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Cartografia e

Topografia

Prof. Gregório Carlos De Simone

Indaial – 2022
1a Edição
Elaboração:
Prof. Gregório Carlos De Simone

Copyright © UNIASSELVI 2022

Revisão, Diagramação e Produção:


Equipe Desenvolvimento de Conteúdos EdTech
Centro Universitário Leonardo da Vinci – UNIASSELVI

Ficha catalográfica elaborada pela equipe Conteúdos EdTech UNIASSELVI

C397 CENTRO UNIVERSITÁRIO LEONARDO DA VINCI.


Núcleo de Educação a Distância. SIMONE, Gregório Carlos De.

Cartografia e Topografia. Gregório Carlos De Simone. Indaial - SC:


UNIASSELVI, 2022.

225p.

ISBN XXX-XX-XXX-XXXX-X

“Graduação - EaD”.
1. Cartografia 2. Topografia 3. Mapas

CDD XXXXX
Bibliotecário: João Vivaldo de Souza CRB- 9-1679

Impresso por:
APRESENTAÇÃO
Caro acadêmico, é com grande satisfação que apresentamos esta nova edição
do livro da disciplina de Cartografia e Topografia. Nesta obra, sintetizamos e aprimora-
mos os conteúdos fundamentais de forma alinhada com as principais obras da carto-
grafia e topografia nacional e internacional.

Na primeira unidade, discutiremos como o saber cartográfico e os mapas es-


tavam presentes nas sociedades antes mesmo da invenção da escrita. Aprenderemos
que os mapas são formas de comunicação particulares de cada povo, sendo influen-
ciados diretamente pelo contexto social, cultural e econômico da época. Discutiremos,
também, o processo de sistematização da Cartografia em uma ciência autônoma, sa-
lientando os principais paradigmas que estruturam a agenda de pesquisa dessa ciência
nos últimos cinquenta anos. Discutiremos os principais produtos cartográficos, as fina-
lidades e características. A partir desses produtos, analisaremos, também, os processos
e as etapas que constituem a produção de uma informação cartográfica, salientando a
grande influência que o autor de mapas possui na representação espacial. Por fim, es-
tudaremos como esses processos são influenciados pela escala cartográfica, discutindo
meios para a realização do seu cálculo e especificidades da escala gráfica e numérica.

Na segunda unidade, estudaremos o processo histórico de determinação


da verdadeira forma da Terra. Verificaremos como os povos antigos realizavam suas
investigações para trabalhar com os indícios da esfericidade do nosso planeta e as
principais teorias desses pensadores. Aprenderemos, também, como podemos nos
orientar no espaço a partir de instrumentos, como a bússola, bem como calcular, de
maneira exata, os ângulos para nossa orientação. Por fim, trabalharemos o cálculo das
coordenadas geográficas como um meio para realizarmos a localização em qualquer
ponto do planeta Terra.

Na terceira e última unidade, discutiremos os desafios envolvidos na construção


e escolha das projeções cartográficas. Estudaremos, os principais meios no levanta-
mento de dados da paisagem e as formas mais empregadas na representação do relevo,
com ênfase nas cartas topográficas. Discutiremos, ainda, o princípio organizador dos
fusos horários, bem como os meios de calcularmos a diferença dos horários entre várias
localidades. Encerraremos nossos estudos discutindo os impactos que as novas tecno-
logias causaram na Cartografia e Topografia com o desenvolvimento e a popularização
dos Sistemas de Informação Geográfica.

Esperamos que este livro seja seu companheiro nesta sua trajetória de
formação profissional.

Bons estudos!

Prof. Gregório Carlos De Simone


GIO
Olá, eu sou a Gio!

No livro didático, você encontrará blocos com informações


adicionais – muitas vezes essenciais para o seu entendimento
acadêmico como um todo. Eu ajudarei você a entender
melhor o que são essas informações adicionais e por que você
poderá se beneficiar ao fazer a leitura dessas informações
durante o estudo do livro. Ela trará informações adicionais
e outras fontes de conhecimento que complementam o
assunto estudado em questão.

Na Educação a Distância, o livro impresso, entregue a todos


os acadêmicos desde 2005, é o material-base da disciplina.
A partir de 2021, além de nossos livros estarem com um
novo visual – com um formato mais prático, que cabe na
bolsa e facilita a leitura –, prepare-se para uma jornada
também digital, em que você pode acompanhar os recursos
adicionais disponibilizados através dos QR Codes ao longo
deste livro. O conteúdo continua na íntegra, mas a estrutura
interna foi aperfeiçoada com uma nova diagramação no
texto, aproveitando ao máximo o espaço da página – o que
também contribui para diminuir a extração de árvores para
produção de folhas de papel, por exemplo.

Preocupados com o impacto de ações sobre o meio ambiente,


apresentamos também este livro no formato digital. Portanto,
acadêmico, agora você tem a possibilidade de estudar com
versatilidade nas telas do celular, tablet ou computador.

Preparamos também um novo layout. Diante disso, você


verá frequentemente o novo visual adquirido. Todos esses
ajustes foram pensados a partir de relatos que recebemos
nas pesquisas institucionais sobre os materiais impressos,
para que você, nossa maior prioridade, possa continuar os
seus estudos com um material atualizado e de qualidade.

QR CODE
Olá, acadêmico! Para melhorar a qualidade dos materiais ofertados a você – e
dinamizar, ainda mais, os seus estudos –, nós disponibilizamos uma diversidade de QR Codes
completamente gratuitos e que nunca expiram. O QR Code é um código que permite que você
acesse um conteúdo interativo relacionado ao tema que você está estudando. Para utilizar
essa ferramenta, acesse as lojas de aplicativos e baixe um leitor de QR Code. Depois, é só
aproveitar essa facilidade para aprimorar os seus estudos.
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Acadêmico, você sabe o que é o ENADE? O Enade é um
dos meios avaliativos dos cursos superiores no sistema federal de
educação superior. Todos os estudantes estão habilitados a participar
do ENADE (ingressantes e concluintes das áreas e cursos a serem
avaliados). Diante disso, preparamos um conteúdo simples e objetivo
para complementar a sua compreensão acerca do ENADE. Confira,
acessando o QR Code a seguir. Boa leitura!

LEMBRETE
Olá, acadêmico! Iniciamos agora mais uma
disciplina e com ela um novo conhecimento.

Com o objetivo de enriquecer seu conheci-


mento, construímos, além do livro que está em
suas mãos, uma rica trilha de aprendizagem,
por meio dela você terá contato com o vídeo
da disciplina, o objeto de aprendizagem, materiais complementa-
res, entre outros, todos pensados e construídos na intenção de
auxiliar seu crescimento.

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preparamos para seu estudo.

Conte conosco, estaremos juntos nesta caminhada!


SUMÁRIO
UNIDADE 1 - ELEMENTOS E PROCESSOS FUNDAMENTAIS
PARA A COMUNICAÇÃO CARTOGRÁFICA............................................................................. 1

TÓPICO 1 - A CIÊNCIA CARTOGRÁFICA.................................................................................3


1 INTRODUÇÃO........................................................................................................................3
2 O MAPA NA HISTÓRIA DA HUMANIDADE...........................................................................3
3 O PARADIGMA DA COMUNICAÇÃO CARTOGRÁFICA......................................................... 7
4 A VISUALIZAÇÃO CARTOGRÁFICA................................................................................... 10
RESUMO DO TÓPICO 1..........................................................................................................14
AUTOATIVIDADE................................................................................................................... 15

TÓPICO 2 - OS PRODUTOS CARTOGRÁFICOS BÁSICOS.................................................... 17


1 INTRODUÇÃO...................................................................................................................... 17
2 MAPA E CARTA................................................................................................................... 17
3 PLANTA.............................................................................................................................. 21
4 CROQUI............................................................................................................................... 21
5 GLOBO............................................................................................................................... 22
6 MOSAICO........................................................................................................................... 23
6.1 CARTA-IMAGEM....................................................................................................................................23
6.2 ORTOFOTOCARTA................................................................................................................................24
RESUMO DO TÓPICO 2......................................................................................................... 25
AUTOATIVIDADE.................................................................................................................. 26

TÓPICO 3 - ESCALA E AS ETAPAS DO PROJETO CARTOGRÁFICO.................................. 29


1 INTRODUÇÃO..................................................................................................................... 29
2 DESCOBRINDO AS ETAPAS DO PROJETO....................................................................... 29
3 ESCALAS DE MEDIDA........................................................................................................ 31
4 A CONTRIBUIÇÃO DA SEMIOLOGIA GRÁFICA PARA A CONSTRUÇÃO
DA LINGUAGEM DOS MAPAS............................................................................................... 34
4.1 MODOS DE IMPLANTAÇÃO DAS VARIÁVEIS VISUAIS.................................................................. 41
5 ESCALA CARTOGRÁFICA................................................................................................. 42
LEITURA COMPLEMENTAR................................................................................................. 48
RESUMO DO TÓPICO 3......................................................................................................... 54
AUTOATIVIDADE.................................................................................................................. 55

REFERÊNCIAS.......................................................................................................................57

UNIDADE 2 — OS DESAFIOS DA CARTOGRAFIA NA REPRESENTAÇÃO


DA FORMA DA TERRA........................................................................................................... 61

TÓPICO 1 — A FORMA DA TERRA......................................................................................... 63


1 INTRODUÇÃO..................................................................................................................... 63
2 A FORMA DA TERRA......................................................................................................... 63
3 ESTRATÉGIAS DE ORIENTAÇÃO NO ESPAÇO................................................................. 69
3.1 CALCULANDO RUMOS E AZIMUTES................................................................................................ 73
3.1.1 Azimute.......................................................................................................................................... 73
3.1.2 Rumo............................................................................................................................................. 74
3.2 TRANSFORMAÇÕES DE RUMO E AZIMUTE................................................................................... 75
4 AS COORDENADAS GEOGRÁFICAS..................................................................................76
RESUMO DO TÓPICO 1.......................................................................................................... 81
AUTOATIVIDADE.................................................................................................................. 82

TÓPICO 2 - PROJEÇÕES CARTOGRÁFICAS E REPRESENTAÇÃO DO RELEVO.................. 85


1 INTRODUÇÃO..................................................................................................................... 85
2 AS PROJEÇÕES CARTOGRÁFICAS.................................................................................. 85
3 CONHECENDO OS PRINCIPAIS MÉTODOS PARA A REALIZAÇÃO
DE LEVANTAMENTOS PLANIALTIMÉTRICOS..................................................................... 94
4 REPRESENTAÇÃO E LEITURA DO RELEVO NA CARTOGRAFIA.......................................97
4.1 CONSTRUÇÃO E LEITURA DE PERFIS TOPOGRÁFICOS..............................................................99
RESUMO DO TÓPICO 2........................................................................................................105
AUTOATIVIDADE.................................................................................................................106

TÓPICO 3 - FUSOS HORÁRIOS E SISTEMAS DE INFORMAÇÃO GEOGRÁFICA................109


1 INTRODUÇÃO....................................................................................................................109
2 FUSOS HORÁRIOS...........................................................................................................109
2.1 CALCULANDO OS FUSOS HORÁRIOS.............................................................................................112
3 O PAPEL DOS SISTEMAS DE INFORMAÇÃO GEOGRÁFICA (SIG).................................. 115
4 OS PRINCIPAIS MODELOS DE DADOS ESPACIAIS........................................................ 116
4.1 DADOS TEMÁTICOS ............................................................................................................................ 117
4.2 DADOS CADASTRAIS......................................................................................................................... 117
4.3 REDES...................................................................................................................................................118
4.4 IMAGEM.................................................................................................................................................119
4.5 MODELO NUMÉRICO DO TERRENO (MNT)...................................................................................120
LEITURA COMPLEMENTAR................................................................................................ 121
RESUMO DO TÓPICO 3........................................................................................................126
AUTOATIVIDADE................................................................................................................. 127

REFERÊNCIAS.....................................................................................................................129

UNIDADE 3 — A VISÃO TOPOGRÁFICA.............................................................................. 131

TÓPICO 1 — TOPOGRAFIA...................................................................................................133
1 INTRODUÇÃO....................................................................................................................133
2 INTRODUÇÃO À TOPOGRAFIA.........................................................................................133
3 UNIDADES DE MEDIDA................................................................................................... 140
3.1 PRECISÃO X EXATIDÃO..................................................................................................................... 142
4 EQUIPAMENTOS E DISPOSITIVOS..................................................................................148
RESUMO DO TÓPICO 1........................................................................................................159
AUTOATIVIDADE.................................................................................................................160

TÓPICO 2 - SISTEMAS DE REFERÊNCIA...........................................................................163


1 INTRODUÇÃO....................................................................................................................163
2 CONCEPÇÃO E DEFINIÇÃO DOS SISTEMAS DE REFERÊNCIA......................................163
3 PROJEÇÕES CARTOGRÁFICAS...................................................................................... 167
4 PROJEÇÃO UTM............................................................................................................... 173
RESUMO DO TÓPICO 2........................................................................................................183
AUTOATIVIDADE.................................................................................................................184

TÓPICO 3 - O TRABALHO TOPOGRÁFICO.........................................................................187


1 INTRODUÇÃO....................................................................................................................187
2 ALTIMETRIA OU HIPSOMETRIA.......................................................................................187
3 APLICAÇÕES DOS NIVELAMENTO TRIGONOMÉTRICOS E TAQUEOMÉTRICOS...............195
4 PERFIS TRANSVERSAIS E CURVAS DE NÍVEL.............................................................. 209
LEITURA COMPLEMENTAR................................................................................................ 217
RESUMO DO TÓPICO 3........................................................................................................221
AUTOATIVIDADE................................................................................................................ 222

REFERÊNCIAS.................................................................................................................... 225
UNIDADE 1 -

ELEMENTOS E PROCESSOS
FUNDAMENTAIS PARA
A COMUNICAÇÃO
CARTOGRÁFICA

OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM
A partir do estudo desta unidade, você deverá ser capaz de:

• compreender o processo de sistematização da ciência cartográfica;

• apresentar os principais produtos cartográficos;

• discutir o processo de seleção, generalização e simbolização do projeto cartográfico;

• entender o papel da escala cartográfica.

PLANO DE ESTUDOS
A cada tópico desta unidade você encontrará autoatividades com o objetivo de
reforçar o conteúdo apresentado.

TÓPICO 1 – A CIÊNCIA CARTOGRÁFICA


TÓPICO 2 – OS PRODUTO CARTOGRÁFICOS BÁSICOS
TÓPICO 3 – ESCALA E AS ETAPAS DO PROJETO CARTOGRÁFICO

CHAMADA
Preparado para ampliar seus conhecimentos? Respire e vamos em frente! Procure
um ambiente que facilite a concentração, assim absorverá melhor as informações.

1
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A TRILHA DA
UNIDADE 1!

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2
UNIDADE 1 TÓPICO 1 -
A CIÊNCIA CARTOGRÁFICA

1 INTRODUÇÃO

Caro acadêmico, iniciaremos nossos estudos de Cartografia discutindo o seu


papel ao longo da história. Como será visto, embora a prática de mapear o espaço seja
anterior à escrita, a sistematização da Cartografia como ciência autônoma é muito
recente, remontando ao período que sucede a Segunda Guerra Mundial. Nesse sentido,
abordaremos a Cartografia em dois momentos distintos, porém complementares:
a Cartografia enquanto prática humana inerente à necessidade de compreensão e
exploração do espaço; e enquanto ciência autônoma, com paradigmas e linhas de
pesquisa sistematizadas por um amplo corpo de pesquisadores.

O mapa, muito além de um registro estático da realidade, revela visões de


mundo e estratégias cognitivas de compreensão do espaço pelos seres humanos. Neste
tópico, demonstraremos como o conhecimento humano na representação do espaço
evoluiu e se transformou em um corpo sistematizado de conhecimento, que é a ciência
cartográfica.

Esperamos que essas discussões permitam que você desenvolva uma leitura
mais ampla e integrada do papel da Cartografia em nossa sociedade, bem como dos
caminhos que essa ciência percorreu até os dias atuais.

2 O MAPA NA HISTÓRIA DA HUMANIDADE


Segundo Matias (1996), na pré-história, o conhecimento do meio era transmitido
de forma oral e gestual, e seu registro era realizado por meio de inscrições gráficas em
rochas nos interiores das cavernas. O conhecimento era restrito à sua vivência mais
imediata e estava associado às atividades essenciais para a manutenção do grupo, tais
como a pesca, a caça e a moradia. O gesto, a pintura e a produção de sons, por exemplo,
tornam possível que os seres humanos produzam e manipulem elementos mentais
que denominaremos representações ou signos. De acordo com Santaella (2012), signo
é tudo aquilo que, independentemente do seu material constituinte ou da sua forma,
representa algum aspecto de algo para alguém. Podemos afirmar, portanto, que as
palavras que falamos no nosso dia a dia, os gestos que fazemos no trabalho ou as ideias
vagas que temos quando assistimos uma aula são signos, embora o modo com que
funcionem sejam diferenciados.

3
O mapa, nesse sentido, também pode ser considerado um signo, ou melhor,
um complexo sistema de signos que comunica algum aspecto do espaço para outra(s)
pessoa(s) ou para nós mesmos. Vale notar que o desenvolvimento de novas técnicas
torna possível que os seres humanos criem signos mais elaborados, com mais possibi-
lidades de uso – e isso, naturalmente, é válido também para os mapas. Basta imaginar-
mos como é muito mais fácil identificarmos, hoje, a orientação geográfica de um fenô-
meno a partir do Google Maps se compararmos, por exemplo, a um mapa do século XIII.

Com o desenvolvimento da técnica, o homem tornou-se capaz de realizar


atividades mais complexas e de criar um meio cada vez menos restrito às possibilidades
ofertadas pela natureza: o desenvolvimento da agricultura permitiu aos homens a
sedentarizarão (e demandou conhecimento de áreas mais próprias para o cultivo), as
caravelas permitiram que novos territórios além-mar fossem conquistados (e tornou
urgente a confecção de mapas para a navegação), enquanto as revoluções industriais
criaram novas demandas de recursos energéticos (e o entendimento de sua distribuição
e localização). Representar o espaço, portanto, sempre foi uma necessidade para o
desenvolvimento dos povos.

As características selecionadas do espaço para sua representação cartográfica


são variáveis, não estando restritas unicamente à localização exata dos fenômenos.
Ao longo da história, os mapas foram empregados para: localizar os fenômenos e para
fins ritualísticos; demarcar fronteiras; mapear recursos naturais; expressar visões da
organização do próprio mundo, dentre muitos outros papéis.

Hoje, a Cartografia é reconhecida como uma linguagem mais universal e mais


antiga do que se pensava, e não estamos nos referindo ao termo Cartografia, neste
momento, como uma ciência exata, mas como um conjunto de saberes envolvidos na
produção de representações do espaço que cada povo desenvolveu de acordo com
suas necessidades. Isso significa que seria um reducionismo irresponsável definir que o
conhecimento humano na construção de mapas ocorreu de maneira linear e de acordo
com a nossa visão moderna da Cartografia. Vários povos antigos, como os chineses,
indianos, gregos e indígenas, por exemplo, desenvolveram suas cartografias, mas cada
um com suas particularidades.

Ao longo dos séculos XVI e XVII, a Cartografia foi desenvolvida e aprimorada por
diversas sociedades que a enxergavam como um meio necessário para o crescimento
econômico e a conquista de novas terras e mercados. Além dos portugueses, espanhóis
e italianos, os holandeses vivenciaram um período de grande destaque na Cartografia,
com destaque para Gerhard Kremer, também conhecido por seu nome latinizado,
Geraldo Mercator (1512–1594).

Além do desenvolvimento da projeção cartográfica que leva seu nome, Mercator


teve o mérito de revisar os estudos de Ptolomeu a respeito da Geografia, Astronomia,
História Natural e das Ciências Naturais, baseado em relatos de navegantes mais
confiáveis e a partir de dados de viagens empreendidas por ele mesmo.

4
Entretanto, havia alguns problemas significativos que assolavam os mapas
desse período: em áreas com pouca informação disponível, era comum que fossem
preenchidos os espaços em branco dos mapas com informações fictícias ou exageradas,
para se tornarem mais atrativos comercialmente (RAISZ, 1969), assim como exemplifica
a Figura 1:

Figura 1 – Caspar Plautius (1621): um exemplo de mapa com informações fictícias

Fonte: Dreyer-Eimbcke (1996, s.p.)

NOTA
A palavra “atlas”, que hoje utilizamos para designar publicações que
reúnem um conjunto de mapas, também nos foi legada por Mercator.
Como consequência de um trabalho de muitos anos, foram reunidos
vários mapas para resultar numa publicação, a qual Mercator chamou
de Atlas. Devemos lembrar, entretanto, que a edição só ocorreu em
1595, quatro meses após a morte de Mercator, por iniciativa de seu filho
Rumold. O motivo que levou a escolha da palavra atlas, entretanto, ainda
gera discussões. Para alguns, foi escolhida como uma homenagem ao rei
Atlas (da Mauritânia). Para outros, teria sido uma referência à divindade
grega Atlas, que, de acordo com a mitologia, tendo tomado o partido dos
gigantes contra os deuses e pretendendo derrubar o céu, fora condenado
por Zeus a sustentá-lo nos próprios ombros.

Fonte: DUARTE, P. A. Fundamentos de cartografia. 2. ed. Florianópolis:


Editora da UFSC, 2002.

Se existe um momento em que o conhecimento do território é uma questão,


literalmente, de vida ou morte, esse momento é durante uma guerra: com o desenrolar
das Primeira e Segunda Guerras Mundiais, no século XX, mapear o território inimigo
tornou-se fundamental, contudo, como criar mapas confiáveis, eficazes em representar

5
o espaço e de rápido entendimento? Essas eram questões que, durante a Segunda
Guerra Mundial, eram urgentes e desafiavam Arthur Robinson, o responsável pela
Divisão de Mapas do Escritório de Assuntos Estratégicos dos Estados Unidos da
América (MONTELLO, 2002).Robinson amadureceu um repertório de experiências muito
significativas durante a guerra, o que motivou a sintetizar suas lições apreendidas em
um livro denominado The Look of Maps: an examination of cartographic design, algo
como “A aparência dos mapas: um exame do desenho cartográfico”, publicado em 1952.

A grande inovação desse material foi a apresentação de um estudo sistemático


de como elaborar adequadamente um projeto cartográfico, isto é, as diretrizes que
deveriam guiar a construção de um mapa cuja chave estaria no entendimento das
limitações da percepção visual humana.

De acordo com Robinson (1952), a essência da Cartografia é tornar uma infor-


mação inteligível para o leitor. Mais do que simplesmente desenhar, a Cartografia deve
pensar em métodos adequados para selecionar, generalizar e representar as informa-
ções do espaço para algum usuário de mapas. Nessa obra, Robinson construiu uma
aproximação entre a Psicologia e a Cartografia, mais especificamente em um modelo
de análise estímulo-resposta, conhecido como psicofísico. Basicamente, esse modelo
comparava as respostas que os usuários de mapas relatavam na percepção do tama-
nho e das cores empregadas nos símbolos cartográficos, embora não fizesse parte des-
se programa de pesquisas uma preocupação em entender por que determinada sequ-
ência de cores, por exemplo, era mais bem avaliada que outra (SANTIL; SLUTER, 2011).

Mesmo que não fosse o primeiro a sugerir que a Cartografia deveria se aproximar
da Psicologia para compreender como os mapas, efetivamente, funcionavam, Robinson
foi o primeiro a publicar um estudo sistemático de mapas que seguiu essa estratégia
metodológica (MONTELLO, 2002). The Look of Maps foi responsável por semear um
princípio que transformaria a Cartografia nas décadas seguintes: de que os usuários de
mapas deveriam ser considerados na definição das proposições do projeto cartográfico,
pois o mapa serve como um canal de comunicação entre dois entes: o autor de mapas
e o usuário. No caso, se o mapa é um canal de comunicação, sua eficácia só poderia
ser avaliada se o destinatário final fosse considerado nessa equação. Essa “construção
de princípios” deveria estar alicerçada na pesquisa empírica, com testes laboratoriais,
o que, de certa forma, afastou a ideia da Cartografia como uma prática artística e a
aproximou de uma prática científica, sistematizada.

Evidentemente, separar a ciência da arte e etiquetar um mapa como perten-


cente apenas a uma dessas categorias é um reducionismo perigoso. Assim, esperamos
que nossa breve apresentação da história dos mapas no início desta Unidade tenha
deixado claro que essa questão é muito mais complexa, entretanto, o que gostaríamos
de pontuar é que foi a partir da publicação da obra de Arthur Robinson que a Cartografia
passou a ser abordada como uma ciência que necessitava de testes empíricos para

6
sua evolução, e não apenas impressões estéticas individuais dos seus autores. Didati-
camente, podemos dizer que a Cartografia era pensada a partir de um novo paradigma,
que denominaremos Comunicação Cartográfica.

3 O PARADIGMA DA COMUNICAÇÃO CARTOGRÁFICA


Quando afirmamos que uma ciência constrói um paradigma, estamos dizendo
que um grupo de pesquisadores compartilham alguns princípios para a investigação e
para o entendimento do seu objeto de estudo. De acordo com Correa (2011, p. 60), um
paradigma é um “conjunto de ações intelectuais que possibilitam estabelecer uma dada
inteligibilidade a realidade, com base em conexões de ideais de natureza descritiva,
explicativa, normativa, preditiva ou compreensiva”. No caso da ciência cartográfica,
o primeiro paradigma que orientou o maior número de programas de pesquisa é
denominado comunicação cartográfica.

O primeiro e principal aspecto desse paradigma foi considerar que todo mapa
é constituído por “mensagens” pré-definidas pelo seu autor, de tal modo que a grande
tarefa da Cartografia seria investigar quais são as estratégias mais otimizadas para se
transmitir essas mensagens para um usuário (MACEACHREN, 1995). Essa tentativa de
compreender o processo de comunicação entre o autor, o mapa e o usuário deram
origem a uma serie de modelos esquemáticos para tornar mais inteligível o processo de
comunicação cartográfica, sendo o principal deles aprimorado e publicado por Kolačny,
em 1969, assim como ilustra a Figura 2:

Figura 2 – Modelo da comunicação cartográfica

Fonte: adaptado de MacEachren (1995)


Descrição da imagem: modelo de comunicação da informação cartográfica proposto por Kolačny em 1969. O
modelo se constitui como um fluxo informativo que tem, como origem, a mente do cartógrafo, que se materializa
no mapa e é direcionado para o usuário. A comunicação seria bem-sucedida quando uma parcela da realidade do
cartografo correspondesse ao repertorio da realidade do usuário.

7
Basicamente, o modelo da comunicação da informação cartográfica se constitui
no reconhecimento de que a transmissão de uma informação é sempre relativa ao
universo do autor de mapas, que propõe uma mensagem a ser transmitida.

Os signos que representam as ideias da mente do cartógrafo e tornam possível


a comunicação são materializados na linguagem cartográfica, e a eficácia das escolhas
feitas pelo autor dependem de vários fatores, tais como: a experiência profissional de
quem produz o mapa, as particularidades dos seus processos psicológicos, os meios
técnicos para a confecção do produto cartográfico, dentre outros.

O mapa, portanto, é apenas um momento de uma cadeia comunicativa de


ideias, e sua eficácia em transmiti-las depende do esforço dos cartógrafos em realizar
a máxima diminuição de ruídos possível. Então, o que é um ruido? Vamos imaginar uma
situação hipotética em que estamos conversando por meio de uma ligação telefônica.
De repente, um caminhão passa ao lado de um dos falantes, impedindo que o ouvinte
escute com clareza a mensagem transmitida na conversa.

Pode ser, ainda, que um dos telefones empregados na conversa tenha um


defeito no microfone, o que impede a captação adequada do áudio, ou, ainda, que um
dos interlocutores utilize uma expressão verbal desconhecida pelo ouvinte.

Temos três exemplos de ruídos que impedem uma comunicação eficaz. No


mapa, são considerados ruídos quaisquer elementos que dificultem sua leitura, como a
confecção de símbolos muito pequenos, o uso de contraste de cores muito exageradas,
a presença de informações irrelevantes que causem distrações no leitor ou até
mesmo a qualidade gráfica insuficiente da impressão. Nesse sentido, o autor de mapas
deve identificar e corrigir os ruídos do mapa para que a comunicação da informação
cartográfica seja a mais direta possível (GARBIN, 2016).

O segundo domínio do esquema de comunicação cartográfica proposto por


Kolačny é relativo ao repertório de conhecimentos pertencentes ao usuário de mapas.
É nele que os conteúdos representados pelo mapa serão extraídos, e essa tarefa exige
que o leitor conheça minimamente as convenções e as características que estruturam a
linguagem cartográfica, bem como tenha as condições ambientais e cognitivas mínimas
para que a mensagem obtida seja interpretada.

O terceiro aspecto que chama a atenção desse esquema é a sobreposição das


realidades do autor de mapas e do usuário. Essa área sobreposta significa que deve existir
um ponto de contato entre o repertorio de conhecimento da linguagem cartográfica
entre o emissor e o receptor para que a mensagem seja devidamente compreendida.

O mapa, portanto, deve ser construído tendo em vista que pontos de contato
são esses e a maneira de descobri-los, investigando o perfil do usuário para o qual
o mapa se destina. O problema é que, nesse paradigma, os usuários de mapas são

8
considerados meras “caixas pretas” que respondem ao estímulo do mapa, desconsi-
derando a criatividade, a inventividade, a influência da cultura, o contexto e a subjeti-
vidade dos seres humanos na interpretação de um produto cartográfico (KENT, 2018;
MACEACHREN, 1995).

Embora seja um princípio importante, na prática, os mapas, poucas vezes, apre-


sentam a característica de ter uma mensagem específica construída pelo cartógrafo ou
geógrafo. Que tal explorarmos algumas situações para compreendermos as limitações
desse princípio? Considere uma carta topográfica, um dos produtos mais conhecidos da
Cartografia: qual é a mensagem que essa carta comunica? Será que é a localização exata
das cotas de altitude do terreno? A posição relativa dos cursos d’agua? Ou o tamanho
das cidades?

Figura 3 – Fragmento de uma carta topográfica

Fonte: https://commons.wikimedia.org/wiki/File:Topographic_map_example.png. Acesso em: 26 ago. 2022.

Mesmo se considerarmos que a localização dos fenômenos da paisagem seja a


mensagem principal desse produto, essa visão seria ainda incompleta, pois um geólogo
poderia encontrar novas informações ou mensagens mais específicas da dinâmica
da paisagem se compararmos com a leitura realizada por um engenheiro civil, por
exemplo. Além disso, será que quem faz o mapa tem todo o controle e conhecimento
das informações que um mapa pode conter? Há, ainda, novos complicadores que
não existiam no momento de adoção desse paradigma: será que a disseminação de
computadores, que transformam o mapa de maneira instantânea, torna útil esse tipo de
modelo de comunicação?

9
Como você, caro acadêmico, pode perceber, as perguntas são diversas. Para
construirmos uma resposta satisfatória, e necessário introduzirmos novos conceitos
nesta linha do tempo da Cartografia, tratando de uma ação mental que todos nós
realizamos é que a ciência cartográfica começou a integrar em suas discussões teóricas:
a visualização.

4 A VISUALIZAÇÃO CARTOGRÁFICA
Assim como percebemos, a tarefa primordial do paradigma da comunicação
cartográfica foi a de encontrar mapas otimizados e funcionais para a realização de tarefas
especificas para cada tipo de usuário. Acontece que, ao longo das décadas de 1980 e
1990, a disseminação de computadores para o grande público forçou os cartógrafos a se
depararem com um cenário totalmente novo: pessoas comuns, sem qualquer formação
especializada em mapas, tinham acesso a programas computacionais cada vez mais
amigáveis, o que tornava a produção de mapas uma tarefa cada vez mais corriqueira e
não restrita a especialistas e pesquisadores das geociências.

Além disso, com a facilidade em compartilhar informações via Internet, um


número cada vez maior de usuários tinha acesso a mapas que não necessariamente eram
voltados para o seu perfil. Sera que esses novos usuários que não apenas consumiam,
mas produziam seus próprios mapas, buscavam uma formação complementar para
produzir os seus mapas no dia a dia? Não – e isso levou a comunidade de pesquisadores
em Cartografia a repensar alguns princípios até então amplamente aceitos.

O primeiro ponto que gostaríamos de enfatizar é que, independentemente do


tipo de uso que os usuários fazem dos mapas, todos eles envolvem uma ação cognitiva
que consiste em gerar imagens mentais que denominamos visualização.

Em termos gerais, visualizar significa tornar visível para a mente alguma coisa, o
que não necessariamente significa restringir essa “imagem mental” ao domínio da visão,
mas compreendê-las como signos especiais que facilitam um melhor entendimento da
realidade por parte dos seres humanos.

A visualização científica refere-se a ações de visualização voltadas a explorar


a realidade a partir do método científico e, nesse sentido, a Cartografia começou a se
debruçar sobre o estudo das diferentes formas de visualizar o espaço – não só entender
melhor suas características físicas, mas sociais, econômicas, sanitárias, culturais,
dentre outras. O termo empregado para se referir aos modos de visualizar o espaço
para a Cartografia é visualização cartográfica ou, ainda, visualização geográfica (ou
geovisualização). Para que um mapa gere visualizações, espera-se que seja capaz de
facilitar o entendimento de algum aspecto do espaço – embora isso, de certa forma,
seja uma tarefa realizada por qualquer bom mapa.

10
A questão que é posta como desafiadora é que os computadores permitiram
que fossem desenvolvidos softwares, como os Sistemas de Informação Geográfica
(SIGs), que permitem maior interação e, consequentemente, uma transformação do
produto cartográfico sempre que o usuário precisar. Por exemplo: a possibilidade de
escolher, no Google Maps, entre uma camada sombreada do relevo, das vias de circu-
lação ou da imagem de satélite permite que o usuário visualize um mesmo espaço da
maneira que mais lhe convém. Esse era um cenário inimaginável no contexto anterior a
Cartografia digital, pois os mapas eram “congelados” no papel e sua atualização poderia
ser custosa e demorada.

Para que essas novas características da Cartografia fossem ressaltadas, novos


esquemas foram formulados pela comunidade científica, cada qual valorizando um novo
cenário das pesquisas sobre mapas. Vejamos dois dos principais modelos:

Figura 4 – Os quatro “momentos” do uso do mapa: exploração, confirmação, síntese e apresentação

Fonte: adaptada de MacEachren (1995)

O primeiro modelo proposto por DiBiase (1990) enfoca os diferentes momentos


no uso dos mapas e agrupam seus usuários em duas grandes classes: os especialistas
(domínio privado) e os não especialistas (domínio público). O domínio privado é composto
por pesquisadores ou usuários avançados que utilizam o mapa para gerar um novo
conhecimento ou, ainda, confirmar hipóteses exploratórias. No caso, os mapas gerados
para esse domínio voltado para a exploração e confirmação de hipóteses científicas pode
não necessitar de mapas que sigam, rigorosamente, todas as convenções cartográficas,
e sua aparência final pode ser, até mesmo, considerada pouco amigável por usuários
não especialistas.

11
Por outro lado, usuários não especialistas, pertencentes do domínio público,
usam mapas em um nível mais elementar para a realização de tarefas mais simples
e cotidianas. Basicamente, esses usuários decodificam uma informação já explorada
e tratada por algum pesquisador, o que exige que o mapa seja pensado – inclusive,
esteticamente – para ser amigável a um número maior e menos restrito de usuários.
Nesse sentido, o paradigma da comunicação cartográfica é mais evidente nesse domínio
marcado pela comunicação visual, ao contrário do domínio privado, que é marcado pelo
pensamento visual.

É fundamental lembrarmos que essas quatro etapas e esses dois domínios não
são excludentes, mas predominantes. O que o autor de mapas deve considerar é em
qual momento no processo de investigação cientifica – de exploração, confirmação,
síntese ou de apresentação – o mapa em questão será empregado. A capacidade de
transformação e adaptação de um mapa ou de um SIG em alterar as formas com que
um fenômeno pode ser representado para que novas informações do espaço estudado
sejam exploradas ou confirmadas é denominado interatividade.

Dentre as características que um produto cartográfico pode oferecer, podemos


elencar a mudança nos níveis ou camadas de informações, alteração rápida no modo de
implantação e representação dos dados, representação de fenômenos em movimento
ou, ainda, alteração da escala cartográfica de maneira automática. Essa propriedade
de interatividade deve ser sempre considerada de maneira relativa, isto é, os produtos
cartográficos podem apresentar baixa ou alta interatividade na representação dos fenô-
menos e não deve ser vista como uma propriedade presente ou ausente de um mapa.
Essa propriedade, que pode, ou não, favorecer a visualização, é assinalada no esquema
desenvolvido por MacEachren (1995), comumente denominado cartografia ao cubo:

Figura 5 – O modelo “cartografia ao cubo” ou “cubo cartográfico”

Fonte: adaptada de MacEachren (1995)

12
Esse modelo conceitual demonstra a presença de três parâmetros que carac-
terizam o mapa: o tipo de público atendido, o grau de interatividade do produto e o
tipo de função que desempenha. Os vértices opostos, formados nos polos contrários
dos três parâmetros apresentados, indicam a atividade predominante que um produto
cartográfico pode desempenhar: produtos com alta interatividade, usados por usuários
do domínio privado para explorar novos conhecimentos, priorizam a ação da visuali-
zação. Por outro lado, os usuários do domínio público, com acesso aos produtos de
baixa interatividade e que usam os mapas para decodificar informações já confirmadas
cientificamente estão inseridos nas atividades típicas da comunicação cartográfica.

13
RESUMO DO TÓPICO 1
Neste tópico, você aprendeu:

• Representar o espaço sempre foi uma necessidade para o desenvolvimento dos


povos.

• Os quatro “momentos” do uso do mapa são a exploração, confirmação, síntese e


apresentação.

• Em termos gerais, visualizar significa tornar visível para a mente alguma coisa, o que
não, necessariamente, significa restringir essa “imagem mental” ao domínio da visão,
mas compreendê-las como signos especiais que facilitam um melhor entendimento
da realidade por parte dos seres humanos.

• Dentre as características que um produto cartográfico pode oferecer, podemos


elencar a mudança nos níveis ou camadas de informações, alteração rápida no
modo de implantação e representação dos dados, representação de fenômenos em
movimento ou, ainda, alteração da escala cartográfica de maneira automática.

14
AUTOATIVIDADE
1 Embora a Cartografia seja uma prática milenar, sua sistematização em uma ciência
autônoma aconteceu somente após a Segunda Guerra Mundial. Assinale a alternativa
que corresponde à principal característica desse reconhecimento:

a) ( ) O surgimento de uma nova categoria de mapas denominada mapas temáticos,


que reflete o desenvolvimento tecnológico e as novas formas de coletas de dados.
b) ( ) A adoção de um paradigma científico denominado comunicação cartográfica,
que orientou as pesquisas em Cartografia.
c) ( ) O desenvolvimento tecnológico dos computadores e dos mapas digitais.
d) ( ) O começo da utilização de mapas para a reconstrução das regiões destruídas
pela guerra.
e) ( ) O amadurecimento da geovisualização como conceito estruturador do projeto
cartográfico.

2 A visão moderna da história da Cartografia reconhece um espectro mais amplo de


representações espaciais como mapas legítimos. Um dos motivos dessa mudança
de perspectiva é o abandono da visão eurocêntrica como parâmetro único de visão
correta do mundo. Considerando essa tendência, analise as afirmações a seguir:

I- A moderna história da Cartografia considera os aspectos carto métricos como


balizadores na diferenciação entre um mapa e um desenho qualquer.
II- O conceito de visualização cartográfica pode ser empregado na problematização
dos mapas pré-históricos.
III- Um dos aspectos que diferencia os mapas antigos dos atuais é que estes possuem
a preocupação de serem compreendidos pelo maior número de pessoas possível.
IV- Até mesmo os povos sem escrita desenvolveram mapas para a realização de
itinerários pelo território.

Assinale a alternativa CORRETA:


a) ( ) As sentenças I e II estão corretas.
b) ( ) As sentenças II e III estão corretas.
c) ( ) Somente a sentença IV está correta.
d) ( ) As sentenças II, III e IV estão corretas.
e) ( ) As sentenças II, III e IV estão corretas.

3 Considerando os mapas apresentados na figura a seguir, classifique V para as


sentenças verdadeiras e F para as falsas:

15
Fonte: https://bit.ly/3dL7u9D. Acesso em: 22 ago. 2022.

( ) A capacidade do usuário de alterar as formas de visualização de um fenômeno


representado é um exemplo de interatividade.
( ) É possível afirmarmos que os dois mapas cumprem, de maneira satisfatória, o
mesmo objetivo.
( ) Predominantemente, os usuários que utilizam os dois mapas pertencem ao
domínio privado.
( ) A vertente psicofísica dos estudos em Cartografia fornece estudos para justificar a
escolha do melhor trajeto definido nos mapas.

Assinale a alternativa que apresenta a sequência CORRETA:


a) ( ) V – F – F – F.
b) ( ) V – V – F – F.
c) ( ) F – V – V – V.
d) ( ) F – F – F – V.
e) ( ) V – V – V – F.

4 Todo mapa cumpre uma função, isto e, não pode ser compreendido como um
produto isolado com um fim em si mesmo. Considerando o primeiro paradigma da
Cartografia, qual é o papel que o usuário de mapas passa a ter na elaboração do
projeto cartográfico?

5 O conceito de visualização cartográfica considera que um produto cartográfico pode


cumprir diferentes papeis na construção do conhecimento científico. Identifique
quais papeis são esses e forneça exemplos que poderiam ser levados para alunos.

16
UNIDADE 1 TÓPICO 2 -
OS PRODUTOS CARTOGRÁFICOS
BÁSICOS

1 INTRODUÇÃO
Caro aluno, embora os mapas estejam cada vez mais presentes em nosso dia a
dia, isso não significa que as pessoas tenham facilidade no uso e, principalmente, na sua
construção. Isso não ocorre apenas pela ausência de domínio das técnicas ou da falta
de conhecimento no manuseio de softwares de produção gráfica, mas, principalmente,
pela ausência de conhecimento das implicações que os processos e técnicas de
representação podem causar no usuário do produto.

Nesse sentido, abordaremos, neste tópico, quais são os principais produtos


cartográficos e, posteriormente, discutiremos os processos e os elementos que
constituem o mapa. Nosso objetivo é mostrar o motivo de os mapas serem altamente
dependentes da capacidade de seus autores e como a ausência de conhecimento de
alguns procedimentos básicos podem induzir a leitura de mapas de maneira equivocada.
Para tanto, trataremos do processo de seleção e generalização cartográfica, discutindo
as particularidades que envolvem a sua linguagem.

Portanto, fique atento e tenha uma ótima leitura!

2 MAPA E CARTA
O termo mapa, embora seja de uso comum na Cartografia, apresenta alguns
problemas de definição se o compararmos ao termo carta, pois, muitas vezes, são
tomados como sinônimos. De maneira geral, o termo mapa é reconhecido como uma
representação plana de uma grande porção do espaço, mesmo que não exista um limite
exato para definir quão grande ou pequena pode ser considerada essa porção. O IBGE
(1998), por exemplo, define que os mapas delimitam sua área de interesse com acidentes
naturais ou divisões político-administrativas, enquanto as cartas seriam divididas de
acordo com os paralelos e meridianos.

