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Histórias da Arte e do Design

Lia Madureira Ferreira

Curso Técnico em Design Gráfico


Educação a Distância
2021
Histórias da Arte e do Design
Lia Madureira Ferreira

Curso Técnico em Design Gráfico

Escola Técnica Estadual Professor Antônio Carlos Gomes da Costa

Educação a Distância

Recife

1.ed. | Ago. 2021


Professor(es) Autor(es) Catalogação e Normalização
Lia Madureira Ferreira Hugo Cavalcanti (Crb-4 2129)

Revisão Diagramação
Lia Madureira Ferreira Jailson Miranda

Coordenação de Curso Coordenação Executiva


Manoel Vanderley dos Santos Neto George Bento Catunda
Renata Marques de Otero
Coordenação Design Educacional Manoel Vanderley dos Santos Neto
Deisiane Gomes Bazante
Coordenação Geral
Design Educacional Maria de Araújo Medeiros Souza
Ana Cristina do Amaral e Silva Jaeger Maria de Lourdes Cordeiro Marques
Helisangela Maria Andrade Ferreira
Izabela Pereira Cavalcanti Secretaria Executiva de
Jailson Miranda Educação Integral e Profissional
Roberto de Freitas Morais Sobrinho
Escola Técnica Estadual
Descrição de imagens Professor Antônio Carlos Gomes da Costa
Sunnye Rose Carlos Gomes
Gerência de Educação a distância
Sumário
Introdução .............................................................................................................................................. 4

1.Competência 01 | Identificar a arte como reflexo da cultura e da história. Reconhecer as


características artísticas de diferentes períodos históricos. .................................................................. 5

1.1 O Significado e Sentido da Arte .................................................................................................................. 6

1.2 A Pré-história ............................................................................................................................................ 12

1.3 A Antiguidade............................................................................................................................................ 14

1.3.1 A Civilização Egípcia ............................................................................................................................... 14

1.3.2 A Grécia Antiga ...................................................................................................................................... 17

1.3.3 Roma Antiga ........................................................................................................................................... 19

1.4 O Período Medieval .................................................................................................................................. 21

1.5 A Idade Moderna e o Renascimento ........................................................................................................ 24

2.Competência 02 | Reconhecer as características da arte moderna e da arte pós-moderna a partir


da compreensão da indústria cultural e da cultura de massa. ............................................................ 31

2.1 A Arte Moderna ........................................................................................................................................ 31

2.1.1 As Vanguardas Artísticas ........................................................................................................................ 33

2.2 Indústria Cultural, Cultura de Massas e as Novas Ideias Artísticas .......................................................... 39

2.3 A Arte Pós-Moderna ................................................................................................................................. 40

3.Competência 03 | Entender o impacto da tecnologia industrial sobre a comunicação visual e


identificar o surgimento do design gráfico nesse contexto ................................................................. 51

3.1 O Conceito de Design Gráfico ................................................................................................................... 53

3.2 A Evolução do Design Gráfico Contemporâneo........................................................................................ 54

3.3 O Design Gráfico nas Décadas de 1920 e 1930 ........................................................................................ 63

3.4 A Escola Bauhaus ...................................................................................................................................... 65

3.5 O Período de Pós-Guerra .......................................................................................................................... 70

3.6 Os Anos 50 na Suíça e Estados Unidos ..................................................................................................... 70


4.Competência 04 | Situar e identificar o contexto histórico para o surgimento do design gráfico pós-
moderno. A revolução digital no design gráfico .................................................................................. 75

4.1 Os Anos 60 e 70 na Europa ....................................................................................................................... 75

4.2 Os Anos 60 e 70 nos Estados Unidos ........................................................................................................ 77

4.3 Novos Paradigmas do Design .................................................................................................................... 78

4.4 O Pós-Modernismo ................................................................................................................................... 80

4.5 A Revolução Digital ................................................................................................................................... 87

4.6 A Multimídia e a Interatividade ................................................................................................................ 92

Conclusão ............................................................................................................................................. 96

Referências ........................................................................................................................................... 99

Minicurrículo do Professor ................................................................................................................. 100


Introdução
Prezado Estudante,

Seja bem-vindo (a) à disciplina de Histórias da Arte e do Design.


Essa disciplina tem como objeto de estudo a arte e o design a partir do seu
desenvolvimento e evolução ao longo da história da humanidade.
A arte está presente por todos os lados e momentos no seu dia a dia. Quando você anda
pelas ruas da sua cidade, quando passa por uma praça e vê uma escultura, quando entra em uma
igreja e vê um vitral colorido ou em um edifício e vê um mural de azulejos ou uma pintura. Muitos
objetos que em algum momento foram utilitários para o homem, hoje são considerados objetos
artísticos. Além disso, as obras de arte podem nos proporcionam prazer, admiração, emoção,
reflexão.
O design também está no seu cotidiano, no logotipo da sua marca preferida, nas
embalagens dos produtos que você consome, na revista que você tem em casa e até mesmo nas suas
redes sociais.
A origem das artes é incerta e envolve não só a estética, mas também a consciência da
sua criação. Alguns historiadores da arte definiram o local do seu nascimento na caverna Chauvet, na
França, onde se encontra a pintura rupestre mais antiga descoberta, datada de aproximadamente
30.000 anos.
Nessa disciplina será apresentado um panorama geral das artes e das correntes artísticas
mais importantes por período histórico, iniciando na Pré-história, e seguindo pela Idade Antiga, Idade
Média, Idade Moderna e Idade Contemporânea.
Posteriormente observaremos como a Revolução Industrial foi o cenário propício para o
surgimento de um novo profissional, o designer gráfico. Como área do conhecimento que engloba
aspectos teóricos e práticos, veremos que o design se consolidou ao longo do século XX, passando
por diversos momentos, ao mesmo tempo em que a tecnologia avançava cada vez mais.
Percorreremos juntos um prazeroso caminho ao longo da nossa própria história.
Boa leitura!

4
Competência 01

1.Competência 01 | Identificar a arte como reflexo da cultura e da história.


Reconhecer as características artísticas de diferentes períodos históricos.
Estamos só começando a disciplina, mas estou curiosa. Algum dia você já parou pra
pensar desde quando a arte existe e porque ela existe? Será por aí que iniciaremos a nossa jornada
pelas Histórias da Arte e do Design, vamos juntos?!!!
Ao longo da história, o homem produziu uma grande quantidade de artefatos para utilizá-
los no seu dia a dia. Criou também objetos para expressar sua visão e sentimentos como reflexo da
realidade em que estava inserido.
O conceito de arte pela arte, de um objeto que existe exclusivamente pelo seu valor
estético, ou seja, inicialmente relacionado, ao belo, não existia até o século XIX. Antes da Revolução
Industrial a beleza, as formas e imagens que o homem criava estava relacionada a sua função na
sociedade. As características estéticas da cerâmica grega, dos papiros egípcios e dos manuscritos
medievais estavam totalmente integrados com a sua utilidade. A arte e a vida formavam um todo
que não se separavam.
A Revolução Industrial não só trouxe grandes avanços tecnológicos, acelerando todos os
processos, mas sacudiu as ideias e valores das sociedades, a chamada era das máquinas criou um
distanciamento entre as necessidades materiais e sensoriais das pessoas, fazendo com que as artes
e ofícios também sofressem mudanças nos seus papéis sociais e econômicos.
Desde os tempos pré-históricos o homem buscou maneiras de expressar visualmente
ideias e conceitos, ao mesmo tempo que tentava encontrar possibilidades de preservar o
conhecimento adquirido através de formas gráficas, na tentativa de ordenar e transmitir
informações. Neste sentido, podemos considerar que a arte nasceu com o homem e deu a ele a
consciência da capacidade de criar e a possibilidade de interpretar, imaginar e se comunicar, nas mais
diversas linguagens.
É dessa maneira que a história da arte e do design gráfico começam a traçar seus próprios
caminhos, que muitas vezes se confundem, mas que tem propósitos muito diferentes, como será
visto durante esta disciplina.

5
Competência 01

Você já percebeu que algumas palavras ao longo do texto estão sublinhadas e


deve está se perguntando a razão, certo? O significado dessas palavras pode ser
consultado, caso você tenha alguma dúvida! Fica atento, o arquivo estará
disponível no material complementar da primeira competência.

1.1 O Significado e Sentido da Arte

Já parou para pensar como às vezes é difícil explicar o que é arte e para que ela serve?
Isso acontece porque são inúmeros os autores que trazem seus conceitos e visões sobre o significado
da arte, além disso, ao longo da história surgiram diversas formas e interesses para se falar e
compreender o seu significado. Linguagens que hoje são consideradas artísticas, em outros tempos,
não eram.
Ao longo da história, o homem encontrou diferentes modos de fazer arte, de forma que
o seu papel foi sendo modificado segundo a época, o lugar e a cultura.
Uma coisa é certa, muitos autores consideram que precisamos entender a arte como
sendo reflexo da sociedade, ou seja, como algo profundamente ligado à cultura e aos sentimentos de
um povo e assim como as pessoas, as culturas estão em mudanças constantes de pensamentos,
valores e gostos.
O filósofo italiano Luigi Pareyson (1984) disse que a arte é uma linguagem que se
reinventa constantemente para construir, conhecer e expressar as questões dos seres humanos e
podem ser reveladas por meio de muitas outras linguagens como o canto, a pintura, a atuação, a
fotografia, entre outras formas.
O artista cria com base em suas ideias e intenções, mas quem aprecia também vai criar
suas próprias interpretações. Isto faz com que ocorram duas coisas: por um lado a arte provoca muito
mais perguntas, do que traz respostas prontas e por outro lado não é possível se referir a arte como
uma verdade absoluta, sobre o que ela quer dizer, nem fazer juízos de certos e errados, já que tudo
vai depender de quem as olha, de que sentimentos provoca no espectador, no apreciador da arte.
A palavra “arte” vem do latim ars e corresponde ao termo grego tékhne (“técnica”), que
significa “[...] toda atividade humana submetida a regras em vista da fabricação de alguma coisa”
(CHAUÍ, 2003, p. 61).

6
Competência 01

Apesar de ser um conceito subjetivo, pode ser compreendida como um saber, já que, é
um meio de fazer, de produzir algo que vai necessitar um conhecimento prévio, seja teórico ou
prático, por parte do ser humano. Interessante, verdade?
Como você já deve saber as obras de arte apresentam diferentes temas e técnicas.
Observe alguns exemplos abaixo:

• Retratam elementos naturais, como é o caso das pinturas nas cavernas de Lascaux,
na França. Observe que a disposição aleatória e a escala variável denotam falta de
estrutura e sequência dos povos pré-históricos no registro de suas experiências;

Figura 1: Pintura rupestre em covas de Lascaux, na França.


Fonte: https://artsandculture.google.com/, 2021.
Descrição: Pinturas de animais pré-históricos na parede de uma cova, desenho com traços simples usando tons de
amarelo e marrom.

• Expressam os sentimentos religiosos do homem, tal como o quadro Madona com


Santos, do pintor renascentista Sandro Botticelli;

Figura 2: Quadro Madona com Santos, de Sandro Botticelli, 1485.

7
Competência 01

Fonte: https://artsandculture.google.com/, 2021.


Descrição: Pintura de um altar da Virgem Maria com o menino Jesus ao centro e dois santos nas laterais. As roupas são
mantos nas cores vermelha e azul e no fundo se observam folhagens de árvores.

• Servem como adornos para rituais de personificação;

Figura 3: Máscara de Pakal, civilização pré-colombiana do México.


Fonte: https://artsandculture.google.com/, 2021.
Descrição: Máscara de homem representando o Deus do Milho, constituída por fragmentos de jade, na cor verde,
com a boca entreaberta e os olhos abertos.

• Retratam situações sociais, como o quadro “A família de Retirante”s, do pintor


brasileiro Candido Portinari.

Figura 4: Retirantes, Candido Portinari, 1944.


Fonte: https://artsandculture.google.com/, 2021.
Descrição: Cena de família de retirantes em primeiro plano com paisagem de sertão ao fundo.

• Sugerem diferentes impressões a quem as contempla. O mural de rua de Bansky. “A


Menina com Tímpano Perfurado” é uma paródia ao "Garota com Brinco de Pérola"
de Vermeer, o uso de uma caixa de alarme como um piercing mostra como Banksy
costuma usar objetos já existentes em seus murais.

8
Competência 01

Figura 5: A Menina com tímpano perfurado, Banksy.


Fonte: https://artsandculture.google.com/, 2021.
Descrição: Mural de rua com o desenho do rosto de uma menina quase de perfil na cor cinza, o brinco que usa está
representado por uma caixa de alarme na parede do edifício.

Esses são apenas alguns exemplos, você consegue pensar em outros?

A arte como reflexo da cultura e da sociedade


A partir dos exemplos vistos foi possível observar que a obra de arte se situa entre o
universo particular de cada artista e o contexto universal em que está inserido, falando assim da
experiência humana. Cada obra é tanto um produto cultural de determinada época quanto uma
criação única da imaginação humana.
A criação artística pode então se distinguir das demais modalidades de conhecimento por
promover a comunicação entre os seres humanos, com a utilização particular das suas formas de
linguagem.
Nada melhor do que observar e fazer as suas próprias interpretações na tentativa de
compreender a arte, já que uma das ideias que está sempre presente no entendimento do significado
da arte, é que a obra de arte dialoga com o seu observador. Por tanto fique de olho nas pistas que
ela traz para você!

Antes de continuar a leitura, sugiro que passe pelo fórum da primeira


competência que já está aberto e conte um pouco sobre o que a arte desperta
em você. Vamos lá?

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Competência 01

Inicialmente foi apresentado algumas ideias sobre o conceito e funções da arte, é preciso
destacar nesse contexto dois termos que são recorrentes nos livros de arte e design e que vão ajudar
a compreender ainda mais os rumos que as artes tomaram ao longo da história. São eles belas artes
e artes aplicadas, também chamada de artes decorativas.
As artes aplicadas possuem uma relação estreita com a cultura popular e esteve presente
em todos os períodos históricos, em alguns momentos, inclusive, com status semelhante às
categorias de arte que foram surgindo.
Observe na figura a seguir, um pote realizado com a técnica da laca chinesa, é um bom
exemplo, de uma cultura milenar que produzia seus utensílios do cotidiano artesanal e
artisticamente, perpetuando tradições dos seus antepassados, ou mesmo inovando na utilização de
materiais, técnicas e iconografia.

Figura 6: Pote de laca chinesa.


Fonte: https://artsandculture.google.com/, 2021.
Descrição: Pote de decoração em formato ovalado com fundo escuro e pintura abstrata em tons de azul em algumas
partes.

Observe que as artes aplicadas se referem à produção artística voltadas para a vida
cotidiana por meio da criação de objetos como peças e utensílios que são úteis ao homem. Também
encontramos que o termo artes aplicadas já se referiu a alguns setores como arquitetura, as artes
gráficas, ao mobiliário, entre outros, e se opõe ao entendimento de belas artes.
As primeiras academias de arte, surgiram no século XVI e foram decisivas para a mudança
de status do artista. A substituição da autoria do artista, pelo trabalho realizado pelos artesãos de
guildas e corporações medievais, fez surgir a ideia do artista como um estudioso teórico e intelectual

10
Competência 01

que recebia formação especializada nas academias. Nesse momento o artista se afasta do mero “fazer
técnico” e passa a representar as belas artes. Interessante, verdade?

Os tipos de arte
Para poder se manifestar artisticamente, o homem usa diferentes linguagens, por
exemplo, a sonora (música), a linguagem verbal oral ou escrita (literatura), a linguagem visual e a
linguagem corporal (dança). Ele pode, ainda, expressar-se por meio da combinação de várias
linguagens como no teatro e no cinema, esses são apenas alguns exemplos da infinidade de
possibilidades que existe para que o homem, como artista, se expresse.

Quando surgiu a arte?


A periodização da história é um método cronológico usado para separar e contar o tempo
histórico da humanidade. É bastante útil para fins didáticos, permitindo inclusive situar a arte
desenvolvida ao longo do tempo. É divido em cinco períodos, épocas ou idades, são elas: Pré-história,
Idade Antiga, Idade Média, Idade Moderna e a Idade Contemporânea. Observe na figura a seguir essa
divisão.

Figura 7: Linha do tempo com a periodização da história.


Fonte: https://deimportantehistoria.blogspot.com/, 2021.
Descrição: Quadro com divisões de linhas horizontais e verticais pontuando as divisões dos períodos históricos, desde a
Pré-história até a Era Contemporânea.

11
Competência 01

1.2 A Pré-história

Como você pôde perceber o ser humano sempre produziu e se cercou de artefatos e
utensílios para o uso cotidiano e para a expressão de seus sentimentos diante da vida. Os primeiros
registros da cultura humana datam da Pré-história. Foram encontrados objetos, pinturas e gravações
no interior de muitas cavernas espalhadas pelo mundo. Por meio delas, antropólogos e historiadores
puderam reconstituir a vida dos ancestrais pré-históricos do homem.
A capacidade para produzir sons e comunicar-se foi também uma habilidade desenvolvida
nesse longo caminho desde o início mais primitivo. Meggs e Purvís (2009) comentam que a escrita é
o equivalente visual da fala, sendo as marcas, os símbolos, os desenhos, mais tarde as letras e os
escritos sobre uma superfície ou suporte que se converteram no equivalente gráfico da palavra falada
e do pensamento.
Devido à sua longa duração, a Pré-história foi dividida por historiadores, segundo Proença
(2009), nos seguintes períodos:

• Paleolítico (Idade da Pedra Lascada) do surgimento do ser humano até cerca de 12


mil anos atrás. Nele, grupos de homens produziam armas e instrumentos de pedra,
que eram lascadas para adquirirem bordas cortantes;

• Neolítico (Idade da Pedra Polida) — de 12 até 4 mil anos atrás. Marcou o início da
agricultura e da domesticação de animais. Isso permitiu ao homem uma vida mais
estável. Essa mudança alterou profundamente a história humana. Com a fixação dos
grupos, a população cresceu rapidamente e desenvolveu seus primeiros núcleos.

• Idade dos Metais — de 6 mil anos atrás até o desenvolvimento da escrita. Na Idade
dos Metais, com a dominação do fogo, o homem passou a trabalhar com o metal e a
produzir peças mais complexas e elaboradas.

As primeiras expressões de arte consistiam em traços feitos nas paredes das cavernas ou
em mãos pintadas em negativo. Eram pinturas na cor preta realizadas com carvão, possuindo também

12
Competência 01

as cores amarelas e marrons feitas com o óxido de ferro. Nas paredes das covas eram desenhados e
pintados animais como o bisonte.
Esse momento foi o inicio da arte como a conhecemos, mas, além disso, pode-se
considerar que foi o inicio de uma comunicação visual, já que as ilustrações primitivas eram realizadas
para que durassem e possuíam fins utilitários e voltados para rituais, como o da caça.

O tipo de distribuição e as variações de tamanho das imagens mostram uma falta de


estrutura e sequência dos povos primitivos para registrar as suas experiências. Em muitas pinturas
rupestres também são encontrados símbolos geométricos abstratos, como pontos, círculos,
quadrados e outras formas. Não se sabe se representavam objetos criados pelo homem ou algum
tipo de escrita primitiva.

Figura 8: Síntese gráfica de desenhos rupestres encontrados em todo o mundo.


Fonte: MEGGS; PURVS (2009, p.19 - 20), 2021.
Descrição: A figura apresenta pequenos desenhos de pessoas, animais e objetos geométricos realizadas com traços
simples.

O inicio da escrita
Os primeiros registros escritos são procedentes da Suméria sendo compostos por
desenhos figurativos de objetos e um sistema de numeração. Eram feitos em tábuas de argila
marcados com uma espécie de estilete de madeira em forma de cunha. A argila era um material
encontrado em abundância na região que uma vez queimado no fogo ficava resistente como uma
pedra. A essa escrita se deu o nome de cuneiforme.

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Competência 01

Esse sistema foi evoluindo ao longo dos séculos, sua estruturada se dava por meio de
divisões horizontais e verticais. Com a evolução os símbolos (pictogramas) começaram a representar
ideias (ideogramas). Por exemplo, o símbolo do sol passou a representar ideias como o dia e a luz.
A linguagem escrita foi sendo desenvolvida para que representasse a linguagem falada, o
que não foi fácil, pois surgiam sons que eram difíceis de representar e muitos, como nomes de
pessoas, não era possível adaptar as representações figurativas. Dessa forma, os símbolos gráficos
passaram a representar os sons dos objetos, em lugar dos objetos em si.

