHDE; CAUDURO, 2005).
DICAS
Ao longo da história do design alguns nomes se destacaram. Para conhecer alguns
trabalhos icônicos do design pós-moderno assista ao vídeo que está disponível
no YouTube no seguinte link: https://www.youtube.com/watch?v=hYdCPoTJ0Ec.
94
consolidar. Cardoso (2008) aponta que o desafio mais expressivo para os designers é a
busca por soluções que se consolidem em nível de qualidade e densidade baseados em
metodologias projetuais concernentes à própria internet.
FONTE: <http://twixar.me/87Lm>.
Acesso em: 29 jun. 2020.
FONTE: <http://twixar.me/Y7Lm>.
Acesso em: 29 jun. 2020.
95
FIGURA 3 – KATHERINE MCCOY – POSTER DO CRANBROOK GRADUATE
PROGRAM IN DESIGN, 1989
FONTE: <https://cultureofdesign.files.wordpress.com/2014/04/figure-1.jpg?w=356>.
Acesso em: 29 jun. 2020.
96
Diversas frentes se transformaram com o passar do tempo: o crescimento
do liberalismo econômico de um mundo globalizado, o surgimento de computadores
superpotentes, com capacidade de criar imagens totalmente sintéticas, e o desenvolvimento
da internet que vem criando uma nova cultura: a digital. O crescimento de uma mentalidade
de responsabilidade ambiental também marca a contemporaneidade (CARDOSO, 2013).
A era da informação é marcada por visões fragmentadas que só podem ser for-
madas pelo indivíduo. Trata-se do uso de meios eletrônicos para a comunicação, para
forjar a imagem, para criar ambientes realísticos e totalmente virtuais (MACHADO, 2001,
CAMPOS; SILVA, 2008). Atrelada à sua consolidação, mudanças essenciais são perce-
bidas em diversos setores: na fabricação, na distribuição, nas finanças. A imaterialidade
virou palavra de ordem e passou a influenciar diversos setores (CARDOSO, 2013).
97
Cardoso (2008) defende que a miniaturização de componentes eletrônicos nos
últimos anos são um marco na história da tecnologia, para ele, esse processo modificou
a relação entre forma e função, técnica e materiais tornando-as mais casual do que
causal. Surgem os conceitos de interatividade e de interação por meio de interfaces
gráficas dotadas dos mais diversos objetivos. Abre-se mais uma porta para designers: a
experiência no meio digital precisa ser projetada.
NOTA
Commodities é uma expressão do inglês que compõe o vocabulário econômico
e refere-se a um determinado bem ou produto de origem primária que é
comercializado em bolsas de mercadorias e valores no mundo todo. Possui
um grande valor comercial e estratégico e engloba recursos como minerais,
vegetais ou agrícolas.
98
O papel do design após a transição da era industrial para a era da informação
e da criatividade busca dar conta das relações entre melhorias no bem-estar social
e no desenvolvimento urbano. Baseado numa abordagem com objetivo de promover
a qualidade de vida e facilitar a interação no campo econômico, tecnológico, social,
ambiental da sociedade contemporânea. Com o compromisso de criar um design
inovador foram desenvolvidas estratégias que sejam adaptáveis à realidade do século
XXI buscando atender às necessidades identificadas (SANTOS-DUISENBERG, 2015).
O período que segue a 1980 foi permeado por incertezas, no campo do design o
rompimento dos paradigmas modernistas faz com que a área seja imersa em um período
mais esperançoso e de rápido desenvolvimento. Foi com a contribuição de designers
como Philippe Starck e do grupo italiano de Menphis e do desenvolvimento do computador
que as normas rígidas que até então vigoravam deram espaço à experimentação. Na era
digital, os conceitos antes consolidados já não se aplicam mais, os recursos informáticos
tornam os processos de produção mais fluídos (CARDOSO, 2008).
Nas décadas de 1980 e 1990 nomes como Neville Brody, April Greiman e David
Carson começam a redefinir um novo estilo no design fundamentado na evolução das
tecnologias digitais que viabilizaram exceder os limites da tradição tipográfica e de
diagramação.
99
FIGURA 6 – DAVID CARSON - EMIGRE INC., RUDY
VANDERLANS, ZUZANA LICKO
FIGURA 5 – APRIL GREIMAN, BRANCA DE NEVE + OS
SETE PIXELS, UMA NOITE COM
APRIL GREIMAN 1986
FONTE: <https://www.moma.org/collection/
works/7177>. Acesso em: 29 jun. 2020.
FONTE: <https://www.moma.org/collection/
works/112325>. Acesso em: 29 jun. 2020.
Ao longo dos anos 1990 o bom gosto no design passou a ser deixado de lado:
surge a estética do feio, do vulgar, do cotidiano e do feito à mão. Tipografias manuais
começam a ser produzidas e neste ramo se destaca o grupo House Industries, que
contam com desenhos de Barry Deck e Scott Makela. As tecnologias digitais propiciaram
uma grande produção de tipos que culminou com o questionamento acerca das
classificações tipográficas, já que alguns designers consideravam que as regras
anteriores caíram em obsolescência (BOMENY, 2012).
100
O mercado globalizado, no qual os mesmos produtos são comercializados em
lugares distintos, propiciou o desenvolvimento de uma comunidade multinacional.
Esse processo é sentido no design a partir do abandono de referências regionais ou no
uso comedido delas de forma que não comprometa nem o produto nem a competição
internacional. Pensar no desenvolvimento de projetos na contemporaneidade implica
em pensar que ele será utilizado por consumidores de diversas localidades do mundo e
esse processo faz com que as empresas estejam em constante briga por uma fatia do
mercado (MORAES, 1997).
Isso não quer dizer que produtos que tragam a marca da regionalização
proeminente fracassará, pelo contrário, continuarão existindo, porém sem expressividade
no mercado global (MORAES, 1997).
Moraes (2006) afirma que as origens da globalização são debatidas por diversos
autores que defendem diferentes perspectivas. Para uns, o desenvolvimento da
globalização iniciou-se na antiguidade, entre estes, alguns consideram as Cruzadas
como um exemplo de expansão e colonialismo ou até mesmo o período das grandes
navegações. De outro lado, o autor anteriormente citado, defende que pode ser
prematura essa avaliação, uma vez que as características de uma globalização em
nível mundial possuem outras particularidades, no entanto, não podemos negar que a
expansão de territórios unificou grupos isolados e de identidades sociais distintas.
Outros estudiosos, como Gilpin, por exemplo, defende que o início da globalização
converge com o período em que a Inglaterra se torna uma potência hegemônica devido
ao seu desenvolvimento industrial, seu império colonial e sua superioridade naval. Para
alguns teóricos o processo de evolução do capitalismo ocidental também contribuiu
para o modelo de globalização que temos atualmente (MORAES, 2006).
101
É no século XX que os Estados Unidos surgem como centro de desenvolvi-
mento tecnológico, assumindo a supremacia da produção em larga escala industrial,
consolidação de empresas multinacionais e vasto potencial militar, que garantiu sua
soberania ao longo do século XX. A classe capitalista teve seu poder ampliado pelo alar-
gamento do mercado consumidor resultando em maior lucratividade (MORAES, 2006).
O conceito de globalização tal qual conhecemos hoje foi consolidado nos anos
de 1990 e devido a sua complexidade Robertson a definiu como Fase da Incerteza,
considerando as transformações aceleradas, radicais, controversas e independentes que
aconteceram neste período. Giddens, em oposição à Robertson, defende que a origem
da globalização decorre do processo de modernização ocidental. Considerando essas
duas acepções, pode-se dizer que a globalização se refere a uma rápida intensificação
das relações sociais em escala planetária, nas quais localidades completamente
diferentes conseguem criar relações com as demais (MORAES, 2006).
O design começa a envolver-se não apenas com a aparência dos produtos, mas
também com o desenvolvimento de criações funcionais e estéticas que podem ser expres-
sas por meio de bens ou serviços. Devido à dimensão do seu escopo, o setor do design pode
ser considerado complexo, associado a isto temos também a subjetividade envolvida na
sua definição e suas características particulares (SANTOS-DUISENBERG, 2015).
102
A eficiência dos meios de comunicação e transporte contemporâneo reduzem
as distâncias e viabilizam que industrias possam se estabelecer em certas regiões e
países, nestes casos, questões estratégicas são avaliadas com maior ênfase, como
por exemplo, mão-de-obra barata, acesso à matéria prima, interesses econômicos e
políticos, entre outros. A diferenciação no mercado destes produtos se dá por meio
da qualidade e do seu design, ou seja, da criatividade empregada na solução de um
problema (MORAES, 1997).
103
A década de 1990 foi marcada por franca expansão e desenvolvimento da
globalização, neste período o Brasil foi reconhecido como um país recentemente
industrializado apresentando grande potencial de crescimento e consumo interno. Por
este motivo, o país começa a ser visto com bons olhos por investidores mundiais e
empresas transnacionais, pelos mercados de maior relevância no mundo e por países
como China e Coréia do Sul (MORAES, 2006).
104
que lhe garantiu o oitavo lugar entre os países com maior quantidade de automóveis,
associado ao fato de ser o maior produtor mundial de veículos, assumindo o décimo
segundo lugar em exportação mundial dos mesmos (MORAES, 2006).
Além disto, muitos empresários locais não conseguem perceber que o design
pode atuar como elemento diferenciador e que pode ser empregado numa perspectiva
estratégica. Outro fator que corrobora para que o design seja negado no mercado local
decorre da falsa ideia de que a criação de novos produtos implica em alto investimento
sem perceber o potencial do design na construção de uma identidade e como fator de
credibilidade (MORAES, 1997).
Baseado nisto, podemos afirmar que em pleno anos 2000, a globalização não
se mostrou como uma cura para os problemas do país, tendo resultado, na verdade, em
uma realidade mais complexa que a realidade local. O processo de industrialização no
Brasil se deu a partir da transformação de um país agrícola num país exportador de bens
industriais em escala mundial (MORAES, 2006).
ATENÇÃO
Para que você consiga entender melhor o conceito de globalização assista
ao vídeo no YouTube, disponível neste link: https://www.youtube.com/
watch?v=h5WjNMGztvE.
105
Do modelo de consumo americano aplicado em praticamente todos os
continentes decorre a produção constante da indústria, consequentemente, a oferta e
a demanda crescem na mesma medida. O desenvolvimento do consumo é a garantia de
que a economia se mantém em desenvolvimento, em contrapartida as crises locais são
sempre sentidas em nível global. Os problemas ambientais tornam-se mais evidentes
e tem no processo de industrialização e consumo seu maior problema. Pesar questões
ambientais com as do mercado é uma tarefa que o designer contemporâneo tem que
considerar e repensar novas formas de consumo talvez seja uma das possíveis saídas
(CARDOSO, 2008).
ATENÇÃO
Ainda que esta ideia de fragmentação e sobreposição de imagens seja
abordada com maior ênfase na era da informação, não podemos desconsiderar
que o design sempre se propiciou disto, desde os tempos da modernidade,
quando litografia, rotogravura, fotolito e offset já se constituíam do meio
para fragmentação, uma vez que diversos fragmentos de informação ali se
sobrepunham com o objetivo de comunicar algo.
106
Outro dado importante diz respeito ao nível de capacitação de um país, que
envolve questões além do seu potencial de produção. No que tange à informação e
comunicação considera-se quantos sujeitos possuem bens materiais informáticos e
de comunicação, por exemplo. O volume de materiais publicados – revistas, periódicos,
jornais - compõe o índice de comunicação de um país. A quantidade de computadores
pessoais e de acesso à internet aponta o nível de desenvolvimento, informação e
cultura de cada país e esse é um dos fatores que faz com que este período que estamos
vivendo seja conhecida como era da informação (MORAES, 2006).
DICAS
Para consultar o status do ensino em design no Brasil, você pode acessar
a página do e-MEC e verificar informações sobre os cursos na área ativos e
inativos. Acesse o link: http://emc.mec.gov.br.
107
As possibilidades que vem se apresentando no campo do design denota
a pluralidade da área e o seu crescimento é inevitável na medida que novos modos
de se comunicar estão se consolidando. Para aqueles que ingressam no mercado de
trabalho, a fragmentação e a flexibilidade pode inibir, pois as garantias de sucesso são
praticamente inexistentes. O design também ampliou seu mercado, além de atender
empresas estatais ou multinacionais, pequenos empresários, associações, entidades
governamentais, entre outros, passaram a reconhecer a necessidade de contar com os
serviços de um designer (CARDOSO, 2008).
Quando fala-se que designers podem transformar o mundo, ainda que essa
ideia soe um pouco apocalíptica, essa afirmação deve ser encarada considerando o
contexto em que estamos inseridos, principalmente quando falamos de forma local:
no Brasil, somos carentes em sistemas de organização coletiva, precisamos ter maior
assertividade na distribuição de informações, necessitamos de planejamento estratégico
nas mais diversas instâncias e necessitamos urgentemente de soluções criativas para
problemas que parecem insolúveis (CARDOSO, 2008).
108
RESUMO DO TÓPICO 1
Neste tópico, você aprendeu:
109
AUTOATIVIDADE
1 Baseado no que você leu sobre o estilo pós moderno organize uma prancha com
imagens que façam referência a projetos de designers pós modernos.
110
UNIDADE 2 TÓPICO 2 -
TEORIAS DO DESIGN
1 INTRODUÇÃO
O desenvolvimento das teorias do design deriva do desenvolvimento de
metodologias em design, ou seja, enquanto o método apresentava metas claras e o
compromisso em tornar transparente o processo em consonância com as ferramentas
necessárias para a produção, as concepções teóricas do design eram bastante difusas.
Bons estudos!