No entanto, Oliveira (1993) aponta que essa particularidade varia de acordo


com o uso corrente do termo em um idioma: no Brasil, os mapas são, geralmente,
associados à representação da superfície terrestre e estão pouco associados à nave-
gação ou aos oceanos.

Duarte (2002, p. 123), por outro lado, considera que:

17
Ha entre nós uma tendência ao uso de mapa como designativo geral,
reservando-se carta e planta para espécies de mapas. Parece-nos
até ser o modo correto. Assim, podemos fazer, inclusive, um jogo de
palavras, dizendo que cartas e plantas são mapas, mas nem todo mapa
é carta ou planta. Mapa seria o gênero; carta e planta, as espécies.

Etimologicamente, a distinção entre mapa e carta parece mais clara, e indica o


tipo de material que o produto e confeccionado. No caso, a palavra mapa teria origem
cartaginesa, que significa toalha de mesa, geralmente feita em tecido ou pele de animal.
Já o termo carta teria origem egípcia, e significa papel (OLIVEIRA, 1993).

A distinção entre mapas e cartas pode variar segundo Oliveira (1983), no entanto,
em geral a diferenciação se encontra no critério da escala cartográfica, no nível de
detalhamento e precisão dos produtos, ou seja, uma escala muito grande, normalmente,
usa a nomenclatura carta.

Os mapas e as cartas apresentam várias subcategorias, dentre as quais


assinalamos algumas:

• Mapa cadastral: mapa com uma escala cartográfica grande (1:500 a 1:25.000),
isto é, que representa uma área geográfica pequena. Oferece um nível elevado de
detalhamento e é utilizado para demarcações precisas de lotes e edificações. De
acordo com Gaspar (2005), eles nasceram com propósitos fiscais, constituindo um
importante instrumento no ordenamento territorial. Um exemplo de mapa cadastral
pode ser visto na Figura 6:

Figura 6 – Mapa cadastral de um bairro de Curitiba

Fonte: http://www.ippuc.org.br/mapasinterativos/localizador/. Acesso em: 26 ago. 2022.

Descrição de imagem: exemplo de mapa cadastra l. A escala cartográfica grande permite um detalhamento das
divisões dos lotes, possibilitando que a administração municipal tenha um olhar mais minucioso do território.

18
• Mapa corográfico: representa os dados estatísticos de vastas regiões, países ou
continentes (nesse caso, entende-se que a escala cartográfica sempre pequena).
O termo corográfico deriva das palavras gregas choros (lugar) e pleth (valor), assim
como pode ver visto na Figura 7.

Figura 7 – Mapa corográfico da Australia, indicando as áreas de maior densidade populacional no país e
mapa corográfico do Brasil, indicando as áreas de maior densidade de povoamento

Fonte: https://bit.ly/3qPkezt. Acesso em: 26 ago. 2022.

• Mapa hipsométrico: representa o terreno ou o relevo submarino em termos de


altitude, acima ou abaixo de um plano de referência, seja em curvas, em sombreado
ou em cores, como expresso na Figura 8:

Figura 8 – Exemplo de mapa hipsométrico do Rio Grande do Sul

Fonte: https://atlassocioeconomico.rs.gov.br/hipsometria-e-unidades-geomorfologicas. Acesso em: 26 ago. 2022.

19
• Mapa-mudo: comumente para uso escolar, não apresenta letreiros ou informações
gerais. Geralmente, é um mapa que indica apenas os limites de uma área, assim
como exemplifica a Figura 9:

Figura 9 – Exemplo de um mapa-mudo do Brasil e um mapa-mudo dos continentes

Fonte: https://bit.ly/3AHVOxv; https://bit.ly/3pCFLL9. Acesso em: 23 ago. 2022.

• Mapa turístico: representação espacial cuja função é atender às necessidades


de turistas. Geralmente, utiliza uma linguagem cartográfica que não exige o
conhecimento sistemático das convenções da Cartografia e costuma apresentar um
grau relativo de exatidão no posicionamento dos pontos de interesse, assim como
exemplifica a Figura 10:

Figura 10 – Mapa turístico do Rio de Janeiro

Fonte: https://bit.ly/3CwJmCd. Acesso em: 23 ago. 2022.

20
INTERESSANTE
Existe uma grande diferença entre um mapa e uma fotografia aérea.
Em primeiro lugar, a fotografia mostra todos os objetos que o sensor
fotográfico pode captar, e somente esses; o mapa, por outro lado,
mostra uma seleção mais ou menos criteriosa de entidades naturais
e artificiais, visíveis e invisíveis, com maior ou menor detalhamento.
Em segundo lugar, essas entidades são representadas de forma
convencional, por meio de uma simbologia própria, o que não acontece
em uma fotografia aérea (GASPAR, 2005).

3 PLANTA
Representação espacial que possui uma escala cartográfica muito grande,
isto é, compreende áreas muito pequenas e com um nível elevado de detalhamento.
Empregada, principalmente, na visualização de detalhes de edificações, assim como
mostra a Figura 11.

Figura 11 – Exemplo de uma planta cartográfica

Fonte: o autor

4 CROQUI
Os croquis podem ser considerados esboços iniciais de mapas, utilizados,
principalmente, em circunstâncias nas quais a representação não precisa apresentar
elevado grau de exatidão de uma área ou como ferramenta para organização preliminar
de informações coletadas em campo. Os croquis também são denominados esboços.

21
Figura 12 – Exemplo de croqui ou esboço cartográfico

Fonte: o autor

5 GLOBO
O globo é uma representação cartográfica da superfície terrestre construída
sobre uma esfera. Trata-se de uma solução que causa menos distorções se comparada
com a projeção em superfícies planas, mas pouco prática para seu transporte e
acondicionamento. O primeiro globo que se tem conhecimento foi gerado pelo grego
Cartes (150 a.C.) e, no Renascimento, destacou-se o globo terrestre de Martin Behari,
em Nuremberg (1492) (OLIVEIRA, 1993).

Figura 13 – Exemplo de globo terrestre

Fonte: acervo do autor

22
6 MOSAICO
Denominamos mosaico um conjunto de fotos de uma determinada área,
recortado e montado, técnica e artisticamente, de forma a dar a impressão de que todo
o conjunto é uma única fotografia (IBGE, 1998). Esse tipo de produto é, particularmente,
usado no planejamento regional, pois oferece uma visão aérea de vastas áreas. Na
Figura 14, apresentamos um exemplo de mosaico de parte do rio Amazonas:

Figura 14 – Mosaico do rio Amazonas

Fonte: https://bit.ly/3wrv3e2. Acesso em: 23 ago. 2022.

6.1 CARTA-IMAGEM
Produto que se constitui de imagens de satélite retificadas e georreferenciadas, su-
perpostas por reticulado da projeção, podendo conter símbolos e toponímias (IBGE, 1998).

Figura 15 – Exemplo de uma carta-imagem

Fonte: https://bit.ly/3wNyiNp. Acesso em: 23 ago. 2022.

23
6.2 ORTOFOTOCARTA
Uma ortofotografia é uma fotografia resultante da transformação de uma foto
original, uma perspectiva central do terreno, em uma projeção ortogonal sobre um
plano, complementada por símbolos, linhas e georreferenciada, com ou sem legenda,
podendo conter informações planimétricas (IBGE, 1998), assim como mostra a Figura
16. O Conjunto de várias ortofotocartas adjacentes de uma determinada região pode-se
chamar também de ortofotomapa (IBGE, 1998).

Figura 16 – Exemplo de ortofotocarta

Fonte: Lira et al. (2017, p. 1564)

24
RESUMO DO TÓPICO 2
Neste tópico, você aprendeu:

• O termo mapa é reconhecido como uma representação plana de uma grande porção
do espaço, mesmo que não exista um limite exato para definir quão grande ou
pequena pode ser considerada essa porção.

• A distinção entre mapas e cartas pode variar segundo Oliveira (1983), no entanto,
em geral a diferenciação se encontra no critério da escala cartográfica, no nível de
detalhamento e precisão dos produtos.

• Os mapas e as cartas apresentam várias subcategorias, dentre as quais destacam-


se: cadastral, corográfico, hipsométrico, mapa-mudo e mapa turístico.

• São produtos cartográficos básicos os mapas, cartas, plantas, croquis, globos,


mosaicos, cartas-imagens e ortofotocartas.

25
AUTOATIVIDADE
1 O Projeto Nova Cartografia Social da Amazônia ensina indígenas, quilombolas e outros
grupos tradicionais a empregar o GPS e técnicas modernas de georreferenciamento
para produzir mapas artesanais, mas bastante precisos, de suas próprias terras.
A existência de um projeto como o apresentado no texto indica a importância da
cartografia como elemento promotor do quê?

Fonte: LOPES, R. J. O novo mapa da floresta. Folha de S.


Paulo, 7 maio 2011 (adaptada).

a) ( ) Da expansão da fronteira agrícola.


b) ( ) Da remoção de populações nativas.
c) ( ) Da superação da condição de pobreza.
d) ( ) Da valorização de identidades coletivas.
e) ( ) Da implantação de modernos projetos agroindustriais.

2 A cartografia utiliza a técnica de sensoriamento remoto na análise e interpretação


do espaço geográfico. Das alternativas a seguir, uma indica corretamente o material
utilizado por essa técnica. Assinale a alternativa CORRETA:

a) ( ) Cartas náuticas, cartas marítimas e radares.


b) ( ) Termógrafo, bússolas e curvímetro.
c) ( ) Telescópio, satélites e altímetros.
d) ( ) Astrolábio, bússola e clinômetro.
e) ( ) Fotos aéreas, imagens de radar e de satélites.

3 Levando em consideração seu conhecimento sobre mapas, analise as afirmativas a


seguir:

I- O termo mapa é reconhecido como uma representação plana de uma grande porção
do espaço, mesmo que não exista um limite exato para definir quão grande ou
pequena pode ser considerada essa porção.
II- A distinção entre mapas e cartas pode variar segundo Oliveira (1983), no entanto,
em geral, a diferenciação se encontra no critério da escala cartográfica, no nível de
detalhamento e precisão dos produtos.
III- Os mapas e as cartas apresentam várias subcategorias, dentre as quais se destacam:
cadastral, corográfico, hipsométrico, mapa-mudo e mapa turístico.
IV- São produtos cartográficos básicos os mapas, cartas, plantas, croquis, globos,
mosaicos, cartas-imagem e ortofotocartas.

26
Assinale a alternativa CORRETA:
a) ( ) Somente a afirmativa I está correta.
b) ( ) Somente a afirmativa II está correta.
c) ( ) Somente a afirmativa III está correta.
d) ( ) As afirmativas I, II, III e IV estão corretas.
e) ( ) Somente a afirmativa IV está correta.

4 Os mapas podem representar diversos tipos de fenômenos e objetos, que podem


variar, dentre outros, em ambientais naturais e antrópicos. Conforme as subcategorias
dos mapas, explique o que é um mapa corográfico.

5 Os instrumentos de intervenção da cartografia social na regularização fundiária


promovem o ordenamento territorial a partir de soluções georreferenciadas para os
desafios urbanos, ambientais e sociopolíticos. Tendo isto isso em vista, qual tipo de
mapa constitui um importante instrumento no ordenamento territorial?

27
28
UNIDADE 1 TÓPICO 3 -
ESCALA E AS ETAPAS DO PROJETO
CARTOGRÁFICO

1 INTRODUÇÃO

Caro acadêmico, a partir de agora, discutiremos os pressupostos básicos da


semiologia gráfica, mostrando quais são as maneiras corretas de representarmos as
diferentes relações que os dados presentes nos mapas podem apresentar.

A semiologia gráfica é uma teoria bem estabelecida, sobretudo na cartografia


temática, sendo considerada um verdadeiro referencial para a construção dos produtos
cartográficos, mas nem por isso é comumente aplicada – inclusive por órgãos do
governo, como o próprio Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

Por fim, aprenderemos como escolher e calcular a escala cartográfica em um


mapa. A escala está diretamente associada ao nível de detalhamento que um produto
cartográfico tem e, diante disso, está diretamente ligada ao processo de definição do
projeto de mapas.

Esperamos que o encerramento desta Unidade motive você, acadêmico, a se


debruçar no mundo cartográfico e que se aprofunde cada vez mais nessa temática.
Portanto, desejamos uma boa leitura!

2 DESCOBRINDO AS ETAPAS DO PROJETO


Por serem modelos simplificados da realidade, os mapas necessitam passar
por uma série de etapas responsáveis pela seleção, tratamento e representação das
informações que atenderão às demandas do usuário final. Essas são etapas que
independem do tipo ou da categoria a que o mapa pertence, mas que dependem do
repertório de conhecimento do seu elaborador.

Essa fase inicial, denominada projeto cartográfico, é constituída, sobretudo,


por: classificação – definição dos objetivos e do público do mapa; seleção das informa-
ções que serão utilizadas; as formas mais adequadas de generalização; e simbolização,
atendendo às necessidades do perfil do futuro usuário do mapa.

29
• Classificação: o objetivo do procedimento de classificação é a tipificação e o
ordenamento da informação que estará presente no mapa. Seu papel é buscar a
simplicidade, mesmo que, para isso, agrupe os dados em classes maiores para realçar
o fenômeno principal (GASPAR, 2005).

Figura 17 – Classificação de lotes distintos em um quarteirão

Fonte: os autores

• Simplificação: seu objetivo e eliminar os pormenores desnecessários ou prejudiciais


para a leitura dos fenômenos espaciais. Por vezes, na mudança para uma escala car-
tográfica menor, alguns símbolos são eliminados ou simplificados geometricamente.

Figura 18 – Exemplo de simplificação das feições de uma rede hidrográfica

Fonte: os autores

• Realce: esse procedimento tem como objetivo exagerar ou enfatizar elementos


relevantes no mapa para torná-los mais perceptíveis, como avenidas, rodovias e
edifícios específicos, por exemplo.

30
Figura 19 – Exemplo da operação de realce nas principais vias de circulação

Fonte: o autor

• Simbolização: representação dos fenômenos espaciais por meio de símbolos. Esse


procedimento é considerado integrante da generalização quando afeta a dimensão
espacial do fenômeno, que pode levar à degradação da sua escala de medida.

3 ESCALAS DE MEDIDA
O mapa tem o papel primordial de indicar a localização dos fenômenos
no espaço, mas esse não é o único tipo de informação que possui. Um aspecto de
grande importância presente no mapa é a natureza e os tipos de relação que os dados
estabelecem entre si, denominados escala de medida. De acordo com Dent (1985), o
objetivo dessa escala é estruturar formas adequadas na observação da realidade,
e é organizada em uma hierarquia de quatro níveis, criando formas mais ou menos
complexas de medição. Em ordem crescente de complexidade, as quatro escalas são:

• Escala nominal: destina-se a identificar fenômenos que pertencem às classes


de dados semelhantes ou diferentes. Essas relações estabelecidas entre os dados
são qualitativas e, no mapa, apresentam sempre um mesmo símbolo. É por meio da
escala nominal que se distingue, por exemplo, uma estrada de um rio, os diferentes
usos da terra, contudo, não torna possível estabelecer qualquer tipo de hierarquia ou
quantificação (GASPAR, 2005).

31
Figura 20 – Exemplo de aplicação da escala nominal

Fonte: http://w3.ufsm.br/enquadra/ABacia.htm. Acesso em: 26 ago. 2022.

• Escala ordinal: destina-se a ordenar, dentro de uma mesma categoria, os fenô-


menos representados. Permite verificar em qual ordem hierárquica os fenômenos
são representados, embora não permita dizer exatamente quanto um fenômeno é
maior ou menor que outro, isto é, não torna possível nenhuma forma de quantificação
(GASPAR, 2005). É essa escala que torna possível identificar áreas de maior ou menor
susceptibilidade à erosão, maior ou menor exclusão social, dentre outros.

Figura 21 – Exemplo de mapa que utiliza uma escala de mensuração ordinal, criando uma noção de
hierarquia

Fonte: https://bit.ly/3BSOUVJ. Acesso em: 26 ago. 2022.

32
• Escala de intervalos: destina-se a estabelecer uma sequência numérica com
origem arbitrária cujo grau zero não indica a ausência da propriedade medida. São
exemplos de escala de intervalo as escalas Celsius e Fahrenheit, bem como as escalas
para medir altitude (GASPAR, 2005). Ao contrário da escala ordinal, a escala intervalar
permite estabelecer relações numéricas relativas entre duas ou mais classes.

Figura 22 – Exemplo de mapa que adota uma escala de mensuração intervalar

Fonte: Inmet (2014, p. 3)

• Escala absoluta (ou de razão): destina-se a estabelecer uma sequência numérica


cujo grau zero indica a ausência de uma propriedade medida. Nesse caso, a razão
entre dois valores tem um significado intrínseco. Por exemplo: é possível afirmar que
se uma cidade “A” é duas vezes mais populosa do que a cidade “B”, o leitor identificaria
que a razão de habitantes é de 2:1 (GASPAR, 2005).

Figura 23 – O mapa de população dos Estados em 2010 é um exemplo de escala de mensuração absoluta

Fonte: Martinelli (2014, p.194)

33
Na literatura cartográfica brasileira, essas quatro escalas de medida são mais
frequentemente adaptadas em três propriedades perceptivas, que são os tipos de
relações que os mapas expressam entre os fenômenos: relação de similaridade/dife-
rença (correspondente à escala nominal), relação de ordem (correspondente à escala
ordinal) e relação de quantidade (correspondente às escalas de intervalo e absoluta).
É fundamental ressaltarmos que um dado pertencente à escala absoluta ou intervalar
pode ser transformado em um dado ordinal, e este, por sua vez, em um dado nominal.
O inverso, porém, não é possível. Vejamos isso com o seguinte exemplo:

Quadro 1 – Evolução da produção agrícola (em toneladas) no Estado do Paraná

Fonte: http://www.ipardes.pr.gov.br/imp/index.php. Acesso em: 26 ago. 2022.

A partir do nosso banco de dados exposto anteriormente, é possível identifi-


carmos diferentes tipos de escalas de medida, a depender da natureza da informação
do nosso interesse e das perguntas que serão utilizadas para sua seleção. Ao pergun-
tarmos quais são os tipos de produtos, estamos adotando uma escala de mensuração
nominal, pois não há qualquer medição quantitativa ou hierárquica entre os tipos de
produtos agrícolas.

Por outro lado, podemos investigar qual é a ordem dos anos em que uma cultura
específica apresentou maior ou menor produção: no caso, estamos adotando uma
escala de mensuração ordinal. Por fim, podemos, ainda, questionar quanto exatamente
a produção de cana-de-açúcar foi maior do que a produção de soja, sendo uma
característica da escala de mensuração absoluta. Saber identificar a natureza dos dados
por meio das escalas de medida é uma habilidade fundamental para o geógrafo, pois é
por meio desse reconhecimento que serão escolhidos os símbolos para a construção
do mapa.

4 A CONTRIBUIÇÃO DA SEMIOLOGIA GRÁFICA PARA A


CONSTRUÇÃO DA LINGUAGEM DOS MAPAS
Denominamos linguagem cartográfica ou linguagem dos mapas o conjunto de
signos que constitui os produtos cartográficos, permitindo que se represente a localiza-
ção e os tipos de relações entre os fenômenos espaciais. Na Cartografia, a questão de
como construir uma linguagem cartográfica otimizada é de grande interesse, pois sua
má utilização pode induzir o usuário de mapas a ter uma leitura equivocada da realidade.

34
As discussões e contribuições mais significativas no campo da linguagem
cartográfica apresentam uma proximidade muito maior com o ramo da Cartografia
Temática em relação à Cartografia Sistemática. Isso ocorre por razoes históricas, já
que é uma cartografia rigorosamente técnica e normatizada pela legislação dos países,
sendo, historicamente, anterior à cartografia temática, quando os estudos científicos da
linguagem cartográfica foram desenvolvidos a partir da década de 1960 e as normativas
técnicas da cartografia de base estavam solidamente estabelecidas.

O principal autor que contribuiu com o estudo de uma linguagem dos mapas
foi Jacques Bertin (1918-2010), um cartógrafo francês que publicou, em 1967, a obra
Semiologia Gráfica. O objetivo de Bertin era desenvolver uma linguagem cartográfica
universal, monossêmica e de rápida apreensão, permitindo que os mapas fossem
interpretados corretamente por qualquer pessoa.

Para que esse objetivo fosse atingido, a chave seria a eliminação do código
no processo comunicativo e a adoção de pressupostos lógicos inerentes à percepção
visual humana. Por código, compreendemos todo tipo de regra arbitrária e convencional
estabelecida em uma comunidade de falantes, a qual organiza as regras de uso e
os significados dos signos (NETTO, 1983). Seu emprego seria descartado quando se
compreendessem as relações lógicas entre as variáveis visuais e as propriedades
perceptivas.

As variáveis visuais (ou variáveis retinianas) são os elementos gráficos que va-
riam visualmente, isto é, o aspecto visível dos símbolos que constituem os mapas. Por
outro lado, as propriedades perceptivas são os significados inerentes que as variáveis
visuais possuem. Na prática, traduzem-se como os tipos de relações que o tema repre-
sentado no mapa comunica. As três relações que os fenômenos estabelecem entre si
são de similaridade/diversidade (≠), ordem (O) e proporcionalidade (Q) (QUEIROZ, 2000).

No que se refere às variáveis visuais, elas se constituem em sete tipos, se


considerarmos também as duas dimensões do plano (X, Y) como indicadores da
localização do fenômeno. As outras seis são:

• Tamanho

Refere-se à variação da dimensão do símbolo. Essa variável permite que


sejam visualizadas informações quantitativas, conforme pode ser visto no mapa
populacional nas capitais brasileiras em 2010. Essa variável visual permite ao leitor
uma rápida visualização da distribuição das quantidades de habitantes pela área
cartografada, mesmo antes da leitura das informações contidas na legenda do mapa.
É a única variável visual que expressa a propriedade de proporcionalidade (Q).

35
Figura 24 – A variável visual tamanho aplicada no mapa da população nas capitais brasileiras em 2010

Fonte: Martinelli (2014, p.190)

• Valor

Refere-se à variação na tonalidade de uma cor, podendo ser utilizados


valores fortes ou fracos (escuros ou claros, respectivamente). No mapa de densidade
demográfica no mundo, foi utilizada a variação dos tons para representar os intervalos
matemáticos, sendo adotado o tom mais claro para a menor densidade, o tom mais
escuro para a maior densidade e os tons intermediários para as classes existentes entre
os extremos. Essa variável visual permite ao leitor estabelecer relações entre forte/
fraco, mais/menos, maior/menor, mesmo antes da leitura da legenda no mapa, sendo a
propriedade perceptiva a ordem (O).

Figura 25 – Variável visual “valor”

Fonte: https://bit.ly/3pATzWx. Acesso em: 23 ago. 2022.

36
• Granulação

Refere-se a uma representação semelhante às hachuras ou pontilhados


que dão a noção de claro/escuro ou preenchido/vazio. Nesse mapa de distribuição
da população do Brasil, foram adotados pontos que representam dez mil habitantes,
distribuídos conforme a concentração populacional no território. Com a aplicação dessa
variável visual, o observador consegue enxergar a distribuição do fenômeno/elemento
ao longo de toda a área cartografada, estabelecendo a ideia de concentração/dispersão
mesmo antes da leitura da legenda no mapa.

Figura 26 – Exemplo de aplicação da variável visual “granulação”

Fonte: https://atlassocioeconomico.rs.gov.br/hipsometria-e-unidades-geomorfologicas. Acesso em: 26 ago. 2022.

• Cor

Trata-se da sensação subjetiva das pessoas em relação à radiação


eletromagnética com determinado comprimento de onda que, ao atingir os cones
localizados na retina, dá noções de cores. É uma das formas de representação mais
utilizada na cartografia, visto que pode aparecer combinada a outras. Quando utilizada
exclusivamente, tem como finalidade diferenciar os elementos cartografados.

37
Figura 27 – Aplicação da variável visual cor

Fonte: https://bit.ly/3TekiFZ. Acesso em: 23 ago. 2022.

Nesse mapa de cobertura vegetal do Brasil, todos os elementos possuem, em


comum, a natureza da informação (vegetação), porém cada formação vegetal possui
características únicas, o que não nos permite estabelecer uma ordem, uma dispersão

38
ou uma concentração. Nesse caso, a cor mostra a localização e a extensão ocupada
pela formação vegetal representada. O observador tem a noção de diferença entre as
informações antes da leitura da legenda no mapa.

• Orientação

Trata-se da inclinação dos traços nas representações, podendo ser na posição


vertical, oblíqua ou horizontal. Essa variável visual diferencia os elementos cartografados,
conforme a inclinação do traço, o qual precisa manter a espessura para não passar a
percepção de ordem.

Figura 28 – Variável visual orientação

Fonte: Bertin (1967, p. 98)

• Forma

Refere-se ao uso de símbolos convencionais, ou não, sejam eles figuras


geométricas, pictogramas, letras, números, dentre outros. Nessa variável visual,
trabalha-se com a diferenciação dos elementos representados, pois cada pictograma
tem uma origem e um significado diferenciado, o que exige a elaboração de uma extensa
legenda que os apresenta de maneira clara. No mapa a seguir, foram utilizados diversos
pictogramas para representar a distribuição de uma série de minerais brasileiros, sendo
necessária uma leitura atenta das representações e da legenda:

39
Figura 29 – A variável visual forma

Fonte: https://bit.ly/3AkPaM8. Acesso em: 23 ago. 2022.

Essa variável visual pode causar erros de leitura quando a série de dados
representados for muito extensa. Recomenda-se a utilização dessa variável visual
para mapas ou cartas em que a quantidade de elementos a serem representados for
suficiente para uma leitura rápida.

INTERESSANTE
Algumas variáveis visuais apresentam a capacidade de favorecer um
agrupamento de vários símbolos formando uma única imagem ou
de favorecer a separação dos elementos do mapa. O nome dessa
propriedade de agrupar é associativa, indicada pelo símbolo ≡, como
é o caso das variáveis forma, cor, orientação e granulação. Já as
variáveis ordem e tamanho são denominadas dissociativas.
Fonte: Martinelli (2014).

40
4.1 MODOS DE IMPLANTAÇÃO DAS VARIÁVEIS VISUAIS
Além de ficarmos atentos ao tipo de relação que uma variável visual expressa,
é fundamental conhecermos os três modos de implantação que podem possuir. O
critério para a escolha de um dos modos varia de acordo com a natureza do fenômeno
representado e pode ser alterado com a mudança da escala cartográfica.

O modo de implantação pontual é empregado quando as dimensões espaciais


do fenômeno não são uma informação de interesse, mas apenas a sua localização.
No caso, a escala cartográfica do produto deve ser pequena o suficiente para que o
fenômeno representado tenha sua extensão ignorada. Esse tipo de modo de implantação
é utilizado em mapas cuja função é mostrar a localização real ou aproximada de um
fenômeno, como as capitais dos estados ou a localização dos aeroportos. O modo de
implantação linear é empregado em fenômenos que se estendem de maneira contínua
sobre a superfície terrestre, cujo comprimento é a única informação útil para a leitura
do atributo. São utilizadas linhas contínuas ou pontilhados para representar a extensão
desses fenômenos, com espessuras variáveis. Podemos citar, como exemplo, as
rodovias, as ferrovias, os cursos hídricos, as linhas de transmissão de energia ou de
distribuição de água, pois esses elementos se manifestam por uma grande extensão
sobre a superfície e descrevem um trajeto contínuo.

O modo de implantação zonal ou areal é empregado para representar fenôme-


nos cuja dimensão ou extensão é significativa para a escala apresentada no mapa, ou
seja, são fenômenos que devem ser desenhados de forma que seja possível ler sua área
e sua forma. Podemos citar, como exemplo, os mapas de clima, vegetação e regiões do
Brasil. A síntese das variáveis visuais, seus modos de implantação e suas propriedades
perceptivas são expressas pela Figura 30:

Figura 30 – Variáveis visuais, modos de implantação e propriedades perceptivas

Fonte: adaptada de Bertin (1967)

41
5 ESCALA CARTOGRÁFICA
De forma bastante direta, podemos definir escala como a relação da dimensão
de um elemento e/ou um objeto apresentado no desenho original para a dimensão real
do mesmo elemento e/ou objeto. Essa relação pode ser apresentada por meio de escala
numérica ou por escala gráfica. As escalas podem ser de: redução (1: n), em que o objeto
é representado com as dimensões reduzidas no desenho; ampliação (1: n), em que o
objeto é representado com as dimensões ampliadas no desenho; ou naturais (1:1), em
que o objeto é representado no desenho com as dimensões reais.

É muito comum referir-se às escalas como “escala grande” ou “escala pequena”;


mais comum ainda é a inversão dos seus significados. Uma escala cartográfica é
considerada grande quando possui um denominador pequeno, visto que, nesse caso, o
mapa representará uma área reduzida com mais detalhes. Já uma escala é considerada
pequena quando seu denominador é grande: nesse caso, o mapa representará uma
área maior, porém com menos detalhes. A seguir, serão apresentados dois mapas:
um apresenta uma escala pequena - representa uma grande área, em que é possível
identificar a localização de Brasília – porém com detalhes muito generalizados. Já o
outro apresenta uma escala grande – se comparada com a escala do primeiro mapa –,
representando uma área menor, porém com maiores detalhes – eixos viários, quadras.

Figura 31 – Cidade de Brasília a partir de uma escala cartográfica pequena

Fonte: https://portaldemapas.ibge.gov.br/portal.php#homepage. Acesso em: 26 ago. 2022.

Figura 32 – Cidade de Brasília a partir de uma escala cartográfica grande

Fonte: https://portaldemapas.ibge.gov.br/portal.php#homepage. Acesso em: 26 ago. 2022.

42
Os valores escalares são, por convenção, adimensionais, ou seja, não apre-
sentam diretamente uma dimensão (unidade) – ao se escrever 1:100, lê-se que uma
unidade no mapa (desenho) corresponde a 100 unidades no terreno real. Portanto, 1 cm
no desenho corresponde a 100 cm no terreno ou 1 milímetro do desenho corresponde
a 100 milímetros no terreno. Como os mapas, em geral, são medidos com o auxílio de
régua, adota-se o centímetro como unidade aplicável na determinação das relações
matemáticas da escala em um mapa.

A escala é dada pela relação matemática:

Por exemplo, se uma distância entre dois pontos é representada no desenho


com um centímetro de comprimento e sabe-se que o comprimento no terreno é de 100
m, a proporção escalar utilizada na representação será de 1:10.000. Quando se realiza a
leitura das distâncias no mapa e/ou no terreno real, é possível estabelecer três relações,
sendo:

• Determinação da escala: quando se tem os valores da distância real e sua


correspondente distância gráfica:

43
(Equação 1)

Em uma escala de redução, o valor da distância gráfica (d) deve ser apresentado
no valor 1, e a distância real (D) deve ser equivalente a essa distância gráfica.

Exemplo: sabendo-se que a distância entre dois pontos no mapa é de 3 cm e


que sua correspondente real é de 600 metros, determine a escala do mapa em questão.

1° Passo: coletar as informações disponíveis no enunciado do exercício.


2° Passo: caso as medidas da distância real (D) e distância gráfica d sejam distintas,
convertê-las em uma medida comum para cortá-las.
3° Passo: realizar as operações matemáticas, simplificando ao máximo possível o
resultado.

Portanto, a escala será de 1:20.000 (lembre-se de que a representação da


escala é adimensional, portanto não se coloca a unidade).

• Determinação da distância real: quando se tem os valores da escala e a distância


gráfica entre pontos de interesse:

44
• Determinação da distância gráfica: quando se tem os valores da escala. É a
distância real entre os pontos de interesse:

Exemplo: sabendo-se que a distância real entre dois pontos é de 700 m, qual
é a distância gráfica, em centímetros, correspondente em um mapa de escala 1:5000?

1° Passo: coletar as informações disponíveis no enunciado do exercício.


2° Passo: caso a medida da distância real (D) seja distinta da medida que o enunciado
pede, realizar a conversão.
3° Passo: realizar as operações matemáticas, simplificando ao máximo possível o resultado.

Portanto, a distância gráfica será de 14 centímetros.

As escalas gráficas são constituídas por um segmento de reta dividido de modo


a mostrar graficamente a relação entre as dimensões de um objeto no desenho e no
terreno, conforme ilustra a Figura 33:

Figura 33 – Estrutura de uma escala gráfica

Fonte: os autores

45
Essa representação escalar facilita a leitura direta da escala em um mapa, pois
basta posicionar a régua sobre a linha graduada, como demonstrado na Figura 34:

Figura 34 – Procedimento para leitura de uma escala gráfica

Fonte: os autores

Após o posicionamento, basta ler a distância gráfica no primeiro intervalo:

Figura 35 – Procedimento para a leitura da escala gráfica

Fonte: os autores

No exemplo ilustrado na Figura 36, verifica-se que o intervalo da escala mede


1 cm gráfico, sendo que esse valor equivale a 136 km no terreno real, embora não seja
obrigatório que esse valor seja sempre de 1 cm. A partir dessa leitura direta, faz-se a
leitura da distância gráfica (com a régua) entre os pontos de interesse:

46
Figura 36 – Procedimento para leitura da escala gráfica

Fonte: os autores

Nesse exemplo, foi obtida a distância em linha reta entre Manaus (AM) e
Santarém (PA), sendo que, no mapa utilizado, é de 4,5 cm. Para determinar a distância
real entre as duas cidades, basta multiplicar a distância real para 1 cm gráfico, que foi
obtida anteriormente, sendo 136 km:

D= d x M
D= 4,5 x 136
D= 612 km

A escala gráfica ainda tem como vantagem a possibilidade do cálculo da es-


cala em um mapa que foi ampliado ou reduzido, pois o traço e suas divisões são
mantidos durante os processos de ampliação e redução. O uso correto dos produtos
cartográficos está associado ao conhecimento dos tipos de representações carto-
gráficas, dos modos de implantação e representação da informação e da escala ade-
quada para a temática escolhida. A compreensão dos elementos de representação
cartográfica – produtos, símbolos, extensão e proporção – é fundamental, pois é o
nível mais elementar para a compreensão dos dados cartográficos, seja na leitura de
um mapa técnico ou um mapa escolar.

47
LEITURA
COMPLEMENTAR
AVALIAÇÃO DA ESCALA EFETIVA DE DOIS MAPAS DE SOLOS DA MESMA ÁREA NA
SERRA GAÚCHA

Eliana Casco Sarmento


Elvio Gilson
Eliseu José Weber
Carlos Alberto Flores
Heinrich Hasenack

INTRODUÇÃO

Segundo Hudson (1992), um levantamento de solos é uma estratégia científica


baseada nos conceitos de fatores de formação de solos associados com relações solo-
paisagem. Os levantamentos convencionais de solos são realizados de acordo com
metodologias específicas que objetivam a identificação, caracterização e enquadramento
dos solos em um sistema de classificação, bem como sua delimitação para a obtenção
de representações gráficas na forma de cartas ou mapas.

O nível de detalhe dos levantamentos de solos está relacionado a uma densidade


recomendada de observações e de amostragens em campo e a uma escala para
publicação do mapa final. Os dois primeiros podem variar em função da heterogeneidade
da área e da experiência prática da equipe envolvida e podem ser substancialmente
reduzidos com o emprego de geotecnologias (IBGE, 2007).

A escala de publicação, por outro lado, costuma ser determinada pelo autor de
acordo com o objetivo do levantamento e o material básico usado para delimitar as uni-
dades de mapeamento, entre outros fatores. No entanto, por mais experiente que seja o
pedólogo, a delimitação dos polígonos nem sempre é coerente com normas cartográfi-
cas estritas, especialmente com relação à escala. Tratando-se de um processo manual,
manter uniformidade ao longo de todo o mapa, por exemplo, é um desafio por si só.

O uso de geotecnologias também pode auxiliar nesse sentido. Inconsistências


entre áreas vizinhas e a criação eventual de polígonos com dimensão inferior à área
mínima mapeável, por exemplo, podem ser facilmente evitadas com o uso de SIG
(MILLER, 2012). O contrário, contudo, não é verdadeiro: controlar o grau de generalização
de unidades de mapeamento com extensões maiores durante a delimitação manual é
muito mais difícil.

48
Como consequência, muitas vezes a escala nominal de publicação do mapa de
solos não é acompanhada de um detalhamento espacial correspondente. Geralmente o
critério de área mínima mapeável é atendido, mas o grau de generalização em polígonos
mais extensos tende a ser maior do que o esperado, não obstante a densidade de
observações e amostragens em campo estarem dentro dos intervalos recomendados
(HENGL; HUSNJAK, 2006). Esse aspecto assume relevância à medida que mapas
convencionais frequentemente constituem o melhor, senão o único, registro disponível
da ocorrência e distribuição dos solos em uma determinada região. Nos últimos anos,
eles têm sido usados como dados de entrada para diversos estudos, com destaque
para mapeamento digital de solos e modelagem ambiental. Em ambos os casos,
geralmente os polígonos dos mapas convencionais são convertidos para o formato
de grade, adotando-se uma determinada resolução espacial. Esta, por sua vez, tende
a ser definida em função de outros dados empregados no mesmo estudo, como o
SRTM (Shuttle Radar Topography Mission) ou imagens NDVI (Normalized Difference
Vegetation Index), por exemplo. No entanto, a resolução espacial escolhida nem sempre
é compatível com o detalhe cartográfico real dos mapas convencionais de solos usados
para essa finalidade (Miller, 2012; Nussbaum et al., 2011).

No caso do mapeamento digital de solos, isso não constitui necessariamente um


problema. Ao contrário, uma resolução mais fina pode ser empregada justamente para
desenvolver métodos de mapeamento digital com vistas a incrementar o detalhe do
mapa convencional de entrada. Em outras aplicações, no entanto, a resolução espacial
inadequada pode violar pressupostos e gerar resultados enganosos. Assim, conhecer
a escala cartográfica efetiva do mapa convencional é fundamental para o uso correto
de qualquer informação dele extraída ou derivada, sob pena de se chegar a resultados
incorretos e interpretações equivocadas (BASAYIGIT; SENOL, 2008). O objetivo deste
estudo foi avaliar a diferença entre a escala cartográfica nominal e efetiva em dois
mapas convencionais de solos da mesma área na região da Serra Gaúcha, elaborados a
partir de dois levantamentos com níveis de detalhamento diferentes.

MATERIAIS E MÉTODOS

A área de estudo situa-se na região da Serra Gaúcha, nordeste do Estado do Rio


Grande do Sul, aproximadamente entre as latitudes 28° 30’ S e 29° 30’ S e longitudes
50° 40’ W e 52° 05’ W (Figura 1a). Segundo a classificação de Köppen, a região apresenta
um clima do tipo Cfb. A Serra Gaúcha integra a Formação Serra Geral da Série São Ben-
to, na Bacia Rio do Paraná, é caracterizada por uma sucessão de derrames de rochas
efusivas, principalmente basaltos e andesitos, e situa-se na unidade geomorfológica da
Serra Geral, na região geomorfológica do Planalto das Araucárias (IBGE, 1986).

De maneira geral o relevo é complexo, com grandes variações de altitude,


declividade e exposição solar, e a distribuição dos solos apresenta alta variabilidade
espacial (SARMENTO et al., 2008).

49
O material utilizado compreende dois mapas convencionais de solos, um
elaborado a partir de levantamento semidetalhado e outro a partir de um levantamento
detalhado. A escala cartográfica nominal dos mapas é, respectivamente, 1:50.000
(FLORES et al., 2007) e 1:10.000 (SARMENTO et al., 2008; FLORES et al., 2012).

O primeiro cobre uma superfície de 1.348.961 ha e abrange um retângulo


equivalente a 20 cartas do mapeamento sistemático brasileiro na escala 1:50.000.
O segundo cobre uma superfície de 8.121,6 ha e abrange os limites da Indicação de
Procedência (IP) Vale dos Vinhedos, situada dentro da Serra Gaúcha (Figura 1b). Também
foram utilizadas as informações descritivas e analíticas das unidades de mapeamento,
contidas nos relatórios dos respectivos levantamentos. O processamento e análise dos
mapas foi realizado com auxílio do software ArcGIS 9.2 (ESRI, 2006).

Inicialmente calculou-se a área de cada polígono e, a partir dela, determinou-


se a escala cartográfica efetiva de ambos os mapas. Segundo Hengl e Husnjak (2006),
a escala efetiva é definida como uma medida objetiva que indica se a distribuição dos
polígonos no mapa de solos corresponde à sua escala nominal, e pode ser calculada
pela seguinte equação:

ESN = NSN × (IMR 2)

Sendo ESN o número da escala efetiva (Effective Scale Number, o denominador


da escala), NSN é número da escala nominal (Nominal Scale Number) e IMR o índice
de máxima redução (o fator pelo qual a escala do mapa pode ser reduzida até que o
tamanho médio dos polígonos delimitados (Average Size Delineation – ASD) seja igual
à área mínima mapeável (minimum legible delineation – MLD), no Brasil considerada
como 0,4 cm2 (IBGE, 2007). O ASD (convertido para cm2 na escala nominal em questão)
e o IMR são calculadas pelas seguintes equações:

∑= = m j ASD Aj m 1 / IMR = ASD MLD

Sendo Aj a área do polígono j, e m o número total de polígonos no mapa. A fim de


realizar a comparação na mesma área, o mapa de solos da Serra Gaúcha foi recortado
com os limites da IP Vale dos Vinhedos (Figura 1c). Em seguida, para as duas escalas,
calculou-se o número total de polígonos nesse perímetro, o número total de unidades
de mapeamento, o número de unidades de mapeamento simples e o número de classes
de solo encontradas.

50
Figura 1 – Abrangência do mapa de solos da Serra Gaúcha na escala 1:50.000 (a); abrangência do mapa
de solos do Vale dos Vinhedos na escala 1:10.000 (b); limites das unidades de mapeamento de solos na
escala 1:50.000 (linhas em azul) sobre as unidades de mapeamento na escala 1:10.000 na IP Vale dos
Vinhedos (c).

51
RESULTADOS E DISCUSSÃO

Assumindo-se que a escala 1:10.000 é, em termos numéricos, cinco vezes mais


detalhada que a escala 1:50.000, é esperado que a diferença no detalhe espacial entre
os mapas avaliados siga aproximadamente essa mesma razão, entretanto, algumas
características calculadas contrariam essa hipótese e apresentam diferenças mais
expressivas. O número de polígonos, o número de unidades de mapeamento e o número
de unidades simples é, respectivamente, cerca de 50, 10 e 52 vezes maior no mapa
em escala 1:10.000 em relação ao mapa na escala 1:50.000. Essas razões são mais
consistentes com a escala cartográfica efetiva calculada para os dois mapas (Tabela
1), cuja diferença relativa é de cerca de 13 vezes. Geng et al. (2010) obtiveram resultado
semelhante para o Canadá, onde constataram que a diferença entre escala nominal e
escala efetiva tende a aumentar com o decréscimo da primeira. Em parte, isso se deve
ao uso de unidades de mapeamento complexas nas menores escalas, nas quais um
polígono pode representar mais de uma classe, o que reduz o número delas. A diferença
na quantidade de polígonos entre os dois mapas avaliados é ilustrada na Figura 1c.

