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Organização do
Espaço Mundial
Profª. Márcia da Silva
Profª. Tatiellen Cristina Prudentes
Indaial – 2022
2a Edição
Elaboração:
Profª. Márcia da Silva
Profª. Tatiellen Cristina Prudentes
S586r
Silva, Márcia da
ISBN 978-85-515-0542-7
ISBN Digital 978-85-515-0538-0
CDD 900
Impresso por:
APRESENTAÇÃO
Olá, acadêmico! Seja bem-vindo ao Livro Didático de Regionalização
e Organização do Espaço Mundial! Nesta disciplina, abordaremos conceitos
relacionados à região, à globalização, à regionalização, redes, articulações sociais
e a multidimensionalidades ou dimensões analíticas do espaço geográfico, pois,
na contemporaneidade, observa-se a configuração de uma nova (des)organização
espacial mundial de produção e de consumo, o que reflete na (des)ordem política,
social, ambiental e cultural. Dessa forma, é mais que necessária a contribuição da
Geografia para o entendimento das transformações do espaço geográfico.
Bons estudos!
QR CODE
Olá, acadêmico! Para melhorar a qualidade dos materiais ofertados a você – e
dinamizar, ainda mais, os seus estudos –, nós disponibilizamos uma diversidade de QR Codes
completamente gratuitos e que nunca expiram. O QR Code é um código que permite que você
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aproveitar essa facilidade para aprimorar os seus estudos.
ENADE
Acadêmico, você sabe o que é o ENADE? O Enade é um
dos meios avaliativos dos cursos superiores no sistema federal de
educação superior. Todos os estudantes estão habilitados a participar
do ENADE (ingressantes e concluintes das áreas e cursos a serem
avaliados). Diante disso, preparamos um conteúdo simples e objetivo
para complementar a sua compreensão acerca do ENADE. Confira,
acessando o QR Code a seguir. Boa leitura!
LEMBRETE
Olá, acadêmico! Iniciamos agora mais uma
disciplina e com ela um novo conhecimento.
REFERÊNCIAS........................................................................................................89
UNIDADE 2 — A ORGANIZAÇÃO DO ESPAÇO GEOGRÁFICO
E A GLOBALIZAÇÃO...............................................................................................93
REFERÊNCIAS...................................................................................................... 165
REFERÊNCIAS..................................................................................................... 232
UNIDADE 1 -
GEOGRAFIA E PÓS-
MODERNIDADE –
LEITURAS DO ESPAÇO
MULTIDIMENSIONAL
OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM
A partir do estudo desta unidade, você deverá ser capaz de:
PLANO DE ESTUDOS
Esta unidade está dividida em quatro tópicos. No decorrer dela, você encontrará
autoatividades com o objetivo de reforçar o conteúdo apresentado.
CHAMADA
Preparado para ampliar seus conhecimentos? Respire e vamos em frente! Procure
um ambiente que facilite a concentração, assim absorverá melhor as informações.
1
CONFIRA
A TRILHA DA
UNIDADE 1!
Acesse o
QR Code abaixo:
2
UNIDADE 1 TÓPICO 1 -
PRINCIPAIS CONCEITOS
GEOGRÁFICOS PARA COMPREENDER
A REGIONALIZAÇÃO
1 INTRODUÇÃO
3
Neste contexto, o conceito de região, em virtude do processo de globalização,
é marcado pela regionalidade, e, nesses termos, ganha grande importância a discussão
sobre as reconfigurações e desarticulações em um embate global versus o local.
4
Nesta perspectiva, entendemos que o conceito de região não se abstém
como uma simples definição, mas um dos mais tradicionais conceitos da geografia.
Inicialmente, está ligado à concepção fundamental de diferenciação de áreas, mas,
que no decorrer do tempo perpassa por transformações conceituais e se insere em
correntes do pensamento geográfico.
Para Gomes (2001), em sua análise histórica, há três grandes debates que
contribuem para as discussões geográficas no tema, permeando debates de noções de
região natural, de região geográfica e o peso à região natural, como região quantificada
e analítica, região como realidade autoevidente e como a possibilidade de mutação dos
critérios de definição do espaço.
Temos, assim, a região natural: surge no final do século XIX, sendo impulsionada
pela expansão imperialista, com o determinismo ambiental suas principais correntes
de pensamento. A região natural é entendida como uma parte da superfície da Terra,
5
dimensionada segundo escalas territoriais diversificadas, e caracterizadas pela unifor-
midade resultante da combinação ou integração em área dos elementos da natureza:
o clima, a vegetação, o relevo, a geologia e outros adicionais que diferenciariam ainda
mais cada uma destas partes. Em outras palavras, uma região natural é um ecossistema
onde seus elementos se acham integrados e são interagentes (CORRÊA, 2000).
6
Utilizando-se o conceito de região natural, temos um exemplo do mapa que
o IBGE confeccionou, classificando os tipos de climas zonais no Brasil. É sustentado
pelos preceitos de região natural e baseado no clima que o autor Delgado de Carvalho
apresenta o conceito de região natural ao Brasil em 1913. Para Gomes, (2001, p. 55), “o
conceito de região natural nasce, pois, desta ideia de que o ambiente tem um certo
domínio sobre a orientação do desenvolvimento da sociedade." A maior parte dessas
definições tinha um viés determinista ou "ambientalista".
7
A região geográfica abrange uma paisagem e sua extensão territorial,
onde se entrelaçam de modo harmonioso componentes humanos
e natureza. A ideia de harmonia, de equilíbrio, evidente analogia
organicista que Vidal de Ia Blache adota, constitui o resultado de um
longo processo de evolução, de maturação da região, onde muitas
obras do homem fixaram-se, ao mesmo tempo com grande força de
permanência e incorporadas sem contradições ao quadro final da
ação humana sobre a natureza (CORRÊA, 2000, p. 12).
DICA
Para não esquecer sugerimos a leitura do trecho do artigo do Professor Dr. Rogério
Haesbaert (2019, p. 118):
“Para outros geógrafos e “cientistas regionais” (em geral economistas) o principal elemento
diferenciador/ identificador de regiões refere-se à dinâmica econômica – nascem assim
regiões como a região polarizada ou funcional urbana, comandada pelas diferentes funções
econômicas de cada centro urbano e a hierarquia estabelecida entre eles, especialmente
através do seu papel comercial e de prestação de serviços. Essa abordagem funcionalista
da região teve origem na região nodal de geógrafos como Halford Mackinder e o próprio
La Blache. Ela foi sofisticada nos anos 1930 por teorias como a do lugar central de Walter
Christaller. Em outras bases filosóficas, como a materialista dialética, encontramos a região
como produto da divisão espacial capitalista do trabalho ou das relações desiguais e
combinadas entre centros e (semi)periferias. A força dessas concepções faz com que a
disciplina que até hoje mais dialogou com a Geografia através do conceito
de região seja a Economia. Daí o fato de que muitas das abordagens mais
difundidas de região estejam focadas sobretudo na reprodução econômica,
enfatizando a articulação espacializada das práticas econômico funcionais.
Entre concepções mais recentes de região, poucas são aquelas que não
dão destaque aos processos econômicos. O conceito de cidade-região, por
exemplo, leva em conta o papel crescente das dinâmicas de urbanização
e de metropolização na conformação não apenas hierárquica, mas
também mais horizontalizada das relações econômicas. O aumento da
urbanização praticamente equivale, em muitos casos, a falar do próprio
urbano como região. Outra concepção é a da “região com buracos”, de
um grupo de geógrafos britânicos, entre os quais Doreen Massey, que
considera a dinâmica do capitalismo pós-fordista ou de acumulação
flexível e sua articulação espacialmente desigual, criando “buracos”,
diversas áreas excluídas das redes articuladoras dessa nova dinâmica”.
8
Por fim, temos o conceito de região como uma conceitualização de classe de
área, que evolui a partir da década de 1950. Os estudos regionais sofrem mudanças
consideráveis, a nova geografia é fundamentada no positivismo lógico e na dedução.
Assim, o conceito de região deixa de ser objeto concreto de análise e se transforma em
uma criação intelectual, dando destaque aos procedimentos espaciais, por meio das
teorias de localização e desenvolvimento regional.
Assim distribuídos:
• Organizacional
9
No que tange à dimensão organizacional, sugeriu-se que se considerassem os
agentes sociais (Estado, empresas, instituições e grupos sociais), a origem (planejada
ou espontânea), a natureza dos fluxos (mercadorias, pessoas, informações), a
função (realização, suporte), a finalidade (dominação, acumulação, solidariedade), a
existência (real, virtual), a construção (material, imaterial), a formalização (formal,
informal) e a organicidade (hierárquica e complementaridade).
• Temporal
• Espacial
10
INTERESSANTE
SINAL VERDE – PODEMOS AVANÇAR
Na tentativa de apreender a época em que vivemos, recorremos a entender a Região como
ARTE-FATO, conceitualização realizada por Haesbaert (2010, p. 6-8).
“Podemos afirmar que a região caminhou, ao longo da história do pensamento geográfico,
mais ou menos como num pêndulo entre posições mais idiográficas ou valorizadoras das
diferenças e posições mais nomotéticas ou que enfatizavam as generalizações. É claro
que ela, enquanto conceito, foi majoritária sobretudo nos momentos mais idiográficos
ou voltados para a realidade empírica, numa valorização da região como “fato” (seja como
“fato” concreto, material, seja como “fato” simbólico, vivido), do que nos períodos em que
se afirmava uma Geografia Geral, voltada para a construção teórica, mais racionalista, onde
a região adquiriu um papel mais de “artifício” (analítico) do que de realidade efetivamente
construída e/ou vivida.
[...] Conforme vimos ao longo deste trabalho propomos aqui um caminho mais complexo,
para o entendimento da região não simplesmente como um “fato” (em sua existência efetiva)
nem como um mero “artifício” (enquanto recurso teórico, analítico) ou como instrumento
normativo, de ação (visando a intervenção política, via planejamento). Propomos então tratar
a região como um “artefato” (sempre com hífen), tomada na imbricação entre fato e artifício
e, de certo modo, também, enquanto ferramenta política. A região vista como arte-fato é
concebida no sentido de romper com a dualidade que muitos advogam entre posturas
mais estritamente realistas e idealistas, construto ao mesmo tempo de natureza ideal-
simbólica (seja no sentido de uma construção teórica, enquanto representação “analítica”
do espaço, seja de uma construção identitária a partir do espaço vivido) e material-funcional
(nas práticas econômico-políticas com que os grupos ou classes sociais constroem seu
espaço de forma desigual/diferenciada). “Arte-fato” também permite indicar que o regional
é abordado ao mesmo tempo como criação, autofazer-se (“arte”) e como construção já
produzida e articulada (“fato”). Assim, sintetizando, a partir da discussão da região como
arte-fato, nossa proposta se pauta em algumas questões fundamentais, notadamente:
• a região como produto-produtora das dinâmicas concomitantes de globalização e
fragmentação, em suas distintas combinações e intensidades, o que significa trabalhar a
extensão e a força das principais redes de coesão ou, como preferimos, de articulação
regional, o que implica identificar também, por outro lado, o nível de desarticulação e/ou
de fragmentação de espaços dentro do espaço regional em sentido mais amplo; • a região
construída através da atuação de diferentes sujeitos sociais (genericamente: o Estado, as
empresas, as instituições de poder não-estatais e os distintos grupos socioculturais e classes
econômico-políticas) em suas lógicas espaciais zonal e reticular, acrescentando-se
ainda a “i-lógica” dos aglomerados resultante principalmente de processos
de exclusão e/ou precarização socioespacial (HAESBAERT, 2004a e 2004b),
cuja consideração é hoje, cada vez mais, imprescindível. • a região como
produto-produtora dos processos de diferenciação espacial, tanto no
sentido das diferenças de grau (ou desigualdades) quanto das diferenças
de tipo ou de natureza (diferença em sentido estrito), tanto das
diferenças discretas quanto das diferenças contínuas (nos termos
de BERGSON, 1993, 2006). [...]”.
11
NOTA
O conceito de Rede Geográfica: conjunto de localizações humanas
articuladas entre si por meio de vias e fluxos. Ou seja, ela constitui
caso particular de rede em geral, esta forma advém da topologia, que
tem grande importância para a Geografia, pois é parte fundamental da
espacialidade humana (CORRÊA, 2012).
DICA
Determinismo: é a teoria caracterizada pelo pensamento de que o meio natural
determinava o homem, sendo o homem fruto direto do meio. Assim, o ser humano não
possui liberdade total de decidir e influenciar no que acontece ao seu redor. Possibilismo:
é a teoria de pensamento geográfico que tem como base que o ambiente natural é um
mero fornecedor de possibilidades para modificação humana; assim, o possibilismo discute
as relações homem-meio natural. Apresentando-nos um viés interpretativo diferente
daquele apresentado por Ratzel que entende a natureza, como fator determinante do
comportamento humano. O ser humano tem plena liberdade para utilizar a
natureza como quiser. Determinismo é o contrário do Possibilismo e vice-
versa. Determinismo diz que o meio influencia o homem e o Possibilismo diz
que o homem influencia o meio.
12
Nesse sentido, o autor observa que região passa a ser um conceito de sistema
de regiões, que apreciava conhecimentos elaborados com princípios na classificação.
Passa a ter similaridade com as ciências naturais, e Corrêa (2000) apresenta esta
comparação entre os termos regionais e os termos classificatórios, que são utilizados
por vertentes diferentes. No que se refere à nova geografia, as regiões podem ser:
13
O que ocorre é a criação de uma tipologia, as regiões, que são distinguidas pelos
seus atributos específicos, não havendo a necessidade de contiguidade espacial. O con-
ceito de organização espacial é apresentado pela nova geografia como padrão espacial
resultante de decisões locacionais, privilegiando as formas e os movimentos sobre a
superfície da Terra, ou seja, “o objeto da geografia é, portanto, a sociedade, e a geografia
viabiliza o seu estudo pela sua organização espacial. Em outras palavras, a geografia re-
presenta um modo particular de se estudar a sociedade” (CORRÊA, 2000, p. 28).
DICA
Indicamos, para a leitura mais aprofundada do tema, o livro “Regional-
Global: dilemas da região e da regionalização na geografia contemporânea”,
de Rogerio Haesbaert, que reúne elementos suficientes para apresentar
múltiplas vertentes sobre o conceito de Região. O autor relata a região
no âmbito da história do pensamento geográfico, dialogando com autores
fundamentais como Vidal de la Blache, Sauer e Hartshorne, mas também
com nomes mais recentes que vêm retrabalhando o conceito, tais como
Massey, Werlen e Thrift.
14
Mesmo como categoria da prática, difundida pelo senso comum,
comumente região é tratada como sinônimo de porção do espaço
delimitada por algum critério ou dotada de alguma característica
própria, distintiva. Numa leitura bastante genérica, que alguns
preferem associar a processos mais amplos de regionalização, mais do
que a região propriamente dita, essa concepção é retomada no âmbito
acadêmico, ao serem discutidos os critérios e/ou as características
mais marcantes na diferenciação do espaço geográfico ou, se
quisermos, na definição de uma região (HAESBAERT, 2019, p.117).
De sua raiz etimológica “Regere”, temos sua dimensão política, e, entre outras,
regionalizar é uma forma de recortar, classificar, nomear e identificar um espaço.
DICA
Para compreender melhor o conceito de Região e para colaborar com o
entendimento para os próximos tópicos, indicamos que assista ao vídeo:
Revendo questões regionais: de(s)colonização da região em Geografia,
com o Prof. Dr. Rogério Haesbaert, o vídeo é uma aula que o professor
foi convidado a participar na pandemia direcionado pelo PET Geografia
UFGD. O vídeo tem cerca de duas horas e se encontra disponível no
link: https://www.youtube.com/watch?v=lrMlgWE3WXQ&t=1642s.
15
RESUMO DO TÓPICO 1
Neste tópico, você adquiriu certos aprendizados, como:
• Nos últimos dois séculos surgiram os conceitos de região natural, região geográfica,
região homogênea, e tiveram muitas discussões e debates sobre o conceito de região.
16
AUTOATIVIDADE
2 Para o autor Corrêa (2000), o termo região não apenas faz parte do linguajar do
homem comum, como também é dos mais tradicionais em geografia. Sendo assim,
considerando os conceitos de região apresentados por Corrêa (2000) sobre a Região
Natural, analise as sentenças a seguir:
17
Assinale a alternativa CORRETA:
a) ( ) As sentenças I, II e IV estão corretas.
b) ( ) As sentenças I, III e IV estão corretas.
c) ( ) As sentenças II e III estão corretas.
d) ( ) Somente a sentença I está correta.
3 Por meio da nova geografia relatada por Corrêa (2000), que se refere aos termos
da ampla possibilidade de aparecimento dos propósitos de divisão regional, há dois
enfoques que não se excluem mutuamente. Apresente e discorra sobre as regiões
simples, complexas, homogêneas e funcionais.
a) ( ) Paisagem.
b) ( ) Lugar.
c) ( ) Espaço geográfico.
d) ( ) Região.
18
UNIDADE 1 TÓPICO 2 -
MÉTODO REGIONAL DE DIVISÃO E
ORGANIZAÇÃO DO ESPAÇO MUNDIAL:
REGIONALIZAÇÃO
1 INTRODUÇÃO
Iniciaremos a nossa reflexão ponderando que as leituras realizadas e traba-
lhadas nesta unidade passaram por desdobramentos ao longo do tempo, o que nos
possibilitou o aprofundamento em diferentes abordagens e discussões geográficas. O
método regional de divisão e de organização do espaço mundial, a regionalização, não
ficou somente na ciência geográfica, e sim expandiu-se por outras áreas de conheci-
mentos, e nos fez dialogar por meio de regionalizações dos espaços.
Desse modo, vamos dividir o tópico em três partes. Na primeira serão abordados
os fundamentos do conceito de regionalização, atrelado à globalização, que provoca
uma regionalização em várias escalas, uma regionalização geopolítica. Na segunda
parte será abordada a regionalização como processo de divisão do espaço mundial,
pois a realidade é dinâmica. Os processos de regionalização dos espaços também
acompanham essa dinâmica espacial, o que nos possibilita entender as diferentes
formas de regionalização.
2 O CONCEITO DE REGIONALIZAÇÃO
É importante que façamos agora uma reflexão sobre o contexto do processo
de transformações da sociedade, que a partir dos séculos XX e XXI aceleram-se e
trazem grandes dificuldades para quem tem que refletir sobre as regionalizações e a
globalização.
19
Vemos a globalização em seu processo provocar uma estruturação de uma
regionalização em várias escalas, sendo elas, locais, estaduais, nacionais e internacionais,
se configurando não mais como na geografia tradicional, uma regionalização natural,
mas agora como uma regionalização geopolítica.
Como foi apresentado por Corrêa (2000, p. 22), “a aceitação do conceito está na
ideia de que a “superfície da terra é constituída por áreas diferentes entre si”, ou seja,
a região é um recorte espacial de um determinado espaço geográfico em que, existam
características homogêneas internas e características heterogêneas externas de outros
recortes do espaço geográfico, formando assim regiões que se diferenciam entre si.
Dessa forma, regionalizar é uma maneira de recortar, classificar, nomear e identificar
um espaço. A regionalização, é a ação de construir regiões. O conceito de região evoluiu
epistemologicamente com base nessas perspectivas filosóficas.
20
Como relatado por Haesbaert (2010), elencar o processo globalizador é
elencar juntamente o processo regionalizador, ou seja, “em nome de uma lógica
individualista-contábil mundial, este movimento propõe de alguma maneira integrar
as mais distintas áreas do planeta, “regionalizando” sobretudo na forma que melhor
convém às suas estratégias geográficas de circulação, acumulação e dominação”
(HAESBAERT, 2010b, p. 4).
Nessa perspectiva, temos que uma fração de espaço diferenciada pelo seu
caráter individual e singular, seja natural, social, econômico ou político, observamos
que este processo contínuo e desigual de diferenciação de áreas pode ser denominado
regionalização.
IMPORTANTE
É relevante salientarmos que as questões referentes à regionalização,
o autor traz como um processo em constante rearticulação e de ser
regional. Com isso, entendemos que por várias décadas a definição
de região e as metodologias de regionalização vêm sendo revisados
em várias disciplinas do conhecimento, notadamente no âmbito da
ciência geográfica. Culminando em muitas propostas de regionalização,
mesmo que fossem sujeitas de crítica e ressalvas.
21
3 REGIONALIZAÇÃO COMO PROCESSO DE DIVISÃO
DO ESPAÇO MUNDIAL
Vamos pensar, ainda, que se as áreas apresentam semelhanças entre si, deve-
se uni-las, e desta maneira teremos uma região. Ainda assim, quais os critérios que as
unem e as regionalizam?
