Você está na página 1de 219

Fisioterapia na

Saúde do
Trabalhador

Prof.a Natália Ferraz Mello

Indaial – 2021
1a Edição
Elaboração:
Prof. Natália Ferraz Mello
a

Copyright © UNIASSELVI 2021

Revisão, Diagramação e Produção:


Equipe Desenvolvimento de Conteúdos EdTech
Centro Universitário Leonardo da Vinci – UNIASSELVI

Ficha catalográfica elaborada pela equipe Conteúdos EdTech UNIASSELVI

C397 CENTRO UNIVERSITÁRIO LEONARDO DA VINCI.


Núcleo de Educação a Distância. MELLO, Natália Ferraz.

Fisioterapia na saúde do trabalhador. Natália Ferraz Mello. Indaial - SC:


UNIASSELVI, 2021.

209p.

ISBN 978-65-5663-875-1
ISBN Digital 978-65-5663-876-8

“Graduação - EaD”.
1. Saúde 2. Fisioterapia 3. Trabalhador

CDD 610
Bibliotecário: João Vivaldo de Souza CRB- 9-1679

Impresso por:
APRESENTAÇÃO
Caro acadêmico, seja bem-vindo à disciplina de Fisioterapia na Saúde do
Trabalhador! Nesta disciplina, você entenderá como práticas de ergonomia podem
contribuir na prevenção de lesões no trabalho e podem servir como ferramentas para o
tratamento de diversas disfunções quando já estiverem preestabelecidas.

A partir de hoje, você olhará para um posto de trabalho de uma forma diferente,
e pensará como otimizar esse espaço com o intuito de promover a saúde e o bem-estar
dos trabalhadores. Inclusive, utilizar seus conhecimentos para organizar seu espaço de
estudo e atuação profissional, afinal, também pertencemos a uma classe trabalhadora.

Na Unidade 1 deste livro didático, você conhecerá a história desta subárea e


sua evolução como uma forma de cuidar da saúde. Além disso, conhecerá os principais
conceitos e definições, normas reguladoras, e terá todo o suporte básico para a correta
utilização da antropometria para o tratamento de pacientes.

Já na Unidade 2, você conhecerá formas de avaliar um posto do trabalho e


os riscos laborais que diferentes espaços ocupacionais podem oferecer. Abordaremos
também, além da biomecânica, questões relacionadas ao bem-estar psicológico e
emocional dos colaboradores.

Na Unidade 3, falaremos sobre a intervenção da fisioterapia nesse espaço,


discutiremos tipos de lesões musculoesqueléticas relacionadas e destacaremos a
cinesioterapia como recurso de tratamento.

Preparamos também, ao final de cada tópico, um resumo com as principais


evidências científicas destas técnicas na prática clínica. Isso permitirá um uso mais
eficiente e seguro das técnicas no seu dia a dia.

Esperamos que nossos esforços na elaboração deste livro didático contribuam


com a construção do seu conhecimento e a sua evolução profissional.

Uma ótima leitura e bons estudos!

Prof.a Natália Ferraz Mello


GIO
Olá, eu sou a Gio!

No livro didático, você encontrará blocos com informações


adicionais – muitas vezes essenciais para o seu entendimento
acadêmico como um todo. Eu ajudarei você a entender
melhor o que são essas informações adicionais e por que você
poderá se beneficiar ao fazer a leitura dessas informações
durante o estudo do livro. Ela trará informações adicionais
e outras fontes de conhecimento que complementam o
assunto estudado em questão.

Na Educação a Distância, o livro impresso, entregue a todos


os acadêmicos desde 2005, é o material-base da disciplina.
A partir de 2021, além de nossos livros estarem com um
novo visual – com um formato mais prático, que cabe na
bolsa e facilita a leitura –, prepare-se para uma jornada
também digital, em que você pode acompanhar os recursos
adicionais disponibilizados através dos QR Codes ao longo
deste livro. O conteúdo continua na íntegra, mas a estrutura
interna foi aperfeiçoada com uma nova diagramação no
texto, aproveitando ao máximo o espaço da página – o que
também contribui para diminuir a extração de árvores para
produção de folhas de papel, por exemplo.

Preocupados com o impacto de ações sobre o meio ambiente,


apresentamos também este livro no formato digital. Portanto,
acadêmico, agora você tem a possibilidade de estudar com
versatilidade nas telas do celular, tablet ou computador.

Preparamos também um novo layout. Diante disso, você


verá frequentemente o novo visual adquirido. Todos esses
ajustes foram pensados a partir de relatos que recebemos
nas pesquisas institucionais sobre os materiais impressos,
para que você, nossa maior prioridade, possa continuar os
seus estudos com um material atualizado e de qualidade.

QR CODE
Olá, acadêmico! Para melhorar a qualidade dos materiais ofertados a você – e
dinamizar, ainda mais, os seus estudos –, nós disponibilizamos uma diversidade de QR Codes
completamente gratuitos e que nunca expiram. O QR Code é um código que permite que você
acesse um conteúdo interativo relacionado ao tema que você está estudando. Para utilizar
essa ferramenta, acesse as lojas de aplicativos e baixe um leitor de QR Code. Depois, é só
aproveitar essa facilidade para aprimorar os seus estudos.
ENADE
Acadêmico, você sabe o que é o ENADE? O Enade é um
dos meios avaliativos dos cursos superiores no sistema federal de
educação superior. Todos os estudantes estão habilitados a participar
do ENADE (ingressantes e concluintes das áreas e cursos a serem
avaliados). Diante disso, preparamos um conteúdo simples e objetivo
para complementar a sua compreensão acerca do ENADE. Confira,
acessando o QR Code a seguir. Boa leitura!

LEMBRETE
Olá, acadêmico! Iniciamos agora mais uma
disciplina e com ela um novo conhecimento.

Com o objetivo de enriquecer seu conheci-


mento, construímos, além do livro que está em
suas mãos, uma rica trilha de aprendizagem,
por meio dela você terá contato com o vídeo
da disciplina, o objeto de aprendizagem, materiais complementa-
res, entre outros, todos pensados e construídos na intenção de
auxiliar seu crescimento.

Acesse o QR Code, que levará ao AVA, e veja as novidades que


preparamos para seu estudo.

Conte conosco, estaremos juntos nesta caminhada!


SUMÁRIO
UNIDADE 1 — FISIOTERAPIA NO TRABALHO: INTRODUÇÃO E CONCEITUAÇÃO.................... 1

TÓPICO 1 — FUNDAMENTOS E HISTÓRICO DA ERGONOMIA................................................3


1 INTRODUÇÃO........................................................................................................................3
2 HISTÓRIA E CONCEITO........................................................................................................3
2.1 ERGONOMIA NO MUNDO..................................................................................................................... 13
2.2 ERGONOMIA NO BRASIL.................................................................................................................... 15
2.3 EVIDÊNCIAS CIENTÍFICAS SOBRE ERGONOMIA NA FISIOTERAPIA ....................................... 18
RESUMO DO TÓPICO 1......................................................................................................... 20
AUTOATIVIDADE................................................................................................................... 21

TÓPICO 2 — ORGANIZAÇÃO E SEGURANÇA NO TRABALHO E NOÇÕES SOBRE AS


NORMAS REGULAMENTADORAS (NR)............................................................................... 23
1 INTRODUÇÃO..................................................................................................................... 23
2 PRINCIPAIS NORMAS REGULAMENTADORAS DO TRABALHO...................................... 24
3 REGULAMENTAÇÃO DA ATUAÇÃO DO FISIOTERAPEUTA NA SAÚDE DO
TRABALHADOR................................................................................................................. 26
RESUMO DO TÓPICO 2......................................................................................................... 30
AUTOATIVIDADE................................................................................................................... 31

TÓPICO 3 — ANTROPOMETRIA E FERRAMENTAS DE ANÁLISE ERGONÔMICA PARA


CLASSIFICAÇÃO DOS FATORES DE RISCOS DO POSTO DE TRABALHO.......................... 33
1 INTRODUÇÃO..................................................................................................................... 33
2 CLASSIFICAÇÃO INTERNACIONAL DE FUNCIONALIDADE (CIF) NA SAÚDE
DO TRABALHADOR ...........................................................................................................37
3 FERRAMENTAS DE ANÁLISE ERGONÔMICA PARA CLASSIFICAÇÃO DOS FATORES DE
RISCOS DO POSTO DE TRABALHO................................................................................... 44
3.1 AET – ANÁLISE ERGONÔMICA DO TRABALHO ............................................................................ 48
3.2 EWA – ERGONOMICS WORKPLACE ANALYSIS .............................................................................50
3.3 NIOSH – NATIONAL INSTITUTE FOR OCCUPATIONAL SAFETY AND HEALTH......................52
3.4 OWAS – OVAKO WORKING POSTURE ANALYSING SYSTEM ......................................................52
3.5 RULA – RAPID UPPER LIMB ASSESSMENT RAPID UPPER LIMB ASSESSMENT ................54
3.6 PROTOCOLO SAPO..............................................................................................................................59
3.7 AVALIAÇÃO DA QUALIDADE DE VIDA NO TRABALHO SEGUNDO O
MODELO DE WALTON............................................................................................................................61
LEITURA COMPLEMENTAR................................................................................................. 63
RESUMO DO TÓPICO 3......................................................................................................... 69
AUTOATIVIDADE...................................................................................................................70

REFERÊNCIAS.......................................................................................................................72

UNIDADE 2 — AVALIAÇÃO E INTERVENÇÃO PREVENTIVA NAS DISFUNÇÕES


RELACIONADAS À SAÚDE DO TRABALHADOR...................................................................75

TÓPICO 1 — ANÁLISE E AVALIAÇÃO DAS SITUAÇÕES DE RISCO NO


TRABALHO: ABORDAGEM ................................................................................................... 77
1 INTRODUÇÃO...................................................................................................................... 77
2 ANÁLISE E AVALIAÇÃO DAS SITUAÇÕES DE RISCO NO TRABALHO COM
ÊNFASE BIOMECÂNICA..................................................................................................... 77
2.1 POSTURA E ADAPTAÇÕES................................................................................................................. 79
2.2 ANÁLISE ERGONÔMICA .....................................................................................................................82
2.3 RISCOS NO TRABALHO..................................................................................................................... 84
3 ABORDAGEM COM ÊNFASE BIOMECÂNICA OCUPACIONAL.......................................... 85
3.1 ANÁLISE MULTIFATORIAL...................................................................................................................86
3.2 EVIDÊNCIAS CIENTÍFICAS ............................................................................................................... 88
RESUMO DO TÓPICO 1.......................................................................................................... 91
AUTOATIVIDADE.................................................................................................................. 92

TÓPICO 2 — IMPLICAÇÕES DE POSTURAS, MOVIMENTOS E CONDIÇÕES ADVERSAS....95


1 INTRODUÇÃO......................................................................................................................95
2 EXCESSO DE CARGA E IMPLICAÇÕES .............................................................................95
2.1 RECOMENDAÇÕES AO TRABALHO COM CARGA..........................................................................96
2.2 CONSTRUÇÃO CIVIL............................................................................................................................ 97
2.3 ATIVIDADES DE FABRICAÇÃO DE MÓVEIS...................................................................................101
3 IMPLICAÇÕES DE POSTURAS, MOVIMENTOS E CONDIÇÕES ADVERSAS DURANTE
ATIVIDADES SEDENTÁRIAS............................................................................................ 101
3.1 IMPLICAÇÕES FÍSICAS E PSICOLÓGICAS DO TRABALHO HOME OFFICE.............................101
3.2 TECNOLOGIA DA INFORMAÇÃO E ATENDENTES DE TELEMARKETING ..............................103
3.3 IMPLICAÇÕES EM ATIVIDADES EM PROFISSIONAIS DA SAÚDE............................................ 107
RESUMO DO TÓPICO 2........................................................................................................ 118
AUTOATIVIDADE................................................................................................................. 119

TÓPICO 3 — VIGILÂNCIA EPIDEMIOLÓGICA NA SAÚDE DO TRABALHADOR.................... 121


1 INTRODUÇÃO.................................................................................................................... 121
2 EIXOS DE ATUAÇÃO ........................................................................................................ 121
2.1 POLÍTICA NACIONAL DE SAÚDE DO TRABALHADOR E DA
TRABALHADORA – PNSTT............................................................................................................... 122
2.2 REDE NACIONAL DE ATENÇÃO INTEGRAL À SAÚDE DO
TRABALHADOR (RENAST) .............................................................................................................. 123
2.3 NOTIFICAÇÕES DE DOENÇAS E AGRAVOS RELACIONADOS AO
TRABALHO........................................................................................................................................... 125
3 EQUIPAMENTOS DE PROTEÇÃO.....................................................................................126
3.1 EQUIPAMENTO DE PROTEÇÃO INDIVIDUAL................................................................................ 127
3.2 TIPOS DE EPIS............................................................................................................... 127
3.3 PREVENÇÃO DE ACIDENTES........................................................................................129
LEITURA COMPLEMENTAR................................................................................................ 131
RESUMO DO TÓPICO 3........................................................................................................138
AUTOATIVIDADE.................................................................................................................139

REFERÊNCIAS..................................................................................................................... 141

UNIDADE 3 — INTERVENÇÃO FISIOTERAPÊUTICA NAS DISFUNÇÕES DECORRENTES


DO TRABALHO....................................................................................................................145

TÓPICO 1 — PREVENÇÃO FISIOTERAPÊUTICA NAS LESÕES


MUSCULOESQUELÉTICAS RELACIONADAS AO TRABALHO........................................... 147
1 INTRODUÇÃO.................................................................................................................... 147
2 ASPECTOS DA INTERVENÇÃO ERGONÔMICA: ANÁLISE DA RELAÇÃO
HOMEM-TRABALHO......................................................................................................... 147
2.1 QUESTÕES PSICOSSOCIAIS.............................................................................................................148
2.2 ASPECTOS FÍSICOS .......................................................................................................................... 149
2.3 FATORES BIOMECÂNICOS, INDIVIDUAIS E ORGANIZACIONAIS............................................. 152
RESUMO DO TÓPICO 1........................................................................................................154
AUTOATIVIDADE.................................................................................................................155
TÓPICO 2 — TIPOS DE LESÕES RELACIONADAS AO TRABALHO.................................... 157
1 INTRODUÇÃO.................................................................................................................... 157
2 DISFUNÇÕES MUSCULOESQUELÉTICAS RELACIONADAS AO TRABALHO................158
2.1 LESÕES POR ESFORÇOS REPETITIVOS (LER) E DISTÚRBIOS
OSTEOMUSCULARES RELACIONADOS AO TRABALHO (DORT).............................................. 163
2.2 DIAGNÓSTICO E TRATAMENTO....................................................................................................... 166
2.3 FISIOTERAPIA NA LER/DORT.........................................................................................................168
3 DERMATOSES DO TRABALHO.........................................................................................169
3.1 ETIOLOGIA E DIAGNÓSTICO............................................................................................................. 170
3.2 FISIOTERAPIA NAS DERMATOSES OCUPACIONAIS.................................................................. 170
4 DOENÇAS DO APARELHO RESPIRATÓRIO..................................................................... 172
4.1 ATUAÇÃO DA FISIOTERAPIA............................................................................................................ 172
RESUMO DO TÓPICO 2........................................................................................................ 174
AUTOATIVIDADE................................................................................................................. 175

TÓPICO 3 — FUNDAMENTOS E RECURSOS UTILIZADOS NA REABILITAÇÃO


NA SAÚDE DO TRABALHADOR.......................................................................................... 177
1 INTRODUÇÃO.................................................................................................................... 177
2 TÉCNICAS DA FISIOTERAPIA UTILIZADAS PARA ANALGESIA NA SAÚDE
DO TRABALHADOR.......................................................................................................... 179
2.1 FUNDAMENTOS DA ELETROTERMOTERAPIA.............................................................................. 179
2.2 FUNDAMENTOS DA TERAPIA MANUAL........................................................................................182
2.3 FUNDAMENTOS DA ACUPUNTURA ..............................................................................................183
3 CINESIOTERAPIA.............................................................................................................185
3.1 ALONGAMENTOS................................................................................................................................186
3.2 MOBILIDADE....................................................................................................................................... 187
3.3 FORTALECIMENTO E POTÊNCIA....................................................................................................188
3.4 GINÁSTICA LABORAL.......................................................................................................................189
LEITURA COMPLEMENTAR................................................................................................ 197
RESUMO DO TÓPICO 3....................................................................................................... 204
AUTOATIVIDADE................................................................................................................ 205

REFERÊNCIAS.................................................................................................................... 207
UNIDADE 1 -

FISIOTERAPIA NO
TRABALHO: INTRODUÇÃO
E CONCEITUAÇÃO
OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM
A partir do estudo desta unidade, você deverá ser capaz de:

• refletir acerca da história da fisioterapia do trabalho e os fatores contribuintes de


sua evolução;

• discutir os princípios da prática adequada da ergonomia na saúde do trabalhador;

• conhecer os conceitos e terminologias utilizadas na fisioterapia laboral;

• conhecer as organizações e normas reguladoras da segurança no trabalho.

PLANO DE ESTUDOS
A cada tópico desta unidade você encontrará autoatividades com o objetivo de
reforçar o conteúdo apresentado.

TÓPICO 1 – FUNDAMENTOS E HISTÓRICO DA ERGONOMIA

TÓPICO 2 – ORGANIZAÇÃO E SEGURANÇA NO TRABALHO E NOÇÕES SOBRE AS


NORMAS REGULAMENTADORAS (NR)

TÓPICO 3 – ANTROPOMETRIA E FERRAMENTAS DE ANÁLISE ERGONÔMICA PARA


CLASSIFICAÇÃO DOS FATORES DE RISCOS DO POSTO DE TRABALHO

CHAMADA
Preparado para ampliar seus conhecimentos? Respire e vamos em frente! Procure
um ambiente que facilite a concentração, assim absorverá melhor as informações.

1
CONFIRA
A TRILHA DA
UNIDADE 1!

Acesse o
QR Code abaixo:

2
UNIDADE 1 TÓPICO 1 -
FUNDAMENTOS E HISTÓRICO
DA ERGONOMIA

1 INTRODUÇÃO
A saúde do trabalhador configura-se como um campo de práticas e de
conhecimentos estratégicos interdisciplinares – técnicos, sociais, políticos, humanos –
multiprofissionais e interinstitucionais, voltados para analisar e intervir nas relações de
trabalho que provocam doenças e agravos (GOMEZ; VASCONCELLOS; MACHADO, 2018).

Nesse sentido, o profissional especialista em fisioterapia do trabalho torna-se


cada vez mais fundamental no meio laboral por atuar principalmente em áreas como a
ergonomia e biomecânica, juntamente a uma equipe multidisciplinar.

Sua atuação visa melhorar a qualidade de vida do trabalhador e prevenir lesões


musculoesqueléticas. O resultado desta intervenção é uma melhora no desempenho e
na produtividade no trabalho (BAÚ; KLEIN, 2009).

Os conceitos e definições da ergonomia no trabalho estão em constante discus-


são e aprimoramento no âmbito acadêmico. Há, ainda, uma grande dificuldade em relatar
suas etapas históricas dentro do âmbito geográfico e a participação de seus precursores.

Nessa perspectiva, iniciaremos nosso estudo, compreendendo a evolução his-


tórica da saúde do trabalhador, evidenciando a atuação da fisioterapia neste contexto.

2 HISTÓRIA E CONCEITO
Desde a Antiguidade, a forma de trabalho é motivo de estudos e de preocupações
para a sociedade. A simplificação e a preparação do trabalho provavelmente foram
de grande importância, sem as quais possivelmente não existiriam as grandiosas
realizações dos egípcios, persas, gregos e romanos (SILVA; PASCHOARELLI, 2010).

Os primeiros estudos sobre as relações entre homem e o trabalho se perdem na


origem dos tempos: em termos arqueológicos, é possível demonstrar que os utensílios
de pedra lascada se miniaturizaram, num processo de melhoria de manuseabilidade e
que teve resultados produtivos no ganho de eficiência na caça e coleta (VIDAL, 2000).
A eficiência nesse processo de caça permitiu uma nova forma de divisão do trabalho,
podendo as mulheres se ocuparem melhor com os bebês e com isso reduzindo a
mortalidade infantil.

3
FIGURA 1 – INSTRUMENTOS DE TRABALHO NEOLÍTICOS

FONTE: <https://arte-na-idade-da-pedra-blog.tumblr.com/page/2>. Acesso em: 7 jul. 2021.

Existem também, no Museu do Louvre, papiros egípcios que denotam


recomendações de natureza ergonômica para a construção de utensílios de construção
civil, assim como desenhos de arranjos organizacionais para o canteiro de obras de
pirâmides (VIDAL, 2000; SILVA; PASCHOARELLI, 2010).

No sentido clássico, a ergonomia buscou primeiramente entender os fatores


humanos pertinentes ao projeto de instrumentos de trabalho, ferramentas e outros
apetrechos típicos da atividade humana em ambiente profissional.

FIGURA 2 – ESTRUTURAÇÃO DO TRABALHO EGÍPCIO

FONTE: <https://super.abril.com.br/mundo-estranho/como-egipcios-ergueram-blocos-tao-
pesados-para-construir-as-piramides/>. Acesso em: 7 jul. 2021.

4
Mais adiante, buscou-se entender, tabelar e organizar dados sobre os fatores
humanos que deveriam ser considerados não apenas para os instrumentos, mas para
os projetos de sistemas de trabalho, como as linhas de montagem, as salas de controle,
os postos de direção de máquinas (cockpits) e assim por diante (VIDAL, 2000; SILVA;
PASCHOARELLI, 2010).

No seu sentido mais contemporâneo, busca-se entender os determinantes


de uma atividade de trabalho através de contribuições num sentido ainda mais amplo,
que incluem a organização do trabalho e os softwares, procedimentos e estratégias
operatórias (VIDAL, 2000).

FIGURA 3 – ERGONOMIA CONTEMPORÂNEA

FONTE: <http://www.ergonomia.ufpr.br/Introducao%20a%20Ergonomia%20Vidal%20CESERG.pdf>.
Acesso em: 7 jul. 2021.

A primeira definição de ergonomia foi feita em 1857, no ápice do movimento


industrialista europeu. Esta definição foi feita por um cientista polonês, Wojciech
Jarstembowsky, numa perspectiva típica da época de se entender a ergonomia como
uma ciência natural em um artigo intitulado Ensaios de ergonomia, ou ciência do
trabalho, baseada nas leis objetivas da ciência sobre a natureza.

Essa primeira definição realizada por Jastrzebowski estabelecia que a


ergonomia, como uma ciência do trabalho, requer que entendamos a atividade humana
em termos de esforço, pensamento, relacionamento e dedicação (VIDAL, 2000).

Vidal (2000, p. 8) assim descreve o texto pioneiro:

A partir de que Wojciech Jastrzebowski da Polônia (1857) definiu er-


gonomia juntando dois termos gregos ergon = trabalho e nomos =
leis naturais, os pesquisadores têm procurado estabelecer as leis
fundamentais baseadas nas quais esta disciplina em desenvolvi-
mento pode ser classificada como uma ciência.

5
O conceito de Jastrzebowski para esta proposta trata da maneira de mobilizar
quatro aspectos da natureza anímica, nos quais seriam a natureza físico-motora, a
natureza estético-sensorial, a natureza mental-intelectual e a natureza espiritual-moral.

Esta ciência do trabalho, portanto, significava a ciência do esforço, jogo,


pensamento e devoção. Jastrzebowski destaca a proposição-chave de que esses
atributos humanos se declinam e deflacionam devido a seu uso excessivo ou
insuficiente. Você já refletiu sobre isso? Essas proposições vêm ao encontro do que a
ciência moderna propõe tanto quando falamos de biomecânica e sobrecarga, quanto
como, por exemplo, consumo alimentar e microbiota, e que a chave para o bom
funcionamento do organismo humano é o equilíbrio. Interessante, não é mesmo?

Na Antiguidade, aparecem algumas referências como as citações de deforma-


ções posturais. Nesse mesmo período, anotam-se trabalhos no campo da toxicologia e
da patologia do trabalho, abordando particularmente riscos físicos como os impactos da
temperatura e da umidade, riscos ergonômicos como a adoção de posturas inadequa-
das (VIDAL, 2000; SILVA; PASCHOARELLI, 2010).

FIGURA 4 – PRIMEIRAS INFLUÊNCIAS ESTUDADAS NA SAÚDE LABORAL

Riscos
Ergonômicos

Temperatura Umidade

FONTE: A autora

Entretanto, é no período dito moderno em que mais elementos podem ser


aludidos, dada a existência de fontes históricas mais consistentes como os estudos de
manuseio inadequado de cargas, riscos químicos como inalação de vapores e poeiras
(VIDAL, 2000).

Existem, também, registros de estudos de biomecânica e antropometria


(Leonardo Da Vinci), trabalhos de higiene industrial, basicamente sobre ventilação
e iluminamentos dos locais (Désargulires, Hales e Camus, século XVI; D’Arret, século
XIX) e de medicina do trabalho, tanto num âmbito específico de afecções profissionais
(Ramazzini e Tissot, século XVIII), como na epidemiologia (Villermé e Patissier, século
XIX). Este último século é também a origem da higiene do trabalho (D’Arret, regras de
higiene nas fábricas (VIDAL, 2000; SILVA; PASCHOARELLI, 2010).

6
FIGURA 5 – HOMEM VITRUVIANO

FONTE: <https://docplayer.com.br/45374850-Conforto-ambiental-i-ergonomia-e-antropometria.html>.
Acesso em: 7 jul. 2021.

Destacam-se menções feitas ao período que circundou a chamada Revolução


Industrial, que não pode ser limitada a avanços nos processos técnicos, mas a toda uma
evolução das formas de divisão do trabalho e das formas de interação entre pessoas e
equipamentos técnicos (VIDAL, 2000; SILVA; PASCHOARELLI, 2010).

A virada do século XIX para o século XX caracterizou-se pela passagem dos


fisiologistas aos engenheiros como os principais agentes ergonômicos. Já no início do
século, a proposta de F. W. Taylor não se limitava a um novo projeto organizacional. Seu
estudo sobre as pás – de capacidade maior para o manuseio do carvão, material mais
leve, e de menor capacidade para o minério, material mais pesado é, sem sombra de
dúvida um dos primeiros trabalhos empíricos (VIDAL, 2000; SILVA; PASCHOARELLI, 2010).

IMPORTANTE
F. W. Taylor nasceu na Pensilvânia e foi um engenheiro considerado o pai da
Administração Científica do Trabalho.

7
Na 2ª Guerra Mundial, a falta de compatibilidade entre o projeto das máquinas
e dispositivos e os aspectos mecânico-fisiológicos do ser humano se agravou com o
aperfeiçoamento técnico dos motores. Foram registradas situações terríveis, agora
atingindo tropas e material bélico em pleno uso. Os aviões, por exemplo, passaram a
voar mais alto e mais rápido (VIDAL, 2000; SILVA; PASCHOARELLI, 2010).

Os pilotos, porém, sofriam da falta de oxigênio nas grandes altitudes, perda de


consciência nas rápidas variações de altitude exigidas pelas manobras aéreas, e vários
outros "defeitos" no sub-sistema fisiológico.

Os projetistas não consideraram o funcionamento do organismo em diversas


altitudes e submetidos a acelerações importantes! Como consequência, muitos avi-
ões se perderam. A perda do material bélico era importante. No entanto, dado que o
treinamento de um piloto levava de dois a quatro anos, a perda de um piloto treinado
se constituía em perda irreversível na duração da guerra. Nessas novas circunstâncias
foram formados, tanto na Inglaterra como nos Estados Unidos, novos grupos interdisci-
plinares, agora com a participação de psicólogos somados aos engenheiros e médicos
(VIDAL, 2000; SILVA; PASCHOARELLI, 2010).

Os trabalhos desses grupos foram voltados para a adaptação de veículos


militares, aviões e demais equipamentos militares, às características físicas e
psicofisiológicas dos soldados, sobretudo em emergências e de pânico. E o que nos
interessa, particularmente, são os estudos que se baseavam na análise e nos estudos
dos materiais que retornavam e no relato de seus problemas operacionais.

Assim, em seu nascedouro, a ergonomia se alimentou profundamente de dados e


estudos de manutenção bélica. Segundo nos relata Vidal (2000), os cientistas que haviam
participado desse esforço de guerra decidiram continuar a empreitada voltando-se para a
produção civil, utilizando os métodos, técnicas e dados obtidos para a indústria.

Numa precursora forma de extensão universitária são formados laboratórios


universitários para atender às demandas industriais, com sucesso. Em decorrência
é formada, em 1947, a primeira sociedade de ergonomia do planeta, a Ergonomics
Research Society (VIDAL, 2000; SILVA; PASCHOARELLI, 2010).

Nasce a corrente de ergonomia chamada de fatores humanos (Human


Factors Engineering ou HFE), como uma continuidade da prática acima mencionada
em operações civis. Desde então, a corrente HFE tem buscado responder à seguinte
pergunta: o que se sabe acerca do ser humano e que pode ser empregado nos projetos
de instrumentos, dispositivos e sistemas?

Em suas interfaces com o operador humano, a HFE, até o presente, tem sido
baseada em procedimentos experimentais que vão do laboratório clássico ao estudo de
fatores humanos em si mesma até às modernas técnicas de simulação, buscando uma
melhor conformação das interfaces entre pessoas e sistemas técnicos.

8
Os principais tratados de ergonomia foram produzidos nos anos 1960, tendo
como dominante a abordagem HFE. Os mais interessantes, a nosso ver, são Woodson e
Conover (USA, 1966) e Grandjean (Suíça, 1974), aqui lançado pela Editora Qualimark sob
o título Ergonomia. Uma compilação acessível desses livros pode ser obtida em Lida
(1991). Para um uso prático de especialistas, recomendamos o Ergonomic Checkpoints,
editado pela International Labour Office, em Genebra, com o apoio da International
Ergonomics Association – IEA (VIDAL, 2000).

No período do pós-guerra surgiu outra vertente da ergonomia, ensejada pelas


necessidades da reconstrução do parque industrial europeu dizimado. No bojo de
um amplo pacto social, o projeto de reconstrução abria uma janela para o estudo de
condições de trabalho, tendo como emblema a fábrica de automóveis Renault que,
dadas suas características peculiares, tornar-se-ia um modelo da nova política industrial
francesa (VIDAL, 2000; SILVA; PASCHOARELLI, 2010).

Essa segunda vertente partiu da seguinte questão: como conceber adequada-


mente os novos postos de trabalho a partir do estudo da situação existente? Dessa pre-
ocupação nasce, em 1949, com Suzanne Pacaud, a análise da atividade em situação real.

IMPORTANTE
Suzanne Pacaud: nascida em Cracóvia, é conhecida como pioneira da
psicologia ocupacional e da ergonomia.

Esses autores preconizavam que o projeto de um posto de trabalho deveria ser


precedido por um estudo etnográfico da atividade e mostravam o distanciamento entre
as suposições iniciais e o auferido nas análises. A proposta foi formalizada somente em
1966 por Alain Wisner, já como Análise Ergonômica do Trabalho (AET).

A década de 1970 marca a passagem definitiva da análise situada para o campo


da ação com uma crescente integração da ergonomia na prática industrial, para o que,
foi decisivo o mesmo ambiente que engendra o movimento pela gestão da qualidade.
Surge em especial, na Europa, um conceito novo, a intervenção ergonômica, hoje
expressão corrente nos EUA, Japão, França, Alemanha, Canadá, Suécia e Brasil, apenas
para citar os países onde existe um maior avanço da ergonomia.

As mudanças de paradigmas econômicos, no limiar dos anos 1980, ampliaram


esse quadro fazendo brotar duas novas considerações que dão à ergonomia seu forma-
to atual da ação ergonômica (VIDAL, 2000; SILVA; PASCHOARELLI, 2010).

9
A primeira delas, nos Estados Unidos e Países Nórdicos, preconiza que os projetos
de melhoria ergonômica são mais bem-sucedidos numa perspectiva maior e inseridas
na estratégia organizacional, e que foi chamada a partir de 1990 de Macroergonomia
(VIDAL, 2000).

A segunda é proposta para que sejam utilizadas contingências sociais e culturais


simultaneamente, para processar da melhor forma as transferências tecnológicas nos
países, que foi cunhada por seu autor em 1974 de Antropotecnologia (VIDAL, 2000).
Examinemos, pois, esses três formatos da ação ergonômica contemporânea.

O conceito de intervenção ergonômica, inicialmente desenvolvido pela escola


francesa de Ergonomia, é hoje uma forma internacional de atuação do profissional que
trabalha nesta área (VIDAL, 2000).

A efetividade da ergonomia consiste no fato de resultar em transformações


positivas no ambiente de trabalho (ambiente aqui tomado em seu sentido amplo, o que
inclui a tecnologia e a organização como seus componentes).

Segundo um consultor norte-americano contemporâneo (Burke, 1998), o


trabalho de preparar um diagnóstico é irrelevante se este não criar mudanças positivas.
Isso significa que a intervenção ergonômica é uma tecnologia da prática que objetiva
modificar a situação de trabalho para torná-la mais adequada às pessoas que nela
operam (VIDAL, 2000).

Diferencia-se, desta forma, de estudos e análises de caráter apenas descritivo ou


sem comprometimento de fato com as mudanças no trabalho, como a produção de lau-
dos ou diagnósticos puramente acadêmicos (VIDAL, 2000; SILVA; PASCHOARELLI, 2010).

O que caracteriza uma intervenção ergonômica é a construção que vai viabilizar


a mudança necessária, e que possa inserir os resultados da ergonomia nas crenças
e valores das organizações que as demandam e recebem os seus resultados. Essa
construção divide a intervenção e se realiza em distintas etapas: a instrução da demanda,
a análise da atividade e dos riscos ergonômicos, a concepção de soluções ergonômicas e
a implementação ergonômica (VIDAL, 2000; SILVA; PASCHOARELLI, 2010).

A instrução da demanda compreende todo o encaminhamento contratual da


intervenção, o que passa pelo ajuste e foco do problema, identificação do processo e
tomada de decisão. A expressão é empregada em realidades diversas como Estados
Unidos, Suécia, Japão Austrália e Brasil (VIDAL, 2000; SILVA; PASCHOARELLI, 2010).

A análise da atividade e dos riscos ergonômicos consiste no conjunto de


coletas de dados e informações que permitem ao ergonomista realizar as modelagens
necessárias para prover mudanças no ambiente de trabalho (VIDAL, 2000; SILVA;
PASCHOARELLI, 2010).

10
Por risco ergonômico entenderemos a condição ou a prática que traga
obstáculos à produtividade, que desafie a boa qualidade ou que traga prejuízos ao
conforto, segurança e bem-estar do trabalhador. A etapa de concepção de soluções
ergonômicas varia de acordo com a natureza do problema e da forma como a demanda
foi instruída e ainda dos resultados da fase anterior. A implementação ergonômica se
constitui na fase final de uma intervenção (VIDAL, 2000; SILVA; PASCHOARELLI, 2010).

A definição, hoje internacionalmente aceita (ABERGO, 2000), chama a atenção


para três aspectos:

• O tipo de conhecimento e suas inter-relações.


• O foco nas mudanças.
• Os critérios da ação ergonômica.

A consideração desses aspectos configura contemporaneamente a ergonomia


como uma disciplina de síntese entre vários aspectos do conhecimento sobre as
pessoas, a tecnologia e a organização.

Numa boa ergonomia, a antropometria física (as dimensões estáticas e


dinâmicas do corpo), a fisiologia do trabalho (o funcionamento de nossos sistemas
fisiológicos em diversos regimes), a psicologia experimental (a percepção de sinais, a
discriminação de indícios, a leiturabilidade de instrumentação), a higiene e a toxicologia
(os riscos envolvidos nas atividades) contribuem com a adequação da tecnologia e da
organização do trabalho aos trabalhadores reais.

IMPORTANTE
É importante destacarmos que não se pode adequar o trabalho ao ser humano se não se
sabe de que ser humano se trata, portanto, que características, habilidades e limitações
estamos nos referindo, não é mesmo?

Precisamos falar de um trabalhador real! Estamos nos referindo a quem? Talvez um


operador efetivo numa situação bem definida.

Por exemplo: Trabalhador de 1,60 m não tem como alcançar adequadamente


uma estante situada a 2,20 m do chão. Se o fizer, seu manuseio será certamente
impróprio, podendo causar queda própria ou do objeto manuseado.

Vemos aqui que as perdas materiais e os acidentes podem ter a mesma origem.

Porém, este trabalhador entende que não poderá deixar cair a caixa de
lâmpadas que tenta retirar desta estante. Por falta de uma escada ou acessório
equivalente pode ser levado a improvisar com o que esteja disponível. Isso é
avaliar os riscos ergonômicos e pensar no bem-estar do colaborador.

11
FIGURA – TRABALHADOR CARREGANDO CAIXAS

FONTE: <https://www.youtube.com/watch?v=VjyVK2oto0A>. Acesso em: 18 set. 2021.

A partir dos anos 1980, no Brasil, surgiram diversas iniciativas em direção à


Saúde do Trabalhador. Um importante feito para a ergonomia no nosso país foi a criação
da Associação Brasileira de Ergonomia – ABERGO, em 13 de julho de 1983.

Nesse sentido, a ergonomia compreende um campo de estudo que objetiva


modificar os sistemas de trabalho para adequar a atividades existentes, às caracterís-
ticas, habilidades e limitações das pessoas com vistas ao seu desempenho eficiente,
confortável e seguro (ABERGO, 2000).

Em meados de 1998, um primeiro grupo de fisioterapeutas atuantes na saúde


do trabalhador se mobiliza para criar a Associação Nacional de Fisioterapia do Trabalho,
com o objetivo de organizar e normatizar essa área em grande crescimento no Brasil.

Contudo, somente em 2003, o Conselho Federal de Fisioterapia e Terapia


Ocupacional (COFFITO) publicou a Resolução 259/03, que reconhece a área de
atuação da Fisioterapia do Trabalho, dando referência aos procedimentos em saúde do
trabalhador do profissional fisioterapeuta.

Interessante, não é mesmo? Entender a história e conceito nos ajuda


compreender a atuação profissional nos dias de hoje. Que tal aprofundarmos um pouco
mais sobre o assunto? No próximo subtópico, destacaremos em âmbito mundial e, na
sequência, em âmbito nacional.

12
2.1 ERGONOMIA NO MUNDO
Possivelmente, o primeiro estudo realizado sobre o assunto foi o do general e
filósofo ateniense Xenofonte, por volta de 427 a 355 a.C., que preconizou a divisão do
trabalho de maneira que cada operário efetuasse sempre em uma só operação, durante
a fabricação de coturnos da armada grega.

O estudo do trabalho continuou com Leonardo da Vinci (entre 1452 e 1519), que
se destacou por suas ideias nesse campo, como já mencionamos anteriormente. Suas
anotações continham ideias de organização racional de trabalho, que indicam a divisão
das atividades profissionais, a mensuração do tempo e o uso de quadros visuais de
ordenação e de lançamento, semelhantes aos atuais quadros de planejamento.

Em meados do século XVII, verifica-se que foram determinadas e estabelecidas


algumas tarefas diárias que poderiam ser exigidas dos trabalhadores (VIDAL, 2000; SILVA;
PASCHOARELLI, 2010).

Além disso, institui-se um salário incentivo, sendo essa talvez a primeira vez
que surge a ideia de remuneração humana do trabalho.

Nesse mesmo período, o médico italiano Bernardino Ramazzini escreveu sobre


doenças e lesões relacionadas ao trabalho. Seus estudos foram publicados por volta de
1700, em um livro denominado De Morbis Artificum Diatriba (Doenças ocupacionais).
Porém, foi censurado ao visitar seus pacientes nos locais de trabalho a fim de identificar
as causas de suas doenças (VIDAL, 2000; SILVA; PASCHOARELLI, 2010).

FIGURA 6 – BERNARDINO RAMAZZINI

FONTE: <https://www.fcm.unicamp.br/boletimfcm/mais_historia/bernardino-ramazzini-um-
medico-cada-vez-mais-necessario>. Acesso em: 18 set. 2021.

13
Ramazzini é considerado um dos primeiros estudiosos das causas das
doenças ocupacionais. No fim do século XVII já se observavam estudos referentes à
substituição dos seres humanos por máquinas nos postos de trabalho, principalmente
em construções, para poupar a saúde e integridade física dos trabalhadores. É
exatamente nessa ocasião que se incluem os estudos de Bernard Forest de Bélidor,
com planejamento do trabalho e das interfaces ergonômicas na organização do trabalho
(VIDAL, 2000; SILVA; PASCHOARELLI, 2010).

IMPORTANTE
Bernard Forest de Bélidor: nascido na Espanha, dedicou-se às ciências e à
engenharia civil tornando-se especialista em hidráulica e matemática. Realizou
várias contribuições para a ergonomia, em muitos dos seus desenhos
demonstrava como o ser humano interagia com as máquinas e de que forma
o trabalho era realizado com instrumentos que facilitavam o carregamento
de peso, entre outros esforços que anteriormente eram realizados pelo
próprio trabalhador.

Foram exatamente as inquietações e divergências em sua definição que


possibilitaram o surgimento e crescimento da ergonomia, principalmente nas sociedades
criadas em meados do século XX, destaque para a Ergonomics Research Society, na
Inglaterra, e a Societé d´Ergonomie de Langue Française, na França.

As discussões sobre o que era de maior importância – a pesquisa ergonômica


e a divulgação de seus resultados ou o desenvolvimento e aplicação da ergonomia na
indústria – de certa forma fizeram com que ambas as coisas acontecessem e evoluíssem
(VIDAL, 2000; SILVA; PASCHOARELLI, 2010).

De forma geral, observa-se que na América Latina, o interesse pela ergonomia


é recente, ficando, na maioria das vezes, confinada na academia ou em cursos
específicos, não se desenvolvendo plenamente na área industrial (VIDAL, 2000; SILVA;
PASCHOARELLI, 2010).

É primordial que se mobilizem esforços no sentido da busca de políticas


adequadas à realidade da América Latina, de tal forma que possa se prever o
estabelecimento de um processo contínuo de industrialização, em consonância com
as condições ambientais e culturais dos países desse bloco latino (VIDAL, 2000; SILVA;
PASCHOARELLI, 2010).

14
INTERESSANTE
Você certamente já deve ter visto o filme Tempos Modernos, mas que tal olhar por uma
outra ótica? Vamos refletir sobre as implicações desse meio laboral na biomecânica e no
psicológico deste trabalhador? Como você, futuro fisioterapeuta, poderia intervir nessa
situação? Qual seria seu objetivo principal? E suas condutas? Reflita enquanto assiste.

FIGURA – CENA DO FILME TEMPOS MODERNOS

FONTE: <https://www.youtube.com/watch?v=3tL3E5fIZis>.
Acesso em: 7 jul. 2021.

2.2 ERGONOMIA NO BRASIL


Ao mesmo tempo que o levantamento histórico da ergonomia no Brasil revela
que uma investigação sobre ergonomia foi realizada no século XIX, com enfoque na
antropometria, verificou-se que houve um longo período sem estudos nessa área.

Somente a partir da década de 1970, pesquisadores de várias universidades


brasileiras passam a introduzir a ergonomia no escopo dos estudos de diversas áreas
do conhecimento (VIDAL, 2000; SILVA; PASCHOARELLI, 2010).

Desse período em diante, a pesquisa em ergonomia vem se consolidando no


país, porém ainda foi pequena a quantidade de livros produzidos no Brasil até o início da
primeira década do século XXI.

A razão dessa pequena produção de livros por autores brasileiros está relacio-
nada ao fato de que efetivamente as pesquisas em ergonomia são recentes no país,
visto que o primeiro trabalho publicado data de 1973 (VIDAL, 2000; SILVA; PASCHOA-
RELLI, 2010).

15
Já os congressos de ergonomia têm contribuído significativamente para fazer
a divulgação das pesquisas já desenvolvidas e em desenvolvimento pelos grupos de
pesquisa e estudiosos da área, especialmente aquelas realizadas em programas de
pós-graduação.

Todavia, é oportuno ressaltar que o primeiro congresso de ergonomia ocorreu em


setembro de 1974 – 1° Seminário Brasileiro de Ergonomia – e foi considerado um marco
para a história da ergonomia brasileira (VIDAL, 2000; SILVA; PASCHOARELLI, 2010).

A ergonomia no Brasil viveu seu momento de destaque a partir da década de


1980, quando vários pesquisadores brasileiros retornaram da França após desenvolverem
mestrado e doutorado, sob a orientação do professor Alain Wisner ou do professor
Maurice de Montmollin, e ingressaram em universidades de vários estados brasileiros,
criando ou contribuindo para a realização de cursos de especialização em ergonomia.

IMPORTANTE
Alain Wisner: foi um médico francês fundador da ergonomia centrada em
atividades, diretor honorário do laboratório de ergonomia do Conservatoire
National des Arts et Métiers (CNAM) e presidente da Sociedade de Ergonomia
da Língua Francesa. Ele realizou, em 1955, o primeiro serviço de ergonomia
da montadora francesa Renault.

Maurice de Montmollin: estudou filosofia e psicologia, trabalhou na área de


consultoria e gestão de pessoas, psicologia e ergonomia. Tornou-se professor
de ergonomia na Universidade de Paris-Nord. Dirigiu, em sociedade com o
professor Alain Wisner, o laboratório de ergonomia do Conservatoire National
des Arts et Métiers (CNAM).

Sem dúvida, esse fato contribuiu para a divulgação da ergonomia no país, bem
como para despertar o interesse de pesquisadores que se envolveram com essa área de
pesquisa na formação de novos ergonomistas (VIDAL, 2000; SILVA; PASCHOARELLI, 2010).

Outro fator importante para o crescimento das pesquisas em ergonomia está


relacionado à organização desses estudiosos e profissionais, que ocorreu com a criação
da Associação Brasileira de Ergonomia (ABERGO), em agosto de 1983.

