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em Nutrição
Indaial – 2021
1a Edição
Elaboração:
Prof.ª Amanda Alcaraz da Silva
S586t
ISBN 978-65-5663-937-6
ISBN Digital 978-65-5663-938-3
Impresso por:
APRESENTAÇÃO
Olá acadêmico, seja bem-vindo à Disciplina de Tópicos Especiais em Nutrição!
Este caderno tem como propósito auxiliar você no processo de aprendizagem acerca
da Nutrição em suas dimensões biológicas, sociais e culturais, além de possibilitar o
conhecimento de temas atuais e emergentes; novos paradigmas e tendências.
O caderno de estudo está dividido em três unidades, cada qual com objetivos,
conteúdos, atividades de estudo, dicas, sugestões e recomendações.
QR CODE
Olá, acadêmico! Para melhorar a qualidade dos materiais ofertados a você – e
dinamizar, ainda mais, os seus estudos –, nós disponibilizamos uma diversidade de QR Codes
completamente gratuitos e que nunca expiram. O QR Code é um código que permite que você
acesse um conteúdo interativo relacionado ao tema que você está estudando. Para utilizar
essa ferramenta, acesse as lojas de aplicativos e baixe um leitor de QR Code. Depois, é só
aproveitar essa facilidade para aprimorar os seus estudos.
ENADE
Acadêmico, você sabe o que é o ENADE? O Enade é um
dos meios avaliativos dos cursos superiores no sistema federal de
educação superior. Todos os estudantes estão habilitados a participar
do ENADE (ingressantes e concluintes das áreas e cursos a serem
avaliados). Diante disso, preparamos um conteúdo simples e objetivo
para complementar a sua compreensão acerca do ENADE. Confira,
acessando o QR Code a seguir. Boa leitura!
LEMBRETE
Olá, acadêmico! Iniciamos agora mais uma
disciplina e com ela um novo conhecimento.
REFERÊNCIAS...................................................................................................................... 50
REFERÊNCIAS.....................................................................................................................108
UNIDADE 3 — NOVOS PARADIGMAS E TENDÊNCIAS NA ÁREA DE NUTRIÇÃO............... 115
REFERÊNCIAS.....................................................................................................................162
UNIDADE 1 -
CULTURA E SUSTENTABILIDADE
ALIMENTAR: UM OLHAR
ANTROPOLÓGICO
OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM
A partir do estudo desta unidade, você deverá ser capaz de:
PLANO DE ESTUDOS
A cada tópico desta unidade você encontrará autoatividades com o objetivo de
reforçar o conteúdo apresentado.
CHAMADA
Preparado para ampliar seus conhecimentos? Respire e vamos em frente! Procure
um ambiente que facilite a concentração, assim absorverá melhor as informações.
1
CONFIRA
A TRILHA DA
UNIDADE 1!
Acesse o
QR Code abaixo:
2
UNIDADE 1 TÓPICO 1 -
CULTURA, HÁBITOS ALIMENTARES E
INFLUÊNCIA DA GLOBALIZAÇÃO
1 INTRODUÇÃO
Caro acadêmico! Você sabe o que é cultura alimentar? Sabe que o Brasil por
ser resultado de um processo de miscigenação apresenta influências portuguesas,
africanas e indígenas na sua cultura alimentar e por consequência, na formação de
seus hábitos alimentares?
3
2 CULTURA E ALIMENTAÇÃO
A palavra cultura é originária do latim e apresenta uma variedade de significados,
o dicionário Aurélio coloca como sinônimos para palavra: instrução, saber, cultivo, apuro
e conhecimento. Ao adotar um conceito, pode-se dizer que consiste em um conjunto
de conhecimentos e hábitos de um povo ou de uma sociedade, no entanto, existe uma
dificuldade em esgotar sua concepção conceitual (FERREIRA, 1999, p. 591).
No cenário da cultura alimentar pode-se inferir que ela é o saber fazer, o falar,
o ritual, a ancestralidade, ela expressa a identidade de povos e grupos sociais ao longo
do tempo. Está ligada à história, ao ambiente e às exigências impostas ao grupo social
pelo dia-a-dia. Cada sociedade estabelece um conjunto de códigos alimentares, que
tem nas suas práticas a consolidação das suas tradições e inovações (AZEVEDO, 2017).
É importante destacar que a cultura não é algo estático, nem acabado, mas
um conjunto simbólico em constante transformação, seja por mudanças/desafios
climáticos, tecnológicos, ou por meio de contato com outras culturas (LIMA; NETO;
FARIAS, 2015).
4
se afirma que o alimento é “saudável”, “comestível”, “não comestível”, “bom” ou “ruim” e,
por fim, o imaginário, que se caracteriza por construções inventadas e culturalmente
valorizadas do que é saudável (LIMA, NETO; FARIAS; 2015).
5
em suas bagagens trouxeram plantas, animais e temperos e acabaram por mesclar
com alimentos e preparações locais, favorecendo assim uma riqueza cultural ligada à
alimentação (MACIEL, 2005).
Vale destacar que o feijão com arroz é o prato do dia-a-dia, enquanto a feijoada
é especial, fora do comum, uma vez que quando se convida um estrangeiro à mesa, é
tradição oferecer a feijoada, para que ele possa conhecer a cultura alimentar brasileira,
denominada por Da Mata (1987) como “carteira de identidade alimentar brasileira”.
Um prato que pode ser considerado a síntese dos três povos formadores da
nossa identidade nacional é o vatapá, pois tem a farinha de trigo dos portugueses,
o azeite de dendê dos africanos e o amendoim e a castanha de caju dos índios. Tal
preparação representa a nossa miscigenação e traduz o processo de colonização e
escravidão que marca a formação do povo brasileiro (DA MATA, 1987).
6
Vale destacar que independentemente do local de alimentação, à mesa com
familiares ou com amigos ou colegas de trabalho; ou em uma toalha sobre o chão; ou
em um carro em uma viagem, os comensais estão sempre fazendo escolhas permeadas
pela sua cultura (SANTOS, 2008; CARVALHO; LUZ; PRADO, 2011).
FIGURA 1 – COMENSALIDADE
A comensalidade pode ser entendida sob um olhar vertical, que diz respeito às
relações à mesa que estabelecem uma hierarquia, como posição e comidas especiais
ou até mesmo quantidade de comida que se servem a determinados comensais;
enquanto o olhar horizontal estabelece da igualdade entre os comensais (CARVALHO;
LUZ; PRADO, 2011).
7
O ato de preparar comida para ofertar aos outros faz parte da comensalidade
e nos remete ao sentido de agregar e socializar, mas por outro lado há também a
possibilidade de agredir e excluir, como por exemplo ofertar carne a um indivíduo que é
vegano ou carne suína a mulçumanos e judeus, entre outros (SANTOS, 2008).
DICAS
Caro acadêmico! As várias nuances da comensalidade que permitem a
socialização por meio da comida, e é uma particularidade essencialmente
humana, nos ajuda entender a trajetória humana na terra com seus
rituais e simbolismos ligados ao ato de se alimentar, caso tenha
interesse em conhecer mais sobre o assunto assista ao vídeo da
professora Shirley Donizete Prado, acesse em: https://www.youtube.com/
watch?v=h5Yc24eXGms&t=173s.
8
Resumindo, é impossível esgotar as questões e as temáticas referentes ao
campo social e cultural da comida, mas é importante e fundamental instigar a curio-
sidade, o estudo e o aprofundamento de tais temas a fim exercer uma visão ampla no
campo da Alimentação e Nutrição. Faz-se importante a contraposição da ideia de que o
ser humano pode ser entendido somente em seu aspecto biológico e adotar um ponto
vista mais amplo em que se ressaltam as questões sociológicas, culturais e ecológicas
acerca do ato de se alimentar.
9
Sob uma perspectiva biomédica emerge um outro entendimento que associa
os conceitos acerca do hábito e do comportamento alimentar ao tipo de ingestão
alimentar contumaz realizado por um indivíduo ou grupo (KAMIL, 2013). Nesse tipo de
análise examina-se o tipo de alimento ingerido, a frequência e o modo, nomeando essa
ingestão como hábito ou comportamento, sem diferenciá-los.
Vale destacar que, de acordo com Klotz-Silva, Prado e Seixas (2016), essa é uma
visão mais tradicional no campo da Alimentação e Nutrição, que entende o alimento
simplesmente como fonte de nutrientes e o comportamento/hábito como meio para
diagnosticar e tratar doenças apoiados por uma norma científica (RIBEIRO et al., 2011;
PIASETZKI; BOFF, 2018).
O Guia Alimentar Para a População Brasileira (BRASIL, 2014) pontua que a de-
finição de alimentação é “mais que ingestão de nutrientes” e “tem aspectos culturais e
sociais, que envolvem escolha, consumo, padrão, atitudes e comportamentos alimen-
tares”, os quais sofrem influência das motivações para comer. Essas nomenclaturas e
definições estão organizadas no Quadro 1.
Nomenclatura Definição
10
Sendo assim, as escolhas alimentares podem ser determinadas por fatores bio-
lógicos (perfil genético e homeostasia), fatores cognitivos/psicológicos (preferências,
influências familiares, emoções, percepções sensoriais etc.) e fatores ambientais (cultu-
ra, condições socioeconômicas, mídia, religião, escolaridade etc.) (EGUILAZ et al., 2017).
11
A mídia é um instrumento de transmissão cultural bastante poderoso, é
também mediador de hábitos alimentares e impõe um padrão de beleza à sociedade.
Nesse contexto, o gênero feminino é bastante afetado e sujeito ao adoecimento por
internalizar padrões de beleza inatingíveis associados ao baixo peso corporal (BARBOSA;
SILVA, 2016; UCHÔA et al., 2019).
FONTE: Guia alimentar para crianças brasileiras menores de 2 anos (BRASIL, 2019a, p.10)
12
Nas últimas décadas a família brasileira vem passando por transformações
que modificaram a dinâmica das refeições realizadas em casa, uma vez que se
consolidou a emancipação das mulheres e seu acesso ao mercado de trabalho. Apesar
dessas mdanças, a família ainda representa papel central na formação de hábitos
alimentares na infância e adolescência. Nesse cenário, os estudos encaminhados no
Brasil e exterior destacam que os hábitos da família têm impacto sobre as escolhas
alimentares na infância e por conseguinte sobre o estado nutricional de crianças
e adolescentes (CAMARGO et al., 2013; SCAGLIONI et al., 2018; UTTER et al., 2018;
VIEIRA; OLIVEIRA; MELLO, 2019).
DICAS
Caro acadêmico! Assista ao vídeo da nutricionista Sophie Deram que
discorre sobre a recomendação de médicos e nutricionistas acerca da
reeducação alimentar, o que pode assustar muitos pacientes, pois lhes
remetem a restrições alimentares. No vídeo, Sophie Deram explica ainda,
mudanças comportamentais que podem ser sustentadas e que ao mesmo
tempo podem trazer prazer com a alimentação. Acesse em: https://www.
youtube.com/watch?v=xGSL3kJRML0.
13
4 A INFLUÊNCIA DA GLOBALIZAÇÃO NA CULTURA E
HÁBITO ALIMENTAR
O termo globalização foi elaborado na década de 1980, mas sua origem remete
ao período das grandes navegações no século XVI, momento em que o comércio de
mercadorias se ampliou para outras nações. Sendo assim, a globalização é um processo
de expansão econômica, política e cultural que envolve o mundo todo (MARIANO, 2007).
A fim de atender as demandas da vida urbana, como destaca Garcia (2003), que
na maioria das vezes é acelerada e com pouco tempo disponível para si, para família e
amigos, a indústria de alimentos e o comércio apresentam alternativas e determinam
uma nova forma de se alimentar nos espaços urbanos e por conseguinte contribuem
para mudanças no comportamento e hábito alimentar.
15
De acordo com a pesquisa anterior, realizada entre 2008-2009, a alimentação
fora do domicílio na área rural era de 13,1% e passou para 24% (2017-2018), enquanto na
área urbana permaneceu estável, cerca de 33% (IBGE, 2020).
