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Psicopatologia:

Adultez e
Velhice
Prof.ª Maria Clara Alves de Barcellos Fernandes
Prof.ª Talita Fernanda da Silva

Indaial – 2022
1a Edição
Elaboração:
Prof.ª Maria Clara Alves de Barcellos Fernandes
Prof.ª Talita Fernanda da Silva

Copyright © UNIASSELVI 2022

Revisão, Diagramação e Produção:


Equipe Desenvolvimento de Conteúdos EdTech
Centro Universitário Leonardo da Vinci – UNIASSELVI

Ficha catalográfica elaborada pela equipe Conteúdos EdTech UNIASSELVI

F363p

Fernandes, Maria Clara Alves de Barcellos

Psicopatologia: adultez e velhice / Maria Clara Alves de Barcellos


Fernandes; Talita Fernanda da Silva. – Indaial: UNIASSELVI, 2022.

155 p.; il.

ISBN 978-65-5646-533-3

1. Psicopatologias. – Brasil. I. Silva, Talita Fernanda da. II. Centro


Universitário Leonardo da Vinci.
CDD 150

Impresso por:
APRESENTAÇÃO
Olá, acadêmico! Bem-vindo ao Livro Didático Psicopatologia: adultez e velhice!

Aqui, você terá o conhecimento a respeito das psicopatologias, de modo a


conhecer os transtornos mentais, em especial aqueles que estão relacionados ao
desenvolvimento humano, principalmente na fase da vida adulta e velhice, como o
transtorno de ansiedade, de depressão, de estresse, entre outras patologias.

Dessa maneira, na Unidade 1, você compreenderá a respeito da psicopatologia,


de modo a, primeiramente, compreender o desenvolvimento humano, em especial, o
ciclo vida no período da vida adulta e velhice. Assim, posteriormente, você entenderá
conceitos mais básicos e fundamentais a respeito da psicopatologia, e, por fim,
apreenderá a relação do desenvolvimento humano com psicopatologias, especialmente
na vida adulta e na velhice, além de conhecer os transtornos psicopatológicos desses
dois mesmos períodos da vida humana.

Em seguida, na Unidade 2, você estudará os transtornos psicopatológicos na


vida adulta e velhice, obtendo um conhecimento aprofundado, também conhecerá o
manual CID-11 e DSM-V (definição, organização e estrutura das psicopatologias).

Por fim, na Unidade 3, você aprenderá a respeito de outros transtornos


psicopatológicos dos dois já mencionados períodos da vida humana, não contemplados
na Unidade 2. Você terá, também, oportunidade de conhecer a respeito da perda da
memória no final da vida adulta e na velhice, bem como os possíveis transtornos de
memória. Ademais, você também estudará outras patologias, como a depressão, estresse
e outros. Também entenderá a respeito de diagnóstico, intervenção, tratamento, equipe
multidisciplinar, bem como integrar a família e o papel da dinâmica familiar (doente/
família) no contexto terapêutico.

Diante de todo o exposto, este material contribuirá para o seu conhecimento


a respeito das psicopatologias da vida adulta e velhice, oportunizando não apenas o
conhecimento de sintomas e características, mas também compreendendo a relação
das psicopatologias com o desenvolvimento humano, e outros aspectos que são
complexos do ser humano, pois é com essa trajetória que você acadêmico construirá
uma formação de qualidade, para sua prática profissional.

Bons estudos!

Prof.ª Maria Clara Alves de Barcellos Fernandes


Prof.ª Talita Fernanda da Silva
GIO
Olá, eu sou a Gio!

No livro didático, você encontrará blocos com informações


adicionais – muitas vezes essenciais para o seu entendimento
acadêmico como um todo. Eu ajudarei você a entender
melhor o que são essas informações adicionais e por que você
poderá se beneficiar ao fazer a leitura dessas informações
durante o estudo do livro. Ela trará informações adicionais
e outras fontes de conhecimento que complementam o
assunto estudado em questão.

Na Educação a Distância, o livro impresso, entregue a todos


os acadêmicos desde 2005, é o material-base da disciplina.
A partir de 2021, além de nossos livros estarem com um
novo visual – com um formato mais prático, que cabe na
bolsa e facilita a leitura –, prepare-se para uma jornada
também digital, em que você pode acompanhar os recursos
adicionais disponibilizados através dos QR Codes ao longo
deste livro. O conteúdo continua na íntegra, mas a estrutura
interna foi aperfeiçoada com uma nova diagramação no
texto, aproveitando ao máximo o espaço da página – o que
também contribui para diminuir a extração de árvores para
produção de folhas de papel, por exemplo.

Preocupados com o impacto de ações sobre o meio ambiente,


apresentamos também este livro no formato digital. Portanto,
acadêmico, agora você tem a possibilidade de estudar com
versatilidade nas telas do celular, tablet ou computador.

Preparamos também um novo layout. Diante disso, você


verá frequentemente o novo visual adquirido. Todos esses
ajustes foram pensados a partir de relatos que recebemos
nas pesquisas institucionais sobre os materiais impressos,
para que você, nossa maior prioridade, possa continuar os
seus estudos com um material atualizado e de qualidade.

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Olá, acadêmico! Para melhorar a qualidade dos materiais ofertados a você – e
dinamizar, ainda mais, os seus estudos –, nós disponibilizamos uma diversidade de QR Codes
completamente gratuitos e que nunca expiram. O QR Code é um código que permite que você
acesse um conteúdo interativo relacionado ao tema que você está estudando. Para utilizar
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aproveitar essa facilidade para aprimorar os seus estudos.
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Olá, acadêmico! Iniciamos agora mais uma
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mento, construímos, além do livro que está em
suas mãos, uma rica trilha de aprendizagem,
por meio dela você terá contato com o vídeo
da disciplina, o objeto de aprendizagem, materiais complementa-
res, entre outros, todos pensados e construídos na intenção de
auxiliar seu crescimento.

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Conte conosco, estaremos juntos nesta caminhada!


SUMÁRIO
UNIDADE 1 - COMPREENDENDO PSICOPATOLOGIAS
E O DESENVOLVIMENTO HUMANO..........................................................................1

TÓPICO 1 - PSICOPATOLOGIA................................................................................. 3
1 INTRODUÇÃO......................................................................................................... 3
2 COMPREENDENDO PSICOPATOLOGIA ...............................................................4
2.1 PSICOPATOLOGIA: NORMALIDADE X ANORMALIDADE................................................5
3 COMPREENDENDO A RELAÇÃO DE PSICOPATOLOGIA COM
DESENVOLVIMENTO HUMANO................................................................................ 7
3.1 DESENVOLVIMENTO HUMANO: DA INFÂNCIA À VELHICE.........................................10
3.1.1 Relacionando desenvolvimento humano e a psicopatologia..........................14
RESUMO DO TÓPICO 1........................................................................................... 16
AUTOATIVIDADE.....................................................................................................17

TÓPICO 2 - PSICOPATOLOGIA: VIDA ADULTA...................................................... 19


1 INTRODUÇÃO....................................................................................................... 19
2 O DESENVOLVIMENTO HUMANO NA VIDA ADULTA E AS PATOLOGIAS .......... 19
2.1 TEORIAS DO DESENVOLVIMENTO E ERIK HOMBURGER ERIKSON ........................ 20
2.1.1 Desenvolvimento humano: vida adulta e psicopatologias.............................. 22
3 PSICOPATOLOGIAS DA VIDA ADULTA...............................................................24
3.1 ANSIEDADE.......................................................................................................................... 25
3.2 DEPRESSÃO.........................................................................................................................27
3.3 ESTRESSE............................................................................................................................ 29
RESUMO DO TÓPICO 2........................................................................................... 31
AUTOATIVIDADE....................................................................................................32

TÓPICO 3 - PSICOPATOLOGIA: VELHICE.............................................................35


1 INTRODUÇÃO.......................................................................................................35
2 O DESENVOLVIMENTO HUMANO NA VELHICE E AS PATOLOGIAS..................35
2.1 DESENVOLVIMENTO HUMANO NA VELHICE................................................................ 37
2.1.1 Envelhecimento saudável........................................................................................ 39
3 PSICOPATOLOGIAS DA VELHICE.......................................................................42
3.1 DEMÊNCIA ........................................................................................................................... 42
LEITURA COMPLEMENTAR...................................................................................43
RESUMO DO TÓPICO 3.......................................................................................... 48
AUTOATIVIDADE....................................................................................................49

REFERÊNCIAS........................................................................................................ 51

UNIDADE 2 — TRANSTORNOS PSICOPATOLÓGICOS...........................................53

TÓPICO 1 — TRANSTORNOS PSICOPATOLÓGICOS: CID 11 E DSM-V..................55


1 INTRODUÇÃO.......................................................................................................55
2 CID 11: COMPREENDENDO O MANUAL E AS PSICOPATOLOGIAS
DA VIDA ADULTA E VELHICE................................................................................. 57
3 DSM-V: COMPREENDENDO O MANUAL E AS PSICOPATOLOGIAS
DA VIDA ADULTA E VELHICE.................................................................................60
4 DIFERENCIAÇÃO DOS MANUAIS: REFLEXÃO................................................... 61
RESUMO DO TÓPICO 1...........................................................................................63
AUTOATIVIDADE....................................................................................................64

TÓPICO 2 - ALZHEIMER......................................................................................... 67
1 INTRODUÇÃO....................................................................................................... 67
2 ALZHEIMER: COMPREENDENDO A PATOLOGIA, DEFINIÇÃO E CAUSAS............ 67
2.1 DEFININDO E COMPREENDENDO A DOENÇA DE ALZHEIMER................................68
2.2 CAUSAS DA DOENÇA DE ALZHEIMER.......................................................................... 70
2.3 EVOLUÇÃO DO ALZHEIMER............................................................................................. 71
3 ALZHEIMER: CARACTERÍSTICAS E SINTOMAS................................................ 74
4 ALZHEIMER: AVALIAÇÃO E TRATAMENTO........................................................ 76
4.1 AVALIAÇÃO DO ALZHEIMER..............................................................................................76
4.2 TRATAMENTO DA DOENÇA DE ALZHEIMER.................................................................77
RESUMO DO TÓPICO 2........................................................................................... 79
AUTOATIVIDADE....................................................................................................80

TÓPICO 3 - PARKINSON.........................................................................................83
1 INTRODUÇÃO.......................................................................................................83
2 PARKINSON: COMPREENDENDO A PATOLOGIA, DEFINIÇÃO E CAUSAS........... 84
2.1 DEFININDO E COMPREENDENDO A DOENÇA DE PARKINSON ...............................84
2.2 DOENÇA DE PARKINSON: CAUSAS E EVOLUÇÃO......................................................86
3 PARKINSON: CARACTERÍSTICAS E SINTOMAS................................................87
4 PARKINSON: AVALIAÇÃO E TRATAMENTO.......................................................89
RESUMO DO TÓPICO 3...........................................................................................92
AUTOATIVIDADE....................................................................................................93

TÓPICO 4 - OUTROS TRANSTORNOS PSICOPATOLÓGICOS


DA VIDA ADULTA E VELHICE.................................................................................95
1 INTRODUÇÃO.......................................................................................................95
2 DEPRESSÃO NA VIDA ADULTA E VELHICE................................................................... 95
2.1 DEPRESSÃO: TRATAMENTO.............................................................................................98
3 ALTERAÇÕES PSICOLÓGICAS NA VIDA ADULTA E VELHICE ..........................99
LEITURA COMPLEMENTAR................................................................................. 101
RESUMO DO TÓPICO 4.........................................................................................106
AUTOATIVIDADE.................................................................................................. 107

REFERÊNCIAS......................................................................................................109

UNIDADE 3 — ACOMPANHAMENTO TERAPÊUTICO: AVALIAÇÃO,


ANAMNESE, ENTREVISTA CLÍNICA, MODELOS DE INTERVENÇÃO
E TÉCNICAS DE TRATAMENTO............................................................................ 113

TÓPICO 1 — AVALIAÇÃO PSICOLÓGICA E INTERVENÇÃO..................................115


1 INTRODUÇÃO......................................................................................................115
2 AVALIAÇÃO PSICOLÓGICA E O DIAGNÓSTICO ................................................115
3 AVALIAÇÃO PSICOLÓGICA PARA USO EM ADULTOS E IDOSOS ................... 118
3.1 A ESPECIFICIDADE DO TRABALHO DE AVALIAÇÃO PSICOLÓGICA
COM ADULTOS E IDOSOS................................................................................................ 120
4 ÉTICA EM AVALIAÇÃO PSICOLÓGICA............................................................. 121
5 INTERVENÇÃO PSICOLÓGICA COM ADULTOS E IDOSOS .............................. 122
5.1 O PROCESSO DE INTERVENÇÃO PSICOLÓGICA COM ADULTOS E IDOSOS...........123
RESUMO DO TÓPICO 1......................................................................................... 125
AUTOATIVIDADE.................................................................................................. 126

TÓPICO 2 - AVALIAÇÃO PSICOLÓGICA: INSTRUMENTOS E TÉCNICAS........... 129


1 INTRODUÇÃO..................................................................................................... 129
2 OBSERVAÇÃO, ANAMNESE E ENTREVISTAS COM ADULTOS E IDOSOS........... 129
3 INSTRUMENTOS PSICOLÓGICOS E AVALIAÇÃO PSICOSSOCIAL
PARA ADULTOS E IDOSOS................................................................................... 133
3.1 AVALIAÇÃO PSICOSSOCIAL........................................................................................... 134
4 O PAPEL DA FAMÍLIA NO DIAGNÓSTICO E INTERVENÇÃO
COM ADULTOS E IDOSOS .................................................................................... 135
4.1 INSTRUMENTOS PSICOLÓGICOS E A DINÂMICA FAMILIAR ................................... 135
RESUMO DO TÓPICO 2.........................................................................................138
AUTOATIVIDADE.................................................................................................. 139

TÓPICO 3 - AVALIAÇÃO PSICOLÓGICA E A NECESSIDADE


DE OUTROS TIPOS DE AVALIAÇÃO..................................................................... 141
1 INTRODUÇÃO..................................................................................................... 141
2 TRABALHO EM EQUIPE MULTIPROFISSIONAL............................................... 141
3 AVALIAÇÃO NEUROLÓGICA E AVALIAÇÃO PSIQUIÁTRICA ...........................143
4 ÉTICA DO PSICÓLOGO E O TRABALHO EM EQUIPE
MULTIPROFISSIONAL .........................................................................................146
4.1 A ESPECIFICIDADE DO TRABALHO DO ACOMPANHANTE TERAPÊUTICO............ 146
LEITURA COMPLEMENTAR.................................................................................148
RESUMO DO TÓPICO 3..........................................................................................151
AUTOATIVIDADE.................................................................................................. 152

REFERÊNCIAS......................................................................................................154
UNIDADE 1 -

COMPREENDENDO
PSICOPATOLOGIAS E
O DESENVOLVIMENTO
HUMANO
OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM
A partir do estudo desta unidade, você deverá ser capaz de:

• compreender o desenvolvimento humano, especialmente o ciclo vida no período da


vida adulta e velhice;

• compreender conceitos mais básicos e fundamentais de psicopatologia;

• compreender a relação do desenvolvimento humano com psicopatologia, em


especial vida adulta e velhice;

• demonstrar os transtornos psicopatológicos dos dois períodos da vida já


mencionados.

PLANO DE ESTUDOS
Esta unidade está dividida em três tópicos. No decorrer dela, você encontrará
autoatividades com o objetivo de reforçar o conteúdo apresentado.

TÓPICO 1 – PSICOPATOLOGIA
TÓPICO 2 – PSICOPATOLOGIA: VIDA ADULTA
TÓPICO 3 – PSICOPATOLOGIA: VELHICE

CHAMADA
Preparado para ampliar seus conhecimentos? Respire e vamos em frente! Procure
um ambiente que facilite a concentração, assim absorverá melhor as informações.

1
CONFIRA
A TRILHA DA
UNIDADE 1!

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2
UNIDADE 1 TÓPICO 1 -
PSICOPATOLOGIA

1 INTRODUÇÃO

Quando um acadêmico de Psicologia inicia o curso, deseja entender como ocor-


rem as “doenças e transtornos mentais”, cientificamente chamados de psicopatologias.
Mas, para executar uma boa prática profissional, não basta o futuro psicólogo reconhe-
cer cada psicopatologia e seus sintomas, é necessário compreender a relação dela com
o desenvolvimento humano. Muitas são as diferenças entre os indivíduos, homens e
mulheres na fase adulta e velhice, não apenas físicas, mas psíquicas.

O ser humano tem a sua complexidade, pois os aspectos cognitivos,


físicos e sociais estão relacionados. Então, é necessário entender a respeito dos
comportamentos humanos e suas capacidades (motora, cognitiva, emocional e social)
e, consequentemente, compreender como poderá se desenvolver nesse cenário uma
psicopatologia. –

FIGURA 1 – DESENVOLVIMENTO HUMANO

FONTE: <https://bit.ly/3xq8xnt>. Acesso em: 25 mar. 2022.

Vale destacar que não importa o contexto em que o psicólogo exercerá sua
profissão. Seja no contexto educacional, clínico (representado na Figura 2), hospitalar,
organizacional, entre outros, o profissional sempre exercerá ações e intervenções
diretamente com pessoas.

3
FIGURA 2 – PSICOLOGIA CLÍNICA

FONTE: <https://bit.ly/3xaCBmS>. Acesso em: 25 mar. 2022.

Neste material, você, acadêmico, compreenderá as psicopatologias relacionadas


à vida adulta e à velhice, iniciando as análises pelo desenvolvimento humano.

ESTUDOS FUTUROS
Você estudará o desenvolvimento humano neste tópico e compreenderá
melhor a relação deste com as psicopatologias, principalmente focando na
vida adulta e velhice.

2 COMPREENDENDO PSICOPATOLOGIA
Antes de iniciarmos a discussão e reflexão a respeito de Psicopatologia e
Patologia faz-se aqui uma advertência: para estudantes de Psicologia, é comum durante
o estudo da psicopatologia e/ou patologias verem em si mesmas os sintomas ou sinais
de transtornos mentais (ATKINSON et al., 2007).

Isto ocorre, pois, a maioria das pessoas, em algum momento, já apresentou


algum sintoma ou sinal de alguma psicopatologia, no entanto, isso não é um motivo
de preocupação ou alerta. Contudo, se você acadêmico apresentar algum sintoma que
persiste por um grande período, busque alguém que você possa conversar a respeito,
como por exemplo um profissional de sua Faculdade ou do serviço escola de psicologia
que possa contribuir com você (ATKINSON et al., 2007). Portanto, a seguir, você
compreenderá a respeito da anormalidade e normalidade, de modo a entender aspectos
que contribuem para a avaliação do que pode ser classificado como patológico.

4
2.1 PSICOPATOLOGIA: NORMALIDADE X ANORMALIDADE
A psicopatologia, na essência da palavra, segundo Ceccarelli (2005, p. 471,
grifos nossos):

[...] é composta de três palavras gregas: ‘psychê’, que produziu ‘psique’,


‘psiquismo’, ‘psíquico’, ‘alma’; ‘pathos’, que resultou em ‘paixão’,
‘excesso’, ‘passagem’, ‘passividade’, ‘sofrimento’, ‘assujeitamento’,
‘patológico’ e ‘logos’, que resultou em ‘lógica’, ‘discurso’, ‘narrativa’,
‘conhecimento’.
[...] [Assim,] psicopatologia seria, então, um discurso, um saber,
(logos) sobre a paixão, (pathos) da mente, da alma (psique). Ou
seja, um discurso representativo a respeito do pathos psíquico; um
discurso sobre o sofrimento psíquico; sobre o padecer psíquico.

Ainda conforme Ceccarelli (2005, p. 471, grifos nossos):

[...] a psychê é alada; mas a direção que ela toma lhe é dada pelo
pathos, pelas paixões. Médico é aquele – diz Platão no Banquete
– que está sempre atento ao pathos, às paixões, pois as doenças
apresentam-se como um excesso de paixões. Como tal, cuida de
Eros doente. Doente pelo excesso (pelo excesso pulsional).

Mas, para compreender para além do significado e sentido, o primeiro aspecto


a ser pensado muitas vezes está relacionado com uma pergunta central nessa
discussão e reflexão a respeito das psicopatologias, sendo: “o que é um comportamento
patológico?” Esta é uma pergunta feita por muitos estudantes de Psicologia, muito
discutida por profissionais já formados e que, muitas vezes, precisam discutir os casos
de seus pacientes. Vale aqui compreender o que é “anormal” e “normal”, e existe uma
explicação para isso?

Nesse sentido, “anormal” significa “fora da norma”, e muitas características


relacionadas ao ser humano abrangem uma faixa de valores quando medidas em
um grupo da população ou população inteira, por exemplo: altura, peso, inteligência
(ATKINSON et al., 2007).

Dessa mesma maneira, existe uma definição de anormalidade, sendo assim


baseado numa frequência estatística, então o comportamento “anormal” é aquele que
estatisticamente se desvia da norma. Mas, se for verificado e avaliado aquilo que sai da
norma, nem sempre representa uma anormalidade, por exemplo: ao avaliar uma pessoa
que é feliz, e ela for muito feliz, isto também será um indicativo de fora da norma, sendo
assim anormalidade, mas não quer dizer uma patologia (ATKINSON et al., 2007).

Assim, este é um exemplo do quanto é necessário ficar atento com aquilo que
aparentemente é fora da norma estatisticamente, e compreender outros componentes
e características que podem ajudar a compreender a respeito da anormalidade e
normalidade. Para essa discussão e reflexão, vale mencionar aqui outros aspectos,
como: desvios das normas sociais, inadaptação de comportamento e sofrimento
pessoal (ATKINSON et al., 2007).

5
A respeito do primeiro, toda sociedade possui padrões ou normas aceitáveis
de comportamentos, assim aquele que se desviam do esperado, dentro das normas é
considerado patológico, e então “anormal”. Porém, nesse aspecto, também entram os
aspectos culturais e estilo de vida, pois o que pode ser aceitável em uma sociedade,
pode não ser aceitável em outra sociedade (ATKINSON et al., 2007).

Para a compreensão desse aspecto, segue o exemplo, em uma cultura o


falecimento de uma pessoa pode ser motivo de festa, com a utilização de comes e
bebes durante o velar do corpo do falecido, mas em outra cultura isso pode ser um
desrespeito, uma que em outra cultura o falecimento seja realizado apena com o velar
do corpo, silêncio e resguardo das atividades e festa (ATKINSON et al., 2007).

Em relação à inadaptação de comportamento, muitos estudiosos explicam


que, mais importante do que classificar uma patologia, é compreender como o
comportamento afeta o bem-estar do indivíduo ou do grupo social que ele convive
(ATKINSON et al., 2007).

Com isso, o critério para ser patológico é a inadaptação, ou seja, quando o


comportamento tem efeitos sobre o indivíduo ou sobre o grupo social, mas nenhum
acaba se adaptando, mas há um risco se for seguido apenas essa classificação
(ATKINSON et al., 2007). Por exemplo: um adolescente que é agressivo, bate à porta do
seu quarto e não consegue se expressar, tal comportamento pode não fazer bem a ele
e a sua família, porém esse é um comportamento que é comum em adolescente, e que
muitas vezes está relacionado a formação de identidade, construção da sua própria
opinião e argumentação frente a regras de convivência, sendo assim, a anormalidade
não pode ser baseada apenas nesse critério.

O terceiro e último aspecto mencionado é o sofrimento pessoal, que considera


a patologia como sentimentos subjetivos de angústia do indivíduo em vez de ser
comportamento, porém a maioria das pessoas que são diagnosticados com alguma
patologia relatam estar angustiados (ATKINSON et al., 2007).

Portanto, os critérios aqui mencionados, frequência estatística, desvio social,


comportamento de inadaptação, sofrimento pessoal, não definem (de maneira isolada)
ou descrevem o comportamento anormal. No entanto, a anormalidade pode ser
compreendida por meio da combinação desses quatro critérios. Assim, esses critérios
devem ser considerados para avaliação de um comportamento, e durante o diagnóstico
de uma psicopatologia, pois, frente a tantas pessoas, como demonstrado na Figura 3,
não é possível identificar com facilidade aquela que tem ou não uma psicopatologia,
assim é preciso utilizar diferentes recursos.

6
FIGURA 3 – “NORMAL” OU “PATOLÓGICO”?

FONTE: <https://bit.ly/3jaTkOq>. Acesso em: 25 mar. 2022.

Até aqui foi discutido sobre anormalidade, mas também é preciso entender
e estudar a respeito da normalidade. A normalidade está relacionada com bem-estar
emocional, e existem características que estão relacionadas, como: preocupação
adequada da realidade; capacidade de exercer controle voluntário sobre o
comportamento; autoestima e aceitação; capacidade de formar relacionamentos
afetivos; e produtividade (ATKINSON et al., 2007).

Mas, o indivíduo apresentar essas cinco características não significa apresentar


normalidade e nenhuma psicopatologia. Por isso existem instrumentos psicológicos
e técnicas psicológicas que o profissional pode utilizar em conjunto com algumas
características para avaliar e diagnosticar psicopatologias (ATKINSON et al., 2007).

3 COMPREENDENDO A RELAÇÃO DE PSICOPATOLOGIA


COM DESENVOLVIMENTO HUMANO
Na ciência Psicologia, a maioria dos autores e estudiosos da área de
desenvolvimento compreendem que o ciclo da vida inicia na infância, percorre pela
adolescência, perpassando pela juventude, vida adulta até chegar a velhice. Porém,
também é importante mencionar que dentre esses períodos, há a concepção do bebê e
o período da gestação, pois esses são períodos do desenvolvimento, pois ele não ocorre
apenas após o nascimento do bebê, ou seja, o desenvolvimento humano ocorre desde
o momento da concepção do indivíduo.

7
FIGURA 4 – GESTAÇÃO E O DESENVOLVIMENTO HUMANO

FONTE: <https://bit.ly/3udw20T>. Acesso em: 25 mar. 2022.

Na Figura 4, pode-se verificar uma gestante, e isto demonstra o primeiro período


do desenvolvimento humano, no qual ocorre a formação física, cognitiva e neurológica
do indivíduo. Com isso, o ciclo da vida é composto por períodos, ou, como para alguns
autores, fases da vida, que correspondem a uma faixa etária de idade e determinados
comportamentos.

FIGURA 5 – CICLO DA VIDA

FONTE: <https://bit.ly/3jgcwKV>. Acesso em: 25 mar. 2022.

8
Dessa maneira, conforme a Figura 5, durante o ciclo da vida, muitas são as
mudanças que vão ocorrendo com o ser humano, como por exemplo: mudanças na fala
(tom da voz, palavras formadas, frases formadas, construção de argumentação etc.),
correr, equilibrar, altura e estatura, peso, formato do corpo. Mas, também ocorrem as
mudanças no desenvolvimento cognitivo, como por exemplo: inteligência, pensamento,
aprendizagem, percepção, atenção, motivação, entre outros aspectos que estão
relacionados à cognição, que vão se modificando ao longo do desenvolvimento.

Nesse sentido, as vivências e os comportamentos estão relacionados com as


capacidades e habilidades dos indivíduos, como: físico, motor, sensorial, emocional,
psicológico, social, que vão sendo alcançadas e aprimoradas ao longo da vida, nos
diferentes períodos do ciclo da vida, na individualidade ou em grupo, com ou sem o
auxílio de outros indivíduos, que podem estar no trabalho, da família, da escola (BEE;
BOYD, 2009; TISSER; COIMBRA, 2019).

Dessa maneira, Jean Piaget, Henri Wallon, Lev Vygotsky, que são autores
clássicos do desenvolvimento humano, buscam compreender os comportamentos
esperados em cada período do ciclo da vida, sendo que desses autores alguns se
interessam por todos os períodos e alguns tem um maior interesse na infância.

FIGURA 6 – INFÂNCIA

FONTE: <https://bit.ly/3LGvfLC>. Acesso em: 25 mar. 2022.

Conforme representado na Figura 6, para o Psicólogo, na prática profissional,


no atendimento de crianças ou adultos, independente do contexto profissional (clínica,
organizacional, educacional, hospitalar etc.) é essencial que o profissional possa
entender o desenvolvimento humano.

9
O profissional precisa entender os comportamentos, as capacidades e as
habilidades relacionadas a cada um dos períodos da vida, porque os comportamentos
que são considerados frágeis no olhar do profissional para o paciente, podem dizer muito
a respeito do que o paciente esteja vivenciando, pois muitas vezes o comportamento
sinaliza um sintoma ou característica de uma determinada psicopatologia.

IMPORTANTE
Para compreender o desenvolvimento adulto e da velhice é necessário
entender as etapas anteriores a esse desenvolvimento, como o
desenvolvimento da infância, adolescência e juventude, pois o avanço das
habilidades e capacidades estão relacionados entre as fases da vida e que
podem estar relacionadas a psicopatologia.

Portanto, para compreender psicopatologia, primeiramente é preciso entender


de desenvolvimento humano, então a seguir você compreenderá a respeito do
desenvolvimento humano.

3.1 DESENVOLVIMENTO HUMANO: DA INFÂNCIA À VELHICE


O ciclo da vida inicia na concepção do bebê, na qual é formado o feto e ele vai se
desenvolvendo, passando o primeiro período de desenvolvimento durante a gestão da
mãe, acompanhado pelo olhar do médico, durante os exames de pré-natal, sendo esse
indicado pelos profissionais da saúde.

Posteriormente ao nascimento, o desenvolvimento continua, com o crescimento


da criança, também conhecido como desenvolvimento infantil, percorre de zero a dez
anos de idade, pois nessa década as crianças adquirem e/ou aprimoram determinados
comportamentos, capacidades, habilidades que estão associados ao campo motor,
cognitivo, emocional e social (BEE; BOYD, 2009).

10
FIGURA 7 – DESENVOLVIMENTO INFANTIL

FONTE: <https://bit.ly/3LD6sZ4>. Acesso em: 25 mar. 2022.

Na Figura 7, verifica-se as mudanças do desenvolvimento físico na infância,


segundo Bee e Boyd (2009) o desenvolvimento pode ser dividido em três grandes faixas
etárias, sendo: primeira infância, segunda infância, período de latência e período de
puberdade.

A primeira infância está relacionada a faixa etária do nascimento até os primei-


ros cinco anos de idade. Como demonstra a Figura 8, na primeira infância é o período
que a criança precisa dos cuidados dos pais.

FIGURA 8 – PRIMEIRA INFÂNCIA

FONTE: <https://hamilelik.com.tr/wp-content/uploads/2020/05/emzirmek.jpg>. Acesso em: 25 mar. 2022.

Nesse período, a criança está se relacionando com o mundo externo, construindo


seus primeiros vínculos e laços afetivos, isto com os pais, irmãos, e as pessoas mais
próximos, como os membros familiares (tios, tias, avôs, avós). A criança vai desenvolver
as habilidades básicas, como: andar, falar e expressar seus sentimentos, como alegria,
tristeza, desconforto, demonstrar afeto e carinho etc. (BEE; BOYD, 2009).

11
Posteriormente, ocorre a segunda infância, conhecido como um período de
latência, na qual está a faixa etária após aos seis anos de idade até aproximadamente dez
anos de idade, e que estão os momentos de conflito entre a criança e os responsáveis,
e aqui não seria apenas a criança e os pais, mas a criança e um professor por exemplo
(BEE; BOYD, 2009).

Após a segunda infância, ocorre o chamado período de puberdade, que


corresponde dos onze anos aos doze anos de idade, na qual a criança terá um maior
desenvolvimento dos hormônios e do seu corpo, aproximando assim do período da
adolescência (iniciando essa dos 12/13 anos de idade), preparando para um corpo
adulto, com isso a adolescência inicia-se aos 12 anos de idade (as vezes um pouco mais
tarde nos meninos) e percorre até aos 18 anos de idade.

FIGURA 9 – ADOLESCÊNCIA

FONTE: <https://bit.ly/3r6nwP6>. Acesso em: 25 mar. 2022.

Nesse período, como pode ser observado na Figura 9, ocorre um amadurecimento


do corpo físico e socioemocional, e é por isso, que na adolescência é possível verificar no
indivíduo as suas próprias opiniões, julgamentos, escolhas, também é um momento de
construção da identidade (BEE; BOYD, 2009). Consequentemente inicia-se a juventude,
dos 18 até 25 anos de idade), na qual se estuda, inicia a vida no trabalho, busca-se por
uma profissão.

Após a juventude, inicia-se a vida adulta. Segundo Oliveira (2004), existem


poucos materiais teóricos sistematizados para entender os aspectos da vida adulta,
diferente do que existe a respeito do desenvolvimento infantil. Assim:

[...] a psicologia não tem sido capaz de formular, de modo satisfatório,


uma psicologia do adulto. Na verdade, as teorias psicológicas
são menos articuladas e complexas quanto mais avançamos no
processo de desenvolvimento da pessoa: sabemos muito sobre
bebês, bastante sobre crianças, menos sobre jovens e quase nada
sobre adultos (OLIVEIRA, 2004, p. 217).

12
Na vida adulta, como demonstrado na Figura 10, os indivíduos estão com o
corpo físico mais desenvolvido, compreende-se mais a respeito do si, do que em outras
fases da vida, existe uma autonomia e maturidade frente aos aspectos de trabalho e
educacional, porém a vida adulta é uma fase que comporta diferente faixas etárias.

FIGURA 10 – VIDA ADULTA

FONTE: <https://bit.ly/3uXa0hX>. Acesso em: 25 mar. 2022.

Assim, um dos estudiosos a compreender a fase adulta foi o pesquisador Erik


Erikson (1998), que organizou o desenvolvimento humano em 8 estágios, esse período
da vida adulta foi organizado por Erikson em três tempos (fases) distintos, sendo:

• maioridade jovem – 21 a 40 anos;


• meia idade – 40 anos até, aproximadamente, 60 anos
• maturidade – após 60 anos, que corresponderia ao período do envelhecimento.

IMPORTANTE
Para compreender a psicopatologia no adulto, faz-se necessário
entender o desenvolvimento adulto, pois o avanço das habilidades
e capacidades estão relacionados durante toda a vida, inclusive
nessa fase.

13
Diante do exposto, você acadêmico compreenderá a seguir de maneira
aprofundada a respeito da vida adulta.

3.1.1 Relacionando desenvolvimento humano e a


psicopatologia
Segundo Sroufe (1997) os pesquisadores e estudiosos do desenvolvimento
humano e psicopatologias possuem diferente maneiras de compreender essa relação
e como ocorrem as patologias, assim na área da psicopatologia desenvolvimental
relacionam que os transtornos mentais possuem seus desfechos à medida que ocorre
o processo de desenvolvimento.

Ainda, Sroufe (1997) relata que os transtornos psicológicos tem a sua origem
a partir das relações interpessoais e dimensionais, que são complexas, assim muitas
são as características dos indivíduos que estão nas relações, como: fatores biológicos,
fatores genéticos e fatores psicológicos, e por sua vez, também se convergem com as
características ambientais (cuidado parental, relacionamentos interpessoais, exposição
a eventos estressantes) e também com fatores sociais, como por exemplo: rede de
apoio social, nível socioeconômico etc.

Nessa perspectiva, a psicopatologia desenvolvimental compreende ocorre o


desenvolvimento do ser humano, e no processo de desenvolver pode ocorrer transtornos
mentais que estejam relacionados às mudanças que os indivíduos têm que alcançar em
cada etapa, ou seja, a experiência de cada fase faz com que o indivíduo evolua para
outra fase, mas nesse avanço podem ocorrer fragilidades que desencadeie patologias.
Assim, pode-se dizer que quando ocorre uma fragilidade, demora no avanço, ou até
mesmo uma descontinuação, geram comportamentos que precisam ser verificados
(POLANCZYK, 2009).

Segundo Polanczyk (2009), há aspectos devem ser sempre verificados quando


trata da perspectiva da psicopatologia desenvolvimental, como a adaptabilidade ao
meio ambiente, pois é inato que todo indivíduo busque se adaptar ao contexto que está
inserido, então conforme a idade e a fase do desenvolvimento, ocorrerá a adaptação
por meio de comportamentos do indivíduo, por isso importante buscar interpretar
comportamento versus meio ambiente, para assim entender a adaptabilidade do sujeito.

Para Polanczyk (2009, p. 11), “[...] cabe a cada investigador avaliar criticamente
a utilização desse modelo conceitual. A psicopatologia desenvolvimental refuta a
ideia de que fatores de risco atuam de forma isolada e não se satisfaz apenas com
a identificação de associações ou correlações”. Portanto, para compreender uma
psicopatologia, também é preciso compreender o desenvolvimento humano, como
visto aqui na perspectiva psicopatologia desenvolvimental o indivíduo é um ser que
passa por um processo de desenvolvimento contínuo, e nesse processo podem ocorrer
situações e vivências que devem ser verificadas e avaliadas, pois podem contribuir para
o desenvolvimento de psicopatologias.