A ABERGO passou a organizar congressos, uma forma de divulgar as pesquisas


e de estabelecer um debate crítico sobre a produção científica entre pesquisadores
nacionais e internacionais. Mais recentemente, em 2004, criou a Certificação para
Ergonomistas, uma forma de incentivar a especialização na área para poder obtê-la
(VIDAL, 2000; SILVA; PASCHOARELLI, 2010).

16
Até a década de 1980, a atuação do fisioterapeuta estava restrita à recuperação
e à reabilitação, incorporando a partir daí também as de promoção e prevenção da saúde
da população como área de atuação.

Entre as especialidades fisioterapêuticas, a Saúde do Trabalho e Ergonomia


são exemplos que vêm aumentando em relevância clínica, com um crescente número
de profissionais atuando nessas áreas em todo o mundo, refletida por um aumento
na demanda por melhorias no trabalhador, saúde e produtividade da empresa (VIDAL,
2000; SILVA; PASCHOARELLI, 2010).

A regulamentação do fisioterapeuta nesta área possui uma importância singular,


devido ser um membro da equipe de saúde com sólida formação científica, que atua
no desenvolvimento de técnicas de prevenção, avaliação, tratamento e reabilitação,
que utilizando programas de orientações e promoção em saúde atua nos três níveis de
atenção (VIDAL, 2000; SILVA; PASCHOARELLI, 2010).

Frente a essa nova realidade, o fisioterapeuta do trabalho se volta ao ramo


da saúde que estuda, avalia, previne e trata os distúrbios da cinesiologia humana,
decorrentes de alterações de órgãos ou sistemas provocados pelo trabalho.

Nesse pensamento, o Conselho Federal de Fisioterapia e Terapia Ocupacional


(COFFITO) coloca o fisioterapeuta do trabalho como o profissional formado em curso
superior de Fisioterapia, responsável pela avaliação, prevenção, tratamento e reintegração
do indivíduo as suas atividades laborais (VIDAL, 2000; SILVA; PASCHOARELLI, 2010).

FIGURA 7 – SÍMBOLO DO COFFITO

FONTE: <https://www.coffito.gov.br/nsite/?p=2610>. Acesso em: 18 set. 2021.

DICAS
Que tal assistirmos a um documentário sobre a realidade do trabalho na
indústria brasileira? O documentário Carne e Osso retrata o dia a dia de
trabalhadores de frigoríficos que se deparam cotidianamente com uma série
de riscos que a maior parte das pessoas sequer imagina. Vamos refletir sobre
a atuação do fisioterapeuta neste contexto? Que contribuições poderíamos
trazer para esses trabalhadores? Reflita.

17
FIGURA – IMAGEM DOCUMENTÁRIO

FONNTE: <https://www.youtube.com/watch?v=imKw_sbfaf0>. Acesso em: 7 jul. 2021.

2.3 EVIDÊNCIAS CIENTÍFICAS SOBRE ERGONOMIA


NA FISIOTERAPIA
O ambiente de trabalho necessita da atuação do fisioterapeuta, profissional apto
a atuar preventivamente, orientando adequadamente o trabalhador quanto aos cuidados
com a postura e a saúde, de modo a minimizar os fatores de risco de surgimento de
doenças ocupacionais (VIDAL, 2000; SILVA; PASCHOARELLI, 2010).

Porém, há necessidade de propostas terapêuticas intervencionistas que


favoreçam a redução ou remissão da incidência de agravantes contra a saúde do
trabalhador no ambiente (laboral) que tenham evidências científicas comprovada,
para que possam ser reproduzidas em diferentes ambientes. No entanto, as pesquisas
científicas ainda são incipientes, com um número limitado de estudos publicados em
comparação a outras especialidades (VIDAL, 2000; SILVA; PASCHOARELLI, 2010).

As intervenções ergonômicas para prevenir desordens musculoesqueléticas do


membro superior e pescoço relacionadas ao trabalho em funcionários administrativos,
o uso de um suporte de braço com um mouse de computador em postura neutra,
podem ou não prevenir doenças musculoesqueléticas relacionadas ao trabalho nos
funcionários administrativos.

Outro estudo destaca que ainda há incertezas quanto à efetividade de outras


intervenções ergonômicas físicas, organizacionais e cognitivas. Há evidências de baixa
qualidade de que diferentes frequências de pausa no trabalho podem não ter efeito na
dor musculoesquelética, desconforto e fadiga relatados pelos participantes.

18
Para produtividade e desempenho no trabalho, há poucas evidências fidedignas.
Estudos de qualidade são necessários para determinar a eficácia da frequência, duração e
tipo de intervenções na saúde do trabalhador.

Todavia, a prática clínica do fisioterapeuta, quando analisada qualitativamente,


se mostra eficiente e proporciona maior qualidade de vida aos trabalhadores de um
modo geral.

19
RESUMO DO TÓPICO 1
Neste tópico, você aprendeu:

• A atuação do fisioterapeuta do trabalho visa melhorar a qualidade de vida do


trabalhador e prevenir lesões musculoesqueléticas, e essa intervenção propicia
uma melhora no desempenho e na produtividade no trabalho.

• Desde a Antiguidade até os dias de hoje, a forma de trabalho é motivo de estudos e


de preocupações para a sociedade.

• A ergonomia compreende um campo de estudo que objetiva modificar os sistemas de


trabalho para adequar a atividade nele existente às características, habilidades e limi-
tações das pessoas com vistas ao seu desempenho eficiente, confortável e seguro.

• Há necessidade de maiores pesquisas científicas na área, pois há poucas evidên-


cias fidedignas.

20
AUTOATIVIDADE
1 Com base na definição da ABERGO (Associação Brasileira de Ergonomia), a Ergonomia
é a ciência que:

a) ( ) É uma ciência que objetiva modificar os sistemas de trabalho para adequar a


atividade nele existentes às características dos trabalhadores.
b) ( ) É um campo de estudo que faz parte da Engenharia Econômica e discute
processos Químicos e Legislação Trabalhista.
c) ( ) É uma ciência que trata lesões provenientes do trabalho, somente.
d) ( ) É um campo de pesquisa operacional da legislação trabalhista e logística.

2 Em sua atividade de trabalho, o ser humano interage com os diversos componentes


do sistema de trabalho: com os equipamentos, instrumentos e mobiliários, formando
interfaces sensoriais, energéticas e posturais, com a organização e o ambiente
formando interfaces ambientais, cognitivas e organizacionais. Nesse sentido, sobre
ergonomia é correto afirmar que:

a) ( ) Quando analisamos o risco ergonômico, levamos em conta somente o ambiente


de trabalho.
b) ( ) Há inúmeros estudos que comprovam a eficácia da fisioterapia do trabalho.
c) ( ) Desde os primórdios, passando pela Antiguidade até os dias de hoje, a forma de
trabalho é motivo de estudos e de preocupações para a sociedade.
d) ( ) O mobiliário adequado é o único requisito para preservar a saúde do trabalhador.

3 A ergonomia é defendida como o “estudo do trabalho a não ser enquanto abordagens


ou explicações mais ou menos superficiais, que devem ser mais cedo ou mais tarde
aglutinadas num todo mais global e coerente” (MENDES, 2003, p. 1778). Nesse senti-
do, classifique V para as sentenças verdadeiras e F para as falsas:

( ) O fisioterapeuta do trabalho se volta ao ramo da saúde que estuda, avalia, previne


e trata os distúrbios da cinesiologia humana, decorrentes de alterações de órgãos
ou sistemas provocadas pelo trabalho.
( ) Não há necessidade de propostas terapêuticas intervencionistas que favoreçam
a redução ou remissão da incidência de agravantes contra a saúde do trabalhador
no ambiente.
( ) A Ergonomia compreende um campo de estudo que objetiva modificar os
sistemas de trabalho para adequar a atividade nele existentes às características,
habilidades e limitações das pessoas com vistas ao seu desempenho eficiente,
confortável e seguro.

21
Assinale a alternativa que apresenta a sequência CORRETA:
a) ( ) V – F – F.
b) ( ) V – F – V.
c) ( ) F – V – F.
d) ( ) F – F – V.

4 A regulamentação do fisioterapeuta na saúde do trabalho possui uma importância


singular, devido ser um membro da equipe de saúde com sólida formação científica e
conhecimento biomecânico e fisiológico. Nesse sentido, disserte sobre a atuação do
fisioterapeuta na saúde do trabalho.

5 Existem muitas estratégias de intervenção a serem adotadas nas atividades


ergonômicas. Nesta perspectiva, cite três adequações que podem interferir no
cotidiano do trabalhador.

22
UNIDADE 1 TÓPICO 2 -
ORGANIZAÇÃO E SEGURANÇA NO
TRABALHO E NOÇÕES SOBRE AS NORMAS
REGULAMENTADORAS (NR)

1 INTRODUÇÃO
A Consolidação das Leis Trabalhistas (CLT) é a principal referência de direitos dos
trabalhadores brasileiros. Criada através do Decreto-Lei n° 5.452, de 1° de maio de 1943,
sancionada pelo presidente Getúlio Vargas, com objetivo de unificar toda a legislação
trabalhista então existente no Brasil.

FIGURA 8 – PRESIDENTE GETÚLIO VARGAS

FONTE: <http://dibrarq.arquivonacional.gov.br/index.php/getulio-vargas>. Acesso em: 18 set. 2021.

Composta por 8 capítulos e 922 artigos que abrangem e especificam direitos


trabalhistas e informações sobre diversos temas, e no seu capítulo V trata da Segurança
e Medicina do Trabalho, que determina:

Da Segurança e Medicina do Trabalho


Art. 154 da CLT – A observância, em todos os locais de trabalho, do
disposto neste Capítulo, não desobriga as empresas do cumprimento
de outras disposições que, com relação à matéria, sejam incluídas
em códigos de obras ou regulamentos sanitários dos Estados ou
Municípios em que se situem os respectivos estabelecimentos,
bem como daquelas oriundas de convenções coletivas de trabalho
(BRASIL, 2017, s.p.).

23
Nessa perspectiva, as Normas Regulamentadoras (NR) complementam a CLT, e
são relativas à segurança e medicina do trabalho, são de observância obrigatória pelas
empresas privadas e públicas e pelos órgãos públicos da administração direta e indireta,
bem como pelos órgãos dos Poderes Legislativo e Judiciário.

O não cumprimento das disposições legais e regulamentares sobre segurança


e medicina do trabalho acarretará ao empregador a aplicação das penalidades previstas
na legislação pertinente.

2 PRINCIPAIS NORMAS REGULAMENTADORAS


DO TRABALHO
As Normas Regulamentadoras relativas à segurança e medicina do trabalho são
de observância obrigatória pelas empresas privadas e públicas e pelos órgãos públicos
de administração direta e indireta, bem como pelos órgãos dos Poderes Legislativo e
Judiciário, que possuam empregados regidos pela CLT.

As disposições contidas nas NR aplicam-se, no que couber, aos trabalhadores


avulsos, às entidades ou empresas que lhes tomem o serviço e aos sindicatos
representativos das respectivas categorias profissionais.

Existem diversas normas em vigência, e você não precisa conhecer todas, mas
é interessante que ao se inserir em locais como ambulatórios de indústrias, ou prestação
de serviços a empresas, você leia e esteja por dentro das normas específicas para estes
locais. Por isso, citaremos as principais normas vigentes:

• NR 01 - Disposições Gerais
• NR 02 - Inspeção Prévia
• NR 03 - Embargo ou Interdição
• NR 04 - Serviços Especializados em Eng. de Segurança e em Medicina do Trabalho
• NR 05 - Comissão Interna de Prevenção de Acidentes
• NR 06 - Equipamentos de Proteção Individual - EPI
• NR 07 - Programas de Controle Médico de Saúde Ocupacional
• NR 08 - Edificações
• NR 09 - Programas de Prevenção de Riscos Ambientais
• NR 10 - Segurança em Instalações e Serviços em Eletricidade
• NR 11 - Transporte, Movimentação, Armazenagem e Manuseio de Materiais
• NR 12 - Máquinas e Equipamentos
• NR 13 - Caldeiras, Vasos de Pressão e Tabulações e Tanques Metálicos de Armazenamento
• NR 14 - Fornos
• NR 15 - Atividades e Operações Insalubres
• NR 16 - Atividades e Operações Perigosas
• NR 17 - Ergonomia

24
• NR 18 - Condições e Meio Ambiente de Trabalho na Indústria da Construção
• NR 19 - Explosivos
• NR 20 - Segurança e Saúde no Trabalho com Inflamáveis e Combustíveis
• NR 21 - Trabalhos a Céu Aberto
• NR 22 - Segurança e Saúde Ocupacional na Mineração
• NR 23 - Proteção Contra Incêndios
• NR 24 - Condições Sanitárias e de Conforto nos Locais de Trabalho
• NR 25 - Resíduos Industriais
• NR 26 - Sinalização de Segurança
• NR 27 - Registro Profissional do Técnico de Segurança do Trabalho no MTB (Revogada
pela Portaria GM n° 262/2008)
• NR 28 - Fiscalização e Penalidades
• NR 29 - Segurança e Saúde no Trabalho Portuário
• NR 30 - Segurança e Saúde no Trabalho Aquaviário
• NR 31 - Segurança e Saúde no Trabalho na Agricultura, Pecuária, Silvicultura,
Exploração Florestal e Aquicultura
• NR 32 - Segurança e Saúde no Trabalho em Estabelecimentos de Saúde
• NR 33 - Segurança e Saúde no Trabalho em Espaços Confinados
• NR 34 - Condições e Meio Ambiente de Trabalho na Indústria da Construção,
Reparação e Desmonte Naval
• NR 35 - Trabalho em Altura
• NR 36 - Segurança e Saúde no Trabalho em Empresas de Abate e Processamento de
Carnes e Derivados
• NR 37 - Segurança e Saúde em Plataformas de Petróleo
• NRR 1 - Disposições Gerais (Revogada pela Portaria MTE 191/2008)
• NRR 2 - Serviço Especializado em Prevenção de Acidentes do Trabalho Rural
(Revogada pela Portaria MTE 191/2008)
• NRR 3 - Comissão Interna De Prevenção De Acidentes Do Trabalho Rural (Revogada
pela Portaria MTE 191/2008)
• NRR 4 - Equipamento De Proteção Individual (EPI) (Revogada pela Portaria MTE 191/2008)
• NRR 5 - Produtos Químicos (Revogada pela Portaria MTE 191/2008)

As empresas privadas e públicas, os órgãos públicos da administração direta


e indireta e dos poderes Legislativo e Judiciário, que possuam empregados regidos pela
Consolidação das Leis do Trabalho, manterão, obrigatoriamente, Serviços Especializados
em Engenharia de Segurança e em Medicina do Trabalho, com a finalidade de promover a
saúde e proteger a integridade do trabalhador no local de trabalho.

Os Serviços Especializados em Engenharia de Segurança e em Medicina do


Trabalho devem ser compostos obrigatoriamente por:

• Médico do Trabalho.
• Engenheiro de Segurança do Trabalho.
• Técnico de Segurança do Trabalho.
• Enfermeiro do Trabalho e Auxiliar ou Técnico em Enfermagem do Trabalho.

25
Além desses profissionais, também podem fazer parte fisioterapeutas e psicólo-
gos, não sendo caráter obrigatório, mas que agregam muito no trabalho interdisciplinar.

Os Centros de Referência em Saúde do Trabalhador (CEREST) atuam na produ-


ção de ações de vigilância em saúde, segundo o modelo de atenção orientado pela pro-
moção, prevenção e proteção da saúde, buscando se organizar de forma intersetorial
entre as áreas que abrangem e afetam a saúde do trabalhador.

FIGURA 9 – FISIOTERAPEUTA ATUANDO NA CEREST

FONTE: <http://g1.globo.com/pi/piaui/especial-publicitario/governo-do-estado-do-piaui/
noticia/2016/08/cerest-proporciona-qualidade-de-vida-aos-trabalhadores.html>. Acesso: 9 jul. 2021.

O fisioterapeuta, enquanto participante do processo de consolidação de ações


de vigilância, tem o desafio de compreender a abrangência de suas habilidades, o conhe-
cimento do perfil epidemiológico de adoecimento dos trabalhadores e, assim, agregar
em sua atuação novos elementos para análise, por exemplo, de Distúrbios Osteomus-
culares Relacionados ao Trabalho (DORT), que falaremos mais adiante, possibilitando
melhores condições para o desenvolvimento de ações de saúde integrais.

3 REGULAMENTAÇÃO DA ATUAÇÃO DO
FISIOTERAPEUTA NA SAÚDE DO TRABALHADOR
Dentro de uma empresa, o fisioterapeuta tem muitas atribuições, sendo
caracterizadas pelo Conselho Federal de Fisioterapia e Terapia Ocupacional, conforme a
Resolução 259, de 18 de dezembro de 2003:

26
I- Promover ações profissionais, de alcance individual e/ou coletivo,
preventivas a intercorrência de processos cinesiopatológicos.
II- Prescrever a prática de procedimentos cinesiológicos compen-
satórios as atividades laborais e do cotidiano, sempre que diag-
nosticar sua necessidade.
III- Identificar, avaliar e observar os fatores ambientais que possam
constituir risco à saúde funcional do trabalhador, em qualquer
fase do processo produtivo, alertando a empresa sobre sua
existência e possíveis consequências.
IV- Realizar a análise biomecânica da atividade produtiva do
trabalhador, considerando as diferentes exigências das
tarefas nos seus esforços estáticos e dinâmicos, avaliando os
seguintes aspectos:
a) No Esforço Dinâmico – frequência, duração, amplitude e torque
(força) exigido.
b) No Esforço Estático – postura corporal exigida, estimativa de
duração da atividade específica e sua frequência.
V- Realizar, interpretar e elaborar laudos de exames biofotogramé-
tricos, quando indicados para fins diagnósticos.
VI- Analisar e qualificar as demandas observadas através de estudos
ergonômicos aplicados, para assegurar a melhor interação entre
o trabalhador e a sua atividade, considerando a capacidade
humana e suas limitações, fundamentado na observação das
condições biomecânicas, fisiológicas e cinesiológicas funcionais.
VII- Elaborar relatório de análise ergonômica, estabelecer nexo causal
para os distúrbios cinesiológicos funcionais e construir parecer
técnico especializado em ergonomia (COFFITO, 2003, p. 1).

Em 2007, foi realizado um projeto de lei para inclusão do fisioterapeuta do


trabalho na NR4, para que seja obrigatório, em todas as empresas, a presença de um
fisioterapeuta do trabalho no quadro de funcionários.

Atualmente, percebe-se o aumento de profissionais atuando em fisioterapia


do trabalho, somando esforços, a ABRAFIT, por meio de seus Conselheiros atuantes
em diferentes estados brasileiros, buscou-se o reconhecimento da especialidade pelo
COFFITO e a divulgação às empresas desse profissional, sua importância, diferencial e
competências, o que frutificou, em 13 de junho de 2008, na aprovação da Resolução
351/08 pelo COFFITO, que reconhece a especialidade em fisioterapia do trabalho (BAÚ;
KLEIN, 2009).

27
FIGURA 10 – ABRAFIT

FONTE: <https://www.coffito.gov.br/nsite/?p=4375>. Acesso em: 18 set. 2021.

Nesse sentido, o Ministério do Trabalho (MTE), por meio da Classificação Brasileira


de Ocupações (CBO), descreve para o mercado brasileiro quem é esse especialista,
especificando e detalhando suas práticas comprovadas nessa área, distinguindo áreas
de atividade, competências pessoais e recursos de trabalho, o que aconteceu nos
meses de junho e julho de 2008 (BAÚ; KLEIN, 2009).

A descrição emitida pelo MTE/CBO destaca que:

O especialista fisioterapeuta do trabalho executa: avaliação a


clientes e pacientes (funções musculoesqueléticas; avaliação
ergonômica; qualidade de vida no trabalho); estabelece o diagnóstico
fisioterapêutico (coleta dados; solicita exames complementares;
interpreta exames; estabelece prognóstico; prescreve a terapêutica;
estabelece nexo de causa cinesiológica funcional ergonômica);
planeja estratégias de intervenção (define: objetivos, condutas e
procedimentos, frequência e tempo de intervenção; indicadores
epidemiológicos de acidentes e incidentes; programas de atividades
físicas funcionais; participa na elaboração de programas de qualidade
de vida); implementa ações de intervenção (interpreta indicadores
epidemiológicos de acidentes e incidentes; implementa ações de
conscientização, correção e concepção; analisa fluxo de trabalho;
O reconhecimento da especialidade em fisioterapia do trabalho
pelo COFFITO e Ministério do Trabalho/CBO: Uma conquista para a
fisioterapia e a saúde do trabalhador presta assessoria; adequa as
condições de trabalho às habilidades do trabalhador; adequa fluxo,
ambiente e posto de trabalho; implanta programas de pausas
compensatórias; organiza rodízios de tarefas; promove a melhora
de performance morfofuncional; reintegra trabalhador ao trabalho;
aplica a ginástica laboral); educa em saúde (propõe mudanças de
hábito de vida; orienta clientes, pacientes, familiares e cuidadores;
ensina e corrige modo operatório; implementa a cultura ergonômica;

28
desenvolve programas preventivos e de promoção de saúde);
gerencia serviços de saúde (elabora critérios de elegibilidade; elabora
projetos; elabora e avalia processos seletivos; supervisiona estágios;
analisa custos); executa atividades técnico-científicas; trabalha
com segurança; comunica-se (registra procedimentos e evolução
de clientes e pacientes; orienta profissionais da equipe de trabalho;
emite relatórios, pareceres técnicos, atestados, laudos de nexo de
causa laboral) (MTE apud BAÚ; KLEIN, 2009, p. 1).

Essa é uma área em franca expansão não apenas no Brasil, mas em vários
países e que tem sido gratificante para os fisioterapeutas que a escolheram. É uma
realidade diferente das outras áreas da fisioterapia, pois esse profissional se relaciona
contratualmente com pessoas jurídicas, necessita de uma visão empresarial, raciocínio
estratégico bem estruturado, grande conhecimento da ergonomia, biomecânica
ocupacional, legislação trabalhista e previdenciária, além das habilidades conquistadas
na graduação.

Temos ainda muito a percorrer nesse caminho, em que a união de profissionais


atuantes na fisioterapia do trabalho, que organizadamente se prontificam a continuar
buscando o reconhecimento legal e técnico-científico, faz com que, cada vez mais,
essa área de atuação receba o merecido reconhecimento pelas empresas, governo,
sociedade e, principalmente, pelos trabalhadores, foco da nossa atuação.

DICAS
Vamos conhecer um pouco da atuação e do campo da fisioterapia na saúde do trabalhador?

Assista ao vídeo a seguir, produzido pelo CREFITTO 3 sobre o assunto. Disponível em


https://youtu.be/CqRirRB2PVg?t=3.

29
RESUMO DO TÓPICO 2
Neste tópico, você aprendeu:

• As Normas Regulamentadoras (NR) relativas à segurança e medicina do trabalho


são de observância obrigatória pelas empresas privadas e públicas e pelos órgãos
públicos de administração direta e indireta, bem como pelos órgãos dos Poderes
Legislativo e Judiciário, que possuam empregados regidos pela Consolidação das
Leis do Trabalho (CLT).

• As empresas privadas e públicas, os órgãos públicos da administração direta e indi-


reta e dos poderes Legislativo e Judiciário, que possuam empregados regidos pela
Consolidação das Leis do Trabalho, manterão, obrigatoriamente, Serviços Especiali-
zados em Engenharia de Segurança e em Medicina do Trabalho, com a finalidade de
promover a saúde e proteger a integridade do trabalhador no local de trabalho.

• Em 13 de junho de 2008, na aprovação da Resolução 351/08 pelo COFFITO, reconhece


a especialidade em fisioterapia do trabalho.

30
AUTOATIVIDADE
1 Os Centros de Referência em Saúde do Trabalhador (CEREST) atuam na produção de
ações de vigilância em saúde, segundo o modelo de atenção orientado pela promoção,
prevenção e proteção da saúde, buscando se organizar de forma intersetorial entre
as áreas que abrangem e afetam a saúde do trabalhador. Nesse sentido, fazem parte
da equipe mínima:

a) ( ) Fisioterapeuta, Engenheiro, Médico, Enfermeiro e Técnico em Enfermagem.


b) ( ) Técnico em segurança, Engenheiro, Médico e Enfermeiro.
c) ( ) Médico, Engenheiro, Técnico de Segurança, Enfermeiro e Técnico em Enfermagem.
d) ( ) Técnico em segurança, Engenheiro, Psicólogo, Médico e Enfermeiro.

2 O Ministério do Trabalho (MTE), por meio da Classificação Brasileira de Ocupações


(CBO), descreveu para o mercado brasileiro quem é o fisioterapeuta especialista no
trabalho. Assim, analise as sentenças a seguir:

I- Avalia e trata clientes e pacientes que tenham exclusivamente disfunções


musculoesqueléticas provenientes do trabalho.
II- Realiza avaliação ergonômica, buscando a qualidade de vida no trabalho, estabele-
cendo o diagnóstico fisioterapêutico, prognóstico e prescreve a terapêutica.
III- Não pode estabelecer nexo de causa cinesiológica funcional ergonômica, ficando
somente sob responsabilidade médica.

Assinale a alternativa CORRETA:


a) ( ) As sentenças I e II estão corretas.
b) ( ) Somente a sentença III está correta.
c) ( ) A sentença II está correta.
d) ( ) Somente a sentença I está correta.

31
3 Somente em 13 de junho de 2008, os fisioterapeutas conquistaram a aprovação da Re-
solução 351/08 pelo COFFITO, que reconhece a especialidade em fisioterapia do traba-
lho. Nessa perspectiva, classifique V para as sentenças verdadeiras e F para as falsas:

( ) O fisioterapeuta tem o desafio de compreender a abrangência de suas habilidades, o


conhecimento do perfil epidemiológico de adoecimento dos trabalhadores e, assim,
agregar em sua atuação novos elementos para análise, por exemplo, de distúrbios
osteomusculares relacionados ao trabalho.
( ) A ABRAFITO é responsável pela aprovação dessa resolução, exclusivamente.
( ) O fisioterapeuta é membro obrigatório de Serviços Especializados em Engenharia
de Segurança e em Medicina do Trabalho, com a finalidade de promover a saúde e
proteger a integridade do trabalhador no local de trabalho.

Assinale a alternativa que apresenta a sequência CORRETA:


a) ( ) V – F – V.
b) ( ) V – F – F.
c) ( ) F – V – F.
d) ( ) F – F – V.

4 Normas são o conjunto de regras colocadas de forma simples ou pode ser um documen-
to que contém especificações técnicas ou outros critérios a serem seguidos ou respeita-
dos. Neste contexto, disserte sobre a função das Normas Reguladoras do trabalho.

5 Os Centros de Referência em Saúde do Trabalhador (CEREST) são entidades que fazem


parte do Sistema Único de Saúde, que articulam intervenções nas relações entre o pro-
cesso de trabalho e a saúde. Nesse sentido, disserte sobre a atuação do CEREST.

32
UNIDADE 1 TÓPICO 3 -
ANTROPOMETRIA E FERRAMENTAS
DE ANÁLISE ERGONÔMICA PARA
CLASSIFICAÇÃO DOS FATORES DE RISCOS
DO POSTO DE TRABALHO

1 INTRODUÇÃO
A ergonomia pode ser definida como o estudo da adaptação do trabalho ao
homem, que visa proporcionar maior conforto e segurança ao trabalhador e conta com
os conhecimentos da Fisiologia, Biomecânica e Antropometria.

Pode-se dizer, portanto, que a antropometria é o estudo das medidas do


corpo humano, que auxilia no levantamento de dados para o desenvolvimento de
um estudo ergonômico.

FIGURA 11 – DIFERENÇAS ENTRE AS PROPORÇÕES CORPORAIS DE INDIVÍDUOS DE


DIFERENTES ETNIAS
Estatura (cm)

180
160
140
120
100
80
60
40
20
0 Branco Negro
americano Japonês Brasileiro
americano
N° da amostra 25.000 6.684 233 249
Idade média 23 23 25 26
Estatura (médial) 174 173 161 167
Peso (kg) 70 69 55 63

FONTE: <https://www.efdeportes.com/efd149/antropometria-contribuicao-na-area-da-
ergonomia.htm>. Acesso em: 7 jul. 2021.

33
Os dados antropométricos definem as medições de tamanho, peso e proporção
do corpo humano aplicáveis a um correto dimensionamento de projetos de produtos,
equipamentos e postos de trabalho (BAÚ; KLEIN, 2009).

FIGURA 12 – REPRESENTAÇÃO BIDIMENSIONAL PARA A IDENTIFICAÇÃO DAS MEDIDAS

FONTE: <https://www.efdeportes.com/efd149/antropometria-contribuicao-na-area-da-
ergonomia.htm>. Acesso em: 7 jul. 2021.

Com o passar do tempo, a necessidade de encontrar medidas mais exatas


do ser humano foi crescendo cada vez mais. Nesse sentido, para o desenvolvimento
de produtos ergonômicos, faz-se necessária a aplicação correta das dimensões
humanas, pois proporciona a aplicação equânime da ergonomia (BAÚ; KLEIN, 2009).

Na ergonomia são encontrados dois tipos de dimensões antropométricas:


estáticas e dinâmicas, no qual as dimensões estáticas estão relacionadas às medidas
físicas do corpo parado, enquanto a dinâmica são as medidas do corpo em movimento
(BAÚ; KLEIN, 2009).

ATENÇAO
A antropometria pode ser dividida em estática e dinâmica. A estática refere-
se às medidas retiradas enquanto o indivíduo está na posição em repouso; e
a dinâmica, com o indivíduo realizando algum movimento corporal específico.

Para aplicar corretamente os dados é preciso avaliar os fatores que influenciam


os dados antropométricos: raça, etnia, dieta, saúde, atividade física, postura, posição do
corpo, vestuário, horário do dia etc. (BAÚ; KLEIN, 2009).

34
A intervenção ergonômica é um processo ao mesmo tempo:

• Construtivista: dando destaque às singularidades e demais características diferencia-


doras de cada caso em que se busque conseguir realizar mudanças e transformações.
• Participativa: no sentido possível da realidade de cada organização, de sua realidade
social e de suas múltiplas microssociologias reais.
• Consensual: onde as verdades se pautam por convergência de pontos de vista,
buscando administrar o impacto das revelações possíveis e argumentar sobre as
realidades e materialidades inequivocamente apresentáveis.

É importante que o fisioterapeuta ergonomista escute e dialogue sobre como


transformar as situações de trabalho em cada local que estiver inserido. Conheça o posto
de trabalho, situação de trabalho, contexto da atividade realizada, entre outros aspectos.

FIGURA 13 – FISIOTERAPEUTA ATUANDO NA ÁREA DE ERGONOMIA

FONTE: <https://www.metropoles.com/dino/ergonomia-e-home-office-como-aliar-a-necessidade-
do-teletrabalho-com-a-saude-psicofisiologica>. Acesso em: 18 set. 2021.

Em suma, a ação ergonômica se caracteriza como uma consultoria dinâmica,


que parte das definições inicialmente delineadas pela organização. Paulatinamente, vai
construindo um objeto preciso de intervenção, focos definidos de sua ação e modalidades
ajustadas de atuação.

35
Todo esse funcionamento pode ser simbolizado por um itinerário que evita
perigosos atalhos causadores de insucesso. Busca-se a instrução da demanda para
permitir se trabalhar com problemas reais, efetivos e cujo tratamento seja possível pela
organização; isso feito, não se procura a passagem imediata a uma solução de algibeira,
mas se deflagra todo um processo de análise e modelagem que permite à organização
do resultado, inclusive tomando parte ativa na especificação e implantação dela.

O resultado é uma solução adaptada às necessidades das pessoas daquela


organização. Como estamos podendo nos dar conta, o escopo da ergonomia é efeti-
vamente amplo. Isso levou às pessoas que trabalham com ergonomia a desenvolver
maneiras de dar conta dos problemas que lhes surgem em sua vida profissional.

O importante, na intervenção, é chegar à tomada de providências úteis, práticas


e aplicadas ao caso. A intervenção de produção não necessariamente significa uma
mudança física, mas pode ser um parecer que fundamente uma opinião ou uma atitude.

Vidal (2000, p. 30) destaca que:

Numa ocasião fomos chamados para periciar um acidente, onde


um trabalhador de uma usina de álcool havia sofrido uma queda
do alto da coluna de destilação. A primeira avaliação – a nosso ver
simplória – era de que aquele trabalhador havia cometido um ato
inseguro pois nada teria que fazer naquele local. Ocorria, no entanto
que o processo de destilação é catalisado mediante a adição de uma
pequena quantidade de enxofre. Esse procedimento, embora eficaz e
responsável pelo bom aproveitamento químico, não era formalizado
e, portanto, a cada vez que a destilação apresentava tendência de
queda, um dos operadores escalava a coluna da usina e fazia o
acréscimo de enxofre. A queda ocorreu num dia chuvoso decorrente
de um escorregão, mas não se tratava de ato inseguro, mas de uma
operação do processo – informal, certamente – mas que não havia
sido devidamente aparelhada. Nosso parecer ao mesmo tempo
desqualificou a noção de ato inseguro, como apontou a necessidade
de dotar esta operação dos acessos adequados: escada, plataforma
de trabalho, roldana para subida do insumo, enfim um conjunto de
providências de relativo baixo custo, além da incorporação formal do
procedimento na equação química do processo.

Você percebe, acadêmico, como é preciso analisar além do que nossos olhos es-
tão vendo? É preciso investigar a fundo, ouvindo e estando atento a várias peculiaridades.

36
2 CLASSIFICAÇÃO INTERNACIONAL DE
FUNCIONALIDADE (CIF) NA SAÚDE DO TRABALHADOR
Atualmente, no Brasil, a notificação referente a agravos na saúde do trabalha-
dor é feita por meio da Classificação Internacional de Doenças (CID). No entanto, para
conhecer a funcionalidade e a incapacidade, a Classificação Internacional de Funciona-
lidade (CIF) é mais adequada, por constituir-se numa ferramenta capaz de gerar dados
sobre a funcionalidade humana no trabalho e sobre a influência do ambiente no desem-
penho das atividades ocupacionais (ARAÚJO; BUCHALLA, 2013).

Nesta perspectiva, o uso da CIF permite obter dados mais específicos, tanto
sobre a funcionalidade, como em relação ao ambiente de trabalho e ao desempenho
das atividades relacionadas a ele (ARAÚJO; BUCHALLA, 2013).

FIGURA 14 – MODELO DE ESTRUTURAÇÃO DA CIF

Estado de Saúde
(distúrbio ou doença)

Funções &
Estruturas Atividade Participação
Corporais

Fatores Fatores
Ambientais Pessoais

Fatores Contextuais
FONTE: <https://www.researchgate.net/figure/FIGURA-1-Interacoes-entre-os-componentes-da-
CIF-Fonte-OMS-CIF-2004-CIF-usos-e_fig1_263895635>. Acesso em: 9 jul. 2021.

Muito mais do que estabelecer uma linguagem comum e um padrão para a


área, a CIF pode servir como ferramenta para ações estratégicas visando melhorar a
produtividade, a eficiência do trabalho e o direcionamento dos recursos financeiros.

O conhecimento do estado geral de saúde do trabalhador pode partir de


dados gerados pela avaliação dessa população, visto que as leis do país exigem,
por exemplo, exames admissionais, demissionais e periódicos, que podem alimentar

37
sistemas de informação em saúde. Embora atualmente tenhamos esses dados, eles
não incluem a funcionalidade. Contar com mais essa informação para a área de
saúde do trabalhador pode ser um ganho importante (ARAÚJO; BUCHALLA, 2013).

FIGURA 15 – EXEMPLO DO USO DA CIF NA SAÚDE DO TRABALHADOR

FONTE: <https://www.rbmt.org.br/details/1496/pt-BR/avaliacao-de-incapacidade-e-
funcionalidade-de-trabalhadoras-com-ler-dort--uso-da-cif-em-checklist>.
Acesso em: 7 jul. 2021.

38
A CIF é formada por categorias e suas subdivisões, ou constructos, de diversas
dimensões, incluindo as partes do corpo. Abrange a funcionalidade como atividade
e participação, ou seja, o que o ser humano pode fazer em diferentes situações ou
sob a influência de diferentes ambientes, por exemplo. A cada categoria ou constructo
se relaciona um conjunto que deve ser completado por qualificadores, números que
indicam a magnitude de um problema dentro de uma categoria específica (ARAÚJO;
BUCHALLA, 2013).

Apesar do seu reconhecimento como ferramenta útil e de uso internacional,


a utilização prática da CIF para avaliar a incapacidade e funcionalidade tem sido
descrita na literatura como bastante difícil pelo excessivo número de códigos (ARAÚJO;
BUCHALLA, 2013).

Assim, para facilitar seu uso, a Organização Mundial da Saúde (OMS) propôs a
criação do checklist da CIF, que é uma versão reduzida da CIF. Embora, por um lado,
o checklist não possua validade universal, por outro lado, pode-se argumentar que ele
representa melhor o ambiente sociopolítico de forma realista, tornando-se assim uma
abordagem mais pragmática (ARAÚJO; BUCHALLA, 2013).

DICAS
Você já viu ou ouviu falar nos checklist da CIF? Essa simplificação pode nos auxiliar no
cotidiano clínico. A seguir, conheça um modelo que você pode utilizar:

QUADRO – CHECKLIST DA CIF

39
40
41
42
43
FONTE: <http://www.fsp.usp.br/cbcd/wp-content/uploads/2015/11/LISTA-DE-
CONFERE%CC%82NCIA-DA-CIF-2004.pdf>. Acesso em: 7 jul. 2021.

3 FERRAMENTAS DE ANÁLISE ERGONÔMICA PARA


CLASSIFICAÇÃO DOS FATORES DE RISCOS DO POSTO
DE TRABALHO
As ferramentas, métodos e protocolos de análise ergonômica avaliam e apontam
as condições em que o trabalhador está submetido ao realizar determinada atividade.

A partir destes diagnósticos é possível identificar as situações prejudiciais


à saúde do colaborador, desde o levantamento de carga excessiva, às posturas
inadequadas e aos movimentos repetitivos.

44
FIGURA 16 – LEVANTAMENTO DE CARGA EXCESSIVA

FONTE: <https://zonaderisco.blogspot.com/2008/10/excesso-de-carga.html>. Acesso em: 18 set. 2021.

FIGURA 17 – POSTURAS INADEQUADAS

FONTE: <http://saobernardo.com/blog/riscos-ergonomicos/>. Acesso em: 18 set. 2021.

45
FIGURA 18 – MOVIMENTOS REPETITIVOS

FONTE: <https://www.youtube.com/watch?v=ou6Vj1JdQ6o>. Acesso em: 18 set. 2021.

Segundo Abrahão e Pinho (1999), a execução do trabalho e a base da análise


ergonômica podem ser compreendidas sob diferentes dimensões:

FIGURA 19 – DIMENSÕES DA ANÁLISE ERGONÔMICA

FONTE: A autora

46
O ambiente de trabalho, segundo a ergonomia, deve ser adequado às
características biomecânicas e psicológicas dos colaboradores, contudo é importante
salientar que essas características são particulares e específicas a cada indivíduo, o
que corrobora a aplicação das ferramentas de análise ergonômicas de forma pontual
(ABRAHÃO; PINHO, 1999).

As ferramentas, métodos e protocolos atuam em pontos específicos e, portanto,


para que seu emprego seja efetivo, elas não devem ser aplicadas de forma isolada,
mas conjuntamente a outros métodos como laudos ergonômicos e, principalmente, de
maneira multidisciplinar (ABRAHÃO; PINHO, 1999).

Um instrumento confiável e fidedigno, para classificação do risco de


desenvolvimento de distúrbios osteomusculares nos ambientes de trabalho, deve
verificar todos os fatores (biomecânicos e ambientais) de risco, estabelecer critérios para
quantificar a intensidade de cada fator, aplicar-se aos hemicorpos direito e esquerdo
separadamente e, por fim, possibilitar a identificação do risco específico de cada zona
corporal (coluna lombar, coluna dorsal, coluna cervical, ombros, cotovelos, punhos,
mãos, quadril, joelhos, tornozelos e pés) (LIGEIRO, 2010).

Este trabalho pode auxiliar profissionais da área de ergonomia e de áreas


correlatas como Engenheiros de Segurança do Trabalho a selecionar as ferramentas
mais adequadas para aplicação e desenvolvimento de ambientes de trabalho.

Segundo Shida e Bento (2012), alguns métodos utilizados para análise das
condições de trabalho, tais como a Análise Ergonômica do Trabalho (AET) e o Ergonomics
Workplace Analysis (EWA) são importantes na avaliação e organização do trabalho,
bem como do ambiente ocupacional, a fim de torná-los adaptáveis às necessidades,
habilidades e limitações das pessoas.

Além das duas ferramentas citadas anteriormente, a NR-17 aponta o método


National Institute for Occupational Safety and Health (NIOSH) para a análise de trabalhos
com carga estática e, portanto, ela será apresentada também nesse capítulo.

A ferramenta Ovako Working Posture Analysing System (OWAS) será estudada


a fim de elucidar a análise de postura. Por fim, será abordado o protocolo Rapid Upper
Limb Assessment Rapid Upper Limb Assessment (RULA), indicado para avaliações
detalhadas dos membros superiores e suas movimentações (SHIDA; BENTO, 2012).

O protocolo SAPO é uma proposta de pontos de marcação e medidas para ava-


liação postural estática de fácil acesso e manuseio. Além disso, também temos questio-
nários que podem ser utilizados com intuito de avaliar a qualidade de vida do trabalhador.

47
3.1 AET – ANÁLISE ERGONÔMICA DO TRABALHO
O aperfeiçoamento teórico e o aprofundamento dos métodos da ergonomia
focada na análise da atividade se deram a partir de 1955, após a publicação do livro de
Faverge e Ombredane sobre a análise do trabalho, o que proporcionou a aplicação e a
transformação das condições de trabalho mais elaboradas (GUÉRIN et al., 2001).

Segundo Shida e Bento (2012, p. 3), a AET é “oriunda da escola franco-belga


de ergonomia e que, desde os seus primórdios, tem possibilitado a compreensão e a
transformação de inúmeras situações de trabalho”.

O principal objetivo dessa ferramenta é aplicar os conhecimentos da ergonomia


a fim de analisar, diagnosticar e corrigir determinada situação de trabalho. Essa técnica
foi desenvolvida por pesquisadores franceses e pode ser considerada um exemplo da
ergonomia corretiva, ou ergonomia de correção (LIDA, 2005).

A ergonomia corretiva fundamenta-se nas modificações do ambiente físico


atuando pontualmente na dimensão, iluminação, ruídos e temperatura, com foco no
conforto e condições de salubridade (LIDA, 2005).

A AET é direcionada à análise da atividade e embasada na averiguação das


situações de trabalho, ademais, ela promove a adaptação do trabalho ao homem e
centraliza sua atenção na transformação dos agentes determinantes de dado cenário
de trabalho. De acordo com Guérin et al. (2001), a priori, a ação ergonômica é transformar
o trabalho. Sendo assim, com a análise ergonômica do trabalho pode-se verificar as
condições reais do ambiente de trabalho, as funções desempenhadas e as condições
reais da tarefa executadas pelos trabalhadores (LIDA, 2005).

Shida e Bento (2012) denotam que, para o ergonomista, essa transformação


deve ser realizada de forma a contribuir para:

• A concepção de situações de trabalho que não alterem a saúde dos operadores e


nas quais estes possam exercer suas competências, ao mesmo tempo num plano
individual e coletivo.
• Encontrar possibilidades de valorização de suas capacidades e alcançar os objetivos
econômicos determinados pela empresa, em função dos investimentos realizados.

A análise ergonômica faz com que se tenha uma compreensão de tudo que
aconteceu no trabalho, mostrando, principalmente, o desempenho de produção do
funcionário, e Lida (2005) sugere que a AET seja elaborada a partir de cinco etapas e o
processo metodológico, como é apresentado na figura:

48
FIGURA 20 – ANÁLISE ERGONÔMICA DO TRABALHO

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS SOBRE O


HOMEM EM ATIVIDADE DE TRABALHO

ANALISE DA DEMANDA
DEFINIÇÃO DO
PROBLEMA
ANÁLISE DE TAREFA
CONDIÇÕES DE TRABALHO
HIPÓTESES
HIPÓTESES ANÁLISE DE TAREFA
CONDIÇÕES DE TRABALHO
HIPÓTESES
DADOS

HIPÓTESES
DADOS

DADOS

SÍNTESE ERGONÔMICA DO TRABALHO

RECOMENDAÇÕES DIAGNÓSTICO

CADERNO DE ENCARGOS DA MODELO OPERATIVO DA


AÇÃO ERGONÔMICA SITUAÇÃO DE TRABALHO

FONTE: Adaptada de Strabeli e Neves (2015)

A Análise da demanda compreende a parte da identificação da problemática do


sistema, seja em nível gerencial, seja por parte dos trabalhadores; também é necessário
entender a origem e a dimensão dos problemas identificados (LIDA, 2005).

Já na Análise da tarefa são identificados os procedimentos executados


pelos colaboradores, que devem estar documentados por escrito. Essa análise
objetiva descobrir as discrepâncias entre o que é prescrito de maneira formalizada

49
e o que é realmente executado (LIDA, 2005). Enquanto na análise da atividade são
caracterizados os comportamentos dos trabalhadores ao realizar determinada tarefa.
Trata-se da forma como os colaboradores trabalham e podem ter influências internas
e externas à organização.

Na sessão Diagnóstico são identificadas as origens e as causas da demanda,


que podem significar desde a falta de treinamento até condições insalubres de trabalho.

E, por fim, as Recomendações, em que o desfecho desse programa deve


apresentar as providências necessárias para a solução dos problemas diagnosticados,
as recomendações devem conter todos os passos da ação ergonômica de forma clara,
objetiva e eficiente (LIDA, 2005).

