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ESCOLA

SUPERIOR
DE EDUCAÇÃO
POLITÉCNICO
DO PORTO

L LICENCIATURA
GESTÃO DO PATRIMÓNIO CULTURAL

Feiras Novas de Ponte de Lima


André da Siva Couto
Diogo Alves Pereira de Freitas
Margarida Cabral Rocha

01/2022

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Politécnico do Porto

Escola Superior de Educação

André da Siva Couto


Diogo Alves Pereira de Freitas
Margarida Cabral Rocha

Feiras Novas de Ponte de Lima

Tipologia Trabalho de Grupo

Licenciatura em Gestão do Património Cultural

Docente: Prof.ª Doutora Carla Sofia Ferreira Queirós

Porto, janeiro de 2022

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LISTA DE ILUSTRAÇÕES

Figura 1 - Desfile do Concurso Pecuário................................................................................... 12


Figura 2 - Arroz de Sarrabulho. ................................................................................................ 14
Figura 3 - Exposição de Artesanato. ......................................................................................... 16

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ÍNDICE

INTRODUÇÃO .............................................................................................................................. 5

1. PONTE DE LIMA E O SEU POSICIONAMENTO GEOGRÁFICO .............................................. 6

2. CONTEXTUALIZAÇÃO HISTÓRICA DAS FEIRAS NOVAS ....................................................... 7

3. AS MANIFESTAÇÕES CULTURAIS DE UMA POPULAÇÃO .................................................... 8


3.1. CONCERTINAS E CANTARES AO DESAFIO ................................................................... 8
3.2. BANDAS MUSICAIS ................................................................................................... 10
3.3. FADOS E TUNAS ACADÉMICAS ................................................................................. 10
3.4. ZÉS PEREIRA E GIGANTONES .................................................................................... 10
3.5. CONCURSO PECUÁRIO E GARRANO ......................................................................... 11
3.6. GASTRONOMIA ......................................................................................................... 13

4. EXPOSIÇÃO, ARTESANATO E PRODUTOS ......................................................................... 16

5. A RELIGIÃO COMO PARTE FUNDAMENTAL DAS FEIRAS NOVAS ...................................... 18

6. FESTA OU FEIRA? .............................................................................................................. 21

7. FEIRAS NOVAS NA ATUALIDADE ....................................................................................... 22

8. MEDIDAS PARA A PRESERVAÇÃO DO PATRIMÓNIO CULTURAL IMATERIAL PORTUGUÊS –


CONSERVAÇÃO DA TRADIÇÃO.................................................................................................. 24

9. TESTEMUNHOS ................................................................................................................. 27

CONCLUSÃO.............................................................................................................................. 29

BIBLIOGRAFIA ........................................................................................................................... 30

WEBGRAFIA .............................................................................................................................. 31

ANEXOS ..................................................................................................................................... 33

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INTRODUÇÃO

Na unidade curricular de Estudo de Etnografia Portuguesa foi pedido a realização de um


trabalho de grupo em que o tema seria uma expressão do Património Cultural Imaterial
português. Neste caso, foi selecionado as Feiras Novas de Ponte de Lima, pois um dos
membros do grupo era visitante assíduo desta festa que já se celebra á séculos. Este trabalho
tem como objetivo explorar as Feiras Novas, ou seja, as suas tradições, costumes e curiosidade
sobre esta magnífica relíquia portuguesa, mais especificamente, ponte-limense, mas também
procura saber que mudanças aconteceram nesta festa bem como o que pode ser feito para
nunca serem esquecidas. Este estudo focar-se-á maioritariamente no século XX e XXI, onde
começa a ter uma maior notoriedade. Estará dividido em nove grandes tópicos, sendo eles:
Ponte de Lima e o seu posicionamento geográfico, contextualização histórica, as
manifestações culturais da população, exposição: artesanato e produtores, a religião como
parte fundamental das Feiras Novas, a questão “festa ou feira”, a sua realização na atualidade,
medidas para a preservação do património cultural imaterial português e testemunhos. Para
a elaboração do mesmo, foram realizadas pesquisas em vários sites online e em alguns livros
descritos na bibliografia.

As Feiras Novas surgiram no ano 1826 e ao longo dos tempos foram ganhando cada vez mais
a atenção dos portugueses e estrangeiros que adoram música, fogo-de-artifício, folclore,
gigantones, cabeçudos e muitas mais animações que podem encontrar nesta pérola
limarense.