No caso do número de unidades de mapeamento simples, que delimitam uma


única classe de solo, a diferença não significa necessariamente uma discrepância. No
mapa em escala 1:50.000, apenas três são simples, as demais são unidades complexas
devido à impossibilidade de individualizar solos com ocorrência muito intrincada. No
mapa 1:10.000 não houve essa limitação, os solos observados em campo puderam
ser individualizados e cada unidade de mapeamento corresponde a uma única classe
taxonômica.

Tabela 1 – Características calculadas para mapas de solos produzidos por meio de levantamento detalhado
e semidetalhado de solos na região da Serra Gaúcha

Levantamento de solos
Característica
Semidetalhado Detalhado
Escala nominativa 1:50.000 1:10.000
Escala efetiva /1
1:227.709 1:17.550
Polígonos 32 1648
Unidades de mapeamento 16 156
Unidades simples 3 156
Classes taxonômicas 32 156
/1
calculada considerando-se a área total de cobertura de cada mapa, a fim de não reduzir a área de
polígonos devido ao recorte.

52
Do ponto de vista temático, por outro lado, as/ diferenças entre os dois
levantamentos são coerentes com a razão entre as escalas nominais dos respectivos
mapas. O número total de classes de solo identificadas, por exemplo, é cerca de cinco
vezes maior no mapa do levantamento detalhado em relação ao mapa do levantamento
semidetalhado. Obviamente, a manutenção dessa razão não constitui uma regra, uma
vez que o número de classes encontrado depende da heterogeneidade da área em
questão. No entanto uma diferença muito grande pode revelar incongruências.

Os dados da Tabela 1 sugerem que a delimitação das unidades de mapeamen-


to pode ter sido simplificada além do ideal, principalmente no mapa do levantamento
semidetalhado. Sua escala cartográfica efetiva é 4,5 vezes inferior à nominal, enquanto
no mapa do levantamento detalhado ela é apenas cerca de 1,7 vezes inferior.

Embora ambos os mapas tenham sido elaborados com o auxílio de SIG, isso não
evitou que em alguns locais ocorresse uma generalização maior do que em outros. Isso
evidencia uma eventual necessidade de criar normas específicas para a elaboração de
mapas com o apoio de geotecnologias, as quais poderiam ser incluídas nos manuais
para levantamentos de solos.

Definir recomendações da escala de visualização e/ou interpretação, tolerâncias


e regras de topologia, torna-se fundamental para a obtenção de mapas mais acurados
e consistentes. Como destacado por Miller (2012), o incremento na qualidade dos
mapas convencionais é importante para seu potencial de uso no futuro, inclusive para
mapeamento digital. Por outro lado, o número de unidades taxonômicas em ambos
os levantamentos se mostrou coerente com o respectivo nível de detalhe. Em outras
palavras, as diferenças observadas parecem ser mais de origem cartográfica do que
temática, elas estão relacionadas a deficiências na delimitação dos solos nos mapas,
não à identificação e caracterização dos solos em si.

Assim, é razoável supor que há possibilidade de incrementar o detalhe espacial


dos dois mapas avaliados, especialmente o mapa do levantamento semidetalhado.
O emprego de métodos de mapeamento digital para desagregar as unidades de
mapeamento complexas em unidades simples, como realizado por Häring et al. (2012),
pode representar uma alternativa para esse propósito.

CONCLUSÕES

A escala efetiva de mapas convencionais de solos da Serra Gaúcha tende a


ser menor que a escala nominal. A escala cartográfica efetiva é de fácil determinação e
pode servir como uma medida de qualidade de mapas convencionais de solos.

Fonte: SARMENTO, E.C. et al. Avaliação da escala efetiva de dois mapas de solos da mesma área na serra.
In: CONGRESSO BRASILEIRO DE CIÊNCIA DO SOLO, 34., 2013, Florianópolis. Anais [...]. Florianópolis,
UFSC, 2013. Disponível em: https://bit.ly/3Te9OpS. Acesso em: 26 jul. 2022.

53
RESUMO DO TÓPICO 3
Neste tópico, você aprendeu:

• Uma escala cartográfica é considerada grande quando possui um denominador


pequeno, visto que, nesse caso, o mapa representará uma área reduzida com mais
detalhes. Já uma escala é considerada pequena quando seu denominador é grande:
nesse caso, o mapa representará uma área maior, porém com menos detalhes.

• As variáveis visuais (ou variáveis retinianas) são os elementos gráficos que variam
visualmente, isto é, o aspecto visível dos símbolos que constituem os mapas. Por
outro lado, as propriedades perceptivas são os significados inerentes que as variáveis
visuais possuem.

• O mapa tem o papel primordial de indicar a localização dos fenômenos no espaço, mas
esse não é o único tipo de informação que possui. Um aspecto de grande importância
presente no mapa é a natureza e os tipos de relação que os dados estabelecem entre
si, denominados escala de medida.

• Por serem modelos simplificados da realidade, os mapas necessitam passar por


uma série de etapas responsáveis pela seleção, tratamento e representação das
informações que atendam às demandas do usuário final.

54
AUTOATIVIDADE
1 Além da mudança das dimensões da área representada, a alteração da escala
cartográfica causa outros efeitos na representação dos fenômenos no mapa. Assinale
a alternativa CORRETA que indica o impacto da escala cartográfica na fase do projeto
cartográfico:

a) ( ) A escala cartográfica está relacionada diretamente à etapa de seleção


cartográfica, que consiste na simplificação dos traços dos fenômenos
representados.
b) ( ) A escala cartográfica é um fator determinante na escolha das propriedades
perceptivas escolhidas pelo autor de mapas na construção da simbologia.
c) ( ) A escala cartográfica altera o tipo de público ao qual o mapa se destina: quanto
maior a escala, mais especializados são seus usuários.
d) ( ) A escala cartográfica está diretamente relacionada à etapa de generalização,
influenciando o grau de detalhamento dos fenômenos.
e) ( ) O autor de mapas deve escolher a escala cartográfica de acordo com o maior
fenômeno representado.

2 Um professor decidiu levar para sua aula uma série de mapas para ensinar escala
cartográfica para seus alunos. Em certa etapa, sua intenção era a de apresentar os
produtos cartográficos de forma a evidenciar uma diminuição de escala. Os produtos
cartográficos selecionados foram:

I- Mapa cadastral, para que os alunos visualizassem os loteamentos do bairro da escola.


II- Mapa do Brasil, para que os alunos visualizassem as fronteiras do nosso país.
III- Mapa-mudo do Estado de São Paulo, para que os alunos completassem com as
variáveis visuais adequadas a produção industrial anual.
IV- Mapa turístico, para que os alunos explorassem os atrativos turísticos da cidade.

Considerando os produtos cartográficos da maior para a menor escala, ordene os itens


e assinale a alternativa CORRETA:
a) ( ) III – IV – II – I.
b) ( ) IV – I – II – III.
c) ( ) I – IV – III – II.
d) ( ) II – III – IV – I.
e) ( ) I – II – III – IV.

3 Considerando seus conhecimentos de mapas e representações cartográficas e anali-


sando o mapa a seguir, classifique V para as sentenças verdadeiras e F para as falsas:

55
Fonte: Martinelli (204, p. 27)

( ) O mapa apresenta dois modos de implantação de dados: pontual e linear.


( ) A variável visual do mapa é de diversidade/similaridade.
( ) Uma das propriedades perceptivas da variável visual adotada é seu papel associativo.
( ) A escala de medida empregada no mapa é nominal.

Assinale a alternativa que apresenta a sequência CORRETA:


a) ( ) V – V – V – V.
b) ( ) F – V – F – F.
c) ( ) V – F – F – V.
d) ( ) F – F – F – V.
e) ( ) F – F – V – V.

4 Ao preparar uma aula sobre escala cartográfica, um professor selecionou dois mapas
da mesma área com escalas diferentes, sendo as escalas dos respectivos mapas:
1:500 e 1:10.000. Ao apresentar os mapas para os alunos, foi questionado o porquê de
o primeiro mapa possuir uma escala considerada maior do que a escala do segundo
mapa. Considerando o problema exposto, explique por que o primeiro mapa na
escala 1:500 pode ser classificado como de escala grande, quando comparado com o
segundo mapa, de escala 1:10.000.

5 Em um mapa de escala 1:25000, foi traçada uma reta entre dois pontos com uma
distância gráfica de 13 cm. Calcule a distância real dessa linha.

56
REFERÊNCIAS
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representação do lugar. Geografia, v. 13, n. 1, p. 127-141, 2004.

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com parte do processo de comunicação. Portal da Cartografia, Londrina, v. 1, n. 1, p.
1-20, 2008.

59
60
UNIDADE 2 —

OS DESAFIOS DA CARTOGRAFIA
NA REPRESENTAÇÃO DA
FORMA DA TERRA

OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM
A partir do estudo desta unidade, você deverá ser capaz de:

• compreender o processo histórico de determinação da forma da Terra;

• conhecer as diferentes estratégias para a orientação no espaço geográfico;

• interpretar o uso de aparelhos de localização;

• compreender a função e o cálculo das coordenadas geográficas.

PLANO DE ESTUDOS
A cada tópico desta unidade você encontrará autoatividades com o objetivo de
reforçar o conteúdo apresentado.

TÓPICO 1 – A FORMA DA TERRA


TÓPICO 2 – ESTRATÉGIAS DE ORIENTAÇÃO NO ESPAÇO
TÓPICO 3 – AS COORDENADAS GEOGRÁFICAS

CHAMADA
Preparado para ampliar seus conhecimentos? Respire e vamos em frente! Procure
um ambiente que facilite a concentração, assim absorverá melhor as informações.

61
CONFIRA
A TRILHA DA
UNIDADE 2!

Acesse o
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62
UNIDADE 2 TÓPICO 1 —
A FORMA DA TERRA

1 INTRODUÇÃO
Caro acadêmico, embora, hoje, seja fácil afirmarmos qual é a verdadeira forma
do nosso planeta, devemos ter clareza de que esse tipo de indagação motivou vários
povos antigos que não dispunham das ferramentas computacionais que temos hoje,
mas que realizaram importantes reflexões sobre essa questão. Nesta unidade, compre-
enderemos um pouco mais de como essa trajetória ocorreu. Iniciaremos nossos estu-
dos com as contribuições dos gregos, examinando os métodos empregados por eles no
estudo da forma da Terra.

Este é um tema importante porque, a partir do reconhecimento da esfericidade


do nosso planeta, um novo tipo de desafio surgiu no horizonte da Cartografia: o
desenvolvimento de estratégias para a representação de uma superfície curva em um
plano, desafio que está diretamente ligado à invenção das coordenadas geográficas.

Portanto, fique atento às informações que serão repassadas ao longo deste


tópico e tenha uma ótima leitura!

2 A FORMA DA TERRA
Caro acadêmico, com o desenvolvimento tecnológico que culminou no
lançamento de satélites artificiais que imageiam o nosso planeta, a popularização dos
meios de comunicação em massa e a internet, o formato visível que a Terra possui vista
do espaço é uma imagem comum no imaginário coletivo, mas nem sempre foi assim. Até
os últimos 60 anos, a forma do nosso planeta exigia dos povos um complexo raciocínio
inferencial, baseado nos indícios que foram aprimorados de maneira relativamente lenta
ao longo da história da humanidade. Cabe, neste momento, uma pergunta para você
responder: qual é a forma da Terra?

A resposta para essa questão é: depende. Para as ciências que tratam especifi-
camente da representação do nosso planeta, existem vários modelos que são adotados
para permitir a representação. Mas fornecer esses modelos e suas principais caracte-
rísticas sem recorrer a um breve histórico das principais descobertas é deixar de lado
alguns raciocínios que complementam a nossa visão da Geografia. Vamos começar?

63
Na Unidade 1, vimos que a preocupação central da Cartografia é a represen-
tação do espaço, sendo o mapa seu objeto principal de estudo. O levantamento e
a medição do espaço, embora estejam relacionados como uma etapa antecedente
e necessária para a coleta dos dados que, posteriormente, serão representados no
mapa, é o objeto de estudo de uma outra ciência, denominada Geodésia.

De acordo com Oliveira (1993), a Geodésia é uma ciência que se ocupa da


determinação do tamanho e da figura da Terra por meio de medições, como triangulação,
nivelamento e observações gravimétricas, bem como a determinação do campo
gravitacional externo da Terra e, até certo limite, da estrutura interna.

Os métodos e as técnicas para a definição da forma do nosso planeta


aprimoraram-se ao longo do tempo, mas têm como o marco fundador a medição do raio
da Terra estabelecida por Erastótenes (276-196 a.C.), a partir da diferença angular que
os raios solares apresentavam, simultaneamente, em um ponto na cidade de Siena e
outro em Alexandria.

O raciocínio empregado por Erastótenes foi o seguinte: sabendo que a distância


entre Siena e Alexandria que, segundo o que pressupunha o filósofo, compartilhavam
uma mesma longitude, era de 800 km, a medição do ângulo formado pela sombra
de uma estaca fincada no chão no solstício de verão (21 de junho) indicaria o grau de
curvatura da Terra entre os dois pontos.

A simples existência da sombra em Alexandria e sua ausência em Siena ao


meio-dia era um forte indício da esfericidade do planeta. A partir desse dado, bastaria
dividir o ângulo encontrado pelo valor total da circunferência terrestre (que é 360°) para
se determinar o raio planetário.

O ângulo formado pela sombra da estaca em Alexandria foi de 7,2°, o que


corresponde a uma das cinquenta partes da Terra. A partir da multiplicação da distância
conhecida entre as cidades por 50, Erastótenes determinou que a circunferência do
planeta era de, aproximadamente, 39.250 quilômetros.

64
Figura 1 – Método empregado por Erastótenes na medição da Terra

Fonte: adaptada de Oliveira (1993)

O valor encontrado por Erastótenes e o valor real da circunferência da Terra, na


linha do Equador, diferenciam-se em apenas 320 quilômetros. Essa diferença se deu
porque Siena e Alexandria não estavam exatamente na mesma longitude.

O levantamento e as medições para a determinação da forma real da Terra


tornaram-se secundárias ao longo da Idade Média, mas voltaram a ganhar atenção
durante o período das Grandes Navegações, nos séculos XV e XVI, impulsionados pela
busca de novas terras e riquezas. Nesse período, destacaram-se as ideias de Cristóvão
Colombo, que defendeu, insistentemente, a ideia de uma Terra com a superfície
arredondada, e as de Fernão de Magalhães, que realizou a primeira viagem de circum-
navegação completa da Terra.

Com o fortalecimento dos impérios coloniais, em meados do século XVII,


inúmeras teorias e instrumentos recém-desenvolvidos, juntamente com as descobertas
realizadas durante as navegações, contribuíram para o amadurecimento das concepções
da forma da Terra.

65
O francês Jean Picard (1620-1682) foi quem resgatou e aplicou o método
desenvolvido por Erastóstenes e calculou o raio da Terra a partir do arco de circunferência,
localizado entre as cidades Paris e Amiens, calculando o valor de 6.372 km.

Ainda no século XVII, franceses e ingleses travavam uma batalha científica


para determinar a forma e a dimensão exata da Terra. Giovanni Cassini, medindo um
arco de meridiano entre as cidades de Dunquerque e Collioure, afirmou que a Terra
tinha a forma de um ovo (ovoide), sendo achatada na região do Equador e alongada na
direção dos polos. Isaac Newton, então, pôs em xeque a proposição de Cassini, ao de-
senvolver, com base em observações pendulares e também na gravitação universal, a
teoria de que a Terra tem os dois polos achatados e uma dilatação no Equador, o que
a tornaria um elipsoide, como ilustra a Figura 2.

Na primeira metade do século XVIII, a Academia de Ciências de Paris tentou


explicar, de forma definitiva, a contradição entre as teorias de Cassini e de Newton e,
para isso, foram organizadas duas expedições científicas. A primeira expedição, chefiada
por Charles-Marie de la Condamine, foi enviada para a América do Sul, percorrendo o
Peru e o Equador, onde realizou a medição de um grau de arco de meridiano próximo à
linha equatorial e obteve como resultado que, nessa posição, o grau meridiano media
110.613 metros. A segunda expedição foi chefiada por Pierre Maupertius, enviada para
o Ártico, onde mediu um grau de arco de meridiano na Lapônia, ponto próximo ao
extremo polo Norte da Terra, e verificou que o arco meridiano, nessa localização, media
111.948 metros, concluindo que a Terra é achatada nos polos e dilatada no Equador.
Com os resultados obtidos, ficou constatado que a Teoria da Terra ovoide, proposta por
Cassini, estava errada, e nosso planeta possuía um raio equatorial maior, de acordo com
a proposta de Newton.

Figura 2 – Os modelos da forma da Terra propostos por Isaac Newton e Giovanni Cassini

Fonte: o autor

66
É importante ressaltar que os dois modelos ilustrados pela Figura 2 são,
didaticamente, exagerados: na realidade, a diferença do eixo equatorial do eixo polar é
de apenas 21 quilômetros, aproximadamente. Mesmo com os resultados obtidos pelas
expedições francesas, vários esforços foram direcionados para a continuidade dos
estudos da forma da Terra em diversas partes da Europa, em que físicos e matemáticos
dedicavam-se a buscar uma informação mais precisa do assunto.

Em 1828, Carl Friedrich Gauss (1777-1855) propôs um modelo físico (e não


geométrico) da Terra, baseado na superfície equipotencial do campo de gravidade do
planeta que coincide com o nível médio não perturbado dos mares. Em 1873, Listing
conclui que, se a gravidade exerce força diferente para cada ponto da superfície, a Terra
deveria ter uma superfície irregular, como um grande bloco rochoso com uma superfície
rugosa, denominando essa forma de geoide. Esse modelo é considerado de referência
para os levantamentos planimétricos e altimétricos de alta precisão.

É importante assinalar que existe uma diferença significativa entre a superfície


topográfica e a superfície do geoide. Podemos considerar como superfície topográfica
todos os aspectos mensuráveis da superfície terrestre, o que inclui as grandes altitudes
e grandes depressões: o ponto mais alto dessa superfície no nosso planeta, o Monte
Everest, com uma altitude de 8.840 metros, e o ponto mais baixo, a Fossa das Marianas,
11.000 quilômetros de profundidade, mostram uma amplitude topográfica de quase 20
quilômetros. Embora na escala humana seja uma diferença considerável, no modelo
geoidal essa amplitude seria de, no máximo, 110 metros, pois o geoide é obtido a partir
dos valores gravimétricos de um ponto e não de sua altitude. Um exemplo de como o
geoide é caracterizado está expresso na Figura 3.

Figura 3 – A Terra a partir da forma de um geoide

Fonte: https://pt.wikipedia.org/wiki/Geoide#/media/File:Geoids_sm.jpg. Acesso em: 31 ago. 2022.

67
Por mais preciso, entretanto, que seja os valores obtidos pela superfície geoidal,
dependendo da finalidade das atividades desenvolvidas, pode-se adotar formas mais
simplificadas para a representação da Terra, nas quais destacam-se o plano, a esfera e
o elipsoide.

Figura 4 – Os três modelos mais comuns para a representação da Terra

Fonte: o autor

O modelo plano de representação da superfície terrestre é a estratégia mais


simples, usada como superfície de referência para áreas muito limitadas (de até 50 km²).
Por serem muito reduzidas, essas áreas não apresentam as deformações observadas
na curvatura terrestre, fornecendo maior facilidade na representação e no tratamento
dos dados obtidos nos trabalhos de topografia.

Já a esfera é a forma geométrica mais conhecida para representar o nosso


planeta. Sua adoção pressupõe a eliminação da diferença de tamanho entre os eixos
polar e equatorial, bem como a amplitude das altitudes da superfície terrestre. Ao
contrário do modelo plano, as escalas geralmente empregadas nesse tipo de modelo
esférico são muito pequenas, de 1:5.000.000 e inferiores.

Se é verdade que o modelo esférico é mais aproximado da forma da Terra em


relação ao modelo plano, também é verdade que as operações matemáticas necessárias
para a obtenção de medidas são mais complexas. Por exemplo: você deve se lembrar,
caro acadêmico, de que a menor distância entre dois pontos em um plano é uma reta,
certo? Mas, no caso da esfera, o caminho mais curto é um arco de circunferência. Isso
significa que quanto mais próximo da forma real do planeta, mais difícil de se trabalhar
na realização de operações matemáticas das representações cartográficas.

O modelo mais complicado para representar a superfície terrestre é o elipsoidal.


Ele considera o achatamento que a Terra tem em direção aos polos e é empregado,
principalmente, em levantamentos de alta precisão. É a partir do modelo elipsoidal que
são definidas as coordenadas geodésicas elipsoidais.

A forma elipsoidal pode apresentar uma grande variedade de aspectos, pois,


ao contrário do círculo, seus eixos vertical e horizontal possuem valores distintos. Na
prática, isso significa que, dependendo da localização da área que será representada,

68
deve-se adotar o elipsoide com as configurações mais adequadas para sua finalidade.
Para estabelecer uma fixação entre o geoide e o elipsoide para a representação mais fiel
possível, é escolhido um datum geodésico.

De acordo com Gaspar (2005), o termo datum é empregado na Geodésia para


designar um conjunto de parâmetros que constituem a referência de um determinado
sistema de coordenadas geográficas. Os data (plural de datum) podem ser locais ou
globais: no caso do Brasil, desde 2013, utiliza-se o datum geodésico SIRGAS 2000
substituindo o datum anterior, o SAD 69.

O efeito prático da mudança de data é o fato de que, além de permitirem uma


acurácia maior no posicionamento dos fenômenos no espaço, eles atribuem posições
ligeiramente diferentes para valores idênticos das coordenadas geográficas.

Por mais importante que seja a adoção de uma superfície de referência para a
representação cartográfica do planeta, essa tarefa estaria incompleta sem a articulação
com uma estratégia de orientação e localização, assunto tratado nas próximas páginas.

3 ESTRATÉGIAS DE ORIENTAÇÃO NO ESPAÇO


Caro acadêmico, para que possamos nos deslocar no espaço de um ponto a ou-
tro, é necessário termos, ao menos, três informações conhecidas: saber onde estamos,
para onde vamos e o sentido que devemos seguir. Essa pode parecer uma tarefa, apa-
rentemente, simples quando os lugares são próximos e bem conhecidos, mas passam
a exigir estratégia mais elaborada quando trabalhamos com grandes distâncias e des-
conhecemos o nosso ponto de chegada. A evolução do raciocínio espacial dos povos
antigos demonstra algumas estratégias muito interessantes para resolver essa questão.

A estratégia mais primitiva para a apropriação e a orientação dos espaços é


a adoção de toponímias, isto é, “batizar” o terreno com algum nome que permite
referenciá-lo comunitariamente (CLAVAL, 2011). Logo, torna-se possível criar um
ponto de referência e situar os lugares como estando “atrás da colina do castelo”, “à
direita da Praça dos Três Poderes” e assim por diante. O problema dessa estratégia é
que as toponímias não possuem nomes universais, isto é, têm alcance limitado a uma
determinada cultura, além do fato de não permitirem que as pessoas que nunca viram
esses fatos geográficos os utilizem como pontos de referência.

A solução para a limitação do uso das toponímias foi a utilização de pontos


de referência acessíveis a qualquer pessoa, tendo como base a observação dos astros
celestes, como o Sol, a Lua e outras estrelas. Se pararmos para pensar, qualquer pessoa
tem condições de olhar o céu e identificar esses pontos comuns que servem como
referência e ajustar a sua direção no deslocamento. A observação desses astros e o
conhecimento das trajetórias aparentes na abóboda celeste, como o local onde o Sol
nasce e se põe, tornou a tarefa de deslocamento tendo como referência uma grade
universal e mais precisa do que o uso dos topônimos.
69
Com o avanço dos conhecimentos das civilizações e com a necessidade cada
vez maior de se movimentar por territórios longínquos, surgiu a padronização dos pontos
principais de referência, que ficaram conhecidos como pontos cardeais.

A forma mais simples de se orientar pelos pontos cardeais era por meio da
observação do movimento dos astros, bastando saber que o Sol, a Lua e as estrelas
nascem sempre a Leste. A rosa-dos-ventos foi criada para indicar exatamente os
sentidos dos pontos cardeais e, a partir deles, desenvolveram-se outros pontos de
precisão, intermediários entre os pontos cardeais, que são chamados de pontos
colaterais e, entre esses últimos, foram determinados os pontos subcolaterais.

Figura 5 – A Rosa-dos-ventos e os pontos cardeais, colaterais e subcolaterais

Fonte: o autor

Quadro 1 – Os pontos cardeais, colaterais e subcolaterais

PONTOS CARDEAIS
N Norte
S Sul
E ou L Leste
W ou O Oeste
PONTOS COLATERAIS
NE Nordeste
SE Sudeste
SO Sudoeste
NO Noroeste

70
PONTOS SUBCOLATERAIS
NNE Nor-Nordeste
ENE Lés-Nordeste
ESSE Lés-Sudeste
SSE Sul-Sudeste
SSO Sul-Sudoeste
OSO Oés-Sudoeste
ONO Oés-Noroeste
NNO Nor-Noroeste

Fonte: o autor

As limitações oriundas da técnica de observação dos astros celestes para


determinar a orientação recai sobre alguns problemas comuns no nosso dia a dia e
que, em situações específicas, causariam sérios problemas para aqueles que dela
dependem. Basta imaginar que durante uma tempestade ou estando um céu com grande
nebulosidade não há possibilidade de enxergar os astros celestes, e um marinheiro
ficaria totalmente desorientado. Para isso, buscou-se alternativas que servissem como
meio seguro e mais constante para a orientação no nosso planeta, como é o caso da
orientação a partir do campo magnético da Terra.

A bússola é o instrumento utilizado para a orientação que funciona a partir


da atração de uma agulha imantada em relação ao campo magnético da Terra. Foi
descoberta pelos chineses, aproximadamente, no ano de 1100 d.C. Além de propor
o geoide, também foi Gauss quem realizou os estudos iniciais sistemáticos para
compreender a variação desse campo magnético em nível planetário.

Dessas pesquisas, verificou-se que 95% desse campo é originado no interior


terrestre, devido à composição rica em ferro. Ou seja: ao considerarmos o nosso planeta
uma grande esfera, verificamos que bem próximo ao seu centro origina-se um campo
magnético, como em uma espécie de ímã de barra, denominado dípolo. Esse dípolo não
está perfeitamente alinhado ao Equador, formando um ângulo de aproximadamente 11,5°:
por essa razão, a agulha imantada da bússola não aponta para o eixo correspondente aos
meridianos, mas ao norte magnético. Esse ângulo de desvio da agulha é denominado
declinação magnética (ERNESTO; MARQUES, 2008).

Deve-se pontuar que o magnetismo na Terra tem seus valores alterados com o
tempo, ou seja, o norte magnético está em um permanente e discreto movimento.

71
INTERESSANTE
A distribuição do campo geomagnético sobre a superfície da Terra é
mais bem observada em cartas isomagnéticas, isto é, mapas nos quais
linhas unem pontos que correspondem a um mesmo valor de um
determinado parâmetro magnético. As linhas isomagnéticas cruzam
continentes e oceanos sem distúrbios e não mostram relações óbvias
com grandes cadeias de montanhas ou com cadeias submarinas. Esse
fato deixa claro que a origem do campo geomagnético, necessariamente,
tem de ser profunda (ERNESTO; MARQUES, 2008).

É por isso que, para trabalharmos com a orientação, temos que identificar os
diferentes Nortes que existem, pois variam a depender do critério que considerarmos.
Denominamos norte verdadeiro ou norte geográfico os pontos extremos do alinhamento
que coincidem com o eixo de rotação da Terra, sobre o qual se descreve o movimento
de rotação diária. A orientação pelo Norte verdadeiro ou geográfico é dada por uma linha
imaginária, paralela ao eixo de rotação da Terra.

Figura 6 – Declinação magnética entre o Norte Verdadeiro e o Norte Magnético

Fonte: o autor

A agulha imantada da bússola, no entanto, que indica o Norte, não está orientada
em relação ao Norte Geográfico, mas ao Norte Magnético da Terra. A ponta da agulha
que marca o sentido Norte, na verdade, aponta para o Sul magnético da Terra, enquanto
a extremidade oposta aponta o norte magnético da Terra. Logo, o norte apontado pela
agulha da bússola é o norte magnético, mas que corresponde ao sul geográfico.

72
O norte magnético é obtido pelo campo magnético terrestre e apresenta uma
diferença de direção em relação ao Norte verdadeiro. Além disso, o Norte magnético não
é fixo, pois o campo magnético da Terra está sempre em movimento. Ao longo dos anos,
o polo magnético da terra sofre uma flutuação, alterando sua direção. Em mapeamentos
antigos, é necessário verificar qual foi a alteração sofrida pelo Norte magnético da Terra
no período.

3.1 CALCULANDO RUMOS E AZIMUTES


Embora os pontos cardeais, colaterais e subcolaterais ofereçam meios para se
determinar uma orientação, a trajetória de grandes distâncias necessita de cálculos
matemáticos para se determinar da forma mais exata possível a orientação a ser
percorrida. Para tanto, são utilizados dois tipos de informações: o azimute e o rumo.

3.1.1 Azimute
O azimute é o ângulo formado entre o meridiano de origem (linha paralela ao
eixo de rotação da Terra) e o alinhamento do ponto de interesse. Sua origem, tanto
magnética quanto geográfica, é o Norte, e angulação varia de 0° a 360°.

Figura 7 – Exemplo de marcações do azimute

Fonte: o autor

73
3.1.2 Rumo
O rumo é o menor ângulo entre a meridiana Norte-Sul e o ponto lido. A variação
desse ângulo é de 0 a 90°, sendo contado do Norte ou do Sul para Leste ou Oeste.
Segundo Borges (2003, p. 35), “o rumo de uma linha é o ângulo horizontal entre a direção
norte-sul e a linha, medido a partir do norte ou do sul na direção da linha, porém, não
ultrapassando 90°”.

O rumo é obtido com leituras segmentadas, ou seja, na prática, seria necessário


determinar em qual quadrante o objeto ou o caminho que se quer ler está localizado.
Nesse caso, os quadrantes correspondem a um quarto da rosa dos ventos, sendo que
podemos dividir as direções Norte, Sul, Leste e Oeste em quatro quadrantes:

1º quadrante = NE
2º quadrante = SE
3º quadrante = SW (SO)
4º quadrante = NW (NO)

O valor numérico do rumo sempre deve ser acompanhado de sua orientação, ou


seja, de onde partiu a leitura (Norte ou Sul) e para onde foi girada a bússola (Leste ou
Oeste), como:

Figura 8 – Leitura do rumo em uma bússola

Fonte: o autor

74
50° NE – significa que a leitura teve início em Norte, e que o ponto está a 50° no sentido
Leste (E).
30° SE – significa que a leitura teve início em Sul, e que o ponto está a 30° no sentido
Leste (E).
44° NW – significa que a leitura teve início em Norte, e que o ponto está a 44° no sentido
Oeste (W).
40° SW – significa que a leitura teve início em Sul, e que o ponto está a 40° no sentido
Oeste (W).

3.2 TRANSFORMAÇÕES DE RUMO E AZIMUTE


Cada quadrante tem o seu modo de transformar rumo em azimute ou o contrário,
como demonstrado a seguir:

De Azimute para Rumo:


1° quadrante (NE)
Rumo = Az

2° quadrante (SE)
Rumo = 180° - Az

3° quadrante (SW)
Rumo = Az - 180°

4° quadrante (NW)
Rumo= 360° - Az

De Rumo para Azimute:


1° quadrante
Az = Rumo

2° quadrante
Az = 180° - Rumo

3° quadrante
Az = 180° + Rumo

4° quadrante
Az = 360° - Rumo

75
Para representar os dados angulares obtidos a partir de um azimute em uma
carta, basta usar um transferidor. Marca-se o ponto de partida da leitura e se coloca
a base do transferidor (linha 0° – 180°) paralela ao ponto de referência sobre o ponto
a partir do qual pretendemos traçar o azimute. Logo em seguida, marca-se, na carta,
junto à marca de graduação do transferidor correspondente ao ângulo do azimute
pretendido. Finalmente, é traçada uma linha que passa pelo ponto do ângulo medido e
tem a extensão da distância já determinada.

Figura 9 – Transformação entre rumos e azimutes

Fonte: o autor

DICA
O link a seguir apresenta um breve vídeo que demonstra de maneira
muito simples e prática a utilização das bússolas topográfica e militar
para a tomada de dados em campo.

Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=z-6UG56NpR8.


Acesso em: 14 jun. 2019.

4 AS COORDENADAS GEOGRÁFICAS
Os gregos foram os responsáveis pela elaboração dos primeiros sistemas de
coordenadas de latitudes e longitudes. Os paralelos são linhas imaginárias que têm
como origem a Linha do Equador, a qual divide a Terra nos hemisférios norte e sul. Os
paralelos circundam, horizontalmente, o planeta, partindo do 0° na linha do Equador até
90° no Polo Sul e 90° no Polo Norte. Os meridianos são linhas imaginárias que tocam os
polos da Terra. O meridiano central é denominado Greenwich (0°) – divide a Terra nos
hemisférios Leste e Oeste; a partir dele, são contados 180° para Leste e 180° para Oeste.

76
Figura 10 – Paralelos e Meridianos

Fonte: o autor

O meridiano central foi instituído em 1895, no Congresso Internacional de


Geografia, quando todos os países aceitaram que o principal meridiano deveria passar
sobre Londres. Seu lado oposto, denominado antimeridiano (180°), coincide com a Linha
Internacional de Data (LID) e passa justamente sobre o Oceano Pacífico, onde está o
fuso internacional do dia.

Existem alguns paralelos especiais que têm nome próprio, devido à sua
importância para outras áreas de estudos, como a astronomia e a climatologia. São
os Trópicos de Câncer e de Capricórnio, localizados, respectivamente, a 23°27’30”N e
23°2730”’S, e os círculos polares Árticos e Antártico, localizados, respectivamente, a
66°33’N e 66°33’S.

Figura 11 – Os principais paralelos da Terra

Fonte: https://bityli.com/FyWcLOm. Acesso em: 31 ago. 2022.

77
Quando os paralelos e os meridianos se cruzam, forma-se o que é denominado
coordenada geográfica: cada ponto da superfície terrestre tem a sua coordenada
geográfica, formada por uma latitude (φ), que poderá ser Norte ou Sul – com grau,
minuto e segundo de arco – e uma longitude (λ), que pode ser Leste ou Oeste.

Figura 12 – A formação das coordenadas geográficas a partir do cruzamento de um


paralelo com um meridiano

Fonte: https://bityli.com/Uuwteko. Acesso em: 31 ago. 2022.

Quadro 2 – Coordenadas geográficas dos pontos da Figura 12

Ponto Coordenadas Geográficas

Latitude (φ) Longitude (λ)

A 50° N 100° W

B 40° N 80° E

C 20° S 40° W

D 10° S 20° E

Fonte: o autor

Um dado importante que pode ser calculado entre dois pontos a partir de suas
coordenadas geográficas é a diferença de latitude e longitude. Para efeitos de cálculo,
considera-se que as latitudes do hemisfério Norte apresentam um valor positivo, e as
do Sul, negativo. No caso das longitudes, utilizam-se valores positivos para Leste e
negativos para Oeste do meridiano de Greenwich. Para tanto, empregam-se as fórmulas
matemáticas a seguir para se obter essa informação:

78
Na qual:

∆ϕ =diferença de latitude
ϕ A = diferença do ponto A
ϕ B = diferença do ponto B

Na qual:

∆ϕ = diferença de longitude
ϕ A = longitude do ponto A
ϕ B = longitude do ponto B

Para mostrarmos como se obtêm as diferenças de latitude e longitude entre


dois pontos, consideraremos os dados presentes no Quadro 2, levando em conta as
coordenadas geográficas dos pontos A (50°N, 100°W), B (40°N, 80°E), C (20°S, 40°W)
e D (10°S, 20°E). Para obtermos a diferença de latitude entre os pontos A e B, basta
substituirmos os valores da fórmula a seguir pelos valores correspondentes dos pontos:

No caso da diferença de longitude, basta substituirmos os valores da fórmula a


seguir pelos valores correspondentes dos pontos:

79
Nesse exemplo em específico, é válido lembrar que os sinais de positivo e
negativo que acompanham os pontos A e B dependem do hemisfério no qual se
encontram. Quando dois pontos se encontram com uma diferença de longitude de 180°,
como foi o caso dos pontos A e B, dizemos que A se encontra no antimeridiano de B.

INTERESSANTE
A orientação com mapa e bússola tornou-se um esporte em franco crescimento na última
década. Atualmente, existem vários grupos que são adeptos dessa modalidade ainda pouco
divulgada. A orientação consiste em um desafio de se utilizar uma bússola e uma carta
planialtimétrica para se chegar a lugares específicos sem nenhuma referência adicional.
O mais comum é a orientação na selva, onde alguns alvos são colocados dentro de uma
extensa área de mata com orientações (azimute/rumo e distâncias). Com essas informações,
o atleta precisa se deslocar até os alvos. A seguir, a breve história dessa modalidade:
Nos primórdios da existência humana, a orientação e a localização espacial eram habilidades
necessárias para a sobrevivência, principalmente nos deslocamentos terrestres para a
busca de refúgios e de alimentos.
Ao longo dos séculos, com o conhecimento dos astros, com
a invenção da bússola e com o uso dos mapas, a localização
e a orientação se tornaram mais precisas, permitindo nortear
o deslocamento de exploradores e navegadores de terras e
mares, além de orientar-se em qualquer momento ou condição
do ambiente.
Atualmente, temos uma gama de informação sobre qualquer
lugar, à disposição de muitas pessoas, por meio do SIG, da rede
ciberespacial e do GPS.
Entretanto, no meio dessa trajetória, surge uma atividade – a
Orientação. A Orientação é uma prática muito antiga na Europa e
teve início nos países nórdicos há mais de um século. Em meados
do século XIX, militares escandinavos realizavam exercícios de
orientação com suas tropas, em meio às paisagens naturais, com
o objetivo de treinar e de entreter.
O Major Ernst Killander, um sueco e líder de escoteiros, conseguiu
divulgar e popularizar o esporte. A princípio, constatou que os
jovens se afastavam cada vez mais das atividades esportivas de
corrida e do atletismo e decidiu explorar a paisagem sueca para
atrair os jovens corredores. Fixou pontos no meio das florestas,
entregou um mapa e uma bússola para os participantes,
estabelecendo, assim, uma corrida. A prática da atividade se
tornou um grande sucesso e ele foi incentivado a ampliar a
orientação para outras pessoas.

Fonte: adaptada de Scherma e Ferreira (2011)

80
RESUMO DO TÓPICO 1
Neste tópico, você aprendeu:

• A cartografia é imprescindível para os estudos relacionados aos fenômenos


geográficos. Para tanto, é necessário conhecer a superfície cartografada, a melhor
forma de representação dos fenômenos que ocorrem no espaço geográfico, além das
ferramentas contemporâneas e os novos produtos que podem ser gerados para uma
comunicação cartográfica mais eficiente.

• A forma elipsoidal pode apresentar uma grande variedade de aspectos, pois, ao


contrário do círculo, seus eixos vertical e horizontal possuem valores distintos.

• Existe uma diferença significativa entre a superfície topográfica e a superfície do


geoide. Podemos considerar como superfície topográfica todos os aspectos mensu-
ráveis da superfície terrestre, o que inclui as grandes altitudes e grandes depressões.
No modelo geoidal, essa amplitude seria de, no máximo, 110 metros, pois o geoide é
obtido a partir dos valores gravimétricos de um ponto, e não de sua altitude.

• Denominamos Norte verdadeiro ou Norte geográfico os pontos extremos do alinha-


mento que coincidem com o eixo de rotação da Terra, sobre o qual se descreve o
movimento de rotação diária. A orientação pelo Norte verdadeiro ou geográfico é
dada por uma linha imaginária, paralela ao eixo de rotação da Terra.

81
AUTOATIVIDADE
1 Considerando as diferenças entre o rumo e o azimute, analise as proposições
listadas a seguir:

I- A orientação dos rumos e dos azimutes tem origem no Norte.


II- O valor do rumo deve apresentar o menor ângulo em relação ao eixo Norte–Sul e ao
ponto subcolateral correspondente.
III- Um rumo de 45° NW tem sua origem em Norte e vai para Oeste.
IV- O valor do rumo varia de 0° a 90° e o valor do azimute de 0° a 360°.

Assinale a alternativa CORRETA:


a) ( ) Somente a sentença I está correta.
b) ( ) As sentenças I e II estão corretas.
c) ( ) As sentenças II e III estão corretas.
d) ( ) As sentenças III e IV estão corretas.
e) ( ) As sentenças I, III e IV estão corretas.

2 Um professor realizou uma aula prática de orientação com bússola. Para essa aula,
ele utilizou um mapa confeccionado com a orientação feita pelo Norte verdadeiro da
Terra. Durante a prática, os alunos constataram que alguns pontos no terreno não
estavam na mesma orientação marcada no mapa. Identifique a fonte de erro que
apareceu durante a aula prática.

3 A representação das formas da Terra envolve uma série de conceitos geométricos,


geodésicos e geográficos. Considerando a especificidade desses conceitos, classifi-
que V para as sentenças verdadeiras e F para as falsas.

( ) A forma mais precisa da Terra é denominada geoide.


( ) A Cartografia utiliza vários modelos geométricos para representar o nosso planeta,
inclusive o plano.
( ) Ao olharmos uma paisagem pela janela, é possível enxergarmos parte da superfície
do geoide.
( ) A função dos data é estabelecer um elo entre o geoide e o elipsoide na representação
do espaço.
( ) Se considerarmos uma escala cartográfica muito grande, é possível visualizarmos
o efeito da curvatura terrestre.

Assinale a alternativa que apresenta a sequência CORRETA:

82
a) ( ) F – F – V – V – F.
b) ( ) V – V – F – V – V.
c) ( ) F – V – V – F – V.
d) ( ) V – F – F – F – V.
e) ( ) V – V – F – V – F.

4 Durante um trabalho de campo, aos alunos do curso de Geografia foi solicitado deter-
minarem as coordenadas geográficas do ponto A (23°14’25”N; 12°24’12“W). Ao realizar
as correções dos resultados, o professor verificou que, embora as coordenadas fos-
sem idênticas, a posição entre os pontos não coincidia, como mostra a figura a seguir:

Fonte: o autor

Considerando que os equipamentos estavam em perfeitas condições, assinale a


alternativa CORRETA que corresponde ao tipo de informação que o professor deixou de
repassar e que determinou a diferença de localização entre os pontos:

a) ( ) Os valores dos eixos do elipsoide.


b) ( ) A escala cartográfica.
c) ( ) A orientação.
d) ( ) A longitude.
e) ( ) O datum.

5 Os gregos foram responsáveis por uma série de inovações que até hoje
estão presentes nas práticas de representação do espaço. Com base nessas
contribuições estudadas nesta unidade, analise as asserções a seguir e a relação
proposta entre elas:

I- Uma das maiores descobertas do povo grego foi a utilização dos astros celestes para
o desenvolvimento de um sistema de coordenadas geográficas universais.

PORQUE

II- O uso das toponímias tornava os pontos de referência restritos ao nível local.