111
ser legitimada. Sua construção se dá por meio da observação e da atuação, e pressupõe
que exista um objeto de estudo e reflexão. Ao confrontar teoria e prática, esta última
leva vantagem, no entanto, devemos estar atentos ao fato de que toda prática está
impregnada de teoria, na mesma medida em que boas ideias perdem o valor, caso não
sejam aplicadas (BONSIEPE, 1997).
Para Bonsiepe (2012) o discurso atual do design, que deveria abordar questões
projetuais, está cedendo espaço para outras problemáticas: branding, design de
experiência, design estratégico, design emocional, entre tantos outros que se tornaram
centro das discussões na área. A concepção de design hoje está mais voltada para o
produto ou para o resultado final do que para seus processos. Não por acaso que o
termo design passou a ser entendido, no contexto popular, como uma ‘gourmetização’
de produtos: seja na aparência de uma geladeira ou na aparência das interfaces diversas
que utilizamos diariamente.
Esse afastamento que o design está tendo da sua raiz projetual, da capacidade
de criar soluções inteligentes para problemas, associou o Design a valores efêmeros e
de rápida obsolescência. Projetou-se objetos de glamour cujo apelo estético formal é o
que o coloca em evidência. Outros valores associados ao Design contemporâneo dizem
respeito aos objetos caros, com praticidade questionável, formas extravagantes e cores
impressionantes. Assim, o design assumiu uma aura midiática, num espetáculo em que
mesmo publicações respeitadas da área caem aos encantos do design bonito cujos
objetivos são atingir melhores índices comerciais e de marketing (BONSIEPE, 2012).
112
Ao falar da importância da teoria, Bonsiepe (1997) alerta para o fato de que
toda prática profissional está inserida no contexto de um discurso, cujos domínios
discursivos variam em grau de diferenciação e rigor. No campo do design, o discurso
ainda não consegue atender estes dois fatores: diferenciação e rigor. Assim, a teoria
auxilia no desenvolvimento de uma autorreflexão voltada ou orientada pela atividade
projetual. A teoria tem como objetivo tornar visível o que já está posto enquanto prática.
Ao mesmo tempo ela coloca em discussão aquilo que, em tese já estaria consolidado.
Em outras palavras, a teoria permite que se coloque em dúvida as opiniões existentes
sobre determinado tema.
Além destes pontos, é possível perceber que devido a sua proximidade com a
arte, a teoria do design não tenha conseguido se instaurar desde seu início. Entendido
por muito tempo como uma subcategoria da arte, cuja teoria e registro histórico ficava
a cargo da história da arte, o design não galgou seu espaço enquanto teoria autônoma
(SCHNEIDER; SPERBER; BERTUOL, 2010).
DICAS
Para conhecer um pouco mais sobre a teoria desenvolvida na Bahaus, assista
ao vídeo O ABC da Bahaus – A teoria do design, disponível no YouTube através do
endereço a seguir: https://www.youtube.com/watch?v=FyAFOt_372I.
113
Considerando que o design é uma área que se expressa prioritariamente pelo
visual, não é de se estranhar que as teorias que ele erigiu tenha um certo distanciamento
das questões projetuais, já que a discursividade e a visualidade possuem códigos
comunicativos distintos entre si. A construção de uma teoria do design precisa equacionar
esses dois códigos e usá-los de forma a transformar a área e o campo de ensino do design.
Falar em design na contemporaneidade é ir além da identificação de habilidades, é falar das
questões que são inerentes ao projeto, é construir um discurso que se retroalimente da
prática (BONSIEPE, 1997).
DICAS
Para conhecer um pouco mais sobre a teoria do funcionalismo, assista ao vídeo
Design Funcionalista, disponível no YouTube, no link: https://www.youtube.com/
watch?v=jS2TPIKyX6g.
114
Bürdek (2006) defende que o conceito de Sullivan surgiu de um mal-entendido,
na sua tese pode-se encontrar a explicação sobre função a qual está relacionada com
a dimensão semiótica dos objetos. No entanto, não podemos descartar as ideias de
Sullivan, que foram tão importantes e que, até hoje, se discute a funcionalidade no
design (CARDOSO, 2013).
O objetivo deste manifesto era se opor a Grã-Bretanha rica dos anos 1960 na
busca por uma radicalização no campo do design, pois consideravam que os produtos
produzidos eram despidos de crítica. Influenciados pelas ideias da Escola de Frankfurt
e pela contracultura defendiam que o design não era um processo neutro e sem valor.
Aliando-se à economia, trouxe a superfície uma perspectiva humanista na teoria do
design. Este manifesto foi atualizado e relançado com título de First Things First 2000.
115
FIGURA 8 – MANIFESTO FIRST THINGS FIRST - 1964
DICAS
Para ler o manifesto First things First (1964) na íntegra, acesse o endereço: http://
www.revistacliche.com.br/2015/02/clichecast44-first-things-first/.
116
Quando o design começou a perceber que não era ele quem imprimia
influência na sociedade e sim a economia, as técnicas, questões sociais e culturais
que influenciam o design e a estética dos projetos, uma nova maneira de pensar o
projetual ganha espaço para se construir (SCHNEIDER; SPERBER; BERTUOL, 2010).
117
cuida das cicatrizes, tentando torná-las mais “bonitas” e, portanto, curá-las. Com
isso, o design fica com o papel de tornar o capitalismo mais aprazível, a ponto de ser
confundido com uma necessidade. Seguem publicações com este apelo, implicando
em uma estagnação ao design, que refletiu no ensino e que está contida, ainda, na
separação entre teoria e prática do design (BÜRDEK, 2006).
Foi com o livro Design para o mundo real, do designer americano Victor
Papanek, que uma mudança de paradigma estava sendo alicerçada, pois, já no início
do livro, ele problematiza a teoria da função segue a forma. O objetivo de convocar
designers a refletirem sobre soluções que fossem aplicadas ao mundo real mostra que,
até então, vigorava a ideia de um design que não considerava o contexto no qual estava
inserido: fome, miséria, conflitos raciais e políticos, guerras civis, por independência, o
desenvolvimento da indústria armamentista nuclear sinalizava uma crise ambiental que
fora anunciada pela Organização das Nações Unidas (ONU) (CARDOSO, 2013).
DICAS
Para conhecer um pouco mais sobre o pensamento de Victor Papanek, assista
ao vídeo Filosofia del Diseño, disponível no YouTube no endereço: https://www.
youtube.com/watch?v=4Y_Af94yZVs. Fique atento, pois você pode acionar a
legenda para acompanhar a tradução.
118
Foi na década de 1990 que a Schwäbisch Gmünd propôs uma ênfase na
formação teórica. Além das unidades acadêmicas, outras instituições passaram a
dar atenção à teoria do design, entre elas podemos citar: Sociedade Alemã de Teoria
e Pesquisa Em Design (2002) e a Rede Suíça de Design (2004), esta última fora
reconhecida por atuar como uma rede nacional que fomentou a pesquisa em design
junto às escolas superiores de design (SCHNEIDER; SPERBER; BERTUOL, 2010).
NOTA
Elaborada por C. K. Prahalad e Gary Hamel, a Teoria da competência
central (Core competences) permitiu definir as principais forças ou vantagens
competitivas que uma empresa possui. Ela comporta uma combinação de
recursos que permitem um negócio ser competitivo em um mercado. No
design, implicou reflexões sobre como a comunicação de um produto pode
potencializar o consumo.
De acordo com Best (2012) a gestão diz respeito às pessoas e aos processos
utilizados no processo de gerenciamento. Agrega também procedimentos para
organização, controle e administração de uma empresa. Baseado nisto, entende-se
por gestão do design métodos de gerenciamento de pessoas, processos, projetos e
procedimentos empregados na criação de produtos, serviços, ambientes e experiências
que compõe o nosso cotidiano.
119
Um marco foi o resumo apresentado pelo inglês Nigel Cross em Seul que
apresentava os ciclos do design (que duravam cerca de 40 anos) e se configuravam
pontos chave das mudanças de paradigmas no design (BÜRDEK, 2006):
120
IMPORTANTE
Da Declaração de Bolonha deriva o Processo de Bolonha (1999), um acordo
assinado por ministros da Educação de diversos países europeus. Processo
figura uma declaração conjunta que deu início a um processo que objetiva
facilitar o intercâmbio de estudantes de graduação além da adaptação de
conteúdos de acordo com as demandas sociais. Esse processo viabilizou a
criação do Espaço Europeu de Educação Superior.
Foi em meados dos anos 2000 que Dieter Rams – diretor chefe da empresa
Braun e representante das ideias da boa forma – percebeu que o design funcional
havia passado por uma transformação. Para ele, o designer passou a ter uma nova
responsabilidade social uma vez que o designer contemporâneo deve estar atento
à redução de custos operacionais e de produção. Também deve estar alinhado com
o desenvolvimento de formas de utilização mais seguras e eficientes, com vistas a
promover a sustentabilidade ambiental incentivando atitudes positivas (SCHNEIDER;
SPERBER; BERTUOL, 2010).
DICAS
Um dos nomes expressivos da boa forma é Deter Rams. Ele organizou
dez princípios para avaliar um bom design. Acompanhe o vídeo O seu
Design é um bom Design? 10 princípios de Dieter Rams para o bom design,
disponível no YouTube no seguinte endereço: https://www.youtube.com/
watch?v=E95pnSEVdkY.
Pensar nos motivos pelos quais uma teoria do design é necessária nos aponta
para dois caminhos, segundo Schneider, Sperber e Bertuol (2010) o primeiro aponta
para o enfraquecimento da área e o segundo para a complexidade do design, o qual
abordaremos a seguir. O primeiro ponto implica em um enfraquecimento do design
devido à falta de fundamentação teórica. Este autor parte do pressuposto de que uma
disciplina, para ser levada a sério, pressupõe uma combinação entre teoria e prática que
no design podemos conjugar em habilidades artística e manual associada à inteligência
projetiva que está associada ao discurso. Refletir sobre um problema faz parte de
um processo criativo, o design precisa concatenar sua práxis com questões sociais e
técnicas que denotam o caráter complexo do design.
121
Para refletir sobre a função social do design, Norberto Chaves (2020)
aponta dois pontos que merecem atenção antes de iniciar tal discussão: a primeira
perspectiva para a abordagem do design social está relacionada com a proposição
de normatizações para o design, no sentido de se estabelecer regras que indicam
caminhos para o estreitamento destas funções sociais. O segundo ponto versa a partir
de uma perspectiva humanitária ou solidária. Combinando essas duas perspectivas,
Chaves (2020) defende as seguintes acepções: uma delas diz respeito ao fato de o
design ter somente função social, considerando um sentido amplo ao design na
realidade atual, a prática e consequentemente todos os seus produtos tem uma
função social, pois são dirigidos à sociedade, influenciando-a independente do juízo
que façamos. Paradoxalmente, Chaves (2020) afirma que o design tem uma escassa
função social quando observado da perspectiva humanista. Para ele, o design só
conseguirá assumir um compromisso humanista quando se comprometer frontalmente
com as necessidades reais dos usuários, sem focar em questões de mercado, uma vez
que o neoliberalismo coloca o design numa posição antissocial, tornando o aspecto
humanitário praticamente nulo quando observado na totalidade. Porém, não se pode
negar a existência de casos isolados.
Por fim, o autor supracitado afirma que o design poderia ter uma função social,
desde que contrapondo a acepção humanista com vistas a sanar os problemas da
realidade. Porém, ele defende que esta modalidade de design pode acontecer apenas
de forma marginal. Em defesa da área, Chaves (2020) propõe que, assumindo uma
posição intelectual e ética, possamos refletir sobre essa marginalidade identificando as
questões necessárias para que esse compromisso com o social se dê de forma coerente.
A fim de ilustrar o que Chaves (2020) defende como uma prática social do
design veja alguns projetos:
122
FIGURA 9 – ELIODOMESTICO DE GABRIELLE DIAMANTI
FONTE: <https://exame.com/wp-content/uploads/2016/09/size_960_16_9_eliodomestico.jpg?quali-
ty=70&strip=info&resize=680,453>. Acesso em: 3 jul. 2020.
123
FIGURA 13 – VISTA DA COZINHA
FIGURA 12 – CASA MÓVEL FECHADA
DA CASA MÓVEL
A teoria empírica deve ser naturalizada na área do design e, para tanto, precisa
organizar-se de forma racional, de forma genérica e ordenada, considerando a realidade
objetiva do design. É preciso explorar o conhecimento implícito e o conhecimento tácito. É
necessário também construir o conhecimento sobre a retórica visual e pensar em métodos
que não sejam restritivos, mas que sejam capazes de dar conta da pluralidade de temas
do design. Alinhar esses saberes com a prática social é de suma importância, pois é do
social que decorre a implementação propriamente dita do design, é entre os sujeitos que
se dá a comunicação que ele media (SCHNEIDER; SPERBER; BERTUOL, 2010).
124
produzir reflexões de acordo com o sistema, resultando numa habilidade em identificar
os interesses comuns e individuais (SCHNEIDER; SPERBER; BERTUOL, 2010).
A teoria do design tem um caráter normativo, uma vez que toda teoria está
imersa em um contexto normativo e de valor. Basicamente, o design deve ir além dos
aspectos econômicos envolvidos na produção de bens. Esse processo de teorização
da área precisa contemplar para além deste aspecto, deve olhar para a criatividade de
forma a inserir no mercado um produto legítimo e responsável (SCHNEIDER; SPERBER;
BERTUOL, 2010).
125
RESUMO DO TÓPICO 2
Neste tópico, você aprendeu:
• Pelo fato dos métodos de produção terem um caráter objetivo, isto é, serem
diretamente dependentes das questões mercadológicas e afinarem sua produção
com a concretude, a teoria acabou por ser entendida como algo distanciado do fazer
design, visto que, por sua vez, esta não manifestaria uma (necessária) aproximação
com o mercado, no desenvolvimento de suas conceituações, desse modo, estando
delegado, por muitos, a um campo puramente especulativo ou não concreto.
