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Teologia

Sistemática I –
Deus, Soteriologia,
Pneumatologia
Prof. Marcelo Martins

Indaial – 2021
2a Edição
Elaboração:
Prof. Marcelo Martins

Copyright © UNIASSELVI 2021

Revisão, Diagramação e Produção:


Equipe Desenvolvimento de Conteúdos EdTech
Centro Universitário Leonardo da Vinci – UNIASSELVI

Ficha catalográfica elaborada pela equipe Conteúdos EdTech UNIASSELVI

M386t

Martins, Marcelo

Teologia sistemática I: Deus, soteriologia, pneumatologia. / Marcelo


Martins – Indaial: UNIASSELVI, 2021.

174 p.; il.

ISBN 978-65-5663-698-6
ISBN Digital 978-65-5663-694-8

1. Autoexistência de Deus. - Brasil. II. Centro Universitário Leonardo


da Vinci.

CDD 230

Impresso por:
APRESENTAÇÃO
Caro acadêmico! É com grande expectativa e entusiasmo que apresentamos
a você o livro didático da disciplina Teologia Sistemática I – Deus, Soteriologia e
Pneumatologia.

O livro foi desenvolvido com muito estudo e dedicação para apresentar


as orientações teóricas e recursos que servirão como base para conduzi-lo ao
conhecimento acerca das questões e debates que envolvem a pessoa de Deus, da
Salvação e do Espírito Santo.

Na Unidade 1, iniciamos pela Teologia (Doutrina de Deus), como, normalmente,


faz a maioria das Teologias Sistemáticas. O primeiro assunto abordado será a
autoexistência de Deus. Na sequência, são destacados alguns argumentos teístas acerca
da existência de Deus. São apresentados argumentos que, normalmente, são citados a
respeito da temática, o argumento cosmológico, o argumento teleológico, o argumento
antropológico, o argumento ontológico e o argumento moral. Estes apresentam alguns
pontos importantes que contribuem para o pensamento a respeito da existência do
Criador. Em seguida, será abordado o oposto dos argumentos teístas, isto é, algumas
teorias antiteístas, como o ateísmo, o agnosticismo, o materialismo, o evolucionismo, o
panteísmo, o politeísmo, o deísmo, o dualismo, o monismo e o positivismo.

Na Unidade 2, a temática é sobre a doutrina da Salvação – Soteriologia. O


estudo a respeito da salvação abrange uma variedade muito grande de subtemas. Por
isso, fez-se necessário delimitar alguns aspectos no nosso material, tendo em vista a
disponibilidade de espaço e buscando fornecer a você, acadêmico, um conhecimento
que proporcione aqueles conceitos elementares para grandes aprofundamentos do
assunto. Nosso propósito caminhou na direção que aponta para a salvação baseada
naquilo que as Escrituras Sagradas ensinam, que perdura desde os primeiros séculos da
igreja, e trata da transformação na vida da pessoa desde a conversão até a glorificação.
Assim, inicialmente, apresentaremos, a necessidade da salvação e a provisão para a
salvação vinda da parte de Deus. Depois, serão aprofundados alguns termos teológicos
específicos relacionados à salvação.

Na Unidade 3, o nosso foco irá se concentrar no aspecto relacionado ao Espírito


Santo. No estudo da teologia, a doutrina bíblica do Espírito Santo é conhecida como
“Pneumatologia”, termo que procede de três palavras gregas: pneuma – espírito;
hagios – santo; e logia – estudo. O estudo da Pneumatologia também é chamado de
Paracletologia. Este termo é a junção de duas palavras gregas: paracleto (intercessor,
advogado, conselheiro de defesa, assistente legal) + logia (estudo, doutrina). Paracletos
é um termo usado nas Escrituras Sagradas para se referir ao Espírito Santo. No decorrer
desta Unidade, olharemos para três aspectos mais específicos a respeito da doutrina do
Espírito Santo: 1. A natureza do Espírito Santo, 2. O Espírito Santo nas Escrituras, e 3. A
obra do Espírito Santo.
Prezado acadêmico, desejamos que, por meio deste material você possa
desenvolver-se nos seus estudos teológicos, e de maneira especial nos temas aqui
abordados!

Prof. Marcelo Martins

GIO
Olá, eu sou a Gio!

No livro didático, você encontrará blocos com informações


adicionais – muitas vezes essenciais para o seu entendimento
acadêmico como um todo. Eu ajudarei você a entender
melhor o que são essas informações adicionais e por que você
poderá se beneficiar ao fazer a leitura dessas informações
durante o estudo do livro. Ela trará informações adicionais
e outras fontes de conhecimento que complementam o
assunto estudado em questão.

Na Educação a Distância, o livro impresso, entregue a todos


os acadêmicos desde 2005, é o material-base da disciplina.
A partir de 2021, além de nossos livros estarem com um
novo visual – com um formato mais prático, que cabe na
bolsa e facilita a leitura –, prepare-se para uma jornada
também digital, em que você pode acompanhar os recursos
adicionais disponibilizados através dos QR Codes ao longo
deste livro. O conteúdo continua na íntegra, mas a estrutura
interna foi aperfeiçoada com uma nova diagramação no
texto, aproveitando ao máximo o espaço da página – o que
também contribui para diminuir a extração de árvores para
produção de folhas de papel, por exemplo.

Preocupados com o impacto de ações sobre o meio ambiente,


apresentamos também este livro no formato digital. Portanto,
acadêmico, agora você tem a possibilidade de estudar com
versatilidade nas telas do celular, tablet ou computador.

Preparamos também um novo layout. Diante disso, você


verá frequentemente o novo visual adquirido. Todos esses
ajustes foram pensados a partir de relatos que recebemos
nas pesquisas institucionais sobre os materiais impressos,
para que você, nossa maior prioridade, possa continuar os
seus estudos com um material atualizado e de qualidade.
QR CODE
Olá, acadêmico! Para melhorar a qualidade dos materiais ofertados a você –
e dinamizar, ainda mais, os seus estudos –, nós disponibilizamos uma diversidade de QR
Codes completamente gratuitos e que nunca expiram. O QR Code é um código que permite
que você acesse um conteúdo interativo relacionado ao tema que você está estudando. Para
utilizar essa ferramenta, acesse as lojas de aplicativos e baixe um leitor de QR Code. Depois,
é só aproveitar essa facilidade para aprimorar os seus estudos.

ENADE
Acadêmico, você sabe o que é o ENADE? O Enade é um
dos meios avaliativos dos cursos superiores no sistema federal de
educação superior. Todos os estudantes estão habilitados a participar
do ENADE (ingressantes e concluintes das áreas e cursos a serem
avaliados). Diante disso, preparamos um conteúdo simples e objetivo
para complementar a sua compreensão acerca do ENADE. Confira,
acessando o QR Code a seguir. Boa leitura!

LEMBRETE
Olá, acadêmico! Iniciamos agora mais uma
disciplina e com ela um novo conhecimento.

Com o objetivo de enriquecer seu conheci-


mento, construímos, além do livro que está em
suas mãos, uma rica trilha de aprendizagem,
por meio dela você terá contato com o vídeo
da disciplina, o objeto de aprendizagem, materiais complementa-
res, entre outros, todos pensados e construídos na intenção de
auxiliar seu crescimento.

Acesse o QR Code, que levará ao AVA, e veja as novidades que


preparamos para seu estudo.

Conte conosco, estaremos juntos nesta caminhada!


SUMÁRIO
UNIDADE 1 — DOUTRINA DE DEUS – TEOLOGIA.....................................................1

TÓPICO 1 — A EXISTÊNCIA DE DEUS...................................................................... 3


1 INTRODUÇÃO......................................................................................................... 3
2 QUEM É DEUS? .....................................................................................................4
2.1 DEUS É AUTOEXISTENTE.....................................................................................................6
2.2 DEUS É ESPÍRITO................................................................................................................. 8
3 ARGUMENTOS TEÍSTAS DA EXISTÊNCIA DE DEUS............................................ 9
3.1 ARGUMENTO COSMOLÓGICO...........................................................................................10
3.2 ARGUMENTO TELEOLÓGICO............................................................................................10
3.3 ARGUMENTO ANTROPOLÓGICO ......................................................................................11
3.4 ARGUMENTO ONTOLÓGICO..............................................................................................12
3.5 ARGUMENTO MORAL ........................................................................................................13
4 TEORIAS ANTITEÍSTAS ...................................................................................... 13
4.1 ATEÍSMO ................................................................................................................................14
4.2 AGNOSTICISMO ..................................................................................................................14
4.3 MATERIALISMO ...................................................................................................................15
4.4 EVOLUCIONISMO ...............................................................................................................15
4.5 PANTEÍSMO..........................................................................................................................16
4.6 POLITEÍSMO ........................................................................................................................16
4.7 DEÍSMO ................................................................................................................................. 17
4.8 DUALISMO ........................................................................................................................... 17
4.9 MONISMO..............................................................................................................................18
4.10 POSITIVISMO .....................................................................................................................18
RESUMO DO TÓPICO 1........................................................................................... 19
AUTOATIVIDADE....................................................................................................20

TÓPICO 2 — OS ATRIBUTOS E OS NOMES DE DEUS.............................................23


1 INTRODUÇÃO.......................................................................................................23
2 OS ATRIBUTOS TRANSCENDENTES (NATURAIS) DE DEUS ............................23
2.1 SIMPLICIDADE .................................................................................................................... 25
2.2 IMENSIDADE ....................................................................................................................... 26
2.3 ETERNIDADE....................................................................................................................... 26
2.4 IMUTABILIDADE ..................................................................................................................27
2.5 ONIPOTÊNCIA...................................................................................................................... 28
2.6 ONISCIÊNCIA ...................................................................................................................... 28
2.7 ONIPRESENÇA.................................................................................................................... 29
3 OS ATRIBUTOS IMANENTES (MORAIS) DE DEUS.............................................30
3.1 SANTIDADE .........................................................................................................................30
3.2 RETIDÃO E JUSTIÇA .........................................................................................................31
3.3 AMOR ................................................................................................................................... 32
3.4 SABEDORIA ........................................................................................................................ 33
3.5 VERDADE............................................................................................................................. 34
4 OS NOMES DE DEUS ...........................................................................................34
4.1 OS NOMES DE DEUS NO ANTIGO TESTAMENTO......................................................... 35
4.1.1 Elohim .......................................................................................................................... 35
4.1.2 Jeová ........................................................................................................................... 35
4.1.3 El.................................................................................................................................... 37
4.1.4 Adonai.......................................................................................................................... 37
4.2 OS NOMES DE DEUS NO NOVO TESTAMENTO............................................................38
4.2.1 Deus – θεός.................................................................................................................38
4.2.2 Senhor – κύριος........................................................................................................38
4.2.3 Pai – πατήρ................................................................................................................. 39
RESUMO DO TÓPICO 2.......................................................................................... 40
AUTOATIVIDADE.................................................................................................... 41

TÓPICO 3 — UNIDADE E TRINDADE DIVINAS E OS DECRETOS DE DEUS...........43


1 INTRODUÇÃO ......................................................................................................43
2 A UNIDADE E TRINDADE DIVINA .......................................................................43
2.1 A UNIDADE DE DEUS ........................................................................................................44
3 A TRINDADE DIVINA ...........................................................................................45
3.1 A PERSONALIDADE DE DEUS E A TRINDADE.............................................................. 47
3.2 A TRINDADE NO ANTIGO TESTAMENTO.......................................................................48
3.3 A TRINDADE NO NOVO TESTAMENTO........................................................................... 49
4 OS DECRETOS DE DEUS ....................................................................................50
4.1 CARACTERÍSTICAS DOS DECRETOS DE DEUS............................................................51
4.2 CONHECENDO OS DECRETOS DE DEUS...................................................................... 52
4.2.1 A Criação de Deus .................................................................................................... 52
4.2.2 A providência de Deus............................................................................................ 53
4.2.3 A redenção ................................................................................................................ 53
LEITURA COMPLEMENTAR...................................................................................55
RESUMO DO TÓPICO 3........................................................................................... 57
AUTOATIVIDADE....................................................................................................58

REFERÊNCIAS........................................................................................................ 61

UNIDADE 2 — DOUTRINA DA SALVAÇÃO – SOTERIOLOGIA................................63

TÓPICO 1 — A NECESSIDADE E A PROVISÃO PARA A SALVAÇÃO.......................65


1 INTRODUÇÃO ......................................................................................................65
2 A NECESSIDADE DA SALVAÇÃO........................................................................66
2.1 A QUEDA DO SER HUMANO............................................................................................. 66
2.2 OS RESULTADOS DA QUEDA............................................................................................67
3 A PROVISÃO PARA A SALVAÇÃO.......................................................................70
3.1 O SALVADOR PROMETIDO................................................................................................. 71
3.2 A OBRA DE JESUS CRISTO – A REDENÇÃO PROVIDENCIADA................................72
3.2.1 A vida de Jesus Cristo .............................................................................................72
3.2.2 A morte de Jesus Cristo..........................................................................................74
3.3.3 A ressurreição de Jesus Cristo..............................................................................76
RESUMO DO TÓPICO 1...........................................................................................78
AUTOATIVIDADE.................................................................................................... 79

TÓPICO 2 — OS TERMOS TEOLÓGICOS DA SALVAÇÃO (PARTE 1)...................... 81


1 INTRODUÇÃO ...................................................................................................... 81
2 JUSTIFICAÇÃO ..................................................................................................82
3 REGENERAÇÃO.................................................................................................. 84
4 ARREPENDIMENTO.............................................................................................87
5 FÉ.........................................................................................................................89
6 BREVE DEFINIÇÕES DOS TERMOS TEOLÓGICOS.............................................92
RESUMO DO TÓPICO 2...........................................................................................94
AUTOATIVIDADE....................................................................................................95

TÓPICO 3 — OS TERMOS TEOLÓGICOS DA SALVAÇÃO (PARTE 2)..................... 97


1 INTRODUÇÃO ...................................................................................................... 97
2 RECONCILIAÇÃO ................................................................................................98
3 ADOÇÃO.............................................................................................................100
3.1 OS DIREITOS DO FILHO ADOTADO ................................................................................ 101
3.2 OS BENEFÍCIOS DA ADOÇÃO......................................................................................... 101
4 SANTIFICAÇÃO ................................................................................................102
5 GLORIFICAÇÃO ................................................................................................106
LEITURA COMPLEMENTAR................................................................................. 110
RESUMO DO TÓPICO 3......................................................................................... 114
AUTOATIVIDADE...................................................................................................115

REFERÊNCIAS.......................................................................................................117

UNIDADE 3 — DOUTRINA DO ESPÍRITO SANTO – PNEUMATOLOGIA................119

TÓPICO 1 — A NATUREZA DO ESPÍRITO SANTO................................................ 121


1 INTRODUÇÃO .................................................................................................... 121
2 O ESPÍRITO SANTO É UMA PESSOA ................................................................ 122
2.1 O ESPÍRITO SANTO É UMA PESSOA PORQUE
MANIFESTA TODAS AS CARACTERÍSTICAS DE PERSONALIDADE ......................123
2.2 A PERSONALIDADE DO ESPÍRITO SANTO É PROVADA POR AQUILO QUE
ELE REALIZA......................................................................................................................125
2.3 A PERSONALIDADE DO ESPÍRITO SANTO É REVELADA PELO TRATAMENTO
QUE O SER HUMANO LHE DISPENSA..........................................................................127
2.4 A PERSONALIDADE DO ESPÍRITO SANTO É AFIRMADA PELO USO DE
PRONOMES PESSOAIS................................................................................................... 128
3 O ESPÍRITO SANTO É UMA PESSOA DIVINA ...................................................128
3.1 O ESPÍRITO SANTO É UMA PESSOA DIVINA, POIS POSSUI OS ATRIBUTOS
DA DIVINDADE...................................................................................................................129
3.2 OS ATOS DO ESPÍRITO SANTO ATESTAM A DIVINDADE DELE............................... 131
3.3 A LIGAÇÃO DO NOME DO ESPÍRITO SANTO AO NOME DE DEUS APONTA
PARA A SUA DIVINDADE................................................................................................ 133
3.4 O ESPÍRITO SANTO É CHAMADO PELO NOME DE DEUS....................................... 133
4 OS NOMES ATRIBUÍDOS AO ESPÍRITO SANTO...............................................134
RESUMO DO TÓPICO 1......................................................................................... 136
AUTOATIVIDADE.................................................................................................. 137

TÓPICO 2 — O ESPÍRITO SANTO NAS ESCRITURAS.......................................... 139


1 INTRODUÇÃO .................................................................................................... 139
2 O ESPÍRITO SANTO NO ANTIGO TESTAMENTO .............................................. 139
2.1 NA CRIAÇÃO ...................................................................................................................... 140
2.2 NA HISTÓRIA DO POVO DE ISRAEL ............................................................................. 141
2.3 NA VIDA DOS PROFETAS ............................................................................................... 141
3 O ESPÍRITO SANTO NO NOVO TESTAMENTO ..................................................142
3.1 NOS EVANGELHOS........................................................................................................... 143
3.2 NO LIVRO DE ATOS DOS APÓSTOLOS ....................................................................... 143
3.3 NAS EPÍSTOLAS DO NOVO TESTAMENTO.................................................................. 144
4 TIPOS E SÍMBOLOS DO ESPÍRITO SANTO NAS ESCRITURAS........................145
4.1 ÓLEO ................................................................................................................................... 145
4.2 ÁGUA................................................................................................................................... 146
4.3 FOGO................................................................................................................................... 146
4.4 VENTO..................................................................................................................................147
4.5 POMBA................................................................................................................................ 148
4.6 PENHOR ............................................................................................................................ 148
4.7 SELO ................................................................................................................................... 149
RESUMO DO TÓPICO 2.........................................................................................150
AUTOATIVIDADE...................................................................................................151

TÓPICO 3 — A OBRA DO ESPÍRITO SANTO......................................................... 153


1 INTRODUÇÃO .................................................................................................... 153
2 A OBRA DO ESPÍRITO SANTO EM RELAÇÃO AO UNIVERSO MATERIAL........ 153
2.1 A CRIAÇÃO.......................................................................................................................... 154
2.2 A PRESERVAÇÃO DA CRIAÇÃO.................................................................................... 154
3 A OBRA DO ESPÍRITO SANTO EM RELAÇÃO AO MUNDO................................ 155
3.1 TESTIFICA........................................................................................................................... 155
3.2 CONVENCE........................................................................................................................ 156
4 A OBRA DO ESPÍRITO SANTO EM RELAÇÃO AOS QUE CREEM ...................... 157
4.1 REGENERA .........................................................................................................................157
4.2 HABITA................................................................................................................................ 158
4.3 BATIZA NO CORPO DE CRISTO..................................................................................... 160
4.4 ENCHE ............................................................................................................................... 160
4.5 CAPACITA PARA O MINISTÉRIO .................................................................................... 161
4.6 POSSIBILITA FORMAS DE COMUNHÃO COM DEUS................................................. 162
4.7 PRODUZ O FRUTO DAS GRAÇAS CRISTÃS................................................................ 163
4.8 VIVIFICA O CORPO DOS QUE CREEM ........................................................................ 163
5 A OBRA DO ESPÍRITO SANTO EM RELAÇÃO A JESUS CRISTO E ÀS
ESCRITURAS.....................................................................................................164
5.1 JESUS FOI CONCEBIDO PELO ESPÍRITO SANTO...................................................... 164
5.2 JESUS FOI GUIADO PELO ESPÍRITO........................................................................... 164
5.3 JESUS FOI RESSUSCITADO PELO PODER DO ESPÍRITO....................................... 165
5.4 A AÇÃO DO ESPÍRITO SANTO NAS ESCRITURAS..................................................... 165
LEITURA COMPLEMENTAR................................................................................. 167
RESUMO DO TÓPICO 3..........................................................................................171
AUTOATIVIDADE.................................................................................................. 172

REFERÊNCIAS...................................................................................................... 173
UNIDADE 1 —

DOUTRINA DE DEUS –
TEOLOGIA

OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM
A partir do estudo desta unidade, você deverá ser capaz de:

• conhecer os princípios elementares da existência de Deus;

• compreender a respeito da personalidade de Deus por meio de atributos e nomes;

• distinguir os aspectos principais da Unidade e Trindade divinas nas várias


manifestações;

• entender os decretos soberanos de Deus, na perspectiva do plano redentor da


humanidade.

PLANO DE ESTUDOS
Esta unidade está dividida em três tópicos. No decorrer dela, você encontrará
autoatividades com o objetivo de reforçar o conteúdo apresentado.

TÓPICO 1 – A EXISTÊNCIA DE DEUS

TÓPICO 2 – OS ATRIBUTOS E OS NOMES DE DEUS

TÓPICO 3 – UNIDADE E TRINDADE DIVINAS E OS DECRETOS DE DEUS

CHAMADA
Preparado para ampliar seus conhecimentos? Respire e vamos em frente! Procure
um ambiente que facilite a concentração, assim absorverá melhor as informações.

1
CONFIRA
A TRILHA DA
UNIDADE 1!

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QR Code abaixo:

2
UNIDADE 1 TÓPICO 1 —
A EXISTÊNCIA DE DEUS

1 INTRODUÇÃO
Iniciamos os nossos estudos a respeito da Doutrina de Deus – Teologia.
Certamente, é um privilégio e, ao mesmo tempo, desafiador caminhar nessa direção. O
profeta Oseías expressou isso da seguinte forma: “Então, conheçamos, e prossigamos
em conhecer ao Senhor; a sua saída, como a alva, é certa; e ele a nós virá como a chuva,
como chuva serôdia que rega a terra” (Oséias 6:3). O estudo da Teologia, sem dúvida,
envolve a questão da fé, mas, também, a razão, e o contexto acadêmico é essencial
para nos aprofundarmos em tudo aquilo que já foi escrito, ensinado e pesquisado.

A Teologia se ramifica em várias áreas que abordam e enfocam aspectos


específicos, por exemplo:

• A Teologia exegética tem, como foco, o estudo do texto sagrado, por isso, faz uso do
estudo das línguas (Hebraico, Aramaico, Grego), da Arqueologia, da Hermenêutica e
da Interpretação Bíblica.
• A Teologia Prática tem, como foco, a aplicação dos conteúdos bíblicos e teológicos
na vida cristã (prática). Envolve o estudo da Liturgia, da Homilética, do Ministério
Pastoral, do Aconselhamento, da Diaconia etc.
• A Teologia Histórica busca, por meio dos estudos históricos (especialmente, bíblicos),
conhecer a origem e o desenvolvimento do povo de Israel e da igreja cristã, por isso,
abrange a História Bíblica, a História de Israel, a História de Missões e a História da
Doutrina.
• A Teologia Bíblica focaliza a Teologia do Antigo e do Novo Testamentos. Dá atenção
especial aos ensinamentos dos autores individuais, às seções da Escritura e ao lugar
que cada ensino ocupa no desenvolvimento histórico.
• A Teologia Sistemática, também chamada de Teologia Dogmática, é a sistematização
e a defesa das doutrinas expressas da Teologia e da igreja. Focaliza no ensino das
passagens bíblicas de um determinado assunto e o sistematiza.

Nos nossos estudos, que, agora, começamos – Teologia Sistemática I –, nós


iniciaremos pela Teologia – Doutrina de Deus –, como, normalmente, faz a maioria das
Teologias Sistemáticas, e trabalharemos, primeiramente, o assunto da autoexistência
de Deus.

Neste primeiro tópico, a existência de Deus, abordaremos a seguinte pergunta:


quem é Deus? Essa é uma questão que, desde os tempos antigos, permeia o coração e
o pensamento do ser humano. Nesse sentido, serão abordados dois aspectos relevantes:
a autoexistência de Deus, e o fato de Deus ser Espírito.

3
Na sequência, serão destacados alguns argumentos teístas acerca da existência
de Deus. Serão apresentados argumentos que, normalmente, são citados a respeito
da temática, como o argumento cosmológico, o argumento teleológico, o argumento
antropológico, o argumento ontológico e o argumento moral. Estes apresentam alguns
pontos importantes que contribuem para o pensamento a respeito da existência do
Criador.

Em um terceiro momento, será abordado o oposto dos argumentos teístas,


isto é, algumas teorias antiteístas, como o ateísmo, o agnosticismo, o materialismo, o
evolucionismo, o panteísmo, o politeísmo, o deísmo, o dualismo, o monismo e o positivismo.

NOTA
A Doutrina de Deus, algumas vezes, é chamada de Teontologia. Esse
termo é a união de três palavras gregas: théos (Deus) + ontos (ser) + logos
(palavra, discurso), isto é, o discurso ou o estudo do ser de Deus.

2 QUEM É DEUS?
O conhecimento de Deus tem sido o motivo e a busca do ser humano desde
os tempos mais remotos. O anseio pela “descoberta” e pela intimidade com o Criador
é notório nos quatro cantos da face da Terra. Por isso, faz-se necessário buscar
informações a respeito de quem é Deus.

Esta é uma pergunta – quem é Deus? – que sempre surge quando se adentra
no estudo da Teologia. A resposta para o questionamento, baseado nas Teologias Bíblica
e Sistemática, é que o ser humano, por si só, não consegue chegar ao conhecimento
do Criador. Observe a seguinte pergunta: “Deus é o ser Infinito. Em certo sentido, Ele
é incompreensível. Como podem seres finitos compreender o Deus Infinito, ilimitado?”
(INTERSABERES, 2014, p. 104). Portanto, aprouve a Deus se revelar ao ser humano
(Hebreus 1:1-3; João 1:18). “Embora o homem, sem ajuda, não possa vir a conhecer
o Deus Infinito, fica claro que Deus se revelou e pode ser conhecido até o ponto que
chegou a autorrevelação” (INTERSABERES, 2014, p. 105). Portanto, Deus se revelou
(manifestou) ao ser humano e pode ser conhecido dentro daquilo que tem se revelado.

João Calvino, na obra As Institutas da Religião Cristã, destaca um aspecto muito


importante do conhecimento revelacional de Deus, quando afirma que, por outro lado,
é notório que o homem jamais chega ao puro conhecimento de si mesmo até que haja,
antes, contemplado a face de Deus, e, da visão dEle, desça a se examinar. Prossegue,
dizendo:

4
Assim também se dá ao estimarmos nossos recursos espirituais.
Pois, por tanto tempo quanto não lançamos a vista além da terra,
muito fantasiosamente, lisonjeamo-nos a nós mesmos, todos
satisfeitos com a nossa própria justiça, sabedoria e virtude, e nos
imaginamos pouco menos que semideuses. Mas, se, pelo menos,
uma vez começamos a elevar o pensamento para Deus e a ponderar
quem é Ele, e quão completa a perfeição da sua justiça, sabedoria e
poder, cujo parâmetro nos importa nos conformar, aquilo que, antes,
em nós, sorria sob a aparência ilusória de justiça, logo, como plena
iniquidade, se enxovalhará; aquilo que, mirificamente, impunha-
se sob o título de sabedoria, exalará como extremada estultícia;
aquilo que se mascarava de poder, arguir-se-á ser a mais deplorável
fraqueza (CALVINO, p. 49 apud GONÇALVES, 2014, s.p.).

Assim, conforme o pensamento de Calvino (apud GONÇALVES, 2014), o conhe-


cimento de quem é Deus coopera para o conhecimento do próprio ser humano, e mais:
teologicamente falando, pode-se dizer que esse conhecimento traz transformações
na vida daquele que está exposto e mais perto do divino.

Muitas respostas têm sido dadas para a pergunta em questão: quem é Deus?
Mencionaremos uma das respostas que, de certa forma, traduz o pensamento dos
cristãos. O Catecismo Maior de Westminster (1643-1648), na pergunta: Que é Deus?, traz
a seguinte resposta:

Deus é um espírito, em Si e por Si, mesmo infinito em Seu ser,


glória, bem-aventurança e perfeição; Todo-Suficiente, eterno,
imutável, incompreensível, onipresente, Todo Poderoso, onisciente;
sapientíssimo, justíssimo, misericordioso e cheio de graça, longânime
e pleno de verdade (Trindade. Capítulo 2, seção I). Há um só Deus vivo
e verdadeiro, o qual é infinito no seu ser e perfeições. Ele é um espírito
puríssimo, invisível, sem corpo, membros ou paixões; é imutável,
imenso, eterno, incompreensível, onipotente, onisciente, santíssimo,
completamente livre e absoluto, fazendo tudo para a sua própria glória
e segundo o conselho da sua própria vontade, que é reta e imutável. É
cheio de amor, é gracioso, misericordioso, longânimo, muito bondoso
e verdadeiro remunerador dos que o buscam e, contudo, justíssimo
e terrível nos seus juízos, pois odeia todo o pecado; de modo algum,
terá, por inocente, o culpado (WESTMINSTER, 2005, p. 27).

Esse catecismo sintetiza, para nós, muitas coisas que, no decorrer da história,
já foram estudadas, pesquisadas, e porque não dizer “experimentadas”, a respeito de
Deus. Apresenta vários aspectos da pessoa de Deus, do seu caráter, do seu Ser, dos
seus planos, da sua vontade, e dos seus desígnios. O conhecimento dos aspectos da
pessoa de Deus pode conduzir a um caminho que Calvino descreve:

Portanto, o conhecimento de Deus que, na Escritura, nos é proposto, não visa


a um outro escopo, a não ser àquele que refulge gravado nas criaturas, isto é, convida-
nos, em primeiro lugar, ao temor de Deus; em seguida, à confiança nEle, para que, na
verdade, aprendamos a cultuá-lo não só com perfeita inocência de vida, mas, ainda, com
obediência não fingida, e, então, a dependermos totalmente da sua bondade (CALVINO,
p. 95 apud GONÇALVES, 2014, s.p.).

5
Com relação ao que já foi exposto, destacaremos, na sequência, dois aspectos
primordiais a respeito da existência de Deus: a autoexistência de Deus e Deus é Espírito.

DICA
Você pode ler As Institutas da Religião Cristã por meio do seguinte link:
https://bit.ly/39zCTd6. Confira e aproveite!

2.1 DEUS É AUTOEXISTENTE


Na sua essência, Deus é um Ser singular, isto é, não existe outro como Ele,
a começar pela sua autoexistência. Todas as demais criaturas que fazem parte da
criação foram criadas, ou seja, tiveram um momento em que vieram pela existência
por meio de alguém ou algo fora delas. Com Deus, isso é diferente, pois Ele autoexiste.
A autoexistência de Deus é, às vezes, chamada de “independência ou asseidade –
das palavras latinas a se, que significam ‘por si mesmo’”. “Com respeito à existência de
Deus, essa doutrina também nos recorda que somente Deus existe em virtude da própria
natureza e que Ele nunca foi criado e nunca veio a existência” (GRUDEM, 1999, p. 71).

“A existência de Deus é uma premissa fundamental das Escrituras que não


tecem argumentos para afirmá-la ou comprová-la” (BANCROFT, 1992, p. 19).

No evangelho de João 5:26, é dito: “Porque assim como o pai tem vida em si
mesmo, também concedeu, ao Filho, ter vida em si mesmo”, ou seja, a autoexistência
de Deus está implícita nas expressões “o pai tem vida em si mesmo”, e “ao Filho, ter vida
em si mesmo”.

A pressuposição da teologia cristã é um tipo muito definido. A


suposição não é apenas de que há alguma coisa, alguma ideia ou
ideal, algum poder ou tendência com propósito, a que se possa
aplicar o nome de Deus, mas que há um ser pessoal autoconsciente,
autoexistente, que é a origem de todas as coisas e que transcende a
criação inteira, mas, ao mesmo tempo, é imanente em cada parte da
criação (BERKHOF, 1990, p. 16).

A autoexistência de Deus “não significa apenas que nós existimos e que Deus
sempre existiu, mas, também, que Deus existe, necessariamente, de modo infinitamente
melhor, mais forte e mais excelente” (GRUDEM, 1999, p. 71). “Às vezes, essa ideia é
expressa, dizendo-se que Ele é a causa sui (a Sua própria causa), mas não se pode
considerar exata essa expressão, desde que Deus é o não causado, que existe pela
necessidade do Seu próprio Ser e, portanto, necessariamente” (BERKHOF, 1990, p. 45).

6
Thiessen (1987) enumera, na sua Teologia Sistemática, três argumentos a favor
da existência de Deus:

1- A crença na existência de Deus é intuitiva. Baseado no texto de Romanos 1:19-21.


A história mostra que o elemento religioso da nossa natureza é tão universal quanto
o racional ou social. De certa forma, essa crença é necessária e intuitiva.
2- A existência de Deus é assumida pelas Escrituras. As Escrituras atestam a
existência de Deus do primeiro ao último versículo, mas não se preocupam em prová-
la, pois já partem dessa premissa.
3- A crença na existência de Deus é corroborada por argumentos. Cosmológico,
Teleológico, Antropológico, Ontológico, Moral (que, posteriormente, serão analisados).

Já Chafer (2003) cita quatro fontes de conhecimento de Deus:

a) Intuição: uma intuição é a confiança ou a crença que flui, imediatamente, da


constituição da mente.
b) Tradição: aquilo que é remoto, ou seja, as impressões mais antigas da raça, e aquilo
que está presente, isto é, o ensino que é passado aos filhos.
c) Razão: a capacidade que o ser humano tem (relacionada à razão e ao pensamento).
d) Revelação: ato de Deus através das coisas criadas, por intermédio da manifestação
de si mesmo por Jesus Cristo, e através das Escrituras Sagradas.

Entretanto, é necessário lembrar que “o cristão aceita a verdade da existência


de Deus pela fé, mas essa fé não é uma fé cega, mas uma fé baseada em provas, e as
provas se acham, primariamente, na Escritura, como a Palavra de Deus inspirada, e,
secundariamente, na revelação de Deus na natureza” (BERKHOF, 1990, p. 23).

NOTA
“O cristão aceita a verdade da existência de Deus pela fé, mas essa
fé não é uma fé cega, mas uma fé baseada em provas, e as provas
se acham, primariamente, na Escritura, como a Palavra de Deus
inspirada, e, secundariamente, na revelação de Deus na natureza”
(BERKHOF, 1990, p. 16).

7
2.2 DEUS É ESPÍRITO
A afirmação bíblica de João 4:24 é enfática: “Deus é Espírito, e importa que os
que o adoram o adorem em espírito e em verdade”. O contexto da conversa de Jesus
Cristo com a mulher samaritana era a respeito da adoração (local de adoração). Na sua
fala, dirigida à mulher samaritana, Jesus deixa claro, não somente, o tipo de adoração
que o Deus quer, mas, também, quem Deus é – Espírito. Nota-se a ausência do artigo,
isso quer dizer que Deus é espiritual na sua natureza, ou seja, no seu ser essencial, Deus
é espiritual.

Conforme Thiessen (1987), Deus é imaterial e incorpóreo, é invisível, é vivo,


e é um Ser pessoal, pois tem a essência da personalidade, que é autoconsciência e
autodeterminação. “Pelo ensino da espiritualidade de Deus, a teologia salienta o fato de
que Deus tem um Ser substancial exclusivamente Seu e distinto do mundo, e que esse
Ser substancial é imaterial, invisível, e sem composição nem extensão” (BERKHOF, 1990,
p. 51).

O fato de Deus ser Espírito esclarece diversos questionamentos do ser humano.


Por exemplo, “Deus, porém, sendo Espírito, não pertence à categoria da matéria e,
portanto, não pode ser descoberto por investigações meramente naturais ou materiais”
(BANCROFT, 1992, p. 19). Novamente, entra, aqui, o elemento “fé” para o conhecimento
de Deus, pois, como é possível seres materiais, finitos, corpóreos, limitados investigarem
Aquele que é Espírito, Infinito, Invisível, Eterno?

Wayne Grudem, no Manual de Teologia Sistemática, discute a questão exposta,


e faz uma colocação interessante de ser observada:

Fora da verdadeira religião encontrada na Bíblia, nenhum sistema


de religião tem um Deus que é tanto infinito quanto pessoal. Por
exemplo, os deuses das mitologias grega e romana eram pessoais
(eles interagiam, muitas vezes, com as pessoas), mas não eram
infinitos: possuíam fraquezas e falhas morais frequentes e até
rivalidades banais. Em contraposição, o deísmo apresenta um Deus
que é infinito, mas removido para muito longe do mundo, para estar
pessoalmente envolvido com ele. De modo semelhante, o panteísmo
sustenta que Deus é infinito (visto que o universo todo é considerado
como sendo Deus), mas tal Deus não pode, certamente, ser pessoal,
nem se relacionar conosco, como pessoas (GRUDEM, 1999, p. 781).

De certa forma, corroborando com esse pensamento acerca de Deus, Josadak


Lima afirma que Deus é um ser (LIMA, 2009):

I- Ele é pessoal: inteligente, tem emoções e vontade.


II- Ele é invisível: é invisível, porque é Espírito. Contudo, Deus não está oculto apenas
ao olho físico, mas, também, à percepção do espírito humano. Deus é um Ser
desprovido de partes físicas, como carne, ossos, sangue. Por isso, Ele jamais foi visto
ou contemplado a olho nu.

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III- Ele é vivo e ativo: é o singular Criador do universo, edificador dos mundos, defensor
dos pobres e libertador dos oprimidos.

Com isso, “Deus é algo mais do que uma condição de existência, como o espaço
ou o tempo. Ele não só existe, mas também age. Ele é agente, Ator, Ser vivo e o Espírito
da Vida” (DR. FARR apud BANCROFT, 1992, p. 26). Dessa forma, “[...] verifica-se que Deus,
na qualidade de Espírito, deve ser apreendido não pelos sentidos do corpo, mas, antes,
pelas faculdades da alma, vivificadas e iluminadas pelo Espírito Santo (1 Co 2.14; Cl.1.15-
17)” (BANCROFT, 1992, p. 27).

Uma observação, também importante na compreensão desse ponto, foi


destacada por Grudem (1999, p. 86), “portanto, é correto dizer que, embora a essência
total de Deus nunca possa ser vista por nós, no entanto, Deus ainda nos mostra alguma
coisa de si mesmo por meio das coisas criadas, visíveis e, especialmente, na pessoa de
Cristo”.

3 ARGUMENTOS TEÍSTAS DA EXISTÊNCIA DE DEUS


Não encontramos, nas Escrituras Sagradas, uma preocupação em tecer
argumentos da existência de Deus, nem provar ou tentar argumentar a respeito disso,
pelo fato que elas já partem dessa certeza. Não obstante, há argumentos que são
levantados e corroboram a respeito da existência e do conhecimento de Deus. Agora,
observaremos, mais de perto, alguns desses argumentos. Thiessen nos recorda de algo
bem importante quando partimos para tal direção:

Ao nos aproximarmos do estudo desses argumentos, precisamos,


entretanto, ter o seguinte em mente: (a) não são provas independen-
tes da existência de Deus, mas, antes, corroborações e exposições
da nossa convicção inata da Sua existência; (b) como Deus é um
Espírito, não devemos insistir no mesmo tipo de prova que exigimos
para a existência de coisas materiais, mas apenas na evidência que
seja apropriada para o objetivo da prova; (c) a evidência é cumulativa,
um único argumento em favor da existência de Deus sendo inade-
quado, mas, diversos deles, juntos, sendo suficientes para prender a
consciência e levar a crença (THIESSEN, 1987, 29).

É importante ter isso em mente, pois “é a função do teísmo naturalista


apresentar argumentos, além de chegar a conclusões que estão dentro do alcance
da razão, ao passo que é função, do teísmo bíblico, reconhecer, classificar, mostrar a
verdade demonstrada pela revelação” (CHAFER, 2003, p. 168). Observaremos, então,
esses argumentos teístas, que são, usualmente, levantados. Não iremos exauri-los, mas
apresentar os mais conhecidos.

9
NOTA
O que significa Teísmo? “A etimologia da palavra TEÍSMO forneceria
um grande raio de aplicação, mas, no uso comum, ela significa uma
crença em Deus, e incorpora um sistema de crenças que constitui
uma filosofia, restrita de fatos, a alguns achados e conclusões que a
razão humana sugere” (CHAFER, 2003, p. 166)

3.1 ARGUMENTO COSMOLÓGICO


A palavra “cosmo”, na língua grega (κόσμος), traz, como um dos significados,
“universo, mundo”. Esse argumento parte do pressuposto de que o universo, e todo
o funcionamento perfeito, apontam para uma causa última – um Criador. Conforme
Berkhof (1990, p. 20), “cada coisa existente no mundo tem que ter uma causa adequada,
assim, o universo também tem que ter uma causa adequada, isto é, uma causa
indefinidamente grande”. Para Thiessen (1987, p. 29), “tudo que foi começado tem que
ter uma causa adequada; o universo foi começado, portanto, o universo deve ter uma
causa adequada para ter sido produzido”. Esses pensamentos estão baseados no texto
bíblico de Hebreus 3:4, que diz: “pois toda casa é estabelecida por alguém, mas aquele
que estabeleceu todas as coisas é Deus”.

Nas palavras de Chafer (2003), o argumento cosmológico depende da validade


de três verdades contribuintes:

a) cada efeito deve ter uma causa;


b) o efeito é dependente da sua causa para a existência;
c) a natureza não pode produzir a si mesma.

A crença intuitiva de que todo efeito tem uma causa é o princípio


básico a respeito de qual o argumento cosmológico avança para
chegar às conclusões necessárias. Ex nihilo, nihil fit – do nada, nada
pode surgir – é um axioma que foi reconhecido pelos filósofos de
todas as épocas. Asseverar que qualquer coisa veio a existir por si
mesma é asseverar que ela agiu antes que existisse, o que é um
absurdo. A inexistência não pode gerar existência (CHAFER, 2003,
p. 172).

3.2 ARGUMENTO TELEOLÓGICO


A palavra “téleios”, na língua grega (τέλειος), significa completo, perfeito e
plenamente desenvolvido. Esse argumento fala da ordem e da finalidade perfeita de
um sistema perfeito que existe. “Ordem e organização útil, em um sistema, evidenciam

10
inteligência e propósito na causa que o originou; o universo é caracterizado por ordem
e organização útil, portanto, o universo tem uma causa inteligente e livre” (THIESSEN,
1987, p. 30).

O argumento está baseado em textos bíblicos, por exemplo, Salmos 94:9: “O


que fez o ouvido, acaso não ouviria? O que formou os olhos, será que não enxergaria?”
Conforme Berkhof (1990, p. 20), esse pensamento cita que, “em toda parte, o mundo revela
inteligência, ordem, harmonia e propósito, o que gera a existência de um ser inteligente
e com propósito, apropriado para a produção de um mundo como este”.

FIGURA 1 – ARGUMENTOS TEÍSTAS DA EXISTÊNCIA DE DEUS

FIGURA 1 – ARGUMENTOS TEÍSTAS DA EXISTÊNCIA DE DEUS

3.3 ARGUMENTO ANTROPOLÓGICO


A palavra “antropos” (ἄνθπωπος) tem, como significado, ser humano, homem
e pessoa. Esse argumento mostra que as constituições física, mental e espiritual do
ser humano são uma evidência do Criador. Chafer (2003) explica que o argumento
antropológico indica que os elementos que são reconhecidos como propriedades inatas
do homem devem ser possuídos pelo Criador. O argumento está restrito ao campo da
evidência, em relação à existência de Deus e das suas qualidades, que pode ser retirada
da constituição do homem.

11
O corpo humano é, assim, uma prova específica de um Criador, visto
que ele não pode ser explicado de maneira diferente [...], novamente,
a inteligência do homem, com as suas realizações na descoberta,
nas invenções, na ciência, literatura, e na arte, exige, com resistência
implacável, uma causa adequada [...], e, finalmente, a consciência,
assim como a crença inerente em Deus não pode ser explicada com
outra base a não ser aquela em que o homem procede daquele que
possui todos os atributos em um grau infinito (CHAFER, 2003, p. 184).

Strong et al. (2003) afirmam que esse argumento é complexo e sugere uma
divisão para compreendê-lo melhor:

1- A natureza intelectual e moral do homem deve ter tido, como autor, um Ser intelectual
e moral.
2- A natureza moral do homem prova a existência de um Legislador e Juiz santo.
3- As naturezas emocional e voluntária do homem provam a existência de um Ser que
pode fornecer, em si mesmo, um objeto de satisfação da afeição humana e um fim
que convoca as atividades mais nobres do homem e assegura os progressos mais
nobres.

3.4 ARGUMENTO ONTOLÓGICO


Este argumento parte do pressuposto de que, se o ser humano tem o
pensamento de um Ser que é absolutamente perfeito, ele deve existir. Nesse caso, esse
Ser é Deus. Segundo Berkhof (1990, p. 20), esse argumento “foi apresentado, na sua
mais perfeita forma, por Anselmo (1033 -1109 d.C.). Ele argumenta que o homem tem a
ideia de um ser absolutamente perfeito, de que a existência é atributo de perfeição, e
que, portanto, um ser absolutamente perfeito tem que existir”.

“O argumento ontológico, no teísmo, consiste em um curso de raciocínio a partir


de Deus, como a Primeira Causa absoluta de todas as coisas para as coisas que causou,
especificamente, a ideia inerente de que Deus existe” (CHAFER, 2003, p. 186).

Para Thiessen (1987, p. 29), “esse argumento encontra, na própria ideia de Deus,
a prova da existência. Afirma que todos os homens têm a ideia de Deus intuitivamente,
e, daí, tentam encontrar prova da existência na própria ideia”. Na mesma direção de
pensamento, “conforme esse argumento, a existência de Deus é certificada pelo fato de
que a mente humana crê que Ele realmente existe” (CHAFER, 2003, p. 186).

12
3.5 ARGUMENTO MORAL
O argumento moral indica que a consciência que o ser humano possui reconhece
a existência de um Juiz, no caso, Deus, dessa forma, a violação da lei (ou das leis) do
Criador gera certeza de julgamento e punição para aqueles que venham a violá-las. De
acordo com Berkhof (1990, p. 21), “Kant tomou o seu ponto de partida no imperativo
categórico, e, deste, deferiu a existência de alguém que, como legislador e juiz, tem
absoluto direito de dominar o homem. Na sua opinião, esse argumento é muito superior
a qualquer um dos outros”.

A consciência reconhece a existência de uma lei moral que tem


autoridade suprema; violações conhecidas dessa lei moral são
acompanhadas de sentimentos de desmerecimento e medo do
julgamento; essa lei moral, como não é autoimposta, e essas ameaças
de julgamento, como não são autoexecutáveis, argumentam,
respectivamente, em favor da existência de uma vontade santa que
impôs a lei [...] (THIESSEN, 1987, p. 32).

DICA
Um bom livro de Teologia Sistemática:

BERKHOF, L. Teologia sistemática. São Paulo: Editora Cultura Cristã,


1990. Disponível em: https://docplayer.com.br/15383153-Teologia-
sistematica.html. Acesso em: 11 maio 2021.

4 TEORIAS ANTITEÍSTAS
Depois de observarmos alguns argumentos teístas acerca da existência de Deus,
apresentaremos, agora, algumas teorias antiteístas, isto é, teorias que são contrárias ou
que, de alguma forma, negam a existência de Deus. Destacaremos dez dessas teorias.
Existem outras, mas, aqui, devemos nos ater a essas.

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FIGURA 2 – TEORIAS ANTITEÍSTAS

FONTE: O autor

4.1 ATEÍSMO
O termo “ateísmo” (ἄθεος – ‘nenhum Deus’) já revela a negação da existência
de Deus na própria formação da palavra. O ateísmo, segundo a etimologia do termo,
significa uma negação do ser de Deus. Certamente, é a teoria mais conhecida em
relação às teorias antiteístas. Essa teoria nega a existência de Deus. Conforme Chafer
(2003, p. 191), “para o ateu, o universo material é somente um acidente e todas as suas
maravilhas de coordenação e desenvolvimento são fortuitas. Ele não reconhece uma
causa para nada, mesmo para a sua própria existência”.

De maneira geral, existem duas correntes em relação ao ateísmo: os teóricos e


os práticos (alguns autores também acrescentam o ateísmo virtual). Os ateus práticos
são aqueles que vivem como se Deus não existisse. Por outro lado, os ateus teóricos
podem ser classificados da seguinte forma: “O ateu dogmático, que, de início, nega
que haja um Ser divino; o ateu cético, que duvida da capacidade da mente humana
de admitir se há Deus ou não; o ateu capcioso, que sustenta não haver prova válida da
existência de Deus” (LIMA, 2009, p. 17).

4.2 AGNOSTICISMO
Na origem, o termo “agnosticismo” é composto pelas palavras gregas a (α) –
sem – e gnosis (γνώσις) – conhecimento. “O agnosticismo não nega a existência de
Deus, ele nega a possibilidade de conhecimento de Deus. É o sistema que ensina que
não sabemos e nem podemos saber se Deus existe ou não” (INTERSABERES, 2014, p.
107). A premissa básica do agnosticismo é “acreditar somente no que se vê”.

14
O termo ‘agnóstico’ é aplicado, às vezes, a qualquer doutrina que
afirma a impossibilidade de qualquer conhecimento verdadeiro,
afirmando que todo conhecimento é relativo, e, portanto, incerto [...]
na teologia. O termo é limitado aos pontos de vista que afirmam que
nem a existência nem a natureza de Deus, sem, ainda, a natureza
suprema do universo, são conhecidas ou cognoscíveis (THIESSEN,
1987, p. 35).

O pragmatismo, na filosofia e na teologia, e o positivismo, na ciência, são os tipos


de agnosticismo, em tempos recentes, que mais se destacam. Os dois rejeitam uma
revelação especial e a competência da razão no estudo da realidade suprema. Thiessen
(1987) ressalta que, Augusto Comte (1798-1859), o fundador do positivismo, decidiu
nada aceitar como verdadeiro, além dos detalhes observados, e como a ideia de Deus
não poderia, assim, ser submetida a um exame, ele a omitiu e se devotou inteiramente
ao estudo dos fenômenos.

4.3 MATERIALISMO
O materialismo nega a existência de Deus ou de seres espirituais e afirma que
toda a realidade é matéria em movimento. Dessa forma, entende-se a alma, além da
mente, como aspectos do corpo, negando a realidade após a morte, como céu, inferno.
Com isso, acaba descrendo da existência de Deus, por acreditar, simplesmente, na
realidade da matéria. Uma definição afirma que o Materialismo é:

A doutrina de que os fatos da experiência são todos para ser explicados


pela referência à realidade, atividades, e leis de substância física ou
material [...]. As teorias materialistas têm variado desde a primeira,
mas a forma mais amplamente aceita considera todas as espécies
de vidas, mentais e sencientes, como produtos do organismo, e, o
universo em si, como resolvível em termos de elementos físicos e
de movimentos (A NEW STANDARD DICTIONARY, 1913 apud CHAFER,
2003, p. 199).

4.4 EVOLUCIONISMO
O Evolucionismo parte da teoria de um desenvolvimento (evolução orgânica)
meramente biológico dos seres. A teoria foi elaborada, primeiramente, por Charles
Darwin, no conhecido livro A Origem das Espécies, de 1859. De acordo com a teoria
evolucionista do desenvolvimento natural, a criatura é o efeito de uma causa natural, e
é moldada e formada, de acordo com forças sobre as quais ela não tem controle algum.
Com relação ao evolucionismo:

O Dr. Leander Keyser escreve: Em geral, a evolução é a teoria de


que o cosmos se desenvolve desde o material bruto e homogêneo
até o estado presente heterogêneo e avançado por meio de forças
residentes. A evolução é tanto teísta quanto ateísta. A evolução teísta
reconhece Deus como o Criador dos materiais originais, mas afirma

15
que a evolução é o método pelo qual todo o desenvolvimento, a
partir de um estado primordial suposto para um estado de perfeição,
foi trabalhado. A evolução ateísta rejeita a pessoa de Deus, nega
a sua obra na criação, e afirma que a matéria é eterna ou que se
autodesenvolve (CHAFER, 2003, p. 194-195).