83
A respeito dessas asserções, assinale a alternativa CORRETA:
a) ( ) As asserções I e II são proposições verdadeiras, e a II é justificativa correta da I.
b) ( ) As asserções I e II são proposições verdadeiras, mas a II não é justificativa correta da I.
c) ( ) A asserção I é proposição verdadeira, e a II é proposição falsa.
d) ( ) A asserção I é proposição falsa, e a II é uma proposição verdadeira.
e) ( ) As asserções I e II são proposições falsas.

84
UNIDADE 2 TÓPICO 2 -
PROJEÇÕES CARTOGRÁFICAS E
REPRESENTAÇÃO DO RELEVO

1 INTRODUÇÃO
Caro acadêmico, neste tópico, estudaremos quais as implicações da transforma-
ção de uma superfície curva em uma superfície plana nas representações cartográficas.

As projeções cartográficas formam um importante conjunto de estratégias


desenvolvidas e amadurecidas, desde os gregos, para o encontro de soluções na
representação da superfície terrestre. Discutiremos as fontes de distorções geradas
nesse processo.

Outro ponto que abordaremos são os principais ramos e métodos para o


levantamento de dados do terreno, a partir dos conceitos de altimetria, planimetria e as
relações com a Cartografia.

Em seguida, daremos atenção especial aos tipos de soluções historicamente


empregadas na representação do relevo, considerando as especificidades e
potencialidade de cada uma. O nosso foco principal será a leitura das curvas de nível,
uma invenção moderna que auxiliou, sobremaneira, a Cartografia na representação de
forma mais fidedigna do relevo.

Por fim, aprenderemos como construir e interpretar um recurso muito útil na


visualização da altimetria do relevo: os perfis topográficos. Esperamos que esse tópico
forneça informações necessárias para que, em sua vida profissional, a tomada de
decisões no processo de confecção de produtos cartográficos (mapas, cartas, plantas
etc.) ocorra de maneira prática e suficientemente clara.

2 AS PROJEÇÕES CARTOGRÁFICAS
Um dos maiores desafios decorrentes do conhecimento e da medição da
curvatura terrestre é a sua transposição para uma superfície plana, como em uma folha
de papel, causando as menores deformações possíveis.

A transposição de uma superfície curva para uma plana é um tipo de problema


recorrente se observarmos o nosso cotidiano, como na construção de uma bola de
futebol (Figura 13).

85
Figura 13 – Um tipo de solução para a transformação de um objeto em duas superfícies distintas

Fonte: o autor

No caso da bola de futebol, construída a partir de um material bem rígido,


são recortados pequenos polígonos que, depois de costurados, possuem suas linhas
suavizadas pela pressão do ar do interior da bola. Na Cartografia, adotam-se estratégias
engenhosamente semelhantes, mas com uma dificuldade adicional: as distorções
causadas na transposição de uma superfície curva para a plana afetam, diretamente,
algumas características da informação geográfica presente no mapa. Denominamos
esse conjunto de soluções empregadas na transposição de um ponto de uma superfície
curva para uma superfície plana, bem como na sua materialização, como projeção
cartográfica (GASPAR, 2005).

Os paralelos e os meridianos cumprem um papel importante na execução das


projeções porque indicam as deformações causadas na transposição cartográfica. Isso
significa que é a partir de suas trajetórias que identificamos o tipo de projeção utilizada
na construção de um mapa, bem como no tipo de propriedade que essa projeção
conserva ou deforma na representação espacial.

Os procedimentos envolvidos na construção de uma projeção cartográfica


podem ser divididos em dois principais momentos. O primeiro é caracterizado pela
redução escalar do modelo terrestre adotado para a representação do planeta, o
que envolve todas as transformações que a mudança de escala pode ocasionar na
representação espacial, como vimos na Unidade 1. O exemplo mais representativo dessa
operação é a construção de um globo terrestre, pouco utilizado no nosso cotidiano pelo
seu alto grau de generalização e pela dificuldade em transportá-lo. O segundo momento
corresponde à transformação da forma dos objetos oriundos da transposição de uma
superfície curva para uma superfície plana.

A aplicação das projeções cartográficas sempre causa a distorção de algum


aspecto no mapa. Nesse sentido, é possível dividirmos as projeções em categorias de
acordo com o tipo de distorção ou conservação, quais sejam:

86
• Projeções conformes

Nas projeções conformes, é possível observarmos uma preservação das formas


dos objetos pequenos representados nos mapas, mas que sofrem uma mudança de
escala quando se prolongam da linha do Equador e se aproximam dos polos. Isso significa
que associar o termo “conforme” à preservação das formas de objetos grandes, como os
continentes, é um entendimento equivocado. Em determinado ponto localizado sobre
uma projeção conforme, a escala é preservada em todas as direções; mas essa escala
pode variar entre dois pontos distintos, como ilustra a Figura 14.

Figura 14 – Efeito de uma projeção conforme na forma de quatro pontos em latitudes distintas

Fonte: adaptada de Gaspar (2005)

• Projeções equivalentes

Nas projeções equivalentes, a principal propriedade que se busca conservar


são as áreas dos objetos. Esse tipo de propósito é particularmente importante na
representação dos mapas políticos, pois preservam as dimensões entre os diferentes
territórios, embora as formas sejam distorcidas pela variação dos ângulos, que não são
preservados, como mostra a Figura 15.

Figura 15 – Transformação de um objeto em diferentes latitudes em uma projeção azimutal equivalente polar

Fonte: adaptada de Gaspar (2005)

87
Um exemplo de projeção equivalente é a projeção de Mollweide, onde os
meridianos são apresentados como linhas curvas, enquanto os paralelos são traçados
em linha reta. A área do desenho corresponde à mesma proporção da área terrestre. As
regiões localizadas na área central do mapa possuem menor distorção que as regiões
das extremidades (Figura 16).

Figura 16 – Projeção de Mollweide

Fonte: adaptada de Gaspar (2005)

• Projeções equidistantes

Embora seja impossível preservar as distâncias entre todos os pontos da


superfície terrestre em um mapa, o objetivo das projeções equidistantes é preservar
as distâncias entre alguns pontos específicos, no sentido Leste-Oeste, Norte-Sul, por
exemplo.

• Projeções azimutais

O propósito principal das projeções azimutais, como o nome indica, é preservar


os azimutes a partir de um determinado ponto, sendo utilizada, sobretudo, para a
construção de mapas cuja utilização está relacionada diretamente à orientação.

• Projeções afiláticas

Nas projeções afiláticas, os ângulos e as áreas são deformados no desenho,


mas dentro de um limite de erro. Esse tipo de projeção é utilizado, principalmente, para
fins didáticos.

88
Figura 17 – Transformações causadas pelas projeções em um determinado objeto

Fonte: adaptada de Gaspar (2005)

Além das propriedades conservadas pelas projeções cartográficas, é possível


categorizá-las de acordo com a superfície de projeção e a posição dessa superfície em
relação ao modelo terrestre, como mostra a Figura 18.

Figura 18 – Classificação das projeções de acordo com a superfície de projeção e sua posição

Fonte: IBGE (1998, p. 34)

89
No que se refere ao tipo de superfície de projeção, podemos classificar as
projeções cartográficas em:

• Projeção cilíndrica

Na projeção cilíndrica, a Terra é envolvida por um cilindro, onde são traçadas as


superfícies representadas. Na projeção cilíndrica transversa, os meridianos tocam os
dois polos, projetando-se de forma perpendicular sobre a Linha do Equador, enquanto
os paralelos apresentam-se com maior espaçamento entre si à medida que se aproxi-
mam dos polos. Portanto, nessa projeção, quanto mais próximas dos polos estiverem
as áreas representadas, maior será a deformação encontrada na representação da su-
perfície terrestre.

Dizemos que uma projeção cilíndrica é secante quando a superfície de projeção


corta o elipsoide em dois pontos ou duas linhas de secância: no caso de cortarem nos
paralelos que correspondem à latitude de 70° Norte e Sul, significa que as distorções
entre estas latitudes serão menores. Essa projeção é amplamente utilizada para a
representação de mapas-múndi na forma de planisférios.

Figura 19 – Exemplo de projeção cilíndrica equatorial tangente

Fonte: https://bityli.com/IvPoEEj. Acesso em: 31 ago. 2022.

90
• Projeção de Mercator

Durante o período das grandes navegações, a projeção cilíndrica, elaborada


pelo cartógrafo holandês Gerardus Mercator, foi adotada em larga escala pelos nave-
gadores, pois permitia que se traçassem linhas retas para obter a direção a ser tomada.

Por ser uma projeção conforme, que representa o mundo sob uma perspectiva
europeia, centralizou o continente europeu aparentando dimensões maiores no
desenho, por isso é denominada de projeção eurocêntrica (Figura 20).

Figura 20 – Projeção cilíndrica transversa de Mercator

Fonte: https://bityli.com/sLLcmkZ. Acesso em: 31 ago. 2022.

Na década de 1970, o cartógrafo Arno Peters apresentou sua projeção


equivalente. Sua intenção foi contrapor a visão eurocêntrica que existia nos mapas,
ainda baseados na projeção de Mercator.

A projeção de Peters é cilíndrica, porém as distâncias angulares entre os paralelos


diminuem à medida que se afastam do Equador, o que provoca um alongamento nos
desenhos dos contornos continentais, distorcendo suas formas, porém mantendo as
áreas (Figura 21).

91
Figura 21 – Projeção cilíndrica de Peters

Fonte: https://bityli.com/sLLcmkZ. Acesso em: 31 ago. 2022.

• Projeção cônica

Na projeção cônica, a superfície terrestre é projetada sobre um cone que toca


um ponto tangente ou secante à superfície terrestre. Após a elaboração do desenho, o
cone é aberto, formando um plano. Nessa projeção, os meridianos convergem para um
dos polos, enquanto os paralelos são semicírculos concêntricos. Essa projeção possui
menor deformação nas áreas de latitudes médias – entre 25° e 65° para norte ou para
sul (Figura 22).

Figura 22 – Projeção cônica

Fonte: https://bityli.com/LXKEHId. Acesso em: 31 ago. 2022.

92
• Projeção Azimutal

Na projeção azimutal, um plano é colocado tangenciando um ponto da superfí-


cie. Os meridianos têm como origem o ponto de tangência e os paralelos formam círcu-
los concêntricos. A distorção é maior nas áreas mais distantes do ponto de tangência.
Essa projeção pode ser polar (quando o ponto de tangência está em um dos polos),
equatorial (quando o ponto de tangência está sobre a linha do Equador) ou oblíqua
(quando o ponto de tangência não está em nenhum dos anteriores).

Figura 23 – Projeção Azimutal Polar

Fonte: https://brasilescola.uol.com.br/geografia/projecoes-cartograficas.htm. Acesso em: 31 ago. 2022.

• Projeção ortográfica

Nessa projeção, considera-se que a fonte de projeção está no infinito, ou seja,


não toca a superfície, sendo que apenas um hemisfério poderá ser mostrado, e os
espaçamentos entre os paralelos diminuem à medida que se localizam próximos ao
Equador. Essa projeção é utilizada para destacar alguma região do globo terrestre.

• Projeções interrompidas

São denominadas interrompidas as projeções cartográficas que não apresentam


uma continuidade entre as linhas dos paralelos e meridianos. Embora evitem que áreas
específicas tenham deformação menor, sua interrupção inviabiliza o seu uso na maioria
das atividades cotidianas.

93
A projeção interrompida ou descontinuada de Goode, por exemplo, é uma
projeção que mostra a equivalência das massas continentais, para isso, descarta
algumas áreas onde predominam as massas oceânicas. Para obter maior precisão,
é realizado o alinhamento dos meridianos centrais da projeção aos meridianos dos
continentes (Figura 24).

Figura 24 – Projeção Descontinuada de Goode

Fonte: http://wikipedia.qwika.com/en2pt/Goode_homolosine_projection. Acesso em: 31 ago. 2022.

DICA
O site “Map Projection Transition” apresenta de forma fácil e prática como
diferentes projeções cartográficas transformam a representação da
superfície terrestre, acesse em: https://bit.ly/3CAZVwz.

3 CONHECENDO OS PRINCIPAIS MÉTODOS PARA A


REALIZAÇÃO DE LEVANTAMENTOS PLANIALTIMÉTRICOS
O conhecimento em cartografia envolve também as ferramentas de
geotecnologias que são trabalhadas pela topografia, geodésia e geoprocessamento,
sendo que o conhecimento básico dessas ferramentas é importante para o graduado
em Geografia, na elaboração de cartas ou mapas topográficos e na interpretação deles,
sendo desejável a compreensão das informações que esses mapas ou cartas lhe
fornecem para uma correta correlação, análise e síntese da informação.

94
O levantamento de campo conta com técnicas e instrumentos da geotecnolo-
gia para a obtenção da localização plana (X; Y) e altimétrica dos pontos a serem carto-
grafados. É uma parte da Geociência que procura realizar estudo local sem considerar a
curvatura da Terra, trabalhando em um plano tangente à sua superfície, de dimensões
de, em média, 50 km x 50 km, buscando representar de forma detalhada o que acontece
na área estudada, apresentando seu relevo, estradas, construções de divisas, cursos
d'água e elementos antrópicos.

A técnica de levantamento topográfico tem como objetivo, segundo Borges


(2003, p. 1),

[...] representar, no papel, a configuração de uma porção de terreno


com as benfeitorias que estão em sua superfície. Ela permite a
representação, em planta, dos limites de uma propriedade, dos
detalhes que estão em seu interior (cercas, construções, campos
cultivados e benfeitorias em geral, córregos, vales, espigões etc.).

O levantamento dos dados é realizado pela obtenção de distâncias e ângulos,


por meio dos quais é possível a determinação dos seguintes dados:

• coordenadas (X, Y e Z);


• áreas;
• volumes;
• perímetros.

Os levantamentos podem ser obtidos por meio de métodos planimétricos ou


altimétricos.

• Levantamento planimétrico

É o levantamento da área de estudo para uma representação plana, sem


considerar o relevo local. Nesse tipo de levantamento, são representados os limites do
lote, perímetro, área, construções, estradas, rios etc. Diversos tipos de equipamentos
e técnicas podem ser utilizados para esse tipo de levantamento, cujos dados obtidos
são os ângulos horizontais e as distâncias horizontais. A representação dos dados será
sempre referente ao plano de estudo perpendicular ao eixo gravitacional terrestre e
será, em uma folha, representado um plano, com uma vista superior. As coordenadas
trabalhadas nesse tipo de levantamento serão referentes apenas aos eixos X e Y.

De acordo com Borges (2003, p. 13), “na planimetria, são medidas as grandezas
sobre um plano horizontal. Essas grandezas são as distâncias e os ângulos, portanto, as
distâncias horizontais e os ângulos horizontais”.

95
• Levantamento altimétrico

Na altimetria, o objetivo é determinar os relevos do terreno, obter suas altitudes


referentes a uma superfície de referência que o profissional adotou, seja por um ponto
de altura conhecida ou por alguma referência necessária para a realização de um
projeto. Por exemplo, a altura de um meio-fio é importante para o engenheiro saber
a que altura tem que ficar o seu projeto. Nesse levantamento, são medidas grandezas
como distâncias verticais e ângulos verticais para uma posterior definição de alturas,
diferenças de alturas e cotas.

A representação cartográfica da altimetria é feita por meio de isolinhas cha-


madas de curvas de nível (Figura 25) que mostram em um plano como é a variação do
relevo, fornecendo informações que possibilitam verificar os pontos mais altos ou mais
baixos do terreno em estudo, os pontos de alagamento e as inclinações do relevo.

Figura 25 – Curvas de nível

Fonte: o autor

As coordenadas trabalhadas nesse tipo de levantamento serão referentes


apenas ao eixo da altitude (Z), de acordo com Borges (2003, p. 2):

96
Pela altimetria fazemos as medições das distâncias e dos ângulos
verticais que, na planta, não podem ser representados. Por essa
razão, a altimetria usa como representação a vista lateral ou perfil, ou
corte, ou elevação; os detalhes da altimetria são representados sobre
um plano vertical.

• Levantamento planialtimétrico

O levantamento planialtimétrico consiste na união dos levantamentos altimé-


trico e planimétrico, tendo como objetivo a determinação das três coordenadas: X, Y e
Z. No levantamento planialtimétrico, são levantados os valores dos ângulos horizontais,
dos ângulos verticais e das distâncias inclinadas. Com esses dados, ainda podemos
obter, por meio de cálculos ou equipamentos de medições, as distâncias horizontais e
as cotas e diferenças de alturas entre pontos.

Esse é o levantamento mais importante para a elaboração de cartas que


mostram todas as dimensões possíveis de se cartografar. Com os dados desse tipo de
levantamento, é possível verificar todo o comportamento do terreno, definir as formas de
relevo, definir a declividade do terreno, verificar seu posicionamento dentro da zona de
luminosidade, além de possibilitar a determinação da altitude de qualquer ponto dentro
da carta/mapa, e ainda é possível observar a posição dos elementos planimétricos,
como rios, estradas, cidades, quadras, dentre outros elementos.

4 REPRESENTAÇÃO E LEITURA DO RELEVO NA


CARTOGRAFIA
De acordo com Keates (1989), o relevo é caracterizado pelos valores da altitude
e da declividade. A utilização das curvas de nível para a representação dessas carac-
terísticas é uma invenção moderna, resultado do avanço científico da Matemática e da
Geometria. De acordo com Imhof (2007), o relevo tem sido objeto de representação na
Cartografia desde os mapas mais antigos. De maneira geral, algumas estratégias para
representá-lo podem ser sintetizadas pela Figura 26.

Figura 26 – Formas de representação do relevo

97
Fonte: Imhof (2007, p. 55)

As mais antigas e comuns representações de montanhas na Cartografia eram


em forma de montes: formas simples, uniformes, mostrando apenas um lado do fenô-
meno em um domo de forma regular. Quando representadas em fileiras, as montanhas
eram orientadas perpendicularmente ao eixo dos vales (IMHOF, 2007).

A representação da declividade era simulada por hachuras em manchas, na


Idade Média, sem a fidedignidade com as feições encontradas no território. A partir do
século XV, o uso de domos regulares começou a ser abandonado, e a representação
das montanhas começou a ser orientada ao ponto de vista do observador. Os símbolos
simplesmente sobrepostos começaram a ser representados como massas montanhosas
estendidas, as chamadas escamas de peixe. No século XVI, o uso de formas volumosas
em conjunto com a iluminação tornou-se muito presentes (IMHOF, 2007).

As isolinhas de altitude são recursos que demandaram o desenvolvimento


da Matemática e da Geometria para seu desenvolvimento. Foram desenvolvidas no
século XVII, apesar de somente ser extensivamente utilizado duzentos anos depois
do seu surgimento (IMHOF, 2007). De acordo com a Diretoria de Serviços Geográficos
(DSG) (BRASIL, 1998), a curva de nível é definida como uma linha contínua e fechada
que representa na carta a sucessão dos pontos de mesma altitude de uma elevação,
referidos ao datum vertical estabelecido.

As curvas de nível são mais próximas onde as declividades forem maiores, de


tal modo que, em áreas montanhosas, formarão superfícies mais escurecidas no mapa
(RAISZ, 1969). Duas curvas de nível jamais se cruzam, caso isso ocorra, é indicação
de erro na representação dela. A Figura 27 ilustra alguns exemplos de como são
representadas, em curvas de nível, algumas feições do relevo.

98
Figura 27 – Representação das feições de diferentes relevos pelas curvas de nível

Fonte: https://cutt.ly/kVbkgSM. Acesso em: 31 ago. 2022.

Uma mesma carta topográfica pode apresentar curvas de nível com espessuras
diferentes: isso significa a presença de curvas mestras e ordinárias. As primeiras
aparecem em intervalos maiores, com diferenças de altitudes de 50 em 50 metros ou
de 100 em 100 metros. As curvas de menor espessura com espaçamentos menores são
denominadas ordinárias (SANCHEZ, 1975).

4.1 CONSTRUÇÃO E LEITURA DE PERFIS TOPOGRÁFICOS


O perfil topográfico é um recurso muito útil para visualizar como se comporta o
relevo em um determinado corte longitudinal. Como pode ser verificado na Figura 28,
as duas situações apresentam um mesmo desnível de 40 metros, mas o desnível da
Situação 1 é muito menos suave, pois essa diferença está distribuída em uma distância
mais curta se compararmos à Situação 2. Para os estudos geográficos, essa visualização
da declividade do terreno pode ser muito útil, sobretudo para o planejamento ambiental,
na análise de áreas de risco para a habitação ou, ainda, para identificar relações entre o
tipo de solo e as condições para o desenvolvimento.

99
Figura 28 – Cortes longitudinais expressos em perfis topográficos

Fonte: adaptada de Sanchez (1975)

A construção de um perfil topográfico a partir das curvas de nível exige alguns


cuidados, sobretudo na interpretação dos valores altimétricos e na definição do exagero
vertical da escala, mas veremos passo a passo de como realizar a construção desse tipo
de perfil.

A construção de um perfil topográfico exige, evidentemente, que se disponha


de alguns instrumentos básicos para a realização da representação. É necessária
a utilização de uma régua, lápis (ou, preferencialmente, uma lapiseira de ponta fina),
borracha e folha de papel milimetrado.

O uso de softwares para a elaboração de perfis dispensa esses aparatos analó-


gicos, no entanto, é importante dominar essas técnicas porque podem ser facilmente
replicadas em sala de aula.

1º passo – Identificação e desenho do segmento de reta que será representado

A primeira etapa na construção de um perfil topográfico é a determinação


do alinhamento que será retratado. A escolha deve ser pautada de acordo com
as necessidades do usuário, ou seja, não existe uma regra fixa para determinar o
comprimento ou a direção de uma linha. Para fins didáticos, optamos por construir o
perfil do alinhamento AB expresso na Figura 29. Nesse sentido, após a escolha do local
a ser representado, trace, com o auxílio de uma régua e do lápis, a trajetória do perfil.

100
Figura 29 – Determinação da linha em que será realizado o perfil

Fonte: o autor

Perceba, caro acadêmico, que a linha em questão realiza o cruzamento com


diversas curvas de nível, sendo a de maior valor a de 980 metros, e a de menor altitude,
880 metros.

A amplitude do declive é, portanto, de 100 metros. Se adotarmos a escala original


da carta, de 1:25.000, para representar esse declive de 100 metros, ele corresponderia
a uma distância vertical de 0,4 cm, tornando nosso perfil com uma diferença de altitude
muito discreta. O segundo passo, portanto, é encontrar uma escala vertical (para a
altitude) diferente da escala horizontal.

DICA
Você pode realizar o download de diversas cartas topográficas,
gratuitamente, no site do IBGE, basta acessar o link disponível a seguir:
https://bit.ly/3CEPfNv.

2° passo – Definição da escala vertical e do exagero

Denominamos exagero da escala vertical a diferença de proporção existente


entre essa escala em relação à escala horizontal. Não há uma regra fixa para a
determinação desse exagero, o que demanda a experiência e o interesse do autor do
perfil em definir o seu valor numérico.

101
No caso do exemplo adotado, em que existe uma amplitude de altitude de 100
metros, podemos escolher representar essa amplitude em um espaço de 0,5 cm para
cada valor de altitude da curva de nível, isto é, cada 20 metros de diferença expressam-
se em meio centímetro, verticalmente, no papel entre um ponto e outro.

Para achar o valor desta escala vertical, basta utilizar a fórmula de determinação
da escala cartográfica, já estudada anteriormente.

Nesse caso, identificamos que o valor da escala vertical é de 1:4000. Para


calcular o exagero da escala vertical, basta dividir o valor dos denominadores da escala
horizontal pela vertical.

Portanto, o exagero da escala vertical foi de 6,25.

3° passo – Transposição dos pontos da carta para o perfil

Depois de calcular o exagero da escala vertical, a etapa seguinte consiste na


transposição dos pontos onde ocorreram o cruzamento com alguma curva de nível.

No caso, pode-se usar o papel milimetrado para facilitar o procedimento,


mantendo a escala original na transposição do corte AB e estabelecendo a escala
vertical de 1:4000, isto é, meio centímetro corresponde a uma variação de 20 metros de
altitude, como está ilustrado na Figura 30.

Muito cuidado nesse momento, caro acadêmico, pois os pontos devem ser
distribuídos verticalmente, na altitude correspondente.

102
Figura 30 – Transposição dos pontos para o papel milimetrado

Fonte: o autor

4° Passo – Ligar os pontos e complementar as informações do perfil

O último passo consiste no traçado das linhas entre os pontos e a complemen-


tação das informações do perfil. Nessa etapa final, é muito importante não traçar as
linhas de forma muito abrupta entre os pontos, mas simular a suavidade na declinação
natural do relevo. É possível, também, indicar na cor azul a posição da lâmina d’água, os
valores das escalas e a orientação, como mostra a Figura 31.

Figura 31 – Finalizando o perfil topográfico

Fonte: o autor

103
Além de indicar a presença de um curso d’água, o perfil topográfico também
pode conter informações complementares, como o uso do solo, a indicação dos limites
administrativos ou, ainda, o tipo de vegetação existente. Nesse caso, não podemos
esquecer de indicar, por meio da legenda, os seus respectivos significados.

IMPORTANTE
As diferentes e múltiplas Tecnologias de Comunicação e Informação (TCIs) que permeiam
o dia a dia dos educandos, como computador, celular, câmera fotográfica e internet, são
tecnologias usadas pelos adolescentes em idade escolar para brincar, jogar, trocar e receber
mensagens dos amigos, o que possibilita outras lógicas de compreensão do mundo.
A Cartografia ensinada nas escolas deve ultrapassar a localização dos fenômenos geográ-
ficos, tornando-se uma linguagem que desperta interesse e motivação aos alunos para
além da sala de aula. A facilidade e o entusiasmo dos alunos em manusear tecnologias
digitais possibilita ao professor utilizar geotecnologias, como imagem de satélite, GPS e
SIG e, ainda, recursos de multimídia aplicados à Cartografia para facilitar a identificação,
como também relacionar elementos naturais e socioeconômicos presentes na superfície
terrestre, o que melhora o entendimento da realidade, da complexidade e do dinamismo
do espaço geográfico.
É preciso que as metodologias no ensino básico sejam repensadas, de modo que
contemplem recursos digitais associados à representação espacial em meio analógico
e, com isso, favoreçam a leitura e a construção de representações espaciais a partir da
legenda, orientação, coordenadas geográficas, escala, que são elementos fundamentais
para o uso da linguagem gráfica; soma-se a necessidade de proporcionar aos professores
oportunidades, tanto em termos de cursos de capacitação como infraestrutura nas escolas
para trabalhar com essas novas ferramentas.
A disponibilidade gratuita na internet de geotecnologias, somada à facilidade, por exemplo,
do educando, para obter foto ou registrar vídeo e som de uma dada área da superfície
terrestre, por meio de seus smartphones, contribuem para desenvolver a Educação
Ambiental, considerando o aluno como protagonista do processo de ensino-aprendizagem,
sob a mediação do professor, por meio de atividades que contribuam para a formação de
cidadãos conscientes das suas ações e atitudes em meio a degradação e a exaustão dos
recursos naturais.
O uso da linguagem cartográfica na Educação Ambiental, com a utilização de dados e
informações obtidas em formato multimídia, observações levantadas em campo, também
com o uso do GPS, juntamente com o SIG Web, possibilitam ao aluno representar
cartograficamente o meio ambiente a partir do contato físico com o meio que se vivencia
e experimenta. A integração entre meio ambiente e Cartografia oferece aos alunos
possibilidades para representar fenômenos geográficos
concomitantemente em seus aspectos físicos e sociais desde a
percepção socioambiental do seu cotidiano até a correlação com
outras escalas espaciais e temporais.

Fonte: Sousa e Maio (2014)

104
RESUMO DO TÓPICO 2
Neste tópico, você aprendeu:

• Os paralelos e os meridianos cumprem um papel importante na execução das


projeções porque indicam as deformações causadas na transposição cartográfica.
Isso significa que é a partir de suas trajetórias que identificamos o tipo de projeção
utilizada na construção de um mapa, bem como no tipo de propriedade que essa
projeção conserva ou deforma na representação espacial.

• A partir da projeção de Mercator, diversas foram as soluções propostas para esse


problema, cada qual preservando e deformando alguma característica espacial: as
formas, os ângulos, as distâncias, as direções ou a distribuição de um erro controlado
entre todas essas propriedades.

• Existem meios de classificarmos as projeções cartográficas quanto ao tipo de


superfície de projeção. Ao adotarmos o cone, cilindro ou plano, estamos favorecendo
algum tipo de área geográfica, bem como um tipo de distorção acarretada na
representação do nosso produto cartográfico.

• A curva de nível é o recurso mais moderno para a representação do relevo, pois per-
mite uma visualização mais exata da superfície terrestre. A partir dela, aprendemos
quais são os seus tipos de traçados e como transportá-las para os perfis topográficos
a fim de compreendermos em uma visão vertical como a altitude e a declividade se
comportam.

105
AUTOATIVIDADE
1 Com relação às projeções cartográficas e suas propriedades, analise as afirmativas a
seguir:

I- Na projeção de Goode, as áreas onde predominam massas oceânicas são


descontínuas.
II- A projeção de Mercator é considerada afilática, pois os ângulos e a forma são
alterados.
III- Na projeção cônica, os meridianos convergem para um dos polos e os paralelos são
semicírculos.
IV- A projeção cônica é, preferencialmente, utilizada para a representação de todo o
globo terrestre, pois não possui distorção.

Assinale a alternativa CORRETA:


a) ( ) As sentenças I e II estão corretas.
b) ( ) As sentenças I e III estão corretas.
c) ( ) As sentenças II e II estão corretas.
d) ( ) As sentenças I, II e II estão corretas.
e) ( ) As sentenças II, III e IV estão corretas.

2 A construção de um perfil topográfico exige, na maioria das vezes, a adoção de um


exagero na definição de uma das escalas para que se visualize adequadamente a
variação altimétrica do relevo. Assinale a alternativa CORRETA que corresponde ao
tipo de escala em questão:

a) ( ) Escala horizontal.
b) ( ) Escala de mensuração.
c) ( ) Escala numérica.
d) ( ) Escala vertical.
e) ( ) Escala altimétrica.

3 A partir da representação exposta na figura a seguir, classifique V para as sentenças


verdadeiras e F para as falsas:

106
Fonte: o autor

( ) A curva de nível de maior valor corresponde a 640 metros.


( ) O fragmento apresenta duas curvas mestras e sete ordinárias.
( ) A amplitude do perfil AB é de 120 metros.
( ) A jusante do Rio dos Índios está orientada para o Sul.
( ) O perfil AB mostraria os mesmos valores das curvas de nível do perfil BA.

Assinale a alternativa que apresenta a sequência CORRETA:


a) ( ) V – V – F – V – F.
b) ( ) F – F – V – V – F.
c) ( ) V – F – F – V – V.
d) ( ) F – V – F – F – F.
e) ( ) V – V – F – F – V.

4 A cartografia busca representar, graficamente, a superfície terrestre, porém a


transformação dessa superfície real curva, em uma superfície representada de forma
plana, acaba gerando uma série de distorções de forma ou de ângulo nos mapas.
Para minimizar esses erros, foram criadas as projeções cartográficas, sendo que cada
tipo de projeção possui uma propriedade específica quanto ao erro de representação.
Liste e explique as propriedades de erros na projeção cartográfica.

5 A representação do relevo é uma das principais preocupações da Cartografia.


Considerando as diferentes estratégias adotadas para sua representação, indique
três vantagens que o traçado das curvas de nível possui em relação às formas de
representação mais antigas.

107
108
UNIDADE 2 TÓPICO 3 -
FUSOS HORÁRIOS E SISTEMAS DE
INFORMAÇÃO GEOGRÁFICA

1 INTRODUÇÃO

Caro acadêmico, neste último tópico, estudaremos dois conteúdos muito


presentes no ensino de Geografia, que, pelo crescente processo evolutivo dos meios
tecnológicos e de transporte, têm se tornado mais concreto para um número cada vez
maior de pessoas: os fusos horários e os Sistemas de Informação Geográfica.

Os fusos horários são recursos desenvolvidos e disseminados no século XIX, na


Europa e nos Estados Unidos, como forma de integrar, em um sistema internacional,
os horários e as datas de acordo com a distância aparente do Sol no horizonte, como
meio de facilitar a conversão de horários entre países geograficamente distantes.
Essa necessidade se tornou latente pela crescente integração da economia mundial
que, desde a Primeira Revolução Industrial, tem experimentado um fenômeno de
“encurtamento das distâncias” pelos meios de transporte e comunicação, exigindo
que os países se organizassem para tornar o horário civil transponível entre as nações.
Nesse sentido, vamos aprender como se organizam os fusos horários, como realizar
os cálculos para a obtenção das datas e de que forma os meridianos participam desse
processo de organização do tempo terrestre.

Em seguida, estudaremos os impactos que as tecnologias computacionais


trouxeram para a Cartografia, tornando-a digital. Logo, entenderemos o que é o
geoprocessamento e quais as potencialidades ilustradas pelos Sistemas de Informação
Geográfica (SIG). Esses sistemas são capazes de armazenar, analisar e representar,
cartograficamente, os dados posicionais, estando integrados nas atividades de
planejamento urbano, ambiental, de prospecção e afins, como recurso tecnológico
indispensável na contemporaneidade. Portanto, caro acadêmico, tenha muita atenção
na sua leitura e bons estudos!

2 FUSOS HORÁRIOS
Acadêmico, como vimos ao longo das unidades anteriores, a Cartografia é um
saber que interfere diretamente no nosso dia a dia. Um dos reflexos do seu uso, que
percebemos claramente ao nos deslocarmos pelo espaço em grandes distâncias, é a
adoção de um sistema de fusos horários, isto é, de parcelas dos territórios brasileiro e
mundial que adotam um mesmo horário legal para a organização das atividades diárias.

109
O princípio que justifica a existência de fusos horários é simples: dada a
esfericidade da Terra, sua superfície recebe a luz solar de forma desigual e em tempos
diferentes ao longo do seu processo de rotação diária. Como nossas sociedades se
organizam para aproveitar ao máximo a luz solar no desenvolvimento das atividades
cotidianas, e considerando a crescente interação das atividades econômicas, buscou-
se organizar um sistema de fusos horários para que seja possível calcular o horário legal
entre duas regiões distantes ao mesmo tempo.

Considerando que a Terra leva, em média, 24 horas para realizar o movimento


de rotação completo sobre o próprio eixo, dividiu-se o valor em graus da esfera terrestre
(360°) pelas 24 horas do dia legal e se determinou que, a cada hora, a Terra realiza um
movimento de rotação de, aproximadamente, 15°. Como você deve se lembrar, cada
ponto da superfície terrestre que varia no sentido Leste–Oeste apresenta um valor de
longitude diferente, sendo os fusos horários formados por intervalos de 15° que variam
longitudinalmente, independentemente do valor da latitude (variação no eixo Norte–
Sul), como você pode conferir na Figura 32.

Figura 32 – Os fusos horários no mundo

Fonte: https://commons.wikimedia.org/wiki/File:World_Time_Zones_Map.png. Acesso em: 31 ago. 2022.

Como você pode perceber, caro acadêmico, os fusos horários não são
estabelecidos de maneira absolutamente linear, sobretudo quando passam por áreas
continentais. Isso acontece para facilitar a organização e a sincronicidade dos horários
em um mesmo país ou região, pois a divisão de um território nacional, por exemplo, com
mais de um horário legal, pode dificultar a dinâmica econômica, espacialmente.

Evidentemente, países com grandes dimensões longitudinais, como o Brasil, os


Estados Unidos e a Rússia, adotam mais de um fuso horário para seus territórios para
evitar disparidade significativa na posição do Sol no horizonte.

110
INTERESSANTE
Quando realizamos viagens de longas distâncias, percorrendo mais
de dois fusos horários, é comum sentirmos insônia, falta de apetite e
irritabilidade. Esses são alguns dos sintomas do jet lag, condição causada
pelo descompasso do nosso relógio biológico com a hora local.

Atualmente, o Brasil apresenta quatro fusos horários em seu território. O


primeiro fuso horário compreende as ilhas oceânicas a leste da costa brasileira, como
é o caso do arquipélago de Fernando de Noronha, por exemplo. O segundo fuso horário
compreende as regiões Sul, Sudeste, Nordeste, os Estados de Goiás, Tocantins, Pará e
Amapá, bem como o Distrito Federal. O terceiro fuso horário compreende os Estados
de Mato Grosso do Sul, Mato Grosso, Rondônia, Roraima e quase todo o Estado do
Amazonas. Por fim, o quarto fuso horário brasileiro corresponde ao Estado do Acre e
parte do Estado do Amazonas – fuso este que foi extinto em 2008 e recriado em 2013.
Cada país tem autonomia para determinar a quantidade de fusos e qual o limite exato de
um fuso horário em seu território, mas todos os fusos estão organizados dentro de um
sistema internacional para a determinação da data. Nesse sistema, considera-se que o
meridiano de referência para o cálculo do horário corresponde ao fuso do Meridiano de
Greenwich (0°), de tal modo que seu antimeridiano, que corresponde ao de 180°, seja
denominado de Linha Internacional de Mudança de Data.

Se nos deslocarmos do meridiano de origem para o sentido Leste, convencionou-


se que as horas legais devem ter uma hora de acréscimo a cada um dos 12 fusos,
sendo o número de horas acrescidas após a sigla GMT (Greenwich Mean Time ou Hora
Média de Greenwich) com um sinal de “+”. Se nos deslocarmos para Oeste, subtrai-
se uma hora a cada um dos 12 fusos, indicado pela sigla GMT com um sinal de “-“ e a
quantidade de fusos percorridos. Logo, percebemos que há um intervalo de 24 horas de
um extremo do último fuso de leste (GMT +12) com o último fuso a Oeste (GMT -12) cujo
limite coincide com a Linha Internacional de Mudança de Data. Essa linha é fundamental
no ordenamento da data porque, dependendo do sentido na qual é transposta, são
acrescentadas ou subtraídas vinte e quatro horas para o ajuste da hora legal.

No caso do Brasil, por estar a Oeste do Meridiano de Greenwich, há uma


diminuição de uma hora a cada fuso percorrido no sentido Leste–Oeste, ou seja, todo
o território brasileiro está atrasado em relação ao meridiano de origem do sistema.
Entretanto, esse atraso varia, a depender do fuso horário do Brasil: o primeiro está duas
horas atrasado em relação ao fuso de origem (GMT -2); o segundo fuso horário brasileiro
está três horas atrasado (GMT -3); o terceiro fuso horário, quatro horas (GMT -4); o quarto
fuso, cinco horas de atraso (GMT -5), como mostra a Figura 33.

111
Figura 33 – Distribuição dos fusos horários brasileiros

Fonte: IBGE (2018)

O Brasil faz parte do grupo de países que alteram seus fusos horários para maior
aproveitamento da luz solar, durante os meses do verão. Atualmente, o Horário Brasileiro
de Verão pode ser adotado pelos Estados e, onde é adotado, tem início no terceiro
domingo de outubro e encerra-se no terceiro domingo de fevereiro, exceto quando o
terceiro domingo de fevereiro coincide com o domingo de Carnaval, transferindo-o para
o domingo seguinte. Nesse período, os relógios devem ser adiantados em uma hora.

2.1 CALCULANDO OS FUSOS HORÁRIOS


O cálculo do horário legal em fusos horários diferentes não é uma tarefa
matematicamente complexa, mas exige certa atenção e cuidado na interpretação e
resolução do problema. Alguns pressupostos básicos devem estar bem fixados:

• todas as localidades dentro de um mesmo fuso compartilham um mesmo horário legal;

• as localidades presentes em fusos a leste sempre terão um horário universal adian-


tado em relação às localidades em fusos a Oeste;

112
• caso a Linha Internacional da Data seja atravessada de Leste para Oeste, deve-se
diminuir um dia; caso seja atravessada de Oeste para Leste, deve-se acrescentar um
dia para a determinação da data.

Diante desses três pressupostos básicos, analisaremos algumas situações


concretas para a determinação do horário legal em duas localidades distintas.

a) Determinar o horário entre duas localidades

O problema mais básico de fuso horário é o cálculo de quantas horas os


relógios de duas localidades distintas estão marcando. Para obter o resultado, basta
calcular quantos fusos horários de diferença estão entre as localidades, bem como
a determinação se a segunda localidade está a leste ou oeste. Caso esteja a leste, a
diferença dos fusos horários deve ser somada à hora do ponto de origem; caso esteja
a Oeste do ponto de origem, deve ser feita uma subtração. Por exemplo: considere que
são nove horas da manhã no horário local de Brasília (GMT -3). Qual será o horário local
em Tóquio (GMT +9)?

O primeiro passo é determinar a diferença de fusos horários existentes entre


Brasília e Tóquio. Por estarem em hemisférios diferentes (indicado pelo sinal de
“positivo” em Tóquio, isto é, à direita de Greenwich e Brasília, “negativo” – indicando
Oeste), deve-se realizar uma operação de soma dos valores dos fusos em módulo, ou
seja, independentemente dos sinais de “+” ou “-“ que os acompanham, obtendo-se
o resultado de 12 horas de diferença. Logo, quando em Brasília os relógios marcarem
09:00, em Tóquio será 21:00 (9+12).

b) Determinar o horário entre duas localidades, considerando o tempo de


realização de uma viagem

O segundo tipo de problema mais comum na determinação do horário local é a


utilização do tempo transcorrido em uma viagem somada à diferença natural dos fusos
horários. A resolução, entretanto, se diferencia da situação anterior pela soma do tempo
de viagem ao horário local do destino. Por exemplo: um viajante saiu às 08:00 de Paris
(GMT +1) com destino à cidade de Pequim, na China (GMT +8). Sabendo que o voo terá dez
horas de duração, o viajante deverá ajustar seu relógio para qual horário local no destino?

O primeiro passo é determinar a diferença de fusos horários existentes entre


Paris e Pequim. Diferente do exemplo anterior, tanto Paris quanto Pequim estão no
mesmo hemisfério, logo, deve-se subtrair os valores em módulo das duas localidades
(1 - 8), que resulta em 7 horas de diferença. Assim, quando o horário local de Paris for 8
horas da manhã, o horário local de Pequim será 15:00 (8h + 7h), pois a cidade de destino
está a leste da cidade de origem. O resultado, entretanto, deve somar o tempo gasto
pelo voo do viajante (dez horas), resultando em um horário local do destino em 01:00 do
dia seguinte (15h do horário local + 10h de tempo do voo = 25 horas, descontando 24
horas que é a quantidade de horas em um dia, resultando em 1h do dia seguinte).

113
c) Determinar o horário entre duas localidades, considerando a realização de
uma viagem que atravessa a Linha Internacional de Mudança de Data

O terceiro e último tipo de exercício mais comum sobre fusos horários envolve
a travessia da LID, considerando, ou não, o tempo gasto de viagem. Os procedimentos
iniciais são idênticos aos anteriores, com a diferença que, caso a LID seja atravessada
no sentido Leste-Oeste, deve-se diminuir 1 dia no cálculo da data, ao passo que se for
atravessada no sentido Oeste-Leste, deve-se acrescentar 1 dia no cálculo da data. Mas
atenção: lembre-se de que a posição Leste e Oeste não é organizada entre o ponto
de origem e de destino, mas em relação ao Meridiano de Greenwich e hemisférios
que variam 180° para Leste e 180° para Oeste. Por exemplo: observe as localidades A
(GMT+12) e B (GMT-12) indicadas no mapa a seguir. Considerando que na localidade A
são 8:00 do dia 30 de outubro, qual o horário e a data local do ponto B?