126
AUTOATIVIDADE
1 Faça uma análise dos trabalhos de conclusão que já foram defendidos no seu curso.
Escolha pelo menos 2 que lhe tenha despertado o interesse e justifique.
127
128
UNIDADE 2 TÓPICO 3 -
AS TENDÊNCIAS DO DESIGN HOJE
1 INTRODUÇÃO
Ao longo deste tópico apresentaremos informações que visam dar conta do
contexto contemporâneo do design, buscando entender os processos pelos quais a área
se constitui enquanto disciplina, observando como o arcabouço teórico se construiu
com o passar do tempo.
Bons estudos!
2 DESIGN HOJE
Obviamente, tendemos a pensar que as mudanças de mundo ocorridas desde
o início do século XIX e a rápida assimilação de todas elas ao longo do século XX,
deixam para o século XXI um gostinho de que estamos vivendo um período de plena
maturidade do design. Infelizmente, nesta perspectiva, não lhe trago boas novas: sim,
o design conseguiu atingir um nível de reconhecimento enquanto área e enquanto
disciplina, mas a efervescência de ideias continua grande e com fundamentação ainda
em construção.
Surgem novas subáreas com grande frequência, fraciona-se outras até então
consolidadas, adequa-se rapidamente às possibilidades arrasadoras das tecnologias,
num cenário de vida em que o aquecimento global é uma realidade, ainda que muitos não
concordem, a ciência vem apresentando dados diariamente, a crescente segregação
social que permite que o acesso a determinados bens e serviços fiquem ao livre acesso
de poucos.
Como um vislumbre do que poderia ser este novo milênio, o escritor italiano,
Ítalo Calvino, apresentou diversas comunicações na Universidade de Harvard, onde
ele apresentava propostas para o século XXI. Obviamente, estas propostas estavam
relacionadas à literatura, porém se nos cabe neste momento uma licença poética sobre
o design do século XXI, Calvino pode nos guiar por este caminho. Para tanto, nos cabe
neste momento, pensar o design como um ato comunicativo, assim como um texto.
129
Para Calvino, leveza, rapidez, exatidão, visibilidade, multiplicidade e consistência
são valores que podem nortear nossa discussão. Esses conceitos são debatidos no
livro denominado Seis propostas para o próximo milênio, lançado no Brasil pela Editora
Companhia das Letras, com tradução de Ivo Barroso, em 1990.
Sobre a leveza, Calvino (1990) diz que ela é criada no processo de escrever
numa linguagem que é particular ao poeta. Se transpormos esse conceito para o design
podemos buscar um design que reflita sobre a maneira pela qual se comunica com
seu público, observando quais valores de fato se está passando com determinada
configuração.
130
FIGURA 16 – ÁREA EXTERNA CANUANÃ FIGURA 17 – ÁREA INTERNA CANUANÃ
Ao abordar a rapidez, Calvino (1990) defende um estilo e um pensar que seja ágil,
que tenha mobilidade, que seja desenvolto, em que divagar permite apresentar diversas
narrativas, sem perder o foco no discurso. Ao design, podemos transpor essa ideia para
a capacidade a qual os designers precisam desenvolver para criar metanarrativas de
seus produtos. Uma vez que o mundo se constitui cada vez mais em um mix da trama
digital e gráfica, a construção de discursos sólidos, num mundo que se move cada
vez mais rápido e percorre longas distâncias em curtos espaços de tempo, ainda que
fragmentados são os desafios na linguagem gráfica.
Você se sentiria seguro entregando seu dinheiro para um banco que não possui
um ponto de contato físico? Com a necessidade de serviços ágeis e desburocratizados
para um público que aposta cada vez mais na velocidade e eficiência surge o Nubank, cuja
ideia foi desenvolvida por uma empresa startup brasileira e foi a pioneira no segmento
de serviços financeiros. Atua como operadora de cartão de crédito e fintech, opera em
território nacional. Com a promessa de acabar com as idas às agências bancárias e
reduzindo consideravelmente o volume de papelada, aposta num público que possui
habilidade com as tecnologias, gerando confiança por meio de sua linguagem gráfica e
do design do seu serviço.
131
Na concepção de Calvino (1990), a exatidão guarda relação com três acepções:
(1) o projeto de uma obra precisa ser bem definido e assertivamente projetado, ao
(2) evocar a linguagem gráfica, mesmo que por meio do despertar da memória, elas
precisam ser nítidas, incisivas e memoráveis. Quanto à linguagem, ela deve ser a mais
precisa possível e o vocabulário utilizado deve ser (3) capaz de traduzir o pensamento
e a imaginação.
FONTE: <https://www.hypeness.com.br/2015/07/designer-portuguesa-cria-codigo-que-permite-que-defi-
cientes-visuais-distingam-as-cores/>. Acesso em: 3 jul. 2020.
132
FIGURA 20 – CORES SECUNDÁRIAS DE FEELIPA COLOR CODE
FONTE: <https://www.hypeness.com.br/2015/07/designer-portuguesa-cria-codigo-que-permite-que-defi-
cientes-visuais-distingam-as-cores/>. Acesso em: 3 jul. 2020.
FONTE: <https://www.hypeness.com.br/2015/07/designer-portuguesa-cria-codigo-que-permite-que-defi-
cientes-visuais-distingam-as-cores/>. Acesso em: 3 jul. 2020.
Uma campanha que reflete esse princípio é o Cartaz HIV Positivo realizada
pelo Grupo Nacional da Vida, em 2015. Com a finalidade de discutir os estigmas e a
discriminação sobre as pessoas portadoras de HIV. Os cartazes veiculam uma gota de
sangue com HIV+ acompanhado por um texto. A simplicidade da linguagem empregada
é confrontada com a reação do público. Veja a seguir a imagem deste cartaz.
133
FIGURA 22 – EU SOU UM CARTAZ HIV POSITIVO
FONTE: <https://ig-wp-colunistas.s3.amazonaws.com/cip/wp-content/uploads/2015/04/30162542/car-
taz.jpg>. Acesso em: 3 jun. 2020.
DICAS
Para ver a reação do público diante da campanha Eu sou um cartaz HIV
positivo, acesse o vídeo disponível no YouTube no endereço a seguir: https://
www.youtube .com/watch?v=ndmtycASX50.
134
FIGURA 23 – SKOL PRIDE PACK (2019)
FONTE: <http://www.abre.org.br/galeria_inovacao/embalagem_premio.php?galeria_id=69&seletor_ge-
ral=&seletor_cat=&seletor_pais=&seletor_ano=&seletor_tag=&seletor_ordem=Ordem%20rand%C3%B-
4mica&seletor_ordem_contador=&pagina=index>. Acesso em: 3 jul. 2020.
DICAS
Para conferir a propaganda da Heineken, acesse o vídeo disponível no
YouTube, disponível no link: https://www.youtube.com/watch?v=_Ar_uC-rAUU.
Enfim, se há uma coisa que o século XXI nos deixa de certeza é que os desafios
que aqui se apresentam são complexos, múltiplos e estão impregnados de um mundo
que se pretende globalizado, um mundo que defende que o acesso às redes é universal
ainda que a prática divirja um pouco da ideia. Por outro lado, precisamos nos animar, pois,
se existe um momento em que o design precisa mostrar seu potencial de transformar o
mundo, o momento é este, portanto, nada mais propício do que começar com as ideias
de um designer que defende a revolução do design.
Brincando com a canção dos Beatles, Revolution, Megido (2016) pode parecer
entusiasmado demais com a perspectiva contemporânea do design, porém ele defende
a ideia de uma revolução no design que eleve a curiosidade, que fomente a liberdade
de pensar e criar explorando uma visão que se afaste da perspectiva utilitarista da vida.
Para tanto é preciso pensar num futuro pertencente ao homem, à natureza e à todos os
seres vivos do planeta.
135
De fato, há várias perspectivas para se pensar os dias atuais, para uns
chegamos a um período de tensões extremas, para outros, os dias de hoje representam
as mudanças lentas, porém profundas que as sociedades passaram ao longo destes
anos. Referencial teórico para defender as duas perspectivas não falta, mas há que se
reconhecer que a contemporaneidade é formada por oportunidades diversas e distintas
de toda e qualquer já existente (MEGIDO, 2016).
136
O século XXI nos lança na era das inteligências criativas, por este motivo
investimentos que priorizam a educação profissionalizante tendem a fazer com que
a dimensão universal da educação seja renegada, de fato, à prática pouco sobra se
não houverem as teorias para discutir problemas inerentes à profissão. Competência
sem formação cultural esvazia-se, portanto, se a educação do século XXI tem um
compromisso, certamente um deles diz respeito ao incentivo à criatividade e ao livre
pensar, com vistas a trazer à tona todo o potencial que a profissão de designer ainda tem
para trazer à superfície (MEGIDO, 2016).
Megido (2016) propõe que o design do futuro se preocupe para além de lançar
novidades no mercado, mas sim em pensar quem vai usar, onde usar, qual o material
causa menor impacto no meio ambiente, em termos de logística, fins etc. Estimular a
compra implica em uma série de compromissos, descarte, reuso, reciclagem etc.
137
Esses são alguns aspectos que vem fortalecendo pensamentos intolerantes
pela simples incapacidade de compreender diferentes contextos. Isso é fortalecido pela
constatação de realidades em que o acesso às tecnologias é bem restrito, inclusive o
acesso à internet limitado. Precisamos um olhar para a educação de forma a compreender
a sua capacidade de transformar realidades promovendo o desenvolvimento social.
A educação propicia descobrir-se e entender as relações com o outro, possibilita o
desenvolvimento intelectual de uma nação e a valorização das qualidades particulares
de cada indivíduo, promovendo a criatividade e o crescimento social (SILVEIRA, 2016).
Uma revolução no campo da educação não deve ter um olhar binário de bom
ou ruim, mas sim de determinar um foco de pensamento, em assumir novas diretrizes.
É pensar sobre matrizes curriculares que sejam capazes de acompanhar o pensamento
da sociedade contemporânea (SILVEIRA, 2016).
Assumindo a liberdade poética mais uma vez, usaremos a voz de Edgar Morin
para falar de uma educação para o século XXI e tentaremos unir as propostas deste
pensador. Intitulado Os sete saberes necessários à educação do futuro publicado
em 2000, busca delinear problemas centrais e imprescindíveis que possam ter sido
esquecidos com o passar dos anos. Os sete saberes propostos por Morin deve contemplar
valores, modelos e regras característicos de cada cultura. Vamos analisar cada um deles
e ilustrar cada um destes conceitos a luz do design que é produzido nas academias.
Conhecimento precisa ser construído, não é algo que vem pronto e embalado
pronto para o uso. Nossa prática educativa não desenvolve habilidades que nos
permitam identificar os conhecimentos necessários para desempenhar uma tarefa,
uma função. Nessa perspectiva o conhecimento nos libertaria das amarras que nos
impedem de avançar. Um conhecimento que fundamente a profissão do designer o
conduz a conhecer diversos aspectos da humanidade, desde a perspectiva psicológica
até às culturais.
138
FIGURA 24 – THE DISLEXPERIENCE
FONTE: <https://tisdc.blob.core.windows.net/works/awards/main/512cdbc9-2fc6-4198-bb9b-1295a-
2aef900.jpg>. Acesso em: 3 jul. 2020.
O projeto Razor foi premiado pelo If Student Design Award, uma das maiores e
mais renomadas competições internacionais para jovens designers. Foi desenvolvido
pelos alunos Carlos Alberto de Melo Júnior e Ana Carolina Lino Buissa, do 4º ano de
Design de Produto, orientados pelo professor Ken Fonseca, como parte da disciplina
Projeto de Produto da Universidade Federal do Paraná. Razor é um suporte para
bicicletas que pode ser desmontando e transportado para diversos eventos.
139
Focados no tema da mobilidade sustentável, os estudantes contaram com as
informações da Ciclovia, um projeto de extensão da universidade. O produto tem o objetivo
de ser usado em grandes cidades, onde o emprego de bicicletas tem se tornado crescente.
FONTE: <https://www.ufpr.br/portalufpr/wp-content/uploads/2015/03/Razor-4-k4XF-U-
10747138004oRG-1024x576@GP-Web.jpg>. Acesso em: 3 jul. 2020.
FONTE: <https://www.ufpr.br/portalufpr/noticias/estudantes-da-ufpr-recebem-um-dos-principais-premios-
-do-design-mundial/>. Acesso em: 3 jul. 2020.
140
FIGURA 28 – PROJETO RAZOR (EMPILHAMENTO)
FONTE: <https://www.ufpr.br/portalufpr/noticias/estudantes-da-ufpr-recebem-um-dos-principais-premios-
-do-design-mundial/>. Acesso em: 3 jul. 2020.
ATENÇÃO
O If Student Design Award seleciona anualmente os cem conceitos mais
inteligentes e inovadores do design. Podem se inscrever estudantes e
formandos há menos de dois anos e o prêmio é concedido pelo If International
Forum Design, com sede em Hannover, Alemanha.
O terceiro saber proposto por Morin (2000), diz respeito sobre ensinar a condição
humana, refletir sobre tudo aquilo que nos coloca nessa dimensão humana: físico,
biológico, psíquico, cultural, social, histórico. Decorre disto toda a nossa complexidade
a qual desintegra-se por meio de disciplinas isoladas. Desenvolver a consciência e a
identidade individual e em grupo cria um sentimento de pertencimento, de compromisso
consigo e com outros indivíduos. Portanto, conhecer a condição humana é essencial na
construção de qualquer saber.
141
FIGURA 29 – PROJETO MARIA 1
FONTE: <https://razoesparaacreditar.com/wp-content/uploads/2019/10/4-1-545x260.jpg>.
Acesso em: 3 jul. 2020.
FONTE: <https://razoesparaacreditar.com/wp-content/uploads/2019/10/2-1-545x419.jpg>.