14
Mas ainda, como visto nesse tópico, para um determinado comportamento
ser compreendido como patológico, muitos aspectos relacionados a normalidade e
anormalidade precisam ser avaliados e interpretados.

FIGURA 11 – PSICOPATOLOGIA E O DESENVOLVIMENTO

FONTE: <https://bit.ly/3KkBsN7>. Acesso em: 25 mar. 2022.

Além disso, como demonstrado na Figura 11, sempre existirá a presença


de sintomas, características etc., portanto, o Psicólogo é um profissional que possui
instrumentos psicológicos, técnicas e ferramentas que podem auxiliar no diagnóstico
de psicopatologias.

IMPORTANTE
A perspectiva psicopatologia desenvolvimental busca compreender e
defender que há continuidade no processo de desenvolvimento e os
transtornos mentais.

15
RESUMO DO TÓPICO 1
Neste tópico, você adquiriu certos aprendizados, como:

• Os critérios relacionados à anormalidade são: frequência estatística, desvio social,


comportamento de inadaptação e sofrimento pessoal.

• A normalidade está relacionada com bem-estar emocional e com as características:


preocupação adequada da realidade, capacidade de exercer controle voluntário sobre
o comportamento, autoestima e aceitação, capacidade de formar relacionamentos
afetivos e produtividade.

• A discussão de comportamento normal e anormal em psicopatologia é complexa,


pois requer cuidados e precisa ser avaliada e interpretada.

• O pesquisador Erik Erikson, em seus estudos do desenvolvimento humano,


determinou fases, como: maioridade jovem, meia idade e maturidade.

• Para compreender desenvolvimento humano e psicopatologia, existe uma perspec-


tiva nomeada como psicopatologia desenvolvimental.

16
AUTOATIVIDADE
1 A psicopatologia, mais do que o estudo dos transtornos mentais, busca estudar
o discurso sobre o sofrimento psíquico, para, então, conhecer os sintomas
e características das patologias. É por meio das descrições dos sintomas e
características que o psicólogo pode realizar avaliação. A respeito da psicopatologia,
quanto aos aspectos da anormalidade, assinale a alternativa CORRETA:

a) ( ) Desvio social e comportamento de inadaptação.


b) ( ) Produtividade e comportamento de adaptação.
c) ( ) Produtividade e desvio social.
d) ( ) Rendimento e comportamento de inadaptação.

2 A psicopatologia buscar definir e classificar os transtornos mentais, por meio dos


comportamentos patológicos, descrevendo bem os sintomas apresentados em cada
patologia, sendo esse conhecimento de extrema relevância para o início do tratamento
de um paciente, principalmente na Psicologia Clínica. A respeito da psicopatologia,
quanto aos aspectos da normalidade, analise as afirmativas a seguir:

I- A normalidade está relacionada com bem-estar emocional.


II- A preocupação adequada em relação à realidade está relacionada a normalidade do
indivíduo.
III- A capacidade de formar relacionamentos afetivos e a produtividade de um indivíduo
no seu dia a dia são indicativos de bem-estar emocional e anormalidade.

Assinale a alternativa CORRETA:


a) ( ) As afirmativas I e II estão corretas.
b) ( ) Somente a afirmativa II está correta.
c) ( ) As afirmativas I e III estão corretas.
d) ( ) As afirmativas I, II e III estão corretas.

3 O desenvolvimento humano na psicologia é mencionado como a compreensão do


ciclo vital do ser humano. Assim, a Psicologia do Desenvolvimento estuda as diferentes
fases da vida do indivíduo, da infância à velhice, e tais conhecimentos são utilizados
em contextos da prática profissional do psicólogo. A respeito do desenvolvimento
humano, classifique V para as sentenças verdadeiras e F para as falsas:

( ) O desenvolvimento humano é reconhecido por apresentar diferentes fases, como


a infância, a adolescência, a vida adulta e a velhice.
( ) O desenvolvimento infantil deve ser estudo a partir do nascimento.
( ) O desenvolvimento humano está relacionado a compreender os comportamentos,
vivências e as capacidades motora, cognitiva, emocional e social.

17
Assinale a alternativa que apresenta a sequência CORRETA:
a) ( ) V – F – F.
b) ( ) V – F – V.
c) ( ) F – V – F.
d) ( ) F – F – V.

4 Erik Erikson, psicanalista, conhecido por ser um dos estudiosos e precursor de Anna
Freud, estudou não apenas a psicanálise, mas o desenvolvimento humano, e após
isso desenvolveu uma série de obras que contribuíram para a Psicologia enquanto
ciência e profissão. Disserte sobre quais as nomenclaturas que utilizou para explicar
a respeito de vida adulta e velhice.

5 A Psicologia é uma ciência que apresenta sempre muitas visões a respeito de um


único assunto, assim possibilita a discussão e reflexão de um único tema, sob várias
perspectivas. Com a psicopatologia não é diferente, porém existe uma perspectiva da
psicopatologia que considera o desenvolvimento humano. Disserte sobre a perspectiva
psicopatologia desenvolvimental.

18
UNIDADE 1 TÓPICO 2 -
PSICOPATOLOGIA: VIDA ADULTA

1 INTRODUÇÃO
Como já abordado no Tópico 1, existe uma complexidade para diagnosticar e
definir um comportamento como patológico, isto porque muitos são os critérios que
devem ser investigados na busca da compreensão entre um comportamento normal e
anormal, e ainda, para além dos critérios está a relação do comportamento apresentado
com o processo de desenvolvimento daquele indivíduo.

A psicopatologia desenvolvimental também convida a entender a importância


da faixa etária, fase do desenvolvimento, e os acontecimentos de determinada fase, para
que em conjunto com uma investigação por meio de técnicas da psicologia, instrumentos
psicológicos, manuais, o psicólogo possa então diagnosticar uma psicopatologia. Ainda,
vale ressaltar que, em alguns casos esse trabalho não é apenas do psicólogo, mas um
trabalho em conjunto com outros profissionais.

Dessa maneira, no Tópico 2, você acadêmico avançará seus conhecimentos a


respeito da psicopatologia, pois estudará a respeito do teórico Erik Erikson, e a pers-
pectiva dele a respeito do desenvolvimento humano, principalmente em relação à fase
adulta e velhice.

Ainda neste tópico, você conhecerá como ocorre a psicopatologia em adultos e


os aspectos que devem ser levados em consideração e, por fim, entenderá a respeito de
transtorno de ansiedade, depressão e estresse.

2 O DESENVOLVIMENTO HUMANO NA VIDA ADULTA


E AS PATOLOGIAS
Quando verificamos diversas pessoas, homens e mulheres, como na Figura
13, podemos pensar que a maioria dos indivíduos estudam ou já estudaram, assim
avançando seus conhecimentos básicos ou específicos, voltados para uma profissão ou
não. Também podemos pensar que alguns podem ser casados, com suas famílias, ou
que alguns namoram, mas não são casados, que alguns são solteiros, mas podem ter
filhos, ou seja, vivências de uma vida adulta.

Dessa maneira, nesse relato, aborda-se a respeito de características que fazem


parte da vida adulta, que atualmente na literatura científica há uma discussão e reflexão
de quando iniciaria em termos de idade, essa fase no ciclo vital, devido às mudanças da
sociedade contemporânea.

19
FIGURA 12 – PESSOAS E A VIDA ADULTA

FONTE: <https://learn.g2.com/hubfs/iStock-1085389362.jpg>. Acesso em: 25 mar. 2022.

Para o presente estudo, utilizou-se da teoria do desenvolvimento de Erik Erikson,


que é clássica, e muito consolidada dentro da ciência Psicologia. Posteriormente, você
compreenderá a psicopatologia no adulto.

2.1 TEORIAS DO DESENVOLVIMENTO E ERIK


HOMBURGER ERIKSON
Erik Homburger Erikson, nasceu em 1902, Frankfurt – Alemanha, morreu em
1994, Harwich. Segundo Picirilli (2018), reconhecido teórico iniciou sua trajetória
acadêmica como estudante de artes plásticas na Europa, mas após conhecer Anna
Freud, filha de Sigmund Freud, ele passou a estudar a psicanálise em Viena a convite, e
depois se aprofundou em outros temas e conhecimentos da psicologia.

Sob orientação de Anna, submeteu-se à psicanálise e tornou-se, ele próprio,


psicanalista, assim início da carreira, o interesse de Erikson esteve voltado para o trata-
mento de crianças e as suas concepções de desenvolvimento e de identidade influen-
ciaram as pesquisas posteriores, nomeadamente a respeito da adolescência, assim foi
Erikson que abordou pela primeira vez o termo "crise da adolescência" e assim a estudou.

FIGURA 13 – TRATAMENTO INFANTIL

FONTE: <https://bit.ly/3jvugSu>. Acesso em: 25 mar. 2022.

20
Conforme Picirilli (2018), em 1927, Anna Freud iniciou uma escola a respeito
da psicanálise, na qual realizada orientações, bem como trabalhava com crianças
e com tema da infância, então Erikson também envolvido com o ensino infantil,
passou a reconhecer a importância das brincadeiras na compreensão do ego e de seu
desenvolvimento.

O estudioso Erikson é reconhecido por ser um psicanalista responsável pelo de-


senvolvimento da Teoria do Desenvolvimento Psicossocial na Psicologia, pois estudou
o ciclo da vida e construí as fases do desenvolvimento para explicar o desenvolvimento
humano.

Tornou-se um dos teóricos de grande relevância da Psicologia do desenvolvi-


mento, pois apresentou grande contribuições, dentre as teorias do desenvolvimento
humano, assim como Jean Piaget, Lev Vygotsky e Henry Wallon, porém a contribuição
marcante de Erikson é em estudar a vida adulta e a velhice, embora tenha estudado
outras fases do ciclo da vida e ter feitos contribuições a elas.

Dessa maneira, Erikson construiu sua teoria do desenvolvimento na perspecti-


va psicanalista, porém, além disso, ele se interessou em estudar o desenvolvimento e
a vida de tribos indígenas norte-americanas, então estes e outros estudos que Erikson
realizou, acabaram fazendo parte do processo que envolve a construção da identida-
de, que mais tarde veio a chamar formação de identidade, muito discutido na fase da
adolescência (PICIRILLI, 2018).

Assim, todos os estudos de Erikson contribuem para sua teoria, e para com-
preender o desenvolvimento humano, bem como a vida adulta e a velhice. Compreen-
deremos, a seguir, o desenvolvimento segundo Erikson, aprofundando na vida adulta.

NOTA
Para um futuro psicólogo, importante compreender a teoria de Erik
Erikson a respeito da vida adulta, pois esse é um dos autores que mais
abordam essa fase da vida, e nos contextos profissionais do psicólogo
muitas vezes terá esse público (adulto) para ser atendido.

21
2.1.1 Desenvolvimento humano: vida adulta e
psicopatologias
O estudioso Erik Erikson em sua teoria do desenvolvimento psicossocial
abordou oito fases do desenvolvimento humano. As fases mencionadas pelo autor,
são: sensorial (do nascimento até por volta de 18 meses), muscular (dos 18 meses
aos 3 anos, aproximadamente), motor (dos 3 aos 5 anos), latência (dos 5 aos 13 anos),
moratória psicossocial (dos 13 aos 21 anos), maioridade jovem (dos 21 aos 40 anos,
aproximadamente), meia-idade (40 anos até, aproximadamente, 60 anos), maturidade
(após 60 anos).

Dessa maneira, como nesse tópico o estudo é a respeito da vida adulta, faz-
se aqui o foco na compreensão de Erikson nessa fase. Portanto, a fase 6, chamada
de maioridade jovem, corresponde dos 21 anos aos 40 anos, aproximadamente. Nesse
período, a crise do adulto jovem se configura entre a intimidade e solidariedade versus
isolamento.

Para Erikson (1998), o indivíduo anseia e dispõe-se a fundir a sua identidade com
a de outros, estando preparado para a intimidade, com isso o sujeito tem a capacidade
de confiar e ser fiel, mesmo que isso implique em deixar suas próprias vontades, se
esforçar pelo outro.

Ao contrário, seria o chamado o reverso da intimidade, muito parecido com


o comportamento de isolamento, a tendência a distanciar-se, podendo até mesmo a
destruir as forças e pessoas que sente como ameaças para si e que possam invadir as
relações. O isolamento também pode estar relacionado com o sentimento de não se
sentir reconhecido (ERIKSON, 1998).

Conforme destaca Boyd e Bee (2009), essa é uma fase marcada por estabelecer
relacionamentos íntimos, incluindo a vivência de casar e construir seu próprio grupo
familiar, ou seja, no início da idade adulta, o desenvolvimento bem-sucedido requer a
capacidade de renunciar suficientemente à identidade independente para comprometer-
se em uma relação verdadeiramente íntima.

Posteriormente, na fase 7, nomeada como meia-idade, também corresponde


a idade adulto, dos 40 anos até, aproximadamente, 60 anos. Nesse período, a crise
psicossocial destacada pelo autor está relacionada em “generatividade”, produtividade
versus estagnação, imersão em si (ERIKSON, 1998).

22
FIGURA 14 – MEIA-IDADE

FONTE: <https://bit.ly/3xjW0Sc>. Acesso em: 25 mar. 2022.

Na Figura 14, a representação de mulheres na faixa etária que o autor chamou


de meia-idade. Para Boyd e Bee (2009), nessa fase instala-se a necessidade de
desenvolvimento de criatividade, por meio da relação e criação dos filhos, bem como no
contexto de trabalho e na relação com os outros grupos sociais, não apenas trabalho e
família, mas em outros locais de convívio desse indivíduo com a sociedade. Este é um
momento, fase, em que o indivíduo busca imprimir sua marca no mundo.

Desse modo, na perspectiva psicopatologia desenvolvimental, a psicopatologia


do adulto está relacionada a problemas ou transtornos psicológicos que na maioria das
vezes foram desenvolvidos em outros momentos da vida, ou seja, alguma fragilidade
ocorreu no processo do desenvolvimento, porém diversas são as razões para que isso
possa ocorrer.

Segundo Mello et al. (2009), a psicopatologia no adulto faz-se necessário a


investigação e o conhecimento do histórico infantil. Associada ao desenvolvimento
de uma psicopatologia é alguns tipos de vivência que possam deixar possíveis marcas
na história de vida, como: doença física, doença psíquica, internamento hospitalar,
sintomas graves de diferentes doenças que levam a quadros psicológicos. Podendo
esses ser na própria história de vida do indivíduo adulto (com a psicopatologia), ou
até mesmo que tenha ocorrido na sua infância, mas com algum membro familiar ou
relevante, que tenham impactado a sua própria história, por exemplo: a internação de
um pai, a doença de uma mãe etc.

Nesse sentido, Gonçalves e Heldt (2009) relatam que, ao avaliar sintomas, carac-
terísticas e até mesmo traços de psicopatologia no adulto, é importante compreender o
histórico da infância. Por exemplo: a ansiedade é uma das mais observadas na infância,
e que pode agrava com o avanço da idade, tornando-se patológica na vida adulta.

23
Gonçalves e Heldt (2009) apresentam que no caso da ansiedade, para mini-
mizar riscos psicopatológicos na vida adulta, bem como a presença de sintomas ou
desconfortos que possam agravar para um quadro clínico é relevante que os problemas
associados à perturbação de ansiedade, na infância, sejam alvo de avaliação e interven-
ção nessa mesma fase de desenvolvimento (infância ou quando ela aparecer) ou o mais
cedo possível, com o fim de evitar consequências à vida adulta. Este aspecto de cuidado
e intervenção deve ocorrer com qualquer sintoma psicopatológico.

Assim, existem ainda problemas psicológicos e/ psiquiátricos originados na fase


da infância, que se associam também à questão dos maus tratos e/ou negligência e que
se traduzem em transtornos da personalidade no adulto, e outras psicopatologias, como:
dependência de álcool, transtorno ou perturbação alimentar, ansiedade, estresse etc.

Nesse sentido, Mello et al. (2009) relatam que, no processo do desenvolvimento,


de uma infância até à evolução de uma psicopatologia na vida adulta, diferentes
situações podem ocorrer e que podem contribuir com o desenvolvimento de uma
psicopatologia, por isso os motivos podem ser aspectos iniciados no nascimento, no
ambiente em que o indivíduo cresceu e se desenvolveu (família, escola) e no ambiente
onde se insere no momento (trabalho, família, espaço educacional etc.).

No entanto, nem sempre que tenha ocorrido histórico de maus tratos ou


negligência, significa que existem casos de psicopatologia ligados a problemas de
saúde físicos que condicionaram a saúde mental do indivíduo, por isso a necessidade
de investigação, avaliação, e se necessário, intervenção psicológica, ou ainda, também
psiquiátrica.

DICA
Para compreender a psicopatologia apresentada na vida adulta,
faz-se necessário entender a história de vida no indivíduo e o
processo de desenvolvimento até aquela determinada faixa-etária.
Ainda, é importante compreender a relação da especificidade
daquele momento do desenvolvimento com os sintomas e queixas
apresentadas pelo paciente.

3 PSICOPATOLOGIAS DA VIDA ADULTA


A respeito da vida adulta e psicopatologias, muitas são as psicopatologias que
podem ser apresentadas por um indivíduo na vida adulta. Segundo Oreskovic (2016),
mais de 450 milhões de pessoas sofrem com algum transtorno de saúde mental. Nesse
momento será abordado a respeito da ansiedade e depressão.

24
A presença de sintomas relacionados a ansiedade no indivíduo adulto é comum,
bem como a presença de sintomas da ansiedade foram desenvolvidas ao longo da
infância, mas que não foram avaliadas ou que não teve a intervenção necessária, isto é
mencionado por Gonçalves e Heldt (2009), os quais destacam que a psicopatologia do
adulto tem sempre, ou quase sempre, a presença de sintomas de ansiedade, iniciada na
infância, que não foi devidamente, alvo de intervenção profissional, no momento da sua
origem. A complementar:

[...] os transtornos de ansiedade na infância são preditores e podem


atuar como fatores de risco para psicopatologias na vida adulta.
Mesmo considerando que os locais de origem dos estudos foram
em países diferentes, isto é, com diferentes culturas e hábitos, os
resultados encontrados foram semelhantes (GONÇALVES; HELDT,
2009, p. 537).

Manfro et al. (2002) destacam que, na maioria dos casos, além dos sintomas
de ansiedade, é comum que, problemas menos bem resolvidos na infância, estendam
para desenvolver, e assim a longo prazo, os sintomas ou características vão para a vida
adulta, e grande parte estão relacionados à depressão na vida adulta.

Portanto, como visto nesse tópico, é comum os autores relatarem que a maioria
das psicopatologias da vida adulta está associada a um padrão de comorbidades
desenvolvidas ainda na fase da infância do ciclo vital (MANFRO et al., 2002). A seguir,
você entenderá a respeito de ansiedade e depressão.

3.1 ANSIEDADE
A ansiedade está muito relacionada a preocupação, porém na vida adulta é
comum e até esperado que se tenha preocupação com algumas situações e vivências,
como por exemplo, preocupação em realizar todas as funções do trabalho, preocupação
que os filhos tenham saúde, porém a ansiedade quanto a psicopatologia é muito mais
do que uma preocupação do cotidiano.

Costa et al. (2019, p. 93) apontam que “[...] os transtornos de ansiedade geral-
mente prejudicam a vida diária dos indivíduos, pois muitos deixam de realizar atividades
rotineiras por medo das crises ou sintomas”. Segundo Baxter, Scott e Whiteford (2013),
por meio de uma revisão da literatura com 87 estudos, foi verificado que, em 44 países,
a prevalência atual dos transtornos de ansiedade é cerca de 7,3% (4,8%-10,9%).

Dessa maneira, os transtornos de ansiedade são patologias relacionadas ao


funcionamento do corpo em virtude das experiências da vida, assim um indivíduo
pode-se sentir ansioso a maior parte do tempo sem nenhuma razão aparente, ou, ainda,
pode-se ter ansiedade, de modo que a pessoa se sentirá sem autonomia sobre seus
comportamentos, impedida de realizar suas atividades, ou uma atividade em especial,
dependendo da situação.

25
Com isso, a sensação de ansiedade pode ser tão desconfortável que, para evitá-
la, as pessoas deixam de fazer atividades/ações do cotidiano, como por exemplo: usar o
elevador, realizar uma leitura em silêncio, ter atenção em uma orientação, isto por causa
do desconforto que sentem com a situação, ou uma agitação frente a preocupação
e medo que levam a não ter atenção, concentração e/ou uso da percepção, tudo
dependerá do caso e situação.

Os transtornos da ansiedade têm sintomas muito mais intensos do que aquela


ansiedade normal do dia a dia. Eles aparecem como: preocupações, tensões ou medos
exagerados (a pessoa não consegue relaxar); sensação contínua de que um desastre ou
algo muito ruim vai acontecer; preocupações exageradas com saúde, dinheiro, família
ou trabalho; medo extremo de algum objeto ou situação em particular; medo exagerado
de ser humilhado publicamente; falta de controle sobre os pensamentos, imagens ou
atitudes que se repetem independentemente da vontade; pavor depois de uma situação
muito difícil.

FIGURA 15 – ANSIEDADE

FONTE: <https://bit.ly/3jteisk>. Acesso em: 25 mar. 2022.

Na Figura 15, a representação do sintoma “preocupações”, do indivíduo voltar


seus pensamentos para suas preocupações. Por isso, Costa et al. (2019) relatam que os
transtornos de ansiedade diferem entre si nos objetos ou situações, porém sempre estão
relacionados a situações que induzem o medo, ansiedade ou comportamento de esquiva.

Costa et al. (2019), ao realizar pesquisa de ansiedade, detectaram que os dados


demonstram que os transtornos de ansiedade são muito frequentes em adultos, sendo
mais prevalentes entre as mulheres do que em homens, e os transtornos ansiosos,
estão associados principalmente as condições socioeconômicas e substâncias lícitas.

Em relação ao tratamento da ansiedade, pode-se dizer que, existem três


tipos de tratamento para os transtornos de ansiedade, sendo: tratamento com o uso
de medicamentos, tratamento com psicoterapia, e o tratamento com o combinado de
medicamentos e psicoterapias.

26
O tratamento com o uso de medicamentos, sempre com acompanhamento e
receita médica, normalmente envolvendo médicos psiquiatras, ou médicos especialistas
que tenham compreendido a situação, vivência e sintomas do paciente relacionados a
ansiedade; os atendimentos psicológicos.

A respeito dos atendimentos psicológicos, sendo a chamada psicoterapia,


corresponde ao diálogo com o profissional psicólogo, que utilizará de uma abordagem
psicológica para compreender o paciente, bem como os sintomas apresentados e assim
realizar o diagnóstico, ansiedade, bem como fará a intervenção, de modo a utilizar de
técnicas e ferramentas.

Por fim, o tratamento da combinação, sendo o uso de medicamento e os


atendimentos psicológicos, na qual o paciente realiza a psicoterapia, mas também
utiliza de medicações, porém nesse caso, envolve mais de um profissional trabalhando
o paciente, médico e psicólogo, uma vez que o psicólogo não receita medicação, assim
é preciso que ocorra diálogo entre os profissionais da saúde, para que discutam o caso,
de modo a acompanhar o paciente, buscando uma saúde integrada (física e psíquica),
pois cada profissional atuará dentre as suas especialidades.

GIO
Atualmente existem instrumentos psicológicos, como testes e escalas
psicológicos que podem auxiliar o psicólogo na investigação e
diagnóstico do transtorno de ansiedade.

3.2 DEPRESSÃO
A “[…] depressão é um transtorno multifatorial, de alta prevalência, considerada
um problema de saúde pública mundial. Diversas são as variáveis implicadas no
desenvolvimento e manutenção deste transtorno, como as psicológicas, sociais e
biológicas” (BARROSO; BAPTISTA; ZANON, 2018, p. 26).

A complementar, segundo a Organização Pan-Americana da Saúde (OPAS,


[2021?]), a depressão é um transtorno mental comum, e estima-se que 300 milhões de
pessoas são afetadas por essa condição, sendo mais mulheres que sofrem de depressão
do que os homens. A depressão é caracterizada por sintomas, como a tristeza, e a perda
de interesse ou prazer em situações da rotina, como nas situações vivenciadas em
família e no trabalho. O indivíduo pode apresentar um sentimento de culpa ou baixa

27
autoestima, e diante desse cenário, ocorre sono e apetite alterados. Alguns indivíduos
apresentam um cansaço sem explicação, e alteração de algumas funções, como, falha
na memória, alteração na atenção e concentração.

Segundo Thorsen et al. (2013 apud BARROSO; BAPTISTA; ZANON, 2018, p. 26):
“A depressão maior se caracteriza por humor rebaixado persistente e perda de interesse
em atividades prazerosas, gerando grande prejuízo funcional e social, anos de vida
perdidos ou vividos com incapacidade, além de agravar os sintomas de outras doenças”.
A depressão é uma patologia com causas multifatoriais, que incluem aspectos de
personalidade, sociais e de relacionamentos interpessoais, não podendo ser atribuída
a uma causa única.

Na Figura 16, há a representação da depressão, na qual muitas vezes o indivíduo


fica triste, deitado, isolado, porém estas características embora bastante comum, nem
sempre ocorre em todas os indivíduos da mesma maneira, e existe diferentes graus de
depressão (leve, moderado, grave).

FIGURA 16 – DEPRESSÃO

FONTE: <https://bit.ly/3JyRCBn>. Acesso em: 25 mar. 2022.

Dessa maneira, indivíduos com depressão podem ter várias e diferentes queixas
físicas sem nenhuma causa aparente. Ainda, a depressão pode ser apresentada com
longa duração ou até mesmo algo mais breve, mas sempre acaba gerando prejuízos
em relação à execução de atividades rotineiras, do trabalho ou da escola. Importante
mencionar que em estado mais grave, a depressão pode levar ao suicídio.

Existem também tratamentos eficazes em relação à depressão. A depressão em


seu estado leve e moderado pode ser tratada com terapias que utilizam o diálogo, como
o atendimento com psicólogo, podendo esse ser de diferentes abordagens psicológicos
e utilizar de diferentes tipos de técnicas para intervenção com o paciente.

28
Segundo a Organização Pan-Americana da Saúde (OPAS, [2021?], n.p.):

[...] existem programas de prevenção que têm demonstrado a


redução da depressão, tanto em crianças (por exemplo: proteção e
apoio psicológico após abuso físico e sexual) quanto em adultos (por
exemplo: assistência psicossocial após desastres e conflitos).

Ainda, há casos que pode ser utilizado de medicação, como os antidepressivos,


sendo esses um amaneira eficaz de tratamento para a depressão de moderada a grave,
mas não é a melhor maneira de tratamento para casos de depressão leve em adultos.

NOTA
O trabalho de psicólogos com médicos psiquiatras pode contribuir com
pacientes diagnosticados com depressão, no tratamento combinado com
psicoterapias (atendimentos psicológicos) e medicações específicas para
os sintomas de depressão.

O tratamento da depressão inicia com um diagnóstico multidisciplinar, com


psicólogos e médicos para a realização da avaliação. O psicólogo pode na avaliação utilizar
de entrevista semiestruturada, anamnese, e instrumentos psicológicos. Posteriormente,
o psicólogo pode realizar atendimentos psicológicos, como psicoterapia, aplicando de
diferentes técnicas, conforme a abordagem psicológica a ser utilizada pelo profissional.

3.3 ESTRESSE
A sociedade atual vivencia uma série de mudanças que impacta no cotidiano
dos indivíduos, e para conviver e enfrentar as mudanças e os seus impactos, os
indivíduos vivem o tempo todo se adaptando com as situações, pessoas, tecnologia,
entre outros aspectos. Por isso, é preciso que os indivíduos se movimentem o tempo
todo, com energia física e psíquica para se adaptar (SILVA; CARMO; OLIVEIRA, 2018).

“Nesse sentido, pode ocorrer que a velocidade das transformações seja


diferente da velocidade da capacidade de adaptação do indivíduo, levando a ocorrer
uma incoerência, e acabe resultando num desequilíbrio, e surgindo assim as situações
de estresse [...]”. (SILVA; CARMO; OLIVEIRA, 2018, n.p.). A palavra stress tem origem no
latim, e tem como significado “fadiga”, “cansaço”, alguma coisa “apertada” ou “penosa”.

29
Seguindo esse ponto de vista, o estresse nada mais é que uma
reação que o organismo realiza para adaptar a um evento ou uma
situação que é desconfortável e/ou inesperada, por isso é uma
reação que exige muito do organismo, e isto ocorrerá por meio de
componentes físicos, psicológicos, emocionais e fisiológicos” (SILVA;
CARMO; OLIVEIRA, 2018, n.p.).

Para compreender o estresse, existem teorias que buscam explicar a origem


dos seus sintomas e das suas características. Segundo Lipp e Malagriss (2001), a teoria
de Hans Selye propõe que o estresse resulta em três relevantes alterações do organis-
mo, e essas alterações primeiramente foram descobertas e verificadas no organismo de
ratos para depois serem compreendidas no homem, com as adaptações necessárias, e
assim o modelo ficou conhecido como modelo trifásico do estresse.

O modelo trifásico do estresse recebe esse nome por identificar que o or-
ganismo passaria por três fases no processo do estresse, sendo pelas fases: alerta,
resistência e exaustão. A fase de alerta inicia quando o indivíduo se depara com uma
situação que gera o estresse, ou seja, uma situação que o organismo precisa se adap-
tar, podendo ocorrer uma “fuga” ou “luta” diante a situação (LIPP; MALAGRISS, 2001).

A fase de resistência, o que gera o estresse pode ser de longa duração ou de


grande intensidade, e com isso o organismo buscará o equilíbrio interno, reestabelecendo-
se de uma forma reparadora. O organismo utilizará das reservas de energia adaptativa,
contudo, se essa energia for suficiente, o indivíduo sai do processo de estresse, mas
se o esforço de adaptação exigir mais que a reserva, o organismo enfraquecerá e se
tornará vulnerável às doenças. E por fim, na fase de exaustão, se o indivíduo não tiver
resistência suficiente para lidar com as causas que estão ocasionando o estresse,
ou ainda, se ocorrerem outras situações estressantes concomitantes, ocorrerá uma
evolução do processo de estresse (LIPP; MALAGRISS, 2001).

Entretanto, após muitas pesquisas e investigações, a Psicóloga, Profa. Dra.


Marilda Lipp identificou que existe uma fase chamada de fase de quase-exaustão, a
qual fica entre a fase de resistência e a fase de exaustão, e com isso a pesquisadora
nomeou propôs o modelo quadrifásico, expandindo aquele modelo inicial de Hans Selye
(LIPP; MALAGRISS, 2001).

Dessa maneira, entende-se que, em situações estressantes, em cada fase


que o indivíduo vivencia, podem ocorrer respostas fisiológicas, físicas, psicológicas e
emocionais, podendo o indivíduo apresentar respostas de comportamentos, como:
depressão, desanimo, apatia, hipersensibilidade emotiva, raiva, ira, ansiedade, e ainda,
podem desencadear surtos psicóticos e crises neuróticas em indivíduos que tenham
predisposição (SILVA; CARMO; OLIVEIRA, 2018).

Segundo Lipp e Malagriss (2001), o estresse é uma das causas mais comuns de
doenças relacionadas ao trabalho, apresentando impactos à saúde mental e física do
trabalhador, porém cada indivíduo tem formas diferentes de reagir ao enfrentamento do
estresse e as consequências que vem dele.
30
RESUMO DO TÓPICO 2
Neste tópico, você adquiriu certos aprendizados, como:

• Erik Homburger Erikson é reconhecido por ser um psicanalista responsável pelo


desenvolvimento da Teoria do Desenvolvimento Psicossocial.

• As psicopatologias da vida adulta podem ter origem da fase da infância, segundo


a perspectiva da psicopatologia desenvolvimental. Por isso existe uma grande
importância de avaliação, diagnóstico, bem como intervenção das psicopatologias.

• Os transtornos de ansiedade diferem entre si nos objetos ou situações, porém sempre


estão relacionados a situações que induzem o medo, ansiedade ou comportamento
de esquiva.

• A depressão é caracterizada por tristeza, bem como perda de interesse ou prazer.


Ainda existe também o sentimento de culpa ou baixa autoestima, que pode apresentar
sono e apetite alterados. Alguns indivíduos sentem cansaço e falta de concentração.

• O estresse é uma reação que o organismo realiza para adaptar a um evento ou uma
situação que é desconfortável e/ou inesperada, por isso é uma reação que exige
muito do organismo, e isto ocorrerá por meio de componentes físicos, psicológicos,
emocionais e fisiológicos.

• A ansiedade, depressão e estresse que se apresentam de maneira leve, moderada e


grave possuem tratamento.

31
AUTOATIVIDADE
1 A respeito do desenvolvimento humano, um grande estudioso, por meio de sua
teoria nomeada como teoria do desenvolvimento psicossocial, abordou as fases
maioridade jovem – dos 21 aos 40 anos, aproximadamente, meia-idade – 40 anos
até, aproximadamente, 60 anos, maturidade – após 60 anos. Sobre o autor dessa
teoria, assinale a alternativa CORRETA:

a) ( ) Erik Erikson.
b) ( ) Lev Vygotsky
c) ( ) Anna Freud.
d) ( ) Sigmund Freud.

2 O estudioso Erik Erikson, psicanalista, acadêmico de Anna Freud, em sua teoria


do desenvolvimento psicossocial abordou fases do ciclo da vida. Ficou bastante
conhecido por discutir formação de identidade na adolescência, mas também
reconhecido por estudar adultos e idosos. Com isso, a respeito da perspectiva desse
autor sobre o desenvolvimento humano, analise as afirmativas a seguir:

I- O estudioso Erikson em sua teoria do desenvolvimento psicossocial abordou oito


fases/períodos.
II- As fases chamadas de zona de desenvolvimento proximal e fase da meia-idade,
correspondem a faixa etária dos 21 aos 40 anos, e a segunda dos 40 anos até,
aproximadamente, 60 anos.
III- As fases chamadas maioridade jovem e maturidade são correspondente a fase adulta.

Assinale a alternativa CORRETA:


a) ( ) As afirmativas I e II estão corretas.
b) ( ) Somente a afirmativa II está correta.
c) ( ) As afirmativas I e III estão corretas.
d) ( ) As afirmativas I, II e III estão corretas.

3 A depressão é uma patologia que vem sendo destaque na população adulta, atingindo
milhões de pessoas, não apenas no Brasil, mas em diferentes países do mundo. Assim,
a Psicologia tem estudos na área não apenas com pessoas que são diagnosticadas
com depressão, mas com familiares de pessoas depressivas. A respeito da depressão
em pacientes adultos, classifique V para as sentenças verdadeiras e F para as falsas:

32
( ) A depressão pode ter múltiplas queixas físicas sem nenhuma causa aparente.
( ) No tratamento de depressão a família e amigos não podem apresentar grandes
contribuições.
( ) A depressão pode se apresentar de modo leve, moderado e grave. No modo grave
é possível o uso de medicamentos.

Assinale a alternativa que apresenta a sequência CORRETA:


a) ( ) V – F – V.
b) ( ) V – V – V.
c) ( ) F – F – F.
d) ( ) F – F – V.

4 Ansiedade e transtorno de ansiedade é uma patologia bastante conhecida


e investigada pela área da saúde, não apenas a psicologia e a medicina são
interessadas por essa patologia, mas outras áreas da saúde, como a fisioterapia,
educação física, nutrição, pois é uma patologia que impacta várias esferas da vida.
Disserte sobre os sintomas de ansiedade apresentados pelos indivíduos adultos com
o diagnóstico de ansiedade. Posteriormente cite os três tipos de tratamento para
adultos diagnosticados com ansiedade.

5 Muitas vezes as pessoas em situações do cotidiano mencionam “estou estressado”,


mas não sabem se de fato estão com o que cientificamente se chama de estresse,
por isso, toda patologia deve ser investigada e diagnosticada, a começar pelos relatos
do paciente, pela queixa inicial. Disserte o que você compreende por estresse, e cite
os sintomas (físicos e psicológicos/emocionais) de estresse que um indivíduo adulto
pode apresentar.

33
34
UNIDADE 1 TÓPICO 3 -

PSICOPATOLOGIA: VELHICE

1 INTRODUÇÃO

Para entender psicopatologia e os diferentes transtornos psicológicos, faz-


se necessário compreender as fases do desenvolvimento humano, como você está
verificando nesse material. Com isso, até aqui, você compreendeu no a respeito da
psicopatologia, bem como a relação dela com o desenvolvimento humano.

Você também avançou em seus conhecimentos a respeito da psicopatologia,


porém conheceu a respeito do teórico Erik Erikson, e a perspectiva dele a respeito do
desenvolvimento humano, principalmente em relação à fase adulta, e por fim conheceu
a respeito de ansiedade, depressão e estresse, aprendendo definição, sintomas e
tratamentos dessas psicopatologias, uma vez que essas psicopatologias são comuns
no público adulto.

