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Ocupacionais e
Reintegração
Social
Prof. Edilson Fernando de Borba
Prof.ª Gabrielle Kalline Nunes Mendes Stone
Prof.ª Rafaella Marineli Lopes
Indaial – 2021
1a Edição
Elaboração:
Prof. Edilson Fernando de Borba
Prof.ª Gabrielle Kalline Nunes Mendes Stone
Prof.ª Rafaella Marineli Lopes
B726a
ISBN 978-65-5663-832-4
ISBN Digital 978-65-5663-828-7
Impresso por:
APRESENTAÇÃO
Olá, acadêmico! Seja bem-vindo ao Livro Didático sobre Atividades Ocupacionais
e Reintegração Social, que abordará o estudo teórico acerca do sistema penitenciário,
com a finalidade de desenvolver uma análise crítica do ambiente e entender as operações
implicadas nos serviços penais para evitar situações de risco, manter a segurança e o
ambiente sadio.
QR CODE
Olá, acadêmico! Para melhorar a qualidade dos materiais ofertados a você – e
dinamizar, ainda mais, os seus estudos –, nós disponibilizamos uma diversidade de QR Codes
completamente gratuitos e que nunca expiram. O QR Code é um código que permite que você
acesse um conteúdo interativo relacionado ao tema que você está estudando. Para utilizar
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aproveitar essa facilidade para aprimorar os seus estudos.
ENADE
Acadêmico, você sabe o que é o ENADE? O Enade é um
dos meios avaliativos dos cursos superiores no sistema federal de
educação superior. Todos os estudantes estão habilitados a participar
do ENADE (ingressantes e concluintes das áreas e cursos a serem
avaliados). Diante disso, preparamos um conteúdo simples e objetivo
para complementar a sua compreensão acerca do ENADE. Confira,
acessando o QR Code a seguir. Boa leitura!
LEMBRETE
Olá, acadêmico! Iniciamos agora mais uma
disciplina e com ela um novo conhecimento.
SISTEMA PRISIONAL E
REINTEGRAÇÃO SOCIAL
OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM
A partir do estudo desta unidade, você deverá ser capaz de:
PLANO DE ESTUDOS
Esta unidade está dividida em três tópicos. No decorrer dela, você encontrará
autoatividades com o objetivo de reforçar o conteúdo apresentado.
CHAMADA
Preparado para ampliar seus conhecimentos? Respire e vamos em frente! Procure
um ambiente que facilite a concentração, assim absorverá melhor as informações.
1
CONFIRA
A TRILHA DA
UNIDADE 1!
Acesse o
QR Code abaixo:
2
UNIDADE 1 TÓPICO 1 -
PROJETOS DE PREVENÇÃO E DE
REINTEGRAÇÃO SOCIAL
1 INTRODUÇÃO
Acadêmico, no Tópico 1, abordaremos os Projetos de Prevenção ao Crime e
os Mecanismos de Reintegração Social do Preso. O papel do Estado não é apenas o
de encarcerar. O Estado deve se preocupar, também, com a prevenção do crime e a
ressocialização do seu autor. A função da pena não é apenas punitiva, mas igualmente
preventiva e ressocializadora.
A Lei de Execução Penal prevê, como funções do Estado, essas duas funções de
prevenção do crime e ressocialização do condenado. Contudo, ela encontra numerosas
dificuldades no cenário carcerário real para ser implementada, inclusive no que tange a
esses dois objetivos.
3
2 PROJETOS DE PREVENÇÃO AO CRIME
Os Projetos de Prevenção ao Crime são aqueles desenvolvidos de acordo com as
Diretrizes Gerais de Prevenção à Criminalidade e com a Política Nacional de Segurança
Pública. Tais projetos têm como objetivo geral a prevenção e a redução da violência e
da criminalidade no território nacional, de acordo com as especificidades da localidade
para o qual foi desenvolvido.
Para melhor compreendê-los e, posteriormente, exemplificá-los, é necessário
entender quais as diretrizes gerais que seguem e quais os parâmetros estabelecidos
pela Política Nacional de Segurança Pública.
5
Para Viana (2018, p. 387), do ponto de vista científico, a prevenção abarca a
integralidade das políticas sociais que visam impedir ou reduzir a delinquência, para
parte da doutrina. Por outro lado, o autor elenca que para outra corrente doutrinária,
a prevenção “[...] refere-se à totalidade dos esforços, privados e estatais, cuja meta é
impedir o cometimento dos delitos, ou o conjunto de medidas de política criminal que
tem por finalidade limitar a possibilidade do surgimento do crime”.
6
ATENÇÃO
Para a criminologia clássica, a ação preventiva do Estado estava limitada
à punição do indivíduo como resposta ao mal por ele causado. Já para a
criminologia moderna, a estratégia de política penal cedeu espaço a uma
perspectiva complexa do cenário criminal; e o enfrentamento do delito
passou a considerar, além da figura do criminoso, a vítima e a comunidade
na qual esses sujeitos estão inseridos (VIANA, 2018, p. 396).
7
órgãos policiais e de justiça para a conscientização dos muitos tipos de violência contra
a mulher e da disponibilização de programas sociais e de canais de comunicação para
as denúncias.
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ressocialização do condenado, apenas com a prevenção do crime. O protagonista é o
Estado e o delinquente, assumindo a vítima e a sociedade posições secundárias.
• Modelo Ressocializador: a pena tem função preventiva e de reinserção social, e
não apenas a função de castigo ou de retribuição do mal causado.
• Modelo Restaurador, integrador, consensual de justiça penal ou justiça
restaurativa: é o modelo que busca a composição dos interesses entre as partes
envolvidas no crime. É buscado o acordo, a transação, a conciliação, a mediação ou a
negociação do crime para reparar o dano sofrido pela vítima, proporcionar a assistência
ao ofendido e a recuperação do delinquente. São propostos meios alternativos de
pena à privação da liberdade quando for possível. A atuação das partes no processo
restaurativo deve compreender a exposição dos fatos, o sentimento da vítima e a
assunção da culpa pelo ofensor, de forma voluntária. Esse modelo está baseado na
confissão do delito, mediante a assunção de culpa pelo autor do fato, em que se
acorda com a quantidade de pena (inclusive no caso de pena privativa à liberdade), a
perda dos bens, a reparação dos danos e a forma de execução da pena é denominada
pela doutrina de justiça criminal negociada (SUMARIVA, 2018).
• Assistência jurídica: aos presos e internados que não têm condições financeiras de
constituir advogado, é assegurada a defesa pela Defensoria Pública.
• Assistência educacional: instrução escolar e formação profissional do preso e do
internado.
• Assistência social: o serviço do assistente social deve acompanhar a situação
do preso ou do internado, de modo a prepará-lo para o retorno em sociedade, e
9
compreende: relatar às autoridades as dificuldades e os problemas do infrator;
acompanhar os resultados de permissões de saída; promover a recreação; promover
a orientação do liberando na fase final do cumprimento da pena; providenciar
a obtenção de documentos dos benefícios de previdência social e do seguro por
acidente de trabalho;, orientar; e amparar a família do preso, do internado e da vítima.
• Assistência religiosa: será prestada aos presos e aos internados, o que permite a
participação nos serviços organizados no estabelecimento penal e a posse de livros
religiosos, e deve haver local apropriado para a realização de cultos na prisão. O
exercício religioso é uma faculdade do preso, e é vedada a sua imposição.
• Assistência ao egresso: o egresso é o liberado definitivo, assim considerado
pelo prazo de um ano, após a sua saída do estabelecimento prisional, ou o liberado
condicional, durante o período de prova. A assistência consiste na orientação e no
apoio para reintegrá-lo à vida em liberdade, na concessão, quando necessário, de
alojamento e alimentação em estabelecimento adequado pelo prazo de dois meses,
e pode ser prorrogado para mais dois meses, caso haja necessidade comprovada
declarada pelo assistente social, e desde que este esteja procurando emprego. O
serviço de assistência social colaborará com o egresso para a obtenção de trabalho.
10
A reinserção social depende de políticas públicas prisionais e que assistam
ao egresso após a sua saída do sistema prisional; e a realidade brasileira demonstra
descaso com as políticas de reintegração.
Para Schecaira e Corrêa Junior (1995), o ato de ressocializar não deve estar
limitado apenas à reeducação do preso, mas à promoção da sua efetiva reinserção
social, por meio da criação de mecanismos e de condições para o retorno seguro à
sociedade.
O trabalho do preso pode ocorrer dentro ou fora do sistema prisional. O art. 31,
da LEP, dispõe a obrigatoriedade do trabalho do preso, na medida de suas aptidões e
capacidade. Ou seja, além de ser o trabalho um direito do preso, constitucionalmente
previsto (art. 6º da Constituição Federal de 1988), é um dever exposto na lei. Ao Estado,
incumbe o dever de dar trabalho ao condenado, em cumprimento de pena privativa de
liberdade, bem como estabelecer a sua remuneração.
A jornada normal de trabalho que deve ser cumprida pelo preso não será inferior
a 6, nem superior a 8 horas, com descanso aos domingos e feriados (art. 33, da LEP). A
remuneração deverá ser redirecionada para:
• indenizar os danos causados pelo crime, caso a sentença judicial o tenha determinado;
• assistir à família do preso;
• para pequenas despesas pessoais;
• para ressarcimento ao Estado das despesas dispendidas com o preso.
A quantia que sobrar é o pecúlio, e deve ser depositada em poupança que será
entregue ao condenado quando posto em liberdade. O trabalho do preso não está sujeito
ao regime da CLT (Consolidação das Leis do Trabalho). Contudo, pode ser indenizado, no
caso de acidente de trabalho ou enfermidade profissional, e assegurar-lhe os direitos da
Previdência Social (arts. 39, do Código Penal, e 41, inciso III, da LEP).
11
A educação é um direito humano e fundamental a qualquer pessoa, inclusive
ao preso. Não é um favor ou privilégio, mas sim um dever do Estado. Deve ser provida
pelo Estado ao preso; contudo, as condições prisionais brasileiras indignas e insalubres,
muitas vezes ferem e violam esse direito fundamental.
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RESUMO DO TÓPICO 1
Neste tópico, você adquiriu certos aprendizados, como:
• O Brasil adota a Teoria Mista da pena, segundo a qual a pena não tem apenas a
função punitiva, mas também a função de prevenção ao crime e de ressocialização.
Os meios de prevenção à reincidência e os mecanismos de reintegração social estão
previstos na Lei de Execuções Penais e incluem diversos meios assistenciais devidos
pelo Estado ao preso/internado (assistência jurídica, educacional, social, à saúde,
material e religiosa).
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AUTOATIVIDADE
1 Segundo a Lei de Execução Penal, a assistência ao preso e ao internado é dever do
Estado, que objetiva prevenir o crime e orientar o retorno à convivência em sociedade.
A respeito do tema, assinale a alternativa INCORRETA:
14
UNIDADE 1 TÓPICO 2 -
REGRAS MÍNIMAS PARA O TRATAMENTO DOS
PRESOS
1 INTRODUÇÃO
Acadêmico, no Tópico 2, abordaremos a sociedade prisional, apresentaremos
os seus principais atores e as regras mínimas para o tratamento dos presos dentro do
sistema penitenciário. O objetivo é compreender o ambiente prisional brasileiro, os seus
principais atores, as boas práticas exigidas dentro do sistema penitenciário, os direitos
fundamentais e as garantias constitucionais do preso, previstos na Constituição Federal
de 1988 e na legislação penal.
O Brasil é o terceiro país com a maior população carcerária do mundo, fica atrás
apenas da China e dos Estados Unidos. Estima-se que para cada 100 mil habitantes
brasileiros, existam 338 pessoas encarceradas, o que faz o país ocupar a 26ª posição
dentre os países que mais prendem no mundo (DEPEN, 2014). A superlotação carcerária
ocasionada pelo déficit de vagas é a grande problemática do sistema carcerário nacional,
que não tende a ser solucionada tão cedo diante da alta taxa de encarceramento. A
população carcerária brasileira, assim como no resto do mundo, é formada basicamente
por jovens, do sexo masculino, com baixa renda e com baixo nível de escolaridade.
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No que se refere ao aprisionamento feminino, os dados divulgados pelo Depen
identificaram o crescimento de 5.601 mulheres encarceradas, nos anos 2000, para
44.721 mulheres encarceradas, no ano de 2016, o que denota um aumento de 698%.
Isso faz com que o Brasil fique em quarto lugar no ranking mundial dos países com maior
índice de aprisionamento de mulheres, atrás dos Estados Unidos (cerca de 211.870),
China (cerca de 107.131) e Rússia (48.478).
INTERESSANTE
Para a criminologia clássica, a ação preventiva do Estado estava limitada
à punição do indivíduo como resposta ao mal por ele causado. Já para a
criminologia moderna, a estratégia de política penal cedeu espaço a uma
perspectiva complexa do cenário criminal; e o enfrentamento do delito
passou a considerar, além da figura do criminoso, a vítima e a comunidade
na qual esses sujeitos estão inseridos (VIANA, 2018, p. 396).
16
2 BOAS PRÁTICAS NO SISTEMA PENITENCIÁRIO
O Ministério da Justiça lançou, em 2007, o Manual de Boas práticas do Sistema
Penitenciário Nacional. As boas práticas do sistema penitenciário são políticas e
programas sociais de tratamento, escolarização, profissionalização, geração de emprego
e renda desenvolvidas com o objetivo de reintegração social do preso, de reabilitação
dos egressos do sistema prisional e de prevenção criminal e promoção de segurança
(BRASIL, 2007).
As boas práticas são aplicadas tanto em nível federal, pelo Sistema Penitenciário
Federal, criado a partir de 2006, cuja finalidade é a gestão e a fiscalização das
Penitenciárias Federais de todo território nacional, também aplicadas em nível estadual,
que guarda a relação dialógica entre o sistema de justiça criminal e a formação de redes
de enfrentamento, proteção e atendimento aos presos, e visam à humanização da pena
(BRASIL, 2007).
17
18
19
FONTE: Brasil (2004)
21
A pena será cumprida em estabelecimentos distintos, de acordo com a
natureza do delito, a idade e o sexo do apenado, e é assegurado aos presos o respeito à
integridade física e moral.
