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Cinesiologia

Aplicada
à Dança

Prof.ª Katia Franklin da Silva

Indaial – 2021
1a Edição
Elaboração:
Prof.ª Katia Franklin da Silva

Copyright © UNIASSELVI 2021

Revisão, Diagramação e Produção:


Equipe Desenvolvimento de Conteúdos EdTech
Centro Universitário Leonardo da Vinci – UNIASSELVI

Ficha catalográfica elaborada pela equipe Conteúdos EdTech UNIASSELVI

S586c

Silva, Katia Franklin da

Cinesiologia aplicada à dança. / Katia Franklin da Silva – Indaial:


UNIASSELVI, 2021.

201 p.; il.

ISBN 978-65-5663-991-8
ISBN Digital 978-65-5663-992-5

1. Dança e movimento. - Brasil. II. Centro Universitário Leonardo


da Vinci.

CDD 612

Impresso por:
APRESENTAÇÃO
Caro acadêmico, bem-vindo ao Livro Didático Cinesiologia Aplicada à Dança.
Na Unidade 1: Compreendendo o corpo, abordaremos o conceito de cinesiologia e
as relações com o corpo que dança, bem como o sistema musculoesquelético e
articular humano. No tópico 1, estudaremos o corpo estruturante para compreender o
esqueleto humano, os músculos e as articulações. No tópico 2, nosso estudo remete
ao corpo consciente para identificar as principais relações entre esqueleto, músculos
e articulações. No tópico 3, apresentaremos o corpo movente para estabelecer relação
entre a cinesiologia e a dança.

Em seguida, na Unidade 2: Compreendendo o corpo, estudaremos as estruturas


musculoesqueléticas e articulares dos membros superiores. No tópico 1, estudaremos
a cintura escapular para compreender as estruturas apendiculares superiores e
compreender a cintura escapular no sentido de identifica-los. No tópico 2, falaremos
sobre os movimentos: abdução, adução e rotação. No tópico 3, exploraremos as
possibilidades dos braços para estabelecer relação entre os componentes do braço e as
relações entre as estruturas e os sistemas motores no seu próprio corpo.

Por fim, na Unidade 3: Compreendendo o corpo, aprenderemos com as


provocações e proposições do sistema musculoesquelético e articular humano. No
tópico ,1 estudaremos a cintura pélvica para compreender as estruturas apendiculares
inferiores e compreender a cintura pélvica. No tópico 2, aprenderemos sobre os joelhos,
tornozelos e pés, para identificar as relações entre o sistema axial e os sistemas
apendiculares e compreender o joelho, tornozelo e pés. No tópico 3, apresentaremos
proposições para experienciar movimentos de relações entre o sistema axial e os
sistemas apendiculares para que possa perceber as estruturas e os sistemas motores
no seu próprio corpo.

Bom estudo!
Prof.ª Katia Franklin da Silva
GIO
Olá, eu sou a Gio!

No livro didático, você encontrará blocos com informações


adicionais – muitas vezes essenciais para o seu entendimento
acadêmico como um todo. Eu ajudarei você a entender
melhor o que são essas informações adicionais e por que você
poderá se beneficiar ao fazer a leitura dessas informações
durante o estudo do livro. Ela trará informações adicionais
e outras fontes de conhecimento que complementam o
assunto estudado em questão.

Na Educação a Distância, o livro impresso, entregue a todos


os acadêmicos desde 2005, é o material-base da disciplina.
A partir de 2021, além de nossos livros estarem com um
novo visual – com um formato mais prático, que cabe na
bolsa e facilita a leitura –, prepare-se para uma jornada
também digital, em que você pode acompanhar os recursos
adicionais disponibilizados através dos QR Codes ao longo
deste livro. O conteúdo continua na íntegra, mas a estrutura
interna foi aperfeiçoada com uma nova diagramação no
texto, aproveitando ao máximo o espaço da página – o que
também contribui para diminuir a extração de árvores para
produção de folhas de papel, por exemplo.

Preocupados com o impacto de ações sobre o meio ambiente,


apresentamos também este livro no formato digital. Portanto,
acadêmico, agora você tem a possibilidade de estudar com
versatilidade nas telas do celular, tablet ou computador.

Preparamos também um novo layout. Diante disso, você


verá frequentemente o novo visual adquirido. Todos esses
ajustes foram pensados a partir de relatos que recebemos
nas pesquisas institucionais sobre os materiais impressos,
para que você, nossa maior prioridade, possa continuar os
seus estudos com um material atualizado e de qualidade.

QR CODE
Olá, acadêmico! Para melhorar a qualidade dos materiais ofertados a você – e
dinamizar, ainda mais, os seus estudos –, nós disponibilizamos uma diversidade de QR Codes
completamente gratuitos e que nunca expiram. O QR Code é um código que permite que você
acesse um conteúdo interativo relacionado ao tema que você está estudando. Para utilizar
essa ferramenta, acesse as lojas de aplicativos e baixe um leitor de QR Code. Depois, é só
aproveitar essa facilidade para aprimorar os seus estudos.
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Acadêmico, você sabe o que é o ENADE? O Enade é um
dos meios avaliativos dos cursos superiores no sistema federal de
educação superior. Todos os estudantes estão habilitados a participar
do ENADE (ingressantes e concluintes das áreas e cursos a serem
avaliados). Diante disso, preparamos um conteúdo simples e objetivo
para complementar a sua compreensão acerca do ENADE. Confira,
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Olá, acadêmico! Iniciamos agora mais uma
disciplina e com ela um novo conhecimento.

Com o objetivo de enriquecer seu conheci-


mento, construímos, além do livro que está em
suas mãos, uma rica trilha de aprendizagem,
por meio dela você terá contato com o vídeo
da disciplina, o objeto de aprendizagem, materiais complementa-
res, entre outros, todos pensados e construídos na intenção de
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Conte conosco, estaremos juntos nesta caminhada!


SUMÁRIO
UNIDADE 1 - COMPREENDENDO O CORPO – SISTEMA MUSCULOESQUELÉTICO E
ARTICULAR HUMANO............................................................................................................. 1

TÓPICO 1 - O CORPO ESTRUTURANTE..................................................................................3


1 INTRODUÇÃO........................................................................................................................3
2 CINESIOLOGIA NA DANÇA...................................................................................................3
3 COMPREENDENDO MELHOR O CORPO ..............................................................................6
4 CARACTERIZANDO AS ESTRUTURAS ..............................................................................11
4.1 SISTEMA ESQUELÉTICO...................................................................................................................... 13
4.1.1 Sistema muscular........................................................................................................................ 15
4.1.2 Sistema articular......................................................................................................................... 19
5 O ESQUELETO HUMANO................................................................................................... 23
5.1 ESTRUTURAS AXIAIS...........................................................................................................................23
5.2 ESTRUTURAS APENDICULARES ....................................................................................................24
6 O CORPO ESTRUTURANTE NA DANÇA............................................................................ 25
6.1 POSSIBILIDADES DE MOVIMENTOS NA DANÇA...........................................................................25
6.2 RELAÇÕES DO CORPO NA DANÇA..................................................................................................26
RESUMO DO TÓPICO 1......................................................................................................... 29
AUTOATIVIDADE.................................................................................................................. 30

TÓPICO 2 - O CORPO CONSCIENTE.................................................................................... 33


1 INTRODUÇÃO..................................................................................................................... 33
2 CARACTERIZANDO O SISTEMA MUSCULOESQUELÉTICO............................................ 33
2.1 SISTEMA MUSCULOESQUELÉTICO DAS ESTRUTURAS AXIAIS................................................34
2.2 SISTEMA MUSCULOESQUELÉTICO DAS ESTRUTURAS APENDICULARES...........................36
2.3 CENTROS INTERATIVOS.....................................................................................................................39
3 A CABEÇA.......................................................................................................................... 45
3.1 CARACTERIZAÇÃO...............................................................................................................................45
4 A COLUNA VERTEBRAL.................................................................................................... 49
4.1 ESTRUTURA DA VÉRTEBRA TÍPICA.................................................................................................54
5 O TÓRAX.............................................................................................................................57
5.1 ESTRUTURAS CONSTITUÍNTES........................................................................................................ 57
RESUMO DO TÓPICO 2......................................................................................................... 62
AUTOATIVIDADE.................................................................................................................. 63

TÓPICO 3 - O CORPO MOVENTE.......................................................................................... 65


1 INTRODUÇÃO..................................................................................................................... 65
2 CARACTERIZANDO O SISTEMA ARTICULAR.................................................................. 65
3 A RESPIRAÇÃO..................................................................................................................67
4 A INSPIRAÇÃO...................................................................................................................70
5 O DIAFRAGMA.................................................................................................................... 71
6 A EXPIRAÇÃO.....................................................................................................................72
6.1 EXPERIÊNCIA PARA PERCEPÇÃO.................................................................................................... 73
LEITURA COMPLEMENTAR..................................................................................................75
RESUMO DO TÓPICO 3..........................................................................................................78
AUTOATIVIDADE...................................................................................................................79

REFERÊNCIAS...................................................................................................................... 80
UNIDADE 2 — COMPREENDENDO O CORPO – ESTRUTURAS MUSCULOESQUELÉTICAS
E ARTICULARES DOS MEMBROS SUPERIORES......................................................................83

TÓPICO 1 — A CINTURA ESCAPULAR................................................................................. 85


1 INTRODUÇÃO..................................................................................................................... 85
2 O CÍNGULO DO MEMBRO SUPERIOR................................................................................ 85
3 OMBRO E BRAÇO...............................................................................................................87
3.1 CARACTERIZAÇÃO...............................................................................................................................87
4 O COTOVELO..................................................................................................................... 92
5 O ANTEBRAÇO E A PRONO-SUPINAÇÃO..........................................................................95
6 PUNHO E MÃO................................................................................................................... 98
RESUMO DO TÓPICO 1........................................................................................................103
AUTOATIVIDADE................................................................................................................ 104

TÓPICO 2 - MOVIMENTOS: ABDUÇÃO, ADUÇÃO E ROTAÇÃO..........................................105


1 INTRODUÇÃO....................................................................................................................105
2 CONCEITOS DE MOVIMENTOS........................................................................................105
RESUMO DO TÓPICO 2........................................................................................................ 116
AUTOATIVIDADE..................................................................................................................117

TÓPICO 3 - POSSIBILIDADES DOS BRAÇOS..................................................................... 119


1 INTRODUÇÃO.................................................................................................................... 119
2 COTOVELOS..................................................................................................................... 119
2.1 FLEXÃO E EXTENSÃO........................................................................................................................ 122
2.2 A PRONO-SUPINAÇÃO..................................................................................................................... 125
3 PUNHOS............................................................................................................................126
3.1 OS MOVIMENTOS DO PUNHO ......................................................................................................... 126
4 MÃOS................................................................................................................................ 127
4.1 OS COMPONENTES DA MÃO............................................................................................................ 129
4.1.1 Os dedos: músculos extrínsecos ..........................................................................................130
4.1.2 Os dedos: músculos intrínsecos...........................................................................................130
5 OS DEDOS......................................................................................................................... 131
5.1 O POLEGAR...........................................................................................................................................131
LEITURA COMPLEMENTAR................................................................................................134
RESUMO DO TÓPICO 3........................................................................................................138
AUTOATIVIDADE.................................................................................................................139

REFERÊNCIAS..................................................................................................................... 141

UNIDADE 3 — COMPREENDENDO O CORPO – SISTEMA MUSCULOESQUELÉTICO E


ARTICULAR HUMANO.........................................................................................................143

TÓPICO 1 — A CINTURA PÉLVICA.......................................................................................145


1 INTRODUÇÃO....................................................................................................................145
2 O QUADRIL .......................................................................................................................146
2.1 A ARTICULAÇÃO DO QUADRIL........................................................................................................ 147
2.2 OS MUSCULOS E AS POSSIBILIDADES DE MOVIMENTO......................................................... 149
3 GLÚTEOS.......................................................................................................................... 151
RESUMO DO TÓPICO 1........................................................................................................153
AUTOATIVIDADE.................................................................................................................154
TÓPICO 2 - OS JOELHOS, TORNOZELOS E PÉS................................................................ 157
1 INTRODUÇÃO.................................................................................................................... 157
2 OS JOELHOS.................................................................................................................... 157
3 OS TORNOZELOS E OS PÉS.............................................................................................164
RESUMO DO TÓPICO 2........................................................................................................170
AUTOATIVIDADE..................................................................................................................171

TÓPICO 3 - PROPOSIÇÕES PARA EXPERIENCIAR MOVIMENTOS DE RELAÇÕES


ENTRE O SISTEMA AXIAL E OS SISTEMAS APENDICULARES......................................... 173
1 INTRODUÇÃO.................................................................................................................... 173
2 FATORES DE DESEMPENHO INDIVIDUAL...................................................................... 174
2.1 EDUCAÇÃO SOMÁTICA NA DANÇA.................................................................................................176
3 A EXPERIÊNCIA................................................................................................................ 177
3.1 ATIVIDADE 1..........................................................................................................................................177
3.2 ATIVIDADE 2........................................................................................................................................ 179
3.2 ATIVIDADE 3........................................................................................................................................180
3.4 ATIVIDADE 4........................................................................................................................................181
3.5 ATIVIDADE 5........................................................................................................................................183
3.6 ATIVIDADE 6........................................................................................................................................184
3.7 ATIVIDADE 7........................................................................................................................................185
3.8 ATIVIDADE 8.......................................................................................................................................186
3.9 ATIVIDADE 9........................................................................................................................................186
3.10 ATIVIDADE 10.................................................................................................................................... 187
3.11 ATIVIDADE 11......................................................................................................................................188
3.12 ATIVIDADE 12.....................................................................................................................................188
3.13 ATIVIDADE 13....................................................................................................................................189
3.14 ATIVIDADE 14....................................................................................................................................190
3.15 ATIVIDADE 15.....................................................................................................................................191
LEITURA COMPLEMENTAR................................................................................................193
RESUMO DO TÓPICO 3........................................................................................................198
AUTOATIVIDADE.................................................................................................................199

REFERÊNCIAS.....................................................................................................................201
UNIDADE 1 -

COMPREENDENDO
O CORPO – SISTEMA
MUSCULOESQUELÉTICO E
ARTICULAR HUMANO

OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM
A partir do estudo desta unidade, você deverá ser capaz de:

• compreender a cinesiologia;

• compreender o esqueleto humano, os músculos e as articulações;

• identificar as principais relações entre esqueleto, músculos e articulações;

• estabelecer relação entre a cinesiologia e a dança;

• perceber as estruturas e os sistemas motores no seu próprio corpo.

PLANO DE ESTUDOS
Esta unidade está dividida em três tópicos. No decorrer dela, você encontrará
autoatividades com o objetivo de reforçar o conteúdo apresentado.

TÓPICO 1 – O CORPO ESTRUTURANTE


TÓPICO 2 – O CORPO CONSCIENTE
TÓPICO 3 – O CORPO MOVENTE

CHAMADA
Preparado para ampliar seus conhecimentos? Respire e vamos em frente! Procure
um ambiente que facilite a concentração, assim absorverá melhor as informações.

1
CONFIRA
A TRILHA DA
UNIDADE 1!

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2
UNIDADE 1 TÓPICO 1 -
O CORPO ESTRUTURANTE

1 INTRODUÇÃO
Caro acadêmico, a cinesiologia é o estudo do movimento do corpo humano, de
suas implicações e estruturas; esse termo vem do grego, Kinein (mover) e Logos (estudar).
O estudo da cinesiologia objetiva analisar as forças que agem sobre o corpo humano e
manipular tais forças em procedimentos de tratamento de modo que o desempenho
humano possa ser melhorado e que uma lesão adicional possa ser prevenida.

A disciplina de cinesiologia tem como principais focos a fisiologia humana, a


biomecânica humana e a anatomia humana. Nesses estudos, procura-se entender o
movimento humano, por meio de esportes e exercícios, para analisar os problemas e
chegar a tratamentos. Desses estudos, podem ser aplicados ou originados métodos
específicos para tratamentos de patologias.

Caro acadêmico, no decorrer de nossos estudos, a compreensão dos termos e


conceitos se dará de forma natural, ou seja, o vocabulário específico de Anatomia fará
parte de sua prática.

2 CINESIOLOGIA NA DANÇA
Na dança, conhecer o processo cinesiológico dos movimentos corporais pode
proteger as principais estruturas utilizadas, como: as estruturas da coluna, quadril, pé,
escápulas e as articulações; assim como otimizar a qualidade dos movimentos, nos
equilíbrios, nas trocas de peso, nos impulsos para saltos e eixos para os giros.

O simples ato de andar pode revelar diferentes formas de movimento corporal.


No andar natural se dá o toque do calcanhar no solo e em sequência o toque do
metatarso. Na dança, o andar aplicado se dá principalmente na chamada meia ponta ou
nas pontas, ou seja, aplicamos o andar inverso, do metatarso para o calcâneo, obtendo
maior leveza e uma diminuição de peso considerável, para que a pelve ondule livremente
em uma amplitude maior.

3
FIGURA 1 – ANDAR NA DANÇA

FONTE: <https://super.abril.com.br/wp-content/uploads/2018/07/moonwalk_face.jpg>. Acesso em: 1º set. 2021.

No movimento de andar, ocorre uma ligeira rotação pélvica sobre o eixo da


coluna lombar, resultando na diminuição do grau angular na compressão da pelve.
Assim, diminui o ângulo, entre a pelve e a coxa, e a perna e o solo; isso significa que
ocorre uma inclinação pélvica, um leve balanço. Todos os músculos, mesmo as cadeias
musculares mais distantes, são solidários, e auxiliam uns aos outros, para a realização
do andar; assim, para movimentos mais complexos inferimos que um maior número de
variáveis possa estar presente.

Podemos dizer que a perna de apoio sofre uma adução, e, que a perna em
movimento, uma adução muito leve, estando fletida no quadril e joelho, para se erguer
da superfície e iniciar um novo ciclo.

FIGURA 2 – ANDAR NATURAL

FONTE: <https://www.wefashiontrends.com/wp-content/uploads/2019/02/caminhar-faz-bem-para-saude.jpg>.
Acesso em: 1º set. 2021.

Na realização e qualquer movimento ou deslocamento, a atividade muscular é


de grande importância, pois trabalham juntos, os músculos da coluna, quadril, abdome
e perna.

4
Compreender o processo, ou seja, como funciona a movimentação corporal na
dança, é estimar os impactos que podem ser causados no corpo que dança, bem como as
possibilidades de movimentos que o corpo dançante pode superar. O movimento humano
é complexo e na dança essa complexidade é buscada, provocada e experimentada,
porque é por meio de coreografias que desafiamos a gravidade com ondulações,
diferentes velocidades, ritmos, transferências de pesos e formas de equilíbrio.

Ao dançar, não pensamos no funcionamento do movimento, mas no fluir, no


encadeamento de um movimento ao outro, na sutileza dos gestos e no prazer; assim,
é necessário para os profissionais que ensinam dança, compreender como ocorre o
processo cinesiológico do corpo.

Como exemplo, na prática do shimmy, nome dado a um dos movimentos na Dança


do Ventre, o movimento pélvico mal executado pode causar sobrecargas nas unidades
do mecanismo pélvico. O shimmy, na articulação do quadril, ocasiona uma oscilação
muito maior sobre o eixo da coluna lombar em que a pelve se movimenta, dessa forma,
praticado inadequado ou excessivo, e com o emprego contínuo e exagerado de forças,
provoca desequilíbrios e sobrecargas anormais, gerando dor no quadril, joelho ou coluna.
Além disso, pode desenvolver síndromes e patologias em função do uso excessivo, e das
sobrecargas nas articulações, que prejudicam o equilíbrio e o controle postural na dança.

FIGURA 3 – SHIMMY

FONTE: <https://bit.ly/3tvUJEg.> Acesso em: 1º set. 2021.

A prática de danças, principalmente a prática de Dança do Ventre, pode ser


responsável pela origem de algumas patologias, dentre elas, estão: a bursite, a lombalgia e
a tendinite, que provocam dor, e que podem ser sentidas na parte lateral do quadril, coxas e
joelhos; ou ainda podem ser sentida na virilha, ou ao redor da região dos ísquios ou lombar.
O desconforto pode ser sentido após um longo período, ao ficar de pé, com o quadril
pendente para um dos lados, ou ainda com a realização de flexões de quadril durante a

5
realização de um exercício que provoque extensão excessiva, enquanto a musculatura
estava se contraindo. A má execução de shimmies, deslocamentos ou movimentos mal
estruturados, ondulações da coluna que exijam um preparo que não foi respeitado ou
desenvolvido, podem levar ao desenvolvimento destas patologias ou semelhantes.

Caro acadêmico, você já deve ter percebido que um ato mecânico, aparentemente
simples como o andar, pode ser tão complexo, pois envolve articulações, músculos,
centro de gravidade, equilíbrio, sistema nervoso central e periférico, vida psicológica e
emocional.

3 COMPREENDENDO MELHOR O CORPO


Iniciaremos o nosso estudo refletindo as nossas compreensões quando
pensamos no termo “corpo”. É importante para o educador em qualquer área do
conhecimento, mas, na dança, ela se torna imprescindível. Na dança, as mais variadas
formas de movimentos são exploradas, seja para atingir um padrão estético ou uma
forma de expressão pessoal ou coletiva.

FIGURA 4 – O CORPO QUE DANÇA

FONTE: <https://bit.ly/39cxoNT>. Acesso em: 1º set. 2021.

Naturalmente, os movimentos do corpo são muito complexos, e por isso foi


necessário adotar algumas convenções para facilitar seu estudo (CLAIS-GERMAIN,
2010a). Uma das posições anatômicas é conhecida como “posição zero”, assim todos os
movimentos do corpo são analisados em relação a ela. A posição chamada anatômica
consiste em estar em pé, calcanhares próximos e ponta dos pés ligeiramente afastadas,
cabeça ereta, ombros relaxados, braços ao longo do tronco com palmas para frente ou
para trás e coluna com as curvaturas naturais.
6
FIGURA 5 – POSIÇÃO ANATÔMICA

FONTE: <https://blogpilates.com.br/wp-content/uploads/2016/10/Coluna-Neutra-6.jpg>.
Acesso em: 1º set. 2021.

Para o estudo, considera-se três planos, nos quais os movimentos são realizados.
O primeiro é o plano Sagital, que divide o corpo em metades direita e esquerda. O
segundo plano de movimento é o plano frontal, que divide o corpo em porções anterior
(a parte da frente) e posterior (a parte de trás). Os movimentos realizados neste plano
são laterais: a abdução e a adução. O terceiro e último plano é o plano transversal ou
horizontal, que divide o corpo em porção superior e inferior.

FIGURA 6 – PLANOS CORPORAIS

FONTE: <https://bit.ly/3tDQtSJ>. Acesso em: 1º set. 2021.

No plano sagital, os movimentos são:

• A flexão que aproxima o membro em questão do centro do corpo, partindo de 0 grau


(a posição anatômica). Geralmente, a região que se move é levada para frente;
• A extensão que acontece o contrário da flexão. A região que se move se afasta do
centro do corpo e, geralmente é levada para trás.

7
A linha mediana, que pode ser identificada na Figura 6, passa longitudinalmente
pelo centro do corpo. Na abdução, a região que se move se afasta lateralmente da linha
mediana. Já na adução, a região que se move se aproxima da linha mediana.

FIGURA 7 – SALTO

FONTE: <https://bit.ly/3z9z8Cl>. Acesso em: 1º set. 2021.

Observe que, na Figura 7, para saltar com os braços e pernas abertos, o


executante realiza a abdução das articulações do ombro e do quadril. Quando fechá-los
a partir desta posição, é realizada a adução destas articulações.

NOTA
Linha Mediana do corpo, partindo de 0 grau (a posição anatômica). Geralmente,
a região que se move é levada para frente. Na extensão, acontece o contrário.
A região que se move se afasta do centro do corpo e, geralmente, é levada para
trás. Retirado do E-book Laboratório de cinesiologia da Dança I, disponível em:
http://www.danca.ufba.br/arquivos_pdf/Livros/LCD_I_E-book.pdf.

Dizemos que, na posição anatômica, os braços são laterais em relação ao quadril,


ou seja, quanto mais afastado o segmento está da linha mediana, mais lateral ele é; o
quadril é medial em relação aos braços, ou seja, quanto mais próximo, mais medial.

No caso dos movimentos realizados no plano transversal ou horizontal, temos:


a rotação lateral (quando o movimento é para fora) e a rotação medial (quando o
movimento é para dentro).

8
TABELA 1 – PLANOS CORPORAIS

Plano Sagital Plano Frontal Plano Transverso

Coluna Flexão/Extensão Flexão Lateral Rotativa


Rotação Interna e
Ombro Flexão/Extensão Abdução/adução
Externa
Rotação Interna e
Quadril Flexão/Extensão Abdução/adução
Externa
Dosiflexão e Rotação Interna e
Tornozelo Inversão e Eversão
Flexãoplantar Externa
FONTE: <https://blogfisioterapia.com.br/wp-content/uploads/2019/10/planos-de-movimento-capa-
-768x320.png>. Acesso em: 1º set. 2021.

Ressaltamos que há algumas exceções ao generalizarmos os movimentos, pois


há alguns que são movidos em outras direções, como os que estudaremos a seguir.

No plano sagital, a flexão do joelho, ou seja, a região que se move é levada para
trás (o movimento de dobrar o joelho) e na extensão para frente (esticando o joelho).

FIGURA 8 – MOVIMENTOS DO JOELHO

FONTE: <https://dhg1h5j42swfq.cloudfront.net/2020/09/20120848/MOV-2-FLEX.png>.
Acesso em: 1º set. 2021.

Nas articulações do tornozelo, os movimentos realizados no plano sagital são


chamados de flexão dorsal (ou dorsiflexão) e flexão plantar.

9
FIGURA 9 – MOVIMENTO NO PLANO SAGITAL

FONTE: <http://2.bp.blogspot.com/ 21wj35WGdXg/Une48NyZyBI/AAAAAAAAASE/DxtFb1IYnPk/s640/8.jpg>.


Acesso em: 1º set. 2021.

No plano frontal, os movimentos do tronco e do pescoço são chamados de


flexão ou inclinação lateral.

FIGURA 10 – MOVIMENTO DO TRONCO EM INCLINAÇÃO LATERAL

FONTE: <https://cdn.pixabay.com/photo/2013/02/21/19/11/active-84646_960_720.jpg>.
Acesso em: 1º set. 2021.

Também no plano frontal, os movimentos do antebraço são chamados de


pronação, quando viramos a palma da mão para baixo ou em direção à linha mediana; e
chamados de supinação, quando fazemos o contrário.

10
NOTA
Veremos ao longo do estudo, além dos termos lateral e medial, os termos
proximal e distal. Um segmento é proximal em relação a outro quando está
mais próximo da cabeça; se estiver mais afastado, ele é distal. Exemplo: o
cotovelo é proximal em relação ao joelho, mas distal em relação ao ombro.

A pronação (levantando a margem medial) e a supinação (levantando a margem


lateral) também acontecem nos movimentos dos pés. No entanto, o mais frequente
é associarmos movimentos nos três planos, formando a inversão, ou seja, adução e
supinação com flexão plantar, na qual voltamos a planta do pé para dentro. E chamamos
de eversão quando se dá a pronação com dorsiflexão e abdução, ou seja, quando a
planta do pé se volta para fora.

FIGURA 11 – MOVIMENTO DOS PÉS E TORNOZELO

FONTE: Adaptada de <https://bit.ly/3hwwMHv>. Acesso em: 1º set. 2021.

4 CARACTERIZANDO AS ESTRUTURAS
O corpo humano é dividido em quatro sistemas que compõem o aparelho
locomotor: esquelético, articular, muscular e nervoso. Vamos precisar fragmentar o
corpo para estudá-lo.

11
FIGURA 12 – SISTEMA MUSCULOESQUELÉTICO VISTA ANTERIOR

FONTE: <https://bit.ly/3tFg7q2>. Acesso em: 1º set. 2021.

FIGURA 13 – SISTEMA MUSCULOESQUELÉTICO VISTA POSTERIOR

FONTE: <https://bit.ly/2XiDTN8>. Acesso em: 1º set. 2021.

12
Veremos, a seguir, algumas generalidades sobre três dos quatro sistemas.

4.1 SISTEMA ESQUELÉTICO


De acordo com Souza (2016, p. 19) “o esqueleto é como uma armadura, que
sustenta e dá forma ao nosso corpo, permite a nossa locomoção e protege os nossos
órgãos internos”. Na composição química de nossos ossos há sais minerais como o Cálcio,
além de terem função hematopoiética, ou seja, serem responsáveis pelo suprimento
contínuo de novas células sanguíneas, que são produzidas na medula óssea. Os ossos
possuem rigidez e elasticidade, porque são compostos bioquimicamente por minerais e
componentes orgânicos. Existem vários tipos de ossos que variam de acordo com sua
forma, função ou localização. O esqueleto humano é formado por 206 ossos.

FIGURA 14 – ESQUELETO HUMANO

FONTE: <https://bit.ly/3Aa6aDy>. Acesso em: 1º set. 2021.

O esqueleto é dividido em esqueleto axial e esqueleto apendicular. Segundo


Souza (2016, p. 20) “o esqueleto axial compreende a cabeça, a coluna vertebral as
costelas e o esterno. O esqueleto apendicular reúne os ossos dos membros superiores
(MMSS) e inferiores (MMII) e os elementos de apoio, denominados cíngulos, que os
conectam ao tronco”. A união dos ossos que compõe o esqueleto se dá através da
cintura escapular e da cintura pélvica.
13
FIGURA 15 – ESQUELETO AXIAL E APENDICULAR

FONTE: <https://s1.static.brasilescola.uol.com.br/img/2019/01/esqueleto-axial-apendicular.jpg>.
Acesso em: 1º set. 2021.

De acordo com Souza (2016, p.19) “uma criança apresenta cerca de 70 ossos
a mais que uma pessoa adulta. Isso acontece porque, durante o desenvolvimento,
alguns ossos fundem-se. Os ossos longos são constituídos de duas extremidades, as
epífises, e um corpo alongado, a diáfise”. Nas crianças, há uma região cartilaginosa entre
as epífises e a diáfise, denominada metáfise (quando nascemos, apenas as metáfises
estão presentes; as epífises vão se formando de acordo com o crescimento). Com o
crescimento, ocorre a calcificação, ou seja, a metáfise é paulatinamente substituída
por tecido ósseo, chamado processo de calcificação da cartilagem. Este processo
de ossificação, chamado de endocondral, é acelerado na puberdade devido à ação
hormonal, uma das razões pelas quais observamos nesta fase o famoso “estirão”. Nas
meninas, ele ocorre entre o início do crescimento das mamas e a primeira menstruação;
nos meninos, se inicia um pouco mais tarde.

A ossificação endocondral pode ser acelerada pela sobrecarga de exercícios, em


especial exercícios de força como a musculação. Isso pode acarretar diversos problemas,
sendo um deles a baixa estatura, já que as epífises se “fecharão” mais cedo do que seria
potencialmente possibilitado pelas características do copo. O professor de dança que
trabalha com crianças e adolescentes deve estar atento para não sobrecarregar seus
alunos em frequência, volume e intensidade de treinamento.

A epífise constitui a cabeça esponjosa do osso, com o tecido ósseo organizado


em fibras trabeculares (dispostas em filamentos cruzados como em uma esteira de
palha), que seguem as linhas de transmissão de forças, e é recoberta por cartilagem
articular. A diáfise é o corpo oco do osso no qual passa a medula; e a epífise é constituída
de osso compacto. O osso (à exceção da cartilagem articular) é recoberto por uma
membrana fibrosa, o periósteo, que o protege, serve como ponto de fixação para os
músculos e contém vasos sanguíneos que o nutrem.

14
FIGURA 16 – CARTILAGEM, DIÁFISE E EPÍFISE

FONTE: < https://studyhelper-br.com/tpl/images/0517/9206/f5b69.jpg>. Acesso em: 1° set. 2021.

4.1.1 Sistema muscular


Segundo Santos (c2021a s.p.) “o sistema muscular é constituído pelo conjunto
de músculos presente no organismo que nos permite movimentação do esqueleto,
produção de calor, postura e sustentação do corpo. Os músculos são formados por
células especializadas em contração e relaxamento.

Essas células formam diferentes tipos de tecidos e, de acordo com suas


características morfológicas, permitem-nos classificar os músculos em três tipos de
tecido muscular. Os músculos podem ser:

• Músculo estriado cardíaco: constituído por células alongadas e ramificadas unidas


por discos intercalares. Apresentam estrias transversais, contração rítmica e
involuntária.
• Músculo estriado esquelético: constituído por células longas, cilíndricas e
multinucleadas. Apresentam estrias transversais e contração rápida e sujeita ao
controle voluntário.
• Músculo liso: constituído por células fusiformes, não apresentam estrias transversais,
a contração é lenta e não está sujeita ao controle voluntário. Presente em diversas
vísceras, como o tubo digestivo e o útero.

15
FIGURA 17 – SISTEMA MUSCULAR

FONTE: <https://bit.ly/3k9KVfK>. Acesso em: 1º set. 2021.

O sistema muscular tem como função principal preencher e sustentar o corpo


e os órgãos, além de produzir movimentação corporal, seja para deslocamento físico
ou movimentação interna de órgãos. As principais características que os músculos
apresentam são definidas por Hamill e Knutezen (1999):

• Extensibilidade: capacidade do músculo para alongar-se além do comprimento de


repouso.
• Elasticidade: capacidade da fibra muscular para retornar ao seu comprimento de
repouso depois que a força de alongamento do músculo é removida.

Segundo Hall (2010, p. 45) :

o comportamento elástico do músculo constitui de dois


componentes principais, sendo eles: o componente elástico em
paralelo proporcionado pelas membranas musculares, que fornece
resistência quando um músculo é estirado passivamente; e o
componente elástico em série, localizado nos tendões, que atua
como uma mola armazenando energia elástica quando um músculo
sob tensão é estirado.

16
FIGURA 18 – FUNÇÕES DO SISTEMA MUSCULOESQUELÉTICO

FONTE: <https://bit.ly/3AoLc4d>. Acesso em: 1º set. 2021.

Para Souza e Auharek (2017, p. 25):

“na dança, os músculos esqueléticos são responsáveis pelos


movimentos gerais do corpo, como andar, pular e correr. Também
atuam na estabilização das posições corporais. Todos os músculos do
corpo são trabalhados na dança. Em particular, os grupos musculares
dos membros inferiores e do abdômen e das costas são bastante
fortalecidos durante as aulas”.

Reforçamos que é muito importante que os exercícios preliminares de qualquer


tipo de dança prepararem o eixo da coluna vertebral, ao mesmo tempo fortalecendo
os músculos do chamado core (o centro do corpo, localizado na região do tórax). Isso
melhora o alinhamento das vértebras e, consequentemente, a postura.

Souza e Auharek (2017, p. 22) afirmam que “Para movimentar e estabilizar essas
estruturas, temos um intrincado sistema de músculos que trabalham em sinergia.
Esses músculos formam um centro de força, que possibilita que nos movimentemos
com segurança e controle, chamado de core (palavra em inglês que significa centro,
coração). O core é formado pelos músculos abdominais, dorsais intrínsecos e pelo
assoalho pélvico. Uma aula de dança é projetada para ajudar os alunos a aperfeiçoar seu
alinhamento postural, aumentar a flexibilidade articular, além de criar força muscular.
Aprender uma técnica de dança exige esforço físico e consciência corporal para
identificar e ativar certos músculos enquanto trabalham, através de uma série lógica de
exercícios na barra e no centro da sala. Como resultado de um treinamento frequente e
consistente, desenvolvem força significativa em vários grupos musculares importantes.

Os dançarinos dependem fortemente de seus músculos abdominais, ou seja,


do core para proporcionar estabilidade. Eles treinam para manter esses músculos
envolvidos em todos os movimentos. Contrair os músculos do abdômen ajuda um
dançarino a manter o alinhamento e o equilíbrio adequados, além de proteger de lesões
relacionadas à dança.

17
FIGURA 19 – MÚSCULOS DO ABDÔMEN

FONTE: Netter (1998, p. 233)

Dependendo do tipo de dança, predominam alguns movimentos musculares.


Assim, de acordo com as danças que praticam, pode-se identificar a estética corporal.
Exemplo: bailarinos de ballet clássico são longilíneos, e os do sapateado possuem os
músculos dos membros inferiores mais desenvolvidos.

18
FIGURA 20 – MOVIMENTO DE DANÇA

FONTE: <https://bit.ly/3HHIWaM>. Acesso em: 1º set. 2021.

