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ONDE ESTÃO OS
NEGROS NA UFRJ
2 - CADERNO ESPECIAL - NOVEMBRO, MÊS DA CONSCIÊNCIA NEGRA - SINTUFRJ RETROSPECTIVA
E O combate ao
m 2018, o Sintufrj criou
o Departamento de
Raça e Gênero com
o objetivo de ampliar suas
racismo é o
ações contra o racismo na
UFRJ a partir da participação
de mais companheiras e
companheiros à frente dessa
ano todo
luta. O racismo, como todos
sabemos, está na origem das
desigualdades sociais do país,
por isso mesmo é necessário
combatê-lo cotidianamente
para quebrar o ciclo histórico
de violência cometida contra NOSSOS CONTEÚDOS Publicação produzida
pelo Departamento
a população negra. De acordo de Gênero e Raça em
novembro de 2019
com o IBGE (Instituto Brasilei-
ro de Geografia e Estatística),
negros representam 70% do
grupo abaixo da linha da po-
breza no Brasil.
A sociedade brasileira é
racista e na UFRJ não é dife-
rente do restante do país. Mas
as reações da comunidade
universitária (dos técnicos- Marcha da Consciência
-administrativos, estudantes Negra une luta antirracis-
e professores), através do ta e ‘Fora Bolsonaro’, em
crescente número de coletivos Madureira.
negros contra esse crime ina-
fiançável, têm surtido efeito.
Mesmo durante a pandemia
As lições de Durban - Na
o Sintufrj foi presente nessa
série sobre os 20 anos da III
luta como parceiro na reali-
Conferência Mundial contra
zação das ações, mostrando o
o Racismo, a Discriminação
racismo no Brasil e no mundo,
Racial, a Xenofobia e Formas
os embates e avanços da mili-
Correlatas de Intolerância
tância na universidade.
promovida pelas Organi-
Boletins, lives, Jornal do
zações das Nações Unidas
Sintufrj, que voltou a circular,
(ONU), em setembro de
e as plataformas digitais da
2001, na cidade de Durban
entidade (site, Facebook, Ins-
(África do Sul), militantes his-
tagram, lista de transmissão)
tóricos como Yedo Ferreira,
são os canais de propagação,
Suely Santos, Richarlis Mar-
e convocação da luta contra
tins e Luiz Alberto Silva dos
o racismo dentro e fora da
Santos fazem um balanço de
instituição pelo Sintufrj. A
avanços e retrocessos nos
realização de eventos no Mês
jornais 1.341, 1.342, 1.343
da Consciência Negra já é uma
e 1.347.
tradição da gestão sindical
Ressignificar, bem como a par-
ticipação em seminários, con-
Câmara de Políticas Raciais da UFRJ Denúncia –
ferências, debates, fóruns que
realiza seminário nacional sobre heteroi- No jornal 1.337,
tratam sobre o racismo. Os 10
dentificação – No Jornal 1.340, o impor- a denúncia de
anos da política cotas sociais
tante debate ocorrido em outubro de 2021 um professor
e raciais nas universidades e
sobre as práticas da heteroidentificação sobre discrimi-
os 20 anos da Conferência de
em diversas instituições do país quando se nação racional
Durban, na África, por exem-
aproxima a revisão de Lei de Cotas. no IFCS.
plo, são pautas inesgotáveis.
EXPEDIENTE
Coordenação de Comunicação Sindical: Kátia da Conceição (in memoriam), Marisa Araujo e Paulo César dos S. Marinho / Conselho Editorial: Coordenação Geral
e Coordenação de Comunicação / Organização: Coordenadora do Sintufrj Noemi de Andrade / Equipe de Edição: Ana de Angelis, Bernardo Cotrim e L. Maranhão /
Reportagem: Ana de Angelis, Eliane Amaral e Regina Rocha / Social Mídia: Lucas Azevedo / Projeto Gráfico: Edilson Soares Martins / Diagramação: Edilson Soares
Martins / Fotografia: Renan Silva / Revisão: Roberto Azul / Tiragem: 1000 exemplares / As matérias não assinadas deste jornal são de responsabilidade da Coordenação
de Comunicação Sindical / Impressão: 3graf (21) 3860-0100.
FALE COM A REDAÇÃO: comunic@sintufrj.org.br.