4.5 PANTEÍSMO
Como o termo sugere, “panteísmo é a crença de que Deus é tudo e tudo é Deus,
confundindo, assim, Deus com a natureza, a matéria com o Espírito, e o Criador com
as coisas que Ele criou” (CHAFER, 2003, p. 201). A palavra “panteísmo” é uma junção
de duas palavras gregas, pan (παν), que significa tudo e todas as coisas, e théos (θεός),
que significa Deus. “Como o próprio nome sugere, é a doutrina segundo a qual Deus
e o mundo se fundem, constituindo-se em um todo indivisível. Essa é a religião do
hinduísmo, em que ‘tudo é deus e deus é tudo’” (CLÍNICA, 2014 apud INTERSABERES,
2014, p. 109).

Conforme Thiessen (1987), veja, a seguir, os principais tipos de panteísmo:

1- O Panteísmo Materialista: afirma que a matéria é a causa de toda a vida e mente.


2- O Hilogoismo e Panpsiquismo: são os mais antigos e recentes nomes para a mesma
coisa.
3- O Neutralismo: é uma forma de monismo que afirma que a realidade última não é
nem a mente nem a matéria, mas algo neutro do qual a mente e a matéria são apenas
aparências ou aspectos.
4- O Idealismo: afirma que a última realidade é da natureza da mente, e que o mundo é
o produto da mente, da mente individual ou da mente finita.
5- O Misticismo Filosófico: é o tipo mais absoluto de monismo em existência.

4.6 POLITEÍSMO
O Politeísmo é a crença de que há mais de um Deus, e ensina a adoração a vários
deuses. “O Politeísmo não apresenta nenhuma similaridade com a doutrina bíblica de
uma Trindade de Pessoas com uma só essência. A crença trinitariana é baseada no fato
principal de que há um Deus [...], e afirma que o único Deus subsiste em três pessoas”
(CHAFER, 2003, p. 200). Diferentemente da ideia da Trindade:

o politeísmo [...] distribui as perfeições e as funções do Deus infinito


entre muitos deuses limitados. Ele surgiu da adoração da natureza
apresentada pelos antigos Vedas Hindus, e, logo, suplantou, de
um modo geral, o monoteísmo primitivo. A princípio, permaneceu,
longamente, na Caldeia e na Arábia, e consistia na adoração dos
elementos, especialmente das estrelas e do fogo. Subsequentemente,

16
tomou formas especiais provenientes das tradições, da índole e das
civilizações relativas de cada nacionalidade. Dentre os selvagens
mais rudes, ele se derivou para o fetichismo, como na África ocidental
e central. Dentre os gregos, foi tornado o veículo para a expressão de
humanitarismo refinado na apoteose dos homens heroicos antes do
que na revelação de deuses encarnados. Na Índia, surgindo de uma
filosofia panteísta, tem sido levado aos extremos mais extravagantes,
com respeito ao número e ao caráter das divindades. Onde quer que
o politeísmo tenha sido conectado à especulação, aparece como a
contraparte esotérica do panteísmo” (OUTLINES OF THEOLOGY, p.
47-48 apud CHAFER, 2003, p. 199-200).

4.7 DEÍSMO
O deísmo afirma que Deus existe, não obstante, nega a possibilidade de Ele se
revelar aos homens. “Esse termo, do latim Deus, é intimamente ligado à palavra grega,
Theos [...]. É ‘a verdadeira religião da natureza’, visto que afirma que tudo o que pode
ser conhecido de Deus é restrito a tais deduções da observação da criação” (CHAFER,
2003, p. 203).

Para o deísmo, Deus está presente na criação apenas através do seu


poder, não por sua própria pessoa e natureza. Ele dotou a criação
de leis invariáveis sobre as quais Ele simplesmente exerce uma
supervisão [...]. O deísmo nega uma revelação especial, os milagres,
a providência. Ele afirma que todas as verdades a respeito de Deus
são descobertas pela razão, e que a Bíblia é, simplesmente, um livro
sobre os princípios da religião natural, que são determinados pela luz
da natureza (THIESSEN, 1987, p. 42).

A frase de Carlyle sintetiza bem o Deísmo: “um Deus ausente, sentado e sempre
inativo desde o primeiro sábado, que fica do lado de fora do Universo, a fim de contemplar
as coisas acontecerem” (CARLYLE apud CHAFER, 2003, p. 204).

4.8 DUALISMO
O dualismo é considerado um sistema ou uma teoria que assevera uma duali-
dade radical ou duplicidade da natureza, de existência ou de operação, normalmente,
retratado pelo bem e o mal.

Esta teoria assume que há duas substâncias ou princípios distintos e


irredutíveis. Em epistemologia, elas são ideia e objeto; em metafísica,
mente e matéria; na ética, o bem e o mal; na religião, o bem (Deus)
e o mal (Satanás). O cristão, entretanto, não crê que Satanás seja
coeterno, como Deus, mas sim uma criatura de Deus e sujeita a Ele
(THIESSEN, 1987, p. 41).

17
Chafer (2003) mostra que, na história do pensamento reflexivo, quatro espécies
de dualismo se desenvolveram:

1- Dualismo Teológico (crença com dois seres ou princípios divinos, um bom e o outro
mal).
2- Dualismo Filosófico.
3- Dualismo Psicológico.
4- Dualismo Ético.

4.9 MONISMO
“Esta doutrina ensina que o homem é um ser portador de uma única natureza –
a matéria. Ela não faz distinção entre Deus e a Criação” (LIMA, 2009, p. 19).

De acordo com a seguinte definição, o monismo é “a doutrina que se refere


à explicação de todas as existências, atividades e desenvolvimentos do universo,
incluindo os seres físicos, psíquicos e espirituais, a um princípio último ou substância”
(NEW STANDARD DICTIONARY, 1913 apud CHAFER, 2003, p. 204).

4.10 POSITIVISMO
O positivismo tem, como critério único da verdade, os fatos e as relações. “A
filosofia elaborada por Augusto Comte (1798-1857), que é baseada na suposição de
que o conhecimento do homem é restrito aos fenômenos, e, esses, o homem pode
conhecer somente em parte. Ele rejeita toda consideração da metafísica ou da filosofia
especulativa” (CHAFER, 2003, p. 204).

Com o positivismo, findamos essas teorias, ainda que existam outras. Com isso,
finalizamos este primeiro momento, a partir do qual observamos, apenas um pouco,
“quem é Deus” e as teorias antíteístas.

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RESUMO DO TÓPICO 1
Neste tópico, você adquiriu certos aprendizados, como:

• Conforme o Catecismo de Westminster, Deus é um Espírito, em Si e por Si mesmo,


infinito em Seu ser, glória, bem-aventurança e perfeição; Todo-Suficiente, eterno,
imutável, incompreensível, onipresente, Todo Poderoso, onisciente; sapientíssimo,
justíssimo, misericordioso e cheio de graça, longânimo e pleno de verdade.

• A autoexistência de Deus “não significa apenas que nós existimos e que Deus sempre
existiu, mas, também, que Deus existe, necessariamente, de modo infinitamente
melhor, mais forte e mais excelente” (GRUDEM, 1999, p. 71).

• Acerca da existência de Deus, observamos que Deus é um Ser autoexistente, é


Espírito, pessoal (pois apresenta inteligência, emoções e vontade), e é vivo e ativo.

• Thiessen (1987) enumera três argumentos a favor da existência de Deus: 1. A crença


na existência de Deus é intuitiva; 2. A existência de Deus é assumida pelas Escrituras;
e 3. A crença na existência de Deus é corroborada por argumentos.

• Alguns argumentos teístas abordam a respeito da existência de Deus: Cosmológico,


Ontológico, Teleológico, Antropológico e Moral.

• O termo “ateísmo” (ἄθεος – ‘nenhum Deus’) já revela a negação da existência de Deus.


De maneira geral, existem duas correntes em relação ao ateísmo: os teóricos e os
práticos (alguns autores também acrescentam o ateísmo virtual).

• Algumas das teorias antiteístas são: Ateísmo; Agnosticismo; Materialismo; Politeísmo;


Evolucionismo; Deísmo; Panteísmo; Dualismo; Positivismo; Monismo.

• O Deísmo afirma que Deus existe, não obstante, nega a possibilidade de Ele se revelar
aos homens.

• Panteísmo é a crença de que Deus é tudo e tudo é Deus, confundindo, assim, Deus
com a natureza, a matéria com o Espírito, e o Criador com as coisas que Ele criou.

19
AUTOATIVIDADE
1 Conforme Thiessen (1987), Deus é imaterial e incorpóreo, é invisível, é vivo, e é
uma pessoa, pois tem a essência da personalidade, que é a autoconsciência e a
autodeterminação. Há vários termos importantes no estudo da Teologia, e um deles é
o “Teísmo”. Acerca do significado de Teísmo, assinale a alternativa CORRETA:

a) ( ) Teísmo afirma que Deus existe, não obstante, nega a possibilidade de Ele se
revelar aos homens.
b) ( ) Teísmo é a crença em vários deuses e propaga a adoração aos deuses e à criação.
c) ( ) Teísmo tem, como critério único da verdade, os fatos e as relações.
d) ( ) Teísmo, conforme a própria palavra sugere, significa uma crença em Deus.

2 A pergunta “quem é Deus?” sempre surge quando se adentra no estudo da Teologia.


A resposta para esse questionamento, baseado nas Teologias Bíblica e Sistemática,
é que o ser humano, por si só, não consegue chegar ao conhecimento do Criador.
Acerca da pergunta “Quem é Deus?”, assinale a alternativa CORRETA:

a) ( ) Deus é um espírito; Todo-Suficiente, eterno, imutável, incompreensível,


onipresente, Todo Poderoso, onisciente.
b) ( ) Deus é um espírito; instável, mutável, incompreensível, como o homem, Todo
Poderoso, onisciente.
c) ( ) Deus é um dos espíritos, suficiente, imutável, compreensível, altruísta, cheio de
compaixão e glória.
d) ( ) Deus não é um espírito, mas é Todo-Suficiente, eterno, imutável, incompreensível,
onipresente, Todo Poderoso, onisciente.

3 Há vários argumentos que são levantados e corroboram a respeito da existência


de Deus e do conhecimento de Deus. A respeito desses argumentos, leia, analise e
relacione os itens a seguir:

I- Argumento Ontológico.
II- Argumento Moral.
III- Argumento Cosmológico.
IV- Argumento Teleológico.

( ) Este argumento parte do pressuposto de que, se o ser humano tem o pensamento


de um Ser que é absolutamente perfeito, ele deve existir. Neste caso, esse Ser é Deus.
( ) Este argumento diz que, “em toda parte do mundo, revelam-se inteligência, ordem,
harmonia e propósito, o que gera a existência de um ser inteligente e com propósito,
apropriado para a produção de um mundo como este”.

20
( ) Este argumento parte do pressuposto de que o universo, e todo o funcionamento
perfeito, apontam para uma causa última – um criador.
( ) Este argumento indica que a consciência de que o ser humano possui e reconhece
a existência de um Juiz, no caso, de Deus, e, dessa forma, da violação da lei (ou das
leis) do Criador, ocorrem certeza de julgamento e punição para aqueles que venham
a violá-las.

Assinale a alternativa que apresenta a sequência CORRETA:


a) ( ) II – III – I – IV.
b) ( ) IV – II – III – I.
c) ( ) I – IV – III – II.
d) ( ) III – II – I – IV.

4 Há várias teorias chamadas de antiteístas, isto é, teorias que negam a existência ou


o conhecimento de Deus. Com relação às teorias antiteístas, classifique V para as
sentenças verdadeiras e F para as sentenças falsas:

( ) O Agnosticismo não nega a existência de Deus, nega a possibilidade de conhecimento


de Deus.
( ) Panteísmo é a crença de que Deus é tudo e tudo é Deus, confundindo, assim, Deus
com a natureza, a matéria com o Espírito, e o Criador com as coisas que Ele criou.
( ) O Dualismo nega a existência de Deus ou de seres espirituais e afirma que toda
realidade é matéria em movimento.
( ) O Deísmo afirma que Deus existe, não obstante, nega a possibilidade de Ele se
revelar aos homens.

Assinale a alternativa que apresenta a sequência CORRETA:


a) ( ) F – V – V – V.
b) ( ) V – V – F – V.
c) ( ) V – F – V – V.
d) ( ) F – V – V – F.

21
22
UNIDADE 1 TÓPICO 2 —
OS ATRIBUTOS E OS NOMES DE DEUS

1 INTRODUÇÃO
Caro acadêmico, depois de conhecermos um pouco da existência de Deus,
daremos um segundo passo importante nos nossos estudos acerca da Doutrina de
Deus. Neste tópico, focaremos em dois aspectos fundamentais dentro da Teologia: os
atributos e os nomes de Deus.

Primeiramente, aprofundar-nos-emos no conhecimento dos atributos de Deus.


Verificaremos a diferença entre os atributos transcendentes e imanentes, e veremos,
de perto, a definição dos mais importantes atributos. Com relação aos atributos
transcendentes, destacaremos os seguintes: Simplicidade, Imensidade, Eternidade,
Imutabilidade, Onipotência, Onisciência e Onipresença. Depois, serão abordados os
atributos imanentes: Santidade, Retidão, Justiça, Amor, Sabedoria e Verdade.

Na sequência, nosso foco será os nomes de Deus. Observaremos, em um


primeiro momento, os nomes de Deus no Antigo Testamento – Jeová, Elohim, El, Adonai
–, e buscaremos ver o significado de cada um deles e como eram usados. Depois,
abarcaremos os nomes de Deus no Novo Testamento – Deus, Senhor e Pai – com o
mesmo enfoque.

2 OS ATRIBUTOS TRANSCENDENTES (NATURAIS) DE


DEUS
O que é um atributo? Conforme o dicionário Houaiss, atributo é aquilo que
é próprio, característico de algo ou de alguém; particularidade (HOUAISS, 2009).
Comumente, usamos mais a palavra “qualidade” hodiernamente, em vez de atributo.
Destarte, no contexto teológico, aparece mais o termo “atributo”.

Quando olhamos para a história a respeito dos atributos divinos, percebemos que,
nos primeiros séculos da era cristã, os alvos eram definir e compreender profundamente
o que eram os atributos da divindade. Passando por Tertuliano, Agostinho, Orígenes e
chegando aos concílios (como o de Niceia – 325 d.C.), o enfoque era no entendimento
dos atributos, e como eles estavam relacionados à Triunidade de Deus.

23
Com o passar dos séculos, chegando a São Tomás de Aquino, Martinho Lutero,
João Calvino, e, posteriormente, aos teólogos modernos, a ênfase passou a ser mais na
classificação dos atributos.

No estudo dos atributos de Deus, a fim de facilitar o entendimento e a


compreensão desse tema, algumas divisões têm sido dadas, visando facilitar para uma
melhor compreensão. Assim, aquilo que denominamos, no nosso texto, de atributos
“transcendentes e imanentes”, podem ser conhecidos por outros termos: atributos
“incomunicáveis e comunicáveis”; atributos “naturais e morais”; atributos “imanentes ou
intransitivos e emanentes e transitivos”; atributos “passivos e ativos”; atributos “absolutos
e relativos”; e atributos “negativos e positivos”. Os primeiros de cada par são aqueles
que não apresentam nenhuma relação com o ser humano, pois são próprios somente
da divindade, por exemplo, onisciência, onipresença etc. Os segundos são aqueles que
têm relação com o ser humano, isto é, são comunicados e compartilhados por parte
da divindade com o ser humano, por exemplo, santidade, justiça e amor. “Enquanto os
atributos incomunicáveis salientam o Ser Absoluto de Deus, os atributos comunicáveis
acentuam o fato de que Ele entra em várias relações com as Suas criaturas” (BERKHOF,
1990, p. 45).

Strong et al. (2003, p. 244) definiram os atributos de Deus como “aquelas


características que distinguem a natureza divina, inseparáveis da ideia de Deus, e
que constituem a base e a razão das diferentes manifestações das suas criaturas”. De
acordo com Martins (2015, p. 55), “os atributos divinos são as peculiaridades especiais
da natureza de Deus, totalmente intrínsecas a Ele, as quais são o fundamento e o
apoio das diversas revelações as suas criaturas”. Somando-se a todas essas definições,
ainda, pode-se dizer que “os atributos de Deus são aquelas características essenciais,
permanentes e distintivas que podem ser afirmadas a respeito de Seu ser. Seus
atributos são as perfeições, inseparáveis de natureza e que condicionam o caráter”
(INTERSABERES, 2014, p. 121).

Abordaremos, nos nossos estudos, a partir de agora, os atributos transcendentes.

NOTA
Atributos ‘transcendentes’ e ‘imanentes’ podem ser conhecidos
por outros termos: atributos ‘incomunicáveis e comunicáveis’;
atributos ‘naturais e morais’; atributos ‘imanentes ou intransitivos
e emanentes e transitivos’; atributos ‘passivos e ativos’; atributos
‘absolutos e relativos’; e atributos ‘negativos e positivos’.

24
FIGURA 3 – OS ATRIBUTOS DE DEUS

FONTE: O autor

2.1 SIMPLICIDADE
“Por esse termo, indica-se que o Ser divino não é composto, não é complexo
ou divisível [...]. Assim é com Deus. Sendo, Ele, o Ser perfeito, deve ser adorado como a
expressão última e infinita da simplicidade” (CHAFER, 2003, p. 237). Para Berkhof (1990,
p. 49), “quando falamos da simplicidade de Deus, empregamos o termo para descrever o
estado ou a qualidade que consiste em ser simples, a condição de estar livre de divisão
em partes e, portanto, de composição. Quer dizer que Deus não é composto e não é
suscetível de divisão em nenhum sentido da palavra”.

“O termo simplicidade é usado, primeiramente, em oposição à composição


material, seja mecânica, orgânica ou química; segundo, em um sentido metafísico,
como negação da relação entre substância e propriedade, essência e modo” (DR. HODGE
apud CHAFER, 2003, p. 237). Além disso, conforme Berkhof (1990, p. 49), “a simplicidade
de Deus se segue de algumas das Suas outras perfeições: da Sua autoexistência, que
exclui a ideia de que alguma coisa O precedeu, como no caso dos compostos [...]”.

25
2.2 IMENSIDADE
“Aqui, a imensidão de Deus significa a Sua infinidade em relação ao espaço.
Deus não é limitado ou circunscrito pelo espaço; ao contrário, todo espaço finito é
dependente dEle. Ele existe, na realidade, além do espaço” (THIESSEN, 1987, p. 76).

Para Berkhof (1990, p. 47), a imensidade de Deus “pode ser definida como a
perfeição do Ser Divino pelo qual transcende todas as limitações espaciais e, contudo,
está presente em todos os pontos do espaço com todo o Seu Ser”. Isso quer dizer que
Deus ocupa o espaço repletivamente, isto é, preenche todo o espaço, com isso, não
está ausente de alguma parte do espaço, nem tampouco mais presente em uma parte
do que em outra.

Aparentemente, a imensidão ou a imensidade se confunde com outro


atributo que será posteriormente visto, a onipresença. Entretanto, há uma diferença:
“a ‘Imensidade’ aponta para o fato de que Deus transcende todo o espaço e não está
sujeito a limitações, ao passo que ‘onipresença’ denota que, não obstante, Ele preenche
todas as partes do espaço com todo o Seu Ser” (BERKHOF, 1990, p. 48). A imensidade
aponta para a transcendência de Deus, a onipresença para a imanência.

2.3 ETERNIDADE
A eternidade de Deus também é um atributo incomunicável. Alguns autores
a classificam dentro da infinidade de Deus. “Deus não tem começo, fim ou sucessão
de momentos no seu próprio Ser, e Ele vê, todo o tempo, de modo vividamente igual,
todavia, Deus vê os eventos no tempo e os atos no tempo” (GRUDEM, 1999, p. 74). “Aqui,
a eternidade de Deus significa a infinidade em relação ao tempo; significa que Ele não
tem começo nem fim; que Ele está livre de toda a passagem de tempo; e que Ele é a
causa do tempo” (THIESSEN, 1987, p. 76). Berkhof (1990, p. 47) nos lembra de um aspecto
importante acerca desse atributo:

a eternidade, no sentido estrito da palavra, é adstrita àquilo que


transcende todas as limitações temporais [...]. Sua eternidade pode
ser definida como a perfeição de Deus pela qual Ele é elevado acima
de todos os limites temporais e de toda a sucessão de momentos,
tendo a totalidade da Sua existência em um único presente indivisível.

Diferentemente dos anjos e do ser humano, os quais, em determinado momento


da história e do tempo, foram criados e vieram à existência, a Teologia entende que
Deus sempre existiu e sempre existirá para todo o sempre. Ele é o único Ser que é
absolutamente eterno, pois a existência não conhece princípio ou fim. Nas palavras
de Moisés, “antes que os montes nascessem e se formassem, a terra e o mundo, de
eternidade a eternidade, tu és Deus” (A BÍBLIA SAGRADA, Salmos 90:2, grifo nosso). Ele
é chamado de “o Eterno”, ou “O Deus Eterno”. De acordo com Chafer (2003), a palavra
eternidade pode ser empregada de dois modos:

26
1) Para descrever aquilo que existe desde a eternidade passada, ou aquilo que existe
em relação à eternidade futura.
2) Para designar uma eternidade agrupada em um conceito, no caso, “o Deus Eterno”.

Salienta-se um aspecto relevante na compreensão desse atributo:

Não devemos supor que o tempo, agora que ele existe, não tem uma
realidade objetiva para Deus, mas, antes, que Ele vê o passado e o
futuro tão vividamente quanto vê o presente. Pode-se ver um desfile
do alto de uma torre, de onde se pode vê-lo em toda a sua extensão
de uma só vez, ou se pode vê-lo de uma esquina, de onde só se pode
vê-lo por partes. Deus tudo vê da primeira maneira, apesar de estar
ciente da sequência do desfile (THIESSEN, 1987, p. 77).

Assim, a eternidade de Deus aponta para o fato de que “Deus não teve princípio
nem terá fim. Ele conhece os acontecimentos na sucessão do tempo, mas não está
limitado, de nenhum modo, pelo tempo” (BANCROFT, 1992, p. 49). Grudem (1999, p. 77)
sintetiza, dizendo que “devemos, portanto, afirmar que Deus não possui sucessão de
momentos no seu próprio Ser, vê toda a história de modo vividamente igual, e, na sua
criação, vê o progresso dos eventos sobre o tempo e age diferentemente em diferentes
pontos do tempo”.

2.4 IMUTABILIDADE
O profeta Malaquias faz a seguinte afirmação a respeito de Deus: “porque eu,
O Senhor, não mudo; por isso, vós, ó filhos de Jacó, não sois consumidos” (Malaquias
3:6). Corrobora, com Malaquias, o escritor bíblico Tiago, ao citar que “toda boa dádiva e
todo dom perfeito são lá do alto, descendo do Pai das luzes, em quem não pode existir
variação ou sombra de mudança” (Tiago 1:17).

Para Thiessen, (1987, p. 80), “com imutabilidade, queremos dizer que, em


essência, atributos, consciência e vontade, Deus é imutável”. Grudem (1999, p. 76) define,
da seguinte forma, a imutabilidade de Deus: “Deus é imutável em seu Ser, perfeições,
propósitos e promessas, todavia, Deus age e sente emoções, e Ele age e sente emoções
de modo diferente, em resposta às diferentes situações”. Para Bancroft (1992), por
‘imutabilidade’, quando essa palavra é usada em relação a Deus, entende-se que Deus,
na sua natureza, atributos e conselhos, é imutável, pois tais coisas, pertencendo a um
Ser infinito, são absolutamente perfeitas, e, portanto, não admitem possibilidade de
variação. “Na qualidade de Ser infinito, absolutamente independente e eterno, Deus
está acima de toda a possibilidade de mudança. Mudam as criaturas e tudo o que é da
terra; Deus não muda. Ele é, e há de ser eternamente o mesmo, pois é infinitamente
perfeito [...]” (INTERSABERES, 2014, p. 122). Entretanto, a imutabilidade de Deus não
quer dizer inatividade ou imobilidade, nem falta de sentimento, ou, ainda, que Deus não
seja capaz de fazer escolhas livres e realizar planos e propósitos. Pelo contrário, trata-se

27
da autocoerência, moral e pessoal. Thiessen (1987, p. 81) afirma que “a imutabilidade de
Deus não é como a da pedra, que não reage às mudanças a sua volta, mas como a de
uma coluna de mercúrio, que sobe e desce, conforme as mudanças da temperatura”.

A imutabilidade divina não deve ser entendida no sentido de


imobilidade, como se não houvesse movimento em Deus. É hábito,
na teologia, falar-se de Deus como actus purus, Deus sempre em
ação. A Bíblia nos ensina que Deus entra em multiformes relações
com os homens e, por assim dizer, vive a vida com eles. Ele está
cercado de mudanças, mudanças nas relações dos homens com Ele,
mas não há nenhuma mudança no Seu Ser, nos Seus atributos, nos
Seus propósitos, em nos Seus motivos de ação e nas Suas promessas
(BERKHOF, 1990, p. 46).

2.5 ONIPOTÊNCIA
Com a onipotência de Deus, dizemos que Ele pode fazer o que desejar, mas,
como a vontade é limitada pela natureza, isso significa que Ele pode fazer qualquer
coisa que esteja em harmonia com tais perfeições (THIESSEN, 1987). Bancroft (1992,
p. 57) destaca que “o poder de Deus não é condicionado nem limitado por qualquer
pessoa fora dEle mesmo. O poder, ou seja, a eficiência de fazer acontecer as cousas, é
um atributo de Deus. Deus é causa originadora do universo, e, Nele, Seu poder opera
sempre”. O mesmo autor expõe, de maneira mais abrangente, uma definição acerca da
onipotência de Deus:

A palavra ‘onipotência’ deriva de dois termos latinos, ‘ommis’ e


‘potentia’, que, juntos, significam ‘todo poder’. Esse atributo significa
que o Seu poder é ilimitado, que Ele tem o poder de fazer qualquer
coisa que queira [...]. A onipotência de Deus não significa o exercício
do Seu poder para fazer aquilo que é incoerente com a natureza das
cousas, como fazer que um acontecimento já passado não tenha
acontecido, ou traçar, entre dois pontos, uma linha mais curta do que
uma reta (BANCROFT, 1992, p. 57).

Para ilustrar esse atributo de Deus, observe: “para Deus, é tão fácil suprir tuas
maiores e menores necessidades, assim como está ao alcance do Seu poder formar um
sistema ou um átomo, criar um sol incandescente e acender a lâmpada do vagalume”
(GUTHRIE apud BANCROFT, 1992, p. 58).

2.6 ONISCIÊNCIA
O termo “onisciência”, etimologicamente, vem de duas palavras latinas, “omnes”,
cujo sentido é “tudo”, e “scientia”, que significa “conhecimento”. De acordo com Bancroft
(1992, p. 53), “o termo denota a infinita inteligência de Deus – Seu conhecimento de
todas as coisas”. João Calvino (apud GONÇALVES, 2014, s.p.) definiu a “onisciência”

28
como “aquele atributo mediante o qual Deus conhece a Si mesmo e a todas as outras
coisas em um só simplicíssimo ato eterno”. “A onisciência de Deus abrange todas as
coisas – do passado, do presente e do futuro, o possível e o real” (CHAFER, 2003, p. 218).
“O conhecimento de Deus não é sucessivo, mas perfeitamente simultâneo” (BANCROFT,
1992, p. 52).

As Escrituras Sagradas ensinam, muito claramente, a onisciência de Deus. Elas


mostram que a compreensão de Deus é infinita e, a Sua inteligência, perfeita. Um dos
Salmos que enfatizam vários atributos divinos, incluindo a onisciência, é o Salmos 139. O
Salmo se abre da seguinte forma: “Senhor, tu me sondas e me conheces. Sabes quando
me assento e quando me levanto; de longe, penetras nos meus pensamentos [...]. Ainda,
a palavra me não chegou à língua e tu, Senhor, já conheces toda” (Salmos 139:1,2,4).

Com onisciência de Deus, queremos dizer que Ele conhece a


Si próprio e todas as outras coisas, quer sejam reais ou apenas
possíveis, quer sejam passadas, presentes ou futuras, e que as
conhece perfeitamente e por toda a eternidade. Ele conhece as
coisas imediata, simultânea, completa e verdadeiramente. Conhece,
também, as melhores maneiras de chegar aos fins desejados
(THIESSEN, 1987, p. 78).

2.7 ONIPRESENÇA
“Um filósofo pagão perguntou, uma vez, a um cristão: ‘Onde está Deus?’ O
cristão replicou: ‘Primeiro, desejo lhe perguntar: onde não está Ele” (ARROWSWITH apud
BANCROFT, 1992, p. 61). “Com onipresença de Deus, queremos dizer a Sua infinidade em
relação as suas criaturas. Por ser imenso, Deus é onipresente” (THIESSEN, 1987, p. 78).
Grudem (1999, p. 77) afirma a onipresença de Deus assim: “Deus não tem tamanho ou
dimensão espacial, e está presente em cada ponto do espaço com a plenitude do Seu
Ser, todavia, Deus age, diferentemente, em lugares diferentes”.

A palavra “onipresença”, etimologicamente, deriva de dois vocábulos latinos,


ommis, que significa tudo, e praesum, ‘estar próximo ou presente’. “As Escrituras
representam Deus a preencher a imensidade; Ele está presente em todos os lugares,
e não existe ponto do universo onde Ele não se encontre” (BANCROFT, 1992, p. 61).
Portanto:

Deus está presente em todos os lugares. Ele age em todos os lugares


e tem pleno conhecimento de tudo o que ocorre em todos os lugares.
Isso não significa que Deus esteja presente em todos os lugares no
sentido corporal; a Sua presença é espiritual, e não material, ainda
que seja uma real presença pessoal (INTERSABERES, 2014, p. 124).

29
3 OS ATRIBUTOS IMANENTES (MORAIS) DE DEUS
Olhamos, primeiramente, para alguns dos atributos transcendentes, isto é,
aqueles que pertencem, exclusivamente, a Deus, por isso, também são chamados de
incomunicáveis. Agora, veremos alguns dos atributos considerados imanentes, aqueles
que o Criador compartilha com as Suas criaturas, por isso, são chamados, também,
de comunicáveis. “Se os atributos incomunicáveis salientam o absoluto Ser de Deus,
os demais acentuam a Sua natureza. Nos atributos comunicáveis, Deus se posiciona
como Ser moral, consciente, inteligente e livre, como Ser pessoal, no mais alto sentido
da palavra” (INTERSABERES, 2014, p. 126). “O ser total de Deus inclui todos os Seus
atributos: Ele é totalmente amor, totalmente misericordioso, totalmente justo, e assim por
diante. Cada atributo de Deus que encontramos na Escritura é verdadeiro em relação
a todo o Ser de Deus [...]” (GRUDEM, 1999, p. 85).

Não serão abordados exaustivamente, mas apresentados aqueles que,


comumente, são mencionados dentro de Teologia Sistemática.

3.1 SANTIDADE
“E clamavam uns aos outros, dizendo: Santo, Santo, Santo é o Senhor dos
Exércitos; toda a terra está cheia da Sua glória” (Isaías 6:3). Esse era o clamor dos anjos
(Serafins) na descrição da visão do profeta Isaías, referente à presença e à majestade
de Deus. A santidade de Deus permeia todos os seus demais atributos, ou seja, coexiste
com todos eles, assim como os demais. Isto aponta para a perfeição de Deus em tudo
que ele é. Eis a razão do clamor dos anjos ante a presença do Senhor na visão do profeta.

Para Thiessen (1987, p. 81) “com santidade de Deus queremos dizer que Ele é
absolutamente separado de todas as suas criaturas e exaltado sobre elas, e que Ele é
igualmente separado da iniquidade moral e do pecado”. A santidade de Deus se destaca
quando se refere aos atributos morais de Deus.

Nas Escrituras Sagradas, especialmente, no Antigo Testamento, existe uma


quantidade vasta de versículos que destacam esse atributo, por exemplo: Levíticos
11:44,45; Josué 24:19; Salmos 22:3; 99:9; Isaías 6:3; Ezequiel 39:7; e Hebreus 1:12.
Segundo Bancroft (1992), Isaías se refere a Jeová, como “o Santo”, por cerca de trinta
vezes. De certa forma, isso registra a ênfase que o profeta Isaías estabelece nos seus
escritos em relação a Deus. Chafer (2003, p. 226) afirma:

A santidade de Deus é ativa. Como um motivo principal, ela incita


tudo o que Deus faz, portanto, Ele é justo nos Seus caminhos. Embora
infinitamente santo, não obstante, Ele mantém um relacionamento
com as criaturas caídas; não uma indiferença imóvel para com eles,
mas uma proximidade vital e palpitante. A santidade Dele não é
uma santidade gerada por um esforço mantido ou preservada pela
separação de outros seres. A santidade de Deus é intrínseca, incriada

30
e imaculada; ela é observável em toda atitude e ação divinas. Ela
abrange não somente a Sua devoção ao que é bom, mas é, também,
a verdadeira base e força do Seu ódio por aquilo que é mau. Assim,
há, na santidade divina, a capacidade de reação em relação a outros,
que é tanto positiva quanto negativa (CHAFER, 2003, p. 226).

Martins (2015) destaca que a santidade se refere à perfeição moral da dignidade


de Deus, e, dessa forma, é o arquétipo ético para o ser humano na prática da moralidade,
e um desígnio de Deus para as pessoas, especialmente, para aqueles que são chamados
de Seu povo. Assim, a santidade de Deus proporciona o padrão a ser imitado pelo ser
humano, e é exatamente isso que o apóstolo Pedro menciona na sua primeira carta:
“sejam santos, porque eu, o Senhor, o Deus de vocês, sou santo” (1 Pe. 1.16).

3.2 RETIDÃO E JUSTIÇA


O escritor de Deuteronômio (Moisés) menciona: “É Deus fiel, que não comete
erros; justo e reto Ele é” (Dt. 32.4). Conforme Grudem (1999), na língua portuguesa,
os dois termos, retidão e justiça, possuem sentidos diferentes. No entanto, no Antigo
e no Novo Testamento, há somente uma palavra que é utilizada para eles em cada
Testamento. Eis a razão pela qual que, quando mencionados como atributos divinos,
aparecem, normalmente, juntos.

“A santidade, entretanto, tem a ver, mais particularmente, com o caráter de


Deus, enquanto na retidão e na justiça, esse caráter é expresso nas relações entre Deus
e os homens” (BANCROFT, 1992, p. 69). Thiessen salienta que, “por retidão e justiça de
Deus, queremos indicar aquela fase da santidade de Deus que é vista no tratamento da
criatura” (THIESSEN, 1987, p. 82).

“A retidão divina significa que Deus sempre age, de acordo com o que é certo, e
Ele é o próprio padrão final do que é certo” (GRUDEM, 1999, p. 92). “A retidão de Deus é a
imposição de leis e exigências retas; podemos chamá-la de santidade legislativa. Nesse
atributo, vemos se revelando o empenho de Deus pela santidade, que sempre o impele
a fazer e a exigir o que é reto” (THIESSEN, 1987, p. 69). “Como resultado da retidão de
Deus, é necessário que Ele trate as pessoas de acordo com o que elas merecem. Assim,
é necessário que Deus puna o pecado, porque o pecado não merece recompensa, é
errado e merece punição” (GRUDEM, 1999, p. 92). Assim, pode-se dizer que a justiça é a
execução da retidão.

“A justiça de Deus é a execução das penalidades impostas pelas Suas leis; essa
pode ser chamada de santidade judicial. Nesse atributo, vemos revelado o ódio contra o
pecado, uma indignação tal que, livre de toda paixão ou capricho, sempre O impele a ser
justo e a exigir o que é justo” (BANCROFT, 1992, p. 69).

31
A justiça divina é demonstrada no fato de que as leis justas são dadas
aos homens, que essas leis são sustentadas por sanções próprias, e
que, a essas leis, é dada uma execução imparcial. Nenhum favoritismo
é jamais tolerado, embora o favor infinito seja estendido àqueles que
andam debaixo de provisões justas para a salvação, tornada possível
através do sacrifício de Cristo pelo pecado. Deve ser observado que,
em ponto algum, a justiça divina é mais observável do que no plano
da redenção.
O que é feito, pelo lado divino, pelos homens perdidos através do
sacrifício de Cristo, é operado em justiça perfeita – justiça essa, na
verdade, que é consoante com a santidade infinita. A justiça exige
que a penalidade, após cair sobre um outro, e que o benefício, após
ter sido recebido como a base da esperança pelo ofensor, não cairão,
novamente, sobre o transgressor (CHAFER, 2003, p. 228).

3.3 AMOR
O apóstolo Paulo apresenta Deus como o “Deus de amor” (2 Co. 13.11), e, de
certa forma, o apóstolo João ratifica esse pensamento, dizendo “Deus é amor” (1 Jo.
4.8). Há três versículos, nas Escrituras, que usam a expressão “Deus é”: “Deus é Espírito”
(Jo. 4.24); “Deus é luz” (Jo. 1.5); e “Deus é amor” (1 Jo. 4.8). Isso quer dizer que o amor
faz parte da própria natureza de Deus.

O amor está presente na própria Trindade, por meio do relacionamento entre


Pai, Filho e Espírito Santo. “Se Deus é amor eterno, esse amor há de ter um objeto
eterno. Portanto, deve haver, devido a uma necessidade no próprio Ser divino, uma
multiplicidade de pessoas na divindade” (TORREY apud BANCROFT, 1992, p. 73).

Com amor de Deus, queremos indicar aquela perfeição da natureza


divina pela qual Ele é continuamente impelido a se comunicar. É,
entretanto, não apenas um impulso emocional, mas uma afeição
racional e voluntária, sendo fundamentada na verdade e na santidade
e no exercício da livre escolha (THIESSEN, 1987, p. 82).

“Toda a vida de Deus é um fluxo desse amor, que se caracteriza pela autodoação
divina” (ROBERTSON apud BANCROFT, 1992, p. 73).

Deus manifestou (provou) o Seu amor ao ser humano enviando o Seu próprio
filho para lhe prover salvação, “mas Deus prova Seu próprio amor para conosco pelo
fato de ter Cristo morrido por nós, sendo nós, ainda, pecadores” (Romanos 5;8). Aqueles
que são alvos da afeição de Deus são chamados de “amados”. A comparação a seguir
é pertinente: "Todo o amor de todos os corações femininos, comparado com o amor do
coração de Deus, é como a tocha do vagalume perto do sol ao meio-dia" (MERREY apud
BANCROFT, 1992, p. 73).

32
As Escrituras descrevem que o amor é tão abrangente que alcança o mundo, o
povo de Israel, os filhos, a retidão, o juízo. “Mais especificamente, com respeito ao amor:
Deus não obteve o amor, nem Ele, por qualquer esforço, mantém o amor; o amor é a
estrutura do seu Ser. Deus é a fonte inesgotável do amor” (CHAFER, 2003, p. 229).

O amor se manifesta por meio de outros atributos como bondade, benevolência,


misericórdia e graça. “A bondade infinita de Deus é uma perfeição do seu Ser que
caracteriza a Sua natureza e é, em si mesma, a fonte, de tudo no Universo, que é bom”
(CHAFER, 2003, p. 230).

“A benevolência de Deus é manifestada no Seu cuidado com o bem-estar da


criatura, e é moldada as Suas necessidades e capacidades” (THIESSEN, 1987, p. 83).
A graça de Deus é a expressão da Sua bondade, manifestada para com pessoas que
não a merecem. “A graça diz respeito ao pecador como culpado, enquanto a misericórdia
diz respeito a ele como miserável” (THIESSEN, 1987, p. 83). Os termos amor, misericórdia
e graça estão intimamente ligados e constantemente aparecem entrelaçados quando
relacionados a Deus, por exemplo, na carta aos Efésios, Capítulo 2, versos 4 e 5: “mas
Deus, sendo rico em misericórdia, pelo Seu muito amor com o qual nos amou, estando
nós, ainda, mortos nos nossos delitos, vivificou-nos com Cristo (pela graça sois salvos)”.

3.4 SABEDORIA
Este atributo comunicável, a sabedoria de Deus, aparece nas Escrituras, em
muitos momentos. Desde a criação, passando pela providência de Deus, e chegando à
redenção, encontramos a sabedoria de Deus sendo percebida e executada.

Segundo Berkhof (1990, p. 53), a sabedoria é “a perfeição de Deus pela qual Ele
aplica o Seu conhecimento à consecução dos Seus fins de um modo que O glorifica o
máximo”. Prossegue:

Pode-se considerar a sabedoria de Deus como um aspecto do


Seu conhecimento [...]. A sabedoria de Deus é a Sua inteligência
manifestada na adaptação de meios e fins. Ela indica o fato de que
Ele sempre busca os melhores fins possíveis, e escolhe os melhores
meios para a consecução dos Seus propósitos (BERKHOF, 1990, p. 53).

33
3.5 VERDADE
“Que é a verdade?” (João 18:38), foi a pergunta de Pilatos. Essa é uma pergunta
que ecoa no passado e perpassa o presente. Em tempos modernos e pós-modernos,
opta-se por “verdades”. Entretanto, quando se olha para as Escrituras e para as palavras
de Jesus, a resposta é dada. A natureza e a Escritura Sagrada nos ensinam que Deus é
verdadeiro. Jesus, em um momento bem anterior à pergunta feita por Pilatos, já havia
dado a resposta quando disse: “Eu sou o caminho, a verdade, e a vida” (João 14:6, grifo
nosso). Nota-se que Jesus não disse “uma verdade”, mas “a verdade”. O uso do artigo
definido deixa isso muito claro. Jesus foi além, quando apresentou aquilo que a verdade
faz – ela liberta – “e conhecereis a verdade e a verdade vos libertará” (João 8.32).

A verdade é mais um dos atributos comunicáveis de Deus. “Podemos definir a


veracidade, ou a verdade de Deus, como a perfeição de Deus em virtude da qual Ele
responde plenamente à ideia da divindade, é perfeitamente confiável na revelação,
e vê as coisas como realmente são” (BERKHOF, 1990, p. 54). “Com a verdade de
Deus, queremos dizer que conhecimento, declarações e representações de Deus se
conformam eternamente com a realidade. A verdade é não apenas a fundação de toda
a religião, mas, também, de todo conhecimento” (THIESSEN, 1987, p. 84).

A Bíblia é muito enfática nas suas referências a Deus como verdade, Êx 34.6;
Nm 23.19; Dt 32.4; Sl 25.10; 31.6; Is 65.16; Jr 10.8, 10, 11; Jo 14.6; 17.3; Tt 1.2; Hb 6.18; 1
Jo 5.20,21. A Escritura utiliza várias palavras para expressar a veracidade de Deus: no
Velho testamento, ‘emeth, ‘amunah, e ‘amen; no Novo Testamento, alethes (aletheia),
alethinos, e pistis. Isso já indica o fato de que são inclusas diversas ideias, como verdade,
fidedignidade e fidelidade (BERKHOF, 1990).

Quando Deus exerce a Sua verdade para com a Sua criação, ela é chamada de
veracidade e fidelidade. A Sua veracidade está relacionada com a Sua revelação de Si
próprio, na natureza, nas Escrituras. A Sua fidelidade está relacionada ao cumprimento
das Suas promessas.

4 OS NOMES DE DEUS
Moisés, ao escrever o livro de Êxodo, no Capítulo 20:7, refere-se ao nome de Deus
da seguinte forma: “Quão magnífico, em toda terra, é o Teu nome!” Segundo Berkhof
(1990, p. 37), “os nomes de Deus constituem uma dificuldade para o intelecto humano.
Deus é O Incompreensível, infinitamente exaltado acima de tudo o que é temporal, mas,
nos Seus nomes, Ele desce a tudo que é finito, e se assemelha ao homem”.

Chafer (2003, p. 53) cita que “os muitos nomes de Deus, nas Escrituras,
apresentam uma revelação adicional do Seu caráter. Não são meros títulos dados
pelas pessoas, mas, na sua maioria, descrições que Ele fez de Si mesmo. Assim,

34
revelam aspectos do Seu caráter”. “Os nomes que são atribuídos a Deus, nas Escrituras,
subentendem relações e ações pessoais, e estas, por sua vez, indicam personalidade”
(BANCROFT, 1992, p. 35).

“As Escrituras revelam vários nomes para Deus, pois nem um só nome nem
uma multiplicidade de nomes podem revelar todos os Seus atributos” (INTERSABERES,
2014, p. 110). Por todas essas coisas, conhecer os nomes de Deus é se aprofundar no
conhecimento de Deus, e faremos isso olhando para os nomes de Deus no Antigo
Testamento, depois, no Novo Testamento.

4.1 OS NOMES DE DEUS NO ANTIGO TESTAMENTO


Em primeiro lugar, conheceremos os nomes atribuídos a Deus no Antigo
Testamento. Sabemos que o Antigo Testamento foi escrito, na sua grande maioria,
em hebraico, e algumas partes em Aramaico. Assim, esses nomes que aparecem no
contexto do Antigo Testamento aparecem, geralmente, na língua hebraica.

4.1.1 Elohim
Este nome tem, como significado, “Deus Criador”, “Forte”, “Poderoso”. Elohim é
um substantivo plural, em hebraico, é chamado de “Plural de Majestade. “O plural Elohim
é usado, regularmente, pelos escritores do Velho Testamento, com verbos e adjetivos no
singular para dar a ideia de singular” (THIESSEN, 1987, p. 25). “O nome ‘Elohim’ (Eloah) deriva,
provavelmente, da mesma raiz ou de ‘alahh’, estar ferido pelo temor, portanto, mostra
Deus como o Ser forte e poderoso, ou como objeto de temor” (BERKHOF, 1990, p. 38).

“Elohim era Deus como Criador de todas as cousas, enquanto que “Jeová” era o
mesmo Deus em relação de aliança com aqueles que, por Ele, foram criados” (BANCROFT,
1992, p. 32). Esse nome “[...] aparece 2.555 vezes no Antigo Testamento hebraico, e,
somente, em 245 vezes, não se refere ao Deus verdadeiro – Deus de Israel. Aparece,
relacionando-se a divindades pagãs individuais, apenas, 22 vezes” (INTERSABERES,
2014, p. 111).

4.1.2 Jeová
É o nome pessoal por excelência do Deus de Israel. É conhecido como o
Tetragrama hebraico (por ter quatro consoantes na língua hebraica – YHVH), cujo
significado preciso é obscuro. Traduzido, normalmente, por Senhor, às vezes, Jeová.
Usado cerca de 5.522 vezes no Antigo Testamento. É considerado o nome particular e
distintivo de Deus. “Jeová, pois, significa o Único Ser eterno e imutável, que era, que é
e que há de vir. É o Deus de Israel e o Deus daqueles que são remidos, pelo que, agora,
“em Cristo, podemos dizer ‘Jeová é o nosso Deus’” (BANCROFT, 1992, p. 32).

35
Não sabemos, realmente, como os judeus pronunciavam o nome,
pois ele se tornou impronunciável pelos hebreus desde o período
intertestamentário. Em vista de os Mandamentos proibirem que se
tomassem o nome do Senhor (Yhvh) em vão, os judeus temiam e
temem pronunciar o nome de Deus, substituindo-o, na leitura,
pela palavra Adonai, ou seja, O Nome, Há’Shem, em hebraico
(INTERSABERES, 2014, p. 115).

FIGURA 4 – TETRAGRAMA EM HEBRAICO

FONTE: <https://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/thumb/a/a8/YHWH.svg/330px-YHWH.svg.png>.
Acesso em: 15 abr. 2020.

O nome de “Jeová”, quando combinado com outras palavras, forma os chamados


“títulos jeovísticos”. Observe esses nomes compostos, a tradução e a passagem bíblica
que aparece.

QUADRO 1 – NOMES COMPOSTOS - TÍTULOS JEOVÍSTICOS

NOME SIGNIFICADO PASSAGEM BÍBLICA


Jeová Jiré O Senhor Proverá Gênesis 22:14
Jeová Nissi O Senhor é nossa Bandeira Êxodo 17:8-15
Jeová Shalom O Senhor é Paz Juízes 6:24
Jeová Sabbaoth O Senhor dos Exércitos 1 Samuel 1:3
Jeová M’kadesch O Senhor que santifica Levíticos 20:7,8
Jeová Raah O Senhor é o meu Pastor Salmos 23:1
Jeová Rofe ou Rapha O Senhor é quem te sara/cura/restaura Êxodo 15:26
Jeová Tsidekenu O Senhor é nossa Justiça Jeremias 23:6
Jeová Shammah O Senhor está presente Ezequiel 48:35
Jeová Elohim Israel O Senhor Deus de Israel Juízes 5:3
Jeová El Gmolah O Senhor Deus da recompensa Jeremias 51:56

FONTE: O autor

36
4.1.3 El
O significado de El é “O Poderoso, Deus, deus”. “Um dos termos bíblicos mais
amplamente usados para a Divindade nos tempos antigos é El. Com os derivados Elim,
Elohim e Eloah [...], expressa majestade e autoridade, apesar de o significado da raiz El
estar perdido na obscuridade” (THIESSEN, 1987, p. 25). De acordo com Berkhof (1990,
p. 38), “o nome mais simples pelo qual Deus é designado, no Velho Testamento, é ‘El,
possivelmente, derivado de ‘ul’, quer no sentido de Ser primeiro, Ser Senhor, quer no de
ser forte e poderoso”.

“Esse nome se encontra no singular, ocorre cerca de 250 vezes na Bíblia e


parece significar ‘aquele que vai adiante ou que começa as coisas’ [...]. El é o nome mais
usado na Bíblia para mencionar as divindades pagãs, mas aparece, também, em relação
ao Deus de Israel” (INTERSABERES, 2014, p. 112). Esse nome também surge, de forma
composta, nas Escrituras. Na sequência, atente-se a esses nomes compostos.

QUADRO 2 – NOMES COMPOSTOS FORMADOS POR “EL”

NOME SIGNIFICADO PASSAGEM BÍBLICA


El Elyon Deus Altíssimo Isaías 14:13,14
El Roí Deus Forte que vê Gênesis 16:13
El-Shaddai O Deus Todo-Poderoso Gênesis 17:1-20
El Olam O Eterno Deus Isaías 40:28
El Berit Deus que faz aliança ou pacto Gênesis 35:1-3
El Ne’eman Deus de graça e misericórdia Deuteronômio 7:9

FONTE: O autor

4.1.4 Adonai
A palavra Adonai vem de Adon, “Senhor”, “Mestre”. Apresenta Deus como Aquele
que tem tudo sob controle.

Esse nome se relaciona com os anteriores, quanto ao seu significado.


É derivado de dun (din), ou de ‘adan’, ambos os quais significam julgar,
governar e, assim, revelam Deus como Governante todo-poderoso,
a quem tudo está sujeito e com quem o homem se relaciona
como servo. Nos primeiros tempos, era o nome com o qual Israel,
normalmente, dirigia-se a Deus. Com o tempo, foi suplantado pelo
nome Jeová (Yahweh) (BERKHOF, 1990, p. 38).

“Adonai, quer dizer, “meu Senhor”, é um título que aparece, frequentemente, nos
profetas, expressando dependência e submissão, como as de um servo para com o seu
senhor [...]” (THIESSEN, 1987, p. 25). Esse nome era, frequentemente, usado por Deus,
quando se dirigia aos filhos de Israel.

37
4.2 OS NOMES DE DEUS NO NOVO TESTAMENTO
Assim como no Antigo Testamento, no Novo Testamento, encontramos, também,
alguns nomes que são usados em relação a Deus. Entretanto, é necessário se lembrar
de que o Novo Testamento foi escrito em Grego – Koiné. Dessa forma, os nomes que,
agora, aparecem, foram escritos na língua grega, diferentemente do Antigo Testamento.

Os nomes que mais aparecem no Novo Testamento são os que seguem.

4.2.1 Deus – θεός


No Antigo Testamento, para se referir a Deus, os nomes usados eram Elohim,
Jeová, El e Adonai. No Novo Testamento, é Deus – θεός (Theos), na língua grega. “O Novo
testamento tem equivalentes gregos dos nomes do Velho Testamento. Para ‘El ‘Elohim
e ‘Elyon, temos Theos, que é, dos nomes aplicados a Deus, o mais comum” (BERKHOF,
1990, p. 39).

