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TEMA GERAL: SUB-TEMA 2: PATRIMÔNIO URBANO, PAISAGENS

CULTURAIS E MEIO-AMBIENTE

O PATRIMÔNIO TERRITORIAL ENTRE RECURSO E CAPITAL: A


Representação Geoinformacional como Método de Análise da Vila
de Itaúnas/ES.

MAZZINI, MAISA (1); ANDRADE, BRUNO AMARAL DE. (2)

1. Laboratório Patrimônio e Desenvolvimento. Universidade Federal do Espírito Santo. Programa de


Pós-Graduação em Arquitetura e Urbanismo
Avenida Fernando Ferrari, 514, CEMUNI III, Goiabeiras, UFES. CEP: 29075910
maisa_mazzini@hotmail.com

2. Laboratório Patrimônio e Desenvolvimento. Universidade Federal do Espírito Santo. Programa de


Pós-Graduação em Arquitetura e Urbanismo
Avenida Fernando Ferrari, 514, CEMUNI III, Goiabeiras, UFES. CEP: 29075910
bruno.andrade@ufes.br

RESUMO
As discussões teóricas no estado da arte acerca do desenvolvimento local têm exposto o "patrimônio
territorial" como conceito e instrumento urbanístico, criado por Alberto Magnaghi e difundido pela
Escola Territorialista Italiana, desde a década de 1990. A então denominada abordagem territorialista
italiana propõe o “retorno ao lugar” por meio da representação e planejamento do território, este
definido como fruto do processo de coevolução e interação de longa duração de relações sociais e
ambientais indissociáveis. Já a problemática dicotômica atual do patrimônio, entre Natureza e Cultura,
se intensifica na estruturação das ações de conservação, baseadas em modelos de desenvolvimento
insustentáveis legadas da abordagem funcionalista-reducionista. Essa abordagem é fundada na
compreensão-produção parcial de representações cartográficas, que seleciona e exclui camadas do
território. Para compreender as abordagens desenvolvimentistas, apresenta-se uma reflexão de três
termos: “patrimônio territorial”, “recursos territoriais” e “capital territorial”, diferenciados em valor de
uso e de existência no território, ora prevalecendo um ora o outro. Assim, a compreensão do território
como patrimônio no planejamento se faz relevante, na tentativa de interromper a desterritorialização
estendida do ciclo de modelo de “desenvolvimento econômico". Objetiva-se, a elaboração de
procedimento metodológico qualitativo-descritivo de aproximação ao patrimônio territorial, articulado
às representações com tecnologia geoinformacional em subsídio ao planejamento local, e suas
adaptações ao contexto capixaba, especificamente à Vila de Itaúnas, no Espírito Santo. O conjunto
cartográfico conta com análise urbana interpretativa, das rupturas e permanências nas camadas
territoriais. Em adição, produz-se um mapeamento georreferenciado comparativo de dados de
representações normativas advindos de diferentes órgãos e instituições, responsáveis por diretrizes
de preservação e de desenvolvimento urbano da Vila de Itaúnas. Como resultado, delineia-se uma
reflexão crítica quanto à relação entre a insustentabilidade no território revelada pelo mapeamento de
suas camadas e a regulamentação da preservação-desenvolvimento do lugar, possibilitando uma
identificação de valores patrimoniais entre capital e recurso.
Palavras-chave: Patrimônio territorial, recurso territorial, capital territorial, representação
geoinformacional.

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INTRODUÇÃO

As discussões epistemológicas no estado da arte acerca do desenvolvimento local têm


exposto da Itália para o mundo o "patrimônio territorial" como conceito e instrumento
urbanístico, criado por Alberto Magnaghi e difundido pela Escola Territorialista Italiana,
desde a década de 1990. A abordagem territorialista de Magnaghi propõe o “retorno ao
lugar” por meio da representação e do planejamento do território, este definido como fruto
do processo de coevolução e interação de longa duração entre relações sociais e
ambientais indissociáveis. “O território é produto histórico entre sociedade e natureza; tem
um caráter político muito forte em direção à constituição da sociedade local [...]” (Saquet,
2015, p.116). Partindo da análise e síntese das fases de territorialização, é possível
identificar a permanência de sedimentos materiais (ligados às morfologias); econômicos
(ligados aos recursos); e culturais (ligados à memória). O patrimônio, portanto, assume sua
dimensão territorial, definindo-se nas relações sinérgicas entre ambiente físico, ambiente
construído e o ambiente antrópico (Andrade, 2016, p.26).

Poli (2015), ademais, ressalta “patrimônio territorial” como uma definição híbrida entre
terminologias do patrimônio (Choay, 1995), que são capital territorial (Oecd, 2001 apud Poli,
2015) e recursos territoriais (Corrado, 2005; Gumuchian, Pecquer, 2007, apud Poli, 2015). É
importante ressaltar que, inicialmente, a definição de “patrimônio” é ligada à propriedade; um
bem passado por lei entre familiares. Posteriormente, o termo é requalificado, atingindo
patamares como “genético”, “natural”, “histórico”, tornando-se um conceito “nômade”
(Choay, 1995, p.11).

