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Tipografia e Design

Editorial
Fernanda Regueira

Curso Técnico em
Design Gráfico
Tipografia e Design
Editorial
Fernanda Regueira

Curso Técnico em
Design Gráfico

Escola Técnica Estadual Professor Antônio Carlos Gomes da Costa

Educação a Distância

Recife

1.ed. | Agosto 2022


Professor Autor Catalogação e Normalização
Fernanda Regueira Hugo Cavalcanti (Crb-4 2129)

Revisão Diagramação
Fernanda Regueira Jailson Miranda

Coordenação de Curso Coordenação Executiva


Lia Madureira Ferreira George Bento Catunda
Renata Marques de Otero
Coordenação Design Educacional Manoel Vanderley dos Santos Neto
Deisiane Gomes Bazante
Coordenação Geral
Design Educacional Maria de Araújo Medeiros Souza
Ana Cristina do Amaral e Silva Jaeger Maria de Lourdes Cordeiro Marques
Helisangela Maria Andrade Ferreira
Izabela Pereira Cavalcanti Secretaria Executiva de
Jailson Miranda Educação Integral e Profissional
Roberto de Freitas Morais Sobrinho
Escola Técnica Estadual
Descrição de imagens Professor Antônio Carlos Gomes da Costa
Sunnye Rose Carlos Gomes
Gerência de Educação a distância
Sumário
Introdução .................................................................................................................................... 6

1.Competência 01 | | Entender o conceito, a origem e a evolução da tipografia ao longo da história,


através do processo evolutivo das formas e tecnologias tipográficas ............................................. 7

1.1 Fonte, tipo, tipografia e tipologia .............................................................................................................. 8


1.2 A primeira impressão é a que fica ......................................................................................................... 10
1.3 No princípio tudo era gótico ................................................................................................................... 13
1.4 Revolução tipográfica .............................................................................................................................. 18
1.5 Tipos digitais ............................................................................................................................................ 20
2.Competência 02 | Refletir de modo crítico sobre o uso da tipografia, reconhecendo a anatomia e
os conceitos visuais relacionados a tipografia. ............................................................................. 23

2.1 A anatomia da letra ................................................................................................................................. 23


2.2 Classificação ............................................................................................................................................ 27
2.3 Conceitos visuais para te ajudar .............................................................................................................. 29
2.3.1 Escala .................................................................................................................................................... 29
2.3.2 Kerning e espaçamento ........................................................................................................................ 30
2.3.3 Entrelinhamento e alinhamento .......................................................................................................... 32
2.3.5 Texto vertical ........................................................................................................................................ 39
2.3.6 Hierarquia............................................................................................................................................. 40
3.Competência 03 | Conhecer a história do design editorial, as funções e tipos de produtos
editoriais. .................................................................................................................................... 45

3.1 O que é design editorial? ........................................................................................................................ 45


3.2 O lugar do design editorial no mundo ..................................................................................................... 47
3.2.1 Para cada história uma pessoa ............................................................................................................. 48
3.2.2 Atributos comuns a todos .................................................................................................................... 50
3.2.3 Produtos editoriais ............................................................................................................................... 52
4.Competência 04 | Conhecer os elementos gráficos presentes no livro, no jornal e na revista, a
hierarquia da informação. ........................................................................................................... 59

4.1 Não julgue um livro pela capa ................................................................................................................. 59


4.2 Tipos de capa........................................................................................................................................... 63
4.3 Elementos da capa .................................................................................................................................. 66
4.2 Montando uma capa ............................................................................................................................... 74
5.Competência 05 | Analisar as etapas do desenvolvimento de um projeto editorial, do conteúdo
textual ao conceito visual. ........................................................................................................... 76

5.1 Como fazer .............................................................................................................................................. 76


5.1 Especificações importantes ..................................................................................................................... 79
5.2 Formatos ................................................................................................................................................. 80
5.3 Estrutura do livro..................................................................................................................................... 81
5.3.1 Pré-textual ............................................................................................................................................ 81
5.3.2 Parte textual ......................................................................................................................................... 83
5.3.2 Pós-textual ........................................................................................................................................... 84
5.4 Margens e sangrias.................................................................................................................................. 86
5.4 Acabamentos........................................................................................................................................... 86
5.4.1 Laminação ............................................................................................................................................ 86
5.4.1 Verniz ................................................................................................................................................... 87
5.4.1 Relevo ................................................................................................................................................... 88
5.4.1 Hot Stamping ........................................................................................................................................ 89
5.5 Materiais para capa ................................................................................................................................. 90
Conclusão .................................................................................................................................... 92

Referências ................................................................................................................................. 93

Minicurrículo do Professor .......................................................................................................... 94


Introdução
Opa! Tudo certo por aí? Bucho cheio? Altos picos de energia? Você vai precisar! Haha!
Tiração de onda a parte, nas próximas semanas vai ser assunto até o gogó. Isso porque essas 5
competências são cheias de informações preciosas para que você avance no design gráfico.
Particularmente eu sou apaixonada por design editorial e você possivelmente também
ficará, pois ele está em absolutamente tudo a nossa volta. E olhe que eu ainda nem mencionei a
tipografia, uma experiência indescritível.
Juntinhos, eu e você, vamos dar uma boa olhada nesses temas e colocar em prática essas
teorias, afinal é pra isso que estamos aqui.
Espero que você faça essa imersão com brilho nos olhos, assim como eu.
Simbora? Não dá pra perder tempo!

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1.Competência 01 | | Entender o conceito, a origem e a evolução da
tipografia ao longo da história, através do processo evolutivo das formas
e tecnologias tipográficas

Olá!

OLÁ!

Olá!
Olá!
E mais um olá! HAHA! Tudo bem por aí? Vou começar pedindo para você dar uma
analisada nos olás que estão aqui em cima. Olhou direitinho? Agora pensa um pouquinho, se você
fosse escolher o mais animado qual seria? Sim, na sua humilde opinião. E o mais romântico? O mais
gótico? O que poderia estar na capa do jornal? Difícil ou fácil pensar nisso? Bem, mas também posso
fazer perguntas do tipo, qual seria o mais aconselhável para chamar atenção para uma informação
importante? Ou o ideal para simular uma carta manuscrita? Ou uma conversa no Whatsapp? Acho
que já deu para perceber onde quero chegar, né?
As fontes, ou melhor, os tipos, como você verá a seguir tem estilos muito próprios. Nós
podemos qualificar cada uma delas com adjetivos bem específicos, e cada família tipográfica têm
características diferentes (como toda família diga-se de passagem). Isso acontece porque cada uma
delas tem esse poder de gerar sensações, elas têm alma, saca? Na verdade, a leitura tem disso.
Quando lemos um texto, o interpretamos em diferentes camadas, o que vai nos dando sensações
distintas, e as fontes são responsáveis por parte dessa reação consciente e inconsciente que temos
ao ler imagens e textos. Muito louco, né? Agora, avalie quando essas fontes são associadas com cores,
imagens e composições estéticas que agreguem à ideia? Poderoso? Sim ou com certeza?
Em um mundo rodeado por letras, onde nos comunicamos através das palavras (que não
deixam de ser imagens), é mais do que comum que o estilo dessas palavras ganhe um destaque,
chamando nossa atenção. Mas vamos com calma, que ninguém aqui está com pressa.

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Para início de conversa já saiba que as fontes são mesmo um mundo à parte, cada uma
tem suas peculiaridades, existem especialistas nessa área e um mundo de informações particulares e
claro, vamos ver tudo isso por aqui. Mas antes, comecemos pelo começo.

Parece louco, mas o exercício de ouvir algo que é tão imagético quanto letras,
fontes e tipos é uma prática massa para o designer gráfico. Então, bora
imaginar juntos! Bora de podcast!

1.1 Fonte, tipo, tipografia e tipologia

Tipo ou fonte? Tipografia ou tipologia? Sabe a diferença?


Dando o play nos paranauês das letras é provável que você use a palavra fonte sempre
que deseja se referir ao estilo da letra de uma peça gráfica. Aqui mesmo, nesse texto, “a fonte” é
Calibri. E até então, nenhum problema, essa palavra é a que mais usamos quando vamos falar sobre
o assunto. Mas, na verdade verdadeira, estamos usando a palavra fonte para falar sobre o conceito
de tipo.
Essas duas palavrinhas exprimem noções distintas desse universo. De maneira
generalizada esses conceitos são sinônimos, na rotina todo mundo usa como se fossem a mesma
coisa, mas no âmbito do design gráfico não são a mesma coisa. Então, bora de conceito:
• Tipo “é um conjunto de caracteres, letras, número, símbolos, pontuação que tem
um design comum e distinto” (AMBROSE, 2011, p.17)
• Fonte “é o meio físico utilizado para criar o tipo, seja ele código de computador,
fotolito, metal ou gravação em madeira” (AMBROSE, 2011, p.17).
Ficou difícil? Pensa em fonte como uma fôrma, como a de alumínio que faz um bolo, e o
bolo propriamente dito como o tipo. Ou seja, todas as vezes que você se referiu a fonte pensando
nas características que aquelas letras tinham em comum, você estava querendo falar no tipo. Ainda
não entendeu? Vou desenhar.

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Figura 01 – Fonte e Tipo.
Fonte: Acervo pessoal
Audiodescrição da figura: A figura mostra alguns carimbos de madeira de letras, eles estão em cima de uma folha de
papel, onde é possível ver a impressão das letras M, A, R e X. Fim da Audiodescrição.

Agora foi, né? Massa! Fonte é de onde sairá a impressão e o tipo é o resultado que vemos
no papel.
E com relação a tipografia e tipologia? Já ouviu falar nesses conceitos? Sabe o que cada
um significa? Para não restar dúvidas eis que trago os significados de ambas.
• Tipografia “é a representação visual da linguagem e, portanto, expressão de
cultura” (NIEMEYER, 2010, p.14)
• Tipologia “é o processo de classificação ou o estudo de um conjunto, qualquer que
seja a natureza dos elementos que o compõem, para a determinação das
categorias em que se distribuem, segundo critérios definidos” (NIEMEYER, 2010,
p.15).
O que isso quer dizer na prática? Simples, pra gente o que interessa é a tipografia, ou seja,
o estudo da representação visual da linguagem, o tipo. Esse é o nosso campo e para onde nós vamos
olhar. Segue o fio.

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1.2 A primeira impressão é a que fica

Já ouviu essa expressão? Com certeza, hem? Normalmente ela é mencionada com o
propósito de dizer que quando conhecemos uma pessoa, a primeira percepção é a definitiva. Ou seja,
não mudamos de opinião depois de ser apresentado a esse alguém. Errado? Com certeza! Afinal, o
tempo mostra outras características que mudam opinião. Mas, no campo da tipografia, a primeira
impressão (literalmente) aconteceu a muitos anos atrás e ficou. Haha!
A história da tipografia se confunde com a própria escrita, o que equivale a séculos de
informação, então faremos uma breve síntese aqui. A preocupação com os tipos começa quando a
escrita será lida por outra pessoa e “uma das primeiras mensagens a serem lidas por um grande
número de pessoas foi delineada não por penas, mas por cinzéis e talhadeiras” na coluna de Trajano
na Roma antiga, como você pode observar a seguir. E esse estilo, o romano, influenciou e muito a
tipografia, como veremos depois.

Figura 02 – Coluna de Trajano.


Fonte: https://i.pinimg.com/originals/63/2f/45/632f45b9f4017a3f71f955e587c72a7c.jpg
Audiodescrição da figura: A imagem mostra um pedaço da coluna de Trajano, localizada em Roma. O fundo é de
mármore e nele estão inscritas algumas palavras em caixa alta. Fim da Audiodescrição.

O interessante de olhar para trás é perceber que na verdade esse passado não está morto
e sim bastante presente. Quando vamos usar um estilo de letra, a depender do projeto, escolhemos
de acordo com a estética que pretendemos imprimir na audiência. Então, é comum que letras que
representam um tempo antigo sejam muito usadas em projetos gráficos para dar um ar vintage ou
comunicar tradição, por exemplo. Contudo, não se trata apenas de conhecer o passado para adaptá-
lo ou imitá-lo. Como designers gráficos há muito experimento na hora de produzir e tentar algo novo.

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Através de técnicas diversificadas e materiais que a olho nu nunca serviriam como fonte para um tipo,
é possível criar um estilo novo e surpreendente.
Mas até para criar o novo, é preciso conhecer o que já foi feito, afinal, não dá para
começar do nada, como se as letras nunca tivessem existido. A estaca zero da impressão, por
exemplo, o chamado tipos móveis surgiram na China (1040) e depois chegaram à Europa, onde
Gutenberg, um alemão promissor, usou e abusou tanto que ficou conhecido como pai da impressa.
Essa impressão por tipos móveis ganhou força no continente europeu graças a letra romana, que
diferente dos glifos orientais são mais fáceis de reproduzir.
A título de curiosidade, glifos são desenhos frequentemente gravados em relevo, como
os hieroglifos egípcios. Já as letras do alfabeto japonês e chinês, por exemplo, os ideogramas, por se
tratar de conceitos abstratos e mutáveis não são simples de usar com tipos móveis.

Quer saber mais sobre o pai da imprensa? Então acessa esse link e fica por
dentro da revolução:
https://portaldeperiodicos.unibrasil.com.br/index.php/cadernoscomunicacao/
article/view/2037

A melhor maneira de explicar o que são tipos móveis é mostrá-los. Saca a imagem:

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Figura 03 – Tipos móveis.
Fonte: https://www.ufmg.br/online/arquivos/017608.shtml/
Audiodescrição da figura: Na imagem é possível ver alguns móveis de madeira, de onde saem múltiplas gavetas. Dentro
de algumas gavetas abertas é possível ver letras de diversos tamanhos e estilos. Fim da Audiodescrição.

