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PROJETO 2022

Roseli Duarte
Secretária Municipal de Educação

Myrian Medeiros
Subsecretária Pedagógica

Valéria Angelo dos Santos


Coordenadora de Leitura Literária

Implementadoras de Leitura Literária


Andressa Penna Almeida
Eliene Lopes dos Anjos
Eliete Nogueira
Fátima Regina França
Marcia Oliveira Ferreira
Marluce Moraes dos Santos
Viviane Teixeira Simões
Da semeadura de histórias à colheita de sonhos

Pois somos tipo...


Passarinhos
Soltos a voar dispostos
Achar um ninho
Nem que seja no peito um do outro

Emicida

Em 2022, a Coordenadoria de Leitura Literária tem a honra de convidar você, caro dinamizador, cara
dinamizadora, para uma semeadura coletiva de experiências literárias, dessas que fincam raízes, tanto na
mente quanto no coração. Para nos guiar nessa missão, elegemos três grandes cultores da palavra: Daniel
Munduruku, Júlio Emílio Braz e Ilan Brenman. Com eles, provaremos frutos literários de diversas texturas e
sabores, conheceremos histórias de diferentes épocas, desde as antigas, que se tornaram frondosas árvores, as
que germinaram no imaginário da contemporaneidade. Acreditamos que revisitar o nosso
passado, defrontar a nossa ancestralidade, nos possibilita resgatar as tradições que nos integra e fortalece
enquanto povo, que compartilha uma mesma terra-mãe e deseja prósperas colheitas. Além disso, o passeio por
searas passadas, proporcionado pela literatura, nos mobiliza a pensar, a ressignificar o tempo presente para
que boas ideias e atitudes sejam cultivadas e se ramifiquem pelo futuro.
Daniel Munduruku, com a clareza e a força tanto da sua fala quanto da sua escrita, nos convoca a
adentrar na cultura indígena, com a legitimidade de quem é fruto dela, convive com ela de perto e, por isso,
conhece as riquezas singulares do seu imaginário criativo, suas crenças, seus valores, seu modo de existir e
resistir no mundo. Pelas vias do simbólico, ele nos redireciona na contramão de tudo que nos foi apresentado,
equivocadamente, ao longo da história, acerca do modo de ser e de viver indígena:

Por muito tempo - e ainda hoje é assim - os povos indígenas foram mal compreendidos pelas pessoas,
simplesmente porque eles tinham um jeito próprio de viver (...) Isso deixava as pessoas muito confusas.
Eles inventaram, então, jeitos de se apossar das riquezas que estes povos possuíam, escravizando as
pessoas ou destruindo sua cultura, seu modo de estar no mundo, suas crenças, suas casas. A isso damos
o nome de etnocídio. O Brasil - em sua história passada - cometeu muitos atos bárbaros contra estes
povos, desvalorizando a beleza da sua ancestralidade. (MUNDURUKU, 2017, p.08)

Ao tomar para si o compromisso de desfibrar essas confusões, Munduruku possibilita aos seus leitores
aprofundarem suas conexões com o universo indígena, reinaugurarem o olhar sobre ele,
desenraizando preceitos estereotipados, ideologizados, que inferiorizam e simplificam as maneiras de se
organizar dos povos originários. E para fortalecer essa missão, Munduruku encoraja outros indígenas a
também registrarem e espalharem as suas histórias, de modo que a sociedade brasileira possa conhecê-las na
perspectiva de quem as vivenciou.
Júlio Emílio Braz também nos presenteia com uma literatura engajada socialmente, semeando ideias
que nos fazem pensar sobre assuntos diversos, especialmente, sobre a experiência de ser negro em terras
brasileiras. E com a propriedade de quem ocupa esse lugar de fala, conhece na pele seus anseios e angústias,
ele dá voz ao personagem negro para protagonizar a expressão da própria subjetividade, desvelar sua
humanidade na sua completude. Em entrevista à Editora do Brasil, ele afirma:
Em muitos de meus livros, eu me interesso em resgatar vários desses personagens “historicamente
invisíveis”, sendo a quase totalidade deles negros e afrodescendentes. Nosso preconceito é
absolutamente estrutural, e eximir ou amesquinhar a contribuição do elemento negro na constituição de
nossa sociedade desde sempre se fez um projeto sem autoria, mas persistente. O nosso ensino de
História nas escolas ainda é majoritariamente caucasiano e eurocêntrico e, por conta disso, à medida
que ia descobrindo-os, eu achei que deveria apresentar tais personagens aos alunos em geral e aos alunos
afrodescendentes em particular. (BRAZ, 2020)

Com isso, Braz desloca o negro dos recorrentes e estereotipados papéis de subalternidade ocupados na
literatura brasileira, tais como, "a cozinheira", "o escravo", "o malandro", para colocá-los em liberdade para
ocuparem os espaços que desejam e precisam.
Para diversificar ainda mais as espécies livrescas cultivadas, Ilan Brenman nos agracia com títulos que
trazem desde recontos da literatura universal, que atravessam gerações de leitores, às “histórias pescadas no
cotidiano” da contemporaneidade (FLIB 2021). Sua escrita irreverente, bem-humorada, nos põe diante da
complexa seiva que permeia o íntimo humano, com todas as suas fragilidades, anseios, sem melindres para
desvelar o lado “politicamente incorreto” que nos habita. Em entrevista à Revista Avisa Lá, ele afirma:

A personagem mais conflituosa e com mais dificuldades costuma ser a mais interessante e a que mais
chama a atenção das crianças. Justamente porque ela expressa dificuldades e problemas humanos,
mostrando como somos. Só que faz isso metaforicamente, de maneira segura. Precisamos de histórias
de verdade, que expressem o conflito e a complexidade da nossa existência. A violência maior está no
silêncio, na falta de palavras, naquilo que vivemos, mas não podemos expressar, no que se torna não-
dito. Quando um conto tradicional, por exemplo, é mutilado, extirpando seus conflitos, há um
impedimento que o público, seja adulto ou infantil, se reconheça em seus personagens, e que os dramas
dialoguem com o que o leitor sente. Toda criança tem seus dramas e vive conflitos. (BRENMAN, 2009)