16
Garcia (2003) enfatiza que o processo de globalização amplia a diversidade
alimentar, mas ao mesmo restringe, uma vez que há comercialização de um mesmo
menu de opções no mundo globalizado. Ademais, a autora questiona sobre como as
diferentes culturas, inclusive a nossa, absorvem esse padrão? Como se acomoda? E
quais mudanças podem ser geradas no nosso repertório culinário, ou seja, na nossa
cultura alimentar?
Raquel Canuto
Marcos Fanton
Pedro Israel Cabral de Lira
INTRODUÇÃO
17
saúde geradas por estes. Contudo, mesmo nos materiais publicados pela CNDSS,
não são discutidos de modo mais amplo os determinantes sociais da alimentação
e nutrição.
18
RESUMO DO TÓPICO 1
Neste tópico, você aprendeu:
• As escolhas e o consumo alimentar estão ligados ao prazer, uma vez que ao comer
um alimento/uma preparação os seres humanos sentem uma série de sensações
prazerosas ligadas ao olfato (aroma), textura, visão e inclusive ao barulho associado à
crocância.
19
• Outra questão importante é a memória afetiva associada à comida e preparações,
as quais afloram nossas experiências passadas, sejam elas individuais ou coletivas.
• O termo globalização foi elaborado na década de 1980, mas sua origem remete ao
período das grandes navegações no século XVI, momento em que o comércio de
mercadorias se ampliou para outras nações.
20
AUTOATIVIDADE
1 A definição de cultura é fruto de um aprendizado, uma vez que conhecimentos e
tradições são repassados às novas gerações com particularidades que remetem à
identidade de um povo, portanto, nesse contexto, considere as assertivas a seguir.
3 O processo de globalização teve início com as grandes navegações no século XVI, mas
a denominação ocorreu na década de 1980 e até hoje discute-se a influência dela
sobre o comportamento alimentar, nesse cenário considere as assertivas a seguir:
21
I- O encurtamento das distâncias entre os países e as pessoas caracteriza a globali-
zação e impõe mudanças no comportamento alimentar, podendo trazer vantagens
e desvantagens.
II- O deslocamento das refeições em casa e com a família para as ruas, de forma rápida
e muitas das vezes omitindo horários de refeições, contribui para um processo de
doença, além de restringir o convívio com amigos e familiares.
III- O sucesso das redes de fast food exemplifica bem o processo de globalização e hege-
monia de uma cultura sobre a outra, visto que sai de um contexto local para mundial.
IV- A produção de alimentos em larga escala e a publicidade vinculada são aspectos
importantes para entendimento da globalização e seu impacto na cultura alimentar
de um povo.
22
UNIDADE 1 TÓPICO 2 -
SUSTENTABILIDADE ALIMENTAR,
AGROECOLOGIA, VEGETARIANISMO E
POLÍTICA E REGRAMENTO DO USO DE
AGROTÓXICOS
1 INTRODUÇÃO
Caro acadêmico! Você já ouviu falar em sustentabilidade alimentar? Nos dias
atuais esse é um tema bastante discutido e importante, sendo assim, estudá-lo é
imprescindível para sua formação, não é mesmo?
Você sabe o que é uma “dieta de baixo carbono”? Sistema alimentar? Índice de
biocapacidade da terra?
Nesse contexto, você já deve ter ouvido ou lido algo sobre alimentação orgânica
e regramento do uso de agrotóxicos, certo? Portanto, nesse tópico você poderá
compreender quais características um alimento deve ter para ser certificado como
orgânico, como o produtor obtém esse certificado e ao final conhecerá o regramento
sobre o uso de agrotóxicos no Brasil.
23
2 SUSTENTABILIDADE ALIMENTAR
A alimentação é um direito universal como consta na Declaração dos Direitos
Humanos das Nações Unidas (FAO, 2014). Nesse cenário, Costa e Rodrigues (2020)
destacam que para que esse direito seja garantido a todos os seres humanos é preciso
entender o processo de produção de alimentos e que ele impacta negativamente o meio
ambiente, mas que há estratégias para mitigar esses danos.
24
Outro ponto importante é a emissão de gases de efeito estufa (GEE) que são
substâncias que absorvem parte da radiação infravermelha emitida pela superfície
terrestre, propiciando assim o aquecimento global (COSTA; RODRIGUES, 2020).
São considerados GEE: Dióxido de Carbono (CO2), Metano (CH4), Óxido Nitroso
(N2O), Hexafluoreto de enxofre (SFG), Hidrofluorcarbono (HFC) e Perfluorcarbono (PFC)
(FREITAS; PAIVA, 2018).
A adoção de uma dieta com menos carne é também denominada “dieta de baixo
carbono”, isto significa reduzir a frequência e a quantidade do alimento ingerido, uma
vez que, para alimentar os animais utiliza-se a soja, que é uma monocultura de larga
escala, para produzir a ração que irá alimentar bovinos e suínos e por consequência o
impacto ambiental pode ser mitigado (COSTA, RODRIGUES, 2020).
25
FIGURA 4 – REPRESENTAÇÃO GRÁFICA DE ORIENTAÇÃO E OPERACIONALIZAÇÃO PARA UMA
ALIMENTAÇÃO MAIS SAUDÁVEL E SUSTENTÁVEL
26
de nutrientes e reduz a mortalidade prematura (em 19% para quem consome carne
eventualmente e 22% para quem segue uma dieta vegana). Ademais, houve redução do
impacto ambiental na maioria das regiões (54-87%), com exceção em algumas regiões
de países de baixa renda no que diz respeito à ocupação da terra, uso de água etc..
Willett et al. (2019) afirmam que dietas com alto teor calórico, ricas em açúcar,
gordura saturada, alimentos processados e carne bovina são insustentáveis e não
saudáveis, em contrapartida, dietas à base de vegetais estão associados a menor
produção de GEE, menos uso da terra e de água. A não ser que haja uma mudança de
paradigma no sistema alimentar, em 2050 a produção de alimentos será responsável
por um aumento de 80% na emissão de GEE e no desmatamento.
DICAS
Caro acadêmico! De acordo com o professor e pesquisador da
Universidade de Saúde Pública de Harvard, Walter Willett, a transição
para dietas saudáveis até 2050 vai exigir mudanças substanciais na nossa
alimentação. O consumo geral de frutas, vegetais, nozes e legumes terá
que duplicar. Já o consumo de alimentos como carne vermelha e açúcar
terá que ser reduzido em mais de 50%. A comissão EAT-Lancet propõe
cinco estratégias fundamentais para produção sustentável de alimentos:
1) incentivar o hábito de comer de forma saudável, 2) mudar a produção
global de alimentos, 3) intensificar a agricultura sustentável, 4) criar regras
mais rígidas sobre a administração dos oceanos e do solo e 5) reduzir
o desperdício de comida. Acesse em: https://nutritotal.com.br/publico-
geral/colunas/a-dieta-sustentavel-funciona/.
27
No Quadro 2 está caracterizado o modelo de sistema insustentável de produção
de alimentos.
Descarte de
Produção Processamento Comercialização Consumo
resíduos
Indisposição para
Monocultura Refinamento Longas distâncias comprar produtos
sustentáveis
Elevado consumo
Adição de Desvalorização da Ausência de
Agrotóxicos de alimentos
gorduras trans. produção local preocupação
ultraprocessados
com a
quantidade e
Adição de Busca por o destino dos
Transgênicos aditivos e Preços elevados alimentos de dejetos e das
conservantes rápido preparo embalagens
Aditivos
Criação Valorização de
baseados em Alimentação não
intensiva de grandes redes
subprodutos da diversificada
animais varejistas
soja e milho
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DICAS
Caro acadêmico! Para entender melhor o que é um alimento
transgênico e a polêmica acerca da sua produção, comercialização e
consumo, assista ao vídeo recomendado, assim você poderá entender
as possíveis vantagens e desvantagens no que se refere à saúde e
os impactos ambientais de nossas escolhas alimentares. Acesse em:
https://bit.ly/3z5VeJj. Acesso em: 30 abr. 2021.
Descarte de
Produção Processamento Cadeias Consumo
resíduos
Disponibilidade
Proximidade
Sem adição de para comprar
Diversificada do produtor e
gordura trans produtos
consumidos
sustentáveis
Integração
lavoura- Confiança no Habilidades
pecuária- produtor culinárias
floresta
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Ao se refletir acerca da saudabilidade de uma dieta ou padrão alimentar, é
plausível e urgente que se inclua a sustentabilidade nesse contexto, pois ela busca o
bem-estar dos seres vivos no presente e se preocupa também com as gerações futuras.
Nesse cenário, a sustentabilidade alimentar urge como tema transversal aos sistemas
alimentares, pois eles impactam a saúde humana e ambiental quando impõem riscos
ocupacionais aos trabalhadores do sistema convencional mundial, ademais contaminam
o meio ambiente, os alimentos, disseminam padrões dietéticos não saudáveis e
a insegurança alimentar e nutricional. Portanto, a formação do Nutricionista deve
contemplar temas e discussão sobre sustentabilidade e alimentação, visto que o código
de ética da categoria profissional se compromete com o desenvolvimento sustentável
e a preservação da biodiversidade (CONSELHO FEDERAL DE NUTRICIONISTAS, 2018;
JACOB; ARAÚJO, 2020).
Por outro lado, no Brasil, conforme Lima et al. (2020); Valginhak e Sene (2020),
somente em 2003, foi aprovada a Lei n0 10.831, que dispõe sobre agricultura orgânica
e torna-se eixo norteador, abrangendo os seguintes sistemas alternativos, como por
exemplo: ecológico, biodinâmico, natural, regenerativo, biológico, agroecológico,
permacultura etc. A Lei n0 10.831 dispõe sobre:
30
Art. 1º Considera-se sistema orgânico de produção agropecuária todo
aquele em que se adotam técnicas específicas, mediante a otimização
do uso dos recursos naturais e socioeconômicos disponíveis e o
respeito à integridade cultural das comunidades rurais, tendo por
objetivo a sustentabilidade econômica e ecológica, a maximização
dos benefícios sociais, a minimização da dependência de energia
não renovável, empregando, sempre que possível, métodos culturais,
biológicos e mecânicos, em contraposição ao uso de materiais
sintéticos, a eliminação do uso de organismos geneticamente
modificados e radiações ionizantes, em qualquer fase do processo
de produção, processamento, armazenamento, distribuição e
comercialização, e a proteção do meio ambiente (BRASIL, 2003).
31
outros e se vistoriam, com o intuito de manter a qualidade das produções; enquanto a
certificação por auditoria é realizada por empresa pública ou privada, com ou sem fins
lucrativos, credenciada pelo MAPA (Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento)
(BRASIL, 2021).
32
De acordo com o MAPA, para vender na feira, o produtor sem certificação deve
apresentar um documento chamado Declaração de Cadastro, que atesta que ele está
cadastrado junto ao MAPA e que faz parte de um grupo que se responsabiliza por ele.
Sendo assim, somente o produtor, alguém de sua família ou de seu grupo pode estar
na barraca vendendo o produto. Essa declaração deve ser mostrada sempre que o
consumidor e a fiscalização solicitarem (BRASIL, 2021).
33
FIGURA 7 – EVOLUÇÃO DA ÁREA COM PRODUÇÃO ORGÂNICA NO BRASIL (2000-2017)
34
Os mesmos autores destacam que há coexistência de dois modelos, um baseia-
se no desenvolvimento rural sustentável e solidário e o outro na modernização do
campo, o qual detém o apoio das três esferas de governo, federal, estadual e municipal.
DICAS
Caro acadêmico! Você sabia que o estado de Santa Catarina é o 4º
produtor nacional de alimentos agroecológicos de acordo com os
dados publicados pela CEPORG – Comissão da Produção Orgânica
de Santa Catarina em 2019? São ao todo 1.275 unidades produtoras
de orgânicos e há ainda 700 unidades em processo de certificação.
As frutas, seguidas de raízes, hortaliças e grãos, são os alimentos
mais cultivados. Os estados que lideram o ranking de produção
agroecológica são Paraná, Rio Grande do Sul e São Paulo. Acesse em:
https://bit.ly/3lfaXNM.
