Você está na página 1de 4

1.

O Menino Azul – Cecília Meireles


EMPACS. O menino quer um burrinho
para passear.
3. A porta – Vinicius de Moraes
Sou feita de madeira
Um burrinho manso, Madeira, matéria morta
que não corra nem pule, Não há nada no mundo
mas que saiba conversar. Mais viva que uma porta
O menino quer um burrinho Eu abro devagarinho
que saiba dizer Pra passar o menininho
o nome dos rios, Eu abro bem com cuidado
das montanhas, das flores, Pra passar o namorado

Livro de
– de tudo o que aparecer. Eu abro bem prazenteira
O menino quer um burrinho Pra passar a cozinheira
que saiba inventar histórias bonitas Eu abro de supetão
com pessoas e bichos Pra passar o capitão

Poesias
e com barquinhos no mar. Eu fecho a frente da casa
E os dois sairão pelo mundo Fecho a frente do quartel
que é como um jardim Eu fecho tudo no mundo
apenas mais largo Só vivo aberta no céu!
e talvez mais comprido
e que não tenha fim. 4. Poeminha do Contra – Mario Quintana
(Quem souber de um burrinho desses, Todos estes que aí estão
pode escrever Atravancando o meu caminho,
para a Ruas das Casas, Eles passarão.
Número das Portas, Eu passarinho!
ao Menino Azul que não sabe ler.)