Por isso, ler Brenman representa nos sentirmos acolhidos, autorizados a expressarmos a nossa
subjetividade com a liberdade de sermos quem somos, com virtudes e defeitos; nos permite vivenciarmos, a
partir da alteridade, experiências que nos sensibilizam para as relações que estabelecemos com a gente mesmo
e com o outro; nos mobiliza a pensar, a antever possibilidades sobre o nosso próprio comportamento, diante
das diversas circunstâncias da vida.
A leitura das obras desses três escritores fertiliza não só o nosso imaginário criativo, poético,
instintivamente artístico e sonhador, mas também a reflexão político-social sobre questões que precisam ser
discutidas, ressignificadas, de modo a ecoar vozes que urgem serem escutadas, fortalecidas. Acreditamos que
a democratização da palavra, através da literatura, acolhe ideias e experiências singulares, que reverberam na
dimensão coletiva em prol de um sonho comum. Por isso, temáticas que ainda requerem muita discussão,
como preconceito, racismo, identidade, diversidade, representatividade, justiça social, dramas universais,
entre tantas outras, desde as mais espinhosas as mais carregadas de floreios simbólicos, estarão no cerne deste
trabalho.
Objetivos

• Orientar e viabilizar, através do projeto “Da semeadura de histórias à colheita de sonhos”, o trabalho
desenvolvido nas salas de leitura da Rede Municipal de Duque de Caxias.
• Contribuir para a formação literária de professores e estudantes matriculados em unidades escolares do
Município de Duque de Caxias.
• Homenagear, no ano de 2022, os escritores Daniel Munduruku, Júlio Emílio Braz e Ilan Brenman, através
da leitura de suas obras e apresentação de suas biografias.
• Propiciar o diálogo entre os literatos homenageados e demais escritores da literatura, brasileira e
universal.
• Proporcionar aos alunos contato com a diversidade de textos literários existentes.
• Estimular o desejo de ouvir, ler e escrever literatura.
• Oportunizar o exercício da leitura e escrita literária como prática democrática fundamental para o
desenvolvimento da criatividade, sensibilidade, senso crítico e cidadania.
• Identificar os livros literários como fomento para a alfabetização e o desenvolvimento da competência
leitora.
• Utilizar a leitura literária como um processo de construção de sentidos, que coordena informações
diversas que evocam conhecimentos do leitor, dados do texto e informações contextuais.
• Adotar as práticas de leitura e escrita como potencializadoras da escrita autoral e da fluência de leitura.

Desenvolvimento

A fim de tornar a nossa intercomunicação literária ainda mais frutífera, diversificada,


abrangente, propomos também um passeio pelos bosques de outros autores, nacionais e internacionais, que
possam dialogar com os autores homenageados e intensificar ainda mais as nossas reflexões.
Como organizaremos esse cultivo livresco? Dividiremos o trabalho em dois momentos:

Primeiro Semestre: Entre raízes e ramos: narrativas da ancestralidade


Segundo Semestre: Nas searas dos sonhos: colheitas literárias

No primeiro semestre, exploraremos os campos do passado, as histórias seculares pertencentes a nossa


tradição, onde habitam crenças e valores da nossa ancestralidade, dos povos que constituíram a população que
nos tornamos hoje. No segundo semestre, desbravaremos os campos das histórias da contemporaneidade,
as questões que a envolvem, e assim, nos entremeios entre um campo e outro, escolheremos as sementes que
precisamos semear para que, futuramente, possamos colher a realização dos sonhos frutificados no imaginário
individual e social.
Agora, contamos com você, caro dinamizador, cara dinamizadora, para também trazer suas sementes
de boas ideias e juntos cultivarmos uma grande floresta literária, repleta de histórias do passado, do presente
e das que vão germinar na mente criativa de muita gente.
Entre raízes e ramos: narrativas da ancestralidade

As histórias que contamos nos dão eternidade. Aliás, é a única eternidade viável para qualquer
pessoa, povo ou grupo social. Nelas encontramos o que somos, o que fomos e até mesmo o que
poderemos vir a ser. Nelas estão também nossas crenças mais arraigadas, o território fértil da
imaginação onde vicejou, viceja e sempre vicejerá a inteligência de onde sairá o melhor e, por
vezes, o pior de todo ser humano; a maneira como vemos o mundo e tudo o que nos cerca.

Júlio Emílio Braz

Conta uma lenda africana que Baobá foi uma das primeiras árvores criadas por Deus. Ele a fez
majestosa, com uma altura que quase alcança as nuvens e um tronco tão largo, que pode ser abraçado por
cerca de cem homens ao mesmo tempo. Ele também a concedeu muita resistência, para sobreviver à aridez do
solo, atravessar milênios de anos e guardar em seu interior mais de cem mil litros de água.
Mesmo com toda magnitude, Baobá via o seu reflexo na água, se comparava as outras árvores e,
insatisfeita, questionava a Deus sobre os atributos diferentes que havia concedido as demais espécies de
árvores. Questionava sobre a beleza e o perfume de suas flores, sobre a grandiosidade de suas frutíferas copas
e sobre várias outras qualidades que as tornavam singulares.
Cansado de tanta insatisfação e murmúrios, de tentar fazer Baobá perceber que ele era especial do jeito
que era, com todas as suas peculiaridades, Deus inverteu a posição da árvore, as raízes assumiram o lugar da
copa e a copa foi escondida sob o solo, deixando a cabeça de Baobá próxima aos homens que dela se
aproximam. Dessa maneira, ele poderia olhar para si mesmo, enxergar o seu próprio valor e, ao mesmo tempo,
interagir com a humanidade.
Com o passar dos dias, Baobá foi refazendo a imagem que tinha de si mesmo, reconheceu que a sua
altura de cerca de trinta metros lhe possibilitaria ver além do horizonte; a espessura larga do seu tronco lhe
permitiria guardar muitas histórias; a sua longevidade o tornaria testemunha do progresso da humanidade,
guardião da sabedoria ancestral. Por toda a sua magnificência, Baobá se tornou símbolo da luta, da força e da
resistência negra.
Assim como Baobá, a literatura também guarda nossas histórias, captura o nosso evasivo imaginário,
confere a ele um contorno, pois organiza as nossas ideias, nomeia as nossas emoções, reelabora a nossa
humanidade, de modo a torná-la consciente, tanto para quem fala ou escreve, quanto para quem escuta ou
lê. Nesse sentido, podemos dizer que a palavra criativamente talhada, ao mesmo tempo que possibilita a
reorganização do nosso íntimo, funciona como uma espécie de Baobá-ouvinte-conselheiro, que nos escuta,
nos acolhe, nos possibilita antever atitudes diante dos possíveis conflitos impostos pela existência.
E a interação com esse Baobá-literário permite-nos não apenas a imersão em nós mesmos, o
autorreconhecimento dos valores que nos individualizam, mas também o acesso ao outro, às memórias, aos
saberes acumulados pelos nossos ancestrais, a tudo aquilo que constitui as nossas raízes culturais. Dito isso,
podemos dizer que as histórias cooperam para a construção da nossa identidade individual e coletiva,
fortalece a nossa tradição, tornando-a resistente à passagem do tempo, às tentativas de soterramento.
Uma vez conscientes de quem somos, do nosso valor, das nossas raízes, não sentimos necessidade de
nos espremer para caber em verdades alheias, não nos permitimos manipular, ser conduzidos por aqueles que
não nos representam.
Tanto a literatura indígena quanto a literatura negra têm representado, no cenário brasileiro,
manifestações de resistência de povos que foram e ainda são invisibilizados nas diferentes esferas sociais.
Tornar esse material literário acessível aos nossos estudantes é um caminho para refazermos percursos
históricos, sensibilizarmos o nosso olhar para o outro, acolhermos a diversidade, nos orgulharmos da nossa
identidade, propagarmos vozes da experiência que precisam ser ouvidas em todos os espaços.
E não tem forma mais acolhedora, calorosa, para aproximar os nossos alunos da nossa ancestralidade,
da convivência com as diversidades que nos constituem, do que uma boa contação de história. Ouvir histórias
nos coloca em posição de escuta, nos desacelera para prestar atenção no outro, experienciar a empatia. E
isso fortalece nossos laços afetivos, nos une respeitando nossas diferenças.
Em suas obras, Munduruku promove essa aproximação do leitor com a cultura indígena de uma forma
muito agradável, utilizando uma linguagem clara, acessível, fluida, que desvela um modo mundurukuense de
escrever fortemente marcado pela tradição oral, na qual estão fincadas as raízes da formação literária do autor.
Além do compromisso com a desconstrução de impressões equivocadas acerca das etnias indígenas,
seus livros estão carregados de belas homenagens aos seus ancestrais, seja através do registro das histórias
que irrigaram o seu imaginário desde a infância, no qual o célebre escritor revela gratidão aos seus
antepassados; seja através do enaltecimento da cultura dos povos originários. O Karaíba: uma história do pré-
brasil, Memórias de índio – uma quase autobiografia, Meu vô apolinário, Foi vovó que disse, A origem dos
filhos do estrondo do trovão - Uma história do povo Tariana, são algumas das muitas produções literárias nas
quais o escritor recupera memórias coletivas e particulares, demonstrando grande respeito e afeto por seus
ascendentes.