INTERESSANTE
A Súmula Vinculante nº 11, do Supremo Tribunal Federal, estabelece que só
é lícito o uso de algemas, no caso de resistência e de fundado receio de fuga
ou de perigo à integridade física própria ou alheia, por parte do preso ou de
terceiros, sob pena de responsabilidade civil, penal e disciplinar do agente ou
da autoridade que forçar o uso da algema sem a fundamentação necessária,
por escrito, e sob responsabilidade civil do Estado.
A Constituição Federal, de 1988, estabelece que “[...] ninguém será preso senão
em flagrante delito ou por ordem escrita e fundamentada da autoridade judiciária
competente”. Após a efetivação da prisão em flagrante, ou por ordem judicial, há a
necessidade de comunicação da prisão de qualquer pessoa e o local onde se encontre.
Deverão ser, imediatamente, comunicados o juiz competente e a família do preso, ou a
pessoa por ele indicada.
IMPORTANTE
Não haverá prisão civil por dívida, salvo a do responsável pelo
inadimplemento voluntário e inescusável de obrigação alimentícia e a
do depositário infiel.
22
É direito constitucionalmente previsto à pessoa que pratica infração penal o
devido processo legal. Logo, o indivíduo só poderá ser processado e sentenciado pela
autoridade competente, e só poderá ser privado da sua liberdade ou dos seus bens após
o devido processo legal.
23
A pena privativa de liberdade (prisão) é a sanção penal de caráter aflitivo, imposta
ao condenado por uma sentença judicial pela prática de infração penal, e que consiste
na restrição e na privação da liberdade do indivíduo. A finalidade da pena é a de punir o
criminoso e de prevenir a prática do crime (CAPEZ, 2012).
O apenado por reclusão pode cumprir a sua pena em regime inicial aberto,
quando for condenado pela prática de crime cuja previsão legal for igual ou menor que
quatro anos. O apenado por reclusão com uma pena maior que quatro anos e igual ou
menor que oito anos cumprirá a sua pena em regime inicial semiaberto. O apenado por
reclusão com pena maior que oito anos iniciará o cumprimento de sua pena em regime
inicial fechado.
Exemplo 1: suponha que Dirso ameaçou Darso com uma faca. Dirso foi condenado
pela sentença judicial a uma pena de detenção de 6 meses. O crime de ameaça,
previsto pelo art. 147, do Código Penal, prevê pena de detenção de 1 a 6 meses. Logo,
Dirso cumprirá a pena privativa de liberdade de detenção, em regime inicial aberto, já
que a pena imposta é menor que quatro anos.
24
Exemplo 2: suponha que Virso roubou o carro de Vera. Virso foi condenado pela
sentença judicial a uma pena de reclusão de 5 anos. O crime de roubo, previsto
pelo art. 157, do Código Penal, prevê pena de reclusão de 4 a 10 anos. Logo, Virso
cumprirá a pena privativa de liberdade de reclusão, em regime inicial semiaberto,
já que a pena imposta é maior que quatro anos e menor que oito anos.
Exemplo 3: suponha que Tirso matou Tarso. Tirso foi a júri popular, foi considerado
culpado, e a sentença judicial lhe determinou uma pena de reclusão de 10 anos. O
crime de homicídio, previsto pelo art. 121, do Código Penal, prevê pena de reclusão,
de 6 a 20 anos. Logo, Tirso cumprirá a pena privativa de liberdade de reclusão, em
regime inicial fechado, já que a pena imposta é maior que oito anos.
O Brasil conta com cerca de 1,4 mil unidades prisionais. A Lei de Execução Penal
brasileira (Lei n° 7.210/84) prevê os tipos de estabelecimentos penais que receberão
os presos, tanto os definitivos (condenados), quanto os provisórios (que respondem a
processo criminal).
Em suma, o preso pode ser o provisório, que aguarda, com a restrição de sua
liberdade, a conclusão do processo penal, ou pode ser o definitivo, que já foi julgado e
condenado por uma sentença judicial pela prática do crime. A Constituição Federal de
1988, o Código Penal e a Lei de Execuções Penais são as legislações responsáveis pelas
previsões relacionadas ao condenado e as espécies de penas aplicáveis a quem comete
infração penal. A pena que nos interessa neste estudo acerca do sistema carcerário é a
pena privativa de liberdade, uma vez que o sujeito, objeto de estudo, é o preso. Este, por
sua vez, pode ser condenado a três espécies de pena privativa de liberdade: reclusão,
detenção ou prisão simples. O regime inicial para o cumprimento da pena pode ser o
aberto, o semiaberto ou o aberto, a depender da quantidade da pena imposta pela
sentença judicial. O estabelecimento penal em que o preso será recolhido dependerá do
regime de condenação.
25
ATENÇÃO
Preso condenado em regime fechado cumpre pena em penitenciária.
Preso condenado em regime semiaberto cumpre pena em Colônia
Agrícola. Preso condenado em regime aberto cumpre pena na Casa
do Albergado. Preso provisório é recolhido em Centro de Detenção
Provisória (CDP) ou na Cadeia Pública.
Os demais direitos do preso previstos pelo artigo 41, Lei de Execução Penal, são:
1. alimentação e vestuário;
2. atribuição de trabalho proporcional e remuneração;
3. previdência social;
4. descanso e recreação;
5. exercício de atividades intelectuais, artísticas, profissionais e desportivas;
6. assistência jurídica, familiar, educacional, social e religiosa;
7. entrevista pessoal e reservada com Advogado;
8. visita da família, cônjuge e companheiro;
9. tratamento humanizado com chamamento nominal e igualdade no tratamento;
10. audiência com o diretor do estabelecimento;
11. representação e petição a qualquer autoridade para defesa de direito;
12. contato com o mundo exterior, por meio de correspondência escrita, leitura e outros
meios de informação;
13. atestado de pena a cumprir, emitido anualmente pela autoridade competente, sob
pena de responsabilidade do juiz da execução;
14. assistência à saúde e ambulatorial.
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Após a condenação criminal por meio de uma sentença judicial, inicia-se o
Processo de Execução Penal. É expedida a guia de recolhimento, na qual consta todas
as informações e os principais dados da ação penal, elaborada pela vara criminal em
que tramitou o processo e gerou a condenação. Essa guia será enviada para uma nova
vara, denominada Vara de Execução Penal, onde um novo processo será iniciado para
administrar e fiscalizar o cumprimento da pena. A Vara de Execução Penal é chefiada
pelo juiz da Execução Penal, encarregado de administrar e de fiscalizar o cumprimento
da pena da pessoa condenada e para quem devem ser realizados todos os pedidos
relacionados ao preso.
27
Em suma, o processo de execução penal originado após a condenação do
preso, por uma sentença judicial criminal, será de responsabilidade dos atores elencados
anteriormente. Cabe ao Juiz da execução penal a condução do processo de execução
e a fiscalização do cumprimento da pena. O Promotor de Justiça fica incumbido da
fiscalização do cumprimento da pena, e das necessárias intervenções e pedidos dentro
do processo de execução. Ao Defensor Público e/ou ao advogado, cumpre defender
o preso, da melhor maneira, realizar os pedidos necessários dentro do processo de
execução, e auxiliar na fiscalização do ambiente carcerário nas possíveis violações dos
direitos fundamentais dos presos.
DICAS
Os artigos 65 a 68 e 81-A e 81-B, da Lei 7.210/1984 (LEP) elencam as
funções no processo de execução penal dos atores citados ao longo do
texto.
DICAS
O artigo Estado de Coisas Inconstitucional: a judicialização em busca
da efetivação dos direitos fundamentais no cárcere, desenvolvido pelos
professores Rubens Beçak e Rafaella Marineli Lopes trata do tema da
violação dos direitos fundamentais dos presos, no sistema carcerário
brasileiro, e contém dados a respeito de um fenômeno que o Supremo
Tribunal Federal denominou como “estado de coisas inconstitucional”
do cárcere. Disponível para leitura em: https://bit.ly/2ZOaoTY.
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São atribuições do Departamento Penitenciário Nacional:
ATENÇÃO
A legislação local (estadual ou municipal) pode criar o Departamento
Penitenciário Local ou órgão similar, que tem como finalidade a
supervisão e coordenação dos estabelecimentos penais locais da
unidade federativa a que pertencer.
29
Segundo disposto pela normativa do Departamento Penitenciário Nacional, são
deveres do agente penitenciário a disciplina e a manutenção da segurança da unidade,
o zelo pela integridade física e moral dos presos e dos visitantes, a apresentação em
serviço portando colete de identificação e crachá, a submissão à revista pessoal quando
da sua entrada em estabelecimento penal, a atuação de acordo com o plano de segurança
da unidade prisional, o cumprimento de determinações previstas no Regimento
Interno, Lei de Execuções Penais, Estatuto Penitenciário e demais instrumentos legais
reconhecidos, a manutenção da vida pessoal com decoro exigido pela profissão.
30
sob vigilância pessoa presa) e escolta (conduzir de um local para o outro, como medida
de prevenção ou proteção com o fim de se atingir objetivo preestabelecido) do indivíduo
dentro do sistema carcerário. Deve cumprir a sua função com aptidão, honestidade,
disciplina, equilíbrio emocional, empatia, autoridade e responsabilidade, a fim de manter
o ambiente carcerário sadio e harmonioso.
ATENÇÃO
O parecer consultivo do Conselho Penitenciário não é discricionário,
ou seja, o Conselho deve ser obrigatoriamente consultado acerca
da conveniência e da oportunidade de concessão de Livramento
Condicional e Indulto.
32
AUTOATIVIDADE
1 Com base na LEP, assinale a alternativa INCORRETA:
33
Assinale a alternativa CORRETA:
5 “Ninguém será preso senão em flagrante delito ou por ordem escrita e fundamentada
de autoridade judiciária competente, salvo nos casos de transgressão militar ou crime
propriamente militar, definidos em lei”. Julgue o item como VERDADEIRO OU FALSO, e
JUSTIFIQUE.
34
UNIDADE 1 TÓPICO 3 -
TEMAS DA SOCIEDADE PRISIONAL
1 INTRODUÇÃO
Neste Tópico 3, abordaremos temas relacionados à sociedade prisional, com o
fim de perceber o ambiente das prisões como um reflexo da sociedade brasileira. Serão
abordadas as relações de convivência e poder, bem como a figura do Estado como
“caracterizador” do indivíduo criminoso.
Outras normativas internacionais foram aderidas, ao longo dos anos pelo Brasil,
para tratar do preso e da execução da pena. A seguir, estão elencadas as principais:
• Regras Mínimas das Nações Unidas para o Tratamento de Presos (Regras de Nelson
Mandela).
• Regras das Nações Unidas para o tratamento de mulheres presas e medidas não
privativas de liberdade para mulheres infratoras (Regras de Bangkok).
• Regras mínimas das Nações Unidas sobre medidas não privativas de liberdade
(Regras de Tokio).
35
• respeito à dignidade e valores inerentes aos seres humanos;
• reconhecimento de grupos vulneráveis e atenção a necessidades específicas
• serviços médicos e de saúde;
• restrições, medidas disciplinares e sanções;
• investigação de mortes em custódia, bem como de qualquer sinal ou alegação de
tortura ou tratamento cruel, desumano ou degradante;
• direito à assistência jurídica;
• denúncias e inspeções externas; e
• capacitação de pessoal para implementação das Regras. Além disso, houve revisão
de terminologias defasadas e inclusão de perspectivas de gênero ao longo do
documento.
36
• imposição de prestação de serviços à comunidade;
• envio a um estabelecimento aberto;
• prisão domiciliar;
• qualquer outra forma de tratamento não institucional;
• uma combinação destas medidas.
37
Em regra, o cumprimento da individualização da pena deve ser fiscalizado,
e a administração penitenciária deve se ater aos mecanismos e estruturas para
a recepção de pessoas no sistema prisional. Embora seja essa a teoria, a prática do
sistema penitenciário nacional nem sempre apresenta condições adequadas para
essa separação, o que ocasiona diversos problemas de gestão carcerária e influenciam
na reincidência criminal, ao possibilitar a convivência entre presos condenados e
provisórios.
38
O direito à saúde é universal. Toda a população tem direito ao SUS, inclusive
a população carcerária, embora o fornecimento desse direito nos estabelecimentos
prisionais seja de difícil acesso. Com vistas a garantir o acesso à saúde, foi instituído pelo
Ministério da Saúde e pelo Ministério da Justiça o Plano Nacional de Atenção Integral à
Saúde das Pessoas Privadas de Liberdade no Sistema Prisional (PNAISP), que objetiva
garantir o acesso permanente à população sob custódia ao SUS, que articula a política
prisional com a política de saúde e da integração dos seus equipamento e serviços.
A lei de Execução Penal prevê o direito à remição, pelo apenado, por meio do
estudo. Segundo o artigo da lei, o benefício da remição pelo estudo autoriza a redução
de um dia de pena a cada 12 horas de estudo, distribuídas em três dias, em atividades de
ensino fundamental, médio, profissionalizante, superior ou de requalificação profissional.
Embora haja a previsão legal, não existe ainda uma política nacional de educação
no cárcere. Existe, contudo, as Diretrizes Nacionais para Oferta de Educação a Jovens e
Adultos em Situação de Privação de Liberdade nos Estabelecimentos Penais (2010), que
implementou importantes dispositivos de fomento às ações em educação nos presídios
e orientações (CNJ, 2020). Algumas das orientações previstas nas diretrizes são: a)
financiamento por meio de recursos públicos, b) articulação dos Estados e do Distrito
Federal com os órgãos responsáveis pela administração penitenciária, c) envolvimento
da comunidade e dos familiares, d) vinculação de unidades educacionais e programas
educacionais.
39
o Ministério Público, os órgãos internacionais, os órgãos trabalhistas e sindicais e
a sociedade civil, com o fim de formulação de programas de trabalho e arranjos
intersetoriais que assegurem a ocupação, a dignidade humana, o desenvolvimento
pessoal, social e profissional e a ressocialização do preso.