O ergonomista não deve ficar passivo perante a demanda que lhe é dirigida,
mas deve buscar informações acerca não só dos problemas como também do contexto
sociotécnico da empresa junto à direção, aos diversos departamentos que possam estar
envolvidos na demanda e aos trabalhadores.

Tais dados podem ser obtidos através da realização de entrevistas, da análise


de documentos e a partir da utilização de instrumentos complementares, como
questionários e checklists (GUÉRIN et al., 2001).

3.2 EWA – ERGONOMICS WORKPLACE ANALYSIS


Shida e Bento (2012) destacam que este instrumento foi baseado na fisiologia
do trabalho, biomecânica ocupacional, aspectos psicológicos, higiene ocupacional e em
um modelo participativo da organização do trabalho.

Segundo os mesmos autores, sua aplicação é mais eficaz em trabalhos manuais


e atividades que envolvam movimentação manual de materiais. Eles ainda postulam que
a utilização do EWA é necessária uma descrição detalhada e criteriosa das tarefas e/ou
dos postos de trabalho e, para tal, deve-se obter as informações necessárias através da
aplicação de questionários (check-list) e a observação sistemática in loco (LIDA, 2005).

Os autores ainda articulam que o “EWA é uma ferramenta bem completa,


além dos aspectos ambientais e físicos, ela avalia também os aspectos psicossociais
e mentais, tais como, a comunicação entre os trabalhadores, atenção ao executar a
atividade bem como tomada de decisões” (LIDA, 2005, p. 17).

Por possuir uma abordagem ampla, que possibilita enfoques subjetivos e


objetivos, o método é capaz de desenvolver análises sob diferentes aspectos, que
consequentemente resultam em material informativo capaz de transmitir informações
a profissionais (projetistas como arquitetos e designers e especialistas da saúde) que
podem auxiliar e/ou facilitar ações como: a contratação de pessoal, realização de

50
correções checando a qualidade das melhorias feitas, tanto em um posto de trabalho
como nas tarefas, seja de um único posto de trabalho ou fazendo comparação de
diferentes postos com o mesmo tipo de atividade e/ou desenvolvimento de novos
projetos com configurações seguras, saudáveis e produtivas para os trabalhadores
(LIDA, 2005).

É recomendada a aplicação do EWA para a realização de análise ergonômica


detalhada do local de trabalho, através de itens que enfocam aspectos da fisiologia do
trabalho, biomecânica ocupacional, psicológicos e higiene ocupacional, em um modelo
participativo com a organização do trabalho.

QUADRO 1 – ERGONOMICS WORKPLACE ANALYSIS

FONTE: <https://www.fateppiracicaba.edu.br/regent/index.
php?journal=FATEP&page=article&op=view&path%5B%5D=15&path%5B%5D=17>.
Acesso em: 7 jul. 2021.

51
3.3 NIOSH – NATIONAL INSTITUTE FOR OCCUPATIONAL
SAFETY AND HEALTH
Em 1981, o NIOSH – National Institute for Occupational Safety and Health
(Instituto Nacional de Saúde e Segurança Ocupacional) publicou um informe técnico
intitulado Work Practices Guides for Manual Lifting (Guia de Práticas de Trabalho para
Levantamento Manual) (MATEUS JUNIOR, 2009; LIGEIRO, 2010; SHIDA; BENTO, 2012).

O manual tinha como objetivo prevenir ou reduzir a ocorrência de dores


causadas por levantamento manual de cargas e para isso foi desenvolvida uma equação
para calcular o peso limite recomendável em tarefas repetitivas de levantamento de
cargas (LIDA, 2005).

Composto por um sumário da literatura sobre o tema, procedimentos analíticos,


uma equação para cálculo do peso recomendado para atividades de levantamento
com uso das duas mãos e com movimento simétrico e algumas recomendações para
controle do risco de lombalgia devido a esse tipo de atividade (LIDA, 2005).

A equação desenvolvida em 1981 pelo NIOSH passou por um processo de revisão


em 1985, por um comitê de especialistas, a fim de aprofundar e aperfeiçoar o manual
de cargas e, em 1991, foi sumarizada em um documento intitulado Scientific Support
Documantation for the Revised 1991 NIOSH Lifiting Equation (Documentação científica
de suporte para a equação NIOSH de levantamento, revisada em 1991 (LIDA, 2005).

Baseado nessa revisão, deu origem a uma ferramenta para identificar os riscos
de lombalgia, adquirida graças à manipulação de cargas no trabalho, considerando três
critérios: biomecânico, fisiológico e psicofísico (LIDA, 2005).

A equação revisada de levantamento NIOSH é uma ferramenta para avaliação


do estresse físico das atividades com uso das duas mãos.

3.4 OWAS – OVAKO WORKING POSTURE


ANALYSING SYSTEM
Desenvolvido na Finlândia por Karhu, Kansi e Kuorinka, em 1977, Ovako Working
Posture Analysing System ou apenas OWAS é uma ferramenta que tem por objetivo
avaliar as posturas assumidas pelos colaboradores por meio da observação do
pesquisador (LIGEIRO, 2010).

52
Segundo Iida (2005), a identificação das 72 posturas típicas admitidas pela
ferramenta (combinação das 4 posições típicas do dorso, 3 dos braços e 7 das pernas),
é definida por 6 dígitos, em que 3 descrevem a posição dos seguimentos corpóreos, 1 a
carga e 2 o local ou estágio em que a postura foi observada (LIDA, 2005).

Em seguida, a identificação da postura é classificada em uma das quatro cate-


gorias que apontam diferentes níveis de desconforto e a urgência de uma intervenção:

• Classe 1: postura normal, que dispensa cuidados, a não ser em casos excepcionais.
• Classe 2: postura que deve ser verificada durante a próxima revisão rotineira dos
métodos de trabalho.
• Classe 3: postura que deve merecer atenção a curto prazo.
• Classe 4: postura que deve merecer atenção imediata. Diferentes analistas treinados,
observando o mesmo trabalho, fizeram registros com 93% de concordância, em
média (IIDA, 2005).

No método OWAS, a atividade pode ser subdividida em várias fases e,


posteriormente, categorizada para a análise das posturas no trabalho. Na análise das
atividades, aquelas que exigem levantamento manual de cargas são identificadas
e categorizadas de acordo com o esforço imposto ao trabalhador, embora não seja
este o enfoque principal do método. Não são considerados aspectos como vibração e
dispêndio energético (LIDA, 2005).

Posteriormente, as posturas são analisadas e mapeadas a partir da observação


dos registros fotográficos e filmagens do indivíduo em uma situação de trabalho
(SHIDA; BENTO, 2012).

O método OWAS é um dos mais simples de observação da análise postural, pois


requer pouco tempo para realizar a observação. Ele provou ser bem funcional na prática
de níveis de solo e ser útil nas melhorias do sistema de trabalho e na prevenção de
problemas de doenças ocupacionais (KIVI; MATTILA, 1991).

Segundo Ligeiro (2010), a priori é necessário observar o local de trabalho a ser


avaliado para identificar as atividades da tarefa e classificá-las como cíclicas ou não
cíclicas. Outro elemento importante nesse software é a frequência e o tempo despendido
em cada postura, que pode ser verificado com a ajuda de um cronômetro.

Em seguida, devem-se registrar as posturas identificando-as pelo código, a


partir da seleção da atividade em intervalos constantes ou variáveis. Essa avaliação
pode ou não utilizar como auxílio, imagens para registro da tarefa (LIGEIRO, 2010). Após
a definição da postura no software, representando um código por ele estabelecido, o
mesmo classifica-a em quatro categorias ou classes.

53
A percentagem de tempo de duração da postura na jornada de trabalho ou a
combinação dos quatro primeiros dígitos do código, determinado pelo software, refere-
se às variáveis de posição dos elementos (dorso, braços, pernas e carga) que a postura
recebeu, classificando sua categoria (LIGEIRO, 2010).

Para Shida e Bento (2012, p. 7), o OWAS “é uma ferramenta ergonômica que
se mostrou muito útil na detecção de posturas inadequadas. Sua aplicação aponta
possíveis posturas que podem levar o trabalhador ao afastamento devido a lesões por
esforços excessivos”. Os autores ainda complementam que sua utilização se restringe
às posturas, isto é, apresenta baixa sensibilidade em relação à utilização de cargas,
aspectos vibratórios e dispêndio energético. Outra desvantagem do OWAS é que ele
não avalia a região cervical, punhos e antebraços e não é possível aplicá-la quando o
trabalho é realizado na postura deitada.

3.5 RULA – RAPID UPPER LIMB ASSESSMENT RAPID UPPER


LIMB ASSESSMENT
A Avaliação Rápida de Membros Superiores, de onde deriva as siglas RULA, é uma
ferramenta de avaliação do risco de DORT e foi desenvolvida em 1993 por McAtamney
e Corlett.

Objetivando a classificação integrada de riscos de doenças ocupacionais,


particularmente ao posicionamento postural, o método RULA prioriza as intervenções
com base numa perspectiva epidemiológica da incidência, por meio das observações
realizadas pelo pesquisador sobre o ambiente de trabalho (SHIDA; BENTO, 2012).

Utiliza diagramas de posturas do corpo e três tabelas que avaliam o nível de


exposição a fatores de risco, que incluem o número de movimentos, a postura estática,
a força, a postura de trabalho determinada por equipamentos e mobiliários e tempo de
trabalho e pausa, sendo processado em três estágios, a saber:

1. identificação da postura de trabalho;


2. aplicação de sistema de escore;
3. aplicação de escala de níveis de risco.

O RULA é um método observacional de postos de trabalho cujo objetivo é a


classificação integrada do risco de Lesões musculoesqueléticas do membro superior
ligadas a trabalho – LMEMSLT.

O objetivo geral é identificar o esforço associado com a postura de trabalho


assumida na realização de atividades estáticas ou repetitivas e que podem contribuir
para a fadiga muscular e eventual gênese LMEMSLT (SERRANHEIRA; UVA, 2010).

54
Ligeiro (2010) afirma que sua aplicação resulta em um sistema de códigos,
dando origem a uma classificação e uma lista categorizada de ações, indicando o
nível de intervenção com o objetivo de reduzir o risco de DORT devido à carga física
imposta ao operador. Por meio dos resultados obtidos é possível criar uma tabela
ordenada pela pontuação encontrada, relativa à existência de fatores de risco para
doenças ocupacionais.

A interpretação dos resultados, segundo a RULA, segue a pontuação da se-


guinte forma:

• 1 ou 2: aceitável;
• 3 ou 4: investigar;
• 5 ou 6: investigar e mudar logo;
• 7: investigar e mudar imediatamente.

O RULA é um método rápido de análise postural, estático e dinâmico que


foca mais em esforços repetitivos e força, ideal para ser aplicado em funcionários de
escritório e atividades que requerem maior esforço de membros superiores (SHIDA;
BENTO, 2012).

Porém, apenas é possível avaliar um lado corporal (unilateral – direito ou


esquerdo) em cada aplicação do RULA. Se existirem vários fatores de risco relativos
à postura assumida ou à atividade exercida, é importante avaliar cada um deles em
utilizações singulares do método. Por outras palavras, podem-se executar vários
registros em cada posto de trabalho e, consequentemente, obter várias classificações
de risco das componentes principais da atividade, em cada posto de trabalho (SHIDA;
BENTO, 2012).

FIGURA 21 – APLICAÇÃO DO RULA

55
56
57
FONTE: Adaptada de Shida e Bento (2012)

58
3.6 PROTOCOLO SAPO
A avaliação da postura corporal na posição ortostática tem sido amplamente
utilizada há várias décadas, tanto na prática clínica quanto na pesquisa, como um
instrumento diagnóstico de planejamento e de acompanhamento do tratamento
fisioterapêutico (SERRANHEIRA; UVA, 2010).

De maneira geral, estudos relatam diversos métodos de análise biomecânica


da postura em posição estática, entre estes, a fotogrametria digital. O protocolo
SAPO é uma proposta de pontos de marcação e medidas para avaliação postural
(SERRANHEIRA; UVA, 2010).

A escolha desses pontos foi baseada na relevância clínica, base científica,


viabilidade metodológica e aplicabilidade.

Avaliar medidas angulares no corpo humano remete à investigação de disfunção


articular, sendo um parâmetro importante no acompanhamento fisioterapêutico, na
motivação e adesão do paciente ao tratamento, quantificação dos distúrbios, registro
da eficácia da intervenção e, ainda, como critério importante na confecção de órteses
(SERRANHEIRA; UVA, 2010).

Porém, a ausência de padronização das referências anatômicas e do significado


das medidas angulares utilizadas nos estudos com fotogrametria são fatores que
dificultam a comparação entre estudos e a própria validação dos resultados encontrados.

As fotografias seguem as recomendações do software SAPO, com um fio de


prumo preso ao teto, com duas bolinhas de isopor distanciadas um metro uma da outra,
coladas sobre o fio para posterior calibração da imagem (SERRANHEIRA; UVA, 2010).

Após a aquisição das fotografias, estas são transferidas para o computador,


para a análise fotogramétrica da postura corporal de todos os sujeitos.

É preciso marcar pontos pelo protocolo, gerar o relatório de análise e exportar


para o Excel, e a quantificação dos ângulos entre os pontos anatômicos, de acordo
com o protocolo, foi gerada automaticamente e seguiu as convenções do programa
(SERRANHEIRA; UVA, 2010).

59
QUADRO 2 – PONTOS DE MARCAÇÃO SAPO

Cabeça A1- Alinhamento horizontal da cabeça: 2-3 e a horizontal.


A2- Alinhamento horizontal dos acrômios: 5-6 e a horizontal.
Tronco A3- Alinhamento horizontal das espinhas ilíacas ântero-superiores: 12-13.
A4- ngulo dois acrômios e as duas espinhas ilíacas ântero-superiores:5-6; 12-13.
Vista
A5- ngulo frontal do membro inferior direito: 14-16-22 (ângulo de fora).
anterior
A6- ngulo frontal do membro inferior esquerdo: 15-19-25 (ângulo de fora).
Membros A7- Diferença no comprimento dos membros inferiores: D(12;23)-D(13;26).
inferiores A8- Alinhamento horizontal das tuberosidades das tíbias: 18-21 e horizontal.
A9- ngulo Q direito: ângulo entre 12-17 e 17-18.
A10- ngulo Q esquerdo: ângulo entre 13-20 e 20-21.
A11- Alinhamento horizontal da cabeça (C7): 2-8 e horizontal.
Cabeça
A12- Alinhamento vertical da cabeça (acrômio): 5-2 e vertical.
A13- Alinhamento vertical do tronco: 5-23 e vertical.
Vista lateral
A14- ngulo do quadril (tronco e membro inferior): 5-23-30.
esquerda Tronco
A15- Alinhamento vertical do corpo: 5-30 e vertical.
A16- Alinhamento horizontal da pélvis: 21-22 e horizontal.
Membros A17- ngulo do joelho: 23-24-30.
inferiores A18- ngulo do tornozelo: 24-30 e horizontal.
Tronco Assimetria horizontal da escápula em relação à T3.
Vista
Posterior Membros A19- ngulo perna/retropé direito: 32-35-37.
inferiores A20- ngulo perna/retropé esquerdo: 33-39-41.

FONTE: Souza et al. (2011)

FIGURA 22 – SOFTWARE SAPO

FONTE: <https://docs.google.com/document/d/1j9Vk8L0s2bXuMomzKk80bWCyQE-
r7Z26cx1RwYVJVUY/edit>. Acesso em: 7 jul. 2021.

60
3.7 AVALIAÇÃO DA QUALIDADE DE VIDA NO TRABALHO
SEGUNDO O MODELO DE WALTON
Walton é o primeiro autor norte-americano que dá início a uma linha de pesquisa
de satisfação em qualidade de vida no trabalho, explicitando critérios sob a ótica
organizacional (SERRANHEIRA; UVA, 2010).

Ele dispõe da ideia de que a Qualidade de Vida no Trabalho (QVT) é representada


na humanização do trabalho e na responsabilidade social, envolvendo o atendimento
às necessidades e aspirações do indivíduo pela reestruturação do desenho de cargos
e novas formas de organizar o trabalho, aliado à formação de equipes de trabalho, com
um poder de autonomia e melhoria do ambiente organizacional (SANTOS, 1997).

O modelo de Walton sugere oito categorias que enfatizam os fatores de


influência na QVT, sendo eles: compensação justa e adequada, condições de trabalho,
uso das capacidades, oportunidades, integração social, constitucionalismo, trabalho e
vida, relevância social (SANTOS, 1997).

INTERESSANTE
Vamos conhecer esse questionário? Que tal aplicar este instrumento em seu colega, ou até
mesmo com seu professor?

QUADRO – QUESTIONÁRIO

61
FONTE: Santos (1997)

62
LEITURA
COMPLEMENTAR
UTILIZAÇÃO DA CIF EM FISIOTERAPIA DO TRABALHO: UMA CONTRIBUIÇÃO
PARA COLETA DE DADOS SOBRE FUNCIONALIDADE (ADAPTADO)

Eduardo Santana de Araújo


Cassia Maria Buchalla

RESUMO

Introdução: A notificação da saúde do trabalhador, no Brasil, é feita por meio da Classifi-


cação Internacional de Doenças (CID). No entanto, para se conhecer a funcionalidade e
a incapacidade, a Classificação Internacional de Funcionalidade (CIF) é mais adequada,
por constituir-se numa ferramenta capaz de gerar dados sobre a funcionalidade huma-
na no trabalho e sobre a influência do ambiente no desempenho das atividades ocupa-
cionais. Objetivo: Este trabalho tem como objetivo o desenvolvimento de uma ficha de
coleta de dados para uso em Fisioterapia do Trabalho com o intuito de facilitar a noti-
ficação de incapacidades ou de influências ambientais na funcionalidade. Método: Por
meio de um consenso com especialistas, baseado na técnica Delphi, foram escolhidas
categorias relevantes da CIF e estruturado um instrumento de coleta de da- dos que,
ao final, foi remetido aos participantes desse processo de seleção para avaliação de sua
aplicabilidade. Resultados: Obtivemos um instrumento de coleta de dados contendo 24
categorias da CIF com a possibilidade de uso de três qualificadores criados para esse
propósito. Essa ficha de coleta foi considerada de fácil uso, segundo avaliação dos parti-
cipantes. Conclusão: O instrumento de coleta que resultou deste estudo está disponível
para ser testado na área de Fisioterapia do Trabalho e espera-se que possa ajudar na
obtenção de dados sobre a funcionalidade do trabalhador.

INTRODUÇÃO: O uso da Classificação Internacional de Funcionalidade, Incapacidade e


Saúde (CIF) como ferramenta estatística que permita a obtenção de informações sobre
funcionalidade humana ode ser uma das mais importantes formas de sua aplicação.
Apesar de transcorridos 12 anos de publicação da CIF, ainda não existem dados
sobre funcionalidade do trabalhador baseados na linguagem comum e padronizada
oferecida por essa classificação. O sistema de informação sobre saúde do trabalhador,
no Brasil, inclui apenas dados da doença, condição ou lesão, para os quais se utiliza
a Classificação Estatística Internacional de Doenças e Problemas Relacionados à
Saúde (CID). A CID, desde sua adoção, foi usada para codificação da mortalidade e
da morbidade, com importante papel epidemiológico. Sendo assim, os sistemas de
informação sobre saúde do trabalhador geram informações importantes do ponto
de vista patológico, porém, incompletas do ponto de vista dos determinantes das
condições de funcionalidade. O uso da CIF permite obter dados mais específicos, tanto

63
sobre a funcionalidade, como em relação ao ambiente de trabalho e ao desempenho das
atividades relacionadas a ele. Muito mais do que estabelecer uma linguagem comum
e um padrão para a área, a CIF pode servir como ferramenta para ações estratégicas
visando melhorar a produtividade, a eficiência do trabalho e o direcionamento dos
recursos financeiros. O conhecimento do estado geral de saúde do trabalhador pode
partir de dados gerados pela avaliação dessa população, visto que as leis do país
exigem, por exemplo, exames ad- missionais, demissionais e periódicos, que podem
alimentar sistemas de informação em saúde. Embora atualmente tenhamos esses
dados, eles não incluem a funcionalidade. Contar com mais essa informação para a
área de saúde do trabalhador pode ser um ganho importante.

A Fisioterapia é uma das principais áreas que vem tentando usar a CIF em
todo mundo, principalmente pela necessidade de se unificar a linguagem diagnóstica
destes profissionais. No entanto, no Brasil, os fisioterapeutas têm pouco contato com a
classificação, sendo que uma parte desses profissionais conhece apenas o modelo de
funcionalidade que ela propõe.

A CIF é formada por categorias e suas subdivisões, ou constructos, de diversas


dimensões, incluindo as partes do corpo. Abrange a funcionalidade como atividade
e participação, ou seja, o que o ser humano pode fazer em diferentes situações ou
sob a influência de diferentes ambientes, por exemplo. A cada categoria ou constructo
se relaciona um conjunto que deve ser completado por qualificadores, números que
indicam a magnitude de um problema dentro de uma categoria específica. De forma
geral, o usuário deve selecionar as categorias e os qualificadores que identificam e
expressam cada caso. A classificação deve ser feita com base no modelo multidirecional
de funcionalidade, o qual integra as diferentes dimensões, estabelecendo relações entre
o ambiente, o desempenho das atividades e a participação social.

Uma subcategoria da CIF, por exemplo, d4500 (andar distâncias curtas - menos
que 1 Km), sempre faz parte de uma “categoria-mãe”, de nível mais geral (ou de primeiro
nível), que, neste caso é d4 (mobilidade). Considerando apenas o primeiro nível, a CIF
tem 30 categorias. Cada categoria da CIF pode ter até quatro níveis de especificidade,
numa classificação hierarquizada. Também é possível utilizar um número menor de
categorias, usando apenas aquelas de menor complexidade.

Além disso, a utilização dos qualificadores também pode ser simplificada.


Qualificadores são dígitos acrescentados às categorias e separado destas por um ponto
(por exemplo: andar distâncias curtas sem problemas: d4500.0). Uma condição sem
alterações (ou sem problemas) tem seu complemento com o uso do qualificador “0”
(zero). Já a magnitude de um problema é definida com o uso dos qualificadores de “1” a
“4”, sendo “4” a identificação de um problema completo, ou de magnitude máxima. A CIF
também propõe o uso do qualificador “8” (não especificado), que significa a existência
de alguma alteração, sem que seu grau de magnitude esteja especificado, e ainda o
“9” (não aplicável). Para facilitar, pode-se propor o uso de apenas dois qualificadores:
“0” para ausência e o “8” para presença de determinado problema numa categoria

64
específica. Esse recurso pode evitar a calibração entre os qualificadores da CIF e os
instrumentos de medida, sugerida pela OMS, tornando possível a criação de um
instrumento classificatório de fácil uso e de grande serventia na geração de dados sobre
funcionalidade e incapacidade.

OBJETIVO: Este estudo visa estruturar um instrumento para a coleta de dados sobre
funcionalidade, utilizando categorias da CIF, para uso na especialidade de Fisioterapia
do Trabalho.

MÉTODO: ‘Foi realizado um estudo de consenso, com a participação de uma amostra de


profissionais da área, indicados pela Associação Brasileira de Fisioterapia do Trabalho -
ABRAFIT. O desenvolvimento deste estudo constou de seis fases, detalhadas a seguir.

Fase 1: Seleção
Na primeira fase, entramos em contato com a instituição, apresentamos o projeto e
solicitamos a indicação de potenciais participantes. Dos 120 profissionais indicados, 27
participaram da pesquisa.
Fase 2: Convite aos profissionais e envio do material didático sobre a CIF
Na segunda fase, os participantes receberam um convite por meio eletrônico, com os
detalhes da pesquisa e a declaração de aceite em relação à participação no estudo.
Enviamos junto com esse convite um material descritivo sobre a CIF. Um questionário
eletrônico, disponibilizado no sítio do Laboratório de Estudos Populacionais (LEP) da
Faculdade de Saúde Pública da Universidade de São Paulo, deveria ser preenchido
por cada participante. Os formulários encontram-se no link http:// www.fsp.usp.br/
site/paginas/mostrar/556.O material descritivo disponibilizado continha dois arquivos,
o primeiro para leitura obrigatória e o segundo para leitura complementar. O primeiro
arquivo tratava-se da tradução de um documento sobre a CIF feito por grupos de trabalho
da OMS, denominado ICF Overview. O segundo arquivo continha a versão integral da CIF
em Português. Os participantes só tiveram acesso ao questionário após declarar ter
lido e entendido o material encaminhado. Assim, o aceite, a leitura e entendimento do
material eram a condição para participar do estudo.
Fase 3: Apresentação das categorias da CIF para seleção das mais utilizadas
pela especialidade, por meio do sistema eletrônico do LEP
Na terceira fase, os participantes foram urgidos a responder ao questionário que continha
a descrição e explicação de cada categoria da classificação. Deveriam apontar/selecionar
quais categorias da classificação eram fundamentais para a sua especialidade dentro
da Fisioterapia. Para os participantes, um item deveria ser considerado para compor a
lista, se fosse indispensável para uso nas atividades do especialista durante sua prática
profissional, com o objetivo de estruturar um instrumento com o mínimo de categorias da
CIF, mas que permitisse o máximo de informações possíveis e necessárias. O prazo para
o encaminhamento das respostas foi de 30 dias após a disponibilização do material. Na
metade do período, todos receberam uma mensagem de alerta sobre o prazo de entrega.
Cada participante selecionou as categorias da CIF aplicáveis na sua área de atuação e
intervenção, indicando, no questionário, SIM ou NÃO ao lado de cada uma delas.

65
Fase 4: Análise das respostas, elaboração da lista mínima de categorias da
CIF, com base nas informações obtidas na fase anterior, envio do resultado final aos
participantes. Com o total de questionários obtidos, foi feita a lista das categorias da CIF
e a frequência com que foram indicadas pelos participantes. As categorias que tiveram
80% ou mais de indicação passaram a fazer parte da lista resumida de categorias da CIF
para uso nessa área. Essa lista foi apresentada aos participantes para conhecimento e
novas considerações.
Fase 5: Proposta de uso dos qualificadores e questionamento sobre a viabilidade
do instrumento
A lista final, contendo as categorias selecionadas e a proposta para uso dos qualificadores,
foi enviada a todos os participantes para que eles opinassem sobre a viabilidade de sua
utilização. Essa informação foi coletada em um segundo questionário (Anexo 1). Este
continha questões que buscavam identificar se o instrumento final era de fácil uso, se
unificava a linguagem, se seria capaz de gerar dados sobre funcionalidade e qual seria
o grau de importância dele.
Fase 6: Compilação e análise das respostas
As respostas ao segundo questionário foram compiladas a fim de conhecer a opinião dos
participantes sobre a possibilidade de uso da ferramenta na prática profissional diária. [...]

RESULTADOS E DISCUSSÃO: Neste trabalho, o processo foi conduzido por meio da


rede mundial de computadores, num sistema eletrônico de aplicação de questionários.
As atividades do especialista em Fisioterapia do Trabalho envolvem prevenção e
tratamento. É importante que uma ficha de notificação seja amigável, que contenha o
mínimo de questões que possibilitem o máximo de dados. Apesar de já existir um “core
set” vocacional, ele não pode ser comparado ao instrumento proposto neste estudo já
que é menos específico por abranger diferentes áreas do conhecimento. Assim, verificar
a aceitabilidade de quem efetivamente a usará é um dos principais passos para garantir
sua adoção. A ferramenta criada foi aceita por mais de 90% dos entrevistados.

Os resultados obtidos neste trabalho dão conta da qualidade prática da


ferramenta e da importância dos dados que ela coleta, tendo sido aprovada para uso
pelos participantes, incluindo a forma baseada na especialidade e não baseada em uma
condição de saúde. Esse tipo de lista resumida busca informações de funcionalidade
para determinada área de atuação, gerando dados relevantes sobre a situação das
pessoas avaliadas. A forma apresentada inclui o uso das categorias da CIF diretamente.
O uso de perguntas que represente as categorias poderia facilitar ainda mais o uso
da ferramenta, aumentando sua aceitabilidade. Em estudo de revisão sobre uso da
CIF em Fisioterapia, verificou-se que a unificação da linguagem é uma das vantagens
mais citadas do uso dessa ferramenta na área de Fisioterapia. Segundo a maioria
dos profissionais entrevistados neste, especialistas consideram mais importantes. O
instrumento elaborado a partir do consenso se baseia no uso dos qualificadores da CIF,
porém, de forma simplificada: o uso do “8” (problema de magnitude não especificada)
substitui o uso do “1” (problema de magnitude leve), do “2” (problema de magnitude
moderada) e do “3” (problema de magnitude grave). Excluímos assim, a necessidade de

66
calibrar instrumentos de avaliação com os qualificadores da CIF, o que demanda mais
tempo para uso e dificulta a execução da classificação. Como a CIF tem um padrão
único, ela deveria ser constantemente calibrada sob a perspectiva das ferramentas de
avaliação existentes.

A elaboração de listas específicas e resumidas, que facilitem ao usuário aplicar a


CIF, têm obedecido a um processo de consenso entre especialistas. Nessa forma, tem sido
utilizado o método Delphi, importante etapa para a obtenção dessas listas, e utilizado pelo
projeto denominado core sets, pioneiro nessa área. Um estudo de revisão sobre a publica-
ção de core sets da CIF encontrou 44 trabalhos publicados entre os anos de 2001 e 2010.

Algumas listas resumidas da CIF foram publicadas e são conhecidas como


“Core Sets” da CIF para condições de saúde, como para diabetes, obesidade e artrite
reumatoide. Há “core sets” para condições de saúde específicas que foram analisados sob
outras perspectivas, como também a criação dessas listas com base em especialidades.
Muitos “core sets” por condições de saúde foram desenvolvidos como parte de um projeto
multicêntrico, envolvendo especialistas do mundo todo e utilizando diferentes níveis de
complexidade da CIF. Alguns foram validados sob a perspectiva de determinada área e
podem ser instrumentos úteis na coleta de dados sobre funcionalidade de um grupo de
pacientes com a mesma condição de saúde.

No entanto, no caso de um instrumento de coleta de dados para uso por


determinada especialidade, é possível abranger um maior número de condições de
saúde (como as mais comuns da área) com o uso mais simplificado das categorias da
CIF, sendo esta uma vantagem sobre os “core sets” por condição de saúde. Mesmo
assim, é possível levantar dados relevantes sobre a funcionalidade. Os aspectos básicos
de atividades aliados aos de fatores ambientais esclarecem de forma mais ampla os
impactos na saúde que as alterações de funcionalidade e de ambiente acarretam. O
envolvimento dos profissionais da Fisioterapia com sistemas de informação de saúde
ainda é pequeno. O reconhecimento da importância, aplicabilidade e vantagens do uso
da CIF depende de diversos fatores, como a clareza sobre o que essas informações
podem gerar de retorno para a atividade da área. O que defendemos é que o
instrumento que facilita o uso da CIF em Fisioterapia do Trabalho tenha uso amplo e que
possa ser utilizado com segurança, garantindo maior detalhamento sobre o estado de
funcionalidade de determinada população.

A lista criada gera um instrumento de fácil uso, que pode ser adaptado aos
prontuários físicos ou até mesmo aos prontuários eletrônicos, em serviços e sistemas
de saúde. Assim, desenvolvemos uma forma rápida e viável de aplicação da classificação
por meio de um instrumento prático, capaz de gerar informações sobre a funcionalidade,
mesmo que de forma superficial. É importante salientar que dados essenciais para o
conhecimento da incidência e da prevalência de incapacidades nas populações, assim
como de sua tendência temporal, não são coletados (ou não estão disponíveis) no
Brasil, apenas com o uso da CID. Sendo CIF e CID complementares entre si, existe a
necessidade clara de um sistema de informação mais completo.

67
CONCLUSÃO: A primeira versão de um instrumento de classificação baseado na CIF, para
uso em Fisioterapia do Trabalho, estruturado pela seleção de categorias mais relevantes
e pelo uso do qualificador “não especificado”, foi desenvolvida e está pronta para ser
testada como geradora de dados sobre funcionalidade humana.

Anexo 1. Sugestão para instrumento de avaliação do trabalhador

Instrumento de coleta de dados sobre funcionalidade e incapacidade


Especialidade: Fisioterapia do Trabalho
Nome: Idade: Sexo:
Raça/Cor:
Antecedentes pessoais:
CID (se houver):
b260 Função proprioceptiva
b270 Funções sensoriais relacionadas com a temperatura e outros estímulos
Perda completa da função Perda parcial da função Função preservada
b280 Sensação de dor Presente ( ) Ausente ( )
b710 Funções da mobilidade das articulações b715 Funções da estabilidade das
articulações b730 Funções da força muscular
b735 Funções do tônus muscular
b740 Funções da resistência muscular Perda completa da função Perda
parcial da função Função preservada
s1 Estruturas do sistema nervoso
s7 Estrutura Existe lesão/alteração Não existe lesão/alteração
Desempenho (o profissional pergunta ao paciente sobre sua vida habitual)
d230 Realizar a rotina diária d475 Dirigir
d7 Interações e relacionamentos interpessoais Não faz Faz com dificuldade parcial
Faz sem dificuldade

Capacidade (o profissional avalia a condição física do paciente)


d410 Mudar a posição do corpo d415 Manter o corpo numa posição d420 Realizar
transferências
d430 Levantar e carregar objetos d435 Mover objetos com MMII
d440 Utilizar movimentos finos da mão
d450 Andar Dificuldade completa Dificuldade parcial Sem dificuldade
Fatores ambientais (informações adicionais/complementares)
Sobre os produtos e tecnologias disponíveis ao indivíduo
Sobre os itens do ambiente natural do local de trabalho e entorno
Sobre as atitudes de pessoas próximas no trabalho, segundo a impressão do
paciente

Sobre serviços, sistemas e políticas disponíveis no país Atrapalham Facilitam

FONTE: <https://www.revistas.usp.br/actafisiatrica/article/view/103735/102209>.
Acesso em: 7 jul. 2021.

68
RESUMO DO TÓPICO 3
Neste tópico, você aprendeu:

• A Classificação Internacional de Funcionalidade (CIF) é mais adequada para a


avaliação laboral por constituir-se numa ferramenta capaz de gerar dados sobre a
funcionalidade humana no trabalho e sobre a influência do ambiente no desempenho
das atividades ocupacionais.

• A Análise Ergonômica do Trabalho (AET) e o Ergonomics Workplace Analysis (EWA)


são importantes na avaliação e organização do trabalho, bem como do ambiente
ocupacional, a fim de torná-los adaptáveis às necessidades, habilidades e limitações
das pessoas.

• O método National Institute for Occupational Safety and Health (NIOSH) é utilizado
para a análise de trabalhos com carga estática.

• A ferramenta Ovako Working Posture Analysing System (OWAS) é utilizada para a


análise de postura.

• O protocolo Rapid Upper Limb Assessment Rapid Upper Limb Assessment (RULA) é
indicado para avaliações detalhadas dos membros superiores e suas movimentações.

• O protocolo SAPO é uma proposta de pontos de marcação e medidas para avaliação


postural estática de fácil acesso e manuseio.

• Questionários podem ser utilizados com intuito de avaliar a Qualidade de Vida do


Trabalhador.

69
AUTOATIVIDADE
1 A CIF classifica "domínios" da saúde e "domínios" relacionados à saúde, que nos
ajudam a descrever alterações ou mudanças na função e na estrutura corporal, o
que uma pessoa com uma condição de saúde pode fazer em um ambiente padrão
(seu nível de capacidade), assim como o que ela de fato faz no seu ambiente real (seu
nível de desempenho). Sobre a Classificação Internacional de Funcionalidade (CIF),
assinale a alternativa CORRETA:

a) ( ) É mais adequada para a avaliação laboral por constituir-se numa ferramenta


capaz de gerar dados sobre a funcionalidade humana no trabalho.
b) ( ) Avalia exclusivamente o desempenho do ser humano na execução de suas ativida-
des de trabalho e está relacionada às condições de trabalho que lhe são impostas.
c) ( ) Deve ser usada somente por médicos para caracterização de doenças.
d) ( ) É usada para pesquisa clínica e não tem aplicabilidade prática por ser extrema-
mente extensa.

2 Os conceitos ergonômicos objetivam evitar riscos acidentais, operacionais e mini-


mizar a fadiga. Alicerçado nessa demanda, as ferramentas, métodos e protocolos de
análise ergonômica são muito importantes na saúde do trabalhador. Nesse sentido,
sobre a Análise Ergonômica do Trabalho (AET), assinale a alternativa CORRETA:

a) ( ) É direcionada à análise da atividade e embasada na averiguação das situações


de trabalho, ademais, ela promove a adaptação do trabalho ao homem e
centraliza sua atenção na transformação dos agentes determinantes de dado
cenário de trabalho.
b) ( ) É mais adequada para a avaliação laboral por constituir-se numa ferramenta
capaz de gerar dados sobre a funcionalidade humana no trabalho.
c) ( ) Deve ser usada somente por médicos para caracterização de doenças.
d) ( ) Tem como objetivo prevenir ou reduzir a ocorrência de dores causadas por
levantamento manual de cargas.

70
3 Os conceitos ergonômicos objetivam evitar riscos acidentais, operacionais e mini-
mizar a fadiga. Alicerçado nessa demanda, as ferramentas, métodos e protocolos de
análise ergonômica são muito importantes na saúde do trabalhador. Nesse senti-
do, sobre o protocolo Rapid Upper Limb Assessment Rapid Upper Limb Assessment
(RULA), assinale a alternativa CORRETA:

a) ( ) É mais adequada para a avaliação laboral por constituir-se numa ferramenta


capaz de gerar dados sobre a funcionalidade humana no trabalho.
b) ( ) Avalia exclusivamente o desempenho do ser humano na execução de suas
atividades de trabalho e está relacionado às condições de trabalho que lhe
são impostas.
c) ( ) É direcionada à análise da atividade e embasada na averiguação das situações
de trabalho, ademais, ela promove a adaptação do trabalho ao homem e centra-
liza sua atenção na transformação dos agentes determinantes de dado cenário
de trabalho.
d) ( ) É um método observacional de postos de trabalho cujo objetivo é a classificação
integrada do risco de Lesões musculoesqueléticas do membro superior ligadas
ao trabalho.

4 Desde a década de 1970, vêm sendo desenvolvidos roteiros para execução de uma
análise ergonômica, alguns dos quais se converteram em modelos e serviram de base
para outras propostas metodológicas. Nesse sentido, discorra sobre a importância
das ferramentas para avaliação ergonômica.

5 A CIF (Classificação Internacional de Funcionalidade, Incapacidade e Saúde) é hoje


o modelo da Organização Mundial da Saúde (OMS) para saúde e incapacidade,
constituindo a base conceitual para definição, mensuração e formulação de políticas
nesta área. Nessa perspectiva, discorra sobre as vantagens de se utilizar a CIF ao
invés do CID na saúde do Trabalhador.

71
REFERÊNCIAS
ABERGO. A certificação do ergonomista brasileiro - Editorial do Boletim 1/2000,
Associação Brasileira de Ergonomia. 2000. Disponível em: https://www.abergo.org.br/
certifica%C3%A7%C3%A3o. Acesso em: 19 set. 2021.

ABRAHÃO, J. I.; PINHO, D. L. M. Teoria e prática ergonômica: seus limites e


possibilidades. Escola, Saúde e Trabalho: Estudos Psicológicos, Brasília, v. 1, n.
1, p. 1-10, jan. 1999. Disponível em: http://www.luzimarteixeira.com.br/wp-content/
uploads/2009/09/teoria-pratica1.pdf. Acesso em: 19 set. 2021.

ARAÚJO, E. S. de; BUCHALLA, C. M. Utilização da CIF em fisioterapia do trabalho: uma


contribuição para coleta de dados sobre funcionalidade. Acta Fisiatrica, São Paulo,
v. 1, n. 20, p. 1-7, abr. 2013. Disponível em: https://www.revistas.usp.br/actafisiatrica/
article/view/103735/102209. Acesso em: 19 set. 2021.

BAÚ, L. M.; KLEIN, A. A. O reconhecimento da especialidade em fisioterapia


do trabalho pelo COFFITO e Ministério do Trabalho/CBO: uma conquista para
a fisioterapia e a saúde do trabalhador. Rev Bras Fisioterapia, São Carlos,
v. 13, n. 2, p. 5-6, mar. 2009. Disponível em: https://www.scielo.br/j/rbfis/a/
Nrk7dBY5c6ctxdscCCcy8Fr/?lang=pt&format=pdf. Acesso em: 19 set. 2021.

BRASIL. Decreto-Lei 5.452 de 1° de maio de 1943. Consolidação das Leis do


trabalho, Brasília, DF. Out. 2017.

COFFITO. Resolução n° 259 de 18 de dezembro de 2003. Dispõe sobre a


Fisioterapia do Trabalho e dá outras providências. Disponível em: https://www.coffito.
gov.br/nsite/?p=3017. Acesso em: 9 jul. 2021.

GOMEZ, C. M.; VASCONCELLOS, L. C. F. de; MACHADO, J. M. H. Saúde do trabalhador:


aspectos históricos, avanços e desafios no sistema único de saúde. Ciência & Saúde
Coletiva, Brasília, v. 23, n. 6, p. 1963-1970, jan. 2018. Disponível em: https://www.scielo.
br/j/csc/a/DCSW6mPX5gXnV3TRjfZM7ks/?lang=pt&format=pdf. Acesso em: 19 set. 2021.

GUÉRIN, F. et al. Compreender o Trabalho para Transformá-lo: a prática da


ergonomia. São Paulo: Edgard Blucher, 2001.

IIDA, I. Ergonomia: projeto e produção. São Paulo: Edgard Blücher, 2005.

72
JOELLEN. Ferramentas de avaliação ergonômica em atividades
multifuncionais: a contribuição da ergonomia para o design de ambientes de
trabalho. 2010. 219 f. Dissertação (Mestrado) - Curso de Design, Universidade Estadual
Paulista Júlio de Mesquita, Bauru, 2010. Disponível em: https://repositorio.unesp.br/
bitstream/handle/11449/89709/ligeiro_j_me_bauru.pdf?sequence=1&isAllowed=y.
Acesso em: 19 set. 2021.

KIVI, P.; MATTILA, M. Analysis and improvement of work postures in the building
industry: application of the computerised owas method. Applied Ergonomics, [s.l.], v.
22, n. 1, p. 43-48, fev. 1991. Disponível em: https://pubmed.ncbi.nlm.nih.gov/15676798/.
Acesso em: 19 set. 2021.

LIDA, I. Ergonomia: projeto e produção. 2. ed. São Paulo: Edgard Blucher, 2005. 627
p. Disponível em: https://edisciplinas.usp.br/pluginfile.php/5599930/mod_resource/
content/2/C%C3%B3pia%20de%20IIDA%2C%20Itiro%2C%20Ergonomia%20projeto%20
e%20produ%C3%A7%C3%A3o.pdf. Acesso em: 19 set. 2021.

LIGEIRO, J. Ferramentas de avaliação ergonômica em atividades


multifuncionais: a contribuição da ergonomia para o design de ambientes
de trabalho. Dissertação (Mestrado) Programa de Pós-Graduação em Design.
Universidade Estadual Paulista Julio de Mesquita Filho. Bauru – SP, 2010.

MATEUS JUNIOR, J. R. Diretrizes para uso das ferramentas de avaliação de


carga física de trabalho em ergonomia: equação niosh e protocolo rula. 2009. 152
f. Dissertação (Mestrado) - Curso de Engenharia de Produção, Universidade Federal de
Santa Catarina, Florianópolis, 2009. Disponível em: https://repositorio.ufsc.br/xmlui/
bitstream/handle/123456789/92479/264521.pdf?sequence=1&isAllowed=y. Acesso
em: 19 set. 2021.

MENDES, A. M. B. Aspectos psicodinâmicos da relação homem-trabalho:


as contribuições de c. dejours. Psicol. Cienc. Prof., São Paulo, v. 15, n.
3, p. 34-38, jan. 2003. Disponível em: https://www.scielo.br/j/pcp/a/
R4yymBFkPGNFb3BSvXFnZzn/?format=pdf&lang=pt. Acesso em: 20 set. 2021.

SANTOS, N. D. Antropotecnologia: a ergonomia dos Sistemas de Produção. Curitiba:


Gênesis, 1997.

SERRANHEIRA, F.; UVA, A. S. LER/DORT: que métodos de avaliação do risco?. Rev.


Bras. Saúde Ocup, Lisboa, v. 35, n. 122, p. 314-326, set. 2010. Disponível em: https://
www.scielo.br/j/rbso/a/CgWMQYzdXV7GzjBWkbpmHzr/?lang=pt&format=pdf. Acesso
em: 19 set. 2021.

73
SHIDA, G. J.; BENTO, P. E. G. Métodos e ferramentas ergonômicas que auxiliam na análise
de situações de trabalho. In: CONGRESSO NACIONAL DE EXCELÊNCIA EM GESTÃO, 8.,
2012, São Paulo. Artigo. São Paulo: Issn, 2012. p. 1-13. Disponível em: https://www.
inovarse.org/sites/default/files/T12_0496_3097.pdf. Acesso em: 19 set. 2021.

SILVA, D. C.; PASCHOARELLI, L. C. Contribuições científicas de Bernard Forest de


Bélidor para o estudo e a organização do trabalho. São Paulo: Unesp, 2010. 103
p. Disponível em: http://books.scielo.org/id/b5b72/pdf/silva-9788579831201-03.pdf.
Acesso em: 19 set. 2021.

SOUZA, K. R. S. B. de. et al. Ação da ginástica laboral na prevenção da LER/DORT.


2011. 16 f. Monografia (Especialização) - Curso de Pós-Graduação em Ergonomia:
Produto e Processo, Faculdade Facoph, São Paulo, 2011. Disponível em: https://
portalbiocursos.com.br/ohs/data/docs/182/74-AYYo_da_ginYstica_laboral_na_
prevenYYo_da_LER_e_DORT.pdf. Acesso em: 21 set. 2021.