35
No contexto brasileiro, o tema da agroecologia vem ganhando espaço e merecido
destaque nos espaços sociais e políticos, considerando a implantação do Sistema
Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional (Sisan), que se alicerça na promoção de
Segurança Alimentar e Nutricional (SAN) e do direito humano à alimentação adequada
(DHAA). Outras iniciativas de ação pública abarcam a Política Nacional de Agroecologia
e Produção Orgânica (PNAPO), institucionalizada em 2012 e materializada por meio do
Plano Nacional de Agroecologia e Produção Orgânica (PLANAPO) (GIORDANI; BEZERRA;
DOS ANJOS, 2017).
Melina, Craig e Levin (2016) enfatizam que as motivações que levam os indivíduos
a adotarem uma dieta vegetariana são várias, como a compaixão à vida animal, um
desejo de proteger o meio ambiente, diminuir o risco de doenças crônicas ou ainda como
36
terapêutica para controle de doenças. Destaca ainda que uma dieta vegetariana bem
planejada contendo vegetais, frutas, grãos integrais, legumes, oleaginosas e sementes
podem promover uma nutrição adequada.
No Brasil, temos o Guia Alimentar para População Brasileira (BRASIL, 2014, p. 18)
que aborda a questão da sustentabilidade ambiental, pois afirma que “Recomendações
sobre alimentação devem levar em conta o impacto das formas de produção e distribuição
dos alimentos sobre a justiça social e a integridade do ambiente, alimentação adequada
e saudável deriva de sistema alimentar socialmente e ambientalmente sustentável”.
Vale lembrar que, por outro lado, a atividade pecuária emprega muitas pessoas
e alimenta a população mundial e, portanto, é necessário pensar, estudar e implementar
políticas públicas que apoiem a transição para um padrão alimentar que demande menor
produção de alimentos de origem animal, sem causar desemprego e desabastecimento
(FANZO; DAVIS, 2019; WILLETT et al., 2019).
37
A revisão elaborada por Fresán e Sabaté (2019) evidenciou que a média de
redução de gases de efeito estufa (GEE) de uma dieta padrão (com consumo de carne)
para uma ovolactovegetariana foi de 35% e, para uma dieta vegana (vegetariano estrito)
a diminuição foi de 49%. Sobre o uso do solo, há uma diminuição de 42% no padrão
alimentar ovolactovegetariano e 49,5% no vegano; com relação ao emprego de recursos
hídricos, há uma redução de 28% no padrão ovolactovegetariano e acerca do padrão
alimentar vegano, os dados são bastantes variáveis e mais escassos, apenas um estudo
indicou redução de 22%.
38
sobre a pesquisa, a experimentação, a produção, a embalagem e
rotulagem, o transporte, o armazenamento, a comercialização, a
propaganda comercial, a utilização, a importação, a exportação, o
destino final dos resíduos e embalagens, o registro, a classificação,
o controle, a inspeção e a fiscalização de agrotóxicos, seus
componentes e afins, e dá outras providências (BRASIL, 2002).
39
Os estados que mais notificaram casos de intoxicação por agrotóxicos, no
período entre 2007 e 2015, foram São Paulo (15.042 casos), Minas Gerais (13.013 casos),
Paraná (12.988 casos) e Pernambuco (6.888 casos). O Acre (23 casos) foi o estado que
menos notificou, seguido pelo Amapá (38 casos). Vale destacar que, apesar da melhora
no processo de notificação, a subnotificação é historicamente expressiva na federação,
principalmente de intoxicações crônicas (BRASIL, 2018).
40
Pignati et al. (2017) destacaram que o cultivo da soja, do milho e da cana-de-
açúcar correspondeu a 76% de toda a área cultivada no Brasil no ano de 2015. O cultivo
da soja predominou (42%), seguida da do milho (21%) e da cana-de-açúcar (13%). A soja
foi a cultura que mais utilizou agrotóxicos no Brasil, totalizando 63%, milho, 13% e cana-
de-açúcar, 5%.
Os estados do Mato Grosso, Paraná e Rio Grande do Sul foram os que mais
utilizaram agrotóxicos, 207 milhões de litros, 135 milhões de litros e 134 milhões de litros,
respectivamente. Houve correlação positiva entre coeficientes de saúde e ambiental,
sinalizando que conforme aumento o consumo de agrotóxicos cresce o coeficiente de
intoxicação aguda, subaguda (malformação fetal) e crônica (câncer infanto-juvenil)
(PIGNATI et al., 2017).
Glifosato Herbicida
Clorpirifós Inseticida
2,4-D Herbicida
Atrazina Herbicida
Mancozebe Fungicida
Metoxifenozida Inseticida
Acefato Inseticida
Haloxifope-P-Metílico Herbicida
Lactofem Herbicida
41
O estudo sobre as consequências do uso de agrotóxicos relacionadas à saúde
dizem respeito à intoxicação aguda, incidência de malformação fetal (intoxicação
subaguda) e mortalidade por câncer infanto-juvenil (intoxicação crônica). Na pesquisa
desenvolvida por Pignatti et al. (2017), identificou-se correlação positiva entre o indicador
ambiental e os de saúde, ou seja, conforme se eleva o consumo de agrotóxicos, crescem
também os coeficientes de intoxicação aguda, subaguda e crônica.
Amoatey et al. (2020) afirmam em sua revisão que há limitação nos estudos
clínicos e epidemiológicos acerca dos efeitos de pesticidas (agrotóxicos), em modelos
de produção que emitem gases de efeito estufa, sobre a saúde dos trabalhadores rurais.
Desordens reprodutivas, sintomas respiratórios e irritações na pele são os efeitos mais
referidos por esses trabalhadores.
Vale destacar que o glifosato, o herbicida mais aplicado nas safras mundiais
e no Brasil, estimulou a disseminação de ervas daninhas tolerantes e resistentes, que
por sua vez, suscita aplicações mais frequentes e doses mais altas (BENBROOK, 2016;
VAN BRUGGEN et al., 2018). Nesse cenário, Gillezeau et al. (2019) evidenciaram que há
escassez de dados acerca da exposição ocupacional, para-ocupacional (alimento, água,
poeira de casas de indivíduos que não trabalham na lavoura) e ambiental (solo, poluição
de corpos hídricos etc.) dos indivíduos expostos ao glifosato.
Abreu e Alonzo (2014) destacam, a partir de sua revisão, que o “uso seguro”
de agrotóxicos, por meio de recomendações publicadas em manuais não tem sido
suficiente para garantir a proteção da saúde dos agricultores brasileiros e controle dos
riscos envolvidos na utilização de agrotóxicos, desde a aquisição até o descarte de
embalagens e lavagem de roupas/EPI.
42
Desde 2019, o governo federal brasileiro liberou o uso de 551 tipos de agrotóxi-
cos, reclassificou a toxicidade para baixo de alguns produtos, e regularizou que caso um
pedido de registro não seja avaliado em 60 dias, o produto é automaticamente liberado,
por meio da portaria no 43, publicada em 27 de fevereiro de 2020 pelo Ministério da
Agricultura, Pecuária e Abastecimento/Secretaria de Defesa Agropecuária. Essas mu-
danças nos regramentos norteiam para uma política de desmonte da legislação e de
programas, como o de Avaliação de Resíduo de Agrotóxicos em Alimentos (PARA), além
da perda de espaço para política de redução do uso e de taxação de agrotóxicos con-
forme a sua toxicidade (ABRASCO, 2020).
Para que possamos ter mais informações acerca do que compramos, comemos
e descartamos, é preciso que a regulação do uso de agrotóxicos tenha as seguintes
premissas: a) manter separação de poderes no registro de agrotóxicos, divididos em
estímulo à agricultura, à saúde pública e ao meio ambiente; b) ampliar a presença de
grupos da sociedade civil e experts em discussões, comitês e processos decisórios,
especialmente das áreas de direito do consumidor, do meio ambiente, da saúde pública
e de trabalhadores rurais; c) manter garantias para a liberdade de expressão, de forma
que setores mais frágeis e a mídia possam apontar eventuais conluios entre regulados
e reguladores etc. (MORAES, 2019).
DICAS
Caro acadêmico! Você sabia que no dia 25 junho de 1998, na cidade
dinamarquesa de Aarthus, durante a 4ª Conferência Ministerial
“Ambiente para a Europa” foi elaborada a Convenção de Aarthus, a qual
empodera cidadãos europeus acerca do direito ao acesso à informação,
participação do público no processo de tomada de decisão e acesso à
justiça em matéria de meio ambiente. Ela é uma convenção inovadora,
pois estabelece relações entre os direitos ambientais e os direitos humanos,
assumindo que o desenvolvimento sustentável só poderá ser alcançado com
engajamento de todos os cidadãos em um contexto democrático. Acesse na
íntegra em: https://bit.ly/2YzD0jh.
43
LEITURA
COMPLEMENTAR
PERCEPÇÃO DOS CONSUMIDORES BRASILEIROS FRENTE AOS ALIMENTOS
ORGÂNICOS: UM ESTUDO EXPLORATÓRIO ACERCA DOS ATRIBUTOS,
BENEFÍCIOS E BARREIRAS
44
Para a consecução desses objetivos, o presente artigo subdividiu-se em quatro
partes, além desta introdução. Primeiramente foi apresentada uma breve revisão da
literatura sobre o consumo de alimentos orgânicos, bem como sobre os atributos, be-
nefícios e barreiras. Em seguida descreveu-se a trajetória metodológica adotada pelo
estudo. Depois disso foram apresentados e discutidos os principais resultados da inves-
tigação empírica (entrevistas em profundidade) realizada. Por fim, o artigo apresentou
as conclusões do estudo, suas limitações e sugestões para trabalhos futuros.
45
RESUMO DO TÓPICO 2
Neste tópico, você aprendeu:
• A agricultura ecológica une dois temas “urgentes” à população mundial que são
padrão de alimentação saudável e ao mesmo tempo sustentável.
46
• Os produtos orgânicos que apresentam o selo federal devem conter 95% de ingre-
dientes orgânicos, os outros 5% devem ser identificados e estar dentro das regras de
produção orgânica, sendo que o uso de agrotóxicos é terminantemente proibido.
• O Brasil é um dos países que mais utiliza agrotóxicos no mundo, além não ter controle
de regramento do uso baseado em evidências científicas acerca da segurança e dos
possíveis efeitos sobre a saúde dos animais, plantas, seres humanos e meio ambiente.
47
AUTOATIVIDADE
1 A sustentabilidade alimentar é um tema transversal e global, uma vez que, produzir
alimentos gera impactos ambientais, no entanto, o modelo convencional produz mais
danos para todo o ecossistema do que o agroecológico. Nesse contexto, analise as
sentenças a seguir:
I- Os impactos gerados pela agricultura convencional são perda do solo, das florestas,
contaminação de corpos hídricos, formação de gases de efeito estufa, uso de
agrotóxicos e combustíveis fósseis etc.
II- A alimentação sustentável alicerça-se em todo o sistema alimentar desde a
produção até a geração de resíduos e desperdício alimentar.
III- A introdução de sistemas alimentares equilibrados com as florestas, a utilização de
espaços urbanos vazios para produção de alimentos e o processo de recolhimento
seletivo de resíduos, integram parte da sustentabilidade alimentar.
IV- A agricultura convencional em países em desenvolvimento preconiza a
equidade social, além de produzir alimentos em larga escala, os quais reduzem
significativamente a fome no mundo.
48
3 O uso de agrotóxicos nos remete ao modelo de produção de alimentos pautado
nas grandes extensões de terra que se destinam à monocultura, ao elevado
processamento dos alimentos e ao consumo não sustentável. Diante desse cenário,
analise as sentenças:
49
REFERÊNCIAS
ABRASCO – ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE SAÚDE COLETIVA. Nota sobre a liberação
automática de agrotóxicos, 2020. Disponível em: https://www.abrasco.org.br/site/
noticias/posicionamentos-oficiais-abrasco/nota-sobre-a-liberacao-automatica-de-
agrotoxicos/45451/. Acesso em: 16 maio 2021.
ABREU, P. H. B.; ALONSO, H. G. A. Trabalho rural e riscos à saúde: uma revisão sobre o
“uso seguro” de agrotóxicos no Brasil. Ciência & Saúde Coletiva, Rio de Janeiro, v. 19,
n. 10, p. 4197-4208, 2014.
