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PARTE 2- TRANSITORIEDADE E VÍNCULOS

2.1- Provisoriedade e vínculos nas instituições –abrigo: a potencialidade dos encontros (Souza, C.,
Seguim, C.; Levisky, F.; Rudge, L.; Ungaretti, S.).

• Incompatível vínculo e o caráter de provisório? Pode parecer incompatível. Mas


o trabalho no acolhimento se refere a “vinculação, pertencimento e separação”.
• Pelo ECA, abrigo (acolhimento institucional) é medica provisória e excepcional,
como transição para uma família substituta.
• Comparação de abrigo com a família (o abrigo aparece “desvalorizado”). Ex:
Casos de crianças devolvidas de família adotiva mais de uma vez.
• Winnicott- Importante a “estabilidade ambiental” para a experiência de
continuidade, para construção de vínculos, para ter segurança, para a
autonomia e tolerar a frustração.
• Winnicott- Quando considera o acolhimento de crianças na
segunda guerra aponta que ao abrigo “cabe fornecer as
as crianças as experiências de um ambiente primário estável”.

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PARTE 2- TRANSITORIEDADE E VÍNCULOS
• Para Winnicott- Abrigo é lugar de cuidado, não de abandono (p.42).
• Marin conclui que o abrigo (nos casos em que é necessário) pode
“propiciar boas condições para as crianças se desenvolverem”, para
isso, temos que relativizar o modelo único de família (não existe
família ideal).
• Não se trata de apressar, que a adoção seja o único caminho.
• Dificuldade das pessoas que trabalham no abrigo, com o fato dele
ser transitório, “logo vão sair” (quando lá, “ninguém responsável),
ou educadores subestimam muitas vezes os efeitos de separação
entre eles e as crianças.
• Freud: “transitoriedade” implica em luto, por algo perdido.
• Cyrulnik: O potencial traumático depende mais de como o sujeito a
vive, como o ambiente absorvem e que recursos o sujeito tem;
mais do que o acontecimento real.
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2.2- Fenômenos transicionais na apropriação da
família adotiva- Cynthia Peiter
• Winnicott- A descoberta da separação entre mãe e bebê, diferença entre
eu e não eu, implica em momentos de impactos.
• Perda- demanda um trabalho de luto (vazio, tristeza, depressão)
• Para facilitar esta passagem, o autor introduz “objeto transicional”
(objeto não é eu, mas não é totalmente separado dele). Ele faz parte de
ajudar no processo, ou “jornada do bebê” do puramente subjetivo para a
objetividade.
• Winnicott- Fala sobre a complexidade do luto com crianças pequenas, diz
que ela não perde só o objeto (perda do seio, ou da mãe), ela perde “o
aparelho de usar este objeto, ou seja, a boca”. E pode perder a
capacidade criativa, chegar a desesperança de redescobrir o objeto (não
busca mais).
• A boca, instrumento, ela se usa com o objeto na relação com o outro
(Freud- a criança, inicialmente, não tem zona erógena diferenciada).