Há uma extensão tipológica, geográfica e cronológica do patrimônio, com a definição do


“patrimônio natural”, graças à lei de Chastel, de 1964, na França; e posteriormente ao
tratado assinado pela UNESCO sobre a “Convenção do Patrimônio Mundial, Natural e
Cultural”, de 1972, que inclui os sítios naturais e culturais (Poli, 2015). O patrimônio, ainda,
atinge uma conotação geográfica, enquanto incluído nas ciências territoriais. “O território é
agora um grande e complexo cronograma, resultado de processos históricos de construção;
territorialização, em que a massa territorial que a compõe aumenta; e de processos de
rupturas, definição de desterritorialização [...]” (Poli, 2015).

A despeito da extensão conceitual, o que se nota no planejamento contemporâneo ainda é a


segmentação do patrimônio, dissociado em duas dimensões distintas: a Natureza e a
Cultura. Essa problemática dicotômica do patrimônio se intensifica na estruturação das

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ações de conservação, baseadas em modelos de desenvolvimento insustentáveis legadas
da abordagem funcionalista-reducionista. Essa abordagem é fundada na compreensão-
produção parcial de representações cartográficas, que seleciona e exclui camadas do
território (ecológica, construída e antrópica), restringindo a capacidade de transformação
cultural e a inovação. Ainda, o reconhecimento do objeto patrimonial se confunde com o
valor econômico, pois tornou-se atrativo aos promotores imobiliários, em parte devido aos
projetos de requalificação urbanística. Assim como Poli (2015) aponta, a valorização do
patrimônio está condicionada a duas principais perspectivas: a visão “produtivista” que visa
o desenvolvimento econômico, com atividades voltadas pra vendas; e a visão que incorpora,
na economia, o valor de existência do patrimônio, tratado como recurso vivo e de longo
prazo (Poli, 2015).

Vale lembrar, o valor de existência do patrimônio está “no reconhecimento dos seus
invariantes estruturais e das regras que contém, resultado dos processos de
territorialização, desterritorialização e reterritorialização a longo prazo” (Poli, 2015). Em
contraposição, há, ainda, o valor de uso do patrimônio territorial, o qual se refere à prática
do patrimônio como mercadoria voltada a produção de riqueza.

Poli (2015), traz a definição dos termos: patrimônio territorial, recursos territoriais e capital
territorial. Como “patrimônio territorial”, Poli (2015) afirma ser o reconhecimento do conjunto
de camadas de longa duração produzidas entre o ambiente natural e processos de
assentamento da sociedade, que transformaram a natureza em território. Enquanto, de
“recursos territoriais”, entende-se como o “processo revelação o valor da matéria como
instrumento de desenvolvimento” (Andrade, 2017), porém ainda prevalecendo o valor de
uso. Por fim, “capital territorial”, refere-se à competitividade econômica, onde os valores de
uso dominam as atividades, que visam lucro, afastando-se dos valores de existência.

Assim, a compreensão do território como patrimônio no planejamento se faz relevante, na


tentativa de interromper a desterritorializção estendida do ciclo de modelo de
“desenvolvimento econômico" pressupondo a exploração, degradação e exaurimento dos
recursos territoriais justificada por uma “requalificação urbanística”.

Alberto Magnaghi, na defesa de uma representação identitária, visando a interpretação da


territorialização frente ao desenvolvimento autossustentável, “critica a compreensão do
território como suporte de atividades, que reduz o habitante a um mero produtor, [e que]
está na base de uma prática que degrada o ambiente e destrói o patrimônio histórico”

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(Saquet, 2015, p. 116). Para Magnaghi (2001, 2005, 2010), a representação é uma
metodologia de aproximação do território, que orienta a reflexão crítica frente a definição de
técnicas e instrumentos para o desenvolvimento do patrimônio territorial. O autor propõe,
para a elaboração do estatuto do lugar, a construção de atlas territoriais, ou seja, “[...] um
inventário de um conjunto de recursos de interesse histórico, artístico e cultural” (Andrade,
2015, p.15). Dessa maneira, rompe com as representações funcionalistas e o pensamento
da “tábula rasa”, herdados do Movimento Moderno, onde os legados do passado são
substituídos pela experiência própria e desejos dos planejadores.

Objetiva-se, portanto, a elaboração de procedimento metodológico qualitativo-descritivo de


aproximação ao patrimônio territorial, articulado às representações com tecnologia
geninformacional em subsídio ao planejamento local, e suas devidas adaptações ao
contexto capixaba. O objeto empírico deste estudo é a Vila de Itaúnas, distrito de Conceição
da Barra, no Espírito Santo, incluída em tombamento a nível estadual pelo Conselho
Estadual de Cultura, escolhido no contexto de disciplina de Programa de Pós-Graduação em
Arquitetura e Urbanismo, da Universidade Federal do Espírito Santo, ministrada pela Profª.
Drª Renata Hermanny de Almeida.