AUESTAD, N.; FULGONI, V. L. What current literature tells us about sustainable diets:
emerging research linking dietary environmental sustainability, and economics.
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Comportamento Alimentar Ambivalente. Psicologia: Reflexão e Crítica, Porto Alegre,
v. 26, n. 1, p. 113-121, 2013.
50
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globally. Environ Sci Eur., [S.l.], v. 28, n. 3, p. 1-15, 2016.
BIRCH, L. L. Development of food preferences. Ann Rev Nutr., [S.l.], v. 19, p. 41-62, 1999.
BRASIL. Instituto Nacional do Câncer. Agrotóxico. Brasília, DF: Inca, 2019b. Disponível
em: https://bit.ly/2VvUsnI. Acesso em: 4 maio 2021.
51
BRASIL. Decreto nº 4.074, de 4 de janeiro de 2002. Regulamenta a Lei nº 7.802, de
11 de julho de 1989, que dispõe sobre a pesquisa, a experimentação, a produção, a em-
balagem e rotulagem, o transporte, o armazenamento, a comercialização, a propaganda
comercial, a utilização, a importação, a exportação, o destino final dos resíduos e emba-
lagens, o registro, a classificação, o controle, a inspeção e a fiscalização de agrotóxicos,
seus componentes e afins, e dá outras providências. Diário Oficial da União, Brasília, 4
jan. 2002. Disponível em: https://bit.ly/3xetH3Q. Acesso em: 29 jul. 2021.
BURKE, P. Cultura popular na Idade Moderna. São Paulo: Companhia da Letras, 2010.
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na saúde. Rio de Janeiro: EPSJV, São Paulo: Expressão Popular, 2015.
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a programação infantil em emissoras de canal aberto no Versil. Rev Bras Epidemiol., v.
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52
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reflexão. AdolesCiência-Revista Júnior de Investigação, Bragança, v. 7, p. 1-8, 2020.
DE SILVA, A.; BLOOM, S. R. Gut hormones and appetite control: A focus on PYY and
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Human Health. Adv Nutr., [S.l.], v. 10, p. 380-88, 2019.
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GARSON, M. SOUSA, L. Diversidade cultural, globalização e as múltiplas lógicas da
distinção alimentar. In: GARSON, M.; TORQUATO, S. Alimentação e ciências sociais:
perspectivas contemporâneas. Rio de Janeiro: Autografia, 2018, p.121-143.
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JACOB, M. C. M.; ARAÚJO, F. R. Desenvolvimento de competências para Nutrição no
contexto de Sistemas Alimentares Sustentáveis. Ciência & Saúde Coletiva, Rio de
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KREGER, J. W.; LEE, Y.; LEE, S. Y. Perceptual changes and drivers of liking in high protein
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MALTA, D.; et al. A pandemia da COVID-19 e as mudanças no estilo de vida dos brasileiros
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1-13, 2020.
55
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Vegetarian Diets. Journal of the Academy of Nutrition and Dietetics, [S.l.], v. 116, n.
12, p. 1970-1980, 2016.
MELINA, V.; CRAIG, W.; LEVIN, S. Position of the Academy of Nutrition and Dietetics:
Vegetarian Diets. Journal of the Academy of Nutrition and Dietetics home, [s.l.], v.
116, n. 12, p. 1970-1980, 2016. Disponível em: https://jandonline.org/article/S2212-
2672(16)31192-3/fulltext. Acesso em: 2 set. 2021.
56
OPAS – ORGANIZAÇÃO PAN AMERICANA DE SAÚDE – (Brasil). OPAS/OMS destaca
importância da atuação conjunta dos setores da saúde, agricultura e meio
ambiente na regulamentação de agrotóxicos. Organização PanAmericana da Saúde.
Brasília, 2018. Disponível em: https://www.paho.org/pt/noticias/11-9-2018-opasoms-
destaca-importancia-da-atuacao-conjunta-dos-setores-da-saude-agricultura.
Acesso em: 4 maio 2021.
PIGNATI, W. A.; et al. Distribuição espacial do uso de agrotóxicos no Brasil: uma ferramenta
para a Vigilância em Saúde. Ciência & Saúde Coletiva, Rio de Janeiro, v. 22, n. 10, p.
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RIBEIRO, M.M.C.; et al. Impacto do hábito de jantar sobreo perfil dietético de pacientes
em hemodiálise. Jornal Brasileiro de Nefrologia, Belo Horizonte, v. 33, n. 1, p. 69-
77, 2011.
57
SEIXAS, C.M.; BIRMAN, J. O peso do patológico: biopolítica e vida nua. História,
Ciências, Saúde-Manguinhos, Rio de Janeiro, v. 19, n. 1, p. 13-26, 2012.
SILVA, J.K.; et al. Alimentação e cultura como campo científico no Brasil. Physis Revista
de Saúde Coletiva, Rio de Janeiro, v. 20, n. 2, p. 413-442, 2010.
SINGH, S.; et al. Herbicide glyphosate: toxicity and microbial degradation. Int J Environ
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SOBAL, J.; KETTEL, K.; BISOGNI, C. A. A conceptual model of the food and nutrition
system. Soc Sci Med., [S.l.], v. 47, n. 7, p. 853-863, 1998.
SPRINGMANN, M.; et al. Health and nutritional aspects of sustainable diet strategies and
their association with environmental impacts: a global modelling analysis with country-
level detail. The Lancet, [S.l.], v. 2, p. 451-461, 2018.
UCHÔA, F. N. M. et al. Influence of the Mass Media and Body Dissatisfaction on the Risk
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glyphosate. Science of the Total Enviromment, [S.l.], v. 616, p. 255-68, 2018.
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VAZ, D. S. S; BENNEMANN, R. M. Comportamento alimentar e hábito alimentar: uma
revisão. Revista Uninguá, Maringá, v. 20, n. 1, p. 118-112, 2014.
VERMEULEN, S.; CAMPBELL, B.; INGRAM, J. Climate change and food systems. Annu
Rev Environ Resour., [S.l.], v. 37, p. 195–222, 2012.
WILLER, H.; LERNOUD, J. The world of organic agriculture: statistics and emerging
trends 2019. Frick: FIBL; Bonn: IFOAM – Organics International, 2019. Disponível em:
https://www.sebrae.com.br/Sebrae/Portal%20Sebrae/UFs/RN/Anexos/organicos-the-
world-of-organic-agriculture.pdf. Acesso em: 29 jul. 2021.
WILLETT, W.; et al. Food in the Anthropocene: the EAT–Lancet Commission on healthy
diets from sustainable food systems. Lancet, [S.l.], v. 393, p. 447-492, 2019.
59
60
UNIDADE 2 —
DESINFORMAÇÃO NA ÁREA
DA NUTRIÇÃO
OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM
A partir do estudo desta unidade, você deverá ser capaz de:
PLANO DE ESTUDOS
A cada tópico desta unidade você encontrará autoatividades com o objetivo de
reforçar o conteúdo apresentado.
CHAMADA
Preparado para ampliar seus conhecimentos? Respire e vamos em frente! Procure
um ambiente que facilite a concentração, assim absorverá melhor as informações.
61
CONFIRA
A TRILHA DA
UNIDADE 2!
Acesse o
QR Code abaixo:
62
UNIDADE 2 TÓPICO 1 —
CONSTRUÇÃO DO CONHECIMENTO
CIENTÍFICO, SAÚDE BASEADA EM
EVIDÊNCIAS CIENTÍFICAS E CONFLITO
DE INTERESSES
1 INTRODUÇÃO
Caro acadêmico, na atualidade, uma discussão recorrente e acalorada sobre
temas importantes no que diz respeito à pandemia da COVID-19 fez emergir conceitos
importantes para o entendimento sobre a prevenção e o tratamento dessa doença que
já ceifou muitas vidas no Brasil e no mundo.
Com a meta de desenvolver o seu crítico, essa unidade irá discorrer sobre
o conceito de conhecimento científico, de que forma ele é construído e como deve
alicerçar a atuação do profissional da área da saúde, evitando assim que os pacientes
sejam expostos a tratamentos sem eficácia, os quais impedem sua recuperação plena e
podem demandar custo alto.
63
2 CONSTRUÇÃO DO CONHECIMENTO CIENTÍFICO
O conhecimento científico baseia-se na testagem de hipóteses, se constrói
e reconstrói ininterruptamente por meio de um método e se consolida a partir de
evidências científicas. O método científico envolve observação, elaboração de hipótese,
experimentação, análise criteriosa de dados e conclusão (LIMA; MIOTO, 2007).
64
3 SAÚDE BASEADA EM EVIDÊNCIAS CIENTÍFICAS
Na década de 1970, o epidemiologista Archibald Cochrane preconizou que as
pesquisas norteassem as diretrizes para prática clínica a fim de elevar a efetividade na
aplicação dos recursos do sistema de saúde do Reino Unido e evitar desperdícios. Com
isso, origina-se a Medicina Baseada em Evidência (MBE) (CANUTO, 2018).
Para efeitos didáticos, será discutido aqui a SBE que Canuto (2018) conceitua
como uma abordagem que utiliza as ferramentas da Epidemiologia Clínica, da Estatística,
da Metodologia Científica, da Informática e dos Sistemas de Informação aplicadas à
pesquisa, a fim de avaliar e reduzir as incertezas na tomada de decisão em saúde e
evitar que um tratamento seja implementado baseado em opiniões e crenças.
65
Nesse cenário, é importante destacar que há duas classificações importantes
no que se refere aos fundamentos da pesquisa, denominadas de pesquisa qualitativa e
quantitativa (BUSNELLO; REPPOLD, 2018). A pesquisa qualitativa lança um olhar sobre
as palavras e falas/discursos ao invés de números. Ela é mensurada por meio da busca
de significados que os indivíduos atribuem a suas experiências, incluindo crenças, valo-
res, atitudes e hábitos, se propõe a explicar os fenômenos sociais por meio da observa-
ção direta e participante; de entrevistas; de grupos focais; de conversas informais; e de
análises de textos ou de discursos (TURATO, 2005; BUSNELLO; REPPOLD, 2018).
Por outro lado, mas não significando que as modalidades não possam interagir,
a pesquisa quantitativa compreende estudos experimentais ou observacionais a
fim de resolver problemas e, para tanto, emprega a estatística como ferramenta para
análise de dados. Na área da saúde, em nível internacional, é a forma de fazer pesquisa
predominante (DESLANDES; ASSIS, 2002; TURATO, 2005; FAYH, 2018).
66
• ECR ou Revisão Sistemática de menor qualidade. Estudos observacionais de quali-
dade (coortes e caso-controles aninhado em coortes) ou revisão sistemática destes
estudos.
• Ensaio Clínico Não-Randomizado. Estudo de casos e controles.
• Estudos Experimentais não comparados e demais estudos observacionais.
• Fóruns de Especialistas e Autoridades respeitadas baseados em evidências clínicas
ou estudos descritivos.
67
FIGURA 2 – DESCRITORES EM CIÊNCIA DA SAÚDE
68
Nas revistas científicas, afirmam Ferreira e Patino (2016), é possível encontrar
diferentes trabalhos de acordo com o tema que se deseja pesquisar e com diferentes
metodologias para obtenção dos dados. No topo da hierarquia está o ensaio clínico
randomizado duplo cego.
69
Outro princípio fundamental para se evitar viés na pesquisa é o mascaramento,
também denominado duplo cego, ou seja, nem o pesquisador e nem o sujeito da pesquisa
sabem o que está sendo administrado. Desse modo, se evita que tanto pesquisadores
como participantes induzam resultados distorcidos por conta de preconceitos,
esperanças, anseios e expectativas frente a um tratamento que seja novo ou que seja
um placebo (DAINESI, 2010).
QUADRO 1 – COMPARAÇÃO ENTRE REVISÃO SISTEMÁTICA (RS), REVISÃO INTEGRATIVA (RI) E REVISÃO
NARRATIVA (RN)
Componente RS RI RN
Questão de
Mais específica Mais ampla Mais ampla
pesquisa
Claramente descrita
Estratégia de Sem detalhamento Sem detalhamento
e com critérios
busca dos artigos. e não reprodutível. e não reprodutível.
predefinidos.