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2.2- Fenômenos transicionais na apropriação da
família adotiva- Cynthia Peiter
• Se a separação for longa demais (afastamento da mãe), W. diz que o objeto
transicional perde sua função.
• E com crianças abrigadas, adotados após 2 anos, com rupturas?
• Caso clínico: Uma menina de 3 anos, que estava relutante em aceitar a
família adotiva. Não quer entrar na sala da psicóloga, arredia, chora. Traz
sempre lencinhos de papel, e brincava de tirar e colocar eles.
• Interpretação: “lenços que saiam da sua casinha e depois não conseguiam
mais voltar para dentro dela”/ interpreta o medo de sair de casa, ficar
perdida e não voltar mais.
• Lenços, depois, bolsinhas, pedia que se colassem desenhos no corpo
(tatuagens!). E saía. FUNÇÃO TRANSICIONAL DA ANÁLISE (DE UM UNIVERSO
A OUTRO- COM A ARTICULAÇÃO COM O CORPO- EU / NÃO EU).
• Objetos como garantia e segurança nas idas e vindas.
COMPLEMENTO: Para Winnicott, quando não temos acesso a história anterior da criança, só saberemos sobre seu
grau de privação, ou “se havia um ambiente suficientemente bom” se provermos um bom ambiente e observamos se a criança faz
uso dele. ESTA REFERÊNCIA É DO LIVRO CITANDO WINNICOTT.
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2.3-O lugar do educador na constituição subjetiva das crianças que
vivem em instituições de acolhimento
Autoras (cinco autoras anteriores)
• Historias das crianças/adolescentes abrigados, envolvem rupturas bruscas,
precoces, não é raro, violência física, sexual ou psíquica.
• Profissionais são tocados, pelo abandono, desespero e excesso.
• Caso: Um menino de 7 anos, agitado, abaixa as calças e pede que um bebê de
um ano e pouco “chupa, chupa”. Todos ficam horrorizados (repelem a criança,
o “ameaçador”, educadores não querem mais saber).
• O que a cena evoca? Sexualidade infantil, sugar o dedo, sugar o seio, sugar o
objeto sexual. E a violência que se coloca: criança como objeto do gozo de um
outro maior que ele (ato distorcido).
• Educadores repelem e as atuações aumentam: menino quebra uma porta de
vidro, com cacos tenta agredir a educadora.
• Para educadores, “um ser monstruoso”: sem conseguir conter seus impulsos,
acolher, eke fica novamente desamparado e frente a violência
• Trabalho: lidar com o que mobiliza, num espaço coletivo, nomear o indizível, e
a importância da rede para eles.
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Inversão – Apresentarei o Posfácio de
Isabel da Silva Kahn Marin e depois, a parte 3 (Particularidades
da clínica) e parte 4 (articulações)
• A autora diz que o livro trabalha com o que ela
tem se debruçado desde 1980.
• Fascínio do tema: evoca o fracasso das politicas
públicas e o nosso “incômodo” da orfandade, do
desamparo, da violência, da transgressão.
• Ela diz que buscou dar voz ao sujeito, e superar a
questão da exclusão, ir além de associar a pobreza
à “precariedade”, mas é ter “pouco”, no sentido
de ter o que permite o sujeito humano pertencer
a sociedade.
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Avanços nas políticas públicas
• “Inegável o avanço das políticas públicas
a) ECA (1990): Criança não mais como “menor”, menos, carente,
impotente (p. 196); mas como um “sujeito de direito”, que tem
história e faz história (reivindica, não só é dominado).
b) Convivência familiar e comunitária: Não se trata de acolher a
criança e adolescente para “protegê-lo” nos muros, mas se trata
de inserir na comunidade e manter os vínculos familiares.
c) Importância de parâmetros rígidos (Orientações técnicas:
Serviços de acolhimento para crianças e adolescentes -2009). Por
que importantes? Porque trata das equipes do abrigo, programas
de capacitação e supervisão.
• O que se mantém: Uma “dificuldade” da instituição de enfrentar
o abandono.

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Qual a sua contribuição? (Marin)
• A dificuldade para se colocar em prática o que a lei
indica é:
A) A ambivalência em relação a criança abandonada.
B) O Luto Simbólico da família ideal (acesso ao humano
e a ordem social implica a família, um outro que nos
possibilite nos tornar gente, mas amor implica em
falta, em lidar com o fato de que não existe uma
relação perfeita de amor).
A autora demonstra a necessidade de preparo dos
profissionais que trabalham nos abrigos
A) A criança abandonada (fascínio)
• O abrigo desperta o horror do abandono, nosso desamparo, medo,
hostilidade.
• Tentação é superproteger a criança (no sentido de um assistencialismo,
um cuidado amoroso, evita-se conflito, busca compensar a criança). Ex:
não colocar limites; ou colocar a cr./adolesc. em infinitas de atividades e
cursos, que pode ocupar todo tempo delas, “mas que raramente são
pensadas a partir de suas necessidades e interesses” (p.199).
• “Permissividade”, “descompromisso”, e até negligência (p.200). Ou
Permissividade, ou punições severas assistencialismo, não é o
“continente para a angústia” (que Marin refere, retomando Mannoni), e
que sem ele.
• Dificuldade de um trabalho com a família e planejamento de um
projeto (jovem) para desabrigamento. Por quê? A criança fica como
vítima e o “ódio” volta-se para o outro, família, profissional do Fórum,
escola etc.
Ex: Jovem que deseja ir para a “balada”, retorna fora do horário, recebe
uma punição severa (1 semana no quarto sem sair). 9
O que fazer? Instituição, assuma sua identidade
• Frente as dificuldades, teremos: Permissividade,
assistencialismo, punições severas, negligência, diferente de
um lugar e pessoas que funcionam como “continente” para a
angústia (e sem isso, passagens ao ato). Retoma uma autora
que fala de cuidar dos traumas deixando-se afetar, mas “nunca
apiedar” (p.204)
• Marin indica que é importante que a instituição “assuma sua
identidade, sem vergonha”, que as pessoas possam admitir a
história da criança (abandono- suportar a dor do outro), para
poder se engajar no resgate ou construção desta história.
• É importante, ou “fundamental” “potencializar as famílias”