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1. PONTE DE LIMA E O SEU POSICIONAMENTO
GEOGRÁFICO

Ponte de Lima (anexo 1) é uma vila portuguesa situada em Viana do Castelo, região do Norte
e sub-região do Minho-Lima e de acordo com os censos de 2011 tem 5125 habitantes. É sede
do município de Ponte de Lima possuindo uma área de 320,25 km² subdividida em 39
freguesias, com 42 286 habitantes. Faz fronteira com Paredes de Coura, Arcos de Valdevez,
Ponte da Barca, Vila Verde, Barcelos, Viana do Castelo, Caminha e Vila Nova de Cerveira. É
conhecida pela sua belíssima arquitetura medieval e pelo Rio Lima, rio este que deu origem
ao nome desta antiga vila. Atualmente Victor Mendes é o presidente da Câmara Municipal.

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2. CONTEXTUALIZAÇÃO HISTÓRICA DAS FEIRAS NOVAS

As Feiras Novas de Ponte de Lima são celebradas há séculos em honra de Nossa Senhora das
Dores, que apesar de não ser a padroeira da vila, cujo o lugar está reservado a Santa Maria
dos Anjos, ganhou um protagonismo junto dos habitantes e seus devotos. “Em 1825, os
moradores da vila pedem ao rei (D. Pedro IV) para poderem realizar três dias de feira por
ocasião das festas e no ano seguinte, em 1826 chega essa autorização.” (Feiras Novas, s.d.). A
festa em honra de Nossa Senhora das Dores passou a ter para além do programa religioso, um
programa profano. O nome pelo qual passou a ser conhecida a festa, Feiras Novas, surgiu para
se distinguir da Feira «Velha» “aquela que já vem referida na carta de foral (da rainha D.
Teresa) de 1125 e acabaria por se vulgarizar como nome principal da festa.” (Feiras Novas,
s.d.). A festa tinha início, antigamente, apenas no dia 21 de setembro, tal como consta nos
Estatutos da Irmandade de Nossa Senhora das Dores. A partir do momento em que passou a
ser autorizado a realização de três dias de festa, começou a 19 de setembro, culminando no
dia 21 de setembro.

Não se sabe ao certo quando foi introduzida a Festa de Nossa Senhora das Dores em Ponte de
Lima, mas esta já se realizava em 1792, segundo “uma obra do Padre António Pereira, da
Congregação do Oratório de Braga, que expandiu o culto no Alto Minho, nomeadamente em
Ponte de Lima e em Monção” (Lopes, 2014). As feiras Novas passaram a realizar-se no terceiro
fim-de-semana de setembro, o sábado, domingo e segunda-feira, há cerca de cinquenta anos,
por acordo entre a Câmara Municipal e o então Grémio do Comércio de Ponte de Lima. Da
história das Feiras Novas, há ainda a registar que já se realizaram em julho, no ano de 1839,
nos dias 24, 25 e 26, mas no ano seguinte foram novamente transferidas para o mês de
setembro, o mês do “fecho do ciclo festivo regional” (Lopes, 2014). Com números centenários
como a feira de gado, a corrida de garranos e a bicentenária festa à Nossa Senhora das Dores
(1792) as Feiras Novas são a alegria de todos os limianos no mês de setembro de cada ano.

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3. AS MANIFESTAÇÕES CULTURAIS DE UMA
POPULAÇÃO

Ponte de Lima é uma Vila de Portugal com muitas manifestações culturais que revelam uma
grande animação por parte dos limianos (habitantes de Ponte de Lima) durante as Feiras
Novas. Delas fazem parte a arruada de concertinas, os concertos de bandas de música, os
concertos das bandas de arraial popular, os fados, as tunas académicas, os cantares ao
desafio, os grupos de música popular portuguesa, os grupos de Zés Pereira, os gaiteiros, os
gigantones e cabeçudos, os grupos folclóricos, as salvas de morteiros, os concursos pecuários,
o cortejo etnográfico, a corrida de garranos, as rusgas, o fogo-de-artifício, o cortejo histórico
e a tourada.