O povo indígena é filho das histórias contadas nas noites escuras das aldeias. Histórias com sabor de
ancestralidade, com sabor de pertencimento a uma tradição, com sabor de saber dos velhos. Histórias
que dão sentido à existência das pessoas e as unem num grito silencioso de verdade. São histórias
contadas com tanta majestade e reverência, com recolhimento e compenetração, sem ensaios e com
tamanha teatralidade que nos reportam sempre para o princípio de tudo, para a origem das coisas, em
um tempo em que o tempo estava a serviço dos seres e não como seu senhor. (MUNDURUKU, 2020,
p.07)

Munduruku coloca-se, então, como propagador das vozes dos seus irmãos, permitindo que cada
brasileiro que tenha acesso aos seus títulos contemple de perto as reais riquezas de um universo que nos foi
sonegado conhecer com profundidade.
Em uma entrevista ao canal Literafro, Júlio Emílio Braz também nos revela sobre a importância das
narrativas orais, da conexão com o coletivo, no seu processo criativo. Quando questionado sobre suas fontes
de inspiração, ele explica que encontra as sementes das suas criações em causos, relatos, contados por pessoas
que transitam pelos diferentes espaços públicos, tais como estações ferroviárias e ônibus. Assim, muitos
desses testemunhos da vida real funcionam como fertilizantes significativos do imaginário do autor, que ele
expressa através de uma linguagem literária clara, desenvolta, de modo a criar uma intimidade com o leitor.
Além de nos imergir nos dramas da contemporaneidade, a literatura de Braz também nos transporta
para a nossa ancestralidade. Seus recontos africanos, como Lendas negras, Lendas da África e Histórias
maravilhosas de povos felizes, nos convidam a passear pelas belezas culturais e geográficas, pelas riquezas do
imaginário de uma terra-mãe, que precisam ser compartilhadas com nossos alunos, de modo que conheçam a
herança deixada por seus antepassados, se sintam orgulhosos de serem frutos dela e tomem para si a missão-
griô de propagá-las.
Para muitos a África ainda é um mistério (...) A riqueza étnica é impressionante, responsável por uma
herança cultural e artística que, penso, muitos de nós, inclusive os afrodescendentes, desconhecem,
apesar de a África ter uma influência decisiva nos hábitos e nos costumes mesmo daqueles brasileiros
que não são afrodescendentes. Seja na musicalidade, no falar, na culinária ou no temperamento do
brasileiro, o Brasil e a sua história, direta ou indiretamente estão ligados aos milhares de africanos que
entraram neste país (...) Não pensei em nada além disso, ou seja, resgatar, a partir de umas poucas lendas
de várias partes do continente africano, um pouquinho dessa herança esquecida ou premeditadamente
ignorada, apresentando-a a todos os dispostos a conhecer esse rico folclore e, quem sabe, despertar
outros tantos a escrever mais sobre ele. (BRAZ, 2001, p.05)