• Continentais
22
FIGURA 5 – REGIONALIZAÇÃO POR CONTINENTES
DICA
Para valorizar e aprender mais sobre mapas e continentes, acesse a página do IBGE,
ao Atlas Geográfico Escolar na internet! Você vai encontrar ilustrações animadas sobre
geografia e cartografia, e consulta a mapas do Brasil e do Mundo de uma forma fácil e
atraente, onde poderá levar o seu aluno a realizar pesquisas e buscas interativas.
IBGE traz até você o Atlas Geográfico Escolar em duas diferentes versões, revisadas e
atualizadas e que abordam vários aspectos da nossa realidade e de outras nações, tais
como: diversidade ambiental e cultural, características demográficas, espaço econômico,
urbanização, espaço de redes, regionalização, desigualdades socioeconômicas, estrutura
da população, recursos naturais, redes de transportes e indicadores econômicos,
ambientais e sociais. O Atlas traz também explicações sobre a formação
dos continentes, forma da terra, coordenadas geográficas, altitude, GPS,
projeções, escala, sensoriamento remoto, aerofotogrametria, convenções
cartográficas e mapeamento temático.
O Atlas do IBGE também contempla os parâmetros e Referências
Curriculares Nacionais (PCN) do MEC. Reunindo informações geográficas,
cartográficas e estatísticas, o Atlas oferece um conjunto de informações
imprescindíveis para o estudo e a análise das dimensões política,
ambiental e econômica do Brasil e de outros países. Apresenta-se em
duas versões: livro ou internet. Seguem os links de ambos para você
realizar a pesquisa:
Link do atlas escolar: https://atlasescolar.ibge.gov.br/mapas-atlas/
mapas-do-mundo/divisoes-politicas-e-regionais.html
Link do Livro: https://atlasescolar.ibge.gov.br/versoes-do-atlas/livro
Link do material da internet: https://atlasescolar.ibge.gov.br.
23
• Paisagens Naturais – BIOMAS
• Cultural
24
FIGURA 7 – REFUGIADOS – 2017
FONTE: <https://atlasescolar.ibge.gov.br/mapas-atlas/mapas-do-mundo/estrutura-e-dinamica-da-popula-
cao.html>. Acesso em: 18 out. 2021.
25
FIGURA 8 – TURISMO – 2016
• Aspectos econômicos
26
FIGURA 9 – BLOCOS ECONÔMICOS – 2018
FONTE: <https://atlasescolar.ibge.gov.br/images/atlas/mapas_mundo/mundo_blocos_economicos.pdf>.
Acesso em: 18 out. 2021.
27
DICA
Para nos aprofundarmos mais do conceito de globalização, o livro do
geógrafo Milton Santos nos ajuda a refletir sobre o tema. Leia: SANTOS, M.
Por uma outra globalização – do pensamento único à consciência universal,
19. ed., Rio de Janeiro: Record, 2010.
Para compreender a transformação e a regionalização político-
administrativa do capitalismo, indicamos para a leitura mais aprofundada
do tema, o livro: HARVEY, David. A transformação político-econômico do
capitalismo do final do século XX. In:_____. A Condição Pós-moderna: uma
pesquisa sobre as origens da mudança cultural. Edições Loyola, 1992.
28
para outros. Uma das questões mais relevantes, hoje, pela força
crescente de sua evidência, é que articulações regionais do espaço
podem se manifestar não apenas na tradicional forma zonal,
geralmente contínua, mas também em redes, dentro de uma lógica
descontínua de articulação reticular (HAESBAERT, 2010, p. 21).
29
RESUMO DO TÓPICO 2
Neste tópico, você adquiriu certos aprendizados, como:
30
AUTOATIVIDADE
1 Um dos aspectos que caracterizam o processo de globalização é a formação de
blocos econômicos regionais, criados e mantidos com base em realidades e anseios
dos países membros. Os blocos são associações criadas entre os países e que
estabelecem relações entre eles. Com base nisso, classifique V para as sentenças
verdadeiras e F para as falsas:
2 Em 2020, o mundo foi surpreendido pela pandemia de COVID-19, que além de pa-
ralisar a vida e o sistema econômico dos países, também expôs a fragilidade do
sistema capitalista. Desde então, diversos campos da ciência, especialmente, a
biotecnologia, tem sido explorada em busca de respostas e soluções para que a
vida seja normaliza de forma imediata. Selecione ao menos três fatos que ocorre-
ram durante a pandemia que chamaram sua atenção. Pesquise matérias em sites,
jornais e veículos de comunicação confiáveis e disserte sobre os fatos e identifique
se o conceito de redes geográficas está presente.
31
4 “A regionalização caracterizada pela divisão entre Primeiro, Segundo e Terceiro
Mundo foi amplamente utilizada durante a Guerra Fria, período em que prevaleceu
a rivalidade entre duas superpotências. No começo da década de 1990, o termo
Segundo Mundo tornou-se obsoleto, pois deixou de ser representativo. Nesse
contexto, foram estabelecidas novas regionalizações com o objetivo de expressar
com maior exatidão a organização do espaço mundial contemporâneo”.
FONTE: BOLIGIAN, L.; ALVES, A. Geografia: espaço e vivência (Ensino Médio). São Paulo: Atual Editora, 2007
(volume único). p. 410 (Adaptação).
A partir do trecho, qual é a regionalização que não expressa com “maior exatidão a
organização do espaço mundial contemporâneo”?
a) ( ) Continentes.
b) ( ) Paisagens naturais.
c) ( ) Cultura.
d) ( ) Aspectos econômicos.
e) ( ) Religiosos.
32
UNIDADE 1 TÓPICO 3 -
A REGIONALIZAÇÃO DO BRASIL NO
CONTEXTO MUNDIAL
1 INTRODUÇÃO
O tópico que segue procura apresentar que o Brasil foi dividido de várias
formas ao longo de toda a sua história, com fundamentos como: o contexto histórico
e a geografia quantitativa, o processo histórico de formação do território brasileiro
e também alguns autores levam em conta as regiões com semelhanças históricas,
econômicas e culturais.
33
Na década de I960, a organização regional do Brasil é representada
fundamentalmente por três unidades maiores: o CENTRO-SUL, o
NORDESTE e a AMAZÓNIA. Esta organização resultada evolução
económica e social pela qual o país passa nos tempos atuais e de
diferenciações regionais estabelecidas ao longo de toda nossa
história (GEIGER, 1969, p. 36).
34
contornos mais precisos. Como exemplo, temos o sul do Mato Grosso, que se encontra
no Centro-Sul, enquanto o restante do território do Mato Grosso está localizado na
região geoeconômica da Amazônia. Portanto, essa regionalização ofereceu uma nova
maneira de entender a história da produção do espaço brasileiro.
Como podemos ver, essa proposta de divisão regional não delimita suas regiões
geoeconômicas por meio dos limites estaduais, levam-se em consideração as condições
naturais e humanas, como os aspectos econômicos, históricos e sociais referentes à
realidade do nosso país. Portanto, o critério utilizado por Geiger é o socioeconômico,
e não leva em conta os limites estaduais, pois, cada complexo regional tem suas
características próprias e relevantes em comum que ultrapassam as divisões político-
administrativas dos estados, que foram caracterizadas pelo IBGE.
Para Corrêa (1989), os Três Brasis são a Região Amazônia, Região Centro-Sul e
Região Nordeste, como segue na figura a seguir:
35
FIGURA 11 – OS TRÊS BRASIS – ROBERTO LOBATO CORRÊA – 1989
Para Corrêa (1989), as regiões são expressões de uma nova divisão territorial
do trabalho, que vem vinculada à dinâmica da acumulação capitalista internacional e
brasileira e os conflitos de classes.
✓ Região Amazônia: tem a presença ainda marcante dos elementos naturais, com apro-
priação indevida dos recursos naturais, como a terra, os recursos minerais e a madeira,
sendo considerada, então, a fronteira do capital na atualidade; considera a ocupação
36
humana escassa, concentrada em áreas do litoral e de certos rios, e ao mesmo tempo
apresenta forte processo de dizimação física e cultural de elementos humanos, como
o índio, e parte da população local, como os seringueiros, além de diferentes tipos de
conflitos sociais ligados, por exemplo, à terra; Região que recebe variadas correntes
migratórias oriundas, por exemplo, do Centro-Sul, através da chamada ‘modernização
dolorosa’ e excludente vivenciada nessa região, e do Nordeste, principalmente, a par-
tir dos graves problemas sociais do seu meio rural; Recebe investimentos pontuais de
capital e uma política de integração ao mercado do Centro-Sul, principalmente através
da construção de rodovias; Na economia predominam o extrativismo animal, vegetal
e mineral. Destacam-se, também, o polo petroquímico da Petrobras e a Zona Franca
de Manaus, que fabrica a maior parte dos produtos eletrônicos brasileiros.
37
DICA
Vale a pena assistir aos vídeos em homenagem ao geógrafo Milton
Santos para compreender os trabalhos realizados por ele em defesa
da Geografia, em especial, da Geografia Humana. Acesse: https://www.
youtube.com/watch?v=Y51aSaBC614> e https://www.youtube.com/
watch?v=9jOmsQ-2sg8>.
ATENÇÃO
Vamos recordar o conceito de meio geográfico. Ele é fundamental para compreender a
regionalização. Milton Santos, em seus livros, aborda que o espaço geográfico é produto
e condição para a realização da vida social e contém elementos naturais (rios, planaltos,
montanhas etc.) e artificiais (objetos criados pelo homem). A história de nossa sociedade
sobre o planeta é a história do trabalho humano no processo contínuo de transformação
da natureza para conseguir atender as suas necessidades historicamente
dadas, criando, assim, um meio no qual a vida pode ser progressivamente
mais confortável. Neste processo, o homem produz objetos geográficos
por meio da constante criação de novas técnicas e com isso “tecnifica”
seu meio, afastando-o cada vez mais de suas condições naturais originais.
Os grandes períodos da história humana, de forma sucinta, seriam
marcados pela complexidade das técnicas incorporadas neste espaço. No
estágio atual de desenvolvimento, predomina o meio técnico-científico-
informacional, caracterizado pela grande presença de objetos técnico-
científicos e da informação no território. É a partir deste conceito que
Milton Santos aborda o território nacional (BOSCARIOL, 2017, p. 193).
38
FIGURA 12 – OS QUATRO BRASIS – MILTON SANTOS
39
✓ Região Nordeste: primeira região a ser povoada, como um espaço de rugosidades
ou marcas de herança do passado no espaço geográfico, oferecendo resistências à
difusão do meio técnico-científico informacional, apresenta uma agricultura pouco
mecanizada se comparada à Região Centro-Oeste e à região Concentrada.
✓ Região Centro-Oeste: apresenta uma agricultura globalizada, isto é, moderna,
mecanizada, produtiva e competitiva. de ocupação periférica e subordinada aos
interesses das firmas da região concentrada.
DICA
Para um melhor entendimento sobre o processo de análise de Milton
Santos e Maria Laura Silveira, sobre a divisão do país em “Quatro Brasis”,
leia o livro O Brasil: território e sociedade no início do século XXI. A
obra relata as especificidades do território brasileiro, mas usam como
mediação o homem: o como, por quê, para quê e onde da interação dele
com o espaço geográfico.
40
Nas décadas seguintes, 1950 e 1960, houve transformações ocorridas no es-
paço geográfico brasileiro, e portanto uma nova divisão em Macrorregiões foi elaborada
em 1970, introduzindo conceitos e métodos reveladores da importância crescente da
articulação econômica e da estrutura urbana na compreensão do processo de orga-
nização do espaço brasileiro, do que resultaram as seguintes denominações: Região
Norte, Região Nordeste, Região Sudeste, Região Sul e Região Centro-Oeste, que per-
manecem em vigor até o momento atual, conforme figura a seguir:
41
A divisão regional constitui uma tarefa de caráter científico e, desse modo, está
sujeita às mudanças ocorridas no campo teórico-metodológico da Geografia, que afetam
o próprio conceito de região. Assim, as revisões periódicas dos diversos modelos de di-
visão regional adotados pelo IBGE foram estabelecidas com base em diferentes aborda-
gens conceituais, visando traduzir, ainda que de maneira sintética, a diversidade natural,
cultural, econômica, social e política coexistente no Território Nacional (IBGE, 2020).
Portanto, vemos que o IBGE adotou várias divisões regionais do Brasil, sendo
a última delas em 1990 resultante do papel de definir uma única divisão regional do
país, e o instituto é o órgão responsável por propor mudanças para o mesmo, quando
necessárias, sendo assim, realiza várias regionalizações apresentadas como um
conjunto de informações divulgadas em livros, artigos e também disponibilizadas
no portal do IBGE na internet, com o objetivo de oferecer aos órgãos das esferas
governamentais e privadas subsídios de planejamento e tomada de decisões e para
o conhecimento científico um aprofundamento de conhecimento geográfico territorial
acerca da complexa realidade espacial do Brasil.
INTERESSANTE
Você sabe como o IBGE considera o conceito de Região de influência?
O IBGE realiza a regionalização de influências das cidades, sendo uma pesquisa denominada
“Regiões de Influência das Cidades – REGIC”. Que define a hierarquia dos centros urbanos
brasileiros e delimita as regiões de influência a eles associados. É nessa pesquisa em que
se identificam, por exemplo, as metrópoles e capitais regionais brasileiras e qual o alcance
espacial da influência delas. Considerando que a região de influência de uma centralidade
é o território resultante de um processo de formações, compreendendo históricas, coesões
territoriais, culturais e identitárias, relacionadas as características naturais e sociais. Com
a nova e atualizada publicação da pesquisa Regiões de influência das cidades – 2018, o
IBGE traz o quadro de referência da rede urbana brasileira, com estudo que se constitui a
quinta versão dessa linha de pesquisa. O estabelecimento das hierarquias e dos vínculos
entre as Cidades, bem como a delimitação das áreas de influência, foram construídos
com base em pesquisa específica que mobilizou a Rede de Agências do IBGE para o
levantamento de dados primários com o uso de dispositivos móveis de coleta que facilitam
a crítica e a verificação do processo de pesquisa e agilizam a geração de
resultados. Além disso, a caracterização da rede urbana também contou
com o levantamento de registros administrativos úteis para a temática
sobre a qual a presente publicação se debruça. A pesquisa atual dá
continuidade aos trabalhos anteriores publicados em 1972, 1987, 2000
e 2008, mantendo e aprimorando os aportes teóricos e a metodologia,
especificamente em relação à última versão do trabalho. Além da
própria publicação, que contém a rede urbana e as análises setoriais
que auxiliam a melhor qualificação dos resultados, o IBGE também
disponibiliza, em seu portal na Internet, a base de dados levantada, útil
para estudos que enfoquem outros temas ou áreas em outras escalas
além da nacional. Além disso, considerando que o IBGE realiza essa
linha de pesquisa há cinco décadas, a presente publicação contribui
para a compreensão da evolução histórica do fenômeno urbano
no País. Espera-se que, como nas versões anteriores, este estudo
42
seja útil tanto para o planejamento da localização de investimentos e da implantação de
serviços públicos e privados, que levem em consideração as relações espaciais que afetam
o seu funcionamento, quanto como quadro de referência para pesquisas de avaliação das
condições de acesso da população aos bens e serviços que lhe são disponibilizados.
Segundo o IBGE, os objetivos do Regic são: hierarquizar os centros urbanos, delimitar as
regiões de influência associadas aos centros urbanos, compreender a articulação entre
as cidades e subsidiar o planejamento e as decisões quanto à localização das atividades
econômicas de produção e consumo, das atividades culturais, dos serviços públicos, entre
tantas outras possibilidades (IBGE, 2018), como vemos na figura:
Para compreender melhor a regionalização de influências das cidades por meio dos
levantamentos do IBGE (2018), acesse o site do IBGE, na plataforma geográfica interativa
(PGI) e encontre diversos mapas para consulta, download e impressão, e na plataforma
interativa pode estar trabalhando com o aluno e desenvolvendo com eles os seus próprios
mapas.
43
Portanto, no Brasil, o conceito de região foi desenvolvido nos Departamentos
de Geografia e de Estudos Geográficos do IBGE, surgindo os estudos de tipologia e
divisão regional. Em 2018, como exemplo, o IBGE atualizou o quadro de referência da
rede urbana brasileira, chegando à quinta versão da pesquisa, que dá continuidade aos
trabalhos anteriores publicados em 1972, 1987, 2000 e 2008, com o aprimoramento dos
aportes teóricos e metodológicos, contribuindo ao entendimento da evolução histórica
do fenômeno urbano no país.
44
RESUMO DO TÓPICO 3
Neste tópico, você adquiriu certos aprendizados, como:
• O geógrafo Pedro Pinchas Geiger propôs uma divisão regional do país em três
Regiões Geoeconômicas ou Complexos Regionais, baseada nos processos históricos
de formação do território brasileiro.
• As divisões das regiões do Brasil realizadas pelo IBGE adotaram várias divisões em
1940, 1960, 1968, 1976, 1990, que se desenvolvem até os dias atuais.
• O IBGE realiza a regionalização de influências das cidades, sendo uma das pesquisas
denominada “Regiões de Influência das Cidades – REGIC”, que define a hierarquia dos
centros urbanos brasileiros e delimita as regiões de influência a eles associados.
45
AUTOATIVIDADE
1 Os geógrafos Milton Santos e Maria Laura Silveira elaboraram em 2001 uma proposta
de divisão regional baseada na difusão diferencial dos meios técnicos-científicos-
informacionais e nas heranças do passado, resultando no que se chamou de quatro
Brasis. Sobre o exposto, assinale com V ou F conforme seja verdadeiro ou falso o
que se diz a seguir sobre a regionalização dos Quatro Brasis, realizada pelo geografo
Milton Santos:
a) ( ) V – V – F – F.
b) ( ) F – F – V – V.
c) ( ) F – V – V – F.
d) ( ) V – F – V – F.
2 O autor Roberto Lobato Corrêa (1989) realizou a discussão sobre a realidade das
regiões no final da década de 1980 e início dos anos 1990, e apresentou o espaço
brasileiro em os Três Brasis, que refletia sobre os processos sociais e econômicos que
a partir da década de 1950 passam a atuar sobre a organização espacial brasileira, e
geraram uma nova regionalização e que se caracterizaram em três grandes regiões.
Sendo assim, delimite, no mapa a seguir, cada um dos Três Complexos Regionais,
desenvolvida por Corrêa.
46
3 Para Santos e Silveira (2001), as quatro regiões que denominaram “quatro brasis”,
são a Região Amazônica, Região Nordeste, Região Centro-Oeste, Região Concen-
trada (Sul-Sudeste). Considerando essa regionalização, associe os itens, utilizando o
código a seguir:
47
4 O Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) é uma instituição do Governo
Federal que reúne aspectos de ordem natural e humana para dividir o território
brasileiro em regiões. Assim, como o IBGE propõe a divisão regional do Brasil?
Justifique.
48
UNIDADE 1 TÓPICO 4 -
GEOGRAFIA, MODERNIDADE E PÓS-
MODERNIDADE
1 INTRODUÇÃO
Esses processos fazem parte das várias maneiras de compreensão daquilo que
chamamos de realidade, decorrente das dinâmicas social, econômica, política, cultural
e territorial, que impelem o debate em torno do próprio conhecimento.
49
Dentre as possíveis mudanças de cunho empírico e teórico observadas
atualmente podemos determinar a do espaço geográfico, que traz como condicionante
significativa a constatação de que os lugares se tornaram mais próximos uns dos outros
e que, cada vez mais, elementos de várias partes do mundo podem se materializar no
cotidiano dos lugares, inclusive dos mais empobrecidos e desprivilegiados, como os dos
países periféricos.
Apesar de este processo ter se acelerado nas últimas décadas, não há dúvidas
de que este é um processo histórico e, por isso, há possibilidades de o abordar a partir de
determinados momentos-chave, comparando-os. Para falar de modernidade e de pós-
modernidade, os momentos mais marcantes, de forma geral, são os dois que seguem.
a) Virada do século XIX para o século XX: participação importante em sua interpretação
(mudanças escalares) realizada pelo geógrafo francês Paul Vidal de la Blache.
b) Final do século XX: autores de matizes diversas, como Anthony Giddens, Zygmunt Bau-
man e Paul Virilio ajudaram a explicar as mudanças escalares demonstrando que elas
podem inclusive se confundir, a ponto, mesmo, de alguns decretarem o fim do espaço.
50
FIGURA 15 – ÓPERA DE SYDNEY (1973), REPRESENTANTE DO PÓS-MODERNISMO ARQUITETÔNICO
IMPORTANTE
Cabe a você, acadêmico, observar as diferenças e similitudes também a
partir de sua própria realidade e concepção de mundo.