O nome é usado para as três pessoas da Trindade – Pai, Filho e Espírito Santo –,
mas, especialmente, para o Deus Pai. “Dos nomes aplicados a Deus, Theos é o mais
comum. Theos e Elohim podem significar ‘Deus’ ou ‘deuses’. Às vezes, Theos é empregado
com referência a deuses pagãos, embora estritamente expresse divindade essencial”
(INTERSABERES, 2014, p. 118). Um exemplo do uso no Novo Testamento: “No princípio, era o
verbo, e o verbo estava com Deus – θεός –, e o verbo era Deus – θεός.” (Jo 1.1).

4.2.2 Senhor – κύριος


De acordo com Taylor (1986), κύριος (kyrios) quer dizer “Senhor, Mestre, Dono,
alguém que tem pleno controle sobre alguma coisa”. A palavra era usada como uma
forma respeitosa de tratamento, como uma designação do imperador romano, e, no
Novo Testamento, aparece como uso em relação a Deus e a Jesus Cristo (Mateus 5:33;
20:31).

Todavia, o Novo Testamento segue a Septuaginta, que substitui por ‘Adonai,


e o traduz por Kyrios, derivado de kyros, poder. Esse nome não tem, exatamente, a
mesma conotação de Yahweh, mas cita Deus como o Poderoso, Senhor, o Possuidor,
o Governador, que tem poder e autoridade legal. É empregado não somente com
referência a Deus, mas, também, a Cristo (BERKHOF, 1990, p. 39).

Κύριος traz a ideia que equivale, de certa forma, a Adonai, e, com isso, a ideia
da soberania de Deus, do Senhorio sobre a criação, e Mestre. Algo importante de ser
notado, nesse nome, é que Deus o Pai e Deus o Filho são chamados de κύριος (Ver
Apocalipse 11:15 e Filipenses 2:11).

38
4.2.3 Pai – πατήρ
No Antigo Testamento, esse termo (pater) foi utilizado para se referir ao
relacionamento de Deus com o povo Israel, que era visto como filho de Deus. “Muitas
vezes, diz-se que o Novo Testamento introduziu um novo nome de Deus, a saber, Pater
(Pai). [...] É utilizado, repetidamente, no Velho Testamento, para designar a relação de
Deus com Israel, enquanto Israel é chamado de filho de Deus” (BERKHOF, 1990, p. 39).

O nome expressa um relacionamento de intimidade de Deus com o povo, de


Quem é filho, filho de Deus. No Novo Testamento, esse termo foi utilizado pelo Senhor
Jesus Cristo, ao ensinar, aos Seus discípulos, a oração que se tornou conhecida como
“a oração do Pai Nosso” (Mateus 6.19). Ao ensinar, Jesus se refere a Deus como “Pai”.
Nesse caso, o termo expressa o tipo de relacionamento que se pode ter com o Criador.
“Em todos os outros lugares, serve para expressar a relação especial da primeira Pessoa
da Trindade com Cristo, com o Filho de Deus, seja no sentido metafísico, seja no sentido
mediatório, ou na relação ética de Deus com todos os crentes, como os Seus filhos
espirituais” (BERKHOF, 1990, p. 40).

39
RESUMO DO TÓPICO 2
Neste tópico, você adquiriu certos aprendizados, como:

• Atributo é aquilo que é próprio, característico de algo ou de alguém; particularidade.

• Strong et al. (2003, p. 244) definiram os atributos de Deus como “aquelas características
que distinguem a natureza divina, inseparáveis da ideia de Deus, e que constituem a
base e a razão das diferentes manifestações das criaturas”.

• Aquilo que denominamos de atributos “transcendentes e imanentes”, pode ser


conhecido por outros termos: atributos “incomunicáveis e comunicáveis”; atributos
“naturais e morais”; atributos “imanentes ou intransitivos e emanentes e transitivos”;
atributos “passivos e ativos”; atributos “absolutos e relativos”; e atributos “negativos
e positivos”.

• Alguns dos atributos transcendentes (naturais) de Deus são: eternidade, imutabilidade,


onisciência, onipresença e onipotência.

• Alguns dos atributos imanentes (morais) de Deus são: santidade, justiça, retidão,
amor, sabedoria e verdade.

• A santidade de Deus permeia todos os demais atributos, ou seja, coexiste com todos
eles. Isso aponta para a perfeição de Deus em tudo que Ele é.

• O nome de Deus “Elohim” tem, como significado, “Deus Criador”, “Forte”, “Poderoso”.
Elohim é um substantivo plural, em hebraico, é chamado de “Plural de Majestade”.

• É o nome pessoal por excelência do Deus de Israel. É conhecido como o Tetragrama


hebraico (por ter quatro consoantes na língua hebraica – YHVH), cujo significado
preciso é obscuro. Traduzido, normalmente, por Senhor, às vezes, Jeová. Usado cerca
de 5.522 vezes no Antigo Testamento.

• No Antigo Testamento, para se referir a Deus, os nomes usados eram Elohim, Jeová,
El e Adonai. No Novo Testamento, Deus – θεός (Theos), na língua grega.

• De acordo com Taylor (1983), κύριος (kyrios) quer dizer “Senhor, Mestre, Dono, alguém
que tem pleno controle sobre alguma coisa”. Esse nome é usado para se referir a
Deus no Novo Testamento.

40
AUTOATIVIDADE
1 No estudo do Novo Testamento, encontramos, pelo menos, três nomes pelos quais
Deus é apresentado. Qual das alternativas a seguir apresenta esses nomes? Assinale
a alternativa CORRETA:

a) ( ) Deus, Senhor e Pai.


b) ( ) Jeová, Pai e El.
c) ( ) Deus, Jesus e Espírito Santo.
d) ( ) El, Jeová e Elohim.

2 Conforme se observou, há vários nomes pelos quais Deus é apresentado nas


Escrituras Sagradas. Um deles é Jeová. Esse nome se apresenta em vários momentos,
nas Escrituras, de forma composta. Acerca dos nomes e dos significados, associe os
itens, utilizando o código a seguir:

I- Jeová Tsidekenu.
II- Jeová Shalom.
III- Jeová Raah.
IV- Jeová M’kadesch.

( ) O Senhor é paz.
( ) O Senhor é o meu Pastor.
( ) O Senhor é nossa Justiça.
( ) O Senhor que santifica.

Assinale a alternativa que apresenta a sequência CORRETA:


a) ( ) II – III – I – IV.
b) ( ) IV – II – III– I.
c) ( ) I – IV – III – II.
d) ( ) III – II – I – IV.

3 Nos primeiros séculos da era cristã, os alvos foram definir e compreender,


profundamente, o que eram os atributos da divindade. Passando por Tertuliano,
Agostinho, Orígenes, e chegando aos concílios (como o de Niceia – 325 d.C.), o
enfoque era no entendimento dos atributos e em como eles estavam relacionados
à triunidade de Deus. Com relação aos atributos de Deus, classifique V para as
sentenças verdadeiras e F para as sentenças falsas:

41
( ) A santidade tem a ver, mais particularmente, com o caráter de Deus, enquanto, na
retidão e na justiça, esse caráter é expresso nas relações entre Deus e homens.
( ) A imutabilidade de Deus não quer dizer inatividade ou imobilidade, nem falta de
sentimento, ou, ainda, que Deus não seja capaz de fazer escolhas livres e de realizar
planos e propósitos.
( ) A omnes scientia eternidade de Deus aponta para o fato de que “Deus não teve
princípio, nem terá fim. Ele conhece os acontecimentos na sucessão do tempo, mas
não está limitado, de nenhum modo, pelo tempo”.
( ) O termo “onipotência”, etimologicamente, vem de duas palavras latinas “omnes”,
cujo sentido é “tudo”, e “scientia”, que significa “conhecimento”.

Assinale a alternativa que apresenta a sequência CORRETA:


a) ( ) F – V – V – V.
b) ( ) V – V – F – V.
c) ( ) V – F – V – V.
d) ( ) V – V – V – F.

42
UNIDADE 1 TÓPICO 3 —
UNIDADE E TRINDADE DIVINAS
E OS DECRETOS DE DEUS

1 INTRODUÇÃO
Avançamos, agora, um pouco mais na nossa caminhada na Teologia. Depois de
passarmos pela autoexistência de Deus, e observarmos os atributos e os nomes, neste
tópico, abordaremos dois assuntos: A Unidade e Trindade divina e os decretos de Deus.

Em primeiro lugar, será vista a temática da Unidade de Deus. Depois, será


trabalhado com o assunto da Trindade. Os dois assuntos, normalmente, caminham juntos,
pois se entrelaçam, coexistem e, por isso, falar da Unidade e da Trindade, ao mesmo
tempo, faz-se necessário e pertinente. Com relação à Trindade, serão destacadas: 1.
A personalidade de Deus; 2. A Trindade no Antigo Testamento; e 3. A Trindade no Novo
Testamento.

Na sequência, o assunto a ser abordado será os decretos de Deus. Com relação


a esse assunto, a ênfase será a de apresentar algumas características dos decretos,
além de conhecer alguns deles, como a criação de Deus, a providência de Deus e a
redenção.

A junção dos dois temas, Unidade e Trindade divina e os decretos de Deus, pode
ser compreendida, conforme Lima (2009, p. 35), e podem convergir, pois:

É o Deus único, formando, porém, uma Trindade na unidade e uma


unidade na Trindade (Triúno). Cada uma das três Pessoas (Pai, Filho
e Espírito Santo) tem as Suas atividades, visando à realização dos
decretos divinos e à concretização do Plano de Salvação, em Cristo
Jesus.

2 A UNIDADE E TRINDADE DIVINA


Primeiramente, concentrar-nos-emos na Unidade divina. Depois, o foco será
dado ao aspecto trinitário da divindade.

43
2.1 A UNIDADE DE DEUS
Há, em Deus, apenas uma essência indivisível (ousia, essentia). “Os termos
“essência” e “substância” são praticamente sinônimos, quando usados a respeito de
Deus” (THIESSEN, 1987, p. 74).

“A proposição concernente à unidade de Deus se baseia em passagens, como


Dt 6.4; Tg 2.19, acerca da existência autônoma e da imutabilidade de Deus, e no fato de
que Ele é identificado com as Suas perfeições, como quando é chamado de vida, luz,
verdade, justiça [...]” (BERKHOF, 1990, p. 66).

Quando nos referimos à unidade de Deus, o que se quer dizer é que há um só


Deus e que a natureza divina é uma unidade indivisível. O Antigo e o Novo Testamentos
mostram o fato de haver um só Deus, e que Ele é único. O texto bíblico (já citado) de
Deuteronômio 6:4 menciona o seguinte: “ouve, Israel, o Senhor nosso Deus é o único
Senhor”.

A unicidade de Deus não impede nem exclui qualquer multiplicidade ou Trindade.


Assim como os organismos biológicos podem ser “um” e, ao mesmo tempo, consistir
em partes interligadas e mútuas, uma unidade não é o mesmo que uma única coisa
isoladamente. Dessa forma, a Unidade de Deus não é inconsistente com o conceito de
Trindade. “A importância teológica da palavra unidade, quando aplicada a Deus, é que
Deus é uma essência. O trinitarianismo não é triteísmo” (CHAFER, 2003, p. 239).

No estudo da Trindade, quando nos referimos à Unidade, estamos falando de


uma unidade de essência e ser, e não que Ele possua uma única personalidade.

Quando falamos da simplicidade de Deus, empregamos o termo


para descrever o estado ou a qualidade que consiste em ser simples,
a condição de estar livre de divisão em partes e, portanto, de
composição. Quer dizer que Deus não é composto e não é suscetível
de divisão em nenhum sentido da palavra (BERKHOF, 1990, p. 49).

“Existe somente um Ser Divino, que, pela natureza do caso, só pode existir
apenas um, e que todos os outros seres têm existência dEle, por meio dEle e para Ele”
(BERKHOF, 1990, p. 48).

“A Unidade de Deus tem a ver com o Seu modo de existência [...]. O lugar lógico
para a Sua plena consideração é sob o assunto da Trindade” (CHAFER, 2003, p. 239).

A verdade revelada a respeito do Ser divino pode ser classificada


naquilo que é abstrato, ou no que está dentro Dele próprio – Sua
Pessoa, Seus atributos, Seus decretos e Seus nomes –; e o que é
concreto, ou seja, manifestações de Si próprio em três pessoas. Os
aspectos abstratos da verdade relativa a Deus estão baseados no fato
de que Deus é uma Unidade ou Essência. Os aspectos concretos da

44
verdade relativa a Deus estão baseados no fato de que Deus subsiste
em uma Trindade de pessoas, cujo corpo de verdades é chamado de
trinitarianismo (CHAFER, 2003, p. 207).

3 A TRINDADE DIVINA
Para muitos, a doutrina da Trindade é um mistério, pois, como podem ser
três pessoas e um só Deus. Entretanto, nas palavras de Flint, “é verdadeiramente um
mistério, no entanto, é um mistério que explica muitos outros mistérios, e que esclarece,
maravilhosamente, Deus, a natureza e o homem” (FLINT, 1899, p. 439 apud THIESSEN,
1987, p. 87).

Apesar de o texto bíblico (Bíblia) não apresentar, literalmente, o termo “Trindade”,


está presente implícito em diversas passagens das Escrituras. “Essa palavra deriva de
dois vocábulos latinos: ‘tres’ e ‘unitas’, isto é, ‘três’ e ‘unidade’, o que afirma a doutrina
de três em um, ou seja, a Trindade” (BANCROFT, 1992, p. 40). A doutrina da Trindade
tem sido evidenciada na história, além do texto escriturístico, por meio dos credos e
dos hinos (Credo dos Apóstolos, o Gloria Patri, a Doxologia etc.). Ainda que o texto da
Escritura não apresente o termo “Trindade”, há uma variedade enorme de textos bíblicos
que apresentam esse fato, por exemplo, Gênesis 1:1,2,26; 1 Coríntios 12:4-6; Mateus
3:16,16; 2 Coríntios 13:13; Mateus 28:19; 1 João 5.7.

A forma grega da palavra (Trias) foi usada, primeiramente, por Teófilo de


Antioquia (181 d.C.). No século III (220 d.C.), foi Tertuliano quem usou o termo “Trindade”,
na forma latina (Trinitas), em defesa apologética contra Práxeas.

NOTA
O Credo Atanasiano salientou que “adoramos um só Deus em
Trindade e uma Trindade em Unidade, sem confundir as pessoas,
sem separar a substância”.

45
FIGURA 5 – A TRINDADE

FONTE: <https://bit.ly/3yPEHJG>. Acesso em: 11 abr. 2020.

O Concílio de Niceia (381 d.C.) foi preponderante para que uma definição a
respeito do termo Trindade fosse esclarecida e estabelecida no decorrer da história da
Igreja. A respeito da Trindade, o Concílio afirma:

Cremos em um Deus Pai onipotente, criador de todas a coisas visíveis


e invisíveis; em um só Senhor Jesus Cristo, o Filho de Deus, gerado
de Seu Pai, unigênito, isto é, da substância do Pai, Deus de Deus,
luz de luz, Deus verdadeiro do verdadeiro Deus, gerado, não feito,
consubstancial [homoousios] com o Pai, por Quem todas as coisas
vieram a existir, tanto no céu como na terra, que, por nós homens
e pela nossa salvação, desceu e encarnou, tornou-se humano,
padeceu, e, ao terceiro dia, ressuscitou e subiu ao céu e virá para
julgar vivos e mortos; e no Espírito Santo (A HISTORY OF CHRISTIAN
THOUGHT, p. 267 apud OLSON, 2001, p. 159).

O Credo Atanasiano salientou que “adoramos um só Deus em Trindade e uma


Trindade em Unidade, sem confundir as pessoas, sem separar a substância”. Dessa
forma, como observa bem o teólogo Santo Agostinho, “o Pai não é a Trindade, nem
o Filho é a Trindade, nem o Espírito é a Trindade, mas, quando se fala de cada um,
individualmente, então, não se fala dEle como três, no plural, mas de um, a Trindade em
si mesma” (AGOSTINHO apud CHAFER, 2003, p. 302).

“A Trindade, portanto, são três pessoas eternamente interconstituídas, inter-


relacionadas, interexistentes e, por conseguinte, inseparáveis dentro de Um único Ser e
de uma única substância ou essência” (CHAMPION apud BANCROFT, 1992, p. 40). “Por

46
Triunidade de Deus se entende que Ele é um só em Seu ser e substância, dotado de três
distinções pessoais, que nos são reveladas como Pai, Filho e Espírito Santo” (BANCROFT,
1992, p. 43). “[...] Os três são iguais. Isso, no entanto, não exclui a organização pela qual
o Pai é o primeiro, o Filho é o segundo e o Espírito é o terceiro. Essa não é uma diferença
de glória, poder, ou extensão da existência, mas, simplesmente, de ordem” (THIESSEN,
1987, p. 95). “A existência tripessoal é uma necessidade do Ser Divino, e, em nenhum
sentido, gera uma escolha feita por Deus. Ele não poderia existir em nenhuma outra
forma que não a forma tripessoal” (BERKHOF, 1990, p. 64).

Muitos equívocos e erros vieram à luz, no decorrer da história, acerca do tema.


Muitos embates e debates surgiram. Concílios foram levantados para se discutir a
questão. Destacaremos, na sequência, alguns erros que vieram à tona na história da
Trindade:

• Sabelianismo: afirma que há apenas manifestações ou aspectos de uma só pessoa.


• Triteísmo: afirma que há três deuses, ou seja, as pessoas da trindade são consideradas
três, como se fossem três seres endeusados, mas apenas um trio.
• Swedenborgianismo: afirma que as três pessoas da Trindade são elementos
essenciais de um Deus.

Strong et al. (2003) elaboraram um acróstico da Trindade, em que usaram o


termo TRIÚNO como base, o qual nos ajuda a fixar a compreensão do termo:

• Três são reconhecidos como Deus.


• Reputados por pessoas distintas.
• Imanentes e ternas, não meramente econômicas ou temporais.
• Unidas na essência.
• Nada além de igualdade.
• Outras doutrinas descerram, mas permanece inescrutável.

3.1 A PERSONALIDADE DE DEUS E A TRINDADE


“Em vista do fato de que há três pessoas em Deus, dizer que Deus é pessoal é
melhor do que falar dEle como uma pessoa” (BERKHOF, 1990, p. 65). “Isso gera, dentre
outras coisas, que as três pessoas da Divindade não são outras tantas partes das quais
se compõe a essência divina, que não há distinção entre a essência e as perfeições de
Deus, e que os atributos não são adicionados a uma essência” (BERKHOF, 1990, p. 49).

O que é personalidade? “Pode-se definir personalidade como a existência


dotada de autoconsciência e de poder de autodeterminação” (BANCROFT, 1992, p. 31).
“Os elementos que combinam para formar a personalidade são intelecto, sensibilidade e
vontade, mas todos esses agem juntos, a fim de exigir uma liberdade da ação externa e

47
da escolha dos fins para os quais a ação for direcionada” (CHAFER, 2003, p. 211). Alguns
chamam esses mesmos termos de intelecto – poder de pensar; sensibilidade – poder
de sentir; volição – poder da vontade.

“O termo personalidade, aplicado a Deus, não deve ser entendido ou tomado no


sentido filosófico estrito, no qual seres totalmente distintos são indicados [...]. A Trindade
é composta de três pessoas unidas sem existência separada, tão completamente unidas
que formam Um só Deus” (CHAFER, 2003, p. 295).

NOTA
“Os elementos que combinam para formar a personalidade são
intelecto, sensibilidade e vontade, mas todos esses agem juntos, a
fim de exigir uma liberdade da ação externa e da escolha dos fins
para os quais a ação for direcionada” (CHAFER, 2003, p. 211).

3.2 A TRINDADE NO ANTIGO TESTAMENTO


O Velho Testamento não contém plena revelação (como no Novo Testamento) da
existência trinitária de Deus, mas contém várias indicações dela. Quando analisamos o
Antigo Testamento em busca das informações da Trindade, deparamo-nos com muitas
delas, por exemplo: no Antigo Testamento, há uma distinção muito clara, em várias
passagens bíblicas, entre Jeová e o Anjo de Jeová (Anjo do Senhor); o nome Emanuel
tem, como significado, “Deus conosco”. Entretanto, para facilitar a nossa inquietação,
observaremos algumas das indicações da Trindade no Antigo Testamento, apresentadas
por Berkhof (1990):

1- O uso do plural “Elohim”, com o verbo singular “bara”, é digno de nota e de se ressaltar.
Também, o uso do plural “nós”, Gênesis 1:26; 3:22; 11:7, parece indicar uma conversa
entre as pessoas da Trindade. É mais plausível entender que as passagens em que
Deus fala de Si mesmo no plural contêm uma indicação de distinções pessoais
em Deus, conquanto não surge, abertamente, uma triplicidade, mas apenas uma
pluralidade de pessoas.
2- As referências ao “Anjo do Senhor” em diversos momentos das Escrituras (Gênesis
18:2,17; Josué 5:13-15 etc.). Há essas passagens que se referem ao Anjo de Jeová
que, por um lado, é identificado como Jeová, e, por outro, distingue-se dele.
3- Existe o uso da expressão “Espírito do Senhor” (Isaías 40:13; 48:16).
4- Ocorre a personificação da sabedoria (Provérbios 8).
5- Em alguns casos, menciona-se mais de uma pessoa, Salmos 33:6; 45:6,7. Em outros,
quem fala é Deus, que menciona o Messias e o Espírito, ou quem fala é o Messias, que
menciona Deus e o Espírito, Isaías 48:16.

48
3.3 A TRINDADE NO NOVO TESTAMENTO
O Novo Testamento traz uma revelação mais clara das distinções das pessoas da
divindade. Inicialmente, podemos mencionar duas passagens que são bem conhecidas.
“No batismo do Filho, o Pai fala, ouvindo-se, do céu, a Sua voz, e o Espírito Santo desce
na forma de pomba, Mt 3.16, 17. Na grande comissão, Jesus menciona as três pessoas,
‘batizando-os em nome do Pai e do Filho e do Espírito Santo’, Mt 28:19” (BERKHOF, 1990,
p. 66).

De acordo com Chafer (2003), quatro linhas gerais apontam para a Trindade no
Novo Testamento:

1- A Trindade e os nomes de Deus: O nome de Deus é empregado a cada uma das três
pessoas – Pai, Filho e Espírito Santo (João 1:1; Mateus 28:19; Romanos 9:5; Atos 5:3-9).
2- Trindade e os atributos de Deus: Os atributos da divindade são atribuídos a cada uma
das pessoas (João 1:2; Hebreus 9:14; Romanos 15:19; 2 Coríntios 13:13; 1 Coríntios 2:11).
3- A Trindade e as obras de Deus: Toda obra de Deus não é operada por uma pessoa
da Trindade, mas as principais obras de Deus são atribuídas a cada uma das três
pessoas – criação do universo, criação do homem, encarnação, vida e mistério de
Cristo, ressurreição de Cristo, inspiração das Escrituras etc. – (Colossenses 1:16;
Romanos 8:32; João 10:18; Atos 2.24; 2 Timóteo 3.16; 2 Pedro 1:21).
3- A Trindade e a adoração a Deus: Todas as inteligências criadas devem prestar
adoração a Deus, e essa adoração abrange a Divindade triúna (Apocalipse 4:8; João
16:23,24; Efésios 4:8.

Na sequência, apresentaremos parte do Credo Atanasiano, que abordará, de


maneira muito clara, a questão da Trindade.

Adoramos um Deus em Trindade, e Trindade em Unidade. Não


confundimos as pessoas nem separamos a substância, pois a pessoa
do Pai é uma, a do Filho, outra, e, a do Espírito Santo, outra, mas,
no Pai, no Filho e no Espírito Santo, há uma divindade, glória igual
e majestade coeterna. Tal qual é o Pai, os mesmos são o Filho e o
Espírito Santo. O Pai é incriado, o Filho é incriado, o Espírito Santo é
incriado. O Pai é imensurável, o Filho é imensurável, o Espírito Santo
é imensurável. O Pai é eterno, o Filho é eterno, o Espírito Santo é
eterno. Não obstante, não há três eternos, mas um eterno. Da mesma
forma, não há três seres incriados, nem três imensuráveis, mas um
incriado e um imensurável. Da mesma maneira, o Pai é onipotente.
No entanto, não há três onipotentes, mas um onipotente. Assim,
o Pai é Deus, o Filho é Deus, o Espírito Santo é Deus. No entanto,
não há três deuses, mas um Deus. Assim, o Pai é Senhor, o Filho é
Senhor, o Espírito Santo é Senhor. Todavia, não três Senhores, mas
um Senhor. Assim como a veracidade cristã nos obriga a confessar,
cada pessoa, individualmente, com Deus e Senhor, assim, também
ficamos privados de dizer que existam três deuses e senhores. O
Pai não foi feito de coisa alguma, nem criado, nem gerado. O Filho
procede do Pai somente, não foi feito, nem criado, mas gerado. O
Espírito Santo procede do Pai e do Filho, não foi feito, nem criado,

49
nem gerado, mas procedente. Há, portanto, um Pai, não três Pais; um
Filho, não três Filhos; um Espírito Santo, não três Espíritos Santos.
Nessa Trindade, não existe primeiro nem último, maior ou menor, mas
as três Pessoas coeternas são iguais entre Si mesmas, de sorte que,
por meio de Todas, como foi dito, a Unidade na Trindade e a Trindade
na Unidade devem ser adoradas (CREDO ATANASIANO apud OLSON,
2004, p. 191).

4 OS DECRETOS DE DEUS
De maneira sucinta e objetiva, podemos dizer que os decretos de Deus se referem
ao eterno propósito dEste. Esse propósito se origina na liberdade e foi estabelecido pela
sabedoria e pelo desígnio na eternidade passada, por isso, são inalterados. A finalidade
dos decretos é a glória de Deus.

O breve catecismo de Westminster resume os decretos assim: “o Seu eterno


propósito, segundo o conselho da Sua vontade, pelo qual, para a Sua própria glória, Ele
predestinou tudo o que acontece” (BREVE CATECISMO DE WESTMINSTER apud BERKHOF,
1990, p. 77). A base bíblica é o texto de Efésios 3:11, “segundo o eterno propósito que
estabeleceu em Cristo Jesus nosso Senhor”.

Estamos usando a expressão no plural “decretos”, e assim o faremos, porém,


cabe, aqui, a seguinte ressalva: o termo “decreto de Deus” aparece, primeiramente,
no singular, visto que Deus tem apenas um plano abrangente. Ele vê todas as coisas
de uma vez. Por uma questão de compreensão, os aspectos separados desse plano
podem ser chamados de “decretos de Deus”. “Apesar de, muitas vezes, falarmos dos
decretos de Deus no plural, na sua própria natureza, o decreto é somente um único ato
de Deus [...]. Não existe, pois, uma série de decretos de Deus, mas somente um plano
compreensivo, que abrange tudo o que se passa” (BERKHOF, 1990, p. 77). Portanto,
nesse plano e propósito eterno, Deus tem estabelecido os Seus decretos. Thiessen
(1987, p. 96) contribui com a definição dos decretos de Deus, ao afirmar que “[...] são
o Seu eterno propósito (em um sentido real, todas as coisas estão contidas em um
propósito) ou propósitos, baseados no seu mui sábio e santo desígnio, pelo qual Ele livre
e imutavelmente, para a Sua própria glória, ordenou, eficaz ou permissivamente, tudo o
que acontece”.

NOTA
O termo “decreto de Deus” aparece, primeiramente, no singular, visto
que Deus tem apenas um plano abrangente. Ele vê todas as coisas de
uma vez. Por uma questão de compreensão, os aspectos separados
desse plano podem ser chamados de “decretos de Deus”.

50
4.1 CARACTERÍSTICAS DOS DECRETOS DE DEUS
Os decretos de Deus apresentam determinadas características. De acordo com
Berkhof (1990), algumas são:

1- Fundamentados na sabedoria divina.


Deus compôs os Seus planos e determinações com sabedoria, discernimento e
conhecimento (Efésios 3.10,11).

2- Eternos.
São eternos no sentido de que estão internamente na eternidade. Entretanto, alguns
deles terminam no tempo, como a criação e a justificação (nesses casos, temporais) –
Atos 15:18; Efésios 1:4; 2 Timóteo 1:9.

3- Eficazes.
Isso não significa que Deus determinou fazer que acontecessem, por uma direta
aplicação do Seu poder, todas as coisas incluídas no Seu decreto, mas somente
aquilo que Ele decretou certamente sucedera, que nada pode frustrar o Seu propósito
(Provérbios 19:21; Isaías 46:10).

4- Imutáveis.
Deus não tem deficiência em conhecimento, veracidade e poder. Portanto, não tem
necessidade de mudar o Seu decreto, devido a algum engano ou à ignorância, nem
por falta de capacidade de executá-lo. E não o mudará, porque Ele é o Deus imutável
e porque é fiel e verdadeiro (Jó 23:13,14; Salmos 33:11; Isaías 46:10; Lucas 22:22).

5- Absolutos (incondicionais).
Quer dizer que o decreto não depende, em nenhuma das particularidades, de nada
que não esteja nele (Atos 2:23; Efésios 2:8; 1 Pedro 1:2).

6- Universais ou totalmente abrangentes.


Os decretos incluem tudo o que se passa no mundo, quer na esfera do físico ou do
moral, quer seja bom ou mau.

7- Com relação ao pecado, permissivos.


Esses decretos permissivos não geram uma permissão passiva de algo que não está
sob o controle da vontade divina. São decretos que garantem, com absoluta certeza,
a realização do ato pecaminoso futuro, em que Deus determina: (a) não impedir a
autodeterminação pecaminosa da vontade finita; e (b) regular e controlar o resultado
dessa autodeterminação pecaminosa (Salmos 78:29; 106:15; Atos 14:16; 17:30).

51
4.2 CONHECENDO OS DECRETOS DE DEUS
“O conselho de Deus é plano eterno para a totalidade das coisas, adotado pelo
desígnio de Deus e que abrange todos os Seus primitivos propósitos, inclusive, todo o
Seu programa criador e remidor e levando em conta ou aproveitando a livre atuação dos
homens” (BANCROFT, 1992, p. 81).

Observaremos, na sequência, três desses decretos (há outros). Faz-se, aqui,


mais uma ressalva: alguns autores fazem distinção, nesse ponto, acerca da obra de
Deus e dos Seus decretos. Optamos por classificar a criação como pertencente aos
decretos de Deus.

4.2.1 A Criação de Deus


“Deus criou o universo inteiro do nada; ele era, originalmente, muito bom, e o
criou para glorificar a Si próprio” (GRUDEM, 1999, p. 132). A expressão latina ex nihilo, “do
nada”, comumente usada, quer dizer que, antes de Deus começar a criar o universo,
nada mais existia, exceto o próprio Deus.

A frase creatio prima seu immediata denota aquela forma da


criação que trouxe todos os elementos necessários à existência. A
frase creatio secunda seu mediata denota um ato subsequente de
Deus pelo qual Ele trouxe ordem e forma ao caos que se seguiu à
criação original. Essa é a ordem dos eventos, como apresentada nos
versículos iniciais da Bíblia (CHAFER, 2003, p. 273).

Há mais de 50 passagens bíblicas que falam, especificamente, do ator criador


de Deus. Isso atesta o fato de que as Escrituras apresentam e autenticam Deus como
o criador de todas as coisas. A título de exemplo, citaremos três: “Porque, nEle, foram
criadas todas as coisas que há nos céus e na terra, visíveis e invisíveis, sejam tronos,
sejam dominações, sejam principados, sejam potestades. Tudo foi criado por Ele e para
Ele” (Colossenses 1:16, grifo nosso). “Porque dEle e por Ele, e, para Ele, são todas as
coisas; glória, pois, a Ele eternamente. Amém” (Romanos 11:36). “Pela fé, entendemos
que os mundos pela palavra de Deus foram criados, de maneira que aquilo que se vê não
foi feito do que é aparente” (Hebreus 11:3). A Bíblia também destaca a obra da criação
por parte de cada uma das pessoas da Trindade – Pai, Filho e Espírito Santo.

A criação é distinta de Deus, todavia, é totalmente obra de Deus e dependente


Dele. Ela não abrange apenas a esfera do visível, mas, também, a do invisível. Assim,
conforme as Escrituras Sagradas apresentam, tudo foi criado por Deus: Anjos
(Colossenses 1.16); os céus e a terra – e tudo o que neles contém (Gênesis 1 e 2); e o ser
humano (Gênesis 1.26,17; 2.7).

52
4.2.2 A providência de Deus
Depois de criar todas as coisas, Deus não se ausentou da Sua criação. Pelo
contrário, Ele cuida, supervisiona, exerce o Seu controle soberano sobre tudo e todas
as coisas. Isso é chamado de “providência de Deus”. O autor da carta aos Hebreus,
no Capítulo 1:3, destaca essa ação de Deus, na pessoa de Jesus Cristo (O Filho), “o
qual, sendo o resplendor da Sua glória, e a expressando como imagem da Sua pessoa,
sustenta todas as coisas pela palavra do Seu poder”.

“Etimologicamente, a palavra “providência” significa prever [...], mas, em


teologia, a palavra recebeu um significado mais especializado” (THIESSEN, 1987, p.
119). Prossegue, dizendo que, “nesse campo, previdência significa a atividade contínua
de Deus pela qual Ele faz com que todos os acontecimentos dos fenômenos físicos,
mentais e morais cumpram os propósitos” (THIESSEN, 1987, p. 119). “Deus é revelado
na providência como Aquele soberano que, após ter revelado Seus propósitos eternos,
molda todos os eventos, sejam eles morais ou físicos” (CHAFER, 2003, p. 275).

Segundo Chafer (2003), há uma divisão quádrupla na doutrina da providência:

a) Preventiva.
b) Permissiva.
c) Diretiva.
d) Determinativa.

“A providência de Deus assim combina com a liberdade humana que, embora


os caminhos de Deus sejam certos, não é fatalismo em sentido algum. Igualmente, a
providência de Deus é o oposto do acaso. O cuidado divino inclui o menor detalhe da
vida, assim como os aspectos maiores” (CHAFER, 2003, p. 276).

Há um desígnio na providência. Deus escolheu o Seu grande fim, a manifestação


da Sua própria glória, mas, a fim de atingir esse fim, Ele determinou outros inumeráveis
e subordinados fins; eles estão fixamente determinados; destinou todas as ações e os
eventos nas Suas diversas relações como meios para aqueles fins [...] (HODGE apud
CHAFER, 2003, p. 275).

4.2.3 A redenção
A redenção de Deus envolve o plano de enviar o Seu Filho ao mundo para morrer
pelos pecadores (Isaías 53), conceder-lhes o perdão dos pecados (1 Coríntios 15:1-3), a
libertação dos pecados (João 8:32,36), uma nova vida em Jesus Cristo (2 Coríntios 5:14),
e o dom da vida eterna (João 10:28).

53
Por ‘propósito de Deus na redenção’, referimo-nos àquela divina
determinação que, desde a eternidade, selecionou certos indivíduos
dentre a raça pecaminosa de homens, aos quais seria proporcionada
a graça especial do Seu Santo Espírito, o qual os levaria, eficazmente,
ao arrependimento e à fé em Cristo (BANCROFT, 1992, p. 85).

Nesse sentido, a redenção envolve dois tipos de chamadas:

1- Chamada (convite) geral.

A chamada geral é dirigida a todas as pessoas. É baseada na ênfase da


mensagem de Jesus Cristo: “E disse-lhes: Ide por todo o mundo e pregai o evangelho a
toda a criatura” (Mateus 16:15). Portanto, a mensagem do evangelho (boas novas) deve
ser levada a todas as pessoas.

O convite geral é dirigido aos não eleitos e aos eleitos, porque é, também, deve
interesse daqueles que aceitarem o Evangelho, visto que as providências da salvação
são igualmente adequadas para ambos, além de ser abundantemente suficiente para
todos, e, também, porque Deus pretende que os Seus benefícios revertam, efetivamente,
a quantos aceitarem o convite (HODGE apud BANCROFT, 1992, p. 87).

2- Chamada (convite) eficaz.

De acordo com a explanação e a explicação de Jesus na parábola do semeador


(Mateus 13:3-23), a semente é a Palavra, a terra é o coração das pessoas, o semeador
é aquele que lança a semente na terra, e o campo é o mundo. Muitas sementes são
lançadas, caem na terra (vários tipos de terreno: pedregoso, cheio de espinhos, à
beira do caminho, terreno bom), porém, somente aquelas que caem em “boa terra” é
que nascem, crescem e frutificam. O chamado eficaz na redenção se refere a essas
sementes, que caíram em boa terra e frutificaram, ou seja, pessoas que ouvem a Palavra
de Deus, a compreendem e creem na mensagem salvadora de Jesus Cristo. Bancroft
(1987, p. 87) salienta que, “por convite ou chamada eficaz, entende-se aquele exercício
imediato, espiritual e sobrenatural, do poder divino sobre a alma, que transmite nova
vida espiritual e nova natureza, assim, possibilitando e tornando desejável o novo modo
de atividade espiritual”.

54
LEITURA
COMPLEMENTAR
LUGAR DA DOUTRINA DE DEUS NA DOGMÁTICA

Louis Berkhof

As obras de dogmática ou de teologia sistemática, geralmente, começam com


a Doutrina de Deus. A opinião prevalecente tem reconhecido sempre esse procedimento
mais lógico, e, ainda, continua apontando na mesma direção. Muitos casos, mesmo
aqueles cujos princípios fundamentais pareceriam exigir outro arranjo, continuam na
prática tradicional. Há boas razões para começar com a Doutrina de Deus se partirmos
da admissão que a Teologia é o conhecimento sistematizado de Deus de quem, por
meio de quem, e para quem são todas as coisas. Em vez de nos surpreender de que a
dogmática comece com a Doutrina de Deus, poderíamos esperar que seja um estudo
de Deus, com todas as ramificações, do começo ao fim. Como uma questão de fato, é
isso, exatamente, o que se pretende que seja, embora somente o primeiro locus, ou
capítulo teológico, trate diretamente de Deus, enquanto as partes subsequentes tratam
dEle de maneira mais indireta. Iniciamos o estudo de teologia com duas pressuposições,
a saber:

1) Que Deus existe;


2) Que Ele se revelou na Sua Palavra divina.

Por essa razão, não nos é impossível começar com o estudo de Deus. Podemos
nos dirigir a Sua revelação para aprender o que Ele revelou a respeito de Si mesmo e
a respeito da Sua relação com as Suas criaturas. Têm-se feito tentativas, no curso do
tempo, para distribuir o material da dogmática, de tal modo que seja posto, claramente,
que ela é, não apenas em um locus, mas na sua totalidade, um estudo de Deus. Isso foi
feito pela aplicação do método trinitário, que expõe o assunto da dogmática sob os três
títulos:

(1) O Pai;
(2) O Filho;
(3) O Espírito Santo.

Esse método foi aplicado em algumas das primeiras obras sistemáticas; foi
restaurado, ao favor geral, por Hegel; e se pode ver, ainda, a Dogmática Cristã, de
Martensen. Uma tentativa semelhante foi feita por Breckenridge, quando dividiu o
assunto da dogmática em (1) O Conhecimento de Deus Objetivamente Considerado; e
(2) O Conhecimento de Deus Subjetivamente Considerado. Nem um nem outro pode ser
considerado como tendo tido sucesso.

55
Até o começo do século XIX, era quase geral a prática de começar o estudo
da dogmática com a doutrina de Deus, mas ocorreu uma mudança sob a influência
de Schleiermacher, que procurou salvaguardar o caráter científico da teologia com a
introdução de um novo método. A consciência religiosa do homem substituiu a palavra
de Deus, como a fonte da teologia. A fé, na Escritura, como autorizada revelação de
Deus, foi desacreditada, e a compreensão humana, baseada na apreensão emocional
ou racional do homem, veio a ser o padrão do pensamento religioso. A religião,
gradativamente, tomou o lugar de Deus como objeto da teologia. O homem deixou de
ser ou de reconhecer o conhecimento de Deus como algo que lhe foi dado na Escritura,
e começou a se orgulhar de ter Deus como objeto de pesquisa. No curso do tempo,
tornou-se comum falar do descobrimento de Deus feito pelo homem, como se o
homem, alguma vez, o tivesse descoberto. Toda descoberta feita, nesse processo, foi
dignificada com o nome de “revelação”. Deus vinha no fim de um silogismo, como o
último elo de uma corrente de raciocínio, ou como a cumeeira de uma estrutura de
pensamento humano. Sob tais circunstâncias, era natural que alguns considerassem
incoerência começar a dogmática pelo estudo de Deus. Antes, é surpreendente que
tantos, a despeito do Seu subjetivismo, tenham continuado a seguir a ordem tradicional.

Alguns perceberam a incongruência e partiram por outro caminho. A obra


dogmática de Schleiermacher se dedica ao estudo e à análise do sentimento religioso e
das doutrinas nele envolvidas. Ele não trata da doutrina de Deus de maneira conexa, mas
apenas com fragmentos, e conclui a obra com uma discussão a respeito da Trindade. O
ponto de partida é antropológico, e não teológico. Alguns teólogos intermediários foram
tão influenciados por Schleiermacher que, logicamente, começaram os tratados de
dogmática com o estudo do homem. Mesmo nos dias presentes, essa ordem é seguida
ocasionalmente. Acha-se um notável exemplo disso na obra de Curtis, em The Christian
Faith. Esta começa com a doutrina do homem e conclui com a doutrina de Deus. Poderia
parecer que a teologia da escola de Ritschl requeresse, ainda, outro ponto de partida,
desde que encontrasse a revelação objetiva de Deus, não a Bíblia, como na palavra
divinamente inspirada, mas em Cristo, como fundador do Reino de Deus, considerando
as ideias do Reino como o conceito central e absolutamente dominante da teologia.
Contudo, dogmáticos da Escola de Ritschl, como Herrmann, Haering e Kaftan, seguem,
pelo menos, formalmente, a ordem usual. Ao mesmo tempo, há vários teólogos que, nas
suas obras, começam a discussão da dogmática, propriamente dita, com a doutrina de
Cristo ou da Sua obra redentora. T. B. Strong distingue teologia e teologia cristã. Define,
esta última, como “a expressão e a análise da encarnação de Jesus Cristo”, e faz, da
encarnação, o conceito dominante em todo o seu Manual of Theology.

FONTE: https://docplayer.com.br/15383153-Teologia-sistematica.html. Acesso em: 11 abr. 2020.

56
RESUMO DO TÓPICO 3
Neste tópico, você adquiriu certos aprendizados, como:

• “A Trindade, portanto, são três pessoas eternamente interconstituídas, inter-


relacionadas, interexistentes e, por conseguinte, inseparáveis dentro de Um único Ser
e de uma única substância ou essência” (CHAMPION apud BANCROFT, 1992, p. 40).

• O Concílio de Niceia (381 d.C.) foi preponderante para que uma definição a respeito do
termo Trindade fosse esclarecida e estabelecida no decorrer da história.

• O Credo Atanasiano salientou que “adoramos um só Deus em Trindade e uma Trindade


em Unidade, sem confundir as pessoas, sem separar a substância”.

• No estudo da Trindade, quando nos referimos à Unidade de Deus, estamos falando de


unidade de essência e ser, e não que Ele possua uma única personalidade.

• A forma grega da palavra Trindade (Trias) foi , primeiramente, por Teófilo de Antioquia
(181 d.C.). No século III (220 d.C.), Tertuliano usou o termo Trindade, na sua forma
latina (Trinitas), na defesa apologética contra Práxeas.

• A Trindade pode ser observada no Antigo Testamento, e, de maneira mais acentuada,


no Novo Testamento.

• Os decretos de Deus se referem ao eterno propósito de Deus. Esse propósito se


origina na liberdade e foi estabelecido pela sabedoria e pelo desígnio na eternidade
passada, por isso, são inalterados. A finalidade dos decretos é a glória de Deus.

• Há algumas características dos decretos de Deus: são eternos, são eficazes, são
fundamentos da sabedoria de Deus, são imutáveis, são absolutos, são universais, e,
em relação ao pecado, são permissivos.

• Surgem três decretos de Deus: a criação de Deus, a providência de Deus e a redenção.

57
AUTOATIVIDADE
1 Os decretos de Deus apresentam determinadas características. A respeito dessas
características, assinale a alternativa CORRETA, ou seja, aquela que apresenta alguns
desses decretos:

a) ( ) São eternos, são eficazes, são fundamentos da sabedoria de Deus, são imutáveis
b) ( ) São absolutos, são universais, e, em relação ao pecado, são permissivos, são
mutáveis.
c) ( ) São temporários, são eficazes, são fundamentos da sabedoria de Deus, são
imutáveis.
d) ( ) São absolutos, são universais, são totalmente permissivos, são mutáveis.

2 De acordo com Chafer (2003), quatro linhas gerais apontam para a Trindade no Novo
Testamento. A respeito dessas linhas, classifique V para as sentenças verdadeiras e F
para as sentenças falsas:

( ) A Trindade e os nomes de Deus. O nome de Deus é empregado a cada uma das três
pessoas – Pai, Filho e Espírito Santo.
( ) A Trindade e a Liturgia. Em todos os ritos, é imprescindível que se mencione o nome
de cada uma das pessoas da Trindade, se não, a liturgia não está completa.
( ) A Trindade e os atributos de Deus. Os atributos da divindade são atribuídos a cada
uma das pessoas.
( ) A Trindade e as obras de Deus. Toda obra de Deus não é operada por uma pessoa
da Trindade, mas as principais obras de Deus são atribuídas a cada uma das três
pessoas.

Assinale a alternativa que apresenta a sequência CORRETA:


a) ( ) F – V – F – V.
b) ( ) V – V – V – F.
c) ( ) V – V – F – V.
d) ( ) V – V – F – F.

3 “Cremos em um Deus Pai onipotente, criador de todas as coisas visíveis e invisíveis;


em um só Senhor Jesus Cristo, o Filho de Deus, gerado do seu Pai, unigênito, isto é,
da substância do Pai, Deus de Deus, luz de luz, Deus verdadeiro do verdadeiro Deus,
gerado, não feito, consubstancial [homoousios] com o Pai [...]” (OLSON, 2004, p. 191).
Acerca do exposto, que trata a respeito da Trindade, leia e analise as sentenças a
seguir:

58
I- Conforme o Credo Atanasiano, “adoramos um só Deus em Trindade e uma Trindade
em Unidade, sem confundir as pessoas, sem separar a substância”.
II- O Concílio de Niceia (381 d.C.) foi preponderante para que uma definição a respeito
do termo Trindade fosse esclarecida e estabelecida no decorrer da história.
III- A Trindade, portanto, são três pessoas eternamente interconstituídas, inter-
relacionadas, interexistentes e, por conseguinte, inseparáveis dentro de Um único
Ser e de uma única substância ou essência.
IV- A Trindade não pode ser observada no Antigo Testamento, só conseguimos
vislumbrá-la no Novo Testamento.

Assinale a alternativa CORRETA:


a) ( ) As alternativas I e IV estão corretas.
b) ( ) As alternativas I, II, III estão corretas.
c) ( ) As alternativas II e IV estão corretas.
d) ( ) As alternativas I, II, III e IV estão corretas.

4 “O conselho de Deus é plano eterno para a totalidade das coisas, adotado pelo
desígnio de Deus e que abrange todos os Seus primitivos propósitos, inclusive, todo o
Seu programa criador e remidor e levando em conta ou aproveitando a livre atuação
dos homens”. Em nossos estudos, olhamos para alguns dos decretos de Deus. Quais
foram eles?

FONTE: BANCROFT, E. H. Teologia Elementar – Doutrinária e conservadora. São Paulo: Imprensa Batista
Regular, 1992. p. 871.

a) ( ) A criação de Deus; a onipotência de Deus; e a predestinação.


b) ( ) A criação de Deus; a providência de Deus; e a predestinação.
c) ( ) A criação de Deus; a suficiência de Deus e a eleição.
d) ( ) A criação de Deus; a providência de Deus; e a regeneração.

59
60
REFERÊNCIAS
A BÍBLIA SAGRADA. Tradução de João Ferreira de Almeida. São Paulo: Editora
Hagnos, 2002.

BANCROFT, E. H. Teologia elementar – Doutrinária e conservadora. São Paulo:


Imprensa Batista Regular, 1992.

BERKHOF, L. Teologia sistemática. São Paulo: Editora Cultura Cristã, 1990.

CHAFER, L. S. Teologia sistemática – Volumes um e dois. São Paulo: Editora


Hagnos, 2003.

GINGRICH, F. W. Léxico no Novo Testamento grego/português. São Paulo:


Sociedade Religiosa Edições Vida Nova, 1983.

GONÇALVES, C. O conhecimento de Deus e de nós mesmos. In: CALVINO, J. Institutas


da Religião Cristã. 2014. Disponível em: http://www.cincosolas.com.br/2014/05/o-
conhecimento-de-deus-e-de-nos-mesmos.html. Acesso em: 11 abr. 2021.

GRUDEM, W. Manual de teologia sistemática. São Paulo: Editora Vida, 1999.

HOUAISS, A. Dicionário Houaiss da língua portuguesa. Rio de Janeiro: Objetiva,


2009.

INTERSABERES. Teologia sistemática [livro eletrônico]. Curitiba: Editora Intersaberes,


2014.

LIMA, J. Teologia sistemática I: Deus, soteriologia, pneumatologia. Indaial:


UNIASSELVI, 2009.

MARTINS, J. G. Teologia sistemática: estudos iniciais [livro eletrônico]. Curitiba:


Editora Intersaberes, 2015.

OLSON, R. História das controvérsias na teologia cristã. São Paulo: Vida, 2004.

OLSON, R. História da teologia cristã. São Paulo: Editora Vida, 2001.

RIENECKER, F.; ROGERS, C. Chave linguística do Novo Testamento grego. São


Paulo: Edições Vida Nova, 1985.

RYRIE, C. Teologia básica. São Paulo: Mundo Cristão, 2003.

61
SAYÃO, L. A. T. Novo Testamento trilíngue. São Paulo: Vida Nova, 1998.

STRONG, A. et al. SPI: The spectrometer aboard integral. Special Letters Issue On:
First Science With Integral, v. 411, n. 1 p. 63-71, 2003.

TAYLOR, W. C. Dicionário do Novo Testamento grego. 8. ed. Rio de Janeiro: Juerp,


1986.

THIESSEN, H. C. Palestras introdutórias à teologia sistemática. São Paulo:


Imprensa Batista Regular, 1987.

WESTMINSTER. Confissão de Fé. De Deus e da Santíssima Trindade. [Capítulo 2], seção


I. In: Símbolos de fé. São Paulo: Cultura Cristã, 2005.

ZUCK, B. R. A interpretação bíblica – Meios de descobrir a verdade da Bíblia. São


Paulo: Sociedade Religiosa Edições Vida Nova, 1991.

62
UNIDADE 2 —

DOUTRINA DA SALVAÇÃO –
SOTERIOLOGIA

OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM
A partir do estudo desta unidade, você deverá ser capaz de:

• conhecer a respeito da Soteriologia;

• compreender a necessidade da salvação;

• verificar a provisão de Deus para a salvação;

• entender alguns dos termos teológicos específicos acerca da salvação;

• aprofundar-se em alguns dos termos teológicos a respeito da salvação.

PLANO DE ESTUDOS
Esta unidade está dividida em três tópicos. No decorrer dela, você encontrará
autoatividades com o objetivo de reforçar o conteúdo apresentado.

TÓPICO 1 – A NECESSIDADE E A PROVISÃO PARA A SALVAÇÃO

TÓPICO 2 – OS TERMOS TEOLÓGICOS DA SALVAÇÃO (PARTE 1)

TÓPICO 3 – OS TERMOS TEOLÓGICOS DA SALVAÇÃO (PARTE 2)

CHAMADA
Preparado para ampliar seus conhecimentos? Respire e vamos em frente! Procure
um ambiente que facilite a concentração, assim absorverá melhor as informações.

