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TGI e DCNT
Indaial – 2021
1a Edição
Elaboração:
Prof. Mariane Caroline Meurer
a
M598n
ISBN 978-65-5663-360-2
ISBN Digital 978-65-5663-355-8
CDD 612.3
Impresso por:
APRESENTAÇÃO
Olá, acadêmico, seja bem-vindo à disciplina de Nutrição Clínica! Este livro
didático tem como propósito auxiliá-lo no processo de aprendizagem da ciência da
Nutrição, que envolve diferentes conceitos e dinamismo acerca das doenças que
acometem o trato gastrointestinal.
Este livro didático servirá como guia, futuro nutricionista, saber como proceder
em um atendimento em consultório, clínica ou hospital, adquirindo os conhecimentos
necessários para diferenciar as doenças do trato gastrointestinal (TGI), obesidade,
doenças cardiovasculares, diabetes mellitus e síndrome metabólica, e compreender a
dietoterapia envolvida em cada uma delas.
O livro está dividido em três unidades, cada qual com objetivos, conteúdos, au-
toatividades, dicas, sugestões e recomendações. Como sabemos, o Trato gastrointesti-
nal (TGI) tem como função a absorção de água, eletrólitos e nutrientes e sofre desafios
intensos para evitar que agente patogênicos causem danos e desequilíbrios importan-
tes nos tecidos internos. Na Unidade 1, aprenderemos sobre a função do TGI, aprofun-
daremos nas principais doenças que acometem esse sistema e a dietoterapia adequada
para cada caso.
QR CODE
Olá, acadêmico! Para melhorar a qualidade dos materiais ofertados a você – e
dinamizar, ainda mais, os seus estudos –, nós disponibilizamos uma diversidade de QR Codes
completamente gratuitos e que nunca expiram. O QR Code é um código que permite que você
acesse um conteúdo interativo relacionado ao tema que você está estudando. Para utilizar
essa ferramenta, acesse as lojas de aplicativos e baixe um leitor de QR Code. Depois, é só
aproveitar essa facilidade para aprimorar os seus estudos.
ENADE
Acadêmico, você sabe o que é o ENADE? O Enade é um
dos meios avaliativos dos cursos superiores no sistema federal de
educação superior. Todos os estudantes estão habilitados a participar
do ENADE (ingressantes e concluintes das áreas e cursos a serem
avaliados). Diante disso, preparamos um conteúdo simples e objetivo
para complementar a sua compreensão acerca do ENADE. Confira,
acessando o QR Code a seguir. Boa leitura!
LEMBRETE
Olá, acadêmico! Iniciamos agora mais uma
disciplina e com ela um novo conhecimento.
REFERÊNCIAS...................................................................................................................... 55
TÓPICO 1 — OBESIDADE...................................................................................................... 69
1 INTRODUÇÃO..................................................................................................................... 69
2 FISIOPATOLOGIA DA OBESIDADE....................................................................................70
2.1 GENÉTICA................................................................................................................................................71
2.2 AMBIENTAL........................................................................................................................................... 74
2.3 HORMÔNIOS E NEUROTRANSMISSORES...................................................................................... 76
2.4 COMPORTAMENTO ALIMENTAR....................................................................................................... 77
3 DIETOTERAPIA NA OBESIDADE........................................................................................79
3.1 RESTRIÇÃO CALÓRICA........................................................................................................................ 79
3.2 CETOGÊNICA......................................................................................................................................... 81
3.3 LOW CARB.............................................................................................................................................82
3.4 VITAMINA D E OBESIDADE................................................................................................................82
3.5 MICROBIOTA INTESTINAL..................................................................................................................83
RESUMO DO TÓPICO 1..........................................................................................................87
AUTOATIVIDADE.................................................................................................................. 89
REFERÊNCIAS.....................................................................................................................123
REFERÊNCIAS.....................................................................................................................184
UNIDADE 1 -
OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM
A partir do estudo desta unidade, você deverá ser capaz de:
PLANO DE ESTUDOS
A cada tópico desta unidade você encontrará autoatividades com o objetivo de
reforçar o conteúdo apresentado.
CHAMADA
Preparado para ampliar seus conhecimentos? Respire e vamos em frente! Procure
um ambiente que facilite a concentração, assim absorverá melhor as informações.
1
CONFIRA
A TRILHA DA
UNIDADE 1!
Acesse o
QR Code abaixo:
2
UNIDADE 1 TÓPICO 1 -
FUNÇÕES DO TRATO GASTROINTESTINAL
E DOENÇAS DO TRATO
GASTROINTESTINAL SUPERIOR
1 INTRODUÇÃO
O trato gastrointestinal (TGI) tem como principal função a absorção de água,
eletrólitos e nutrientes. Durante todo o tempo, o TGI sofre desafios intensos para evitar
que agentes patogênicos atinjam o lúmen gastrointestinal e acessem tecidos internos.
Por isso, as células epiteliais do TGI formam uma barreira seletivamente permeável,
rigidamente regulada e especializada (SHEN, 2009).
FONTE: <https://image.slidesharecdn.com/captulo02-alimentosesistemadigestrio-
120425085859-phpapp02/95/captulo-02-alimentos-e-sistema-digestrio-80-1024.
jpg?cb=1335344574>. Acesso em: 24 fev. 2021.
3
Esses tecidos epiteliais são essenciais para o funcionamento adequado de todo
o organismo, fazendo sua cobertura e proteção, formando glândulas que desempenham
funções específicas, realizam secreção e absorção de substâncias necessárias e
protegem contra agentes físicos, químicos e patogênicos (VASILEVA et al., 2017).
FONTE: O autor
DICAS
Assista aos vídeos disponíveis nos links a seguir:
4
2 DOENÇAS DO TRATO GASTROINTESTINAL SUPERIOR
As doenças do trato gastrointestinal superior são aquelas que acometem o
estômago, pâncreas e anexos. Neste tópico, nós iremos focar apenas na doença do
refluxo gastresofágico, gastrite, úlcera, pancreatite e cálculo biliar.
5
Essa exposição repetida do esôfago ao suco gástrico provoca alterações
na integridade da mucosa e na composição celular, levando ao desenvolvimento de
inflamação, tecido cicatricial e alterações na sensibilidade visceral. As complicações
decorrentes incluem os sintomas esofágicos e extraesofágicos, desenvolvimento de
estenose, dismotilidade e/ou carcinogênese (SPECHLER, 2003; GIORGIO et al., 2006)
6
estão a disfagia (dificuldade para engolir), odinofagia (dor para engolir), anemia, sangra-
mentos e perda de peso, que podem indicar a presença de complicações como este-
noses, ulcerações, malignidade (KATZ; GERSON; VELA, 2013). Você deve se perguntar:
como o diagnóstico é feito?
7
QUADRO 3 – CLASSIFICAÇÃO ENDOSCÓPICA DE LOS ANGELES
O tratamento da DRGE tem como objetivo o alívio dos sintomas, a cura das
lesões da mucosa (quando presentes), e a prevenção de recorrências e complicações.
Esse tratamento pode ser considerado clínico, cirúrgico ou endoscópico, para ser
mais prático, a literatura sugere a divisão da abordagem terapêutica em medidas
comportamentais e farmacológicas, e que fique claro ao paciente de que ele possui
uma doença crônica (MORAES-FILHO et al., 2010).
ATENÇÃO
Os sintomas da DRGE não devem ser confundidos com os da dispepsia. A
dispepsia é um desconforto epigástrico, sem azia ou regurgitação ácida e que
possui duração superior a um mês, podendo estar associada a uma distensão
abdominal ou plenitude gástrica, arrotos, náuseas e vômitos. A dispepsia é
um distúrbio que pode ser tratado de forma diferente da DRGE e que pode
também contar com a avaliação endoscópica, bem como teste para a H. pylori
(DENT, 2004).
8
2.1.2 Dietoterapia no Refluxo Gastroesofágico
Diante do exposto, como deve ser conduzida a dietoterapia para o paciente
com DRGE?
9
QUADRO 4 – RELAÇÃO DRGE E DIETA
10
Existem, também, hipóteses de que dietas ricas em gorduras, que incluem
alimentos fritos ou gordurosos, podem piorar os sintomas da DRGE. A gordura é
caloricamente densa e a digestão frequentemente requer a secreção de irritantes
esofágicos potenciais (sais biliares, por exemplo) e mediadores neuro-hormonais do
tônus do esfíncter esofágico inferior (ou seja, colecistoquinina). Porém, as pesquisas
que relacionam o tipo de gordura e os sintomas da DRGE precisam avançar (NEWBERRY;
LYNCH, 2019).
Além das gorduras, outro macronutriente que tem sido explorado e que tem
demonstrado resultados mais conclusivos é o carboidrato. Estudos tem relacionado a
ingestão de amido e açúcar simples a DRGE.
11
Um ponto importante a ser considerado em pacientes com DRGE é a utilização
por tempo prolongado da classe de medicamentos inibidores da bomba de prótons.
Apesar dos dados da literatura serem heterogêneos, já se sabe que o uso prologado
dessa classe medicamentosa pode gerar deficiência de vitamina B12, hipomagnesemia,
deficiência de ferro, demência, entre outros (HAASTRUP et al., 2018).
INTERESSANTE
Paciente, 27 anos, sexo masculino, sobrepeso (IMC de 29,9Kg/m2), engenheiro,
diagnosticado com DRGE Los Angeles grau A, H. pylori negativo, relata sentir dores e
regurgitação ao consumir iogurtes e pão. O médico gastroenterologista prescreveu
Dexilant uma vez ao dia, após o almoço por três meses. Qual conduta nutricional poderia
ser sugerida para esse paciente?
2.2 GASTRITE
Como vimos, o TGI é responsável pela digestão e absorção. Sempre que
comemos algo, o alimento passa pelo esôfago e chega até o estômago, onde sofre ação
do suco gástrico (ácido clorídrico e pepsina), que deve ser ácido para facilitar a absorção
de vitaminas e minerais e proteger de bactérias patogênicas. Fatores que modifiquem
esse ácido diminuem a qualidade da digestão e predispõem o indivíduo a sintomas
como queimações, azia, gases e refluxo.
12
A classificação de gastrite aguda ou crônica concentra-se no curso do
tempo, características histológicas, distribuição anatômica e mecanismos patológicos
subjacentes. A Helicobacter pylori é a causa mais comum de gastrite em todo o mundo,
porém, indivíduos H. pylori negativos com dispepsia funcional ou DRGE não erosivo
também podem apresentar gastrite (AZER; AKHONDI, 2020).
Além disso, a gastrite também pode ser dividia em erosiva e não erosiva. A
gastrite do tipo erosiva é mais grave e consiste na inflamação e corrosão do revestimento
gástrico, desenvolve-se subitamente (gastrite erosiva aguda) ou lentamente (gastrite
erosiva crônica) normalmente em pessoas saudáveis. Já a gastrite não erosiva é
caracterizada por alterações no revestimento gástrico que variam de desgaste (atrofia)
até transformação do tecido gástrico em outro tipo de tecido intestinal (metaplasia)
(VAKIL, 2020).
DICAS
Para entender melhor o sistema digestório sugere-se a leitura:
13
As manifestações clínicas não são típicas na gastrite. Ocorre um início súbito
de dor epigástrica, náuseas e vômitos, porém, muitas pessoas são assintomáticas ou
desenvolvem sintomas dispépticos mínimos.
14
FIGURA 3 – ABSORÇÃO E TRANSPORTE DE VITAMINA B12
15
H+/K+-ATPase e a modulação óxido nítrico dependente são os principais mecanismos
de ação gastroprotetora. Estudos mostram que o triterpenos ativos da M. ilicifolia são
capazes de estimular a produção de fatores de proteção como muco, ou de manter os
níveis ótimos de prostaglandinas gástricas na mucosa (ANVISA, 2016).
IMPORTANTE
Segundo a Resolução CFN n° 556, de 11 de abril de 2015:
16
O problema está na confusão que as pessoas fazem com as manifestações
decorrentes de outras situações que também afetam o funcionamento do trato
gastrointestinal como o estresse, e acabam chamando de gastrite nervosa, porém,
se não há inflamação presente, não é gastrite.
FONTE: <http://www.blog.saude.gov.br/index.php/promocao-da-saude/53566-o-que-e-a-
gastrite-nervosa>. Acesso em: 23 fev. 2021.
17
A mucosa de pacientes com UP é desequilibrada por infecções, ruptura
de barreira ou hipersecreção de ácido gástrico. Os fatores de riscos associados ao
desenvolvimento da UP incluem infecção por H. pylori, consumo de álcool, tabagismo,
uso prolongado de anti-inflamatórios não esteroidais (AINES), jejum persistente,
síndrome de Zollinger-Ellison, tratamento de câncer com inibidores da angiogênese e
cirurgia bariátrica (KEMPENICH; SIRINEK, 2018).
18
de adesão de neutrófilos no endotélio prejudicando mecanicamente o fluxo sanguíneo
vascular. Por isso, a inibição da COX é um fator muito importante envolvido nos danos do
TGI induzidos por AINEs (FIORUCCI; DISTRUTTI, 2011; BJARNASON et al., 2018; GARCÍA-
RAYADO; NAVARRO; LANAS, 2018).
Além disso, a infecção por H. pylori pode causar uma inflamação aguda, crônica
e mista, estimulando as células de defesa.
19
QUADRO 5 – RECOMENDAÇÕES NUTRICIONAIS PARA PACIENTES COM ÚLCERA PÉPTICA
Características Recomendações
Suficientes para manutenção ou recuperação do estado nutricional.
Recomendações 20-25 kcal/Kg: perda de peso
energéticas diárias 25-30 Kcal/Kg: manutenção
30-35 Kcal/Kg: ganho de peso
Fase aguda Fase de recuperação
Carboidratos (%) 50 – 60 50 – 60
Proteínas (g/kg de peso) 1.2 1.5
Lipídios (%) 25-30 25-30
Zinco (mg) 11 40
Selênio (µg) 55 400
Vitamina A (µg) 900 3000
Vitamina C (mg) 75 500
Vitamina B12 (µg) 2.4 2.4
Ácido fólico (µg) 400 400
Ferro (mg) 45 45
Fibras (g) 20 a 30 20 a 30
109 a 1011 bactérias ácido 109 a 1011 bactérias ácido
Probióticos (UFC/dia)
láticas láticas
Uma dieta rica em fibras para pacientes com UP é recomendada, pois as fibras
atuam como tampões, reduzindo as concentrações dos ácidos biliares no estômago e
o tempo de trânsito intestinal, resultando em menor distensão abdominal reduzindo o
desconforto e a dor epigástrica (MAROTTA; FLOCH, 1993).
20
Outro ponto importante para a erradicação da H. pylori é o uso de antioxidantes
como a vitamina C, a qual mostrou ser mais eficientes em doses menores por um período
mais prolongado. Assim, sugere-se que pacientes que apresentem H. pylori podem se
beneficiar de uma suplementação de até 500 mg/dia de vitamina C por um período
de três meses (ZOJAJI et al., 2009). Grandes estudos (1100 pacientes) demonstraram
que a concentração plasmática de vitamina C foi 20% menor em indivíduos infectado
por H. pylori do que em controles negativos. A infecção por H. pylori pode causar uma
inativação irreversível da vitamina C ingerida no lúmen intestinal antes de sua absorção.