Imagina uma sala cheia dessas gavetas, com letras de vários formatos, tamanhos e
estéticas. Pois bem, o tipógrafo, profissional responsável pela paginação, composição e execução da
impressão é uma profissão quase extinta, e que vivia entre essas gavetas planejando as páginas de
jornais, revistas e livros. Hoje, essa impressão com tipos móveis é rara e quase artística, pois as
grandes gráficas (e pequenas também) utilizam o computador e impressoras cada vez mais digitais e
inteligentes.
Consegue imaginar como essa tecnologia mudou o mundo? Antes a cópia de documentos
era feita por monges reclusos e escribas e algumas obras demoravam anos para ficar pronta. Claro
que a maior parte da população mundial nessa época também não sabia ler, mas ainda assim o
método era arcaico. A impressão por tipos móveis ajudou inclusive na popularização das letras, da
leitura e posteriormente dos livros, muito mais acessíveis depois da invenção da prensa.

Momento dicionário
Prensa: aparelho manual ou mecânico usado para reproduzir, com tinta, em
papel ou noutro material, imagens e textos moldados, gravados ou
fotogravados em placa ou cilindro, em relevo, a entalhe ou em plano;
impressora, máquina impressora, prelo. Fonte: Dicionário de Oxford

Além de serem reutilizáveis as letras empregadas na prensa começaram a ser pensadas


para ajudar na legibilidade. No momento que Gutenberg cogitou essa ideia talvez a palavra
legibilidade nem existisse ainda, mas a lógica foi deixar o texto mais fácil de ser lido, pois as letras
góticas, pesadas e cheias de ornamento não eram as mais apropriadas para uma população pouco
alfabetizada. Olha só como era fácil ler essa bíblia imprensa pelo próprio Gutenberg (só que não).

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Figura 04 – Bíblia de Gutenberg.
Fonte: https://www.plau.design/post/a-politica-da-letra-gotica
Audiodescrição da figura: A imagem é uma fotografia de uma folha da bíblia feita por Gutenberg. A página é amarelada
e as letras tem um estilo bem ornamentado. Fim da Audiodescrição.

Se você conseguiu entender, PA-RA-BÉNS! HAHA! Por aqui seguimos com fontes romanas,
ok? Mas, é isso, Gutenberg quis ajudar e conseguiu. Bom pra ele e pra nós, mesmo que séculos depois.
E depois disso? O que aconteceu? Segue o fio.

1.3 No princípio tudo era gótico

Os tipos, assim como a vida (óbvio), foram sendo modificados e influenciados pelas
dinâmicas sociais, culturais e econômicas. No século XV, na Itália, influenciados pelo Renascimento,
os letrados começaram a questionar o uso da escrita gótica e começaram a optar pela lettera antica,
uma letra mais arredondada e leve (LUPTON, 2013). Um nome importante nesse cenário foi o do
francês Nicolas Jenson, que mesclou o que se tinha de bom no gótico com a cultura italiana, e essa
junção fez tanto sucesso que o deixou marcado na história.
Por falar em Itália, as letras itálicas foram criadas por lá mesmo e a intenção era dar uma
ideia de caligrafia no tipo, ocupando assim menos espaço. Os livros impressos naquela época

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conseguiam ser ainda mais caros do que hoje, então qualquer estratégia para baratear era bem
recebida. Nesse caso, além de deixar mais acessível a invenção transformou a tipografia, pois todas
as fontes que podem ser moduladas na diagonal recebem o nome de itálico. Legal, demais, né?
Imagina se tivesse sido um brasileiro? Hoje em dia, estaríamos chamando de letra “brasileiro”.
Mas continuando ao pé da letra, literalmente, o começo da tipografia tem tudo a ver com
o corpo humano. Os impressores (pessoas responsáveis pela impressão) e tipógrafos (criadores de
tipo) buscavam nos tipos que criavam familiaridade com a letra cursiva (na tentativa de copiar a
caligrafia), conhecida pela maioria dos letrados e também o modelo mais popular até meados de
1500. E assim que se começou a pensar em novos formatos, a inspiração foi a mais óbvia possível, o
próprio corpo humano, na verdade, o corpo humano ideal. Essa inspiração tinha tudo a ver com a
época, o renascimento, e para se ter uma ideia, Geofroy Tory (tipógrafo), por exemplo, publicou uma
série de diagramas (desenhos) onde ele vinculava as letras ao corpo humano. Olha só.

Curiosidade
Os nomes das letras geralmente são homenagens ao próprio autor e até mais
modernas, inspiradas em grandes estilos do passado, como Garamond e
Palatino, tiveram seus nomes em impressores dos séculos XV e XVI. Fonte:
Lupton, 2013.

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Figura 05 – Diagrama de letras.
Fonte: https://i.pinimg.com/originals/bb/58/4e/bb584eb73d2d8178538728d2e2fcb7c4.jpg
Audiodescrição da figura: A figura mostra desenhos de algumas letras com correspondências ao corpo
humano. Fim da Audiodescrição.

Durante uma boa época os tipos seguiram essa linha renascentista, assim como outras
artes. No caso do Tory, cada letra ideal tinha um fundo ideológico, um pensamento, uma ideia por
trás. Para a letra A ele escreveu “ a barra transversal cobre o órgão reprodutivo masculino,
significando que modéstia e castidade são requeridas, acima de tudo, daqueles que procuram
conhecer letras bem proporcionadas” (LUPTON, 2013, p.12). Uma viagem, certo? Esse pensamento
para os dias de hoje parece bem antiquado, mas naquela época teve quem comprasse a ideia. Fico
me perguntando se conseguiríamos hoje fazer relações tão filosóficas quanto essas nos tipos que
mais usamos. Será? Na dúvida, continuemos.
Depois dessa onda renascentista veio o iluminismo com a vontade de quebrar os
paradigmas passados. Toda nova onda cultural, por assim dizer, sempre tem a vontade de fazer
completamente diferente da escola anterior. Foi e ainda é assim nas artes, literatura e etc.. Bem,
nessa época iluminista o humanismo e o corpo ideal foram deixados de lado na hora de criar tipos e

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entrou em vigor a abstração. As letras ficaram mais flexíveis, as linhas fluidas e ondulantes, como
você pode ver na fonte William Caslon de 1720.

Figura 06 - Caslon.
Fonte: https://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/2/21/CaslonSpecimen.jpg
Audiodescrição da figura: A figura mostra o tipo feito do Caslon e sua aplicação em pequenos textos. Fim
da Audiodescrição.

O negócio ficou tão sério e fino que até um rei chegou a ter uma fonte própria, onde os
tipos eram de metal e não de madeira, foi o caso de Luís XIV. Consegue imaginar isso? Hoje podemos
usar e abusar de qualquer tipo, mas houve um tempo em que pessoas ficaram enlouquecidas em
receber um convite do rei, percebida logo de cara pela fonte e pelo estilo da letra. Louco demais!
Voltando aos tipógrafos, dois excelentes do século XIX merecem também uma menção
de honra, Giambattista Bodoni e Firmin Didot. Conhecidos por serem revolucionários e criarem fontes
com bastante contraste entre os eixos horizontal e vertical, eles foram o início do movimento de
desvincular de fato e de direito a tipografia da caligrafia (LUPTON, 2013). O trabalho de ambos foi tão
promissor que chegaram a receber críticas horrendas e denunciados por criarem fontes

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“monstruosas”, pois eram desumanas, abstratas e às vezes até distorcidas. Uma grande modernidade
como você pode ver a seguir (só que não).

Figura 07 - Bodoni.
Fonte: https://wikiimg.tojsiabtv.com/wikipedia/commons/thumb/7/75/Manuale-Tipografico1.jpg/440px-Manuale-
Tipografico1.jpg
Audiodescrição da figura: A figura mostra um manual tipográfico feito por Bodoni. São duas páginas. Na
da direita está o título e algumas informações técnicas e na página do lado direito estão os tipos no estilo feito pelo
tipógrafo. Fim da Audiodescrição.

A propaganda também tem grande responsabilidade nessa mudança de paradigma dos


tipos, pois com a ascensão a do consumo de massa foi preciso novos tipos e combinações para chamar
a atenção do público consumidor. Como esse cartaz aqui embaixo.

Tudo lindo até agora? Então, vai te embora assistir a videoaula que tá massa
demais!

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Figura 08 - Cartaz.
Fonte: https://i.pinimg.com/originals/9c/66/65/9c666544f41f4d347c06aa3a74668d2a.jpg
Audiodescrição da figura: A figura mostra um cartaz publicitário escrito com vários tipos diferentes, mas
todos na cor vermelha. Fim da Audiodescrição

1.4 Revolução tipográfica

Por mais “monstruosas” que tenha sido chamadas os tipos de Bodoni e Didot, só a partir
de 1900 é que a revolução se instaura entre as letrinhas. Claro que críticos surgiram nesse tempo,
reivindicando letras puras e humanistas, mas felizmente as novidades não pararam de chegar. Um
desses grupos se chamava “De Stijl”, um movimento holandês que projetou alfabetos
perpendiculares e bem diferentes de tudo o que já havia sido criado. Espia só uma das obras de Theo
van Doesburg, um dos fundadores do movimento.

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Figura 09 - Doesburg.
Fonte: http://luc.devroye.org/fonts-30202.html
Audiodescrição da figura: A figura mostra um fundo de folha amarelada e algumas frases escritas com o
tipo feito por Doesburg. Fim da Audiodescrição

Finalmente uma revolução, né? Pois bem, outra escola que deu o que falar com suas
criações tipográficas irreverentes foi a Bauhaus, que investiu em formas básicas para obter uma
linguagem universal. Observa aí e analisa.

Figura 10 - Bauhaus.
Fonte: http://tipografos.net/bauhaus/bayer.html

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Audiodescrição da figura: A figura mostra um fundo amarelo e o alfabeto com o tipo da Bauhaus. Fim da
Audiodescrição
Esses alfabetos diferentes de tudo o que já havia sido feito até então, não buscavam tipos
perfeitos, mas sim uma experimentação, algo incomum e inovador. ACHO que conseguiram!

1.5 Tipos digitais

Mas nem tudo foi o tempo todo feito com instrumentos artesanais, réguas e prensas
tipográficas. Como você pode imaginar os computadores pessoais e impressoras mudaram a maneira
de fazer tipos e também e o consumo das informações. A partir da década de 1980, a baixa resolução
das telas fizeram com que muitos tipógrafos pensassem em novos alfabetos para essa demanda
digital. Um bom exemplo são os tipos criados por Zuzana Licko, que explorou a textura do sistema
computacional, inventando tipos icônicos como Oakland, Emperor e Emigre. Observa a Oakland, por
exemplo, e essa carinha pixelizada maravilhosa.

Figura 11 - Oakland.
Fonte: https://www.moma.org/collection/works/139320
Audiodescrição da figura: A figura mostra o alfabeto com letras maiúsculas e minúsculas do tipo Oakland. Fim da
Audiodescrição

Nota só essa grande diferença nesse recorte histórico. No século XV, os tipos eram criados
em madeira, depois em metal, mas tudo era muito artesanal por mais que a matemática tenha sido

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usada para contabilizar espaços e deixar as letras perfeitas. Agora, com a ascensão da tecnologia, a
informação é publicada em telas, o consumo tipográfico deixou de ser essencialmente no papel. Os
tipos passaram a ter o pixel como sua matéria bruta, mas os designers não deixaram de ter essa
vontade de fazer experimentações que mexessem nas letras. É o exemplo da Template Gothic,
baseada em estêncil de plástico, a Dead History, inspirada nas músicas contemporâneas e a Beowulf,
com contornos programados. Confere a Template abaixo.

Figura 12 – Template Gothic.


Fonte: https://www.moma.org/collection/works/139319
Audiodescrição da figura: A figura mostra o alfabeto com letras maiúsculas e minúsculas do tipo
Template Gothic. Fim da Audiodescrição

Mas o digital não serviu apenas para criar novas letras, alguns designers especialistas em
tipos digitalizaram alguns com mais de 500 anos para que pudessem ser utilizados na atualidade. Esse
é o caso da Bembo, inspirada na criação de Francesco Griffo. Aqui embaixo tem a versão antiga.

Figura 13 - Griffo.
Fonte: http://tipografos.net/historia/griffo.html

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Audiodescrição da figura: A figura mostra um texto escrito com o tipo criado por Francesco Griffo. Fim
da Audiodescrição

Agora, olha a versão digitalizada.

Figura 14 - Bembo.
Fonte: https://www.dfonts.org/fonts/bembo-font/
Audiodescrição da figura: A figura mostra um pequeno texto escrito com o tipo Bembo. Fim da
Audiodescrição

Bem, claro que esse foi apenas um recorte histórico do começo da revolução digital nos
tipos, mas todo dia novos designers criam fontes com inspirações mil, e são tantas e tão múltiplas
que nem sabemos como usar direito. Mas tenha calma que nas próximas competências isso ficará
mais claro. Por enquanto vamos seguir conhecendo melhor os tipos e suas características.

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2.Competência 02 | Refletir de modo crítico sobre o uso da tipografia,
reconhecendo a anatomia e os conceitos visuais relacionados a tipografia.
Depois de entender o movimento tipográfico e sua evolução, chegou o momento de
sermos cirúrgicos. Isso mesmo, bora cortar o tipo ao meio e bisbilhotar o que corre no sangue das
letrinhas. HAHA! Psicoses de lado, é entendendo todas as partes da letra que possivelmente você irá
se apaixona pelo campo e quem sabe até fazer a sua primeira “fonte”. Bem, e independente de ser
ou não um tipógrafo, tendo entendimento sobre esses conceitos chaves, você se tornará mais apto
para escolher os tipos para os seus projetos gráficos. Então, é isso, só temos a ganhar.

Antes aperte o play naquele áudio massa que eu fiz pensando em tipos,

como você -sentiu a tirada? Hã? Hã?