63
CONFIRA
A TRILHA DA
UNIDADE 2!

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64
UNIDADE 2 TÓPICO 1 —
A NECESSIDADE E A PROVISÃO
PARA A SALVAÇÃO

1 INTRODUÇÃO
O estudo a respeito da salvação é muito amplo e abrange uma variedade
muito grande de temas. Por isso, faz-se necessário delimitar alguns aspectos no nosso
material, tendo em vista a questão de espaço e buscando fornecer a você, acadêmico,
um conhecimento que lhe proporcione aqueles conceitos elementares para grandes
aprofundamentos do assunto, ou seja, não exaurimos, aqui, tudo que envolve o conceito,
mas optamos por fornecer elementos que contribuam para os seus estudos, de forma
geral.

A palavra salvação (σωτηρία) provém de duas palavras da língua grega,


salvação e logos (σωτηρία + λόγος), e significa libertação e preservação, sendo derivada
de salvador (σωτήρ). Conforme Millard (1992, p. 370), “salvação é a aplicação da obra
de Cristo na vida do indivíduo. Por conseguinte, a doutrina da salvação é de especial
interesse, relevância, uma vez que pertence às necessidades mais cruciais da pessoa
humana”. Várias concepções de salvação foram desenvolvidas durante a história
da teologia, enfatizando diversos aspectos da salvação. Algumas delas são muito
proeminentes, por exemplo: a Teologia da libertação enfatiza uma nova ordem social
e econômica; a Teologia existencial menciona uma mudança na perspectiva de vida
do indivíduo; a Teologia secular acredita que a salvação vem quando as pessoas se
separam da religião para resolver os próprios problemas; a Teologia católica (Catolicismo
Romano) contemporâneo desenvolve uma visão muito mais larga de salvação do que a
visão tradicional; e a Teologia evangélica, a respeito da salvação, é uma mudança total
em um indivíduo, que se inicia na regeneração, progride para a santificação e culmina
na glorificação.

Nosso propósito é caminhar na direção que aponta para a salvação no aspecto


baseado das Escrituras Sagradas, que perdura desde os primeiros séculos da igreja (ainda
que sofrendo alterações no decorrer da história), que trata da transformação na vida da
pessoa desde a conversão até a glorificação. Assim, inicialmente, apresentaremos, no
primeiro tópico, a necessidade da salvação e a provisão para a salvação vinda da parte
de Deus. Nos dois tópicos subsequentes, aprofundar-nos-emos em alguns termos
teológicos específicos relacionados à salvação.

Por que o ser humano precisa de salvação? O que foi que aconteceu que gerou
essa necessidade de salvação? É o que veremos na sequência. Em seguida, olharemos,
então, o plano eterno de Deus e a provisão que Ele providenciou para trazer salvação à
humanidade.

65
2 A NECESSIDADE DA SALVAÇÃO
Por que o ser humano precisa de salvação? Essa é a indagação inicial que
podemos fazer ao pensar no assunto de Soteriologia. Para responder a essa pergunta,
temos que retornar ao início, à criação. As Escrituras Sagradas narram, em Gênesis, a
criação e a queda de Adão e Eva (Gn. 1-3), e, consequentemente, da raça humana. Deus
criara o ser humano e mantinha perfeita comunhão com ele, entretanto, depois que Eva
ouviu a voz da serpente (diabo) e comeu do fruto do conhecimento do bem e do mal,
e deu ao seu marido, e este também comeu, ambos desobedeceram à voz do Criador.
Com a desobediência do homem, o pecado entrou na raça humana. Houve, então, a
queda do ser humano, ou seja, ele pecou, e, com o pecado, veio a separação de Deus, e,
consequentemente a entrada da morte na raça humana. Dois aspectos fundamentais
que mostram a necessidade de salvação do ser humano são: a queda e o resultados
advindos dela.

2.1 A QUEDA DO SER HUMANO


A queda é um fato teológico central da Bíblia, ao lado, por exemplo, da
redenção. Nesse caso, uma justifica a outra. A queda estabelece a condição espiritual
do ser humano, que norteia todos os relacionamentos do homem, constatada pelos r
esultados. No aspecto teológico, a queda determinou a culpa judicial da humanidade, o
rompimento da comunhão entre Deus e o homem, a deturpação da “imagem de Deus”,
na qual o homem fora criado, além da necessidade de redenção.

Quanto tempo Adão e Eva permaneceram no estado de inocência, isto é, sem


pecado, não é possível precisar. Pode ter sido por um longo período ou por poucos meses.
A única coisa que fica claro é que eles poderiam ter obedecido e não caído na armadilha
do pecado, pois a Bíblia diz que Deus, todas as tardes, estava com eles, e, assim, tinham
plena comunhão com o Criador, vivendo em obediência por um determinado período.
Isso mostra que poderiam ter vivido dessa forma, mas escolheram a desobediência. Ao
pecarem, caíram do estado de inocência que foram criados. Observe a narrativa bíblica
da queda:

Ora, a serpente era mais astuta do que todas as alimárias do campo


que o SENHOR Deus tinha feito. E esta disse à mulher: é assim que
Deus disse: não comereis de toda a árvore do jardim? E disse a mulher
à serpente: do fruto das árvores do jardim comeremos, mas do fruto
da árvore que está no meio do jardim, disse Deus: não comereis dele,
nem nele tocareis para que não morrais. Então, a serpente disse à
mulher: certamente, não morrereis. Porque Deus sabe que, no dia
em que dele comerdes, se abrirão os vossos olhos, e sereis como
Deus, sabendo o bem e o mal. E viu a mulher que aquela árvore era
boa para se comer, e agradável aos olhos, e árvore desejável para
dar entendimento; tomou do seu fruto, e comeu, e deu também a
seu marido, e ele comeu com ela. Então, foram abertos os olhos de
ambos, e conheceram que estavam nus, coseram folhas de figueira,

66
e fizeram, para si, aventais. E ouviram a voz do Senhor Deus, que
passeava no jardim pela viração do dia; e esconderam-se Adão e sua
mulher da presença do Senhor Deus, entre as árvores do jardim. E
chamou o Senhor Deus a Adão, e disse-lhe: onde estás? E ele disse:
ouvi a tua voz soar no jardim, e temi, porque estava nu, e escondi-
me. E Deus disse: quem te mostrou que estavas nu? Comeste tu
da árvore de que te ordenei que não comesses? Então disse Adão:
a mulher que me deste por companheira, ela me deu da árvore, e
comi. E disse o Senhor Deus à mulher: por que fizeste isto? E disse a
mulher: a serpente me enganou, e eu comi (Gênesis 3:1-13) (A BÍBLIA
SAGRADA, 2002, p. 13).

O apóstolo Paulo descreve a queda e a entrada do pecado na raça humana da


seguinte forma: “portanto, como, por um homem, entrou o pecado no mundo, e, pelo
pecado, a morte, assim, também, a morte passou a todos os homens, por isso que todos
pecaram” (Rm. 5:12). Uma vez que o pecado entrou na raça humana, a comunhão com
o Criador foi quebrada, pois, conforme o profeta Isaías diz, “mas as vossas iniquidades
fazem separação entre vós e o vosso Deus, e os vossos pecados encobrem o seu rosto
de vós, para que não vos ouça” (Is. 59:2). Com isso, “[...] todos pecaram e destituídos
(separados) estão da glória de Deus” (Rm. 3:23).

O homem não foi criado pecador, mas o pecado entrou no mundo


dos homens através da própria escolha, consciente e voluntária. A
doutrina da queda não se limita à religião cristã, pois todas as religiões
contêm ou um relato ou uma indicação da queda, e reconhecem o fato
de haver algo radicalmente errado na raça (BANCROFT, 1992, p. 211).

NOTA
Uma vez que o pecado entrou na raça humana, a Comunhão com
o Criador foi quebrada, pois, conforme o profeta Isaías diz, “mas as
vossas iniquidades fazem separação entre vós e o vosso Deus, e
os vossos pecados encobrem o seu rosto de vós, para que não vos
ouça” (Is. 59:2).

2.2 OS RESULTADOS DA QUEDA


Por causa da queda, a Comunhão com Deus foi quebrada, rompida. Entretanto,
não foi só isso que aconteceu, vieram diversos problemas resultantes da presença do
pecado e do afastamento do Senhor. Para Adão e Eva, houve, inicialmente, a consciência
imediata da nudez, um senso de vergonha e uma perda de aparência apropriada. Além
disso, o medo invadiu o coração deles. Antes, tinham um temor reverente a Deus, que
lhes proporcionava alegria e paz na presença do Criador. Agora, fogem da presença do
Senhor, tentam se esconder (como se fosse possível!), passam a culpar, aos outros,

67
pelo próprio problema (“a mulher que tu me deste”, “a serpente me enganou”). Por fim, o
casal foi expulso do jardim. A expulsão do jardim, ao mesmo tempo, foi um resultado da
queda e, de certa forma, um ato de graça do Senhor para com eles, pois “a imortalidade,
em um corpo caído, depravado e amaldiçoado pelo pecado, teria sido uma penalidade
mais profunda do que aquela que Deus desejou para o homem; este, pois, foi impedido
de alcançar a árvore da vida” (BANCROF, 1992, p. 214). Thiessen (1992) destaca que, para
o casal, ocorreram as seguintes consequências imediatas sobre eles e ao redor deles:

1- Efeito sobre o relacionamento deles com Deus – a Comunhão foi quebrada.


2- Efeito sobre a sua natureza. Depois do pecado, eles tiveram a sensação de vergonha,
degradação, poluição.
3- Efeito sobre os seus corpos. Passaram a estar sujeitos à morte física, à morte do
corpo “tu és pó e ao pó tornarás”.
4- Efeito sobre o meio ambiente. Toda a criação sofreu com a queda do ser humano.

FIGURA 1 – OS RESULTADOS DA QUEDA

FONTE: <http://media.mlive.com/grpress/opinion_impact/photo/adam-eve-leave-gardenjpg-
53b70bf44a428e6f.jpg>. Acesso em: 24 abr. 2021.

No entanto, o pecado de Adão e Eva não afetou somente a vida deles. Como
Adão era o cabeça federal da raça, o ato dele foi, também, representativo, ou seja,
aquele pecado individual foi, também, o da raça humana. Consequentemente, vieram
resultados que atingiram toda a espécie humana, e não somente o ser humano, mas
toda a criação de Deus, por exemplo, note alguns dos resultados: a mulher ter dor no
parto, além da sujeição ao marido; a terra não produzir apenas o que é bom, exigindo
trabalho laborioso do homem; o pecado passar a todos os seres humanos que nascem;
e as mortes física e espiritual, dentro do tempo, e com a penalidade ameaçada da morte
eterna. Acerca desse último aspecto, observe:

68
A penalidade ameaçada merece a nossa atenção. Foi expressa
nessas palavras: “no dia em que dela comeres, certamente, morrerás”.
Provavelmente, a maioria das pessoas, ao ler tais palavras, recebe
a impressão de que, aqui, está em foco a morte natural, e, sem
dúvida, está, mas a morte do corpo, de maneira alguma, exaure a
referência. Os corpos de Adão e Eva não faleceram, realmente, no
dia da transgressão, mas, para todos os efeitos, morreram. Ficaram,
imediatamente, sujeitos à lei da mortalidade, por efeito do pecado, e
as sementes da morte foram neles implantadas. Em consequência do
pecado, ficaram sujeitos à enfermidade, à fraqueza e à dissolução, e
a morte física do casal culpado se tornou tão certa, quando pecaram,
como se ela tivesse ocorrido enquanto ainda comiam do fruto fatal.
Não apenas a morte natural de Adão resultou do próprio pecado,
mas, também, a morte natural de toda a posteridade é resultado
da mesma causa. É evidente, por outro lado, que a morte espiritual
também é, aqui, focalizada, e esse é um resultado mais temível do
que a morte corporal. A morte corporal se verifica quando o espírito
abandona o corpo, ao passo que a morte espiritual ocorre quando
Deus abandona o espírito do homem [...]. A vida da alma consiste na
união com o Deus bendito; a morte da alma – não o aniquilamento –
consiste no fato de estar separada de Deus. A consumação da morte
espiritual é a morte eterna. Essa consumação vem inexoravelmente, a
não ser que seja abolida a morte espiritual por meio da implantação da
vida espiritual (PENDLENTON apud BANCROFT, 1992, p. 215).

NOTA
Alguns dos resultados da queda: a mulher ter dor no parto, além
da sujeição ao marido; a terra não produzir apenas o que é bom,
exigindo trabalho laborioso do homem; o pecado passa a todos os
seres humanos que nascem; e as mortes física e espiritual, dentro
do tempo, e com a penalidade ameaçada da morte eterna.

As consequências (resultados) da queda, para o ser humano, podem ser


descritas, também, da seguinte forma:

1- Separação espiritual (Gn. 3:8-11).


2- Separação pessoal (Gn. 3:16, cf. 3:3,4 e 9).
3- Separação sociológica (Gn. 3:12,16-17 cf. Gn. 4).
4- Separação ecológica (Gn. 3:17-19).
5- Separação catastrófica na CRUZ – a promessa divina em meio ao juízo, Gn. 3:15,
oferece a visão da vitória final.

Com relação à separação catastrófica na cruz, esta aponta para a redenção, que
viria a ser feita com a vinda de Jesus Cristo ao mundo e a morte na cruz do Calvário.
Para que essa vitória pudesse ocorrer, foi necessário que o Filho (Jesus Cristo, segunda
pessoa da trindade) fosse separado do Pai; quando Cristo estava na cruz, Deus não

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pôde olhar para Cristo ali pregado, pois, sobre Ele, pesava o pecado da humanidade (“[...]
porque me desamparaste?”). Essa separação momentânea é a base do juízo do pecado
e da salvação eterna, destrói a causa, logo, cessam as consequências da queda e do
pecado, em um sentido escatológico.

Com a queda de Adão e Eva (e da raça humana representada), o ser humano


passou a se encontrar em um dilema e em um problema seríssimo, na separação
de Deus, que, por si mesmo, não conseguiria resolver. Assim, como restabelecer a
Comunhão com o Criador?

3 A PROVISÃO PARA A SALVAÇÃO


A salvação é, sem dúvida, a grande obra de Deus. Normalmente, ficamos
admirados com a criação que, conforme as Escrituras Sagradas, foi feita pela palavra do
Criador. Não obstante, quando nos aprofundamos, um pouco mais, no conhecimento
das Escrituras e da Teologia, descobrimos que a salvação é a grande obra de Deus, pois
mostra não somente o aspecto criador de Deus, mas todos os demais atributos, caráter
e ações de Deus que podem ser vistas na obra grandiosa da salvação. Assim, a salvação,
certamente, foi pensada, planejada, executada e consumada por Deus. A salvação
não foi um plano improvisado, ou de emergência, que Deus construiu ao ser pego de
surpresa com a queda do homem. Conhecendo Deus e os atributos dEle, conforme
as Escrituras mostram, sabemos que Ele já tinha todo o conhecimento daquilo que viria
a acontecer. Por isso, desde a eternidade passada, já pensara e planejara a provisão para
a salvação do ser humano.

Conforme já tem sido observado até aqui, o ser humano pecou, e, consequen-
temente, vieram os resultados do pecado. A questão, agora, era, então, como seria
resolvido esse problema do pecado? A narrativa bíblica, a partir de Gênesis, vai mostrando
e apontando para a necessidade de um redentor, isto é, alguém que precisaria dar a sua
vida no lugar daqueles que pecaram. Entretanto, essa pessoa não poderia ser outro ser
humano pecador, pois, se assim o fosse, necessitaria, também, de um salvador. Então, a lei,
os profetas, os tipos, as profecias do Antigo Testamento passam a indicar a necessidade
da vinda do Messias, dAquele que “salvaria o seu povo dos seus pecados”. São muitas
as profecias (que estão nos Salmos, Isaías, Miqueías, e outros livros), e indicações
encontradas no Antigo Testamento, a respeito da vinda de um salvador. O povo judeu
aguardava, por muitos anos, Aquele que viria para libertar o povo dos pecados.

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NOTA
A lei, os profetas, os tipos, as profecias do Antigo Testamento passam
a indicar a necessidade da vinda do Messias, dAquele que “salvaria o
seu povo dos seus pecados”. São muitas as profecias (que estão nos
Salmos, Isaías, Miqueías, e outros livros), e indicações encontradas no
Antigo Testamento, a respeito da vinda de um salvador.

3.1 O SALVADOR PROMETIDO


Todas as profecias relacionadas à necessidade de um salvador e à vinda do
Messias se cumpriram com a chegada de Jesus Cristo a este mundo. Conforme as
Escrituras Sagradas, Jesus Cristo é o salvador prometido, aguardado e que nasceu
lá em Belém, da Judeia. Segundo o apóstolo João, “no princípio, era o verbo, o verbo
estava com Deus, e o verbo era Deus [...]. O verbo se fez carne e habitou entre nós” (Jo.
1.1,14). Nas palavras de João e confirmadas por Paulo, em Filipenses 2, Jesus era Deus, a
segunda pessoa da trindade, que deixou a glória, esvaziou-se a si mesmo, e se encarnou
(tornou-se carne) e habitou entre nós (os evangelhos, nos primeiros capítulos, narram
o nascimento de Jesus em Belém, da Judeia). Dessa forma, cumpriu-se a profecia do
profeta Isaías, ou seja, Emanuel (Deus conosco) esteve aqui, como pessoa, entre nós: “o
verbo se fez carne e habitou entre nós”. A vinda de Jesus ao mundo é o ponto central
das Escrituras, pois tudo converge nEle e para Ele, especialmente, naquilo que Ele iria
realizar para salvar o ser humano. Não somente no texto bíblico, como também na
história, tudo passa por Cristo, até mesmo a datação, ou seja, antes e depois de Cristo.

A vinda, a encarnação, a vida, a morte e a ressurreição de Jesus eram necessárias,


pois, “sem derramamento de sangue, não há remissão de pecados” (Hb. 9:22). Para
que o problema do pecado fosse resolvido, havia a necessidade de um sacrifício, mas
não bastava um sacrifício de um animal, era necessário alguém humano, perfeito, sem
pecado, morrer em prol de pecadores. O sangue que deveria ser derramado para tirar
o pecado do mundo não poderia ser o sangue de um animal. Ainda, era necessário,
conforme as Escrituras, alguém perfeito, sem mácula, sem pecado, que poderia dar a
própria vida no lugar de outros. Por isso, é muito esclarecedor e revelador quando João
Batista viu Jesus e disse a respeito dEle: “eis o cordeiro de Deus que tira o pecado do
mundo” (Jo. 1:29). As palavras de João Batista, inicialmente, soam estranhas, mas o
último dos profetas entendeu que estava diante do Messias, do Cordeiro (termo que
denota e aponta para o sacrifício com derramamento de sangue, que era feito no Antigo
Testamento, por causa do pecado), de Deus, que iria colocar um ponto final, de uma vez
por todas, no problema do pecado.

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Thiessen (1987) destaca que Jesus Cristo se fez homem pelas seguintes razões:

1- Para confirmar as promessas de Deus.


2- Para revelar o Pai.
3- Para se tornar um fiel sumo-sacerdote.
4- Para aniquilar o pecado.
5- Para destruir as obras do diabo.
6- Para dar um exemplo de vida santa.
7- Para preparar para o segundo advento.

3.2 A OBRA DE JESUS CRISTO – A REDENÇÃO PROVIDENCIADA


Foi o próprio Senhor Jesus Cristo que disse, na casa de Zaqueu, “o Filho do
homem (esta expressão se refere a Jesus) veio buscar e salvar o que estava perdido”
(Lc. 19:10). O plano de Deus, para redimir (salvar) a humanidade, envolvia a vinda do
filho (Jesus Cristo) ao mundo, para morrer pelos pecadores. Um dos versículos mais
conhecidos da Bíblia mostra, justamente, esse plano de Deus em execução, “porque
Deus amou o mundo de tal maneira que deu Seu Filho unigênito, para que todo aquele
que nEle crê não pereça, mas tenha a vida eterna” (Jo. 3:16). Entretanto, antes de morrer
em prol dos pecadores, Jesus Cristo viveu, aqui, por eles.

3.2.1 A vida de Jesus Cristo


A vida de Cristo foi crucial para a redenção. Antes que Cristo morresse pelos
pecadores, conviveu com eles e viveu por eles. A vida de obediência completa foi um
pré-requisito para o sacrifício perfeito. No Antigo Testamento, para que a expiação fosse
feita, era necessário que o animal fosse sem defeito (Ex.12:5). Assim, Jesus viveu de
maneira perfeita, obediente, cumprindo exatamente o que a lei ensinava (Fp. 2:8).

A vida dEle, aqui, neste mundo, inicia-se com a encarnação:

A encarnação tinha, em vista, a expiação. Cristo se encarnou a fim de


poder fazer expiação e propiciação. Nasceu para morrer. Manifestou-
se para tirar os pecados. Encarnou-se a fim de que, ao assumir uma
natureza semelhante à nossa, oferecesse a vida como sacrifício
pelos pecados dos homens. A encarnação foi, da parte de Deus, uma
declaração do Seu propósito de promover a salvação para o mundo.
Essa salvação só podia ser provida por meio do sangue expiador de
Cristo (BANCROFT, 1992, p. 142).

72
Os evangelhos (Mateus e Lucas) narram, inicialmente, o nascimento de
Jesus. Eles descrevem os detalhes do nascimento e um pouco do crescimento e do
desenvolvimento, por exemplo, “e crescia Jesus em sabedoria, e em estatura, e em
graça para com Deus e os homens” (Lc. 2:52). Depois dos 12 anos, ocasião que Jesus
foi esquecido pelos pais em Jerusalém, e encontrado três dias depois ensinando
a lei para os escribas, religiosos e doutores da lei (Lc. 2:42-49), não há mais relatos
bíblicos, narrando acontecimentos da vida até o início do ministério. As informações que
podem ser obtidas desse período são de textos extrabíblicos. Por volta dos 30 anos, Ele
reaparece. Foi batizado por João Batista no rio Jordão, logo após, conduzido pelo Espírito
ao deserto e tentado pelo diabo por um período de 40 dias (Mt. 4). Em seguida, Ele inicia
o período denominado, por muitos autores, de “ministério de Jesus Cristo”. No decorrer
de três anos, chamou discípulos, escolheu apóstolos (12), andou pela Judeia, Samaria
e Galileia, ensinando a respeito do reino de Deus, pregando e conclamando as pessoas
ao arrependimento (assim como João Batista também fizera). Realizou muitos milagres,
curou muitas pessoas de diversas moléstias, libertou outras que eram oprimidas e
presas por demônios, saciou a fome de milhares de pessoas, socorreu necessitados,
mostrou compaixão aos perdidos, desamparados, fragilizados, maltratados, excluídos
e ignorados. Enfim, as palavras do escritor bíblico Lucas resumem bem o que Ele fez
durante todo o ministério: “Deus ungiu a Jesus de Nazaré com o Espírito Santo e com
virtude; o qual andou fazendo bem, e curando a todos os oprimidos do diabo, porque
Deus era com Ele” (At. 10:38). Destaca-se, ainda, o fato de que Jesus viveu o tempo todo
de forma obediente, “e, achado na forma de homem, humilhou-se a Si mesmo, sendo
obediente até à morte, e morte de cruz” (Fl. 2:8).

Em toda a vida, especialmente, durante o ministério, Jesus sempre deixou muito


claro que a obra que Ele veio realizar estava por vir, ou seja, a morte na cruz do Calvário.
Em várias ocasiões e passagens bíblicas, deixa isso claro, por exemplo, Marcos 10:45:
“Porque o Filho do homem também não veio para ser servido, mas para servir e dar a sua
vida em resgate de muitos”. Ainda, Lucas 19:10: “Porque o Filho do homem veio buscar
e salvar o que se havia perdido”. Em outras passagens bíblicas, Jesus falou, ainda, de
forma mais específica, a respeito da própria morte, sepultamento e ressurreição (Mt.
26:61; 12:40).

NOTA
A vida de Cristo foi crucial para a redenção. Antes que Cristo morresse
pelos pecadores, conviveu com eles e viveu por eles. A vida de obediência
completa foi um pré-requisito para o sacrifício perfeito.

73
3.2.2 A morte de Jesus Cristo
O último passo da humilhação de Jesus foi a morte. Sendo Ele, “a vida” (João
14:6), o Criador, o doador da vida e da vida nova se tornou sujeito à morte. Ele, que
nenhum pecado tinha cometido, sofreu a morte, a consequência, ou o “salário” do
pecado. A morte de Cristo é mencionada por volta de 175 vezes no Novo Testamento.
Bancroft (1992, p. 140) afirma que “o cristianismo é, distintamente, uma religião de
expiação. Dá, à morte de Cristo, o primeiro lugar na mensagem evangélica. Dessa forma,
o cristianismo assume uma posição sem paralelo entre todas as religiões do mundo. É
uma religião redentora”.

Na última semana de vida, Jesus foi até Jerusalém, e, ali, teve os últimos
momentos com os discípulos. Celebrou a Páscoa com eles e instituiu a celebração da
Ceia naquela ocasião (Jo. 13). Foi traído por Judas por 30 moedas de prata. No Getsemâni,
suou gotas de sangue, antevendo o sofrimento que estava prestes a chegar. Pedro, o
apóstolo que estava muito próximo de Jesus, o negou por três vezes, mas não somente
Pedro fugiu naquele momento, todos os demais discípulos também fugiram. Foi levado
ao Sinédrio perante Caifás (Mc.15.1), depois, ao pretório (Mc. 15:2-20) – perante Pilatos
e, posteriormente, Herodes. Foi acusado, falsamente, de ser malfeitor, insubordinação,
agitador do povo, de blasfêmia e de sedição. Pilatos chega a dizer “que mal fez este
homem?”, porém, pressionado pelos religiosos e pela multidão, lava as mãos, solta
Barrabás, e manda crucificar Jesus. Com relação às acusações que levantaram contra
Ele, duas prevaleceram: a acusação política de que Ele se fazia Rei, e a acusação religiosa
de que Ele se fazia Filho de Deus.

Começa, então, um processo de tortura terrível e humilhante. Jesus é zombado


pelos soldados romanos. Colocam, nEle, uma vestimenta púrpura e uma coroa de
espinhos na cabeça, para ridicularizarem-no. Zombam dEle como Filho de Deus
(Mc. 15). Batem na cabeça dEle e cospem nEle, colocam-se de joelhos e O “adoram”
hipocritamente. Depois de o dilacerarem de tanto bater, conduzem-no para fora, ao
local da crucificação. Obrigam-no a carregar a cruz, o que Ele só consegue com a ajuda
de Simão, o Cireneu. Por fim, chegam ao Calvário.

O tipo de morte que Jesus sofreu foi a crucificação. Esse era o método romano
de pena de morte da época. Os judeus adotavam o apedrejamento. A forma de morte
que Jesus se submeteu era, portanto, amaldiçoada pelos judeus, conforme a lei (Gl.
3:13). O local onde Jesus foi crucificado – Gólgota, também conhecido como Lugar
da Caveira – era fora dos portões da cidade de Jerusalém. Ali, Jesus estava excluído,
separado do Seu povo, da Sua cidade e do Seu Deus (Mar.15:20). Cristo foi levado ao
Calvário, e levantado naquela cruz. Na crucificação, a pessoa morria de cãibras, asfixiada
e com dores cruéis. A morte acabava acontecendo por sufocação, esgotamento ou
hemorragia. Ali, Jesus sofreu, além das dores físicas, o escárnio do povo, dos soldados,
dos ladrões, que estavam crucificados ao Seu lado (ainda que um deles veio, depois, a se
arrepender), e, principalmente, o desemparo do próprio Pai. As palavras dEle expressam

74
todo esse sofrimento: “Deus meu, Deus meu, porque me desamparaste”. A respeito desse
texto bíblico (Mt. 27:46), Keller (2016, p. 91), falando de Jesus Cristo, diz que “Ele perdeu
o relacionamento com o Pai, a fim de que pudéssemos nos relacionar com Deus como
pai. Jesus foi esquecido, a fim de que nós pudéssemos ser lembrados para sempre – de
eternidade a eternidade”. Ser abandonado por Deus é a penalidade máxima pelo pecado.
O inferno é habitado pelos completamente abandonados. Ser abandonado é ser lançado
nas trevas exteriores. É receber a fúria da maldição de Deus. Foi exatamente isso que
Cristo sofreu para “buscar o que estava perdido”, os pecadores. Ele deu a própria vida
em prol do mundo. Isso é, também, chamado, na Teologia, de “sacrifício vicário”, que
significa o sofrimento pelo qual passa uma pessoa em vez de outra, isto é, no seu lugar.

Para Jesus, foi um momento de dor, abandono, solidão, trevas, mas, para todos
os que nEle creem, foi o momento máximo de toda a história do mundo. Cristo levou,
sobre Si, o pecado da humanidade. A justiça de Deus foi executada. Cristo suportou o
castigo. Logo depois, Ele diz: “Está consumado” (João 19:30), depois disso, expirou.
A conta foi liquidada, paga. Por isso, John Charles Ryle afirma: “a morte de Cristo é o
fato mais importante no cristianismo” (RYLE apud LOPES, 2006, p. 589). De acordo com
J. Vernon McGee, “a cruz é um dos maiores paradoxos da fé cristã. Ao mesmo tempo
em que ela é a maior tragédia de todos os tempos, é, também, a mais gloriosa vitória”
(MCGEE apud LOPES, 2006, p. 576).

FIGURA 2 – A REDENÇÃO

FONTE: <https://bit.ly/39Ar4U1>. Acesso em: 24 abr. 2020.

NOTA
De acordo com J. Vernon McGee, “a cruz é um dos maiores
paradoxos da fé cristã. Ao mesmo tempo em que ela é a maior
tragédia de todos os tempos, é, também, a mais gloriosa vitória”
(MCGEE apud LOPES, 2006, p. 576).

75
3.3.3 A ressurreição de Jesus Cristo
"O túmulo vazio é uma verdadeira rocha contra a qual se despedaçam, em vão,
todas as teorias racionalistas da ressurreição" (ANDERSON, 1966, p. 20).

As melhores notícias para os discípulos de Jesus vieram de um túmulo vazio.


A tumba vazia de Cristo se tornou o berço da igreja. A ressurreição de Cristo é a pedra
de esquina da fé cristã, o alicerce da esperança dos cristãos, a garantia de um glorioso
amanhecer. A morte não teve a última palavra. Acerca da ressurreição de Jesus Cristo, o
apóstolo Paulo afirma que “o qual, por nossos pecados, foi entregue, e ressuscitou para
nossa justificação” (Romanos 4:25).

Jesus Cristo morreu, foi sepultado e ressuscitou ao terceiro dia (1 Cor. 15).
Depois de ressuscitar, apareceu às mulheres que foram ao sepulcro, a Pedro, aos doze
apóstolos, a mais de quinhentas pessoas de uma só vez, a Tiago e a Paulo. Várias
testemunhas oculares presenciaram Jesus com um corpo de glória – ressurreto. A
ressurreição não foi uma surpresa, mas uma profecia. O Antigo e o Novo Testamento
anunciaram a bendita realidade. Jesus a proclamou com clareza, antes de ser entregue
nas mãos dos pecadores. Conforme as Escrituras Sagradas, a ressurreição de Cristo
abalou o inferno, fez estremecer os inimigos, e, pode-se dizer que, ainda hoje, perturba
os céticos.

Muitas foram as tentativas para negar esse fato, registrado nas Escrituras, pelos
quatro evangelhos, e mencionado em várias cartas do Novo Testamento. Dentre as
teorias que surgiram a respeito da ressurreição de Jesus, há aqueles que negam que
Jesus tenha, de fato, morrido. Outros dizem que os discípulos roubaram o Seu corpo.
Outros afirmam que as mulheres foram ao túmulo errado no primeiro dia da semana.
Outras teorias, posteriormente, surgiram, porém, sem fundamento e embasamento.

De acordo com as Escrituras Sagradas e os escritos dos pais da igreja, a


ressurreição não é uma armação, pelo contrário, é um fato incontroverso, inegável,
indispensável, incomparável, incontestável. O apóstolo Paulo, em 1 Coríntios 15, expõe,
claramente, a questão da ressurreição, e refuta as especulações. Ele chega ao ponto
de afirmar que “E, se Cristo não ressuscitou, é vã a vossa fé, e, ainda, permaneceis nos
vossos pecados” (1 Cor. 15:17). Se Cristo não ressuscitou, Jesus seria um lunático, e não
o Filho de Deus. Se Cristo não ressuscitou, um engano salvou o mundo. Se Cristo não
ressuscitou, os mártires, que verteram o sangue, morreram por uma causa tola.

A ressurreição de Cristo produziu um profundo impacto na vida dos discípulos.


Eles estavam trancados de medo por causa da fúria dos judeus, mas, quando a porta
do túmulo foi aberta, saíram e proclamaram a mensagem de boas novas do evangelho
em Jerusalém, na Judeia, Samaria e até os confins da terra. Eles se dispuseram a ser
presos, açoitados e mortos por causa dessa convicção e mensagem. Conforme William
Barclay, “nenhuma outra coisa poderia ter transformado homens e mulheres tristes e

76
desesperados em pessoas radiantes de alegria e inflamadas de um novo valor” (BARCLAY
apud LOPES, 2006, p. 595). O poder da ressurreição inundou o coração deles de ousadia,
e eles saíram a pregar, no poder do Espírito, a mensagem do Cristo ressurreto. Essa
mensagem, como rastilho de pólvora, espalhou-se por todo o mundo.

Conforme o texto bíblico, a ressurreição de Cristo é a garantia da ressurreição


de todo aquele que crê. Jesus Cristo se levantou dos mortos como primícias de todos
aqueles que, um dia, ouvirão, dos seus túmulos, a voz de Deus, e sairão deles. Paulo afirma
que se Cristo não ressuscitou, é vã a pregação, além da fé. Se Cristo não ressuscitou,
ainda, permanece-se nos pecados, e os que dormiram (morreram) em Cristo pereceram.
Note a importância da ressurreição dentro do assunto salvação.

Para Thiessen (1987), a ressurreição atesta a divindade de Cristo, assegura a


aceitação da obra de Cristo, fez, de Cristo, o nosso sumo sacerdote e proporcionou
muitas bênçãos adicionais. “A ressurreição é a comprovação suprema da identidade
divina de Jesus e do ensino inspirado. É a prova do triunfo sobre o pecado e a morte. É
a antecipação da ressurreição dos seguidores. É a base da esperança cristã. É o maior
de todos os milagres” (LOPES, 2006, p. 601).

NOTA
“A ressurreição é a comprovação suprema da identidade
divina de Jesus e do ensino inspirado. É a prova do triunfo
sobre o pecado e a morte. É a antecipação da ressurreição
dos seguidores. É a base da esperança cristã. É o maior de
todos os milagres” (LOPES, 2006, p. 601).

77
RESUMO DO TÓPICO 1
Neste tópico, você adquiriu certos aprendizados, como:

• A palavra salvação (σωτηρία) provém de duas palavras da língua grega, salvação


e logos (σωτηρία + λόγος), e significa libertação e preservação, sendo derivada de
salvador (σωτήρ).

• Uma vez que o pecado entrou na raça humana, a Comunhão com o Criador foi
quebrada, pois, conforme o profeta Isaías diz, “mas as vossas iniquidades fazem
separação entre vós e o vosso Deus, e os vossos pecados encobrem o rosto de vós,
para que não vos ouça” (Is. 59:2).

• Alguns dos resultados da queda: a mulher ter dor no parto, além da sujeição ao marido;
a terra não produzir apenas o que é bom, exigindo trabalho laborioso do homem; o
pecado passar a todos os seres humanos que nascem; e as mortes física e espiritual,
dentro do tempo, e com a penalidade ameaçada da morte eterna.

• A lei, os profetas, os tipos, as profecias do Antigo Testamento indicavam a necessidade


da vinda do Messias, dAquele que “salvaria o povo dos pecados”. São muitas as
profecias (que estão nos Salmos, Isaías, Miqueías etc.), e as indicações encontradas
no Antigo Testamento, acerca da vinda de um salvador.

• A vida de Cristo foi crucial para a redenção. Antes que Cristo morresse pelos
pecadores, conviveu com eles e viveu por eles. A vida de obediência completa foi um
pré-requisito para o sacrifício perfeito.

• De acordo com J. Vernon McGee, “a cruz é um dos maiores paradoxos da fé cristã. Ao


mesmo tempo em que ela é a maior tragédia de todos os tempos, é, também, a mais
gloriosa vitória” (MCGEE apud LOPES, 2006, p. 576).

• “A ressurreição é a comprovação suprema da identidade divina de Jesus e do


ensino inspirado. É a prova do triunfo sobre o pecado e a morte. É a antecipação
da ressurreição dos seguidores. É a base da esperança cristã. É o maior de todos os
milagres” (LOPES, 2006, p. 601).

78
AUTOATIVIDADE
1 O pecado de Adão e Eva não afetou somente a vida deles. Como Adão era o cabeça
federal da raça, o ato foi, também, representativo, ou seja, aquele pecado individual
foi, também, o da raça humana. Vieram resultados que atingiram toda a espécie
humana. A respeito dos resultados da queda, classifique V para verdadeiro e F para
falso:

( ) Separação pessoal.
( ) Separação catastrófica na cruz.
( ) Separação espiritual.
( ) Separação moral.

Assinale a alternativa que apresenta a sequência CORRETA:


a) ( ) F – V – F – V .
b) ( ) V – F – V – F.
c) ( ) F – F – V – V.
d) ( ) V – V – V – F.

2 Para que o problema do pecado fosse resolvido, havia a necessidade de um sacrifício,


mas não bastava um sacrifício de um animal, era necessário alguém humano,
perfeito, sem pecado, morrer em prol de pecadores. Assim, Jesus Cristo veio ao
mundo. Segundo Thiessen (1987), Jesus Cristo se fez homem por algumas razões.
Leia e analise as sentenças a seguir, que tratarão dessas razões.

I- Jesus veio para destruir as obras do diabo.


II- Jesus veio para confirmar as promessas de Deus.
III- Jesus veio para ser um revolucionário.
IV- Jesus veio para aniquilar o pecado.

Assinale a alternativa CORRETA:


a) ( ) As sentenças I, II e IV estão corretas.
b) ( ) As sentenças II, III e IV estão corretas.
c) ( ) As sentenças II e III estão corretas.
d) ( ) As sentenças I, II e III estão corretas.

3 Com a queda de Adão e Eva (e da raça humana representada), o ser humano


passou a se encontrar em um dilema e em um problema seríssimos que, por si só,
não conseguiriam resolver, isto é, como restabelecer a Comunhão com o Criador?
Como obter a salvação? De que maneira esse problema foi resolvido e a salvação foi
providenciada? Assinale a alternativa CORRETA:

79
a) ( ) A salvação vem por meio de Jesus Cristo.
b) ( ) A salvação vem por meio da religião.
c) ( ) A salvação vem por meio da igreja.
d) ( ) A salvação vem pelo esforço do homem.

4 A última semana de vida de Jesus foi bem intensa, repleta de acontecimentos. Ele
esteve, em boa parte do tempo, com os discípulos. Celebrou a Páscoa com eles
e instituiu a celebração da Ceia naquela ocasião (Jo. 13). Entretanto, depois, foi
entregue, julgado, crucificado e morto. Quanto a esses fatos, em que cidade Jesus s
e encontrava e qual o nome do lugar da crucificação?

a) ( ) Belém e Gólgota.
b) ( ) Nazaré e Sinédrio.
c) ( ) Belém e Pretório.
d) ( ) Jerusalém e Gólgota.

80
UNIDADE 2 TÓPICO 2 —
OS TERMOS TEOLÓGICOS DA SALVAÇÃO
(PARTE 1)

1 INTRODUÇÃO
A partir deste tópico, abordaremos alguns termos teológicos que estão dentro do
tema salvação. Ao estudá-los, o nosso propósito não é fazer uma separação minuciosa
de cada um deles, mas procurar perceber quais aspectos envolvem esses termos dentro
do contexto da salvação. Nesse sentido, a “salvação, no seu sentido mais lato, é um termo
imensamente inclusivo, e pode ser empregado para abranger todos os aspectos da vida
do crente, desde a justificação até a glorificação” (BANCROFT, 1992, p. 251). Dessa forma,
queremos apresentar os termos teológicos, sempre, na perspectiva relacionada ao assunto
macro do qual estamos tratando.

Sem dúvida, é difícil, e, para muitos autores, não existe uma sequência
cronológica exata daquilo que envolve os termos da salvação, ou seja, não encontramos
algo, nas Escrituras, da seguinte forma, ou na seguinte ordem: justificação, regeneração,
adoção etc. Entretanto, pensando em uma forma mais didática e prática para o estudo,
procuramos apresentar uma sequência mais lógica, no que concerne à temática, que
facilite os nossos estudos e a apreensão do conhecimento.

Ao tratarmos dos termos teológicos, destacaremos alguns deles, ou seja, não


abordaremos, exaustivamente, cada um dos aspectos, minuciosamente, acerca da
salvação, pois a quantidade é bem vasta, por exemplo, se fôssemos fazer uma lista,
poderíamos destacar: eleição, predestinação, chamado, justificação, perdão, redenção,
regeneração, adoção, conversão, imputação, propiciação, reconciliação, arrependimento,
fé, santificação, segurança da salvação, evidências da salvação, glorificação etc. Assim,
procuraremos apresentar aqueles que, comumente, são mais estudados e descritos
nessa temática, não menosprezando, de forma alguma, os demais. De qualquer forma,
daremos uma breve definição, no decorrer dos estudos, para alguns dos termos, mas
nos concentraremos em aprofundar somente oito deles.

Neste tópico, observaremos quatro termos: justificação, regeneração, arrepen-


dimento e fé.

81
NOTA
“Salvação, no seu sentido mais lato, é um termo imensamente inclusivo, e
pode ser empregado para abranger todos os aspectos da vida do crente,
desde a justificação até a glorificação” (BANCROFT, 1992, p. 251).

FIGURA 3 – OS TERMOS TEOLÓGICOS DA SALVAÇÃO

FONTE: O autor

2 JUSTIFICAÇÃO
“O justo viverá da fé” (Rm. 1:17). A história diz que esse foi o versículo-chave
que fez com que Martinho Lutero pensasse e compreendesse um aspecto tão fundamental
na salvação, a justificação pela fé. A palavra “justificar”, quando usada na Bíblia, significa
“declarar justo”, “declarar reto”, ou “declarar livre de culpa e de merecimento de castigo”.
O termo “justificação”, na língua grega, dikaíosis, tem, como significado, justificação,
vindicação, absolvição que traz vida. No sentido bíblico, a interpretação é entendida
como se a pessoa justificada passasse a ser vista por Deus como se jamais houvesse
cometido pecado, ou seja, é colocada no lugar de justo. A ideia é a de que alguém é
resgatado dos próprios pecados e restaurado pela graça de Deus. Por isso, o próprio
reformador Lutero gostava da expressão “simultaneamente pecador e justo”, para se
referir ao ser humano justificado. Pecador se refere ao estado de baixa queda, e, justo,
ao estado concedido por Jesus Cristo, por meio da justificação.

82
Conforme a definição de Packer (2002, p. 127), “justificar equivale ao ato, de um
juiz, ao pronunciar a sentença oposta à da condenação – a sentença de absolvição e de
imunidade legal”. É um termo técnico forense, na terminologia religiosa e na linguagem
comum, ligado à lei.

A justificação é uma decisão judiciária conferida ao homem, e não


uma obra operada no interior do homem; é a dádiva divina de uma
posição e de um relacionamento para com Deus, e não a dádiva de
um coração novo. Não há dúvida de que Deus regenera àqueles a
quem justifica, mas essas duas coisas são distintas [...]
Para Paulo, a justificação é o ato divino de perdoar, gratuitamente,
os pecados dos ímpios, e de lhes atribuir justiça, por sua graça,
mediante a fé em Cristo, com base não nas próprias obras, mas na
justiça representativa, redentora, propiciatória e vicária do sangue
derramado por Jesus Cristo em favor deles (Quanto às várias partes
dessa definição, ver Rm 3.23-26; 4.5-8; 5.18-19). Para Paulo, esse é o
âmago do cristianismo (PACKER, 2002, p. 127-128).

Assim, “a justificação não trata da nossa salvação subjetiva, mas, antes, da


nossa salvação objetiva. Diz respeito a nossa posição perante Deus, judicialmente, e
não ao nosso estado de vida moral, espiritual” (BANCROFT, 1992, p. 254). Prossegue: “A
justificação é o ato judicial de Deus, mediante o qual aquele que deposita confiança em
Cristo é declarado justo a Seus olhos, e livre de toda culpa e punição” (BANCROFT, 1992,
p. 255). Para ilustrar a justificação pode-se pensar no seguinte exemplo:

Na Inglaterra, existe uma disposição mediante a qual o rei pode,


por sua clemência real, perdoar um criminoso; não pode, porém,
reintegrar o homem na posição de quem nunca desobedeceu à lei.
Até o fim dos dias, esse homem será um criminoso perdoado, mas o
Rei dos reis não apenas perdoa, como, também, inocenta o ofensor
e o reintegra, ao considerá-lo ‘reto’ aos olhos da lei (THOMAS apud
BANCROFT, 1992, p. 256).

Na carta aos Romanos 5:1, Paulo escreve “justificados, pois, mediante a fé,
temos paz com Deus”. Conforme as Escrituras Sagradas, todos quantos confiam em
Jesus Cristo para o perdão dos pecados são declarados justos. É algo totalmente divino,
pois o homem somente pode justificar o inocente. Deus, porém, justifica aqueles que
são culpados, pecadores, e a base, para fazer isso, não são os méritos humanos, mas
a misericórdia e a graça divina, manifestada em Jesus Cristo por meio da morte e da
ressurreição. Bancroft (1992) lista alguns aspectos importantes da justificação:

1- Judicialmente, por Deus. Na justificação, Deus é visto a agir baseado em justos e


em retos alicerces e em harmonia com a lei.
2- Causativamente, pela graça. “Sendo justificados gratuitamente, por sua graça,
mediante a redenção que há em Cristo Jesus” (Rm. 3:24).
3- Meritória e manifestamente, por Cristo. Por meio da morte, meritoriamente,
por meio da morte de Cristo, e pela ressurreição, manifestamente, isto é, Jesus
ressuscitou por causa da nossa justificação.

83
4- Medianeiramente, pela fé. A fé tem a função tão somente medianeira, por meio da
qual a justificação é recebida.
5- Evidencialmente, pelas obras. A apropriação da justificação pela fé é manifestada
pelas obras.

Lutero passou a chamar a justificação de “o artigo mediante o qual uma igreja


permanece de pé ou cai”. Pode-se, também, dizer, que é, também, “o artigo de uma alma
que se mantém de pé ou cai”. “A justificação traz isenção da condenação, paz judicial,
e a esperança da glória futura” (BANCROFT, 1992, p. 259). Alguns dos resultados da
justificação são:

1- Liberdade de incriminação (Rm. 8:1,33,34).


2- Paz com Deus (Rm. 5:1).
3- Certeza e percepção de glorificação futura (Tt. 3:7).

Há uma diferenciação entre justificação e regeneração (termo que será visto na


sequência).

Regeneração é o ato de Deus em nós: justificação é um julgamento de Deus


com relação a nós. A distinção é como a que se faria entre o ato de um cirurgião e o ato
de um juiz. O cirurgião, quando remove um câncer interno, faz alguma coisa em nós.
Isso não é o que o juiz faz – ele estabelece um veredito em relação ao nosso estado
judicial. Se formos inocentes, ele declara a nossa inocência. A pureza do evangelho está
vinculada ao reconhecimento dessa distinção (GRUDEM, 1999, p. 331).

A justificação envolve o perdão dos pecados, e a imputação da justiça de Cristo


sobre aquele que crê, ou seja, Deus credita a justiça de Jesus Cristo na conta daquele
que crê (Rm. 4.3-6).

NOTA
“A justificação é o ato judicial de Deus, mediante o qual aquele que
deposita a confiança em Cristo é declarado justo aos Seus olhos, e
livre de toda culpa e punição” (BANCROFT, 1992, p. 255).

3 REGENERAÇÃO
A regeneração, ou o novo nascimento, fala de um novo começo de vida. “A
regeneração, ou o novo nascimento, é o lado divino dessa mudança de coração que,
vista do lado humano, chamamos de conversão” (LITTLE, 1997, p. 131). É considerada
a porta de entrada ao reino de Deus. O capítulo 3, do evangelho de João, narra a

84
história de Nicodemos, um homem religioso, um dos principais dos judeus na época
de Jesus. Esse homem foi falar com Jesus Cristo à noite. Nesse encontro, o assunto
girou em torno do novo nascimento (regeneração). Jesus surpreendeu ao dizer que
Nicodemos precisava nascer de novo. Cristo mostrou que existe uma diferença muito
grande entre ser nascido da carne (nascimento físico) e nascido do espírito (nascimento
espiritual). Isso aponta para algo: “somos tão certamente participantes da natureza
divina, em virtude do nosso segundo nascimento, como somos da natureza humana
pelo nosso primeiro nascimento” (BANCROFT, 1992, p. 230). Jesus mostra que a obra da
regeneração é operada pela Palavra de Deus e vivificada pelo Espírito Santo, que gera
a fé, desencadeando, assim, todo o processo de mudança de vida, que gera um caráter
transformado e íntegro, como o seu. Tudo indica (pelo texto de João 3 e outros textos,
por exemplo, João 7:50; 19:39) que Nicodemos compreendeu as palavras de Jesus e
que, de fato, a vida foi “regenerada” após aquele encontro com o Mestre.

De acordo com Bancroft (1992, p. 232), “a necessidade de regeneração do


homem se deriva da sua total destituição da vida espiritual: sua morte em delitos e
pecados”. No Novo Testamento, o principal expositor da regeneração é, exatamente, o
apóstolo João. “O termo grego, por ele usado para exprimir a ideia, é gennaõ, que pode
significar ‘gerar’ e ‘dar à luz’” (PACKER, 2002, p. 137).

De acordo com João, o que é o novo nascimento? Não é uma


alteração ou adição à substância ou às faculdades da alma, e, sim,
uma drástica mudança operada sobre a natureza humana caída, que
leva o homem a ficar sob o domínio eficaz do Espírito Santo e o torna
sensível pelo próprio homem, da mesma forma que os infantes nada
fazem, a fim de induzir ou contribuir para a própria procriação e o
nascimento. Trata-se de um livre ato de Deus, não provocado por
qualquer mérito ou esforço humano (cf. Jo 1.12,13; Tt 3.3-7), por ser,
totalmente, um dom da graça divina (PACKER, 2002, p. 137).

A regeneração é o ato bondoso, soberano e revificador do Espírito


Santo, mediante o qual a vida e a natureza divinas são transmitidas à
alma do homem, causando uma reversão na atitude para com Deus
e com o pecado, cuja expressão, mediante o arrependimento e a fé, é
assegurada pela instrumentalidade da palavra de Deus (BANCROFT,
1992, p. 231).

Pode-se dizer que a regeneração é o início da vida com Deus, da caminhada


espiritual do ser humano com Jesus Cristo. É “o ato secreto de Deus pelo qual Ele
nos comunica vida espiritual” (GRUDEM, 1999, p. 313). Para Berkhof (1990, p. 432),
a regeneração é “o ato de Deus pelo qual o princípio da nova vida é implantado no
homem, a disposição dominante da alma é tornada santa, e o primeiro exercício santo
da nova disposição é assegurado”. Dessa forma, entende-se que a regeneração é um
ato instantâneo, isto é, só acontece uma vez (como no nascimento físico). É o momento
em que a pessoa recebe vida da parte de Deus.