40
• a elaboração de proposta de Política Nacional de Assistência Social no Sistema
Prisional, no âmbito do Projeto BRA 14/011 – Cooperação entre o Departamento
Penitenciário Nacional e o Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento;
• Resolução nº 2, do CNPCP, de 8 de agosto de 2017, que dispõe acerca do
encaminhamento de cópia de auto de prisão em flagrante, delito de mulheres
grávidas, lactantes e com filhos até 12 anos incompletos ou deficientes para o Centro
de Referência em Assistência Social ou entidade equivalente, a fim de apoiar o HC
coletivo às mulheres presas grávidas e mães de crianças com até 12 anos de idade;
• a elaboração do documento “Atenção às famílias de Mulheres Grávidas, lactantes e
com filhas/os até 12 anos incompletos ou com deficiência privados de liberdade”;
• a Resolução Conjunta nº 1, do CNPCP e Conselho Nacional de Assistência Social, de
7 de novembro de 2018, que qualifica o atendimento socioassistencial às famílias
de pessoas encarceradas e egressas do Sistema Penitenciário no Sistema Único de
Assistência Social (CNJ, 2020).
NOTA
Vigiar e Punir: Nascimento da Prisão é um livro do filósofo francês Michel
Foucault, publicado originalmente em 1975 e considerado uma obra que
alterou o modo de pensar e de fazer política social no mundo ocidental.
Só foi publicado no Brasil na versão traduzida em 1987.
42
O hospital, a escola, a oficina, as fábricas, os quartéis, as prisões e a polícia são
exemplos de mecanismos de poder, em que é exercido o processo disciplinar. Essas
instituições foram
Para Foucault (1999, p. 141), o poder disciplinar é responsável pelo controle dos
corpos de três maneiras: celular (por meio do jogo de repartição espacial), orgânica (por
meio da codificação formal das atividades), genética (acumular tempo segmentado) e
combinatória (composição de forças). Na visão foucaultiana, o poder disciplinar seria um
poder que, em vez de apropriar e retirar, tem como função maior “adestrar”.
43
A vertente mais radical do movimento denominado abolicionismo penal defende
o fim das prisões e do próprio Direito Penal, uma vez que o considera um instrumento
manejado por grupos sociais dominantes que define o que é crime, de forma excludente
e estigmatizante. A seguir, estão descritos alguns defensores do movimento.
A visão sociológica de Thomas Mathiesen (1933), de forma bastante semelhante
ao defendido por Foucault, vincula o sistema penal a uma estrutura produtiva capitalista,
de modo a enxergar o sistema penal como um instrumento de dominação de classe
e que, por isso, deve ser extinto. É um autor abolicionista do sistema penal da forma
como é dado, e propõe uma revolução permanente, gradual e ilimitada com a adoção
de profundas reformas nas instituições punitivas, com o fim de progressiva abertura ao
sistema de penas e a drástica redução da necessidade do sistema penal.
O movimento neorrealista adota uma perspectiva realista, e que tem como ideai
central o socialismo, que reconhece os reflexos da pobreza na criminalidade, e encara
o delito como um problema real, defende a adoção de uma ampla política social para o
controle da zona de delinquência (OLIVEIRA, 2020)
44
finalidade educadora e ressocializadora do condenado. O processo disciplinar buscado
pela prisão, com caráter educativo, torna-se um processo autoritário, desarrazoado,
desumano e degradante, o que reafirma a crença foucaultiana de que a prisão fracassa
na tarefa de reduzir a prática de crimes e, contrariamente, apresenta-se como meio
hábil à produção da delinquência.
NOTA
A criminologia, ciência que estuda o crime, o criminoso e o controle social,
teve origem na obra “O homem delinquente”, de Cesare Lombroso,
a quem é dado o título de “pai da criminologia”, segundo a doutrina
majoritária.
45
submetendo os investigados às “ordálias” ou ao “juízo de Deus”, que consistiam em
um ritual em que o réu era submetido a uma provação divina que comprovaria a sua
inocência ou culpabilidade.
46
A abordagem sociológica, segundo a doutrina nacional, abarca causas e
fatores sociais que influenciam na criminalidade. São os denominados “fatores sociais
criminógenos”, de importante conhecimento da a implementação de políticas públicas
relacionadas ao cárcere e para a prevenção do delito. A doutrina nacional identifica
alguns fatores sociais criminógenos responsáveis pelo aumento da criminalidade, e que
passamos a identificar a seguir (SUMARIVA, 2018).
47
A missão do Direito Penal é a proteção dos valores fundamentais para a
subsistência do corpo social, tais como a vida, a saúde e a liberdade (CAPEZ, 2011).
Nesse sentido, a Declaração Universal dos Direitos do Homem e do Cidadão, de 1789, em
seu artigo 8º, determinou que a lei só deve prever as penas estritamente necessárias, e
estabeleceu o Princípio da Intervenção Mínima do Direito Penal.
48
RESUMO DO TÓPICO 3
Neste tópico, você adquiriu certos aprendizados, como:
• A normativa que rege a execução penal no Brasil é composta pelas normas nacionais
(Constituição Federal, Lei de Execução Penal e outras normas infralegais, resoluções
do CNJ etc.) e por normas internacionais a que o Brasil aderiu (Regras Mínimas das
Nações Unidas para o Tratamento de Presos; Regras das Nações Unidas para o
tratamento de mulheres presas e medidas não privativas de liberdade para mulheres
infratoras; Regras mínimas das Nações Unidas sobre medidas não privativas de
liberdade).
• O delito é um fenômeno social, segundo a criminologia, ciência que tem por objeto
a sua análise, a do criminoso, a da pena, a da vítima e a do controle social. O Estado
pune o crime de formas distintas ao longo da História, e a Idade Contemporânea foi o
período de surgimento da ciência da criminologia.
• A obra Vigiar e Punir, publicada em 1975, por Michel Foucault, descreve as relações de
poder no cárcere, e serve de base para diversos movimentos abolicionistas do Direito
Penal e das execuções penais.
49
AUTOATIVIDADE
1 Considerando a atual conjuntura da política criminal brasileira, é CORRETO afirmar
que:
a) ( ) A eficiência do trabalho policial pode ser verificada pelo baixo índice de letalidade
e o alto índice de prisões efetuadas.
b) ( ) O processo de encarceramento em massa no Brasil se alavancou no período
de vigência da Constituição Federal, de 1988, apesar de esta ter como seus
fundamentos a cidadania e a dignidade da pessoa humana.
c) ( ) A construção de presídios tem sido uma política eficaz de redução do
encarceramento em massa.
d) ( ) O crescimento da população prisional é isonômico, no aspecto de gênero.
2 “O atestado de que a prisão fracassa em reduzir os crimes deve talvez ser substituído
pela hipótese de que a prisão conseguiu muito bem produzir a delinquência, tipo
especificado, forma política ou economicamente menos perigosa – talvez até
utilizável – de ilegalidade; produzir delinquentes, meio aparentemente marginalizado,
mas centralmente controlado; produzir o delinquente como sujeito patologizado”.
Esse trecho, extraído de “Vigiar e Punir”, sintetiza uma importante conclusão de
Michel Foucault decorrente de suas análises acerca da prisão como uma instituição
disciplinar moderna. Para o autor, a prisão permite:
50
( ) Quanto à teoria da finalidade da pena, a função preventiva especial, em razão do
caráter abstrato da previsão legal dos delitos e das penas, enfoca o delito e não o
infrator individualmente.
( ) As finalidades da pena são "retribuição e prevenção", assim, o objetivo da prevenção
é o de evitar que o infrator da lei volte a delinquir (especial) e que a punição sirva de
exemplo para que outros não pratiquem o mesmo ato (geral).
a) ( ) Totalitário.
b) ( ) Total.
c) ( ) Judiciário.
d) ( ) Normalizador.
51
52
REFERÊNCIAS
BRASIL. Lei de Execução Penal nº 7.210, de 11 de julho de 1984. Estabelece a
normativa para a execução penal. Diário Oficial da República Federativa do Brasil,
Brasília, DF, 1984.
CAPEZ, F. Curso de Direito Penal. Vol. 1, parte geral. 15. ed. São Paulo: Saraiva, 2011.
CAPEZ, F. Processo Penal Simplificado. 19. ed. São Paulo: Saraiva, 2012.
53
CNJ. Conselho Nacional de Justiça. América Latina: Panorama é de superlotação e
prisões provisórias. Disponível em: https://www.cnj.jus.br/america-latina-panorama-e-
de-superlotacao-e-prisoes-provisorias/. Acesso em: 27 ago. 2021.
FERRAJOLI, L. Derecho y razón: Teoría del garantismo penal. 10. ed. Madrid: Editorial
Trotta, 2011.
FOUCAULT, M. Microfísica do Poder. 24. ed. São Paulo: Edições Graal, 2007.
NUCCI, G. de S. Manual de direito penal.3. ed. São Paulo: Editora Revista dos
Tribunais, 2007.
54
UNIDADE 2 —
ORGANIZAÇÕES E FACÇÕES
CRIMINOSAS, GRUPOS RELIGIOSOS
E VOLUNTÁRIOS E RELAÇÃO
FAMILIAR DENTRO DAS PRISÕES
OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM
A partir do estudo desta unidade, você deverá ser capaz de:
PLANO DE ESTUDOS
Esta unidade está dividida em três tópicos. No decorrer dela, você encontrará
autoatividades com o objetivo de reforçar o conteúdo apresentado.
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Preparado para ampliar seus conhecimentos? Respire e vamos em frente! Procure
um ambiente que facilite a concentração, assim absorverá melhor as informações.
55
CONFIRA
A TRILHA DA
UNIDADE 2!
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56
UNIDADE 2 TÓPICO 1 —
ORGANIZAÇÕES E FACÇÕES CRIMINOSAS
1 INTRODUÇÃO
Acadêmico, no Tópico 1, abordaremos o tema Organizações e Facções
Criminosas e os reflexos sociais da atuação desses grupos dentro e fora do sistema
prisional. O crime organizado se desenvolve diante de um Estado ausente, e se constitui
um dos maiores problemas do mundo globalizado. O crescimento do crime organizado
é uma ameaça não apenas à sociedade, mas ao próprio Estado Democrático de Direito,
uma vez que os crimes praticados contêm muita lesividade e uma forte influência dentro
do Estado.
57
2 CONCEITO E BALIZAMENTO HISTÓRICO
O conceito de organizações e facções criminosas é advindo de parâmetros
internacionais, junto com as origens de tais organizações. O objetivo do tópico é a
descrição dessas origens, e como o ordenamento jurídico atual conceitua as facções
criminosas e atua no seu combate. A Lei nº 12.850/13 (Lei das Organizações Criminosas)
define a organização criminosa nos seguintes termos:
• nas mesmas penas incorre quem impede ou, de qualquer forma, embaraça a
investigação de infração penal que envolva organização criminosa;
• as penas são aumentadas até a metade se, na atuação da organização criminosa,
houver emprego de arma de fogo;
• a pena é agravada para quem exerce o comando, individual ou coletivo, da organização
criminosa, ainda que não pratique, pessoalmente, atos de execução;
• a pena é aumentada de 1/6 (um sexto) a 2/3 (dois terços): se há participação de criança
ou adolescente; se há concurso de funcionário público, valendo-se a organização
criminosa dessa condição para a prática de infração penal; se o produto ou proveito
da infração penal destinar-se, no todo ou em parte, ao exterior; se a organização
criminosa mantém conexão com outras organizações criminosas independentes; se
as circunstâncias do fato evidenciarem a transnacionalidade da organização;
• se houver indícios suficientes de que o funcionário público integra organização
criminosa, poderá o juiz determinar seu afastamento cautelar do cargo, emprego
ou função, sem prejuízo da remuneração, quando a medida se fizer necessária à
investigação ou instrução processual.
58
As lideranças de organizações criminosas armadas ou que tenham armas à
disposição deverão iniciar o cumprimento da pena em estabelecimentos penais de
segurança máxima. O condenado expressamente em sentença por integrar organização
criminosa, ou por crime praticado por meio de organização criminosa, não poderá
progredir de regime de cumprimento de pena, ou obter livramento condicional, ou outros
benefícios prisionais, se houver elementos probatórios que indiquem a manutenção do
vínculo associativo.
Caso haja indícios de participação de policial nos crimes de que trata esta Lei, a
Corregedoria de Polícia instaurará inquérito policial e comunicará ao Ministério Público,
que designará membro para acompanhar o feito até a sua conclusão.
59
Atualmente, a facção do Rio é nutrida por jovens e é considerada por policiais
como a mais sanguinária dentre os inimigos. A história do CV começou antes mesmo
do século XX, quando a prisão de Ilha Grande, situada no Rio, cometia atrocidades
aos presos que ali viviam. Os prisioneiros eram doentes de cólera e tifo, e a prisão se
transformou, no século XX, em arcabouço para prisioneiros políticos, opositores da
ditadura, guerrilheiros, criminosos comuns, assassinos e estupradores. Em 1979, surgiu
o Comando Vermelho nesta prisão, uma mistura entre presos enquadrados na Lei de
Segurança Nacional e presos comuns. A facção se profissionalizou para assaltar bancos,
sequestrar empresários, personalidades da mídia, mas a atividade principal e que
perdura até a atualidade é o narcotráfico e o roubo de cargas.
60
O Primeiro Comando da Capital (PCC) também teve origem no sistema carcerário,
em 1993, no estado de São Paulo. Um dos principais objetivos do PCC é a luta pela
melhoria dentro dos presídios paulistas. O ingresso do indivíduo o faz seguir uma série
de regras de conduta entabuladas no Estatuto do PCC.
61
O PCC se tornou não apenas uma organização poderosa em termos nacionais,
mas o grupo mais poderoso do crime organizado do Brasil e América do Sul, e conta,
atualmente, com 35 mil membros. Além do domínio das prisões e das favelas, a
organização gerencia o tráfico de drogas nacional e internacional, e faz girar em torno
de 100 milhões de dólares por ano (485 milhões de reais). Para o PCC, o grande inimigo
é o Estado. O poder paralelo da facção contém um núcleo de 35 mil membros, fora as
centenas de milhares de pessoas que vivem sob as ordens da facção (delinquentes,
biscateiros, faxineiras, pedreiros, vendedores ambulantes, de telemarketing).