Acesso em: 3 jul. 2020.
FONTE: <https://razoesparaacreditar.com/wp-content/uploads/2019/10/6-545x261.jpg>.
Acesso em: 3 jun. 2020.
142
FIGURA 32 – PROJETO MARIA 4
FONTE: <https://razoesparaacreditar.com/wp-content/uploads/2019/10/5-545x262.jpg>.
Acesso em: 3 jul. 2020.
O projeto Flutua foi desenvolvido por Rayssa Carvalho e Luiza Davil, estudantes
do nono ano do curso de Arquitetura da Universidade Federal de Uberlândia. Com foco
na sustentabilidade, as estudantes soldaram sacolas plásticas com ferro de passar
roupa e montaram estruturas infláveis. O projeto foi um dos selecionados pelo Instituto
Tomie Ohtake, em 2018.
FONTE: <https://diariodeuberlandia.com.br/images/noticias/19351/11012019073842_flutua_(1).jpg>.
Acesso em: 3 jul. 2020.
143
O quinto saber discute a necessidade de enfrentar as incertezas. Por meio da
ciência construímos um mundo de certezas que com o passar do tempo começaram a
se mostrar um pouco incertas. Nessa perspectiva, Morin (2000) defende que o ensino
deve atender esses saberes considerando suas fragilidades conceituais.
E por tratar de incertezas, nada mais justo neste momento que destacar um
projeto que não teve origem entre as paredes das universidades brasileiras, mas que
apresenta potencial suficiente para aprofundar as ideias de Sayuri Magnabosco que,
aos 15 anos, desenvolveu uma embalagem biodegradável.
144
No sexto saber, Morin (2000) defende a necessidade de ensinar a compreensão,
fator imprescindível para a comunicação humana. Para compreender algo é necessário
ativar todos os sentidos e buscar que a compreensão se dê mutuamente. Nesta
perspectiva, devemos ensinar para compreender questões como racismo, da xenofobia,
do desprezo. Com isso, constituiríamos uma sociedade preparada para a paz.
O 1º Prêmio de Design Instituto Tomie Ohtake Leroy Merlin contou com o tema
Compartilhar, e teve entre os premiados Breno da Costa Loeser, com o projeto do livro
O Sergipe Encantado, ele é aluno da Universidade Federal de Sergipe. O projeto iniciou
como um trabalho de conclusão de curso sob a orientação da Prof.ª Dra. Germana Araújo.
FONTE: <https://encrypted-tbn0.gstatic.com/images?q=tbn:ANd9GcRweRHQxmuM7w7M9aM6skLshrx-
PWuVoyaTFxh8_zLbU_nc_jQjz&s>. Acesso em: 3 jul. 2020.
Por fim, no sétimo saber, Morin (2000) defende a ética do gênero humano,
isso resulta em nos conhecermos no que diz respeito a nossa condição humana
(indivíduo – sociedade – espécie). Nessa perspectiva a ética seria estudada a partir
da conscientização sobre o que é ser humano, seja como indivíduo, seja como
sociedade, seja como espécie. Deve-se fomentar autonomias individuais, a participação
comunitária, a consciência de pertencimento.
145
O projeto de Chrisley foi premiado no 1º Prêmio de Design Instituto Tomie Ohtake
Leroy Merlin, e também teve como tema Compartilhar. Chrisley é aluno da Universidade
Federal de Sergipe e o projeto contou com a orientação da Profª Drª Germana Araújo.
FONTE: <https://cinform.com.br/wp-content/uploads/2019/02/SC_CULTURA_DESIGNERS-SERGIPANOS_
CAPA_CHRISLEY-SANTOS.jpg>. Acesso em: 3 jul. 2020.
Diante de tudo exposto, fato é que não existem garantias acerca do futuro do
design. Sabe-se, portanto que ele deverá se voltar cada vez mais para pessoas, para
relações entre membros de uma sociedade marcada pelo estigma da globalização. Se
há um paradoxo para a contemporaneidade é o fato de sermos locais e globais, o que faz
com que todo ato, por mais banal que seja, quando pensado num todo pode transformar
assim como o bater das asas da borboleta.
A seguir, selecionamos uma parte do texto para que você compreenda como se
deu a fragmentação imagética deste período.
Boa leitura!
146
LEITURA
COMPLEMENTAR
ALGUMAS CARACTERÍSTICAS DAS IMAGENS CONTEMPORÂNEAS
Imagens da contemporaneidade
Hibridação e heterogeneidade
147
ao mesmo tempo, encontrarmos muitas representações que misturam ou hibridizam
diferentes estilos históricos, diferentes narrativas e diferentes fantasias, como nos
parques temáticos de Disney e nos cassinos de Las Vegas. São imagens também
referidas como ecléticas.
Participação e interatividade
148
Excesso e indefinição
Poluição e imperfeição
149
permitem ao designer ou ao artista da representação expressar a fragilidade da vida e
das criações humanas pela interferência de agentes temporais. Através desses traços
de falibilidade e imperfeição, normalmente reprimidos pelos modernistas racionalistas,
a imagem pós-moderna chama nossa atenção para a duração efêmera das suas
representações (e quanto mais efêmeras mais cuidadosamente devemos preservá-las)
e para a relatividade e provisoriedade de nossas significações, como que enfatizando
a necessidade de sermos tolerantes com as diferenças (“defeitos”) dos outros e de nós
mesmos. No entanto, chama a nossa atenção o valor estético dessas interferências do
tempo e do acaso. Essas imagens resultam muitas vezes da manifestação do efêmero,
do transitório, do descartável, quando transformadas aleatoriamente pela ação de
agentes da natureza (descoloração pela luz solar, oxidação por ar úmido, decomposição
pelo calor etc.) ou pela interferência humana casual (rasgos, pichações, superposições,
fragmentações, demolições – Fig. 5). Passamos, assim, da modernidade monótona à
pós-modernidade entrópica, que geralmente costuma produzir resultados muito mais
interessantes, pela imprevisibilidade e descontrole de sua atuação (CAUDURO, 2003).
Cambiamentos e metamorfoses
150
encontramos nas imagens fotográficas de Cindy Sherman, em que ela se representa
segundo vários estereótipos femininos, sem que sua “verdadeira” personalidade jamais
apareça. Em ambos os casos, observamos que os representados estabelecem um
entretenimento nas suas próprias representações, como que enfatizando a teatralidade
e o artificialismo de suas personas sociais e o jogo incessante de mudança das
aparências. Essa atitude irônica em relação às representações (tudo se resume a um
jogo camaleônico entre pseudoverdades) é um aliado importante das minorias e dos
marginais sociais, pois permite desafiar a “veracidade” dos estereótipos e preconceitos
culturais, pela construção e comunicação de representações divergentes ou
contraditórias. Como exemplo, recolhemos uma observação de Gerbase (2003) sobre o
filme Os Idiotas (1998) de Lars Von Trier, no qual um bando de loucos é filmado nas ruas
de uma cidade da Dinamarca, numa narrativa tão louca quanto os seus personagens,
e esta “minoria social” tem a oportunidade de apresentar sua visão do mundo e, mais
importante ainda, sua interação com esse mundo, que reage de forma convencional e
mostra também sua “idiotia” (p. 92).
Vernaculares e vulgares
151
Essa valorização das representações cotidianas derivadas de baixas tecnologias
também conduz à valorização das representações idiossincráticas de sujeitos comuns
específicos: o que elas se propõem é enfatizar a espontaneidade e a singularidade
das formas utilizadas na comunicação visual, como que afirmando a possibilidade de
qualquer um poder ser um designer, por exemplo, um criador de fontes que simulam
a escrita manual bonita, regular ou feia de alguém que pode ser um designer ou outra
pessoa qualquer. São fontes informais, espontâneas, baseadas na escrita à mão
livre, expressando um gosto ou estilo muito específico, pouco ortodoxo ou canônico
(CAUDURO, 2002). São criações que os modernistas consideram vulgares e sem valor
estético algum (Fig. 7).
Figura 7 Los Angeles meets Tokyo. Design vernacular. Montagem de fotos de Mike e Joachim (Typebox.
com). 2002.
Nostálgicas e retrô
152
RESUMO DO TÓPICO 3
Neste tópico, você aprendeu:
• Começamos o design com Calvino e suas seis propostas para o próximo milênio.
Partimos do princípio comunicativo do design para nos apropriar de uma teoria
voltada para a literatura e ilustramos cada conceito com projetos na área.
• Para finalizar as perspectivas sobre o design do século XXI, recorremos aos sete
saberes necessários para o século XXI proposto por Edgar Morin (2000). Assim
como fizemos com Calvino, ilustramos esses saberes com projetos de design que
vem sendo desenvolvidos por estudantes no Brasil e no exterior, os quais tem sido
premiado pelo poder de inovação e pela qualidade do design.
153
AUTOATIVIDADE
1 Baseado neste tópico, faça uma reflexão em formato de texto de até uma página
sobre como você percebe que se dará o design do século XXI. Reflita sobre quais são
as preocupações que você considera que devem permear os projetos na área. Reflita
sobre sua cidade, sobre seu bairro e sobre sua comunidade e conte um pouco sobre
como você vê que o design pode contribuir com melhorias.
2 Reflita sobre as possibilidades que o design pode encontrar diante dos problemas em
escala global e organize suas ideias em um texto de até uma página. Pesquise dados
para amparar seu discurso. Apresente projetos em design que ajudem a construir seu
discurso.
154
UNIDADE 3 —
OS ASPECTOS FORMAIS,
SENSÍVEIS E SOCIAIS DO
DESIGN
OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM
A partir do estudo desta unidade, você deverá ser capaz de:
• questionar acerca das relações entre design e meio ambiente, levando os estudantes
a reflexões sobre a profissão do designer e seu comprometimento e impacto social;
PLANO DE ESTUDOS
A cada tópico desta unidade você encontrará autoatividades com o objetivo de reforçar
o conteúdo apresentado.
CHAMADA
Preparado para ampliar seus conhecimentos? Respire e vamos em frente! Procure
um ambiente que facilite a concentração, assim absorverá melhor as informações.
155
CONFIRA
A TRILHA DA
UNIDADE 3!
Acesse o
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156
UNIDADE 3 TÓPICO 1 —
ESTÉTICA: PERCEPÇÃO, FORMA E FUNÇÃO NO
DESIGN
1 INTRODUÇÃO
O contexto histórico de explosão do design tem sua origem justificada pela
necessidade de organização do mundo recentemente industrializado (séculos XVIII
e XIX). O surgimento de fábricas e seus sistemas na Europa e nos Estados Unidos
propiciaram o aumento na oferta de bens de consumo, consequentemente os custos
reduziram, as tecnologias, a produção, os sistemas de transporte foram transformados
(CARDOSO, 2013).
Por meio desse processo, a estética do design passa a construir-se apoiada nos
estudos sobre percepção das formas. Este é o tema abordado a seguir.
Bons estudos!
157
rondar o quintal dos vizinhos, nossa preocupação social e ambiental cresceu, tornando-
nos questionavelmente mais responsáveis. Papanek, em 1970, convoca designers a
refletirem e produzirem para um mundo real, chamava a atenção para um design que
deveria ir além das paredes de escritórios (CARDOSO, 2013).
Olhando para nossa realidade, não é difícil perceber que somos rodeados por
produtos de design e com o passar dos anos e o aumento da produção industrial passamos
a ter uma preocupação crescente com tudo aquilo que produzimos, acumulamos,
descartamos. Para Sudjic (2010), os objetos nos permitem medir a passagem das
nossas vidas, eles nos definem. O design explora a criação de artefatos produzidos em
massa, os designers são pessoas que viabilizam a produção destes objetos que além de
atraentes, devem ser bons ao toque e fácil de usar, por exemplo. Para Frascara (2000),
os aspectos estéticos representam um dos fatores a serem considerados pelo design,
deve-se primar pela excelência considerando os objetivos do produto.
Vamos começar por uma distinção interessante que Cardoso (2013) apresenta
sobre artefato e objeto. Segundo ele, artefato diz respeito a tudo aquilo que fora
manipulado pelo homem até ter a sua aparência final, ou seja, pressupõe e intervenção
humana sobre alguma matéria prima, portanto, guarda relação com tudo aquilo que não
é natural. Nessa perspectiva, ele afirma que podemos entender por objeto tudo aquilo
que é natural, pedras, montanhas etc. Para ele, por hábito, dividimos os artefatos em
duas categorias: móveis e imóveis – deixaremos essa discussão para outro momento.
Vamos começar refletindo sobre o que entendemos por estética considerando alguns
artefatos:
158
Um dos ícones do design italiano, a Olivetti Valentine desenhada por Ettore
Sottsass e Pery King marca a transição da máquina de escrever de escritórios para
uma máquina portátil e leve que, segundo um de seus projetistas – Sottsass – foi
criada pensando nos poetas solitários e seus finais de semana em casas de campo
(SUDJIC, 2010).
FONTE: <https://i.pinimg.com/236x/46/3c/81/463c811fc9e22e1ea959b280c8bf599c--portable-
-typewriter-apple-mac.jpg>. Acesso em: 3 jun. 2020.
FONTE: <https://dfe2l8v0tjuwy.cloudfront.net/heritage/phpANFHGw-heritage-14.jpg>.
Acesso em: 3 jul. 2020.
159
Em comemoração aos 30 anos da empresa, a Melissa lança seu perfume de
mesmo nome por meio de uma parceria com a Maison Givaudan, nome de destaque no
ramo de perfumaria no mundo. Com uma edição limitada, a fragrância lembra o cheiro
do plástico dos produtos com notas frutadas e doces.
Esse objeto consagrou o designer Jonathan Ive. A partir disso, podemos pensar
em todo o furor que o lançamento de um iPhone gera em diversos lugares do mundo
(SUDJIC, 2010).