85
Ainda que a justificação e a regeneração estejam intimamente ligadas, há,
porém, uma distinção bem clara entre ambas. Uma trata do aspecto da culpa do pecado,
e, a outra, da libertação do domínio do pecado. No período da reforma protestante, “os
reformadores distinguiram a justificação da regeneração: a primeira, como a libertação da
culpa, e, a segunda, como a libertação do domínio do pecado [...]” (PACKER, 2002, p. 135).

Uma vez que acontece a regeneração, surgem os frutos desse novo nascimento
na vida de uma pessoa. No evangelho de João, assim como nas cartas do apóstolo,
encontram-se alguns desses frutos. Os frutos da regeneração são o arrependimento,
a fé e as boas obras. Os regenerados creem, corretamente, em Jesus Cristo (1 Jo 5.1).
Eles praticam a justiça (2.29). Não vivem uma vida caracterizada pelo pecado (3.9 e 5.18).
Os regenerados experimentam a vitória da fé sobre o mundo (5.4). Amam os irmãos na
fé (4.7). “Os resultados da regeneração são os frutos de uma vida renovada e expressam
a vida de Cristo operante nos homens” (BANCROFT, 1992, p. 233). Esse mesmo autor
destaca alguns dos frutos da regeneração:

1- Mudança radical na vida e na experiência.


2- Filiação a Deus.
3- Habitação do Espírito Santo.
4- Libertação da esfera e da escravidão da carne.
5- Fé viva em Cristo.
6- Vitória sobre o mundo.
7- Cessação do pecado como prática da vida.
8- Estabelecimento na justiça como prática da vida.
9- Amor cristão.

Lutero exemplifica a ideia de frutos de uma forma bem elucidativa, não somente
na esfera da regeneração, mas em toda a vida cristã. Para ele, a regeneração produz
uma nova vida cheia de frutos. A fala de Lutero ilustra bem essa ideia de frutos e para o
que eles servem. O pensamento parte do pressuposto de que o fruto surge e beneficia
outros, como no caso da árvore.

Nenhuma árvore produz fruto para si mesma, mas dá os frutos a


outros, nenhuma criatura, na verdade, vive para si mesma, ou serve a
si mesma, exceto o homem e o diabo. O sol não brilha para si mesmo,
a água não flui para si mesma etc. Assim, cada criatura observa a lei
do amor e todo o ser está na lei do Senhor (DREHER, 1988, p. 145)

NOTA
A regeneração é o início da vida com Deus, da caminhada
espiritual do ser humano com Jesus Cristo. A regeneração é “o
ato secreto de Deus pelo qual Ele nos comunica vida espiritual”
(GRUDEM, 1999, p. 313).

86
4 ARREPENDIMENTO
Teologicamente falando, o arrependimento é uma mudança de pensamento
(intelecto), abrange as emoções (tristeza por causa do pecado) e a transformação em
relação à vontade (volição). “O arrependimento pode ser definido como a mudança de
pensamento para com o pecado e para com a vontade de Deus, o que conduz a uma
transformação de sentimento e de propósito a seu respeito” (BANCROFT, 1992, p. 238).

FIGURA 4 – ARREPENDIMENTO

FONTE: <https://bit.ly/3wIhuGp>. Acesso em: 24 abr. 2021.

Conforme Bancroft (1992, p. 235), “o arrependimento é a obra de Deus no


íntimo, e a conversão é a exteriorização da salvação, por parte do homem, através do
arrependimento e da fé”. Segundo Grudem (1999, p. 323), o “arrependimento é a tristeza
de coração pelo pecado, a renúncia ao pecado e o compromisso sincero de abandoná-
lo, de andar em obediência a Cristo”. Muitos confundem remorso com arrependimento.
Todavia, há uma enorme diferença.

O remorso é tristeza em vista das consequências do pecado, mas o


arrependimento condena o pecado, que produziu tais consequências.
Lágrimas estão nos olhos do arrependimento, confissão nos
lábios, o pensamento de Deus sobre o pecado nos pensamentos,
o afastamento do pecado é o caminho, a contrição se apossa do
coração, apossar-se de Cristo se encontra nas próprias mãos, e a
humildade de maneiras se acha na atitude (BANCROFT, 1992, p. 238).

Os apóstolos Judas e Pedro servem como exemplos da diferença entre remorso


e arrependimento. O primeiro traiu Jesus Cristo e o vendeu por 30 moedas de prata (Mt.
26:15). Depois de tomar consciência do que fizera, ele se enforcou (Mt. 27:5) – remorso. O
segundo negou Jesus Cristo por três vezes (Mt. 26). Entretanto, confrontado com o olhar
do Mestre, chorou amargamente, e, posteriormente, mudou, completamente, a postura
em relação a Jesus Cristo, e passou a servi-lo como líder da igreja primitiva, ou seja,
houve genuíno arrependimento. Conforme as Escrituras Sagradas, o arrependimento é
um ato totalmente interno. A confissão do pecado e a reparação dos males praticados
são frutos do arrependimento.

87
Para Bancroft (1992), o arrependimento se manifesta por meio da confissão
do pecado a Deus e do abandono ao pecado. “A confissão de pecado e do erro,
com a reparação devida, quando possível, é a expressão externa do ato interno do
arrependimento” (BANCROFT, 1992, p. 239).

O arrependimento e a fé estão intrinsicamente ligados a outro termo, que


trata da salvação, a conversão. Por isso, cabe destacar, nesse ponto, esse aspecto
da salvação, ainda que de maneira breve. Poderíamos chamar esses três aspectos –
arrependimento, fé e conversão – de tríade, pela maneira como estão entrelaçados, ou
pelo processo que envolve, além das palavras nas línguas originais – hebraico e grego –
que, nas definições, correlacionam-se. Berkhof (1990, p. 478) faz uma explicação mais
aprofundada acerca do conceito de “conversão”:

Como a palavra metanoia claramente indica, a conversão tem lugar,


não na vida subconsciente do pecador, mas na vida consciente. Isso
não significa que ela não tem raízes na vida subconsciente. Sendo
um efeito direto da regeneração, naturalmente, inclui uma transição
nas operações próprias da nova vida, do subconsciente para o
consciente. Em vista disso, pode-se dizer que a conversão começa
nas profundezas da personalidade, mas, como um ato completo,
certamente, está dentro das linhas abrangidas pela vida consciente.
Isso põe em relevo a estrita conexão existente entre a regeneração e
a conversão. A conversão, que não esteja arraigada na regeneração,
não é conversão verdadeira.

Retomamos o aspecto mais específico do qual estamos tratando, arrepen-


dimento. Nesse sentido, Thiessen (1987) apresenta três aspectos que envolvem o
arrependimento:

1- O elemento intelectual. Está relacionado a uma mudança na mente (de ideia) em


relação ao pecado, a Deus e ao próprio eu.
2- O elemento emocional. Está relacionado a uma mudança na emoção (sentimento).
Envolve tristeza pelo pecado (Sl. 51:1,2; 2 Co. 7:9,10).
3- O elemento volitivo. Envolve uma mudança na vontade e na disposição da pessoa.
É apresentado, pela Escritura, por meio da palavra grega “metanoia”, que quer dizer
“mudança de ideia (mente), conversão”.

Lutero também tratou desse assunto, e, segundo Berkhof (1990, p. 478), assim
discorreu acerca do tema:

Lutero falava, às vezes, de um arrependimento que antecede a fé, mas,


sem embargo, parece que concordava com Calvino, ao considerar o
arrependimento verdadeiro como um dos frutos da fé. Os luteranos
gostam de salientar o fato de que o arrependimento é produzido
pela lei, e, a fé, pelo evangelho. Devemos ter em mente, porém, que
os dois são inseparáveis; são, simplesmente, complementares do
mesmo processo.

88
NOTA
Teologicamente falando, o arrependimento é uma mudança de
pensamento (intelecto), abrange as emoções (tristeza por causa
do pecado) e a transformação em relação à vontade (volição).

5 FÉ
Já temos observado o aspecto do arrependimento dentro do contexto da
salvação. O termo “conversão”, no sentido teológico – voltar-se do pecado para Deus
–, envolve dois elementos: arrependimento e fé. Arrependimento e fé caminham,
praticamente, juntos, ainda que observadas as devidas peculiaridades de cada um.
Podem ser comparados aos dois lados da mesma moeda. Bancroft (1992, p. 242) aponta
alguns desses aspectos que os distinguem e os unem ao mesmo tempo:

Pelo arrependimento, o pecador abandona o pecado, pela fé, ele


se volta para Cristo, mas o arrependimento e a fé são inseparáveis
e paralelos. O verdadeiro arrependimento não pode existir à parte
da fé, nem a fé à parte do arrependimento. Tem-se dito que o
arrependimento é a fé em ação, e que a fé é o arrependimento em
repouso.

Entretanto, o que é fé? Pode-se dizer que a melhor definição de fé é aquela dada
pela própria Escritura Sagrada, isto é, “ora, a fé é o firme fundamento das coisas que se
esperam, a convicção de fatos que não se veem” (Hb. 11:1). O autor da carta aos Hebreus
também enfatiza que, “sem fé, é impossível agradar a Deus” (Hb. 11:6). A fé é considerada
uma das três graças cardeais – a fé, a esperança e o amor. “Ainda que o amor seja a
maior dentre a tríade de graças cristãs, a fé é a primeira, e torna possível a recepção das
outras” (BANCROFT, 1992, p. 243). Algumas vezes, a fé exprime o conjunto de verdades
no qual a pessoa crê (Jd 3), outras vezes, um exercício de confiança que opera milagres
(Mt 17.20,21), ou, ainda, um assentimento intelectual à verdade (Tg 2.14-16).

A definição da língua grega, para fé (πιστις), é “confiança em outro, crédito,


fidelidade, o que causa a fé, o que garante a fé, fiança, garantia, juramento, pacto,
crença, prova”, esse é o sentido do substantivo. Os reformadores frisaram esse conceito,
afirmando que a fé não é apenas fides (crença), mas, também, fiducia (confiança).

89
NOTA
Pode-se dizer que a melhor definição de fé é aquela dada pela
própria Escritura Sagrada, isto é, “ora, a fé é o firme fundamento
das coisas que se esperam, a convicção de fatos que não se
veem” (Hb. 11:1).

A fé vem pelo ouvir da Palavra de Deus (Rm. 10:17), e é obtida como resultado do
poder capacitador e da obra graciosa de Deus Pai, Filho e Espírito Santo. “[...] A certeza
da fé se origina diretamente da confiança na palavra de um Deus que ‘não pode mentir’
(Tt 1.2), e que é, por isso mesmo, digno de confiança em tudo quanto diz” (PACKER,
2002, p. 120). Esse mesmo escritor destaca que “ter fé é vir a Cristo; fé significa se deixar
cair nos braços abertos do Senhor. Dessa forma, a fé liga um homem a Cristo, de tal
modo que ele se torna um homem ‘em’ Cristo” (PACKER, 2002, p. 121).

Na Bíblia, ter fé ou crer (no grego, o substantivo é pistis, e o verbo


é pisteuõ) envolve tanto confiança como entrega da vida. De várias
maneiras, o objeto da fé é descrito como sendo Deus (Rm 4.24; 1
Pe 1.21), Cristo (Rm 3.22,26), as promessas de Deus (Rm 4.20), o
caráter de Jesus como Messias e Salvador (1 Jo 5.1), a realidade da
ressurreição (Rm 10.9), o evangelho (Mc 1.5) e o testemunho dos
apóstolos (2 Ts 1.10) (PACKER, 2002, p. 118).

De acordo com Bancroft (1992, p. 249), “a fé, nas suas várias relações, tem
diversos graus, que vão desde a crença inicial até a confiança dependente. Envolve o
intelecto, as sensibilidades e a vontade, e se expressa em obras que se harmonizam
com as verdades cridas”. Ressalta que existem, pelo menos, dois tipos de fé:

1- Fé natural: possuída por todos. Esta se fundamenta sobre o testemunho material


e sobre a evidência, aparentemente, digna de fé. Entretanto, é insuficiente para
satisfazer necessidades espirituais e morais do homem ou daquilo que Deus exige.
2- Fé espiritual: possuída somente pelos que creem. É aquela crença que possui
aqueles que foram regenerados, e se estabelece sobre o conhecimento de Deus e
da Sua vontade. Vem por meio da revelação e da experiência pessoal de Deus ao
homem.

Martinho Lutero, ao falar da fé, aponta, também, os resultados, os frutos que a


fé produz. “Lutero escreveu: A fé é viva, poderosa nas suas operações, valente e forte,
sempre realizando, sempre frutificando, de modo que é impossível que aquele que é
dotado de fé não produza, sempre, boas obras... pois essa é a sua natureza” (PACKER,
2002, p. 122). Um estudo mais acurado acerca dos resultados da fé aponta para, pelo
menos, cinco deles:

90
1- Salvação (inicial) – Ef. 2.8,9. Nesse sentido, envolve o recebimento do perdão
da parte de Deus, a justificação, a filiação a Deus, a vida eterna, a participação da
natureza divina, a presença de Cristo no íntimo da pessoa.
2- A experiência cristã normal (fé, o princípio da nova vida). A fé em Cristo ganha
expressão por meio da vida cotidiana. Isso aparece por meio da santificação da vida,
do descanso e da paz que vêm de Deus, da vida vitoriosa em Cristo, da alegria e da
satisfação, e, consequentemente, torna-se um canal de benção que flui em direção
ao amor ao próximo.
3- Segurança. Esse resultado tem a ver com as promessas da Palavra de Deus e a
segurança que vem quando a pessoa crê nEla. Ligados à segurança, estão a paz, o
descanso e a alegria do Senhor.
4- Boas obras. A fé conduz a uma vida de boas obras (Ef. 1.10; Mt. 5.16). Essa é uma das
ênfases do livro bíblico de Tiago.
5- Realização santa – Hb. 11:1,2. Conforme as Escrituras Sagradas, aquele que crê
(exercita a fé em Deus) pode contemplar as respostas das orações, pode ver o poder
do Senhor realizar grandes coisas (agir sobre uma determinada enfermidade, interferir
nas circunstâncias da vida, operar transformações nas pessoas que são vistas como
impossíveis etc.). Jesus chega a dizer “se podes! Tudo é possível ao que crê” (Mc. 9:23).

O reformador Lutero enalteceu muito o aspecto da fé. Para ele, a fé não é mais
uma virtude teológica entre outras, mas o próprio coração da teologia. Ele entendia essa
fé como confiança, como união com Cristo e como apego à palavra. Dizia Lutero:

A fé real é não apenas que eu creia que aquilo que se diz sobre Deus
é verdade, mas é depositar toda a minha confiança nEle, aventurar-
me e arriscar a me relacionar com Ele, crendo, para além de qualquer
dúvida, que aquilo que Ele será para comigo ou fará comigo será
exatamente o que [as Escrituras] dizem (LUTHER et al., 1955, p. 183).

Então, a fé é o caminho de acesso ao amor e à graça revelados em Jesus


Cristo, por meio do Seu sacrifício na cruz do Calvário. Dessa forma, a verdadeira fé viva
penetra no coração e cria amor e esperança em Deus. Para Martinho Lutero, a questão
da vida pela fé foi a chave para compreender, primeiramente, a salvação. Quando se
deparou com o versículo da Carta aos Romanos, “visto que a justiça de Deus se revela
no evangelho, de fé em fé, como está escrito: o justo viverá pela fé” (Rom. 1:17), foi
impactado, transformado. Lutero descreve esse momento com as seguintes palavras:

Meditava dia e noite nessas palavras até que, enfim, pela Graça de
Deus, prestei atenção no contexto: “a justiça de Deus é revelada,
como está escrito: o justo viverá da fé”. Comecei a perceber que, nesse
verso, a justiça de Deus é aquele que o justo vive como presente
de Deus, isto é, pela fé. Comecei, também, a perceber que a justiça
de Deus é revelada através do Evangelho, sendo, essa, de forma
passiva, na qual um Deus misericordioso nos justifica pela fé, como
está escrito: o justo viverá pela fé. De uma só vez, senti que havia
nascido de novo e entrado pelas portas do paraíso. Imediatamente,
enxerguei as Escrituras de um modo totalmente diferente. Na minha
mente, voltei às Escrituras e notei que existiam outras expressões
com a mesma analogia, a saber: a obra de Deus, feita em nós; o poder

91
de Deus, que nos torna poderosos; a sabedoria de Deus, que nos faz
sábios; a força de Deus; a salvação de Deus; a glória de Deus. Então,
exalei, de forma doce, a expressão, a justiça de Deus, com muito mais
amor do que antes havia gritado em ódio (LIENHARD, 1998, p. 331-332).

6 BREVE DEFINIÇÕES DOS TERMOS TEOLÓGICOS


Apresentaremos, na sequência, uma breve definição dos termos mais relacionados
ao estudo da salvação. Há outros termos, porém, aqui, estão aqueles mais citados. As de-
finições são sintéticas, como forma de apresentação, mas se recomenda um estudo mais
aprofundado desses termos para um entendimento melhor de cada um deles.

QUADRO 1 – TERMOS SOBRE A SALVAÇÃO

“Salvação, no seu sentido mais lato, é um termo imensamente inclusivo, e


Salvação pode ser empregado para abranger todos os aspectos da vida do crente,
desde a justificação até a glorificação” (BANCROFT, 1992, p. 251).
É a escolha divina de pecadores, apresentada, nas Escrituras Sagradas,
como um ato de graça, isto é, o favor e o benefício de Deus. Não foi
Eleição
ocasionada por feitos meritórios da parte daqueles a quem Deus escolhe.
É gratuita e incondicional.
Conforme Chafer (2003), a predestinação declara a verdade de que Deus
determina o que deve acontecer antes que aconteça. Essa palavra é mais
Predestinação relacionada ao que os homens são divinamente apontados (escolhidos) do
que eles mesmos (escolhem). Como a presciência reconhece a certeza dos
eventos futuros, a predestinação torna esses eventos certos (grifo nosso).
“A justificação é o ato judicial de Deus, mediante o qual aquele que deposita
Justificação a sua confiança em Cristo é declarado justo aos Seus olhos, e livre de toda
culpa e punição” (BANCROFT, 1992, p. 255).
O perdão envolve a remoção da condenação do pecado. No perdão, tem
lugar a aniquilação dos pecados, além da simultânea acolhida do pecador. A
Perdão pessoa perdoada se liberta da soberania exercida sobre ela pelas potências,
e passa a viver e a conviver sob a soberania de Cristo. Está ligado à fé e à
confiança em Cristo, e repousa sobre os méritos de Jesus Cristo.
“Redenção gera o pagamento de um preço de resgate, e, na redenção que
Cristo trouxe, os juízos divinos contra o pecado, por terem sido atribuídos
Redenção
por mediação, ficaram pagos pelo sacrifício voluntário de Cristo” (CHAFER,
2003, p. 130).
A regeneração é o início da vida com Deus, da caminhada espiritual do ser
Regeneração humano com Jesus Cristo. A regeneração é “o ato secreto de Deus pelo
qual Ele nos comunica vida espiritual” (GRUDEM, 1999, p. 313).
Adoção envolve uma mudança de estado e de condição. No sentido formal,
Adoção adoção é uma questão declarativa, uma alteração do nosso estado legal.
Envolve o fato de nos tornarmos filhos de Deus. Esse é um fato objetivo.
Conversão significa mudança de direção, é mais que um retorno, é
substancial mudança de rumo, com profundas implicações morais e
Conversão espirituais. Envolve o abandono do pecado e da velha vida sem Cristo,
e o se voltar para Deus, passando a segui-lo, ou seja, uma grande
transformação acontece, e um novo viver se inicia.

92
“A imputação é a contabilidade de Deus. O pecado de Adão é atribuído
a toda a raça humana, sendo esse débito ao homem e servindo de base
Imputação para a sua condenação. Contudo, Jesus Cristo veio e tomou o pecado de
Adão sobre Si. Ele carregou a culpa, a pena, a maldição da descendência
de Adão, e se ofereceu a Deus como substituto” (PENTECOST, 1994, p. 41).
Propiciação é o efeito ou o valor da cruz em relação a Deus. Visto que
Cristo morreu, Deus é propício. É a obra de Cristo que satisfez todas as
Propiciação
exigências da justiça, santidade e retidão divinas para que Deus ficasse
livre para agir em benefício dos pecadores.
A reconciliação indica o fim da inimizade e o estabelecimento da paz e da
amizade entre pessoas, antes, opostas uma da outra. Deus e os homens
eram inimigos mútuos, por causa dos pecados dos homens, mas Deus agiu
Reconciliação
em Cristo para reconciliar os pecadores consigo mesmo, mediante a cruz.
A reconciliação foi uma tarefa realizada, de modo completo, por Cristo,
no Calvário.
Teologicamente falando, o arrependimento é uma mudança de
Arrependimento pensamento (intelecto), abrange as emoções (tristeza por causa do
pecado) e transformação em relação à vontade (volição).
Pode-se dizer que a melhor definição de fé é aquela dada pela própria
Fé Escritura Sagrada, isto é, “ora, a fé é o firme fundamento das coisas que se
esperam, a convicção de fatos que não se veem” (Hb. 11:1).
“A santificação é a obra progressiva de Deus e do homem, que nos torna
mais e mais livres do pecado e iguais a Cristo” (GRUDEM, 1999, p. 359). A
Santificação
santificação envolve a libertação do pecado e a capacitação da parte de
Deus.
A segurança da salvação, ou a perseverança dos santos, envolve a certeza
Segurança da de que a presença de Cristo na vida da pessoa dá, a ela, a convicção de
salvação que “aquele (Deus) que começou a boa obra (salvação)” na sua vida, deve
completá-la até o dia de Cristo Jesus.
As evidências da salvação se referem aos frutos que uma pessoa
regenerada passa a produzir na sua nova vida, por exemplo: interesse pela
Evidências da
Palavra de Deus; desejo de orar; busca de comunhão; necessidade de
salvação
testemunhar; prática de boas obras; objetivo de se tornar mais parecido
com Cristo.
Glorificação é multidimensional. Envolve a escatologia individual e a
coletiva. A perfeição da natureza espiritual do crente, como indivíduo,
ocorre na morte, quando o cristão entra na presença do Senhor. Também,
Glorificação
envolve a perfeição dos corpos de todos os crentes, a qual ocorre no tempo
da ressurreição, em conexão com a segunda vinda de Cristo. Permeia até
a transformação de toda a criação (MILLARD, 1992).

FONTE: O autor

Como mencionado no início deste tópico, focamos em quatro dos termos


teológicos da salvação: justificação, regeneração, arrependimento e fé. No próximo
tópico, serão apresentados mais quatro termos, com o propósito de avançarmos no
conhecimento a respeito da salvação.

93
RESUMO DO TÓPICO 2
Neste tópico, você adquiriu certos aprendizados, como:

• A justificação é o ato judicial de Deus, mediante o qual aquele que deposita a confiança
em Cristo é declarado justo aos Seus olhos, e livre de toda culpa e punição.

• O termo “justificação”, na língua grega, dikaíosis, tem, como significado, justificação,


vindicação, absolvição que traz vida. No sentido bíblico, a interpretação é feita como
se a pessoa justificada passasse a ser vista por Deus como se jamais houvesse
cometido pecado, ou seja, ela é colocada no lugar de justo.

• Alguns dos resultados da justificação são: 1. Liberdade de incriminação (Rom.8:1,33,34);


2. Paz com Deus (Rom. 5:1); e 3. Certeza e percepção de glorificação futura (Tt. 3:7).

• A regeneração é o início da vida com Deus, da caminhada espiritual do ser humano


com Jesus Cristo. É o ato secreto de Deus pelo qual Ele nos comunica vida espiritual.

• Alguns dos frutos da regeneração são: 1. Mudança radical na vida e na experiência; 2.


Filiação a Deus; 3. Habitação do Espírito Santo; 4. Libertação da esfera e da escravidão
da carne; 5. Uma fé viva em Cristo; 6. Vitória sobre o mundo; 7. Cessação do pecado
como prática da vida; 8. Estabelecimento na justiça como prática da vida; e 9. Amor
cristão.

• O arrependimento pode ser definido como a mudança de pensamento para com


o pecado e para com a vontade de Deus, o que conduz a uma transformação de
sentimento e de propósito.

• Pode-se dizer que a melhor definição de fé é aquela dada pela própria Escritura
Sagrada, isto é, “ora, a fé é o firme fundamento das coisas que se esperam, a convicção
de fatos que não se veem” (Hb. 11:1).

• Eleição, predestinação, chamado, justificação, perdão, redenção, regeneração,


adoção, conversão, imputação, propiciação, reconciliação, arrependimento, fé,
santificação, segurança da salvação, evidências da salvação e glorificação são alguns
dos termos relacionados ao estudo da salvação.

94
AUTOATIVIDADE
1 Uma das definições a respeito da salvação é: a “salvação, no seu sentido mais lato,
é um termo imensamente inclusivo, e pode ser empregado para abranger todos os
aspectos da vida do crente, desde a justificação até a glorificação” (BANCROFT, 1992,
p. 251). Assim, há vários termos que podem ser estudados. Quais são alguns deles?

a) ( ) Eleição, justificação, apocalipse, novo céu, fé.


b) ( ) Predestinação, santificação, regeneração, adoção, glorificação.
c) ( ) Arrependimento, reconciliação, imputação, angelologia, Israel.
d) ( ) Mortificação, comunhão, conversão, Isaías, Jesus Cristo.

2 De acordo com Bancroft (1992, p. 255), “a justificação é o ato judicial de Deus,


mediante o qual aquele que deposita a sua confiança em Cristo é declarado justo a
Seus olhos, e livre de toda culpa e punição”. Destaca alguns aspectos importantes
acerca da justificação. Diante disso, classifique V para as sentenças verdadeiras e F
para as sentenças falsas:

( ) Judicialmente, por Deus. Na justificação, Deus é visto a agir baseado em justos e


retos alicerces e em harmonia com a lei.
( ) Causativamente, pela lei. O esforço em guardar da lei é a causa da justificação.
( ) Meritória e manifestamente, por Cristo. Por meio da Sua morte, meritoriamente, por
meio da morte de Cristo, e, por Sua ressurreição, manifestamente, isto é, Jesus
ressuscitou por causa da nossa justificação.
( ) Medianeiramente, pelas obras. As obras têm a função tão somente medianeira, por
meio da qual a justificação é recebida.

Assinale a alternativa que apresenta a sequência CORRETA:


a) ( ) F – V – F – V.
b) ( ) F – V – V – F.
c) ( ) V – V – F – F.
d) ( ) V – F – V – F.

3 “Os resultados da regeneração são os frutos de uma vida renovada e expressam a


vida de Cristo operante nos homens” (BANCROFT, 1992, p. 233). Esse mesmo autor
apresenta alguns dos frutos da regeneração. Diante disso, analise as sentenças a
seguir:

I- Mudança radical na vida e na experiência.


II- Habitação do Espírito Santo.
III- Uma fé viva em Cristo.
IV- A libertação do planeta da corrupção.
95
Assinale a alternativa que apresenta a sequência CORRETA:
a) ( ) As alternativas I, II e III estão corretas.
b) ( ) As alternativas II e IV estão corretas.
c) ( ) As alternativas I e IV estão corretas.
d) ( ) As alternativas II, III e IV estão corretas.

4 Teologicamente falando, o arrependimento é uma mudança de pensamento


(intelecto), abrange as emoções (tristeza por causa do pecado) e transformação em
relação à vontade (volição). Destacam-se três elementos importantes a respeito do
arrependimento. Nesse sentido, classifique V para as sentenças verdadeiras e F para
as sentenças falsas:

( ) O elemento intelectual. Está relacionado a uma mudança na mente (de ideia) em


relação ao pecado, a Deus e ao próprio eu.
( ) O elemento psicológico. Está relacionado ao subconsciente. É algo que acontece
intuitivamente, alterando as faculdades da psiquê.
( ) O elemento emocional. Está relacionado a uma mudança na emoção (sentimento).
Envolve tristeza pelo pecado (Sl. 51:1,2; 2 Co. 7:9,10).
( ) O elemento volitivo. Envolve uma mudança na vontade e na disposição da pessoa.
É apresentado, pela Escritura, por meio da palavra grega “metanoia”, que quer dizer
“mudança de ideia (mente)”, conversão.

Assinale a alternativa que apresenta a sequência CORRETA:


a) ( ) V – V – F – F.
b) ( ) F – F – V – V.
c) ( ) V – F – V – V.
d) ( ) F – V – F – V.

96
UNIDADE 2 TÓPICO 3 —
OS TERMOS TEOLÓGICOS DA SALVAÇÃO
(PARTE 2)

1 INTRODUÇÃO
Este tópico é uma continuidade do tópico anterior. Já foram observados alguns
dos termos teológicos relacionados ao assunto salvação. Os primeiros que destacamos
estavam mais relacionados ao momento inicial da salvação, como justificação,
regeneração, arrependimento e fé. Agora, trataremos de mais quatro: reconciliação,
adoção, santificação e glorificação.

Alguns teólogos, estudiosos do assunto, fazem a seguinte divisão na questão


da salvação: salvação da pena do pecado (inicial), salvação do poder do pecado
(progressivo), e salvação da presença do pecado (final). “Salvação é um termo inclusivo,
que abrange, dentro do próprio escopo, muitos aspectos. Por exemplo, há salvação do
passado, no presente e para o futuro, ou seja, salvação da penalidade, do poder e da
presença do pecado” (BANCROFT, 1992, p. 227). Seguiremos nessa linha de pensamento.

No tópico anterior, abordamos quatro termos relacionados ao aspecto inicial da


salvação (no passado). Neste tópico, abordaremos mais dois relacionados ao momento
inicial da salvação: reconciliação e adoção. Depois, trataremos de um aspecto relacionado
ao aspecto progressivo da salvação (presente): a santificação. Por fim, estudaremos a
glorificação. Vários termos teológicos são, geralmente, usados em relação à salvação.
Conforme Little (1997, p. 127), “cada um deles contribui com algo, e, reunidos, produzem
grande profusão da luz divina. Nenhum desses termos ou verdades pode ser isolado
completamente, separado dos outros. É preciso que sempre os estudemos no seu
contexto”.

Por fim, teremos uma reflexão de Martin Luther King Júnior, que menciona,
dentre outros assuntos, a questão da salvação. Na leitura complementar, abordaremos
um texto para o aprofundamento em um dos aspectos extremamente relevantes quanto
ao assunto salvação, que é a santificação.

97
2 RECONCILIAÇÃO
Com a queda do ser humano o pecado entrou na raça humana. O pecado criou
uma barreira entre Deus e o homem, uma inimizade, ruptura, separação. Por isso, os
homens já nascem rebeldes contra o seu Criador. O ser humano em seu estado de
pecado, encontra-se em total inimizade contra Deus. Conforme já observado (ver tópico
1), o ser humano não conseguiu por si mesmo resolver este problema, então, Deus
providenciou a salvação enviando seu filho, Jesus Cristo, o qual morreu pelos pecados
da humanidade como substituto. Através da morte de Jesus tornou-se possível a
reconciliação.

O que então é “reconciliação”? Segundo Packer (2002, p. 112):

A ideia geral transmitida pela raiz grega desta palavra, de onde se


formam os termos a ela relacionados, é a troca, e o sentido comum
nestes termos têm, tanto no grego secular como na Bíblia, é a troca
de relações, uma troca de oposição por harmonia, de inimizade
por amizade [...]. Reconciliar significa unir novamente pessoas que
antes estavam separadas; é substituir a alienação, a hostilidade e a
oposição por uma nova relação caracterizada por favor, boa vontade
e paz, transformando, desta forma, a atitude das pessoas que se
reconciliaram uma com a outra e estabelecendo o seu subsequente
relacionamento mútuo sobre uma base inteiramente nova.

Normalmente, quando há um problema, a parte que fez a ofensa é aquela que


necessita buscar os meios para que a inimizade e a separação sejam resolvidas – e a
paz restabelecida. Neste ponto, está a grande diferença da reconciliação que Deus fez
com o ser humano, pois, nesse caso, foi Deus, a parte ofendida, quem tomou a iniciativa.
O apóstolo Paulo afirma que “Deus estava em Cristo reconciliando consigo o mundo” (2
Co. 5:19). Portanto, a solução desta ruptura que o pecado do homem havia provocado
foi obra de Deus. Não encontramos nas Escrituras Sagradas que o ser humano buscou
a reconciliação com Deus, pelo contrário, vemos Deus buscando e solucionando o
problema do homem – o pecado. Paulo destaca que Cristo foi a solução de Deus “àquele
que não conheceu pecado, ele o fez pecado por nós; para nele fôssemos feitos justiça
de Deus” (2 Co. 5:21).

O verbo reconciliar significa estabelecer a paz. Cristo estabeleceu a paz “pela


cruz de Cristo” (Cl. 1:20) e, por meio do seu sacrifício: “fomos reconciliados com Deus
mediante a morte de seu Filho” (Rm. 5:10). Esta é a razão pela qual não é necessário
carregar os próprios pecados, pois Jesus Cristo já carregou. Isso aponta a ideia de um
outro termo importante sobre salvação, a substituição.

Não obstante, cabe destacar que foi Deus quem providenciou a reconciliação,
mas é o homem quem necessita de reconciliação, pois foi ele quem pecou. Conforme
Chafer (2003, p. 130), “visto que a palavra (reconciliação) significa uma mudança
completa, o termo não pode ser aplicado propriamente a Deus que é imutável, mas ele

98
se aplica ao homem, que pela morte de Cristo é colocado numa relação de mudança
para com Deus e para com os seus juízos contra o homem”. Conforme o apóstolo Paulo
“porque, se nós, quando inimigos, fomos reconciliados com Deus mediante a morte do
seu filho, muito mais, estando já reconciliados, seremos salvos pela sua vida" (Rm. 5:10).
Para Packer (2002, p. 115):

A reconciliação indica o fim da inimizade e o estabelecimento da paz


e da amizade entre pessoas antes opostos uma à outra. Deus e os
homens eram inimigos mútuos, por causa dos pecados dos homens;
mas Deus agiu em Cristo para reconciliar os pecadores consigo
mesmo, mediante a cruz. A reconciliação foi uma tarefa realizada de
modo completo por Cristo no Calvário.

A reconciliação se tornou e faz parte da proclamação do evangelho. Levar as


boas novas é convidar as pessoas a se reconciliarem com Deus por meio de Jesus Cristo.
Conforme Packer (2002, p. 112), “não é exagero dizer que, para Paulo, reconciliação era
a súmula e a substância do evangelho [...], assim, ele se refere ao evangelho como ‘a
palavra da reconciliação’ e à pregação do evangelho como ‘o ministério da reconciliação’”.

FIGURA 5 – RECONCILIAÇÃO

FONTE: <https://unidavigo.es/wp-content/uploads/2017/01/photo-1461849922425-239b4b1914cb.jpg>.
Acesso em: 24 abr. 2020.

NOTA
Deus agiu em Cristo para reconciliar os pecadores consigo
mesmo, mediante a cruz. A reconciliação foi uma tarefa realizada
de modo completo por Cristo no Calvário.

99
3 ADOÇÃO
Um dos textos bíblicos chaves a respeito da adoção está no evangelho de João
1:12, que diz "os quais não nasceram do sangue, nem da vontade da carne, nem da
vontade do homem, mas de Deus." Este texto é uma referência fundamental a filhos
adotados por Deus. A palavra adoção na Bíblia foi usada apenas pelo apóstolo Paulo.
Ela ocorre cinco vezes nas Escrituras, e todas elas nos escritos de Paulo. Entretanto,
ela está implícita nos escritos de João como uma relação de graça, por exemplo, na
expressão “serem feitos filhos de Deus” (Jo. 1:12), e na aceitação do Filho pródigo ao
receber seus direitos da família (Lc. 15:19).

A palavra adoção não era usada na época no mesmo sentido técnico da


palavra hoje em dia, pois, para a sociedade judaica o relacionamento de sangue não
era necessário para obter os privilégios da família, por exemplo, o caso de Abraão (ver
Gn. 17:9,12). A palavra utilizada para “pai’ na língua hebraica envolve tanto a paternidade
física como um protetor e nutridor.

De acordo com o apóstolo Paulo, a adoção como filho de Deus é uma relação
baseada na graça, diferente da Filiação de Cristo, que era filho por natureza (Jo. 1.14).
“Isso envolve uma alteração de estado, planejada desde a eternidade e mediada por
Jesus Cristo (Ef. 1:5), da escravidão para a filiação [...]. A invocação ‘Aba, Pai’ (Rm. 8:15 e
Gl. 4:6 no contexto da adoção) talvez seja a exclamação tradicional do escravo adotado”
(DOUGLAS, 1988, p. 34). Para Keller (2016, p. 82), “ser adotado significa que agora Deus
nos ama como se tivéssemos feito tudo o que Jesus fez”.

Millard (1992, p. 975) descreve muito claramente o que envolve a palavra adoção:

Adoção envolve uma mudança de estado e condição. No sentido


formal, adoção é uma questão declarativa, uma alteração de nosso
estado legal. Nós nos tornamos filhos de Deus. Este é um fato objetivo.
Porém, há também a experiência atual de ser favorecido por Deus.
Nós desfrutamos o que é designado o espírito de filiação. A visão
cristã afetuosamente e confiantemente vê Deus como Pai em lugar
de como um chefe espantoso (João 15:14-15). Por adoção nós somos
restabelecidos à relação com Deus que os humanos tiveram uma vez,
mas perderam. Nós somos por natureza filhos de criação de Deus,
mas nós somos rebeldes e nos alienamos [...]. Deus, adotando-nos,
restabelece a relação com Ele, para o qual nós éramos originalmente
planejados. Esta condição não é algo totalmente novo, para isto não
é estrangeiro a nossa natureza original.

Assim, a adoção introduz um tipo de relacionamento bem diferente para aquele


que crê em Cristo, em relação ao que as pessoas em geral têm com Deus. João destacou
claramente essa distinção: “Vede que grande amor nos tem concedido o Pai, a ponto
de sermos chamados filhos de Deus; e de fato, somos filhos de Deus” (1 Jo. 3:1a). A
pessoa passa a ter um relacionamento familiar, íntimo, comparado a um relacionamento

100
entre Pai e filho. Este é um dos benefícios que a adoção propicia para todo aquele que
crê. Destarte, a adoção concedia à pessoa determinados direitos e benefícios, o que
acontece no sentido espiritual. Vejamos quais eram:

3.1 OS DIREITOS DO FILHO ADOTADO


Uma vez que a pessoa era adotada ela passava a ter direitos como filho. São
eles:

• Acesso ao Pai (Rm. 8:15).


• A partilha da herança divina com Cristo (Rm. 8:17).
• A presença do Espírito de Deus, o penhor da herança (Rm. 8:4; Gl. 4:6).

3.2 OS BENEFÍCIOS DA ADOÇÃO


O perdão. Com a adoção vem o perdão de Deus. Deus é visto então como um
Pai perdoador. Dessa forma a pessoa desfruta da paz com Deus, e do perdão de Deus
pelos seus pecados, todos os pecados por meio de Cristo Jesus. Este perdão é completo,
perfeito, pois baseia-se no sacrifício perfeito, completo, e de uma vez por todas feito por
Jesus Cristo na cruz do Calvário. O apóstolo Paulo lembra que este perdão de Deus aos
homens é a base para que o perdão seja concedido aos outros na vida cristã “antes,
sede uns para com os outros benignos, compassivos, perdoando-vos uns aos outros,
como também Deus, em Cristo, vos perdoou” (Ef.4:32).

Reconciliação. O subtópico anterior abordou esse termo.

A libertação da lei (Rm. 8:15). A pessoa que crê em Cristo já não está debaixo
de “guardiões e aios”, mas, sim livre da escravidão, livre da lei, pois, Cristo é o fim da lei.

O cuidado paterno de Deus. O apóstolo Paulo disse "somos filhos de Deus.


Ora, se somos filhos, somos também herdeiros, herdeiros de Deus e coerdeiros com
Cristo” (Rm. 8:16-17). Como herdeiro, a pessoa desfruta dos recursos ilimitados do Pai.
Sem dúvida que Paulo pensa principalmente na eternidade futura quando se refere à
“herança”, entretanto, o cuidado do Pai prevalece desde o tempo presente sobre os seus
filhos e vai por toda a eternidade. De acordo com Jesus, o Pai que alimenta até mesmo
os pássaros e que veste os lírios do campo, teria mais cuidado ainda para com seus
filhos (Mt 6:25-34). Sua provisão é sempre prudente e amável (Lc 11:11-13).

A adoção implica a boa vontade do Pai. Uma coisa é ser perdoado pelo fato
de ter sido paga a pena aplicável aos erros. Isso, porém, significa que não haverá punição
no futuro. Entretanto, isto não garante, necessariamente, a boa vontade. Se o criminoso

101
paga seu débito para com a sociedade, isso não faz com que a sociedade passe a vê-lo
com olhos favoráveis. Com o Pai, no entanto, há o amor e a boa vontade de que tanto se
precisa e que tanto se deseja.

A liberdade para os filhos de Deus. O filho de Deus não é mais um escravo


que obedece ao pecado, ele agora é liberto do pecado e feito filho de Deus. "Porque
não recebestes o espírito de escravidão, para viverdes, outra vez, atemorizados, mas
recebestes o espírito de adoção, baseados no qual clamamos: Aba, {Aba; no original,
Pai} Pai” (Rm 8:15). Um pensamento semelhante é expresso em Gálatas 3:10-11. Os que
creem são pessoas livres do pecado (Jo. 8:32,36) e desfrutam da comunhão com o Pai.

NOTA
Adoção envolve uma mudança de estado e condição. No sentido formal,
adoção é uma questão declarativa, uma alteração de nosso estado legal.
Nós nos tornamos filhos de Deus. Esse é um fato objetivo.

4 SANTIFICAÇÃO
Conforme um tópico anterior, após a regeneração, uma nova vida surge por
meio de Cristo Jesus. Esta nova vida apresenta os frutos de uma nova natureza. Jesus
disse “assim, toda a árvore boa produz bons frutos, e toda a árvore má produz frutos
maus” (Mt. 7:17). Assim, as evidências da nova natureza (ou nova vida) manifestam-se na
vida diária, pois, aquele que crê é uma nova criatura em Cristo (2 Co 5.17). Eis algumas
das evidências bíblicas da pessoa regenerada:

1- Interesse pela Palavra de Deus, (1 Pe. 2:2-3).


2- Desejo de orar (Cl. 4:2, Rm. 12:12).
3- Busca de comunhão (1 Jo. 3:14-18, Hb. 10:24-25).
4- Desejo de testemunhar (1 Pe. 3:15).
5- Prática de boas obras (Tt. 2:14, Tt 3:1,8).
6- Desejo de se tornar mais parecido com Cristo (1 Pe 2:21-22).

Sendo uma nova criatura, a pessoa passa a buscar e viver uma vida em
santificação. Entretanto, do que se trata esta vida em santidade? Uma das principais
dificuldades que a Teologia Sistemática encontra com a doutrina da santificação é
que não existe um paradigma único, pois Deus age com muita criatividade na vida de
cada um de seus filhos. “A santificação é a obra progressiva de Deus e do homem que
nos torna mais e mais livres do pecado e iguais a Cristo” (GRUDEM, 1999, p. 359). A
santificação envolve a libertação do pecado e a capacitação da parte de Deus para fazer

102
a sua vontade. Para Bancroft (1992, p. 260), “esses dois sentidos da palavra “santificação”
estão intimamente ligados. Ninguém pode estar verdadeiramente separado para Deus,
sem estar separado do pecado”. Segundo este autor:

A santificação trata, quase exclusivamente, de nosso estado, assim


como a justificação trata da nossa posição. Na justificação somos
declarados justos, a fim de que, na nossa santificação, nos tornemos
justos. A justificação é aquilo que Deus faz por nós, enquanto a
santificação é quase exclusivamente aquilo que Deus faz em nós.
A justificação nos coloca na correta relação com Deus, legalmente,
ao passo que a santificação demonstra o fruto dessa relação,
experimentalmente, e isso através de uma vida separada do mundo
pecaminoso e dedicada a Deus. A justificação nos torna seguros,
enquanto a santificação nos faz sãos (BANCROFT, 1992, p. 259).

NOTA
“A santificação é a obra progressiva de Deus e do homem que nos
torna mais e mais livres do pecado e iguais a Cristo” (GRUDEM,
1999, p. 359). A santificação envolve a libertação do pecado e a
capacitação da parte de Deus para fazer a Sua vontade.

Para facilitar uma compreensão melhor entre a diferença de justificação e


santificação, observe o quadro a seguir:

QUADRO 2 – DIFERENÇA DA JUSTIFICAÇÃO E DA SANTIFICAÇÃO

JUSTIFICAÇÃO SANTIFICAÇÃO
Posição legal Condição interna
Ocorre uma só vez Continua durante a vida
Inteiramente obra de Deus Obra de Deus e cooperação humana
Objetiva Subjetiva
Remoção da culpa do pecado Remoção do poder do pecado
Aceitação da obra de Cristo por mim Aceitação da obra de Cristo em mim
Realizada e completa Em processo
Justiça imputada Justiça comunicada
Por meio de Cristo Por meio do Espírito Santo
Fundamento da nossa paz Fundamento da nossa pureza

FONTE: O autor

103
A palavra santificação na língua hebraica é qadosh (santo) e aparece em torno
de duas mil vezes no Antigo Testamento. Já a palavra usada para santificação na língua
grega é hagios (santo) e aparece em torno de trezentas vezes no Novo Testamento.
Tanto qadosh como hagios significam essencialmente “separar”. As palavras para
santo e seus derivados têm como significado: consagrar, separar das coisas profanas
e dedicar a Deus, purificar, reconhecer que é venerável, reverenciar. É isso o que está
envolvido na chamada para a santidade; e o próprio substantivo (no Novo Testamento
grego, hagiasmos, sempre traduzido por “santificação” na versão portuguesa) denota
o estado de estar dissociado da prática do pecado e de estar consagrado à vida de
semelhança com Deus.

Segundo Bancroft (1992, p. 265), “a santificação é efetuada ao passo que o


crente desenvolve sua salvação, cônscio da operação de Deus em seu íntimo”. Há uma
explanação do conceito “santo” que traz elucidação sobre essa palavra.

A raiz da qual se originam esta e outras palavras correlatas, é o


vocábulo grego “hagios”. O pensamento mais próximo da santidade
que que era capaz o grego secular era o “o sublime, o consagrado, o
venerável”. O elemento moral está totalmente ausente. Ao ser adotada
esta palavra nas Escrituras, entretanto, foi necessário proporcionar-lhe
novo sentido. Empregando a palavra “santo” em seu sentido mais
elevado, quando aplicada a Deus, os melhores lexicógrafos definem-
na como “aquilo que merece e exige reverência moral e religiosa”.
Ao ser aplicada a Deus, a santidade pode ser definida como “aquele
elemento da natureza divina que está à base da reverência, que o
homem deve a Deus e que a determina. Esta palavra também tem
o sentido que lhe era dado no grego clássico, ou seja “consagrado
aos deuses”; um animal para o sacrifício, uma casa para o culto, um
vaso destinado ao uso sagrado, uma peça para uso do sacerdote, um
homem consagrado ao serviço, tornavam-se, por essa designação,
santos. Semelhantemente nas Escrituras, uma pessoa ou coisa
é chamada santa por motivo de haver sido separada do pecado e
dotada de pureza absoluta (BANCROFT, 1992, p. 260-261).

NOTA
A palavra santificação na língua hebraica é qadosh (santo) e
aparece em torno de duas mil vezes no Antigo Testamento. Já a
palavra usada para santificação na língua grega é hagios (santo) e
aparece em torno de trezentas vezes no Novo Testamento. Tanto
qadosh como hagios significam, essencialmente, “separar”.

Thiessen (1987), na sua definição sobre santificação, destaca quatro aspectos


essenciais desse conceito:

104
1- Separação para Deus. A separação para Deus pressupõe separação da impureza.
2- Imputação de Cristo como nossa santidade. Refere-se à imputação de Cristo
como nossa santidade e justiça (1 Co. 1:3).
3- Purificação do mal moral. É considerada um ato do homem nesse caso, e não um
ato de Deus. Deus já separou para si mesmo todo aquele que crê em Jesus Cristo,
agora é a vez daquele que crê separar-se para Deus, para ser usado por ele. Trata da
responsabilidade do homem nesse processo.
4- Conformidade com a imagem de Cristo. Este é o aspecto positivo da salvação,
assim como a purificação é o negativo e a imputação da santidade de Cristo o
posicional.

A santificação abrange desde a salvação inicial da pessoa até à glorificação.


“A santificação é realizada de modo duplo. Há uma parte que somente Deus pode
desempenhar, e o faz; há outra parte que pertence ao homem, pelo qual ele é responsável”
(BANCROFT, 1992, p. 263). Por causa da cruz, o Espírito Santo está livre para atuar na
vida daquele que crê, separando-o do mundo e aperfeiçoando-o à imagem de Cristo, e
a pessoa compreende isto e cumpre seu papel.

Diversos autores comungam da mesma ideia e mostram como acontece a


santificação, ou melhor, quais são as características da santificação. Nesse sentido, a
santificação é vista sob o prisma então de três aspectos:

1- Posicional – o estado ou posição daquele que crê em Cristo Jesus (1 Co. 6:11, Hb.
10:10-14).
2- Experimental – o procedimento do crente (1 Pe. 1:15-16, 1 Ts 4:3).
3- Futura ou escatológica – a perfeição final (1 Jo. 3:1-2).

Thiessen (1987), na mesma linha de raciocínio, salienta que a santificação pode


ser considerada no passado, presente e futuro, ou então algo instantâneo, progressivo e
completo. Ele ressalta esses três elementos de tempo, ou três estágios na santificação
da seguinte forma:

1- O ato inicial da santificação. Isso é a santificação posicional. As Escrituras ensinam


que quando o homem crê em Cristo, é “santificado”. Está relacionada à justificação,
regeneração e conversão.
2- O processo de santificação. Sendo um processo, a santificação continua por toda
a vida. Envolve o que Paulo chama de “despojar-se” e “revestir-se” (Cl. 3:8-12). Nesse
aspecto a pessoa é transformada à imagem de Jesus Cristo (2 Co. 3.18), ou seja, é um
processo de desenvolvimento e crescimento na vida cristã. É o “aperfeiçoamento da
santidade” à semelhança de Jesus Cristo.
3- Santificação completa e final. A santificação final e completa aguarda o
aparecimento de Cristo na sua vinda (1 Jo. 3:2; 1 Ts. 3:13). A santificação tem início
no começo da salvação daquele que crê, é coextensiva com sua vida nesta terra, e
atingirá o seu clímax e perfeição quando Cristo volta.

105
Outro aspecto importante a ser destacado são “os meios de santificação”
também chamados de “os meios da graça”. A santificação é obra do Deus trino,
entretanto é atribuída como uma ação do Espírito Santo na Escritura, Rm 8:11; 15.16; 1 Pe
1:2. Segundo Berkhof (1990, p. 532), “na medida em que a santificação tem lugar na vida
subconsciente, é efetuada pela operação imediata do Espírito Santo. Entretanto, como
obra realizada na vida consciente dos crentes, é feita por diversos meios, que o Espírito
Santo emprega”. O autor destaca três meios de santificação:

1- A Palavra de Deus. A Escritura apresenta todas as condições objetivas para exercícios


e atos santos.
2- Os sacramentos. Estes são os meios por excelência, segundo a igreja de Roma. Os
protestantes os consideram subordinados à Palavra de Deus, e às vezes falam deles
até como “Palavra visível”. Os sacramentos são chamados por muitos evangélicos de
“ordenanças”, e para estes tratam especificamente do Batismo e da Ceia do Senhor.
3- Direção providencial. As providências de Deus, quer favoráveis quer adversas, muitas
vezes são poderosos meios de santificação.
4- Outros autores acrescentam também a Oração como meio de santificação. A oração é
a “conversa da alma com Deus”. É o momento direto, por meio de Jesus Cristo, como o
Senhor. Através deste meio a comunhão é desenvolvida com o Criador e a santificação
pode ser experimentada. Ela abrange a adoração, o louvor o agradecimento a súplica,
a petição e a intercessão.