Figura 34 – Pontos A e B separados pela Linha Internacional de Mudança da Data

Fonte: https://cutt.ly/yVbOXMO. Acesso em: 31 ago. 2022.

114
O primeiro passo é reconhecer que os pontos A e B estão em hemisférios
distintos, logo, deve-se somar a diferença dos fusos entre as duas localidades (GMT+12 e
GMT-12). O resultado será 24 horas de diferença, pois os valores devem estar em módulo.
O segundo procedimento é determinar se a localidade B está a Leste ou Oeste de A para
verificar se a diferença de 24 horas deve ser acrescida ou diminuída da hora local do
ponto A. Como você deve se lembrar, a LID marca o limite dos hemisférios organizados
a partir do Meridiano de Greenwich, logo, o ponto A está com um fuso horário mais
adiantado em relação ao ponto B. Nesse caso, deve-se subtrair 24 horas do horário local
de A para determinar o horário correspondente em B. Assim, quando na localidade A for
08:00 do dia 30 de outubro, na localidade B será 08:00 do dia 29 de outubro.

Caso o exercício coloque em questão o tempo de deslocamento na realização


da viagem, basta adicionar o valor ao horário local do destino.

3 O PAPEL DOS SISTEMAS DE INFORMAÇÃO


GEOGRÁFICA (SIG)
Além da organização e operacionalização dos fusos horários, a Cartografia
oferece uma vasta possibilidade na organização e no tratamento das informações
georreferenciadas, isto é, informações que estão atreladas a um dado posicional.
Com o desenvolvimento e a popularização dos computadores, principalmente a
partir da década de 1980, a Cartografia experimentou uma verdadeira revolução na
capacidade de auxiliar a tomada de decisões espaciais, sendo o principal representante
dessas novas potencialidades os Sistemas de Informação Geográfica (SIG) a partir do
Geoprocessamento.

De acordo com Câmara e Davis (2001, p. 1):

Nesse contexto, o termo Geoprocessamento denota a disciplina do


conhecimento que utiliza técnicas matemáticas e computacionais
para o tratamento da informação geográfica e que vem influenciando
de maneira crescente as áreas de Cartografia, Análise de Recursos
Naturais, Transportes, Comunicações, Energia e Planejamento Urbano
e Regional. As ferramentas computacionais para Geoprocessamento,
chamadas de Sistemas de Informação Geográfica, permitem realizar
análises complexas, ao integrar dados de diversas fontes e ao
criar bancos de dados georreferenciados. Tornam, ainda, possível
automatizar a produção de documentos cartográficos.

Os SIGs são sistemas informatizados utilizados para o processamento e a


manipulação de informações geográficas em que utilizam métodos estatísticos e
modelos matemáticos para realizar análises complexas e automatizar a elaboração de
produtos cartográficos. De acordo com Burrough e McDonnell (1998), os Sistemas de
Informação Geográfica podem facilitar a fase da entrada de dados, seu tratamento ou
análise espacial, bem como a produção de mapas.

115
De forma resumida, podemos dizer que um SIG é um:

Sistema constituído por um conjunto de programas computacionais,


o qual integra dados, equipamentos e pessoas com o objetivo
de coletar, armazenar, recuperar, manipular, visualizar e analisar
dados espacialmente referenciados a um sistema de coordenadas
conhecido (FITZ, 2008, p. 23).

De acordo com Simielli (1999), há três níveis de operações desenvolvidas por


meio dos mapas, nas quais os SIGs podem auxiliar na execução. Embora sejam em
quantidades distintas, tais níveis são, qualitativamente, compatíveis com as quatro
etapas propostas por DiBiase (1990), vistas na Unidade I, quais sejam: exploração,
confirmação, síntese e apresentação.

O primeiro nível de uso do mapa é denominado localização e análise: envolve


o domínio por parte dos usuários das noções básicas da Cartografia cujas operações
características são a localização dos fenômenos por meio das coordenadas geográficas
e a correta leitura da legenda e a definição de sua orientação geográfica.

O segundo nível é denominado correlação, caracterizado pela combinação


de duas ou mais cartas de análise. Nessa operação, os usuários devem estabelecer
relações entre dois ou mais fenômenos, buscando algum tipo de correspondência
que possa ser explorada (exploração de hipóteses). Os layers, ou seja, as camadas de
informação, são inseridos de maneira individual no sistema, formando um conjunto de
dados que podem ser sobrepostos, conforme a necessidade do trabalho para favorecer
a correlação das informações espaciais. Essas camadas precisam passar por um
processo de adequação, para que todas possuam a mesma referência de superfície e a
mesma projeção cartográfica.

Por fim, o terceiro nível é o de síntese, caracterizado pelas relações exploradas


entre os fenômenos correlacionados anteriormente e transformados a partir da geração
de novos tipos ou categorias.

4 OS PRINCIPAIS MODELOS DE DADOS ESPACIAIS


Os dados espaciais presentes em um SIG podem ser divididos em duas principais
categorias, salientando a natureza representacional: podem assumir uma natureza do
tipo vetorial ou do tipo matricial.

O modelo vetorial é o mais utilizado dentro da cartografia e consiste em


representar os elementos a partir de vetores (indicando a posição e a direção do
fenômeno) com o uso de pontos, linhas e áreas, permitindo que as posições e formas
sejam as mais exatas possíveis. Já o modelo matricial é caracterizado por condicionar
as informações espaciais a uma grade pré-definida por células de tamanhos fixos,
limitando que os fenômenos espaciais sejam condicionados às feições das células.
116
Figura 35 – Diferenças entre dados matriciais e vetoriais

Fonte: adaptada de Davis (1996)

No exemplo exposto pela Figura 35, é feita a representação matricial e vetorial


de um mesmo recorte espacial. Nota-se que, no modelo matricial, cada célula é
preenchida com o valor correspondente ao tipo de fenômeno presente; no segundo
mapa, as informações são representadas seguindo um modelo vetorial, tornando mais
exata espacialmente as informações.

Além da natureza dos dados espaciais, é possível classificarmos tais dados


de acordo com as formas principais. De acordo com Câmara e Davis (2001), as cinco
formas são: dados temáticos, dados cadastrais, redes, imagens e modelos numéricos
de terreno (MNT). Vejamos as características de cada forma de dados cartográficos.

4.1 DADOS TEMÁTICOS


Os dados temáticos descrevem a distribuição espacial de uma grandeza
geográfica, ou seja, a localização espacial de um elemento específico. Não há uma
leitura de atributos mais complexos, como área, volume e outros dados cadastrais.
Geralmente, esses dados são obtidos em campo ou de forma automatizada, mediante o
processamento de imagens de satélite.

4.2 DADOS CADASTRAIS


Um dado cadastral também descreve a distribuição espacial de uma grandeza
geográfica, porém distingue-se de um dado temático, pois cada um dos elementos
é um objeto geográfico que possui atributos (em uma tabela de dados) e pode estar
associado a várias representações gráficas. Nesse tipo de dado, além da representação
gráfica (desenho), é elaborada uma tabela com diversos dados do mesmo elemento;
essa tabela é incorporada à representação, conforme ilustra a Figura 36.
117
Figura 36 – Dados temáticos do PIB e da População de alguns países da América do Sul

Fonte: adaptada de Câmara e Davis (2001)

Nessa representação, há uma tabela de dados com informações estatísticas


anexada à representação cartográfica do mapa da América do Sul. A partir dessa tabela,
é possível gerar outros mapas, como o mapa do PIB na América do Sul ou mapa da
População da América do Sul.

4.3 REDES
O conceito de “rede” está relacionado às informações associadas à
interligação de elementos que se comportam de maneira integrada, interdependente
e continuamente sobre a superfície terrestre. Podemos verificar esses tipos de
informações no mapeamento das redes de distribuição de energia e água, nas redes
de drenagens, como rios e córregos, nos sistemas de transporte, dentre outros. Nesse
tipo de dado, cada objeto geográfico (cabo telefônico, transformador de rede elétrica,
cano de água, rios) possui uma localização geográfica exata e está sempre associado a
atributos descritivos presentes no banco de dados.

Figura 37 – Exemplo de rede hidrográfica

118
Fonte: https://cutt.ly/GVbSwVx. Acesso em: 31 ago. 2022.

Em geral, nos mapas de hidrografia, é possível verificar que os cursos d’água se


conectam, formando a rede de drenagem, que flui de forma contínua sobre o território.

4.4 IMAGEM
Obtidas por satélites, fotografias aéreas ou outros sensores aerotransportados,
as imagens representam formas de captura indireta de informação espacial. A imagem
orbital fornece uma grande quantidade de informações da superfície, como relevo,
hidrografia, vegetação, áreas urbanas, áreas agrícolas, dentre outras. Porém essas
informações só se tornam cartográficas após um processo de interpretação, análise e
desenho, quando as informações que estavam representadas no conjunto da imagem
são separadas em camadas distintas.

Figura 38 – Exemplo de Imagem (composição colorida TM/LANDSAT para a região de Manaus)

Fonte: Câmara e Davis (2001 p. 113)

119
4.5 MODELO NUMÉRICO DO TERRENO (MNT)
É utilizado para denotar a representação quantitativa de uma grandeza que
varia, continuamente, no espaço. Dentre os usos de modelos numéricos do terreno,
pode-se citar:

• armazenamento de dados de altimetria para gerar mapas topográficos;


• análises para projeto de estradas e barragens;
• cômputo de mapas de declividade e exposição para apoio a análises de geomorfolo-
gia e erodibilidade.

120
LEITURA
COMPLEMENTAR
“ACERTANDO AS HORAS”: JOGO CARTOGRÁFICO COMO RECURSO DIDÁTICO
GEOGRÁFICO NO ENSINO DE FUSOS HORÁRIOS

Tais Pires Oliveira


Claudivan Sanches Lopes

INTRODUÇÃO

A busca por novas metodologias e linguagens para o ensino de Geografia é


tema recorrente na pesquisa e na prática profissional dos professores dessa área do
currículo escolar. Considerando as características da sociedade atual, visa contribuir
para tornar o processo de ensino-aprendizagem mais dinâmico, atrativo e significativo,
proporcionando aos alunos elementos que lhes permitam compreender a produção
e transformação do espaço geográfico mediante a realização de diferentes leituras,
comparações, relações e análises das informações.

Entende-se que a qualidade dos procedimentos didático-pedagógicos utiliza-


dos pelos professores em sala de aula refletem diretamente na compreensão e apre-
ensão dos conteúdos pelos alunos e que, nesse sentido, a procura pela inovação de
modo geral e particularmente a inserção dos jogos educativos no ensino de Geografia
possibilita a estes “[...] compreender os conteúdos, fixar conhecimentos, construir seu
saber de modo prático, dinâmico e eficiente” (VERRI; ENDLICH, 2009, p. 70).

Assim, o objetivo deste trabalho é propor e avaliar, tendo em vista as dificulda-


des identificadas no ensino e aprendizagem do conteúdo de fusos horários na discipli-
na de Geografia na Educação Básica, a utilização de jogos cartográficos como recurso
didático impulsionador da melhoria desse processo e desencadeador de habilidades
geográficas.

Considera-se, nesse contexto, iluminada pelos pressupostos da didática da


Geografia, a importância de aprofundar o estudo dessa temática em sua interface
com as possibilidades oferecidas pela cartografia escolar. Busca-se, assim, contribuir
para uma aprendizagem significativa dos conteúdos para formar alunos conscientes,
com habilidades geográficas, para empreenderem uma leitura crítica da sociedade.
Nesse sentido, fundamentam-se em aportes teóricos para discutir a utilização do jogo
como um recurso didático lúdico por meio dos estudos de autores como Rau (2012) e

121
Costa (2005), mais especificamente sua utilização no ensino de Geografia utilizando as
reflexões de Breda (2013), Castellar e Vilhena (2011), Silva (2014) e Callai (2011). Dessa
forma, no uso de diferentes recursos didáticos mais especificamente do jogo, é relevante
destacar as práticas construídas pelos docentes ao longo de sua trajetória.

Assim, dialoga-se com Libâneo (2001; 2008) Oliveira (2015) e Lopes (2015) a
respeito da didática e do desenvolvimento dos saberes que conduzem a uma didática
da Geografia. O trabalho aqui apresentado compõe-se de cinco momentos: no primeiro
discute-se a utilização dos jogos como um material lúdico no ensino de Geografia; no
segundo empreende-se uma breve reflexão sobre o conteúdo fuso horário no currículo
escolar; no terceiro discute-se aspectos relacionados à didática e à didática da Geografia;
no quarto momento são apresentadas as orientações metodológicas adotadas para
a realização do trabalho; e no quinto momento discorrem-se acerca das discussões
referentes ao jogo “Acertando as Horas”.
[...]

OS FUSOS HORÁRIOS

Os fusos horários constituem um conteúdo curricular clássico no ensino de


Geografia que frequentemente aparece associado à aprendizagem das noções/habi-
lidades de orientação e de localização. É, portanto, no contexto de apresentação ou
aprofundamento da linguagem cartográfica, aspecto fundamental para a consecução
da educação geográfica, que esse conteúdo aparece. Trata-se, sem dúvida, de uma
referência importante para a compreensão de outros conteúdos geográficos, como, por
exemplo, a leitura crítica de mapas que, até certo ponto, condiciona a compreensão
da dinâmica de circulação de pessoas, mercadorias e capitais pelo espaço geográfico
mundial.

Sabe-se que a definição das horas, há séculos, era realizada pela observação
do Sol e seu “movimento” diário no céu; os viajantes de terra e de mar acertavam as
horas a cada parada. Com os avanços marítimos e as necessidades que surgiram em
consequência do avanço da navegação, somados aos interesses políticos, ao longo do
processo histórico foi necessário estabelecer os fusos horários para que os relógios
de uma mesma localidade marcassem a mesma hora. Muitos países utilizavam seus
próprios meridianos para marcar a hora local.

Após muitas divergências políticas, particularmente entre Estados Unidos, Grã-


Bretanha e França, como aponta Seemann (2013) em seu trabalho “Linhas imaginárias
na cartografia: a invenção do primeiro meridiano”, estabeleceu-se o Meridiano de
Greenwich como primeiro meridiano oficial. De acordo com Sobreira (2012, p. 12),

122
A escolha do Meridiano de Greenwich, passando pelo Observatório de
Greenwich no Reino Unido, se deu a partir de 1 de outubro de 1884,
na Conferência Internacional do Meridiano, em Washington – D.C., nos
Estados Unidos da América, ocasião em que tal decisão foi apoiada
por representantes de 26 países, contrariando as pretensões dos
franceses em restabelecer o Meridiano Inicial no Observatório de Paris,
o que demonstra ter sido esta uma deliberação meramente política.

Com o estabelecimento do meridiano oficial, fixou-se também a Linha


Internacional de Mudança de Data (longitude 180°), que se fixou no Antimeridiano de
Greenwich. Para a operacionalização dos fusos horários, tem-se que os 360° da esfera
terrestre são divididos pelas 24 horas (aproximadas) do movimento de rotação. Essa
divisão resulta em 15° de rotação corresponde a 1 hora do dia. Nesse âmbito, como
declara Sobreira (2012, p. 13), “Cada fuso horário é delimitado em um intervalo de 15°
de longitude, por dois outros meridianos, com isso, em 360° de longitude completa
ao longo do Equador terrestre há 24 “fusos geométricos” delimitados por meridianos
limítrofes, entre si, e um meridiano central ao fuso”.

Isso estabelece a hora verdadeira de cada fuso horário. Para manter um horário
unificado em alguns territórios, evitando que pequenos países e até mesmo cidades
possuíssem dois fusos, foram realizadas adaptações por acordos e conveniências
políticas estabelecendo-se a hora legal ou limites práticos dos fusos horários. A partir
do movimento de rotação da terra, de Oeste para Leste, tomando-se um ponto de
referência, nesse caso o Meridiano, as áreas no Leste são iluminadas pelo Sol primeiro
que as áreas a Oeste, e assim, segundo Sobreira (2012, p. 12), “[...] os fusos horários a
Leste de Greenwich estão adiantados com relação a Greenwich e os fusos horários ao
Oeste de Greenwich estão atrasados”.

Este conteúdo, como apontado anteriormente, mostra-se importante no


ensino da disciplina de Geografia, está-se diante de um pré-requisito relevante para
aprendizagens futuras e que normalmente revela-se de difícil compreensão para os
alunos; trata-se de um conteúdo que solicita uma didática especial capaz de torná-lo
significativo para os discentes.
[...]

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Nesta pesquisa, investigou-se o uso do jogo como um recurso didático no


ensino de Geografia de modo geral e, mais especificamente, o jogo “Acertando as
Horas” como recurso didático lúdico impulsionador da melhoria do processo de ensino e
aprendizagem e desencadeador de habilidades geográficas nos alunos.

123
Defende-se, desse modo, que ao trabalhar o conteúdo fusos horários em sala
de aula, o professor precisa, para além do livro texto, utilizar materiais que estimulem
os alunos a avançar no domínio desse conhecimento e construir os conceitos de forma
conjunta, pois nem sempre o livro didático traz de forma satisfatória discussão completa
do assunto.

A proposta do jogo vem, portanto, no sentido de amenizar as dificuldades


apontadas de modo geral pelos professores no ensino desse conteúdo e mais
amplamente ao proporcionar aos alunos o desenvolvimento de raciocínios centrados
no espaço, contribuindo para a efetivação de uma educação geográfica mais eficaz. A
geograficidade do jogo, ou seja, seu sentido geográfico exprime-se na possibilidade que
oferece para que os alunos, ao “viajarem pelo mundo”, compreendam ou se aproximem
da compreensão de que a existência dos fusos horários condiciona e até determina
inúmeras práticas humanas e que isso, em consequência, é um aspecto importante
para a compreensão da dinâmica do atual espaço geográfico na escala nacional e,
fundamentalmente, na escala mundial.

Trata-se, assim, de um recurso que possibilita aos alunos avançar na construção


do conhecimento geográfico e alcançar gradativamente certa consciência geográfica.
Isso evidencia também a importância de o professor investir sua prática pedagógica
buscando constantemente situações didáticas que melhorem seus resultados, sempre
embasados teoricamente nos aportes da ciência geográfica.

O jogo apresenta-se, assim, como um recurso didático lúdico que evidentemente


não sana todas as dificuldades envolvidas no ensino desse conteúdo, mas que mediado
criativamente pelo educador pode, efetivamente, de forma divertida e objetiva,
proporcionar aos alunos a construção de conhecimentos que lhes sejam significativos.
Ressalta-se que o jogo em análise, como qualquer outro, pode tornar-se um material que
desperta uma competição negativa ou que se constitua em mera atividade recreativa.

Sugere-se, dessa maneira e contrariamente a essa possibilidade, que o jogo


seja utilizado intencionalmente para promover a cooperação e a solidariedade entre os
alunos e, pedagogicamente, visando ampliar e avançar no conhecimento. Nesse sentido,
em consonância com os aportes teóricos discutidos neste trabalho e a própria reflexão
gerada pela aplicação do jogo, fica evidenciada a contribuição do jogo “Acertando as
Horas” como material didático a ser usado pelo professor de Geografia; pode, de fato,
contribuir para o ensino do conteúdo de fusos horários, bem como no desenvolvimento
de habilidades geográficas a ele associadas tais como de orientação e de localização.
Verificou-se, ainda, a relevância de o docente optar pelas fases do jogo que melhor
atendam aos objetivos da aula planejada, trabalhando, dessa forma, o conteúdo sempre
ajustado ao tempo disponível para aplicação do jogo.

124
Na implementação do jogo, identificou-se que, para ser jogado em todas as
suas fases, necessita de um tempo maior do que o tempo previsto em uma hora aula.
Aponta-se, também, certa dificuldade da utilização do material em turmas com elevado
número de alunos.

Conclui-se, assim, em conformidade com os autores que subsidiaram este


trabalho, que os jogos podem contribuir para a elevação da qualidade do ensino de
Geografia e que, mais propriamente, o jogo desenvolvido nesta pesquisa possibilita aos
alunos desenvolver seu raciocínio geográfico. Para o docente, configura-se como uma
ferramenta que cria diversas possibilidades para o ensino e a construção de suas práticas
pedagógicas. Espera-se que este trabalho seja um estímulo para novas pesquisas, tanto
com o material aqui apresentado, que pode revelar ainda outras contribuições, como
com a criação de novos materiais. E que estimule os docentes de Geografia a construir,
de maneira criativa, suas práticas docentes edificando e estimulando o raciocínio
geográfico nos alunos.

FONTE: OLIVEIRA, T. P.; LOPES, C. S. Acertando as horas: jogo cartográfico como recurso didático geográfico
no ensino de fusos horários. Rev. Tamoios, São Gonçalo, ano 12, n. 2, p. 171-189, jul./dez. 2016.
Disponível em: https://bit.ly/3RmSI7L. Acesso em: 11 ago. 2022.

125
RESUMO DO TÓPICO 3
Neste tópico, você aprendeu:

• O papel dos Sistemas de Informação Geográfica (SIG) como componente significativo


da cartografia digital, que desde os anos 1960 tem se aprimorado e ganhado maior
relevância nas atividades que envolvem geoinformações.

• Os fusos horários não são estabelecidos de maneira absolutamente linear, sobretudo


quando passam por áreas continentais. Isso acontece para facilitar a organização e a
sincronicidade dos horários em um mesmo país ou região.

• Os SIGs são sistemas informatizados utilizados para o processamento e a


manipulação de informações geográficas que utilizam métodos estatísticos e
modelos matemáticos para realizar análises complexas e automatizar a elaboração
de produtos cartográficos.

• Os dados espaciais presentes em um SIG podem ser divididos em duas principais


categorias, salientando a natureza representacional: podem assumir uma natureza
do tipo vetorial ou do tipo matricial.

126
AUTOATIVIDADE
1 Para um trabalho de planejamento urbano, foram levantados os dados das quadras
de uma cidade, o que gerou um mapa temático de “quadras”. Posteriormente, foram
coletados os dados de número de residências, número de moradores e a área construída
de cada quadra. A tabela com esses dados foi anexada aos dados temáticos, gerando
uma carta cadastral das “quadras”. Diferencie os tipos de informações representadas
nas cartas temáticas das informações representadas nas cartas cadastrais.

2 Em um trabalho de pesquisa, um acadêmico precisa elaborar o mapa de um bairro,


porém foi solicitado que fosse elaborada a carta vetorial e a matricial da mesma
área. Caracterize as formas de representação vetoriais e as formas de representa-
ção matricial.

3 Um viajante saiu às 9h de Brasília (GMT -3) com destino à cidade de Pequim, na China
(GMT +8). Sabendo que o voo terá 16 horas de duração, o viajante deverá ajustar seu
relógio para qual horário local no destino?

a) ( ) 11:00.
b) ( ) 12:00.
c) ( ) 00:00.
d) ( ) 10:00.
e) ( ) 01:00.

4 Um turista brasileiro saiu do Rio de Janeiro às 12h do dia 7 de dezembro com destino
à cidade de Rio Branco, no Acre. Sabendo que a cidade de origem adota o horário de
verão, e a viagem durou seis horas, qual foi o horário do desembarque do turista no
destino?

a) ( ) 17:00.
b) ( ) 16:00.
c) ( ) 18:00.
d) ( ) 19:00.
e) ( ) 13:00.

5 Os fusos horários têm como objetivo organizar o sistema do tempo civil e surgiu a
partir do desenvolvimento dos meios de transporte oriundos da Revolução Industrial.
Sobre sua organização, classifique V para as sentenças verdadeiras e F para as falsas:

127
( ) Os fusos horários variam latitudinalmente.
( ) A Linha Internacional de Mudança da Data corresponde ao antimeridiano de
Greenwich.
( ) O Brasil está todo a Oeste de Greenwich, isto é, seu horário está sempre atrasado
em relação aos países orientais.
( ) Os fusos horários correspondem a uma convenção humana sem qualquer relação
com os movimentos da Terra.
( ) Atravessando a LID no sentido Oeste-Leste, subtrai-se um dia na data.

a) ( ) V – F – V – F – V.
b) ( ) F – V – F – V – F.
c) ( ) V – V – F – F – F.
d) ( ) F – F – F – V – V.
e) ( ) F – V – V – F – F.

128
REFERÊNCIAS
BORGES, A. C. Topografia aplicada à engenharia civil. São Paulo: Blucher, 2003. v. 1.

BURROUGH, P. A.; MCDONNELL, R. A. Principles of geographical information


systems. Oxford: Oxford University Press, 1998.

CÂMARA, G.; DAVIS, C. Introdução. In: CÂMARA, G.; DAVIS, C.; MONTEIRO, A. M. V. (eds.).
Introdução à ciência da geoinformação. São José dos Campos: INPE, 2001, p. 1-5.

CLAVAL, P. Epistemologia da geografia. Florianópolis: Editora UFSC, 2011.

DAVIS, B. GIS: a visual approach. New York: OnWord Press, 1996.

DIBIASE, D. Visualization in the Earth sciences. Earth and Mineral Science, [s. l.], v. 59,
n. 2, p. 13-18, 1990.

BRASIL. Ministério da Defesa. Manual técnico de convenções cartográficas T 34-


700 (Primeira Parte). 2. ed. Brasília, DF: Ministério da Defesa, Diretoria de Serviços
Geográficos, 1998.

ERNESTO, M.; MARQUES, L. S. Investigando o interior da Terra. In: TEIXEIRA, W. et al.


Decifrando a Terra. São Paulo: Companhia Editora Nacional, 2008. p. 64-82.

FITZ, P. R. Geoprocessamento sem complicação. São Paulo: Oficina de Textos, 2008.

GASPAR, J. A. Cartas e projecções cartográficas. 3. ed. Lisboa: Lidel, 2005.

IBGE – INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA. Noções básicas de


cartografia. Rio de Janeiro: IBGE, 1998.

IMHOF, E. Cartographic relief presentation. Redlands: ESRI Press, 2007.

KEATES, J. Cartographic design and production. 2. ed. New York: Longman, 1989.

OLIVEIRA, C. Dicionário cartográfico. 4. ed. Rio de Janeiro: IBGE, 1993.

RAISZ, E. Cartografia geral. Rio de Janeiro: Editora Científica, 1969.

SANCHEZ, M. C. Perfis topográficos: características e técnicas de construção. Not.


Geomorfol., [s. l.], v. 15, n. 29, p. 67-81, 1975.

129
SCHERMA, E. P.; FERREIRA, E. R. Ler, analisar e interpretar mapas através das
práticas da orientação. Imaginação e Inovação: desafios para a Cartografia Escolar.
In: COLÓQUIO DE CARTOGRAFIA PARA CRIANÇAS E ESCOLARES, 7., 26-28 out. 2011,
Vitória–ES. Anais [...]. Vitória, 2011. p. 230-255. Disponível em: https://bit.ly/3Q2IPux.
Acesso em: 14 jun. 2019.

SIMIELLI, M. E. R. Cartografia no ensino fundamental e médio. In: CARLOS, A. F. A. (org.).


A geografia na sala de aula. São Paulo: Contexto, 1999. p. 92-108.

SOUSA, I. B.; MAIO, A. C. D. Tecnologias aplicadas à cartografia na educação ambiental:


uma experiência no segundo segmento do ensino fundamental. In: CONGRESSO
BRASILEIRO DE CARTOGRAFIA, 26., 2014, Gramado. Anais [...].  Niterói: Universidade
Federal Fluminense, 2014. p. 1-11. Disponível em: https://bit.ly/3AzcTbP. Acesso em: 17
jun. 2019.

130
UNIDADE 3 —

A VISÃO TOPOGRÁFICA

OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM
A partir do estudo desta unidade, você deverá ser capaz de:

• compreender o processo de conexão cartográfica e topográfica;

• conhecer as diferentes estratégias para a orientação no espaço geográfico;

• interpretar o uso de aparelhos de localização;

• compreender a função e o cálculo das coordenadas geográficas;

PLANO DE ESTUDOS
A cada tópico desta unidade você encontrará autoatividades com o objetivo de
reforçar o conteúdo apresentado.

TÓPICO 1 – TOPOGRAFIA
TÓPICO 2 – SISTEMAS DE REFERÊNCIA
TÓPICO 3 – O TRABALHO TOPOGRÁFICO

CHAMADA
Preparado para ampliar seus conhecimentos? Respire e vamos em frente! Procure
um ambiente que facilite a concentração, assim absorverá melhor as informações.

131
CONFIRA
A TRILHA DA
UNIDADE 3!

Acesse o
QR Code abaixo:

132
UNIDADE 3 TÓPICO 1 —
TOPOGRAFIA

1 INTRODUÇÃO
Caro acadêmico, neste primeiro ciclo de aprendizagem, você terá a oportunida-
de de entender o significado de termos importantes e utilizados dentro da Topografia.
Falaremos do papel da Topografia e sua importância dentro da Engenharia Civil. Re-
lembraremos, de forma sucinta, algumas operações matemáticas envolvendo ângulos,
unidade de medida que será muito utilizada por você no decorrer da ciência topográfica.

Você entenderá a diferença do significado entre precisão e exatidão, termos


que, por vezes, são dados como sinônimos, mas que levam muito sentido dentro dos
levantamentos topográficos e que, mais à frente, nos darão base para o conceito de erro
em Topografia.

Por fim, de modo introdutório, abordaremos os equipamentos mais comuns


utilizados na Topografia, classificados, comumente, em dois grupos, a saber: instrumentos
básicos e instrumentos acessórios. Portanto, fique atento às informações que serão
repassadas ao longo deste tópico e tenha uma ótima leitura!

2 INTRODUÇÃO À TOPOGRAFIA
Para que possamos ampliar nossa compreensão da importância da Topografia,
retomaremos a história. Podemos considerar que os homens e as mulheres passaram
por um número considerável de processos evolutivos, quer fosse por questões de
sobrevivência, segurança, conflitos, orientação, quer fosse, até mesmo, pela navegação.

Nos ambientes mais primitivos, com a alteração e a mudança dos hábitos, o


nomadismo passou ao sedentarismo, ou seja, à necessidade de habitar em um local
fixo e, nele, estabelecer base para sua descendência. Foi a partir desse momento que
o cultivo do próprio alimento e a criação de animais surgiram (agricultura e pecuária),
possibilitando a formação de agrupamentos mais complexos que, posteriormente,
formaram vilas e até cidades (COELHO JUNIOR; ROLIM NETO; ANDRADE, 2014).

133
Nesse período primitivo, a delimitação do espaço habitado baseava-se na ob-
servação e na descrição do meio. O interessante, então, é que o homem passou a
utilizar a Topografia sem nem mesmo saber o que ela era e que a havia descoberto.
Sabe-se que o surgimento de mapas, por exemplo, é estimado em períodos anterio-
res, até mesmo no início da escrita. Vivendo de forma coletiva, os indivíduos dessas
sociedades primitivas necessitavam demarcar qual área pertencia a quem. Correto?
Sim, correto! Veja que, nessa necessidade intrínseca, a busca por equipamentos, mes-
mo que rudimentares, balizou o surgimento dos primeiros equipamentos topográficos.
Coelho Junior, Rolim Neto e Andrade (2014) descrevem que os patriarcas na utilização
desses equipamentos foram os povos egípcios e mesopotâmicos. De fato, esses equi-
pamentos tinham baixa exatidão e precisão em comparação ao que há de mais moder-
no atualmente. No entanto, é de se impressionar os resultados que foram obtidos com
a utilização dessas ferramentas, como a pirâmide de Quéops (Figura 1). Estima-se que
o erro entre as bases da pirâmide em relação ao que foi projetado e o que realmente
fizeram foi de apenas 20 centímetros.

Figura 1 – Pirâmide de Quéops, Egito

Fonte: https://cutt.ly/HVWvIHT. Acesso em: 14 set. 2022.

O significado da palavra Topografia, etimologicamente, do grego topos (lugar)


e graphein (descrever), de forma simplificada, é o ato de descrever um lugar. Em uma
abordagem mais técnica, pode-se descrevê-la como “[...] a ciência aplicada cujo objetivo
é representar, no papel, a configuração de uma porção de terreno com as benfeitorias
que estão na superfície” (BORGES, 2013, p. 1). Em uma perspectiva mais cartográfica,
Véras Júnior (2003) define o termo como a ciência que objetiva conhecer, descrever e
representar, graficamente, sobre uma superfície plana, partes da superfície terrestre,
desconsiderando a curvatura do planeta Terra. De uma forma abrangente, podemos,
então, resumir Topografia como:

[...] a ciência que estuda, projeta, representa, mensura e executa uma


parte limitada da superfície terrestre, não levando em consideração
a curvatura da Terra, até onde o erro de esfericidade poderá ser
desprezível, e considerando os perímetros, dimensões, localização
geográfica e posição (orientação) de objetos que estejam dentro
desta porção (COELHO JUNIOR; ROLIM NETO; ANDRADE, 2014, p. 8).

134
Dentro da Engenharia Civil, especificamente, a Topografia está dentro da grande
área Geotecnia. Aliás, consideramos quatro grandes áreas na Engenharia Civil: Hidráuli-
ca e Saneamento, Estruturas, Geotecnia e Construção Civil (Figura 2). Ao longo dos pró-
ximos módulos, provavelmente, você estudará disciplinas de cada uma dessas áreas.

Figura 2 – Topografia e as quatro grandes áreas da Engenharia Civil

Fonte: o autor

Apesar de a Topografia relacionar-se mais diretamente com as ciências


geotécnicas, pode-se dizer, sem medo de errar, que ela se encaixa dentro de qualquer
outra atividade do engenheiro civil, pois é básica para qualquer estudo preliminar
necessário para a construção de obras civis. Se você construirá uma edificação, no
mínimo, para a locação da obra, você utilizará conceitos de Topografia. Se trabalhará
com obras de rodovias, então, você utilizará muito a Topografia para traçado de curvas
horizontais e verticais, corte e aterro, dentre outros fins.

É a partir da Topografia que, por meio de plantas com curvas de nível, conseguimos
representar o relevo do solo com todas as suas elevações e suas depressões. Com ela,
é possível, também, conhecer a diferença de nível entre dois pontos, seja qual for a
distância entre eles.

Podemos utilizar a Topografia, por exemplo, para estimar o volume de terra que
deveremos retirar de uma obra (corte), ou inserir (aterro), a depender da demanda do
projeto. Perceba que, seja o recurso topográfico simples ou complexo, a Topografia
permeia a Engenharia Civil nas diversas etapas, desde a concepção até a implantação
de um projeto.

135
Na Topografia, trabalhamos com medidas lineares e angulares realizadas sobre
a superfície da Terra e, a partir dessas medidas, calculamos coordenadas, áreas, volu-
mes (VEIGA; ZANETTI; FAGGION, 2012). Em termos de classificação, podemos dividir a
Topografia em dois ramos: Topologia e Topometria (BORGES, 2013). Mais uma vez, re-
correndo à análise etimológica das palavras: do grego, topos (lugar), metron (medida)
e logos (estudo). Dessa forma, rudimentarmente, a Topologia é o ramo da Topografia
que se preocupa com o estudo da forma exterior da superfície terrestre e os modelos
que regem suas caraterísticas. Já a Topometria é o ramo da Topografia que objetiva
medições em determinada área avaliada. Na Topometria, subdividimo-la em Planime-
tria, Altimetria e Planialtimetria (composição dos dois sub-ramos anteriores), conforme
ilustrado pela Figura 3.

Figura 3 – Divisão e subdivisões da Topografia

Fonte: o autor

Na Planimetria, são medidas as grandezas sobre um plano horizontal. Nesse


caso, não se tem ideia nem se faz necessário o relevo do terreno em questão. As
grandezas estudadas na Planimetria são as distâncias e os ângulos horizontais, além
da localização geográfica e da posição (orientação). A Altimetria, por outro lado, avalia
o terreno considerando apenas as coordenadas altimétricas ou coordenadas de nível.
Aqui, temos a ideia do terreno em questão e avaliamos distâncias e ângulos verticais.

É relevante, neste momento, comentar que o resultado imediato de estudos


planimétricos, normalmente, chamamos de planta. Já na altimetria, representamos os
resultados por meio de um perfil, de cortes, de vistas laterais ou de elevações. Você,
que já teve Desenho Técnico, provavelmente lembrará de que, em plantas, não é muito
comum representar a elevação das áreas. Certo? Aqui, segue-se o mesmo raciocínio.
A única exceção na altimetria são plantas que são constituídas de curvas de nível,
elementos que informam a elevação e a conformação do relevo. Falaremos mais sobre
isso no decorrer dos próximos ciclos.

Você deve ter percebido que ambas, Planimetria e Altimetria, podem e, de fato,
são muito importantes para a descrição de uma área. Dessa forma, ao representar parte
de uma superfície avaliando características planimétricas (plano XY) e altimétricas (eixo
Z), determinamos uma análise composta de um modelo tridimensional, o que chamamos
de Planialtimétrica (coordenadas X, Y e Z). Perceba a composição dessas duas formas
de descrição topográfica por meio da Figura 4.

136
Figura 4 – Pirâmide no espaço (A) sendo representada planimétrica (B), altimétrica (C) e planimetricamente (D)

Fonte: Coelho Junior, Rolim Neto e Andrade (2014, p. 10)

IMPORTANTE
Brinker e Wolf (1977) apontam que o trabalho prático de Topografia
pode ser dividido em cinco partes:
• tomada de decisão: escolha de métodos de levantamento,
equipamentos, posições ou pontos a serem levantados etc.;
• trabalho de campo ou aquisição de dados: medições e gravação
de dados;
• cálculos ou processamento: elaboração dos cálculos baseados
nas medidas (lineares e/ou angulares) para determinação de
coordenadas, áreas, volumes;
• mapeamento ou representação: produção do mapa ou carta a
partir dos dados medidas e calculados; e
• locação: alocação das obras civis e/ou outros projetos, em geral, no
local levantado.

De forma efetiva, podemos agrupar os itens 1 a 4 propostos por Brinker e Wolf


(1977) e dizer que a Topografia, em geral, consiste em levantamento topográfico e locação
topográfica. A norma brasileira ABNT NBR 13.133:1994 – Execução de levantamento
topográfico –, que fixa condições exigíveis para a execução desse tipo de levantamento,
define levantamento topográfico como:

Conjunto de métodos e processos que, através de medições de


ângulos horizontais e verticais, de distâncias horizontais, verticais
e inclinadas, com instrumental adequado à exatidão pretendida,
primordialmente, implanta e materializa pontos de apoio no terreno,
determinando suas coordenadas topográficas. A estes pontos se
relacionam os pontos de detalhes visando à sua exata representação
planimétrica numa escala predeterminada e à sua representação
altimétrica por intermédio de curvas de nível, com equidistância
também predeterminada e/ou pontos cotados (ABNT, 1994, p. 3).

137
De acordo com Coelho Junior, Rolim Neto e Andrade (2014), o levantamento
topográfico consiste em levantar todos os dados e as características importantes
que há no terreno, em determinada área, para posterior representação em papel ou
modelo digital, em escala adequada e com orientação. Já a locação é o processo
inverso ao levantamento. Antes da locação, faz-se o levantamento topográfico, ou
seja, o engenheiro ou topógrafo irá ao escritório realizar o projeto para uma eventual
implantação da obra no terreno avaliado. Assim como todos os dados in loco devem ser,
fielmente, representados no papel, durante o processo de levantamento, todos os dados
topográficos em um projeto topográfico deverão ser fielmente implantados no terreno,
de acordo com a escala a ser utilizada. A Figura 5 demonstra a diferença prática entre
os processos de levantamento e locação topográfica.

Figura 5 – Diferenças entre os processos de levantamento topográfico e locação topográfica

Fonte: Coelho Junior, Rolim Neto e Andrade (2014, p. 12)

Não só na Engenharia Civil, mas a Topografia pode ser utilizada em diversas


outras áreas do conhecimento, como Agronomia, Cartografia, Engenharia Ambiental,
Engenharia Florestal, Zootecnia e, até mesmo, na Medicina. Não se assuste se, ao
pesquisar um livro de Topografia na Internet, você encontrar em sua busca materiais
de Medicina. Isso porque, na Medicina, a Topografia se relaciona com a parte do
conhecimento da representação dos órgãos humanos, sua localização e sua descrição
por meio de imagens.

Especificamente com relação à Engenharia, as utilizações da Topografia são


inúmeras (TULER; SARAIVA, 2014) e estão representadas na Figura 6:

138
Figura 6 – Aplicações da Topografia na Engenharia

Fonte: o autor

Ficou claro que o engenheiro é um profissional capacitado para a elaboração


de estudos topográficos. Aliás, não só capacitado, mas também habilitado, legalmente,
para tal tarefa. Mas existem outros profissionais que também podem exercer tais
funções? Sim, existem. De fato, profissionais formados que possuíam a disciplina de
Topografia em suas grades curriculares possuem também habilitações para o exercício
dessa atividade, sendo as limitações de atuação dadas pela profundidade de conteúdos
abordados ao longo da disciplina. Podemos classificar os profissionais com habilidades
em Topografia em nível técnico e em nível superior, como segue:

• Técnico em Agrimensura, Geoprocessamento, Transportes e Trânsito, Edificações,


Mecânica, Meio Ambiente, dentre outros.
• Graduação em Engenharia de Agrimensura, Engenharia Cartográfica, Engenharia
Civil, Arquitetura e Urbanismo, Geologia, Engenharia de Minas, Geografia, Engenharia
Ambiental etc.

139
É importante salientar que, em relação à responsabilidade técnica, os profissio-
nais de nível técnico possuem limitações e, a depender do porte e das características
do trabalho de Topografia, apenas os profissionais regulamentados nos conselhos pro-
fissionais têm a legalidade para atuar e assinar. Ainda, reitera-se que a amplitude de
atuação do profissional e as diversas frentes da Topografia em que este pode trabalhar
dependerá de quão profundo é o embasamento adquirido na academia (graduação)
com relação à Topografia, a ser comprovado nos conselhos de classe mediante a com-
paração das ementas curriculares.

Quanto às atividades mais requeridas aos profissionais que atuam na Topografia,


além das supracitadas, pode-se citar, dentre outras (TULER; SARAIVA, 2014):

• Cadastro técnico e loteamentos.


• Divisão e demarcação de terras.
• Projetos e locações de rodovias e ferrovias.
• Projetos de abastecimento de água, irrigação e drenagem.

3 UNIDADES DE MEDIDA
Agora, falaremos da matemática utilizada em Topografia e, também, das uni-
dades de medidas bastante comuns nessa área. Pode parecer algo trivial ou repetitivo,
mas saber bem quais os tipos de dados utilizados em Topografia, bem como suas di-
mensões e suas unidades, pode ajudar, por exemplo, com o problema que foi proposto
no início deste ciclo.

É importante comentar, mesmo que de forma sucinta, aqui, as unidades de


medida comumente utilizadas na Topografia, bem como revisar algumas importantes
propriedades matemáticas que utilizaremos ao longo dos ciclos de aprendizagem.
Pela padronização, também dentro da Topografia, são utilizadas, em grande parte dos
trabalhos, as unidades de medidas do Sistema Internacional de Unidades (SI). Falaremos
um pouco das seguintes unidades de medida: linear, de superfície, de volume e angular.