160
O design da embalagem para geleias da Predilecta, lançado em 2019, garante
maior versatilidade e praticidade no consumo e o bico dosador evita o desperdício e
facilita o armazenamento. A embalagem compõe a galeria de Inovação da ABRE
(Associação Brasileira de Embalagens).
Vamos exercitar um pouco a sua criatividade: pense no seu filme favorito. Tente
imaginar como ele seria sem aquela trilha sonora que faz a emoção transbordar. Esse
é um dos efeitos do sound design, uma boa trilha sonora pode garantir o sucesso de
uma cena ou de um filme inteiro. Algumas se tornam tão icônicas que não conseguimos
pensar no filme sem pensar na trilha, por exemplo, a respiração icônica do Darth Vader,
a música que reforça a sensação de aventura em Indiana Jones, os passos de Gene
Kelly em Singing in the Rain. Poderíamos agregar a esta lista uma infinidade de outros
produtos, mas por hora eles servem para a reflexão que pretendemos fazer.
DICAS
Para que você, acadêmico, compreenda a relação entre design e estética,
assista ao vídeo da palestra A importância da estética no design inclusivo
apresentado por Catarina Ravara no TEDxAveiro. O vídeo está disponível no
YouTube no link: https://www.youtube.com/watch?v=m6qMu3uDYws.
O design vem apresentando produtos com apelo estético, o qual se dá por meio
dos nossos sentidos: pelo tato, no caso da Olivetti Valentine, em que podemos perceber
a leveza do material; o olfato, no caso do perfume e produtos da Melissa, nos quais
podemos sentir aquele cheirinho da infância ou mesmo das experiências de entrar
em uma de suas lojas e sentir o odor característico. A visão no caso da aparência do
iBook, cuja particularidade das formas do objeto nos faz pensar nas suas qualidades
a longo prazo. É por meio da visão que o sabor das geleias Predilecta entram pelos
nossos sentidos ativando o paladar – aqui precisamos atentar para o fato de que nossos
sentidos podem nos enganar, a sensação de sabor é acionada por outro sensor que
não o paladar, mas retomaremos esse ponto em um momento mais oportuno. E o som
consegue criar uma ambiência que nos imprime sensações diversas. É por meio da
união dos sentidos que conseguimos compreender o mundo que nos envolve.
161
que processos estanques não dão conta da complexidade da sua linguagem, e que a
premissa de que a forma segue a função não resolverá os problemas existentes na
contemporaneidade. Dentre os problemas mais atuais está a preocupação com o impacto
social e ambiental, os quais devem ser considerados mais do que um diferencial, deve
sim ser um compromisso com o mundo o qual estamos construindo (CARDOSO, 2013).
Cardoso (2013) discute o uso do termo função em design. Para ele, quando
dizemos que um design é funcional caímos em um campo impreciso, afinal de contas
estamos nos referindo ao funcionamento ou aos modos de operar algo? O termo
funcional associado à aparência de um objeto, pouco fala deste. Empregado de forma
equivocada, na maioria das vezes, designers ou arquitetos usam o termo para se referir
a estilos ou preceitos originados no modernismo internacional, de estrutura despojada,
obedecendo a geometria euclidiana, com restrita paleta de cores, na maioria das vezes
sólidas e primárias. Portanto, um objeto pode parecer funcional sem ter funcionamento
ou operacionalidade.
162
da arte de determinado período que também pode ser denominado de estilo. No sentido
filosófico, a estética remete ao estudo do belo e ao sentimento que algo suscita no
indivíduo.
Falar sobre o estudo do belo nos leva a refletir sobre os filósofos que se
debruçaram sobre este tema. Dentre eles, Platão, quem defendia que o belo estava
diretamente ligado com o bem e com a verdade e a perfeição. Para Aristóteles, podemos
dizer que existia uma razão matemática para o belo, ou seja, a beleza poderia ser
encontrada na proporção das partes sendo relativa ao homem, portanto, não pode ser
desligada de nós. Para ele, proporção, simetria, ordem e harmonia garantiam a justa
medida da beleza. Para Kant a beleza é relativa a um juízo de gosto, portanto, o belo não
é objetivo. Logo, ele não está no objeto, mas sim na qualidade que atribuímos ao objeto
e isso é mediado pela nossa subjetividade. Em outra perspectiva, Hegel acredita que a
beleza é uma manifestação sensível da ideia (SUASSUNA, 2011).
163
DICAS
Para ampliar seu conhecimento sobre experiência estética assista ao vídeo
Experiência estética. Fique atento que, apesar do vídeo estar em espanhol,
você pode ativar a legenda em português. O vídeo está disponível no Youtube
no endereço: https://www.youtube.com/watch?v=9p_C-0vjxik&t+119s.
FONTE: <https://ciclovivo.com.br/inovacao/negocios/20-anuncios-impactantes-com-forte-apelo-social/>.
Acesso em: 3 jul. 2020.
164
O anúncio Stop the violence: don’t drink and drive (Pare a violência: não beba e
dirija) foi desenvolvido pela Terremoto Propaganda e tem como objetivo mostrar como
a bebida pode influenciar um comportamento violento no trânsito. A disposição dos
elementos gráficos consegue fazer com que você sinta a sensação do impacto? No
mínimo esse anúncio nos coloca a pensar sobre nossa postura no trânsito.
FONTE: <http://twixar.me/tkLm>.
FONTE: <http://twixar.me/tkLm>. Acesso em: 3 jun. 2020.
Acesso em: 3 jun. 2020.
165
Retomando as abordagens para estética, vejamos as proposições de Löbach
(2001) sobre o tema:
• Quando falamos em estética do objeto, estamos nos referindo à ciência das apa-
rências perceptíveis pelos sentidos. Importa, portanto, descrever as particularida-
des visuais e as qualidades de determinado objeto e pode partir de diferentes mé-
todos, sendo possível, inclusive, uma descrição numérica ou uma descrição verbal.
• Quando falamos em percepção estética, estamos nos referindo ao modo como
os indivíduos percebem algo, e a análise gira em torno das reflexões feitas sobre
o consumo visual de objetos estéticos, através dos quais a percepção e seu
comportamento subjetivo são observados.
• Quando falamos em estética de valor, estamos nos referindo sobre a relevância
da estética enquanto componente de um sistema sociocultural e reflete sobre a
importância de objetos estéticos para os usuários e a valorização de conceitos
subjetivos.
• Quando falamos em estética aplicada, estamos nos referindo à teoria da produção
estética do homem, ou seja, às ideias de valores estéticos em grupos de pessoas
aplicando-os no design.
166
Observe que apesar de se tratarem de objetos inúteis, eles possuem um apelo
visual que nos fazem pensar: e por que não? Olhando esses objetos tenha em mente
que toda peça de comunicação visual tem como objetivo transmitir uma mensagem
específica, quer comunicar algo. Nessa mesma direção, Frascara (2000) afirma que
avaliar um artefato de design estritamente numa perspectiva estética é inviável. Ele
nos faz um alerta acerca dos artefatos veiculados em revistas de design: devemos estar
atentos aos artefatos que são veiculados em revistas de design com foco exclusivo no
seu apelo estético, pois isso pode gerar uma distração a respeito daquilo que é de fato
fundamental em um projeto. Pensar o design é sinônimo de projetar um evento, um
ato, propiciando a interação entre usuário e artefato, é essa interação que propicia a
comunicação, esta, por sua vez, é orientada pela percepção e cognição.
167
se estar atento à complexidade da informação e identificar os elementos que auxiliam
o entendimento de conteúdos complexos, portanto a hierarquização das informações
é muito importante. Os sistemas de orientação devem guiar os indivíduos de forma
autônoma sem gerar dúvidas, e não menos importante, refletir sobre os aspectos
humanos, econômicos, sociais, tecnológicos, estéticos, ergonômicos e cognitivos,
Estes fatores devem compor o arcabouço das preocupações dos designers.
É por meio da percepção que buscamos os significados, é por meio dela que
compreendemos o mundo. A percepção de modo geral e a percepção visual servem para
garantir nossa compreensão de mundo, interpretando dados e construindo contextos
significativos, podemos dizer, portanto, que a percepção está ligada aos nossos instintos
de sobrevivência. Considerando que o ser humano é um ser visual, ou seja, que dentre
todos os seus sentidos o que mais se sobressai é a visão, podemos entender que uma
mensagem visual bem construída tem força devido ao canal que ela explora para ser
compreendida (FRASCARA, 2000).
168
uma visão mais ampla do processo. O uso está relacionado com a operacionalidade,
funcionamento e aproveitamento de um artefato, sendo necessário refletir esse uso
possui um único fim. O entorno pode afetar a percepção que temos de algo, por exemplo,
a configuração de um produto x pode ser percebido de diferentes modos em culturas
orientais e ocidentais. A duração guarda relação com as transformações temporais que
um artefato pode sofrer, seu ciclo de vida, resistência.
No que diz respeito à percepção, podemos afirmar que ela se relaciona com os
juízos que os usuários fazem dos artefatos, logo o ponto de vista diz respeito ao modo
como o usuário se posiciona em relação ao objeto, considera-se aqui que a perspectiva
viabiliza diferentes experiências. Por discurso, podemos entender a tradução verbal
ou visual do ponto de vista, são as representações que ajudam a entender o objeto.
A experiência trata da relação mais íntima do usuário com o artefato, envolve,
portanto, processos perceptivos e cognitivos que são mediados pelos sentidos e pelas
experiências de mundo dos indivíduos (CARDOSO, 2013).
169
FIGURA 12 – LINHAS
170
A teoria da Gestalt – também conhecida como teoria da estrutura, da forma ou
ainda da boa forma – defende a integração de partes em oposição à soma do todo. Seus
estudos foram baseados na percepção, na linguagem, na inteligência, na aprendizagem,
na memória, na motivação, em modos de conduta exploratória e na dinâmica dos grupos
sociais. Para os gestaltistas, a percepção tem origem na organização mental que é permeada
pelo processo de inferência determinista, ou seja, a teoria foca em princípios ou leis que
permitem entender como funciona a organização perceptiva (GOMES FILHO, 2008).
FONTE: <https://i.pinimg.com/236x/66/0a/26/660a269c9e4d8de9a6afa819a1d49c93--auto-spares-b-
mw-cars.jpg>. Acesso em: 3 jul. 2020.
O que faz a Gestalt ser tão importante para designers é o fato dela auxiliar no
desenvolvimento de artefatos considerando a complexidade do todo e a relação entre
as partes que os compõe, criando assim os processos de significação. Portanto, se a
comunicação em design tem como foco despertar sensações nos indivíduos, é preciso
171
entender como uma imagem pode passar uma sensação, como uma música desperta
sentimentos, como um cheiro pode despertar a vontade de comer – por exemplo – e
assim por diante (GOMES FILHO, 2008).
A forma, num sentido estético, pode ser definida como a figura ou a imagem
visível do conteúdo. De um modo mais prático, ela nos informa sobre a natureza
da aparência externa de alguma coisa, pois tudo que se vê possui forma. A forma é
composta por ponto, linha, plano e volume, esses elementos são organizados numa
configuração real (fotografia, por exemplo) ou numa configuração esquemática (um
ícone, por exemplo) (GOMES FILHO, 2008).
Agora, para que uma forma exista, precisamos identificar dois conceitos
importantes: figura e fundo. Esses conceitos são bem simples e estão relacionados ao modo
de organização perceptual: em qualquer campo diferenciado, uma das partes se destaca,
se sobressai em relação às outras. A ela damos o nome de figura, sendo o fundo todo o resto
(GOMES FILHO, 2008). É importante estar ciente que até mesmo na identificação da figura e
do fundo nossa percepção pode nos pregar peças. Observe as imagens a seguir:
FONTE: <http://twixar.me/KqLm>.
Acesso em: 6 jul. 2020. FONTE: <http://twixar.me/TqLm>. Acesso em: 6 jul. 2020.
172
Você consegue afirmar com exatidão o que é figura e o que é fundo nas Figuras
15 e 16? Na Figura 15 tendemos a dizer que a taça é a figura pois ela está em negativo,
porém não podemos afirmar isso com total certeza. O mesmo acontece na Figura
16, o fundo será a árvore ou as faces dos animais? Portanto, a relação entre figura e
fundo é complexa e ela pode se dar de forma mais objetiva ou por meio de incertezas,
independente disto, sempre teremos a forma como elemento de comunicação.
DICAS
Para entender melhor as categorias da Gestalt, assista ao vídeo Gestalt – O que
é Gestalt? Como funcionam as leis de Gestalt no design? O vídeo está disponível
no endereço a seguir: https://www.youtube.com/watch?v=yMwXvCFGCgM.
173
Além das leis da Gestalt existem as categoriais conceituais que se referem aos
conceitos que nos ajudam a compreender a organização das imagens. Esse é outro
tema que requer aprofundamento de estudos, assim como as leis da Gestalt, porém, ele
não será abordado aqui pois resultaria em um capítulo à parte.
Por hora, é importante que você tenha entendido que limitar a forma de um
artefato de design, a sua função é mensurar, por baixo, as possibilidades estéticas que
um bom projeto pode criar. Fora isso, compreender que a nossa compreensão estética
se dá por meio de nossos processos perceptivos é importante para que você consiga
aprender a identificar elementos de impacto para as suas peças gráficas ou produtos.
No próximo tópico conheça um pouco sobre as relações entre design e meio ambiente.
174
LEITURA
COMPLEMENTAR
ADEQUAÇÃO E FORMA
Rafael Cardoso
175
Vamos pensar melhor sobre essa última ideia. Como assim, “grau de expressão
material”? “Adequação ao propósito” é um conceito abstrato, algo compreendido pela
mente. É possível que os conceitos encontrem expressão material: ou seja, que possam
ser percebidos pelos sentidos físicos, como visão, audição, tato? Examinemos alguns
exemplos. Temos o costume de dizer que uma roupa é elegante, que um carro é luxuoso,
que um prédio é imponente. Nesses exemplos, estamos claramente atribuindo valores
conceituais ao objeto a partir da associação com seus usos e usuários ou a partir da
comparação com outros artefatos da mesma categoria. Atribuímos uma qualidade ao
objeto que, no fundo, não deriva dele, mas de nosso repertório cultural e pressupostos.