51
Esses e outros acontecimentos ganharam velocidade assustadora durante o
século XX e, juntamente com a expansão capitalista, com o crescimento urbano e com
um competitivo poder de acumulação, moldaram uma sociedade de anseios, visões e
manifestações – artísticas, culturais, sociais e territoriais – ainda não vivenciadas até
então. De fato, essas transformações levaram a reflexões de que tudo era rápido demais
e, por essa e por outras razões elas seriam, também, transitórias (HARVEY, 1999).
Assim, a modernidade:
IMPORTANTE
Max Weber referiu-se ao Modernismo como o processo de
“desencantamento do mundo”, no qual o sujeito moderno
passou a despir-se de costumes e crenças baseados em tradições
aprendidas que se apoiavam nos pilares fixos das religiões.
52
parte do mundo, mas em contraposição a ele, sem dúvida, outras formas de viver, de ver
e de compreender a realidade foram sendo pensadas e criadas, colocando em dúvida
essas e outras concepções até então estabelecidas.
Para que o seu raciocínio seja lógico, neste momento do texto, apresentamos
uma linha do tempo para ajudá-lo na compreensão das passagens e/ou possíveis
rupturas no tempo histórico mundial.
53
político-culturais bastante profundas. Decorrente dessas transformações ou instigador
das mesmas pode-se citar o processo de industrialização e os avanços na técnica e
nas tecnologias que permitiram mudanças significativas, de cunho coletivo, a partir daí,
movidos também pelo ideal de progresso.
54
FIGURA 18 – ARTISTAS E INTELECTUAIS BRASILEIROS NA PRIMEIRA SEMANA DE ARTE MODERNA, EM
SÃO PAULO: COMO MÁRIO DE ANDRADE (ESCRITOR), ARTICULADOR DO EVENTO
INTERESSANTE
René Descartes foi uma das figuras mais proeminentes desse período.
Suas obras são vistas como fonte de inspiração e base de construção
da filosofia moderna. Em sua principal obra, Discurso do Método,
Descartes apresenta o que foi chamado de método cartesiano, o
ápice de sua filosofia, que estipulava o caminho a ser tomado para
a construção do conhecimento científico: a evidência, a análise, a
síntese e a enumeração.
55
A ciência geográfica, certamente, não poderia ficar imune a essas transforma-
ções e contradições. Os geógrafos francês e alemão, Paul Vidal de La Blache e Ale-
xander von Humboldt, respectivamente, são considerados os precursores das novas
concepções do pensamento geográfico a partir da modernidade.
DICA
Cabe destacar que a concepção da obra mais famosa e conhecida de
Alexander von Humboldt, o “Kosmos”, remete-se ao momento histórico-
científico iluminista e não aos efeitos da Modernidade. A obra sistematiza
as suas cosmografias entrelaçadas a métodos rigorosos e aos relatos de
suas viagens.
NOTA
A Geografia, assim, recolhe e examina as grandes questões que afligiam
a Europa da modernidade, cabendo-lhe [...] ensinar a leitura de mapas,
promover excursões de campo e, com efeito, fortalecer a identidade
nacional do cidadão francês. Nesse sentido, aos poucos a geografia
deixava de ser um catálogo toponímico e estatístico para assumir
posição estratégica nos projetos de desenvolvimento das nações e de
seus impérios. Seu objetivo consistia-se, entre outros, no mapeamento
dos recursos naturais, na análise da dinâmica da cidade e do urbano,
na observação e descrição da circulação de produtos, informações e
pessoas, na descrição da diversidade regional, na análise de conflitos
entre Estados territoriais, dentre outros (RIBEIRO, 2008).
56
Gomes (2007) contribui para a análise geográfica sobre a modernidade por
meio do estudo de seus dois polos epistemológicos, quais sejam, o de continuidade
ou de ruptura e o de racionalidade e contra racionalidade que, para o autor, mantêm o
movimento permanente da ciência e a renovação dos ritos do “novo”.
Foi a partir do fim da Segunda Guerra Mundial, assim, que as inovações tec-
nológicas, os investimentos financeiros e a indústria de massa se desenvolveram e
marcaram intensas e profundas alterações na sociedade e na forma pela qual os in-
divíduos passaram a encarar muitas de suas relações cotidianas, em especial, as de
consumo e cultura.
57
FIGURA 19 – TROCA DE BENS IMATERIAIS, INFORMAÇÃO E SERVIÇOS
MENTALIDADE RELATIVISTA
• Individualismo
58
• Pluralidade e diversidade
59
• Produção em série de cultura voltada para o consumo rápido
FONTE: <https://veja.abril.com.br/cultura/bilheterias-de-cinema-no-brasil-sofrem-queda-brutal-por-corona-
virus/>. Acesso em: 18 nov. 2021.
60
• Mistura entre realidade e imaginação – hiper-realismo
FONTE: <https://encenasaudemental.com/noticias/caos-pos-modernidade-mal-estar-existencial-e-saude-
-psiquica-dos-jovens/>. Acesso em: 18 nov. 2021.
61
• Incertezas e vazios existenciais
FONTE: <https://ijep.com.br/artigos/show/o-jovem-adulto-reflexoes-sobre-o-vazio-existencial-e-a-plenitu-
de-da-vida>. Acesso em: 18 nov. 2021.
62
para a acumulação flexível, a compressão do tempo-espaço formando a condição pós-
moderna, dentre outros. A condição pós-moderna apontada por Harvey (1999) permite
observar e analisar, geograficamente, as formas sociais e materiais em suas experiências
do espaço e do tempo, bem como compreender as transformações pelas quais ambas
têm passado.
Para este autor, desde os anos 1980, entramos na era do “hiper”: uma
hipermodernidade, representação da terceira fase do capitalismo, caracterizada pelo
hiperconsumo, aquele que ocorre de forma emocional, pelo hipernarcisismo ou pelo
hiperindividualismo, com preocupação, antes de tudo, com a saúde e a segurança, e por
paradoxos ainda mais visíveis que os da pós-modernidade.
63
Nessa lógica, os tempos hipermodernos caracterizam-se pela primazia do aqui-
agora, pela rápida expansão do consumo e da comunicação, pelo enfraquecimento das
normas e regras e, principalmente, pela individualização, que conforma a sociedade atual.
64
como obra mestra de suas análises, afirmando, também, que o que marca a modernidade
líquida são as sociedades de indivíduos, isto é, o processo intenso de individualização
que é diferente daquele de um século atrás.
DICA
Confira o seguinte vídeo: https://bit.ly/3IWp7hj.
65
5 DO ESPAÇO LISO AOS ESPAÇOS ESTRIADO E
MULTIDIMENSIONAL
Os conceitos de espaço liso e de espaço estriado foram criados pelos filósofos
Deleuze e Guattari (1997) como categorias de análises para pensar a produção de uma
determinada realidade social. Dentre os vários significados filosóficos deles, o que os
associa à leitura do espaço geográfico parte do princípio de que, ambos, dizem respeito à
condição de determinados territórios. O espaço liso ou nômade constitui-se, então, pela
formação de territórios marcados por fluxos e fluidos, sujeitos ao acaso, ao inesperado
e às forças e lutas de criação coletiva. O espaço estriado ou sedentário refere-se aos
estratos e forças instituídas pelos aparelhos de Estado.
Tudo isso fez com que os conceitos de espaço liso e de espaço estriado se
colocassem de diversas formas: pelas oposições simples entre ambos; pelas diferenças
complexas; pelas misturas de fato, pelas passagens de um a outro e, ainda, “pelas razões
da mistura que de modo algum são simétricas, e que fazem com que ora se passe do
liso ao estriado, ora do estriado ao liso, graças a movimentos inteiramente diferentes”
(DELEUZE; GUATTARI, 1997).
66
Modelo Tecnológico
Modelo Musical
Modelo Marítimo
67
Modelo Matemático
Modelo Físico
Várias noções, práticas e teóricas são apropriadas para definir uma arte
nômade e seus prolongamentos (bárbaros, góticos e modernos). Primeiramente,
trata-se de uma "visão aproximada", por oposição a visão distanciada; é também o
"espaço tátil", ou antes o "espaço háptico", por diferença ao espaço óptico. Háptico é
um termo melhor do que tátil, pois não opõe dois órgãos dos sentidos, porém deixa
supor que o próprio olho pode ter essa função que não é óptica O Liso nos parece
ao mesmo tempo o objeto por excelência de uma visão aproximada e o elemento de
um espaço háptico (que pode ser visual, auditivo, tanto quanto tátil). Ao contrário, o
Estriado remeteria a uma visão mais distante, e a um espaço mais óptico – mesmo
que o olho, por sua vez, não seja o único órgão a possuir essa capacidade. Ademais,
é sempre preciso corrigir por um coeficiente de transformação, onde as passagens
entre estriado e liso são a um só tempo necessárias e incertas e, por isso, tanto
mais perturbadoras. É a lei do quadro, ser feito de perto, ainda que seja visto de
longe, relativamente. A partir desse momento pode nascer a estriagem: o desenho,
os estratos, a terra, a "cabeçuda geometria", a "medida do mundo", as "camadas
geológicas", "tudo cai a prumo". Sob pena de que o estriado, por sua vez, desapareça
numa "catástrofe", em favor de um novo espaço liso, c de um outro espaço estriado
(DELEUZE; GUATTARI, 1997).
68
Estes modelos, apresentados por Deleuze e Guattari (1997), podem ser asso-
ciados a diversas áreas de conhecimento, inclusive à Geografia, pela leitura dos territó-
rios, como já apontado. Os autores foram os idealizadores do termo desterritorialização,
um dos mais trabalhados na Geografia brasileira e derivado do conceito de território/
territorialização, junto a seu par dialético, a reterritorialização, em especial por intermé-
dio de Rogerio Haesbaert, em suas várias obras.
69
FIGURA 29 – PAOLA DI BELLO, LA DISPARITION – MAPA SUBTERRÂNEO DO METRÔ DE PARIS (1994)
ATENÇÃO
Neste momento, pedimos a sua atenção, no sentido de observar como
esse processo acontece, retomando as duas figuras e o texto anterior. Por
fim, faz-se importante demonstrar, a partir de todo o processo exposto
no Tópico 4, vinculado aos conceitos de espaço e de território e de suas
derivações, que o espaço geográfico se revela e é multidimensional. O
que isso significa?
Vamos refletir.
70
Afirmar que o espaço geográfico é multidimensional significa dizer que este,
apesar de ser uma totalidade, como afirma Santos (1996), é constituído de diversas
dimensões ou partes, podendo ser elas materiais e imateriais, expressas em
objetividades e/ou em subjetividades (SOUZA, 2013).
71
FIGURA 31 – MULTIDIMENSIONALIDADES OU DIMENSÕES DO ESPAÇO GEOGRÁFICO
A figura foi produzida por Costa (2020) para demonstrar as múltiplas possibi-
lidades de constituição do espaço geográfico, a partir de suas diferentes (e comple-
mentares) dimensões. Trata-se da mesma análise observada nas figuras, com outro
formato. A seguir, detalhamos cada uma delas, contribuindo para sua compreensão,
discente, dos significados delas. Lembramos, mais uma vez, que é preciso observá-las
como um todo espacial, dividido em partes apenas para que você, discente, possa
abstrair suas características de forma mais direcionada.
72
Organização Mundial do Comércio – OMC, Organização das Nações Unidas – ONU), os
fluxos comerciais pelo mundo, as redes e os nós de poder e dominação econômica,
a Divisão Internacional do Trabalho – DIT, a globalização e as suas contradições, as
desigualdades na distribuição da renda e da riqueza em uma sociedade constituída
por classes sociais, a concentração de renda e seus efeitos perversos para a população
(especialmente para os que vivem em países periféricos) (COSTA, 2020).
73
A dimensão demográfica aborda a dinâmica da população, as migrações e
os motivos dos fluxos migratórios (internos e externos), os tipos de mobilidade humana
no espaço geográfico, a mobilidade do consumo, o processo de transição demográfica,
as taxas de natalidade e mortalidade, a mortalidade infantil e sua relação com a saúde
pública, os desafios existentes com o envelhecimento da população, a xenofobia, a
problemática dos refugiados, as barreiras para a imigração, as questões de gênero,
os quilombolas, os grupos indígenas, o movimento LGBT e os direitos humanos da
população (COSTA, 2020).
Para colaborar, seguem alguns tópicos que podem ajudá-lo a realizar esta tarefa!
74
Por fim, como perspectiva de resumir este momento de aprendizagem, pode-
se afirmar que as dimensões do espaço são resultantes da sobreposição e da inter-
relação do homem com a natureza, que nelas ganham novas possibilidades. São a
sobreposição e a inter-relação, sem dúvida, que devem ser identificadas e retomadas a
todo momento pelos geógrafos como você, como forma de releitura e de aprendizado.
75
LEITURA
COMPLEMENTAR
BRASIL: GLOBALIZAÇÃO E REGIONALIZAÇÃO
Introdução
76
Grande Albânia, como os Sérvios pretendem transformar a Iugoslávia em uma Grande
Sérvia. Embora os problemas da globalização e da regionalização sejam eminentemente
geográficos, eles estão profundamente ligados a origens históricas e antropológicas.
A questão da globalização
77
especiarias, na África, o comércio de negros escravos e, inicialmente, da malagueta
e do ouro, enquanto no Brasil se dedicaram, inicialmente, ao comércio da madeira de
tinta (AZEVEDO, 1947). No Brasil, eles evoluíram para a implantação da cultura da cana
de açúcar utilizando a força de trabalho indígena e depois a negra. O negro tornou-
se tão importante para a economia portuguesa, tanto na Europa como no Brasil, que
as relações entre o Brasil e a África se tornaram fundamentais à vida econômica e à
sociedade colonial (ALENCASTRO 2000). O Brasil tornou-se, após trezentos anos de
colonização, um país que é, ao mesmo tempo, europeu e africano, o que levou Gilberto
Freyre (1933) a admitir que o negro teria sido também um colonizador do país.
Segundo Caio Prado Júnior (1943), o sistema implantado no nosso território foi
tipicamente capitalista, voltado para a exploração de produtos agrícolas e em seguida
os minerais para o mercado europeu, baseado na grande propriedade da terra e na
exploração monocultora dos recursos aí existentes. Vê-se, no caso brasileiro, que já no
século XVI, começava-se a passar do colonialismo puro e simples para o imperialismo,
mas essa passagem de uma fase a outra foi lenta e não de forma abrupta e vertical,
com avanços e recuos, conforme o momento histórico favorável ou não à expansão
das forças do capital. Sabe-se que a evolução capitalista se dá com uma sucessão de
sucessos e de crises.
78
No Congo, os belgas chegaram na segunda metade do século XIX e estabe-
leceram o chamado Estado Livre, que era propriedade privada do rei Leopoldo II, até
1908, quando se tornou uma colônia da Bélgica. A disputa pela África, entre as nações
imperialistas da Europa, sobretudo entre a Inglaterra e a França, tornou-se tão acirrada
que foi necessária a realização do Congresso de Berlim, para determinar uma espécie
de partilha do continente, sem ouvir, naturalmente, os interesses dos povos africanos.
79
Na Oceania, os ingleses dominaram a Austrália e a Nova Zelândia, enquanto
muitas das ilhas habitadas por povos diversos, foram ocupadas por europeus, - ingleses,
franceses e alemães -, ou por japoneses e americanos, que nos fins do século XIX.
passaram a disputar espaços no Oceano Pacífico.
No início do século XX, via-se o mundo dividido entre os países imperialistas que
dominavam colônias e protetorados e controlavam países formalmente independentes.
destacavam-se entre os países imperialistas mais importantes, a Inglaterra e a França;
em imperialistas em expansão ― a Alemanha e a Itália -; em imperialistas em terras
contínuas a Rússia; em imperialistas médios a Bélgica e a Holanda; em imperialistas
em decadência a Espanha e Portugal; em países com forte vocação imperialista e em
expansão, os Estados Unidos e o Japão.
A disputa, chamada de “guerra fria”, deu a vitória aos Estados Unidos, com o
desmembramento da União Soviética e o abandono do socialismo real como forma de
governo, passando o primeiro a ser a grande potência mundial. Surgia, assim, o mundo
globalizado em que vivemos. Com a globalização, as grandes empresas multinacionais
passaram a fazer o controle da economia mundial, em função dos seus interesses
estabelecendo fusões e criando unidades financeiras gigantescas que não só controlam
a economia e o governo dos vários países, como se dedicam, sobretudo, à exploração
do capital financeiro.
80
A política de globalização tem provocado a queda da oferta de empregos, a
queda no padrão de qualidade do ensino, a volta de endemias e epidemias, na qualidade
de vida e no sentimento da nacionalidade; destruindo os padrões morais existentes,
ela estimula a corrupção, sobretudo nas esferas que detêm o poder, e a ânsia do
enriquecimento rápido. Este é o mundo globalizado previsto por Karl Marx, no Manifesto
Comunista de 1848, onde o capitalismo encara a superfície da Terra como um todo a ser
explorado e dominado.
81
Este fato pode provocar uma implosão social no país em que ele vive,
tornando-se uma espécie de germe de destruição ou de transformação do processo de
globalização. Isto porque, os modos de produção, como ensina Oskar Lange (1963), não
são estáticos e sempre o modo de produção dominante traz em si resíduos do modo
de produção anterior e, ao mesmo tempo, as sementes propícias ao surgimento de um
novo modo de produção.
Os processos de regionalização
82
porções setentrionais de Mato Grosso e Goiás, drenadas para o grande rio. No Nor-
deste, ao criar a SUDENE, estendeu a região até o norte de Minas Gerais. A criação
do Estado do Tocantins, em 1988, estabeleceu que ele passaria a pertencer à região
Norte, reduzindo o Centro-Oeste apenas aos estados de Mato Grosso, Mato Grosso do
Sul, Goiás e o Distrito Federal.
83
O impacto do Mercosul, sobretudo na região meridional, será muito grande, já
que grandes empresas transnacionais podem se instalar no Uruguai e expandir sua
influência na Argentina e no Brasil, criando problemas para os nacionais da área. Também
é possível que a produção de um país, pior localizado, ou que utiliza menos técnicas,
não tenha condições de competitividade com os países vizinhos. Como exemplo, temos
o caso do trigo da região Sul brasileira; será que ele tem condições de competitividade
com a produção do Pampa argentino? Qual será o impacto, no Sul do país, da formação
de um eixo de desenvolvimento São Paulo-Buenos Aires? E o que ocorrerá com regiões
tradicionalmente produtoras de açúcar, como o Noroeste da Argentina e o Nordeste
do Brasil, frente à concorrência de regiões melhor dotadas, como o Centro-Oeste e o
Sudeste brasileiros, onde numerosas usinas vêm sendo implantadas e outras ampliadas
(ANDRADE, 1994)? Até que ponto continuará a ocorrer a transferência de usinas das
áreas tradicionalmente produtoras para as áreas em expansão canavieira?
Pode-se admitir ainda uma série de tensões territoriais do Brasil com a Guiana
e o Suriname, em áreas praticamente despovoadas e, ao mesmo tempo, possíveis
confrontos com a França, na área fronteiriça do Amapá com a Guiana Francesa.
84
É bem verdade que na fase anterior à globalização já havia uma tendência a
alterações nas formações regionais, mas agora, com a evolução acelerada da tecnologia
e com a globalização do sistema de relações internacionais, o processo de transformação
regional pode e tende a acelerar-se, convocando os geógrafos e outros cientistas sociais
a maiores reflexões, a estudos mais detalhados.
85
RESUMO DO TÓPICO 4
Neste tópico, você adquiriu certos aprendizados, como:
86
AUTOATIVIDADE
1 “Vivemos em tempos líquidos. Nada foi feito para durar”. Essa é uma das frases mais
famosas do sociólogo polonês Zygmunt Bauman, falecido em janeiro de 2017, aos
91 anos. Com relação à passagem da modernidade à pós-modernidade, assinale a
alternativa CORRETA:
87
5 Deleuze e Guattari (1997) pensaram os conceitos de espaço liso e de espaço estriado,
criados pelos filósofos como categorias de análises para pensar a produção de uma
determinada realidade social. Dentre os vários significados filosóficos deles, o que
os associa à leitura do espaço geográfico parte do princípio de que ambos dizem
respeito à condição de determinados territórios. Portanto, sobre de que constitui-se
o espaço liso ou nômade, assinale a alternativa CORRETA:
88
REFERÊNCIAS
ADORNO, T. L. W.; HORKHEIMER, M. Dialética do esclarecimento. Tradução: Guido
Antônio de Almeida. Rio de Janeiro: Zahar, 1985.
