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Tópicos Especiais

em Nutrição

Prof.ª Amanda Alcaraz da Silva

Indaial – 2021
1a Edição
Elaboração:
Prof.ª Amanda Alcaraz da Silva

Copyright © UNIASSELVI 2021

Revisão, Diagramação e Produção:


Equipe Desenvolvimento de Conteúdos EdTech
Centro Universitário Leonardo da Vinci – UNIASSELVI

Ficha catalográfica elaborada pela equipe Conteúdos EdTech UNIASSELVI

S586t

Silva, Amanda Alcaraz da

Tópicos especiais em nutrição. / Amanda Alcaraz da Silva –


Indaial: UNIASSELVI, 2021.

170 p.; il.

ISBN 978-65-5663-937-6
ISBN Digital 978-65-5663-938-3

1. Nutrição. - Brasil. II. Centro Universitário Leonardo da Vinci.


CDD 613

Impresso por:
APRESENTAÇÃO
Olá acadêmico, seja bem-vindo à Disciplina de Tópicos Especiais em Nutrição!
Este caderno tem como propósito auxiliar você no processo de aprendizagem acerca
da Nutrição em suas dimensões biológicas, sociais e culturais, além de possibilitar o
conhecimento de temas atuais e emergentes; novos paradigmas e tendências.

O caderno de estudo está dividido em três unidades, cada qual com objetivos,
conteúdos, atividades de estudo, dicas, sugestões e recomendações.

Na primeira unidade serão abordados temas sobre cultura e sustentabilidade


alimentar a partir de um olhar antropológico. Do tema central da unidade sucederão
dois tópicos, o primeiro remete à cultura, aos hábitos alimentares e à influência da
globalização sobre a alimentação e; no segundo, a sustentabilidade alimentar, os
alimentos orgânicos e a política e regramento do uso de agrotóxicos serão colocados
em questão. Compreender a cultura alimentar de um povo permite entender a
representação simbólica e imaginária que o ato de se alimentar implica, além disso,
a sustentabilidade alimentar é fundamental para que possamos obter alimentos em
quantidade e qualidade adequados sem comprometer o direito das gerações futuras.

Na segunda unidade será discutida a Desinformação da Área Nutrição, in-


cluindo tópicos sobre: (1) a construção do conhecimento científico, saúde baseada
em evidência científicas e por fim, o conflito de interesses na área de alimentos e (2)
prática nutricional baseada em evidências científicas, incluindo a compreensão de
como se analisa um artigo científico, como se elabora os guidelines/diretrizes e o que
é a desinformação na área da Nutrição.

Na terceira unidade serão apresentados os assuntos que estruturam novos pa-


radigmas e tendências na área de Nutrição, os quais fazem parte a Nutrição Compor-
tamental (Tópico 1) e a Nutrigenética e Nutrigenômica (Tópico 2). Nesta unidade você
irá raciocinar e aprender aspectos gerais e a aplicabilidade dessas novas tendências na
área da Nutrição.

Desejamos que apreciem a leitura!

Prof.ª Amanda Alcaraz da Silva


GIO
Olá, eu sou a Gio!

No livro didático, você encontrará blocos com informações


adicionais – muitas vezes essenciais para o seu entendimento
acadêmico como um todo. Eu ajudarei você a entender
melhor o que são essas informações adicionais e por que você
poderá se beneficiar ao fazer a leitura dessas informações
durante o estudo do livro. Ela trará informações adicionais
e outras fontes de conhecimento que complementam o
assunto estudado em questão.

Na Educação a Distância, o livro impresso, entregue a todos


os acadêmicos desde 2005, é o material-base da disciplina.
A partir de 2021, além de nossos livros estarem com um
novo visual – com um formato mais prático, que cabe na
bolsa e facilita a leitura –, prepare-se para uma jornada
também digital, em que você pode acompanhar os recursos
adicionais disponibilizados através dos QR Codes ao longo
deste livro. O conteúdo continua na íntegra, mas a estrutura
interna foi aperfeiçoada com uma nova diagramação no
texto, aproveitando ao máximo o espaço da página – o que
também contribui para diminuir a extração de árvores para
produção de folhas de papel, por exemplo.

Preocupados com o impacto de ações sobre o meio ambiente,


apresentamos também este livro no formato digital. Portanto,
acadêmico, agora você tem a possibilidade de estudar com
versatilidade nas telas do celular, tablet ou computador.

Preparamos também um novo layout. Diante disso, você


verá frequentemente o novo visual adquirido. Todos esses
ajustes foram pensados a partir de relatos que recebemos
nas pesquisas institucionais sobre os materiais impressos,
para que você, nossa maior prioridade, possa continuar os
seus estudos com um material atualizado e de qualidade.

QR CODE
Olá, acadêmico! Para melhorar a qualidade dos materiais ofertados a você – e
dinamizar, ainda mais, os seus estudos –, nós disponibilizamos uma diversidade de QR Codes
completamente gratuitos e que nunca expiram. O QR Code é um código que permite que você
acesse um conteúdo interativo relacionado ao tema que você está estudando. Para utilizar
essa ferramenta, acesse as lojas de aplicativos e baixe um leitor de QR Code. Depois, é só
aproveitar essa facilidade para aprimorar os seus estudos.
ENADE
Acadêmico, você sabe o que é o ENADE? O Enade é um
dos meios avaliativos dos cursos superiores no sistema federal de
educação superior. Todos os estudantes estão habilitados a participar
do ENADE (ingressantes e concluintes das áreas e cursos a serem
avaliados). Diante disso, preparamos um conteúdo simples e objetivo
para complementar a sua compreensão acerca do ENADE. Confira,
acessando o QR Code a seguir. Boa leitura!

LEMBRETE
Olá, acadêmico! Iniciamos agora mais uma
disciplina e com ela um novo conhecimento.

Com o objetivo de enriquecer seu conheci-


mento, construímos, além do livro que está em
suas mãos, uma rica trilha de aprendizagem,
por meio dela você terá contato com o vídeo
da disciplina, o objeto de aprendizagem, materiais complementa-
res, entre outros, todos pensados e construídos na intenção de
auxiliar seu crescimento.

Acesse o QR Code, que levará ao AVA, e veja as novidades que


preparamos para seu estudo.

Conte conosco, estaremos juntos nesta caminhada!


SUMÁRIO
UNIDADE 1 - CULTURA E SUSTENTABILIDADE ALIMENTAR:
UM OLHAR ANTROPOLÓGICO................................................................................................ 1

TÓPICO 1 - CULTURA, HÁBITOS ALIMENTARES E INFLUÊNCIA DA GLOBALIZAÇÃO........3


1 INTRODUÇÃO........................................................................................................................3
2 CULTURA E ALIMENTAÇÃO.................................................................................................4
3 CONSTRUÇÃO DO HÁBITO ALIMENTAR.............................................................................9
4 A INFLUÊNCIA DA GLOBALIZAÇÃO NA CULTURA E HÁBITO ALIMENTAR.....................14
RESUMO DO TÓPICO 1.......................................................................................................... 19
AUTOATIVIDADE................................................................................................................... 21

TÓPICO 2 - SUSTENTABILIDADE ALIMENTAR, AGROECOLOGIA,


VEGETARIANISMO E POLÍTICA E REGRAMENTO DO USO DE AGROTÓXICOS................. 23
1 INTRODUÇÃO..................................................................................................................... 23
2 SUSTENTABILIDADE ALIMENTAR................................................................................... 24
3 PRODUÇÃO ALIMENTAR AGROECOLÓGICA.................................................................... 30
4 VEGETARIANISMO COM ENFOQUE NA SUSTENTABILIDADE AMBIENTAL.................. 36
5 REGRAMENTO DO USO DE AGROTÓXICOS NO BRASIL.................................................. 38
LEITURA COMPLEMENTAR................................................................................................. 44
RESUMO DO TÓPICO 2......................................................................................................... 46
AUTOATIVIDADE.................................................................................................................. 48

REFERÊNCIAS...................................................................................................................... 50

UNIDADE 2 — DESINFORMAÇÃO NA ÁREA DA NUTRIÇÃO................................................. 61

TÓPICO 1 — CONSTRUÇÃO DO CONHECIMENTO CIENTÍFICO,


SAÚDE BASEADA EM EVIDÊNCIAS CIENTÍFICAS E CONFLITO DE INTERESSES.............. 63
1 INTRODUÇÃO..................................................................................................................... 63
2 CONSTRUÇÃO DO CONHECIMENTO CIENTÍFICO........................................................... 64
3 SAÚDE BASEADA EM EVIDÊNCIAS CIENTÍFICAS.......................................................... 65
4 CONFLITO DE INTERESSES..............................................................................................75
RESUMO DO TÓPICO 1.......................................................................................................... 81
AUTOATIVIDADE.................................................................................................................. 83

TÓPICO 2 - DESINFORMAÇÃO NA ÁREA DA NUTRIÇÃO.................................................... 85


1 INTRODUÇÃO..................................................................................................................... 85
2 COMO LER E ANALISAR UM ARTIGO CIENTÍFICO........................................................... 85
3 O QUE SÃO DIRETRIZES CLÍNICAS E COMO SE DÁ A SUA ELABORAÇÃO .................... 93
4 DESINFORMAÇÃO NA ÁREA DA NUTRIÇÃO.....................................................................97
LEITURA COMPLEMENTAR................................................................................................102
RESUMO DO TÓPICO 2........................................................................................................103
AUTOATIVIDADE.................................................................................................................105

REFERÊNCIAS.....................................................................................................................108
UNIDADE 3 — NOVOS PARADIGMAS E TENDÊNCIAS NA ÁREA DE NUTRIÇÃO............... 115

TÓPICO 1 — NUTRIÇÃO COMPORTAMENTAL......................................................................117


1 INTRODUÇÃO.....................................................................................................................117
2 NUTRIÇÃO COMPORTAMENTAL: CONCEITOS E FUNDAMENTOS TEÓRICOS...............117
3 COMPORTAMENTO ALIMENTAR E SEUS DETERMINANTES.........................................122
4 HABILIDADES INTERPESSOAIS E DE COMUNICAÇÃO PARA
O NUTRICIONISTA, COMER INTUITIVO E PLENO (MINDFULL EATING)........................... 127
RESUMO DO TÓPICO 1........................................................................................................134
AUTOATIVIDADE.................................................................................................................136

TÓPICO 2 - GENÔMICA NUTRICIONAL...............................................................................139


1 INTRODUÇÃO....................................................................................................................139
2 CONCEITOS INTRODUTÓRIOS ACERCA DA GENÉTICA.................................................139
3 NUTRIGENÉTICA..............................................................................................................143
4 NUTRIGENÔMICA.............................................................................................................150
5 EPIGENÔMICA NUTRICIONAL.........................................................................................152
LEITURA COMPLEMENTAR................................................................................................156
RESUMO DO TÓPICO 2........................................................................................................158
AUTOATIVIDADE.................................................................................................................160

REFERÊNCIAS.....................................................................................................................162
UNIDADE 1 -

CULTURA E SUSTENTABILIDADE
ALIMENTAR: UM OLHAR
ANTROPOLÓGICO

OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM
A partir do estudo desta unidade, você deverá ser capaz de:

• compreender conceitos acerca da cultura alimentar;

• entender como se dá a construção do hábito alimentar;

• reconhecer a influência da globalização na cultura e hábito alimentar;

• inter-relacionar cultura, formação de hábitos alimentares e as influências exercidas


pela globalização no processo identitário de uma população;

• compreender sustentabilidade alimentar e agroecologia;

• entender vegetarianismo e sua relação com a sustentabilidade alimentar;

• conhecer a política de regramento do uso de agrotóxicos.

PLANO DE ESTUDOS
A cada tópico desta unidade você encontrará autoatividades com o objetivo de
reforçar o conteúdo apresentado.

TÓPICO 1 – CULTURA, HÁBITOS ALIMENTARES E INFLUÊNCIA DA GLOBALIZAÇÃO


TÓPICO 2 – SUSTENTABILIDADE ALIMENTAR, AGROECOLOGIA, VEGETARIANISMO E
POLÍTICA E REGRAMENTO DO USO DE AGROTÓXICOS

CHAMADA
Preparado para ampliar seus conhecimentos? Respire e vamos em frente! Procure
um ambiente que facilite a concentração, assim absorverá melhor as informações.

1
CONFIRA
A TRILHA DA
UNIDADE 1!

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2
UNIDADE 1 TÓPICO 1 -
CULTURA, HÁBITOS ALIMENTARES E
INFLUÊNCIA DA GLOBALIZAÇÃO

1 INTRODUÇÃO

Caro acadêmico! Você sabe o que é cultura alimentar? Sabe que o Brasil por
ser resultado de um processo de miscigenação apresenta influências portuguesas,
africanas e indígenas na sua cultura alimentar e por consequência, na formação de
seus hábitos alimentares?

Neste tópico além da cultura alimentar, será discutida a construção do hábito


alimentar, o qual é influenciado pela cultura de um povo, disponibilidade de alimentos,
crenças, padrões, condições socioeconômicas etc. Afinal, por que esses temas são
relevantes para formação do nutricionista? O conhecimento desses conceitos e
suas interfaces permitirá atender um paciente/cliente de uma forma mais plena e
competente?

Você sabe que o processo de globalização impacta de forma importante a


cultura e os hábitos alimentares? Como isso se apresenta? Quem são os atores, quais
impactos podem ser observados? Aumento da incidência de excesso de peso? Maior
consumo de alimentos processados?

A sustentabilidade alimentar, a alimentação orgânica e o uso de agrotóxicos são


temas importantes que impactam o presente e o futuro das novas gerações, você sabia
disso? Como tornar nossas escolhas alimentares mais sustentáveis? O equilíbrio com a
natureza determina nossas condições de vida?

As reflexões sobre cultura alimentar, formação de hábitos alimentares, o pro-


cesso de globalização e a sustentabilidade são temas centrais na formação do nutri-
cionista como profissional da área da saúde que presta cuidado nutricional a pacientes
com hábitos diversos, uma vez que o Brasil é um país com dimensões continentais.
Sendo assim, no Tópico 1 serão abordados temas que possibilitarão aprofundar esse
entendimento.

3
2 CULTURA E ALIMENTAÇÃO
A palavra cultura é originária do latim e apresenta uma variedade de significados,
o dicionário Aurélio coloca como sinônimos para palavra: instrução, saber, cultivo, apuro
e conhecimento. Ao adotar um conceito, pode-se dizer que consiste em um conjunto
de conhecimentos e hábitos de um povo ou de uma sociedade, no entanto, existe uma
dificuldade em esgotar sua concepção conceitual (FERREIRA, 1999, p. 591).

A definição de cultura suscita debates, no entanto, destaca-se que ela é fruto


de um aprendizado, uma vez que conhecimentos e tradições são repassados às novas
gerações com particularidades que remetem à identidade de um povo. A unidade de um
grupo não é somente determinada pela língua, mas também perpassa as escolhas do
que comer, como comer e por que comer (BURKE, 2010).

O ato de comer não se extingue em simplesmente atender a uma necessidade


fisiológica inerente ao ser humano, o qual determina sua força vital, mas também um
ato social, cultural e político. Quando se considera a comida como um patrimônio de
um povo, expressa-se a importância da relação da cultura alimentar com a soberania e
segurança alimentar e nutricional (AZEVEDO, 2017).

No cenário da cultura alimentar pode-se inferir que ela é o saber fazer, o falar,
o ritual, a ancestralidade, ela expressa a identidade de povos e grupos sociais ao longo
do tempo. Está ligada à história, ao ambiente e às exigências impostas ao grupo social
pelo dia-a-dia. Cada sociedade estabelece um conjunto de códigos alimentares, que
tem nas suas práticas a consolidação das suas tradições e inovações (AZEVEDO, 2017).

No campo da Nutrição, Silva et al. (2010) destacam que ao atribuir um sentido ao


comer e torná-lo racionalizado e biologicista, ou seja, o ato que atende às necessidades
fisiológicas regidas pela sobrevivência da espécie, desconsidera-se uma concepção de
cultura, a qual inclui aspectos simbólicos e imaginários que permeiam o alimento, o ato
se alimentar e a formação do hábito alimentar.

Por outro lado, quando se emprega o conceito de Alimentação estão implícitos


os inúmeros sentidos e significados, ritos e símbolos, saberes e práticas na criação
histórico-cultural das sociedades, ao longo do tempo (SILVA et al., 2010).

É importante destacar que a cultura não é algo estático, nem acabado, mas
um conjunto simbólico em constante transformação, seja por mudanças/desafios
climáticos, tecnológicos, ou por meio de contato com outras culturas (LIMA; NETO;
FARIAS, 2015).

Nesse contexto, observa-se perspectivas diferentes sobre o alimento, o real,


dimensão biológica, o qual confere energia e nutrientes para manutenção da vida, além
de sua conotação preventiva e de tratamento de diversas doenças; o simbólico, quando

4
se afirma que o alimento é “saudável”, “comestível”, “não comestível”, “bom” ou “ruim” e,
por fim, o imaginário, que se caracteriza por construções inventadas e culturalmente
valorizadas do que é saudável (LIMA, NETO; FARIAS; 2015).

Na perspectiva sociológica, a alimentação humana é um ato social e cultural


e, dessa forma, faz com que sejam produzidos diversos sistemas alimentares.
Fazem parte desses sistemas fatores de ordem ecológica, histórica, cultural, social
e econômica, os quais implicam representações e imaginários sociais envolvendo
escolhas e classificações. Desse modo, quando se entende que a alimentação humana
está permeada pela cultura, é possível pensar os sistemas alimentares como sistemas
simbólicos em que códigos sociais estão presentes atuando no estabelecimento de
relações dos homens entre si e com a natureza (MACIEL, 2005).

Ao esclarecer o assunto, Da Mata (1987) categoriza dois conceitos e os diferencia


quando distingue alimento de comida, sendo o primeiro qualquer substância nutritiva
que possa ser ingerida para manter a vida, e comida diz respeito a tudo o que se come
com prazer, que segue regras sociais e é dotada de cultura.

A comida é expressão da cultura, conforme Montanari (2008), não só quando


produzida, no entanto, também quando preparada e consumida. O autor destaca ainda
que um povo/sociedade não se alimenta somente do que a natureza oferece, mas criam
alimentos, os preparam seguindo técnicas, escolhendo conforme critérios culturais, o
que abrange aspectos reais, simbólicos e imaginários do alimento.

Maciel (2005) destaca que na construção de identidades sociais/culturais,


elementos culturais, como a comida, podem se transformar em marcadores identitários,
apropriados e utilizados pelo grupo como símbolos de uma identidade reivindicada.
Nesse contexto, Sophie Bessis (1995, p.10 apud MACIEL, 2005, p. 50) afirma: “Dize-
me o que comes e te direi qual deus adoras, sob qual latitude vives, de qual cultura
nascestes e em qual grupo social te incluis. A leitura da cozinha é uma fabulosa viagem
na consciência que as sociedades têm delas mesmas, na visão que elas têm de sua
identidade.”

A cozinha de um grupo/povo é algo particular, singular, reconhecível ante outras


cozinhas, ou seja, suas tradições diferenciam-se das demais culturas, ademais, ela não
é estática, mas está em constante transformação/reconstrução e assim é considerada
um referencial identitário (MACIEL, 2005).

A construção de uma cozinha em um país colonizado, como o Brasil, se dá


de várias maneiras, primeiro que o deslocamento de grandes distâncias por meio da
navegação, como por exemplo, da Europa (Portugal) para o Brasil e da África para o
Brasil, fez com que os indivíduos que se deslocaram trouxessem suas tradições,
preferências, interdições etc. Para manterem-se conectados à sua terra de origem,

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em suas bagagens trouxeram plantas, animais e temperos e acabaram por mesclar
com alimentos e preparações locais, favorecendo assim uma riqueza cultural ligada à
alimentação (MACIEL, 2005).

Em virtude da “viagem dos alimentos” entre os continentes, como por exemplo,


as culturas do milho, dos feijões, da batata etc. que chegaram à Europa oriundas das
Américas passaram a fazer parte da alimentação dos povos europeus (MACIEL, 2005).

Nessa conjuntura Da Mata (1987) expõe a partir da associação do arroz com


feijão, a combinação do sólido com o líquido, do negro com o branco, e por fim esse
prato do cotidiano dá origem à feijoada, símbolo unificador do povo brasileiro.

Vale destacar que o feijão com arroz é o prato do dia-a-dia, enquanto a feijoada
é especial, fora do comum, uma vez que quando se convida um estrangeiro à mesa, é
tradição oferecer a feijoada, para que ele possa conhecer a cultura alimentar brasileira,
denominada por Da Mata (1987) como “carteira de identidade alimentar brasileira”.

Além da feijoada e do feijão com arroz que unificam o país, destacam-se as


cozinhas regionais, as quais são bastante diversificadas devido às condições históricas,
culturais e ambientais. Algumas preparações remetem à uma região específica e seus
habitantes, como por exemplo, o acarajé e o vatapá à Bahia; tapioca e baião-de-dois
ao Ceará; pão de queijo à Minas Gerais; tucupi ao Norte e o churrasco aos gaúchos (DA
MATA, 1987).

Um prato que pode ser considerado a síntese dos três povos formadores da
nossa identidade nacional é o vatapá, pois tem a farinha de trigo dos portugueses,
o azeite de dendê dos africanos e o amendoim e a castanha de caju dos índios. Tal
preparação representa a nossa miscigenação e traduz o processo de colonização e
escravidão que marca a formação do povo brasileiro (DA MATA, 1987).

O ser humano é um ser social, portanto, compartilha, troca e experimenta


vivências em grupo e, sendo assim, quando se reflete sobre a história do homem, a
história da alimentação atravessa e se agrega de forma permanente. A partilha de
alimentos, denominada comensalidade é uma rotina do Homo Sapiens desde o tempo
da caça e coleta (MOREIRA, 2010).

A palavra comensalidade deriva do latim “mensa” que significa conviver à mesa


e envolve além do padrão alimentar (o que se come) mas também, como se come. Nesse
cenário, a comensalidade deixou de ter somente uma conotação biológica para alcançar
uma estrutura de organização social e assim a sociabilidade manifesta-se na comida
compartilhada (MOREIRA, 2010; POULAIN, 2013).

6
Vale destacar que independentemente do local de alimentação, à mesa com
familiares ou com amigos ou colegas de trabalho; ou em uma toalha sobre o chão; ou
em um carro em uma viagem, os comensais estão sempre fazendo escolhas permeadas
pela sua cultura (SANTOS, 2008; CARVALHO; LUZ; PRADO, 2011).

FIGURA 1 – COMENSALIDADE

FONTE: Guia alimentar para população brasileira (BRASIL, 2014, p.102)

A cultura se manifesta, de acordo com Carvalho, Luz Prado (2011), ao escolher


o que comer; como comer (uso de talheres, com a mão etc.); quanto comer; com quem
comer ou porque comer (celebração, cotidiano, um projeto de corpo, um desejo, uma
lembrança, uma negociação profissional etc.).

A comensalidade pode ser entendida sob um olhar vertical, que diz respeito às
relações à mesa que estabelecem uma hierarquia, como posição e comidas especiais
ou até mesmo quantidade de comida que se servem a determinados comensais;
enquanto o olhar horizontal estabelece da igualdade entre os comensais (CARVALHO;
LUZ; PRADO, 2011).

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O ato de preparar comida para ofertar aos outros faz parte da comensalidade
e nos remete ao sentido de agregar e socializar, mas por outro lado há também a
possibilidade de agredir e excluir, como por exemplo ofertar carne a um indivíduo que é
vegano ou carne suína a mulçumanos e judeus, entre outros (SANTOS, 2008).

DICAS
Caro acadêmico! As várias nuances da comensalidade que permitem a
socialização por meio da comida, e é uma particularidade essencialmente
humana, nos ajuda entender a trajetória humana na terra com seus
rituais e simbolismos ligados ao ato de se alimentar, caso tenha
interesse em conhecer mais sobre o assunto assista ao vídeo da
professora Shirley Donizete Prado, acesse em: https://www.youtube.com/
watch?v=h5Yc24eXGms&t=173s.

Os sentidos utilizados na comensalidade geram experiências mnemônicas,


as quais denomina-se memória afetiva, nesse contexto, a comida é capaz de nos
transportar para outros lugares, infância, juventude; nos trazer sensações, dificuldades,
desconfortos, traumas etc., sendo assim, memória e comidas se convergem e misturam,
gerando memória gustativa (STEFANUTTI; GREGORY; KLAUCK, 2018).

Sob o eixo comida é memória, afeto e identidade, tema do Fórum Brasileiro de


Soberania e Segurança Alimentar e Nutricional do ano de 2015, destacou-se a obra do
romancista francês Marcel Proust, o qual pontuou que o olfato e o paladar têm poder
de convocar o passado. Ele atribuiu à uma Madeleine (bolinho de limão em forma de
concha) e à uma xícara de chá o acesso a um período esquecido de sua infância e assim
escreveu a obra “Em busca do tempo perdido”.

Quando se reflete acerca da nossa memória gustativa, as emoções reverberam


e dessa forma, escolhe-se os alimentos/preparações/comidas, assim come-se o que
se gosta e o que a nossa história cultural prescreve. O pensamento ou lembrança de
um prato favorito evoca imagens, emoções, sentidos e memória e nessa mistura não há
como separar os componentes (KAUFMAN, 2013).

Tal conhecimento, afirma Kaufman (2013), expõe a dificuldade em mudar hábitos


alimentares focando apenas em bases racionais, pois a alimentação transpõe sentimen-
tos (prazer, angústia, ansiedade etc.), cultura, memória e condições socioeconômicas.

8
Resumindo, é impossível esgotar as questões e as temáticas referentes ao
campo social e cultural da comida, mas é importante e fundamental instigar a curio-
sidade, o estudo e o aprofundamento de tais temas a fim exercer uma visão ampla no
campo da Alimentação e Nutrição. Faz-se importante a contraposição da ideia de que o
ser humano pode ser entendido somente em seu aspecto biológico e adotar um ponto
vista mais amplo em que se ressaltam as questões sociológicas, culturais e ecológicas
acerca do ato de se alimentar.

3 CONSTRUÇÃO DO HÁBITO ALIMENTAR


Padrão alimentar, hábito alimentar e comportamento alimentar são conceitos
interligados, que se complementam e se confundem, utilizados no campo da Alimentação
e Nutrição, portanto, é preciso entendê-los e diferenciá-los para que se possa evitar
visões simplificadoras e estanques acerca da dimensão biológica e sociocultural dos
indivíduos/grupo (VAZ; BENNEMANN, 2014; KLOTZ-SILVA; PRADO; SEIXAS, 2016).

De acordo com Freitas, Minayo e Fontes (2011), o hábito alimentar corresponde


à adoção de práticas relacionadas a costumes, que muitas vezes atravessam gerações,
de acordo com a possibilidade de aquisição dos alimentos e com uma sociabilidade
construída no âmbito familiar e comunitário, compartilhada e atualizada por dimensões
da vida social. Contribuem para isso as pressões sociais e culturais, as quais determinam
como um indivíduo ou grupo seleciona, prepara, consome e quantifica porções.

Para Freitas et al. (2012), o hábito alimentar relaciona-se com a percepção


individual sobre a comida ao logo da vida e essa percepção não se limita somente ao
eixo racional, mas resulta também de uma infinita rede de símbolos que refletem a
realidade subjetiva e o cotidiano do seu corpo. Os autores apontam ainda que hábitos
e comportamentos podem ser parecidos e ter, ao mesmo tempo, diferenças de sentido.

Em resumo, o hábito alimentar refere-se a comportamentos aprendidos


e repetidos de forma automática (ALVARENGA; KORITAR; MORAES, 2019). O
comportamento alimentar diz respeito a todas as formas de convívio com o alimento que
estão associados a atributos socioculturais, abrangendo aspectos subjetivos (indivíduo)
e coletivos (CARVALHO et al., 2013).

Klotz-Silva, Prado e Seixas (2016) destacam que, de maneira geral, o termo


comportamento se tornou atualmente sinônimo de ação e nesse cenário, Seixas e
Birman (2012) complementam e trazem à reflexão o estudo sobre a obesidade, que
muitas vezes reforça e dissemina a ideia do senso comum de que essa doença é
causada por fraquezas individuais.

9
Sob uma perspectiva biomédica emerge um outro entendimento que associa
os conceitos acerca do hábito e do comportamento alimentar ao tipo de ingestão
alimentar contumaz realizado por um indivíduo ou grupo (KAMIL, 2013). Nesse tipo de
análise examina-se o tipo de alimento ingerido, a frequência e o modo, nomeando essa
ingestão como hábito ou comportamento, sem diferenciá-los.

Vale destacar que, de acordo com Klotz-Silva, Prado e Seixas (2016), essa é uma
visão mais tradicional no campo da Alimentação e Nutrição, que entende o alimento
simplesmente como fonte de nutrientes e o comportamento/hábito como meio para
diagnosticar e tratar doenças apoiados por uma norma científica (RIBEIRO et al., 2011;
PIASETZKI; BOFF, 2018).

O Guia Alimentar Para a População Brasileira (BRASIL, 2014) pontua que a de-
finição de alimentação é “mais que ingestão de nutrientes” e “tem aspectos culturais e
sociais, que envolvem escolha, consumo, padrão, atitudes e comportamentos alimen-
tares”, os quais sofrem influência das motivações para comer. Essas nomenclaturas e
definições estão organizadas no Quadro 1.

QUADRO 1 – DEFINIÇÕES DOS ASPECTOS ALIMENTARES E NUTRICIONAIS

Nomenclatura Definição

Alimentação Relações humanas mediadas pela comida.

Ciência com foco no estudo dos nutrientes e suas ações


Nutrição
no organismo.

Substância ingerida a fim de favorecer a formação, o


Alimento
desenvolvimento e a manutenção do organismo.

Diz respeito a tudo que se come associado à uma carga


Comida simbólica e ao prazer, de acordo com regras sociais e
dotado de cultura.

Fome Necessidade fisiológica de comer sem relação emocional.

Saciedade Sensação de plenitude gástrica, sem fome.

Motivação alimentar Causa que nos leva a comer determinado alimento/comida.

Consumo alimentar Ingestão de alimentos.

Comportamento Ações em relação ao ato de comer, ou seja, como, quando


alimentar e de que forma comemos.

Comportamentos aprendidos e repetidos de forma


Hábito alimentar
automática.

FONTE: Adaptado de Alvarenga, Koritar e Moraes (2019 p. 27)

10
Sendo assim, as escolhas alimentares podem ser determinadas por fatores bio-
lógicos (perfil genético e homeostasia), fatores cognitivos/psicológicos (preferências,
influências familiares, emoções, percepções sensoriais etc.) e fatores ambientais (cultu-
ra, condições socioeconômicas, mídia, religião, escolaridade etc.) (EGUILAZ et al., 2017).

No que diz respeito às questões biológicas destaca-se o Sistema Nervoso


Central (SNC), especialmente o hipotálamo, como região do cérebro bastante estudada
por modular os sinais de forme e saciedade, tão importantes em manter a sobrevivência
do organismo (GONZÁLEZ-JIMÉNEZ; SCHMIDT RIO-VALLE, 2012; DE SILVA, BLOOM,
2012; KLOCKARS, LEVINE, OLSZEWSKI, 2019).

Vale destacar que todas regiões hipotalâmicas envolvidas no controle neural da


ingestão de alimentos estão interconectadas e recebem estímulos hormonais (insulina,
leptina, colecistoquinina) e sinais procedentes do sistema digestório (grelina, peptídeo
YY etc.) (EGUILAZ et al., 2017).

Além da circuitaria neuronal envolvida na modulação da ingestão alimentar, o


consumo ligado ao prazer torna o entendimento acerca do apetite mais complexo, uma
vez que ao comer um alimento/uma preparação os seres humanos sentem uma série
de sensações prazerosas ligadas ao olfato (aroma), textura, visão e inclusive ao barulho
associado à crocância. Ao fim, todos esses estímulos chegam ao SNC e reforçam uma
sensação prazerosa associada à experiência alimentar (KREGER; LEE; LEE, 2012).

As experiências gustativas prévias, quando positivas, tendem a influenciar no


reforço daquela sensação e consequentemente na sua repetição sucessiva. Os primei-
ros estímulos vivenciados pelo ser humano ocorrem durante a vida intrauterina e a ama-
mentação, os quais parecem influenciar as escolhas alimentares no futuro e, por con-
seguinte, a construção do hábito alimentar (SCAGLIONI; SALVIONI; GALIMBERTI, 2008).

O leite humano (LH) possibilita ao bebê a sensação de diversos sabores, pois


a dieta materna influencia a palatabilidade do LH e dessa forma, favorece a adaptação
a novos sabores quando for iniciada a introdução da alimentação complementar
(SCAGLIONI; SALVIONI; GALIMBERTI, 2008; NICKLAUS, 2017).

Sobre as influências externas na construção do hábito alimentar, os estudos


têm associado a renda e a escolaridade como fatores determinantes de escolhas
alimentares. Para exemplificar tal afirmação, toma-se como exemplo o preço dos
alimentos que compõem uma dieta saudável, como frutas, verduras, hortaliças, grãos
integrais, carnes e lacticínios com baixo teor de gordura, os quais apresentam preço
mais elevado quando comparados a alimentos com alto teor de gordura, açúcares,
sódio, corantes, conservantes etc. (LINDEMANN; OLIVEIRA; MENDOZA-SASSI, 2016;
CANUTO; FANTON; LIRA, 2019).

11
A mídia é um instrumento de transmissão cultural bastante poderoso, é
também mediador de hábitos alimentares e impõe um padrão de beleza à sociedade.
Nesse contexto, o gênero feminino é bastante afetado e sujeito ao adoecimento por
internalizar padrões de beleza inatingíveis associados ao baixo peso corporal (BARBOSA;
SILVA, 2016; UCHÔA et al., 2019).

Além de trazer adoecimento pelo regramento rigoroso do peso corporal como


sinônimo de beleza, a mídia veicula destaque aos alimentos ricos em açucares, gordura,
sódio, impactando negativamente na formação alimentar de crianças e adolescentes e
distorcendo os hábitos de adultos e idosos (COSTA; HORTA; SANTOS, 2013; UCHÔA et
al., 2019).

As escolhas alimentares e, por conseguinte, os hábitos alimentares são mol-


dados pela cultura, tradição, crenças e religião, conforme destaca Azevedo (2017). Em
consonância, o estudo exploratório de Semedo, Leitão, Moura (2020), o qual avaliou a
influência da religião na alimentação das comunidades católicas e adventistas do sé-
timo dia, em Cabo Verde, apontou que os adventistas do sétimo dia são influenciados
diariamente nas suas escolhas alimentares pela religião, quer na compra quer no con-
sumo de alimentos, enquanto os católicos são influenciados em momentos pontuais:
quarta-feira de cinzas e nas sextas-feiras que precedem a Páscoa.

O ambiente familiar exerce um papel bastante relevante na formação dos


hábitos alimentares, principalmente para crianças e adolescentes. O guia alimentar
para crianças brasileiras menores de dois anos recomenda que a partir de um ano
de vida a criança passe a ingerir os alimentos/preparações consumidas pela família
(BRASIL, 2019a).

FIGURA 2 – AMBIENTE FAMILIAR E ALIMENTAÇÃO

FONTE: Guia alimentar para crianças brasileiras menores de 2 anos (BRASIL, 2019a, p.10)

12
Nas últimas décadas a família brasileira vem passando por transformações
que modificaram a dinâmica das refeições realizadas em casa, uma vez que se
consolidou a emancipação das mulheres e seu acesso ao mercado de trabalho. Apesar
dessas mdanças, a família ainda representa papel central na formação de hábitos
alimentares na infância e adolescência. Nesse cenário, os estudos encaminhados no
Brasil e exterior destacam que os hábitos da família têm impacto sobre as escolhas
alimentares na infância e por conseguinte sobre o estado nutricional de crianças
e adolescentes (CAMARGO et al., 2013; SCAGLIONI et al., 2018; UTTER et al., 2018;
VIEIRA; OLIVEIRA; MELLO, 2019).

O som, a iluminação, o conforto e as condições de limpeza interferem na quan-


tidade de alimentos ingeridos, bem como no modo de consumo. Essas características
são exploradas por restaurantes e redes de fast food. Lugares mais silenciosos, propi-
ciam que o indivíduo se concentre sobre o ato de comer e o faça de forma mais lenta,
enquanto lugares barulhentos e cheios estimulam o consumo rápido (BIRCH, 1999).

Alvarenga, Koritar e Moraes (2019) esclarecem que os determinantes psicoló-


gicos atrelados ao hábito alimentar englobam fatores mais subjetivos, com grande im-
pacto nas motivações para escolha de alimentos, podendo resultar em preferências e
aversões. Vale destacar que a Psicologia considera que o comer é um processo perme-
ado pelas relações, está carregado de significado emocional e, portanto, existe relação
íntima entre alimentação e afetividade (BATISTA; LIMA, 2013).

A associação entre alimentação e emoções permite inferir que a comida é meio


de prazer, desejo e satisfação emocional, além disso, carrega lembranças e memórias
(MENNUCCI; TIMERMAN; ALVARENGA, 2019).

Ao propor mudanças de comportamento e hábitos alimentares é preciso lembrar


que o alimento nutre o nosso corpo e permite a continuidade da vida, mas não se pode
esquecer que a “comida” é carregada de símbolos, ligados ao comer, ao corpo e ao
viver, portanto respeitar crenças, tradições, emoções e trajetória de vida são essenciais
para que se tenha também prazer por meio da alimentação e não somente nutrientes
(ALVARENGA; KORITAR; MORAES, 2019).

DICAS
Caro acadêmico! Assista ao vídeo da nutricionista Sophie Deram que
discorre sobre a recomendação de médicos e nutricionistas acerca da
reeducação alimentar, o que pode assustar muitos pacientes, pois lhes
remetem a restrições alimentares. No vídeo, Sophie Deram explica ainda,
mudanças comportamentais que podem ser sustentadas e que ao mesmo
tempo podem trazer prazer com a alimentação. Acesse em: https://www.
youtube.com/watch?v=xGSL3kJRML0.

13
4 A INFLUÊNCIA DA GLOBALIZAÇÃO NA CULTURA E
HÁBITO ALIMENTAR
O termo globalização foi elaborado na década de 1980, mas sua origem remete
ao período das grandes navegações no século XVI, momento em que o comércio de
mercadorias se ampliou para outras nações. Sendo assim, a globalização é um processo
de expansão econômica, política e cultural que envolve o mundo todo (MARIANO, 2007).

Com a globalização houve expansão das tecnologias de transporte e


comunicação, tornando deste modo, as distâncias entre os países menores e por
consequência entre as pessoas, acelerando a velocidade das comercializações entre os
países (MARIANO 2007).

Incluída nessa remodelação já antiga, mas com diversos nuances e fortaleci-


mento a partir da década de 1980, a cultura alimentar sofreu e sofre transformações o
tempo todo, uma vez que a cultura não é estática, mas está sempre em construção e
reconstrução (GARCIA, 2003).

