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INVENTÁRIO DE BENS CULTURAIS DE RIBEIRÃO PRETO – SP

Henrique Telles Vichnewski 1


Lílian Rodrigues de O. Rosa2
Nainôra Maria B. de Freitas3

O Inventário de Bens Culturais de Ribeirão Preto faz parte do


Programa Café com Açúcar, iniciativa promovida pela Secretaria da Cultura
de Ribeirão Preto em 2009 e que está sendo executado pela Rede de
Cooperação Identidades Culturais, a qual é formada pelas principais
Instituições de ensino de nível superior da rede privada e pública do
município, além de outras instituições como o MIS – Museu da Imagem e do
Som, Grupo Amigos da Fotografia e Acirp – Associação Comercial e
Industrial de Ribeirão Preto.

A mesa-redonda, sobre o Inventário de Bens Culturais de Ribeirão


Preto, teve como objetivos apresentar a linhas gerais desse projeto, focalizar
os trabalhos do grupo setorial “Marcos Edificados”4, dialogando com as
questões do patrimônio arquitetônico, do patrimônio urbanístico e patrimônio
imaterial e as relações pertinentes de preservação, gestão patrimonial e
valores locais do patrimônio cultural.

Esse projeto de inventário de bens culturais do município de Ribeirão


Preto se caracteriza como um levantamento de dados e a consolidação de
um diagnóstico local no que se refere aos bens culturais de natureza material
e imaterial. O trabalho se realizará a partir de procedimentos metodológicos
desenvolvidos em parceria com o IPHAN (Instituto do Patrimônio Histórico e

1
Arquiteto e Urbanista, Mestre em História (Memória e Cidade) pela UNICAMP. Professor da graduação e pós-
graduação em Arquitetura e Urbanismo no Centro Universitário Barão de Mauá.
2
Licenciada em História e Geografia pelo Centro Universitário Barão de Mauá, Mestre em História e doutoranda em
História do Brasil pela Unesp – Franca SP; Coordenadora do curso de História do Centro Universitário Barão de
Mauá – Ribeirão Preto – SP.
3
Licenciada em História, mestre e doutora em História do Brasil pela Unesp – Franca SP, professora do Centro
Universitário Barão de Mauá – Ribeirão Preto – SP e do Centro de Estudos da Arquidiocese de Ribeirão Preto - SP
4
Marcos Edificados, como consta na Ficha de Identificação do Sítio do INRC do IPHAN estão definidos por: Marcos
urbanísticos, arqueológicos, arquitetônicos e edificados em geral relevantes como referências espaciais do sítio.

1
Artístico Nacional) por meio do INRC – Inventário Nacional de Referências
Culturais e o Plano de Ação para as Cidades Históricas.
O INRC/IPHAN (2000) é um instrumento de identificação de bens
culturais tanto imateriais quanto materiais e está configurado em dois
objetivos principais:

1. identificar e documentar bens culturais, de qualquer natureza, para atender


à demanda pelo reconhecimento de bens representativos da diversidade e
pluralidade culturais dos grupos formadores da sociedade;

2. apreender os sentidos e significados atribuídos ao patrimônio cultural pelos


moradores de sítios tombados, tratando-os como intérpretes legítimos da
cultura local e como parceiros preferências de sua preservação.

Nesse sentido, observa-se a importância do reconhecimento da


diversidade e pluralidade culturais presentes na sociedade e a legitimidade
do patrimônio cultural motivada pela população local.

O grupo “Marcos Edificados tem como base referencial o conceito de


paisagem cultural do pesquisador Leonardo B. Castriota (2009) que discute
que o inventário cultural não é entendido somente como um registro das
edificações isoladas nas quadras da cidade, conceito de patrimônio cultural já
ultrapassado, em abordar a cidade como “objeto estético” (bens de pedra e
cal). Mas o estudo e compreensão da cidade deve ser integrada a uma
paisagem cultural compreendida por um sistema “sistema agregador de
diferentes valores”. Onde leva-se em conta as relações socioculturais e o
conjunto dos bens culturais referentes às diversas identidades coletivas.
Dessa forma parte-se da compreensão do patrimônio edificado isolado
para uma interpretação das cidades enquanto unidades culturais mais
amplas formadas pelo patrimônio material e imaterial, ou seja, os aspectos
históricos, sociológicos, antropológicos, arqueológicos, estéticos, urbanísticos
e econômicos, entre outros valores.
O patrimônio ambiental urbano ou paisagem cultural devem ser
compreendidas e definidas a partir das “relações que os bens naturais e

2
culturais” apresentam entre si, em determinado ambiente urbano, pensado de
forma inter-relacionados:
 o perfil histórico;
 a infraestrutura;
 o lote;
 a edificação;
 a linguagem urbana;
 os usos;
 os significados e referências culturais;
 e os aspectos naturais;

Todos responsáveis pela feição peculiar de cada uma das porções, no


caso, do município de Ribeirão Preto. Na busca por essas feições, devem-se
identificar as várias camadas da cidade, perceber como os moradores e
usuários utilizam e valorizam os espaços.
O inventário no entendimento do grupo deve acompanhar as idéias de
que ele representa um recenseamento das potencialidades culturais. Ele é
visto como um amplo campo de conhecimento que não pode ser confundido,
como ressalta André Chastel, com “o serviço dos Monumentos Históricos”,
ou seja, com as ações mais imediatas envolvendo a proteção, como o
tombamento e a restauração. O maior objetivo do inventário:
“...é o de contribuir com a ampliação do conhecimento sobre a arte e a
cultura, tendo como objetivos específicos: guiar as organizações de
turismo, dar suporte às finalidades do ensino, orientar a pesquisa
arqueológica e histórica, e dar, enfim, às comissões responsáveis
pelos monumentos históricos e pelo urbanismo, os elementos de ação
suficiente (FONSECA Apud OLENDER, 2010, p. 02)”.

