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Dulce do Carmo Franceschini

UFU / LALI - UNB

Foto: Rio Waikurapá-Am, 2009


GRUPO SATERÉ-MAWÉ
 População total: 8.500 pessoas (cf.
Teixeira /2003)

 População na área indígena: cerca de 7.500


pessoas

 População em áreas urbanas:cerca de 1.000


pessoas

 Língua materna: Sateré-Mawé (TUPI)


AMÉRICA DO SUL

BRASIL

AMAZONAS

Localização:
Manaus
Terra Indígena Andirá-
Marau
788.528 mil hectares

Estado do Amazonas
ÁREA
BRASIL INDÍGENA
SATERÉ-
MAWÉ
Território Sateré-Mawé

Região dos Rios Marau / Urupadi : 41 comunidades (Maués)


 Cerca de 3.500 pessoas
Região do Rio Andirá: 51 comunidades (Barreirinha)
 Cerca de 4.000 pessoas
Região do Rio Waikurapá: 06 comunidades (Parintins)
 Cerca de 300 pessoas
ASITUAÇÃO SOCIOLINGUÍSTICA DOS SATERÉ-MAWÉ (Cf.
pesquisa-ação (cf. Michel Thiollent, em: Metodologia da
Teixeira, 2005):
Pesquisa-Ação, São Paulo: Cortez, 1994):
 Apesar de terem sido contactados há mais de 400 anos, 95,9 %
“A pesquisa-ação é um tipo de pesquisa social com
da população total da área indígena fala a língua materna;
base empírica que é concebida e realizada em
 Situação
estreita sociolinguística
associação comdas uma
sub-regiões:
ação ou com a
resolução de 74,2
1) Waikurapá: um % problema
da populaçãocoletivo e nomaterna;
fala a língua qual os
pesquisadores e os participantes representativos
2) Andirá: 95,5 % da população fala a língua materna ;
da situação ou do problema estão envolvidos de
modo cooperativo
3) Marau: ou participativo.”
98,9 % da população fala a língua materna.
 E cerca de 52% da população com mais de 7 anos escreve e lê
em Sateré-Mawé;
Segundo André Morin (Pesquisa-ação integral e sistêmica,
DP&A Editora, 2004)
“Trata-se de uma démarche de compreensão e
explicação da práxis de grupos sociais, pela
implicação dos próprios grupos, e com a intenção
de melhorar sua prática. No entanto, a pesquisa-
ação, com objetivo emancipatório e transformador
do discurso, das condutas e das relações sociais
(...) e exige que os pesquisadores se impliquem
como atores. Está ligada a uma ação que a precede
ou a engloba e que a enraíza em um história ou
contexto.”(p.55)
Segundo Morin:
“O termo pesquisa-ação designa em geral um
método utilizado com vistas a uma ação estratégica
e requerendo a participação dos atores
(pesquisador e participantes da pesquisa).”(p.56)
PARTICIPAÇÃO:
“ Participação exige engajamento pessoal, abertura
à atividade humana, sem relação de dependência,
onde o diálogo prevalece nas relações de
cooperação ou de colaboração.”
“(...) não basta ser uma peça da máquina, é preciso
ser consciente, engajar-se, responsabilizar-se.(...)”
(p.67)
 Iniciou-se em 1993 um projeto de pesquisa-ação
voltado para os estudos da Língua Sateré-Mawé e
de seu ensino, a pedido das lideranças e
professores sateré-mawé da região do rio Marau;
 participação ativa dos professores indígenas
dos rios Marau/Urupadi – Maués;
 A partir de 1996: participação dos professores
indígenas dos rios Andirá (Barreirinha) e
Waikurapá (Parintins) no projeto.
DE1993 a 2000:
1) Realização de encontros e cursos para os
professores indígenas sobre educação e a
língua sateré-mawé, com os seguintes
objetivos:
a) Discutir e definir uma ortografia para a Língua
Sateré-Mawé;
b) Discutir a questão das línguas na escola e a
alfabetização – problemas / estratégias para
resolvê-los;
c) Levar os professores indígenas a dominar a
própria língua em sua modalidade escrita para
ensiná-la às crianças;