ALLEN, J.; MASSEY, D.; COCHRANE, A. Rethinking the Region. Londres: Routledge, 1998.
ARRIGHI, G. O longo século XX: dinheiro, poder e as origens do nosso tempo. São Paulo:
Edunesp, 1996.
89
CORRÊA, R. L. Redes geográficas: reflexões sobre um tema persistente. In: Revista
Cidades, vol. 9, n. 16, 2012, p. 200-220.
COSTA, L. B. et al. Hoje tem consulta de quê? Projeto Espaço Liso. 31º SEURS. Seminário
de Extensão da Região Sul – SEURS. Florianópolis, 4 a 7 de agosto de 2013.
DELEUZE, G.; GUATTARI, F. O liso e o estriado. In: Mil Platôs. Capitalismo e Esquizofrenia.
São Paulo: Ed. 34, v. 5, 1997, p.179-214.
FERREIRA, G. Z. A linha e os pontos. Arquitextos, Ano 17, mar. 2017. Disponível em: https://
vitruvius.com.br/revistas/read/arquitextos/17.202/6483. Acesso em: 19 jan. 2022.
GREGORY, D. Postmodernism and the politics of social theory, environment and planing.
Society and Space. v. 5, n. 3, 245-248.1987. Disponível em: https://journals.sagepub.
com/doi/10.1068/d050245. Acesso em: 15 ago. 2021.
90
HAESBAERT, R. REGIÃO. Revista GEOgraphia, 21(45), 117-120, 2019. Disponível em:
https://doi.org/10.22409/GEOgraphia2019.v21i45.a28995. Acesso em: 18 nov. 2021.
91
SANTOS, B. de S. Pela mão de Alice: o social e político na pós-modernidade. Lisboa:
Almedina, 1994.
SANTOS, M.; SILVEIRA, M. L. O Brasil: território e sociedade no início do século XXI. Rio
de Janeiro: Record, 2001, pp. 23-54.
92
UNIDADE 2 —
A ORGANIZAÇÃO DO
ESPAÇO GEOGRÁFICO E A
GLOBALIZAÇÃO
OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM
A partir do estudo desta unidade, você deverá ser capaz de:
PLANO DE ESTUDOS
Esta unidade está dividida em quatro tópicos. No decorrer dela, você encontrará
autoatividades com o objetivo de reforçar o conteúdo apresentado.
CHAMADA
Preparado para ampliar seus conhecimentos? Respire e vamos em frente! Procure
um ambiente que facilite a concentração, assim absorverá melhor as informações.
93
CONFIRA
A TRILHA DA
UNIDADE 2!
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94
UNIDADE 2 TÓPICO 1 —
GLOBALIZAÇÃO (ASPECTOS TEÓRICOS E
CONSTRUÇÃO HISTÓRICA DO CONCEITO
NO ÂMBITO GEOGRÁFICO)
1 INTRODUÇÃO
Este tópico irá abordar os fundamentos da globalização como construção e
análise do espaço geográfico. Através das mudanças que se tem acerca dos conceitos
geográficos, temos que compreender como essas transformações se modificam
ao longo do tempo. Este tópico retrata as concepções acerca do espaço geográfico,
da breve história à margem do conceito, até suas novas concepções na sociedade
contemporânea, na forma de um novo espaço, ou seja, o ciberespaço.
95
Dentro do universo da globalização, as sociedades, ao longo do tempo, se
transformaram e estão particularmente mudando nas formas de organização espacial,
voltadas para os processos de produção, reprodução, transformação e apropriação do
ambiente construído, incluindo as infraestruturas e estruturas físicas, os serviços e
equipamentos urbanos e rurais, sua localização relativa ao território e às práticas sociais
aos quais se articulam e dos quais não podem ser separadas.
96
Com a evolução do pensamento acerca do espaço, também podemos relatar a
ideia de Hartshorne (1978), onde o espaço aparece na forma de um conceito abstrato,
em que os fenômenos estão relacionados com a área e a definição dela está relacionada
somente aos fenômenos que tal área contém. Para Hartshorne, o espaço é absoluto e
independente onde se caracteriza um conjunto que tem existência em si.
Corrêa (2005) determina que o espaço para Hartshorne aparece apenas como
um receptáculo que contém coisas. Para Braga (2007), Hartshorne fornece 3 definições
para o objetivo da geografia com relação ao espaço geográfico: a geografia tem por
objetivo proporcionar a descrição e a interpretação, de maneira precisa, ordenada e
racional, do caráter variável da superfície da terra; a geografia é a disciplina que procura
descrever e interpretar caráter variável da terra, de lugar a lugar, como o mundo do
homem e a geografia é o estudo que busca proporcionar a descrição cientifica da terra
como o mundo do homem.
Outro autor que tem grande relevância nos estudos acerca do espaço geográfico
é Henri Lefebvre, o qual entende que o espaço possui quatro abordagens, sendo fruto
das relações sociais de produção, em todas as suas totalidades. Lefebvre (1976) ressalta
suas concepções de espaços denominadas: O espaço como forma pura; espaço como
produto da sociedade; espaço como instrumento político e ideológico e o espaço
socialmente produzido, apropriado e transformado pela sociedade.
Santos (1978) coloca o espaço como uma estrutura que é organizada pelo
homem, onde ele é organizado como as demais estruturas sociais, uma estrutura
subordinada e subordinante. Avançando nesse pensamento, Santos (1982) nos diz que
o espaço é fruto da acumulação desigual de tempos. Santos (1997) ainda nos dá uma
grande contribuição acerca do espaço, em que relata que o espaço como uma instância
da sociedade, ao mesmo título que a instância econômica e a instância cultural-
ideológica. Como instância, ele contém e é por ele contida. Nesse sentido, Santos (1997)
demonstra que a essência do espaço é puramente social.
97
Os espaços assim requalificados atendem sobretudo aos interesses
dos atores hegemônicos da economia, da cultura e da política e
são incorporados plenamente às novas correntes mundiais. O meio
técnico-científico-informacional é a cara geográfica da globalização
(SANTOS, 1997, p. 191).
A partir desse breve histórico, se observa que o espaço geográfico vem mudando
de acordo com o período da história geográfica em que está inserido. Observando
esses aspectos, pode-se dizer que as ideias, principalmente de Lefebvre e Santos,
estão relacionadas com a evolução do meio técnico-científico-informacional. Podem
demonstrar como os estudos sobre o espaço vem tomando novos rumos e novas
concepções, até chegar ao seu ápice na sociedade contemporânea: a globalização.
Ainda que seja uma palavra nova, empregada para caracterizar um mundo
interligado, e a integração entre povos e territórios iniciou-se muito tempo atrás. As
sociedades estão em processo de transformação e globalização desde o início da
História, acelerado pela época dos descobrimentos, das Revoluções Industriais e
Tecnológicas e das Guerras, como vemos a seguir:
98
As pesquisas de paleontologia têm permitido mais e mais reconstituir os
inícios do ser humano sobre a face da terra. A pré-história é o período que abrange as
atividades do homem anteriores ao aparecimento da escrita, isto é, anteriores há 8.000
a.C., aproximadamente. Compreende os períodos da Idade da Pedra, em que os homens
usavam exclusivamente armas e instrumentos de pedra, sem recurso ao bronze e ao
ferro. Nesse uso da pedra, há aperfeiçoamento paulatino, de modo que se distinguem. Na
Idade Paleolítica, os mais antigos instrumentos de pedra têm cerca de 2.500.000 anos.
O homem, então, criou balas, martelos, machados de pedra; descobriu a produção do
fogo; vivia da caça de animais e da coleta de frutas e raízes que encontrava. Morava em
cavernas, abrigos naturais ou ao ar livre. Trata-se da Idade Mesolítica; a Idade Neolítica.
99
FIGURA 3 – REVOLUÇÕES INDUSTRIAIS E TECNOLÓGICAS
Vários autores analisam que as revoluções industriais são períodos que são
transformados por mudanças nas relações de trabalho que surgem através das novas
tecnologias, relatando que a humanidade já passou por quatro grandes períodos, sendo
estes denominados de Revoluções Industriais e Tecnológicas. Como vimos na Figura 3,
as quatro revoluções marcaram um período específico e apresentaram diversos avanços
em setores distintos.
✓ 1° Revolução
Ocorre na Europa Ocidental e nos Estados Unidos entre os anos de 1760 – 1840.
Nela, as tecnologias de combustão e produção em massa surgiram entre a produção
artesanal que vigorou por séculos, dando a configuração do que conhecemos hoje
como produção industrial.
✓ 2° Revolução
Ocorreu entre os anos 1850 – 1945, envolvendo o desenvolvimento das indústrias
química, elétrica, petróleo e aço, além dos progressos nos meios de transporte e de
comunicação.
✓ 3° Revolução
Ocorreu após o fim da Segunda Guerra Mundial, entre os anos de 1950 – 2010. Essa
Revolução ficou marcada pela substituição gradual da mecânica analógica pela
digital, gerando, assim, a criação de microcomputadores e a internet.
✓ 4° Revolução
Atualmente estamos passando pela quarta revolução, que alguns autores denomi-
nam de Revolução 4.0, que se utiliza das tecnologias criadas nas revoluções anterio-
res para gerar conhecimento e produtividade. Trata-se de uma confluência de prati-
camente todas as tecnologias já existentes.
100
Santos (2008, p. 33) apresenta que a globalização tem sua origem por um longo
processo de evolução da tecnologia e de seu uso, com formas espaciais específicas. A
sua propagação ocorre através da historicidade do espaço, classificado por ele por três
períodos históricos, cada um marcado por uma grande revolução:
101
Ao reafirmar o mesmo, a globalização econômica não consegue
impedir que aflorem os outros, resultando em conflitos que muitos
tentam dissimular como competitividade entre os Estados-nação
e/ou corporações internacionais, sejam financeiras ou voltadas à
produção. A globalização é fragmentação ao expressar no lugar
os particularismos étnicos, nacionais, religiosos e os excluídos dos
processos econômicos com objetivo de acumulação de riqueza ou
de fomentar o conflito (RIBEIRO, 2002, p. 2).
IMPORTANTE
Podemos entender a globalização como um processo em que os
fenômenos (economia, política, cultura, questão ambiental) passam a
ocorrer em uma escala global.
102
NOTA
Desenvolvido em 1835, pelo pintor e inventor Samuel Finley Breese
Morse, o Código Morse é um sistema binário de representação à
distância de números, letras e sinais gráficos, utilizando-se de sons
curtos e longos, além de pontos e traços para transmitir mensagens.
Esse sistema é composto por todas as letras do alfabeto e todos os
números. Os caracteres são representados por uma combinação
específica de pontos e traços, conforme exposto na tabela. Para
formar as palavras, basta realizar a combinação correta de símbolos.
As mensagens são transmitidas por meio e intervalos de som (apito)
ou luz (lanterna), podendo ser captadas por diversos aparelhos, como,
por exemplo, o radiotelégrafo e o telégrafo. Esse meio de comunicação
foi muito utilizado por marinheiros durante o século XIX. O primeiro
registro de resgate marítimo depois de pedido de socorro utilizando o
Código Morse ocorreu em 1899, no Estreito de Dover.
FONTE: <https://brasilescola.uol.com.br/geografia/codigo-morse.htm>.
Acesso em: 11 nov. 2021.
103
FIGURA 6 – LINHA DO TEMPO DA EVOLUÇÃO DA TECNOLOGIA A PARTIR DOS ANOS 2000 ATÉ 2009
O mundo da técnica promoveu uma maior fluidez e rapidez nas relações sociais,
mas uma fluidez que não é para todos, e sim para os agentes que têm a possibilidade de
utilizá-la. A “compartimentação dos territórios ganham esse novo ingrediente [...], tudo
hoje está compartimentado; incluindo toda a superfície do planeta” (SANTOS, 2000, p.
84). É dessa forma que se potencializa a força das grandes empresas em detrimento de
outras, que são forçadas em suas formas “de ser e agir” a adaptar-se ao “epicentro” das
empresas hegemônicas. “Com a globalização, o uso das técnicas disponíveis permite
a instalação de um dinheiro fluido, relativamente invisível, praticamente abstrato”
(SANTOS, 2000, p. 100).
104
Então, a partir da década de 1980, os processos informatizados se fundem
com as telecomunicações, e o processo de informatização passa a ser explorado
como um novo recurso. Com as inovações tecnológicas ao longo da década de 1980
e o surgimento de novas interfaces gráficas para esses sistemas computacionais, os
processos informatizados começam a se tornar parte do cotidiano da sociedade, e,
utilizando da sua fusão com os processos midiáticos, esses começam a ter mais alcance
em todo o planeta.
Com isso, a evolução, através das décadas desses meios informacionais digi-
tais, o novo mundo cibernético começa a ter um reflexo na própria sociedade, que o
criou e o mantém, em que a mercadoria muda de forma, deixa de ser física e se torna
virtual, e a matéria-prima não vem mais da apropriação da natureza pela sociedade,
mas da própria sociedade, uma vez que a informação e o conhecimento se tornam
essa matéria, sintetizadas e objetivas em uma nova concepção do tempo/espaço, ou
seja, o ciberespaço.
105
INTERESSANTE
CIBERESPAÇO: Termo que advém da ficção científica, criada por William
Gibson, em 1984 com a sua obra o Neuromante, onde o termo se
refere a um universo de redes digitais, o qual é tido como um campo
de batalha entre as multinacionais, gerando uma nova fronteira
econômica-cultural, em que predomina a velocidade da informação e
alguns podem entrar fisicamente neste espaço para viver aventuras dos
mais variados tipos. Observe que a ficção de Gibson, criada em 1984,
surge em um momento de ascensão dos sistemas digitais, mas não se
difere muito da própria realidade vivida pela sociedade contemporânea.
106
Nunes (2003), em sua conceituação do que seria o ciberespaço, diz que esse é
um espaço dinâmico de informações sígnias, que se entrelaçam de maneira recorrente,
remetendo-nos infinitamente para novas informações, dada sua natureza pluritextual.
Definição bem mais técnica e filosófica que adota o fator de descrição do ciberespaço,
dando-nos, em breves palavras, a sensação de que se trata de um espaço caracterizado
por redes informacionais (AZEVEDO, MONTEIRO, 2010).
A partir dessas novas formas de se ler o ciberespaço, observa-se que ele está
mais relacionado às concepções clássicas de espaço do que um novo meio, onde as
relações sociais que estão presentes em uma estrutura o legitimam como um novo
campo de estudos da geografia pós-moderna.
107
RESUMO DO TÓPICO 1
Neste tópico, você adquiriu certos aprendizados, como:
• O espaço vem tomando novos rumos e novas concepções, até chegar ao seu ápice
na sociedade contemporânea: a globalização.
• O mundo da técnica promoveu uma maior fluidez e rapidez nas relações sociais.
108
AUTOATIVIDADE
1 O processo de globalização, iniciado com as grandes navegações, atravessa os
séculos e apresenta-se hoje, em todo o mundo. Acerca da globalização, analise as
sentenças a seguir:
2 As revoluções industriais são períodos que são transformados por mudanças nas
relações de trabalho, que surgem através das novas tecnologias, relatando que a
humanidade já passou por quatro grandes períodos, denominados de Revoluções
Industriais e Tecnológicas. Assim, diante das transformações ocorridas, analise as
sentenças a seguir:
109
3 Observe a charge a seguir.
FONTE: VESENTINI, J. W. Geografia: o mundo em transição. São Paulo: Editora Ática, 2012. p.323.
A ilustração de Millôr Fernandes é uma crítica à ordem global atual. Além disso, ela faz
referência às fronteiras Norte e Sul se tornam metáforas frente à hegemonia capitalista
e a geopolítica contemporânea. Sobre a atual regionalização socioeconômica mundial,
Norte e Sul, correspondem, respectivamente, a qual classe de países?
a) ( ) Pobres e ricos.
b) ( ) Socialistas e capitalistas.
c) ( ) Desenvolvidos e subdesenvolvidos.
d) ( ) Situados acima da Linha do Equador e abaixo desse marco divisório.
110
UNIDADE 2 TÓPICO 2 -
A ORGANIZAÇÃO DO ESPAÇO MUNDIAL E
OS BLOCOS ECONÔMICOS
1 INTRODUÇÃO
Este tópico abordará a concepção da globalização representada pelo processo
de integração em escala mundial da economia de mercado, das relações, interações
humanas, relações econômicas, relações políticas e relações culturais entre as nações.
Por consequência, da velocidade do crescimento do processo crescente dos meios de
transporte e comunicação, como exemplo, temos as novas tecnologias de informação
e comunicação (TICs). Desta maneira, a globalização não é apenas um fenômeno de
natureza econômica, mas é também política, tecnológica, cultural. Trata-se de novos
territórios anexados ao sistema da globalização, se tornando um mercado global,
constituindo as nações em blocos econômicos.
Desse modo, vamos dividir o tópico em três partes: a primeira abordará as grandes
potências econômicas e o papel na organização mundial do espaço; a segunda parte
identificará o termo blocos econômicos do mundo globalizado e suas características; e,
por fim, na terceira parte, apresentaremos os principais blocos econômicos mundiais.
111
Há metáforas, bem como expressões descritivas e interpretativas
fundamentadas, que circulam combinadamente pela bibliografia
sobre a globalização: “economia-mundo”, “sistema-mundo”,
“shopping Center global”, “Disneylândia global”, “nova visão
internacional do trabalho”, “moeda global”, “cidade global”,
“capitalismo global”, “mundo sem fronteiras”, “tecnocosmo”, “planeta
terra”, ‘’desterritorialização”, “miniaturização”, “hegemonia global”, “fim
da geografia”, “fim da história” e outras mais. Em parte, cada uma
dessas e outras formulações abrem problemas específicos também
relevantes. Suscitam ângulos diversos de análise, priorizando
aspectos sociais, econômicos, políticos, geográficos, históricos,
políticos, demográficos, culturais, religiosos, linguísticos etc.
DICA
Indicamos para a leitura mais aprofundada do tema globalização
a revista DIGE – Direito Internacional e Globalização Econômica
(ISSN:2526-6284). Trata-se de uma publicação de acesso aberto
coordenada pelo Prof. Dr. Antônio Márcio da Cunha Guimarães,
Professor de Direito Internacional da Faculdade de Direito da PUC/SP.
A ideia principal é reunir estudos e trabalhos dos estudiosos sobre
o tema, participantes da PUC/SP, mas também e especialmente, de
outras universidades nacionais e estrangeiras, viabilizando assim a
difusão do conhecimento e a troca de informações acadêmicas entre
os diversos juristas do direito internacional.
112
uma transformação quantitativa e qualitativa do capitalismo além de
todas as fronteiras, subsumindo formal ou realmente todas as outras
formas de organização social e técnica do trabalho, da produção e
reprodução ampliada do capital. Toda a economia nacional, seja
qual for, torna-se província da economia global. O modo capitalista
de produção entra em uma época propriamente global, e não
apenas internacional ou multinacional. Assim, o mercado, as forças
produtivas, a nova divisão internacional do trabalho, a reprodução
ampliada do capital, desenvolvem se em escala mundial. Uma
globalização que progressiva e contraditoriamente, subsume real
ou formalmente outra e diversas formas de organização das forças
produtivas, envolvendo a produção material e espiritual.
113
Música: Geração Coca-Cola
Legião Urbana/Compositores: Renato Junior Manfredini
114
FIGURA 9 – QUESTIONAMENTO SOBRE A GLOBALIZAÇÃO
NOTA
“Fast foods”: exemplos da difusão de costumes e hábitos das culturas ocidentais.
Os números de 2019 apontam que só no Brasil o mercado de fast food
movimentou em torno de R$ 84 bilhões. Esse segmento tem atingido um
crescimento elevado ano após ano no país, em comparação com outros
países, que já têm o setor bem desenvolvido. A seguir, estão listadas as
seis maiores empresas de fast food do mundo. Todas elas são empresas
estadunidenses.
McDonalds.
Subway.
Starbucks.
KFC.
Chipotle Mexican.
Pizza Hut.
115
Tanto na música quanto na tirinha, fica evidente a existência de uma crítica social,
política e econômica. Além disso, elas demonstram o poder que a mídia exerce sobre
as pessoas, criando uma cultura de massa. As transformações econômicas mundiais
que ocorrem Pós-Segunda Guerra Mundial são fundamentais para entendermos
as dinâmicas de poder estabelecidas pelo grande capital e pelas grandes empresas
transnacionais e também a importância das crescentes instituições supranacionais,
que tem atuação neste jogo de interesses, tendo como exemplo o Fundo Monetário
Internacional (FMI), o Banco Mundial, entre outros.