5 GLORIFICAÇÃO
A glorificação é o estágio final do processo de salvação. Quando olhamos para
o futuro este é o momento em que se completará o estágio final da salvação. Grudem
(1999, p. 394) comenta que:

A glorificação é o passo final na aplicação da redenção. Ela acontecerá


quando Cristo retornar e ressuscitar dentre os mortos os corpos
de todos os crentes de todas as épocas que morreram e reuni-los
às respectivas almas, e mudar os corpos de todos os crentes que
permanecerem vivos, dando assim a todos os crentes ao mesmo
tempo um corpo ressuscitado perfeito igual ao seu.

Jesus Cristo depois da sua morte e ressurreição foi glorificado. É importante


perceber que as Escrituras Sagradas ensinam que, não somente Cristo, mas todos
os que creem também serão glorificados. Jesus foi o primeiro (as primícias), e todos
aqueles que creem nele também experimentarão isto em suas vidas. Tanto o apóstolo
Paulo (1 Co. 14 e 15) como João (1 Jo. 3) enfatizam este ensinamento.

106
NOTA
A glorificação é o passo final na aplicação da redenção. Ela acontecerá
quando Cristo retornar e ressuscitar dentre os mortos os corpos
de todos os crentes de todas as épocas que morreram e reuni-los
às respectivas almas, e mudar os corpos de todos os crentes que
permanecerem vivos, dando assim a todos os crentes ao mesmo
tempo um corpo ressuscitado perfeito igual ao seu.

Então, surge a pergunta: o que precisamente está envolvido na glorificação


daquele que crê?

Glorificação é multidimensional. Ela envolve tanto a escatologia


individual como a coletiva. Ela envolve a perfeição da natureza
espiritual do crente como indivíduo, ocorre na morte, quando o
cristão entra na presença do Senhor. Também envolve a perfeição
dos corpos de todos os crentes, o qual ocorrerá no tempo da
ressurreição em conexão com a segunda vinda de Cristo. Envolve até
a transformação de toda a criação (MILLARD, 1992, p. 430).

Na glorificação a pessoa que crê receberá um corpo glorificado, diferente do


corpo físico. Este corpo na descrição de Paulo será imortal, celestial, incorruptível (1 Co.
15). Quando Cristo nos redimiu, ele não redimiu apenas o nosso espírito (ou alma) – ele
nos redimiu como pessoas completas, e isso inclui a redenção do nosso corpo. O ponto
de referência que temos quanto a este corpo é o corpo ressurreto do Senhor Jesus
Cristo. Depois da ressurreição, Ele possuía um corpo glorificado. No texto da carta aos
Coríntios em apreço, Paulo tece uma comparação entre o corpo presente e o corpo que
haverá com a glorificação. Note o contraponto que ele faz entre esses corpos:

1- O corpo atual é físico; o corpo ressurreto será espiritual.


2- O corpo atual é perceptível, sujeito a doenças e à morte; o corpo ressurreto será
incorruptível, imune a doenças e à corrupção.
3- O corpo atual é semeado em desonra; o corpo ressurreto será glorioso.
4- O corpo atual é terreno; o corpo ressurreto será celestial.

NOTA
Na glorificação a pessoa que crê receberá um corpo glorificado,
diferente do corpo físico. Esse corpo, na descrição de Paulo, será
imortal, celestial, incorruptível (1 Cor. 15). Quando Cristo nos redimiu,
Ele não redimiu apenas o nosso espírito (ou alma), Ele nos redimiu
como pessoas completas, e isso inclui a redenção do nosso corpo.

107
A glorificação também envolve o aspecto moral e espiritual, pois, na presença do
Senhor não haverá mais a presença do pecado e as consequências que dele advém. Várias
referências bíblicas apontam para uma complementação futura do processo que começou
na regeneração, desenvolveu-se na santificação e será completo na glorificação.

O que tem sido descrito pode também ser denominado a glorificação


da alma (o aspecto espiritual da natureza humana). Haverá também
uma glorificação do corpo (o aspecto físico), em conexão com a
ressurreição do crente. Na segunda vinda de Cristo, todos aqueles
que morreram no Senhor serão levantados; e eles junto com os
crentes que estiverem vivos, serão transformados. Três passagens
em particular enfatizam a mudança que haverá no corpo do crente
(Fp. 3:20,21; 2 Co. 5:1-5; 1 Cor. 15:38-50) (MILLARD, 1992, p. 435).

FIGURA 6 – GLORIFICAÇÃO

FONTE: <https://bit.ly/3Pw2157. Acesso em: 24 abr. 2020.

Um outro aspecto a ser destacado, é que a futura glorificação também trará


plenitude de conhecimento. Em 1 Co. 13:12, Paulo contrasta o conhecimento imperfeito
que existe agora com o conhecimento perfeito que virá, ou seja, agora se conhece em
parte, mas chegará um momento em que muitas coisas se tornarão claras, cristalinas,
tanto em relação a Deus e seus planos, e o futuro reservado para todos os que creem,
quanto em relação a quem as pessoas são.

Diferentemente da santificação, que é um processo, o apóstolo Paulo mostra


que a grande mudança que ocorrerá no tempo da vinda de Cristo será instantânea “num
momento, não abrir e fechar de olhos, ante a última trombeta; porque a trombeta soará,
e os mortos ressuscitarão incorruptíveis, e nós seremos transformados” (1 Co. 15:52).
Bernard Ramm afirma que “essa glorificação não é um processo, não é uma questão
de crescimento, mas ocorre subitamente, dramaticamente, no fim dos tempos” (RAMM
apud MILLARD, 1992, p. 436). “A aplicação da obra redentora de Cristo a nós não será
completa até que nosso corpo seja inteiramente liberto dos efeitos da queda e trazido
ao estado de perfeição para o qual Deus o criou” (GRUDEM, 1999, p. 394).

108
E, por fim, não podemos nos esquecer da ligação entre a glorificação daquele
que crê e a renovação da criação. O pecado do ser humano e sua queda trouxe
determinadas consequências para a criação, como também para ele mesmo (Gn. 3).
Conforme o apóstolo Paulo, a criação está presentemente sujeita a futilidade (Rm. 8:18-
25). Entretanto, Paulo ensina que vive-se “na esperança de que a própria criação será
redimida do cativeiro da corrupção, para a liberdade da glória dos filhos de Deus” (Rm.
8:21). A natureza da transformação que está por ocorrer é declarada mais especificamente
em Apocalipse 21:1-2: “Vi novo céu e nova terra, pois o primeiro céu e a primeira terra
passaram, e o mar já não existe. Vi também a cidade santa, a nova Jerusalém, que
descia do céu, da parte de Deus, ataviada como noiva adornada para o seu esposo”,
ou seja, a própria criação será liberta da corrupção para a glória dos filhos de Deus.

Depois de percorrermos o assunto da Soteriologia e conhecermos um pouco


mais sobre esta temática, finalizamos com uma reflexão bem interessante que trata do
relato de Martin Luther King Júnior – Pastor batista e ativista político estadunidense,
que se tornou a figura mais proeminente e líder do movimento dos direitos civis nos
Estados Unidos de 1955 até seu assassinato em 1968 – o qual contribui e encerra o
nosso assunto sobre salvação:

INTERESSANTE
Digam que eu fui um mensageiro!

O pastor Martin Luther King Júnior falou a sua igreja, em Atlanta, Estados Unidos, dois
meses antes de sua morte:

Se alguém aqui estiver presente quando chegar a minha hora, não quero um enterro
prolongado. Se alguém fizer elogio fúnebre, digam-lhe que não fale demais. Às vezes,
penso que eu gostaria que essa pessoa dissesse. Digam-lhe que não mencione que
eu tenho o Prêmio Nobel da Paz – isso não é importante. Digam-lhe que não fale que
eu tenho 300 ou 400 prêmios, que não fale da universidade onde eu estudei, isso não
importante. Gostaria que alguém falasse no dia em que Martin Luther King Jr. tentou dar
a vida para servir aos outros, no dia em que tentou amar alguém. Quero que alguém
fale no dia em que tentei ser justo e marchei com eles. Quero que possam falar no
dia em que tentei dar de comer aos que tinham fome, falem no dia da minha vida em
que tentei vestir os que estavam nu, tentei visitar os que estavam na prisão. E quero
que digam que procurei amar e servir a humanidade. Sim, se quiserem,
digam que eu fui mensageiro. Digam que fui um mensageiro da justiça.
Digam eu fui mensageiro da paz, e da retidão. E todas as outras coisas
supérfluas não terão importância. Não terei dinheiro para deixar, as
coisas boas e luxuosas da vida para deixar, quero apenas uma vida de
serviço. Se puder ajudar alguém à minha volta, alegrar alguém
com uma palavra ou canção, se puder mostrar o caminho a
alguém que está andando errado, não terei vivido em vão. Se
puder cumprir meu dever de cristão, levar a salvação ao mundo
arrasado, se puder difundir a mensagem como o Mestre a ensinou,
então, minha vida não terá sido em vão.

FONTE: <http://nunespataqui.blogspot.com/2013/07/digam-que-eu-fui-
um-mensageiro.html>. Acesso em: 24 abr. 2020.

109
LEITURA
COMPLEMENTAR
SANTIFICAÇÃO

Louis Berkhof

A doutrina da santificação na história

1 ANTES DA REFORMA

No desenvolvimento histórico da doutrina da santificação, a igreja preocupou-se


primeiramente com três problemas: (a) a relação da graça de Deus na santificação com
a fé; (b) a relação da santificação com a justificação; e (c) o nível da santificação nesta
existência. Os escritos dos chamados pais da igreja primitivos contêm muito pouca
coisa a respeito da doutrina da santificação. Um ar de moralismo transparece em que o
homem era ensinado a depender da fé e das boas obras para a salvação. Ele deve levar
uma vida virtuosa e, assim, merecer a aprovação do Senhor. “Tal dualismo”, diz Scott
em sua Teologia Nicena (The Nicene Theology), 1 “deixava os domínios da santificação
só diretamente relacionados com a redenção em Cristo; e foi este o campo em que,
naturalmente, se desenvolveram concepções defeituosas do pecado, o legalismo,
o sacramentalismo, o falso sacerdócio e todos os excessos da devoção monacal”. O
ascetismo veio a ser considerado da maior importância. Havia também a tendência de
confundir a justificação com a santificação, e as suas opiniões tiveram determinante
influência sobre a igreja da Idade Média. Ele não distinguia claramente entre a justificação
e a santificação, incluindo esta naquela. Desde que ele cria na corrupção total da
natureza humana, ocasionada pela Queda, pensava na santificação como uma nova
comunicação da vida divina, uma nova energia infusa, operando exclusivamente dentro
dos limites da igreja e mediante os sacramentos. Conquanto não tenha perdido de vista
a importância do amor pessoal a Cristo como um elemento constitutivo da santificação,
manifestava a tendência para uma visão metafísica da graça de Deus na santificação –
para considerá-la um depósito de Deus no homem. Ele não acentuava suficientemente
a necessidade de uma constante preocupação da fé com Cristo Redentor como o fator
mais importante da transformação da vida cristã. As tendências patentes nos ensinos
de Agostinho frutificaram na teologia da Idade Média, que se vê em sua elaboração
mais desenvolvida nos escritos de Tomaz de Aquino. Não se distinguem claramente a
justificação e a santificação, mas, segundo essa concepção, aquela inclui a infusão da
graça divina, como uma coisa substancial, na alma humana. Esta graça é uma espécie
de donum superadditum (dom superádito), pelo qual a alma é elevada a novo nível ou a
uma ordem superior do ser, e é capacitada a cumprir o seu destino celestial de conhecer,

110
possuir e fruir a Deus. A graça é derivada do inexaurível tesouro dos méritos de Cristo e
é infundida nos crentes por meio dos sacramentos. Vista do ponto de vista divino, esta
graça santificadora na alma assegura a remissão do pecado original, infunde um hábito
permanente de retidão inerente, e leva consigo o potencial de ulterior desenvolvimento,
e até de perfeição. A partir dela a nova vida se desenvolve, com todas as suas virtudes.
Sua obra pode ser neutralizada ou destruída por pecados mortais; mas a culpa contraída
após o batismo pode ser removida pela eucaristia, no caso dos pecados veniais, e pelo
sacramento da penitência, no caso dos pecados mortais. Consideradas do ponto de
vista humano, as obras sobrenaturais da fé, operando pelo amor, têm mérito perante
Deus e garantem um aumento da graça. Contudo, tais obras são impossíveis sem a
contínua operação da graça de Deus. O resultado do processo todo era conhecido como
justificação, em vez de santificação; consistia em tornar justo o homem diante de Deus.
Estas ideias estão incorporadas nos Cânones e Decretos do Concílio de Trento.

2 DEPOIS DA REFORMA

Ao falarem de santificação, os Reformadores davam ênfase à antítese de pecado


e redenção, e não à de natureza e supernatureza. Eles faziam clara distinção entre
justificação e santificação, considerando a primeira como um ato legal da graça divina,
afetando a posição judicial do homem, e a última como uma obra moral ou recriadora,
mudando a natureza interior do homem. Entretanto, enquanto faziam cuidadosa
distinção entre as duas, também salientavam a sua inseparável conexão. Embora
profundamente convictos de que o homem é justificado somente pela fé, também
compreendiam que a fé que justifica não está sozinha. A justificação é imediatamente
seguida pela santificação, visto que Deus envia o Espírito de Seu Filho aos corações dos
que Lhe pertencem, tão logo são justificados, e esse Espírito é o Espírito de santificação.
Eles não consideravam a graça da santificação como uma essência sobrenatural infusa
no homem através dos sacramentos, mas como uma sobrenatural e graciosa obra do
Espírito Santo, primariamente mediante a Palavra, e secundariamente mediante os
sacramentos, pela qual Ele nos livra mais e mais do poder do pecado e nos habilita
a praticar boas obras. Embora de modo algum confundindo a justificação com a
santificação, sentiam a necessidade de preservar a mais estreita relação possível entre
aquela, na qual a livre e perdoadora graça de Deus é fortemente acentuada, e esta,
que requer a cooperação do homem, com o fim de evitarem o perigo da justiça das
obras. No pietismo e no metodismo, forte ênfase foi dada à comunhão constante com
Cristo como o grande meio de santificação. Exaltando a santificação em detrimento da
justificação, nem sempre evitaram o perigo da justiça própria. Wesley não distinguia
meramente entre a justificação e a santificação, mas virtualmente as separava, e falava
da santificação completa como um segundo dom da graça, seguindo-se ao primeiro, a
justificação pela fé, após um período mais curto ou mais longo. Embora também falasse
da santificação como um processo, todavia afirmava que o crente deve rogar e buscar a
santificação completa e definitiva, efetuada por um ato definido de Deus. Sob a influência
do racionalismo e do moralismo de Kant, a santificação deixou de ser considerada como
uma obra sobrenatural do Espírito Santo na renovação dos pescadores, e foi rebaixada

111
ao nível de um simples melhoramento moral obtido pelos poderes naturais do homem.
Para Schleiermacher, era simplesmente o progressivo domínio da consciência de
Deus dentro de nós sobre a consciência humana do mundo, meramente perceptiva e
sempre moralmente defeituosa. E para Ritschl. Era a perfeição moral da vida cristã a que
chegamos pelo cumprimento da nossa vocação como membros do reino de Deus. Em
grande parte da teologia “liberal” moderna, a santificação consiste apenas na sempre
crescente redenção do ser inferior do homem mediante o domínio do seu ser superior.
Redenção pelo caráter é um dos lemas dos dias atuais, e o termo “santificação” veio a
significar mero melhoramento moral.

A Ideia Bíblica de Santidade e Santificação

1 NO VELHO TESTAMENTO

Na Escritura, a qualidade da santidade aplica-se primeiramente a Deus, e,


aplicada a Ele, sua ideia fundamental é a de inacessibilidade. Esta se baseia no fato
de que Deus é divino e, portanto, absolutamente distinto das criaturas. Neste sentido,
a santidade não é apenas um atributo em coordenação com os demais em Deus. Ele
é santo em Sua graça bem como em Sua justiça, em Seu amor, bem como em Sua ira.
Estritamente falando, a santidade só vem a ser um atributo no sentido ético posterior
da palavra. O sentido ético do termo desenvolveu-se do sentido de majestade. Este
desenvolvimento parte da ideia de quem ser pecador está mais agudamente cônscio da
majestade de Deus, do que um ser sem pecado. O pecador fica ciente da sua impureza
quando esta é contrastada com a majestosa pureza de Deus, cf. Is 6. Otto fala da
santidade no sentido original, como numinosa, e se propõe denominar a reação típica a
isto “sentimento de criaturidade, ou consciência de ser criatura”, uma desvalorização do
ego, reduzindo-o à nulidade, ao passo que fala da reação à santidade no sentido ético
derivado como um “sentimento de profanidade”. Assim é que se desenvolve a ideia da
santidade como pureza majestosa ou sublimidade ética. Esta pureza é um princípio
ativo em Deus, que necessariamente se afirma a si próprio e defende a sua honra. Isto
explica o fato de que a santidade é apresentada na Escritura também como a luz da
glória divina transformada num fogo devorador, Is 5.24; 10.17; 33.14,15. Em contraste
com a santidade de Deus, o homem se sente não meramente insignificante, mas
positivamente impuro e pecaminoso, e, como tal, como objeto da ira de Deus. Deus
revelou no Velho Testamento a Sua santidade de várias maneiras. Ele o fez com terríveis
juízos sobre os inimigos de Israel, Ex 15.11,12. Também o fez separando para Si um povo,
que Ele retirou do mundo, Ex 19.4-6; Ez 20.39-44. Tomando e retirando este povo do
mundo impuro e ímpio, Ele protestou contra esse mundo e seu pecado. Ademais, Ele
o fez repetidamente, poupando o Seu povo infiel, porque não queria que o mundo não
santo se regozijasse com aquilo que poderia considerar fracasso em Sua obra (Os. 11:9).

Num sentido derivado, a ideia de santidade também é aplicada a coisas


e pessoas que são colocadas numa relação especial com Deus. A terra de Canaã, a
cidade de Jerusalém, o monte templo, o tabernáculo e o templo, os sábados e as festas

112
solenes de Israel – todas estas coisas são chamadas santas, visto serem consagradas a
Deus e introduzidas no resplendor da Sua augusta santidade. Similarmente, os profetas,
os levitas e os sacerdotes são chamados santos na qualidade de pessoas que foram
separadas para o serviço especial do Senhor. Israel tinha os seus lugares sagrados, as
suas épocas sagradas, os seus ritos sagrados e as suas pessoas sagradas. Contudo,
esta ainda não é a ideia ética da santidade. Uma pessoa podia ser sagrada e, todavia,
estar inteiramente vazia da graça de Deus em seu coração. Na antiga dispensação, como
também na nova, a santidade ética resulta da influência renovadora e santificante do
Espírito Santo. Deve-se lembrar, porém, que mesmo quando a concepção de santidade
é completamente espiritualizada, sempre expressa uma relação. Nunca a ideia de
santidade é a de bondade moral, considerada em si mesma, mas sempre é a ideia de
bondade ética vista em relação com Deus.

2 NO NOVO TESTAMENTO

Ao passarmos do Velho Testamento para o Novo, damo-nos conta de uma


notável diferença. Enquanto no Velho Testamento não há nem um só atributo de Deus
que sequer lembre alguma semelhança com a proeminência dada a sua santidade, no
Novo Testamento raramente se atribui santidade a Deus. Exceto nalgumas citações do
Velho Testamento, somente nos escritos de João a santidade é atribuída a Deus, Jo
17.11; 1 Jo 2.20; Ap. 6.10. Com toda a probabilidade, a explicação para isso está no fato
de que a santidade, no Novo Testamento, projeta-se como a característica especial do
Espírito Santo, por Quem os crentes são santificados, são qualificados para o serviço e
são conduzidos ao seu destino eterno, 2 Ts 2.13; Tt 3.5. A palavra hagios é empregada em
conexão com o Espírito de Deus cerca de cem vezes. Contudo, a concepção de santidade
e de santificação no Novo Testamento não é diferente da que se vê no Velho Testamento.
Tanto naquele como neste a santidade, num sentido derivado, é atribuída ao homem.
Num e no outro a santidade ética não é mera retidão moral, e nunca a santificação é mero
melhoramento moral. Há confusão destas duas coisas atualmente, quando falam em
salvação pelo caráter. Um homem pode gabar-se de um grande melhoramento moral, e,
todavia, não ter nenhuma experiência da santificação. A Bíblia não insiste no progresso
moral puro e simples, mas no progresso moral em relação com Deus, em atenção a
Deus e com vistas ao serviço de Deus. Ela insiste na santificação. Justamente neste
ponto, muita pregação ética dos dias atuais é completamente enganosa; e o corretivo
para isto está na apresentação da verdadeira doutrina da santificação. Pode-se definir a
santificação como a graciosa e contínua operação do Espírito Santo pela qual Ele liberta
o pecador justificado da corrupção do pecado, renova toda a sua natureza à imagem de
Deus, e o capacita a praticar boas obras.

FONTE: BERKHOF, L. Trad. Odayr Olivetti. Teologia sistemática. São Paulo: Editora Cultura Cristã, 1990.

113
RESUMO DO TÓPICO 3
Neste tópico, você adquiriu certos aprendizados, como:

• Adoção envolve uma mudança de estado e condição. No sentido formal, adoção é


uma questão declarativa, uma alteração de nosso estado legal. Nós nos tornamos
filhos de Deus. Esse é um fato objetivo.

• Deus agiu em Cristo para reconciliar os pecadores consigo mesmo, mediante a cruz.
A reconciliação foi uma tarefa realizada de modo completo por Cristo no Calvário.

• “A santificação é a obra progressiva de Deus e do homem que nos torna mais e mais
livres do pecado e iguais a Cristo” (GRUDEM, 1999, p. 359). A santificação envolve a
libertação do pecado e a capacitação da parte de Deus para fazer a sua vontade.

• A palavra santificação na língua hebraica é qadosh (santo) e aparece em torno de


duas mil vezes no Antigo Testamento. Já a palavra usada para santificação na língua
grega é hagios (santo) e aparece em torno de trezentas vezes no Novo Testamento.
Tanto qadosh como hagios significam essencialmente “separar”.

• A glorificação é o passo final na aplicação da redenção. Ela acontece quando Cristo


retornar e ressuscitar dentre os mortos os corpos de todos os crentes de todas as
épocas que morreram e reuni-los às respectivas almas, e mudar os corpos de todos
os crentes que permanecerem vivos, dando assim a todos os crentes ao mesmo
tempo um corpo ressuscitado perfeito igual ao seu.

• Na glorificação a pessoa que crê receberá um corpo glorificado, diferente do corpo


físico. Este corpo na descrição de Paulo será imortal, celestial, incorruptível (1 Co. 15).
Quando Cristo nos redimiu, ele não redimiu apenas o nosso espírito (ou alma) – ele
nos redimiu como pessoas completas, e isso inclui a redenção do nosso corpo.

114
AUTOATIVIDADE
1 Por meio da adoção a pessoa passa a ter um relacionamento familiar, íntimo,
comparado a um relacionamento entre Pai e filho. Este é um dos benefícios que a
adoção propicia para todo aquele que crê. A adoção concedia à pessoa determinados
direitos e benefícios. Sobre os direitos e benefícios da adoção, analise as sentenças
a seguir:

I- Dois direitos que a adoção propicia são: acesso ao Pai e a presença do Espírito
Santo na vida da pessoa que crê.
II- O perdão e a liberdade para os filhos de Deus são exemplos de alguns dos benefícios
que a adoção traz.
III- A reconciliação e o cuidado paternal de Deus são dois exemplos de benefícios que
a adoção traz.
IV- O perdão e a reconciliação são exemplos dos direitos que a adoção propicia aos
filhos de Deus.

Agora, assinale a alternativa CORRETA:


a) ( ) As alternativas I, II e III estão corretas.
b) ( ) As alternativas II, III e IV estão corretas.
c) ( ) As alternativas I e III estão corretas.
d) ( ) As alternativas I e IV estão corretas.

2 Na glorificação, o ponto de referência que temos ao corpo é o corpo ressurreto do


Senhor Jesus Cristo. Jesus, depois da ressurreição possuía um corpo glorificado. No
texto da carta aos Coríntios, Paulo faz uma comparação entre o nosso corpo presente
e o corpo que teremos com a glorificação. Diante deste corpo glorificado, classifique V
para as sentenças verdadeiras e F para as sentenças falsas:

( ) O corpo ressurreto será incorruptível, imune a doenças e à corrupção.


( ) O corpo ressurreto será espiritual.
( ) O corpo ressurreto será glorioso, porém, mortal.
( ) O corpo ressurreto será celestial.

Assinale a alternativa que apresenta a sequência CORRETA:


a) ( ) V – V – V – F.
b) ( ) V – V – F – V.
c) ( ) V – V – F – F.
d) ( ) F – V – F – V.

115
3 Dois aspectos bem importantes quanto ao assunto da salvação são: a justificação
e a santificação. É necessário saber diferenciá-los, pois, representam pontos
fundamentais no entendimento e compreensão da Soteriologia. Com relação à
justificação e santificação, associe os itens, utilizando o código a seguir:

I- Justificação.
II- Santificação.

( ) Obra de Deus e cooperação humana.


( ) Ocorre uma só vez.
( ) Em processo.
( ) Realizada e completa.

Assinale a alternativa que apresenta a sequência CORRETA:


a) ( ) I – II – I – II.
b) ( ) II – I – II – I.
c) ( ) I – II – II – I.
d) ( ) II – I – I – II.

4 Como foi mencionado, com a queda do ser humano o pecado entrou na raça humana.
O pecado criou uma barreira entre Deus e o homem, uma inimizade, uma separação.
Por isso, os homens já nascem rebeldes contra o seu Criador. No entanto, houve a
reconciliação. Quem providenciou a reconciliação?

a) ( ) O homem (ser humano), por meio da religião.


b) ( ) Deus, por meio de Cristo.
c) ( ) A mulher, por meio da sua ação.
d) ( ) Deus e o homem, os dois cooperaram.

116
REFERÊNCIAS
A BÍBLIA SAGRADA. Tradução de João Ferreira de Almeida. São Paulo: Editora
Hagnos, 2002. Disponível em: http://www.ebooksbrasil.org/adobeebook/biblia.pdf.
Acesso em: 24 abr. 2021.

ANDERSON, J. N. The evidence the resurrection. Downers Grove: InterVarsity Press,


1966.

BANCROFT, E. H. Teologia Elementar – Doutrinária e conservadora. São Paulo:


Imprensa Batista Regular, 1992.

BERKHOF, L. Teologia sistemática. São Paulo: Editora Cultura Cristã, 1990.

CHAFER, L. S. Teologia sistemática. São Paulo: Editora Hagnos, 2003.

DOUGLAS, J. D. O novo dicionário da Bíblia. São Paulo: Edições Vida Nova, 1988.

DREHER, M. N. A theologia crucis de Lutero e o tema da Teologia da libertação.


[s.l.]: Estudos Teológicos, 1988.

GRUDEM, W. Manual de Teologia sistemática. São Paulo: Editora Vida, 1999.

INTERSABERES. Teologia sistemática. Curitiba: Editora Intersaberes, 2014.

KELLER, T. Oração: experimentando intimidade com Deus. São Paulo: Vida Nova, 2016.

LIENHARD, M. Martim Lutero: tempo, vida e mensagem. São Leopoldo: Sinodal, 1998.

LITTLE, P. E. Saiba o que você crê. São Paulo: Mundo Cristão, 1997.

LOPES, H. D. Marcos: o evangelho dos milagres. São Paulo: Hagnos, 2006.

LUTHER, M. et al. Luther’s works. Jaroslav Pelikan and Helmut T. Lehmann. St. Louis,
Mo: Concordia Publishing House; Minneapolis: Fortress Press, 1955.

MILLARD, J. E. Introdução à Teologia sistemática. São Paulo: Edições Vida Nova,


1992.

OLSON, R. F. História das controvérsias na Teologia cristã. São Paulo: Vida,


2004.

117
OLSON, R. F. História da Teologia cristã. São Paulo: Editora Vida, 2001.

PACKER, J. I. Vocábulos de Deus. São José dos Campos: Editora Fiel, 2002.

PENTECOST, J. D. A são doutrina. São Paulo: Editora Mundo Cristão, 1994.

RIENECKER, F.; ROGERS, C. Chave linguística do Novo Testamento grego. São


Paulo: Edições Vida Nova, 1985.

RYRIE, C. Teologia básica. São Paulo: Mundo Cristão, 2003.

THIESSEN, H. C. Palestras introdutórias à Teologia sistemática. São Paulo:


Imprensa Batista Regular, 1987.

118
UNIDADE 3 —

DOUTRINA DO ESPÍRITO
SANTO – PNEUMATOLOGIA

OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM
A partir do estudo desta unidade, você deverá ser capaz de:

• conhecer a respeito da natureza do Espírito Santo;

• compreender que o Espírito Santo é uma pessoa, possui e demonstra os atributos


de uma pessoa divina;

• verificar os nomes que são dados ao Espírito Santo;

• apontar algumas evidências da presença do Espírito Santo na história bíblica;

• identificar os símbolos e os tipos, nas Escrituras, do Espírito Santo;

• observar a obra do Espírito Santo no universo material em relação ao mundo e em


relação aos cristãos.

PLANO DE ESTUDOS
Esta unidade está dividida em três tópicos. No decorrer dela, você encontrará
autoatividades com o objetivo de reforçar o conteúdo apresentado.

TÓPICO 1 – A NATUREZA DO ESPÍRITO SANTO

TÓPICO 2 – O ESPÍRITO SANTO NAS ESCRITURAS

TÓPICO 3 – A OBRA DO ESPÍRITO SANTO

CHAMADA
Preparado para ampliar seus conhecimentos? Respire e vamos em frente! Procure
um ambiente que facilite a concentração, assim absorverá melhor as informações.

119
CONFIRA
A TRILHA DA
UNIDADE 3!

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120
UNIDADE 3 TÓPICO 1 —
A NATUREZA DO ESPÍRITO SANTO

1 INTRODUÇÃO
Caro acadêmico, iniciamos, agora, os estudos de Pneumatologia. Conforme
Chafer (2003, p. 351), “a pneumatologia é o tratamento científico de qualquer ou de
todos os fatos relacionados ao espírito”. Na Bíblia, encontramos vários sentidos para a
palavra “espírito”. No Antigo Testamento, a tradução para a palavra “espírito” – “ruach”
– significa, essencialmente “vento, hálito e respiração”. No Novo Testamento, a língua
grega traduz a palavra “espírito” como “pneuma”, cuja raiz pneu se refere ao ar, somada
ao sufixo “ma” (fala de ação, movimento), o que completa a ideia. A respeito da palavra
“espírito”, note o que Berkhof menciona:

O termo hebraico com o qual Ele é designado é ruach, e, o grego, é pneuma,


ambos como o vocábulo latino spiritus, derivam de raízes que significam “soprar”,
“respirar”. Daí, também, podem ser traduzidos por “sopro” ou “fôlego”, Gn 2.7; 6,17; Ez
37.5, 6, ou “vento”, Gn 8.1: 1 Rs 19.11: Jo 3.8. O Velho Testamento, geralmente, emprega o
termo “espírito” sem qualificativos, ou fala do “Espírito de Deus” ou “Espírito do Senhor”,
e utiliza a expressão “Espírito Santo” somente em Sl 51.11; Is 63.10, 11, enquanto no Novo
Testamento, veio a ser uma designação da terceira pessoa da Trindade (BERKHOF, 1990,
p. 86-87).

Nos nossos estudos, concentrar-nos-emos no aspecto relacionado ao Espírito


Santo. No estudo da teologia, a doutrina bíblica do Espírito Santo é conhecida como
“Pneumatologia”, termo que procede de três palavras gregas: pneuma – espírito;
hagios – santo; e logia – estudo. O estudo da Pneumatologia, também, é chamado de
Paracletologia. Esse termo é a junção de duas palavras gregas: paracleto (intercessor,
advogado, conselheiro de defesa, assistente legal) + logia (estudo, doutrina). Paracletos
é um termo usado nas Escrituras Sagradas para se referir ao Espírito Santo.

No decorrer dos nossos estudos, olharemos para três aspectos mais específicos
a respeito da doutrina do Espírito Santo:

• a natureza do Espírito Santo;


• o Espírito Santo nas Escrituras; e
• a obra do Espírito Santo.

Neste primeiro momento, o nosso enfoque será dado à natureza do Espírito


Santo. Por isso, o alvo inicial será conhecer a respeito da pessoa do Espírito Santo,
da divindade, e dos nomes que Lhe são atribuídos. Assim, concentraremos o nosso
foco, neste tópico, nesses três pontos, pois, são de fundamental importância para a
compreensão dessa doutrina bíblica.

121
O Espírito Santo, a terceira pessoa da trindade divina, suscita curiosidade,
interesse, debates, polêmicas, mas o nosso propósito é um aprofundamento em relação
à terceira pessoa da Trindade, consequentemente, à pessoa de Deus. Nesse sentido,
a contribuição dessa doutrina, para o conhecimento da Teologia, é primordial.

NOTA
A pneumatologia é o tratamento científico de qualquer ou de todos
os fatos relacionados ao espírito. O estudo da Pneumatologia,
também, é chamado de Paracletologia. Esse termo é a junção de
duas palavras gregas: paracleto (intercessor, advogado, conselheiro
de defesa, assistente legal) + logia (estudo, doutrina).

2 O ESPÍRITO SANTO É UMA PESSOA


Que o Espírito Santo é uma pessoa é um fato, muito claramente, apresentado
nas Escrituras Sagradas. No decorrer da história da Igreja, surgiram muitas pessoas que
questionavam e atacavam esse pensamento. Nos tempos atuais, isso não é diferente,
pois tem surgido uma variedade de seitas que, dizendo-se cristãs, negam e atacam essa
verdade fundamental do cristianismo. Muitos o veem como uma influência, um poder,
uma energia, uma manifestação ou uma emanação da natureza divina, sugerindo que o
Espírito Santo seja, simplesmente, uma influência, e não uma pessoa.

A personalidade do Espírito foi negada, na Igreja Primitiva, pelos


monarquistas e pelos pneumatomaquianos. Nessa negação,
eles foram seguidos pelos socianos dos dias da Reforma, mas,
recentemente, Schleiermacher, Ritschil, os unitários, os modernistas
dos dias atuais e todos os sabelianos modernos rejeitam a
personalidade do Espírito Santo (BERKHOF, 1990, p. 87).

Entretanto, quando olhamos para aquilo que as Escrituras Sagradas apresentam


e atestam, fica muito evidente que o Espírito Santo é uma pessoa, isto é, a terceira
pessoa da Trindade. É o que, de agora em diante, observaremos.

“Por personalidade do Espírito Santo, queremos dizer que Ele possui ou contém,
em si mesmo, os elementos de existência pessoal, em contraste com a existência
impessoal ou vida animal” (BANCROFT, 1992, p. 178). Por exemplo, observe algumas
características pessoais atribuídas ao Espírito Santo e os respectivos textos bíblicos
que apresentam essa ideia:

122
1- Inteligência (Rm 8:27).
2- Vontade (1 Co 12:11).
3- Amor (Rm 15:30).
4- Bondade (Ne 9:20).
5- Tristeza (Ef 4:30).

Para facilitar a nossa compreensão a respeito desse ponto, passemos a verificar,


em seguida, alguns argumentos que são levantados (com base nas Escrituras) que
apontam para o fato da personalidade do Espírito Santo.

FIGURA 1 – A PERSONALIDADE DO ESPÍRITO SANTO

O ESPÍRITO SANTO É UMA PESSOA PORQUE


MANIFESTA TODAS AS CARACTERÍSTICAS
DE PERSONALIDADE

A PERSONALIDADE DO ESPÍRITO SANTO É


PROVADA POR AQUILO QUE ELE REALIZA

A PERSONALIDADE DO ESPÍRITO SANTO É


REVELADA PELO TRATAMENTO QUE O SER
HUMANO LHE DISPENSA

A PERSONALIDADE DO ESPÍRITO
SANTO É AFIRMADA PELO USO DE
PRONOMES PESSOAIS

FONTE: O autor

2.1 O ESPÍRITO SANTO É UMA PESSOA PORQUE


MANIFESTA TODAS AS CARACTERÍSTICAS DE
PERSONALIDADE
Conforme mencionado por Bancroft (1992), quando nos referimos à
personalidade do Espírito Santo, estamos afirmando que Ele possui, em si mesmo, os
elementos de existência pessoal. Quando um ser possui os atributos, as propriedades e
as qualidades de personalidade, então, pode-se atribuir, a esse ser, inquestionavelmente,
personalidade. De acordo com o referido autor, “pode-se dizer que a personalidade existe
quando se encontram, em uma única combinação, inteligência, emoção e volição, ou,
ainda, autoconsciência e autodeterminação” (BANCROFT, 1992, p. 178).

123
Algumas das principais características da personalidade são: 1) Inteligência, isto
é, o poder de raciocinar, de pensar (conhecimento); 2) Emoção, isto é, as capacidades de
ter e de expressar os sentimentos, por exemplo, amar, odiar etc.; 3) Vontade Própria, isto
é, as ações de escolher e de determinar (tomar decisões). A palavra de Deus revela que
o Espírito Santo possui e manifesta esses poderes (capacidades), o que demonstra ser,
Ele, uma pessoa. Citaremos algumas referências bíblicas que atestam isso:

1- O Espírito Santo possui Inteligência.

1 Co 2:10,11 – “Mas Deus no-lo revelou pelo Espírito; porque o Espírito a todas
as coisas perscruta, até mesmo as profundezas de Deus. Por que qual dos homens sabe
as coisas do homem, senão o seu próprio espírito, que nele está? Assim, também, as
coisas de Deus, ninguém as conhece, senão o Espírito de Deus”.

Rom 8:27 – “E aquele que sonda os corações sabe qual é a mente do Espírito,
porque, segundo a vontade de Deus, é que ele intercede pelos santos”.

É de se notar, conforme os textos bíblicos, que o Espírito não somente conhece,


perscruta (examina, minuciosamente, com toda a atenção, investiga, estuda) as cousas
de Deus, mas, até mesmo, “as profundezas de Deus”. O Espírito Santo pensa, indicando
ou provando a inteligência e a capacidade de raciocinar. Note, através dos verbos
usados nos versículos, as ações do Espírito Santo: revela, perscruta, conhece, sonda,
sabe, intercede. Todas essas ações nos remetem a alguém inteligente, que pensa,
raciocina etc.

2- O Espírito Santo possui Emoções.

Rom 15:30 – “Rogo-vos, pois, irmãos, por nosso Senhor Jesus Cristo e pelo
amor do Espírito, que luteis juntamente comigo nas orações a Deus a meu favor [...]”.
Nesse verso, destaca-se a presença do amor do Espírito, ou seja, Ele ama.

Ef 4:30 – “E não entristeçais o Espírito de Deus, no qual fostes selado para o


dia da redenção”.

Na carta aos Efésios, Paulo mostra que o Espírito pode ser entristecido, ou seja,
Ele se entristece. Com esses dois exemplos, pode-se afirmar que o Espírito Santo possui
emoções, pois ele ama e sente tristeza. São emoções iguais às nossas, contudo, em
um grau muito mais elevado, pois as emoções dEle são perfeitas, diferentemente das
emoções do ser humano, cuja presença do pecado faz com que elas sejam, muitas
vezes, distorcidas e oscilantes.

124
3- O Espírito Santo exerce Vontade Própria.

1 Co 12:11 – “Mas um só e o mesmo Espírito realiza todas estas coisas,


distribuindo-as, como lhe apraz, a cada um, individualmente”.

Novamente, é possível perceber o Espírito Santo agindo com a própria vontade,


volição, por meio das ações dos verbos (realiza, distribuindo, apraz). Esse é um dos
diversos exemplos encontrados na Bíblia. Há versos que apresentam o Espírito agindo
em submissão ao Pai ou ao Filho, porém, até esta submissão apresenta o fato do
exercício da vontade própria, pois é algo voluntário da parte dEle.

2.2 A PERSONALIDADE DO ESPÍRITO SANTO É PROVADA


POR AQUILO QUE ELE REALIZA
Há provas abundantes, nas Escrituras, das atividades do Espírito Santo que são
atribuídas, somente, a pessoas. Destacaremos algumas delas:

1- O Espírito Santo ensina.

“[...] Mas o Consolador, o Espírito Santo, a quem o Pai enviará em Meu nome,
Esse vos ensinará todas as coisas e vos fará lembrar de tudo o que vos tenho dito”
(Jo. 14:26).

Pode-se aprender de diversas formas, por meio de pessoas ou, até mesmo, de
objetos impessoais e inanimados (por exemplo, ao colocar a mão no fogo, uma criança
aprende que o fogo queima). Entretanto, o objeto inanimado não tem, em si mesmo,
a capacidade de ensinar. A capacidade e a habilidade de ensinar são faculdades de
alguém que possui personalidade.

2- O Espírito Santo fala.

“E, servindo-os ao Senhor, e jejuando, disse o Espírito Santo: separai-me, agora,


Barnabé e Saulo, para a obra a que os tenho chamado” (At 13:2).

Observe que não é o caso que o Espírito Santo, simplesmente, emita sons, mas
Ele fala (disse) palavras e ideias inteligíveis, conforme o texto bíblico em apreço. O seu
falar é inteligente.

3- O Espírito Santo intercede.

“Também, o Espírito, semelhantemente, nos assiste em nossa fraqueza; porque


não sabemos orar como convém, mas o mesmo Espírito intercede por nós sobremaneira,
com gemidos inexprimíveis” (Romanos 8:26).

125
Interceder a favor de alguém exige a compreensão da situação, ou da
necessidade por quem se intercede. O Espírito Santo entende a nossa situação e a
necessidade, apresenta-se diante do trono de Deus em nosso lugar, e intercede por nós,
de acordo com a passagem das Escrituras.

4- O Espírito Santo guia.

“Pois todos os que são guiados pelo Espírito de Deus são filhos de Deus”
(Romanos 8:14).

A capacidade de guiar uma outra pessoa, ou ser guiado pelo Espírito Santo,
somente uma pessoa pode tê-la. Conforme o versículo, o Espírito Santo escolhe o
caminho e dirige o filho de Deus para que Este possa andar nele.

5- Ele convence o mundo (Jo 16:8).

“Quando ele (Espírito Santo) vier, convencerá o mundo do pecado, da justiça e


do juízo” (Jo 16:8).

O sentido da palavra “convence”, neste verso, indica o exercício de um poder


sobre as consciências e os pensamentos dos homens. Isso é uma ação própria de uma
pessoa, pois, para exercer o convencimento, exigem-se as capacidades de raciocínio e
de articulação do pensamento, para, assim, haver o convencimento.

6- O Espírito Santo conduz e dirige.

“E, percorrendo a região frígio-gálata, tendo sido impedidos pelo Espírito Santo
de pregar a palavra na Ásia, defrontando Mísia, tentavam ir para Bitínia, mas o Espírito
de Jesus não o permitiu” (Atos 16:6,7).

Nesses dois versos bíblicos, fica nítida a ação do Espírito conduzindo, dirigindo
a vida dos discípulos. As expressões “impedidos” e “não o permitiu” deixam evidente a
ação do Espírito Santo nesse processo de orientá-los.

Foram mencionados alguns exemplos bíblicos para mostrar como as ações


que o Espírito Santo realiza mostram a personalidade dEle. Esses são alguns versos
(há muito mais), nos quais a Palavra de Deus apresenta o Espírito Santo agindo como
somente uma pessoa agiria. São versículos que atestam a personalidade.

126
NOTA
Referindo-se ao Espírito Santo: “São-Lhe atribuídas características de
pessoa, como inteligência, Jo 14.26; 15.26; Rm 8.16, vontade, At 16.7;
1 Co 12.11, e sentimentos, Is 63.10; Ef 4.30. Demais, Ele realiza atos
próprios de personalidade. Sonda, fala, testifica, ordena, revela, luta,
cria, faz intercessão, vivifica os mortos etc., Gn 1.2; 6.3; Lc 12.12; Jo
14.26; 15.26; 16.8; At 8.29; 13.2; Rm 8.11; 1 Co 2.10, 11. O realizador
dessas coisas não pode ser um simples poder ou influência, mas tem
que ser uma pessoa” (BERKHOF, 1990, p. 87).

2.3 A PERSONALIDADE DO ESPÍRITO SANTO É REVELADA


PELO TRATAMENTO QUE O SER HUMANO LHE DISPENSA
Uma outra forma de constatar a personalidade do Espírito Santo é observar o
tratamento que Lhe é dispensado por parte do ser humano. Note alguns exemplos:

1- Os homens se rebelam contra o Espírito Santo.

“Mas eles foram rebeldes e contristaram o seu Espírito Santo, pelo que se lhes
tornou em inimigo e Ele mesmo pelejou contra eles” (Is 63:10).

2- Os homens entristecem o Espírito Santo.

“E não entristeçais o Espírito de Deus, no qual fostes selado para o dia da


redenção” (Ef 4:30).

3- Os homens mentem ao Espírito Santo.

“Então, disse Pedro: Ananias, por que encheu Satanás teu coração, para que
mentisses ao Espírito Santo, reservando parte do valor do campo?” (Atos 5:3).

4- Os homens apagam (extinguem) ao Espírito Santo.

“Não apagueis o Espírito” (1 Ts 5:19).

Nesses textos, há uma série de procedimentos e de atitudes, por parte do ser


humano, em relação ao Espírito Santo, que só têm sentido se admitirmos ser, Ele, uma
pessoa, fora disso, esses textos se tornam obscuros e vazios.

Teologicamente falando, a personalidade do Espírito Santo serviu de modelo


para a nossa. A personalidade faz parte da imagem de Deus, a partir da qual o ser
humano foi criado. Uma das diferenças entre elas está no fato de que a personalidade
do Espírito Santo, em todos os seus poderes e capacidades, é infinita, enquanto a do
homem é finita, isto é, limitada.

127
2.4 A PERSONALIDADE DO ESPÍRITO SANTO É AFIRMADA
PELO USO DE PRONOMES PESSOAIS
Quando se faz a tradução bíblica das línguas originais para a língua portuguesa,
ainda que seja apresentado o fato, muitas vezes, não é possível perceber todas as
nuances e a força que a língua original indica.

Na língua portuguesa, todos os substantivos estão classificados em dois


gêneros: masculino e feminino. Na língua na qual foi escrito o Novo Testamento (grego
koiné), há três gêneros: masculino, feminino e neutro. A palavra grega (pneuma), traduzida
por “Espírito”, é do gênero neutro, portanto, seguindo essa lógica, todos os pronomes
usados para se referir ao Espírito Santo, também, deveriam ser neutros. No entanto,
quase sem exceção, o Novo Testamento emprega a forma masculina do pronome ao
se referir a Ele. A forma neutra indicaria “uma coisa”, enquanto a masculina indica “uma
pessoa”. Conforme Bancroft (1992, p. 180):

O vocábulo grego para Espírito é “pneuma”, substantivo do gênero


neutro. O que é notável é que, em conexão com pneuma, são usados
pronomes pessoais masculinos, exceto quando a construção exige
o neutro (Rm 8:16), ficando, assim, demonstrada a ideia bíblica da
personalidade do Espírito Santo, que chega a dominar a construção
gramatical.

O teólogo Berkhof (1990, p. 87), quando trata desse ponto, na Teologia


Sistemática, destaca o seguinte aspecto:

(1) Designativos próprios de personalidade Lhe são dados. Embora


pneuma seja neutro, o pronome masculino ekeinos é utilizado como
referência ao Espírito Santo em Jo 16.14, e em Ef 1.14, algumas das
melhores autoridades têm o pronome relativo masculino hos. Além
disso, é aplicado o nome Parakletos, Jo 14.26; 15.26; 16.7, termo
que não pode ser traduzido por “conforto”, “consolação”, nem
pode ser considerado um nome de alguma influência abstrata. Um
fato que indica que se trata de uma pessoa é que o Espírito Santo,
como Consolador, é colocado em justaposição com Cristo, como o
Consolador que estava para partir, a quem o mesmo termo é aplicado
em 1 Jo 2.1.

3 O ESPÍRITO SANTO É UMA PESSOA DIVINA


Conforme temos estudado até aqui, as Escrituras Sagradas apontam para o fato
de que o Espírito Santo é uma pessoa. Contudo, Ele não é, simplesmente, uma pessoa,
mas uma pessoa divina, a terceira pessoa da Trindade. Veremos, na sequência, algumas
provas bíblicas que afirmam a divindade dEle, isto é, que Ele é Deus. Geralmente, aqueles
que negam a personalidade dEle, também, negam a divindade. Partiremos do mesmo
formato que usamos no ponto anterior, isto é, apontaremos alguns argumentos que
corroboram para a afirmação de que o Espírito Santo é uma pessoa divina.

128
FIGURA 2 – A DIVINDADE DO ESPÍRITO SANTO

O ESPÍRITO SANTO É PESSOA DIVINA, POIS


POSSUI OS ATRIBUTOS DA DIVINDADE

OS ATOS DO ESPÍRITO SANTO ATESTAM


A SUA DIVINDADE

A LIGAÇÃO DO NOME DO ESPÍRITO


SANTO AO NOME DE DEUS APONTA
PARA SUA DIVINDADE

O ESPÍRITO SANTO É CHAMADO PELO


NOME DE DEUS

FONTE: O autor

3.1 O ESPÍRITO SANTO É UMA PESSOA DIVINA, POIS


POSSUI OS ATRIBUTOS DA DIVINDADE
No estudo da Teologia, aprendemos que “atributo é aquilo que é próprio de
um ser”. São poderes ou capacidades que pertencem a alguém. Deus possui certos
atributos que ninguém outro possui, são os chamados atributos incomunicáveis. Alguns
deles são: eternidade de existência, onipotência, onipresença, onisciência etc. Assim,
observe, na sequência, como os atributos que pertencem a Deus estão presentes na
pessoa do Espírito Santo:

1- Eternidade de existência.

Hb 9:14 – “muito mais o sangue de Cristo, que, pelo Espírito eterno, a si mesmo,
ofereceu-se sem mácula a Deus, purificará a nossa consciência de obras mortas, para
servirmos ao Deus vivo!”.

Há, nesse verso, os nomes das três pessoas da divindade, como em outros
textos, como Mt 28:19 e 2 Cor 13:13, cada uma fazendo a sua parte na obra da salvação.
Se reconhecemos Deus o Filho, e Deus o Pai, como pessoas divinas, o versículo não faz
bom senso se não houver o reconhecimento, também, da pessoa do Espírito Santo, no
mesmo pé de igualdade.

129
Outro detalhe importante a ser observado no verso é que a eternidade de
existência é, claramente, declarada no termo “Espírito eterno”. Eternidade de existência
pertence, somente, a Deus, é um dos atributos próprios dEle. Todas as demais criaturas
tiveram um início. Dessa forma, o verso atribui, ao Espírito Santo, a mesma eternidade
de existência que é atribuída a Deus, portanto, Ele só pode ser Deus.

2- Onipotência.

1 Pd 3.18 – “Porque, também, Cristo padeceu uma vez pelos pecados, o justo
pelos injustos, para levar-nos a Deus; mortificado, na verdade, na carne, mas vivificado
pelo Espírito”.

Deus é onipotente, ou seja, tem todo o poder. Ele é o único que tem todo o poder,
no céu e na terra. Uma das manifestações e prova do poder foi manifesto quando Jesus
foi ressuscitado dentre os mortos. Conforme Pedro, essa demonstração da onipotência
de Deus é atribuída ao Espírito Santo. Portanto, Ele é onipotente, e, sendo onipotente,
tem atributo de que é próprio de Deus.

3- Onipresença.