A escolha do objeto se deve pela localização da Vila de Itaúnas, consolidada em importante


área de interesse patrimonial e ambiental, com a presença do Parque Estadual de Itaúnas,
reconhecido pela UNESCO. Hoje, todo o território encontra-se ameaçado pelo turismo
exploratório e pelo capital corporativo. O crescimento desordenado e o processo de
gentrificação, causado pelo turismo e pela especulação imobiliária, indicam necessidades
emergenciais de planejamento urbano, visando sua autossustentabilidade.

Utiliza-se a representação, em plataforma SIG, como instrumento interpretativo dos níveis


de insustentabilidade no território, visando a construção de um atlas como inventário
analítico do objeto-concreto. O conjunto cartográfico conta com análise urbana
interpretativa, das rupturas e permanências nas camadas territoriais concernentes à
geomorfologia, à cobertura vegetal, ao uso e cobertura da terra, à ocupação urbana, que
conformam o ecossistema urbano.

Em adição, produz-se um mapeamento georreferenciado comparativo de dados de


representações normativas advindos de diferentes órgãos e instituições, responsáveis por
diretrizes de preservação e de desenvolvimento urbano da Vila de Itaúnas, sendo eles: a
Prefeitura Municipal de Conceição da Barra, o Conselho Estadual de Cultura e o Instituto

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Estadual de Meio Ambiente e Recursos Hídricos (IEMA). Como resultado, delineia-se uma
reflexão crítica quanto à relação entre a insustentabilidade no território revelada pelo
mapeamento de suas camadas e a regulamentação da preservação-desenvolvimento do
lugar, possibilitando uma identificação de valores patrimoniais entre capital e recurso.

CONTEXTUALIZAÇÃO E CICLO TDR DA VILA DE ITAÚNAS/ES

A Vila de Itaúnas está localizada ao norte do estado, a aproximadamente 270km de Vitória,


capital do Espírito Santo, e é um distrito pertencente ao município de Conceição da Barra. O
principal acesso à Vila é realizado pela rodovia ES-010, trecho de estrada de chão,
conectada à ES- 416, que liga a sede de Conceição com a BR-101. Também é possível a
partir do município de Pedro Canário até a rodovia ES-419, na divisa da Bahia com o
Espírito Santo, ou pela ES-209, via distrito Braço do Rio. É circundada pelo Parque Estadual
de Itaúnas, de abundante riqueza natural, caracterizado por biomas diversos, tais como
mata atlântica, alagados, mangues, restingas, dunas, praia, além da presença marcante do
Rio Itaúnas. Em desacordo, encontram-se, em suas proximidades, monoculturas de
eucalipto de grandes extensões para extração de carvão mineral e celulose, e ocupações
irregulares, consequência das ações nocivas da especulação imobiliária e capital
corporativo.

O mapa conceitual a seguir (Figura 1), denominado Ciclo TDR da Vila de Itaúnas, apresenta
uma análise da evolução histórica de sedimentos identitários no território reconhecido por
meio do ciclo territorialização-desterritorialização-reterritorialização (TDR). Com efeito, o
ciclo TDR compreende os sucessivos ciclos de transformação da natureza em território,
através de ações antrópicas territorializantes (Territorialização), e dos eventos e agentes
que causam rupturas e perturbações nos arranjos socioespaciais (Desterritorialização). Não
obstante, a desterritorialização em série produz sempre novas territorialidades e novos
territórios. (Saquet, 2009, p.82). Os processos de Territorialização são representados, no
mapa, como manchas em escalas de cinza, de acordo com sequência cronológica: da cor
mais clara (mais antigo) à mais escura (mais recente). Em contraposição, os processos de
Desterritorialização são representados por hachuras tracejadas com espaçamentos
distintos, conotando os diferentes acontecimentos e suas forças nas continuidades e
descontinuidades.

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Figura 1. Mapa conceitual do Ciclo TDR (territorialização-desterritorialização-reterritorialização) da
Vila de Itaúnas/ES, elaborado sobre mapeamento do INCAPER de 2012-2015.

Em Territorialização 1 (T1), identifica-se o processo de assentamento do primeiro núcleo da


antiga Vila de Itaúnas em um sítio abastado, anteriormente denominado de Vila de São
Sebastião de Itaúnas. Devido à sua proximidade com o Estado da Bahia, a população
cresce em função da comercialização da farinha de mandioca, cuja produção é escoada
pelo Rio Itaúnas (em azul) até o Morro Dantas, hoje Pedro Canário (Jorge, 1999). Essa
proximidade ainda contribui ao tráfico e à rota de fuga de escravos em direção ao Norte do
Espírito Santo, tornando São Mateus e Conceição das Barra (pertencente à São Mateus até
1891) as cidades com maior concentração de comunidades remanescentes de quilombos do
estado (Costa, 2017, p. 49). Ainda hoje permanecem tradições e manifestações, como o
Ticumbi, herança cultural afrodescendente.

