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COLETÂNEA DE

POEMAS
(5º, 6º, 7º anos)

Projeto OBSERVATÓRIO DA EDUCAÇÃO/UNITA

2011 - 2014
TREM DE FERRO

Café com pão Passa galho


Café com pão Da ingazeira
Café com pão Debruçada
No riacho
Virge Maria, que foi isto, Que vontade
Maquinista? De cantar!

Agora sim Oô...


Café com pão Quando me prendero
Agora sim No canaviá
Voa, fumaça Cada pé de cana
Corre, cerca Era um oficiá
Ai seu foguista Oô...
Bota fogo
Na fornalha Menina bonita
Que eu preciso Do vestido verde
Muita força Me dá tua boca
Muita força Pra mata minha sede
Muita força Oô...
Vou mimbora vou mimbora
Oô... Não gosto daqui
Foge, bicho Nasci no sertão
Foge, povo Sou de Ouricuri
Passa ponte Oô...
Passa poste
Passa pasto Vou depressa
Passa boi Vou correndo
Passa boiada Vou na toda
Que só levo
Pouca gente
Pouca gente
Pouca gente

(Manuel Bandeira)
O ECO

O menino pergunta ao eco


onde é que ele se esconde.
Mas o eco só responde: “Onde? Onde?”

O menino também lhe pede:


“Eco, vem passear comigo!”

Mas não sabe se o eco é amigo ou inimigo.

Pois só lhe ouve dizer:


“Migo!”
(Cecília Meirelles)

BOLHAS
Olha a bolha d'água no galho!
Olha o orvalho!
Olha a bolha de vinho na rolha!
Olha a bolha!
Olha a bolha na mão que trabalha
Olha a bolha de sabão na ponta da palha
Brilha, espelha e se espalha
Olha a bolha!
Olha a bolha que molha a mão do menino:
A bolha de chuva na calha!

(Cecília Meirelles)
A LÍNGUA DO NHEM

Havia uma velhinha


que andava aborrecida
pois dava a sua vida
para falar com alguém.

E estava sempre em casa


a boa da velhinha,
resmungando sozinha:

nhem-nhem-nhem-nhem-nhem-nhem...

O gato que dormia


no canto da cozinha,
escutando a velhinha,
principiou também
a miar nessa língua.
E se ela resmungava,
o gatinho a acompanhava:

nhem-nhem-nhem-nhem-nhem-nhem...

Depois veio o cachorro


da casa da vizinha,
pato, cabra e galinha,
de cá, de lá, de além,
e todos aprenderam
a falar noite e dia
naquela melodia

nhem-nhem-nhem-nhem-nhem-nhem...

De modo que a velhinha


que muito padecia
por não ter companhia,
nem falar com ninguém,
ficou toda contente,
pois mal a boca abria
tudo lhe respondia:

Nhem-nhem-nhem-nhem-nhem-nhem...
(Cecília Meirelles)
A BAILARINA

Esta menina
tão pequenina
quer ser bailarina.
Não conhece nem dó nem ré
mas sabe ficar na ponta do pé.
Não conhece nem mi nem fá
mas inclina o corpo para cá e para lá.
Não conhece nem lá nem si
Mas fecha os olhos e sorri.
Roda, roda, roda com os bracinhos no ar
e não fica tonta nem sai do lugar.
Põe no cabelo uma estrela e um véu
e diz que caiu do céu.
Esta menina
tão pequenina
quer ser bailarina.
Mas depois esquece todas as danças,
e também quer dormir
como as outras crianças.

(Cecília Meireles)
ANA E O PERNILONGO

1
Toda semana
Eu me lembro da Ana.
Para mim não há semAna
sem Ana.

2
Havia um pernilongo
chamado Lino
que tocava violino
Mas era tão pequenino
o Lino
e tocava tão fino
o seu violino,
que nunca ouvi o Lino
nem vi o Lino.