As novas demandas geradas pelo modo de vida urbano redimensionou o ato


de se alimentar a partir das condições colocadas pelo processo de globalização, nessa
mudança destacam-se os seguintes itens relacionados ao ato de comer, como o tempo
gasto para tal, os recursos financeiros, os locais disponíveis para se alimentar, o local e a
periocidade das compras de gêneros alimentícios etc. (GARCIA, 2003, MOREIRA, 2010).

A fim de atender as demandas da vida urbana, como destaca Garcia (2003), que
na maioria das vezes é acelerada e com pouco tempo disponível para si, para família e
amigos, a indústria de alimentos e o comércio apresentam alternativas e determinam
uma nova forma de se alimentar nos espaços urbanos e por conseguinte contribuem
para mudanças no comportamento e hábito alimentar.

Nesse contexto, Garcia (2003) e Moreira (2010) caracterizam a comensalidade


contemporânea pela escassez de tempo para o preparo e consumo de alimentos;
pela presença de produtos gerados com novas técnicas de conservação e de preparo,
que agregam tempo e trabalho; pela imensa variedade de itens alimentares; pelos
deslocamentos das refeições de casa para estabelecimentos que comercializam
alimentos (restaurantes, lanchonetes, vendedores ambulantes, padarias etc.); pela
crescente oferta de preparações e utensílios transportáveis; pela oferta de produtos
provenientes de várias partes do mundo; pelo arsenal publicitário associado aos
alimentos; pela flexibilização de horários para comer agregada à diversidade de
alimentos; e pela crescente individualização dos rituais alimentares.

A globalização atinge a indústria de alimentos, o setor agropecuário, a distribuição


de alimentos em redes de mercados e em cadeias de lanchonetes e restaurantes, ou
seja, tem impacto nos pequenos e grandes comércios ligados ao ramo da alimentação
(GARCIA, 2003).
14
O mercado agrícola no século XX modificou o modo de produzir, vender e
consumir alimentos. Na atualidade, o sistema agroalimentar caracteriza-se pelo intenso
uso de fertilizantes, pesticidas, sementes híbridas ou geneticamente modificadas,
monoculturas e mecanização do trabalho. Concomitantemente, o gado criado para
o abate é mantido sob confinamento, o que demanda espaço, água e alimentação
para mantê-lo, tais exigências acabam por agredir o meio ambiente e não viabilizam a
sustentabilidade (GARSON; SOUZA, 2018).

Os mesmos autores ponderam que o sistema agroalimentar adotado resulta


em um produto único, ou seja, encontra-se os mesmos produtos, modos de preparo,
restaurantes e lanchonetes em diferentes países e cultura.

Nesse contexto, Moreira (2010) distingue comida de casa e comida da rua, a de


casa reflete o alimento preparado por alguém e servido para alguém, enquanto, a de rua
é preparada por um profissional especializado seguindo normas técnicas.

Na rotina diária, normalmente, os comensais urbanos alimentam-se no horário


do almoço de forma rápida e deixam a comensalidade para o jantar ou para refeições
aos finais de semana, momento em que há mais tempo e calma. Nessa esteira de
aceleração da vida cotidiana, as refeições com a família, o preparo de alimentos, as
receitas tradicionais e a conversa ao redor da mesa perdem cada vez mais espaço
(COLLAÇO, 2004; MOREIRA, 2010).

A globalização tem contribuído para a hegemonia das culturas alimentares, um


exemplo disso, são as redes de fast food, um fenômeno local que se tornou globalizado
com muito sucesso. Nos países em desenvolvimento, o caso do Brasil, os efeitos obser-
vados são de caráter econômico, ecológico, histórico, social e cultural (PROENÇA, 2010).

De acordo com Moreira (2010) a transferência das refeições do espaço familiar


para a rua, muitas vezes acarreta concentração de volume a ser consumido em uma ou
duas refeições ao longo do dia e em risco microbiológico.

Os fatores que levam uma população a aderir ao consumo de alimentos/


preparações que não fazem parte da sua cultura são o preço, a praticidade, a rapidez no
preparo ou consumo, ou influência da mídia (GARCIA, 2003).

Até mesmo as comunidades rurais são alcançadas pelo consumo de alimentos


de preparo rápido, reduzindo sua ingestão de frutas, verduras e hortaliças, tornando a
sua alimentação limitada e assim favorecendo o ganho de peso excessivo e o aumento
do risco para doenças crônicas não transmissíveis (GARCIA, 2003; MOREIRA, 2010).

Dados divulgados pela Pesquisa de Orçamento Familiar (POF) 2017-2018


apontam que comer fora de casa tem sido uma opção para cada vez mais brasileiros, do
total das despesas com alimentação, 32,8% são gastos com refeições fora do domicílio
(IBGE, 2020).

15
De acordo com a pesquisa anterior, realizada entre 2008-2009, a alimentação
fora do domicílio na área rural era de 13,1% e passou para 24% (2017-2018), enquanto na
área urbana permaneceu estável, cerca de 33% (IBGE, 2020).

As despesas com cereais, leguminosas e oleaginosas, produtos utilizados para


o preparo de refeições, vêm caindo ao longo do tempo, de 10,4% em 2003, para 5% em
2017-2018 (Figura 3) (IBGE, 2020).

FIGURA 3 – DISTRIBUIÇÃO DA DESPESA FAMILIAR COM ALIMENTAÇÃO NO DOMICÍLIO

FONTE: <https://bit.ly/3f999Uy>. Acesso em: 6 abr. 2021.

A redução das distâncias, o comércio intenso entre os países, a circulação


intensa de pessoas propiciou a propagação do coronavírus e com isso observou-se a
instalação da pandemia da COVID-19 no ano de 2020. As mudanças verificadas no estilo
de vida do brasileiro, incluindo alterações nos hábitos alimentares, foram evidenciadas
no estudo transversal realizado por Malta et al. (2020). Fizeram parte da amostra
45.161 indivíduos com 18 anos ou mais, e dentre os aspectos avaliados destacou-se,
com o confinamento, a elevação do consumo de alimentos processados (congelados,
salgadinhos, biscoitos etc.) e de bebidas alcoólicas.

16
Garcia (2003) enfatiza que o processo de globalização amplia a diversidade
alimentar, mas ao mesmo restringe, uma vez que há comercialização de um mesmo
menu de opções no mundo globalizado. Ademais, a autora questiona sobre como as
diferentes culturas, inclusive a nossa, absorvem esse padrão? Como se acomoda? E
quais mudanças podem ser geradas no nosso repertório culinário, ou seja, na nossa
cultura alimentar?

INIQUIDADES SOCIAIS NO CONSUMO ALIMENTAR NO BRASIL: UMA REVISÃO


CRÍTICA DOS INQUÉRITOS NACIONAIS

Raquel Canuto
Marcos Fanton
Pedro Israel Cabral de Lira

INTRODUÇÃO

As doenças crônicas não transmissíveis (DCNT) são a principal causa de


mortalidade no Brasil. Em parte, isso é explicado pela rápida transição nutricional
experienciada pelo país nas últimas décadas. O processo de urbanização e
industrialização, consequentes do desenvolvimento econômico brasileiro, somados
à globalização, mudaram a forma como se produz, distribui e consome os alimentos.
A partir disso, pode-se observar as altas prevalências de desnutrição serem
gradualmente substituídas pelo sobrepeso e obesidade.

Contudo, a distribuição desses agravos não ocorre de forma homogênea na


população e pode revelar importantes iniquidades sociais. Já está bem estabelecida
na literatura a influência das características socioeconômicas nos hábitos de vida,
nos agravos crônicos e na expectativa de vida. A direção da associação entre
nível socioeconômico e obesidade, por exemplo, varia de acordo com o nível de
desenvolvimento dos países. Nos países desenvolvidos, os indivíduos com menor
escolaridade e renda são mais propensos a desenvolver obesidade do que indivíduos
de grupos socioeconômicos mais elevados. No entanto, nos países da baixa e média
renda, essa associação é inversa. Já a associação entre nível socioeconômico e
qualidade da dieta – um importante mediador na relação entre nível socioeconômico
e obesidade – embora esteja bem estabelecida em países desenvolvidos, ainda é
pouco estudada em países de baixa e média renda, como o Brasil.

O Brasil é um país extremamente desigual e foi o primeiro país a criar a


sua própria comissão nacional sobre determinantes sociais da saúde (CNDSS), em
2006. Com isso, integrou-se ao movimento global em torno do assunto e deu um
passo fundamental para a discussão da importância dos determinantes sociais na
situação de saúde dos brasileiros e da necessidade de enfrentar as iniquidades em

17
saúde geradas por estes. Contudo, mesmo nos materiais publicados pela CNDSS,
não são discutidos de modo mais amplo os determinantes sociais da alimentação
e nutrição.

Nesse contexto, por meio da revisão de estudos que analisaram os dados


dos grandes inquéritos populacionais brasileiros, investigou-se a associação entre
posição socioeconômica e consumo alimentar. Além disso, a partir da teoria epide-
miológica proposta por Nancy Krieger, analisou-se como os resultados das pesqui-
sas nacionais estão contribuindo para que sejam identificadas possíveis iniquidades
no consumo alimentar da população brasileira influenciadas por iniquidades sociais
e ecológicas

Uma revisão sistemática da literatura foi conduzida com o objetivo de recu-


perar artigos originais que tenham investigado a relação entre posição socioeconô-
mica e consumo e/ou aquisição de alimentos nas pesquisas nacionais. A definição
de posição socioeconômica e a seleção das variáveis indicadoras de posição socio-
econômica foram baseadas no referencial teórico proposto por Krieger, ainda que
nem todas variáveis propostas sejam incluídas. Dessa forma, os artigos recuperados
da literatura cumpriam com os seguintes critérios de inclusão: (1) ter como desfe-
cho hábitos alimentares, disponibilidade ou consumo alimentar medido de forma
quantitativa ou qualitativa; (2) ter como exposição indicadores de posição socioeco-
nômica, como sexo, educação, renda, cor da pele/raça, situação conjugal, área de
residência ou outras variáveis socioambientais; (3) incluírem a população de adul-
tos; (4) serem publicados na forma de artigos ou relatórios de pesquisa que tenham
utilizado dados das pesquisas com amostragem com representatividade nacional
[Pesquisa de Orçamentos Familiares (POF), Inquérito Nacional de Alimentação (INA),
Sistema de Vigilância de Fatores de Risco e Proteção para Doenças Crônicas por
Inquérito Telefônico (Vigitel) e a Pesquisa Nacional de Saúde (PNS)].

Nesse sentido, a teoria epidemiológica ecossocial coloca o grande desafio


de conseguir explicações científicas sobre como esses diferentes fatores de discri-
minação social e econômica podem prejudicar a saúde das pessoas. A incorporação,
em pesquisas, de indicadores tão distintos, que extrapolem as medidas socioeconô-
micas clássicas e meçam questões como experiências de discriminação, contextos
histórico e biográfico, traumas sociais, exposição a ecossistemas degradados, entre
outros, exige uma teoria epidemiológica capaz de medir tais fatores e explicar as
implicações causais na saúde e no bem-estar das pessoas em nível populacional. A
partir do marco teórico ora proposto, fica claro que a avaliação de iniquidades sociais
e econômicas no acesso e no consumo de alimentos no Brasil tem uma importância
fundamental para qualificar políticas públicas de saúde, alimentação e nutrição.

FONTE: Adaptada de <https://bit.ly/37BWULL>. Acesso em: 12 abr. 2021.

18
RESUMO DO TÓPICO 1
Neste tópico, você aprendeu:

• A definição de cultura suscita debates, no entanto, destaca-se que ela é fruto de


um aprendizado, uma vez que conhecimentos e tradições são repassados às novas
gerações com particularidades que remetem à identidade de um povo.

• No campo da Nutrição, ao atribuir um sentido ao comer e torná-lo racionalizado e


biologicista, reduzindo-o somente a uma necessidade biológica, ao fim desconsidera-
se uma concepção de cultura, a qual inclui aspectos simbólicos e imaginários que
permeiam o alimento.

• A distinção entre “alimento” e “comida”, considera o primeiro qualquer substância


nutritiva que possa ser ingerida para manter a vida e o segundo diz respeito a tudo o
que se come com prazer, que segue regras sociais e é dotada de cultura.

• A cozinha de um grupo/povo é algo particular, singular, reconhecível ante outras


cozinhas, ou seja, suas tradições diferenciam-se das demais culturas, ademais, ela
não é estática, mas está em constante transformação/reconstrução.

• Apesar de todas as mudanças no padrão alimentar do brasileiro, o feijão com arroz


ainda é o prato do dia-a-dia, enquanto a feijoada é especial, fora do comum, uma vez
que quando se convida um estrangeiro à mesa, é tradição oferecer a feijoada, para
que ele possa conhecer a cultura alimentar brasileira.

• A palavra comensalidade deriva do latim “mensa” que significa conviver à mesa e


envolve, além do padrão alimentar, o que se come, mas também, como se come.

• O hábito alimentar corresponde à adoção de práticas relacionadas a costumes, que


muitas vezes atravessam gerações, de acordo com a possibilidade de aquisição dos
alimentos e com uma sociabilidade construída no âmbito familiar e comunitário.

• O comportamento alimentar diz respeito a todas as formas de convívio com o alimento


que estão associados a atributos socioculturais, abrangendo aspectos subjetivos
(indivíduo) e coletivos.

• As escolhas e o consumo alimentar estão ligados ao prazer, uma vez que ao comer
um alimento/uma preparação os seres humanos sentem uma série de sensações
prazerosas ligadas ao olfato (aroma), textura, visão e inclusive ao barulho associado à
crocância.

19
• Outra questão importante é a memória afetiva associada à comida e preparações,
as quais afloram nossas experiências passadas, sejam elas individuais ou coletivas.

• O termo globalização foi elaborado na década de 1980, mas sua origem remete ao
período das grandes navegações no século XVI, momento em que o comércio de
mercadorias se ampliou para outras nações.

• O encurtamento das distâncias entre os países intensificou o comércio e, também


o intercâmbio de diferentes culturas, tais eventos impactaram o consumo e
comportamento alimentar.

• A globalização modificou características relacionadas ao ato de comer, como o tempo


gasto para tal, os recursos financeiros, os locais disponíveis para se alimentar, o local
e a periocidade das compras de gêneros alimentícios etc.

• Nesse contexto globalizado, a hegemonia das culturas alimentares, como exemplo,


as redes de fast food, foram alçadas de um fenômeno local para mundial.

• As pesquisas por meio dos inquéritos alimentares vêm destacando mudanças


profundas no hábito e comportamento do brasileiro, como alimentar-se mais fora de
casa, ingerir mais alimentos processados e ultra processados etc.

• A pandemia da COVID-19 no ano de 2020 também modificou hábitos e comportamentos


alimentares, uma vez que o confinamento fez elevar-se o consumo de alimentos
processados e bebidas alcoólicas.

20
AUTOATIVIDADE
1 A definição de cultura é fruto de um aprendizado, uma vez que conhecimentos e
tradições são repassados às novas gerações com particularidades que remetem à
identidade de um povo, portanto, nesse contexto, considere as assertivas a seguir.

I- A cultura é resultado do conhecimento e do aprendizado e por isso não se altera e,


por não se modificar, é repassada às novas gerações.
II- Comer é uma condição básica da nossa sobrevivência, no entanto, não se extingue
nessa necessidade, transcende, e é também um ato cultural, social e político.
III- De acordo com Da Mata (1987), alimento é uma substância nutritiva que é ingerida
para manter a vida, enquanto, comida diz respeito a tudo que se come com prazer,
de acordo com regras sociais e dotada de cultura.
IV- A cultura alimentar é um conjunto simbólico em constante transformação, seja por
mudanças climáticas, tecnológicas, ou por meio de contato com outras culturas.

Assinale a alternativa CORRETA:


a) ( ) Somente as assertivas III e IV estão corretas.
b) ( ) Somente as assertivas I, II e II estão corretas.
c) ( ) Somente as assertivas II, III e IV estão corretas.
d) ( ) Todas as assertivas estão corretas.

2 Pode-se definir comportamento alimentar como um conjunto de ações que dizem


respeito ao ato de se alimentar, destacam-se: como, quando e de que forma
comemos, sendo assim, assinale a alternativa CORRETA:

a) ( ) A cultura, a sociedade, a genética, a psique e a experiência com o alimento são


elementos que compõem o comportamento alimentar.
b) ( ) A escolha de alimentos/preparações associa-se exclusivamente à necessidade
de energia e nutrientes.
c) ( ) O comportamento alimentar se trata dos aspectos pós ingestão de alimentos,
ou seja, se refere ao quanto de calorias e nutrientes foi ingerido.
d) ( ) Hábito e comportamento alimentar são sinônimos no campo da Alimentação e
Nutrição.

3 O processo de globalização teve início com as grandes navegações no século XVI, mas
a denominação ocorreu na década de 1980 e até hoje discute-se a influência dela
sobre o comportamento alimentar, nesse cenário considere as assertivas a seguir:

21
I- O encurtamento das distâncias entre os países e as pessoas caracteriza a globali-
zação e impõe mudanças no comportamento alimentar, podendo trazer vantagens
e desvantagens.
II- O deslocamento das refeições em casa e com a família para as ruas, de forma rápida
e muitas das vezes omitindo horários de refeições, contribui para um processo de
doença, além de restringir o convívio com amigos e familiares.
III- O sucesso das redes de fast food exemplifica bem o processo de globalização e hege-
monia de uma cultura sobre a outra, visto que sai de um contexto local para mundial.
IV- A produção de alimentos em larga escala e a publicidade vinculada são aspectos
importantes para entendimento da globalização e seu impacto na cultura alimentar
de um povo.

Assinale a alternativa CORRETA:


a) ( ) Somente as assertivas I, III e IV estão corretas.
b) ( ) Somente as assertivas II e III estão corretas.
c) ( ) Somente a assertiva I está correta.
d) ( ) Todas as assertivas estão corretas.

4 Temas relativos à alimentação invadiram as ciências humanas, incluindo História,


Sociologia, Psicologia e Antropologia, propiciando um acúmulo de conhecimentos
com vários olhares sobre o mesmo objeto, nesse cenário defina comensalidade,
relacione com memória e afeto e cite um exemplo:

5 Conhecer novas culturas, vivenciar formas diferentes de viver e de se alimentar, são


vantagens do mundo globalizado, o qual possibilitou o encurtamento das distâncias
entre as pessoas, desse modo, explique como o processo de globalização pode ao
mesmo tempo diversificar a comercialização de alimentos e restringi-lo?

22
UNIDADE 1 TÓPICO 2 -
SUSTENTABILIDADE ALIMENTAR,
AGROECOLOGIA, VEGETARIANISMO E
POLÍTICA E REGRAMENTO DO USO DE
AGROTÓXICOS

1 INTRODUÇÃO
Caro acadêmico! Você já ouviu falar em sustentabilidade alimentar? Nos dias
atuais esse é um tema bastante discutido e importante, sendo assim, estudá-lo é
imprescindível para sua formação, não é mesmo?

Você sabe o que é uma “dieta de baixo carbono”? Sistema alimentar? Índice de
biocapacidade da terra?

No Tópico 2 serão abordados os principais conceitos acerca da sustentabilidade


alimentar, que engloba todo o sistema alimentar desde a produção até o descarte dos
resíduos produzidos a partir da alimentação.

Nesse contexto, você já deve ter ouvido ou lido algo sobre alimentação orgânica
e regramento do uso de agrotóxicos, certo? Portanto, nesse tópico você poderá
compreender quais características um alimento deve ter para ser certificado como
orgânico, como o produtor obtém esse certificado e ao final conhecerá o regramento
sobre o uso de agrotóxicos no Brasil.

Além do entendimento sobre alimentos orgânicos, você poderá conhecer,


compreender e contextualizar o vegetarianismo com enfoque na sustentabilidade
alimentar. O conhecimento e a reflexão sobre a sustentabilidade alimentar associada
a um consumo consciente e saudável é um tema transversal e global, sendo assim, no
Tópico 2, você poderá desenvolver habilidades e competências, as quais irão contribuir
para que você seja um profissional da área da saúde com uma visão ampla de saúde que
inclui equilíbrio com o meio ambiente.

23
2 SUSTENTABILIDADE ALIMENTAR
A alimentação é um direito universal como consta na Declaração dos Direitos
Humanos das Nações Unidas (FAO, 2014). Nesse cenário, Costa e Rodrigues (2020)
destacam que para que esse direito seja garantido a todos os seres humanos é preciso
entender o processo de produção de alimentos e que ele impacta negativamente o meio
ambiente, mas que há estratégias para mitigar esses danos.

A agricultura convencional quando comparada à agroecológica (biológica/


orgânica) é a que causa maiores prejuízos ao meio ambiente, além disso, a escala
comercial dos alimentos produzidos, incluindo quantidades vultuosas de produtos e a
rapidez no processo de distribuição, também contribuem para destruição dos recursos
naturais (COSTA; RODRIGUES, 2020).

O impacto ambiental causado pela agricultura convencional, incluindo também


a pecuária, caracteriza-se por um consumo em ritmo acelerado, desde o solo aos
recursos hídricos; desflorestamento e com isso a perda da biodiversidade; perda da
qualidade do solo, da água, além de produzir e perpetuar a desigualdade social (RIBEIRO;
JAIME; VENTURA, 2017).

Sobal, Kettel e Bisogni (1998) destacam que alterações importantes foram


realizadas nas últimas décadas no sistema alimentar, principalmente com o advento
da revolução verde na década de 1950, as quais incluem a agricultura, a pecuária, a
produção, o processamento, a distribuição, o abastecimento, a comercialização, a
preparação e o consumo de alimentos e bebidas.

A revolução verde foi implementada na década de 1950 para aumentar a


produção de alimentos e assim acabar com a fome mundial, objetivo não alcançado,
pois a fome ainda assola vários continentes, inclusive o Brasil (CAVALLI, 2001).

A produção de alimentos em larga escala modificou a estrutura da propriedade


rural, a qual se tornou mais concentrada e baseada na monocultura, favorecendo a
exploração da força de trabalho, piorando, assim, a qualidade de vida do trabalhador do
campo e propiciando o êxodo rural. No Brasil, esse processo adquiriu maior força nas
décadas de 1970 e 1980 (IBGE, 2015).

Nesse cenário, Auestad e Fulgoni (2015) afirmam que a alimentação


contemporânea tornou-se insustentável, pois ocasiona perda do solo (monoculturas,
salinização) e das florestas (prática da agricultura e pecuária), além disso, causa
eutrofização, processo em que um corpo de água recebe uma grande quantidade
de efluentes com matéria orgânica enriquecida com minerais e nutrientes, os quais
induzem o crescimento excessivo de algas, o que inviabiliza o consumo da água e
ocasiona morte de animais marinhos.

24
Outro ponto importante é a emissão de gases de efeito estufa (GEE) que são
substâncias que absorvem parte da radiação infravermelha emitida pela superfície
terrestre, propiciando assim o aquecimento global (COSTA; RODRIGUES, 2020).

São considerados GEE: Dióxido de Carbono (CO2), Metano (CH4), Óxido Nitroso
(N2O), Hexafluoreto de enxofre (SFG), Hidrofluorcarbono (HFC) e Perfluorcarbono (PFC)
(FREITAS; PAIVA, 2018).

A criação de bovinos, no Brasil, se dá em áreas de pastagem degradadas e,


portanto, de baixa produtividade, além disso, viabiliza a perda de áreas florestais para tal
atividade. Sobre a inter-relação pecuária e emissão de GGE, destacam-se o gás metano
emitido pela fermentação entérica dos bovinos, o óxido nitroso emitido pelos dejetos
dos animais e, por fim, o dióxido de carbono trocado pelo solo e vegetação (BERCHIELLI;
MESSANA; CANESIN, 2012).

Apesar do sistema alimentar convencional ser insustentável, é possível mitigar


seus efeitos deletérios por meio de um sistema de pequena escala que vise apoiar
pequenos produtores, a produção familiar orgânica, a cultura alimentar local, além do
engajamento dos consumidores, como agentes corresponsáveis por esse processo
(MARTINELLI; CAVALLI, 2019).

Martinelli e Cavalli (2019) destacam que a primeira descrição de alimentação/


dieta sustentável foi elaborada por Gussow e Clancy, em 1986, os quais a definiram
como composta por alimentos que contribuem não somente para saúde do indivíduo,
mas também para a sustentabilidade do sistema alimentar.

Pode-se iniciar a reflexão sobre o que é uma alimentação sustentável


quando há preocupação com todo o sistema alimentar (produção, processamento,
comercialização, consumo e descarte), com ênfase no consumo de produtos locais e
na sazonalidade, além de fomentar a equidade social, por meio de políticas públicas que
visam a aproximação do pequeno produtor com o consumidor final, evitando grandes
redes de distribuição e venda de alimentos (SAMBUICHI et al., 2014; RIBEIRO; JAIME;
VENTURA, 2017; COSTA; RODRIGUES, 2020).

A adoção de uma dieta com menos carne é também denominada “dieta de baixo
carbono”, isto significa reduzir a frequência e a quantidade do alimento ingerido, uma
vez que, para alimentar os animais utiliza-se a soja, que é uma monocultura de larga
escala, para produzir a ração que irá alimentar bovinos e suínos e por consequência o
impacto ambiental pode ser mitigado (COSTA, RODRIGUES, 2020).

Martinelli e Cavalli (2019) elaboraram um conjunto de orientações e operaciona-


lizações para se obter uma alimentação mais sustentável e saudável (Figura 4).

25
FIGURA 4 – REPRESENTAÇÃO GRÁFICA DE ORIENTAÇÃO E OPERACIONALIZAÇÃO PARA UMA
ALIMENTAÇÃO MAIS SAUDÁVEL E SUSTENTÁVEL

FONTE: Martinelli e Cavalli (2019 p. 4254)

Como a sustentabilidade é um tema transversal e no campo da Alimentação


e Nutrição, discute-se exaustivamente a questão da saudabilidade das dietas, é
então plausível problematizar se uma dieta sustentável é ao mesmo tempo uma dieta
saudável. Na atualidade a junção de sustentável e saudável tem sido um desafio, uma
vez que mesmo com a produção em larga escala dos alimentos (não sustentável),
muitos indivíduos ainda sofrem de deficiências nutricionais e paralelamente, há um
aumento exponencial da obesidade e de doenças crônicas não transmissíveis (WILLETT
et al., 2019; FANZO; DAVIS, 2019).

Aprofundando a reflexão e a discussão sobre alimentação sustentável e saudá-


vel, o estudo realizado por Springmann et al. (2018) revelou que a troca de alimentos de
origem animal por vegetais foi particularmente efetiva, em países de média e alta renda,
em melhorar o nível de nutrientes consumido, reduzir a mortalidade prematura (12%) e
diminuir alguns impactos ambientais, em particular, a emissão de GEE (redução em tor-
no de 84%). Por outro lado, houve aumento do uso de água (16%) e pequena efetividade
em países onde o consumo de alimentos de origem animal é baixo ou moderado.

Os mesmos autores, analisando os benefícios para saúde com a troca de


alimentos de oriegem animal por vegetal, evidenciaram que a adoção de um padrão
alimentar com baixo consumo de carne e balanceado possibilita alcançar a recomendação

26
de nutrientes e reduz a mortalidade prematura (em 19% para quem consome carne
eventualmente e 22% para quem segue uma dieta vegana). Ademais, houve redução do
impacto ambiental na maioria das regiões (54-87%), com exceção em algumas regiões
de países de baixa renda no que diz respeito à ocupação da terra, uso de água etc..

Willett et al. (2019) afirmam que dietas com alto teor calórico, ricas em açúcar,
gordura saturada, alimentos processados e carne bovina são insustentáveis e não
saudáveis, em contrapartida, dietas à base de vegetais estão associados a menor
produção de GEE, menos uso da terra e de água. A não ser que haja uma mudança de
paradigma no sistema alimentar, em 2050 a produção de alimentos será responsável
por um aumento de 80% na emissão de GEE e no desmatamento.

De acordo com os mesmos autores, a dieta à base de vegetais propicia uma


diminuição na emissão de GEE em torno de 30-55%, além do que, reduz taxa de
mortalidade e a indicência de obesidade e doenças crônicas não transmissíveis.

As dietas baseadas em vegetais, como a do Mediterrâneo, Dash, Vegetariana, as


quais recomendam uma quantidade de baixa a moderada de frutos do mar e lactícinios
(Mediterrânea e Dash); e pouco ou nenhum consumo de carne vermelha, demonstram
decréscimo na taxa de Diabetes Melittus tipo II (16 a 41%) e câncer (7-13%), bem como
redução da mortalidade por doenças coronarianas (20-26%) (TILMAN; CLARK, 2014).

DICAS
Caro acadêmico! De acordo com o professor e pesquisador da
Universidade de Saúde Pública de Harvard, Walter Willett, a transição
para dietas saudáveis até 2050 vai exigir mudanças substanciais na nossa
alimentação. O consumo geral de frutas, vegetais, nozes e legumes terá
que duplicar. Já o consumo de alimentos como carne vermelha e açúcar
terá que ser reduzido em mais de 50%. A comissão EAT-Lancet propõe
cinco estratégias fundamentais para produção sustentável de alimentos:
1) incentivar o hábito de comer de forma saudável, 2) mudar a produção
global de alimentos, 3) intensificar a agricultura sustentável, 4) criar regras
mais rígidas sobre a administração dos oceanos e do solo e 5) reduzir
o desperdício de comida. Acesse em: https://nutritotal.com.br/publico-
geral/colunas/a-dieta-sustentavel-funciona/.

Para que se possa mitigar os efeitos deletérios do sistema alimentar convencial


é imprescíndivel entendê-lo em sua totalidade desde a produção, passando pelo
processamento, comercialização, consumo e por fim, o descarte (produção e destino do
lixo) (MARTINELLI; CAVALLI, 2019; COSTA; RODRIGUES, 2020).

27
No Quadro 2 está caracterizado o modelo de sistema insustentável de produção
de alimentos.

QUADRO 2 – SISTEMA INSUSTENTÁVEL

Descarte de
Produção Processamento Comercialização Consumo
resíduos

Agricultura Elevado Consumo não Excesso de


Cadeias longas
convencional processamento sustentável resíduos

Retirada de Grande número de Hábitos não Produção alta


Patronal
nutrientes intermediários saudáveis de resíduos

Indisposição para
Monocultura Refinamento Longas distâncias comprar produtos
sustentáveis

Elevado consumo
Adição de Desvalorização da Ausência de
Agrotóxicos de alimentos
gorduras trans. produção local preocupação
ultraprocessados
com a
quantidade e
Adição de Busca por o destino dos
Transgênicos aditivos e Preços elevados alimentos de dejetos e das
conservantes rápido preparo embalagens

Aditivos
Criação Valorização de
baseados em Alimentação não
intensiva de grandes redes
subprodutos da diversificada
animais varejistas
soja e milho

Elevado desperdício, consumo de água e energia

FONTE: Adaptado de Martinelli e Cavalli (2019, p. 4254)

Na agricultura convencional o uso de alimentos transgênicos, principalmente


a soja, o milho e a canola, vem gerando grande preocupação do ponto de vista da
saúde e do impacto ambiental causados por eles. Os transgênicos são organismos
geneticamente modificados (OGM), os quais contêm um gene que foi iserido artifcial-
mente em vez de adquirido naturalmente, por polinização como ocorre nas culturas
convencionais, sendo assim esse alimento terá uma alteração em seu código genético
(ALMEIDA; LAMOUNIER, 2005).

28
DICAS
Caro acadêmico! Para entender melhor o que é um alimento
transgênico e a polêmica acerca da sua produção, comercialização e
consumo, assista ao vídeo recomendado, assim você poderá entender
as possíveis vantagens e desvantagens no que se refere à saúde e
os impactos ambientais de nossas escolhas alimentares. Acesse em:
https://bit.ly/3z5VeJj. Acesso em: 30 abr. 2021.

No quadro 3 estão demonstradas as principais características dos sistemas


sustentáveis.

QUADRO 3 – PRINCIPAIS CARACTERÍSTICAS DOS SISTEMAS SUSTENTÁVEIS

Descarte de
Produção Processamento Cadeias Consumo
resíduos

Processamento Consumo Baixa produção


Agroecologia Cadeias curtas
mínimo sustentável de resíduos

Nenhum ou Alimentos Ausência ou


Agricultura Manutenção dos
pequeno número frescos, uso baixo de
familiar nutrientes
de intermediários agroecológicos plástico

Disponibilidade
Proximidade
Sem adição de para comprar
Diversificada do produtor e
gordura trans produtos
consumidos
sustentáveis

Comércio justo Compra direto


Sem adição de
Orgânica e economia de agricultores
conservantes Ausência de de
solidária familiares
contaminação
com dejetos e
Alimentos agrotóxicos no
Sem adição Valorização do
regionais, solo e água
Sazonal de aditivos produto e do
tradicionais e
alimentares produtor
diversificados

Integração
lavoura- Confiança no Habilidades
pecuária- produtor culinárias
floresta

Baixo desperdício, consumo de água e energia

FONTE: Adaptado de Martinelli e Cavalli (2019, p. 4254)

29
Ao se refletir acerca da saudabilidade de uma dieta ou padrão alimentar, é
plausível e urgente que se inclua a sustentabilidade nesse contexto, pois ela busca o
bem-estar dos seres vivos no presente e se preocupa também com as gerações futuras.
Nesse cenário, a sustentabilidade alimentar urge como tema transversal aos sistemas
alimentares, pois eles impactam a saúde humana e ambiental quando impõem riscos
ocupacionais aos trabalhadores do sistema convencional mundial, ademais contaminam
o meio ambiente, os alimentos, disseminam padrões dietéticos não saudáveis e
a insegurança alimentar e nutricional. Portanto, a formação do Nutricionista deve
contemplar temas e discussão sobre sustentabilidade e alimentação, visto que o código
de ética da categoria profissional se compromete com o desenvolvimento sustentável
e a preservação da biodiversidade (CONSELHO FEDERAL DE NUTRICIONISTAS, 2018;
JACOB; ARAÚJO, 2020).

3 PRODUÇÃO ALIMENTAR AGROECOLÓGICA


A revolução verde, decorrente do desenvolvimento observado a partir da
Segunda Guerra Mundial, deu origem a uma nova perspectiva de agricultura denominada
convencional e moderna, a qual se direciona para o melhoramento genético de plantas,
a utilização de agrotóxicos e fertilizantes químicos, a intensa mecanização agrícola e
a padronização de cultivo (MATOS, 2011). Em contraponto, emerge em vários países os
sistemas agrícolas de base ecológica ou agricultura alternativa/sustentável, baseada na
produção natural e integrada ao meio ambiente, com redução no uso de insumos e na
preferência por recursos locais (VALGINHAK; SENE, 2020).

O movimento da agricultura orgânica teve início na década de 1940, em reação


ao uso crescente de fertilizantes e outros insumos químicos. Estudos realizados pelo
agrônomo inglês Sir Albert Howard sobre o papel dos micro-organismos no solo foram
fundamentais para demonstrar a importância em manter o solo vivo por meio da
adubação orgânica (SAMBUICHI et al., 2017).

Em 1972, a Federação Internacional dos Movimentos de Agricultura Orgânica


(IFOAM) implantou um sistema visando garantir a qualidade dos produtos orgânicos
para os seus consumidores e passou a estabelecer padrões internacionais para esse
tipo de agricultura, criando o Sistema de Garantia Orgânica (Organic Guarantee System
– OGS), que hoje conta com 800 afiliados em 117 países (IFOAM, 2016).

Por outro lado, no Brasil, conforme Lima et al. (2020); Valginhak e Sene (2020),
somente em 2003, foi aprovada a Lei n0 10.831, que dispõe sobre agricultura orgânica
e torna-se eixo norteador, abrangendo os seguintes sistemas alternativos, como por
exemplo: ecológico, biodinâmico, natural, regenerativo, biológico, agroecológico,
permacultura etc. A Lei n0 10.831 dispõe sobre:

30
Art. 1º Considera-se sistema orgânico de produção agropecuária todo
aquele em que se adotam técnicas específicas, mediante a otimização
do uso dos recursos naturais e socioeconômicos disponíveis e o
respeito à integridade cultural das comunidades rurais, tendo por
objetivo a sustentabilidade econômica e ecológica, a maximização
dos benefícios sociais, a minimização da dependência de energia
não renovável, empregando, sempre que possível, métodos culturais,
biológicos e mecânicos, em contraposição ao uso de materiais
sintéticos, a eliminação do uso de organismos geneticamente
modificados e radiações ionizantes, em qualquer fase do processo
de produção, processamento, armazenamento, distribuição e
comercialização, e a proteção do meio ambiente (BRASIL, 2003).

A agricultura orgânica (AO) une dois temas “urgentes” à população mundial


que são padrão de alimentação saudável e ao mesmo tempo sustentável. A AO está
fundamentada em três alicerces: preservação do solo, qualidade da produção e
sustentabilidade ecológica, sendo assim, prevê alimentos de qualidade e livres de
agrotóxicos (ANDRADE; PINHEIRO; OLIVEIRA, 2017).

Nesse contexto, a valorização da diversidade cultural e biológica, a prática


agroecológica busca conservar e resgatar variedades de sementes crioulas (são aquelas
livres de agrotóxicos, pesticidas, ou modificações realizadas pela ciência ou agronegócio)
e o conhecimento tradicional das populações locais (EMBRAPA, 2006). Portanto, o
conhecimento agroecológico se expande por meio da socialização e da troca de saberes
entre as comunidades, e se estabelece de forma participativa (SAMBUICHI et al., 2017).

Guerra, Cervato-Mancuso e Bezerra (2019) destacam que entre os princípios


que fundamentam a prática agroecológica está também a soberania alimentar, que
reconhece o direito dos povos e das comunidades de definirem suas estratégias de
produção e consumo dos alimentos de que necessitam.

Para que um alimento seja considerado orgânico é preciso uma certificação


que consiste em um procedimento pelo qual uma certificadora devidamente creden-
ciada pelo Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA) e credenciada
pelo Instituto Nacional de Metrologia, Normatização e Qualidade Industrial (Inmetro)
asseguram por escrito que determinado produto, processo ou serviço obedece às
normas e práticas da produção orgânica (BRASIL, 2021).

O credenciamento, o acompanhamento e a fiscalização dos organismos de


certificação são de responsabilidade do Ministério da Agricultura, que após a prévia
habilitação no MAPA, farão a certificação da produção orgânica e terão que manter
atualizadas as informações acerca dos produtores, mantendo assim um cadastro
nacional de produtos orgânicos (BRASIL, 2021).

Um selo federal afixado ou impresso no rótulo ou na embalagem do produto


sinaliza que ele é orgânico (Figura 5). A certificação por sistema participativo de
garantia (SPG) trata-se de um grupo de pessoas comprometidas com os padrões de
conformidade estabelecidos pela legislação, que se policiam e tomam conta uns dos

31
outros e se vistoriam, com o intuito de manter a qualidade das produções; enquanto a
certificação por auditoria é realizada por empresa pública ou privada, com ou sem fins
lucrativos, credenciada pelo MAPA (Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento)
(BRASIL, 2021).