A miscigenação entre índios, negros e brancos, além do relativo afastamento da capital do


Espírito Santo e aproximação com estado da Bahia, contribuíram na formação, na antiga
Vila de Itaúnas, de uma população singular em suas manifestações culturais, cuja base
social e econômica é pautada no trabalho familiar e na relação de subsistência com o meio
ecológico. Com o tempo, a comunidade passa a usufruir da pesca, produção da farinha, da
caça e de demais recursos naturais (Costa, 2017, p. 50). Com materiais extraídos da

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natureza, utilizam-se da técnica de taipa de mão, ou seja, entrelaçados de madeira
preenchidas por barro, para construção de suas casas, geralmente térreas.

As riquezas das matas nativas também estimulam as concessões para corte de madeira. A
partir da década de 1930, há ampliação das atividades madeireiras na região, proveniente
da instalação da CIMBARRA - Cia Industrial de Madeira Conceição da Barra (Jorge, 1999).
“No auge de suas atividades, na década de 50, [a CIMBARRA] carregava de 10 a 15 navios
por quinzena, com 300 a 400m³ de madeira cada um” (Pontes, 2007, p.110). O norte do
Estado é propício à extração de madeira, devido ao transporte relativamente fácil através do
Rio Itaúnas. Paralelamente, o aumento da demanda por madeira a nível nacional para suprir
os setores agropecuário, cerâmico, residencial, siderúrgico e moveleiro, atinge seu auge na
década de 1960, tornando-se uma das principais atividades para geração de emprego no
Estado (Hacon, 2011, p. 92 apud Costa, 2016, p.54).

Ainda nos fins da década de cinquenta, inicia-se o processo de soterramento do antigo


núcleo de Itaúnas pelas areias trazidas pelo vento nordeste, proveniente da região. Há
relatos que a principal causa tenha sido o surto de desmatamento ocasionado pela
exploração madeireira no norte do Estado, associado a degradação da mata nativa, que
continha o avanço das dunas. O fenômeno de formação das dunas de Itaúnas atinge a
altura da antiga igreja matriz, de mais de vinte metros, iniciando o primeiro processo de
desterritorialização (Desterritorialização 1 - D1).

Muitos fogem para cidades circunvizinhas. Quanto aos moradores mais carentes, a opção é
evacuar e fixar-se no outro lado do rio Itaúnas, fundando o núcleo da atual vila
(Territorialização 2). A área é doada à prefeitura pelo Sr. Theófilo Cabral, constituída por
restinga e pasto. O loteamento é então definido em traçado xadrez, cujo marco central é a
Igreja Matriz de São Sebastião, e as primeiras habitações são construídas de taipa, cobertas
de tabuinhas ou telhas canal trazidas da vila soterrada (Jorge, 1999).

Além da consolidação da nova vila às margens do Rio Itaúnas, a década de 1970 é marcada
por um grande acréscimo populacional, impulsionado pelo aumento de investimentos de
empresas de grande porte. A decadência da indústria madeireira ainda na década de 1960,
somada à crise cafeeira no Espírito Santo, deu lugar à monocultura de eucalipto para
extração de carvão mineral, destinada ao abastecimento de siderúrgicas, e celulose. Vale
lembrar que, a prática da extração de carvão já era recorrente, quando então era utilizada
madeira de mata nativa como matéria-prima (Moreira; Perrone, 2007, p.159). Neste

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contexto, instalam-se, no norte do Estado, a Aracruz Celulose S/A (hoje Fíbria), Acesita
Energética S/A (carvão mineral) e o Projeto Pró- Álcool. O crescimento industrial se
contrapôs ao modo de subsistência da população local com os recursos naturais, definindo
novas dinâmicas econômicas, com o surgimento do assalariado e do boia-fria.

Os misticismos em torno da formação das dunas, a rusticidade da Vila de Itaúnas, a


natureza exuberante e as manifestações culturais peculiares da região, como o forró pé-de-
serra e a festa de São Sebastião e São Benedito, provocam a chegada dos primeiros
visitantes, ambientalistas e pesquisadores na região, já na década de 1970. As melhorias da
estrutura viária entre a vila e o Município de Conceição da Barra, a implantação de energia
elétrica, e a melhor distribuição de água, ocorridas até meados da década de 1980, ampliam
ainda mais o fluxo de turistas, que passam a investir na compra de lotes para a construção
de pousadas, e, consequentemente, dão início descaracterização da tipologia arquitetônica
local, com casas de alvenaria e cobertura de amianto, gentrificação (Desterritorialização 2 -
D2), e consequente processo de expansão do perímetro urbano (Territorialização 3 - T3).