Portanto, nesse momento, neste tópico, você conhecerá mais a respeito da ve-
lhice, entendendo os aspectos do desenvolvimento humano nessa fase da vida, bem
como reconhecendo os aspectos saudáveis da velhice, e reconhecendo as psicopa-
tologias que podem aparecer nesse momento do desenvolvimento, como a demência.

2 O DESENVOLVIMENTO HUMANO NA VELHICE


E AS PATOLOGIAS
No Brasil, há 20 anos, quando se falava em “idoso”, “velho”, “velhice” logo se
pensava em uma pessoa dos cabelos brancos, com a pele marcada de expressões,
aposentada e sem um trabalho contínuo e efetivo.

Porém, quando se fala nos tempos atuais muito dessa imagem já mudou, como
demonstra a Figura 17, pois a velhice não é apenas uma fase em que os indivíduos estão
aposentados e com todos os sonhos realizadas, pois os idosos estão ativos, possuem
amigos, praticam esportes etc.

35
FIGURA 17 – VELHICE EM TEMPOS ATUAIS

FONTE: <https://bit.ly/38Acaws>. Acesso em: 25 mar. 2022.

Isto vai de encontro ao que menciona Schneider e Irigaray (2008, p. 586): “[...]
as associações negativas relacionadas à velhice atravessaram os séculos e, ainda hoje,
mesmo com tantos recursos para prevenir doenças e retardá-la, é temida por muitas
pessoas e vista como uma etapa detestável”.

Dessa maneira, faz-se necessário compreender a velhice pelo olhar da teoria


do desenvolvimento, também é importante reconhecer o que é previsto ocorrer nessa
fase, porque ela não é simplesmente a última fase do desenvolvimento, uma vez
que muitas mudanças estão ocorrendo nesse período, assim como em outras fases,
mudanças psicológicas, físicas e sociais estão ocorrendo, e que impactam diretamente
no indivíduo, e que podem explicar determinadas psicopatologias, que podem surgir
nessa fase.

NOTA
A velhice é uma fase que os indivíduos continuam ativos, muitos
trabalhando, praticando esportes, mas com uma maior maturidade.

Portanto, para entender velhice se utilizará da teoria do desenvolvimento de


Erik Erikson, posteriormente aqui se abordará a respeito da velhice saudável, para então
entender a respeito da patologia em idosos.

36
2.1 DESENVOLVIMENTO HUMANO NA VELHICE
Você verificou no Tópico 2, que o estudioso Erikson em sua teoria do
desenvolvimento psicossocial abordou oito fases/períodos para compreender o
ciclo de vida, assim correspondente a fase adulta e velhice, o teórico mencionou:
maioridade jovem – dos 21 aos 40 anos, aproximadamente, meia-idade – 40 anos até,
aproximadamente, 60 anos, maturidade – após 60 anos. Assim, vamos compreender
aqui a respeito da fase maturidade.

Erik Erikson, nomeia a maturidade como a fase 8 da sua teoria a respeito do


ciclo da vida, que corresponde a faixa etária após os 60 anos de idade, assim essa seria
uma idade da reforma segundo o teórico, pois ela apresenta o conflito entre integridade
versus desesperança (ERIKSON, 1998). Na Figura 18, a representação de uma pessoa
com mais de 60 anos de idade.

FIGURA 18 – FASE DA VELHICE

FONTE: <https://bit.ly/3vcX0VB>. Acesso em: 25 mar. 2022.

A respeito da integridade, Erikson (1998) menciona que só é possível os


indivíduos alcançarem a medida que eles de fato cuidaram das pessoas e de seus
projetos ao longo da vida, superando e adaptando-se às crises e às vitórias que essas
criações abarcavam, desse modo alcançando um estado de plenitude, de estar inteiro
na situação, sendo isso está integridade. Assim,

[…] é a aceitação de seu ciclo vital único e das pessoas que se


tornaram significativas e indispensáveis a sua vida, não permitindo,
por isso, substituição. Significa, assim, um novo e diferente amor
pelos pais, liberto do desejo de que eles poderiam ter sido diferentes,
e uma aceitação do fato de que cada um é responsável pela sua
própria vida (ERIKSON,1998, p. 139-140).

Todavia, outros autores também abordam a respeito dessa fase, bem como
abordam conceitos e termos dessa fase da vida, como termo idosos jovens e idosos
velhos. Contudo, Picirilli (2018) aborda que a diferenciação de termos e conceitos tem

37
sua importância, mas é importante ressaltar que as experiências contam mais do que
as divisões etárias e estão relacionadas à subjetividade e ao contexto sociocultural, que
isto precisa ser compreendido nessa fase.

Velho dignifica antigo, ultrapassado, avançado. Entretanto, Torres et al. (2015


apud PICIRILLI, 2018, n.p.) mencionam que “[...] velhice e envelhecimento são dois
conceitos diferentes. Enquanto o primeiro faz referência à etapa da vida, o segundo se
relaciona ao processo, o movimento dinâmico que compõe essa etapa”. Nesse sentido,
o processo de envelhecimento apenas pode ser compreendido a medida que diferentes
aspectos são levados em consideração, como, cronológico, biológico, social, psicológico.

Dessa maneira, “[...] essa interação institui-se de acordo com as condições da


cultura na qual o indivíduo está inserido. Condições históricas, políticas, econômicas,
geográficas e culturais produzem diferentes representações sociais da velhice e do
idoso [...]”. (SCHNEIDER; IRIGARAY, 2008, p. 585). Isto porque, existe uma relação da
compreensão, definição e até mesmo do imaginário coletivo da velhice presente em
uma sociedade, que é até enraizado, e as atitudes frente às pessoas que estão de fato
no processo de envelhecimento.

Por essa complexidade e interação entre as condições, Schneider e Irigaray


(2004) explicam a respeito da idade dividindo o conceito em quatro tipos, para
compreender a velhice, sendo:

1. idade cronológica (são os anos de vivência de uma pessoa, ou seja, o quanto que a
aquela pessoa viveu desde quando ela nasceu);
2. idade biológica (definida pelas mudanças do corpo e do psicológico que ocorrem ao
longo da vida);
3. idade social (composta por hábitos e características esperadas socialmente por
uma idade, assim está atrelado aos papéis sociais que todo indivíduo ocupa);
4. idade psicológica (pode ser utilizada em dois sentidos, à capacidade psicológica
esperada para idade cronológica, como, percepção, memória, aprendizagem, e o
outro se refere a subjetiva de idade, sendo como o indivíduo se avalia em relação às
outras pessoas com idades igual ou próxima a pessoa).

Com isso, “[...] a pessoa mais velha, na maioria das vezes, é definida como idosa
quando chega aos 60 anos, independentemente de seu estado biológico, psicológico
e social” (SCHNEIDER; IRIGARAY, 2008, p. 586). Ainda, a variabilidade de cada pessoa,
como a genética e a ambiental, acaba impedindo o estabelecimento de parâmetros,
então somente do tempo, na idade cronológica, como medida, e a idade em si, também
acaba não determinando o envelhecimento, e não sendo uma referência para a avaliação
(SCHNEIDER; IRIGARAY, 2008).

38
Em relação aos países, em especial o Brasil, este não é mais um país de
jovens, mas um país que está envelhecendo, então é preciso que a sociedade reveja a
compreensão a respeito de velhice e processo de envelhecimento, ainda é necessário
compreender os aspectos saudáveis da velhice e que fazem parte dessa fase da vida,
para assim mudar a visão sobre envelhecimento e seus estereótipos.

“As experiências e os saberes acumulados ao longo da vida seriam vistos


como ganhos que podem ser otimizados e utilizados em prol do próprio indivíduo e da
sociedade. Dentro desta perspectiva, a velhice passaria a ser considerada uma fase boa
da vida, não rotulada apenas pelas perdas [...]” (SCHNEIDER; IRIGARAY, 2008, p. 593),
mas também reconhecida pelos ganhos, transformações e potencialidades.

DICAS
A velhice é uma fase da vida que não vem apenas com perdas, mas com
muita sabedoria e conhecimento.

2.1.1 Envelhecimento saudável


A respeito do envelhecimento, este é um processo contínuo, pois durante todo
o desenvolvimento humano, os indivíduos vão amadurecendo, assim, durante o final da
idade adulta, as funções corporais vão declinando, porém gradualmente.

Dessa maneira, após os 60 anos de idade, ocorrem mudanças no corpo, que


são esperadas, por exemplo, o cristalino dos olhos, o qual acaba engrossando e endu-
recendo, e com isso a funcionalidade de aproximação dos objetos acaba sendo afetada,
gerando fragilidade em atividades do cotidiano, por exemplo: ler, escrever, dirigir. Este é
um distúrbio chamado presbiopia, e ocorre na maioria das pessoas que vão avançando
sua idade, e faz parte do envelhecimento considerado normal e esperado.

Outro aspecto comum nos idosos, é que eles são mais propensos a perderem
os dentes, porém esse e outras situações podem ser evitadas ou já possuem melhores
recursos nos tempos atuais. Assim, no aspecto perda dos dentes, é possível consultar
um dentista regularmente, bem como ter cuidados em casa, como escovar os dentes
com frequência, usar fio dental para os dentes após refeições etc.

39
Quanto aos órgãos do sentido, como, visão, audição, paladar, olfato, sofrem al-
terações, porque ocorrem alterações no paladar, então os sabores considerados azedos
e amargos são os mais afetados e sendo maior presenciados no paladar, além da dimi-
nuição do olfato; diminuição da audição, mas, nesse último podendo utilizar do recurso
do uso de aparelho auditivo, que contribui para uma melhor escuta (CARDOSO, 2009).

Em relação à pele, ela fica com a textura mais frágil, isto porque há uma
diminuição da produção de colágeno no organismo, que tem a funcionalidade de tornar
a pele menos elástica, e ainda há a diminuição da água, que torna a pele mais ressecada,
sendo mais fácil o surgimento de hematomas (CARDOSO, 2009).

Na Figura 19, a figura demonstra a diferença da pele de uma pessoa mais velha,
assim sendo perceptível as marcas de expressão, rugas, devido à falta de elasticidade,
menor produção de colágeno etc.

FIGURA 19 – MUDANÇAS FÍSICAS

FONTE: <https://bit.ly/3O9TWm2>. Acesso em: 25 mar. 2022.

As alterações no envelhecimento não afetam os idosos apenas das maneiras


mencionadas, mas os sistemas do corpo também sofrem alterações, como: sistema
imunológico, cardiovascular, respiratório, digestório, urinário, nervoso, musoesquelético
(CARDOSO, 2009).

Assim, até aqui você teve um panorama, das mudanças físicas que vão
ocorrendo no desenvolvimento durante a velhice, consideradas esperadas, saudáveis,
porém também ocorrem mudanças mentais. Entretanto, com o avanço da idade, pode
ocorrer um declínio leve na função mental, como um esquecimento, e é considerado
esperado e dentro do envelhecimento normal (TISSER; COIMBRA, 2019).

40
Ao contrário, no entanto, do que ocorre na chamada demência, na qual o
esquecimento e a perda de memória é muito mais do que os exemplos aqui mencionados
(TISSER; COIMBRA, 2019), e você compreenderá mais adiante nesse material. Destaca-
se aqui que, o envelhecimento saudável se refere à postergação ou à redução dos
efeitos indesejáveis do envelhecimento.

No envelhecimento saudável a saúde física e a saúde mental estarão preservados


e corresponderão dentro do esperado para aquele faixa-etária e ciclo da vida.

FIGURA 20 – PRÁTICA DE EXERCÍCIO NA VELHICE

FONTE: <https://bit.ly/3vjsMAy>. Acesso em: 25 mar. 2022.

O desenvolvimento de alguns hábitos saudáveis são: seguir uma dieta (sau-


dável), exercitar-se regularmente (como na Figura 20), manter-se mentalmente ativo,
assim o quanto antes o indivíduo desenvolve esses hábitos, melhor para a sua saúde
– estes são os aspectos que estamos vendo no Brasil, com uma população na velhice
que está aumentando cada vez mais. Portanto, a seguir entenda melhor a respeito das
patologias da velhice.

NOTA
Esquecimento e falta de descrição dos detalhes de uma situação é
esperado que ocorra nessa fase, porém, se houver agravamento nos
comportamentos relacionados ao uso da memória, é preciso ficar atento.

41
3 PSICOPATOLOGIAS DA VELHICE
Na velhice, como discutido anteriormente, ocorre uma série de mudanças físicas,
mas também podem ocorrer mudanças mentais, que são esperadas. Entretanto, existem
também aquelas mudanças que não fazem parte da fase da vida, sendo assim, são
comportamentos considerados patológicos. Portanto, podem aparecer psicopatologias
na velhice – e uma delas é a chamada demência, que você compreenderá mais a seguir.

3.1 DEMÊNCIA
A demência pode ser definida como síndrome caracterizada por “[…] declínio
de memória associado a déficit de pelo menos uma outra função cognitiva (linguagem,
gnosias, praxias ou funções executivas) com intensidade suficiente para interferir no
desempenho social ou profissional do indivíduo” (CAPONI, 2014, p. 10).

O tipo mais comum e temido de demência no idoso é a doença de Alzheimer,


que muitas vezes é confundida com os sinais comuns do processo de envelhecimento.
Contudo, existem também as demências vasculares, que estão relacionadas a uma
doença vascular encefálica, que lesiona o cérebro devido ao bloqueio das passagens
sanguíneas. As mais conhecidas são o derrame cerebral e o infarto.

• Assim, as demências vasculares podem ser de três tipos:


• demência vascular de início agudo (evolui mais rapidamente que as demais e é
causada por acidentes vasculares cerebrais, como: a embolia, a hemorragia ou a
trombose);
• demência vascular subcortial (é contextualizada com episódios de hipertensão
arterial e causa focos de isquemia profunda nos hemisférios cerebrais);
• demência por infartos múltiplos (é gradual e seguida de diversos episódios de
isquemia, que acumulam infartos no parênquima cerebral).

Conforme Caramelli e Barbosa (2002, p. 8): “O diagnóstico de demência exige,


portanto, a ocorrência de comprometimento da memória, embora essa função possa
estar relativamente preservada nas fases iniciais de algumas formas de demência,
como a DFT”. Com isso, a avaliação cognitiva pode ser realizada com testes de rastreio,
como um pequeno exame do estado mental, e posteriormente ser complementada por
testes que avaliam diferentes componentes do funcionamento cognitivo.

Para avaliação, podem ser utilizados testes breves, de fácil e rápida aplicação
pelo clínico, como os de memória, como por exemplo, com a evocação tardia de listas de
palavras ou de figuras, ou ainda com a avaliação da fluência verbal, como o com o uso
de número de animais em um minuto, e com o recurso do desenho do relógio.

42
LEITURA
COMPLEMENTAR
PREVALÊNCIA DE ANSIEDADE E FATORES ASSOCIADOS EM ADULTOS

Camilla Oleiro da Costa


Jerônimo Costa Branco
Igor Soares Vieira
Luciano Dias de Mattos Souza
Ricardo Azevedo da Silva

RESUMO

Objetivo: Identificar a prevalência de transtornos de ansiedade em uma amostra


de base populacional e fatores associados. Métodos: Estudo transversal de base
populacional realizado com indivíduos entre 18 e 35 anos. As variáveis sociodemográficas,
índice de massa corporal, presença de doença crônica, abuso de álcool e tabagismo
foram analisadas. Os transtornos de ansiedade foram verificados pela Mini Internacional
Neuropsychiatric Interview 5.0. Foi utilizado o teste Qui-quadrado, considerando o
intervalo de confiança de 95%. Resultados: A amostra foi constituída por 1.953 pessoas.
A prevalência de transtornos de ansiedade foi de 27,4%. Agorafobia (17,9%) e transtorno
de ansiedade generalizada (14,3%) foram os quadros mais prevalentes. Mulheres
apresentaram maior prevalência de ansiedade, com 32,5%, quando comparadas aos
homens (21,3%) (p < 0,001). As variáveis sexo, anos de estudo, renda, doença crônica,
tabagismo e álcool foram associadas a mais de três transtornos de ansiedade investigados
(p < 0,001). Conclusão: Os dados demonstram que os transtornos de ansiedade são muito
frequentes em adultos, sendo mais prevalentes entre as mulheres. Estão associadas
aos transtornos ansiosos, principalmente, as condições socioeconômicas e substâncias
licitas. Conhecer as prevalências dos transtornos de ansiedade e fatores associados
pode auxiliar profissionais de saúde a elaborarem melhores diagnósticos e tratamentos.

INTRODUÇÃO

Mais de 450 milhões de pessoas sofrem com algum transtorno de saúde


mental. No ano de 2013, a revisão com 87 estudos feitos por Baxter, Scott e Whiteford
(2013), em 44 países, estimou a prevalência atual dos transtornos de ansiedade em 7,3%
(4,8%-10,9%). Os transtornos de ansiedade diferem entre si nos objetos ou situações
que induzem o medo, ansiedade ou comportamento de esquiva. São quadros clínicos
cujos sintomas de ansiedade são primários (não são derivados de outras doenças
psiquiátricas como depressão ou psicoses, por exemplo).

43
Segundo a classificação do Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos
Mentais (DSM-IV), agorafobia, transtorno de pânico, transtorno obsessivo-compulsivo
(TOC), fobia social, transtorno de estresse pós-traumático (TEPT) e transtorno de
ansiedade generalizada (TAG) são alguns dos transtornos de ansiedade.

As comorbidades são frequentes nos transtornos de ansiedade, variando entre


outros transtornos psiquiátricos até doenças cardiovasculares e renais. Os transtornos
de ansiedade geralmente prejudicam a vida diária dos indivíduos, pois muitos deixam
de realizar atividades rotineiras por medo das crises ou sintomas. As situações que
provocam ansiedade algumas vezes são suportadas com grande sofrimento e muitas
das atividades exigem a participação de outras pessoas para que sejam realizadas – o
que pode afetar a qualidade de vida e diminuir o grau de independência. Rompimentos
sociais e de relacionamentos e abandono de atividades consideradas prazerosas
também podem acontecer. Dessa forma, a identificação desses acontecimentos pode
direcionar ao tratamento precoce, diminuindo a gravidade desses quadros ao longo do
desenvolvimento da doença.

Assim, tendo em vista a alta a prevalência dos transtornos de ansiedade, prejuízos


que esses quadros podem gerar na vida dos indivíduos e poucos estudos existentes
na literatura sobre transtornos ansiosos, fazem-se necessárias a investigações sobre o
tema e a diferenciação das taxas de prevalências de diferentes quadros de transtornos
de ansiedade para a condução de tratamentos adequados. Entender as interferências
dos quadros de saúde mental no cotidiano das pessoas e como esses fatores se
associam pode contribuir para o desenvolvimento de políticas de saúde e a melhoria
dos serviços de atendimento.

O Relatório Mundial de Saúde recomenda que estudos direcionados para o


desenvolvimento e a criação de políticas e serviços sejam uma das cinco prioridades
para o campo da saúde mental6. Sendo assim, o objetivo deste estudo foi identificar a
prevalência de transtornos de ansiedade em uma amostra de base populacional, bem
como seus fatores associados.

MÉTODOS

Este é um estudo transversal de base populacional, realizado com adultos entre


18 e 35 anos residentes na região sul do Brasil, realizado entre os anos de 2011 e 2014. A
seleção da amostra foi realizada por conglomerados, considerando a divisão censitária
de Pelotas de 2010: a cidade é dividida em 495 setores urbanos pelo Instituto Brasileiro
de Geografia e Estatística.

Para garantir a inclusão de uma amostra abrangente e representativa, 83 setores


censitários foram sorteados de forma sistemática com o pulo de seis setores. A seleção
dos domicílios nos setores sorteados foi realizada de acordo com uma amostragem

44
sistemática: o primeiro domicílio foi o da esquina preestabelecida pelo IBGE como início
do setor e o intervalo de seleção determinado por um pulo de quatro domicílios entre
os sorteados.

Assim, foram incluídos no estudo os indivíduos sorteados que, após terem


conhecimento dos objetivos do estudo, aprovaram a sua participação e assinaram
o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido. Foram excluídos indivíduos que, por
algum motivo físico ou cognitivo, não foram capazes de compreender e responder aos
instrumentos propostos no estudo. Este estudo foi aprovado pelo comitê de ética em
pesquisa da Universidade Católica de Pelotas (UCPel), por meio do protocolo nº 15/2010.

Acadêmicos do Centro de Ciência da Vida e da Saúde da UCPel, previamente


treinados e identificados, dirigiram-se às residências sorteadas para a realização
da entrevista. Na ocasião das entrevistas domiciliares, foram coletados dados
sociodemográficos, antropométricos e sobre abuso de álcool e doenças crônicas, e foi
aplicada uma entrevista clínica diagnóstica.

Os dados sociodemográficos foram obtidos por meio de um questionário


constituído pelas variáveis: sexo, idade, cor da pele, avaliação econômica, trabalho e
situação conjugal. A avaliação econômica dos participantes foi realizada pelo Critério do
IEN (Índice Econômico Nacional). A avaliação se baseia no acúmulo de bens materiais
e na escolaridade do chefe da família. Esse critério gera uma variável contínua, que foi
apresentada por tercis. O uso de tabaco foi questionado por meio da pergunta: “Você
faz uso de cigarro?”. O abuso do álcool foi avaliado por meio do Cut down, Annoyed,
Guilty, Eye-opener (CAGE) (sensibilidade ≥ 0,88, especificidade ≥ 0,81). Esse instrumento
contém quatro questões, e a resposta afirmativa em duas ou mais é um indicativo
de diagnóstico de abuso de álcool. Já o uso de tabaco foi mensurado pela seguinte
pergunta: “Você fez uso de pelo menos um cigarro/dia na última semana?”.

Para determinar o índice de massa corporal (IMC), a altura foi mensurada com
uma fita métrica e o peso com balança de bioimpedância Tanita® BC-554. O IMC
foi dividido em três grupos (peso normal, sobrepeso e obeso), em uma classificação
baseada nas Diretrizes Brasileiras de Obesidade. Como peso normal, foi considerado o
IMC entre 18,5 e 24,9, sobrepeso entre 25 e 29,9 e obeso a partir de 30.

O transtorno de ansiedade foi investigado por meio da entrevista clínica


estruturada Mini International Neuropsychiatric Interview 5.0 (MINI). Esse instrumento
é amplamente utilizado na prática clínica e de pesquisa, e os entrevistadores foram
previamente treinados por psicólogos responsáveis pelo estudo. Os índices de
confiabilidade do MINI são satisfatórios quando comparados a vários critérios de
referência (DSM-IV e Classificação Internacional de Doenças – CID-10), em diferentes
contextos (unidades psiquiátricas e centros de atenção primária). Ainda de acordo com
essa autora, o MINI mostrou qualidades psicométricas similares às de outras entrevistas
diagnósticas padronizadas mais complexas, permitindo uma redução de 50% ou mais
no tempo da avaliação.

45
Para esse estudo, foi considerada para o transtorno de ansiedade atual a pre-
sença de alguns dos quadros avaliados pela MINI, seja agorafobia atual (sensibilidade ≥
0,59, especificidade ≥ 0,95), transtorno de pânico atual (sensibilidade ≥ 0,67, especifici-
dade ≥ 0,97), TOC (sensibilidade ≥ 0,62, especificidade ≥ 0,98), fobia social (sensibilidade
≥ 0,72, especificidade ≥ 0,88), TEPT (sensibilidade ≥ 0,85, especificidade ≥ 0,96) e an-
siedade generalizada (sensibilidade ≥ 0,67, especificidade ≥ 0,92), e também avaliamos
esses quadros de forma individual.

Para o tratamento estatístico, foi utilizado o programa Statistical Package for


the Social Science (SPSS), versão 21.0, no qual se procedeu à análise inicial com o
objetivo de obter frequência dos transtornos mentais avaliados, além de caracterizar
a amostra do estudo. O teste Qui-quadrado foi utilizado para as análises de inferência,
visando descrever a associação entre os transtornos analisados com as variáveis
sociodemográficas IMC, doenças crônicas, abuso de álcool e tabaco. Foram consideradas
associações estatisticamente significativas quando p < 0,05.

RESULTADOS

A amostra foi constituída de 2.361 adultos jovens (265 foram considerados


perdas, por não serem reencontrados após a sua identificação e inclusão no estudo para
responderem à pesquisa, e 143 recusaram-se a participar do estudo), totalizando um n
amostral de 1.953. A amostra foi composta em 54,9% (n = 1.073) por mulheres e em 45,1%
(n = 880) por homens. As características gerais da amostra estão descritas na tabela 1,
bem como os fatores associados ao transtorno de ansiedade e os dados estratificados
por sexo relacionados ao transtorno de ansiedade.

A prevalência de transtorno de ansiedade foi de 27,4% (n = 536). Avaliando


individualmente os quadros de transtornos ansiosos, as maiores taxas de prevalência
foram 17,9% (n = 350) para agorafobia e 14,3% (n = 278) para TAG. A fobia social apresentou
prevalência de 5,4% (n = 105), TOC de 4,2% (n = 82), transtorno de pânico de 3,6% (n = 71)
e TEPT de 3,0% (n = 58).

As mulheres tiveram maior prevalência de ansiedade de modo geral, quando


comparadas aos homens; o sexo feminino alcançou 32,5% (n = 349), enquanto
o masculino, 21,3% (n = 187) (p < 0,001). As variáveis anos de estudo, renda, doença
crônica, tabagismo e abuso de álcool estavam associadas a ambos os sexos. (p ≤ 0,05)
e a cor da pele, apenas ao sexo feminino (p < 0,034).

Quando os quadros foram investigados de maneira individual, a agorafobia


esteve associada ao sexo feminino (p < 0,001), grupo com menos anos de estudo (p <
0,001), classificados no menor tercil de renda (p < 0,001), grupo que relatou a presença
de doença crônica (p < 0,001) e que fazia uso de tabaco (p < 0,001) e abuso de álcool (p
< 0,001). Para o transtorno de pânico, aqueles classificados no menor tercil de renda (p <
0,032) e os fumantes (p < 0,014) mostraram associação significativa.

46
O TOC foi associado ao sexo feminino (p = 0,009), grupo com menos anos
de estudo (p = 0,004), grupo que relatou a presença de doença crônica (p = 0,008),
fumantes (p < 0,001) e os que abusavam de álcool (p = 0,002). A fobia social esteve
associada a sexo feminino (p < 0,001), cor de pele não branca (p = 0,008), aqueles no
menor tercil de renda (p < 0,001), grupo com doença crônica (p < 0,001), aqueles com
menos anos de estudo (p < 0,001) e fumantes (p < 0,001).

O TEPT esteve associado ao sexo feminino (p = 0,004), ao grupo com menos


anos de estudo (p < 0,001), menor tercil de renda (p < 0,001), doença crônica (p = 0,002),
fumantes (p < 0,001) e abusadores de álcool (p = 0,002). O TAG esteve associado ao sexo
feminino (p < 0,001), ao grupo com mais idade (p = 0,002), com menos anos de estudo
(p < 0,001), com menor tercil de renda (p < 0,001), que relatou doença crônica (p < 0,001),
fumantes (p < 0,001) e abuso de álcool (p = 0,017).

FONTE: <https://bit.ly/3jufhIq>. Acesso em: 7 jan. 2022.

47
RESUMO DO TÓPICO 3
Neste tópico, você adquiriu certos aprendizados, como:

• Erik Erikson nomeia a maturidade como a fase 8 da sua teoria a respeito do ciclo da
vida, que corresponde a faixa etária após os 60 anos de idade.

• A velhice muitas vezes é associada aos aspectos negativos, mesmo com tantos
recursos para prevenir doenças e retardá-la.

• A velhice e o envelhecimento são dois conceitos compreendidos de maneira diferente


pela maioria dos autores da literatura científica.

• Existe uma diferente importante dos termos: Idade cronológica; Idade biológica;
Idade social; Idade psicológica;

• As alterações no envelhecimento não afetam os idosos apenas das maneiras


mencionadas, mas os sistemas do corpo também sofrem alterações, como:
sistema imunológico, cardiovascular, respiratório, digestório, urinário, nervoso,
musoesquelético A mudanças físicas que vão ocorrendo no desenvolvimento
durante a velhice, consideradas esperadas, saudáveis, porém também ocorrem
mudanças mentais.

• O avanço da idade pode proporcionar um declínio leve na função mental, e é


considerado esperado e dentro do envelhecimento normal.

• No envelhecimento saudável a saúde física e a saúde mental estarão preservados e


corresponderão dentro do esperado para aquele faixa-etária e ciclo da vida.

• A demência pode ser definida como síndrome caracterizada por declínio de memória
associado a déficit de pelo menos uma outra função cognitiva (linguagem, gnosias,
praxias ou funções executivas) com intensidade suficiente para interferir no
desempenho social ou profissional do indivíduo.

48
AUTOATIVIDADE
1 O estudioso e pesquisador Erik Erikson, que nasceu em 1902, Frankfurt (na Alemanha),
morreu em 1994 (em Harwich), foi um psicanalista, colega de estudos da filha de
Sigmund Freud, que construiu a teoria do desenvolvimento psicossocial e abordou
fases do ciclo da vida, citando 8 fases do desenvolvimento. A respeito da velhice,
conforme o nome mencionado por ele, assinale a alternativa CORRETA:

a) ( ) Idade melhor.
b) ( ) Terceira idade.
c) ( ) Melhor idade.
d) ( ) Maturidade.

2 A velhice é muitas vezes reconhecida pelos seus aspectos negativos, como a perda
de colágeno na pele, perda de dentes, a perda da acuidade visual, perda de memória
em alguns momentos, entre outras mudanças físicas ou psicológicas, mas nem todas
deveriam ser vistas como fragilidades, mas como parte do processo de estar em vida,
vivenciando as mudanças da vida. A respeito da velhice, analise as afirmativas a seguir:

I- O estudioso Erikson em sua teoria do desenvolvimento psicossocial abordou a


velhice como fase da maturidade.
II- Para compreender as psicopatologias da velhice, faz-se necessário compreender as
mudanças físicas e psíquicas da velhice.
III- Os sistemas respiratórios e cardíacos são os únicos sistemas que não modificam na
velhice, permanecendo como na fase da vida adulta.

Assinale a alternativa CORRETA:


a) ( ) As afirmativas I e II estão corretas.
b) ( ) Somente a afirmativa II está correta.
c) ( ) As afirmativas I e III estão corretas.
d) ( ) As afirmativas I, II e III estão corretas.

3 A demência pode ser entendida como o declínio ou perda de memória associado


ao déficit de pelo menos uma outra função cognitiva, como linguagem, percepção,
atenção, que acabam interferindo na vida do indivíduo, como, trabalho, família, entre
outras esferas da vida. A respeito da demência, classifique V para as sentenças
verdadeiras e F para as falsas:

49
( ) A demência é uma psicopatologia que todos os indivíduos apresentam à medida
que chegam na fase da velhice.
( ) A demência corresponde apenas em esquecimentos, como onde o indivíduo
guardou determinado objeto.
( ) Para a avaliação da demência, não se faz necessário avaliação neuropsicológica,
com uso de testes.

Assinale a alternativa que apresenta a sequência CORRETA:


a) ( ) V – F – V.
b) ( ) V – V – V.
c) ( ) F – F – F.
d) ( ) F – F – V.

4 Erik Erikson desenvolveu a teoria do desenvolvimento, e ficou muito conhecido por


seus inúmeros livros, como, “O Ciclo da Vida Completo”, “Identidade, Juventude
e Crise”, “Infância e Sociedade”, entre outros que investigou o ser humano na so-
ciedade. Assim, disserte sobre como você entende a perspectiva de Erik Erikson a
respeito da velhice.

5 Os estudiosos Schneider e Irigaray (2008) explicam que “a relação entre os aspectos


cronológicos, biológicos, psicológicos e culturais é fundamental na categorização de
um indivíduo como velho ou não” (p.586). Porém, existe uma discussão na literatura
científica sobre a divisão de quatro idades a serem consideradas na velhice. Disserte
cada uma delas.

50
REFERÊNCIAS
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Médicas, 2007.

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TISSER, L.; COIMBRA, N. Psicopatologia do adulto e do envelhecimento: atualização


e prática clínica. Novo Hamburgo: Synopsis, 2019.

52
UNIDADE 2 —

TRANSTORNOS
PSICOPATOLÓGICOS
OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM
A partir do estudo desta unidade, você deverá ser capaz de:

• conhecer os transtornos psicopatológicos na vida adulta e velhice;

• demonstrar conhecimento aprofundado dos transtornos psicopatológicos da vida


adulta e da velhice;

• conhecer o manual CID-11 (definição, organização e principalmente a estrutura das


psicopatologias da vida adulta e velhice);

• conhecer o manual DSM-V (definição, organização e principalmente a estrutura das


psicopatologias da vida adulta e velhice);

• diferenciar os manuais CID-11 e DSM-V;

• descrever, com rigor conceptual e terminológico, sinais e sintomas psicopatológicos


nos adultos e idosos com perturbação mental;

• compreender o manuseio com destreza dos principais sistemas de classificação e


diagnóstico das perturbações mentais;

• compreender as especificidades clínicas dos problemas psicológicos na idade


avançada à luz dos seus fatores de influência, e numa perspectiva de análise global
da pessoa com perturbação mental.

PLANO DE ESTUDOS
Esta unidade está dividida em quatro tópicos. No decorrer dela, você encontrará
autoatividades com o objetivo de reforçar o conteúdo apresentado.

TÓPICO 1 – TRANSTORNOS PSICOPATOLÓGICOS: CID 11 E DSM-V


TÓPICO 2 – ALZHEIMER
TÓPICO 3 – PARKINSON
TÓPICO 4 – OUTROS TRANSTORNOS PSICOPATOLÓGICOS DA VIDA ADULTA E VELHICE

CHAMADA
Preparado para ampliar seus conhecimentos? Respire e vamos em frente! Procure
um ambiente que facilite a concentração, assim absorverá melhor as informações.

53
CONFIRA
A TRILHA DA
UNIDADE 2!

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54
UNIDADE 2 TÓPICO 1 —
TRANSTORNOS PSICOPATOLÓGICOS: CID
11 E DSM-V

1 INTRODUÇÃO
Quando se trata de psicopatologia muitas são as vertentes teóricas que
buscam compreender o desenvolvimento das patologias dos indivíduos. Por isso,
Dalgalarrondo (2018) expõe que enquanto área do conhecimento, a psicopatologia,
possui uma série de variedade teórica, e que isto é uma das principais características
positivas da área, porém este também é um aspecto alvo de críticas.

Nesse sentido, este material adotou a perspectiva da psicopatologia


desenvolvimental, para compreender o desenvolvimento da psicopatologia em adultos
e idosos. Diante disso, torna-se relevante destacar a importância da diversidade de
perspectivas teóricas na psicopatologia, pois segundo Dalgalarrondo (2018, s.p.) “[...]
não se avança em psicopatologia negando e anulando diferenças conceituais e teóricas;
evolui-se, sim, pelo esforço de esclarecimento e aprofundamento de tais diferenças, em
discussão aberta, desmistificante e honesta”.

Entretanto, devido à complexidade do desenvolvimento do indivíduo, ou seja, as


suas diferentes esferas de desenvolvimento (social, biológica, física, psicológica etc.),
e de como ocorre o desenvolvimento das psicopatologias nesse cenário, importante
compreender que ter o conhecimento da perspectiva teórica a respeito da psicopatologia
não é o suficiente para diagnosticar um indivíduo. Perspectiva teórica de psicopatologia
é diferente de diagnóstico. Nesse contexto da psicopatologia, o diagnóstico é uma
ferramenta importante (DALGALARRONDO, 2018).

Para a realização do diagnóstico de uma psicopatologia, o psicólogo precisa


adotar uma perspectiva teórica a respeito da psicopatologia, compreender princípios
básicos dos comportamentos patológicos, bem como conhecer e dominar os critérios
de normalidade e anormalidade. No entanto, também agregado a esse conhecimento,
é importante conhecer as ferramentas e técnicas para diagnóstico, como entrevistas
(estruturada, semiestruturada, não estruturada), observação e aplicação de instrumentos
psicológicos.

55
Na Figura 1, por exemplo, verifica-se uma consulta entre psicólogo e paciente,
em que está ocorrendo uma entrevista semiestruturada, na qual as perguntas são pré-
elaboradas pelo profissional, podendo, no momento da entrevista, outras perguntas
serem acrescentadas ao roteiro, que tem por objetivo levantar informações iniciais do
paciente para conhecimento de queixa inicial, sintomas, características, ainda, uma
entrevista inicial pode se perguntas a respeito de categorias como: queixa inicial,
explicação sobre o papel do psicólogo, estrutura familiar, membros familiares, rotina
pessoal, rotina de trabalho, saúde física, saúde mental, entre outras categorias que o
profissional pode elaborar perguntas.

FIGURA 1 – PSICOPATOLOGIA E DIAGNÓSTICO

FONTE: <https://bit.ly/3E8FHZK>. Acesso em: 28 mar. 2022.