Quando os níveis de pH intragástrico aumentam (hipocloridria) o ácido ascórbico é
convertido na sua forma menos ativa (ácido desidroascrórbico), assim, o pH gástrico
é um fator chave na depleção de vitamina C em pacientes com problemas gástricos
(WARING et al., 1996; WOODWARD; TUNSTALL-PEDOE; MCCOLL, 2001; CAPURSO et al.,
2003; FRANCESCHI, 2014).
21
QUADRO 6 – ALIMENTOS PERMITIDOS, CONSUMO COM MODERAÇÃO E PROIBIDOS NA UP
2.4 PANCREATITE
O pâncreas humano é um órgão que exerce função de duas glândulas: glândula
exócrina e glândula endócrina.
22
2.4.1 Fisiopatologia na Pancreatite
Quais distúrbios acometem o pâncreas?
23
FIGURA 4 – FLUXOGRAMA PARA DIAGNÓSTICO DA PC
Diagnóstico de PC improvável
Imagem de ressonância magnética com colangiopancreatografia por
ressonância magnética
São encontradas alterações ductais parenquimatosas ou
pancreáticas características?
Com alta probabilidade Com baixa probabilidade
Sim Não Não
da doença da doença
Determinação da etiologia da PC
Fatores de risco são encontrados através da história clínica (uso crônico de álcool, tabaco, ou ambos.
Histórico pessoal ou familiar de pancreatite), resultados de testes laboratoriais (hipertrigliceridemia,
variantes genéticas), e imagem (câncer pancreático).
• dor abdominal consistente com pancreatite aguda (início agudo de dor epigástrica
persistente e severa, geralmente com irradiação para as costas);
• atividade da lipase sérica (ou atividade da amilase) pelo menos três vezes maior que
o limite superior do normal;
• achados característicos de pancreatite aguda na tomografia computadorizada
com contraste (CECT) e, menos comumente, na ressonância magnética (MRI) ou
ultrassonografia transabdominal.
24
Se a dor abdominal sugerir fortemente que a pancreatite aguda está presente,
mas a atividade da amilase e/ou lipase sérica for menor que três vezes o limite superior
do normal, como pode ser o caso com apresentação tardia, exames de imagem serão
necessários para confirmar o diagnóstico. Se o diagnóstico de pancreatite aguda é
estabelecido por dor abdominal e pelo aumento da atividade das enzimas pancreáticas
séricas, geralmente não é necessário um CECT para o diagnóstico na sala de emergência
ou na admissão ao hospital (BANKS et al., 2012).
25
Já na PA grave, a via de preferência deve ser a enteral (TNE), e quando houver
impossibilidade de uso da via enteral a parenteral está indicada, ambas serão decididas
em conjunto com a equipe multidisciplinar. Na via enteral o posicionamento jejunal é o
mais recomendável (SBNPE, 2011a).
Recomenda-se ainda alto teor de triglicerídeos de cadeia média para TNE jeju-
nal na PA grave. O uso de probióticos ainda é controverso e não está recomendado para
PA aguda (SBNPE, 2011a).
26
Em pacientes que apresentam esteatorreia, a administração de triglicerídeo de
cadeia média (TCM) é indicada. Quando não houver esteatorreia uma dieta normolipídica,
rica em ácidos graxos de origem vegetal, é indicada.
27
FIGURA 5 – CALCIFICAÇÃO DOS CÁLCULOS BILIARES
28
Perda de peso rápida ou
Gestação
flutuação de peso
Sedentarismo Lesão da medula espinhal
Fumo
Diabetes tipo 2
Fatores
genéticos
e genes
litogênicos
hipersecre- Hipomotilida-
ção hepátca de da vesicula
de colesterol biliar
Cálculos de
colesterol
29
Já os cálculos pigmentares são resultados do metabolismo anormal da bilirru-
bina. A bile de pacientes com cálculos pigmentares pretos ou marrons possui grandes
quantidades de bilirrubina não conjugada.
Hiper-
Fatores gené- secreção
ticos hepática de
bilirrubina
Cálculo bi-
liar marrom
Infecção bac-
Estase biliar
teriana
Outros sintomas importantes são dor na região subescapular direita e/ou om-
bro, conhecida como sinal de Collins, dor nas costas, náuseas e vômitos. Pode ocorrer
também anorexia, sensação de saciedade, incapacidade de comer alimentos gorduro-
sos e diarreia crônica. Outro ponto importante é se os cálculos estiverem obstruindo o
ducto biliar comum, neste caso, o indivíduo pode apresentar esteatorreia ou fezes gor-
durosas e com odor fétido, isso ocorre como resultado da gordura não digerida no duo-
deno por causa da falta de bile (ABRAHAM et al., 2014; SUSUMU; MICHIAKI; YOSHINORI
et al., 2017).
30
O diagnóstico é feito através de ultrassonografia, a qual é considerada padrão
ouro para o diagnóstico de colelitíase. O diagnóstico de colelitíase pode ser eliminado se
a ultrassonografia mostrar uma parede da vesícula biliar e ducto biliar comum normais.
O diagnóstico positivo pode consistir em espessamento da parede da vesícula biliar (4
mm), aumento da vesícula biliar ou fluido ao redor (LITTLEFIELD; LENAHAN, 2019).
Além disso, sabe-se que uma dieta rica em colesterol aumenta a saturação
de colesterol biliar, aumentando o risco de formação de cálculos biliares. Estudos
observacionais têm demonstrado que a ingestão de gordura saturada ou trans está
associada a um aumento na incidência de cálculos biliares e que a maior ingestão de
ácidos graxos poli ou monoinsaturados reduz esse risco, porém, mais pesquisas são
necessárias para se determinar as quantidades e proporções ideais desses ácidos
graxos mono e poli-insaturados (CIAULA et al., 2019).
31
Outro ponto importante a se levar em consideração é o estilo da dieta. Tsai
et al. (2004a), avaliaram em um estudo prospectivo de 20 anos, 80.898 mulheres e
descobriram que o aumento de proteína vegetal estava associado a um menor risco
de colecistectomia. Em 2006, os mesmos autores, encontraram que mulheres que
aumentaram o consumo de frutas e vegetais tiveram a incidência dos cálculos biliares
reduzida (TSAI, 2006). Esses achados sugerem que o consumo de uma dieta vegetariana
equilibrada em proteína vegetal pode diminuir o risco de desenvolver cálculos biliares
(CIAULA et al., 2019).
Como conclusão, Ciaula et al. (2019) sugerem que se deve manter o peso
corporal adequado, a dieta deve ser semelhante às recomendadas para outras
patologias (diabetes e hipertensão, por exemplo). A suplementação de vitamina C pode
ser interessante, visto que esta participa como cofator para a enzima 7α-hidroxilase,
uma etapa limitante da taxa de conversão do colesterol em ácidos biliares, prevenindo
a formação dos cálculos biliares, promovendo a conversão de colesterol em sais biliares
reduzindo a litogenicidade da bile. Além disso, é importante verificar o status do ferro e as
deficiências que devem ser corrigidas. Em pacientes com cálculos biliares sintomáticos,
os autores sugerem que uma dieta isenta de alimentos alergênicos seria viável (CIAULA
et al., 2019).
32
RESUMO DO TÓPICO 1
Neste tópico, você aprendeu:
• Na DRGE, a literatura costuma listar alguns produtos como refluxogênicos, são eles:
alimentos gordurosos, picantes ou azedos, frutas cítricas e sucos, alho, tomate e suco
de tomate, chocolate, café, bebidas e produtos contendo hortelã-pimenta, bebidas
carbonatadas e álcool.
• As úlceras pépticas (UP) têm como características lesões ulcerosas na mucosa gastro-
duodenal gerando dor epigástrica e causando até sangramentos gastrointestinais.
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• A pancreatite aguda (PA) é uma inflamação do parênquima glandular do órgão
retroperitoneal que leva à lesão com ou sem destruição do ácinos pancreáticos. Essa
inflamação pode resultar em uma doença autolimitada ou desenvolver complicações
com risco de vida.
• A pancreatite crônica (PC) é caracterizada por uma síndrome que consiste em dis-
função das glândulas endócrinas e exócrinas que se desenvolvem secundariamente
à inflamação progressiva e fibrose crônica dos ácinos pancreáticos com dano estru-
tural permanente.
• O excesso de peso aumenta os riscos de cálculo biliar, sendo assim, a perda de peso
pode ser interessante nesses indivíduos, porém, se essa perda for excessiva e rápida,
pode promover o desenvolvimento dos cálculos e aumentar o risco de cálculos bilia-
res assintomáticos se tornarem sintomáticos.
34
AUTOATIVIDADE
1 A parede é composta por quatro camadas (túnicas) com uma rede de nervos
interconectadas. As túnicas são chamadas de:
I- Túnica média.
II- Túnica submucosa.
III- Túnica muscular.
IV- Túnica serosa ou adventícia.
a) ( ) Patogênica.
b) ( ) Comensal.
c) ( ) Benéfica.
d) ( ) Nenhuma das alternativas.
35
4 Os IBPs também apresentam efeito no status da vitamina B12, pela falta redução da
secreção ácida. A falta de ácido gástrico causa a redução da capacidade digestiva
de liberar vitamina B12 dos alimentos e, como consequência, reduz a quantidade de
vitamina B12 absorvida na mucosa intestinal. Para a absorção de vitamina B12, se
faz necessário:
36
UNIDADE 1 TÓPICO 2 -
DOENÇAS DO TRATO
GASTROINTESTINAL INFERIOR
1 INTRODUÇÃO
As doenças do trato gastrointestinal inferior são aquelas que acometem o
intestino, dentre elas, neste tópico, iremos destacar a Síndrome do Intestino Irritável
(SII), colite ulcerativa e doença de Crohn (DC).
A SII é fator de risco para muitas doenças graves, como o câncer do TGI. Por
ser uma doença crônica é de difícil diagnóstico e o mesmo, na maioria das vezes,
acontece tardiamente. Trata-se de uma patologia funcional do intestino, apresenta
recidivas e é definida por critérios diagnósticos dos sinais e sintomas e ausência de
causas orgânicas (SILVA et al., 2020). Veremos, a seguir, toda a fisiopatologia e a die-
toterapia envolvendo a SII.
37
Os fatores que contribuem para sua etiologia vêm aumentando nos últimos
anos, sendo que a ativação imune intestinal, aumento da permeabilidade intestinal,
alteração de microbiota e hipersensibilidade alimentar pode contribuir para os sintomas
de alguns pacientes com SII. Veja, na Figura 8, os fatores que contribuem para a SII
(BARBARA et al., 2012; POSSERUD et al., 2013; TAP et al., 2017).
38
QUADRO 8 – CLASSIFICAÇÃO DOS SUBTIPOS DE SII
Como visto no Quadro 8, a SII-C é definida como tendo mais de 25% dos
movimentos intestinais classificados na escala de Bristol como 1 ou 2 e com menos
de 25% das fezes categorizadas como 6 ou 7, também, na escala de Bristol. Já a SII-D
é classificada como mais de 25% das fezes categorizadas como 6 ou 7 na escala de
Bristol e menos de 25% classificada como 1 ou 2 (DEFREES; BAILEY, 2017).
39
O diagnóstico da SII é feito através dos critérios de Roma IV, os quais requerem
que o paciente tenha sintomas de dor abdominal recorrente, em média pelo menos
um dia por semana nos três meses anteriores, com início dos sintomas pelo menos
seis meses antes da apresentação. Os critérios também exigem que o paciente tenha
dor abdominal em associação com pelo menos dois dos seguintes critérios (DEFREES;
BAILEY, 2017):
40
INTERESSANTE
O paciente pode utilizar o aplicativo Bristol Stool Chart® (disponível para Android e IOS)
para criação de gráficos baseados na classificação da escala de Bristol.
PRINT DO APLICATIVO
FONTE: O autor
Diante do exposto, pode-se concluir que apesar de sua fisiopatologia não estar
bem elucidada, a SII envolve diversas áreas, como mostra a Figura 10.
41
FIGURA 10 – SÍNDROME DO INTESTINO IRRITÁVEL E CAUSAS MULTIFATORIAIS
Genética e epigenética
Avaliação, emoção, enfrentamento e apoio social
Estressores ex-
ternos (fatores
psicossociais)
Ativação cerebral e
modulação neuroen-
dócrina
Qualidade
Eixo intesti- Resposta de vida com-
no-cérebro ao estresse prometida
Estressores in-
ternos (alimen- Manifestações
tos e microorga- gastrointestinais e extra-
nismos) gastrointestinais
2.2.1 Fibras
As fibras dietéticas são carboidratos não digeríveis (celulose, amido resistente e
glucanos), que formam os materiais estruturais de cereais, frutas, vegetais e legumes.
As fibras são divididas em dois grupos, com base na sua solubilidade: fibras solúveis e
insolúveis. As solúveis formam um gel que interage com as bactérias intestinais e en-
curta o trânsito do TGI. Essas bactérias da microbiota intestinal, produzem metabólitos
42
chamados de ácidos graxos de cadeia curta, que ligam o microbioma intestinal ao me-
tabolismo do hospedeiro. Já as fibras insolúveis não alteram o TGI. Além da solubilidade,
as fibras influenciam na fisiologia intestinal através da sua fermentabilidade, viscosidade
e capacidade de volume/ligação. Alguns estudos demonstram que a alta ingestão de fi-
bras insolúveis aumenta o conteúdo de água e volume fecal, resultando em um trânsito
gastrointestinal acelerado, o que explica a vantagem de pacientes com SII do tipo cons-
tipação consumir esse tipo de fibra. Porém, o consumo de fibras pode levar a inchaço,
distensão abdominal e flatulência, sendo esse problema menor proeminente com fibras
solúveis do que com insolúveis (ALGERA; COLOMIER; SIMRÉN, 2019).
2.2.2 Glúten
Apesar de pacientes com SII apresentarem ausência de marcadores para doença
celíaca, há evidências de que esses pacientes se beneficiam de uma dieta isenta de
glúten. O mecanismo que envolve o glúten e SII ainda não está claro, mas há a hipótese de
que o glúten afeta a expressão do mRNA epitelial do intestino delgado da proteína de
barreira aumentado a permeabilidade da mucosa do intestino delgado em pacientes
com SII-D (CAMILLERI, 2018).
Muito se tem falado dos FODMAPs, será que uma dieta isenta em FODMAPs
pode ser interessante para pacientes com SII?
NOTA
FODMAPs é o acrônimo derivado do inglês de Fermentable Oligossacarides,
Disaccharides, Monosaccharides And Polyols. São carboidratos de cadeia
curta que são absorvidos de forma incompleta no intestino delgado. Esses
carboidratos, então, entram no cólon, onde são fermentados causando a
produção de gás no TGI inferior (ALGERA; COLOMIER; SIMRÉN, 2019).
43
Além disso, são osmoticamente ativos, aumentando a água no lúmen intestinal,
o que, somado ao mecanismo de fermentação, pode resultar em distensão luminal,
levando a sintomas como dor abdominal, diarreia, flatulência e distensão abdominal
(ALGERA; COLOMIER; SIMRÉN, 2019).