No Sistema Internacional de Unidades, a unidade de medida padrão para


comprimento é o metro (m), que, pela Conferência Geral de Pesos e Medidas, realizada
em 1983, foi definido como a distância percorrida pela luz no vácuo durante o intervalo
de tempo de 1/299.792.458 segundos. A depender do tamanho da medida a ser
representada pela unidade, podemos adotar múltiplos ou submúltiplos para a unidade
metro, conforme ilustrado pelo Quadro 1.

140
Quadro 1 – Prefixos para unidades de medidas

Múltiplos Submúltiplos

Valor Valor
Nome Símbolo Nome Símbolo
numérico numérico

Deca 101 Da deci 10-1 D

Hecto 102 H centi 10-2 C

Kilo 103 K mili 10-3 M

Mega 106 M micro 10-6 Μ

Giga 109 G nano 10-9 N

Tera 1012 T pico 10-12 P

Fonte: o autor

Um esquema bem prático e fácil para lembrar a transformação de um múltiplo


de medida em outro é apresentado na Figura 7.

Figura 7 – Esquema para transformação de múltiplos de medidas de comprimento

Fonte: o autor

Exemplo 1

Transforme 5 km e 25 mm nos múltiplos e submúltiplos do metro.

Para os 5 km, multiplicando por 101 cada múltiplo de medida, temos:


5 km = 50 hm = 500 dam = 5.000 m = 50.000 dm = 500.000 cm = 5.000.000 mm

Para os 25 mm, multiplicando por 10-1 cada múltiplo de medida, temos:


25 mm = 2,5 cm = 0,25 dm = 0,025 m = 0,0025 dam = 0,00025 hm = 0,000025 km

141
Exemplo 2

Transforme 12,52 m em mm e km.

Para transformarmos 12,52m em mm, basta que multipliquemos o valor por 103. Então:
12,52 m = 12.520 mm

Para transformarmos 12,52m em km, basta que multipliquemos o valor por 10-3. Então:
12,52 m = 0,01252 km

Normalmente, utiliza-se, em Topografia, múltiplos de medida que vão de milí-
metros e centímetros (em gráficos e mapas) até hectômetros e quilômetros (medidas do
terreno). Outros múltiplos menores ou maiores são incomuns.

Além da medida padrão para comprimento do SI, outras unidades de medida
não convencionais existem e são ainda bastante utilizadas, especialmente em países
como Estados Unidos e Inglaterra. A mais comum delas talvez seja a polegada, que
equivale a 25,4 milímetros. Outras unidades de medidas lineares não convencionais são
apresentadas no Quadro 2.

Quadro 2 – Unidades de medida de comprimento não convencionais

1 jarda = 3 pés = 0,91438 m 1 légua de sesmaria = 6.600 m 1 milha terrestre = 1.609,34 m

1 palmo = 8 polegadas =
1 corrente = 22 jardas = 20,117 m 1 milha (bras.) = 2.200 m
0,22 m

1 vara = 5 palmos = 1,10 m 1 pé = 30,479 cm 1 corda = 15 braças = 33 m

1 braça = 2 varas = 2,20 m 1 milha náutica = 1.852,35 m 1 légua geométrica = 6.000 m

Fonte: o autor

3.1 PRECISÃO X EXATIDÃO


Você sabe a diferença entre precisão e exatidão? Dois termos que serão
bastante abordados ao longo dos ciclos de aprendizagem são os termos exatidão (ou
acurácia) e precisão, que estão intimamente ligados aos erros existentes e relacionados
ao processo de levantamento topográfico. A precisão está relacionada com o grau de
proximidade ou, de acordo com a ABNT NBR 13.133:1994, com o grau de aderência
das amostras entre si. Isso é bom? Não necessariamente. Acontece que podemos ter
situações em que os dados estão próximos entre si, mas distantes do valor real. Dessa

142
forma, precisamos também da acurácia ou exatidão, que é o grau de proximidade dos
dados em relação ao valor real, verdadeiro ou esperado. A Figura 8 ilustra, de maneira
bem simples, a diferença visual desses dois conceitos.

De forma simplificada, o erro em nossa medição se relacionará à acurácia no
levantamento, que pode ser modificada em função das características metodológicas
do levantamento, da capacidade do instrumento de medição e, também, de falhas de
procedimento durante a avaliação.

Figura 8 – Diferença entre Acurácia e Precisão

Fonte: https://cutt.ly/LVWEKf7. Acesso em: 14 set. 2022.

Quando falamos de superfície, no Sistema Internacional, a unidade padrão


para área é o metro quadrado (m2). No entanto, em Topografia, é comum a descrição de
grandes áreas, demandando múltiplos do metro quadrado. Um múltiplo que é utilizado,
frequentemente, para a descrição de áreas é o hectare (ha), que corresponde a 10.000
m². O processo de conversão de um múltiplo para outro é similar ao processo de
conversão de medidas lineares. A diferença se dá pelo fato de que, como a área é uma
medida linear ao quadrado, o fator de conversão também é potencializado. Por exemplo,
1 km equivale a 1.000 m (x 103), ao passo que 1 km² equivale a 1.000.000 m² (x 106).

Provavelmente, você já deve ter ouvido este termo: alqueire. Talvez você já
até sabia que ele remete a determinada medida de área. O fato é que poucas são as
pessoas que sabem o quanto essa unidade de medida de área realmente vale. No Brasil,
algumas variações de alqueire existem, historicamente, dadas para determinadas
regiões (TULER; SARAIVA, 2014).

• 1 alqueire geométrico = 100 x 100 braças = 48.400 m² = 4,84 ha


• 1 alqueire paulista = 50 x 100 braças = 24.200 m² = 2,42 ha
• 1 alqueire mineiro = 75 x 75 braças = 27.224 m² = 2,7225 ha
• 1 alqueire goiano = 96.800 m²

Portanto, se você se deparar com essa determinada medida, normalmente rela-


cionada às medidas de propriedades rurais, certifique-se de qual tipo de alqueire se trata.

143
Exemplo 3

Transforme 125 ha em m² e em alqueires paulistas

1 ha = 10.000 m²
125 ha = 125 x 10.000 m² = 1.250.000 m²
2,42 ha = 1 alqueire paulista
125 ha = 51,65 alqueire paulista

Outras unidades de medida não convencionais para áreas são utilizadas em
algumas regiões do Brasil e em outros países. As apresentadas a seguir são, em especial,
bastante utilizadas nos Estados Unidos até hoje:

• 1 milha quadrada (mi²) = 2,788 x 107 pés² = 640 acres


• 1 pé quadrado (pé² ou ft²) = 929,0 cm²
• 1 acre = 43.560 pés² = 4.046,8 m² (cerca de 0,4 ha)

Já, quando falamos de volume, a unidade padrão no Sistema Internacional é o


metro cúbico (m³). Há, ainda, outras unidades de volumes bem conhecidas, como o litro
e a jarda cúbica:

• 1 litro (L) = 1 dm³


• 1 jarda cúbica (ja³ ou yd³) = 0,7645 m³

Exemplo 4

No Sistema Internacional, a medida padronizada para ângulos e arcos é o grau. No


entanto, é comum, em Topografia, a utilização de outras formas de unidade de medidas
de ângulos. A saber, temos as unidades de medidas sexagésimas (graus), as centesimais
(grados) e o radiano. Vamos entender um pouquinho de cada uma delas. Um radiano é
o ângulo central correspondente a um arco de circunferência de comprimento igual ao
raio da circunferência, conforme ilustra a Figura 9.

Figura 9 – Representação de um arco de ângulo

Fonte: Veiga, Zanetti e Faggion (2012, p. 22)

144
É possível determinar o valor aproximado de 1 radiano em graus fazendo a
simples equivalência:

2πR - 360°
R = θ (raio = arco)
θ ≈ 57,2958°

Segundo Tuler e Saraiva (2014), o sistema centígrado já foi empregado na
Topografia, mas já não é tão comum hoje em dia. Nesse sistema, o círculo trigonométrico
é dividido em 400 partes, e a unidade básica é nomeada de grado, que equivale a 1/400
do arco da circunferência, conforme ilustra a Figura 10.

Figura 10 – Representação do sistema centesimal – grados

Fonte: adaptada de Tuler e Saraiva (2014)

Obs.: veja que, por exemplo, na medida de ângulo 312,5235gr, lê-se trezentos e
doze grados, cinquenta e dois centígrados e trinta e cinco decimiligrados.

Por fim, conforme já supracitado, o sistema sexagesimal, também sistema
padrão no Sistema Internacional de Unidades, divide o círculo trigonométrico em 360
partes, sendo a unidade básica nomeada de grau, que equivale a 1/360 do arco da
circunferência, conforme ilustra a Figura 11.

Figura 11 – Representação do sistema sexagesimal – graus

Fonte: adaptada de Tuler e Saraiva (2014)

145
De forma resumida, no sistema sexagesimal, temos:

• Círculo = 360°
• Unidade básica = 1°
• Minuto: 60’ = 1°
• Segundo: 60’’ = 1’ ou 3.600’’ = 1°

Obs.: veja que, por exemplo, na medida de ângulo 312,52’35’’, lê-se trezentos e
doze graus, cinquenta e dois minutos e trinta e cinco segundos.

Como a utilização de medidas angulares é bastante comum em procedimentos


topográficos, é importante que tenhamos clareza de como realizar as operações
matemáticas básicas destas medidas, especialmente no formato sexagesimal. A seguir,
alguns exemplos para nos recordarmos desses procedimentos.

Exemplo 5

Some os dois ângulos a seguir: 25°30’33’’ e 22°45’35’’

Portanto, o resultado da soma dos dois ângulos na forma-básica é 48°16’08’’.

Exemplo 6

Subtraia os dois ângulos a seguir: 25°30’33’’ e 22°45’35’’

Exemplo 7

Multiplique o ângulo 25°30’33’’ por 4

146
Algumas observações importantes: não se deve multiplicar ângulos por
ângulos, e sim um ângulo por um número adimensional, como no exemplo apresentado.
Ainda, na multiplicação, fazemo-la por partes (graus, minutos e segundos) para depois
ajustarmos o resultado na forma-base.

Exemplo 8

Divida o ângulo 25°30’33’’ por 4

• Aqui, ao oposto das outras operações, começamos o cálculo pelo grau, depois
minutos e segundos na sequência.
• Primeiro, dividindo 25° por 4, ficamos com 6°, sobrando 1°.
• Passando este 1° grau para minutos e adicionando aos 30’, ficamos com 90’.
• Dividindo 90’ por 4, ficamos com 22’, sobrando 2’.
• Passando estes 2’ para segundos e adicionando aos 33’’, ficamos com 153’’.
• Dividindo estes 153’’ por 4, ficamos, finalmente, com 38,25’’.

Dessa forma, o nosso resultado é 6°22’38,25’’.

Ao utilizar operações trigonométricas, provavelmente, você necessitará de


medidas de ângulos. É importante que você saiba que a maioria das calculadoras são
predefinidas para o cálculo de operações trigonométricas em frações de graus (ou na
forma decimalizada). Isso significa que, se você desejar calcular o seno do ângulo de 45
graus e meio, você deve tomar cuidado, pois:

Nesse caso, para a forma correta do cálculo, ou você deveria considerar 45,5°
ou predefinir a calculadora para a forma tradicional do sistema sexagesimal e calcular o
seno de 45°30’.

147
ATENÇÃO
Procure verificar como sua calculadora científica está predefinida
e gaste um tempinho aprendendo a como fazer essas operações
matemáticas anteriormente apresentadas em sua máquina. Outro
detalhe é sempre verificar em sua calculadora, antes de fazer qualquer
cálculo, se a forma de leitura e de apresentação dos ângulos está
predefinida em grados, radianos ou graus.

4 EQUIPAMENTOS E DISPOSITIVOS
Agora, sairemos um pouco da Matemática e falaremos de alguns dos
equipamentos e dos dispositivos utilizados em Topografia. Como vimos, desde o
momento em que o homem precisou descrever a sua localização, mensurar áreas e
distâncias e projetar, viu-se a necessidade de instrumentos e equipamentos capazes
de auxiliá-lo nessa tarefa.

Atualmente, para a realização de levantamentos e locações topográficas, os


equipamentos topográficos são indispensáveis. Coelho Junior, Rolim Neto e Andrade
(2014) dividem todos os equipamentos em dois grandes grupos: os instrumentos
(equipamentos utilizados, de fato, na medição) e os acessórios (ferramentas que
auxiliam no processo de medição).

A norma ABNT NBR 13.133:1994 apresenta uma nomenclatura similar,


classificando os equipamentos em instrumentos básicos e auxiliares. Nos instrumentos
auxiliares, temos: piquetes, estacas, estacas-testemunhas, trenas, tripés, balizas,
miras e níveis de cantoneira. Nos instrumentos básicos: teodolitos, estações totais e
receptores de GNSS. Falaremos, aqui, de forma introdutória, apenas sobre teodolitos
e estações totais, deixando para depois a conceituação de GNSS (Global Navigation
Sattelite System – Sistema Global de Navegação por Satélite) e dos equipamentos
envolvidos nesse método de obtenção de dados topográficos.

Dentro dos instrumentos auxiliares, os piquetes são os recursos físicos utiliza-


dos em medições para que os pontos topográficos da avaliação sejam materializados.
São, normalmente, fabricados de madeira e de forma artesanal, mas existem opções
pré-fabricadas no mercado e, inclusive, de outros tipos de material, como plástico.
Normalmente, são cravados no solo (por isso, precisam ser pontiagudos) de forma que
fiquem, pelo menos, de 2 a 3 cm expostos para que se possa localizá-los durante a
medição.

As estacas-testemunhas (Figura 12) são pequenos pedaços, normalmente,


feitos de madeira de boa qualidade, pontiagudos, com a intenção de se perfurar o solo.
Possuem de 40 a 50 cm de altura e, normalmente, apresentam como característica

148
um corte na parte superior, virado para o lado inverso de onde se encontra o piquete
para se diferenciar de outros possíveis pedaços de madeira que estejam, previamente,
colocados no terreno e, também, para facilitar a localização dos piquetes em espaços
muito grande. É comum posicioná-las a, no mínimo, 40 a 50 cm dos piquetes.

Figura 12 – (A) Estaca-testemunha e (B) Piquete

Fonte: Coelho Junior, Rolim Neto e Andrade (2014, p. 17)

As estacas convencionais, com as mesmas dimensões da estaca-testemunha,


são utilizadas em trabalhos topográficos cuja necessidade é o alinhamento dos pontos
a serem levantados. São, comumente, utilizadas em obras de rodovias em geral e,
inclusive, facilitam a localização de trechos que são descritos por meio do número da
estaca equivalente (Trecho 25 – Estaca 25). Utiliza-se, também, estacas para a locação
de obras em terrenos.

Outros acessórios para demarcação de pontos topográficos são utilizados


quando existe a inviabilidade do uso de estacas e piquetes. Pregos, parafusos e
marcações com tintas são, comumente, colocados em concreto, ruas, calçadas. Já as
miras falantes, miras estadimétricas, miras de estádia, ou as chamadas de miras, são
réguas com marcações centimétricas utilizadas para medições de distâncias horizontais,
por meio de taqueometria, com a utilização de fios superior, médio e inferior e distâncias
verticais com o uso do fio médio, conforme ilustra a Figura 13.

149
Figura 13 – Representação de cinco leituras de fios estadimétricos na mira

Fonte: Coelho Junior, Rolim Neto e Andrade (2014, p. 19)

A leitura na mira é realizada em milímetros, em que cada barra centrimetrada


(01, 02, 03...) equivale a 10 mm. A mira deve ser colocada verticalmente e em cima do
ponto a ser medido. Quanto ao material da mira, atualmente, é comum a utilização de
alumínio em função de seu leve peso. No entanto, é necessário certo cuidado, especial-
mente em dias chuvosos, em função de raios e do perigo de choque elétrico

A baliza é um acessório que tem como finalidade a melhor visualização dos pon-
tos topográficos, materializados por piquetes, quando é realizada a medição dos ângu-
los horizontais (com teodolito ou estação total). A baliza é um acessório muito versátil
em medições topográficas, e também pode ser utilizada para facilitar o alinhamento de
uma poligonal, uma facção de perfil e uma seção transversal, bem como a medição de
distâncias horizontais por meio de trena (Figura 14).

Figura 14 - (A) Baliza utilizada para auxiliar em medição do ângulo horizontal; (B) baliza posicionada
corretamente sobre o piquete; (C) baliza utilizada na medição de distância horizontal com auxílio de trenas

Fonte: Coelho Junior, Rolim Neto e Andrade (2014, p. 18)

150
A coloração vermelha e branca da baliza é proposital para contraste com a
vegetação, o que facilita a identificação no campo (COELHO JUNIOR; ROLIM NETO;
ANDRADE, 2014). Possui 2 m de comprimento, dividida em quatro segmentos e é feita,
geralmente, de alumínio ou ferro. O nível de cantoneira é um pequeno, mas muito
prático, acessório utilizado em medições. É acoplado às balizas, às miras e aos bastões,
com o intuito de promover a verticalização desses acessórios (Figura 15). O processo de
nivelamento desse acessório é similar àquele das famosas réguas de nível.

Figura 15 – Nível de cantoneira

Fonte: https://www.xpex.com.br/produto/nivel-de-cantoneira/. Acesso em: 6 set. 2022.

Os tripés são acessórios, normalmente, feitos de alumínio, com a finalidade de


apoio de equipamentos, como teodolitos, estações totais e receptores GNSS. Além disso, a
grande importância dos tripés é a calagem (ou nivelamento) do equipamento em relação à
superfície desnivelada do terreno. Na prática da Topografia, é recorrente para a calagem do
equipamento a utilização de níveis de bolha (que já vêm, normalmente, com os teodolitos
e as estações totais) juntamente com o ajuste das pernas do tripé. Dessa forma, o ajuste
grosseiro do nivelamento do equipamento, por exemplo, a Estação Total, é feito com o au-
xílio do tripé, e o ajuste fino do nivelamento do equipamento é feito com o nível de bolha.

O tripé, com suas três pernas, possui duas partes unidas por uma borboleta, o
que possibilita diminuir ou aumentar o tamanho de cada perna. Ainda, possui uma base
nivelante, chamada prato, onde, de fato, são posicionados os instrumentos básicos de
medição, conforme ilustra a Figura 16.

Figura 16 – Tripé de uma estação total

Fonte: o autor

151
Quanto às trenas, são acessórios muito versáteis, e não só para topógrafos
e engenheiros. Procure aí, em sua casa e, com certeza, você encontrará uma à sua
disposição. Em levantamentos topográficos, a trena tem grande utilidade para medições
expeditas de distâncias horizontais. Como, normalmente, em levantamentos, falamos
de grandes áreas, é comum a utilização de trenas de grandes comprimentos, como a
da Figura 17.

Figura 17 – Trena utilizada em levantamentos com comprimento de 50 metros

Fonte: o autor

ESTUDOS FUTUROS
Falaremos mais à frente, em nosso livro, dos erros em Topografia, e um dos tipos de erros é
o de medição ou procedimentos. Com relação ao uso de trenas, ao realizar o levantamento,
é necessário se atentar aos seguintes erros clássicos:

• Erro de catenária (Figura 18): em função do peso da trena, a tendência é que se forme
uma parábola convexa, e quanto maior for a distância, maior é essa deformação da trena.
Esse erro ocasiona a medida do comprimento do arco da curva em vez do comprimento
horizontal, de fato. Para se evitar este tipo de problema, deve-se evitar medições de grandes
distâncias com a trena, subdivindo-as o máximo possível. É recomendada, também, a
aplicação de força adicional por quem segura a trena, em ambas as extremidades, para
tracionar ao máximo o acessório.

• Falta de horizontalidade da trena (Figura 19): em locais que não são planos, a
tendência de quem faz a medição é segurar a trena bem próxima do chão. Dessa forma,
as distâncias ficam maiores do que o valor real. Nessas situações, recomenda-se o uso de
balizas para auxílio da correta horizontalidade da trena.

• Falta de verticalidade da baliza (Figura 20): em situações em que o topógrafo não


possui o nível cantoneira instalado na baliza, ele pode inclinar esse acessório e gerar um
erro na medição. O ideal, por isso, é sempre utilizar o nível cantoneira acoplado às balizas
ou, ainda, o fio vertical ou colimador, acessório também usado para verticalização.

Um último ponto é que se deve evitar utilizar trenas velhas e desgastadas, uma vez que
elas podem estar com o material dilatado, o que gerará desvios e erros na correta leitura
das distâncias.

152
Figura 18 – Erro de catenária

Fonte: Coelho Junior, Rolim Neto e Andrade (2014, p. 21 e 22)

Figura 19 – Falta de horizontalidade da trena

Fonte: Coelho Junior, Rolim Neto e Andrade (2014, p. 21 e 22)

Figura 20 – Falta de verticalidade da baliza

Fonte: Coelho Junior, Rolim Neto e Andrade (2014, p. 21 e 22)

153
Agora, deixaremos de falar dos instrumentos auxiliares e falaremos, então, dos
instrumentos básicos de Topografia.

Os teodolitos ou equipamentos goniométricos (goniometria = técnica de medir


ângulos), como o nome sugere, são equipamentos utilizados na Topografia para medição
de ângulos, sejam eles verticais, sejam horizontais (Figura 21).

De forma mais precisa, há uma distinção entre teodolito e goniômetro. O


goniômetro é capaz de medir apenas ângulos, enquanto o teodolito, com o auxílio de
miras e fios estadimétricos, conseguem mensurar também distâncias horizontais, por
meio de taqueometria planimétrica, e distâncias verticais, por meio de nivelamentos.

Atualmente, os teodolitos eletrônicos estão bem presentes no mercado, mas
não se surpreenda ao encontrar, em um trabalho de Topografia, profissionais que
utilizem teodolitos não digitais.

Figura 21 – Teodolito eletrônico em uma obra

Fonte: o autor

A norma ABNT NBR 13.133:1994 classifica os teodolitos em função do desvio


padrão (precisão angular) de uma direção observada em duas posições da luneta,
conforme Tabela 1.

154
Quadro 3 – Classificação de teodolitos

Desvio-padrão
Classes de teodolitos
Precisão angular

1 - Precisão baixa ≤ ± 30’’

2 - Precisão média ≤ ± 07”

3 - Precisão alta ≤ ± 02”

Fonte: adaptada de ABNT (1994)

Quanto à Estação Total, talvez, seja o equipamento de Topografia mais utilizado,


atualmente, em obras civis, em função de sua versatilidade (Figura 22). É um instrumen-
to eletrônico que possui funções para obtenção de ângulos, distâncias e coordenadas,
dados fundamentais para a representação gráfica do terreno analisado. Por ter compa-
tibilidade digital, a grande vantagem é a transmissão dos dados diretamente para um
software, sem a necessidade de anotar os dados manualmente e, então, planilhá-los.

Pode-se dizer que a Estação Total é a evolução do que se utilizava em trabalhos


de Topografia há 20, 30 anos, isto é, o uso de nível estadimétricos para medição de
distâncias verticais, o uso de teodolitos para ângulos e distâncias horizontais, a anotação
manual desses dados, a inserção desses dados em uma plataforma digital e, finalmente,
a representação gráfica do modelo. A Estação Total integra todas essas funções, ficando
a cargo do profissional escolher o software para trabalhar os dados após o levantamento.

Outra facilidade das estações totais é a autonomia, isto é, a não-necessidade


de energia elétrica para o seu funcionamento durante as medições, com o auxílio de
uma bateria recarregável. Isso é muito importante, uma vez que os levantamentos
topográficos, normalmente, são feitos em locais ermos e durante longos períodos.

O kit utilizado para o uso desse equipamento, normalmente, constitui-se do
tripé, da própria estação total, do bastão e do prisma. O bastão é o equipamento metálico
em que se acopla o prisma, indispensável para o processo de obtenção dos dados de
distância e angulações.

155
Figura 22 – Estação total, bastão e prisma

Fonte: o autor

Você terá, provavelmente, a parte prática de utilização da Estação Total, uma


vez que os polos são equipamentos com esse instrumento. Falaremos de medições,
mas, de uma forma introdutória, é importante conhecer, sucintamente, o processo de
levantamento de coordenadas. Primeiro, você precisa saber que o prisma é utilizado
junto com a Estação Total com o intuito de estimar distâncias pelo princípio físico da
reflexão de um feixe luminoso, ou seja, a estação total emite um feixe luminoso que é
refletido no prisma e volta para a estação total. Sabendo a velocidade desse feixe e o
tempo de ida e volta do feixe à estação, é possível estimar a distância, que é o objeto
de interesse.

No levantamento, inicialmente, é necessário inserir na estação total o ponto em


que ela está locada em sistemas de coordenadas, preferencialmente, em coordenadas
UTM. A esse ponto inicial com os dados coordenados, nomeamos estação ocupada.
Após isso, é necessário para o levantamento um ponto com orientação para a estação
total em que os dados coordenados já sejam previamente conhecidos. Chamamos
esse ponto de referência de RÉ, em que locamos o prisma e o bastão, e se atribui o
valor prévio conhecido, que pode ser em coordenadas X, Y, Z, atribuição do azimute
verdadeiro (90°) ou atribuição do azimute 0° (Figura 23). Após a amarração da estação
ao ponto de referência (ré), dá-se prosseguimento ao levantamento das coordenadas
dos outros pontos de interesse.

156
Figura 23 – Primeira estação ocupada, com a amarração do levantamento por coordenadas na ré

Fonte: Coelho Junior, Rolim Neto e Andrade (2014, p. 25)

Caso seja necessária a troca do ponto ocupado pela estação durante o mesmo
levantamento por coordenadas, fazem-se necessários dados de dois pontos que já
foram previamente medidos: o ponto com a estação total, com as coordenadas daquele
ponto na estação ocupada, e outro ponto com o prisma, informando aqueles dados,
fazendo, agora, esse segundo ponto ser a ré da segunda estação ocupada (Figura
24). Um detalhe importante é você se lembrar sempre: estação total é o equipamento;
estação ocupada é o ponto, e os valores das coordenadas respectivas, o local em que
se aloca o equipamento.

Figura 24 – Segunda estação ocupada, com a amarração do levantamento por coordenadas na segunda ré

Fonte: Coelho Junior, Rolim Neto e Andrade (2014, p. 25)

A norma ABNT NBR 13.133:1994 classifica as estações totais em função do


desvio-padrão (precisão angular e linear) conforme Quadro 4, no qual podemos perceber
que, se usarmos a estação total para levantar uma distância real de 20 m, com um
equipamento de alta precisão, podemos ter uma precisão de ± (3 mm + 3 x 10-6 x 20.000
mm) = ± 3,06 mm.

157
Quadro 4 – Classificação de estações totais

Classes de estações Desvio-padrão Desvio-padrão


totais Precisão angular Precisão linear

1 - Precisão baixa ≤ ± 30’’ ± (5 mm + 10 ppm x D)

2 - Precisão média ≤ ± 07” ± (5 mm + 5 ppm x D)

3 - Precisão alta ≤ ± 02” ± (3 mm + 3 ppm x D)

Fonte: adaptada de ABNT (1994)

158
RESUMO DO TÓPICO 1
Neste tópico, você aprendeu:

• O levantamento topográfico consiste em levantar todos os dados e as características


importantes que há no terreno, em determinada área, para posterior representação
em papel ou modelo digital, em escala adequada e com orientação.

• Na Planimetria, são medidas as grandezas sobre um plano horizontal. Nesse caso,


não se tem ideia nem se faz necessário o relevo do terreno em questão. As grandezas
estudadas na Planimetria são as distâncias e os ângulos horizontais, além da
localização geográfica e da posição (orientação). A Altimetria, por outro lado, avalia o
terreno considerando apenas as coordenadas altimétricas ou coordenadas de nível.

• A norma ABNT NBR 13.133:1994 apresenta uma nomenclatura similar, classificando


os equipamentos em instrumentos básicos e auxiliares. Nos instrumentos auxilia-
res, temos: piquetes, estacas, estacas-testemunhas, trenas, tripés, balizas, miras e
níveis de cantoneira. Nos instrumentos básicos: teodolitos, estações totais e recep-
tores de GNSS.

• A norma ABNT NBR 13.133:1994 classifica as estações totais em função do desvio


padrão (precisão angular e linear).

159
AUTOATIVIDADE
1 Etimologicamente, a palavra topos, em grego significa lugar, e graphen, descrição.
Assim, de uma forma simplificada, podemos entender Topografia como a descrição
de um lugar (VEIGA; ZANETTI; FAGGION, 2012). A Topografia, como área do
conhecimento, relaciona-se com boa parte das Engenharias, em especial com
Arquitetura e Engenharia Civil, pois demandam a locação e as características
topográficas do terreno da obra ou do trabalho de engenharia a ser executado. Com
relação à Topografia, analise as afirmativas a seguir:

I- A atuação do engenheiro civil em trabalhos de Topografia depende da ementa


curricular da disciplina cursada na graduação e da respectiva liberação do exercício
dessas atividades por parte do conselho profissional
II- Além do engenheiro civil, engenheiros agrimensores, engenheiros cartográficos,
geográficos e arquitetos também tem podem ter a habilitação em seus respectivos
conselhos para a realização de levantamentos topográficos, bem como recolher
responsabilidade técnica sobre eles.
III- Levantamento topográfico e locação topográfica são conceitos da Topografia
similares e condizem à mesma etapa dentro de um trabalho topográfico
IV- Precisão se relaciona ao quão próximo estão os dados entre si. Já a acurácia é o
quão próximo os dados estão do valor real ou esperado.

Assinale a alternativa CORRETA:


a) ( ) Somente a afirmativa I está correta.
b) ( ) As afirmativas II e III estão corretas.
c) ( ) As afirmativas I, III e IV estão corretas.
d) ( ) As afirmativas I, II e IV estão corretas.
e) ( ) As afirmativas II, III e IV estão corretas.

2 Corriqueiramente, informações de ângulos e distâncias são demandadas em


trabalhos topográficos, e esses dados podem ser obtidos pelos diversos equipamentos
existentes (teodolitos, níveis, estações totais, dentre outros). O manuseio correto
dos dados evita erros de cálculos, que, se existentes, podem inviabilizar todo um
levantamento topográfico. Observe, faça os cálculos e confira as afirmações a seguir:

I- sen (15°32’06’’) = 0,377748


II- 28°71’65’’≠ 29°12’05’’
III- 3π/2 rad ≡ 270°
IV- 2gr ≡ 90°

160
Assinale a alternativa CORRETA:
a) ( ) Somente a afirmativa I está correta.
b) ( ) As afirmativas II e IV estão corretas.
c) ( ) As afirmativas I e III estão corretas.
d) ( ) As afirmativas I, II e III estão corretas.
e) ( ) As afirmativas II, III e IV estão corretas.

3 A norma ABNT NBR 13.133:1994 determina a execução de levantamento topográfi-


co, além de fixar condições exigíveis para a execução do levantamento topográfico,
descreve e classifica os equipamentos utilizados nos trabalhos topográficos em dois
grupos: instrumentos básicos e instrumentos auxiliares (ABNT, 1994). Com relação
aos equipamentos de Topografia, assinale a alternativa CORRETA:

a) ( ) O teodolito é um equipamento autônomo, que realiza leitura de coordenadas


geográficas e envia os dados coletados a um software ou outras ferramentas
computacionais.
b) ( ) A estação total é um equipamento muito versátil, possibilitando ao técnico coletar
informações de distâncias (verticais e horizontais), angulações e coordenadas.
c) ( ) Uma das grandes vantagens da utilização de estações totais em levantamentos
topográficos é que, uma vez estabelecida a ré (ponto de referência), pode-se
reposicionar a estação total tantas vezes quanto necessário, sem a necessidade
de um novo estabelecimento de ré.
d) ( ) O erro de catenária em levantamentos topográficos refere-se às inconsistências
na utilização de níveis estadimétricos para a obtenção de distâncias verticais.
e) ( ) A norma ABNT NBR 13.133:1994 não estabelece um nível de precisão mínima
para os diversos equipamentos topográficos, como níveis e teodolitos, ficando
na responsabilidade do topógrafo sempre procurar os melhores equipamentos

4 No levantamento topográfico, inicialmente, é necessário inserir na estação total o


ponto em que ela está locada em sistemas de coordenadas, preferencialmente, em
coordenadas UTM. A partir dessa afirmativa, nomeie tecnicamente esse ponto inicial
de medição e os seus subsequentes, explicando-os sucintamente.

5 Com relação ao uso de trenas, ao realizar o levantamento topográfico, é necessário se


atentar aos erros clássicos. Explicite-os.

161
162
UNIDADE 3 TÓPICO 2 -
SISTEMAS DE REFERÊNCIA

1 INTRODUÇÃO
Caro acadêmico, no Tópico 2, você terá a oportunidade de conhecer mais os sis-
temas de referências existentes atualmente e entenderá a diferença entre os sistemas
de coordenadas astronômicas, geodésicas e topográficas.

Também abordaremos aquilo com que estamos mais familiarizados no que tan-
ge ao mapeamento de pontos da superfície terrestre: as projeções cartográficas. Você
terá a possibilidade de entender como são classificadas as projeções planas, especifi-
camente as mais conhecidas: Gauss-Kruger e a projeção UTM (Universal Transversa de
Mercator), que é uma ramificação da projeção de Gauss-Kruger.

Por fim, de modo prático, mostraremos como são construídas as malhas da


projeção UTM e como é feita a descrição de determinada área, seguindo os níveis de
descrição estabelecidos por esse tipo de projeção. Bons estudos!

2 CONCEPÇÃO E DEFINIÇÃO DOS SISTEMAS DE


REFERÊNCIA
Conhecer os Sistemas de Referência em Geodésia é um dos fundamentos
básicos para o posicionamento. Isso, pois, em um mundo altamente digital e tecnológico,
as distâncias se tornaram cada vez menores. Mas, afinal, o que é Geodésia?

De acordo com Tuler e Saraiva (2014, p. 23) “[...] geodésia é a ciência das me-
didas e mapeamento da superfície da Terra”. Em uma visão moderna, percebe-se uma
evolução na acurácia das observações, demandando novos estudos relativos a sistemas
de referência, principalmente voltados à precisão, busca de padrões e transformações
entre os vários sistemas. Para estabelecer um sistema de referência de coordenadas
global, algumas etapas devem ser concebidas:

163
• Concepção do sistema de referência

Considera-se Sistema de Referência Terrestre Internacional (International


Terrestrial Reference System – ITRS) um sistema tridimensional, com uma origem e
um vetor-base definindo a escala e a orientação. Um ITRS é, especificamente, quase
geocêntrico, com uma orientação equatorial de rotação. A escala é definida como
comprimento unitário, em unidades do Sistema Internacional (SI).

• Definição do sistema de coordenadas

Elaborado tal ITRS, pode-se definir vários sistemas de coordenadas. Entre os


principais, estão:

◦ Sistemas de coordenadas astronômicas ou geográficas, sobre o geoide.


◦ Sistema de coordenadas geodésicas ou elipsoidais, após selecionar um elipsoide.
◦ Sistema de coordenadas planas, após selecionar uma projeção específica (ex.:
projeção UTM).
◦ Sistema de coordenadas topográficas locais, considerando o campo topográfico.

Os sistemas apresentados servem de apoio aos trabalhos topográficos e


geodésicos. Alguns utilizam elementos geográficos, como:

◦ Eixo terrestre: eixo ao redor do qual a Terra faz seu movimento de rotação.
◦ Plano meridiano: plano que contém o eixo terrestre e intercepta a superfície da
Terra. Este define os meridianos, que são linhas de intersecção entre o plano
meridiano e a superfície da Terra.
◦ Plano paralelo: plano normal ao plano meridiano. Este define os paralelos, que são
linhas de intersecção entre o plano paralelo e a superfície da Terra, sendo o maior
deles o equador.
◦ Vertical de um ponto: trajetória percorrida por um ponto no espaço, no qual partindo
do estado de repouso, cai sobre si mesmo pela ação da gravidade, com sentido ao
centro de massas da Terra.

Agora, passamos a falar dos sistemas de coordenadas astronômicas, geodé-


sicas e topográficas e, especialmente, das projeções cartográficas mais conhecidas
atualmente. No sistema de coordenadas astronômicas (ou geográficas), tem-se como
referência a figura do geoide. Ah, sim, Geoide é a forma verdadeira da Terra, que não é
uma esfera em sua totalidade, mas, sim, uma esfera com oscilações e achatamentos
nos polos. As coordenadas astronômicas (latitude astronômica e longitude astro-
nômica [ λa ] ) são determinadas por procedimentos da astronomia de campo e a altura
pelo nivelamento geométrico (TULER; SARAIVA, 2014).

164
A latitude astronômica é definida como o ângulo que uma vertical do ponto
em relação ao geoide forma com a sua projeção equatorial. Varia de 0° a 90° para
Norte ou sul, com origem no plano da linha do equador (TULER; SARAIVA, 2014). A
longitude astronômica é definida como o ângulo formado pelo meridiano astronômico
de Greenwich e pelo meridiano astronômico do ponto. Varia de 0° a 180° para Leste
ou Oeste, com origem no meridiano astronômico de Greenwich. A Figura 25 ilustra a
concepção de um geoide, delimitando longitude e latitude de um ponto.

Figura 25 – Sistema de coordenadas astronômicas

Fonte: Tuler e Saraiva (2014, p. 25)

A altura é definida pela distância entre o geoide e o terreno, medido ao longo


da vertical do ponto, sendo denominada altura ortométrica . É avaliada por meio do
nivelamento geométrico. No sistema de coordenadas geodésicas (ou elipsoidais), tem-
se como referência a figura do elipsoide (FITZ, 2008). Esse elipsoide é aquele mesmo
da Geometria Analítica. Lembra? A Figura 26 traz a representação desse elemento
geométrico.

Figura 26 – Representação de um elipsoide, quádricas da Geometria Analítica

Fonte: o autor

165
As coordenadas geodésicas (latitude geodésica φg  e longitude geodésica
λg  ) são determinadas por procedimentos de levantamento geodésicos. A Figura 27
ilustra esse tipo de sistema de coordenadas. Nele, a altura é dada pela altitude elipsoidal
( H ). Esta pode ser simplificada, indiretamente, pela soma da altura ortométrica ea
ondulação geoidal ( N ) .

Para densificação ou transporte de coordenadas geodésicas, utilizam-se as


triangulações geodésicas e, atualmente, os processos de rastreamento de satélites,
principalmente na utilização do sistema GPS. É importante salientar que, uma vez que
essas coordenadas estão referenciadas a determinado elipsoide, com seus respectivos
parâmetros geométricos, as coordenadas de um mesmo ponto diferem entre si. A
transformação de coordenadas de uma referência a outra é denominada transformação
de data geodésicos. O IBGE normatiza e fornece tais parâmetros de transformação.

Figura 27 – Sistema de coordenadas geodésicas

Fonte: Tuler e Saraiva (2014, p. 26)

Considerando que os dois sistemas em questão têm superfícies de referência


distintas (geoide e elipsoide), as coordenadas astronômicas e geodésicas de um ponto
diferem entre si. Dependendo da aplicação a que se destinam, latitude e longitude
podem ser consideradas iguais. No entanto, em função da altitude do ponto em questão,
essa aproximação não pode ser considerada.

A Figura 28 mostra a relação entre as três superfícies: superfície do terreno,


geoide e elipsoide. A distância entre o geoide e o terreno, medindo ao longo da linha de
primo (TP ') , é a altura ortométrica ( H ) . A distância entre o elipsoide e o terreno, medindo
ao longo da normal ao elipsoide (TQ ) , é a altura elipsoidal ou altura geométrica ( h ) . A
distância entre o elipsoide e o geoide, medindo ao longo da normal ao elipsoide ( PQ ) , é
a altura geoidal ou ondulação geoidal ( N ) . Pode-se considerar que:

166
h≅ N+H

Se considerarmos que o desvio da vertical é nulo, teremos:

h= N + H
Figura 28 – Relação entre superfícies da Geodésia

Fonte: Tuler e Saraiva (2014, p. 26)

3 PROJEÇÕES CARTOGRÁFICAS
A Terra, enquanto um corpo celestial, tem um formato esférico com oscilações
compondo sua superfície. Portanto, o problema de sua representação em uma superfície
plana é direcionado à aplicação de projeções cartográficas. Por isso, uma projeção
cartográfica é a possibilidade matematicamente determinada para a representação da
área de um elipsoide-geoide em um plano.

Essa é, na verdade, uma dependência analítica entre as coordenadas geográfi-


cas de um ponto no elipsoide terrestre e nas coordenadas retangulares desse ponto em
um ponto, a saber:

x = f1 (ϕ , λ ) e y = f 2 (ϕ , λ )

167
Desse modo, uma malha cartográfica é formada por cada conteúdo que é apli-
cada em mapas. Projeções cartográficas são, basicamente, classificadas por (IBGE, 1999):

• Características de distorções
◦ Angulação igual ou conforme (ortomórfica)
◦ Área igual ou equivalente (homolográfica)
◦ Projeções provisórias

• Formato da malha de meridianos e paralelos


◦ Azimutal
◦ Cilíndrico
◦ Cônico
◦ Circular
◦ Pseudoazimutal
◦ Pseudocilíndrico
◦ Pseudocônico
◦ Policônico

• Maneira de uso
◦ Isolada
◦ Multizonal
◦ Multiramificada
◦ Projeções partidas

Dependendo do relacionamento entre a área de projeção e a área original, nós


distinguimos projeções:

• Normais
• Transversais
• Inclinadas

A Figura 29 ilustra três tipos de projeções cartográficas mais conhecidos,


enquanto a Figura 30 apresenta o efeito da angulação da projeção cartográfica.

Figura 29 – Conceito de projeção cartográfica - corpo de projeção, plano de projeção e malha de


meridianos e paralelos em uma superfície plana, para os formatos (a) azimutal, (b) cônico e (c) cilíndrico

168
Fonte: Markoski (2018, p. 33)

Figura 30 – Projeções normal, transversal e inclinada para os formatos azimutal (A), cilíndrico (C) e cônico (K)

Fonte: Markoski (2018, p. 34)

169
ATENÇÃO
Abordaremos, agora, a base histórica de projeções cartográficas. A
projeção Gauss-Krüger é um trabalho dos famosos cientistas alemães,
o matemático Carl Friedrich Gauss (1777-1855) e o geodésico Louis
Krüger (1857-1923). Krüger analisou as teorias de Gauss (mapeamento
direto da área de um elipsoide em um plano) e o trabalho “Konformne
Abbildung des Erdellipsids in der Ebene” apresentou uma formulação para
esse tipo de mapeamento. Como um resultado da contribuição dos
dois cientistas, essa projeção foi nomeada como projeção Gauss-Krüger
(MARKOSKI, 2018).

A essência do mapeamento com essa projeção consiste de coordenadas


retangulares Y e X mapeadas em um plano, diretamente, das coordenadas geográficas
ϕ e λ . Imagina-se que o corpo da projeção seja sobreposto, transversalmente, ao
elipsoide, enquanto o cilindro toca o elipsoide ao longo de um meridiano. Pontos são
projetados, diretamente, do elipsoide para o cilindro, e isso significa que uma vez que
o cilindro é expandido em um plano, obtemos uma projeção conforme a dos pontos
mapeados, conforme ilustra a Figura 31.