Os produtos que apresentam o selo federal, conforme Ministério da Agricultura,


Pecuária e Abastecimento (BRASIL, 2021), devem conter 95% de ingredientes orgânicos,
os outros 5% devem ser identificados e estar dentro das regras de produção orgânica,
sendo que o uso de agrotóxicos é terminantemente proibido.

FIGURA 5 – SELO FEDERAL SISORG DO MINISTÉRIO DA AGRICULTURA E ABASTECIMENTO

FONTE: <http://www.usp.br/pecuariaorganica/?page_id=30>. Acesso em: 3 maio 2021.

A permissão para utilizar o selo é concedida ao produtor ou empresa após terem


sido vistoriados e fiscalizados, aprovados e finalmente certificados pela certificadora
(BRASIL, 2021). Além do selo SisOrg, também é utilizado na embalagem dos produtos
orgânicos o selo da certificadora responsável pela sua certificação, os selos possuem
durabilidade de um ano e devem ser renovados anualmente para que se continue a
utilizá-los (Figura 6).

FIGURA 6 – SELO DAS CERTIFICADORAS RESPONSÁVEIS PELA CERTIFICAÇÃO DO PRODUTO ORGÂNICO

FONTE: <http://www.usp.br/pecuariaorganica/?page_id=30>. Acesso em: 3 maio 2021.

32
De acordo com o MAPA, para vender na feira, o produtor sem certificação deve
apresentar um documento chamado Declaração de Cadastro, que atesta que ele está
cadastrado junto ao MAPA e que faz parte de um grupo que se responsabiliza por ele.
Sendo assim, somente o produtor, alguém de sua família ou de seu grupo pode estar
na barraca vendendo o produto. Essa declaração deve ser mostrada sempre que o
consumidor e a fiscalização solicitarem (BRASIL, 2021).

Os produtos comercializados em mercados, supermercados, lojas, devem


estampar o selo federal do SisOrg em seus rótulos, sejam produtos nacionais ou
estrangeiros. Se o produto for comercializado a granel deve ser identificado por meio de
cartaz, etiqueta ou outro meio (BRASIL, 2021).

Os restaurantes, lanchonetes e hotéis os quais comercializam refeições


orgânicas ou algum ingrediente orgânico devem manter à disposição do cliente a
listagem desses ingredientes e dos fornecedores (BRASIL, 2021).

A produção e o consumo de produtos orgânicos no mundo têm crescido


significativamente, conforme sinalizam Willer e Lernoud (2019), impulsionados pela
expansão da demanda nos países da Europa e da América do Norte, além da China, que
se tornou o quarto maior mercado de orgânicos no mundo, desde 2013, atrás somente
dos Estados Unidos, da Alemanha e da França.

Os produtos orgânicos têm sido associados a maior segurança e saúde de seus


consumidores, além de impactarem menos o meio ambiente. A partir desse fio condutor,
o aumento do volume de vendas no varejo, da área agrícola destinada à produção
orgânica e do número de agricultores que se dedicam ao setor tende a ascender
continuamente ao longo dos próximos anos (WILLER; LERNOUD, 2019).

Esse crescimento, contudo, dependerá do enfrentamento de alguns desafios,


como o aumento progressivo de áreas cultiváveis convertidas em orgânicas, a grande
demanda mundial e a padronização de critérios de certificação (WILLER; LERNOUD, 2019).

No Brasil, o crescimento da produção e do consumo de produtos orgânicos


também aumentou (Figura 7). O mercado doméstico é impulsionado pelas compras
institucionais para a alimentação escolar e os serviços de alimentação de alguns órgãos
governamentais, valorizando, assim, a produção orgânica, especialmente a agricultura
familiar (LIMA et al., 2020).

33
FIGURA 7 – EVOLUÇÃO DA ÁREA COM PRODUÇÃO ORGÂNICA NO BRASIL (2000-2017)

FONTE: Adaptada de Lima et al. (2020, p. 29)

De acordo com o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, a


agricultura familiar se caracteriza pelo compartilhamento da gestão da propriedade pela
família e a atividade agropecuária é a principal fonte geradora de renda. A diversidade
produtiva e a produção voltada para o próprio consumo e para comercialização
coexistem (BRASIL, 2020).

A Lei 11.326, de 24 julho de 2006, determina as diretrizes para formulação da


Política Nacional da Agricultura Familiar e os critérios para sua definição. De acordo com
a legislação, é considerado “agricultor familiar e empreendedor familiar rural aquele
que pratica atividades no meio rural, possui área de até quatro módulos fiscais, mão de
obra familiar, renda familiar vinculada ao próprio estabelecimento e gerenciamento do
estabelecimento ou empreendimento pela própria família” (BRASIL, 2020).

Há um cenário internacional favorável para compra e consumo de produtos


orgânicos e o Brasil exporta oleaginosas, mel, açúcar, arroz, entre outros, principalmente
para Europa, Estados Unidos e China. No mercado interno, a classe média é quem
impulsiona a comercialização desses produtos e os mais consumidos são os orgânicos
in natura, verduras, legumes e frutas (SCHMITT; GRISA, 2013).

Além dos problemas já citados anteriormente que limitam e dificultam a


produção de orgânicos no Brasil, a concentração de terras e a predominância de
monocultivos (como por exemplo, o da soja ou do milho em grandes extensões de
terra), característica do espaço agrário brasileiro, limitam o aumento da conversão e da
diversificação produtiva, preservação de sementes crioulas, o investimento e a difusão
de pesquisas, experiências e inovações tecnológicas baseadas na produção orgânica, e
por fim, a ausência de dados oficiais sistemáticos sobre o setor (LIMA et al., 2020).

34
Os mesmos autores destacam que há coexistência de dois modelos, um baseia-
se no desenvolvimento rural sustentável e solidário e o outro na modernização do
campo, o qual detém o apoio das três esferas de governo, federal, estadual e municipal.

Na Figura 8 estão demonstradas as áreas destinadas à produção orgânica em


diferentes continentes e no mundo, compiladas em 2017, com destaque à produção
latino-americana, a qual inclui o Brasil, que corresponde a 11% e proporcionalmente a
1,1% da área total agricultável reservada à produção orgânica. O país com maior exten-
são de área agrícola orgânica é a Austrália, com 35,65 milhões de hectares (WILLER;
LERNOUD, 2019).

A taxa média anual de crescimento de 2007 para 2017 de áreas agricultáveis


orgânicas foi 2% no Brasil, o que lhe rendeu o 12ª lugar no mundo (WILLER; LERNOUD,
2019 apud LIMA, 2020).

FIGURA 8 – ÁREAS DESTINADAS À PRODUÇÃO ORGÂNICA DISTRIBUÍDA POR CONTINENTES

FONTE: Lima et al. (2020, p. 11)

DICAS
Caro acadêmico! Você sabia que o estado de Santa Catarina é o 4º
produtor nacional de alimentos agroecológicos de acordo com os
dados publicados pela CEPORG – Comissão da Produção Orgânica
de Santa Catarina em 2019? São ao todo 1.275 unidades produtoras
de orgânicos e há ainda 700 unidades em processo de certificação.
As frutas, seguidas de raízes, hortaliças e grãos, são os alimentos
mais cultivados. Os estados que lideram o ranking de produção
agroecológica são Paraná, Rio Grande do Sul e São Paulo. Acesse em:
https://bit.ly/3lfaXNM.

35
No contexto brasileiro, o tema da agroecologia vem ganhando espaço e merecido
destaque nos espaços sociais e políticos, considerando a implantação do Sistema
Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional (Sisan), que se alicerça na promoção de
Segurança Alimentar e Nutricional (SAN) e do direito humano à alimentação adequada
(DHAA). Outras iniciativas de ação pública abarcam a Política Nacional de Agroecologia
e Produção Orgânica (PNAPO), institucionalizada em 2012 e materializada por meio do
Plano Nacional de Agroecologia e Produção Orgânica (PLANAPO) (GIORDANI; BEZERRA;
DOS ANJOS, 2017).

Vale destacar, em agosto de 2012 a ex-presidenta Dilma Roussef institui a


Política Nacional de Agroecologia e Produção Orgânica – PNAPO, por meio do Decreto
no 7.794, de 20 de agosto de 2012, firmando o compromisso do governo federal em
“integrar, articular e adequar políticas, programas e ações indutoras de transição
agroecológica, como contribuição para o desenvolvimento sustentável e a qualidade
de vida da população, por meio do uso sustentável dos recursos naturais e da oferta e
consumo de alimentos saudáveis (BRASIL, 2013).

Os desafios mundiais são grandes para agroecologia, com destaque para o


cenário agrário brasileiro, o qual se caracteriza por um modelo de agricultura empresarial,
denominado agronegócio, consolidado em grandes propriedades de monocultura com
uso intensivo de agrotóxicos, insumos químicos, sementes geneticamente modificadas
e mecanização pesada, o que dificulta e estrangula a agricultura familiar e a produção
de orgânicos (LIMA et al., 2020).

Nesse contexto nacional, apesar do processo de fragilização e estrangulamento


do modelo de produção sustentável, ele ainda possui uma diversidade de cultivos, de
conhecimentos acerca do manejo agrícola e do uso de plantas; de saberes e modos de
processamento, além da luta constante por oferecer uma alimentação mais sustentável
e saudável aos brasileiros (LIMA et al., 2020).

4 VEGETARIANISMO COM ENFOQUE NA


SUSTENTABILIDADE AMBIENTAL
Nossas escolhas alimentares são permeadas por uma necessidade fisiológica
que tem por objetivo a manutenção da vida, mas também por questões sociais referentes
a nossa cultura alimentar, a qual resulta da nossa história, de nossos antepassados e de
quanto prazer aquele alimento/preparação nos proporciona. Para além das dimensões
biológicas e sociais, nossas escolhas alimentares impõem uma pressão importante
sobre o meio ambiente (COSTA; RODRIGUES, 2020).

Melina, Craig e Levin (2016) enfatizam que as motivações que levam os indivíduos
a adotarem uma dieta vegetariana são várias, como a compaixão à vida animal, um
desejo de proteger o meio ambiente, diminuir o risco de doenças crônicas ou ainda como

36
terapêutica para controle de doenças. Destaca ainda que uma dieta vegetariana bem
planejada contendo vegetais, frutas, grãos integrais, legumes, oleaginosas e sementes
podem promover uma nutrição adequada.

Nesse contexto, o vegetarianismo vem sendo adotado como prática alimentar


e estudado do ponto vista da saúde e do impacto ambiental. Melina, Craig e Levin
(2016) definem o vegetarianismo como regime alimentar que exclui todos os tipos de
carnes e pode ser assim classificado: a) ovolactovegetarianismo (ingere ovos, leite e
derivados); b) Lactovegetarianismo (ingere leite e derivados, mas não consome ovos);
c) Ovovegetarianismo (ingere ovos, mas não consome lacticínios); d) Veganismo (não
ingere nenhum produto de origem animal e pode também excluir o mel); e) Veganismo
baseado em alimentos crus (vegetais, frutas, oleaginosas e sementes, legumes e grãos
germinados), a quantidade de alimentos crus varia de 75% a 100%.

Magkos et al. (2020) salientam que o Guia Alimentar Europeu, publicado


recentemente, recomenda a ingestão de uma dieta baseada em alimentos de origem
vegetal e limitação do consumo dos de origem animal. Essa transição emerge como
fator chave para sustentabilidade ambiental, no entanto, poucos países, como Brasil,
Alemanha, Qatar e Suécia, têm introduzido o tema na agenda oficial.

No Brasil, temos o Guia Alimentar para População Brasileira (BRASIL, 2014, p. 18)
que aborda a questão da sustentabilidade ambiental, pois afirma que “Recomendações
sobre alimentação devem levar em conta o impacto das formas de produção e distribuição
dos alimentos sobre a justiça social e a integridade do ambiente, alimentação adequada
e saudável deriva de sistema alimentar socialmente e ambientalmente sustentável”.

Ao avaliar a atividade pecuária no Brasil é possível refletir e considerar que ela


representa um impacto negativo sobre o meio ambiente, desde o deflorestamento de
áreas para criação das pastagens, perda da biodiversidade, demanda alta por recursos
hídricos, produção de gases de efeito estufa (metano), além da necessidade de
combustíveis fósseis para o transporte dos produtos (COSTA; RODRIGUES, 2020).

Vale lembrar que, por outro lado, a atividade pecuária emprega muitas pessoas
e alimenta a população mundial e, portanto, é necessário pensar, estudar e implementar
políticas públicas que apoiem a transição para um padrão alimentar que demande menor
produção de alimentos de origem animal, sem causar desemprego e desabastecimento
(FANZO; DAVIS, 2019; WILLETT et al., 2019).

Quando se compara a demanda de recursos para produção de feijão e de carne


bovina, de acordo com Sranacharoenpong et al. (2015), destaca-se que para produzir
1 kg de feijão requer 3,8 m2 de terra, 2,5 m3 de água, 39 g de fertilizante e 2,2 g de
pesticida, por outro lado, a mesma quantidade de carne bovina requer 52 m2 de terra,
20,2 m3 de água, 360 g de fertilizante e 17,2 g de pesticida. Em resumo, a demanda de
recursos para produção de carne bovina é maior em aproximadamente 8 a 14 vezes
comparada à produção de alimentos de origem vegetal.

37
A revisão elaborada por Fresán e Sabaté (2019) evidenciou que a média de
redução de gases de efeito estufa (GEE) de uma dieta padrão (com consumo de carne)
para uma ovolactovegetariana foi de 35% e, para uma dieta vegana (vegetariano estrito)
a diminuição foi de 49%. Sobre o uso do solo, há uma diminuição de 42% no padrão
alimentar ovolactovegetariano e 49,5% no vegano; com relação ao emprego de recursos
hídricos, há uma redução de 28% no padrão ovolactovegetariano e acerca do padrão
alimentar vegano, os dados são bastantes variáveis e mais escassos, apenas um estudo
indicou redução de 22%.

As mesmas autoras concluem que há uma tendência à sustentabilidade


ambiental na transição de um padrão alimentar omnívoro para um ovolactovegetariano
e vegano, com exceção somente para o uso de recursos hídricos, além disso, o padrão
vegetariano apresenta potencial para contribuir para solução do “trilema” dieta-meio
ambiente-saúde.

Existe uma urgência em mitigar os efeitos do sistema alimentar convencional


sobre o meio ambiente, tendo em vista que ele contribui entre 19% e 29% para produção
dos GEE. Para tanto, é preciso adotar um sistema sustentável que reduza o consumo
de recursos hídricos, perda da biodiversidade e do solo, poluição dos corpos hídricos
por agrotóxicos, além de combater o desperdício de alimentos, pois cerca de 1/3 da
produção de alimentos é desperdiçado (VERMEULEN; CAMPBELL; INGRAM, 2012;
COSTA; RODRIGUES, 2020).

É preciso destacar que a transição para um modelo de sistema alimentar mais


sustentável e justo requer políticas públicas, engajamento da sociedade, educação
ambiental nas escolas etc. Ademais, é preciso refletir acerca dos trabalhadores
e suas famílias que vivem da pecuária, a viabilidade dessa transição em países
em desenvolvimento, o que incluí o Brasil, além da questão da cultura alimentar
de determinadas regiões do nosso país, que tem por hábito a ingestão de carne,
principalmente a bovina, como por exemplo a região sul.

5 REGRAMENTO DO USO DE AGROTÓXICOS NO BRASIL


O Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA) define que os
agrotóxicos (também denominados defensivos agrícolas, agroquímicos e pesticidas)
são produtos químicos, físicos ou biológicos utilizados nos setores de produção agrícola,
pastagens, entre outros, com o objetivo de alterar a composição química tanto da flora
quanto da fauna a fim de preservá-las (BRASIL, 2021). Em adição, vale destacar que o
seu uso está associado a problemas ambientais e de saúde em seres humanos, animais
e plantas (BRASIL, 2018; OPAS, 2018; BRASIL, 2019b).

No Brasil, a Lei no 7.802 de 11 julho de 1989, regulamentada pelo Decreto no 4.704


de 4 janeiro de 2002, dispõe sobre os agrotóxicos:

38
sobre a pesquisa, a experimentação, a produção, a embalagem e
rotulagem, o transporte, o armazenamento, a comercialização, a
propaganda comercial, a utilização, a importação, a exportação, o
destino final dos resíduos e embalagens, o registro, a classificação,
o controle, a inspeção e a fiscalização de agrotóxicos, seus
componentes e afins, e dá outras providências (BRASIL, 2002).

No fim da década de 1990, foi conduzida pelo Ministério da Saúde a estrutura-


ção da Vigilância em Saúde Ambiental (VSA) com vistas à atuação nas seguintes áreas:
qualidade da água para consumo humano, qualidade do ar, solo contaminado, con-
taminantes ambientais e substâncias químicas, desastres ambientais, acidentes com
produtos perigosos etc. Sobre os agrotóxicos, a Coordenação-Geral de Vigilância em
Saúde Ambiental (CGVAM) estruturou a Vigilância em Saúde de Populações Expostas a
Agrotóxicos (VSPEA), com o objetivo de adotar medidas integradas de prevenção dos
fatores de risco, promoção à saúde, assistência e vigilância (BRASIL, 2018).

Atualmente, a regulamentação do uso de agrotóxicos é conduzida pela Agência


Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA), o Instituto Brasileiro de Meio Ambiente e dos
Recursos Naturais Renováveis (IBAMA) e pelo MAPA (MORAES, 2019).

Em 2014, foi registrada no Sistema de Informações de Agravos de Notificação


(Sinan) a maior incidência de notificação de intoxicações por agrotóxicos no Brasil: 6,26
casos para cada 100 mil habitantes (Figura 9) (BRASIL, 2018).

FIGURA 9 – COMERCIALIZAÇÃO DE AGROTÓXICOS E INCIDÊNCIA DA NOTIFICAÇÃO DE INTOXICAÇÕES POR


AGROTÓXICOS NO BRASIL (2007-2014)

FONTE: Adaptada de Brasil (2018, p. 26)

39
Os estados que mais notificaram casos de intoxicação por agrotóxicos, no
período entre 2007 e 2015, foram São Paulo (15.042 casos), Minas Gerais (13.013 casos),
Paraná (12.988 casos) e Pernambuco (6.888 casos). O Acre (23 casos) foi o estado que
menos notificou, seguido pelo Amapá (38 casos). Vale destacar que, apesar da melhora
no processo de notificação, a subnotificação é historicamente expressiva na federação,
principalmente de intoxicações crônicas (BRASIL, 2018).

A exposição a agrotóxicos pode causar quadros de intoxicação leve, moderada


ou grave, a depender da quantidade do produto absorvido, do tempo de absorção, da
toxicidade do produto e do tempo decorrido entre a exposição e o atendimento médico
(BARBOSA et al., 2014).

Alergias; distúrbios gastrintestinais, respiratórios, endócrinos, reprodutivos e


neurológicos; neoplasias; mortes acidentais; suicídios; são algumas das consequências
observadas a partir da intoxicação por agrotóxicos. Os mais vulneráveis são os
trabalhadores agrícolas, os aplicadores de agrotóxicos, as crianças, as mulheres em
idade reprodutiva, as grávidas e as lactantes, os idosos e indivíduos com vulnerabilidade
biológica e genética (BARBOSA et al., 2014).

O Brasil é dos maiores produtores da área agropecuária no mundo e é o segun-


do maior exportador desses produtos, que além de movimentar o mercado internacio-
nal, emprega e gera dividendos também na economia local. Tal produção utiliza inten-
samente sementes transgênicas e insumos químicos, como fertilizantes e agrotóxicos,
tendo em vista, o modelo pautado no agronegócio, monocultivo e sistema alimentar
convencional e não sustentável (PIGNATI et al., 2017).

A extensão de área de plantio no Brasil é grande, sendo assim, tal característica


fez com que o país se tornasse o maior consumidor de agrotóxicos no mundo, além
dos cultivos transgênicos, do aumento incontrolável de pragas nas lavouras, créditos
agrícolas e isenção de impostos fiscais para aquisição de insumos agrícolas. Nesse
cenário, o país não investiu na vigilância e controle do uso de agrotóxicos e nem em uma
política pública voltada para redução do seu uso e incentivo à produção agroecológica
(CARNEIRO et al., 2015; PIGNATI et al., 2017).

As áreas de monocultivos são pulverizadas com agrotóxicos por meio de tratores


e aviões, os quais não atingem somente as “pragas” das plantações, mas contaminam
também o solo, as águas superficiais, o ar e os alimentos. Essa forma de manejo propicia
risco alto de contaminação do meio ambiente, trabalhadores e suas famílias, animais e
consumidores dos produtos que serão comercializados, dificultando ações de Vigilância
em Saúde (OLIVEIRA, 2014; PIGNATI et al., 2017).

40
Pignati et al. (2017) destacaram que o cultivo da soja, do milho e da cana-de-
açúcar correspondeu a 76% de toda a área cultivada no Brasil no ano de 2015. O cultivo
da soja predominou (42%), seguida da do milho (21%) e da cana-de-açúcar (13%). A soja
foi a cultura que mais utilizou agrotóxicos no Brasil, totalizando 63%, milho, 13% e cana-
de-açúcar, 5%.

Os mesmos autores analisaram o uso de agrotóxicos em litros por hectare,


assim o fumo foi o cultivo que mais utilizou, 60 L/ha, o algodão ficou em 2º lugar com
28,6 L/ha, seguido dos cítricos (laranja, tangerina e limão), 23 L/ha, tomate (20 L/ha),
soja (20 L/há), uva (12 L/ha), banana (10 L/ha), arroz (10 L/ha), trigo (10 L/ha), mamão (10
L/ha), milho (7,4 L/ha) e girassol (7,4 L/ha).

Os estados do Mato Grosso, Paraná e Rio Grande do Sul foram os que mais
utilizaram agrotóxicos, 207 milhões de litros, 135 milhões de litros e 134 milhões de litros,
respectivamente. Houve correlação positiva entre coeficientes de saúde e ambiental,
sinalizando que conforme aumento o consumo de agrotóxicos cresce o coeficiente de
intoxicação aguda, subaguda (malformação fetal) e crônica (câncer infanto-juvenil)
(PIGNATI et al., 2017).

Os 20 princípios ativos mais utilizados no Brasil e os tipos de agrotóxicos


(herbicidas, fungicidas e inseticidas) entre 2012 e 2016 estão demonstrados no Quadro 4.
De acordo com o grau de toxicidade, 15% são extremamente tóxicos, 35% medianamente
tóxicos e 25% são pouco tóxicos para seres humanos (PIGNATI et al., 2017).

QUADRO 4 – OS PRINCÍPIOS ATIVOS E OS TIPOS DE AGROTÓXICOS MAIS UTILIZADOS NO BRASIL ENTRE


2012 e 2016

Princípios ativos Tipo de agrotóxico

Glifosato Herbicida

Clorpirifós Inseticida

2,4-D Herbicida

Atrazina Herbicida

Óleo mineral Adjuvante

Mancozebe Fungicida

Metoxifenozida Inseticida

Acefato Inseticida

Haloxifope-P-Metílico Herbicida

Lactofem Herbicida

FONTE: Adaptado de Pignati et al. (2017)

41
O estudo sobre as consequências do uso de agrotóxicos relacionadas à saúde
dizem respeito à intoxicação aguda, incidência de malformação fetal (intoxicação
subaguda) e mortalidade por câncer infanto-juvenil (intoxicação crônica). Na pesquisa
desenvolvida por Pignatti et al. (2017), identificou-se correlação positiva entre o indicador
ambiental e os de saúde, ou seja, conforme se eleva o consumo de agrotóxicos, crescem
também os coeficientes de intoxicação aguda, subaguda e crônica.

Amoatey et al. (2020) afirmam em sua revisão que há limitação nos estudos
clínicos e epidemiológicos acerca dos efeitos de pesticidas (agrotóxicos), em modelos
de produção que emitem gases de efeito estufa, sobre a saúde dos trabalhadores rurais.
Desordens reprodutivas, sintomas respiratórios e irritações na pele são os efeitos mais
referidos por esses trabalhadores.

Vale destacar que o glifosato, o herbicida mais aplicado nas safras mundiais
e no Brasil, estimulou a disseminação de ervas daninhas tolerantes e resistentes, que
por sua vez, suscita aplicações mais frequentes e doses mais altas (BENBROOK, 2016;
VAN BRUGGEN et al., 2018). Nesse cenário, Gillezeau et al. (2019) evidenciaram que há
escassez de dados acerca da exposição ocupacional, para-ocupacional (alimento, água,
poeira de casas de indivíduos que não trabalham na lavoura) e ambiental (solo, poluição
de corpos hídricos etc.) dos indivíduos expostos ao glifosato.

Uma pequena quantidade aplicada de glifosato atende o objetivo de controlar


as ervas daninhas, em contrapartida, grande parte fica depositado e compromete a
fertilidade do solo, poluí os corpos hídricos e consequentemente ameaça a vida vegetal,
animal e humana (SINGH et al., 2020).

Os manuais e normas brasileiros direcionam a responsabilização do “uso segu-


ro” de agrotóxicos aos trabalhadores rurais, uma vez que, por exemplo, a Andef, Asso-
ciação Nacional de Defesa Vegetal, afirma que produz-se alimentos saudáveis com o
uso de agrotóxicos e recomenda o seu “uso seguro” a partir de manuais que esclarecem
regras de aquisição, transporte, armazenamento, preparo e aplicação, destino final de
embalagens vazias e lavagem de roupas/EPI (Equipamentos de Proteção Individual)
contaminados (ABREU; ALONZO, 2014). Nesse cenário, não há consideração sobre a
toxicidade dos produtos e modelos alternativos ao convencional para produção de ali-
mentos adotado no Brasil, ou seja, não há uma política pública efetiva para reduzir e
mitigar o uso de agrotóxicos e nem o incentivo à pesquisa de qualidade para apoiar o
processo de redução de danos e transição para um modelo mais sustentável.

Abreu e Alonzo (2014) destacam, a partir de sua revisão, que o “uso seguro”
de agrotóxicos, por meio de recomendações publicadas em manuais não tem sido
suficiente para garantir a proteção da saúde dos agricultores brasileiros e controle dos
riscos envolvidos na utilização de agrotóxicos, desde a aquisição até o descarte de
embalagens e lavagem de roupas/EPI.

42
Desde 2019, o governo federal brasileiro liberou o uso de 551 tipos de agrotóxi-
cos, reclassificou a toxicidade para baixo de alguns produtos, e regularizou que caso um
pedido de registro não seja avaliado em 60 dias, o produto é automaticamente liberado,
por meio da portaria no 43, publicada em 27 de fevereiro de 2020 pelo Ministério da
Agricultura, Pecuária e Abastecimento/Secretaria de Defesa Agropecuária. Essas mu-
danças nos regramentos norteiam para uma política de desmonte da legislação e de
programas, como o de Avaliação de Resíduo de Agrotóxicos em Alimentos (PARA), além
da perda de espaço para política de redução do uso e de taxação de agrotóxicos con-
forme a sua toxicidade (ABRASCO, 2020).

Para que possamos ter mais informações acerca do que compramos, comemos
e descartamos, é preciso que a regulação do uso de agrotóxicos tenha as seguintes
premissas: a) manter separação de poderes no registro de agrotóxicos, divididos em
estímulo à agricultura, à saúde pública e ao meio ambiente; b) ampliar a presença de
grupos da sociedade civil e experts em discussões, comitês e processos decisórios,
especialmente das áreas de direito do consumidor, do meio ambiente, da saúde pública
e de trabalhadores rurais; c) manter garantias para a liberdade de expressão, de forma
que setores mais frágeis e a mídia possam apontar eventuais conluios entre regulados
e reguladores etc. (MORAES, 2019).

DICAS
Caro acadêmico! Você sabia que no dia 25 junho de 1998, na cidade
dinamarquesa de Aarthus, durante a 4ª Conferência Ministerial
“Ambiente para a Europa” foi elaborada a Convenção de Aarthus, a qual
empodera cidadãos europeus acerca do direito ao acesso à informação,
participação do público no processo de tomada de decisão e acesso à
justiça em matéria de meio ambiente. Ela é uma convenção inovadora,
pois estabelece relações entre os direitos ambientais e os direitos humanos,
assumindo que o desenvolvimento sustentável só poderá ser alcançado com
engajamento de todos os cidadãos em um contexto democrático. Acesse na
íntegra em: https://bit.ly/2YzD0jh.

43
LEITURA
COMPLEMENTAR
PERCEPÇÃO DOS CONSUMIDORES BRASILEIROS FRENTE AOS ALIMENTOS
ORGÂNICOS: UM ESTUDO EXPLORATÓRIO ACERCA DOS ATRIBUTOS,
BENEFÍCIOS E BARREIRAS

Bruna Jungles Ferreira


Ender da Silva Mota
Sheila Farias Alves Garcia

O crescimento do consumo de produtos orgânicos exige esforços cada vez


maiores dos diversos elos da cadeia produtiva, como o aumento do volume produzido,
a ampliação do sortimento, a adoção desses produtos por diferentes canais de venda, a
melhoria do funcionamento das cadeias de suprimento e a organização de importação e
exportação, a fim de equilibrar, com maior flexibilidade, a oferta e a demanda domésticas.

O comportamento do consumidor varia entre regiões e países, fazendo com


que, em cada local, fatores distintos se sobressaiam no que tange aos estímulos para a
compra de alimentos orgânicos. Entretanto, grande parte das descobertas oriundas de
pesquisas realizadas com consumidores indica uma convergência dos principais fatores
para a compra desses alimentos, dentre os quais se destacaram as questões relacionadas
à saúde, à nutrição e à segurança alimentar, a preocupação com o meio ambiente, o
bem-estar animal e os impactos gerados pela produção, além dos estímulos à economia
local e à sustentabilidade. Quanto aos fatores detentores do consumo, salientam-se o
alto preço dos orgânicos quando comparados aos produtos convencionais, o marketing
insuficiente, a falta de disponibilidade, ou seja, o merchandising ainda frágil, a crise
de confiança acerca dos selos de certificação, dos rótulos de produtos e do sistema
produtivo, e a satisfação com a atual fonte de alimentos.

De caráter exploratório e abordagem qualitativa, este estudo objetivou


compreender a percepção dos consumidores brasileiros em relação aos alimentos
orgânicos, tendo em mente a importância dessa informação para o aumento da
eficiência das ações de marketing promovidas pelos diversos agentes da cadeia de
orgânicos, no que concerne à segmentação de mercado, à diferenciação de produtos,
ao desenvolvimento de novos produtos e ao branding. Para isso, a pesquisa buscou
explorar o significado de alimentos orgânicos sob o prisma do consumidor, investigando
quais são os atributos percebidos pelos entrevistados como favoráveis e desfavoráveis
ao consumo. Além disso, buscou-se evidenciar quais são os benefícios que os
consumidores esperam receber dessa categoria de alimento e identificar quais são as
barreiras que impedem o crescimento do consumo.

44
Para a consecução desses objetivos, o presente artigo subdividiu-se em quatro
partes, além desta introdução. Primeiramente foi apresentada uma breve revisão da
literatura sobre o consumo de alimentos orgânicos, bem como sobre os atributos, be-
nefícios e barreiras. Em seguida descreveu-se a trajetória metodológica adotada pelo
estudo. Depois disso foram apresentados e discutidos os principais resultados da inves-
tigação empírica (entrevistas em profundidade) realizada. Por fim, o artigo apresentou
as conclusões do estudo, suas limitações e sugestões para trabalhos futuros.

Os resultados sugeriram que a definição de alimentos orgânicos ainda não


está claramente instalada nas percepções dos consumidores e que existem muitas
crenças e confusões acerca do conceito. Quanto aos atributos favoráveis ao consumo,
destacaram-se a superioridade dos orgânicos em relação aos convencionais em
uma série de aspectos, como sabor, qualidade e benefícios gerados, enquanto, no
que se refere aos atributos desfavoráveis, salientaram-se o preço, a perecibilidade
e as variações físicas. Em relação às barreiras para o consumo, foram sinalizadas
diversas questões relativas à distribuição e ao varejo, como a dificuldade de acesso,
a baixa variedade de produtos e o pequeno espaço por eles ocupado nas gôndolas
dos supermercados. Além disso, observou-se uma forte associação dos orgânicos
aos alimentos primários, como verduras, legumes e frutas, sendo desconsiderados os
alimentos processados e industrializados. Recomenda-se que estudos futuros realizem
investigações aprofundadas, utilizando amostras mais robustas, buscando investigar
se as barreiras ao consumo, evidenciadas neste trabalho, são representativas dentro
da população brasileira. Além disso, pesquisas quantitativas poderiam averiguar quais
as crenças relacionadas aos alimentos orgânicos, a serem desmistificadas frente aos
consumidores.

FONTE: Adaptada de <https://www.brazilianjournals.com/index.php/BRJD/article/view/3843/3636>. Acesso em:


29 jul. 2021.

45
RESUMO DO TÓPICO 2
Neste tópico, você aprendeu:

• A agricultura convencional causa maiores impactos ao meio ambiente do que o


modelo agroecológico.

• A escala de produção comercial dos alimentos, incluindo quantidade vultuosa de


produtos e a rapidez no processo de distribuição contribuem para a insustentabilidade
do processo.

• A alimentação contemporânea tornou-se insustentável, pois ocasiona perda do solo


(monoculturas, salinização) e das florestas (prática da agricultura e pecuária) e dos
corpos hídricos.

• A criação de bovinos no Brasil favorece a produção dos gases de efeito estufa


(GEE), gás metano emitido pela fermentação entérica dos bovinos, o óxido nitroso
emitido pelos dejetos dos animais e por fim, o dióxido de carbono trocado pelo solo e
vegetação.

• Na produção agroecológica há preocupação com todo o sistema alimentar (produ-


ção, processamento, comercialização, consumo e descarte), com ênfase no consu-
mo de produtos locais e na sazonalidade, além de fomentar a equidade social, por
meio de políticas públicas que visam a aproximação do pequeno produtor com o
consumidor final.

• A troca de alimentos de origem animal por vegetal é particularmente efetiva em países


de alta renda para melhorar o nível de nutrientes consumido, reduzir a mortalidade
prematura, diminuir alguns impactos ambientais, em particular, a emissão de GEE.

• Os sistemas agrícolas de base ecológica ou agricultura alternativa/sustentável, são


baseadas na produção natural e integrada ao meio ambiente, com redução no uso de
insumos e na preferência por recursos locais.

• A agricultura ecológica une dois temas “urgentes” à população mundial que são
padrão de alimentação saudável e ao mesmo tempo sustentável.

• A preservação do solo, a qualidade da produção e a sustentabilidade ecológica, são


alicerces da produção agroecológica.

46
• Os produtos orgânicos que apresentam o selo federal devem conter 95% de ingre-
dientes orgânicos, os outros 5% devem ser identificados e estar dentro das regras de
produção orgânica, sendo que o uso de agrotóxicos é terminantemente proibido.

• O vegetarianismo é classificado em: a) ovolactovegetarianismo (ingere ovos, leite e


derivados); b) Lactovegetarianismo (ingere leite e derivados, mas não consome ovos);
c) Ovovegetarianismo (ingere ovos, mas não consome lacticínios); d) Veganismo
(não ingere nenhum produto de origem animal e pode também excluir o mel); e)
Veganismo baseado em alimentos crus (vegetais, frutas, oleaginosas e sementes,
legumes e grãos germinados), a quantidade de alimentos crus varia de 75% a 100%.

• A adoção de uma dieta vegetariana ou redução do consumo de carne contribuem


para redução de emissão de gases de efeito estufa, deflorestamento, utilização de
combustíveis fósseis etc.

• Os agrotóxicos (também denominados defensivos agrícolas, agroquímicos e


pesticidas) são produtos químicos, físicos ou biológicos utilizados nos setores de
produção agrícola, pastagens, entre outros, com o objetivo de alterar a composição
química tanto da flora quanto da fauna a fim de preservá-las.

• O Brasil é um dos países que mais utiliza agrotóxicos no mundo, além não ter controle
de regramento do uso baseado em evidências científicas acerca da segurança e dos
possíveis efeitos sobre a saúde dos animais, plantas, seres humanos e meio ambiente.

• O glifosato, um herbicida utilizado para controle ervas daninhas em cultivos de


transgênicos (soja, milho, canola), é o agrotóxico mais utilizado no Brasil e o seu
emprego disseminado gera tolerância e resistência, o que suscita aplicações mais
frequentes e em doses cada vez mais altas.

47
AUTOATIVIDADE
1 A sustentabilidade alimentar é um tema transversal e global, uma vez que, produzir
alimentos gera impactos ambientais, no entanto, o modelo convencional produz mais
danos para todo o ecossistema do que o agroecológico. Nesse contexto, analise as
sentenças a seguir:

I- Os impactos gerados pela agricultura convencional são perda do solo, das florestas,
contaminação de corpos hídricos, formação de gases de efeito estufa, uso de
agrotóxicos e combustíveis fósseis etc.
II- A alimentação sustentável alicerça-se em todo o sistema alimentar desde a
produção até a geração de resíduos e desperdício alimentar.
III- A introdução de sistemas alimentares equilibrados com as florestas, a utilização de
espaços urbanos vazios para produção de alimentos e o processo de recolhimento
seletivo de resíduos, integram parte da sustentabilidade alimentar.
IV- A agricultura convencional em países em desenvolvimento preconiza a
equidade social, além de produzir alimentos em larga escala, os quais reduzem
significativamente a fome no mundo.

Assinale a alternativa CORRETA:


a) ( ) Somente as assertivas I, III e IV estão corretas.
b) ( ) Somente as assertivas I, II e III estão corretas.
c) ( ) Somente a assertiva II e IV estão corretas.
d) ( ) Todas as assertivas estão corretas.

2 A produção de alimentos orgânicos (AO) faz parte do modelo agroecológico, o qual se


caracteriza por uma produção natural e integrada ao meio ambiente. A produção de
AO vem crescendo no Brasil, mas ao mesmo tempo enfrenta uma série de desafios.
Sobre esse assunto, assinale a alternativa CORRETA:

a) ( ) A quantidade, a distribuição e a comercialização no varejo são alguns dos


problemas enfrentados pelos trabalhadores rurais que adotam um modelo
agroecológico.
b) ( ) A agricultura familiar tem as mesmas condições de produção, distribuição e
comercialização quando comparada aos grandes produtores de soja e de milho.
c) ( ) Há uma política pública efetiva, envolvendo as esferas federal, estadual e
municipal, que ampara e incentiva a produção de alimentos orgânicos no Brasil.
d) ( ) Apesar de todos os desafios para produção e comercialização de AO, o Brasil é o
maior produtor mundial.