62
O crime organizado surge onde o Estado deixa espaços. As prisões são o
local de maior omissão estatal, e onde o poder paralelo destas facções toma conta. O
recrutamento de indivíduos para as facções começa de dentro das prisões para fora, e
o controle das facções também. Para a sociologia, que se debruça na temática, houve o
aumento substancial das facções no sistema prisional com a inserção de telefonia móvel,
de modo ilegal, já que os telefones permitem o entrelaçamento com o mundo exterior
e o controle. Atualmente, as facções brasileiras vivem um período de instabilidade,
principalmente com a levada de muitos líderes criminosos a cadeias federais, e com a
quebra da aliança entre PCC e Comando Vermelho, na disputa pela rota da droga.
DICAS
MANSO, B. P.; DIAS, C. N. A Guerra: a ascensão do PCC e o mundo do
crime organizado. São Paulo: Editora Todavia, 2018.
FELTRAN, G. Irmãos: uma história do PCC. São Paulo: Companhia das
Letras, 2018.
BIONDI, K. Proibido roubar na quebrada: território, hierarquia e lei no
PCC. Terceiro Nome, 2018.
AMORIM, C. Comando Vermelho. Rio de Janeiro: Best Seller, 2011.
DICAS
Filme: 400 contra 1 – Uma história do crime organizado.
Filme: Salve Geral (2009)
Para Bolzani e Santos (2012), a ineficácia das políticas públicas para o setor
facilita a consolidação deste cenário, uma vez que o enfraquecimento institucional
legitima os ideais e os benefícios oferecidos pelas organizações criminosas no cárcere,
que influenciam os presos diante das condições de vulnerabilidade, e ofertam a
ascensão deste na sociedade do crime.
64
De acordo com Dias (2013), consolidada a posição de monopólio dentro das
prisões, a organização criminosa passa novamente por alterações na forma de atuar e
de manter seu domínio, com menos demonstrações públicas de violência e a instalação
de tribunais para a resolução de conflitos dentro e fora das prisões, o que descentraliza
a tomada de decisões, e as penalidades são aplicadas em nome da organização e não
mais como decisão de um membro hierarquicamente mais bem posicionado.
Outro fator relevante, a partir desta fase, é uma expansão e organização cada
vez maior das atividades do PCC fora das prisões; este desdobramento da facção é
observado por Dias (2013) e caracterizado como “o PCC empresa”. O aumento na
incidência de crimes resulta em grande volume de dinheiro subtraído e necessitam
de grande investimento no aparato de armamento e logística para ser executado. São
exemplos, as ocorrências de grandes roubos a bancos e cargas, e explosões de caixas
eletrônicos. Também se constata uma associação da organização para a exploração do
tráfico de drogas e comércio ilegal de armas.
65
vulgo Zé da Compensa (FDN), são alguns dos custodiados nas federais, que já abrigaram
também os irmãos Gerominho e Natalino, fundadores da milícia Liga da Justiça (EL PAÍS,
2020).
Uma das metas elencadas pelo PCC, em seu código de conduta, era a sua
expansão em nível nacional. Atualmente, a facção é internacionalmente reconhecida
pela rota da droga estabelecida entre países latino-americanos, Brasil, Europa e África.
Uma das principais pesquisadoras nas ciências sociais, acerca do PCC, Camila Nunes
Dias, estudou a expansão do crime organizado nos últimos anos, e elencou os anos de
2001 e 2006 como os principais anos de expansão do PCC, em nível nacional. Em 2001,
o PCC foi o responsável por uma megarrebelião em 29 unidades prisionais do estado de
São Paulo, o que ocasionou 30 presos mortos em conflitos internos e a reivindicação do
PCC pela desativação do Anexo da Casa de Custódia de Taubaté. No ano de 2006, o PCC
desencadeou, no estado de São Paulo, diversos atentados simultâneos, que colocaram
a sociedade em alerta e paralisou as atividades essenciais. Em 2012, novo conflito se
estabeleceu entre as forças de segurança e o PCC, o que deixou um número de vítimas
elevado entre civis e militares.
Certo esgarçamento das relações entre CV e PCC pode ser notado de um para
outro estatuto, entre os quais há um lapso temporal de aproximadamente 15 anos.
Enquanto o primeiro documento produzido pelo PCC vislumbrava a possibilidade de uma
união nacional do “crime”, representada pela “coligação PCC-CV”; o segundo estatuto
coloca a prioridade muito mais nos acordos comerciais, com todos os grupos de outros
estados, em vez de alianças políticas estratégicas com um grupo específico. Também
fica evidente que não há um necessário compartilhamento de valores e de formas de
conduta entre o PCC e o CV. Para Dias (2019, s.p.),
66
As ressonâncias dessa fratura nas alianças entre os dois grupos
foram significativas em termos da ordem prisional nos diversos
estados brasileiros. Em escala nacional, as prisões passaram por uma
adaptação ao novo cenário de conflito entre essas duas facções.
Foram intensas as remoções de presos de um presídio para outro
para seu isolamento do convívio com os membros das facções
inimigas.
Desta última rebelião promovida entre as facções, resultaram chacinas e
numerosas mortes de presos em penitenciárias do Amazonas, Roraima e Rio Grande
do Norte, com 64, 33 e 26 mortes, respectivamente. As ressonâncias dessa fratura
nas alianças entre os dois grupos foram significativas, em termos da ordem prisional,
nos diversos estados brasileiros. Em escala nacional, as prisões passaram por uma
adaptação ao novo cenário de conflito entre essas duas facções. Foram intensas as
remoções de presos de um presídio para outro, para seu isolamento do convívio com os
membros das facções inimigas (DIAS, 2019).
FIGURA 3 – A GUERRA
67
RESUMO DO TÓPICO 1
Neste tópico, você adquiriu certos aprendizados, como:
• O crime organizado surge onde o Estado deixa espaços. As prisões são o local de maior
omissão estatal, e onde o poder paralelo destas facções toma conta. O recrutamento
de indivíduos para as facções começa de dentro das prisões para fora, e o controle
das facções também. As principais facções criminosas no Brasil atualmente são:
Primeiro Comando da Capital (PCC – São Paulo) e Comando Vermelho (CV – Rio de
Janeiro).
68
AUTOATIVIDADE
1 O Primeiro Comando da Capital é uma das maiores organizações criminosas do
Brasil. A facção atua, principalmente, em São Paulo, mas também está presente
em todos os estados brasileiros, além de países próximos como: Paraguai, Bolívia,
Colômbia e Venezuela. Possui cerca de 30 mil membros, sendo 8 mil apenas no estado
de São Paulo. A previsão legal que traz o conceito de Organização Criminosa está
prevista na Lei n° 12.850/2013. Sobre este assunto, classifique V para as sentenças
verdadeiras e F para as falsas:
69
com sabedoria".
II- A organização é financiada, principalmente, pelo tráfico de maconha e de cocaína,
mas roubos de cargas, assaltos a bancos e sequestros também são fontes de
faturamento. O grupo está presente em 90% dos presídios paulistas, os negócios
particulares dos líderes e da própria facção têm um faturamento estimado, pela
inteligência policial em, no mínimo, 400 milhões de reais por ano. Alguns policiais
e promotores acreditam que esse número pode chegar a cerca de 800 milhões de
reais.
III- O Comando Vermelho (CV) teve origem nas penitenciárias do Rio de Janeiro,
com o objetivo de dominar o tráfico de drogas nos morros da cidade e aproveitou
da ausência do Estado nas favelas cariocas para desenvolver uma política de
benfeitorias e de proteção, com o fim de conseguir o apoio da comunidade.
IV- O PCC e o CV são facções integradas.
70
4 “No âmbito das ciências sociais, diversos estudos foram produzidos, desde a década
de 1980, na tentativa de explicar o crescimento da criminalidade no Brasil, bem
como os seus efeitos sobre a vida das populações urbanas e sobre os aparatos
destinados à gestão do controle sobre o crime e a punição (PINHEIRO, 1981; PAIXÃO,
1988; ZALUAR, 1983; FISHER; ADORNO, 1987; MISSE, 1999; 2006; ADORNO, 1996).
O expressivo crescimento da população encarcerada, nesse período, colocou em
cena também novas dinâmicas no domínio da criminalidade e nas formas de sua
contenção que ampliaram os desafios para as pesquisas na área das ciências sociais
no país. Uma questão instigante, por exemplo, foi a emergência de grupos criminosos
organizados dentro dos ambientes prisionais, para além daquelas quadrilhas e
bandos que ali sempre estiveram presentes. Tais grupos forjaram identidades a partir
de componentes próprios do mundo do crime e mesclaram no seu modo de atuação
práticas e referências já existentes na sociabilidade das áreas pobres e periféricas
das grandes cidades” (DIAS, 2013, p. 174). O trecho extraído artigo “Decifrando as
dinâmicas do crime”, de Camila Nunes Dias, publicado na Revista Brasileira de Ciências
Sociais, que traz um estudo acerca das dinâmicas das organizações criminosas no
Brasil. Explique o que são as organizações criminosas e descreva as duas principais
facções existentes no Brasil.
71
72
UNIDADE 2 TÓPICO 2 -
GRUPOS RELIGIOSOS E ASSISTÊNCIA
ESPIRITUAL NAS PRISÕES
1 INTRODUÇÃO
No Tópico 2, vamos aprender acerca dos Grupos Religiosos e Assistência
Espiritual nas prisões. Analisaremos, no decorrer deste tópico, os grupos e as atividades
desenvolvidas atreladas à assistência religiosa e espiritual nas prisões, prevista pela Lei
de Execução Penal como uma das assistências devidas pelo Estado ao preso, assim
como a assistência material, à saúde, jurídica, educacional e social.
73
2 O DIREITO À LIBERDADE E AO ACESSO RELIGIOSO
DENTRO DO AMBIENTE PRISIONAL
No Brasil, a Constituição Federal de 1988 fez prevalecer, efetivamente, uma
gama de direitos fundamentais, dentre eles o da liberdade religiosa. Além de haver
a previsão legal da assistência religiosa pela Lei de Execução Penal, como um dever
do Estado, a Constituição Federal de 1988 prevê no artigo 5º, inciso VII, a assistência
religiosa em entidades civis e militares de internação coletiva.
74
§ 2º Nenhum preso ou internado poderá ser obrigado a participar de
atividade religiosa.
O preso que não quiser receber assistência religiosa na prisão não poderá ser
obrigado a participar das celebrações religiosas, já que o direito à liberdade de culto
e de crença são direitos fundamentais e indisponíveis. Ademais, o Estado brasileiro
é laico, separado e imparcial em relação às questões religiosas, e não pode permitir
a interferência de correntes religiosas em assuntos estatais, nem privilegiar uma ou
algumas religiões em detrimento das demais.
INTERESSANTE
O Brasil é o maior país católico do mundo, com uma estimativa de 12
milhões de fiéis (65% da população) e representa 12% dos católicos do
mundo (dados do IBGE, 2013). Mesmo com esses números, o Brasil é um
estado laico e adota uma posição neutra no campo religioso, e não pode
apoiar nem discriminar qualquer religião (POLITIZE, 2017).
75
maltratados”. Sem proselitismo e sem doutrinação, a religião a ser aplicada no cárcere
é no sentido de que “a melhor religião é aquela que te faz melhor”, segundo profetizou
Dalai Lama. A religião no cárcere deve respeitar a diversidade cultural e as diferentes
instituições voluntárias dentro da unidade prisional.
DICAS
QUIROGA, A. M. Religiões e Prisões no Rio de Janeiro: presença e
significados. 2020. Disponível em: https://bit.ly/3nUs7ld.
Para Minayo e Ribeiro (2014), esse papel vem sendo desenvolvido por igrejas e
autoridades religiosas, com programas de prevenção e reabilitação em diversas cidades
brasileiras, principalmente no sentido da prevenção criminal em espaços periféricos, ora
por financiamento do poder público, ora por trabalho de voluntários não correlacionados
ao Estado (por exemplo, o trabalho de organizações não governamentais – ONGs).
76
religiosa, mas não necessariamente exige participação em práticas e ritos das igrejas
(RIBEIRO; MINAYO, 2014).
77
DICAS
Acadêmico, indicamos a leitura do texto O papel da religião na promoção da
saúde, na prevenção da violência e na reabilitação de pessoas envolvidas com a
criminalidade, disponível em: https://bit.ly/3wb6Zej.
78
em que o número de representantes seja proporcional ao número de pessoas presas. É
vedada a revista íntima do representante religioso. O preso pode receber atendimento
individual do representante religioso.
A prática religiosa pode ser feita por entidades religiosas e/ou não governamentais
que estejam legalmente constituídas, há mais de um ano. O representante religioso deve
ser maior de 18 anos e residente no país, devidamente credenciado pelas organizações
cadastradas. Deve estar regularmente no Brasil, caso estrangeiro, e ser membro ativo
de entidade religiosa a ser representada, portar carta de apresentação e recomendação
firmada por seu dirigente ou representante local, ser credenciado pela Coordenadoria
de Assistência Religiosa do Sistema Prisional (CARSP), ou apresentar-se pessoalmente
à Unidade Prisional em que pretende exercer a atividade religiosa, portanto documento
de identidade e comprovante de residência.
79
• não portar joias, bijuterias, celulares e similares;
• portar crachá de identificação contendo os dizeres “Agente Religioso Voluntário”, que
será devolvido na Portaria da Unidade ao sair;
• portar apenas o livro de instrução religiosa, bloco de papel e caneta transparente;
• não se apresentar sob efeito de álcool ou de substância entorpecente;
• portar objetos religiosos indispensáveis que não apresentem riscos à segurança do
preso e da unidade prisional.
80
RESUMO DO TÓPICO 2
Neste tópico, você adquiriu certos aprendizados, como:
• A atuação dos grupos religiosos dentro do sistema penitenciário está prevista pela
Resolução nº 8, de 9 de novembro de 2011, do Conselho Nacional de Política Criminal
e Penitenciária, bem como as diretrizes para a prestação da assistência.
81
AUTOATIVIDADE
1 A liberdade religiosa, de culto e de crença é uma previsão do artigo 5º, da Constituição
Federal de 1988, que assegura que “inviolável a liberdade de consciência e de crença,
sendo assegurado o livre exercício dos cultos religiosos e garantia, na forma da
lei, a proteção aos locais de culto e a suas liturgias”. De acordo com o previsto no
ordenamento jurídico brasileiro, assinale a alternativa CORRETA:
( ) As políticas carcerárias voltadas para religiosidade visam oferecer todo tipo de culto
ou manifestação religiosa, e promover, principalmente, a doutrinação dos presos.