(José Paulo Paes)

O GATO

Com um lindo salto


Lesto e seguro
O gato passa
Do chão ao muro
Logo mudando
De opinião De um passarinho
Passa de novo Súbito, pára
Do muro ao chão Como assombrado
E pega corre Depois dispara
Bem de mansinho Pula de lado
Atrás de um pobre E quando tudo
Se lhe fatiga
Toma o seu banho
Passando a língua
Pela barriga
(Vinícius de Moraes)
VACAS AVACALHADAS

Vaca amarela
lambuzou a panela.

Vaca preta
se escondeu na gaveta.

Vaca azul
voou para o sul.

Vaca branca
beijou a mula manca.

Vaca pintada
fez fora da privada.

Vaca laranja
virou uma anja.

Vaca incolor
amassou o meu amor.

E só depois de muita a-vaca-lhação


dormiram em nossos sonhos
pra pastar as estrelas
da constelação.

(Almir Corrêa)
INFÂNCIA

Chutei bola na chuva,


Roubei laranja, banana,
Goiaba e uva,
Apanhei dos mais velhos,
Bati nos mais novos,
Quebrei uma dúzia de ovos,
Rachei a cabeça,
Corte o dedo,
Tremi de medo,
Escorreguei na lama,
Fiz xixi na cama,
Soltei pipa,
Esfolei o joelho,
Criei um coelho,
Andei no mato,
Perdi um sapato,
Pesquei na represa,
Ganhei um presente, tive dor de dente,
Caí do muro,
Chorei no escuro,
Faltei na escola,
Descobri um tesouro,
Libertei passarinho,
Fui uma história em quadrinhos.
(Lalau)
MEUS OITO ANOS

Oh! Que saudade que tenho


Da aurora da minha vida,
Da minha infância querida
Que os anos não trazem mais
Que amor, que sonhos, que flores
Naquelas tardes fagueiras
À sombra das bananeiras,
Debaixo dos laranjais!
[..]

(Casimiro de Abreu)

VIZINHOS

A vizinha de baixo
anda aflita pela casa
O vizinho de cima
parece que mora
numa oficina.
O vizinho do lado
dança xaxado.

Nos meus delírios


uma tv anuncia
a mais nova descoberta:
uma fábrica de silêncio.

(Roseana Murray)
PARAÍSO

Se esta rua fosse minha,


eu mandava ladrilhar,
não para automóveis matar gente,
mas para criança brincar.

Se esta mata fosse minha,


eu não deixava derrubar.
Se cortarem todas as árvores,
onde é que os pássaros vão morar?

Se este rio fosse meu,


eu não deixava poluir.
Joguem esgotos noutra parte,
que os peixes moram aqui.

Se este mundo fosse meu,


Eu fazia tantas mudanças
Que ele seria um paraíso
De bichos, plantas e crianças.

(José Paulo Paes)


LEVAVA EU UM JARRINHO

Levava eu um jarrinho
P’ra ir buscar vinho
Levava um tostão
P’ra comprar pão;
E levava uma fita
Para ir bonita
Correu atrás
De mim um rapaz:
Foi o jarro p’ra o chão,
Perdi o meu tostão,
Rasgou-se-me a fita...
Vejam que desdita!
Se eu não levasse um jarrinho,
Nem fosse buscar vinho,
Nem trouxesse uma fita
P’ra ir bonita,
Nem corresse atrás
De mim um rapaz
Para ver o que eu fazia,
Nada disso acontecia.

(Fernando Pessoa)
A PORTA

Eu sou feita de madeira.


Madeira, matéria morta.
Mas não há coisa no mundo
Mais viva do que uma porta.

Eu abro devagarinho
Pra passar o menininho
Eu abro bem com cuidado
Pra passar o namorado
Eu abro bem prazenteira
Pra passar a cozinheira
Eu abro de supetão
Para passar o capitão.

Só não abro pra essa gente


Que diz (a mim bem me importa...)
Que se uma pessoa é burra
É burra como uma porta.
Eu sou muito inteligente!
Eu fecho a frente da casa
Fecho a frente do quartel
Fecho tudo neste mundo
Só vivo aberta no céu.