RETROSPECTIVA CADERNO ESPECIAL - NOVEMBRO, MÊS DA CONSCIÊNCIA NEGRA - SINTUFRJ - 3
depoimentos
Josete: militante discreta, mas eficaz
Dona de um currículo de fazer ência Negra. sonalidades negras brasileiras”.
inveja a qualquer servidor, que in- O evento já está na 9ª edição, Mas, para Josete, dois movimen-
clui 10 anos de chefias na Reitoria, e visa, segundo a técnica-admi- tos impulsionados pela comuni-
Josete dos Santos Lima, 62 anos, nistrativa formada em Ciências dade universitária comprometida
ex-terceirizada e servidora efeti- Contábeis com especialização em com a luta antirracismo estão
vada da universidade desde 1987, Recursos Humanos pela Faculdade sendo responsáveis pelo resgate
garante que a sua maior conquista de Educação da UFRJ, “dar destaque da dignidade e dos direitos da po-
entre todas as que lhe dão tanto à contribuição da cultura negra no pulação negra na UFRJ: a Comissão
orgulho é ter sido a responsável desenvolvimento do Brasil, como, de Heteroidentificação e a Câmara
pelo Projeto Semana da Consci- por exemplo, homenageando per- de Políticas Raciais da UFRJ.
Fotos: Divulgação
Patrícia: o prazer de ser UFRJ
“Meus quase 13 anos de UFRJ da pedagoga Patrícia Costa Pereira
foram, de uma forma geral, muito da Silva, 35 anos, da Coordenação de
positivos. Tive a oportunidade de Extensão do Instituto de Filosofia e
aprender muitas coisas e trabalhar Ciências Sociais (IFCS), mas com um
com diversos temas e pessoas. É uma adendo: “Eu gostaria que a univer-
satisfação enorme atuar na maior sidade fosse mais diversificada (por
universidade federal do Brasil”. A gênero e raça), especialmente nos
declaração de amor à instituição é cargos de chefia e de direção”.
depoimentos
Luzia: vencendo obstáculos
“Sou mulher, negra, de família do quadro de enfermagem da insti- contrário do que muitos pensam,
de baixa renda, nascida na favela e tuição, mas na atual gestão assumiu a não cria gueto de cidadãos negros
moradora de um bairro no subúrbio Pró-Reitoria de Pessoal. Na Uerj, onde e outros brancos. “Ela aproxima um
carioca. Sobrevivi a (um contexto so- exerce a função de professora adjunta, do outro em mesmo patamar para
cial de) violências e às drogas. Cursei coordena o projeto de extensão “O exercício do poder”, diz. “Vivemos
graduação, mestrado e doutorado negro no mundo contemporâneo: numa sociedade racista, e a UFRJ é
numa geração anterior às políticas de empoderamento e direitos”. o reflexo do mundo real, onde pre-
ações afirmativas, sendo a única da Luzia considera a política de tos se alimentam mal e moram em
minha família a alcançar esse espaço. cotas raciais (Lei nº 12.711/2012 casas que dificultam o rendimento
Minha arma foi a educação, e posso para ingresso na graduação e Lei escolar pleno. As cotas surgem para
dizer que faço parte de uma estatís- nº 12.990/2014 que reserva para promover igualdade, para vencer o
tica em que mulheres pretas são a negros e pardos 20% das vagas preconceito, trazer para próximo,
minoria”, diz Luzia Araújo, ex-aluna em concursos públicos) um ins- dar as mãos àqueles que têm mais
da UFRJ e que desde 1989 faz parte trumento de inclusão social. E, ao dificuldades”, acrescenta.
Fotos: Divulgação
Vítor: vocação pela questão racial
“Minha trajetória não contemplou afirma Vítor Maurício dos Santos Social (Nides/CT), e afirma: “O que
minhas expectativas nos primeiros Matos, integrante da Comissão de mais me incomoda é a subalterni-
seis anos de serviço na UFRJ. Mas Heteroidentificação. zação do técnico-administrativo na
isso começou a mudar quando Ele faz parte do quadro da uni- visão de alguns docentes, implicando
comecei a trabalhar com políticas versidade desde 2010, atualmente é preconceitos e a legitimação de com-
raciais, em especial com as cotas. o chefe de gabinete do Núcleo Inter- portamentos absurdos, como assé-
Hoje eu me sinto mais realizado”, disciplinar para o Desenvolvimento dio moral e racismo institucional”.