A malha construída de medianos e paralelos nas condições anteriormente
descritas recebe uma forma em que o meridiano e o equador de contato são mapeados
como linhas retas. Outros meridianos são, simetricamente, linhas curvas distribuídas
ao redor do meridiano de contato e ficam cada vez mais distantes à medida que se
aproximam da periferia, o que significa que distorções aumentam também, conforme
se observa na Figura 32. Paralelos são linhas curvas distribuídas, simetricamente, em
relação ao equador, voltadas para os polos com seu lado côncavo.

Figura 31 – Malha cartográfica na projeção Gauss-Krüger para o mapa do mundo

170
Fonte: Markoski (2018, p. 36)

Figura 32 – Aparência dos fusos meridianos na projeção Gauss-Krüger

Fonte: Markoski (2018, p. 36)

Paralelos e meridianos se interceptam sob ângulos retos (e em uma área


de superfície elipsoide), encontrando, desse modo, a condição de conformidade.
Começando do meridiano central (contato) e avançando em direção à periferia,
distorções de distâncias aumentam, abruptamente (comportando-se como a projeção
UTM). Portanto, a largura do fuso é definida em relação à acurácia desejada.

171
Por suas características, a projeção Gauss-Krüger é adequada para o desenvol-
vimento em grande escala de mapas e, portanto, é usada em muitos países no mundo.
O conjunto de condições é que distorções de distância não excedam 1 dm por 1 km. Para
que se encontre as condições que o território mapeado, o comprimento longitudinal é
projetado em cilindros ou dividido em fusos para que cada um desses cubram um ter-
ritório de 3° ou 6° de longitude. Por exemplo, o território da República da Macedônia é
coberto pelo fuso do 21º meridiano, ou, ainda, pertence ao chamado 7º fuso. O número
do fuso é obtido quando o meridiano adotado com médio é dividido por três, que é o
comprimento do fuso dado.

Cada fuso meridional tem um sistema de coordenada retangular específico, a
origem coordenada da qual é posicionada na intersecção da Linha do Equador e da Linha
do Meridiano Central do respectivo fuso. Tem sido adotado que o eixo das abscissas Y
é a projeção do Meridiano Central e o eixo das ordenadas Y é a projeção da Linha do
Equador. Ao Norte do Equador, a abscissa Y tem um valor positivo, e, ao sul, um valor
negativo, enquanto ao Leste da ordenada Y tem-se um valor positivo, e, ao Oeste, um
valor negativo. No entanto, para evitar valores negativos nos cálculos, o meridiano central
foi adotado como possuindo, convencionalmente, o valor da coordenada ordenada Y =
500.000, 00 m.

Em outras palavras, todos os pontos ao Leste do meridiano central do fuso


meridiano em análise têm valores ordenados maiores que 500.000, 00 m e menores
para o Oeste, conforme ilustrado pela Figura 33. Por exemplo, se um ponto T tem
coordenadas retangulares Y = 7.582.548, 43 e X = 4.166.448,57 , significa que
o ponto está localizado no sétimo fuso meridiano (este primeiro valor da ordenada é
gravado para diferir um ponto do outro porque pontos individuais em fusos meridianos
diferentes podem ter o mesmo) ou ao Leste do meridiano central (pois é maior que
500.000, 00 m) em 82 km, 548 m e 43 cm, e esse resultado é obtido quando o valor
adotado de 500.000 é subtraído de 582.548,43.

Se um certo ponto para Y tem um valor menor que 500.000, 00 m, por


exemplo Y = 7.478.352, 25 , isso significa que o ponto está localizado ao Oeste do
meridiano central (pois é menor que 500.000, 00 m) em 21.647, 75 , porque é igual a
500.000, 00 − 478.352, 25 . O valor para X significa que o ponto é localizado ao Norte
da Linha do Equador em 4.166 km, 448 m e 57 cm. Esses valores são determinados
no mapa por coordenadas métricas ou por procedimentos para aferição de distância
em mapas.

172
Figura 34 – Relação entre coordenadas retangulares e geográficas em fusos meridianos projeção Gauss-Krüger

Fonte: Markoski (2018, p. 37)

Mapas topográficos produzidos na projeção Gauss-Krüger, além dos mapas


geográficos, têm também uma malha de coordenadas retangulares, disposta por uma
rede de quadrados com lados sendo, geralmente, números inteiros, em quilômetros,
dependendo da escala do mapa. Essa malha é adequada para outros tipos de cálculos
cartométricos, tais como determinação de área, distâncias nos mapas, escalas
desconhecidas, dentre outros.

A projeção Gauss-Krüger é prática para diferentes propósitos e é, portanto,


usada em muitos países para o desenvolvimento de mapas topográficos.

4 PROJEÇÃO UTM
A projeção UTM (em inglês, Universal Transverse Mercator) é uma projeção
conforme, transversal e cilíndrica dos fusos meridianos onde o elipsoide terrestre é ma-
peado em cilindros secantes (MARKOSKI, 2018), conforme demonstrado pela Figura 35.

Figura 35 – Mapeamento da Terra em cilindros secantes na projeção UTM

Fonte: https://cutt.ly/4VDvbMI. Acesso em: 8 set. 2022.

173
A princípio, a projeção UTM é baseada na projeção Gauss-Krüger, em que certos
critérios para se atender a essa projeção são colocados de início. A saber, é requerido que:

• Distorções de comprimento nas projeções sejam menores que 1:2.500 (40 cm/km).
• Convergência de meridianos é, no máximo, 5°.
• Há um único sistema de coordenada retangular para cada fuso e uma formulação
para transformações uniformes de coordenadas retangulares de um fuso para outro.

Alinhado com o conjunto de critérios, a superfície de mapeamento da Terra é


feita de 60 fusos meridianos em que as projeções UTM têm 6° de longitude cada ou 3°
ao Leste e ao Oeste da centro meridional de um respectivo fuso.

Dentro de cada fuso, somente o Equador (eixo Y) e o Meridiano Central (eixo


X) são mapeados como linhas retas de um sistema de coordenadas retangulares. Os
outros meridianos e paralelos são mapeados como linhas curvas distribuídas, simetri-
camente, em relação ao Equador e ao Meridiano Central.

A introdução de um cilindro secante no mapeamento visa atingir a acurácia


exigida da projeção expressa pela máxima distorção. Isso é atingido para que valores
limites de distorção (40 cm/km) com um negativo sejam adotados para a distorção do
meridiano centro.

Dessa forma, o comprimento da esfera do meridiano central torna-se menor na


projeção em 40 cm a cada 1 km de distância. Essa é a forma de se definir a quantia do
módulo de distorção usado para encontrar o então conhecido sistema de coordenadas
modulares.

1 / 2500 = 0, 0004

K D =1, 0000 − 0, 0004 = 0,9996

A eliminação das coordenadas Y ao Oeste do Meridiano Central é atingida com


o mesmo procedimento descrito para a projeção Gauss-Krüger, considerando que esse
Meridiano Central tenha um valor de ordenada de Y = 500.000, 00 .

A diferença, aqui, é que também para a coordenada X são, convencionalmente,


também eliminados valores negativos para as coordenadas. O processo se dá da
seguinte forma:

• Do Equador ao extremo Norte, o eixo das abscissas cresce de 0 m a 10.00.000, 00 m.


• Do Equador ao extremo sul, o eixo das abscissas decresce de 10.00.000, 00 a 0 m.

174
Dessa forma, não há nenhum ponto mapeado por esse sistema com a mesma
coordenada tanto no eixo das abscissas quanto das ordenadas.

Existem linhas paralelas ao Meridiano Central em que há distorção nula em uma


projeção UTM, e estas estão localizadas em uma distância de cerca de 180 km tanto ao
Leste do Meridiano Central quanto ao Oeste, conforme se percebe na Figura 36.

Figura 36 – (a) Mapeamento dos meridianos e paralelos relativos ao Meridiano Central e Equador; (b) área
do mapeamento em projeção UTM de linhas com zero distorções

Fonte: Markoski (2018, p. 39)

IMPORTANTE
As principais características da projeção UTM podem ser apresentadas no quadro a seguir.

Quadro – Resumo das características gerais da projeção UTM

Projeção UTM com fusos de 6°

Unidade de medida Metro [m]

Valor da ordenada do meridiano


central de cada fuso Y = 500.000, 00 m

Valor da abcissa do equador X = 0 para o Hemisfério Norte


Y = 10.00.000, 00 m para o Hemisfério Sul

175
Coeficiente de redução de K D = 0,9996
escala

Fronteiras do sistema De ϕ N = 84 ° a ϕ S = 80 °

Fusos tem 6° de largura e limitados pelos


Fronteiras dos fusos e
meridianos. A sobreposição de fusos em
sobreposição
mapas topográficos é de cerca de 40 km

Fonte: adaptada de Markoski (2018)

O sistema de descrição de pontos e áreas na projeção UTM é projetado para


padronizar malhas de projeção comuns. É um complexo sistema com muitas regras
e exceções. O sistema de malha de referência, geralmente, consiste em cinco níveis
(MARKOSKI, 2018).

Puxando um gancho para a problematização inicial de nosso ciclo, os níveis de


descrição para aquele nosso problema nos dariam a precisão da descrição do local onde
moramos. Em essência, quanto maior o nível de descrição, mais precisa é a localização
e, assim, mais fácil a identificação de um local.

Primeiro nível de descrição: no primeiro nível de descrição, a Terra é dividida
por uma malha de meridianos e paralelos. Meridianos cobrem uma distância de 6° de
longitude, e os paralelos, de 8° de latitude. O último trecho de ϕ N = 72º a ϕ N = 84º
com 12° de latitude é uma exceção. Cada região delimitada é chamada de fuso. As
colunas, nessa divisão, são marcadas por números, variando de 1 a 60 em sequência
crescente do Oeste ao Leste, com origem no meridiano λ = 180º W . Já as linhas são
marcadas por letras maiúsculas do alfabeto de C a X (em que as letras I e O são obtidas
para evitar confusão com os números 1 e 0), em sequência crescente do Sul ao Norte,
de ϕ = 80º S ° a ϕ = 84º N . A Figura 37 ilustra os fusos, seguindo o primeiro nível de
descrição para o planeta Terra.

Fusos no primeiro nível de descrição são definidos pelo número da coluna e a
letra da linha a qual eles pertencem.

Exemplo: o fuso 3N é uma área com o seguinte entorno:

ϕmin = 0º N − ϕmax = 8º N

λmin= 168º W − λmax= 162º W

176
O meridiano central deste fuso é: λcentral = 165º W

Figura 37 – Primeiro nível de descrição – divisão em fusos

Fonte: https://cutt.ly/zVDRhHN. Acesso em: 8 set. 2022.

Segundo nível de descrição: assume-se a divisão dos fusos em quadrados


com 100 km de lado. O número de linhas desses quadrados é constante em cada fuso, e
o número de colunas diminui, indo do Equador até os polos. A descrição dos quadrados
é feita por duas letras do alfabeto, sendo que a primeira identifica a coluna em uma
sequência crescente do Oeste ao Leste, enquanto a segunda identifica a linha em
sequência crescente do Sul ao Norte.

A identificação das colunas origina-se do meridiano λ = 180º W e se dá ao
longo do Equador. A descrição é feita usando as letras A Z (as letras I e O são omitidas).
O conjunto de letras se repete a cada 18° de longitude. A identificação das linhas é
específica e difere entre fusos pares e ímpares, assim como para o Hemisfério Norte e
Sul. As regras são as seguintes:

• No Hemisfério Norte, a identificação origina-se do Equador para o Norte.


• Para fusos UTM ímpares, as linhas nos quadrados de 100 km de lado são descritas por
letras do alfabeto indo de A V (sem I e O).
• Para fusos UTM pares, as linhas nos quadrados de 100 km de lado são descritas por
letras do alfabeto, indo de F a V (sem I e O), e depois de 1500 km (15 quadrados), a
descrição dá-se pelas letras indo de A V (sem I e O).
• O conjunto de letras é repetido a cada 2000 km, e o Equador tem um valor de 0.
• No Hemisfério Sul, a identificação origina-se do Equador para o sul.
• Para fusos UTM ímpares, as linhas nos quadrados de 100 km de lado são descritas por
letras do alfabeto indo de V a (sem I e O).

177
• Para fusos UTM pares, as linhas nos quadrados de 100 km de lado são descritas por
letras do alfabeto indo de E a, e depois de 500 km (5 quadrados), a descrição se dá
pelas letras indo de V a.
• O conjunto de letras repete a cada 2000 km, e o Equador tem um valor de 10.000.000 m.

A Figura 38 ilustra parte de um fuso com suas divisões em quadrados em 100


km de lado.

Figura 38 – Segundo nível de descrição UTM: divisão em quadrados de 100 km de lado

Fonte: Markoski (2018, p. 42)

Terceiro e quarto níveis de descrição: o terceiro e o quarto níveis de descrição


assumem a descrição de áreas dentro do quadrado de 100 km de lado.

O terceiro nível envolve a descrição de quadrados de 10x10 km, enquanto no


quarto nível têm-se quadrados com dimensões de 1 x 1 km.

Quinto nível de descrição: no quinto nível de descrição das coordenadas


UTM, a posição de um ponto expresso por meio de suas coordenadas dentro do qua-
drado (100 x 100 km) é descrita. A descrição incorpora duas coordenadas (Y e X) escritas
próximas uma da outra. As coordenadas dos pontos podem ser ajustadas para a pre-
cisão desejada, e elas são sempre dadas na sequência de um número igual de dígitos.

Exemplo de determinação das coordenadas UTM: a determinação das


coordenadas UTM para as áreas e pontos correspondem com a descrição do nível das
áreas e dos pontos. Seguindo uma sequência do geral ao específico (no menor nível ao
maior), a determinação mais precisa da coordenada acontece.

178
Então, vamos praticar! Imagine que você recebeu a seguinte coordenada
geográfica (Figura 39), dada por projeção UTM, e é pedido que você delimite essa
localização (ponto T) com uma precisão de 100 m. Sabe-se que o fuso em questão é o
fuso 31, e o quadrado de 100 km de referência é o quadrado CS.

Figura 39 – Exemplo para a determinação das coordenadas UTM

Fonte: Markoski (2018, p. 43)

Bem, antes de verificarmos a coordenada, vamos nos situar sobre a localização


mais geral desse fuso. Verificando na Figura 39, percebemos que esse fuso está ao Norte
do Equador (portanto, no Hemisfério Norte), e ao Leste do Meridiano Central da Terra
(Oriente). Assim, o nosso primeiro nível de descrição é 31U. Com um mapa detalhando
o segundo nível de descrição, conseguiríamos, também, identificar mais amplamente a
posição do quadrado CS. Mas, como já temos essa informação, avançaremos à análise
por ora, sabendo que o nosso segundo nível de descrição é 31UCS.

Para a análise do terceiro nível de descrição, que nos dá um quadrado de
precisão de 10 km de lado, o que seria um quadrado marcando os pontos 90–100 km
(horizontal) e 10–20 km (vertical). Ficamos, então, com uma descrição de 31UCS9010.
Saindo da escala de 10 km (terceiro nível) para a escala de 1 km de precisão (quarto
nível), percebemos que o nosso ponto T está localizado no eixo horizontal, entre os
pontos 91 e 92 km, e no eixo vertical, entre os pontos 16 e 17 km. Como estamos na
precisão de ordem 1 km, percebe-se, graficamente, que o ponto está mais próximo de 91
km (horizontal) e 16 km (vertical). Assim, nosso quarto nível de descrição é 31UCS9116.

Por fim, para uma precisão maior, envolvendo a ordem de 100 m, se fizermos uma
subdivisão dessa pequena região (ou utilizarmos métodos de interpolação para encon-
trarmos as distâncias) que o ponto em questão está próximo de Y = 91,7 km e X = 16,5 km
que nos dá, finalmente, o nosso quinto nível de descrição: 31UCS917165. Então, ao apre-
sentar essa descrição de uma coordenada, 31UCS917165, você diz que seu ponto T está:

• No fuso 31U, que está localizado no Hemisfério Norte e ao Oriente.


• Na subdivisão CS.
• Com a localização, de precisão ± 100 m de Y = 91,7 km e X = 16,5 km.

179
O Quadro 5 resume os passos adotados para encontrarmos as descrições nesse
exemplo.

Quadro 5 – Resumo dos passos para descrever a coordenada UTM do ponto T

Nível Descrição Definição

1º 31U Ponto localizado no fuso com fronteiras.

2º 31UCS Ponto localizado no quadrado CS, do fuso 31U.

Coordenadas da parte inferior esquerda do quadrado (10 x 10 km)


3º 31UCS9010
são Y = 90 km, X = 10 km.
Coordenadas da parte inferior esquerda do quadrado (1 x 1 km) são
4º 31UCS9116
Y = 91 km, X = 16 km.

Coordenadas do ponto, com ± 100 m de precisão dentro do


5º 31UCS917165
quadrado CS, são Y = 91,7 km, X = 16,5 km.

Fonte: adaptada de Markoski (2018)

O sistema UTM é muito empregado em todas as regiões urbanas e rurais por se


tratar de um sistema global (e não local ou regional). Atente para o fator que o sistema
UTM trata-se de uma projeção cartográfica que, por definição, mantém os ângulos
conformes, mas deforma as distâncias. Logo, uma distância retirada de uma carta UTM
ou calculada a partir de dois pontos coordenados UTM é definida como uma distância
plana UTM). A Figura 40 ilustra a divisão de fusos UTM no Brasil (TULER; SARAIVA, 2014).

Essa distância plana UTM, dependendo da posição em que se encontra no


fuso, pode ser maior ou menor, por exemplo, que a distância horizontal, considerando o
campo topográfico. Essa divergência conceitual será discutida posteriormente, e é um
dos erros mais grosseiros cometidos, atualmente, nas atividades de Topografia.

Figura 40 – Fusos UTM no Brasil

Fonte: adaptada de Hirsch (2008)

180
É claro, existem também problemas na utilização deste tipo de projeção, que
são (FITZ, 2008):

• Sobreposição de um fuso sobre outro (de cerca de 1’ ou 40 km).


• Como existem distorções, é inadequado para aferir pequenas distâncias.
• Como cada um dos 60 fusos, em dois hemisférios, apresentam coordenadas similares,
é possível que se tenham 120 pontos iguais se não houver a descrição detalhada das
coordenadas UTM (conforme fizemos no exemplo anterior).

Sobre as vantagens, podemos destacar:

• Facilidade no uso de mapeamento em grande escala.


• É o sistema de projeção adotado para o Mapeamento Sistemático Brasileiro.
• Muito utilizado na produção de trabalhos científicos e técnicos.

DICA
Apesar de recente, essa padronização cartográfica com as projeções,
mapas são produzidos pela humanidade há milhares de anos. Além de
terem sido fundamentais para grandes expedições marítimas e para
representar o conhecimento do homem em relação ao que ele imaginava
que era a Terra ao longo dos séculos, os mapas carregavam consigo
um lado artístico e cultural muito interessante. Esta playlist do Youtube
de uma série da BBC Four chamada “The Beauty of Maps - A beleza dos
mapas” retrata, com muitos detalhes, esse lado belo dos mapas que
foram criados pelo homem ao longo dos séculos. Obs.: A série está com
o áudio em inglês, mas é possível selecionar, nas legendas geradas pelo
próprio Youtube, a tradução simultânea para português.
Disponível em: https://www.youtube.com/
playlist?list=PL8418C0F0EB1AF70D. Acesso em: 6 set. 2022.

Abordaremos, agora, os sistemas de coordenadas topográficas.

Na Topografia, as coordenadas são projetadas em um plano horizontal, ou seja,


no plano topográfico, definido como um sistema plano-retangular XY, sendo que o eixo
das ordenadas Y está orientado segundo a direção Norte-Sul (magnética ou verdadeira),
e o eixo das abscissas X está orientado na direção Leste-Oeste. A terceira coordenada
está relacionada à cota ou à altitude (TULER; SARAIVA, 2008). A Figura 41 ilustra a
modelagem de determinado relevo em coordenadas topográficas.

181
Geralmente, esse sistema tem origem arbitrária, ou seja, são sugeridas coorde-
nadas para o primeiro vértice da poligonal (X, Y e cota), de forma que os demais pontos
tenham este como referência para o levantamento. Deve-se evitar os demais pontos
no qual ocorram coordenadas negativas para os vértices da poligonal e irradiações. As
coordenadas topográficas serão calculadas em função das medidas de campo, ou seja,
pela avaliação dos ângulos e distâncias entre os pontos topográficos. As coordenadas
também deverão ser calculadas para locação de um projeto.

Figura 41 – Sistema de coordenadas topográficas

Fonte: Tuler e Saraiva (2014, p. 31)

INTERESSANTE
A vantagem de padronizarmos algo é que podemos utilizar esse
parâmetro para as diversas situações. No caso de sistemas de referência
de coordenadas, os mesmos princípios são adotados para mapear
outros planetas e até inusitados corpos celestes. Sabia disso?

182
RESUMO DO TÓPICO 2
Neste tópico, você aprendeu:

• Existem diferentes tipos de sistemas para nos indicar determinada localização,


baseados em coordenadas geodésicas ou topográficas, por exemplo.

• Atualmente, o sistema de projeção UTM é amplamente utilizado em todo o mundo,


levando-se em consideração as limitações e as distorções gráficas que esse tipo de
projeção possui ao planificar um elemento tridimensional: a Terra.

• Como a superfície da Terra possui uma enorme área, quanto mais subdivisões
fazemos em nossa análise para localizar uma coordenada UTM, mais precisamente
localizamos nosso ponto.

• Na Topografia, as coordenadas são projetadas em um plano horizontal, ou seja, no


plano topográfico, definido como um sistema plano-retangular XY, sendo que o
eixo das ordenadas Y está orientado segundo a direção Norte-Sul (magnética ou
verdadeira), e o eixo das abscissas X está orientado na direção Leste-Oeste. A terceira
coordenada está relacionada à cota ou à altitude.

183
AUTOATIVIDADE

1 A projeção UTM (Universal Transversa de Mercator) foi baseada nos estudos do belga
Gerardus Mercator (1512-1594), conhecido como o pai das projeções cilíndricas e um
dos pioneiros na confecção de mapas de navegação e atlas. Sobre esse tipo peculiar
de projeção cartográfica, assinale a alternativa CORRETA:

a) ( ) É o tipo de projeção mais utilizado, atualmente, que sucede à projeção proposta


por Gauss-Krüger, mas que se diferencia totalmente da última, pois, na projeção
UTM, o mapa é representado em um sistema tridimensional.
b) ( ) A projeção UTM é uma projeção analítica que tem como objetivo minimizar
todas as deformações em um mapa a níveis toleráveis, representando-os em
um sistema ortogonal bidimensional.
c) ( ) A projeção UTM é baseada no conceito de paralelepípedos de projeção, que são
dispostos rotacionados em torno da superfície da Terra em uma rotação de 5°,
totalizando, assim, 72 paralelepípedos ou 72 fusos.
d) ( ) Esse tipo de projeção é utilizado, especialmente, em projetos de pequena
escala (1:1000 ou maiores). Por isso, a importância desse tipo de projeção é alta,
especialmente quando se trata de projetos civis.
e) ( ) No Brasil, não se é recomendado o uso desse tipo de projeção em função das
características continentais do país.

2 Para padronização, existem algumas instruções para a descrição das coordenadas,


seguindo a projeção Universal Transversa de Mercator. Os fusos, por exemplo, são
distribuídos na projeção UTM, representando, cada um, uma porção de longitude
igual a 6° e latitude igual a 8°. Sabe-se, ainda, que, por convenção, há uma descrição
diferenciada das coordenadas de pontos ao Sul e ao Norte do Equador, bem como
também há distinção entre pontos locados ao Leste e ao Oeste do meridiano central.
Considere o seguinte ponto A, de coordenadas iguais a (620.000 m, 9.560.000 m).
Em relação a esse ponto, assinale a alternativa CORRETA:

a) ( ) O ponto está no Hemisfério Norte e ao Oeste do Meridiano Central.


b) ( ) O ponto está no Equador e ao Leste do Meridiano Central.
c) ( ) O ponto está no Hemisfério Sul e ao Leste do Hemisfério Central.
d) ( ) O ponto está no Hemisfério Sul e ao Oeste do Hemisfério Central.
e) ( ) O ponto está no Equador e no meridiano de Greenwich.

184
3 Sistemas de referenciamento de coordenadas são a base para o sistema que muito
conhecemos hoje, o GPS (Global Positioning System). De forma conceitual, quatro
são os tipos de sistema de referência atualmente conhecidos na Topografia e Geodé-
sia: Sistema de Coordenadas Astronômicas, Sistemas de Coordenadas Geodésicas,
Sistemas de Projeção Cartográfica e Sistemas de Coordenadas Topográficas. Sobre
os sistemas de referência, assinale a alternativa CORRETA:

a) ( ) O sistema de coordenadas geodésicas usa como referência o elemento elipsoide


para a concepção das latitudes e longitudes de referência.
b) ( ) O sistema de coordenadas astronômicas utiliza como referência o elemento
geoide, que é a representação real do formato da Terra. Se pensarmos em
camadas, sempre o sistema de coordenadas astronômicas está em uma
elevação inferior ao sistema de coordenadas geodésicas.
c) ( ) A projeção UTM é um dos componentes do sistema de coordenadas
topográficas, que faz o mapeamento tridimensional em coordenadas X, Y e cota
de determinada área da superfície terrestre.
d) ( ) De forma prática, para trabalhos topográficos de campo em áreas de pequena
escala, o engenheiro civil ou topógrafo utilizará, normalmente, o sistema de
coordenadas topográficas.
e) ( ) Fica sempre a critério do profissional de campo de Topografia definir qual o
melhor sistema de referência a ser adotado para a construção de um mapa ou
no trabalho topográfico em geral.

4 A projeção UTM (em inglês, Universal Transverse Mercator) é uma projeção con-
forme, transversal e cilíndrica dos fusos meridianos, na qual o elipsoide terrestre é
mapeado em cilindros secantes. A respeito dessa projeção, explique a distribuição
dos seus meridianos e paralelos.

5 De acordo com Tuler e Saraiva (2014, p. 23), “Geodésia é a ciência das medidas e ma-
peamento da superfície da Terra”. Em uma visão moderna, percebe-se uma evolução
na acurácia das observações, demandando novos estudos relativos a sistemas de
referência, principalmente voltados à precisão, busca de padrões e transformações
entre os vários sistemas. Para estabelecer um sistema de referência de coordenadas
global, algumas etapas devem ser concebidas. Cite-as e explique-as sucintamente.

185
186
UNIDADE 3 TÓPICO 3 -
O TRABALHO TOPOGRÁFICO

1 INTRODUÇÃO

Caro acadêmico, neste último tópico, entraremos em uma nova e importante


seção da Topografia: a Altimetria. Introduziremos o assunto abordando alguns conceitos
iniciais e nomenclaturas importantes, por exemplo, o significado de cota, altitude e
plano de referência.

Na sequência, falaremos também do nivelamento, processo de determinação


de diferenças de nível entre dois ou mais pontos e que é a essência da Altimetria.
Dentro do nivelamento, conheceremos alguns métodos, entre eles, o trigonométrico e o
geométrico, que são os mais utilizados na Prática da Topografia.

Por fim, falaremos sobre três formas de representar, graficamente, um relevo, a


saber: perfis transversal e longitudinal e curvas de nível. Tenha uma ótima leitura!

2 ALTIMETRIA OU HIPSOMETRIA
Vamos agora, de forma conceitual, aprofundar nossos conhecimentos em
Altimetria, ou Hipsometria, um ramo da Topografia que trata, de forma geral, dos
métodos e dos instrumentos topográficos empregados na representação do relevo de
um terreno, por meio da obtenção das distâncias verticais (COELHO JUNIOR; ROLIM
NETO; ANDRADE, 2014). Somados aos levantamentos planimétrico e altimétrico, o
produto final é um trabalho topográfico planialtimétrico, que representa o terreno de
forma tridimensional.

Sobre as distâncias verticais, podemos elencar diferenças de nível, cotas e alti-


tudes. Podemos definir a cota ou cota relativa como uma distância vertical compreen-
dida entre um ponto qualquer da superfície da Terra e um plano de referência qualquer
(PRQ). Esse plano de referência é, normalmente, definido porque faz o estudo topográ-
fico em função de sua cota inicial (COELHO JUNIOR; ROLIM NETO; ANDRADE, 2014).

Observe, caro acadêmico, a Figura 42, que ilustra três estacas (E0, E1 e E2). A
estaca E0 apresenta uma cota negativa em relação ao PRQ, ao contrário das estacas E1
e E2, que possuem cotas positivas em relação ao PRQ.

187
Figura 42 – Cotas das estacas E0, E1 e E2 em relação ao PRQ

Fonte: Coelho Júnior, Rolim Neto e Andrade (2014, p. 99)

Já a altitude, ou cota absoluta, é a distância entre um ponto qualquer da


superfície da Terra e o nível médio dos mares (NMM) (COELHO JUNIOR; ROLIM NETO;
ANDRADE, 2014). O NMM é, também, nomeado como datum altimétrico. De forma
prática, para o Brasil, o nível médio dos mares é considerado uniforme para toda a sua
área. Agora, observe a Figura 43, em que a diferença se dá no plano de referência, que
para altitudes não é um plano qualquer, mas, sim, o nível médio dos mares.

Figura 43 – Cotas das estacas E0, E1 e E2 em relação ao NMM

Fonte: Coelho Júnior, Rolim Neto e Andrade (2014, p. 100)

INTERESSANTE
Hoje, com a tecnologia das imagens por satélites, temos a possibilidade
de perceber a profundidade ou a depressão de determinado terreno
pelo relevo da imagem. Isso, todavia, não tira a importância das
representações gráficas de relevo da Altimetria (perfis e curvas de
nível) que, para projetos de Engenharia, são fundamentais para o
entendimento tridimensional do terreno.

188
Como exemplificação, a altitude média da cidade de Maringá/PR é de 555 m.
Já a altitude média da cidade de São Paulo/SP é de 760 m. Você sabia que uma das
cidades mais temidas pelos atletas para jogos desportivos, La Paz, na Bolívia, tem uma
altitude de 3.640 m, o que demanda de jogadores de futebol, muitas vezes, por exemplo,
a utilização de respiradores durante as partidas? Ademais, sabendo a altitude ou a cota
de dois pontos, determina-se o desnível ou a diferença de nível entre ambos por meio
da seguinte equação:

HB − HA =
DN A− B

Perceba que, se a cota/altitude no ponto B for maior que a cota/altitude, a


diferença de nível é positiva. Ao contrário, se a cota/altitude em B for menor que em A, o
desnível é negativo. Com a diferença de nível entre dois pontos e a distância horizontal,
é possível a determinação da declividade (inclinação ou rampa) do terreno (i), que é a
relação entre os dois respectivos valores, conforme a equação a seguir:

DN
i (%)
= ⋅100
DH

Em que:

• DN é a diferença de nível (m).


• DH é a distância horizontal (m).

Caso não seja multiplicada por 100, a declividade será expressa na unidade m/m.

Outra observação é o sinal da declividade, que estará relacionado à diferença


de nível – positivo se o desnível for positivo (inclinação ascendente), e negativo se o
desnível for negativo (inclinação descendente).

Faremos, agora, um exemplo para aplicarmos esse conceito.

Exemplo 1 – Calcule:

a) A declividade de um trecho

Dados:

• Cota A = 120,000 m
• Cota B = 150,000 m
• DNA-B = 100,000 m

Solução:

189
DN ( C − C A ) ⋅100 =
i (%) A− B = A− B ⋅100 =B
(150, 000 − 120, 000 ) ⋅100 =
+30% ou 0,30 m m
DH A− B DH A− B 100, 000

b) A cota de um ponto

Dados:

• Cota A = 101,550 m
• Cota B = ?
• DHA-B = 545,605 m
• i (%) = - 3,8% (ou -0,038 m/m)

Solução:

i (%)
=
DN A− B
⋅100 ∴−
= 3,8
( CB − 101,550 ) ⋅100
A− B
DH A− B 545, 605

545, 605 ⋅ ( −3,8 )


=CB + 101,550
= 80,817 m
100

Continuando o assunto, uma importante aplicação de declividades topográficas


em projetos de engenharia é com relação à conformação (terraplenagem) de determinado
terreno. Nós veremos com maiores detalhes mais adiante, mas, para termos um terreno
com determinada inclinação viável para projeto, em muitos casos, fazemos o corte
(retirada) ou aterro (inserção) de solo. Pelo greide, que é a linha constante de projeto
para a inclinação, é possível, graficamente, não só observar as regiões de corte e aterro
mas, também, por alguns métodos, estimar os volumes. Observe, caro acadêmico, a
Figura 44, que exemplifica um greide e o perfil de um terreno.

Figura 44 – Greide e perfil do terreno definindo regiões de corte e aterro

Fonte: Tuler e Saraiva (2014, p. 141)

190
No Brasil, as informações de altitudes são determinadas e catalogadas a partir
da Rede Altimétrica Brasileira, mantida pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística:
o IBGE (TULER; SARAIVA, 2014). A Rede Altimétrica Nacional pode ser definida como um
conjunto de pontos materializados no terreno e identificados por uma coordenada (X
e Y) e uma altitude em relação ao datum de referência. A esses pontos materializados
chamamos de Referências de Nível (RN) ou marcos geodésicos, que são marcos de
metal cravados em pequenos pilares de concreto, normalmente estabelecidos em
pontos notáveis (monumentos, estações ferroviárias ou rodoviárias). A Figura 45 ilustra
uma Referência de Nível.

Figura 45 – Referência de Nível – marco 2053D

Fonte: https://cutt.ly/jVFz6iL. Acesso em: 8 set. 2022.

É importante saber que é possível obter informações das inúmeras Referências


de Nível do Brasil consultando o site do IBGE. Com informações do código da RN e
posição (latitude e longitude), o site redireciona para um relatório geodésico completo
do marco, informando dados planimétricos, altimétricos e outros importantes para um
levantamento topográfico.

Já vimos, anteriormente, o que é a diferença de nível ou desnível. A operação


para determinar esse parâmetro é chamada nivelamento. Normalmente, nivelamento
e levantamento topográfico altimétrico são vistos como sinônimos. A ABNT NBR
13.133:1994 define nivelamento como:

[...] levantamento que objetiva, exclusivamente, a determinação das


alturas relativas a uma superfície de referência, dos pontos de apoio
e/ou dos pontos de detalhes, pressupondo-se o conhecimento de
suas posições planimétricas, visando à representação altimétrica da
superfície levantada (ABNT, 1994, p. 3).

Podemos, em essência, classificar o nivelamento topográfico em cinco tipos:


geométricos, trigonométricos, barométricos, taqueométricos e por receptores de
satélite (GPS) (TULER; SARAIVA, 2014, p. 149).

191
O nivelamento barométrico consiste em correlacionar a altitude com determi-
nada pressão ou carga de pressão lida em um dispositivo de leitura de pressão do tipo
coluna de fluido ou do tipo aneroide (manômetro de Bourdon).

O princípio é, pela determinação da pressão do ar em um manômetro, estimar


a elevação. Quanto mais alto o terreno, menor a pressão do ar (menor a coluna de ar) e,
consequentemente, maior a altitude.

Observe a Figura 46 que ilustra um exemplo simples desse manômetro.

Figura 46 – Manômetro com fluido manométrico mercúrio utilizado para estimar desníveis pela pressão
interna do ar

Fonte: Coelho et al. (2014 p. 53)

Torricelli, um pesquisador e padre italiano, percebeu que, para cada 1 mm de


Mercúrio deslocado em um manômetro, ocorre a variação de, aproximadamente, 10 m
de altura no terreno em relação ao nível do mar. Ao nível do mar, verifica-se que a carga
de pressão média corresponde a 760 mmHg (milímetros de Mercúrio) (COELHO JUNIOR;
ROLIM NETO; ANDRADE, 2014). Isso quer dizer que, se houver um deslocamento de
30 mmHg em um manômetro pela elevação em cota, pode-se dizer que elevação foi
de 30 ⋅10 = 300 metros. O nivelamento trigonométrico, de acordo com a ABNT NBR
13.133:1994, é o:

[...] nivelamento que realiza a medição da diferença de nível entre


pontos do terreno, indiretamente, a partir da determinação do
ângulo vertical da direção que os une e da distância entre estes,
fundamentando-se na relação trigonométrica entre o ângulo e a
distância medidos, levando em consideração a altura do centro do
limbo vertical do teodolito ao terreno e a altura sobre o terreno do
sinal visado (ABNT, 1994, p. 4).

A base desse tipo de nivelamento é o valor da tangente do ângulo de inclinação


do terreno. Agora, observe o seguinte desenvolvimento matemático, bem como a Figura
47, até a expressão do desnível DN:

192
Em que:

• Z = ângulo zenital, variando de 0° a 180°


• α = ângulo de inclinação média do terreno, variando de 0° a 90°
• Dh = distância horizontal [m]
• Dv = distância vertical, entre o nível da luneta e a mira [m]
• i = Altura do instrumento (luneta) [m]
• a = Altura da visada [m]

Figura 47 – Nivelamento trigonométrico

Fonte: Tuler e Saraiva (2014, p. 151)

Talvez, agora, você tenha entendido, claramente, por que o nome desse
nivelamento é trigonométrico, pois, de fato, envolve a estimativa de diferenças de nível,
por meio da resolução de um triângulo retângulo. A distância horizontal é estimada por
meio dos procedimentos que já vimos anteriormente. A altura do instrumento (i) e a
altura da visada (a) devem ser medidas também (normalmente, são medidas com uso
da trena de aço).

O nivelamento taqueométrico, de acordo com a ABNT NBR 13.133:1994, é o:

[...] nivelamento trigonométrico em que as distâncias são obtidas


taqueometricamente e a altura do sinal visado é obtida pela visada do
fio médio do retículo da luneta do teodolito sobre uma mira colocada
verticalmente no ponto cuja diferença de nível em relação à estação
do teodolito é objeto de determinação (ABNT, 1994, p. 4).

193
Então, de forma resumida, o nivelamento taqueométrico utiliza o princípio dos
fios estadimétricos para a determinação do desnível entre dois pontos. Considerando a
47 e o conceito de fios estadimétricos (fs – fio superior e fi – fio inferior), podemos deter-
minar o desnível como sendo:

 sen ( 2α ) 
DN = 100 ⋅ ( fs − fi ) ⋅ +i−a
 2 

De acordo com Tuler e Saraiva (2014), esse método foi muito utilizado até pouco
tempo atrás, sendo substituído por grande parte dos profissionais pelo nivelamento
trigonométrico, utilizando estações totais. O principal motivo da substituição é a
limitação do nivelamento taqueométrico quanto a sua média precisão (ordem de
centímetros a decímetros) para as diferenças de nível. O levantamento geométrico
é, também, chamado de nivelamento direto, pois se faz a leitura direta do desnível.
Segundo a ABNT NBR 13.133:1994, é o “nivelamento que realiza a medida da diferença
de nível entre pontos do terreno por intermédio de leituras correspondentes a visadas
horizontais, obtidas com um nível, em miras colocadas verticalmente nos referidos
pontos” (ABNT, 1994, p. 3).

Segundo Coelho Junior, Rolim Neto e Andrade (2014), esse é o método mais
preciso para a determinação das diferenças de nível, altitudes de cotas. O procedimento
consiste em, com o uso do nível de luneta, realizar visadas horizontais sucessivas nas
miras verticais. Pela diferença entre os valores encontrados, chega-se às diferenças de
nível, conforme ilustra a Figura 48.

Figura 48 – Nivelamento geométrico

Fonte: Tuler e Saraiva (2014, p. 150)

Para o caso da Figura 48, considerando o desnível como DN, teríamos:

194
Para a determinação das cotas dos pontos A, B, C e D, é necessário relacioná-
los a um plano de referência qualquer (PRQ). Considerando que este PRQ esteja a 10,00
metros abaixo do ponto A, as cotas relativas dos pontos são:

Por sua boa precisão e pela vasta utilização atualmente, falaremos mais
especificamente desse método de nivelamento nas próximas páginas. Já o último
método de nivelamento acontece por meio de receptores de satélites. Por meio dos
Sistemas Globais de Navegação por Satélite (GNSS), torna-se possível a obtenção de
valores de altitude para determinado ponto.

A grande vantagem desse tipo de sistema é a possibilidade de obtenção dos


dados em tempo real ou, se desejado, após uma etapa de pós-processamento. Claro
que, por trás desse tipo de levantamento de informações altimétricas, há todo o conceito
de GNSS envolvido. Mas fique tranquilo que ainda abordaremos esse assunto de forma
mais específica.

3 APLICAÇÕES DOS NIVELAMENTO TRIGONOMÉTRICOS


E TAQUEOMÉTRICOS
Agora, falaremos mais um pouquinho das aplicações dos nivelamentos
trigonométricos e taqueométricos. Uma divisão dentro do nivelamento trigonométrico
é feita em função da distância horizontal. Assim, dividimos esse tipo de nivelamento
em lances curtos e lances longos. Como lances curtos, considerando as equações que
já vimos anteriormente, pensamos em lances de até 150 m para levantamentos por
caminhamento, em função de sua agilidade e simplicidade.

195
O método de nivelamento trigonométrico para lances longos, pelas grandes dis-
tâncias horizontais, relaciona-se a uma triangulação que leva em consideração a influ-
ência da curvatura da Terra e a refração atmosférica. Podemos determinar o desnível,
nesse caso, que é o mesmo para o caso de lances curtos. No entanto há a adição de um
termo para correção relativa à curvatura da Terra e refração atmosférica, expresso por:

 Dh 2 
 2 R ⋅ (1 − k ) 
 

Em que:

• R = raio aproximado da Terra (aproximadamente 6.400.000 m)


• k = coeficiente de refração, variável para cada região, ano e hora do dia. No Brasil, o
valor médio é k = 0,13

Assim, para lances longos:

 Dh   Dh 2 
DN =   + i - a +  ⋅ (1 − k ) 
 tgZ   2R 

Vamos praticar um pouco esses conceitos.

Exemplo 2

Um engenheiro civil, experiente em Topografia, foi contratado para determinar o desnível


entre uma Referência de Nível (RN) localizada na praça pública da cidade de Itu/SP e
duas vias afastadas para a elaboração de um projeto futuro. Determine o desnível entre
o marco e cada uma das vias.

Com relação à primeira via, os dados foram os seguintes:

• Dh = 135,24 m
• Z = 70°30’26’’
• i = 1,65 m
• a = 2,18 m

Com relação à segunda via, os dados foram os seguintes:

• Dh = 215,55 m
• Z = 72°22’49’’
• i = 1,65 m
• a = 2,55 m

196
Solução:

Para a primeira via, por ser um nivelamento de um lance curto (< 150 m), podemos
considerar o desnível como:

 Dh   135, 24 
DN1 =  = + i - a  1, 65 − 2,18 47,342 m
 +=
 tgZ   tg ( 70°30 '26 '') 

Para a segunda via, por ser um nivelamento de um lance longo (> 150 m), podemos
considerar o desnível como:

 Dh   Dh 2 
DN 2 =   + i - a +  ⋅ (1 − k ) 
 tgZ   2R 

 215,55   215,552 
DN 2 =   + 1, 65 − 2,55 +  ⋅ (1 − 0,13)  =67,561 m
 tg ( 72°22 '49 '')   2 ⋅ 6.400.000 

Continuando a temática sobre nivelamentos trigonométricos, outra aplicação


bastante utilizada é a determinação da altura de objetos, como postes, árvores,
edificações, dentre outros (COELHO JUNIOR; ROLIM NETO; ANDRADE, 2014). Com o
auxílio de um teodolito, instala-se o equipamento em frente ao objeto, com determinada
distância. Posiciona-se a mira-falante junto ao objeto e se determina a distância
horizontal do objeto ao teodolito. Impõe-se um giro à luneta do teodolito até a ponta
ou aresta final do objeto e, então, descobre-se o ângulo alfa do plano topográfico até o
objeto (recorde que o teodolito informa o ângulo zenital e, para encontrar o alfa, o mesmo
deverá ser calculado em função de Z) (COELHO JÚNIOR; ROLIM NETO; ANDRADE, 2014).
Pelo cálculo da tangente de alfa, sabe-se que = X DH ⋅ tgα . Somando-se o valor
de X com a leitura do fio estadimétrico médio, tem-se que: Altura do objeto = X + LFM,
conforme ilustra a Figura 49.