70
Todos os artigos
Todos os artigos
Avaliação da A qualidade são incluídos
são incluídos
qualidade metodológica sem critérios
sem critérios
de estudos dos artigos é de qualidade
de qualidade
selecionados. predefinida. metodológica.
metodológica.
Escolha subjetiva.
Quando há
Todos os artigos Todos os artigos
possibilidade de
são analisados são analisados
análise conjunta dos
sem diferenciar qualitativamente
Síntese de dados. dados, emprega-se
a qualidade e sem diferenciar a
a metanálise, o que
o número de qualidade e número.
confere precisão
participantes. de participantes
dos resultados.
Abordagem Abordagem
Avaliação por
Heterogeneidade. descritiva na descritiva na
análise estatística.
maioria das vezes. maioria das vezes.
Canuto (2018) destaca que não se trata somente de ler artigos científicos para
tomada de decisão na área clínica, mas de analisá-los de forma crítica por meio de um
método que possibilite a reunião, a classificação e a análise dos resultados de diversas
pesquisas e a conclusão por evidências ou pela falta delas.
71
Na sequência hierárquica dos estudos clínicos randomizados e das revisões
sistemáticas, as pesquisas observacionais (coortes e casos controle) caracterizam-se
por ser observatórias e não experimentais. Nesse modelo de estudo o investigar observa
e registra, por exemplo, a doença e seus atributos, e a forma como ela se relaciona com
outras condições (exposição) sem qualquer intervenção (FRONTEIRA, 2013).
72
Efeitos dos probióticos no perfil lipídico: revisão sistemática
DICAS
Consumo de frutas, legumes e verduras e associação com hábitos de vida
e estado nutricional: um estudo prospectivo em uma coorte de idosos”.
Disponível em: https://bit.ly/3nTIvTr.
73
O caso controle corresponde a uma análise a partir do desfecho para investigar
a causa, por exemplo, investigar as situações de risco de adultos hospitalizados,
previamente selecionados, com desnutrição. Para tanto, é necessário selecionar
um grupo-controle (pacientes eutróficos) para comparação com os desnutridos. Os
resultados podem embasar medidas de intervenção para evitar a desnutrição, tendo em
vista que os fatores de risco foram identificados.
DICAS
Confira um exemplo de estudo caso-controle do artigo de Camlofski et al.
(2018), intitulado “Reeducação alimentar associada ao aconselhamento
nutricional periódico em mulheres com síndrome metabólica: estudo de
caso-controle”. Disponível em: https://bit.ly/3bZu0ux.
DICAS
Confira o artigo “Cobertura da avaliação do estado nutricional no
Sistema de Vigilância Alimentar e Nutricional brasileiro: 2008 a 2013”.
Disponível em: https://bit.ly/3yWJWXq.
Em resumo, todos os tipos de estudos estão sujeitos a vieses e erros, basta que
não se tenha rigor e clareza na metodologia para que os resultados e, por conseguinte
a conclusão fiquem distorcidos (CANUTO, 2018).
74
4 CONFLITO DE INTERESSES
A análise crítica dos artigos científicos engloba o escrutínio dos conflitos de
interesse (CIs) dos autores, o qual define-se como um conjunto de condições nas
quais o julgamento de um profissional a respeito de um interesse primário tende a ser
influenciado de forma indevida por um interesse secundário (CASSIMIRO; BAVARESCO;
SOARES, 2014; ØSTENGAARD et al., 2020).
75
Art. 60 É vedado ao nutricionista prescrever, indicar, manifestar
preferência ou associar sua imagem intencionalmente para divulgar
marcas de produtos alimentícios, suplementos nutricionais, fitote-
rápicos, utensílios, equipamentos, serviços, laboratórios, farmácias,
empresas ou indústrias ligadas às atividades de alimentação e nu-
trição de modo a não direcionar escolhas, visando preservar a au-
tonomia dos indivíduos e coletividades e a idoneidade dos serviços.
76
A seguir estão apresentados artigos científicos com e sem conflito de interesses.
77
FONTE: <https://bit.ly/3A7ILCI>. Acesso em: 18 ago. 2021.
78
Hipótese de pesquisa: a suplementação por via enteral (sonda) com ômega 3
ofertada a pacientes adultos críticos resulta em menor tempo de internação e maior
sobrevida?
FONTE: A autora
DICAS
Caro acadêmico! O conflito de interesses é um viés de pesquisa o qual
distorce resultados e conclusão, mas não ocorre na área da Nutrição
somente por interferência da indústria de alimentos, apesar de ser
bastante frequente e danoso para construção do conhecimento científico
pautado na honestidade e na ética. O viés de pesquisa pode ser evidenciado
também em questões individuais e subjetivas dos pesquisadores. Sobre
esse assunto, leia a entrevista da nutricionista Sophie Deram concedida
ao ViverBem Uol. Acesse em: https://bit.ly/3k6X6d5
INTRODUÇÃO
79
No Brasil, de acordo com os preceitos do Sistema Único de Saúde, a APS
tem a saúde da família como estratégia prioritária para sua organização. O trabalho
desenvolvido pela equipe da Estratégia Saúde da Família (ESF) compreende ações
de promoção, prevenção, recuperação, reabilitação e cuidados paliativos. O objetivo
do estudo foi analisar a prática baseada em evidência dos profissionais das equipes
com Estratégia Saúde da Família em um município de Santa Catarina.
METODOLOGIA
RESULTADOS
CONCLUSÃO
80
RESUMO DO TÓPICO 1
Neste tópico, você aprendeu:
81
• Por outro lado, os estudos observacionais também são importantes, pois permitem
que o pesquisador colete informações sobre a exposição e o desfecho (sobrevivência,
redução de sintomas, qualidade de vida etc.) sem interferir na sua ocorrência.
• O controle dos vieses de pesquisa são fundamentais para evitar distorção dos
resultados e conclusão do estudo.
82
AUTOATIVIDADE
1 No cenário atual da pandemia da Covid-19 é possível perceber uma avalanche de
desinformação disseminadas por meio das redes sociais acerca da origem do vírus,
do tratamento e das vacinas, mas ao mesmo tempo tem se discutido também sobre
o conhecimento científico e a prática profissional baseada em evidências científicas.
Considerando os conceitos sobre conhecimento científico (CC), prática baseada em
evidências (PBE) e senso comum (SC), analise as assertivas a seguir:
83
3 Os vieses de pesquisa distorcem os resultados e comprometem a conclusão da
publicação, sendo assim, é imprescindível adotar medidas para afastá-los e tornar os
dados obtidos confiáveis. Sobre os vieses e as medidas preventivas, associe os itens,
utilizando o código a seguir:
4 Você trabalha em uma Unidade Básica de Saúde que atende com frequência
indivíduos portadores de Diabetes Melito tipo II (DM2) e excesso de peso, os quais
acreditam que a dieta Low Carb é eficaz no controle da glicemia e perda de peso.
Eles o questionam se devem seguir essa dieta, no entanto, até o momento você leu
muito pouco sobre o assunto e precisa buscar evidências científicas. Nesse contexto,
elabore uma pergunta a partir do questionamento dos pacientes empregando a
estratégia “PICO”.
84
UNIDADE 2 TÓPICO 2 -
DESINFORMAÇÃO NA ÁREA DA NUTRIÇÃO
1 INTRODUÇÃO
Caro acadêmico, você sabia que a desinformação (Fake News) atinge de forma
importante a área da Nutrição ao ponto de o Conselho Federal de Nutricionistas (CFN)
ter emitido em 2018 um alerta sobre o tema?
85
Greenhalgh (2013, p. 70) cita uma afirmação do editor do periódico British
Medical Journal, Dr. Stephen Lock, que em 1979 escreveu: “poucas coisas são mais
desestimulantes para um editor do que ter que rejeitar um artigo embasado em uma
boa ideia, mas com falhas irremediáveis nos métodos empregados”.
O estudo não era original, ou seja, alguém já tinha publicado algo semelhante.
Seções Conteúdo
86
Descrição extremamente detalhada de como a pesquisa foi
realizada. Tipo de estudo, população estudada, amostragem,
tamanho da amostra, método de coleta e análise dos dados. No
Metodologia caso do estudo de coorte, por exemplo, deve constar a descrição
do período de seguimento, o tempo de acompanhamento e o
percentual de perda da amostra; estudo clínico, deve descrever
se houve randomização e cegamento.
Para busca ativa de artigos científicos nas bases de dados é preciso determinar
os unitermos a partir dos descritores em saúde e escolher os idiomas, português, inglês,
por exemplo, resposta imune, vitamina C, suplementação; immune response, vitamin C,
supplementation.
87
É possível utilizar também parênteses para orientar a combinação dos uniter-
mos, por exemplo: immune response and (vitamin C or micronutrients supplementation),
essa combinação permite o agrupamento de termos e pode potencializar o alcance das
buscas (MORAES; BELLI, 2018).
O MÉTODO READER
O que ler?
R: Relevância – para a Clínica Geral e para mim.
E: Educação – capacidade de a informação alterar o meu comportamento
A: Aplicabilidade – possibilidade de que a intervenção recomendada possa ser facilmente
aplicada na minha prática clínica.
Como ler?
D: Discriminação – Credibilidade/Qualidade do artigo, relacionado com o desenho e tipo
de estudo. Implica da parte do leitor, uma apreciação crítica ativa da qualidade do artigo.
Melo (2000), Rabito e Schmitt (2018) esclarecem que após a busca ativa nas ba-
ses de bases a partir das palavras-chave e de filtros (período de publicação, por exemplo,
desde 2011) utilizados para seleção dos artigos, normalmente uma grande lista é exibida,
assim, o primeiro contato do leitor é com o título e, na sequência, com o nome dos autores.
89
Seguindo o método proposto por McAuley (1995 apud MELO 2000) sobre o que
ler, a Relevância (R) é considerada nos seguintes aspectos: selecionar o artigo científico
que apresenta o assunto que se deseja conhecer ou aprofundar o seu conhecimento,
além disso, que ele seja importante para os pacientes (atendidos em consultório,
hospitais ou ainda com aqueles que desejo desenvolver uma pesquisa), podendo
mudar a conduta do profissional e, assim, proporcionar bem estar e reduzir risco de
morbimortalidade aos pacientes.
A última etapa do método refere-se a como ler com criticidade, assim dizendo,
Discriminação (D), para tanto dá-se ênfase ao rigor metodológico empregado na
pesquisa e sua descrição detalhada, ausência ou controle de vieses (randomização,
cegamento, conflito de interesses etc.), desse modo, serão considerados os artigos
que apresentam maior confiabilidade de seus resultados e, portanto, de sua conclusão
(MELO, 2000).
O objetivo do estudo deve ser claro e partir dele ser possível avaliar os métodos
de pesquisa, os resultados e as conclusões. Ele trata da pergunta de pesquisa, a qual
será respondida na discussão e retomada de forma resumida na conclusão. Deve ser
factível, original e relevante (GREENHALGH, 2013).
90
A maior parte dos estudos apresentam um roteiro básico para escrita da meto-
dologia, que abrange: delineamento do estudo; critérios da seleção da amostra, proce-
dimentos, equipamentos, reagentes, local de execução e características ambientais e
éticas, dependendo do tipo de pesquisa (RABITO; SCHMITT, 2018).
Tópicos Descrições
91
DICAS
Caro acadêmico! Se você quiser saber o que quer dizer a expressão “nível
de significância em estudos clínicos”, acesse: https://nutritotal.com.br/
pro/o-que-a-valor-de-p/.
92
A leitura da conclusão baseia-se em examinar se o objetivo do trabalho foi
respondido e se está de acordo com os resultados obtidos, evitando, assim, que o
leitor considere afirmações indevidas e generalistas, as quais o trabalho não oferece
condições de fazê-las (RABITO; SCHMITT, 2018).
Melo (2000) afirma que a leitura crítica de artigos permite avaliar os estudos no
contexto das suas limitações e avanços, a fim de que se tenha clareza da confiabilidade
dos resultados e de que o conhecimento científico é fluído, ou seja, não é estanque, está
em constante movimento.