4.1.2 Sistema articular


Conforme Santos (c2021b) as articulações podem ser definidas como o local de
conexão entre dois ou mais ossos, ou destes com as cartilagens. As principais funções
das articulações são permitir a movimentação dos segmentos do corpo e manter todos
os ossos do esqueleto juntos e estáveis.

FIGURA 21 – ARTICULAÇÕES

FONTE: <https://bit.ly/3sGMJRF>. Acesso em: 1º set. 2021.

19
As articulações possibilitam que partes do corpo se movimentem em resposta
à contração muscular. Embora apresentem consideráveis variações entre elas, segundo
Souza (2016, p. 21), as articulações possuem certos aspectos estruturais e funcionais
em comum, que permitem classificá-las em três grandes grupos:

• Fibrosas (sinartrose): as articulações nas quais o elemento que se interpõe


às peças que se articulam é o tecido conjuntivo fibroso, são ditas fibrosas (ou
sinartroses). O grau de mobilidade delas, sempre pequeno, depende do comprimento
das fibras interpostas.

FIGURA 22 – ARTICULAÇÕES FIBROSAS

FONTE: <https://bit.ly/3k9Aw3J>. Acesso em: 1º set. 2021.

• Cartilaginosas (anfiartrose): articulações em que o tecido que se interpõe é


a cartilagem. Quando se trata de cartilagem hialina, temos as sincondroses; nas
sínfises, a cartilagem é fibrosa. As sincondroses são raras e o exemplo mais típico é
a sincondrose esfeno-occipital que pode ser visualizada na base do crânio. Exemplo
de sínfise púbica é a união entre as porções púbicas dos ossos do quadril e as
articulações que se fazem entre os corpos das vértebras – o disco intervertebral.

FIGURA 23 – ARTICULAÇÕES CARTILAGINOSAS

FONTE: <https://bit.ly/3ht43DK>. Acesso em: 1º set. 2021.

20
• Sinoviais (diartrose): a mobilidade exige livre deslizamento e para que haja o grau
desejável de movimento, em muitas articulações, o elemento que se interpõe às
peças que se articulam é um líquido denominado sinóvia ou líquido sinovial. Além da
presença deste líquido, as articulações sinoviais possuem três outras características
básicas: cartilagem articular, cápsula articular e cavidade articular.

FIGURA 24 – ARTICULAÇÕES SINOVIAIS

FONTE: <https://i.pinimg.com/564x/90/10/d1/9010d144fea0167bcbbc2a6655a8b33b.jpg>.
Acesso em: 1º set. 2021.

ATENÇÃO
A cartilagem articular é a porção do osso que não foi invadida pela ossificação. Em virtude
deste revestimento, as superfícies articulares se apresentam lisas, polidas e de cor
esbranquiçada, facilitando o deslizamento entre as superfícies ósseas. A cartilagem articular
é avascular, ou seja, não possui irrigação sanguínea. Sua nutrição, portanto, principalmente
nas áreas mais centrais, é precária, o que torna a regeneração, em caso de lesões, mais
difícil e lenta.
A cápsula articular é uma membrana conjuntiva que envolve a articulação
sinovial como um manguito. Apresenta-se com duas camadas: a membrana
fibrosa (externa) e a membrana sinovial (interna). A primeira é mais
resistente e pode estar reforçada, em alguns pontos, por ligamentos
destinados a aumentar sua resistência. Em muitas articulações sinoviais,
todavia, existem ligamentos independentes da cápsula articular e em
algumas, como na do joelho, aparecem também ligamentos intra-
articulares. A cavidade articular é o espaço existente entre as superfícies
articulares, estando preenchido pelo líquido sinovial.

FONTE: <http://ulbra-to.br/morfologia/2011/08/26/Sistema-Articular>. Acesso em:


1º set. 2021.

21
Ligamentos e cápsula articular têm por finalidade manter a união entre os ossos,
mas, além disso, impedem movimentação em planos indesejáveis e limitam a amplitude
dos movimentos considerados normais.

A membrana sinovial é a mais interna das camadas da cápsula articular. É


abundantemente vascularizada e inervada, sendo encarregada da produção do líquido
sinovial, o qual tem consistência similar à clara do ovo e tem por funções lubrificar e
nutrir as cartilagens articulares, além de reduzir o atrito durante a movimentação.

Além dessas características, que são comuns a todas articulações sinoviais,


em várias delas encontram-se formações fibrocartilagíneas, interpostas às superfícies
articulares; os discos e meniscos, com função de servirem a melhor adaptação das
superfícies que se articulam (tornando-as congruentes) e serem estruturas destinadas
a receber pressões, agindo como amortecedores. Meniscos, com sua característica em
forma de meia lua, são encontrados na articulação do joelho. Discos são encontrados
nas articulações esternoclavicular e temporomandibular.

FIGURA 25 – ARTICULAÇÕES EM MOVIMENTO DE DANÇA

FONTE: <https://bit.ly/3Cdv8To>. Acesso em: 1º set. 2021.

As articulações fibrosas e cartilaginosas têm um mínimo grau de mobilidade.


Segundo Dangelo (2000), a mobilidade é dada pelas articulações sinoviais. Esses
movimentos ocorrem, obrigatoriamente, em torno de um eixo, denominado eixo de
movimento. A direção desses eixos é ântero-posterior, látero-lateral e longitudinal. Na
análise do movimento realizado, a determinação do eixo de movimento é feita obedecendo
a regra, segundo a qual a direção do eixo de movimento é sempre perpendicular ao plano
(coronal, sagital ou horizontal) no qual se realiza o movimento em questão, ou seja,
formando uma angulação de 90º entre plano e eixo. Assim, todo movimento é realizado
em um plano determinado e o seu eixo de movimento é perpendicular àquele plano.

22
FIGURA 26 – EIXO DE MOVIMENTOS

FONTE: <https://conscienceofbreaking.files.wordpress.com/2013/08/sds43.jpg>. Acesso em: 1º set. 2021.

NOTA
Os movimentos executados pelos segmentos do corpo recebem nomes
específicos, e aqui serão definidos, a seguir, apenas os mais comuns: flexão e
extensão, adução e abdução, rotação e circundução.

5 O ESQUELETO HUMANO
A Dança, apesar de ser originada em um movimento corporal, passa a sensação
de que são os ossos que se movem no espaço. Os músculos não devem encarcerar os
ossos, mas serem seus servidores. O movimento que ocorre no corpo, pois tudo nele
está em contato interno, toca-se, é tátil: os ossos tocam os músculos, os músculos
tocam a pele de todo o corpo, a pele toca o ar (VIANNA, 2005).

5.1 ESTRUTURAS AXIAIS


O esqueleto axial é constituído por 80 ossos, formado pelo crânio, a caixa
torácica e a coluna vertebral. Podemos caracterizá-lo como o eixo central do corpo.
“Por ser o pilar central do sistema esquelético sua função é proteger o Sistema Nervoso
Central e alguns dos órgãos vitais localizados na região torácica” (SOUZA, 2016, p.18).

23
FIGURA 27 – NÚMERO DE OSSOS DO ESQUELETO AXIAL E APENDICULAR

FONTE: <https://i.pinimg.com/564x/d7/04/17/d7041711795c45cf42560a3be0913fb2.jpg>.
Acesso em: 1º set. 2021.

5.2 ESTRUTURAS APENDICULARES


O esqueleto apendicular é composto por 126 ossos, os quais formam nossos
membros. Para Magalhães (2021 s.p.), fazem parte do esqueleto apendicular:

• Os membros superiores são constituídos pelo úmero (osso do braço), ulna e rádio
(ossos do antebraço), carpos (ossos do punho), metacarpos (ossos da palma da
mão) e falanges (ossos dos dedos).
• A cintura escapular é constituída pela clavícula e pela escápula.
• Os membros inferiores são constituídos pelo fêmur (osso da coxa), tíbia e fíbula
(ossos da perna), patela (osso do joelho), tarsos, metatarsos e falanges (ossos dos
dedos).
• A cintura pélvica é constituída pelos ossos do quadril, também chamados de ossos
pélvicos.

24
FIGURA 28 – ESQUELETO APENDICULAR

FONTE: <https://bit.ly/3zb1xIj>. Acesso em: 1º set. 2021.

Os movimentos que fazemos com nosso corpo acontecem em virtude do


sistema locomotor, formado pelo esqueleto e pelos músculos. Os ossos, cartilagens e
articulações são os componentes do esqueleto.

6 O CORPO ESTRUTURANTE NA DANÇA


Na dança, nosso corpo é o veículo de expressão de pensamentos, ideias
ou sentimentos, bem como é pelo corpo que se revela uma história cultural, social,
psicológica e biológica; isso se dá pela mediação comunicativa nos movimentos. A
forma como se dá a comunicação pode ser via um coreógrafo ou seu intérprete, mas
possivelmente revelam suas percepções do mundo, bem como pode ser apreendida
através da dança, aspectos importantes de uma sociedade e sua cultura.

6.1 POSSIBILIDADES DE MOVIMENTOS NA DANÇA


Na dança, cada passo, em cada posição, desde pequenos deslocamentos até
grandes saltos, há uma enorme possibilidade de movimentos. Tanto a contração de um
músculo ou de um grupamento muscular torna possível impulsionar e elevar o corpo, tal
como em saltos. Também a flexão e a contração do corpo, movimentos articulares dos
braços e pernas que podem ser esticados e dobrados para executar com precisão os
passos da coreografia, bem como explorar as expressões faciais.

25
Em qualquer modalidade ou estilo de dança o conhecimento da cinesiologia
possui um papel importantíssimo para otimizar conhecimento das técnicas. A execução
dos movimentos de forma consciente proporciona ser a performance em dança
aprimorada, assim se pode dar vida ao movimento pelas relações entre a arte e a ciência
do movimento.

A necessidade de estudar anatomia e cinesiologia é inegável quando se


pretende ser professor, pois mesmo que a dança seja uma arte que tem sua própria
técnica, dominar o movimento requer um estudo minucioso do estilo coreográfico
que se pretende dançar, bem como da cinesia do movimento. Tem-se que repetir o
movimento muitas vezes e, para isso, o corpo precisa estar preparado.

FIGURA 29 – O CORPO DANÇA – GRUPO CORPO

FONTE: <https://bit.ly/3Ae2dhb>. Acesso em: 1º set. 2021.

O professor conhecedor da técnica, ou seja, de como os movimentos se realizam


corretamente, faz com que os músculos corretos funcionem; e se os movimentos
são realizados corretamente, os músculos apropriados entram em jogo. Para um
bailarino, é requerido o executar de movimentos com grande amplitude articular e
elasticidade muscular, assim é de extrema importância o domínio completo do corpo
e suas limitações, para que o professor possa ajudar a ampliar a capacidade motora e
consciência corporal.

6.2 RELAÇÕES DO CORPO NA DANÇA


Com relação à consciência corporal, Moreira (1995, p. 22) diz que “Olhar
sensivelmente os corpos que passam pela aula de Educação Motora é ir buscar não
mais a disciplina, mas a consciência corporal, mesmo porque o ato de conhecer não é
mental; ele é, antes de tudo, corpóreo”. O conhecimento do corpo conduz ao domínio da
dança, ou seja, há muito trabalho e estudo para adquirir as técnicas de movimento de
cada tipo de dança, bem como as possibilidades do corpo que dança.

26
Para Merleau Ponty (1996 apud OLIVIER, 1995, p.72): “O homem é um ser
encarnado: é consciente de ter um corpo e todos os seus atos de autoconsciência são
filtrados através do corpo. Este mesmo autor, ao abordar a relação consciência e corpo,
afirma: toda consciência é consciência perceptiva, mesmo a consciência de nós mesmos”.

FIGURA 30 – AULA DE DANÇA CONTEMPORÂNEA – CONSCIÊNCIA CORPORAL

FONTE: <https://namu.com.br/portal/corpo-mente/fitness/danca-contemporanea/>. Acesso em: 1º set. 2021.

Segundo Castellani (1995 apud OLIVIER 1995, p. 22), consciência corporal é:

Sua compreensão a respeito dos signos tatuados em seu corpo pelos


aspectos socioculturais de momentos históricos determinados.
É fazê-lo sabedor de que seu corpo sempre estará expressando
o discurso hegemônico de uma época e que a compreensão do
significado desse 'discurso', bem como de seus determinantes, é
condição para que ele possa vir a participar do processo de construção
de seu tempo e, por conseguinte, da elaboração dos signos a serem
gravados em seu corpo.

A auto-observação da boa postura na execução da dança é o principal fator para


a conscientização do indivíduo do que seria uma postura correta e qual a melhor maneira
de se estar minimizando o esforço pelo qual o corpo é submetido, proporcionando a
identificação dos processos e movimentos corporais, internos e externos.

Ter uma dança bem fundamentada faz toda a diferença na execução de


coreografias, ou seja, dar-se conta do como, onde e quando se sucedem as modificações
corporais com o intuito de desenvolver e aprimorar a percepção justa das formas, do
espaço e do tempo.

27
AUTOATIVIDADE
1 Coloque uma música relaxante da qual você goste. Deixe seu corpo se movimentar ao som
da música, a partir do plano e das ações que você escolheu. Descubra novas possibilidades
para essas ações: varie níveis (baixo, médio e alto), velocidade (lenta, rápida), direções (reta,
sinuosa, angular) e intensidade do movimento (forte, moderado, fraco) e salte!

2 Use a criatividade e experimente movimentar diferentes partes do corpo,


realizando e identificando essas ações. Faça essa atividade para os três planos
e para as exceções, assim, os termos técnicos poderão ser memorizados e
fazer parte de seu vocabulário.

3 Peça para alguém fotografar você (celular ou câmera) de corpo inteiro


frontal, de perfil e de costas. Para ficar bem visível, use traje de banho.
Observe as curvaturas de sua coluna e identifique as quatro regiões. Tente
perceber as diferenças nas curvaturas, se estão mais ou menos acentuadas.

28
RESUMO DO TÓPICO 1
Neste tópico, você adquiriu certos aprendizados, como:

• A cinesiologia faz parte da dança.

• A compreensão do corpo é importante para uma movimentação consciente.

• Os movimentos são realizados em três planos: sagital, frontal e transverso.

• As articulações realizam movimentos de abdução e adução.

• O corpo humano é dividido em quatro sistemas que compõem o aparelho locomotor:


esquelético, articular, muscular e nervoso.

• O esqueleto é como uma armadura, que sustenta e dá forma ao nosso corpo,


permite a nossa locomoção e protege os nossos órgãos internos.

• O sistema muscular é constituído pelo conjunto de músculos que nos permite


movimentação do esqueleto, produção de calor, postura e sustentação do corpo.

• As articulações permitem a movimentação dos segmentos do corpo e mantêm


todos os ossos do esqueleto juntos e estáveis.

• Na dança, devido às possibilidades de movimentos, é possível impulsionar e elevar o


corpo, flexionar e contrair o corpo, e movimentar as articulares dos braços e pernas.

29
AUTOATIVIDADE
1 Observe a figura a seguir. Em seguida, assinale a alternativa CORRETA que nomeia o
que ela representa:

FONTE: Adaptada de <https://c8.alamy.com/comp/DN3A08/diagram-of-human-bone-anatomy-DN3A08.jpg>.


Acesso em: 1º set. 2021.

a) ( ) Vista lateral do quadril.


b) ( ) Vista anterior do fêmur.
c) ( ) Vista anterior da tíbia direita.
d) ( ) Vista anterior da fíbula direita.

2 Anatomicamente, considera-se três planos, nos quais os movimentos são realizados.


O primeiro é o plano Sagital, que divide o corpo em metades direita e esquerda.
O segundo plano de movimento é o plano frontal, que divide o corpo em porções
anterior (a parte da frente) e posterior (a parte de trás), e os movimentos realizados
são laterais: a abdução e a adução. O terceiro e último plano é o plano transversal ou
horizontal, que divide o corpo em porção superior e inferior. Com relação aos planos,
assinale a alternativa CORRETA:

a) ( ) O plano que divide o corpo humano em duas partes iguais (direito e esquerdo) é
denominado sagital mediano.
b) ( ) O plano frontal são todos os planos que dividem o corpo horizontalmente,
dividindo o corpo em duas metades diferentes, superior e inferior.
c) ( ) O plano transversal são todos os planos verticais com trajeto paralelo à sutura
coronal do crânio, dividindo o corpo em anterior e posterior.
d) ( ) O termo lateral deve ser utilizado para referir-se às estruturas mais próximas do
plano sagital mediano.

30
3 Assinale a alternativa CORRETA que apresenta o plano em que os movimentos de
abdução e adução de uma articulação são realizados no plano:

a) ( ) Horizontal.
b) ( ) Frontal.
c) ( ) Sagital.
d) ( ) Oblíquo.

4 De acordo com seus estudos, descreva como é definido o esqueleto humano e quais
nomenclaturas recebem as principais partes que o compõe.

5 Descreva o porquê é importante que o professor de dança estude anatomia e


cinesiologia, além de ter conhecimento sobre a técnica de dança que desenvolve
com seus alunos.

31
32
UNIDADE 1 TÓPICO 2 -
O CORPO CONSCIENTE

1 INTRODUÇÃO
Quando um jovem decide dançar, seus pais ou ele mesmo pode determinar
quem será o professor e, com certeza, os primeiros movimentos sugeridos por esse
profissional serão flexões, estiramentos, saltos e agachamentos. Qual o segredo dos
poucos dançarinos que executaram uma série de exigentes exercícios físicos por muitos
anos e no decorrer do tempo acumularam poucas lesões? A resposta é sem dúvida que
utilizaram a consciência corporal motivada por professores bem preparados. A cinesiologia
é um conhecimento importante para professores de dança e é um estudo que passa por
atualizações constantes, pois leva em conta cada indivíduo e suas peculiaridades para
a prevenção ou a recuperação de lesões. Na medida em que o conhecimento avança,
a cinesiologia pode também ajudar na otimização da potencialidade dos corpos que
dançam. Dessa forma, possibilita o conhecimento corporal que, por auxiliar atletas,
bailarinos, performances diversas ou até mesmo pessoas comuns a melhorarem seus
desempenhos físicos, melhoram também a qualidade de vida e a longevidade na prática
de exercícios.

2 CARACTERIZANDO O SISTEMA MUSCULOESQUELÉTICO


O sistema musculoesquelético é formado por ossos, articulações, músculos,
tendões, nervos periféricos e partes moles adjacentes. Os músculos são presos aos
ossos através de tendões ou aponeuroses e recebem um rico suprimento nervoso para
permitir o controle preciso do movimento.

Conforme aponta Haas (2010, p. 4), “a maioria dos bailarinos tem maior
porcentagem de fibras de contração lenta, enquanto dançarinos que possuem aspecto
mais corpulento ou musculoso tem maior porcentagem de fibras de contração rápida”.
A unidade estrutural de um músculo é a fibra muscular, enquanto a unidade funcional é
uma unidade motora. Os músculos esqueléticos agem principalmente em antagonismo,
o que significa que quando algum deles se contrai para gerar o movimento (agonista), o
correspondente oposto relaxa (antagonista).

33
2.1 SISTEMA MUSCULOESQUELÉTICO DAS ESTRUTURAS
AXIAIS
Segundo Infante (2011, p. 14) “a rotação da cabeça sobre o pescoço, através
dos movimentos dos olhos e dos ouvidos, é um dos fatores que irá contribuir para
estruturar uma forma em curvas da coluna vertebral, possibilitando vários movimentos
ao corpo, pois a musculatura interna que envolve as vértebras começa a se fortalecer
e qualquer pequeno movimento da cabeça reverbera em toda a sua estrutura”. Sendo
assim, nossa coluna vertebral dificilmente será reta e estática, ao contrário, será sempre
flexível e ondulada, em constante transformação, pois sempre estamos nos mexendo e
movimentando nossa cabeça.

Essas curvas elementares se estabelecem durante o desenvolvimento motor e


acontecem na parte da coluna cervical e da coluna lombar, estão sujeitas a transformações
no longo percurso da vida, e poderão ser muito bem estruturadas de maneira que
possamos realizar movimentos eficientes.

Para que a coluna se mantenha nesse movimento ósseo natural e


flexível, conservando suas curvas elementares, se fortalecendo
na possibilidade de movimento e de flexibilização, e para que a
musculatura continue firmando sua estrutura, faz-se necessário
que o próprio aprimoramento do desenvolvimento motor e as
práticas corporais adequadas continuem fazendo parte da vida diária
(INFANTE, 2011, p. 15).

FIGURA 31 – MÚSCULOS DO ABDÔMEN

FONTE: <https://bit.ly/2YVRavr>. Acesso em: 1º set. 2021.

Os exercícios que promovem deslocamentos e o movimento corporal de


flexibilização e alongamento fortalecem os músculos do abdômen e colaboram para a
desenvoltura dos movimentos, bem como para o alívio e distribuição do peso na coluna

34
vertebral. A prática consciente e com orientação de profissionais conhecedores da
arte e da ciência para os movimentos do corpo, seja por meio da dança, das práticas
esportivas ou mesmo no dia-a-dia, possibilitam a longevidade e qualidade de vida.

FIGURA 32 – MÚSCULOS DORSAIS INTRÍNSECOS

FONTE: <http://estacio.webaula.com.br/cursos/dis084/galeria/aula3/img/img1.jpg>. Acesso em: 2 set. 2021.

Cada bailarino tem movimentos naturais e espontâneos na maneira de realizar


os gestos e de dançar, no entanto, quando buscam aprimorar o movimento para dança,
estão a buscar organizar os gestos e ações. Perceber os músculos dorsais atuando
em todos movimentos da coluna e por sequência na manutenção da postura e ter a
consciência que eles podem atuar todos juntos ou em subgrupos, bi ou unilateralmente,
e se dispõem em camadas, encadeando-se em feixes que se encontram e se entrelaçam
em diferentes pontos.

A natureza do movimento espontâneo tenta predominar, por isso desenvolver


o controle interno para efetuar o passo pretendido demanda de uma organização e
reforça a compreensão do corpo como um sistema integrado, composto por grupos
de estruturas interdependentes. Esse controle do movimento também reforça a ação
colaborativa entre diferentes músculos, a sinergia, que é um dos principais fatores que
possibilita o nosso movimento.

Os músculos profundos das costas estabilizam a coluna e ajudam na


manutenção da postura, agindo, assim, como os abdominais, na prevenção de lesões.
Conforme aponta Calais-Germain (2010a, p. 75), “a coluna vertebral possui um grupo de
músculos profundos, capazes de erguê-la e de manter um alinhamento harmonioso das
vértebras e dos discos intervertebrais”. Esses músculos têm predominância de fibras
que fazem com que seja possível a manutenção da postura vertical da coluna.
35
Os músculos a todo instante ligam e reequilibram as vértebras,
trabalhando quase que incessantemente quando estamos de pé.
A próxima camada é composta por um grupo de músculos longos
que, juntos, também abrangem da cabeça ao sacro. Esses músculos,
quando analisados em grupo, são chamados de paravertebrais
(paralelos à coluna). Eles são os principais responsáveis pela extensão
da coluna, por isso são também chamados de eretores da espinha
(MOORE; AGUR, 2002 apud HAAS, 2011, p. 17).

FIGURA 33 – MÚSCULOS DO CORE

FONTE: <https://bit.ly/397amrW>. Acesso em: 2 set. 2021.

A dança acontece internamente em um corpo enquanto há o deslocamento


conjunto a uma série de combinações de ações sobre os músculos eretores da espinha.
Sobre os eretores da espinha, temos uma camada de músculos longos que vão da
cabeça à segunda vértebra lombar e, diferente dos músculos da segunda camada, se
inserem também sobre os processos espinhosos. É nesse intrincado movimento que
internamente acontece e gera a dança.

NOTA
Nas aulas de dança, quando citada a musculatura abdominal, fala-se
sobre os músculos: reto abdominal, oblíquo interno, oblíquo externo e
transverso do abdômen.

2.2 SISTEMA MUSCULOESQUELÉTICO DAS ESTRUTURAS


APENDICULARES
Compreendemos o termo estruturas apendiculares como os ossos e músculos
dos membros superiores e inferiores que são responsáveis pela movimentação
e sustentação do corpo. Esses sistemas agem em sinergia e cada estrutura que os
compõem apresentam diversos aspectos na execução dos movimentos.

36
A estrutura chamada de assoalho pélvico e os pelvitrocantéricos constituem a
base da bacia. São compostos por um grupo de músculos curtos e fortes que compõem,
juntamente com os ossos da pelve, o assoalho pélvico.

O Assoalho Pélvico dá suporte às vísceras pélvicas, os músculos


Íliococcígeo e Pubococcígeo que contraem a extremidade baixa,
nos homens: reto, próstata e uretra; e nas mulheres: reto, vagina e
uretra. O músculo Ísquiococcígeo faz uma contranutação do sacro e
dá suporte ao cóccix (SOUZA, 2016, p. 54).

A estabilidade da coluna se dá devido à contração simultânea entre o diafragma


(músculo da respiração), o assoalho pélvico e os abdominais (transverso do abdômen),
formando um centro de força que quando utilizado de forma correta, gera movimentos sem
pendências demasiadas em um ou outro músculo, ou seja, as compensações musculares.

FIGURA 34 – O ASSOALHO PÉLVICO FEMININO

FONTE: <https://bit.ly/3EgRwwF>. Acesso em: 2 set. 2021.

Os músculos que auxiliam na sustentação das vísceras também são


responsáveis pelas funções urogenitais e sexuais. O músculo mais superficial é chamado
de períneo, este está constantemente em atividade e é responsável pelos movimentos
de anteversão e retroversão da pelve. “O períneo também tem um importante papel na
centralização e estabilização da pelve e consciência postural (HAAS, 2011, p. 53)”.

37
FIGURA 35 – MOVIMENTOS DE ANTEVERSÃO E RETROVERSÃO

FONTE: <https://www.facebook.com/NKTBrasil/posts/2115424745357151/>. Acesso em: 2 set. 2021.

Segundo Souza e Auharek (2017, p. 34):

há um grupo de seis músculos profundos chamado de


pelvitrocantérico, porque se insere na pelve e no trocânter maior
do fêmur. Dois destes músculos, o piriforme e o obturador interno,
são descritos por alguns autores como parte do assoalho pélvico,
principalmente devido à natureza de suas ações sobre a pelve.

Esse grupamento muscular, os pelvitrocantéricos (Figura 35) atuam “puxando”


a pelve para a frente, realizando a retroversão (piriforme, quadrado femoral e obturador
interno), ou para trás, realizando a anteversão.

Para movimentar a coluna, mantendo a estabilidade da pelve, faz-se necessário


o acionamento desses músculos em contração isométrica, neutralizando o movimento
da pelve, já que a cabeça do fêmur é estabilizada no acetábulo (MOORE; AGUR, 2002
apud SOUZA; AURAREK, 2017, p. 35).

FIGURA 36 – PELVICANTÉRICOS

FONTE: <https://proffelipebarros.com.br/wp-content/uploads/2020/06/image-24.png>. Acesso em: 2 set. 2021.

38
A participação da pélvis e das articulações do quadril nos movimentos da
coluna, aumentam quando o peso recai sobre uma das pernas como em arabesques ou
giros em uma só perna. Esses movimentos podem provocar uma incidência significativa
de lesões entre bailarinos. Isso acontece porque muitas vezes, na ânsia de realizar
movimentos para os quais o corpo ainda não está preparado, há uma sobrecarga sobre
algum membro em particular.

Há um outro movimento que os bailarinos têm necessidade de usar nos giros


que envolve a rigidez na coluna e membros inferiores e total liberdade para a cabeça.
Esses movimentos bruscos e rápidos, realizados sem a técnica adequada, também
podem causar lesões. Por isso, o professor de dança deve estar atento às estratégias
propostas para a realização do movimento, promovendo adaptações de acordo com as
possibilidades do aluno de forma progressiva e cuidadosa.

FIGURA 37 – TREINAMENTO DE FLEXIBILIDADE

FONTE: <https://bit.ly/2XgQSPp>. Acesso em: 2 set. 2021.

A percepção corporal dá ao bailarino, tanto no movimento como nas poses,


possibilidades de ajustes das vertebras, assim é imenso o valor de exercícios, tanto para
a flexibilidade como para a postura. Pela percepção provinda do sentir e comandar os
músculos internos, proporciona a consciência e a possibilidade de estimar a relação
do corpo com as dimensões que este pode tomar. É a percepção que nos permite a
projeção espacial, é por meio da sensação que mobilizamos nosso corpo como um todo
e, ao conhecer o tamanho dele, podemos deslocá-lo no espaço para dançar.

2.3 CENTROS INTERATIVOS


De acordo com Infante (2011, p.10):

o corpo que desenvolve habilidades específicas para o movimento vai


percorrer um longo caminho no que se refere a diversas técnicas de
danças, de trabalho e de preparação corporal de treinamentos físicos
e de exercícios de condicionamento, a fim de obter maior resistência
em trabalhos mais intensos e musculares.

39
Por essa razão, a dança e todas as técnicas que trabalham com o aprendizado
corporal também são experiências de aprendizado que transpassam o corpo através de
suas práticas aplicadas ao movimento.

Apesar de a dança ser uma área das artes, é também de estudos teóricos e
reflexivos sobre a Anatomia, a Cinesiologia e a História; o ato de dançar atravessa uma
prática constante e diária de autoconhecimento.

FIGURA 38 – ALONGAMENTO DESDE BEBÊ

FONTE: <https://bit.ly/3zbFiSu>. Acesso em: 2 set. 2021.

Não é preciso ensinar o corpo a se movimentar. Ele já nasce sabendo.


É preciso apenas orientar a pessoa para que ela relembre o que está
guardado dentro de si, esquecido pela correria do dia-a-dia e por
convenções sociais, que moldam o gestual e limitam os movimentos
naturais do indivíduo: atos simples como bocejar e espreguiçar
(VIANNA apud POLO, 2005, p. 424).

Cada bailarino possui um corpo que tem movimentos naturais e espontâneos


na maneira de realizar os gestos e de dançar. O bailarino que busca aprimorar seus
movimentos para dançar necessita conseguir organizar seus gestos em ações, perceber
a natureza do movimento espontâneo e desenvolver o controle interno de músculos.

Dore e Guerra (2007, p. 77), ressaltam que:

para um bom desempenho, é necessário que todos os segmentos


corporais estejam posicionados corretamente, para que permitam o
movimento correto, mas se algo estiver interferindo na mobilidade
natural da articulação ou interferindo em sua estabilidade, há uma
compensação postural e alterações fisiológicas, podendo causar
fadiga e posteriormente resultando em lesões, principalmente nos
membros inferiores, o que causa desequilíbrios entre os grupos
musculares, alterando a biomecânica do sistema osteomioarticular,
comprometendo, assim, sua função.

Compreendemos que a maioria dessas alterações leva a lesões, as quais


desenvolvem dores e patologias provindas dos erros de técnica e de treinamento
inadequado.

40
FIGURA 39 – TREINO DE GINASTAS

FONTE: <https://www.campos.rj.gov.br/app/assets/noticias/with-123474>. Acesso em: 2 set. 2021

Segundo Hamilton et al. (1992, p. 267), “é necessária a percepção de sentir como


o corpo está em movimento, na prática, consiste em penetrar na profundidade da pele,
dos ossos, revendo a qualidade das texturas, o modo e a quantidade de ações, e ainda,
os movimentos mais primários por nós desenvolvidos”. Os autores apresentam os vários
tipos de lesões causados pelo excesso de treinamento, porém relatam que não há um
treinamento específico que aprimore o desempenho e evite essas lesões.

Para perceber e determinar o olhar interno, cuja função é compreender o corpo


e manipulá-lo no espaço em que ocupa, o bailarino percebe o refinamento na natureza
do gesto, para que este possa transmitir uma série de elementos visuais estéticos. Com
relação aos principais centros integradores para execução de movimentos, fizemos uma
adaptação da classificação de Hamilton et al. (1992) e, assim, caracterizamos:

• Quadríceps e isquiotibiais: os dançarinos apreciam a qualidade estética de uma linha


de perna reta, então eles trabalham arduamente para alcançar consistentemente
longas e altas extensões. Como resultado, desenvolvem quadríceps fortes, os
músculos que auxiliam na extensão total do joelho e na flexão do quadril. Ao mesmo
tempo, os dançarinos compreendem a vantagem funcional do joelho. O plié é um
movimento fundamental em muitas modalidades, e toda vez que um dançarino
dobra seus joelhos em plié, seus isquiotibiais trabalham.

41
FIGURA 40 – PLIÉ

FONTE: Hass (2011, p.48)

Consequentemente, os isquiotibiais de um dançarino se tornam cada vez mais


fortes e poderosos, à medida que eles progridem no treinamento.

• Músculos do quadril: a aparência das pernas em en dehor é um elemento-chave


da técnica de balé clássico. Os dançarinos usam o rotador externo do quadril e os
músculos do glúteo para girar as pernas para fora e para sustentar essa rotação
durante as extensões das pernas, saltos e giros. Os iniciantes aprendem a engajar
esses músculos regularmente para manter sua posição. Com esforço consistente,
os dançarinos que trabalham para aumentar sua participação desenvolvem fortes
rotores externos e músculos glúteos.

FIGURA 41 – EM DEHORS

FONTE: Hass (2011, p.108)

42
• Panturrilhas e Pés: fortalecer os músculos das pernas e pés é importante para
auxiliar nas pontas ou na elevação sobre os dedos dos pés. Exercícios que enfatizam
a flexão plantar exigem que o dançarino envolva os músculos da panturrilha e
trabalhe lenta e deliberadamente através dos pés, usando o chão como resistência.
Ao saltar, ele usa a mesma técnica de empurrar forte contra o chão para sair, e
quando ele retorna, há uma preocupação em articular seus pés para suavizar seu
pouso. O resultado é a construção de uma força muscular significativa em suas
panturrilhas e pés.

FIGURA 42 – PANTURRILHAS E PÉS

FONTE: Hass (2011, p. 157)

• Abdômen: contrair os músculos do abdômen ajuda um dançarino a manter o


alinhamento e o equilíbrio adequados, garantindo que sua qualidade de movimento
seja limpa e vigorosa, além de proteger de lesões relacionadas à dança.

FIGURA 43 – MÚSCULOS DO ABDÔMEN NA DANÇA (A)

FONTE: Hass (2011, p. 58)


43
FIGURA 44 – MÚSCULOS DO ABDÔMEN NA DANÇA (B)

FONTE: Hass (2011, p. 59)

FIGURA 45 – MÚSCULOS DO ABDÔMEN NA DANÇA (C)

FONTE: Hass (2011, p. 62)

44
FIGURA 46 – MÚSCULOS DO ABDÔMEN RETO E OBLÍQUO

FONTE: Hass (2011, p.63)

3 A CABEÇA
A cabeça e o pescoço são constituídos por uma série de conexões muito fortes,
que formam a região cervical, especialmente chamados de nuca. Esse sistema é formado
por muitas estruturas, advindas de vários sistemas como o esquelético, o muscular, o
nervoso, o digestório etc. As conexões se prendem de forma muito complexa ao que
está abaixo e estão firmemente unidas tanto pela frente como por trás, proporcionando
o livre movimento da cabeça.

3.1 CARACTERIZAÇÃO
Segundo as estimativas de Lourenço (2021), a cabeça é resiliente o suficiente
para suportar um peso de cinco quilogramas, 24 horas por dia, no entanto, móvel o
suficiente para girar em todas as direções e tem a função de proteger o frágil cérebro.

Os ossos da cabeça são responsáveis pela proteção do encéfalo, sendo


formados por 22 ossos:

• ossos do crânio: frontal, dois parietais, dois temporais, occipital, esfenoide e etmoide;
• 14 ossos da face: dois zigomáticos, dois maxilares, dois nasais, mandíbula, dois
palatinos, dois lacrimais, vômer, duas conchas nasais inferiores.

45
A mandíbula constitui uma exceção dos ossos na cabeça por ser móvel e auxiliar
no movimento da boca durante a fala e a mastigação. Ainda na região da cabeça existe
o osso hioide, o qual funciona como ponto de apoio para os músculos da língua e do
pescoço.

FIGURA 47 – A CABEÇA

FONTE: <https://static.todamateria.com.br/upload/cr/an/cranioeossosdaface-0.jpg>. Acesso em: 2 set. 2021.

Segundo Lourenço (2021) o crânio é formado por uma série de ossos divididos em
duas partes: o neurocrânio (caixa craniana) envolve o cérebro, as meninges, as porções
proximais dos nervos cranianos e os vasos sanguíneos. O viscerocrânio é constituído
por 14 ossos que formam as órbitas oculares, as cavidades nasais, e incluem o maxilar e
a mandíbula. Na parte da frente da cabeça, estruturando nossa face, vamos destacar os
seguintes ossos: osso frontal, osso zigomático, maxila, mandíbula e osso nasal.