( ) O objetivo das atividades religiosas no cárcere é diversificar e ampliar a humanização
carcerária, com fins de reintegrar o preso e facilitar a ressocialização.
( ) É um dever do preso ter uma crença, uma religião e seguir as atividades religiosas
que são oferecidas pelo sistema penitenciário.
( ) O aparato religioso nas prisões não é um elemento educacional e pode ser aplicado
de forma esporádica e discricionária pelo Diretor do estabelecimento prisional.
82
II- A assistência religiosa, com liberdade de culto, será prestada aos presos e
aos internados, que permitam a participação nos serviços organizados no
estabelecimento penal, bem como a posse de livros de instrução religiosa.
III- No estabelecimento prisional, os cultos religiosos são realizados em qualquer lugar
apropriado, exceto quando do batismo de presos, em que será permitida a sua
saída do estabelecimento prisional.
IV- Nenhum preso ou internado poderá ser obrigado a participar de atividade religiosa
realizada na prisão, exceto a obrigatoriedade na participação de atividade de
catequização.
4 “O tema ‘religiões e prisões’ vem comparecendo na cena pública cada vez que
a questão penitenciária eclode através de evasões em massa, motins, tensões
motivadas pela superlotação carcerária etc. Pastores são chamados para a mediação
de conflitos. Igrejas se mobilizam através de Comissões de Direitos Humanos. Famílias
de presos demandam a intermediação de agentes religiosos para localização de seus
membros. É como se as religiões estivessem garantindo ou infundindo na população
maior confiabilidade para ocupar espaços e exercer funções civis, em princípio, de
responsabilidade de órgãos técnicos ou do próprio aparelho de Estado.” O trecho foi
retirado do texto “Religiões e Prisões no Rio de Janeiro: presença e significados”, da
autora antropóloga Ana Maria Quiroga. Com base na ideia do trecho destacado, elenque
a laicidade do Estado e a necessidade da religião nas prisões, conforme o predito pelo
ordenamento jurídico brasileiro.
83
84
UNIDADE 2 TÓPICO 3 -
PARTICIPAÇÃO DE GRUPOS VOLUNTÁRIOS NO
TRABALHO PENITENCIÁRIO
1 INTRODUÇÃO
No Tópico 3, abordaremos a participação de grupos voluntários no trabalho
penitenciário. Analisaremos os grupos e as atividades desenvolvidas atreladas à
assistência dos grupos voluntários nas prisões, prevista pela Lei de Execução Penal,
como uma possibilidade para o auxílio nas atividades educativas, lúdicas, religiosas e na
reinserção e na reintegração social do apenado.
O trabalho voluntário está definido pela Lei n° 9.608/1998, e pode ser entendido
como a atividade não remunerada prestada por pessoa física e entidade pública de
qualquer natureza, ou a instituição privada de fins não lucrativos, que tenha objetivos
cívicos, culturais, educacionais, científicos, recreativos ou de assistência social, inclusive
mutualidade.
O principal objetivo deste tópico é entender como o trabalho voluntário pode ser
realizado dentro das prisões e como essa atuação auxilia a justiça, a manutenção das
relações sociais e familiares do apenado com o público externo e abre caminho para uma
ressocialização efetiva. Após a leitura do tópico, o aluno deverá compreender o trabalho
voluntário realizado no ambiente carcerário e a sua relevância para a ressocialização e a
reintegração social do preso, a partir do contato com o público externo.
85
exercício de atividade do voluntariado, consubstanciada por intermédio de projetos, de
forma a permitir a interface entre o saber e a vontade de colaborar, que contribui para a
melhoria da qualidade de vida de quem está privado de liberdade (MARTINS, 2011).
86
Um dos exemplos de trabalho voluntário nas prisões que vingou, transformando-
se em um verdadeiro aparato ao Estado, foi o prestado pelos membros do movimento
Cursilhos de Cristandade da Igreja Católica, que realizavam visitas periódicas à cadeia
pública da cidade para prestar assistência material e religiosa aos presos e fundaram a
“Associação de Proteção e Assistência aos Condenados – APAC”, em 1974.
87
Assim como o papel da assistência religiosa e educacional proveniente da
comunidade externa, o trabalho voluntário em prisões pode desempenhar a reabilitação
e a reinserção social do recluso, construir ou reconstruir um novo caminho de vida
socialmente integrado, reviver no recluso o sentimento de confiança na sociedade civil
e sua capacidade de mudança do percurso de vida, motivando-o a novas perspectivas
de integração social.
Está claro que encarcerar mais pessoas, em sua maioria pobres e negras, não
diminui a violência; ao contrário, o encarceramento serve para torturar as pessoas mais
pobres e gerar ainda mais violência. É urgente e necessário que se paute e defenda um
programa de redução da população carcerária.
88
Com vistas a isso, a Pastoral, em parceria com diversas outras organizações,
movimentos e pastorais sociais, lançou, em 2013, a Agenda Nacional Pelo
Desencarceramento. O documento visa viabilizar o desencarceramento e fortalecer as
práticas comunitárias de resolução pacífica de conflitos, por meio de diretrizes como:
Segundo as diretrizes da pastoral, “[...] só a proximidade que nos faz amigos nos
permite apreciar profundamente os valores das pessoas privadas de liberdade, seus
legítimos desejos e seu modo próprio de viver a fé”. É necessária a formação de uma
“[...] consciência de que é preciso enfrentar as urgências que decorrem da violência e
da miséria do sistema prisional, sendo as pessoas presas sujeitos da evangelização e da
promoção humana integral”. Existe a necessidade de respeito ao ser humano em tudo
que lhe é próprio: corpo, espírito e liberdade; tratar as pessoas presas como ser humano,
sem preconceito, nem discriminação, acolher, perdoar, recuperar a vida e a liberdade
de cada um, denunciar os desrespeitos à dignidade humana e considerar as condições
materiais, históricas, sociais e culturais em que cada pessoa vive.
89
INTERESSANTE
O símbolo da Pastoral Carcerária: o primeiro elemento é um círculo
aberto. É um universo em que se constrói uma nova humanidade, uma
nova espiritualidade. Ele é aberto porque o projeto está em constante
mudança, movimentação, construção, redefinição. Ele precisa de uma nova
educação. Dentro do círculo há uma forma que remete a uma colina sobre
a qual estão colocados três palanques, que unidos formam uma grade. O
palanque está vazio e as grades estão abertas, sinal de que começou um
momento novo, uma nova criação e que surgiu uma nova humanidade, uma
nova sociedade. É o mundo sem cárceres. Todavia, o círculo nos remete
também a um o pão; e o corpo, a um peixe. O pão representa a partilha, o
banquete, a eucaristia. É a fonte de vida nova que é serviço, fraternidade,
paz, misericórdia e justiça. A cauda do peixe, com uma esfera na parte final,
mostra a silhueta de um ser humano que constitui uma unidade, com o
resto do corpo, que lembra a dimensão fundamental de que nossa vida tem
sentido se unida, enxertada em Cristo. Ao mesmo tempo, é o homem novo
que, em Cristo, ressuscitou. Nele nós temos vida plena e abundante. Esse
ser humano está de pé, erguido e com os braços abertos, em uma atitude
de exultação e alegria plena, porque banhado no sangue de Cristo, ele
enxerga e experimenta a vida da nova criação, a de Jesus, que é o Salvador.
90
• a motivação ao poder público para a criação de políticas públicas voltadas aos Direitos
Humanos no cárcere;
• acompanhamento de pessoas em situação de privação de liberdade e atendimento
aos seus familiares;
• defesa da vida e da integridade física e moral do preso;
• atenção para denúncias de tortura, maus-tratos e corrupção no sistema prisional;
• intermediação das relações entre as pessoas privadas de liberdade e de seus
familiares.
A Pastoral Carcerária tem buscado aperfeiçoar, ao longo dos anos, sua atuação e
seu trabalho pastoral, a partir de aprimoramentos, formação dos agentes de pastoral,
recebimento e apuração de denúncias de tortura e maus-tratos, encaminhamentos
das denúncias às autoridades responsáveis, acompanhamento dos casos e os
desfechos destes nos âmbitos administrativo e judicial, participação em
conferências de direitos humanos e de segurança pública, ampliação do diálogo
com autoridades públicas, articulações com movimentos sociais e entidades de
direitos humanos (PASTORAL..., 2010).
91
encarceramento em massa junto com a superação em relação ao machismo, ao
patriarcalismo, à homofobia e à LGBTfobia, em uma luta antipunitivista, e uma luta
contra as opressões de gênero.
• Combate à Tortura: a tortura faz parte do sistema carcerário brasileiro. O mero
ato de privar uma pessoa de sua liberdade e colocá-la em uma cela superlotada,
sem ventilação, higiene e outras condições minimamente aceitáveis já constitui
uma forma de tortura. A definição de tortura, apenas como agressão física, não é
suficiente para se compreender a gravidade das violações cometidas no sistema
carcerário cotidianamente, em todos os presídios brasileiros, a maioria das quais não
vem a público. Por isso, é missão da Pastoral Carcerária e seus agentes combater e
denunciar a tortura em todos seus aspectos: físico, psicológico, social e espiritual.
• Justiça Restaurativa: a Pastoral Carcerária defende o modelo da justiça
restaurativa como uma prática apta ao desencarceramento em massa. Promove
cursos de formação acerca das práticas restaurativas, que vem sendo cada vez mais
implementadas no sistema penal e processual penal brasileiros.
• Denúncia de Tortura a Maus Tratos: existe um canal para denúncia de tortura e
maus tratos no cárcere, no site da Pastoral Carcerária.
92
RESUMO DO TÓPICO 3
Neste tópico, você adquiriu certos aprendizados, como:
• O trabalho voluntário está definido pela Lei n° 9.608/1998, e pode ser entendido como
a atividade não remunerada prestada por pessoa física a entidade pública de qualquer
natureza, ou a instituição privada de fins não lucrativos, que tenha objetivos cívicos,
culturais, educacionais, científicos, recreativos ou de assistência social, inclusive
mutualidade.
93
AUTOATIVIDADE
1 O trabalho voluntário é a atividade prestada por pessoa física a entidade pública
de qualquer natureza, ou a instituição privada de fins não lucrativos, que tenha
objetivos cívicos, culturais, educacionais, científicos, recreativos ou de assistência
social, inclusive mutualidade. A respeito do trabalho voluntário, assinale a alternativa
INCORRETA:
94
Assinale a alternativa CORRETA:
5 “A partir de 1970 houve uma grande pressão internacional no IV Congresso das Nações
Unidas sobre Prevenção do Delito e Tratamento do Delinquente, realizado em Kioto,
para que os países membros implantassem as Regras Mínimas na Administração de
Instituições Penais. Em 1994, em Viena, o Comitê Permanente de Prevenção do
Crime e Justiça Penal das Nações Unidas recomendou que todos os países
signatários editassem as Regras Mínimas no âmbito da Justiça Penal (Brasil, 1995).
Nesse contexto, surge, no Brasil, a Pastoral Carcerária, mecanismo de monitoramento
e fiscalização dos locais de privação de liberdade”. Diante do trecho extraído do Artigo
A Pastoral Carcerária e a Luta por Justiça e Dignidade no Sistema Prisional Brasileiro
(usp.br), publicado na Revista “Gestão e Políticas Públicas”, discorra acerca de pelo
menos três (3) objetivos da Pastoral Carcerária e justifique porque o órgão está
atrelado ao sistema de justiça.
95
96
REFERÊNCIAS
AMORIM, C. Comando Vermelho. Rio de Janeiro: Best Seller, 2011.
BIONDI, K. Proibido roubar na quebrada: território, hierarquia e lei no PCC. São Paulo:
Terceiro Nome, 2018.
97
CHARLES, S. Assistência Religiosa na Execução Penal: um caminho para
ressocialização. Jusbrasil, 2019. Disponível em: https://silvimar.jusbrasil.com.br/
artigos/699360322/assistencia-religiosa-na-execucao-penal-um-caminho-para-
ressocializacao. Acesso em: 25 set. 2021.
DEUTSCHE WELLE. APAC en Brasil: cárceles sin guardias, sin armas y sin violência.
2021? Disponível em: https://www.dw.com/es/apac-en-brasil-c%C3%A1rceles-sin-
guardias-sin-armas-y-sin-violencia/a-57353425. Acesso em: 25 set. 2021.
LIMA, Renato Brasileiro de. Legislação Criminal Especial Comentada. Salvador: Jus
Podivm, 2014.
98
PASTORAL CARCERÁRIA. Mulher encarcerada. Temas e cursos de formação.
Site da instituição Pastoral Carcerária. Disponível em: https://carceraria.org.br.
Acesso em: 25 de set. 2021.
99
SILVA JUNIOR, A. C. da R. Ressocialização de presos a partir da religião: conversão
moral e pluralismo na Associação de Proteção e Assistência aos Condenados (APAC).
PLURA, Revista de Estudos de Religião, v. 4, n. 2, 2013, p. 71-98.
TAVARES, A. Com caixa d'água, 39 presos são batizados no maior presídio do RN.
Portal Globo, 2016. Disponível em: http://g1.globo.com/rn/rio-grande-do-norte/
noticia/2016/11/com-caixa-dagua-39-presos-sao-batizados-no-maior-presidio-do-
rn.html. Acesso em: 25 set. 2021.
100
UNIDADE 3 —
EGRESSOS DO SISTEMA
PRISIONAL
OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM
A partir do estudo desta unidade, você deverá ser capaz de:
PLANO DE ESTUDOS
Esta unidade está dividida em três tópicos. No decorrer dela, você encontrará
autoatividades com o objetivo de reforçar o conteúdo apresentado.
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101
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UNIDADE 3!
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102
UNIDADE 3 TÓPICO 1 —
EGRESSOS DO SISTEMA PRISIONAL
1 INTRODUÇÃO
Acadêmico, no Tópico 1, abordaremos sobre o egresso do sistema prisional e
o apoio estatal por meio de políticas públicas e sociais voltadas para a sua reinserção
em sociedade, bem como os reflexos da falta do assistencialismo do Estado no período
após a saída do sistema prisional.