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Psicanálise
• Psicanálise permite contribuir para uma
leitura diferenciada do assistencialismo,
como contribui para o enfrentamento da
violência (vítima/agressor). Ela retoma o
conceito de violência fundamental.
• A psicanálise vai introduzir a
responsabilidade, o inconsciente.
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Parte 3- Particularidades desta clínica
3.1- O psicanalista, a criança e a clínica institucional
Márcia Regina Porto Ferreira
• A autora relata o que tem encontrado em sua busca de uma “uma
instrumentalização teórica-clínica sobre algumas manifestações psíquicas,
predominantemente observadas em muitas crianças” com histórias de drásticas
separações com a mãe.
• Trauma é o próprio encontro da criança com o adulto, que promove inscrições
no psiquismo do bebê, e o ego metaboliza.
• Diz que atendeu crianças que passaram por violências, rupturas no início da
vida, no momento da constituição de um ego (situações de risco de vida).
• Observou vivencias de “des-ser, de des-ajuda, de perda de si” (p. 80).
• Apesar do receio de criar uma nova “classificação de crianças abrigadas” (o que
não seria isto que desejava ou pretendia), ela apresenta uma certa prevalência
destes casos.
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Parte 3- Particularidades desta clínica
3.1- O psicanalista, a criança e a clínica institucional
Márcia Regina Porto Ferreira
• Através de um caso clínico, fala sobre a contundência das cenas
traumáticas e não é raro a encenação de abusos àqueles que
acompanham a criança (repetição na transferência): “aquilo que
se viveu passivamente é imposto ao outro para que seja vivido
ativamente” (p.88).
• Para ser memória, as experiências devem ser esquecidas, mas
para serem esquecidas, simbolizadas.
• Destaca, temos o campo da fantasia, mas nestes casos, também
o da realidade concreta.
• Criança desenha, brinca, simboliza (para poder ser recalcado).
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Parte 3- Particularidades desta clínica
3.1- O psicanalista, a criança e a clínica institucional
Márcia Regina Porto Ferreira
• Frente as atuações o analista pode se colocar de forma
“defensiva”. No caso clínico, a clínica institucional funcionou
como terceiro e deu suporte a analista.
• Clínica que não se dá em quatro paredes: família de origem,
educadores, gestores do abrigo, candidatos a adoção,
Varas, Conselho tutelar, escola...
• Psicanálise contribui: Na clínica, propriamente dita e nas
intervenções nas instituições.
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Caso: PEDRO 11 anos
• Pedro foi adotado e levado ao tratamento (com 11).
• Com 5 anos, Pedro foi para abrigo, após a destituição
do poder familiar. Pedro era abusado pelo padrasto
que abusava dele e das irmãs, a mãe era conivente e
autora não se sabia se ela participava das “orgias
coletivas” (Pedro, irmãs e outras crianças).
• Padrasto que ele chamava de pai, foi morto na prisão.
• A mãe estava presa e ele não a viu mais.

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Caso Pedro
• Atuações (dramatiza ser travesti e puta, palavrões, soltava pum,
quebrava objetos e brinquedos).
• Em referência a analista:
• “Cala a boca. Não fale comigo, converse com a parede”.
• “Você é uma puta, uma bruxa”.
• Analista interpreta, mas faz corte de sessão quando era algo
muito exagerado.
• No decorrer do tratamento: da violência, ao “ninguém mais me
pega”, ou referência a outros conteúdos, como “Harry Potter”.
• A autora cita que o tratamento incluiu tratamento psiquiátrico
(utilização de medicação tinha efeito simbólico e químico)

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