A máxima evolução que a escritura cuneiforme alcançou foi o uso de signos abstratos
para representar o som de sílabas.

Figura 9: Tábua de argila com pictogramas sumério e tábua de argila com escrita cuneiforme, desenho de linhas
formando desenhos abstratos.
Fonte: MEGGS; PURVS (2009, p.21 - 22), 2021.
Descrição: A figura apresenta duas fotos. A primeira com desenhos de estrela, cabeça, água e outros desenhos
abstratos que evoluíram para a escrita cuneiforme. A segunda imagem apresenta uma tábua de argila com escrita
cuneiforme, desenho de linhas formando desenhos abstratos.

1.3 A Antiguidade

1.3.1 A Civilização Egípcia

A civilização que se desenvolveu no antigo Egito às margens do rio Nilo, é uma das
civilizações mais importantes da Antiguidade. A expressão artística dessa civilização reflete
profundamente a sua história que é comumente dividida em três períodos: Antigo Império, Médio
Império e Novo Império. No decorrer desses períodos, o Egito conheceu um significativo
desenvolvimento, tendo a arte um papel de destaque.
Possuía organização social complexa e uma produção cultural intensa. A religião era um
dos aspectos mais significativos dessa cultura, orientando toda a sua produção artística. Para os

14
Competência 01

egípcios, a vida humana poderia sofrer interferência dos deuses. Dessa maneira, a arte egípcia voltou-
se para a construção de túmulos e objetos, estatuetas e vasos para os mortos, pois acreditavam que
deveriam entrar na pós vida acompanhado de suas riquezas. Já a sua arquitetura voltou-se para a
construção de grandes obras, como as pirâmides.

Os hieróglifos
Vários inventos sumérios chegaram ao Egito, como os selos cilíndricos, os projetos
arquitetônicos de tijolos, os elementos decorativos e também a escrita, mas, ao contrário dos
sumérios que desenvolveram a escrita da pictórica para a cuneiforme abstrata, os egípcios
conservaram o sistema de escrever mediante desenhos, chamados de hieróglifos. Este tipo de escrita
sagrada seguiu sendo usado até o ano de 394 d.C, mesmo depois que o Egito se tornou uma colônia
romana.
Os escribas eram os responsáveis por escrever os textos, registrar dados numéricos,
redigir leis, copiar e arquivar informações. Como poucas pessoas dominavam a arte da escrita,
possuíam certo destaque social.
Durante muito tempo não se conhecia o significado dos hieróglifos, foi apenas com a
descoberta da Roseta, no ano de 1799, que começaram as tentativas de tradução. A Roseta, que pode
ser observada na figura a seguir, é uma pedra de cor escura que continha inscrições em três idiomas:
hieróglifos egípcios, escrita demótica egípcia e o grego. Champolion foi o responsável por decifrar a
maior parte dos hieróglifos, conseguindo pronunciar os nomes de Ptolomeo e Cleópatra.

Figura 10: Roseta e cartuchos com os hieróglifos de Ptolomeu e Cleópatra.


Fonte: MEGGS; PURVS (2009, p.26 - 27), 2021.
Descrição: A figura apresenta duas imagens. Uma com pedra na cor escura gravada com três tipos de escrita. Na

15
Competência 01

segunda imagem representação em hieróglifos dos nomes Ptolomeu e Cleópatra com caracteres alfabéticos colocados
junto a cada desenho.

Os hieróglifos se desenhavam em pedra onde normalmente eram pintados ou escavados,


mas eram também registrados em folhas de papiro.
Frequentemente havia uma combinação de hieróglifos com ilustrações, o que fez com
que os egípcios fossem considerados os primeiros povos a desenvolver manuscritos ilustrados para
transmitir informações. O uso do papiro suporte parecido com o papel foi um passo importante para
a comunicação visual egípcia.

Figura 11: Papiro ilustrado com o Livro dos Mortos, cerca de 1550 a.C.
Fonte: https://artsandculture.google.com/, 2021.
Descrição: Folha de papiro com desenhos e hieróglifos. Casal adorando os deuses Osíris e Maat, o cenário inclui uma
casa com jardim e piscina e os deuses, um sentado em trono e o outro em pé.

O esquema visual da arte egípcia


Tanto as pinturas, os murais em baixo-relevo quanto os papiros respeitavam as mesmas
convenções de desenho. A arte não era uma reprodução naturalista deixando claro ao observador
que se tratava de uma representação.
Nas pinturas os homens apareciam com a pele mais escura que a das mulheres, as pessoas
com maior poder social eram representadas em uma escala maior do que as de menos importância.
O corpo humano era desenhado de forma esquemática e bidimensional. A lei da frontalidade,
amplamente difundida, é considerada uma marca egípcia até hoje. A figura humana era retratada
com o corpo para frente, enquanto a cabeça, as pernas e os pés eram vistos de perfil. O olho estilizado
era ao mesmo tempo visto como uma imagem de perfil como frontal.

16
Competência 01

As cores vinham de pigmentos e além do preto era comum encontrar o branco, os


marrons, os azuis e verdes, e às vezes, o amarelo. O verde e o azul possivelmente fazia referência ao
rio Nilo e as folha das palmeiras de papiro existentes ao longo da sua margem.

1.3.2 A Grécia Antiga

Para a cultura grega, o homem era a criatura mais importante do universo. Dessa maneira,
o conhecimento racional permanecia acima da fé nas divindades que existiam no Egito.

Embora os gregos tenham estabelecido relações culturais com o Egito e o Oriente Próximo
com o passar do tempo criaram seu próprio ordenamento estético, através da arquitetura, da
escultura e da pintura, porém com temas bastante diferentes dos egípcios, que estavam mais ligados
à religiosidade.
De qualquer forma, a cultura grega herdou grande parte dos seus conhecimentos. O uso
de símbolos visuais como fazemos hoje veio dos egípcios, o zodíaco, a balança da justiça, o uso de
animais para representar conceitos, cidades e pessoas. Na Grécia, a coruja simbolizava a cidade de
Atena, e a imagem de uma coruja numa moeda grega indicava que ela havia sido cunhada em Atenas.
Hoje temos o símbolo da pomba que simboliza a paz.
A Grécia Antiga é considerada o berço de toda a civilização ocidental foi lá que se
estabeleceram as bases de muitas realizações que temos hoje: a ciência, a filosofia, a democracia. A
arte, a arquitetura e literatura gregas são heranças de um valor profundo.
Do ponto de vista da produção artística grega, segundo Proença (2009), podem-se
destacar alguns períodos históricos. Observe:

• Período Arcaico: Nas artes observa-se o predomínio das linhas geométricas rígidas.
• Período Clássico: Nas artes esse período foi marcado pela idealização da beleza e
pela busca da perfeição formal.
• Período Helenístico: Nas artes esse período foi caracterizado por formas com
aspectos exagerados de movimentação, em que se ressaltava a qualidade expressiva
dos elementos representados.

17
Competência 01

Em torno de 700 a.C se considera o período de renascimento cultural grego. Desse


período destacam-se a Iliada e A Odisseia de Homero, a arquitetura em pedras e as figuras humanas
como temas principais nas cerâmicas; aos poucos as grandes estátuas foram aparecendo na arte
grega.
A pintura
A pintura na Grécia, assim como em outras civilizações, surgiu como um elemento
decorativo da arquitetura, mas encontrou também a possibilidade da sua realização na arte da
cerâmica. Os vasos gregos são conhecidos tanto pelo equilíbrio de suas formas como pela harmonia
entre o desenho, as cores e o espaço utilizado para a ornamentação. Os vasos eram utilizados para
armazenamento de água, vinho, azeite e mantimentos e aos poucos foram tornando-se também
objetos artísticos. As pinturas nos vasos buscavam representar as atividades diárias e as cenas da
mitologia grega. Lembra da diferença entre belas artes e artes aplicadas, temos na figura a seguir um
ótimo exemplo!

Figura 12: Ânfora, cerca de 510 a.C.


Fonte: https://artsandculture.google.com/, 2021.
Descrição: Jarro com duas asas simétricas na cor preta e com figuras humanas pintadas na cor ocre.

A escrita
As antigas cidades-estados adotaram o alfabeto fenício, se atribui a Cadmo de Mileto, rei
da Fenícia, a introdução desse alfabeto na Grécia que durante muito tempo foi adaptado nas diversas
regiões, até que Atenas adota uma versão oficial que seria usada em toda a Grécia, aproximadamente
no ano 400 a.C. Veja na imagem a seguir inscrições em pedra do alfabeto grego que alcançou forma
simétrica e ritmo visual regular.

18
Competência 01

Figura 13: Fragmento de pedra com desenho esculpido e texto em grego.


Fonte: MEGGS; PURVS (2009, p.41), 2021.
Descrição: Fragmento de pedra no formato vertical, na parte superior imagem de dois adultos e duas crianças e na
parte inferior, texto em alfabeto grego.

Do ponto de vista da representação gráfica é possível observar um nova ordem e


estrutura geométrica aos caracteres fenícios que eram desiguais, transformando-os em formas de
grande harmonia e beleza.

1.3.3 Roma Antiga

Roma Antiga foi uma civilização itálica que surgiu no século VIII a.C. localizada ao longo
do mar Mediterrâneo e estabelecida a partir da cidade de Roma, expandiu-se para se tornar um dos
maiores impérios do mundo antigo, com uma estimativa de 50 a 60 milhões de habitantes e cobrindo
6,5 milhões de quilômetros quadrados no seu auge entre os séculos I e II.

A história desse império se divide em três grandes períodos, como você pode ver a seguir.

Monárquico: 753–509 a.C.


Republicano: 509–27 a.C.
Imperial: 27 a.C.–476 d.C.

A arte em Roma
A arte romana assimilou a expressão de um ideal de beleza vindo da arte grega
principalmente do período helenístico, mas também da arte etrusca.

19
Competência 01

A pintura e o mosaico
Grande parte das pinturas romanas que você conhece hoje vem das cidades de Pompeia
e Herculano. As pinturas faziam parte da decoração interna dos edifícios e eram expostas em painéis
que recobriam as paredes das casas. Neles, podia-se criar a ilusão de janelas abertas, mostrando
paisagens e pessoas. Os romanos também dominavam a arte do mosaico. Tanto a pintura como o
mosaico eram elementos que enriqueciam das obras arquitetônicas.

Figura 14: Mosaico de Mnemósina, a deusa da memória.


Fonte: https://artsandculture.google.com/, 2021.
Descrição: Cerâmica com moldura circular imagem de uma mulher, com o rosto ligeiramente voltado para a direita,
usando um diadema sobre os cabelos da testa.

O Alfabeto
O alfabeto latino chegou aos romanos desde a Grécia através dos etruscos, um povo
estabelecido na península itálica que teve seu auge durante o século VI a.C. O alfabeto latino continha
21 letras, observe na figura a seguir inscrições entalhadas na base da coluna de Trajano, localizado
no fórum de Trajano, em Roma, este exemplo magistral das capitalis monumentalis é um testemunho
da antiga máxima romana “a palavra escrita permanece”.

20
Competência 01

Figura 15: Coluna de Trajano, cerca de 114 d.C com inscrições no alfabeto latino.
Fonte: MEGGS; PURVS (2009, p.44), 2021.
Descrição: Imagem com vista inferior de uma coluna contendo texto do alfabeto latino.

E então, está gostando? Muita informação, eu sei, mas está conseguindo compreender?
Lembre que qualquer dúvida nos encontramos no fórum e conversamos um pouco mais sobre
qualquer um desses temas. Bom, observando as características do Império Romano você chega ao
fim da Idade Antiga e vai entrar agora em um novo momento e descobrir que acontecimentos da
Idade Média e Moderna se conectam com a profissão do design gráfico. Pronto para seguir viagem?

1.4 O Período Medieval

A Idade Média ou Medieval é o período histórico da civilização ocidental entre os séculos


V e XV. Seu início é no ano 476, com a queda do Império Romano Ocidental, e seu final em 1492, ano
em que Colombo chegou à América. Esta é a divisão temporal mais difundida, mas também é datado
como o último ano da Idade Média o ano 1453, quando o Império Bizantino caiu, Gutenberg inventou
a imprensa e foi finalizada a Guerra dos Cem Anos.
Este período abrange dez séculos, sim é muito tempo mesmo, que por sua vez se
subdivide em Alta, Média e Baixa Idade Média. O sistema social era baseado no feudalismo, com a
nobreza e o clero formando a classe alta e constituindo a minoria da população, e os camponeses,
artesãos e escravos da classe baixa constituindo a sua maioria.

Influências artísticas na Idade Média


A Igreja Católica teve forte influência nas manifestações artísticas e culturais da Idade
Média. Dessa forma, pode-se concluir que uma das características da cultura medieval foi justamente
o teocentrismo, ou seja, Deus era considerado o centro do mundo e tudo o que foi produzido nesse
momento fazia referência a esse Deus.
As pinturas, as esculturas e os vitrais eram feitos baseados em ensinamentos bíblicos, e
tinham o objetivo de comunicar valores religiosos aos fiéis e aproximar as pessoas da religiosidade.
Como toda arte, a arte medieval foi a expressão da mentalidade da época, porém, a
sociedade medieval sofreu muitas mudanças entre os séculos XI, XIII e XIV. Essas mudanças se
manifestaram na arte, originando principalmente dois estilos distintos: o Românico e o Gótico.

21
Competência 01

Na Idade Média, cada cor tinha seu significado e esse código de cores deixou sua marca
na liturgia e na heráldica. Baseada em formas geométricas, observa-se uma grande tendência a
geometrização e esquematização nas imagens representadas, que contrastam com as características
da antiguidade clássica. As composições não eram realistas, havia a ausência de proporcionalidade e
perspectiva do que estava sendo representado.

Quando se trata de obras de artes medievais, é preciso ter em mente que, nessa época,
não existia o conceito de arte como fim em si mesmo ou de beleza como objetivo único da arte. O
objeto artístico medieval tinha, na sociedade em que era produzido, um caráter basicamente
funcional. Dois principais estilos artísticos se destacam no período medieval: o estilo românico e o
gótico.

O Estilo Românico
Na Idade Média, os cargos mais importantes da Igreja eram reservados aos nobres. O
estilo românico, era uma arte eclesiástica e monástica, refletia, portanto, a mentalidade dos nobres
feudais. Isso significa que o românico era uma arte aristocrática. Por último, à medida que a arte
românica se desenvolveu durante o período feudal, era também uma arte rural, visto que nessa época
a maioria da população vivia dispersa no campo.
Tanto a pintura quanto a escultura românica faziam parte do edifício, estando
subordinadas ao espaço arquitetônico em que eram inseridas. A escultura foi trabalhada em pedra e
a pintura nas paredes. A característica fundamental da escultura e pintura românica é a falta de
realismo. Suas representações são rígidas e com poucos detalhes. É por isso que eles são pouco
expressivos.

Figura 16: Pintura na Igreja de São Clemente , em Taül, Espanha, cerca de 1123,

22
Competência 01

Fonte: https://artsandculture.google.com/, 2021.


Descrição: Pintura com figuras bíblicas com Cristo no centro, predominância de tons de azul, laranjas e marrons.

O Estilo Gótico
O gótico foi fruto do renascimento urbano e comercial da Idade Média. A burguesia já não
se contentava com o românico, simples e rude, e queria que a arte fosse um verdadeiro objeto de
valor. Assim, a burguesia financiou um novo estilo de construção nas cidades, nascendo o estilo gótico
considerado um estilo urbano e burguês.
Ao contrário do românico, o gótico se preocupava com os detalhes de suas obras de arte.
O desenho e as cores uniformes são justapostos para criar contrastes de cores intensas. Você já ouviu
falar na Catedral Notre-Dame? Uma bela catedral que fica em Paris, infelizmente em 2019 houve um
incêndio que destruiu grande parte da sua arquitetura e das obras de arte que haviam dentro. Veja a
seguir algumas imagens.

Figura 17: Fachada da catedral de Notre-Dame em Paris e vitrais internos, antes do incêndio no ano de 2019.
Fonte: https://pt.wikipedia.org/wiki/Catedral_de_Notre-Dame_de_Paris, 2021.
Descrição: A figura apresenta duas fotos. A primeira com a vista frontal de uma igreja com formato simétrico,
apresentando duas torres. A segunda com três mosaicos no formato vertical com tema bíblico e uso variado de cores.

Para muitos a Idade Média é considerada uma fase sombria entre a Idade Antiga,
identificada com a cultura e civilização da antiguidade clássica e a renovação cultural da Idade
Moderna com o Humanismo e o Renascimento. Seria, portanto, uma fase de atraso e letargia cultural,
social e econômica.

Os manuscritos iluminados

23
Competência 01

A luminosidade vibrante das lâminas de ouro, (isso mesmo, ouro, leu bem! Nessa época
era comum aplicar lâminas de ouro nos livros) refletia a luz das páginas dos livros manuscritos,
produzindo a impressão que a página estava iluminada. Literalmente esse efeito deu origem ao termo
“manuscritos iluminados” que hoje se utiliza para fazer referência aos livros produzidos desde o final
do Império Romano até os livros impressos que substituíram os manuscritos com o desenvolvimento
da tipografia na Europa, por volta do ano 1450.

Figura 18: Livro das horas de Margarida de Cleves.


Fonte: https://artsandculture.google.com/, 2021.
Descrição: Livro aberto mostrando duas páginas. A página da esquerda contém o desenho de uma jovem rezando junto
a Virgem e ao menino Jesus. Na página da direita texto com ornamentos florais colorido e aplicação de ouro.

A produção dos manuscritos era cara e levava muito tempo. O pergaminho precisava de
horas de preparo e um livro grande poderia usar a pele de até trezentas ovelhas. As cores se criavam
a partir de varias substâncias minerais, animais e vegetais.
A ornamentação e ilustração presentes nos manuscritos não eram apenas decorativos, se
considerava o valor educativo das imagens e a capacidade do adorno para criar um clima místico e
espiritual, próprio da Idade Média. A produção de manuscritos medievais criou um vocabulário de
formas gráficas, desenhos de páginas, estilos de ilustração, letras e técnicas que séculos depois
influenciariam o design editorial moderno.

1.5 A Idade Moderna e o Renascimento

Muitas das estruturas intelectuais e políticas da Europa que permaneceram intactas,


entre os séculos XV e XVI, conseguiram recuperar a força intelectual e econômica e lançaram as bases

24
Competência 01

do Renascentismo que foi um período de transição entre os tempos medievais e a consolidação Idade
Moderna.
Foi nesse contexto que se desenvolveram os ideais do movimento humanista, uma nova
forma de pensar que rompe com a visão medieval do mundo.
A cultura passou dos mosteiros para as ruas, houve maior liberdade de pensamento e as
universidades se expandiram. A invenção da imprensa também favoreceu a difusão de novas ideias.

A arte renascentista
A arte renascentista foi um movimento artístico que surgiu na Itália no século XIV, durante
a transição entre a Idade Média e a Idade Moderna, e se destacou por seu interesse pela sabedoria
da razão e pelos valores clássicos da Grécia Antiga.
Artistas como Leonardo Da Vinci, Michelangelo e Rafael se destacaram eram
considerados multifacetados pois dominavam diferentes disciplinas como: a pintura, a escultura, a
arquitetura e muitas vezes a anatomia, a astronomia e a filosofia. Recuperavam aspectos da cultura
clássica greco-romana, com a busca da harmonia, simetria e proporção, como ideais de beleza.
Observe na figura a seguir, através da representação do Homem Vitruviano de Leonardo Da Vinci, um
exemplo de como esses ideais eram representados.

Figura 19: O homem Vitruviano, Leonardo Da Vinci, cerca de 1490.


Fonte: https://www.significados.com.br/homem-vitruviano/, 2020.
Descrição: Desenho de um homem desnudo, em pé com braços e pernas abertas em equilíbrio, em seu redor um círculo
e um quadrado.

A arte renascentista passou por dois estágios principais:

25
Competência 01

O Quattrocento (século XV)


Neste período, foram realizadas pesquisas sobre as construções de monumentos
romanos e gregos e introduzidas a perspectiva e a pintura a óleo.