2.1 A anatomia da letra

O momento estudante de medicina chega para todos. Real! E já que por muito tempo os
tipos foram feitos inspirados no corpo humano, nada mais lógico do que chamar esse momento de
anatomia. Sim! É aquela disciplina que o pessoal da saúde paga no comecinho da faculdade para
conhecer cada músculo, osso e artérias e veias do corpo. Aqui, no lugar dos órgãos, teremos outras
coisinhas, mas igualmente importantes para o universo tipográfico. No esquema abaixo você verá os
detalhes.

23
Figura 15 - Anatomia.
Fonte: Acervo pessoal
Audiodescrição da figura: A figura mostra a palavra Handgloves, com setas mostrando cada parte da
letra e seus nomes. Fim da Audiodescrição

Como se pode observar cada parte da letra tem sua nomenclatura específica. A “altura-X”, por
exemplo, “é a altura do corpo principal da letra minúscula, excluindo seus ascendentes e
descendentes” (LUPTON, 2013, p. 33). E os outros elementos são tão importantes quanto, olha só:
• Linha base – “A linha de base é onde todas as letras repousam. Ela é o eixo mais estável
ao longo de uma linha de texto, e é crucial para alinhar textos a imagens e a outros
textos” (LUPTON, 2013, p. 33).
• Saliência – “As curvas na base de letras, como o ou e, ultrapassam um pouquinho a
linha base. Vírgulas e pontos fazem o mesmo. Se os tipos não fossem posicionados
desse modo, pareceriam cambalear precariamente, e faltaria a eles um senso de
firmeza terrena” (LUPTON, 2013, p. 33).
As demais partes são exatamente o que parecem ser. Ascendente e descendente são as partes
do tipo que ultrapassam a altura de X, para cima e para baixo respectivamente. Espinha é a coluna
do S, sua curvatura interior. E serifa é essa saída da letra, aquele tracinho cheio de charme.
Mas nem só de serifa e saliência vive uma letra, na composição de um projeto gráfico também
há destaque para a altura e largura.

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A título de curiosidade, a padronização da altura do tipo começou no século
XVIII e hoje é convencionado o sistema de pontos e um ponto equivale a 0,35
milímetros. O tipo também pode ser medido por pixel, milímetro ou polegada.
Os softwares de edição gráfica permitem que se escolha o padrão do arquivo
manipulado.

Com relação a largura, “as letras possuem medidas horizontais, chamadas de larguras de
composição. Essa largura equivale ao corpo da letra mais um pequeno espaço que a protege das
outras. A largura de uma letra é intrínseca à proporção do tipo. Em alguns tipos ela é generosa, em
outras estreitas”. (LUPTON, 2013, p. 34). É sempre possível mudar a largura do tipo, mas cuidado para
não distorcer a letra e ela ficar estranha, a não ser que esse seja o objetivo para o trabalho que você
está desenvolvendo. Alguns tipógrafos consideram essa situação como um “crime tipográfico”. Olha
a imagem a seguir para entender essa “violação”.

Figura 16 - Distorção.
Fonte: Acervo pessoal
Audiodescrição da figura: A figura mostra a palavra Handglove com distorção vertical e horizontal. Fim
da Audiodescrição

25
O crime está justamente em forçar essa barra. A letra não foi feita para receber uma
distorção. Na primeira opção ela parece mais estreita, estranhamente estreita e na segunda, muito
mais larga e as letras ficaram deformadas. Arrisquei dizer que essas distorções podem até ser
aplicadas a depender do projeto gráfico, mas isso precisa estar MUITO bem definido, porque a chance
de ficar no mínimo feio é grande.
Bem, mas bora falar só mais um pouquinho sobre a altura-X? Existem algumas dicas que são
massa de ter em mente na hora de planejar um projeto. Tipos com altura-x alta são ótimas para textos
pequenos, pois continuam legíveis, como a Helvetica. Já tipos com altura-X pequenas não são
eficientes no uso do espaço, mas podem possuir outras características interessantes para um projeto
gráfico. Confere nesse esquema aqui.

Figura 17 – Tipo e tamanho.


Fonte: Acervo pessoal
Audiodescrição da figura: A figura mostra dois pequenos textos escritos com tipos diferentes para
mostrar como funciona o tamanho deles. Fim da Audiodescrição

Percebe a diferença? Enquanto com a Helvetica no tamanho 09 a legibilidade é boa, com a


French Scrip é preciso no mínimo o tamanho 20 para chegar próximo de um texto legível. Conduto, a
Helvetica pode não ser a mais indicada quando se precisa de uma letra com mais personalidade.
Enquanto a French Scrip é amável, doce e poética, interessante para projetos que precisem dessa
sensação. Ainda não chegamos no capítulo onde falaremos abertamente sobre o uso mais adequado
de tipos, mas aqui já é possível pensar em bons funcionamentos a depender do contexto do projeto.
Por isso, é importante ter um mínimo de familiaridade com a classificação das letras para fazer as
melhores escolhas.

26
2.2 Classificação

Classificar os tipos está longe de ser um trabalho burocrático e sem razão de ser, porque
graças a essa catalogação que o trabalho do designer gráfico se torna mais rápido e desenvolto. Não
acredita? Vou provar! Exemplo, se em determinado projeto já sabemos que vamos precisar de uma
tipografia para um texto longo, então o ideal é buscar uma letra que não canse a vista, como serif ou
sans serif, mas uma manuscrita nem pensar! Então, nesse caso, você vai direto buscar o que precisa
e não ficar sem rumo em sites como Dafont. Quando a gente não sabe o que quer perde muito tempo
buscando algo que nos dê um destino. É o que acontece quando abrimos um streaming como Netflix,
passamos tanto tempo escolhendo um filme, que quando finalmente achamos já não dá mais tempo
de assistir. Triste fim.
Portanto, para que você tome conhecimento, essa classificação abaixo não fornece uma
visão geral de todos os disponíveis no planeta, afinal o sistema não é exato o suficiente, mas ajuda
um bocado, confia em mim.
A classificação “não oficial” é a mais usada e só de ver você entenderá, o que cada grupo
tem em comum.

Figura 18 - Classificação.
Fonte: Acervo pessoal

27
Audiodescrição da figura: A figura mostra exemplos de tipos para cada classificação. Fim da
Audiodescrição

Bem, mas se não ficou claro, ainda assim vale o reforço de deixar explícito o que cada
uma dessas classificações significa. Os tipos sem serifa não apresentam aqueles pequenos traços ao
final da letra, já as serifadas sim (e eu acho um charme). Os tipos manuscritos ou cursivos, mas
também chamados de caligráficos, imitam a escrita humana, logicamente. E as decorativas são
aquelas temáticas, ousadas e que fogem aos padrões anteriores, como a da Frozen ou Coca-cola, por
exemplo.
Entretanto, ainda há uma classificação a partir do enquadramento histórico, que vale a
pena mencionar:
• Humanistas
• Transicionais
• Modernas
• Egípcias
• Sem serifa humanistas
• Sem serifa transicionais
• Sem serifa geométricas

Se quiser entender melhor essa classificação separei esse link para te ajudar

nessa missão
https://knabbenn.com/classificacao-tipografica/

Agora, que já tas sabendo dessa classificação e das ofertas que os tipos nos proporcionam,
bora entender alguns conceitos importantes para fazer uma escolha perfeita?

28
Já assistiu a videoaula? Então vá simbora, criatura! Porque não é por nada
não, mas tá daquele jeito especial!

2.3 Conceitos visuais para te ajudar

Quando estamos falando de tipografia temos que deixar os medos de lado e testar, testar
bastante. Por isso, minha primeira sugestão é que em cada um desses conceitos que forem explicados
você abra um arquivo no software que você mais usa e vá experimentando, percebendo, analisando.
Só assim você vai adquirir segurança para fazer escolhas mais maduras no futuro. Beleza? E se der
medo, vai com medo mesmo!
Minha segunda sugestão é que você exercite fazer projetos que sejam apenas textuais,
usando apenas os tipos como base para você fazer e acontecer. Longe de ser chato, esse exercício é
bem massa para se aproximar dos tipos e desenrolar mais facilmente os projetos gráficos. Agora
assim, tudo leva tempo, né? Ninguém nasce incrivelmente bom do dia pra noite. Tenha paciência no
processo que sua hora chega. Só não desista e continue exercitando, estudando e observando (não
copiando) o que os mestres da área fazem.
Dito isso, só me resta começar os trabalhos. Segura nessa mão aqui e vai.

2.3.1 Escala

Se você chegou no curso agora, novatinho, saiba que teremos uma disciplina de
planejamento visual onde esse conceito será bem trabalhado, assim como outros também, mas por
hora a ideia é trabalhar a escala na tipografia. Escala nada mais é do que o tamanho dos elementos
em comparação com outros elementos no layout de um trabalho. E o maior lance da escala é o
contraste que se pode colocar no design, a hierarquia dos elementos, e também a ajuda na hora de
criar profundidade e movimento.
No projeto gráfico abaixo você pode perceber a diferença de escala entre os elementos
do texto e outros elementos gráficos contidos nas duas páginas.

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Figura 19 - Revista.
Fonte: https://www.behance.net/gallery/63426791/Editorial-Tipografico-A-escrita-uma-
tecnologia?tracking_source=search_projects%7Crevista%20tipografia
Audiodescrição da figura: A figura mostra a página dupla de uma revista que brinca com os tipos. Fim
da Audiodescrição

Massa, né? Olha só o contraste que essa escala deu ao trabalho. O título, as ilustras, o texto.
Esse é o poder da escala. Da próxima vez que estiver layoutando um job, testa modificar a escala pra
sentir a diferença. Ela pode dar um charme todo especial. Confia!

2.3.2 Kerning e espaçamento

Esse nomezinho engraçado – kerning - é a denominação para o espaço entre duas letras.
Normalmente os softwares gráficos dão a possibilidade de ajustar o kerning de acordo com o gosto
do designer e também escolher entre o kerning métrico e óptico. O primeiro (métrico) é automático,
o espaço entre as letras é usado como prevista pelo criador do tipo. Já o segundo (óptico) é ajustável
segundo os caracteres disponíveis nas letras. É mais perceptível a diferenciação entre o óptico e o
métrico quando as letras estão maiores. Dá uma olhada.

30
Figura 20 - Kerning.
Fonte:
https://www.behance.net/gallery/58082267/Kerning?tracking_source=search_projects%7Ckerning%20typography
Audiodescrição da figura: A figura mostra através do exemplo de uma palavra o conceito de kerning,
espaço estre as letras. Fim da Audiodescrição

Já o espaçamento, para alguns espacejamento, é o espaço global entre as letras. OK! Mas
você deve estar pensando qual a diferença entre kerning e espaçamento? Existe alguma diferença?
Bem, espaçamento ou tracking “diferentemente do kerning, é o ajuste do espaço, de forma geral, de
um grupo de letras, linhas ou mesmo de um bloco inteiro de texto”1. Ou seja, kerning é o espaço
entre duas letras e o espaçamento é mais global.
Mas sei o que se passa nessa cabecinha.
- Como? Como isso ajudaria na composição gráfica?
Fique de boas, pois vou mostrar.

1
Disponível em:< https://medium.com/@victorctrl/kerning-e-tracking-vamos-falar-de-tipografia-2955e4bd8870 >.

31
Figura 21 - Espaçamento.
Fonte:
https://www.google.com/search?q=johnschen+kudos&sxsrf=ALiCzsZqtxf9sFcy7IgmA97kLlxL2Yn9GA:1654711903328&s
ource=lnms&tbm=isch&sa=X&ved=2ahUKEwiRhtCZup74AhWRAbkGHTqYDz0Q_AUoAXoECAEQAw&biw=1366&bih=625
&dpr=1#imgrc=JYqxXMOIQX4XIM
Audiodescrição da figura: A figura mostra três quadros onde o designer trabalhou o espaçamento e conseguiu um
efeito interessante. Fim da Audiodescrição

Esse projeto foi desenvolvido na gringa por um grupo de estudantes (assim como você), que
usaram a anatomia e todas essas ferramentas dos tipos para comunicar algo. No primeiro quadro a
palavra compressão, foi literalmente comprimida, usando o kerning e espaçamento. No segundo
quadro, a palavra transição parece estar andando, em movimento, graças ao espaçamento. No
terceiro e último quadro a letra O se repete como se tivesse sido jogada dentro de um aquário. A
criatividade salva, né não? Olha só o que esse povo fez com tão pouco, simplesmente trabalhando
com as próprias ferramentas da tipografia. Por isso que me repito, testa, trabalha em cima disso,
porque tá aqui a chave de basicamente TODO projeto gráfico.

2.3.3 Entrelinhamento e alinhamento

Simbora de mais alguns conceitos pra ajudar a labuta do freelancer brasileiro. Próxima parada,
entrelinhamento.
Entrelinhamento é a distância entre uma linha e outra. E o que se pode aprender com isso?
“Expandir a entrelinha gera um bloco de texto mais leve, mais aberto. À medida que aumenta a
entrelinha, as linhas tipográficas vão se tornando elementos gráficos independentes, em vez de
partes de uma forma visual maior ou de uma textura” (LUPTON, 2013, p.104). Massa demais, né? O

32
uso das entrelinhas deve ser pensado estrategicamente. Qual sentimento deve passar aquele projeto
gráfico? Leveza? Desconforto? Algo intrigante? Pois bem, usando essa ferramenta simples,
conseguimos adicionar essa característica ao texto. Observa esse trabalho do Leandro Assis.