STRABELI, G.; NEVES, E. P. Ferramentas, Métodos e Protocolos de Análise


Ergonômica do Trabalho. (Artigo) 15° ergodesignCongresso internacional de
ergonomia e usabilidade de interfaces humano-tecnologia-produto, informações,
ambientes construídos e transporte. 2015. 13 p.

VIDAL, M. C. Introdução à Ergonomia. 2000. 35 f. Tese (Doutorado) - Curso de Curso


de Especialização em Ergonomia Contemporânea do Rio de Janeiro, Universidade
do Brasil- UFRJ, Rio de Janeiro, 2000. Disponível em: http://www.ergonomia.ufpr.br/
Introducao%20a%20Ergonomia%20Vidal%20CESERG.pdf. Acesso em: 19 set. 2021.

74
UNIDADE 2 —

AVALIAÇÃO E INTERVENÇÃO
PREVENTIVA NAS
DISFUNÇÕES RELACIONADAS
À SAÚDE DO TRABALHADOR
OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM
A partir do estudo desta unidade, você deverá ser capaz de:

• aprender a analisar o risco de atividades laborais;

• entender a importância da biomecânica no exercício laboral;

• explorar as principais implicações de posturas e movimentos em condições adversas;

• compreender o fluxo da vigilância epidemiológica na Saúde do Trabalhador.

PLANO DE ESTUDOS
A cada tópico desta unidade você encontrará autoatividades com o objetivo de
reforçar o conteúdo apresentado.

TÓPICO 1 – ANÁLISE E AVALIAÇÃO DAS SITUAÇÕES DE RISCO NO TRABALHO:


ABORDAGEM COM ÊNFASE BIOMECÂNICA

TÓPICO 2 – IMPLICAÇÕES DE POSTURAS, MOVIMENTOS E CONDIÇÕES ADVERSAS

TÓPICO 3 – VIGILÂNCIA EPIDEMIOLÓGICA NA SAÚDE DO TRABALHADOR

CHAMADA
Preparado para ampliar seus conhecimentos? Respire e vamos em frente! Procure
um ambiente que facilite a concentração, assim absorverá melhor as informações.

75
CONFIRA
A TRILHA DA
UNIDADE 2!

Acesse o
QR Code abaixo:

76
UNIDADE 2 TÓPICO 1 —
ANÁLISE E AVALIAÇÃO DAS SITUAÇÕES
DE RISCO NO TRABALHO: ABORDAGEM
COM ÊNFASE BIOMECÂNICA

1 INTRODUÇÃO
A avaliação e intervenção preventiva nas disfunções relacionadas à saúde do
trabalhador inclui campanhas educacionais e implantação de diversos programas de
prevenção que podem trazer diversas vantagens para o empregado e para a empresa,
como diminuição da fadiga, do desconforto físico, do estresse emocional e da incidência
de doenças ocupacionais, aumento da eficiência no trabalho, diminuição dos gastos da
empresa e do número de acidentes, além de aumento da produtividade e o lucro.

É muito importante, como em todas as áreas da fisioterapia, a avaliação inicial e


identificação da situação de um modo geral, incluindo fatores como queixa principal e
fatores psicossociais relacionados.

Nesse sentido, no Tópico 1, abordaremos a análise das situações de risco no


trabalho, observando principalmente aspectos biomecânicos relacionados ao processo.

Já no Tópico 2, exploraremos os tipos de trabalhos e as implicações de cada


posto, incluindo trabalhos que envolvam carga, sedentários e a nova modalidade de
home office.

E, por fim, conheceremos as ações da vigilância epidemiológica e sua atuação


na saúde do trabalhador e o sistema de notificações de acidentes de trabalho.

2 ANÁLISE E AVALIAÇÃO DAS SITUAÇÕES DE RISCO


NO TRABALHO
O estudo da ergonomia ampliou a tendência atual para o aumento da eficiência
do desenvolvimento e produção do trabalho, despertando interesse generalizado pelos
benefícios que esta proporciona ao trabalhador e à sociedade.

77
A análise ergonômica pode contribuir para solucionar muitos problemas
relacionados com saúde, segurança, conforto e eficiência. Quando consideradas
adequadamente, as capacidades e limitações humanas, as condições de trabalho
incluindo seu ambiente, com certeza o desempenho do trabalhador será mais eficaz, e
a empresa poderá apresentar uma boa produtividade.

Nesse sentido, devemos destacar que todo o processo de trabalho envolve


situações de risco, de acidentes e de formas de adoecimento, segundo as condições de
gênero e de qualidade de vida no trabalho.

Desequilíbrios entre estruturas corporais responsáveis pela postura adequada


ou alinhamentos defeituosos podem resultar em sobrecarga e tensão sobre os ossos,
articulações e músculos.

Para Martins (2005), quando um indivíduo apresenta uma lesão por sobrecarga
biomecânica ocupacional, os fatores etiológicos estão relacionados à organização do
trabalho e envolvem:

• Equipamentos, ferramentas, acessórios e mobiliários inadequados.


• Desrespeito aos posicionamentos, angulações e distâncias.
• Técnicas incorretas para a execução de tarefas.
• Sobrecarga biomecânica estática e dinâmica.
• Uso de instrumentos com excessiva transmissão de vibração.
• Temperatura, ventilação e umidade inapropriadas no ambiente.

O mesmo autor relata que o indivíduo pode apresentar lesões musculoesquelé-


ticas específicas sem que estejam relacionadas as suas atividades de trabalho.

Assim, além das sobrecargas biomecânicas, outras causas devem ser consi-
deradas como potenciais agentes causais destas enfermidades musculoesqueléticas.

É importante destacar que os profissionais que não mudam seus hábitos


de trabalho apresentam um maior risco de agravar os distúrbios já existentes ou o
aparecimento de novos distúrbios.

78
FIGURA 1 – AMBIENTE INSEGURO

FONTE: <https://www.conceitozen.com.br/o-que-e-ato-inseguro.html>. Acesso em: 30 jul. 2021.

Podemos perceber que o ambiente em que o trabalhador está inserido tem cru-
cial importância no desenvolvimento de dores e doenças ocupacionais, mas convém
abordar também o ambiente psicológico, pois o estresse psicológico negativo também
pode ser um fator de risco para o desenvolvimento de tais distúrbios.

2.1 POSTURA E ADAPTAÇÕES


Segundo Tribastone (2001), o termo postura (na língua italiana) deriva da síncope
da palavra positura que, modernizando-se, não só perdeu uma vogal, mas complicou
notavelmente o seu significado original de posição, atitude ou hábitos posturais.
A postura é composta das posições de todas as articulações do corpo em um dado
momento e do equilíbrio muscular.

Nessa perspectiva, os trabalhadores possuem uma tendência maior a adaptar


sua postura ao ambiente de trabalho do que adequar esses ambientes as suas neces-
sidades. Assim, faz-se importante na compreensão entre o previsto e o realizado pelo
trabalhador, ou seja, tarefa e atividade. Neste sentido, a produtividade, a organização do
trabalho, a postura assumida, os movimentos e o ambiente possibilitam identificar vari-
áveis presentes nas situações com vistas a propor melhorias nas condições de trabalho.

79
As estratégias de avaliação e prevenção estão na análise dos postos de trabalho,
na diminuição da repetitividade e o uso do sistema de revezamento das tarefas, no
descanso durante a jornada de trabalho e a conscientização dos trabalhadores pelas
atividades educativas.

FIGURA 2 – SEQUÊNCIA DE POSTURAS UTILIZADAS NO TRABALHO

FONTE: <https://www.bringit.com.br/blog/dicas-e-tutoriais-para-notebook/dicas-para-usar-o-
notebook-e-manter-uma-postura-correta/>. Acesso em: 30 jul. 2021.

DICAS
Você sabe se posicionar durante um atendimento? Que tal dar uma conferida
em algumas posturas não recomendadas para o nosso exercício profissional?

80
FIGURA – POSTURAS NÃO RECOMENDADAS PARA O EXERCÍCIO PROFISSIONAL
Postura Incorreta dos Fisioterapeutas

POSTURAS INCORRETAS DOS


FISIOTERAPEUTAS.

Não estamos avaliando a técnica de nenhum


tratamento, apenas a postura do fisioterapeuta
que deve procurar inserir pausas entre cada
sessão para realizar exercícios compensatórios,
veja alguns exemplos na matéria principal.

Evite ficar por muito tempo curvado e ultilizando


o mesmo ponto de apoio dos membros
inferiores sem alternar. Não esqueça faça
exercícios compensatórios entre cada sessão.

Evite sobrecarga nos seus braços, ombros e


coluna vertebral. Use o sistema de alavanca e
posicione-se distribuindo mais o seu peso com
o membro inferior do paciente.

Observe a posição de seus membro inferiores e a que esta fazendo de forma unilateral.
Analise quantos pacientes você atende realizando a mesma manobra.

FONTE: <https://www.escoladepostura.com.br/main.asp?link=indep&id=262>.
Acesso em: 30 jul. 2021.

81
2.2 ANÁLISE ERGONÔMICA
Baseia-se no estudo dos movimentos corporais do ser humano, necessários para
executar uma tarefa, e na medida do tempo gasto em cada um desses movimentos. A
sequência dos movimentos necessários para executar a tarefa é baseada em uma série
de princípios de economia de movimentos, sendo que o melhor método é escolhido pelo
critério do menor tempo gasto.

O desenvolvimento do melhor método é feito, geralmente, em laboratório de


engenharia de métodos, onde os diversos dispositivos, materiais e ferramentas, são
colocados em posições mais convenientes, baseados em critérios empíricos e em
experiências pessoais dos próprios analistas de métodos.

O estudo ergonômico do posto de trabalho comporta as seguintes fases:

• Análise da demanda: é a definição do problema a ser estudado, a partir do ponto de


vista dos diversos atores sociais envolvidos.
• Análise da tarefa: análise das condições ambientais, técnicas e organizacionais
de trabalho.
• Análise das atividades: análise dos comportamentos do ser humano no trabalho
(gestuais, informacionais, regulatórios e cognitivos).
• Diagnóstico: o diagnóstico procura descobrir as causas que provocaram o problema
descrito na demanda.
• Recomendações ergonômicas: as recomendações ergonômicas referem-se às
providências que deverão ser tomadas para resolver o problema diagnosticado.

Como diagnósticos, podemos ter vários fatores, por exemplo:

• absenteísmo (faltas ou atrasos);


• rotatividade (pode ser devido ao treinamento insuficiente ou elevada carga de
estresse no ambiente);
• acidentes (pode ocorrer por falta de manutenção nas máquinas, sinalização mal
interpretada, pisos molhados, entre outros);
• baixa qualidade: pode ser por consequências de erros de dimensionamento do posto
de trabalho, ou pela sequência inadequada de tarefas.

82
IMPORTANTE
Vamos refletir quais os possíveis problemas deste ambiente de trabalho que podemos
observar? Qual seria seu diagnóstico?

FIGURA – OBSERVAÇÃO DE POSSÍVEIS PROBLEMAS

FONTE: <http://riscofisicoo.blogspot.com/2015/04/risco-fisico-no-ambiente-de-
trabalho.html>. Acesso em: 30 jul. 2021.

Além disso, quando falamos em recomendações, devemos prescrever todas


as etapas necessárias para resolver o problema. Estas podem vir acompanhadas de
figuras com detalhamento das modificações a serem feitas em máquinas ou postos de
trabalho, e indicar as respectivas responsabilidades (pessoa e seção do departamento
encarregado, com indicação do respectivo prazo).

83
FIGURA 3 – ANÁLISE ERGONÔMICA DO TRABALHO

FONTE: <http://www.ergonomianotrabalho.com.br/analise-ergonomica.pdf>.
Acesso em: 30 jul. 2021.

2.3 RISCOS NO TRABALHO


Todos os trabalhadores são expostos a situações inseguras, perigos ou riscos
diariamente, e para evitá-los ou reduzir os níveis de exposição é necessário conhecer
os riscos ocupacionais relacionados aos diferentes agentes de exposição inerentes às
operações industriais ou atividades executadas pelos trabalhadores.

Risco é considerada qualquer situação de algum elemento (máquinas, produtos


químicos, ruído etc.) ou circunstância (excesso de horas de trabalho, falta de uso de
EPIs, EPCs, layout, atitudes inadequadas.) existentes relacionadas com um processo
ou ambiente de trabalho que possa causar danos à saúde, seja por meio do acidente
de trabalho, doenças ocupacionais ou pelo sofrimento social ou psicológico dos
trabalhadores, ou ainda, por poluição ambiental (BRASIL, 1995).

Os riscos podem ser provenientes de ruídos, vibrações, temperatura, vapores,


iluminação, seres vivos, instrumentos de trabalho, postura inadequada, dentre diversos
outros agentes causadores.

84
QUADRO 1 – RISCOS NO TRABALHO

MAPEAMENTO DOS RISCOS DO AMBIENTE DE TRABALHO


Tipo de
Ação de Melhoria
Risco
Riscos mapeamento de risco para os funcionários expostos a ruído, calor, frio, pres-
Físicos sões, umidade, radiações (ionizantes ou não) e vibrações.
Riscos mapeamento de risco para os funcionários expostos à poeiras, fumo, gases, va-
Químicos pores, névoas, neblinas, substâncias compostas ou produtos químicos em geral.
Riscos mapeamento de risco para os funcionários expostos à fungos, vírus, parasitas,
Biológicos bactérias, protozoários e bacilos.
mapeamento de risco para os funcionários expostos à esforço físico intenso,
levantamento e transporte manual de peso, exigência de postura inadequada,
Riscos
controle rígido de produtividade, imposição de ritmos excessivos, trabalho em
Ergonômicos
turno e noturno, jornadas de trabalho prolongadas, monotonia e repetitividade
e outras situações causadoras de stress físico e/ou psíquico.
mapeamento de risco para os funcionários expostos à arranjo físico inade-
Riscos de quado, iluminação inadequada, probabilidade de incêndio e explosão, eletrici-
Acidentes dade, máquinas e equipamentos sem proteção, armazenamento inadequado,
quedas e animais peçonhentos.

FONTE: <https://onsafety.com.br/fique-atento-aos-riscos-de-acidentes-de-trabalho/>.
Acesso em: 30 jul. 2021.

A presença de um fisioterapeuta pode contribuir com a saúde física e funcional


dos trabalhadores, identificando quais são os riscos relacionados à ergonomia através
de uma avaliação detalhada do ambiente de trabalho.

3 ABORDAGEM COM ÊNFASE BIOMECÂNICA


OCUPACIONAL
A Biomecânica Ocupacional está relacionada ao estudo das posturas e tarefas
do homem no trabalho, as relações entre as dimensões corporais e a postura no trabalho
se refletem principalmente quando o trabalhador tem de se ajustar ao equipamento,
assumindo posturas inadequadas, e/ou quando o equipamento é ajustado ao trabalhador
em relação as suas dimensões corporais, permitindo a adoção de posturas adequadas
(VANÍCOLA; MASSETO; MENDES, 2004).

A capacidade de carga é influenciada pela sua localização em relação ao corpo


e outras características como formas, dimensões e facilidade de manuseio.

Em relação à localização relativa, para movimentos repetitivos, a força máxima


para o levantamento de peso é exercida quando a carga se encontra a 30 cm de
distância do corpo e a 30 cm de altura do solo (VANÍCOLA; MASSETO; MENDES, 2004).

85
Essa capacidade diminui quando a carga se afasta para 60 cm do corpo,
chegando praticamente a zero quando se afasta a 90 cm do corpo (IIDA, 2005). A
análise biomecânica de uma tarefa implica medir múltiplos ângulos articulares e,
frequentemente, movimentos complexos durante uma atividade prescrita (VANÍCOLA;
MASSETO; MENDES, 2004).

As articulações movem-se sobre múltiplos eixos, sendo necessária a utilização


de sistemas de medida complexos. É necessário que os sistemas meçam as rotações
articulares sobre três eixos e que sejam autoalinháveis, isto é, transladem de acordo
com as mudanças de posição do centro da articulação (SANTOS; MEIJA, 2008).

Entretanto, nos primeiros estudos que utilizaram goniômetros na análise de


tarefas de trabalho, verifica-se que esses instrumentos eram muito simples, permitindo
somente análises bidimensionais dos deslocamentos angulares.

3.1 ANÁLISE MULTIFATORIAL


O levantamento de peso é acompanhado de um considerável aumento da
pressão nas cavidades abdominais devido à contração dos músculos abdominais, a
pressão intra-abdominal ajuda a estabilizar a coluna enquanto se levanta cargas com
as mãos, os modelos biomecânicos também estabelecem que a postura agachada para
levantar cargas grandes, próximas aos joelhos dobrados, envolve forças de compressão
maiores do que levantar cargas à mesma carga em uma postura curvada (SANTOS;
MEIJA, 2008).

Em outras palavras, se a carga é muito volumosa para ficar entre os joelhos,


pode ser mais vantajoso curva-se do que se agachar para levantá-la, as forças de
cisalhamento, no entanto, são maiores na postura curvada, comparado à postura
agachada. Isso sugere que as pessoas devem manter o tronco em uma postura ereta
sempre que possível (COUTO, 2007).

Na análise multifatorial, um conjunto de variáveis (psicológicas, biomecânicas,


fisiológicas e epidemiológicas) é utilizado para definir o limite de peso recomendável a
ser manuseado e um índice de levantamento de cargas (SANTOS; MEIJA, 2008).

O índice de levantamento é calculado a partir da razão entre o peso real do


objeto levantado na condição de trabalho e o limite de peso recomendável, e é utilizado
para determinar um limite de segurança da atividade de levantamento (SANTOS;
MEIJA, 2008).

Atualmente, os métodos mais utilizados pela biomecânica ocupacional para a


análise das posturas de trabalho são os equipamentos de cinemetria, de eletromiografia,
além da plataforma de força e do eletrogoniômetro.

86
FIGURA 4 – CINEMETRIA E PLATAFORMA DE FORÇA

FONTE: <https://ufmg.br/comunicacao/noticias/ufmg-inaugura-laboratorios-de-analise-do-
movimento-e-de-estudos-da-dor>. Acesso em: 30 jul. 2021.

FIGURA 5 – ELETROGONIÔMETRO

FONTE: <https://www.researchgate.net/figure/Figura-14-Sensores-a-Eletrogoniometro-ao-
potenciometro-central-sao-fixadas-as_fig7_309541637>. Acesso em: 30 jul. 2021.

É importante lembrar que um projeto de ergonomia utiliza-se de análises de


outras relações entre o homem e aspectos físicos do ambiente de trabalho, como a
quantidade de luz, sons e outros, mas estas fogem ao escopo deste trabalho.

87
3.2 EVIDÊNCIAS CIENTÍFICAS
De acordo com uma revisão de literatura, recentemente realizada pela
National Institute for Occupational Safety and Health (NIOSH) nos EUA, mais de 40
artigos pesquisados apresentaram evidência na relação entre problemas na coluna
lombar e cinco fatores associados às tarefas laborais, que são: trabalho físico pesado,
levantamentos de peso, posturas de trabalho em que são exigidas constantes flexões
e rotações da coluna, vibração corporal e posturas estáticas (VANÍCOLA; MASSETO;
MENDES, 2004).

Muitas tarefas laborais exigem essas demandas do aparelho locomotor, e por


tal razão, esse tema é muito importante na Biomecânica Ocupacional. A sobrecarga
imposta aos discos intervertebrais da coluna já foi muito estudada pela Biomecânica.
O aumento da pressão exercida no disco na manutenção de uma postura estática para
a realização de uma tarefa é um dos fatores que contribui para a degeneração discal.
Nessa situação, o disco intervertebral fica exposto ao risco de perda ou diminuição
da elasticidade e resistência, o que pode levar à degeneração precoce e aumentar a
probabilidade de ocorrência de hérnia discal (VANÍCOLA; MASSETO; MENDES, 2004)

Diferenças de pressão intradiscal, que podem ser originadas a partir de


solicitações excessivas impostas à coluna vertebral, esforços de flexão (levantamento
e transporte), esforço excessivo na manipulação ou trabalho físico pesado (empurrar,
puxar, empilhar) e/ou esforço inadequado (rotação do tronco, inclinações laterais e
outras) também são situações consideradas nocivas por oferecerem risco à coluna
vertebral (VANÍCOLA; MASSETO; MENDES, 2004).

Um estudo muito citado na literatura em Biomecânica apresenta resultados da


pressão intradiscal medidos diretamente. Nessa pesquisa, foram introduzidos transdu-
tores de força de alta sensibilidade no III disco intervertebral lombardos sujeitos analisa-
dos e a eles era solicitada a tarefa de realizar alguns movimentos. Ela reúne os principais
resultados desta pesquisa a respeito da sobrecarga no disco intervertebral em diferen-
tes posições corporais (NACHEMSON apud VANÍCOLA; MASSETO; MENDES, 2004).

Um estudo utilizou a Eletroneuromiografia (EMG) para identificar como o sinal


de três músculos envolvidos na tarefa de digitação variavam conforme a altura da mesa
(HAGBERG apud VANÍCOLA; MASSETO; MENDES, 2004). Com os seus resultados, o au-
tor pôde identificar que o músculo trapézio é muito solicitado quando a mesa está muita
alta para o digitador e que o músculo deltoide é mais solicitado quando há uma abdução
dos braços na realização da tarefa. Isso pôde determinar que um ajuste preciso nas
mesas dos postos de trabalho se faz necessário, bem como evidenciar a necessidade
de um trabalho compensatório de exercícios, principalmente para o músculo trapézio,
quando não houvesse a possibilidade de reestruturação do posto de trabalho (VANÍCO-
LA; MASSETO; MENDES, 2004).

88
Outro estudo muito interessante patrocinado pela Volvo na Suíça utilizou a
EMG por telemetria para comparar cinco tarefas distintas na montagem de um de seus
carros (VANÍCOLA; MASSETO; MENDES, 2004). As tarefas incluíam a colocação do vidro,
a pré-montagem do vidro, a instalação da bateria, a instalação do tanque de gasolina
e a montagem da quinta porta. Todas as tarefas foram executadas com o operador
portando o eletromiógrafo e um eletrogoniômetro em duas situações distintas: com a
utilização de uma ferramenta e sem o uso da ferramenta.

O objetivo era verificar em qual situação (ferramenta e sem ferramenta) havia


uma frequência maior de ativação de alguns grupos musculares sujeitos à fadiga,
nas cinco tarefas distintas. Para a maioria das tarefas, a utilização da ferramenta foi
determinante na redução da frequência da ativação dos grupos musculares analisados
(VANÍCOLA; MASSETO; MENDES, 2004).

Atualmente, o desenvolvimento tecnológico tem permitido que sejam


utilizadas câmeras de alta frequência na análise de tarefas laborais e também sistemas
optoeletrônicos já têm sido utilizados na indústria. Discussões a respeito de melhores
artefatos para a realização de medidas laborais como, por exemplo, quais os melhores
tipos de marcadores articulares a serem utilizados para filmagens dos movimentos na
indústria, têm sido tema de algumas investigações.

89
DICAS
Vamos revisar a anatomia da coluna para entender melhor?

FIGURA – ANATOMIA DA COLUNA

Vértebras
cervicais

Vértebras
torácicas

Vértebras
lombares

FONTE: <https://www.mdsaude.com/neurologia/hernia-de-disco/>.
Acesso em: 30 jul. 2021.

90
RESUMO DO TÓPICO 1
Neste tópico, você aprendeu:

• A análise ergonômica pode contribuir para solucionar muitos problemas, relacionados


com saúde, segurança, conforto e eficiência.

• Podemos perceber que o ambiente em que o trabalhador está inserido tem crucial
importância no desenvolvimento de dores e doenças ocupacionais.

• As estratégias de avaliação e prevenção estão na análise dos postos de trabalho,


na diminuição da repetitividade e o uso do sistema de revezamento das tarefas, no
descanso durante a jornada de trabalho e a conscientização dos trabalhadores pelas
atividades educativas.

• Risco é considerada qualquer situação de algum elemento como: máquinas, produtos


químicos, ruído. Ou circunstância: excesso de horas de trabalho, falta de uso de EPIs,
EPCs, layout, atitudes inadequadas.

• A análise biomecânica de uma tarefa implica medir múltiplos ângulos articulares e,


frequentemente, movimentos complexos durante uma atividade prescrita.

91
AUTOATIVIDADE
1 Os riscos ocupacionais são os riscos de acidentes aos quais os trabalhadores estão
sujeitos em um ambiente de trabalho. Sobre os riscos no ambiente do trabalho,
assinale a alternativa CORRETA:

a) ( ) Podem ser considerados riscos ergonômicos o esforço físico excessivo,


levantamento e transporte de peso, postura inadequada, controle rígido de
produtividade, trabalho noturno, jornadas de trabalho extensas, dentre outros.
b) ( ) São riscos ergonômicos: fumos, gases, vapores. Substâncias compostas ou
produtos químicos em geral que possam causar algum dano.
c) ( ) Bactérias, protozoários, vírus, fungos e parasitas são riscos químicos.
d) ( ) Máquinas e equipamentos sem proteção, ferramentas e iluminação inapropria-
das, risco de choque elétrico, risco de incêndio, atmosferas explosivas são ris-
cos biológicos.

2 A ergonomia no ambiente de trabalho é fundamental para manter a saúde e seguran-


ça do trabalhador. Nos postos de trabalho, a ergonomia atua facilitando a interação
entre os colaboradores, o local de trabalho e a forma como esses profissionais exe-
cutam suas tarefas. Analise as sentenças a seguir:

I- Análise das atividades é responsável pela análise dos comportamentos do ser


humano no trabalho, incluindo gestuais, informacionais, regulatórios e cognitivos.
II- Análise da tarefa avalia as condições ambientais, técnicas e organizacionais de trabalho.
III- Análise da demanda é a definição do problema a ser estudado, a partir do ponto de
vista dos diversos atores sociais envolvidos.

Assinale a alternativa CORRETA:


a) ( ) As sentenças I e II estão corretas.
b) ( ) Somente a sentença II está correta.
c) ( ) As sentenças I, II e III estão corretas.
d) ( ) Somente a sentença III está correta.

92
3 A Biomecânica Ocupacional está relacionada ao estudo das posturas e tarefas do
homem no trabalho, ou seja, as relações entre as dimensões corporais e a postura no
trabalho. Nessa perspectiva, assinale a alternativa CORRETA:

a) ( ) A análise biomecânica de uma tarefa implica medir múltiplos ângulos articulares


e, frequentemente, movimentos complexos durante uma atividade prescrita.
b) ( ) É a área das ciências da saúde que aplica o conhecimento sobre as adaptações
agudas e crônicas ao esporte.
c) ( ) Trata dos processos mentais utilizados pelo ser humano na realização de suas
atividades e como eles afetam suas interações com outros elementos.
d) ( ) Explora os riscos biológicos dos profissionais expostos ao contato com inúme-
ras pessoas.

4 Muitas tarefas laborais exigem demandas do aparelho locomotor e, por tal razão, esse
tema é muito importante na Biomecânica Ocupacional. Disserte sobre a sobrecarga
que a coluna pode sofrer se realizada uma tarefa inadequada.

5 Existem muitas estratégias para diminuir os riscos laborais. Nesse sentido, destaque
as principais medidas que podem ser tomadas para evitar problemas laborais
relacionados à má postura.

93
94
UNIDADE 2 TÓPICO 2 -
IMPLICAÇÕES DE POSTURAS,
MOVIMENTOS E CONDIÇÕES ADVERSAS

1 INTRODUÇÃO
A avaliação da carga física de trabalho foi o primeiro problema tratado pela
fisiologia do trabalho e continua sendo uma questão central para a maioria dos
trabalhadores do mundo, inclusive para aqueles que trabalham em setores mais
modernos e com esforços físicos menores. Em estudos ergonômicos medem-se os
índices fisiológicos com o objetivo de determinar o limite da atividade física que um
indivíduo pode exercer, sendo possível determinar a duração da jornada de trabalho e
a duração e frequência de pausas (ALVES; MINETTE; SOUZA, 2000).

Acadêmico, no Tópico 2, abordaremos o excesso de cargas no trabalho,


elementos que interatuam dinamicamente entre si e no corpo do trabalhador, gerando
processos de adaptação que se traduzem em desgaste, perda da capacidade efetiva
e/ou potencial corporal e psicológico. E as recomendações das organizações que
regulamentam a Saúde do Trabalhador para o levantamento de peso no trabalho. E, por
fim, abordaremos a atuação em diferentes segmentos como construção civil.

No Tópico 3, discutiremos as implicações de um trabalho com postura sedentária,


e iremos explorar a nova modalidade de trabalho em home office. Por fim, abordaremos
os trabalhos mistos, que incluem os profissionais da saúde como odontólogos,
fisioterapeutas e enfermeiros. Interessante, não é mesmo? Vamos lá!

2 EXCESSO DE CARGA E IMPLICAÇÕES


A exposição às cargas de trabalho pode desencadear problemas de saúde
entre os trabalhadores. O limite de carga máxima no trabalho pode ser calculado com
base na frequência cardíaca do trabalho (FCT) ou pela Carga Cardiovascular (CCV).
O limite de aumento da Frequência Cardíaca durante o trabalho, aceitável para uma
“performance” contínua, é de 35 e 30 batimentos por minuto (bpm), no homem e na
mulher, respectivamente. Isso significa que o limite é atingido quando a frequência
cardíaca média do trabalhador estiver 35 bpm acima da Frequência Cardíaca Média de
Repouso (FCR) (FIEDLER, 1998).

95
A carga cardiovascular corresponde à percentagem da frequência cardíaca do
trabalho, em relação à frequência cardíaca máxima utilizável, não devendo ultrapassar
40% da frequência cardíaca do trabalho (FIEDLER, 1998).

O aparecimento de sintomas de fadiga por sobrecarga física depende do


esforço desenvolvido, da duração do trabalho e das condições individuais, como estado
de saúde, nutrição e condicionamento decorrente da prática da atividade.

À medida que aumenta a fadiga, reduz-se o ritmo de trabalho, atenção e rapidez


de raciocínio, tornando o operador menos produtivo e mais sujeito a erros e acidentes
(SILVA, 1999).

Segundo Fiedler (1998), um trabalho que exige frequência cardíaca média


inferior a 75 batimentos por minuto deve ser classificado como muito leve, de 75 a 100
como leve, de 101 a 125 como medianamente pesado, de 126 a 150 como pesado e,
acima de 151, extremamente pesado.

2.1 RECOMENDAÇÕES AO TRABALHO COM CARGA


Nessa perspectiva, existem tabelas de recomendação para o levantamento
e transporte de cargas, considerando sexo, idade, frequência de levantamento e
movimento realizado.

No Brasil, adota-se a tabela publicada na Norma Regulamentadora 17 (NR-


17), segundo a qual, o limite para transporte e descarga individual de peso é de 60 kg,
enquanto que, para o levantamento, o limite máximo é de 40 kg (BRASIL,1994).

No entanto, os dados da NR-17 não correspondem aos critérios da OIT


(Organização Internacional do Trabalho), que leva em conta as diferenças entre sexo,
idade e frequência de realização da tarefa.

A OIT considera que, para o levantamento de uma carga de 25 kg (15 kg a me-


nos do que o recomendado pela NR-17), a compressão intradiscal entre a IV e a V vérte-
bras lombares (L4 e L5) é considerada de grande magnitude e, portanto, de risco para o
trabalhador. O conflito nesses dados indica a dificuldade de se estabelecer um limite de
carga para a realização (VANÍCOLA; MASSETO; MENDES, 2004).

A sobrecarga imposta aos discos intervertebrais da coluna já foi muito estudada


pela Biomecânica. O aumento da pressão exercida no disco na manutenção de uma
postura estática para a realização de uma tarefa é um dos fatores que contribui para a
degeneração discal.

96
Nessa situação, o disco intervertebral fica exposto ao risco de perda ou diminui-
ção da elasticidade e resistência, o que pode levar à degeneração precoce e aumentar
a probabilidade de ocorrência de hérnia discal (VANÍCOLA; MASSETO; MENDES, 2004).

2.2 CONSTRUÇÃO CIVIL


Diferenças de pressão intradiscal, que podem ser originadas a partir de
solicitações excessivas impostas à coluna vertebral, esforços de flexão (levantamento
e transporte), esforço excessivo na manipulação ou trabalho físico pesado (empurrar,
puxar, empilhar) e/ou esforço inadequado (rotação do tronco, inclinações laterais e
outras) também são situações consideradas nocivas por oferecerem risco à coluna
vertebral (PEINADO, 2019).

Inúmeras são as atividades na construção civil em que os trabalhadores


podem adotar posturas inadequadas. Como exemplo, pode-se citar o uso de enxadas,
elevação de paredes de alvenaria, execução de regularização de piso, execução de
revestimentos argamassados, assentamento e rejuntamento de pisos, dentre outros
serviços (PEINADO, 2019).

De acordo com Dul e Weerdmeester (2004), as posturas ou movimentos


inadequados geram tensões mecânicas nos músculos, ligamentos e articulações,
que podem resultar em dores no pescoço, costas, ombros, punhos e outras partes do
sistema musculoesquelético.

FIGURA 6 – POSTURA DA CONSTRUÇÃO CIVIL

FONTE: <https://www.sonoticias.com.br/geral/pedreiro-obras-construcao-civil-1-junho-de-2018-
divulgacao/>. Acesso em: 10 set. 2021.

97
A realização de atividades com posturas inadequadas pode provocar fadiga
muscular e lesões no corpo do trabalhador. A coluna vertebral do ser humano constitui-
se de vértebras, ligamentos, músculos e discos intervertebrais. Intercalado entre as
vértebras estão os discos, os quais estão relacionados com as funções de amortecimento
de pressões e sustentação de peso. Os discos variam de formato e espessura ao longo da
coluna, e possuem o formato de cunha nas regiões da cervical e lombar. As curvaturas
côncavas existentes nessas regiões permitem que a coluna exerça com precisão suas
funções de flexibilidade e rigidez (VANÍCOLA; MASSETO; MENDES, 2004).

FIGURA 7 – COLUNA VERTEBRAL

FONTE: <https://www.prevenir.pt/paciente-inteligente/corpo-humano/a-coluna-vertebral/>.
Acesso em: 10 set. 2021.

O disco intervertebral constantemente se encontra submetido à pressão


devido à posição adotada entre as duas vértebras. Essa pressão será menor ou maior,
dependendo da postura adotada pelo indivíduo e a sobrecarga, advinda de pesos
adicionais, a que a sua coluna está exposta.

98
Segundo Knoplich (1986), uma pressão repetitiva e frequente sobre os discos,
mesmo que não seja intensa, pode ocasionar a aceleração de sua degeneração, levando
à perda da propriedade de amortecimento.

Nas posturas que exigem torções de tronco, o efeito é o tensionamento dos


discos existentes entre as vértebras, a carga assimétrica que exigem das articulações
e músculos existentes nos dois lados da coluna, e ainda, as posturas prolongadas e
movimentos repetitivos por tempo prolongado, que podem causar lesões localizadas,
resultando em fadiga muscular (COUTO, 1995).

Na construção civil, o trabalhador realiza tal tipo de movimento rotineiramente


em suas atividades. Por exemplo, no caso da atividade de execução de alvenaria. A
argamassa e os blocos cerâmicos, quando dispostos sem análise da altura ideal que
esses materiais deveriam estar dispostos para o trabalhador, geram como consequência
a necessidade dele flexionar o tronco, e muitas vezes também o rotacionando, visto
que tais materiais, em geral, ficam posicionados em paralelo ao local de assentamento,
repetindo tais posturas inúmeras vezes no decorrer do dia (PEINADO, 2019).

Uma solução ergonômica simples a ser adotada para esse caso é a elevação da
argamasseira a uma altura próxima aos cotovelos do trabalhador, evitando o contínuo
abaixar e levantar para alcançar a quantidade de argamassa necessária, diminuindo
assim, a flexão do tronco.

Para isso, podem-se utilizar sobras de madeira das fôrmas da estrutura para
se fazer um suporte; no entanto, sugere-se avaliar a possibilidade de uma porta-
argamasseira de altura regulável, pois permitiria ao trabalhador ajustá-la as suas
características antropométricas.

Nesse caso, a argamasseira deve estar em altura adequada, bem como se deve
utilizar uma bancada para apoiar os blocos cerâmicos. Desse modo, o pedreiro pode
apanhar o bloco com uma das mãos e a argamassa com a outra, mantendo-se em pé
sem se curvar, curvando-se somente para assentar os blocos nas fiadas mais próximas
ao piso, pois é inevitável (PEINADO, 2019).

Outro exemplo de atividade em que se observa a necessidade de flexão e


torção de coluna é na execução de revestimento argamassado utilizando a colher de
pedreiro. Se a argamasseira estiver disposta na altura incorreta, gerará a necessidade
de o trabalhador precisar se abaixar, flexionando o tronco, e muitas vezes também
de rotacioná-lo, fazendo o movimento em sentido inverso, ao lançar a argamassa na
parede (PEINADO, 2019).

99
Uma solução ergonômica simples a ser adotada para esse caso é a elevação
da argamasseira a uma altura próxima aos cotovelos do trabalhador. Uma solução
tecnologicamente mais avançada é a adoção de máquinas que projetam a argamassa,
diminuindo o esforço do trabalhador, o que exige um maior investimento, mas em
contrapartida traz retorno à empresa com o aumento de produtividade.

Uma postura inadequada adotada pelo trabalhador é a manutenção por perío-


dos prolongados da postura de elevação dos braços acima da altura dos ombros, visto
que, de acordo com Couto (2005), todos os movimentos extremos do ombro somente
podem ser feitos poucas vezes e contra pequena resistência.

Caso contrário, pode gerar desconforto e fadiga, além de oferecer risco,


dependendo da duração e frequência dos movimentos. Tal postura pode ser verificada em
atividades, como a elevação de alvenaria e a execução de revestimentos argamassados
e cerâmicos. Nessas situações, o aumento da altura da parede em construção, ou
do local a ser revestido, pode apresentar uma dificuldade de alcance, exigindo que o
trabalhador eleve seus braços acima da altura de seus ombros. Isso pode ocorrer devido
ao fato de o trabalhador não ter a sua disposição um andaime na altura adequada, ou
um complemento disponível para o andaime (PEINADO, 2019).

Nesse sentido, convém fazer pausas regulares ou rodízio de atividades, de modo


a diminuir o tempo em que se mantém tal postura. Dul e Wenermeeester (2004) afirmam
que a movimentação e levantamento de cargas são responsáveis por grande parte dos
problemas musculares em trabalhadores.

Aproximadamente, 60% das lesões musculares decorrem de levantamento de


cargas e 20% da atividade de puxar ou empurrar. Em relação a lesões na coluna, segundo
Wirhed (1986 apud PEINADO, 2019), o levantamento de objetos pesados provoca uma
pressão elevada no disco intervertebral, podendo romper o anel fibroso que serve como
um amortecedor para as vértebras da coluna cervical.

Os principais problemas que podem acometer os trabalhadores devido à


frequente movimentação e transporte de carga são dor lombar e deformações vertebrais.
Nessa perspectiva, é imprescindível que os trabalhadores recebam treinamento sobre a
postura correta para o levantamento e transporte manual de cargas, quando necessário,
e passem a conhecer e aplicar as formas adequadas de trabalhar nessas condições.
Os trabalhadores e gestores devem ter a consciência dos riscos de tal atividade, que
quando realizada de forma inadequada, gerará para ambos.

100
2.3 ATIVIDADES DE FABRICAÇÃO DE MÓVEIS
A utilização de máquinas na fabricação de móveis em madeira exige uma carga
física considerada. Um estudo realizado constatou que a maior carga física de trabalho
dos funcionários é na desengrossadeira, a plaina e a serra circular (FIEDLER et al., 2003).

Os operadores têm a atividade classificada como medianamente pesada. Todas


as outras atividades do processo são classificadas como leves. Porém, é importante
destacar que deve-se permitir um maior percentual de pausas voluntárias no trabalho
para descanso, principalmente das pernas, já que quase todas as atividades são
executadas na posição em pé.

Os trabalhadores das marcenarias devem ser especializados em mais funções,


para permitir um maior rodízio entre eles nas funções de maior e de menor exigência
física (FIEDLER et al., 2003).

3 IMPLICAÇÕES DE POSTURAS, MOVIMENTOS E CONDIÇÕES


ADVERSAS DURANTE ATIVIDADES SEDENTÁRIAS
Novas configurações no mundo global imprimem diferentes modificações nos
processos de trabalho, rotinas e gestão da informação. Cada vez mais, as atividades
laborais estão ligadas a posturas sedentárias e dependentes de tecnologias.

Uma modalidade de trabalho que surgiu na década de 1970 do último século


está o home office, trabalho realizado a partir da própria residência, que tem obtido maior
proeminência nos últimos anos, principalmente com o advento da pandemia em 2019.

Nesse sentido, iremos discutir as principais consequências ergonômicas dessa


ocupação, vamos lá?

3.1 IMPLICAÇÕES FÍSICAS E PSICOLÓGICAS DO TRABALHO


HOME OFFICE
A modalidade de trabalho home office se caracteriza pela inserção em um es-
paço, sem tamanho ou propriedades definidas, destinado somente a atividades profis-
sionais e localizado na residência do trabalhador, sendo facultativo o uso de tecnologias
informacionais para a realização das atividades (ELLISON, 1999; LIM; TEO, 2000).

101
O trabalho em home office e o teletrabalho, em geral, têm se disseminado
como meios de trabalho eficientes e viáveis. São considerados modelos adaptados aos
avanços tecnológicos e equivalentes quanto aos ganhos e às perdas de empregados e
empregadores; um modo de trabalho a ser amplamente realizado 'no futuro' (RAFALSKI;
ANDRADE, 2015).

FIGURA 8 – HOME OFFICE

FONTE: <https://bynd.com.br/2020/04/vantagens-do-home-office-para-a-empresa/>.
Acesso em: 10 set. 2021.

FIGURA 9 – DICAS HOME OFFICE

FONTE: <https://tvlagartixa.blogspot.com/2015/08/dica-do-dia_29.html>. Acesso em: 30 jul. 2021.

102
A adaptação ao ambiente de trabalho, além de uma negociação com a família,
em termos dos costumes e do espaço para realização da atividade, reforça o imperativo
da formulação de rotinas que equilibrem a realidade do trabalho a partir de casa e partam
da realidade do trabalhador. Por estar em processo de inserção e consolidação no cenário
brasileiro, o home office encontra entraves, como a falta de apoio, de reconhecimento e
de incentivo à adaptação.

De forma semelhante, a cultura vigente no Brasil tende a compreender o


trabalho a partir de casa como uma atividade temporária e desqualificada, diminuindo a
aceitação por parte dos familiares e dos próprios trabalhadores.

Mudanças nos aspectos de socialização são uma das consequências resultantes


do trabalho em home office: trabalhar de casa promove a diminuição do contato pessoal,
direto e diário com pares e superiores e, em contrapartida, aumenta o contato com
familiares e cônjuges (RAFALSKI; ANDRADE, 2015).

3.2 TECNOLOGIA DA INFORMAÇÃO E ATENDENTES DE


TELEMARKETING
O profissional da tecnologia da informação (TI) constitui umas das ca-
tegorias de profissionais que se encontram em risco relativo à saúde física e mental. As
doenças ocupacionais mais comuns nesses profissionais são LER/DORT, problemas de
postura, problemas visuais, estresse.

Segundo a Norma Regulamentadora 17 (BRASIL, 2017, p. 375), “as condições


ambientais de trabalho devem: em todos os locais de trabalho deve haver
iluminação adequada, natural ou artificial, geral ou suplementar, apropriada à natureza
da atividade”.

Sempre que o trabalho puder ser executado na posição sentada, o posto de


trabalho deve ser planejado ou adaptado para esta posição.

Para trabalho manual sentado ou que tenha de ser feito em pé, as bancadas,
mesas, escrivaninhas e os painéis devem proporcionar ao trabalhador condições de boa
postura, visualização e operação e devem atender aos seguintes requisitos mínimos:

• Ter altura e características da superfície de trabalho compatíveis com o tipo de ati-


vidade, com a distância requerida dos olhos ao campo de trabalho e com a altura
do assento.
• Área de trabalho de fácil alcance e visualização pelo trabalhador.
• Características dimensionais que possibilitem posicionamento e movimentação ade-
quados dos segmentos corporais.

103
Para trabalho que necessite também da utilização dos pés, além dos
requisitos estabelecidos acima, os pedais e demais comandos para acionamento pelos
pés devem ter posicionamento e dimensões que possibilitem fácil alcance, bem como
ângulos adequados entre as diversas partes do corpo do trabalhador, em função das
características e peculiaridades do trabalho a ser executado.

Os assentos utilizados nos postos de trabalho devem atender aos seguintes


requisitos mínimos de conforto: altura ajustável à estatura do trabalhador e à natureza
da função exercida; características de pouca ou nenhuma conformação na base do
assento; borda frontal arredondada; encosto com forma levemente adaptada ao corpo
para proteção da região lombar.

FIGURA 10 – CADEIRA ERGONÔMICA

FONTE: <https://prevencaocuritiba.com.br/solucoes-seguranca-do-trabalho/ergonomia-nr-17/>.
Acesso em: 10 set. 2021.

Para as atividades em que os trabalhos devam ser realizados sentados, a partir


da análise ergonômica do trabalho, poderá ser exigido suporte para os pés, que se
adapte ao comprimento da perna do trabalhador.

Para as atividades em que os trabalhos devam ser realizados de pé, devem ser
colocados assentos para descanso em locais em que possam ser utilizados por todos os
trabalhadores durante as pausas.

104
FIGURA 11 – ASSENTOS PARA DESCANSO

FONTE: <https://sstemexercicios.wixsite.com/concursos/single-post/2018/01/13/trabalha-em-
p%C3%A9-conhe%C3%A7a-os-seus-direitos>. Acesso em: 10 set. 2021.