Prevendo as ameaças a que estavam submetidas, tanto a vila quanto a paisagem natural,
frente ao descaso do poder público e da ação predatória humana, órgãos como o
ACAPEMA, juntamente com o apoio das camadas populares, reivindicam o processo de
tombamento da região pelo Conselho de Estadual de Cultura (CEC/SECULT-ES). Assim,
em 1986, são reconhecidos, através da Resolução nº 08, os valores paisagísticos, históricos
e arqueológicos da região, mediante o tombamento, a nível estadual, das Dunas de Itaúnas,
e suas áreas adjacentes, como bem natural, no dia de 10 de setembro pelo Conselho
Estadual de Cultura (Costa, 2016, p.70).

As discussões acerca da proteção do território são acaloradas na década de 1980 e 1990,


com a abertura de estrada irregular em faixa de restinga, e intenção de construção de hotel
que previa a mudança indevida do curso da Foz do Rio Itaúnas (que já havia sofrido com
abertura de foz artificial à 3km do natural, em 1982). A Secretaria de Estado de Meio
Ambiente e Recursos Hídricos (SEAMA) inicia processo para tentar impedir o avanço da
destruição do meio ambiente, propondo a criação do Parque Estadual de Itaúnas, através do
processo no 2.136/91 (IEMA, 2004). Assim, em 08 de novembro de 1991, através dos
Decretos nos 4.966-E e 4.967-E, é declarada criação do Parque Estadual de Itaúnas,
mediante desapropriação de uma área com 3.150 ha, desde a foz do Rio Itaúnas até a foz
do Rio Doce. Em 1992, o Parque Estadual de Itaúnas é reconhecida pela UNESCO como

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Patrimônio da Humanidade, integrando a Reserva da Biosfera da Mata Atlântica (IEMA,
2004).

A divulgação nacional do tombamento das Dunas e da criação do Parque Estadual de


Itaúnas provocam ainda mais o fluxo do turismo, tornando-se a atividade econômica
principal da região, além do consequente crescimento populacional, que entre as décadas
de 1980 a 2000 marcam a taxa média de 136% (Costa, 2017, p. 78). Em adição, a
valorização provocada pela especulação imobiliária (Desterritorialização 3), leva muitos dos
moradores nativos a venderem seus lotes a empreendedores e turistas de outros estados,
sendo forçados a agruparem-se com outras famílias em uma residência, ou a
estabelecerem-se fora dos limites da vila. Assim, através de ocupações irregulares, os
moradores deslocam-se para área contígua ao atual núcleo, expandindo o perímetro urbano
para às margens da Rodovia ES-010 (Territorialização 4 - T4).

Segundo relatório apresentado no Plano de Ordenamento da Vila de Itaúnas (IJSN, 2001), a


maioria dos proprietários de pousadas não são naturais da região. Muitos residem em Belo
Horizonte e São Paulo, e abrem seus estabelecimentos somente em épocas de temporada.
Muitos, já prevendo o aumento do fluxo do turismo e consequente valorização econômica
(Desterritorialização 4), estabeleceram seus serviços hospitaleiros em área mais distantes
(Territorialização 5). Assim, parte da população local tem renda sazonal, enquanto os
demais trabalham na área da construção civil, são servidores públicos, ou dependem da
pesca artesanal de mar. Trabalham, também, como diaristas na colheita de café em Pedro
Canário. Enquanto as grandes empresas, como Acesita e Aracruz (hoje Fíbria), contam com
uso de tecnologia e mão-de-obra especializada, muitas vezes provenientes de outras
localidades.

MODELOS SOCIOAMBIENTAIS E SOCIOCULTURAIS

Em sua obra intitulada “Il progetto locale. Verso la coscienza di luogo” (“O Projeto Local. Por
uma consciência do lugar”, tradução nossa), de 2005, Alberto Magnaghi defende que, para a
elaboração de um “estatuto do lugar” em defesa de um desenvolvimento urbano sustentável,
é necessário a definição do conceito e da identidade. Isso demanda formas de descrição,
representação e interpretação (Magnaghi, 2005, p.91). A rica descrição do território pode ser
estabelecida através da elaboração de um atlas, de caráter multidisciplinar, de identificação
dos valores ambientais, territoriais-paisagísticos e socioculturais. Através da seleção e
descrição de mapas temáticos e setoriais, o atlas, então, torna-se um instrumento em
potencial para o planejamento e para a proposição de cenários (Magnaghi, 2005, p.99).