93
Para abordar a variabilidade na qualidade das diretrizes foi elaborado o
instrumento Appraisal of Guidelines for Research & Evalution (AGREE). É uma ferramenta
que possibilita examinar o rigor metodológico e a transparência na elaboração da DC,
para isso apresenta seis domínios: 1) escopo e finalidade; 2) envolvimento das partes
interessadas; 3) rigor do desenvolvimento; 4) clareza da apresentação; 5) aplicabilidade;
e 6) independência editorial (KHAN; STEIN, 2014).
Grau de recomendação:
A. Estudos experimentais ou observacionais de melhor consistência.
B. Estudos experimentais ou observacionais de menor consistência.
C. Relatos de casos — estudos não controlados.
D. Opinião desprovida de avaliação crítica baseada em consensos,
estudos fisiológicos ou modelos animais (GOLBERT et al., 2020, p. 1).
94
QUADRO 8 – NÍVEL DE EVIDÊNCIA CIENTÍFICA POR TIPO DE ESTUDO
95
Outro exemplo específico da área da Nutrição é a Diretriz ACERTO (Aceleração
Total da Recuperação Pós-Operatória) de intervenções nutricionais no perioperatório em
cirurgia geral eletiva (artigo a seguir). Essa diretriz discorre acerca das recomendações
baseadas em evidências científicas elaboradas por um grupo de especialistas do Colégio
Brasileiro de Cirurgiões, da Sociedade Brasileira de Nutrição Parenteral e Enteral e do
projeto ACERTO. Tais recomendações nutricionais visam diminuir a morbidade, o tempo
de internação, a taxa de reinternações e os custos (AGUILAR-NASCIMENTO et al., 2017).
96
Concluindo, as diretrizes são publicações que podem auxiliar os profissionais da
área da saúde na tomada decisões que visem oferecer o melhor cuidado em saúde aos
pacientes com o menor custo. Entretanto, é imprescindível que elas sejam conduzidas
com rigor metodológico a fim de evitar vieses na produção dessas recomendações e
prejuízos aos pacientes e desperdício de recursos.
DICAS
Caro acadêmico! Se você quiser conhecer a Diretriz Braspen (Sociedade
Brasileira de Nutrição Parenteral e Enteral) de Terapia Nutricional no
Paciente com Câncer, a Braspen recomenda os Indicadores de Qualidade
em Terapia Nutricional. Acesse em: https://www.braspen.org/diretrizes.
97
Apesar de o zinco e as vitaminas C e D modularem o sistema imune, não há
até o momento dados que corroborem a afirmação do texto publicado em redes de
WhatsApp, portanto, trata-se de desinformação (ABIOYE; BROMAGE; FAWZI, 2021;
PINNAWALA; THRASTARDOTTIR; CONSTANTINOU, 2021).
A maioria dos estudos foi conduzida em países de alta renda, dificultando assim a
generalização dos seus resultados.
Não foi possível avaliar o impacto dos micronutrientes na gravidade dos sintomas,
uma vez que diferentes formas foram adotas para avaliá-los.
98
Concomitantemente, é importante reafirmar que a deficiência de micronutrien-
tes, principalmente daqueles que apresentam ação imunomoduladora, como as vita-
minas C, D e o zinco, pode comprometer a função do sistema imune e assim elevar a
vulnerabilidade a infecções e consequentemente, reduzir a capacidade do organismo
em combatê-las (PINNAWALA; THRASTARDOTTIR; CONSTANTINOU, 2021; GOMBART;
PIERRE; MAGGINI, 2020).
A preposição de eliminação do que nos causa mal por meio de dietas, sucos e chás
e cápsulas “detox”, de acordo com Obert, Pearlman e Chapin (2017), associa, ainda, a falsa
ideia de emagrecimento, não têm comprovação científica sólida e confiável e são despro-
vidas de eficácia comprovada. A perda de peso observada baseia-se na redução significa-
tiva da ingestão calórica, a qual pode chegar a 400 kcal/dia, bem como na perda de água e
de material fecal, quando esses tratamentos preconizam também o uso de laxativos.
99
Passos, Silva e Santos (2020) descreveram e analisaram conteúdos de notícias
associadas a ciclos de buscas ao Google ligados a oito tipos de dieta: cetogênica; da lua;
da proteína; da sopa; detox; dos pontos; paleo; e Dukan, tais dietas foram escolhidas
porque o Google Trends® as apontou como as mais associadas com o termo dieta.
DICAS
Caro acadêmico! Se você quiser saber sobre sites confiáveis de
checagem de informação na área da Nutrição, a Faculdade de Ciências
da Nutrição da Universidade do Porto (Portugal) criou uma ferramenta
que possibilita acesso livre aos interessados. Após seleção de temas
da atualidade em mídias sociais, há avaliação do conteúdo de acordo
com um sistema de classificação: “verdadeiro”, “impreciso” ou “falso”.
Disponível em: https://www.jpn.up.pt/2019/09/25/fcnaup-cria-site-para-
combater-desinformacao-em-nutricao/.
100
Os motivos que levam os indivíduos a consumirem esses alimentos é pouco
conhecido. Em uma pesquisa conduzida com americanos adultos que adotaram uma
dieta isenta em glúten, 35% afirmaram não ter motivos para tal, 25% por opção “mais
saudável” e 19% para “saúde digestiva”, 10% por terem algum familiar com sensibilidade
ao glúten e 8% por ter sensibilidade ao glúten, citação mais racional (RIELLY, 2016).
DICAS
Caro acadêmico! Se você quiser saber como o Conselho Federal de
Nutricionistas (CFN) alerta e orienta profissionais e estudantes sobre a
disseminação de informações falsas relacionadas à área da Nutrição,
sugerimos visitar a página do CFN. Disponível em: https://www.cfn.org.br/
index.php/noticias/existe-muita-fake-news-quando-o-assunto-e-nutricao//.
101
LEITURA
COMPLEMENTAR
CICLOS DE ATENÇÃO A DIETAS DA MODA E TENDÊNCIAS DE BUSCA NA
INTERNET PELO GOOGLE TRENDS
102
RESUMO DO TÓPICO 2
Neste tópico, você aprendeu:
• Para busca ativa de artigos científicos nas bases de dados é preciso determinar os
termos a partir dos descritores em saúde e escolher os idiomas, português, inglês,
espanhol, por exemplo.
• Os conectores entre os unitermos são “e” (and), com função de união; “ou” (or),
quando há maior margem de liberdade no assunto; e não (not), para exclusão
assunto correlato.
• O título e o resumo são primeiros tópicos do artigo com os quais o leitor terá contato
e poderá determinar se fará ou não a leitura completo da publicação.
103
• A desinformação refere-se à difusão de notícias/conteúdos falsos por meio da
internet, mídias sociais, aplicativos de conversa etc.
104
AUTOATIVIDADE
1 A leitura crítica e sistematizada de artigos científicos possibilita que o profissional
da área da saúde possa basear a sua conduta clínica e orientações em evidências
científicas. Sendo assim, pode prover a melhor possibilidade de cuidado aos pacientes
e com menor custo. Portanto, a partir do exposto e do artigo Efeitos da suplementação
de ômega-3 na síndrome da anorexia-caquexia em pacientes oncológicos: uma
revisão sistemática, de Santos, Monteiro e Almeida (2021), sobre quais informações
pertinentes poderão ser extraídas, analise as assertivas a seguir:
105
FONTE: MOEHLECKE, M. et al. Auto-imagem corporal, insatisfação
com o peso corporal e estado nutricional de adolescentes brasileiros:
um estudo nacional. Jornal de Pediatria, Rio de Janeiro v. 96, n. 1,
p. 73-86, 2020. Disponível em: https://bit.ly/3IP5zwt. Acesso em: 18
ago. 2021.
106
Assinale a alternativa CORRETA:
a) ( ) As assertivas III e IV estão corretas.
b) ( ) As assertivas I, II e IV estão corretas.
c) ( ) Somente a assertiva II está correta.
d) ( ) As assertivas I e III estão corretas.
107
REFERÊNCIAS
ABIOYE, A. I.; BROMAGE, S.; FAWZI, W. Effect of micronutrient supplements on influenza
and other respiratory tract infections among adults: a systematic review and meta-
analysis. BMJ Global Health, [s.l.], v. 6, p. 1-15, jan. 2021.
ALLCOTT, H.; GENTZKOW, M. Social Media and Fake News in the 2016 Election. Journal
of Economic Perspectives, [s.l.], v. 31, n. 2, p. 211-236, 2017.
108
CANUTO, R. Nutrição baseada em evidências. In: OLIVEIRA, A. N.; GOTTSCHALL, C. B. A.;
SILVA, F. M. Metodologia de pesquisa em nutrição: embasamento para a condução
de estudos e para a prática clínica. Rio de Janeiro: Rubio, 2018. 224 p.
CORDEIRO, A. M. et al. Revisão sistemática: uma revisão narrativa. Rev. Col. Bras. Cir.,
Brasília, v. 34, p. 428-31, dez. 2007.
DAINESI, S. M. A metodologia probe pode ser considerada uma alternativa aos estudos
randomizados duplo-cegos? Rev. Assoc. Med. Bras., São Paulo, v. 56, p. 127-43, 2010.
109
GARCIA, L. P.; DUARTE, E. Infodemia: excesso de quantidade em detrimento da
qualidade das informações sobre a COVID-19. Epidemiol. Serv. Saude, Brasília, v. 29,
n. 4, p. 1-4, 2020.
GOMBART, A.; PIERRE, A.; MAGGIN, S. A review of micronutrients and the immune
system - working in harmony to reduce the risk of infection. Nutrients, [s.l.], v. 12, n.
1, p. 1-41, 2020.
HOCHMAN, B. et al. Desenhos de pesquisa. Acta Cirúrgica Brasileira, São Paulo, v. 20,
p. 2-9, 2005.
JÚNIOR, J. H. S.; et al. Da Desinformação ao Caos: uma análise das Fake News frente à
pandemia do Coronavírus (COVID-19) no Brasil. Cadernos de Prospecção, [s.l.], v. 13,
n. 2, p. 331-346, 2020.
110
MAZURAK, N. et al. Effects of a 48-h fast on heart rate variability and cortisol levels in
healthy female subjects. Eur J Clin Nutr., [s.l.], v. 67, p. 401–6, 2013.
MIALONA, M.; SÊRODIOB, P.; SCAGLIUSI, F. B. Criticism of the NOVA classification: who
are the protagonists? World Nutrition. [s.l.], v. 9, n. 3, p. 176-240, 2018.
MELO, M. Leitura crítica de artigos médicos. Rev Port Clin Geral, [s.l.], v. 16, p.
471-6, 2000.
MORAES, D. U.; BELLI, K. C. Busca da evidência científica. In: OLIVEIRA, A. N.; GOTTSCHALL,
C. B. A.; SILVA, F. M. Metodologia de pesquisa em nutrição: embasamento para a
condução de estudos e para a prática clínica. Rio de Janeiro: Rubio, 2018, p.105-125.
KLEIN, A. V; KIAT, H. Detox diets for toxin elimination and weight management:
a critical review of the evidence. Journal of Human Nutrition and Dietetics, [s.l.], v.
28, n. 6, p.675-86, dez. 2014.
OBERT, J. et al. Popular Weight Loss Strategies: a Review of Four Weight Loss
Techniques. Curr Gastroenterol Rep., [s.l.], v. 19, n. 12, p.1-4, nov. 2017.
OLIVEIRA, M. A.; VELLARDE, G. C.; SÁ, R. A. M. Entendendo a pesquisa clínica III: estudos
de coorte. Femina, [s.l.], v. 43, n. 3, p. 105-110, maio/jun. 2015.
111
PEREIRA, M. G. Estrutura do artigo científico. Epidemiol. Serv. Saúde, Brasília, v. 21, n.
2, p. 351-352, 2012.
RABITO, E. I.; SCHMITT, L. Como ler artigos científicos. In: OLIVEIRA, A. N.; GOTTSCHALL,
C. B. A.; SILVA, F. M. Metodologia de pesquisa em nutrição: embasamento para a
condução de estudos e para a prática clínica. Rio de Janeiro: Rubio, 2018, p.167-182.