48
3 O uso de agrotóxicos nos remete ao modelo de produção de alimentos pautado
nas grandes extensões de terra que se destinam à monocultura, ao elevado
processamento dos alimentos e ao consumo não sustentável. Diante desse cenário,
analise as sentenças:

I- No Brasil, desde 2019, vem ocorrendo um aumento expressivo da liberação de


agrotóxicos, reclassificação do nível de toxicidade para baixo e flexibilização do
regramento.
II- O glifosato é um dos agrotóxicos mais utilizados no Brasil, trata-se de um herbicida
que elimina ervas daninhas das plantações, principalmente de transgênicos, como
o cultivo de soja, milho e canola.
III- Os trabalhadores que manipulam esses compostos, mas também indivíduos que não
manipulam agrotóxicos, animais, plantas, solo, água e ar podem ser contaminados,
mesmo que sejam seguidos todos os protocolos de segurança.
IV- Os riscos à saúde com o uso de agrotóxicos incluem: irritações na pele, desordens
reprodutivas, sintomas respiratórios etc.

Assinale a alternativa CORRETA:


a) ( ) Somente as assertivas II e III estão corretas.
b) ( ) Somente as assertivas I e IV estão corretas.
c) ( ) Somente as assertivas I, II e III estão corretas.
d) ( ) Todas as assertivas estão corretas.

4 A incidência alta de Doenças Crônicas Não Transmissíveis (DCNT) é um desfaio para


a área de saúde pública no Brasil e no mundo, uma vez que esses agravos à saúde
representam redução na qualidade de vida e pressão sobre os serviços de saúde.
Considerando essa premissa é possível refletir sobre alimentação sustentável e ao
mesmo tempo saudável? Justifique sua resposta.

5 O padrão alimentar vegetariano vem sendo estudado com enfoque na saúde e no


impacto sobre o meio ambiente e dentro desse padrão há várias características,
como os indivíduos que seguem um padrão que inclui lacticínios e ovos até os que
não consomem alimentos de origem animal. Diante do excerto, explique como a
adoção de um padrão alimentar vegetariano ou a redução no consumo diário de
carne impacta o meio ambiente?

49
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automática de agrotóxicos, 2020. Disponível em: https://www.abrasco.org.br/site/
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balagem e rotulagem, o transporte, o armazenamento, a comercialização, a propaganda
comercial, a utilização, a importação, a exportação, o destino final dos resíduos e emba-
lagens, o registro, a classificação, o controle, a inspeção e a fiscalização de agrotóxicos,
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59
60
UNIDADE 2 —

DESINFORMAÇÃO NA ÁREA
DA NUTRIÇÃO

OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM
A partir do estudo desta unidade, você deverá ser capaz de:

• inferir sobre o que é conhecimento científico, sua construção e consolidação;

• compreender e relacionar saúde baseada em evidência científica com enfoque na


área da Nutrição;

• identificar conflito de interesse na prática do nutricionista e com isso desenvolver


habilidade de criticidade e postura ética;

• contextualizar e interrelacionar conhecimento científico, saúde baseada em evidência


e conflito de interesses;

• ler com criticidade um artigo científico;

• identificar desinformação na área da Nutrição;

PLANO DE ESTUDOS
A cada tópico desta unidade você encontrará autoatividades com o objetivo de
reforçar o conteúdo apresentado.

TÓPICO 1 – CONSTRUÇÃO DO CONHECIMENTO CIENTÍFICO, SAÚDE BASEADA EM


EVIDÊNCIAS CIENTÍFICAS E CONFLITO DE INTERESSES

TÓPICO 2 – DESINFORMAÇÃO NA ÁREA DA NUTRIÇÃO

CHAMADA
Preparado para ampliar seus conhecimentos? Respire e vamos em frente! Procure
um ambiente que facilite a concentração, assim absorverá melhor as informações.

61
CONFIRA
A TRILHA DA
UNIDADE 2!

Acesse o
QR Code abaixo:

62
UNIDADE 2 TÓPICO 1 —
CONSTRUÇÃO DO CONHECIMENTO
CIENTÍFICO, SAÚDE BASEADA EM
EVIDÊNCIAS CIENTÍFICAS E CONFLITO
DE INTERESSES

1 INTRODUÇÃO
Caro acadêmico, na atualidade, uma discussão recorrente e acalorada sobre
temas importantes no que diz respeito à pandemia da COVID-19 fez emergir conceitos
importantes para o entendimento sobre a prevenção e o tratamento dessa doença que
já ceifou muitas vidas no Brasil e no mundo.

Vieram à tona questionamentos sobre o que é conhecimento científico, como


ele é produzido, o que são evidências científicas e o que é saúde baseada em evidências
científicas. Paradoxalmente, esses questionamentos estão em evidência por conta de
uma avalanche de desinformação, ou seja, de fake news, a qual também contribuiu para
o adoecimento e óbito da população mundial, além da própria infecção causada pelo
vírus SARS-CoV-2.

Na área da Nutrição existem exemplos de desinformação, portanto, estudar e


aprofundar seus conhecimentos sobre esse tema lhe auxiliará a assumir uma postura
de criticidade acerca do tratamento nutricional, de conteúdos disseminados pelas redes
sociais, além de identificar indícios de informações imprecisas ou falsas.

Com a meta de desenvolver o seu crítico, essa unidade irá discorrer sobre
o conceito de conhecimento científico, de que forma ele é construído e como deve
alicerçar a atuação do profissional da área da saúde, evitando assim que os pacientes
sejam expostos a tratamentos sem eficácia, os quais impedem sua recuperação plena e
podem demandar custo alto.

Perpassando o conhecimento científico e a saúde baseada em evidências, há o


conflito de interesses. Você já ouviu falar sobre? Esse é um tema bastante relevante que
diz respeito à pesquisa e publicação de artigos científicos, à publicidade de alimentos, à
conduta do nutricionista no atendimento em consultórios, hospitais etc.

O conflito de interesses pode distorcer dados de pesquisa, comprometer a


atuação profissional, expor pacientes a tratamentos sem eficácia comprovada e que
ofereçam riscos à saúde.

63
2 CONSTRUÇÃO DO CONHECIMENTO CIENTÍFICO
O conhecimento científico baseia-se na testagem de hipóteses, se constrói
e reconstrói ininterruptamente por meio de um método e se consolida a partir de
evidências científicas. O método científico envolve observação, elaboração de hipótese,
experimentação, análise criteriosa de dados e conclusão (LIMA; MIOTO, 2007).

Vale destacar que há uma diferença importante entre o conhecimento científico


e o senso comum (conhecimento popular e culturalmente aceito), o qual ancora-se na
ausência de testagem, de verificação e de análise metodológica, características essas
não observadas no senso comum e que diminuem a sua confiabilidade. Ao mesmo
tempo, é preciso pensar igualmente, que como o conhecimento científico é produzido
por seres humanos, ele também é falível e, portanto, demanda análise criteriosa e
rigorosa (SOUSA, 2006).

A cultura e o meio ambiente exercem influência sobre o conhecimento


científico, uma vez que o conhecimento é gerado por seres humanos inseridos em
uma organização social, dessa forma, em um determinado contexto traz a reboque as
idiossincrasias dos produtores (cientistas) e as limitações impostas pelo meio (políticas
públicas de incentivo à pesquisa, recursos financeiros, operacionais, tecnológicos e de
acesso à informação) (SOUSA, 2006; LIMA; MIOTO, 2007).

A expressão do conhecimento pode ser de forma tácita ou explícita. A primeira


se dá nas relações entre os cientistas e está atrelada à experiência e competência
do pesquisador, enquanto a explícita está formalizada ou estruturada na publicação/
divulgação por meio de artigos, revistas, manuais, bases de dados, portais de
conhecimento (BENNETT, 2001; POPADIUK; SANTOS, 2010).

Os artigos científicos caracterizam-se por uma formalização do conhecimento


científico elaborado pelo(s) autor(es), os quais são publicados em periódicos científicos,
que são de domínio público. Os periódicos adotam o procedimento de revisão por pares
(avaliação de especialistas), uma vez que, ao enviar sua pesquisa, o autor receberá um
parecer de revisores, que podem aprovar, desaprovar ou solicitar ajustes para que o
trabalho seja publicado (PEREIRA, 2012).

Em caso de divulgação adequada, Pereira (2012) destaca que o artigo poderá


ser lido, citado e utilizado por profissionais da área da saúde em suas atividades diárias,
além de viabilizar a elaboração de diretrizes, consensos acerca de medidas preventivas,
de tratamentos de doenças etc.

Ao mesmo tempo, há o que se denomina literatura cinzenta, a qual incluem


teses e trabalhos para progressão na carreira em todos os níveis da educação
superior, informes técnicos ou institucionais e publicações locais ou de pobre ou nula
distribuição, escritas majoritariamente, mas nem sempre, em idiomas distintos ao
inglês, o qual é consolidado como idioma científico universal. Pode ser produzida no
âmbito governamental, acadêmico, comercial ou da indústria (SALES; ALMEIDA, 2007).

64
3 SAÚDE BASEADA EM EVIDÊNCIAS CIENTÍFICAS
Na década de 1970, o epidemiologista Archibald Cochrane preconizou que as
pesquisas norteassem as diretrizes para prática clínica a fim de elevar a efetividade na
aplicação dos recursos do sistema de saúde do Reino Unido e evitar desperdícios. Com
isso, origina-se a Medicina Baseada em Evidência (MBE) (CANUTO, 2018).

O desenvolvimento metodológico da proposta da MBE foi idealizado pelos


professores Gordon Guyatt, David Sackett e David Eddy, na década de 1980, que
definiram a MBE em “uso cuidadoso, explicito e sábio das melhores evidências científicas
existentes na tomada de decisões sobre o cuidado de pacientes” (CANUTO, 2018).

Nesse contexto, a Saúde Baseada em Evidências (SBE) expande-se para outras


áreas da saúde, como a Nutrição, Enfermagem, Farmácia e Saúde Pública, incluindo
profissionais que atuam da gestão até a assistência e da atenção primária (Unidades
Básicas de Saúde) até a terciária (Hospitais) (CANUTO, 2018).

O termo “nutrição baseada em evidências (NBE) ou prática baseada em evidên-


cias na nutrição (PEN) surgiu recentemente e pode ser definida como a adoção das me-
lhores evidências científicas disponíveis, sistematicamente reunidas, na tomada de de-
cisão na prática clínica e no contexto das políticas públicas (população) (BAUER, 2019).

Para efeitos didáticos, será discutido aqui a SBE que Canuto (2018) conceitua
como uma abordagem que utiliza as ferramentas da Epidemiologia Clínica, da Estatística,
da Metodologia Científica, da Informática e dos Sistemas de Informação aplicadas à
pesquisa, a fim de avaliar e reduzir as incertezas na tomada de decisão em saúde e
evitar que um tratamento seja implementado baseado em opiniões e crenças.

A SBE resulta da melhor evidência científica aplicada na prática clínica e visa


oferecer o que há de melhor para avaliação de tecnologia de diagnóstico; elaboração de
protocolos de diagnóstico e manejo clínico; adequação de tratamentos às circunstâncias
e ao risco-benefício para o paciente; e elaboração de políticas públicas (PERES; PERES,
2010; CANUTO, 2018).

Eficácia, eficiência e efetividade nas ações, serviços e políticas públicas, além


do tratamento instituído, são atributos avaliativos fundamentais que conferem benefí-
cios ao paciente/população. A eficácia diz respeito ao alcance do objetivo, o qual é afe-
rido por estudos metodológicos rigorosos, em ambiente controlado, de pesquisa; o grau
de eficácia que a medida (que pode ser um tratamento, uma política pública etc.) atinge
é denominado de efetividade; e por fim, a relação custo-benefício da medida chama-se
de eficiência (PERES, PERES, 2010).

65
Nesse cenário, é importante destacar que há duas classificações importantes
no que se refere aos fundamentos da pesquisa, denominadas de pesquisa qualitativa e
quantitativa (BUSNELLO; REPPOLD, 2018). A pesquisa qualitativa lança um olhar sobre
as palavras e falas/discursos ao invés de números. Ela é mensurada por meio da busca
de significados que os indivíduos atribuem a suas experiências, incluindo crenças, valo-
res, atitudes e hábitos, se propõe a explicar os fenômenos sociais por meio da observa-
ção direta e participante; de entrevistas; de grupos focais; de conversas informais; e de
análises de textos ou de discursos (TURATO, 2005; BUSNELLO; REPPOLD, 2018).

Por outro lado, mas não significando que as modalidades não possam interagir,
a pesquisa quantitativa compreende estudos experimentais ou observacionais a
fim de resolver problemas e, para tanto, emprega a estatística como ferramenta para
análise de dados. Na área da saúde, em nível internacional, é a forma de fazer pesquisa
predominante (DESLANDES; ASSIS, 2002; TURATO, 2005; FAYH, 2018).

Com enfoque na pesquisa quantitativa, se pode questionar como a eficácia


e a efetividade de um tratamento são avaliadas? No contexto da Nutrição Clínica,
por exemplo, pode-se questionar se a adoção de um determinado padrão alimentar
específico pode prevenir e/ou tratar as doenças cardiovasculares. Sendo assim, esse
padrão alimentar não deve só mostrar que faz mais bem do que mal aos indivíduos que
o adotam (eficazes), mas também fazer mais bem do que mal para aqueles aos quais é
recomendado (efetiva).

Para avaliar a eficácia do padrão alimentar, é interessante incluir na pesquisa


somente pacientes que provavelmente irão aderir ao tratamento. A aderência ao
tratamento significa quantas pessoas seguiram a orientação profissional. A efetividade
prática é demonstrada a partir do estudo do desfecho, ou seja, o que ocorreu com os
indivíduos para os quais o tratamento foi orientado (PERES; PERES, 2010).

Na prática, inicia-se com um questionamento a fim de resolver um problema,


por exemplo: a adoção do padrão alimentar do Mediterrâneo previne o aparecimento de
doenças cardiovasculares? A redução do consumo de carne vermelha reduz riscos de
doenças cardíacas? A oferta de uma dieta rica em proteínas melhora a cicatrização de
pacientes adultos queimados?

Peres e Peres (2010) esclarecem que, para evidenciar a qualidade da


evidência científica, classificam-se os estudos com delineamento excelente (alto rigor
metodológico) até os com rigor científico mais frágil (baixo rigor metodológico). Assim,
considera-se:

• Ensaio Clínico Randomizado (ECR) de alta qualidade ou revisão sistemática de en-


saios clínicos randomizados bem delineados e múltiplos.

66
• ECR ou Revisão Sistemática de menor qualidade. Estudos observacionais de quali-
dade (coortes e caso-controles aninhado em coortes) ou revisão sistemática destes
estudos.
• Ensaio Clínico Não-Randomizado. Estudo de casos e controles.
• Estudos Experimentais não comparados e demais estudos observacionais.
• Fóruns de Especialistas e Autoridades respeitadas baseados em evidências clínicas
ou estudos descritivos.

Mota e Kuchenbecker (2020) complementam as afirmações de Peres e Peres


(2010), apresentando a pirâmide de evidências científicas aplicada a diferentes doenças
com tratamentos comprovados considerando a eficácia e a segurança.

Os estudos controlados randomizados e duplo cego estão no topo da hierarquia,


seguidos dos controlados randomizados; passando por estudos de coorte; caso-
controle; série e relatos de casos; estudos em animais, ideias, editoriais e opiniões; e por
último na base, os estudos 2 (MOTA; KUCHENBECKER, 2020).

FIGURA 1 – MODELO TRADICIONAL DE PIRÂMIDE DAS EVIDÊNCIAS APLICADO A DIFERENTES DOENÇAS


COM TRATAMENTOS COMPROVADOS EM TERMOS DE SEGURANÇA E EFICÁCIA

FONTE: Adaptada de Mota e Kuchenbecker (2020, p. 4)

Para iniciar uma seleção de artigos científicos é preciso determinar os termos


de busca ou palavras-chave. Para tanto, há dicionários de termos on-line que auxiliam
nessa etapa, com destaque para os Descritores em Ciências da Saúde (DeCS), o qual
uniformiza os termos de busca em três idiomas, português, inglês e espanhol (Figura 2).
Por exemplo, dietoterapia é uma palavra-chave encontrada no DeCS.

67
FIGURA 2 – DESCRITORES EM CIÊNCIA DA SAÚDE

FONTE: <https://decs.bvsalud.org/>. Acesso em: 9 jun. 2021.

As bases de dados são onde se localizam as revistas e seus respectivos artigos,


algumas disponibilizam somente o resumo do trabalho e exigem pagamento para
que o leitor possa ler todo o artigo, outras disponibilizam o texto na íntegra sem custo
(MORAES; BELLI, 2018).

As principais bases de dados são Scientific Electronic Library On-line (SciELO),


Literatura Latino-americana e do Caribe em Ciências da Saúde (LILACS) – base
voltada para busca de artigos publicados na América Latina e Caribe; The  National
Library  of  Medicine  (PubMed) – base voltada para estudos na área de biomedicina e
ciências da vida publicados em sua maioria em inglês, ScienceDirect (Elsevier) – base com
livros e periódicos revisados e publicados em inglês; Coordenação de Aperfeiçoamento
de Pessoal de Nível Superior (CAPES periódicos) – base com textos completos e
livros; Cochrane – inclui textos completos, ensaios clínicos, revisões sistemáticas etc.
(MORAES; BELLI, 2018).

Com o intuito de classificar as revistas de acordo com cada área, os Periódicos


Qualis Capes enquadram os títulos em estratos de qualidade, sendo eles, A1, o mais
elevado, seguido de A2, A3, A4, B1, B2, B3, B4, B5 e C (CODATO, 2019). A consulta
é feita pela plataforma Sucupira, ferramenta on-line do Sistema Nacional de Pós-
Graduação através do endereço https://sucupira.capes.gov.br/sucupira/public/
consultas/coleta/veiculoPublicacaoQualis/listaConsultaGeralPeriodicos.jsf.

A Revista de Nutrição trata-se de uma publicação editada pelo Programa de


Pós-Graduação em Ciências da Saúde do Centro de Ciências da Vida da Pontifícia
Católica de Campinas-SP e que pode ser acessada na base de dados SciELO e LILACS,
é classificada como B3, de acordo com a área de avaliação da CAPES, na qual a Nutrição
pertence, denominada Medicina 2 (BRASIL, 2019).

68
Nas revistas científicas, afirmam Ferreira e Patino (2016), é possível encontrar
diferentes trabalhos de acordo com o tema que se deseja pesquisar e com diferentes
metodologias para obtenção dos dados. No topo da hierarquia está o ensaio clínico
randomizado duplo cego.

A randomização trata-se de uma aleatorização no processo de formação dos


grupos (intervenção e controle) que irão compor a pesquisa. Ela permite a mesma
chance de alocação de um paciente/indivíduo em qualquer dos grupos (controle ou
intervenção), sendo impossível direcionar intencionalmente para qual grupo irá um
paciente/indivíduo (FERREIRA; PATINO, 2016).

A randomização pode ser executada a partir da seguinte hipótese de pesquisa:


a suplementação com proteína do soro do leite a pacientes pós cirurgia bariátrica reduz
a perda de massa muscular.

Com a determinação da hipótese distingue-se dois grupos, um que receberá o


suplemento à base de proteína do soro do leite (grupo experimental) e outro que rece-
berá placebo (controle), por conseguinte, aleatoriamente os pacientes serão alocados
por sorteio, com chance igual de compor o grupo intervenção ou o controle (Figura 3)
(FERREIRA; PATINO, 2016).

FIGURA 3 – DESENHO DE UM ESTUDO CLÍNICO RANDOMIZADO

FONTE: Adaptado de Souza (2009)

Ferreira e Patino (2016) esclarecem que quando implementada de forma cor-


reta, a randomização evita o viés de seleção e produz grupos de estudo comparáveis
quanto a fatores de risco conhecidos e desconhecidos.

O viés é definido como qualquer processo, em alguma etapa da pesquisa,


em que a metodologia incorreta distorce o resultado durante o desenvolvimento da
investigação. Qualquer tipo de delineamento pode apresentar distorção dos resultados
e com isso comprometer a conclusão da pesquisa (ALMEIDA; GOULART, 2017).

69
Outro princípio fundamental para se evitar viés na pesquisa é o mascaramento,
também denominado duplo cego, ou seja, nem o pesquisador e nem o sujeito da pesquisa
sabem o que está sendo administrado. Desse modo, se evita que tanto pesquisadores
como participantes induzam resultados distorcidos por conta de preconceitos,
esperanças, anseios e expectativas frente a um tratamento que seja novo ou que seja
um placebo (DAINESI, 2010).

Seguindo a hierarquia referente à SBE, a revisão sistemática (RS) é um tipo de


estudo planejado que utiliza métodos explícitos e sistemáticos para identificar, selecionar
e avaliar criticamente estudos primários (randomizados duplo cego, randomizados,
observacionais etc.) relacionados a um problema específico (GALVÃO; PEREIRA, 2014;
SILVA, 2018).

A metodologia para elaboração de uma RS deve explicitar os critérios de inclu-


são e exclusão dos estudos; indicar e delimitar a área de busca; apontar os descritores
para a busca; evitar compreensão subjetiva dos fatos observados; apontar o campo e a
cronologia de revisão (GALVÃO, PEREIRA, 2014; SILVA, 2018).

A partir da elaboração de uma RS, de acordo com Peres e Peres (2010), é


possível empregar uma técnica de análise estatística denominada metanálise, a
qual permite combinar e sintetizar os resultados de vários estudos, os quais foram
selecionadas por meio da RS. O objetivo da metanálise é identificar padrões comuns
e diferenças entre os dados publicados acerca do problema que se deseja estudar.

A elaboração de guias com recomendações e protocolos clínicos para nortear a


conduta de gestores e de profissionais da área da saúde que prestam desde assistência
primária à terciária podem ser embasados por estudos que empregam a técnica de
metanálise (PERES; PERES, 2010).

Além da revisão sistemática, há também as revisões do tipo narrativa e


integrativa, contudo, elas apresentam pouca evidência científica, uma vez que o rigor
metodológico e a descrição detalhada para busca ativa dos artigos científicos não
considerados (Quadro 1). (CORDEIRO et al., 2007; FERENHOF; FERNADES, 2016).

QUADRO 1 – COMPARAÇÃO ENTRE REVISÃO SISTEMÁTICA (RS), REVISÃO INTEGRATIVA (RI) E REVISÃO
NARRATIVA (RN)

Componente RS RI RN

Questão de
Mais específica Mais ampla Mais ampla
pesquisa

Claramente descrita
Estratégia de Sem detalhamento Sem detalhamento
e com critérios
busca dos artigos. e não reprodutível. e não reprodutível.
predefinidos.

70
Todos os artigos
Todos os artigos
Avaliação da A qualidade são incluídos
são incluídos
qualidade metodológica sem critérios
sem critérios
de estudos dos artigos é de qualidade
de qualidade
selecionados. predefinida. metodológica.
metodológica.
Escolha subjetiva.

É realizada por Não descreve


Métodos
Extração dos dois revisores a detalhadamente
frequentemente
dados. partir de uma ficha os critérios de
não descritos.
padronizada. inclusão.

Quando há
Todos os artigos Todos os artigos
possibilidade de
são analisados são analisados
análise conjunta dos
sem diferenciar qualitativamente
Síntese de dados. dados, emprega-se
a qualidade e sem diferenciar a
a metanálise, o que
o número de qualidade e número.
confere precisão
participantes. de participantes
dos resultados.

Abordagem Abordagem
Avaliação por
Heterogeneidade. descritiva na descritiva na
análise estatística.
maioria das vezes. maioria das vezes.

Maior risco de viés Maior risco de viés


Interpretação dos
Menor risco de viés. por expressar a por expressar a
resultados.
opinião do autor. opinião do autor.

FONTE: Adaptado de Silva (2018, p. 92)

Canuto (2018) destaca que não se trata somente de ler artigos científicos para
tomada de decisão na área clínica, mas de analisá-los de forma crítica por meio de um
método que possibilite a reunião, a classificação e a análise dos resultados de diversas
pesquisas e a conclusão por evidências ou pela falta delas.

Na Figura 4 está demonstrado o fluxo da informação com as diferentes fases


de elaboração de uma RS. Na área da Nutrição Clínica há vários exemplos de RS, em
seguida um excerto do artigo de RS sobre os efeitos dos probióticos sobre o perfil lipídico.

71
Na sequência hierárquica dos estudos clínicos randomizados e das revisões
sistemáticas, as pesquisas observacionais (coortes e casos controle) caracterizam-se
por ser observatórias e não experimentais. Nesse modelo de estudo o investigar observa
e registra, por exemplo, a doença e seus atributos, e a forma como ela se relaciona com
outras condições (exposição) sem qualquer intervenção (FRONTEIRA, 2013).

Os estudos observacionais classificam-se em descritivos (relato de caso, série


de casos) ou analíticos (transversais, caso controle, coorte e ecológico), propõem uma
intervenção após a observação, além disso, possibilitam a condução de mais pesquisas
para aprofundamento do conhecimento (OLIVEIRA; VELLARDE; SÁ, 2015).

FIGURA 4 – FLUXO DE INFORMAÇÕES COM AS DIFERENTES FASES DE ELABORAÇÃO DE REVISÃO


SISTEMÁTICA

FONTE: Adaptado de Galvão e Pansani (2015)

72
Efeitos dos probióticos no perfil lipídico: revisão sistemática

As alterações na microbiota intestinal podem modular mecanismos envolvendo


fatores de risco para doenças cardiovasculares, incluindo as dislipidemias. O
objetivo foi revisar os efeitos da suplementação de probióticos na prevenção e
no tratamento de alterações do perfil lipídico. As pesquisas foram feitas na base
de dados PubMed, com os descritores “probiotics and lipid profile” e “probiotics
and dyslipidemia”, em artigos publicados entre 2013 e 2018. A suplementação
com probióticos reduziu significativamente o colesterol total, o colesterol LDL
(lipoproteína de baixa densidade) e os triglicerídeos, assim como aumentou o
colesterol HDL (lipoproteína de alta densidade). Alguns benefícios foram observados
sobre variáveis antropométricas, de controle glicêmico, de estresse oxidativo, de
inflamação e do sistema imune. O presente estudo sugere que a suplementação
de probióticos seja indicada como tratamento coadjuvante às dislipidemias. Novos
estudos devem ser desenvolvidos com a finalidade de esclarecer os efeitos de longo
prazo, assim como a influência dos probióticos em associação com o tratamento
medicamentoso.

FONTE: <https://bit.ly/3z9tRKO>. Acesso em: 18 ago. 2021.

As pesquisadas desenvolvidas com caráter descritivo e que abordam


características de um grupo de indivíduos com uma condição clínica específica
denomina-se estudo de caso. É realizada quando há uma escassez de conhecimento
na área (HOCHMAN et al., 2005).

Os estudos transversais avaliam o desfecho e a exposição em um determinado


momento, são bastante utilizados para avaliar prevalência e planejar ações em saúde
pública; são de baixo custo e rápidos, mas podem possuir viés de seleção como
desvantagem (HOCHMAN et al., 2005).

Quando se objetiva testar hipóteses e seguimento de indivíduos com exposição


incomum, o estudo de coorte é recomendado. No entanto, ele é de alto custo e exige
longo período de execução. A coorte histórica (retrospectiva) segue do passado para o
momento atual, enquanto a coorte contemporânea (prospectiva) segue do momento
presente para frente (HOCHMAN et al., 2005).

DICAS
Consumo de frutas, legumes e verduras e associação com hábitos de vida
e estado nutricional: um estudo prospectivo em uma coorte de idosos”.
Disponível em: https://bit.ly/3nTIvTr.

73
O caso controle corresponde a uma análise a partir do desfecho para investigar
a causa, por exemplo, investigar as situações de risco de adultos hospitalizados,
previamente selecionados, com desnutrição. Para tanto, é necessário selecionar
um grupo-controle (pacientes eutróficos) para comparação com os desnutridos. Os
resultados podem embasar medidas de intervenção para evitar a desnutrição, tendo em
vista que os fatores de risco foram identificados.

DICAS
Confira um exemplo de estudo caso-controle do artigo de Camlofski et al.
(2018), intitulado “Reeducação alimentar associada ao aconselhamento
nutricional periódico em mulheres com síndrome metabólica: estudo de
caso-controle”. Disponível em: https://bit.ly/3bZu0ux.

O estudo ecológico é desenvolvido em uma comunidade e objetiva relacionar


a exposição e a condição saúde/doença na coletividade, com análise da doença no
grupo. A Identificação de fatores/situações de risco para o excesso de peso em uma
comunidade indígena, demostrada no artigo de Nascimento, Silva e Jaime (2017),
exemplifica um delineamento ecológico.

DICAS
Confira o artigo “Cobertura da avaliação do estado nutricional no
Sistema de Vigilância Alimentar e Nutricional brasileiro: 2008 a 2013”.
Disponível em: https://bit.ly/3yWJWXq.

Em resumo, todos os tipos de estudos estão sujeitos a vieses e erros, basta que
não se tenha rigor e clareza na metodologia para que os resultados e, por conseguinte
a conclusão fiquem distorcidos (CANUTO, 2018).

74
4 CONFLITO DE INTERESSES
A análise crítica dos artigos científicos engloba o escrutínio dos conflitos de
interesse (CIs) dos autores, o qual define-se como um conjunto de condições nas
quais o julgamento de um profissional a respeito de um interesse primário tende a ser
influenciado de forma indevida por um interesse secundário (CASSIMIRO; BAVARESCO;
SOARES, 2014; ØSTENGAARD et al., 2020).

A integridade da ciência depende tanto da acurácia dos métodos como da ética


dos pesquisadores, portanto, a declaração de CIs tem sido adotada pelas publicações
científicas como um elemento aferidor desse compromisso. Tal conduta possibilita que
autoras e autores exponham suas afiliações institucionais, profissionais e até religiosas
quando relacionadas ao universo pesquisado, tornando públicas tais informações para
julgamento dos próprios leitores e da comunidade científica (DIAS, 2019).

Nas pesquisas desenvolvidas na área da saúde, segundo Cassimiro, Bavaresco


e Soares (2014), os interesses secundários podem afetar os participantes da pesquisa
e os resultados, além de produzir vieses nos resultados. Portanto, para publicar um
artigo, os periódicos científicos solicitam ao autor que inclua uma declaração ao final:
“o autor afirma que não há conflitos de interesse” ou “o autor afirma que há conflitos de
interesse” e indica quais são.

Com o objetivo de controlar esse viés de pesquisa, os editores de periódicos


científicos solicitam declaração da existência ou não de CIs e papel do financiador
do estudo, caso ele exista. Tal encaminhamento visa garantir que os dados e, por
conseguinte as conclusões sejam confiáveis e não tenham sofrido influências de fatores
externos ou má conduta, como incentivos financeiros por resultados positivos ou por
ocultação de resultados negativos (ØSTENGAARD et al., 2020).

Estratégias podem ser implementadas para prevenir e controlar os CIs,


conforme Østengaard et al. (2020), e assim facilitar a imparcialidade na metodologia,
análise de resultados e conclusões do trabalho, para tanto, destacam-se: contratação
de um estatístico e segurança de dados independentes; adoção de um conselho de
monitoramento ou ainda exclusão de pesquisadores que trabalham para o financiador
da pesquisa.

Exemplos de estudos com falhas nos resultados são também observados


quando não há CIs financeiros, incluindo afiliação a uma especialidade, a uma teoria
acadêmica, a crenças religiosas etc. (ØSTENGAARD et al., 2020).

O código de ética e de conduta do nutricionista publicado em 2018 pontua no


capítulo V questões acerca da associação a produtos, marcas de produtos, serviços,
empresas e indústrias (CONSELHO FEDERAL DE NUTRICIONISTAS, 2018, s. p.):

75
Art. 60 É vedado ao nutricionista prescrever, indicar, manifestar
preferência ou associar sua imagem intencionalmente para divulgar
marcas de produtos alimentícios, suplementos nutricionais, fitote-
rápicos, utensílios, equipamentos, serviços, laboratórios, farmácias,
empresas ou indústrias ligadas às atividades de alimentação e nu-
trição de modo a não direcionar escolhas, visando preservar a au-
tonomia dos indivíduos e coletividades e a idoneidade dos serviços.

No capítulo VII, referente à pesquisa, o código de ética e de conduta do


nutricionista afirma que as atividades relacionadas a estudos e pesquisas teóricas,
práticas ou científicas realizadas pelo nutricionista obedecerão ao que segue:

Art. 81 É dever do nutricionista, ao publicar ou divulgar resultados


de estudos financiados ou apoiados por indústrias ou empresas
ligadas à área de alimentação e nutrição, assegurar a imparcialidade
no desenho metodológico e no tratamento dos dados, garantir a
divulgação da fonte de financiamento ou apoio e declarar o conflito
de interesses (CONSELHO FEDERAL DE NUTRICIONISTAS, 2018, s. p.).

Mialona, Sêrodiob e Scagliusi (2018) identificaram em sua revisão CIs em mate-


riais publicados, os quais criticavam a classificação NOVA, a qual propõe discussão acer-
ca do consumo de alimentos e produtos alimentícios a partir da extensão e propósito de
processamento. Vale destacar que o Guia Alimentar para População Brasileira, publicado
em 2014, utiliza a classificação NOVA e, portanto, tem sido alvo de inúmeros críticas.

A pesquisa identificou 32 materiais que criticavam a classificação NOVA, dos


38 autores desses documentos, 33 tinham relação com a indústria de alimentos
ultraprocessados (UPP) e os tipos de CIs foram: a) vínculo empregatício direto com
a indústria; não declaração de CIs quando havia; e as organizações que acolheram
ou apresentaram as críticas à classificação NOVA se relacionavam diretamente com a
indústria de UPP (Cargill, Coca-Cola, Danone, General Foods, General Mills, Kraft-Heinz,
Mc Donald’s, Mondelez, PepsiCo, Procter & Gamble e Unilever) (MIALONA; SÊRODIOB;
SCAGLIUSI, 2018).

As indústrias de alimentos, afirmam Pereira, Nascimento e Bandoni (2016),


investem massivamente em estratégias de publicidade para influenciar nutricionistas,
professores e estudantes de Nutrição e assim estabelecem conflitos de interesses, não
somente na área de pesquisa.

No estudo de revisão narrativa salientou-se que o marketing da indústria visa


influenciar a recomendação, a prescrição e o consumo de produtos por estudantes e
nutricionistas, ao conceder patrocínio a eventos científicos, financiamentos de viagens e
distribuição de brindes, os quais podem gerar obrigação moral de retribuição e corromper
o julgamento de informações e a decisão profissional (PEREIRA; NASCIMENTO; BANDONI,
2016). Nesse cenário, é salutar e urgente observar e cumprir o que regulamento o código
de ética e conduta do nutricionista publicado em 2018, o qual esclarece os limites na
inserção das indústrias de alimentos nos cursos de graduação em Nutrição.

76
A seguir estão apresentados artigos científicos com e sem conflito de interesses.

A suplementação dietética com ácido graxo ômega-3 pode reduzir complicações


severas em pacientes com Covid-19?

Tradução livre: Conflito de interesse

Pierre Weill foi presidente da Valorex, indústria alimentícia dedicada ao processa-


mento de proteína e sementes oleaginosas.
Ronan Thibault recebeu honorários de consultoria e conferência: Aguettant, Baxter,
BBraun, Fresenius-Kabi, Nutricia, Roche; honorários para conferências: Astra-
Zeneca, Homeperf, Lactalis, Nestlé, Shire; apoio financeiro para pesquisa: Valorex,
Bleu-Blanc-Coeur.
Os outros autores declararam ausência de conflito de interesse.

FONTE: <https://pubmed.ncbi.nlm.nih.gov/32920170/>. Acesso em: 18 ago. 2021.

Uso de suplementos alimentares por universitários da área de Saúde em Salvador – BA.

77
FONTE: <https://bit.ly/3A7ILCI>. Acesso em: 18 ago. 2021.

Na sequência, será exemplificado o passo a passo para a Prática Baseada em


Evidências. Para tanto, é necessário formular um questionamento e identificar a melhor
forma de respondê-lo. A pergunta deve ser clara, objetiva e concreta a fim de torná-la
objeto de busca nas bases de dados e por conseguinte respondida após análise crítica.
Uma estrutura de abordagem aplicada é denominada “PICO” (Quadros 2 e 3) (SANTOS;
PIMENTA; NOBRE, 2007; CANUTO, 2018).

QUADRO 2 – ESTRUTURA DE ABORDAGEM “PICO”

Características do grupo populacional ou do paciente


Paciente ou população (P)
para o qual se deseja uma informação.

A intervenção é o tratamento, a etiologia ou o teste


Intervenção (I) de diagnóstico que se tem interesse em aplicar para o
paciente ou população.

É a intervenção contra qual a intervenção será


Comparação (C)
comparada.

É o desfecho de interesse para o profissional e para


Outcome (desfecho) (O) o paciente. Os possíveis desfechos, sobrevivência,
sintomas, qualidade de vida, efeitos colaterais.

FONTE: Adaptado de Canuto (2018, p. 4-5)

78
Hipótese de pesquisa: a suplementação por via enteral (sonda) com ômega 3
ofertada a pacientes adultos críticos resulta em menor tempo de internação e maior
sobrevida?

QUADRO 3 – ELABORAÇÃO DE QUESTIONAMENTO A PARTIR DA ABORDAGEM “PICO”

População Pacientes adultos críticos

Intervenção Suplementação via enteral de ácido graxo ômega 3

Comparação Dieta padrão sem ômega 3

Outcome (desfecho) Tempo de internação e sobrevida

FONTE: A autora

DICAS
Caro acadêmico! O conflito de interesses é um viés de pesquisa o qual
distorce resultados e conclusão, mas não ocorre na área da Nutrição
somente por interferência da indústria de alimentos, apesar de ser
bastante frequente e danoso para construção do conhecimento científico
pautado na honestidade e na ética. O viés de pesquisa pode ser evidenciado
também em questões individuais e subjetivas dos pesquisadores. Sobre
esse assunto, leia a entrevista da nutricionista Sophie Deram concedida
ao ViverBem Uol. Acesse em: https://bit.ly/3k6X6d5

A PRÁTICA BASEADA EM EVIDÊNCIA NO CONTEXTO DA ATENÇÃO PRIMÁRIA


À SAUDE

Luana Roberta Schneider


Rui Pedro Gomes Pereira
Lucimare Ferraz

INTRODUÇÃO

A prática baseada em evidência agrega o melhor conhecimento científico,


com a experiência clínica do profissional e a escolha do paciente, resultando em
uma maior resolutividade na assistência em saúde. A atenção primária à saúde
(APS) configura-se como uma porta de entrada e centro de comunicação das redes
de atenção à saúde, fornecendo cuidado no âmbito individual, familiar e coletivo, no
decorrer do tempo, para todas as condições de saúde, exceto as muito raras.

79
No Brasil, de acordo com os preceitos do Sistema Único de Saúde, a APS
tem a saúde da família como estratégia prioritária para sua organização. O trabalho
desenvolvido pela equipe da Estratégia Saúde da Família (ESF) compreende ações
de promoção, prevenção, recuperação, reabilitação e cuidados paliativos. O objetivo
do estudo foi analisar a prática baseada em evidência dos profissionais das equipes
com Estratégia Saúde da Família em um município de Santa Catarina.