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O que se observa atualmente, no processo de transformação das cidades, é a produção
parcial do atlas “estratificada no tempo e baseada num conjunto de catálogos de
monumentos, cidades históricas, bens culturais, sistemas ambientais, áreas de proteção”
(Magnaghi, 2005, p.99). Como resultado, tem-se a produção de um cenário de conflitos,
reproduzindo padrões de destruição do meio ambiente em nome da “qualidade territorial”.
Às áreas de proteção, restam a responsabilidade de compensar os danos. Assim, Magnaghi
(2005) defende um novo método analítico para crítica e elaboração do estatuto do lugar -
representação gráfica de regulamentações urbanísticas -, que mostra o valor do todo, em
contraposição à representação unitária e reducionista do território.

Com base em experimentos, Magnaghi (2005) propõe a construção do atlas a partir de três
fases analíticas: o patrimônio ambiental e territorial, em uma primeira camada; o patrimônio
socioeconômico cultural, na segunda; e as novas práticas sociais, na terceira (Magnaghi,
2005, p.99). Na primeira camada, dedica-se ao sistema ambiental, referindo-se à uma
característica específica na relação entre os assentamentos humanos e o ambiente. Na
segunda camada, dedica-se ao ambiente construído, descrevendo a construção histórica do
território e a formação de sua identidade, produzido por sucessivas civilizações. Neste
primeiro momento, a representação é cartográfica, realizada a partir de tecnologia de
geoprocessamento SIG, levando em consideração os processos de territorialização (ações e
ciclos), sedimentos (materiais e cognitivos) de longa duração, e valores territoriais.

Para elaboração de modelos de aproximações ao patrimônio territorial da Vila de Itaúnas,


são usados como referência, para esse objetivo, ortofotos e dados georreferenciados
disponibilizados pelo Sistema Integrado de Bases Geoespaciais do Estado do Espírito Santo
(Geobases), Instituto Jones dos Santos Neves (IJSN), Instituto Capixaba de Pesquisa,
Assistência Técnica e Extensão Rural (Incaper) e pelo IBGE. Nesta etapa, é utilizado
aplicação livre de Sistema de Informação Geográfica, denominado QGIS.

Tendo como base os estudos de Magnaghi (2005), inicia-se o desenvolvimento de modelos


socioambientais (Figura 2). No enquadramento do Mapa da Geomorfologia (A), nota-se a
predominância de três características geomorfológicas: acumulação fluvial, planícies e
tabuleiros costeiros. É possível identificar que, para a formação do primeiro (e antigo) núcleo
da Vila de Itaúnas, os habitantes procuravam uma área geográfica com pouca variação de
altitude próxima ao mar, para facilitar o desenvolvimento das atividades pesqueiras.

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Figura 2. Modelos Socioambientais da Vila de Itaúnas, sendo (A) a Geomorfologia e (B) o Uso e
Ocupação do Solo. Fontes: elaborado sobre mapeamento do INCAPER, de 2012-2015, e IEMA, de
2007-2008.

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Nos Mapa de Uso e Ocupação do Solo (B), nota-se a incessante descontinuidade
provocada pela influência das atividades agroeconômica no uso da cobertura vegetal: pasto,
cultivo de seringueiras, e forte predominância do cultivo de eucalipto, bastante presente na
parcela norte do Espírito Santo. A ruptura de massa de mata nativa linear na região costeira,
na localidade do antigo assentamento, evidencia o processo de desmatamento da barreira
vegetal que continha o avanço das dunas, ocasionando o soterramento da vila.

Quanto aos Modelos Socioculturais (Figura 3), apresenta-se a permanência da rota de fuga
dos moradores, causada pelo marco histórico do avanço da areia, hoje conhecida como
Trilha do Tamandaré. Os 700 metros de extensão percorrem alagados, restingas e as
dunas, da praia até o atual núcleo. Porém, vale ressaltar, há um desvio em sua chegada,
ocasionada pela construção da nova ponte em 1991. A trilha recebe esse nome em
homenagem ao antigo morador, Carlos Bonelá, conhecido como Seu Tamandaré. A casa
em que viveu após deixar a Vila Soterrada, situa-se ao longo do caminho, e encontra-se em
estado de abandono. A edificação resiste, devido à proteção da mata nativa que a envolve
contra os avanços da movimentação de areia.

Figura 3. Modelos Socioculturais da Vila de Itaúnas/ES. Fonte: elaborado sobre mapeamento do


INCAPER, de 2012-2015.

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“Entre essas tradições estão manifestações, como o Alardo de São Sebastião e o Ticumbi,
que se apropriam do espaço da igreja, da praça, do rio, das ruas e outros para sua
realização” (Costa, 2001, p.66). Costa (2017) retoma o “elo étnico e cultural” entre os índios
Botocudos e os afrodescendentes da porção Norte do Estado. Dos índios, que habitam a
região do Rio Doce nos séculos XVI a XIX, são herdadas as atividades de caça, pesca e
agricultura. Da religiosidade afro-brasileira, trazida dos africanos escravos pelo Porto de São
Mateus no século XIX, misturada ao catolicismo, surge o Ticumbi, marca da identidade local.