3.1. CONCERTINAS E CANTARES AO DESAFIO

As concertinas juntaram-se aos outros instrumentos regionais de Ponte de Lima em 1925,


fazendo um furor com as suas rusgas e acompanhando os cantares ao desafio. O 1.º Festival
Popular da Desgarrada e Cantiga ao Desafio realizou-se em 1969, passando os tocadores de
concertinas e os cantadores ao desafio a ter uma participação ativa considerada nas
festividades. O Cachadinha, é “um verdadeiro artista do povo, um dois maiores emblemas da
cultura popular de Ponte de Lima, considerado por várias gerações como o Rei das Concertinas
e dos Cantares ao Desafio” (Serapicos, 2011, p. 48).

Cruzou todos os caminhos das feiras, festas e romarias minhotas. A melodia, os baixos e os acordes da sua
concertina ribombaram nos vales e nas serras, esturricaram viras, chulas e rusgas, afoguearam bailes de
terreiro, alegraram trabalhos de vindimas ou desfolhadas, chamaram homens e mulheres à sua venda de
vinhos e petiscos. E ali era cercado por um povoléu imenso. Muitas vezes só, outras vezes à desgarrada,
reinventou mil e uma cantigas populares, na evocação de viagens e saudades, namoros e casamentos,
superstições e crendices, saudações aos santos, lembranças de lendas, galanteios às camponesas, quadros
cómicos do dia-a-dia, estórias do diabo e do inferno, peripécias de cavalos esgrouviados, moços
enrabichados, bruxas e defumadouros, manias de benzedeiras ou pantomineiros. (Dantas, citado por
Serapicos, 2011, p.48).

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A Cachadinha foram dedicadas centenas de quadras, versos e trovas em todos os encontros e
cantares ao desafio de Ponte de Lima.

Todos os anos fazem parte novos artistas populares das cantigas ao desafio, chamando a
participação do povo na animação e folia de tais festividades, uma vez que os tocadores e
cantadores se envolvem de forma aleatória no trocadilho da cantoria ao desafio, “passando
de assistentes a participantes e vice-versa, sem qualquer tipo de preconceito” (Serapicos,
2011, p. 49) salientando-se o som das concertinas. As Feiras Novas continuavam a ter cada
vez mais a participação e dependência do povo e a animação musical era cada vez mais
importante. Os cantadores ao desafio passaram a ser muito populares nas Feiras Novas,
muitos deles deixaram a sua marca “e a sua popularidade começou a passar de geração em
geração” (Serapicos, 2011, p. 50), tal como acontece a “Cachadinha” que é seguido pelo filho
Zé Cachadinha (1953-2019) e neto Pedro Cachadinha.

Outro cantor e tocador de concertina bastante conhecido foi Nelson Pereira, mais conhecido
por Vilarinho. Nelson costumava percorrer todas as feiras e romarias, desde Cerveira a Ponte
de Lima, de Caminha a Paredes de Coura e arredores. “Tocava, cantava, dançava e espalhava
alegrias. Desde a Sr.ª da Cabeça a S. Bento de Seixas, da Peneda a S. João d’Arga. Sempre
solteirinho e bom rapaz, o Nelson acabou casado, mas já na casa dos cinquenta” (Loureiro,
2018). Em 1959 foi pela primeira vez à televisão, com a ajuda do seu amigo Doutor Pedro
Homem de Melo, conseguindo gravar o seu primeiro disco com as seguintes músicas: Rosinha
de Covas, Fandango, Regadinho de Covas, Gota de Covas e o Ribeirinho.

As concertinas, sendo “cada vez mais populares, mediáticas e apreciadas, tornam-se


inseparáveis dos cantares ao desafio. São um autêntico símbolo das Feiras Novas” (Serapicos,
2011, p. 50).

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3.2. BANDAS MUSICAIS

As bandas musicais têm uma presença predominante nas Feiras Novas, com atuações na
quinta-feira e sexta-feira à noite, sábado e domingo de manhã e segunda-feira durante todo
o dia. Delas fazem parte todos os anos a Banda de Música de Estorãos, Banda de Música da
Casa do Povo de Moreira de Lima, Grupo de Cultura Musical de Ponte de Lima, Banda Musical
de São Martinho da Gandra, todas de Ponte de Lima.

Estas bandas já fazem parte da “mobília”. Há vários anos que põem o Largo de Camões a
delirar de alegria, de boa disposição e culto artístico. “A insubstituível filarmónica popular em
desfile pelas ruas do velho burgo, marcará compasso ao som dos seus acordes musicais em
direção aos coretos, onde farão a delícia dos apreciadores da arte divina dos sons” (Programa
de 2019).