Sl 139:7,8 – “Para onde me irei do teu espírito, ou para onde fugirei da tua face?
Se subir ao céu, lá tu estás; se fizer no inferno a minha cama, eis que tu ali estás também”.

Somente Deus é onipresente. Todas as outras pessoas e demais criaturas de


Deus, sendo criaturas, estão limitadas a, somente, um lugar, pois não podem estar
presentes em dois lugares ao mesmo tempo. Tal afirmação atinge, também, o Diabo
e os demônios, ainda que estes tenham o poder de se locomoverem com a rapidez de
um relâmpago, conforme a Bíblia, pois são espíritos. Não obstante, em referência a Deus,
isso é diferente, pois Ele é onipresente, ou seja, está presente em todos os lugares e ao
mesmo tempo. Conforme o salmista relata, “não há como fugir da sua face”, e isso ele fala
em relação ao Espírito, o que aponta, também, para a onipresença do Espírito Santo.

4- Onisciência.

1 Cor 2.10:11 – “Mas Deus no-las revelou pelo seu Espírito; porque o Espírito
penetra todas as coisas, ainda as profundezas de Deus. Por que, qual dos homens
sabe as coisas do homem, senão o espírito do homem, que nele está? Assim, também,
ninguém sabe as coisas de Deus, senão o Espírito de Deus”.

Somente Deus é ciente de todas as coisas, isto é, conhece todas as coisas. Todas
as criaturas que possuem intelecto são limitadas ao conhecimento. A mente humana,
por exemplo, não pode atingir as profundezas de Deus, contudo, pode desfrutar de
algum conhecimento dEle. As profundezas de Deus são as extremidades de “todas as
coisas” nas quais, conforme o versículo diz, o Espírito penetra.

130
Somente Deus pode sondar a sabedoria dEle mesmo, e, nessa passagem bíblica,
é declarado que a sabedoria do Espírito abrange tudo o que pertence a Deus. Portanto,
a conclusão que se chega é a de que o Espírito Santo é onisciente, Ele sabe todas as
cousas, assim, é Deus.

Esses são alguns dos atributos pertencentes somente a Deus que, claramente,
são atribuídos ao Espírito Santo. Há outros que podem ser, também, averiguados. No
entanto, esses que foram citados já dão o embasamento necessário para aquilo que foi
proposto.

3.2 OS ATOS DO ESPÍRITO SANTO ATESTAM A


DIVINDADE DELE
Outra maneira de perceber e constatar que o Espírito Santo é uma pessoa
divina, é observar algumas das obras dEle. Para Chafer (2003, p. 370), “no que diz
respeito à Escritura, o Espírito Santo é apresentado em conexão com todas as ações e
características que pertencem às pessoas divinas”. Vejamos algumas obras do Espírito
Santo que revelam a divindade:

1- O Espírito Santo é criador.

“No princípio, criou, Deus, o céu e a terra. E a terra era sem forma e vazia; e
trevas sobre a face do abismo; e o Espírito de Deus se movia sobre a face das águas”
(Gn 1:1,2).

O ser humano pode formar cousas de matérias já existentes, contudo, a palavra


“criar” significa “fazer alguma coisa do nada”, e isso só Deus consegue fazer. O Espírito
Santo estava presente na criação e participou, integralmente, desse processo.

2- O Espírito Santo é regenerador.

“[...] não por obras de justiça praticadas por nós, mas, segundo a sua misericórdia,
Ele nos salvou mediante o lavar regenerador e renovador do Espírito Santo” (Tt 3:5).

Regenerar, “gerar de novo”, também, conhecido como “novo nascimento”, nas


Escrituras, muitas vezes, é declarado como obra de Jesus Cristo, e é, de fato, pois está
baseado no sacrifício do Filho de Deus. Um estudo mais acurado da obra de regeneração
revela o fato de que, o que o Filho realizou, torna-se uma realidade na vida das pessoas
somente pela operação do Espírito Santo, conforme o apóstolo Paulo diz para Tito.
Portanto, ser regenerado é nascer do Espírito. “O que é nascido do Espírito é espírito”
(Jo 3:6). Regeneração é uma obra divina. O Espírito Santo regenera os homens, e isso
aponta para mais um aspecto da divindade dEle.

131
3- O Espírito Santo gerou a humanidade de Jesus Cristo.

“E, respondendo o anjo, disse-lhe: descerá, sobre ti, o Espírito Santo, e a virtude
do Altíssimo te cobrirá com a Sua sombra; por isso, também, o Santo, que, de ti, há de
nascer, será chamado Filho de Deus” (Lucas 1:35).

A união da divindade com a humanidade, na pessoa de Jesus Cristo, é um


mistério insondável. Ainda que não seja possível explicar todos os detalhes dessa
doutrina, os cristãos creem que Jesus Cristo é Deus verdadeiro e homem verdadeiro
(100% Deus e 100% homem, sem pecado). Em nenhuma outra pessoa, houve essa união
de natureza, Jesus é o “Deus-homem”.

Conforme Lucas apresenta, o agente para efetuar essa união foi o Espírito
Santo. Cabe ressaltar que nenhuma pessoa inferior a Deus teria o poder e a sabedoria
para tal coisa. É uma obra divina, o que, também, corrobora para o fato de que o Espírito
Santo seja divino.

4- O Espírito Santo inspirou os autores das Escrituras Sagradas.

“Porque a profecia nunca foi produzida por vontade de homem algum, mas os
homens santos de Deus falaram inspirados pelo Espírito Santo” (2 Pd 1:21).

Sozinho, o ser humano não pode reproduzir os pensamentos de Deus, sem o


auxílio dEle. Essa obra sobrenatural de produzir, entre os homens, a mensagem de Deus,
requer poderes e ações “sobrenaturais”. Somente Deus está apto a produzir, a inspirar e a
reproduzir, fielmente, a mensagem de Deus. É exatamente isso que o apóstolo Pedro diz
que o Espírito Santo fez, isto é, “inspirou” homens para que pudessem falar (e escrever)
a mensagem de Deus. Ação essa que indica, novamente, que Ele é Deus.

Pode-se estabelecer a veracidade da divindade do Espírito Santo


com base na Escritura, seguindo uma linha de comprovação muito
semelhante à que foi empregada em relação ao Filho: (1) São-Lhe
dados nomes divinos, Êx 17.7 (comp. Hb 3.7-9); At 5.3, 4; 1 Co 3.16; 2
Tm 3.16; 2 Pe 1.21. (2) São-Lhe atribuídas perfeições divinas, como
onipresença, Sl 139.7-10, onisciência, Is 40.13, 14 (comp. Rm 11.34); 1
Co 2.10, 11, onipotência, 1 Co 12.11; Rm 15.19, e eternidade, Hb 9.14 (?).
(3) Ele realiza obras divinas, como a criação, Gn 1.2; Jó 26.13; 33.4,
renovação providencial, Sl 104.30, regeneração, Jo 3.5, 6; Tt 3.5, e a
ressurreição dos mortos, Rm 8.11. (4) É-Lhe prestada honra divina, Mt
28.19; Rm 9.1; 2 Co 13.13 (BERKHOF, 1990, p. 89).

Sem dúvida alguma, há outras ações do Espírito Santo que poderiam ser
destacadas, por exemplo, convencimento, iluminação, consolação, testemunha,
intercessão etc. Entretanto, essas que foram mostradas já alicerçam esse aspecto.

132
3.3 A LIGAÇÃO DO NOME DO ESPÍRITO SANTO AO NOME DE
DEUS APONTA PARA A SUA DIVINDADE
Algumas vezes, na Bíblia, encontra-se o vínculo do nome do Espírito Santo ao
nome de Deus. Dois textos são muito claros nesse aspecto.

O primeiro se encontra em Mateus 28:19: “Portanto ide, fazei discípulos de


todas as nações, batizando-os em nome do Pai, e do Filho, e do Espírito Santo”. É de se
notar que a ordem para batizar é em nome (singular) e não (nomes) do Pai e do Filho e
do Espírito Santo. Fica muito clara, aqui, a Trindade de Deus, além da ligação do nome
do Espírito Santo ao de Deus.

O segundo texto está na segunda carta de Paulo aos Coríntios 13:14: “A graça
do Senhor Jesus Cristo, e o amor de Deus, e a comunhão do Espírito Santo sejam com
todas vós. Amém”. Novamente, as três pessoas da Trindade estão presentes – Pai, Filho
e Espírito Santo. Seria uma blasfêmia ligar o nome do Espírito Santo ao nome de Deus,
dessa maneira, se Ele não fosse mesmo Deus.

As primeiras controvérsias trinitárias levaram à conclusão de que o


Espírito Santo, como o Filho, é da mesma essência do Pai, e, portanto,
é consubstancial com Ele. A longa discussão acerca da questão, se
o Espírito Santo procedeu somente do Pai ou, também, do Filho, foi
firmada, finalmente, pelo Sínodo de Toledo, em 589, pelo acréscimo
da palavra “Filioque” (e do Filho) à versão latina do Credo de
Constantinopla: “Credimos in Spiritum Sanctum qui a Patre Filioque
procedidit” (“Cremos no Espírito Santo, que procede do Pai e do
Filho”). Essa processão do Espírito Santo, resumidamente, chamada
de espiração, é a propriedade pessoal (BERKHOF, 1990, p. 88).

3.4 O ESPÍRITO SANTO É CHAMADO PELO NOME DE DEUS


Um outro aspecto a ser destacado é o momento em que, no relato bíblico,
claramente, o Espírito Santo é chamado de Deus. O texto marca presença em Atos 5:3,4:

Um certo homem, chamado Ananias, com Safira, sua mulher, vendeu


uma propriedade, e reteve parte do preço, sabendo, também, sua
mulher, e, levando uma parte, a depositou aos pés dos apóstolos.
Disse, então, Pedro: Ananias, por que encheu Satanás o teu coração,
para que mentisses ao Espírito Santo, e retivesses parte do preço
da herdade? Guardando-a não ficava para ti? E, vendida, não estava
em teu poder? Por que formaste esse desígnio em teu coração? Não
mentiste aos homens, mas a Deus.

No texto em apreço, muito claramente, o Espírito Santo é chamado de “Deus”.


Em um primeiro momento, Ananias é repreendido porque “mentiu ao Espírito Santo”. Na
sequência, é dito que ele “mentiu a Deus”. Dessa forma, Lucas evidencia que o mesmo
tratamento dado a Deus, também, era dado ao Espírito Santo. Isso coloca a pessoa do
Espírito Santo de forma muito evidente, como sendo chamada de Deus.

133
As palavras do teólogo Chafer (2003, p. 366) explanam, de forma bem
interessante, o tema da divindade do Espírito Santo:

Como conclusão da discussão a respeito da terceira pessoa, como


indicada por Seu lugar no nome completo da divindade, pode ser dito
que todos os nomes pelos quais o Espírito é conhecido, além disso,
são, meramente, títulos descritivos. Ele é chamado de O Espírito
porque Ele é um espírito; Ele é chamado de Santo porque Ele é santo
infinitamente; Ele é identificado como o Espírito de Deus porque Ele
pertence à divindade; Ele é chamado de o Espírito de Cristo porque
Ele é enviado por Cristo ao mundo.

4 OS NOMES ATRIBUÍDOS AO ESPÍRITO SANTO


Nas Escrituras Sagradas, são encontrados muitos nomes atribuídos ao Espírito
Santo. “Nas Escrituras, existem cerca de 350 passagens que mencionam o Espírito
Santo, e mais de 50 nomes ou títulos podem ser discernidos” (INTERSABERES, 2014, p.
218). Esses nomes mostram vários aspectos de quem Ele é, e o que realiza. Por isso, vale
a pena observar quais são. Por serem muitos, faremos isso no formato de quadro. Nele,
estarão o nome e, pelo menos, uma referência bíblica na qual a expressão aparece. Não
se trata de uma lista exaustiva, mas os nomes que mais aparecem.

QUADRO 1 – OS NOMES DO ESPÍRITO SANTO

NOME REFERÊNCIA
O Espírito 1 Co 2:10
Espírito Santo Lc 11:23
Espírito Eterno Hb 9:14
Espírito do Senhor Jeová Is 61:1
Espírito do Deus vivo 2 Co 3:3
Espírito de Deus 1 Co 3:16
O Espírito de Jesus At 16:6,7
Espírito da Vida Rm 8:1-2
O Espírito de Cristo Rm 8:9
O Espírito Santo da Promessa Ef 1:13
Espírito Purificador Is 4:4
Espírito da verdade Jo 15:26
O Consolador Jo 14:26
O Espírito da Graça Hb 10:29
O Espírito da Glória 1 Pe 4:13,14
O Espírito de Jesus Cristo Fp 1:19

FONTE: O autor

134
O interessante de se observar, nessa lista, é que os nomes de Deus não eram
simples designações ou identificações, eles revelavam algo da natureza, dos atributos
ou das obras de Deus. Da mesma forma, o mesmo raciocínio se aplica aos nomes que
são conferidos ao Espírito Santo, os quais nos revelam muita coisa a respeito de quem
Ele é. Algumas vezes, o Espírito de Deus é mencionado de um modo que enfatiza
a personalidade e o caráter (o Santo Espírito), outras vezes, de modo que evidencia o
trabalho e o poder (o Espírito da Verdade), porém, Ele nunca é mencionado como uma
força despersonalizada (INTERSABERES, 2014).

NOTA
O Espírito de Deus é mencionado de um modo que enfatiza a
personalidade e o caráter (o Santo Espírito), outras vezes, de modo
que evidencia o trabalho e o poder (o Espírito da Verdade), porém,
Ele nunca é mencionado como uma força despersonalizada.

135
RESUMO DO TÓPICO 1
Neste tópico, você adquiriu certos aprendizados, como:

• A pneumatologia é o tratamento científico de qualquer ou de todos os fatos


relacionados ao espírito. O estudo da Pneumatologia, também, é chamado de
Paracletologia. Este termo é a junção de duas palavras gregas: paracleto (intercessor,
advogado, conselheiro de defesa, assistente legal) + logia (estudo, doutrina).

• Referindo-se ao Espírito Santo: “São-Lhe atribuídas características de pessoa, como


inteligência, Jo 14.26; 15.26; Rm 8.16, vontade, At 16.7; 1 Co 12.11, e sentimentos, Is
63.10; Ef 4.30. Demais, Ele realiza atos próprios de personalidade. Sonda, fala, testifica,
ordena, revela, luta, cria, faz intercessão, vivifica os mortos etc., Gn 1.2; 6.3; Lc 12.12;
Jo 14.26; 15.26; 16.8; At 8.29; 13.2; Rm 8.11; 1 Co 2.10, 11. O realizador dessas coisas não
pode ser um simples poder ou influência, mas tem que ser uma pessoa” (BERKHOF,
1990, p. 87).

• O Espírito Santo é uma pessoa porque manifesta todas as características de


personalidade; aquilo que Ele realiza, prova a personalidade dEle; o tratamento que o
ser humano Lhe dispensa é o tratamento dado a uma pessoa; e o uso dos pronomes
pessoais, para se referir ao Espírito Santo, indicam ser, Ele, uma pessoa.

• O Espírito Santo é uma pessoa divina, pois possui os atributos da divindade, os atos
atestam isso. A ligação do nome dEle ao nome de Deus aponta para um ser divino, e
pelo fato de ser chamado pelo nome de Deus.

• Pode-se estabelecer a veracidade da divindade do Espírito Santo com base


na Escritura, seguindo uma linha de comprovação muito semelhante à que foi
empregada em relação ao Filho: (1) São-Lhe dados nomes divinos, Êx 17.7 (comp.
Hb 3.7-9); At 5.3, 4; 1 Co 3.16; 2 Tm 3.16; 2 Pe 1.21. (2) São-Lhe atribuídas perfeições
divinas, como onipresença, Sl 139.7-10, onisciência, Is 40.13, 14 (comp. Rm 11.34); 1
Co 2.10, 11, onipotência, 1 Co 12.11; Rm 15.19, e eternidade, Hb 9.14 (?). (3) Ele realiza
obras divinas, como a criação, Gn 1.2; Jó 26.13; 33.4, renovação providencial, Sl 104.30,
regeneração, Jo 3.5, 6; Tt 3.5, e a ressurreição dos mortos, Rm 8.11. (4) É-Lhe prestada
honra divina, Mt 28.19; Rm 9.1; 2 Co 13.13.

136
AUTOATIVIDADE
1 A Pneumatologia é o tratamento científico de qualquer ou de todos os fatos
relacionados ao espírito. O estudo da Pneumatologia, também, é chamado de
Paracletologia. Este termo é a junção de duas palavras gregas: paracleto (intercessor,
advogado, conselheiro de defesa, assistente legal) + logia (estudo, doutrina). Disserte,
agora, acerca dos dois argumentos que mostram que o Espírito Santo é uma pessoa.

2 No decorrer da história da Igreja, e nos tempos atuais, tem surgido uma variedade
de seitas que, dizendo-se cristãs, negam e atacam essa verdade fundamental do
cristianismo. Muitos o veem como uma influência, um poder, uma energia, uma
manifestação ou uma emanação da natureza divina, sugerindo que o Espírito Santo
seja, simplesmente, uma influência, e não uma pessoa. Quais são algumas das
principais características da personalidade?

a) ( ) Sensibilidade, vontade própria e amor.


b) ( ) Inteligência, emoção e vontade própria.
c) ( ) Emoção, raciocínio lógico e cuidado.
d) ( ) Livre arbítrio, amor e sabedoria.

3 Conforme estudamos até aqui, as Escrituras Sagradas apontam o fato de que


o Espírito Santo é uma pessoa. Contudo, Ele não é, simplesmente, uma pessoa,
mas uma pessoa divina, a terceira pessoa da Trindade. A respeito dos argumentos
relacionados à pessoa divina que é o Espírito Santo, classifique V para as sentenças
verdadeiras e F para as sentenças falsas:

( ) A ligação do nome do Espírito Santo ao nome de Deus aponta a divindade dEle.


( ) Os atos do Espírito Santo confirmam a divindade, por exemplo, a criação, a regene-
ração etc.
( ) O Espírito Santo é uma pessoa divina, pois possui os atributos da divindade, como
a onipotência, a onisciência etc.
( ) O Espírito Santo é uma pessoa divina porque Ele tem atributos próprios de um Deus:
amor, santidade, fidelidade etc.

Assinale a alternativa que apresenta a sequência CORRETA:


a) ( ) V – V – V – F.
b) ( ) F – F – V – V.
c) ( ) V – F – V – V.
d) ( ) V – V – F – V.

137
4 Nas Escrituras Sagradas, são encontrados muitos nomes atribuídos ao Espírito Santo.
“Nas Escrituras, existem cerca de 350 passagens que mencionam o Espírito Santo,
nas quais mais de 50 nomes ou títulos podem ser discernidos” (INTERSABERES, 2014,
p. 218). Acerca dos nomes atribuídos ao Espírito Santo, leia e analise as sentenças a
seguir:

I- Os nomes de Deus não eram simples designações ou identificações, eles revelavam


algo da natureza, dos atributos ou das obras de Deus.
II- O Espírito de Deus é mencionado de um modo que enfatiza a personalidade e o
caráter dEle (o Santo Espírito), outras vezes, de modo que foca o trabalho e o poder
(o Espírito da Verdade).
III- Espírito do Universo, Espírito do Senhor Jeová, Espírito Maior são alguns dos nomes
dados ao Espírito Santo.
IV- Espírito Eterno, Espírito do Senhor Jeová, Espírito do Deus vivo são exemplos de
alguns dos nomes atribuídos ao Espírito Santo.

Assinale a alternativa CORRETA:


a) ( ) As alternativas I, II e IV estão corretas.
b) ( ) As alternativas I, II e III estão corretas.
c) ( ) As alternativas II e III estão corretas.
d) ( ) As alternativas III e IV estão corretas.

5 Conforme temos estudado até aqui, as Escrituras Sagradas apontam para o fato de
que o Espírito Santo é uma pessoa. Contudo, Ele não é, simplesmente, uma pessoa,
mas uma pessoa divina, a terceira pessoa da Trindade. Assim, exponha os argumentos
que mostram que o Espírito Santo é uma pessoa divina.

138
UNIDADE 3 TÓPICO 2 —
O ESPÍRITO SANTO NAS ESCRITURAS

1 INTRODUÇÃO
O Espírito Santo sempre esteve e trabalhou para a realização dos propósitos
divinos desde o princípio. Ele agiu no Antigo e no Novo Testamento, e continua agindo
no decorrer da história da Igreja.

Há correntes diferentes de pensamento para a compreensão e a visão do


ministério do Espírito Santo no Antigo e no Novo Testamento. Pautar-nos-emos
naquelas que são mais aceitas e, comumente, descritas contexto cristão.

Destacaremos, neste tópico, a presença e a ação do Espírito Santo nas


Escrituras e alguns símbolos e tipos que Lhe são atribuídos. Com relação à atuação do
Espírito Santo nas Escrituras, observaremos as ações no Antigo e no Novo Testamento. A
respeito dos símbolos e dos tipos, vamos nos ater aos seguintes: óleo, água, fogo, vento,
pomba, penhor e selo.

2 O ESPÍRITO SANTO NO ANTIGO TESTAMENTO


No Antigo Testamento, o Espírito Santo é retratado, produzindo as qualidades
morais e espirituais de santidade e de bondade. Devemos notar que, embora, em alguns
casos, essa obra interna do Espírito Santo pareça permanente, em outros, como no
livro de Juízes, a presença parece intermitente e atrelada a uma atividade ou a um
ministério específico que deve ser exercido. No testemunho do Antigo Testamento,
acerca do Espírito, existe um anúncio de uma época na qual o ministério do Espírito é
mais completo (ERICKSON; HUSTAD, 1997). Segundo Chafer (2003, p. 324), “o Espírito
Santo, assim como Jesus Cristo, pode ser visto com mais clareza no Novo Testamento,
porém, quando olhamos, com cuidado, para o Antigo Testamento, vamos ver a presença
e a ação dEle”.

Para Bancroft (1992, p. 177), “o Espírito Santo preexistia como a terceira pessoa
da divindade, e, nessa qualidade, esteve, sempre, ativo, mas o período que antecedeu ao
dia de Pentecoste não foi a época da atividade especial dEle”. Para esse autor e outros
teólogos, “durante esse período pré-pentecostal, o Espírito descia sobre os homens,
apenas, temporariamente, a fim de inspirá-los para algum serviço especial, e os deixava
quando essa tarefa ficava terminada. Ele não permanecia, geralmente, com os homens,
nem neles habitava”. Observe a seguinte citação, que retrata bem esse aspecto, além de
retratar a diferença entre a ação do Espírito do Antigo e do Novo Testamento:

139
No Antigo Testamento, as atividades e as manifestações do Espírito
Santo eram esporádicas, específicas e em tempos distintos, visando
a um fim especial – libertação do povo de Deus em tempos de crise
(Juízes, 7:14; 11:29; 14:19; 15:14). Já na dispensação da graça, no
Novo Testamento, as atividades se concretizam de maneira direta e
continua através da Igreja. No Antigo Testamento, Ele se manifestava
em circunstâncias especiais; no Novo Testamento, veio para
fazer morada nos corações dos crentes e enchê-los do Seu poder
(INTERSABERES, 2014, p. 213).

Todavia, pensando, especificamente, no Espírito Santo, no Antigo Testamento,


destacaremos três aspectos da presença e da ação dEle: na criação, na história do povo
de Israel e na vida dos profetas.

NOTA
No Antigo Testamento, as atividades e as manifestações do Espírito
Santo eram esporádicas, específicas e em tempos distintos, visando
a um fim especial – libertação do povo de Deus em tempos de crise
(Juízes, 7:14; 11:29; 14:19; 15:14). Já na dispensação da graça, no
Novo Testamento, as atividades se concretizam de maneira direta e
continua através da Igreja (INTERSABERES, 2014).

2.1 NA CRIAÇÃO
As Escrituras atribuem as obras de Deus, em um sentido absoluto, a cada uma
das três pessoas da Trindade, individual e coletivamente. Cada uma delas tem uma
função específica, agindo em perfeita harmonia e cooperação mútua em todo tempo. A
criação é um exemplo perfeito disso. João Calvino tem sido chamado de “o teólogo do
Espírito Santo”. Observe o que Calvino escreveu a respeito dele:

Entretanto, não convém passar em silêncio a distinção que


observamos expressa nas Escrituras, e esta consiste em que, ao Pai,
se atribui o princípio de ação, a fonte e manancial de todas as coisas;
ao Filho, a sabedoria, o conselho e a própria dispensação na operação
das coisas; mas, ao Espírito, assinalam-se o poder e a eficácia da
ação. Com efeito, ainda que a eternidade do Pai seja, também, a
eternidade do Filho e do Espírito, posto que Deus jamais pode existir
sem a sabedoria e o poder, nem se deve buscar na eternidade antes
ou depois, todavia, não é vã ou supérflua a observância de uma
ordem, a saber: enquanto o Pai é tido como sendo o primeiro, então,
diz-se que o Filho procede dEle; finalmente, o Espírito procede de
ambos (CALVINO apud FERREIRA, 2007, p. 668).

140
No livro de Gênesis, é dito a respeito do Espírito Santo, que “[...] o Espírito de Deus
pairava sobre as águas” (Gn 1:2). Isso mostra o papel ativo do Espírito Santo na criação,
como um pássaro que paira (choca), sustenta os filhotes e os protege. Nesse sentido,
o verbo “pairava” seria melhor traduzido como “se movia”. Isso mostra, claramente, que
Ele estava envolvido no planejamento geral do universo, participando da criação da Terra
(Gn 1:2), das estrelas (Sl 33:6), dos animais (Sl 104:30) e do homem (LIMA, 2009).

2.2 NA HISTÓRIA DO POVO DE ISRAEL


Há evidências bíblicas da presença e da ação do Espírito em toda a história do
povo de Israel (desde a chamada de Abraão), direta e indiretamente. A Bíblia mostra que
o Espírito Santo estava presente em toda a nação de Israel, ministrando e guiando o
povo escolhido (Is 63:10). De modo mais específico, o Espírito Santo revestiu, de poder,
homens, como Otoniel, para julgar (Jz 3:10); Gideão, para liderar (JUÍZES 6:34); Sansão,
para vencer adversários (Jz 14:16, 19; 15:14); e Elias e Eliseu, para profetizarem (1 Rs
18:12; 2 Rs 2:19) etc.

Os registros do Antigo Testamento têm, como pano de fundo, a história do


povo de Israel. Ali, encontramos inúmeras evidências do Espírito Santo, inspirando e
qualificando os homens e as mulheres para as tarefas oficiais, até mesmo, nas áreas da
ciência e das artes (Êx 28:3; 31:2-3; 1 Sm 11:6; 16:13-14) (LIMA, 2009).

2.3 NA VIDA DOS PROFETAS


Várias pessoas experimentaram a unção e a capacitação especiais do Espírito
Santo para desempenhar um serviço específico no Antigo Testamento. Dentre elas,
estavam os profetas. “A palavra, ‘nabi’, o termo bíblico para profeta, não indica uma
pessoa que recebe alguma coisa de Deus, mas alguém que traz alguma coisa ao povo”
(CHAFER, 2003, p. 415). MacGrath (2005, p. 429) afirma que

o Antigo Testamento não esclarece muito a respeito da forma


através da qual os profetas eram inspirados, guiados ou motivados
pelo Espírito Santo. No período anterior ao exílio, a profecia é,
frequentemente, associada às experiências de êxtase espiritual
ligadas a um comportamento exaltado (1 Sm 10:6, 19-24). Entretanto,
pouco a pouco, a atividade profética se tornou algo relacionado à
mensagem, e não ao comportamento do profeta. As credenciais de
profeta se baseavam na unção do Espírito (Is 61:1; Ez 2:1-2; Mq 3.8), que,
por sua vez, autenticava a mensagem do profeta – uma mensagem,
normalmente, descrita como “a palavra (dabhar) do Senhor”.

Os profetas eram pessoas que o Espírito Santo capacitava e guiava para trazer
a mensagem para o povo de Deus, naquele momento da história bíblica, da parte do
Senhor. Certas expressões eram utilizadas por eles, como “assim diz o Senhor” (Je 45:2),

141
o que denotava a instrumentalidade deles por parte do Espírito de Deus. Nas Escrituras,
os profetas são mencionados, inicialmente, nos livros do Pentateuco, mas ganham forte
evidência nos livros históricos, e, principalmente, nos períodos pré-exílico e durante o
exílio da história de Israel.

Os profetas falaram pelo poder divino, eram, dessa forma, porta-vozes do Senhor,
permanecendo, a mensagem deles, registrada em forma escrita ou não. O profeta era o
mensageiro de Deus ao povo, e as declarações, se designadas por Deus, eram cumpridas
pelo poder do Espírito Santo, e, de fato, isso é importante de ser ressaltado. Assim, o fato
da revelação pelo Espírito e a doutrina semelhante de inspiração estão incluídos na lista
das obras do Espírito Santo na relação com o povo judaico e, consequentemente, a
Igreja (CHAFER, 2003).

NOTA
“A palavra ‘nabi’, o termo bíblico para profeta, não indica uma
pessoa que recebe alguma coisa de Deus, mas alguém que traz
alguma coisa ao povo” (CHAFER, 2003, p. 415).

3 O ESPÍRITO SANTO NO NOVO TESTAMENTO


O estudo da Pneumatologia tem mais a ver com o Novo Testamento do que
com o Antigo. Conforme Bancroft (1992), o Espírito Santo é mencionado em torno de
88 vezes no Antigo Testamento, e, no Novo, três vezes mais, ou seja, em torno de 260
vezes. De fato, o Novo Testamento trata, de forma especial, do ministério do Espírito,
por exemplo, alguns aspectos a respeito dessa doutrina nunca foram detalhados no
Antigo Testamento. Entretanto, embora muita coisa relativa ao Espírito aguardasse
forte expressão no Novo, o Antigo Testamento não deixou nenhum aspecto sem ser
anunciado.

Observe uma comparação interessante a respeito do Espírito Santo no Novo


Testamento:

Em um sentido muito real, o Espírito Santo está encarnado na Igreja,


assim como Cristo estava encarnado no corpo humano de Jesus
de Nazaré. Naturalmente que isso não pode ser levado a um ponto
extremo. Há, aliás, um ponto de nítida diferença. No caso de Jesus,
havia divindade unida a uma humanidade não caída, mas a união do
Espírito Santo com a Igreja é a presença de Deus na humanidade
caída (O’REAR apud BANCROFT, 1992, p. 178).

Observaremos três aspectos da presença e da ação do Espírito Santo no Novo


Testamento: nos evangelhos, no livro de Atos Apóstolos, e nas epístolas do Novo
Testamento.

142
3.1 NOS EVANGELHOS
Nos Evangelhos, a atuação do Espírito Santo aparece, especialmente,
relacionada à vida e ao ministério de Jesus. O Espírito Santo gerou Jesus no útero da
virgem Maria, o que gerou a encarnação (Lc 1:35). O Espírito Santo ungiu Jesus com
poder, relacionamento este que Jesus desfrutou por toda vida, no exercício do ministério
dEle, especialmente, na pregação das boas novas do Reino de Deus e na realização de
milagres (Lc 4:18-19) (SEVERA, 1999).

Apesar de, nos evangelhos, haver uma preeminência do agir do Espírito na vida
de Jesus, o agir dEle não fica restrito a Cristo. É notável, por exemplo, a ação sobre a vida
de João Batista, o qual, conforme as Escrituras, era “cheio do Espírito desde o ventre
de sua mãe” (Lc 1:15). Dessa forma, a ação era bem mais abrangente do que a vida de
Jesus, e perceptível nos evangelhos.

3.2 NO LIVRO DE ATOS DOS APÓSTOLOS


O livro de Atos registra a ida de Jesus ao céu, e, logo em seguida (Atos 2), a
vinda do Espírito Santo, no dia de Pentecostes, sobre os discípulos. Daquele momento
em diante, eles receberam dons espirituais, capacitação espiritual para o ministério (At
2:22,36; 5:4-53), e orientação para o serviço cristão (At 16:6-7). Pode-se dizer que o
Pentecostes foi o estabelecimento da Igreja de Cristo. Jesus já havia esclarecido, aos
discípulos, a esse respeito, e, nos evangelhos, anunciado que edificaria a Igreja. Agora,
os discípulos compreenderam que, juntos, formavam um corpo espiritual em Cristo,
constituíram uma nova comunidade, a qual se tornou a igreja visível no mundo, da qual
eles faziam parte.

[...] No Antigo Testamento, Deus escolheu a nação de Israel para


receber a Sua mensagem de salvação e levá-la ao mundo (SALMO
67). No Novo Testamento, Deus escolheu a Igreja para essa elevada
tarefa. É fácil identificar Israel – todos os descendentes de Abraão,
mais os que se converteram ao judaísmo. É um pouco mais difícil
identificar a Igreja – a totalidade de todos os crentes em Jesus.
Quando uma pessoa se torna cristã, automaticamente, torna-
se membro da Igreja. Foi, à Igreja, que Deus deu a mensagem de
salvação do Novo Testamento, e é, pelo poder do Espírito Santo, que
ela leva essa mensagem aos confins da terra (ANDERS apud LIMA,
2009, p. 56).

A partir da vinda do Espírito Santo sobre os discípulos, nota-se, no livro de Atos,


em diversos momentos, a atuação do Espírito sobre a vida dos discípulos: falando aos
corações; enviando; guiando; separando para o serviço; abrindo o coração das pessoas
para o entendimento do evangelho; enfim, torna-se marcante a quantidade de vezes
que o Espírito Santo é mencionado no livro de Atos (alguns chegam a chamar o livro de
Atos de “Atos do Espírito Santo”), e o Seu agir na vida de pessoas que não criam, dos
discípulos e da Igreja como um todo.

143
NOTA
Pentecostes era a segunda maior e mais importante festa anual do
calendário judaico, conhecida, também, como festa das semanas,
observada cinquenta dias depois da Páscoa (LEVÍTICO 23:5-10). As
primícias da colheita eram apresentadas ao Senhor (LIMA, 2009).

3.3 NAS EPÍSTOLAS DO NOVO TESTAMENTO


No primeiro século da era cristã, à medida que o Evangelho se expandia, as igrejas
se multiplicavam, e as dificuldades enfrentadas pelos cristãos, também, eram cada vez
maiores. Por isso, muitas cartas (epístolas) foram escritas, a fim de orientar os cristãos
a respeito das questões relacionadas às heresias, às perseguições, às contendas e às
aflições. O ministério do Espírito Santo, nas epístolas, expressa-se de diversas formas:
na intercessão (Rm 8:26), na manifestação e no uso dos dons espirituais (1 Cor 12:1-
12), na transformação espiritual dos cristãos (2 Cor 3:18), na regeneração interior do
pecador (1 Pd 1:23), na manifestação do fruto do Espírito na vida cotidiana (Gl 5:22) etc.
(INTERSABERES, 2014).

O maravilhoso derramamento do Espírito Santo, no dia de Pentecostes,


inaugurou um novo tempo para a humanidade, feita à imagem e semelhança de Deus. A
graça de Deus se manifestou através da encarnação de Jesus Cristo, atingindo, assim,
o clímax, na morte e na ressurreição. No entanto, depois de Jesus Cristo ascender aos
céus, o Espírito Santo veio para os discípulos. No livro de Atos, há o registro da Sua ação
no meio da Sua Igreja. Nas cartas, as informações mais detalhadas da Sua pessoa, ou
seja, de quem Ele é, e das Suas obras. Conforme Grudem (2006, p. 530), “mas, depois
que Jesus subiu ao céu, e de contínuo, através de toda a era da igreja, o Espírito Santo
é, agora, a principal manifestação da presença da Trindade entre nós. Ele é o que está
presente, de modo mais proeminente, entre nós agora”.

NOTA
No Antigo Testamento, a presença de Deus, muitas vezes, foi
manifestada na glória de Deus e nas teofanias; nos evangelhos, o
próprio Jesus manifestou a presença de Deus entre os homens.
No entanto, depois que Jesus subiu ao céu, e, de contínuo,
através de toda a era da Igreja, o Espírito Santo é, agora, a
principal manifestação da presença da Trindade entre nós. Ele
é o que está presente, de modo mais proeminente, entre nós
agora (GRUDEM, 1999).

144
4 TIPOS E SÍMBOLOS DO ESPÍRITO SANTO NAS
ESCRITURAS
O estudo dos tipos e dos símbolos do Espírito Santo, nas Escrituras, contribui
em diversos aspectos, dentre eles, como uma forma de ilustrar e de elucidar a pessoa
e a obra dEle. Vários símbolos são usados, nas Escrituras, para revelar as características
do Espírito Santo:

A simbologia relativa ao Espírito Santo reflete todas as ações que


Ele realiza e não compromete a Sua personalidade e a divindade.
Para cada símbolo, um sentido, dessa forma, a pessoa que acredita
consegue identificar aspectos da pessoa do Espírito Santo e da Sua
importância (INTERSABERES, 2014, p. 224).

Não faremos, aqui, uma exposição exaustiva, mas abordaremos aqueles símbolos
que mais aparecem nas Escrituras. Tomaremos, como base, a exposição do teólogo Chafer
(2003), para apresentar esses tipos e símbolos. Segundo Chafer (2003, p. 393):

Os tipos e os símbolos que predizem e descrevem a segunda Pessoa


da Trindade têm sido realizados ou cumpridos de forma visível
e concreta através da Sua encarnação; mas a Pessoa e a obra da
Terceira Pessoa permanecem naquela obscuridade, de forma que o
invisível e, portanto, o intangível sempre os envolvem.

FIGURA 3 – OS TIPOS E OS SÍMBOLOS DO ESPÍRITO SANTO

• Óleo
• Pomba
• Água
• Penhor
• Fogo
• Selo
• Vento

FONTE: O autor

4.1 ÓLEO
O óleo era usado nos tempos antigos com diversos propósitos: iluminação, cura
(remédio), conforto, unção. Fazendo uma comparação com a ação do Espírito Santo,
ele também ilumina, cura, conforta e consagra (unge). O Dr. John F. Walvoord, ao tratar
dessa questão, ressalta:

145
Nos dois testamentos, o Espírito Santo é frequentemente encontrado neste
tipo. No Tabernáculo, o puro óleo de oliva que mantinha a lâmpada a queimar
continuamente no lugar santo fala eloquentemente do ministério do Espírito
Santo em revelação e iluminação, sem o que o pão exposto no ritual judaico
(Cristo) seria invisível nas trevas, e o caminho para o mais santo de todos
não seria tornado claro (Êx 27.20,21). O óleo teve uma parte importante nos
sacrifícios (Lv 1-7). Ele era usado na unção dos sacerdotes e na consagração
do Tabernáculo (Lv 8). Era usado para introduzir os reis no seu ofício (1 Sm 10.1;
16.13; 1 Rs 1.39 etc.). Além disso, para esses usos sagrados, ele era usado como
comida (Ap 6.6), como remédio (Mc 6.13), e mesmo como um meio de bens
de troca (1 Rs 5.11) [...] dos vários usos do óleo na Bíblia, podemos concluir que
o óleo fala de santidade, santidade, revelação, iluminação, dedicação e cura
(WALVOORD apud CHAFER, 2003, p. 395-396).

4.2 ÁGUA
A água também é um símbolo do Espírito Santo. Assim como a água, é de grande
importância para a vida, tanto no sentido de nutri-la como de purificá-la e revitalizá-la,
assim o Espírito Santo é essencial na vida de todo cristão.

O aspecto da purificação que a água traz pode ser observado pelo banho dos
sacerdotes em conexão com a introdução deles no ofício sacerdotal. Um outro aspecto
refere-se ao Espírito no interior da pessoa (Jo 4:14 “aquele, porém, que beber da água
que eu lhe der nunca mais terá sede; pelo contrário, a água que eu lhe der será nele uma
fonte a jorrar para a vida eterna”). O Espírito Santo, ao habitar no cristão, é uma realidade
e sua presença uma benção sem medida. Conforme o texto de João, ele é “a fonte a
jorrar” para a vida eterna.

Grande parte dos cristãos interpretam a água, ou o batismo, como um sinal ou


símbolo externo de uma obra interna do Espírito Santo na vida do cristão. A abordagem
do Espírito em relação ao cristão com tudo o que a sua presença graciosa assegura está
expresso, e é crido, pela aplicação de água no batismo; e isto, por sua vez, corresponde
ao uso típico da água por toda Antigo Testamento (CHAFER, 2003).

4.3 FOGO
O fogo representa várias coisas nas Escrituras, isto é comum acontecer na Bíblia.
Por exemplo, o leão é usado para representar Jesus Cristo, mas também é usado para
representar Satanás (vide Ap 5:5, e 1 Pe 5:8, respectivamente). Por isso, é importante
ressaltar a importância de uma boa hermenêutica e interpretação do texto quando se
estuda os textos bíblicos.

146
Nas diversas representações de fogo nas Escrituras (na Bíblia, o fogo aparece
como representação da aprovação de Deus; está associado com a presença e proteção
do Senhor; é um símile da disciplina e provação; é também um emblema da Palavra de
Deus, que acende e aquece; e fala do julgamento de Deus), uma delas é o emblema do
Espírito Santo. “O fogo fala do ‘poder’ e da ‘purificação’ que o Espírito Santo opera na
vida do cristão, corrigindo sua natureza decaída e conduzindo-o a perfeição” (Mt 5:48)
(INTERSABERES, 2014, p. 225). Em apocalipse, o Espírito é comparado a “sete tochas
de fogo, que são os sete Espíritos de Deus” (Ap 4:5). Os seus dons que aparecem dia de
Pentecostes em Atos dos Apóstolos Capítulo 2 são mencionados como “línguas como
que de fogo” (At 2:3) (CHAFER, 2003).

Direta ou indiretamente o poder e o ministério do Espírito podem ser


comparados ao fogo. O zelo do serviço, a chama do amor, o fervor
da oração, a sinceridade do testemunho, a devoção da consagração,
o sacrifício da adoração e o poder de acender da influência são
atribuídos ao Espírito (MARSH apud CHAFER, 2003, p. 398).

4.4 VENTO
Além da semelhança do significado da palavra “espírito” (pneuma), que quer
dizer “vento, respiração, sopro”, vento também é mais um símbolo do Espírito Santo nas
Escrituras.

Desde o livro de Gênesis, quando o ser humano foi criado, Deus soprou nele
o fôlego da vida, e ele veio a ser alma vivente. A palavra soprar faz relação ao Espírito,
neste caso. No Novo Testamento, Jesus comparou a obra do Espírito a ação do vento.
Quando ele conversou com Nicodemos, note o que disse: “O vento sopra onde quer,
ouves a sua voz, mas não sabes donde vem, nem para onde vai; assim é tudo o que é
nascido do Espírito” (Jo 3:8). A comparação que Jesus utiliza neste caso para referir
também ao Espírito é o vento. “O vento é invisível, porém é real, penetrando em todo
lugar da terra. Não podemos tocar o vento nem o compreender, mas podemos senti-
lo. A sua ação independe da atuação humana, ninguém pode monopolizá-lo. Assim,
também, é o Espírito Santo” (INTERSABERES, 2014, p. 225).

Quando Pedro fala sobre o processo de inspiração das Escrituras utiliza a seguinte
expressão para se referir aos homens que escreveram o texto bíblico “falaram movidos
pelo Espírito Santo”. O “mover” vem pela ação do vento. Por fim, somos informados que o
Espírito veio no Pentecostes como “vento impetuoso”, e assim ele vem como um poder
despertador e revivificador para salvar os perdidos.

147
4.5 POMBA
No evangelho de João temos o testemunho de João Batista (Jo 1:30-34) a
respeito do batismo de Jesus (Mt 3:16). Nele João Batista destaca que “Eu vi o Espírito
descer do céu como pomba, e repousar sobre ele” (Jo 1:32). Há muitos detalhes em que
o Espírito Santo pode ser assemelhado a uma pomba. Alguns simbolismos da pomba
estão relacionados a pureza, mansidão, amor, inocência, beleza. Não se pode confundir
o símbolo com o real. Segundo Silva, a expressão usada no texto:

Revela que o Espírito Santo desceu sobre Jesus numa aparência ou


na figura de uma pomba, e não que Ele seja uma pomba. A palavra
grega aqui usada é eidei, e não morfe, como aparece em Filipenses
2:6,7, que revela a essência e a natureza da divindade de Cristo. A
primeira palavra significa mera aparência, e a segunda, a sua própria
natureza e essência (SILVA apud INTERSABERES, 2014, p. 226).

4.6 PENHOR
No texto bíblico da carta aos Efésios 1:13, Paulo menciona o agir do Espírito
Santo na vida de uma pessoa e diz que, uma vez que ela ouviu a palavra e creu em
Jesus Cristo, foi selada com o Espírito Santo. Na sequência, o apóstolo, referindo-se
ao Espírito Santo diz “o qual é o penhor da nossa herança, para redenção da possessão
adquirida, para louvor da sua glória” (Ef 1:14). No exato momento em que a pessoa
deposita sua fé em Cristo e recebe a vida eterna o Espírito Santo é dado como garantia
de que aquela obra que foi começada será completada até o dia final.

A palavra “penhor” significa a primeira parcela de um pagamento, como garantia


de que todo o pagamento integral será efetuado. Nesse sentido, o Espírito Santo é
primeiro pagamento que garante aos filhos de Deus que ele irá terminar a sua obra em
nós, levando-nos para a glória (Rm 8:18-23; 1 Jo 3:1-3; Fl 1:6).

A palavra “penhor” tem também o significado de anel de noivado. É a garantia


de que a promessa de fidelidade será guardada, sinaliza a promessa da consumação do
casamento. Comparando, a relação da pessoa com Deus é uma relação de amor. Jesus
é o noivo e a sua igreja é a noiva. O Espírito Santo na vida da pessoa é essa garantia
divina de que a glorificação ela será apresentada como noiva imaculada e sem defeito
ao noivo celeste – Jesus Cristo.

148
4.7 SELO
A presença do Espírito Santo dentro da pessoa que crê em Cristo, se torna
a identificação distintiva, não observável ou útil como tal nas esferas humanas, mas
antes uma marca da distinção que Deus vê. O selo fala de um empreendimento total.
Selar indica segurança. Aquele que sela se torna responsável pelo objeto sobre o qual o
objeto foi colocado (CHAFER, 2003).

Diversos versículos mostram este símbolo no Novo Testamento (2 Co 1:22; Ef


1:13; Ef 4:30) Observe, por exemplo, o texto aos Efésios 4:30 “e não entristeçais o Espírito
Santo de Deus, no qual estais selados para o dia da redenção”. O selo, portanto, ressalta
o aspecto da segurança, possessão, propriedade. Note:

Na época bíblica, no contexto do Novo Testamento, usava-se o selo


como sinal de garantia de propriedade, possessão. Como “selo”,
o Espírito Santo é dado ao crente como marca ou evidência de
propriedade de Deus. Ao conceder o Espírito Santo, Deus nos “sela”
como seus (2 Cor 1:22). Portanto, todo cristão tem a convicção de
que é filho de Deus (Jo 1:12), pois o Espírito Santo habita em sua
vida (Gl 4:6), regenerando-o (Jo 3:3-6), libertando-o (Rm 8:1-17) e
conscientizando-o da sua filiação (Rm 8:15; Gl 4:6) (INTERSABERES,
2014, p. 226-227).

DICA
O livro Na Dinâmica do Espírito, de J. I. Packer, apresenta-se
uma análise sólida e imparcial das várias linhas e tendências
dos movimentos que enfatizam a Pessoa e a obra do Espírito
Santo. O autor procura estabelecer um juízo equilibrado.

FONTE: PACKER, J. I. Vocábulos de Deus. São José dos Campos:


Editora Fiel, 2002.

149
RESUMO DO TÓPICO 2
Neste tópico, você adquiriu certos aprendizados, como:

• No Antigo Testamento, as atividades e as manifestações do Espírito Santo eram


esporádicas, específicas e em tempos distintos, visando a um fim especial – a
libertação do povo de Deus em tempos de crise (Juízes, 7:14; 11:29; 14:19; 15:14).
Já na dispensação da graça, no Novo Testamento, suas atividades se concretizam
de maneira direta e continuam através da Igreja (INTERSABERES, 2014).

• Pensando, especificamente, no Espírito Santo no Antigo Testamento, destacamos


três aspectos da sua presença e ação: na criação, na história do povo de Israel e na
vida dos profetas.

• No Antigo Testamento, a presença de Deus muitas vezes foi manifestada na glória de


Deus e nas teofanias; nos evangelhos o próprio Jesus manifestou a presença de Deus
entre os homens. No entanto, depois que Jesus subiu ao céu – e de contínuo, através
de toda a Era da igreja –, o Espírito Santo é a principal manifestação da presença da
Trindade entre nós. Ele é o que está presente de modo mais proeminente entre nós
agora (GRUDEM, 1999).

• Observamos três aspectos da presença e ação do Espírito Santo no Novo Testamento:


nos evangelhos; no livro de Atos Apóstolos; e nas epistolas do Novo Testamento.

• O livro de Atos registra a ida de Jesus ao céu, e logo em seguida (Atos 2), a vinda
do Espírito Santo no dia de Pentecostes sobre os discípulos. Daquele momento em
diante eles receberam dons espirituais, bem como capacitação espiritual para o
ministério (At 2:22,36; 5:4-53), e orientação para o serviço cristão (At 16:6-7).

• Vimos sete símbolos do Espírito Santo nas Escrituras: óleo, água, fogo, vento, pomba,
penhor, selo.

• “A simbologia relativa ao Espírito Santo reflete todas as ações que Ele realiza e não
compromete sua personalidade e divindade. Para cada símbolo, um sentido, dessa
forma a pessoa que acredita consegue identificar aspectos da pessoa do Espírito
Santo e sua importância” (INTERSABERES, 2014, p. 224).

150
AUTOATIVIDADE
1 Segundo Chafer (2003, p. 324), “o Espírito Santo, assim como Jesus Cristo, pode ser
visto com mais clareza no Novo Testamento, porém, quando olhamos com cuidado no
Antigo Testamento, vamos ver a sua presença e ação”. Disserte sobre três aspectos
que a ação do Espírito Santo pode ser vista no Antigo Testamento.

2 No Antigo Testamento o Espírito Santo é retratado produzindo as qualidades morais e


espirituais de santidade e bondade na pessoa a quem chega ou em quem vinha sobre
por determinado tempo. A respeito do Espírito Santo nas Escrituras, leia e analise as
sentenças a seguir:

I- No Novo Testamento suas atividades se concretizam de maneira direta e continua


através da Israel.
II- No Antigo Testamento, as atividades e as manifestações do Espírito Santo eram
esporádicas, específicas e em tempos distintos, visando a um fim especial – a
libertação do povo de Deus em tempos de crise.
III- Existem pelo menos três aspectos da presença e ação do Espírito Santo no Novo
Testamento: nos evangelhos; no livro de Atos Apóstolos; e nas epistolas do Novo
Testamento.
IV- Depois que Jesus subiu ao céu – e de contínuo, através de toda a era da igreja –,
o Espírito Santo é agora a principal manifestação da presença da Trindade entre
nós. Ele é o que está presente de modo mais proeminente entre nós agora.

Assinale a alternativa CORRETA:


a) ( ) As alternativas I, II e III estão corretas.
b) ( ) As alternativas II, III e IV estão corretas.
c) ( ) As alternativas I e IV estão corretas.
d) ( ) Somente a alternativa III está correta.

3 O estudo dos tipos e símbolos do Espírito Santo nas Escrituras contribui em diversos
aspectos, até mesmo como uma forma de ilustrar e elucidar a pessoa e obra dele.
Vários símbolos são usados nas Escrituras para revelar as características do Espírito
Santo. Sobre eles, classifique V para as sentenças verdadeiras e F para as falsas:

( ) O selo, o penhor, a pomba, o vento e a água são alguns dos símbolos do Espírito
Santo encontrados nas Escrituras.
( ) Há muitos detalhes em que o Espírito Santo pode ser assemelhado a uma pomba.
Alguns simbolismos da pomba estão relacionados a pureza, mansidão, amor,
inocência, beleza.