Quanto às mesas de trabalho, as dimensões devem atender às características


antropométricas do usuário, do local e do trabalho a ser realizado. O mouse deve ficar
ao lado e no mesmo nível do teclado, com espaço em torno do teclado suficiente para
apoio dos punhos nos intervalos da digitação.

A altura do teclado e do mouse deve garantir que a digitação se dê com ombros


e braços relaxados, braços ao longo o corpo, ângulo dos cotovelos igual ou ligeiramente
maior de 90°; pode variar entre 60 e 74 cm de altura.

Teclado e mouse não podem ficar mais altos do que os cotovelos. A avaliação
da altura ideal deve levar em conta a regulagem da altura do assento da cadeira. Após
a regulagem da altura da cadeira deve-se garantir apoio confortável dos pés do
usuário preferencialmente no chão, ou em suporte (ORSELLI, 2011).

Suporte retrátil, geralmente, é útil para garantir a adequação da altura do teclado


e do mouse; deverá ter no mínimo 65 cm de comprimento e profundidade suficiente para
garantir 30 cm de área útil, instalado abaixo do tampo da mesa (ORSELLI, 2011).

Apoio adequado aos pés do usuário é importante para a adoção de posturas


corporais corretas; um suporte para os pés dos trabalhadores de baixa estatura pode
ser necessário quando não for possível adequar a altura do suporte de teclado e mouse
(ORSELLI, 2011).

105
Deve haver espaço suficiente para as pernas embaixo da mesa, evitando a
colocação da CPU, de impressoras ou outros materiais.

FIGURA 12 – POSTURA EM FRENTE AO COMPUTADOR

FONTE: <http://direitosbrasil.com/wp-content/uploads/2016/09/nr17.jpg>. Acesso em: 30 jul. 2021.

Já quando falamos de operadores das centrais de atendimento telefônico, área


que também está em franca expansão no Brasil e no mundo, envolvendo cerca de 550
mil trabalhadores em nosso país, pode-se destacar a relação ao sofrimento mental,
sintomas de fadiga, tensão nervosa, cefaleias, insônias, dificuldades para refletir e para
fixar sua atenção.

No Brasil, vários autores, como Assunção e Souza (2000), Abrahão (2000),


Fernandes (2002), Glina e Rocha (2003) descreveram os fatores de estresse no trabalho
e repercussões sobre a saúde mental do trabalho das telefonistas e operadores de
telemarketing. Quanto aos DORT, o trabalho em telemarketing envolve a utilização
intensiva de microcomputadores, permitindo grande intensificação do trabalho e
agregando riscos associados ao trabalho com computadores às exigências mentais e
comunicacionais características das tarefas desses trabalhadores.

Vários estudos relacionam sintomas osteomusculares dos ombros, pescoço


e membros superiores com o aumento de pressão gerencial e de carga de trabalho,
incluindo rotinas de trabalho com poucas oportunidades de tomada de decisões,
altas demandas de processamento de informações, posturas desconfortáveis pelo
mobiliário, temperaturas inadequadas e número reduzido de pausas (HALES et al., 1994;
HOEKSTRA et al., 1995; ROCHA et al., 2005; FERREIRA; SALDIVA, 2002).
106
3.3 IMPLICAÇÕES EM ATIVIDADES EM PROFISSIONAIS
DA SAÚDE
O desgaste inerente à tarefa dos profissionais da saúde tem sido motivo
de preocupação há mais de duas décadas, e esta questão tem se tornado cada vez
mais relevante, principalmente pelo grau de importância da função social que estes
profissionais exercem em suas comunidades (MACEDO, 2004).

Na vida cotidiana, no trabalho e fora dele, as pessoas adotam posturas para


o desenvolvimento de atividades e para o descanso. Essas posturas podem produzir
cargas adequadas para a manutenção da saúde e do sistema musculoesquelético, ou
podem ser excessivas ou mesmo insuficientes, levando a distúrbios nesse sistema (RIO;
PIRES, 2001).

Distúrbios musculoesqueléticos são muito comuns em cirurgiões-dentistas,


principalmente devido à posição de trabalho. O posicionamento da cabeça do paciente
sempre muito próxima ao operador e a pequena área de trabalho que é a cavidade bucal
fazem com que o profissional adote posturas estáticas inflexíveis, laboriosas e prolongadas.

FIGURA 13 – POSTURA DO ODONTÓLOGO

FONTE: <https://pt.dreamstime.com/ergonomia-dental-pose-errada-e-correta-do-assento-
image113097260>. Acesso em: 30 jul. 2021.

Como consequência disso, é frequente o aparecimento de lesões de esforço


repetitivo ou doenças osteomusculares relacionadas ao trabalho (LER/DORT), derivadas
de atividades profissionais em que o esforço repetitivo é uma constante, onde há grande
demanda muscular por várias horas diárias.

107
É de extrema importância que o cirurgião-dentista se conscientize dos meios
de prevenção dessas patologias, visto que apresenta grande susceptibilidade para
desenvolver esses tipos de doenças, devendo se atentar aos primeiros sinais e sintomas
para que o tratamento seja feito o mais precocemente possível, aumentando assim o
tempo de exercício da profissão e a qualidade de vida profissional.

Grande parte das vezes, os distúrbios osteomusculares passam despercebidos


e o profissional acaba se acostumando com a dor ou incômodo, esquecendo-se dos
cuidados com a própria saúde.

A ergonomia aplicada à odontologia tem como propósito reduzir o estresse


cognitivo e físico, bem como o de prevenir as doenças relacionadas ao exercício da
profissão, por meio de adequações do ambiente de trabalho e da otimização do
atendimento, eliminando passos desnecessários para a execução dos procedimentos,
uma vez que o profissional, quando confortável em seu trabalho, consegue prevenir
distúrbios musculoesqueléticos, melhorar sua qualidade de vida e proporcionar mais
conforto ao paciente (SALIBA et al., 2016).

O cirurgião-dentista deve, durante o procedimento odontológico, sentar-se no


mocho simetricamente ereto e o mais para trás possível. Essa postura deve permitir
que o osso esterno esteja um pouco avançado e levantado, já os músculos abdominais
devem estar suavemente comprimidos. As costas ficam apoiadas na parte posterior dos
ossos da bacia, isso fará com que ele consiga permanecer em posição ereta (SALIBA et
al., 2016).

Durante os procedimentos pode observar-se a diminuição do ângulo formado


entre a parte posterior da coxa e a panturrilha do operador, e uma maior angulação do seu
pescoço. A força exercida para a exodontia faz com que o operador eleve demasiado seu
antebraço, podendo levar a problemas tardios em todos os músculos superiores, bem
como dores imediatas devido à sobrecarga. Para prevenir lesões osteomusculares nos
procedimentos de cirurgia, o cirurgião-dentista deve posicionar sua perna formando,
entre a parte posterior da coxa e a panturrilha, um ângulo de 110° ou um pouco mais,
mantendo-a levemente esticada (SALIBA et al., 2016).

108
FIGURA 14 – POSTURA DE EXODONTIA

FONTE: <https://www.novafisio.com.br/analise-das-posturas-criticas-de-cirurgioes-dentistas/>.
Acesso em: 10 set. 2021.

Os membros superiores devem sempre estar ao lado do corpo e levemente à


frente do tronco durante o atendimento, essa posição irá minimizar o peso fixo dos om-
bros e dos membros superiores. Todos os movimentos devem ser minimizados, sendo
que os laterais devem ficar entre 15°e 20°, já os frontais podem se estender até os 25°.
Os antebraços podem ser elevados de 10° a 25°. O local correto para o pedal é sempre
próximo ao pé de acionamento, preferencialmente a frente deste, para que não haja
necessidade de movimentar o pé lateralmente durante a operação (SALIBA et al., 2016).

Para muitos autores, os trabalhadores de enfermagem são especialmente


suscetíveis a lesões nas costas pelo fato de terem que movimentar e transportar
pacientes regularmente. A maioria dos episódios de lombalgia entre a equipe de
enfermagem ocorre durante a movimentação de pacientes.

Contudo, Harber et al. (apud ALEXANDRE; BENETTI, 1998) investigaram fa-


tores pessoais e de trabalho associados com a ocorrência de dores nas costas entre
enfermeiras de hospitais, e verificaram que as atividades que não envolvem o conta-
to direto com pacientes podem ser as principais colaboradoras no desenvolvimento
deste problema.

109
FIGURA 15 – POSTURA ADEQUADA DO ENFERMEIRO AO FAZER MUDANÇA DE DECÚBITO

FONTE: <http://www.eerp.usp.br/movpac/estudar/regras/index03.html>. Acesso em: 30 jul. 2021.

É importante discutirmos o levantamento de peso excessivo, no Brasil, o


dispositivo que rege essa matéria é a Norma Regulamentadora n° 17, como já discutimos
anteriormente. Contudo, os estudos são voltados para trabalhadores de indústrias e
existem poucas pesquisas que procuram utilizar destas novas abordagens ergonômicas
na questão da movimentação e transporte de pacientes.

Porém, há associação entre os problemas na coluna vertebral com a


movimentação de pacientes acamados e com o excesso de esforço físico ao
transportá-los. Já se sabe, inclusive, que durante a realização desses procedimentos,
o peso levantado por funcionários de enfermagem iguala-se ou mesmo excede as
recomendações (ALEXANDRE; BENETTI, 1998).

Além disso, são realizados sob condições desfavoráveis, com uma equipe
insuficiente e com equipamentos inadequados e sem manutenção. Para avaliar a
manipulação de um paciente, além de todas as variáveis já citadas, deve-se pensar em
fatores como disponibilidade de auxílios mecânicos; tipos de transportes; equipamentos
utilizados; espaço físico disponível; e, finalmente, não se pode esquecer da segurança e
conforto do próprio paciente.

É importante ressaltar que o pessoal de enfermagem provavelmente está


levantando cargas excessivas tanto ao movimentar e transportar pacientes, como
quando mobiliza determinados materiais e equipamentos. Entre estes, pode-se citar:
monitores, respiradores, caixas com frascos de soro, galões, pesos para tração e sacos
de roupas (ALEXANDRE; BENETTI, 1998).

Além disso, outro fator que auxilia no desenvolvimento de lesões é o


levantamento, na posição incorreta, de pesos abaixo dos limites permissíveis. Isso
ocorre quando uma pessoa levanta uma carga com os membros inferiores estendidos
e o dorso encurvado.

110
Ainda, é importante destacar aos profissionais da enfermagem, a necessidade
de obter condições seguras do solo, posicionar os pés corretamente, evitar movimentos
de torção do eixo vertical do corpo e segurar a carga usando totalmente as mãos.

É importante observar se o trabalhador de enfermagem está manuseando cargas


e pacientes de um modo correto e, também, obter informações se este pessoal recebeu
treinamento quanto aos métodos de trabalho que deverá utilizar para salvaguardar sua
saúde e prevenir acidentes.

Segundo Couto (1995), o efeito do esforço físico crônico sobre a coluna


vertebral é semelhante ao processo de envelhecimento: há degeneração do disco, com
diminuição do conteúdo de água do mesmo. Em consequência, as vértebras tornam-se
aproximadas, e a coluna vertebral fica diminuída de tamanho.

Ao discutir aspectos fisiológicos e mecânicos do disco intervertebral, Kapandji


(2000, p. 31) fez as seguintes observações:

Se a aplicação de cargas e descargas sobre o disco são repetidas de


um modo demasiado próximo no tempo, o disco não tem tempo para
recuperar a sua espessura inicial. Também se cargas e descargas
repetem-se de maneira demasiado prolongada, mesmo com a espera
do tempo de recuperação necessário, o disco não recupera sua
espessura inicial. Observa-se aqui um fenômeno de envelhecimento.

Dentro desse contexto, é importante ressaltar que a equipe de enfermagem, além


de executar atividades que produzem tensão emocional, também está sujeita a causas
não ocupacionais.

Apesar de a fisioterapia ser uma profissão cujo objetivo maior é promover a


saúde do indivíduo, na maioria dos ambientes de trabalho, as condições ergonômicas
são precárias, o que proporciona a execução de tarefas de trabalho que induzem danos
a sua própria condição física no atendimento a seus pacientes (PERES, 2002).

O fisioterapeuta, para desenvolver sua função, utiliza-se de meios de trabalho


muito simples. O principal instrumento de trabalho é seu próprio corpo, para tanto, ele
precisa ter boa flexibilidade, força muscular e posicionar-se adequadamente.

Segundo Peres (2002), a fisioterapia é a ciência da saúde que estuda, previne e


trata os distúrbios cinéticos funcionais, intercorrentes em órgãos e sistemas do corpo
humano, gerados por alterações genéticas, por traumas e por doenças adquiridas.

O fato de os fisioterapeutas trabalharem com a reabilitação de pacientes


altamente dependentes e de sobrecarga física, induz à participação desses profissionais
em um grupo de alto risco de comprometimentos musculoesqueléticos desde o início de
sua carreira profissional.

111
Dessa forma, acaba exigindo do profissional fisioterapeuta um maior
condicionamento físico, pois este irá impor ao seu organismo posturas, sobrecargas,
tensões e estresse, durante todo o atendimento (LIANZA, 1995).

Pode-se observar, na prática diária do processo de reabilitação física


neurológica, que essas características adotadas tendem a ser intensas do que em
qualquer área de atendimento fisioterápico, uma vez que se trata de pacientes e/ou
totalmente dependentes, que apresenta distúrbio como a falta de controle postural
e equilíbrio, déficits de programação motora, diminuição de flexibilidade e outras
alterações fisiológicas.

FIGURA 16 – FISIOTERAPEUTA NEUROFUNCIONAL

FONTE: <http://clinicaortoped.com.br/index.php/blog/29-fisioterapia-neurologica-ou-
neurofuncional-o-que-e>. Acesso em: 30 jul. 2021.

Devido a essas alterações fisiológicas, o fisioterapeuta necessita realizar um


esforço físico maior ao executar o tratamento no paciente. É importante lembrar que
essas técnicas são realizadas com o paciente na altura do solo, sobre colchonetes,
tatames ou bolas. Isso exige que o fisioterapeuta realize excessivamente os movimentos
de flexão e extensão de tronco em oposição à força gravitacional.

Alguns estudos ressaltam que muitos dos problemas existentes no contexto


de trabalho do fisioterapeuta estão relacionados à ausência de padrões ergonômicos
e ausência de aplicação dos princípios de mecânica corporal, mesmo que esses
profissionais sejam detentores desses conhecimentos (SILVA; MEIJA, 2010).

Nas posturas assumidas pelo fisioterapeuta em seu dia a dia, é comum observar
posições como permanecer em pé por tempo prolongado, muitas vezes com inclinação
de tronco sobre o paciente para realização das atividades de manipulação ou utilização
de equipamentos, realizar agachamento, levantamento, ficar ajoelhado ou ainda
permanecer em posição estática.

112
FIGURA 17 – POSTURA AGACHADA DO FISIOTERAPEUTA

FONTE: <https://www.clinicaneuroreab.com/therasuit>. Acesso em: 30 jul. 2021.

Segundo Peres (2002), as atividades desenvolvidas pelos profissionais


exigem padrões posturais que podem contribuir para o surgimento dos distúrbios
osteomusculares. Nesta circunstância, os profissionais que atuam nessa área estão
mais propícios a desenvolver quadros sintomatológicos, sendo necessário adotar um
programa de prevenção para que minimize o aparecimento desagradável induzida por
estímulos nocivos e geralmente recebido por terminações nervosas.

Programas como exercícios de fortalecimento, entre outros, visa a uma melhor


condição física, promovem adaptações fisiológicas, físicas e psíquicas, por meio de
exercícios adequados ao ambiente de trabalho (LIMA, 2003).

Isso possibilita uma melhora no desempenho laboral do profissional, diminuindo


a possibilidade de adquirir algumas patologias provenientes do trabalho realizado
durante seu atendimento em fisioterapia.

Para Deliberato (2002), as estratégias de prevenção estão na mudança dos


postos de trabalho, na diminuição da repetitividade e o uso do sistema de revezamento
das tarefas, no descanso durante a jornada de trabalho e a conscientização dos
trabalhadores pelas atividades educativas.

Os trabalhadores possuem uma tendência maior a se adaptar ao ambiente de


trabalho do que adequar esses ambientes as suas necessidades. A literatura aponta o
fisioterapeuta como um dos profissionais da área da saúde que mais sofrem carga física
durante suas atividades de trabalho, pelas posturas adotadas durante os atendimentos
aos seus pacientes (PERES, 2002).

Peres (2002 apud MIERZERJEWSKI; KUMAR, 1997; BORK et al., 1996; CROMIE;
ROBERTSON; BEST, 2000) afirma o aparecimento de sintomas de dores em membros
superiores e coluna vertebral por movimentos repetitivos e posturas inadequadas
durante as atividades de trabalho dos fisioterapeutas.
113
Os esforços repetitivos, trabalho estático, esforço físico intenso, ritmos
intensos de trabalho e posturas inadequadas estão presentes na maioria das atividades
profissionais, inclusive no trabalho do fisioterapeuta.

Essas condições de trabalho são causas para o aparecimento ou agravamento


de lesões, principalmente no sistema musculoesquelético (MAZIERO; ALMEIDA;
BAUMER, 2005). Segundo Romani (2001), a fisioterapia é uma profissão cujo exercício
implica em exigências do sistema musculoesquelético, como a força física dinâmica
e estática, movimentos repetitivos de membros superiores, manutenção de posturas
estáticas e movimentos não fisiológicos de coluna vertebral e membros.

Esses movimentos e posturas são descritos na literatura corrente como fatores


de risco para o desenvolvimento de DORT (INSS, 1997; RIO, 1999). O mesmo autor relata
que os desequilíbrios entre essas estruturas responsáveis pela postura adequada ou
alinhamentos defeituosos podem resultar em sobrecarga e tensão sobre os ossos,
articulações e músculos. Diante da realidade vivida pelos profissionais da saúde,
inclusive os fisioterapeutas, é explícito que em seu ambiente de trabalho, submete-
se a agressões, tornando-se um grande candidato a adquirir afecções e desta forma
provocar inquietação quanto à saúde do profissional, devido à falta de qualidade dos
serviços oferecidos aos seus pacientes, já que o fisioterapeuta tenderá a apresentar-
se desconfortável em sua plenitude de oferecer o melhor de si aos que entregam suas
esperanças de recuperação ou cura nas mãos dos que se propõem a essa missão
(CIARLINI et al., 2005).

A cada ano surgem novas queixas de Lesões por Esforço Repetitivo (LER) em
profissionais de fisioterapia, sendo importante conhecer a prevalência dessa disfunção
para detectar os fatores causais, lançando possíveis sugestões de medidas preventivas,
visando a uma melhoria na qualidade de saúde desse profissional (CIARLINI et al., 2005).

FIGURA 18 – ATUAÇÃO DO FISIOTERAPEUTA

FONTE: <https://secad.artmed.com.br/blog/fisioterapia/cuidados-retomada-sessoes-de-
fisioterapia/>. Acesso em: 30 jul. 2021.
114
Para Maziero, Almeida e Baumer (2004), quando um indivíduo apresenta uma
lesão por sobrecarga biomecânica ocupacional, os fatores etiológicos estão relacionados
à organização do trabalho e envolvem, sobretudo, os equipamentos, ferramentas,
acessórios e mobiliários inadequados; desrespeito aos posicionamentos, angulações e
distâncias dos mesmos; técnicas incorretas para a execução de tarefas; sobrecarga
biomecânica estática e dinâmica; uso de instrumentos com excessiva transmissão de
vibração; temperatura, ventilação e umidade inapropriadas no ambiente de trabalho. Os
mesmos autores relatam que o indivíduo pode apresentar lesões musculoesqueléticas
específicas sem que estejam relacionadas as suas atividades de trabalho.

FIGURA 19 – USO DE EQUIPAMENTOS PARA REDUZIR SOBRECARGA

FONTE: <https://nucre.com.br/conceito-mulligan-o-que-e-e-quais-os-beneficios/>.
Acesso em: 30 jul. 2021.

Assim, além das sobrecargas biomecânicas, outras causas devem ser consi-
deradas como potenciais agentes causais dessas enfermidades musculoesqueléticas.
Portanto, percebe-se que o ambiente em que o trabalhador está inserido tem crucial
importância no desenvolvimento de dores e DORT, mas convém abordar também o am-
biente psicológico, pois o estresse psicológico negativo também pode ser um fator de
risco para o desenvolvimento de tais distúrbios.

Os fisioterapeutas estão incluídos entre os grupos de risco para DORT, como


mostram os estudos epidemiológicos de Holder et al. (1999), com prevalência de 33% de
DORT em fisioterapeutas norte-americanos, e de Cromie et al. (2000), que detectaram,
entre profissionais australianos, 91% de DORT em algum momento de sua vida profissio-
nal. Bork et al. (1996) identificaram 17 fatores associados ao trabalho para o desenvolvi-
mento de DORT em fisioterapeutas e, Cromie et al. (2000) afirmaram que somente 16%
dos profissionais de fisioterapia australianos fazem algum tipo de prevenção para DORT.

115
A ocorrência acentuada desses distúrbios parece estar relacionada às cargas
físicas e psíquicas às quais esses profissionais estão expostos no ambiente de trabalho
(ROMANI, 2001). Em relação às regiões anatômicas de maior frequência de acometimento,
pôde-se identificar seis regiões: colunas lombar, torácica e cervical; ombro, punho e
dedos/polegar e cotovelo.

As três regiões com menor frequência foram quadril, joelho e tornozelo.


Dentre as regiões mais acometidas cabe destacar os distúrbios musculoesqueléticos
relacionados à coluna lombar, a qual apresentou maior prevalência em 7 dos 8 estudos
selecionados, com exceção apenas ao estudo realizado por Peres (2002).

As lesões em fisioterapeutas em início de carreira podem estar associadas a uma


menor experiência e um menor conhecimento e habilidade nos primeiros anos de carreira.
Cromie et al. (2000) acrescentam ainda a relutância desses jovens em pedir ajuda.

A massificação dos atendimentos, relacionada ao baixo valor repassado pelos


planos de saúde responsáveis pela maior demanda dos atendimentos, contribui
substancialmente para esse processo. Evidencia-se também a permanência no posto
de trabalho mesmo na presença da DORT.

IMPORTANTE
A OIT redigiu um documento que apresenta exemplos de violência e assédio
relacionados com o trabalho que foram denunciados em vários países no
contexto da Covid-19: “Convenção (N° 190) da OIT sobre a eliminação da
violência e do assédio no mundo do trabalho (2019): 12 contribuições
possíveis para a resposta à crise da COVID-19 e recuperação da pandemia”.

Que tal conferir? Disponível em: https://www.ilo.org/wcmsp5/groups/public/--


-dgreports/---gender/documents/publication/wcms_750461.pdf.

116
FIGURA – SÍNTESE DA OIT

FONTE: <https://www.ilo.org/wcmsp5/groups/public/---dgreports/---gender/documents/
publication/wcms_750461.pdf>. Acesso em: 10 set. 2021.

117
RESUMO DO TÓPICO 2
Neste tópico, você aprendeu:

• O limite de carga máxima no trabalho pode ser calculado com base na frequência
cardíaca do trabalho (FCT) ou pela carga cardiovascular (CCV). O limite de aumento da
frequência cardíaca durante o trabalho, aceitável para uma “performance” contínua,
é de 35 e 30 batimentos por minuto (bpm), no homem e na mulher, respectivamente.
Isso significa que o limite é atingido quando a frequência cardíaca média do
trabalhador estiver 35 bpm acima da frequência cardíaca média de repouso (FCR).

• Para trabalho manual sentado ou que tenha de ser feito em pé, as bancadas, mesas,
escrivaninhas e os painéis devem proporcionar ao trabalhador condições de boa postura,
visualização e operação e devem atender aos requisitos mínimos.

• A ocorrência acentuada desses distúrbios parece estar relacionada às cargas físicas


e psíquicas às quais esses profissionais estão expostos no ambiente de trabalho.

• É imprescindível que os trabalhadores recebam treinamento sobre a postura correta


para o levantamento e transporte manual de cargas, quando necessário, e passem a
conhecer e aplicar as formas adequadas de trabalhar nessas condições.

118
AUTOATIVIDADE
1 O monitoramento da exposição dos trabalhadores às cargas de trabalho, dos
processos de desgastes gerados e suas consequências é uma medida que
transcende à promoção e proteção da saúde. Sobre trabalhos com carga, assinale
a alternativa CORRETA:

a) ( ) Na Norma Regulamentadora 17 (NR- 17), o limite para transporte e descarga


individual de peso é de 60 kg, enquanto que, para o levantamento, o limite
máximo é de 40 kg.
b) ( ) Na Norma Regulamentadora 17, o limite de carga e descarga é de 80 kg para
homens e 60 kg para mulheres.
c) ( ) Segundo a Organização Internacional do Trabalho, fatores como gênero, idade e
antropometria não são necessários para avaliar a quantidade de peso tolerada
pelo trabalhador.
d) ( ) O recomendado pela Organização Internacional do Trabalho é seguido pela NR-
17, norma que regulamenta esse tipo de trabalho no Brasil.

2 A ergonomia para considerado sedentário é indispensável para evitar dores na


coluna, pescoço e ombro. Nesse contexto, a postura e os movimentos realizados
para desenvolver uma determinada atividade são fundamentais na ergonomia
ocupacional tanto quanto o mobiliário utilizado. Sobre trabalhos com sedentários,
assinale a alternativa CORRETA:

a) ( ) É preciso ter altura e características da superfície de trabalho compatíveis com o


tipo de atividade, com a distância requerida dos olhos ao campo de trabalho
e com a altura do assento
b) ( ) A altura do computador, por exemplo, deve estar alinhado com os ombros e deve
seguir um padrão para todos os profissionais.
c) ( ) A área de trabalho não necessita ser funcional, com alcance sem necessidade de
levantar e sem visualização pelo trabalhador.
d) ( ) As características dimensionais devem ser padronizadas rigidamente sem
necessidade de adequação dos segmentos corporais.

119
3 A eficácia de uma intervenção ergonômica depende de sua capacidade de controlar ou
amenizar os fatores de risco das lesões/distúrbios musculosesqueléticos. É de grande
importância que o fisioterapeuta adote medidas visando à ergonomia no ambiente
de trabalho. Porém, muitas vezes, o próprio fisioterapeuta adota algumas posturas
prejudiciais a sua prática cotidiana. Nesse sentido, analise as sentenças a seguir:

I- O fato de os fisioterapeutas trabalharem com a reabilitação de pacientes altamente


dependentes e de sobrecarga física induz à participação desses profissionais em um
grupo de alto risco de comprometimentos musculoesqueléticos desde o início de
sua carreira profissional.
II- As lesões em fisioterapeutas ocorrem após 20 anos de carreira, normalmente, podem
estar associada a uma maior experiência e um maior conhecimento e habilidade.
III- A ocorrência acentuada desses distúrbios parece estar relacionada às cargas físicas
e psíquicas às quais esses profissionais estão expostos no ambiente de trabalho

Assinale a alternativa CORRETA:


a) ( ) As sentenças I e II estão corretas.
b) ( ) Somente a sentença II está correta.
c) ( ) As sentenças I e III estão corretas.
d) ( ) Somente a sentença III está correta.

4 Home office é uma forma de relação de trabalho na qual o colaborador atua a distância,
e cada vez mais frequente no mundo moderno. Disserte sobre a importância da
adequação do ambiente de trabalho ao trabalhador em home office.

5 A fisioterapia é uma profissão cujo exercício implica exigências ao corpo do profissional,


que pode levar a lesões se o profissional não souber usar a biomecânica corporal a
seu favor. Nesse contexto, disserte sobre os riscos ocupacionais que envolvem os
profissionais fisioterapeutas.

120
UNIDADE 2 TÓPICO 3 -
VIGILÂNCIA EPIDEMIOLÓGICA NA SAÚDE
DO TRABALHADOR

1 INTRODUÇÃO
A Vigilância em Saúde do Trabalhador e da Trabalhadora (VISATT) é um
conjunto de ações feitas sempre com a participação dos trabalhadores e articuladas intra
e intersetorialmente, de forma contínua e sistemática, com o objetivo de detectar,
conhecer, pesquisar e analisar os fatores determinantes e condicionantes da saúde
relacionados ao trabalho, cada vez mais complexo e dinâmico.

A partir dela surgiu a Rede de Atenção Integral à Saúde do Trabalhador (RENAST),


que é uma rede nacional de informação e práticas de saúde, organizada com o propósito
de pôr em prática as ações de vigilância, assistência e promoção da saúde, nas linhas de
cuidado da atenção básica, da média e alta complexidade, ambulatorial, pré-hospitalar
e hospitalar, sob a égide do controle social, nos três níveis de gestão do SUS.

Acadêmico, no Tópico 2, abordaremos os eixos de atuação da vigilância,


destacando o papel da RENAST e da Política Nacional de Saúde do Trabalhador.

Na sequência, falaremos dos Equipamentos de Proteção Individual e sua


importância na prevenção de acidentes. Vamos lá?

2 EIXOS DE ATUAÇÃO
O trabalho ou atividade laboral pode ser determinante e condicionante do processo
saúde-doença e assume grandes e profundas transformações no mundo. O mercado de
trabalho trouxe algumas problemáticas, como a precarização, os contratos por prazo
determinado ou intermitente, a terceirização de serviços, a degradação das condições
de trabalho e a negação de direitos previdenciários e trabalhistas historicamente
conquistados.

Nesse sentido, a VISATT surge para discutir e fiscalizar esse mercado, para
reduzir a morbimortalidade de trabalhadores e trabalhadoras nas mais diferentes
ocupações e formas de inserção no mercado de trabalho. Ela se divide em três eixos
complementares:

121
• Vigilância Epidemiológica: coordenação dos procedimentos técnicos para
sistematização da informação e a notificação compulsória das doenças e agravos
relacionados ao trabalho. Por meio do acompanhamento periódico de indicadores
de saúde e sistemas, como o de informação de agravos de notificação (SINAN-NET),
busca-se conhecer o perfil de morbimortalidade dos trabalhadores e trabalhadoras,
bem como o cruzamento com variáveis, tais como as atividade econômica e ocupação.
• Atenção à Saúde: objetiva a consolidação da Política Nacional de Saúde do
Trabalhador e Trabalhadora por meio do fortalecimento das ações dos Centros
de Referência em Saúde do Trabalhador (CEREST). Esses centros, comumente
de abrangência estadual ou regional, deixam de ser porta de entrada prioritária e
assumem o lugar de suporte e retaguarda técnica no seu território de abrangência.
Atuam como polo irradiador da cultura da centralidade do trabalho e produção social
no processo saúde-doença. Além disso, a Atenção à Saúde almeja a ampliação e
estímulo às ações do controle social, exercido, por exemplo, através das Comissões
Intersetoriais de Saúde do Trabalhador e da Trabalhadora (CISTT) vinculadas aos
respectivos Conselhos de Saúde.
• Vigilância dos Ambientes e Processos de Trabalho: compreendida como um
conjunto de ações interventivas; planejadas, executadas e avaliadas a partir da
análise dos agravos/doenças e de seus determinantes relacionados aos processos
e ambientes de trabalho; que visam atenuar ou controlar os fatores e as situações
geradoras de risco para a saúde dos trabalhadores. É a essência da ação de VISATT
e é desenvolvida por análises de documentos, entrevistas com trabalhadores
e observação direta do processo de trabalho (forma de trabalhar, relação do
trabalhador com os meios e processos de produção e da relação dos meios de
produção com o ambiente).

2.1 POLÍTICA NACIONAL DE SAÚDE DO TRABALHADOR E DA


TRABALHADORA – PNSTT
A Política Nacional de Saúde do Trabalhador e da Trabalhadora – PNSTT – tem
como finalidade definir os princípios, as diretrizes e as estratégias a serem observados
pelas três esferas de gestão do SUS, para o desenvolvimento da atenção integral à
saúde do trabalhador, com ênfase na vigilância, visando à promoção e à proteção da
saúde dos trabalhadores e à redução da morbimortalidade decorrente dos modelos de
desenvolvimento e dos processos produtivos (BRASIL, 2017).

Todos os trabalhadores, homens e mulheres, independentemente de sua


localização, urbana ou rural, de sua forma de inserção no mercado de trabalho, formal
ou informal, de seu vínculo empregatício, público ou privado, assalariado, autônomo,
avulso, temporário, cooperativado, aprendiz, estagiário, doméstico, aposentado ou
desempregado são sujeitos desta Política.

Uma das estratégias da PNSTT é a estruturação da Rede Nacional de Atenção In-


tegral à Saúde do Trabalhador – RENAST – no contexto da Rede de Atenção à Saúde – RAS.

122
DICAS
Vamos conhecer essa política na íntegra? Ela está disponível no link: https://bvsms.saude.
gov.br/bvs/saudelegis/gm/2012/prt1823_23_08_2012.html.

2.2 REDE NACIONAL DE ATENÇÃO INTEGRAL À SAÚDE DO


TRABALHADOR (RENAST)
A Rede Nacional de Atenção Integral à Saúde do Trabalhador, RENAST, foi criada
em 2002, por meio da Portaria n° 1.679/GM, com objetivo de disseminar ações de saúde do
trabalhador, articuladas às demais redes do Sistema Único de Saúde – SUS.

Com a definição da Política Nacional de Saúde do Trabalhador em 2005 (BRASIL,


2005), a RENAST passou a ser a principal estratégia da organização da ST no SUS, sob
a responsabilidade da então Área Técnica de Saúde do Trabalhador do Ministério da
Saúde, hoje Coordenação Geral da Saúde do Trabalhador – CGSAT.

A RENAST compreende uma rede nacional de informações e práticas de


saúde, organizada com o propósito de implementar ações assistenciais, de vigilância,
prevenção, e de promoção da saúde, na perspectiva da ST. Em sua atual formatação
institucional, prevista na Portaria n° 2.728 de 11 de novembro de 2009, a RENASt deve
integrar a rede de serviços do SUS por meio de Centros de Referência em Saúde do
Trabalhador (CEREST). Além disso, elabora protocolos, linhas de cuidado, e instrumentos
que favorecem a integralidade das ações, envolvendo a atenção básica, de média e alta
complexidade, serviços e municípios sentinela.

123
Essa portaria também estabelece que a RENAST seja implementada de forma
articulada entre o Ministério da Saúde (MS), as Secretarias de Saúde dos estados, o
Distrito Federal, e os municípios, com o envolvimento de outros setores também
participantes da execução dessas ações. Definida dessa forma, a RENAST se constitui em
uma complexa rede que se concretiza com ações transversais, que incluem a produção
e gestão do conhecimento, e todos os níveis e ações definidas. Grandes esforços e
avanços têm sido feitos para a institucionalização da rede, e para a formalização de
mecanismos de funcionamento, bem como a relação entre seus componentes.

FIGURA 20 – PROGRAMA DE REABILITAÇÃO DE TRABALHADORES

Esquema de interação dos atores envolvidos no Programa de Reabilitação de


Trabalhadores proposto pelo Cesat

INSS

Perícia Médica CRP

RENAST/
UNIVERSIDADE SUS
VIGILÂNCIA <=> ASSISTÊNCIA
Formação de RH
CESAT
Produção de
Conhecimento CEREST NUSAT
Assistência US DIRES
Extensão
PESQUISA <=> FORMAÇÃO
TRABALHADOR
COM
LER/DORT
CONTROLE SOCIAL ASSISTÊNCIA A SAÚDE

Representatividade SUS
Negociação Rede Própria
Organização po Local de Rede Complementar
Trabalho - O.L.T. Rede Suplementar

AMBIENTE DE TRABALHO
- Condição de trabalho
- Processo e organização de
trabalho
- Trabalhadores
- Gerência e Supervisão
- Equipe de Saúde e RH

FONTE: <https://www.scielo.br/j/rbso/a/m7wxhQ4LH8Yp3vyvYnFHmtc/?lang=pt>.
Acesso em: 30 jul. 2021.

124
2.3 NOTIFICAÇÕES DE DOENÇAS E AGRAVOS
RELACIONADOS AO TRABALHO
O conhecimento dos riscos e agravos à saúde relacionados ao trabalho é de
fundamental importância para o planejamento das ações de assistência, de vigilância e
de intervenção sobre os ambientes de trabalho.

Assim, os sistemas para notificar/registrar casos de doenças e agravos


relacionados ao trabalho são o Sistema de Informação de Agravos de Notificação
(SINAN), do Ministério da Saúde, e o Sistema de Informações em Saúde do Trabalhador
(SIST), que tem objetivo epidemiológico e envolvem casos suspeitos e confirmados de
relação com o trabalho, independentemente do vínculo de trabalho (BRASIL, 2006).

A notificação de doenças e agravos relacionados ao trabalho é compulsória


e obrigatória para os médicos e outros profissionais de saúde ou responsáveis pelos
serviços públicos e privados de saúde, que prestam assistência ao paciente, em
conformidade com o Art. 8° da Lei n° 6.259, de 30 de outubro de 1975.

A notificação compulsória será realizada diante da suspeita ou confirmação de


doença ou agravo. Portanto é necessário implementar, na Rede de Atenção à Saúde
do SUS, e na rede privada, a notificação compulsória dos agravos à saúde relacionados
com o trabalho.

Estudo realizado por Calvalcanti et al. (2014) objetivou descrever o perfil dos
agravos relacionados ao trabalho notificados no estado do Rio Grande do Norte, Brasil,
de 2007 a 2009, e encontrou como dados os expostos na tabela a seguir:

125
TABELA 1 – PERFIL DOS AGRAVOS RELACIONADOS AO TRABALHO NOTIFICADOS NO RIO
GRANDE DO NORTE, 2007 A 2009 SEGUNDO SINAN

FONTE: <https://www.scielo.br/j/ress/a/94yNZVR3drFyKPcR9Bw7y9R/?lang=pt>.
Acesso em: 5 ago. 2021.

3 EQUIPAMENTOS DE PROTEÇÃO
Conhecidos os perigos a que algumas atividades laborais estão sujeitas, é
preciso criar estratégias para evitar acidentes. Por meio de medidas de prevenção a
acidentes de trabalho, sendo o Equipamento de Proteção Individual (EPI) um dos meios
mais básicos e conhecidos instrumentos para tal.

A NR-9 estabelece a obrigatoriedade da elaboração de um programa de


prevenção de riscos ambientais no trabalho, considerando a proteção do meio ambiente
e dos recursos naturais. Indica a adoção de equipamentos de proteção coletiva
(EPC), bem como quando for necessário, em caráter complementar, a utilização de
equipamentos de proteção individual (EPI).

126
3.1 EQUIPAMENTO DE PROTEÇÃO INDIVIDUAL
De acordo com a Norma Regulamentadora 6 do Ministério do Trabalho,
considera-se Equipamento de Proteção Individual (EPI) “todo dispositivo ou produto, de
uso individual utilizado pelo trabalhador, destinado à proteção de riscos suscetíveis de
ameaçar a segurança e a saúde no trabalho”.

O normativo traz ainda a obrigação da empresa de fornecer aos empregados,


gratuitamente, EPI adequado ao risco, em perfeito estado de conservação e
funcionamento, sempre que as medidas de ordem geral não ofereçam completa
proteção contra os riscos de acidentes do trabalho ou de doenças profissionais e do
trabalho; enquanto as medidas de proteção coletiva estiverem sendo implantadas; e
para atender a situações de emergência.

Na legislação federal, a Consolidação das Leis do Trabalho (CLT) dispõe, no Artigo


166, que “a empresa é obrigada a fornecer aos empregados, gratuitamente, equipamento
de proteção individual adequado ao risco e em perfeito estado de conservação e
funcionamento, sempre que as medidas de ordem geral não ofereçam completa
proteção contra os riscos de acidentes e danos à saúde dos empregados”. Assim, o EPI
não apenas deve ser fornecido de forma gratuita como também deve ser adequado à
atividade desempenhada.

3.2 TIPOS DE EPIS


Os EPIs são classificados a partir da parte do corpo a ser protegida e da atividade
desempenhada, divididos pela NR-6 em nove categorias:

• Proteção da cabeça: capacete, capuz ou balaclava.


• Proteção dos olhos e face: óculos, protetor facial, máscara de solda.
• Proteção auditiva: protetor auditivo circum-auricular, de inserção, ou semiauricular.
• Proteção respiratória: respirador purificador de ar não motorizado ou motorizado; de
adução de ar, ou de fuga.
• Proteção do tronco: vestimentas para proteção, colete à prova de balas.
• Proteção dos membros superiores: luvas, creme protetor, manga, braçadeira, dedeira.
• Proteção dos membros inferiores: calçados para proteção, meia, perneira, calça.
• Proteção do corpo inteiro: macacão; vestimentas de corpo inteiro.
• Proteção contra quedas com diferença de nível: cinturão de segurança com
dispositivo trava-queda, cinturão de segurança com talabarte.

127
FIGURA 21 – EXEMPLOS DE EQUIPAMENTOS DE PROTEÇÃO INDIVIDUAL

FONTE: <https://interplast.pt/Artigos/303619-Protecao-individual-(EPI-s-proteger-o-necessario-
incomodar-o-minimo.html>. Acesso em: 5 ago. 2021.

Com o advento da pandemia em 2019, a Organização Mundial de Saúde (OMS)


divulgou recomendações sobre o uso dos equipamentos de proteção individual (EPI)
que deve ser utilizada na triagem preliminar do paciente suspeito, o profissional deve
manter distância física mínima de um metro e usar estruturas arquitetônicas de vidro/
plástico para criar uma barreira entre os profissionais e os pacientes (BRASIL, 2020).

Quando a distância física não for possível, o profissional deve usar máscara cirúrgica
e proteção para os olhos. Ao prestar atendimento direto a pacientes com COVID-19,
é necessário utilizar máscara cirúrgica, capote, luvas e proteção ocular (óculos de
proteção ou protetor facial – face shield) (BRASIL, 2020).

FIGURA 22 – EQUIPAMENTOS DE PROTEÇÃO COVID-19

FONTE: <https://www.vitalaire.com.br/blog/lesao-pele-relacionada-dispositivo-medico-epi-covid>.
Acesso em: 5 ago. 2021.

128
Ao prestar cuidados diretos aos pacientes com COVID-19 nos procedimentos
geradores de aerossóis, o profissional deve utilizar máscara N95 (FFP2 ou FFP3 padrão,
equivalente ou simplesmente “respirador”), capote, luvas, protetor ocular e avental
impermeável (BRASIL, 2020).

O Centers for Disease Control and Prevention (CDC) recomenda as precauções


padrão e usar máscara com respirador (ou máscara facial, se não houver um respirador
disponível), capote, luvas e proteção para os olhos (BRASIL, 2020).

O profissional deve higienizar as mãos antes e após contato com o paciente, com
material potencialmente infeccioso e antes de colocar e remover os EPIs. A higiene
deve ser feita com solução 60-95% de álcool ou com água e sabão por pelo menos 20
segundos (BRASIL, 2020).

3.3 PREVENÇÃO DE ACIDENTES


A prevenção de acidentes de trabalho envolve esforços na área de gestão,
previsão, planejamento e empenho, com foco em avaliar riscos e implementar ações.
Como formas de prevenção, podemos destacar:

1- Compartilhamento de conhecimentos, especialmente sobre riscos emergentes de


novos aparelhos e novas tecnologias, tanto em nível nacional como internacional.
2- Avaliação e gestão de riscos, que inclui ferramentas de prevenção e de controle
tradicionais, complementadas por estratégias concebidas para antecipar e
controlar os riscos emergentes provocados pelas mudanças no mundo do trabalho,
concretizada pela implementação de sistemas de gestão de saúde e segurança no
trabalho em nível nacional e da empresa.
3- Promoção da saúde nos locais de trabalho; por meio de programas tradicionais de
prevenção de acidentes de trabalho e de doenças profissionais.

O Ministério da Defesa do governo brasileiro, em notícia sobre prevenção de


acidentes no ambiente do trabalho, trouxe ainda 15 dicas para evitar acidentes:

1- utilize os Equipamentos de Proteção Individual (EPI);


2- mantenha áreas de circulação desobstruídas;
3- não obstrua o acesso aos equipamentos de emergências (macas,
extintores, etc.);
4- informe ao superior imediato sobre a ocorrência de incidentes,
para que se possa corrigir o problema e evitar futuros acidentes;
5- não execute atividade para a qual não esteja habilitado;
6- não improvise ferramentas. Solicite a compra de ferramentas
adequadas à atividade;
7- não faça brincadeiras durante o trabalho. Sua atenção deve ser
voltada apenas para a atividade que está executando;
8- oriente os novos colaboradores sobre os riscos das atividades;

129
9- cuidado com tapetes em áreas de circulação;
10- não retire os equipamentos de proteção coletiva das máquinas
e equipamentos. Eles protegem você e demais trabalhadores
simultaneamente;
11- não fume em locais proibidos. Procure os locais destinados para tal;
12- evite a pressa, ela é “inimiga da perfeição”. Além de se expor ao
nível de risco maior, seu trabalho não terá uma boa qualidade;
13- confira sua máquina ou equipamento de trabalho antes de iniciar
suas atividades, através do check list;
14- não sentar-se, verifique a firmeza e a posição das cadeiras;
15- não deixe objetos caídos no chão (TRIBUNAL SUPERIOR DO
TRABALHO, 2021, p. 1).

No âmbito da empresa, a Comissão Interna de Prevenção de Acidentes (Norma


Regulamentadora 5) é o órgão encarregado da prevenção de acidentes e doenças
decorrentes do trabalho, de modo a tornar compatível permanentemente o trabalho
com a preservação da vida e a promoção da saúde do trabalhador.

Deve ser instalado em empresas com mais de 20 trabalhadores e tem por


atribuição identificar os riscos do processo de trabalho, elaborar plano que possibilite a
ação preventiva, realizar verificações nos ambientes e condições de trabalho, visando à
identificação de situações que venham trazer riscos, além de divulgar aos trabalhadores
informações relativas à segurança e saúde no trabalho, entre outros.