Figura 22 - Black.
Fonte: https://lebassis.com/
Audiodescrição da figura: A figura mostra um pequeno texto escrito antirracista e usa da força do tipo
para representar a população negra. Fim da Audiodescrição

O Leandro é reconhecido, inclusive internacionalmente, pelo trabalho com lettering. Ele


usa e abusa do entrelinhamento para distribuir a informação, resultando em trabalhos diferenciados
e atrativos. Além do espaço entre as linhas ele brinca muito com os tipos e o contraste das cores.
Nesse exemplo, a entrelinha está negativa, pois as se pode ver que as letras debaixo ficam em cima
de parte da linha superior. E qual é a sensação que essa imagem dá? Bora ser analista. A frase, em

33
tradução livre, diz “poder ao povo negro”. Para dar essa ideia de poder é preciso estar junto, certo?
Unido! As letras mostram um só bloco, uns por cima dos outros, fortes, assim como o tipo escolhido.
Ou seja, o entrelinhamento negativo foi mais do que necessário, foi apenas incrível.
Um outro aspecto que se pode notar no projeto acima é o alinhamento do texto. E você
já deve estar familiarizado com esse conceito, afinal, em todo trabalho de escola digitado no
computador é comum acionarmos esse mecanismo. Cada modo de alinhamento contém
características especiais, podendo desencadear em uma série de interpretações. Escolher o
alinhamento para um projeto gráfico é um ponto crítico e fundamental. Na teoria existem 4 tipos de
alinhamento. Saca só.

• Centralizado
O texto centralizado é considerado clássico e formal, permite que o designer gráfico
quebre o texto conforme a necessidade e o sentido. Segundo Lupton (2013), ele cria formas elegantes
e orgânicas, além de ser uma maneira simples “e intuitiva para posicionar um elemento tipográfico.
Usado sem cuidado o texto centralizado pode parecer sóbrio e triste, como uma lápide” (p.108). As
margens irregulares dão um certo drama, que são legais para dar ênfase a uma informação. É
bastante utilizado em convites, certificado, etc. Como no exemplo abaixo.

Figura 23 - Convite.

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Fonte: https://www.behance.net/gallery/75823785/Casamento-Rafella-e-
Felipe?tracking_source=search_projects%7Cconvite
Audiodescrição da figura: A figura mostra um convite de casamento. Fim da Audiodescrição

O texto centralizado dá uma certa leveza, deixa o contive ainda mais romântico. Além de
ser chiquérrimo e fino.

• Justificado
O texto justificado é como esse aqui do e-book, ele tem linhas regulares à esquerda e à
direita. Esse modelo faz um uso eficiente do espaço e com o uso do hífen ajuda a manter a
regularidade das margens. “O texto justificado dá uma aparência limpa à página. Seu uso eficiente do
espaço o torna norma para jornais e livros. Podem ocorrer buracos feios, todavia, quando o texto é
forçado a caber em linhas de mesma medida” (LUPTON, 2013, p. 108). A solução para isso é usar uma
linha do tamanho suficiente para o texto. O fato de ser um alinhamento muito usado, não quer dizer
que não possa ser criativo. Olha só o exemplo abaixo.

Figura 24 - Livro.
Fonte: https://terezabettinardi.com/As-Ultimas-Testemunhas-2018

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Audiodescrição da figura: A figura mostra uma página de livro. Fim da Audiodescrição

Essa é a página de um livro, que conta claro com um planejamento visual, mas o que
importa agora é observar que o texto justificado tem respiro, nos convida a ler, desperta a curiosidade
sem cansar. O lugar e o tamanho que o texto ocupa também é criterioso, nem tão grande, com as
letras praticamente saindo do papel, e nem tão pequeno. Essa solução é econômica e não abre mão
da criatividade. Concorda?

• Alinhado à esquerda/ Irregular à direita


Nesse tipo de alinhamento o texto tem a margem direita irregular, ou seja, mais flexível.
“O texto alinhado à esquerda respeita o fluxo orgânico da linguagem e evita o espaçamento desigual
que assola o tipo justificado. Uma irregularidade ruim pode arruinar a aparência relaxada e orgânica
de uma coluna alinhada à esquerda” (LUPTON, 2013, p. 109). Também é bom ter cuidado para não
usar muito hífen e tentar deixar a margem o mais natural possível. Olha esse projeto.

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Figura 25 - Jornal.
Fonte: https://www.behance.net/gallery/93180031/Jornal-da-Cidade
Audiodescrição da figura: A figura mostra a capa de um jornal com um tipo grande. Fim da
Audiodescrição.
Essa é a capa de um impresso, um jornal, mas os textos da página, deslocados, dão um
certo movimento e todos os demais elementos trabalham para que isso aconteça também. Esse
exemplo é ótimo para mostrar que um texto alinhado à esquerda e à direita podem trabalhar juntos.
A criatividade de milhões!

• Alinhado à direita/ Irregular à esquerda


O alinhamento à direita é o oposto da esquerda, visto acima. Essa configuração não é tão
interessante para textos longos, assim como o alinhado à esquerda, mas é bom para citações, notas,

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etc. É importante ter atenção a pontuação, pois no final da linha pode causar repulsa e enfraquece a
margem direita. Olha só exemplo que legal.

Figura 26 – Capa de relatório.


Fonte: https://grecodesign.com.br/projeto/mendes-junior-relatorio-anual-2011/
Audiodescrição da figura: A figura mostra a capa de um relatório feito com tecido vermelho. Fim da
Audiodescrição
Esse projeto se trata da capa de um relatório que foi impresso, virou livro. A escolha do
designer gráfico é clara, o título no canto direito inferior, alinhado à direita serve para dar vazão a
textura da capa, que foi forrada em tecido. Podre de chique!
Viu só a quantidade de coisas que podemos fazer com algo tão simples como alinhamento?
E o mais interessante em saber os tipos de alinhamento é combiná-los e criar dinamismo nos
projetos gráficos. Ok? Ok! Acha que acabou por aqui? Não mesmo, hem? Ainda tem outras maneiras
de usar o texto. Olha o thread.

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2.3.5 Texto vertical

Que nós, ocidentais, não fomos feitos para ler na vertical, já sabemos, não estamos
acostumados com isso, mas em determinados projetos vem a calhar, exatamente por ser diferente.
Claro que também existem desafios nessa empreitada, pois o texto quando colocado na vertical pode
não dar legibilidade, por isso o uso se dá mais em títulos e poucas palavras. Outro problema pode ser
o encaixe das letras e o entrelinhamento, mas isso não te impede de usar, pois normalmente o uso
de maiúsculas faz o negócio dar certo. Repara só.

Figura 27 – Edição especial.


Fonte: https://grecodesign.com.br/projeto/o-que-as-vandas-nao-contam/
Audiodescrição da figura: A figura mostra a capa de uma edição especial, onde o tipo está inserido com a
imagem de fundo. Fim da Audiodescrição

Esse projeto gráfico é incrível demais, faz parte do portifólio de divulgação de um estúdio
de design. O texto na vertical caiu como uma luva e o contraste das cores nem se fala. Para entender
o título te convido a clicar na fonte da imagem, pois a justificativa é MA-RA-VI-LHO-SA!
Tá vendo que dá pra fazer muita coisa bacana usando esse tipo de orientação? Eu avisei!

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2.3.6 Hierarquia

Eu não sei você, mas toda vez que vejo a palavra hierarquia sempre me lembro de reis,
rainhas e poder. Isso acontece porque a palavra fica nesse contexto de sentido mesmo. Aqui, no
design gráfico, ela também representa poder e autoridade, mas fica mais conectada a um grau de
importância dos elementos de um projeto.
Usamos a hierarquia para organizar as informações do texto e colocar cada dado em um
lugar especial. O título, por exemplo, normalmente aparece em um tamanho maior do que a
assinatura e os patrocinadores em um cartaz. A hierarquia também serve para organizar os conteúdos
e ajudar os leitores na interpretação do texto. Como ela faz isso? Com o auxílio de todas as
ferramentas que vimos até agora: espaçamento, entrelinhamento, combinação de tipos, tamanho,
negrito, itálico, alinhamento e muito mais. Famílias tipográficas são ótimas para distribuir bem os
conteúdos, pois suas variações podem ser usadas para orientar o texto. Mas espia só essas amostras
de hierarquia.

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Figura 28 - Sumário.
Fonte: Sumário do livro “Pensar com tipos” de Ellen Lupton, 2013.
Audiodescrição da figura: A figura mostra o sumário de um livro. Fim da Audiodescrição

Sumários são ótimos exemplos para observar a hierarquia da informação. Esse aí de cima
é do livro que serve como referência aqui nessa disciplina. A autora usa as maiúsculas para dividir as
seções do livro, ou seja, os conteúdos, além de uma cor específica. Já os capítulos foram colocados
em outro tipo, que tem todas as letras maiúsculas (que chamamos de versaletes). E os itens dentro
de cada capítulo, tem letras maiúsculas e minúsculas. Gosto bastante desse resultado e acho que
ajuda muito a encontrar uma informação.
Bora ver um exemplo de dentro de um livro? Observa aqui embaixo.

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Figura 29 - Página.
Fonte: Página 137 do livro “Elementos do estilo tipográfico” de Robert Bringhurst, 2011.
Audiodescrição da figura: A figura mostra uma página de livro que usa tipos itálicos para ajudar na leitura.
Fim da Audiodescrição

Essa página, que inclusive fala sobre tipos, é bem interessante. No meio do texto aparece
um resumo do que foi abordado, para isso o diagramador usou marcadores, esses pontinhos antes

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do texto, e letras itálicas alinhadas à esquerda, que difere do restante da página (justificada e com
tipos normais). No canto direito em tamanho menor, você pode observar “interlúdio histórico”, que
é o nome do capítulo, fazendo com que o leitor esteja sempre orientando sobre o assunto geral que
está sendo abordado, esse elemento se chama “cabeço”. Essa pequena lembrança foi escolhida para
ser em itálico e está presente em todo o livro, dando consistência à obra. Em nenhum momento, foi
preciso explicar do que se tratava, o leitor bate o olho e entende a distribuição da informação. Massa
né?
Mas bora de cartaz? Vem dar uma analisada.

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Figura 30 - Divulgação.
Fonte: https://hanaluzia.com/
Audiodescrição da figura: A figura mostra uma peça de divulgação de evento. Fim da Audiodescrição
Esse cartaz incrível foi desenvolvido por uma designer pernambucana massa! Inclusive ela
já participou de um evento no canal do EducaPE (o link está aqui embaixo). Essa peça gráfica é a
divulgação para um evento que acontece sazonalmente em Recife, o Virtuosi. Além das cores e
ilustração incrível, feitas pela designer, podemos observar uma hierarquia muito organizada. Graças
a essa distribuição de informação é fácil reconhecer o nome do evento, pois tem destaque na
tipografia, no tamanho e na posição. A programação também ficou clara, pois o alinhamento, a cor,
o tipo, as maiúsculas e itálicas fazem um bloco de texto compacto. Tanto o título como a programação
são os conteúdos mais importantes desse evento musical, por isso são logos vistos e recebem essa
diferenciação. As outras informações recebem tamanhos distintos e vão se organizando pela página,
como o homenageado, o local do evento e um site para maiores informações. Percebam que o cartaz
usa cores sólidas e consegue combinar e contrastar de maneira autêntica. Acho esse trabalho incrível
demais.

Confere a participação de Hana bem aqui


https://www.youtube.com/watch?v=ay9gjgtkyeY&t=2960s

Bem, depois desses vários tipos de exemplos, só me resta torcer para que você pratique
um bocado e ganhe experiência na hora de distribuir as informações em um projeto gráfico. Se eu
ainda puder dar uma dica, eu diria “Arrisque!”, sempre! Você só vai saber tentando.

Se liga aqui!
Depois de um tempo produzindo projetos gráficos, a hierarquia se torna mais
prática e conseguimos resolver os problemas de comunicação da informação
mais rapidamente, contudo existem alguns processos mais complexos. A
hierarquia dos sites e aplicativos, por exemplo, é um pouco mais complicada,
mas deixo aqui a informação, pois vai que você prova e se apaixona pela área?

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3.Competência 03 | Conhecer a história do design editorial, as funções e
tipos de produtos editoriais.
Depois de mergulhar fundo na tipografia e na melhor maneira de utilizá-la, eis que chegou
o momento de te deixar preparado para a diagramação, seja online ou impresso. Dentro do design
gráfico essa função tem um nome específico, design editorial. Ou seja, responsável por diagramar,
editorar as páginas de um livro, revista, ebook, etc.
Mas bora começar entendendo um pouquinho como essa função apareceu.

Solta o play nesse podcast baphônico que te espera!

3.1 O que é design editorial?

Design editorial é um tipo específico de design? Sim, pois o profissional habilitado nessa
área, além de ter todas as competências e conhecimentos necessários para projetar livros, revistas,
jornais, sites e etc. também precisa saber contar histórias e encontrar mecanismos para comunicar
bem uma informação. Sendo assim, concordo com Vince Geada quando diz que “design editorial é o
design de publicações - revistas impressas que saem mais de uma vez, normalmente com uma
aparência distinta e única” (CALDWELL; ZAPPATERRA, 2014, p.08).

Hoje em dia trabalhamos com softwares cheios de para quê isso que ajudam bastante no
trabalho final, mas claro que nem sempre foi assim. Lá em cima, nas competências de tipografia
comentei com você sobre os monges e o trabalho da escrita, mas aqui no design editorial, esse
movimento se faz ainda mais importante. Eles eram responsáveis pela compilação de manuscritos
(obra escrita e copiada à mão), não só escrevendo e copiando, mas também ilustrando as páginas,
criando padrões visuais para facilitar a leitura e deixar os livros mais parecidos entre si. Mas o que
poucos sabem é que havia uma dinâmica super produtiva de trabalho entre os monges, para facilitar

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esse processo editorial. Haviam os responsáveis dobrar as páginas, o que literalmente copiavam,
supervisor, encadernador e até mesmo iluminador. Como você deve imaginar, não existiam fotos
registradas do momento, mas essa ilustra aí embaixo vai te dar uma noção do trabalho que era.