A prova dos nove está no fato de que, com a passagem do tempo, a mesma roupa
elegante pode passar a ser percebida como cafona; o carro luxuoso, como pobre; o
prédio imponente, como decadente. De modo bastante diverso, podemos dizer que o
cabo de um martelo encaixa bem na mão, que um ambiente é aconchegante, que a
mancha de texto de uma página é agradável à vista. Tais atribuições de valor remetem
a experiências corporais e tendem, por conseguinte, a permanecer estáveis no tempo.
Elas derivam não de processos de associação e comparação, mas da sensação física
de conforto e bem-estar, que advém do uso e não passa necessariamente por qualquer
tipo de reflexão. Valores desse tipo podem ser medidos e avaliados, de modo mais ou
menos acertado, num laboratório de ergonomia.
176
solidez moral que fazemos referência, do mesmo modo metafórico que falamos da
solidez de uma empresa ou do caráter de uma pessoa. A pergunta é: como se opera esse
processo de transpor qualidades perceptíveis visualmente para juízos conceituais de
valor? Formulada de maneira mais simples, porém mais passível de gerar interpretações
confusas: de que modo as formas expressam significados? Não é por ser questão de
difícil resposta que devemos descartá-la, pois seu dimensionamento é muito importante
para compreendermos o papel do design no mundo. Insistamos, mesmo que a resposta
seja parcial, mesmo que não exista resposta, mesmo que seja apenas para formularmos
melhor as perguntas.
A não ser que se tenha uma definição muito precisa daquilo que se entende por
forma, um enunciado como “a forma segue a função” não quer dizer nada. Nas discussões
desse tema em Língua Portuguesa, é grande o perigo de tropeçar na multiplicidade de
significados contidos na palavra “forma”. É um termo escorregadio em muitos idiomas,
e com boa razão; porém, nas línguas latinas, ele possui uma falta de especificidade
especialmente problemática. Entre nós, não há o costume de distinguir o aspecto da
“forma” – referente à aparência e à superfície – daquele que se refere à volumetria e
ao contorno (o qual, em inglês, corresponderia à palavra shape). Os equivalentes mais
próximos em português seriam “configuração”, palavra também ambígua, e “vulto”,
raramente empregada com esse sentido. Para avançar na discussão da forma, é preciso
desmembrar o termo e considerar seus significados um a um. Claramente, “forma”
abrange pelo menos três aspectos interligados, que possuem diferenças importantes
entre si: 1) aparência: o aspecto perceptível por uma visada ou olhar; 2) configuração:
no sentido composicional, de arranjo das partes; 3) estrutura: referente à dimensão
construtiva ou constitutiva. Os três aspectos se entrelaçam e formam um conjunto
inseparável, mas que não pode ser apreciado plenamente de um único ponto de vista.
Para compreender a forma, precisamos dar algumas voltas.
177
o corte (vista lateral), o observador terá uma noção total do objeto. Na verdade, mais
ou menos completa, porque existem ainda outros aspectos da forma, tais quais cor e
textura, escala e tamanho, posição e contexto, sentido espacial e de movimento, que
só podem ser compreendidos por experiência direta, ou então pelo adendo de outros
meios de representação.
178
A importância do conceito de tectônica reside exatamente naquilo em que
ele desloca a discussão da forma em si, estática, para sua capacidade de expressar
qualidades dinâmicas, enraizadas em processos. Forma não é um quantum estável,
eterno e inalterável desde sempre, mas o fruto de uma transformação. Quando se
compreende a lógica segundo a qual as formas são constituídas, compreende-se
também que elas são passíveis de mudança e de adquirirem novos significados. No caso
dos edifícios, por exemplo, a tensão entre estrutura e aparência é constante. Quando se
preserva a fachada de um prédio antigo, mas altera-se completamente sua planta e sua
disposição interior, a forma continua a mesma? Por meio do uso e do envelhecimento,
os objetos arquitetônicos sofrem frequentemente transformações importantes. O que
ontem era banco, hoje virou centro cultural; o cinema vira igreja, e assim por diante. É
claro que a mudança de uso não altera a forma, forçosamente. Mas, será que a forma
do edifício continua a expressar os mesmos significados, independentemente de seu
uso? Em alguns casos, o edifício que simbolizava modernidade, meio século atrás, hoje
é uma velharia em ruínas; enquanto uma modesta casa de família de cem anos atrás
hoje é valorizada como patrimônio histórico. Deixemos para aprofundar essa questão
mais adiante, no primeiro capítulo.
As formas dos artefatos não possuem um significado fixo, mas antes são
expressivas de um processo de significação – ou seja, a troca entre aquilo que está
embutido em sua materialidade e aquilo que pode ser depreendido delas por nossa
experiência. Por um lado, as formas concretizam os conceitos por trás de sua criação.
Para empregar um termo corrente hoje, os artefatos obedecem a uma “lógica
construtiva”, a qual é a soma das ideias contidas em seu projeto com seus materiais e
condições de fabricação. Por outro lado, formas e artefatos, são passíveis de adaptação
pelo uso e sujeitos a mudanças de percepção pelo juízo. Quando um garfo antigo de
prata é entortado e soldado nas pontas para fazer uma pulseira, algo importante ocorre
em termos de significação. Embora ele não deixe de ser reconhecível como garfo, ele
já não serve para seu uso original e nunca mais será visto como apenas um talher.
Se o processo envolve alguma distorção maior de sua configuração (por exemplo,
alisamento da superfície), e não apenas de sua estrutura (a ação de entortá-lo, no caso),
a descaracterização formal poderá ser ainda mais drástica. Tais transformações e usos
híbridos sã extremamente reveladores da natureza profunda da relação entre forma e
significado. Consideraremos isso mais detidamente no segundo capítulo.
O que muitas vezes nos escapa, por conta da relativa brevidade de nossa
existência humana, é o quanto os artefatos se transformam no tempo e, o que é ainda
mais difícil de dimensionar, o quanto os tempos mudam. Quando a pintura mural da
Santa Ceia, de Leonardo da Vinci, terminou de ser restaurada em 1999, após 21 anos de
trabalho, surgiu uma controvérsia internacional com relação à intervenção realizada.
Segundo alguns especialistas, as cores e as formas teriam sido gravemente alteradas
pelos restauradores, prejudicando a apreensão correta da obra. Os restauradores, por sua
vez, contestaram isso, alegando terem devolvido a pintura a algo próximo ao seu estado
original. Considerando que o artista concluiu o trabalho em 1498 e que, nos quinhentos
179
e poucos anos desde então, o local sofreu infiltrações, invasões e até bombardeio, e
que a pintura fora sujeitada a pelo menos três restaurações anteriores, fica muito difícil
determinar qual teria sido sua aparência primitiva. Mesmo que a conhecêssemos, por
meio de algum registro paralelo (no caso, existem cópias contemporâneas), será que
teríamos a capacidade de compreender exatamente o que o artista quis dizer quando
a pintou? Será que teríamos olhos para ver o que os espectadores viram à época? A
melhor resposta que temos, em termos históricos, é não. O olhar é também sujeito a
transformações no tempo, e aquilo que depreendemos do objeto visto é necessariamente
condicionado pelas premissas de quem enxerga e de como se dá a situação do ato de
ver, ou seja, o olhar é uma construção social e cultural, circunscrito pela especificidade
histórica do seu contexto.
Por tudo que se pode observar e deduzir sobre a história do olhar, recuperar o
modo de ver de outra época é tarefa das mais difíceis. Os tempos mudam, e muda com
eles o significado das coisas que parecem fixas. No mundo de hoje, em que o tempo
parece andar cada vez mais depressa, os significados ficam ainda menos estáveis.
Determinar o significado de um artefato atualmente é tarefa tão escorregadia quanto
atirar numa lebre correndo em ziguezague a partir de um carro desgovernado que
transita por uma ponte móvel. O tiro certeiro depende do cálculo preciso e instantâneo
de todas as forças, velocidades e movimentos. Se essa comparação parece remeter
ao mundo dos desenhos animados e dos videogames, não é à toa. A abrangência
crescente do mundo virtual e seu impacto sobre a visualidade – por meio de processos
de manipulação, simulação e emulação – tende a redefinir todos os parâmetros para
a discussão da forma. É sobre este admirável mundo novo, e ainda relativamente
desconhecido, que irá versar o terceiro capítulo deste livro.
FONTE: CARDOSO R. Design para um mundo complexo. São Paulo: Cosac Naify, 2013.
180
RESUMO DO TÓPICO 1
Neste tópico, você aprendeu:
• Na máxima de Sullivan, que data da década de 1960, a forma segue a função, apesar
de ter colaborado com o desenvolvimento do design ainda precisa ser repensada de
forma a dar autonomia ao processo criativo do design.
• A estética não objetiva a beleza, seu intuito principal é entender o que faz com que
atribuamos beleza a alguns objetos e a outros não.
• Quando falamos em percepção visual, podemos contar com os estudos feitos pelos
psicólogos da teoria da Gestalt, na qual estabeleceram meios para identificar padrões
na percepção e em consequência disto, conseguiram definir leis que orientam o
processo perceptivo.
181
AUTOATIVIDADE
1 Escolha três peças de design (um produto, uma interface digital e uma peça gráfica)
e comente sobre o que você pensa a respeito da mesma. Foque em questões formais
dizendo qual sensação elas despertam em você, descreva o uso do produto e reflita
se a configuração dele viabiliza ou não o sucesso no desenvolvimento das tarefas às
quais foram projetadas.
2 Apresente os produtos que você selecionou na Atividade 1 para pelo menos cinco
pessoas e verifique se as mesmas apresentam as mesmas percepções que você a
respeito dos objetos. Peça que elas justifiquem suas respostas.
182
UNIDADE 3 TÓPICO 2 -
DESIGN E MEIO AMBIENTE
1 INTRODUÇÃO
Tema cada vez mais frequente nos debates do design, o meio ambiente tem
figurado, também, entre as preocupações do designer.
Bons estudos!
183
FIGURA 17 – EM “MARAT (SEBASTIÃO)”, VIK MUNIZ RECRIA, COM LIXO,
“A MORTE DE MARAT”, DE DAVID
DICAS
Assista ao documentário Lixo Extraordinário de Vik Muniz para conhecer um
pouco sobre o trabalho do artista. O vídeo está disponível no YouTube no
seguinte endereço: https://www.youtube.com/watch?v=JLTY7t8c_x0.
O Instituto Terra foi fundado em 1998, é uma organização civil sem fins lucrativos
presente na região do Vale do Rio Doce – entre os estados de Minas Gerais e Espírito
Santo – uma região marcada pelo desmatamento, mau uso de recursos naturais, erosão
do solo, entre outros. Esse instituto foi idealizado pelo fotógrafo Sebastião Salgado e sua
esposa Lélia Deluiz Wanick, e visam resgatar a natureza degradada da região. Em uma
década de trabalho é possível perceber os resultados das ações do instituto. A floresta
recuperada abriga uma grande diversidade de espécies da flora da Mata Atlântica, com
isso, recuperou-se também as nascentes e espécies da fauna brasileira que antes
estavam sob risco de extinção.
184
FIGURA 18 – PRIMEIRO PLANTIO – 1999
FONTE: <http://www.institutoterra.org/pt_br/csw/_lib/file/doc/arqslinks/20130423130648_RPPN_Fazen-
da_Bulcao_1999__mobilizacao_para_primeiro_plantio.jpg>. Acesso em: 6 jul. 2020.
FONTE: <http://www.institutoterra.org/pt_br/csw/_lib/file/doc/arqslinks/20130227095614_inst_ter-
ra_0826_pan_reduzida.jpg>. Acesso em: 6 jul. 2020.
DICAS
Para conhecer mais sobre o trabalho do Instituto Terra assista à entrevista de
Sebastião Salgado e Lélia Wanick. O vídeo está disponível no YouTube, acessando
o seguinte endereço: https://www.youtube.com/watch?v=8C5q26lSOsU.
185
A OPTree compõe o case da empresa Sunew no campo de mobiliário urbano,
desenvolvida em 2015. Elas surgiram para humanizar a ideia de energia solar e explora
o uso de fontes de energia limpa para espaços urbano e próximo às pessoas. O formato
da OPTree lembra uma palmeira, cada folha é composta por células fotovoltaicas que
captam a luz convertendo-a em energia. O objetivo do artefato é revolucionar a indústria
solar no Brasil e no mundo, usando tecnologia verde na geração de energia solar. Outra
vantagem é a possibilidade de absorver os raios UVA e UVB, portanto a sombra gerada
viabiliza melhor conforto térmico.
FONTE: <https://sunew.com.br/box/uploads/2018/01/Aba-Cases-Singleposts-OPTREE-
-1-1-e1522251101315.jpg>. Acesso em: 5 jul. 2020.
FIGURA 21 – OPTREE
FONTE: <https://abrilcasa.files.wordpress.com/2019/05/aba-cases-singleposts-optree-5-1024x575.
jpg?quality=95&strip=info&w=768&h=431>. Acesso em: 6 jul. 2020
186
Neste tópico vamos abordar a relação entre design e sustentabilidade, refletindo
sobre a importância crescente do desenvolvimento de uma consciência ambiental e
como ela pode impactar nas formas pelas quais consumimos e desenvolvemos produtos.
DICAS
Assista ao vídeo Consumismo – obsolescência programada para entender
melhor o conceito de obsolescência programada e como ela se relaciona com
o consumismo. O vídeo está disponível no link a seguir: https://www.youtube.
com/watch?v=TffNfxoTJC4.