Para o movimento de abrir e fechar a boca, há a articulação têmporo-mandibular,


entre a mandíbula e o osso temporal, que é sinovial, nos permitindo, dentre outros
movimentos, abrir a boca.

46
FIGURA 48 – MÚSCULOS DO PESCOÇO

FONTE: Netter (1998. p. 22)

A grande amplitude de movimentos da cabeça é permitida pelo Atlas (C1) e


o Axis (C2); as duas primeiras vértebras cervicais, são consideradas atípicas, devido
as suas características estruturais e funcionais peculiares. O Atlas não possui corpo
vertebral, mas sim, um arco vertebral superior e um inferior. “O corpo vertebral do Axis
é de tamanho reduzido e apresenta na parte superior um processo ósseo, o Dente do
Atlas ou Processo Odontoide, com o qual ele se articula com Axis. Ambas as vértebras
apresentam aberturas nos processos transversos através dos quais passam artérias e
plexos, nervosos e venosos” (MAÇANEIRO, 2000, p. 783).

47
FIGURA 49 – ATLAS (C1) E AXIS (C2)

FONTE: <https://bit.ly/3z8SAza>. Acesso em: 2 set. 2021.

Os movimentos de nossa cabeça são possibilitados por um tipo de articulação


chamada trocoide, constituída pelas articulações entre C1 e C2 do Axis, formando um
pivô que possibilita a movimentação do crâneo; assim como permite dizer “não” com a
cabeça. Entre a face articular inferior do Atlas e superior do Axis, existem articulações
planas, que permitem movimentos de deslizamento de uma vértebra sobre a outra e,
com ela, do crânio.

FIGURA 50 – VISTA LATERAL DO ATLAS (C1) E AXIS (C2)

FONTE: <https://www.spine-health.com/conditions/spine-anatomy/c1-c2-vertebrae-and-spinal-segment>.
Acesso em: 2 set. 2021.

Segundo Rondinelli (2021) articulação entre C1 e C2 é muito solicitada nos


movimentos de cabeça em algumas danças orientais, como a dança indiana e a dança
do ventre. Entre o Atlas e o Occipital temos articulações do tipo condilar, ou seja, uma
das superfícies tem a forma de uma cavidade elipsoide (no caso a do Atlas) e a outra
tem forma condilar ou ovoide (no caso o côndilo do Occipital). Ela permite movimentos
48
de flexão, extensão (nos permitindo dizer sim com a cabeça, por exemplo) e inclinação
lateral para os dois lados. Você pode perceber a mobilidade ao reproduzir os movimentos
de cabeça da figura a seguir:

FIGURA 51 – EXPERIÊNCIA PARA PERCEPÇÃO

FONTE: <https://blog.institutoviva.com.br/a-coluna-vertebral-anatomia/>. Acesso em: 2 set. 2021.

4 A COLUNA VERTEBRAL
A coluna é formada por vértebras que são ligadas entre si por articulações, o
que torna a coluna bem flexível. Possui curvaturas que ajudam a equilibrar o corpo e
amortecem os choques durante os movimentos. Ela é constituída por 24 vértebras
independentes e nove que estão fundidas. Observe a figura a seguir e veja como as
vertebras estão agrupadas:

FIGURA 52 – A COLUNA VERTEBRAL

FONTE: <https://s32778.pcdn.co/wp-content/uploads/2020/11/coluna-vertebral.jpg>. Acesso em: 2 set. 2021.

49
As vértebras são estruturas ósseas arredondadas, presentes desde o crânio até
o osso da bacia e são conectadas entre elas através de músculos e ligamentos os quais
permitem a flexibilidade ou elasticidade da coluna. Esses ossos da coluna (vértebras)
são interligados e protegem a medula e os nervos que estão presentes dentro da coluna.

Formando a base da coluna vertebral, o osso é chamado de sacro, e possui uma


forma de pirâmide triangular que é constituída através da fusão de cinco vértebras. O
sacro se articula com a região lombar e com a pelve. Na base, há um pequeno osso, que
é chamado Cóccix.

FIGURA 53 – POSIÇÃO DO CÓCCIX

FONTE: <https://bit.ly/3CeN8fM>. Acesso em: 2 set. 2021.

Podemos observar nas figuras 52 e 53 que a coluna apresenta curvas naturais,


no plano sagital, fundamentais para a manutenção da postura e a distribuição das
forças, as quais a coluna é submetida (HAAS, 2011).

A dança contemporânea é uma modalidade que faz o uso do cóccix, que é, por
vezes, exigido demasiadamente; assim, os cuidados para não se lesionar devem ser
constantes.

FIGURA 54 – EQUILÍBRIO NO CÓCCIX

FONTE: <https://bit.ly/3E9ZhEG>. Acesso em: 2 set. 2021.

50
As curvaturas cervical e lombar que são convexas ventralmente, ou seja, se
deslocam para frente no sentido ventral ou anterior do corpo, se chamam lordoses. A
torácica e a sacral são côncavas ventralmente e deslocam-se para trás, se chamando
cifoses.

FIGURA 55 – LORDOSE, CIFOSE E ESCOLIOSE

FONTE: <https://static.tuasaude.com/media/article/pu/mu/cifose_32996_l.jpg>. Acesso em: 2 set. 2021.

DICA
Independente da modalidade de dança que você pratique, é muito
importante preservar as curvaturas da coluna, buscando o que chamamos
de coluna neutra. Conforme aponta Haas, “a alteração das curvaturas
para o posicionamento do corpo causa estresse excessivo nos discos
e atividade muscular desnecessária para manter este desalinhamento”
(HASS, 2011, p. 19).

51
FIGURA 56 – COLUNA EM POSIÇÃO NEUTRA

FONTE: Haas (2011, p.18)

AUTOATIVIDADE
1 Propomos que você realize o exercício a seguir, utilizando as sensações internas como
guia:

a) Deite-se no chão, de barriga para cima (chamamos esta posição de decúbito dorsal), com
os joelhos dobrados, pés no chão e braços relaxados ao longo do corpo. Faça algumas
respirações profundas, voltando sua atenção para si e para o local onde está.
b) Inspire e, na expiração, tente “grudar” toda a sua coluna no chão. Você observará que
sua pelve será ligeiramente projetada para cima e seus joelhos tenderão a
dobrar-se. Esse movimento da pelve é denominado retroversão.
c) Volte à posição inicial e inspire novamente. Dessa vez, na expiração, você
vai afastar a região lombar do chão, com movimento de anteversão.
d) Volte à posição inicial. Com o auxílio dos músculos abdominais,
mantenha a sua cintura ligeiramente afastada do chão, de modo
que você consiga deslizar os dedos por baixo dela. Se sua cervical
estiver alinhas corretamente, você conseguirá deslizar sua mão,
mas não o pulso, por baixo dela. Caso ela esteja muito afastada,
deslize seu queixo (um pouquinho apenas) para baixo, em direção

52
ao queixo. Se ela estiver muito próxima do chão, você poderá projetar o queixo um pouco
para cima. Você agora está com a coluna na posição neutra. Você notará que ao alterar a
posição de uma região as outras também serão afetadas, pois estão interconectadas e se
movimentam de maneira interdependente.
c) Fique em pé, com os membros superiores e inferiores na primeira posição. Mantenha a
coluna ereta, ou seja, na posição neutra. Contraia suavemente os músculos abdominais
e, enquanto inspirar, traga para a frente a pelve no movimento de retroversão; e quando
expirar, volte a posição neutra. Ao inspirar, leve a pelve para trás no movimento de
anteversão. Retorne à posição neutra expirando, e repita nas posições segunda, terceira,
quarta e quinta.

FIGURA 57 – POSIÇÕES BÁSICAS DO BALLET

FONTE: <https://bit.ly/3zfIImZ>. Acesso em: 2 set. 2021.

ATENÇÃO
Você não deverá sentir nenhum tipo de dor ao realizar esta última prática
sugerida. Caso sinta algum incômodo, não continue. Se tiver dúvidas, entre
em contato com o tutor, que poderá auxiliá-lo nessa investigação.

53
4.1 ESTRUTURA DA VÉRTEBRA TÍPICA
A coluna vertebral se move, não em conjunto, mas sim por segmentos que
deslizam e transpassam as vértebras umas sobre as outras. A mobilidade depende da
forma original do conjunto, a longitude das articulações e a flexibilidade dos músculos
que produzem os movimentos. Uma vértebra típica é formada por corpo, arco e processos
vertebrais. O corpo é a parte da vértebra que suporta o peso e é constituído por osso
esponjoso, apresentando nas bordas osso compacto. Ele está localizado na parte anterior
da estrutura. Os processos vertebrais são pontas ósseas que saem das lâminas.

As vértebras são móveis devido a um intrincado sistema de ligamentos que


as sustentam e possuem faces articulares superiores e inferiores, localizadas em duas
protuberâncias ósseas, os processos articulares. Os processos espinhosos de algumas
vértebras cervicais e torácicas podem ser observados a olho nu quando inclinamos a
cabeça para frente.

A lordose, escoliose e cifose são caracterizadas como acidentes ósseos e se


localizam na parte posterior da vértebra, chamada arco vertebral. A parte anterior, que é
maciça e mais ou menos cilíndrica, chama-se corpo vertebral. Quando unidos, o arco e
o corpo vertebral determinam uma abertura, o forame vertebral.

Observar os processos transversos citados por Netter (2000):

• Vértebras Cervicais: possuem um corpo pequeno, exceto a primeira vértebra.


Em geral, apresentam processo espinhal bífido e horizontalizado e seus processos
transversos possuem passagem de artérias e veias vertebrais.

FIGURA 58 – VERTEBRA CERVICAL

FONTE: Adaptada de Netter (2000)

54
• Vértebras Torácicas: o processo espinhoso não é bifurcado e se apresenta
descendente e pontiagudo. As vértebras torácicas se articulam com as costelas,
sendo que as superfícies articulares dessas vértebras são chamadas fóveas e
hemifóveas. As fóveas podem estar localizadas no corpo vertebral, pedículo ou nos
processos transversos.

FIGURA 59 – VERTEBRA TORÁCICA

FONTE: Netter (2000, p. 23)

• Vértebras Lombares: Os corpos vertebrais são maiores e em forma triangular,


estão dispostos em posição horizontal. Apresenta um processo transverso bem
desenvolvido chamado apêndice costiforme. Pode ser diferenciado também por
não apresentar forame no processo transverso e nem a fóvea costal.

55
FIGURA 60 – VERTEBRA LOMBAR

FONTE: Netter (2000, p.25)

Os movimentos do corpo são possibilitados pela forma e função que a coluna


vertebral possui, ou seja, o empilhamento das vértebras faz com que os diversos
forames vertebrais formem o canal vertebral, no qual passa a medula espinhal, mais
um fator que contribui para a importância de mantermos o alinhamento da coluna.
Entre dois corpos vertebrais encontra-se o disco intervertebral, que funciona como
“um amortecedor feito para suportar as grandes pressões às quais são submetidas as
vértebras” (CALAIS-GERMAIN, 2010b, p. 37). Esse disco é formado pelo chamado anel
fibroso, constituído por lâminas concêntricas de cartilagem fibrosa e por uma zona
central de líquido gelatinoso, o núcleo pulposo.

Fatores como desgaste, idade e movimentos repetitivos realizados sem a


preparação adequada ou sobrecarga podem gerar rupturas no anel fibroso. Nesses
casos, a substância do núcleo pulposo migra, como se derramasse por entre as rupturas,
alterando a forma do disco e causando as chamadas hérnias de disco.

FIGURA 61 – HÉRNIA DE DISCO

FONTE: <https://bit.ly/3nyP52z>. Acesso em: 2 set. 2021.

56
AUTOATIVIDADE
Procure reproduzir os movimentos do tronco indicados na figura a
seguir. Observe como seu corpo se comporta em cada um deles e se há
tensões ou dores.

FIGURA 62 – A COLUNA

FONTE:< https://bit.ly/3Eewteh>. Acesso em: 2 set. 2021.

5 O TÓRAX
O tórax é formado por 12 pares de costelas, unidas pela parte posterior das
vértebras e ligadas umas às outras pelos músculos intercostais. As costelas são
formadas por ossos chatos e encurvados que, devido as suas disposições, asseguram
tanto a flexibilidade como a elasticidade ao se movimentarem durante a respiração.

O tórax está localizado na parte superior do tronco humano e seu esqueleto


forma a caixa torácica, que é uma cavidade de extrema importância, pois funciona
como uma armadura, protegendo o coração e os pulmões.

5.1 ESTRUTURAS CONSTITUÍNTES


O esterno é um osso plano que se liga às costelas por meio de cartilagem. Os
sete primeiros pares de costelas ligam-se ao esterno, os três seguintes ligam-se entre
si, e os dois últimos pares (flutuantes) não se ligam a nenhum osso.

57
FIGURA 63 – OSSOS DO TÓRAX HUMANO

FONTE: <https://bit.ly/3Acvw3O>. Acesso em: 2 set. 2021.

O esterno é um osso plano, composto de três partes: o Manúbrio, que se articula


com a clavícula; o Corpo do Esterno, no qual se inserem as costelas; e o Processo
Xifoide, na extremidade inferior. De acordo com Natour (2004, p. 35), do ponto de
vista mecânico, a coluna vertebral pode ser conceituada “como uma viga em balanço,
suportando cargas estáveis e móveis”.

O tórax é também constituído por uma musculatura denominada músculos


intercostais (entre as costelas) que, com o diafragma (músculo que separa o tórax do
abdômen), é responsável pelos movimentos respiratórios de inspiração (entrada do ar)
e expiração (saída do ar). Para que o ar entre, o diafragma e os músculos intercostais
se contraem, expandindo o tórax; para que o ar saia, eles relaxam e o tórax volta ao seu
tamanho normal. O valor de respirar profundamente está no efeito mobilizador do tórax,
pois um tórax flexível permite que a respiração se ajuste aos movimentos e proporcione
flexibilidade aos músculos peitorais. O tórax também possui os músculos peitorais, que
auxiliam a movimentação dos ombros e dos braços.

AUTOATIVIDADE
Procure reproduzir os movimentos da nuca e do tórax, indicados na figura
a seguir. Observe como o seu corpo se comporta em cada um deles e se
há tensões ou dores.

58
FIGURA 64 – MOVIMENTOS BÁSICOS DA COLUNA VERTEBRAL

FONTE: Natour (2004, p. 36)

Segundo Calais-Germain (2010b, p. 63), “os movimentos das costelas estão


ligados ao movimento da coluna torácica e vice-versa”. Sendo assim, na flexão torácica
elas se fecham anteriormente, enquanto na extensão se abrem. Nas inclinações laterais
os espaços intercostais se alargam de um lado e se estreitam do outro; e nas rotações
um lado retrocede, enquanto o outro avança.

59
FIGURA 65 – DANÇA FLAMENCA

FONTE: <https://revistacampinas.com.br/wp-content/uploads/2017/11/Alma-Flamenca-4-300x200.jpg>.
Acesso em: 2 set. 2021.

O posicionamento do tórax, de certa forma, caracteriza algumas das diferentes


abordagens de dança, como o movimento das costelas na dança flamenca, que é muito
importante para manutenção da postura. Já o ballet clássico solicita que as vértebras
deslizem como se fossem passar umas sobre as outras, ajudando no alongamento axial.
Na dança flamenca é importante que o peito se projete para frente e que as costelas
estejam mais abertas, estendendo ligeiramente a região torácica da coluna. A dança do
ventre explora várias possibilidades de movimento no tronco, isolando a região através
do trabalho muscular que exige das vértebras grande mobilidade.

FIGURA 66 – DANÇA AFRO

FONTE: <https://bit.ly/3hx01dc>.Acesso em: 2 set. 2021.

Nas danças folclóricas europeias a postura é exigida nos pequenos saltitos


e deslocamentos, de forma que as vértebras fiquem constantemente alinhadas para
permitir a frenética movimentação dos membros inferiores. Na dança afro-brasileira
realizam-se movimentos de flexão e extensão da região torácica, vigorosos e curtos,
que solicitam uma acomodação rápida e eficiente das costelas. De modo geral, a coluna
realiza movimentos nos três planos, mas sua mobilidade varia de acordo com a região. A
cervical é a região de maior mobilidade e amplitude de movimentos.
60
Os movimentos de flexão e extensão são limitados à caixa torácica, e a amplitude
da rotação é decrescente, sendo bastante grande na cervical e menor na torácica. Na
lombar, a rotação é quase que totalmente limitada devido aos processos articulares,
que são bastante sagitais (CALAIS-GERMAIN, 2010b). A inclinação lateral existe nas três
regiões, mas na torácica, é limitada pelas costelas.

AUTOATIVIDADE
1 Colocar suas mãos abaixo do peito, para sentir suas costelas. Manter as mãos nas
costelas e, de olhos fechados, fazer algumas respirações profundas, observando como a
região se expande na inspiração e se retrai na expiração.

a) Com as pontas dos dedos, apalpar a região e identificar, na parte anterior, os limites
inferiores da caixa torácica, na qual estão a sétima costela e as costelas flutuantes.
b) Repouse sua mão bem no centro de seu peito. É o corpo do esterno. Deslizar sua mão
para cima, até sentir um afundamento na pele, próximo ao pescoço é o manúbrio.
c) Procure, no YouTube, as diferentes abordagens de dança e observe como a coluna e a
caixa torácica se comportam.

2 Com as pontas dos dedos médios e indicadores, toque a base de sua


cabeça onde ela encontra com o pescoço. São os côndilos do occipital.
Realizar alguns movimentos com a cabeça, pressionando levemente
o local. Você será capaz de perceber o movimento da coluna se
articulando com a cabeça. Explore os movimentos da mandíbula,
através da palpação da articulação temporomandibular. Bem perto
do meio de suas orelhas, alinhada com seu nariz, você conseguirá
sentir uma protusão mais expressiva. Essa é a regia da ATM. Mantenha
seus dedos nesse local e explore os movimentos da mandíbula: abra
e feche a boca, deslizando o queixo para frente e para trás etc.

61
RESUMO DO TÓPICO 2
Neste tópico, você adquiriu certos aprendizados, como:

• O sistema musculoesquelético é formado por ossos, articulações, músculos, tendões,


nervos periféricos e partes moles adjacentes.

• O sistema musculoesquelético é formado por diversas estruturas que funcionam em


sinergia e apresenta diversos aspectos quanto à diversidade de movimentos.

• O movimento corporal de flexibilização e alongamento fortalece os músculos do


abdômen e irá colaborar para a desenvoltura dos movimentos, bem como para o
alívio e distribuição do peso na coluna vertebral.

• A contração simultânea entre o diafragma, o assoalho pélvico e os abdominais


(transverso do abdômen) aumentam a estabilidade da coluna.

• Os movimentos das danças podem provocar uma incidência significativa de lesões


entre bailarinos. Isso acontece pela ânsia de realizar movimentos para os quais o
corpo ainda não está preparado.

• A cabeça e o pescoço são dois exemplos de casamentos anatômicos perfeitos entre


forma e função.

• A coluna é formada por vértebras que são ligadas entre si por articulações, o que
torna a coluna bem flexível.

• Todos os acidentes ósseos citados anteriormente como lordose, escoliose e cifose se


localizam na parte posterior da vértebra, chamada arco vertebral.

62
AUTOATIVIDADE
1 A coluna vertebral é uma estrutura extremamente importante que atua protegendo a
medula espinhal e sustentando nosso corpo.

FONTE: < https://s4.static.brasilescola.uol.com.br/img/2014/06/coluna.jpg>. Acesso em: 2 set. 2021.

Sobre a figura que representa a coluna vertebral e a opção que indica o nome correto
das vértebras indicadas pelos números 1, 2 e 3, assinale a alternativa CORRETA:

a) ( ) 1- vértebras cervicais; 2- vértebras lombares; 3- vértebras torácicas.


b) ( ) 1- vértebras lombares; 2- vértebras torácicas; 3- vértebras cervicais.
c) ( ) 1- vértebras cervicais; 2- vértebras torácicas; 3- vértebras lombares.
d) ( ) 1- vértebras torácicas; 2- vértebras cervicais; 3- vértebras lombares.

2 Analise a figura a seguir que representa um desvio na coluna que se caracteriza por
uma alteração no plano frontal. Sobre esse tipo de acidente ósseo, assinale a
alternativa CORRETA:

FONTE: < https://espaldaycuello.com/wp-content/uploads/2016/03/E154A.jpg>. Acesso em: 2 set. 2021.

63
a) ( ) Cifose.
b) ( ) Lordose.
c) ( ) Escoliose.
d) ( ) Hérnia de disco.

3 A realização de movimentos repetitivos com orientação inadequada é uma das


principais causas responsáveis pela ocorrência de patologias na coluna. Para evitar
esses danos, a consciência corporal é um meio de constante vigia na postura durante
os movimentos ou poses. Sobre a coluna vertebral, assinale a alternativa CORRETA:

a) ( ) A coluna vertebral possui três curvaturas.


b) ( ) A região lombar da coluna vertebral possui sete vértebras.
c) ( ) A coluna vertebral não possui grande influência nos movimentos.
d) ( ) A região cervical não faz parte da coluna, mas dos ossos da cabeça.

4 De acordo com seus estudos, descreva como se dá a estabilidade da coluna humana.

5 De acordo com seus estudos, descreva a constituição muscular que compõe o tórax
e qual a relação dela com a respiração.

64
UNIDADE 1 TÓPICO 3 -
O CORPO MOVENTE

1 INTRODUÇÃO
As articulações do corpo humano, pertencentes ao sistema articular, são
responsáveis por muitos movimentos que realizamos e são responsáveis pela garantia
dos movimentos realizados com flexibilidade. As articulações do corpo humano ligam os
ossos da estrutura esquelética a outros ossos e cartilagens.

2 CARACTERIZANDO O SISTEMA ARTICULAR


Os ossos são unidos entre si por meio de junturas, chamadas articulações. Elas
podem ser classificadas de acordo com a maior ou menor mobilidade.

FIGURA 67 – TIPOS DE ARTICULAÇÕES

FONTE: <https://www.anatomiadocorpo.com/wp-content/uploads/2019/05/sistema-articular_2.png>.
Acesso em: 2 set. 2021.

De acordo com Souza (2016, p. 210) “as articulações fibrosas que possibilitam
pouco ou nenhum movimento são chamadas de sinartroses”. Como exemplos de
sinartroses, indicamos as suturas do crânio. As articulações cartilaginosas são chamadas
de anfiartroses, pois (Idem, p.111) “elas permitem pequenos movimentos, e nelas a união
dos ossos se dá por meio de cartilagem hialina (remanescente do esqueleto embrionário)

65
ou através de discos de fibrocartilagem. A sínfise púbica é um exemplo de anfiartrose”.
As chamadas diartroses ou articulações sinoviais são as articulações que proporcionam
maior mobilidade ao corpo.

Em uma articulação sinovial, “as duas partes ósseas que entram em contato
têm uma forma que lhes permite ajustar-se uma sobre a outra, bem como mover-se
uma sobre a outra” (CALAIS-GERMAIN, 2010b, p. 14). Essas partes ósseas são recobertas
por cartilagem articular e chamadas de superfícies articulares. Na articulação do quadril
(coxofemoral), por exemplo, uma parte (a cabeça do osso fêmur) tem a forma de uma
esfera enquanto a outra (o acetábulo da pelve) tem a forma de uma cavidade.

FIGURA 68 – CABEÇA DO FÊMUR E ACETÁBULO

FONTE: <https://orthoinfo.aaos.org/globalassets/figures/a00750f01.jpg>. Acesso em: 2 set. 2021.

Em volta das superfícies articulares está a cápsula articular que é recoberta por
uma membrana, a chamada membrana sinovial, uma estrutura fibrosa de ligamentos
articulares que transforma a articulação em uma “câmara vedada” (CALAIS-GERMAIN,
2010b, p. 17). Essa câmara secreta um líquido chamado de sinovial. Esse líquido preenche
a cavidade articular, lubrificando as superfícies articulares, nutrindo a cartilagem articular
e facilitando o movimento. A cápsula articular é geralmente reforçada por ligamentos
formados por fibras colágenas, que unem dois ossos adjacentes. Os ligamentos são
maleáveis e flexíveis, o que confere liberdade de movimento às articulações. No entanto,
são também fortes, resistentes e inelásticos para que não cedam à ação de forças
(SOUZA, 2016, p. 23).

66
FIGURA 69 – MOVIMENTOS DAS ARTICULAÇÕES

IMÓVEIS SEMIMÓVEIS MÓVEIS


FONTE: <https://bit.ly/3k8ioXF>. Acesso em: 7 set. 2021.

O corpo é um sistema integrado que funciona com grande sinergia e todas


informações são processadas em nosso cérebro pela via de receptores nervosos
sensitivos, que percebem e transmitem permanentemente informações dos sistemas
ao cérebro. As informações de movimento como da velocidade, da intensidade e da
posição da articulação, além de eventuais estiramentos e dores são rapidamente
processadas no cérebro e reenviadas para a percepção motora. “O cérebro responde
com ordens motoras aos músculos, completando o que chamamos de sensibilidade
proprioceptiva” (CALAIS-GERMAIN, 2010b, p.7).

DICAS
É muito comum ouvirmos que determinada pessoa “torceu” o tornozelo.
Trata-se de uma entorse, lesão produzida por um movimento excessivo,
na qual há um rompimento parcial dos ligamentos.

3 A RESPIRAÇÃO
O sistema respiratório é um sistema relacionado com a captação de oxigênio e
liberação de gás carbônico para o meio. De acordo com Souza e Auharek (2017, p. 36)
“a respiração é um processo fisiológico automático, ou seja, que não depende de nossa
vontade, e é fundamental para a manutenção da vida”. O sistema respiratório humano
é formado pelos seguintes órgãos, em sequência: nariz, faringe, laringe, traqueia,
brônquios e pulmões.

67
FIGURA 70 – OS PRINCIPAIS ÓRGÃOS DO SISTEMA RESPIRATÓRIO

FONTE: <https://s5.static.brasilescola.uol.com.br/img/2019/04/orgaos-do-sistema-respiratorio.jpg>.
Acesso em: 2 set. 2021.

O sistema respiratório funciona garantindo a entrada e saída de ar do nosso


corpo. Os movimentos naturais do organismo que caracterizam a respiração são: inspirar
e expirar. O ar inicialmente entra pelas fossas nasais nas quais é umedecido, aquecido e
filtrado. Ele então segue para a faringe, posteriormente para laringe e para a traqueia. A
traqueia ramifica-se em dois brônquios, dando acessos aos pulmões. O ar segue, então,
dos brônquios para os bronquíolos e finalmente chega aos alvéolos pulmonares.

FIGURA 71 – MOVIMENTO DE INSPIRAÇÃO E EXPIRAÇÃO

FONTE: <https://i.pinimg.com/originals/6c/ec/0a/6cec0ac16c33461b3e9ccaf15a8fc35e.jpg>.
Acesso em: 2 set. 2021.

68
Na respiração restringida pode ocorrer a contração muscular que pode ocasionar
a má postura; já a respiração profunda, também conhecida como diafragmática, ao
inspirar, o diafragma se contrai, empurrando as costelas para as laterais e abaixando
os músculos abdominais. Dessa forma, os pulmões têm mais espaço para se expandir
e absorver o ar em maior volume. São esses movimentos os responsáveis por levar o
oxigênio para todas as células do corpo. Ocorrem trocas gasosas na respiração, ou seja,
o oxigênio inspirado é retirado do meio ambiente e é disponibilizado para o sangue,
e o gás carbônico entra no sistema respiratório para realizar o caminho inverso e ser
eliminado na expiração, para o meio.

O valor de respirar profundamente é vital, pois a pessoa que respira mal não
utiliza o diafragma, respirando apenas com o movimento da caixa torácica, limitando as
possibilidades motoras. Quando isso acontece, os pulmões dispõem de menos espaço
para se expandir, ficando pressionados pelas costelas, o que torna deficiente a absorção
de ar e por consequência a possibilidade de bom funcionamento de todo sistema corporal.

FIGURA 72 – MOVIMENTO DO DIAFRAGMA E DAS COSTELAS NA INSPIRAÇÃO E EXPIRAÇÃO

FONTE: <https://bit.ly/3CbcJq1>. Acesso em: 2 set. 2021.

Sensações de cansaço e tonturas, dificuldades de concentração e aprendizado


e, em casos extremos, agravamento de quadros de estresse e ansiedade podem
ocorrer com a respiração deficiente. O respirar profundo, ou seja, respirar da maneira
adequada, traz uma série de benefícios para o organismo: além de permitir uma maior
troca gasosa (entrada de oxigênio e saída de gás carbônico), dá mais energia para
as células, que trabalham melhor, garantindo a boa atividade das funções orgânicas.
Respirar profundamente também promove o relaxamento do corpo, o que ajuda a aliviar
as tensões, a ansiedade e a controlar o estresse.

69
FIGURA 73 – INSPIRAÇÃO NA POSE E EXPIRAÇÃO NO MOVIMENTO

FONTE: Hass (2011, p. 42)

4 A INSPIRAÇÃO
Na inspiração são ativados os músculos inspiratórios que se contraem para
atrair ar para os pulmões. Os pulmões são órgãos em formato de cone que apresentam
consistência esponjosa e apresentam maior parte de seu parênquima formado pelos
alvéolos, sendo estimada a presença de cerca de 300 milhões de alvéolos nos pulmões.
Cada pulmão é revestido por uma membrana chamada de pleura.

FIGURA 74 – OS PULMÕES

FONTE: <https://s3.static.brasilescola.uol.com.br/img/2019/04/pulmoes.jpg>. Acesso em: 2 set. 2021.

Os pulmões apresentam seu parênquima formado, principalmente por alvéolos.


Podemos dividir o sistema respiratório pela parte condutora que é formada pelas fossas
nasais, nasofaringe, laringe, traqueia, brônquios, bronquíolos e bronquíolos terminais.

70
Esses condutores permitem a entrada e saída de ar, limpo, umedecido e aquecido. A
parte respiratória do sistema respiratório é formada pelos bronquíolos respiratórios,
ductos alveolares e alvéolos, que são as partes responsáveis pela ocorrência das
trocas gasosas. É nessa porção que o oxigênio inspirado passará para o sangue e o gás
carbônico presente no sangue passará para o sistema respiratório.

FIGURA 75 – O SISTEMA RESPIRATÓRIO

FONTE: <https://s1.static.brasilescola.uol.com.br/be/conteudo/images/sistema-respiratorio.jpg>.
Acesso em: 2 set. 2021.

O músculo mais importante da inspiração é o diafragma. Ele é auxiliado pelos


músculos intercostais externos que colaboram para uma respiração silenciosa e normal.
A contração do diafragma aumenta o espaço na cavidade torácica e os pulmões se
enchem de ar provindo do meio ambiente. Os músculos acessórios de inspiração são:
esternocleidomastoideo e escalenos, os quais colaboram na respiração ativa, por
exemplo, durante as manobras de exercício e de respiração forçada.

5 O DIAFRAGMA
A respiração pulmonar deve-se aos movimentos do diafragma, que é um
músculo que movimenta expandindo e contraindo as costelas.

71
FIGURA 76 – O DIAFRAGMA

FONTE: <https://bit.ly/3CcGcjC>. Acesso em: 2 set. 2021.

O diafragma é um músculo estriado esquelético que separa a cavidade abdominal


da cavidade torácica. Localiza-se junto às vértebras lombares, às costelas inferiores e
ao esterno e pode ser dividido, de acordo com sua localização, em três partes: esternal,
costal e lombar. Sua face inferior é recoberta pelo peritônio e a superior se encontra em
posição adjacente à pleura (membrana que recobre os pulmões). As duas cavidades
separadas pelo diafragma se comunicam graças a três aberturas do próprio diafragma,
chamadas de hiatos diafragmáticos, que permitem a passagem de certas estruturas,
como o esôfago, a aorta e vasos e nervos.

6 A EXPIRAÇÃO
Para Souza e Auharek (2017, p. 40):

na respiração sem esforço, a expiração é um acontecimento passivo,


pois não depende de ação muscular. Ela é simplesmente o recuo dos
pulmões e da caixa toráxica devido à energia elástica armazenada na
expansão e ao relaxamento dos músculos inspiratórios (diafragma e
intercostais externos).

Entendemos que quando necessitamos de uma respiração forçada, quando a


ventilação precisa ser aumentada, músculos com função expiratória entram em ação.

Para uma respiração forçada, necessitamos recrutar os músculos que formam


a parede abdominal. Quando esses músculos se contraem, eles puxam as margens das
costelas inferiores para baixo e elevam a pressão dentro da cavidade abdominal. Esse
aumento de pressão empurra o diafragma para cima, induzindo o aumento de pressão
na caixa torácica e, assim, ocorre o esvaziamento dos pulmões, ou, em outras palavras,
a expiração.

72
“Os Intercostais Internos, quando em contração, fazem as costelas se
moverem para baixo e para dentro, semelhante ao ato de abaixar uma
alça de balde, sendo, portanto, expiratórios. Dessa forma, a contração
abdominal na expiração pode associar-se a outros grupos musculares
para abaixar a caixa torácica” (SOUZA; AUHAREK, 2017, p. 40).

FIGURA 77 – MÚSCULOS DA INSPIRAÇÃO E EXPIRAÇÃO PROFUNDA

FONTE: <https://files.passeidireto.com/90ba0134-73a2-43dc-a811-bc2c8542bb23/bg2.png>.
Acesso em: 2 set. 2021.

IMPORTANTE
A respiração pode influenciar no seu desempenho na dança e evitar
lesões. Isso acontece porque o nosso corpo precisa de níveis mais altos
de ventilação durante a prática de atividades físicas. Além disso, alguns
músculos que ativamos durante a respiração são essenciais para a
estabilização da nossa coluna.

6.1 EXPERIÊNCIA PARA PERCEPÇÃO


Como respirar corretamente enquanto dança, conforme Hass (2011):

• Evite fazer apneia (prender a respiração): quando respiramos, nós levamos


oxigênio para todo o corpo, inclusive os músculos que nos possibilitam dançar. Ao
prendermos a respiração, não oxigenamos devidamente o nosso organismo, levando
consequentemente ao aumento da fadiga muscular, tornando a sua dança mais
tensionada e exaustiva. Sintomas como cansaço, tontura e dores podem surgir.

73
• Respire com o core: o core também é conhecido como musculatura do centro e
centro de força, sendo constituído pelo diafragma, transverso do abdômen, os
oblíquos interno e externo do abdômen, reto abdominal e assoalho pélvico. Sua
contração proporciona a estabilidade da coluna vertebral e suas curvaturas, como se
fosse uma cinta abdominal, sendo essencial manter esses músculos fortes e ativos
durante a sua dança, não apenas para o controle do posicionamento, mas também
para prevenção de lesões.
• Exercite a sua consciência corporal e o controle da musculatura abdominal:
deite-se de barriga para cima (mantendo a curvatura natural da coluna), apoie
os pés no chão e coloque seus braços ao lado do corpo ou suas mãos sobre seu
abdômen; inspire pelo nariz enquanto expande os pulmões e as costelas e imagine
que seu umbigo indo na direção das costas, mantendo a coluna na posição neutra; na
expiração forçada, contraia o core como se estivesse apertando um espartilho, sem
expandir o abdômen. Pratique esse exercício várias vezes, sentado ou em pé.
• Inspire e expire no momento certo: na expiração, a contração do core é intensificada,
ou seja, você precisa expirar com força quando realiza um trabalho mais intenso (como
na descida de um grande salto). Nos grand battements, expire e contraia o core
cada vez que executar o lançamento. Nos giros, inspire ao preparar e expire ao girar,
estabilizando o tronco. Nos pequenos saltos, use o ritmo da combinação para manter o
equilíbrio entre inspiração e expiração, respirando confortavelmente. Inspire pelo nariz
e use o princípio da expiração forçada para acionar o core. Tente expirar pelo nariz na
maioria dos exercícios, mas se começar a sentir muito cansaço não há problema em
expirar pela boca. Lembre-se: controle é fundamental, e o controle vem do core.

DICAS
O corpo sujeito ou o corpo coletivo, contam uma história. No corpo sujeito é que se
manifestam as histórias de vida; e no corpo coletivo percebe-se a manifestação da cultura.
Como corpo sujeito entende-se o indivíduo; e como corpo coletivo as expressões das
sociedades. Sugerimos a leitura do texto do fisioterapeuta:

MONTEIRO P. P. Quem somos nós: O enigma do corpo. 2. ed. São Paulo:


Editora Gutenberg, 2007.

Leia o texto e reflita: como você e como a sociedade contemporânea


compreende o corpo? Pense em quais são as compreensões de corpo que
você consegue identificar nas atividades de dança que já teve contato.