Figura 31 - Escriba.
Fonte: https://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/0/00/Escribano.jpg
Audiodescrição da figura: A figura mostra um monge copiando um livro. Fim da Audiodescrição

A produção dos livros começou a ficar mais rápida depois que as primeiras editoras surgiram,
aqui no Brasil isso só vai acontecer com a chegada da família real, pois D. João VI monta a Imprensa
Régia - negócio fino. Mas o design editorial só vai ter um lugar para chamar de seu mesmo quando as
editoras conquistam espaço no mercado, e isso só vai acontecer entre 1960 e 1970. Só a partir desse
momento a função de designer editorial ganhou força. Claro que depois de tantos anos o campo já
passou por muitas atualizações. No começo era régua e compasso na mão, um olhômetro técnico e
muita paciência, mas hoje temos softwares criados apenas para isso, diagramar páginas, o que deixa
o trabalho infinitamente mais prático.
Como toda área de trabalho os desafios aparecem sempre, justamente por termos tantas
opções e ferramentas que facilitam o trabalho do designer gráfico, também há um certo lugar
comum, ou seja, muita gente fazendo a mesma coisa, artes parecidíssimas, cópias e “inspirações”

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baratas. Nesse contexto é preciso ser criativo e buscar uma assinatura gráfica própria. Óbvio que só
se consegue autenticidade com experiência, tempo, curiosidade e paciência. Beleza?

3.2 O lugar do design editorial no mundo

O design editorial tem diversas funções como “dar expressão e personalidade ao


conteúdo, atrair e manter os leitores, e estruturar o material de forma clara” (CALDWELL;
ZAPPATERRA, 2014, p.10). Essas três funções devem trabalhar juntas para atingir um só objetivo: um
trabalho coeso e agradável. Olha só o que Cath Caldwell e Yolanda Zappaterra falam sobre o assunto.

Figura 32 - Trecho.
Fonte: Livro Design Editorial, pag 10.
Audiodescrição da figura: A figura mostra um trecho de Zappaterra falando sobre design editorial. Fim da
Audiodescrição.

Massa né? A perspectiva de ter uma área que serve de laboratório é incrível, pois deixa margem para
experimentos e diversidade. Se você é do tipo curioso por impressos deve ficar encantando quando
ver uma revista, livro ou quaisquer outros materiais que tenha uma pegada diferente, um grid que
quebra paradigmas. Nesse momento, o designer atingiu o objetivo, atrair um leitor, você.
O diretor de uma famosa revista chamada Speak gosta de dizer que o “design editorial é a
estrutura por meio da qual uma determinada história é lida e interpretada. Ele consiste tanto na
arquitetura geral da publicação como no tratamento específico da história”. É sobre isso e tá tudo

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certo. O design editorial cria histórias, diz como contá-las e ajuda na intepretação. Quer mais ou acha
pouco?
Contudo o design editorial também tem uma função cultural, sim, afinal, ele é um registro da
história, de como as pessoas pensam, se comunicam e ocupam os espaços. Quando queremos
entender o passado, buscamos livros e materiais gráficos daquela data a fim de entender melhor a
ideia como aquela sociedade vivia. Pois bem, pode-se dizer com certeza que hoje, quando pegamos
um job de editoração, estamos literalmente escrevendo a história.

3.2.1 Para cada história uma pessoa

O design de maneira geral é um trabalho colaborativo, em grupo, onde buscamos


informações em diversos meios, e por vezes, em trabalhos com editorial, por exemplo, onde cada um
é responsável por uma parte da experiência. A relação com o editor é de suma importância e com o
restante da equipe nem se fala.

Momento dicionário
O que faz um editor de livros?
“O editor é a pessoa responsável pelo livro desde que este chega à editora na
sua forma original até o momento em que a obra sai da editora para ser
vendida em livrarias e distribuidoras” Fonte:
https://www.palavrabordada.com.br/post/o-que-faz-um-editor-de-livros

A depender do tamanho do trabalho mais pessoas serão envolvidas na elaboração da


publicação. Se for dentro de uma editora, por exemplo, é mais comum ter diferentes papéis entre os
designers, mas se for um freela, possivelmente será você e poucas pessoas.

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Para ter um pouco de noção sobre essa dinâmica existem alguns filmes e séries
que mostram a rotina dentro de uma revista ou jornal, normalmente é possível
ver como os jornalistas trabalham, já que os designers são meio escanteados
nessas produções, mas ainda assim vale a pena. Olha a lista:
© O diabo veste Prada
© Spotlight – Segredos Revelados
© The Post – A Guerra Secreta
© The bold type

De toda maneira, deixo aqui todas as funções e suas respectivas responsabilidades:

© Editor
O super responsável pela obra, é o responsável pela publicação e por toda a equipe
editorial.
© Diretor de arte ou editor de arte
Responsável pelas imagens, gráficos, ilustrações e fotografias que irão compor a obra,
além de organizar todo o conteúdo. Esse profissional contacta, encomenda e contrata os
terceirizados que ajudarão na composição visual da obra.

© Produtor gráfico ou webmaster


Esse cargo supervisiona todo o material e coloca deadlines para o projeto, fazendo um
cronograma de tudo o que precisa ser entregue no prazo. Tendo a data em que a publicação precisa
estar impressa e pronta, ele faz um esquema retroativo de datas, onde fica bem claro cada passo do
projeto. Esse profissional também é responsável pela atualização do plano espelho do livro (flatplan).

© Subeditor chefe e subeditores


Normalmente dentro de uma editora, existe mais de um profissional com esse cargo, pois
eles são responsáveis por revisar a obra, desde coerência, gramática, ortografia e pontuação. As vezes
até reescreve ou mesmo corta pedaços do texto que não tem sentido ou precisam ser melhorados.

49
© Editor de imagem
Esse profissional é o responsável por conseguir os direitos autorais que serão usados na
obra, mas também é a pessoa que vai pesquisar as imagens que serão inseridas, trabalhando muito
dentro dos bancos de imagens, bibliotecas e por aí vai.

© Designers
É o profissional responsável pelo layout da obra. Claro que recebe instruções diretas do
editor e do diretor de arte, mas de maneira generalizada essa é a sua função, que pode ter mais ou
menos liberdade criativa a depender da experiência e do ritmo de trabalho.
Como disse anteriormente não é sempre que essas funções estarão tão bem divididas,
depende do job e do lugar. Mas de qualquer maneira, fica aí a informação caso você resolva se
aventurar por uma dessas águas em específico.

3.2.2 Atributos comuns a todos

Em um trabalho que visa uma publicação, seja online ou impresso, é importante que todas
as partes estejam mais do que envolvidas, mas que entendam cada parte do projeto. O designer
editorial deve saber o mínimo sobre as funções do editor e vice-versa. Para projetar uma revista, por
exemplo, além de ser criativo é preciso saber trabalhar em conjunto. E claro todo conhecimento
agregador é bem-vindo. Olha só o que disse Mark Porter, na época, diretor de criação do jornal inglês
The Guardian.

50
Figura 33 – Trecho 2.
Fonte: Livro Design Editorial, página 18.
Audiodescrição da figura: A figura mostra um trecho do livro Design Editorial. Fim da Audiodescrição.

Concorda? Ele não está dizendo que o designer gráfico não é importante, pelo contrário,
que faz parte da função atrair o leitor, mas que o conteúdo é o rei da página.

Se você ainda ficou na dúvida sobre esse universo, o que é perfeitamente


normal, separei aqui dois vídeos de uma editora brasileira, a Antofágica. Por
acaso você já viu as capas que essa galera coloca nas prateleiras? Bem, em um
deles você vai entender um pouco melhor a rotina de um editor e outro é sobre
capas. Aproveita aí!
Entrevista com editora
https://www.youtube.com/watch?v=cXIfUQ5H9fk

Entrevista com designer


https://www.youtube.com/watch?v=OdER0WIwWd4&list=PLZ-
E5X2LdfMQe3XtocMI1wysoDEqYZru8&index=5

51
3.2.3 Produtos editoriais

Agora, eis que é chegado o momento de ver os mil e um (mentira são poucos) formatos
editoriais. Listarei aqui os mais convencionais, lógico. Mas nada impede que você tenha acesso a um
não listado por aqui. O movimento é rápido e a tecnologia então, piscou já tem algo novo por aí.
Segundo Aline Haluch, podemos dividir os produtos editoriais em:

© Livro-texto
Nessa categoria se enquadram todas as publicações que possuem apenas texto, sem
ilustrações ou imagens, no máximo uma tabela ou um gráfico. Em projetos como esse, o designer
editorial foca seus esforços na escolha do tipo, no espaçamento, nas margens, entrelinhas e etc..
Observe o exemplo abaixo.

Figura 34 – Criatividade e tipo.


Fonte: https://www.pentagram.com/work/the-fbi-guide-to-internet-slang
Audiodescrição da figura: A figura mostra uma página tripla, onde as duas primeiras são preta e a última branca. Fim da
Audiodescrição.

Apenas maravilhoso esse trabalho, pois nada impede que você seja criativo usando
apenas texto, né? Esse projeto ficou muito bem executado e autêntico.

© Livro ilustrado

52
Como o próprio nome diz essa publicação conta com texto e imagem (ilustrações,
infográficos, fotografias). Em projetos nessa categoria é natural que o designer precise de um pouco
mais de experiência, pois se torna mais complexo interagir texto e imagem, para que conversem
juntos e ambos relatem uma história. É mais desafiador, mas igualmente gratificante. Não pense que
livro ilustrado é apenas infantil, hem? Olha só esse exemplo.

Já assistiu a videoaula? Então vai lá que eu te espero por aqui!

Figura 35 – Página ilustrada.

53
Fonte: https://www.pentagram.com/work/observe-collect-draw
Audiodescrição da figura: A figura mostra uma página de livro em branco ilustrada. Fim da Audiodescrição.

Tem sido comum livros ilustrados para adultos, pois além de serem mais leves, contam
uma história ou apresentam uma informação que é mais racional de maneira mais didática. Eu acho
maravilhoso resultados assim.
© Livro de arte
Em livros de arte o texto é uma subcelebridade, pois a imagem ganha destaque. Livros de
fotografia são bons exemplos, mas olha esse aqui.

Figura 36 – Livro de arte.


Fonte: https://www.pentagram.com/work/deborah-roberts-i-m
Audiodescrição da figura: A figura mostra uma página dupla de um livro de arte. Fim da Audiodescrição.

Livro de arte é um ponto fora da curva viu? Eu acho MA-RA-VI-LHO-SO porque o trabalho
do artista ganha destaque de verdade, além de ter um projeto gráfico que complementa a obra. É
como em uma exposição, precisa saber onde cada quadro fica e qual moldura vai destaca a peça.

© Livro do artista

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Essa categoria seriam livros com pouca tiragem (poucas impressões), onde se pode
encontrar todo tipo de material, cada livro é único e às vezes artesanais também. Olha só.

Figura 37 – Livro do artista.


Fonte: https://www.catarse.me/prediosdorecife
Audiodescrição da figura: A figura mostra dois livros, um em cima do outro, onde é possível ver a capa do
primeiro, a fachada de um prédio em Recife. Fim da Audiodescrição.

Essa publicação é da nossa terrinha, tiragem curta, conteúdo personalizado e com um


projeto design editorial belíssimo. Pena que não podemos folhear essa peça rara.
Contudo, há ainda outros modelos que devem estar na nossa mira, pois é importante para
QUALQUER designer está familiarizado com os impressos mais antigos e ainda circulação, afinal além
de serem uma escola (tudo começou neles) é também uma maneira de observar o que já foi feito e
o que ainda podemos fazer na produção impressa.
Vamos começar com o mais antigo entre os vivos, ele mesmo, o jornal.

© Jornal

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O jornal é factual, ou seja, o de hoje contém notícias de ontem e por isso que a internet
ocupou tanto espaço. Não esperamos mais pela notícia, produzimos a informação e ficamos sabendo
na hora o que está acontecendo em todo o mundo. Um boom de informação. Infelizmente vários
jornais do país não conseguiram competir com a web e tiraram seus jornais de circulação, mas muitos
ainda continuam com suas versões web e nas redes sociais digitais. O maior desafio do designer do
jornal é colocar tantas informações em um espaço tão pequeno, por isso tipografia, grid, títulos,
manchetes e fotografias são a combinação especial para que a magia aconteça.
Segundo Mark Porter, os jornais da atualidade não estão apenas passando uma notícia,
mas ajudando o leitor a interpretar os fatos. Sendo assim, o papel do designer se torna imprescindível,
afinal em textos longos, nada mais prudente do que um tipo que nos atraia e deixe a leitura mais
harmônica.
Esse exemplo vale a pena dar uma olhada.

Figura 38 - Jornal.
Fonte: https://www.behance.net/gallery/127858629/suplemento-pernambuco-n-
186?tracking_source=search_projects_recommended%7Cliteratura

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Audiodescrição da figura: A figura mostra a parte interna de um jornal. Na folha direita a matéria, na
esquerda ilustrações. Fim da Audiodescrição.

A editoração da Suplemento é muito especial e diferente, novamente é uma pena que a


gente não possa folhear, mas dá gosto de ler as matérias e artigos.
© Revistas
As revistas são modalidades de nicho, ou seja, trabalham para uma audiência específica
– seja blockbuster ou independentes - e por isso muitas ainda estão em circulação apesar de toda a
crise do setor. O negócio é saber se reinventar e claro, fazer capas deslumbrantes. Olha que linda
essa:

Figura 39 - Revista.
Fonte: https://www.pentagram.com/work/no-mans-land?rel=search&query=magazine&page=1
Audiodescrição da figura: A figura mostra uma página dupla de revista, uma foto de uma mesa posta. Fim
da Audiodescrição.