FIGURA 1 – CÁRCERE
103
2 EGRESSOS DO SISTEMA PRISIONAL
O egresso do sistema prisional diz respeito ao cidadão que rompeu o pacto
social ao violar as regras socialmente estabelecidas, sendo submetido a punições
prescritas pelo ordenamento jurídico brasileiro, tendo sido privado de sua liberdade
durante o cumprimento de sua pena em estabelecimento penal (penitenciária, colônia
agrícola ou casa do albergado).
IMPORTANTE
A definição do egresso na Lei de Execução Penal é assim disposta: o egresso
é aquele que foi definitivamente liberado do sistema prisional, pelo prazo
de um ano a contar da sua saída do estabelecimento, e também o liberado
condicional, durante o período de prova (BRASIL, Art. 26).
Durante um período, o egresso teve uma diminuição do seu “status de
cidadão”, o que ocorreu por meio da redução de seus direitos civis (liberdade
de locomoção) e políticos (suspensão dos direitos políticos).
104
ATENÇÃO
Embora tais direitos estejam previstos constitucionalmente, sabemos que o
Brasil ainda caminha a passos curtos para concretizá-los. Assim, pensar os
egressos do sistema prisional como sujeitos que não tiveram ao longo da vida
seus direitos garantidos, nos desafia a pensarmos políticas públicas capazes
de alcançar o indivíduo desde a sua infância e adolescência, enquanto pessoa
que está em processo de desenvolvimento e formação de caráter.
Outro fator a ser considerado para a melhoria das políticas públicas voltadas
ao egresso, são as ações de combate ao estigma e preconceito contra o ex-preso.
Ao considerar que a sociedade prisional é formada por pessoas, geralmente, de
baixa escolaridade, de baixa renda, que enfrentou situações de pobreza, miséria e
marginalidade, conforme os fatores criminógenos descritos, o preconceito e o
estigma social prejudicam ainda mais a reinserção do indivíduo em sociedade.
NOTA
No que diz respeito ao estigma, podemos considerar algo que uma pessoa
carrega por obter uma característica fora do padrão considerado pela
sociedade, seja um traço físico, psíquico ou de caráter. Tal característica
faz com que tais pessoas sejam vistas como inferiores perante os outros.
O estigma interfere diretamente, segundo Goffman (1998, p. 15 apud
CORRÊA, 2013, p. 104), na relação social do indivíduo, uma vez que o limita
no seu reconhecimento enquanto ser social.
105
• ausência de oportunidade de profissionalização;
• ausência de trabalho formal.
Além desses, existem outros fatores que, após a sua saída da prisão, são
agravados pela exigência de atestado de antecedentes criminais, pela ausência de
direitos políticos e pela situação de vulnerabilidade numa sociedade competitiva e
progressiva como a nossa. Isso reflete diretamente na ressocialização do egresso,
que muitas vezes retorna à criminalidade e à reincidência pela falta de oportunidade.
Diante do conceito do que seja egresso e das suas condições anteriormente
apresentadas, iremos discutir, a seguir, como ocorre ou como deveria ocorrer o apoio
estatal ao indivíduo recém-saído do ambiente prisional, e como a omissão estatal ao
ex-preso agrava a situação da criminalidade, da segurança pública, do sistema prisional
e da sociedade como um todo.
NOTA
A expressão reintegração social advém de práticas de gestão prisional, de
proposições oriundas da militância de movimentos sociais e de estudos sobre
o tema (MELO, 2014), podendo considerar que é a partir da Lei de Execução
Penal (BRASIL, 1984) que tal expressão encontra sua fundamentação.
106
É dever do Estado e da sociedade civil promover o bem-estar social e
a reintegração de pessoas saídas do sistema prisional, criando políticas públicas
de atendimento e ações de enfrentamento ao estigma e preconceito contra esses
indivíduos, de modo a não segregar ainda mais o indivíduo após a sua saída do ambiente
prisional.
ATENÇÃO
A dimensão social do Estado brasileiro compreende uma busca constante
pela correção das desigualdades sociais e econômicas ocorridas ao longo
dos séculos, em decorrência da colonização do país e do próprio capitalismo.
Essa correção ocorre, principalmente, por meio de direitos prestacionais do
Estado ao indivíduo.
NOTA
A Lei de Execução Penal (BRASIL, 1984, Art. 10º) estabelece a assistência ao
preso e ao internado como um dever do Estado, objetivando prevenir o crime
e orientar o retorno à convivência em sociedade. O assistencialismo estatal
dedicado ao preso, sob a tutela do Estado, é estendido também ao egresso
pelo prazo de um ano, a contar da saída do estabelecimento prisional.
107
Essa previsão tem como objetivo auxiliar a reinserção social do egresso,
que muitas vezes, pelo estigma e preconceito já apresentados, o indivíduo encontra
dificuldades em relação ao vínculo de trabalho formal, devido às restrições do atestado
de antecedentes criminais, permanecendo numa situação de vulnerabilidade ainda
mais grave do que antes da sua entrada no sistema prisional.
108
Em suma, o apoio estatal ao egresso é previsto pela Constituição Federal
(BRASIL, 1988) ao tratar dos direitos sociais e prestacionais devidos pelo Estado
a todos os indivíduos, indistintamente, e também ao trazer uma seção específica ao
assistencialismo destinado às pessoas em situação de hipossuficiência e vulnerabilidade
econômico-social.
ATENÇÃO
Todos os direitos prestacionais e de assistência previstos pela Constituição
são devidos ao egresso do sistema prisional, pois são indivíduos com histórico
geralmente de miserabilidade, pobreza, pouco ou nenhum acesso à educação
e com poucas oportunidades de reinserção social. A Lei de Execução Penal
(BRASIL, 1984) traz, especificamente, a assistência e a prestação social do
Estado ao egresso, detalhando a previsão constitucional.
IMPORTANTE
Em relação ao Poder Judiciário, por exemplo, trata-se de um importante aliado
às políticas direcionadas ao egresso, tendo desenvolvido nos últimos anos os
denominados Escritórios Sociais, já presentes em 17 unidades da federação,
criados pelo Conselho Nacional de Justiça com a finalidade de proporcionar
aos poderes locais a colaboração com a reintegração dos egressos e o apoio
aos seus familiares.
• educação;
• assistência social;
• saúde;
• assistência jurídica;
• trabalho;
• qualificação profissional.
ATENÇÃO
“O fomento à participação em atividades culturais ou de educação não escolar
também fazem parte desse campo de atuação da Política” (MELO, 2016, p. 99).
110
Com relação ao campo da assistência social, deve-se potencializar a atuação
dos Centros de Referência Especializado de Assistência Social (CREAS) e dos Centros
de Referência de Assistência Social (CRAS), com a realização de processos formativos
para as equipes, ajudando a:
DICAS
A respeito das parcerias público-privadas, cabe destacar que foram instituídas
como modalidades de contratos administrativos pela Lei n° 11.079/2004
(BRASIL, 2004). Para conhecer, acesse: https://bit.ly/2ZQNLhH.
111
A Parceria Público-Privada (PPP), segundo a lei, é caracterizada pelo contrato
de prestação de obras ou serviços não inferiores a 20 milhões, com duração mínima
de cinco e no máximo 35 anos, firmado entre o parceiro privado e o parceiro público.
Nas PPPs, como são chamadas, o governo remunera a empresa pelo serviço prestado,
podendo, inclusive, ter uma combinação de remuneração pelo governo e pelos
usuários.
112
IMPORTANTE
Por inúmeras vezes, o Brasil foi denunciado em órgãos internacionais pelas
péssimas condições carcerárias e pela falta de assistencialismo ao preso e ao
egresso, cujos direitos e garantias fundamentais, são inúmeras vezes violados
enquanto e após o cumprimento da pena.
DICAS
Tal denúncia se baseia em um levantamento do Conselho Nacional de Justiça
(CNJ) junto aos governos estaduais, constatando “um aumento de 800%
na taxa de contaminação dos presídios desde maio.” (ANGELO, 2020, on-line).
Leia a matéria na íntegra: https://bit.ly/3bFH5Wo.
Em 2015, o Supremo Tribunal Federal (STF) foi provocado por uma Arguição
de Descumprimento dos Preceitos Fundamentais no cárcere (ADPF nº 347), provocada
pelo Partido Socialismo e Liberdade (PSOL) para exigir do Estado uma resposta
sobre a total falência do sistema prisional brasileiro e a descoordenação dos
poderes em efetivar políticas públicas carcerárias para melhorias. O tribunal declarou
um completo estado de coisas inconstitucionais no cárcere, e emitiu decisão para o
imediato descontingenciamento do FUNPEN (Fundo Penitenciário Nacional), para que
os valores deste fundo fossem direcionados ao sistema carcerário nacional, inclusive
para formulação, implementação e fiscalização dessas políticas.
113
Desse modo, a omissão pode partir do Poder Legislativo, quando a sua função
é editar a lei voltada ao sistema penal e de execução penal e não o faz; ao Executivo,
quando sendo necessário a expedição de atos de execução relacionadas ao tema, e
permanece inerte; ao Judiciário, quando não for capaz de fiscalizar o cumprimento da
pena e as execuções penais, as políticas públicas relacionadas, e não for capaz de exigir
dos demais poderes o cumprimento dos comandos constitucionais.
ATENÇÃO
A prevenção ao delito é o meio mais eficaz que deve ser direcionado ao
egresso do sistema prisional. Uma vez em contato com o sistema, a tendência
é que o egresso saia em condições ainda piores do início do cumprimento
da pena. Nesse sentido, é necessário que o Estado se volte ao egresso com
oportunidades fora do cárcere, por meio de profissionalização, emprego,
estudo e políticas de prevenção ao delito.
Sendo assim, a prevenção detém várias dimensões. De acordo com Viana (2018,
p. 391-393), temos:
114
A prevenção delitiva, portanto, não está atrelada apenas à ressocialização do
preso. É um instituto plural e complexo, abrangendo desde a dissuasão do indivíduo
para o cometimento do crime, até a neutralização das causas do delito antes mesmo
que ele se manifeste, reduzindo a oportunidade de cometimento do delito, modificando
as condições sociais do indivíduo e do cenário em que ele vive, e reduzindo os fatores de
risco da criminalidade. O Estado, portanto, deve criar políticas públicas voltadas a todas
essas dimensões preventivas, e não apenas à ressocialização do egresso prisional.
ATENÇÃO
Quanto às políticas voltadas ao egresso prisional, devemos perceber que
são medidas preventivas de criminalidade atreladas também a todas essas
dimensões. O egresso deve ser ressocializado, obviamente, mas este seria
apenas o primeiro passo da prevenção criminal para a diminuição da
criminalidade.
FIGURA 4 – ENCARCERAMENTO
115
RESUMO DO TÓPICO 1
Neste tópico, você adquiriu certos aprendizados, como:
• A reintegração social, enquanto função social do sistema prisional, está voltada para
o período de cumprimento de pena e para o período pós-soltura (MELO, 2016).
• O público dos egressos exige uma demanda específica do Estado, bem como um
atendimento especializado, com mecanismos que articulem a política penitenciária
e as políticas voltadas especificamente ao egresso, e levem em consideração o apoio
de iniciativas estatais e não-estatais, não apenas ao egresso, mas também aos seus
familiares.
• Uma das formas de implementar as políticas públicas ao egresso é por meio das
parcerias público-privadas (PPPs).
116
AUTOATIVIDADE
1 A previsão constitucional dos direitos sociais no artigo 6º (Constituição Federal de
1988), traz o direito à educação, à saúde, à alimentação, ao trabalho, à moradia,
ao lazer, à segurança, à previdência social, à proteção à maternidade e à infância,
a assistência aos desamparados e o direito ao transporte. São os denominados
direitos prestacionais ou de 2ª dimensão. Com base no exposto, classifique V para as
sentenças verdadeiras e F para as falsas:
a) ( ) V – V – V.
b) ( ) V – F – F.
c) ( ) F – V – V.
d) ( ) V – F – V.
117
II- Os programas de assistência social compreendem ações integradas e
complementares com objetivos para melhorar os benefícios e os serviços
assistenciais. Dependem de formulação, implementação e fiscalização de políticas
públicas pelos Poderes Públicos e órgãos da Administração Pública.
III- A assistência social faz parte de um sistema não contributivo, no qual os recursos
utilizados na prestação de auxílio a determinadas pessoas são provenientes da
arrecadação de tributos, e não da contribuição direta daqueles que dela necessitam.
Apenas recursos da União são direcionados para o assistencialismo.
FONTE: PORTAL DO GOVERNO. Empresas e Estados ampliam programas para presos e ex-presos. 2010.
Disponível em: https://bit.ly/3q31o8J. Acesso em: 28 set. 2021.
FONTE: IPEA. Instituto de pesquisa econômica aplicada. Reincidência Criminal no Brasil. Rio de Janeiro,
2015. Disponível em: https://bit.ly/31mLFqF. Acesso em: 27 set. 2021.
118
UNIDADE 3 TÓPICO 2 -
O TRABALHO NA PRISÃO: ATIVIDADES
LÚDICAS E INTELECTUAIS
1 INTRODUÇÃO
No Tópico 2, analisaremos o trabalho no sistema prisional. Conheceremos
sobre as atividades lúdicas e intelectuais realizadas pelo preso, tais como estudos,
leitura, escrita, música, teatro e artes em geral. Também iremos conhecer o trabalho
dentro da perspectiva constitucional e normativa da Lei de Execução Penal (BRASIL,
1984) e dos tratados e convenções internacionais, dos quais o Brasil faz parte.
FIGURA 5 – REEDUCAÇÃO
119
2 DIREITO AO TRABALHO
O trabalho é um direito social, conforme previsto na Constituição Federal
(BRASIL, 1988), além disso, é um dever social do preso e condição da dignidade
humana, com finalidade educativa e produtiva, segundo o artigo 28 da Lei de Execução
Penal (BRASIL, 1984). A Declaração Universal dos Direitos Humanos (ONU, 1948) prevê
o direito ao trabalho livre, justo e remunerado da seguinte maneira:
ATENÇÃO
Os tratados internacionais de direitos humanos aderidos pelo Brasil e
relacionados ao direito do trabalho também funcionam como norma
constitucional, e são aplicados no sistema trabalhista brasileiro. Outros
tratados e convenções a que o Brasil aderir sobre o trabalho também
tem validade normativa, embora não sejam consideradas normas
constitucionais.