O grupo “Marcos Edificados” envolve também os elementos da


formação e evolução urbana, em consonância das metodologias
desenvolvidas pelos grupos do: IGEPAC (Inventário Geral do Patrimônio
Ambiental e Cultural Urbano de São Paulo), do IPUCBH (Inventário de

3
Patrimônio Urbano e Cultural de Belo Horizonte) e do Inventário do
Patrimônio Cultural de Porto Alegre (EPAHC).
Em um quadro geral essas metodologias partem do diagnóstico
urbano como no caso de Porto Alegre, enquanto “patrimônio ambiental
urbano” (CURTIS, Apud CASTRIOTA, 2009, p. 197) que não se limita como
já mencionado neste texto aos valores isolados das edificações nem mesmo
naqueles decorrentes do seu inter-relacionamento pois envolve uma
compreensão mais ampla do conceito de patrimônio cultural:
“(...) ao invés de um produto final de um arranjo cenográfico e
anacrônico, é o resultado, em determinado momento, de um processo
cumulativo e/ou transformativo de bens imóveis (...) cujas qualidades
culturais e de uso, por responderem à sensibilidade das populações
interessadas incorporam-se à memória coletiva (CASTRIOTA, 2009, p.
197)”.

Essa compreensão mais ampla do patrimônio cultural deve identificar


os modos de organização no espaço urbano - a sua dinâmica sócio-espacial
que envolve constantemente apropriações e reapropriações dos espaços do
cotidiano como a vida das ruas dos bairros, as vielas, as travessas, praças;
suas feiras, festas, festivais, reuniões informais, enfim ambientes imbuídos de
espaços humanizados. Um nicho em meio a modernização progressista
devastadora da cidade (CASTRIOTA, 2009).
Essa abordagem “menos palpável da cultura que está na base da
construção social de identidades espaciais distintas”, enfim da própria
identidade das culturas locais e/ou regionais que permitem que cada setor da
cidade seja percebido e representado de forma própria pela população
(CASTRIOTA, 2009).
A ação do grupo Marcos Edificados envolve os procedimentos que
devem ser tomados, fornecendo elementos e subsídios para possíveis ações
no campo da gestão do patrimônio cultural.
O grupo ao identificar e levantar os dados para o inventário parte de
uma análise acadêmica e sugere cruzar os resultados com o levantamento
da comunidade juntamente com os outros grupos da rede de cooperação

4
para assim dar legitimidade ao mesmo com o intuito de compreender as
unidades culturais a serem preservadas no conjunto da paisagem cultural.
A identificação das referencias dos Marcos Edificados do Sítio
(Ribeirão Preto) engloba as localidades, ou seja, os bairros do município
como, Bonfim Paulista, Centro, Vila Tibério, Campos Elíseos, República e
Ipiranga e que compõem o projeto Identidades Culturais tem por ponto de
partida as edificações tombadas ou em processos de tombamento, aqueles
identificados pela população como possíveis pontos a serem considerados de
valor cultural que tem representatividade na paisagem local e os Marcos
identificados pelo Grupo como elementos de representatividade de valor
cultural.
O patrimônio enquanto edificado deve ser entendido “... dentro de seus
ambientes passados e presentes, eventos dentro de seus ambientes sociais
e temporais” (GOODEY, 2002, p.131), facilitando para que o público se sinta
estimulado a conhecer mais a respeito de lugares com uma historicidade
humana que necessitam serem preservados. Na relação com a comunidade
o patrimônio deve buscar seu significado que é considerado culturalmente
construído, como patrimônio material e imaterial.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

CASTRIOTA, L.B. Patrimônio Cultural. Conceitos, políticas, instrumentos.


São Paulo: Annablume; Belo Horizonte: IEDS, 2009.

CHASTEL, André. A invenção do inventário. Revue de l`Art, n.87. Paris,


CNRS, 1990. Tradução e notas de João B. Serra.

FONSECA, Maria Cecília Londres. A Noção de Referência Cultural nos


Trabalhos de Inventário. In: MOTTA, Lia; SILVA, Maria Beatriz Resende.
Inventários de Identificação: um panorama da experiência brasileira. Rio de
Janeiro, IPHAN, 1998, p. 29-30.

FRANCISCO, Rita de Cássia. Inventário como ferramenta de preservação: a


experiência da cidade de Campinas/SP. Revista CPC (Centro de

5
Preservação Cultural - USP), São Paulo, n. 6, p. 119-141, maio 2008/out.
2008

GOODEY, Brian. A Sinalização interpretativa. In: MURTA, S. M. & ALBANO,


C. (org). Interpretar o patrimônio: um exercício do olhar. Belo Horizonte:
UFMG; Território Brasilis, 2002.

IPHAN. Inventário Nacional de Referências Culturais: INRC - Manual de


Aplicação. Apresentação de Célia Maria Corsino. Introdução de Antônio
Augusto Arantes Neto. Brasília: Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico
Nacional, 2000.

OLENDER, Marcos. Uma “medicina doce do patrimônio”. O inventário como


instrumento de proteção do patrimônio cultural – limites e problematizações.
Arquitextos, São Paulo, 10.124, Vitruvius, set 2010
<http://www.vitruvius.com.br/revistas/read/arquitextos/10.124/3546>.

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