METODOLOGIA

Trata-se de um estudo quantitativo, descrito e transversal, realizado por meio


de questionários com 112 profissionais de saúde, sendo 42 médicos, 41 enfermeiros
e 29 cirurgiões dentistas.

RESULTADOS

Os resultados apontaram que eles consideram a prática baseada em


evidência fundamental, contudo, em suas ações, ela está mais centrada na
experiência clínica. Outrossim, não se sentem plenamente capacitados para realizar
a busca de evidências científicas, destacando o pouco conhecimento e habilidades
em pesquisa. Além disso, ressaltam a alta demanda de atendimentos, escasso
domínio de língua estrangeira e falta de apoio da gestão como dificultadores.

CONCLUSÃO

Conclui-se que os profissionais que atuam na APS consideram as práticas


baseadas em evidência fundamentais para as ações que são desenvolvidas na ESF,
contudo, a experiência clínica, que muitas vezes advém do compartilhamento de
vivências entre os colegas, foi o principal elemento das práticas em saúde, seguida
por evidências científicas e a preferência do paciente. Além disso, os profissionais da
atenção primária precisam se aprimorar para o desenvolvimento da prática baseada
em evidência, sendo que isso ultrapassa a sua vontade individual, ficando também
ao encargo das instituições formadoras e dos serviços de saúde.

FONTE: <https://saudeemdebate.org.br/sed/article/view/43>. Acesso em: 14 jun. 2021.

80
RESUMO DO TÓPICO 1
Neste tópico, você aprendeu:

• O conhecimento científico baseia-se na testagem de hipóteses e se constrói e


reconstrói initerruptamente por meio do método científico e se consolida a partir de
evidências científicas.

• A origem do conhecimento científico é fundamentada na apresentação de um


problema para o qual se deseja encontrar uma solução, tomando a argumentação e
um método como meios para alcançá-la.

• A cultura e o meio ambiente exercem influência sobre o conhecimento científico,


uma vez que o conhecimento é gerado por seres humanos inseridos em uma organi-
zação social.

• A expressão do conhecimento pode ser tácita ou explícita. A primeira se dá nas


relações entre os cientistas e está atrelada à experiência e competência do
pesquisador, enquanto a explícita está formalizada ou estruturada na publicação/
divulgação por meio de artigos, revistas, manuais, bases de dados etc.

• Os artigos científicos caracterizam-se por uma formalização do conhecimento


científico elaborado pelo(s) autor(es), os quais são publicados em periódicos
científicos, que são de domínio público.

• A Saúde Baseada em Evidências (SBE) é uma abordagem que utiliza as ferramentas da


Epidemiologia Clínica, da Estatística, da Metodologia Científica, da Informática e dos
Sistemas de Informação aplicadas à pesquisa, a fim de avaliar e reduzir as incertezas
na tomada de decisão em saúde e evitar que um tratamento seja implementado
baseado em opiniões.

• Eficácia, eficiência e efetividade de ações, serviços e políticas públicas são metas do


cuidado em saúde.

• As evidências científicas são avaliadas a partir do rigor metodológico aplicado pelo


autor, mas também pelo delineamento da pesquisa de acordo com o que se deseja
pesquisar.

• Os estudos clínicos randomizados controlados e duplo cego (os quais o pesquisador


interfere por exemplo no curso de uma doença) ao lado das revisões sistemáticas, as
quais empregam a metanálise, são classificados como de excelente qualidade.

81
• Por outro lado, os estudos observacionais também são importantes, pois permitem
que o pesquisador colete informações sobre a exposição e o desfecho (sobrevivência,
redução de sintomas, qualidade de vida etc.) sem interferir na sua ocorrência.

• O controle dos vieses de pesquisa são fundamentais para evitar distorção dos
resultados e conclusão do estudo.

• São exemplos de vieses de pesquisa: a falta de rigor metodológico, de clareza e


descrição detalhada da metodologia; e conflito de interesse.

82
AUTOATIVIDADE
1 No cenário atual da pandemia da Covid-19 é possível perceber uma avalanche de
desinformação disseminadas por meio das redes sociais acerca da origem do vírus,
do tratamento e das vacinas, mas ao mesmo tempo tem se discutido também sobre
o conhecimento científico e a prática profissional baseada em evidências científicas.
Considerando os conceitos sobre conhecimento científico (CC), prática baseada em
evidências (PBE) e senso comum (SC), analise as assertivas a seguir:

I- A produção do CC é pautada a partir do reconhecimento de um problema/


questionamento sobre a realidade a qual o pesquisador está inserido e a partir do
método científico procura-se a resposta/resolução do problema.
II- O senso comum diz respeito ao conhecimento baseado em opiniões, crenças e
tradições determinado por um povo/sociedade. Não é refletido ou testado e nem é
analisado criteriosamente.
III- A PBE emerge da união do CC e do SC com o objetivo de reduzir gastos em saúde e
oferecer o cuidado em saúde a pacientes pautado nas melhores evidências científicas.
IV- A cultura e o meio ambiente não devem exercer influência sobre o CC, mesmo que
ele seja produzido por seres humanos, portanto, o pesquisador necessita ignorar
sua cultura e o meio ao qual está inserido para produzir CC de qualidade.

Assinale a alternativa CORRETA:


a) ( ) Somente as assertivas I, III e IV estão corretas.
b) ( ) Somente as assertivas I e II estão corretas.
c) ( ) Somente as assertivas II e III estão corretas.
d) ( ) Nenhuma das alternativas está correta.

2 Ao trabalhar em uma Unidade de Terapia Intensiva, o nutricionista e os demais mem-


bros da equipe de saúde questionaram-se sobre a redução do tempo de internação
e sobrevida de pacientes com Covid-19 suplementados com ácido graxo ômega três.
Após formular a hipótese, o próximo passo é iniciar a busca de artigos científicos acer-
ca do tema, dessa forma, por qual tipo de estudo a equipe deveria iniciar as buscas?

a) ( ) Revisões sistemáticas a partir de estudos transversais.


b) ( ) Ensaios clínicos randomizados.
c) ( ) Estudos de caso.
d) ( ) Revisões sistemáticas com uso da ferramenta de metanálise de ensaios clínicos
randomizados.

83
3 Os vieses de pesquisa distorcem os resultados e comprometem a conclusão da
publicação, sendo assim, é imprescindível adotar medidas para afastá-los e tornar os
dados obtidos confiáveis. Sobre os vieses e as medidas preventivas, associe os itens,
utilizando o código a seguir:

I- Pergunta de pesquisa incorreta.


II- Efeito placebo.
III- Escolha dos grupos de estudo de acordo com a subjetividade do pesquisador.
IV- Conflito de interesses.

( ) Delineamento duplo cego.


( ) Randomização.
( ) Evitar que pesquisadores recebam dividendos da indústria de alimentos e/ou farma-
cêutica; contração externo de um estatístico, divulgar fonte de financiamento etc.
( ) Estrutura de abordagem “PICO”.

Assinale a alternativa que apresenta a sequência CORRETA:


a) ( ) I – II –, III – IV.
b) ( ) II – I – III – IV.
c) ( ) II – III – IV – I.
d) ( ) III – II – IV – I.

4 Você trabalha em uma Unidade Básica de Saúde que atende com frequência
indivíduos portadores de Diabetes Melito tipo II (DM2) e excesso de peso, os quais
acreditam que a dieta Low Carb é eficaz no controle da glicemia e perda de peso.
Eles o questionam se devem seguir essa dieta, no entanto, até o momento você leu
muito pouco sobre o assunto e precisa buscar evidências científicas. Nesse contexto,
elabore uma pergunta a partir do questionamento dos pacientes empregando a
estratégia “PICO”.

5 Na área da Nutrição, é possível detectar desinformações (Fake News) vinculadas por


meio das redes sociais pelos próprios nutricionistas, influenciadores digitais e leigos,
para combatê-las e não ser um propagador de desinformação, associe e argumente
como a Saúde Baseada em Evidências (SBC) pode auxiliar na disseminação de
informações corretas e confiáveis.

84
UNIDADE 2 TÓPICO 2 -
DESINFORMAÇÃO NA ÁREA DA NUTRIÇÃO

1 INTRODUÇÃO
Caro acadêmico, você sabia que a desinformação (Fake News) atinge de forma
importante a área da Nutrição ao ponto de o Conselho Federal de Nutricionistas (CFN)
ter emitido em 2018 um alerta sobre o tema?

Nas mídias sociais, a desinformação direciona-se para equívocos e atitudes


que representam risco à saúde, uma vez que dietas “milagrosas” prometem, sem
evidência científica, proporcionar perda de peso rápida e “sem sacrifícios”. Tais dietas
são recomendadas por pessoas sem formação acadêmica e que se beneficiam
monetariamente associando a sua imagem a produtos.

Pensando nesse tema atual, a formação do nutricionista precisa dar conta


desse problema que gera agravos à saúde da população, para tanto é urgente a sua
abordagem e o seu entendimento. Quais seriam então as atitudes/medidas para
combater a desinformação?

O cuidado em saúde pautado nas evidências científicas e afastado das dou-


trinas dogmáticas viabiliza uma linha de conduta clínica alicerçada no conhecimento
científico, mas que, ao mesmo tempo, precisa análise crítica sistematizada e atenta.

Nesse contexto, o tópico atual explanará acerca de como analisar de forma


criteriosa um artigo científico, como são elaboradas as diretrizes clínicas a fim de
viabilizar que você, caro acadêmico, possa ser um futuro profissional disseminador de
informações confiáveis e corretas e que também seja capaz de desmistificar conceitos
e combater a desinformação.

2 COMO LER E ANALISAR UM ARTIGO CIENTÍFICO


Para que os profissionais da área da saúde possam tomar decisões sobre o
cuidado de pacientes de forma cuidadosa, explícita e sábia utilizando das melhores
evidências científicas é fundamental a leitura crítica e sistematizada, a qual possibilita
identificar elementos importantes que denotem confiabilidade das informações
divulgadas, tendo em vista que nem tudo que é publicado é de boa qualidade e confiável
(GREENHALGH, 2013; VINHOLES; OLIVEIRA, 2018).

85
Greenhalgh (2013, p. 70) cita uma afirmação do editor do periódico British
Medical Journal, Dr. Stephen Lock, que em 1979 escreveu: “poucas coisas são mais
desestimulantes para um editor do que ter que rejeitar um artigo embasado em uma
boa ideia, mas com falhas irremediáveis nos métodos empregados”.

As principais falhas que levam à rejeição de um artigo ou que deveriam levar a


isso estão demonstradas no Quadro 4.

QUADRO 4 – PONTOS CRÍTICOS QUE OCASIONAM A REPROVAÇÃO DE UM ARTIGO CIENTÍFICO

O artigo não abordou um aspecto científico importante.

O estudo não era original, ou seja, alguém já tinha publicado algo semelhante.

O estudo não testou a hipótese do autor.

O delineamento da pesquisa deveria ser outro.


Dificuldades práticas, como recrutamento da amostra, resultaram em mudança do
protocolo original.
O tamanho da amostra era pequeno.

O estudo não foi controlado, com vieses.

A análise estatística estava equivocada.

A conclusão não foi baseada nos dados obtidos.

Existe conflito de interesses.

O artigo é tão mal escrito que o torna incompreensível.

FONTE: Adaptado de Greenhalgh (2013)

Os artigos científicos em sua grande maioria apresentam as seguintes


seções: título, resumo, introdução, metodologia, resultados, discussão, conclusão,
agradecimentos, declaração de conflito de interesses e referências. O que cada seção
deve conter está resumida no Quadro 5.

QUADRO 5 – SEÇÕES DE UM ARTIGO CIENTÍFICO

Seções Conteúdo

Abrange de forma breve as seções de um artigo: introdução,


Resumo
metodologia, resultados, discussão, conclusão.

Trata da revisão atualizada do que já foi publicado sobre o


tema de estudo. Deve ser pertinente e só utilizar publicações
Introdução
mais antigas, quando realmente necessárias. Evitar citação de
capítulos de livros.

86
Descrição extremamente detalhada de como a pesquisa foi
realizada. Tipo de estudo, população estudada, amostragem,
tamanho da amostra, método de coleta e análise dos dados. No
Metodologia caso do estudo de coorte, por exemplo, deve constar a descrição
do período de seguimento, o tempo de acompanhamento e o
percentual de perda da amostra; estudo clínico, deve descrever
se houve randomização e cegamento.

Descrever os dados obtidos de forma clara, podendo utilizar


tabelas, figuras e texto explicativo. Devem responder o objetivo
Resultados
do estudo, apresentar as análises estatísticas com seus valores
de significância.

Tem por objetivo comparar os dados obtidos com os de outros


Discussão estudos e explicar os resultados alcançados, além de apontar se
há concordância com os outros estudos ou discordâncias.

Conclusão De forma resumida expressar os principais achados da pesquisa.

FONTE: Adaptado de Vinholes e Oliveira (2018)

Como já amplamente discutido no primeiro tópico, a construção de uma


hipótese ou de um questionamento suscita a leitura e a análise criteriosa de artigos
científicos, por isso é fundamental ter clareza do que se deseja saber (GREENHALGH,
2013; VINHOLES; OLIVEIRA, 2018).

Considerando uma construção de hipótese/pergunta de pesquisa, segue o


exemplo, um nutricionista atende em seu consultório um paciente que o questiona se
a suplementação de vitamina C é necessária para melhorar a sua imunidade. A partir
do questionamento determina-se o que se deseja saber: sistema imune, vitamina C,
suplementação. Na sequência, o nutricionista pode ainda questionar se um padrão
alimentar saudável já não é suficiente para garantir uma resposta imune adequada.

Para busca ativa de artigos científicos nas bases de dados é preciso determinar
os unitermos a partir dos descritores em saúde e escolher os idiomas, português, inglês,
por exemplo, resposta imune, vitamina C, suplementação; immune response, vitamin C,
supplementation.

É necessário usar algum conector lógico, ou também designado de operador


booleano, entre os termos, que abrangem: e (and) com função de união, ou (or) quando
há maior margem de liberdade no assunto e não (not) quando se deseja excluir outro
assunto correlato (RABITO; SCHMITT, 2018).

87
É possível utilizar também parênteses para orientar a combinação dos uniter-
mos, por exemplo: immune response and (vitamin C or micronutrients supplementation),
essa combinação permite o agrupamento de termos e pode potencializar o alcance das
buscas (MORAES; BELLI, 2018).

Após as etapas que compreendem: a) determinação e clareza do problema/


hipótese; b) consulta dos descritores em saúde dos unitermos (palavras-chave)
adequados e os operadores booleanos; c) escolha dos sites de busca de artigos
científicos (SciELO, LILACS, PubMed etc.); aparecerão vários artigos e quanto mais
específicas as palavras-chave, melhor será a seleção (RABITO; SCHMITT, 2018).

Sendo assim, de acordo com o questionamento do paciente ao nutricionista


sobre a suplementação de vitamina C e a melhora da imunidade, pode-se determinar,
então, as palavras-chave e seu operador booleano: resposta imune e vitamina C e
suplementação; em inglês, immune response and vitamin C and supplementation.

Um questionamento importante que pode surgir após seleção dos artigos


científicos diz respeito ao que deve ou não ser lido, afinal, de acordo com o tema, muitas
publicações podem aparecer. Para auxiliar na escolha do que é relevante ou não, segue
o Quadro 6 que explica o método READer (MELO, 2000).

QUADRO 6 – MÉTODO READER

O MÉTODO READER

O que ler?
R: Relevância – para a Clínica Geral e para mim.
E: Educação – capacidade de a informação alterar o meu comportamento
A: Aplicabilidade – possibilidade de que a intervenção recomendada possa ser facilmente
aplicada na minha prática clínica.

Como ler?
D: Discriminação – Credibilidade/Qualidade do artigo, relacionado com o desenho e tipo
de estudo. Implica da parte do leitor, uma apreciação crítica ativa da qualidade do artigo.

FONTE: Adaptado de McAuley (1995 apud Melo, 2000)

Melo (2000), Rabito e Schmitt (2018) esclarecem que após a busca ativa nas ba-
ses de bases a partir das palavras-chave e de filtros (período de publicação, por exemplo,
desde 2011) utilizados para seleção dos artigos, normalmente uma grande lista é exibida,
assim, o primeiro contato do leitor é com o título e, na sequência, com o nome dos autores.

Nesse contexto, de acordo com o caso da nutricionista questionada pelo seu


paciente acerca da suplementação de vitamina C para melhorar a imunidade, observa-
se a seguir um artigo de revisão sobre o tema, mas que abrange outros micronutrientes,
além da vitamina C.
88
Uma revisão do trabalho harmônico entre os micronutrientes e o sistema
imune para reduzir o risco de infecção

Resumo: O suporte imunológico por micronutrientes é historicamente baseado na deficiên-


cia de vitamina C e na suplementação no escorbuto nos primeiros tempos. Desde então, foi
estabelecido que o sistema imunológico integrado e complexo precisa de vários micronu-
trientes específicos, incluindo vitaminas A, D, C, E, B6 e B12, folato, zinco, ferro, cobre e selê-
nio, que desempenham papéis vitais, muitas vezes sinérgicos em cada estágio da resposta
imune. Quantidades adequadas são essenciais para garantir o funcionamento adequado das
barreiras físicas e das células imunológicas; no entanto, a ingestão diária de micronutrientes
necessária para apoiar a função imunológica pode ser maior do que as atuais recomendações
dietéticas. Certas populações têm ingestão inadequada de micronutrientes na dieta e situa-
ções com necessidades aumentadas (por exemplo, infecção, estresse e poluição) diminuem
ainda mais os estoques no corpo.  Vários micronutrientes podem ser deficientes e mesmo
uma deficiência marginal pode prejudicar a imunidade.  Embora existam dados contraditó-
rios, as evidências disponíveis indicam que a suplementação com vários micronutrientes com
funções de suporte imunológico pode modular a função imunológica e reduzir o risco de
infecção. Os micronutrientes com as evidências mais fortes de suporte imunológico são as
vitaminas C e D e o zinco. É necessário um melhor desenho de estudos clínicos em huma-
nos que abordem a dosagem e combinações de micronutrientes em diferentes populações
para substanciar os benefícios da suplementação de micronutrientes contra a infecção. As
evidências disponíveis indicam que a suplementação com múltiplos micronutrientes com
funções de suporte imunológico pode modular a função imunológica e reduzir o risco de
infecção. Os micronutrientes com as evidências mais fortes de suporte imunológico são as
vitaminas C e D e o zinco. É necessário um melhor desenho de estudos clínicos em huma-
nos que abordem a dosagem e combinações de micronutrientes em diferentes populações
para substanciar os benefícios da suplementação de micronutrientes contra a infecção. As
evidências disponíveis indicam que a suplementação com múltiplos micronutrientes com
funções de suporte imunológico pode modular a função imunológica e reduzir o risco de
infecção. Os micronutrientes com as evidências mais fortes de suporte imunológico são as
vitaminas C e D e o zinco. É necessário um melhor desenho de estudos clínicos em humanos
que abordem a dosagem e combinações de micronutrientes em diferentes populações para
substanciar os benefícios da suplementação de micronutrientes contra a infecção.

Palavras-chave: Sistema Imunológico.  Infecção. Micronutrientes. Minerais. Vitaminas.

FONTE: <https://pubmed.ncbi.nlm.nih.gov/31963293/>. Acesso em: 18 ago. 2021.

89
Seguindo o método proposto por McAuley (1995 apud MELO 2000) sobre o que
ler, a Relevância (R) é considerada nos seguintes aspectos: selecionar o artigo científico
que apresenta o assunto que se deseja conhecer ou aprofundar o seu conhecimento,
além disso, que ele seja importante para os pacientes (atendidos em consultório,
hospitais ou ainda com aqueles que desejo desenvolver uma pesquisa), podendo
mudar a conduta do profissional e, assim, proporcionar bem estar e reduzir risco de
morbimortalidade aos pacientes.

Na sequência do método, o autor destaca a Educação (E) e discorre acerca


de que se uma informação/conhecimento é válida, então o tratamento/orientação
oferecido ao paciente pode ser modificado. Por fim, a Aplicabilidade (A), ou seja, o artigo
deverá ser fundamentado em resultados obtidos a partir de uma amostra semelhante
aos pacientes que o profissional oferece cuidados em saúde, seja em consultório,
hospital etc. (MELO, 2000).

A última etapa do método refere-se a como ler com criticidade, assim dizendo,
Discriminação (D), para tanto dá-se ênfase ao rigor metodológico empregado na
pesquisa e sua descrição detalhada, ausência ou controle de vieses (randomização,
cegamento, conflito de interesses etc.), desse modo, serão considerados os artigos
que apresentam maior confiabilidade de seus resultados e, portanto, de sua conclusão
(MELO, 2000).

Após a decisão de leitura de um artigo, Rabito e Schmitt (2018) destacam que


eles são estruturados em introdução, metodologia, resultados, discussão e conclusão,
sendo assim, a seguir cada item da estrutura será abordado com ênfase na leitura crítica.

Ao ler a introdução, os autores precisam esclarecer de forma geral os principais


problemas sobre o tema a ser estudado e apresentar o objetivo. Nesse item é fundamental
embasar a relevância do estudo e da hipótese de pesquisa (RABITO; SCHMITT, 2018).

O objetivo do estudo deve ser claro e partir dele ser possível avaliar os métodos
de pesquisa, os resultados e as conclusões. Ele trata da pergunta de pesquisa, a qual
será respondida na discussão e retomada de forma resumida na conclusão. Deve ser
factível, original e relevante (GREENHALGH, 2013).

Após o objetivo, a metodologia deve descrever onde e como os dados os quais


serão apresentados foram coletados, nesse item do artigo o leitor poderá avaliar a
qualidade e a confiabilidade para obtenção dos dados. Adicionalmente, a metodologia
deve ser clara para que se possa entender a execução da pesquisa e a reprodutibilidade
dos métodos empregados (GREENHALGH, 2013; RABITO; SCHMITT, 2018).

90
A maior parte dos estudos apresentam um roteiro básico para escrita da meto-
dologia, que abrange: delineamento do estudo; critérios da seleção da amostra, proce-
dimentos, equipamentos, reagentes, local de execução e características ambientais e
éticas, dependendo do tipo de pesquisa (RABITO; SCHMITT, 2018).

O Quadro 7 apresenta um resumo de quais descrições devem constar na


metodologia de estudos quantitativos.

QUADRO 7 – DESCRIÇÃO DA METODOLOGIA DE ESTUDOS QUANTITATIVOS

Tópicos Descrições

Deve sinalizar se o estudo é retrospectivo, prospectivo


Delineamento do estudo
ou experimental.

Refere-se a critérios de inclusão e exclusão, cálculo da


amostra (número de indivíduos a serem incluídos), se
Seleção da amostra
há randomização, grupo controle, grupo intervenção,
cegamento etc.

Descrição de gênero, idade, ciclo hormonal, condições


Caracterização da amostra
de saúde, caracterização do ambiente etc.

Prestar atenção no uso de questionários validados,


propostas de novos questionários, condições
Execução da coleta de dados das intervenções, coleta de amostras biológicas.
Exemplo: caso a pesquise avalie o estado, o que será
coleta e como será classificado.

Diz respeito, por exemplo, a quanto tempo de


suplementação os indivíduos foram expostos; em
Tempo de exposição
pesquisas experimentais com animais, se a exposição
foi aguda ou crônica.

Dependem do que o estudo se propõe avaliar, por


Variáveis observadas exemplo no caso da Nutrição, peso, altura, prega
cutânea tricipital, tempo de internação etc.

Deve ser descrita detalhando o teste estatístico


utilizado e se ele é adequado para o tipo de amostra,
Análise estatística
se o número amostral foi calculado e se há vieses.
Nível de significância.

FONTE: Adaptado de Rabito e Schmitt (2018, p. 176)

91
DICAS
Caro acadêmico! Se você quiser saber o que quer dizer a expressão “nível
de significância em estudos clínicos”, acesse: https://nutritotal.com.br/
pro/o-que-a-valor-de-p/.

Para ler e avaliar de forma crítica a metodologia de um artigo de revisão é


fundamental observar quais as bases de busca foram utilizadas, os unitermos, idiomas
(português, inglês, espanhol), tipo de estudos incluídos (ensaios clínicos randomizados,
estudos observacionais etc.), o intervalo de tempo das publicações, por exemplo, de
2011 a 2021 (MELO, 2000; GREENHALGH, 2013).

Canuto (2018) destaca que as diretrizes clínicas são conhecidas e bastante


utilizadas pelos nutricionistas para escolha da conduta clínica. Elas baseiam em
direcionamento para tomada de decisão dos profissionais de saúde a partir de evidências
científicas. Sobre a leitura da sua metodologia, Rabito e Schmitt (2018) afirmam que se
deve dar atenção criteriosa à forma de descrição ou avaliação das evidências; como e
quando foram coletados os estudos; e à seleção e síntese dos estudos. Os resultados de
um estudo devem ser elaborados com a mais alta clareza e coesão, tanto para figuras,
tabelas e quadros que são recursos que viabilizam a compreensão do leitor (MELO,
2000; GREENHALGH, 2013).

Nas pesquisas quantitativas, a observação se todas as variáveis analisadas


realmente estão presentes nos resultados deve receber atenção criteriosa, além disso,
nesse item, caso haja perda amostral, os autores podem elencar as razões (RABITO;
SCHMITT, 2018).

As mesmas autoras inferem que no item resultados de um artigo de revisão, é pre-


ciso identificar se os resultados respondem ao questionamento do estudo, e se são rele-
vantes. As revisões podem apontar avanços ou mudanças no conhecimento (MELO, 2000).

As diretrizes também apresentam resultados, os quais podem estar fundamen-


tados em opinião de um grupo de especialistas na área, quando não há robustez de
evidências científicas, por isso recomenda-se a verificação de vieses, por exemplo, o
conflito de interesses. A qualidade desse tipo de publicação fundamenta-se na qualida-
de dos artigos que a embasaram (GREENHALGH, 2013).

O eixo da construção da discussão de um artigo científico consiste na compa-


ração dos dados encontrados com outros semelhantes na literatura e na construção
de hipóteses para explicar os achados. Nesse tópico há espaço para elencar limitações
do estudo, pontos positivos e a contribuição para o avanço do conhecimento (RABITO;
SCHMITT, 2018).

92
A leitura da conclusão baseia-se em examinar se o objetivo do trabalho foi
respondido e se está de acordo com os resultados obtidos, evitando, assim, que o
leitor considere afirmações indevidas e generalistas, as quais o trabalho não oferece
condições de fazê-las (RABITO; SCHMITT, 2018).

Melo (2000) afirma que a leitura crítica de artigos permite avaliar os estudos no
contexto das suas limitações e avanços, a fim de que se tenha clareza da confiabilidade
dos resultados e de que o conhecimento científico é fluído, ou seja, não é estanque, está
em constante movimento.

3 O QUE SÃO DIRETRIZES CLÍNICAS E COMO SE DÁ A


SUA ELABORAÇÃO
Atualmente há uma grande quantidade de publicações científicas, mas sabe-
se também que uma parte considerável do que é publicado muitas vezes não tem
qualidade. Ademais, há condutas clínicas seguidas por profissionais de saúde que não
são embasadas em evidências científicas (RIBEIRO, 2010).

Nesse cenário, Ribeiro (2010) ressalta que é urgente e relevante direcionar as


condutas seguidas pelos profissionais nas diferentes áreas de saúde para evidência
científica de boa qualidade, tornando-as, assim, mais efetivas e de menor custo. Para
tanto, o gerenciamento, na forma de uma normatização do cuidado em saúde, baseado
em evidências científicas robustas e com caráter pedagógico, denomina-se Diretriz
Clínica (DC).

As diretrizes clínicas tratam-se de compilações de estudos originais, com


metodologia rigorosa, de forma sistematizada, as quais têm por objetivo diminuir a
heterogeneidade do cuidado em saúde (CANUTO, 2018). As evidências devem ser
analisadas de forma crítica para evitar ou minimizar os vieses de pesquisa, uma vez que
há DC de má qualidade. Desse modo, é preciso seguir uma metodologia semelhante
a das revisões sistemáticas, que abranja fundamentação, metodologia empregada,
análise crítica da literatura selecionada, os níveis de evidência, o grau de recomendação,
as entidades que participaram da validação e a forma de validação (RIBEIRO, 2010).

Khan e Stein (2014) complementam que a qualidade de uma DC é avaliada


por meio de orientações produzidas que sejam exequíveis, que apresentam validade
interna e externa, além de levar em conta os benefícios, riscos e custos a partir do que
é recomendado e, por fim deve ser isenta de vieses induzidos por interesses comerciais
ou corporativos.

93
Para abordar a variabilidade na qualidade das diretrizes foi elaborado o
instrumento Appraisal of Guidelines for Research & Evalution (AGREE). É uma ferramenta
que possibilita examinar o rigor metodológico e a transparência na elaboração da DC,
para isso apresenta seis domínios: 1) escopo e finalidade; 2) envolvimento das partes
interessadas; 3) rigor do desenvolvimento; 4) clareza da apresentação; 5) aplicabilidade;
e 6) independência editorial (KHAN; STEIN, 2014).

A construção das DC baseia-se em uma hierarquia de provas e recomendações,


empregando números e letras para classificar o nível de evidência e graus de
recomendação (CANUTO, 2018). O grau de recomendação, por exemplo, da Diretriz
da Sociedade Brasileira de Diabetes – 2019-2020, baseou-se nas letras A (estudos
experimentais ou observacionais de melhor consistência), B (estudos experimentais ou
observacionais de menor consistência), C (relatos de casos – estudos não controlados) ou
D (opinião desprovida de avaliação crítica, baseada em consensos, estudos fisiológicos
ou modelos animais). Por sua vez, o nível de evidência é classificado por números e
letras, 1A, 1B ou 1C; 2A, 2B, 2C, 3A ou 3B; 4; e 5.

Na Figura 5 e Quadro 8 estão demonstrados o título da publicação, o grau


de recomendação e o nível de evidência por tipo de estudo das Diretrizes Sociedade
Brasileira de Diabetes 2019-2020.

FIGURA 5 – TÍTULO: DIRETRIZES SOCIEDADE BRASILEIRA DE DIABETES 2019-2020

FONTE: Golbert et al. (2020, p. 1)

Grau de recomendação:
A. Estudos experimentais ou observacionais de melhor consistência.
B. Estudos experimentais ou observacionais de menor consistência.
C. Relatos de casos — estudos não controlados.
D. Opinião desprovida de avaliação crítica baseada em consensos,
estudos fisiológicos ou modelos animais (GOLBERT et al., 2020, p. 1).

94
QUADRO 8 – NÍVEL DE EVIDÊNCIA CIENTÍFICA POR TIPO DE ESTUDO

FONTE: Golbert et al. (2020, p. 8-9)

95
Outro exemplo específico da área da Nutrição é a Diretriz ACERTO (Aceleração
Total da Recuperação Pós-Operatória) de intervenções nutricionais no perioperatório em
cirurgia geral eletiva (artigo a seguir). Essa diretriz discorre acerca das recomendações
baseadas em evidências científicas elaboradas por um grupo de especialistas do Colégio
Brasileiro de Cirurgiões, da Sociedade Brasileira de Nutrição Parenteral e Enteral e do
projeto ACERTO. Tais recomendações nutricionais visam diminuir a morbidade, o tempo
de internação, a taxa de reinternações e os custos (AGUILAR-NASCIMENTO et al., 2017).

Diretriz ACERTO de intervenções nutricionais no perioperatório em cirurgia


geral eletiva.

Objetivo: apresentar recomendações, baseadas no Projeto ACERTO (Aceleração


da Recuperação Total Pós-Operatória) e sustentada por evidências, relativas aos
cuidados nutricionais perioperatórios em procedimentos eletivos em Cirurgia Geral.
Métodos: revisão da literatura pertinente entre 2006 e 2016, com base em busca
realizada nas principais bases de dados, com o intuito de responder a perguntas
norteadoras previamente formuladas por especialistas, dentro de cada temática
desta diretriz. Foram selecionados alguns estudos de coorte, mas, preferencialmente,
foram utilizados estudos aleatórios controlados, revisões sistemáticas e meta-
análises. Cada pergunta norteadora de recomendação foi contextualizada de modo
a determinar a qualidade da evidência e a força desta recomendação (GRADE). Este
material foi enviado aos autores utilizando um questionário aberto on-line. Após o
recebimento das respostas, formalizou-se o consenso para cada recomendação
desta diretriz. Resultados: o nível de evidência e o grau de recomendação para cada
item é apresentado em forma de texto, seguido de resumo da evidência encontrada.

Conclusão: esta diretriz traduz as recomendações do grupo de especialistas do


Colégio Brasileiro de Cirurgiões, da Sociedade Brasileira de Nutrição Parenteral e
Enteral e do Projeto ACERTO para intervenções nutricionais no período perioperatório
em Cirurgia Geral eletiva. A prescrição dessas recomendações pode acelerar a
recuperação pós-operatória de pacientes submetidos a operações eletivas em cirurgia
geral, com diminuição de morbidade, do tempo de internação e de reinternações e,
consequentemente, dos custos.

Descritores: Assistência Perioperatória. Terapia Nutricional. Protocolos. Guia de


Prática Clínica.

FONTE: <https://bit.ly/2YJoEgk>. Acesso em: 18 ago. 2021.

96
Concluindo, as diretrizes são publicações que podem auxiliar os profissionais da
área da saúde na tomada decisões que visem oferecer o melhor cuidado em saúde aos
pacientes com o menor custo. Entretanto, é imprescindível que elas sejam conduzidas
com rigor metodológico a fim de evitar vieses na produção dessas recomendações e
prejuízos aos pacientes e desperdício de recursos.

DICAS
Caro acadêmico! Se você quiser conhecer a Diretriz Braspen (Sociedade
Brasileira de Nutrição Parenteral e Enteral) de Terapia Nutricional no
Paciente com Câncer, a Braspen recomenda os Indicadores de Qualidade
em Terapia Nutricional. Acesse em: https://www.braspen.org/diretrizes.

4 DESINFORMAÇÃO NA ÁREA DA NUTRIÇÃO


A expressão Fake News é originária do inglês, sendo fake – falso e news –
notícias, em tradução livre quer dizer notícias falsas e diz respeito a informações
difundidas por meio de comunicação que se disfarçam de veículos jornalísticos e que
disseminam conteúdo comprovadamente incorreto ou impreciso a fim de enganar seu
público (ALLCOTT; GENTZKOW, 2017).

A propagação de informações falsas e a cultura da desinformação na área da


saúde não é novidade, atualmente observa-se a circulação frequente e em grande
quantidade de boatos acerca da infecção pelo vírus Sars-Cov-2, causador da Covid-19,
do seu tratamento e por fim, sobre as vacinas (JÚNIOR, 2020).

Galhardi et al. (2020) ao desenvolverem um estudo empírico quantitativo por


meio de um aplicativo brasileiro denominado Eu Fiscalizo, demonstraram que o WhatsApp
é o principal meio de compartilhamento de desinformação, seguido do Instagram e
do Facebook. Os mesmos autores concluíram a partir da pesquisa que os conteúdos
falsos sobre a Covid-19 propiciaram o descrédito da ciência e das instituições globais
de saúde, por exemplo, a Organização Mundial da Saúde. Para combater esse fenômeno
é crucial aumentar e popularizar informações de qualidade e confiáveis aos brasileiros.

No cenário da pandemia da Covid-19 circula nas redes sociais um texto que


reúne desinformação, ou seja, notícias falsas e distorcidas, acerca da defesa da
automedicação contra a Covid-19 utilizando ivermectina, cloroquina, azitromicina, zinco
e vitaminas C e D (MACÁRIO, 2021).

97
Apesar de o zinco e as vitaminas C e D modularem o sistema imune, não há
até o momento dados que corroborem a afirmação do texto publicado em redes de
WhatsApp, portanto, trata-se de desinformação (ABIOYE; BROMAGE; FAWZI, 2021;
PINNAWALA; THRASTARDOTTIR; CONSTANTINOU, 2021).

Abioye, Bromage e Fawzi (2021) evidenciaram em sua revisão sistemática, uti-


lizando a ferramenta de metanálise a partir de testes clínicos randomizados e controla-
dos, que a suplementação das vitaminas C, D e zinco pode apresentar efeitos bastantes
modestos na prevenção de infecções respiratórias agudas e na melhora dos sintomas.

Os mesmos autores esclarecem que não há estudos primários que examinaram


o impacto desses micronutrientes sobre o risco de infecção do SARS-CoV-2, somente
um estudo avaliou a influência da vitamina C em poucos casos e não identificou efeito
significativo.

O Resumo dos principais vieses e limitações identificados pela revisão sistemática


intitulada Effect of micronutrient supplements on influenza and other respiratory tract
infections among adults: a systematic review and meta-analysis (tradução livre:
efeito da suplementação de micronutrientes sobre a infecção por influenza e outras
infecções do trato respiratório em adultos: uma revisão sistemática e metanálise), estão
apresentados no Quadro 9.

QUADRO 9 – RESUMO DOS PRINCIPAIS VIESES E LIMITAÇÕES IDENTIFICADOS PELA REVISÃO


SISTEMÁTICA

A maioria dos estudos foi conduzida em países de alta renda, dificultando assim a
generalização dos seus resultados.

Grande parte dos estudos avaliou os desfechos de interesse a partir do que os


participantes da pesquisa responderam, dificultando a identificação de associação.

A maioria dos estudos apresenta vieses e o mais preocupante é a dependência de


avaliação dos desfechos pelo autorrelato dos sujeitos da pesquisa.

Não houve estudos conduzidos com gestantes.

Não foi possível avaliar o impacto dos micronutrientes na gravidade dos sintomas,
uma vez que diferentes formas foram adotas para avaliá-los.

Os estudos utilizaram diferentes valores de referência no que se refere aos níveis


plasmáticos dos micronutrientes.

Limitação de informações acerca dos efeitos adversos, inviabilizando que os autores


da revisão avaliassem a segurança de doses altas.

FONTE: Adaptado de Abioye, Bromage e Fawzi (2021)

98
Concomitantemente, é importante reafirmar que a deficiência de micronutrien-
tes, principalmente daqueles que apresentam ação imunomoduladora, como as vita-
minas C, D e o zinco, pode comprometer a função do sistema imune e assim elevar a
vulnerabilidade a infecções e consequentemente, reduzir a capacidade do organismo
em combatê-las (PINNAWALA; THRASTARDOTTIR; CONSTANTINOU, 2021; GOMBART;
PIERRE; MAGGINI, 2020).

Akhtar et al. (2021) sugerem e recomendam a realização de estudos longitudinais


para avaliar a extensão das deficiências de micronutrientes em pacientes com Covid-19
que apresentam alto risco (diabetes melito tipo II, obesidade, hipertensão arterial) para
desenvolver a forma severa da doença. Ademais, precisa ser investigado o impacto da su-
plementação na redução da gravidade da infecção e melhora dos índices de recuperação.

Outro exemplo de desinformação diz respeito ao termo “detox”, empregado


para dietas, sucos, chás, cápsulas comercializadas em farmácias ou em lojas que
comercializam suplementos e/ou “produtos naturais”, os quais prometem emagrecimento
e “desintoxicar” o organismo (KLEIN; KIAT, 2014; OBERT et al., 2017).