Nesse sentindo, Machado e Matsushita (2019, p. 118) nos revelam como surge a
guerra na busca do controle dos mercadores consumidores e assim criam-se os blocos
econômicos:
116
(i) é natural que países com políticas econômicas semelhantes
avancem para alianças comerciais, buscando o comércio
multilateral e aumento natural da competitividade; (ii) a conversão
dos Estados Unidos da América ao regionalismo; (iii) o desmonte
do Bloco do Leste, fazendo com que os países que giravam sobre
a extinta União Soviética procurassem celebrar acordos de livre
comércio; e (iv) o chamado “efeito dominó do regionalismo”, com
o desejo de adesão dos países que ficam de fora da criação ou do
aprofundamento dos blocos econômicos regionais. O acordo de
maior relevância foi estabelecido em 1947. Chamado, em inglês,
GATT – General Agreement on Tariffs and Trade – ou Acordo
Geral sobre Tarifas e Comércio, foi estabelecido em 1947, visando
promover ou reduzir barreiras comerciais, visando obter vantagens
mútuas. Os fundadores foram África do Sul, Austrália, Bélgica,
Brasil, Canadá, Ceilão, Chile, China, Cuba, Checoslováquia, Estados
Unidos, França, Holanda, Índia, Líbano, Luxemburgo, Nova Zelândia,
Noruega, Paquistão, Reino Unido, Rodésia do Sul e Síria. Esse acordo
vigeu até 14 de abril de 1994, quando foi estabelecida a Organização
Mundial do Comércio –OMC.
117
NOTA
Para fixar o conteúdo vamos relembrar os tipos de blocos econômicos existentes:
União aduaneira: consiste numa zona de livre comércio com uma Tarifa Externa
Comum (TEC), que é uma taxa que encarece os produtos de países que não são do bloco.
Exemplos: Mercado Comum do Sul (Mercosul).
Zona de livre comércio: consiste na facilitação comercial com a eliminação de tarifas e
barreiras alfandegárias, a fim de garantir o desenvolvimento econômico e comercial.
Exemplo: Nafta (Tratado de Livre Comércio das Américas) e CAN (Comunidade
Andina).
Mercado comum: é um bloco econômico com elevado padrão de integração,
no qual há livre comércio e livre circulação de pessoas, informações,
capitais e bens. Nesses blocos as fronteiras físicas praticamente inexistem.
Exemplos: Mercado Comum do Sul (Mercosul).
União política e monetária: é uma integração ampla no campo econômico,
com o desenvolvimento do comércio (importação e exportação) e
do campo político – com políticas comuns adotadas entre os países
–, além da criação e adoção de uma moeda única pelos membros.
Exemplo: União Europeia.
Zonas de preferência tarifária: tipo de integração em que são
adotadas vantagens tarifárias apenas a alguns produtos, para
torná-los mais baratos para países não participantes do bloco.
Exemplo: Aladi (Associação Latino-Americana de Integração).
118
além de facilitar negócios entre os países integrantes. As políticas
da UE são voltadas para a livre circulação de pessoas, serviços, bens
e capital, bem como a legislação sobre assuntos relativos à justiça,
mantendo também as políticas relativas ao comércio (MACHADO;
MATSUSHITA, 2019, p. 122).
FONTE: <https://european-union.europa.eu/principles-countries-history/symbols/european-flag_pt>.
Acesso em: 11 nov. 2021.
O bloco da União Europeia é formado por sete instituições, que garantem sua
estrutura, conforme Machado e Matsushita (2019, p. 122) relatam:
119
O NAFTA – North American Free Trade Agreement, ou Tratado Norte-
Americano de Livre Comércio – entrou em vigor em 1º de janeiro de
1994, mas sua ideia foi concebida através do Acordo de Liberalização
Econômica assinado pelos Estados Unidos e pelo Canadá em 1988.
Apresenta-se como um acordo de livre comércio entre os Estados
Unidos e o Canadá, a princípio, depois com a associação do México
em 1993. Tendo o Chile como associado, é um instrumento de
integração das economias, visando o comércio regional da América
do Norte, com a proteção dos direitos de propriedade intelectual
e a proteção do trabalhador e do meio ambiente (MACHADO;
MATSUSHITA, 2019, p. 125).
Como vemos nas figuras, o bloco NAFTA, tem como objetivo o fim das barreiras
alfandegárias entre seus membros e a geração de oportunidades de investimentos, mas
com as leis internas de cada país permanecendo vigentes:
120
Tem como objetivos o livre acesso aos mercados com o estabeleci-
mento do fim das barreiras alfandegárias entre seus membros, di-
minuindo os custos comerciais e aumentando a exportação e com
isso maior competitividade, bem como a geração de oportunidades
de investimentos, com a garantia de direitos entre os três países
participantes do acordo. Ao contrário do que ocorre na União Euro-
peia, o NAFTA procura viabilizar o comércio do bloco sem a imposi-
ção de uma lei comum, e sem a criação de um órgão governamental
supranacional: as barreiras comerciais são diminuídas, mas as leis
internas permanecem vigentes, inclusive quanto a circulação de
pessoas entre os membros (MACHADO; MATSUSHITA, 2019, p. 125).
121
Tem como objetivo a promoção de uma área de desenvolvimento econômico e
comercial entre os membros. Hoje, a APEC representa metade do PIB e 40% do comércio
mundial, e foi formada para a livre troca de mercadorias até 2020.
DICA
Você pode enriquecer sua leitura sobre o tema abordado com a leitura do site
do Mercosul, (https://www.mercosur.int/pt-br/), onde você encontrará todas as
suas decisões e documentos realizados, bem como seus temas, relacionamentos
internos, política comercial, cartilhas e entre outros documentos muito importantes
relacionados ao bloco, como vemos na figura a seguir:
122
Bloco econômico surgido em 1991, foi criado por países da América
do Sul -Argentina, Brasil, Paraguai e Uruguai. Posteriormente,
outros ingressaram, sendo um deles a Venezuela, em 2012, e tem
como objetivo principal garantir a integração política, econômica e
social entre os países-membros. Atualmente, o bloco é formado por
cinco membros plenos, sendo eles a Argentina, o Brasil, o Uruguai,
o Paraguai e a Venezuela, estando esta última suspensa desde
dezembro de 2016 por não cumprir o compromisso de proteção
aos direitos humanos, e possui como associados o Chile, a Bolívia
(em processo de adesão desde 2015), a Colômbia, o Equador e o
Peru, tendo ainda como observadores Nova Zelândia e o México
(MACHADO; MATSUSHITA, 2019, p. 123).
O bloco tem quatro objetivos delimitados, que foram constituídos pelo Tratado
de Assunção para um mercado comum, que implica:
123
NOTA
Protocolos complementares do Mercosul em Vigência:
(i) Protocolo de Las Leñas, assinado em 1992, criando a similitude entre decisões judiciais
sem a necessidade de homologação das sentenças, aprovado pelo Brasil em 1995 e
promulgado pelo Decreto nº 2.067, de 1996;
(ii) Protocolo de Buenos Aires sobre Jurisdição Internacional em Matéria Contratual, em
1994, aprovado no Brasil em 1995 e promulgado através do Decreto nº 2095, em 1996;
(iii) Protocolo de Integração Educativa e Reconhecimento de Certificados, Títulos e Estudos
de Nível Primário, Médio e Técnico, em 1994, promulgado no Brasil através do Decreto nº
2 726, em 1998;
(iv) Protocolo de Ouro Preto, em 1994, que estabeleceu uma estrutura institucional ao
Mercosul, dando personalidade jurídica de direito internacional ao bloco, promulgado no
Brasil em 1996 através do Decreto nº 1901;
(v) Protocolo de Medidas Cautelares, em 1994, promulgado no Brasil em 1998 através do
Decreto nº 2626;
(vi) Protocolo de Assistência Jurídica Mútua em Assuntos Penais, em 1996, promulgado
pelo Brasil em 2000 através do Decreto nº 3468;
(vii) Protocolo de São Luis em Matéria de Responsabilidade Civil Emergente de Acidentes
de Trânsito entre os Estados Partes do Mercosul, em 1996, promulgado pelo Brasil em
2001 através do Decreto nº 3856;
(viii) Protocolo de Integração Educativa para a Formação de Recursos Humanos a Nível de
Pós-Graduação entre os Países Membros do Mercosul, em 1996, promulgado no Brasil
através do Decreto nº 2095;
(ix) Protocolo de Integração Cultural do Mercosul, em 1996, promulgado no Brasil através
do Decreto 3193;
(x) Protocolo de Integração Educacional para o Prosseguimento de Estudos de Pós-
Graduação nas Universidades dos Países Membros do Mercosul, em
1996, promulgado no Brasil por meio do Decreto nº 3194, em 1999;
(xi) Protocolo de Ushuaia, em 1998, promulgado no Brasil através do
Decreto nº 4210, em2002;
(xii) Protocolo de Olivos, em 2002, que aprimorou o Protocolo de Brasília,
de 1991,com a criação do Tribunal Arbitral Permanente de Revisão do
Mercosul. Foi promulgado pelo Brasil através do Decreto4982, em
2004;
(xiii) Protocolo de Assunção sobre o Compromisso com a
Promoção e Proteção dos direitos Humanos no Mercosul, em 2005,
promulgado no Brasil por meio do Decreto nº 7225, em 2010;
(xiv) Protocolo Constitutivo do Parlamento do Mercosul, em 2005,
promulgado no Brasil por meio do Decreto nº 6105, de 2007;
(xiv) Protocolo de Adesão da República Bolivariana de Venezuela
ao Mercosul, em 2006, promulgado no Brasil por meio do Decreto
3859, de 2012 (MACHADO; MATSUSHITA, 2019, p. 124).
124
Independentes –, CAFTA-DR – Central American Free Trade Agreement – Dominican
Republic. O Congresso norte-americano aprovou o Cafta-DR (Acordo de Livre Comércio
da América Central e República Dominicana), Pacto Andino, Sadc –Comunidade da
África Meridional para o Desenvolvimento –, Unasul e a União Africana, entre outros.
IMPORTANTE
Para compreender sobre a globalização e seus efeitos adversos, leia a reportagem a
seguir, escrita por Manuel Cambeses Júnior, no Site “Monitor Mercantil”.
“O fenômeno da globalização é algo relativamente recente no acontecer mundial. Não
existe dúvida de que a alta tecnologia, as comunicações instantâneas e a imbricação da
economia em escala planetária conduzem a fazer do planeta uma unidade mais entrelaçada,
complexa e inter-relacionada. Também é fato significativo que tal acontecimento tem
efeitos em todas as áreas da vida social e, sensivelmente, na economia. É fora de dúvida
que a globalização em si mesma é um progresso do qual nenhum país poderá escapar
e algo irreversível. Porém, ao aceitarmos simplesmente essa constatação, não podemos
admitir, necessariamente, que todas as suas consequências devam projetar-se em uma
só direção, a qual, até agora, parece beneficiar basicamente a alguns países e prejudicar
a muitos outros. Na globalização, existem ganhadores e perdedores porque, entre os
países desenvolvidos, se está criando uma mentalidade em muitos sentidos excludente,
e que não interpreta todos os fatores que entram no tabuleiro desse intrincado jogo.
Tais fatos podem produzir desequilíbrios internacionais capazes de conduzir o mundo
a dificuldades maiores do que as que se conheceram durante o período da Guerra Fria.
É tremenda ingenuidade pensar que o final da Guerra Fria abriu as perspectivas de um
paraíso para a humanidade. Pelo contrário, estão sendo geradas intensas contradições
que poderão multiplicar os conflitos no alvorecer deste século e tornar mais difícil a
vida para grande parte do gênero humano. Por esse motivo, é necessário que os países
em desenvolvimento tenham claras as noções de interesse nacional. Em muitos casos
pode haver tendência a uma "globalização ingênua" e a um "internacionalismo-irmão".
Essa posição se alimenta na ideia de que existe uma espécie de progresso linear que,
automaticamente, produzirá benefícios pelo simples fato de inscrever-se no "clube da
globalização". Esquece-se, dessa maneira, que nesse clube existem membros de primeira
classe, vários de segunda, muitos da terceira e inúmeros outros na lista de espera. A
"globalização ingênua" pode conduzir-nos a erros fundamentais. O primeiro deles é o de
prescindir do interesse nacional e do papel que os Estados e os governos nacionais têm
que assumir para defender os interesses dos países que representam. É muito bom o
diálogo, as negociações, as aberturas de mercado e todos os demais benefícios que produz
o desenvolvimento tecnológico e comunicacional. Porém, dentro da complexa arquitetura
desse jogo, temos alguns interesses a defender, uma posição a assumir e uma atitude a
vigiar constantemente. Há alguns anos, li um livro que me intrigou profundamente. Está
escrito por um homem sobejamente conhecido no cenário internacional, Kenichi Ohmae,
cujo título é “The End of the Nation State”. É um livro inteligente, porém seus delineamentos
e conclusões poderiam nos levar a admitir postulados que conduziriam ao prejuízo dos
125
interesses dos povos e das nações menos desenvolvidas. Os argumentos são muito bons
para defender a posição dos países poderosos, porém inconsistentes para assumir a
tribuna dos menos aquinhoados. Um dos argumentos que agora se costuma alardear é
de que os Estados são apenas referências cartográficas dentro da estrutura geopolítica
do planeta. Isso, em termos técnicos e comunicacionais, pode ser considerado correto.
Porém, a realidade humana é outra. Os Estados estão formados por seres humanos que
deveriam estar representados e encarnados por eles, mas sabemos que, muitas vezes, não
é assim que as coisas ocorrem. Entretanto, é importante enfatizar essa dimensão histórica
do Estado nacional: um elo entre as pessoas e a ordem política. Existe uma tecnocracia
apátrida que voa sobre as fronteiras e possui fórmulas sintéticas e paradigmáticas para
todas as realidades nacionais. Grande parte da crise financeira de hoje, que acomete os
Estados Unidos e vários países da Europa, se deve a que as tecnocracias, particularmente
aquelas que influem nas instituições econômicas e financeiras internacionais, não
possuem pensamento histórico das realidades que manejam. Administram fórmulas,
abstrações e jogam com os números e os deslocamentos financeiros sem ter em conta
que a base de toda essa circulação financeira internacional está apoiada em complexas
comunidades nacionais que têm seu direito a viver, suas expectativas ante o mundo, uma
cultura e uma história que defender e preservar e uma lógica aspiração à dignidade e à
reciprocidade. Com a crise estadunidense, ficou bem evidenciado que os mecanismos
financeiros não se autorregulam, como ingenuamente alguns vinham pretendendo; que
neles intervêm fatores psicológicos e políticos e que, ao final das contas, os árbitros não
podem ser os interesses internacionais e sim os povos que elegem os seus governantes.
Outro efeito da globalização ingenuamente aceito é o que supõe que o fato de proclamar
a "adesão ao clube" pressupõe, automaticamente, a conquista do bem-estar. Para
globalizar-se, é necessário desenvolver certas capacidades nacionais, a formação de
recursos humanos, as infraestruturas básicas, a instantaneidade nas comunicações e todo
um sistema cultural que lhe apoie e proporcione sustentação aos efeitos da globalização.
Para criar competição e competência, é imprescindível preparar as pessoas, administrar
inteligentemente a formação do capital humano e dar-lhe mística, entusiasmo e estímulo
para que entenda que a riqueza se alicerça, fundamentalmente, na capacidade das
pessoas. Para ser competitivo, é preciso ser capaz e, para atingir a capacidade, é necessário
preparar-se e assumir o objetivo fundamental da educação, em bases totalmente distintas
das que prevalecem na atualidade. Porém, também existem requisitos políticos para a
globalização. O primeiro de todos é que os governos têm que ser representativos da
vontade da sociedade. Isto supõe controle efetivo, por parte da opinião pública e do eleitor,
do que fazem os governos, e um contrato social claramente definido para que aqueles
que aspiram a falar em nome das unidades nacionais que entram no jogo global, possam
ser, realmente, legítimos representantes dos povos. A globalização
ingênua esquece a maior parte desses componentes. É necessária
a [eventual] privatização de alguns segmentos parasitários do setor
público, mas isso tem que estar orientado a que as iniciativas
e os negócios que se empreendam em nome dos países e das
nações beneficiem o interesse geral e não determinados setores
excludentes. A conclusão é que a globalização sem a democracia
não funcionará com eficácia, e para que haja bons governos
tem que existir mecanismos de responsabilidade política
ante o eleitorado e ante o povo que esses governos
representam. Isso quer dizer que a liberdade e a
amplitude dos mercados estão somente garantidas pela
liberdade e dignidade democrática dos povos”.
FONTE: <https://monitormercantil.com.br/globalizauuo-e-
efeitos-adversos/>. Acesso em: 11 nov. 2021.
126
RESUMO DO TÓPICO 2
Neste tópico, você adquiriu certos aprendizados, como:
127
AUTOATIVIDADE
1 No processo de globalização, países de grande parte do mundo se organizaram em
grupos, formando blocos econômicos com o objetivo de protegerem suas economias.
Sobre a globalização nesse contexto histórico, classifique V para as sentenças
verdadeiras e F para as falsas:
128
Assinale a alternativa CORRETA:
a) ( ) As sentenças I, II e IV estão corretas.
b) ( ) As sentenças III e IV estão corretas.
c) ( ) As sentenças I, II e III estão corretas.
d) ( ) As sentenças II, III e IV estão corretas.
a) ( ) MERCOSUL.
b) ( ) União Europeia.
c) ( ) OPEP.
d) ( ) BRICS.
e) ( ) APEC.
129
130
UNIDADE 2 TÓPICO 3 -
REFLEXÕES SOBRE AS REDES E FLUXOS
NO ESPAÇO MUNDIAL
1 INTRODUÇÃO
131
Para entender as redes e fluxos, devemos entender o espaço, que pode ser lido
via conceito de território. Logo, no que concerne à concepção de território, aponta-se
que esta categoria é apreendida como um espaço definido por e a partir de relações
de poder, que têm origem nas apropriações e usos dos substratos físicos espaciais,
mas que se materializam nas relações sociais presentes nessa espacialidade, desde sua
gênese a sua gestão (SOUZA, 1995).
Raffestin (1993, p. 7-8) nos esclarece, o território poderia ser nada mais que:
[...] o produto dos atores sociais. São esses atores que produzem
o território, partindo da realidade inicial dada, que é o espaço. Há,
portanto, um "processo" do território, quando se manifestam todas
as espécies de relações de poder, que se traduzem por malhas, redes
e centralidades cuja permanência é variável, mas que constituem
invariáveis na qualidade de categorias obrigatórias. O território é
também um produto "consumido", ou, se preferirmos, um produto
vivenciado por aqueles mesmos personagens que, sem haverem
participado de sua elaboração, o utilizam como meio. É então todo
o problema da territorialidade que intervém permitindo verificar o
caráter simétrico ou dissimétrico das relações de poder.
132
o estudo do território, agora compreendido não só como capacidade do Estado, mas
também exercido por atores que emergem da população. O espaço geográfico atua
como substrato, ou seja, pré-existente ao território, como podemos observar a seguir:
DICA
Acione seus professores, colegas e acesse leituras sobre o tema para
aprofundar seus argumentos sobre o tema.
133
Nessa linha, Trindade (2009, p. 13) aponta como um aspecto importante sobre as
transformações ocorridas no mundo nas últimas décadas, o espaço geográfico assume
diferentes feições complexas, como a técnica, ciência e informação.
1. Rede ferroviária
134
É constituída por uma malha de trilhos que recobre uma dada área. Ao longo
dos trilhos existem pequenas paradas nas quais nem todos os trens param, estações
com paradas obrigatórias, porém breves, estações maiores, com paradas mais longas,
segundo o movimento de passageiros, estações-entroncamento, onde cruzam-se
duas ou mais linhas férreas, e que apresentam intenso movimento de passageiros
e mercadorias, e uma estação-terminal, que abriga a sede ou gerência regional da
empresa. Se este tipo de rede geográfica se tornou inexpressiva em muitos países,
como no Brasil, sua existência, no entanto, é muito significativa na Europa.
2. Bacia leiteira
Uma bacia leiteira constitui outro exemplo de rede geográfica. O foco da rede
é, em geral, um centro metropolitano, local de consumo final e de redistribuição de
derivados do leite para a sua hinterlândia. A rede tem como pontos iniciais as fazendas
produtoras do leite que é encaminhado regularmente para as usinas de pasteurização,
numerosas e localizadas, via de regra, em pequenos centros. Algumas, em menor
número, encontram-se em cidades maiores, onde se processam o empacotamento do
leite e a produção de seus inúmeros derivados, como cremes, iogurtes, leite em pó etc.