Além das técnicas e ferramentas, o profissional pode utilizar dos manuais de


classificação das patologias, como: CID 11 (Classificação Internacional das Doenças)
e DSM-V (Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais). Com relação às
chamadas classificações, segundo Galvão e Ricarte (2021, p. 105):

[...] elas costumam reunir percepções da realidade, seus fenômenos


e objetos em grupos organizados sistematicamente a fim de facilitar
tanto a compreensão desta mesma realidade como para facilitar
trocas de conhecimentos e comunicações de forma mais rápida e
padronizada.

Isto é entre os profissionais. No entanto, também contribui para o diagnóstico


e compreensão da psicopatologia do paciente. Na Figura 2, há a representação de
diferentes profissionais que atuam de maneira multiprofissional e, assim, precisam se
comunicar para atenderem, da melhor forma, ao paciente. Desse modo, os manuais
contribuem muito para essa comunicação entre os profissionais.

56
FIGURA 2 – COMUNICAÇÃO ENTRE PROFISSIONAIS DA SAÚDE

FONTE: <https://bit.ly/37GNH8i>. Acesso em: 28 mar. 2022.

Portanto, na Unidade 2, Tópico 1, você apreenderá a respeito do Manual


Diagnóstico Estatístico de Transtornos Mentais (5ª edição) (DSM-V) e sobre a
Classificação Internacional de Doenças (11ª edição) (CID 11), bem como a respeito das
principais diferenças desses manuais.

DICA
Após o estudo do Tópico 1, da Unidade 2, sobre os manuais de
classificação das patologias, é importante que você, acadêmico, busque
na biblioteca virtual do seu curso manusear pelo menos um dos manuais
aqui mencionados, porque na prática profissional, por diversas vezes,
você poderá consultar, assim como é importante para esta disciplina você
ter o conhecimento prático dos manuais. Assim, busque, manuseie, entre
em contato prático com os manuais!

2 CID 11: COMPREENDENDO O MANUAL E AS


PSICOPATOLOGIAS DA VIDA ADULTA E VELHICE
No Brasil, muitas vezes ouve-se falar entre os profissionais da saúde a respeito do
“CID” de um determinado paciente, e isto refere-se ao manual Classificação Internacional
de Doenças, que contribui muito para a comunicação entre os profissionais da saúde
de diferentes áreas, mas o manual não é apenas para facilitar a comunicação, porque
tem muitas funções e objetivos. A Organização Mundial da Saúde (OMS) construiu a CID,
com os seguintes objetivos:

57
[...] identificar populações de risco/vulneráveis; auxiliar na
monitorização de epidemias/ameaças à saúde pública/carga de
doença; definir as obrigações dos membros da OMS de prestar
cuidados de saúde gratuitos ou subsidiados para suas populações
(DIEHL; VIEIRA, MARI, 2014, p. 23).

Além disso, todavia, existem objetivos relacionados, como o de a facilitar os


serviços de saúde; buscar realizar pesquisas para tratamentos eficazes; realizar e
embasar orientações relacionadas aos cuidados de saúde com padrões. Assim, a CID
é utilizada no mundo inteiro, para monitorar a incidência e prevalência de doenças e
condições de saúde, por isso é um instrumento padrão de diagnósticos, gerenciamento
de saúde e para situações clínicas (DIEHL; VIEIRA, MARI, 2014).

A CID, por se tratar de um manual utilizado mundialmente, passa por revisões de


maneira periódica. Segundo Galvão e Ricarte (2021, p. 105), “[...] desde seus primórdios,
a Classificação Internacional de Doenças e Problemas Relacionados à Saúde (CID)
foi revisada e publicada com alguma periodicidade para refletir os avanços da saúde,
da ciência e da sociedade”. Assim, conforme mudanças ocorrem socialmente, com
os indivíduos e com a ciência, a classificação também se modifica para atender às
mudanças e às necessidade, por mais desafiador que seja esse cenário.

A complementar, Galvão e Ricarte (2021, p. 105) relatam que: “[...] pode-se afirmar
que a Classificação Internacional de Doenças e Problemas Relacionados à Saúde (CID)
foi revisada e publicada com alguma periodicidade para refletir os avanços da saúde, da
ciência e da sociedade”.

Para que essas revisões ocorram de maneira periódica – e que atenda uma
necessidade mundial – há princípios que devem ser seguidos; por isso, o material é
considerado multidisciplinar, porque envolve as diferentes partes interessadas, não
apenas diversos profissionais da saúde, mas também os usuários. Além disso, é um
material global e considerado multilíngue (GALVÃO; RICARTE, 2021, LAURENTI, 1991).

Com isso, atualmente, a Classificação Internacional das Doenças está na 11ª


edição, chamada entre os profissionais de maneira abreviada, CID-11, assim Galvão e
Ricarte (2021, p. 24) apontam que:

[...] a CID-11 surge com o objetivo de se adequar à era digital, à


sociedade da informação e do conhecimento, trazendo diferentes
modificações e adaptações, adicionando necessidades clínicas e
migrando de uma estrutura estatística para uma classificação clínica
para uso estatístico.

Vale destacar que a 11ª edição da CID, chamada CID-11, entrou em vigor nos
países que são membros da Organização Mundial da Saúde a partir de janeiro de 2022.
Assim, a CID é utilizada por profissionais da saúde, pesquisadores, profissionais que
gerenciam contextos de saúde (hospitais e clínicas públicos e privados), trabalhadores

58
da área de tecnologia da informação de contextos de saúde, analistas, formuladores de
políticas, seguradoras de saúde, organizações de pacientes, empresas e instituições
públicas e privadas.

A CID é organizada e tem uma estrutura, na qual as doenças recebem um código


alfanumérico, ou seja, com uma letra e número, representando uma condição, sintoma,
sinal, e até mesmo um diagnóstico (GALVÃO; RICARTE, 2021).

Nesse sentido, pode-se dizer que a CID é um manual, que tem a finalidade de
nortear os profissionais da saúde. Por isso, ela é considerada com ferramenta que tem
caráter classificatório, além disso é organizada e estruturada em classes e subclasses
de doenças, conforme condições relacionadas à saúde, bem como as causas externas
de doença ou morte (GALVÃO; RICARTE, 2021; OMS, 1994).

Dessa forma, as doenças são apresentadas da seguinte forma: doenças


infecciosas e parasitárias; neoplasias; doenças do sangue; doenças endócrinas,
nutricionais e metabólicas; doenças do sistema circulatório; transtornos mentais e
comportamentais; doenças do sistema nervoso; doenças dos olhos; doenças do ouvido;
doenças do sistema respiratório (GALVÃO; RICARTE, 2021).

Continuando a apresentação, doenças do sistema digestivo; doenças da pele


e tecido subcutâneo; doenças do sistema musculoesquelético e tecido conjuntivo; do-
enças do aparelho geniturinário; lesões, envenenamento e certas outras consequên-
cias de causas externas; gravidez, parto e puerpério; condições originadas no período
perinatal; malformações congênitas, deformações e anormalidades cromossômicas;
sintomas, sinais e achados clínicos e laboratoriais anormais; causas externas de mor-
bidade e mortalidade; fatores que influenciam o estado de saúde e o contato com os
serviços de saúde etc. (GALVÃO; RICARTE, 2021).

Entende-se que a CID tem por objetivo permitir o registro, a análise, a


interpretação e a comparação sistemática de dados de mortalidade e morbidade
coletados em diferentes países ou áreas e em momentos diferentes (DIEHL; VIEIRA,
MARI, 2014; GALVÃO; RICARTE, 2021; OMS, 1994).

Diante do exposto, a CID é um material de extrema importância para o psicólogo,


e pode contribuir como uma das ferramentas a serem utilizadas no momento de
diagnóstico. No entanto, a aplicação da classificação precisa ser adequada, consciente
e consistentes, e jamais solitária e mecânica. Galvão e Ricarte (2021, p. 24) realizam um
alerta importante a respeito da consulta da CID: “[...] muitos aplicativos disponíveis na
Internet trazem apenas o código com respectivo termo da CID, porém não contemplam
as notas explicativas tão necessárias para que o usuário da CID faça um uso adequado
de seu conteúdo”. Logo, essa é uma importante ferramenta, mas para ser usada
em conjunto com as informações do paciente, coletadas com o uso de técnicas e
ferramentas apropriadas e fidedignas.

59
DICA
O artigo científico chamado “Classificação internacional de doenças e
problemas relacionados à saúde (CID-11)” descreve a CID 11, que chegou
no Brasil em janeiro de 2022. Assim, o artigo aborda as novidades dessa
estrutura e comparação com a CID 10, ainda vigente no país, sendo um
artigo científico de publicação e conteúdo recente, interessante e gratuito.

3 DSM-V: COMPREENDENDO O MANUAL E AS


PSICOPATOLOGIAS DA VIDA ADULTA E VELHICE
O DSM, chamado originalmente de Diagnostic and Statistical Manual of Mental
Disorders, foi traduzido para a língua portuguesa como Manual Diagnóstico e Estatístico
de Transtornos Mentais. Ele é conhecido com um compêndio ou manual psicopatológico,
que sempre foi organizado, revisado e editado pela APA – American Psychiatric
Association. Para conhecimento, essa é uma importante associação americana, com
profissionais e estudantes de psicologia. Segundo Ribeiro et al. (2020), a primeira edição
do DSM foi publicada em 1952, nessa primeira versão, o manual era composto por 106
categorias de transtornos psicológicos ou, como mais usado na época, 106 categorias
de doenças mentais.

Nessa versão, a visão e compreensão das psicopatologias era psicossocial,


na qual o uso dos termos “mecanismos de defesa”, “neurose” e “conflito neurótico”
apareciam e davam evidência no manual, demonstrando a perspectiva psicanalítica dos
fenômenos psicopatológicos, que na época estava bastante em evidência na prática
profissional dos psicólogos, até porque não se tinha uma diversidade de abordagens
psicológicas que explicassem os fenômenos psicológicos dos indivíduos.

Na Figura 3, pode-se verificar o processo histórico do manual DSM, uma vez


que a cada edição as categorias foram sendo ajustadas, e o manual atendendo às
necessidades dos profissionais e sofrendo mudanças, conforme as mudanças sociais.

FIGURA 3 – HISTÓRIA DO DSM

FONTE: A autora

60
Conforme pode-se verificar na Figura 3, a 1ª edição surgiu em 1952, com 106
categorias de patologias. Na 2ª edição, em 1968, ocorreu um aumento das categorias,
existindo naquele momento uma revisão que o manual passou a apresentar 182
categorias, já na 3ª edição, em 1980, teve-se um grande aumento das categorias
existindo 265. Em 1987, a 3ª edição sofreu uma revisão de atualizações e contou com
292 categorias, já em 1994, não teve tantas mudanças, passando para 297 categorias.
A última, 13ª edição, foi em 2013, sendo assim, a história demonstra que, com o tempo,
fez-se necessário uma revisão e atualização das patologias e de suas classificações.

Portanto, o DSM está em sua quinta edição, conforme Caponi (2014, p. 75) “[...]
no dia 18 de maio de 2013, foi editada a última versão revisada do Manual de Diagnóstico
e Estatística de Transtornos Mentais (Diagnostic and Statistical Manual of Mental
Disorders), conhecida como DSM-V”. Conforme First (2014), o manual está organizado
em três capítulos, sendo o primeiro capítulo nomeado como “Diagnóstico Diferencial
Passo a Passo”, que explora as questões do diagnóstico diferencial que devem ser
consideradas para todo paciente em avaliação, então é possível verificar seis passos para
a realização do diagnóstico, contribuindo para essa atividade do profissional, elaboração
do diagnóstico; o segundo capítulo, chamado “Diagnóstico Diferencial por Meio de
Algoritmos”, apresenta informações para melhorar a maneira do profissional formular o
diagnóstico diferencial; e o terceiro capítulo, chamado “Diagnóstico Diferencial por Meio
de Tabelas” contém tabelas com informações que podem contribuir com o diagnóstico.

A respeito das informações do DSM e das classificações, o autor aborda que:

[...] os clínicos devem sempre resistir à tentação de aplicar os critérios


do DSM-5 ou os algoritmos de decisão e as tabelas de diagnóstico
diferencial deste manual de forma mecânica, ou como se utilizassem
um livro de receitas. As abordagens delineadas aqui são sugeridas
para aprimorar, e não substituir, o papel central do julgamento clínico
e a sabedoria da experiência acumulada (FIRST, 2014, p. 8).

4 DIFERENCIAÇÃO DOS MANUAIS: REFLEXÃO


Até o presente momento, você acadêmico estudou a Classificação Internacional
das Doenças (CID-11) e o Manual Diagnóstico e Estatístico dos Transtornos Mentais
(DSM-V), porém dentro desse conhecimento que você está construindo, importante
compreender as diferenças entre os manuais de classificação das doenças, para que em
uma necessidade da prática profissional, você saiba o manual que consultará e utilizará
na determinada demanda. Para reconhecer as diferenças entre os manuais, segue uma
lista das diferenças, para a reflexão.

• A “CID” refere-se à Classificação Internacional de Doenças construída pela Organização


Mundial da Saúde (OMS), que tem um impacto mundial, já o “DSM”, traduzido para a
língua portuguesa como Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais foi
elaborado pela American Psychiatric Association, que é um órgão americano com

61
profissionais especialista da área da saúde mental, reconhecido em todo mundo, ou
seja, órgãos de extrema relevância, mas com diferentes propostas.
• A respeito das versões que estão sendo utilizadas no Brasil, do DSM-5, é a 5ª edição,
publicada em 2013, e da CID-11 é a 11ª edição, publicada em 2022 no país.
• O Manual Diagnóstico e Estatístico dos Transtornos Mentais (DSM-V) tem uma
proposta de uso clínico, e deixa claro em sua descrição, porém a Classificação
Internacional das Doenças (CID-11) tem um caráter também de formação.
• O DSM-5 é um dos manuais e sistemas de classificação dos distúrbios e distúrbios
psíquicos mais conhecidos e relevantes, a CID-10 e CID-11 é outro manual que faz parte
dos grandes manuais e sistemas de classificação que existem, porém não analisa
somente transtornos mentais, mas um conjunto de todas as doenças, distúrbios e
alterações existentes. Assim, neste manual, os transtornos mentais ocupam apenas
um capítulo, sendo o chamado capítulo F.
• O DSM é manual de referência quando se trata de transtornos mentais, já o CID é
um manual da Classificação Internacional de Doenças, então inclui não apenas as
alterações psicológicas, mas o conjunto de distúrbios e doenças médicas, para além
das psicológicas, que podem aparecer num indivíduo.
• No manual todo do DSM-5 será encontrado problemas e transtornos mentais,
enquanto que na CID-10 e CID-11 serão encontrados em apenas um dos capítulos
ou seções.
• O DSM-5 é um sistema de classificação conhecido e bastante utilizado nos Estados
Unidos. Ele também é referência para a maioria de profissionais da área de psiquiatria
e psicologia da Europa, ainda é conhecido e utilizado em outras partes do mundo,
porém a CID é reconhecida no mundo todo, por tratar de um manual desenvolvido
pela organização mundial da saúde, e ser referência para todos os profissionais da
saúde, de diferentes áreas do conhecimento.
• Quanto ao conteúdo, e em especial a classificação dos diferentes transtornos
mentais, a CID-10 possuí um total de 10 seções diferenciadas no capítulo dedicado
aos transtornos psicológicos, já no DSM encontra-se um total de 21 grandes
categorias de diagnóstico, devido a essa diferença de estrutura alguns transtornos
psicológicos aparecem iguais dos dois manuais, e tem transtornos que aparecem
com classificações diferentes, bem como outros não aparecem.

DICA
O CID e DSM são manuais importantes para profissionais da saúde, o
CID-10 ainda está em vigência no Brasil e é utilizado pelo Sistema Único
de Saúde.

62
RESUMO DO TÓPICO 1
Neste tópico, você adquiriu certos aprendizados, como:

• Na área da psicopatologia muitas são as vertentes teóricas que buscam compreender


o desenvolvimento das patologias dos indivíduos. Isto deve-se à complexidade do
desenvolvimento do indivíduo, ou seja, as suas diferentes esferas de desenvolvimento
(social, biológica, física, psicológica etc.).

• Perspectiva teórica de psicopatologia é diferente de diagnóstico.

• Para a realização do diagnóstico de uma psicopatologia, o psicólogo precisa adotar


uma perspectiva teórica a respeito da psicopatologia, compreender princípios básicos
dos comportamentos patológicos, bem como conhecer e dominar os critérios de
normalidade e anormalidade.

• É importante conhecer as ferramentas e técnicas para realizar diagnóstico, como


entrevistas (estruturada, semiestruturada, não estruturada), observação, aplicação
de instrumentos psicológicos e conhecer manuais de classificação.

• O Manual Diagnóstico Estatístico de Transtornos Mentais 5ª edição (DSM-V) e


Classificação Internacional de Doenças 11ª edição (CID 11) são manuais relevantes
para o futuro psicólogo.

• A “CID” refere-se à Classificação Internacional de Doenças construída pela


Organização Mundial da Saúde (OMS).

• Os objetivos da CID são: identificar populações de risco/vulneráveis; auxiliar na


monitorização de epidemias/ameaças à saúde pública/carga de doença; definir as
obrigações dos membros da OMS de prestar cuidados de saúde gratuitos ou subsi-
diados para suas populações, facilitar o acesso a serviços de saúde adequados etc.

• O DSM, chamado originalmente de Diagnostic and Statistical Manual of Mental


Disorders, foi traduzido para a língua portuguesa como Manual Diagnóstico e
Estatístico de Transtornos Mentais.

• O DSM foi construído pela American Psychiatric Association.

63
AUTOATIVIDADE
1 Compreender a queixa e os sintomas apresentados por um paciente não é uma
tarefa fácil, pois requer uma investigação dos comportamentos apresentados e das
falas verbalizadas, isto se o profissional estiver diante de pacientes jovens, adultos e
idosos. Sendo assim, assinale a alternativa CORRETA:

a) ( ) O diagnóstico envolve o uso de apenas manuais de classificação de doenças.


b) ( ) O diagnóstico envolve o uso de diferentes técnicas, ferramentas e o uso de
manuais de classificação de doenças.
c) ( ) O diagnóstico envolve o uso de apenas instrumentos psicológicos.
d) ( ) O diagnóstico envolve o uso de apenas instrumentos psicológicos e manuais de
classificação de doenças.

2 A respeito das psicopatologias, os manuais de classificação de doenças podem


contribuir como uma ferramenta de consulta para profissionais da saúde, mas não
podem ser considerados como o único material a ser utilizado para diagnosticar um
paciente. Assim, analise as afirmativas a seguir:

I- DSM-V significa Manual Diagnóstico Estatístico de Transtornos Mentais 5ª edição.


II- CID-11 remete-se a Classificação Internacional de Doenças em 11 grandes categorias.
III- O DSM-V sempre foi elaborado e revisado pela Organização Mundial da Saúde.

Assinale a alternativa CORRETA:


a) ( ) As afirmativas I e II estão corretas.
b) ( ) Somente a afirmativa II está correta.
c) ( ) As afirmativas I e III estão corretas.
d) ( ) Somente a afirmativa I está correta.

3 Os manuais de classificação das doenças podem contribuir com a comunicação


entre profissionais da saúde, por isso o conhecimento a respeito dos manuais, bem
como compreender as categorias e a forma de manusear são importantes no dia a
dia dos profissionais da saúde. De acordo com essa afirmação, classifique V para as
sentenças verdadeiras e F para as falsas:

( ) A “CID” refere-se à Classificação Internacional de Doenças, construída pela


Organização Mundial da Saúde (OMS).
( ) Os objetivos da CID são identificar populações de risco, além de auxiliar na
verificação e controle de situações de pandemias, bem como facilitar o acesso à
população a serviços de saúde de qualidade.

64
( ) O DSM originalmente chamado de Diagnostic and Statistical Manual of Mental
Disorders foi construído pela American Psychiatric Association e pela Organização
Mundial da Saúde (OMS).

Assinale a alternativa que apresenta a sequência CORRETA:


a) ( ) V – F – F.
b) ( ) V – F – V.
c) ( ) V – V – F.
d) ( ) F – F – V.

4 A conhecida “CID” é um manual nomeado como Classificação Internacional de


Doenças, que foi construída pela Organização Mundial da Saúde (OMS); e, desde a
sua primeira versão, sempre teve objetivos que atingissem os mais diversos países do
mundo, além de sempre construir estratégias que buscasse coletar informações dos
diversos países, mesmo com os desafios de realização. Diante disso, disserte sobre
quais os objetivos da CID.

5 O Manual Diagnóstico Estatístico de Transtornos Mentais 5ª edição (DSM-V) e


Classificação Internacional de Doenças 11ª edição (CID 11) são manuais relevantes,
porém são muito diferentes, desde a construção, bem como os órgãos responsáveis
pela construção, revisão e divulgação dos materiais. Disserte sobre, pelo menos três
diferenças desses manuais.

65
66
UNIDADE 2 TÓPICO 2 -
ALZHEIMER

1 INTRODUÇÃO
Acadêmico, no Tópico 1, você pôde conhecer o manual CID-11 (definição, estru-
tura e organização) e o manual DSM-V (definição, estrutura e organização). Além disso,
você também pôde reconhecer e refletir a respeito das diferenças entre os manuais, en-
tão, nesse momento, no Tópico 2, você estudará a respeito da psicopatologia Alzheimer.

O Alzheimer é um transtorno psicológico neurocognitivo complexo que pode


surgir em adultos e idosos. Assim, você aprenderá a descrever, com rigor conceptual e
terminológico, sinais, sintomas e características dessa patologia, além de conhecer a
respeito da avaliação e tratamento desse transtorno.

Portanto, este tópico se inicia com a compreensão do Alzheimer, de modo a


descrever sua definição e causa e, posteriormente, estudará os sintomas e características,
seguido da avaliação e tratamento.

2 ALZHEIMER: COMPREENDENDO A PATOLOGIA,


DEFINIÇÃO E CAUSAS
Você já compreendeu a respeito da psicopatologia, de modo a primeiramente
compreender o desenvolvimento humano, em especial o ciclo vida no período da vida
adulta e velhice. Assim, estudou os conceitos mais básicos e fundamentais a respeito
da psicopatologia; e, por fim, apreendeu a relação do desenvolvimento humano com
psicopatologia, em especial vida adulta e velhice. Assim, foi abordado que, nas últimas
décadas, ocorreu o aumento da longevidade, porém a longevidade não está relacio-
nada apenas com a qualidade de vida dos indivíduos e com o envelhecimento natural
e saudável.

Nesse cenário de maior qualidade de vida na velhice, há uma maior complexidade


para médicos, neuropsicólogos e psicólogos compreenderem déficits cognitivos e as
psicopatologias que surgem com a vida adulta e com o processo de envelhecimento.
Por isso, é difícil entender as dificuldades consideradas dentro do esperado do processo
de envelhecimento, com isso, é importante um diagnóstico diferencial, entre uma
alteração cognitiva que é saudável e dentro do esperado, com aquela alteração que
pode sinalizar um comportamento patológico, e um possível sinal de desenvolvimento
de uma psicopatologia.

67
Portanto, a Unidade 2 iniciou o Tópico 1 com o estudo dos manuais de classifi-
cação, entendendo a respeito do CID-11, DSM-V, a organização das doenças quanto aos
seus sintomas e características, e no Tópico 2, você acadêmico conhecerá a respeito da
Doença de Alzheimer.

2.1 DEFININDO E COMPREENDENDO A DOENÇA DE


ALZHEIMER
Conforme Smith (1999) destaca, a Doença de Alzheimer, que para essa utiliza
da sigla DA, foi estudada e caracterizada pelo Neuropatologista, alemão, chamado Alois
Alzheimer, em 1907. Segundo Abraz (c2019) Alois Alzheimer estudou e publicou o caso
de uma de suas pacientes chamada Auguste Deter, a qual era uma mulher saudável,
com seus 51 anos, que desenvolveu um quadro patológico que perdia de maneira
progressiva a memória.

Alois Alzheimer ao estudar a paciente notou que ela apresentava comporta-


mentos de desorientação, além de distúrbio de linguagem, com dificuldades tanto para
compreender quanto para se expressar, e que acabou tornando-se incapaz de cuidar de
si, então Alois, após o falecimento de Auguste, aos 55 anos, ele examinou o cérebro de
sua paciente e descreveu as alterações que hoje são conhecidas como as característi-
cas da Doença de Alzheimer (ABRAZ, c2019).

Smith (1999, p. 3) apresenta que a Doença de Alzheimer pode ser compreendida


como “[...] uma afecção neurodegenerativa progressiva e irreversível de aparecimento
insidioso, que acarreta perda da memória e diversos distúrbios cognitivos”. Você
verifica, na Figura 4, a representação de um idoso com a Doença de Alzheimer que se
caracteriza por uma doença que gera a perda da memória, levando o comportamento
de esquecimento.

FIGURA 4 – DOENÇA DE ALZHEIMER

FONTE: <https://bit.ly/37bOFtm>. Acesso em: 28 mar. 2022.

68
Abraz (c2019) relata que a Doença de Alzheimer é uma enfermidade que não tem
cura, porém há tratamento; e recomenda-se que seja tratada, visto que com o tempo
ela vai se agravando, e a maioria das vítimas são pessoas idosas. Segundo Avila e Miotto
(2003) à medida que um indivíduo envelhece, ocorre o processo de envelhecimento, no
qual algumas alterações vão ocorrer, isto em diferentes áreas do corpo, físico e mental.
Sendo assim, tanto na cognição quanto no comportamento, porém essas alterações
sofrem uma ordem temporal, sendo primeiramente alterações em atividades viso-
espaciais, posteriormente, viso-construtivas, do que em atividades verbais.

Assim, os indivíduos acima de 65 anos costumam se queixar de dificuldades


com a memória e outras habilidades cognitivas, isto quando lembram e se comparam
com o desempenho em anos anteriores. Entretanto, quando se trata de Doença de
Alzheimer ou outras demências que afetam a cognição, assim o comprometimento,
dependendo do grau, pode gerar a perda da autonomia, e qualidade de vida do indivíduo
(AVILA; MIOTTO, 2003).

Conforme Dalgalarrondo (2018, s.p.) a Doença de Alzheimer “[...] é uma condi-


ção de início insidioso e evolução lenta, gradual e constantemente progressiva, sem
platôs prolongados”. Com isso, essa é uma doença do processo neurodegenerativo
que se manifesta por perdas cognitivas, principalmente em relação à memória epi-
sódica e da aprendizagem, mas essas acabam sendo prejudicadas nas fases inter-
mediárias da doença, assim afetando a linguagem, a capacidade visuoconstrutiva e
perceptomotora, bem como as funções executivas, então assim afetam as atividades
realizadas no cotidiano.

Segundo Zhao e Tang (2002) a doença de Alzheimer é a patologia neurodege-


nerativa mais frequente associada à idade, sendo que as suas manifestações cognitivas
e neuropsiquiátricas resultam em uma deficiência que acaba sendo progressiva e que
gera em falta de autonomia, e até em incapacidade de realizar atividades, quando a
patologia está avançada.

Abraz (c2019) complementa relatando que essa doença se apresenta como


uma demência, caracterizando pela perda das funções cognitiva, ou seja, memória,
orientação, atenção e linguagem, isto devido à morte de células cerebrais. No entanto,
quando diagnosticada no início, é possível retardar o seu avanço e ter mais controle
sobre os sintomas; e, por meio disso, garantir uma melhora da qualidade de vida ao
indivíduo diagnosticado e a sua família.

Quanto à incidência Harman (1996 apud SMITH, 1999, p. 3) destaca que a “[...]
DA de acometimento tardio, de incidência, ao redor de 60 anos de idade, ocorre de
forma esporádica, enquanto a DA de acometimento precoce, de incidência ao redor
de 40 anos, mostra recorrência familiar”. Diante do exposto, e, assim, a compreensão
da definição e incidência do Alzheimer, a seguir compreenda a respeito das caudas do
Alzheimer.

69
2.2 CAUSAS DA DOENÇA DE ALZHEIMER
A Doença de Alzheimer sempre foi tema de interesse de pesquisas de várias
áreas do conhecimento, não apenas da medicina, mas também da psicologia, biologia,
genética, entre outras, assim a causa da Doença de Alzheimer sempre foi um dos
temas mais estudados. Em estudos genéticos, Almeida (1997) destacou que a Doença
de Alzheimer como uma doença de herança autossômica dominante, sendo assim,
genética, mas a maioria dos casos parece ser esporádica ou multifatorial, ainda relatou
que alguns genes já foram mapeados e relacionados à doença de Alzheimer, como
aqueles localizados nos cromossomos 1, 14, 19 e 21.

FIGURA 5 – DOENÇA DE ALZHEIMER E A GENÉTICA

FONTE: <https://bit.ly/36bS8aY>. Acesso em: 28 mar. 2022.

Já Abraz (c2019, s.p.) aponta que ao observar o cérebro pode-se verificar


alterações, como se fossem lesões, e que as principais alterações:

[...] são as placas senis decorrentes do depósito de proteína beta-


amiloide, anormalmente produzida, e os emaranhados neurofibrilares,
frutos da hiperfosforilação da proteína tau. Outra alteração observada
é a redução do número das células nervosas (neurônios) e das
ligações entre elas (sinapses), com redução progressiva do volume
cerebral.

Os autores explicam que, as alterações cerebrais já estão no indivíduo antes


mesmos dos sintomas e características aparecem no comportamento. Assim, as perdas
de neurônios não ocorrem de maneira constante e homogênea, mas as mais prejudicadas
são as células nervosas, responsáveis por planejamento e execução. Portanto, pode-
se dizer que a Doença de Alzheimer tem relação com doenças genéticas, e que com
pesquisas já foram verificados cromossomos relacionados com a doença, também já foi
investigado a mudança da estrutura cerebral com o avanço da Doença de Alzheimer, e
um exemplo disso é a Figura 6.

70
FIGURA 6 – DIFERENÇA CEREBRAL NA DOENÇA DE ALZHEIMER

FONTE: A autora

Conforme a Figura 6, os principais sinais da doença de Alzheimer é a ocorrência


da diminuição da quantidade de neurônios e das sinapses, causando atrofia e progressiva
redução do volume do cérebro, isto ocorre devido a perda de neurônios, sendo que as
áreas mais atingidas são aquelas relacionadas a memória e as funções de planejamento
e de realização de mais funções complexas.

DICA
A leitura do artigo científico “Biologia Molecular da Doença de Alzheimer:
uma Luz no Fim do Túnel?” é agradável, pois traz explicações genéticas
de maneira clara e com o uso de gráficos apresentando informações de
extrema relevância.

2.3 EVOLUÇÃO DO ALZHEIMER


Na Doença de Alzheimer conforme vão se passando os anos, os sintomas no
paciente vão se agravando, e é por isso que a DA é caracterizada pelo agravamento
progressivo dos sintomas. Entretanto, a progressão não é algo regular, e não ocorre
de maneira igual a todo indivíduo que é diagnosticado com DA, muitos pacientes
podem apresentar períodos de maior estabilidade, ainda, se for um indivíduo que realiza
tratamento, os sintomas podem se apresentar de maneira diferente (ABRAZ, c2019).

71
Ainda, existe várias maneiras da DA ser classificada, na CID-10 ela está na
classificação F00 — F09, que aborda os transtornos mentais orgânicos, incluindo
sintomáticos, então são organizados em: F00 Demência na doença de Alzheimer,
F00.0 Demência na doença de Alzheimer de início precoce, F00.1 Demência na doença
de Alzheimer de início tardio, F00.2 Demência na doença de Alzheimer, tipo misto ou
atípica, e F00.9 Demência na doença de Alzheimer, não especificada (OMS, 1994).

Assim, a respeito da evolução dos sintomas da Doença de Alzheimer pode ser


dividida em três fases: leve, moderada e grave. Na fase leve os sintomas apresentados
estão mais relacionados as atividades do cotiado e que podem ser confundidos como
sintomas do processo de envelhecimento, já na fase moderada a perda de memória
está mais presente das atividades e outros prejuízos da cognição podem ser vistos nos
comportamentos, e a fase grave apresenta característica de perda da autonomia. A
seguir, você encontra características das fases, baseado no texto de Abraz (c2019).

Fase leve:

• alterações como perda de memória recente, sendo verificada na dificuldade para


encontrar palavras;
• desorientação em relação ao tempo e espaço, como demonstrado na Figura 7;
• dificuldade para tomar decisões;
• perda de tomar iniciativa;
• baixa motivação, e diminuição do interesse por atividades;
• sinais de depressão;
• agressividade.

FIGURA 7 – FASE LEVE – INICIAL

FONTE: <https://bit.ly/3rny38Z>. Acesso em: 28 mar. 2022.

Fase moderada:

72
• são comuns dificuldades mais evidentes com atividades do dia a dia, com prejuízo de
memória, com esquecimento de fatos mais importantes;
• esquecimento dos nomes de pessoas próximas;
• incapacidade de viver sozinho;
• incapacidade de cozinhar e de cuidar da casa, de fazer compras;
• dependência importante de outras pessoas para atividades diárias, como demonstra
a Figura 8;
• necessidade de ajuda com a higiene pessoal e autocuidados;
• maior dificuldade para falar e se expressar com clareza;
• alterações de comportamento (agressividade, irritabilidade, inquietação);
• ideias sem sentido (desconfiança, ciúmes);
• alucinações (ver pessoas, ouvir vozes de pessoas que não estão presentes).

FIGURA 8 – AUXÍLIO PARA AS ATIVIDADES DIÁRIAS

FONTE: <https://bit.ly/37E04lA>. Acesso em: 28 mar. 2022.

Fase grave:

• prejuízo gravíssimo da memória, com incapacidade de registro de dados;


• muita dificuldade na recuperação de informações antigas como reconhecimento de
parentes, amigos, locais conhecidos;
• dificuldade para alimentar-se associada a prejuízos na deglutição;
• dificuldade de entender o que se passa a sua volta, dificuldade de orientar-se dentro
de casa;
• pode haver incontinência urinária e fecal;
• pode ocorrer intensificação de comportamento inadequado;
• há tendência de prejuízo motor, que interfere na capacidade de locomoção, sendo
necessário auxílio para caminhar.

73
FIGURA 9 – AUXÍLIO PARA SE ALIMENTAR

FONTE: <https://bit.ly/3KF7dk4>. Acesso em: 28 mar. 2022.

Portanto, a evolução que ocorre no Alzheimer acontece por meio de fases, nas
quais os pacientes possuem sintomas e comportamentos que vão se agravando com o
passar do tempo, porém embora existam as fases leve, moderada e grave, não significa
que isso ocorre de maneira fixa em todos os pacientes com esse diagnóstico, pois vai
depender da individualidade de cada paciente, bem como do momento do diagnóstico,
história de vida e da rede de apoio (familiares e amigos) do paciente.

INTERESSANTE
Para compreender as fases do Alzheimer fica a indicação do filme
chamado “Meu pai”, que trata da história de um homem no processo de
envelhecimento, mas que apresenta características de Alzheimer, que vai
com o tempo se agravando. O filme foi ganhador no Oscar 2021, e conta
com o ator Anthony Hopkins para interpretação do personagem principal.

3 ALZHEIMER: CARACTERÍSTICAS E SINTOMAS


A respeito dos sintomas e das características da Doença de Alzheimer (DA),
segundo Dalgalarrondo (2018) no início dos chamados quadros clínicos de DA os
indivíduos apresentam uma fala com característica de dificuldade em encontrar a “a
palavra certa”, sendo a sensação de buscar e não conseguir encontrar a palavras que
deseja expressar verbalmente.

74
A característica apresentada por Dalgalarrondo (2018) é fase inicial, na qual
é demarcada a dificuldade da fluência verbal; e, assim, das capacidades linguísticas,
então pode-se apresentar falha nas habilidades verbais, apresentando repetição de
palavras, dificuldade na articulação das palavras. Ainda, vale destacar que nessa fase
inicial, o indivíduo pode apresentar termos inespecíficos, ou seja, termos vagos para os
locais, pessoas e objetos, por exemplo, verbalizar “o homem”, “a mulher”, “o menino”, “o
hospital”, “aquela casa”, assim pode tentar se lembrar e apontar.

A complementar Dalgalarrondo (2018), Abraz (c2019) apresenta alguns


comportamentos que podem ocorrer na fase ou estágio inicial, como: ter problemas com
a fala; ter perda de memória; ficar perdido em relação ao tempo, como dia da semana,
ou até mesmo hora do dia; ficar perdido em locais que já são familiares, como casa,
rua, bairro; ficar sem atividade e sem motivação para realizar atividades; apresentar
mudanças de humor e com isso apresentar momentos de depressão ou ansiedade,
e até mesmo agir com agressividade em situações que sente raiva ou irritação (por
exemplo em momento que se sente perdido).