Apesar do conhecimento acerca do processo de detoxificação realizado pelo


organismo e envolvendo intestino, fígado e rins, as dietas, sucos, chás e cápsulas detox
angariam muitos adeptos na ansiosa procura por um corpo saudável e que se adeque
ao padrão de beleza atual (OBERT et al., 2017).

Tal conceito de desintoxicar o organismo tem origem em duas proposições, a


primeira é de que se ingere junto aos alimentos e bebidas substâncias tóxicas, sem
função no organismo e que causam mal, logo precisam ser eliminadas; a segunda é de
que é possível excretar essas substâncias tóxicas por meio de um suco, chá, dieta e/ou
cápsulas (KLEIN; KIAT, 2014).

A preposição de eliminação do que nos causa mal por meio de dietas, sucos e chás
e cápsulas “detox”, de acordo com Obert, Pearlman e Chapin (2017), associa, ainda, a falsa
ideia de emagrecimento, não têm comprovação científica sólida e confiável e são despro-
vidas de eficácia comprovada. A perda de peso observada baseia-se na redução significa-
tiva da ingestão calórica, a qual pode chegar a 400 kcal/dia, bem como na perda de água e
de material fecal, quando esses tratamentos preconizam também o uso de laxativos.

Dentre os agravos à saúde, a partir do seguimento de dietas com restrição


extrema de calorias, se observa a elevação dos níveis de hormônios ligados ao estresse,
como o cortisol, o qual pode levar a um efeito rebote de compulsão alimentar (MAZURAK
et al., 2013; KLEIN; KIAT, 2014; OBERT et al., 2017).

A supervalorização de determinados alimentos e a “demonização” de outros


relaciona-se da mesma forma com desinformação, apesar de o Guia Alimentar para
População Brasileira publicado em 2014 orientar sobre a importância de uma alimentação
saudável e variada.

99
Passos, Silva e Santos (2020) descreveram e analisaram conteúdos de notícias
associadas a ciclos de buscas ao Google ligados a oito tipos de dieta: cetogênica; da lua;
da proteína; da sopa; detox; dos pontos; paleo; e Dukan, tais dietas foram escolhidas
porque o Google Trends® as apontou como as mais associadas com o termo dieta.

A ênfase dos acessos refere-se à busca por informações para perda de


peso rápida a fim de atender um ideal de saúde que está atrelado obrigatoriamente
a um padrão estético. Outro ponto relevante relaciona-se à exposição e à influência
de celebridades referindo suas experiências dietéticas e a opinião de especialistas
(PASSOS; SILVA; SANTOS, 2020).

As doenças cardiovasculares (DCV) são as que apresentam maior prevalência


mundial, causam maior número de óbitos, todavia também maior possibilidade de pre-
venção. Os hábitos alimentares influenciam fortemente o aparecimento das DCV, mas
também sua prevenção, sendo assim, diferentes abordagens dietéticas vêm aparecen-
do como possibilidades de promover a saúde cardiovascular (SOUZA et al., 2020).

Os mesmos autores pontuam que a velocidade de informações falsas veiculadas


pelas mídias sociais e internet é muito rápida e que a dieta cetogênica e o jejum
intermitente são as abordagens mais populares na atualidade. Em resumo, o estudo
evidenciou que existem evidências científicas modestas acerca das duas abordagens
dietéticas sobre possíveis benefícios para saúde cardiovascular e que ambas permitem
alimentos que reconhecidamente elevam o risco cardiovascular.

DICAS
Caro acadêmico! Se você quiser saber sobre sites confiáveis de
checagem de informação na área da Nutrição, a Faculdade de Ciências
da Nutrição da Universidade do Porto (Portugal) criou uma ferramenta
que possibilita acesso livre aos interessados. Após seleção de temas
da atualidade em mídias sociais, há avaliação do conteúdo de acordo
com um sistema de classificação: “verdadeiro”, “impreciso” ou “falso”.
Disponível em: https://www.jpn.up.pt/2019/09/25/fcnaup-cria-site-para-
combater-desinformacao-em-nutricao/.

A dieta isenta em glúten é recomendada a indivíduos portadores de doença


celíaca, uma condição autoimune em que nenhuma outra terapia atualmente é viável.
Apesar do aumento da prevalência, por conta do conhecimento acerca da doença
pela comunidade científica, observa-se um aumento desproporcional da indústria de
alimentos isentos em glúten (REILLY, 2016).

100
Os motivos que levam os indivíduos a consumirem esses alimentos é pouco
conhecido. Em uma pesquisa conduzida com americanos adultos que adotaram uma
dieta isenta em glúten, 35% afirmaram não ter motivos para tal, 25% por opção “mais
saudável” e 19% para “saúde digestiva”, 10% por terem algum familiar com sensibilidade
ao glúten e 8% por ter sensibilidade ao glúten, citação mais racional (RIELLY, 2016).

O seguimento de um padrão alimentar restritivo sem orientação de um


nutricionista ou médico representa riscos à saúde, uma vez que alimentos isentos em
glúten contêm maior densidade de gordura e açúcar do que os que têm glúten (WILD et
al., 2010). Adicionalmente, Miranda et al. (2014) enfatizam que a dieta isenta em glúten
pode levar a deficiência de vitamina B9 e ferro, pois excluem as farinhas, as quais são
fortificadas com esses dois nutrientes.

O excesso de informações disseminado por diversos meios e mídias (televisão,


rádio, blogs, mídias sociais, aplicativos de conversa etc.), muitas vezes conflitante e
duvidoso, torna difícil a tarefa de garimpar informações seguras e confiáveis e que
possam orientar de forma correta os indivíduos. Tal fenômeno traz consequências
negativas também para tomada de decisões de gestores e profissionais da saúde
(GARCIA; DUARTE, 2020).

Ao final e ao cabo é preciso adotar critérios rigorosos e sistemáticos para leitura


de conteúdos e artigos científicos com o objetivo de não orientar e/ou disseminar
informações falsas e duvidosas e, assim, poder efetivamente contribuir para o bem-
estar das pessoas. Caro acadêmico, seja você um (a) cidadão/cidadã comprometido (a)
com a checagem de dados e informações antes da difusão de qualquer conteúdo!

DICAS
Caro acadêmico! Se você quiser saber como o Conselho Federal de
Nutricionistas (CFN) alerta e orienta profissionais e estudantes sobre a
disseminação de informações falsas relacionadas à área da Nutrição,
sugerimos visitar a página do CFN. Disponível em: https://www.cfn.org.br/
index.php/noticias/existe-muita-fake-news-quando-o-assunto-e-nutricao//.

101
LEITURA
COMPLEMENTAR
CICLOS DE ATENÇÃO A DIETAS DA MODA E TENDÊNCIAS DE BUSCA NA
INTERNET PELO GOOGLE TRENDS

Jasilaine Andrade Passos


Paulo Roberto Vasconcellos-Silva
Ligia Amparo da Silva Santos

A internet tornou-se uma fonte abundante e acessível de informações sobre


saúde em meio às quais muitas questões sobre alimentação e nutrição têm sido
colocadas em distintivo patamar de exposição e interesse. Nesse campo, informações
sobre dietas – seja para emagrecimento, desintoxicação, controle de condições
mórbidas ou propósito equivalente-preenchem de conteúdos centenas de milhares de
sites que buscam atender a variadas modalidades de fruição.

Este trabalho objetivou descrever e analisar conteúdos de notícias associadas


a ciclos de buscas ao Google ligados a oito tipos de dieta: a cetogênica; da lua; da
proteína; da sopa; detox; dos pontos; paleo; e Dukan. Elas foram selecionadas por terem
sido apontadas pelo Google Trends® (GT) como as mais frequentemente associadas
ao termo dieta. Os conteúdos dos sites vinculados aos maiores picos de buscas foram
apontados pelo Google News®. O volume de buscas às dietas foi estimado pelo GT
com filtros de região (Brasil) e temática (Saúde) considerando o período de 1/1/2012
a 1/1/2017. Os acessos retratam ciclos efêmeros com centenas de picos e quedas de
interesse pelas oito dietas da moda. A ênfase se concentra nas orientações para rápida
perda de peso em prol de um ideal de saúde tido como proxy de um ideal estético. A
dimensão dos riscos associados às dietas mais restritivas é citada frequentemente e
validada por informações de especialistas. Destaca-se a exposição e a influência da
opinião de celebridades relatando suas experiências dietéticas. Ao contrário do ideal
de variedade e equilíbrio, as dietas da moda retratam a pressão pelo autocontrole
alimentar como recurso à construção de um corpo idealizado e tipificado por imagens
das celebridades.

FONTE: Adaptado de <https://bit.ly/3c4vbJb>. Acesso em: 22 jun. 2021.

102
RESUMO DO TÓPICO 2
Neste tópico, você aprendeu:

• Para o cuidado em saúde fundamentado na Saúde Baseada em Evidências (SBE) é


fundamental a leitura crítica e sistematizada, a qual possibilita identificar elementos
importantes que denotem confiabilidade das informações divulgadas, tendo em vista
que nem tudo que é publicado é de boa qualidade e confiável.

• Os artigos científicos, em sua grande maioria, apresentam as seguintes seções: título,


resumo, introdução, metodologia, resultados, discussão, conclusão, agradecimentos,
declaração de conflito de interesses e referências.

• Para busca ativa de artigos científicos nas bases de dados é preciso determinar os
termos a partir dos descritores em saúde e escolher os idiomas, português, inglês,
espanhol, por exemplo.

• Os conectores entre os unitermos são “e” (and), com função de união; “ou” (or),
quando há maior margem de liberdade no assunto; e não (not), para exclusão
assunto correlato.

• Após essas etapas: a) determinação e clareza do problema/hipótese; b) consulta dos


descritores em saúde dos unitermos (palavras-chave) adequados; c) escolha dos
sites de busca de artigos científicos (SciELO, LILACS, PubMed etc.); aparecerão vários
artigos e quanto mais específicas as palavras-chave melhor será a seleção.

• O título e o resumo são primeiros tópicos do artigo com os quais o leitor terá contato
e poderá determinar se fará ou não a leitura completo da publicação.

• Os artigos seguem um roteiro de apresentação, o qual constitui-se de introdução,


objetivo, metodologia, resultados, discussão e conclusão.

• A criticidade na leitura de cada tópico de um artigo permite avaliar sua confiabilidade,


limitações e pontos positivos.

• As diretrizes clínicas tratam-se de uma compilação de estudos originais, com


metodologia rigorosa e sistematizada, as quais têm por objetivo diminuir a
heterogeneidade do cuidado em saúde.

• A construção das DC baseia-se em uma hierarquia de provas e recomendações,


empregando números e letras para classificar o nível de evidência e graus de
recomendação.

103
• A desinformação refere-se à difusão de notícias/conteúdos falsos por meio da
internet, mídias sociais, aplicativos de conversa etc.

• Na área da saúde sempre houve muita divulgação de desinformação e a Nutrição é


também afetada por essa tendência que se intensificou a pandemia da Covid-19.

• Há vários exemplos de conteúdos difundidos relacionados à Nutrição que são


distorcidos e não confiáveis, que podem trazer agravos à saúde.

• São exemplos de recomendações não confiáveis, distorcidas e isentas de rigor


científico, as dietas para emagrecimento rápido e milagroso, “detoxificação” do
organismo, padrões alimentares restritivos (alimentos sem glúten) que visam atender
uma demanda de mercado atrelada única e exclusivamente ao lucro.

• Para evitar a disseminação desses conteúdos, deve-se seguir algumas regras


básicas: fazer checagem da fonte, identificar quem escreveu, em quais referências
está baseado o conteúdo, se quem disseminou o conteúdo recebe aporte financeiro
da indústria de alimentos etc.

104
AUTOATIVIDADE
1 A leitura crítica e sistematizada de artigos científicos possibilita que o profissional
da área da saúde possa basear a sua conduta clínica e orientações em evidências
científicas. Sendo assim, pode prover a melhor possibilidade de cuidado aos pacientes
e com menor custo. Portanto, a partir do exposto e do artigo Efeitos da suplementação
de ômega-3 na síndrome da anorexia-caquexia em pacientes oncológicos: uma
revisão sistemática, de Santos, Monteiro e Almeida (2021), sobre quais informações
pertinentes poderão ser extraídas, analise as assertivas a seguir:

FONTE: SANTOS, G. S.; MONTEIRO, H. M.; ALMEIDA, R. R. Efeitos da


suplementação de ômega-3 na síndrome da anorexia-caquexia em
pacientes oncológicos: uma revisão sistemática. BRASPEN, v. 36, n.
1, p. 115-22, 2021. Disponível em: https://bit.ly/3caXupB>. Acesso
em: 18 ago. 2021.

I- Trata-se de um artigo original que testou os resultados da suplementação de


ômega-3 em pacientes com câncer comparados a um grupo controle.
II- Os autores publicaram uma revisão integrativa, a qual não há critérios rigorosos
para seleção dos artigos que fazem parte da revisão.
III- Trata-se de um estudo observacional onde não há interferência dos autores, mas a
observação de eventos relacionados ao câncer e anorexia-caquexia.
IV- O estudo desenvolvido pelos autores emprega critérios metodológicos rigorosos e
bem descritos acerca dos artigos selecionados e incluídos na revisão.

Assinale a alternativa CORRETA:


a) ( ) Somente as assertivas I e III estão corretas.
b) ( ) Somente a assertiva II está correta.
c) ( ) Somente as assertivas II e IV estão corretas.
d) ( ) Somente a assertiva IV está correta.

2 As primeiras etapas para seleção de artigos científicos envolvem elaboração de um


questionamento claro e objetivo, seguida da escolha de unitermos, de conectores
entre eles e dos sites de busca dos artigos. Na sequência, aparecerão vários artigos
e pelo título e resumo o leitor é capaz de observar se há interesse ou não em ler
integralmente o trabalho. Portanto, leia o título, indique se há possibilidade de testar
a hipótese a seguir e justifique sua resposta.
Hipótese: Existem fatores de risco subestimados ou superestimados entre a insatis-
fação com a autoimagem corporal e o estado nutricional de adolescentes brasileiros?

105
FONTE: MOEHLECKE, M. et al. Auto-imagem corporal, insatisfação
com o peso corporal e estado nutricional de adolescentes brasileiros:
um estudo nacional. Jornal de Pediatria, Rio de Janeiro v. 96, n. 1,
p. 73-86, 2020. Disponível em: https://bit.ly/3IP5zwt. Acesso em: 18
ago. 2021.

3 A disseminação de informações falsas na área da saúde não é um fenômeno novo,


mas na atualidade com a pandemia da Covid-19 aumentou bastante. Na área
da Nutrição, isso não é diferente, visto que muitas pessoas sem conhecimento
recomendam e orientam o seguimento de dietas e de restrições alimentares,
elevando, assim, o risco de agravos à saúde. Para garantir a não propagação de
desinformação, algumas regras devem ser seguidas com atenção. Nesse contexto,
assinale a alternativa CORRETA:

a) ( ) Após repassar o conteúdo, checar a origem da publicação, se há autores e


quantas vezes tal informação foi repassada.
b) ( ) Você, acadêmico de Nutrição, pode prescrever e orientar indivíduos saudáveis e
doentes acerca de dietas.
c) ( ) Antes de repassar qualquer conteúdo é imprescindível checar a origem da
publicação, se o autor tem conhecimento e é formado em Nutrição, se há
embasamento científico e na dúvida, não repasse.
d) ( ) Todas as pessoas têm algum conhecimento na área da Nutrição e devem repas-
sar conteúdos importantes para aumentar o conhecimento de outros indivíduos.

4 As Diretrizes Clínicas (DC) são estudos publicados por especialistas de determinada


área sobre as evidências que sustentam certas condutas, as quais podem e devem
adotadas por outros profissionais. Ao ler, é preciso atenção ao rigor metodológico e
vieses que elas podem apresentar. Com relação à metodologia e os vieses relacionados
às DC, analise as assertivas a seguir:

I- Observar a descrição ou avaliação das evidências científicas, a forma como os


estudos foram selecionados e incluídos na DC e síntese dos artigos que embasaram
a publicação.
II- Um dos vieses que podem ser constatado é o conflito de interesses, por exemplo,
um dos autores ou vários deles são remunerados pela indústria de alimento ou/e por
laboratórios que comercializam suplementos alimentares, medicamentos etc.
III- A eficácia de um tratamento não precisa ser avaliada por uma DC, pois ela não tem o
objetivo de direcionar a conduta clínica de profissionais da área da saúde, deixando,
assim, essa análise aos leitores.
IV- Ao recomendar uma orientação, os especialistas que elaboraram uma DC necessitam
avaliar a sua aplicabilidade, ou seja, se ela é factível, se seu custo é viável etc.

106
Assinale a alternativa CORRETA:
a) ( ) As assertivas III e IV estão corretas.
b) ( ) As assertivas I, II e IV estão corretas.
c) ( ) Somente a assertiva II está correta.
d) ( ) As assertivas I e III estão corretas.

5 A clareza do objetivo de um artigo científico possibilita que o leitor avalie o


delineamento da pesquisa, os resultados encontrados e a conclusão dos autores.
É a pergunta que deve ser respondida pela pesquisa. Considerando tais afirmações,
elabore um questionamento de pesquisa e na sequência um objetivo.

107
REFERÊNCIAS
ABIOYE, A. I.; BROMAGE, S.; FAWZI, W. Effect of micronutrient supplements on influenza
and other respiratory tract infections among adults: a systematic review and meta-
analysis. BMJ Global Health, [s.l.], v. 6, p. 1-15, jan. 2021.

AGUILAR-NASCIMENTO, J. E.; et al. Diretriz ACERTO de intervenções nutricionais no


perioperatório em cirurgia geral eletiva. Rev Col Bras Cir., [s.l.], v. 44, p. 633-648, 2017.

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COVID-19. Nutrition Reviews, [s.l.], v. 79, n. 3, p. 1-12, 2021.

ALLCOTT, H.; GENTZKOW, M. Social Media and Fake News in the 2016 Election. Journal
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ALMEIDA, C. P. B.; GOULART, B. N. G. Como minimizar vieses em revisões sistemáticas de


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113
114
UNIDADE 3 —

NOVOS PARADIGMAS E
TENDÊNCIAS NA ÁREA
DE NUTRIÇÃO

OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM
A partir do estudo desta unidade, você deverá ser capaz de:

• compreender o conceito e a fundamentação teórica da Nutrição Comportamental;

• conhecer os fatores que influenciam o comportamento alimentar sob a ótica da


Nutrição comportamental;

• definir abordagem nutricional da Obesidade, Diabetes Melito e Transtornos Alimen-


tares sob enfoque da Nutrição Comportamental;

• caracterizar a nutrigenômica e nutrigenética de acordo com as evidências científicas;

• relacionar nutrigenômica e nutrigenômica no cuidado nutricional aplicado a doenças


crônicas não transmissíveis.

PLANO DE ESTUDOS
A cada tópico desta unidade você encontrará autoatividades com o objetivo de
reforçar o conteúdo apresentado.

TÓPICO 1 – NUTRIÇÃO COMPORTAMENTAL


TÓPICO 2 – GENÔMICA NUTRICIONAL

CHAMADA
Preparado para ampliar seus conhecimentos? Respire e vamos em frente! Procure
um ambiente que facilite a concentração, assim absorverá melhor as informações.

115
CONFIRA
A TRILHA DA
UNIDADE 3!

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116
UNIDADE 3 TÓPICO 1 —
NUTRIÇÃO COMPORTAMENTAL

1 INTRODUÇÃO
Caro acadêmico, o excesso de peso é um problema de saúde global por conta
da sua associação com outras doenças, como o Diabetes Melito, Hipertensão Arterial,
Doenças Cardiovasculares etc. Nesse contexto, você sabia que inúmeros estudos
científicos procuram encontrar um tratamento eficaz para o excesso de peso? E que até
o momento, a comunidade científica não encontrou uma solução efetiva?

Você tem conhecimento que as dietas com restrição calórica, principalmente


as que se caracterizam por restrição severa, quando adotadas de forma isolada, sem
enfoque nas questões emocionais, culturais, socioeconômicas e na saúde, acabam por
favorecer o reganho de peso e em alguns pacientes, ao final, podem levar a um peso
corporal maior do que antes de iniciar o tratamento dietético?

Nesse cenário, serão estudados o conceito e os fundamentos teóricos da


Nutrição Comportamental a qual se propõe uma abordagem baseada em mudanças
comportamentais e considera as emoções como fatores que influenciam as escolhas
alimentares. Além disso, serão estudadas as possíveis contribuições e características
do tratamento dietético na obesidade, diabetes e transtornos alimentares com enfoque
na Nutrição Comportamental.

Você sabia que é importante desenvolver habilidades interpessoais e de


comunicação para melhor abordagem do paciente? E que as restrições alimentares
podem afetar o comportamento do indivíduo? Para tanto, neste tópico você terá a
oportunidade de conhecer a Nutrição Comportamental e suas contribuições alicerçadas
no conhecimento das emoções que permeiam o comportamento alimentar.

2 NUTRIÇÃO COMPORTAMENTAL: CONCEITOS E


FUNDAMENTOS TEÓRICOS
Os temas referentes à Nutrição e a alimentação estão em evidência e mais
acessíveis na atualidade, no entanto, é oportuno destacar que apesar do conhecimento
científico estar em constante construção, ainda se observa uma abordagem limitada e
superficial acerca dos alimentos, sendo classificados como “saudáveis” e “não saudáveis”
ou ainda como “bons ou ruins” (ALVARENGA et al., 2019a).

117
As mesmas autoras inferem que quando se adota como linha de pensamento
uma visão dicotômica, ou seja, bom ou ruim, saudável ou não saudável, reduz-se o co-
nhecimento científico na área da Nutrição e alimentação e estreita-se a possibilidade
em analisar o indivíduo em um contexto amplo, incluindo fatores culturais, socioeconô-
micos, emocionais e por fim, exclui-se o prazer em se alimentar e incorpora-se a culpa.

Uma questão importante é que a mudança de comportamento frequentemente


não acontece, mesmo que o paciente tenha sido orientado pelo nutricionista e que
ele saiba da importância para a sua saúde. Assim, a Nutrição Comportamental busca
problematizar a forma de intervenção tradicional do nutricionista a fim de incluir aspectos
fisiológicos, sociais e emocionais da alimentação e mudar a forma de relacionamento e a
comunicação com o paciente e a mídia (ALVARENGA et al., 2019a).

Para entender os fundamentos teóricos sobre a mudança comportamental e


deste modo viabilizar a adesão do paciente às recomendações necessárias para reduzir
os agravos à saúde ou prevenir doenças, faz-se essencial definir o que é comportamento.

O comportamento pode ser definido como maneira de ser comportar ou de se


conduzir; como um conjunto de ações de um indivíduo ou ainda conjunto de reações
diante de interações com o meio em que o indivíduo está inserido (FERREIRA, 1999).

As áreas da ciência que se debruçam no estudo do comportamento humano


são a Psicologia, as Ciências Sociais, a Sociologia e a Antropologia. De forma resumida,
na área da Psicologia, em 1912, iniciou-se um movimento denominado Behaviorismo
oriundo do inglês Behavoir, denominado em português de comportamentalismo.
Nessa perspectiva, a expressão da atividade mental se dá por atos, gestos, palavras,
expressões, atitudes ou reações a estímulos do meio no qual o ser humano está inserido
(TARAGANO; ALAVARENGA, 2019).

Os trabalhos sobre comportamentalismo, sobre Psicologia experimental entre


outros, auxiliaram a formar a Terapia Comportamental (TC) a qual é caracterizada por
uma combinação de procedimentos verbais e de ação, com emprego de técnicas
e métodos que objetivam a modificação de comportamentos e/ou pensamentos e
crenças disfuncionais (TARAGANO, ALAVARENGA, 2019).

As mesmas autoras destacam também que a TC visa a análise do compor-


tamento e dos processos cognitivos que podem influenciá-lo, sendo denominada de
Terapia Cognitivo-Comportamental (TCC). Nesse contexto, o cerne da TC aponta para
solução do problema a partir de uma avaliação e de intervenção para gerar valorizações
contínuas de progresso.

118
O processo que gera a mudança de comportamento é complexo e é perpassado
pela aprendizagem, abrangendo o condicionamento clássico, a associação de estímulos
neutros, emoções intensas e situações de estresse, experiências vivenciadas no dia
a dia decorrentes das relações que se estabelecem entre os indivíduos (TARAGANO;
ALAVARENGA, 2019).

Klotz-Silva, Prado, Seixas (2016) argumentam e alertam que a TCC visa


somente propiciar a mudanças de hábitos alimentares por meio de uma adequação
do comportamento alimentar. Nessa esteira de argumentação as autoras questionam
a responsabilização individual para mudança do comportamento alimentar, podendo
levar a uma falsa ideia de “fraqueza” ou “falta de ânimo para mudar”.

Para compreender do que se trata a Nutrição Comportamental (NC) é importante


entender, como enfatizam Alvarenga, Koritar e Moraes (2019c), o que é o comportamento
alimentar e seus determinantes. O termo “comportamento alimentar” é empregado para
expressar consumo, modo de comer, como e onde o indivíduo se alimenta.

Destaca-se a carência de definições homogêneas, incluindo os construtos


e a taxonomia (identificação, descrição, nomenclatura e classificação), acerca do
comportamento alimentar e isso acaba muitas vezes por resultar em um entendimento
errôneo sobre o conceito, como por exemplo considerar parâmetros clínicos como
comportamentos, incluindo o peso corporal (ALVARENGA; KORITAR; MORAES, 2019c).

No campo da Alimentação e Nutrição distinguem-se dois conceitos relevantes


os quais são: alimentar-se para garantir a vida provendo nutrientes que garantem a
manutenção do corpo e o comer que carrega dimensões sociais e culturais, que remete
a alimentação à uma dimensão social (SANTOS, 2008).

No Guia Alimentar para População Brasileira, a alimentação é definida para além


da ingestão de nutrientes, ou seja, além de considerar os alimentos que compõem e
fornecem nutrientes, como eles são combinados e preparados, o modo de comer, é
bastante relevante ponderar acerca das dimensões culturais e sociais as quais permeiam
o ato de se alimentar (BRASIL, 2014).

De acordo com a NC, o comportamento alimentar abrange métodos, reações,


maneiras de proceder com o alimento (como, com o quê, com quem, onde e quando
comemos), assim o que se come não é, portanto, comportamento alimentar. Os eventos
pré-ingestão são os que se relacionam diretamente com o comportamento, os quais se
remetem à cultura, à sociedade e à experiência com o alimento (ALVARENGA; KORITAR;
MORAES, 2019c).

A compreensão de nossas atitudes frente aos alimentos insere alguns


questionamentos, como por exemplo, as razões para comer o que se come, as situações
em que se come e o que se pensa e se sente com relação ao alimento (ALVARENGA;

119
KORITAR; MORAES, 2019c). Portanto, nesse cenário as mesmas autoras destacam que
há três componentes envolvidos em atitudes relacionadas aos alimentos, o afetivo
(sentimentos, humor e emoções); cognitivo (crenças e conhecimento sobre o alimento);
e volitivo (vontade, predisposição para agir).

O estresse e as emoções negativas (tristeza, raiva, culpa etc.) estão envolvidos


no “comer emocional”, mas não somente, pois as emoções consideradas positivas
(alegria, excitação etc.) também são gatilhos emocionais, uma vez que não se
relacionam à fome física (STRIEN, 2018).

O Sistema Nervoso Central (SNC) e o Trato Digestório (TD) (estômago, intestinos,


pâncreas, fígado) são centros reguladores da fome e da saciedade, os quais são
fundamentais para manutenção da vida (CLEMMENSEN et al., 2017). A harmonização
entre os estímulos externos, os quais abrangem características dos alimentos
(temperatura, textura, palatabilidade, familiaridade, composição nutricional etc.); dos
indivíduos (aspectos socioculturais e psicológicos, tabus, crenças, renda, mídia etc.) e os
internos (nível de glicemia, ação de neurotransmissores, taxa de metabólica, receptores
sensoriais, reserva energética etc.) resulta em um controle da ingestão alimentar e
denota a complexidade desse processo essencial à vida (CLEMMENSEN et al., 2017).

Nesse contexto, define-se fome como a necessidade de se alimentar resultante


da privação de energia ou de alimentos, o que permite a busca por comida; saciedade diz
respeito à plenitude gástrica associada a ausência de fome com sensação de bem estar
e o intervalo entre uma refeição e outra; saciação traduz-se em controle do tamanho
da refeição; e fome hedônica ou apetite se expressa no desejo de comer um alimento
ou grupo de alimentos em particular, a fim de se obter prazer (ALVARENGA; KORITAR;
MORAES, 2019c; GIBBONS et al., 2019).

Alvarenga, Koritar e Moraes (2019c) inferem que começamos a comer “porque


temos fome (resultado da necessidade metabólica e controlada pelo SNC e TGI); depois
“porque queremos comer” (apetite, desejo de comer e ter prazer, independente da
necessidade biológica); e porque “é hora de comer” (seguimento de hábitos postulados
pela sociedade, família, trabalho, grupo em que vivemos); ou só porque a comida está
disponível e acessível.

Em contrapartida, os sinais de saciação e saciedade já aparecem a partir do


momento em que se ingere pequenas porções de alimentos, os quais são digeridos
e absorvidos, assim não é preciso estar completamente saciado para ter sensação de
plenitude. Adicionalmente, há uma variabilidade individual na expressão do apetite,
da saciação e da saciedade, uma vez que há alguns que param de comer a primeira
sensação de saciedade e outros só param quando não conseguem mais comer ou
quando já estão se sentido mal (ALVARENGA; KORITAR; MORAES, 2019c; GIBBONS et
al., 2019).

120
Apesar da saciação e saciedade serem estudadas separadamente, elas são
sustentadas e sobrepostas por uma cascata de respostas disparadas previamente por
uma avaliação cognitiva e sensorial acerca da qualidade e quantidade de alimento; e por
sinais de pós–ingestão e pós-absorção gerados pelo consumo e subsequente digestão
e absorção dos nutrientes (Figura 1) (MCCRICKERD; FORDE, 2016).

FIGURA 1 – CASCATA DE SACIEDADE

FONTE: Mccrickerd e Forde (2016, p. 19)

Adicionalmente, o apetite é modulado pelas emoções, sejam elas positivas


ou negativas, pela condição de saúde psicológica do indivíduo e pela intensidade das
emoções (STRIEN, 2018; EVERS et al., 2018).

Alvarenga, Koritar e Moraes (2019c) destacam que o apetite pode ser estimu-
lado pela disponibilidade de alimentos bastante palatáveis (ricos em açúcar, gorduras
e sódio) e pelo estresse. Sendo assim, atualmente, principalmente em países de baixa
renda como o Brasil, é possível detectar o alto consumo destes alimentos por sua pa-
latabilidade, baixo custo e fácil acesso.

A ingestão de alimentos altamente palatáveis e ultraprocessados contribui


para o excesso peso e agravos importantes à saúde, para tanto as dietas da moda
com restrição de grupos alimentares e restrição calórica são adotadas com o objetivo
de perder peso corporal (SARTORELLI et al., 2019; BORTOLINI et al., 2019; CARVALHO;
DUTRA; ARAÚJO, 2019).

121
No entanto, vale ressaltar que as restrições calóricas e/ou alimentares têm
fracassado enormemente no tratamento do excesso de peso e podem como efeito
rebote levar a um maior acúmulo de peso corporal e ainda causar doenças. Quando se
adere a uma dieta com baixo valor energético e de nutrientes (restritiva), o organismo não
tem capacidade para distinguir o que é uma restrição auto infringida de uma restrição
real por falta de alimento, assim em resposta a esse estresse há uma redução da taxa
metabólica e um aumento da fome e do apetite na tentativa de restaurar o equilíbrio
(STRIEN, 2018; FREIRE, 2020).

Para que o comer emocional se estabeleça e se observe uma desinibição para


se alimentar, apesar da ausência da fome física, previamente um sinal inibitório está
imposto, como por exemplo o seguimento de uma dieta restritiva. Em resumo, é preciso
um sinal inibitório (restrição alimentar) para ocorrer a desinibição da ingestão alimentar
e culminar no comer emocional (STRIEN, 2018).

Alvarenga, Koritar e Moraes (2019c) enfatizam que a busca contínua por aplacar
a sensação de fome, seguindo por exemplo uma dieta restritiva, pode desencadear uma
dessensibilização às sensações de fome e saciedade e por sua vez elevar o risco para o
comer emocional.

Quando um indivíduo se encontra em uma situação de estresse, o organismo


mimetiza uma sensação intensa de saciedade, sendo assim, ter fome e se alimentar,
apesar do estresse, é uma reação atípica (LAZAREVICH et al., 2016; ALVARENGA;
KORITAR; MORAES, 2019c). De acordo com Herman e Polivy (2005) muitos indivíduos se
alimentam, na maioria das vezes, desconsiderando as necessidades biológicas, uma vez
que não tem fome e nem saciedade.

3 COMPORTAMENTO ALIMENTAR E SEUS DETERMINANTES


Como já discutido anteriormente postula-se que o consumo alimentar é
determinado por escolhas individuais e caracteriza-se por uma complexidade alta, visto
que há envolvimento e inter-relação de fatores biológicos, socioculturais e psicológicos.
A escolha do alimento X e a recusa do alimento Y é resultado de um processamento
mental o qual envolve avaliação, julgamento das opções e, por fim, a escolha do que será
ingerido. Considerações relevantes desse processo abrangem o que, como, quando,
onde e com quem as pessoas se alimentam (ALVARENGA; KORITAR; MORAES, 2019c).

As escolhas alimentares envolvem ações conscientes, automáticas, habituais


e subconscientes, assim sendo dependem das atitudes. O alimento é fornecedor de
energia e nutrientes, fonte de prazer e recompensa e fortalecimento de vínculo social.
Portanto, o nutricionista precisa reconhecer e considerar essa dinâmica complexa que
envolve o ato de se alimentar, sua importância no contexto individual e social a fim de
oferecer um cuidado nutricional mais humanizado e integrativo (HIGGIS, 2015).

122
No Quadro 1 estão demonstrados os três tipos de determinantes das escolhas
alimentares, os quais referem-se ao alimento, ao comedor e ao ambiente.

QUADRO 1 – DETERMINANTES DA ESCOLHA ALIMENTAR

Categoria Fatores

Sabor, aparência, valor nutricional,


Relacionados ao alimento qualidade, higiene, cheiro, textura,
variedade, preço, origem, familiaridade.

Odor, iluminação, conforto, limpeza,


Fatores físicos localização, opções, presença de pessoas
Relacionados ao conhecidas e distrações do ambiente.
ambiente
Fatores
Família, mídia e cultura local.
socioculturais

Fisiológicos, patológicos, genéticos,


Biológicos preferências alimentares, idade, gênero e
estado nutricional.
Relacionados ao
comedor Socioeconômicos Renda familiar, escolaridade, preço.

Antropológicos e Crenças, emoções, expectativas,


psicológicos experiências positivas ou negativas.

FONTE: Adaptado de Alvarenga, Koritar e Moraes (2019c, p. 49)

Os estímulos sensoriais captados pelo olfato, paladar e tato associados aos


sistemas visual e auditivo integram um complexo mecanismo que permiti identificar,
escolher e apreciar os alimentos. Sob essa perspectiva, o sabor e o cheiro exercem
papel central na apreciação do alimento, mas a apresentação (cor, forma e textura),
temperatura, conteúdo de gordura, além do ardor (sabor picante) como também o som
da mastigação são elementos que permeiam e determinam o paladar (MCCRICKERD;
FORDE, 2016; BOESVELDT; GRAAF, 2017).

Nosso organismo preserva características que visam manter a sobrevivência,


para tanto são necessárias a homeostase energética e a constante luta contra a inanição,
assim sendo, há uma rede complexa e rigorosamente modulada para a busca por
comida. Por outro lado, com a evolução o prazer passa a ter papel central em determinar
a escolha alimentar, visto que um alimento não será escolhido caso não tenha sabor e
cheiro agradáveis, boa aparência e/ou textura (ALVARENGA; KORITAR; MORAES, 2019c).

Nesse cenário, é primordial dar ênfase à culpa relacionada ao prazer em comer,


uma vez que um estilo de vida saudável está comumente associado a sacrifícios
e negação do prazer à mesa. Ademais, vincula-se o prazer ao que “engorda e não é

123
saudável”, portanto a culpa passa a dominar o comportamento alimentar e desencadear
mudanças para afastá-la, mas ao mesmo tempo podem emergir sentimentos de
impotência e perda de controle, afetando autoestima, saúde e peso corporal (KUIJER;
BOYCE, 2014).

A vergonha e a culpa são sentimentos associados à sintomatologia relacionada


a transtornos alimentares incluindo o transtorno de compulsão alimentar, caracterizado
pela ingestão de uma quantidade de alimentos maior do que outras pessoas consumi-
riam em circunstâncias análogas. O indivíduo come mais rápido do que o normal até se
sentir desconfortável, apresenta sensação de descontrole e nesse caso, a fome física
não está presente (ASSOCIAÇÃO AMERICANA DE PSQUIATRIA, 2014; BLOC et al., 2019).

Algumas características inerentes aos alimentos têm se destacado nas escolhas


alimentares por serem avaliadas como saudáveis, como por exemplo: ser orgânico,
light/ diet, apesar de ser light/diet não seja uma característica de saudabilidade, mas
de busca por controle de peso corporal e adequação aos padrões de beleza impostos
pela sociedade. Dessa forma, o nutricionista durante a abordagem do paciente deve
estar atento às crenças, padrão de beleza e visões distorcidas acerca dos alimentos, os
quais podem comprometer a saúde física e mental do indivíduo (ALVARENGA; KORITAR;
MORAES, 2019c).

As autoras supracitadas também enfatizam que além das escolhas alimentares


serem influenciadas pelas características inerentes ao alimento, o ambiente é da
mesma forma importante, tendo em vista que a acústica, a iluminação, o conforto e as
condições de higiene determinam a quantidade de alimento ingerido.

Ambientes limpos, com conforto acústico e confortáveis favorecem a


concentração no ato de comer, enquanto, ambientes barulhentos e pouco confortáveis
estimulam o comer rápido (HIGGIS, 2015; ALVARENGA; KORITAR; MORAES, 2019c).

Os fatores que influenciam o ambiente alimentar dizem respeito à questões de


esfera global e local, sendo elas:

• biofísica e ambiental (recursos naturais, ecossistema, mudanças climáticas, crises


hídricas etc.);
• inovação, tecnologia e infraestrutura;
• política e economia (globalização, comércio, conflitos e crises humanitárias, preços,
posse de terra etc.);
• sociocultural (cultura, religião, rituais, tradições, empoderamento feminino etc.);
• demográfico (crescimento populacional, migração e deslocamento forçado) (HLPE,
2017).