depoimentos
Denise: saúde da população negra
“Entrei na UFRJ em 2013 como ex- que ainda precisa ser oficializado”, diz ticas públicas de saúde, sobretudo
traquadro, em 2015 passei no concurso a técnica de enfermagem Denise Ro- as da população negra, que está em
e em 2017 participei do primeiro evento drigues de Brito, 41 anos. situação de vulnerabilidade. Precisa-
institucional sobre racismo (“A saúde “Começamos a fazer o recorte mos levantar indicadores e realmente
tem cor”), com palestrantes do Movi- racial nos ingressos, e o nosso ob- ter ações práticas para buscar essa
mento Negro e da Secretaria Municipal jetivo central é oferecer o curso do equidade em saúde”, constata. “Falta
de Saúde, pessoas que são referência Ministério da Saúde, mas para isso é capacitação, falta tratar racismo como
no tema. A partir daí, começamos a preciso retomar as atividades, porque tema da sociedade e não falar dele só
trabalhar na Maternidade Escola com o comitê não está tão ativo”, expõe em novembro. Esse problema é social,
política integral da população negra e Denise. “Acho que a gente está um precisamos ter ações mais práticas e
criamos o comitê técnico da unidade, pouco atrasado em relação às polí- permanentes”, conclui.
Fotos: Divulgação
André: futuro na gestão pública
André Luiz do Nascimento Maxi- realização, e por uma única razão: mais pela instituição: “Quero ser um
miniano, 44 anos, é contramestre na “Gosto porque estamos produzindo gestor público, um administrador
universidade desde 2018 e sempre conhecimento, e isso ninguém nos voltado para as especificidades do
trabalhou na Praia Vermelha, onde, toma”. No futuro, ou melhor, daqui serviço público. E, quem sabe, re-
hoje, responde pela subprefeitura a dois anos, quando concluirá a gra- ceber um convite para assumir um
do campus e das unidades externas. duação em Administração Pública cargo mais elevado na estrutura
Trabalhar na UFRJ para ele é uma na UFF, André projeta fazer muito universitária”.
depoimentos
Dayane: Acesso versus permanência
Para a representante do Coletivo cia gigantesca dentro da universidade a bap – bolsa de auxílio permanência
Negro Ebi no Instituto de Ciências entre acesso e permanência, não só concedida aos cotistas de renda de
Biológicas e membro da Comissão de pela burocracia de documentação, 1,5 salário mínimo per capita – seria
Heteroidentificação da UFRJ, a estu- mas, também, pelo descaso de auxiliar destinada apenas aos cotistas que
dante Dayane Alves da Silva, 21 anos, e assistir os cotistas (pretos, pardos comprovassem ter até 0,5 salário
“a política de cotas da universidade e indígenas (PPI), pessoa com defici- mínimo de renda – que é o que o co-
caminha para a transição identitária e ência (PCD) e/ou egressos de escolas tista precisa comprovar para receber
vem se engrandecendo com o forte po- públicas e renda)”. a bap, mesmo que entre na modali-
sicionamento dos movimentos raciais”. “Digo isso porque desde o se- dade de cota de 1,5 salário mínimo
Segundo ela, “existe uma discrepân- mestre de 2020.1 foi aprovado que per capita”, explicou a Dayane.
Fotos: Divulgação
Jorgina: registro de retrocesso
“Sempre estranhei a distinção após aprovação no concurso público. des de cursos oferecidas pelo Sintufrj
entre docente e técnico, incluindo Ex-aluna do Pré-Vestibular do e também pela PR-4. Infelizmente as
certos obstáculos quanto à qualifi- Sintufrj, Jorgina é graduada em Ser- coisas estão mudando, e já houve
cação destes”, conta Jorgina da Silva, viço Social e pós-graduada em Psi- retrocesso no PQI (Programa de
65 anos, da Secretaria de Ensino e cogeriatria e Políticas Públicas – toda Qualificação Institucional), que era
Graduação da Escola de Comunica- sua formação foi na UFRJ. “A minha uma excelente oportunidade de
ção (ECO), unidade onde trabalha trajetória ainda está inacabada, mas acesso aos cursos de mestrado e
desde que entrou na UFRJ, em 1994, aproveitei algumas das oportunida- doutorado”, lamenta.