Dessa forma, Braz vai na contramão de perspectivas saturadas que reduzem a imensidão africana a
“palco de terríveis guerras civis, epidemias pavorosas ou de países muito próximos da barbárie, onde a
civilização parece não existir” (2001, p.05), cooperando para desconstrução de preconceitos e fortalecimento
da autoestima negra, que ocupa grande parte dos bancos das escolas públicas brasileiras.
Assim como Munduruku e Braz, Brenman nos revela que o desejo de se tornar escritor também brotou
de boas experiências com as narrativas orais. Em uma palestra virtual na FLIB 2021, ele relata que quando
era mais jovem, durante um estágio do curso de psicologia com crianças pequenas, se viu perdido sobre como
interagir com elas. Uma pequena menina, então, se aproximou dele e o pediu para que contasse histórias. Ao
responder que não conhecia histórias para contar, a criança retrucou com uma frase do tipo: quem não sabe,
inventa. Brenman afirma que essa frase foi crucial para a sua imersão nas searas literárias, primeiro, como
contador de narrativas orais e, depois, como escritor. Segundo ele, o livro potencializaria a propagação de suas
histórias, de modo que pudessem ser contadas ao mesmo tempo em diferentes partes do mundo,
“transplantando suas memórias para outras pessoas”.
A relação com a tradição oral é tão latente em Brenman, que se tornou um dos seus temas favoritos de
pesquisa e inspiração para muitas das suas criações literárias. Grande parte dos seus livros, como As 14 pérolas
da Índia, As 14 pérolas da mitologia grega, Viagem ao redor do mundo em 37 histórias, Narrativas preferidas
de um contador de histórias e O que a terra está falando?, traz recontos da literatura universal, brotada em
continentes distantes e diversos, cujo acesso permite-nos atravessar, através da imaginação, épocas e terras
longínquas; conhecer diferentes formas de pensar e de viver. Por isso, podemos dizer que muitos títulos do
autor funcionam como um grande Telefone sem fio da tradição universal, através do qual podemos rememorar
histórias de várias partes do mundo, acrescentar as histórias da nossa gente e, por que não?, tantas outras que
vão brotar no imaginário da gente, de modo a criar uma intercomunicação literária que se amplie para além
do imaginário brasileiro.
De acordo com Brenman (FLIB 2021), recuperar as histórias que povoaram o imaginário dos nossos
antepassados nos torna mais humildes para reconhecermos que os bons frutos colhidos no presente resultam
do empenhado cultivo de “gigantes do passado”. Além disso, quando conhecemos a nossa história, nos
contextualizamos, identificamos o que precisamos manter ou extinguir, nos fortalecemos no combate a
ignorância, as desigualdades sociais.
Diante do exposto, desejamos que o passeio pela diversidade literária dos escritores homenageados e
de tantos outros que dialoguem com eles fecunde muitas ideias, nos permita reconhecer a nossa ancestralidade
e tomá-la como ponto de partida para a reflexão do presente e fertilização dos sonhos do amanhã.
Nas searas dos sonhos: colheitas literárias

A literatura não direciona sonhos, ela desperta sonhos.


Ilan Brenman

Uma vez reconhecidas as raízes que sustentam a nossa tradição, as histórias que nos põem em contato
com a diversidade que nos constituem, nos encaminharemos para as searas dos sonhos. Acreditamos que os
saberes acumulados, as emoções vivenciadas, através das histórias compartilhadas até aqui, somadas as muitas
outras experiências literárias que ainda estão por vir, fertilizarão novas formas de sonhar, de se posicionar
diante do outro e da vida.
Se considerarmos que os sonhos são peripécias do nosso imaginário, nossa criatividade em exercício,
a interação com literaturas de espécies variadas seria uma forma de propiciar o cultivo de sonhos. Cada vez
que uma criança escuta uma história, ela cria, na mente, imagens, cenários, de uma forma particular,
inigualáveis às imagens também criadas por outras pessoas que ouviram a mesma história. Ainda que ela
acione todo o seu repertório cultural, toda a sua leitura de mundo (FREIRE, 2019), a construção da sua
imaginação ocorre de forma subjetiva, singular (ROUXEL, LANGLADE e REZENDE, 2013).
E a criação desse “espaço íntimo” através dos livros é essencial para a elaboração e reconhecimento
da própria identidade, muitas vezes negada pelo próprio indivíduo em contextos marcados pela
vulnerabilidade social e literária (PETIT, 2013). Quantos dos nossos alunos não se reconhecem como negro?
Não se orgulham da própria ancestralidade? Quantos não silenciam as próprias angústias por receio de serem
rechaçados? Quantos não se permitem sonhar sobre o próprio futuro, na tentativa de reverter a própria
condição social?
Acessibilizar aos nossos alunos uma literatura com representatividades diversas, na qual eles possam
se reconhecer e se sentir pertencentes, aprofunda suas conexões afetivas com os livros, os empodera, os
encoraja a não silenciar suas angústias, como afirma a escritora Kiusam de Oliveira, “sutura psiques
fragilizadas pelo racismo” (2021). E dar voz a essas subjetividades na dimensão coletiva, mobilizados pela
energia da palavra literária, nos fortalece enquanto grupo, nos encoraja a conjecturar sonhos juntos e construir
meios de concretizá-los.
Com Júlio Emílio Braz, imergimos em histórias, como Pretinha, eu?, Na cor da pele, Felicidade não
tem cor, Um encontro com a Liberdade, Crianças na escuridão e Coisas da vida, que não titubeiam na
abordagem de problemas que permeiam a realidade humana: preconceito racial, miséria, exploração infantil,
abandono, violência, dentre tantas outras resultantes das nossas históricas desigualdades sociais, do racismo
estrutural. Pelas vias da ficção, o escritor mineiro nos inquieta, nos impulsiona a sonhar e a construir uma
sociedade mais democrática, igualitária, antirracista, na qual haja representatividade negra nos
diversos espaços da esfera social, na política, na ciência, no jornalismo, na literatura.
Ao nos encaminharmos para as searas de Munduruku, nos deparamos com obras, como Um estranho
sonho de futuro, A chave do meu sonho, Um sonho que não parecia sonho e História de índio, que nos revelam
a forte importância simbólica dos sonhos na tradição indígena, pois trazem revelações que ajudam a desvendar
os mistérios da vida, a nortear muitas das escolhas da aldeia, desde as relacionadas às atividades do cotidiano,
tais como a caça e a pesca, até as que envolvem a cura de doenças. Os sonhos do pajé, em especial, têm grande
relevância para o exercício da sua liderança. A sua sabedoria acumulada lhe permite interpretar os sonhos e
compartilhá-los com o grupo, de modo a orientá-lo a tomar decisões que beneficiem a comunidade.
Segundo Munduruku (2021), os sonhos são uma forma de “se encontrar com um mundo que está para
além da nossa racionalidade”, de colocar duas dimensões, real e onírica, em comunicação. Ele nos ensina que
na cultura indígena tudo está interligado, os sonhos, as questões da existência humana, os animais, o meio
ambiente. Essa maneira de conceber o mundo, como se cada elemento fosse um fio importante na “teia da
vida”, explica a sensibilidade do indígena para interpretar e respeitar os diversos sinais da natureza,
relacionando-se com ela de forma consciente, harmoniosa, retirando dela o necessário para sua subsistência.
De acordo com o escritor (2021), ao contrário disso, as sociedades ditas civilizadas promovem separações e
tendem a pensar o mundo pela lógica da economia, “transformando tudo em produto”, explorando os recursos
naturais de forma predatória e gananciosa.