124
IMPORTANTE
Caro acadêmico! O estudo coordenado pela nutricionista Caroline
Ferreira, da Universidade de São Paulo (USP), sobre o impacto da
pandemia de Covid-19 sobre a rotina das famílias brasileiras, evidenciou
que o medo e a insegurança associados a pandemia transformaram o
dia a dia, modificando hábitos alimentares durante a quarentena. Dentre
os fatores determinantes das escolhas alimentares nesse período de
isolamento destacam-se os atrelados ao comer emocional.

FONTE: <https://bit.ly/3AXIEu1>. Acesso em: 23 set. 2021.

A depender do contexto, o ambiente pode ser bastante diversificado, ou seja,


com uma grande variedade de opções de alimentos e preços e, por outro lado, pode ser
também bastante escasso com pouca variedade de oferta. Portanto, o ambiente pode
determinar as escolhas a partir do preço e do grau de conveniência, os quais podem
restringir ou ampliar a capacidade de escolha individual (GLANZ et al. 2005; PEREIRA;
SCALCO; LOURENZANI, 2019).

A mídia tem destaque no ambiente alimentar, principalmente direcionada


a crianças e adolescentes ao vincular campanhas massivas acerca de alimentos
palatáveis e acessíveis, e para o gênero feminino a fim de monetizar em grande escala
a indústria da magreza e da beleza, perpetuando mitos sobre saúde, alimentação e
nutrição (BARBOSA; SILVA, 2016; ANTONACCIO et al., 2019; BITTAR; SOARES, 2020).

Atualmente as mídias sociais como Instagram, Facebook, Twitter, os sites de


buscas como Google têm penetração e influência para determinar padrões de escolha e
consumo de alimentos, favorecendo estereótipos de gênero, produção de um padrão de
beleza masculino e feminino rígido e segregando os indivíduos de acordo com o status
social e estilo de vida (ANTONACCIO et al., 2019; PASSOS; SILVA; SANTOS, 2020).

As escolhas alimentares e o comportamento alimentar além de serem


determinados pelas características do alimento, pelo ambiente, são diretamente
relacionados às características individuais, as quais relacionam-se ao comedor
(SCHNEIDER et al., 2013). O ato de se alimentar resguarda um componente biológico
inato, uma vez que o recém-nascido já dispõe da modulação apurada dos sinais de
fome, saciação e saciedade. Essa modulação inata garante a sobrevivência da nossa
espécie e os pais têm a responsabilidade de potencializar essa habilidade, durante os
seis meses de amamentação seguidos da introdução da alimentação complementar
(HETHERINGTON, 2017; SHLOIM et al., 2018; BRASIL, 2019).

125
O paladar e as preferências alimentares começam a se formar na gestação e
continuam durante o aleitamento materno, além disso, estão em constante influência
de fatores genéticos, estágios de desenvolvimento, reação fóbica a novos alimentos e
variabilidade (RODRÍGUEZ-TADEO et al., 2015; PEREIRA; VAN DER BILT, 2016).

Os determinantes socioeconômicos associados ao nível de escolaridade estão


intimamente relacionados ao contexto global e local da economia e pelo cultural do
indivíduo, por outro lado é importante salientar que renda e nível de escolaridade mais
altos nem sempre culminam em escolhas alimentares mais saudáveis (HIGGIS, 2015).

Lins et al. (2013) desenvolveram um estudo transversal de base populacional


sobre avaliação do estado nutricional, hábitos alimentares e insegurança alimentar no
munício de Duque de Caxias, Rio de Janeiro. Para o estudo foram selecionadas mu-
lheres com ≥ 20 anos, totalizando 758. O excesso de peso foi identificado em 33% da
amostra, 23% tinham obesidade, ou seja, mais da metade (56,3%) das mulheres estava
acima do peso e apenas 5% relataram renda per capita acima de dois salários mínimos.

Em relação à escolaridade, a prevalência de obesidade foi maior entre aquelas


que não estudaram ou estudaram poucos anos. Entre as mulheres que tinham entre 0-4
anos de estudo a razão de prevalência para o sobrepeso foi 1,70 vezes maior em relação
àquelas que estudaram acima de oito anos. Tais dados evidenciaram nessa população
que a escolaridade mais alta, apesar da baixa renda, apresenta impacto na prevenção
do excesso de peso (LINS et al., 2013).

As motivações para escolhas alimentares referentes ao comedor que


apresentam grande variação, destacadas por Alvarenga, Koritar e Moraes (2019c), são as
antropológicas e psicológicas, as quais resultam em preferências e aversões. Além de
essencial para manter a sobrevivência, comer é um ato sociocultural, afetivo e exprime
a interface entre o organismo e o meio externo.

A subjetividade impacta o comportamento alimentar, uma vez que se


define subjetividade como a construção do sujeito como único, singular e que
estabelece relações interpessoais desde o nascimento. As emoções, os sentimentos
e os pensamentos conscientes e inconscientes fazem parte de nossa subjetividade
e influenciam substancialmente a consolidação de opiniões acerca por exemplo da
comida, incluindo as escolhas alimentares (AITA; FACCI, 2011; MENNUCCI; TIMERMAN;
ALVARENGA, 2019).

Em resumo, em uma linha sócio antropológica, o que comemos nos forma, faz
parte de nossa subjetividade e o inverso também se aplica, pois o indivíduo define a
comida, seus valores e significados, assim se pode considerar que “você como aquilo que
é”. Portanto, o nutricionista precisa reconhecer rituais alimentares, valores, significados,
crenças relacionadas ao comer, visto que eles são parte de nossa subjetividade, nos
constroem como seres humanos e estão em constante fluidez, a depender do momento
vivenciado (MENNUCCI; TIMERMAN; ALVARENGA, 2019).

126
4 HABILIDADES INTERPESSOAIS E DE COMUNICAÇÃO
PARA O NUTRICIONISTA, COMER INTUITIVO E PLENO
(MINDFULL EATING)
Para abordagem nutricional que visa o aconselhamento e a promoção de
mudanças comportamentais é fundamental o conhecimento técnico (teórico), além do
desenvolvimento de habilidades relacionadas à comunicação, escuta e atitude (como
se comportar) (ALVARENGA et al., 2019b).

A comunicação terapêutica é a habilidade de um profissional em auxiliar os


indivíduos a enfrentarem seus problemas, a se relacionar com os demais, ajustar e aceitar
o que não pode ser mudado no momento, e enfrentar bloqueios que impossibilitam a
realização de sua própria capacidade, para tanto, desenvolver habilidades interpessoais
que possibilitem a interação com as outras pessoas é fundamental para o profissional
da saúde (ALVARENGA et al., 2019b).

O atendimento nutricional tradicional assemelha-se substancialmente com o


atendimento médico focado em sinais e sintomas físicos em termos quantificáveis, no
qual a cura é definida por indicadores médicos objetivos. É importante destacar que os
estudos acerca da relação nutricionista x paciente são escassos (AMORIM; MOREIRA;
CARRARO, 2001; FREITAS; MINAYO; FONTES, 2011, CORI; PETTY; ALVARENGA, 2015).

O modelo tradicional carece muitas vezes de uma contextualização do indivíduo;


acaba por negligenciar as emoções, os afetos, as crenças e os significados que cercam
o processo de adoecimento e o comportamento alimentar; e eleva o risco de fracasso
no tratamento de agravos à saúde (DEMÉTRIO et al., 2011).

Nesse contexto, o estabelecimento de relações de confiança, respeito e


reciprocidade entre nutricionista e paciente deve permear os cuidados em nutrição a
fim de ampliar a sua humanização e o vínculo terapêutico (DEMÉTRIO et al., 2011).

Os cursos de graduação em Nutrição não têm em sua grade curricular uma


disciplina acerca da comunicação, como observados fora do Brasil. A Universidade do
Porto-Portugal realizou uma mudança de paradigma a fim incluir na formação acadê-
mica capacidade analítica, liderança, competência de comunicação e domínio sobre a
linguagem de novas mídias digitais (GRAÇA et al., 2015; ALAVARENGA et al. 2019b).

De acordo com Serra, Gregório, Graça (2011); Graça et al. (2015), para realização
de uma abordagem que propicie mudança de comportamento e aconselhamento
nutricional, a formação acadêmica de nutricionistas exige certamente capacitação nas
áreas das ciências da comunicação e da educação.

127
O desenvolvimento dessas habilidades (comunicação e educacional) oportuniza
a formação de agentes produtores e divulgadores de informação nutricional e alimentar
com elevada capacidade técnica para gerir quantidades substanciais de informação e
adequá-las aos novos meios de divulgação e às tecnologias digitais. Adicionalmente,
a capacidade de pensamento crítico baseado em evidências científicas e em preceitos
éticos é fundamental para formação do nutricionista (SERRA; GREGÓRIO; GRAÇA, 2011;
GRAÇA et al., 2015).

Para Nutrição Comportamental há quatro pilares que alicerçam a prática da


empatia e o estabelecimento do vínculo com o outro:

a) ver o mundo do seu paciente (compreender o outro e ver por meio do ponto de vista
dele);
b) não ser julgador (cada indivíduo tem seus valores e somos todos passíveis de erros);
c) compreender sentimentos (entender verdadeiramente os sentimentos do outro);
d) comunicar o que se compreendeu (para que os pacientes percebam que são vistos,
ouvidos e compreendidos é preciso comunicar) (ALVARENGA et al., 2019b).

O nutricionista além de profissional da área da saúde e, portanto, agente de


saúde, também pode ser gestor e terapeuta nutricional (TN), como propõe a Nutrição
Comportamental, pois terapia trata-se de uma intervenção para tratar vários de
problemas. Para atuação em diferentes áreas da Nutrição, o nutricionista é considerado
um educador e por isso a comunicação adequada é fundamental para o aconselhamento
nutricional, a mudança de comportamento e a disseminação de informações corretas e
claras acerca da alimentação e Nutrição (ALVARENGA et al., 2019b).

Uma comunicação adequada deve se pautar em reduzir conflitos e mal-


entendidos e alcançar objetivos para solução de problemas. Para tanto, é preciso ter
consciência das suas limitações como profissional e eventuais falhas na comunicação,
por conta da linguagem adotada, por fatores psicológicos, nível educacional etc. (CANT;
ARONI, 2008; HELM; JONES, 2016).

Há formas diferentes de se comunicar e interagir socialmente e dentre as


modalidades destacam-se a não verbal e a verbal. Gestos, posturas, expressões faciais,
orientação do corpo e do espaço, e distância mantida do paciente são maneiras de
expressar o que sentimos e pensamentos sem utilizar palavras (CANT; ARONI, 2008).

Nesse cenário, a observação de nossa comunicação não verbal com o pacien-


te é relevante e pode sempre ser aperfeiçoada. A expressão facial depende de nossas
emoções e o sorriso, o contato visual, a atenção prestada ao paciente no momento
que está falando e manutenção do interesse, curiosidade e o respeito abrem possibi-
lidade de estabelecimento de vínculo (CANT; ARONI, 2008; HELM; JONES, 2016; DART
et al., 2019).

128
No Quadro 2 estão organizados alguns pontos que envolvem a paralinguagem
a qual abrange a produção de sons, como ritmo da voz, velocidade, intensidade,
ênfase, entonação, suspiro, pigarro etc.

QUADRO 2 – AJUSTES DA PARALINGUAGEM

Manter tom de voz agradável, evitando falar alto ou baixo ou de maneira monotônica.

Falar devagar e de forma clara, evitar o excesso de informações.

Procurar não interromper o paciente.

Pausa e ênfase para assimilação do ouvinte.

FONTE: Adaptado de Alvarenga et al. (2019b)

Outros pontos da comunicação não verbal incluem a observância da postura


corporal (evitar ficar de braços cruzados); a distância mantida entre as pessoas, como
por exemplo na distância íntima quando se coleta medidas de peso corporal, de altura,
de circunferências, tal distanciamento pode ser invasivo para algumas pessoas, assim
é importante que o paciente autorize, que se peça licença para o procedimento; na
abordagem terapêutica da Nutrição comportamental, a distância do profissional
do paciente pode se adotar formato de poltronas , sem mesa, a fim de gerar mais
proximidade (ALVARENGA et al., 2019b).

Quando se pensa em comunicação verbal, associa-se imediatamente à ideia de


falar e conversar, mas envolve também a forma de perguntar, de escutar e de responder.
Ao iniciar uma abordagem há um cumprimento e na sequência uma pergunta: — “Olá,
o que lhe trouxe aqui?” É importante sempre lembrar que perguntas e respostas irão
direcionar a terapêutica nutricional, portanto devem ser claras e objetivas. Há dois tipos
de perguntas: fechadas e abertas (ALVARENGA et al., 2019b).

As perguntas fechadas têm por objetivo obter respostas específicas e as abertas


abrem o leque de possibilidades de resposta, permitindo que o indivíduo escolha o que
ele avalia como importante (ALVARENGA et al., 2019b).

129
QUADRO 3 – EXEMPLOS DE PERGUNTAS FECHADAS E ABERTAS

Perguntas fechadas Perguntas abertas

O que o trouxe para o atendimento


Quantas refeições você faz por dia?
nutricional?

Você gosta de folhosos? Como o peso corporal dificulta a sua vida?

Você conseguiu fazer o combinado Você pode exemplificar os momentos em


na última consulta? que come por conta da ansiedade?

FONTE: Adaptado de Alvarenga et al. (2019b, p. 184)

Escutar é outra habilidade da comunicação verbal que permite prestar atenção,


sentir e perceber o que outro está falando, portanto, exige receptividade. Quando o
nutricionista exerce a escuta, há melhor compreensão do indivíduo e ela por si só pode
ter efeito terapêutico e propiciar sensação de acolhimento (RAIMUNDO; CADETE, 2012;
MESQUITA; CARVALHO, 2014).

A dinâmica de atendimento nutricional envolve pergunta, escuta e resposta ou


informação, desse modo, há profissionais que escutam mais, outros que perguntam
mais ou ainda escutam e informam etc. Os estilos de comunicação de cada um podem
ser diferenciados em: a) direcionar (é o mais observado entre os nutricionistas, o foco
é informar e são utilizadas perguntas fechadas), b) acompanhar (estilo mais raro,
caracteriza-se por mais escuta, uso de perguntas abertas e poucas informações são
repassadas) ou c) orientar (uso de perguntas abertas, tempo razoável de escuta e há
repasse de informações (ESTRELA et al., 2017).

No modelo de aconselhamento nutricional preconizado pela Nutrição Compor-


tamental é preciso sair da prescrição e guiar o paciente para que ele faça parte do seu
processo de tratamento e consiga alcançar seus objetivos (ALVARENGA et al., 2019b).

Durante o processo terapêutico nutricional, incluindo as habilidades de comu-


nicação, a Nutrição Comportamental considera também a intuição para tratar da ca-
pacidade intrínseca que se possui para lidar de forma não racional com o corpo e seus
sinais, em especial com a alimentação (ALVARENGA; FIGUEIRO, 2019).

O comer intuitivo (CI) foi um conceito elaborado por duas nutricionistas ame-
ricanas que queriam ensinar as pessoas a terem uma relação saudável com a comida
e favorecer autoconhecimento corporal. Além disso, o CI tem por objetivo favorecer a
confiança em diferenciar sensações físicas e emocionais relacionadas ao comporta-
mento alimentar e descarta a prescrição de dietas como ferramenta terapêutica para
mudança comportamental (HORWATH; HAGMANN, HARTMANN, 2019; ALVARENGA;
FIGUEIRO, 2019).

130
A sintonia entre corpo, mente e comida é a base do CI e o desafio se coloca
entre equilibrar os sistemas internos e externos, com foco principalmente no interno,
entendido como o “eu” (pensamentos, emoções, necessidades fisiológicas) (WARREN;
SMITH; ASHWELL, 2017; ALVARENGA; FIGUEIRO, 2019).

O CI baseia-se em três pilares: permissão incondicional para comer; comer para


atender necessidades fisiológicas e não emocionais; os sinais internos (fome e saciedade)
balizam o que, quanto e quando comer. Vale destacar que a Nutrição Comportamental
não desconsidera e não recomenda a substituição da dietoterapia para o tratamento da
diabetes, doença renal, cardiovasculares (ALVARENGA; FIGUEIRO, 2019).

Ao analisar de forma crítica a Nutrição Comportamental, vale acrescentar que


Poulain (2013) destaca que a obesidade é problema social e não individual e um novo
fator de desigualdade em saúde, da mesma forma, Seixas et al. (2020) ponderam
que o enfrentamento da obesidade requer além do conhecimento científico, um
posicionamento na escala de políticas públicas, não somente focada em uma solução
individual.

O Mindfulness trata-se de parar e estar presente, de acordo com o responsável,


Jon Kabat Zinn professor da Escola Médica da Universidade de Massachusetts, pela
disseminação dos conceitos no mundo ocidental. A tradução para o português é de
“atenção plena”, a qual se define por um estado de consciência que é cultivado através
de prestar atenção para o momento, sem julgamentos ou críticas (KERIN; WEBB;
ZIMMER-GEMBECK, 2019).

A prática não é fácil, pois nossos pensamentos estão bastantes acelerados,


vagando e entupidos de pensamentos repetitivos (KERIN; WEBB; ZIMMER-GEMBECK,
2019). Tanto o CI como o mindful eating (que vem do mildfulness), tradução para o
português em comer com atenção plena, estruturam-se na prática em reduzir os
elementos externos que interferem na ingestão de comida, como por exemplo: assistir
TV, estar conectado a redes sociais, e elevar a importância das propriedades sensoriais
dos alimentos e dos sinais internos relacionados à ingestão alimentar (fome, saciação e
saciedade) (BAER, 2013).

O comer com atenção plena consiste em concentrar-se durante as refeições,


com consciência e foco na experiência com os alimentos. A intenção não é a perda
de peso ou a restrição alimentar, mas ter o conhecimento e estar envolvido com as
sensações desencadeadas pelo alimento no organismo sem julgamentos (bom ou ruim,
saudável ou não saudável) (BAER, 2013).

A imersão nas cores, texturas, aromas, sentidos e nos sons de comer e beber
permite que se tenha contato com as reações frente ao alimento e, além disso, aos
sinais de fome e saciedade. Intervenções baseadas no comer atenção plena têm sido
estudadas no tratamento da obesidade e de transtornos alimentares (WARREN; SMITH;
ASHWELL, 2017; ARTILES et al., 2019).

131
Grider, Douglas, Raynor (2020), ao elaborarem uma revisão sistemática con-
cluíram que poucas evidências sugerem que o emprego das duas ferramentas, comer
intuitivo ou comer com atenção plena, tiveram influência na ingestão energética ou na
qualidade da dieta. Para se obter maior robustez de evidências é preciso delinear estu-
dos com maior rigor metodológico.

A variabilidade e o estudo criterioso das ferramentas utilizadas na prática pelos


profissionais de saúde garante que a terapêutica pode ser efetuada com flexibilidade,
variabilidade e mudança, de acordo com o tipo de comportamento, de intervenção,
características e objetivos do paciente.

Comportamento alimentar de obesos e sua correlação com o tratamento


nutricional

Introdução

A obesidade é considerada um problema de saúde pública, com aumento significativo


das taxas de sobrepeso e obesidade entre adultos e crianças em diversos países.
No Brasil, em 2018, de acordo com a Vigilância de Fatores de Risco e Proteção para
Doenças Crônicas por Inquérito Telefônico (Vigitel), a frequência de excesso de peso
foi de 55,7% e de obesidade, de 19,8%.

Vários padrões de comportamentos alimentares foram identificados e eles incluem


o descontrole alimentar (DA), a alimentação emocional (AE) e a restrição cognitiva
(RC). O The Three-Factor Eating Questionnaire (TFEQ) é uma escala autoavaliativa
amplamente utilizada em indivíduos com sobrepeso/obesidade e eutróficos. Ela foi
projetada para avaliar os três fatores da alimentação (DA, AE e RC) e, dessa forma,
facilitar a compreensão multidimensional da obesidade que será necessária para
delinear o rumo do tratamento.

Diante do aumento crescente das taxas de obesidade no país, explorar o


comportamento alimentar e relacioná-lo com a obesidade se faz necessário para a
construção de uma abordagem nutricional multidimensional que abarca o contexto
biológico e psicossocial, que poderá resultar em maior adesão ao tratamento.

Objetivo

Avaliar os tipos de comportamentos alimentares em indivíduos com obesidade e


correlacionar com a adesão ao tratamento proposto.

132
Metodologia

Estudo transversal desenvolvido em instituição de cardiologia em indivíduos


com obesidade. Os tipos de comportamentos alimentares foram analisados pela
escala The Three Factor Eating Questionnaire – R21 (TFEQ-21) – versão traduzida e
adaptada para brasileiros. Nela são abordadas três subescalas: restrição cognitiva
(RC), alimentação emocional (AE) e descontrole alimentar (DA). A adesão ao
tratamento nutricional foi verificada pelo instrumento desenvolvido pela instituição,
baseado nas principais diretrizes de doenças crônicas.

Resultados

Analisaram-se 100 indivíduos, com maior prevalência do sexo feminino (68%).


Em relação à adesão, somente 25% apresentam boa aderência (escore > 60%).
Foi possível identificar a relação entre o IMC e a RC; quanto maior o IMC, menor
foi a intensidade da RC (p = 0,02). Observou-se correlação positiva entre a RC
e adesão ao consumo de gorduras (p = 0,02) e fibra alimentar (p = 0,004). A
subescala AE apresentou correlação negativa com a adesão ao consumo de gorduras
(p = 0,03) e correlação positiva com a DA (p < 0,01).

Conclusão

O tipo de comportamento alimentar mais frequente na amostra foi a restrição


cognitiva, que não foi correlacionada com o escore total de adesão. A AE foi
associada com maior consumo de gorduras, similar ao encontrado em estudos
nacionais e internacionais. Nota-se uma lacuna de estudos que relacionam o
comportamento alimentar com a adesão ao tratamento nutricional.

FONTE: Adaptada de <https://bit.ly/3kW2xfl>. Acesso em: 20 jul. 2020.

133
RESUMO DO TÓPICO 1
Neste tópico, você aprendeu:

• O termo “comportamento alimentar” é empregado para expressar consumo, modo de


comer, como e onde o indivíduo se alimenta.

• No campo da Alimentação e Nutrição distinguem-se dois conceitos relevantes os


quais são: alimentar-se para garantir a vida provendo nutrientes que garantem a
manutenção do corpo e o comer que carrega dimensões sociais e culturais, que
remete a alimentação a uma dimensão social.

• Os eventos pré-ingestão são os que se relacionam diretamente com o comportamento,


os quais se remetem à cultura, à sociedade e à experiência com o alimento.

• Há três componentes envolvidos em atitudes relacionadas aos alimentos, o afetivo


(sentimentos, humor e emoções); cognitivo (crenças e conhecimento sobre o
alimento); e volitivo (vontade, predisposição para agir).

• O estresse e as emoções negativas (tristeza, raiva, culpa etc.) estão envolvidos no


“comer emocional”, mas também as emoções positivas (alegria, excitação etc.).

• A harmonização entre os estímulos externos, os quais abrangem características dos


alimentos (temperatura, textura, palatabilidade, familiaridade, composição nutricional
etc.); dos indivíduos (aspectos socioculturais e psicológicos, tabus, crenças, renda,
mídia etc.) e os internos (nível de glicemia, ação de neurotransmissores, taxa de
metabólica, receptores sensoriais, reserva energética etc.), resulta em um controle
da ingestão alimentar e denota a complexidade desse processo essencial à vida.

• A necessidade de se alimentar resultante da privação de energia ou de alimentos, o


que permite a busca por comida, chama-se de fome.

• A saciedade diz respeito à plenitude gástrica associada a ausência de fome com


sensação de bem-estar e o intervalo entre uma refeição e outra; saciação traduz-se
em controle do tamanho da refeição.

• A fome hedônica ou apetite se expressa no desejo de comer um alimento ou grupo


de alimentos em particular, a fim de se obter prazer.

• O apetite pode ser estimulado pela disponibilidade de alimentos bastante palatáveis


(ricos em açúcar, gorduras e sódio) e pelo estresse.

134
• As escolhas alimentares envolvem ações conscientes, automáticas, habituais e
subconscientes, assim sendo dependem das atitudes.

• Há três tipos de determinantes das escolhas alimentares, os quais referem-se ao


alimento, ao comedor e ao ambiente.

• Os quatro pilares que alicerçam a prática da empatia e o estabelecimento do vínculo


com o outro, de acordo com a Nutrição Comportamental, são: a) ver o mundo do seu
paciente; b) não ser julgador; c) compreender sentimentos; e d) comunicar o que se
compreendeu.

• Há formas diferentes de se comunicar e interagir socialmente e dentre as modalidades


destacam-se a não verbal e a verbal.

• A comunicação verbal além da fala e da conversa, envolve também a forma de


perguntar, de escutar e de responder.

• O comer intuitivo tem por objetivo favorecer a confiança em diferenciar sensações


físicas e emocionais relacionadas ao comportamento alimentar e descarta a prescri-
ção de dietas como ferramenta terapêutica para mudança comportamental.

• O comer com atenção plena estrutura-se na prática de reduzir os elementos ex-


ternos que interferem na ingestão de comida, ou seja, elevar a importância das
propriedades sensoriais dos alimentos e dos sinais internos relacionados ao comer
(fome, saciação e saciedade).

135
AUTOATIVIDADE
1 O comportamento alimentar diz respeito ao consumo e ao modo de comer, e como
e onde o indivíduo se alimenta. Sendo assim, é reconhecido que o momento pré-
ingestão é tão relevante quanto o consumo propriamente dito e a pós-ingestão.
Essa complexidade e harmonização de sinais internos do organismo e externos
compõem o que denominamos comportamento alimentar. Nesse cenário considere
as assertivas:

I- Os estímulos externos abrangem as características inerentes ao alimento (palatabi-


lidade, textura etc.); ao indivíduo (aspectos socioculturais e psicológicos etc.).
II- Os estímulos internos, inerentes ao organismo, incluem a glicemia, a taxa metabólica,
a reserva energética etc. Eles garantem a procura por comida e por conseguinte a
sobrevivência.
III- A fome, a saciação e a saciedade são elementos fundamentais para procura por
alimento, controle do tamanho da refeição e intervalo entre uma refeição e outra,
respectivamente.
IV- A busca por prazer por meio da alimentação é denominada apetite ou fome hedônica
e é dissociada dos sinais internos relacionados à homeostase do organismo.

Assinale a alternativa CORRETA:


a) ( ) Somente as assertivas I, III e IV estão corretas.
b) ( ) Todas as assertivas estão corretas.
c) ( ) Somente as assertivas II e IV estão corretas.
d) ( ) Somente as assertivas I e III estão corretas.

2 As habilidades de comunicação, de escuta e de atitude são estratégias importantes


para realizar abordagem nutricional e propiciar mudança de comportamento. Nesse
cenário destacam-se a comunicação verbal e não verbal como habilidades a serem
desenvolvidas pelo nutricionista. Diante disso, analise as assertivas a seguir:

I- Para construção da confiança e conexão é preciso demonstrar empatia, para tanto


há quatro elementos fundamentais: distanciar-se da visão de mundo do paciente;
julgar atitudes e crenças; deixar os sentimentos de lado; não comunicar o seu
entendimento.
II- A comunicação não verbal também denominada paralinguagem abrange a produção
de sons que se emite, como por exemplo: entonação da voz, ênfase, velocidade,
intensidade etc.

136
III- Os gestos, movimentos do corpo e expressões faciais são características da
comunicação verbal e durante a abordagem nutricional não considerados
importantes, uma vez que não influenciam na construção da confiança.
IV- A comunicação verbal é a habilidade de perguntar (estilo de pergunta) corretamente
o que é indispensável para que o nutricionista possa alcançar a mudança
comportamental de seu paciente, a escuta não faz parte dessa habilidade.

Assinale a alternativa CORRETA:


a) ( ) Somente as assertivas I e IV estão corretas.
b) ( ) Somente as assertivas II e III estão corretas.
c) ( ) Somente a assertiva II está correta.
d) ( ) Somente as assertivas I e III estão corretas.

3 O consumo alimentar resulta de uma escolha, a qual se consolida e é influenciado


por fatores biológicos, socioculturais e psicológicos. Para que isso ocorra há um
processo mental que envolve julgamento de várias opções e a seleção de uma delas.
Considerando tal afirmação assinale a alternativa CORRETA.

( ) Os fatores biológicos se sobrepõem aos psicológicos, na maioria das vezes, porque


comer é um ato social que abrange nossa história familiar, cultural e afetiva.
( ) O ato de se alimentar só se dá quando há um contexto afetivo, sem ele os sinais
biológicos (fome ou saciedade) não se manifestam.
( ) Os fatores biológicos associados aos socioculturais e psicológicos estruturam,
modulam e determinam nosso consumo alimentar.
( ) Os determinantes psicológicos, ou seja, subjetivos, inerentes a cada ser humano,
exercem pouca influência no consumo alimentar, pois a fome (fator biológico) é o
mais preponderante para manter a vida.
( ) O nutricionista não precisa reconhecer as emoções de seus pacientes, visto que,
as questões emocionais, na atualidade, são pouco relevantes em determinar ou
modular o ato de comer.

Assinale a alternativa CORRETA:


a) ( ) F – F – V – F – F.
b) ( ) V – F – V – V – F.
c) ( ) F – F – F – V – V.
d) ( ) V – V – V – F – F.

4 Um dos princípios do comer intuitivo é rejeitar a expressão “estou de dieta”, visto


que o seguimento de “uma dieta” pode desregular as sensações de fome, saciação
e saciedade; ocasionar ganho e reganho de peso corporal; sentimento de fracasso
e baixa autoestima. No entanto, é preciso atenção aos pacientes que necessitam
da dietoterapia para tratamento do diabetes, hipertensão, doenças renais etc. Dessa
forma, como o nutricionista pode investigar e conhecer as crenças do seu paciente
acerca dos alimentos e das dietas em geral?

137
5 Há vários gatilhos que disparam o comer emocional, dentre eles destacam-se a
privação e a baixa qualidade do sono, as privações alimentares, o alto nível de
estresse, a ansiedade com metas inalcançáveis etc. Nesse processo constata-se a
perda da sensibilidade à fome física e a exacerbação da fome emocional, resultando
assim em um comer inconsciente, com prazer imediato e efeito rebote associado à
culpa e fracasso. Desse modo, como o nutricionista pode auxiliar o seu paciente a
identificar essa diferença?

138
UNIDADE 3 TÓPICO 2 -
GENÔMICA NUTRICIONAL

1 INTRODUÇÃO
Caro acadêmico, você sabia que a genômica nutricional é uma área de estudo
da Nutrição que avalia a interação entre o nosso genoma e a alimentação?

É interessante relembrar que o genoma é a sequência completa de DNA (ácido de-


soxirribonucleico) de um organismo, ou seja, o conjunto de todos os genes de um ser vivo.

A conclusão do Projeto Genoma Humano impactou as áreas da Medicina,


Farmácia e, também da Nutrição, você sabia disso? A partir do sequenciamento do DNA
humano, o foco passou a se entender o que fazem esses genes e como são afetados
por fatores ambientais, os quais incluem o consumo alimentar.

Didaticamente, serão estudadas, a nutrigenética, a nutrigenômica e a epigenô-


mica nutricional. Serão abordados os conceitos e como a genômica nutricional pode ser
aplicada na prática clínica a fim de personalizar os planos alimentares.

Na sequência, serão elencadas e abordadas também as dificuldades, limitações


e avanços no conhecimento acerca da genômica nutricional.

Ter conhecimento da genômica nutricional é importante para que você amplie


sua visão conceitual e prática da Nutrição, entendo e se apropriando dos avanços
científicos sobre a relação gene-dieta e dieta-gene e seus impactos na prática clínica.

2 CONCEITOS INTRODUTÓRIOS ACERCA DA GENÉTICA


A molécula de ácido desoxirribonucleico (DNA) carrega todas as informações
e características genéticas dos seres vivos. Os cromossomos são constituídos por
uma longa fita de DNA que se enovelam com uma proteína, denominada histona. Os
cromossomos estão organizados aos pares no interior do núcleo das células e cada par
é denominado cromossomo homólogo (BORGES-OSÓRIO; ROBINSON, 2013).

139
O Gene é um segmento de DNA em um cromossomo responsável pela sín-
tese de uma proteína especifica que determina um caráter hereditário (unidade de
transmissão hereditária) enquanto o espaço físico ocupado no cromossomo (“endere-
ço”) denomina-se loco/locus. Quando os genes são alelos, eles determinam a mesma
característica e se situam no mesmo locus em cromossomos homólogos (Figura 2)
(BORGES-OSÓRIO; ROBINSON, 2013).

O genótipo corresponde ao conjunto total de genes de um indivíduo, ao passo


que o fenótipo corresponde as características determinadas pelo genótipo manifestadas
pelo indivíduo, como por exemplo, o tipo sanguíneo (STRASHAN; READ, 2013).

A homozigose é quando um indivíduo apresenta no par de genes, que deter-


minam uma característica, dois alelos iguais, são representados por duas letras iguais,
por exemplo AA ou aa; enquanto heterozigose são pares de genes alelos diferentes,
considerados híbridos para um caráter e representados por duas letras diferentes,
como por exemplo, Aa (Figura 2) (STRASHAN; READ, 2013).

O gene dominante é aquele que determina o mesmo fenótipo, tanto em


heterozigose (Aa) como em homozigose (AA); o recessivo só expressa o caráter quando
os alelos estão em homozigose (aa) (BORGES-OSÓRIO; ROBINSON, 2013).

Para formação de uma proteína é necessário que ocorra a transcrição, processo


que forma o RNA (Ácido ribonucleico) a partir de uma fita de DNA e na sequência a
tradução, ou seja, formação da proteína oriunda do RNA (Figura 3) (BORGES-OSÓRIO;
ROBINSON, 2013).

FIGURA 2 – GENE, LOCUS, GENES ALELOS, HETEROZIGOSE E HOMOZIGOSE

FONTE: <https://bit.ly/3kYi7Ha>. Acesso em: 22 jul. 2021.

140
FIGURA 3 – TRANSCRIÇÃO E TRADUÇÃO DA INFORMAÇÃO GÊNICA

FONTE: <https://br.pinterest.com/pin/371617406729879323/>. Acesso em: 22 jul. 2021.

Os polimorfismos são variações genéticas que ocorrem em frequência relativa-


mente alta, em cerca de mais de 1% da população. A origem da palavra polimorfismo é
do latim, que quer dizer: poli = muitos; morfismo = forma (STRASHAN; READ, 2013).

O tipo mais comum de polimorfismo é o único (SND, do inglês single nucleotide


polymophism), que se caracteriza por alteração de apenas um nucleotídeo em
determinada posição e é responsável por 90% da variação genética (Figura 4) (VOGEL;
MOTULSKY; 2000; CAMP; TRUJILLO, 2014).

O nucleotídeo é formado por um grupo fosfato, um açúcar (pentose) e uma


base nitrogenada, a pentose do DNA é a desoxirribose e do RNA é a ribose; as bases
nitrogenadas são: do DNA, Adenina (A), Tiamina (T), Citosina (C) e Guanina (G); e do RNA:
Adenina (A), Uracil (U), Citosina (C) e Guanina (G) (Figura 5) (VOGEL, MOTULSKY, 2000).

FIGURA 4 – POLIMORFISMO ÚNICO

FONTE: <https://bit.ly/3im1ofq>. Acesso em: 22 jul. 2021.

141
FIGURA 5 – FORMAÇÃO DE UM NUCLEOTÍDEO

FONTE: <https://bit.ly/3a86BTL>. Acesso em: 22 jul. 2021.

Quando ocorre o polimorfismo os resultados podem ser: a) alteração da proteína


traduzida (SNP não sinônimo ou missense); b) não alteração da proteína traduzida
(SNP sinônimo ou silencioso); e c) resultado em códon de terminação (SNP nonsense)
(BORGES-OSÓRIO; ROBINSON, 2013).

Os polimorfismos podem resultar em influência positiva (hiper-regulação) ou


negativa (hiporregulação) na região promotora ou regulatório dos genes e nas regiões
não traduzidas. Vale ressaltar que o SNP modifica o processo de splicing, o qual viabiliza
a maturação de um pré mRNA (RNA mensageiro) a partir da retirada de regiões não
codificadas, denominadas íntrons (Figura 6) (BORGES-OSÓRIO; ROBINSON, 2013).

FIGURA 6 – DESENHO ESQUEMÁTICO DE UM PROCESSO DE SPLICING, CONVERSÃO DE UM RNA


MENSAGEIRO EM RNA MADURO

FONTE: <https://bit.ly/3imL7Xr>. Acesso em: 22 jul. 2021.

O impacto biológico do SNP já pode ser observado com um alelo alterado


resultando em características positivas ou negativas em determinado aspecto do
processo saúde/doença (CAMP; TRUJILLO, 2014; MULLINS et al., 2020).

142
3 NUTRIGENÉTICA
No contexto da Nutrição, a subárea da genômica nutricional que estuda as
influências das variações no DNA nas necessidades nutricionais e as respostas in-
dividuais a componentes da alimentação é a Nutrigenética (CAMP;TRUJILLO, 2014;
COMINETTI; HORST; ROGERO, 2017).

O conhecimento de quais SNP são realmente relevantes no contexto da Nutrição


é fundamental, uma vez que não são todos os genes que respondem às modificações
na alimentação (CAMP; TRUJILLO, 2014; COMINETTI; HORST; ROGERO, 2017; NONINO et
al., 2019) (Figura 7).

FIGURA 7 – ESQUEMA REPRESENTATIVO DAS INTERAÇÕES DOS GENES

FONTE: Steemburgo, Azevedo e Martínez (2009, p. 498)

As variações genéticas quando encontradas devem se relacionar com a pro-


teína-chave no metabolismo e com papel nas cascatas biológicas, o que poderá por
consequência resultar em alterações funcionais importantes. Ademais, é relevante sa-
lientar que a prevalência da variante genética não seja baixa e que seja possível avaliar
marcadores biológicos (sanguíneos, salivares, urinários etc.) (GILLES, 2003; MULLINS et
al., 2020).

A biodisponibilidade de nutrientes pode ser alterada a partir de alguns polimor-


fismos e resultar em maior ou menor risco para algumas doenças, como por exemplo, o
do metabolismo de vitaminas, minerais e de compostos bioativos da alimentação, com
destaque para as vitaminas D, folato e vitamina A; e os minerais ferro, selênio e zinco
(COMINETTI; ROGERO; HORST, 2020).

A forma ativa da vitamina D, denominada de 1,25 di-hidroxivitamina D3 ou


calcitriol, precisa interagir com seu receptor (VDR) no núcleo de células de tecidos alvos
para induzir a expressão diversos genes. Estima-se que entre 0,5 e 8% do genoma
humano tenha sua expressão modulada pelo calcitriol (NONINO et al., 2019).

143
A relação direta da vitamina D com a saúde óssea, conforme Nonino et al. (2019),
envolve a modulação da expressão gênica nos órgãos alvo, intestino, rins e tecido
ósseo, associada à ação de outros hormônios como o paratormônio (PTH) e o fator de
crescimento de fibroblastos 23 (FGF-23).