Pacientes com SII se beneficiam de uma dieta baixa em FODMAPs, porém, ela
é muito restritiva, sendo necessário acompanhamento com nutricionista experiente
para prevenção de deficiências nutricionais e perda de peso desnecessária (HADJI-
VASILIS, 2019).
No momento, a ciência está voltada para a dieta com baixo teor de FODMAPs
e a dieta isenta em glúten para apenas alguns pacientes, sendo necessárias mais
pesquisas para elucidar os mecanismos e desenvolver opções de tratamentos melhores
e mais individualizadas para os pacientes com SII (ALGERA; COLOMIER; SIMRÉN, 2019).
44
A Doença de Crohn (DC) é uma doença inflamatória crônica desconhecida, na
qual áreas descontínuas são afetadas por uma inflamação granulomatosa transmural
(afeta todas as camadas da parede, da mucosa até a serosa) e/ou fístula, afetando
qualquer região do TGI (da boca ao ânus), porém, a região mais acometida é o intestino
grosso, delgado e a região perianal (MATSUOKA et al., 2018).
45
O tratamento farmacológico tem como objetivo atuar no bloqueio ou ativação de
diferentes células e mediadores participantes da inflamação, para interrompê-la ou man-
ter a remissão da doença. Seis classes distintas de medicamentos estão disponíveis para
o tratamento das DII: aminossalicilatos, antibióticos, corticoides, tiopurinas, antagonistas
do ácido fólico como o metotrexato e imunobiológicos (SALES-CAMPOS et al., 2015).
46
Alguns estudos já tentaram relacionar o consumo de proteínas de origem animal
versus proteína de origem vegetal verificaram que as proteínas de origem vegetal au-
mentaram as bactérias benéficas ao hospedeiro e promoveu a redução das patogênica,
aumentando a produção de ácidos graxos de cadeia curta (AGCC), melhorando a barreira
intestinal e reduzindo a inflamação. Porém, o consumo de proteínas de origem animal
fez o inverso, aumentou o conteúdo de bactérias patogênicas, reduziu as benéficas,
consequentemente, reduziu a produção de AGCC e aumentou a produção de N-óxido
de trimetilamina (TMAO, do inglês, trimethylamine N-oxide) favorecendo o aparecimento de
doenças cardiovasculares e doença inflamatória intestinal (SINGH et al., 2017).
Sabe-se que pacientes com DII têm uma alta tendência a apresentarem uma
diversidade microbiana intestinal menor, e como consequência uma menor quantidade
de bactérias benéficas, gerando concentrações reduzidas de butirato (um AGCC), o qual
junto com outros AGCC pode promover um efeito anti-inflamatório (LÓPEZ et al., 2016).
NOTA
A microbiota intestinal, através da fermentação de prebióticos, tem a capacidade de pro-
duzir AGCC como acetato, propionato e butirato. Pacientes com DII apresentam conteúdos
fecais de AGCC reduzidos. Dentre os benefícios dos AGCC pode-se citar: 1) inibição da ade-
são de micro-organismos patogênicos nas células intestinais; 2) favoreci-
mento de secreção de bacteriocinas (substância antimicrobiana) por célu-
las epiteliais do cólon; 3) favorecer o crescimento de bactérias benéficas;
4) proporciona efeitos anti-inflamatório para as células epiteliais através da
inibição da ativação de NF-kB e PPARγ e limitando a produção de IL-1β, IL-6
e TNF- α; 5) aumento da síntese de mucina através do estímulo do fator de
crescimento epidérmico (EGFR, do inglês Epidermal growth factor receptor)
favorecendo a homeostase intestinal (EOM et al., 2018).
47
Como vimos, a dieta ocidental favorece mais a inflamação piorando o quadro
das DII. Partindo desse pressuposto, como deve ser a dietoterapia na DII?
Muito tem se estudado com relação a dietoterapia nas DII, com o objetivo
de controlar e manter a sua remissão. Porém os mecanismos e componentes ainda
levantam contradições. Por isso, não há uma intervenção dietética padrão ouro, os
profissionais da saúde promovem as que julgarem melhores, baseadas nas evidências
científicas disponíveis (HASKEY; GIBSON, 2017).
Certo, então o profissional nutricionista deve guiar sua conduta baseado no que
existe de evidência científica disponível.
• Glutamina
48
• Vitamina D
• Ômega-3
• Micronutrientes
49
LEITURA
COMPLEMENTAR
INTESTINO
Gabriela Dors
Trata-se de um órgão endócrino, que possui 10 vezes mais bactérias e 100 ve-
zes mais material genético do que o número de células do organismo. Evidências cien-
tíficas já apontam que o intestino, através dos hormônios sintetizados no TGI, tem res-
ponsabilidade pelo comportamento alimentar.
50
O desequilíbrio na microbiota gera a quebra de peptídeos e reabsorção de toxi-
nas de maneira inadequada, induzindo o surgimento de patologias, já que as funções da
microbiota intestinal estão disfuncionais.
Para reestabelecer esse equilíbrio microbiano, pode-se utilizar a dieta, por meio
da ingestão de probióticos, prebióticos e simbióticos ou usando medicamentos.
51
RESUMO DO TÓPICO 2
Neste tópico, você aprendeu:
• Alguns estudos demonstram que a alta ingestão de fibras insolúveis aumenta o con-
teúdo de água e volume fecal, resultando em um trânsito gastrointestinal acelerado,
o que explica a vantagem de pacientes com SII do tipo constipação consumir esse
tipo de fibra.
• Uma dieta baixa em FODMAPs é recomendada para pacientes com SII, pois esses
carboidratos entram no cólon, onde são fermentados, causando a produção de gás
no TGI inferior.
• A Colite Ulcerativa é uma doença inflamatória difusa não específica, de causa des-
conhecida e que afeta continuamente a mucosa colônica proximal do reto e muitas
vezes forma erosões e/ou úlceras.
• Há benefícios claros em uma dieta rica em frutas, legumes, óleo de peixe (ômega-3),
grãos integrais, azeite de oliva, pois oferece micronutrientes como vitamina D, ácidos
graxos essenciais, vitaminas, minerais e fibras. Esses alimentos irão manter uma mi-
crobiota saudável e, consequentemente, um epitélio intestinal saudável.
52
AUTOATIVIDADE
1 Muitas vezes o paciente possui sintomas dor abdominal ou desconforto abdominal,
irregularidade nas fezes e distensão abdominal, os quais prejudicam a sua qualidade
de vida, pois os sintomas podem ser debilitantes, de leves a moderados. Geralmente,
a SII está associada a outras comorbidades somáticas como síndrome de dor, bexiga
hiperativa e enxaqueca, depressão, ansiedade e sensibilidade visceral. Além disso,
existe uma distinção entre os subtipos de SII. Sobre a classificação dos subtipos de
SII, analise as asserções a seguir:
a) ( ) Goma guar.
b) ( ) Betaglucana.
c) ( ) Psyllium.
d) ( ) Todas as alternativas estão corretas.
53
4 Na fase inicial, a mucosa é hiperêmica, apresenta grânulos, com coloração avermelha-
da e friável, sangra com facilidade, pouco muco, pode apresentar pontos hemorrágicos
que se tornam purulentos e posteriormente formam ulcerações. Qual doença é?
a) ( ) SII.
b) ( ) Colite ulcerativa.
c) ( ) Doença de Crohn.
d) ( ) Todas as alternativas estão corretas.
5 Muito tem se estudado com relação a dietoterapia nas DII, com o objetivo de controlar
e manter a sua remissão. Porém os mecanismos e componentes ainda levantam
contradições. Por isso, não há uma intervenção dietética padrão ouro. Descreva o
que é importante levar em consideração na na fase ativa e na fase de remissão da DII:
54
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65
66
UNIDADE 2 —
NUTRIÇÃO CLÍNICA:
OBESIDADE E DOENÇAS
CARDIOVASCULARES
OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM
A partir do estudo desta unidade, você deverá ser capaz de:
PLANO DE ESTUDOS
A cada tópico desta unidade você encontrará autoatividades com o objetivo de
reforçar o conteúdo apresentado.
TÓPICO 1 – OBESIDADE
TÓPICO 2 – DOENÇAS CARDIOVASCULARES 1
TÓPICO 3 – DOENÇAS CARDIOVASCULARES 2
CHAMADA
Preparado para ampliar seus conhecimentos? Respire e vamos em frente! Procure
um ambiente que facilite a concentração, assim absorverá melhor as informações.
67
CONFIRA
A TRILHA DA
UNIDADE 2!
Acesse o
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68
UNIDADE 2 TÓPICO 1 —
OBESIDADE
1 INTRODUÇÃO
A obesidade vem sendo, de longe, um dos maiores problemas de saúde pública
do país. Souza, França e Cavalcante (2017) apontaram através do Global Burden of
Disease Brasil – GBD que a obesidade, glicemia de jejum e uso de álcool aumentaram
significativamente, sendo consistente com dados da maioria dos países do mundo.
69
IMPORTANTE
O Ministério da Saúde decidiu aderir à rede de estudos da Carga Global
de Doenças (Global Burden of Disease – GBD) com o objetivo de inserir
o Brasil nas estimativas e análises da carga de doença. O estudo GBD é
publicado há cerca de 20 anos, representando um esforço científico com
o objetivo de quantificar a redução da saúde em decorrência de doenças,
lesões e fatores de risco por idade, sexo e tempo (SOUZA; FRANÇA;
CAVALCANTE, 2017).
2 FISIOPATOLOGIA DA OBESIDADE
De uma forma geral, a obesidade é um desequilíbrio energético de longo prazo
devido a um desequilíbrio entre a quantidade de calorias consumida com a quantidade
de calorias gastas. Se pensarmos na evolução, o ser humano e seus predecessores
sobreviveram a períodos de subnutrição, portanto, a seleção natural contribuiu para um
genótipo que favorece a alimentação em excesso, baixo gasto energético e inatividade física
(BLÜHER, 2019) (Figura 1). Ou seja, seres humanos que suportavam longos períodos de fome,
armazenavam e mobilizavam energia de forma mais eficientes podem ter se reproduzido
mais do que aqueles que não eram adaptados dessa forma, isso levou a uma super-
representação de variantes genéticas que promoveram a capacidade de comer rápido,
absorver calorias em um grau mais elevado e expandir os estoques de energia no tecido
adiposo de forma eficiente.
70
FIGURA 1 – FATORES QUE INFLUENCIAM NA OBESIDADE
2.1 GENÉTICA
Como você já sabe a obesidade está aumentando de forma exponencial em todo
o mundo, afetando tanto países desenvolvidos como os em desenvolvimento, gerando
um impacto significativo na saúde pública e na economia. Você já sabe também que
a obesidade favorece inúmeras doenças como Diabetes Mellitus tipo 2, dislipidemia,
doença arterial coronariana (que iremos ver mais à frente), acidente vascular cerebral,
hipertensão, refluxo gastroesofágico (que vimos na Unidade 1), vários tipos de câncer,
doenças hepáticas (doença hepática gordurosa não alcoólica – DHGNA; cirrose; carcinoma
hepatocelular), além de afetar o sono, causar depressão e doenças musculoesqueléticas
(ROHDE et al., 2019) (Figura 2).
71
FIGURA 2 – OBESIDADE E OS ÓRGÃOS E SISTEMAS
72
A maioria dos indivíduos com obesidade apresenta a obesidade multifatorial
atribuída pela interação entre múltiplos genes (poligênica). Mais de 870 SNPs (do inglês,
Single Nucleotide Polymorphisms) – uma variação na sequência de DNA que afeta
somente uma base (Adenina, Timina, Citosina ou Guanina) – foram identificados em
larga escala. Os avanços recentes têm mostrado que os loci associados à obesidade
carregam genes envolvidos nas vias que afetam neurocircuitos da regulação do
apetite e da saciedade (BDNF, MC4R e NEGR), secreção e ação da insulina (TCF7L2,
IRS1), adipogênese e metabolismo lipídico (FTO, RPTOR, MAP2K5) (ROHDE et al., 2019).
Falar de todos os genes individualmente levaria tempo e precisaria de uma unidade só
para isso, além disso, muitas pesquisas ainda estão sendo feitas para elucidar todos os
mecanismos envolvidos com cada um deles. Mas que tal conhecermos o gene FTO?
O FTO (do inglês, Fat mass- and obesity-associated gene) é fortemente ligado
a indicadores antropométricos como o IMC, por exemplo. Além disso, desempenha um
papel fundamental na regulação do desenvolvimento do tecido adiposo e funções no
tamanho e composição corporais. Evidências de estudos experimentais apontam que
o FTO é altamente expresso em áreas cerebrais importantes para a regulação do con-
sumo de energia e do sistema de recompensa, ou seja, está associado ao controle do
apetite e saciedade.
INTERESSANTE
Estimativas apontam que a obesidade observada na população se deve a
diferenças genéticas interindividuais, variando de 40 a 70%. Por muitos anos, a
identificação dos genes associados a características da obesidade foi dificultada
por uma compreensão limitada da arquitetura genética do genoma humano
e das vias biológicas implicadas na obesidade. Em 2005, com a abordagem de
associação do genoma, a qual foi uma abordagem livre de hipóteses possibilitada
73
por avanços na tecnologia de genotipagem de alto rendimento, aumentou o ritmo de
descoberta do gene. Os estudos de associação do genoma (GWAS, do inglês, genome-wide
association studies) identificaram aproximadamente 2.000 loci genéticos com associações
robustas para mais de 300 características e doenças comuns, incluindo pelo menos 75 loci
de suscetibilidade à obesidade. O FTO foi o primeiro gene identificado por meio de GWAS,
e continua sendo o loci com o maior efeito no índice de massa corporal (IMC) e risco de
obesidade, mais amplamente replicado com vários traços de obesidade ao longo da vida
através de diversos ancestrais (LOOS; YEO, 2013).
2.2 AMBIENTAL
Você já parou para pensar que o ambiente em que vivemos pode ter influência
na obesidade?
O estresse e a obesidade estão ligados por mudanças que tem como objetivo
acomodar os efeitos do estresse, em vez de alterar o evento estressante real. Ou seja,
os caminhos que levam do estresse à obesidade são esforços do indivíduo para lidar
com os aspectos emocionais negativos do estresse (Figura 3), que pode ser agudo ou
crônico (TOMIYAMA, 2019).
74
FIGURA 3 – VIAS DE CONEXÃO DO ESTRESSE E OBESIDADE
Cognição Fisiologia
• Função executiva • Eixo Hipotalâmico-
• Auto regulação pituitária-adrenal
• Circuito de recompensa
• Microbioma
Estigma
Estresse Obesidade do peso
Comportamento Bioquímica
• Comer • Leptina e grelina
• Atividade física • Neuropeptídeo Y
• Dormir
Além disso, a atividade física contribui para o gasto energético diário, e quanto
maior o balanço energético negativo, maior é a perda de peso. Esse aumento do gasto
energético pode ser obtido pelo aumento da atividade física através de exercícios
supervisionados ou não, atividade ocupacional, trabalho doméstico, cuidados pessoais,
deslocamento e atividades de lazer. Os mecanismos envolvidos são a aceleração
da quebra das principais reservas energéticas do organismo, ou seja, glicogênio e
triacilgliceróis, levando à perda de peso (PETRIDOU; SIOPI; MOUGIOS, 2019).