Esses produtos são encaminhados à metrópole e aos centros maiores. Outras unidades
são vinculadas à rede e diversos técnicos prestam assistência aos produtores. Esta rede,
por sua vez, vincula-se a outras, de produção de embalagens e de bens intermediários,
bem como às redes bancárias. A bacia leiteira da Nestlé é um excelente exemplo de rede
geográfica de expressão nacional (e global).
135
INTERESSANTE
KitKat tem um histórico de melhoria da sustentabilidade de sua cadeia de fornecimento
que remonta a mais de uma década. Em 2009, a Nestlé lançou o Nestlé Cocoa Plan, que
procura melhorar a vida nas fazendas e a qualidade dos grãos de cacau. Em 2016, a KitKat
se tornou a primeira marca de chocolates global a utilizar 100% de cacau com certificado
de sustentabilidade e rastreável, fornecido através do programa. De acordo com o Plano,
a Nestlé plantou mais de 15 milhões de árvores de cacau e investiu 300 milhões de francos
suíços na sustentabilidade do cacau.
Nestlé Cocoa Plan é o programa de sustentabilidade para a cadeia do cacau. No Brasil,
através de parceiros implementadores, atua diretamente com mais de mil produtores
participantes, nos estados da Bahia, Espírito Santo e Pará. A rastreabilidade passa
por um constante processo de evolução dentro do programa Nestlé Cocoa Plan, que
tem o objetivo de garantir a produção responsável, combinando o desenvolvimento
sustentável na cadeia produtiva do cacau, com ênfase na produtividade e rentabilidade
das lavouras, o atendimento a critérios de qualidade e a conformidade social e ambiental
dos fornecedores. Podem participar produtores, cooperativas e parceiros agrícolas, que
recebem treinamentos em boas práticas agrícolas e recomendações para adequar as
suas propriedades dentro dos parâmetros estabelecidos pelo programa.
Atualmente, são 1100 propriedades rurais participantes, que estão
sendo geomonitoradas com o objetivo confirmar as boas práticas
realizadas pelos produtores. Para se adequarem ao programa, os
participantes recebem visitas anuais de agrônomos, que verificam
o atendimento aos critérios e fornecem orientações sobre como se
adaptarem para atender a esses quesitos e estimular boas práticas
agrícolas. Por meio de parceiros implementadores, a Nestlé adquire
o cacau com certificação Nestlé Cocoa Plan, e que tem como
sustentação uma metodologia pautada por um código de conduta
e reforçada por meio de inspeções com equipe própria e auditoria
independente.
FONTE: <https://corporativo.nestle.com.br/regeneracao/kitkat-
tem-cacau-sustentavel>. Acesso em: 11 nov. 2021.
136
O debate pode ser empreendido por meio que a muito a se estudar sobre as
redes geográficas em escala mundial e, sendo um tema interessante de investigação,
que nos faz refletir sobre os processos, funções, nós e refuncionalização.
DICA
Para complementar seu aprendizado, faça a leitura do artigo intitulado: Um vírus com DNA
da globalização: o espectro da perversidade, do autor Denis Castilho, que traz uma análise
da pandemia do Covid-19 e as redes, que apresenta a figura a seguir, com a sobreposição
de dois mapas, o primeiro disponibilizado pelo Flightradar24, site que rastreia o transporte
aéreo mundial, e o segundo pela plataforma da Universidade Johns Hopkins, que atualiza
em tempo real o número de casos confirmados de Covid-19, revelando a geografia do
novo coronavírus.
137
FLUXO AÉREO MUNDIAL (DEZ. 2019) E CASOS CONFIRMADOS DE COVID-19 (MAR. 2020)
FONTE: <http://journals.openedition.org/espacoeconomia/10332>.
Acesso em: 31 jan. 2022.
138
RESUMO DO TÓPICO 3
Neste tópico, você adquiriu certos aprendizados, como:
• Através das redes, fluxos de todas as naturezas circulam; fluxos materiais e imateriais,
geralmente relacionados àquelas inovações técnico-informacionais.
139
AUTOATIVIDADE
1 No âmbito da Geografia, algumas transformações exigiram um esforço ampliado
na medida em que os efeitos da globalização provocaram mudanças significativas
nos lugares, que passaram a contar, cada vez mais intensamente, com a influência
de determinantes exógenos portadores de novas lógicas territoriais que tendem a
alterar significativamente os conteúdos das identidades culturais locais. Todas essas
transformações foram possibilitadas por intermédio das redes, através das quais
fluxos de todas as naturezas circulam; fluxos materiais e imateriais geralmente
relacionados àquelas inovações técnico informacionais. Atualmente, as redes são
indispensáveis à análise e explicação do espaço geográfico, instrumento analítico
através do qual as relações mundo-lugar adquirem maior inteligibilidade (TRINDADE,
2009, p. 12). A globalização provocou profundas mudanças nos sistemas globais.
Sobre o exposto, assinale a alternativa CORRETA:
140
a) ( ) Melhoria da qualidade de vida das populações periféricas.
b) ( ) Acentuação da desigualdade social entre diferentes regiões.
c) ( ) Utilização de mão de obra com baixa qualificação profissional.
d) ( ) Diminuição dos impactos ambientais gerados no globo.
141
142
UNIDADE 2 TÓPICO 4 -
O TRABALHO NA PRODUÇÃO DO ESPAÇO
MUNDIAL
1 INTRODUÇÃO
Esse ditame organizacional, externo a cada nação, e que impõe, dentro de cada
país, novas formas de convivência, termina por redefinir, redimensionar e reorganizar tudo,
até mesmo o espaço. Isso, porém, não significa que haja uma submissão automática dos
diversos níveis inferiores de organização aos respectivos níveis superiores. É, também,
novo na organização territorial o fato de que, graças à universalização de tantos tipos de
troca, os níveis inferiores de organização passem a ter um papel relevante na redefinição
dos níveis superiores, da nação ao universo. Em terceiro lugar, ressalta-se o papel das
diversas formas de circulação nessa reorganização da divisão internacional do trabalho,
sobretudo no que toca à reorganização espacial. A circulação já não se define como
antes, apenas pelos transportes e pelas comunicações. Já que um novo sistema se
levanta e ganha um papel reitor nas relações sociais, isto é, o subsistema da regulação,
sem o qual já não se podem entender os fenómenos espaciais (SANTOS, 1994).
143
Cada sociedade desenvolveu sua forma de trabalho e produção por meio do seu
desenvolvimento cultural e as condições naturais oferecidas pela sua natureza e terri-
tório. Portanto, as atividades de comércio foram potencializadas com as necessidades
de matéria-prima, mão de obra e do mercado consumidor.
144
É necessário entender que todo o processo da globalização é composto por
diversas estruturas que estão interligadas de modo dinâmico. Assim, as transnacionais,
como exemplo, são as corporações industriais, comerciais e de prestação de serviços,
que iram atuar em distintos territórios dispersos pelo mundo, ultrapassando os limites
territoriais dos países de origem das empresas. Vejamos algumas empresas que
possuem grandes influências mundiais, sendo que as mais consumidas no mundo são
controladas pelas mesmas empresas.
145
que constrói a si mesmo e toda sua realidade. Os resultados destas transformações
trazidas pela globalização têm caráter ainda mais devastador para os trabalhadores com
menor grau de escolaridade e instrução ou que estão à margem do mercado formal de
trabalho. Veja a figura a seguir:
A boa notícia é que dispomos dos meios para enfrentar esses problemas,
desde que tenhamos a vontade de fazê-lo. A implementação de reformas é
um processo politicamente difícil, mas os ganhos em termos de crescimento e
produtividade valem o esforço.
146
Políticas de combate à desigualdade
Segundo, as políticas de gastos sociais são cada vez mais importantes para
combater a desigualdade. Quando bem aplicadas, conseguem cumprir um papel
fundamental na mitigação da desigualdade de renda e de seus efeitos nocivos
sobre a igualdade de oportunidades e a coesão social.
147
Terceiro, reformar a estrutura da economia poderia apoiar os esforços para
combater a desigualdade ao reduzir os custos do ajuste, minimizar as disparidades
regionais e preparar os trabalhadores para ocupar um número crescente de
empregos verdes.
148
A implementação na prática
149
Naturalmente, em se tratando de gastos sociais, não existe uma solução que
se aplique a todos os casos. Os países têm preferências distintas, enfrentam desafios
variados e aspiram a coisas diferentes. Contudo, se trabalharmos juntos, é mais pro-
vável que façamos as perguntas certas e, assim, encontremos as respostas certas.
FONTE: <https://www.imf.org/pt/News/Articles/2020/01/07/blog-reduce-inequality-to-create-oppor-
tunity>. Acesso em: 11 nov. 2021.
3 AS TRANSFORMAÇÕES TECNOLÓGICAS E OS
IMPACTOS NO MUNDO DO TRABALHO
As transformações tecnológicas ocorridas nas últimas décadas, especialmente
nos campos da informática e das telecomunicações, provocaram mudanças nas formas
de produzir e consumir, sendo assim, vivemos em um mundo onde as relações entre a
sociedade e o espaço são medidas, cada vez mais, pela tecnologia da informação.
150
FIGURA 21 – AS DIFERENTES EXPANSÕES TECNOLÓGICAS
151
É aí que se situa a base da mundialização de todos os indivíduos e
de todos os lugares. O mundo oferece as possibilidades: e o lugar
oferece as ocasiões. Não se trata aqui de um "exército de reserva" de
lugares, senão da produção raciocinada de um espaço, no qual cada
fração do território é chamada a revestir características específicas
em função dos atores hegemónicos, cuja eficácia depende doravante
de uma produtividade espacial, fruto de um ordenamento intencional
e específico (SANTOS, 1994, p. 24).
Milton Santos (1994) vai discutir que o processo global constitui o estágio
supremo da internacionalização, uma nova fase na história humana ou conjunto de novas
possibilidades concretas que modificam equilíbrios preexistentes e procuram impor sua
lei. Nesse sentido, relata que a globalização se exprime por meio de funcionalização, e
reflete no espaço geográfico. Salienta que, historicamente, tentou-se unificar o mundo
e não unir. Atualmente constrói-se um mundo baseado num sistema de relações
hierárquicas e para a perpetuação de um subsistema de dominação sobre outros
subsistemas, beneficiando poucos. Destaca a busca pela dominação e competição
no mercado mundial, com atores mundiais, instituições supranacionais, organizações
internacionais, universidades mundiais e igrejas dissolventes.
DICA
Através das discussões geradas pelo questionamento, para compreender melhor esses
conhecimentos adquiridos, indicamos que assista aos documentários do professor
geógrafo Milton Santos:
Vídeo 2: Por uma outra globalização, Milton Santos. Disponível em: https://
www.youtube.com/watch?v=sdSwEezXrAk. Acesso em: 3 nov. 2021.
152
Sinopse: O vídeo traz uma importante visão diferenciada de globalização, como
perversidade e como abandono social, em nome da reprodução do capital. No filme,
Milton Santos ressalta as três faces da globalização: A primeira seria o mundo tal como
nos fazem vê-lo: a globalização como fábula; a segunda seria o mundo tal como ele é: a
globalização como perversidade; e a terceira, o mundo tal como ele pode ser: uma outra
globalização. Duração: 55 min e 15 seg.
153
Ao pensar o uso do território, pelo cenário do meio técnico-científico informa-
cional e da pós-modernidade, as redes se tornam absolutas, surgindo com intencio-
nalidades específicas, sendo fundamentais para a configuração da economia mundial.
Nelas, a circulação e os fluxos são mais importantes que a produção. Portanto, as redes
técnicas atuais necessitam de fluidez. Neste intento, são criados fixos para facilitação
dos fluxos. As redes são tanto globais, quanto locais. Assim, elas propiciam a ação do
global sobre o local e vice-versa. Na atual divisão territorial do trabalho, privilegiam al-
guns atores, conferindo-lhes poder. Elas possuem expressivo valor, pois superam os
obstáculos físicos, integrando diferentes espaços. São importantes ao atual estágio do
capitalismo, visto que a produção carece de circulação (SANTOS, 1994).
154
LEITURA
COMPLEMENTAR
MEIO TÉCNICO-CIENTÍFICO-INFORMACIONAL E AS CENTRAIS DE
ABASTECIMENTO DE ALIMENTOS NO BRASIL
Introdução
155
Para o desenvolvimento do trabalho foi utilizada a concepção de meio técnico
científico-informacional, desenvolvida por Milton Santos a partir dos anos 1980.
156
produtividade. O quarto período, denominado de industrial (1870-1945), é marcado
pelo surgimento de novas tecnologias e é formado por uma nova organização, já que
corresponde à segunda revolução industrial, onde nele ocorre a dissolução entre
consumo e produção.
157
O quinto período, intitulado de período tecnológico, “é o período da grande
indústria e do capitalismo das grandes corporações” (SANTOS, 1985, p. 27), sua
demarcação se dá através da tecnologia, que está acima de todos os outros elementos
que constituem o sistema.
A agropecuária brasileira, até os anos 1950, era arcaica, com elevado nível de
concentração da propriedade da terra, aspecto que se estende até os dias atuais; outra
característica era o forte vínculo com a economia agrário-exportadora e baixa eficiência
na produção dos alimentos necessários ao abastecimento interno. A produção para o
mercado interno passou a se tornar mais significativa somente depois da grande crise
de 1929 e as inovações nos sistemas de produção da agropecuária nacional passaram
a ser introduzidas em algumas áreas das regiões Sul e Sudeste do país a partir dos
anos 1950, tornando-se expressivas no decorrer dos 1960 e 1970, com o forte estímulo
oficial para que o pacote tecnológico da chamada “revolução verde” fosse incorporado,
internalizando-se, assim, o chamado Complexo Agroindustrial (CAI).
Até o início dos anos 1960, as crises alimentares eram recorrentes, problema que
se agravou nos anos 1950 com a intensificação dos processos de industrialização e ur-
banização. Pelo menos três grandes crises de abastecimento levaram o Estado brasileiro
a adotar medidas visando à reestruturação: as crises alimentares de 1910, 1937 e 1962.
158
governo federal em 1937, com o advento da Comissão Reguladora de Tabelamento, que
investigava os mercados alimentícios, analisando preços, limitando lucros de atacadistas
e varejistas e fiscalizando qualidade e quantidade da produção fornecida.
Serra (2013) salienta que a crise econômica dos anos 1930 teve grande im-
pacto no comércio mundial, levando a seu aniquilamento, bem como o declínio da
oligarquia agrária brasileira, já que o café, principal produto brasileiro de exportação,
ficou sem mercado.
No período entre o fim da Segunda Guerra Mundial e o começo dos anos 1970,
conforme Hespanhol (2010), ocorreu a redução da entrada de investimentos privados
no país, em razão do impacto econômico negativo gerado pela primeira crise do petróleo
ocorrida em 1973. Portanto, a intervenção do Estado foi imprescindível para países
subdesenvolvidos, de modo que seu objetivo não era oferecer serviços públicos básicos
para a população, mas sim favorecer o processo de expansão econômica. Contudo, a
partir de 1973 houve o esgotamento do ciclo expansivo da economia, o que culminou,
no contexto global, no enfraquecimento da ação dos Estados nacionais e na ampliação
do liberalismo econômico, tanto em países desenvolvidos como nos subdesenvolvidos.
159
O advento do meio técnico-científico-informacional se deu após a Segunda
Guerra Mundial, na medida em que possibilitou o processo de integração do território.
Contudo, como Santos (2005) evidência, o período técnico-científico-informacional
só foi estabelecido na década de 1970, marcado pelo advento da ciência e técnica
nos processos de remodelação do território, desta forma as produções hegemônicas
tinham necessidade de um novo meio geográfico para sua consecução. Desta maneira,
“a informação, em todas as suas formas, é o motor fundamental do processo social e o
território é, também, equipado para facilitar a circulação” (SANTOS, 2005, p. 38).
160
A função das centrais de abastecimento, segundo a CEAGESP (2019),
é proporcionar uma infraestrutura para que as agroindústrias, atacadistas,
cooperativas, exportadores, importadores, produtores rurais e varejistas possam
desenvolver suas atividades com serviços qualificados, eficiência e segurança. A
CEAGESP possui a maior rede pública de armazéns e silos que são utilizados para o
depósito e conservação de produtos agrícolas, além de graneleiros, isto é, locais que
armazenam mercadorias a granel.
161
RESUMO DO TÓPICO 4
Neste tópico, você adquiriu certos aprendizados, como:
162
AUTOATIVIDADE
1 A globalização é marcada pelo desenvolvimento do chamado período técnico-
científico-informacional, marcado pelo incremento da técnica no desenvolvimento
das atividades produtivas. Assim, as principais indústrias desse período estão
relacionadas ao desenvolvimento tecnológico, como as de informática. Sobre o
exposto, classifique V para as sentenças verdadeiras e F para as falsas:
3 Conforme o geógrafo Milton Santos retrata, o meio geográfico teve três etapas.
Inicialmente, era o meio natural, no qual não havia expressivas transformações
humanas. Já o meio técnico, é posterior à invenção e ao uso das máquinas. Por fim,
chega-se ao meio técnico-científico informacional, iniciado após a Segunda Guerra
Mundial e consolidado no decênio de 1970. Exemplifique as três etapas do meio
geográfico.
163
4 O conceito de meio técnico-científico-informacional é um dos grandes legados do
pensamento do geógrafo Milton Santos. Pode ser considerado a cara geográfica
da globalização, pois os espaços territoriais atendem aos interesses dos atores
hegemônicos da economia, da cultura e da política, ou seja, atendem à lógica global.
Sobre a lógica global, assinale a alternativa CORRETA:
164
REFERÊNCIAS
ANDRADE, M. C. de. 1922 – a questão do território no Brasil. 2. ed. São Paulo:
Hucitee, 2004.
165
MACHADO, M. W.; MATSUSHITA, T. L. Globalização e blocos econômicos. Revista DIGE,
v. 1 n. 1-Ext: Edição Extraordinária – Direitos Humanos. 2019. Disponível em: https://
revistas.pucsp.br/index.php/DIGE/article/view/42353. Acesso em: 31 jan. 2022.
RAFFESTIN, C. Por uma geografia do poder. Tradução de Maria Cecília França. São
Paulo: Ática, 1993.
166
SANTOS, M. Por uma outra globalização: do pensamento único à consciência
universal. São Paulo: Record, 2000.
167
168
UNIDADE 3 —
OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM
A partir do estudo desta unidade, você deverá ser capaz de:
PLANO DE ESTUDOS
Esta unidade está dividida em três tópicos. No decorrer dela, você encontrará
autoatividades com o objetivo de reforçar o conteúdo apresentado.
CHAMADA
Preparado para ampliar seus conhecimentos? Respire e vamos em frente! Procure
um ambiente que facilite a concentração, assim absorverá melhor as informações.
169
CONFIRA
A TRILHA DA
UNIDADE 3!
Acesse o
QR Code abaixo:
170
UNIDADE 3 TÓPICO 1 —
“DOS NÓS ÀS LINHAS" NA REDE DE
CONFLITOS MUNDIAIS: DAS GUERRAS
CONVENCIONAIS AOS CONFLITOS
IRREGULARES E ASSIMÉTRICOS
1 INTRODUÇÃO
Este tópico será dividido em duas partes. Inicialmente serão discutidos os
significados e as características dos conflitos à luz de diferentes exemplos. No segundo
momento, discutiremos alguns casos mais profundamente, dialogando com autores as
características dos conflitos, bem como seus rebatimentos sociais, políticos, econômicos
e territoriais. Após esses textos, faremos o resumo e direcionaremos nossos esforços a
alguns exercícios e atividades correlatas à temática discutida.
171
[...] o que queremos significar com conflitos não convencionais,
irregulares ou assimétricos? Estes termos são usados neste texto
para referir dimensões diversas de uma mesma realidade funda-
mental: conflitos armados intraestatais, mesmo que eventualmen-
te internacionalizados, entre forças regulares e forças irregulares,
grupos armados não profissionais e não estatais. Conflitos nos
quais estes grupos de insurgentes recorrem necessariamente a
táticas não convencionais de terrorismo e guerrilha para combater
com a máxima eficácia possível as forças de segurança e as forças
armadas de um Estado, tendo em conta a assimetria de meios que
à partida favorece estas últimas em confrontos de tipo convencio-
nal (CARDOSO, 2017, p. 12).
NOTA
O filme O senhor das armas (2005) apresenta a trajetória do traficante
de armas Yuri Orlov, que ficou milionário ao se aproveitar da desordem
das antigas Repúblicas Soviéticas com o fim da Guerra Fria e da própria
URSS. O filme também demonstra como aquele contexto contribuiu no
fomento a conflitos irregulares e assimétricos.