O Cinquecento (século XVI)


A maturidade do período renascentista foi alcançada. Surgiram os grandes artistas que
marcaram a época, como Michelangelo, Leonardo Da Vinci, Miguel de Cervantes, Rafael.

A pintura renascentista
As pinturas e retratos renascentistas não eram mais sombrios e imponentes como na
Idade Média, passaram a celebrar a natureza e a vida. Nessa época apareceu a figura do mecenas,
pessoas ricas que financiavam o trabalho de artistas, cientistas e intelectuais.
A pintura renascentista caracterizou-se pela representação perfeita dos detalhes, em
termos de equilíbrio, harmonia e perspectiva, a partir da observação do artista. O conceito de
perspectiva e ponto de fuga emergiu para a concepção dos espaços.
A nova técnica do óleo sobre tela desenvolvida, prevaleceu sobre a clássica têmpera ou
têmpera de secagem rápida, permitindo aperfeiçoar o efeito de luzes e sombras, trazendo assim, um
maior realismo em retratos e corpos nus, observe na figura a seguir tais características.

Figura 20: O nascimento de Vênus, Botticelli, cerca de 1484.


Fonte: https://artsandculture.google.com/, 2021.
Descrição: Cenário com figuras mitológicas, no centro encima de uma concha a deusa Vênus com parte do seu corpo
coberto pelo longo cabelo, ao lado direito o deus do vento sobrando em sua direção e segurando uma ninfa e a direita a
figura de uma mulher que representa a primavera com um manto ornamentado com flores para cobrir Vênus. Ao fundo
o cenário marítimo e de algumas árvores no lado direito da paisagem.

26
Competência 01

A escultura e a arquitetura renascentistas foram inspiradas nas antigas culturas grega e


romana, especialmente pelo nível de detalhes e realismo, observe essas características na escultura
Davi de Michelangelo. Procuraram romper com o estilo gótico e basearam-se no aperfeiçoamento
das representações, através de cálculos matemáticos e geométricos para obter proporções reais,
inclusive do ser humano.

Figura 21: Escultura de Davi, Michelangelo, cerca de 1501.


Fonte: https://artsandculture.google.com/, 2021.
Descrição: Escultura de um homem nu em pé com a mão direita levantada realizada em mármore.

A pintura
Durante o Renascimento, predominou a tendência a uma interpretação científica do
mundo. Isso implicou, nas artes plásticas e sobretudo na pintura, o uso da perspectiva. Os estudos da
perspectiva eram feitos segundo os princípios da matemática e da geometria. Além disso, o uso dessa
técnica levou à utilização de outro recurso, o claro-escuro, que consistia em representar algumas
áreas iluminadas em contraste com outras áreas na sombra. O jogo de contrastes reforçou a sugestão
de volume dos corpos. Em síntese, a combinação da perspectiva e do claro-escuro permitiu alcançar
maior realismo nas pinturas.

27
Competência 01

Assim, a pintura no Renascimento afirmou três grandes características: a estruturação da


perspectiva, o uso do claro-escuro e o realismo nas obras de arte. Também no Renascimento, e em
especial na pintura, surgiu outra inovação importante, o estilo pessoal. O artista, a partir dessa época,
passou a ser conceituado como um criador individual e autônomo, alguém que criava de acordo com
sua própria concepção, suas ideias e seus sentimentos.

Gutemberg e a Invenção da Imprensa


A História Moderna seria inconcebível sem a invenção da imprensa, pois seu uso mudou
completamente a cultura ocidental e, consequentemente, a história mundial. Até 1453, o
conhecimento era transmitido por meio de manuscritos medievais controlados pela Igreja e a taxa de
alfabetização era insignificante. Com a invenção da imprensa, o processo de cópia foi acelerado e em
poucos anos os escritos alcançaram um grande público graças à disseminação do conhecimento e à
redução dos custos de produção.
Havia, a partir de então, liberdade para imprimir livros sobre diversos temas e esse
cenário foi se expandindo cada vez mais com o passar dos anos. Uma vez que a igreja e as monarquias
absolutas perderam o poder de controle de absolutamente tudo o que era impresso, a difusão de
ideias contrárias ao feudalismo e à religião estabelecida se espalhou por toda a Europa. Observe nas
imagens a seguir o primeiro livro impresso por Gutemberg e o sistema de impressão e tipos móveis.

Figura 22: A Bíblia de Johannes Gutenberg foi o primeiro livro impresso.


Fonte: https://artsandculture.google.com/, 2021.
Descrição: Página de um livro com textos impressos com tipos móveis e ornamentos florais nas bordas da página.

28
Competência 01

Figura 23: Representação da imprensa de Gutemberg e tipos móveis.


Fonte: https://www.printi.com.br/blog/tipos-moveis-criacao-da-tipografia, 2021 e
https://medium.com/@armandoaguinaga78/de-gutenberg-a-zuckerberg-1e2e3c15f7e4, 2021.
Descrição: A figura apresenta duas fotos. A primeira com o sistema de impressão com tipos móveis, contém uma mesa
com os tipos montados prontos para serem impressos no papel. A segunda mostra uma caixa com vários pedaços de
aço com letras na pontas e em primeiro plano uma régua com os tipos formando uma frase.

Acredito que nesse momento você já percebeu que características de um período voltam
a aparecer em outros. Normalmente um estilo em vigor nega o passado mais próximo e recupera
valores mais antigos... isso acontece uma e outra vez na história da arte.
Após os primeiros passos do Renascimento com a recuperação dos valores clássicos no
século XIV, dois séculos depois, o Maneirismo surge como resultado de um certo esgotamento entre
os artistas das formas clássicas. O abandono e o afastamento definitivo da ideologia clássica fez surgir
o Barroco, que na França evoluiu para o Rococó, e isso já na Idade Contemporânea. O estilo Gótico
não volta a aparecer até o Romantismo do século XIX com a difusão dos estilos Neogótico e
Historicista, estilos que temporalmente se localizam na Idade Contemporânea.

Agora que você fez esse grande passeio pela história da arte, gostaria de
convidá-lo para conhecer como o Brasil foi retratado, a partir de 1637, quando
o pintor Frans Post chega ao Brasil em uma comitiva de artistas e cientistas
trazida pelo conde Maurício de Nassau para documentar o Novo Mundo
durante seu governo no Brasil. “Frans Post o Primeiro Pintor do Brasil” será o
tema da primeira vídeoaula da disciplina.

Nessa competência foi possível observar que por meio da arte, o homem pode se
manifestar e registrar a sua percepção do mundo de diferentes maneiras: seja pela linguagem visual,
pela linguagem cênica, pela linguagem plástica ou ainda pela mistura de várias linguagens.
Dessa maneira, as diferentes manifestações artísticas estiveram profundamente ligadas
à cultura de um povo, pois ora retratavam elementos do meio natural, como nas pinturas pré-

29
Competência 01

históricas, ora temas religiosos ou situações sociais. As manifestações artísticas revelavam também a
visão do homem sobre o espaço, assim como a sua relação com o seu meio e o seu tempo. Ou seja,
as obras de arte são reflexos da cultura e da história e isso foi possível observar em uma longa viagem,
desde a Pré-história até a Idade Moderna.
Na próxima competência será possível entender as características da Arte Moderna e Pós-
Moderna observando as novas articulações que surgem entre o contexto sociocultural e o artístico.
Vamos lá?

30
Competência 02

2.Competência 02 | Reconhecer as características da arte moderna e da


arte pós-moderna a partir da compreensão da indústria cultural e da
cultura de massa.
Pronto para conhecer o que as artes modernas e pós-modernas trouxeram de novidades
para o mundo? Antes de iniciar é importante entender que tanto a arte moderna quanto a pós-
moderna se situam na Idade Contemporânea. Lembra da divisão cronológica vista na primeira
competência? Pois bem, a Idade Contemporânea compreende o período entre o início da Revolução
Francesa, com a queda da Bastilha em julho de 1789, até os dias atuais e representa principalmente
o período de consolidação do capitalismo como o modo de produção e sua expansão por todo o globo
terrestre entre os séculos XVIII e XXI. Agora vamos ao que mais nos interessa, as artes!!!

2.1 A Arte Moderna

A arte moderna abarca um conjunto de tendências que começou a se desenvolver a partir


da segunda metade do século XIX, atingindo o seu ápice na primeira metade do século XX, momento
em que começou a apresentar uma série de rupturas com as tradições que vinham sendo realizadas
nas linguagens artísticas.
No início do século XX, na Europa, surge uma série de movimentos artísticos, também
chamados de “vanguardas artísticas”. Você já ouviu falar nelas? Foi um cenário que provocou uma
mudança completa na maneira em que o homem passaria fazer e a compreender a produção artística
e o seu processo.
Essa grande renovação artística surgiu em oposição à tradição artística ocidental, a
chamada arte acadêmica, que era preferida pelas instituições oficiais.
Foi um momento de intensa transformação social, resultante do processo de
industrialização, das inovações tecnológicas surgidas com as duas Guerras Mundiais, da Revolução
Russa e da divisão do mundo entre capitalismo e socialismo. A arte procurava acompanhar tais
transformações apresentando um olhar inovador sobre a própria arte e a cultura.

Observe abaixo alguns traços característicos que passaram a representar a arte moderna:

31
Competência 02

• A arte moderna é um fenômeno inicialmente europeu;


• Apresenta oposição à arte acadêmica;
• Mostra interesse por outras culturas, tomando-as como fonte de inspiração;
• É caracterizada pela inovação constante, experimentando novos temas, materiais,
técnicas e processos;
• Surgem as galerias de arte;
• A burguesia intelectual substitui as instituições políticas e religiosas como principal
cliente, o que faz com que o papel do artista mude;
• O conceito de arte é ampliado, questionando os limites e funções da arte;
• O valor da obra de arte reside em si mesma, não precisa mais necessariamente
transmitir mensagens de cunho político ou religioso;
• Com o surgimento da fotografia, em 1826, a imitação da natureza e a representação
figurativa diminuíram gradativamente na pintura;
• Na arte moderna as obras podem ter deformações deliberadas, esse fato mais do que
representar a falta de técnica é consequência das escolhas estéticas do artista;
• As obras de arte moderna tornam-se abstratas, o que significa que cada espectador
pode ter uma interpretação diferente por se tratar de uma obra distante da
representação figurativa;
• A arte moderna é bastante variada como resultado de experimentação constante;
• Na arte moderna existe uma grande diversidade onde a única coisa que une os
diferentes estilos é o fato de não existir uma tendência geral, seja temática, técnica
ou estética que os unifique;
• A arte moderna costuma ser mais imaginativa.

Certamente você já ouviu falar dos famosos “ismos” da arte: Expressionismo, Cubismo,
Surrealismo, Futurismo, Dadaísmo, entre outros. Na verdade, todas essas correntes pertencem aos
movimentos de vanguarda. Mas o que são as vanguardas e como elas transformaram a relação entre
sociedade e arte?
Lembre que esses estilos foram surgindo em um mundo entre guerras e crises marcados
pela recessão econômica. Diante das tensões e crises globais, a arte funcionou como uma resposta

32
Competência 02

ao mundo da razão. O contexto cultural da vanguarda foi caracterizado pelo domínio do racionalismo
positivista, uma doutrina que considerava que o conhecimento científico deveria ser reconhecido
como o único conhecimento verdadeiro.
Uma outra doutrina surge nessa época com as ideias do filósofo H. Bergson que buscava
outra forma de conhecimento contrária ao positivismo. Assim, surgiu um novo paradigma trazendo
uma visão espiritual do mundo que se baseava na intuição do homem, o que provocou uma nova
forma de interpretar e compreender o mundo. Desse desejo de ruptura com o anterior, da nova
exaltação ao inconsciente, da liberdade, da paixão, do individualismo e da intuição, nascerão as
primeiras vanguardas artísticas.
Os sentimentos tinham um papel principal, o artista colocava na tela a solidão, as
angústias, os medos e até as inseguranças. A pintura se tornou em certo ponto agressiva e as cores
não representavam mais a realidade, mas agora, as emoções do artista.
Dessa forma, as vanguardas destruíram o passado, transformando-o para criar uma
linguagem própria e única. Uma linguagem de grande valor estético que se alterou ao longo dos anos
em inúmeros estilos e tendências, do impressionismo às abstrações que se manifestaram não só na
pintura, mas em outras expressões artísticas. A grande lição das vanguardas para a sociedade
contemporânea foi que a arte é uma forma legítima de expressão emocional, podendo ser também,
uma forma de comunicação política e social, que persiste até hoje.

2.1.1 As Vanguardas Artísticas

As vanguardas artísticas costumam ser estudadas a partir de alguns movimentos


principais: o Cubismo, o Futurismo, o Dadaísmo e o Surrealismo. Esses movimentos tinham em
comum a organização de grupos de artistas que publicavam manifestos para divulgar os seus projetos
artísticos. Os manifestos validavam cada movimento, ao propor princípios estéticos, mantendo os
artistas que o seguiam coerentes tanto em estética quanto em temática, ficou curioso? Então vem
comigo conhecer alguns desses movimentos.

Cubismo

33
Competência 02

O cubismo é um movimento do início do século XX caracterizado pelo uso dominante de


figuras geométricas como retângulos, triângulos e, principalmente, cubos, dos quais leva o nome. Seu
objetivo foi romper com a representação naturalística e captar vários planos simultaneamente na
superfície de uma pintura.
Convencionalmente, seu início foi estabelecido em 1907, quando Pablo Picasso
apresentou pela primeira vez o quadro "As Damas de Avignon".

Figura 24: As Damas de Avignon, Pablo Picasso, 1907.


Fonte: https://pt.wikipedia.org/, 2021.
Descrição: Pintura no formato quadrado com cinco mulheres representadas de forma geométrica.

Picasso incorporou inicialmente a sua arte influências da arte africana e do pós-


impressionismo, especialmente do pintor francês Paul Cézanne. Encontrou também inspiração em
formas de arte exóticas, o Cubismo tentou representar a quarta dimensão por meio do hiperpoliedro,
cujas ideias de espaço-tempo são inspiradas na teoria da relatividade de Albert Einstein de 1905.
As suas características visuais levaram o Cubismo a ser considerado uma expressão
plástica mais racional e analítica, que contrastava com outros movimentos de vanguarda inspirados
na subjetividade e emoção como se verá mais adiante.
O Cubismo é caracterizado principalmente pelos seguintes elementos:
• Pouca perspectiva e profundidade espacial;
• Utilização de figuras geométricas: cubos, cilindros etc.;

34
Competência 02

• Incorporação de vários ângulos no mesmo plano;


• Preferência por linhas retas;
• Aplicação de técnicas mistas: colagem, tipografia etc.

O Cubismo se divide em duas fases:


• Cubismo Analítico.
É também conhecido como Cubismo hermético e foi identificado com a
decomposição de formas e figuras geométricas para reorganizá-las de maneira
diferente, em planos sucessivos e sobrepostos.

• Cubismo Sintético.
Caracterizou-se pelo uso de cores e formas que permitiram realçar a parte mais
significativa da figura. Os pintores desta fase procuraram capturar figuras
reconhecíveis. Eles utilizaram a técnica de colagem, que possibilitou fixar objetos
reais na tela em busca de novas sensações visuais.

A figura a seguir mostra exemplos desses dois estilos.

Figura 25: Guitarra, George Braque, 1910 e Peras e uvas na mesa, Juan Gris, 1913
Fonte: https://artsandculture.google.com/, 2021.
Descrição: A figura apresenta duas imagens. A primeira o desenho de uma guitarra fragmentada em formas
geométricas em tons de azul e amarelo. A segunda apresenta a vista superior de uma mesa com tecido, prato e frutas,
cortadas simulando uma colagem, tons fortes de vermelho e amarelo.

Futurismo

35
Competência 02

Em 1909 Marinetti lançou no Le Figaro um manifesto em que elogiava o triunfo da


velocidade na pintura como símbolo e conquista máxima da sociedade da época. No ano seguinte foi
publicado o manifesto dos pintores futuristas Boccioni, Carrá, Russolo, Balla e Severini. A pintura
futurista exaltava a originalidade, mesmo violenta ou temerária, o dinamismo e a desmaterialização.

A pintura futurista pode ser definida como um "cubismo dinâmico". Sua intenção é
representar, com o único recurso da cor, o efeito de dinamismo produzido por um único objeto em
movimento; para isso, multiplicam-se as posições de um objeto.
É importante destacar a aproximação desse movimento com alguns ideais políticos. Nas eleições
gerais italianas de 1908, Marinetti lançou o primeiro programa político em favor do orgulho nacional. Seu
belicismo violento está consubstanciado em outro manifesto de 1913, no qual ele defende a expansão colonial,
o anticlericalismo, o culto ao esporte e o heroísmo.

Figura 26: Composição Futurista, Joseph Stella, 1914.


Fonte: https://artsandculture.google.com/, 2021.
Descrição: Pintura abstrata de formas geométricas com muitas cores no formato retangular horizontal.

Espero que esteja gostando de conhecer o universo da arte. Já vimos muitas coisas até
aqui, mas ainda temos muito a desbravar, nada de desanimar! Aliás vamos agora dar uma olhada no
Dadaísmo que além de ser um movimento divertido é também irônico. Pronto?

Dadaísmo
Após a Primeira Guerra Mundial, muitos artistas expressaram o desejo de manifestar sua
rejeição aos sistemas de alianças e à corrida armamentista que levou à Segunda Guerra Mundial. A

36
Competência 02

rejeição da lógica cotidiana, o amor ao absurdo e o abandono às manifestações políticas são as


características mais marcantes desse movimento.
A guerra separou os grupos de pintores formados em Paris, Munique ou Milão. Alguns
artistas refugiaram-se em Zurique, como Marcel Duchamp, Tristan Tzara, Picabia ou Hans Arp.

Os artistas de Zurique insatisfeitos com o cenário político e social, foram inspirados pelo
Futurismo, porém, diferente dos seus precursores italianos, havia uma rejeição à política e à guerra.
Ao final do conflito, o grupo se dispersou e suas ideias se espalharam pelo mundo.
Esse movimento tem em comum com as outras vanguardas artísticas o gosto pela
surpresa, a polêmica, o escândalo e a experimentação e inovam pelo gosto por certa agressividade e
o humor. Buscavam antes de tudo a provocação! Fabricavam objetos cujo interesse residia no seu
significado polêmico, na violência de sua presença expressiva entre as obras de arte em seu sentido
tradicional.
Os dadaístas negaram a própria arte, artesanato ou empreendimentos artísticos. Esta
atitude permitiu novos meios expressivos: a fotomontagem, a colagem, a pintura-escultura e o ready-
made, objetos de uso comum que a partir de uma intervenção mínima do artista transformavam-se
em obra de arte.
Em Zurique destacaram-se artistas como Arp e Picabia; já em Nova York, Duchamp e em
Paris, André Breton e Tristán Tzara. Observe na figura a seguir duas obras de arte dadaístas de Marcel
Duchamp que representam a ideia do ready-made.

Figura 27: Marcel Duchamp ao lado da obra Roda de Bicicleta e à direita, a obra Fonte.
Fonte: https://www.todamateria.com.br/dadaismo/, 2021
Descrição: A figura apresenta duas fotos. A primeira com um homem, o artista, sentado ao lado da obra de arte Roda de
Bicicleta, representada por um banco com uma roda de bicicleta encima. A segunda apresenta a fotografia da obra

37
Competência 02

Fonte representada por um mictório.