Uma revista tem personalidade própria e que se manifesta especialmente nas imagens e
no projeto gráfico. Esse exemplo é ótimo, pois além de terem feito uma produção da fotografia, a

57
intervenção na imagem e onde o texto foi inserido caiu como uma luva. Será que foi sem querer?
Claro que não, né?
Bem, existem ainda outros formatos interessantes e mais comuns, como os suplementos,
que começaram como uma produção complementar dos jornais, por isso o nome, e depois ganharam
espaço próprio e credibilidade junto ao público. Aqui no estado temos um suplemento chamado
Pernambuco, que fala sobre literatura. Também são comuns revistas comerciais, veiculadas dentro
de uma empresa e não são vendidas ao público e claro, versões digitais de tudo o que você possa
imaginar. Mais do que os formatos o mais importante é ser objetivo e certeiro na composição dessas
publicações. Não é só beleza que está em jogo, mas legibilidade, informação, credibilidade e muito
mais.
Foi informação até o talo, hem? Dá uma respirada e vamos para a próxima.

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4.Competência 04 | Conhecer os elementos gráficos presentes no livro, no
jornal e na revista, a hierarquia da informação.
Eita que é só emoção por aqui! Finalmente chegou a hora de colocar o livro na mesa e
aprender as partes que o integram.
Bora conhecer esses elementos gráficos? Segue a história.

Mas antes vai lá ouvir aquele áudio babado que chamamos de podcast por
aqui. Vai lá, vai!

4.1 Não julgue um livro pela capa

Quando alguém nos aconselha a não julgar o livro pela capa, quer nos dizer para olhar
mais atentamente antes de formar uma opinião sobre uma pessoa. Mas no mundo gráfico é muito
simples fazer esse julgamento, na verdade até importante, pois é como se a capa fosse a embalagem
do livro. Claro que haverá obras que a capa é mal feita e o conteúdo super vale a pena, mas de modo
generalizado a capa é a parte gráfica mais importante de uma publicação. Concorda? Se não, olha só
essa listinha de deveres de uma boa capa (haha):
© Deve se destacar da concorrência
© É o ponto de entrada do conteúdo
© A imagem da capa circula pelas redes sociais digitais
© Precisa mostrar resultados em vendas
© Tem a tarefa de atrair o leitor
© É obrigatória que seja familiar, mas diferente do número anterior (no caso de
publicações periódicas)
As capas de jornais, por exemplo são as que mais se modificaram ao longo dos anos, afinal
não precisamos mais esperar a publicação para saber uma notícia, basta entrar na internet. Por isso,

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se tornou-se tão necessárias capas impactantes, com imagens/fotografias que não foram mostradas
em nenhum lugar e com histórias surpreendentes.
E as broncas com a capa não param no jornal, o digital também é um lugar desafiador, tá
pensando que é fácil pensar numa capa que vai ser lida na tela de um celular? E em um kindle? Onde
tudo é em preto e branco? Só digo uma coisa, é difícil, até porque na maioria das vezes a capa digital
(bem pequenina) será também impressa no seu tamanho padrão, ou seja, essa arte da capa precisa
funcionar na chuva, no sol, preta e branco, colorida, pequena, média ou grande. É babado ou, não é?
Mas saiba que o projeto da capa é diferente do miolo e para fazer uma boa capa é preciso
ter referências, coisa que por aqui falamos em TODAS as disciplinas. Busque referências em todos os
lugares e os mais diversos, guarde-as no PC ou em um drive, e quando precisar dê uma olhadinha no
seu arquivo pessoal.
Já as publicações independentes, seja de livro, revista ou jornal, têm ganhado espaço,
pois conseguem outras formas de custear a impressão e assim o design da capa fica mais simples,
porque não precisa de propaganda logo na capa. Saca só essa revista minimalista.

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Figura 39 – Vida Simples.
Fonte: https://www.pentagram.com/work/no-mans-land?rel=search&query=magazine&page=1
Audiodescrição da figura: A figura mostra a capa da revista Vida Simples, fundo azul e título preto. Fim da
Audiodescrição.

A revista Vida Simples sobrevive das assinaturas mensais, e o designer editorial da revista
trabalha fortemente com o conceito que ela quer passar, uma vida sem exageros, mais tranquila e
com calma. Dá pra sentir isso na quantidade de respiro que a capa tem, dos espaços entre os títulos.
É uma capa que convida a meditar, como as matérias que estão dentro.
Um outro projeto bem interessante relacionando capas foi desenvolvido pela revista
Wallpaper, que convidou leitores a baixarem um aplicativo e desenvolver uma capa personalizada.
Foram cerca de 21 mil capas diferentes e cada pessoa recebeu a sua em casa. SENSACIONAL! Olha
só!

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Figura 41 - Wallpaper.
Fonte: Livro Design Editorial, página 49.
Audiodescrição da figura: A figura mostra um conjunto de capas da revista Wallpaper. Fim da
Audiodescrição.

Incrível, né? Imagina receber em casa a revista que você fez a capa? Grande ideia!
Bem, mas se você for fazer uma capa para impressos tenha em mente os quatro
elementos que compõem uma capa:
1. Formato – o tamanho e as características do impresso
2. Logotipo – slogan, marca, código de barras
3. Imagem – fotografia, ilustrações

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4. Chamadas – manchetes, texto de capa

Esses elementos normalmente estão em uma capa e é preciso gerenciá-los para que
façam parte do projeto gráfico desenvolvido. Eles podem mudar ou mesmo não existir na capa que
você irá desenvolver, mas é importante tê-los em mente antes de criar, porque eles precisarão de
espaço, beleza?

Vai lá assistir à videoaula, pelo amor! Não perde!

4.2 Tipos de capa

É muito comum que um designer seja convidado para assinar uma capa, mesmo não
trabalhando para uma editoria. Isso acontece seja por linha criativa que desenvolve ou o pessoal
estava atrás de um profissional para uma publicação especial. Nesse caso, será redigido um briefing
com as informações básicas para a produção da capa. E a primeira informação que deve conter nesse
documento é o tipo da capa, pois existem diferentes formas, na verdade três, que você vê a seguir.

© Capas figurativas
Nesse grupo se encaixam as capas feitas com fotografias, o mais comum, ilustrações ou
qualquer tipo de figura. Revistas, livros ou mesmo outros impressos, precisam usar de maneira
eficiente o recurso imagético e também inventivo. Não é porque se vai usar uma imagem que ela
precisa ser mais do mesmo. Olha só essa a capa dessa revista francesa.

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Figura 42 - Wad.
Fonte: https://i.pinimg.com/originals/42/4c/ac/424cacdad82263cb6332eba302a539f8.jpg.
Audiodescrição da figura: A figura mostra a capa da revista WAD, o dorso de uma cabeça com uma ferida
aberta. Fim da Audiodescrição.

Intrigante, né? Uma revista com capa assim precisa ter personalidade, afinal não é para
todas.
© Capas abstratas
Muito mais raras, as capas abstratas são mais utilizadas em publicações exclusivas para
assinantes ou suplementos. Essa categoria utiliza da liberdade, podendo usar qualquer elemento ou
mesmo nenhum. Projetos de capas abstratas são bem originais e diferentes, mas é preciso estar em
acordo com o nome da publicação.

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Figura 43 - Wired.
Fonte: https://i.pinimg.com/originals/42/4c/ac/424cacdad82263cb6332eba302a539f8.jpg.
Audiodescrição da figura: A figura mostra a capa da revista Wired, formada for vários círculos coloridos
em fundo preto. Fim da Audiodescrição.

Nessa capa especial da Wired, por exemplo, a designer convidada fez círculos com as
cores das capas anteriores, montando esses círculos que foram colocados na ordem da veiculação.
Achei muito massa! Diferente e muito artístico.

© Capas baseadas em texto


As capas baseadas em texto são mais raras hoje em dia, porque já foram muito
exploradas. Naturalmente, elas são feitas com texto e os elementos básicos de uma capa. Justamente
por serem incomuns, sua utilização gera grande impacto e destaque entre as demais – quando feita
criativamente. Observa essa aqui.

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Figura 44 – Roube como um artista.
Fonte: https://papelarianobel.com.br/produto/roube-como-um-artista-10-dicas-sobre-criatividade/.
Audiodescrição da figura: A figura mostra a capa do livro Roube como um artista, o fundo é todo preto e
as letras brancas. Fim da Audiodescrição.

Essa capa de um livro usa só as letras para desenvolver, como é um livro menor, recheado de
dicas e conteúdos para ler rápido, funcionou bem como um manual de instruções.

4.3 Elementos da capa

A capa por ser a mais valiosa página de uma publicação merece um pouco mais da nossa
atenção. Ela precisa ser pensada estrategicamente, independentemente de ser jornal, revista, livro,
suplemento ou até mesmo um caderno. Tudo precisa ser pensado antes, projetado, desenhado e
analisado. Contudo, existem alguns elementos que estão presentes na maioria das publicações, não
em todas, ok? Simbora dar uma olhadinha em cada um.

© Logo
O logo está presente em publicações periódicas e serve para o reconhecimento do público-
leitor. Em um livro não temos logo – a não ser o da editora – , mas em revistas e jornais sempre há.

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Como o logo é a representação da marca, dos seus valores, atitudes e personalidade ela deve
conversar com a capa e ser colocado em um lugar programado, seja no impresso ou digital.

Figura 45 – Glamour.
Fonte: https://papelarianobel.com.br/produto/roube-como-um-artista-10-dicas-sobre-criatividade/.
Audiodescrição da figura: A figura mostra a capa da revista Glamour, com a atriz Agatha Moreira atrás de
uma bola cor de pêssego. Fim da Audiodescrição.

O logo da revista Glamour é sempre bem localizado e conversa com a capa. Nessa, por
exemplo, ele não perdeu espaço para a fotografia da atriz, na verdade, conversa com ela e ainda dá
contraste na publicação.

© Cor
A cor é uma das escolhas mais importantes na produção de uma capa. A interação que a cor
do fundo terá com o logo, título, imagens (caso haja) são primordiais para a boa leitura. As cores
podem ser usadas de maneira simbólica e até mesmo emocionais, pois podem gerar impactos. A
psicologia cultural da cor tem estudado como elas reverberam no ser humano. No entanto fique

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atento ao contexto social daquela publicação, pois uma cor que naturalmente é bem quista pode ter
um significado negativo em determinadas culturas. Caldwell e Zappaterra listam aspectos
importantes das cores que vale a pena compartilhar aqui.

É complexo. Ele pode ser sexy, autoritário, poderoso, ameaçador, intrigante, rico,
depressivo, sombrio, brilhante, textual, atemporal... e, em muitas ocasiões, terá
pelo menos 2 desses atributos ao mesmo tempo. Evite o uso de preto na capa, onde
Preto
é também amplamente associado à morte e à tragédia, internas de uma revista, seu
uso pode ser formidável. Na psicologia das cores, muitas pessoas pensam que esta
cor está associada à submissão.
É quase tão complexo quanto preto: inocência, limpeza, riqueza e pureza são algumas
Branco das associações que fazemos com branco, mas também pode ser estéril e neutro até
o ponto de ser anódino.
A extrema vibração do vermelho tem pontos bons e ruins: é confrontador e pode
tornar outros elementos em uma página quase invisíveis. Mas certamente atrairá a
Vermelho
atenção e tem se provado que cria uma resposta emocional forte no leitor,
acelerando os batimentos cardíacos e a respiração.
Calmo e tranquilo, o azul faz com que o organismo produza substâncias químicas
Azul
calmantes, mas escolha com cuidado, pois também pode ser frio e depressivo.
É a cor mais fácil aos olhos e é calmante e refrescante. Como cor da natureza, a
Verde maioria das associações que os leitores fazem é positiva. Além disso, o verde escuro
indica riqueza e poder.
É a cor mais difícil para os olhos, portanto é potencialmente opressivo – talvez seja
Amarelo
esse o motivo pela qual é visto como uma escolha pouco popular para as capas.
Usado de maneira correta, o roxo tem associações de luxo, riqueza, romance e
Roxo
sofisticação, mas também pode parecer excessivamente feminino ou canhestro.
Nossas associações com o laranja são boas: emocionante, vibrante e alegre. Mas pode
Laranja ser uma cor difícil de usar, afinal com vermelho demais ele pode predominar; com
amarelo demais ele pode parecer lavado.
Outra cor da “natureza” com boas associações: marrom claro implica autenticidade,
Marrom enquanto marrom escuro sugere madeira ou couro. A combinação desses tons é
atraente para assuntos masculinos.
Figura 46 – Tabela de cor.
Fonte: Texto retirado do livro Design editorial, página 72
Audiodescrição da figura: A figura mostra uma tabela com o significado de algumas cores. Fim da
Audiodescrição.

© Lombadas
A lombada é o espaço entre a capa e o verso. Por muito tempo ela não foi considerada um
bom espaço, mas hoje em dia bons designers trabalham bastante para que seja igualmente vendável.
Quando livro ou mesmo revistas são postas em prateleiras, o leitor busca o título pela lombada, ou
seja, essa faixa serve para reforçar a marca e o estilo do título. É comum que em uma série ou box,

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as lombadas quando organizadas em sequência se transformem em uma imagem correspondente à
obra. Muitos fãs optam por esse conjunto porque servem como peças decorativas em estantes.
Existem dois tipos de lombadas, repara só.

Figura 47 – Lombada.
Fonte: Adaptado do Guia Prático de Design Editorial, página 83
Audiodescrição da figura: A figura mostra duas colunas na cor azul, elas representam a lombada de um livro. Fim da
Audiodescrição.

Essa escolha de lombada fica mais a critério da editora, tanto faz a francesa ou americana.
A editoras normalmente têm duas adaptações das suas logos, uma para lombada e outra para
capa e claro que ambas devem ter boa visibilidade.

© Chamadas ou títulos
Chamadas ou manchetes são comuns em jornais e revistas e já nos livros os títulos são os que
aprecem. Nos primeiros é comum que haja mais de uma chamada, para tentar chamar atenção do
público para outros conteúdos presentes naquela edição. Porém, sempre há uma manchete mais
importante e que tem a ver com a imagem da capa, essa chamada precisa ser maior do que as demais.
Já no livro o título pode ser pensado sozinho, de maneira abstrata ou interagindo com uma imagem.
Normalmente existe mais liberdade nessa criação, pois não tem outras chamadas para colocar na
capa, assim a criatividade estratégica precisa ser bem planejada e executada.