No tecido ósseo o calcitriol age elevando a reabsorção óssea de forma indireta,


estimulando os osteoblastos a aumentar a expressão gênica do fator estimulante de
osteoclastos (RANKL) (responsáveis pela síntese dos componentes orgânicos da matriz
óssea) (CHAROENNGAM; SHIRVANI; HOLICK, 2019).

Os genótipos TT do SNP BsmI apresentam uma associação modesta evidencia-


da por uma metanálise que avaliou 2.112 indivíduos caucasianos, mas significativa com
o risco de fratura, uma vez que ocasionam perturbação no metabolismo da vitamina D
e do cálcio (JI et al., 2010).

Atualmente, além da função de garantir a homeostase do cálcio e por


conseguinte a saúde óssea, a vitamina D vem sendo estudada de forma mais ampla.
Suas funções pleiotrópicas ou alternativas que ainda estão sob investigação abrangem
a regulação do ciclo celular e a adesão de celular em células neoplásicas; a regulação
da pressão arterial; e a modulação da imunidade inata e adaptativa (Quadro 4) (NONINO
et al., 2019).

QUADRO 4 – FUNÇÕES PLEIOTRÓPICAS DA VITAMINA D E SEUS MECANISMOS GENÔMICOS

Função Tipo celular Modulação da expressão gênica

Redução do Câncer de mama ↓ Ciclinas e quinases


crescimento de Câncer de próstata ↑ Inibidores de CDK (enzima)
tumores Câncer de cólon ↑ miR-145

Redução da pressão
Endotélio vascular ↑ Enzima produtora de óxido nítrico
arterial – efeito direto

Redução da pressão Glândula


↓ PTH - ↓ renina
arterial – efeito indireto paratireoide e rins

↓ Interleucina 17
Modulação do sistema
Linfócitos ↓ Interleucina 9
imune
↑ Foxp3 (fator de transcrição)

FONTE: Adaptado de Christakos et al. (2016)

Nesse contexto, a vitamina D apresenta resultados promissores acerca de sua


associação com doenças autoimunes, infecciosas e crônicas associadas à obesidade,
incluindo também alguns tipos de câncer (ROZMUS et al., 2020).

144
Quando ocorre uma alteração no processo de codificação da proteína do
receptor de vitamina D há aumento do risco para diversas doenças, com destaque para
alguns tipos de câncer (O’BRIEN, et al., 2018; GNAGNARELLA et al., 2020; ROZMUS et
al., 2020).

Os polimorfismos associados ao receptor de vitamina D mais estudados e sua


possível relação com a localização do câncer estão demonstrados no Quadro 5.

QUADRO 5 – TIPOS DE POLIMORFISMOS NO RECEPTOR DE VITAMINA D E A LOCALIZAÇÃO DO CÂNCER

Polimorfismo do
Localização câncer
receptor de vitamina D

Mama, próstata, carcinoma de células renais, colorretal,


ApaI
polipose adenomatosa.

Mama, leucemia linfoblástica aguda, colorretal, polipose


BsmI
adenomatosa, próstata e melanoma.

Cdx2 Mama.

Mama, ovário, polipose adenomatosa, pulmão, próstata,


FokI
gástrico, melanoma, bexiga.

Poly (A) Mama.

Próstata, polipose adenomatosa, melanoma, leucemia


TaqI
linfoblástica aguda, colorretal.

FONTE: Adaptado de Rai et al. (2017)

É preciso considerar que fatores biológicos e estilo de vida, como ingestão


de vitamina D, cálcio e energia; concentração sérica de 25 (OH)D; nível de exposição
solar; presença de obesidade; tabagismo etc. são elementos relevantes na relação de
variância do VDR com risco de câncer (GNAGNARELLA et al., 2020).

Para se conhecer a nutrigenética atrelado ao metabolismo do folato é necessário


dar ênfase ao papel da enzima metileno-hidrofolato redutase (MTHFR), a qual catalisa
a conversão do 5-10 metiltetra-hidrofolato (5,10 MTHF) em 5-metiltetra-hidrofolato (5
MTHF) no ciclo metionina/homocisteína (Figura 8).

145
FIGURA 8 – CICLO METIONINA-HOMOCISTEÍNA

FONTE: Bydlowski, Magnanelli e Chamone (1998)

A homocisteína é um marcador positivo independente para risco de doenças


cardiovasculares e o gene da MTHFR é um dos mais estudados em nutrigenética.
Dentre as suas variações, destacam-se os polimorfismos RS 1801133 ou C677T, com
codificação de Valina em vez de Alanina (CORTESE, MOTTI, 2001; LIU et al, 2017).

Em linhas gerais, o efeito negativo sobre a saúde relaciona-se com indivíduos


que carregam o alelo de risco na variação do gene da MTHFR, uma vez que a
enzima sintetizada é mais termolábil e tem redução de atividade. Nesse contexto, a
biodisponibilidade do folato alimentar é ainda mais importante, pois o polimorfismo
reduz a atividade enzimática e por conseguinte diminui a concentração plástica de
ácido fólico e aumenta a de homocisteína (LIEW; GUPTA, 2015; LIU et al, 2017).

Wang et al. (2020) evidenciaram ao elaborar uma metanálise, com 963 casos e
2244 controles, a associação do risco entre o polimorfismo do gene da MTHFR (rs1801131
– A1298C) e a hemorragia intraventricular; e a associação de risco do polimorfismo da
MTHFR (rs1801131 – C677I) com a hemorragia intracraniana, observada em 3.679 casos
e 9.067 controles.

O zinco é um oligoelemento que exerce inúmeras funções no organismo, in-


cluindo modulação do sistema imune e do paladar, proteção antioxidante e apoptose
celular. Para a proliferação, diferenciação e apoptose, o zinco é um elemento funda-
mental, pois participa como cofator de atividades enzimáticas, síntese de DNA, trans-
crição de RNA, visão e cognição (DUARTE; REIS; COZZOLINO, 2020).

146
A deficiência de zinco pode causar atraso no crescimento; alterações de
paladar; imunossupressão; aumento do estresse oxidativo e da síntese de citocinas pró-
inflamatórias; reações cutâneas; retardo na cicatrização de feridas; e comprometimento
da fertilidade (NONINO et al., 2019; DUARTE; REIS; COZZOLINO, 2020).

Vale evidenciar que a homeostase e o transporte transmembrana de zinco é


dependente de dois grupos de proteínas transportadoras denominadas ZnT, do inglês,
zinc transportes - 1α 10, codificadas pelos genes SLC39A. Quando há polimorfismos
nos genes dessas proteínas, a biodisponibilidade do zinco pode ser prejudicada e por
consequência prejudicar o estado nutricional do mineral e ocasionar agravos à saúde
(COMINETTI; ROGERO; HORST, 2020).

Estudos indicam que o diabetes melito tipo 2 (DM2) associa-se ao estado


nutricional de zinco, tendo em vista que o mineral modula o metabolismo da insulina.
O polimorfismo único, SNP 807 C/T ou Arg325Trp (rs13266634), no gene que codifica
o ZnT8 (SLC30A8) eleva o risco de desenvolvimento do DM2 (SLADEK et al., 2007;
GIACCONI et al., 2017).

As pesquisas referentes ao perfil genético e presença de polimorfismos diferem


nas populações conforme a etnia. Corroborando tal afirmação, duas metanálises
sugerem que o polimorfismo ligado ao gene SLC30A8 (rs13266634) está associado ao
risco de DM2, especialmente em populações asiáticas e caucasianas, no entanto, tal
resultado não foi encontrado em indivíduos africanos (FAN et al., 2016).

A suplementação de zinco (50mg, duas vezes ao dia, por 14 dias), ofertada a


uma população Amish de ambos os sexos e sem diabetes, parece afetar a resposta
aguda de insulina a uma carga de glicose intravenosa de forma diferenciada no
genótipo rs13266634. Além disso, a suplementação parece beneficiar na prevenção do
diabetes e/ou tratamento para alguns indivíduos que apresentam a variação SLC20A8
(MARUTHUR et al., 2015).

Devido ao aumento da prevalência da dislipidemia, em países em desenvol-


vimento, o interesse em elucidar os seus mecanismos de prevenção, controle e exa-
cerbação estão no radar da comunidade científica. Tal preocupação justifica-se pela
alteração do perfil lipídico (colesterol total, LDLc, HDLc e triglicerídeos) estar associada
ao desenvolvimento da aterosclerose, processo inflamatório da camada íntima do en-
dotélio vascular que resulta em perda da elasticidade e obstrução dos vasos (NONINO
et al., 2019).

Os estudos de intervenção, de acordo com Nonino et al. (2019), que avaliam


o papel da alimentação ou da suplementação de nutrientes e a sua interação com
polimorfismos genéticos ainda são poucos. Sobre o metabolismo lipídico, as linhas
de pesquisas têm se direcionado a elucidar o papel da composição da dieta (gordura
saturada, monoinsaturada e poli-insaturada) na modulação das concentrações
plasmáticas de lipoproteínas.

147
A apolipoproteína E (APOE) é um gene avaliado nos estudos de intervenção
nutricional, ela apresenta três isoformas ApoE2, ApoE3 e ApoE4, as quais distinguem-se
na modulação do perfil lipídico. No Quadro 6 estão demonstradas as três isoformas da
APOE e suas características.

QUADRO 6 – ISOFORMAS DE APOLIPROTEÍNA E SUAS CARACTERÍSTICAS

Isoformas Funções

Não tem afinidade de ligação com o receptor e está associada à


ApoE2
hiperlipoproteinemia tipo 3.

ApoE3 Isoforma mais frequente e faz depuração de lipoproteínas.

Está associada à VLDL circulante e à formação de lipoproteínas


ApoE4
aterogênicas.

FONTE: Adaptado de Nonino et al. (2019, p. 537)

Indivíduos portadores do alelo ApoE2 e ApoE4 têm mais risco para aumento da
concentração plasmática de LDL-colesterol associado ao consumo elevado de gordura
saturada (GRIFFIN et al., 2018; RATHNAYAKE et al., 2019).

A obesidade e o estudo de seus aspectos genéticos indicam uma base genética


hereditária na regulação do peso corporal e desenvolvimento da obesidade. Os genes
envolvidos estão associados ao controle do gasto energético e termogênese, apetite,
metabolismo lipídico e adipogênese (NONINO et al., 2019).

Vários genes podem facilitar ou dificultar a perda de peso corporal após


intervenção nutricional e uso de medicamentos, alguns exemplos de genes estão
demonstrados no Quadro 7.

QUADRO 7 – GENES CANDIDATOS À REGULAÇÃO DO PESO CORPORAL

Gene Sigla Localização

Relacionados ao gasto energético

Adrenorreceptor beta 3 ADRB3 8p12-p11.2

Proteína desacopladora 1 UCP1 4q28-q31

Proteína desacopladora 2 UCP2 11q13

Proteína desacopladora 3 UCP3 11q13

148
Relacionados à adipogênese

Receptores ativadores
da proliferação de PPARG2 3q25
peroxissomos 2

Relacionados ao controle do apetite

Leptina LEP 1p31

Receptor da leptina LPER 7q31.3

Pró-opiomelanocortina POMC 2p23.3

Receptor 4 de
MC4R 18q22
melanocortina

Relacionados ao metabolismo lipídico

Perilipina PLN 15q26

Lipase hepática LIPC 15q21-q23

Relacionados à resistência à insulina

Insulina 2 INSIG2 2q14.2

Relacionados à obesidade diretamente

Gene associado à
FTO 16q12.2
obesidade

FONTE: Adaptado de National Center for Biotechonology Information (NCBI) e Gao, 2014 apud
Nonino et al. (2019, p. 531)

O polimorfismo rs 12970134 no gene do receptor 4 de melanocortina (MC4R)


associa-se ao maior apetite e à ingestão de bebidas por crianças e adolescentes com
obesidade (NONINO et al., 2020).

DICAS
Caro acadêmico! Caso você tenha interesse em saber sobre a solicitação
de testes genéticos pelo nutricionista, leia o parecer técnico do Conselho
Regional de Nutrição – CRN-3 Nº 09/2015. Acesse em: https://bit.ly/3c7tn2a.

149
Um dos maiores desafios da nutrigenética é propiciar o cuidado nutricional
personalizado e esclarecer as interações genes e dieta para os diferentes tipos de
população, tendo em vista que análises de polimorfismos em populações europeias ou
americanas podem não se assemelhar à brasileira, pois somos resultado de uma ampla
miscigenação.

4 NUTRIGENÔMICA
A nutrigenômica estuda o efeito dos nutrientes compostos bioativos sobre a
expressão gênica e, por consequência, o proteoma e metaboloma (COMINETTI; ROGERO;
HORST, 2020). O proteoma pode ser definido como conjunto de todas as proteínas
expressas em uma célula, tecido ou sistema biológico em um determinado momento,
uma vez que ele é dinâmico e seu perfil se altera conforme o status fisiológico e as fases
da diferenciação celular (WILKINS et al., 1996); enquanto, metaboloma diz respeito ao
conjunto de todos os metabólitos de baixa massa molecular (até 1500 Da), presentes ou
alterados em um sistema biológico (CANUTO et al., 2018).

As interações entre os nutrientes e os compostos bioativos com a expressão


gênica pode acontecer de forma indireta, quando há modulação de vias de sinalização
intracelulares, aumentando ou diminuído a translocação de fatores de transcrição gênica
do citoplasma para o núcleo da célula; a forma direta os nutrientes e CBA interagem
diretamente como ligantes de receptores nucleares, interferindo, assim na transcrição
gênica (CAMP; TRUJILLO, 2014).

Os ácidos graxos saturados estimulam a resposta inflamatória por meio da via


de sinalização do receptor toll-like 4 (TLR4), exemplo de forma indireta de um nutriente
modular a sinalização intracelular (NONINO et al., 2019).

Em macrófagos, células de defesa do organismo, o ácido láurico (C12:0),


encontrado principalmente no óleo de coco, apresenta maior capacidade de ativação da
via do TLR4, enquanto, o mirístico (C14:0) e o esteárico (18:0) apresentam baixa atividade
inflamatória. Por outro lado, os ácidos graxos monoinsaturados e poli-insaturados não
provocam ativação da via de sinalização do TLR4 (NONINO et al., 2019).

É importante destacar que o ácido graxo poli-insaturado docosaexaenoico (DHA)


suprime a ativação da via de sinalização do fator de transcrição NF-kB e a expressão da
enzima COX-2, logo apresenta uma ação anti-inflamatória (MATHERS, 2017; NONINO et
al., 2019).

O ácido graxo palmítico (C16:0), classificado como saturado, ao se ligar ao TLR4


promove a ativação das proteínas quinases JNK e IKK-beta, elevando assim a expressão
e secreção de citocinas inflamatórias. Ademais, o ácido palmítico prejudica a via de
sinalização da insulina, induzindo a fosforilação do seu receptor e consequentemente
prejudica a sensibilidade ao hormônio (NONINO et al., 2019).

150
Além da relação das gorduras da dieta influenciarem direta ou indiretamente
a reposta inflamatória, a vitamina D atua de forma direta na expressão gênica, uma
vez que o calcitriol transloca para o núcleo e se acopla ao seu receptor (VDR) e ativa
diversos genes (MORAIS; COMINETTI; COZZOLINO, 2020).

As mesmas autoras complementam que o controle da homeostase de cálcio


por meio da absorção intestinal se dá por genes regulados pelo calcitriol. A absorção de
cálcio na membrana apical é facilitada pelo calcitriol, tendo em vista que ele aumenta
a expressão gênica do canal de cálcio, denominado transient receptor potential cation
channel subfamily V member 6 (TRPV6).

Outro mecanismo em que o calcitriol regula a absorção do cálcio é por meio da


expressão gênica da calbindina, proteína citoplasmática que se liga ao mineral, a qual
participa da translocação do cálcio da membrana apical para a basolateral (MORAIS;
COMINETTI; COZZOLINO, 2020). Em um estudo de coorte realizado no Irã com crianças
e adolescentes, na faixa etária de 7-18 anos (2.504 indivíduos) de centros urbanos e
rurais, foi avaliada a associação do estado nutricional de vitamina D com o fenótipo de
obesidade metabólica (ESMAILI et al, 2020).

Os dados obtidos revelaram que 85% dos estudantes eram não obesos
metabolicamente saudáveis (NOMS); 11% eram obesos metabolicamente saudáveis
(OMS); 2,5% eram não obesos metabolicamente não saudáveis (NOMNS); 1,3% eram
obesos metabolicamente não saudáveis (OMNS). Em obesos metabolicamente não
saudáveis, a hipovitaminose D foi detectada em 85% dos indivíduos e conforme os níveis
de vitamina D aumentavam, a chance de NOMNS e OMNS diminuía significativamente
em 7% e 6%, respectivamente (ESMAILI et al, 2020).

Cominetti, Rogero e Horst (2020) inferem que outro nutriente importante no


cenário da nutrigenômica é o ferro, pois a absorção do tipo não heme pelos enterócitos
depende de duas proteínas transportadoras, o citocromo b duodenal (Dcyt b) e o
transportador de metal (DMT1). A Dcyt b converte a forma férrica em ferrosa e apresenta
um local de ligação com o ácido ascórbico (vitamina C), o qual melhora a absorção do
tipo não heme. O DMT1 é responsável pelo transporte de ferro tipo heme na membrana
apical dos enterócitos. A expressão gênica tanto do Dcytb e DMT1 está aumentada em
indivíduos com deficiência de ferro (ALENCAR; HENRIQUES; COZZOLINO, 2020).

Os compostos bioativos (CBA) também apresentam relação com a nutrigenô-


mica. Eles são compostos extra nutricionais, sem funções estabelecidas como as dos
nutrientes, mas que podem ser identificados facilmente e por fim, que sua falta pode
causar agravos à saúde (COMINETTI; ROGERO; HORST, 2020).

Existe uma grande variabilidade de verduras, legumes e frutas que apresentam


compostos bioativos, como polifenóis, carotenoides, isoflavonas, resveratrol, catequinas
e os flavonoides (COMINETTI; ROGERO; HORST, 2020). O chá verde (Camellia sinensis)

151
contém um polifenol denominado epigalocatequina-3-galato (EGCG), a qual controla
a expressão gênica de forma indireta. Estudos in vitro demonstraram ação anti-
inflamatória desse composto, pois ele é capaz de atenuar in vitro a ativação do fator
nuclear kappa B (NF-kB) e ao mesmo tempo reduzir a degradação do inibidor do kappa
B (IkB)-alfa induzido pela ativação do fator de necrose tumoral (OHISHI et al., 2016).

As pesquisas acerca da nutrigenômica evidenciam que um nutriente pode


influenciar na sua própria biodisponibilidade, uma vez que modulam a expressão de
genes envolvidos na absorção (ferro), metabolismo e excreção, por outro lado, há
também o nutriente que pode controlar a homeostase de outro, como a vitamina D e o
cálcio (COMINETTI; ROGERO; HORST, 2020).

Outra contribuição importante da nutrigenômica é elucidar nutrientes e CBA


que podem controlar direta ou indiretamente a expressão de genes que modulam vias
de sinalização, como por exemplo, as gorduras saturadas, monoinsaturadas e poli-
insaturadas e a cascata de sinalização inflamatória (CORRÊA et al., 2020; FISCHER et
al., 2020).

Até o momento a nutrigenômica tem procurado mitigar a vulnerabilidade do ser


humano, conforme elucida Fischer et al. (2020) às condições de vida impostas pela so-
ciedade contemporânea, por meio de um cuidado nutricional personalizado. Para tanto,
busca o conhecimento sobre consumo alimentar (dieta) e a influência sobre a expressão
gênica, seja forma direta ou indireta.

Concomitantemente, os mesmos autores, destacam ainda que há incertezas


técnicas, sociais e éticas envolvidas na busca desse conhecimento e sua real pre-
venção/tratamento de doenças, portanto, é substancialmente plausível que se tenha
cuidado para não tornar os indivíduos vulneráveis frente interesses da ciência.

5 EPIGENÔMICA NUTRICIONAL
A epigenômica nutricional tem por objetivo elucidar a relação entre eventos
epigenéticos e a alimentação. A origem da palavra epigenética é grega, onde “epi” quer
dizer acima e genética, de “gene”. O termo foi assim denominado pela primeira vez pelo
biólogo Conrad Waddington, em 1940 (BONASIO; TU; REINBERG, 2000; COMINETTI;
ROGERO; HORST, 2020).

A epigenômica corresponde a eventos reversíveis herdados durante a divisão


celular, os quais alteram a expressão gênica e, assim o fenótipo, sem que se observe
alterações na sequência de nucleotídeos do DNA (mutação). Durante a vida, nossos
genes acumulam marcas químicas que determinam a quantidade expressa de genes,
esse conjunto de marcas é chamado de epigenoma (GAYON, 2016).

152
As mudanças causadas pela epigenômica são potencialmente reversíveis pois
decorrem da modificação das histonas (proteínas de carga positiva que interagem entre
si formando um octâmero proteico que se associa ao DNA, o qual possui carga negativa,
estabilizando a estrutura e permitindo, assim, compactação do DNA) (GAYON, 2016).

Para que um mecanismo ou sinalização molecular sejam considerados epi-


genéticos, Bonasio, Tu e Reinber (2000) sugerem três critérios: (1) ter mecanismo de
autopropagação, ou seja, que tenha um caminho o qual explique a assinatura mole-
cular, permitindo assim que seja originalmente reproduzida após a replicação do DNA
e divisão celular; (2) transmissão hereditária autossustentada aos descendentes; e (3)
ser reversível.

As formas mais representativas são: a) metilação do DNA; b) modificações


pós-traducionais em histonas por acetilação e/ou metilação pós-traducional (adição
de grupos metila ou acetila ao DNA); e c) regulação pós-transcricional mediada por
microRNAs ou mRNAs, que são sequências cortadas do RNA, os quais interferem na
tradução de um gene a uma proteína (JONES; BAYLIN, 2007; GAYON, 2016).

Stover et al. (2018) esclarecem que várias marcas epigenéticas já ocorrem na


fase embrionária e estão relacionadas com mecanismos de imprinting (tradução livre do
inglês: marca, sinal) genômico e programação metabólica. Tais mecanismos são fluídos,
ou seja, sofrem remodelação epigenética ao logo de toda a vida, são as digitais deixadas
pelos fatores ambientais em nosso genoma, com destaque para ingestão de alimentos
durante a gestação e as possíveis associações com os agravos à saúde (Figura 9).

FIGURA 9 – EXPOSIÇÃO NUTRICIONAL PRECOCE QUE LEVA À UMA MARCA FENOTÍPICA METABÓLICA COM
RISCO PARA DOENÇAS CRÔNICAS NÃO TRANSMISSÍVEIS

FONTE: Stover et al. (2018)

153
A modificação epigenética mais estudada em mamíferos é a metilação do
DNA, a qual se caracteriza por adição de grupos metila (CH3) em citocinas seguidas de
guanina. Tal ocorrência propicia um silenciamento gênico estável, uma vez que quanto
mais metilada a região regulatória do gene, menor é a sua expressão (STOVER et al.,
2018; TIFON, 2018; MORENO-FERNANDEZ et al., 2020) (Figura 10).

FIGURA 10 – METILAÇÃO DO DNA

FONTE: Adaptado de Stover et al. (2018)

O excesso ou a carência de determinados nutrientes pode modular diretamente


o epigenoma. O estado nutricional de ácido fólico, vitamina B12, metionina, colina e
betaína (composto bioativo encontrado na beterraba, brócolis, espinafre etc., influencia
o grau de metilação do DNA. Tal capacidade se dá por conta da disponibilidade que esses
nutrientes oferecem de grupamentos metila (CH3) e regulação do metabolismo de um
carbono (transferência de grupamentos CH3 entre moléculas biológicas) (KUSSMANN;
VAN BLADEREN, 2011).

De acordo com Cominetti, Rogero e Horst (2020), há poucos estudos que


relacionam os eventos genéticos e a biodisponibilidade de nutrientes. Por outro lado,
há evidências acerca de que a escassez de alimentos ocasionada pela II Guerra Mundial
fez com que as gestantes passassem por restrição alimentar severa e tal evento
desencadeou efeitos sobre a prole dessas mulheres. O imprinting transgeracional
observado nos filhos essas gestantes foi o risco elevado para doenças crônicas não
transmissíveis, com destaque para doenças cardiovasculares, diabetes tipo 2, obesidade
na prole do sexo feminino etc. (ROSEBOOM et al., 2000; KYLE; PICHARD, 2006).

Os eventos epigenômicos causados pelos alimentos e sua associação com o


câncer são extensivamente estudados. Nesse cenário, vários fatores dietéticos são
estudados como potenciais moduladores das enzimas histona deacetilase (HDAC) e
histona acetiltransferase (HAT), responsáveis pela acetilação da histona.

No brócolis são encontrados os compostos sulforaphano e o isotiocinato; no


alho, o dialil dissulfato, os quais são considerados inibidores da enzima HDAC. Estudos
in vitro utilizando esses compostos demonstraram efeitos anticancerígenos associados
à inibição da HDAC e acetilação de histona (TIFFON, 2018). Vale ressaltar que essas
pesquisas não foram conduzidas in vivo.

154
No Quadro 8 estão sumarizados alguns alimentos, nutrientes e os possíveis
mecanismos de ação protetiva contra o câncer.

QUADRO 8 – NUTRIENTE, FONTE ALIMENTAR E POSSÍVEIS EFEITOS PROTETIVOS NO CÂNCER

Nutriente Fonte alimentar Função epigenética

Semente de gergelim, Síntese de S-adenosilmetionina


Metionina castanha do Brasil, peixe, (SAM)– cofator envolvido na
espinafre transferência de grupos metila

Folhosos, semente de
Ácido fólico Síntese de metionina
girassol, fígado

Vitamina B12 Carnes, fígado Síntese de metionina

Carnes, grãos integrais,


Vitamina B6 Síntese de metionina
vegetais, oleaginosas

Colina Ovos, fígado, soja Doador de grupos metila

Beterraba, espinafre, Quebra subprodutos tóxicos


Betaína
marisco produzidos pela síntese de SAM

Remove grupos acetil das


Resveratrol Vinho tinto, suco de uva
histonas

Genisteína Soja ↑ Metilação

Dialil dissulfato Alho ↑ Acetilação das histonas

FONTE: Adaptado de Tiffon (2018)

Em resumo, a epigenômica nutricional é uma área que oportuniza entender


como o nosso genoma se relaciona com os fatores ambientais, com ênfase na Nu-
trição. E essas marcas epigenéticas já iniciam a partir da fecundação, são fluídas e
podem elevar ou reduzir risco para doenças crônicas não transmissíveis. Entender
esse processo de inter-relação entre genoma, ambiente e nutrientes poderá no futuro
oportunizar um cuidado nutricional personalizado, para tanto é necessário o avanço
no conhecimento científico.

155
LEITURA
COMPLEMENTAR
PANORAMA DA NUTRIGENÔMICA NO BRASIL SOB A PERSPECTIVA DA BIOÉTICA

Marta Luciane Fischer


Ricardo de Amorim Cini
Amanda Amorim Zanatta
Norton Nohama
Mauro Seigi Hashimoto
Valquiria Batista da Rocha
Caroline Filla Rosaneli

A Bioética inseriu uma nova perspectiva no diálogo com a saúde global ao


subsidiar a resolução de conflitos entre o desenvolvimento tecnológico e os impactos
ambientais plausíveis de afetarem local ou globalmente a saúde das pessoas, dos
animais e do ambiente, em uma amplitude física, mental e social.

A nutrigenômica tem configurado, no meio científico e popular, como alternativa


para prevenir doenças, cuja predisposição genética pode ser suprimida ou estimulada,
dependendo do ambiente e dos nutrientes incorporados. Segundo Fujii, Medeiros e
Yamada e Subbiah, novas áreas denominadas de “nutrigenômica” e “nutrigenética”
são derivadas do Projeto Genoma, o qual permitiu a documentação de polimorfismos
associados ao metabolismo, o que evidencia a interação genes-nutrientes bioativos e
a atuação deles na modulação da expressão gênica, bem como o efeito da variação
genética na interação dieta-doença. Os autores alertaram para o desafio da compreensão
entre essa interação e a expectativa de proporcionar ao paciente uma intervenção
nutricional personalizada, que revolucionaria os cuidados de saúde pública, os cuidados
em saúde, além do mercado de alimentos.

O presente estudo se justifica perante a configuração da nutrigenômica no meio


médico como alternativa de medicina integrativa e personalizada, que visa à avaliação
individual por meio do diagnóstico e propõe intervenções com suplementação. Contudo,
além de não ser reconhecida pelo Conselho Profissional de Medicina no Brasil, que alega
serem os conhecimentos ainda incipientes para validar uma nova área de atuação, tem
sido cautelosamente abordada por outras áreas como a própria Nutrição, a qual, embora
aponte perspectivas, também considera que ainda se conhece pouco sobre o tema.

156
Concomitantemente, tratamentos dispendiosos prometem saúde e juventude,
angariando pessoas vulneráveis diante de um sistema de saúde que as uniformiza ao
não atender suas necessidades individuais. Essas pessoas, muitas vezes destituídas
de perspectiva de cura para suas enfermidades, submetem-se à elevada alocação
monetária e em expectativa. Uma rápida busca pelas redes sociais elenca inúmeros
vídeos de divulgação científica como a suplementação da vitamina d, b12 e Ômega3,
com a promessa de resolver questões que perpassam a recuperação de memória, o
ganho de massa muscular, até a prevenção e cura do autismo, da degeneração muscular,
do acidente vascular cerebral (conhecido pela sigla AVC) e dos problemas cardíacos e
imunológicos. Considerando o pressuposto de que cada ser humano é geneticamente
único e fenotipicamente distinto e diante do alerta da disseminação multidisciplinar do
termo no meio científico e popular, conclama-se a avaliação ética, legal e social.

O presente estudo consistiu em um mapeamento quantitativo do panorama da


nutrigenômica no cenário científico e popular do Brasil, e em uma análise bibliográfica
exploratória com o intuito de identificar os agentes e pacientes morais, bem como as
vulnerabilidades com vistas a promover uma reflexão à luz da Bioética.

O panorama da nutrigenômica até o momento assinala uma expectativa de


mitigar a vulnerabilidade do ser humano às condições de vida impostas pela sociedade
contemporânea, cujo ritmo de vida tem oferecido poucas chances de promoção da saúde
biopsicossocial. A possibilidade de conhecer as necessidades específicas individuais e
de poder prover os nutrientes que já não são viáveis de serem obtidos in natura pode
se constituir de alternativas para pessoas que se encontram em situação de risco. Por
sua vez, assim como outras ciências inovadoras, a nutrigenômica traz atrelada uma
série de incertezas técnicas, sociais e éticas, que não devem ser negligenciadas em
prol do idôneo objetivo de prevenção de doenças, pois são plausíveis de gerarem mais
vulnerabilidades.

FONTE: Adaptada de FISCHER, M. L. et al. Panorama da nutrigenômica no Brasil sob a perspectiva da


Bioética. Revista Latinoamericana de Bioética, [s.l.], v. 20, p. 27-48, 2020. Disponível em: https://
www.redalyc.org/journal/1270/127064974004/html/. Acesso em: 24 set. 2021.

157
RESUMO DO TÓPICO 2
Neste tópico, você aprendeu:

• O Gene é um segmento de DNA em um cromossomo responsável pela síntese de uma


proteína especifica que determina um caráter hereditário (unidade de transmissão
hereditária).

• Os polimorfismos são variações genéticas que ocorrem em frequência relativamente


alta, em cerca de mais de 1% da população.

• O tipo mais comum de polimorfismo é o único (SND, do inglês single nucleotide


polymophism) que se caracteriza por alteração de apenas um nucleotídeo em
determinada posição e é responsável por 90% da variação genética.

• O nucleotídeo é formado por um grupo fosfato, um açúcar (pentose) e uma base


nitrogenada.

• A pentose do DNA é a desoxirribose e do RNA é a ribose; as bases nitrogenadas são:


do DNA, Adenina (A), Tiamina (T), Citosina (C) e Guanina (G); e do RNA: Adenina (A),
Uracil (U), Citosina (C) e Guanina (G).

• Os polimorfismos podem resultar em influência positiva (hiper-regulação) ou negativa


(hiporregulação) na região promotora ou regulatório dos genes e nas regiões não
traduzidas.

• A subárea da genômica nutricional que estuda as influências das variações no


DNA nas necessidades nutricionais e as respostas individuais a componentes da
alimentação é a Nutrigenética.

• A biodisponibilidade de nutrientes pode ser alterada a partir de alguns polimorfismos


e resultar em maior ou menor risco para algumas doenças.

• A alteração no processo de codificação da proteína do receptor de vitamina D está


associada com doenças autoimunes, alguns tipos de câncer, doenças cardiovas-
culares etc.

• Indivíduos que carregam o alelo de risco na variação do gene da MTHFR, uma vez que
a enzima sintetizada é mais termolábil e tem redução de atividade, apresentam maior
risco para doenças cardiovasculares.

• A obesidade e o estudo de seus aspectos genéticos indicam uma base genética


hereditária na regulação do peso corporal e desenvolvimento da obesidade.

158
• A nutrigenômica estuda o efeito dos nutrientes compostos bioativos sobre a
expressão gênica.

• As interações entre os nutrientes e os compostos bioativos com a expressão gênica


pode acontecer de forma indireta e direta.

• O ácido graxo poli-insaturado docosaexaenoico (DHA) suprime a ativação da via


de sinalização do fator de transcrição NF-kB e a expressão da enzima COX-2, logo
apresenta uma ação anti-inflamatória.

• Os compostos bioativos apresentam relação com a nutrigenômica. Eles são


compostos extra nutricionais, sem funções estabelecidas como as dos nutrientes.

• A epigenômica nutricional tem por objetivo elucidar a relação entre eventos


epigenéticos e a alimentação.

• Eventos epigenéticos são reversíveis, herdados durante a divisão celular, os quais


alteram a expressão gênica e, assim o fenótipo, sem que se observe alterações na
sequência de nucleotídeos do DNA.

• A modificação epigenética mais estudada em mamíferos é a metilação do DNA, a qual


se caracteriza por adição de grupos metila (CH3) em citocinas seguidas de guanina.

• O estado nutricional de ácido fólico, vitamina B12, metionina, colina e betaína


(composto bioativo encontrado na beterraba, brócolis, espinafre etc., influencia o
grau de metilação do DNA.

• A restrição alimentar durante a gestação (período da II Guerra Mundial) desencadeou


marcas epigenéticas na prole e destacam-se o maior risco para doenças
cardiovasculares, diabetes tipo 2, obesidade na prole do sexo feminino etc.

159
AUTOATIVIDADE
1 A conclusão do projeto genoma humano no início dos anos 2000 abriu possibilidades
de compreender a relação dos genes com diversas doenças que assolam a
humanidade. Nesse contexto, área da Nutrição por meio de pesquisas envolvendo
a Genômica Nutricional tem procurado esclarecer a inter-relação gene-nutriente e
nutriente-gene. Considerando tal premissa, analise as sentenças a seguir:

I- A Genômica Nutricional compreende três subáreas: a nutrigenética, a nutrigenômica


e a epigenômica nutricional.
II- A nutrigenética busca entender a influência da variabilidade genética entre os
indivíduos em relação às necessidades nutricionais, à promoção da saúde e aos
riscoS de desenvolvimento de doenças crônicas não transmissíveis.
III- A modulação da expressão gênica por nutrientes e/ou compostos bioativos
presentes nos alimentos é tema de estudo da epigenômica nutricional.
IV- A nutrigenômica tem por objetivo estudar a modulação da expressão gênica exercida
por nutrientes e compostos bioativos presentes nos alimentos.

Assinale a alternativa CORRETA:


a) ( ) Todas as assertivas estão corretas.
b) ( ) Somente as assertivas I, II e IV estão corretas.
c) ( ) Somente as assertivas II e III estão corretas.
d) ( ) Somente as assertivas I, III e IV estão corretas.

2 Os polimorfismos genéticos são variações genéticas que podem ocorrer em


sequências codificadoras ou não codificadoras, desencadeando, desse modo,
alterações qualitativas e/ou quantitativas na expressão de uma proteína. Sobre o
polimorfismo da enzima metileno-hidrofolato redutase (MTHFR) e sua relação com o
folato, assinale a alternativa CORRETA:

a) ( ) Ela é responsável por catalisar a conversão de 5-10 metiltetrafolato em


5-metiltetra-folato no ciclo da metionina-homocisteína.
b) ( ) Nos indivíduos que carregam o alelo de risco, em relação ao polimorfismo da
MTHFR, observa-se intensa conversão de homocisteína em metionina, elevando
assim o risco de doenças cardiovasculares.
c) ( ) O aumento da atividade da MTHFR decorrente do polimorfismo exige que os
indivíduos aumentem a ingestão de alimentos fonte de folato e/ou façam uso de
suplemento.
d) ( ) Os indivíduos que não apresentam esse tipo de polimorfismo na enzima MTHFR
têm maior risco de doenças cardiovasculares.

160
3 O tipo de lipídeo que compõem uma dieta é capaz de modular a expressão gênica da
resposta inflamatória (RI), nesse cenário vale lembrar que diversas doenças apresen-
tam um perfil inflamatório positivo, como por exemplo, a obesidade, as dislipidemias
etc. Sendo assim, analise as assertivas a seguir:

I- Os ácidos graxos saturados estimulam a RI, de forma indireta, por meio da modulação
da sinalização do receptor toll-like 4 (TLR4).
II- O ácido láurico (insaturado), encontrado nas carnes e oleaginosas, apresenta baixa
capacidade de ativação da sinalização do receptor toll-like 4 (TLR4).
III- Os ácidos graxos saturados que apresentam maior capacidade de ativação da via do
TLR4 são o mirístico e o esteárico.
IV- O DHA (docosahexanoico), ácido graxo monoinsaturado, encontrado principalmente
no óleo de coco, apresenta alta atividade inflamatória por meio da via de sinalização
TLR4.

Assinale a alternativa CORRETA:


a) ( ) Nenhumas das assertivas está correta.
b) ( ) Somente as assertivas III e IV estão corretas.
c) ( ) Somente as assertivas I e II estão corretas.
d) ( ) Somente a assertiva I está correta.

4 Os eventos epigenéticos são reversíveis, herdados durante a divisão celular, os quais


alteram a expressão gênica e, assim o fenótipo, sem que se observe alterações na
sequência de nucleotídeos do DNA. A epigenômica nutricional estuda a capacidade
dos nutrientes e compostos bioativos em deixar marcas em nosso genoma, as quais
podem trazer agravos à saúde. Nesse contexto, cite e explique um exemplo de evento
epigenômico nutricional.

5 A função clássica da vitamina D em manter a homeostase do cálcio no organismo


é amplamente conhecida, mas há funções pleiotrópicas ainda em investigação e
com resultados bastantes promissores na área da Nutrigenética. Considerando que a
interação entre a vitamina D e seu receptor em tecidos-alvo é fundamental, indique
e explique se há polimorfismos identificados e os principais problemas associados.

161
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