A respeito dos sintomas intermediários da doença, os indivíduos apresentam


comportamentos como: ficar desorientado; ter dificuldade de cozinhar e limpar a casa;
ter dificuldade de praticar a própria higiene pessoal; ter uma maior dependência de
familiares e pessoas próximas; realizar perguntas repetidas; ter uma fala repetitiva com
histórias e situações; ficar perdido em locais familiares, como a própria casa; apresentar
alucinações (ABRAZ, c2019; DALGALARRONDO, 2018).

A respeito dos sintomas avançados da doença, este está relacionado a uma


maior dependência e uma maior inatividade do indivíduo, isto porque há um maior
comprometimento da memória, levanto a comportamentos como: ter dificuldades para
se alimentar; ter dificuldade para reconhecer as pessoas, mesmo que próximas, como
familiares e cuidadores; ter dificuldade para compreender o que é dito e orientado;
ter dificuldade para realizar pequenos trajetos sozinho, mesmo que em locais muito
familiares; ter dificuldade para se locomover e realizar determinados movimentos;
realizar continência urinária; realizar atividades básicas e diárias (ABRAZ, c2019;
DALGALARRONDO, 2018).

DICA
Para compreender os sintomas e características da Doença de
Alzheimer, indicamos o filme “Longe Dela”, que trata de uma
personagem com diagnóstico de Alzheimer. Por meio de filmes como
esse é possível vivenciar situações reais da doença; e, assim, observar
os sintomas e características, que auxiliam no momento de relacionar
teoria e prática.

75
4 ALZHEIMER: AVALIAÇÃO E TRATAMENTO
Na Doença de Alzheimer, como visto até aqui, o paciente apresentará uma série
de sintomas e comportamentos que até ocorrer o diagnóstico precisam ser investigados.
Na área da saúde, a forma de investigação de sintomas e comportamentos é por meio da
avaliação. Na avaliação do Alzheimer muitos são os profissionais que podem contribuir,
mas o médico é essencial para o diagnóstico.

Após a avaliação iniciará o tratamento, que pode ser realizado de maneira mul-
tiprofissional, ou seja, por meio de diferentes profissionais da saúde, como médicos, psi-
cológico, fisioterapeuta, acompanhante terapêutico, fonoaudiólogo. Portanto, a seguir,
você acadêmico compreenderá mais a respeito de avaliação e tratamento do Alzheimer.

4.1 AVALIAÇÃO DO ALZHEIMER


Na Doença de Alzheimer (DA) é comum que as características e sintomas da
doença sejam confundidas com o processo de envelhecimento normal e esperado, por
isso a necessidade de uma investigação dos sintomas, características, comportamentos
que vão sendo percebidos pelas pessoas próximas; e, com isso, a investigação é
realizada por meio de uma avaliação, e consequentemente essa avaliação contribuirá
para o diagnóstico.

O diagnóstico da Doença de Alzheimer é de caráter clínico, então normalmente


é uma avaliação realizada por um médico, por meio de exames, e do levantamento da
história do paciente. O médico pode realizar exames de sangue, exames de imagens (por
exemplo: tomografia, ressonância magnética do crânio), e este são com o objetivo de
poder excluir a possibilidade de outras doenças, como contribuição de um diagnóstico
diferencial (ABRAZ, c2019).

Nesse conjunto de exames para o diagnóstico, a avaliação psicológica, em


especial, das funções cognitivas é de extrema importância. A avaliação psicológica ou
neuropsicológica envolve o uso de instrumentos psicológicos, observação, entrevista.
Assim, com o levantamento de dados por meio de técnicas e ferramentas é possível
associar os resultados à história de vida do paciente, então é possível identificar
fortalezas, fragilidades, intensidade das perdas em relação a função inicial, e assim
levantar hipóteses sobre a doença (ABRAZ, c2019).

Na avaliação psicológica, o psicólogo pode realizar a avaliação das funções cog-


nitivas de idosos com o uso de instrumentos psicológicos (testes, escalas, inventários),
assim como com o levantamento da história de vida, observação, entrevista com pa-
ciente, entrevista com membro familiar, assim o psicólogo pode ser um profissional que
pode contribuir e trabalhar em parceria com médico, para o levantamento das informa-
ções para o diagnóstico.

76
Dessa maneira, a investigação avaliativa não contribuirá apenas para o profis-
sional obter um diagnóstico clínico, mas também para identificar e mapear fortalezas e
fragilidades, e com esses dados também possível compreender habilidades e capacida-
des que estão ou não preservadas, e com isso conseguir realizar um plano de interven-
ção, ou seja, dados que podem contribuir para o início do tratamento (ABRAZ, c2019).

ATENÇÃO
A Doença de Alzheimer é uma doença que não tem cura, porém tem
tratamentos eficazes, os quais podem contribuir com a qualidade de vida
do paciente após diagnosticado.

4.2 TRATAMENTO DA DOENÇA DE ALZHEIMER


A Doença de Alzheimer tem tratamento, mas infelizmente não tem cura. Nesse
sentido, com os avanços da medicina, muitas foram as descobertas e possibilidades para
o tratamento, de modo que os pacientes possam ter uma melhor qualidade de vida com
a descoberta dessa doença. Ainda vale destacar aqui, que não apenas a medicina fez e
continua fazendo contribuições aos pacientes com a DA e seus familiares, mas outras
áreas do conhecimento. Diante disso, os tratamentos existentes buscam aliviar os sin-
tomas apresentados pelos pacientes, também permitem que os pacientes tenham uma
progressão da doença mais lenta, e ainda, permitem que os tornem autônomos por mais
tempo e assim consigam realizar as atividades diárias por mais tempo (ABRAZ, c2019).

Os tratamentos existentes e indicados para a DA podem ser divididos em dois


grandes grupos, sendo: tratamentos farmacológicos e tratamentos não farmacológicos
(ABRAZ, c2019). Os tratamentos farmacológicos são indicados, porque entende-se que
parte dos sintomas ocorrem devido alterações em uma substância que está presente no
cérebro chamada de acetilcolina, pois já se identificou que pacientes com DA essa subs-
tância é menor, do que em pessoas sem a DA, então uma possibilidade é que o paciente
utilize de medicações que possam controlar ainda mais a diminuição da acetilcolina.

As medicações que agem no controle e inibição da acetilcolina, e que estão


aprovadas para uso no Brasil, são: a rivastigmina, a donepezila e a galantamina, assim
essas contribuem para casos de demências leve e moderada. Contudo, a medicações
tem suas vantagens e desvantagens, sendo vantagem a melhora e a estabilização, e
desvantagem é que a medicação não impede a evolução da doença. Em relação aos
tratamentos não farmacológicos são indicados, pois são aqueles que visam estimular
a cognição, mas também aspectos relacionados a esfera social e física, que tem por
objetivo beneficiar a manutenção das capacidades e habilidades (ABRAZ, c2019).

77
O treinamento das funções cognitivas como atenção, memória, linguagem,
orientação e a utilização de estratégias compensatórias são benéficas e contribuem
para a qualidade de vida dos pacientes. Assim as intervenções relacionadas com os
tratamentos não farmacológicos são: estimulação cognitiva; estimulação social;
estimulação física.

A estimulação cognitiva é considerada atividades ou programas de intervenção


que tem por objetivo potencializar as habilidades cognitivas por meio da estimulação
das funções cognitivas (funções psicológicas), como: o uso de pensamento, raciocínio
lógico, atenção, memória, linguagem e planejamento. O objetivo estimular para minimizar
as dificuldades a partir de estratégias compensatórias. As atividades podem ser grupais
ou individuais.

Para as atividades são utilizadas técnicas que promovem associação de


ideias, exigem raciocínio e atenção, visam planejamento em etapas e antecipação
de resultados, proporcionam treino das funções motoras, controle comportamental.
Assim, essas atividades podem ser praticadas por meio de “[...] jogos, desafios mentais,
treinos específicos, construções, reflexões, resgate de histórias e uso de materiais
que compensem dificuldades específicas (por exemplo, calendário para problemas de
orientação temporal)” (ABRAZ, c2019, s.p.).

Já em relação à Estimulação social são iniciativas que visam o contato social


dos pacientes estimulando as habilidades de comunicação, convivência e afeto,
promovendo integração e evitando a apatia e a inatividade diante de dificuldades. E, por
fim, a estimulação física busca a prática de atividade física com o objetivo de melhorar
a coordenação motora, força muscular, equilíbrio e flexibilidade, que assim podem os
pacientes alcançar uma maior independência e retardar o declínio nas atividades do
cotidiano (ABRAZ, c2019).

Portanto, para uma melhora da qualidade de vida dos pacientes e de seus


familiares, recomenda-se que, para um tratamento eficaz, é necessário a combinação
das intervenções do tratamento não farmacológico, bem como da combinação do
tratamento farmacológico e não farmacológico, isto a partir de uma investigação da
necessidade de cada paciente, por meio de uma avaliação e diagnóstico.

DICA
Para aprofundar o conhecimento a respeito do Alzheimer, a sugestão
que fazemos para leitura é o artigo científico nomeado como “Critérios
para o Diagnóstico de Doença de Alzheimer”, que discute a patologia
relacionada as classificações do DSM-V, assim aborda dois dos
assuntos tratados nesse material didático.

78
RESUMO DO TÓPICO 2
Neste tópico, você adquiriu certos aprendizados, como:

• A Doença de Alzheimer foi descoberta por Alois Alzheimer.

• A Doença de Alzheimer é compreendida como uma degeneração que ocorre nos


neurônicos, e que vai se tornando progressiva, ao mesmo tempo que também se torna
irreversível. Com isso, o indivíduo apresenta a perda da memória e tem prejuízos em
outras funções cognitivas, como concentração, atenção, e isto vai sendo verificados
nos comportamentos diários.

• O paciente com a Doença de Alzheimer apresenta alterações cerebrais, como placas,


sendo essas originadas de uma proteína chamada beta-amiloide. Também é visto nos
pacientes redução dos neurônios e sinapses, gerando redução do volume cerebral. A
DA também é considerada uma doença genética.

• A Doença de Alzheimer pode apresentar em três fases: leve, moderada e grave.

• Alterações na fala, dificuldade para encontrar palavras, desorientação em relação ao


tempo e espaço, dificuldade nas atividades diárias são alguns dos comportamentos
das pessoas diagnosticas com DA.

• O acompanhante terapêutico e outros profissionais da saúde podem atuar com a DA,


contribuindo com trabalhos relacionados aos cuidados, à estimulação à memória e
outros.

79
AUTOATIVIDADE
1 Existe uma doença que acomete idosos, que está relacionada com a degeneração
de neurônicos e que se torna progressiva, ao mesmo tempo que também se
torna irreversível, e que o indivíduo que apresenta a perda da memória também
tem prejuízos em outras funções cognitivas. Quanto à doença descrita, assinale a
alternativa CORRETA:

a) ( ) Parkinson.
b) ( ) Doença de Alzheimer.
c) ( ) Memória recente.
d) ( ) Derrame cerebral.

2 Muitas áreas do conhecimento se interessam por estudos relativos à mente e à


cognição, por isso muito foi descoberto a respeito das funções cognitivas, e com isso
muitas doenças estão relacionadas ao comprometimento das funções cognitivas,
como: memória, atenção, concentração etc. Com base na psicopatologia Doença de
Alzheimer, analise as afirmativas a seguir:

I- O paciente diagnosticado com Doença de Alzheimer tem uma perda de neurônios,


que pode ser progressiva, porém há mediações que podem bloquear essa perda.
II- Os tratamentos farmacológicos não são existentes para a Doença de Alzheimer.
III- Para eficácia do tratamento da Doença de Alzheimer são recomendados os
tratamentos farmacológicos e não farmacológicos.

Assinale a alternativa CORRETA:


a) ( ) As afirmativas I e II estão corretas.
b) ( ) Somente a afirmativa II está correta.
c) ( ) As afirmativas I e III estão corretas.
d) ( ) Somente a afirmativa III está correta.

3 A Doença de Alzheimer foi descoberta por Alois Alzheimer, que estudou e publicou
o caso de uma de suas pacientes, Auguste Deter, a qual era saudável, e com seus
51 anos desenvolveu um quadro patológico que perdia de maneira progressiva a
memória, também apresentava comportamentos desorientativos. De acordo com
seu aprendizado sobre a Doença de Alzheimer, classifique V para as sentenças
verdadeiras e F para as falsas:

80
( ) A Doença de Alzheimer pode ser apresentada em três fases, sendo: leve, moderada
e grave.
( ) O paciente com Doença de Alzheimer pode apresentar na fase inicial o esquecimento
de palavras, como se as palavras não encontrassem uma forma de ser verbalizada.
( ) A Doença de Alzheimer tem cura a medida que o paciente iniciar um tratamento
farmacológico.
( ) A Doença de Alzheimer não tem cura, e possui apenas tratamento não farmacológico.

Assinale a alternativa que apresenta a sequência CORRETA:


a) ( ) V – F – F – F.
b) ( ) V – F – V – V.
c) ( ) V – V – F – F.
d) ( ) F – F – V – V.

4 A Doença de Alzheimer é compreendida como uma degeneração que ocorre nos


neurônicos, e que vai se tornando progressiva, e ao mesmo tempo irreversível, com
isso o indivíduo apresenta a perda da memória, e tem prejuízos em outras funções
cognitivas, como concentração e atenção, além de isto acabar sendo verificado nos
comportamentos diários. Disserte a respeito das causas do desenvolvimento da
Doença de Alzheimer.

5 O paciente com Doença de Alzheimer pode receber intervenção de diferentes


profissionais, como médicos e psicólogos, com o objetivo de investigar as funções
cognitivas de idosos, e intervir por meio de programas de estimulação a memória e
outras funções cognitivas. Dessa forma, profissionais da saúde precisam reconhecer
os sintomas DA nas diferentes fases, então descreva sintomas das fases leve,
moderada e grave.

81
82
UNIDADE 2 TÓPICO 3 -

PARKINSON

1 INTRODUÇÃO

Acadêmico, no Tópico 1, você conheceu o manual CID-11 (definição, estrutura e


organização) e o manual DSM-V (definição, estrutura e organização). Também refletimos
a respeito das diferenças entre os manuais. No Tópico 2, você estudou a Doença de
Alzheimer, e pôde compreender suas causas, sintomas, características e fases, bem
como entender as formas de avaliação, tratamento e o papel do psicólogo nesse cenário.

Nesse sentido, no Tópico 3 você conhecerá outra psicopatologia, o Parkinson,


de modo a descrever sua definição e causas, sintomas, características, bem como
avaliação e tratamento. O Parkinson é uma patologia que já foi bastante discutida na
sociedade, uma vez que já foi tema de reportagens televisivas em jornais e programas
de fácil acesso do público brasileiro. No entanto, para acompanhantes terapêuticos e
outros profissionais da saúde, faz-se necessário compreender o Parkinson com a visão
da ciência. Assim, a primeira questão para refletir é: será que muitos brasileiros são
diagnosticados com Parkinson?

Segundo Hospital Albert Einstein, que tem interesse na temática, “[…] no Brasil
existem poucos números sobre a doença de Parkinson e esta não é uma doença
de notificação compulsória. Números não oficiais apontam para pelo menos 250 mil
portadores” (PARKINSON, [c2022]). Assim, esse dado indica que muitas pessoas
carregam a patologia, o que justifica a necessidade de acompanhantes terapêuticos,
bem como profissionais da saúde obterem conhecimento a respeito.

DICA
Para aprofundar seus conhecimentos sobre a doença de Parkinson
no Brasil, indicamos a leitura de um artigo científico chamado “Doença
de Parkinson: Revisão de Literatura”, que apresenta um levantamento
bibliográfico com os estudos brasileiros, o que possibilita ao leitor
compreender, ao longo dos anos, o que vem sendo realizado no país.

83
2 PARKINSON: COMPREENDENDO A PATOLOGIA,
DEFINIÇÃO E CAUSAS
A Doença de Parkinson é uma doença que pode aparecer durante o desen-
volvimento humano, mais precisamente, os primeiros sintomas aparecem no final da
vida adulta ou no início na velhice, então a Doença de Parkinson, assim como a Doença
de Alzheimer precisa ser bastante compreendida pelos profissionais da saúde, uma
vez que o diagnóstico também é clínico e requer cuidados. O diagnóstico requer uma
investigação da história de vida do paciente, compreensão das características e dos
comportamentos apresentados nos últimos meses, pois estes também podem contri-
buir para o entendimento do profissional a respeito do paciente.

Para a coleta de informações, não apenas o paciente pode ser escutado e fonte
desses dados, como também um membro familiar bastante próximo, que pode relatar
comportamentos observados, assim esses e outros recursos, quando agrupados, podem
contribuir com a coleta de informação sobre o paciente, e assim, de fato contribuir com
o diagnóstico, e por meio desse dar andamento ao tratamento do paciente. A seguir,
você, acadêmico, compreenderá a respeito da definição da Doença de Parkinson.

2.1 DEFININDO E COMPREENDENDO A DOENÇA DE


PARKINSON
A respeito da vida adulta e velhice, em quase todo mundo cresce a população
com idade igual ou superior aos 60 anos de idade, assim segundo Silva e Carvalho (2019,
p. 331):

[...] o envelhecimento populacional mundial vem acontecendo de


forma acelerada e um dos grandes desafios deste século é a criação
de estratégias para manter a qualidade de vida e para qualificar o
cuidado da população idosa, que apresenta uma elevada prevalência
de doenças crônicas degenerativas e incapacitantes.

E, conforme Fernandes e Andrade Filho (2018), citados por Vicentini, Machado


e Marques (2021), de acordo com a Organização Mundial da Saúde, 1% do grupo de
pessoas que estão com idade superior a 65 anos de idade serão afetados pela Doença
de Parkinson (DP). A DP é uma doença neurodegenerativa bastante comum, sendo a
segunda que mais afeta as pessoas, após a Doença de Alzheimer (DA). O Parkinson
foi abordado e usado pela primeira vez em 1817, por um médico, cirurgião e inglês,
chamado James Parkinson. Ele e o neurologista Jean-Martin Charcot trabalhavam na
época com pacientes que tinham as características da doença que hoje reconhecemos
como Parkison, então após James Parkinson descrever as características e sintomas
observados nos pacientes, Jean-Martin Charcot chamou a doença descrita pelo colega
de “Mal” de Parkinson.

84
A doença “Mal” de Parkinson ficou bastante popular e sempre foi reconhecida
pelos profissionais e pessoas da sociedade. Dessa maneira, porém, devido ao estigma
social que esse termo gerava, bem como o preconceito, tanto os médicos como as
pessoas na sociedade, foram deixando de usar, e passando a usar a nomeação Doença
de Parkinson (DP). Assim, a DP é caracterizada pelas alterações das funções motoras
e não motoras, atingindo mais homens do que mulheres, e normalmente os sintomas
iniciais começam por volta dos 45 anos, mas estarão mais evidentes por volta dos 60 a
65 anos de idade (WHO, 2020).

Na Figura 10, pode-se verificar uma situação bastante clássica do início dos
sintomas da DP, que é o tremor das mãos, que acaba interferindo nas atividades do
cotidiano, como se alimentar, escrever, segurar algum objeto.

FIGURA 10 – DOENÇA DE PARKINSON

FONTE: <https://hospitaligesp.com.br/wp-content/uploads/2021/07/Blog.png>. Acesso em: 28 mar. 2022.

Muitas vezes os idosos que apresentam tremores nas mãos acabam não
verbalizando no início para os membros familiares, assim articulando saídas para
executar a ação necessária, como se alimentar segurando a mão que apresenta tremor.
Assim, os sintomas apenas são descobertos quando estão mais evoluídos. Portanto, a
DP é uma doença neurodegenerativa, que vai afetar principalmente as funções motoras,
desde a coordenação fina (movimentos de pinça), como movimentos locomotores,
assim, portanto, é importante compreender as causas e a evolução dessa doença. A
seguir, você poderá estudar esses aspectos.

ATENÇÃO
A Doença de Parkinson é bastante confundida com a Doença de Alzheimer,
embora sejam doenças neurodegenerativas, são bastante diferentes em
relação às causas, sintomas e comprometimentos.

85
2.2 DOENÇA DE PARKINSON: CAUSAS E EVOLUÇÃO
No processo de envelhecimento, que é esperado e natural que ocorra, todos
os indivíduos saudáveis, como na Figura 11, vão apresentar morte das células nervosas,
responsáveis por produzir dopamina. No entanto, algumas pesquisas já verificaram que
há pessoas que perdem essas células num ritmo muito acelerado, assim as explicações
para isto seria que mais de um fator desencadeia essa situação.

FIGURA 11 – PROCESSO DE ENVELHECIMENTO SAUDÁVEL

FONTE: <https://bit.ly/3E5hkwi>. Acesso em: 28 mar. 2022.

Nessa perspectiva, a Doença de Parkinson (DP) já foi bastante pesquisada


e continua sendo interesse dos pesquisadores nacionais e internacionais, e até o
momento as causas do DP podem ser agrupadas em dois fatores, sendo: genéticos e
ambientais (VICENTINI, MACHADO, MARQUES, 2021; RIEDER et al., 2018).

As causas genéticas estão relacionadas ao que os estudiosos nomeiam como


mutação genética, que ocorre no DNA do indivíduo e levam ao desenvolvimento
da doença. Esta mutação não seria algo tão comum, mas quando ocorre em uma
determinada família, muitos membros podem ser afetados, uma vez que a alteração
genética está no DNA.

Por sua vez, as causas ambientais estão relacionadas ao contato do indivíduo


com algum ambiente ou substância encontrada em um determinado ambiente, que
provocou impacto na morte e assim perda dos neurônios responsáveis pela produção
de dopamina. Exemplos: químicas tóxicas, metais pesados (chumbo, arsênio, alumínio,
titânio etc.), pesticidas, entre outros. O chumbo, um metal pesado, bastante versátil,
porém considerado tóxico, pode ser bioacumulativo, e comprometer a saúde do ser
humano, sendo uma das substâncias relacionadas à diminuição de dopaminas em
casos de DP.

86
Com relação à evolução, normalmente ela tem um início unilateral, então os
sintomas vão afetar primeiramente um dos lados do corpo e tendem a evoluir. Nesse
sentido, com a evolução, os sintomas acabam comprometendo o outro lado do paciente
e a região axial, assim acaba gerando prejuízos ao equilíbrio, a postura e a marcha
(locomoção). Quando afeta o acometimento axial, o paciente passa a apresentar
sintomas de comprometimento da voz, fala e deglutição, porém esses sintomas
considerados axiais ocorrem de maneira mais tardia.

Com relação ao progresso da doença, o ritmo será variável, sendo de indivíduo


para indivíduo, podendo alguns viver com bem com pouca limitação e dificuldade,
mesmo depois de 20 anos do início da doença, e outros vivendo com uma maior
limitação com bem menos tempo do diagnóstico e descoberta da doença. A DP não
costuma apresentar sintomas cognitivos nas fases iniciais, mas nas fases intermediárias
e avançada pode apresentar sintomas relacionados à cognição (memória, atenção,
percepção, linguagem etc.), a alterações do sono, à depressão e a distúrbios do sistema
nervoso autônomo (RIEDER et al., 2018).

3 PARKINSON: CARACTERÍSTICAS E SINTOMAS


A DP, que é um distúrbio neurológico progressivo, que resulta na perda de
neurônios e de células que estão localizadas na região do cérebro conhecida como
substância negra, nessa localidade há a produção de dopamina, sendo essa substância
relacionada com as funções que controlam o movimento do corpo. Na Figura 12 há
a representação da área do cérebro afetada, normalmente a área frontal, responsável
pelos movimentos, movimentos voluntários do corpo, linguagem, gerenciamento das
habilidades cognitivas, com isso essa área é reconhecida por controlar o comportamento
e emoções. Com isso, ao ter problemas nessa região pode afetar os movimentos
corporais, a capacidade de se expressar, mudanças de comportamento.

FIGURA 12 – CÉREBRO AFETADO NA ÁREA DO MOVIMENTO

FONTE: <https://bit.ly/3KJ0whe>. Acesso em: 28 mar. 2022.

87
Segundo Martins (2008), a DP apresenta sintomas e características que são
básicas e consideradas de investigação clínica. Assim, Silva e Carvalho (2019) e Rieder
et al. (2018) apresentam que os principais sintomas da Doença de Parkinson são:
tremor em repouso, rigidez, déficits no equilíbrio e na marcha, bradicinesia e redução na
amplitude dos movimentos.

A complementar, Beitz (2014) destaca que os sintomas poderiam ser


compreendidos como uma integração de quatro componentes principais, como: sintomas
motores; alterações cognitivas; alterações comportamentais e neuropsiquiátricas; e
os sintomas relacionados às disfunções no sistema nervoso autônomo. Na Figura 13,
verifica-se um dos principais sintomas iniciais da DP, os tremores nas mãos.

FIGURA 13 – SINTOMA DE TREMORES NAS MÃOS

FONTE: <https://bit.ly/3vk7jaG>. Acesso em: 28 mar. 2022.

Diante do exposto, os principais sintomas da Doença de Parkinson, são:

• tremor, que afeta geralmente as mãos, podendo também se apresentar tremores nas
pernas e no queixo, isto quando a pessoa está em repouso, aumentando quando o
indivíduo passar por situações estressantes;
• lentidão dos movimentos;
• rigidez muscular e a bradicinesia, que é a lentidão dos movimentos, devido à
dificuldade em realizá-los;
• desequilíbrio, gerado a chamada instabilidade postural;
• alteração na fala;
• alteração na escrita, devido as dificuldades nos movimentos de coordenação fina, por
conta dos tremores;
• perda de movimentos como piscar e/ou expressões faciais.

Portanto, em relação aos sintomas, quando existir um tremor, bastante


característico, ou seja, a presença de tremor de repouso, importante ficar atento em
outros relatos do paciente. Entretanto, importante ressaltar que, além dos sintomas
físicos, os pacientes podem apresentar alterações emocionais e cognitivas que são
frequentemente encontradas com a progressão da doença.

88
DICA
Para compreender os sintomas e as características da Doença de
Parkinson é interesse assistir e analisar o filme “Never Steady, Never Still”
traduzido para o português como “Nunca firme, nunca quieto”, que trata
da história de uma mãe que luta para ter o controle de sua vida, mesmo
estando em um estágio avançado da doença de Parkinson.

4 PARKINSON: AVALIAÇÃO E TRATAMENTO


O diagnóstico do DP é de caráter clínico, assim não há um exame ou teste
específico para diagnóstico, então a investigação deve ser por meio dos sintomas e
sinais clínicos descritos, em conjunto com a evolução do caso, levantamento do
histórico da vida do paciente, coleta de informações por meio de entrevistas com
paciente e membros da família (com autorização do paciente), observação do paciente.
Para compreender todas as informações levantadas, o profissional pode discutir o caso
com outros profissionais da saúde, bem como utilizar os manuais de classificação de
doenças como auxílio do estudo do paciente. Na Figura 14, você pode verificar uma
equipe multiprofissional, pois no caso da DP é uma doença que precisa de cuidados de
diferentes profissionais da saúde, principalmente no momento do tratamento.

FIGURA 14 – DIFERENTES PROFISSIONAIS DA SAÚDE

FONTE: <https://bit.ly/3KEVqlR>. Acesso em: 28 mar. 2022.

Em relação ao profissional mais habilitado para tal diagnóstico é o médico


neurologista, porém psicólogos podem contribuir com avaliação psicológica e estudo
da história de vida do paciente, assim outros profissionais podem contribuir com
investigação de sintomas e no tratamento. Os exames, como tomografia cerebral,
ressonância magnética podem ser úteis e servem apenas para avaliação de outros
diagnósticos, assim contribuem com os diagnósticos diferenciais. Vale aqui destacar
que, o exame de tomografia computadorizada por emissão de fóton-único tem o objetivo
de quantificar a dopamina cerebral (SPECT-Scan), e o resultado pode ser bastante útil
para o diagnóstico, uma vez que essa substância está bastante relacionada com a
doença (DALGALARRONDO, 2018).

89
Quanto ao tratamento, para a DP existem vários tratamentos eficazes, porém
não existe a cura. Os tratamentos normalmente são para diminuir a presença dos sinais
e sintomas, de modo que retarda o progresso da doença, e assim também pode melhorar
a qualidade de vida dos pacientes, para que esses possam exercer suas atividades do
cotidiano. De tal modo, os tratamentos estão divididos em três grandes grupos, que
são: tratamento farmacológico, tratamento por meio de cirurgia e tratamento não
farmacológico (RIEDER et al., 2018; ORTIZ, 2010).

Com relação aos tratamentos farmacológicos, a medicação Levodopa ou


L-Dopa é um medicamento bastante utilizado e eficaz, pois ele ameniza os sinto-
mas da doença. O efeito dessa medicação é que ela se transforma em dopamina no
cérebro, e dessa maneira ela acaba suprindo, mesmo que de maneira parcial, a falta
do neurotransmissor e das suas funcionalidades. Porém, as pesquisas revelam que
quanto mais os pacientes usam, mais reações podem ser apresentadas, gerando rea-
ções diversas, como movimentos involuntários e anormais (DALGALARRONDO, 2018;
ORTIZ, 2010).

A respeito das cirurgias, essas também podem ser uma forma de tratamento
para alguns casos de DP. As cirurgias normalmente são realizadas quando há lesões
no núcleo pálido interno (Palidotomia) ou do tálamo ventro-lateral (Talamotomia).
Estes locais são responsáveis por provocar mecanismo da rigidez e tremor. A cirurgia
normalmente é indicada para os pacientes que tem mais a presença desses sintomas,
e a indicação é realizada pelo médico (DALGALARRONDO, 2018).

E, por fim, os tratamentos não farmacológicos são aqueles que podem ser
realizados com psicólogo, fisioterapia, fonoaudiólogo, terapeuta ocupacional, educador
físico, entre outros. Assim, o psicólogo pode oferecer o suporte psicológico, em
atendimentos individual, ou em grupo, para pessoas que compartilham da mesma
situação, já o fisioterapeuta pode trabalhar a reeducação e a manutenção da educação
física, pode ainda, como demonstra na Figura 15 trabalhar com os movimentos,
flexibilidade articular, rigidez (ORTIZ, 2010).

FIGURA 15 – FISIOTERAPEUTA E O DP

FONTE: <https://bit.ly/3vcyP9Y>. Acesso em: 28 mar. 2022.

90
O terapeuta ocupacional “[...] é o profissional que melhor poderá orientar
o paciente com o objetivo de facilitar as atividades da vida diária, bem como indicar
condutas que propiciem independência para a higiene pessoal e sua reinserção em sua
atividade profissional” (DALGALARRONDO, 2018, s.p.). Esse trabalho pode ser visto na
Figura 16, e ainda, a o fonoaudiólogo pode trabalhar com a reabilitação da comunicação,
ou até mesmo das palavras, isto em terapia voltada a estimular à fala e à voz, para que o
paciente consiga ter uma fala compreensível (DALGALARRONDO, 2018).

FIGURA 16 – TERAPEUTA OCUPACIONAL E A DP

FONTE: <https://bit.ly/3rlQMlc>. Acesso em: 28 mar. 2022.

Portanto, um tratamento de maneira global inclui medicamentos, fisioterapia,


fonoaudiologia, suporte psicológico, suporte nutricional, atividade física entre outros
que visem melhorar a qualidade de vida do paciente, reduzindo o prejuízo funcional
devido à doença, para que o paciente possa ter uma maior autonomia e uma qualidade
de vida que se estenda por muitos anos (ORTIZ, 2010).

91
RESUMO DO TÓPICO 3
Neste tópico, você adquiriu certos aprendizados, como:

• O envelhecimento populacional mundial vem aumentando e um dos grandes desafios


é manter a qualidade de vida, porém há uma elevada prevalência de doenças crônicas
degenerativas e incapacitantes como DP.

• A DP é uma doença neurodegenerativa bastante comum, sendo a segunda que mais


afeta as pessoas, após a Doença de Alzheimer.

• A DP é caracterizada pelas alterações das funções motoras e não motoras.

• Os principais sintomas da Doença de Parkinson são: tremor em repouso, rigidez, déficits


no equilíbrio e na marcha, bradicinesia e redução na amplitude dos movimentos.

• Não existe cura para a DP, mas existe tratamento.

• Ela deve ser tratada combatendo os sintomas, e retardando o seu progresso.

• Os tratamentos para DP são Levodopa ou L-Dopa, cirurgias, estimulação profunda


do cérebro (marcapasso cerebral), fisioterapia, terapia ocupacional e fonoaudiologia.

92
AUTOATIVIDADE
1 A Doença de Parkinson é uma doença degenerativa, que ficou muito conhecida
pelas pessoas por “Mal” de Parkinson, mas devido ao nome estigmatizar as pessoas
e tratar com preconceito, com o tempo os médicos foram deixando de utilizar essa
nomenclatura. A respeito dos sintomas, assinale a alternativa CORRETA:

a) ( ) Lentidão dos movimentos, rigidez muscular e a bradicinesia.


b) ( ) Lentidão dos movimentos, tremor e desequilíbrio mental.
c) ( ) Lentidão dos movimentos, desequilíbrio psicológico e perda de memória.
d) ( ) Desequilíbrio psicológico, perda de memória, tremor e rigidez.

2 Os pacientes diagnosticados com Doença de Parkinson podem apresentar diferentes


sintomas e sinais na vida cotidiana, porém o mais conhecido são os tremores, pois
é um sintoma clássico da doença. A respeito dos sintomas, analise as afirmativas a
seguir:

I- Apresenta perda de memória, podendo não lembrar de pessoas próximas.


II- Pode apresentar alteração na fala, e não ser compreendido no momento da
comunicação.
III- Apresenta desequilíbrio postural, devido à alteração na coordenação.

Assinale a alternativa CORRETA:


a) ( ) As afirmativas I e II estão corretas.
b) ( ) Somente a afirmativa II está correta.
c) ( ) As afirmativas II e III estão corretas.
d) ( ) Somente a afirmativa III está correta.

3 A Doença de Parkinson é difícil de ser diagnosticada, pois não há exames específicos


para diagnosticar, uma vez que o diagnóstico é clínico, assim necessita de uma
investigação, e há estratégias que podem contribuir com o médico, para que depois
possa iniciar o tratamento. Leia e classifique V para as sentenças verdadeiras e F para
as falsas:

( ) Há tratamento e cura para a Doença de Parkinson.


( ) Há medicamentos que podem contribuir para a Doença de Parkinson.
( ) Tratamentos com medicamentos, cirurgias, fisioterapia são recomendadas para a
Doença de Parkinson.

Assinale a alternativa que apresenta a sequência CORRETA:

93
a) ( ) V – F – F.
b) ( ) F – V – V.
c) ( ) F – V – F.
d) ( ) F – F – V.

4 A população mundial de pessoas idosos vem aumentando, e os cuidados com o


corpo e mente também possuem aumento, em relação às décadas passadas. No
entanto, os estudiosos vêm observando que a prevalência de doenças crônicas vem
ocorrendo, e a Doença de Parkinson é uma delas. Disserte a respeito de como ocorre
essa doença, e cite os principais sintomas.

5 Os principais sintomas da Doença de Parkinson são tremor em repouso, rigidez, déficits


no equilíbrio e na marcha, bradicinesia e redução na amplitude dos movimentos, com
isso os tratamentos visam minimizar os sintomas e retardar a evolução dos sintomas.
Diante disso, disserte sobre tratamento de Doença de Parkinson.

94
UNIDADE 2 TÓPICO 4 -
OUTROS TRANSTORNOS PSICOPATOLÓGICOS
DA VIDA ADULTA E VELHICE

1 INTRODUÇÃO

Acadêmico, no início desta Unidade, apresentamos o manual CID-11 (definição,


estrutura e organização) e o manual DSM-V (definição, estrutura e organização). No
Tópico 2, abordamos a Doença de Alzheimer, enquanto no Tópico 3 estudamos sobre a
Doença de Parkinson. Adiante, no Tópico 4, você aprenderá um pouco mais sobre outras
psicopatologias da vida adulta e velhice.

Na sociedade atual, as mudanças surgem com grande frequência, sendo que,


nos últimos anos, com a pandemia, muitas mudanças ganharam forma no modo como
nos relacionamos, o que impactou a saúde mental das pessoas. É comum, em conversas
do cotidiano, escutarmos que alguém adoeceu psicologicamente, assim como também
é comum ouvirmos ou conhecermos alguém diagnosticado com depressão.

A depressão pode ser considerada um transtorno psicológico, caracterizado


por uma tristeza persistente que impede o indivíduo de realizar suas atividades do
cotidiano. Entretanto, mais do que entender a definição, um acompanhante terapêutico
precisa compreender os períodos da vida com maior incidência de aparecimento da
depressão, bem como os comportamentos relacionados a ela. Portanto, a seguir, você
compreenderá como a depressão pode surgir na vida adulta e velhice, além de entender
as possíveis causas e os sintomas apresentados.