d) Produzir material didático em Língua Sateré-
Mawé;
RESULTADOS OBTIDOS:
a) Em relação à ortografia da língua sateré-mawé:
1) Foi realizada uma revisão das propostas ortográficas
para a Língua Sateré-Mawé: proposta dos missionários
do Summer Institut of Linguistics – SIL e proposta do Pe.
UGGÉ (PIMI).
2) Foi elaborada uma proposta ortográfica pelos
professores indígenas:
 grafemas para escrever em Sateré-Mawé: relação
biunívoca: 1 fonema – 1 grafema;
 forma das palavras pode variar de acordo com a
variedade usada pelos falantes;
 convenção para o uso da pontuação;
 a escrita de palavras complexas; discussão e definição
de uma proposta que o uso poderá ou não validar.
b) Em relação à questão das línguas na escola e a
alfabetização – problemas / estratégias para
resolvê-los;
1) Foi realizada uma análise do processo de
alfabetização das crianças sateré-mawé e
decidiu-se que:
 a alfabetização das crianças que era feita em
português, passaria a ser na língua materna;
 o Sateré-Mawé seria a língua da escola;
 o português deveria ser ensinado como
segunda língua nas séries mais avançadas;
 os professores não indígenas seriam
substituídos por professores indígenas.
2) Discutiu-se a questão do uso das línguas na escola
(política linguística) e a produção de material didático
como forma de fortalecer a língua materna no contexto
escolar e valorizar os etnoconhecimentos, e decidiu-se
que:
 os materiais didáticos não seriam bilíngues, pois esse
tipo de bilingüismo pode não favorecer a língua
indígena, mas a língua de contato e reforçar, assim,
práticas lingüísticas preconceituosas, podendo
corresponder a um bilingüismo de transição, no qual as
crianças começam a estudar nas duas línguas (1ºs
anos), mas, pouco a pouco, a língua indígena vai
deixando de ser usada no contexto escolar em prol do
Português. Nas séries mais avançadas predominará,
então, o Português.
Essa prática foi / é adotada pelos missionários do SIL,
principalmente, para evangelizar os indígenas.
 os materiais didáticos seriam
monolíngues em Sateré-Mawé: adoção de
uma política lingüística de manutenção e
resistência indígena que corresponde a
um bilinguismo de manutenção e
resistência. Pretende-se com isso
valorizar a língua e, através dela, os
conhecimentos tradicionais sateré-mawé
no contexto escolar.
c) Em relação ao domínio, pelos professores
indígenas, da própria língua em sua modalidade
escrita e do seu ensino na escola:
 Foram realizados cursos para os professores
indígenas sobre a escrita da língua materna;
 Hoje a maioria dos professores domina a Língua
Sateré-Mawé escrita;
 E cerca de 52% da população total com mais de
7 anos sabe ler e escrever em Sateré-Mawé (Cf.
Teixeira, 2005: Diagnóstico sócio-demográfico
sateré-mawé)
d) Em relação à produção de material
didático em Língua Sateré-Mawé :
 Foram produzidos e publicados 07 livros
monolíngues para uso nas escolas
indígenas, todos de autoria dos
professores indígenas;
 Vários outros materiais foram produzidos,
mas ainda não foram organizados para
publicação (livro de poesias, de história
de vida, de matemática; levantamento
sócio-demográfico do povo mawé, etc..).
1) Em 1997: Livro de alfabetização, 2) Em 1998: Livro de leitura com
MEC; exercícios, SEDUC/AM;
3) Em 2000: dois livros de leitura publicados pelo MEC:
Warana sa’awy etiat Wantym sa’awy etiat
4) Em 2007: 5) Em 2008:
Wahemeikowo tueru:t aheko Satere miwan pakup
(Trazendo de volta a nossa cultura), (Novos escritos sateré), FAPEAM.
UNESCO, Barcelona;