75
autores colocam que os profissionais de saúde devem entender melhor que o exercício
é um “medicamento” importante e explorar suas características únicas, indo além da
contribuição para a perda de peso e gordura corporal, manutenção do peso corporal e
redução de gordura e aptidão física na obesidade, contribuindo para o bem-estar mental,
social e melhora da qualidade de vida. Além disso, o exercício é capaz de combater a
inflamação crônica de baixo grau que está associada à obesidade.
76
uma saciedade fisiológica e que os estoques estejam repletos de energia. Outros
neurotransmissores cerebrais também desempenham papel importante nas vias de
recompensa e na mediação do impulso do prazer para comer, como os mecanismos
dopaminérgicos, opioidérgicos e canabinoides (GREENWAY, 2015).
NOTA
Vamos relembrar alguns hormônios envolvidos nos mecanismos de fome e saciedade?
77
Uma das homeostases perdidas é a do comportamento alimentar, e isso tem
sido estudado há muitos anos. Yau e Potenza (2013) sugerem diferenças individuais
na resposta à ingestão de alimentos, sugerindo que há relação com o tipo específico
de estressor, duração da provocação do estresse e variações nos níveis de saciedade e
fome no início dos estudos.
78
3 DIETOTERAPIA NA OBESIDADE
Agora que já entendemos que a obesidade é uma doença multifatorial e complexa,
vamos compreender como a nutrição, através da dietoterapia, pode auxiliar esses
indivíduos na busca pela perda de peso e melhor qualidade de vida.
79
FIGURA 4 – GASTO ENERGÉTICO E ATIVIDADE FÍSICA
80
3.2 CETOGÊNICA
Nesta etapa, precisaremos resgatar um pouco dos conceitos da bioquímica da
nutrição, tudo bem?
A insulina ativa vias que armazenam energia derivada dos carboidratos, porém,
quando há ausência ou escassez de carboidratos da dieta o nível de insulina é reduzido
e lava à redução da lipogênese e do acúmulo de gordura. O baixo consumo drástico de
carboidratos (abaixo de 50 g/dia) promovem uma baixa nas reservas de glicose, tanto
para a oxidação normal da gordura por meio do fornecimento de oxaloacetato no ciclo
de Krebs como para o fornecimento de glicose para o sistema nervoso central (SNC). O
SNC não utiliza gordura como energia, somente glicose, e após três a quatro dias sem
carboidratos o SNC é forçado a encontrar fontes de energia alternativas derivadas da
superprodução de acetil coenzima A (CoA), isso leva à produção dos corpos cetônicos
(acetoacetato, ácido β-hidroxibutírico e acetona) na matriz mitocondrial e no fígado
(PAOLI et al., 2013).
Os corpos cetônicos são usados pelos tecidos como fonte de energia por meio
de uma via que leva à formação a partir do β-hidroxibutirato de duas moléculas de acetil
CoA, utilizadas finalmente no ciclo de Krebs (PAOLI et al., 2013).
• Redução do apetite devido ao maior efeito de saciedade das proteínas, efeitos sobre
os hormônios de controle do apetite e a uma possível ação supressora de apetite
direta dos corpos cetônicos.
• Redução da lipogênese e aumento da lipólise.
• Redução do quociente respiratório de repouso e, portanto, maior eficiência metabólica
no consumo de gorduras.
• Aumento dos custos metabólicos da gliconeogênese e do efeito térmico das proteínas.
81
3.3 LOW CARB
As dietas com baixo teor de carboidratos (LCD, do inglês, Low Carb Diet) (Quadro
1) tem como hipótese a redução da insulina (que já vimos que produz um estado anabólico
de armazenamento de gordura), melhora a função cardiometabólica e induz a perda de
peso. Ainda se debate no meio científico sobre os mecanismos das LCD que induzem
a perda de peso. A questão que devemos nos atentar é que, ao reduzir carboidratos
da dieta, a ingestão de proteína e gorduras aumenta para compensar. A hipótese que
se levanta então é que as proteínas e gorduras aumentam a saciedade e produzem
menos hipoglicemia concomitante, e isso reduz a fome e a ingestão geral de alimentos
e produz um déficit calórico. Apesar das controvérsias, as revisões sistemáticas trazem
que as dietas com baixo teor de carboidratos são tão eficazes, para a perda de peso em
comparação a outras dietas (OH; GILANI; UPPALURI, 2020).
Muito baixa em carboidratos ou Very low- (< 10% carboidratos) ou 20-50 g/dia.
carbohydrate.
(< 26% carboidratos) ou menos que < 130
Baixa em carboidratos.
g/dia.
Moderada em carboidratos. 26%-44%.
Alta em carboidratos. 45% ou mais.
FONTE: Adaptado de Oh, Gilani e Uppaluri (2020)
82
As causas da hipovitaminose D podem ser diversas na obesidade. Pode haver
um menor consumo de alimentos fontes devido à alimentação inadequada, menor
exposição à luz solar já que esses pacientes são mais sedentários e às vezes possuem
dificuldades de se locomover, ou síntese cutânea prejudicada de vitamina D. Outro fato
importante a se pensar é a distribuição de 25(OH)D em um volume maior de tecido
corporal total, já que ela pode ser sequestrada pelo tecido adiposo, reduzindo assim sua
biodisponibilidade (WALSH; BOWLES; EVANS, 2017).
ATENÇÃO
Segundo a resolução CFN n° 656/2020, na prescrição dietética de suplementos
alimentares, o nutricionista deve respeitar os limites do Nível de Ingestão
Superior Tolerável (UL, do inglês, Tolerable Upper Intake Level) e, em casos não
contemplados, considerar critérios de eficácia e segurança com alto grau de
evidências científicas.
83
Gomes, Hoffmann e Mota (2018) concluem em sua revisão que:
Sophie Deram
84
Trata-se de uma pesquisa do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística
(IBGE) em conjunto com o ministério da saúde, que coletam informações de
interesse para a área da saúde. Ela tem como objetivo avaliar as questões de saúde
de forma mais ampla, e tem como base três eixos principais: o desempenho do
sistema nacional de saúde, condições de saúde da população e doenças crônicas
não transmissíveis e seus fatores de risco. Ela inclui dados antropométricos, como o
índice de massa corporal (IMC), usado para definir o excesso de peso da população.
Já sabemos que dietas restritivas podem atrapalhar mais do que ajudar, pois
o corpo entende como uma privação e passa a trabalhar para garantir a sobrevivência
e poupar mais, aumentando o apetite e reduzindo o metabolismo, favorecendo o
reganho de peso levando o paciente ao famoso e temido efeito sanfona.
1- Foco na saúde: que a saúde é mais importante que o número na balança, sugere
que o indivíduo esqueça as preocupações com o peso e o corpo e invista em um
estilo de vida mais saudável.
2- Não fazer dietas restritivas: pode até funcionar para a perda de peso, mas não é
sustentável a longo prazo e traz consequências negativas para a saúde.
85
3- Coma melhor e não menos: restringir não é a solução, Sophie sugere adotar uma
alimentação mais caseira, variada e com alimentos de todos os grupos alimentares.
4- Ouça seus sinais de fome e saciedade: conecte-se com o seu corpo, em vez de
sugerir recomendações de porções e quantidades de alimentos. Preste atenção
aos sinais internos, coma respeitando a sua fome e saciedade.
5- Faça as pazes com a comida e o corpo: não classifique os alimentos como “bons”
e “ruins”. Nenhum deles será responsável pelo seu ganho de peso por si só e não
existe alimento milagroso. Deixe as crenças de lado e permita-se comer com
prazer e sem culpa.
6- Cozinhe mais: o que se vê é que os indivíduos passaram a cozinhar menos e a
consumir mais industrializados. Cozinhar nos aproxima do alimento e contribui
para aumentar o consumo de alimentos in natura.
7- Todos precisam participar: todos devem estar envolvidos no tratamento da
obesidade, pois é multifatorial e pode atingir a todos.
86
RESUMO DO TÓPICO 1
Neste tópico, você aprendeu:
• O excesso de peso e a obesidade são fatores de risco para inúmeras doenças crônicas.
• O estresse e a obesidade estão ligados por mudanças que têm como objetivo
acomodar os efeitos do estresse, em vez de alterar o evento estressante real.
• Evidências apontam que esses indivíduos buscam a comida para resolver ou com-
pensar problemas dos quais, às vezes, não tem nem consciência.
87
• O gasto energético é variável e sofre influência das mudanças no peso corporal, e
o equilíbrio entre a energia ingerida (calorias) e a demanda de energia corporal é
fundamental para o controle do peso corporal.
• Há fortes evidências de que a dieta cetogênica é eficaz para a perda de peso, porém
não há um consenso na literatura sobre os mecanismos pelos quais isso acontece.
• Ainda se debate no meio científico sobre os mecanismos das LCD que induzem a
perda de peso. A questão que devemos nos atentar é que ao reduzir carboidratos da
dieta, a ingestão de proteína e gorduras aumenta para compensar.
• Indivíduos com obesidade apresentam níveis séricos de 25(OH)D (vitamina D) mais bai-
xo do que pessoas com peso normal, e esses níveis de vitamina D estão inversamente
relacionados com o peso corporal, índice de massa corporal (IMC) e massa gorda.
88
AUTOATIVIDADE
1 A obesidade é caracterizada por um excesso de tecido adiposo. A medida clinica mais
utilizada para caracterizá-la é o índice de massa corporal (IMC, peso em kg dividido
pelo quadrado da altura em metros), com escalas por idade e pode sofrer influência
genética. Qual gene é fortemente ligado a indicadores antropométricos como o IMC?
a) ( ) FTO.
b) ( ) MC4R.
c) ( ) RPTOR.
d) ( ) SNPs.
4 Há fortes evidências de que a dieta cetogênica é eficaz para a perda de peso, porém
não há um consenso na literatura sobre os mecanismos pelos quais isso acontece.
Alguns autores sugerem que o efeito da dieta cetogência na perda de peso pode ser
causado por:
89
5 As causas da hipovitaminose podem ser diversas na obesidade, como um menor
consumo de alimentos fontes devido à alimentação inadequada e também à
distribuição dessa vitamina em um volume maior de tecido corporal total, já que pode
ficar sequestrada no tecido adiposo. Que vitamina é essa?
a) ( ) Vitamina A.
b) ( ) Vitamina D.
c) ( ) Vitamina B12.
d) ( ) Vitamina C.
90
UNIDADE 2 TÓPICO 2 -
DOENÇAS CARDIOVASCULARES 1
1 INTRODUÇÃO
A hipertensão arterial sistêmica (HAS) é umas das causas mais comuns de doen-
ças cardiovasculares, afetando 20% da população adulta nas sociedades industrializadas.
2 HIPERTENSÃO
Como vimos, a HAS é caracterizada por elevação sustentada dos níveis
pressóricos ≥ 140 e/ou 90 mmHg (Quadro 3).
• Genética: podem influenciar os níveis de pressão arterial (PA) entre 30-50%, porém,
ainda não foram identificados dados uniformes das variantes genéticas envolvidas.
91
• Idade: o envelhecimento leva a um enrijecimento progressivo e da perda de
complacência das grandes artérias, e aí a PA torna-se um problema mais significante.
• Sexo: nas faixas etárias mais jovem a PA é mais elevada entre os homens, mas na
sexta década de vida, a PA entre as mulheres costuma ser mais elevada e a prevalência
de HAS maior.
• Etnia: é um fator de risco importante para HAS, mas as condições socioeconômicas
e hábitos de vida são mais relevantes na prevalência de HAS, do que a etnia.
• Sobrepeso/obesidade: existe uma relação direta, contínua e linear entre o excesso
de peso (sobrepeso/obesidade) e os níveis de PA.
• Ingestão de sódio e potássio: a literatura científica mostra que a ingestão de sódio
está associada a DCV e AVE, quando a ingestão média é superior a 2 g de sódio, o
equivalente a 5 g de sal de cozinha. De maneira inversa, o aumento na ingestão de
potássio reduz os níveis pressóricos. Deve ser salientado que o efeito da suplemen-
tação de potássio parece ser maior naqueles com ingestão elevada de sódio.
• Sedentarismo: há uma associação direta do sedentarismo, a elevação da PA e da HAS.
• Álcool: há uma prevalência maior nos indivíduos que ingeriram seis ou mais doses
ao dia, o que equivale a 30 g de álcool/dia – uma garrafa de cerveja (600 ml) ou duas
taças de vinho (250 ml) ou uma dose de destilado (60 ml).
• Outros fatores: drogas ilícitas e automedicação têm potencial em elevar a PA ou
dificultar o seu controle.
92
2.1 FISIOPATOLOGIA NA HIPERTENSÃO
A PA é determinada pelo produto do débito cardíaco (DC) e da resistência
vascular periférica (RVP), em pacientes normais e naqueles que apresentam HAS
existe um aspecto de variação do DC com respostas concomitantes da RVP para um
determinado nível de PA (SANJULIANI, 2002).
93
Falando de obesidade, já se sabe que essa doença é um fator de risco para a
HAS, pois promove um aumento da insulina e leptina circulantes. A hiperinsulinemia
pode causar HAS por alterações nas estruturas e na função da musculatura lisa vascular
e disfunção endotelial (LACERDA et al., 2020).
DICAS
Leia mais sobre a HAS acessando o link: https://www.medicina.ufmg.br/
wp-content/uploads/sites/7/2020/09/Ebook-Hipertensão-Arterial-Sistêmica-
Medpencil-Medicina-em-Desenho.pdf
• Parte 1: https://www.youtube.com/watch?v=X9ZZ6tcxArI
• Parte 2: https://www.youtube.com/watch?v=ZVklPwGALpI
94
Estudos e diretrizes de HAS sugerem classes medicamentosas preferenciais
para o tratamento, que incluem o chamado “trio de ouro”: um inibidor do sistema
renina-angiotensina (iSRA) (inibidor da enzima conversora de angiotensina ou um
bloqueador do receptor de angiotensina II), um bloqueador do canal de cálcio (BCC)
ou um diurético tiazídico/tipo tiazídico (TIAZ). Veja o Quadro 4 de medicamentos anti-
hipertensivos disponíveis.
Bloqueadores adrenérgicos
Alfabloqueadores
Betabloqueadores
Alfa-beta bloqueadores
Inibidores da enzima conversora de angiotensina (ECA)
Bloqueadores dos receptores da angiotensina II (BRAs)
Bloqueadores dos canais de cálcio
Di-idropiridinas
Não di-idropiridinas
Alfa-agonistas de ação central
Vasodilatadores diretos
Diuréticos
Diuréticos de alça
Diuréticos poupadores de potássio
Diuréticos tiazídicos ou do tipo tiazida.
Caso a meta pressórica não seja atingida com o mínimo de medicamentos possível,
o uso de três fármacos (“trio de ouro”) deve compreender preferencialmente os seus
componentes. Se, ainda assim, a PA não for controlada com o uso dessas três classes,
utilizando hidroclorotiazida, o controle pode ser melhorado substituindo por outro TIAZ
de longa duração e mais potente (clortalidona ou indapamida). Assim, Feitosa et al.
(2020) propuseram o octeto medicamentoso para tratamento da hipertensão arterial,
como mostra a Figura 5.