2 DEPRESSÃO NA VIDA ADULTA E VELHICE


O crescente envelhecimento da população é algo que vem ocorrendo no mundo
todo, principalmente nos países mais desenvolvidos. Portanto, “[...] o envelhecimento
humano é um processo biológico natural, e não patológico caracterizado por uma
série de alterações morfofisiológicas, bioquímicas e psicológicas que acontecem no
organismo ao longo da vida” (ARGIMON, 2006, p. 243).

Nesse sentido, Argimon (2006, p. 243) explica que “[...] o envelhecimento


populacional se deve ao avanço da promoção de saúde nas últimas décadas, na qual
se obtiveram o controle das doenças infectocontagiosas e a diminuição da taxa de
mortalidade infantil e da taxa de natalidade”.

95
O Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) destaca que, em 2012 a
população com 60 anos de idade ou mais era de 25,4 milhões, em 2017 cresceu para
30,2 milhões, assim em cinco anos teve um aumento de 18% desse grupo etário, que
tem se tornado cada vez mais representativo no Brasil (PARADELLA, 2018). Assim,
até 2030 é previsto que ocorra uma mudança bastante considerável no aumento da
população idoso no Brasil, e assim os brasileiros com 60 anos ou mais irão ultrapassar
o número de crianças de 0 a 14 anos de idades, porém, com esse avanço, será maior o
número de indivíduos com depressão.

Argimon (2006) coloca que, uma vez a população idosa aumentando faz-se
necessário os profissionais da saúde compreenderem as necessidades dessa faixa
etária. Assim, o mesmo autor destaca que, em relação à:

[...] área cognitiva, o declínio cognitivo ocorre como um aspecto


normal do envelhecimento. A natureza exata destas mudanças, no
entanto, não é uma certeza, e problemas relacionados à linha que
separa este declínio de possibilidades de uma possível demência são
muito tênues, principalmente por não haver ainda uma referência
consistente frente à demanda nesta faixa etária. (ARGIMON, 2006,
p. 243).

Em especial, a depressão é um transtorno psicológico, caracterizado por uma


tristeza persistente, que impede que o indivíduo realize as suas atividades do cotidiano,
desde a mais elaborada como trabalhar, até mesmo, pode gerar falta de vontade e
desânimo para atividades menos complexas, como tomar banho, se trocar, se alimentar,
interagir com as pessoas (PARADELLA, 2018; NÓBREGA et al., 2015). Da mesma forma,
Stella et al. (2002, p. 92) apontam que a depressão consiste em ser uma “[...] enfermidade
mental frequente no idoso, associada a elevado grau de sofrimento psíquico”.

A complementar, a DSM-V (2013) relata que a depressão pode ser compreendida


como um transtorno de humor, ou seja, o humor oscila de moderado a profundo,
podendo ser de curta ou longa duração, então o indivíduo apresentado humor alterado,
perdendo interesse e prazer na vida, reduzindo a energia.

Com relação à classificação da patologia no manual, a Classificação Internacional


das Doenças – CID 10, a depressão está organizada na categoria F, especificamente
na F32, sendo: F32 Episódio depressivo, organizada F32.0 Episódio depressivo leve,
.00 Sem sintomas somáticos, .01 Com sintomas somáticos, F32.1 Episódio depressivo
moderado, .10 Sem sintomas somáticos, .11 Com sintomas somáticos, F32.2 Episódio
depressivo grave sem sintomas psicóticos, F32.3 Episódio depressivo grave com
sintomas psicóticos, F32.8 Outros episódios depressivos, F32.9 Episódio depressivo,
não especificado.

Segundo Paradella (2018), os sintomas clássicos da depressão estão relacionados


há três grandes aspectos, sendo: afeto, cognição e somáticos. O primeiro, afeto, está
relacionado aos sintomas e comportamentos correspondente a choro, tristeza, apatia.

96
O segundo, cognição, está relacionada a comportamentos voltados para desesperança,
culpa, e até mesmo sentimento de inutilidade, ideias de morte. O terceiro, somáticos,
está relacionada a falta de energia, dores, sono e diminuição da libido.

Pearson e Brown (2000) destacam que em pacientes idosos, a depressão


costuma ser acompanhada por queixas somáticas, hipocondria, baixa autoestima,
sentimentos de inutilidade, humor disfórico, tendência autodepreciativa, alteração do
sono e do apetite, ideação paranoide e pensamento recorrente de suicídio. Todavia,
quando esses sintomas são observados no processo de envelhecimento, isto pode
dificultar o entendimento, uma vez que no envelhecimento ocorrem alterações como
as descritas na depressão, como alteração da cognição, em especial, memória,
concentração, atenção (PARADELLA, 2018; MARTINS, 2008).

Para compreender os sintomas de depressão no paciente idoso e diferenciar


de sintomas e comportamentos que podem aparecer no processo de envelhecimento
existe como realizar o diagnóstico clínico, baseado em anamnese e entrevistas, para
investigar história de vida, rotina, sintomas, episódios depressivos anteriores, uso de
medicamentos, situações e vivência de luto. Segundo Martins (2008) ao se abordar
sobre depressão no idoso, torna-se relevante um diagnóstico diferencial, devido aos
sintomas e comportamentos apresentados na depressão que também são de outras
patologias. Dessa maneira, Stella et al. (2002, p. 92) apontam que:

[...] as causas de depressão no idoso configuram-se dentro de um


conjunto amplo de componentes onde atuam fatores genéticos,
eventos vitais, como luto e abandono, e doenças incapacitantes, entre
outros. Cabe ressaltar que a depressão no idoso frequentemente
surge em um contexto de perda da qualidade de vida associada ao
isolamento social e ao surgimento de doenças clínicas graves.

A complementar, conforme Paradella (2018), existem alguns fatores que são


considerados de risco para depressão, como idade avançada, doenças crônicas,
ansiedade, falta de vínculos, convivência em grupos sociais, falta de suporte social,
viuvez, falta de atividade social. Assim, Martins (2008, p. 119) relata que “[...] é nas idades
avançadas que ela atinge os mais elevados índices de morbilidade e mortalidade, na
medida em que assume formas incaracterísticas, muitas vezes difíceis de diagnosticar
e, consequentemente, de tratar”.

A depressão é uma condição clínica, profissionais da saúde que trabalham com


idosos devem sempre ficar atentos aos comportamentos apresentados, pois muitos
fazem parte do processo de envelhecimento, mas também podem ser indicativos de
depressão, por isso é importante sempre avaliar, bem como é importante a atenção dos
membros familiares ou de pessoas próximas aos idosos.

97
IMPORTANTE
Na velhice é necessário estar atento às mudanças de comportamento,
pois muitos dos comportamentos do processo de envelhecimento
acabam se confundindo com os sintomas de depressão.

2.1 DEPRESSÃO: TRATAMENTO


O tratamento da depressão no idoso tem o objetivo de minimizar o sofrimento
psíquico, diminuir qualquer o risco grave para o paciente, com por exemplo: suicídio,
como também melhorar o estado de saúde geral do paciente, e assim a sua qualidade
de vida (STELLA et al., 2002). O tratamento da depressão pode ser considerado um
desafio que envolve intervenção especializada. As estratégias de tratamento, envolvem
psicoterapia e intervenção psicofarmacológica (STELLA et al., 2002; PARADELLA, 2018).

A intervenção psicoterapêutica, com o profissional psicólogo, pode auxiliar a


identificar os fatores que desencadearam o processo depressivo, assim sendo, informa-
ções para a orientação dos familiares, dos cuidadores e do próprio paciente. Também
podem ser informações para outros profissionais da saúde, como fisioterapeuta, educa-
dor físico, terapeuta ocupacional, acompanhante terapêutico, médicos etc. As Ativida-
des do tipo terapia ocupacional, como a participação do idoso em atividades artísticas
também têm seu papel no tratamento do idoso deprimido (STELLA et al., 2002).

O tratamento psicofarmacológico da depressão está relacionado ao uso de


fármacos que possam contribuir com o tratamento, sempre prescrito por um médico.
Os farmacológicos para depressão são diversos, então para receitar ao paciente idoso
o médico depende de uma série de informações, e vai depender muito do perfil de
tolerabilidade do paciente (STELLA et al., 2002).

Assim, os farmacológicos para depressão são chamados de inibidores seletivos


da recaptação de serotonina, que constituem em citalopram e sertralina. Com isso, esta
categoria, existe o paroxetina e fluoxetina, bastante utilizados com idosos (STELLA et
al., 2002). Ainda a respeito dos tratamentos, Lima et al. (2019, p. 5) aborda que:

[...] a atividade física é um importante aliado no tratamento dos


sintomas depressivos, pois diminui o estresse e o risco de ansiedade,
assim como é um relevante fator de melhora na qualidade de vida,
porque além de retardar sintomas depressivos, diminui o risco
cardiovascular que acomete essa faixa etária, proporcionando um
bem-estar físico e mental.

98
Também é importante relatar que a família é essencial no tratamento da
depressão de idosos, pois a família pode acompanhar o tratamento, fornecer suporte as
necessidades físicas e emocionais do idoso. Os profissionais podem realizar orientações
a familiares dos idosos depressivos, de modo a informar a respeito da doença, sintomas,
tratamentos, bem como assessorar e orientar frente ao tratamento.

Diante do exposto, pode-se compreender que a respeito do tratamento da


depressão pode ser utilizado psicoterapia, fármacos, atividade física, suporte e trabalho
desenvolvido junto a família, assim esses tratamentos podem ser combinados de acordo
com a necessidade de cada paciente, ou seja, de acordo com os sintomas apresentados,
bem como história de vida.

3 ALTERAÇÕES PSICOLÓGICAS NA VIDA ADULTA E


VELHICE
Na Unidade 1, você, acadêmico, verificou algumas mudanças do corpo (físico
e mental) que ocorre durante o desenvolvimento humano. Em especial, pode verificar
a teoria de Erik Erikson a respeito das fases do desenvolvimento, assim pode ver de
maneira detalhada as nomenclaturas e ocorrências de cada fase, compreendendo mais
os aspectos psicológicos e sociais que ocorrem frente as mudanças do processo de
envelhecimento.

A respeito das mudanças físicas e psicológicas da fase adulta e velhice, elas


iniciam por volta dos 40 anos de idade e vão até o final da vida. Sobre as mudanças
físicas, elas podem ser observáveis e não observáveis, como: acuidade visual, tônus do
musculo, coloração capilar, volume dos pelos, elasticidade da pele, entre tantas outras.
Todas essas mudanças podem variar de indivíduo para indivíduo em termos de momento
que vai ocorrer, e da qualidade de vida do indivíduo (que pode postergar o surgimento,
exemplo, um indivíduo que sempre praticou esporte, pode apresentar um maior tônus
muscular na velhice, do que aquele que nunca se exercitou), mas sempre há a presença
dessas mudanças físicas, uma vez que isto faz parte do envelhecer.

Com relação às mudanças psicológicas, elas podem estar relacionadas desde


as mudanças das funções cognitivas, como a memória, a atenção, a percepção, até
aquelas associadas aos grupos sociais e de convivência, papéis sociais, ambiente
familiar e de trabalho. Entretanto, na Unidade 2, você acadêmico pode verificar o
quanto todas essas mudanças do processo de envelhecimento podem ser fatores que
desencadeiam psicopatologia, ou que, associadas a outros fatores (história de vida,
genética, biológico) podem desenvolver psicopatologias. Envelhecer não é adoecer. Os
sintomas de patologias geram sofrimento psíquico no indivíduo.

99
Diante disso, faz-se necessário que os profissionais da saúde exerçam sus
atividades com idosos compreendam as psicopatologias, principalmente aquelas que
mais afetam os idosos, como a Doença de Alzheimer, Doença de Parkinson, Depressão,
mas também importante compreender as patologias físicas que mais acarretam idosos
e podem aparecer como comorbidades em idosos, como hipertensão arterial, diabetes
tipo 2, colesterol, osteoporose etc.

DICA
Para trabalhar com idosos, independente da especialidade dentro da
área da saúde é necessário compreender as mudanças dessa fase do
desenvolvimento, conhecer a história de vida do paciente, bem como
ter conhecimento das pessoas que convive com ele, e dos tipos de
relações e interações sociais do idoso, pois tudo pode contribuir para
o acompanhamento.

100
LEITURA
COMPLEMENTAR
RESILIÊNCIA FAMILIAR DIANTE DO DIAGNÓSTICO DA DOENÇA DE PARKINSON
NA VELHICE

Larissa Jorge Ferreira de Faria


Priscilla Melo Ribeiro Lima
Nara Liana Pereira-Silva

Resumo: este artigo disserta sobre o processo de resiliência familiar diante do


diagnóstico de doença de Parkinson (DP) na velhice. Tem como objetivo estudar
o processo de envelhecimento com a presença de DP; analisar os conceitos de
autonomia e resiliência; e discutir as mudanças na dinâmica familiar e a importância
da resiliência diante da DP. Os referenciais teóricos utilizados foram o sistêmico e
conceitos desenvolvidos pela Psicologia do Lifespan. O idoso, quando diagnosticado
com DP, afora enfrentar as mudanças decorrentes da velhice, necessita lidar com as
incapacidades decorrentes da doença. Ademais, sua família necessita de readaptação
e reajustamento na organização das tarefas e cuidados diários, assim como no tocante
aos papéis familiares. Ressaltamos também os conceitos de autonomia e dependência
propostos por Margret Baltes. Partindo da definição de resiliência familiar de Walsh,
discorremos sobre as estratégias de enfrentamento do idoso e seu sistema familiar. Foi
possível refletir acerca do sofrimento do idoso com DP, os recursos dos quais ele e sua
família lançam mão para enfrentar a doença e sua repercussão na dinâmica familiar.
Refletimos, também, o papel da Psicologia nesse processo, notando que é um campo
ainda pouco explorado.

Palavras-chave: Velhice. Doença de Parkinson. Dinâmica familiar. Resiliência.

O aumento da expectativa de vida da população mundial, e especificamente


brasileira, tem trazido novas demandas tanto para a implementação de políticas públicas
voltadas para a população idosa quanto para os profissionais de saúde e da Psicologia.
Veras e Oliveira (2018, p. 1930) destacam alguns desafios para a Saúde Pública que, a
nosso ver, também são desafios para a Psicologia. Podemos destacar o questionamento
sobre como “manter a independência e a vida ativa com o envelhecimento”, haja vista
o envelhecimento corporal e a gradativa perda da autonomia; encontrar formas de
“fortalecer políticas de prevenção e promoção da saúde, especialmente aquelas voltadas
para os idosos”; e construir caminhos para “manter e/ou melhorar a qualidade de vida
com o envelhecimento”.

101
Com a etapa da velhice cada vez mais extensa, as doenças crônicas têm se
tornado cada vez mais frequentes. Dentre elas, as que são próprias do processo de
envelhecimento cerebral, como Mal de Alzheimer e Doença de Parkinson (DP), colocam o
sistema familiar do idoso diante de um diagnóstico que traz consigo temores, mudanças
e um prognóstico angustiante. No presente artigo, articularemos as mudanças próprias
do envelhecimento com os desafios impostos pela DP.

Em meio ao diagnóstico e à evolução da DP, tanto o idoso enfermo quanto sua


família passam por várias crises e necessitam encontrar estratégias de enfrentamento –
tanto para as perdas próprias do processo de envelhecimento quanto para a doença. Ao
enfrentar tantas perdas, faz-se necessário uma mudança na dinâmica e nas crenças da
família, assim como na vida e no papel desempenhado por cada um de seus membros
a fim de dar melhor respaldo ao sistema, ao idoso com DP, e lidarem com o evento
estressor de forma resiliente, fortalecendo o sistema familiar. O idoso com DP, por sua
vez, é desafiado a lidar com a perda gradativa de sua independência em função da
doença, além de enfrentar os conflitos característicos da velhice.

Para melhor compreender esse processo, este artigo objetiva estudar o


processo de envelhecimento e a fase da velhice com a presença de DP. Para tanto,
analisamos os conceitos de autonomia e resiliência que nos forneceram o embasamento
para compreender as perdas que o sistema familiar enfrenta. Após a análise desses
conceitos, discutimos as mudanças na dinâmica familiar e a importância da resiliência
diante da DP.

Mudanças do processo de envelhecimento

A palavra “velho” traz consigo diversos estereótipos e associações, principalmente


por estar associada à ideia de morte. Em nossa sociedade contemporânea, a juventude é
um ideal cultural que acaba por trazer para a velhice4 uma conotação negativa. Há uma
renegação da velhice, influenciada pelo fato de o corpo velho, com as marcas dos anos,
ser o oposto do corpo padrão jovem idealizado no mercado de consumo e no modelo
social atual. Esse discurso hegemônico de valorização do jovem e belo constrói e leva
a uma associação do corpo envelhecido e do idoso a representações de decrepitude e
morte (LIMA; LIMA; COROA, 2016).

O envelhecimento é um processo inevitável e inseparável da vida, no qual


estão implicadas mudanças biológicas, físicas e psicológicas. Messy (1999), psiquiatra
e psicanalista francês pioneiro do estudo da psicanálise da velhice e das demências,
ressalta as diferenças entre a velhice e o processo de envelhecimento. Messy afirma
que o envelhecimento, como processo, é o “tempo da idade que avança” (p. 23). Velhice,
no entanto, remete a uma fase específica da vida, a qual não se sabe precisar quando
se inicia, variando de indivíduo para indivíduo. Ela surge por ocasião de uma ruptura
brutal de equilíbrio entre as perdas e as aquisições da pessoa, tanto biológicas quanto
sociais e cognitivas (BALTES; BALTES, 1990; MESSY, 1999). A entrada na velhice está,

102
também, ligada à percepção do próprio corpo, uma vez que o corpo reflete tanto
a forma como o indivíduo se vê como a maneira que ele se apresenta ao mundo.
A imagem corporal compõe a identidade do sujeito e sofre modificações em todas
as fases da vida (LIMA; VIANA, 2015). Todavia, é na velhice que sua mudança é
vivenciada como mais angustiante, seja por aproximar o sujeito da morte, seja por
ser socialmente desvalorizada e evitada. Conforme Debert (2012), houve, ao longo da
história do mundo ocidental, uma mudança na percepção do desenvolvimento e do
envelhecimento durante a vida. A idade torna-se cada vez mais irrelevante para os
ritos de passagem de cada etapa, como casamento, maternidade/paternidade. Com
isso, o mercado de consumo tem como núcleo o enaltecimento da juventude. Instala-
se a possibilidade para o sujeito ser um “jovem jovem”, como também ser um “velho
jovem”. Nesse imaginário social, o processo de envelhecimento e a própria fase da
velhice são percebidos como algo negativo, caracterizados apenas pelos desgastes,
limitações, perdas físicas e de papéis sociais. Uma das perdas mais significantes é a
do trabalho, ligada ao papel social do indivíduo.

[...] Segundo Goldfarb (2006), a aposentadoria representa a saída do mundo do


trabalho e a marginalização do sujeito. Em um mundo que valoriza o trabalho e o que
se faz na vida, uma pessoa fora do mercado de trabalho e da cadeia de produção pode
ser vista como sem utilidade pelo mero fato de não produzir mais. O indivíduo perde,
assim, o papel social que costumava exercer, a partir do qual construiu uma identidade,
além de perder seu status e uma rede social existente (LIMA; VIANA, 2015). É notória a
dificuldade para investir em novos papéis sociais e manter o engajamento social nessa
etapa do desenvolvimento, como observaram Pinto e Neri (2017) e Veiga, Ferreira e
Cordeiro (2016).

Velhice, perdas e dependência

Na velhice, o indivíduo enfrenta diversas perdas, além da saída do trabalho, que


desencadeiam a perda de um papel social delimitado, como a do papel e status de chefe
da família, de pessoas próximas e da vitalidade de seu próprio corpo. Concomitantemente,
segundo Cunha (2013), o processo de envelhecimento tem uma base celular e uma
base ambiental. Essas bases dizem respeito aos genes envolvidos em processos de
reparação, manutenção e reaproveitamento de componentes celulares, e também aos
fatores ambientais mais influentes, como a dieta e a atividade física. Apesar de ainda
não se conhecer os detalhes e minúcias do processo biológico de envelhecimento,
sabe-se que há um retardamento e comprometimento de diversos sistemas fisiológicos
e cognitivos, em especial do sistema nervoso, que gera uma paulatina dependência
conforme o processo de envelhecimento avança. Pensando a dependência, Torres, Sé
e Queroz (2006) distinguem três tipos que vão, aos poucos, se instalando na velhice: a
cognitiva, a física, e a comportamental.

103
A dependência cognitiva relaciona-se à perda de autonomia, ou seja, quando
o idoso necessita de alguém para ajudá-lo a compreender o mundo ao seu redor. A
dependência física apresenta-se quando há incapacidade de realização de atividades
de vida diárias (AVDs) sem ajuda, como arrumar a casa, fazer compras, preparar
refeições, entre outros. Já a dependência comportamental relaciona-se ao desamparo
aprendido, no qual o idoso tem baixa responsividade acreditando não ser apto para
realizar determinada tarefa.

Ainda sobre a dependência, Baltes (1996), em estudo acerca das várias expressões
da dependência na velhice, afirma que ela: a) é multifacetada, podendo ser estrutural,
emocional, cognitiva, real ou pseudodependência; b) é multifuncional devido ao fato de
ela ser necessária em alguns momentos, como nos primeiros anos de vida, quando dá
respaldo à construção de um alto nível de saúde mais à frente no desenvolvimento; c)
está presente em todos os estágios da vida, podendo representar a transição entre as
fases do desenvolvimento ou estar associada ao contexto socioambiental do indivíduo
(dependência aprendida). Esse último caso se assemelha à terceira dependência tratada
por Torres, Sé e Queroz (2006). Tendo em vista essas características, percebe-se que a
dependência do idoso pode aumentar quando há a presença de uma doença crônica e
alterar a dinâmica de toda a família.

Cabe salientar que a dependência pode existir concomitantemente à


presença de autonomia. Enquanto o binômio dependência/independência está
ligado à capacidade do sujeito em desempenhar suas tarefas diárias, a autonomia é
compreendida como a liberdade e capacidade para agir e tomar decisões cotidianas no
tocante à própria vida (BALTES, 1996; FERREIRA et al., 2012). Baltes (1996) afirma que
autonomia é um fator importante na velhice, dando ao idoso o poder de escolher as
estratégias de enfrentamento que melhor lhe for conveniente. Portanto, dependência
não interfere no juízo de valor ou na capacidade de tomar decisões, logo não significa
perda de autonomia. Além disso, é importante que se leve em consideração os diversos
tipos de dependência, desde a oriunda de deficiência sensorial, de doença física, até a
decorrente de alguma doença crônica (BALTES, 1996).

Outra perda destacada na velhice diz respeito ao corpo. A representação mental


do corpo altera ao longo da vida, porém, com o envelhecimento, o indivíduo despede-se
do corpo jovem e ágil. Ele percebe que seu corpo caminha cada vez mais para longe do
modelo ideal de corpo da sociedade. Segundo Lima (2013), a percepção das mudanças
corporais acarreta a perda dos processos de identificação. “O corpo conhecido, com o
qual o sujeito adulto conviveu desde a adolescência transforma-se em um outro corpo,
diferente, mas estranhamente familiar” (Lima, 2013, p. 143). Há uma discrepância entre a
imagem do corpo refletida no espelho e a percebida internamente. Desse modo, inicia-
se o processo de desidealização da autoimagem internalizada. Lima e Viana (2015) e
Novo (2003) ressaltam a importância de uma construção de novos ideais e valores
durante a transição para a velhice. Para Wolf (1997, citado por Novo, 2003), a crise
de desidealização vem logo após a desilusão no contexto das relações interpessoais

104
significativas. No envelhecimento, essa desilusão pode ser representada pela perda do
vigor físico e também pela morte de coetâneos. Retomando a discrepância presente
no idoso, o indivíduo velho tem a tarefa de lidar com perdas progressivas da função
mental e física, e submetê-las a um processo de elaboração interna que pode abalar
sua autoestima e seu sentimento de competência pessoal [...].

Somado a todas essas perdas e necessidade de elaboração interna, o idoso e


sua família enfrentam, muitas vezes, o estabelecimento de uma doença crônica. [...]

A família na etapa tardia e a Doença de Parkinson

A entrada do sujeito na velhice acarreta, além do envelhecimento corporal


e da saída do mercado de trabalho, mudanças sociais significativas na dinâmica e
organização familiar. Com a saída definitiva dos filhos de casa, ocorre um esvaziamento
do lugar de chefe da família – tanto para o homem como para a mulher, afirmam
McGoldrick e Shibusawa (2016) e Walsh (1995). Essa etapa do ciclo de vida familiar
é denominada de estágio TARDIO (CARTER; MCGOLDRICK, 1995; MCGOLDRICK;
SHIBUSAWA, 2016). As relações familiares, então, se transformam. O “ninho vazio” e
o consequente arrefecimento na intensidade das relações com os filhos acarretam a
necessidade de elaboração de uma nova forma de se perceber nesse contexto. Deixar
de ser o foco central da dinâmica familiar e ceder esse lugar aos filhos nem sempre
é fácil. Walsh (2016) ressalta que o surgimento de doenças incapacitantes e doenças
crônicas, somada à consequente perda da independência e à mudança nas relações
com os filhos – que passam a ser os cuidadores e detentores de poder de decisão –,
impõe um sofrimento significativo aos membros familiares. Ser cuidado e depender dos
filhos após ter sustentado o papel e lugar de cuidador e provedor é, quase sempre, fonte
de sofrimento. [...]

FONTE: <http://www.seer.ufsj.edu.br/index.php/revista_ppp/article/view/1875>. Acesso em: 30 jan. 2022.

105
RESUMO DO TÓPICO 4
Neste tópico, você adquiriu certos aprendizados, como:

• A depressão é um transtorno psicológico que causa tristeza persistente e impede a


realização das tarefas diárias.

• Dependendo da intensidade dos sintomas a depressão pode ser dividida em leve,


moderada ou grave.

• Pode surgir em qualquer idade, desde crianças até adultos e idosos.

• A depressão pode se apresentar de maneira leve, moderada ou grave.

• A depressão tem o tratamento, e nesse pode incluir psicoterapia, medicamentos,


entre outros cuidados.

• O indivíduo com depressão pode receber tratamento de diferentes profissionais da


saúde.

106
AUTOATIVIDADE
1 Qual patologia é caracterizada por uma tristeza persistente, que impede que o
indivíduo realize as suas atividades do cotidiano, apresentando mudanças de humor,
e mudanças de comportamento?

a) ( ) Depressão
b) ( ) Doença de Parkinson
c) ( ) Alzheimer
d) ( ) Transtorno de humor

2 Os pacientes diagnosticados com depressão podem apresentar diferentes sintomas


e sinais na vida cotidiana, porém o mais conhecido é a tristeza profunda e/ou
persistente, pois é um sintoma considerado clássico no diagnóstico da doença. A
respeito dos sintomas, analise as afirmativas a seguir:

I- Apresenta perda de memória, podendo não lembrar de pessoas próximas.


II- Pode apresentar alteração no humor.
III- Apresenta desinteresse nas atividades que antes era prazerosa.

Assinale a alternativa CORRETA:


a) ( ) As afirmativas I e II estão corretas.
b) ( ) Somente a afirmativa II está correta.
c) ( ) As afirmativas II e III estão corretas.
d) ( ) Somente a afirmativa III está correta.

3 A depressão que é caracterizada principalmente pela tristeza persistente, é uma


doença difícil de ser diagnosticada em idosos, pois muitos dos comportamentos do
processo de envelhecimento são características do quadro de depressão. Com base
nisso, classifique V para as sentenças verdadeiras e F para as falsas:

( ) Há tratamento e cura para a depressão.


( ) Há medicamentos que podem contribuir para a depressão.
( ) Tratamentos com medicamentos e cirurgias para depressão.

Assinale a alternativa que apresenta a sequência CORRETA:


a) ( ) V – F – F.
b) ( ) F – V – V.
c) ( ) F – V – F.
d) ( ) F – F – V.

107
4 A população mundial de pessoas idosos vem aumentando, e os cuidados com o
corpo e mente também vem aumentando, porém muito se observa de diagnóstico
de depressão em idosos. Há décadas não se estudava a população idosa em relação
a construtos tão importante como depressão. Disserte a respeito de depressão em
idosos, e cite os principais riscos.

5 A depressão já foi bastante investigada, assim atualmente sabe a respeito dos


sintomas, avaliação e os tratamentos para essa patologia. Assim, entende-se que,
os sintomas de depressão podem ser agrupados em três grandes aspectos, sendo:
afetivo, cognitivo e somáticos. Diante disso, disserte sobre tratamento de Doença de
Parkinson.

108
REFERÊNCIAS
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Revista da Associação Médica Brasileira, [s. l.], v. 43, n. 1, p. 77-81, 1997. Disponível em:
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n. 455, v. 2-3, p. 101-107, 2002.

111
112
UNIDADE 3 —

ACOMPANHAMENTO
TERAPÊUTICO: AVALIAÇÃO,
ANAMNESE, ENTREVISTA
CLÍNICA, MODELOS DE
INTERVENÇÃO E TÉCNICAS
DE TRATAMENTO
OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM
A partir do estudo desta unidade, você deverá ser capaz de:

• compreender outros transtornos psicopatológicos da vida adulta e velhice;


• compreender a perda da memória no final da vida adulta e na velhice, bem como os
possíveis transtornos de memória;
• compreender a depressão, e como ela pode ocorrer na vida adulta e na velhice;
• demonstrar competências de avaliação clínica e diagnóstica;
• saber utilizar instrumentos de avaliação diagnóstica e na intervenção, recuperação e
reabilitação dos utentes e famílias;
• entender a implementação modelos de intervenção e técnicas de tratamento
aplicados aos problemas de saúde mental;
• perceber as especificidades de cada área técnica de intervenção, ao serviço de um
modelo integrado de atuação em saúde mental;
• integrar o papel da dinâmica familiar (doente/família) no contexto terapêutico.

PLANO DE ESTUDOS
Esta unidade está dividida em três tópicos. No decorrer dela, você encontrará
autoatividades com o objetivo de reforçar o conteúdo apresentado.

TÓPICO 1 – AVALIAÇÃO PSICOLÓGICA E INTERVENÇÃO


TÓPICO 2 – AVALIAÇÃO PSICOLÓGICA: INSTRUMENTOS E TÉCNICAS
TÓPICO 3 – AVALIAÇÃO PSICOLÓGICA E A NECESSIDADE DE OUTROS TIPOS DE AVALIAÇÃO

CHAMADA
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um ambiente que facilite a concentração, assim absorverá melhor as informações.

113
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A TRILHA DA
UNIDADE 3!

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114
UNIDADE 3 TÓPICO 1 —
AVALIAÇÃO PSICOLÓGICA E INTERVENÇÃO

1 INTRODUÇÃO
A Avaliação Psicológica é uma metodologia de avaliação do psicólogo. Ela faz
uso de um conjunto de ferramentas testadas previamente que possibilitam ao psicólogo
realizar a caracterização de diferentes elementos do indivíduo por meio da observação
de seu comportamento em ocasiões padronizadas e pré-definidas.

Assim brevemente definido, é perceptível a importância de seu uso na prática


profissional de um psicólogo e pode servir de auxílio e instrumentalização no fazer
do acompanhante terapêutico. Desta forma, acadêmico, no Tópico 1, abordaremos
a conceitualização da avaliação psicológica, a importância dela para a realização do
diagnóstico, o uso específico desta ferramenta para o público adulto e idoso, a ética que
a conduz e os seus modos de intervenção.

2 AVALIAÇÃO PSICOLÓGICA E O DIAGNÓSTICO


A Avaliação Psicológica corresponde a uma forma de acessar e compreender
fenômenos e eventos psicológicos através de mecanismos de diagnóstico e prognós-
tico e, em paralelo, aos mecanismos de verificação para produzir as circunstâncias
necessárias de avaliação ou delimitação dos fenômenos e eventos psicológicos co-
nhecidos (ALCHIERI; BANDEIRA, 2002).

A Avaliação Psicológica é compreendida como o procedimento técnico-científico


de aquisição de dados, investigação e análise de informações referentes aos processos
psicológicos, que advém do efeito da relação do sujeito com a sociedade, empregando,
para isso, procedimentos psicológicos – métodos, técnicas e instrumentos (CFP, 2003).

É possível afirmar também que a Avaliação Psicológica dispõe de uma dinâmica


de funcionamento ajustável e não padronizado, que se propõe a amarrar uma conclusão
sobre o motivo pelo qual a avaliação psicológica foi requerida por meio de coleta,
avaliação e análise de dados condizentes com aquilo que se quer avaliar (URBINA, 2007).

A Avaliação Psicológica já se constitui em uma prática tão entranhada à prática


da Psicóloga que é, algumas vezes, é tomada como uma atividade simples de ser
trabalhada, portanto, pode ser manuseada por qualquer um. No entanto, solidificar um
conhecimento sobre essa ferramenta, que é de aplicação restrita do psicólogo, não é
tão elementar assim e muito menos de conhecimento subentendido de todos aqueles
que irão manusear a avaliação psicológica de alguma maneira.

115
IMPORTANTE
A Avaliação Psicológica é considerada, por especialistas que operam,
estudam e investigam essa ferramenta, como a base da atividade do
profissional de psicologia, posto que a criação de práticas de intervenção
em psicologia seja em qualquer área desse saber e funciona como
norte para a prática daqueles que trabalham em saúde, pois passa pelo
domínio dos fenômenos e eventos psicológicos relativos àquele objeto
que se pretende trabalhar (seja o funcionamento do comportamento
em psicoterapia ou o funcionamento dos mecanismos inconscientes
do sujeito).

Desta maneira, a Avaliação Psicológica pode ser postulada como a natureza


da prática da Psicóloga. Entretanto, essa compreensão, em muitos momentos, não é
aquela que norteia o trabalho de muitos profissionais da categoria, posto que estes
ainda atrelam a prática da Avaliação Psicológica ao emprego singular dos testes
psicológicos. Uma perspectiva ainda reducionista da utilização da Avaliação Psicológica
como ferramenta.

De acordo com Cunha (2000), as origens da Avaliação Psicológica, que


atualmente corresponde a uma das possíveis atividades exercidas pelos psicólogos,
remontam de um período que foi definido como a instauração da utilização de testes
psicológicos. Tendo em vista esta confluência histórica, assim, explica-se a perspectiva
que se formulou do psicólogo, como um profissional que utiliza testes, visto que
especificamente testólogo é o que ele era, na primeira metade do século XX.

No entanto, essa perspectiva não pode mais ser considerada, principalmente


entre os profissionais da psicologia, que em sua formação aprendem e têm acesso
a avaliação psicológica de maneira mais aprofundada. Assim, em sua graduação
psicólogos aprendem a relevância desta ferramenta e conseguem desmistificar algumas
perspectivas que foram construídas ao longo do tempo (CUNHA, 2000).

Ainda falando da importância da avaliação psicológica, ao longo de sua


constituição histórica foi possível perceber o quanto essa ferramenta foi crucial para
a inclusão da psicologia e do psicólogo em diferentes cenários de atuação. Tendo essa
perspectiva em conta, tem-se a dimensão da importância de estar constantemente
aprimorando essa ferramenta, para que ela possa assegurar a qualidade do seu trabalho
e prestação de serviços à população, bem como dá destaque ao aspecto científico que
está posto no seu fazer, que leva em consideração as suas dimensões éticas e técnicas
(CUNHA, 2000).

116
A credibilidade da apuração e conclusões em um processo de avaliação está
atrelado à necessidade de embasamento teórico/técnico qualificado, que dê suporte as
análises de acordo com a hipótese do determinismo psíquico do avaliado. A bagagem
prática do psicólogo, a aposta de que as informações analisadas serem advindas da
qualificação técnica deste profissional que é capaz de aglutinar a sua análise clínica do
evento psíquico ao dado fornecido, são requisitos básicos para assegurar a credibilidade
das conclusões que serão investigadas a partir da consistência teórica do profissional
(CUNHA, 2000).

Embora exista a crença na facilidade de como um fenômeno psicológico ou uma


estrutura de funcionamento do sujeito apareça para um psicólogo, a dinâmica não é
bem assim. De acordo com Lins e Borsa (2017), os eventos psíquicos não se constituem
como uma realidade intuída, ou seja, que se oferece instantaneamente à percepção,
mas sim como realidade instruída, isto é, vem vinculada a partir de um protótipo que,
como uma “rede”, é empregada pelo profissional sobre os eventos (circunstâncias onde
acontecem os fenômenos), de modo a ter a capacidade de propor alguma coerência, ou
promessa de sentido sobre a realidade psicológica humana.

Existem três propósitos essenciais para avaliação psicológica: diagnóstico,


avaliação de tratamento e meio de comunicação (STENZEL et al., 2012). Com a finalidade
de diagnóstico, esta avaliação possibilita esclarecer dinâmicas e funcionamento mentais
que se exprimem em comportamentos e ações que, a maior parte das vezes, a pessoa
não tem alcance conscientemente, não sendo capaz, assim, de expressar.