Figura 49 – Determinação da altura de um edifício por nivelamento trigonométrico

Fonte: Coelho Júnior, Rolim Neto e Andrade (2014, p. 109)

197
Feita a apresentação dos diferentes métodos de nivelamento, agora, aprofun-
daremos nossa análise no nivelamento geométrico que, como já dito, é o método mais
preciso para determinação de desníveis e o mais utilizado na prática da Topografia.

De acordo com Coelho Junior, Rolim Neto e Andrade (2014), o nivelamento


geométrico baseia-se em visadas horizontais sucessivas (Figura 50) para a obtenção
de leituras do fio estadimétrico médio (FM) em miras-falantes, com o intuito de obter
diferenças de nível (DN), cotas e altitudes. Normalmente, esse nivelamento utiliza como
equipamento um nível de luneta, fixando essa fixa em um ângulo vertical zenital de 90°
e, como acessórios, tripé e mira-falante.

Figura 50 – Diferença de leituras para determinação do desnível

Fonte: Coelho Júnior, Rolim Neto e Andrade (2014, p. 111)

Podemos classificar um nivelamento geométrico em simples ou composto.


Denomina-se nivelamento geométrico simples aquele em que é possível visar, de uma
única estação do nível, a mira colocada, sucessivamente, nos pontos do terreno a nivelar
(TULER; SARAIVA, 2014, p. 160). Em um nivelamento geométrico, quando não é possível
visualizar todos os pontos do terreno, em função do relevo íngreme, trechos grandes
(acima de 80 metros), desnível entre pontos maiores que o tamanho da mira (que é,
normalmente, de 4 metros) ou por obstáculos, utiliza-se o nivelamento composto, que
é a situação em que se posiciona o equipamento em mais de uma posição (COELHO
JÚNIOR; ROLIM NETO; ANDRADE, 2014). Nesse caso, o aparelho é reposicionado e
a mira alocada sobre o último ponto de cota conhecida do nivelamento anterior. De
fato, podemos dizer que o nivelamento geométrico composto é uma sucessão de
nivelamentos geométricos simples (Figura 51).

Figura 51 – (A) Nivelamento geométrico simples e (B) nivelamento geométrico composto

Fonte: Coelho Júnior, Rolim Neto e Andrade (2014, p. 114)

198
Como já vimos até esse momento, em qualquer levantamento topográfico, a
leitura, ou visada de ré, é a primeira leitura que se faz em uma estação. Aliás, o nome ré
deriva de referencial, pois essa leitura, inicialmente, é feita sob um ponto de coordenadas
conhecidas. Por isso, cada estação tem apenas uma única ré. Já a leitura ou visada de
vante é a leitura posterior à de ré, e podemos ter uma ou mais leituras de vante para uma
mesma estação (COELHO JÚNIOR; ROLIM NETO; ANDRADE, 2014).

Agora, aprofundaremos o estudo de nivelamento geométrico abordando os


procedimentos práticos para a realização de um nivelamento simples. Sendo assim, um
primeiro passo para o nivelamento geométrico simples é a determinação da altura do
instrumento (nível de luneta). Tendo informações da cota de ré e fazendo a visada para
a ré, é possível determinar a cota do nível de luneta pela seguinte expressão:

Cota no ponto de ré + Visada de ré = Ci

Com a cota do instrumento, é possível determinar a cota de vante, aplicando-se


a seguinte expressão:

Ci − Visada de vante =
Cota de vante

A Figura 52 ilustra esse procedimento simples para determinação das cotas do


instrumento e de vante.

Figura 52 – Determinação das cotas do instrumento e de vante em um nivelamento geométrico simples

Fonte: Coelho Júnior, Rolim Neto e Andrade (2014, p. 115)

A Tabela 1 apresenta uma caderneta de campo demonstrando como deve ser o


procedimento de anotação dos valores encontrados.

199
Tabela 1 – Caderneta de campo – Nivelamento geométrico simples com uma estação e uma Vante

Pontos Leituras [mm]


Estação Ci [mm] Cota [mm]
visados
Ré Vante

P1 1000 11000 10000


I
P2 2000 9000

Fonte: adaptada de Coelho Júnior, Rolim Neto e Andrade (2014)

Já para o caso de uma única estação com mais de uma vante, podemos ter algo
similar ao demonstrado na Figura 53.

Figura 53 – Determinação das cotas de vantes em um nivelamento geométrico simples

Fonte: Coelho Júnior, Rolim Neto e Andrade (2014, p. 116)

A Tabela 2 apresenta a respectiva caderneta de campo.

Tabela 2 – Caderneta de campo – Nivelamento geométrico simples com uma estação e mais de uma vante

Pontos Leituras [mm]


Estação Ci [mm] Cota [mm]
visados Ré Vante

P1 1000 11000 10000

P2 900 10100

I P3 200 10800

P4 400 10600

P5 1100 9900

Fonte: adaptada de Coelho Júnior, Rolim Neto e Andrade (2014)

200
No nivelamento geométrico composto, como já vimos, a característica é a
presença de duas ou mais estações. A Figura 54 ilustra um nivelamento geométrico
composto.

Figura 54 – Nivelamento geométrico composto

Fonte: Coelho Júnior, Rolim Neto e Andrade (2014)

A Tabela 3 apresenta a respectiva caderneta de campo.

Tabela 3 – Caderneta de campo – Nivelamento geométrico composto

Leituras [mm]
Pontos
Estação Ci [mm] Cota [mm]
visados Ré Vante

P1 1000 11000 10000


I
P2 3000 8000

P2 2500 10500 8000


II
P3 2000 8500

Fonte: adaptada de Coelho Júnior, Rolim Neto e Andrade (2014)

ATENÇÃO
Chamo a sua atenção, caro acadêmico, para um detalhe no Ponto 2
da Figura 54. Como esse ponto é comum a ambas as estações, neste
caso, o P2 é chamado de ponto de mudança, pois faz a ligação entre
a Estação I e II.

201
Continuando o assunto, um procedimento da prática de Topografia importante
para nivelamentos geométricos é o contranivelamento, que tem como função a
conferência das cotas dos pontos observados do terreno para averiguação de possíveis
erros de nivelamento.

Após ser feita a última estação em um nivelamento, retira-se o nível de luneta


do local e se instala novamente, fazendo, agora, a leitura de ré no último ponto de vante
do nivelamento anterior, seguindo o mesmo percurso, mas de forma inversa. A Figura 55
ilustra esse processo de contranivelamento.

Figura 55 – Contranivelamento

PLANO DE REFERÊNCIA QUALQUER

Fonte: Coelho Júnior, Rolim Neto e Andrade (2014, p. 118)

A Tabela 4 apresenta a caderneta de campo para esse caso.

Tabela 4 – Caderneta de campo – Contranivelamento

Leituras [mm]
Pontos
Estação Ci [mm] Cota [mm]
visados Ré Vante

P1 1000 11000 10000


I
P2 3000 8000

P2 2500 10500 8000


II
P3 2000 8500

P3 2002 10502 8500


II’
P2 2499 8001

P2 3001 11002 8001


I’
P1 999 10001

Fonte: adaptada de Coelho Júnior, Rolim Neto e Andrade (2014)

202
É importante ser dito que todo levantamento topográfico possui determinada
tolerância em relação aos erros detectados nas medições. Para o caso do nivelamento,
a tolerância é calculada em função do perímetro percorrido, em km (sem contar com
o perímetro do contranivelamento), e de um fator n, em mm, em função do tipo de
levantamento.

T= n ⋅ k

A norma ABNT NBR 13.133:1994 descreve a tolerância em função das classes


de precisão e do tipo e do propósito do nivelamento, conforme Quadro 6. De uma forma
geral, a tolerância máxima do nivelamento é descrita como:

Quadro 6 – Tolerância de fechamento para nivelamentos

Tolerância de fechamento - Nivelamento

Classe I N (geométrico) =T 12 mm ⋅ k

Classe II N (geométrico) =T 20 mm ⋅ k

Classe III N (trigonométrico) =T 150 mm ⋅ k

Classe IV N (taqueométrico) =T 300 mm ⋅ k

Fonte: adaptada de ABNT (1994)

Assim como em outros processos de um levantamento topográfico, se o erro


avaliado em nivelamento for menor que a tolerância, aceite-se o trabalho, mas, se o erro
for maior, há a necessidade de refazê-lo. Caso o erro seja menor que a tolerância, como
fazer a distribuição desse erro?

Respondendo a essa pergunta, a distribuição do erro ocorre subtraindo-se o


valor da cota de partida (início do nivelamento) pelo valor da cota de chegada nesse
mesmo ponto (final do contranivelamento). Por exemplo, se o ponto P1 de referência tem
cota igual a 100,000 metros no nivelamento e, ao final do contranivelamento, chega-se
a uma cota de 100,006 metros, significa que houve um erro para mais de 6 milímetros.
Esse erro é, então, dividido pela quantidade de estações e, como, nesse caso, é positivo,
é subtraído em cada cota, de forma acumulativa.

A Tabela 5 apresenta um exemplo de como é preenchida a caderneta de campo,


com as correções e cotas corrigidas pelo erro detectado no contranivelamento. Consi-
derando, nesse caso, um erro de -6 mm e que esteja dentro da tolerância para o nivela-
mento, divide-se o valor pelas 6 estações (3 do nivelamento e 3 do contranivelamento)
e se inicia uma correção acumulativa de 1 mm a mais para cada estação.

203
Tabela 5 – Caderneta de campo – Correção de nivelamento geométrico

Leituras [mm] Cota


Pontos Cota Correção
Estação Ci [mm] corrigida
visados [mm] [mm]
[mm]
Ré Vante

P0 200 10200 10000 10000


I
P1 117 10083 +1 10084

P1 300 10383 10083 10084


II
P2 366 10017 +2 10019

P2 100 10117 10017 10019


III
P3 200 9917 +3 9920

P3 202 10119 9917 9920


III’
P2 105 10014 +4 10018

P2 368 10382 10014 10018


II’
P1 301 10081 +5 10086

P1 114 10195 10081 10086


I’
P0 201 9994 +6 10000

Fonte: adaptada de Coelho Júnior, Rolim Neto e Andrade (2014)

Em poligonais fechadas, o erro do nivelamento pode ser determinado pela di-


ferença entre a cota do ponto de referência inicial e a cota do ponto de referência final,
ou, ainda:

=E C final − Cinicial

Aplicaremos esse conceito sobre erros de nivelamento com um exemplo.

Exemplo 3

Preencha a caderneta a seguir, considerando a caderneta de campo seguinte e, também,


que o perímetro do nivelamento foi de 525 metros e que a classe do nivelamento
I N ( T 12 mm ⋅ k ).
geométrico é Classe =

204
Tabela 6 – Exemplo 3 – Caderneta de campo

Leituras [mm] Cota


Pontos Cota Correção
Estação Ci [mm] corrigida
visados [mm] [mm]
Ré Vante [mm]

P0 200
I
P1 117

P1 300
II
P2 366

P2 100
III
P3 200

P3 202 11000
III’
P2 105

P2 368
II’
P1 301

P1 114
I’
P0 201

Fonte: o autor

Perceba que o que foi informado foi a cota do instrumento na estação III’ (con-
tranivelamento). Assim, começaremos preenchendo as cotas do contranivelamento.

CotaP 3' = CiIII ' − RéP 3' = 11000 − 202 = 10798

CotaP 2' = CiIII ' − VanteP 2' = 11000 − 105 = 10895

A cota no ponto P2 para a estação II’ é a mesma que a cota com a estação III’.
Agora, precisamos determinar a cota do instrumento na estação II’, então:

CotaP 2' = CiII ' − RéP 2' → CiII ' = CotaP 2' + RéP 2' = 10895 + 368 = 11263

CotaP1' = CiII ' − VanteP1' = 11263 − 301 = 10962

A cota no ponto P1 para a estação I’ é a mesma que a cota com a estação II’.
Agora, precisamos determinar a cota do instrumento na estação I’, então:

205
CotaP1' = CiI ' − RéP1' → CiI ' = CotaP1' + RéP1' = 10962 + 114 = 11076

CotaP 0' = CiI ' − VanteP 0' = 11076 − 201 = 10875

Calculadas as cotas para o contranivelamento, vamos calcular, agora, as cotas


para o nivelamento.

A cota no ponto P3 para a estação III’ é a mesma que a cota com a estação III.
Precisamos, então, determinar a cota do instrumento na estação III:

CotaP 3' = CotaP 3 = CiIII − VanteP 3 → CiIII = CotaP 3 + VanteP 3 = 10798 + 200 = 10998

CotaP 2 = CiIII − RéP 2 = 10998 − 100 = 10898

A cota no ponto P2 para a estação III é a mesma que a cota com a estação II.
Agora, precisamos determinar a cota do instrumento na estação II, então:

CotaP 2 = CiII − VanteP 2 → CiII = CotaP 2 + VanteP 2 = 10898 + 366 = 11264

CotaP 2 = CiIII − RéP 2 = 11264 − 300 = 10964

A cota no ponto P1 para a estação II é a mesma que a cota com a estação I.


Agora, precisamos determinar a cota do instrumento na estação I, então:

CotaP 2 = CiII − VanteP 2 → CiII = CotaP 2 + VanteP 2 = 10964 + 117 = 11081

CotaP 2 = CiIII − RéP 2 = 11081 − 200 = 10881

Calculadas todas as cotas, determinaremos o erro do nivelamento, que pode


ser obtido pela diferença de cotas no ponto P0 no nivelamento e no contranivelamento,
assim:

erro = 10875 − 10881 =


CotaP 0' − CotaP 0 = −6 mm

Agora, verificaremos se o nivelamento atende à tolerância da classe de precisão


(Classe I N).

T =12 mm ⋅ k =12 ⋅ 0,525 =8, 69 > 6, 00

206
Dessa forma, o nivelamento atende à tolerância de fechamento para a classe I N.

O fechamento no nivelamento foi de 6 milímetros (faltantes). Portanto, conside-


rando as 6 estações, corrigiremos a cota de cada ponto adicionando, cumulativamente,
1 milímetro.

Por fim, aplicando as correções devidas às cotas, a caderneta de campo com os


valores corrigidos fica da seguinte forma:

Tabela 7 – Exemplo 3 – Caderneta final preenchida

Leituras [mm] Cota


Pontos Cota Correção
Estação Ci [mm] corrigida
visados [mm] [mm]
Ré Vante [mm]

P0 200 11081 10881 10881


I
P1 117 10964 +1 10965

P1 300 11264 10964 10965


II
P2 366 10898 +2 10900

P2 100 10998 10898 10900


III
P3 200 10798 +3 10801

P3 202 11000 10798 10801


III’
P2 105 10895 +4 10899

P2 368 11263 10895 10899


II’
P1 301 10962 +5 10967

P1 114 11076 10962 10967


I’
P0 201 10875 +6 10881

Fonte: o autor

Encerrado o assunto dos principais métodos de nivelamentos, agora, falaremos


um pouco das formas gráficas existentes para representação do relevo, por exemplo,
perfis longitudinais, seções transversais e curvas de nível.

Podemos definir o perfil longitudinal como um corte efetuado, longitudinalmente,


no eixo principal de um projeto, quer seja um rio, estrada, quer seja uma edificação.

207
Você deve, inclusive, ter feito um corte similar a esse quando foi representar
seus desenhos na disciplina de Desenho Técnico.

Como falamos de um desenho que relaciona distâncias horizontais com distân-


cias verticais e, via de regra, a magnitude das distâncias horizontais é, relativamente,
maior que os desníveis, é usual aplicar escalas (horizontais ou verticais) para dar maior
nível de detalhamento ao desenho.

Agora, observe, caro acadêmico, a Figura 56, e perceba que, para o eixo vertical,
foi aplicada uma escala de 1:100 em relação às dimensões reais, enquanto para o eixo
horizontal, foi aplicada uma escala de 1:1000. Isto é, para detalhamento gráfico, foi
aplicada uma escala vertical 10 vezes maior que a escala horizontal. Normalmente, essa
proporção de escala vertical em relação à escala horizontal é utilizada.

Figura 56 – Perfil longitudinal de um terreno

Fonte: Tuler e Saraiva (2014, p. 175)

É preciso pontuar que, em campo, para se obter informações de determinado


perfil longitudinal, normalmente, é feito o estaqueamento, que é a materialização de
um segmento de reta (que será o perfil longitudinal, posteriormente) com o uso de
marcações para os pontos topográficos. Essas marcações, já conhecemos: são as
famosas estacas. Com o estaqueamento, o objetivo é, por meio de um nivelamento
geométrico, determinar os desníveis entre os sucessivos pontos do segmento de reta.
Com relação às distâncias horizontais, normalmente, adota-se uma padronização de
distância entre uma estaca e outra: 20 metros (Figura 57). Então, se temos em um
estaqueamento 251 estacas (E1, E2, ..., E251), com essa padronização, isso implica uma
distância horizontal total de ( 251 − 1) ⋅ 20 =
5.000 metros .

208
Figura 57 – Estaqueamento padronizado de 20 metros

Fonte: Coelho Júnior, Rolim Neto e Andrade (2014, p. 125)

Existem casos, ainda, que, por alguma modificação abrupta na direção do


segmento de reta ou no relevo, tornam-se necessários pontos intermediários entre
estacas. Dessa forma, a nomenclatura dessa estaca intermediária leva a última estaca
anterior mais a fração de distância, em metros, da última estaca anterior até ela. Por
exemplo, a estaca intermediária E5 + 10 traz consigo que ela está 10 metros à frente da
estaca E6, mas antes da estaca E6, eventualmente.

4 PERFIS TRANSVERSAIS E CURVAS DE NÍVEL


Falando, agora, de perfis transversais, estes são obtidos por seções transversais,
geralmente normais aos alinhamentos (plano vertical) de uma poligonal ou a um eixo
longitudinal (Figura 58).

Figura 58 – Interseção de um plano vertical com o relevo

Fonte: Veiga, Zanetti e Faggion (2014, p. 252)

Podemos ter como exemplo uma seção transversal de um rio (Figura 59).

Figura 59 – Seção transversal de um rio

Fonte: Coelho Júnior, Rolim Neto e Andrade (2014, p. 131)

209
Podemos ter como exemplo, também, o estaqueamento de uma rodovia, com a
demonstração das diversas seções transversais e perfil longitudinal (Figura 60).

Figura 60 – Eixos longitudinais e transversais

Fonte: Tuler e Saraiva (2014, p. 176)

Normalmente, utilizamos as seções transversais para obtermos mais detalhes


de inclinação de taludes, bem como estimarmos a quantia de corte/aterro para
determinada modificação na declividade da seção de um terreno (Figura 61).

Figura 61 – (A) Corte e (B) Aterro de uma seção transversal

Fonte: Fróes (2012, p. 72)

A última e, talvez, mais importante forma gráfica de representação de um relevo


é a curva de nível. Uma curva de nível é a forma de representação de linhas imaginárias
que unem pontos de igual altura no terreno e equidistantes entre si, representadas em
uma planta/carta/mapa (COELHO JÚNIOR; ROLIM NETO; ANDRADE, 2014, p. 136).

210
Figura 62 – Exemplo de curva de nível

Fonte: o autor

Você sabe o que é a equidistância de curvas de nível? A equidistância é a


distância vertical constante entre as linhas imaginárias que formam essa curva de nível.
A ideia é que do ponto mais baixo do terreno partem planos horizontais imaginários
equidistantes e que, ao tocarem o terreno, geram linhas de contato com a superfície.
As projeções ortogonais dessas linhas dão origem às curvas de nível, conforme ilustrado
pela Figura 63.

Figura 63 – Planos que interceptam o terreno

Fonte: Coelho Júnior, Rolim Neto e Andrade (2014, p. 137)

A ABNT NBR 13.133:1994 apresenta as equidistâncias que devem ser utilizadas em


função da classe do levantamento planialtimétrico e, também, escala do levantamento,
conforme ilustra o Quadro 7.

211
Quadro 7 – Equidistância das curvas de nível em função da classe planialtimétrica

Classe Escala do Equidistância


Metodologia
planialtimétrica desenho das curvas

Classe Planimétrica V P
I PA 1: 5.000 5m
Classe altimétrica IV N

Classe Planimétrica IV P
II PA 1: 2.000 2m
Classe altimétrica II N

Classe Planimétrica III P


III PA 1:1.000 1m
Classe altimétrica II N

Classe Planimétrica II P
IV PA 1:500 1m
Classe altimétrica II N

Fonte: adaptada de ABNT (1994)

Vamos, agora, falar de algumas características das curvas de nível. A primeira,


caro acadêmico, é que jamais as curvas de nível se encontram, nem tampouco se unem,
tornando-se uma só. O raciocínio é óbvio: uma vez que as linhas imaginárias possuem
cotas/altitudes diferentes, nunca mesmo se cruzarão, uma vez que um ponto do terreno
jamais pode possuir duas cotas/altitudes distintas (Figura 64).

Figura 64 – (A) Curvas se interceptando e (B) Curvas se unindo e seguindo como uma

Fonte: Veiga, Zanetti e Faggion (2014, p. 256)

Outra característica das curvas de nível é que, em terrenos naturais, são isentas
de curvas bruscas e ângulos vivos (Figura 65).

212
Figura 65 – Na esquerda, curva suave, no meio, curva brusca e na direta, ângulo vivo

Fonte: Coelho Júnior, Rolim Neto e Andrade (2014, p. 139)

Outra propriedade importante é a proximidade e/ou o afastamento entre curvas.


A ideia central é que, quanto mais afastadas estejam as curvas umas das outras, mais
plano é o relevo. De forma oposta, quanto mais próximas as curvas, mais íngreme é o
relevo (COELHO JÚNIOR.; ROLIM NETO; ANDRADE, 2014).

Observe a Figura 66. Apesar de a distância vertical ser a mesma em AB e em BC,


pela diferença entre as curvas de nível, a declividade de AB é quase três vezes maior
que em BC.

Figura 66 – (A) Curvas de nível e (B) Perfil longitudinal ABC

Fonte: Coelho Júnior, Rolim Neto e Andrade (2014, p. 140)

Para o exemplo da Figura 67, podemos calcular as inclinações AB E BC pelo


seguinte procedimento:

DN AB 2m
i (%) AB= ⋅100= ⋅100= 2%
DH AB 100 m

DN BC 2m
i (%) BC= ⋅100= ⋅100= 0, 67%
DH BC 300 m

É fato que curvas de nível jamais se interrompem (Figura 67). Sempre em um


desenho de relevo, elas dão a volta completa nelas mesmas (COELHO JÚNIOR.; ROLIM
NETO; ANDRADE, 2014). Talvez, em uma planta de um projeto que você, eventualmente,
analise, algumas dessas curvas de nível parem nas bordas da folha ou quadrícula. Isso

213
acontece por conta da escala e da região do relevo detalhada, mas, se a escala fosse
menor ou a região de análise ampliada, seria percebida a continuidade das curvas de
nível e o seu fechamento.

Figura 67 – Curvas de nível em vermelho, erroneamente, sendo interrompidas

Fonte: Coelho Júnior, Rolim Neto e Andrade (2014, p. 140)

Continuando o raciocínio a respeito das curvas de nível, ao analisá-las, precisa-


mos ter certa noção visual desse desenho e nos esforçarmos para enxergar, de forma
tridimensional, algo que é bidimensional. É importante percebermos, pelas curvas de
nível, se há elevação ou depressão em determinado relevo. A ideia é que, à medida que
a cota das curvas de nível é aumentada da borda para o centro, há uma elevação no
relevo. Pelo contrário, à medida que as cotas das curvas são diminuídas da borda ao
centro, há uma depressão no relevo, conforme ilustrado pela Figura 68.

Figura 68 – Elevação e depressão de um relevo

Fonte: adaptada de Coelho Júnior, Rolim Neto e Andrade (2014, p. 141)

Para facilitar a leitura de plantas, as curvas de nível, normalmente, são divididas


em curvas mestras e intermediárias. As curvas mestras, normalmente, são equidistantes
de 2, 5 ou 10 metros, enquanto as curvas intermediárias representam, normalmente,
equidistâncias de 1 ou 2 metros. Assim, se em uma planta temos uma curva mestra de
10 m, poderemos ter outras 4 curvas intermediárias de 2 metros de equidistância, como
ilustrado pela Figura 69.

214
Ademais, existem duas formas básicas de diferenciar curvas mestras de inter-
mediárias em um desenho. Caso esse desenho seja colorido, as cores de curvas mestras
e intermediárias são diferentes; caso o desenho seja monocromático, a espessura das
linhas mestras é maior do que das linhas intermediárias, conforme você pode observar
na Figura 69.

Figura 69 – Curvas mestras e intermediárias

Fonte: adaptada de Coelho Júnior, Rolim Neto e Andrade (2014, p. 142)

Por fim, como determinar distâncias entre curvas de nível? Um procedimento


simples é a interpolação entre duas curvas equidistâncias, por meio da aplicação de
uma semelhança de triângulos. No cálculo, tem-se a distância total (D), a diferença
de nível total (DN), a diferença de nível parcial (dn’), devendo ser calculada a distância
parcial (d) entre um dos pontos existentes e uma cota inteira, conforme a Figura 70.

Figura 70 – Interpolação entre dois pontos de curvas de nível diferentes

Fonte: Fróes (2012, p. 72)

Vamos treinar um pouco os conceitos sobre curvas de nível, fazendo o exemplo


a seguir.

Exemplo 4

Determine a cota do ponto B, sabendo que a distância horizontal AC medida no desenho


é de 4,5 cm, a distância do ponto AB medida no desenho é de 2 cm.

215
Figura 71 – Exemplo 4 – curvas de nível

Fonte: o autor

Solução:

DN ⋅ d ' 5 m ⋅ 2,0 cm
dn '
= = = 2,22 m
D 4,5 cm

Assim, a cota do ponto B será 90 + 2,22 = 92,22 m.

DICA
Um livro essencial para estudantes de Engenharia, Agrimensura, Arquitetura e Urbanismo
e áreas afins para o estudo ou desenvolvimento de trabalhos altimétricos é o livro de José
Anibal Comastri e José Cláudio Tuler. Com nove capítulos, o livro se aprofunda nos aspectos
principais de determinação de informações do relevo bem como, de modo prático, de
realizar os diferentes tipos de nivelamento.

Livro: Topografia: Altimetria


Autores: José Anibal Comastri
e José Cláudio Tuler
Ano: 2005
Editora: UFV
Edição: 3
Páginas: 200

216
LEITURA
COMPLEMENTAR
O USO DA TOPOGRAFIA PARA AUXÍLIO DE RECUPERAÇÃO DE UMA ÁREA
DEGRADADA

Luiz Waldemar de Oliveira


Andre Gonçalves Vieira
Marcelo Wendeborn Miranda de Oliveira

1 INTRODUÇÃO

A recuperação de áreas degradadas pode ser conceituada como um conjunto


de ações idealizadoras e executadas por especialistas das mais diferentes áreas de
conhecimento humano e da engenharia, que visam a proporcionar o restabelecimento
das condições de equilíbrio e sustentabilidade existentes anteriormente em um sistema
natural (TESTONI, 2010).

Segundo Reis, Zambonin e Nakazono (1999), uma determinada área que sofreu
impacto de forma a impedir ou diminuir drasticamente sua capacidade de retornar ao
estado original, por intermédio de seus meios naturais, é denominado área degradada.
A capacidade de regeneração natural chama-se resiliência ambiental. Por outro lado,
Kageyama e Reis (1994) consideram área degradada àquela que, após distúrbio, teve
eliminado seus meios de regeneração natural, não sendo, portanto, capaz de se
regenerar sem a interferência antrópica.

Dentre os principais fatores relacionados com o aumento da degradação


ambiental estão as frequentes alterações não planejadas no uso do solo (GUERRA &
CUNHA, 1996; PRUSKI et al., 2006). Segundo Bertoni & Lombardi Neto (1990) o uso
inadequado do solo desencadeia a erosão antrópica ou acelerada devido às atividades
agrícolas ou urbanas, que aceleram e intensificam os processos erosivos devido às
condições induzidas ou modificados pelo homem ao solo (BERTONI & LOMBARDI NETO
1990; GRILO & ENAMI 2008). Existem casos em que a natureza não apresenta condições
de se recompor, ou a recuperação vegetal se apresenta muito lenta, é necessária a
intervenção técnica para permitir que processos de sucessão natural possam ser
realizados (REDENTE et al., 1993).

Do ponto de vista qualitativo, a proteção dos solos e os recursos hídricos


depende fundamentalmente de medidas disciplinadoras do uso do solo em bacias,
para diagnóstico e avaliação da degradação ambiental gerada, tem-se utilizado a bacia
hidrográfica como uma unidade de planejamento, para o uso e exploração dos recursos
naturais (PISSARRA, 1998; PISSARRA et al., 2004).
217
As características geomorfológicas de uma bacia hidrográfica como a rede de
drenagem, forma, área, relevo e solos aliados ao tipo de cobertura vegetal influenciam
o comportamento hidrológico de uma bacia hidrográfica (LIMA, 1986; GUERRA e
CUNHA,1996).

Para caracterizar os processos de degradação ambiental, devem-se analisar


os elementos do meio físico que participam desse processo, em grandes áreas as
informações requer a utilização de sistemas nos quais seja possível integrar os dados
(CASTRO, 1992; RANIERI, 1996).

Nesse contexto, a topografia, ocupa posição primordial, deve ser um item


indispensável à tomada de decisões para a realização de Recuperação de Áreas
Degradadas, haja vista o que determina a Instrução Normativa IN-16 da Fundação do
Meio Ambiente (Fatma): no processo de Licenciamento Ambiental para a Recuperação
de Áreas Degradadas, deverá ser apresentada a planta planialtimétrica da área do plano
ou projeto, com hidrografia, Áreas de Preservação Permanente (APP) e detalhe do plano/
projeto, em UTM ou coordenada geográfica com a informação do Datum de origem
(FUNDAÇÃO DO MEIO AMBIENTE, 2013). Para Parada (1992), uma simples observação
“in loco” do terreno ou uma área em questão não permite uma prévia para a construção
direta, já que se realizada por tentativas estará certamente sujeita a erros gravíssimos.
A topografia consiste no conhecimento dos instrumentos e métodos os quais têm por
finalidade reuzir os erros de observação “in loco” e determinar o contorno, dimensão
e posição relativa de uma porção limitada da superfície terrestre, sem considerar a
curvatura resultante da esfericidade terrestre (LOCH, 2000).

Testoni (2010) ressalta a incumbência em um levantamento de proceder a to-


das as operações necessárias para alcançar os objetivos da topografia, como, a medi-
ção de ângulos e distâncias e a execução dos cálculos e desenhos indispensáveis para
representar, fielmente em planta, os elementos colhidos no terreno.

No campo da engenharia, a planta topográfica é a primeira e insubstituível peça


de estudo, nenhum projeto de construção de obras civis, militares e/ou ambientais pode
dispensar o prévio levantamento topográfico (LOCH, 2000; TESTONI, 2010).

Borges (2010) destaca o levantamento topográfico como representante, no


papel, a configurar um terreno com as suas características e benfeitorias que estão em
sua superfície, permitindo a representação, em planta, dos limites da propriedade, dos
detalhes que estão em seu interior.

A estação total obtém as cotas do terreno e armazena, em seu computador


interno, variados levantamentos, podendo ser de diferentes locais. Além de economizar
tempo, esses dados podem ser diretamente enviados ao computador do profissional,
através de softwares específicos, como o AutoCad (MASSITA, 2009; SILVA, 2009).

218
Stodulski (2006) classifica os levantamentos topográficos para cada finalidade,
método de levantamento e característica de terreno existindo uma forma mais apropriada
de se realizar a coleta dos dados, sendo o levantamento topográfico planimétrico (ou
Perimétrico); levantamento topográfico altimétrico (ou Nivelamento); levantamento
topográfico planialtimétrico.

Erba (2005) recomenta o uso de poligonal aberta, poligonal fechada e poligonal


apoiada, a irradiação para amarrar pontos de detalhes a um sistema de referência por
meio da medição de uma direção e uma distância como auxilio para poligonal. Segundo
Braga et al., (2004), existem os níveis de detalhamento sendo o levantamento por
Caminhamento e o levantamento Inicial.

O levantamento Cadastral acontece posterior ao levantamento das áreas, limites


e perímetro, e faz a locação em coordenadas precisas (STODULSKI, 2006). Dentro deste
contexto, o objetivo deste trabalho foi caracterizar a importância da topografia no ramo
Ambiental, principalmente na área florestal, apresentando informações primordiais que
essa atividade pode oferecer para a realização de Recuperações de Áreas Degradadas.

2 DESENVOLVIMENTO

[...] Pela importância e variedade de dados que oferece o mapa elaborado a


partir do levantamento planialtimetrico cadastral (Mapa 9), e com o apoio do relatório
fotográfico apresentado, comprovou-se que a instituição está totalmente irregular
diante do que preconiza a Nova Legislação Florestal vigente, de 2012.

De acordo com a legislação as nascentes d’água, leitos dos rios, córregos


ou cursos d’água devem ser constituídas por Áreas de Preservação Permanente
respeitando suas metragens a partir do leito de maior vazão ou nascente. Na área da
propriedade em estudo, observou-se a mudança de um curso natural d’água, realizado
por uso inadequado do solo principalmente pela cultura pecuarista causando erosão de
grande proporção (FIGURA 4 A - B), ao longo desse curso, a área estava desprovida de
vegetação arbórea (FIGURA 4 C), desrespeitando, dessa forma, as Áreas de Preservação
Permanente, que são áreas protegidas por lei, desde 1965 (Lei 4.777/65), com a função
ambiental de preservar os recursos hídricos, a paisagem, a estabilidade geológica, a
biodiversidade, o fluxo gênico de fauna e flora; proteger o solo e assegurar o bem-estar
das populações humanas.

Da mesma forma, fica claro que a propriedade educacional não possui uma área
passível de averbação de Reserva Florestal Legal (20%), necessária ao uso sustentável
dos recursos naturais, à conservação dos processos ecológicos, à conservação da
biodiversidade e ao abrigo e proteção da fauna e flora nativas.

219
A planta topográfica é a primeira e insubstituível peça de estudo um primórdio
no campo da engenharia. Baseando-se nas plantas topográficas que estudam os terre-
nos e se criam projetos, essa ferramenta topográfica torna-se excelência em interpre-
tação das áreas de estudo, indicando características dos danos ambientais causados e
os efeitos que estes trazem ao ambiente.

Neste estudo, a falta da mata ciliar na Área de Preservação Permanente (FIGURA


4 C) contribui com a erosão e o assoreamento dos rios devido a falta de proteção do solo.

Os impactos desses conjuntos de danos a sociedade podem ser sentidos


diariamente, com o agravamento das secas, das enchentes e com a crescente alta de
animais ameaçados de extinção.

Esse tipo de mapeamento tem a função de auxiliar qualquer profissional habili-


tado, na tomada de decisões, quando da elaboração de projeto que vise à recuperação
de áreas degradadas, possibilitando a delimitação da área que deverá ser motivo de
recuperação e de reposição (Mapa 4).

É importante ressaltar que essa ferramenta de trabalho não deve ser descartada,
pois é uma exigência da Legislação Florestal vigente, e de supra necessidade quando
da elaboração de projetos de recuperação de áreas degradadas, e não da recuperação
da área propriamente dita.

3 CONCLUSÃO

Na Engenharia Florestal, Civil, Agrimensura e Agronomia a topografia ocupa


uma posição de destaque, esta ligada diretamente ao planejamento, sua importância
nas informações dos dados que são oferecidos junto aos mapeamentos possibilita ana-
lisar completamente os dados apurados em campo. É necessária a reconstituição da
mata ciliar na Área de Preservação Permanente, devido o assoreamento a erosão da
nascente e a falta de proteção do solo.

Com os resultados obtidos evidenciou-se a importância da topografia, na toma-


da de decisões, quando da elaboração de projetos de recuperação de áreas degradadas.

Fonte: WALDEMAR DE OLIVEIRA, L.; GONÇALVES VIEIRA, A.; MIRANDA DE OLIVEIRA, M. W. O uso da
topografia para auxílio de recuperação de uma área degradada. Periódico Eletrônico Fórum Ambiental
da Alta Paulista, v. 10, n. 2, 2014.
https://doi.org/10.17271/198008271022014881

220
RESUMO DO TÓPICO 3
Neste tópico, você aprendeu:

• Altimetria ou Hipsometria é um ramo da Topografia que trata, de forma geral, dos


métodos e dos instrumentos topográficos empregados na representação do relevo
de um terreno, por meio da obtenção das distâncias verticais.

• A altitude, ou cota absoluta, é a distância entre um ponto qualquer da superfície da


Terra e o nível médio dos mares (NMM).

• A ABNT NBR 13.133:1994 apresenta as equidistâncias que devem ser utilizadas em


função da classe do levantamento planialtimétrico.

• O método de nivelamento trigonométrico para lances longos, pelas grandes distâncias


horizontais, relaciona-se a uma triangulação que leva em consideração a influência
da curvatura da Terra e a refração atmosférica.

221
AUTOATIVIDADE
1 Esta primeira atividade terá um único enunciado que servirá para a execução de
quatro subatividades expostas na sequência. O nivelamento geométrico é, talvez, o
método de nivelamento mais utilizado na prática da Topografia, não somente por seus
bons resultados na precisão de leituras de desníveis, mas, também, pela praticidade
de se obter esse tipo de dado de forma direta. Considere o seguinte esquema para
nivelamento dos vértices de uma área e a respectiva caderneta de campo.

Fonte: Tuler e Saraiva (2014, p. 169)

Dados:

• Nivelamento geométrico composto em poligonal fechada


• Nivelamento de precisão: Classe I N
• Comprimento nivelado: k = 1.385,00 m

Pontos Leituras [m]


Estação Ci [m] Cota [m]
visados Ré Vante
RN 0,438 50,000
I A 1,795
B 3,542
B 0,509
II C 2,064
D 3,285
D 3,811
III E 2,053
F 0,276
F 3,794
IV G 2,082
RN 1,444
Fonte: adaptado de Tuler e Saraiva (2014)

222
Com essas informações:

a) Calcule as cotas dos pontos.


b) Determine o erro de nivelamento.
c) Determine a tolerância e verifique se o erro do nivelamento é admissível.
d) Distribua o erro admissível.

2 A altimetria, ou hipsometria, refere-se ao conjunto de métodos e processos para


determinação da diferença de nível entre dois ou mais pontos, representando-a, por
meio de cotas e/ou altitudes. Com relação ao nivelamento, relacione os tipos com
suas respectivas características:

I- Nivelamento barométrico.
II- Nivelamento geométrico.
III- Nivelamento taqueométrico.
IV- Nivelamento trigonométrico.

( ) A diferença de nível é determinada em função da diferença de pressão atmosférica


existente entre dois pontos de diferentes altitudes da superfície.
( ) A determinação da diferença de nível baseia-se na resolução de um triângulo
retângulo. Nesse nivelamento, podem ser utilizados como instrumentos teodolitos,
cinômetros e estações totais.
( ) Segue o mesmo princípio do nivelamento trigonométrico, porém as distâncias são
obtidas em função das leituras dos fios estadimétricos.
( ) Mais comum e, normalmente, o tipo de nivelamento que apresenta valores mais
precisos. Pode ser subdividido em simples ou composto, em função do número de
estações ao longo do percurso de leitura.

Assinale a alternativa que apresenta a sequência CORRETA:


a) ( ) I - II - III - IV.
b) ( ) I - IV - III - II.
c) ( ) III - IV - I - II.
d) ( ) I - IV - II - III.
e) ( ) III - I - II - IV.

3 Representar uma característica tridimensional a algo bidimensional, como um


mapa, uma carta topográfica ou um desenho qualquer, não é uma tarefa fácil. Em
Topografia, quando falamos de estratégias para representar a elevação de um relevo,
o que vem à mente, normalmente, são os perfis e as curvas de nível. Sobre as formas
de representação do relevo, considere as afirmativas a seguir:

I- O perfil longitudinal representa, graficamente, o nivelamento do terreno. Para fins de


detalhamento, normalmente, possui uma escala vertical aumentada em dez vezes
em relação à escala horizontal.

223
II- O perfil ou seção transversal representa a característica transversal de determina-
do ponto ao longo do estaqueamento. Normalmente, pelas informações de seção
transversal, conseguimos obter informações sobre corte e aterro, bem como incli-
nações de talude.
III- A união de um desenho planimétrico com as curvas de nível de um terreno nos
informa a sua planimetria. Uma característica bastante peculiar das curvas de nível
é que elas podem se interceptar, em função das características do relevo.
IV- A fim de se obter mais clareza em um projeto, normalmente, as curvas de nível são
representadas por curvas mestras e intermediárias.

Assinale a alternativa CORRETA:


a) ( ) As afirmativas I e III estão corretas.
b) ( ) As afirmativas III e IV estão corretas.
c) ( ) As afirmativas II e III estão corretas.
d) ( ) As afirmativas I, II e IV estão corretas.
e) ( ) Somente a afirmativa I está correta.

224
REFERÊNCIAS
ABNT – ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR 13.133: execução de
levantamento topográfico. Rio de Janeiro: ABNT, 1994.

BORGES, A. C. Topografia aplicada à engenharia civil. 3. ed. v. 1. São Paulo:


Blucher, 2013.

BRINKER, R. C.; WOLF, P. R. Elementary surveying. 6. ed. New York: Harper & Row, 1977.

COELHO JÚNIOR, J. M.; ROLIM NETO, F. C.; ANDRADE, J. S. C. O. Topografia geral.


Recife: EDUFRPE, 2014.

FITZ, P. R. Cartografia básica. São Paulo: Oficina de Textos, 2008.

FRÓES, V. N. Topografia básica. Goiânia: PUC-GO, 2012.

HIRSCH, A. Brasil: fusos e zonas UTM. [S. l.: s. n.], 2008. 1 mapa, color. Disponível em:
https://www.researchgate.net/publication/319423368_Brasil_fusos_e_zonas_UTM.
Acesso em: 20 out. 2020.

IBGE – INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA A ESTATÍSTICA. Noções básicas de


cartografia. Rio de Janeiro: Fundação IBGE, 1999.

IBGE – INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA A ESTATÍSTICA. Relatório de estação


geodésica. Rio de Janeiro: IBGE, 2015. Disponível em: http://www.bdg.ibge.gov.br/bdg/
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KRÜGER, L. Konforme abbildung des erdellipsoids in der ebene. Berlin: Royal


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