187
NOTA
O World Wide Fund for Nature (WWF) é uma organização não governamental
internacional que atua nas áreas da conservação, investigação e
recuperação ambiental. Inicialmente foi chamada de World Wildlife Fund,
nome oficial ainda usado em países como Estados Unidos e Canadá. Para
conhecer mais sobre a presença da organização no Brasil, acesse: https://
www.wwf.org.br/.
DICAS
A cada dois anos a Rede WWF produz o Relatório Planeta Vivo que apresenta
o cenário detalhado e atualizado da situação do meio ambiente do nosso
planeta reunindo dados de todos os continentes e países, fazendo um
balanço sobre a população de espécies e da biodiversidade global. Para
saber mais acesse o endereço a seguir: https://d3nehc6yl9qzo4.cloudfront.
net/downloads/lpr_2018_summary_portugues_digital.pdf.
INTERESSANTE
Quer calcular a sua pegada ecológica? Acesse o link: https://promo.wwf.org.br/
pegada-ecologica-calculadora?_ga=2.201838930.251047360.1585441825-
846629556.1585441825.
188
Muitos teóricos de diversas áreas vêm discutindo modos de minimizar os
impactos da geração de resíduos ao redor do mundo, no que diz respeito a nossa área
cabe discutir o modo através do qual designers podem colaborar no desenvolvimento
de produtos que tenham menor impacto ambiental (CARDOSO, 2013).
FONTE: <http://redefelicidade.com.br.s3.amazonaws.com/wp-content/uploads/2018/11/22112652/
Ale%CC%81m-da-sustentabilidade-G.jpg>. Acesso em: 6 jul. 2020.
O design com foco nos aspectos econômicos tem relação direta com o lucro, o
design com foco no social prima pelas pessoas enquanto o design com foco no ambiental
prioriza a natureza. A sustentabilidade busca o equilíbrio destes três sistemas. Da
intersecção entre o fator econômico e o ambiental temos o ecodesign, e da intersecção
entre economia e social temos o design social.
189
Para Manzini (2002) começamos a refletir acerca dos problemas ambientais na
medida em que nos conscientizamos dos problemas causados pela poluição, sobre o modo
como os processos produtivos geram lixo e o desenvolvimento de processos de produção
de produtos limpos, ou seja, que causam menos impacto na natureza. Disso resultou uma
espécie de conscientização que implicou numa discussão e um redirecionamento dos
comportamentos sociais. Lembre-se que a explosão propiciada pela Revolução Industrial
nos impeliu a ampliar a produção de resíduos das mais diversas ordens.
DICAS
Assista ao vídeo Conversas de Valor “Ecodesign e sustentabilidade” do
professor Christian Ullmann para entender melhor o conceito de ecodesign.
O vídeo está disponível no YouTube no seguinte endereço: https://www.
youtube.com/watch?v=R16nIERPjpk.
Cardoso (2013) nos propõe uma reflexão a respeito da nossa relação com as
coisas que consumimos e lembra de um ponto muito importante sobre os artefatos: eles
não morrem, quando perdem as suas funções, no mínimo, viram lixo ou resíduos. Nesta
perspectiva, podemos entender como lixo a matéria desprovida de sentido. Ainda que
eles possam ser destruídos, o volume de resíduos que geram é significativo. Produz-se
cada vez mais, a ponto de superarmos a produção de toda nossa história pregressa,
decorre daí o aumento do volume de coisas descartadas.
190
questionarmos o motivo pelo qual descartamos algo. Muitas vezes somos motivados
pelo modelo novo, pela nova coleção, pelo ímpeto do prazer do consumo, logo, podemos
considerar que a nossa ideia sobre o que é lixo está relacionada ao sentido que atribuímos
a algo e ela é permeada pelo aspecto psicológico. É preciso, portanto, refletir sobre essa
postura para que possamos propor ideias no campo do design, além disto, é importante
que repensemos nosso entendimento acerca do lixo (CARDOSO, 2013).
Pensar o ciclo de vida dos produtos denota a diversidade das abordagens de acordo
com a área que o idealizou. O ciclo de vida numa perspectiva do marketing mostra que os
produtos são introduzidos no mercado e passam por uma fase de introdução, seguida pelo
seu crescimento, sua maturidade e termina em seu declínio (CARDOSO, 2013).
FONTE: <https://lirp-cdn.multiscreensite.com/87c8e234/dms3rep/multi/opt/ciclo-de-vida-do-produto-
-1080x494-960w.png>. Acesso em: 5 jul. 2020.
191
FIGURA 23 – CICLO DE VIDA DOS PRODUTOS NA PERSPECTIVA DA ENGENHARIA AMBIENTAL
Matéria bruta
Disposição e Manufatura e
Reciclagem Embalagem
Transporte
Uso e Operação
Distribuição
FONTE: <https://meioambiente.culturamix.com/blog/wp-content/uploads/2013/04/Objetivos-Ciclo-De-Vi-
da-Dos-Produtos.png>. Acesso em: 6 jul. 2020.
O ciclo de vida dos produtos deve considerar todas suas fases de produção
(pré-produção, produção, distribuição, uso e descarte) de forma a minimizar os impactos
negativos ao longo do processo de produção. O design para sustentabilidade complementa
o ciclo de vida do produto: o primeiro visa atuar de forma estratégica, enquanto o segundo
fornece subsídios necessários para sustentar o primeiro (MANZINI, 2002).
Kazazian (2009) nos lembra que grande parte dos nossos bens atuais são
orientados por antigas tecnologias, como o motor a explosão, a eletricidade, as primeiras
telecomunicações, entre outras. A própria internet, cuja popularização se deu na década
de 1990, já existia desde a década de 1960 e decorre do aperfeiçoamento de outra
tecnologia já existente. Sua popularização decorre do desejo do mercado em facilitar o
acesso das massas a novos meios de comunicação.
192
Precisamos ter em mente que por menor que sejam as tecnologias com as
quais interagimos na contemporaneidade, o volume de insumos necessários para a sua
produção ainda é elevado. O marketing tem colaborado cada vez mais com a ideia de
inovação tecnológica, em muito, com a função de disfarçar a saturação cada vez mais
evidente. Aos designers fica o compromisso de produzir uma interface entre indivíduos
e artefatos simples e eficiente, considerando as integrações possíveis com o meio
ambiente. Logo, na medida em que o designer obtém resultados melhores utilizando o
mínimo possível gera-se um bom resultado num sistema econômico (KAZAZIAN, 2009).
Uma olhada rápida em nossa casa nos permite perceber que consumimos mais
energia: é um carregador para o smartphone, outro para o notebook, a televisão smart,
a cafeteira, o fogão com acendimento automático, a geladeira, o micro-ondas, o forno
elétrico... ufa, ainda há uma lista imensa que não foi mencionada aqui. Além do consumo
doméstico, precisamos considerar o consumo industrial. Países em desenvolvimento
tendem a consumir mais energia (KAZAZIAN, 2009).
193
Ainda consumimos um alto volume de energias fósseis, sendo que 90% do
consumo energético mundial é baseado em petróleo, gás e carvão. Alguns defendem
a energia nuclear como mais limpa, porém isso não significa que os impactos sobre o
meio ambiente inexistam. A energia renovável ainda se encontra em expansão, porém,
algumas limitações já foram identificadas (KAZAZIAN, 2009).
Nossa relação com o mobiliário das nossas casas foi transformada, o que
antigamente era dominado pelo cenário do modulado hoje dá espaço aos planejados ou
a troca sistemática dos móveis. O uso de madeira passou a ser valor simbólico enquanto
derivados de madeira ampliaram o acesso e o consumo. O uso de madeira além de
causar o desflorestamento, requer inúmeros beneficiamentos até chegar na cadeia de
consumo (KAZAZIAN, 2009).
194
A eletrônica, a informática e as novas tecnologias da informação representam
grande parte da ameaça ecológica existente no século XXI. Além de consumir
insumos, o uso de energia seja para produção quanto para uso impacta a sociedade
contemporânea. O resíduo eletrônico muitas vezes é descartado de forma equivocada
no ambiente, porém, crescem as ações de reciclagem (KAZAZIAN, 2009).
195
FIGURA 24 – CADEIRA 2PAC
196
FIGURA 25 – INFOGRÁFICO SOBRE O CONSUMO DE ABSORVENTES FEMININOS
FONTE: <http://portaldonic.com.br/jornalismo/wp-content/uploads/2019/10/coletor-ok-3-768x768.jpg>.
Acesso em: 6 jul. 2020.
197
FIGURA 26 – BOLHA DE ÁGUA COMESTÍVEL
FONTE: <https://catracalivre.com.br/wp-content/thumbnails/g0T_OYG55UOS6-K3-TPXFgQeZHI=/wp-con-
tent/uploads/2018/09/agua-comestivel-2-910x600.jpg>. Acesso em: 6 jul. 2020.
198
FIGURA 27 – JARDINS DE CINGAPURA
199
RESUMO DO TÓPICO 2
Neste tópico, você aprendeu:
• Os artefatos que lançamos no mercado são compostos por um ciclo de vida que,
dependendo da área, pode ter uma abordagem distinta. No que diz respeito ao
design é mais interessante a proposta pela engenharia ambiental que prevê ciclos
de descarte.
• O designer pode atuar em quatro frentes para contribuir com um mundo mais
sustentável. São elas: 1) o redesign ambiental do existente; 2) o projeto de novos
produtos que possam substituir os atuais; 3) o projeto de produtos e serviços
sustentáveis; e 4) a proposta de novos cenários que orientem um estilo de vida
sustentável.
200
AUTOATIVIDADE
1 Considerando os campos de atuação do design com foco no provimento de
sustentabilidade, pesquise projetos de design que atendam cada uma delas.
201
202
UNIDADE 3 TÓPICO 3 -
O ELO ENTRE DESIGN E AS DIMENSÕES SOCIAL
E EMOCIONAL
1 INTRODUÇÃO
No Tópico 1 desta unidade, abordamos o tema da estética e da percepção, no
qual você estudou que a compreensão que temos acerca de um artefato perpassa pelos
nossos sentidos, os inputs sensoriais são traduzidos pelo nosso cérebro e transformados
em um dado.
203
DICAS
Assista ao vídeo Código de Ética Profissional do Designer Gráfico (ADG) para
obter mais informações sobre a conduta de profissionais de design. O
vídeo está disponível no seguinte endereço: https://www.youtube.com/
watch?v=WzZYmnzn24s.
De acordo com Redig (2011), o senso comum que impera sobre a área do design
cria a ideia de que design é uma profissão orientada pela futilidade, cabendo ao designer
a tarefa de embelezar produtos e torná-los financeiramente menos acessível na medida
em que usam materiais e formas de modo requintado. Muitas vezes, associado aos juízos
de valor, o design é visto como componente de artigos de luxo e, em consequência
disto, de custo alto, indisponível para a maioria das pessoas. É preciso reverter essa
percepção sobre a área, reconhecer a necessidade de designers aptos a mediar as
relações entre pessoas e artefatos.
204
Foi o evento de maio de 1968 o estopim para o questionamento do poder. Na
ocasião, greves estudantis oriundas nas universidades e escolas de ensino secundário
em Paris passam a ganhar força tornando-se um movimento revolucionário com
mobilizações na França e em outros países. Todas as discussões existentes até o
momento passaram a assumir um teor político (FOUCAULT, 2012).
Segundo Foucault (2012), nem esquerda nem direita tinham preocupação com
o modo pelo qual o poder acontece e devido às lutas diárias, essa questão começou a
ser debatida e movimentos de resistência começaram a ganhar força. Foi por meio das
revoltas libertárias que o modo como o Estado e o poder operavam e pensavam que a
psicanálise e a psiquiatria tradicional serviram como estímulo para os movimentos de
contracultura da década de 1970.
DICAS
Assista ao vídeo Contracultura do canal Brasil Escola para entender com
maior clareza o que foi este movimento, o vídeo está disponível no
endereço a seguir: https://www.youtube.com/watch?v=sXF590p6cwc.
O contexto global nesse período era extremamente tenso e foi precedido pela Guerra
do Vietnã (1959-1975). Nos anos de 1968, a guerra encontrava-se no momento mais tenso
devido à Ofensiva do Tet, que tinha como objetivo tirar as tropas americanas do território
vietnamita cuja consequência foi criar uma imagem negativa do governo estadunidense.
Com uma má repercussão dentro do próprio país, somado ao assassinato de Martin Luther
King, a revolta nos Estados Unidos repercutiu também em território francês. A Primavera
de Praga foi outro evento estudantil impactante, pois o governo da então Checoslováquia
propõe reformas que visavam romper com o autoritarismo soviético (THIOLLENT, 1998).
Foi nesse mesmo período, no Brasil, que o design passou a contribuir com
as mudanças políticas, sociais e culturais por meio de organizações e movimentos.
Trabalhos de ordem pessoal ou comissionados convidam à reflexão e a conscientização
do público. É pela ampliação do conceito de design e pela sua presença nas tarefas mais
cotidianas que percebemos seu poder transformador (MIYASHIRO, 2011).
205
Na França, o governo apresentava propostas de reforma do sistema educacional
em todo o território francês. O movimento se fortaleceu, devido ao ingresso de um
número maior de estudantes na Universidade, colaborando com o desenvolvimento da
Europa Ocidental no período pós-guerra. A tensão existente após a guerra travada na
Argélia ajudou a potencializar a insatisfação causada pelas incertezas da vida profissional
e pelas particularidades do ensino francês, considerado antiquado (THIOLLENT, 1998).
DICAS
Assista ao vídeo Maio de 68/Movimentos em Paris e a Ditadura Militar no
Brasil, para conhecer um pouco mais sobre os reflexos dos movimentos
desse período no Brasil. O vídeo está disponível no link: https://www.
youtube.com/watch?v=sV-gYO3vjlk.