74
LEITURA
COMPLEMENTAR
A DANÇA QUE NOS ESCAPA – O INSTANTE DA PRESENÇA

Mônica Medeiros Ribeiro

Dança e leituras de mundo

A dança abre espaço para construção de leituras de mundo. O pensamento sobre


dança tem sido resultado de movimentos indisciplinares desse campo com a história,
antropologia, filosofia, comunicação, psicanálise e ciências cognitivas. Praticante desse
exercício, discutiu-se aspectos cognitivos, afetivos e inventivos da improvisação em
dança contemporânea (RIBEIRO, 2015; RIBEIRO; AGAR, 2011). Neste texto, apresentamos
uma reflexão acerca do estado de presença na improvisação em dança contemporânea,
por meio de uma revisão da literatura somada à reflexão decorrente da experiência de
fruição de dança. Mobilizada pela musa Terpsícore, pensamos a dança como deleite de
nossa presença no mundo – a dança compreendida e vivida como prazer na experiência
do movimento que adensa sentidos no corpo. Seguimos o pensamento de Sheets-
Johnstone, quando diz que “a dança é uma forma de arte criada, criada não para servir a
qualquer propósito, mas criada por si pró¬pria. Sua integridade estética predomina sobre
qualquer história que ela possa querer contar, por exem¬plo, ou qualquer “mensagem
social”, que talvez queira apresentar” (SHEETS-JOHNSTONE, 2011, p. 11).

A dança que abordaremos aqui diz respeito a uma proposição artística


com¬prometida com a experimentação, a percepção, o autoconhecimento, a
transfor¬mação, a invenção e articulação estética de movimentos, quando os há. Desse
modo, não buscou-se compreender, nos exemplos citados ao longo deste texto, uma
narrativa linear que a dança supostamente poderia representar. Não se trata de estudar
a presença do sujeito em uma dança que conta histórias, o que não quer dizer que a
dança não tenha um sentido em si. Ao contrário do que se possa pen¬sar, a dança que
não conta história pode ser ela mesma a corporificação de histó¬rias do sujeito que a
dança. A dança que corporifica memórias, estados do corpo, sentimentos, emoções e
pensamentos.

É importante considerar que estudar a dança, como nos lembra Sheets-


Johns¬tone, faz-nos atentarmo-nos para a cinestesia e sua relação com a percepção
do mundo e ação no mundo, mostra-nos a potência cognitiva do corpo que elabora
desenhos no espaço por via de variações de tônus muscular e deslocamentos.

75
Este estudo ainda nos leva a perceber a competência relacional da dança, que
promove encontros intersubjetivos para além da linguagem falada. Neste momento, o
interesse é pela reflexão a partir da dança contemporânea e da dança contemporânea
improvisada, composta no instante da ação inventiva.

O que podemos saber do corpo pela dança? A dança corporifica pensamentos?


Como provoca a dança improvisada? O que se pensa sobre o mundo quando
improvisações são feitas em dança? Propor essas problematizações, mais que questões,
não implica dizer que a dança é a representação de um sistema a ser decodificado.
Po¬demos pensar, junto com Sheets-Johstone (1999), que, em termos de movimento,
o sentido pode ser criado a partir da percepção e fruição de tendências, decisões,
graus de força muscular, velocidades, expansões e recolhimentos resultantes do corpo
em movimento. Aqui reforço que compreendo a dança como possibilidade de leitura
do mundo. Contudo, importa dizer que se trata aqui de uma leitura que não visa a
compreensão imediata, mas sim uma leitura-invenção. Estamos problematizando e,
consequentemente, refletindo a partir do movimento dançado e não o que ela significa
em determinado movimento, refletindo a dança a partir do que a dança nos move. É
importante ainda fazer a ressalva de que não se pretende responder a essas questões,
pois, aqui, elas operam como mobilizadoras de práticas do pensar o mundo por meio da
arte. Neste momento, do existir no mundo, o interesse é da reflexão acerca da presença
do sujeito que improvisa dançando.

Conhecendo pela dança

Até o início do século XX, a arte em geral teve que se esforçar para ser
reco¬nhecida como campo de conhecimento. A arte era vinculada apenas às emoções,
e a importância na construção de conhecimento era conferida ao pensamento e à
mente, sendo a matéria corpo considerada imperfeita e relacionada às paixões. Portanto,
não participante das ações cognoscitivas. Imaginar, apreciar, emocionar-se, sentir
não eram associadas a atos cognitivos, mas sim a estados corporais compreendidos,
pejorativamente, como subjetivos. Percebemos aí não somente a cisão entre mente e
corpo como também entre razão e emoção. Como resquício de sintomas cartesianos
provenientes da separação mente e corpo, a dança, arte do corpo, fora relacionada
apenas ao entretenimento.

Entretanto, artistas pedagogos como Jaques Dalcroze (1921), compositor e


pedagogo musical que priorizava o movimento corporal no ensino-aprendizagem de
música, associou a aprendizagem de arte, no caso da música, ao exercício de processos
corporais – como atenção, memória, tomada de decisão – inerentes ao ato cognitivo.
Também John Dewey (2008), filósofo da educação, na década de 1930, propôs que
a arte fosse compreendida como instância do fazer humano dedicada à construção de
conhecimento do mundo. Ele considerava que a arte promovia a experiência consumatória,
que, na sua integralidade, coadunava reflexão e emoção. Aproximadamente na metade
do século XX despontaram autores/pesquisadores que reconheceram a arte como

76
um tipo de conhecimento que demandava não apenas emoções e sentimentos, mas
principalmente diver¬sos aspectos cognitivos, como se pode perceber pelos estudos
de Lev Vygotsky, Elliot Eisner, Hower Gardner, Arthur Efland, entre outros. Considerar a
dança como campo de conhecimento, premissa para a reflexão que aqui se apresenta,
implica reiterar que mente e corpo são aspectos distintos da mesma matéria, que há
dimensão mental na dança e corporal no pensamento. Com isso, o ato de dan¬çar
pode ser estudado não somente por meio da investigação sobre sua condição sócio-
histórica que permite que saibamos do mundo pela dança, como também pelos modos
de articulação de movimentos ou não movimentos, pela observação atenta e afetiva
dos estados do corpo em situação de dança. Observação essa que pode nos viabilizar a
percepção e construção de subjetividades no e pelo movimento dançado. Além disso,
com Antônio Damásio (1996), penso que é necessário considerar a forte imbricação
existente entre razão e emoção, sendo ambos processos corporais presentes no ato de
construção de todo conhecimento.

FONTE: <https://www.rilp-aulp.org/index.php/rilp/article/view/113>. Acesso em: 8 set. 2021.

77
RESUMO DO TÓPICO 3
Neste tópico, você adquiriu certos aprendizados, como:

• As articulações do corpo humano ligam os ossos da estrutura esquelética a outros


ossos e cartilagens.

• Os ligamentos são ricos em receptores nervosos sensitivos que percebem e


transmitem permanentemente ao cérebro informações de movimento, velocidade,
intensidade e posição da articulação, além de eventuais estiramentos e dores.

• Os movimentos naturais do organismo que caracterizam a respiração são: inspirar e


expirar.

• Na respiração ideal, também conhecida como diafragmática, ao inspirar, o diafragma


se contrai, empurrando as costelas para as laterais e abaixando os músculos
abdominais.

• Com a respiração deficiente, a pessoa pode se sentir mais cansada, apresentar


dificuldades de concentração e aprendizado e, em casos extremos, agravar quadros
de estresse e ansiedade.

78
AUTOATIVIDADE
1 Denominamos de articulações os pontos de união entre um osso e outro. Sobre a
característica funcional das articulações, assinale a alternativa CORRETA:

a) ( ) Manter os ossos juntos e possibilitar a produção de células sanguíneas.


b) ( ) Garantir a movimentação do corpo e unir os ossos.
c) ( ) Possibilitar a respiração profunda e a produção sanguínea.
d) ( ) Garantir a estabilidade do organismo e a respiração.

2 As articulações chamadas de diartroses podem ser classificadas como aquelas que


permitem grandes movimentos dos ossos; e as articulações classificadas como
sinartroses são aquelas que permitem pouca ou nenhuma movimentação de acordo
com os movimentos que são capazes de realizar. Sobre o que é a diartrose, assinale
a alternativa CORRETA:

a) ( ) Articulação entre úmero e ulna.


b) ( ) Articulações da vértebra lombar e o osso sacro.
c) ( ) Articulação da costela com o esterno.
d) ( ) Articulações dos ossos do crânio.

3 Dentre os tipos de articulações, é possível encontrar uma cavidade recoberta por


uma membrana e dentro desse conjunto há um líquido importante para a lubrificação
do sistema articular. Sobre o termo que o denomina, assinale a alternativa CORRETA:

a) ( ) Líquido Articular.
b) ( ) Líquido Pleural.
c) ( ) Líquido Sinuvial.
d) ( ) Líquido Neural.

4 De acordo com seus estudos e leituras, descreva sobre como se dá o processo de


respiração.

5 Disserte sobre a importância de uma boa respiração ao desempenhar exercícios.

79
REFERÊNCIAS
BRASIL ESCOLA. Anatomia da Cabeça e Pescoço. c2021. Disponível em: https://
brasilescola.uol.com.br/odontologia/anatomia-da-cabeca-e-pescoco.htm.
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à análise das técnicas corporais. 4. ed. São Paulo: Editora Manole, 2010a.

CALAIS-GERMAIN, B. Anatomia para o Movimento volume 2: bases de


exercícios. 4. ed. São Paulo: Manole, 2010b.

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DORE, F. B.; GUERRA, O. R. Sintomatologia dolorosa e fatores associados em


bailarinos profissionais. Rev Bras Med Esporte, v. 13, n. 2, p. 77-80, 2007.
Disponível em: https://www.scielo.br/j/rbme/a/Xn8JKZrTsRgdSdPv33Tsz5H/
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do desempenho em todos os estilos. Tradução de Orlando Laitano. Barueri:
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HAAS, J. G. Anatomia da dança. São Paulo: Manole, 2011.

HALL, Susan J. Biomecânica básica / Susan J. Hall; revisão técnica Eliane


Ferreira. – 7. ed. – Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2016.

HAMILL, J.; KNUTEZEN, K.M. Bases Biomecânicas do Movimento Humano. São


Paulo: Manole, 1999.

HAMILTON G. W. et al. A profile of the musculoskeletal characteristies of


professional ballet dancers. Am J Sports Med., v. 20, n. 3, p. 73-267 1992.
Disponível em: https://pubmed.ncbi.nlm.nih.gov/1636856/

INFANTE, R. Fundamentos da dança: corpo, movimento e dança. Curitiba:


Unicentro, 2011.

KISNER, C; COLBY, L. A. Exercícios terapêuticos: fundamentos e técnicas.


Barueru: Manole, 2009.

LOURENÇO, R. Anatomia da cabeça e do pescoço. Kenhub. 2021. Disponivel


em: https://www.kenhub.com/pt/library/anatomia/anatomia-da-cabeca-e-do-
pescoco. Acesso em: 2 set. 2021.

80
MAÇANEIRO, C. H. Coluna cervical alta – Anatomia e cinesiologia. Clin Ortop, v.
1, p. 781-786, 2000.

MAGALHÃES. L. Ossos do corpo humano. Toda Matéria. 2021. Disponível em:


https://www.todamateria.com.br/ossos-do-corpo-humano/. Acesso em: 2 set.
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MOORE, K. L.; DALLEY, A. F. Anatomía con orientación clínica. Madri: Editorial


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MOREIRA, W. W. Corpo presente num olhar panorâmico. In: Corpo Pressente.


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anatomia-fisiologia-animal/sistema-muscular.htm. Acesso em 13/07/2021.

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UFBA, 2017.

SOUZA, I. Laboratório de cinesiologia na Dança I. Salvador: UFBA, 2016.

VIANNA, K. A Dança. 3. ed. São Paulo: Summus, 2005.

81
82
UNIDADE 2 —

COMPREENDENDO O
CORPO – ESTRUTURAS
MUSCULOESQUELÉTICAS E
ARTICULARES DOS MEMBROS
SUPERIORES
OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM
A partir do estudo desta unidade, você deverá ser capaz de:

• compreender as estruturas apendiculares superiores;

• compreender a cintura escapular;

• identificar os movimentos de abdução, adução e rotação;

• estabelecer relação entre os componentes do braço;

• perceber as estruturas e os sistemas motores no seu próprio corpo.

PLANO DE ESTUDOS
Esta unidade está dividida em três tópicos. No decorrer dela, você encontrará
autoatividades com o objetivo de reforçar o conteúdo apresentado.

TÓPICO 1 – A CINTURA ESCAPULAR


TÓPICO 2 – MOVIMENTOS: ABDUÇÃO, ADUÇÃO E ROTAÇÃO
TÓPICO 3 – POSSIBILIDADES DOS BRAÇOS

CHAMADA
Preparado para ampliar seus conhecimentos? Respire e vamos em frente! Procure
um ambiente que facilite a concentração, assim absorverá melhor as informações.

83
CONFIRA
A TRILHA DA
UNIDADE 2!

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84
UNIDADE 2 TÓPICO 1 —
A CINTURA ESCAPULAR

1 INTRODUÇÃO
Na Unidade 2 estudaremos as estruturas que fazem as conexões entre os
nossos membros e o tronco. Essas estruturas são denominadas Axial e Apendicular.
Também aprenderemos que o termo Axial se refere aos ossos do crânio, do pescoço e
tronco. Já o termo apendicular, refere-se aos ossos dos membros superiores e membros
inferiores. O conjunto destas estruturas é classificado em dois: cíngulo do membro
superior ou cintura escapular; e o cíngulo do membro inferior ou cintura pélvica.

No Tópico 1, estudaremos o cíngulo do membro superior, que é composto


pelo braço, cotovelo, punho e mãos. No Tópico 2, caracterizaremos os movimentos de
abdução, adução, rotação e outros. No Tópico 3, abordaremos sobre as possibilidades
dos braços nos movimentos e como eles auxiliam na dança.

Caros acadêmicos, lembramos que para compreender os conceitos e a


apropriação do vocabulário, a proposta de experiência para a percepção faz parte da
ação conjunta da teoria e prática.

2 O CÍNGULO DO MEMBRO SUPERIOR


O Cíngulo do Membro Superior ou cintura escapular possui, anteriormente,
as clavículas; posteriormente, as escápulas; e medianamente o esterno, interligados
pelas articulações correspondentes. A grande mobilidade dos nossos ombros se deve à
sincronia das articulações que ligam o sistema, assim a escápula tem grande liberdade
de movimento e deslocamento em várias direções. Com isso, na dança, os ombros
proporcionam diversas possibilidades de movimentos aos braços, bem como permitem
uma concentração de forças para auxiliar os impulsos e posições de equilíbrio.

A mobilidade de nosso ombro se dá por meio de duas articulações, uma delas


localizada entre o externo e a clavícula. Essa articulação é chamada esternoclavicular; e
a outra entre a clavícula e o acrômio da escápula, chamada acromioclavicular.

85
FIGURA 1 – MEMBROS SUPERIORES

FONTE: <https://bit.ly/3z9mX8v>. Acesso em: 3 set. 2021.

Segundo Souza (2016, p. 41) “a articulação esternoclavicular permite à clavícula


os movimentos de recuo, quando deslizamos nossos ombros para trás, e, de avanço,
quando fazemos o contrário”. A articulação esternoclavicular também proporciona os
movimentos de elevação ao aproximarmos o ombro da orelha, e, de depressão, ao
afastá-los. Outro movimento que dela decorre é a rotação da clavícula sobre seu próprio
eixo longitudinal, ou seja, a circundução do ombro.

A articulação acromioclavicular, constituída pela articulação esternoclavicular,


com o acrômio da escápula, permite movimentos de “deslizamento e de abertura –
fechamento do ângulo formado pelos dois ossos” (CALAIS-GERMAIN, 2010, 113). Dessa
forma, ao movimentarmos a escápula, sincronicamente movimentamos a clavícula.

FIGURA 2 – PRIMEIRA, SEGUNDA E QUINTA POSIÇÕES DOS BRAÇOS

FONTE: Haas et al. (2011, p. 44)


86
3 OMBRO E BRAÇO
O movimento de elevar os braços até o nível dos ombros é executado pela
conjuntura do ombro, mas quando o braço vai acima, próximo da cabeça, o movimento
é executado pelo conjunto de três ossos, sendo eles: a omoplata, a clavícula e o úmero.
Já o antebraço e a mão trabalham independente.

3.1 CARACTERIZAÇÃO
Os braços são, muitas vezes, modeladores do movimento dos bailarinos, mas
também desempenham um importante papel de força e sustentação de impactos em
danças como o breakdance ou hip hop. Esses estilos de dança exigem trabalhar com
mais intensidade as três partes superiores do corpo: o ombro, o cotovelo e o punho.

O ombro desempenha um papel importante nos movimentos, porque se há


alguma rigidez, se os braços não podem elevar-se plenamente sobre a cabeça, sem
tensões, o movimento, então, transfere-se para a espinha dorsal e o resultado será de
uma má postura.

A rigidez pode estar somente no ombro, ou seja, entre o úmero e a escápula e


pode ser realizada partindo da contração dos músculos peitorais, o que é muito grave,
pois, além da má postura, resulta na restrição de uma respiração profunda. O úmero,
além de se articular com a escápula, se articula com os ossos do antebraço para formar
o cotovelo. Observa-se na figura 3 uma complexa malha de músculos em proteção às
articulações e que possibilita a estabilidade dos movimentos.

FIGURA 3 – OMBRO E BRAÇO

FONTE: <https://blogfisioterapia.com.br/wp-content/uploads/2020/02/anatomia-do-ombro.jpg>.
Acesso em: 3 set. 2021.

87
As lesões de ombro são muito comuns em dançarinos e atletas, pois geralmente
acontecem na cabeça do úmero, no colo anatômico ou no colo cirúrgico. Assim, conforme
a posição dos fragmentos de fratura dupla, ou seja, em quantas partes dos quatro tipos
que ocorrem (colo anatômico, colo cirúrgico, tuberosidade maior e tuberosidade menor)
ou na posição dos fragmentos de fratura tripla que envolvem a grande tuberosidade
ou a tuberosidade menor em conjunto com a fratura do colo cirúrgico. Já a fratura de
quatro partes é caracterizada pelo deslocamento de todos os quatro segmentos.

Na ocorrência desse tipo de fratura, estão as quedas com impacto direto


na face lateral do ombro. No caso de bailarinos, é muito comum a queda na própria
movimentação do corpo e em alturas, não além de um salto ou giro e, no descuido,
apoiam-se com a mão ou o cotovelo causando uma tensão muscular no sistema
todo do braço e impactando o ombro. O nervo axilar é o mais impactado, podendo ser
observadas algumas complicações.

Os tratamentos variam de cirúrgicos a fisioterápicos, visando estabilizar a lesão


e consolidar os ossos. Nos casos mais graves pode acontecer a necessidade do uso de
placas e parafusos em adultos, pois a fixação dos ossos é contraindicada para crianças,
pois a fixação prejudica o crescimento normal e leva a complicações futuras.

O chamado colo anatômico localiza-se na cabeça do úmero e é constituído por


uma superfície articular que forma uma semiesfera, limitada por um sulco articular. Essa
estrutura é muito atuante nos movimentos do ombro.

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FIGURA 4 – COLO ANATÔMICO

FONTE: Adaptada de <https://br.pinterest.com/pin/615445105307725121/>. Acesso em: 3 set. 2021.

A estabilidade do complexo articular do ombro deriva de um anel de cartilagem


fibrosa chamado lábio glenoidal, que se localiza na cavidade glenoide, e recebe a cabeça
do úmero para formar a articulação.

Para Souza (2016, p. 44) “a articulação glenoumeral é do tipo bola e soquete,


com uma superfície articular esferoide côncava, acomodada em uma cavidade de
convexidade correspondente”. Consideramos importante que os músculos dessa região
sejam fortalecidos para proteger esse complexo das lesões.

Para que o complexo de articulações seja protegido, os músculos devem ser


recrutados, sendo um dos principais músculos estabilizadores da escápula o chamado
serrátil anterior. Esse, quando em contração isométrica e ação sinérgica com o trapézio,

89
permite a aproximação ao tórax, ou seja, desliza-a sobre o tórax na direção anterior.
“Para toda ação de força do membro superior, que necessita da escápula fixada, ele
trabalha em conjunto com a parte média do trapézio, que é adutor: suas ações opostas
permitem estabilizar a escápula” (CALAIS-GERMAIN, 2010, p. 121).

FIGURA 5 – MÚSCULO SERRÁTIL ANTERIOR

FONTE: <https://bit.ly/3AiAQTq>. Acesso em: 3 set. 2021.

AUTOATIVIDADE
1 Observe a figura 4 e procure executar a posição de prancha. Caso seja
difícil ficar nessa posição com o quadril alinhado, apoie os joelhos no
chão, mas mantenha o alinhamento do corpo.
2 Mantendo os braços esticados, desça o quadril até o solo, mantendo os
braços esticados.
3 Flexione os braços e leve o peito ao solo, percebendo o movimento do
músculo serrátil.

90
FIGURA 6 – POSIÇÃO DE PRANCHA

FONTE: Haas et al. (2011, p. 96)

A força muscular para baixar o tronco é concentrada nos braços e nas costas.
Para que a flexão do braço seja realizada, os músculos envolvidos estão na parte anterior
do corpo, por consequência, os músculos extensores do braço estão na parte posterior.

FIGURA 7 – DELTOIDE, REDONDO MAIOR E LATÍSSIMO DO DORSO

FONTE: <https://bit.ly/3AcMe32>. Acesso em: 3 set. 2021.

91
O Deltoide participa tanto da extensão como da contração do braço. Já o músculo
denominado Redondo Maior atua na extensão do braço, pois ele vai da margem inferior
da escápula à face anterior do úmero. Outro músculo participante da extensão do braço
é o Latíssimo do Dorso, que se insere na coluna, desde a vértebra T.VII até o sacro, além
das quatro últimas costelas e crista ilíaca. “Em sua porção distal e superior, suas fibras
se agrupam e, antes de chegar ao úmero, torcem-se para se inserirem anteriormente no
osso através de um tendão achatado” (CALAIS-GERMAIN, 2010, p. 125).

4 O COTOVELO
O chamado cotovelo é um conjunto de articulações que unem o braço e o
antebraço. Os ossos envolvidos nessa junção são o úmero, a ulna e o rádio.

FIGURA 8 – O COTOVELO

FONTE: <https://www.ricardokaempf.com.br/wp-content/uploads/2015/01/Anatomia-do-Cotovelo.jpg>.
Acesso em: 3 set. 2021.

Segundo Souza (2016):

O rádio e a ulna, ossos longos como o úmero, articulam-se com ele


através destas superfícies. A extremidade proximal da ulna possui
um processo ósseo em forma de gancho, o olecrano, que se insere
em uma zona escavada anteriormente à troclea, a fossa do olecrano
(SOUZA, 2016, p. 46).

Esta articulação realiza apenas movimentos no plano sagital, ou seja, flexão e


extensão.

92
FIGURA 9 – MÚSCULO BRAQUIAL

FONTE: <https://bit.ly/3AegBpA>. Acesso em: 3 set. 2021.

Para que o cotovelo realize os movimentos de flexão e extensão o músculo


braquial é o principal flexor do cotovelo, tendo sua inserção proximal na face anterior do
úmero e distal na ulna. Também como flexor o músculo braquiorradial participa desse
comando.

FIGURA 10 – MÚSCULO BRAQUIORRADIAL.

FONTE: <https://bit.ly/3lnzEHR>. Acesso em: 3 set. 2021.

O Braquiorradial encontra-se na inserção proximal que se localiza na margem


lateral do úmero, e na inserção distal no rádio.
93
NOTA
Origem das palavras:
Bíceps braquial: tem duas cabeças (bi = duas, ceps = cabeças).
Braquiorradial: vai do braço ao rádio.

O músculo denominado tríceps braquial é o responsável pela extensão do


cotovelo, e possui três cabeças, que vai da escápula e do úmero à ulna. A cabeça longa
se insere na cavidade glenoide da escápula; a cabeça lateral, na face anterior do úmero;
e a cabeça média, na face posterior. As três partes se juntam em um tendão largo e
achatado, atuando juntas.

FIGURA 11 – O MÚSCULO TRÍCEPS BRAQUIAL

FONTE: <https://bit.ly/2XfF67l>. Acesso em: 3 set. 2021.

O movimento dos braços, para um bailarino, é essencial para completar


qualquer movimento, assim, junto com o tríceps, um pequeno músculo triangular é
também extensor do cotovelo. Esse músculo é denominado ancôneo e ele se insere no
epicôndilo lateral do úmero e na face posterior da ulna.

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FIGURA 12 – O MÚSCULO ANCÔNEO EM DESTAQUE

FONTE: Adaptada de <https://www.youtube.com/watch?v=n6VDT24wUb8>. Acesso em: 3 set. 2021.

NOTA
Alguns músculos do antebraço também participam da flexão e da extensão do
cotovelo como acessórios.

5 O ANTEBRAÇO E A PRONO-SUPINAÇÃO
A circundução com o antebraço é possível porque, neste movimento, a flexão e a
extensão são combinadas com a pronação e a supinação. Estas últimas são movimentos
que ocorrem entre os ossos do antebraço, ou seja, entre o rádio e a ulna, e não no cotovelo.
A denominada incisura radial localiza-se na extremidade proximal do antebraço e a cabeça
cilíndrica do rádio se insere em uma superfície côncava na ulna. Em volta da cabeça
cilíndrica do rádio, o ligamento anular do rádio forma um anel, forrado por cartilagem.

FIGURA 13 – PRONO-SUPINAÇÃO

FONTE: Adaptada de <https://bit.ly/3tEkkdT>. Acesso em: 3 set. 2021.

95
A estrutura do cotovelo permite o movimento de rotação da cabeça do rádio em
torno de seu próprio eixo. Esta estrutura também é reforçada na base, pelo ligamento
quadrado e, essa articulação, chamada de radioulnar proximal é do tipo trocoide,
permitindo amplos movimentos de rotação. Nessa estrutura há uma cavidade cilíndrica,
chamada incisura ulnar do rádio, possibilitando sua rotação em volta da cabeça da ulna.
Os ossos encontram-se unidos em toda a sua extensão pela membrana interóssea
do antebraço, que é relaxada na pronação e tensionada na supinação, freando-a e
impedindo o deslizamento dos dois ossos, um sobre o outro.

São as articulações entre o rádio e a ulna que possibilitam os movimentos de


pronação e supinação, ou seja, para virarmos a palma da mão para baixo e para cima,
que acontecem no antebraço. Os músculos agentes dos movimentos, os chamados
agonistas, são o pronador redondo e o pronador quadrado.

FIGURA 14 – PRONADOR REDONDO (A)

FONTE: <https://maestrovirtuale.com/wp-content/uploads/2019/10/Pronador-redondo.jpg>.
Acesso em: 3 set. 2021.

FIGURA 15 – PRONADOR QUADRADO (B)

FONTE: <https://maestrovirtuale.com/wp-content/uploads/2019/10/Pronador-cuadrado.jpg>.
Acesso em: 3 set. 2021.

96
O músculo pronador redondo se insere no úmero e na face anterior da ulna em
sua porção proximal. Suas fibras cruzam o antebraço e ele tem sua inserção distal na face
lateral do rádio. Já o músculo pronador quadrado insere-se no rádio e na ulna em seu
quarto distal. Suas fibras transversais vão de um osso ao outro, formando um quadrado.

FIGURA 16 – MÚSCULO SUPINADOR

FONTE: Adaptada de <https://www.youtube.com/watch?v=cb2pUGgonBY>. Acesso em: 3 set. 2021.

No movimento de supinação, ou seja, rotação lateral do rádio, resultando com a


palma da mão virada anteriormente, “o músculo mais potente é o bíceps, já que ele atua
‘desenrolando’ a parte proximal do rádio” (CALAIS-GERMAIN, 2010, p. 154).

Outro músculo muito utilizado nas coreografias de movimentos de circundunção


de braços é o supinador que se origina na face lateral e proximal da ulna e no epicôndilo
lateral. Suas fibras passam por trás do antebraço e envolvem parte da porção proximal do
rádio, fazendo com que ele também ajude a desenrolá-lo na supinação ou na pronação.
Esse movimento é muito importante nos chamados giros fouetté da técnica de ballet
clássico, mas também presentes nas danças orientais nas quais as mãos são rodadas
frequentemente.

97
FIGURA 17 – BÍCEPS BRAQUIAL

FONTE: <https://www.mundoboaforma.com.br/wp-content/uploads/2020/12/anatomia-do-biceps.jpg>.
Acesso em: 3 set. 2021.

DICA
O músculo braquiorradial leva o braço a uma posição intermediária entre a
pronação e a supinação, participando da volta do movimento.

6 PUNHO E MÃO
De acordo com Olsen (2004, p. 77) “Nossas mãos evoluíram a partir de
patas, alterando sua função de descarga de peso e de propulsão para articulação e
manipulação. [...] O polegar, nessa transição, desenvolveu um padrão de oposição com
os dedos para agarrar [...]”.

Entendemos que o sistema nervoso também foi se refinando neste processo,


permitindo que as mãos, assim como a face, sejam importantes meios para nossa
sensibilidade, comunicação e expressão (OLSEN, 2004). A mão, do ponto de vista
osteoarticular, é dividida em três regiões: o carpo, o metacarpo e as falanges. Mais
adiante estudaremos com maior detalhamento.

98
FIGURA 18 – PUNHO E MÃO

FONTE: Adaptada de <https://bit.ly/3EhRkxn>. Acesso em: 3 set. 2021.

O punho pode realizar os movimentos de circundação, flexão, extensão, adução


e abdução. Em complemento ao punho, a mão é constituída por colunas ósseas, os ossos
metacarpos (que irão formar a palma e o dorso da mão) e as falanges, que formam os dedos
e a mobilidade que se dá devido às articulações entre os metacarpos serem esferoides.

Segundo Olsen (2004, p. 77) “nossas mãos são, assim como nossos olhos,
poderosos canais de expressão dos processos internos, assim como captadoras das
informações do ambiente”. As mãos possuem grande quantidade de músculos e
receptores nervosos, e sua organização estrutural possibilita uma enorme quantidade
de movimentos especializados e precisos.

Para Olsen (2004, p. 78) “assim como outros primatas, como o chimpanzé e
o gorila, nossa espécie possui polegar opositor, ou seja, o polegar consegue se opor
aos demais dedos da mão”. Constatamos que apenas nós, humanos, conseguimos
realizar o movimento de pinça, tocando o polegar com os demais dedos, por cima da
palma da mão. A mão pôde, então, enviar mensagens ao cérebro, e este, por sua vez,
pôde reconstruir e multiplicar suas capacidades práticas e simbólicas, como podemos
constatar na língua gestual dos deficientes auditivos.

FIGURA 19 – LÍNGUA BRASILEIRA DE SINAIS

FONTE: Adaptada de <https://bit.ly/3nupYy9>. Acesso em: 3 set. 2021.

99
Nossas mãos são muito hábeis em movimentos, pois possuem um sistema
complexo. Dessa forma, temos músculos extrínsecos, ou seja, aqueles que se inserem
tanto no braço e antebraço quanto na mão e músculos intrínsecos, que se inserem
apenas na mão. Sobre esses músculos, nosso estudo será mais detalhado no Tópico 3.
Uma das principais patologias da mão é a síndrome do túnel do carpo.

FIGURA 20 – SÍNDROME DO TÚNEL DO CARPO

FONTE: <https://bit.ly/2XtueTL>. Acesso em: 3 set. 2021.

NOTA
O túnel do carpo é o espaço formado entre os ossos do carpo e o
retináculo dos músculos flexores, ligamento horizontal do punho sobre
o qual se inserem fáscias e tendões. Sob o retináculo também passam
os tendões de alguns músculos extrínsecos da mão. Nos movimentos de
extensão, temos um músculo responsável pelos últimos quatro dedos e
dois músculos bastante especializados, responsáveis apenas pelo dedo
indicador e pelo dedo mínimo, respectivamente.

Para Souza (2016, p. 50) “o dedo indicador é muito importante e sua perda
diminui significativamente a capacidade de preensão (agarrar) da mão”. A musculatura
do dedo indicador é bastante independente e ele possui grande capacidade de abdução,
força e precisão no movimento de pinça com o polegar.

100
FIGURA 21 – FLEXORES DO PUNHO E DA MÃO

FONTE: Adaptada de <https://br.pinterest.com/pin/753930793845996541/>. Acesso em: 3 set. 2021.

O dedo mínimo, localizado no quinto metacarpo, age na ação de agarrar


(preensão), comprimindo o objeto. Sendo assim, o indicador e o mínimo possuem
músculos extensores “exclusivos”, que reforçam suas ações, junto ao músculo extensor
dos dedos.

DICAS
Aqui, sugerimos a você, acadêmico, um vídeo indicado sobre o músculo
extensor dos dedos. As imagens lhe ajudarão na compreensão. Para assistis
ao vídeo, acesse o link: https://www.youtube.com/watch?v=FQzNiTiGhWY.

Para que possamos compreender melhor o estudo, sugerimos atividades


práticas. Realize as atividades baseadas em Olsen (2004).

101
AUTOATIVIDADE
1 Você vai precisar de uma pessoa que lhe auxilie de forma a poder tocar nessa pessoa
para identificar o que estudamos.
a) Repouse uma das mãos sobre a clavícula dele ou dela e a outra sobre a escápula. Se tiver
dificuldade em encontrá-la, observe que podemos ver duas protuberâncias em nossas
costas, comumente chamadas de “asinhas de anjo”.
b) Peça ao seu parceiro que realize os movimentos com os ombros de forma
criativa, você notará como clavícula e escápula se movem juntas.
c) Experimente em você os movimentos de flexão, extensão, adução,
abdução, rotação lateral e medial em seus braços, sem movimentar
a escápula. Perceba que, a certa altura ou amplitude, é necessário
mobilizar a escápula para completar o movimento.

2 Flexione e estenda o cotovelo algumas vezes sentindo o movimento


da articulação. Experimente realizar a prono-supinação com o braço e
perceber o movimento do rádio sobre a ulna.

102
RESUMO DO TÓPICO 1
Neste tópico, você adquiriu certos aprendizados, como:

• O Cíngulo do Membro Superior ou cintura escapular compreende as clavículas, as


escápulas e o esterno, bem como as respectivas articulações.

• A articulação esternoclavicular permite à clavícula os movimentos de recuo e avanço,


quando deslizamos nossos ombros para trás e para frente respectivamente.

• A articulação esternoclavicular permite também movimentos de elevação ao


aproximarmos o ombro da orelha; e de depressão, ao afastá-los.

• A articulação esternoclavicular permite a circundução do ombro.

• A estabilidade do ombro depende do reforço dos músculos da região.

• O principal músculos que realiza a extensão do cotovelo é o tríceps braquial, que vai
da escápula e do úmero à ulna.

• A circundução com o antebraço é possível, porque neste movimento, a flexão e a


extensão são combinadas com a pronação e a supinação.

• No movimento das mãos, temos músculos extrínsecos, que se inserem tanto no


braço e antebraço quanto na mão, e músculos intrínsecos, que se inserem apenas na
mão.

103
AUTOATIVIDADE
1 Dentre as funções que podem ser atribuídas às articulações, existe uma que
corresponde à característica funcional das articulações do ombro e do punho. Sobre
essa função, assinale a alternativa CORRETA:

a) ( ) Manter os pontos de rigidez entre um osso e outro.


b) ( ) Garantir a movimentação do corpo e unir os ossos.
c) ( ) Possibilitar a respiração profunda e a produção sanguínea.
d) ( ) Garantir a estabilidade do organismo.

2 O punho pode realizar diversos movimentos, alavancas e suporte de peso, mas esses
movimentos não caracterizam uma rotação. Sobre a denominação dos movimentos
que o punho não consegue realizar, assinale a alternativa CORRETA:

a) ( ) Circundação.
b) ( ) Flexão e extensão.
c) ( ) Adução e abdução.
d) ( ) Circunflexão.

3 Em complemento ao punho, a mão é constituída por colunas ósseas ligadas por


articulações que permitem grande mobilidade. Sobre como são chamados os ossos
que compõem a mão e formam os dedos, assinale a alternativa CORRETA:

a) ( ) Metacarpos e as falanges.
b) ( ) Carpo e metacarpos.
c) ( ) Úlna e rádio.
d) ( ) Apenas metacarpos.

4 Anatomicamente, os termos Cíngulo do Membro Superior e Cíngulo do Membro


Inferior referem-se ao sistema apendicular. Descreva a que componentes do corpo
humano o Cíngulo do Membro Superior refere-se.