Surrealismo
A palavra surrealista foi usada pela primeira vez por Apollinaire em 1917. Posteriormente,
tornou-se um termo frequentemente usado por André Breton e colaboradores da revista Literature.
No início, era uma questão fundamentalmente literária, como o Futurismo. Posteriormente outras
linguagens artísticas tomaram o mesmo rumo.
Uma exposição realizada em 1925 na Galeria Pierre marcou o início da apresentação da
pintura surrealista com artistas como Girgio de Chirico, Miró, Pablo Picasso e também Dalí e Magritte.
No manifesto surrealista de 1924, André Breton, líder do movimento, explicava que o
Surrealismo é um puro automatismo psíquico pelo qual se tenta expressar, verbalmente ou de
qualquer outra forma, o funcionamento real do pensamento na ausência de qualquer controle
exercido pela razão independentemente de qualquer preocupação ou moral.
O Surrealismo propõe uma teoria do inconsciente e do irracional como meio de mudar a
vida, a sociedade, a arte e o homem, tendo como base teórica a interpretação dos sonhos de Freud.
Não é um movimento com unidade de estilo, mas sim uma série de investigações realizadas por
artistas de maneira individual, cada um com seu próprio estilo.
Chagall e De Chirico são considerados precursores do surrealismo e a partir deles se
estabeleceram duas tendências: o Surrealismo Figurativo, que usa as convenções da perspectiva
renascentista para mostrar cenas surpreendentes, observadas por exemplo nas obras de Salvador
Dalí e René Magritte e o Surrealismo Abstrato, onde os artistas inventavam universos figurativos
pessoais, podendo ser observado nas obras de Joan Miró.
Veja na figura a seguir duas obras representantes do Surrealismo Figurativo e Abstrato,
respectivamente.

38
Competência 02

Figura 28: A persistência da Memória, Salvador Dali, 1931 e A força da matéria, Joan Miró.
Fonte: https://www.infoescola.com/biografias/salvador-dali/, 2021 e https://www.milanoguida.com/, 2021.
Descrição: A figura apresenta duas pinturas. A primeira com um cenário de deserto com vários relógios derretidos. A
segunda é uma imagem abstrata com curvas, apresenta contorno preto com pequenas áreas coloridas com amarelo,
vermelho e azul.

Depois de conhecer algumas das vanguardas europeias, imagino que você pode
está se perguntando como o movimento Modernista chegou e se desenvolveu
no Brasil. Na videoaula da segunda competência vamos entender tudo isso e
ainda conhecer alguns dos principais nomes desse movimento. Está pronto para
essa aventura?

2.2 Indústria Cultural, Cultura de Massas e as Novas Ideias Artísticas

Sabe aquele filme maravilho que a gente não esquece, aquela musiquinha que não sai da
nossa cabeça? Pois saiba que são fruto da indústria cultural. Vamos conhecer esses novos conceitos?
A cultura de massa é constituída por um conjunto de objetos, bens ou serviços culturais,
produzidos pelas indústrias culturais e que se destinam a um público diversificado.
Essa cultura foi sendo construída através dos meios de comunicação de massa, a partir
do século XIX, como o jornal e a revista, o rádio, o cinema, a televisão e segue até os dias de hoje com
a Internet, e que juntos formam as indústrias culturais. Estas por sua vez ajudaram a consolidar a
cultura de massa, em uma sociedade que é constituída por indivíduos alinhados com o capitalismo,
onde a burguesia tem o poder de introduzir produtos e ideologias na sociedade e, assim, restringir a
liberdade de expressão de uma sociedade altamente voltada para o consumismo.

39
Competência 02

Três pilares fundamentais desta cultura são: uma cultura comercial, uma sociedade de
consumo e uma instituição publicitária.
Um dos principais movimentos artísticos que vai falar sobre a cultura de massas é o Pop
Art, já que um dos seus principais artistas, Andy Warhol, destacou na sua obra a cultura de massas e
do consumismo, fato que dado ao cenário social, do momento, contribuiu para o surgimento da arte
pós-moderna.

2.3 A Arte Pós-Moderna

Antes de iniciar o nosso passeio pela arte pós-moderna, vou logo avisando... ela costuma
provocar grandes discursões, será que você pode imaginar a razão? Entre outras coisas ela trouxe
uma maneira muito diferente de entender e fazer a arte, mas vamos por parte que fica fácil entender.
Considera-se arte pós-moderna o conjunto de manifestações artísticas produzida no
mundo a partir da segunda metade do século XX até os dias de hoje. Além disso, o uso do termo pós-
modernidade nasceu como uma reação ao extremo racionalismo da modernidade. O pensamento
pós-moderno é caracterizado pelo desencanto e apatia pelo fracasso da modernidade como uma
corrente renovadora de pensamento e expressão na sociedade contemporânea.
Recorde que o cenário anterior a toda essa nova revolução foi marcado pela Segunda
Guerra Mundial que trouxe grandes transformações para o mundo. A partir dela, ocorreram a
expansão do capitalismo, o desenvolvimento da globalização, o surgimento de uma sociedade de
consumo, o desenvolvimento tecnológico e a expansão dos meios de comunicação de massa.
Foi também um período que consolidou a hegemonia econômica e cultural dos Estados
Unidos, transferindo o eixo das artes de Paris para Nova Iorque, nesse sentido, temos como marco
nas artes o Expressionismo Abstrato do pintor norte-americano Jackson Pollock.
A arte pós-moderna reúne um grande número de estilos vinculados a formas inovadoras
de expressão. A arte se aproxima da realidade e provoca discussões e reflexões sobre a sociedade e
sobre si mesma. Além disso, hoje se propõe ao rompimento com as ideias tradicionais de arte. Isso
resulta em um tipo de expressão em que importa mais a ideia e o processo artístico, do que o objeto
ou a imagem final. A relação do espectador com a obra também se altera.

40
Competência 02

Muitas vezes o observador se torna participante ativo da obra. É o que ocorre, por
exemplo, em instalações e performances, que passam a fazer parte da linguagem da arte
contemporânea.
Uma grande influência da arte pós-moderna são os movimentos de vanguarda europeia
da primeira metade do século XX, já que romperam com a estética clássica das artes, porém com uma
estética atual. Refletem agora a complexidade gerada com a revolução da informação e o surgimento
da tecnologia digital, utilizando objetos e imagens da cultura popular juntamente com obras clássicas.

Observe na figura a seguir como o artista Banksy da uma nova roupagem a Monalisa de
Leonardo Da Vinci.

Figura 29: Monalisa, de Banksy.


Fonte: https://www.correio24horas.com.br/, 2021.
Descrição: Imagem da icônica Monalisa de Leonardo da Vinci retratada em um mural, empunhando um lançador de
foguetes, realizado com a técnica do estêncil.

Em meio às discussões sobre o papel da arte, iniciado no século XX, o Pop Art surge como
um dos movimentos que rompem com conceitos pré-estabelecidos. Andy Warhol utilizou objetos e
a linguagens típica da publicidade, assim como os próprios produtos de consumo e os transformou
em arte. Veja na figura a seguir como a obra “Caixas de Brillo” foi utilizada e colocada em uma
exposição, o artista buscava discutir a questão da arte enquanto mercadoria e o próprio conceito de
arte.

41
Competência 02

Figura 30: Caixas de Brillo, Andy Warhol, 1964.


Fonte: https://www.thereviewerreport.com/post/brillo-box-uma-ruptura-na-hist%C3%B3ria-da-arte, 2021.
Descrição: Em uma sala várias caixas de sabão em pó colocadas uma sobre a outra.

Curiosa essa nova forma de explorar e compreender a arte, certo? Para


aumentar a sua compreensão sobre a arte pós-moderna, sugiro que dê uma
passada pelo fórum aberto para a segunda competência e participe da pesquisa
proposta sobre a arte pós-moderna brasileira. Vamos?

A arte pós-moderna explora tanto a pluralidade de estilos quanto as mais variadas formas
de expressão. Ela expandiu o campo da arte para além da pintura e da escultura. Assim, surgiram, por
exemplo: instalações, vídeoarte, assemblage (colagens com objetos em três dimensões),
performance, body art, arte digital, entre outros.
Veja agora as principais vertentes da arte pós-moderna e as suas características centrais:

Pop Art
A Pop Art surgiu como um movimento no final da década de 1950 na Inglaterra e nos
Estados Unidos, na década de 1960.
Seu nome deriva da expressão "arte popular". Foi uma reação contra o expressionismo
abstrato, acusado de ser intelectual. Foi influenciado pelo Dadaísmo. Usou as técnicas para reproduzir
figuras emblemáticas da sociedade, bem como objetos industriais, cartazes, embalagens, quadrinhos,
sinais de trânsito e outros objetos. Alguns de seus artistas mais conhecidos foram Roy Lichtenstein e
Andy Warhol.

42
Competência 02

A intervenção da Pop Art consistiu em tirar imagens ou objetos populares de seu contexto
usual para isolá-los ou combiná-los com outros elementos, para destacar ou iluminar algum aspecto
banal ou kitsch, ou para destacar algum sentido ou traço cultural específico para isso usou materiais
industriais, cartazes, publicidade, bens de consumo, ilustrações de revistas, móveis em série,
vestidos, latas de conservas, garrafas de refrigerante etc.
Nesse sentido, a Pop Art também poderia ser considerada um sintoma da sociedade da
época, caracterizada pelo consumismo, pelo materialismo, pelo culto à imagem e à moda. A ironia e
a sátira de suas intervenções artísticas foram utilizadas como instrumento de crítica e
questionamento aos valores e ideias enraizados na sociedade de consumo.
A Pop Art costuma ser colocada na fronteira entre o fim da arte moderna e o início da
arte pós-moderna. Nesse sentido, alguns a consideram uma manifestação artística tardia da
modernidade, enquanto outros a veem como uma das primeiras expressões da pós-modernidade na
arte.

Minimalismo
O Minimalismo surgiu nos Estados Unidos na década de 1960 e se caracteriza pelo uso de
elementos básicos, economia de recursos em suas composições, simplicidade cromática, geometria
retilínea e linguagem simples. O principal lema da arte minimalista "menos é mais" foi cunhado pelo
arquiteto Ludwig Mies van der Rohe.
O estilo surge como uma reação contra a saturação de objetos e informações da cultura
popular, sobretudo do movimento Pop Art. O conceito minimalista implica o uso da austeridade nos
materiais e na composição, assim como a ausência de ornamentos desnecessários. Busca dessa
maneira, reduzir os objetos, as formas e elementos sobre os quais se trabalha à sua expressão mais
essencial, trazendo uma maior expressividade com o mínimo de recursos.
O Minimalismo também foi influenciado por tradições como a japonesa, que tendem a
enfatizar a simplicidade da beleza natural dos objetos e a economia de recursos. Veja na imagem a
seguir uma escultura com características minimalistas.

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Competência 02

Figura 31: Walking ball, Ruth Vollmer, 1959.


Fonte: http://www.artnet.com/, 2021.
Descrição: Escultura em bronze que simula uma bola com vários prolongamentos.

Op Art ou Arte Ótica


Op Art foi um termo utilizado pela primeira vez em 1964 pela revista Time para se referir
a uma forma de arte abstrata que se baseia na ilusão de ótica que cria sensações de movimento ou
vibração a partir de desenhos geométricos. Inicialmente os trabalhos da Op Art eram produzidos em
preto e branco, e posteriormente em cores vibrantes.
Quando visualizadas, as imagens Op Art podem fazer com que o olho detecte uma
sensação de movimento, alargamento, empenamento, tremulação, vibração na superfície da pintura.
Os padrões de formas e cores usados nessas imagens são geralmente selecionados por
suas qualidades ilusórias, ao invés de seu conteúdo figurativo ou emocional. Além disso, os artistas
óticos usam espaços positivos e negativos para criar as ilusões desejadas, observe como você se sente
diante das imagens a seguir.

44
Competência 02

Figura 32: Temple of Deep Crimson , Richard Anuszkiewicz, 1985. Quadrados em Movimento, Bridget Riley, 1961.
Fonte: https://artsandculture.google.com/, 2021.
Descrição: A figura apresenta duas pinturas. A primeira com três linhas verticais na cor vermelha em fundo degradê do
cinza para o laranja, quadro vertical com borda verde. A segunda é uma imagem é uma pintura horizontal com
quadrados pretos e brancos intercalados que se achatam verticalmente na parte mais a direita do quadro.

Arte Cinética
A Arte Cinética surgiu em Paris, na década de 1950 e se caracteriza por explorar o
movimento, principalmente nas esculturas. Está ligada à Op Art por explorar também a ilusão de ótica
na busca pelo movimento.
O seu lançamento oficial ocorreu durante à exposição "O movimento" na galeria Denise
René em Paris em 1955. Nessa exposição, Vasarely publicou o Manifesto Amarelo, através do qual
definiu os fundamentos da Arte Cinética onde o movimento foi apresentado como o elemento
plástico dominante em uma obra.
Entre os pioneiros da Arte Cinética estavam o americano Alexander Calder que alcançou
fama mundial com suas esculturas móveis suspensas, medindo entre quatro e cinco metros de altura.
Observe na figura a seguir uma das obras emblemáticas de Calder.

Figura 33: Móbile vermelho, Alexander Calder, 1961.

45
Competência 02

Fonte: https://artsandculture.google.com/, 2021.


Descrição: Móbile na cor vermelha com pequenos pedaços de triangulo nas extremidades das hastes.

A obra pode tanto dar a impressão de movimento quanto realmente se mover, sendo
produto da ação de um elemento externo que pode ser o vento, a água, a eletricidade, os motores
ou algum outro mecanismo.

O vídeo “In 20 Steps” é uma obra de Arte Cinética encantadora. Gostaria de


convidá-lo para apreciá-la!
https://www.youtube.com/watch?v=CFjtJBGlKM8

Arte Conceitual
Arte Conceitual é o nome de um movimento artístico em que o conceito tem precedência
sobre o objeto. Surgiu na década de 1960 e se manifestou em diversos países como Estados Unidos,
Inglaterra, França, Itália e Brasil.
O termo é extraído de um ensaio preparado por Henry Flynt em 1961, intitulado Arte
Conceitual. Neste ensaio Flynt faz uma viagem pelas transformações da arte ao longo do século XX.
O objetivo da Arte Conceitual é favorecer os processos de reflexão intelectual sobre a
estimulação de sensações visuais. Dessa forma, parte do princípio de que o espectador participa do
processo da mesma forma que o criador do seu conceito.
Esse tipo de abordagem leva a uma ideia fundamental: pode haver uma experiência
estética mesmo quando não há nenhum objeto artístico presente. Sabe o que isso significa???

Já ouviu dizer que fumaça pode ser uma obra de arte, pode sim! Dá uma olhada
nesse passeio pelo museu Guggenheim de Bilbao, na Espanha aparecem várias
obras de arte pós-modernas, algumas com características da Arte Conceitual,
fique atento!: https://artsandculture.google.com/project/guggenheim-bilbao

O movimento tem seus antecedentes na técnica do ready-made desenvolvida por Marcel


Duchamp e outros artistas do Dadaísmo. Veja o projeto do artista brasileiro Cildo Meireles utilizando
garrafas de Coca-Cola com mensagens escritas nelas.

46
Competência 02

Figura 34: Inserções em circuitos ideológicos: Projeto Coca-Cola, Cildo Meireles, 1970.
Fonte: https://artsandculture.google.com/, 2021.
Descrição: Quatro garrafas de Coca-Cola distribuídas lado a lado, com diferentes quantidades de líquido e textos
escritos nas garrafas na parte inferior do logotipo.

Arte Povera
Denominação criada pelo crítico de arte italiano Germano Celant sob a qual se integram
atividades artísticas muito variadas, mas em geral todas têm em comum o uso de materiais
considerados pobres como palha, areia, pedras, galhos, lixo, fragmentos ou objetos de metal e vidro.

Surgiu em 1967 na Itália, ano em que se realizaram duas importantes exposições, e


alcançou grande repercussão internacional em 1972 devido ao seu protagonismo na quinta edição
da Documenta de Kassel. Os artistas mais representativos do movimento são: Kounellis, Anselmo,
Zorio, Pistoletto, Merz, Boetti, Penone e Fabro.
Arte Povera fundamenta sua estética nas relações entre o objeto e sua configuração,
valorizando principalmente dois aspectos: de um lado, os procedimentos entendidos como processo
de fabricação e manuseio de materiais e de outro, os materiais.
Esses dois elementos estão intimamente relacionados de modo que existem trabalhos
que partem de uma determinada ação sobre o material como empilhar, rasgar, torcer.
Esta arte que valoriza os materiais industriais no seu estado bruto e natural surge na
Europa como uma reação ao predomínio do aço inoxidável, do acrílico e da geometria rigorosa da
Arte Minimalista. O fato de aparecer na Itália não é por acaso porque neste país encontramos artistas
de épocas anteriores que reivindicavam uma arte anti-mercantil como Manzoni, Burri ou Fontana.
Os artistas ligados a Povera defendiam o desmantelamento da hierarquia dos materiais,
rejeitavam o consumismo e interessavam-se pelas forças da natureza e da modernidade industrial.

47
Competência 02

Eles não formaram um coletivo como tal, mas todos usaram a arte como ponto de partida para
abordar a vida.

Body Art
O nome de Body Art é dado aos processos artísticos onde o artista utiliza seu próprio
corpo como suporte material da obra.
Surgiu no final dos anos 1960 nos Estados Unidos e Europa. Os temas tratados são
diversos, podendo ser explorados a violência, a sexualidade, o exibicionismo ou a resistência corporal
a fenômenos físicos. Assim, o corpo pode ser transformado por um disfarce, usado como um
instrumento ou unidade de medida, atacado ou posto à prova até os limites do sofrimento.
Na figura a seguir vemos uma obra da artista Marina Abramovic a partir da interação entre
ela e um homem que seguram juntos uma flecha.

Figura 35: Perfomance Rest Energy, Marina Abramovic, 1980.


Fonte: https://www.clarin.com/new-york-times-international-weekly/ulay-terminos-alla-
abramovic_0_MdHpf5FEk.html, 2021.
Descrição: Casal vestidos de preto e branco, o homem segurando uma flecha na direção da mulher e ela segurando o
arco.

Como precursores da Body Art encontramos o Dadaísmo. O Body Art influenciará também
a prática de performances, do teatro e a dança.

Land Art
Foi um movimento artístico pautado na fusão da natureza com a arte. A natureza, além
de suporte, faz parte da criação artística. Surgiu na década de 60 nos Estados Unidos e na Europa.

48
Competência 02

É considerado um híbrido entre escultura e arquitetura, a Land Art surge da Arte


Conceitual e Minimalista para criar uma arte da natureza, na natureza, gerada a partir dela, com seus
materiais (pedras, cascalho, terra, galhos, areia, até vento ou marés) e sua localização está no próprio
ambiente natural. A paisagem, portanto, é um conceito fundamental.
O Land Art coincidiu com o nascimento de uma consciência ecológica e a desaprovação
da irresponsabilidade e dos excessos do capitalismo. Nesse sentido, a comercialização da Land Art é
complexa.
Em geral, é uma arte que deve permanecer onde está, se desgastando ou se
transformando como tudo na natureza, até desaparecer. Por isso, documentar o processo é algo
muito importante nesta corrente. Fotos, vídeos, mapas ou desenhos da obra geralmente são tão
importantes quanto a própria obra.
Vamos fazer uma visita virtual a obra “Elevazionne” através do google street view? A obra
fica localizada no Instituto Inhotim, em Minas Gerais.

Figura 36: Elevazione, Giuseppe Penone, 2000.


Fonte: https://artsandculture.google.com/streetview/IQEO_ZcEL2_n2g?sv_lng=-44.22472859139552&sv_lat=-
20.12146804386676&sv_h=90&sv_p=0&sv_pid=1XJCEpls78OP94E70cNjrw&sv_z=1, 2021.
Descrição: Paisagem com árvore suspensa por estrutura de madeira.

A Land Art baseia-se na alteração da paisagem e na sua união com o ser humano, servindo
para estabelecer uma relação entre eles e acima de tudo provocar uma reflexão sobre como o ser
humano atua no mundo e quão nocivos ou benéficos pode ser para ele.
Nessa competência você teve a oportunidade de observar como as vanguardas artísticas
foram o retrato de um mundo caótico e incerto. Os artistas se utilizavam de manifestos para instaurar

49
Competência 02

princípios estéticos comuns que refletissem uma arte inovadora, em negação aos princípios da arte
acadêmica.
Já na arte pós-moderna pôde comprovar que ela se caracteriza por uma pluralidade de
estilos que veem sendo produzidos desde o final da Segunda Guerra Mundial até os dias de hoje,
rompendo mais uma vez com os conceitos preestabelecidos da arte, ela reinventa e inova as formas
de expressão. Assim, dá liberdade total aos artistas, que exploram as potencialidades de discussão e
reflexão da realidade por meio da arte.
Espero que tenha gostado desse passeio pela história da arte; mas isso é só o começo!
Existem muitos outros aspectos que estão relacionados as artes, afinal de contas, a arte, assim como
a vida, está em constante movimento! Agora cabe a você continuar explorando e fazendo novas
descobertas.