3.3. FADOS E TUNAS ACADÉMICAS

Normalmente, a sexta-feira à noite é marcada pelas atuações de Fados e de Tunas Académicas


no Jardim do Paço do Marquês. O Grupo de fados Fado ao Centro de Coimbra é um grupo que
já conhece os “cantos à casa”. Traz às Feiras Novas a sua arte na canção de Coimbra. É um
espetáculo que recorda os temas mais conhecidos na trajetória da Canção Coimbrã. A
irreverência sadia da juventude estudantil, as tunas académicas, integram também as Feiras
Novas.

3.4. ZÉS PEREIRA E GIGANTONES

Os Zés Pereira são um grupo musical e de animação popular constituído por gaiteiros e
percussionistas que tocam bombos, caixas e gaitas-de-foles e que percorrem as ruas de uma
localidade nos dias de festa fazendo com que a população se anime com a sua passagem pelos
arruamentos. Normalmente vão gigantones e cabeçudos à frente dos zés-pereiras que
animam as pessoas com a sua passagem e imagem alegórica, transmitindo um clima de
animação festiva.
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Em Ponte de Lima a música tinha um aspeto fundamental no programa das Feiras Novas, pois
desde cedo que os tocadores de bombos eram incluídos no orçamento da festa. “O grupo de
tocadores destes instrumentos era constituído, em 1830, por ‘cinco figuras de tambores’ a
quem fora pago o valor de 6.000 réis” (Barbosa, 2013, p. 417). Em 1856, não havendo a
possibilidade da presença dos tocadores de bombos nas Feiras Novas, a comissão de festas
optou por contratar gaiteiros para animar as festas, podendo ver-se aqui a importância que
estes atribuíam à festa. Outro estilo musical que faz parte das Feiras Novas é a música de
arraial, onde os artistas populares atuam no palco das festas, ou contrário dos Zés-pereiras
que tocavam pelas ruas. No arraial cantava-se, dançava-se e tocava-se música. Era o local onde
a população se reunia e socializava, divertindo-se umas com as outras.

Das Feiras Novas fazem parte também manifestações teatrais onde as pessoas de mascaravam
para o baile de máscaras. Este era o momento de “os homens saírem momentaneamente da
rigidez e dos papéis sociais que lhes estavam atribuídos no quotidiano” (Barbosa, 2013, pp.
417-418). Estas práticas teatrais traziam vitalidade, dinamismo e energia para sociedade
limiana (habitantes de Ponte de Lima) pois eram momentos de grande alegria que se
sobrepunha à solidão, à tristeza e ao cansaço.

3.5. CONCURSO PECUÁRIO E GARRANO

As Feiras Novas de Ponte de Lima têm um concurso pecuário, a tradicional feira de gado, onde
se faz a apreciação e depois premiação de duas raças de bovinos, a raça minhota e a raça
barrosã, estas duas raças que não são originárias da região, mas sempre estiveram presentes
na região e o concelho de Ponte de Lima e os seus criadores sempre albergaram estas duas
raças. O concurso pecuário tem diversos critérios que são determinados por lei o que passa
sobretudo pelo facto de os animais terem de estar devidamente saneados.

Depois de os animais estarem devidamente saneados e com os documentos em ordem, são


distribuídos por classes, desde os machos até às fêmeas, sendo estas classes dividas sobretudo
pela idade e se os machos são castrados. Isto determina várias classes e de acordo com estas
classes pode ter diversos participantes, tendo como classificação do 1.º ao 5.º lugar, ou seja,

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há muitas classes pois há muitos animais com idades diferentes. O que o júri do evento
determina para estabelecer a classificação é a morfologia do animal, o seu porte físico dentro
do padrão da raça, o seu estado, se são bem tratados ou não ou seja, para além de
obedecerem a linhas inerentes ao padrão da raça, é considerado o seu estado sanitário e a
sua apresentação com que se encontram no concurso.

Depois de o concurso acabar, normalmente é feito um desfile pelas ruas dos participantes do
concurso pecuário.

Figura 1 - Desfile do Concurso Pecuário. Fonte: O Minho,2018. Disponível em: 2018: Programa das Feiras Novas, Festas de Ponte de Lima
(ominho.pt).