© Primeira, segunda, terceira e quarta capas

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A capa de um livro na verdade é formada por muitas capas. Parece loucura, mas não é. E
muitas vezes pode até ter orelhas. Por isso, antes mesmo de explicar, vamos ver.

Figura 48 – Partes do livro.


Fonte: Adaptado do Guia Prático de Design Editorial, página 82
Audiodescrição da figura: A figura mostra a anatomia do livro: 2ª orelha, 4ª capa, lombada, 1ª capa e 1ª orelha. Fim da
Audiodescrição.

Entre as orelhas, capas e lombadas existem dobras, assim o livro fica bem fechadinho. As
orelhas são dobradas e colocadas para dentro, e servem para ajudar o leitor a marcar a página ou
deixar o livro em pé em uma livraria.
É bem comum que na 4ª capa tenha um depoimento ou avaliações especializadas de críticos,
trechos da obra ou coisas do gênero. O livro abaixo contém duas orelhas, lombada, 1ª e 4ª capa.

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Figura 49 – Manual antirracista.
Fonte: Acervo pessoal
Audiodescrição da figura: A figura mostra as capas do livro Pequeno manual antirracista. Fim da Audiodescrição.

A primeira orelha, amarela, tem um trechinho da autora falando sobre o tema do livro. A
primeira capa, também amarela tem o projeto gráfico da obra. A quarta capa tem um trechinho
falando sobre a obra e a segunda orelha tem uma foto da autora com a continuação do texto da
primeira orelha.

© Hierarquia da informação – grid


Assim como na capa, dentro da publicação também será preciso dar maior visibilidade a
algumas informações do que a outras. Um título normalmente recebe destaque, tem o tamanho
maior. Mas esse mesmo título pode ficar menor em relação a uma fotografia que precisa tomar 50%
da página, segundo as diretrizes do editor. Já uma legenda precisa ser pequena, mas ainda assim dar
leitura. Essas são questões práticas que acontecem em toda editoração. E é natural que no começo
da jornada você fique perdido com todos esses elementos e onde colocar cada um. Por isso que
existem algumas ferramentas para ajudar, uma em especial.
Sabe do que estamos falando? Hierarquia da informação! Pois é a primeira pergunta que
precisa ser feita é: O que precisa ser visto primeiro pelo leitor? Quais informações são mais
importantes? E além disso tudo também será preciso se questionar sobre o uso das cores, o tipo

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escolhido para o corpo do texto, elementos gráficos, capitulares e maiúsculas iniciais, subtítulos
(quando houver), citações, ícones, fólios, créditos de imagem, caixas, janelas, quadros e imagens em
geral. Tudo isso precisa ser pensado para caber em um determinado espaço. Ou seja, é um grande
equilíbrio de elementos, um quebra-cabeça onde o designer gráfico vai montando aos poucos.
Certamente deve haver um ponta pé inicial, algo que ajude nessa montagem, nessa primeira
arrumação dos elementos. E existe! O nome dele não é Jeniffer e nem poderia ser (sorry, eu não
consegui me segurar). O nome dele é GRID mesmo e é uma mão na roda.
O grid é considerado por muitos uma organização primordial para começar um trabalho, já
para outros é considerado uma opressão sufocante. Contudo as principais vantagens são clareza,
eficiência e economia. Ele é formado por margens, guias horizontais, zonas especiais, módulos e
colunas. Como você pode ver na imagem abaixo.

Figura 50 – Partes do grid.


Fonte: Adaptado de Timothy Samara, Grid.
Audiodescrição da figura: A figura mostra as partes de um grid. Fim da Audiodescrição.

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Graças a essa estrutura é possível distribuir o conteúdo e alinhar os elementos, tudo
sendo usado segundo o desejo do designer. Nada é obrigatório, que fique claro. A ideia é ajudar e
não piorar.
E como para cada problema gráfico exige uma solução diferente, existem alguns modelos
pré-estabelecidos de grid para dar o ponta pé, mas repito, você pode e deve descontruir o grid, não
se sinta preso a ele e muito menos com medo de sua estrutura. Ele não é obrigatório. Mas no caso
de começar por um, é interessante saber qual estrutura irá melhor te ajudar no projeto gráfico.
Seguem algumas opções.

Figura 50 – Tipos de grid.


Fonte: https://eventos.ifrs.edu.br/index.php/JEPEXErechim/JepexErechim2019/paper/viewFile/6357/2712.
Audiodescrição da figura: A figura mostra as partes de um grid. Fim da Audiodescrição.

© Grid retangular
É o grid mais simples, ideal para grandes textos corridos, mas deve-se ter cuidado para
que seja agradável a leitura, criar conforto e manter a atenção do leitor, para isso você pode alterar
as margens laterais e internas da folha. Essas margens não precisam ser simétricas, depende da
escolha do designer gráfico.

© Grid de colunas
É um grid bem flexível, pois as colunas podem conter textos contínuos, ou se pode somar
mais de uma coluna para deixá-la mais larga. Também pode-se deixar uma coluna para imagens, outra
para legendas e uma para o texto corrido. São infinitas possibilidades. É preciso escolher bem a
largura da coluna e o espaço entre elas, para que o texto não fique perdido ou as linhas grandes

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demais. Normalmente, a entrecoluna recebe um valor X e as margens 2x. Quando as margens são
maiores são maiores que as entrecolunas o olhar do leitor é chamado para dentro.

© Grid modular
Ideal para projetos complexos. Por ter vários módulos, que se transformam em zonas
especiais, assim se pode distribuir bem os elementos e ter mais controle do conteúdo.

© Grid hierárquico
Segundo as exigências do projeto, às vezes é preciso um grid especial, que se adapte as
informações e conteúdo, onde se possa distribuir os elementos de maneira mais intuitiva, levando
em consideração as proporções, tamanhos, repetições e etc. As páginas da internet são bons
exemplos de grid hierárquico, porque conseguem estudar bem a interação ótica dos elementos.

4.2 Montando uma capa

O projeto de capa começa com sua montagem, mas antes de falar sobre é relevante pontuar
alguns aspectos na composição de uma capa. Primeiro, se for usar imagem é melhor matutar bem se
vale a pena pegar uma de banco gratuito, digo isso porque justamente por estarem disponíveis para
qualquer um essas imagens tendem a ser reconhecíveis e deixarão o projeto fraco no quesito
autenticidade. Se puder usar um banco de imagens pago, ótimo, mas se não houver grana pra isso, é
melhor ser criativo e pensar em outra sugestão para a capa.
Bem, mas o projeto de capa envolve os seguintes passos:

1ª parte – Conceito
Depois de ler os originais pense no conceito que deseja colocar naquela capa, como pode
representar aquele texto.

2ª parte – Brainstorm
O momento de rascunhar e gerar ideias.

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3 ª parte – Definição
Hora de escolher no máximo três layouts para apresentar aos interessados e caso haja
alteração, serão feitas posteriormente.

4ª parte – Correções
Refazer o que não ficou bom ou foi solicitado na etapa anterior.

5ª parte – Aprovação
O melhor acontecimento! Depois da aprovação da primeira capa é partir para a montagem da
capa inteira.

Depois dessas definições você deverá partir para a lombada, orelhas e 4ª capa (se houver
texto para essas duas últimas). Então, seguido do recebimento do ISBN do livro e código de barras,
assim como a medida da lombada, o arquivo da capa estará pronto para seguir para impressão.

Momento dicionário
“O ISBN (International Standard Book Number/ Padrão Internacional de
Numeração de Livro) é um padrão numérico criado com o objetivo de
fornecer uma espécie de "RG" para publicações monográficas, como livros,
artigos e apostilas.” Fonte: https://www.cblservicos.org.br/isbn/o-que-e-
isbn/#:~:text=O%20ISBN%20(International%20Standard%20Book,como%20li
vros%2C%20artigos%20e%20apostilas.

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5.Competência 05 | Analisar as etapas do desenvolvimento de um projeto
editorial, do conteúdo textual ao conceito visual.

Finalmente chegou o momento de ver como é o passo a passo de um projeto editorial. Sem
mais delongas vamos nessa!

Vai lá ouvir o podcast que eu te espero por aqui!

5.1 Como fazer

© Primeiro passo: os originas


Bem, o primeiro passo para o desenvolvimento de um projeto editorial não poderia ser
diferente: o recebimento dos originais (o texto da publicação). Esse texto que foi escrito pelo autor e
revisado, seja pela editora ou por outro revisor, chega até nós, designer gráficos, sem um erro de
português, pronto para ser publicado. É indispensável que o designer tenha acesso ao texto, que leia
na medida do possível para que posa interpretar, entender o assunto e ter as primeiras ideias sobre
o desenvolvimento do projeto gráfico.

© Segundo passo: o briefing


Falamos direto aqui no curso sobre o papel do briefing no desenvolvimento de qualquer
projeto gráfico, então, não seria diferente na criação editorial. Nesse documento devem ter definidos
o conceito do livro, cores, acabamento, número de páginas e tipo de papel. Às vezes, o designer
participa dessas decisões e outras já vem estabelecido algumas diretrizes, como número de páginas,
por exemplo. De toda maneira, o mínimo para se começar é o título, texto e logo da editora.

© Terceiro passo: ler os originais

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É essencial que se leia o livro sobre o qual se está trabalhando. Imagina fazer a capa de um
romance, onde você lê apenas o primeiro capítulo e não consegue entender sobre o assunto de
verdade. Então, claro, é preciso tempo para que isso aconteça. Contudo, em livros mais técnicos, você
pode ler partes dele, como introdução e os primeiros capítulos. Mas quando se tratar de romances,
precisa ler tudo. Ou seja, para ser designer gráfico editorial precisa gostar de ler, é o básico.

© Quarto passo: começar o projeto


Não existe uma receita de bolo para começar. E é natural que muitos comecem fazendo um
rafe (rascunho) da capa à mão e alguns estudos de diversas ideias. Ou seja, vários rascunhos de como
imaginamos aquela produção. Isso depois de ler os originais, claro. Mas existem profissionais que já
vão direto para o computador e começam os trabalhos no próprio software. Você poderá fazer como
achar melhor, sugiro que teste as duas maneiras. Para mim sempre começa no papel e depois vou ao
computador.

© Quinto passo: estrutura


Depois de pensar e estudar as primeiras ideias é necessário definir a estrutura da publicação,
que são: modulação, grid e margens. Essas escolhas só são possíveis quando se sabe o formato do
livro, ou seja, seu tamanho, suas proporções.
Mas vamos lá, modulação é divisão da página em colunas e fileiras, como uma grade. Olha só.

Figura 51 – Projeto 1.
Fonte: https://www.behance.net/gallery/80229115/DESIGN-EDITORIAL-Extravagancia-editorial.
Audiodescrição da figura: A figura mostra duas páginas de uma publicação e seu grid. Fim da Audiodescrição.

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As linhas azul-claros são as modulações dessas páginas. Inclusive, alguns preferem até chamar
de grelha, mas o mais importante não é o nome e sim os benefícios de se trabalhar com ela. O uso da
modulação permite achar soluções mais rápidas, ajuda a manter o estilo da obra e a hierarquia das
informações. Essa malha ajuda a compor imagens e textos segundo uma lógica, além de dar ritmo à
publicação.
Então, quando for no software você precisa definir o tamanho desses módulos e a distância
entre eles. Normalmente um bom tamanho é 12x12cm com 5mm de distância.
Depois de definido os módulos, se define o tamanho das margens e o grid.
O grid, como visto na competência anterior, podem ser dos mais variados, tudo depende dos
objetivos da publicação e como você quer passar a mensagem, pois já sabemos que a maneira como
colocamos o texto impactará diretamente na interpretação dele. Assim, você pode optar por uma
diagramação mais simples ou mais complexa.
Já as margens são respiros importantes para o texto, um descanso necessário. Em um livro
que contenha ilustrações, por exemplo, não se pode esquecer das margens ao redor das figuras
(margens de proteção), do espaço entre elas e o bloco de texto.

OLHA A DICA!
Não esqueça de ter noção do número de páginas que a obra terá. O editor
deve te dar essa estimativa logo no início do projeto. Só assim você não
precisará refazer a publicação para caber no orçamento. Já sabendo disso,
você pode calcular melhor as margens, entrelinhas e espaçamento. Ah!
Também é super importante saber para quem se destina a obra, assim você
pode escolher melhor as cores e os tipos.

Existem várias dicas sobre as margens que você deve saber logo agora, porque vai facilitar e
muito a sua vida. Saca só:
1. A margem superior é menor que a margem inferior
2. A margem inferior é a maior de todas para ajudar a segurar o livro sem comprometer o texto
3. Na editoração tradicional a medianiz é menor do que as margens laterais, para dar a ideia de
uma moldura e os textos das páginas ficarem próximos.

78
Momento dicionário
Medianiz é a margem interna das duas páginas

5.1 Especificações importantes

Existem algumas especificações importantes na produção de um material. Bora ficar por


dentro desses paranauê?
O tamanho da tipografia escolhida é tão importante quanto a escolha dela. Ela precisa ser
legível, nem tão pequena e nem grande demais em relação ao tamanho da página. Normalmente
uma linha tem quase 65 caracteres, mas pode variar entre 50 e 70. Se a linha precisar ser longa, ou
seja, com mais caracteres, será preciso colocar mais espaço entre as linhas, só assim ela ficará legível.
Segundo Bringhurst (2005), um autor renomado na área, uma linha com 45 e até 75 caracteres é
aceitável para uma página que tenha apenas uma coluna de texto. Mas o ideal mesmo é uma linha
entre 60 e 65 caracteres. Já páginas com mais de uma coluna esse número pode variar entre 40 e 50.
Os designers editoriais têm um jeitinho de mostrar as especificações que estão trabalhando.
Se escreve assim:

HELVETICA 11/18 X 29,2 PAICAS

O que significa? Que o tipo escolhido foi Helvetica, o tamanho é 11 e a entrelinha é de 18. Já
a largura da mancha do texto é 29,9 paicas ou 12,3 cm.