REILLY, N. R. The gluten free diet: recognizing fact, fiction, and fad. The Journal
Pediatrics, [s.l.], v. 175, p. 206-210, 2016.
RIBEIRO, R. C. Diretrizes clínicas: como avaliar a qualidade? Rev. Bras. Clin. Med., [s.l.],
v. 8, n. 4, p. 350-355, 2010.
112
SILVA, F. M. Revisões sistemáticas e metanálises. In: OLIVEIRA, A. N.; GOTTSCHALL, C.B.A.;
SOUZA, R. F. O que é um estudo clínico randomizado? Medicina, [s.l.], v. 42, p.3-8, 2009.
SOUZA, B.B. et al. Consumo de frutas, legumes e verduras e associação com hábitos de
vida e estado nutricional: um estudo prospectivo em uma coorte de idosos. Ciência e
Saúde Coletiva, Florianópolis, v. 24, p.1463-1472, 2019.
SOUZA, M.R.; et al. From fad to fact: evaluating the impact of emerging diets on the
prevention of cardiovascular disease. Am J Med., v. 133, n. 10, p. 1126-1134, 2020.
WEILL, P. et al. May omega-3 fatty acid dietary supplementation help reduce severe
complications in Covid-19 patients? Biochimie, v. 179, p. 275-280, 2020.
WILD, D. et al. Evidence of high sugar intake, and low fiber and mineral intake, in the
gluten-free die. Aliment Pharmacol Ther., [s.l.], v. 32, n. 4, p. 573-81, jun. 2010.
113
114
UNIDADE 3 —
NOVOS PARADIGMAS E
TENDÊNCIAS NA ÁREA
DE NUTRIÇÃO
OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM
A partir do estudo desta unidade, você deverá ser capaz de:
PLANO DE ESTUDOS
A cada tópico desta unidade você encontrará autoatividades com o objetivo de
reforçar o conteúdo apresentado.
CHAMADA
Preparado para ampliar seus conhecimentos? Respire e vamos em frente! Procure
um ambiente que facilite a concentração, assim absorverá melhor as informações.
115
CONFIRA
A TRILHA DA
UNIDADE 3!
Acesse o
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116
UNIDADE 3 TÓPICO 1 —
NUTRIÇÃO COMPORTAMENTAL
1 INTRODUÇÃO
Caro acadêmico, o excesso de peso é um problema de saúde global por conta
da sua associação com outras doenças, como o Diabetes Melito, Hipertensão Arterial,
Doenças Cardiovasculares etc. Nesse contexto, você sabia que inúmeros estudos
científicos procuram encontrar um tratamento eficaz para o excesso de peso? E que até
o momento, a comunidade científica não encontrou uma solução efetiva?
117
As mesmas autoras inferem que quando se adota como linha de pensamento
uma visão dicotômica, ou seja, bom ou ruim, saudável ou não saudável, reduz-se o co-
nhecimento científico na área da Nutrição e alimentação e estreita-se a possibilidade
em analisar o indivíduo em um contexto amplo, incluindo fatores culturais, socioeconô-
micos, emocionais e por fim, exclui-se o prazer em se alimentar e incorpora-se a culpa.
118
O processo que gera a mudança de comportamento é complexo e é perpassado
pela aprendizagem, abrangendo o condicionamento clássico, a associação de estímulos
neutros, emoções intensas e situações de estresse, experiências vivenciadas no dia
a dia decorrentes das relações que se estabelecem entre os indivíduos (TARAGANO;
ALAVARENGA, 2019).
119
KORITAR; MORAES, 2019c). Portanto, nesse cenário as mesmas autoras destacam que
há três componentes envolvidos em atitudes relacionadas aos alimentos, o afetivo
(sentimentos, humor e emoções); cognitivo (crenças e conhecimento sobre o alimento);
e volitivo (vontade, predisposição para agir).
120
Apesar da saciação e saciedade serem estudadas separadamente, elas são
sustentadas e sobrepostas por uma cascata de respostas disparadas previamente por
uma avaliação cognitiva e sensorial acerca da qualidade e quantidade de alimento; e por
sinais de pós–ingestão e pós-absorção gerados pelo consumo e subsequente digestão
e absorção dos nutrientes (Figura 1) (MCCRICKERD; FORDE, 2016).
Alvarenga, Koritar e Moraes (2019c) destacam que o apetite pode ser estimu-
lado pela disponibilidade de alimentos bastante palatáveis (ricos em açúcar, gorduras
e sódio) e pelo estresse. Sendo assim, atualmente, principalmente em países de baixa
renda como o Brasil, é possível detectar o alto consumo destes alimentos por sua pa-
latabilidade, baixo custo e fácil acesso.
121
No entanto, vale ressaltar que as restrições calóricas e/ou alimentares têm
fracassado enormemente no tratamento do excesso de peso e podem como efeito
rebote levar a um maior acúmulo de peso corporal e ainda causar doenças. Quando se
adere a uma dieta com baixo valor energético e de nutrientes (restritiva), o organismo não
tem capacidade para distinguir o que é uma restrição auto infringida de uma restrição
real por falta de alimento, assim em resposta a esse estresse há uma redução da taxa
metabólica e um aumento da fome e do apetite na tentativa de restaurar o equilíbrio
(STRIEN, 2018; FREIRE, 2020).
Alvarenga, Koritar e Moraes (2019c) enfatizam que a busca contínua por aplacar
a sensação de fome, seguindo por exemplo uma dieta restritiva, pode desencadear uma
dessensibilização às sensações de fome e saciedade e por sua vez elevar o risco para o
comer emocional.
122
No Quadro 1 estão demonstrados os três tipos de determinantes das escolhas
alimentares, os quais referem-se ao alimento, ao comedor e ao ambiente.
Categoria Fatores
123
saudável”, portanto a culpa passa a dominar o comportamento alimentar e desencadear
mudanças para afastá-la, mas ao mesmo tempo podem emergir sentimentos de
impotência e perda de controle, afetando autoestima, saúde e peso corporal (KUIJER;
BOYCE, 2014).
124
IMPORTANTE
Caro acadêmico! O estudo coordenado pela nutricionista Caroline
Ferreira, da Universidade de São Paulo (USP), sobre o impacto da
pandemia de Covid-19 sobre a rotina das famílias brasileiras, evidenciou
que o medo e a insegurança associados a pandemia transformaram o
dia a dia, modificando hábitos alimentares durante a quarentena. Dentre
os fatores determinantes das escolhas alimentares nesse período de
isolamento destacam-se os atrelados ao comer emocional.
125
O paladar e as preferências alimentares começam a se formar na gestação e
continuam durante o aleitamento materno, além disso, estão em constante influência
de fatores genéticos, estágios de desenvolvimento, reação fóbica a novos alimentos e
variabilidade (RODRÍGUEZ-TADEO et al., 2015; PEREIRA; VAN DER BILT, 2016).
Em resumo, em uma linha sócio antropológica, o que comemos nos forma, faz
parte de nossa subjetividade e o inverso também se aplica, pois o indivíduo define a
comida, seus valores e significados, assim se pode considerar que “você como aquilo que
é”. Portanto, o nutricionista precisa reconhecer rituais alimentares, valores, significados,
crenças relacionadas ao comer, visto que eles são parte de nossa subjetividade, nos
constroem como seres humanos e estão em constante fluidez, a depender do momento
vivenciado (MENNUCCI; TIMERMAN; ALVARENGA, 2019).
126
4 HABILIDADES INTERPESSOAIS E DE COMUNICAÇÃO
PARA O NUTRICIONISTA, COMER INTUITIVO E PLENO
(MINDFULL EATING)
Para abordagem nutricional que visa o aconselhamento e a promoção de
mudanças comportamentais é fundamental o conhecimento técnico (teórico), além do
desenvolvimento de habilidades relacionadas à comunicação, escuta e atitude (como
se comportar) (ALVARENGA et al., 2019b).
De acordo com Serra, Gregório, Graça (2011); Graça et al. (2015), para realização
de uma abordagem que propicie mudança de comportamento e aconselhamento
nutricional, a formação acadêmica de nutricionistas exige certamente capacitação nas
áreas das ciências da comunicação e da educação.
127
O desenvolvimento dessas habilidades (comunicação e educacional) oportuniza
a formação de agentes produtores e divulgadores de informação nutricional e alimentar
com elevada capacidade técnica para gerir quantidades substanciais de informação e
adequá-las aos novos meios de divulgação e às tecnologias digitais. Adicionalmente,
a capacidade de pensamento crítico baseado em evidências científicas e em preceitos
éticos é fundamental para formação do nutricionista (SERRA; GREGÓRIO; GRAÇA, 2011;
GRAÇA et al., 2015).
a) ver o mundo do seu paciente (compreender o outro e ver por meio do ponto de vista
dele);
b) não ser julgador (cada indivíduo tem seus valores e somos todos passíveis de erros);
c) compreender sentimentos (entender verdadeiramente os sentimentos do outro);
d) comunicar o que se compreendeu (para que os pacientes percebam que são vistos,
ouvidos e compreendidos é preciso comunicar) (ALVARENGA et al., 2019b).
128
No Quadro 2 estão organizados alguns pontos que envolvem a paralinguagem
a qual abrange a produção de sons, como ritmo da voz, velocidade, intensidade,
ênfase, entonação, suspiro, pigarro etc.
Manter tom de voz agradável, evitando falar alto ou baixo ou de maneira monotônica.
129
QUADRO 3 – EXEMPLOS DE PERGUNTAS FECHADAS E ABERTAS
O comer intuitivo (CI) foi um conceito elaborado por duas nutricionistas ame-
ricanas que queriam ensinar as pessoas a terem uma relação saudável com a comida
e favorecer autoconhecimento corporal. Além disso, o CI tem por objetivo favorecer a
confiança em diferenciar sensações físicas e emocionais relacionadas ao comporta-
mento alimentar e descarta a prescrição de dietas como ferramenta terapêutica para
mudança comportamental (HORWATH; HAGMANN, HARTMANN, 2019; ALVARENGA;
FIGUEIRO, 2019).
130
A sintonia entre corpo, mente e comida é a base do CI e o desafio se coloca
entre equilibrar os sistemas internos e externos, com foco principalmente no interno,
entendido como o “eu” (pensamentos, emoções, necessidades fisiológicas) (WARREN;
SMITH; ASHWELL, 2017; ALVARENGA; FIGUEIRO, 2019).
A imersão nas cores, texturas, aromas, sentidos e nos sons de comer e beber
permite que se tenha contato com as reações frente ao alimento e, além disso, aos
sinais de fome e saciedade. Intervenções baseadas no comer atenção plena têm sido
estudadas no tratamento da obesidade e de transtornos alimentares (WARREN; SMITH;
ASHWELL, 2017; ARTILES et al., 2019).
131
Grider, Douglas, Raynor (2020), ao elaborarem uma revisão sistemática con-
cluíram que poucas evidências sugerem que o emprego das duas ferramentas, comer
intuitivo ou comer com atenção plena, tiveram influência na ingestão energética ou na
qualidade da dieta. Para se obter maior robustez de evidências é preciso delinear estu-
dos com maior rigor metodológico.
Introdução
Objetivo
132
Metodologia
Resultados
Conclusão
133
RESUMO DO TÓPICO 1
Neste tópico, você aprendeu:
134
• As escolhas alimentares envolvem ações conscientes, automáticas, habituais e
subconscientes, assim sendo dependem das atitudes.
135
AUTOATIVIDADE
1 O comportamento alimentar diz respeito ao consumo e ao modo de comer, e como
e onde o indivíduo se alimenta. Sendo assim, é reconhecido que o momento pré-
ingestão é tão relevante quanto o consumo propriamente dito e a pós-ingestão.
Essa complexidade e harmonização de sinais internos do organismo e externos
compõem o que denominamos comportamento alimentar. Nesse cenário considere
as assertivas:
136
III- Os gestos, movimentos do corpo e expressões faciais são características da
comunicação verbal e durante a abordagem nutricional não considerados
importantes, uma vez que não influenciam na construção da confiança.