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Competência 03

3.Competência 03 | Entender o impacto da tecnologia industrial sobre a


comunicação visual e identificar o surgimento do design gráfico nesse
contexto

Olá! A partir de agora vamos dar um giro pelo universo do design gráfico, afinal, se você
é um futuro designer tenho certeza que está curioso para saber como surgiu e qual a história dessa
profissão que tem a capacidade de se conectar com tantas outras ajudando a melhorar tantos
processos relacionados sobretudo com a comunicação.

Preparado? Então vamos lá!


O design gráfico é uma profissão cuja atividade é o ato de projetar e criar comunicações
visuais, geralmente produzidas por meios industriais e destinadas a transmitir mensagens específicas
a grupos sociais específicos, com um objetivo claro.
É a atividade que permite comunicar de forma gráfica ideias, fatos e valores processados
e sintetizados em termos visuais, aspectos sociais, culturais, econômicos, estéticos e tecnológicos.
É possível encontrar também o termo comunicação visual para se referir a este tipo de
prática profissional, a razão se dá ao fato de que a palavra gráfico faria referência apenas à indústria
gráfica, e se entende que as mensagens visuais são canalizadas, cada vez mais, por diversos meios,
que não apenas os impressos.
A definição da profissão de design gráfico é bastante recente, embora não haja consenso
sobre a data exata do seu início. Considera-se que a história do design gráfico se funde com a história
da Revolução Industrial; isto porque para muitos, o design gráfico estaria relacionado com um modelo
de produção industrial com certos tipos de necessidades: produtivas, ergonômicas, comunicacionais,
simbólicas, que o design foi capaz de cumprir.
Embora exista certa diversidade de opinião sobre o nascimento do design gráfico, é
interessante compreender que existiu um longo caminho histórico que contribuiu para a construção
do que hoje se entende como tal.
Você lembra que desde os tempos pré-históricos o homem buscou maneiras de expressar
visualmente ideias e conceitos? Tentava encontrar possibilidades de preservar o conhecimento
através de formas gráficas com o objetivo de ordenar e transmitir informações.

51
Competência 03

Ao longo da história, pessoas que se dedicaram a vários ofícios como os escribas, na


Antiguidade e na Idade Média e os impressores e ilustradores, das mais diversas épocas, foram
cumprindo e satisfazendo essas necessidades. Foi apenas no ano de 1922 que o termo “desenho
gráfico” surgiu. Foi o destacado desenhista de livros, William Addison Dwiggins, que usou o nome
para descrever suas atividades de indivíduo que coloca ordem na estrutura e forma visual às
comunicações impressas.
É preciso estar atento, entretanto, que o designer contemporâneo herdou o seu fazer de
muitas outras fontes: dos sumérios que inventaram a escrita, dos artesãos egípcios que combinavam
hieróglifos e imagens no seus manuscritos, da xilogravura chinesa, dos iluministas medievais, dos
impressores e tipógrafos do século XV, todos trazendo a sua colaboração para a construção da
história do design. Você lembra de tudo isso, verdade? Se não lembrar quando puder dá uma passada
novamente pela primeira competência, tá tudo lá!
Podemos ver, por exemplo, na imagem seguinte uma página do Livro de Kells, um
manuscrito ricamente ilustrado por monges irlandeses no século IX. É considerado para alguns
estudiosos um exemplo de um conceito de design gráfico editorial, já na Idade Média. É uma
demonstração gráfica de grande valor artístico, de alta qualidade, ultrapassando em qualidade e
funcionalidade, muitas das atuais produções editoriais.

Figura 37: Página do Livro de Kells. Um exemplo de arte e design de página da Idade Média.
Fonte: MEGGS; PURVS (2009, p.72), 2021.
Descrição: Página de livro na cor bege com letras capitulares desenhadas com ornamentos.

As inscrições na coluna de Trajano, em Roma; o surgimento da tipografia e da imprensa


no Renascimento; a evolução da indústria do livro; os pôsteres do Movimentos Artes e Ofício e Arte

52
Competência 03

Nouveau; a Bauhaus, entre outros acontecimentos são antecedentes que levaram ao que hoje se
considera o design gráfico contemporâneo.
Agora que fizemos essa contextualização inicial vamos entender o significado, a
importância e a que exatamente o design se dedica... e sim, são muitas coisas, mas vamos aos poucos.

3.1 O Conceito de Design Gráfico

Encontramos muitas definições e não são poucos os autores e profissionais que explicam
o que é o design gráfico. Alguns falam mais de um campo criativo, outros se referem a uma atividade
relacionada a tecnologia.
A atividade do design gráfico está essencialmente relacionada ao ato de projetar e não
pode ser pensada como uma área estática, com fronteiras definidas. O design é voltado ao contexto
e às necessidades em que está inserido, buscando a inovação nos seus processos e/ou resultados,
tendo ainda, a capacidade de integrar o conhecimento de diversas disciplinas e áreas de estudo e
possui como fundamento a tríade: produção, ambiente e consumo.
Você já ouviu falar na palavra Zeitgeist? É um termo do idioma alemão e não possui
equivalente em português. Ele significa o espírito do tempo e se refere às tendências e preferências
culturais características de determinada era. É interessante relacioná-la ao caráter imediato e
efêmero do design gráfico, por sua relação com a vida social, política e econômica de uma
determinada cultura. Permitindo que ele expresse mais intimamente o Zeitgeist de uma época do
que muitas outras formas de expressão humana.
Nesse sentido Meggs e Purvis (2009, apud Chermayeff, p.10) colocam: o design da história
é a história do design.

Observe outros aspectos que também estão relacionados ao design.


O design é utilizado para informar, identificar, sinalizar, estimular, persuadir,
conscientizar. Os meios para que estes objetivos se concretizem são cada vez mais variados e
interdisciplinares, o que supõe uma elaboração contínua no seu próprio conhecimento. As novas
tecnologias digitais são um bom exemplo para observar essa evolução, já que não requer apenas
conhecimentos específicos de determinadas programas gráficos, mas cria, também, novos desafios
para a aplicação das normas de utilização do design nos novos contextos digitais.

53
Competência 03

Fique de Olho!
Design Gráfico é a profissão
Designer Gráfico é o profissional

3.2 A Evolução do Design Gráfico Contemporâneo

Você já conhece como foi a evolução da história das artes, agora vamos fazer o caminho
do design gráfico, tenho certeza que você está curioso, posso adiantar que é muito bacana e assim
como a história da arte, cheio de idas e vindas. Vamos!!!
Embora exista uma série de precedentes e influências que levaram ao que hoje
conhecemos como design gráfico contemporâneo, foi visto que se costuma situar temporalmente o
inicio da história do design gráfico a partir da Revolução Industrial e todo o cenário que se
desenvolveu a partir do século XIX, o que será um bom ponto de partida para compreender os
acontecimentos, as principais correntes e alguns artistas que ajudaram o design gráfico a ser o que é
na atualidade.
Na competência anterior vimos como surgiu, em torno dessa época, uma série de
movimentos artísticos que se intitulavam vanguardas, que na sua maioria eram bem diferentes entre
si, mas todas engajadas na luta pela afirmação do moderno como princípio norteador da vida e das
artes.
Ao amplo movimento cultural que se firmou a partir daí atribuiu-se o nome de
Modernismo, o qual se tornou dominante como ideologia e estilo entre as décadas de 1920 e 1960.
Várias dessas vanguardas apostaram, desde o início, na importância da indústria, das máquinas e das
novas tecnologias para a transformação da arte e da sociedade e, consequentemente o design
tornou-se um meio de expressão em que a criação estava intimamente ligada a processos industriais
de produção.

54
Competência 03

No final do século XIX, a cultura ocidental enfrentou mudanças profundas como resultado
da Revolução Industrial e do desenvolvimento tecnológico. As cidades se transformaram e os avanços
na comunicação fizeram com que as ideias fluíssem mais.
A produção em massa das indústrias fez com que o produto artesanal perdesse valor, e
ainda que o movimento Arts & Crafts surgido no final do século XIX, na Inglaterra, tentasse devolver
certas características artesanais aos produtos, o seu alto custo de produção revelou a incapacidade
de lutar contra os produtos industriais. Mesmo assim, a influência desse movimento foi importante
em todas as áreas do design.
As grandes concentrações urbanas deram origem também a maneiras inusitadas de
trocar bens simbólicos e materiais. Tantas pessoas em um só lugar, muitos vivendo de trabalho
assalariado e com algum dinheiro disponível, representavam um mercado antes inexistente para o
comércio de toda espécie de objetos e serviços e, portanto, novas instâncias para a comunicação
visual.
Rótulos, embalagens e etiquetas para identificar produtos; folhetos e panfletos para
divulgar informações; impressos comerciais (notas fiscais, papel timbrado, cartões de visitas) para
caracterizar firmas; cartazes e reclames para anunciar eventos e mercadorias. Tais atividades foram
ganhando espaço ao longo da segunda metade do século XIX, dando ímpeto não somente ao design
gráfico como também à publicidade nascente. Observe na figura a seguir alguns exemplos de
embalagens com aplicação de cromolitografia.

Figura 38: Latas embalando produtos, final século XIX.


Fonte: MEGGS; PURVS (2009, p.204), 2021.
Descrição: Várias embalagens de produtos variados em lata com aplicação de cromolitografia em cores vivas.

55
Competência 03

Junto a esse fato estavam os movimentos que contribuíram para a formação do que
podemos chamar de design gráfico contemporâneo: o Arts & Crafts, o Art Nouveau, o Art Decó e
posteriormente a Bauhaus, que fez surgir a primeira escola de design gráfico.
Observe agora as características de cada um desses movimentos, enquanto isso, sempre
que possível tente lembrar ou fazer conexões com artes ou projetos de design que você lembrar!

Arts & Crafts


O Arts & Crafts, também conhecido como Artes e Ofícios, foi um movimento que surgiu
na Inglaterra e ganhou força nas últimas duas décadas do século XIX como reação a confusão social,
moral e artística provocada pela Revolução Industrial, segundo os seus seguidores.
Defendia a volta do artesanal e desconsiderava os artigos industrializados considerados
baratos e feios e que eram fabricados em série. Os grandes influenciadores do movimento foram
John Ruskin, filósofo e poeta e William Morris, designer e poeta. O seu líder Morris considerava que
o design deveria se adequar a finalidade desejada, respeitar a natureza dos materiais e os métodos
de produção, defendendo uma expressão individual de quem estava criando.
William Morris fundou em 1861 a Morris and Company, empresa que produziu móveis
artesanais, trabalhos em metal, joias, têxteis e papéis de parede. Seus projetos recuperavam a beleza
e a qualidade do artesanato medieval. Um dos principais motivos do fracasso do movimento Arts &
Crafts se deu a que seus objetos não podiam ser transformados em estilos modernos, já que não
eram produtos práticos de fazer ou adequados para uma produção em massa, ficando acessível
apenas para as classes mais poderosas economicamente.

Características visuais
De uma maneira geral apresentava como características estilísticas a simplicidade das
formas e volumes. Na sua primeira fase se inspirou nas formas da natureza e animais. A
segunda fase foi mais abstrata inspirada em movimentos e figuras míticas. A madeira era
o material mais importante desse período, sendo, na maioria das vezes, utilizada de forma
pura, sem adição de pinturas, valorizando suas manchas naturais.

56
Competência 03

A paleta de cores do Arts & Crafts era sutil, carregada de tons que remetiam a natureza.
O verde e o marrom eram as cores chaves, outras cores que não fizessem referência a esse universo
não eram bem aceitas, pois, interferiam no clima de naturalidade.
Houve um retorno às guildas, que surgiram no período medieval, pois consideravam que
seria a única forma de garantir a dignidade dos objetos. Havia então uma rejeição à máquina e o
retorno ao artesanal. Crença na superioridade da produção artesanal sobre a mecanizada, que era
vista como algo degradante tanto para o criador, quanto para o consumidor.
Morris fundou também a Kelmscott Press em 1891, atelier de impressão onde produziu
obras originais e realizou a reimpressões de clássicos da literatura. Observe na imagem seguinte o
resultado dos estudos de Morris sobre a arte medieval, ele incorporou nos livros o uso de capitulares,
fato que o diferenciou de outros impressores da época.

Figura 39: Página de livro produzido e impresso pela Kelmscott Press, 1892.
Fonte: http://collections.conncoll.edu/kelmscott/gothic.html , 2021.
Descrição: Livro aberto em estilo Arts and Crafts mostrando as duas páginas, impresso na cor preta com a letra “W” em
forma de capitular.

Os papéis de parede de William Morris alcançaram grande reputação. Na imagem é


possível observar um de seus desenhos florais que continuam inspirando o design de superfície
contemporâneo.

57
Competência 03

Figura 40: Papel de parede de William Morris.


Fonte: https://www.pinterest.com, 2020.
Descrição: Figura mostra um papel de parede florido com fundo azul.

O legado do movimento Artes e Ofícios ultrapassou as artes visuais. O comportamento de


seus defensores quanto a materiais, função e valor social tornou-se importante inspiração para os
designers do século XX. Seu impacto positivo no design gráfico continua graças aos esforços rumo à
excelência no design, no uso da tipografia e produção de livros, que perdura até hoje.

Art Nouveau
O crescente comércio e comunicação entre os países asiáticos e europeus durante o final
do século XIX provocou um choque cultural; tanto para o Oriente como para o Ocidente que passaram
por mudanças em decorrência de influências recíprocas. A arte asiática possibilitou aos artistas e
designers europeus e norte-americanos novas formas de abordar espaço, cor, convenções de
desenho e temas bastante diferentes das tradições ocidentais. Isso revitalizou o design gráfico
durante a última década do século XIX.
O Art Nouveau foi um estilo decorativo internacional que prosperou por cerca de duas
décadas (1890-1910). Englobou todas as artes projetuais – arquitetura, design de mobiliário e
produto e moda – e, consequentemente, também as artes gráficas, com uma grande produção de
cartazes, embalagens e anúncios.
A ideia de que os objetos de uso cotidiano deveriam expressar beleza sempre se
manifestou ao longo da história da humanidade nas mais diferentes regiões e culturas. A busca pela
fusão entre beleza e utilidade existiu desde os tempos mais antigos e continuou a existir mesmo

58
Competência 03

quando os objetos passaram a ser produzidos em série pelas indústrias, ainda que o Arts & Crafts
tivesse um posicionamento contrário quanto a isso, e o Art Nouveau se destacou nessa busca.

O Art Nouveau se espalhou por todo o mundo, assumindo denominações diferentes em


cada região. Na França e Espanha ficou conhecido também como estilo Modernista, na Alemanha
pelo Jugendstil e nos Estados Unidos pelo estilo Tiffany.

Características Visuais
As características visuais mais marcantes do Art Nouveau são as linhas orgânicas, similar
às feições das plantas. Livre de raízes e da gravidade, ela pode ondular ou fluir com
elegância à medida que define, modula e decora determinado espaço na página. O uso
da assimetria para que pudesse ser explorado o efeito das curvas sinuosas. As flores
(como a rosa e o lírio), pássaros (particularmente pavões) e a forma humana feminina
eram temas frequentes na arte gráfica.

Houve uma grande proliferação do uso de cartazes que eram utilizados para anunciar
espetáculos e diversões, assim como produtos ligados ao supérfluo e ao prazer, tais quais o fumo ou
bebidas alcoólicas. Difundidos no mundo todo, os cartazes atingiram uma extraordinária excelência
artística em Paris revelando talentos como Chéret, Grasset, Toulouse-Lautrec e Mucha, este último
um dos grandes nomes na formação do estilo Art Nouveau. Veja na figura a seguir cartazes desses
três grandes artistas gráficos.

Figura 41: Cartazes de Grasset, Toulouse-Lautrec e Mucha, finais do século XIX.

59
Competência 03

Fonte: MEGGS; PURVS (2009, p.254, 259, 263), 2021.


Descrição: A figura apresenta três cartazes no formato vertical contendo imagens de mulheres como figura central e
desenhadas com curvas sinuosas típicas do Art Nouveau. Na parte superior ou inferior do cartaz aparecem pequenos
textos informativos.

As revistas ilustradas que surgiram na segunda metade do século XIX e que continuam a
existir até hoje com títulos voltados para todos os interesses também foram utilizadas como suporte
para difundir o Art Nouveau. Além disso, essas mesmas revistas ajudaram a definir a própria noção
que hoje fazemos de categorias, gêneros e segmentos sociais, através do direcionamento de cada
periódico a um público diferente: revistas femininas, masculinas, de notícias, de moda, de
comportamento e outras ainda mais especializadas. Veja na figura a seguir a revista de moda
feminina, Harpers’s Bazar.

Figura 42: Revista para o Harper’s Bazar


Fonte: MEGGS; PURVS (2009, p.266), 2021.
Descrição: Revista aberta mostrando a capa e contra-capa. Na parte superior da capa aparece o logotipo da revista e
abaixo o desenho de uma mulher em estilo Art Nouveau. Na contracapa vários anúncios com texto e imagens.

O Art Nouveau foi um estilo transitório que evoluiu do historicismo que dominou o design
durante a maior parte do século XIX e se tornou a fase inicial do movimento moderno, preparando o
caminho para o século XX.

Art Decó
Você já assistiu ao filme Batman Begins? É um filme com estética Art Decó, depois de
estudar esse tópico você vai entender porque.

60
Competência 03

Depois da guerra, o estilo decorativo do Art Nouveau começou a ser substituído por linhas
mais simples e retilíneas, em harmonia com a estética plana e geométrica desenvolvidas pelo Art
Déco.
Este movimento foi revelado na Exposition Internacionale des Artes Decoratifs et
Industriels Modernes de 1925 em Paris e durou aproximadamente até 1939. Veja abaixo o cartaz
dessa exposição. As influências vêm de diferentes vanguardas europeias e também do estilo
racionalista e contemporâneo da escola Bauhaus. Além disso, a influência do Construtivismo Russo
contribuiu para as linhas duras e a solidez das formas, bem como o aparecimento de elementos
monumentais em suas composições.

Figura 43: Cartaz da exposição de artes decorativas e industriais, Paris 1925.


Fonte: https://br.pinterest.com/, 2020.
Descrição: A imagem exibe um cartaz de exposição, em tons alaranjados e borda preta com o desenho de um ser
humano e um animal na parte central.

Características Visuais
Nos projetos gráficos apareciam como tema as inovações tecnológicas da época: aviação,
iluminação elétrica, rádio e arranha-céus. Essas influências foram apresentadas através
do uso de formas geométricas e simetrias. Isso fica evidente em revistas, livros e pôsteres
da época. Imagens geométricas inspiradas no Cubismo e na publicidade francesa –
juntamente a com a tipografia e organização espacial do movimento Construtivista Russo
e do De Stijl holandês, que será visto mais adiante.

61
Competência 03

A linguagem Art Déco frequentemente transmitia o otimismo causado pelas máquinas e


o progresso humano, o cartaz a seguir mostra de forma clara essa nova visualidade.

Figura 44: Cartaz do filme Metropolis, Schulz-Neudamm, 1926.


Fonte: https://gq.globo.com/, 2021.
Descrição: Cartaz vertical com ilustração mostrando prédios ao fundo com a figura de um robô em primeiro plano, na
parte inferior e o nome Metropolis na parte superior.

Cassandre, designer gráfico francês de origem ucraniana, foi um dos grandes nomes do
Art Decó. Em suas obras, pode-se observar a influência das vanguardas artísticas do período entre
guerras do século XX. Seus pôsteres eram uma síntese perfeita, nunca antes vista, de arte, texto e
imagem.

62
Competência 03

Figura 45: Cartazes de Cassandre, 1927 e 1931.


Fonte: MEGGS; PURVS (2009, p.363, 365), 2021.
Descrição: A figura apresenta dois cartazes no formato vertical. O primeiro com detalhe de um trem e o segundo de um
navio com letras grandes compondo o cartaz.

Vamos agora entender que caminhos o design percorreu após a Primeira Guerra Mundial
até a década de 1930.