5 O ombro desempenha um papel importante nos movimentos, porque se há alguma


rigidez, se os braços não podem elevar-se plenamente sobre a cabeça, sem tensões,
o movimento, então, transfere-se para a espinha dorsal e o resultado será de uma má
postura. Descreva mais algumas implicações que a má postura pode acarretar.

104
UNIDADE 2 TÓPICO 2 -
MOVIMENTOS: ABDUÇÃO, ADUÇÃO E
ROTAÇÃO

1 INTRODUÇÃO
Caro acadêmico, você se perguntar agora: qual é o motivo de esses termos
estarem sendo referidos desde o início de nossos estudos e só agora um tópico que o
conceitua? A intensão foi proposital, pois se você já tinha apropriação desses termos:
ótimo! Caso não tenha ouvido falar ou muito pouco sabia deles, este é o momento de
reler os estudos anteriores a esses termos da linguagem anatômica, que apareceram.

Preparamos este tópico para você fazer a melhor apropriação possível acerca
do estudo dos termos que designam os movimentos do corpo.

2 CONCEITOS DE MOVIMENTOS
Os denominados movimentos de flexão envolvem reduzir o ângulo entre as
duas entidades que participam do movimento (ossos ou partes do corpo).

FIGURA 22 – PRINCIPAIS MOVIMENTOS DO CORPO

FONTE: Adaptado de <https://slideplayer.com.br/slide/1360250/>. Acesso em: 3 set. 2021.

105
Os movimentos de extensão ocorrem em oposição à flexão, ou seja, acontecem
ao redor do eixo transverso, no eixo horizontal. Toda flexão ou extensão envolve uma
modificação do ângulo, aumentando-o ou diminuindo-o.

FIGURA 23 – FLEXÃO DO JOELHO

FONTE: <https://bit.ly/3zdg4Tw>. Acesso em: 3 set. 2021.

Na caracterização dos movimentos do joelho, consideramos que, na flexão, a


perna se move para trás, e, na extensão, ela se move para a frente no eixo transversal.
Na extensão, a tíbia da perna se move em relação ao fêmur da coxa.

Nos movimentos de flexão e extensão do cotovelo, o antebraço se move em


relação ao braço. Mais precisamente, a ulna do antebraço se move em relação ao
úmero do braço. O movimento se dá no plano sagital e, durante a flexão, o antebraço se
move para cima e se aproxima do braço, diminuindo o ângulo entre eles; e, durante a
extensão, ele se estica, aumentando o ângulo em relação ao braço. O eixo da articulação
do cotovelo é transversal.

FIGURA 24 – A FLEXÃO DO OMBRO (FLEXIO ARTICULATIONIS GLENOHUMERALIS)

FONTE: <https://bit.ly/3hA8QTE>. Acesso em: 3 set. 2021.


106
Algumas danças usam muito os movimentos de contração e alongamento.
O sistema corporal que melhor define esses movimentos ocorre no ombro, como se
o corpo se fechasse em um casulo ou abrisse em uma expansão. Esses movimentos
são possíveis quando o úmero do braço se move em relação à escápula (omoplata) da
cintura escapular. Esse movimento acontece no plano sagital. Durante a flexão, o braço
se move anterior e superior; durante a extensão, ele se move posterior e inferior.

FIGURA 25 – FLEXÃO DO PESCOÇO (FLEXIO CERVICIS)

FONTE: <https://bit.ly/3hAhmlF>. Acesso em: 3 set. 2021.

Na contração e alongamento do corpo propostos em coreografias, a participação


da cabeça é muito importante esteticamente, assim, na flexão e extensão, o pescoço
participa. O crânio e as vértebras cervicais se movem em relação às vértebras torácicas
superiores e à parte superior das costas, isso se dá no plano sagital. No movimento de
contração (flexão), a cabeça e o pescoço se movem anterior e inferiormente; durante a
extensão, ela se move posterior.

FIGURA 26 – FLEXÃO DA COLUNA VERTEBRAL (FLEXIO COLUMNAE VERTEBRALIS)

FONTE: <https://bit.ly/3lG1kYX>. Acesso em: 3 set. 2021.

Os movimentos de flexão (pressão em direção ao solo) e extensão (alongamento


em direção superior) da coluna vertebral são em relação ao movimento do sacro e dos
ossos do quadril. A movimentação se dá no plano sagital, como se o eixo transversal
passasse através deles de forma que, na flexão, a coluna vertebral mova-se anterior
e inferiormente e, no movimento de extensão, a coluna vertebral se mova posterior e
ligeiramente inferiormente.
107
FIGURA 27 – FLEXÃO DO PÉ

FONTE: <https://conscienceofbreaking.files.wordpress.com/2013/09/pes1.jpg?w=360>. Acesso em: 3 set. 2021.

Nossos pés são a base para todos deslocamentos possíveis, pela flexão dorsal
(dorsiflexão) ou flexão plantar; ambos os movimentos acontecem na articulação do
tornozelo. A dorsiflexão significa a flexão do dorso, ou seja, a parte superior do pé, ao
se reduzir o ângulo entre o mesmo e a superfície anterior da perna (popularmente
chamado pé de palhaço na dança). Acontece quando levantamos a parte da frente do
pé; enquanto mantemos, o calcanhar permanece no chão. A flexão plantar é a flexão da
parte plantar do pé, movendo-a quando o apoio é na chamada meia ponta do pé. Esse
movimento é muito executado para o aquecimento dos pés e tornozelo, bem como para
o preparo do uso de sapatilhas de pontas no ballet.

Quanto aos braços, esses também executam movimentos que são denominados
abdução, que é o movimento para longe da linha média do corpo; e a adução, que é o
movimento de lateralização do braço. Para que a adução aconteça, o braço se encontra
na lateral ao corpo ou próximo da linha média do corpo, e retorna de qualquer ângulo
que se encontre direção ao plano do corpo. As rotações também podem acontecer nos
planos mediais ou laterais. Esses movimentos somados ao giro do tronco produzem
grande amplitude de espaço para os braços nas coreografias, bem como possibilidade
de impulso para giros e saltos.

108
FIGURA 28 – MOVIMENTOS DE ABDUÇÃO E ADUÇÃO DOS BRAÇOS

FONTE: Adaptada de <https://br.pinterest.com/pin/716072409489854669/>. Acesso em: 3 set. 2021.

Os movimentos de abdução e adução dos braços e pernas são muito semelhantes,


e podem provocar um efeito estético de simetria ou assimetria em coreografias, pois o
braço se move em relação ao tronco e ao ombro; e a perna se move em relação ao
quadril. O movimento de ambos acontece no plano frontal em anteroposterior. Durante
a abdução, você está movendo o seu braço ou perna para longe do plano mediano;
durante a adução, movemos em direção ao plano mediano.

Em complemento ao movimento de braços e pernas, os dedos das mãos e dos


pés também são capazes de abdução e adução, mas em relação ao plano medial da
palma da mão ou sola do pé, não do corpo. Os dedos se movem em relação medial ao
terceiro dedo da mão ou ao segundo dedo do pé. Durante a abdução, movimentamos
os dedos para longe do terceiro dedo da mão ou segundo dedo do pé, de forma que
estamos a alongá-los e, assim, afastando-os em relação ao plano medial. Adução é o
oposto: os dedos são trazidos para juntos uns dos outros, nas mãos, proporcionando o
fechar e, nos pés, o contrair.

Os movimentos chamados de protrusão envolvem um movimento reto em


direção anterior; e os movimentos chamados de retrusão, são os movimentos opostos e
envolvem ir em direção posterior; ambos acontecem no plano sagital. Eles também são
relacionados ao eixo transverso, mas ao invés de somente movimentar ao redor dele,
esses movimentos também ocorrem paralelos a ele, a exemplo da língua: o queixo vai
para frente, para atrás e para os lados, pelo movimento da mandíbula e dos lábios.

109
FIGURA 29 – MANDÍBULA

FONTE: <https://bit.ly/3lpc5hZ>. Acesso em: 3 set. 2021.

O movimento de nossa mandíbula ocorre no plano sagital e paralelo ao plano


transverso. A movimentação se dá na protrusão ao se mover anteriormente; e na retrusão,
posteriormente. O movimento de prostração caracteriza-se como um movimento
anterolateral, ou seja, isso significa que a estrutura se move anterior e lateralmente. A
escápula (omoplata) é o exemplo padrão de estrutura que realiza os movimentos de
protração e retração.

As designações protrusão e retrusão referem-se aos movimentos de uma


estrutura anatômica para frente e para trás, a depressão e elevação movimentam elas
para baixo (inferiormente) e para cima (superiormente), respectivamente.

O movimento caracterizado como de rotação pode ser lateral ou externo quando


no plano horizontal, em que a face anterior da estrutura se volta para o plano lateral
do corpo. O movimento caracterizado como rotação medial ou interna se dá no plano
horizontal, em que a face anterior da estrutura se volta para o plano mediano do corpo.

A rotação é possível na cabeça, nos braços e pernas e se diferencia da abdução e


adução, devido aos planos em que os movimentos acontecem. A cabeça gira em relação ao
tronco; os braços e pernas giram em relação ao tronco, passando de cima abaixo, através do
próprio braço e da própria perna. Virar a cabeça lateralmente corresponde à rotação lateral,
enquanto virá-la de volta para olhar para a frente corresponde à rotação medial.

A pronação e supinação são considerados dois tipos especiais de


rotação. Eles são restritos ao antebraço e envolvem o rádio dobrando-
se sobre a ulna. O movimento ocorre no plano transverso e no eixo
longitudinal, passando através da ulna. Assim, a parte distal do rádio
roda sobre a ulna e a parte proximal roda sobre seu eixo (LOURENÇO,
2021, s.p.).

Na dança, esses termos podem ser aplicados como mostra a figura 26, devido a
isso, é muito importante observar os movimentos de pronação e supinação, pois muitas
lesões estão relacionadas aos desvios.

110
FIGURA 30 – MOVIMENTOS DOS PÉS

FONTE: <https://bit.ly/3hvqlo4>. Acesso em: 3 set. 2021.

Observe que, ao colocar as sapatilhas de pontas, esse efeito do eixo é muito


mais preocupante. Para os alunos usarem a sapatilha de pontas, é fundamental um bom
preparo preliminar, e isso pode levar mais de um ano de aulas de ballet.

FIGURA 31 – USO DAS SAPATILHAS DE PONTAS

FONTE: <https://bit.ly/393IHbo>. Acesso em: 3 set. 2021.

A Circundução é muito usada nas danças, pois é a combinação de muitos


outros movimentos. O movimento inicia com flexão, seguida de abdução, extensão e
finalmente adução. O resultado é um movimento circular.

111
FIGURA 32 – CIRCUNDUÇÃO DO MEMBRO SUPERIOR – VISTA ANTERIOR

FONTE: <https://bit.ly/3lhXYLm>. Acesso em: 3 set. 2021.

Os dedos da mão movimentam-se em oposição e em reposição. Esses


movimentos são caracterizados como pinça. A movimentação chamada de oposição
envolve tocar a ponta de um dos dedos com o polegar da mesma mão. E a movimentação
chamada de reposição é o oposto, que consiste em separar os dedos.

FIGURA 33 – MOVIMENTOS DA MÃO

FONTE: <https://bit.ly/3nDn8ad>. Acesso em: 3 set. 2021.

112
NOTA
Hiperflexão e hiperextensão são movimentos exagerados (além do normal)
permitidos por uma articulação. Isso pode acontecer nos membros ou na coluna
vertebral, e pode resultar em uma ruptura, dano ou luxação de ligamentos.
A hiperextensão da coluna vertebral, que pode acontecer durante súbitas
acelerações ou desacelerações, é particularmente perigosa. A hiperextensão
da parte cervical da coluna pode resultar em uma lesão em chicoteamento,
e pode ser uma ameaça potencial à integridade da medula espinhal. Para
saber mais, acesse o link: https://www.kenhub.com/pt/library/anatomia/
tipos-de-movimentos-do-corpo-humano.

INTERESSANTE
Sufistas são pessoas que buscam encontrar o “divino” em rituais de meditação com orações,
dança e música, para tentar uma comunhão direta e em êxtase com Alá (que é o Deus dos
islâmicos). Uma das vertentes do sufismo é a Mevlevi, que é bem conhecida pois seus integrantes
são os dervixes rodopiantes. Esses movimentos de rodopio são para entrar em transe. Eles
caracterizam-se por usar saias longas e coloridas e uma espécie de turbante na cabeça.
Esses giros sequenciais são possíveis devido ao treino e técnicas para não ficar tonto. As pessoas
se sentem tontas porque os órgãos de equilíbrio presentes no ouvido têm câmaras preenchidas
com fluido. Quando uma pessoa gira, o fluido se move por um tempo depois do rodopio, o que
cria a sensação de que ainda estamos nos movendo, mesmo que estejamos parados.
A “dança” dos dervixes rodopiantes (em inglês, whirling dervixes) é chamada de Sema, que é a
busca por Deus e pela verdade, do amor e união com Deus.
Para saber mais, acesse o link: https://www.viciadaemviajar.com/rodopiando-para-entrar-em-
transe-em-istambul/.

FIGURA – SEMA (DANÇA DOS DERVIXES RODOPIANTES)

FONTE: <https://bit.ly/2VKvDoi>. Acesso em: 3 set. 2021.

113
Sobre o movimento de girar, a técnica de fazer a cabeça girar em um ritmo diferente do
corpo, evita a sensação de desequilíbrio. “Nas diferentes danças, executar piruetas, faz com
que o labirinto (órgão localizado no ouvido e responsável pelo equilíbrio do corpo) se adapte
aos movimentos bruscos e repetitivos sem desequilibrar o dançarino”.

FONTE: <http://www.correalimasaude.com.br/blog/como-bailarinas-nao-ficam-tontas-quando-
giram/>. Acesso em: 9 set. 2021.

DICAS
Ainda sobre a dança dos dervixes rodopiantes, por ser mais forte e ter
o corpo em forma de pião, o homem tende a girar mais, mas a evolução
dos treinamentos e auxílio de materiais que aceleram o rodopio, também
influenciam, então é possível ver bailarinas girando como bailarinos. Para
saber mais, acesse o link: https://super.abril.com.br/mundo-estranho/
como-bailarinas-nao-ficam-tontas-quando-giram/.

AUTOATIVIDADE
1 Trazemos um tutorial ilustrativo de um dos giros mais usados no
ballet clássico. Desafiamos vocês a tentar fazer uma Pirouette em
passè relevè. Vamos lá?! Caso tenha dúvidas, pesquise em vídeos de
aulas de dança, pois esse giro pode ser encontrado nas diversas
modalidades de dança com algumas variações de braços ou pernas,
deslocamento de eixos e até de cabeça para baixo.

114
FIGURA 34 – PIROUETTE

FONTE: Adaptada de <https://br.pinterest.com/pin/818318194777189834/>. Acesso em: 3 set. 2021.

AUTOATIVIDADE
1 Caro acadêmico, para aprofundar seus estudos e compreensão das diversas possibilidades
de movimento corporal que possuímos, apresentamos uma sugestão de prática. Nessa
ação, você vai compreender como se dá o girar em qualquer dança, de forma a não perder
o equilíbrio ou ficar tonto.
a) Olhar fixo: com o corpo e a cabeça voltados para a mesma direção, fixe o
olhar em um ponto à frente.
b) Girar: primeiro girar só o corpo, sem mexer a cabeça, e sem tirar o olhar
do ponto escolhido, até o limite máximo da torção do pescoço.
c) Rodar Cabeça: quando não conseguir mais manter o olhar no ponto fixo,
rode a cabeça. O corpo também termina a pirueta, ajudando a cabeça a
retornar à posição inicial.
d) Próximo Giro: iniciar outro giro, retornando o olhar para o ponto fixo.
A cabeça deve ser sempre a última a sair e a primeira a chegar.

115
RESUMO DO TÓPICO 2
Neste tópico, você adquiriu certos aprendizados, como:

• Termos que designam os movimentos do corpo.

• Os movimentos de flexão caracterizam-se por diminuir o ângulo entre as duas partes


do corpo que participam do movimento. Os movimentos de extensão ocorrem em
oposição à flexão.

• Os movimentos de flexão e extensão do ombro ocorrem quando o úmero do braço se


move em relação à escápula.

• Os movimentos de flexão e extensão da coluna vertebral são em direção ao sacro e


aos ossos do quadril.

• Para que possamos movimentar os pés, há duas possibilidades: a flexão dorsal


(dorsiflexão) ou flexão plantar.

• Protrusão envolve um movimento reto em direção anterior e retrusão é o movimento


oposto e envolve ir em direção posterior.

• O movimento de Circundução inicia com flexão, seguida de abdução, extensão e


finalmente adução.

• O movimento caracterizado anatomicamente como desvio é um tipo especial de


movimento que é restrito à articulação do punho (desvio ulnar).

• Geralmente, as rupturas, danos ou luxações de ligamentos nos membros ou na


coluna vertebral, derivam de movimentos de hiperflexão e hiperextensão, porque são
movimentos exagerados, além do normal permitido por uma articulação.

116
AUTOATIVIDADE
1 O esqueleto humano é formado por uma grande quantidade de ossos, que garantem,
entre outras funções, nossa movimentação, além de protegerem órgãos internos.
Sobre a outra função do esqueleto, assinale a alternativa CORRETA:

a) ( ) O esqueleto funciona como local de inserção dos músculos.


b) ( ) O esqueleto garante a produção de células sanguíneas.
c) ( ) O esqueleto garante a realização da respiração.
d) ( ) O esqueleto funciona como um elástico.

2 Nos estudos dos planos anatômicos, no plano sagital, em torno do eixo frontal, o
movimento possível de acontecer no punho possui uma denominação. Sobre o
exposto, assinale a alternativa CORRETA:

a) ( ) Extensão e rotação de punho.


b) ( ) Desvios radial e ulnar do punho.
c) ( ) Flexão e rotação de punho.
d) ( ) Flexão e extensão de punho.

3 Durante a flexão da articulação do cotovelo, o músculo braquial e o músculo bíceps


são os responsáveis diretos pela quantidade de força gerada. O posicionamento
da articulação é diretamente proporcional a essa força gerada. Sobre a relação
comprimento extensão, assinale a alternativa CORRETA:

a) ( ) Na posição pronada da articulação radioulnar, a tensão do músculo bíceps


braquial é maior.
b) ( ) Na posição supinada da articulação radioulnar, a tensão do músculo bíceps e
braquial é maior.
c) ( ) Na posição neutra da articulação radioulnar, a eficiência mecânica do bíceps não
é afetada.
d) ( ) Na posição neutra da articulação radioulnar, a tensão do músculo bíceps e
braquial é maior.

4 Dentre a vasta diversidade de movimentos possíveis do corpo humano, estão as


flexões, rotações, circunduções etc. Descreva os termos abdução, adução e rotação
em relação aos braços.

5 Ao girar, as pessoas geralmente se sentem tontas, porque os órgãos de equilíbrio


presentes no ouvido têm câmaras preenchidas com fluido que se move por um tempo
depois do rodopio, o que cria a sensação de que o movimento continua. Descreva as
principais orientações para que um bailarino execute giros sem perder o equilíbrio ou o
eixo de giro.
117
118
UNIDADE 2 TÓPICO 3 -
POSSIBILIDADES DOS BRAÇOS

1 INTRODUÇÃO
Os braços são muito importantes para o equilíbrio nos giros e no impulso
para os saltos, direcionando movimentos, e, não menos, atuando na estética desses
movimentos. Os bailarinos executam os exercícios de fortalecimento e flexibilidade
musculares, sempre acompanhados de movimentos dos braços. De acordo com a
posição em que estão, eles podem fazer toda a diferença na movimentação e equilíbrio
do bailarino. Além disso, os braços auxiliam em giros e tornam a postura mais bonita e
harmoniosa. Nesse tópico, estudaremos as principais características dos componentes
dos braços e suas possibilidades motoras.

FIGURA 35 – MOVIMENTO DE BRAÇOS

FONTE: Adaptada de <https://br.pinterest.com/pin/595319644466097099/>. Acesso em: 3 set. 2021.

2 COTOVELOS
Pode-se observar, na figura 36, que a extremidade proximal do úmero participa
da formação do ombro. A extremidade distal é bifurcada e possui dois acidentes ósseos,
o epicôndilo lateral e o epicôndilo medial, que delimitam um espaço triangular que são
percebidas por serem saliências ósseas.

119
FIGURA 36 – POSIÇÃO DOS BRAÇOS

FONTE: < https://dancer.com/wp-content/uploads/2013/10/Position-of-arms_7.jpg>. Acesso em: 3 set. 2021.

A borda do lado de fora do cotovelo é chamada de epicôndilo lateral e a interna


de epicôndilo medial, facilmente perceptíveis quando tocamos nosso cotovelo. Os
músculos do antebraço que se estendem do punho estão ligados a estas protuberâncias
ósseas pelos tendões.

FIGURA 37 – EPICÔNDILO LATERAL E MEDIAL

FONTE: <https://bit.ly/3lts2E1>. Acesso em: 3 set. 2021.

A colocação dos braços nos movimentos de dança compõe a marca de uma


coreografia, e é importante pensar que toda a musculatura está ativa o tempo todo,
tendo tônus para realizar o movimento de sustentação e direção. Ao ativar os braços,
toda estrutura muscular que se conecta com a coluna melhora a coordenação, a
sustentação e o equilíbrio de atletas e bailarinos.

Os braços dos bailarinos demonstram mínima tensão, mesmo nas danças de


apoios no solo, isso produz uma beleza estética pela leveza e harmonia com o corpo.
Mesmo nas coreografias que exigem predominância de movimentos dos braços, se
estes estão bem colocados, fazem parte do todo corporal.

120
Uma estrutura articular com duas superfícies, a tróclea do úmero, mais medial,
que tem a forma de um carretel e o capítulo do úmero, mais lateral, que tem forma
esférica formam a chamada Crista, como a crista supracondilar do úmero.

FIGURA 38 – TRÓCLEA DO ÚMERO

FONTE: <https://www.bibliomed.com.br/bibliomed/bmbooks/cirurgia/livro13/fig02-20.jpg>.
Acesso em: 3 set. 2021.

Segundo Lourenço (2021), o antebraço é formado pelos ossos rádio e ulna,


ficando entre a articulação do cotovelo e do punho, sendo interligados entre si por
uma membrana, chamada interóssea. O rádio e a ulna, ossos longos como o úmero,
articulam-se com ele através destas superfícies.

FIGURA 39 – RÁDIO E ULNA

FONTE: <http://marciocavalcanti.med.br/wp-content/uploads/2019/11/antebra%C3%A7o-165x300.jpg>.
Acesso em: 3 set. 2021.

Nos movimentos de pronação e supinação, a ulna atua como eixo e o rádio


gira sobre ela, assim, a membrana interóssea, ou seja, articular, é responsável pelos
movimentos de pronação (dorso da mão para cima e palma da mão para baixo) e
supinação (palma da mão para cima e dorso da mão para baixo).

121
2.1 FLEXÃO E EXTENSÃO
A articulação do cotovelo realiza apenas duas ações: a flexão e a extensão.
Como vimos no estudo anterior, isso se deve a ela ser do tipo gínglimo, ou seja, em
dobradiça, o que permite o movimento apenas no plano sagital. Apenas um dos flexores
do cotovelo se insere na cintura escapular. Ele é o mais perceptível e palpável, sendo um
músculo de duas cabeças, chamado bíceps braquial.

Observe a figura 40. Para localizá-las, faça um experimento: segure seu bíceps
com uma mão e movimente seu braço para os lados, em movimentos similares ao que
você faria num braço de ferro. Fica fácil perceber a diferença no recrutamento das duas
cabeças.

FIGURA 40 – BÍCEPS

FONTE: <https://bit.ly/3tK1fae>. Acesso em: 8 set. 2021.

O bíceps braquial é o principal músculo que participa da flexão do braço.


Importante flexores do cotovelo, são o braquiorradial, cuja inserção proximal é na
margem lateral do úmero, e a distal no rádio, em um acidente ósseo chamado processo
estiloide e o braquial que tem sua inserção proximal na face anterior do úmero e distal
na ulna, se origina na escápula, a cabeça longa na cavidade glenoide e a cabeça curta
no processo coracoide.

122
FIGURA 41 – MÚSCULO BRAQUIAL E BRAQUIORADIAL

FONTE: <https://bit.ly/2YXZkU7>. Acesso em: 3 set. 2021.

Agora, vejamos os músculos que realizam a extensão do cotovelo. O principal


deles é o tríceps braquial.

FIGURA 42 – O POPULAR “MÚSCULO DO TCHAUZINHO”

FONTE: <https://bit.ly/3kajfai>. Acesso em: 3 set. 2021.

Na extensão do cotovelo, a cabeça longa se insere na cavidade glenoide


da escápula; a cabeça lateral, na face anterior do úmero; e a cabeça média, na face
posterior, e as três cabeças atuam juntas. O músculo ancôneo é também extensor do
cotovelo e ele se insere no epicôndilo lateral do úmero e na face posterior da ulna,
trabalhando junto com o tríceps.

123
FIGURA 43 – MÚSCULO ACÔNEO

FONTE: <https://ifanatomia.files.wordpress.com/2012/08/ancc3b4neo.jpg>. Acesso em: 3 set. 2021.

Na prática de dança ou nas ações diárias, a ação de flexores e extensores do


cotovelo estão em ação o tempo todo.

AUTOATIVIDADE
1 Nesta experimentação, você poderá investigar na sua prática de dança ou em movimentos
diários que solicitem a coordenação dos flexores e extensores do cotovelo. Selecione
uma sequência de movimentos com os quais você tenha familiaridade e analise seus
movimentos, prestando atenção no seu cotovelo.
a) Movimente seu cotovelo e identifique as partes onde há movimentos de
flexão e extensão.
b) Mantendo o úmero imóvel, mova o antebraço.
c) Realize movimentos percebendo os músculos flexores e extensores
do cotovelo.
d) Identifique movimentos funcionais no dia a dia, que podem passar
despercebidos, mas são feitos com muita frequência.
e) A qualidade dos movimentos de dança pode ser otimizada pelos
braços, pois são eles elementos de grande expressividade.

124
2.2 A PRONO-SUPINAÇÃO
Os movimentos de supinação e pronação acontecem no antebraço, envolvendo
as articulações entre o rádio e a ulna. “Os músculos que agem no movimento, ou seja, os
agonistas da pronação são o pronador redondo e o pronador quadrado” (ROCHA, 2012,
s.p.). Para virarmos a palma da mão para baixo e para cima, realizamos os movimentos
de pronação e supinação, respectivamente, isso é possibilitado pelas fibras que cruzam
o antebraço inseridas na face lateral do rádio. O denominado pronador quadrado, insere-
se no rádio e na ulna e é chamado de quadrado, porque suas fibras transversais vão de
um osso a outro, formando um quadrado.

FIGURA 44 – MÚSCULO SUPINADOR

FONTE: <https://ifanatomia.files.wordpress.com/2012/08/supinador3.jpg>. Acesso em: 3 set. 2021.

Na supinação, o músculo mais potente é o bíceps, já que ele atua “desenrolando”


a parte proximal do rádio” (CALAIS-GERMAIN, 2010, p. 154). Outro músculo muito
importante é o supinador. O supinador se origina na face lateral e proximal da ulna e
no epicôndilo lateral, suas fibras passam pelo lado anterior do antebraço e envolvem
parte da porção proximal do rádio, fazendo com que ele também ajude a desenrolá-lo
na supinação.

O músculo braquioradial é solicitado nos movimentos de retorno do braço, ou


seja, este leva o braço a uma posição intermediária entre a pronação e a supinação. É
esse músculo que assume tanto o papel de pronador quanto de supinador, dependendo
da posição inicial do antebraço.

125
3 PUNHOS
De acordo com Olsen (2004, p. 77) “nossas mãos evoluíram a partir de patas,
alterando sua função de descarga de peso e de propulsão para articulação e manipulação
[...]. O polegar nessa transição desenvolveu um padrão de oposição com os dedos para
agarrar [...]”. Assim, entendemos que o sistema nervoso também foi se refinando neste
processo evolutivo, permitindo que as mãos, assim como a face, sejam importantes
meios para nossa sensibilidade, comunicação e expressão.

A mão, do ponto de vista osteoarticular, é dividida em três regiões: o carpo,


o metacarpo e as falanges. O carpo compreende oito ossos pequenos e irregulares,
cujas superfícies permitem o deslizamento de uns sobre os outros, possibilitando a
mobilidade do pulso. O metacarpo e as falanges compõem os dedos.

Segundo Olsen (2004, p. 77) “Se realizar círculos com seu pulso você sentirá
os pequenos movimentos bruscos dos ossos articulados; esta estrutura proporciona
mobilidade, mantendo a estabilidade com a musculatura mínima”. Os oito ossos juntos
formam o carpo, que participa da formação do punho juntamente com o rádio e com a
fibrocartilagem que liga a ulna e o rádio transversalmente.

3.1 OS MOVIMENTOS DO PUNHO


Segundo Souza e Auharek (2016, p. 63) “O punho realiza movimentos de flexão
e extensão, e também de adução e abdução, mas não a rotação. Quando realizamos
movimentos circulares com esta articulação estamos realizando a circundução”.

DICAS
Para saber mais, acesse o link: https://educapes.capes.gov.br/bitstream/
capes/174969/2/eBook_Laboratorio_de_Cinesiologia_na_Danca_II-Licenciatura_
em_Danca_UFBA.pdf
O punho realiza a flexão, a extensão, a adução e a abdução, mas não a rotação
e, quando realizamos movimentos circulares com ele, estamos realizando a
circundução. Para realizar as ações de flexão e extensão do punho, acionamos
músculos que se inserem distalmente braço e antebraço e proximamente
no próprio punho. Esses músculos são parte do grupo extrínseco da mão,
mas, como não atuam diretamente sobre os dedos, serão estudados
separadamente.

126
Os três músculos que atuam sobre o antebraço, dentre eles os flexores do
punho se inserem no epicôndilo medial do úmero e se estendem até o carpo, à exceção
de um deles, que se insere no segundo metacarpal.

FIGURA 45 – MÚSCULOS QUE ATUAM SOBRE O ANTEBRAÇO, DENTRE ELES OS FLEXORES DO PUNHO

FONTE: <https://bit.ly/3k8opUr>. Acesso em: 8 set. 2021.

Para a realização da extensão do braço temos dois músculos radiais, ou seja,


que descem pela parte lateral do rádio, e um ulnar. Todos eles se originam no úmero e
conectam o metacarpo.

4 MÃOS
Os ossos que compõe as mãos e, também, os pés são chamados de carpo,
metacarpo e as falanges. Conforme Souza (2016, p. 50):

A segunda e terceira região da mão, são constituídas por colunas


ósseas chamadas de ossos metacarpais (que irão formar a palma e o
dorso da mão) e as falanges, que formam os dedos. Os movimentos
dos dedos da mão acontecem com a parte mais próxima da palma
nos três planos, e com as outras partes apenas conseguimos
dobrar e esticar. Isto acontece porque as articulações entre os
metacarpos e as falanges proximais (metacarpofalângicas) são do
tipo esferoide, assim como no ombro, entre o úmero e a escápula.
Entre a falange proximal e a falange média e, entre está e a falange
distal, (articulações interfalângicas) são do tipo gínglimo, ou seja, em
dobradiça, só permitindo a flexão e a extensão.

127
DICAS
Lembre-se: no polegar não há falange média. Há somente a proximal e a distal.

FIGURA 46 – OSSOS DA MÃO (ANTERIOR)

FONTE: Adaptada de <https://br.pinterest.com/pin/504262489513293616/>. Acesso em: 8 set. 2021.

128
FIGURA 47 – OSSOS DA MÃO (POSTERIOR)

FONTE: Adaptada de <https://br.pinterest.com/pin/504262489513293614/>. Acesso em: 8 set. 2021.

Segundo Olsen (2004, p. 73) “Se realizar círculos com seu pulso você sentirá
os pequenos movimentos bruscos dos ossos articulados; esta estrutura proporciona
mobilidade, mantendo a estabilidade com a musculatura mínima.” O carpo abrange oito
ossos pequenos e irregulares, cujas superfícies admitem o deslizamento de uns sobre
os outros, permitindo a mobilidade do pulso. Os oito ossos juntos compõem um volume
chamado maciço carpal, o qual participa da formação do punho, junto ao rádio e ao
disco articular, fibrocartilagem que liga a ulna e o rádio transversalmente (SOUZA, 2016).

Entre a falange proximal e a falange média, encontra-se o metacarpo, que


é a parte intermediária do esqueleto das mãos. Entre eles está e a falange distal,
(articulações interfalângicas) são do tipo gínglimo, ou seja, em dobradiça, só permitindo
a flexão e a extensão.

4.1 OS COMPONENTES DA MÃO


Continuando os nossos estudos, a mão representa o segmento terminal do
membro superior, sendo parte da continuação do punho. Ela termina com os dedos.
Veremos este segmento de forma mais detalhada a seguir.

129
4.1.1 Os dedos: músculos extrínsecos
Calais-Germain (2010, p. 176) afirma “Os dois músculos flexores dos dedos
estão dispostos um sobre o outro na região anterior do antebraço, com seus tendões
inserindo-se nas falanges”. Os tendões de ambos os músculos passam pelo túnel do
carpo, daí a grande incidência de lesão por esforço repetitivo manual.

FIGURA 48 – MÚSCULOS DA MÃO

FONTE: Adaptada de <https://br.pinterest.com/pin/504262489513293342/>. Acesso em: 3 set. 2021.

4.1.2 Os dedos: músculos intrínsecos


Os músculos intrínsecos das mãos são chamados de interósseos e ocupam
o espaço entre os dedos com a função de nos possibilitar abri-los e fechá-los. Os
lumbricais nos possibilitam realizar movimentos de pinças de precisão. O dedo mínimo
possui três músculos intrínsecos, que contribuem para o aumento significativo em
sua mobilidade, permitindo sua abdução dissociada, o aprofundamento da escavação
palmar e flexões mais precisas.

130
FIGURA 49 – OS MÚSCULOS INTRÍNSECOS DA MÃO

Músculos intrínsecos da mão Músculos intrínsecos da mão


(vista palmar) (vista dorsal)

FONTE: <https://bit.ly/3hxHWM8>. Acesso em: 3 set. 2021.

Temos um conjunto de músculos extrínsecos e intrínsecos, que são responsáveis


pelas ações da mão. Um exemplo seria o polegar, que tem ações independentes dos
demais dedos.

5 OS DEDOS
Os dedos das mãos e dos pés são importantes instrumentos para a dança, pois
são capazes de abdução e adução, o que proporciona uma vasta gama de movimentos e
sustentações de peso. Os movimentos também se dão sobre o plano medial em relação
ao plano medial da palma da mão ou sola do pé.

Os músculos intrínsecos das mãos, conforme figura 49, são pequenos e precisos.
Os interósseos ocupam o espaço entre os dedos e nos possibilitam abri-los e fechá-los.
Os lumbricais nos possibilitam realizar pinças de precisão.

O dedo mínimo possui três músculos intrínsecos: o flexor, os abdutores e o oponente.


Esses músculos contribuem para o aumento significativo na mobilidade, permitindo sua
abdução dissociada, o aprofundamento da mobilidade palmar e flexões mais precisas.

5.1 O POLEGAR
A liberdade do polegar permite a precisão da preensão de objetos pela mão.
Estudos indicam que a anatomia da mão humana significou uma evolução em ruptura
com os antecedentes, que permitiu a utilização de instrumentos e consequente melhor
adaptação humana ao meio ambiente. O complexo sistema dos dedos proporciona

131
tanto estabilidade quanto controle da direção, que são necessários para os movimentos
de precisão. “O polegar também é útil no controle da força da preensão, formando um
contraforte que resiste à pressão do objeto, que é mantido junto pela pressão dos outros
dedos” (FERREIRA; SILVA; VERRI, 2011, p. 31).

Os músculos do polegar se inserem no rádio e na ulna. E são eles os responsáveis


pelos movimentos de flexão e extensão, além da abdução desse dedo.

FIGURA 50 – O ABDUTOR E O FLEXOR DO POLEGAR

FONTE: <https://bit.ly/3lt3ASV>. Acesso em: 3 set. 2021.

Nosso polegar é um hábil membro que se desdobra em multifuncionalidades,


devido a sua capacidade opositora, força e mobilidade. Compondo a estrutura funcional
do polegar, temos um conjunto de músculos extrínsecos e intrínsecos, responsáveis por
suas ações, independentes dos demais dedos.

Em certos tipos de dança as mãos são muito utilizadas. Assim como as mãos, o
punho, o braço, o ombro e todo o sistema apendicular superior é solicitado na execução
das coreografias.