Este livro é muito precioso para mim, por ser uma tentativa de cumprir a promessa feita a meu avô e de
oferecer aos estudantes de todo o Brasil um material atualizado sobre os povos indígenas que habitam
esta nossa terra. Quero trazer, através dele, a essência de nosso jeito de viver, dos motivos que
nos levam a caçar e pescar, acreditando que isso é apenas uma troca que fazemos com os seres da
natureza, a importância de nos pintarmos para demonstrar nosso amor aos espíritos e a Deus, a ordem
que impera em nossas aldeias, a certeza de que somos apenas um fio na teia da vida... Quero dizer aos
pequenos leitores que existem outros modos de viver e esses modos não são melhores ou piores, são
apenas diferentes. (MUNDURUKU, 2017, p. 07)

Assim, a literatura de Munduruku renova nossas formas de conceber o mundo, nos ensina a
compreender outras maneiras de interação com ele; nos conduz a sonhar com novas formas de integração com
a gente mesmo, através do reconhecimento das nossas próprias intuições oníricas, e também com a natureza,
nos sensibilizando para prestar atenção nos seus sinais e respeitá-la.
Os jardins literários de Ilan Brenman nos convocam a adentrar na vastidão do imaginário da infância,
transbordante de curiosidades, traquinagens, elementos inusitados, criativos, que, ao serem expressos,
surpreendem qualquer adulto. A fabulação é instintiva à criança. Energizá-la com boas histórias, que não
subestimam sua capacidade de compreensão, é fundamental para fertilizar sua potência criadora, artística,
crítica, sua sensibilidade para olhar para si mesma e para o outro. Em entrevista ao blog Dentro da História,
Brenman afirma que:

As histórias de qualidade contemplam a complexidade, nossos anseios, desejos, e dialogam com os


sonhos e pesadelos, seja dos adultos ou das crianças. Esse tipo de história é um grande espelho da
própria natureza humana: o que a criança é e o que ela pode vir a ser. Esse espelho literário traz uma
sensação de ordenamento para a criança, porque ela consegue ouvir na história aquilo que ela não
compreende dentro dela. Por exemplo, os contos de fadas, os contos tradicionais, a boa literatura infantil,
falam para a criança: “Amadurecer é difícil. Crescer é dolorido.” (2020)

Nesse sentido, Brenman nos presenteia com títulos, como Coisas arrepiantes, Caras animalescas,
Coisas melequentas, A gordura misteriosa, Mamãe lobo e Até as princesas soltam pum, que propiciam
à criança a liberdade de sonhar à sua maneira, aguçando sua potência crítica, criativa. Por isso, seus textos
fogem da obviedade das linguagens ditadoras de sonhos, que didatizam a literatura, tornando-a um manual do
que é certo e errado, que mais oferece respostas prontas do que impulsiona o leitor a pensar, a se sentir
instigado a desvendar os desafios do texto.
Dito isso, podemos afirmar que os livros de Brenman (2021) “não direcionam sonhos, despertam
sonhos”, são excelentes provocadores da sensibilidade e da inteligência, sementes essenciais para a construção
de um novo Agora e depois.
Diante de tantos sonhos cultivados por meio da palavra literária, propomos que você também
compartilhe conosco os sonhos desabrochados no seu imaginário junto aos alunos, de modo que possamos
organizar uma grande colheita literária, repleta das mais diversas espécies de ideias, expressões de
sensibilidade e manifestações artísticas. Acreditamos que essa partilha nos trará bons frutos, cujas sementes
precisam ser espalhadas, fazendo brotar e ramificar novas formas de sonhar pelas searas do mundo afora.
Um pouquinho sobre nossos homenageados...

Daniel Munduruku

O seu nome de batismo é Daniel Monteiro Costa.


Nasceu numa aldeia de Jacareacanga, em Belém do Pará,
aos 28 dias do mês de fevereiro de 1964 e pertence à etnia
indígena Munduruku. Quando fez 9 anos de idade, foi
estudar longe da sua comunidade, mas, durante as férias,
sempre voltava a se reunir com seu povo. Passou por
muitas dificuldades relacionadas à aceitação de sua
própria cultura, devido às estratégias educacionais da
época. Foi incentivado a estudar, porém, os menores
indígenas eram retirados do convívio da comunidade,
deixavam de usar a língua nativa e participar dos rituais.

O seu avô Apolinário, pajé da tribo dos


Mundurukus, teve uma grande influência na construção de sua autoestima, reforçando a sua identidade, e
valorização da ancestralidade do seu povo. Para homenagear as histórias dos seus avós, Munduruku produziu
obras, como: Foi vovó que disse, Meu vô Apolinário: um mergulho no rio da (minha) memória, Catando
piolhos contando histórias e Vó Coruja, contando preciosas histórias indígenas muito significativas e reais.
Graduou-se em Filosofia, História e Psicologia, tendo atuado como professor na pós-graduação em
Antropologia Social da USP. Atuou como educador social de rua pela Pastoral do Menor, em São Paulo. É
mestre e doutor em Educação e pós-doutor em Linguística.
Esteve em vários países da Europa, participando de conferências e ministrando oficinas culturais para
as crianças. É escritor e desenvolve atividades como contador de histórias em escolas públicas e particulares,
onde, através das suas experiências de vida e obras literárias, enfatiza a importância da cultura indígena na
formação do povo brasileiro. Apresenta produções escritas voltadas à riqueza, à humanidade e à diversidade,
rompendo estigmas sedimentados em torno dos povos indígenas. O seu envolvimento com essa questão é
extremo e defende a identidade e as línguas indígenas nativas brasileiras.
Tem 54 livros publicados no Brasil e no exterior, sendo a maioria classificada como literatura
infantojuvenil. É diretor-presidente do Instituto UKA - Casa dos Saberes Ancestrais - e Comendador da
Ordem do Mérito Cultural da Presidência da República, desde 2008.
No ano de 2013, foi honrado na categoria da Grã-Cruz, a mais importante honraria oficial dada a um
cidadão brasileiro na área da cultura. É membro fundador da Academia de Letras de Lorena, onde reside, no
interior de São Paulo. Recebeu vários prêmios no Brasil e no exterior, entre eles: Prêmio da Academia
Brasileira de Letras, Prêmio Jabuti, Menção Honrosa do Prêmio Literatura para Crianças e Jovens na
questão da tolerância (UNESCO), com o livro Meu Vô Apolinário: um mergulho no rio da (minha) memória,
e Prêmio Érico Vanucci Mendes (outorgado pelo CNPq). Muitas de suas obras literárias receberam o selo
Altamente Recomendável (FNLIJ).
Em 2017, recebeu o Prêmio Jabuti, na categoria Juvenil, com o livro Crônicas indígenas para rir e
refletir na escola, da editora Moderna. Em 2018, ganhou o Prêmio da Fundação Bunge, na categoria vida e
obra. Em 2021, por sua militância pela causa, o escritor e intelectual indígena foi reconhecido pela OAB/SP,
como personalidade literária e, também, candidato à vaga para a cadeira número 12 da Academia Brasileira
de Letras, continuando em busca de maior visibilidade para o povo indígena. Mais de cem autores assinaram
a carta de apoio a sua candidatura, embora o vencedor tenha sido o médico brasileiro Paulo Niemeyer Filho.
No presente ano (2022), será homenageado na FLIST – Festa Literária de Santa Teresa, em sua XIV
edição e, conforme a divulgação nas redes sociais, as suas obras serão adaptadas para várias atividades neste
evento.