206
dentro da Escola de Belas Artes de Paris. O grupo tinha como objetivo dar uma resposta
à situação social do período de maio de 1968, seus membros organizaram passeatas e
tomaram as universidades. O momento é marcado pela consciência a respeito da posição
concreta e estratégica que o design pode proporcionar, questionando e propondo novas
atitudes para além dos aspectos estéticos (MIYASHIRO, 2011).
FONTE: <http://3.bp.blogspot.com/-d_7TBaR_YIY/VieGLmE-AnI/AAAAAAAAFFs/WhvAf4KNsTo/s1600/
AtelierPopulaire-Mai68_2%2B%25281%2529.jpg>. Acesso em: 6 jul. 2020.
207
O trabalho do Atelier Populaire influenciou outros movimentos ao redor do
mundo, a artista norte-americana Rini Templeton colocou seus desenhos a disposição
para uso em causas sociais e tinham como suporte a fotocópia (MIYASHIRO, 2011).
FONTE: <https://riniart.com/media/Lgi-
f/09488_266_274b.gif>.
FONTE: <https://riniart.com/media/ Acesso em: 6 jul. 2020.
svg/01027_225_232.svg>.
Acesso em: 6 jul. 2020.
Veja alguns trabalhos de Rini mostrados nas figuras anteriores, a Figura 31 foi
criada para as manifestações nos Estados Unidos que, na Califórnia e em outros 18
estados, aprovou uma lei (Prop 13) de redução, tanto de impostos quanto de postos
de trabalho. Pessoas foram às ruas para pedir por emprego e a manutenção de
direitos básicos. A história do povo mexicano é contada por meio do cartaz repressão
e resistência (Figura 32). Após anos de luta contra ativistas desaparecidos, a Frente
Nacional Contra a Repressão conseguiu a libertação de mil prisioneiros. O massacre
conhecido como 2 de outubro no se olvida (2 de outubro não é esquecido) – em 1968,
na praça Tlatelolco, na Cidade do México – levou à morte centenas de estudantes e
manifestantes da comunidade mortos a tiros.
208
no centro da discussão, o foco do design é deslocado para seu potencial comercial e a
busca por uma atitude profissional passa a pautar as discussões em diferentes níveis.
Aposta-se, portanto, numa neutralidade por parte dos designers, trazendo para o centro
do processo o cliente, o público e respectivos problemas (MIYASHIRO, 2011).
O primeiro pôster diz I’ll be your mirror (Eu serei seu espelho), a palavra mirror
quando colocada diante de um espelho reflete mirada, propiciando uma leitura dupla do
cartaz usado para marcar a passagem do dia Internacional da eliminação da violência
contra a mulher. O segundo marca o Encontro de Língua Aborígene e comemora os 40
anos de sua criação por Jaime Torres.
209
Não casualmente, o tema vem despertando o interesse de designers. Braga
(2011, p. 10) afirma que o papel social “é um conjunto de direitos e deveres relativo à
função social que se espera que um indivíduo exerça em determinada posição social,
[...] que o indivíduo ocupa em dada estrutura de uma sociedade”. Existem diversas
categorias sociais, família, religião, ocupação profissional etc.
FIGURA 35 – IMPRESSÕES DIGITAIS (2001) JONA- FIGURA 36 – IMPRESSÕES DIGITAIS (2001) JONA-
THAN BARNBROOK (1) THAN BARNBROOK (2)
210
Outra abordagem do design é o projeto de uísque Nikka, desenvolvido pelo
japonês Taku Satoh tem sua garrafa reutilizável. A embalagem era acompanhada por
uma rolha, o rótulo era facilmente removível com sabão. Veja a embalagem a seguir.
FONTE: <https://0dbcc3748b8f47fd775c-77a5fe26cae7cb35bb07eccfb28cee77.ssl.cf3.rackcdn.com/
takusatoh/_1600xAUTO_crop_center-center_75/01.jpg>. Acesso em: 7 jul. 2020.
FONTE: <https://0dbcc3748b8f47fd775c-77a5fe26cae7cb35bb07eccfb28cee77.ssl.cf3.rackcdn.com/
takusatoh/_1600xAUTO_crop_center-center_75/03.jpg>. Acesso em: 7 jul. 2020.
211
feio. Se o processo de produção se sobrepusesse diante de todos os fatores que
envolvem a produção em design, provavelmente os produtos não seriam atraentes,
funcionais ou duráveis. Portanto, cada um desses pontos é importante e precisam estar
em equivalência em um projeto.
DICAS
Para conhecer o trabalho do Participle, assista ao vídeo que está disponível
no endereço: https://www.ted.com/talks/hilary_cottam_social_services_
are_broken_how_we_can_fix_them#t-164831
Redig (2011) acredita que essas melhorias precisam ser feitas dentro do
expediente, na produção, no comércio e verificar sua real melhoria para o contexto social.
Basicamente, ele defende a ideia de cuidarmos das causas dos males que assolam a
sociedade e não focar apenas nos sintomas dela. Para ele, o design pode apresentar-se
como solução a estes problemas.
212
Se pensarmos no design como algo produzido para atender às necessidades da
sociedade não podemos negligenciar o meio ambiente, pois é impossível atender bem aos
requisitos dos sujeitos se estes estiverem imersos em um ambiente hostil e degradado.
Pensar nas funções dos produtos no que diz respeito às questões operacionais, sociais,
ambientais e outras. Os designers precisam pensar sobre o projeto, pensar na forma e
nas funções, é preciso pensar o contexto de uso, as funções previstas em briefing, as
não previstas e as que podem surgir no decorrer do projeto. Portanto, designers tem
um compromisso com a função social, cultural, ambiental, lúdica, poética, estética dos
artefatos que produzem (REDIG, 2011).
De acordo com Norman (2008), as emoções alteram o modo pelo qual a mente
humana opera, pois elas são capazes de alterar o sistema cognitivo, consequentemente,
a estética pode mudar nosso estado emocional. Durante alguns anos a emoção era
entendida como um problema sofrendo a tentativa de ser superada a partir de um
pensamento racional lógico. Muitas pesquisas nesse período focavam em emoções
negativas, como estresse, medo, ansiedade, raiva, porém, estudos mais recentes
mudaram essa perspectiva.
213
Os estudos sobre emoções de Norman (2008) defendem que esses atributos
mencionados resultam em três diferentes níveis de estruturas no cérebro. A camada
automática, pré-programada corresponde ao nível visceral, as reservadas para os
processos cerebrais que controlam o comportamento diário é o nível comportamental
e a parte contemplativa é o nível reflexivo. Atendendo a diferentes funções, cada
nível impacta o comportamento de cada pessoa (NORMAN, 2008). Observe o diagrama
proposto por Norman a seguir:
FONTE: <http://www1.sp.senac.br/hotsites/blogs/revistainiciacao/wp-content/uploads/2014/11/ima-
ge_059_024.jpg>. Acesso em: 7 jul. 2020.
Podemos observar que o estímulo entra em contato com nosso cérebro por meio
dos sentidos, processamos a informação e nosso cérebro devolve a informação com
uma resposta em algum destes níveis que, como resultado, nos permitem responder
por meio de uma ação motora.
O nível visceral nos permite fazer avaliações imediatas: bom ou ruim, seguro
ou perigoso e em seguida envia os impulsos para o sistema motor que alerta o resto
do cérebro. O nível comportamental é responsável pela maior parte do comportamento
humano e a camada reflexiva, camada mais alta do processo, é capaz de inibir ou
potencializar a camada visceral. Ela não tem acesso direto aos inputs sensoriais ou
ao controle do comportamento, ela observa e reflete sobre o nível comportamental,
tentando influenciá-lo (NORMAN, 2008).
DICAS
Assista ao vídeo Don Norman: 3 maneiras pelas quais o design te faz feliz
e entenda melhor os níveis: visceral, comportamental e reflexivo, o
vídeo está disponível no seguinte endereço: https://www.youtube.com/
watch?v=RlQEoJaLQRA
214
Segundo Norman (2008), os níveis visceral e comportamental são orientados
pela afetividade, sem nos permitir refletir sobre. Os processos de interpretação,
compreensão e raciocínio só ocorrem no nível reflexivo. Devido às características desse
processo ele pode sofrer alterações de acordo com a cultura, com a experiência, com o
grau de instrução e as diferenças individuais de cada indivíduo.
Nessa perspectiva, Norman (2008) defende que o nível visceral pode estar
relacionado com a aparência de um objeto. Vamos observar algumas cadeiras dos
irmãos Campana:
215
FIGURA 42 – IRMÃOS CAMPANA:
CADEIRA MULTIDÃO FIGURA 43 – IRMÃOS CAMPANA:
CADEIRA CONE
FONTE: <http://twixar.me/VfWm>.
FONTE: <http://twixar.me/PfWm>. Acesso em: 7 jul. 2020.
Acesso em: 7 jul. 2020.
Quando olhamos para as cadeiras dos Irmãos Campana, o forte apelo estético
que elas exercem sobre nós aguçam nosso nível visceral, somos levados pela aparência,
deixando um pouco de lado nossa avaliação acerca da parte prática das mesmas.
216
O design reflexivo está relacionado à autoimagem, à satisfação pessoal e às
lembranças. Vamos pensar nesse conceito a partir de duas perspectivas, primeiro o da
autoimagem:
FIGURA 46 – IPHONE
FONTE: <https://encrypted-tbn0.gstatic.com/images?q=tbn%3AANd9GcTf0vqJedUYCOmE301i-
t4u17_2pxyHV3wGxsQ&usqp=CAU>. Acesso em: 7 jul. 2020.
FIGURA 47 – SEMP
217
FIGURA 49 – EMBALAGEM
FIGURA 48 – APARELHO DE PRODUTO GRANADO
SOM DIGITAL VINTAGE
FONTE: <http://twixar.me/2fWm>.
Acesso em: 7 jul. 2020. FONTE: <http://twixar.me/qfWm>.
Acesso em: 7 jul. 2020.
A maioria dos jovens contemporâneos não tiveram acesso aos aparelhos de som
da década de 1960, por exemplo, porém, a indústria identificou um certo saudosismo nas
formas desses produtos conferindo-lhes todo o potencial tecnológico contemporâneo
fazendo com que o artefato caia nas graças dos amantes deste estilo. Já a linha de
produtos Granado apostou num visual retrô para trazer à memória das pessoas mais
jovens os produtos que provavelmente eram usados por nossas avós. Ambas abordagens
evocam experiências anteriores dos consumidores para impeli-los à compra.
DICAS
Para entender mais sobre o design emocional, assista ao vídeo O que é
design emocional? O vídeo está disponível no seguinte endereço: https://
www.youtube.com/watch?v=cKldCkarxFw.
218
Norman (2008) propõe uma diferenciação entre necessidades dos usuários e
vontades dos usuários. A necessidade é orientada pelo cumprimento de uma tarefa, é
o mínimo necessário para executar algo. As vontades ou desejos são orientadas pela
cultura, pela publicidade, pelo modo através do qual um indivíduo deseja ser percebido
no contexto em que está inserido.
Em seu livro, Design do dia a dia, Norman (2006) defende que o design deve ser
centrado no usuário e seu objetivo é criar uma filosofia cujo foco seja o desenvolvimento de
produtos fáceis de usar e fáceis de compreender. Esta é uma temática que tem sido muito
abordada nas discussões sobre experiência dos usuários com foco em interfaces digitais,
porém, em termos práticos, precisamos pensar nestes efeitos em todos os níveis do design.
Para Norman (2006), o design tem como função garantir que o usuário
compreenda o que precisa fazer e que ele consiga compreender o que está
acontecendo. Os processos para execução das tarefas devem seguir uma linha
natural e preferencialmente dispensar qualquer auxilio, porém, se necessário, deve
ser compreensível e replicável em uma única vez. Não vamos nos aprofundar nessa
temática neste momento, pois ela nos levará para a experiência do usuário.
DICAS
Assista ao vídeo Experiência do usuário: foque menos nas features, de
Rodrigo Lemes, para conhecer um pouco sobre a experiência do usuário.
O vídeo está disponível no seguinte endereço: https://www.youtube.com/
watch?v=8nzX2GYSJ_4
Neste tópico você viu que o design social propicia a reflexão sobre o papel do
designer e sua responsabilidade com o meio em que está inserido e com a sociedade
em geral. O que gostaríamos de deixar como reflexão é que não só apenas projetos
autorais são passivos de comprometimento social. Quando a frente de um projeto
privado, podemos pensar nas melhores abordagens considerando o impacto daquilo que
estamos produzindo na sociedade. Neste sentido, você também viu o fator emocional
aplicado ao design que, de acordo com Norman (2008), se dá em três instâncias:
visceral, comportamental e reflexivo.
Você pode estar se perguntando o motivo pelo qual estes dois temas foram
alinhados em um único tópico, e a resposta é muito simples: se você revisar as imagens
apresentadas nos projetos, ao longo deste tópico, vai perceber que o fator emocional
é muito proeminente no design social, pois ele traz o projeto para dentro do contexto
daquele que acessa o artefato, ele se torna o espelho da realidade daqueles que
consomem o artefato e no momento em que criamos uma identificação entre usuário e
design conseguimos atingir o mais íntimo de cada indivíduo.
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RESUMO DO TÓPICO 3
Neste tópico, você aprendeu:
• O design não tem apenas objetivos comerciais, mas que ele pode atuar junto à
sociedade sanando problemas, propondo soluções ou simplesmente colocando
os sujeitos a terem uma reflexão individual que pode ganhar uma abrangência de
grupo.
220
AUTOATIVIDADE
1 Faça uma pesquisa sobre projetos sociais de design (pelo menos dois projetos, um
em âmbito nacional, outro em âmbito internacional). Identifique os problemas que
eles pretendem problematizar ou resolver e o modo como o design está a serviço
deles. Organize as informações e reúna imagens.
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222
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