OPISMA/WOMUPE
2007
Projeto de pesquisa-ação:
“Elaboração de uma gramática
monolíngue Sateré-Mawé”
Período: 2002 a 2005
Apoio financeiro: FAPEAM (Fundação
de Amparo à Pesquisa no Amazonas)
Participantes: 20 professores sateré-
mawé
Projeto: Elaboração de uma gramática
monolíngue Sateré-Mawé
Objetivos:
 Fortalecer a língua materna,
principalmente, no contexto escolar.
 Dar uma formação linguística aos
professores sateré-mawé;
 Criar uma terminologia gramatical em
Língua Sateré-Mawé;
 Estimular a pesquisa e o ensino da
própria língua.
Em 2005: Satere-Mawe pusu agkukag (Gramática Sateré-Mawé), FAPEAM

Autores: Professores indígenas

Estrutura da Gramática:
I. Iwan kuap hap (a escrita)
II. Sehay sok ko’i (as classes
de palavras)

II.1 Sejuha ko’i (os nomes)


II.2 Sejano ko’i (os pronomes)
II.3 Nug’a ko’i (os verbos)
OFICINA LINGUÍSTICA
Projeto: Elaboração de um
dicionário monolíngue Sateré-
Mawé
Período: 2004 a 2006
Apoio financeiro: FAPEAM
Participantes: 11 professores sateré-
mawé (autores) e 3 colaboradores
indígenas
Satere-Mawe pusu ahyt’a
Autores: 11 professores
Damácio Satere Warana Mawe
Edinelson Warana Satere Mawe
Emílio Moi Akuri Mawe
Ernaldo Satere Akuri Mawe
Jacob Moi Mawe
José Satere Moi Mawe
Jucimar Wasa’i Warana Mawe
Leonardo Hywi Satere Mawe
Mateus Moi Akuri Mawe
Nelito Urit’i Satere Mawe
Rosenildo Warana Satere Mawe
POPERA PIAT KOI (Sumário)
I. AHEN’E HARIA (os que respiram)
I.1 Ahen’e haria hewyry rakaria (os que respiram e se
locomovem)
1) Y’y puaria (os que vivem na água)
2) Yi piaria (os que vivem embaixo da terra)
3) Ga’apy puaria ko’i (os que vivem na mata)
3.1) Yi totiaria ko’i: miat ko’i; yt miat’i ko’i;
(os que vivem sobre a terra)
3.2) Ga’apy etiaria: miat ko’i; yt miat’i ko’i.
(os que vivem sobre as árvores)

4) Mopy haria: miat apope ko’i; yt miat’i ko’i; weitaria


(os que voam)
I.2 Ahen’e rakaria yt hewyry rakaria’i
(os que respiram e não se locomovem)

1. Ga’apy muat waku rakaria (as árvores que servem para algo)
2. Mi’u wuat mikoi ko’i (as plantas que podem ser comidas)
3. Ywa ko’i (as frutas)
3.1) Ywa mi’u ko’i: ywa ko’i ga’apy puat; ywa ko’i go pot piat; ywa
oken etiat ko’i.
3.2) Ywa yt mi’u’i ko’i
4. Mohag wuaria ko’i
4.1. Mohag oken notiaria ko’i (quintal)
4.2. Mohag ga’apy puaria ko’i (floresta)
4.3. Mohag go pot puaria ko’i (roça velha)
4.4. Mohag yahig muaria ko’i (campina – cerrado)
4.5. Mohag y’apo puaria ko’I (igapó)
5. I’anam (Ervas – plantas não lenhosas)
6. Nu ko’i (Tipos de pedras)
7. Yi ko’i (Tipos de terra)
AS PRÁTICAS CULTURAIS
“Durante os estudos da língua
Sateré-Mawé, percebemos
que para não deixar a nossa
cultura morrer havia
necessidade de trabalhar não
só a língua, mas também as
práticas tradicionais e as
Histórias Mitológicas...” Nek’i Satere Mawe
Coord. da OPISMA
OBJETIVO: Revitalizar os saberes tradicionais Sateré-Mawé e fortalecê-los
junto ao povo, principalmente junto aos mais jovens do grupo.
Saberes tradicionais trabalhados:
 Artes – práticas tradicionais;
 Mitologia;
 Educação tradicional;
 Medicina tradicional.