172
Ressaltamos que há o debate acadêmico e político a respeito do conceito de terrorismo
e no enquadramento de grupos como tal, resultando em dualidades sobre determina-
dos grupos, como o Hamas, considerado terrorista por alguns países, enquanto para
outros não é.
DICA
Relembre as origens da 1° Guerra Mundial e o papel das guerrilhas afegãs
na retirada das tropas soviéticas do país no final da década de 1980.
Acesse:
https://bit.ly/3tQwCjO.
https://bit.ly/3KvPon8.
IMPORTANTE
A formação do Talibã é um dos desdobramentos do período da Guerra
Fria, marcada pela bipolaridade entre Estados Unidos (capitalista) e União
das Repúblicas Socialistas Soviéticas (URSS) e a constante preocupação
com a possível eclosão de um conflito bélico nuclear entre essas duas
potências. O Talibã se consolidou ao final da invasão soviética no
Afeganistão. Composto majoritariamente por estudantes que defendiam
uma rígida interpretação do Alcorão, instrumento principal, na visão do
grupo, para o governo do país. Devemos lembrar que o Talibã foi um
dos grupos que recebeu ajuda militar estadunidense, afinal, os Estados
Unidos atuavam geopolíticamente para impedir, limitar e/ou enfraquecer
as áreas de influência soviética.
173
FIGURA 1 – VEÍCULOS DO EXÉRCITO ESTADUNIDENSE NO IRAQUE
FIGURA 2 – SOLDADOS DO TALIBÃ, GRUPO QUE TOMOU O PODER NO AFEGANISTÃO APÓS A RETIRADA
DAS TROPAS ESTADUNIDENSES
174
Nesses tipos de conflito não existem frentes de combate e o poder de fogo
é menos relevante que a mobilidade. Não há necessidade real de ocupar, controlar e
manter um determinado território. Nas palavras de Leal (2011), o espaço é “contaminado”
e essa contaminação exige a presença do adversário, nesse sentido, outros elementos
não militares tornam-se importantes, como o caráter político dos movimentos, grupos
paramilitares ou guerrilhas:
175
QUADRO 1 – CARACTERÍSTICAS DOS CONFLITOS CONVENCIONAIS E IRREGULARES
Convencional Irrelugares
Guerra
Guerrilha Terrorismo
Convencional
Médias (Esquadras,
Grandes (Exércitos, Pequenas (Geralmente
Unidades Pelotões, Companhia,
Divisões, Corpos) 10 pessoas)
Batalhões)
Granadas, armas
Gama completa de assalto, carros-
de equipamentos Geralmente armas bombas, bombas
Armas e
militares (aéreo, de infantaria, mas por controle
táticas
blindados, artilharia também de Artilharia remoto, sequestros,
etc.) assassinatos, tomada
de reféns etc.
Militares, polícia
Unidades militares,
e segmentos Símbolos do Estado,
infraestruturas
Alvos administrativos do opositores políticos ou
industriais e de
Estado, bem como público em geral
transporte
opositores políticos
Controle do
Sim Sim Não
território
176
FIGURA 3 – ATENTADO AO WORD TRADE CENTER, EM 11 DE SETEMBRO DE 2001
DICA
O filme Snowden – Herói ou traidor apresenta o caso do ex-funcionário
terceirizado da Agência de Segurança dos Estados Unidos, Edward
Snowden, responsável pela divulgação a jornalistas de uma série
de documentos sigilosos que comprovavam atos de espionagem
praticados pelo governo norte-americano contra cidadãos comuns e
lideranças internacionais. Os argumentos em defesa da legalidade da
captação dos dados realizada pela agência e que trouxeram o debate
a respeito de espionagem voltaram-se à chamada Guerra ao Terror e a
necessidade de antecipar ataques terroristas.
177
Assim, observar e analisar criticamente as diferentes regionalizações do mundo,
considerando áreas de influência dos países centrais ou hegemônicos (econômica e
militarmente) são elementos fundamentais na compreensão desses conflitos e nas
consequências socioespaciais deles, como é o caso dos movimentos migratórios e de
refugiados, tema que ocupa protagonismo no cenário internacional há vários anos.
178
Todavia, o momento político e as ações militares dessas guerrilhas são distintos.
Enquanto houve avanços no acordo de paz entre governo colombiano e as FARC, os
conflitos com o ELN seguem. Vejamos síntese da notícia a seguir:
Nesta terça-feira, 23, Guterres visitou uma das regiões de atuação das Farc,
se encontrou com o presidente colombiano, Iván Duque (radicalmente contra o
acordo implementado pelo antecessor), e com o último líder da guerrilha, Rodrigo
Londoño "Timochenko". No geral, observadores internacionais apontam frentes
positivas como o fim do conflito armado após mais de 50 anos e o reestabelecimento
de parte dos guerrilheiros à sociedade.
179
Ausência do Estado
Mas a data de hoje também deixa latente os desafios que ainda restam,
sobretudo no direito à segurança da população rural colombiana. Em muitos lugares
antes controlados pelas Farc, a retirada da guerrilha não foi suficiente para que o
governo colombiano se fizesse presente nas regiões.
"O vácuo de poder deixado pela desmobilização das Farc levou a disputas
territoriais entre grupos armados novos e existentes", diz a Acnur, agência de
refugiados da ONU, na descrição sobre os resultados do acordo. A Colômbia segue
como um dos países do mundo com mais refugiados internos. Todos os meses,
dezenas de civis e líderes comunitários ainda são mortos, feridos ou vítimas de
sequestro devido à violência na Colômbia.
NOTA
Após a leitura da notícia, reflita sobre a relação entre o contexto histórico
da década de 1960 e o surgimento de guerrilhas revolucionárias na
Colômbia. Em seguida, pesquise sobre movimentos semelhantes em
outros países da América do Sul, inclusive no Brasil.
180
FIGURA 5 – ATAQUES TERRORISTAS NA COLÔMBIA (2003-2021)
FIGURA 6 – MORTES DE CIVIS, FORÇA PÚBLICA E DE MEMBROS DO ELN EM ATAQUES COM PARTICIPAÇÃO
DIRETA DA GUERRILHA
IMPORTANTE
Conflitos dessa natureza trazem impactos econômicos e sociais
importantes. A insegurança econômica oriunda da insegurança pública
traz prejuízos econômicos ao país, mas os conflitos também causam
reflexos na questão migratória e no número de deslocamentos internos
no país, bem como impacta no número de refugiados, outra categoria
geográfica de deslocamento espacial.
181
DICA
Sugerimos a leitura de: PINHEIRO, M. R. dos S. FARC – EP: meio século
de insurgência na Colômbia. Que paz é possível? Dissertação de
Mestrado, Universidade Federal Fluminense, 2015. Disponível em:
https://bit.ly/3KGya6N.
DICA
Para finalizarmos as considerações a respeito de um dos conflitos
irregulares mais duradouros do mundo, na Colômbia, assista à
reportagem elaborada pelo Intercept Brasil, a respeito do acordo
de paz citado nesse tópico e a posição atual das FARC e do ELN.
Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=NQalEJknOEM.
DICA
Sugerimos as três partes de uma reportagem da BBC sobre o tema:
Parte 1: https://www.youtube.com/watch?v=t7LVfD8Rd5g.
Parte 2: https://www.youtube.com/watch?v=qpoNFyGdz5M.
Parte 3: https://www.youtube.com/watch?v=-z9Z0jw4WFk.
182
Considerado, atualmente, o maior grupo islâmico na Palestina, o Hamas
(Movimento de Resistência Islâmica) foi fundado em 1987 e luta contra a existência
do Estado de Israel, criado após a Segunda Guerra Mundial para abrigar os judeus
perseguidos, oriundo de um movimento global conhecido como sionismo, que defendia
a criação de um Estado Judeu na palestina.
183
FIGURA 7 – BRAÇO MILITAR DO HAMAS
TERRORISMO OU RESISTÊNCIA?
184
passou por alguns momentos difíceis, devido à sua recusa em apoiar
o governo Assad na guerra civil da Síria. Houve indícios de uma
reaproximação com a Jordânia, a qual pretende retornar ao cenário
político palestino mediando uma reconciliação entre as facções rivais
palestinas (CHAMMA, 2016, p.46-47, grifo nosso).
DICA
Para compreender a situação atual de ocupação e de disputa por
território que envolve palestinos e israelenses, assista ao documentário
“Um mundo de muros”, da Folha de São Paulo. Disponível em: https://
www.youtube.com/watch?v=3Pf9_bmFxBk&t=404s.
185
Ao longo do texto, apontamos algumas características que colocam o Hamas
como organização central em um dos principais conflitos irregulares no mundo. As
diferentes justificativas para o conflito, seu caráter étnico, cultural, político, religioso
e territorial, se equiparam a outros conflitos dessa natureza espalhados por diversas
regiões do planeta. A discrepância entre o poder bélico nos conflitos irregulares (Figura
9) é um dos fatores que os torna assimétricos.
186
RESUMO DO TÓPICO 1
Neste tópico, você adquiriu certos aprendizados, como:
• Os exemplos das FARC e ELN na Colômbia, bem como do Hamas na Palestina, como
movimentos envolvidos em dois dos principais conflitos irregulares do mundo.
187
AUTOATIVIDADE
1 A imagem a seguir apresenta o chamado “Domo de Ferro” de Israel, a estrutura militar
que intercepta mísseis inimigos para que não atinjam território israelense. Após
observá-la, reflita e escreva sobre o que ocorre quando é Israel lança mísseis nos
territórios palestinos.
2 Observe a tirinha a seguir e reflita sobre a seguinte indagação: existe relação entre
ação de guerrilhas e biomas que possuem como característica a densidade da
vegetação?
188
3 Diferente das guerras convencionais, nas quais se objetivam vitórias rápidas
possivelmente materializadas pelas diferenças de poder bélico entre os Estados, nos
conflitos irregulares ou assimétricos a intenção é exaurir o inimigo e desgastá-lo física
e psicologicamente. O objetivo central é a imobilização operacional do adversário,
algo fundamental para a vitória na guerra (LEAL, 2011). Nesses tipos de conflito não
existem frentes de combate e o poder de fogo é menos relevante que a mobilidade.
Não há necessidade real de ocupar, controlar e manter um determinado território.
Após escolher o conflito que lhe interessou, preencha o que se pede a seguir:
Conflito escolhido:
País:
Ano de início:
Atores
envolvidos
Motivações
dos atores não
estatais
Recursos em
disputa
Há terceiros
atores? Quais?
Impactos
econômicos,
sociais e
políticos
189
4 Existem diferentes grupos terroristas em atuação no mundo, que exercem suas
atividades em regiões também distintas. Sobre qual deles assumiu o ataque de 11 de
setembro, nos Estados Unidos, assinale a alternativa CORRETA:
a) ( ) Al-Qaeda.
b) ( ) Estado Islâmico.
c) ( ) Boko Haram.
d) ( ) ETA (Pátria Basca e Liberdade).
a) ( ) Surge na década de 1950, após o final da Segunda Guerra mundial, no qual havia
o anseio de movimentos populares em superar as desigualdades sociais e os
prejuízos causados pelo conflito.
b) ( ) Surge na década de 1960, no contexto de Guerra Fria e de conflito ideológico
entre capitalismo e socialismo, mas também ligado a revoluções em curso no
mundo, sobretudo a cubana.
c) ( ) Surge na década de 1980, no contexto de crise fiscal dos Estados nacionais, cuja
consequência foi o declínio dos indicadores de qualidade de vida, bem como a
queda do poder de compra das famílias, culminando em cenários de insatisfação
que alimentaram grupos guerrilheiros.
d) ( ) Surge na década de 1990, no momento de hegemonia do capitalismo global com
a derrocada da União das Repúblicas Socialistas Soviéticas (URSS).
190
UNIDADE 3 TÓPICO 2 -
OS FLUXOS FINANCEIROS GLOBAIS E
A EMERGÊNCIA DAS CRIPTOMOEDAS:
POSSIBILIDADES E DESAFIOS
1 INTRODUÇÃO
Neste tópico, por meio de uma abordagem teórico-empírica, estudaremos
questões que permeiam o termo fluxos financeiros globais, como as redes e a relação
entre estas e os territórios, bem como, em particularidade, as possibilidades e os desafios
decorrentes das operações com criptomoedas. Delas, buscamos demonstrar, também,
a expansão e a concentração geográfica global, pensando no tema ainda como em
desbravamento, pelos recentes estudos e busca de aprofundamento em curso.
Por fim, cabe destacar que os exemplos são de eventos reais, mas que se
transformam a todo momento, pois os próprios fluxos são dinâmicos e muitas vezes
incertos, já que apresentam intensos movimentos.
191
Para a compreensão das redes como elementos que, apesar de serem forma-
das por linhas, reais ou imaginárias, possuem pontos fixos nos territórios, cabe conver-
sarmos um pouco sobre as transformações pelas quais as técnicas e as tecnologias
passaram, já que são exatamente os investimentos em ciência de ponta, ao longo do
tempo histórico, que permitiram o avanço – diga-se, a aceleração – das conexões em
redes ou seus fluxos.
Diversos autores afirmam que tanto a crise financeira internacional dos anos
de 2007 e 2008, impulsionada pela globalização em seu estágio técnico-científico-
informacional, quanto à desregulamentação financeira, conduziram à instabilidade do
valor das moedas em escala planetária, gerando um grande movimento de insegurança
econômica.
Os fluxos globais, em seus diversos sentidos, têm sido um fio condutor comum
no crescimento econômico há séculos, desde os dias da Rota da Seda, passando
pelos períodos mercantilista e colonial e pela Revolução Industrial. Mais recentemente,
no entanto, o movimento de bens, serviços, finanças e pessoas atingiu níveis antes
inimagináveis. Os fluxos globais estão criando novos graus de conexão entre as
economias – e desempenhando um papel cada vez maior na determinação do destino
de nações, empresas e indivíduos.
193
NOTA
As tecnologias digitais permitem que até mesmo a menor empresa
ou empreendedor solo sejam uma “micromultinacional”, vendendo
e adquirindo produtos, serviços e ideias além das fronteiras. Os
indivíduos podem trabalhar remotamente por meio de plataformas
on-line, criando um fluxo virtual de pessoas. As plataformas de
microfinanças permitem que empreendedores e inovadores sociais
levantem dinheiro globalmente em quantias cada vez menores.
Neste sentido, como afirmam Tyson e Lund (2016), a globalização está entrando
em uma nova era, definida não apenas por fluxos transfronteiriços de bens, pessoas e
capitais, mas também, e cada vez mais, por fluxos de dados e informações. As autoras
afirmam, ainda, que a globalização digital atua diretamente em pontos muito fortes e em
constante aperfeiçoamento, ou seja, a tecnologia e a inovação.
Esses fluxos, ainda de acordo com Tyson e Lund (2016), estão desproporcional-
mente concentrados entre um pequeno conjunto de países, incluindo Estados Unidos,
Reino Unido, Alemanha e Cingapura. A China é a única economia emergente a figurar
entre as dez primeiras do índice.
194
Apesar das informações apresentadas por Tyson e Lund (2016), as autoras,
em artigo de 2017, são enfáticas em afirmar que, mesmo o processo de globalização
colocando os países em desenvolvimento, conforme dados apresentados, em certo
equilíbrio nos fluxos comerciais e financeiros mundiais, sendo, inclusive, responsável por
certa redução dos índices de desigualdade entre os países, ela, por outro lado, agravou
a desigualdade de renda no interior deles.
195
Os 10% mais ricos capturam 78% da riqueza mundial. Restam, à metade da
população, 2%. Distorções devastam sociedades e planetas. Há alternativas: impostos
redistributivos e políticas sociais potentes, pois a desigualdade é uma escolha política,
não uma inevitabilidade.
196
Esse tipo de arquitetura de rede, de acordo com Henrique (2018), tem auferido
destaque pelo compartilhamento de arquivos, mas também é utilizada em outras
áreas como universidades, pesquisas científicas e telecomunicações, por exemplo. Os
registros dos dados transacionados na rede P2P são operados em uma cadeia e blocos
de algoritmos, que realiza o processamento dos dados por meio de criptografia.
Agner (s.d., p. 5) complementa, ainda, que “[...] o mesmo termo “Bitcoin” com “B”
maiúsculo é comumente utilizado para designar a tecnologia como um todo, a rede P2P
Bitcoin ou o protocolo Bitcoin enquanto bitcoin(s) com “b” minúsculo é utilizado para
designar a unidade de conta usada na rede”.
No mais, bitcoins são moedas digitais descentralizadas, ou seja, que não são
controladas por órgãos ou países em específico, sendo criadas em uma rede blockchain,
ou seja, uma rede que é a responsável por armazenar com segurança os mais diversos
tipos de informações, a exemplo das transações financeiras, dos registros e dos dados
de pessoas que participam dessas transações.
197
A BTC é a mais importante inovação financeira do século XXI, sendo possível
verificar o crescimento de seu uso em várias atividades, tendo seu valor total
correspondendo 0,025% do produto interno bruto (PIB) global ou cerca de 80 trilhões
de dólares, de acordo com Schwab (2016, p. 157).
Em atualização aos dados expostos, mas para a economia dos EUA, que em
julho de 2021, no dia 24, “[...] o volume total de transferências com bitcoin ultrapassou
US$ 15,8 trilhões. Como resultado, o volume agora apresenta 70% do Produto Interno
Bruto (PIB) [...], que é de aproximadamente US$ 22 trilhões” (LIVECOINS, 2022, s.p.).
Por que o volume de transações com bitcoin está ultrapassando o PIB dos EUA,
questionou o texto do site exposto. Há muitas possibilidades, mas a mais significativa,
neste momento, é o fato de que este ativo alternativo de investimento também é
visto como uma alternativa ao dólar americano e a todo o sistema econômico, além
do interesse institucional. A criptomoeda tem sido aceita amplamente no sistema
financeiro, além de empresas como Amazon, Facebook, Twitter, Reddit e outras agora
estão também se utilizando das criptomoedas.
198
O exemplo apresentado é de um momento específico da circulação e do fluxo
mundial de moedas para BTC, que podem ser acompanhados, em tempo real, por meio
do FiatLeak. Para você conhecer mais sobre a Geografia da circulação, da concentração
e da distribuição dos fluxos financeiros globais, via criptomoedas, acesse o link: https://
fiatleak.com/btc. A seguir, um print da página em tempo real, feito por nós, como
exemplo para você!
No Brasil, embora ainda não haja uma legislação que normatize as transações
em criptomoedas, muitas pessoas e empresas já as utilizam. No Congresso Nacional,
tramita o Projeto de Lei nº 2303/2015, que objetiva a regulamentação das transações
em criptomoedas, conforme o preambulo que se colaciona:
199
• são completamente virtuais, não dá para pegar uma criptomoeda na mão.
• não precisam de um banco central ou do Estado para ser regulamentadas.
• as oscilações de preço ocorrem de acordo com a própria economia e não por
interferência estatal.
• possuem livre circulação, sem barreiras geográficas.
• garantia de anonimato das transações, sem nenhum tipo de informação pessoal para
a utilização.
• custo zero de transação em virtude da não cobrança de qualquer tipo de taxa ou imposto.
200
RESUMO DO TÓPICO 2
Neste tópico, você adquiriu certos aprendizados, como:
201
AUTOATIVIDADE
1 Em uma definição abrangente, podemos entender as redes geográficas como um
conjunto de locais da superfície terrestre conectados ou interligados entre si. Essas
conexões podem ser materiais, digitais e culturais, além de envolver o fluxo de
informações, mercadorias, conhecimentos financeiros, valores culturais e morais,
entre outros. Por meio dessa definição e do texto estudado neste livro, assinale a
alternativa CORRETA:
a) ( ) As redes são formadas por linhas, reais ou imaginárias, mas não precisam de
elos no território para se disseminarem.
b) ( ) Apesar de serem formadas por linhas, reais ou imaginárias, as redes possuem
pontos fixos nos territórios.
c) ( ) As redes não são formadas por linhas, nem reais nem imaginárias, e por isso não
possuem pontos fixos nos territórios.
d) ( ) As redes não são formadas por linhas reais, somente por linhas imaginárias, e
por isso não possuem pontos fixos nos territórios.
202
4 O ano de 2021 foi de altos e baixos para as criptomoedas. Em geral, porém, ele termina
com um quadro mais positivo para esse grupo de ativos, que surfou em uma tendência
de crescimento e expansão iniciada com a pandemia. Ao mesmo tempo, conforme
essa expansão ocorreu, mais países ao redor do mundo passaram a implementar
medidas legais para o setor. Com relação à regulamentação das criptomoedas, no
Brasil, assinale a alternativa CORRETA:
203
204
UNIDADE 3 TÓPICO 3 -
NOVAS FORMAS DE TERRORISMO: O
CIBERTERRORISMO E A ESCALA GLOBAL
1 INTRODUÇÃO
205
número que pode ter aumentado significativamente devido ao contexto de pandemia
da Covid-19 que, de certa forma, transformou serviços presenciais em remotos momen-
taneamente e, em alguns casos, permanentemente:
Como podemos observar na Figura 14, boa parte do mundo não oferece grau
de adequação e/ou segurança de dados pessoais, fator que, de certa forma, estimula
ou facilita a atividades criminosas em ambientes virtuais, entre elas o ciberterrorismo.