5. O Direito das Crianças – Ruth Rocha


2. Pontinho de Vista – Pedro Bandeira Toda criança no mundo
Eu sou pequeno, me dizem, Deve ser bem protegida
e eu fico muito zangado. Contra os rigores do tempo
Sala de leitura – Tia Rosemere Tenho de olhar todo mundo Contra os rigores da vida.
com o queixo levantado. Criança tem que ter nome
Mas, se formiga falasse Criança tem que ter lar
e me visse lá do chão, Ter saúde e não ter fome
ia dizer, com certeza: Ter segurança e estudar.
— Minha nossa, que grandão! Não é questão de querer
Nem questão de concordar
Os direitos das crianças
Todos têm de respeitar.
Tem direito à atenção Era uma estrela sozinha, 8. A Centopeia – Marina Colasanti
Direito de não ter medos ninguém olhava para ela, Quem foi que primeiro
Direito a livros e a pão e toda a luz que ela tinha teve a ideia
Direito de ter brinquedos. cabia numa janela. de contar um por um
Mas criança também tem A lua ficou tão triste os pés da centopeia?
O direito de sorrir. com aquela história de amor, Se uma pata você arranca
Correr na beira do mar, que até hoje a lua insiste: será que a bichinha manca?
Ter lápis de colorir… – Amanheça, por favor! E responda antes que eu esqueça
Ver uma estrela cadente, se existe o bicho de cem pés
Filme que tenha robô, será que existe algum de cem cabeças?
Ganhar um lindo presente,
7. Guarda-chuvas – Rosana Rios
Tenho quatro guarda-chuvas
Ouvir histórias do avô.
todos os quatro com defeito; 9. Canção para ninar dromedário – Sérgio
Descer do escorregador,
Um emperra quando abre,
Fazer bolha de sabão,
outro não fecha direito.
Capparelli
Sorvete, se faz calor, Drome, drome
Um deles vira ao contrário
Brincar de adivinhação. Dromedário
seu eu abro sem ter cuidado.
Morango com chantilly, As areias
Outro, então, solta as varetas
Ver mágico de cartola, Do deserto
e fica todo amassado.
O canto do bem-te-vi, Sentem sono,
O quarto é bem pequenino,
Bola, bola,bola, bola! Estou certo.
pra carregar por aí;
Lamber fundo da panela Drome, drome
Porém, toda vez que chove,
Ser tratada com afeição Dormedário
eu descubro que esqueci…
Ser alegre e tagarela Fecha os olhos
Por isso, não falha nunca:
Poder também dizer não! O beduíno,
se começa a trovejar,
Carrinho, jogos, bonecas, Fecha os olhos,
nenhum dos quatro me vale –
Montar um jogo de armar, Está dormindo.
eu sei que vou me molhar.
Amarelinha, petecas, Drome, drome
Quem me dera um guarda-chuva
E uma corda de pular. Dromedário
pequeno como uma luva
[emaillocker id=”16724″] O frio da noite
Que abrisse sem emperrar
Foi-se embora,
ao ver a chuva chegar!
Fecha os olhos
6. A Lua foi ao Cinema – Paulo Leminski Tenho quatro guarda-chuvas
Dorme agora.
A lua foi ao cinema, que não me servem de nada;
Drome, drome
passava um filme engraçado, Quando chove de repente,
Dromedário
a história de uma estrela acabo toda encharcada.
Dorme, dorme,
que não tinha namorado. E que fria cai a água
A palmeira,
Não tinha porque era apenas sobre a pele ressecada!
Dorme, dorme,
uma estrela bem pequena, Ai…
A noite inteira.
dessas que, quando apagam,
Drome, drome
ninguém vai dizer, que pena!
Dromedário
Foi-se embora
O cansaço
E você dorme
12. A Canção dos tamanquinhos – Cecília 14. Meus oito anos – Casimiro de Abreu
Meireles Oh! que saudades que tenho
No meu braço.
Troc…  troc… troc…  troc… Da aurora da minha vida,
Drome, drome
ligeirinhos, ligeirinhos, Da minha infância querida
Dromedário
troc…  troc… troc…  troc… Que os anos não trazem mais!
Drome, drome
vão cantando os tamanquinhos… Que amor, que sonhos, que flores,
Dromedário
Madrugada.   Troc… troc… Naquelas tardes fagueiras
Drome, drome
pelas portas dos vizinhos À sombra das bananeiras,
Dromedário.
vão batendo, Troc…  troc… Debaixo dos laranjais!
vão cantando os tamanquinhos… Como são belos os dias
10. Convite – José Paulo Paes Chove.  Troc… troc…  troc… Do despontar da existência!
Poesia no silêncio dos caminhos – Respira a alma inocência
é brincar com palavras alagados, troc…  troc… Como perfumes a flor;
como se brinca vão cantando os tamanquinhos… O mar é – lago sereno,
com bola, papagaio, pião. E até mesmo, troc…  troc… O céu – um manto azulado,
Só que os que têm sedas e arminhos, O mundo – um sonho dourado,
bola, papagaio, pião sonham, troc…  troc… troc… A vida – um hino d’amor!
de tanto brincar com seu par de tamanquinhos… Que aurora, que sol, que vida,
se gastam. Que noites de melodia
As palavras não: Naquela doce alegria,
quanto mais se brinca 13. As borboletas – Vinicius de Moraes Naquele ingênuo folgar!
com elas Brancas O céu bordado d’estrelas,
mais novas ficam. Azuis A terra de aromas cheia
Como a água do rio Amarelas As ondas beijando a areia
que é água sempre nova. E pretas E a lua beijando o mar!
Como cada dia Brincam Oh! dias da minha infância!
que é sempre um novo dia. Na luz Oh! meu céu de primavera!
Vamos brincar de poesia? As belas Que doce a vida não era
Borboletas. Nessa risonha manhã!
Borboletas brancas Em vez das mágoas de agora,
11. Se – Paulo Leminsky São alegres e francas. Eu tinha nessas delícias
Se Borboletas azuis De minha mãe as carícias
nem Gostam muito de luz. E beijos de minhã irmã!
for As amarelinhas Livre filho das montanhas,
terra São tão bonitinhas! Eu ia bem satisfeito,
Se E as pretas, então… Da camisa aberta o peito,
trans Oh, que escuridão! – Pés descalços, braços nus –
for
Correndo pelas campinas
mar.
A roda das cachoeiras,
Atrás das asas ligeiras
Das borboletas azuis!
Naqueles tempos ditosos
Ia colher as pitangas,
Trepava a tirar as mangas,
Brincava à beira do mar;
Rezava às Ave-Marias,
Achava o céu sempre lindo.
Adormecia sorrindo
E despertava a cantar!

Oh! que saudades que tenho


Da aurora da minha vida,
Da minha infância querida
Que os anos não trazem mais!
– Que amor, que sonhos, que flores,
Naquelas tardes fagueiras
A sombra das bananeiras
Debaixo dos laranjais!

15. Ao pé de sua criança – Pablo Neruda


O pé da criança ainda não sabe que é pé,
e quer ser borboleta ou maçã.
Mas depois os vidros e as pedras,
as ruas, as escadas,
e os caminhos de terra dura
vão ensinando ao pé que não pode voar,
que não pode ser fruta redonda num ramo.
Então o pé da criança
foi derrotado, caiu
na batalha,
foi prisioneiro,
condenado a viver num sapato.
Pouco a pouco sem luz
foi conhecendo o mundo à sua maneira,
sem conhecer o outro pé, encerrado,
explorando a vida como um cego.

Você também pode gostar