130
LEITURA
COMPLEMENTAR
A SAÚDE DO TRABALHADOR EM TEMPOS DE COVID-19: REFLEXÕES SOBRE
SAÚDE, SEGURANÇA E TERAPIA OCUPACIONAL (ADAPTADO)

Bárbara Iansã de Lima Barroso


Marina Batista Chaves Azevedo de Souza
Marília Meyer Bregalda
Selma Lancmand
Victor Bernardes Barroso da Costa

1 INTRODUÇÃO

No dia 11 de março de 2020, a Organização Mundial de Saúde (OMS) declarou o


surto causado pelo novo coronavírus (SARS-CoV-2), uma pandemia global (Cucinotta &
Vanelli, 2020). Detectado pela primeira vez em dezembro de 2019, na cidade de Wuhan,
China, esse vírus causa uma doença denominada de COVID-19, cujo quadro clínico varia
de infecções assintomáticas a quadros respiratórios graves.

No Brasil, o primeiro caso foi notificado no dia 21 de fevereiro de 2020


(Gorbalenya et al., 2020). Desde então, diversos países e instituições vêm atualizando
os números sobre a doença quase em tempo real. Como exemplo de vias de divulgação
dessas informações, temos o site criado pela Universidade Johns Hopkins e a OMS,
que libera relatórios diários sobre a evolução da pandemia e descreve as principais
mudanças ocorridas em relação à situação do dia anterior (Candido et al., 2020; World
Health Organization, 2020). No relatório n° 94 de 23 de abril de 2020, a OMS confirmou
a existência mundial de 2.544.792 casos e 175.694 mortes.

Esses números ultrapassaram rapidamente os da última pandemia - a da gripe


suína (H1N1) - que causou 18 mil mortes em todo o mundo, entre 2009 e 2010. No Brasil,
em abril, já havia 43.079 casos confirmados e 2.741 mortes causadas pela COVID-19, co-
locando-o como o país da América do Sul em que mais se detectaram casos. O número
de mortes no país por COVID-19 dobra a cada cinco dias e supera os índices da Europa
e dos Estados Unidos (Candido et al., 2020; Pierre, 2020; Comitê Científico de Combate
ao Coronavírus do Consórcio Nordeste, 2020; World Health Organization, 2020).

Ao quase continente chamado Brasil - devido ao seu vasto território – com sua
diversidade cultural, a distribuição econômica desigual e a grande variabilidade dos
seus equipamentos de saúde, acrescentam-se desafios no que tange à efetividade da
vigilância na área de Saúde do Trabalhador. A redução de investimentos e o constante
processo de precarização do Sistema Único de Saúde (SUS), principalmente nos

131
últimos três anos, depois da inclusão de um novo A saúde do trabalhador em tempos de
COVID-19: reflexões sobre saúde, segurança e terapia ocupacional Cadernos Brasileiros
de Terapia Ocupacional, 28(3), 1093-1102, 2020 1095 regime fiscal no âmbito dos
Orçamentos Fiscal e da Seguridade Social da União, por meio da aprovação da Emenda
Constitucional 95, vêm colocando à prova a organização e a estrutura do sistema
brasileiro de vigilância e assistência (Lacaz et al., 2019). Aspectos como o despreparo e a
desproteção das equipes de saúde em relação a essa pandemia são identificados como
pontos importantes a serem discutidos. O SUS, considerado o maior sistema público de
saúde do mundo, mesmo tendo sido subfinanciado desde sua criação, vem fornecendo
a base necessária para as ações de enfrentamento da COVID-19, por dispor de uma rede
de serviços, equipamentos e recursos humanos.

Entretanto, a falta de investimentos, seu desmonte e sua desestruturação ficam


mais evidentes nos momentos de crise, denotando o número insuficiente de recursos
humanos na saúde; a falta de treinamento das equipes da atenção básica e da média
complexidade para lidar com as suspeitas e com os casos da COVID-19; o número
insuficiente de equipamentos de proteção individual (EPI); a falta de profissionais
especializados em serviços de urgência; as poucas ações de prevenção interna nos
espaços de cuidado, dentre outras ações necessárias ao enfrentamento de situações
emergenciais de saúde pública (Romero & Delduque, 2017; Lacaz et al., 2019; The
Lancet, 2020). As discussões que permeiam as necessidades de produção normativa
que envolvam a saúde e a segurança do trabalhador, durante o enfrentamento de
emergências de saúde pública – aedes aegypti, H1N1, zika vírus - e a legislação sanitária
referente ao controle de doenças carecem de atualização. O Estado brasileiro, para
cumprir a Política Nacional de Saúde do Trabalhador e da Trabalhadora (PNSTT), deve
garantir a saúde e a segurança durante a execução de suas atividades produtivas
(Romero & Delduque, 2017; Brasil, 2018; Lacaz et al., 2019).

No que tange ao enfrentamento da pandemia da COVID-19, os estados


brasileiros têm promovido ações de cunho individual e coletivo para lidar com os
impactos sanitários e econômicos. Governadores dos estados que constituem o
Consórcio de Integração Sul e Sudeste (COSUD) reuniram-se em 02 de abril de 2020 e
propuseram medidas econômicas e fiscais que contribuam para que os governos locais
enfrentem a crise sanitária. Além disso, os nove estados do Nordeste do Brasil formaram
o Comitê Científico de Combate ao Coronavírus (C4NE) para auxiliar os governadores
a encontrarem a melhor forma de planejar a alocação dos recursos para combater a
proliferação do vírus e estruturar o sistema de saúde, associados à adoção de medidas
de isolamento social pouco debatidas no âmbito das legislações vigentes.

Essas medidas reconhecem o trabalhador e a trabalhadora do SUS como a


maior e mais potente força de combate à pandemia (Romero & Delduque, 2017; Lacaz
et al., 2019; Comitê Científico de Combate ao Coronavírus do Consórcio Nordeste, 2020).

132
[...] O Governo Federal, por meio da Portaria n° 639, que dispõe da ação
estratégica e obrigatória ‘Brasil, Conta Comigo’, apresenta uma proposta “[...] voltada para
a capacitação e o cadastramento de profissionais de Saúde, entre eles, fisioterapeutas
e terapeutas ocupacionais” (Brasil, 2020c, p. 01). Todos os profissionais regulares
no Conselho Federal de Fisioterapia e Terapia Ocupacional (COFFITO) e no Conselho
Regional de Fisioterapia e Terapia Ocupacional (CREFITO) precisam se cadastrar, no que
tange ao objetivo da normativa, que visa “[...] proporcionar capacitação aos profissionais
da área da Saúde nos protocolos clínicos do Ministério da Saúde para o enfrentamento
da COVID-19, devendo perdurar até o fim da pandemia”

2 SAÚDE, SEGURANÇA, TRABALHO E CORONAVÍRUS: DIRECIONAMENTOS


POSSÍVEIS ACERCA DA ATUAÇÃO DA TERAPIA OCUPACIONAL

Tanto no Brasil quanto na China, as primeiras mortes por COVID-19 foram de


trabalhadores contaminados no exercício de suas funções. Em Wuhan, os primeiros
óbitos foram referentes a trabalhadores do mercado de frutos do mar da cidade,
considerado o foco inicial de contaminação devido ao manuseio de animais vivos. No
Brasil, que diz respeito ao início dos óbitos, uma das primeiras vítimas foi uma empregada
doméstica, contaminada depois de ser exposta ao vírus por seus empregadores que
tinham retornado da Itália no início do ano (Goumenou et al., 2020; Leme, 2020; Comitê
Científico de Combate ao Coronavírus do Consórcio Nordeste, 2020). No que se refere
especificamente aos trabalhadores da área da Saúde, os principais desafios que eles
vivenciam no enfrentamento da pandemia são a elevada transmissibilidade do vírus, a
falta de EPI, a sobrecarga de trabalho e os impactos na saúde mental.

A Comissão Nacional de Saúde da China informou que mais de 3.300


profissionais foram infectados até o início de março. Na Itália, 20% dos profissionais da
área de Saúde foram contaminados depois de ter contato com pacientes infectados.
A infecção também atingiu os trabalhadores dos serviços de limpeza, e a falta de EPI
adequados nos hospitais foi o motivo mais apontado para o aumento das taxas de
infecção (Romero & Delduque, 2017; Leme, 2020; Tavares, 2020; Comitê Científico de
Combate ao Coronavírus do Consórcio Nordeste, 2020; Goumenou et al., 2020; The
Lancet, 2020).

A literatura científica sobre o assunto aponta que os profissionais da área de


Saúde têm três vezes mais chances de contrair o vírus do que a população em geral.
No Brasil, cerca de 3,5 milhões de trabalhadores atuam no Sistema Único de Saúde
(SUS). No estado de Pernambuco, mais de 1.353 profissionais da Saúde foram testados
positivos para a COVID-19 - uma das mais altas taxas de contaminação do país
(Goumenou et al., 2020; Tavares, 2020; Comitê Científico de Combate ao Coronavírus
do Consórcio Nordeste, 2020). Entre as 14 categorias profissionais da área da Saúde que
constituem a linha de frente no combate e no tratamento da pandemia e considerando

133
o que preconizam o SUS e a PNSTT, entendemos que a terapia ocupacional é uma
profissão que pode desenvolver ações tanto com os indivíduos que contraíram a doença
e seus familiares quanto com os trabalhadores da Saúde, além de ações para prevenir o
contágio (Brasil, 2018) [...]

A insuficiência desses equipamentos é apenas um dos aspectos observados


no processo de desvalorização e degradação do trabalho em saúde. Pesquisas, publi-
cações e reportagens diversas mostram relatos de profissionais da área que descrevem
as duras e as prolongadas jornadas de trabalho; a exaustão física e mental; a falta de
assistência por parte dos gestores e do sistema governamental brasileiro; e a falta de
equipamentos e dispositivos fundamentais para o diagnóstico e o tratamento dos in-
divíduos com quadros clínicos suspeitos ou contaminados pelo vírus (testes rápidos,
respiradores, balões de oxigênio, entre outros).

Esses aspectos também são somados com as angústias para tomar decisões
difíceis no momento da triagem, com a dor de perder colegas de trabalho e pacientes,
com o risco de infecção tanto de si quanto de familiares e com a impossibilidade
de fazer a testagem rápida em larga escala devido à inexistência de vacina e de
tratamentos com eficácia cientificamente comprovada (Brasil, 2018; Comitê Científico
de Combate ao Coronavírus do Consórcio Nordeste, 2020; Cucinotta & Vanelli, 2020;
Candido et al., 2020).

3 TRABALHO PRECÁRIO, DESEMPREGO E SAÚDE DO TRABALHADOR: AÇÕES


EMERGENCIAIS EM PANDEMIAS

No Brasil, a desvalorização e a precarização do trabalho dos profissionais de


Saúde é histórica. O trabalho é caracterizado por baixos salários, falta de plano de carreira,
fragilização de vínculos trabalhistas, elevadas cargas horárias de trabalho e insuficiência
de ações de educação permanente que tenham como público-alvo os trabalhadores
(Romero & Delduque, 2017; Porto & Martins, 2019). A pandemia causada pela COVID-19
nos mostra a fragilidade das leis e das normas que asseguram a saúde e a segurança
do trabalhador. Embora sejam necessárias medidas de proteção, capacitação e oferta
de condições de trabalho adequadas para os profissionais dos estabelecimentos de
saúde, é importante que haja, sobretudo, mais destinação de recursos para essas
medidas, contratação de um número maior de profissionais na linha de frente, reflexões
e ações que foquem a organização dos processos de trabalho, aproximação da gestão
responsável pelos ambientes de trabalho, capacitação/treinamento dos trabalhadores,
entre outras ações. O atual governo do Brasil, a partir de 2019, fez diversas modificações
nas normas que regulamenta a segurança no trabalho.

As mudanças foram apoiadas por empresários, mas, da mesma forma, muitas


críticas foram atribuídas por parte dos sindicatos e do Ministério Público do Trabalho
(MPT) (Warth, 2020). O governo contabiliza que a modificação nas normas de segu-

134
rança tem o objetivo de reduzir exigências feitas às empresas, o que acarreta mais
lucratividade para elas. Em termos de normativas que garantem a segurança dos tra-
balhadores, o governo brasileiro vem retrocedendo no que se refere às conquistas
trabalhistas anteriores.

Nessa perspectiva, compreende-se que, à medida que a pandemia se alastra,


a necessidade de usar os EPI e de adotar as medidas de conscientização, capacitação
e proteção, é colocada não só para os profissionais de saúde, como também para
os trabalhadores que atuam nos demais serviços públicos e privados considerados
essenciais em tempos de pandemia, como, por exemplo, os serviços de limpeza,
segurança, alimentação, venda e distribuição de medicamentos, venda de combustíveis,
serviços funerários e outros. Embora não seja o objetivo central deste manuscrito
aprofundar-se na questão da saúde e da segurança dos trabalhadores envolvidos em
outros serviços essenciais que não os de saúde, as capacitações, as normativas e as
intervenções sobre segurança no trabalho devem abranger todos os trabalhadores.
Na Itália, caixas de supermercado relataram que receberam gel desinfetante, luvas e
apenas uma máscara, que deveria ser reutilizada (Goumenou et al., 2020).

Em São Paulo, o Ministério Público do Trabalho (MPT) contabilizou cerca de 500


denúncias contra empresas que expuseram seus funcionários ao risco de contaminação,
registradas entre os dias 1° e 24 de março de 2020 (Rede Brasil Atual, 2020). Acerca da
sabida subnotificação do número de pessoas com COVID-19, principalmente na realidade
brasileira, os grupos ocupacionais não têm feito uma notificação específica, por isso
não é possível avaliar onde e em que circunstâncias os indivíduos testados positivos
ou diagnosticados com a doença estavam trabalhando, tampouco identificar focos de
disseminação relacionados às atividades de trabalho (Fiho et al., 2020). O isolamento
social da população e o uso de EPI para circular são considerados duas das principais
medidas a serem adotadas para aumentar a proteção de todos e, em especial, dos
trabalhadores e trabalhadoras que têm garantida a continuidade da vida da sociedade
em geral (Comitê Científico de Combate ao Coronavírus do Consórcio Nordeste, 2020).

Neste momento, o Estado brasileiro deve garantir proteção social para toda a
classe trabalhadora, inclusive para a que enfrenta problemas com a desregulamentação,
já que, em fevereiro deste ano, atingiu-se o índice de 41,1% de trabalhadores informais,
um dos maiores da história do país (Almeida, 2020). Considerando que, em alguns
países do mundo, existe uma alta taxa de trabalhadores que têm vínculos formais de
trabalho, resguardados por meio de direitos e de proteção social, as medidas adotadas
no combate à pandemia serão mais eficientes. Isso se deve ao fato de que a proteção
proposta pelo Governo se dará dentro de dispositivos já consolidados. Todavia, no
caso dos países em desenvolvimento, que detêm altos índices de desigualdade social
e muitos trabalhadores inseridos na economia informal ou desempregados, os efeitos
do vírus serão mais devastadores, principalmente no que diz respeito à saúde do
trabalhador. Consequentemente, o Governo, juntamente com os profissionais da linha
de frente, deve dedicar-se a elaborar medidas contra a pandemia que, no geral, terão
mais dificuldade de surtir o efeito desejado (Melo, 2020).

135
Acerca dos trabalhadores informais, é importante pontuar que os profissionais
que desenvolvem ações que consideram os impactos do trabalho sobre a vida dos
sujeitos precisam refletir sobre a elaboração de ações de educação em saúde que sejam
capazes de extrapolar a rede formalizada de saúde e alcançar indivíduos em situações
de trabalho atípicas. A partir do momento em que uma pandemia é instalada, os
trabalhadores de serviços essenciais que enfrentam a escassez de direitos trabalhistas
podem ficar sujeitos a receber menos treinamentos, capacitações e informações para
executar seu trabalho de maneira segura.

No que diz respeito à garantia de uma renda básica para os indivíduos impedidos
de trabalhar, prejudicados financeiramente pela pandemia ou que enfrentam dificuldades
financeiras diversas, no Brasil, o Projeto de Lei n° 873, de 2020 foi aprovado com o
intuito de proporcionar uma renda auxiliar emergencial no período de enfrentamento à
crise causada pela pandemia no valor de R$ 600,00, para até duas pessoas da mesma
família - nesse caso, um total R$ 1.200,00, pelo período de três meses, destinado aos
indivíduos cadastrados no Programa Bolsa Família e no Cadastro Único, a trabalhadores
informais, a microempreendedores individuais (MEI), a autônomos e a desempregados
(Brasil, 2020b).

É necessário garantir a efetivação dos princípios e das ações preconizados


pela Política Nacional de Saúde do Trabalhador e da Trabalhadora e das demais
políticas e legislações trabalhistas, bem como criar, reformular e implementar medidas
efetivas no âmbito da saúde e da segurança ocupacional de trabalhadores de todos
os serviços considerados essenciais no Brasil. Entre outros aspectos desafiadores e
sem precedentes colocados pela pandemia, destacam-se a alta carga viral e sua rápida
transmissibilidade, que exigem mecanismos de gestão e tomada de decisão céleres e
eficientes para garantir proteção, boa qualidade de vida e condições de trabalho mais
dignas para todos os trabalhadores da linha de frente. Além disso, o estabelecimento
de uma renda básica é de extrema necessidade para populações que enfrentam altos
índices de desemprego e grande incidência da economia informal.

4 CONSIDERAÇÕES FINAIS

A pandemia recoloca, na ordem do dia, a defesa do SUS e de seus princípios


de universalidade, integralidade e equidade, assim como a dos sistemas de garantia de
direitos da classe trabalhadora brasileira, a saber: direito ao acesso a serviços de saúde;
à proteção social, nos casos de impossibilidade de exercer suas atividades de trabalho;
ao trabalho digno, instrumentalizado e protegido aos trabalhadores e trabalhadoras
da saúde e dos serviços essenciais públicos e privados; a uma renda básica, em
caso de desemprego ou de trabalho desregulamentado; e, mais do que nunca, o
direito fundamental à vida. Como se trata de um ensaio teórico e reflexivo escrito em
meio a uma pandemia, as situações emergenciais relacionadas às leis, às normas e
às orientações dobre a segurança no trabalho bem como às atuações profissionais
precisam ser constantemente revistas.

136
A partir desta reflexão, indica-se que devem ser realizadas discussões ampliadas
sobre os limites e as possibilidades de praticar a terapia ocupacional na área de Saúde,
especificamente no enfrentamento às pandemias, e sistematizar as experiências que
já vêm sendo feitas. Nesse cenário de emergência sanitária, terapeutas ocupacionais
vêm propondo, no âmbito da Atenção Básica, práticas de prevenção do contágio e/ou
de agravos decorrentes da COVID-19, bem como de promoção e recuperação da saúde,
entre elas, a reorganização do cotidiano familiar na diversidade de novos contextos; no
âmbito hospitalar, desde ações de adequação postural até orientações aos familiares
de pessoas internadas por COVID-19; e no âmbito da saúde do trabalhador, práticas de
cuidado com os trabalhadores da linha de frente e de reorganização de processos de
trabalho dessas equipes, bem como sua permanência e o retorno ao trabalho depois
do contágio. A terapia ocupacional apresenta um amplo escopo de atuação nesses
três âmbitos e que, em relação à área de Saúde do Trabalhador, suas ações podem
abranger todos os trabalhadores das áreas consideradas essenciais, tendo como base
a compreensão de suas condições de trabalho, considerando o papel do Estado, a
legislação trabalhista, as recomendações da Organização Internacional do Trabalho e a
necessidade de intervenções interinstitucionais e intersetoriais.

FONTE: <https://www.scielo.br/j/cadbto/a/7K494CxFTXtTtLsynkyJnjF/?format=pdf&lang=pt>.
Acesso em: 30 jul. 2021.

137
RESUMO DO TÓPICO 3
Neste tópico, você aprendeu:

• A Vigilância em Saúde do Trabalhador e da Trabalhadora (VISATT) é um conjunto de


ações feitas sempre com a participação dos trabalhadores com o objetivo de detectar,
conhecer, pesquisar e analisar os fatores determinantes e condicionantes da saúde
relacionados ao trabalho, cada vez mais complexo e dinâmico.

• A Rede de Atenção Integral à Saúde do Trabalhador (RENAST), que é uma rede


nacional de informação e práticas de saúde, organizada com o propósito de pôr em
prática as ações de vigilância, assistência e promoção da saúde, nas linhas de cuidado
da atenção básica, da média e alta complexidade, ambulatorial, pré-hospitalar e
hospitalar, sob a égide do controle social, nos três níveis de gestão do SUS.

• A NR-9 estabelece a obrigatoriedade da elaboração de um programa de prevenção


de riscos ambientais no trabalho, considerando a proteção do meio ambiente e dos
recursos naturais. Indica a adoção de equipamentos de proteção coletiva (EPC), bem
como quando for necessário, em caráter complementar, a utilização de equipamentos
de proteção individual (EPI).

138
AUTOATIVIDADE
1 A Norma Regulamentadora – NR-9 estabelece a obrigatoriedade da elaboração e
implementação, por parte de todos os empregadores e instituições que admitam
trabalhadores como empregados, do Programa de Prevenção de Riscos Ambientais
– PPRA –, visando à preservação da saúde e da integridade dos trabalhadores. Sobre
ela, é correto afirmar que:

a) ( ) Indica a adoção de equipamentos de proteção coletiva (EPC), bem como quando


for necessário, em caráter complementar, a utilização de equipamentos de
proteção individual (EPI).
b) ( ) Discorre sobre o número de horas trabalhadas e os direitos trabalhistas.
c) ( ) Estabelece a criação do CEREST (Centro de Referência de saúde do trabalhador).
d) ( ) Indica em kg a carga que um profissional pode erguer.

2 A prevenção de acidentes deve ser o objetivo de qualquer nível hierárquico,


organização e procedimento de trabalho. Minimizar ou eliminar os riscos de qualquer
atividade não é um privilégio, mas uma meta a ser atingida e perpetuada por todos
nós em nosso dia a dia de trabalho. Nesse sentido, analise as sentenças a seguir:

I- Compartilhamento de conhecimentos, especialmente sobre riscos emergentes de


novos aparelhos e novas tecnologias, tanto em nível nacional como internacional.
II- Avaliação e gestão de riscos, que inclui ferramentas de prevenção e de controle
tradicionais, complementadas por estratégias concebidas para antecipar e
controlar os riscos emergentes provocados pelas mudanças no mundo do trabalho,
concretizada pela implementação de sistemas de gestão de saúde e segurança no
trabalho em nível nacional e da empresa.
III- Promoção da saúde nos locais de trabalho, por meio de programas tradicionais de
prevenção de acidentes de trabalho e de doenças profissionais.

Assinale a alternativa CORRETA:


a) ( ) As sentenças I e II estão corretas.
b) ( ) Somente a sentença II está correta.
c) ( ) As sentenças I, II e III estão corretas.
d) ( ) Somente a sentença III está correta.

139
3 A Política Nacional de Saúde do Trabalhador e da Trabalhadora – PNSTT – tem como
finalidade definir os princípios, as diretrizes e as estratégias a serem observados pelas
três esferas de gestão do SUS. Sobre essa política, é correto afirmar que:

a) ( ) Deve enfatizar a vigilância, visando à promoção e à proteção da saúde dos


trabalhadores e à redução da morbimortalidade decorrente dos modelos de
desenvolvimento e dos processos produtivos.
b) ( ) Deve focar no tratamento de lesões provenientes do trabalho.
c) ( ) Estabelece os princípios e diretrizes de atendimento em nível secundário,
exclusivamente.
d) ( ) É destinada a trabalhadores urbanos, exclusivamente.

4 A Rede Nacional de Atenção Integral à Saúde do Trabalhador, RENAST, foi criada em


2002, por meio da Portaria n° 1.679/GM. Disserte sobre a importância e finalidade da
Rede de Atenção Integral à Saúde do Trabalhador.

5 A notificação de doenças e agravos relacionados ao trabalho é compulsória e


obrigatória para os médicos e outros profissionais de saúde ou responsáveis pelos
serviços públicos e privados de saúde. Neste contexto, disserte sobre a importância
de notificações de doenças e agravos relacionados ao trabalho.

140
REFERÊNCIAS
ALVES, J. U.; MINETTE, L. J.; SOUZA, A. P. Avaliação do perfil e condições de trabalho
de operários na atividade de propagação de Eucalyptus spp. em viveiros. In: SIMPÓSIO
BRASILEIRO SOBRE ERGONOMIA E SEGURANÇA DO TRABALHO FLORESTAL E
AGRÍCOLA, 1., 2000, Belo Horizonte. Anais... Belo Horizonte: SIF/DEF, 2000. p.135-140.

ALEXANDRE, A.; BENETI, C. Acidentes de trabalho afetando a coluna vertebral: um


estudo realizado com trabalhadores de enfermagem de um hospital universitário. Rev.
Latino-Am. Enfermagem, v. 6, n. 2, abr. 1998.

ASSUNÇÃO, A. A.; SOUZA, F. P. A. A nocividade no trabalho: contribuição da ergonomia.


In: MENDES, R. (Org.) Patologia do trabalho. Rio de Janeiro: Atheneu, 2000.

BRASIL. Recomendações de proteção aos trabalhadores dos serviços de saúde


no atendimento de COVID-19 e outras síndromes gripais. 2020. Disponível em:
https://www.saude.go.gov.br/files/banner_coronavirus/GuiaMS-Recomendacoesdepr
otecaotrabalhadores-COVID-19.pdf. Acesso em: 10 set. 2021.

BRASIL. Decreto-Lei 5.452 de 1° de maio de 1943. Consolidação das Leis do


trabalho, Brasília, DF, Out. 2017.

BRASIL. Consolidação das leis do trabalho – CLT e normas correlatas. Brasília:


Senado Federal, Coordenação de Edições Técnicas, 2017.

BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de Vigilância em Saúde. Departamento de


Vigilância Epidemiológica. Sistema de Informação de Agravos de Notificação – Sinan:
normas e rotinas. Brasília: Editora do Ministério da Saúde, 2006.

BRASIL. Portaria n° 2.437/GM de 7 de dezembro de 2005 (revogada - vide Portaria


2.728). Dispõe sobre a ampliação e o fortalecimento da Rede Nacional de Atenção
Integral à Saúde do Trabalhador (Renast) no SUS. 2005.

BRASIL. Portaria n° 3.214 de 08 de junho de 1978. NR-5. Comissão Interna de


Prevenção de Acidentes. In: SEGURANÇA E MEDICINA DO TRABALHO. 29. ed. São
Paulo: Atlas, 1995.

BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil de 1988. Brasília, DF:


Presidência da República, [2016]. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/
constituicao/constituicao.htm. Acesso em: 10 set. 2021.

BORK, B. E. et al. Work-related musculoskeletal disorders among physical therapists.


Physical Therapy, 1996, v. 8, n. 76, p. 827-835, ago. 1996.

141
CALVALCANTI, C. M. C. et al. Revista Design e Ergonomia: aspectos tecnológicos
(on-line). São Paulo, 2014.

COUTO, H. de A. Ergonomia Aplicada ao Trabalho. Conteúdo Básico e Guia Prático.


Belo horizonte: Ergo Editora, 2007.

COUTO, H. A. Ergonomia aplicada ao trabalho o manual técnico da máquina


humana. Belo Horizonte: Ergo, 1995. 353 p.

CROMIE, J. E.; ROBERTSON, V. J.; BEST, M. O. Work-Related Musculoskeletal Disorders and


the Culture of Physical Therapy. Physical Therapy, v. 82, n. 5, p. 459-472, maio. 2002.

DELIBERATO, P. Fisioterapia preventiva. São Paulo: Editora Manole Ltda, 2002.

DUL, J.; WEERDMEESTER, B. Ergonomia prática. São Paulo: Edgard Blücher, 1998.

ELLISON, N. B. Social impacts: New perspectives on telework. Social Science


Computer Review, v. 17, n. 3, p. 338-356, 1999.

FIEDLER, N. C. Análise de posturas e esforços despendidos em operações de


colheita florestal no litoral norte do Estado da Bahia. 1998. 103 p. Tese (Doutorado
em Ciências Florestais) – Universidade Federal de Viçosa, Viçosa, MG.

HOLDER, N. L. et al. Cause, prevalence and response to occupational musculoskeletal


injuries by physical therapists and physical therapists assistants. Physical Therapy, v.
79, n. 7, p. 642-652, Jul. 1999.
IIDA, I. Ergonomia: projeto e produção. 2. ed. São Paulo: Edgar Blücher, 2005.

KAPANDJI, I. A. Fisiologia articular: tronco e coluna vertebral. 5. ed. v. 1. São Paulo:


Panamericana, 2000.

KNOPLICH, J. Enfermidades da coluna vertebral: uma visão clínica e


fisioterapêutica. 3. ed. São Paulo: Robe, 2003.

LIM, V. K. G.; TEO, T. S. H. To work or not to work at home - An empirical investigation of


factors affecting attitudes toward teleworking. Journal of Managerial Psychology,
15(6),560-586, 2000.

LIANZA, S. Medicina de reabilitação. 2. ed. Rio de Janeiro: Guanabara, 1995.

MACEDO, M. C. P. Avaliação da qualidade de vida em residentes de medicina da


UNIFESP-EPM. São Paulo, 2004. Dissertação (Mestrando em Ciências da Saúde) -
Departamento de Pós-graduação em Saúde Mental, Universidade Federal de São Paulo.

142
MARTINS, A. V. Análise Ergonômica Postural de Trabalho do Pedreiro na
Construção Civil. Monografia Apresentada no Curso de Pós-Graduação em
Engenharia de Segurança do Trabalho. Curitiba, PR: UTFPR, 2005.

MAZIERO, D.; ALMEIDA, D. de; BAUMER, M. H. Avaliação da carga mental de


trabalho nos Fisioterapeutas de Concórdia – SC. 2004. Disponível em www.wgate.
com.br/conteudo/medicinaesaude/fisioterapia/variedades/aval_carga_mental.htm/.
Acesso em: 4 ago. 2021.

ORSELLI, O. T. Ergonomia, Ciência do Conforto. 2011. Disponível em: http://ergosports.


com.br/artigos/ergonomiaciencia-do-conforto. Acesso em: 10 ago. 2021.

PEINADO, C. Segurança e Saúde do Trabalho na Indústria da Construção Civil.


São Carlos: Editora Scienza, 2019.

PERES, C. P. A. Estudo das sobrecargas posturais em fisioterapeutas: uma


abordagem biomecânica ocupacional. Dissertação (Mestrado em Engenharia da
Produção) – Programa de Pós-Graduação em Engenharia de Produção, Universidade
Federal de Santa Catarina, Florianópolis, 2002.

RAFALSKI, J.; ANDRADE, A. Home-office: aspectos exploratórios do trabalho a partir de


casa. Temas psicol. [on-line]. 2015, v. 23, n. 2, p. 431-441. Disponível em: http://dx.doi.
org/10.9788/TP2015.2-14. Acesso em: 10 set. 2021.

RIO, P. R.; PIRES, L. Ergonomia: fundamentos da prática ergonômica. 3. ed. São Paulo:
Editora LTR, 2001.

ROMANI, J. C. P. Distúrbios músculos esqueléticos em fisioterapeutas:


incidência, causas e alterações de rotina de trabalho. Tese de Mestrado: Universidade
Federal da Santa Catarina, Florianópolis-SC, Novembro, 2001.

SALIBA, M. et al. Análise ergonômica do atendimento clínico odontológico. Rev.


ABENO, v. 16, n. 3, Londrina, Jul./Set. 2016.

SILVA, K. R. Análise de fatores ergonômicos em marcenarias do município de


Viçosa, MG. 1999. 97 p. Dissertação (Mestrado em Ciências Flores)

TRIBASTONE, F. Tratado de exercícios corretivos aplicados à reeducação motora


postural. Tamboré: Manole, 2001.

TRIBUNAL SUPERIOR DO TRABALHO. EPIs desempenham papel fundamental na


luta pela redução de acidentes de trabalho. 2021. Disponível em: https://www.tst.
jus.br/web/guest/teste Acesso em: 2 ago. 2021.

VANÍCOLA, A; MASSETO, C.; MENDES, G. Biomecânica ocupacional: uma revisão de


literatura occupacional biomechanics: a literature review. Rev. Atenção à Saúde, v. 2,
n. 3, 2004, jan./jun. 2004.
143
144
UNIDADE 3 —

INTERVENÇÃO
FISIOTERAPÊUTICA NAS
DISFUNÇÕES DECORRENTES
DO TRABALHO

OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM
A partir do estudo desta unidade, você deverá ser capaz de:

• entender a importância de reconhecer doenças laborais;

• aprender as diferentes formas de atuação na saúde do trabalhador;

• planejar intervenções em lesões provenientes do trabalho;

• conhecer os principais tratamentos de disfunções relacionadas ao trabalho.

PLANO DE ESTUDOS
A cada tópico desta unidade você encontrará autoatividades com o objetivo de reforçar
o conteúdo apresentado.

TÓPICO 1 – PREVENÇÃO FISIOTERAPÊUTICA NAS LESÕES MUSCULOESQUELÉTICAS


RELACIONADAS AO TRABALHO

TÓPICO 2 – TIPOS DE LESÕES RELACIONADAS AO TRABALHO

TÓPICO 3 – FUNDAMENTOS DA CINESIOTERAPIA EM SAÚDE DO TRABALHADOR

CHAMADA
Preparado para ampliar seus conhecimentos? Respire e vamos em frente! Procure
um ambiente que facilite a concentração, assim absorverá melhor as informações.

145
CONFIRA
A TRILHA DA
UNIDADE 3!

Acesse o
QR Code abaixo:

146
UNIDADE 3 TÓPICO 1 —
PREVENÇÃO FISIOTERAPÊUTICA NAS
LESÕES MUSCULOESQUELÉTICAS
RELACIONADAS AO TRABALHO

1 INTRODUÇÃO
A prevenção é uma das ações que têm sido mais discutidas atualmente no que
diz respeito ao combate das lesões provenientes do trabalho, porém suas causas estão
sendo reconhecidas lentamente e poucas ações preventivas têm sido realizadas.

E, devido ao grande destaque desses distúrbios entre as afecções ocupacio-


nais, a atuação da fisioterapia nas empresas cresce a cada dia pela descoberta da im-
portância do investimento em ações preventivas, e por não estar o fisioterapeuta limita-
do, apenas, a curar e reabilitar, mas também promover a saúde e bem-estar.

Nesse sentido, exploraremos os diversos recursos que o fisioterapeuta pode


utilizar para promover saúde e prevenir doenças relacionados ao trabalho.

2 ASPECTOS DA INTERVENÇÃO ERGONÔMICA: ANÁLISE


DA RELAÇÃO HOMEM-TRABALHO
Atualmente, a sociedade se depara com avanços tecnológicos quase que
instantâneos, os quais modificam o meio laboral e influenciam cada vez mais a qua-
lidade de vida das pessoas, com isso fazem surgir vários modelos de organizações
e rotinas sociais.

Consequentemente, os diferentes exercícios laborais exigem mais preparação,


formação e dedicação para o desenvolvimento das atividades atribuídas ao sujeito den-
tro do espaço organizacional.

147
IMPORTANTE
Podemos nos questionar se esta dedicação dos trabalhadores, atualmente, sem
limite ao trabalho e à vida material, é válida, e o bem-estar consigo mesmo, com a
saúde, com a família, com os amigos está suprida, realmente vale a pena? Se está
feliz, satisfeito e realizado?

Se a falta do convívio social além de causar danos pessoais, também não poderá afetar
o desempenho laboral, os resultados na organização, neste grande ciclo vida-trabalho-
satisfação se as condições de trabalho fossem favoráveis, teria uma nova roupagem, um
novo sentido pela vida, o porquê e para que trabalhar?

Não podemos negar que a organização do trabalho estrutura o social, provê o


indivíduo e lhe dá um lugar de significação, sentido, permanência e renúncia.

A última é dolorosa, mas não está atrelada somente ao trabalho, está na


amplidão da estrutura da vida em sociedade, faz parte do homem.

O que você pensa sobre essa reflexão? É importante considerarmos essas


questões quando pensamos em promoção em saúde, o ser humano é global,
e é rico o trabalho multidisciplinar, nesse sentido podemos encaminhar para
outros profissionais para orientação ou usar de técnicas holísticas usadas na
fisioterapia para auxiliar nesses questionamentos.

2.1 QUESTÕES PSICOSSOCIAIS


Os indivíduos reagem de forma diferente às dificuldades das situações de
trabalho e chegam a este trabalho com a sua história de vida pessoal. Os problemas,
neste contexto, nascem de relações conflituosas. De um lado, encontra-se a pessoa
e sua necessidade de prazer; e do outro, a organização, que tende à instituição de um
automatismo e à adaptação do trabalhador a um determinado modelo (MENDES, 1995).

Como já comentamos anteriormente, cada categoria profissional está


submetida a um modelo específico de organização do trabalho, o qual pode conter
elementos homogêneos ou contraditórios, facilitadores ou não da saúde do trabalhador.
E que também depende da definição e interesses econômicos, ideológicos e políticos
daqueles que dominam o processo produtivo.

148
FIGURA 1 – DIA A DIA DO NOVO TRABALHADOR

FONTE: <https://digofreitas.com/tag/programador/>. Acesso em: 23 ago. 2021.

2.2 ASPECTOS FÍSICOS


A fisioterapia do trabalho é uma especialidade que atua na prevenção, no
resgate e na manutenção da saúde do trabalhador, buscando assim, sua melhora no
ambiente laboral. O fisioterapeuta do trabalho com especialização em ergonomia possui
condições de atender à empresa junto aos programas de saúde e promoção de saúde.

A intervenção pode ser feita através de palestras ou workshops discutindo


resultados de avaliações ergonômicas a fim de prevenir lesões. Além disso, pode
organizar grupos de autocuidado e educação em saúde.

FIGURA 2 – PALESTRAS SOBRE ERGONOMIA NO TRABALHO

FONTE: <https://copass-saude.com.br/posts/palestra-sobre-ergonomia-e-saude-no-trabalho>.
Acesso em: 20 set. 2021.

149
O tratamento preventivo consiste na conscientização com campanhas, um local
de trabalho ergonomicamente apropriado, com pausas e ginástica laboral. Pode-se
dizer que a prevenção mantém seu enfoque sobre o controle da doença para alcançar
saúde, abordando, por exemplo, o controle do sal da dieta dos hipertensos, o uso correto
dos métodos contraceptivos, a aplicação de vacinas, as medidas preventivas para evitar
quedas em idosos, escovação dentária correta para evitar cáries e outros inúmeros
assuntos relacionados à doença. Essas atividades não são condenáveis, pelo contrário,
também têm sua importância. Afinal, informar é pré-requisito para que mudanças
aconteçam, mas não é suficiente, ou seja, para educar, não basta apenas informar.

A promoção da saúde traz à tona assuntos relacionados à saúde, tais como:


solidariedade, cidadania e justiça social, entre outros. Portanto, a intervenção proposta
por esse conceito deve abranger os hábitos de vida das pessoas. O resultado disso é
que as práticas centrais da promoção de saúde mais recentes estão focadas na adoção
de um estilo de vida saudável (SANTOS; ROS, 2016).

As vivências grupais permitem ao trabalhador transformar percepções individu-


ais em percepções coletivas, a partir da identificação de seus próprios processos com
os dos outros participantes. Dessa forma, favorecem o estabelecimento de relações do
seu próprio adoecimento com o processo de trabalho e facilitam a compreensão de que
o processo de adoecimento é mais do que um processo individual e, sim, decorrente do
próprio trabalho (MENDES; LANCMAN, 2010).

DICAS
Assista ao vídeo a seguir, a importância do fisioterapeuta no contexto do
trabalho dentro das empresas e indústrias de modo geral. Disponível em:
https://www.youtube.com/watch?v=B8tgxHDr71Y.

150
FIGURA 3 – ATUAÇÃO DO FISIOTERAPEUTA EM GRUPOS

FONTE: <https://prefeitura.pbh.gov.br/noticias/grupo-de-saude-da-pampulha-mostra-trabalho-
sobre-violencia>. Acesso em: 18 ago. 2021.

Contudo, a ginástica laboral é o instrumento mais conhecido como forma


de prevenção e promoção de saúde do trabalhador. Ginástica Laboral (GL) é definida
como a realização de exercícios físicos no ambiente de trabalho, durante o horário
de expediente, para promover a saúde dos funcionários e evitar lesões de esforços
repetitivos ou doenças ocupacionais (MENDES; LANCMAN, 2010). No próximo subtópico,
falaremos mais sobre este assunto.

DICAS
Assista aos vídeos a seguir, ginástica laboral nas empresas e indústrias de
modo geral. Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=4sInvWrwa-4,
https://www.youtube.com/watch?v=kEclzXtH9FQ, https://www.youtube.com/
watch?v=iefUmdRVhwc. “Ginástica Laboral nas Empresas: como se aplica”,
disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=VWbDLtWlzpE.

151
FIGURA 4 – GINÁSTICA LABORAL

FONTE: <https://deltaplusbrasil.com.br/blog/ginastica-laboral-importancia/>.
Acesso em: 23 ago. 2021.

2.3 FATORES BIOMECÂNICOS, INDIVIDUAIS E


ORGANIZACIONAIS
Na unidade anterior, exploramos as questões biomecânicas puras, neste
subtópico, discutiremos sua relação com outros fatores.

Nos últimos anos, as questões ligadas à organização e aos fatores psicossociais


do trabalho têm sido intensivamente estudadas devido ao advento das novas tecnolo-
gias e sistemas de produção e, principalmente, por serem responsáveis por transtornos
à saúde do trabalhador, incluindo os distúrbios osteomusculares relacionados ao traba-
lho/lesões por esforços repetitivos (LER/DORT) (SILVA et al., 2013).

As LER/DORT podem ser explicadas por transformações do trabalho, cuja


organização tem se caracterizado pelo estabelecimento de metas e produtividade,
sem levar em consideração os trabalhadores e seus limites físicos e psicológicos. Os
trabalhadores são obrigados a se adequarem às características organizacionais das
empresas, pautadas pela intensificação do trabalho. As exigências psicossociais não
são compatíveis com as características humanas (SILVA et al., 2013).

Nas áreas operacionais e executivas ressaltam-se os seguintes fatores:

• atenção para não errar;


• submissão a monitoramento de cada etapa do trabalho;
• impossibilidade de pausas;
• dificuldade de relacionamento com colegas e supervisores;
• mobiliário, equipamentos e instrumentos que não propiciam conforto e bem-estar
(SILVA et al., 2013).

152
Os fatores organizacionais e psicossociais do trabalho são reconhecidamente
associados às LER/DORT, independentemente do setor industrial. A intensidade e a
frequência desses fatores no ambiente de trabalho é que vão determinar o acometimento
dos trabalhadores (SILVA et al., 2013).

As doenças osteomusculares surgem quando os limites físicos, fisiológicos


e psicológicos dos trabalhadores são ultrapassados. Quando os fatores de risco do
ambiente de trabalho não são manejados corretamente, há sobrecarga no sistema
musculoesquelético dos trabalhadores e, consequentemente, transtornos e distúrbios
(SILVA et al., 2013).

Os fatores de risco para a ocorrência de LER/DORT não são independentes. Eles


interagem entre si e devem ser analisados de forma integrada. Desse modo, os estudos
centrados apenas nos aspectos físicos podem ser insuficientes para diagnosticar as
LER/DORT. É preciso, então, considerar os aspectos organizacionais e psicossociais
ligados ao trabalho (SILVA et al., 2013).

153
RESUMO DO TÓPICO 1
Neste tópico, você aprendeu:

• Atualmente, os diferentes exercícios laborais exigem mais preparação, formação e


dedicação para o desenvolvimento das atividades atribuídas ao sujeito dentro do
espaço organizacional.

• Nos últimos anos, as questões ligadas à organização e aos fatores psicossociais do


trabalho têm sido intensivamente estudadas devido ao advento das novas tecnolo-
gias e sistemas de produção e principalmente, por serem responsáveis por transtor-
nos à saúde do trabalhador, incluindo os distúrbios osteomusculares relacionados ao
trabalho/lesões por esforços repetitivos (LER/DORT).

• A promoção da saúde traz à tona assuntos relacionados à saúde, tais como


solidariedade, cidadania e justiça social, entre outros. Portanto, a intervenção
proposta por esse conceito deve abranger os hábitos de vida das pessoas.

• O tratamento preventivo consiste na conscientização com campanhas, um local de


trabalho ergonomicamente apropriado, com pausas e ginástica laboral.

154
AUTOATIVIDADE
1 Mercado de Trabalho é um conceito utilizado para explicar a procura e a oferta das
atividades remuneradas oferecidas pelas pessoas ao setor público e ao privado.
Sobre o mercado atual é correto afirmar que:

a) ( ) Atualmente, os diferentes exercícios laborais exigem mais preparação, formação


e dedicação para o desenvolvimento das atividades atribuídas ao sujeito dentro
do espaço organizacional.
b) ( ) Nos dias atuais, o mercado de trabalho está menos exigente devido ao grande
número de profissionais disponíveis.
c) ( ) Atualmente, os diferentes exercícios laborais exigem que o ser humano tenha
menos habilidades e dedicação.
d) ( ) Nos dias atuais, a tecnologia é mais importante do que o fator humano em to-
dos os segmentos.

2 Questões ligadas à organização e aos fatores psicossociais do trabalho são


intensivamente estudadas devido ao advento das novas tecnologias e sistemas de
produção. Com base nesse contexto, analise as sentenças a seguir:

I- Os indivíduos reagem de forma diferente às dificuldades das situações de trabalho


e chegam a este trabalho com a sua história de vida pessoal.
II- O excesso de tecnologia e os fatores psicossociais podem ser responsáveis por
transtornos à saúde do trabalhador, incluindo os distúrbios osteomusculares
relacionados ao trabalho/lesões por esforços repetitivos (LER/DORT).
III- As tecnologias trazem apenas benefícios, pois diminuem a necessidade de mão
de obra.