Com o objetivo de avaliação de tratamento, as respostas padronizadas viabilizam


que se saiba o básico acerca da evolução no tratamento, bem como o progresso da
doença. Como instrumento de comunicação, diz respeito tanto ao paciente, que, em
alguns momentos, não está apto a expressar suas dores e sofrimento; quanto à equipe
multidisciplinar, pois facilita a coleta dos dados pelos instrumentos utilizados, somados
ao conhecimento da história de vida pregressa e atual do sujeito.

Sendo assim, quais são os atributos primordiais a serem levados em considera-


ção em uma Avaliação Psicológica?

QUADRO 1 – O QUE É A AVALIAÇÃO DIAGNÓSTICA

FONTE: Adaptado de CFP (2005)

117
Para o cumprimento de uma boa avaliação psicológica é preciso seguir algumas
etapas, tais como:

• distinguir o propósito da avaliação da forma mais precisa e objetiva possível;


• escolher os instrumentos a serem utilizadas de modo condizente ao que o caso
demanda;
• empregar de modo atencioso os instrumentos escolhidos;
• realizar a correção dos instrumentos de modo atencioso;
• realizar com atenção a interpretação das respostas;
• estudar atenciosamente os dados coletados;
• compor o relatório verbal ou escrito do resultado da avaliação.

ATENÇÃO
Testes psicológicos e avaliações psicológicas não são a mesma coisa. Os
testes fazem parte do processo de avaliação psicológica. Avaliar vai muito
além de aplicar testes. Avaliar é um procedimento dinâmico.

3 AVALIAÇÃO PSICOLÓGICA PARA USO EM ADULTOS E


IDOSOS
A Avaliação Psicológica vem se constituindo, ao longo dos anos, como uma
prática importante para a elaboração diagnóstica, mas ainda é bastante complexa. A
avaliação não se compõe somente de aplicação de testes psicológicos ou entrevista,
mas exige a compreensão das técnicas, as dinâmicas relacionais, éticas, legais,
profissionais e sociais envolvidas neste trabalho.

Quando se entende que é importante levar todos esses aspectos em


consideração, tem-se a consciência da atenção e cuidado que se precisa no momento da
avaliação, visto que é condição necessária o respeito à vida daquele sujeito que procura
o profissional para realizar uma avaliação psicológica que pode mudar o direcionamento
de sua vida, posto que pode produzir ao final um resultado ou diagnóstico clínico.

Avaliar não pode ser superficial, nem veloz e nem banal. Por esta razão, relativo
ao aspecto técnico, é preciso que se tenha um conhecimento aprofundado das técnicas
que serão utilizadas, bem como capacidade crítica para questionar os instrumentos que
usa (sejam eles testem psicológicos, dinâmicas, entrevista entre outros). É primordial
que o profissional domine a junção das informações coletadas, que realize análises
atenciosas destas informações, formule hipóteses a partir deles, posto que estas
dimensões são integrantes de toda avaliação psicológica.

118
Desta forma, é interessante, para fazer um bom trabalho de avaliação, que
o psicólogo possa complementar a sua graduação com cursos de atualização e
experimentação específica da avaliação psicológica.

Além de considerar o domínio da técnica é fundamental entender o aspecto


relacional, pois este traz elementos cruciais sobre os mecanismos transferenciais e
contra-transferenciais que sempre aparecerão em uma situação de avaliação, ou seja,
sobre a relação do psicólogo com a pessoa que está sendo avaliada. Sem um enten-
dimento prévio neste quesito, o profissional pode não captar manipulações notórias,
formas de sedução como amabilidade e resistências por parte do avaliado. O aprimora-
mento da percepção seja sobre si mesmo ou do avaliado requer uma prática contínua
de autopercepção e autocrítica que, em diferentes momentos, pode ser auxiliado por
um procedimento de encaminhamento para a psicoterapia por parte do profissional.

O atendimento na Avaliação Psicológica se constitui, essencialmente, em


uma relação humana em que o profissional, ao dispor de seu arsenal teórico, seus
sentimentos, suas observações, percepções, perspectivas e análises não pode se furtar
de um certo distanciamento com relação à pessoa avaliada.

O requisito do distanciamento possibilita a manifestação do saber de um e o


saber do outro, entendendo em paralelo que existe o limite de um e o limite de outro.
Sendo assim, é possível apostar que os fatores que circundam a questão relacional na
avaliação psicológica podem ser entendidos como tendo um efeito terapêutico, visto
que este efeito ocorre justamente da possibilidade de criação de um vínculo sólido entre
psicólogo e o sujeito avaliado.

Desse modo, é fundamental ressaltar o emprego da imparcialidade, do


distanciamento e do não julgamento moral. Essa posição diante do outro que se está
atendendo se constitui como um exercício diário, que não é simples, ao passo que é
crucial para a estruturação do processo da avaliação psicológica.

Outro aspecto a ser considerado é a ética que necessita sempre guiar qualquer
prática. Faz parte do trabalho do profissional de saúde (seja ele qual for) o respeito ao
outro, ao seu sofrimento, a aposta de produzir a menor falha possível com a nossa
intervenção e bancar os resultados das avaliações, ainda que elas desagradem terceiros
(pais, chefes e outros).

Deste modo, a avaliação psicológica nunca pode ser corriqueira, nunca é neutra
com relação aos efeitos que as práticas irresponsáveis podem acarretar ao avaliado e
para a imagem da classe dos psicólogos. Seja trabalhando em uma instituição ou de
modo privado, o profissional precisa agir com cuidado ao aplicar e corrigir testes e a
forma de transmitir seus resultados.

119
3.1 A ESPECIFICIDADE DO TRABALHO DE AVALIAÇÃO
PSICOLÓGICA COM ADULTOS E IDOSOS
Quando tratamos da Avaliação Psicológica pensando no público adulto e idoso
precisamos estabelecer uma configuração cuidadosa e pensar em uma organização
adequada ao objetivo/ pedido. O adulto apenas passará pela avaliação após as
explicações necessárias das etapas e os objetivos que compõem a avaliação psicológica
e a partir do entendimento advir o seu consentimento e cooperação com a realização.

O procedimento da Avaliação Psicológica é composto por um quantitativo de


atendimentos mutável, mas delimitado a um número que varia de seis a oito, em grande
parte dos casos, nas quais é efetuada a entrevista clínica e são empregados testes e pro-
vas psicológicas, com o propósito final de compor um relatório de avaliação psicológica.

As Avaliações Psicológicas podem ser destinadas para os seguintes objetivos:

• avaliação das funções e características cognitivas;


• avaliação da personalidade e do funcionamento psicológico;
• avaliação diagnóstica (transtorno de ansiedade, transtorno depressivo ou outra);
• avaliação de competências de atenção e mnésicas;
• perícias de personalidade em contexto médico legal.

Fases do Processo de Avaliação Psicológica:

• entrevista clínica (uma a duas sessões): é composto de uma conversa para coleta
de dados sobre o objetivo/pedido da avaliação psicológica, as informações signifi-
cativas da história de vida para o procedimento de avaliação (vida amorosa, familiar,
profissional etc.) e conhecimento do histórico psicológico e médico se for importante;
• escolha e aplicação de instrumentos (três a quatro sessões): por meio da
entrevista clínica será possível selecionar os instrumentos a serem aplicados;
• análise e interpretação dos resultados: é o momento em que o psicólogo avalia
os resultados oferecidos pelas diferentes formas de coletas de dados (entrevista,
somado a dinâmica e aos testes psicológicos, por exemplo) e constrói as conclusões
compondo o relatório de avaliação psicológica. Esta etapa não necessita da presença
física do adulto, e tem a duração mínima de duas semanas;
• entrega do relatório (uma sessão): existe uma sessão que o psicólogo deve
destinar para a entrega e devolutiva do relatório, esclarecendo as resoluções da
avaliação psicológica e tirando as dúvidas que emergem. O propósito do relatório de
avaliação psicológica é transmitir de modo claro, coerente e sistêmica, atendendo
objetivamente ao que ele foi demandando, não pesando na linguagem técnica,
diminuindo a probabilidade de compreensões errôneas.

120
4 ÉTICA EM AVALIAÇÃO PSICOLÓGICA
Quando falamos sobre a ética na Avaliação Psicológica é crucial que antes
possamos entender o que de fato significa o conceito de ética. Toda civilização necessita
de normas de convivência humana. Por exemplo, é sabido que precisamos nos vestir
para sair de casa, que matar viola as regras, que não devemos jogar lixo nas ruas etc.
Estes exemplos configuram aquilo que chamamos de moral, isto é, uma reunião de
normas que direcionam o comportamento dos homens na sociedade. Cada civilização
cria os seus princípios morais de acordo com a sua configuração e elementos históricos.

Quando tratamos da ética, estamos tratando da ciência que estimula o


pensamento crítico acerca dessas regras morais, os quais estão remetidos aos ideais da
ação humana. Desse modo, torna-se mais simples compreender o que se estabelece
como ética profissional: são preceitos e normas morais na prática de determinada
profissão. A ética profissional nos coloca diante de uma perspectiva crítica, sólida e
coesa sobre os valores que guiam a nossa prática.

O Código de Ética Profissional do Psicólogo nos traz uma noção de homem


e de sociedade, direcionando uma determinada compreensão das relações entre os
indivíduos. Estabelecem princípios e normas que precisam levar em consideração os
modos de vida e seus direitos fundamentais.

Os dois documentos mais relevantes que corporificam os princípios da Ética


Profissional do Psicólogo e instrumentalizam a prática deste profissional são o Código
de Ética e o Guia de Princípios Éticos da APA (American Psycological Association), de
1953. O presente Código de Ética Profissional do Psicólogo – o terceiro do campo PSI –,
passou a vigorar no dia 27 de agosto de 2005, depois da publicação da Resolução nº 10
de 2005. Seu objetivo principal é salvaguardar um modelo de conduta que consolide o
reconhecimento social dos psicólogos, consonantes com os indispensáveis princípios
da sociedade e para a prática desempenhada do profissional. Colocar o Código de
Ética Profissional em constante avaliação crítica corresponde a estar em par com as
transformações que ocorrem em nossa sociedade (CFP, 2005).

O Código de Ética é uma ferramenta de produção de pensamento que levanta


também a necessidade do debate acerca dos limites e pontos de encontros relacionados
aos direitos individuais e coletivos (da sociedade, categoria, usuários e clientes),
abarcando a multiplicidade da profissão. Direciona, desta forma, para as atribuições e
obrigações do profissional para a sociedade, delimitando diretrizes para a sua formação,
bem como de instrumentalizar as possíveis falhas que o profissional possa incorrer
(HUTZ, 2015).

As principais diretrizes da prática profissional situados no Código de Ética são:

121
• respeito, liberdade, dignidade, igualdade e integridade;
• estimular o acesso à saúde e à qualidade de vida;
• responsabilidade social;
• atualização profissional continuada;
• promover a circulação do conhecimento científico;
• postura autorreflexiva e crítica.

Dialogando com as mais básicas diretrizes do Código de Ética Profissional do


Psicólogo organizado pelo Conselho Federal de Psicologia, a APA estipulou seis normas
cruciais para a formação e prática do psicólogo. Em primeiro lugar, a importância da
qualificação técnica, que significa sustentar um bom nível de rigor em seus trabalhos,
entendendo os seus limites e somente acolhendo demanda para os quais está apto.
Para tanto, este profissional precisa constantemente se atualizar acerca dos novos
conhecimentos prevalentes em seu campo de atuação (HUTZ, 2015).

É importante que o profissional seja correto, justo e atencioso em sua práxis,


posto que as suas intervenções possuem efeitos na vida das pessoas. Atenção,
principalmente, para não projetar suas expectativas e ideais em seus clientes/pacientes
(HUTZ, 2015).

O compromisso com a ciência e atuação profissional direciona o profissional


a ser pautado pela sua abordagem (mas não ser irredutível a ela) e a ajudar outros
colegas, profissionais de outras áreas e instituições a trilhar um posicionamento ético no
local em que trabalha. Nesta direção, o profissional também precisa conferir ao cliente/
paciente o direito ao sigilo sobre aquilo que é trazido como questão dentro do espaço
de atendimento (HUTZ, 2015).

Para além, é preciso compreender que as pessoas têm autonomia sobre suas
ações; elemento importante para considerar em suas intervenções. Outra questão
trazida, mas não menos importante é a responsabilidade social do trabalho, ou seja,
a promoção da democratização do conhecimento científico para a comunidade a qual
está inserido e de uma forma mais ampla. O profissional de saúde precisa também ter o
compromisso na elaboração de leis e políticas que autonomizem a sociedade sem que
incorram em vantagens profissionais e na compreensão de que os sujeitos têm direitos.

5 INTERVENÇÃO PSICOLÓGICA COM ADULTOS E IDOSOS


O movimento de compreender a pessoa que busca a avaliação psicológica
se faz presente como objetivo em todo o seu percurso. De acordo com Trinca (2003),
é preciso fazer uso de diferentes instrumentos que viabilizem a passagem de um
desconhecimento do avaliado para um conhecimento daquilo que ele traz como
demanda. Este é percurso que efetua aquele que se pauta pelo pensamento científico,
o profissional de psicologia poder acessar seus processos mentais (cognitivos) – sentir,

122
observar, perceber, formular hipóteses, correlacionar e, desse modo, compreender o
fenômeno psicológico e, deste modo, fazer uso da Avaliação Psicológica como um pilar
importante para a intervenção posterior.

DICA
Para se aprofundar mais nas possibilidades, manejos e discussão ética
da Avaliação Psicológica, o Conselho Regional de Psicologia de Curitiba
fez uma coletânea importante de artigos que tratam das especificidades
e pesquisas da avaliação psicológica em “Avaliação Psicológica:
Dimensões, Campos de Atuação e Pesquisa”. Acesse o documento em:
https://bit.ly/3vcmi6g.

A Avaliação Psicológica, ao longo das diferentes pesquisas realizadas no de-


correr da história, foi tomando uma multiplicidade de arranjos, tendo como objetivo
sempre a investigação dos fenômenos psicológicos. Assim, podemos dizer que faz
parte das pesquisas em Avaliação Psicológica pensar a especificidade do público ava-
liado (seja ele infantil, adolescente, adulto ou idoso).

5.1 O PROCESSO DE INTERVENÇÃO PSICOLÓGICA COM


ADULTOS E IDOSOS
A vida adulta é tracejada por questões específicas. Existem as demandas
familiares, profissionais, sexuais, físicas e sociais que circulam entre as preocupações
deste público. Logo, a partir dessas exigências é comum perceber os casos de estresse,
depressão, ansiedade e outros sintomas patológicos nesse momento da vida.

Levando em consideração as características sociais, biológicas e psicológicas


do sujeito avaliado, o profissional pode realizar uma hipótese diagnóstica a partir
dos seus instrumentos de trabalho utilizados na avaliação psicológica (testes,
entrevista, dinâmicas) e, dependendo do resultado, encaminhar para um tratamento
psicoterapêutico, psiquiátrico, neurológico ou acompanhamento terapêutico. Assim,
podemos afirmar que uma avaliação psicológica não deixa de ser uma intervenção,
posto que ela parte de um processo de desconhecimento para obtenção de informações
sobre si (TISSER; COIMBRA, 2019).

Os pedidos para avaliação por adultos compreendem as mais diversas demandas


possíveis, seja para processo seletivo de emprego, seja para conquistar a carteira
nacional de habilitação, obtenção de porte de arma, perícia judicial, psicodiagnóstico,
entre outros. É dever, assim, do psicólogo ter em vista a especificidade do trabalho
de avaliação requerido, as singularidades do público atendido, as questões sociais e
ambientais para escolher a melhor intervenção a ser realizada (TISSER; COIMBRA, 2019).

123
Com relação ao público idoso, as maiores requisições de intervenção são na
direção da avaliação das dificuldades cognitivas, em particular, prejuízos na atenção/
concentração, memória, lentificação no processamento das informações, questões
emocionais relacionadas ao envelhecimento, perdas, ansiedade e depressão. A avaliação
destes tópicos geralmente pode ser feita em complementaridade com os familiares
(entrevistas), observação clínica do idoso e aplicação de testes psicológicos (TISSER;
COIMBRA, 2019).

124
RESUMO DO TÓPICO 1
Neste tópico, você adquiriu certos aprendizados, como:

• Precisamos, inicialmente, conceitualizar a Avaliação Psicológica e entender as razões


pelas quais ela se constitui em uma importante ferramenta de avaliação diagnóstica,
assim, podemos ter acesso aos requisitos básicos para o cumprimento de uma boa
avaliação psicológica.

• Importa considerar a especificidade do trabalho de Avaliação Psicológica com Adultos


e Idosos, seus objetivos, as fases e os instrumentos possíveis a serem utilizados no
processo.

• É muito importante pensar a ética profissional na execução da avaliação psicológica,


posto que a ética profissional nos coloca diante de uma perspectiva crítica, sólida e
coesa sobre os valores que guiam uma prática profissional em saúde.

• Os instrumentos de avaliação disponíveis e os requisitos devem ser observados no


momento da avaliação no processo de intervenção psicológica com adultos e idosos.

125
AUTOATIVIDADE
1 A Avaliação Psicológica é uma das ferramentas importantes de trabalho do psicólogo.
Este instrumento de trabalho por vezes está envolto por algumas discordâncias
dentro do campo PSI: seus críticos acreditam que ela pode se tornar excessivamente
patologizante, quando foca no enquadramento de uma determinada concepção do
que seria normal. Sobre a avaliação psicológica, assinale a alternativa CORRETA:

a) ( ) A Avaliação Psicológica é uma metodologia técnico-científica de obtenção de


dados, pesquisa e análise de informações referentes aos processos psicológicos
da relação homem-sociedade.
b) ( ) A avaliação psicológica baseada exclusivamente em testes psicológicos
corresponde a um conhecimento legítimo, estabelecendo um critério de
progresso do saber validado cientificamente.
c) ( ) A avaliação Psicológica está instrumentalizada e tem como foco principal a
realização de psicodiagnósticos que viabilizem a escolha do melhor tratamento
a ser efetuado com o avaliado.
d) ( ) A Avaliação Psicológica é norteada pelo Guia de Princípios Éticos da APA
(American Psycological Association) e se destina tão somente a avaliação de
competências humanas e seus processos.

2 A prática do psicólogo deve estar sempre permeada e ter como objetivo geral a
emancipação humana, conferindo a pessoa que o procura respeito a sua dignidade,
integridade e liberdade. Para tanto, esse profissional deve trabalhar a partir de alguns
norteadores. Sobre a dimensão ética no trabalho de avaliação psicológica, analise as
afirmativas a seguir:

I- O psicólogo, ao trabalhar com a avaliação diagnóstica, precisa se pautar no Código


de Ética Profissional, pois este traz os princípios e normas da profissão e leva em
consideração os modos de vida e seus direitos fundamentais.
II- Um dos objetivos do Código de ética é estimular o pensamento crítico de cada
psicólogo sobre sua prática, de forma que este profissional possa se responsabilizar
por suas decisões e resultados de sua ação.
III- Para aplicar a avaliação psicológica nos sujeitos, não precisa ter tanta familiaridade
com os instrumentos utilizados na avaliação, basta que o profissional de psicologia
tenha realizado a graduação em psicologia.

Assinale a alternativa CORRETA:


a) ( ) As afirmativas I e III estão corretas.
b) ( ) Somente a afirmativa II está correta.
c) ( ) As afirmativas I e II estão corretas.
d) ( ) Somente a afirmativa III está correta.

126
3 Ao utilizar o recurso da Avaliação Psicológica com o público adulto e idoso, o
psicólogo necessita traçar um caminho cuidadoso, pensar nos procedimentos que
irá realizar para obtenção do resultado, mas antes precisa não só explicar todos os
passos e objetivos para o analisado, como também obter seu consentimento. Sobre a
especificidade do trabalho de avaliação psicológica com adultos e idosos, classifique
V para as sentenças verdadeiras e F para as falsas:

( ) As Avaliações Psicológicas com idosos e adultos podem ser destinadas para um


vasto campo de objetivos, alguns deles: avaliação das funções e características
cognitivas, avaliação da personalidade e do funcionamento psicológico.
( ) As etapas do processo de avaliação psicológica com adultos e idosos são compostas
de entrevista clínica, aplicação de testes psicológicos, elaboração de relatório final
e devolutiva ao avaliado.
( ) O procedimento da Avaliação Psicológica com adultos e idosos é composto
essencialmente por 8 encontros em que serão aplicados os testes psicológicos e a
devolutiva destes testes.

Assinale a alternativa que apresenta a sequência CORRETA:


a) ( ) V - F - V.
b) ( ) V - F - F.
c) ( ) V - V - F.
d) ( ) F - V - V.

4 Para que possamos entender o funcionamento de um processo de intervenção


psicológica para adultos e idosos, precisamos ter em mente qual é a importância e a
função de cada instrumento que compõe a Avaliação Psicológica. Disserte sobre o
objetivo dos testes psicológicos em uma intervenção psicológica.

5 Dentro do processo de avaliação psicológica a utilização da entrevista como uma


das alternativas para a coleta de dados importantes do avaliado se torna um acesso
diferenciado à realidade do sujeito. Disserte sobre o objetivo da entrevista psicológica
dentro do processo de avaliação psicológica.

127
128
UNIDADE 3 TÓPICO 2 -
AVALIAÇÃO PSICOLÓGICA: INSTRUMENTOS
E TÉCNICAS

1 INTRODUÇÃO
Quando falamos em Avaliação Psicológica, é comum que algumas pessoas
identifiquem esse processo a unicamente aplicação dos testes psicológicos. No en-
tanto, a avaliação psicológica é composta por alguns outros instrumentos e técnicas,
além de ter as suas especificidades com relação ao público a ser avaliado (criança,
adolescente, adultos).

Neste tópico, iremos aproximá-lo um pouco mais dos instrumentos e técnicas


que fazem parte do procedimento de Avaliação Psicológica e que ajudam a construir um
bom resultado sobre a demanda do avaliado, além de tocarmos no ponto da avaliação
psicossocial de adultos e idosos e a responsabilidade da participação da família na
construção desse processo que visa a qualidade de vida e bem-estar do avaliado.

2 OBSERVAÇÃO, ANAMNESE E ENTREVISTAS COM


ADULTOS E IDOSOS
Quando pensamos no processo de avaliação psicológica devemos afirmar
antes que os mais importantes instrumentos de Avaliação Psicológica são compostos
de: anamnese, entrevistas, observação, testes psicológicos, dinâmicas de grupo,
observação lúdica, testes situacionais e outras. Essas técnicas (em conjunto, mas
podendo descartar algum instrumento de acordo com a especificidade do caso)
cooperam para o entendimento do atendido pela Avaliação Psicológica.

Essas ferramentas se mostram cruciais para o objetivo de conhecimento do


outro, lembrando que a Avaliação Psicológica exige a estruturação anterior necessária
ao início do procedimento, a efetivação atenciosa do que foi estruturado, a junção do
material coletado e a análise desses dados recolhidos por meio das diferentes técnicas.
Através dessa junção dos dados recolhidos é que se viabiliza a redação e consequente
devolutiva dos resultados da avaliação (ALCHIERI; BANDEIRA, 2002).

Um dos instrumentos importantes dentro da Avaliação Psicológica é a


anamnese. A anamnese diz respeito à necessidade de uma reconstrução sistêmica da
vida do cliente, ou seja, coletar os dados da história pessoal, a fim de entender como o
cliente fala sobre si e em casos de psicodiagnóstico localizar o ponto em que a queixa

129
atual do avaliado se encontra. Por exemplo, se o cliente se queixa de episódios de
ansiedade é importante que o profissional estabeleça um marco referencial em que a
queixa atual se enquadra e ganha significação.

Outro instrumento importante para a Avaliação Psicológica são os testes


psicológicos. De acordo com Alchieri e Banderia (2002), os testes psicológicos
correspondem a ferramentas objetivas e padronizadas de pesquisa do comportamento,
que revelam a estruturação normal dos comportamentos requeridos na efetuação de
testes ou se seus distúrbios levam a questões patológicas. Desta forma, o teste oferece
a oportunidade de perceber o comportamento de modo padronizado e avaliar se estes
comportamentos correspondem às condutas esperadas de acordo com a população
investigada na aprovação do teste psicológico. O objetivo do teste se destina, assim, a
estabelecer as singularidades entre sujeitos ou entre as respostas do mesmo sujeito em
diferentes situações.

IMPORTANTE
O teste psicológico é um dos instrumentos para se atingir um
dado sobre o sujeito. Estes estão sujeitos, algumas vezes, a serem
mal utilizados, ação que restringe ou retira a sua possibilidade
de ser útil para a avaliação. A responsabilidade última pelo uso e
interpretação apropriados dos testes é do psicólogo.

A seleção dos instrumentos para avaliação psicológica deve levar em


consideração o que se quer avaliar previamente. Por exemplo, um adulto que busca
a avaliação psicológica segundo uma queixa de desatenção e problemas com a
memória. O profissional irá estruturar toda a sua avaliação (entrevistas, aplicação de
testes, dinâmicas etc.) pensando a partir das hipóteses formuladas sobre a demanda:
se existe uma questão neurológica que compromete a atenção do avaliado ou se algum
problema emocional pode estar afetando essa desatenção. Para tanto, é preciso que
o profissional conheça todos os instrumentos disponíveis. Lembrando que não há
ferramentas melhores ou piores (posto que todas elas passam por validação científica),
mas as que são mais adequadas para determinado caso.

Alchieri e Bandeira (2002) destacam elementos a serem considerados na


escolha dos testes mais apropriados para as situações:

• que aspectos ou particularidades se quer avaliar: personalidade, atenção,


inteligência etc.;
• quais as técnicas acessíveis e validadas: técnicas que estão na lista do CFP como
aprovadas;

130
• idade, escolaridade, nível socioeconômico etc. do avaliado: perfil do sujeito a ser
analisado;
• conhecimento da ferramenta: ter habilidade prévia dos instrumentos antes de ser
aplicado;
• qualidade da ferramenta: credibilidade do instrumento a partir da validação do CFP;
• materiais originais: uso dos testes psicológicos da editora e nunca fotocópias.

Assim, antes da aplicação dos testes é preciso levar em consideração a


escolaridade, a faixa etária e ter a percepção de que alguns testes irão demandar mais
preparo do profissional do que outros.

NOTA
Todos os testes psicológicos precisam passar pelo crivo do SATEPSI.
O SATEPSI é o sistema de avaliação de testes psicológicos elaborado
pelo Conselho Federal de Psicologia (CFP) para trazer dados
informativos a respeito dos testes psicológicos à comunidade e às/os
psicólogas/os. No site do SATEPSI são disponibilizados, em duas abas,
os testes psicológicos e instrumentos. Neste site é possível encontrar
as avaliações científicas realizadas com os testes, os caracterizando se
são favoráveis ou desfavoráveis para a utilização do teste na avaliação
psicológica, assim como a informação de instrumentos privativos e não
privativos do psicólogo.

Outro elemento importante que deve entrar na aplicação da avaliação é a


observação. A melhoria desta técnica vai sendo aprimorada de acordo com a prática e
os estudos a qual o profissional se dedica ao longo de seu percurso. A observação se
torna crucial na medida em que ela oferece mais clareza e exatidão nos dados reunidos.
Observar corresponde a fazer com que um determinado comportamento do sujeito seja
mensurável e auxilia na construção de hipóteses sobre o caso avaliado.

No caso específico de avaliação realizada com o público adulto e idoso será


preciso que a observação se firme primeiramente no exame do estado mental, que
corresponde a obter dados sobre:

• atenção: habilidade de concentração do psiquismo diante de um estímulo oferecido;


• senso percepção: habilidade de captar um estímulo e torná-lo uma imagem;
• consciência: estado de percepção psíquica;
• orientação: habilidade de orientar-se em relação a si mesmo e ao meio externo;
• memória: habilidade de reter, preservar, lembrar e identificar um estímulo;

131
• pensamento: habilidade de criar, conectar e refletir ideias. Diz da capacidade de
formular conceitos, relacioná-los em avaliações e fabricar racionalizações de forma
a criar soluções;
• linguagem: grupo de sinais estabelecidos usados para se expressar;
• afetividade: habilidade de ter sentimentos e emoções;
• conduta: tendência psicomotora da atividade psíquica.
• aparência geral: higiene, zelos corporais e adequação das roupas (ex: se veste
roupa de frio no calor etc.);
• aspecto físico e de saúde: comportamento e noção de morbidade;
• área sensorial e motora: visão, audição, movimento corporal.

Outro elemento da avaliação é a entrevista psicológica. A Entrevista nesse


processo corresponde a uma interlocução com direcionamento e com o objetivo
estabelecido de avaliação. Sua finalidade é abastecer o profissional de elementos
técnicos sobre o comportamento do avaliado, trazendo novas informações para além
das já recolhidas pelas outras ferramentas usadas no processo.

IMPORTANTE
A entrevista é empregada em diversos contextos e para diferentes
objetivos, não é ferramenta exclusiva da psicologia. No entanto,
inserido em um processo de Avaliação Psicológica, essa técnica precisa,
também, estar vinculada a finalidade dessa avaliação, permitindo uma
compreensão mais ampla sobre a história de vida do indivíduo e da
relação com o ambiente externo que o circunda.

Existem diversos tipos de entrevista e o profissional que está aplicando


precisa escolher qual tipo de entrevista que ele irá utilizar, levando em consideração
as informações que necessita obter do avaliado. Há na catalogação de protocolos
de entrevistas especificidades técnicas de entrevistas para cada faixa etária de
desenvolvimento e ambiente a serem avaliados.

De modo geral, procura-se pesquisar nas entrevistas circunscritas ao processo


de Avaliação Psicológica os seguintes requisitos: situação familiar, social, pessoal,
condição de saúde física, autopercepção, autocrítica e projeções de futuro. A dinâmica
de relação entre o entrevistado e o entrevistador é ativa, demandando da técnica e
da prática do profissional que avalia para organizar as informações colhidas. Algumas
entrevistas com objetivo diagnóstico demandam um amplo conhecimento e precisam
ser aplicadas somente por pessoas efetivamente preparadas.

132
De modo mais específico, Alchieri e Bandeira (2002) apostam na necessidade
de o profissional coletar nas entrevistas:

• dados de identificação;
• dados socioculturais;
• história familiar;
• história escolar;
• história e dados profissionais;
• história e indicadores de saúde/doença;
• aspectos da conduta social;
• visão e valores associados a temática investigada;
• características pessoais;
• projeções de futuro.

Em paralelo às informações objetivas (acima citadas) a serem mapeadas, é


importante também que o profissional se atente para a questão da comunicação, ou
seja, ir além do que o avaliado diz, observar a comunicação não verbal. Como exemplo,
como o avaliado se organiza espacialmente, sua localização no tempo, os gestos, a
entonação, o modo de olhar.

3 INSTRUMENTOS PSICOLÓGICOS E AVALIAÇÃO


PSICOSSOCIAL PARA ADULTOS E IDOSOS
As competências cognitivas na idade adulta se constituem de maneira bem
diferente da infância. As funções cognitivas, tais como a inteligência, memória, atenção,
linguagem e motricidade vão se estabelecendo de modo mais consistente na fase adul-
ta quando o modelo de comparação é a infância (etapa de grandes transformações ma-
turacionais). Elementos que podem ser comprometidos a partir da chegada da velhice.

Deste modo, para pensarmos nos instrumentos de avaliação psicológica para


adultos e idosos, é preciso entender que as mudanças cognitivas tanto na etapa
adulta quanto na velhice precisam ser contextualizadas tanto no que tange ao aspecto
histórico clínico desenvolvimental quanto aos aspectos ambientais nos quais o sujeito
está inserido.

Os elementos a serem analisados em uma avaliação psicológica em adultos


seriam: o funcionamento da pessoa no mundo, nível de escolarização, situação
socioeconômica e cultural, acontecimentos de sua vida. Por exemplo, um adulto
cujo nível de escolaridade seja nível fundamental incompleto, o profissional precisará
adaptar a sua forma de comunicar, além de trazer testagens e escalas avaliativas as
quais o avaliado possa acompanhar. Ou se o avaliado perdeu uma pessoa no dia anterior
à avaliação e o quanto isso pode comprometer a sua atenção.

133
A avaliação das funções cognitivas pode ser efetuada a partir da utilização de
testes, técnicas, entrevistas e observações clínicas. Esses auxiliam na localização das
competências cognitivas individuais, identificar se existe algum prejuízo ou transtorno
em algum funcionamento cognitivo. Os déficits em adultos e idosos podem estar contidos
na parte de recepção de informações, na memória, capacidade de aprendizagem,
pensamento e nas funções executivas.

Outros quesitos também são comumente avaliados neste público, como


avaliação da motivação, do funcionamento emocional e da personalidade. Para avaliação
destes aspectos, os instrumentos utilizados vão depender muito da caracterização do
caso e os objetivos da avaliação, levando em conta a entrevista prévia com o avaliado.

ATENÇÃO
É importante ressaltar que nenhum instrumento detém a competência
de fincar um diagnóstico. Estes instrumentos apenas contribuem com o
trabalho do profissional na realização de hipóteses diagnósticas.

Existem também as demandas por avaliação psicodiagnóstica a partir de


sintomas psicopatológicos trazidos pelo sujeito. Para tanto, existem as entrevistas
estruturadas, a aplicação de testes psicológicos para analisar a severidade dos sintomas,
riscos de suicídio, sintomas ansiogênicos, nível de estresse, nível de impulsividade entre
outros (DALGALARRONDO, 2019).

3.1 AVALIAÇÃO PSICOSSOCIAL


Na Avaliação Psicossocial, colocam-se em relevo os fatores clínicos, sociais
e laborais que estruturam o perfil do sujeito avaliado. O propósito desta avaliação é
mapear as consequências que o ambiente externo e a história de vida podem exercer
na demanda de avaliação do indivíduo, seja ela com objetivo de obter a carteira nacional
de habilitação, avaliação diagnóstica, entre outras (LINS; BORSA, 2017).

Ao pesquisar as verdadeiras condições psicológicas do sujeito, o indivíduo


avaliado tem maiores possibilidades de se conhecer e entender sobre si. O profissional
que trabalha com a avaliação psicossocial pode realizá-la no território da educação,
saúde, trabalho, segurança, justiça, comunidades e comunicação com o propósito de
propiciar em sua prática, o compromisso com a dignidade e integridade do ser humano.

134
Colabora para a promoção do conhecimento por meio da observação, descrição e
análise dos processos de desenvolvimento, inteligência, aprendizagem, personalidade
e outros componentes do comportamento humano.

O profissional também abarca em sua avaliação a contribuição de aspectos


hereditários, ambientais e psicossociais sobre os indivíduos na sua atividade intrapsíquica
e nas suas dinâmicas sociais, para guiar-lhe na efetivação do psicodiagnóstico e
acompanhamento terapêutico, estimula os cuidados em saúde mental na precaução e na
intervenção psicoterapêutica dos transtornos psíquicos, auxiliando no desenvolvimento
psicossocial (LINS; BORSA, 2017).

Na prática da avaliação psicossocial, o profissional também estrutura e emprega


técnicas de exame psicológico, fazendo uso de seu saber e práticas metodológicas
profissionais próprias, para a compreensão das circunstâncias do desenvolvimento da
personalidade, das dinâmicas e interações intrapsíquicos e das relações interpessoais,
realizando o atendimento ou encaminhando para atendimento adequado, de acordo
com a demanda.

4 O PAPEL DA FAMÍLIA NO DIAGNÓSTICO E INTERVENÇÃO


COM ADULTOS E IDOSOS
A avaliação das dinâmicas familiares tem se constituído objeto de investigação
de diferentes pesquisadores que se destinam a encontrar os aspectos que estariam
vinculados à origem e aos fatores que estariam relacionados ao surgimento e ao
aumento dos transtornos mentais em adultos e idosos (LINS; BORSA, 2017).

Diferentes estudiosos encontram um ponto em comum sobre a percepção


de que as dinâmicas familiares são transformadas quando um componente da família
demonstra algum problema de saúde, por exemplo, alcoolismo, depressão, transtornos
ansiosos, entre outros (LINS; BORSA, 2017). Assim, a inserção da família na avaliação e
no tratamento de pacientes com transtornos psiquiátricos também contribuem para a
recuperação do paciente e das relações familiares.

4.1 INSTRUMENTOS PSICOLÓGICOS E A DINÂMICA FAMILIAR


Cada vez mais, profissionais de saúde têm buscado aprimorar suas técnicas
relacionadas à detecção de transtornos e de tratamento e entendido a importância do
atendimento das famílias para a melhoria do quadro de um paciente. Uma das ações
dos profissionais que trabalham diretamente nesse campo é efetuar um diagnóstico
mais consistente para estruturar, concretizar e analisar os dados para compreender
qual a melhor maneira de organizar uma intervenção familiar.