132
FIGURA 51 – DANÇA HIP HOP

FONTE: <https://bit.ly/3EnfVRh>. Acesso em: 3 set. 2021.

DICA
Para aprofundar seus estudos, acesse o link:
http://www.cpaqv.org/cinesiologia/planos_eixos_movimentos.pdf.

Nossas mãos são um instrumento muito importante para manipulação de


objetos, mas possuem uma funcionalidade que está além disso, pois podem ser um
meio de expressões, uma linguagem ou uma forma de arte. As mãos são utilizadas para
cadenciar ritmos ou dar velocidade como mediadoras dos gestos e palavras. As crianças
são hábeis nesse processo cinestésico no qual assistem e imitam movimentos uma
das outras em jogos de mãos. As mãos, considerando um contexto de aprendizagem,
são a porta de possibilidades de expressão, porque por elas desenvolvemos habilidades
visuais, auditivas e cinestésicas, simultaneamente.

133
LEITURA
COMPLEMENTAR
OS JOGOS DE MÃOS: UM ESTUDO SOBRE O PROCESSO DE PARTICIPAÇÃO
ORIENTADA NA APRENDIZAGEM MUSICAL INFANTIL

Fernanda de Souza

Violeta Gainza (1996, p. 13) define a modalidade jogos de mãos como um jogo
que envolve,
[...] mímicas e outros gestos que se executam geralmente a partir de
uma rima ou de uma canção. Em alguns casos, constitui um aspecto
inerente à canção, tendo sido originado de maneira simultânea.
Outras vezes, os gestos são agregados pelas próprias crianças a
certas canções tradicionais.

Em seu livro “Juegos de Manos – 75 rimas e a canciones tradicionales com


manos y otros gestos”, a autora apresenta seu trabalho realizado com crianças,
estudantes e professores da Argentina, do Brasil, do Uruguai, do Chile, entre outros, no
qual descreve uma infinidade de jogos de mãos inéditos e também chamados por ela de
“brincadeiras de mãos”, os quais são praticados pelas crianças em diferentes ambientes.
Nesse trabalho de natureza pedagógica, a autora anotou, classificou, sistematizou
e investigou a origem, as semelhanças e as diferenças entre os jogos de mãos nos
respectivos países e regiões de origem.

Ao observar as características desses jogos, a autora ressalta a sincronia


existente entre os gestos e as palavras, a presença de mímicas realistas ou cômicas, de
onomatopeias, bem como os desafios de coordenação motora em velocidade rápida ou
crescente. Os jogos de mãos praticados pelas crianças no pátio escolar envolvem um:

[...] repertório variado, envolvendo melodia, ritmo e coordenação


motora num nível sofisticado. Uma criança experiente nos jogos de
mãos sabe muitas canções, algumas com letras longas ou textos
difíceis de recordar, e executa simultaneamente intrincados padrões
de batidas de mãos que nem sempre são coordenados com o
ritmo da melodia, a velocidade e destreza admiradas durante uma
performance de jogos de mãos, e os mais aptos jogadores exibem
essas qualidades com facilidade (RIDDELL,1990 apud HARWOOD,
1998, s.p., tradução nossa).

Segundo Marsh e Young (2006), especialmente por conta dos estudos feitos
pelo compositor romeno Brailoiu, por muito tempo acreditou-se que os jogos musicais,
incluindo os jogos de mãos realizados no pátio escolar pelas crianças apresentavam
características rítmicas, melódicas e formais simples. O autor, apoiando-se em suportes
de um trabalho etnomusicológico, analisou canções e ritmos realizados pelas crianças

134
nesses jogos em diferentes lugares do mundo (Europa, Rússia, Canadá, África, Japão,
entre outros) e concluiu com seus resultados a existência de um ritmo universal nos
jogos musicais das crianças. Trata-se de um ritmo binário equivalente a oito colcheias.
Segundo Marsh e Young (2006), esse ritmo “universal” também foi encontrado em
estudos posteriores nos jogos musicais das crianças aborígenes australianas por
Kartomi, em 1980, e de crianças javanesas, por Romet, no mesmo ano.

O que se verifica é que a constatação desse ritmo universal, de caráter simples,


refere-se a uma análise somente do ritmo dos textos, não levando em consideração o
elemento integral do movimento das mãos que também acompanha os textos. O que se
deve considerar é que a maioria dos textos desses jogos apresenta uma métrica binária,
frequentemente em contraste com a métrica do padrão das palmas. Dessa maneira,
quando se observa o ritmo dos padrões das batidas das mãos em relação ao texto,
percebe-se que os jogos apresentam um caráter polimétrico (MARSH; YOUNG, 2006).

Esse caráter polimétrico foi observado em praticamente todas as pesquisas sobre os


jogos de mãos devido à predominância de um padrão ternário no ritmo da batida das mãos,
em conjunto com um texto de padrão binário. Entretanto, algumas pesquisas têm mostrado
que as crianças com mais idade realizam relações polimétricas de maior complexidade.
Crianças entre oito e nove anos têm sido observadas em jogos sem texto que possuem
padrão de palmas de sete pulsos e métricas aditivas (MARSH, 1995). Um padrão de treze
pulsos foi apresentado por crianças de sete anos em Sydney (MARSH, 1999).

As influências culturais de cada povo são claramente refletidas nas


características rítmicas dos jogos de mãos realizados pelas crianças no pátio escolar.
Nos jogos de tradição afro-americana, por exemplo, a influência da música popular tem
resultado no aumento da sincopização do ritmo dos textos nas últimas décadas do
século XX (MIRSKY, 1986). Também Blacking (2000) revelou características polirrítmicas
da música dos adultos nos jogos musicais e nas canções das crianças da comunidade
de Venda, na África do Sul.

As melodias dos jogos de mãos apresentam frequentemente uma escala


melódica até uma quinta, sendo raras as melodias que ultrapassam uma oitava (MARSH,
1999). A terça menor, que foi considerada em muitos estudos como o intervalo universal
predominante nos jogos musicais de crianças, tem sido encontrada com a mesma
frequência que outros intervalos. A partir de suas pesquisas com crianças australianas,
Marsh (1995; 1999) constatou que as canções dos jogos apresentam uma tonalidade
original, sendo que a primeira nota da canção funciona como um centro tonal e que
as melodias que apresentam um campo tonal de maior extensão são adaptadas pelas
crianças para o contexto dos jogos. Campbell (1998) na sua pesquisa com as crianças
norte-americanas descreve que as melodias desses jogos:

[...] flutuam desde segundas e terças, até saltos completos de oitava,


enquanto seus ritmos são frequentemente sincopados e sempre
pulsantes. As canções dos seus jogos de mãos, jogos de pular corda
e gritos de guerra de beisebol tendem a ficar na amplitude da fala,

135
frequentemente entre sol e lá e até uma oitava acima. A tonalidade
é definida pelo líder do jogo ou pela criança de voz mais grave
(CAMPBELL, 1998, p. 48, tradução nossa).

Quanto à forma, os jogos de mãos são repetitivos e cíclicos (MIRSKY, 1986).


As canções dos jogos são frequentemente arranjadas em forma estrófica com versos
apresentando a mesma melodia; quase sem exceção essas canções têm métricas
binárias ou quaternárias (CAMPBELL, 1998). Encontram-se alguns ostinatos, mas eles são
frequentemente interrompidos por mímicas, movimentos e mudanças de ritmo em pontos
de pausa ou ênfase textual (MARSH, 1999). As influências culturais também se refletem
no aspecto da estrutura dos jogos. Os jogos responsoriais, por exemplo, podem ser
encontrados nos jogos das crianças de Gana, da África e da América, mas não nos jogos
musicais das crianças da Austrália, ao menos que esses jogos sejam derivados de outros
contextos, tais como sala de aula ou programas de televisão (MARSH; YOUNG, 2006).

A definição de Mirsky (1986) sobre os jogos vivenciados no pátio escolar resume de


maneira clara as características rítmicas, melódicas e formais dos jogos de mãos. A batida
das mãos é acentuada, são de natureza cíclica e não métrica. Fornece um pulso constante
sobre o qual o ritmo da melodia é realizado. Há muitos pontos no ritmo da melodia nos
quais a transcrição mostra notas ligadas, indicando uma sílaba cantada em antecipação ao
pulso seguinte. Isso pode ser interpretado como um tipo de ornamentação, uma qualidade
estética do ritmo no qual o executante evita intencionalmente cantar “no tempo”, um
aspecto do estilo de canto prevalecente na música popular norte americana e que tem
relação com tradições religiosas afro-americanas (MIRSKY, 1986, p. 49, tradução nossa).

Os jogos de mãos praticados pelas crianças no pátio escolar são estruturados


pelas próprias crianças, adquirindo características que refletem seus próprios interesses
e capacidades.

As crianças sabem as danças que nenhum professor lhes mostrou.


Certamente, estas danças são transmitidas de criança a criança e por
causa de sua independência têm um alto valor simbólico comparável
aos contos de fadas. Até recentemente, os adultos não davam muita
atenção a estas danças. Essa falta de atenção é uma vantagem,
pois significa a independência para as crianças (SEGLER, 1985 apud
MIRSKY, 1986, s.p., tradução nossa).

As pesquisas mencionadas anteriormente revelam que as crianças aprendem


e ensinam os jogos mutuamente (HARWOOD, 1998; CAMPBELL, 1998; MARSH, 1995;
MIRSKY, 1986). Gainza (1996) relata que as crianças aprendem esses jogos de maneira
direta, por imitação e por repetição, enquanto praticam com as crianças que já sabem.
As crianças “simplesmente imitam e repetem o modelo até que os movimentos e as
palavras se ajustem ao jogo naturalmente” (GAINZA, 1996, p. 8).

Essa constatação da autora condensa as características da aprendizagem


dos jogos de mãos. Segundo ela, os jogos de mãos são transmitidos pela oralidade de
criança para criança a partir de uma aprendizagem holística.

136
Esse processo de transmissão oral ocorre integralmente pelos três elementos que
envolvem os jogos de mãos: música, texto e movimento (HARWOOD, 1998; MARSH, 1995).

[...] como parte de uma tradição oral ativa, os brinquedos cantados das
crianças realizados no recreio são compostos oralmente combinando
fórmulas culturalmente pré-determinadas, a fórmula sendo definida
como um padrão de sons que evocam sentidos implícitos para os
que são daquela cultura. No caso dos jogos cantados, eles incluem
pequenos textos, ritmos e frases melódicas e padrões de movimento
(MARSH, 1999, p. 3, tradução nossa).

O processo de aprendizagem dos jogos de mãos tem sido o foco de muitas


investigações. Harwood (1988) e Marsh (1999), por exemplo, identificaram o caráter
colaborativo tanto no processo de transmissão quanto de composição. Segundo os autores,
no pátio escolar as crianças ensinam os jogos que já sabem umas às outras, sugerem
outros textos, músicas ou movimentos, ensinando novos jogos que são aprendidos em
outros contextos. Tais atividades, promovem uma interação colaborativa e dinâmica entre
os participantes do grupo. O desenvolvimento de habilidades nesses jogos é adquirido pela
observação e pelo desempenho e interesse do participante em realizar o jogo integralmente.
A aquisição do jogo nesse contexto é adquirida a partir de uma aprendizagem não
fragmentada ou isolada do conjunto, que envolve texto, música e movimento, como foi
evidenciado nas pesquisas de Marsh (1999), Harwood (1998) e Gainza (1986).

Um comportamento predominante no aprendizado de jogos e músicas


no pátio envolve esta observação, reiterando: as músicas são sempre
apresentadas em textos completos, nunca quebradas em seção para
que os aprendizes aprendam corrigindo seus erros, o que acontece com
vídeos, CDs, e gravações, mas só pela repetição, pela aprendizagem
holística. Esses modelos representam uma espécie de base em que
podem utilizar aquilo que já conhecem de música e comporem uma
forma musical do seu jeito ao seu tempo. Essa característica se opõe
ao ensino-aprendizagem segmentado, frequentemente ensinado por
professores de música (MARSH, 1999, p. 7, tradução nossa).

Outra característica integral do processo de ensino-aprendizagem dos jogos


de mãos no pátio escolar é o modelo cinestésico, no qual as crianças assistem e imitam
movimentos uma das outras. As crianças são ativas nesse contexto de aprendizagem e
desenvolvem habilidades visuais, auditivas e cinestésicas, simultaneamente (CAMPBELL,
1998; MARSH, 1999).

137
RESUMO DO TÓPICO 3
Neste tópico, você adquiriu certos aprendizados, como:

• Os braços são muito importantes para o equilíbrio nos giros, no impulso para os saltos,
para direcionar movimentos, e, não menos, na estética dos movimentos.

• A colocação dos braços é a marca de um movimento, e é importante pensar que toda


a musculatura está ativa o tempo todo, tendo tônus para realizar o movimento de
sustentação e direção.

• A articulação do cotovelo realiza apenas duas ações: a flexão e a extensão.

• Os movimentos de supinação e pronação acontecem no antebraço, envolvendo as


articulações entre o rádio e a ulna.

• A mão, do ponto de vista osteoarticular, é dividida em três regiões: o carpo, o


metacarpo e as falanges.

• Os dedos das mãos e dos pés também são capazes de abdução e adução, mas de
uma maneira mais específica. Os movimentos também se dão em relação ao plano
medial, mas dessa vez o plano medial da palma da mão ou sola do pé, não do corpo.

• O polegar tem grande importância funcional, devido a sua capacidade opositora,


força e mobilidade.

138
AUTOATIVIDADE
1 É a denominação do músculo presente nos humanos e que não é encontrado em
alguns primatas, e possui sua origem na superfície anterior média do rádio e da
membrana interóssea. Sua inserção ocorre na porção anterior proximal da falange
distal do polegar. E sua principal ação é a flexão da falange distal, além de flexionar e
aduzir o metacarpo e punho. Sobre o que se refere o exposto, assinale a alternativa
CORRETA:

a) ( ) Abdutor do dedo mínimo.


b) ( ) Flexor longo do polegar.
c) ( ) Músculo palmar.
d) ( ) Músculo Tríceps.

2 Os ossos dos membros superiores são ligados pelas articulações que possibilitam a
formação de nossos braços, antebraços e mãos, portanto, fazem parte principal da
habilidade de pegar algum objeto. Sobre o nome de ossos da palma da mão ou do
punho, assinale a alternativa CORRETA:

a) ( ) Metacarpo, falange e carpo.


b) ( ) Escápula e clavícula.
c) ( ) Ulna e rádio.
d) ( ) Trapézio e tíbia.

3 Observe a figura a seguir que representa o esqueleto do braço humano.

FONTE: O autor

O braço humano caracteriza-se por um complexo sistema articular que liga os ossos,
bem como dá mobilidade a eles. Sobre a denominação do osso que está numerado com
1, assinale a alternativa CORRETA:

139
a) ( ) Úmero.
b) ( ) Escápula.
c) ( ) Radio.
d) ( ) Ulna.

4 Os membros superiores são compostos pelos ossos que formam a cintura escapular, o
braço, o antebraço, o punho e a mão. Sobre os ossos que se cruzam quando fazemos
os movimentos de supinação e pronação do braço, assinale a alternativa CORRETA:

a) ( ) Ulna e Rádio.
b) ( ) Rádio e Carpo.
c) ( ) Úmero e Ulna.
d) ( ) Carpo e Metacarpo.

5 O dedo mínimo possui três músculos intrínsecos, que contribuem para o aumento
significativo em sua mobilidade, permitindo sua abdução dissociada, o aprofundamento
da escavação palmar e flexões mais precisas. Já o polegar localiza-se completamente
oponível aos outros dedos. Isso significa que sua função é muito importante para a
precisão da preensão de objetos pela mão. Descreva o que você estudou sobre o
processo de formação anatômica do polegar em humanos.

140
REFERÊNCIAS
CALAIS-GERMAIN, B. Anatomia para o Movimento: introdução para à análise
das técnicas corporais. 4. ed. São Paulo: Manole, 2010. 2 v.

FERREIRA, B.; SILVA, G. P.; VERRI, E. D. Utilização da eletromiografia para o


ensino dos trilhos anatômicos. In: Anais do II Encontro Internacional de Ensino
em Anatomia do ICB/USP. São Paulo, 2011.

FERREIRA; SILVA; VERRI; HAAS, J. G. Anatomia da dança. São Paulo: Manole,


2011.

HAAS, A. N. et al. A percepção do bailarino de dança contemporânea sobre "ser


bailarino". Cena, n. 9, 2011.

LOURENÇO, R. Tipos de movimentos do corpo humano. Kenhub, 2021.


Disponível em: https://www.kenhub.com/pt/library/anatomia/tipos-de-
movimentos-do-corpo-humano. Acesso em: 3 set. 2021.

OLSEN, A. BodyStories: a guide to experiential anatomy [New and expanded


ed.] Lebanon, NH- EUA: University Press of New England, 2004.

ROCHA, F. Cinesiologia e biomecânica do cotovelo. [Slides de aula] Palmas:


Centro Universitário Luterano de Palmas, 2012. Disponível em: https://
pt.slideshare.net/claudioatelier/cinesiologia-e-biomecanica-do-cotovelo. Acesso
em: 3 set. 2021.

SOUZA, F. de. Os jogos de mãos: um estudo sobre o processo de participação


orientada na aprendizagem musical infantil. 2009. Dissertação (Mestrado em
Música) – Setor de Ciências Humanas, Letras e Artes, Universidade Federal do
Paraná, Curitiba.

SOUZA, I.; AUHAREK, C. Laboratório de Cinesiologia na Dança II. Salvador:


UFBA, 2017.

SOUZA, I. Laboratório de cinesiologia na Dança I. Salvador: UFBA, 2016.

141
142
UNIDADE 3 —

COMPREENDENDO
O CORPO – SISTEMA
MUSCULOESQUELÉTICO E
ARTICULAR HUMANO

OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM
A partir do estudo desta unidade, você deverá ser capaz de:

• compreender as estruturas apendiculares inferiores;

• compreender a cintura pélvica;

• identificar as relações entre o sistema axial e os sistemas apendiculares;

• compreender o joelho, tornozelo e pés;

• perceber as estruturas e os sistemas motores no seu próprio corpo.

PLANO DE ESTUDOS
Esta unidade está dividida em três tópicos. No decorrer dela, você encontrará
autoatividades com o objetivo de reforçar o conteúdo apresentado.

TÓPICO 1 – A CINTURA PÉLVICA


TÓPICO 2 – OS JOELHOS, TORNOZELOS E PÉS
TÓPICO 3 – PROPOSIÇÕES PARA EXPERIENCIAR MOVIMENTOS DE RELAÇÕES ENTRE O
SISTEMA AXIAL E OS SISTEMAS APENDICULARES

CHAMADA
Preparado para ampliar seus conhecimentos? Respire e vamos em frente! Procure
um ambiente que facilite a concentração, assim absorverá melhor as informações.

143
CONFIRA
A TRILHA DA
UNIDADE 3!

Acesse o
QR Code abaixo:

144
UNIDADE 3 TÓPICO 1 —
A CINTURA PÉLVICA

1 INTRODUÇÃO
O Cíngulo do Membro Inferior, também conhecido como cintura pélvica, tem
a forma de um anel ósseo e compreende o sacro, o cóccix e os ossos do quadril, bem
como suas respectivas articulações. O cíngulo do membro inferior possibilita que as
estruturas apendiculares dos MMII se conectem com o esqueleto axial.

Para Vilela Junior (2011, p. 75) “O Cíngulo do Membro Inferior é composto pelos
ossos chamados Ilíaco, que é um osso par, grande, chato e irregular, formado pela união
de três ossos: o ílio, o ísquio e o púbis”. A união desses três ossos se dá em uma cavidade
articular, denominada acetábulo.

Segundo Souza (2016, p. 53) “O Fêmur é um osso longo, que compõe nossas
pernas, e é o maior e mais forte osso do corpo humano. Sua forma é ligeiramente
encurvada, estando sua convexidade voltada para a face anterior da estrutura óssea”.
A Patela, componente do joelho, é um osso chato, arredondado e triangular, formando
uma base e um ápice. A Tíbia, encontrada na parte da perna que está abaixo do joelho,
na sua extremidade superior, funciona como uma base para a articulação do fêmur, e
sua extremidade distal é menor, ligeiramente escavada para formar a articulação do
tornozelo. A Fíbula, também fazendo parte do osso abaixo do joelho, é um osso longo e
fino, situado do lado lateral da perna. O esqueleto do pé pode ser dividido em três partes:
ossos do tarso, ossos do metatarso e falanges (ossos dos dedos).

DICAS
Para visualização da imagem Cíngulo do Membro Inferior, acesse o conteúdo
na WEB.
FONTE: SOBOTTA, J. Atlas de Anatomia Humana. 22. ed. Rio de Janeiro:
Guanabara Koogan, 2000.

Os movimentos da pelve geralmente acontecem para facilitar a movimentação do


tronco ou dos membros inferiores. O quadril realiza os movimentos de flexão, extensão,
abdução, adução, rotação e circundução. A extensão do quadril é realizada por um grupo
maior de músculos que a flexão. Tal fato é decorrente de que na maior parte das atividades
cotidianas, como caminhar, a extensão do quadril é facilitada pela ação da gravidade.

145
Para Souza e Auharek (2017, p. 74) “Outro aspecto é a importância do glúteo
máximo que é motor primário da extensão, da abdução e da rotação externa do quadril,
além de ser acessório na adução do mesmo”. Vamos aprofundar melhor os nossos
estudos sobre isso a seguir.

2 O QUADRIL
O quadril é constituído por dois lados: o esquerdo e o direito. Este osso se chama
Ilíaco e é formado pela fusão de três ossos: o Ìlio, o Ísquio e o Púbis. Nas crianças,
estes três ossos estão separados, e se conectam através de tecido cartilaginoso. Com a
puberdade, começa o processo de fusão óssea, que só será completado na idade adulta.
O professor de dança que trabalha com crianças e adolescentes deve estar atento para
que a sobrecarga no treinamento não interfira neste processo, acelerando-o.

FIGURA 1 – CÍNGULO DOS MEMBROS INFERIORES

FONTE: <https://bit.ly/3tIj4WV>. Acesso em: 8 set. 2021.

Podemos observar, na figura 1, que a parte superior do Ilíaco é achatada. Na


margem superior está a crista ilíaca, que delimita o osso, como a alça de uma bacia.
Podemos palpar a crista ilíaca e um de seus acidentes ósseos, a espinha ilíaca ântero-
superior, que é aquela saliência óssea no quadril. Na parte média, temos uma cavidade
esférica, a fossa do acetábulo, que recebe cabeça do fêmur na articulação coxofemoral.

Essa estrutura é recoberta por cartilagem articular em forma de meia-lua (face


semilunar do acetábulo). “Na parte inferior do osso, há um arco ósseo que delimita uma
abertura, o forame obturado. Na região anterior deste arco está o púbis, e na posterior
o ísquio” (SOUZA, 2016, p. 74). A articulação entre os dois púbis, a sínfise púbica, é uma
anfiartrose que permite pequenos movimentos de deslizamento e torção.

146
2.1 A ARTICULAÇÃO DO QUADRIL
De acordo com Portela et al. (2017, p. 98) “O quadril é uma articulação esferoidal.
Possui três planos de movimento, constituída pela articulação da cabeça do fêmur com
o acetábulo, que se apresenta em um formato côncavo, proporcionando um encaixe
profundo”. O acetábulo é constituído de forma a estar recoberto por cartilagem articular
hialina, na qual “é encontrada mais espessa nas (adjacências ou contornos) do mesmo,
região em que se encontra uma estrutura denominada como lábio do acetábulo, que
favorece o equilíbrio e a estabilidade da articulação”. A articulação do quadril apresenta,
na sua constituição, o ligamento transverso, que atua como uma resistente ponte
sobreposta à incisura acetabular, estruturando a circunferência do acetábulo.

FIGURA 2 – ARTICULAÇÕES DO QUADRIL

FONTE: <https://www.auladeanatomia.com/artrologia/quadril3.jpg>. Acesso em: 8 set. 2021.

O fêmur é ligado ao quadril por importantes ligamentos, e essa estrutura é a


base para qualquer locomoção. O ligamento da cabeça do fêmur tem como função
a manutenção da cabeça do fêmur na região inferior do acetábulo, estabilizando a
articulação. Há ainda mais três ligamentos, e todos estão relacionados especificamente
a cada um dos ossos pélvicos que constituem o acetábulo.

Portela (2017, p. 98) diz que “O ligamento iliofemoral, também denominado como
ligamento Y, é caracterizado pela presença de fibras muito resistentes, com função de
promover movimentos de extensão e rotação”. O movimento de abdução é controlado
pelo ligamento pubofemoral, e este também ajuda no desenvolvimento dos movimentos
de extensão e rotação lateral. Já o ligamento isquifemoral é caracterizado por controlar
a rotação medial e a abdução.

147
DICAS
Para aprofundar os estudos e ampliar as possibilidades de visualização das
imagens da Articulação do Quadril, faça uma pesquisa sobre este conteúdo
na WEB.

O professor de dança deve ter em mente que pelve feminina é mais larga que a
masculina. Sendo assim, ao propor atividades, devemos pensar sempre em adaptações
para que a diversidade dos alunos seja respeitada e todos possam realizar os
movimentos. Por isso, é importante que o professor tenha em mente as potencialidades
e as possibilidades de cada bailarino, para que possa desenvolver estratégias de
aprimoramento de forma individual.

Sabemos que algumas modalidades de dança primam pela uniformidade,


mas o cuidado com as possibilidades corporais dos bailarinos poderá permitir maior
longevidade na dança.

FIGURA 3 – PELVE MASCULINA E PELVE FEMININA

FONTE: <https://www.infoescola.com/wp–content/uploads/2020/06/pelve–1060712348.jpg>.
Acesso em: 8 set. 2021.

A articulação entre o Fêmur e o Ilíaco, que une nossas coxas ao nosso tronco,
chama-se pelve. A extremidade proximal do fêmur é formada pelos seguintes elementos:
a cabeça esférica, na qual está a superfície articular; uma tuberosidade maciça lateral, o
trocânter maior; o colo do fêmur, entre a cabeça e o trocânter maior; o trocânter menor,
uma pequena tuberosidade situada inferiormente ao colo.

148
FIGURA 4 – CABEÇA DO FÊMUR

FONTE: <https://bit.ly/3lkzHnK>. Acesso em: 8 set. 2021.

A cabeça do fêmur se insere no acetábulo, formando a articulação do quadril


ou coxofemoral, e é do tipo esferoide, o que lhe garante mobilidade nos três planos.
Além de ser completada pelo lábio do acetábulo, um anel de fibrocartilagem aumenta a
estabilidade da articulação, que é formada pela cápsula articular, bastante resistente e
reforçada por ligamentos potentes.

O formato e posicionamento do colo do fêmur na articulação do quadril é


um fator de limitação de movimentos. Um colo mais inclinado (coxa-vara) limita os
movimentos de abdução, enquanto um colo menos inclinado (coxa-valga) facilita a
amplitude destes movimentos. Estas e outras diferenças anatômicas explicam o fato de
alguns dançarinos possuírem maior amplitude no quadril que outros, mesmo realizando
o mesmo tipo de treinamento para a flexibilidade.

“De fato, as pessoas cuja disposição óssea limita estes movimentos, correm
o risco, para efetuá-los, de ‘forçar’ as articulações suprajacentes (coluna lombar) ou
subjacentes (joelho)” (CALAIS-GERMAIN, 2010, p. 205).

2.2 OS MUSCULOS E AS POSSIBILIDADES DE MOVIMENTO


São os músculos que nos possibilitam os movimentos:

Na Flexão, o grupo dos flexores do quadril é formado pelos músculos


profundos: psoas maior e menor, e o Ílio que junto com o psoas
formam o conjunto Iliopsoas. Os superficiais são: o sartório, o reto
femoral e tensor da fáscia lata. Alguns outros músculos mediais
também auxiliam na flexão do quadril, são eles: pectíneo; adutor
curto e longo; e as fibras anteriores dos glúteos mínimo e médio
(PORTELA, 2017, p. 103).

149
Na Extensão, agem os músculos extensores do quadril, que são: os músculos da
região glútea e posteriores da coxa: glúteo máximo, fibras posteriores de glúteo médio,
fibras posteriores de glúteo mínimo, porção longa do bíceps femoral, semitendinoso,
semimembranoso e porção extensora do adutor magno.

Na Abdução, os músculos que auxiliam são: as fibras superiores e laterais de


glúteo máximo, glúteo médio, glúteo mínimo, tensor da fáscia lata, piriforme, sartório e
obturador interno e externo.

Na Adução, os músculos são: adutor magno, adutor longo e curto.


Outros músculos que também auxiliam nessa função são: grácil,
pectíneo, psoas e ilíaco, fibras inferiores e mediais do glúteo máximo,
semitendinoso e semimembranoso. Na Rotação Externa, os músculos
são: piriforme; obturador externo e interno, gêmeo superior e inferior e
quadrado femoral. São auxiliados por fibras posteriores do glúteo médio,
sartório, porção longa de bíceps femoral, pectíneo, grácil, adutores
longo, curto e magno. Na Rotação Interna, os músculos que auxiliam
são: glúteo mínimo, tensor da fáscia lata, fibras anteriores de glúteo
médio, semitendinoso e semimembranoso (PORTELA, 2017, p. 103-104).

FIGURA 5 – MÚSCULOS PSOAS E ILÍACO

FONTE: Netter (2000, p. 233)


150
3 GLÚTEOS
Os glúteos correspondem a um grupo muscular composto por: glúteo máximo,
médio e mínimo. Os glúteos são responsáveis pelo movimento de extensão de coxa,
abdução e rotação lateral de coxa. O Glúteo máximo é o maior, mais superficial e tem
função primária na extensão do quadril, e também é um importante rotador lateral. O
Glúteo médio é um importante abdutor, suas fibras anteriores realizam rotação medial
e as fibras posteriores rotação lateral. O glúteo denominado mínimo é completamente
coberto pelo glúteo médio.

FIGURA 6 – MÚSCULOS ADUTORES DO QUADRIL

FONTE: Netter (2000, p. 233)

Para os movimentos de flexão e extensão do quadril, os músculos do glúteo são


recrutados. Souza e Auharek (2017, p. 75) sugerem que:

As fibras anteriores são mais recrutadas na flexão do quadril, enquanto


as fibras posteriores na extensão do quadril. Na posição neutra do
quadril, as fibras posteriores possuem um braço do momento para
rotação lateral, enquanto as fibras médias e anteriores possuem um
braço do momento para rotação medial.
151
INTERESSANTE
Uma pesquisa recente realizada na Alemanha constatou que pessoas
que escolheram a dança para manter a forma tiveram 15% a mais de
aumento muscular do que quem praticava outras atividades, como
corrida, natação e ciclismo.
Para saber mais sobre esse assunto, acesse o link:
https://bebang.com.br/pesquisa–conclui–danca–ganhar–musculos/.

DICAS
Para aprofundar seus estudos, acesse os vídeos sugeridos:
• http://www.youtube.com/watch?v=siuBuGCleh4&feature=related.
• http://www.youtube.com/watch?v=P8lekbas2ig&feature=fvsr.
• https://www.youtube.com/watch?v=_Z–LKpoBLeo.
• https://www.youtube.com/watch?v=ROQKT_5UN4g.

152
RESUMO DO TÓPICO 1
Neste tópico, você adquiriu certos aprendizados, como:

• O Cíngulo do Membro Inferior, também conhecido como cintura pélvica, tem a forma
de um anel ósseo e compreende o sacro, o cóccix e os ossos do quadril, bem como
suas respectivas articulações.

• Os componentes Ósseos do Cíngulo do Membro Inferior são o Ilíaco, que é um osso par,
grande, chato e irregular, formado pela união de três ossos: o ílio, o ísquio e o púbis.

• Fêmur é um osso longo, o maior e mais forte do corpo humano.

• O quadril é uma articulação esferoidal. Possui três planos de movimento, constituída


pela articulação da cabeça do fêmur com o acetábulo, que se apresenta em um
formato côncavo, proporcionando um encaixe profundo.

• São os músculos que nos possibilitam os movimentos: na flexão, na extensão, na


abdução, na adução na rotação externa e na rotação interna.

• Os músculos são auxiliados por fibras posteriores do glúteo.

153
AUTOATIVIDADE
1 Compreenderemos que os educadores físicos têm um olhar especial nas ações
musculares sobre o aspecto anatômico funcional. No entanto, muitas profissões
também consideram os princípios das disciplinas como a biomecânica e cinesiologia
para a análise do movimento humano em suas especialidades. Disserte sobre como
você aplicaria o que considerou o mais importante sobre Cinesiologia para sua
profissão?

2 Entender a Cinesiologia como uma ciência que aborda simultaneamente os


conhecimentos de vários conteúdos é fundamental para o professor de Educação
Física, de Dança, bem como para o profissional Fisioterapeuta. Sobre o estudo da
Cinesiologia na dança, analise as sentenças a seguir:

I- É a arte que utiliza o corpo em movimento como um meio de expressão, comunicação


e criação.
II- É capaz de liberar sentimentos, emoções e, sobretudo, refletir manifestações
culturais, transformando-se em linguagem social.
III- Constitui–se conteúdo importante da Dança, pois contribui para o conhecimento
do esqueleto, músculos, articulações e as possibilidades de movimentos.

Assinale a alternativa CORRETA:


a) ( ) Somente a sentença I está correta.
b) ( ) As sentenças I e II estão corretas.
c) ( ) Somente a sentença III está correta.
d) ( ) As sentenças II e III estão corretas.

3 O Cíngulo do Membro Inferior, também conhecido como cintura pélvica, tem a forma
de um anel ósseo e compreende o sacro, o cóccix e os ossos do quadril, bem como
suas respectivas articulações. Sobre o osso que não faz parte dos membros inferiores,
assinale a alternativa CORRETA:

a) ( ) Fêmur.
b) ( ) Patela.
c) ( ) Tíbia.
d) ( ) Ulna.

4 O Fêmur é um osso longo, que compõe nossas pernas, e é o maior e mais forte osso
do corpo humano. Sua forma é ligeiramente encurvada, estando sua convexidade
voltada para a face anterior da estrutura óssea. Sobre a denominação dos ossos que
também compõe os membros inferiores, assinale a alternativa CORRETA:

154
a) ( ) Patela, Tíbia e Fíbula.
b) ( ) Tíbia, Fíbula e Ulna.
c) ( ) Patela, Tíbia e Úmero.
d) ( ) Úmero, Rádio e Ulna.

5 São os músculos que nos possibilitam os movimentos de flexão, extensão, abdução,


adução, rotação externa e rotação interna. Disserte sobre cada tipo de movimento e
ação dos respectivos músculos localizados no quadril.

155
156
UNIDADE 3 TÓPICO 2 -
OS JOELHOS, TORNOZELOS E PÉS

1 INTRODUÇÃO
Segundo Olsen (1995, p. 105 apud SOUZA; AUHAREK 2012, p. 87), “nossos pés
nos informam constantemente sobre a estabilidade de nossa base”. Sendo assim, a
mobilidade, fortalecimento e alinhamento de joelhos, tornozelos e pés são fundamentais
para todos, pois estão conectados com todo o corpo.

Em muitas danças, das mais variadas matrizes culturais, o corpo se apoia


constantemente sobre os pés e com a flexão e extensão dos joelhos. Os pés são as bases
de sustentação de nosso corpo. Nossos pés nos conectam com o solo, distribuindo
nosso peso sobre ele, absorvendo impactos e possibilitando nossa marcha.

No decorrer dos treinos de bailarinos e também atletas, a repetição de movimentos


e posturas é constante, e as alterações ou até mesmo desvios posturais e desequilíbrios
musculares, na coluna e na pelve, terão influência nos joelhos, tornozelos e pés. Essas
alterações podem causar lesões nestes (como as entorses) e também afetarão as pernas
e o tronco, comprometendo o alinhamento e mobilidade global do corpo.

Um exemplo dessa possível ocorrência é a relação entre os tornozelos e o glúteo


quando andamos impedindo que a pelve “caia para o lado”; uma lesão neste músculo
comprometerá toda a cadeia inferior, sobrecarregando os ligamentos que mantêm a
estabilidade do tornozelo.

Assim como nossas mãos, os pés são movimentados por músculos extrínsecos
e intrínsecos. Os músculos extrínsecos se inserem nos pés, na tíbia e na fíbula, atuando
sobre o tornozelo, dedos e, em alguns casos, também sobre o joelho.

2 OS JOELHOS
O fêmur participa também da formação do joelho. Visto de lado, o corpo do
osso é ligeiramente côncavo posteriormente. Em Calais-Germain (2010, p. 212) “A
extremidade distal do osso é maciça e possui superfícies articulares arredondadas, que
se parecem com os suportes de uma cadeira de balanço. São os côndilos do fêmur que
se articulam com os côndilos da tíbia”.