Assinale a alternativa CORRETA:


a) ( ) As sentenças I e III estão corretas.
b) ( ) Somente a sentença II está correta.
c) ( ) As sentenças I e II estão corretas.
d) ( ) Somente a sentença III está correta.

155
3 A promoção da saúde traz à tona assuntos relacionados à saúde, tais como
solidariedade, cidadania e justiça social, entre outros. De acordo com este contexto,
classifique V para as sentenças verdadeiras e F para as falsas:

( ) A intervenção proposta pela promoção de saúde deve abranger os hábitos de vida


das pessoas.
( ) A reabilitação deve ser o centro da atuação em promoção da saúde.
( ) A prevenção deve ser focada em evitar que ocorram disfunções ou doenças
relacionados com o trabalho.

Assinale a alternativa que apresenta a sequência CORRETA:


a) ( ) V – F – F.
b) ( ) V – F – V.
c) ( ) F – V – F.
d) ( ) F – F – V.

4 A promoção da saúde é o processo de capacitação da comunidade para atuar na


melhoria da sua qualidade da vida e saúde, incluindo uma maior participação no
controle desse processo. Discorra sobre estratégias que podem ser utilizadas para
promover a saúde dos trabalhadores.

5 Na saúde do trabalhador, o fisioterapeuta pode atuar com a promoção, prevenção


e reabilitação, utilizando diferentes estratégias e recursos. Neste contexto, disserte
sobre a diferença entre a promoção e prevenção da saúde do trabalhador.

156
UNIDADE 3 TÓPICO 2 -
TIPOS DE LESÕES RELACIONADAS
AO TRABALHO

1 INTRODUÇÃO
As disfunções mais comuns relacionadas ao trabalho são as musculoesque-
léticas. Contudo, também observamos dermatoses e disfunções respiratórias. Essas
disfunções afetam milhões de trabalhadores, com um custo de milhares de milhões de
reais para as entidades patronais (SILVA et al., 2013).

Normalmente, não existe uma causa única para essas disfunções, elas resultam
frequentemente da combinação de vários fatores de risco, incluindo fatores físicos e
biomecânicos, fatores organizacionais e psicossociais, bem como fatores individuais.

Os fatores de risco físicos e biomecânicos podem incluir:

• movimentação de cargas, especialmente quando isso induz a movimentos de torção


e de flexão;
• movimentos repetitivos ou com esforço;
• posturas incorretas e estáticas;
• ambientes com má iluminação ou temperaturas baixas e exposição a vibrações;
• trabalho em ritmo acelerado;
• estar de pé ou sentado, na mesma posição, muito tempo (SILVA et al., 2013).

Além disso, existem fatores de risco organizacionais e psicossociais como:

• elevadas exigências de trabalho e pouca autonomia;


• ausência de pausas ou de oportunidades para mudar de postura de trabalho;
• trabalhar a um ritmo acelerado, incluindo como consequência da introdução de novas
tecnologias;
• longas horas de trabalho ou turnos;
• intimidação, assédio e discriminação no local de trabalho e pouca satisfação no
trabalho;
• exposição a riscos químicos e físicos que muitas atividades laborais expõe (SILVA et
al., 2013).

Neste sentido, iremos discutir as principais lesões laborais, a sua etiologia e o


processo de reabilitação. Vamos lá?

157
2 DISFUNÇÕES MUSCULOESQUELÉTICAS
RELACIONADAS AO TRABALHO
As lesões por esforços repetitivos (LER) ou distúrbios osteomusculares
relacionados ao trabalho (DORT) são um conjunto de doenças que afetam músculos,
tendões, nervos e vasos dos membros superiores (dedos, mãos, punhos, antebraços,
braços, ombro, pescoço e coluna vertebral) e inferiores (joelho e tornozelo,
principalmente) e têm relação direta com as exigências das tarefas, ambientes físicos e
com a organização do trabalho (CHIAVEGATO FILHO; PEREIRA JUNIOR, 2004).

Estas são as disfunções ocupacionais que mais acometem os brasileiros,


principalmente os ativos economicamente. A pesquisa indica que, entre os anos 2007
e 2016, mais de 67 mil casos de LER/DORT foram diagnosticados, o que constituiu um
aumento de 184% desde o primeiro ano de análise até o último. Os resultados despertam
preocupação em relação à saúde dos trabalhadores (CHIAVEGATO FILHO; PEREIRA
JUNIOR, 2004).

O levantamento também aponta um aumento na exposição de trabalhadores a


fatores de risco, o que pode acarretar incapacidade funcional. As mais afetadas foram
as mulheres (51,7%), pessoas entre 40 e 49 anos (33,6%), e indivíduos com ensino
médio completo (32,7%). A região que registrou o maior número de casos foi o Sudeste,
com 58,4% do total de notificações do país no período (CHIAVEGATO FILHO; PEREIRA
JUNIOR, 2004).

Já quando se trata dos setores ocupacionais, as ocorrências de LER e DORT


foram maior nos profissionais de setores industrial, comercial, alimentício, transporte
e serviços domésticos/limpeza. Entre as profissões, faxineiros, operadores de
máquinas fixas, alimentadores de linhas de produção e cozinheiros foram os mais
atingidos com algum desses problemas de saúde no trabalho (CHIAVEGATO FILHO;
PEREIRA JUNIOR, 2004).

158
FIGURA 5 – SETOR INDUSTRIAL

FONTE: <https://gauchazh.clicrbs.com.br/economia/noticia/2016/10/producao-industrial-cai-0-2-
no-rio-grande-do-sul-em-agosto-diz-ibge-7700470.htm>. Acesso em: 20 ago. 2021.

De acordo com publicação do Ministério da Saúde, dentre as doenças conside-


radas como ocupacionais, que são enquadradas como LER/DORT, estão: tendinite de
flexores e extensores dos dedos, bursite de ombro, tenossinovite de Quervain, tenos-
sinovite do braquiorradial, síndrome do túnel do carpo, tendinite de supraespinhoso,
tendinite de biciptal, epicondilite (CHIAVEGATO FILHO; PEREIRA JUNIOR, 2004).

FIGURA 6 – TENDINITE DE FLEXORES E EXTENSORES DOS DEDOS

FONTE: <https://www.ceot.com.br/noticia/tendinite-no-pulso-conheca-a-prevencao-sintomas-e-
tratamento-desta-lesao>. Acesso em: 20 set. 2021.

159
FIGURA 7 – BURSITE DE OMBRO

FONTE: <http://se3.adam.com/content.
aspx?productid=126&isarticlelink=false&pid=69&gid=003171>. Acesso em: 20 set. 2021.

FIGURA 8 – TENOSSINOVITE DE QUERVAIN

FONTE: <https://usefixit.com.br/patologias/tenossinovite-de-de-quervain/>. Acesso em: 20 set. 2021.

160
FIGURA 9 – TENOSSINOVITE DO BRAQUIORRADIAL

FONTE: <https://www.youtube.com/watch?v=Z1S7V0r1y-o>. Acesso em: 20 set. 2021.

FIGURA 10 – SÍNDROME DO TÚNEL DO CARPO

FONTE: <https://www.hong.com.br/sindrome-do-tunel-do-carpo/>. Acesso em: 20 set. 2021.

161
FIGURA 11 – TENDINITE DO SUPRAESPINHOSO

FONTE: <https://alfenashoje.com.br/noticia.asp?id_noticia=16447>. Acesso em: 20 set. 2021.

FIGURA 12 – TENDINITE BICIPTAL

tendões do bíceps

região dolorida

músculo do
bíceps

FONTE: <https://olharfisio.blogspot.com/2015/04/tendinite-do-biceps.html>. Acesso em: 20 set. 2021.

162
FIGURA 13 – EPICONDILITE

FONTE: <https://drmarciosilveira.com/epicondilite-cotovelo-do-tenista/amp/>. Acesso em: 20 set. 2021.

No entanto, as tendinites, tenossinovites e bursites são as mais conhecidas


atualmente no Brasil, podendo ser ocasionadas por diversos fatores como: tocar piano,
dirigir, realizar atividades domésticas, fazer crochê, no entanto, a digitação constante é
uma das causas que mais propiciam para sua incidência (CHIAVEGATO FILHO; PEREIRA
JUNIOR, 2004).

2.1 LESÕES POR ESFORÇOS REPETITIVOS (LER) E


DISTÚRBIOS OSTEOMUSCULARES RELACIONADOS AO
TRABALHO (DORT)
As LER e DORT são disfunções que atingem as partes moles dos músculos es-
queléticos causada pela atividade contínua e repetitiva que sobrecarrega o organismo,
em que não há uma causa única para a ocorrência. Há fatores psicológicos, biológicos
e sociológicos envolvidos na gênese desses distúrbios (CHIAVEGATO FILHO; PEREIRA
JUNIOR, 2004).

Inicialmente, as LER/DORT eram reconhecidas como decorrentes prepon-


derantemente das condições de trabalho, e que desafiam gestores e os profissionais
de saúde.

163
Esse tipo de lesão inflamatória vai se instalando de forma lenta no organismo
humano e muitas vezes só é percebida quando se encontra em estado mais avan-
çado, onde a musculatura já está comprometida causando dor intensa, dormência
e impotência, podendo chegar à dor crônica e até mesmo à depressão (RAGADALI
FILHO et al., 2015).

Trata-se de disfunções de importância crescente em vários países do mundo,


com dimensões epidêmicas em diversas categorias profissionais, apresentando-se
sob diferentes formas clínicas, de difícil manejo por parte de equipes de sande e de
instituições previdenciárias (RAGADALI FILHO et al., 2015).

Nesse sentido, geram inquietações e, por vezes, questionamentos sobre os


limites do papel dos profissionais dentro da equipe de assistência, necessitando de uma
assistência interdisciplinar.

A categoria das doenças do trabalho ou relacionadas ao trabalho são


enquadradas em disfunções nas quais não se identifica apenas um agente causal, mas
vários, dentre os quais, os laborais.

FIGURA 14 – DOENÇA COM UM AGENTE CAUSAL

FONTE: <https://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/ler_dort.pdf>. Acesso em: 20 ago. 2021.

164
FIGURA 15 – DOENÇA LABORAL COM MAIS DE UM AGENTE

FONTE: <https://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/ler_dort.pdf>. Acesso em: 20 ago. 2021.

No Brasil, a Previdência Social passou a reconhecer a tenossinovite do digitador


como doença ocupacional somente a partir de l987, não porque já não houvesse farta
bibliografia internacional antes disso, mas porque somente nesse ano, a pressão social da
categoria dos digitadores obteve essa conquista (MAENO et al., 2001).

O reconhecimento de doenças relacionadas ao trabalho depende de negocia-


ções entre os setores sociais e legislação de cada país. A síndrome de origem ocupacio-
nal foi realmente reconhecida por meio da Norma Técnica de Avaliação de Incapacidade
de 1991. Em 1997, com a revisão dessa norma, foi introduzida a expressão Distúrbios
Osteomusculares Relacionados ao Trabalho (DORT) (MAENO et al., 2001).

INTERESSANTE
Você sabia que, no Brasil, a primeira referência oficial às LER foi destacada
pela Previdência social, com a terminologia tenossinovite do digitador,
através da Portaria n° 4.06n, de 06/08/87?

165
FIGURA – PROFISSÃO DE DIGITADOR EM 1987

FONTE: <https://comunidadedoestagio.com/blog/a-mulher-e-o-mercado-de-trabalho>.
Acesso em: 20 ago. 2021.

No diagnóstico, prevenção e tratamento das LER/DORT pelas equipes de


profissionais do sistema de saúde tem-se adotado recentemente a perspectiva da
multideterminação desses distúrbios, ou seja, de que são afecções multifatoriais cuja
abordagem exige investigação das dimensões biomecânicas, cognitivas, sensoriais
e afetivas da atividade de trabalho. O Ministério da Saúde orienta para a constituição
de uma equipe multidisciplinar, dentro dos serviços especializados, baseada nesta
abordagem multifatorial, para investigação do diagnóstico, prevenção e tratamento
(MAENO et al., 2001).

2.2 DIAGNÓSTICO E TRATAMENTO


O diagnóstico das LER/DORT é essencialmente baseado no histórico ocupacional
e no exame clínico e físico dos pacientes. Se possível, considera-se importante realizar
também uma análise ergonômica do trabalho realizado pelo indivíduo que apresenta os
sintomas (CHIAVEGATO FILHO; PEREIRA JUNIOR, 2004).

Muitas vezes, os portadores de LER/DORT apresentam quadros clínicos onde os


sintomas e a dor crônica não condizem com os resultados do exame clínico. Seu maior
sintoma é a própria dor do paciente, que pode apresentar, ainda, queixas de parestesias,
edema, perda da força muscular e/ou diminuição dos controles dos movimentos
(CHIAVEGATO FILHO; PEREIRA JUNIOR, 2004).

166
A dor não segue curso linear e não tem estágios definidos. Ela depende de in-
terações entre a percepção do sintoma, suas interpretações, expressão e os comporta-
mentos de defesa. Neste contexto, os fatores culturais e sociais devem ser considera-
dos. A sensação dolorosa é acompanhada de reações cognitivas e emocionais, podendo
explicar o comportamento do indivíduo (CHIAVEGATO FILHO; PEREIRA JUNIOR, 2004).

Na evolução do quadro clínico, em relação ao estabelecimento da sintomatologia,


com base no desenvolvimento da dor e da capacidade funcional do paciente, pode-se
estabelecer graus que variam do I ao IV.

O nível I corresponderia a uma sensação de peso e desconforto do membro


afetado, com caráter ocasional, enquanto o nível IV corresponderia a uma dor forte e um
sofrimento intenso, com manifestação de edema persistente e aparente deformidade
(CHIAVEGATO FILHO; PEREIRA JUNIOR, 2004).

O tratamento ideal é considerado como resultante da colaboração de diversos


profissionais (psicólogos, terapeutas ocupacionais, fisioterapeutas, enfermeiros, assis-
tentes sociais, médicos e ergonomistas), ou seja, de uma equipe multidisciplinar, que
deve responsabilizar-se pela avaliação de cada um dos casos atendidos e pela definição
de um procedimento terapêutico individualizado correspondente (CHIAVEGATO FILHO;
PEREIRA JUNIOR, 2004).

Esta equipe deve orientar e informar o paciente acerca de sua condição e


contexto, visando:

• participação ativa deste no processo de recuperação;


• propiciar emancipação e autonomia do paciente em relação ao tratamento adequado
a sua sintomatologia;
• discutir as repercussões das LER/DORT no seu cotidiano familiar e social;
• possibilitar a ressignificação da doença, seus determinantes e suas consequências,
diminuindo a ansiedade, angústia e depressão do cotidiano;
• aumentar gradativamente a capacidade laboral e possibilitar o seu retorno ao trabalho
(CHIAVEGATO FILHO; PEREIRA JUNIOR, 2004).

As atividades a serem desenvolvidas e que englobariam esses objetivos incluem


a terapia corporal, fisioterapia, grupos de informação e aconselhamento, grupos terapêu-
ticos, tratamento medicamentoso etc. (CHIAVEGATO FILHO; PEREIRA JUNIOR, 2004).

A abrangência de todos esses aspectos no tratamento deve-se à pouca eficácia


dos tratamentos isolados e à conduta dos portadores de LER/DORT, que frequentemente,
apresentam dependência, passividade, resignação. Com o surgimento das LER/DORT, há
uma desestruturação da identidade, frequentemente seguida de quadros graves de de-
pressão. Neste caso, a possibilidade de uma reavaliação da vida afetiva e profissional pode
ocorrer durante as atividades de reabilitação, ou ser incluída como parte de um programa
interdisciplinar de recuperação (CHIAVEGATO FILHO; PEREIRA JUNIOR, 2004).

167
Os programas de prevenção das LER/DORT são considerados eficientes e
consistentes se todos os aspectos, organizacionais, ergonômicos, psicossociais e
biomecânicos, forem considerados simultaneamente, sendo esta a melhor forma de
obter os resultados positivos esperados.

Uma ação preventiva pode ser construída baseando-se numa abordagem de


natureza ergonômica, organizacional ou psicossocial. No caso do ambiente de trabalho,
quando se fala em prevenção, as empresas, em sua maioria, preferem trabalhar apenas
com aspectos biomecânicos, pelas mudanças nos equipamentos e no mobiliário e de uma
orientação para a correção de posturas, ignorando os aspectos ligados à organização do
trabalho. Essa postura pode contribuir para piorar ou não resolver o quadro clínico dos
distúrbios, dependendo da configuração que se obtém dos outros fatores determinantes
das LER/DORT no local de trabalho (CHIAVEGATO FILHO; PEREIRA JUNIOR, 2004).

2.3 FISIOTERAPIA NA LER/DORT


Dentro do escopo da fisioterapia existem várias condutas possíveis para o
controle do quadro álgico no tratamento dessas disfunções, que podem englobar
acupuntura e osteopatia, inclusive. Na fisioterapia convencional no início do tratamento,
com quadro clínico instável, pode ser utilizado o laser, ultrassom e TENS associado à
massoterapia e cinesioterapia (CHIAVEGATO FILHO; PEREIRA JUNIOR, 2004).

Quando a lesão já é crônica, a utilização do TENS tem se mostrado eficaz nas


desordens musculoesqueléticas, devido a uma memória dolorosa vinculada a uma
sensibilização de fibras de grandes diâmetros, não nociceptivas, secundária à lesão
tecidual, faz com que ocorram modificações no sistema de fosforilação dos receptores
e dos canais iônicos, o TENS pode agir tanto na dessensibilização do Sistema Nervoso
Central, estimulando a liberação de neuromoduladores medulares, como nas fibras
de grande diâmetro, não nociceptiva, auxiliando na melhora da memória dolorosa
que não é mais proveniente apenas da lesão tecidual (CHIAVEGATO FILHO; PEREIRA
JUNIOR, 2004).

168
FIGURA 16 – APLICAÇÃO DO TENS

FONTE: <https://praticandofisio.com/estimulacao-nervosa-eletrica-transcutanea-tens/>.
Acesso em: 20 set. 2021.

3 DERMATOSES DO TRABALHO
As dermatoses ocupacionais representam parcela ponderável das doenças
profissionais. Sua prevalência é de avaliação difícil e complexa. Grande número dessas
dermatoses não chega às estatísticas e sequer ao conhecimento dos especialistas.

FIGURA 17 – DERMATOSES OCUPACIONAIS

FONTE: <https://www.qualicorp.com.br/qualicorp-explica/saude-do-trabalhador/dermatoses-
ocupacionais/>. Acesso em: 21 set. 2021.

Muitas são autotratadas, outras são atendidas no próprio ambulatório da


empresa. Algumas chegam até o clínico e ao especialista nos consórcios médicos
que prestam assistência em regime de convênio com o Instituto Nacional de Segu-
ridade Social (INSS). Apenas uma pequena parcela dessas dermatoses chega até os
serviços especializados.

169
Dermatoses causadas por agentes físicos, químicos e biológicos decorrentes da
exposição ocupacional e das condições de trabalho são responsáveis por desconforto,
dor, prurido, queimação, reações psicossomáticas e outras que geram até a perda do
posto de trabalho (BRASIL, 2006).

3.1 ETIOLOGIA E DIAGNÓSTICO


Dois grandes grupos de fatores podem ser enumerados como condicionadores
de dermatoses ocupacionais:

• causas indiretas ou fatores predisponentes;


• causas diretas: são constituídas por agentes biológicos, físicos, químicos, existentes
no meio ambiente e que atuariam diretamente sobre o tegumento, quer causando,
quer agravando dermatose preexistente (BRASIL, 2006).

Já para o diagnóstico e o estabelecimento das condutas adequadas das


dermatoses ocupacionais, confirmadas ou suspeitas, é importante considerar os
seguintes aspectos:

• quadro clínico;
• história de exposição ocupacional;
• melhora com o afastamento e piora com o retorno ao trabalho;
• teste epicutâneo positivo, nos casos de dermatites de contato por sensibilização.

3.2 FISIOTERAPIA NAS DERMATOSES OCUPACIONAIS


Como recurso fisioterapêutico, pode-se utilizar as radiações de UVB ou UVA
(ultravioleta A, ondas longas entre 320 e 400 nm), acompanhadas por um sensibilizador,
ultrassom e laser.

A radiação ultravioleta (UV) é fornecida por lâmpadas especiais, utilizadas no


tratamento da psoríase. Essa modalidade terapêutica traz vários benefícios, pois altera
as biologias cutâneas, levando ao efeito terapêutico desejado. Alguns desses efeitos
são aparecimento de eritema, pigmentação da pele (melanina); espessamento das
camadas superficial da pele; produção de vitamina D, efeito bactericida (BRASIL, 2006).

170
FIGURA 18 – RADIAÇÃO UV NO TRATAMENTO DE PSORÍASE

FONTE: <https://saude.novartis.com.br/psoriase/o-que-e-fototerapia/>. Acesso em: 21 set. 2021.

A fototerapia é indicada para diversas dermatoses, muitas de alta incidência


e difícil controle. Algumas doenças em que a radiação ultravioleta pode atuar são a
psoríase, eczema (particularmente eczema atópico), escabiose, vitiligo. Os pacientes
com placas resistentes aos tratamentos tópicos ou comprometendo mais de 20%
da superfície corporal também se beneficiam dessa modalidade. Também é indicada
para o controle da dermatite atópica mediante seus mecanismos anti-inflamatórios e
imunossupressores (DUARTE; BUENSE; KOBATA, 2006).

A terapia com raios laser de baixa potência é uma técnica capaz de acelerar o
processo de reparação de tecidos biológicos traumatizados. Segundo alguns autores, os
mecanismos que envolvem o processo de bioestimulação ocorrem em nível molecular.
Neste caso, a luz laser penetra o interior do tecido onde é absorvido por determinados
cromóforos, resultando no aumento do metabolismo celular através do aumento da
síntese de ATP pelas mitocôndrias. Pesquisas recentes demonstram que a aplicação
do laser de baixa potência em determinadas patologias cutâneas possui a capacidade de
estimular a proliferação de fibroblasto, além de diminuir o edema local, favorecendo a
neovascularização (DUARTE; BUENSE; KOBATA, 2006).

171
FIGURA 19 – TERAPIA COM LASER DE BAIXA FREQÊNCIA

FONTE: <https://interfisio.com.br/terapia-com-laser/>. Acesso em: 21 set. 2021.

4 DOENÇAS DO APARELHO RESPIRATÓRIO


As doenças respiratórias ocupacionais, no Brasil, embora muito frequentes,
são pouco conhecidas do grande público. Asma ocupacional, rinite ocupacional,
DPOC, câncer de pulmão e pneumoconioses, como a silicose, estão entre os principais
problemas adquiridos ou agravados em ambiente de trabalho devido à exposição a
agentes específicos, como a poluição do ar, gases, fumos ou partículas nocivas
(BRASIL, 2006).

Mas os diversos tipos de partículas produzem diferentes ações no organismo.


Algumas causam reações alérgicas, como o pólen das plantas, responsável pela febre
do feno ou por um tipo de asma. As partículas como o pó de carvão, o carvão e o óxido
de estanho não produzem muita reação nos pulmões. Outras, como o pó de quartzo e de
amianto podem causar cicatrizes permanentes no tecido pulmonar (fibrose pulmonar).
Em quantidades importantes, certas partículas, como o amianto, podem causar cancro
nos fumadores (BRASIL, 2006).

4.1 ATUAÇÃO DA FISIOTERAPIA


A fisioterapia respiratória nas doenças obstrutivas tem como objetivo tratar
o paciente proporcionando a melhora da sua funcionalidade pulmonar através da
limpeza brônquica, estimulando a eliminação das secreções, relaxando a musculatura
brônquica, otimizando a ventilação pulmonar e melhorando o condicionamento
cardiopulmonar do paciente.

As técnicas convencionais da fisioterapia são a drenagem postural, percussões,


expiração forçada e técnicas de tosse (tosse explosiva e huffing).

172
FIGURA 20 – FISIOTERAPEUTA AUXILIANDO NA TOSSE EXPLOSIVA

FONTE: <https://docplayer.com.br/64655454-Tecnicas-de-remocao-de-secrecoes-bronquicas.html>.
Acesso em: 21 set. 2021.

173
RESUMO DO TÓPICO 2
Neste tópico, você aprendeu:

• As lesões por esforços repetitivos (LER) ou distúrbios osteomusculares relacionados


ao trabalho (DORT) são um conjunto de doenças que afetam músculos, tendões,
nervos e vasos dos membros superiores e inferiores e que têm relação direta com as
exigências das tarefas, ambientes físicos e com a organização do trabalho.

• No diagnóstico, prevenção e tratamento das LER/DORT pelas equipes de


profissionais do sistema de saúde, tem-se adotado recentemente a perspectiva da
multideterminação desses distúrbios, ou seja, de que são afecções multifatoriais cuja
abordagem exige investigação das dimensões biomecânicas, cognitivas, sensoriais e
afetivas da atividade de trabalho.

• Os programas de prevenção das LER/DORT são considerados eficientes e consistentes


se todos os aspectos, organizacionais, ergonômicos, psicossociais e biomecânicos,
forem considerados simultaneamente, sendo esta a melhor forma de obter os
resultados positivos esperados.

174
AUTOATIVIDADE
1 A reabilitação em saúde do trabalhador deve ser multiprofissional e possibilitar a
reinserção do trabalhador no meio laboral. Nesse sentido, assinale a alternativa
INCORRETA sobre os objetivos da reabilitação:

a) ( ) Participação ativa deste no processo de recuperação e propiciar emancipação,


autonomia do paciente em relação ao tratamento adequado a sua sintomatologia.
b) ( ) Discutir as repercussões das LER/DORT no seu cotidiano familiar e social.
c) ( ) Possibilitar a ressignificação da doença, seus determinantes e suas consequên-
cias, diminuindo a ansiedade, angústia e depressão do cotidiano.
d) ( ) Diminuir gradativamente a capacidade laboral e possibilitar o seu afastamento
ao trabalho.

2 As LER e DORT são disfunções que atingem as partes moles dos músculos esque-
léticos causada pela atividade contínua e repetitiva que sobrecarrega o organismo,
em que não há uma causa única para a ocorrência. Nesse contexto, analise as sen-
tenças a seguir:

I- As lesões por esforços repetitivos (LER) ou distúrbios osteomusculares relaciona-


dos ao trabalho (DORT) não têm relação direta com as exigências das tarefas, am-
bientes físicos e com a organização do trabalho.
II- Os fatores de risco para a ocorrência de LER/DORT não são independentes e
interagem entre si e devem ser analisados de forma integrada.
III- Os estudos centrados apenas nos aspectos físicos podem ser suficientes para
diagnosticar as LER/DORT.

Assinale a alternativa CORRETA:


a) ( ) As sentenças I e II estão corretas.
b) ( ) Somente a sentença II está correta.
c) ( ) As sentenças I e III estão corretas.
d) ( ) Somente a sentença III está correta.

175
3 Classifique V para as sentenças verdadeiras e F para as falsas:

( ) As lesões por esforços repetitivos (LER) ou distúrbios osteomusculares relacionadas


ao trabalho (DORT) são um conjunto de doenças que afetam músculos, tendões,
nervos e vasos dos membros superiores e inferiores.
( ) No diagnóstico, prevenção e tratamento das LER/DORT pelas equipes de
profissionais do sistema de saúde, tem-se adotado recentemente a perspectiva da
multideterminação desses distúrbios.
( ) Os programas de prevenção das LER/DORT são considerados eficientes e
consistentes se apenas um aspecto for considerado.

Assinale a alternativa que apresenta a sequência CORRETA:


a) ( ) V – F – F.
b) ( ) V – V– F.
c) ( ) F – V – F.
d) ( ) F – F – V.

4 A dermatose ocupacional é qualquer alteração na pele ou em seus anexos que esteja


relacionada direta ou indiretamente com a atividade profissional desempenhada
ou ambiente de trabalho. Disserte sobre a atuação da fisioterapia nas doenças
dermatológicas relacionadas ao trabalho.

5 As doenças respiratórias ocupacionais, no Brasil, embora muito frequentes, são


pouco conhecidas. Têm sua origem ocupacional relacionada à inalação de partículas,
névoas, vapores ou gases nocivos no ambiente de trabalho, a qual denominamos
de agentes químicos. Neste contexto, disserte sobre a atuação da fisioterapia nas
doenças do aparelho respiratório do trabalhador.

176
UNIDADE 3 TÓPICO 3 -
FUNDAMENTOS E RECURSOS
UTILIZADOS NA REABILITAÇÃO NA
SAÚDE DO TRABALHADOR

1 INTRODUÇÃO
Apesar dos programas de tratamentos e reabilitação na saúde do trabalhador
indicarem uma abordagem multidisciplinar, a fisioterapia é muitas vezes o primeiro e
único procedimento terapêutico acessível e pode ser uma etapa de longa duração no
tratamento desses trabalhadores (MENDES; LANCMAN, 2010).

A utilização de recursos físicos é importante para o controle da dor dos


trabalhadores. Os recursos analgésicos devem ser associados à cinesioterapia
para proporcionar a redução do edema e da inflamação, a melhora das condições
circulatórias, o relaxamento da musculatura, a amenização da dor e uma potencialização
da capacidade funcional desses pacientes (MENDES; LANCMAN, 2010).

É necessário estabelecer os objetivos gerais do tratamento e da reabilitação


e os objetivos específicos para cada caso, entendendo-se que esses dois processos
devem ser concomitantes.

Essas metas devem ser conhecidas pelo paciente, pois, do contrário, as


pequenas conquistas não serão valorizadas, esperando-se curas radicais e imediatas.
Cada passo conquistado deve ser ressaltado e devidamente valorizado.

Nesse sentido, discutiremos técnicas e recursos que podem ser utilizados. No


primeiro tópico, falaremos de métodos mais utilizados na analgesia.

Já no segundo tópico, falaremos da cinesioterapia, recurso essencial para as


lesões laborais e sua reabilitação. E, por fim, iremos discorrer sobra a prática da ginástica
laboral e formas de aplicação.

A fisioterapia (eletrotermoterapia, massoterapia, cinesioterapia) se faz da


combinação de técnicas adequadas que deve ser definida para cada caso, não é
possível padronizar o tipo e nem a duração do tratamento. A conduta fisioterapêutica
que trata o quadro álgico pode utilizar crioterapia, bandagens e TENS, o edema com
ultrassom e massoterapia, a cinesioterapia trabalha com FES, movimentos ativos e
ativos resistidos, e a sensibilidade pode ser tratada com diferentes texturas como, por
exemplo, chumaços de algodão, buchas e escovas (BRASIL, 2001).

177
Deve-se lembrar que tão importante quanto o uso adequado de aparelhos é a
presença ativa do fisioterapeuta, que deve avaliar cada caso no decorrer do tratamento
e modificar as técnicas de acordo com a evolução.

A “mão” e a experiência do fisioterapeuta são cruciais para a definição e


redefinição do tratamento.

Essa unidade é muito importante para sua atuação nessa área, pois lhe
dará ferramentas para intervir neste meio, mas não esqueça sobre o que já falamos
anteriormente, as disfunções laborais são multifatoriais e, por isso, é muito importante
o trabalho de uma equipe multiprofissional para uma reabilitação efetiva.

FIGURA 21 – FISIOTERAPIA NO TRATAMENTO DE LER/DORT

FONTE: <https://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/diag_tratamento_ler_dort.pdf>.
Acesso em: 23 ago. 2021.

IMPORTANTE
Antes de entrarmos no tratamento, lembre-se de que é muito importante
saber quem é o paciente a ser tratado.

É apenas um paciente com uma tenossinovite ou uma síndrome do túnel do


carpo? Ou é um trabalhador que se encontra debilitado sob o ponto de vista
físico, e que por isso, tem inúmeras preocupações e ansiedades adicionais em
relação a sua vida pessoal e profissional?

Como já falamos, isso é crucial no resultado da reabilitação.

178
FIGURA – QUEM É O TRABALHADOR?

FONTE: <https://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/diag_tratamento_ler_dort.pdf>.
Acesso em: 23 ago. 2021.

2 TÉCNICAS DA FISIOTERAPIA UTILIZADAS PARA


ANALGESIA NA SAÚDE DO TRABALHADOR
A dor é a principal causa do paciente que procura o serviço, deverá ser abordada
e a equipe procurará os meios adequados para o alívio e, em seguida, estabelecerá os
objetivos do tratamento (DIAS, 2012).

Os objetivos, procedimentos e etapas serão compartilhados com o paciente,


de modo a incentivar sua percepção da evolução do quadro, no tocante a pequenos
avanços, como melhora do sono, capacidade de realizar cuidados pessoais (se vestir, se
lavar) que exigem posturas extremas dos braços.

2.1 FUNDAMENTOS DA ELETROTERMOTERAPIA


A eletrotermofototerapia é muito utilizada na prática clínica da fisioterapia, e
sua efetividade foi observada em revisão sobre desordens osteomioarticulares. Com
a redução da dor há, consequentemente, aumento na amplitude de movimento, força
muscular, mobilidade, resistência física, habilidade de andar e estado funcional (FERREI-
RA; MARINO; CAVENAGHI, 2011).

O laser de baixa potência é amplamente utilizado em pacientes com desordens


osteomioarticulares e os efeitos terapêuticos desse tipo de laser são a ação anti-
inflamatória, a analgesia e a modulação da atividade celular.

179
FIGURA 22 – LASER

FONTE: <https://blog.carcioficial.com.br/laserterapia/>. Acesso em: 25 ago. 2021.

A estimulação elétrica pode trazer inúmeros benefícios quando indicada no


controle da dor, pois, com a sua redução, o paciente aumenta o seu nível de função e
atividade, pode participar de programas de exercícios físicos e melhorar a sua qualidade
de vida (QV) (FERREIRA; MARINO; CAVENAGHI, 2011).

A estimulação elétrica nervosa transcutânea (TENS) tem como ação mais


reconhecida a analgesia, que ocorre por meio de corrente elétrica de baixo limiar que
inibe a transmissão dos estímulos dolorosos na medula espinhal e liberam opioides
endógenos, como as endorfinas.

FIGURA 23 – TENS

FONTE: <https://www.tuasaude.com/fisioterapia-tens/>. Acesso em: 25 ago. 2021.

180
O ultrassom (US) terapêutico é utilizado pela fisioterapia por seus efeitos
fisiológicos decorrentes tanto de sua ação mecânica como térmica. A ação mecânica
aumenta a permeabilidade celular, diminui a resposta inflamatória, reduz a dor por meio
da diminuição da velocidade de condução nas fibras nervosas e facilita o processo de
cicatrização dos tecidos moles. O US contínuo tem ação térmica que contribui para
o aumento da vasodilatação local e melhora da inflamação crônica, reduz o espasmo
muscular e a dor (RICCI; DIAS; DRIUSSO, 2010).

FIGURA 24 – ULTRASSOM

FONTE: <https://www.shopfisio.com.br/sonopulse-iii-ibramed-aparelho-de-ultrassom-1-e-3mhz-
2x1--p1060492/p>. Acesso em: 25 ago. 2021.

O calor e o gelo também podem ser utilizados, inclusive é orientado ao paciente


realizar no período que não estiver na fisioterapia. A crioterapia é uma técnica em que
se utiliza o frio, com a finalidade de absorver calor do tecido corporal em que está
sendo aplicado, tendo como consequências a diminuição do metabolismo, efeitos anti-
inflamatórios e analgésicos (SILVA et al., 2018).

O mecanismo de ação analgésico da crioterapia envolve a redução na velocidade


de condução das fibras nervosas pela transmissão assincrônica nas fibras da dor, libera-
ção de endorfinas e inibição dos neurônios espinhais, além de um aumento no período
refratário, o que leva à redução gradativa na transmissão de impulsos nos nervos sensi-
tivos, e tem aplicabilidade com melhor resultado em doenças agudas (SILVA et al., 2018).

Já o calor é utilizado para lesões crônicas, com função de promover a


vasodilatação, usado, principalmente, para os músculos. Ele ajuda a aliviar a dor de
espasmos musculares, pontos de gatilho (espasmos localizados ou nós musculares) e
o estresse psicológico (que pode ser um fator importante em muitos problemas de dor)
(SILVA et al., 2018).

181
2.2 FUNDAMENTOS DA TERAPIA MANUAL
A terapia manual reúne diversas técnicas, a liberação miofascial, mobilização
e a manipulação vertebral (movimentos oscilatórios que visam liberar a vértebra e
reposicionamento dela, respectivamente) são utilizadas no tratamento de várias
patologias, incluindo as LER/DORT.

FIGURA 25 – MANIPULAÇÃO DE JOELHO

FONTE: <https://clinicabalance.com.br/fisioterapia/>. Acesso em: 25 ago. 2021.

FIGURA 26 – LIBERAÇÃO MIOFASCIAL DE TRAPÉZIO

FONTE: <https://www.girajunto.com.br/massagem-de-liberacao-miofascial/>.
Acesso em: 25 ago. 2021.

182
As técnicas de mobilização articular e neural requerem dos profissionais
fisioterapeutas o conhecimento biomecânico, para que então ocorra melhoras nos
resultados do tratamento de pacientes com comprometimento musculoesquelético.

Os parâmetros devem ser considerados e determinados antes da aplicação da


técnica. Podemos considerar, os mais importantes, a posição da articulação, direção da
força, quantidade de movimento e velocidade durante aplicação da técnica e a dor do
paciente (SILVA et al., 2018).

Os efeitos da terapia manual são satisfatórios, pois seu objetivo principal vai além
do aumento da flexibilidade. Atua também na prevenção de aderências intra-articulares
e fibrilação cartilaginosa, em resumo, o objetivo é a restauração dos movimentos e
prevenção articular quando há movimento limitado.

2.3 FUNDAMENTOS DA ACUPUNTURA


A LER e DORT são acometidos por diversos fatores. Na Medicina Tradicional
Chinesa, acredita-se que o fator do problema é um desequilíbrio energético do
meriadiano do fígado.

A acupuntura é uma intervenção complexa que varia de acordo com o pacien-


te, ainda que as queixas sejam similares. O número e a extensão dos tratamentos e os
pontos específicos utilizados variam de indivíduo para indivíduo e até mesmo durante o
tratamento. Da mesma forma que em outros tipos de tratamentos não tenha uma boa
resposta, na acupuntura também há alguns indivíduos que não respondem tão bem
como o esperado.

A Medicina Tradicional Chinesa defende que para você ter uma boa saúde, é
preciso estar em equilíbrio e harmonia entre Ying e Yang, na qual são duas energias
diferentes, mas que se completam. Existem 365 pontos no corpo humano, que estão
relacionados com os meridianos correspondendo com os órgãos e vísceras. Alguns
pontos tendem a convergir o chi para o interior do corpo, enquanto outros trazem
energia para a superfície. Cada caso é um caso, portanto a escolha dos pontos a serem
aplicados para pacientes dependerá disso (MINORI, 2005).

183
FIGURA 27 – PONTOS DE ACUPUNTURA

FONTE: <https://www.tuasaude.com/pontos-de-acupuntura/>. Acesso em: 25 ago. 2021.

184
3 CINESIOTERAPIA
Os recursos analgésicos devem ser associados à cinesioterapia para propor-
cionar a redução do edema e da inflamação, a melhora das condições circulatórias, o
relaxamento da musculatura, a amenização da dor e uma potencialização da capaci-
dade funcional destes pacientes (MENDES; LANCMAN, 2010).

Esse recurso pode ser realizado individualmente ou em grupo quando há mais


de um funcionário com disfunção.

Estudo realizado por Mendes e Lancman (2010) utilizou intervenção grupal e


individual. Os dois tipos de intervenção ocorreram em dez sessões, com uma frequência
de duas vezes por semana.

O protocolo de cinesioterapia foi o mesmo para as duas intervenções: individual


e grupal. Os exercícios foram baseados em técnicas de autoalongamento, fortalecimento
muscular, mobilização articular ativa, facilitação neuromuscular proprioceptiva, reedu-
cação postural e exercícios respiratórios (MENDES; LANCMAN, 2010).

FIGURA 28 – PROTOCOLO DE MENDES E LANCMAN ADAPTADO

Resumo do protocolo de cinesiosterapia


- Exercícios respiratórios.
- Autoalongamento dos músculos: serrátil anterior, elevador da escápula,
peitoral maior, flexores e extensores de punho, intrínsecos dos dedos das
mãos, inclinadores laterais, rotadores e flexores de coluna cervical.
- Mobilização ativa de coluna cervical, ombros, punhos, coluna lombar e pelve.
- Fortalecimento dos músculos rombóides, musculatura flexora, abdutora e
rotadora de ombros e da musculatura intrínseca das mãos.
- Autopostura: cadeia posterior, cadeia anterior de membro superior e cadeia
anterointerna de quadril.
- Facilitação neuromuscular proprioceptiva: diagonais de membros superiores.

FONTE: <https://www.scielo.br/j/rbso/a/
qv3xm3bfWsPYyCxkhZbsFnc/?lang=pt#ModalFigfig04q01>. Acesso em: 25 ago. 2021.

Este autor discorre que o tratamento cinesioterapêutico individual e o associa-


do às dinâmicas de grupo permite uma abordagem mais global do processo de adoeci-
mento, recuperação e reabilitação do paciente com LER/DORT, mesmo não sendo sufi-
ciente de forma isolada para garantir o retorno ao trabalho (MENDES; LANCMAN, 2010).

185
3.1 ALONGAMENTOS
As técnicas de alongamento podem ser enquadradas em três tipos: alonga-
mento estático, balístico e por facilitação neuromuscular proprioceptiva. Os métodos
para alongar tecidos moles podem ser divididos em: alongamento passivo e autoalon-
gamento (MORCELLI; OLIVEIRA; NAVEGA, 2013).

FIGURA 29 – ALONGAMENTO PASSIVO

FONTE: <https://www.cnotortopedia.com.br/post/tratamento-conservador-de-tendinites-ao-
redor-do-joelho>. Acesso em: 21 set. 2021.

FIGURA 30 – AUTOALONGAMENTO

FONTE: <http://resumofisioterapia.blogspot.com/2017/12/cinesioterapia-alongamento.html>.
Acesso em: 21 set. 2021.

No alongamento estático, músculos e tecidos conjuntivos são mantidos em


posição estacionária no maior comprimento possível por um tempo determinado. Não é
aplicada força por parte do paciente, diminuindo a chance da ocorrência de microtraumas
(MORCELLI; OLIVEIRA; NAVEGA, 2013).

186
No alongamento balístico são utilizados movimentos rápidos que modificam o
comprimento do músculo e tecido conjuntivo. Porém, as chances de ocorrer microtraumas
após um alongamento excessivo do músculo são maiores que no alongamento estático
(MORCELLI; OLIVEIRA; NAVEGA, 2013).

O alongamento passivo é de curta duração e requer uma força externa aplicada


pelo terapeuta, o qual controla a direção, velocidade, intensidade e duração da ação e
ultrapassa o comprimento de repouso (MORCELLI; OLIVEIRA; NAVEGA, 2013).

A inibição ativa ou manter-relaxar (FNP) baseia-se no processo de contração


isométrica do músculo que, após a contração, irá se relaxar como resultado da inibição
autogênica, permitido pelo OTG, inibindo a tensão muscular e tornando o alongamento
mais efetivo (MORCELLI; OLIVEIRA; NAVEGA, 2013).

No autoalongamento, o próprio paciente realiza o alongamento. A orientação


do paciente para realizar com segurança procedimentos de autoalongamento em casa
é importante para a prevenção de novas lesões ou futuras disfunções. Os princípios
de intensidade e duração de alongamento que se aplicam ao autoalongamento são os
mesmos do alongamento passivo (MORCELLI; OLIVEIRA; NAVEGA, 2013).

As estruturas que estão envolvidas no processo de alongamento podem ser


divididas em dois grupos: macroscópicas e microscópicas. As estruturas macroscópi-
cas são: ossos, cartilagens, sinóvia, disco e menisco, cápsulas articulares, ligamentos,
músculos, tendões e fáscias. As microscópicas são: elementos contráteis do músculo,
as propriedades neurofisiológicas do tecido contrátil e os tecidos moles não contráteis
(MORCELLI; OLIVEIRA; NAVEGA, 2013).

3.2 MOBILIDADE
Os exercícios de mobilidade ainda são confundidos com alongamento,
flexibilidade e até mesmo com amplitude de movimento. Contudo, podemos definir
mobilidade como a capacidade de explorar nossas articulações em toda sua amplitude,
onde um único movimento pode envolver mais de uma articulação, e a mobilidade
pode ser afetada por tensões musculares, aderência, tecidos moles e cápsula articular,
adaptações neuromusculares e propriocepção (MORCELLI; OLIVEIRA; NAVEGA, 2013).

Existe uma relação entre mobilidade e estabilidade de natureza inversa,


onde uma articulação com excesso de mobilidades provavelmente terá uma menor
estabilidade, e uma articulação que não é muito móvel irá apresentar uma estabilidade
maior (MORCELLI; OLIVEIRA; NAVEGA, 2013).

187
Os exercícios de mobilidade normalmente são movimentos dinâmicos realiza-
dos nas articulações do tornozelo, quadril, torácica e glenoumeral (ombro). Têm como
objetivo melhorar, restaurar ou manter a amplitude do movimento, e estão atrelados
à performance funcional, nome dado à capacidade de desempenhar ações das ativi-
dades da vida diária ou gesto motor específico de algum esporte com máxima efici-
ência e sem gerar compensações, reduzindo o risco de lesões (MORCELLI; OLIVEIRA;
NAVEGA, 2013).

3.3 FORTALECIMENTO E POTÊNCIA


O treinamento de força com ou sem resistência são essenciais nos programas de
condicionamento e para quem deseja manter a saúde e o bem-estar físico, favorecendo
potencialmente o desempenho de habilidades motoras.

Pode ser definido como uso de protocolos de resistência progressiva como


levantamento de pesos livres, que aumentam a capacidade de exercer a força ou resistir
a ela (PEREIRA et al., 2018).