“O Ticumbi de Bongado, em Itaúnas, deve ser entendido mais do que como um simples
folclore, mas como uma instituição social – associação política, hierárquica que mantém um
forte traço da cultura afro e do catolicismo” (Costa, 2017, p.66): São Brás, santo negro, São
Benedito, também negro, e São Sebastião, santo branco, são os três santos venerados em
Itaúnas. A imagem de São Benedito e São Sebastião encontram-se na Capela e na Igreja,
respectivamente. A preparação para a festa de São Sebastião e São Benedito, quando
acontecem as apresentações do Ticumbi, acontece durante todo o ano, com confecções,
ensaios, rifas e atividades religiosas.

A procissão do Grupo de Ticumbi tem seu início e chegada na capela ou na igreja, e


percorrem a Vila levando a imagem dos santos homenageados. Em seguida, prosseguem
até a ponte para receber as canoas do grupo que desce o Rio Itaúnas desde o Sítio do
Rives, onde acontecem os ensaios. As canoas são enfeitadas com flores de papel crepom e
fitas coloridas. “No fim da tarde do primeiro dia, acontece a Fincada do Mastro de São
Sebastião na praça em frente à igreja. Esse acontecimento começa com um Grupo de Reis
de Boi cantando e tocando pandeiros na capela de São Benedito” (Costa, 2017, p. 69). A
representação da rota de procissão do Ticumbi, no Mapa de Permanências anterior, possui
como referência a reconstituição realizada por Costa (2017).

REGULAMENTAÇÕES AMBIENTAIS E URBANÍSTICAS CORRENTES

A Prefeitura Municipal de Conceição da Barra, através do Plano Diretor Municipal (2006), o


Conselho Estadual de Cultura (SECULT/ES), pela Resolução de Tombamento nº 08, o
Instituto Estadual do Meio Ambiente e Recursos Hídricos (IEMA) e a Secretaria de Estado
para Assuntos do Meio Ambiente (SEAMA), que reconhecem e administram,
respectivamente, o Parque Estadual de Itaúnas, são os órgãos públicos responsáveis pela
proteção e desenvolvimento territorial que abrange a antiga e nova Vila.

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O Plano Diretor Municipal (PDM) da Prefeitura Municipal de Conceição da Barra, é redigido
em 2006, e trata a compreensão do território através da delimitação em Macrozonas,
podendo ser Urbana, Rural e Ambiental, e em Zonas. Assim, insere a Vila de Itaúnas na
Macrozona Urbana, que compreende a área de todo o município destinada para fins
urbanos, e a delimita na Zona Urbana 3. A Zona Urbana de Itaúnas (descrita na Seção III), é
subdividida em cinco outras: Zona Urbana de Consolidação I; Zona Urbana de Consolidação
II; Zona de Interesse Ambiental e Zona de Expansão Urbana.

A Resolução nº 08, assinada pelo CEC/SECULT-ES em 1986, aprova o tombamento das


Dunas de Itaúnas, enquanto Monumento Natural, no Livro de Tombo Arqueológico,
Etnográfico, Paisagístico e Científico. A Resolução nº 08 trata o entorno das Dunas como
área adjacente, e delimita o raio de proteção através de Planta Cadastral, com extensão
total de, aproximadamente, 325,50 ha.

O Decreto Estadual n°4.967-E, assinado em 08 de novembro de 1991, pelo então


Governador do Estado Albuíno Cunha de Azeredo, cria o Parque Estadual de Itaúnas e
incumbe ao antigo Instituto de Terras, Cartografia e Florestais (ITCF, hoje IDAF) a tarefa de
discriminação e demarcação da área, e, conjuntamente ao SEAMA (cujo IEMA é ligado), a
sua implantação e administração. A delimitação do Parque parte da foz do Riacho Doce, ao
norte, até a foz do Rio Itaúnas, ao sul, com uma área de, aproximadamente de 3.150,00 ha.

Com o Mapa de Regulamentação Urbanística e Ambiental da Vila de Itaúnas/ES (Figura 4),


a partir da Sobreposição Planta Cadastral e Zoneamento Urbano (A), pretende-se ressaltar
zonas de conflito e/ou confluência no tratamento do patrimônio territorial pelas instituições
acima citadas. Nota-se que há divergência de atuação e não há concordância entre as
delimitações das áreas de proteção, o que coloca em questão: 1) os critérios e os valores
considerados para a circunscrição da área; 2) o afastamento e isolamento na atuação
dessas instituições, enquanto, em um cenário ideal, a junção de forças é necessária em prol
da elaboração de um estatuto do lugar, visando o desenvolvimento autossustentável.

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Figura 4. Mapeamento dos dados de representações normativas correntes. Fonte: elaborado sobre
mapeamento do INCAPER, de 2012-2015.