157
Os denominados côndilos do fêmur são superfícies ovais, em forma de trilhos
côncavos, separados por uma zona óssea anterior e posterior. Colocadas sobre os
côndilos da tíbia, estão duas lâminas de cartilagem fibrosa em forma de meia-lua.

Podemos identificar três grupos musculares que atuam nesta articulação, são eles:

• Grupo do quadríceps, composto pelo reto femoral, vasto lateral, vasto medial e vasto
intermédio.
• Grupo isquiopopliteo, composto pelo semitendinoso, semimembranoso e bíceps
femoral.
• Grupo não classificado, composto pelo sartório, poplíteo, plantar, grácil e gastrocnêmio.

Os músculos envolvidos na flexão do joelho são: bíceps femoral, semimembranoso


e semitendinoso. Já na extensão do joelho os músculos envolvidos são: reto femoral,
vasto intermediário, vasto interno e vasto externo.

FIGURA 7 – MÚSCULOS NA FLEXÃO DO JOELHO

FONTE: <https://www.fiqueinforma.com/wp–content/uploads/2017/06/Posteriores–da–coxa–isquiotibiais.jpg>.
Acesso em: 8 set. 2021.

Durante os movimentos de flexão do joelho, ocorrerá a proximidade das faces


posteriores da perna e da coxa. No movimento, teremos a flexão ativa e a flexão passiva,
que “se parecem com os suportes de uma cadeira de balanço. São os côndilos do fêmur
que se articulam com os côndilos da tíbia” (CALAIS-GERMAIN,2010, p. 212).

Durante a flexão ativa, haverá uma contração dos músculos flexores na parte de
trás da coxa, limitando a flexão; já na flexão passiva, a movimentação é mais ampla, ou
seja, permitindo durante o movimento que a nádega toque o calcanhar.

A extensão permite o afastamento da face posterior da perna e da face posterior


da coxa. O movimento de rotação da tíbia sobre o fêmur só é possível com a flexão
de joelho e sem carga, pois somente assim haverá um relaxamento dos ligamentos
cruzados e colaterais.

158
O músculo denominado poplíteo é conhecido como liberador da trava do joelho,
pois possui uma ação de rodar lateralmente o fêmur em relação à tíbia.

De acordo com Vilela Junior (2011, p. 80) “Os músculos biarticulares são aqueles
que passam por duas articulações e, no joelho, constituem a maioria dos músculos, pois
aumentam a eficiência do movimento realizado através da transferência de energia”.
Os músculos biarticulares possuem uma característica denominada de Paradoxo de
Lombard; nele, o torque na articulação está na direção oposta ao causado pelo músculo.

FIGURA 8 – PARADOXO DE LOMBARD

FONTE: O autor

O Paradoxo de Lombard acontece quando nos levantamos de uma


cadeira, pois ocorre a contração do quadríceps na extensão do joelho
e a contração dos isquiotibiais na extensão do quadril. O torque
extensor do quadril gerado pelos isquiotibiais é maior que o torque
flexor do quadril gerado pelo reto femoral. Ao mesmo tempo, o torque
extensor do joelho gerado pelo quadríceps é maior que o torque flexor
do joelho gerado pelos isquiotibiais (VILELA JUNIOR, 2011, p. 80).

FIGURA 9 – MÚSCULOS DA EXTENSÃO DO JOELHO

FONTE: <https://bit.ly/3zhwuue>. Acesso em: 8 set. 2021.

159
Vilela Junior (2011, p. 78) afirma que “As articulações no joelho são complexas
e caracterizam–se por ser uma articulação do tipo sinovial, que são responsáveis por
realizar a comunicação entre duas extremidades ósseas, permitindo movimento”. Os
ossos envolvidos nessa estrutura são: Tíbia; Fêmur e Patela.

FIGURA 10 – OSSOS DA PERNA

FONTE: < https://www.infoescola.com/wp-content/uploads/2020/03/ossos-perna-149965796.jpg>.


Acesso em: 8 de set. 2021.

Também compõe o joelho, duas articulações em sua cápsula articular: as


denominadas Articulação tibiofemoral e a Articulação patelofemoral.

FIGURA 11 – JOELHO

FONTE: <https://bit.ly/39a5pyA>. Acesso em: 8 set. 2021.

160
A Articulação tibiofemoral permite movimentos de flexão e extensão, e alguns
rotacionais e laterais. Os côndilos laterais e medias da tíbia e do fêmur formam duas
articulações chamadas de elipsoideas, na quais uma extremidade côncava entra
em contato com uma convexa, limitando o movimento. Nossas características são
individuais, assim, algumas pessoas podem apresentar esse giro maior, ou seja, essa
estrutura que se assemelha a um pivô pode apresentar diferentes graus de extensão,
resistência a impactos e também a lesões.

A Articulação patelofemoral é uma articulação na região posterior da patela que


serve para reduzir o atrito entre as estruturas, e é recoberta por cartilagem que liga
a patela ao fêmur, mais especificamente, do tendão patelar ao sulco troclear entre os
côndilos femorais.

Essas estruturas irão permitir a sustentação de grandes cargas e a mobilidade


necessária para a realização de atividades locomotoras. “Outras estruturas importantes
e que fazem parte do joelho são os meniscos, conhecidos também como cartilagens
semilunares – devido ao formato em meia lua que possuem” (BLUNER, 2018, s.p.).

FIGURA 12 – MENISCOS DO JOELHO

FONTE: <https://orthoinfo.aaos.org/globalassets/figures/a00754f01.jpg>. Acesso em: 8 set. 2021.

A parte superior da tíbia se articula com a superfície lisa do fêmur, formando


a articulação do joelho. O movimento de dobradiça dos joelhos se produz entre esses
dois ossos, mas também um pequeno grau de rotação. Na articulação tibiofemoral,
os músculos que cruzam a anatomia do joelho são os principais responsáveis pela
compressão entre a tíbia e o fêmur.

161
A rótula ou patela não forma parte da articulação do joelho, mas está ligada à tíbia
por meio de ligamentos abaixo e acima, por um tendão denominado quadrado femoral. Esse
atua complementando a estrutura e possibilitando os movimentos que os bailarinos estão
familiarizados. Segundo Bluner (2018), a patela realiza uma série de funções biomecânicas.

O platô tibial é uma região cuja função é a sustentação de peso durante o apoio. O
glúteo médio contribui para a compressão no platô tibial medial, pois sua superfície possui
uma área maior e uma cartilagem articular mais espessa que do platô tibial lateral – fato
que contribui para a proteção da articulação de um desgaste. A fricção entre as superfícies
ósseas da rótula e o fêmur é evitada por uma grande bolsa contendo fluído, abaixo da
rótula; e outra bolsa menor, que cobre a frente e serve para proteção de impactos.

Os meniscos irão atuar na distribuição de cargas sobre a articulação


tibiofemoral para uma área maior, reduzindo, assim, a magnitude do estresse produzido
sobre a articulação, e auxiliando e absorvendo as forças, sendo capaz de suportar
aproximadamente 45% da carga total.

Os ligamentos asseguram o movimento dos ossos, tanto vertical como em


forma cruzada, e permitem um movimento de dobradiça na articulação do joelho.
Durante a flexão ou extensão, ou seja, o movimento normal de dobradiça, os ligamentos
permanecem tensos, mas em uma posição de semiflexão, ficam relaxados, e um
pequeno movimento de lado a lado é possível em transferência de peso.

Os meniscos são estruturas importantes para o joelho que


desempenham as funções de:
1. Ajudar a melhor distribuir o líquido sinovial na articulação, quando
movimentamos o joelho.
2. Aumentar a superfície de apoio, ajudando na absorção do impacto
e distribuição de pressões.
3. Ajudar na estabilidade da articulação, já que aumentam a
concavidade das superfícies de apoio (os côndilos tibiais) (SOUZA,
2016, p. 59-60).

FIGURA 13 – DESLOCAMENTO PATELAR

FONTE: <https://bit.ly/3ArWPY9>. Acesso em: 8 set. 2021.

162
Quando o bailarino recebe a instrução de contrair os músculos, isso faz com que
as articulações se fechem, ou seja, a anatomia do joelho possui considerável grau de
estabilidade articular e é estabilizado por ligamentos, músculos e pela cápsula articular.
Os joelhos dão sua máxima estabilidade e força, permitindo movimentos que requerem
a contração e terminando em forte extensão, como Rond de jambé em l’air. Seus quatro
ligamentos possuem um importante papel nessa estabilização. São eles:

• Ligamento colateral medial.


• Ligamento colateral lateral.
• Ligamento cruzado anterior.
• Ligamento cruzado posterior.

FIGURA 14 – LIGAMENTOS DO JOELHO

FONTE: <https://orthoinfo.aaos.org/globalassets/figures/a00752f01.jpg>. Acesso em: 8 set. 2021.

Os ligamentos do joelho são constituídos de tecido conjuntivo fibroso, e a


localização de cada ligamento é que irá determinar a direção em que ele será capaz
de resistir com o deslocamento do joelho. Isso é possível, pois os ligamentos são ricos
em receptores nervosos sensitivos que são capazes de perceberem a velocidade, o
movimento, a posição da articulação, estiramentos e dores.

INTERESSANTE
Para saber mais sobre patologias dos ligamentos do joelho, acesse o link:
https://adrianoleonardi.com.br/joelho/ligamentos/ligamentos-joelho/.

163
A anatomia do joelho possui, principalmente, um grau de liberdade, a flexoextensão;
e de forma acessória, como um segundo grau de liberdade, a rotação sobre o eixo longitudinal
da perna, porém, este último, somente aparece quando o ele está flexionado.

Mecanicamente, ao mesmo tempo que deve possuir uma grande estabilidade,


há também a necessidade de uma grande mobilidade. São duas situações contraditórias
que o joelho tenta conciliar da melhor forma possível. Sua superfície, porém, é feita
de encaixes frouxos, para que ocorra a mobilidade necessária, devido a isso é uma
articulação que está sujeita a constantes luxações e entorses.

O joelho realiza movimentos de flexão e extensão e, quando todos os ligamentos


estão relaxados, também de rotação lateral e medial, em amplitude muito reduzida. Forçar
esta amplitude é um caminho certo para lesões. Dentre os ligamentos que reforçam a
cápsula articular e estabilizam a articulação, destacam-se os colaterais (tibiais e fibulares),
que impedem o joelho de abrir lateralmente. Destacamos também os ligamentos cruzados
anterior e posterior, que impedem que haja deslizamento anterior e posterior entre os
ossos que compõem a articulação, evitando a perda de congruência (encaixe).

INTERESSANTE
Pelo fato de o joelho estar posicionado sobre as duas alavancas ósseas
mais longas do corpo, que são a tíbia e o fêmur, é importante conhecermos
mais sobre a complexidade do joelho. Para complementar seus estudos,
acesse o link: https://www.auladeanatomia.com/novosite/pt/sistemas/
sistema–articular/diartroses/joelho/.

3 OS TORNOZELOS E OS PÉS
Além de participar da articulação do joelho, a tíbia participa, junto com a fíbula,
da formação do tornozelo. Estes dois ossos, que formam as nossas pernas, são longos
e unidos entre si em dois pontos.

Os ossos do tornozelo são unidos por uma membrana interóssea em toda a sua
extensão, e na extremidade distal são unidos por duas superfícies sem cartilagem, os
maléolos lateral e medial.

No movimento de Dorso Flexão do tornozelo, os músculos envolvidos nesse


movimento são: músculo extensor longo do hálux, tibial anterior, extensor longo dos
dedos e fibular terceiro. Na Flexão Plantar, os músculos envolvidos nesse movimento
são: músculo flexor longo do hálux, músculo flexor longo dos dedos, músculo tibial
posterior, músculo fibular curto (peroneal curto), músculo fibular longo, músculo sóleo e
músculo gastrocnêmio.

164
FIGURA 15 – ANATOMIA DO TORNOZELO

FONTE: Netter (2000, p. 497)

Segundo Souza (2016, p. 63), “Formando o tornozelo ou articulação talocrural,


as extremidades distais da tíbia e da fíbula se encaixam, no denominado tálus, que é o
osso volumoso que, posicionado sobre o calcâneo, forma o tarso posterior do pé”.

165
A forma que podemos comparar é a pinça tornozelo, que faz com que ele se
movimente apenas no plano sagital, realizando a flexão dorsal e a flexão plantar. Os
demais movimentos do pé são possibilitados por outras articulações, entre os ossos
que o compõe.

O tornozelo e o pé são estabilizados por um grande número de ligamentos que,


quando lesionados, são chamados de entorses, ou seja, quando “viramos” o pé. Para
Souza (2016, p. 63):

Ele é composto pelos seguintes feixes: ligamento talofibular anterior,


ligamento calcâneo fibular e ligamento talofibular posterior. Do outro
lado do tornozelo, destacaremos o ligamento deltoide, formado pelos
ligamentos tibiotalares anterior e posterior, ligamento tibionavicular e
ligamento tibiocalcâneo.

Para Portela (2017, p. 101), “a constituição do pé também compreende o


tornozelo, que é formado pelas partes estreita e maleolar da região distal da perna,
proximal ao dorso do pé e calcanhar, e inclui a articulação talocrural”. Os ossos dos pés,
com os ligamentos, formam os arcos dos pés, os quais são importantes na marcha e na
sustentação do peso corporal.

Para Souza e Auhurek (2017, p. 64):

A articulação entre o tálus e o calcâneo se chama subtalar e permite


o movimento nos três planos, porém, com amplitude reduzida. No
entanto, quando combinados com os movimentos do tornozelo e
das articulações entre o tálus e o calcâneo e os pequenos ossos
que compõe o colo do pé, participam dos movimentos de inversão
e eversão.

Entendemos que o dorso do pé é composto por cinco pequenos ossos irregulares


(que compõem o tarso anterior) e, assim como a mão, cinco colunas ósseas. Estas
são compostas pelos cinco metatarsos e pelas falanges proximais, médias e distais.
Portanto, nossos pés são estruturas complexas, que possuem um grande número de
articulações. Estas, ao trabalharem juntas, possibilitam uma vasta gama de movimentos.

As denominações das superfícies do pé são plantar (superfície inferior) e dorsal


(superfície superior). Os termos proximal e distal são utilizados com o mesmo significado
dos membros em geral.

166
FIGURA 16 – ANATOMIA DO PÉ (DE CIMA)

FONTE: Netter (2000, p. 492)

O complexo articular do tornozelo e do pé é formado por cinco estruturas


articulares, sendo elas:

• Articulação do tornozelo: articulação do tipo dobradiça que faz a conexão da tíbia


e fíbula com o talus. Vários ligamentos conectam fortemente estes ossos entre
si, destes os mais importantes são os ligamentos tibiofibulares e talofibulares
(anteriores e posteriores), ligamento transverso e ligamento deltoide.

167
• Articulações interfásicas: deslizam entre si e conectam os ossos do tarso que
deslisam entre si.
• Articulações tarsometatársicas: conectam os ossos do tarso com as extremidades
proximais dos cinco ossos metatársicos, também realizam movimentos de deslize
entre si.
• Articulações metatarsofalângicas – conectam as extremidades distais metatarsianas
e as falanges proximais. Realizam flexão e extensão, abdução e adução.
• Articulações Interfalângicas: conectam as falanges e realizam a flexão e extensão
das falanges.

FIGURA 17 – ANATOMIA DO PÉ (DE LADO)

FONTE: Netter (2000, p. 493)

168
Conforme Souza (2016, p. 64):

Nos movimentos de eversão, o músculo fibular longo (pereonal


longo), músculo fibular curto (peroneal curto), músculo fibular
terceiro (pereonal terceiro) e músculo extensor longo dos dedos são
os agentes de movimentos. Já na Inversão, agem no movimento o
músculo extensor longo do hálux, músculo tibial anterior, músculo
tibial posterior, músculo flexor longo dos dedos e músculo flexor
longo do hálux.

Assim, para a extensão dos dedos, agem os músculos extensor longo dos dedos
(quatro dedos menores) e músculo extensor longo do hálux (dedo grande).

Os pés são a base de todo nosso esqueleto e desempenham uma função muito
importante no corpo humano, pois auxiliam a deslocação de um indivíduo. A anatomia
do pé é composta por ossos, músculos, nervos e articulações que permitem, ainda, o
sustento do peso do corpo, e fornecem o apoio que o mantém na posição vertical.

DICAS
Para aprofundar seus estudos, sugerimos que acesse os vídeos a seguir:
• A Biomecânica da Contração muscular. Disponível em: https://www.
youtube.com/watch?v=nFRfnbznwc8.
• A Biomecânica Humana. Disponível em: https://www.youtube.com/
watch?v=wtpvLLAE17Y.

169
RESUMO DO TÓPICO 2
Neste tópico, você adquiriu certos aprendizados, como:

• Mudanças posturais e desequilíbrios musculares na coluna e na pelve terão influência


nos joelhos, tornozelos e pés.

• Os músculos envolvidos na flexão do joelho são: bíceps femoral, semimembranoso e


semitendinoso. Já na extensão do joelho os músculos envolvidos são: reto femoral,
vasto intermediário, vasto interno e vasto externo.

• A anatomia do joelho é considerada a mais complexa em relação às outras articulações


do corpo humano.

• A anatomia do joelho possui considerável grau de estabilidade articular e é estabilizado


por ligamentos, músculos e pela cápsula articular.

• Os ligamentos do joelho são auxiliados pelos meniscos, atuando também como


amortecedores das cartilagens, absorvendo impactos e choques mecânicos.

• O joelho realiza movimentos de flexão e extensão e, quando todos os ligamentos


estão relaxados, também de rotação lateral e medial, em amplitude muito reduzida.
Forçar esta amplitude é um caminho certo para lesões.

• Durante a flexoextensão do joelho, a tíbia e o fêmur têm movimentos de rolamento e


deslizamento, o que permite uma maior amplitude de movimento articular, sendo que
os meniscos se movem posteriormente durante a extensão e anteriormente durante
a flexão da articulação.

170
AUTOATIVIDADE
1 Os meniscos lateral e medial são estruturas interpostas entre o fêmur e a tíbia,
constituídos de fibras colágenas, tendo como funções a absorção de choques e
melhora da congruência articular, entre outras. Sobre a anatomia e biomecânica dos
meniscos, assinale a alternativa CORRETA:

a) ( ) Os meniscos são totalmente avascularizados e sua nutrição se faz do líquido


sinovial por difusão.
b) ( ) Na lesão do ligamento cruzado anterior ocorre uma mudança no contato articular
do fêmur sobre os meniscos, sobretudo no corno posterior do menisco medial,
que passa a ser o único elemento mecânico a impedir a anteriorização da tíbia
durante a marcha.
c) ( ) Os meniscos movem-se durante a flexoextensão do joelho, sendo o menisco
medial mais móvel, portanto, mais suscetível a lesões.
d) ( ) Durante a flexoextensão do joelho, a tíbia e o fêmur têm movimentos de
rolamento e deslizamento, o que permite uma maior amplitude de movimento
articular, sendo que os meniscos se movem, posteriormente durante a extensão,
e anteriormente durante a flexão da articulação.

2 No decorrer dos treinos de bailarinos e também atletas, a repetição de movimentos e


posturas é constante e as alterações ou até mesmo desvios posturais e desequilíbrios
musculares na coluna e na pelve terão influência nos joelhos, tornozelos e pés. Sobre
o maior osso do corpo, encontrado nos membros inferiores, assinale a alternativa
CORRETA:

a) ( ) Fêmur.
b) ( ) Patela.
c) ( ) Tíbia.
d) ( ) Tarso.

3 Os pés são estruturas importantes que garantem eficiência na nossa movimentação.


Sobre um osso que não é encontrado no pé, assinale a alternativa CORRETA:

a) ( ) Tarso.
b) ( ) Tálus.
c) ( ) Metatársico.
d) ( ) Carpos.

171
4 São muitos os nossos movimentos cotidianos como os de sentar e levantar, deitar
e levantar, subir ou descer escadas etc. Qualquer movimento envolve um sistema
conjunto de ossos, articulações e músculos. Descreva três ossos e três articulações
envolvidas no movimento de subir escadas.

5 As diferenças anatômicas entre as pessoas podem explicar porque alguns bailarinos


possuem maior flexibilidade. “De fato, as pessoas cuja disposição óssea limita estes
movimentos correm o risco, para efetuá-los, de “forçar” as articulações suprajacentes
(coluna lombar) ou subjacentes (joelho)” (CALAIS-GERMAIN, 2010, p. 205). Descreva
quais são os ossos que constituem os membros inferiores, discriminando os ossos
que formam cada uma das partes.
FONTE: CALAIS GERMAN, B. Anatomia para o movimento: Introdução À Análise Das Técnicas Corporais.
São Paulo: Manole, 2010.

172
UNIDADE 3 TÓPICO 3 -
PROPOSIÇÕES PARA EXPERIENCIAR
MOVIMENTOS DE RELAÇÕES ENTRE O SISTEMA
AXIAL E OS SISTEMAS APENDICULARES

1 INTRODUÇÃO
Considerando o grande número de horas que um bailarino usa seu corpo, o
número de acidentes e tensões são relativamente pequenos. Isso pode indicar que nosso
corpo é muito forte e se o treinarmos corretamente, poderemos desfrutar de melhor
qualidade de vida. Sabemos que a manutenção e o controle postural são contínuos e
permanentes em toda a atividade humana, e que em duas fases da vida o equilíbrio é
uma habilidade instável.

DICAS
Para saber mais, acesse o link: http://www.saosebastiao.sp.gov.br/ef/pages/
Corpo/Habilidades/index.html.

A instabilidade de equilíbrio é natural na infância, quando o desenvolvimento


motor e cognitivo ainda não atingiu maturidade e, na terceira idade, quando o
desenvolvimento limita cada vez mais o que fora fácil e possível fazer durante a fase
adulta. O desenvolvimento do equilíbrio é importante para o bailarino, pois, a partir dele,
é que a dança começa em caminhadas, corridas e saltos etc.

Afirma Vilela Junior (2011, p. 135):

pela cinesiologia e, com auxílio de suas áreas de conhecimento


correlatas, há grandes possibilidades de estabelecer relações de
causas e efeitos do movimento, nas quais para se poder trabalhar
com a investigação de tal movimento, se torna necessário (devido
a sua estrutural complexidade) a aplicação de mensurações
advindas de diversas áreas de conhecimento (matemática, física,
fisiologia, educação física, fisioterapia etc.) e quanto a este fato e aos
procedimentos que poderão ser tomados.

A investigação dos movimentos permite avanços em diversas áreas, como:

173
a) Esportes, seja escolar ou de alto nível de rendimento, otimizando
a sistematização do rendimento esportivo, diagnose da técnica de
movimento e condição física, redução de sobrecargas excessivas
ao aparelho locomotor, regime de treinamento ótimo e relação
estímulo-resposta, bem como estudo da eficiência de processos
de aprendizagem e autoaprendizagens.
b) Prevenção e reabilitação orientados à saúde: desenvolvimento
de métodos, procedimentos e técnicas aplicados à terapia, bem
como adequação e desenvolvimento de equipamentos.
c) Atividades do cotidiano e do trabalho com estudo da postura e da
locomoção humana, classificação e sistematização de grupos de
movimentos em dependência de estações de trabalho, saúde e
segurança nas tarefas da vida diária e do trabalho (VILELA JUNIOR,
2011, p. 136).

Segundo Vilela Junior (2011, p. 167):

O controle do equilíbrio postural é importante em muitas atividades.


Na dança, é necessário o controle de equilíbrio, como em giros, em
aterrissagens e nos diversos tipos de apoios invertidos e por ser
esta uma modalidade cuja eficiência tem relação com o controle e
sincronização de movimentos dos diversos segmentos.

Sendo assim, para manter uma harmonia estética de movimento do corpo, o


controle da trajetória dos segmentos tem direta relação com o controle de força e o
equilíbrio mecânico.

Os movimentos musculares, por mais simples que sejam, possuem uma grande
complexidade interna corporal. Eles também sofrem influências externas, ou seja, do meio
ambiente, como a gravidade, umidade do ambiente, pressão atmosférica e mesmo ações
geradas pelo próprio movimento, como a concentração concêntrica, excêntrica e estática.

O controle postural é tão complexo quanto os movimentos, pois usa informações


do sistema visual, vestibular e somatossensorial.

Uma vez que entendemos o controle postural como sendo o controle


dos arranjos dos segmentos corporais baseado em informações
sensoriais de diferentes fontes, no qual tais informações de
características sensoriais permitem formar uma representação
interna do mundo externo, relatando e reconhecendo a posição e o
movimento de cada parte do corpo (VILELA JUNIOR, 2011, p. 167).

2 FATORES DE DESEMPENHO INDIVIDUAL


A análise cinesiológica pode também ser empregada para uma análise de
desempenho dos dançarinos, desde que considerados os elementos individualmente.
Trata-se de contribuir à prevenção de acidentes profissionais ou à reabilitação funcional
após uma lesão. Muitas vezes, elas são um recurso para melhorar a virtuosidade, e cada
vez mais integradas na formação do bailarino e na pedagogia da dança, essas práticas
entraram como agente de “segurança” do bailarino (ou do aluno/bailarino), como meio
para limitar os acidentes.
174
INTERESSANTE
• Potência:
Princípio de movimento: de uma maneira ideal, o exercício de fortalecimento deve começar
numa posição, na qual o músculo esteja completamente distendido e terminar numa em
que fique completamente encurtado, se o objetivo final for flexibilidade, máxima tensão e
potência, através de toda a amplitude de movimento.
Princípio de recuperação: O movimento e a massagem de um músculo fatigado, durante
as pausas de repouso, aumentarão sua rapidez de recuperação; a posição geral do corpo
pode, também, exercer influência sobre a circulação impedindo a estagnação de resíduos
metabólicos no músculo.

• Resistência
A resistência muscular e a resistência circulatória e respiratória são fatores separados no
desempenho humano; o desenvolvimento de um, não é, necessariamente, acompanhado
pelo desenvolvimento do outro.
O aumento da potência e da destreza contribuem, significativamente, na resistência
muscular, particularmente, pelo aumento da eficiência e pela redução do gasto de energia
e da fadiga associados a uma tarefa determinada.
O desenvolvimento da resistência depende, principalmente, do treinamento e dos
mecanismos de absorção e transporte do oxigênio. A capacidade do coração para impulsionar
o sangue é o fator limitante mais comum na resistência circulatória e respiratória, mas não
é o único fator importante.
A resistência circulatória e respiratória requer uma capacidade aeróbia e anaeróbia elevada.
Embora a capacidade aeróbia seja, em parte, um fator inato, os programas de treinamento
devem tencionar as duas capacidades, a aeróbia e a anaeróbia.

• Flexibilidade
A flexibilidade está relacionada com o tipo corporal, o sexo, a idade, a estrutura óssea e
articular e com outros fatores que escapam do controle do indivíduo. A flexibilidade é,
predominantemente, uma função dos hábitos de movimento, da atividade e da inatividade.
O trabalho e o exercício, que limitam uma articulação a uma amplitude de
movimento restrita, tendem a reduzir a flexibilidade. A falta de flexibilidade
normal perturba a extensão e a qualidade do desempenho podendo ser
responsável por transtornos específicos; a diminuição da flexibilidade
que, normalmente, acompanha o envelhecimento é causada pela
falta em manter o movimento numa amplitude completa.

• Velocidade de movimento
A rapidez máxima de movimento é, em parte, uma característica
individual. A rapidez de movimento está influenciada pelos
tempos de reação e resposta que são, em parte, características
individuais inatas, mas que podem ser minimizadas pelo
treinamento da atenção, do estado mental e da destreza.

FONTE: <http://www.cpaqv.org/cinesiologia/livro_cinesiologia_
guanis.pdf>. Acesso em: 8 set. 2021.

175
INTERESSANTE
A Educação Somática é um campo interdisciplinar, surgido no século XX, que se interessa pela
consciência do corpo e seu movimento. Sob essa denominação, reagrupam-se diferentes
métodos educacionais de conscientização corporal, dentre os quais se destacam
a Técnica Alexander, o Método Feldenkrais, a Antiginástica, a Eutonia, a Ginástica
Holística, os Bartenieff Fundamentals, a Ideokinesis, o Body-Mind Centering, a
Técnica Klauss Vianna, entre outros, que têm o corpo enquanto experiência
como força motriz. Os criadores dessas técnicas foram motivados pelo desejo
de curar-se, rejeitando as respostas oferecidas pela ciência dominante e
passando a investigar o movimento nos seus próprios corpos.

Para aprofundar seus estudos sobre o assunto, acessar o link: http://www.


scielo.br/pdf/rbep/v5n1/2237–2660–rbep–5–01–00127.pdf.

A Educação Somática, no princípio, era vista como uma alternativa para


tratamento de lesões, a exemplo da dança ocorrida durante o exercício da profissão.

O estudo do movimento humano, em sua grande maioria, é desencadeado


pela sintonia que respeita as estruturas e as funções musculoesqueléticas do
corpo, utilizando como características pedagógicas o tornar-se consciente de seus
hábitos, a redução do esforço físico, o mover-se lentamente visando ao conforto e a
experimentação da experiência. Silveira (2009, p. 48) afirma que “[...] de modo geral, os
métodos de Educação Somática desenvolvem um trabalho de refinamento da sensação
e percepção do movimento, com o objetivo de aperfeiçoar a consciência do corpo”.

2.1 EDUCAÇÃO SOMÁTICA NA DANÇA


Klauss Vianna (2005) é o profissional responsável pelo desenvolvimento de
uma escola denominada Educação Somática. Como profissional da dança, buscou em
sua própria experiência a pesquisa de movimentos e registros das suas impressões. Os
registros apresentam conexões entre a didática desenvolvida por Vianna, a estética por ele
percebida, estudos anatômicos dos movimentos em questão e seus aspectos estruturais.
Vianna deixou um legado com seus ensinamentos, influenciando gerações de profissionais
da dança e de outras áreas que integram esses ensinamentos em suas práticas.

Considerando o trabalhar com cada articulação do corpo, mostrando que cada


uma tem uma função e que essa função precisa de espaço para trabalhar a musculatura,
também precisa de espaço, já que ela mantém uma relação constante de trocas
com os ossos. Em sua técnica, Vianna (2005, p. 26) desenvolveu “instruções para o
desbloqueio das tensões musculares e articulares que possibilitam colocar o corpo em
um maior estado de disponibilidade”. Ao mesmo tempo, as instruções trabalhadas para

176
o desbloqueio também são utilizadas para provocar e servir de caminho para a criação
de movimentos. Os recursos técnicos não estão em função de uma determinada
estética, mas à disposição da expressão de cada corpo.

A seguir, propomos uma série de exercícios, proposta baseada em Princípios de


Movimento, tendo a respiração como suporte, alinhamento dinâmico, intenção espacial,
irradiação central, conexões cóccix-cabeça, iniciação e sequenciamento do movimento,
rolamento de calcâneos, rotação dos membros superiores, agrupamento do centro da
gravidade, conexões ósseas, conexões contralateral, organizações corporais e padrões
neurológicos básicos, que tem como objetivo facilitar uma relação dinâmica entre dois
aspectos do movimento.

3 A EXPERIÊNCIA
Nessa parte de nossos estudos, sugerimos que você, acadêmico, acompanhe
relacionando a teoria até agora apresentada com a ação prática em seu próprio
movimento, ou se tiver outra pessoa realizando o movimento para sua observação.

Começamos observando a região glútea que abrange a parte posterior e lateral do


corpo. Essa região é composta pelos músculos pelvitrocantéricos na camada profunda,
e pelos músculos glúteos na camada superficial. Já vimos que os pelvitrocantéricos
atuam na anteversão e na retroversão da pelve.

3.1 ATIVIDADE 1
Os flexores do quadril: dentre os músculos flexores do quadril, o Psoas é um
importante exemplo. Tem enorme importância postural, pela sua ação conjunta nos
membros inferiores e no posicionamento da pelve. Lembre–se que um músculo que está
inserido em dois segmentos ósseos pode mover qualquer uma de suas extremidades,
dependendo de qual está mais fixa e qual está mais móvel em cada situação.

Esse raciocínio é importante para entendermos a importância postural dos


flexores para o posicionamento da pelve. Investigaremos, então, a ação do flexores do
quadril em diversas situações diferentes, como deitado e em pé, quando falamos do
grand battement, um movimento de chute alto do balé. Para realizá-lo, precisaremos da
força dos flexores do quadril para trazer a perna totalmente estendida o mais alto que
conseguirmos, com grande intensidade e velocidade.

177
FIGURA 18 – GRAND BATTEMENT

FONTE: <https://www.naspontas.com.br/wp-content/uploads/2016/04/grand-battement.jpg>.
Acesso em: 8 set. 2021.

AUTOATIVIDADE
1 Fique em decúbito dorsal com as pernas dobradas e pés apoiados no chão.
2 Traga as pernas em direção ao seu tronco. Esse movimento tem como agonista os
músculos flexores do quadril em contração concêntrica. A carga sobre eles é o próprio
peso das pernas.
3 Desça a perna. Nesse movimento, você estará realizando uma ação excêntrica dos seus
músculos flexores (caso você tenha dúvida sobre ação concêntrica e excêntrica, retorne à
prática sobre o tema e refaça-a para uma melhor compreensão desse exercício).
4 Mantenha a perna fixa e mova a inserção proximal dos flexores (que estão no quadril
e, no caso do Psoas, também na coluna lombar). Partindo da posição inicial, faça uma
anteversão da pelve, ou seja, “arrebite o bumbum”. Nesse movimento, você também estará
colocando os seus flexores em posição de encurtamento. Seguindo esse
raciocínio, para alongar seus flexores nessa posição, você deverá realizar
uma retroversão da pelve.
5 Fique em pé e traga a perna flexionada a 90 graus. Nesse movimento,
você ativará os músculos flexores do lado da perna levantada.
6 Para ativar os flexores, porém com as pernas fixas no chão e sem
mover as duas pernas do chão, faça uma anteversão do quadril
(“arrebite o bumbum”). Agora, nessa posição, você também realizará
um encurtamento dos flexores, porém mantendo a parte distal
(fêmur) fixa.

178
3.2 ATIVIDADE 2
O glúteo máximo é “um dos músculos mais volumosos e potentes do corpo”
(CALAIS-GERMAIN, 2010, p. 249). Ele é responsável por um grande número de ações
sobre a pelve e o quadril, trabalhando em sinergia com vários outros músculos, tanto
superficiais quanto profundos. Ele se origina no sacro e parte posterior do ilíaco e se
insere no fêmur e em uma fáscia longa, chamada trato iliotibial, que fica na lateral da
coxa e vai do quadril até o joelho. O glúteo máximo é o mais superficial dos glúteos
e atua, além da rotação lateral, na extensão do quadril, na retroversão da pelve e em
movimentos mais complexos, envolvendo estas estruturas.

AUTOATIVIDADE
Sente-se encostado na parede, com as pernas totalmente estendidas, juntas
e paralelas. Você vai imaginar que não tem nem joelhos nem tornozelos, que
suas pernas são dois cilindros. Agora, “rode” esses dois cilindros para fora e
observe que esse movimento é feito na articulação do quadril. Esteja atento
para não apertar as nádegas uma contra a outra. Volte à posição inicial e
repita o movimento, algumas vezes.

FIGURA 19 – PÉS EM DEDANS E EM DEHORS

FONTE: Adaptada de <https://bit.ly/3lkFwSk>. Acesso em: 8 set. 2021.

O que fizemos no exercício anteiror foi a rotação lateral do quadril. Todos os


pelvitrocantéricos atuaram juntos, puxando o trocanter maior e fazendo com que o fêmur
girasse sobre si mesmo. Como são músculos profundos e pequenos (embora muito
fortes), é preciso concentração para sentir sua ação sobre a articulação coxofemoral,
pois nossa tendência é apertar as nádegas, acionando imediatamente o glúteo máximo,
que também participa da rotação lateral.

179
3.2 ATIVIDADE 3
É fundamental que tenhamos uma musculatura glútea forte para estabilização e
organização do corpo. No entanto, muitas vezes, durante a prática de exercícios, alguns
grupos musculares podem, sem nos darmos conta, estar sendo pouco trabalhados.
Devemos estar cientes de que, a longo prazo, se os músculos não são acionados de
forma correta, podem-se inibir suas conexões neuromusculares e, quando isso ocorre,
o corpo adota outro padrão de movimento, criando, assim, hábitos de compensação.