Momento dicionário
Paicas é um sistema de medida, muitos designers usam, mas o sistema
decimal também é utilizado. Para converter é simples: 1 paica equivale a 12
pontos ou 4,218mm.

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5.2 Formatos

O livro normalmente é um retângulo na vertical, esse é a configuração mais convencional e se


tornou o padrão desde Gutenberg. Os formatos mais usados aqui no Brasil são 14x21 / 16x23 / 17x24
/ 21x28, tudo em centímetros. “Os livros são impressos em grandes folhas de papel que, em seguida,
são dobradas para formar os cadernos de 8, 16, 32 ou 64 páginas. No caso de um caderno de 8
páginas, 4 são impressas de um lado e 4 impressas do outro lado da folha” (HALUCH, 2018, p.33).
Repara nesse exemplo de um livro de 8 páginas para entender melhor.

Figura 52 – Folhas.
Fonte: https://pgeditorial.tumblr.com/post/166855735959/projeto-2-aula-5-25-de-outubro
Audiodescrição da figura: A figura mostra os tipos de dobra de folha para a impressão de um livro. Fim da
Audiodescrição.

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Esse processo é chamado de imposição de cadernos e se você quiser ver
mais exemplos de impressão e de como as folhas se encaixam sugiro dar
uma espiada nesse link:
https://pgeditorial.tumblr.com/post/166855735959/projeto-2-aula-5-25-de-
outubro

A lógica continua sendo a mesma para livros com mais páginas. Esse exemplo é de livros
impressos em folhas duplas combinadas, mas também é possível imprimir em quatro ou oito páginas
combinadas.

5.3 Estrutura do livro

Um livro é dividido em três partes: pré-textual, textual e pós-textual. Isso não significa que
todos os livros precisam ter os itens que serão mencionados a seguir, mas de toda maneira um
designer precisa conhecer esses elementos.

Bora assistir aulinha? Vai lá ver, vai!

5.3.1 Pré-textual

De maneira geral, são enquadrados como itens pré-textuais tudo o que não é texto do autor.
Assim:
1. Falsa folha de rosto
Serve para proteger o rosto e tem apenas o título da obra, sem subtítulo nem nome do autor.
2. Folha de rosto
Se coloca o nome do autor, título e subtítulo. Nome de ilustrador, tradutor, número da edição,
volume, coleção, logo da editora, cidade e ano da edição.
3. Página de créditos

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Fica no verso da folha de rosto e leva um texto legal bem específico com o Copyright ano e
detentor, texto obrigatório de lei que fala sobre direito autoral, marca e dados da editora,
crédito de revisão, produção editorial, design de capa, projeto gráfico e diagramação, fica
catalográfica, ano de publicação e cidade.
4. Dedicatória
Quando existe, normalmente fica em página ímpar, depois da folha de rosto
5. Epígrafe
Nem sempre há epígrafes, mas se for o caso ela fica na página ímpar depois do verso da
dedicatória ou até mesmo na mesma página da dedicatória. Às vezes se coloca no início do
capítulo um pensamento, nesses casos deve-se colocar a referência da sentença completa ou
só o nome do autor.
6. Sumário
Fica na página ímpar antes ou depois do prefácil
7. Lista de ilustrações (pode ser adicionado como pós-textual)
8. Lista de abreviaturas (pode ser adicionado como pós-textual)
9. Prefácio
Deve começar na página ímpar, mesmo que seja um prólogo, epígrafe ou um texto
apresentando o autor.
10. Agradecimentos
Olha só algumas dessas partes em um livro original.

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Figura 53 – Partes de um livro.
Fonte: Acervo pessoal
Audiodescrição da figura: A figura mostra três folhas de um livro, a falsa folha de rosto, a folha de rosto e a página de
créditos. Fim da Audiodescrição.

5.3.2 Parte textual

A coisa mais importante a saber sobre a parte textual é que o texto (bodytext) deve seguir
um padrão que será estabelecido, e a estética deve ser regular, ter uma lógica. O texto, que
basicamente é o livro, normalmente é dividido em capítulos, mas também pode ser repartido em
volumes, tomos, partes, secções e subcapítulos.

ATENÇÃO
As páginas ímpares são sempre mais “importantes”, isso porque ela fica
melhor posicionada e olhar caí logo nela, por isso aberturas e inícios de
capítulos sempre ficam nelas.

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A introdução fica em página ímpar e já considerada texto do autor, por isso faz parte da parte
textual. A abertura dos capítulos também fica em páginas ímpares, mas também podem ser coladas
em páginas duplas.
O título interno dentro dos textos merece um destaque, com um espaço em branco (duas
linhas são mais comuns) antes e uma linha depois.
A posição da numeração da página (fólio) pode ficar no alto ou no pé da página, mas
normalmente fica na parte esquerda da página par e à direita da página ímpar ou centralizado na
mancha do texto. Os itens pré-textuais não são numerados.
Os cabeços, quando são colocados, aparecem no alto, centro ou pé da página. Ele serve para
dar constância no texto. Normalmente podem aparecer o nome do autor ou o título e também o
nome do capítulo ou parte do livro. Se for o caso, se divide as informações, colocando, por exemplo,
o nome do autor na página par e na ímpar o título do livro.
Notas ou anotações ficam no pé da página isoladas ou em uma lista no pós-textual.

5.3.2 Pós-textual

Nessa parte podem conter os elementos a seguir.


1. Posfácio
2. Apêndice
3. Glossário
4. Bibliografia
5. Índice
6. Colofão - fica na última página, são informações sobre a produção do livro (papel da capa,
miolo, gráfica, tipografia e ditoração)
7. Errata
Como dito anteriormente, nem todos os livros contém todos os elementos, vai depender do
projeto, do autor e da editora.

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Figura 54 – Colofão.
Fonte: Acervo pessoal
Audiodescrição da figura: A figura mostra o colofão de um livro. Fim da Audiodescrição.

Dica!
Para textos longos e linhas grandes o mais aconselhável é usar um tipo com
serifa, mas existem várias publicações que fogem a essa regra e deram super
certo. Por isso sempre vale a pena experimentar!

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5.4 Margens e sangrias

Margens são espaços de segurança, por isso é fundamental que se deixe 1 cm em torno
do livro para o refile. Já para a sangria, separe entre 3 e 5mm.

Momento dicionário
Refile ou refilo: corte fino, com largura de poucos milímetros, feito no
acabamento de trabalho impresso, por meio de guilhotina ou instrumento
manual, de modo a igualar as bordas das páginas; refilagem, refile,
aparagem. Fonte: Dicionário de Oxford

Já as orelhas do livro devem ter no mínimo a metade do tamanho da capa. Exemplo: se a


capa tiver 20cm, a orelha terá 10. Para o texto caber direitinho dentro desse espaço ele deve 2cm a
menos, ou seja, 8cm. O tamanho desse texto varia entre 9 e 11 pontos, dependendo da escolha
tipográfica. Ainda na orelha há o seixo (a dobra que fica no acabamento da 1ª e 4ª capa), separe pelo
menos 0,15cm para essa dobra e não coloque nenhum texto colado nesse lugar. Se houver uma foto
é crucial que ela tenha 300 dpi, que é a qualidade mínima para impressão em offset. Claro, que essa
foto deve ter crédito, então separe um pequeno espaço para isso.

5.4 Acabamentos

O acabamento pode ser o brilho que faltava para dar aquele up na publicação. Sabe
aquele brilho que algumas capas têm? Ou um título em revelo? Uma ilustração dourada? Pois é,
tendo dinheiro tudo é possível. Portanto, vamos ver alguns acabamentos bem legais. Quem sabe seu
processo projeto não pode ter um deles?

5.4.1 Laminação

É o acabamento básico e que dar maior durabilidade à publicação. Pode ser brilhante ou
fosco, na primeira as cores são ressaltadas e ficarão mais reluzentes. Já a fosca realça a textura do
papel da capa e é mais agradável ao tato, segundo Haluch (2018). Para ambas as laminações é preciso

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entender de cor e dos percentuais necessários para deixar os elementos mais vibrantes. Para dar uma
ideia de sombra, por exemplo, a diferença entre as cores precisa ser significativa, se não com a
impressão e laminação não serão vistas.

Figura 55 – Laminação.
Fonte: Acervo pessoal
Audiodescrição da figura: A figura mostra um livro com capa laminada. Fim da Audiodescrição.

5.4.1 Verniz

O verniz pode ser aplicado em uma área específica da capa, especialmente o high gloss.
Ele é ideal para detalhes e funciona melhor em cores fortes. Em títulos claros em fundo branco não é
perceptível e não é adequado para ser colocado em toda a capa, pois racharia nas orelhas e lombadas.
Tem bom resultado junto com a laminação fosca.

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Figura 56 – Verniz.
Fonte: Acervo pessoal
Audiodescrição da figura: A figura mostra um livro com capa com verniz. Fim da Audiodescrição.

5.4.1 Relevo

Para Haluch (2018) esse efeito cai super bem junto com verniz, hot stamping e laminação.
Não é um acabamento barato, então precisa ser bem pensado, além de precisar de um papel com
gramatura mais grossa para ser executável, como o papel cartão 240 g/m².

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Figura 57 – Relevo.
Fonte: Acervo pessoal
Audiodescrição da figura: A figura mostra um livro com capa com relevo. Fim da Audiodescrição.

5.4.1 Hot Stamping

O hot stamping nada mais é do que uma fita metálica (disponível em várias cores) que
com ajuda de algumas ferramentas consegue ser transferida para o papal. É chique, brilhoso e
elegante.

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Figura 58 – Hot stamping.
Fonte: Acervo pessoal
Audiodescrição da figura: A figura mostra um livro com capa com hot stamping. Fim da Audiodescrição.

5.5 Materiais para capa

Existem no mercado algumas opções para produzir uma capa. A brochura é a primeira
delas, onde o miolo do livro é costurado e colado na capa, sem orelhas. É um tipo mais barato de
publicação, mas também dura menos. A segunda é a capa dura, confeccionado em papel Paraná
(normalmente), ela não tem orelhas, mas é resistente e bem bonita. A terceira é a capa flexível, ela é
montada como se fosse capa dura, mas não leva o papel Paraná (é uma alternativa mais barata),
podem ou não ter orelhas. E por último, as sobrecapas, que podem ser feitas em papéis diferentes
dos convencionais e que gerem uma alternativa criativa e ousada.

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Para o miolo, os papéis normalmente variam entre pólen, couché, offset ou altaprint.
Esses materiais normalmente têm um imposto menor para deixar mais acessível a impressão. Mas
tudo depende do projeto e de como será impresso.

A última dicaaaa!
Com relação à impressão é bem útil que em textos na cor preta e com o
fundo for colorido se trabalhe com impressão overprint (impressão
sobreposta), pra não ficar mal-feito, sabe? Mas se não rolar overprint, você
pode trabalhar com o trapping (contorno) de 0,144mm em torno das letras
para deixar mais visível. E a escala de cor deve ser CMYK para as cores
comuns e Pantone para cores especiais.

Agora me diz, quando lá na primeira competência eu falei que seria um mundo a parte, era
mentira minha? Te falei, criatura! Mas também é apaixonante ou não é? Espero que você tenha
curtido como eu.
Tenha sempre em mãos esse e-book, faz dele aquele livro que a gente acessa para tirar
dúvidas.
Valeu?
Valeu demais! E até breve!

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Conclusão
Eita lá! Depois desse tanto de conteúdo chegamos ao fim de mais uma disciplina. Fazer o
que, né? Vida que passa. Queria passar 6 meses juntinho falando sobre design editorial? Queria!
Haha! Será que eu gosto do assunto? Mas infelizmente não dá e você tem muitas outras coisas para
aprender.
Espero que tenha sido e que tenha realmente aprendido. Se ainda rolou dúvida deixa no
fórum, passa e-mail, direct nas redes sociais. Mas lembra que esse conteúdo vai ficar disponível para
você sempre. Então reassiste, ler de novo e coloca EM PRÁTICA. Não adianta ficar só por aqui, tem
que botar a mão na massa, porque trabalhar com design é prática o tempo todo.
Promete que vai praticar?
É para o seu próprio bem. Tô falando de boa!
Mas é isso!
Abraços digitais imensos e nós vemos em breve.
Tchau! Tchau!

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Referências

AMBROSE, Gavin; HARRIS, Paul. Tipografia. Porto Alegre: Bookman, 2011.

BRINGHURST, Robert. Elementos do estilo tipográfico. São Paulo: Cosac Naify, 2005.

HALUCH, Aline. Guia prático de design editorial: criando livros completos. Rio de Janeiro: Senac Rio,
2018.

LUPTON, Ellen. Pensar com tipos: guia para designers, escritores, editores e estudantes. São Paulo:
Cosac Naify, 2013.

RIBEIRO, Ana Paula; MARQUES, Karoline; SASSAKI, Rafaela. O essencial do design editorial. São Paulo:
Ubu, 2016.

SAMARA, Timothy. Grid: construção e desconstrução. São Paulo: Cosac Naify, 2015.

SPIEKERMANN, Erik. A linguagem invisível da tipografia: escolher, combinar e expressar com tipos.
São Paulo: Bucher, 2011.

ZAPPATERRA, Yolanda. Design editorial. São Paulo: Gustavo Gili, 2014.

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Minicurrículo do Professor

Fernanda Regueira

Fernanda Regueira é doutoranda em Design na UFPE,


publicitária, mestra em análise crítica do discurso e
professora, título que mais ama. Faz um bocado de freela
nessas áreas e adora estudar coisas novas, principalmente
no campo do design. Você pode conversar com ela sempre
que desejar no @fernanda.regueira.

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