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Não obstante, a Análise da sobreposição da Planta de Zoneamento (PMDB/2006)
Equipamentos Urbanos (B), indica significativa quantidade de pousadas instaladas na Zona
de Consolidação 1, mas que já invadem as Zonas de Consolidação 2, a Zona de Expansão
e, até mesmo, a Zona Ambiental. Vale lembrar, que são localizadas as propriedades que se
intitulam como “pousadas”, mas é possível observar, por toda extensão do perímetro
urbano, um grande volume de edificações voltadas para atividade turística, podendo ser:
suítes e casas de veraneio, espaços voltados ao forró- pé-de-serra, campings, restaurantes
e bares. Conclui-se que, a ocupação da Vila de Itaúnas é voltada ao interesse do mercado
imobiliário e turístico, o que a transforma em um grande “parque temático”.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

O interesse no estudo teórico, metodológico e prático da extensão conceitual de patrimônio


e sua instrumentalização em regulamentações urbanísticas articulados ao planejamento de
desenvolvimento local autossustentável na Itália, principalmente na Toscana e na Puglia,
são referências fundamentais para fomentar reflexões críticas acerca do caso da Vila de
Itaúnas. A problemática é a transgressão do valor patrimonial a um valor de capital nessa
localidade, irrompendo ciclos subsequentes e concomitantes de desterritorialização que
colocam os modelos socioambientais e socioculturais em risco. Ou seja, esse território vem
sendo abundantemente explorado pelo mercado visando seu valor de capital, tratado como
substrato de processos econômicos imbuídos de caráter de gentrificação.

Ademais, as representações cartográficas tradicionais, que selecionam e excluem parte do


território, não são eficientes para uma descrição rica do território e, consequentemente,
como subsídio instrumental para um planejamento com enfoque no desenvolvimento local
autossustentável. A representação precisa estar atrelada e fundamentada pela revisão e
atualização do conceito de patrimônio na lei. Na Toscana, Itália, o conceito “patrimônio
territorial” já atingiu a esfera legislativa, representando um núcleo fundamental do L.R.
Toscana 65/2014 sobre governança territorial. Essa modificação, liderada pela Escola
Territorialista Italiana, integrou a elaboração da revisão do plano territorial e paisagístico da
Toscana articulando o desenvolvimento sustentável à valorização do patrimônio local, o
valor de uso ao de existência, sem exaurimento de suas camadas ecológica, construída e
antrópica.

Na contramão, as “ilhas de proteção”, delimitadas pelas instituições responsáveis pelas


regulamentações ambientais e urbanísticas da Vila de Itaúnas, tentam resistir aos avanços
econômicos, contendo os danos sócio-ambientais-culturais causados pelas atividades

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exploratórias. Ao mesmo tempo, pela predominância significativa dos usos voltados ao
turismo, a transformação da Vila de Itaúnas, e todo seu entorno, em um “parque temático”,
para o agrado dos turistas, parece já ter se consolidado. Constata-se, portanto, a
prevalência do valor do uso do território, acima do valor de existência, nas definições
apresentadas por Poli (2015). Na conceituação entre patrimônio territorial, recursos
territoriais e capital territorial, é notável a abordagem de tratamento dos elementos
patrimoniais frente ao último termo, visando a competitividade econômica e o lucro do
mercado.

Conclui-se, portanto, a necessidade de rediscussão de instrumentos, ações, planejamento


que associem o desenvolvimento urbano à reprodutibilidade do patrimônio territorial. Nesta
perspectiva, o Brasil poderia experimentar o processo metodológico-prático dos
territorialistas na revisão/renovação de planos diretores. Quanto ao objeto, o planejamento
urbano autossustentável para a Vila de Itaúnas e todo o seu território se faz emergencial.
Intentando auxiliar futuros estudos em direção ao desenvolvimento local, propõe-se, nesse
artigo, as primeiras etapas de inventário cartográfico, segundo ensinamentos de Alberto
Magnaghi e sua Escola Territorialista Italiana, na tentativa de reconhecimento, valoração e
valorização de seu patrimônio territorial.

Vale lembrar, para conclusão de um atlas patrimonial, na definição de “estatuto do lugar”


para o território da Vila de Itaúnas, é necessário avançar nas representações cartográficas,
incluindo outras camadas como: tipologias urbanas e de habitação, técnicas de construção e
materiais, culturas das características socioeconômicas locais, sistema de ações
econômicas, dentre outros. Em seguida, deve-se elaborar etapa descrita como “novas
práticas sociais”, que “lida com descrições universais dos sistemas territoriais locais
inovadores orientados frente à sustentabilidade. Evidencia a geografia social [...] das novas
formas das comunidades” (Magnaghi, 2005, p.101).

REFERÊNCIAS BILIOGRÁFICAS

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instrumento de conservação, valorização, requalificação e/ou transformação do patrimônio
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Institui o Plano Diretor do Município de Conceição da Barra.Conceição da Barra, 2006.

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