Exercício de fortalecimento é o procedimento sistemático, de um músculo ou grupo


muscular, de levantar, abaixar ou controlar cargas pesadas (resistência) durante um número
relativamente baixo de repetições ou um curto período de tempo (PEREIRA et al., 2018).

Os resultados são as adaptações do treinamento de força são consequências


da exposição repetida a exercícios específicos que ativam mecanismos fisiológicos
relacionados à capacidade de “moldar” a necessidade de exercer força (esse aumento
é tanto devido a fatores neurais quanto a quantidade de fibras musculares). Como
consequência direta dos padrões de estimulação nervosa ou do perfil mecânico da
contração, tem-se, na força, distintas formas de manifestações.

FIGURA 31 – FORTALECIMENTO DE MEMBRO SUPERIOR

FONTE: <https://secad.artmed.com.br/blog/fisioterapia/como-mensurar-grau-forca-muscular/>.
Acesso em: 30 ago. 2021.

188
3.4 GINÁSTICA LABORAL
A intervenção de ginástica laboral deverá propor ações didático-pedagógicas
que proporcionem a consecução dos objetivos propostos por essa atividade, o foco da
ginástica laboral é contemplar a população de “trabalhadores saudáveis”.

A ginástica laboral pode ser realizada antes (preparatória), durante ou após


(compensatória) a jornada de trabalho. Efetuada no próprio local de trabalho em sessões
de 5, 10 ou 15 minutos, tem como principais objetivos a prevenção aos DORT (Distúrbios
Osteomusculares Relacionados ao Trabalho) e diminuição do estresse através de
exercícios de alongamento e relaxamento (SOUZA, 2011).

Utilizando os três aspectos (físico, psicológico e social), a ginástica laboral


constitui-se de séries de exercícios diários realizados no local de trabalho, durante a
jornada, que visa atuar na prevenção das lesões ocasionadas pelo trabalho, normalizar
as funções corporais e proporcionar aos funcionários um momento de descontração e
sociabilização, durante a jornada (SOUZA, 2011).

Também pode ser conceituada como uma atividade física realizada durante a
jornada de trabalho, com exercícios de compensação aos movimentos repetitivos, à
ausência de movimentos, ou a posturas desconfortáveis assumidas durante o período
de trabalho.

A atuação educativa precisará acontecer neste tempo e cenário, exigindo do


professor, domínio metodológico e didático. Essa intervenção pode utilizar-se dos
diversos conteúdos relacionados à cultura corporal de movimento, dentre eles: ginástica
(com exercícios de resistência muscular localizada, flexibilidade, equilíbrio, coordenação
motora), jogos (cooperativos, dinâmicas de grupo), práticas complementares (técnicas
de massagem, técnicas respiratórias), entre outros.

A prática de exercícios físicos e preventivos devem ser planejados de acordo


com as características de cada tarefa laboral, realizados durante a jornada de trabalho.

Os programas de ginástica laboral são adequados a qualquer tipo de empresa,


desde que seja conhecido o sistema de trabalho, atividades e demandas físicas, conhe-
cimento do grupo para que os exercícios adotados sejam os mais adequados à realidade
da empresa (SOUZA, 2011).

Para um melhor resultado do programa, ele deve ser elaborado com a participação
de diversas áreas. O envolvimento com as áreas de Segurança e Medicina do Trabalho
promovem a prevenção de acidentes e doenças ocupacionais, através do diagnóstico
ergonômico detalhado da empresa e informação quanto à saúde dos trabalhadores
envolvidos no programa (SOUZA, 2011).

189
Dados como índice de absenteísmo, afastamentos temporários ou por queixas
ou dores musculares, são importantes para que o planejamento de metas e prioridades
esteja focado para as áreas críticas da empresa. O envolvimento dos responsáveis
pelos setores e áreas de produção na empresa é necessário para adequar os melhores
horários para a realização das pausas com exercícios, sem comprometer o andamento
do trabalho (SOUZA, 2011).

Na avaliação de custo ou investimento da implantação de um Programa de


Ginástica na empresa, Poletto (2002, p. 23) faz o seguinte questionamento:

Quem você acha que, provavelmente produzirá mais e melhor: um


indivíduo cansado, desmotivado, fatigado, com dores pelo corpo,
estressado, deprimido, com baixa autoestima e com sua saúde
global comprometida ou aquele indivíduo saudável, equilibrado
emocionalmente, satisfeito, feliz e motivado?

A autora supracitada avalia que investir em saúde é indispensável. A ginástica


laboral aparece neste contexto como um investimento, sem custo elevado. A
experiência indica que a aparente perda de tempo com a pausa não acontece, pelo
contrário, é necessária e mostra-se indispensável para o equilíbrio funcional e a maior
produtividade. Trata-se de uma importante forma de prevenção contra o surgimento
de doenças, acidentes do trabalho e afastamentos temporários e permanentes que
significam grandes custos para as empresas (POLETTO, 2002).

Segundo a mesma autora, muitos são os benefícios alcançados com os


exercícios da ginástica laboral, tais como:

• Melhora os movimentos bloqueados por tensões emocionais.


• Aumenta a amplitude muscular.
• Melhora os movimentos bloqueados por tensões emocionais.
• Aumenta a amplitude muscular.
• Melhora a coordenação motora.
• Realiza a eliminação de toxinas pela melhora da circulação sanguínea.
• Reduz o sedentarismo.
• Reduz a fadiga mental e física.
• Melhora a concentração e a agilidade.
• Previne lesões musculares.
• Motiva para a mudança de estilo de vida com a realização de atividade física regular.
• Desenvolve a consciência corporal.
• Melhora o bem-estar físico e mental.
• Melhora a socialização.
• Aumento da produtividade, com relatos de terminar a jornada de trabalho menos
cansados.
• Ameniza o estresse, diminui a ansiedade e a depressão.
• Reduz o sedentarismo.

190
• Relaxa e diminui a tensão.
• Melhora a qualidade do sono.
• Aumenta a flexibilidade, a força, a coordenação, o ritmo, a agilidade e a resistência.
• Reduz afastamentos do trabalho.

Alguns estudos mostram que há relação entre a participação de empregados em


programas de atividades físicas na empresa e a redução de faltas ao trabalho, aumento
de produtividade, diminuição de custos com a saúde e rotatividade de funcionários
(POLETTO, 2002).

Os benefícios vêm da prática habitual de atividades físicas com relação à


depressão e ansiedade. O estudo mostra que um melhor resultado no desempenho
do trabalho foi observado em trabalhadores que nas horas livres praticavam atividades
físicas. Indica também que a prática regular de exercícios físicos auxilia na redução da
ansiedade e da depressão (POLETTO, 2002).

O aspecto psicossocial da ginástica laboral é muito importante na implantação


do programa. Algumas modalidades de exercícios são planejadas previamente com este
enfoque. Desta forma, são realizados exercícios em dupla e em grupo, para promover a
integração e socialização entre as pessoas do setor ou da empresa que estão participando
da pausa com exercício. Muitas pessoas despertam para uma maior afetividade no
ambiente de trabalho, que é estabelecida a partir do toque. Um aperto de mão, um abraço,
promove a aproximação das pessoas, que muitas vezes se conhecem há anos e não
estabeleceram, no entanto, uma relação mais cordial e afetiva (POLETTO, 2002).

O ponto de vista motivacional e de integração também é enfocado através


de exercícios durante as pausas, voltadas para atividades em grupo, com jogos
e brincadeiras, promovendo a descontração e um clima mais leve. Desta forma,
quebra a rigidez do ambiente e as tensões da rotina diária. As pessoas parecem mais
alegres, descontraídas, promovendo um clima familiar e de amizade. A motivação está
diretamente ligada com a questão de liberdade, se processa nos indivíduos de dentro
para fora. Desta forma, as pessoas agem de forma motivada, quando conseguem ver na
atividade a possibilidade de atingir algum objetivo interno (POLETTO, 2002).

O programa de ginástica laboral motiva as pessoas para a prática de atividades


físicas também fora do trabalho. Logo, muitas promoções de jogos, competições
em diversas atividades esportivas acabam ocorrendo e as empresas promovem
competições internas e até olimpíadas entre setores. Como o já citado caso da empresa
Sadia S.A., que promove anualmente uma olimpíada interna, apostando na integração
entre funcionários através da prática de atividades físicas (POLETTO, 2002).

Para o aumento da produtividade, a ginástica laboral pode contribuir, desde que


associada a outras medidas que melhorem as condições do posto de trabalho. Neste
sentido, as intervenções ergonômicas contribuem para a melhoria de qualidade de vida

191
no trabalho, reduzindo os acidentes de trabalho e incidência de lesões, melhorando a
produtividade relacionada à redução de afastamentos do trabalho. Já a ginástica laboral
melhora a qualidade de vida, quando promove a quebra do ritmo, rigidez e monotonia no
trabalho (POLETTO, 2002).

Os ganhos em produtividade relacionados à ginástica laboral referem-se mais


aos efeitos alcançados com a melhoria da qualidade de vida através da promoção da
saúde das pessoas envolvidas com os programas de exercícios. O bem-estar geral
que se estabelece com as pausas com exercícios podem se refletir nos ganhos com
produtividade, quando reduzem as faltas no trabalho, aumentam a disposição e
motivação dos trabalhadores.

DICAS
Que tal conhecermos um exemplo de protocolo? Poletto (2002) desenvolveu um protocolo
utilizado em uma empresa gráfica, com um grupo formado exclusivamente por mulheres
dos diferentes turnos com objetivo de melhorar o bem-estar físico dessas trabalhadoras.

QUADRO – EXEMPLO DE PROTOCOLO

EXERCÍCIO 2
EXERCÍCIO 1
Pernas semiafastadas levemente
Pernas semiafastadas, braços estendidos
flexionadas, apoiar as mãos no quadril e
lateralmente, flexionar o tronco para
flexionar o tronco para trás lentamente.
frente e retornar bem devagar, 10
Duas repetições cada repetição segurar
repetições.
10 s.
EXERCÍCIO 3 EXERCÍCIO 4
Pernas afastadas e estendidas, descer Afastar as pernas, deixar uma perna
o tronco para frente e tentar aproximar flexionada a outra estendida, manter
a mão direita no pé esquerdo e vice- 10 s, após trocar a posição das pernas
versa, 10 s cada lado, após movimentar manter novamente 10 s, os braços
lentamente alternando de um lado para o ficarão soltos à frente do corpo abrindo e
outro 10 repetições. fechando as mãos.
EXERCÍCIO 5
EXERCÍCIO 6
Pernas unidas, braços estendidos acima da
Pernas unidas e estendidas, flexionar o
cabeça, fechar as mãos e girar os pulsos
tronco para frente estendendo os braços
para os dois lados manter a posição por
para trás, manter a posição por 10 s.
10 s.
EXERCÍCIO 7
EXERCÍCIO 8
Pernas levemente afastadas, apoiar as
As pernas afastadas e um pouco
mãos na cintura, flexionar o pescoço
flexionadas, descer o tronco para frente
para o lado direito e após para o lado
deixando os braços bem soltos, relaxando
esquerdo, sempre encostando a orelha
os ombros, as costas e o pescoço, para
no ombro, após flexionar o pescoço
terminar vai balançar os braços e elevar o
para frente encostando o queixo no
tronco lentamente.
peito 8 s em cada posição.

192
EXERCÍCIO 1 EXERCÍCIO 2
Dois a dois, mãos nos ombros um do De lado um para o outro, pegar um
outro, estender bem as costas deixando a na mão do outro por sobre a cabeça,
cabeça entre os braços 10 s. flexionando o joelho externo, após 10 s,
troca-se de lado e mantém a posição mais
10 s.

EXERCÍCIO 3 EXERCÍCIO 4
De costas um para o outro, pegar as De costas um para o outro, flexionar o
mãos, deixar as pernas juntas e suspender tronco para frente, com as mãos por entre
o corpo para frente 10 s, e coloca-se a os braços pegar um a mão do outro e
perna direita flexionada à frente e a direita bem devagar um puxar o outro, 10 s.
estendida para trás, mantém 8 s, troca-se
a posição das pernas e mais 8 s.

EXERCÍCIO 5 EXERCÍCIO 6
De frente um para o outro, apoiar as palmas De frente um para o outro, um segura a
das mãos, com uma perna para frente mão do outro, e vai suspendendo o corpo
flexionada e a outra para trás estendida, para trás, as pernas devem estar juntas,
movimentar alternadamente flexionando 10 s.
e estendendo os braços, apenas troca-se a
posição das pernas 10 s em cada posição.

193
EXERCÍCIO 7 EXERCÍCIO 8
De frente um para o outro, segurando Fazer massagem nos ombros, braços e
as mãos um do outro, pernas unidas, pescoço, 1 minuto cada um.
os braços bem estendidos, agachar
soltando o corpo para trás e deixar toda
a sola do pé no chão 15 s.

EXERCÍCIO 9 EXERCÍCIO 10
Estender os braços acima da cabeça, Braços estendidos cabeça no ombro, 10
entrelaçando os dedos, 10 s. s cada lado.

EXERCÍCIO 11 EXERCÍCIO 12
Flexionar o tronco para frente, apoiar Flexionar o tronco para frente tentando
uma das mãos na perna e elevar o outro encostar as mãos nos pés, com os
braço acima da cabeça. 10 s cada braço. joelhos estendidos, por 10 s.

194
EXERCÍCIO 13 EXERCÍCIO 14
Leve flexão dos joelhos, olhar para cima Flexionar o tronco para frente, estender
e empurrar o tórax para frente e os as costas com os braços para trás,
cotovelos para trás, manter por 10 s. mantendo por 10 s.

EXERCÍCIO 15 EXERCÍCIO 16
Realizar a inclinação do tronco com as Mesmo exercício anterior, agora
pernas abertas, com uma das mãos pressionando as palmas das mãos,
no joelho e a outra acompanhando a descendo até aonde conseguir deixar as
inclinação por cima da cabeça. Manter mãos unidas. Repetir 10 vezes.
por 10 s e repetir três vezes cada lado.

EXERCÍCIO 17 EXERCÍCIO 18
De pé, pés paralelos e com as mãos no Com as pernas afastadas e as palmas
quadril, realizar a circundução do quadril das mãos unidas acima da cabeça,
para um lado, depois para o outro, com realizar o alongamento para o alto.
movimentos amplos. Manter por 10 s e repetir três vezes.
Repetir cinco vezes para cada lado.

195
EXERCÍCIO 19 EXERCÍCIO 20
De pé com as pernas afastadas, Mesmo exercício de número 18, agora
transferir o peso do corpo de uma perna com as mãos entrelaçadas e as palmas
para outra, realizando o alongamento do das mãos voltadas para baixo. Manter
meio da coxa a que está esticada. Manter por 10 s e repetir três vezes.
por 10 s e repetir três vezes cada lado.

EXERCÍCIO 21 EXERCÍCIO 22
Em pé com as pernas afastadas e o Em pé, com as pernas unidas, tentar
encaixado, mãos abertas, junte as tocar as mãos no chão. Manter por 10 s
pontas dos dedos sem deixar as palmas e repetir cincos vezes.
das mãos encostarem. Nesta posição,
pressione uma mão contra a outra e
relaxe. Manter por 10 s e repetir três
vezes.

FONTE: <http://www.producao.ufrgs.br/arquivos/publicacoes/Sandra%20Salete%20Poletto.pdf>.
Acesso em: 17 set. 2021.

196
LEITURA
COMPLEMENTAR
LER – LESÃO POR ESFORÇOS REPETITIVOS: UM CONCEITO
FALHO E PREJUDICIAL

José Teotonio de oliveira

RESUMO - O conceito de que movimentos repetitivos ou posturas prolongadas causam


lesões não tem suporte científico. Os sintomas dolorosos e sensitivos apresentados
pelos pacientes são melhor explicados como um fenômeno psicológico e psicossocial,
como insatisfação e desadaptação no trabalho e desejo de obter benefícios. O conceito
de lesões por esforços repetitivos é iatrogênico e de custo elevado para a sociedade,
devendo ser abandonado.

PALAVRAS-CHAVE: lesão por esforços repetitivos, traumas cumulativos.

LER – lesão por esforços repetitivos - é um diagnóstico feito em trabalhadores


empregados (o fenômeno praticamente não acomete trabalhadores autônomos)
apresentando-se com queixas dolorosas e sensitivas, de localização em determinadas
regiões do corpo, de modo geral a mais utilizada nas suas funções e nas quais não
são detectadas alterações ao exame físico. LER adquiriu nos últimos anos grande
destaque, tanto na prática médica quanto nos meios de comunicação de massa, em
que é apresentada como novo flagelo da humanidade.

O fenômeno LER começou na década de 70, primeiramente nos países mais


ricos e tecnicamente desenvolvidos. Posteriormente difundiu-se para os setores mais
desenvolvidos dos países em industrialização, como o Brasil. Com o passar do tempo,
foi atingindo setores menos sofisticados da economia.

O conceito é muito atraente para a classe médica, pois oferece um diagnóstico


simples de pacientes com sintomatologia complexa e intrigante. Também é atraente
para os pacientes, pois atribui os sintomas à esfera física e não psicológica, a qual, de
modo geral, não é bem aceita. Além da satisfação psicológica de terem os sintomas
atribuídos a uma lesão, os pacientes são ainda gratificados com pensões especiais e
indenizações e assistência médica diferenciada. O conceito de LER é também atraente
para os empregadores, pois permite que o peso dos trabalhadores mal adaptados seja
transferido para o sistema previdenciário.

O conceito de LER transformou o local de trabalho em um ambiente perigoso,


para cuja solução implantou-se uma burocracia reguladora e fiscalizadora.

197
A National Coalition on Ergonomics (NCE) estima que serão necessários US$600
bilhões em 5 anos para as adaptações dos ambientes de trabalho nos Estados Uni-
dos se forem aceitas as exigências da Occupational Safety and Health Administration
(OSHA), atualmente em tramitação no congresso americano.

HISTÓRIA DO DESENVOLVIMENTO DO CONCEITO DE LER

Nos tempos mais recentes, a atribuição de sintomas musculoesqueléticos a


determinado trabalho começou no Japão em 1958, em perfuradores de cartões, cujas
queixas dolorosas regionais começaram a ser rotuladas inicialmente de tenossinovite e
posteriormente de síndrome cervicobraquial, refletindo uma atenção maior às queixas
cervicais, também presentes. A partir de 1973 estes sintomas passaram a serem
denominados “distúrbio cervicobraquial ocupacional”, sendo introduzido neste termo
uma conotação causal.

Na década de 80 ocorreu na Austrália uma epidemia de sintomas dolorosos na


região cervicobraquial, que em alguns locais chegou a atingir 80% dos trabalhadores.
Estes sintomas passaram a ser denominados “repetitive strain injury” (“RSI”), que era um
termo até então utilizado na literatura ortopédica para descrever lesões apresentadas
por corredores de longa distância. Lesão por esforços repetitivos (LER) é a tradução de
“repetitive strain injury”. Esta nova denominação presume a presença de uma lesão e o
mecanismo pelo qual ela ocorre.

Recentemente, ensaia-se o uso do termo “distúrbios osteomusculares


relacionados ao trabalho” (DORT). Este é muito abrangente, dispensa a relação causal,
não exige qualquer explicação quanto ao mecanismo de acometimento, sendo
suficiente a relação com trabalho. Um grande evento na história da LER ocorreu em
1986 quando após reunião de consenso, o National Institute of Occupational Safety and
Health (NIOSH), nos Estados Unidos, emitiu a seguinte declaração:

“Quando as exigências do trabalho ...repetidamente excedem a capacidade


biomecânica do trabalhador, as atividades tornam-se indutoras de trauma. Portanto,
traumatógenos são as fontes de lesões no local de trabalho que afetam o sistema
musculoesqueléticos”. Com esta declaração o “distúrbio por traumas repetitivos” (“DTR”),
tradução de “cumulative trauma disorder” (“CTD”), termo mais utilizado nos Estados
Unidos, foi colocado na lista das preocupações nacionais. Funcionários de sindicatos e
da segurança do trabalho, bem como a mídia, foram ágeis em avisar seus membros e o
público em geral dos perigos potenciais do “DTR”. O impacto econômico nas empresas
foi dramático. Os prêmios dos seguros, nos Estados Unidos, que antes representavam
1 a 5% das folhas de pagamento, em alguns casos atingiram 30%, afetando a
competitividade das empresas. No Brasil, o conceito ergonômico foi rapidamente
absorvido. Foi oficializado através da Portaria 40062/ 1987 e das “Normas Técnicas para
a Perícia Médica do INSS” (NTPMINSS) de 1991, revistas em 1993 e recentemente em
agosto de 19987. Na elaboração das normas participaram sindicatos, empregadores,
órgãos de classe, Ministérios do Trabalho, da Previdência Social e da Saúde, não sendo,
portanto, normas puramente técnicas.

198
As NTPMINSS destacam várias patologias reumáticas, ortopédicas e
neurológicas que acometem os tecidos moles dos membros superiores e passam
ao largo do grande grupo de pacientes sem sinais físicos que suportem as queixas
dolorosas. As NTPMINSS dão a impressão de que as queixas dolorosas são geralmente
consequências de diversas patologias, para as quais estabelece critérios diagnósticos
muito liberais. Relaciona as queixas e patologias ao trabalho e ignoram a ocorrência delas
na população em geral. Estabelecem que a queixa de dor isolada, sem sinais clínicos
de lesão, pode ser suficiente para o diagnóstico de LER, com todos os desdobramentos
médicos e de benefícios sociais, desde que tenham um nexo com a atividade laboral.
LER é definida como toda dor regional ocorrendo no trabalhador em uma atividade de
risco. Os fatores do trabalho que podem provocar LER são abrangentes e universais:
posturas inadequadas, carga estática, carga musculoesquelética, pressões locais sobre
os tecidos, invariabilidade das tarefas, exigências cognitivas, fatores organizacionais e
psicossociais ligados ao trabalho, grau de adequação do posto de trabalho, zona de
atenção e visão, frio e vibrações.

Estes fatores podem ocorrer isoladamente ou em combinações. São considera-


dos fatores de risco porque causam LER. A definição oficial de LER, que está colocada
no plural é, pois, baseada em um raciocínio circular. As NTPMINSS abrem caminho para
qualquer trabalhador com sintomas dolorosos regionais habilitar-se a um benefício.

O número de pessoas com queixas atribuídas a traumas repetitivos tem


aumentado em todo o mundo industrializado. As causas deste aumento são a
disseminação do diagnóstico LER por uma mídia ávida por novidades médicas e
interesses dos setores beneficiados, além da própria expansão e liberalidade do conceito.
É difícil de acreditar que o aumento seja devido a piores condições de trabalho.

CAUSAS DOS SINTOMAS DOLOROSOS

O termo LER produz a impressão de que os fatos são inequívocos e o diagnóstico


muito claro. Na realidade, o termo é enganoso e o conceito de que esforços repetitivos
provoquem lesões, que seriam responsáveis pelos sintomas, é polêmico. Não há acordo
a respeito da causa dos sintomas, a patologia não foi inequivocamente demonstrada e
a literatura é falha e criticável.

As características clínicas são confusas e inespecíficas e não há método


diagnóstico útil. Há duas correntes de opiniões opostas sobre a causa dos sintomas
dolorosos. A corrente de ergonomistas, lideradas por Armstrong e Silverstein, acredita
que os sintomas são devidos a lesões verdadeiras, embora não ainda demonstradas,
causadas por força, repetição, posturas anormais e vibrações. A outra corrente é liderada
por Hadler nos Estados Unidos e por Ireland na Austrália e atribui os sintomas a fatores
psicossociais e políticos.

199
Devido à ausência de alterações patológicas convincentes nas regiões
dolorosas, os defensores do conceito ergonômico da LER têm atribuído a persistência
dos sintomas dolorosos a distúrbios dos mecanismos de percepção e interpretação da
dor localizados no corno posterior da medula e nos centros encefálicos. Na verdade, isto
equivale dizer que o mecanismo de persistência da dor é psicológico.

Alguns autores acham que a LER é um fenômeno social. Shorter iguala a


epidemia de diagnóstico de LER a modismos diagnósticos de outras eras como
“apendicite” no fim do século passado (desapareceu quando os cirurgiões passaram
a operar alguns casos), “colite”, “hipoglicemia”, “brucelose”. Ele atribui os sintomas a
uma cultura e a uma mídia que encorajam as pessoas a considerar sintomas vagos e
inespecíficos como evidência de doença real e a procurarem a ajuda de especialistas.
A escolha (inconsciente) de sintomas sensitivos deve-se a serem eles difíceis de ser
desmentidos pelos médicos. Até o carácter litigante da LER tem paralelo na história na
figura da “síndrome das ferrovias” em que pessoas envolvidas em acidentes ferroviários
e que não sofriam lesões graves desenvolviam sintomas dolorosos e mentais altamente
incapacitantes, para os quais exigiam indenizações, com frequência vultuosas.

A maioria dos autores nacionais defende o conceito ergonômico das LER,


reconhecendo que elas (seguem o conceito de que são várias as LER) não podem
ser explicadas pela metodologia médica ortodoxa. Atribuem a epidemia às relações e
métodos de trabalho, sendo o trabalhador visto não como uma pessoa que trabalha
para adquirir seu sustento, mas como uma vítima do sistema. Os autores descrevem
várias patologias reumáticas, ortopédicas e neurológicas, transmitindo a impressão de
que elas ocorrem com frequência nos pacientes com as queixas dolorosas e, como nas
NTPMINSS, ignoram os aspectos psicológicos e psicossociais como causa, preferindo
colocá-los como consequência. O diagnóstico é feito a partir do trabalho, não a partir
do paciente.

AVALIAÇÃO CLÍNICA DOS DISTÚRBIOS DOLOROSOS RELACIONADOS AO TRABALHO

Os trabalhadores com queixas dolorosas devem ser avaliados pelo método clínico
tradicional, no qual as atividades físicas, seja do trabalho ou do lazer, devem fazer parte da
anamnese. O médico deve estar atento para os aspectos psicológicos que podem influen-
ciar a percepção de dor. A dor que uma pessoa sente não é devida somente à lesão. Dor,
de acordo com a definição da International Association for the Study of Pain, é uma expe-
riência sensitiva e emocional desagradável associada com uma lesão atual ou potencial
de um tecido. A dor é sempre subjetiva. Cada indivíduo aprende através da experiência o
que isto significa realmente e quais ganhos secundários podem ser gerados. A dor, por-
tanto, tem dois componentes: um físico, que pode ser real ou potencial (o paciente supõe
que um evento pode ser fonte de dor) e um emocional, psíquico.

A falha em identificar os aspectos psicossociais, aqui incluídos benefícios como


afastamento do trabalho e indenizações, pode deixar o médico perplexo com os fracas-
sos dos tratamentos e intervenções. Os pacientes, de modo geral, não fornecem infor-

200
mações sobre o estado psicológico espontaneamente, devendo estas informações ser
procuradas por iniciativa do médico. A maioria dos trabalhadores com queixas dolorosas
não apresenta alterações físicas detectáveis pelos diversos métodos diagnósticos.

Exceto pela cronicidade, os sintomas da denominada LER ocorrem com frequ-


ência na população em geral. Sintomas musculoesqueléticos, como dor e fadiga, ca-
racterizados por desconforto com o uso da região acometida, até mesmo com alguma
restrição da amplitude de movimentos, são comuns em pessoas normais, independen-
temente do tipo de atividade, ocorrendo em donas-de-casa, atletas, estudantes, traba-
lhadores sedentários, embaladores de material. Em um estudo epidemiológico, 36,7%
das pessoas relataram ter sofrido dor articular, 31,5% dor lombar e 24,3% dor na perna. A
imensa maioria das pessoas tolera, suporta e supera estes problemas, considerando-os
fatos da vida e os sintomas desaparecem espontaneamente.

A conduta de investigações excessivas e desnecessárias e a falha em tranquilizar


o paciente quanto à natureza benigna dos sintomas, pode alarmar o paciente, reforçar a
convicção da existência de uma doença e perpetuar um comportamento de doente.

A supervalorização de sintomas comuns pelo médico, combinada ao excesso


de intervenções é um fenômeno conhecido como medicalização. Esta pode contribuir
significativamente para a amplificação e perpetuação do problema inicialmente
simples. Mesmo intervenções aparentemente inofensivas, como o repouso, podem ter
implicações importantes no modo como as pessoas percebem a doença. A informação
dada aos trabalhadores de que sintomas dolorosos relacionados a certas atividades são
o prenúncio de uma lesão grave, progressiva e irreversível, além de falsa, tem potencial
iatrogênico elevado, sendo um desserviço gigante ao paciente. Esta informação
terá grande impacto nas pessoas somatizadoras e nas impressionáveis. Ela agrada
plenamente aos que pretendem conseguir privilégios e benefícios.

A informação de que há uma catástrofe à frente caso não sejam tomadas me-
didas imediatas dificulta a recuperação, que ocorre em razão de adaptação, tolerância
a certo grau de desconforto e dor. A pessoa só se sentirá protegida na ausência de
qualquer sintoma, o que nem sempre será possível. Assim inicia-se o processo de inca-
pacidade, que pode atingir um estágio irreversível. Neste processo, o paciente tende a
ampliar as queixas para convencer a si próprio e a quem o examina e concede o benefí-
cio, pois quanto mais lesão e quanto maior o tempo de incapacidade de maiores são as
chances de se obter os benefícios máximos. Frequentemente os trabalhadores envol-
vem-se em litígio, processo emocionalmente carregado e que pode ter consequências
psicológicas dolorosas. Nos casos litigiosos, a possibilidade de incapacidade permanen-
te é grande, pois o trabalhador passa a ser interessado na permanência dos sintomas,
geralmente sob o incentivo e orientação de um advogado, sindicato ou colegas.

Mesmo quando o caso é finalmente encerrado, os sintomas dolorosos podem


persistir devido ao medo de que a cura possa ser interpretada como prova de que tudo
não passou de uma fraude, tanto na perspectiva do paciente quanto das pessoas do
seu meio social. A possibilidade de uma revisão médica no futuro com possível retirada
do benefício também funciona como mecanismo de codificação dos sintomas.

201
Os trabalhadores com queixas dolorosas crônicas sem patologia demonstrável
respondem mal, de modo geral, às intervenções médicas, ao contrário daqueles com
patologia, sendo uma indicação de que o problema não é de natureza física. A perspectiva
de uma aposentadoria ou indenização tem efeito negativo sobre recuperação,
desencorajando os trabalhadores a retornarem ao trabalho após uma lesão, reforçando
os sintomas.

PROPOSTAS PARA O ABANDONO DO CONCEITO DE LER

Autores e entidades médicas vêm propondo o abandono do conceito de LER


por falta de suporte científico e pelo seu caráter iatrogênico. Hadler acha que LER não
é um evento clínico, mas um fenômeno social, igualando LER a vários diagnósticos
populares que recebem suporte da mídia para suas autenticidades, e que têm como
finalidade evitar que os médicos designem certos sintomas como de origem psíquica.
Wright considera LER “uma má ideia, que é melhor ser esquecida” e Bell, após análise
da literatura, concluiu que LER caracteriza uma epidemia de lesão simulada, causada e
propagada por médicos, ergonomistas e outros profissionais de saúde e de segurança
do trabalho. Devido à observação de que sindicatos, organizações do trabalho, grupos
de pressão e imprensa leiga ativamente difundem o conceito de LER, Cleland considerou
LER um exemplo de iatrogênese social.

Várias sociedades médicas têm se posicionado contra o conceito de LER. Um


relatório do Comitê de Lesões Industriais da Sociedade Americana de Cirurgia de Mão
conclui: ...” não existe evidência suficiente na literatura médica para concluir que o
trabalho é a única causa do chamado trauma cumulativo. Denominando erroneamente
as queixas de um paciente, e equivocadamente relacionando-as queixas ao trabalho,
é prejudicial”. Segundo o relatório de um grupo de trabalho da British Orthopaedic
Association, baseado em revisão da literatura, ...”A terminologia usada nos trabalhos
publicados sobre lesões por esforços repetitivos é altamente insatisfatória e deve
ser descartada. Nenhuma condição deve ser diagnosticada como doença industrial
a menos que possa ser definida patológica e clinicamente sem ambiguidades. No
momento, as evidências de causa ocupacional são inconclusivas para diagnosticar
quaisquer tipos de “LER”.

CONCLUSÃO - Sintomas dolorosos e sensitivos mal definidos e mal localizados


dos membros superiores e cintura escapular raramente são devidos a lesões
estruturais. Na maioria das vezes são fenômenos inerentes ao trabalho muscular. Não
foi demonstrado até o presente que esforços repetitivos sejam responsáveis por lesões,
sendo que o incipiente uso do termo “distúrbios osteomusculares relacionados ao
trabalho-DORT” sinaliza o abandono desta hipótese.

O conceito de LER, além de não ter bases científicas, é iatrogênico, indutor


de comportamento de doente. É um conceito que desvia as atenções para longe do
problema real, provavelmente insatisfação no trabalho, problemas psicológicos pessoais,

202
e até mesmo fraude. O conceito está levando à proposição de soluções inapropriadas
e custosas que, combinadas com o grande número de pessoas em benefícios sociais,
muito custam à sociedade. O maior drama, todavia, é a legião de incapacitados e o
sofrimento que está produzindo.

FONTE: <https://www.scielo.br/j/anp/a/r4hL53MjzDVxLSK8Gh3LYwm/abstract/?lang=pt>.
Acesso em: 30 ago. 2021.

203
RESUMO DO TÓPICO 3
Neste tópico, você aprendeu:

• Os recursos analgésicos devem ser associados à cinesioterapia para proporcionar


a redução do edema e da inflamação, a melhora das condições circulatórias, o
relaxamento da musculatura, a amenização da dor e uma potencialização da
capacidade funcional dos pacientes.

• Os programas de ginástica laboral são adequados a qualquer tipo de empresa,


desde que seja conhecido o sistema de trabalho, atividades e demandas físicas,
conhecimento do grupo para que os exercícios adotados sejam os mais adequados à
realidade da empresa.

• A fisioterapia (eletrotermoterapia, massoterapia, cinesioterapia) se faz da combina-


ção de técnicas adequadas e deve ser definida para cada caso, não é possível padro-
nizar o tipo e nem a duração do tratamento.

• O protocolo de reabilitação pode incluir eletroterapia, laser, ultrassom e terapia


manual para analgesia, e posteriormente, inclui cinesioterapia, com exercícios de
fortalecimento, alongamento e mobilidade.

204
AUTOATIVIDADE
1 Na reabilitação das LER/DORT, a fisioterapia e seus recursos são de suma importância,
pois visam restabelecer a saúde física do trabalhador para seu retorno ao trabalho.
Nesse sentido, marque a alternativa correta:

a) ( ) Os recursos analgésicos devem ser associados à cinesioterapia, e seus efeitos


dependem de cada caso.
b) ( ) A analgesia é a conduta mais importante na reabilitação, não sendo necessários
outros recursos.
c) ( ) Sempre deve-se iniciar a reabilitação pela cinesioterapia.
d) ( ) A acupuntura deve ser utilizada somente em fase final de reabilitação.

2 Os programas de ginástica laboral são adequados a qualquer tipo de empresa,


desde que seja conhecido o sistema de trabalho, atividades e demandas físicas,
conhecimento do grupo para que os exercícios adotados sejam os mais adequados à
realidade da empresa. Nesse sentido, analise as sentenças a seguir:

I- A ginástica laboral pode ser realizada antes (preparatória), durante ou após


(compensatória) a jornada de trabalho.
II- A prática de exercícios físicos e preventivos devem ser planejados de acordo com as
características de cada tarefa laboral, realizados durante a jornada de trabalho.
III- A ginástica laboral tem o objetivo de reabilitar o paciente e auxiliar o retorno a suas
atividades, exclusivamente.

Assinale a alternativa CORRETA:


a) ( ) As sentenças I e III estão corretas.
b) ( ) Somente a sentença II está correta.
c) ( ) As sentenças I e II estão corretas.
d) ( ) Somente a sentença III está correta.

205
3 A fisioterapia do trabalho é uma especialidade que atua na prevenção, no resgate e
na manutenção da saúde do trabalhador, buscando assim, sua melhora no ambiente
laboral. Uma de suas atribuições é evitar o desenvolvimento das doenças crônicas
degenerativas, tais como DORT e LER. Nesse contexto, classifique V para as sentenças
verdadeiras e F para as falsas:

( ) A Fisioterapia é resultado da combinação de técnicas adequadas para cada caso,


não sendo possível padronizar o tipo e nem a duração do tratamento.
( ) O protocolo de reabilitação pode incluir eletroterapia, laser, ultrassom e terapia
manual para analgesia, e posteriormente, inclui cinesioterapia, com exercícios de
fortalecimento, alongamento e mobilidade.
( ) O acesso exclusivo à fisioterapia garante que o paciente tenha um tratamento efetivo.

Assinale a alternativa que apresenta a sequência CORRETA:


a) ( ) V – F – F.
b) ( ) V – V – F.
c) ( ) F – V – F.
d) ( ) F – F – V.

4 A ginástica laboral é uma série de exercícios físicos realizados no ambiente de


trabalho, no horário de trabalho, com o objetivo de melhorar a saúde do trabalhador.
Nesse sentido, disserte sobre os benefícios com a implantação da ginástica laboral.

5 Normalmente, os recursos analgésicos devem ser associados à cinesioterapia


para proporcionar melhor resultado na reabilitação do trabalhador com LER. Neste
contexto, disserte sobre os principais exercícios que podem ser utilizados.

206
REFERÊNCIAS
BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção À Saúde. Dermatoses
Ocupacionais. Brasília: Editora do Ministério da Saúde, 2006. 92 p. Disponível em:
https://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/protocolo_dermatoses.pdf. Acesso em:
21 set. 2021.

BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção À Saúde. Pneumoconioses.


Brasília: Editora do Ministério da Saúde, 2006. 76 p. Disponível em: https://bvsms.
saude.gov.br/bvs/publicacoes/06_0443_M.pdf. Acesso em: 21 set. 2021.

BRASIL. Ministério Da Saúde. Departamento de Ações Programáticas


Estratégicas. Diagnóstico, tratamento, reabilitação, prevenção e fisiopatologia
das LER/DORT. Brasília: Editora do Ministério da Saúde, 2001. 64 p. Disponível em:
https://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/diag_tratamento_ler_dort.pdf. Acesso
em: 21 set. 2021.

CHIAVEGATO FILHO, L. G.; PEREIRA JUNIOR, A. LER/DORT: multifatorialidade


etiológica e modelos explicativos. Comunic., Saúde, Educ, Botucatu, v. 8,
n. 14, p. 149-162, fev. 2004. Disponível em: https://www.scielo.br/j/icse/a/
hHQGXxdRTQKL3gCZ7dDTdTk/?format=pdf&lang=pt. Acesso em: 20 set. 2021.

DIAS, M. C. de A. A influência da fisioterapia ergonômica para prevenção e


tratamento de LER e DORT. 2012. 18 f. Monografia (Especialização) - Curso de Pós-
Graduação em Ortopedia, Traumatologia Com Ênfase em Terapia Manual, Faculdade
Ávila, São Paulo, 2012. Disponível em: https://portalbiocursos.com.br/ohs/data/
docs/32/143_-_A_influYncia_da_Fisioterapia_ErgonYmica_para_prevenYYo_e_
tratamento_de_LER_e_DORT.pdf. Acesso em: 21 set. 2021.

DUARTE, I.; BUENSE, R.; KOBATA, C. Fototerapia. An Bras Dermatol, São Paulo,
v. 81, n. 1, p. 74-82, jan. 2006. Disponível em: https://www.scielo.br/j/abd/a/
MRVLjY6yq9RjJN9HM3YvyyQ/?format=pdf&lang=pt. Acesso em: 21 set. 2021.

FERREIRA, L. L.; MARINO, L. H. C.; CAVENAGHI, S. Recursos


eletrotermofototerapêuticos no tratamento da fibromialgia. Rev. Dor, São Paulo,
v. 12, n. 3, p. 256-260, set. 2011. Disponível em: https://www.scielo.br/j/rdor/a/
h3Tp6hZJqqrqdv4fVXSGfwC/?lang=pt&format=pdf. Acesso em: 21 set. 2021.

MAENO, M. et al. Lesões por esforços repetitivos (LER): Distúrbios Osteomusculares


Relacionados ao Trabalho (DORT). Ministério da Saúde, Brasília, v. 1, n. 1, p. 5-33,
fev. 2001. Disponível em: https://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/ler_dort.pdf.
Acesso em: 20 set. 2021.

207
MENDES, A. M. B. Aspectos psicodinâmicos da relação homem-trabalho:
as contribuições de c. dejours. Psicol. Cienc. Prof., São Paulo, v. 15,
n. 3, p. 34-38, jan. 1995. Disponível em: https://www.scielo.br/j/pcp/a/
R4yymBFkPGNFb3BSvXFnZzn/?format=pdf&lang=pt. Acesso em: 20 set. 2021.

MENDES, L. F.; LANCMAN, S. Reabilitação de pacientes com LER/DORT:


contribuições da fisioterapia em grupo. Rev. Bras. Saúde Ocup., São Paulo, v.
35, n. 121, p. 23-32, mar. 2010. Disponível em: https://www.scielo.br/j/rbso/a/
qv3xm3bfWsPYyCxkhZbsFnc/?lang=pt&format=pdf. Acesso em: 20 set. 2021.

MINORI, A. E. T. Atuação da acupuntura para o tratamento de L.E.R./D.O.R.T.


no ombro. 2005. 13 f. Monografia (Especialização) - Curso de Pós-Graduação em
Acupuntura, Faculdade Ávila, São Paulo, 2005. Disponível em: https://portalbiocursos.
com.br/ohs/data/docs/13/07__-_AtuaYYo_da_Acupuntura_para_o_tratamento_
de_L.E.R.D.O.R.T._no_ombro.pdf. Acesso em: 21 set. 2021.

MORCELLI, M. H.; OLIVEIRA, J. M. C. A.; NAVEGA, M. T. Comparação do alongamento


estático, balístico e contrair-relaxar nos músculos isquiotibiais. Fisioter Pesq,
Marilia, v. 20, n. 3, p. 244-249, jan. 2013. Disponível em: https://www.scielo.br/j/fp/a/
cNdf8vspWNHJGqJmbx3G7QL/?lang=pt&format=pdf. Acesso em: 21 set. 2021.

PEREIRA, S. F. et al. Análise do ganho de força muscular através de protocolo de


exercício resistido associado à estimulação elétrica funcional sobre o músculo bíceps
braquial: uma revisão sistemática. III Conapesc, Paraíba, v. 1, n. 1, p. 1-11, jan. 2018.
Disponível em: https://www.editorarealize.com.br/editora/anais/conapesc/2018/
TRABALHO_EV107_MD1_SA14_ID812_04062018220115.pdf. Acesso em: 21 set. 2021.

POLETTO, S. S. Avaliação e implantação de programas de ginástica laboral,


implicações metodológicas. 2002. 146 f. Dissertação (Mestrado) - Curso de Mestre
em Engenharia de Produção, Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Porto Alegre,
2002. Disponível em: http://www.producao.ufrgs.br/arquivos/publicacoes/Sandra%20
Salete%20Poletto.pdf. Acesso em: 21 set. 2021.

RAGADALI FILHO, A. et al. Lesões por esforços repetitivos (LER): uma doença
misteriosa do trabalho. Revista Saberes, São Paulo, v. 3, n. 2, p. 76-89, dez. 2015.
Disponível em: https://facsaopaulo.edu.br/wp-content/uploads/sites/16/2018/05/
ed3/7.pdf. Acesso em: 20 set. 2021.

RICCI, N. A.; DIAS, C. N. K.; DRIUSSO, P. A utilização dos recursos


eletrotermofototerapêuticos no tratamento da síndrome da fibromialgia:
uma revisão sistemática. Rev. Bras. Fisioterapia, São Carlos, v. 14,
n. 1, p. 1-9, jan. 2010. Disponível em: https://www.scielo.br/j/rbfis/a/
qHLMLpKyyKxHJwcXbC4yjww/?format=pdf&lang=pt. Acesso em: 21 set. 2021.

208
SANTOS, S. K. Z. dos; ROS, M. A. da. Ressignificando Promoção de Saúde em Grupos
para Profissionais da Saúde. Revista Brasileira de Educação Médica, Itajaí,
v. 40, n. 2, p. 189-196, fev. 2016. Disponível em: https://www.scielo.br/j/rbem/a/
ZnfpMF5zRzDH365sBDKhbHJ/?lang=pt&format=pdf. Acesso em: 20 set. 2021.

SILVA, D. A. da et al. Eficácia analgésica da associação da crioterapia e


da estimulação elétrica nervosa transcutânea. Br J Pain, São Paulo, v. 1,
n. 3, p. 274-278, set. 2018. Disponível em: https://www.scielo.br/j/brjp/a/
J6gLmjJ5LFMgqcRpWGt6ghx/?lang=pt&format=pdf. Acesso em: 21 set. 2021.

SILVA, E. P. et al. Fatores organizacionais e psicossociais associados ao risco de LER/


DORT em operadores de máquinas de colheita florestal. Revista Árvore, Viçosa,
v. 37, n. 5, p. 889-895, set. 2013. Disponível em: https://www.scielo.br/j/rarv/a/
Bt8R6vMYkctYZxMkpycMJRM/?format=pdf&lang=pt. Acesso em: 20 set. 2021.

SOUZA, K. R. S. B. de. Ação da ginástica laboral na prevenção da LER/DORT. 2011.


16 f. Monografia (Especialização) - Curso de Pós-Graduação em Ergonomia: Produto e
Processo, Faculdade Facoph, São Paulo, 2011. Disponível em: https://portalbiocursos.
com.br/ohs/data/docs/182/74-AYYo_da_ginYstica_laboral_na_prevenYYo_da_
LER_e_DORT.pdf. Acesso em: 21 set. 2021.

209

Você também pode gostar