135
ATENÇÃO
Lembrando que, em alguns casos, a família deve participar tanto da
avaliação psicológica, trazendo elementos que sejam importantes para
a configuração diagnóstica e do momento da intervenção propriamente
dita (seja o encaminhamento para tratamento psiquiátrico, psicológico
ou para o começo de um tratamento com o psicólogo que realizou a
avaliação).

Hoje em dia, o profissional de saúde pode fazer uso de diferentes modalidades


de instrumentos para a estruturação da avaliação familiar: escalas de autorrelato da
dinâmica e relação familiar realizados pelos seus componentes, inventários, entrevistas,
métodos observacionais e avaliações clínicas. No entanto, se o propósito é analisar
a interação familiar, Primi, Muniz e Nunes (2009) aconselham que alguns critérios
sejam utilizados no intuito de garantir uma solidez sobre o conhecimento gerado
sobre determinado dado do paciente, ou seja, que o psicólogo possa colher dados de
relação entre duas pessoas (marido-esposa) ou relação entre três pessoas (marido-
esposa-filhos). Compreensões sobre a interação familiar provenientes de dois ou mais
componentes da família podem sinalizar que estes integrantes da família estão dividindo
o mesmo olhar sobre determinadas interações.

Ainda assim, existem algumas problemáticas que atrapalham o prosseguimento


da avaliação do sistema familiar, tais como: a presença de diferentes percepções
(funcionamento familiar, dinâmica familiar, satisfação familiar, prática e estilos parentais,
suporte familiar) a ausência de clareza acerca de ter um modo consistente de avaliar
e a imprecisão sobre o que deve ser avaliado e a falta de concordância sobre o que
seria exatamente o significado de relações familiares disfuncionais e saudáveis. Desta
forma, as maiores imprecisões dos profissionais de saúde são relativas ao que precisa
ser avaliado e o modo de avaliar.

De acordo com Primi, Muniz e Nunes (2009), as construções teóricas sobre a


dinâmica familiar e conjugal estipulam quatro aspectos que necessitam ser avaliados:
composição familiar – definição da organização da família e dos membros –; processo
familiar – compreende a análise de comportamentos e interações que definem as
relações familiares, tais como conflito, diferenças, comunicação, resolução de conflitos –;
aspectos afetivos – emoções e exteriorização afetiva entre os membros – e organização
familiar – diz respeito a funções e regras que são desempenhadas no interior da família,
somando a questões como limites e hierarquia. Ainda em suas investigações, Primi,
Muniz e Nunes (2009) lançaram bases para o pensamento acerca de alguns aspectos e
processos que são bastante relevantes para serem avaliados: comunicação, emoções,
funções, problema conjugal e parental, resolução de conflitos, vínculos, exteriorização
de afeto, intimidade, estresse, diferenças e autonomia.

136
Sendo assim, na avaliação da dinâmica familiar, o uso dos instrumentos técnicos
das entrevistas estruturadas com a família são interessantes para avaliar regras, valores,
hierarquias, conflitos, o papel que aquele paciente exerce dentro da família, além da
estruturação de um projeto terapêutico que contribua para a melhora do paciente.
É necessário, também, desenvolver uma caracterização coesa do aspecto que será
avaliado, posto que não se tem uma padronização de regras que circunscrevem a
pesquisa com famílias (PRIMI; MUNIZ; NUNES, 2009).

137
RESUMO DO TÓPICO 2
Neste tópico, você adquiriu certos aprendizados, como:

• Os instrumentos e técnicas que fazem parte do procedimento de Avaliação


Psicológica (que são as anamneses, entrevistas, observação, testes psicológicos
entre outros) são as ferramentas que ajudam a construir um bom resultado sobre a
demanda do avaliado.

• A anamnese em uma Avaliação Psicológica diz respeito à necessidade de uma


reconstrução sistêmica da vida do cliente, ou seja, coletar os dados da história
pessoal, a fim de entender como o cliente fala sobre si e em casos de psicodiagnóstico
localizar o ponto em que a queixa atual do avaliado se encontra.

• A observação se torna crucial para a Avaliação Psicológica na medida em que ela


oferece mais clareza e exatidão nos dados reunidos. Observar corresponde a fazer
com que um determinado comportamento do sujeito seja mensurável e auxilia na
construção de hipóteses sobre o caso avaliado.

• A entrevista nesse processo corresponde a uma interlocução com direcionamento e


com o objetivo estabelecido de avaliação. Sua finalidade é abastecer o profissional de
elementos técnicos sobre o comportamento do avaliado.

• A inserção da família na avaliação e no tratamento de pacientes com transtornos


psiquiátricos também contribuem para a recuperação do paciente e das relações
familiares.

138
AUTOATIVIDADE
1 A avaliação Psicológica é um dos modos que o psicólogo tem a sua disposição para
atuar e conduzir sua prática. A Avaliação Psicológica se sustenta a partir de requisitos
científicos que compõem o entendimento de um fenômeno em que a realidade é
compreendida a partir do uso de conceitos, noções e de teorias científicas. Sobre os
instrumentos que compõem a Avaliação Psicológica, assinale a alternativa CORRETA:

a) ( ) A avaliação psicológica se caracteriza como tal por utilizar como instrumento de


seu trabalho os testes psicológicos.
b) ( ) A avaliação psicológica se caracteriza por utilizar como instrumentos as técnicas
de escalas sequenciadas e inventários.
c) ( ) A avaliação psicológica é composta pelos instrumentos de anamnese,
entrevistas, observação, testes psicológicos, dinâmicas de grupo, observação
lúdica, testes situacionais.
d) ( ) A avaliação psicológica é composta pelos instrumentos das entrevistas
semiestruturadas e estruturadas combinada à aplicação dos testes psicológicos.

2 A Avaliação Psicológica pode ser definida como a coleta e a junção de informações


relativos aos aspectos psicológicos do avaliado com o propósito de efetuar uma
estimativa psicológica. Para concretizar essa estimativa psicológica é preciso fazer
uso de instrumentos e técnicas. Sobre os instrumentos utilizados na Avaliação
Psicológica, analise as afirmativas a seguir:

I- A anamnese é um tipo de entrevista, mas é mais relacionada a coleta de dados da


história pessoal do avaliado.
II- O teste psicológico pode ser utilizado por profissional de qualquer área que assuma
a avaliação psicossocial.
III- A observação corresponde a um tipo de instrumento que compõe a avaliação
psicológica. Ela auxilia na construção de hipóteses sobre o caso avaliado.

Assinale a alternativa CORRETA:


a) ( ) As afirmativas I e II estão corretas.
b) ( ) Somente a afirmativa II está correta.
c) ( ) As afirmativas I e III estão corretas.
d) ( ) Somente a afirmativa III está correta.

139
3 O desenvolvimento humano não se circunscreve somente por uma fase específica
que é a infância e a adolescência. Para o adulto também é requerido que alcance
marcos do desenvolvimento vinculados ao progresso dos anos nas esferas sexual,
familiar, social, física, e de trabalho. Acerca das características avaliadas e dos
instrumentos utilizados na avaliação psicológica do público adulto e idoso, classifique
V para as sentenças verdadeiras e F para as falsas:

( ) É importante levar em conta que a utilização de diferentes instrumentos na


Avaliação Psicológica faz o psicólogo chegar em uma conclusão decisiva acerca
do diagnóstico do sujeito avaliado.
( ) Em uma Avalição Psicológica de adultos e idosos, diferentemente da realizada com
crianças e adolescentes, o nível de escolaridade do sujeito avaliado não apresenta
grande influência na execução dos testes.
( ) Os instrumentos de avaliação psicológica para adultos e idosos levam em conta
que as mudanças cognitivas precisam ser contextualizadas ao aspecto histórico
clínico desenvolvimental e ao seu ambiente.

Assinale a alternativa que apresenta a sequência CORRETA:


a) ( ) V - F - F.
b) ( ) V - F - V.
c) ( ) F - V - F.
d) ( ) F - F - V.

4 A Avaliação Psicológica do adulto exige a constituição de uma estratégia cuidadosa e


o escolha de uma abordagem adequada ao propósito e a demanda. O adulto apenas
realizará os testes, caso consinta e contribua ativamente tanto na informação
precisa dos dados quanto na feitura dos testes e inventários. Por parte do psicólogo,
este deverá informar ao avaliado acerca do funcionamento e das finalidades de
cada instrumento utilizado. Disserte acerca das etapas do processo de Avaliação
Psicológica do adulto e do idoso.

5 A pesquisa sobre o funcionamento familiar tem sido alvo de interesse de estudo de


diferentes abordagens e pesquisadores da psicologia. Estes buscam tentar entender
se na família podemos conceber a origem e a intensificação dos transtornos mentais
em adultos e idosos. Disserte sobre os instrumentos e técnicas utilizados pelo
psicólogo na avaliação familiar.

140
UNIDADE 3 TÓPICO 3 -
AVALIAÇÃO PSICOLÓGICA E A NECESSIDADE
DE OUTROS TIPOS DE AVALIAÇÃO

1 INTRODUÇÃO
A avaliação psicológica pode ser trabalhada em muitos contextos, em contexto
privativo, hospitalar, dentre outros. Além disso, em alguns casos é demandado que
existam análises complementares de outras áreas do conhecimento. Sendo assim, em
ambos os casos, esse é o momento em se é exigido dos profissionais de saúde um
trabalho em equipe multiprofissional.

Desta forma, no Tópico 3 abordaremos as especificidades do trabalho do


acompanhante terapêutico em equipe multiprofissional, o trabalho realizado da
avaliação neurológica e psiquiátrica na colaboração na realização diagnóstica e a ética
do psicólogo em um trabalho em equipe multiprofissional.

2 TRABALHO EM EQUIPE MULTIPROFISSIONAL


A Avaliação Psicológica pode ser requisitada por inúmeros profissionais do
campo da saúde, estando atrelada a demanda da complexidade do caso. Uma das
especificidades deste trabalho é a solicitação de interconsulta. Essa nomenclatura diz
respeito à atividade de um profissional da saúde mental que, a partir da entrevista com
o paciente, pode recomendar um tratamento para os casos que estão submetidos a
cuidados de outros especialistas (BOTEGA, 2006).

IMPORTANTE
Através do seu acompanhamento, o acompanhante terapêutico pode
oferecer elementos para a elaboração diagnóstica do paciente, ajudar na
direção do tratamento de transtornos psicológicos, neuropsicológicos,
psicossociais e interpessoais, além de oferecer orientações para os
pacientes e seus familiares.

O acompanhamento terapêutico é uma modalidade de trabalho clínica surgida


dos movimentos político-ideológicos da Antipsiquiatria, sendo que o movimento
institucionalista, em especial a Psicoterapia Institucional, de Félix Guattari, contribuiu
de forma contundente, a qual ocorreu nos idos da década de 1950, na Europa e nos
Estados Unidos (SILVA, 2004).
141
O trabalho do acompanhante terapêutico não somente ultrapassa a terapia de
consultório, mas, também, coloca-se à disposição de intervir no ambiente do indivíduo,
ou seja, atuar dentro e fora da instituição, encorajando o paciente a se deslocar física e
psicologicamente.

A prática institucional acaba por homogeneizar as características, histórias


e singularidades dos pacientes que lá estão. Os usuários se tornam "abrigados" e
"protegidos", em muitos momentos até de suas próprias histórias. São produzidos
subjetivamente como "incapazes", "deficientes", "loucos" ou "com problemas", fixados
e aglutinados no cotidiano da instituição, que vai formando seus comportamentos e
uniformizando suas experiências.

A vida da pessoa em internação acaba sendo constituída pela falta de vínculos


afetivos, pela insuficiência de objetos particulares e pela falta de rituais de passagem
(comemoração de aniversários, festas etc., por exemplo). Logo, o atendimento interno
é caracterizado pela disciplina rígida, que se dirige a aquietar e disciplinar o corpo; pelo
castigo físico exagerado e arbitrário; pela humilhação; e pela insistência em se constituir
um “bom assistido” e, dessa forma, tornar-se dependente e infantilizado (ALTOÉ, 1993).

Desse modo, o acompanhamento terapêutico pode ser identificado como uma


modalidade clínica, que se beneficia do espaço público da cultura como território para
o ato terapêutico. O trabalhador de saúde que se vale da metodologia de atuação do
acompanhamento terapêutico, na prática, propõe-se a circular com o usuário pelo tecido
social, produzindo a emergência de um encontro com a cidade onde o indivíduo habita.

Frente a isso, o acompanhante terapêutico se tornou uma figura aliada no


processo de desenvolvimento e manutenção de relações sociais e na atuação constante
da qualidade de vida do sujeito que é portador de algum problema de saúde, o qual
inviabiliza ou inviabilizou a continuidade de seus laços de trabalho, estudo, familiares e
do cuidado consigo mesmo.

DICA
Para saber mais sobre as possibilidades de trabalho do acompanhante
terapêutico, o Conselho Federal de Psicologia elaborou um livro que traz
diferentes pesquisas sobre a prática do acompanhamento terapêutico
como estratégia de cuidado em saúde mental. Acesse o documento
na íntegra em: https://site.cfp.org.br/artigo-da-psicologia-ciencia-e-
profissao-aborda-acompanhamento-terapeutico/.

142
O papel do acompanhante terapêutico, em uma equipe multiprofissional,
constitui-se pelo ato de apresentar o "dentro" para o "fora" e o "fora" para o "dentro",
ou seja, trabalhar na intercessão entre o paciente e a instituição e, mais do que isso,
diminuir a distância entre eles. Nesse sentido, o papel desse profissional, ao acompanhar
o sujeito em suas atividades cotidianas, contribui para o acompanhamento mais detido
da evolução do quadro do paciente, resgatando a sua singularidade (sua história de
vida, suas vontades, seus gostos e seus desejos), tanto na interface com instituição
quanto na interface com a cidade.

3 AVALIAÇÃO NEUROLÓGICA E AVALIAÇÃO


PSIQUIÁTRICA
A neuropsicologia é um campo que faz interlocução da Psicologia com a neu-
rologia e que tem por objetivo investigar as relações entre o sistema nervoso central,
as funções cognitivas e o comportamento humano. O neuropsicólogo é um profissional
habilitado que pode fazer uso de diversos instrumentos padronizados, métodos e téc-
nicas para pesquisar tanto a dinâmica normal, como prováveis variações e distúrbios do
sistema nervoso.

Este profissional tem a sua atividade orientada geralmente para o campo da


pesquisa e da atuação clínica com direcionamento para a investigação e tratamento.
Nessa direção, sua prática pode auxiliar em diferentes faixas etárias e para populações
clínicas diversas. Por esse alcance, se coloca cada vez mais em destaque, contribuindo
para o conhecimento de outros campos de saber no interior do campo da saúde.

ATENÇÃO
Ao focar sua área de pesquisa na dinâmica intelectual, cognitiva e
emocional dos sujeitos, a neuropsicologia pode instrumentalizar
diversos profissionais, entre eles psicólogos, médicos (neurologistas,
neuropediatras, geriatras, psiquiatras), fonoaudiólogos, terapeutas
ocupacionais, psicopedagogos, entre outros, propiciando um tratamento
mais eficaz. Pela profundidade e diferentes atravessamentos que
compõem a Neuropsicologia não se encontram métodos exatamente
padronizados que sejam capazes de ser empregues a todos os sujeitos,
principalmente pela multiplicidade de quadros clínicos que podem ser
destinados ao neuropsicólogo (MADER-JOAQUIM, 2010).

143
A avaliação neuropsicológica de cada sujeito é um procedimento investigativo
particularizado, que parte primeiro pela elaboração de hipóteses depois da aplicação da
anamnese, considerando as demandas individuais de cada sujeito e as peculiaridades do
caso. Desta etapa parte-se para a identificação de quais instrumentos e técnicas podem
ser usados, fato que em alguns casos, exige muita atenção e preparo do profissional.

O diagnóstico em neuropsicologia é pesquisado através de algumas técnicas,


tais como: a entrevista, a observação, a utilização de instrumentos psicológicos formais
e informais, de instrumentos neuropsicológicos, questionários, e escalas, entre outros.
De acordo com Mader-Joaquim (2010), a avaliação neuropsicológica se define pelo
modo de pesquisar a respeito das funções cognitivas e o comportamento. Diz respeito
à aplicação de técnicas de entrevista, exames quantitativos e qualitativos das funções
que estruturam a cognição. Existem procedimentos tidos como mais tradicionais e
outros ainda em elaboração (MADER-JOAQUIM, 2010).

A seleção dos instrumentos demanda muito estudo, compreensão e compro-


misso por parte do neuropsicólogo, não somente na aplicação dos testes psicológicos e
neuropsicológicos, mas sobre a observação dos quadros clínicos pesquisador, para que
seja possível constituir um planejamento e escolha bem estruturados dos procedimen-
tos condizentes a cada caso (MADER-JOAQUIM, 2010).

Desta forma, alguns indicativos podem sinalizar a importância de efetuar a


avaliação neuropsicológica.

• perda de memória;
• déficit das funções executivas como planejamento e organização;
• dificuldade para se concentrar;
• déficit de atenção;
• déficit de raciocínio;
• dificuldades de aprendizagem;
• dificuldade com resolução de problemas;
• déficit das habilidades perceptivas e motora.

A avaliação neuropsicológica também é bastante importante para confecção do


diagnóstico diferencial de doenças ou distúrbios que apontam para alterações tanto de
origem neurológica quanto psicológica.

• transtorno de déficit de atenção;


• hiperatividade;
• dislexia;
• atraso no desenvolvimento cognitivo;
• distúrbios mentais;
• demências;

144
• doença de Alzheimer;
• doença de Parkinson;
• traumatismo craniano;
• acidente vascular cerebral (AVC);
• epilepsia;
• depressão.

Quando tratamos da consulta de avaliação psiquiátrica, falamos de uma


avaliação particular restrita ao médico psiquiatra. Ela tem o seu começo a partir do
processo de configuração diagnóstica e montagem de um planejamento terapêutico
próprio a cada paciente. Para isto, é preciso considerar os aspectos sobre o histórico
clínico e mental do sujeito, sendo possível requisitar exames físico ou neurológico. A
avaliação psiquiátrica se constitui como importante ferramenta para definir a situação
psicológica do paciente, isto é, a condição que o paciente apresenta em entender a
realidade ao seu redor.

As finalidades as quais são destinadas uma avaliação psiquiátrica em geral são:

• identificar a existência ou não de um transtorno mental ou outra circunstância que


demande a prudência maior de um psiquiatra;
• agrupamento de informações razoáveis que permitam realizar um diagnóstico
diferencial e uma elaboração clínica integral;
• elaborar, em parceria com o paciente, uma estratégia de tratamento inicial que
permita uma maior aceitação, sempre com o foco em perceber se serão necessárias
quaisquer intervenções mais emergenciais para assegurar a segurança do paciente
e de terceiros – ou, na revisão de um caso em tratamento há longo tempo, estudar
novamente se aquela estratégia de tratamento está condizente com a nova situação
do sujeito avaliado;
• mapear quesitos mais abrangentes (p. ex., risco de suicídio com ideação suicida) que
necessitam ser levados em conta na permanência do tratamento (BOTEGA, 2006).

No primeiro momento, na avaliação psiquiátrica, é aplicada uma entrevista


para informar-se sobre o paciente, a identificação do paciente (nome, idade, origem,
ocupação, situação conjugal, religião), autoriza-se que o avaliado faça o seu relato
ou diga sobre a queixa principal, ou seja, a razão pela qual buscou ajuda psiquiátrica.
Assim, a entrevista segue na coleta da história da doença atual, identificando o começo
dos sintomas, de que modo aparece, frequência e os possíveis usos de medicamentos
ou internações anteriores. Nesta etapa é importante mapear os históricos de doença na
família, histórico da infância e adolescência, trajetória ocupacional e conjugal, modos de
como se dão seus relacionamentos interpessoais e peculiaridades de sua personalidade
(BOTEGA, 2006).

145
Os históricos pessoais clínicos (doenças pré-existentes, traumatismos, cirur-
gias), bem como os hábitos (principalmente uso de drogas), precisam ser questionados
com intuito de pesquisar as interrelações existentes entre o aparecimento dos sintomas
e determinados comportamentos. Para o final é questionado acerca da história familiar,
com o foco no histórico de doenças psiquiátricas e dependência de drogas entre os
membros da família (BOTEGA, 2006).

Caso o psiquiatra considere importante, pode ser requisitada uma entrevista


com outras pessoas vinculadas ao paciente, tais como familiares, profissionais de
saúde, assistentes sociais, entre outros. Quando se trata de exames físicos, a entrevista
também é feita para entender se existem doenças fisiológicas (BOTEGA, 2006).

A definição do melhor tratamento depende da anuência do paciente. O trata-


mento psiquiátrico pode e, em muitos casos, precisa ser acompanhado de sessões
psicoterapêuticas, uso de medicação e acompanhamento terapêutico; em alguns ca-
sos, porém, o tratamento pode ser compulsório, em que o caso do paciente demanda
internação, aqueles casos que se identificam doenças mentais graves que acarretam
riscos à própria vida ou a de terceiros.

4 ÉTICA DO PSICÓLOGO E O TRABALHO EM EQUIPE


MULTIPROFISSIONAL
A incorporação tanto do psicólogo quanto do acompanhante terapêutico, em
trabalhos com equipe multiprofissional, tem crescido bastante nos últimos tempos, seja
em instituições públicas, privadas ou no entendimento das instituições que entendem
que precisam trabalhar em interface com outras áreas do conhecimento. Assim, a esses
profissionais da saúde é demandado que atue de modo integrado a outros profissionais de
outros campos de saber, como médicos, enfermeiros, assistentes sociais, pedagogos etc.

Diante desse quadro, o Conselho Federal de Psicologia tem pensado junto à


categoria acerca das formulações éticas e demandas requisitadas pelo trabalho em
equipe multiprofissional para que se criem diretrizes que respeitem a integridade
e dignidade do ser humano, além da constituição de uma relação de respeito com a
prática profissional de seus pares.

4.1 A ESPECIFICIDADE DO TRABALHO DO


ACOMPANHANTE TERAPÊUTICO
O entendimento sobre o trabalho do acompanhante terapêutico se situa em
diferentes concepções nas pesquisas da saúde mental e psicologia clínica. A partir
da análise do comportamento, o acompanhante é entendido, em alguns momentos,
como o profissional que opera no ambiente em que os aspectos que influenciam os

146
comportamentos a serem modificados atuam; mas, em outros momentos, como aquele
que coopera com a atuação de um psicólogo, de um psiquiatra ou de uma equipe
multidisciplinar (METZGER, 2021).

Sendo assim, o acompanhante terapêutico pode atuar:

• quando a prática do profissional está atrelada rigorosamente ao contexto do ambiente


natural do paciente (em casa, no trabalho, na escola etc.);
• constituir parte integrante de um esquema clínico atrelado ao consultório, como na
coleta de dados por meio de observação direta para serem utilizados como material
na terapia em consultório;
• como uma ampliação da intervenção.

As possibilidades de atuação do acompanhante terapêutico, embora sua prática


tenha começado com pacientes psiquiátricos (comumente com diagnósticos relativos
à esquizofrenia), o tratamento de diferentes demandas e outros diagnósticos pode se
favorecer a intervenção.

Em queixas vinculadas à ansiedade, como fobia social ou específica, o acom-


panhante terapêutico tem a possibilidade de atuar, por exemplo, como mecanismo de
cuidado para o paciente lidar com situações ansiogênicas, realizar treinamento de ha-
bilidades sociais ou, então, auxiliar se constituindo como um modelo comportamental.

Já em situações de dependência química, por exemplo, o acompanhante


terapêutico pode atuar como um moderador na efetivação e supervisão da abstinência.
Ele pode trabalhar na identificação de elementos que propiciam e estimulam as
situações de uso da droga, bem como ajudar o dependente químico a evitá-la nas
situações em que isso é possível. Por sua vez, nas situações em que o paciente não
pode evitar a exposição, deve-se ajudá-lo, por meio de estratégias comportamentais,
a não condicionar o estímulo às situações ao uso posterior da droga, extinguindo a
vinculação que estimula o risco de recaída.

Outros exemplos de atividades do acompanhante terapêutico são o de


colaboradores do recomeço das programações da rotina do paciente e de atividades
de retomada de pacientes que interromperam ou diminuíram a regularidade depois de
adquiriram algum tipo de doença mais incapacitante, além da introdução de medidas
para atenuação de comportamentos mapeados como problemáticas em casos de
transtornos psicológicos, neurológicos e neuroreabilitação em casos de demência,
Parkinson ou Alzheimer.

147
LEITURA
COMPLEMENTAR
INSTRUMENTOS DE AVALIAÇÃO PSICOLÓGICA EM IDOSOS

Inês Faria de Sousa Gonçalves

Na presente tese iremos centrar-nos na última fase do nosso ciclo de vida, no


âmbito da Avaliação Psicológica de adultos e, fundamentalmente, da população idosa.

Assim, daremos destaque ao fenómeno do envelhecimento e aos diversos


domínios da avaliação do estado mental, apresentando e descrevendo alguns dos
diferentes instrumentos de avaliação psicológica, específicos para este nível etário.

O envelhecimento da população mundial, nos países desenvolvidos, é um


fenómeno recente e universal que deriva de múltiplos fatores. Neste grupo social
assiste-se a um aumento da prevalência de doenças crónicas, pelo que é presente
uma avaliação geriátrica eficaz, apostando-se em diagnósticos precoces e completos, a
custos razoáveis (REICHENHEIM, 2005).

Nos dicionários o termo velho é definido como pessoa com muita idade. Não
obstante, o envelhecimento é apresentado de forma vaga, visto ser um fenômeno
fisiológico, psicológico e social complexo, que implica mudanças. Este fenómeno,
universal, gradual, irreversível e peculiar gera mudanças no envelhecimento normal e/
ou patológico (demência) (LIMA, 2010).

A forma como são encarados os idosos varia consoante a época e a cultura.


Na época da Grécia clássica, que privilegiava a beleza, força e juventude, os idosos
eram menosprezados, contrariamente ao que acontecia na época helenística. No
Japão, influenciados pelo taoísmo, eram valorizados tal como nas culturas tribais,
sendo enaltecidas algumas características, como a sabedoria e a maturidade. No
entanto, na nossa sociedade, a velhice, impregnada por crenças e estereótipos sobre o
envelhecimento (ageisn), é associada à perda, por exemplo, de poder, com a chegada da
reforma, à perda de papéis identitários e perda de capacidades (LIMA, 2010).

Até aos anos setenta, os autores defendiam que, na vida adulta, o declínio é
inevitável. No entanto, autores como Levinson e Baltes advogam que o envelhecimento é
acompanhado de perdas, mas também de ganhos, tais como a maturidade e a sabedoria
(LIMA, 2010). O ser humano é uma multiplicidade interdinâmica multifatorial, como bem
queria Morin e, nesse sentido, ao estudarmos o psíquico, direta ou mais indiretamente,
avaliamos também as outras componentes do ser humano (MORIN, 1983).

148
Se é verdade que a saúde mental de uma pessoa é determinante para que ela
saiba viver com a idade que têm, reconhecer as suas possibilidades e incapacidades
e não ficar molestado com elas, recusando-se a viver num contínuo mecanismo de
defesa com recurso à regressão, vivendo de memórias em que era o herói que agora
já não pode ser, não é menos verdade que essa saúde psicológica é influenciada por
outras vertentes da dinâmica do ser humano.

É fato que o ser humano é biológico (nasce, cresce, reproduz-se e morre),


fisiológico (apresenta uma estrutura anatómica singular), psicológico (aquele que
neste trabalho mais nos interessa, pois a mente sã é mais que meio caminho para
a sanidade de todas as outras variáveis), sociológico, (vivemos em interação com
os outros semelhantes), ecológico (pois habita num ecossistema), econômico (no
sentido de um ser que precisa de trabalhar para ter posses que lhe permitam uma vida
condigna), religioso (com a sua necessidade de uma transcendência que complete as
suas incompetências), enfim, é um ser que permanecerá sempre ignoto no seu âmago.

Isto não impede, antes estimula, o seu estudo enquanto objeto de uma ciência
como a Psicologia.

O conceito de gerontologia – gerongerontos – que significa estudo do ancião,


surgiu em 1903, por Elie Metchinkoff. Esta ciência multidisciplinar aborda e "analisa os
fenômenos caracterizadores do envelhecimento em todos os seus aspectos biológicos,
psicológicos e sociais" (MARTINS, 2013, p. 59).

O médico Ignatz Leo Nascher, em 1914, descreveu o envelhecimento como um


processo de degeneração celular no qual existe um declínio interno e físico (MARTINS,
2013). Existem mitos e estereótipos, derivados das generalizações excessivas,
simplistas e erróneas, relacionados com os idosos que se prendem com a senilidade,
conservadorismo, incapacidade de mudar, improdutividade, inatividade, doença,
pobreza, marginalização, entre outros (MARTINS, 2013).

Na verdade, para além das dificuldades/incapacidades causadas pelo envelhe-


cimento emerge, nesta faixa etária, um outro grave problema social: a discriminação. O
processo de envelhecimento inicia-se cedo, no final da segunda década de vida, antes
de qualquer sinal externo. E é por volta dos quarenta anos que se começam a notar as
primeiras alterações estruturais e funcionais, que se prolongam até ao fim da vida.

Este processo resulta de fatores internos, como o património genético, e de fa-


tores externos como o estilo de vida, a educação e o ambiente (LIMA, 2010). "O envelhe-
cimento diz respeito a um processo que ocorre ao longo de toda a nossa vida, desde a
conceção até à morte, enquanto a velhice é uma fase da vida, a última" (LIMA, 2010, p. 15).

149
É comum associar-se o processo de envelhecimento ao declínio da memória.
Estudos revelam que se, com o avançar da idade, se registam grandes diferenças ao
nível da memória de trabalho e da memória episódica, por sua vez, em relação à memória
procedimental e semântica são poucos os seus efeitos (LIMA, 2010).

Schroots e Birren (1980) fazem a distinção entre o envelhecimento biológico


e o psicológico. O primeiro refere-se a uma crescente vulnerabilidade, que aumenta
a probabilidade de morte – senescência. O segundo depende da autorregulação da
pessoa, e das mudanças nas funções psicológicas, designadamente na memória e na
tomada de decisão (LIMA, 2010).

O processo de envelhecimento desencadeia mutações orgânicas, físicas,


psicológicas, sociais, comportamentais e funcionais, nas quais a interação dos fatores
genéticos e ambientais desempenha um papel determinante (COSTA; MONEGO, 2003).

A avaliação psicológica consiste no recurso a técnicas e testes que avaliam e


descrevem o funcionamento psíquico de uma pessoa, num dado momento, podendo
predizer o seu comportamento.

É através da avaliação psicológica que estudamos e avaliamos várias dimen-


sões da mente humana, designadamente: a personalidade, as competências cognitivas
(atenção, percepção, memória, processamento simultâneo e sequencializado, simboli-
zação, compreensão, inferência, planificação e produção de estratégias, conceitualiza-
ção, resolução de problemas, expressão de informação etc.).

A avaliação geriátrica estruturada realiza-se através da observação direta


(testes de desempenho) e questionários. Assim, a avaliação funcional das pessoas com
mais de 65 anos centra-se nas seguintes dimensões: física, psicológica (cognição e
humor) e social.

FONTE: <https://bit.ly/3vfcZTh>. Acesso em: 21 mar. 2022.

150
RESUMO DO TÓPICO 3
Neste tópico, você adquiriu certos aprendizados, como:

• A avaliação psicológica pode ser trabalhada em muitos contextos, em contexto


hospitalar, prisional entre outros. Além disso, em alguns casos é demandado de
que existam análises complementares de outras áreas do conhecimento. Esse é o
momento em que se exige o trabalho em uma equipe multiprofissional.

• Através da sua avaliação, ao psicólogo é possibilitado contribuir para o diagnóstico


do paciente, intervir na direção do tratamento de transtornos psicológicos,
neuropsicológicos, psicossociais e interpessoais, além de oferecer diretrizes e
orientações psicológicas para os pacientes e seus familiares.

• A avaliação neuropsicológica de cada sujeito é um procedimento investigativo


particularizado, que parte primeiro pela elaboração de hipóteses depois da
aplicação da anamnese, considerando as demandas individuais de cada sujeito e as
peculiaridades do caso. Depois identifica-se quais instrumentos e técnicas podem
ser usados, fato que em alguns casos, exige muita atenção e preparo do profissional.

• O dever ético do psicólogo que compõe uma equipe multiprofissional é realizar apenas
atividades que sejam fundamentadas nos conhecimentos técnicos legitimados
e embasados na ciência psicológica, na ética e na legislação profissional. Logo,
estes psicólogos precisam ser cuidadosos ao serem requisitados a ajudarem outros
profissionais, levando sempre em consideração que não devem incumbir-se de
práticas que sejam próprias de outra profissão.

151
AUTOATIVIDADE
1 A avaliação psicológica pode ser aplicada em diferentes situações. Algumas destas,
por exemplo, podem ter seu emprego em instituições. O contexto de uma instituição
demanda por um trabalho de uma equipe multiprofissional na leitura de um mesmo
caso. Sobre o trabalho de avaliação psicológica em equipe multiprofissional, assinale
a alternativa CORRETA:

a) ( ) Dentro de uma equipe multiprofissional, a avaliação Psicológica pode ser


requisitada por inúmeros profissionais do campo da saúde, dependente da
complexidade do caso.
b) ( ) Dentro de uma equipe multiprofissional, a avaliação psicológica pode ser realiza-
da por qualquer profissional do campo da saúde, independente da complexidade
do caso.
c) ( ) Dentro de contextos multidisciplinares é importante que o profissional de
psicologia desenvolva um método de escolha de instrumentos psicológicos de
difícil acesso para os demais psicólogos.
d) ( ) Dentro de contextos multidisciplinares é importante que o profissional de
psicologia se exima da elaboração diagnóstica de um caso, deixando para o
médico essa tarefa.

2 A avaliação neuropsicológica faz a junção das ciências da neurologia e da psicologia


para avaliar um sujeito. Nessa direção, o exame o objetivo está em pesquisar
como o modo de operar do cérebro interfere nas funções cognitivas, emocionais e
comportamentais. Sobre a avaliação neuropsicológica, analise as afirmativas a seguir:

I- A avaliação neuropsicológica de cada indivíduo é um processo investigativo singular,


que parte primeiro para a elaboração de hipóteses depois da aplicação dos testes
psicológicos e depois a anamnese.
II- O diagnóstico em neuropsicologia é pesquisado através de algumas técnicas, tais
como a entrevista, a observação, a utilização de instrumentos psicológicos formais e
informais, de instrumentos neuropsicológicos, questionários, e escalas, entre outros.
III- A avaliação neuropsicológica se caracteriza pelo modo de pesquisar a respeito das
funções cognitivas e o comportamento e deve ser realizado pelo médico psiquiatra.

Assinale a alternativa CORRETA:


a) ( ) As afirmativas I e II estão corretas.
b) ( ) Somente a afirmativa II está correta.
c) ( ) As afirmativas I e III estão corretas.
d) ( ) Somente a afirmativa III está correta.

152
3 A avaliação psiquiátrica se define como instrumento importante para identificar
a situação psicológica do paciente, isto é, se o paciente possui a noção e sabe se
situar na realidade em que habita. Sobre a avaliação psiquiátrica, classifique V para
as sentenças verdadeiras e F para as falsas:

( ) Quando tratamos da consulta de avaliação psiquiátrica, falamos de uma avaliação


particular restrita ao psicólogo.
( ) No primeiro momento, na avaliação psiquiátrica, é aplicada uma entrevista para
informar-se sobre o paciente e pode ser necessário uma entrevista com outras
pessoas vinculadas ao paciente.
( ) A avaliação psiquiátrica corresponde a especificamente pesquisar tanto a dinâmica
normal, como prováveis variações e distúrbios do sistema nervoso.

Assinale a alternativa que apresenta a sequência CORRETA:


a) ( ) V - F - F.
b) ( ) V - F - V.
c) ( ) F - V - F.
d) ( ) F - F - V.

4 Prestar serviços psicológicos de qualidade, em circunstâncias de trabalho decentes


e adequadas ao que a demanda solicita, sendo balizado por valores, saberes e
metodologias reconhecidamente sustentados na ciência psicológica operando em
uma equipe multiprofissional, não é tarefa fácil. Neste contexto, disserte sobre o
trabalho do psicólogo em avaliação psicológica em equipe multiprofissional.

5 A Avaliação Psicológica de pacientes em serviços de saúde coloca em evidência


a importância do emprego de diferentes tomadas de medidas, planejamento,
reconhecimento das particularidades da história e das queixas indivíduo, do seu
ambiente e da vinculação do paciente com o seu entorno. Para tanto, é preciso que
o psicólogo se guie por dimensões éticas. Disserte sobre a ética do psicólogo em
equipe multiprofissional.

153
REFERÊNCIAS
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155

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