95
FIGURA 5 – O OCTETO MEDICAMENTOSO PARA O TRATAMENTO DA HAS
96
FIGURA 6 – ESTILO DE VIDA E HAS
Adiposidade visceral
↑ liberação de adipocitocina (como
leptina, resistina e TNF)
↑ infiltração de macrófagos
↑ atividade do nervo simpático renal
Exercício físico
Resistência à insulina
↑ da glicemia
↑ da insulinemia
Estrutura vascular
Refração e rarefação ↑ pressão
↑ rigidez arterial sanguínea
Padrão dietético
↑ resistência vascular
↓ volume do vaso
Inflamação
↑ células pró-inflamatórias
↑ moléculas pró-inflamatórias
(como PCR e TNF)
Manejo do estresse
Função autonómica
↑ tônus SNS
↓ função dos baroreceptores
Falando de dieta, será mesmo que é só reduzir o sódio e a HAS irá se estabilizar?
Continue a leitura e vamos descobrir juntos.
Muito se fala da carga dietética ácida, e isso se dá, pois o excesso de ácidos
deve ser excretado pelos rins para manter o equilíbrio ácido-base.
Uma alta carga ácida pode aumentar o risco de hipertensão, visto que há uma
sobrecarga renal, devido a uma alta carga ácida proveniente da dieta a qual solicita
mecanismos adaptativos para aumentar a excreção de ácidos, e no caso de uma doença
renal crônica pode levar a uma lesão renal, aumentando o risco para a HAS.
Nesse caso, uma dieta caracterizada pela redução na ingestão de sal, aumento
no consumo de frutas, tubérculos, raízes e vegetais levará a um aumento no magnésio
e diminuição na relação sódio-potássio (VALENZUELA et al., 2020).
97
Além disso, devemos nos atentar ao padrão dietético ocidental. Evidências
científicas apontam que as populações não ocidentalizadas têm baixas taxas de
hipertensão e prevalência muito baixa de aumentos relacionados à idade na PA e DCV
em geral, apesar de não receberem tratamento farmacológico, o que fornece dados
importantes do papel dos fatores de estilo de vida na prevenção da HAS.
Essas baixas taxas de HAS estão associadas a estilos de vidas mais tradicio-
nais, como padrão alimentar não ocidentalizado, atividade física regular, ciclo natural
de sono/vigília (ciclo circadiano regulado) e exposição ao sol (Figura 7) (VALENZUELA
et al., 2020).
98
FIGURA 7 – PADRÕES DIETÉTICOS E EFEITOS NA SAÚDE
Comportamento psicossocial
• Estresse psicossocial crônico
99
Pegando os Estados Unidos como exemplo, uma dieta norte-americana típica é
rica em gorduras saturadas, ácidos graxos ômega 6, carboidratos de alta carga glicêmica
e aditivos químicos artificiais e isso é um retrocesso no combate as DCV, principalmente a
HAS (CHALLA; AMEER; UPPALURI, 2020).
NOTA
DIFERENÇA ENTRE ÍNDICE GLICÊMICO (IG) E CARGA GLICÊMICA (CG)
Em 1990, teve origem a dieta DASH, a qual muitos já devem ter ouvido falar.
DASH é a sigla em inglês de Dietary Approach to Stop Hypertension, os estudos iniciaram em
1992 pelo National Institute of Health (NIH), que começou a financiar os projetos de pes-
quisa para verificar se intervenções dietéticas específicas eram úteis para o tratamento
da hipertensão.
Mas o que compõem a dieta DASH? Um plano alimentar DASH prioriza o consumo
de alimentos minimamente processados e frescos. Têm muita semelhança com padrões
dietéticos recomendados para a saúde cardiovascular. Seguem as recomendações da
dieta DASH (CHALLA; AMEER; UPPALURI, 2020):
100
Os carboidratos devem ser inclusos na dieta, para fornecer energia. Dietas com
muito baixo teor de carboidratos podem levar à diminuição da ingestão calórica, mas
podem culminar no erro de aumento de gorduras prejudiciais como a saturada e trans.
101
Avaliação antropométrica: medida de peso e altura, medida da circunferência
abdominal e cálculo do índice de massa corporal. Prescrição e orientação da dieta com
base no diagnóstico médico e exames laboratoriais. Acompanhamento das mudanças
dietéticas e evolução antropométrica. Participação em ações com a população
(BARROSO et al., 2020).
IMPORTANTE
Exemplo de cardápio DASH simplificado:
COMPOSIÇÃO DE MACRONUTRIENTES
Caloria 1977
Carboidrato 203,02g (40,8%)
Proteína 165,38g (33,2%)
Lipídio 57,47g (26%)
Para ajudar no controle do estresse: Comece o seu dia agradecendo ou fazendo uma
meditação
Café da manhã
1 iogurte desnatado
2 colheres de sopa de aveia em flocos
1 unidade de banana
Lanche da manhã
1 unidade de maçã
3 unidades de Castanha do Pará sem sal
Almoço
1 filé médio de frango grelhado
4 colheres de sopa de arroz integral cozido
3 colheres de sopa de legumes variados cozidos
102
Lanche da tarde
1 copo de vitamina de abacate (1 copo de leite desnatado + ¼ de abacate maduro + 1 fio de
mel)
Jantar
1 filé de peixe assado ou grelhado
2 colheres de sopa cheias de batata doce cozida sem sal picada
3 colheres de sopa de grão-de-bico cozido
3 colheres de sopa de legumes variados cozidos
Ceia
1 kiwi
3 colheres de chá de semente de linhaça
FONTE: O autor
Paula Laboissière
No ano de 2017 foram contabilizadas oitenta e quatro mortes por hora, 829
mortes por dia e mais de 302 mil em todo o ano. Esses números são referentes
mortes em decorrência de doenças cardiovasculares e acidente vascular cerebral no
Brasil, que tem como o principal fator de risco a hipertensão arterial. O Ministério da
saúde afirma que a pressão alta afeta um em cada quatro brasileiros adultos.
O alerta vem por causa do dado de que dois terços do consumo de sal pela
população brasileira vêm do sal adicionado direto no prato, e que o brasileiro consome
mais que o dobro (quase 12g) da quantidade recomendada pela Organização mundial
da saúde (OMS).
103
No sistema único de saúde (SUS) há o fornecimento, de forma gratuita,
de medicamentos para hipertensão nas unidades básicas de saúde, e em 31 mil
unidades farmacêuticas credenciadas ao programa Farmácia Popular. Para retirar o
remédio é preciso apresentar documento de identidade, CPF e receita médica dentro
do prazo de validade (120 dias).
104
RESUMO DO TÓPICO 2
Neste tópico, você aprendeu:
• A hipertensão arterial sistêmica (HAS) é umas das causas mais comuns de doenças
cardiovasculares, afetando 20% da população adulta nas sociedades industrializadas.
• É caracterizada por elevação sustentada dos níveis pressóricos ≥ 140 e/ou 90 mmHg.
• Para o diagnóstico de um paciente com HAS é necessária uma avaliação que inclui a
confirmação do diagnóstico, a suspeita e a identificação de causa secundária, além
da avaliação do risco cardiovascular (CV).
• Para o tratamento da HAS já se está bem estabelecido o papel dos hábitos de vida,
mas também não podemos desconsiderar as interações com os tratamentos médicos
anti-hipertensivos.
• Evidências científicas apontam que as populações não ocidentalizadas têm baixas ta-
xas de hipertensão e prevalência muito baixa de aumentos relacionados à idade na PA
e DCV em geral, apesar de não receberem tratamento farmacológico, o que fornece
dados importantes do papel dos fatores de estilo de vida na prevenção da HAS.
105
• Os estudos com a dieta DASH iniciaram em 1992 pelo National Institute of Health
(NIH), que começou a financiar os projetos de pesquisa para verificar se intervenções
dietéticas específicas eram úteis para o tratamento da hipertensão.
106
AUTOATIVIDADE
1 A avaliação inicial de um paciente com HAS inclui a confirmação do diagnóstico, a
suspeição e a identificação da causa secundária e a avaliação do risco cardiovascular.
Sendo assim, o diagnóstico da HAS é caracterizado por elevação sustentada de níveis
pressóricos de:
3 A pressão arterial sofre alterações por meio do exercício físico e da dieta, sendo
que intervenções contribuem para o seu controle. Evidências sugerem que o ganho
de peso, consumo de álcool, alta ingestão ou deficiência de minerais específicos
relacionados à dieta contribuem para a hipertensão. Quais minerais estão envolvidos
com os níveis pressóricos?
a) ( ) Zinco e potássio.
b) ( ) Sódio e ferro.
c) ( ) Sódio e potássio.
d) ( ) Cobre e Cálcio.
a) ( ) Proteção CV.
b) ( ) Proteção hepática.
c) ( ) Proteção cerebral.
d) ( ) Nenhuma das anteriores.
107
5 Em 1990, teve origem a dieta DASH. Um plano alimentar DASH prioriza o consumo de
alimentos minimamente processados e frescos. Têm muita semelhança com padrões
dietéticos recomendados para a saúde cardiovascular. Quais alimentos compõem a
dieta DASH?
108
UNIDADE 2 TÓPICO 3 -
DOENÇAS CARDIOVASCULARES 2
1 INTRODUÇÃO
Segundo as estimativas do Global Burden of Diseases (GBD), a prevalência glo-
bal de Doença Arterial Coronariana (DAC) foi de 154 milhões em 2016, representando
32,7% da carga global de doenças cardiovasculares e 2,2% da carga global de doenças
(BAUERSACHS et al., 2019).
109
2 FISIOPATOLOGIA NA DOENÇA ARTERIAL CORONARIANA
Por muito tempo, a DAC (também conhecida como doença aterosclerótica) foi
considerada resultante do acúmulo de lipídios na parede arterial. Porém, nas últimas
décadas, houve um aumento nos estudos do campo vascular que forneceram mais
detalhes à definição inicial da doença aterosclerótica (BARBALHO et al., 2015).
FONTE: <https://imeb.com.br/wp-content/uploads/2017/06/Doen%C3%A7a-isqu%C3%
AAmica-do-cora%C3%A7%C3%A3o.jpg>. Acesso em: 26 fev. 2021.
110
Os fatores de riscos envolvidos na formação das placas aterogênicas estão
relacionadas ao estilo de vida (dieta aterogênica, sedentarismo, obesidade, tabagismo
e consumo de álcool), além disso, fatores com resistência à insulina (RI) ou diabetes
mellitus, hipertensão arterial, hipertrigliceridemia, baixos níveis de HDL colesterol e LDL
oxidado, alterações nos valores de homocisteína, proteína C reativa (PCR), fator VII de
coagulação do ativador tecidual do plasminogênio e do PAI-1 (BARBALHO et al., 2015).
111
Como já citado, a obesidade também tem um papel importante na formação da
doença aterosclerótica. Isso acontece devido ao aumento da produção de tecido adiposo
visceral o qual está associado diretamente aos níveis de PCR, o qual é proporcional ao
acúmulo de tecido adiposo visceral e aos componentes da RI.
DICAS
Para compreender didaticamente a formação da placa de ateroma, assista ao
vídeo disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=WVGMCCNSuW8.
A vasoconstrição pode alterar uma lesão que não limita o fluxo sanguíneo para
uma estenose grave ou completa e podem surgir sintomas de angina instável ou infarto
do miocárdio, acidente vascular encefálico isquêmico ou dor em repouso nos membros
inferiores pode se desenvolver quando placas instáveis se rompem e causam oclusão
aguda de artéria principal, com superposição de trombose ou embolia. Apesar disso,
a aterosclerose também pode causar morte súbita, sem nenhum sintoma pregresso
(THANASSOULIS, 2019).
112
Pacientes com doença documentada em um local (exemplo, artérias periféri-
cas) devem ser investigados para identificação da doença em outros locais, como nas
artérias coronárias e carótidas, e para isso pode ser utilizado exames de imagens não
invasivos que avaliarão a morfologia e características da placa: ultrassonografia vascu-
lar tridimensional; tomografia computadorizada (TC); angiografia por RMN.
113
Quando os níveis circulantes de ácido graxo ômega 6, ácido araquidônico (AA)
diminuem, os níveis circulantes e a incorporação da membrana celular dos ácidos graxos
ômega 3 (DHA e EPA) aumentam. Essa mudança no perfil ácidos graxos resulta em
uma secreção hepática reduzida de lipoproteínas ricas em triglicerídeos e diminuição na
hipertrigliceridemia (BÄCK, 2017).
Além disso, DHA e EPA servem como substrato para, por exemplo, as resolvinas
de mediadores de pró-resolução especializados (SPMs) das séries D e E, respectivamente.
No total, essa troca de mediador lipídico desviará a balança da inflamação para a pró-
resolução, inibirá a progressão da placa e aumentará a estabilidade da placa.
114
FIGURA 9 – MECANISMO DE AÇÃO DO ÔMEGA 3 NA ATEROSCLEROSE
Fígado
Placa aterosclerótica
Macrófago
↓ Triglicerídeos
↑ resolvinas(-
série D e E)
Pró-
aterogênico
Pró-
resolução
Endotélio
Plaquetas
Instabili- Progres-
dade da são da
placa placa
Agregação plaquetária
Vasodilatação
anti-agregação
FONTE: Adaptada de Bäck (2017)
115
O consumo de frutas e verduras (cinco porções ao dia) parece ter influência na
redução do risco de aterosclerose. O mecanismo envolvido ainda precisa ser esclarecido,
não se sabe se é decorrente da redução de gordura saturada, ou aumento da ingestão
de fibras e vitaminas (THANASSOULIS, 2019).
Que o consumo de fibras é importante é inegável, mas você sabe qual a relação
do consumo de fibras com o manejo da DAC? Vamos ver de forma resumida a seguir.
116
LEITURA
COMPLEMENTAR
HIPERCOLESTEROLEMIA FAMILIAR: DOENÇA AFETA NÍVEL DE
COLESTEROL NO SANGUE
Jornal da USP
Uma em cada 250 pessoas será afetada pelo problema na população em geral.
O componente genético, faz com que nas famílias afetadas uma em cada duas pessoas
desenvolvam a doença. Geralmente, várias gerações da mesma família apresentam
colesterol alto, e possuem antecedentes de problemas do coração, como infarto e
angina, de 10 a 15 anos antes da população em geral. Isso acontece, pois, o colesterol
apresenta níveis altos desde o nascimento do indivíduo, o valor pode variar de duas a
quatro vezes mais alto do que o normal, e é essa exposição precoce que leva a problemas
cardíacos mais cedo.
Além disso, o programa ainda conta com a triagem em cascata, que consiste
em convidar a família da pessoa que teve o diagnóstico positivo a fazer o teste genético
também, e isso acaba identificando o problema em outras pessoas e expandindo o
tratamento. Esse processo é importante, pois trata-se de uma doença silenciosa, e que
pode ser tratada quando identificada, seja através de medicações preventivas a fim de
reduzir o colesterol, associada a dieta.
O LDL-c, conhecido popularmente como colesterol ruim, tem seu valor normal
em torno de 110 mg/dL, em uma pessoa com hipercolesterolemia esse valor pode
alcançar o valor de 300 mg/dL.