No que tange ao trabalho realizado pelo preso, este trabalho não recebe a
proteção normativa da Consolidação das Leis do Trabalho (CLT). Logo, o preso que
trabalha quando do seu cumprimento da pena, dentro ou fora do sistema prisional
(trabalho interno ou externo), não poderá recorrer à Justiça do Trabalho para postular
direito trabalhista.
120
preso receber pena do Estado de trabalhos forçados, de trabalho violador da dignidade
humana ou da sua integridade física ou moral, devendo o trabalho seguir todas as
precauções relativas à segurança e à higiene (BRASIL, 1985, Art. 28º).
• a indenização dos danos causados pelo crime, desde que determinados judicialmente
e não reparados por outro meio;
• a assistência à família;
• pequenas despesas pessoais;
• ressarcimento ao Estado das despesas realizadas com a manutenção do condenado.
IMPORTANTE
Tarefas realizadas pelo preso a título de prestação de serviço à comunidade
não serão remuneradas. Embora não aplique a CLT, o preso tem direito à
Previdência Social.
ATENÇÃO
Devem ser levadas consideradas a sua condição pessoal e as
oportunidades de mercado. Aos maiores de 60 anos, a adequação deve
ser conforme a idade, e aos doentes ou deficientes físicos, as atividades
serão apropriadas ao seu estado.
121
Em relação ao trabalho interno do preso, isto é, realizado dentro do ambiente
prisional, a jornada normal de trabalho não será inferior a seis nem superior a oito horas
por dia, tendo direito ao descanso nos domingos e feriados, podendo ser atribuído horário
especial de trabalho ao preso que for designado para a manutenção do estabelecimento
penal.
O trabalho pode ser gerenciado por empresa pública ou por fundação, com
autonomia administrativa, e tem por objetivo a formação profissional do condenado.
A entidade na qual o preso trabalho deverá gerenciar a produção e suportar as despesas
e a remuneração com o preso. Os governos federal, estadual e municipal poderão
celebrar convênio com a iniciativa privada para implantar oficinas de trabalho.
ATENÇÃO
Ao condenado que cumpre a pena em regime fechado ou semiaberto,
parte da pena poderá ser remida por meio do trabalho, ou seja, a cada
três dias trabalhados, um dia de pena será descontado. Caso o preso
esteja impossibilitado de prosseguir no trabalho por conta de acidente
de trabalho, a remição da pena continua. A remição é declarada pelo
juiz da execução penal, após ouvido o promotor de justiça. Pode haver a
revogação de até 1/3 da remição pelo juiz da execução no caso de o preso
praticar falta grave.
122
3 ATIVIDADES LÚDICAS NO AMBIENTE PRISIONAL
A Lei de Execução Penal (BRASIL, 1984) não especifica as atividades lúdicas
que podem ser desenvolvidas no ambiente prisional, embora preveja o direito à prática
de atividades esportivas e recreativas. O lazer e a cultura são direitos constitucionais
que devem ser preservados.
ATENÇÃO
A ONU (1988), em suas Regras Mínimas para o Tratamento de Presos,
apresenta preocupações em relação às atividades de lazer dos detentos,
“sugerindo uma hora diária de exercícios físicos ao ar livre, indicando que
deve haver instalações que permitam a prática de atividades físicas e
recreativas e sugerindo que devem ser oferecidas atividades recreativas e
culturais” (MELO, p. 1, 2007).
123
seja o mais comum, não é o único esporte, sendo bastante popular a realização de
rodas de capoeira e aulas de arte com artesanato ou com teatro e música. Ainda
para Melo (2007), a relevância da implementação de programas de lazer e de atividades
lúdicas nos presídios funcionam não apenas como válvulas de escape ao preso, mas
também como uma estratégia para interagir o preso, harmonizar a convivência e
trabalhar com ele outros conteúdos.
DICAS
Em 2007, o Manual de Boas Práticas do Sistema Penitenciário, criado em
conjunto pelo Ministério da Justiça e pelo Departamento Penitenciário
Nacional, apontou algumas atividades lúdicas desenvolvidas pelas
penitenciárias das unidades da Federação. Para saber mais, acesse: https://
bit.ly/3GMXabi.
124
4 A IMPORTÂNCIA DE INCENTIVAR AS ATIVIDADES
INTELECTUAIS NA PRISÃO E O DIREITO À EDUCAÇÃO
Sabemos que a educação é um dos meios ressocializadores mais eficazes ao
preso e ao egresso do sistema prisional, possibilitando a sua alfabetização, capacitação
técnica, profissionalização e, muitas vezes, o ingresso em curso superior. O direito à
educação está previsto em diversos ordenamentos aplicados no Brasil. O primeiro deles
está na Declaração Universal dos Direitos Humanos:
125
ATENÇÃO
Como bem percebemos, o perfil dos presos e egressos do sistema prisional
é de indivíduos com baixa renda, pouca ou nenhuma escolaridade e
profissionalização, cujos direitos fundamentais foram violados desde a
infância, principal motivo de incidência desses indivíduos na criminalidade.
IMPORTANTE
Cabe ressaltar que não são todos os presos a serem beneficiados pela
remição por meio do estudo. Podem participar deste tipo de programa de
remição apenas os presos em regime fechado ou semiaberto (não aplica ao
preso em regime aberto que cumpre pena em Casa do Albergado).
126
A remição leva em consideração o número de horas de efetiva participação
do preso nas atividades, independentemente do aproveitamento, exceto quando o
condenado é autorizado a estudar fora do estabelecimento prisional, quando deverá
cumprir as regras da Instituição de Ensino que frequenta, com a comprovação do seu
rendimento. Os presos que estudarem sozinhos e obtiverem certificados de conclusão
de ensino fundamental por meio de aprovação no Exame Nacional para Certificação de
Competências de Jovens e Adultos (ENCEJA) e pelo Exame Nacional do Ensino Médio
(ENEM) também têm direito à remição.
127
RESUMO DO TÓPICO 2
Neste tópico, você adquiriu certos aprendizados, como:
128
AUTOATIVIDADE
1 Conforme estudamos, o trabalho é um direito social e um dever do apenado, conforme
a previsão da Lei de Execução Penal (BRASIL, 1984). O trabalho realizado pelo preso
pode ser interno, ou seja, dentro do ambiente prisional, a exemplo dos serviços de
manutenção do cárcere, e também pode ser externo. A respeito do trabalho externo,
assinale a alternativa INCORRETA:
a) ( ) Será admissível aos presos em regime fechado, mas apenas em serviço ou obras
públicas.
b) ( ) Se admissível a preso em regime fechado, deve respeitar a porcentagem de 10%
do total de empregados da obra.
c) ( ) A remuneração caberá ao órgão da administração, à entidade ou à empresa
empreiteira.
d) ( ) Precisa de autorização judicial.
( ) A remuneração do preso não servirá de indenização dos danos causados pelo crime
quando não houver determinação da sentença judicial.
( ) A remuneração do preso é destinada à assistência à família, às pequenas despesas
pessoais e ao ressarcimento ao Estado das despesas realizadas com a manutenção
do condenado
( ) A remuneração do preso não pode ser inferior a um salário-mínimo
( ) A remuneração do preso que sobrar depois de cumpridas as outras finalidades,
constitui o pecúlio, depositado diretamente para o Fundo Penitenciário Nacional.
a) ( ) V – V – F – V.
b) ( ) V – F – V – F.
c) ( ) F – V – V – V.
d) ( ) V – V – F – F.
129
3 O trabalho e o estudo do preso são meios do Estado tentar ressocializar o preso e
reeducá-lo antes do seu retorno à sociedade, enquanto este ainda cumpre a sua
pena e está sob a tutela do Estado. São meios que o Estado encontrou para diminuir
os índices de reincidência e as altas taxas de encarceramento, dando ao preso a
oportunidade de recomeçar. A remição é o instituto previsto pela Lei de Execução
Penal (BRASIL, 1984), permitindo ao condenado acelerar o cumprimento da sua pena
por meio do trabalho e do estudo. Nesse sentido, analise as sentenças a seguir:
FONTE: REDE DA NOTÍCIA. Em MT, 16 presos são aprovados no Enem e conquistam vagas em universida-
des públicas. 2021. Disponível em: https://bit.ly/3wcYoHS. Acesso em: 15 de set. de 2021).
130
5 Leia o trecho a seguir:
“Bernardo, Bryan e Júlio aprimoraram-se para a ocasião. Não é todos os dias que há
uma inauguração dentro da prisão – e muito menos a inauguração de um espaço
inspirado em Mozart. Os três reclusos integraram o exclusivo grupo de convidados que
assistiu, na fria sexta-feira de 8 de janeiro, ao primeiro dia oficial do Pavilhão Mozart
– Centro de Artes Performativas. “Este é com certeza um momento histórico”, frisou
o responsável da iniciativa pública Portugal Inovação Social, uma das entidades que
ajuda a realizar mais um sonho da Sociedade Artística Musical dos Pousos (SAMP):
criar no interior do Estabelecimento Prisional de Leiria – Jovens (EPL-J) um espaço
permanente de criação e exibição de arte, com sala para ensaios e concertos e área
de produção”. Este exemplo, embora não seja no Brasil, é um modelo internacional
de prática reintegrativa do preso por meio da arte, da música e da cultura. No Brasil,
existem práticas nesse sentido, embora as condições carcerárias nacionais estejam
em completo estado de falência. É possível utilizar as atividades lúdicas desenvolvidas
no sistema prisional para a remição da pena? Qual a relevância de desenvolver a
atividade lúdica no ambiente prisional?
FONTE: LEIRIA, M. As imagens de Ópera na Prisão – Pavilhão Mozart em exposição na Rodoviária de Leiria.
2019. Disponível em: https://bit.ly/3nS8Tgc. Acesso em: 28 set. 2021.
131
132
UNIDADE 3 TÓPICO 3 -
ATIVIDADES FÍSICAS E DE LAZER NOS
AMBIENTES PRISIONAIS
1 INTRODUÇÃO
No Tópico 2, conheceremos a prática de atividades físicas dentro do sistema
prisional. Temos a intenção de apresentar uma reflexão sobre a necessidade da
manutenção da atividade, bem como da integração social dos indivíduos.
133
ATENÇÃO
Mesmo que as duas vertentes, a esportiva (de alta competitividade) e a
puramente voltada à saúde tenham componentes similares, devemos
lembrar que uma intervenção no que diz respeito à intensidade, duração e
volume devem diferenciar as modalidades e o esforço do indivíduo. Outro
fato que deve ser levado em consideração é a construção de desconstrução
do indivíduo privado de liberdade, levando em consideração a realidade do
sistema onde eles estão inseridos.
IMPORTANTE
O sistema de ensino busca transformar os indivíduos, dando acesso a
novas oportunidades, criando indivíduos que possam pensar de forma crítica
e questionar a sua participação na comunidade, por outro lado nós temos o
sistema prisional, que possui como característica a privação de liberdade
de expressão e controle do indivíduo para que seja mantida a ordem. Os
dois sistemas não se completam, eles precisam se adaptar para fornecer um
equilíbrio entre ser livre para pensar e ser obrigado a obedecer.
134
Todas as possibilidades de atividade devem gerar desafios para o profissional,
órgão envolvido e até mesmo os agentes carcerários, por isso deve-se considerar
um ensino continuado adaptado à realidade individual e natureza da privação de
liberdade. A educação física na prisão deve ser vista também como parte do processo
de restabelecimento do indivíduo em sociedade.
Devemos perceber que, apesar da necessidade de preparo, que por vezes inclui
aspectos psicológicos para trabalhar com estes indivíduos, o professor precisa também
estar capacitado para apresentar e integrar em sua atuação a mudança, podendo levar
o interno a uma consciência da realidade exterior (DIORO, 2017).
3 ASPECTOS EDUCACIONAIS
A prisão tem um processo educacional associado, esse ato foi discutido por
vários autores que relacionam o sistema prisional com a fronteira entre o bem e o mal,
ao ato de fazer justiça pela ação danosa, mas no fim, a principal intenção do sistema é
proteger e reintegrar indivíduos pois o espaço reservado ao cárcere tem características
de transformação humana, e por isso é muito importante a atuação continuada para
que a transformação não seja prejudicial para o indivíduo.
Pensando nisso, podemos afirmar que é necessário realizar uma adequação dos
sistemas no processo de ressocialização, com a utilização de atividades de formação e
desenvolvimento social de forma básica, então, é muito importante o acesso à educação
em sua forma mais completa.
135
4 EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS NO CÁRCERE
O sistema prisional teve acesso à educação de jovens e adultos em 1955,
em Genebra, em que foram tratadas as regras mínimas para a manutenção dos
prisioneiros. Em 1990, a ONU aprovou, em seu conselho econômico social, mudanças
na educação no cárcere. No mesmo ano, ainda são aprovadas novas resoluções que
ampliam ou modificam os métodos de tratamento dos detentos, para que pudesse ser
mantido o desenvolvimento das pessoas por meio do acesso a atividades educacionais,
incluindo, obviamente, as atividades físicas desenvolvidas pela educação física.
Assim, no código penal, “o preso conserva todos os direitos não atingidos pela
perda da liberdade, impondo-se a todas as autoridades o respeito à sua integridade
física e moral” (BRASIL, 1940, Art. 38). Sabemos que a população prisional necessita de
acesso tanto ao ensino formal como à prática de exercícios, e isso se evidencia quando
pensamos na precariedade do sistema, que não consegue suprir as necessidades
básicas do detento, mesmo que essas necessidades estejam previstas em lei.
ATENÇÃO
Nesse contexto, é necessário, primeiramente, estabelecer metas para as
instituições, a fim de que essas possam elaborar um plano de otimização
dos espaços para a realização de tarefas diversas. Não é uma situação
generalizada, mas há a necessidade de ajustes tanto nos espaços quanto
no modelo de ensino planejado para a população prisional.