Para além do concurso pecuário, as Feiras Novas de Ponte de Lima têm como atração a corrida
de garranos. A corrida de garranos é uma corrida não como as outras pois é uma corrida
sobretudo lenta, em que o cavalo tem de deslocar-se com os dois membros do mesmo lado
ao mesmo tempo o que é invulgar, é uma corrida a “passo travado, arte equestre com raízes
na região” (Oliveira L. H., 2005). “Ao contrário das corridas que se fazem por todo o mundo,
esta é prova feita em respeito pelos costumes da nossa terra. O passo travado é um passo
tradicional do Alto Minho” (Oliveira L. H., 2005). A raça garrana é uma raça típica da Península
Ibérica e apresenta uma aptidão invulgar e fora do comum para a aprendizagem e execução
deste andamento pois a raça tem um andar típico dela que é mais lento e firme e é uma raça

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que originalmente é criada nas montanhas e está habituada a ter um tipo de andar para um
terreno acidentado.

3.6. GASTRONOMIA

A gastronomia das Feiras Novas de Ponte de Lima tem como principal referência o arroz de
Sarrabulho, um prato originário de Ponte de Lima, que é feito com arroz, diversas carnes de
porco, galinha e vaca, das raças minhotas e bísara, sangue de porco e diversas especiarias. É
um prato rico em sabores e tradição em que o porco é o principal ingrediente pois, o porco é
uma das bases da cozinha limiana. O arroz de Sarrabulho é uma marca da identidade cultural
e gastronómica de Ponte de Lima, que tem uma origem no contexto rural e familiar e este
prato surge sobretudo pela tradição da matança do porco. A matança que “desempenha uma
função social relevante nas comunidades rurais, fortemente estruturada e rica de tradições. É
uma festa de família, convidam-se parentes, amigos e vizinhos para o evento, em que a
verdadeira celebração se faz na mesa logo pela manhã, e ao meio dia, quando o matador
ocupa lugar de honra” (Brito & Vale, 2011, p. 79). O arroz de Sarrabulho, que se acredita ter
nascido em meados do séc. XIX, passou no início do séc. XX, de apenas cozinha familiar para a
profissionalização, ou seja, a receita passou a ser instaurada nos restaurantes. A grande
responsável por isto foi Clara Penha, considerada a pioneira da restauração contemporânea
em Ponte de Lima e a “grande referência da origem do Arroz de Sarrabulho à Moda de Ponte
de Lima” (Brito & Vale, 2011, p. 93). No contexto das Feiras Novas de Ponte de Lima, o arroz
de Sarrabulho começou por ser introduzido pelos vários restaurantes que se especializavam
no arroz de Sarrabulho e davam a provar aos visitantes das Feiras Novas. O arroz de Sarrabulho
foi introduzido naturalmente nas Feiras Novas, pois já era um marco gastronómico local. Hoje
em dia, o arroz de Sarrabulho e outros pratos continuam a estar presentes nas Feiras Novas,
nas mostras da gastronomia local.

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Figura 2 - Arroz de Sarrabulho. Fonte: visite Ponte de Lima. Disponível em: Arroz de Sarrabulho à moda de Ponte de Lima - Visite Ponte de
Lima.

Para além do arroz de Sarrabulho, a gastronomia de Ponte de Lima e das Feiras Novas tem
como outras referências o Bacalhau de Cebolada de Ponte de Lima. É um prato que demonstra
a importância que Ponte de Lima sempre deu ao bacalhau. O bacalhau já está presente na
alimentação dos limianos há muitos séculos. Como o arroz de Sarrabulho, o bacalhau de
cebolada ao longo dos anos passou a ser servido em muitos restaurantes de Ponte de Lima, o
que contribuiu também para que se fosse tornando outra figura importante da gastronomia
local e se fosse divulgando este prato, já que muitos restaurantes em Ponte de Lima o serviam
nas suas mesas. Na história do bacalhau de cebolada, está outra vez envolvido o nome de
Clara Penha, a grande responsável pela receita do arroz de Sarrabulho à Ponte de Lima pois,
esta era dona de uma das mais importantes pensões de Ponte de Lima, conhecida como a
Casa do Bacalhau, que em tempos era considerada “paragem obrigatória de viajantes e
apreciadores de bacalhau de cebolada, ou bacalhau frito ou pataniscas de bacalhau” (Morais,
p. 2). Ao longo dos anos, o Bacalhau de Cebolada de Ponte de Lima foi-se afirmando como um
dos pratos principais de Ponte de Lima e hoje em dia continua a ser um prato de excelência e
marca de reputação de muitos restaurantes locais e uma marca gastronómica local. Em
tempos de Feiras Novas, o Bacalhau de Cebolada era e é servido nas tascas ambulantes.