117
Outra maneira de identificar o risco de o indivíduo desenvolver problemas car-
díacos é através de uma tomografia cardíaca, onde pode se identificar placas ateros-
cleróticas, que entopem as artérias em pessoas assintomáticas. Esse exame detecta a
calcificação nos vasos, sendo diretamente proporcional, quanto mais cálcio, mais placas
e quanto mais placas, maior o risco de infarto. Se identificado em uma pessoa com idade
biológica de 40 anos uma coronária repleta de cálcio, isso equivale a uma idade vascular
de alguém de 70 anos.
O programa Hipercol identificou que 20% dos pacientes já tiveram algum tipo de
evento vascular no passado, além disso já estão tratando a terceira geração de algumas
famílias e o tratamento foi gradualmente evoluindo.
118
RESUMO DO TÓPICO 3
Neste tópico, você aprendeu:
119
• Os ácidos graxos trans são altamente aterogênicos, sendo necessária sua exclusão
completa do plano alimentar.
120
AUTOATIVIDADE
1 Trata-se de uma doença caracterizada pela inflamação crônica da parede da artéria
e, como consequência, a formação de placas envolvendo células inatas do sistema
imune, as quais são responsáveis pelo depósito de substâncias constituintes destas
placas, principalmente lipídios, cálcio e células inflamatórias. Que doença é essa?
a) ( ) AGES.
b) ( ) Óxido nítrico.
c) ( ) Proteína C reativa.
d) ( ) Molécula de adesão da célula vascular 1.
121
4 Mudanças no estilo de vida são primordiais no controle da doença, porém na
alimentação muitas alterações são necessárias, como:
a) ( ) Lactobacillus.
b) ( ) AGCC.
c) ( ) Polifenóis.
d) ( ) Probióticos.
122
REFERÊNCIAS
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11, n. 11, p. 2690-0, 7 nov. 2019.
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Science Oa, [S. l.], v. 3, n. 4, nov. 2017.
BAUERSACHS, R. et al. Burden of Coronary Artery Disease and Peripheral Artery Disease:
a literature review. Cardiovascular Therapeutics, [S. l.], n. 72, p. 1-9, 26 nov. 2019.
123
CAMPOS, A. C. IBGE: obesidade mais do que dobra na população com mais de 20 anos.
Agência Brasil, Rio de Janeiro, 21 out. 2020. Disponível em: https://agenciabrasil.ebc.
com.br/saude/noticia/2020-10/ibge-obesidade-mais-do-que-dobra-na-populacao-
com-mais-de-20-anos. Acesso em: 26 fev. 2021.
GOMES, A. C.; HOFFMANN, C.; MOTA, J. F. The human gut microbiota: metabolism and
perspective in obesity. Gut Microbes, [S. l.], p. 1-18, 18 abr. 2018.
HEIANZA, Y.; QI, L. Impact of genes and environment on obesity and cardiovascular
disease. Endocrinology, [S. l.], v. 160, n. 1, p. 81-100, 3 dez. 2018.
HILL, J. O.; WYATT, H. R.; PETERS, J. C. Energy balance and obesity. Circulation, [S. l.], v.
126, n. 1, p. 126-132, 3 jul. 2012.
LACERDA, J. et al. Hipertensão arterial sistêmica. Belo Horizonte: Ed. da autora, 2020.
LEY, R. E. et al. Obesity alters gut microbial ecology. Proc. Natl. Acad. Sci. [S. l.], v.
102, n. 31, p. 11070-11075, ago. 2005.
124
LOOS, R. J. F.; YEO, G. S. H. The bigger picture of FTO – the first GWAS-identified obesity
gene. Nature Reviews Endocrinology, [S. l.], v. 10, n. 1, p. 51-61, 19 nov. 2013.
MA, J.; LI, H. The Role of gut microbiota in atherosclerosis and hypertension. Frontiers
in Pharmacology, [S. l.], n. 9, p. 1082-1090, 25 set. 2018.
NAVES, A. Nutrição clínica funcional: obesidade. São Paulo: Valeria Paschoal Editora
Ltda., 2014.
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StatPearls, 2020. Disponível em: https://www.ncbi.nlm.nih.gov/books/NBK537084/.
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PAOLI, A. et al. Beyond weight loss: a review of the therapeutic uses of very-low-
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PUJOL, A. P. Manual de formulações para prática clínica. Camboriú: Ed. do autor, 2020.
ROHDE, K. et al. Genetics and epigenetics in obesity. Metabolism, [S. l.], n. 92, p. 37-
50, mar. 2019.
125
SCHETZ, M. et al. Obesity in the critically ill: a narrative review. Intensive Care Medicine,
[S. l.], v. 45, n. 6, p. 757-769, 19 mar. 2019.
TOMIYAMA, A. J. Stress and obesity. Annual Review of Psychology, [S. l.], v. 70, n. 1,
p. 703-718, 4 jan. 2019.
YAU, Y. H. C.; POTENZA, M. N. Stress and eating behaviors. Minerva Endocrinol, [S. l.],
v. 38, n. 3, p. 255–267, set. 2013.
126
UNIDADE 3 —
TRATO GASTROINTESTINAL
E DOENÇAS CRÔNICAS
NÃO TRANSMISSÍVEIS NA
NUTRIÇÃO CLÍNICA
OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM
A partir do estudo desta unidade, você deverá ser capaz de:
PLANO DE ESTUDOS
A cada tópico desta unidade você encontrará autoatividades com o objetivo de reforçar
o conteúdo apresentado.
CHAMADA
Preparado para ampliar seus conhecimentos? Respire e vamos em frente! Procure
um ambiente que facilite a concentração, assim absorverá melhor as informações.
127
CONFIRA
A TRILHA DA
UNIDADE 3!
Acesse o
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128
UNIDADE 3 TÓPICO 1 —
DIABETES MELLITUS TIPO 1
1 INTRODUÇÃO
A diabetes tipo 1 (DM1) é uma doença heterogênea, trata-se de uma destruição
das células beta pancreáticas, ocasionando a deficiência absoluta de insulina. Alguns
casos se atribuem a uma destruição autoimune mediada de células beta (tipo 1a),
enquanto uma minoria de casos resulta de destruição idiopática ou falha de células
beta (tipo 1b) (MAAHS et al., 2010). 5 a 10% do total de casos de diabetes do mundo é
proveniente da DM1, sendo mais comum em crianças e adolescentes, apesar do diabetes
tipo 2 (DM2) ser mais frequentemente diagnosticado na juventude (MAAHS et al., 2010).
129
É importante que tenhamos informações sobre a incidência (frequência de
novos casos) e a prevalência (casos existentes) para que possamos determinar a carga
que o DM representa no sistema de saúde.
A maioria dos países despendem de 5 a 20% do seu gasto total com saúde para
o tratamento do DM, visto que esses pacientes fazem uma maior utilização dos serviços
de saúde, perdem a produtividade, requerem cuidados prolongados para tratar compli-
cações crônicas como: insuficiência renal, cegueira, problemas cardíacos e pé diabético.
130
2 FISIOPATOLOGIA DA DIABETES MELLITUS TIPO 1
DICAS
Antes de começarmos a discutir a fisiopatologia da DM1, é importante resgatar
alguns conceitos de bioquímica e fisiologia. Por isso, assista ao vídeo clicando
disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=4CRK3VAtojc.
Como sabemos, a DM1 tem um caráter multifatorial, tendo como base a pre-
disposição genética, a qual, quando sofre ação de fatores ambientais, desencadeia
agressões contra as células β pancreáticas (NEVES et al., 2017). Nos Estados Unidos,
indivíduos com parentes de primeiro grau com DM1 tem risco de 1 em 20 de desenvolver
DM1 ao longo da vida, em comparação com o risco de 1 em 300 ao longa da vida para a
população em geral.
Irmãos de crianças com início de DM1 antes dos 5 anos de idade têm um risco
cumulativo de diabetes três a cinco vezes maior aos 20 anos, em comparação com
irmãos de crianças diagnosticadas entre 5 e 15 anos de idade. Assim, o início do DM1
antes dos 5 anos é um marcador de alto risco familiar e sugere um papel importante para
os fatores genéticos (MAAHS et al., 2010). Falando dos genes agora, existem múltiplos
genes implicados na suscetibilidade (e resistência) ao DM1, os mais importantes são
os antígenos leucocitários humano (HLA) no cromossomo 6, em particular de classe II,
sendo que dois haplótipos de suscetibilidade na região HLA de classe II são considerados
os principais marcadores de suscetibilidade para DM1 (MAAHS et al., 2010).
131
Esses fatores ambientais que iniciam a destruição das células β pancreáticas
ainda são desconhecidos, porém, há hipóteses de que fatores nutricionais possam estar
envolvidos como: leite de vaca, amamentação, glúten, vitamina D e E.
132
FIGURA 1 – FATORES GENÉTICOS E AMBIENTAIS NA FISIOPATOLOGIA DO DIABETES
Ambiente
Genes ex: vírus, microbioma, ativ. Física,
fatores dietéticos
Hiperglicemia
Complicação
133
No DM1 a secreção anormal de insulina pode ocorrer bem antes do diagnóstico,
sendo que um declínio gradual começa pelo menos dois anos antes do diagnóstico e
acelerando próximo ao diagnóstico. As células β-pancreáticas apresentam um declínio
em sua sensibilidade à glucose, podendo ocorrer um período de tempo semelhante.
Então, à medida que a resposta insulínica inicial declina, a resposta insulínica posterior
torna-se maior, indicando um possível mecanismo compensatório (SKYLER et al., 2016).
Agora vamos conversar um pouco do diagnóstico do DM1.
Estágios
1 2 3
Autoimunidade Anticorpos positivos Anticorpos positivos Anticorpos positivos
Hiperglicemia
Disglicemia: níveis
evidente e de início
glicêmicos alterados,
recente, critérios
compatíveis com pré-
Normoglicemia: clássicos para
Níveis glicêmicos diabetes (jejum entre
glicemia de jejum, diagnóstico de DM
para diagnóstico 100 e 125 mg/dL, 2h
TOTG e HbA1c normais. (glicemia de jejum
no TOTG entre 140 e
≥ 126mg/dL, 2h no
199 mg/dL, ou HbA1c
TOTG ≥ 200mg/dL,
entre 5,7 e 6,4%).
ou HbA1c ≥ 6,5%*).
Sintomas Ausentes Ausentes Presentes
Legenda: HbA1c – hemoglobina glicada; TOTG – teste oral de tolerância à glicose; DM –
Diabetes mellitus.
*Em pacientes sintomáticos, deve-se preferir diagnóstico pelas dosagens diretas de glicemia
em vez da determinação de HbA1c.
134
Após o diagnóstico inicial e a estabilização metabólica, alguns pacientes com
DM1 mantêm a capacidade de produzir insulina endógena.
Uma tecnologia interessante, porém, com alto custo, são as bombas de infusão
contínua de insulina, que controlam de forma mais eficaz os níveis de glicose (ATKIN-
SON; EISENBARTH; MICHELS, 2014). Estudos mostram que pacientes adultos com DM1,
que fizeram uso da bomba de infusão, apresentaram níveis mais baixos de hemoglobina
glicada (HbA1C), atingindo níveis desejados de HbA1C.
135
NOTA
• Glicemia em jejum: coletada em sangue periférico após
jejum calórico de no mínimo 8 horas;
• TOTG: previamente à ingestão de 75 g de glicose dissolvida
em água, coleta-se uma amostra de sangue em jejum para
determinação da glicemia; coleta-se outra, então, após
duas horas da sobrecarga oral. Importante reforçar que a
dieta deve ser a habitual e sem restrição de carboidratos
pelo menos nos três dias anteriores à realização do teste.
Permite avaliação da glicemia após sobrecarga, que pode
ser a única alteração detectável no início do DM, refletindo
a perda de primeira fase da secreção de insulina;
• Hemoglobina glicada (HbA1c): oferece vantagens ao refletir
níveis glicêmicos dos últimos três a quatro meses e ao sofrer
menor variabilidade dia a dia e independer do estado de
jejum para sua determinação. Vale reforçar que se trata
de medida indireta da glicemia, que sofre interferência
de algumas situações, como anemias, hemoglobinopatias
e uremia, nas quais é preferível diagnosticar o estado de
tolerância à glicose com base na dosagem glicêmica direta.
Outros fatores, como idade e etnia, também podem interferir
no resultado da HbA1c (DIRETRIZES [...], 2019, p. 23).
136
Existem diversos tipos de insulinas, as insulinas humanas como a insulina
regular (R) e a insulina intermediária (NPH – Neutral Protamine Hagedorn), os análogos
de insulina, os análogos de insulina de ação ultrarrápida, análogos de ação prolongada,
vamos entender cada uma delas no Quadro 2:
QUADRO 2 – INSULINAS
137
Insulina Insulina
ultrarrápida ultrarrápida
O número indica
e insulina N e insulina N
o percentual Aplicada junto a uma
Insulina Pré-misturada (de acordo (de acordo
de ultrarrápida ou mais refeições ao
análoga com a com a
na mistura, o dia. Deve ser injetada
• NovoMix® 30 proporção proporção
restante tem o de 0 a 15 minutos
• Humalog Mix® 25 do produto: do produto:
perfil de ação antes do início das
• HumalogMix® 50 25, 30 ou 25, 30 ou
compatível com refeições.
50% da 50% da
insulina N
dose de dose de
ultrarrápida) ultrarrápida
138
3 DIETOTERAPIA NA DIABETES MELLITUS TIPO 1
Estudos clínicos e epidemiológicos mostram que a terapia nutricional é
importante no tratamento do DM1, porém, é importante deixar claro que embora
apresente pequenas diferenças, a composição indicada para portadores da doença
assemelha-se à da recomendação para a população em geral (LOTTENBERG, 2008).
139
3.1 CONTAGEM DE CARBOIDRATOS
Como sabemos, os carboidratos são os macronutrientes que mais afetam
a glicemia, e quase 100% são convertidos em glicose em um tempo que varia de 15
minutos a duas horas.
DICAS
Para entender mais sobre contagem de carboidratos assista ao vídeo:
https://www.youtube.com/watch?v=JGN3mOOvVwU.
140
3.2 MICROBIOTA
Siljander, Honkanen e Knip (2019) hipotetizam que a microbiota intestinal
pode contribuir para o desenvolvimento de DM1 por meio de duas fases: o processo
começa no nascimento e termina com o aparecimento dos primeiros autoanticorpos
associados ao DM1. Durante essa fase, é importante um treinamento bem-sucedido
do sistema imunológico em desenvolvimento para estabelecer a autotolerância e
controlar as respostas inflamatórias. Se durante esse processo a microbiota intestinal
sofre um desequilíbrio nas proporções de Bacteroides, Bifidobacteria e Eschericia coli,
a maturação do sistema imunológico fica comprometida e aumenta a suscetibilidade a
doenças imunomediadas (SILJANDER; HONKANEN; KNIP, 2019).
O processo ainda será logo, estudos terão que ser aprofundados e a ciência ain-
da está no início dos entendimentos sobre o papel do microbioma intestinal no desen-
volvimento de DM1 e doenças imunomediadas (SILJANDER; HONKANEN; KNIP, 2019).