IV- A comunicação verbal é a habilidade de perguntar (estilo de pergunta) corretamente
o que é indispensável para que o nutricionista possa alcançar a mudança
comportamental de seu paciente, a escuta não faz parte dessa habilidade.
137
5 Há vários gatilhos que disparam o comer emocional, dentre eles destacam-se a
privação e a baixa qualidade do sono, as privações alimentares, o alto nível de
estresse, a ansiedade com metas inalcançáveis etc. Nesse processo constata-se a
perda da sensibilidade à fome física e a exacerbação da fome emocional, resultando
assim em um comer inconsciente, com prazer imediato e efeito rebote associado à
culpa e fracasso. Desse modo, como o nutricionista pode auxiliar o seu paciente a
identificar essa diferença?
138
UNIDADE 3 TÓPICO 2 -
GENÔMICA NUTRICIONAL
1 INTRODUÇÃO
Caro acadêmico, você sabia que a genômica nutricional é uma área de estudo
da Nutrição que avalia a interação entre o nosso genoma e a alimentação?
139
O Gene é um segmento de DNA em um cromossomo responsável pela sín-
tese de uma proteína especifica que determina um caráter hereditário (unidade de
transmissão hereditária) enquanto o espaço físico ocupado no cromossomo (“endere-
ço”) denomina-se loco/locus. Quando os genes são alelos, eles determinam a mesma
característica e se situam no mesmo locus em cromossomos homólogos (Figura 2)
(BORGES-OSÓRIO; ROBINSON, 2013).
140
FIGURA 3 – TRANSCRIÇÃO E TRADUÇÃO DA INFORMAÇÃO GÊNICA
141
FIGURA 5 – FORMAÇÃO DE UM NUCLEOTÍDEO
142
3 NUTRIGENÉTICA
No contexto da Nutrição, a subárea da genômica nutricional que estuda as
influências das variações no DNA nas necessidades nutricionais e as respostas in-
dividuais a componentes da alimentação é a Nutrigenética (CAMP;TRUJILLO, 2014;
COMINETTI; HORST; ROGERO, 2017).
143
A relação direta da vitamina D com a saúde óssea, conforme Nonino et al. (2019),
envolve a modulação da expressão gênica nos órgãos alvo, intestino, rins e tecido
ósseo, associada à ação de outros hormônios como o paratormônio (PTH) e o fator de
crescimento de fibroblastos 23 (FGF-23).
Redução da pressão
Endotélio vascular ↑ Enzima produtora de óxido nítrico
arterial – efeito direto
↓ Interleucina 17
Modulação do sistema
Linfócitos ↓ Interleucina 9
imune
↑ Foxp3 (fator de transcrição)
144
Quando ocorre uma alteração no processo de codificação da proteína do
receptor de vitamina D há aumento do risco para diversas doenças, com destaque para
alguns tipos de câncer (O’BRIEN, et al., 2018; GNAGNARELLA et al., 2020; ROZMUS et
al., 2020).
Polimorfismo do
Localização câncer
receptor de vitamina D
Cdx2 Mama.
145
FIGURA 8 – CICLO METIONINA-HOMOCISTEÍNA
Wang et al. (2020) evidenciaram ao elaborar uma metanálise, com 963 casos e
2244 controles, a associação do risco entre o polimorfismo do gene da MTHFR (rs1801131
– A1298C) e a hemorragia intraventricular; e a associação de risco do polimorfismo da
MTHFR (rs1801131 – C677I) com a hemorragia intracraniana, observada em 3.679 casos
e 9.067 controles.
146
A deficiência de zinco pode causar atraso no crescimento; alterações de
paladar; imunossupressão; aumento do estresse oxidativo e da síntese de citocinas pró-
inflamatórias; reações cutâneas; retardo na cicatrização de feridas; e comprometimento
da fertilidade (NONINO et al., 2019; DUARTE; REIS; COZZOLINO, 2020).
147
A apolipoproteína E (APOE) é um gene avaliado nos estudos de intervenção
nutricional, ela apresenta três isoformas ApoE2, ApoE3 e ApoE4, as quais distinguem-se
na modulação do perfil lipídico. No Quadro 6 estão demonstradas as três isoformas da
APOE e suas características.
Isoformas Funções
Indivíduos portadores do alelo ApoE2 e ApoE4 têm mais risco para aumento da
concentração plasmática de LDL-colesterol associado ao consumo elevado de gordura
saturada (GRIFFIN et al., 2018; RATHNAYAKE et al., 2019).
148
Relacionados à adipogênese
Receptores ativadores
da proliferação de PPARG2 3q25
peroxissomos 2
Receptor 4 de
MC4R 18q22
melanocortina
Gene associado à
FTO 16q12.2
obesidade
FONTE: Adaptado de National Center for Biotechonology Information (NCBI) e Gao, 2014 apud
Nonino et al. (2019, p. 531)
DICAS
Caro acadêmico! Caso você tenha interesse em saber sobre a solicitação
de testes genéticos pelo nutricionista, leia o parecer técnico do Conselho
Regional de Nutrição – CRN-3 Nº 09/2015. Acesse em: https://bit.ly/3c7tn2a.
149
Um dos maiores desafios da nutrigenética é propiciar o cuidado nutricional
personalizado e esclarecer as interações genes e dieta para os diferentes tipos de
população, tendo em vista que análises de polimorfismos em populações europeias ou
americanas podem não se assemelhar à brasileira, pois somos resultado de uma ampla
miscigenação.
4 NUTRIGENÔMICA
A nutrigenômica estuda o efeito dos nutrientes compostos bioativos sobre a
expressão gênica e, por consequência, o proteoma e metaboloma (COMINETTI; ROGERO;
HORST, 2020). O proteoma pode ser definido como conjunto de todas as proteínas
expressas em uma célula, tecido ou sistema biológico em um determinado momento,
uma vez que ele é dinâmico e seu perfil se altera conforme o status fisiológico e as fases
da diferenciação celular (WILKINS et al., 1996); enquanto, metaboloma diz respeito ao
conjunto de todos os metabólitos de baixa massa molecular (até 1500 Da), presentes ou
alterados em um sistema biológico (CANUTO et al., 2018).
150
Além da relação das gorduras da dieta influenciarem direta ou indiretamente
a reposta inflamatória, a vitamina D atua de forma direta na expressão gênica, uma
vez que o calcitriol transloca para o núcleo e se acopla ao seu receptor (VDR) e ativa
diversos genes (MORAIS; COMINETTI; COZZOLINO, 2020).
Os dados obtidos revelaram que 85% dos estudantes eram não obesos
metabolicamente saudáveis (NOMS); 11% eram obesos metabolicamente saudáveis
(OMS); 2,5% eram não obesos metabolicamente não saudáveis (NOMNS); 1,3% eram
obesos metabolicamente não saudáveis (OMNS). Em obesos metabolicamente não
saudáveis, a hipovitaminose D foi detectada em 85% dos indivíduos e conforme os níveis
de vitamina D aumentavam, a chance de NOMNS e OMNS diminuía significativamente
em 7% e 6%, respectivamente (ESMAILI et al, 2020).
151
contém um polifenol denominado epigalocatequina-3-galato (EGCG), a qual controla
a expressão gênica de forma indireta. Estudos in vitro demonstraram ação anti-
inflamatória desse composto, pois ele é capaz de atenuar in vitro a ativação do fator
nuclear kappa B (NF-kB) e ao mesmo tempo reduzir a degradação do inibidor do kappa
B (IkB)-alfa induzido pela ativação do fator de necrose tumoral (OHISHI et al., 2016).
5 EPIGENÔMICA NUTRICIONAL
A epigenômica nutricional tem por objetivo elucidar a relação entre eventos
epigenéticos e a alimentação. A origem da palavra epigenética é grega, onde “epi” quer
dizer acima e genética, de “gene”. O termo foi assim denominado pela primeira vez pelo
biólogo Conrad Waddington, em 1940 (BONASIO; TU; REINBERG, 2000; COMINETTI;
ROGERO; HORST, 2020).
152
As mudanças causadas pela epigenômica são potencialmente reversíveis pois
decorrem da modificação das histonas (proteínas de carga positiva que interagem entre
si formando um octâmero proteico que se associa ao DNA, o qual possui carga negativa,
estabilizando a estrutura e permitindo, assim, compactação do DNA) (GAYON, 2016).
FIGURA 9 – EXPOSIÇÃO NUTRICIONAL PRECOCE QUE LEVA À UMA MARCA FENOTÍPICA METABÓLICA COM
RISCO PARA DOENÇAS CRÔNICAS NÃO TRANSMISSÍVEIS
153
A modificação epigenética mais estudada em mamíferos é a metilação do
DNA, a qual se caracteriza por adição de grupos metila (CH3) em citocinas seguidas de
guanina. Tal ocorrência propicia um silenciamento gênico estável, uma vez que quanto
mais metilada a região regulatória do gene, menor é a sua expressão (STOVER et al.,
2018; TIFON, 2018; MORENO-FERNANDEZ et al., 2020) (Figura 10).
154
No Quadro 8 estão sumarizados alguns alimentos, nutrientes e os possíveis
mecanismos de ação protetiva contra o câncer.
Folhosos, semente de
Ácido fólico Síntese de metionina
girassol, fígado
155
LEITURA
COMPLEMENTAR
PANORAMA DA NUTRIGENÔMICA NO BRASIL SOB A PERSPECTIVA DA BIOÉTICA
156
Concomitantemente, tratamentos dispendiosos prometem saúde e juventude,
angariando pessoas vulneráveis diante de um sistema de saúde que as uniformiza ao
não atender suas necessidades individuais. Essas pessoas, muitas vezes destituídas
de perspectiva de cura para suas enfermidades, submetem-se à elevada alocação
monetária e em expectativa. Uma rápida busca pelas redes sociais elenca inúmeros
vídeos de divulgação científica como a suplementação da vitamina d, b12 e Ômega3,
com a promessa de resolver questões que perpassam a recuperação de memória, o
ganho de massa muscular, até a prevenção e cura do autismo, da degeneração muscular,
do acidente vascular cerebral (conhecido pela sigla AVC) e dos problemas cardíacos e
imunológicos. Considerando o pressuposto de que cada ser humano é geneticamente
único e fenotipicamente distinto e diante do alerta da disseminação multidisciplinar do
termo no meio científico e popular, conclama-se a avaliação ética, legal e social.
157
RESUMO DO TÓPICO 2
Neste tópico, você aprendeu:
• Indivíduos que carregam o alelo de risco na variação do gene da MTHFR, uma vez que
a enzima sintetizada é mais termolábil e tem redução de atividade, apresentam maior
risco para doenças cardiovasculares.
158
• A nutrigenômica estuda o efeito dos nutrientes compostos bioativos sobre a
expressão gênica.
159
AUTOATIVIDADE
1 A conclusão do projeto genoma humano no início dos anos 2000 abriu possibilidades
de compreender a relação dos genes com diversas doenças que assolam a
humanidade. Nesse contexto, área da Nutrição por meio de pesquisas envolvendo
a Genômica Nutricional tem procurado esclarecer a inter-relação gene-nutriente e
nutriente-gene. Considerando tal premissa, analise as sentenças a seguir:
160
3 O tipo de lipídeo que compõem uma dieta é capaz de modular a expressão gênica da
resposta inflamatória (RI), nesse cenário vale lembrar que diversas doenças apresen-
tam um perfil inflamatório positivo, como por exemplo, a obesidade, as dislipidemias
etc. Sendo assim, analise as assertivas a seguir:
I- Os ácidos graxos saturados estimulam a RI, de forma indireta, por meio da modulação
da sinalização do receptor toll-like 4 (TLR4).
II- O ácido láurico (insaturado), encontrado nas carnes e oleaginosas, apresenta baixa
capacidade de ativação da sinalização do receptor toll-like 4 (TLR4).
III- Os ácidos graxos saturados que apresentam maior capacidade de ativação da via do
TLR4 são o mirístico e o esteárico.
IV- O DHA (docosahexanoico), ácido graxo monoinsaturado, encontrado principalmente
no óleo de coco, apresenta alta atividade inflamatória por meio da via de sinalização
TLR4.
161
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