Início: 2006 - 2009


Órgão financiador: UNICEF
Órgão executor: OPISMA (Organização dos Professores Sateré-
Mawé dos rios Andirá e Waikurapá)
ARTES TRADICIONAIS: OFICINAS DE CERÂMICA

Saber tradicional trabalhado: técnica de coleta e


preparação da matéria-prima;
Saber tradicional trabalhado: técnica para a
fabricação de forno e utensílios domésticos (panela,
copo, pratos e outros).
ARTES TRADICIONAIS: OFICINAS DE TECELAGEM

Saber tradicional trabalhado: técnica de coleta e


preparação da matéria-prima;
Saber tradicional trabalhado: técnica para a
fabricação de peneiras, tipitis, paneiros, vassouras,
cestos e outros utensílios indígenas.
OFICINAS DE REDE
Saber tradicional trabalhado: plantio do algodão, técnica de
construir tear e de fazer rede em diferentes tecidos.
Artes tradicionais: Oficinas de histórias mitológicas
Principais histórias
mitológicas trabalhadas:
Origem do Mundo;
Origem da terra;
Origem da Noite;
Origem da Água;
Origem do Guaraná;
Origem da Tucandeira;
Origem do Puratig;
Origem dos clãs;
PRINCIPAIS HISTÓRIAS MITOLÓGICAS
TRABALHADAS

 Origem das tribos;


 Origem do Gavião;
 Origem do Milho;
 Origem do Wasiri;
 Origem da Rede;
 Origem da tecelagem;
 História da música sobre
a origem da tucandeira.
ARTES TRADICIONAIS: AULAS NAS COMUNIDADES
Do total de 98 comunidades sateré-mawé, 30
começaram a trabalhar artes tradicionais com um total
de 322 crianças;
Destas, apenas 15 trabalharam até a conclusão do
projeto, com um total de 169 crianças;
As aulas eram ministradas por um sábio da
comunidade duas vezes por semana, de forma
voluntária;
VALORES TRADICIONAIS: ENCONTRO DE JOVENS
 Encontro com os jovens e adolescentes para
discutir os valores tradicionais: “casamento”,
“maternidade”, “paternidade”, enfim a função da
mulher e do homem na sociedade sateré-máwé.
ENCONTRO DE TUXAUAS
ENCONTRO DE MULHERES
ENCONTRO DE AGENTES DE SAÚDE e
PARTEIRAS

Agentes de Saúde

Parteiras
EDUCAÇÃO INDÍGENA: ENCONTRO DOS PROFESSORES
Professores
Sateré-Mawé
durante os
trabalhos.
Prof.
Bernardo

Prof. Jonas
Professores Sateré-Mawé

Encontro em Kuruatuba, rio Manjurú/ Região do Marau-Urupadi.


Comunidade
Sateré-Mawé

Kuruatuba –
rio Manjurú
“Percebemos que sem os nossos saberes e valores os
jovens se envolvem facilmente com álcool, drogas,
prostituição... e também entram em conflitos culturais e
existenciais...” (Nek’i Satere Mawe - coord. Opisma)

Foto: Rio Andirá, AM, 2009


1) REVITALIZAÇÃO DA LÍNGUA E DAS PRÁTICAS
TRADICIONAIS SATERÉ-MAWÉ;
Apoio financeiro: UNICEF;

2) EDUCAÇÃO ESCOLAR SATERÉ-MAWÉ: PPP,


PRÁTICAS PEDAGÓGICAS E MATERIAL DIDÁTICO
EM SATERÉ-MAWÉ;
Apoio financeiro: MEC/SECAD/FNDE : Projetos
Inovadores

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