Algumas obras de Daniel Munduruku

A palavra do Grande Chefe


A primeira estrela que vejo é a estrela do meu
desejo e outras histórias indígenas de amor
As peripécias do Jabuti
As serpentes que roubaram a noite e outros mitos
A caveira-rolante, a mulher-lesma e outras
histórias indígenas de assustar
Caçadores de aventuras
Catando piolhos contando histórias
Coisas de índio

Coisas de índio - versão infantil


Como surgiu - mitos indígenas brasileiros
Contos indígenas brasileiros
Crônicas de São Paulo
Crônicas indígenas para rir e refletir na escola
Das coisas que aprendi
Foi Vovó que disse
Histórias de índio

Histórias que eu ouvi e gosto de contar


Histórias que eu vivi e gosto de contar
Histórias que eu li e gosto de contar
Kabá Darebü
Karú Tarú - O pequeno Pajé
Memórias de Índio - uma quase autobiografia
Meu vô Apolinário: um mergulho no rio da
(minha) memória
Mundurukando 1
Mundurukando 2
O banquete dos deuses
O caráter educativo do movimento indígena
brasileiro
O Menino e o pardal
O olho da águia
O olho bom do menino
O mistério da estrela vésper
O homem que roubava horas
O Karaíba
O onça

O segredo da chuva
O sinal do pajé
O sumiço da noite
Outras tantas histórias Indígenas de origem das
coisas e do universo
Parece que foi ontem
Sabedoria das águas
Saudades de amanhã
Tempo de histórias - Antologia de contos
indígenas de ensinamento

Todas as coisas são pequenas


Um dia na aldeia
Um estranho sonho de futuro
Um sonho que não parecia sonho
Vó Coruja
Você lembra, pai?
Vozes Ancestrais
Whatirã - a lagoa dos mortos.
(em parceria com Jaime Diákara)

Obras publicadas no exterior:

Amazonia-Indigenous Tales from Brazil


Tales of the Amazon-How the Munduruku Indians Live
Indianer legenden aus Brasilien, Verlag Hans Schille
Ilan Brenman

Israelense, naturalizado brasileiro, Ilan Brenman


chegou ao Brasil aos 6 anos de idade. Hoje, com 49 anos,
é reconhecido e premiado autor da literatura
infantojuvenil brasileira, com selo “Altamente
Recomendável” pela Fundação Nacional do Livro
Infantil e Juvenil (FNLIJ) e o prêmio White Ravens
(Alemanha). Em entrevista à editora Moderna, ele
afirma:

Para um escritor, viver de escrita por si só é uma conquista. Poder trabalhar com criatividade, trabalhar
com texto e poder encontrar com as pessoas e falar de literatura, falar de livros, é um privilégio. Eu não
sei se daqui a dez anos vou querer fazer alguma coisa diferente. Talvez o meu anseio, meu grande sonho
é fazer livros cada vez melhores.

Ilan bebeu na fonte de Ruth Rocha, Ana Maria Machado, Marcos Rey, Monteiro Lobato, Machado de
Assis, entre outros. A influência familiar com a vasta biblioteca que incluía a literatura francesa da estante
materna, os existencialistas e os livros de psicologia forjaram o autor que formou-se em Psicologia pela PUC
de São Paulo, com mestrado e doutorado em Educação pela USP.
Uma menina de 8 anos desconstruiu Brenman, então monitor do clube A Hebraica, ao pedir-lhe para
que contasse uma história, ele respondeu que não sabia ao que ela retrucou dizendo: “Quem não sabe, pode
inventar!”. O episódio foi disparador para que ele se encontrasse contador de histórias e, consequentemente,
inventador de histórias, autor de incríveis narrativas.

Aos poucos, vou tirando, junto com o público, os tecidos que encobrem seu corpo. O que tem por
debaixo dos véus, nem o contador de histórias sabe. Às vezes, pode ser uma bela princesa, outras, um
orangotango. O prazer reside nessa surpresa: o desvelar juntos os véus das mais diferentes narrativas.
(BRENMAN, entrevista à Moderna)

O clube A Hebraica efetivamente foi um divisor na vida de Ilan. Lá também conheceu Tali, uma
psicóloga por quem se apaixonou, casou e teve duas filhas. A família é a base para muitas histórias, a conexão
pai e filhas inspira narrativas, como Papai é meu (2011), Segredos (2014), Pai cabide (2015) e muitas outras.
Sua primeira criação, O pó do crescimento e outros contos, virou livro pela editora WMF, em 2001.
Para abarcar sua genialidade e inventividade nas obras literárias, ao longo de 20 anos, Ilan montou um acervo
de cerca de quatro mil livros infantis em sua casa. Recontos da tradição oral de diferentes países fazem parte
de sua obra, que já foi publicada na França, Itália, Alemanha, Polônia, Espanha, Suíça, Dinamarca, Argentina,
Portugal, Coreia, China e no México.
Ativo como colunista, palestrante, o autor viaja para atuar em feiras de livros, debates acadêmicos.
Seus discursos fomentam reflexões nas áreas de cultura, família, literatura e educação. Esse contato direto
com o público reverbera novas criações. Com mais de 70 títulos ao longo da sua carreira, Brenman cultiva
sensibilidade em sua narrativa, que provoca curiosidade, empatia, reflexões e desperta sentimentos e emoções
em crianças e adolescentes, porque os trata afetivamente como seres críticos, sujeitos de direitos. Explora o
universo infantil com ludicidade, nonsense, humor, por acreditar na essência inventiva dessa faixa etária onde
fantasia, imaginação e realidade se fundem.