90 ANOS DE INSULINA
141
nos quais medicamentos e tratamentos são prescritos baseados em estatística e
médias. Muitas vezes os estudos clínicos são feitos em ambientes controlados e
demonstram eficácia, porém, quando se extrapola para a vida real não conseguem
ser reproduzidos. Mas esses resultados geram evidências que se transformam em
diretrizes, posicionamentos e recomendações da sociedade científica.
142
RESUMO DO TÓPICO 1
Neste tópico, você aprendeu:
• A diabetes tipo 1 (DM1) é uma doença heterogênea, trata-se de uma destruição das
células beta pancreáticas ocasionando a deficiência absoluta de insulina.
• A maioria dos países despendem de 5 a 20% do seu gasto total com saúde para o
tratamento do DM.
• Existem, também, associações bem elucidadas entre DM1 e outras doenças au-
toimunes, como doença autoimune de tireoide, doença de Addison, doença celíaca e
gastrite autoimune.
• No DM1 a secreção anormal de insulina pode ocorrer bem antes do diagnóstico, sen-
do que um declínio gradual começa pelo menos dois anos antes do diagnóstico e
acelerando próximo ao diagnóstico.
• Já existem vários métodos para otimização metabólica por meio da terapia com insulina.
143
• O tratamento da DM1 é basicamente o uso da insulina, o qual é imprescindível e deve
ser instituído assim que o diagnóstico for feito.
144
AUTOATIVIDADE
1 Como sabemos, a DM1 tem um caráter multifatorial, tendo como base a predisposição
genética, a qual, quando sofre ação de fatores ambientais, desencadeia agressões
contra as células β pancreática. Existem múltiplos genes implicados na suscetibilidade
(e resistência) ao DM1, os mais importantes são:
a) ( ) PDCA.
b) ( ) HLA.
c) ( ) BLA.
d) ( ) DLA.
3 Quando a massa e a função das células β-pancreáticas são afetadas, fazem com
que os níveis de _____________________ sejam incapazes de responder suficientemente às
demandas de glicose, levando a níveis altos de hiperglicemia, configurando assim o
DM. Assinale a alternativa que preenche corretamente a lacuna.
a) ( ) Leptina.
b) ( ) Insulina.
c) ( ) Adiponectina.
d) ( ) Cortisol.
145
4 O DM pode ser diagnosticado por meio da realização de exames laboratoriais e um
conjunto deles é importante para determinar a tolerância à glicose. As categorias de
tolerância à glicose são definidas com base em quais exames?
146
Assinale a alternativa CORRETA:
a) ( ) As características I, II e III estão corretas.
b) ( ) As características IV, V e VI estão incorretas.
c) ( ) Apenas a característica VI está incorreta.
d) ( ) Todas as características estão corretas.
a) ( ) Insulinas análogas.
b) ( ) Análogos lentos.
c) ( ) NPH humana.
d) ( ) Nenhuma das anteriores.
147
148
UNIDADE 3 TÓPICO 2 -
DIABETES MELLITUS TIPO 2
1 INTRODUÇÃO
As Doenças Crônicas Não Transmissíveis (DCNT) são consideradas causas
importantes de morbidade e mortalidade no mundo. O Estudo de Carga Global de
Doença coloca que as DCNT correspondiam, em 1990, por 43% dos anos de vida perdidos
ajustados por incapacidade (Disability Adjusted Life Years – DALY), e, em 2010, passou
a representar 54% (COSTA et al., 2017).
149
Quando o nível de glicose aumenta no sangue (após uma refeição), as
células β pancreáticas promovem o aumento da insulina, esse aumento estimula
a gliconeogênese e a glicólise com consequente produção de glicogênio e piruvato.
Porém, quando o nível plasmático de glicose cai, sintomas de alerta são acionados e
mecanismos de contrarregulação envolvem outras respostas hormonais, nas quais as
células β pancreáticas reduzem a síntese de insulina, mas o nível de glicose continua
caindo, e aí entra um incremento na secreção de glucagon pelas células α pancreáticas,
o qual estimula a produção hepática de glicose via glicogenólise (quebra de glicogênio)
e via gliconeogênese (convertendo ácido lático, aminoácidos e glicerol). Porém, quando
esses sistemas falham, ocorrem o DM (BARREIROS, 2015).
A inflamação pode ser considerada um fator comum entre o DM1 e DM2, que leva
à destruição das células β pancreáticas. No DM1, por exemplo, as células β danificadas
liberam autoantígenos que se apresentam ao T-helper via células apresentadoras de
antígenos. Citocinas ativas de liberação de T auxiliares que aumentam a inflamação, por
sua vez induzem espécies reativas de oxigênio (ROS, do inglês reactive oxygen specie)
e Fas, levando à apoptose das células β. Da mesma forma, no DM2, os tecidos adiposos
liberam citocinas que aumentam a inflamação e afetam a sinalização da insulina nas
células β via ativação das vias JNK (do inglês c-Jun NH2-terminal kinase) e NF-κB (do
inglês, Nuclear factor-κB) (Figura 2) (TAN et al., 2019).
FIGURA 2 – INFLAMAÇÃO E DM
Legenda: APC - Célula apresentadora de antígeno; TNF-α /-β - fator de necrose tumoral α e β;
MCP-1 - proteína quimioatrativa de monócitos-1; IL-6 – interleucina-6; IL1β - interleucina-1β; PAI-
1 - inibidor-1 do ativador do plasminogênio; RI – Resistência à insulina.
FONTE: Tan et al. (2019)
150
O DM2 corresponde a 90-95% dos casos de DM. É mais comum no adulto depois
dos 40 anos, mas pode ocorrer em populações com elevada prevalência da doença.
Trata-se de uma doença silenciosa, que passa despercebida durante anos, e seu
diagnóstico só é feito quando surgem complicações ou valores alterados nos exames
de sangue (BARREIROS, 2015).
Outros fatores de risco que devem ser levados em consideração são a história
prévia de diabetes gestacional, uso de medicações como corticoides, diuréticos
tiazídicos, antipsicóticos e atentar-se para a presença de comorbidades associadas
ao DM2 como periodontite, infecções micóticas, hepatite C e infecções virais crônicas.
Se fatores de risco cardiovasculares forem identificados, estes devem ser tratados
corretamente (DIRETRIZES [...], 2019).
151
A glicemia de duas horas pós-sobrecarga diagnostica mais casos que os outros
testes, mas é o menos utilizado. Quando mais de um teste é feito e ocorrem resultados
diferentes confirmados, considera-se aquele que diagnostica o DM2 ou o pré-diabetes
(DIRETRIZES [...], 2019). Confira no Quadro 4 os critérios diagnósticos para o DM2.
Glicose 2
horas pós
Glicose Glicose ao
sobrecarga HbA1c
em jejum acaso (mg/ Observações
com 75g de (%)
(mg/dL) dL)
glicose (mg/
dL)
OMS emprega valor
de corte de 110 mg/
Normoglicemia < 100 < 140 - < 5,7
dL para normalidade
da glicose em jejum.
Positividade de
Pré-diabetes
qualquer dos
ou risco ≥ 100 e < ≥ 5,7 e
≥ 140 e <200# - parâmetros confirma
aumentado 126* < 6,5
diagnóstico de pré-
para DM
diabetes.
Positividade de
qualquer dos
parâmetros confirma
diagnóstico de
≥ 200 com DM. Método de
sintomas HbA1c deve ser
Diabetes
≥ 126 ≥ 200 inequívocos ≥ 6,5 o padronizado.
estabelecido
de Na ausência
hiperglicemia de sintomas de
hiperglicemia, é
necessário confirmar
o diagnóstico pela
repetição de testes.
Legenda: OMS: Organização Mundial da Saúde; HbA1c: hemoglobina glicada; DM: diabetes
mellitus.
* Categoria também conhecida como glicemia de jejum alterada.
# Categoria também conhecida como intolerância oral à glicose.
152
Os esquemas insulínicos variam de uma única injeção/dia de insulina de ação
longa ou intermediária (geralmente ao ir dormir) até esquemas com múltiplas doses,
utilizados para pacientes dom DM1, mas, geralmente, prefere-se utilizar o esquema
mais simples e eficaz.
Essa hipoglicemia, causada por fármacos de longa ação pode persistir por
dias após a interrupção do tratamento, ocasionalmente pode causar incapacidades
neurológicas permanentes e levar a morte. Indivíduos que utilizam as sulfonilreias em
monoterapia acabam precisando de outros fármacos para atingir uma glicemia normal,
sugerindo que as sulfonilreias podem esgotar a função das células β (BRUTSAERT,
2019). Além disso, essa classe medicamentosa promove um ganho de peso e parece
perder a eficácia mais rapidamente que a metformina (PFEIFFER; KLEIN, 2014).
153
Já as biguanidas agem de forma diferente, reduzindo a glicemia plasmática
por diminuírem a produção hepática de glicose (gliconeogênese e glicogenólise). Elas
sensibilizam perifericamente a insulina, mas essa captação periférica de glicose pode
ser resultado da redução de glicose decorrente dos seus efeitos hepáticos. Também
possuem a capacidade de diminuir os níveis de lipídios e, consequentemente, diminuir
a absorção de nutrientes no trato gastrointestinal (TGI), aumentar a sensibilidade
das células β pancreáticas à glicose circulante e reduzir as concentrações de PAI-1,
exercendo um efeito antitrombótico.
O problema está na sua eficácia e nos efeitos adversos, visto que os inibidores
da α-glicosidase são menos eficazes que outros fármacos e os pacientes abandonam
o tratamento por apresentarem dispepsia, flatulência e diarreia. Porém, são fármacos
seguros e podem ser usados em associação a outros fármacos orais e insulina
(BRUTSAERT, 2019).
154
Outra classe de medicamentos são os inibidores da dipeptil peptidase 4 (DPP-
4), que são uma enzima da membrana plasmática amplamente expressa em todo o
organismo, principalmente nos linfócitos T circulantes, pâncreas exócrino, TGI e cérebro.
A DPP-4 afeta polipeptídeo insulinotrópico dependente de glicose (GIP) e peptídeo
semelhante ao glucagon (GLP-1), mas também outras moléculas como o polipeptídeo
pancreático (PP), quimiocinas e substância P. O mecanismo de ação resumido é a
inibição da degradação enzimática das incretinas, incluindo GLP-1 e GIP, aumentando o
nível de GLP-1 bioativo endógeno, consequentemente, aumenta a secreção de insulina
de forma dependente da glicose (UPADHYAY et al., 2018). Um dos efeitos colaterais é o
aumento do risco de pancreatite, mas, de qualquer forma, são considerados seguros e
bem tolerados (BRUTSAERT, 2019).
155
DICAS
Leia mais sobre os tratamentos para o DM2 acessando os artigos indicados
a seguir:
• https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/PMC3952010/
• https://pubmed.ncbi.nlm.nih.gov/28920861/.
Saber o que comer e manter o padrão alimentar ideal é um desafio, por isso a ideia
de fazer uma dieta para uma doença crônica, como o DM, pode afastar muitas pessoas.
A terapia nutricional foi estabelecida para guiar uma abordagem sistemática, baseada
em evidências, para o controle do DM através da dieta, sua eficácia foi comprovada, mas
ocorrem dificuldades importantes nesse processo (FOROUHI et al., 2018).
156
Vimos, no Tópico 1, a dietoterapia relacionada ao DM1, e a dietoterapia relacionada
ao DM2 não é diferente, pois a Sociedade Brasileira de Diabetes traz as recomendações
dietéticas para pacientes com DM de uma forma geral, sendo que as recomendações são
semelhantes às para a população em geral, como podemos rever no Quadro 5.
157
Quando o carboidrato dietético é restrito, a insulina diminui, os processos
metabólicos mudam e favorecem a oxidação de gordura, como consequência esses
indivíduos apresentam melhora no perfil lipídico, melhora dos processos lipotóxicos que
prejudicam as funções das células β pancreáticas e a ação da insulina (PUJOL, 2017).
A perda de peso para pacientes com DM2 é recomendada, visto que a gordura
visceral, principalmente, está relacionada ao aparecimento de DM2. Porém, é necessário
prestar atenção quanto à estratégia dietética a ser utilizada, devido a fatores como:
adesão ao longo do tempo, a qualidade da dieta com baixo teor de carboidratos e
gorduras (FOROUHI et al., 2018)
158
Essa alteração na razão Bateroidetes/Firmicutes é um fator ambiental que
fornece material genético para uma capacidade aumentada de captar energia da die-
ta. Essa maior captação de energia promove a lipogênese e aumenta o número e o
tamanho das gotículas de lipídeos nos tecidos extra intestinais (WOLDEAMLAK; YIR-
DAW; BIADGO, 2019).
Marcelo Bertoluci
159
Esses níveis muito altos de glicose no sangue, promovem uma série de
eventos como: o colesterol se torna mais agressivo, formando mais placas nas
artérias coronárias, favorece a maior produção de coágulos que também podem
obstruir as artérias, e isso gera falta de oxigênio para o tecido e o tecido sadio morre,
sendo substituído por uma cicatriz, que dependendo da extensão pode ser fatal ou
deixar sequelas irreversíveis, como uma insuficiência cardíaca, por exemplo, explica
o Dr. Marcelo.
Tudo isso somado aos fatores que elevam o risco como hipertensão,
colesterol alto, obesidade, sedentarismo, tabagismo e o histórico familiar de infarto
agudo do miocárdio se potencializam quando a pessoa tem diabetes e devem ser
controlados com rigor, sendo necessário acompanhamento médico periódico.
160
O Dr. Marcello enfatiza que, na população em geral, essas complicações
vasculares afetam mais os homens do que as mulheres, porém, quando se trata
de diabetes essas diferenças desaparecem. Homens e mulheres acabam tendo
incidências semelhantes de infarto agudo do miocárdio e AVC, mas representam
o dobro quando comparados a pessoas sem diabetes. E vale salientar que quando
ocorre em mulheres elas tendem a ser mais graves, com maior mortalidade.
161
RESUMO DO TÓPICO 2
Neste tópico, você aprendeu:
• As Doenças Crônicas Não Transmissíveis (DCNT) são consideradas uma causa impor-
tante de morbidade e mortalidade no mundo.
• A Diabetes Mellitus tipo 2 (DM2) é uma das DCNT e considerada uma epidemia, que
corresponde por aproximadamente 90% dos casos de diabetes.
• O DM2 corresponde a 90 a 95% dos casos de DM. É mais comum em adultos depois
dos 40 anos, mas pode ocorrer em populações com elevada prevalência da doença.
• Quando o nível de glicose aumenta no sangue (após uma refeição), as células β pan-
creáticas promovem o aumento da insulina, este aumento estimula a gliconeogênese
e a glicólise com consequente produção de glicogênio e piruvato.
• A inflamação pode ser considerada um fator comum entre o DM1 e DM2, o que leva à
destruição das células β pancreáticas.
162
• Saber o que comer e manter o padrão alimentar ideal é um desafio, por isso a ideia de
fazer uma dieta para uma doença crônica como o DM pode afastar muitas pessoas.
• Não há uma composição dietética ideal para pessoas com DM, devendo prestar
atenção às metas individuais recomendadas.
• A perda de peso para pacientes com DM2 é recomendada, visto que a gordura
visceral, principalmente, está relacionada ao aparecimento de DM2.