3.3 O Design Gráfico nas Décadas de 1920 e 1930

Durante os anos após a Primeira Guerra Mundial, enquanto Cassandre e outros artistas
gráficos aplicavam aspectos do Cubismo sintético ao cartaz na Inglaterra e na França, uma nova
abordagem tipográfica voltada para o design gráfico surgia na Holanda e na Rússia, onde os artistas
perceberam claramente as implicações do Cubismo: a arte poderia ir além dos limites da imagem
figurativa para a invenção da forma pura. Observe o que ocorreu!
Na segunda década do século XX, a Rússia foi impactada pela turbulência da Primeira
Guerra Mundial e, em seguida, pela Revolução Russa. O país foi devastado pela guerra civil e em 1920
o Exército Vermelho dos bolcheviques emergiu vitorioso. Durante esse período de trauma político,
um breve florescimento de arte criativa na Rússia exerceu influência internacional no design gráfico
do século XX.

Construtivismo Russo
O Construtivismo Russo foi acelerado pela revolução, pois a arte recebeu um papel social
que raramente lhe era atribuído, naquele momento. Os artistas de esquerda haviam se oposto à velha

63
Competência 03

ordem e a sua arte visual conservadora. Em 1917 voltaram suas energias para a enorme campanha
de propaganda em defesa dos revolucionários, mas por volta de 1920 desenvolveu-se uma profunda
cisão ideológica quanto ao papel do artista no novo Estado Comunista.
Alguns deles, entre os quais Maliévitch e Kandinski, afirmavam que a arte deveria
continuar a ser uma atividade essencialmente espiritual, apartada das necessidades utilitárias da
sociedade. Rejeitavam um papel social ou político, acreditando que o objetivo exclusivo da arte era
revelar as percepções do mundo mediante a invenção de formas no espaço e no tempo.
Liderados por Vladímir Tátlin e Aleksandr Ródtchenko, vários artistas apresentaram o
ponto de vista contrário, no ano de 1921, quando renunciaram à “arte pela arte” para se dedicar ao
design industrial, comunicações visuais e artes aplicadas a serviço da nova sociedade comunista.
Esses construtivistas conclamavam o artista a parar de produzir coisas inúteis, como as pinturas, e
voltar-se para o cartaz. Observe nas figuras a seguir exemplos das duas correntes da época. Na
primeira figura um cartaz do Suprematismo russo voltado para um lado mais artístico, na figura
seguinte, capas de livros, como exemplo do Construtivismo Russo voltado para uma pauta política e
social.

Figura 45: Composição suprematista, Kasimir Maliévitch, 1915.


Fonte: MEGGS; PURVS (2009, p.375), 2021.
Descrição: A figura apresenta uma pintura com quadrados e retângulos com cores luminosas em fundo branco,
dispostas sem uma ordem aparente.

64
Competência 03

Figura 46: Cartazes de Rodchenko utilizando a fotomontagem, 1924.


Fonte: MEGGS; PURVS (2009, p.384), 2021.
Descrição: A figura apresenta três livros de brochura com formatos padronizados, todos com ênfase na fotomontagem
combinadas com textos na parte superior. As fotos são de pessoas.

Características Visuais
• Relação com o cubismo e futurismo;
• Estilo baseado em líneas puras e formas geométricas;
• Uso de ângulos para demarcar os espaços e as formas;
• Uso da colagem e fotomontagem.

3.4 A Escola Bauhaus

Chegamos em um ponto chave para o design gráfico, a escola Bauhaus foi


importantíssima para tudo que houve após a sua fundação, mesmo não tendo tido uma vida muito
longa, veja como tudo aconteceu.

O início do século XX foi marcado pela Primeira Guerra Mundial que começou em 1914
com o assassinato do príncipe austríaco em Saraievo provocando a guerra entre a Sérvia e o Império
Austro-húngaro e na qual ambos os lados foram apoiados pelas grandes potências mundiais.
Terminou com a derrota da Alemanha e do Império Austro-húngaro e a assinatura do Tratado de
Versalhes em 1919. Nesse mesmo ano, um dos alunos de Behrens, Walter Gropius, fundou a escola
Bauhaus em Weimar, na Alemanha.

65
Competência 03

A Bauhaus foi uma escola muito importante que combinou nos seus cursos o design, a
arte e a arquitetura. Também influenciados pelo Construtivismo, estudaram a forma e a importância
da cor no design, e procuraram agregar valor estético ao produto industrial para seu ressurgimento
após o conflito. Em 1925 a escola mudou-se para Dessau, onde cresceu o interesse pela parte mais
funcional do objeto.
Ao reconhecer as raízes comuns entre as belas-artes e as artes visuais aplicadas, Gropius
procurava uma nova unidade entre arte e tecnologia e congregou uma geração de artistas na luta
para resolver problemas de design criados pela industrialização. Esperava- se que o designer com
formação artística seria capaz de “insuflar uma alma no produto morto com a máquina”, pois Gropius
acreditava que só as ideias mais brilhantes eram boas o bastante para justificar a multiplicação pela
fabricação em série.
A Bauhaus foi aos poucos se afastando de um envolvimento com o medievalismo, o
expressionismo e a habilidade manual em direção a uma ênfase no racionalismo e no projeto em
série, voltado para a industrialização. Buscava uma linguagem objetiva e universal do design, capaz
de superar os estilos anteriores e o gosto pessoal do designer. Observe na figura a seguir dois selos
criados para a escola Bauhaus.

Figura 47: Selos criados para a escola Bauhaus.


Fonte: MEGGS; PURVS (2009, p.404), 2021.
Descrição: A figura apresenta dois selos para a Escola Bauhaus, os dois em formato circular com o nome da escola em
volta do círculo e na parte interna desenho geométricos.

A Bauhaus trouxe princípios visuais fáceis de entender: a partir de um racionalismo


crescente desenvolveu uma hierarquia tipográfica, definiu e dividiu o espaço a partir de linhas, barras,
quadrados e pontos, favorecidos pelo uso do grid, que foi usado para dividir o espaço e unir diferentes
elementos, atraindo o olhar do observador.

66
Competência 03

Moholy Nagy se destacou como designer ligado a Bauhaus. Sua paixão por tipografia e
fotografia levou a experiências importantes para na unificação das duas artes. Ele concebia o design
gráfico, particularmente o cartaz, como algo que evoluía em direção ao tipofoto, uma representação
que surge da relação entre o design gráfico, a fotografia e a tipografia. A essa integração objetiva
entre palavra e imagem para comunicar uma mensagem de modo imediato ele chamou de uma “nova
literatura visual”. Na imagem seguinte um claro exemplo da ideia do tipofoto.

Figura 48: Cartaz de tipofoto para marca de pneus, Moholy-Nagy, 1923.


Fonte: MEGGS; PURVS (2009, p.407), 2021.
Descrição: Cartaz com letras, fotos e elementos de desenhos integrados formando a palavra pneumatik.

Fora da escola Bauhaus, um outro designer, El Lissitzky estudou, inovou e experimentou


novas formas de expressão, tanto na tipografia, na fotografia como na fotomontagem e a sua
influência na evolução do design gráfico foi crucial nos primeiros momentos do Movimento Moderno,
permanecendo em vigor até hoje.
Durante o período em Dessau (1925-1932) a identidade e a filosofia da Bauhaus foram
bem assentadas. As bases do De Stijl e do construtivismo eram evidentes, mas a Bauhaus não se
limitava meramente a copiar esses movimentos. Desenvolvia princípios formais claramente
entendidos que poderiam ser aplicados com inteligência às questões de design. Veja na figura, o
edifício onde funcionou a escola da Bauhaus em Dessau, um exemplo perfeito do novo estilo, sem
ornamentos, com linhas retas, e o uso de materiais como a parede de vidro deixava entrar luz nas
oficinas.

67
Competência 03

Figura 49: Edifício Bauhaus de Walter Gropius em Dessau.


Fonte: https://conhecimentocientifico.r7.com/, 2021.
Descrição: Foto do edifício da Bauhaus, todo retilíneo, na cor branca, com fachadas em vidro.

A Corporação Bauhaus, uma organização empresarial, foi criada para controlar a venda
de protótipos para a indústria. Ideias abundantes fluíram da Bauhaus para influenciar a vida do século
XX: projetos de móveis e outros produtos, arquitetura funcional, equipamentos urbanos e as bases
do design gráfico contemporâneo.
Observe a partir do exemplo da figura a seguir, como o design para marcas ganhou forma
segundo os princípios visuais da Bauhaus. Herbert Bayer desenhou o símbolo para a oficina de vitrais
de Kraus em 1923. Um quadrado dividido por uma linha horizontal em dois retângulos. O retângulo
superior tem a relação três-para-cinco da seção áurea. Cada retângulo formado é então dividido com
uma linha vertical para formar um quadrado e um retângulo menor. Uma harmonia de proporção e
equilíbrio é alcançada por meios mínimo com a influência óbvia do De Stijl e da composição
Renascentista.

Figura 50: Símbolo para oficina de vitrais Kraus de Herbert Bayer, 1923.
Fonte: MEGGS; PURVS (2009, p.408), 2021.
Descrição: Figura de um quadrado dividido por uma linha horizontal em dois retângulos. O retângulo superior tem a
relação três-para-cinco da seção áurea. Cada retângulo formado é então dividido com uma linha vertical para formar
um quadrado e um retângulo menor. Uma harmonia de proporção e equilíbrio com a influência do De Stijl.

68
Competência 03

O planejamento visual e a tipografia tiveram destaques nas proposições da Bauhaus. O


uso de fontes sem serifa eram usadas quase que exclusivamente. A helvética é uma fonte tipográfica
sem serifa considerada uma das mais populares ao redor do mundo. Foi criada em 1957 pelos
designers Max Miedinger e Eduard Hoffmann. Devido às preocupações que originaram seu desenho,
é uma das fontes mais associadas ao modernismo no design gráfico, o alfabeto possuía formas claras,
simples e racionalmente construídas, transformando-se em um tipo adequado a uma linguagem
universal. Isso era coerente com a defesa de Gropius de que a forma deveria seguir a função.
A hierarquia visual se desenvolveu por meio da análise minuciosa do conteúdo,
permitindo uma sequência funcional de informações. Cuidadosos alinhamentos horizontais e
verticais foram feitos, girando depois o conteúdo inteiro diagonalmente para alcançar uma estrutura
visual dinâmica, porém equilibrada. Como exemplo dessa proposição, a seguinte figura, apresenta
um cartaz de Bayer para uma exposição de artes e ofícios europeus em 1927. O texto e imagem do
cartaz é encaixado em um grid de sete colunas e mostra um planejamento visual e hierarquia da
informação bastante consistentes.

Figura 51: Cartaz para exposição de Kandinksy de Herbert Bayer, 1927.


Fonte: MEGGS; PURVS (2009, p.412), 2021.
Descrição: Cartaz com tipos e imagem organizados em uma progressão funcional de tamanho e peso, que vai das
informações mais importantes para os detalhes de apoio.

Em 1931 o partido nazista dominou o Conselho Municipal de Dessau; em 1932 cancelou


os contratos do corpo docente da Bauhaus. Em 10 de agosto de 1933, o corpo docente votou pela
dissolução da Bauhaus e ela foi fechada com um aviso aos alunos de que, se necessário, os
professores estariam disponíveis para consulta. Assim se encerrou a primeira e uma das escolas mais
importantes de design do século XX.

69
Competência 03

Já ouviu falar em Aloísio Magalhães? Não?!!! Foi um dos grandes nomes do


design gráfico brasileiro. Vamos conhecer mais sobre ele? Vem comigo, assistir
a videoaula da terceira competência com o tema: Aloísio Magalhães e o Design
Brasileiro.

Conseguiu perceber a importância desse período para o estabelecimento dos


fundamentos da linguagem visual para o design gráfico? Mas não fica por aí, ainda temos que dar
uma olhada em outros momentos que tiveram também a sua importância.

3.5 O Período de Pós-Guerra

O design gráfico do período pós-guerra foi caracterizado por uma crescente


homogeneidade, correspondente a internacionalização da economia. O Modernismo ingressou em
uma segunda fase, conhecida no design como Estilo Internacional, em que se buscou impor os
preceitos estéticos de maneira normativa e bem estruturadas.
Um bom exemplo no design gráfico está nos trabalhos ligados à chamada Escola Suíça,
nos quais predominam as cores vermelho, amarelo e azul, a tipografia sem serifa, as manchas de
texto ditas arejadas e outros aspectos derivados das teorias de Jean Tschichold e do fazer da Bauhaus.
Na busca por um suposto funcionalismo – ou seja, a consolidação racionalista de funções
operacionais em formas universais e imutáveis –, essa vertente do Modernismo acabou por
transformar e enrijecer de vez a proposta do moderno como a descoberta constante do novo.
Seu apelo a leis essenciais da forma – embasadas em leituras reducionistas das teorias
psicológicas da Gestalt – refletiu uma paralização das aspirações utópicas das Vanguardas. Contudo,
a ânsia pela racionalidade também rendeu seus frutos. Com as inovações tecnológicas na área de
eletrônica e informática, os designers passaram a lidar com desafios que iam da cibernética à biônica,
e foi na Escola de Ulm, na Alemanha, que as relações entre o design e essas áreas foram pensadas
pela primeira vez.

3.6 Os Anos 50 na Suíça e Estados Unidos

70
Competência 03

Nesse período, surgiram duas grandes correntes do design: uma na Suiça, chamada de
Estilo Internacional e outra encabeçada pelos Estados Unidos chamada de New York School.

O Estilo Internacional da Suíça


O novo estilo que nasceu na Suíça nos anos 50 seria o estilo predominante na história do
design gráfico até aos anos 70 e uma referência imprescindível na era atual. Eles revolucionaram o
mundo do design, especialmente o editorial. Foram influenciados pelo Construtivismo e pela
Bauhaus, designers que seguiram esse estilo definiram o design como uma atividade socialmente útil
e importante e colocaram de lado a expressão artística e pessoal em busca de uma solução mais
científica e universal.
Seus três pilares básicos são: a estrutura baseada em um grid, a disposição dos elementos
de forma assimétrica, mas equilibrada visualmente e o uso de fontes sem serifa, além do uso da
fotografia em preto e branco. Desta forma buscou-se criar um design claro e conciso. Clareza e ordem
eram as palavras-chave. Observe na figura a seguir como se comportava visualmente esse estilo.

Figura 52: Cartazes para eventos no Estilo Internacional, anos de 1928, 1945 e 1959.
Fonte: MEGGS; PURVS (2009, p.464, 465, 472), 2021.
Descrição: Figura com imagem de três cartazes com estética do Estilo Internacional. Ênfase em letras grandes e figuras
geométricas com fotografia no seu interior e detalhe da foto de uma bailarina em preto e branco.

Designers que se destacaram nesse movimento:


Emil Ruder: promoveu o espaço em branco e a limitação no uso de fontes. Theo Balmer:
se destacou pelo uso meticuloso da retícula. Max Bill: usou fórmulas matemáticas e geométricas para
criar designs mais poderosos, também popularizou o tipo de letra Akziden Grotesk. Josef Muller-

71
Competência 03

Brockman, designer suíço que chefiou a escola de Zurique e entre seus trabalhos mais influentes,
estão os pôsteres promocionais de shows nesta mesma cidade.
A Escola de Nova Iorque
No início do século XX foi Paris, depois a Alemanha e na metade do século foi Nova Iorque
que se tornou o centro cultural do mundo e o design gráfico teve um papel muito importante nisso.
A era do design gráfico americano, que começou com fortes raízes europeias durante a década de
1940, ganhou reconhecimento internacional por suas visões originais na década de 1950 e continua
até hoje.
Enquanto o design europeu era teórico e altamente estruturado, o design americano era
intuitivo e mais informal em sua abordagem de organização do espaço e, portanto, ditava sua própria
forma de design moderno. A ênfase era colocada na expressão de ideias e na apresentação aberta de
informações. A novidade na técnica e a originalidade do conceito foram muito valorizadas e
procuraram resolver os problemas de comunicação ao mesmo tempo que satisfaziam uma
necessidade de expressão pessoal.
Paul Rand é considerado o pai do design americano moderno. Rand mostrou que mesmo
o mais simples dos objetos carrega várias camadas de significado. Ele tinha um talento especial para
criar símbolos gráficos originais, possuindo um poder de se comunicar de forma leve e eficaz com o
público.
Rand sabia do valor de sinais e símbolos comuns de entendimento universal como
ferramentas para traduzir ideias em comunicação visual. Para envolver o público e comunicar de
maneira marcante, sabia que o designer precisava alterar e justapor signos e símbolos. Às vezes era
necessário reinterpretar a mensagem para transformar o banal em algo extraordinário. A figura a
seguir apresenta exemplos da marca pessoal de Rand.

72
Competência 03

Figura 53: Capa de anuário, anúncio e cartaz de Paul Rand, entre os anos 1946 e 1968.
Fonte: MEGGS; PURVS (2009, p.486, 488), 2021.
Descrição: Figura com três cartazes. No primeiro técnica de colagem com formas simbólicas de uma pessoa e
instrumentos musicais em fundo vermelho. No segundo, aparecem elementos textuais, de fotografia e desenho
integrados. No terceiro as iniciais “a i g a” em vermelho se escondem contra o fundo verde, ao mesmo tempo que uma
cara de palhaço pictográfica faz o mesmo com
uma abstração orgânica.

Saul Bass, foi outro conceituado designer que depois de trabalhar em várias agências de
design, em 1950 montou o seu próprio estúdio. Embora seja mais conhecido por seu trabalho para a
indústria cinematográfica, seus projetos de identidade visual apresentam algumas das marcas mais
importantes da história.
A principal característica de seu trabalho foi a simplificação da forma para conseguir um
poderoso símbolo gráfico que dominava a composição. Sua linguagem gráfica, embora minimalista,
possui também qualidade plástica, alcançada com o uso de papel cortado à mão, pinceladas
descuidadas ou caligrafia, como pode ser observado na imagem do cartaz, a seguir.

73
Competência 03

Figura 54: Cartaz do filme de Saul Bass, 1956.


Fonte: MEGGS; PURVS (2009, p.495), 2021.
Descrição: Cartaz com retângulos e na parte central o desenho de uma mão e o título do filme.

O que você acha de descobrir um pouco mais sobre grandes designers gráficos
brasileiros? Dá uma passada no fórum da competência 3 lá tem uma proposta
incrível para trocar ideias!

O ano de 2019 marcou o centenário da fundação da Bauhaus – escola de arquitetura e


design que revolucionou a estética ocidental do século XX. Além criar o arcabouço teórico e
metodológico para a construção de grandes obras arquitetônicas, a sua herança no design gráfico é
vista ainda hoje.
O design, porém, tomou outros rumos! Na próxima competência você vai entender como
se desenvolveu o design gráfico pós-moderno e que características apresenta na sua visualidade.

74
Competência 04

4.Competência 04 | Situar e identificar o contexto histórico para o


surgimento do design gráfico pós-moderno. A revolução digital no design
gráfico
Você já viu e conseguiu entender o que houve com as artes quando passaram a adotar os
conceitos e estética do pós-moderno; e no design, você tem ideia de que novos caminhos foram esses
e quem foram e são os grandes nomes da sua futura profissão? Esse será o último tema da nossa
disciplina.

4.1 Os Anos 60 e 70 na Europa

Os anos 60 e 70 foram caracterizados por um período de fortes tensões políticas entre os


Estados Unidos e a URSS, que teve início após a Segunda Guerra Mundial, com a Guerra Fria. Isso
levaria a vários eventos importantes, como a corrida espacial ou a Guerra do Vietnã. Grande parte da
população não aprovou as decisões dos seus governos e como consequência houveram importantes
revoluções sociais e culturais nos Estados Unidos e na Europa.
A Polônia deixou de ser um país independente para quase ser destruída pelos nazistas
durante a guerra. A França tornou-se um país de novas ideias e movimentos juvenis e na Inglaterra
as crises, as altas taxas de desemprego e o surgimento de grupos como o IRA criaram na população
jovem um forte sentimento de pessimismo e rebelião contra o sistema. A instabilidade política teria
grande influência nos artistas e na história do design gráfico.
Designers poloneses procuraram sua própria identidade através dos seus pôsteres. O
estilo tendia em grande parte para o Surrealismo e havia uma clara preferência pela colagem, como
pode ser observado na figura a seguir. Não procuravam vender, mas sim utilizar o design para
promover eventos culturais e os clientes eram as próprias instituições. Esta liberdade de ação
permitiu que criassem obras que tiveram grande influência no resto da Europa nos anos seguinte,
sobretudo na França e Itália.