Algumas obras de Ilan Brenman

Refugiados
Famílias
Cavalo de Tróia, a origem
O pó do crescimento
O alvo
O mistério de Daniel
Enganos
Papai é meu!
Pai cabide
A bolsa
Hora do almoço

Gabriel e o futebol
Clara e a Olimpíada
A menina que amava futebol
O que a terra está falando?
A dobradura do Samurai
De onde vêm os nomes?
O que escondem as palavras?
ABRACADABRA De onde vêm as palavras?
A amizade eterna e outras vozes da África
Segredos

O bico
Vó, para de fotografar
O senhor do bom nome e outros mitos judaicos
A dobradura do samurai
Através da vidraça da escola: formando novos
leitores
A festa de aniversário
As narrativas preferidas de um contador de
histórias
Clara
África
As 14 pérolas da Índia
Até as princesas soltam pum
Brasil
Conversa para pai dormir
Gabriel
China
A cicatriz
As 14 pérolas budistas
A barba do rabino
As 14 pérolas da sabedoria judaica

Eu não gosto!
A bolsa
A condenação de Emília: o politicamente
correto na literatura infantil
A mulher que não sabia guardar segredos
A tiara da Clara
As botas do Gabriel
Café com leite
Depois do foram felizes para sempre
A busca de Esmeraldo
Livro da Com-fusão família
Livro da Com-fusão animais

A gordura misteriosa
As 14 pérolas da sabedoria sufi
Caras animalescas
Clara e a Olimpíada de 2016
Como ele foi parar aí dentro?
Gabriel e a copa do mundo de 2014
A sabedoria do Califa
As 14 pérolas da mitologia grega
O faraó e o homem dos figos
Amizade eterna e outras vozes da África
Júlio Emílio Braz

Um dos mais prolíficos autores da literatura


infantil e juvenil contemporânea, Júlio Emílio Braz
nasceu em 16 de abril de 1959, na cidade de
Manhumirim, aos pés da Serra de Caparaó, Minas
Gerais. Aos cinco anos mudou-se para o Rio de
Janeiro, cidade que adotou como lar. Aprendeu a ler
sozinho, aos seis anos de idade, através das revistas de
terror as quais tinha acesso.

Iniciou a carreira de escritor “por acaso”, quando perdeu o emprego e um amigo o aconselhou a
procurar uma editora e oferecer-lhe as histórias que havia escrito. Iniciou sua carreira como escritor de roteiros
para histórias em quadrinhos, publicadas no Brasil e em outros países, como Portugal, Bélgica, França, Cuba
e Estados Unidos.
Escreveu romances de faroeste com 39 pseudônimos diferentes. Depois de começar a escrever livros
ficou conhecido mundialmente e ganhou prêmios, como o Australian Children Book's Awards e o Blue Cobra
Awards, do Swiss Institute for Children's Books. Desde então, Júlio passou a escrever comédia, suspense e
ação. Um de seus livros de maior sucesso é Esperando os Cabeça Amarela.
Na televisão, escreveu quadros para o programa Os Trapalhões, da TV Globo, e uma telenovela em
dez capítulos para uma emissora do Paraguai. É autor de livros infantojuvenis, entre eles Saguairu, pelo qual
obteve o Prêmio Jabuti, em 1989. Entre suas outras obras, destacam-se os livros: Uma Pequena História de
Natal, Anjos no aquário, Crianças na escuridão, Felicidade não tem cor e Corrupto. Escreveu a obra A Gota:
uma biografia bem apressada, em diálogo com a obra Uma História Apaixonada, de Léia Cassol. Hoje, tem
por volta de 169 livros publicados, todos destinados a crianças e a adolescentes. A obra Crianças na Escuridão
já foi traduzida para o alemão e para o espanhol.
Grande parte de suas obras discorrem sobre a miséria das ruas, a sexualidade, o preconceito racial, a
violência e outros aspectos que seguem o mesmo viés. Em entrevista publicada no site
www.members.tripod.com/escola, o escritor afirma: “Acho que os jovens do meu país têm direito de saber
como ele realmente é, até para mudá-lo no que ele tem de ruim e aprimorá-lo no que ele certamente tem de
bom. Por isso, gosto tanto de abordar tal temática em meus livros.”
Frequentemente, o escritor ministra palestras em escolas públicas e faz questão de ressaltar que não
cobra por elas, pois, na sua concepção, falar de literatura é maravilhoso e o contato com o público leitor lhe
causa grande satisfação.
Algumas obras de Júlio Emílio Braz

Nossa Senhora Aparecida em quadrinhos


Santo Antônio em quadrinhos
Luís Gama, de escravo a libertador
Pivete
Abra-te, Sésamo
Ada
Bruno
Carolina
Daniel
Depois que papai se foi
Eduardo
Fábio
Gustavo

Helena
Karina
Laura
Nara
Numa véspera de Natal
O caça homens
Olga
Os Bebês de Babilônia
Papai Noel de Montão
Pra Que Serve um Papai Noel?
Breve Crônica de Liberdade
Enquanto Houver Vida Viverei
Felicidade não tem cor
Liberteiros
Meu Círio de Nazaré

Na selva do asfalto
Os bons de bola
Sujo!: corrupção no Brasil
Um certo Kobayashi Maru
Um sonho dentro de mim
Avião: Tráfico de Drogas
Céu Vermelho
Megalópolis
Zumbi, o Despertar da Liberdade
Um conto de fim de mundo
A coragem de mudar
A história azul
Famaliá
O mexicano
A serpente cintilante
O Herdeiro de Aranda
O mistério do homem amarelo
Policarpo dos céus inatingíveis
Pretinha, Eu?
Saguairu
Tantos natais
Uma Pequena História de Natal
Memórias de uma bola de Natal
Na cor da pele.
Perdidamente
Aprendendo a Viver
A rua do terror
Bença, mãe
Contando estrelas
Lendas negras
O riacho
Só entre nós
Sol Ardente

A História de Lalo
Na própria carne
O grande dilema de um pequeno Jesus
O olhar de azul
Anjos no aquário
Carolina e a ostra
Cangaço: a guerra no sertão da república
Cinderela
João Ferrugem
João e Maria
O blog da Marina
Olhando para o outro lado
O muro
Rapunzel
Romeu e Julieta: um romance na terceira idade

As aventuras de Pedro Malassartes


Bilhetinhos
Algum Lugar, Lugar Nenhum
Bruxas de Grimm
Coisas da Vida
Crianças na Escuridão
Ora Pro Nobis
Os Papéis de Lucas
Quem Me Dera Ser Feliz
Sete faces da primeira vez
Sete faces do amor
Sete faces do destino
Sete faces do humor
Sete faces do terror
Gabriel e a grande árvore
Esperando Os cabeças Amarelas
Bem-vindos a Animal City: O caso do ovo
desmemoriado
Algo Selvagem
A Gota – Uma biografia Bem Apressada
A mulher que lia com as mãos
Cinco fábulas africanas
Famaliá
Um presente para toda vida
Lendas da África
Sikulume & Outros Contos Africanos
Poemas para se ler no banheiro