(Vinícius de Moraes)
O RELÓGIO

Passa tempo, tic-tac


Tic-tac, passa hora
Chega logo, tic-tac
Tic-tac, e vai embora
Passa tempo
Bem depressa
Não atrasa
Não demora
Que já estou
Muito cansado
Já perdi
Toda a alegria
De fazer
Meu tic-tac
Dia e noite
Noite e dia
Tic-tac
Tic-tac
Dia e noite
Noite e dia
Tic-tac
Tic-tac
Tic-tac

(Vinícius de Moraes)
A ONDA

A onda anda
aonde anda
a onda?
a onda ainda
ainda onda
ainda anda
aonde?
aonde?
A onda a onda

(Manuel Bandeira)

PÊNDULO

Pra lá
E
pra cá
não dá
pra parar
de cá
vou
prá lá
de

vou
pra cá
não dá
pra parar

(Paula de Campos Elias)


OS CARAMUJOS

Os caramujos
Se escondem
Depressa
Na concha que é seu lar.
Sabem que a pressa
É melhor.....................de....................va....................gar.

(Ronaldo Simões Coelho)

O JACARÉ

É uma
La...
Gar...
Ti...
i...
i...
i...
i...
i...
xa
que espicha...
É ou não é?!

(Alexandre Azevedo)
ENGANO

Canguruzinho míope
Ao ver uma bolsa aberta:
“mamãe!”
(José Paulo Paes)

(Millor Fernandes)
NO MEIO DO CAMINHO

No meio do caminho tinha uma pedra


tinha uma pedra no meio do caminho
tinha uma pedra
no meio do caminho tinha uma pedra.

Nunca me esquecerei desse


acontecimento
na vida de minhas retinas tão fatigadas.
Nunca me esquecerei que no meio
do caminho
tinha uma pedra
tinha uma pedra no meio do caminho
no meio do caminho tinha uma pedra.

(Carlos Drummond de Andrade)

QUADRILHA

João amava Teresa que amava


Raimundo
que amava Maria que amava
Joaquim que amava Lili
que não amava ninguém.
João foi para os Estados Unidos,
Teresa para o convento,
Raimundo morreu de desastre,
Maria ficou para tia,
Joaquim suicidou-se e Lili casou
com J. Pinto Fernandes
que não tinha entrado na história.

(Carlos Drummond de Andrade)


QUADRILHA DA SUJEIRA

João joga um palitinho de sorvete na


rua de Teresa que joga uma latinha de
refrigerante na rua de Raimundo que
joga um saquinho plástico na rua de
Joaquim que joga uma garrafinha
velha na rua de Lili.

Lili joga um pedacinho de isopor na


rua de João que joga uma embalagenzinha
de não sei o que na rua de Teresa que
joga um lencinho de papel na rua de
Raimundo que joga uma tampinha de
refrigerante na rua de Joaquim que joga
um papelzinho de bala na rua de J. Pinto
Fernandes que ainda nem tinha
entrado na história.

Ricardo Azeredo

PONTINHO DE VISTA

Eu sou pequeno, me dizem,


e eu fico muito zangado.
Tenho de olhar todo mundo
com o queixo levantado.

Mas, se formiga falasse


e me visse lá do chão,
ia dizer, com certeza:
- Minha nossa, que grandão
Pedro Bandeira
A invenção do sapato

Primeiro olhou o pé do mosquito


e achou esquisito.
Depois examinou o pé do cachorro
e disse: “Socorro!”
Já o pé do elefante
achou interessante.
Mas quando juntou
o pé do sapo
e o do pato
que o inventor

chegou ao sapato.

SILVESTRIN, Ricardo.
Fonte: É tudo invenção.
RECEITA DE ACORDAR PALAVRAS
Roseana Murray

Palavras são como estrelas


facas ou flores
elas têm raízes pétalas espinhos
são lisas ásperas leves ou densas
para acordá-las basta um sopro
em sua alma
e como pássaros
vão encontrar seu caminho

Observatório da Educação/UNITAU
Projeto “Competências e habilidades de leitura: da reflexão teórica
ao desenvolvimento e aplicação de propostas didático-
pedagógicas”, nº 23038010000201076, financiado por
CAPES/INEP

Coordenação: Profa. Dra. Maria Aparecida Garcia Lopes Rossi

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