75
Competência 04

Figura 55: Cartaz para a marca Pirellli de Tesla, 1954 e Contra a Guerra de Trepkowski, 1953.
Fonte: MEGGS; PURVS (2009, p.495), 2021.
Descrição: Figura com imagem de dois cartazes. No primeiro a força de um elefante é conferida ao pneu pela técnica
surrealista da combinação de imagens. No segundo cartaz uma expressão é reduzida a apenas uma palavra: Nie! (Não!),
junto a imagem de um torpedo caindo.

Na França, o design teve também um forte componente político e de protesto e sua


mensagem, fruto de um profundo exercício intelectual, buscava fazer a população refletir.
Na Inglaterra, o desejo de liberdade se manifestou na estética punk que rompeu com os
elementos do design criando uma linguagem grosseira e parcialmente dadaísta, caracterizada pela
colagem e pelo uso de cores estridentes.
Jamie Reid foi um artista inglês nascido em 1947, os seus pôsteres são um exemplo
totalmente relacionado ao movimento punk. Seu trabalho é caracterizado pelo uso de textos
recortados e imagens provocativas contra o sistema. Reid foi um grande colaborador da banda Sex
Pistols nas capas de seus álbuns e cartazes para a sua divulgação.

Figura 56: Cartaz para banda Sex Pistos,lançamento de disco.


Fonte: MEGGS; PURVS (2009, p.496), 2021.
Descrição: Cartaz formato horizontal com a bandeira da Inglaterra ocupando seu espaço e a fotografia da rainha na
parte central com recortes de palavras colocadas sobre os seus olhos e boca.

76
Competência 04

Visto o que houve na Europa veja agora como foi o cenário no Estados Unidos.

4.2 Os Anos 60 e 70 nos Estados Unidos

Em meio a guerra fria, enquanto os Estados Unidos enviavam tropas para o Vietnã, os
jovens criavam movimentos antiguerra, feministas e nasceram novas culturas como os hippies e os
beatniks. Foi um momento de grandes avanços tecnológicos, a televisão estabeleceu-se como o meio
de comunicação por excelência e teve início a era de ouro da publicidade, consolidando muitas das
grandes empresas do setor.
Nesse período ganhou força o expressionismo gráfico, que brincava com a forma das
palavras para expressar uma ideia. Técnicas de expressão gráfica como fotografia, computação
gráfica ou fotocomposição eram aperfeiçoadas com a ajuda dos primeiros programas de computador.
A cultura jovem criava os seus próprios valores, a sua própria música e este modo de vida
necessitava de uma nova estética, caracterizada pela caligrafia psicodélica e distorcida, pelas formas
simplificadas e pelo uso de cores fortes.
Nesse cenário destacava-se o designer Milton Glasser. Seus trabalhos durante os anos
1960 usavam a linha de contorno preta, onde posteriormente foi adicionando uma grande
quantidade de cor. Suas imagens foram imitadas várias vezes, mas ele sempre aparecia com soluções
inovadoras nos seus designs.

Figura 57: Projetos gráficos de Milton Glasser, 1964 e 1967.


Fonte: MEGGS; PURVS (2009, p.556, 557), 2021.
Descrição: Figura com imagem de dois cartazes. No primeiro capa de disco usando linha de contorno e cor para
desenhar figuras humanas que parecerem dançar ao ritmo da música. No segundo um cartaz para Bob Dylan no
formato vertical com silhueta de homem na cor preta e cabelos feito com curvas coloridas.

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Competência 04

O movimento gráfico que expressava esse clima cultural se valia de uma série de recursos:
as curvas fluidas e sinuosas do Art Nouveau, a intensa vibração ótica de cores associada ao breve
movimento Op Art popularizado por uma exposição no museu Moma e a reciclagem de imagens
oriundas da cultura popular mediante a sua manipulação, como a redução de imagens ao alto
contraste de preto e branco ou em cores que vigorava na Pop Art.

Figura 58: Cartazes de Wes Wilson, 1966 e 1967.


Fonte: MEGGS; PURVS (2009, p.565, 566), 2021.
Descrição: Figura com imagem de dois cartazes. No primeiro cartaz com alto contraste entre o fundo verde e o lettering
vermelho em forma de chama simbolizando uma mudança nos valores culturais e geracionais. No segundo cartaz,
também com alto contraste de azul no fundo com a figura feminina sem roupa localizada no centro do cartaz de onde
saem linhas com o seu contorno simulando uma propagação de onda.

Nos anos 1970, muitos acreditavam que o modernismo se arrastava para seu final, tanto
na arte, no design, na literatura, quanto nos ideais políticos e filosóficos. As normas culturais da
sociedade ocidental eram desfeitas e questionava-se a autoridade das instituições tradicionais.
O pluralismo crescia à medida que as pessoas passavam a contestar as doutrinas vindas
do modernismo. A busca permanente de igualdade pelas mulheres e minorias contribuía para um
clima crescente de diversidade cultural, a exemplo do que faziam a imigração e a comunicação global.
A consciência social, econômica e ambiental do período levou muitos a acreditar que a
estética moderna não era mais relevante na emergente sociedade pós-industrial. Pessoas de muitos
campos adotavam o termo pós-modernismo para expressar um clima de mudança cultural.

4.3 Novos Paradigmas do Design

Acredito que se você não sabia o significado da palavra paradigma, deve ter consultado
no glossário. Lembre que são os padrões estabelecidos para algo, nesse caso, o que veremos são os

78
Competência 04

novos padrões da linguagem visual surgidos no design gráfico principalmente com a chegada da era
digital. Vamos lá?
No campo do design gráfico, durante o século XX, os meios de comunicação adotaram
novas formas e cada nova tecnologia deu ao designer maior controle sobre o processo gráfico,
fornecendo ferramentas para a criação de projetos de design inovadores e altamente originais, na
relação texto e imagem. A partir dos anos 1980, o design gráfico estabeleceu-se plenamente na
consciência popular e passou a fazer parte do cotidiano das pessoas.
O surgimento da Internet trouxe a globalização da informação e uma grande revolução
na comunicação. Não se pode negar que, no final do século XX, as novas formas de comunicação da
era digital, contribuíram para uma rápida evolução do design gráfico em todo o mundo, dando um
passo além, com a criação e design de páginas web e conteúdos para redes sociais.
A sociedade de consumo que começou a se delinear com a Revolução Industrial, ganhou
força a partir do início do século XX juntamente com uma cultura de cunho mais popular e massificada
que dominavam o campo visual, a ponto de hoje se falar que vivemos em uma sociedade
majoritariamente visual. A era digital trouxe mudanças na percepção do espaço e da composição,
abrindo caminho para o desenvolvimento de uma nova linguagem gráfica.
Você lembra que o design gráfico é um processo criativo e técnico que utiliza textos e
imagens para comunicar conceitos, ideias e solucionar problemas? Creio que sim. Além disso, não
esqueça que está atrelado às tendências culturais e gostos de uma determinada época.
Se considera que um estilo ou tendência permanecerá até que certas mudanças dentro
de uma cultura ditem novas direções, fazendo emergir novos estilos que, de alguma forma, foram
influenciados por aqueles que os precederam.
O século XX conheceu dois movimentos importantes. O primeiro rompeu com a tradição
das belas-artes, com os movimentos de vanguarda e o segundo, com a tradição cultivada pelo
racionalismo e funcionalismo, derivada do movimento moderno e no design, de forma especifica com
a Bauhaus.

A Bauhaus, no século XX, proporcionou de fato o surgimento da figura do designer gráfico,


instituindo ainda os fundamentos desse novo campo do conhecimento. Mais de um século depois,

79
Competência 04

novas mudanças continuam a impactar o design gráfico, não só a introdução da tecnologia digital,
mas também a transformação de padrões culturais.
Diversos aspectos instituídos nas primeiras décadas do século XX foram abalados com a
pós-modernidade. A generalização do uso dos computadores pelos profissionais que trabalham com
comunicação, e em áreas afins, deu inicio a uma nova fase no campo da atividade do design gráfico.
É importante destacar que a tecnologia digital não alterou necessariamente a forma de conceber
ideias, mas forneceu ferramentas que agilizaram os processos conceituais e de produção.

4.4 O Pós-Modernismo

Ao estudar a história da arte você viu que o pós-modernismo é um movimento filosófico


e também artístico que nasceu nas últimas décadas do século XX e se prolonga até os dias atuais,
portanto, sua definição exata ainda é difusa e em processo de definição. Surgiu a partir de uma busca
por novas formas de expressão centradas no culto ao individualismo e na crítica ao racionalismo e
estruturalismo.
Como corrente filosófica, o pós-modernismo buscou novas formas de pensar com foco no
crescimento do indivíduo por meio do uso da tecnologia. Caracteriza-se por criticar correntes de
pensamentos antigos e considerados ultrapassados, como o positivismo.
A pós-modernidade possui características que dependem do campo em que são
aplicadas. Por exemplo, na arquitetura e design resgata formas que o modernismo rejeitou; na
filosofia é definido como um niilismo moderno, ou seja, a obsolescência dos valores; na educação, a
tecnologia e a inovação são validadas para a geração de um homem autossuficiente e independente.
Como movimento artístico, incorporou as correntes de vanguarda anteriores em uma
estética atual que reflete o caos gerado pela revolução da informação e tecnologia em que vivemos
hoje.
Posteriormente, com os novos valores instituídos pelos ideais pós-estruturalista, ocorreu
uma reação contraria as soluções modernistas, consideradas neutras e impessoais, proposta pelos
padrões da época. Dessa forma novas características foram incorporadas à linguagem visual: o
ecletismo, o pluralismo, a intuição e a emoção como novos elementos do design. Observe nas duas
figuras a seguir exemplos da estética moderna e pós-moderna no campo do design gráfico.

80
Competência 04

Figura 59: Capaz de livros da Bauhaus com composição de design segundo padrões modernistas, de Moholy-Nagy,
1924/30.
Fonte: MEGGS; PURVS (2009, p.410), 2021.
Descrição: Figura com imagem de dois cartazes. No primeiro uma composição com linhas horizontais e verticais e
grandes letras na cor preta. No segundo composição de linhas horizontais e verticais, mas nos retângulos que se
formam estão inseridas imagens de edifícios.

Figura 60: Folder com composição de design segundo padrões pós-modernistas de Michael Vanderbyl para a Simpson
Paper Company, 1985.
Fonte: MEGGS; PURVS (2009, p.615), 2021.
Descrição: Folder promocional formato horizontal, letras e texturas dispostas na diagonal e soltas como se estivessem
flutuando no ar.

Durante a década de 1960 surgiram termos como “supermaneirismo” mais relacionado a


arquitetura e “supergráfica” ao design gráfico, ambos para descrever certas rupturas com a
arquitetura e a aplicação do design gráfico.
O supermaneirismo implicava um distanciamento das normas arquitetônicas, que
passava a ser mais livre colocando-se em contra o que é suposto ser "bom" e "válido".
A aplicação do design gráfico na arquitetura, fez surgir o design gráfico ambiental, de
grande escala, ampliando os conceitos formais da Arte Concreta e do Estilo Internacional. A
supergráfica tornou-se o nome popular que se dava as formas geométricas enormes e de cores
brilhantes, com uma tipografia do tipo Helvética gigantesca, e pictogramas enormes aplicados nas
paredes, e tetos. A sua função era tanto psicológica quanto decorativa, para por exemplo, trazer mais

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Competência 04

vida a espaços mais institucionais. Na figura a seguir é possível observar a aplicação tanto do
supermaneirismo como da supergráfica.

Figura 61: Uso do supermaneirismo e supergráfica em edifícios e interiores.


Fonte: MEGGS; PURVS (2009, p.602), 2021.
Descrição: Figura com duas fotografias. Na primeira um conjunto de prédios construídos com formas simples,
triangulo, quadrado semicírculo. Na segunda um espaço interno com letras e grafismo dispostas na parede.

A principal tendência do estilo pós-moderno no design apareceu a partir dos grupos que
trabalhavam baseados no Estilo Internacional. Lembre que uma das principais características desse
estilo era o uso de tipografias neutras e objetivas. Além disso, a organização visual de uma página
não permitia que o inesperado e a desorganização invadissem a sua claridade e objetividade.
Um dos primeiros desenhos considerados pós-modernistas foi realizado pelo designer
Tiss para a gráfica Lutz & Company, onde é possível observar diferentes tipos e tamanho de textos
impressos. As imagens não apareciam organizadas e alinhadas em um grid, mas pareciam ter sido
colocadas intuitivamente.
A marca desenvolvida por Odermatt para a Union Safe Company em 1966 apresenta-se
como uma antítese, o contrário, do que o Design Internacional pregava. As letras da palavra “Union”
estavam apertadas para formar uma unidade compacta, que sugere a força do produto, ainda que
sacrificasse a legibilidade. Além disso, nos anúncios, era possível observar como a marca era tratada
como uma forma, permitindo-se manipular visualmente e criando uma boa dinâmica no espaço da
página. Perceba na figura a seguir a proposta dessa nova visualidade.

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Competência 04

Figura 62: Anúncios de Tissi, 1964 e Odermatt, 1968


Fonte: MEGGS; PURVS (2009, p.603), 2021.
Descrição: Figura com imagem de dois anúncios. Os dois anúncios são compostos por uma composição assimétrica,
formada apenas por grandes letras e pequenos textos em preto sobre fundo branco.

A partir da década de 1970, o conceito modernista, que havia se transformado em padrão


universal, dirigindo os procedimentos dos profissionais da área do design gráfico, foi fortemente
questionado e novas visualidades foram propostas.
A forma funcional da comunicação continuava mantendo sua importância, porém ela já
não pretendia estabelecer um único padrão, passando a ter um caráter interpretativo e expressivo.
Sua linguagem seguia parâmetros em que o receptor pudesse identificar e interagir. Foi um momento
a partir do qual, tanto os objetivos de eficácia quanto de estética e sobretudo, emocionais deveriam
ser atendidos.
Nos anos 1980 nos Estados Unidos, o movimento New Wave proveniente da Califórnia
usou tecnologia fotográfica e eletrônica para fazer um design mais informal. Questionou o uso da grid
para buscar maior expressividade e, apesar de querer romper com as regras do Estilo Internacional,
manteve o uso de fontes sem serifa, o caráter geométrico e angular do desenho, o que levou muitos
a considerá-lo uma evolução, em vez de uma quebra do Estilo Internacional. A fotocomposição unida
ao texto e ilustração ganharam força nesse movimento.
Wolfgang Weingart é considerado o pai desse novo estilo. Considerou que o Design
Internacional com texto limpo e ordenado não tinha muita utilidade se não despertasse o interesse
do espectador em lê-lo. Ele optou pela expressividade para melhorar a comunicação, fazendo
algumas modificações grandes no uso das letras. Observe essas características nas imagens propostas
a seguir.

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Competência 04

Figura 63: Cartazes de Weingart, 1982.


Fonte: MEGGS; PURVS (2009, p.607), 2021.
Descrição: Figura com imagem de três cartazes. Os três apresentam estética pós-moderna com sobreposições de letras,
recortes, imagens distorcidas ocupando todo o espaço. O primeiro e o terceiro são composições em preto e branco e o
segundo em tons de cinza e amarelo.

Desse movimento destaca-se também a designer April Greiman, reconhecida por ser uma
das primeiras designers a incorporar o computador como ferramenta de design. A sua concepção de
design mostra a página como se fosse um espaço tridimensional onde os elementos se misturam
alegremente sem hierarquias e numa ordem complexa, como pode ser observado nas imagens
seguintes.

Figura 64: Anúncio e convite de April Greiman.


Fonte: MEGGS; PURVS (2009, p.610), 2021.
Descrição: Figura com duas imagens. A primeira apresenta um espaço composto apenas por textos e figuras
geométricas nas cores preto e branco parece que estão em movimento pela disposição inclinada que apresentam. A
segunda imagem com formato de um polígono irregular com o fundo preto e vermelho com letras brancas.

Outro grande nome dessa época foi Neville Brody, designer e tipógrafo inglês. Seu
trabalho revolucionou o design editorial com o uso ousado do espaço em branco, marcando

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Competência 04

fotografias aliadas a uma tipografia transgressora com qualidades plásticas que ele muitas vezes
transformou em símbolos abstratos.
A imagem seguinte mostra a página inicial de uma entrevista a Andy Warhol, a repetição
da fotografia imita o uso que Warhol fazia de imagens repetidas na sua obra, além disso é possível
observar um tratamento importante da tipografia aliada a símbolos que trazem significados implícitos
sobre a vida do Warhol.

Figura 65: Design editorial de Neville Brody, 1985.


Fonte: MEGGS; PURVS (2009, p.624), 2021.
Descrição: Revista com páginas abertas. Na página da esquerda uma grande capitular da letra “W” de “warhol” e duas
colunas de texto na parte inferior. A página da direita possui quatro fotografias repetidas de Andy Warhol.

O exemplo de design editorial que acabamos de ver mostra uma clara preocupação no
design gráfico em traduzir visualmente o conteúdo que está sendo mostrado. Isso é algo
importantíssimo para o design, fica atento!!!

O Design Retrô e Vernacular


O prefixo retrô sugere a palavra “retrógado”, “ultrapassado” em design implica sobretudo
“olhar para trás”. O retrô pode ser considerado um aspecto do pós-modernismo, pelo seu interesse
em recuperar aspectos históricos e reinterpretá-los nesse novo momento.
Durante a década de 1980 os designers começam a se interessar por um maior
conhecimento e apreciação da sua própria história. Um movimento baseado na recuperação histórica
surgiu, a principio, em Nova Iorque e depois se expandiu para todo o mundo.
Foi chamado de Design Retrô e se baseava em um interesse eclético que recuperava em
parte o design europeu modernista da primeira metade do século XX, mas também de qualquer outro

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Competência 04

período, como referências greco-romanas e do Renascimento, além de motivos decorativos do Art


Nouveau e Decó e do Construtivismo Russo.
Já a expressão “Design Vernacular” faz referência a manifestação artística e técnica que
em linhas gerais caracteriza um determinado lugar ou um período histórico. É frequentemente usada
para descrever uma forma não-acadêmica de design. São soluções materiais ou visuais utilizando
artefatos presentes no cotidiano, e que indicam forte ligação com a cultura local.
Está relacionado com o Design Retrô e vai buscar em peças gráficas de caráter mais
efêmero, como figurinhas, calendários, cartazes de décadas anteriores, a inspiração para um novo
design. Combinavam também uma forma manual junto as novas tecnologias que estavam surgindo.

Figura 66: Cartaz de Paula Scher, 1979 e cartaz de Michael Manwaring, 1984.
Fonte: MEGGS; PURVS (2009, p.616 e 618), 2021.
Descrição: Figura com imagem de dois cartazes. O primeiro cartaz possui inspiração do construtivismo russo,
apresentando apenas palavras que fazem ângulos de 90° entre elas. O segundo cartaz apresenta elementos de colagem
rasgados e carimbos de borracha com fotografia de uma jovem com roupa de esquiar.

Um dos fatores principais do design gráfico pós-moderno, além das novas ideologias, é o
surgimento de novas mídias. É um momento histórico em que os paradigmas da modernidade e o
racionalismo na metodologia do design passam a ser relativizados. O racionalismo modernista não é
abandonado, mas passa a ser contestado e reformulado livremente.

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Competência 04

Antes de continuar a leitura sobre o design gráfico na Era Digital, que tal fazer
uma pausa e assistir a quarta videoaula onde serão apresentados projetos de
design gráfico brasileiro de vários momentos, vamos?