206
É importante destacar que mesmo países dotados de ferramentas de segurança e
legislações avançadas são vítimas de ataques cibernéticos, seja através de crimes
pontuais (relativos a pessoas físicas ou jurídicas) ou mesmo de ciberterrorismo, conceito
que discutiremos no tópico a seguir.
DICA
O documentário “The great hack”, na tradução, “Privacidade hackeada”,
narra o escândalo sobre informações pessoais hackeadas que envolveu
a empresa de consultoria Cambridge Analytica e o Facebook. Através
da luta judicial de um professor a respeito do direito à propriedade de
seus dados, há a problematização do fato de que informações pessoais
de mais de 240 milhões de pessoas foram utilizadas na criação de
perfis políticos (ou tendências políticas na sociedade) com intuito de
influenciar nas eleições dos Estados Unidos em 2016.
207
FIGURA 16 – CIBERATAQUE PARALISA 16 HOSPITAIS NO REINO UNIDO
208
Raiu, diretor global do grupo de pesquisadores e análises do Kaspersky Lab, uma
empresa de segurança em informática, afirmou em um tuite que foram registrados
mais de 45.000 ataques em 74 países. Até o momento, esses ataques não atingiram
infraestruturas consideradas críticas.
209
DICA
Leia e ouça a considerações do Prof. Dr. Luli Radfahrer sobre as
ameaças de ciberataques a estruturas fundamentais da sociedade.
Disponível em: https://jornal.usp.br/atualidades/ciberterrorismo-mal-
da-era-moderna-na-analise-de-radfahrer/.
210
FIGURA 18 – IFOOD É INVADIDO POR MEMBRO DE EMPRESA PARCEIRA DA PLATAFORMA
211
QUADRO 2 – O FUNCIONAMENTO DOS CIBERATAQUES
MÉTODOS UTILIZADOS EM
PASSO A PASSO DE UM CIBERATAQUE
CIBERATAQUES
212
Outro ponto deve ser salientado: o envolvimento do Estado em ciberataques,
o que nos leva também a um impasse teórico, tendo em vista que o ciberterrorismo
é entendido a partir de ações terroristas protagonizadas por agentes não estatais no
ciberespaço. Entretanto, para Alcântara:
NOTA
“Qualquer Estado que tenha órgãos de inteligência bem estabelecidos
– com conhecimento e com uma missão – tem a possibilidade e a
capacidade de realizar ciberataques", afirma Don Smith. Os países
que realizavam atividades de inteligência e espionagem nas décadas
passadas continuam fazendo-o, mas agora através da internet. É até
mais fácil e mais barato.
FONTE: <https://bbc.in/37vgmx6>. Acesso em: 1 fev. 2022.
213
Entre os membros do então governo da ex-presidente Dilma Rousseff, também
grampeada (o número de telefone via satélite vinculado ao avião presidencial estava
na lista da NSA), estavam o ex-chefe da Casa Civil Antonio Palocci; o ex-ministro
do Planejamento, Nelson Barbosa; o ex-ministro-chefe do Gabinete de Segurança
Institucional, general José Elito Siqueira, responsável pela segurança da presidente da
República; e o ex-ministro das Relações Exteriores Luiz Alberto Figueiredo.
214
Os participantes revisaram sistemas cibernéticos para implementar
segurança em cidades, infraestruturas cruciais, vigilância pública, respeitando a
privacidade e as liberdades civis, bem como métodos de detecção e reação diante
de ameaças e ataques.
FONTE: <https://defesa.com.br/estados-unidos-e-uruguai-unem-esforcos-contra-crimes-
ciberneticos/>. Acesso em: 1 fev. 2022.
NOTA
A obra explora o surgimento do conflito cibernético como a principal
estratégia na competição e sabotagem entre nações. A produção
conta com entrevistas exclusivas com políticos, oficiais militares e de
inteligência e oferece uma visão ampla sobre esses novos pontos de
vulnerabilidade durante as eleições presidenciais.
215
na reprodução ou sustentação desses grupos, tais como: captação de membros,
propaganda, divulgação, busca por recursos etc. Para o autor, relatos, operações e
investigações realizadas pela Polícia Federal (PF) nas últimas décadas demonstram que
existem atividades atreladas ao terrorismo internacional sendo desenvolvidas no Brasil:
Nesse sentido, são mencionados pelo autor, no âmbito federal (como parte da
Polícia Federal) a Diretoria de Polícia Judiciária, a Divisão Antiterrorismo, a Coordenação
Geral de Polícia Marítima, Aeroportuária e de Fronteiras, a Coordenação Geral de Ordem
Pública e Social, a Coordenação Geral de Combate ao Crime Organizado e Inquéritos
Especiais e a Coordenação Geral do Comando de Operações Táticas (LASMAR, 2015).
216
DICA
Como sugestão, indicamos os dois vídeos a seguir. O primeiro do
Exército Brasileiro e outro do Ministério da Defesa. Ambos apresentam
esforços de órgãos de Estado no combate a ciberataques, considerando
a segurança cibernética como elemento integrante da segurança
nacional. Disponíveis em:
https://www.youtube.com/watch?v=yd37sX8U3Gg e
https://www.youtube.com/watch?v=FqJidxCKpA0.
217
FIGURA 20 – FOTOGRAFIA DA AUDIÊCNIA PÚBLICA INTITULADA “TERRORISMO E AMEAÇAS CIBERNÉTI-
CAS NO SÉCULO XXI: OS INIMIGOS SEM ROSTO”.
218
LEITURA
COMPLEMENTAR
A GEOGRAFIA DA MOEDA NA ERA DIGITAL
Luiza Peruffo
André Cunha
Andrés Ferrari
219
da sociedade com o sistema financeiro para fazer e receber pagamentos. Aplicativos
de celular que permitem transações instantâneas e sistemas mais seguros de acesso
utilizando a tecnologia digital, por exemplo, melhoram a experiência do usuário, mas
não desafiam a lógica do banco de debitar quem paga e creditar quem recebe. Em
contraste, a moeda digital altera o padrão que impõe a necessidade do encontro físico
das contrapartes para executar pagamentos com moeda token, o que representa uma
mudança fundamental na arquitetura dos meios de pagamentos como conhecemos
até agora.
Por trás da racionalidade dos agentes econômicos, a guerra política corre solta,
já que a moeda é um instrumento de poder de quem a emite. Emitir o instrumento
que se torna o “elo entre os agentes econômicos” cria o incentivo para que eles
tenham interesse em preservar a sua existência. Essa noção foi traduzida no conceito
de entrapment (“armadilha”) proposto por Jonathan Kirshner em seu livro Currency
and Coercion (1995) para analisar como questões sistêmicas funcionam para explicar
as estruturas de incentivos materiais dos agentes. Por exemplo, conforme os países
acumulam reservas internacionais, eles acabam adquirindo interesse na estabilidade e
no valor desta moeda, criando certa afinidade entre seus interesses e os interesses do
país emissor.
220
aceite o seu ouro em troca da água que você precisa para não morrer de sede. A moeda,
portanto, depende do outro. Ela é uma construção social. Assim, ainda que faça sentido
concentrar os pagamentos internacionais em algumas poucas moedas, é importante
perceber que as preferências dos agentes econômicos não surgem por acaso, e que
existe uma disputa permanente para ser aquele que emite a moeda que é aceita por
todos, ou por uma grande maioria dos agentes.
De um lado, ser uma grande potência torna uma moeda competitiva. Saindo
como os grandes vencedores da Segunda Guerra Mundial, os Estados Unidos se
encontraram na posição de consolidar a sua moeda formalmente no topo da hierarquia
monetária. Vale dizer, a posição que o dólar assumiu no SMFI foi uma decisão política
com base no poder assimétrico desfrutado pelos Estados Unidos no pós-Guerra. No
arranjo de Bretton Woods, que vigorou até o início da década de 1970, o dólar era a
enésima moeda: todas as moedas eram fixas com relação ao dólar e apenas o dólar
era fixo em ouro. Na prática, isso significava que, enquanto os Estados Unidos podiam
perseguir seus objetivos domésticos sem serem constrangidos pelo ajuste externo,
todos os demais tinham que subordinar seus objetivos domésticos ao ajuste externo
para manter a paridade com o dólar, que era a base do arranjo internacional. O então
ministro da economia de Charles de Gaulle, Valéry Giscard d’Estaing, definiu essa
liberdade macroeconômica dos Estados Unidos como um “privilégio exorbitante”.
221
De outro lado, emitir uma moeda internacionalmente competitiva também
serve para aumentar o poder do estado. Os Estados Unidos já haviam ultrapassado
a Grã-Bretanha em termos de tamanho econômico absoluto nos anos 1870, já eram
a principal potência comercial em termos de valor de comércio exterior em 1913 e os
maiores credores internacionais ao final da Primeira Guerra Mundial. Ou seja, apesar
de a decisão política de um arranjo internacional formal em torno do dólar ter sido
feita apenas nos anos 1940, o dólar virou a moeda líder de reserva internacional em
meados dos anos 1920, ainda que a libra tenha retomado a liderança por um breve
período depois de 1931. O arranjo de Bretton Woods veio para coroar (e reforçar) uma
dominância que já ocorria na prática.
Isso sugere que a relação entre moeda e poder do Estado é mútua. Uma moeda
é tanto causa quanto fonte de poder de um Estado. O ponto de partida para entender a
importância de emitir uma moeda competitiva nas relações monetárias internacionais
está no balanço de pagamentos. As relações de comércio e investimento provocam
fluxos monetários que resultam em superávits ou déficits para os países. As economias
estão todas ligadas pelos seus balanços de pagamentos: o déficit de uma é o superávit de
outra. O risco de um desequilíbrio insustentável no balanço de pagamentos representa
uma ameaça permanente para a independência de política econômica. Imagine se o
governo brasileiro pudesse simplesmente ter emitido dívida em reais ou moeda para
pagar seus credores internacionais nos anos 1980 e ter evitado a crise da dívida externa,
a exemplo do que o governo Estados Unidos pode fazer justamente porque sua moeda
e os ativos denominados nela são aceitos mundo afora. Ou, como colocou o economista
francês Jacques Rueff nos anos 1970, a possibilidade de ter “déficits sem lágrimas”.
Ainda que poucos duvidem que emitir uma moeda de uso internacional
influencia o poder de um estado, entender exatamente através de quais canais isso
ocorre não é uma tarefa fácil. O primeiro passo é perceber (i) que as moedas não “são”
internacionais, elas “estão” internacionais; e (ii) que os usos internacionais da moeda
(unidade de conta, meio de troca e reserva de valor nos níveis público e privado), ainda
que estejam todos inter-relacionados, diferem em relação ao quanto eles adicionam
para o privilégio exorbitante dos Estados. Destrinchar como cada um destes usos
222
contribui para a internacionalização das moedas e para o poder do Estado emissor é
o próximo passo para entender como a moeda digital da China pode contribuir para
catalisar possíveis transformações no SMFI.
A matriz proposta por Cohen nos anos 1970, e que replicamos a seguir, é
utilizada até hoje para analisar o uso internacional das moedas. Essa matriz combina
as três funções da moeda com dois níveis de análise, privado e oficial (público). No
nível privado, as moedas podem ser demandadas para denominar e liquidar contratos,
para o comércio de divisas e para investimento. No nível do estado, uma moeda pode
ser demandada para funcionar como âncora de outras moedas (o dólar como âncora
cambial na primeira fase do Plano Real, por exemplo), como moeda de intervenção (ou
seja, a moeda que o Banco Central usa para balizar os movimentos da taxa de câmbio)
e para compor as reservas internacionais de um país.
Funções da Moeda
Comércio de divisas,
Denominação de
Privado liquidação de trocas Investimento
contratos
comerciais
Reservas
Oficial Âncora Intervenção
internacionais
223
FONTE: Adaptado de COHEN, B. J. Currency and State Power, em Finnemore e Goldstein (Ed.) Back
to Basics: State Power in a Contemporary World. New York: Oxford University Press, 2013, p. 165.
Todos os seis papéis internacionais que uma moeda pode assumir apresentam
algum benefício econômico para o emissor, mas os benefícios políticos são mais
concentrados em determinadas funções. Vale dizer, o benefício político significa que
a demanda da moeda para determinada função aumenta a capacidade de o estado
emissor postergar ou dividir o custo do ajuste do balanço de pagamentos com o resto
do mundo. Isso vai acontecer quando o uso internacional da moeda em determinada
resultar em um acúmulo da moeda internacional para além de suas fronteiras que
permita o país emissor financiar seus déficits externos.
Ainda que seja útil analisar separadamente os efeitos que cada possível uso
internacional de uma moeda traz para seu emissor, é importante perceber também que
os seis papéis estão, em maior ou menor grau, inter-relacionados. Uma moeda que se
sobressai em um determinado uso cria uma vantagem para se sobressair nas demais.
O dólar hoje domina em todas estas áreas, e isso faz parte do processo de inércia e
retroalimentação que caracteriza o uso internacional das moedas. O ponto desse
224
exercício de tentar distinguir o efeito de cada papel da moeda para o poder do Estado
é tentarmos entender por onde as transformações do SMFI iniciam; qual é o calcanhar
de Aquiles da moeda-líder que as concorrentes podem explorar para galgar posições na
concorrência internacional.
Mesmo que o papel de reserva de valor gere um benefício político maior para
o estado emissor do que o papel de investimento, Cohen sugere que é este último é o
que dá início ao processo de internacionalização de uma moeda. Ele argumenta que
o papel das reservas internacionais é mais poderoso do que o papel do investimento
porque o segundo está dividido entre mais atores que o primeiro (isto é, existem mais
agentes privados do que agentes públicos) e, portanto, é mais difícil efetivar o potencial
de influência que decorre do ganho inicial de autonomia. Além disso, o fato de que
mais moedas concorrem na função de investimento do que na função de reservas
internacionais também significa que o papel de reserva internacional é mais poderoso
do que o do investimento.
O advento das moedas digitais criou um espaço que antes não existia nas
relações do SMFI. Para forçar o exemplo, daria para comparar em algum nível com o
surgimento de aplicativos de transporte como a Uber. Ainda que alguns usuários
do transporte público e do táxi tenham migrado para a Uber e outros aplicativos de
transporte, na prática se criou um novo mercado de usuários – que tinham seus próprios
carros, andavam a pé ou de bicicleta – e que tem revolucionado o setor de transportes
como um todo. É possível especularmos que as moedas digitais estão criando as bases
para uma revolução semelhante nas relações monetárias e financeiras internacionais.
225
Se isso for verdade, a China saiu na frente para influenciar as preferências dos agentes
privados que, eventualmente, poderia se transferir para os agentes públicos e concretizar
mudanças mais amplas na arquitetura do SMFI centrado no dólar.
Se Cohen está correto, a mudança será liderada pelas preferências dos agentes
privados, que então moldarão as preferências dos governos. Mesmo assim, parece que
o governo também tem um papel importante, especialmente no início, de moldar as
preferências dos agentes, especialmente aqueles governos com condições de operar
como importantes credores do SMFI. Por exemplo, imagine uma empresa que recebe
financiamento do governo chinês para fazer uma obra no exterior. Imagine que o governo
chinês passe a ofertar o financiamento em iuane digital, e também exija o pagamento na
mesma moeda. Imagine que essa empresa vai poder pagar suas empresas fornecedoras,
que também têm dívidas com o governo chinês, e que seus funcionários também vão
aceitar receber seus salários em iuane digital, pois eles agora pagam seus impostos em
iuane digital, além é claro das compras online que também aceitam iuane digital como
forma de pagamento. Tudo isso se articula para criar uma rede de agentes que aceitam
o iuane digital, na China e para além de suas fronteiras.
Enquanto todos estão avaliando que custos e benefícios são estes, a China
está na vanguarda desta nova revolução. Mesmo assim, parece que tanto aqueles que
estão estudando as moedas digitais estatais, quanto o único ator que a está colocando
em prática, estão corretos. O cálculo geopolítico que justifica o risco econômico e
potencial instabilidade financeira provavelmente é verdadeiro somente para o caso
da China, ainda que os Estados Unidos pareçam estar descansando demasiadamente
sobre seus louros.
227
RESUMO DO TÓPICO 3
Neste tópico, você adquiriu certos aprendizados, como:
228
AUTOATIVIDADE
1 A BBC entrevistou Marco De Mello, CEO da empresa de segurança cibernética PSafe
em fevereiro de 2021. Leia um dos trechos da entrevista a seguir:
BBC News Brasil – O Brasil está mais vulnerável, então, do que outros países em
termos de vulnerabilidade de privacidade de dados?
De Mello – Acredito que sim, mas o que eu estou dizendo aqui é que, além da
probabilidade, a detecção, a capacidade da empresa de saber que foi invadida, a média
do Brasil é de 46 dias (entre o vazamento e a detecção). Nos Estados Unidos, são é de 24
a 48 horas. E já é ruim. Teria que ser segundos. Então esse tempo do momento em que
a invasão acontece ao momento em que a pessoa percebe e reporta é de 46 dias. Isso
está indicando que as empresas e órgãos públicos precisam encarar essa pandemia de
ciberataques por inteligência artificial com total seriedade e urgência.
Nós que trabalhamos com segurança somos vistos como profetas do apocalipse.
Não estou dizendo que o mundo está acabando. Estou aqui para dizer que essa
pandemia digital de ciberataques é real, está acontecendo, e esses megavazamentos
são consequência disso, são sintomas disso. E eles vão continuar a acontecer até que
as defesas das empresas e órgãos públicos se equiparem à sofisticação dos ataques,
porque hoje não é o caso.
229
a) ( ) Utilização da tecnologia como arma ou alvo, caráter destrutivo a propriedade
(digital ou de infraestruturas) e motivação política.
b) ( ) Destruição de infraestruturas fundamentais da sociedade, motivação religiosa e
uso da tecnologia como ferramenta para realização dos atos.
c) ( ) Roubo e/ou vazamento de dados com objetivos políticos e de terror, uso do
ciberespaço como ferramenta e objeto para o ato terrorista, restrito a elementos
virtuais e não físicos (estruturais).
d) ( ) Danos em larga escala e com importantes impactos econômicos e sociais,
considerando estruturas e elementos digitais, como dados pessoais,
institucionais e empresariais, sempre com justificativas político-partidárias.
3 Produza um texto síntese a respeito das diferentes formas de uso do ciberespaço por
grupos terroristas e ciberterroristas. Sugerimos a leitura de duas notícias a respeito
do grupo terrorista Estado Islâmico, mas você pode pesquisar outros para agregar
aos seus conhecimentos:
Link 1: https://glo.bo/3tjUehP.
Link 2: https://bbc.in/360w2YF.
230
5 Ao longo do tópico, vimos que Lasmar (2015) ressaltou a importância de o Brasil
construir uma legislação que ampare a luta contra o terrorismo internacional. A
charge a seguir mostra uma das preocupações do autor a respeito dos cuidados
necessários na elaboração desse conjunto de leis. Aponte qual é e explique-a.
231
REFERÊNCIAS
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https://legacy.gitbook.com/book/itsriodejaneiro/bitcoin-para-programadores/details.
Acesso em: 4 jan. 2022.
BRASIL. Projeto de Lei 2303/2015. Dispõe sobre a inclusão das moedas virtuais
e programas de milhagem aéreas na definição de 'arranjos de pagamento'
sob a supervisão do Banco Central (altera a Lei nº 12.865, de 2013 e da Lei
9.613, de 1998). Disponível em: http://www.camara.gov.br/proposicoesWeb/
fichadetramitacao?idProposicao=1555470. Acesso em: 3 jan. 2022.
CONWAY, M. Reality Bytes: Cyberterrorism and Terrorist ‘Use’ of the Internet. Bridgman:
Fisrt Monday vol. 7 n.11, 2002. Disponível em: http://doras.dcu.ie/498/1/first_
mon_7_11_2002.pdf. Acesso em: 26 dez. 2021.
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Dorothy_2000_cyberterrorism.pdf?sequence=1. Acesso em: 26 dez. 2021.
LIVECOINS. Valor total de transações com bitcoin em 2021 deve superar PIB dos
EUA. 2021. Disponível em: https://livecoins.com.br/volume-bitcoin-2021-pib-eua/.
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