151
( ) O selo é um dos símbolos e ressalta o aspecto da segurança, possessão, propriedade.
( ) O penhor, o arco-íris , a pomba, o céu e a água são alguns dos símbolos do Espírito
Santo encontrados nas Escrituras.

Assinale a alternativa que apresenta a sequência CORRETA:


a) ( ) V – V – V – F.
b) ( ) F – V – F – V.
c) ( ) V – V – F – V.
d) ( ) F – F – V – V.

4 A simbologia relativa ao Espírito Santo reflete todas as ações que Ele realiza e não
compromete sua personalidade e divindade. Para cada símbolo, um sentido. Dessa
forma, a pessoa que acredita consegue identificar aspectos da pessoa do Espírito
Santo e sua importância. Sobre os símbolos do Espírito Santo, associe os itens,
utilizando o código a seguir:

I- Fogo.
II- Penhor.
III- Pomba.
IV- Selo.

( ) Ressalta o aspecto da segurança, possessão, propriedade.


( ) É o primeiro pagamento que garante aos filhos de Deus, que terminará a sua obra.
( ) Fala do “poder” e da “purificação” que o Espírito Santo opera na vida do cristão.
( ) Este símbolo está relacionado à pureza, à mansidão, ao amor, à inocência e à beleza.

Assinale a alternativa que apresenta a sequência CORRETA:


a) ( ) I – II – IV – III.
b) ( ) IV – II – III – I.
c) ( ) II – III – I – IV.
d) ( ) IV – II – I – III.

5 Vários símbolos são usados nas Escrituras para revelar as características do Espírito
Santo. O estudo dos tipos e símbolos do Espírito Santo nas Escrituras contribui em
diversos aspectos, dentre eles como uma forma de ilustrar e elucidar a pessoa e obra
dele. Disserte sobre alguns dos símbolos do Espírito Santo nas Escrituras.

152
UNIDADE 3 TÓPICO 3 —
A OBRA DO ESPÍRITO SANTO

1 INTRODUÇÃO
Depois de termos estudado a pessoa divina do Espírito Santo, e perpassado um
pouco sobre como ele aparece nas Escrituras, chegamos ao ponto de nos voltarmos
para a sua obra, de maneira mais específica. Sem dúvida, o seu agir é insondável e
imensurável em palavras humanas, entretanto, as Escrituras Sagradas dão o Norte para
compreender um pouco da sua obra e ministério. Portanto, baseado nos textos bíblicos,
percorreremos neste tópico buscando observar algumas das obras que Ele realiza.

Ao considerarmos a obra do Espírito Santo, precisamos lembrar que todas as


pessoas da Trindade são ativas e agem conjuntamente. Alguns dizem que Deus Pai
operou na criação; que Deus Filho na redenção; e que Deus Espírito Santo opera na
salvação. No entanto, temos que lembrar que Deus é um ser triúno, e precisamos
ressaltar que em cada manifestação das obras de Deus, a Trindade se mostra ativa: o
Pai é o autor, o Filho é o executor e o Espírito é o ativador de cada ato. Por conseguinte, o
Espírito Santo é aquele que ativa e leva a término os atos iniciados.

Neste ponto, iniciaremos tratando da obra do Espírito Santo em relação ao


universo material. Em seguida, veremos sua obra no mundo, depois sua obra na vida
daqueles que creem (cristãos). Por fim, veremos sua obra na vida de Jesus e das
Escrituras.

2 A OBRA DO ESPÍRITO SANTO EM RELAÇÃO AO


UNIVERSO MATERIAL
Destacaremos duas obras em que a presença do Espírito Santo é constatada
em relação ao universo material.

153
2.1 A CRIAÇÃO
Em Gênesis 1:1,2, o Espírito Santo estava presente na obra da criação. O escritor
de Gênesis diz “pois o Espírito de Deus pairava sobre a face das águas”. É evidente pelo
texto bíblico sua presença no momento da criação, assim como seu agir. Conforme
apresentado nos textos que descrevem o ato criador do Senhor, no princípio, estava
Deus criando todas as coisas, e a ação do Espírito é visivelmente presente. C. H.
Mackintosh afirma:

O Espírito de Deus pairava sobre a face das águas. Ele pairava sobre o cenário
de suas futuras operações. Um cenário escuro, verdadeiramente; e um cenário em que
havia um amplo lugar para o Deus de luz e vida agir. Ele somente poderia iluminar as
trevas, causar o surgimento da vida, substituir o caos pela ordem, abrir e expandir entre
as águas, onde a vida poderia mostrar-se sem medo da morte. Estas foram operações
dignas de Deus (MACKINTOSH apud CHAFER, 2003, p. 413).

Outros textos bíblicos fazem referência à presença e o agir do Espírito de Deus


na criação, por exemplo, Sal 33:6 “Os céus por sua palavra se fizeram, e pelo sopro de
sua boca o exército deles”. Esse verso se refere à criação de âmbito geral. No processo
de criação, quando o ser humano é criado, Deus sopra sobre ele o fôlego da vida. Em Jó
33:4, o escritor diz “O Espírito de Deus me fez; e o sopro do todo-poderoso me dá vida”.
Destaca-se aqui a ação do Espírito na criação do ser humano, ou seja, o Espírito estava
presente e em plena atividade na criação de todo universal material.

2.2 A PRESERVAÇÃO DA CRIAÇÃO


O Espírito Santo age não somente em criar, mas também em preservar toda a
sua criação. A presente ordem de desenvolvimento, na natureza e no homem, e a sua
manutenção é efetuada através da ação do Espírito Santo. O salmista ao discorrer sobre
o agir do Espírito acentua que “se ocultas o teu rosto, eles se perturbam; se lhes cortas
a respiração, morrem, e voltam ao seu pó. Envias o teu Espírito, eles são criados, e assim
renovas a face da terra” (Sl.104:29,20). Berkhof (1990, p. 89) ressalta algumas das obras
do Espírito. Note como ele as apresenta:

A obra do espírito Santo na economia divina. Certas obras são


atribuídas mais particularmente ao Espírito Santo, não somente
na economia geral de Deus, mas também na economia especial
da redenção. Em geral se pode dizer que a tarefa especial do
Espírito Santo consiste em levar as coisas à completação agindo
imediatamente sobre a criatura e nela. Justamente como Ele é a
pessoa que completa a Trindade, assim a Sua obra é a completação
do contato de Deus com as Suas criaturas e a consumação da obra
de Deus em todas as esferas. Ela se segue à obra do Filho, como
a obra do Filho segue-se à do Pai. É importante ter isto em mente,
pois, se a obra do Espírito Santo for divorciada do objetivo da obra do
Filho, um falso misticismo fatalmente surgirá como resultado. A obra

154
do Espírito inclui as seguintes ações na esfera natural: (1) A geração
da vida. Como o ser provém do Pai, e o pensamento vem mediante
o Filho, assim a vida é mediada pelo Espírito, Gn 1.3; Jó 26.13; Sl
33.6 (?); Sl 104.30. Com relação a isso, Ele dá o toque final à obra da
criação. (2) A inspiração geral e a qualificação dos homens. O Espírito
Santo inspira e qualifica os homens para as suas tarefas oficiais, para
trabalho na ciência e nas artes etc. (BERKHOF, 1990, p. 89).

NOTA
Em Gen 1:1,2, o Espírito Santo estava presente na obra da criação.
O escritor de Genesis diz “pois o Espírito de Deus pairava sobre a
face das águas”. É evidente a presença no momento da criação, assim
como o agir dEle.

3 A OBRA DO ESPÍRITO SANTO EM RELAÇÃO AO MUNDO


Por obra do Espírito Santo em relação ao mundo nos referimos a sua atuação
na vida das pessoas que não acreditam em Jesus Cristo. O seu agir, nesse sentido,
caminha na direção de testificar, isto é, dar testemunho a respeito de algo ou alguém,
e o convencimento, no caso, a respeito de Jesus Cristo. Dessa forma, é feito o
convencimento intelectual. O Espírito Santo atua no mundo, mediante a Palavra de
Deus, e dá convicção quanto às realidades espirituais proclamadas no Evangelho de
Cristo, especialmente no tocante ao pecado e à justiça divina (JOÃO 16:8-11). Isso
significa que o Espírito coloca a verdade diante da pessoa e atua no seu entendimento,
iluminando-o, para compreender a verdade e reconhecer que ela tem implicações vitais
para a sua vida. Duas obras entram em destaque neste sentido: testificar e convencer.

3.1 TESTIFICA
João 15.26 – “Quando, porém, vier o Consolador, que eu vos enviarei da parte
do Pai, o Espírito da verdade, que dele procede, esse dará testemunho de mim”.

O Espírito Santo testifica aos que não creem por meio da verdade concernente
a Jesus Cristo. Tanto no versículo de João, como em Atos 5.30-32 encontramos esta
obra presente. Em João, havia a promessa da vinda do Consolador por parte de Jesus.
Nesta mesma promessa, Jesus menciona uma das obras que o Espírito realizaria “dará
testemunho de mim”. Em Atos, Jesus já havia ascendido aos céus, e o Espírito Santo já
havia descido sobre os discípulos (Atos 2), e então, ele é mencionado como testemunha,
assim como os discípulos eram testemunhas, isto é, todos (discípulos e Espírito Santo)
confirmavam a mensagem da vida, morte e ressurreição de Jesus. Note que eles faziam
isto em relação às pessoas que não criam em Jesus.

155
3.2 CONVENCE
João 16.8-11 – “Quando ele vier, convencerá o mundo do pecado, da justiça e
do juízo: do pecado, porque não creem em mim; da justiça, porque vou para o Pai, e não
me vereis mais; do juízo, porque o príncipe deste mundo já está julgado”.

Uma outra obra do Espírito Santo em relação ao mundo é o convencimento. O


texto de João é muito claro neste sentido. No entanto, vamos nos ater a alguns detalhes
destes versos e observar cada um dos aspectos deste convencimento.

O Espírito convence o mundo do pecado. Qual pecado? O pecado da


incredulidade “porque não creem mim”. Visto que todo pecado tem sua raiz na
incredulidade, a forma mais grave é a rejeição de Cristo. O Espírito Santo, então, a partir
deste convencimento, intensifica o senso de todos os outros pecados.

O Espírito convence da justiça. Qual justiça? Justiça providenciada por


Cristo, a qual ele recebeu a fim de concedê-la a todos quantos viessem a confiar nele.
Jesus é o justo; é o justificador daqueles que creem. Paulo diz que ele é a nossa justiça
(1 Cor 1:30; 2 Cor 5:21).

O Espírito convence do juízo. Qual juízo? O príncipe deste mundo já está


julgado. O julgamento de Satanás foi assegurado na cruz, quando, potencialmente,
lhe foi tirado o poder. Ele já está julgado e condenado. Não há necessidade de que
os homens se submetam a sua autoridade. O Espírito Santo quer convencer o mundo
deste fato.

Nessa obra que envolve estes três aspectos, o Espírito Santo glorifica a Cristo. Ele
mostra que é pecado não confiar em Cristo, revela a justiça de Cristo e a obra vitoriosa
de Cristo em relação a Satanás.

Sintetiza-se a obra do Espírito Santo em relação ao mundo da seguinte forma:

A obra principal do Espírito Santo, em relação aos perdidos, é a da


convicção. Deve-se fazer distinção entre a convicção da consciência
e a convicção do Espírito Santo. A consciência convence do erro
praticado – o Espírito convence do erro no próprio ser. A consciência
pode ser assemelhada a um tribunal – juiz, júri, e testemunhas – todos
a tratar do erro praticado, do que não há meio de escapar. O Espírito
Santo convence ao mesmo tempo que faz surgir um raio de luz,
revelando uma solução e um meio de escape (BANCROF, 1992, p. 192).

NOTA
“O Espírito Santo convence ao mesmo tempo que faz surgir um raio de luz,
revelando uma solução e um meio de escape” (BANCROF, 1992, p. 192).

156
4 A OBRA DO ESPÍRITO SANTO EM RELAÇÃO AOS QUE
CREEM
A obra do Espírito Santo iniciada no coração daqueles que não creem prossegue.
Uma vez que a pessoa é convencida pelo Espírito e chega ao arrependimento, várias
“obras” do Espírito Santo são realizadas na sua vida. Vamos ver algumas, com destaque
especial para a habitação do Espírito, tendo em vista sua importância.

FIGURA 4 – A OBRA DO ESPÍRITO SANTO EM RELAÇÃO AOS QUE CREEM

A OBRA DO ESPÍRITO SANTO EM


RELAÇÃO AOS QUE CREEM

• Regenera • Capacita para o ministério


• Habita • Possibilita formas de comunhão com Deus
• Batiza no corpo de Cristo • Produz o fruto das graças cristãs
• Enche • Vivificará o corpo dos que creem

FONTE: O autor

4.1 REGENERA
A regeneração “gerar de novo”, também conhecido como “novo nascimento”, é
a concessão da natureza divina ao ser humano (2 Pe 1:4). O Espírito Santo é o agente
da transmissão dessa nova natureza, nova vida. Chafer (2003, p. 451) acentua que “ao
menos 85 passagens no Novo Testamento asseveram que um cristão é uma pessoa
mudada, em virtude do fato de que ele recebeu a verdadeira vida de Deus”.

A necessidade do novo nascimento foi expressa por Jesus a Nicodemos (João


3) nas seguintes palavras: “O que é nascido da carne é carne, e o que é nascido do
Espírito é Espírito” (Jo 3:6). Sobre o significado de regeneração, o Dr. Walvoord escreve:

157
Em relação à natureza do homem, ela inclui as várias expressões
usadas para a vida eterna como nova vida, novo nascimento,
ressurreição espiritual, nova criação, novamente “tornados vivos”,
filhos de Deus e transporte o reino. Em linguagem simples, a
regeneração consiste em tudo que é representado pela vida eterna
não ser humano [...]. A regeneração, por sua natureza, é unicamente
uma obra de Deus. [...] A obra da regeneração pode ser atribuída ao
Espírito Santo, tão definitivamente quanto a obra da salvação pode
ser atribuída a Cristo (WALVOORD apud CHAFER, 2003, p. 457).

4.2 HABITA
Há diversas passagens bíblicas que, tratando da habitação do Espírito, revelam
que ele seja recebido no momento que uma pessoa crê em Jesus Cristo como Salvador.
A habitação do Espírito Santo é a base de todos os demais ministérios na vida daquele
que crê. Vamos observar alguns pontos importantes sobre esta questão. Observe alguns
versículos bíblicos que apresentam a habitação do Espírito Santo na vida da pessoa que crê:

Ef 1:13; Rm 8:9. Note, por exemplo, o texto da carta aos Efésios “Em quem
também vós estais, depois que ouvistes a palavra da verdade, o evangelho da vossa
salvação; e, tendo nele também crido, fostes selados com o Espírito Santo da promessa”.
O texto de Efésios fala que os que ouvem o evangelho e creem são “selados” com o
Espírito Santo da promessa. Os crentes de Éfeso podiam compreender perfeitamente
a ilustração do selo, pois Éfeso era porto do mar, com ativo negócio de madeiras. O
comerciante em madeiras vinha a Éfeso, selecionava e comprava sua madeira, e
selava-a com a marca reconhecida de que ela lhe pertencia. O Espírito Santo é o selo de
propriedade que Deus põe sobre uma vida humana; é o carimbo divino e a garantia da
herança eterna. Além destas passagens bíblicas, destacamos na sequência outras que
corroboram para isto:

João 14.16,17 – “E eu rogarei ao Pai, e ele vos dará outro Consolador, a fim de
que esteja para sempre convosco, o Espírito da verdade, que o mundo não pode receber,
porque não o vê, nem o conhece; vós o conheceis, porque ele habita convosco e estará
em vós”. Jesus se dirigindo aos discípulos fala que não os deixaria desamparados,
sozinhos, mas enviaria o “Consolador” – Espírito Santo. Observe que Jesus diz que ele
(Espírito Santo) não mais simplesmente habitaria com eles e sim estaria neles. Note a
diferença de habitar com e estar em. Aqui está uma verdade que distingue o ministério
do Espírito Santo na época presente (chamada de época da graça, ou da Igreja, ou
ainda do Espírito Santo) com a do passado, isto é, do Antigo Testamento. Naquela época
ele “apoderava-se” de qualquer pessoa (que cria ou não), para usá-la na realização da
sua vontade, e depois a deixava. Sua habitação não era permanente, como é na época
presente.

158
João 7.38,39 – “Quem crer em mim, como diz a Escritura, do seu interior fluirão
rios de água viva. Isto ele disse com respeito ao Espírito que haviam de receber os que
nele cressem; pois o Espírito até aquele momento não fora dado, porque Jesus não
havia sido ainda glorificado”. Jesus disse estas palavras antes do Espírito Santo vir para
iniciar o referido ministério. Podemos notar que a condição para receber o Espírito Santo
é “crer em Jesus”. A habitação do Espírito Santo estava na dependência da glorificação
de Jesus no céu. Jesus morreu, foi sepultado, ressuscitou e foi para o céu. Cinquenta
dias depois o Espírito Santo veio sobre os discípulos para habitar neles e em todos
aqueles que creriam em Jesus Cristo a partir daquele momento.

Como mencionado nessas versões anteriores, o Espírito Santo habita naqueles que
creem. É de se notar que não se faz menção de nenhuma condição para a permanência
do Espírito Santo na pessoa que crê. A Bíblia diz que o Espírito Santo pode ser resistido,
entristecido, apagado, porém isto não anula a promessa da sua habitação para sempre.

A habitação do Espírito Santo no crente é universal e invariável. Por habitação


universal queremos dizer com isto que ele habita em todos os que creem, e não somente
nos mais espirituais. Paulo, escrevendo aos Coríntios (1 Co 6:19), diz que somos santuário
do Espírito Santo. Paulo não estava se dirigindo somente aos discípulos de Cristo
“espirituais”, mas a todos os que criam de Corinto. Por habitação invariável queremos
dizer que uma pessoa que crê não possui mais do Espírito Santo do que qualquer outro
discípulo. Isso trata da presença do Espírito Santo e não do seu domínio sobre a pessoa.
O domínio (enchimento) do Espírito Santo, onde há variação de cristão para cristão, faz
parte da plenitude do Espírito (vide no ponto 4.4.).

Esta habitação do Espírito é descrita nas Escrituras por meio do penhor, do selo
e da unção: Penhor: Aos Coríntios, Paulo escreveu “[...] que, também, nos selou e nos
deu o penhor do Espírito em nossos corações” (2 Cor 5:5). Um penhor é uma garantia
(sinal certo, prova, segurança) de que o pagamento será efetuado; um sinal que alguém
dá para assegurar um compra. Aquele que crê é possessão de Deus, comprado pelo
precioso sangue de Jesus (1 Co 6:19,20). Contudo, tem sido do agrado de Deus deixar
a sua propriedade no mundo por algum tempo. No entanto, não há perigo de perder o
que ele adquiriu por preço tão alto – seu próprio Filho. Sua propriedade está assegurada
pelo penhor do Espírito.

Selo: aos Efésios, Paulo destacou: “E não entristeçais o Espírito de Deus, no


qual fostes selados para o dia da redenção” (Ef 4:30). O Espírito Santo como penhor e
selo, assegura a salvação dos que confiam no Senhor Jesus. O selo fala de identificação
e segurança. A presença do Espírito Santo no cristão o identifica como propriedade de
Deus. À semelhança de como um oficial sela documentos e artigos oficiais e de valor,
também Deus sela o cristão afirmando segurança.

159
Unção: por fim, João na sua primeira carta, 1 João 2.20-27 salienta que o
Espírito, mesmo, é a unção. No Antigo Testamento os sacerdotes, profetas e reis eram
ungidos com óleo (conforme já mencionado no tópico anterior), símbolo do Espírito
Santo, significando a consagração da pessoa para a obra de Deus e o ministério do
Espírito Santo por meio de sua vida. O cristão da época presente é chamado por Pedro
de sacerdote (1 Pe 2:9), ministrando sob a direção do Sumo Sacerdote, Cristo (Hb 4:14).
Portanto, há necessidade duma unção para o desempenho do seu ministério. O Espírito
Santo é sua unção, por isso, ele pode servir no poder do Espírito que habita nele.

NOTA
A habitação do Espírito é descrita, nas Escrituras, por meio do penhor,
do selo e da unção.

4.3 BATIZA NO CORPO DE CRISTO


O Espírito Santo batiza todo aquele que crê no corpo de Cristo (1Co 12.13). Todo
aquele que crê em Cristo é introduzido na igreja de Deus, o corpo de Cristo, pela obra
do Espírito Santo. Nenhuma denominação religiosa ou rito sagrado pode nos fazer
participantes da igreja, cujos membros estão arrolados no céu, senão o Espírito Santo.
Segundo Bancroft (1992, p. 194), “o batismo do Espírito Santo é aquele ato que tem
lugar por ocasião da conversão, mediante o qual a pessoa se torna membro do corpo
de Cristo”. Tratando-se do período em que isso acontece, “o batismo do Espírito teve
início no dia de Pentecoste, mas se estende através dos séculos e prosseguirá até que
o último membro tenha sido acrescentado à Igreja” (BANCROFT, 1992, p. 195).

4.4 ENCHE
Também chamada de “plenitude do Espírito”, a obra do Espírito Santo de encher
o cristão está baseada especialmente na passagem bíblica de Paulo aos Efésios, Ef.
5:18-20 “e não vos embriagueis com vinho, no qual há dissolução, mas enchei-vos do
Espírito, falando entre vós com salmos, entoando e louvando de coração ao Senhor,
com hinos e cânticos espirituais, dando sempre graças pôr tudo a nosso Deus e Pai, em
nome de nosso Senhor Jesus Cristo”.

Diferentemente da regeneração, da habitação, e do batismo do Espírito, que se


refere a uma única experiência, ou seja, o Espírito regenera, habita, batiza uma única
vez, pois, trata-se de obras que não necessitam de repetição. No caso do encher-se
do Espírito trata-se de uma experiência que pode acontecer muitas vezes. Em outras

160
palavras, uma pessoa que foi regenerada, o Espírito Santo habita na sua vida, sendo
assim ela já está batizada no corpo de Cristo, ou seja, ações completas e que não tem
necessidade de se repetir. Não obstante, tendo agora o Espírito Santo na sua vida a
pessoa pode experimentar o enchimento – domínio, controle – várias vezes em sua
vida, aliás a orientação bíblica é para que ela viva agora sempre cheia do Espírito e ande
controlada pelo Espírito e não mais pela sua carne. De acordo com Bancroft (1992, p.
196), “há duas condições necessárias a sua realização: primeira, completa submissão de
vida; segunda, uma apropriação definida, por meio da fé”.

4.5 CAPACITA PARA O MINISTÉRIO


O Espírito Santo dá dons espirituais aos salvos (1Co 12.7-11). O Espírito Santo
é o capacitador dos salvos, para o serviço de Deus. Ele concede dons diversos aos
filhos de Deus, segundo sua soberana vontade. Esses dons são uma capacitação
especial para o desempenho do ministério. Não há nenhum cristão sem dom espiritual
e nenhum cristão com todos os dons. No corpo de Cristo não pode existir complexo de
inferioridade nem complexo de superioridade; deve sim, existir mutualidade. Esses dons
devem ser exercidos não para a glória pessoal de cada membro, mas para a edificação e
crescimento do corpo de Cristo, bem como para a glória de Deus.

Há três passagens clássicas na Bíblia que tratam da questão dos dons: Rm 12:3-
7; 1 Cor 12; e Ef 4:11-13. Há outras passagens bíblicas que fazem referência aos dons, mas
estas primeiras são as mais utilizadas. Nenhuma das listas de dons é completa. Não é o
proposito aqui examinar minuciosamente cada um destes dons, somente fazer menção de
como é o Espírito Santo quem concede e equipa os cristãos para o serviço cristão.

QUADRO 2 – OS DONS ESPIRITUAIS

Romanos 12:6-8 1 Coríntios 12:8-11 Efésios 4:11


1. Profecia 1. Palavra de sabedoria 1. Apóstolos
2. Serviço/ministério 2. Palavra de conhecimento 2. Profetas
3. Ensino 3. Fé 3. Evangelistas
4. Exortação/encorajamento 4. Dons de curar 4. Pastores/Mestres
5. Contribuir 5. Operar milagres
6. Liderança/presidir 6. Profecia
7. Misericórdia 7. Discernimento de espíritos
8. Variedades de línguas
9. Interpretações de línguas
10. Apóstolos
11. Profetas
12. Mestres/Doutores
13. Prestar ajuda
14. Administração

FONTE: O autor

161
Além de conceder dons, o Espírito também dá poder aos discípulos de Cristo para
testemunhar (At 1:8). Não há testemunho eficaz do evangelho sem poder e não há poder
sem a operação do Espírito Santo. Conforme as Escrituras, a obra de Deus não é feita
na força do braço da carne, mas na virtude e no poder do Espírito Santo. Ele capacita a
igreja a romper barreiras culturais, étnicas e religiosas, a fim de que o evangelho chegue
até aos confins da terra. Ele concede poder aos cristãos para perdoarem seus inimigos e
amarem até aqueles que os perseguem. Ele dá poder aos que creem para pregar a toda
criatura e fazer discípulos de todas as nações. Sem o poder do Espírito Santo a igreja
não cumpre a grande comissão. Sem o poder do Espírito Santo a igreja não vive em
santidade nem caminha sua jornada rumo à glória.

4.6 POSSIBILITA FORMAS DE COMUNHÃO COM DEUS


O Espírito Santo age de tal maneira que proporciona formas de comunhão com
Deus. É por meio Jesus Cristo – seu sacrifício e ressurreição – que o acesso direto ao Pai
foi aberto e concretizado, e é por meio do Espírito que isto se vivencia.

A pessoa que crê, por intermédio de Jesus Cristo – que está a destra do Pai
–, chega à presença do altar ou do trono de Deus sob a direção e ação do Espírito
Santo e pode, por exemplo: orar, adorar, louvar e agradecer. Através da oração a pessoa
desfruta dessa experiência maravilhosa que, conforme Jesus é se dirigir ao “nosso Pai”
(Pai nosso) e como um filho expressar-se na mais intima e profunda comunhão, pois “é
a mediação de Cristo, perante o Pai, e a mediação do Espírito Santo, perante nós, que dá
esse alto privilégio de orarmos em nome de Jesus [...]” (GORDON apud BANCROFT, 1992,
p. 199). No entanto, além de orar, a pessoa pode adorar e louvar o Criador. “A adoração
é a veneração e a contemplação da criatura a seu Criador, Deus. Deve ser levada a
efeito em completa dependência da orientação do Espírito [...]” (BANCROFT, 1992, p.
199). Conforme Paulo “porque Dele (Deus), por Ele, e para Ele são todas as coisas! A Ele
seja a glória para sempre! Amém!” (Rm 11:36). Na adoração o foco está plenamente em
Deus. E, ainda, uma das formas de desfrutar da comunhão com Deus é expressando
gratidão. Paulo lembra que uma pessoa cheia do Espírito é agradecida “dando sempre
graças pôr tudo a nosso Deus e Pai, em nome de nosso Senhor Jesus Cristo” (Ef 5:20). “A
vida cheia do Espírito é uma vida de ações de graças e de ações motivadas pela graça”
(BANCROFT, 1992, p. 200).

NOTA
A pessoa que crê, por intermédio de Jesus Cristo – que está a
destra do Pai –, chega à presença do altar ou do trono de Deus
sob a direção e a ação do Espírito Santo, e pode, por exemplo, orar,
adorar, louvar e agradecer.

162
4.7 PRODUZ O FRUTO DAS GRAÇAS CRISTÃS
Gal 5:22,23 – “O fruto do Espírito é: amor, alegria, paz, longanimidade,
benignidade, bondade, fidelidade, mansidão, domínio próprio. Contra estas coisas não
há lei”.

Esse fruto refere-se ao caráter cristão, não está relacionado com o serviço
cristão propriamente dito. Enquanto os dons estão relacionados ao serviço (capacitação
para o ministério), o fruto está relacionado com o caráter da pessoa. Pode-se dizer que
o fruto tem a ver com o caráter de Cristo na vida do cristão. Usando a expressão do
apóstolo Paulo, é “Cristo em nós”, ou “Cristo vive em mim”. Portanto, é o caráter de
Cristo transformando e moldando o caráter do cristão. Para Bancroft (1992, p. 199),
“toda verdadeira beleza de caráter, toda semelhança com Cristo em nós, é operação do
Espírito Santo. Ele é para o cristão o que a seiva é para a árvore – a fonte da vida e do
poder produtivos”.

4.8 VIVIFICA O CORPO DOS QUE CREEM


Rm 8:11 – “Se habita em vós o Espírito daquele que ressuscitou a Jesus dentre
os mortos, esse mesmo que ressuscitou a Cristo Jesus dentre os mortos, vivificará
também os vossos corpos mortais, por meio do seu Espírito, que em vós habita”.

A obra do Espírito na vida das pessoas é completa. Inicia-se com o testificar


e convencer. Depois, vem a regeneração, a habitação, o batismo no corpo de Cristo,
dessa forma possibilita o encher do Espírito, a capacitação para o ministério por meio de
dons, e o fruto do caráter de Cristo. Por fim, quando a pessoa partir para estar com Cristo,
um dia terá seu corpo ressuscitado pela ação do Espírito. “A ressurreição é atribuída ao
Espírito Santo, como também às demais pessoas da Trindade. Ele fará retornar à vida
os nossos corpos, depois da morte física” (BANCROFT, 1992, p. 200). Nota-se, assim, a
ação do Espírito por completo na vida da pessoa que crê.

NOTA
“A ressurreição é atribuída ao Espírito Santo, como, também, às
demais pessoas da Trindade. Ele faz retornarem, à vida, os nossos
corpos, depois da morte física” (BANCROFT, 1992, p. 200).

163
5 A OBRA DO ESPÍRITO SANTO EM RELAÇÃO A JESUS
CRISTO E ÀS ESCRITURAS
A obra do Espírito Santo na vida de Jesus começa desde o seu nascimento. A
seguir, veremos de forma mais aprofundada a obra do Espírito Santo em relação a Jesus
e às escrituras.

5.1 JESUS FOI CONCEBIDO PELO ESPÍRITO SANTO


O anjo Gabriel anunciou a Maria que “descerá sobre ti o Espírito Santo e o poder
do Altíssimo te envolvem rá com a sua sombra; por isso também o ente santo que há
de nascer, será chamado Filho de Deus” (Lc 1:35). De fato, algo sobrenatural, no sentido
de ser alguma coisa que foge do natural, foi o nascimento de Jesus Cristo. Na verdade,
o entendimento cristão da vinda de Jesus é algo miraculoso, pois, Deus se fez carne e
habitou entre nós. E nesta vinda ao mundo, a Trindade age conjuntamente o tempo todo.
O Pai envia, o Filho vem, o Espírito age desde o nascimento até a morte e ressurreição
de Cristo. Gaebelein descreve a chegada de Jesus ao mundo da seguinte forma:

O Espírito Santo produziu o corpo humano do Filho de Deus mediante


um ato criador. O Filho de Deus chamou esse corpo de corpo
preparado (Hb 10:5). Era impossível que aquele que é absolutamente
santo, se revestisse de um corpo que tivesse vindo a existência por
geração natural. Se estivesse sido o caso, teria Ele possuído um
corpo maculado com a mancha do pecado. Apesar de ser verdade
que Maria possuía um corpo pecaminoso, e o Espírito Santo, ao
preparar o corpo, jamais poderia permitir que qualquer coisa profana
viesse a entrar no corpo físico de nosso Senhor (GAEBELEIN apud
BANCROFT, 1992, p. 200).

5.2 JESUS FOI GUIADO PELO ESPÍRITO


É notável o fato de Jesus Cristo, sendo Deus, por toda a sua vida aqui na terra
como homem, ter sido guiado pelo Espírito Santo. Conforme Lucas “Deus ungiu a Jesus
de Nazaré com o Espírito Santo” (At 10:38). Ele foi ungido, guiado, cheio (Lc 4:1) do
Espírito e realizou seu ministério. Por fim, foi até a cruz, e dependente e submisso ao
Espírito e ao Pai deu a sua vida em sacrifício para a remissão e perdão dos pecados da
humanidade. O tempo todo e, em todo tempo, percebe-se nos evangelhos a ação do
Espírito sobre a sua vida.

De maior importância ainda é a obra do Espírito Santo na esfera da


redenção. Aqui podem ser mencionados os seguintes pontos: (1) O
preparo e a qualificação de Cristo para a Sua obra mediadora. Ele
preparou para Cristo um corpo e, assim, capacitou-o a tornar-se um
sacrifício pelo pecado, Lc 1.35; Hb 10.5-7. Nas palavras “corpo me
formaste”, o escritor de Hebreus segue a Septuaginta. O sentido é:

164
Pela preparação de um corpo santo, me capacitaste a ser um sacrifício
pelo pecado. Em seu batismo Cristo foi ungido com o Espírito Santo
Lc 3.22, e recebeu do Espírito Santo dons habilitadores sem medida,
Jo 3.24 (BERKHOF, 1990, p. 89).

5.3 JESUS FOI RESSUSCITADO PELO PODER DO ESPÍRITO


Rm 8:11 – “E, se o Espírito daquele que dentre os mortos ressuscitou a Jesus
habita em vós, aquele que dentre os mortos ressuscitou a Cristo também vivificará
os vossos corpos mortais, pelo seu Espírito que em vós habita”. O apóstolo Paulo ao
tratar do assunto da ressurreição de Jesus salienta o fato que o Espírito (Espírito Santo)
ressuscitou a Jesus de entre os mortos. Depois de sua morte e sepultamento, o Espírito
Santo poderosamente agiu na ressurreição do Filho de Deus.

A morte não pôs fim ao plano redentor de Deus, e, novamente temos a ação do
Espírito Santo. De acordo com Bancroft “Jesus Cristo foi ressuscitado dentre os mortos
pelo poder coordenado do Deus Trino. Portanto, o Espírito Santo teve participação
proeminente em sua ressurreição” (BANCROFT, 1992, 202).

5.4 A AÇÃO DO ESPÍRITO SANTO NAS ESCRITURAS


O apóstolo Pedro nos informa que, os “homens santos de Deus” que escreveram
as Escrituras foram movidos pelo Espírito Santo (2 Pe 1:21). As Escrituras Sagradas
referem-se ao Espírito Santo como o agente divino da comunicação da verdade de
Deus aos homens.

Essa influência sobre esses santos homens representa um empreendimento


divino distinto e forma uma grande parte da doutrina a respeito do Espírito Santo
encontrada na Bíblia. A asserção de que “toda escritura é dada por inspiração de Deus”
se refere, primariamente, ao Antigo Testamento, e estes oráculos de Deus dados quase
que totalmente através de autores judaicos. Nesse sentido, Israel deu ao mundo tanto a
Palavra escrita quanto a Palavra Viva (Jesus Cristo) (CHAFER, 2003).

(2) A inspiração da Escritura. O Espírito Santo inspirou a Escritura


e deste modo trouxe aos homens a revelação especial de Deus, 1
Co 2.13; 2 Pe 1.21, o conhecimento da obra de redenção que há em
Cristo Jesus. (3) A formação e o aumento da igreja. O Espírito Santo
forma e dá crescimento à igreja, o corpo místico de Jesus Cristo, pela
regeneração e pela santificação, e habita nela como o princípio da
nova vida, Ef 1.22, 23; 2.22; 1 Co 3.16; 12.4s. (4) Ensino e direção da
igreja. O Espírito Santo dá testemunho de Cristo e guia a igreja em
toda verdade. Em fazendo isto, Ele manifesta a glória de Deus e de
Cristo, aumenta o nosso conhecimento do Salvador, livra de erro a
igreja e a prepara para o seu destino eterno, Jo 14.26; 15.26; 16.13, 14;
At 5.32; Hb 10.15; 1 Jo 2.27 (BERKHOF, 1990, p. 89).

165
É importante destacar que, a obra da inspiração não era realizada por uma
força impessoal, por uma lei da natureza, ou pela providencia unicamente; mas o
Espirito imanente, que trabalhava nos corações e nos afazeres humanos, não somente
revelava a verdade de Deus, mas fez com que o Antigo Testamento fosse escrito, o
mais espantoso e importante documento que já foi produzido, a fim de portar em suas
páginas evidências inconfundíveis de que as mãos que o inscreveram foram guiadas
pelo resoluto, infinitamente sábio e infalível Espírito Santo (CHAFER, 2003). Conforme
Bancroft (1992, p. 203), ao se referir à inspiração das Escrituras, ele afirma que “quanto
às Escrituras do Antigo Testamento, temos declarações terminantes nesse sentido, e é
claramente subentendido e afirmado no tocante ao Novo Testamento”.

166
LEITURA
COMPLEMENTAR
O RELACIONAMENTO ENTRE PALAVRA, FÉ E ESPÍRITO

Ezequiel Hanke

Deus vem ao mundo e traz à humanidade a salvação por meio do Cristo, que
continua com os crentes, e os crentes com Ele por meio do Evangelho, testemunho
tanto do Antigo quanto do Novo Testamento. Nas palavras de Lutero é “was Christum
treibet”, aquilo que promove a Cristo.

Tanto a palavra que consta escrita (nas Escrituras) quanto a palavra falada (culto,
pregação) são palavras externas, e assim formam uma espécie de comunicação mística
entre o Espírito de Deus e o espírito do crente, ou seja, da mesma forma como Cristo se
tornou humano, assim ele vem à humanidade por meios humanos, ou seja, pela palavra
externa e pela palavra interna. Althaus resume Lutero e aponta “1) O Espírito não fala
sem a palavra; 2) o Espírito fala através da e na palavra”.

O que nos interessa neste momento é a pergunta a respeito do relacionamento


entre a palavra externa, da qual falamos anteriormente, e da palavra interna, a qual Deus
revela ao crente no coração. Lutero afirma que ambas estão conectadas e interligadas
conforme aponta no posicionamento a Erasmo de Roterdam:

[...] Mas Deus sozinho, por meio de seu Espírito, opera em nós tanto
o mérito quanto o prêmio; contudo, indica e dá a conhecer ambos ao
mundo todo por meio de sua palavra externa, de sorte que também
junto aos ímpios, aos incrédulos e aos ignorantes se anunciam sua
potência e glória e nossa impotência e ignomínia, ainda que apenas
os piedosos percebam isso em seu coração e somente os fiéis o
compreendam, ao passo que os restantes o desprezam (OSel. 4, p.
11-216, à p. 113).

Assim sendo, podemos constatar que, para Lutero o Espírito não fala sem a
palavra, fala justamente na palavra e através dela. Isto significa que Deus não dá a sua
palavra ao crente de forma direta, mas sim, por meios externos:

[...] Diremos que foi desta maneira que agradou a Deus conceder
o Espírito: não sem a palavra, mas por meio da palavra, a fim de
que nos tenha como seus cooperadores [Cf. 1 Co 3.9] contanto
que proclamamos exteriormente o que apenas ele mesmo inspira
interiormente onde quer que lhe aprouve – coisas que, apesar disso,
poderia fazer sem a palavra, porém não quer [...] (OSel. 4, p. 11-216,
à p. 112).

167
Dado isso, podemos também constatar nestas palavras uma afirmação contra
osentusiastas, e não por último, em relação ao próprio papado. Dessa forma, já vamos
também nos encaminhando para o próximo ponto onde iremos tratar da fé do crente,
que vem somente pela obra do Espírito Santo – que atua pela palavra externa, e, por
isso, justifica-se a importância da palavra de Deus. Caso o Espírito estivesse livre da
palavra, isto significaria a admissão de outro caminho para a salvação, fora do Evangelho,
mas o fato de que o Espírito age por meio da palavra, quer enfatizar e deixar claro uma
vida ligada à de Jesus Cristo e significa a comunicação de Deus em lei e evangelho, já
o contrário pode significar uma infinidade de coisas. É também preciso afirmar que a
palavra não é algo exterior, no entanto, permanece enquanto tal. Muito pelo contrário,
a palavra penetra no coração do crente, mas chega ao coração através da palavra,
trazendo Cristo consigo. A essa interdependência, novamente Lutero pretende afirmar
que não é possível receber o Espírito sem receber a palavra de Deus, sendo que assim
Deus fala ao coração humano. A tarefa da pessoa que prega é garantir a proclamação
da tensão entre lei e evangelho.

Como já apontamos anteriormente, tudo isso Lutero vinha enfatizando na sua


controvérsia com os entusiastas, no entanto, estava claro para o reformador que todo
falar de Deus vai sempre ser um falar espiritual no sentido de tocar o coração. Por isso a
espiritualidade interna está ligada à palavra externa.

Lutero sabia que o Espírito pode trabalhar “sem meios”, mas dava ênfase na
palavra para evitar as técnicas entusiastas de preparo da alma para receber o Espírito de
modo a insistir sempre que “Deus vem a mim sem qualquer preparo ou ajuda de minha
parte.” Foi dessa forma que o reformador procurava preservar o fato de que o Espírito
possui plena liberdade e ao mesmo tempo está Deus amarrado a si na palavra.

Portanto, Lutero estava convencido do fato de que o crente não comunica a


Cristo senão por meio da palavra, Escritura. É a palavra bíblica que toca o coração do
ser humano a fim de que “possa andar em novidade de vida” (Rm 6.4). Dessa forma, a
palavra de Deus nunca retorna vazia, mas aponta para o Cristo da cruz.

Portanto, a pergunta pela obra e ação do Espírito está clara: Palavra – pela Palavra
o Espírito age no ser humano. No entanto, permanece a pergunta pelo relacionamento
entre Espírito e Palavra. Estariam intimamente ligadas da forma que, onde está a palavra
ali está o Espírito? Ou pode a palavra ser sem o Espírito e o Espírito agir sem a palavra?
Uma vez isso, queremos, também, esclarecer o que Lutero entende por palavra e como
se dá esse relacionamento.

2.4 O ESPÍRITO E A PALAVRA

O fato de Lutero encontrar a palavra nas Escrituras Sagradas não é preciso


evidenciar, de modo que o reformador segue apenas a tradição da igreja. Todavia, pouco
está dito qual sua “visão de palavra”. Para Lutero, a compreensão e manutenção da

168
dialética: letra – espírito, e, lei – evangelho, é fundamental quando se trata da Palavra,
já que, como um todo, Lutero visava à palavra com seu pensar teológico, desenvolvido
na forma de dois princípios hermenêuticos.

2.4.1 Letra e Espírito

Para Lutero, o crente não deveria se contentar apenas com a letra e a palavra
ouvida, mas antes procurar escutar o próprio Espírito Santo. Assim sendo, não é
exatamente a palavra externa que concede a ação interna. A palavra enquanto letra
anunciada é instrumento do Espírito que escreve palavras vivas no coração humano (viva
vox Evangelii). Aquilo, pois, que a voz expressa de forma falada (vocaliter) é compreendido
de forma vivencial (vitaliter) pelo coração humano, sendo o Espírito aquele que está
oculto na própria letra.

Dessa forma, devemos compreender que a letra é antes a lei que representa a
ira de Deus e o Espírito é a boa nova que revela a graça divina. Assim, o Espírito Santo é
a presença que torna viva (viva vox) a palavra, ao contrário da letra morta. Para Ebeling,
a compreensão das Escrituras tem a ver com a ideia de progressão constante, e dessa
forma a letra morta se torna Espírito vivo e atuante no crente.

Com essa dialética na sua teologia, Lutero está novamente no contexto da


tradição. Este foi o pensamento do apóstolo Paulo, quando lemos “a letra mata, mas
o Espírito vivifica” (2 Co 3.6). Referência que pode ser considerada critério hermenêutico
para o apóstolo, bem como para Agostinho. Com isso, o reformador procura estabelecer
critérios para a interpretação do texto bíblico, sendo que, Jesus Cristo torna-se princípio
na interpretação, visando à fé que o aceita.

A compreensão de Lutero é que o Espírito é orientado pelo Cristo da cruz, pela


relação existente entre a palavra e a fé humana, conforme aponta:

Quem reconheceria que aquele que visivelmente é humilhado, tentado,


condenado e morto, internamente é, ao mesmo tempo, sobremodo
enaltecido, consolado, aceito e vivificado, não fosse o Espírito
ensiná-lo pela fé? E quem admitiria que aquele que visivelmente é
enaltecido, honrado, fortificado e vivificado, internamente é rejeitado,
desprezado, enfraquecido e morto de maneira tão miserável, se a
sabedoria do Espírito não lhe ensinasse isto? (LUTERO apud EBELING,
1988, p. 83).

É justamente por isso que o teólogo Oswald Bayer afirma que viver no Espírito
significa viver pela fé, sendo que Espírito e fé são a mesma coisa. Assim, confirma-se a
compreensão do Espírito, que é ligado ao Cristo – e então nasce a relação entre palavra e fé.

Vale retomar que, no embate com Karlstadt e Müntzer, Lutero se confronta


com a ideia de que o “[...] Espírito, no sentido ontológico, simplesmente, é explorado,
antiteticamente contra a corporalidade e, que por isso, ao contrário do que poderia

169
indicar uma impressão superficial [...]”. Em decorrência desse embate, o reformador
de Wittenberg rejeitou a compreensão da possibilidade de uma recepção mística do
Espírito por parte do crente antes da palavra externa, e rejeitou a concepção de que o
Espírito precede a palavra externa. Para Lutero, Deus age “[...] pelo exterior que deve
e necessita preceder. O que é interior vem depois, através do exterior”. Dessa forma,
entende-se que Deus não quer dar o Espírito e a fé sem a palavra.

Lutero procura enfatizar que a vinda da fé acontece por meio das letras, pelo
sentido simples das palavras – opondo-se à alegoria, pois a palavra é clara e dá a certeza
da fé ao crente, sendo que a função da letra é servir o Espírito e a fé. Existe, no entanto,
uma relação entre o Espírito vivo e a letra da Escritura, e nisto consiste a autoridade do
Deus vivo. Foi essa simultaneidade que Lutero teve em mente ao pensar a relação entre
Espírito e letra.

FONTE: <http://dspace.est.edu.br:8080/jspui/bitstream/BR- SlFE/706/1/hanke_e_tm307.pdf>. Acesso em:


24 abr. 2021.

170
RESUMO DO TÓPICO 3
Neste tópico, você adquiriu certos aprendizados, como:

• A obra do Espírito Santo é relacionada ao universo material; e sua obra ao mundo.


Depois sua obra na vida daqueles que creem (cristãos) e, por fim, sua obra na vida de
Jesus e das Escrituras.

• Em Gn 1:1,2, o Espírito Santo estava presente na obra da criação. O escritor de Gênesis


diz: “pois o Espírito de Deus pairava sobre a face das águas”. É evidente a presença no
momento da criação, além do agir dEle.

• O Espírito Santo convence ao mesmo tempo que faz surgir um raio de luz, revelando
uma solução e um meio de escape.

• Por obra do Espírito Santo em relação ao mundo, referimo-nos à atuação na vida


das pessoas que não acreditam em Jesus Cristo. O seu agir, nesse sentido, caminha
na direção de testificar, isto é, dar testemunho a respeito de algo ou alguém, e o
convencimento, no caso, a respeito de Jesus Cristo.

• A habitação do Espírito é descrita nas Escrituras por meio do penhor, do selo e da


unção.

• A pessoa que crê, por intermédio de Jesus Cristo – que está a destra do Pai –, chega,
à presença do altar ou do trono de Deus, sob a direção e a ação do Espírito Santo, e
pode, por exemplo, orar, adorar, louvar e agradecer.

• Com relação à obra do Espírito, vimos que Jesus foi concebido pelo Espírito Santo,
guiado e depois ressuscitado por sua ação.

• A obra do Espírito na vida das pessoas é completa. Inicia-se com o testificar e


convencer. Depois, vem a regeneração, a habitação e o batismo no corpo de Cristo.
Dessa forma, possibilita-se o encher do Espírito, a capacitação para o ministério por
meio de dons e o fruto do caráter de Cristo. Por fim, quando a pessoa partir para estar
com Cristo, um dia terá seu corpo ressuscitado pela ação do Espírito.

• “A ressurreição é atribuída ao Espírito Santo, como também às demais pessoas da


Trindade. Ele fará retornar à vida os nossos corpos, depois da morte física” (BANCROFT,
1992, p. 200).

171
AUTOATIVIDADE
1 Deus é um ser triúno. Precisamos ressaltar que em cada manifestação das obras de
Deus, a Trindade se mostra ativa: o Pai é o autor, o Filho é o executor e o Espírito é o
ativador de cada ato. Por conseguinte, o Espírito Santo é aquele que ativa e leva a
término os atos iniciados. Qual das obras a seguir refere-se à ação do Espírito Santo
no mundo? Assinale a alternativa CORRETA:

a) ( ) Criação e preservação da criação.


b) ( ) Regeneração e habitação.
c) ( ) Testificar e convencer.
d) ( ) Batizar o corpo e vivificar.

2 A obra do Espírito Santo é feita conjuntamente. Com relação à obra do Espírito aos
que creem, leia as sentenças a seguir:

I- O Espírito testifica e convence aqueles que já creram.


II- O Espírito habita em todos aqueles que creram em Jesus Cristo.
III- Duas dentre as obras do Espírito sobre aqueles que creem são: a capacitação para
o ministério por meio de dons, e o fruto do caráter de Cristo.
IV- A habitação do Espírito é descrita nas Escrituras por meio do penhor, do selo e da unção.

Assinale a alternativa CORRETA:


a) ( ) As sentenças II, III e IV estão corretas.
b) ( ) As sentenças I e II estão corretas.
c) ( ) As sentenças I, II e IV estão corretas.
d) ( ) Somente a sentença III está correta.

3 Uma outra obra do Espírito Santo em relação ao mundo é o convencimento. O texto


de João é muito claro neste sentido. No entanto, quando nos atemos a alguns
detalhes destes versos e observarmos cada um dos aspectos deste convencimento
percebemos que o Espírito Santo convence o mundo em três aspectos. Quais são eles?

a) ( ) Do pecado, da ignorância e do fanatismo.


b) ( ) Do pecado, da justiça e do juízo.
c) ( ) Do pecado, da soberba e do juízo.
d) ( ) Do pecado, da morte e da salvação.

4 A obra do Espírito Santo abrange vários aspectos. Entre eles encontra-se a sua ação
sobre a vida de Jesus Cristo enquanto esteve aqui no mundo. Tendo isso em mente,
disserte, agora, sobre como o Espírito agiu na vida de Jesus Cristo.

5 A obra do Espírito Santo iniciada no coração daqueles que não creem prossegue.
Uma vez que a pessoa é convencida pelo Espírito e chega ao arrependimento várias
“obras” do Espírito Santo são realizadas na sua vida. Disserte sobre as obras do
Espírito Santo na vida daqueles que creem.

172
REFERÊNCIAS
A BÍBLIA SAGRADA. Tradução de João Ferreira de Almeida. São Paulo: Editora
Hagnos, 2002.

BANCROFT, E. H. Teologia elementar – Doutrinária e conservadora. São Paulo:


Imprensa Batista Regular, 1992.

BERKHOF, L. Teologia sistemática. São Paulo: Editora Cultura Cristã, 1990.

CHAFER, L. S. Teologia sistemática – Volumes um e dois. São Paulo: Editora


Hagnos, 2003.

ERICKSON, M. J.; HUSTAD, L. A. Introdução à teologia sistemática. São Paulo: Vida


Nova, 1997.

FERREIRA, F. Teologia sistemática. São Paulo: Vida Nova, 2007.

GRUDEM, W. Manual de teologia sistemática. São Paulo: Editora Vida, 1999.

HOUAISS, A. Dicionário Houaiss da Língua Portuguesa. Rio de Janeiro: Objetiva,


2009.

INTERSABERES. Teologia sistemática [livro eletrônico]. Curitiba: Editora


Intersaberes, 2014.

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