4.5 A Revolução Digital

Acredito que essa parte será bastante interessante, afinal é o nosso momento, somos
contemporâneos dessa grande revolução e tenho certeza que alguns dos temas tratados aqui você já
ouviu falar.
Durante o último quarto do século XX, a tecnologia eletrônica e a informática avançaram
em um ritmo extraordinário e transformou em muitos âmbitos as atividades humanas. O mundo
acompanhou o salto da tecnologia analógica para a digital, viu a telefonia celular explodir e
multiplicaram-se as formas de comunicação, com a possibilidade de interação entre os computadores
e as pessoas. O celular passou a ser um objeto multitarefas.
A introdução dos computadores pessoais, dos softwares de desenho e editoração, e das
impressoras caseiras fez com que os meios eletrônicos possibilitassem uma outra etapa de mudança
nos processos de comunicação: hoje, todos podem fazer e receber mensagens, resultando na tão
falada “democratização da informação”. A redefinição do território da linguagem visual na era digital
passou por um processo de adaptação da informação devido à inserção de novas ferramentas e à
oferta de novos suportes.
Em todo período de mudança tecnológica, o processo do design gráfico passou por
avaliações e reavaliações que acabam por alterar alguns parâmetros estabelecidos anteriormente ao
mesmo tempo que reforçam outros. Contudo, é importante ressaltar que impactos similares aos que
estamos vivendo agora também ocorreram em outros momentos da evolução dos meios de
comunicação.
Basta lembrar de quando surgiu a imprensa de Gutemberg, o telefone, o rádio, o cinema,
a televisão. Foram momentos marcantes e transformadores, porém, nenhuma dessas tecnologias
afetou um numero tão grande e interferiu de forma tão incisiva o cotidiano das pessoas como a

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Competência 04

revolução digital. O design gráfico também foi afetado de forma irreversível pelos hardwares e
softwares da informática digital e o crescimento massivo da Internet.
A Revolução Industrial havia fragmentado o processo de criar e imprimir, da comunicação
visual, em uma série passos que precisavam a partir daquele momento de pessoas especializadas
para cada etapa.
Na década de 1960 quando a fotografia passa a ser amplamente usada junto ao design
gráfico, era preciso especialistas que incluíam: os designers gráficos, os tipógrafos para compor o
texto, os montadores de negativos das fotografias que juntavam as ilustrações, os operadores das
máquinas de impressão.
Com a tecnologia digital, apenas uma pessoa com um computador poderia agora
controlar a maior parte dessas funções. No seu início houve uma grande resistência, mas rapidamente
a nova tecnologia melhorou rapidamente, que favoreceu sua grande aceitação, conseguindo-se um
maior controle tanto do processo de design como de produção.
A tecnologia digital e os softwares avançados permitiram ampliar o potencial criativo do
design gráfico, ao tornar possível a manipulação sem precedentes da cor, da forma, do espaço e das
imagens.
Os estúdios de design, as agências de publicidade introduziram o computador no seu
trabalho a partir da década de 1980, quando três empresas apresentaram ao mercado hardwares e
softwares capazes de realizar as necessidades dos criativos. A Apple Computer desenvolveu o
computador Macintosh, a Adobe Systems inventou a linguagem de programação PostScript, que é a
base dos softwares de diagramação e da tipografia geradas digitalmente, e a Aldus criou o
PageMaker, um dos primeiros programas que usava PostScript para desenhar páginas na tela do
computador.
Na imagem seguinte é possível observar os Ícones para o microcomputador Macintosh de
1984. O ícone é o meio simbólico que permite uma nova interface entre homem e máquina e a letra
“b” com curvas Bézier de contorno e o seu resultado preenchido impresso a laser.

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Competência 04

Figura 67: Ícones para o computador Macintosh 128k, 1984 e letra “b”
Fonte: MEGGS; PURVS (2009, p.627, 628), 2021.
Descrição: Figuras com duas imagens. A primeira são pequenos desenhos de relógio, pastas, impressora, mala, papéis. A
segunda imagem mostra a letra “b” apenas com contorno e ao lado a letra “b” com a cor preta.

Ao proporcionar aos designers novos processos e capacidades, a nova tecnologia permitiu


criar imagens e formas sem precedentes. Muitos designers recusavam e menosprezavam a tecnologia
digital, que dava seus primeiros passos, e chamavam de “novos primitivos” aos designers que se
atreviam a prová-la nos seus projetos.
Entre os primeiros a adotar as novas tecnologias e explorar o seu potencial criativo
destaca-se a designer April Greiman, de Los Angeles e Rudy VanderLans diretor da revista Emigre.
Greiman explorou as propriedades visuais das tipografias de mapas de bits, a
superposição de camadas de informação e a transparência entre elas.

Figura 68: Cartaz de Greiman, 1986.


Fonte: MEGGS; PURVS (2009, p.629), 2021.
Descrição: Cartaz em formato vertical com diversas camadas de textos impressas nas cores azul-lavanda, cinza azulado,
laranja avermelhado e cobre.

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Competência 04

Em 1984, Rudy VanderLans era o diretor e designer da revista Emigre. O nome da


publicação foi escolhido por seus fundadores que acreditavam que o diálogo entre várias culturas
produziria frutos importantes no trabalho criativo.
VanderLans utilizou tipografias de máquina de escrever e imagens de xerox no primeiro
número da Emigre, observe na imagem a seguir, que foram levadas e trabalhadas no computador. O
enfoque experimental da revista contribuiu para definir e demonstrar as novas possibilidades
surgidas com as novas tecnologias, tanto no design editorial, quanto para mostrar a obra de diversos
designers cujo trabalho era muito experimental para ser aceito em outras publicações.

Figura 69: Capa do primeiro número da revista Emigre de Rudy VanderLans, 1989.
Fonte: MEGGS; PURVS (2009, p.631), 2021.
Descrição: Capa de revista com o logotipo na parte superior direita, abaixo textos com letras espaçadas e no fundo
sombra projeta por essas letras, criando três níveis de informação visual e sensação de tridimensionalidade.

Movidos por essa nova onda, muitos cursos de formação redefiniram o design gráfico
mediante o discurso teórico e a experimentação com a tecnologia informática.
O trabalho realizado por David Carson também merece destaque. Carson descartou
princípios estabelecidos pelo design Moderno, sobretudo a partir da Bauhaus, como o grid, a
hierarquia de informações, as diagramações consistentes e os padrões tipográficos; em vez disso,
optou por explorar as possibilidades expressivas de cada objeto e de cada página dupla, rejeitando
noções convencionais de sintaxe e imagens tipográficas.
Para ele, um bom design é aquele que provoca uma reação no receptor, então seu
trabalho é baseado mais na intuição do que no pensamento. A tipografia dos textos de Carson

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Competência 04

geralmente desafiavam os critérios fundamentais da legibilidade. Ele criou páginas com pouca
legibilidade, mas com composição gráfica requintada e uma estética ruidosa, tornando-se uma figura
ligada ao movimento grunge.
Na imagem a seguir é possível observar como desobedeceu várias das convenções
preestabelecidas do design.

Figura 70: Design editorial de David Carson, 1991.


Fonte: MEGGS; PURVS (2009, p.634), 2021.
Descrição: Duas páginas de uma revista com textos desorganizados e com tamanhos diferentes, fotografia de uma
piscina em tom azul.

Percebeu no exemplo que há uma certa despreocupação com a legibilidade? A letra, em


alguns momentos passa a ser tratada também como elemento estético, para além da sua função
textual.

A Imagem Digital
Com a revolução digital a fotografia perdeu sua condição de documento indiscutível de
uma realidade visual, já que agora, os programas gráficos de criação de imagem permitiam a sua
manipulação. Os limites entre fotografia, ilustração e belas artes começaram a não fazer mais sentido.
Para um anúncio de uma conferência sobre assistência sanitária, a designer April Greiman construiu
um cartaz combinando imagens digitalizadas de uma bandeira, uma águia, uma radiografia e o
desenho do símbolo de medicina com formas e gradações de cor e um videoclipe de mãos filmadas
ao vivo no programa Paintbox, observe na imagem a seguir.

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Competência 04

Figura 71: Cartaz com o tema “Definindo o futuro da assistência em saúde), de April Greiman, 1987.
Fonte: MEGGS; PURVS (2009, p.644), 2021.
Descrição: Colagem digital com fragmentos de várias imagens, fotografias e textos. Na parte inferior duas mãos fazendo
o gesto de segurar um bastão com uma serpente em volta, o símbolo da medicina.

As montagens eletrônicas foram ganhando espaço não só no campo experimental, mas


também comercial e foram os precursores da revolução atual na criação de imagens, quando milhares
de designers, ilustradores, fotógrafos usam o computador pessoal com programas de desenho,
pintura, manipulação de imagens e vídeos, o que permitiu o desenvolvimento de novas possibilidades
no campo do design gráfico que agora ganhava não só as telas de computadores como de dispositivos
móveis como o celular e o tablet. O design gráfico passa agora também para o campo digital em novos
processos de interatividade.

4.6 A Multimídia e a Interatividade

A ideia do hipertexto que surgiu com a Internet foi ampliado pelo conceito de hipermídia,
que combinava aos textos, comunicações de áudio e vídeo conectadas para formar um conjunto
coerente de informações. Diferente dos livros e filmes, que apresentam a informação em sequência
de leitura ou visualização linear, o multimídia permite uma estrutura não linear.
Assim, a Internet proporcionou um meio para organizar facilmente e aceder a uma grande
quantidade e sempre crescente de conteúdo, que inclui textos, imagens, sons, animações, vídeos.
Além disso, representou um avanço sem precedentes nas comunicações humanas. Seu crescimento

92
Competência 04

explosivo no início do século XXI abriu novos horizontes para o design gráfico que usavam o
computador e o acesso a Internet para criar páginas webs.
Esse novo modelo de produção de conteúdos causou a descentralização das
comunicações, algo até então nunca visto. Os primeiros anos dessa produção apresentava grandes
limitações que foram sendo superadas a medida em que a tecnologia avançava.
A página web do Discovery Channel, a finais da década de 1990, tornou-se um paradigma
do desenho de web. A página principal e as secundárias usavam grids para criar espaços para os
títulos, subtítulos e um menu apresentando diversas possibilidades de navegação pela web, perceba
esses novos padrões na imagem a seguir.

Figura 72: Desenho de páginas da web Discovey Channel.


Fonte: MEGGS; PURVS (2009, p.646), 2021.
Descrição: A figura apresenta a sequência de três imagens que correspondem a página principal e duas secundárias da
web Discovery Channel. Na primeira imagem, pagina principal se vê o logotipo ocupando grande parte do espaço e na
parte de baixo um menu. As duas outras imagens são páginas secundárias com o logo menor no canto superior
esquerdo e um menu menor na parte inferior.

Graças ao multimídia interativo, as pequenas empresas e os indivíduos conseguem hoje


uma comunicação eficaz com o público, apresentando produtos e serviços ao mercado.

Mas recentemente, surgem as mídias sociais, aplicações e sites construídos para


permitirem a criação colaborativa de conteúdo, normalmente conectados em rede, e que favorecem
a interação entre pessoas, bem como o compartilhamento de conteúdo. As redes sociais são
formadas por aplicativos e sites que constroem a conexão entre os usuários, expandindo ainda mais
as possibilidades de atuação do design gráfico.
O Web Design desempenha um papel essencial no sucesso de qualquer estratégia de
Marketing Digital. Porém, como é um campo muito recente, há muita dúvida sobre como deve ser
usado na estratégia digital de uma empresa. Existem dois dos conceitos importantes relacionados
com os novos fazeres do design, que você precisa estar atento: IU (interface do usuário) e UX

93
Competência 04

(experiência do usuário). Não é surpreendente que empresas ao redor do mundo, do porte da Nike,
Coca-Cola, Google e Apple, se preocupem tanto com esse aspecto em seus produtos e serviços.
Embora tenham nomes semelhantes, são conceitos completamente diferentes. Enquanto
um se refere à experiência e sensação do usuário, o outro é direcionado para um lado mais racional
da navegação.

O design UX
O termo UX vem de Experiência do Usuário e está relacionado ao que uma pessoa sente
ao usar qualquer produto ou serviço digital. Isso inclui a experiência com o site e blog, o sistema
online ou o aplicativo, mesmo que o negócio não seja 100% digital.

O design UI
A expressão UI vem de Interface do Usuário. A ideia da IU é guiar o usuário através de um
aplicativo durante o tempo que ele o usa. No momento em que uma pessoa entra em um site, existem
algumas ações específicas que a empresa desejará que ela execute. Portanto, um bom trabalho de
design de IU permitirá que os usuários sejam orientados durante a navegação e os leve a realizar tais
ações naturalmente.

Que tal refletir e trocar ideias sobre algo super atual para a profissão de design
gráfico, o papel do design de UX e UI no marketing digital? Vamos lá?

Como ocorreu tantas vezes ao longo da história, os instrumentos mudam e fazem com
que a tecnologia avance, a essência do design gráfico, entretanto, continua a mesma, trazendo ordem
a informação, dando forma as ideias e expressões aos artefatos que documentam a experiência
humana.

Meggs e Purvs, apontam que:

A necessidade de comunicação visual clara e inventiva para relacionar as pessoas a


sua vida cultural, econômica e social nunca foi tão grande. Como formadores de

94
Competência 04

mensagens e imagens, os designers gráficos têm obrigação de contribuir ativamente


para que o público entenda as questões ambientais e sociais. (2009, p. 531)

Nesse sentido, os designers precisam se adaptar as novas tecnologias para que possam
expressar o espirito de tempo mediante a invenção de novas formas e novos modos de expressar
ideias.

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Conclusão
A necessidade de comunicação do ser humano sempre esteve presente ao longo da sua
história. A transmissão de conceitos visuais e verbais é um dos eixos do nosso progresso. Ao longo da
história o homem utilizou diferentes técnicas de escrita e pintura para transmitir ideias e, embora as
ferramentas tenham evoluído, a essência é sempre a mesma: estabelecer um vínculo com as pessoas
e o mundo que os cerca.
A gênese do desenho pode ser encontrada nas pinturas rupestres, a cerca de 20 mil a.C.,
onde encontram-se representados animais, outros seres humanos, elementos geométricos, acredita-
se que como forma de registrar acontecimentos ou mesmo com finalidades místicas, relacionadas a
sua sobrevivência.
Como o passar do tempo é possível observar a partir das grandes civilizações antigas um
grande desenvolvimento social, cultural e tecnológico. Os egípcios desenvolveram um avançado
sistema de escrita, os hieróglifos, também projetaram um suporte mais resistente à passagem do
tempo chamado papiro. A Idade Média, ainda considerada por muitos um período de pouca evolução
e mesmo de retrocesso; no design mostrou-se bastante interessante. A produção de manuscritos que
contava com grandes ornamentações trouxe uma nova forma de pensar o desenho de páginas,
principalmente nos textos religiosos. Havia um interesse especial da igreja em escrever Bíblias
visualmente atraentes para ajudar a espalhar a mensagem religiosa.
Embora os romanos a 400 anos a.C. usassem moldes de argila, os chineses no século XI
utilizassem peças de porcelana para fazer reproduções e em grande parte da Europa, durante o final
da Idade Média, a xilogravura era usada para imprimir pôsteres e panfletos, foi com a invenção de
Johann Gutenberg, a impressão tipográfica, em meados do século XV que realmente houve um
grande aumento na capacidade de reproduzir textos e imagens em papel em uma escala muito maior
do que os manuscritos permitiam.
Esse importante acontecimento marcou os primeiros passos de uma moderna indústria
gráfica, o que permitiu o lançamento de uma infinidade de produtos impressos em todo o mundo.
Novos materiais, novas tintas, fontes tipográficas de todos os tipos foram criadas, assim como uma
nova profissão, o tipógrafo ou compositor, um especialista técnico em desenhar as páginas e ajustar
os textos que seriam posteriormente impressos por impressores.

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Uma etapa decisiva na concepção do design gráfico como entendemos hoje foi a
Revolução Industrial. Com o surgimento da indústria mecanizada, a economia e os mercados se
desenvolveram; os camponeses se mudaram para as cidades para trabalhar nas fábricas. O comércio
em maior escala foi se desenvolvendo e junto com ele a concorrência.
Era preciso encontrar a maneira de apresentar e vender os novos produtos
manufaturados. A publicidade começa a ser desenvolver buscando maneira de informar, chamar a
atenção e persuadir os consumidores sobre as novas mercadorias.
Isso gerou a necessidade de um profissional com o conhecimento necessário para lidar
corretamente com vários elementos visuais: formas, textos, fontes, ilustrações, fotografias, para que
fossem corretamente organizados e assim comunicar maciçamente ideias específicas a potenciais
consumidores, é nesse cenário que aparecem os profissionais que mais adiante se estabeleceriam
como designers gráficos. A escola Bauhaus foi decisiva para o surgimento e estabelecimento desse
novo campo profissional.
Muitas mudanças ocorreram ao longo da história e o que foi possível observar é que
mesmo possuindo propósitos diferentes a arte e o design gráfico sempre estiveram conectados.
No final do século XX teve início a era digital, os computadores, a princípio muito caros,
tornaram-se produtos massificados. O surgimento de programas especiais permitiu que o design
gráfico fosse feito de forma digital, ampliando ainda mais os limites visuais e redefinindo toda a
profissão.
Com os computadores, os tempos de produção aceleram, mas também, à medida que as
mídias e os formatos se multiplicam, a demanda por design gráfico cresceu. A Internet trouxe o último
dos grandes avanços tecnológico, permitindo a interação de animações, conteúdos multimídia com
textos e aplicações online, abrindo novos caminhos e desafios para os designers gráficos, em um
universo digital que proporcionava entre outros, a possibilidade de interatividade.
Hoje o papel do design gráfico continua sendo o ato de conceber e projetar linguagens
visuais para transmitir mensagens específicas, trabalhando com a organização da informação, as
quais terão uma formatação que deverá estar ligada ao seu conteúdo e esse será compreendido e
absorvido por um determinado grupo, uma determinada sociedade.
Para finalizar gostaria de dividir com você algo que acredito e tenho sempre em mente.

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Você viu que estamos em plena revolução, novas tecnologias surgindo a todo momento,
um mundo por descobrir. Sabe o que acho maravilhoso de tudo isso? Estamos vivendo nesse
momento, somos contemporâneos a ele, e isso significa que temos a oportunidade de fazer a
diferença, e o nosso desafio é fazer a diferença em design gráfico, e então, vamos juntos?!!!

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Referências

BRINGHURST, R. Elementos do estilo tipográfico. São Paulo: Cosac Naify, 2005.

CARDOSO, R. Uma Introdução à História do Design. 2ª ed. São Paulo: Edgard. Blücher, 2004.

CHAUÍ, M. Convite à filosofia. São Paulo: Ática, 2003.

GOMBRICH, E.H. A História da Arte. Tradução Álvaro Cabral. 15ª Ed. Rio de Janeiro: Guanabara
Koogan, 1993.

HOLLIS, R. Design Gráfico: Uma História Concisa. Tradução Carlo Daudt. São Paulo. Editora Martins
Fontes, 2000.

LUPTON, E; PHILLIPS, J. C. Novos Fundamentos do Design. Tradução Cristian Borges. São Paulo: Cosac
Naify, 2008.

MEGGS, P. B.; PURVIS, A. W. História do design gráfico. São Paulo: Cosac Naify, 2009.

MONTENEGRO, L. Design. In: Conceitos-chave em design. Luiz Antonio L. Coelho (Org.). p. 187-188.
Editora PUC-Rio e Editora Novas Ideias. 2008. 280p.

NICOLAU, R. R. A (Orgs.). Zoom: design, teoria e prática. João Pessoa: Ideia, 2013.

PAREYSON. L. Os problemas da estética, São Paulo: Martins Fontes, 1984.

PROENÇA, G. História da arte. 17. ed. São Paulo: Ática, 2009.

VILLAS-BOAS, A. O Que É [E O Que Nunca Foi] Design Gráfico. 4ª Ed. Rio de Janeiro: 2AB, 2001.

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Minicurrículo do Professor

Lia Madureira Ferreira


Doutorada em Design da Informação, no programa de Pós-graduação de Design da UFPE.
Formada em Comunicação Visual e Desenho Industrial, pela Universidade Federal de Pernambuco,
com mestrado em Comunicação e Publicidade, pela Universidade Autônoma de Barcelona. Autora do
Projeto Narrativas (In) Visíveis e autora do livro digital Narrativas (In) Visíveis – Cultura Visual Urbana.
Atua no mercado há 24 anos desenvolvendo funções e atividades próprias da profissão voltadas para
o mercado e para a docência no ensino superior e técnico. Além do curso de Design de Gráfico, leciona
em disciplinas dos cursos de Design de Interior, Publicidade, Produção Fonográfica, Cinema e
Jornalismo. Pesquisa sobre os temas: cultura visual urbana e semiótica, identidade visual e branding.

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