163
AUTOATIVIDADE
1 Com o envelhecimento da população, a prevalência da obesidade e do sedentarismo
e os processos de urbanização estão envolvidos com o aumento da incidência e
prevalência do DM2 em todo o mundo. Indivíduos com DM2 geram um alto custo
social e financeiro ao paciente e ao sistema de saúde, pois o DM2 está associado a
complicações. De acordo com o exposto, quais as complicações graves em que o
DM2 está envolvido?
a) ( ) Citocinas.
b) ( ) Hormônios.
c) ( ) Células.
d) ( ) Mucosa.
a) ( ) Células de defesa.
b) ( ) Células β pancreáticas.
c) ( ) Células langerhan.
d) ( ) Nenhuma das anteriores.
4 A DM2 é uma doença silenciosa, que passa despercebida durante anos, e seu diag-
nóstico só é feito quando surgem complicações ou valores alterados nos exames de
sangue. De acordo com o exposto, qual é a principal característica metabólica da DM2?
164
5 Para identificar as alterações do DM2, é necessário fazer um rastreamento que con-
siste em um conjunto de procedimentos que tem como objetivo diagnosticar o DM2
ou a condição de pré-diabetes em indivíduos assintomáticos. Isso é importante para
a saúde pública, pois a possibilidade de diagnóstico e tratamento precoce, minimiza
os riscos de complicações cardiovasculares, por exemplo. De acordo com o exposto,
o procedimento de rastreamento do DM2 deve ser realizado em qual população?
a) ( ) Baixo risco.
b) ( ) Médio risco.
c) ( ) Alto risco.
d) ( ) Nenhuma das anteriores.
I- Glicemia de jejum.
II- Glicemia de 2 horas pós-sobrecarga.
III- Hemoglobina glicada (HbA1c).
7 O tratamento farmacológico do DM2 pode ser feito através da insulina, com variação nos
esquemas de aplicação. Porém, em alguns pacientes, os níveis da glicemia não são
controlados adequadamente havendo a necessidade de combinar fármacos. Além da
insulina, os pacientes DM2 contam com o auxílio de qual classe medicamentosa?
165
8 Quando o __________________ dietético é restrito à __________________ diminui, os processos
metabólicos mudam, e favorecem a oxidação de __________________, como consequência
esses indivíduos apresentam melhora no perfil __________________, melhora dos processos
lipotóxicos que prejudicam as funções das células β pancreáticas e a ação da insulina.
Assinale a alternativa que melhor responde as lacunas:
9 Dietas de baixo teor de carboidratos e índice glicêmico para controle de peso ganha-
ram popularidade no controle da DM2. Porém, qual é a melhor abordagem nutricional
para o paciente com DM2?
a) ( ) Probióticos e prebióticos.
b) ( ) Antibióticos.
c) ( ) Hipoglicemiantes.
d) ( ) Nenhuma das anteriores.
166
UNIDADE 3 TÓPICO 3 -
SÍNDROME METABÓLICA
1 INTRODUÇÃO
Nos últimos anos, a Síndrome Metabólica (SM) foi alvo de muitos estudos. Foi
definida como um grupo de fatores de risco inter-relacionados de origem metabólica
que contribuem para o desenvolvimento de doenças cardiovasculares (DCV) e DM2
(PENALVA, 2008).
167
Como já vimos, o acúmulo de gordura visceral, no abdômen, demonstra ser
um gatilho primário para a maioria das patologias envolvidas na SM, confirmando a
importância da ingestão calórica excessiva como um dos principais fatores. De todos
os mecanismos propostos, a resistência à insulina, a ativação neuro-hormonal e a
inflamação crônica parecem ser os principais pilares na iniciação, progressão e transição
de SM para DCV (ROCHLANI et al., 2017) (Figura 3).
168
Outro fator que a resistência à insulina contribui, é para o desenvolvimento de
hipertensão, pois há perda do efeito vasodilatador da insulina e vasoconstrição causada
pelos AGL. Além disso, aumentam a ativação simpática e reabsorção de sódio nos rins.
A resistência à insulina também causa aumento da viscosidade do sangue, indução de
um estado pró-trombótico e liberação de citocinas pró-inflamatórias do tecido adiposo,
contribuindo para o surgimento de DCV (ROCHLANI et al., 2017).
169
Como podemos perceber, a ativação de várias vias pró-aterogênicas conver-
gem em uma via comum final de inflamação que leva a manifestações clínicas da SM.
Timóteo (2018) revisou dietas com restrições mais intensas de alguns macronu-
trientes (low carb, mediterrânea e low fat) e concluiu que em todas as dietas é possível
uma perda de peso, principalmente nos primeiros seis meses, porém, nas dietas low
carb isso é um pouco mais significativo. O autor observa um pequeno aumento de peso
a partir dos 12 meses, com estabilização até dois anos. Fatores de risco, como coleste-
rol HDL e triglicerídeos, parecem responder mais favoravelmente a uma dieta baixa em
carboidratos (low carb) ou mediterrânea, bem como os outros parâmetros relacionados
à resistência à insulina (TIMÓTEO, 2018).
170
Além do plano alimentar, alguns suplementos alimentares promovem efeitos
benéficos à saúde além do valor nutricional básico, e são denominados de nutracêuticos.
Vários compostos naturais derivados de extratos de plantas, ervas, óleos essenciais,
especiarias apresentam benefícios no manejo da SM (ROCHLANI et al., 2017).
O alho (Allium sativum), tempero muito usado na nossa culinária, também apre-
senta propriedades medicinais antioxidantes e antitrombóticas, demonstrando melhora
em perfis lipídicos como colesterol e triglicerídeos.
171
A inflamação de baixo grau causada foi denominada de endotoxemia metabólica
por seu efeito inibitório sobre a função normal da glicemia. Surgiram, então, os primeiros
relatos de ativação bacteriana de LPS de receptores Toll-like (TLR) levando a uma
resposta imune inata que prejudicou a sensibilidade à insulina (DABKE; HENDRICK;
DEVKOTA, 2019).
DICAS
• LPS: as bactérias Gram-negativas apresentam em sua superfície celular
os LPS que funcionam como antígenos, estimulando a resposta imune do
hospedeiro (MORAES et al., 2014).
• TLR: a identificação dos Toll-Like Receptors (TLR) permitiu entender como
nosso organismo reconhece antígenos (como o LPS) e como ocorrem as
reações pró-inflamatórias e distúrbios metabólicos. Vários TRLs (TRL 1, 3, 5,
6, 7, 9 e 10) têm sido descritos como mecanismos para gerar inflamação e
resistência à insulina, destacando-se especialmente as descobertas relativas
ao TRL2, TRL4 e TLR5 (MORAES et al., 2014).
Em um paciente que ingere uma dieta rica em gordura e pobre em fibras, por
exemplo, promove um desequilíbrio bacteriano chamado disbiose intestinal. Isso resulta
em concentrações anormais de metabólitos que interrompem a integridade das jun-
ções apertadas mediadas por GLP-2.
172
FIGURA 4 – INTERAÇÃO ENTRE MICROBIOTA INTESTINAL COM A BARREIRA EPITELIAL EM
DOENÇAS METABÓLICAS
173
Como vimos, as evidências científicas mostram que as alterações microbianas
intestinais levam à obesidade e SM, diretamente ou como consequência dos distúrbios
na microbiota intestinal, causando inflamação, a qual, por sua vez, promove o desenvol-
vimento de SM. Os metabólitos derivados da microbiota como os ácidos graxos de cadeia
curta (AGCC) participam dessa inflamação de baixo grau, assim como no apetite e regula-
ção da ingestão energética (SANTOS-MARCOS; PEREZ-JIMENEZ; CAMARGO, 2019).
NOTA
Ácidos graxos de cadeia curta: os ácidos graxos de cadeia curta (AGCC)
são compostos orgânicos que podem ser obtidos endogenamente (meta-
bolismo de gorduras e carboidratos) ou exogenamente (absorção de pro-
dutos formados pela fermentação bacteriana de carboidratos) sendo essa
a principal fonte de AGCC no organismo (VINOLO, 2010). Os AGCC abun-
dantes encontrados no intestino são o acetato, propionato e o butirato e
sua produção no intestino está relacionada a diversas funções intestinais
como motilidade, absorção e fonte energética para os colonócitos (OLIVEI-
RA, 2014).
Essa redução nas taxas bacterianas produtoras de AGCC, e uma menor disponi-
bilidade desses ácidos influenciam diretamente o eixo intestino-cérebro. Já foi relatado
que os AGCC induzem liberação de moléculas como GLP-1 (do inglês, glucagon-like
peptide-1) ou grelina, que agem a nível cerebral modulando a ação da insulina e do ape-
tite, influenciando assim no desenvolvimento da obesidade e SM (SANTOS-MARCOS;
PEREZ-JIMENEZ; CAMARGO, 2019).
Uma dieta rica em carboidratos, baixo teor de gorduras e alta ingestão de fibras
ou uma dieta com alto teor de gorduras boas, como a dieta mediterrânea, que apresen-
tam um alto consumo de frutas e vegetais, é benéfica para restaurar a microbiota de
indivíduos com SM que se encontram em disbiose.
174
Como podemos ver na Figura 5, as estratégias nutricionais atuam em diferentes
órgãos e tecidos e têm se mostrado capaz de reduzir a inflamação e a resistência à
insulina, e, consequentemente, melhorando a SM (SANTOS-MARCOS; PEREZ-JIMENEZ;
CAMARGO, 2019).
Acúmulo de gordura
Ganho de peso
Ingestão de alimentos
Oxidação de ácidos
graxos Cél. Treg anti-inflamatórias
Captação de glicose Oxidação de ácidos graxos
Captação de glicose
Citocinas inflamatórias
Translocação bacteriana
Akkermansia muciniphila
Proteínas de junção
apertada
Estruturas vilosas
Citocinas inflamatórias
Translocação bacteriana
Citocinas anti-inflamatórias
Citocinas pró-inflamatórias
175
Além disso, a suplementação de probióticos e prebióticos aumentam a produção
de AGCC e se torna uma alternativa válida para o tratamento da SM com modulação
da microbiota intestinal. Porém, é importante ressaltar o que já viemos falando desde
o início do tópico: não podemos generalizar. É importante observar o indivíduo como
um todo, visto que ocorrem diferenças entre as populações, variabilidade genética e
histórico alimentar (SANTOS-MARCOS; PEREZ-JIMENEZ; CAMARGO, 2019).
176
LEITURA
COMPLEMENTAR
SÍNDROME METABÓLICA E COVID-19: ONDE AS VIAS SE CRUZAM
Luciano R. Giacaglia
Até uns meses atrás a pandemia global do novo coronavírus (COVID-19) parecia
estar longe de uma solução, e agora com a chegada da vacina já vemos uma luz de
esperança. Porém, ainda há a inexistência de medicamentos claramente eficazes e a
falta de conhecimento amplo sobre todas a epidemiologia e fisiopatologia que envolve
a doença. O motivo da elevada proporção de contaminação, inesperada e rápida
disseminação por todo planeta, a presença de manifestações sintomáticas amplas e
desfechos graves ainda precisam ser mais bem estudadas.
Já se sabe que existe uma correlação entre o DM com uma maior morbimor-
talidade em infecções virais, bacterianas e fúngicas, por isso recomenda-se que essa
população específica se vacine com a pneumocócica e H1N1, por exemplo. Existe um
ponto importante a se considerar, visto que o DM é mais prevalente na população idosa,
que é mais suscetível e que apresenta outras comorbidades como DCV e renal.
A hiperglicemia apresentada por esses pacientes também está ligada com uma
menor capacidade eritrocitária de captação e difusão do oxigênio para os tecidos, esse
processo é secundário à glicação da hemoglobina, modificando a estrutura terciária desta
proteína carreadora de oxigênio. E ainda, a hiperglicemia compromete tanto a resposta
imune inata como a imunidade celular adaptativa linfo-monocitária, importantíssimas
para o combate do COVID-19 e outros micro-organismos oportunistas.
177
A hiperglicemia aumenta o risco trombótico, pois aumenta a osmolaridade
sanguínea, pela fragilidade crônica do endotélio e por disfunção das células plaquetárias,
que adquirem um maior poder de agregação.
A insulina possui outras ações, além de apenas transportar a glicose par adentro
da célula. Ela é fundamental para a geração de óxido nítrico, promovendo melhor
perfusão tecidual, a qual está comprometida na RI. A insulina é capaz de frear a geração
de citocinas pró-inflamatórias, e sabemos que no COVID-19 ocorre a tempestade de
citocinas, gerando um quadro grave em um paciente que já está inserido em um quadro
inflamatório em decorrência da RI.
Sabemos que nem todo paciente que apresenta RI é obeso, mas o conteúdo
adiposo corporal reduz a mobilidade do indivíduo, favorece os quadros trombóticos,
compromete a expansão da caixa torácica aumentando a resistência ao fluxo de ar nas
vias aéreas. O acúmulo de gordura visceral, em tecidos ectópicos, parece estar envolvido
na piora do quadro inflamatório.
178
A RI também exerce efeitos na hipertensão arterial, os efeitos da hiperinsuline-
mia nos túbulos renais são exacerbados, promovendo o aumento da taxa de reabsor-
ção de sódio. Esse efeito aliado à menor concentração de óxido nítrico, ao aumento da
conversão de angiotensinogênio em angiotensina, promovido pelos adipócitos viscerais
hipertrofiados e, finalmente, pelo espessamento da camada muscular média dos va-
sos sanguíneos, determinada pelo estímulo da insulina na via trófica das MAP-quinase/
mTOR, contribuem ainda mais para o incremento dos níveis pressóricos. A retenção
hidrossalina promovida pela hiperinsulinemia poderia ser um fator agravante no quadro
respiratório pela sobrecarga volumétrica, especialmente em pacientes com comprome-
timento da função miocárdica.
179
RESUMO DO TÓPICO 3
Neste tópico, você aprendeu:
180
• O profissional nutricionista deve estabelecer as necessidades individuais a partir de
uma avaliação nutricional minuciosa e determinar os parâmetros antropométricos
(IMC, circunferência abdominal e composição corporal quando possível).
181
AUTOATIVIDADE
1 A Síndrome Metabólica (SM) tem sido muito estudada e foi definida como um grupo
de fatores de risco inter-relacionados de origem metabólica que contribuem para
o desenvolvimento de doenças cardiovasculares (DCV) e DM2. De acordo com o
exposto, quais são os fatores de risco metabólicos envolvidos na SM?
a) ( ) Androide.
b) ( ) Ginoide.
c) ( ) Ginecoide
d) ( ) Androgenética
I- Adiponectina.
II- Leptina.
III- Angiotensina.
182
5 A SM é multifatorial, ou seja, em decorrência de doenças de cunho metabólico,
sendo assim, o plano alimentar deve ser individualizado e favorecer uma perda de
peso sustentável. Quantos % deve ser essa perda de peso?
a) ( ) 5% a 10%.
b) ( ) 5% a 15%.
c) ( ) 5% a 20%.
d) ( ) 5% a 25%.
I- Curcuma longa.
II- Allium sativum.
III- Cinnamomum verum.
IV- Capsicum annuum.
183
REFERÊNCIAS
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