Com o passar do tempo, esses padrões compensatórios se solidificam, tornando-


se um hábito de movimento, o que leva o indivíduo a não ativar o glúteo para executar
movimentos do dia a dia: ele passa a utilizar musculaturas menos adequadas para
essas tarefas. Junto a isso, músculos que realizam uma mesma função, como glúteo e
ísquiotibiais, que compartilham o movimento de extensão do quadril, podem ter relações
de dominância, ou seja, a participação maior de um deles em detrimento do outro.

FIGURA 20 – EXERCÍCIO PARA OS GLÚTEOS

FONTE: <https://bit.ly/3zhjCEm>. Acesso em: 8 set. 2021.

180
AUTOATIVIDADE
Ativando os Glúteos: vamos fazer uma prática para refletir a forma como estamos utilizando
essa musculatura. Lembre-se que em nenhum movimento devemos tensionar demais a nossa
musculatura, devemos buscar sempre um equilíbrio de esforço para otimizar nossas ações.

1 Fique em posição de quatro apoios, para trabalho de glúteo máximo pela extensão do
quadril. Você deverá levar a perna para cima, realizando uma extensão do membro
inferior.
2 Experimente realizar esse movimento com pouca ou nenhuma contração do glúteo. Sem
a ação do glúteo, quais outras musculaturas você sente contrair para realizar a ação?
Não se preocupe em identificar os nomes dos músculos, busque apenas as regiões de
contração, como parte posterior das coxas, ou região lombar da coluna.
3 Experimente agora realizá-la com uma boa contração do glúteo. O que você sente?
4 Agora vamos mudar de ação. Em pé, faça uma extensão da perna. Como
está a ativação, a contração dos seus glúteos? Você consegue ativar e
desativar conscientemente os seus glúteos nesse movimento?
5 Experimente realizar esse movimento com pouca ou nenhuma
contração dos glúteos. Qual musculatura do seu corpo você sente
contrair para realizar a ação? Novamente, não se preocupe em
identificar os nomes dos músculos, busque apenas as regiões de
contração.
6 Experimente agora realizá-la com uma boa contração dos glúteos. O
que você sente?

3.4 ATIVIDADE 4
Os músculos adutores do quadril formam a parte interna das coxas. Este grupo
é formado por cinco músculos, que se originam no púbis e se inserem no corpo do
fêmur. Além de motores primários na adução do fêmur, os adutores participam da flexão
e rotação lateral e, alguns deles, até mesmo da rotação medial e extensão do joelho. Os
adutores do quadril são objeto de exercícios intensos de alongamento em muitas danças,
para que a amplitude da articulação coxofemoral seja aumentada. “No entanto, isso
pode levar a frequentes rupturas, principalmente do músculo grácil” (CALAIS-GERMAIN,
2010, p. 259), quando o exercício não é desenvolvido e orientado corretamente.

181
AUTOATIVIDADE
Trabalhando a flexibilidade do quadril: apresentaremos, aqui, algumas estratégias seguras
para o alongamento dos adutores do quadril e o aumento de flexibilidade na articulação
coxofemoral. Para melhores resultados, eles devem ser combinados com os exercícios de
alongamento da cadeia posterior. Lembre-se: o aquecimento é essencial para evitar lesões!
Você pode fazer esses exercícios de duas a três vezes por semana.

1 De pé, com os braços ao longo do corpo, comece aquecendo as articulações


para estimular a produção de líquido sinovial e sua lubrificação. Você
pode começar com a circundução dos pulsos, fazendo cinco círculos
para fora e cinco dentro. Faça o mesmo com os cotovelos, ombros,
cabeça e tornozelos.
2 Com as mãos na cintura, você vai desenhar grandes círculos com a pelve.
Lembre-se de manter os joelhos relaxados, eles serão automaticamente
dobrados e esticados com o movimento. Brinque com a ação: “rebole”,
inverta a direção, use sua criatividade e divirta-se!
3 Coloque algumas músicas que você gosta e dance livremente por
cerca de cinco a dez minutos.

Na sequência, execute as sugestões de exercícios em que vamos realizar


apenas o alongamento passivo, no qual a própria força da gravidade vai auxiliar.

AUTOATIVIDADE
1 Deite em decúbito dorsal, com as pernas estendidas e encostadas na
parede. Você deverá “transformar a parede em chão”, ou seja, seu
bumbum também estará encostado na parede, seu tronco estará
apoiado no chão e seu corpo formará um “L” maiúsculo. Se sentir
dificuldade, coloque uma almofada sob a lombar.
2 Abra as pernas até a amplitude máxima (sem forçá-las com as mãos) e
permaneça nesta posição de 40 segundos a um minuto. Você verá que, com
o tempo e a força da gravidade, a articulação vai aos poucos “cedendo” e a
amplitude aumentando.
3 Atenção: não deixe de seguir está instrução para não se machucar! Segure a
parte interna das coxas com as mãos, dobre lentamente os joelhos e, só então,
também lentamente, feche as pernas.

182
3.5 ATIVIDADE 5
Veja a seguir mais sugestões para atividades em decúbito dorsal.

AUTOATIVIDADE
No chão, em decúbito dorsal, faça um número “4” com as pernas. Mantendo a perna que
está por cima nesta posição, flexione o joelho da perna de base e a traga, com as mãos,
para perto do tronco, flexionando também o quadril. Você deverá passar um
de seus braços por dentro da abertura do número “4”, formada pela perna
que está por cima.
Ao trazer a perna para perto do tronco, você conseguirá sentir o
alongamento do glúteo máximo.
Em decúbito dorsal, com os joelhos dobrados, os pés no chão e os braços
abertos em cruz, deixe as pernas caírem para o lado direito, enquanto
a cabeça vira para o lado oposto. Você deverá manter os dois ombros
no chão. Ajuste a posição da perna esquerda para que ela passe por
cima da direita e mantenha a posição por 30 segundos, alongando os
abdutores do quadril. Repita o exercício para o outro lado.

FIGURA 21 – POSE DA ÁRVORE OU O 4 EM PÉ

FONTE: <https://bit.ly/3zcLqtM>. Acesso em: 8 set. 2021.

183
3.6 ATIVIDADE 6
A mobilidade da perna para frente, ou seja, a amplitude de movimento, em
flexão, dos membros inferiores, é bastante valorizada e desejada por bailarinos. Para
alcançá-la, é preciso mobilidade em toda a cadeia muscular posterior, na qual os
músculos isquiotibiais cumprem um importante papel.

FIGURA 22 – MÚSCULOS DO CORPO

FONTE: <https://wl-incrivel.cf.tsp.li/resize/728x/jpg/16c/0ac/32af875cf3ad0eeca3d1fe3b4e.jpg >.


Acesso em: 8 set. 2021.

AUTOATIVIDADE
1 Sente-se com as pernas abertas e estendidas e o tronco ereto. Você deverá
conseguir sentir os dois ísquios por baixo de seu corpo. Caso não seja
possível manter o tronco ereto, você ainda não está pronto para esta etapa.
Continue na etapa anterior, combinando-a com exercícios de alongamento
da parte posterior da coxa.
2 Deixe seu tronco dobrar-se para frente, mantendo as pernas como
estão, e permaneça nesta posição de 40 segundos a um minuto. Não é
necessário “tentar alcançar mais longe”, deixe que a força da gravidade
aja, “puxando” seu tronco para o chão.
3 Alongue a musculatura antagonista.

184
O encurtamento destes músculos impede que o bailarino realize várias ações
e movimentos, tais como: elevar uma perna a mais de 90º; tocar o chão com as
mãos, mantendo os joelhos estendidos; sentar-se com as pernas estendidas à frente,
mantendo o tronco ereto; realizar grandes abduções do quadril, mantendo os joelhos
estendidos. Sendo assim, o alongamento dos isquiotibiais deve ser parte constante da
rotina de exercícios do profissional de dança.

3.7 ATIVIDADE 7
Alongamento de ísquios-tibiais e possíveis compensações musculares: nesta
prática, analisa-se o alongamento dos isquiotibiais, chamando a atenção para possíveis
compensações musculares.

AUTOATIVIDADE
1 Escolha uma posição de alongamento, da parte posterior da coxa, familiar para você. Pode
ser qualquer uma: sentado, deitado, ou em pé.
2 Uma vez posicionado no alongamento, respire algumas vezes, colocando a atenção nas
suas sensações, e perceba seus pontos de tensão.
3 Vamos, agora, provocar algumas compensações musculares. Toda
compensação é uma maneira de mover os ossos de forma a diminuir o
comprimento de um músculo e, assim, evitar que ele fique em posição de
alongamento. Muitas vezes nosso corpo as faz inconscientemente, o que
pode prejudicar o correto alinhamento e a eficácia de um alongamento.
4 Leve devagar e sutilmente a pelve para uma retroversão. Nesse
movimento, você estará aproximando a inserção proximal da distal, ou
seja, folgando seu músculo na parte de cima próxima à pelve.
5 Volte também lentamente para a posição inicial.

AUTOATIVIDADE
Faça esse movimento algumas vezes, concentrando-se nas sensações percebidas nos seus
isquiostibiais.

1 Dobre devagar e sutilmente o seu joelho. Nesse movimento, você estará aproximando a
inserção distal da proximal, ou seja, folgando o músculo na parte de baixo,
próxima a tíbia.
2 Volte também lentamente para a posição inicial. Faça esse movimento
algumas vezes, concentrando-se nas sensações percebidas nos seus
isquiostibiais. Vimos, então, duas compensações que podem ser
realizadas para folgar os ísquios-tibiais, quando eles estão em posição
de alongamento.

185
3 Reflita as compensações musculares na prática de dança, aquelas realizadas
inconscientemente. No caso analisado anteriormente, é mais comum realizarmos
compensações inconscientes com a pelve do que com os joelhos. A longo prazo, isso
pode causar lesões e fixar padrões posturais nocivos para sua saúde e/ou atrapalhar a
qualidade técnica de seus movimentos.

3.8 ATIVIDADE 8
Nesta próxima prática, vamos experimentar a ação sinérgica entre o tríceps e
os músculos fibulares, conforme quando desejamos ficar na ponta dos pés e manter o
alinhamento do tornozelo.

AUTOATIVIDADE
1 Fique de frente para a parede ou se apoie em uma cadeira, como se ela fosse
uma barra. Realize lentamente a flexão plantar, com os dois pés, algumas
vezes. Você notará que seus tornozelos tenderão a “cair para fora”, ou seja,
tenderão à inversão.
2 Realize a ação novamente, mas, desta vez, mobilize a musculatura lateral
das pernas, como se quisesse aproximar os maléolos mediais. Você verá
que conseguirá manter o tornozelo alinhado e o equilíbrio muito mais
facilmente.
3 Identifique, nas danças que você pratica/ensina, como você poderá
aplicar o que experimentou com esta prática.

3.9 ATIVIDADE 9
Na próxima prática, vamos experimentar a ação integrada dos músculos
extrínsecos e intrínsecos dos pés! Você vai precisar de uma toalha de rosto ou outro
tecido mais ou menos neste tamanho.

186
AUTOATIVIDADE
1 Sente-se em uma cadeira com os pés apoiados no chão e deixe a toalha (ou
o tecido) estendida à frente de seus pés.
2 Usando o movimento dos dedos e sola do pé, você deverá puxar a toalha/
tecido para debaixo de seus pés.
3 Repita a prática, mas, desta vez, procure identificar as ações que estão
sendo realizadas por seus dedos e demais regiões do pé e quais os
grupos musculares que estão sendo mobilizados. Use as ilustrações
deste livro ou de outras fontes para lhe ajudar.

3.10 ATIVIDADE 10
A seguir, veremos um exercício acerca do alongamento ativo dos músculos
eretores da espinha e extensores para aumentar a mobilidade lombar: em decúbito
dorsal com joelhos fletidos e pés juntos.

AUTOATIVIDADE
1 Traga um joelho e depois o outro em direção ao tórax; una as mãos ao
redor das coxas; tracione para o tórax, elevando o sacro do solo. Realize
três repetições, permanecendo por 30 segundos.

FIGURA 23 – ALONGAMENTO DOS MÚSCULOS ERETORES DA ESPINHA LOMBARES E TECIDOS


POSTERIORES DA COLUNA

FONTE: Kisner e Colby (2009, p. 468)

187
3.11 ATIVIDADE 11
Veremos, a seguir, um exercício acerca do alongamento para ganho de flexão
lateral da coluna: em decúbito ventral com a crista ilíaca estabilizada manualmente no
lado da concavidade.

AUTOATIVIDADE
1 Estenda a mão em direção ao joelho com o braço no lado convexo da
curva, enquanto estende o braço oposto acima da cabeça.
2 Inspire e expanda a caixa torácica no lado que está sendo alongado. O
exercício deverá ser realizado em três repetições, permanecendo por 30
segundos.

FIGURA 24 – ALONGAMENTO DE ESTRUTURAS HIPOMÓVEIS NO LADO CÔNCAVO DA CURVATURA TORÁCICA

FONTE: Kisner e Colby (2009, p. 469)

3.12 ATIVIDADE 12
A seguir, veremos um exercício sobre o alongamento para ganho de extensão
lombar.

188
AUTOATIVIDADE
1 Em decúbito ventral com as mãos colocadas embaixo dos ombros, estenda
os cotovelos e levante o tórax do colchonete, realizando uma flexão de braço
em decúbito ventral, e mantendo a pelve embaixo. Este exercício também
alongará os músculos flexores do quadril e os tecidos moles anteriores
do quadril. O exercício deverá ser realizado em três repetições de 30
segundos.

FIGURA 25 – ALONGAMENTO DOS TECIDOS MOLES ANTERIORES DA COLUNA LOMBAR E ARTICULAÇÕES


DOS QUADRIS COM O PACIENTE EM DECÚBITO VENTRAL

FONTE: Kisner e Colby (2009, p. 469)

3.13 ATIVIDADE 13
A seguir, veremos um exercício sobre a estabilização lombar básica com carga
progressiva dos membros, com ênfase nos músculos extensores do tronco e lombares:
na posição de quadrupedia e posição neutra da coluna lombar e cervical, mantendo os
olhos focados no solo.

AUTOATIVIDADE
1 Faça a manobra de “encolher a barriga”, ou seja, contração abdominal, e realize movimento
com os membros.
2 Eleve um dos membros superiores e faça quatro séries de 15 repetições
cada membro.
3 Estenda somente os membros inferiores, também em séries de 15
repetições cada membro, para, assim, obter um ganho de equilíbrio
e conseguir realizar o último exercício da série, que será a elevação de
um dos membros superiores, juntamente com o outro membro inferior
contralateral, permanecendo na posição isométrica em quatro séries de
30 segundos.

189
FIGURA 26 – FORTALECIMENTO COM ESTABILIZAÇÃO DE CARGA DOS PRÓPRIOS MEMBROS PARA
PROGRESSÃO DA ESTABILIZAÇÃO BÁSICA DOS MÚSCULOS EXTENSORES DO TRONCO E LOMBARES

FONTE: Kisner e Colby (2009, p. 483)

3.14 ATIVIDADE 14
A seguir, veremos um exercício acerca do fortalecimento dos músculos
abdominais e tronco: em decúbito dorsal.

AUTOATIVIDADE
Realize flexão de joelho mantendo os pés apoiados ao chão e coluna lombar em posição
neutra.

1 Realize a contração abdominal (“encolher a barriga”) para estabilização


dos músculos abdominais e, assim, elevar a cabeça e ombros até que
as escápulas e o tórax se distanciem do chão, mantendo os braços na
horizontal e na lateral do corpo ou cruzando os braços na altura do peito.
Se necessário alguma pessoa poderá ajudá-lo a fixar os pés no chão. O
exercício deverá ser realizado em quatro séries de 15 repetições.

190
FIGURA 27 – FLEXÃO DE TRONCO PARA FORTALECIMENTO DOS MÚSCULOS ABDOMINAIS, TÓRAX É
FLETIDO EM DIREÇÃO AO JOELHO

FONTE: Kisner e Colby (2009, p. 489)

3.15 ATIVIDADE 15
A seguir, veremos um exercício sobre o fortalecimento isométrico de tronco e
extensores do quadril.

AUTOATIVIDADE
1 Em decúbito ventral, faça a extensão dos membros superiores, juntamente
com os membros inferiores, mantendo o abdômen contraído e apoiado
no colchonete. O exercício deverá ser realizado em quatro séries, até a
máxima do paciente.

FIGURA 28 – FORTALECIMENTO DO TRONCO E EXTENSORES DO QUADRIL LEVANTANDO O TRONCO E


PERNAS, SIMULTANEAMENTE

FONTE: Kisner e Colby (2009, p. 492)

Caro acadêmico, percorremos, nesse estudo, os principais conceitos para o


estudo da cinesiologia da dança, para tal, trouxemos muitos nomes e estruturas, uma
infinidade de ações musculares, e diversas interrelações entre elas.

191
Esse estudo demanda de maior aprofundamento, pois aqui visamos apresentar
uma abordagem que instrumentasse o profissional da dança em termos técnicos, bem
como em possibilidades de aprimorar seus planos de aula e suas propostas de exercícios.

Buscamos, com as propostas apresentadas, formas de associar o que foi


aprendido e possibilitar variações para compreender e explorar as ações musculares
no seu próprio corpo e no corpo dos alunos. A prática e a repetição no cotidiano são
importantes aliadas do processo de cognição e apreensão dos conteúdos, bem como a
proposição de movimentos condizentes com a idade e a condição física e funcional do
aluno.

Para Souza e Auharek (2017, p. 94):

o constante e evolutivo estudo da cinesiologia; além de materiais


impressos, como atlas e livros, existem diversos aplicativos e materiais
disponíveis na internet. Seja crítico e consciente do seu próprio corpo
e de seus alunos. Conhecendo a variedade de sistemas existentes no
corpo humano, e a versatilidade de suas ações, fica evidente como
cada sujeito é único na sua organização do movimento e, portanto,
necessita também de um olhar individualizado para potencializar sua
performance sem riscos para o seu corpo.

192
LEITURA
COMPLEMENTAR
Ramiro Marques Inchauspe

INTRODUÇÃO

Método que vem com objetivo de desenvolver profissionais da área de


reabilitação e fitness para trabalhar em um sistema integrado, que une o conhecimento
da prevenção, reabilitação e do treinamento funcional, surge uma nova metodologia de
prevenção, reabilitação e performance baseada na funcionalidade, que, primordialmente,
inclui a seleção de atividades, exercícios e movimentos considerados funcionais. Esta
proposta deve ser compreendida sob a ótica do princípio da funcionalidade, o qual
preconiza a realização de movimentos integrados e multiplexares. Esses movimentos
implicam aceleração, estabilização (incrementando em alguns movimentos, elementos
desestabilizadores) e desaceleração, com o objetivo de aprimorar a habilidade de
movimento, força da região do tronco (CORE) e eficiência neuromuscular. Esta proposta
é justificada pela ampla possibilidade de aplicação e “transferência” dos efeitos deste
tipo de treinamento para as “atividades da vida diária” (AVD), e performance esportiva.

Apoiada nos princípios básicos do treinamento funcional, tem em seu foco a


busca pela eficiência do movimento na aplicação das condutas terapêuticas por meio
da estimulação dos sistemas neuromuscular, através da estabilização corporal central
(core), força, resistência, equilíbrio e velocidade.

Exercício terapêutico planejado e sistemático de movimentos corporais que


envolve diversas técnicas para prevenção, reabilitação e manutenção do sistema
musculoesquelético, visando buscar o máximo da funcionalidade do corpo tornando-o
mais inteligente.

Objetivou-se discutir os conceitos associados à cinesioterapia funcional,


contribuir para redefinição dos mesmos, assim como emitir uma opinião crítica sobre o
estado da arte no que se refere a esta temática.

CAPACIDADES FUNCIONAIS

Todos os treinamentos, sem exceção, devem ter por objetivo o desenvolvimento


de alguma capacidade de funcionalidade. O treinamento da capacidade funcional não
depende de nenhum tipo de equipamento e/ou determinado tipo de exercício, depende
da utilização das capacidades funcionais.

193
A figura 1 mostra as capacidades funcionais que são resultantes da relação
harmônica entre saúde física, mental, independência na vida diária, integração social,
suporte familiar e independência econômica, interagindo de forma multidimensional

FIGURA 1 – CAPACIDADES FUNCIONAIS

FONTE: O autor

CINESIOTERAPIA FUNCIONAL

A elaboração e prescrição da cinesioterapia funcional deve fornecer a adequada


“dose” de exercícios frente às possibilidades de resposta ao estimulo e garantir
adaptações ótimas com relação aos critérios de eficácia e funcionalidade.

Ao eleger determinado exercício, levando-se em consideração a perspectiva da


funcionalidade, não significa que se realizou um programa de “cinesioterapia funcional”,
porque está diante de aspectos distintos. Um programa de treinamento para ser
considerado funcional deve contemplar exercícios selecionados, tendo como critério a sua
funcionalidade e isto só é possível atendendo as cinco variáveis distintas da funcionalidade:
a) frequência adequada dos estímulos de treinamento; b) volume em cada uma das sessões;
c) a intensidade adequada; d) densidade, ou seja, ótima relação entre duração do esforço
e a pausa de recuperação); e) organização metodológica das tarefas. O manejo adequado
das variáveis supracitadas permitirá uma eficaz consecução dos objetivos pretendidos na
melhora ou manutenção da capacidade funcional do sistema psicobiológico.

Mesmo de maneira simplista, pode-se dizer que exercício funcional não


determina um programa de cinesioterapia funcional por si só, mas o programa deve
selecionar adequadamente os exercícios, atendendo à funcionalidade e aos critérios
e capacidades funcionais. A simples analise do termo permite considerar que
frequentemente mascara-se o conceito de funcional quando se estabelece uma filosofia
de trabalho baseada em determinados métodos e tipos de exercícios.

Exemplificando o exposto acima: para um indivíduo destreinado, uma “dose” de


treinamento inadequada (exemplo: erros na relação volume X intensidade, algumas das
variáveis abordadas anteriormente) ou uma eleição de exercícios com altos níveis de
estabilização externa (proporcionada por diversos aparelhos de exercícios resistidos), poderá
ser mais “funcional” que lhe propor determinadas tarefas motoras com alta demanda de

194
estabilização interna ativa, inclusive através de implementos que produzam ou acrescentem
instabilidade, como “bozu” ou “fitball” (comumente associados a este tipo de treinamento).

Um dos pressupostos associados ao conceito da cinesioterapia funcional é a


“transferência”. A origem desta palavra é latina (ato de transferre, transferir), ou seja,
ação ou efeito de transferir, que é o ato de passar ou levar algo de um lugar ao outro.
Considera-se que todo treinamento tem como objetivo único lograr o maior efeito
positivo sobre rendimento especifico, no caso do treinamento funcional efeitos sobre
a saúde e qualidade de vida. A transferência acontecerá quando se estimulam um ou
vários fatores do rendimento na atividade receptora da transferência (ângulos em que
se aplica a força, tipo de ativação muscular, fase do movimento e velocidade), e isto
ocorrerá no próprio exercício sem outras demandas.

Outro grande conceito é o core, ou seja, a estabilização central, são os músculos


profundos da região abdominal, lombar e pélvica que têm como finalidade manter a
estabilidade dessa região e de onde partem todos os movimentos do nosso corpo,
produção de força; redução de força; estabilidade; manutenção do alinhamento postural;
aceleração e desaceleração de qualquer movimento do corpo humano.

A tabela 1 mostra os sistemas de estabilização do CORE e de Movimento


Transferência e suas respectivas musculaturas quando ativados.

TABELA 1 – SISTEMA DE ESTABILIZAÇÃO

FONTE: O autor

Quanto às propostas que defendem suposta transferência para as AVD, o que em


tese não ocorre em programas de treinamento da força com utilização de uma exercitação
mais analítica (a maioria dos aparelhos convencionais para exercícios resistidos), não
parece existir produção cientifica consistente que aborde objetivamente os efeitos do
treinamento com características funcionais para o desenvolvimento e melhora das
diferentes características morfológicas, aptidão neuromuscular e status funcional.

O desenvolvimento de exercícios integrados, variados, multiplexares, será


sempre adequado se considerarmos os fatores de estimulo mínimo e, por sua vez,
as necessidades de repetição e sistematização, para produzir adaptações. Deve-se
planejar e programar tais exercícios atendendo ao nível de carga (externa-interna) em
relação ao nível de rendimento do aluno e ao processo global de treinamento. Por outro
195
lado, existem exercícios que se baseiam em movimentos que podem ocasionar déficits
em aspectos básicos quanto à higiene postural. A escolha do exercício é vital, não se
deve estabelecer por critério somente o foco em variáveis das AIDS, mas é necessário
cautela uma vez que algumas ações articulares ou a combinação destas aumentam a
probabilidade de lesões e desvios posturais.

A proposta da cinesioterapia funcional baseia-se de critérios de aplicação,


periodização e progressão baseada em fundamentos do treinamento desportivo,
treinamento funcional e pilates. Além disso, se tem ciência de uma abordagem que
integre a metodologia da cinesioterapia funcional aos tradicionais programas de
condicionamento físico. Esta sistematização pode levar o treinamento funcional a ser
tão eficaz quanto se proclama, colaborando para expandir o conceito de uma abordagem
muito mais específica e ao mesmo tempo geral, tratar o problema como um todo na
busca por um corpo mais inteligente, mais forte e mais funcional. Toda a estruturação
do método chama muito atenção pela sua quantidade de elementos, Avaliação Física
Geral, Testes Especiais, Anatomia e Sistemas, Desempenho Funcional, Individualizada,
Especificidade e Progressão, Associada à técnicas para tratamento ou performance.

Outro aspecto que parece ser utilizado de modo superficial é o da “naturalidade”,


ou seja, que algumas tarefas motoras aplicadas a alguns indivíduos são mais “naturais”
que outras, que parecem não possuir esta característica. Quando se busca definição do
termo natural, encontra-se o seguinte conceito: “pertencente ou relativo à natureza
conforme a qualidade e propriedade das coisas”. Seguindo tal conceituação, será mais
natural o exercício que atenda as propriedades biopsicológicas, em contrapartida, será
menos natural aqueles que não o façam. Outro aspecto a ser considerado quanto à
“naturalidade” está associado à “ausência de artifícios”, ou seja, deveriam ser utilizados
exercícios realizados sem implemento. Por fim, é comum afirmar que é mais natural
aquilo que esteja ligado aos aspectos de vida do indivíduo.

Atualmente, muitos programas e exercícios são desenvolvidos embasados na


premissa da funcionalidade, no entanto, deve-se sempre cuidar e buscar informações
na literatura o que realmente está sendo funcional e o que está sendo benéfico para
o seu aluno ou paciente. Diante de tal fato, recomenda-se refletir como deve ser
direcionado o foco do treinamento, uma vez que os avanços da sociedade moderna
tendem a conduzir o indivíduo ao sedentarismo e hipocinética, levando cada vez mais
as pessoas a movimentos mais curtos, menos variados e menos frequentes.

Como ocorre no treinamento desportivo, se devem analisar exaustivamente as


características das AVDs e Movimentos Específicos do Esporte ou Objetivo de um indivíduo,
assim pode-se desenhar um programa de cinesioterapia funcional que potencialize
as demandas do aluno e/ou paciente e compense possíveis desajustes ocasionados.
É importante ressaltar que as AVDs e gestões esportivas ou específicas durante os
treinamentos ocupam aproximadamente 1/3 do tempo diário, portanto, é fundamental
que sejam dedicadas de duas a três horas semanais, para que sejam transmitidas
modificações positivas e controlados os hábitos negativos inerentes ao estilo de vida.

196
DO TREINAMENTO FUNCIONAL À CINESIOTERAPIA FUNCIONAL

É bastante comum na literatura específica desta temática que os autores


considerem treinamento funcional o uso de determinados grupos de exercício, com
características bem definidas (como os de estabilização), e materiais específicos (bozu,
fitball), mesmo que estes procedimentos não contemplem as variáveis inerentes a este
método. Nestas obras, também são citados outros tipos e exemplos de exercício que
possuem outras características e não usam equipamentos que são considerados não
funcionais. Temos que esclarecer inicialmente que existem diferenças quanto à situação
adequada para utilizar os termos em relação a um exercício, grupo de exercícios ou
treinamento e sua funcionalidade ao encontro de tudo isso a cinesioterapia funcional
compilou tudo isso de uma maneira mais abrangente principalmente a necessidade de
utilização de terapias acessórias e matérias, como o processo de reabilitação física que
permite ao aluno e/ou paciente atingir um nível de funcionalidade e performance ideal para
realização de suas atividades, logo, a cinesioterapia funcional pode e deve ser utilizada
para manter ou melhorar a amplitude de movimento e a força muscular, auxiliando na
melhora da qualidade de vida, do desempenho funcional e promovendo a autonomia e a
performance, favorável nos vários estágios.

Treinar pressupõe preparar e este termo é definido como prevenir ou dispor


para alguma finalidade ou ação futura, em suma, executar as ações necessárias para a
obtenção de um produto. Isto está mais ligado aos processos que organizam, estruturam e
operam uma série de variáveis que acabam definindo uma dose de exercícios (prescrição),
que ao mero fato de descrever uma série de exercícios sequenciados e muitas vezes com
escasso critério em sua seleção e muito mais na própria definição da dose.

O termo exercício deriva-se do latim “exercitem” que se define como: conjunto


de movimentos corporais que se realizam para manter a forma física. Portanto, qualquer
movimento corporal pode ser considerado um exercício, desde que a seleção, variáveis
de aplicação e realização (dose) estejam incorporadas a um programa de treinamento
que seja adequado o suficiente para manter ou adquirir aptidão física.

Portanto, treinar compreende um processo que deve ser estruturado antes


mesmo de iniciar a seleção e prescrição de exercícios. Devemos levar em consideração
o componente de funcionalidade dos mesmos, uma vez que a capacidade operativa
é limitada (exercícios por sessão), a escolha deve pautar-se nos objetivos a alcançar.
Neste sentido, afirma-se que não existe exercício funcional e não funcional, pois, desde
que seja assegurado os pressupostos de segurança e eficácia, todos exercícios poderão
ser enquadrados em alguma fase do treinamento e gerar a adaptação desejada.

FONTE: <www.nucleodoconhecimento.com.br/saude/cinesioterapia-funcional>. Acesso em: 9 set. 2021.

197
RESUMO DO TÓPICO 3
Neste tópico, você adquiriu certos aprendizados, como:

• Sabemos que o controle postural é contínuo e permanente em toda a atividade


humana, e que em duas fases da vida o equilíbrio é uma habilidade instável.

• Mesmo um exercício aparentemente simples compreende movimentos musculares


complexos. Convém considerar problemas de influência de forças externas
(gravidade), de contração concêntrica, excêntrica e estática.

• O desenvolvimento da resistência depende, principalmente, do treinamento e dos


mecanismos de absorção e transporte do oxigênio. A capacidade do coração para
impulsionar o sangue é o fator limitante mais comum na resistência circulatória e
respiratória, mas não é o único fator importante.

• A resistência circulatória e respiratória requer uma capacidade aeróbia e anaeróbia


elevada.

• A Educação Somática, no princípio, era vista como uma alternativa para tratamento
de lesões, a exemplo da dança, ocorridos durante o exercício da profissão.

• Klauss Vianna é o profissional responsável pelo desenvolvimento de uma escola de


Educação Somática, construída fundamentalmente a partir de sua experiência na
dança.

• Em sua técnica, ele desenvolveu instruções para o desbloqueio das tensões musculares
e articulares que possibilitam colocar o corpo em um maior estado de disponibilidade. Ao
mesmo tempo, as instruções trabalhadas para o desbloqueio também são utilizadas para
provocar e servir de caminho para a criação de movimentos.

• Os recursos técnicos não estão em função de uma determinada estética, mas à


disposição da expressão de cada corpo.

198
AUTOATIVIDADE
1 Segundo o Instituto de Assistência às Américas “o envelhecimento é um processo
progressivo biológico”. Com relação ao processo de envelhecimento, assinale a
alternativa CORRETA:
FONTE: <https://institutoaa.org.br/>. Acesso em: 9 set. 2021.

a) ( ) O processo de envelhecimento populacional vem, necessariamente solicitando


ações de melhora na qualidade de vida dos idosos.
b) ( ) A funcionalidade desportista é um dos aspectos mais importantes para a
qualidade de vida do idoso.
c) ( ) Idoso ativo é aquele que não tem doenças crônicas e que pratica atividade física.
d) ( ) Com o envelhecimento, todos os idosos se tornam frágeis e doentes.

2 American College of Sports Medicine afirma que “os benefícios da prática regular
de atividade física são atribuídos a vários mecanismos, que incluem redução da
inflamação sistêmica, atividade imune e hormonal, redução da adiposidade, ganho
de massa muscular isenta de gordura e aumento da aptidão cardiorrespiratória,
através da melhora do VO2 (taxa de consumo de oxigênio) máximo, entre diversos
outros”. Sobre os efeitos do exercício físico para a prevenção de quedas, assinale a
alternativa CORRETA:
FONTE: <https://www.iespe.com.br/>. Acesso em: 9 set. 2021.

a) ( ) Fortalecem os músculos das pernas e do tronco, aumentam os reflexos e as


reações posturais de sinergia motora, melhoram a mobilidade em repostas
repentinas, melhoram a flexibilidade e pioram a qualidade de sono.
b) ( ) Fortalecem os músculos das pernas e do tronco, diminuem os reflexos e as
reações posturais de sinergia motora, diminuem a mobilidade em repostas
repentinas, diminuem a flexibilidade e pioram a qualidade de sono.
c) ( ) Fortalecem os músculos das pernas e do tronco, não alteram os reflexos e as
reações posturais de sinergia motora, melhoram a mobilidade em repostas
repentinas e não alteram a flexibilidade.
d) ( ) Fortalecem os músculos das pernas e do tronco, aumentam os reflexos e as
reações posturais de sinergia motora, melhoram a mobilidade em repostas
repentinas e melhoram a flexibilidade e a qualidade do sono.

3 Klauss Vianna foi um profissional da dança que buscou em sua própria experiência a
pesquisa de movimentos e registros das suas impressões. Os registros apresentam
conexões entre a didática desenvolvida por Vianna, a estética por ele percebida, estudos
anatômicos dos movimentos em questão e seus aspectos estruturais. Disserte sobre o
legado de Claus Vianna para o aperfeiçoamento da performance na dança.

199
4 O quadril é constituído por dois lados, o esquerdo e o direito. Este osso se chama
Ilíaco e é formado pela fusão de três ossos: o Ìlio, o Ísquio e o Púbis. Esses ossos são
envoltos por articulações e músculos, os quais são responsáveis pelos movimentos.
Os músculos adutores do quadril formam a parte interna das coxas. Disserte sobre os
músculos que o formam e quais as suas funcionalidades.

5 Os movimentos de nosso corpo exigem equilíbrio em maior ou menor grau. O


movimento quando dinâmico conta com balanço corporal, que muito ajuda no
equilíbrio; já o movimento estático nos mantém eretos ou em poses, devido a um
agrupamento muscular que luta contra as oscilações e a força da gravidade. Sobre
o exercício que trabalha o equilíbrio e a tonicidade geral da musculatura corporal,
assinale a alternativa CORRETA:

a) ( ) Correr.
b) ( ) Levantamento de peso.
c) ( ) Apoio em um pé ou na meia ponta dos pés.
d) ( ) Agachamentos.

200
REFERÊNCIAS
BLUNER, M. Guia definitivo da anatomia do joelho. 2018. Disponível em:
https://blogfisioterapia.com.br/anatomia-do-joelho/. Acesso em: 9 set. 2021.

CALAIS-GERMAIN, B. Anatomia para o Movimento: introdução para à análise


das técnicas corporais. 4. ed. São Paulo: Manole, 2010. 2 v.

KISNER, Carolyn; COLBY, Lynn Allen. Exercícios Terapêuticos: Fundamentos e


Técnicas. 5. ed. São Paulo: Manole, 2009.

NETTER, F. H. Atlas de Anatomia Humana. 2. ed. Porto Alegre: Artmed, 2000.

PORTELA, G. Z. Atenção Primária à Saúde: um ensaio sobre conceitos aplicados


aos estudos nacionais. Physis: Revista de Saúde Coletiva, v. 27, p. 255-276, 2017.

SILVEIRA, C. L. Cinesiologia e Musculação. Porto Alegre: Editora Artmed, 2009.

SOUZA, I.; AUHAREK, C.; Laboratório de Cinesiologia na Dança II. Salvador:


UFBA, 2017.

SOUZA, I. Laboratório de cinesiologia na Dança I. Salvador: UFBA, 2016.

VIANNA, K. A Dança. São Bernardo do Campo: Summus, 2005.

VILELA JUNIOR, G.B.; et al. Cinesiologia. Ponta Grossa: UEPG, 2011.

201

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