INTERESSANTE
No início do século XX, a prática da atividade física era uma forma de
tratamento disciplinar do detento, sofrendo grande influência da cultura
militar, no que diz respeito à disciplina. Assim, a disciplina era utilizada para
controlar, moralizar e disciplinar o indivíduo biológico e social, tentando
contribuir para sua reintegração na sociedade. Sendo assim, a prática de
exercícios tinha como função ocupar os tempos ociosos, controlando melhor
a indecisão e confusão causada nos períodos inativos.
Com o passar dos anos, a educação física passou a ser vista como algo além de
atividade e esporte, integrando várias funções sociais na vida dos indivíduos, porém,
ainda perdura o conhecimento comum de que essa disciplina deve estar associada
somente com a prática esportiva, sem se importar com a luz intelectual que poderia
ser produzida se o educador tivesse conhecimento suficiente para explorar de forma
mais profunda as atividades da disciplina, usando a cultura corporal como base
de percepção qualitativa do movimento para o ensino nas aulas, trazendo maior
qualidade de vida aos indivíduos.
Para que o profissional possa atuar dentro do sistema prisional, ele deve realizar
capacitações especificas, pois como já mencionamos, a realidade é diferente do que
encontramos no sistema básico de ensino tradicional. Dioro (2017) destaca que a
atuação dos profissionais de ensino é sempre acompanhada de um esgotamento
mental e físico.
137
Quando pensamos no professor de educação física, devemos levar em conta
toda a estruturação da disciplina ao longo dos tempos, deve-se explorar a cultura da
atividade pois ela está associada ao desenvolvimento dos povos, uma vez que os jogos,
danças, e outras atividades são presentes na cultura de cada região. Essa disciplina tem
como característica enfatizar o ser humano em todas as suas características, seja de
forma afetiva, cognitiva ou motora, para que o sujeito reconheça seu próprio corpo em
movimento. Podemos preparar o corpo para o trabalho, não o laboral de forma direta,
mas o trabalho muscular, o trabalho do corpo para a atividade proposta.
138
IMPORTANTE
Existem alguns direcionamentos para que a atividade física no sistema
prisional seja executada de forma estruturada, eles podem seguir a seguinte
orientação: corpo e sociedade; esporte; jogos; lutas; dança.
ATENÇÃO
Se juntarmos todas as atividades citadas anteriormente, podemos
identificar que o ensino da educação física no cárcere acontece com práticas
corporais de integração social, isso independente da modalidade utilizada.
Essas atividades contribuem para que os educandos privados de liberdade
possam se descobrir, entender o próprio corpo, entender onde eles estão
no meio, compreender o ambiente e as interações com outras indivíduos
em situação similar, isso melhora o desenvolvimento físico, afetivo, ético e
social para reintegração na sociedade.
139
7 TIPOS DE CONDICIONAMENTO FÍSICO
Para a prescrição de atividades, com o intuído de melhorias no
condicionamento físico, devemos sempre levar em conta que iremos atuar em cima
de alguns pilares da aptidão, são eles: força, flexibilidade e resistência (aptidão
cardiorrespiratória). Essa última associada ao componente cardiovascular e ainda
considerada a mais importante das variáveis de manutenção da saúde a longo prazo.
Uma maior aptidão aeróbica ou cardiovascular pode fazer com que o indivíduo
consiga executar tarefas do dia a dia sem muito esforço, contribuindo para a qualidade
de vida geral do ser humano. Para medir esse componente, podemos utilizar o volume
de oxigênio (VO2) como marcador, porém, testes diretos podem não ser uma solução
acessível para determinar se a população especifica deve ampliar o modelo de
treinamento ou iniciar uma atividade controlada, então a solução comum seria adicionar
todos os indivíduos em um programa de exercícios para que ao longo do tempo
fossem alcançadas melhorias cardiovasculares, de força e flexibilidade.
IMPORTANTE
De acordo com Stone (1991), quanto maior a força que o músculo é capaz
de produzir, menor será o estresse relativo imposto pelas atividades diárias,
sem contar que a prática de exercícios com uma carga, seja ele o impacto do
próprio corpo ou de algum equipamento, pode aumentar a densidade óssea,
otimizando ainda mais a qualidade de vida e reduzindo de forma satisfatória
a chance de lesões por trauma mecânico diretamente no osso.
140
Sendo assim, precisamos abordar todas as valências físicas, cardiorrespiratório,
força e flexibilidade dos indivíduos quando pensamos em manutenção da saúde física
e um bom envelhecimento, principalmente nos indivíduos privados de liberdade,
proporcionando a eles menor acesso a atividades que causem estresse fisiológico e
contribuem para uma melhoria na saúde generalizada do indivíduo.
141
O treinamento aeróbio é consagrado como instrumento desencadeador
de adaptações fisiológicas positivas em todos os sistemas do corpo humano
(GARBER et al, 2011). Melhora o bem-estar e qualidade de vida, melhora das atividades
de vida diária, diminuição de estresse, prevenção e tratamento de inúmeros quadros
clínicos e doenças são os principais efeitos globais do treinamento aeróbio na saúde
(GARBER et al., 2011).
ATENÇÃO
A OMS (2011) recomenda, para manutenção do peso, a prática de 150
minutos semanais de atividade moderada ou 75 minutos de atividade física
severa e outros autores sugerem a pratica de pelo menos 60 minutos por dia
(DIAS; MONTENEGRO; MONTEIRO, 2014). Segundo estas recomendações,
há uma dose-resposta entre a prática de exercícios e os benefícios à saúde.
9 PRESCRIÇÃO DO TREINAMENTO
O treinamento aeróbio promove no sistema musculoesquelético o aumento da
quantidade de mitocôndrias, melhora da função mitocondrial, aumento na quantidade
de enzimas oxidativas, hipertrofia muscular e aumento na quantidade de mioglobina
celular (MCARDLE; KATCH; KATCH, 2011).
142
No sistema cardiovascular, promove aumento da massa e volume do coração,
diminuição da frequência cardíaca de repouso, aumento no volume de ejeção sistólica,
aumento do débito cardíaco máximo, aumento da diferença arteriovenosa de oxigênio e
redução da pressão arterial durante exercício submáximo e repouso (MCARDLE; KATCH;
KATCH, 2011).
143
Quando pensamos em corrida, podemos facilmente executar um teste
de velocidade, já que esse marcador é suficiente para que possamos controlar a
intensidade. Um exemplo de teste de velocidade é o teste submáximo de velocidade
crítica, criado por Follador et al. (2020), em que podemos identificar a fronteira entre os
domínios de intensidade pesado e severo. Essas fronteiras determinam o lugar para o
qual é possível levar o aluno, pois ela divide o treinamento contínuo do intervalado. Para
ficar mais evidente, podemos pensar da seguinte forma:
FIGURA 9 – TESTE
FONTE: O autor
ATENÇÃO
Lembrando que existem inúmeros testes que podem fornecer informações
sobre o indivíduo, podemos utilizar o que for mais simples e de fácil
acesso, pensando nas características da amostra e do ambiente em que
executaríamos o teste.
Outro exemplo de teste muito utilizado é o YOYO Endurance test, que podemos
fazer utilizando um aplicativo de celular, mas nesse caso, exigiríamos um esforço
máximo do indivíduo para determinação do VO2. Obviamente, saber o VO2 é importante,
mas é necessário saber a velocidade que esse marcador de associa para que possamos
prescrever, pois usar o marcador apenas como controle de melhoria do desempenho
pode não ser interessante em grupos cujo objetivo não é o desempenho físico em
modalidades especificas.
144
Ao considerar as cargas de treinamento, devemos considerar tanto a carga
externa como a carga interna. A carga externa representa a dose realizada, nesse
caso, o tempo ou a distância percorrida, fica mais fácil determinar esse valor ao controlar
a aula. E a carga interna representa o estresse psicofisiológico vivenciado pelo
indivíduo (FOSTER et al., 2001). Todos os indivíduos podem receber a mesma carga de
trabalho externa, como percorrer 5 km em 30 minutos, porém as cargas internas serão
diferentes, essas diferenças podem ser influenciadas por doenças, clima e nutrição, que
causam adaptações diferentes entre os resultados (VAHIA et al., 2019.).
Desse modo, a busca por uma boa relação entre carga, fadiga e desempenho
não é tarefa fácil, visto que se trata de um processo individual influenciado por
fatores internos e externos, os quais, às vezes, são independentes da própria carga
de trabalho. Por isso, é fundamental compreender os processos que ocasionam a fadiga,
além de conhecer os alunos, só assim podemos estabelecer bons níveis de adaptação
cardiovascular sem prejudicar a saúde dos indivíduos.
145
O método escolhido pelo profissional deve estar baseado na literatura, ser
exequível e principalmente, estar relacionado com a atividade proposta, para que possa
representar fielmente as condições de treinamento e condicionamento na atividade.
Dentro do exposto, parece haver uma quantidade ideal para cada indivíduo de atividade
física, quantidade se referindo ao volume, intensidade, frequência, para que esse se
desenvolva sem prejuízos, então, é necessário observar todos os marcadores de
desempenho para compreender melhor os níveis de condicionamento do nosso aluno.
11 TREINAMENTO DE FORÇA
O treinamento de força é funcional pra o envelhecimento sadio e para a
manutenção da saúde durante toda a vida. Esse tipo de treinamento está associado a
níveis de tensão aplicados sobre um músculo durante a execução de uma tarefa, como
descrito por McArdle (1992).
ATENÇÃO
Ao pensamos no desenvolvimento da força, temos que saber que o conjunto
de ativações melhora o nível, não somente o volume muscular. Esses sistemas
constituem o aumento no número de unidades motoras e o grau de ativação,
assim o músculo melhora a capacidade de produzir tensão.
146
IMPORTANTE
Quando montamos um planejamento para os treinos de força, devemos levar
em conta alguns fatores imprescindíveis: número de exercícios; repetições;
intensidade; séries; condução; ângulo; frequência.
12 TREINAMENTO DE FLEXIBILIDADE
O treinamento de flexibilidade possui alguns tipos mais comuns de
execução, são balísticos, passivos e de facilitação neuromuscular. Cada um deles com
particularidades ligadas ao objetivo específico do indivíduo e com respostas singulares.
ATENÇÃO
Temos também o treinamento de facilitação neuromuscular, esse tipo
de alongamento se difere dos outros dois, pois conta com a contração do
músculo alongado por aproximadamente três segundos depois de alcançar
o maior ângulo possível do alongamento.
147
Cada uma das articulações possui um nível especifico de flexibilidade, desse
modo, devemos levar em conta o tipo de articulação e os movimentos permitidos por
essa articulação. Escolher os gestos de acordo com a especificidade do músculo é
também importante para saber em qual região está atuando e em qual região podemos
atuar com mais ênfase, no caso de um encurtamento muscular.
148
LEITURA
COMPLEMENTAR
EDUCAÇÃO NO SISTEMA PRISIONAL
CONTEXTUALIZAÇÃO
HOMENS: 93,70%.
MULHERES: 6,30%.
ETNIA
Branca: 32,75%.
Negra: 57,21%.
Amarela: 0,51%.
Indígena: 0,13%.
Outras: 2,01%.
S/Inf: 7,1%.
149
Pessoas presas entre 18 e 29 anos de idade: 50,88% (273.655 pessoas).
150
RESUMO DO TÓPICO 3
Neste tópico, você adquiriu certos aprendizados, como:
151
AUTOATIVIDADE
1 A educação é um direito de todos os indivíduos, porém, no sistema prisional, muitos
paradigmas são encontrados. Além da dificuldade de atuação do profissional, pois
esbarra nas regras impostas pela unidade para a segurança de todos. Sobre o
contexto, leias as sentenças abaixo e classifique V para as sentenças verdadeiras e F
para as falsas:
a) ( ) V – F – F – V.
b) ( ) F – F – V – F.
c) ( ) V – F – V – F.
d) ( ) V – V – V – F.
a) ( ) O preso possui todos os direitos que não estão relacionados com a perda da
liberdade.
b) ( ) O preso possui os direitos de acesso ao ensino somente em regime semiaberto.
c) ( ) O preso só terá direito se for réu primário.
d) ( ) O preso tem os mesmo direitos do que o indivíduo livre.
a) ( ) A educação física tem como objetivo preparar o corpo do detento para o trabalho,
e assim poder fazer a reintegração do mesmo na sociedade produtiva.
b) ( ) A educação física tem como objetivo transformar e orientar o indivíduo, garantindo
a inclusão do mesmo na sociedade.
152
c) ( ) É papel da educação física orientar o indivíduo para que ele se desenvolva
fisicamente e possa se manter ativo dentro da prisão.
d) ( ) A educação física não tem ferramentas para otimizar o desenvolvimento social e
cognitivo do detento.
153
154
REFERÊNCIAS
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presídios. 2020. Disponível em: https://www.conjur.com.br/2020-jun-23/brasil-
denunciado-onu-avanco-coronavirus-presidios. Acesso em: 28 set. 2021.
155
CONJUR. Conselho Nacional de Justiça. Instituto de pesquisa avançada.
Relatório final de atividades da pesquisa sobre reincidência criminal.
Rio de Janeiro, 2015. Disponível em: https://cnj.jus.br/ wp-content/
uploads/2011/02/716becd8421643340f61dfa8677e1538.pdf. Acesso em: 16 set. 2021.
GARBER, C.E. et al. Quantity and quality of exercise for developing and maintaining
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2011.
156
MACFARLANE, D. J.; THOMAS, G. N. Exercise and diet in weight management: Updating
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POOLE, D.; JONES, A. M. Oxygen uptake kinetics. 2012. Disponível em: https://www.
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UTTER, A. C. et al. Validation of the adult OMNI scale of perceived exertion for walking/
running exercise. Medicine & Science in Sports & Exercise, [S. l.], v. 36, n. 10, p.
1776-1780, 2004.
157
VAHIA, D.; KNAPMAN, H.; KELLY, A.; WILLIAMS, C. A. Variation in the correlation between
heart rate and session rating of perceived exertion-based estimations of internal
training load in youth soccer players. Pediatric Exercise Science, v. 31, n. 1, p. 91–98,
2019.
158
ANOTAÇÕES
159