Fabulistas
Devo chorar, Maurício?
Meu pai, meu herói & seus heróis
Bela
Ivo
Juliana
Mafalda
Pedro & Paulo
Quirino
Raimundo
Sílvia
Tiago
Ulisses
Vera

Xisto
Wanderlei
Yara
Zilda
Longas Cartas para ninguém
Pollyana
Um garoto consumista na roça
Chapeuzinho vermelho
Os músicos de Bremen
A galinha dos Ovos de ouro
Princesa e o sapo
Três histórias
Desprezados F.C.
Fala comigo, Pai
Sete Faces dos contos de Fada
Sete faces da ficção científica
Sete faces da ficção espacial
Sete faces da família
Sete faces da Bravura
Sete faces do crime
Asimov & Os perseguidores da lua
Lendas maravilhosas de povos felizes
A voz de quem te ama
A menina que tinha um céu na boca
Noites em claro
Dever de Casa
Histórias de pai e filho

O senhor rápido e a manhã maravilhosa


Moçambique
Uma pequena lição de liberdade
Longas Cartas para Ninguém
O sapo e o poço
Minhas férias
Os dedos
Um encontro com a liberdade
Jovens náufragos e suas batalhas
Os papéis de Lucas: pequeno inventário de um
adolescente

Coautoria:

Cenas urbanas
Voo Cego
Os Bons de Bola (Em parceria com Patrícia Martins)
Infância Roubada (Em parceria com Telma Guimarães)
Rua 46 (Em parceria com Silvana Pimentel Batista)
O Mexicano (Em parceria com Jack London)
Só entre nós: Abelardo e Heloísa (Em parceria com Janaina Vieira)
Referências

ALMEIDA, Andressa Penna. Da imersão em narrativas literárias às subjetividades desveladas: um itinerário


para a formação de sujeitos leitores. Dissertação de Mestrado. Faculdade de Letras, UFRJ. Rio de Janeiro,
2020.

AMAZONIA: Indigenous Tales from Brazil. Booklikes. Disponível em <http://booklikes.com/amazonia-


indigenous-tales-from-brazil-daniel-munduruku-nikolai popov-jane-s/book,9582833>. Acesso em
15/03/2022.

BRAZ, Júlio Emílio. Entrevista concedida à Editora do Brasil, em 16/07/20. Disponível em


<https://literario20.editoradobrasil.com.br/entrevista-com-julio-emilio-braz-2/>. Acesso em 11/03/22.

______. Entrevista concedida ao canal Literafro, em 28/11/2019. Disponível em


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______. Histórias dos povos africanos. In: BRAZ, Júlio Emílio e DANSA, Salmo. Lendas Negras. São Paulo:
FTD, 2001.

______. Histórias maravilhosas de povos felizes. Ilustrações de Salmo Dansa. São Paulo: Escala Educacional,
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BRENMAN, Ilan. Como nasce um escritor? Entrevista concedida à editora Moderna, s/d. Disponível em
<https://www.moderna.com.br/autoresexclusivos/ilan-brenman/ilan-brenman-biografia.htm>. Acesso em
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______. Importância de ler e contar histórias. Palestra virtual, em 20/05/2021. Canal Feira Literária de
Bonito. Disponível em <https://www.youtube.com/watch?v=jw2PM3jl-uA>. Acesso em 11/03/2022.

______. O politicamente correto nas histórias infantis. Entrevista concedida à revista Avisa Lá, em
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DANIEL Munduruku: breve perfil do escritor indígena que lutou por cadeira na ABL. Redação Hypeness,
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DANIEL Munduruku. Grupo Companhia das Letras. Disponível em


<https://www.companhiadasletras.com.br/autor.php?codigo=00358>. Acesso em 15/30/2022.

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DANIEL Munduruku. In: Wikipédia: a enciclopédia livre. Disponível em
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DANIEL Munduruku – currículo resumido. Disponível em <http://danielmunduruku.blogspot.com/p/daniel-


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DEBUS, Eliane Santana Dias. A cultura africana e afro-brasileira na literatura de Joel Rufino dos Santos,
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Acesso em 15/03/2022

DIA do Índio é data 'folclórica e preconceituosa', diz escritor indígena Daniel Munduruku. BBC News, São
Paulo, 19/04/2019. Disponível em <https://www.bbc.com/portuguese/brasil-47971962>. Acesso em
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FREIRE, Paulo. Pedagogia da autonomia: saberes necessários à prática educativa. 58.ed. Rio de Janeiro:
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ILAN BRENMAN. In: Wikipédia: a enciclopédia livre. Disponível em


<https://pt.wikipedia.org/wiki/Ilan_Brenman>. Acesso em 14/03/2022.

JÚLIO Emílio Braz. In: Literafro, o portal da literatura afro-brasileira. Disponível em <
http://www.letras.ufmg.br/literafro/autores/1175-julio-emilio-braz>. Acesso em 15/03/2022.

MUNDURUKU, Daniel. Coisas de índio - versão infantil. São Paulo: Callis, 2010.

______. A chave do meu sonho: ou como um parafuso frouxo fez-me encontrar a chave e o sonho. Encontro
virtual. Canal Daniel Munduruku. Disponível em <https://www.youtube.com/watch?v=jZwJGHbWS84>.

______. A origem dos filhos do estrondo do trovão - Uma história do povo Tariana. Ilustrações de Rosinha.
São Paulo: Callis, 2020.

OLIVEIRA, Kiusam de. Negras Gerações Literárias - Bate-papo com Kiusam de Oliveira e Júlio Emílio Braz,
em 22/04/2021. Canal Sesc Ribeirão Preto. Disponível em
<https://www.youtube.com/watch?v=YxYjwRtrM7A>. Acesso em 12/03/2022.

PETIT, Michèle. Leituras: do espaço íntimo ao espaço público. Tradução de Celina Olga de Souza. São Paulo:
Editora 34, 2013.

ROUXEL, Annie; LANGLADE, Gérard e REZENDE, Neide. Leitura Subjetiva e Ensino de Literatura. São
Paulo: Alameda, 2013.

25 LIVROS de Ilan Brenman. Estadão, São Paulo. Disponível em


<https://cultura.estadao.com.br/galerias/literatura,25-livros-de-ilan-brenman>. Acesso em 14/03/2022.

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