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Como sobremesa, a gastronomia de Ponte de Lima tem como principal figura o leite-creme,
que surge muito interligado ao arroz de Sarrabulho. O leite-creme de Ponte de Lima é um
leite-creme “queimado pela férrea - um ferro em brasa com o qual se queima açúcar
espalhado à superfície do creme” (O melhor de Ponte de Lima à mesa, 2021). E nas “palavras
de António Manuel Couto Viana, “sarrabulho sem remate de leite-creme é como mesa sem
pão, que só no inferno a dão” (O melhor de Ponte de Lima à mesa, 2021). Tal como os outros
pratos retratados anteriormente, o leite-creme de Ponte de Lima, como faz parte há algum
tempo da gastronomia de Ponte de Lima, foi inserido naturalmente nas mostras da
gastronomia local das Feiras Novas de Ponte de Lima.

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4. EXPOSIÇÃO, ARTESANATO E PRODUTOS

As Feiras Novas de Ponte de Lima contam com uma exposição de artesanato, onde os artesãos
locais promovem e divulgam os seus produtos e onde é incentivado a atividade dos artesãos,
que trabalham para valorizar a sua arte, confecionando produtos que simbolizam as
caraterísticas de cada região. A feira apresenta um conjunto rico e variado de peças
tradicionais e típicas de Ponte de Lima como as rendas, os lenços dos namorados, os tamancos
ou socos limianos, o palmito limiano, bijuteria, entre outros.

Figura 3 - Exposição de Artesanato. Fonte: Alto Minho, 2019. Disponível em: Feira de artesanato no domingo em Ponte de Lima
(altominho.tv).

Os socos limianos, uma das referências do artesanato de Ponte de Lima, são um produto
derivado da arte da tamancaria, só que com uma particularidade limiana. Ao contrário dos
socos ou tamancos tradicionais do Minho, que são sapatos rústicos só de couro e base de
madeira, os socos limianos para além disso, são revestidos com um tecido de linho
previamente bordado, e o bordado mais tradicional usado normalmente é o bordado com o
coração vermelho. (Ver em Anexo 2). O lenço dos namorados é um lenço típico da região do
Minho, incluindo Ponte de Lima (Ver em Anexo 3). É um lenço fabricado a partir de um pano
de linho fino que poderia significar a tentativa de conquistar um namorado, a união de um
casal, pode ser para entregar ao amado antes de ele se ausentar, para escrever dedicatórias
aos amados ou teria uma simples função decorativa. Por último, o palmito limiano é das

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principais se não a principal peça de artesanato caraterística região de Ponte de Lima (Ver em
Anexo 4). “É feito com uma base de papel metalizado com uma cobertura em tecido regional
de Ponte de Lima, e a montagem é feita com arame fino. Todo o processo é feito à mão”
(Palmito Limiano, s.d.). Os produtores da feira de artesanato das Feiras Novas, são quase todos
pertencentes à Associação de Artesãos de Ponte de Lima, um grupo de artesãos locais que se
apoiam uns aos outros e divulgam o seu trabalho, promovendo mostras dos seus produtos em
feiras e exposições de artesanato, incluindo a que acontece nas Feiras Novas de Ponte de
Lima.

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5. A RELIGIÃO COMO PARTE FUNDAMENTAL DAS
FEIRAS NOVAS

Este tipo de festas e comemorações sempre fizeram parte da vida do Homem e é através delas
que muitas vezes são homenageadas pessoas importantes, símbolos ou acontecimentos
marcantes na História que fizeram parte dessa sociedade. Frequentemente eram das poucas
maneiras que a população tinha oportunidade de diversão e de ocupação dos tempos livres,
o que faz com que tenha uma maior importância antes do que atualmente, onde isso já não
acontece. A ideia de festa erguer-se neste contexto como um fenómeno comunitário ou
coletivo, expressando uma trégua nas rotinas e nas atividades produtivas. “A utilização de
expressões, manifestações e atividades relacionados com o vocabulário das festas populares
também pode ser justificada pelo facto de as FN constituírem uma romaria que são
consideradas o maior congresso ao vivo da cultura popular em Portugal.” (Lopes, citado por
Brito, 2014, p. 4).

Nas festas populares os rituais religiosos estão muitas vezes presentes como acontece nas
Feiras Novas, que tal como mencionado anteriormente, surgiram a 5 de maio de 1826 graças
ao Rei D. Pedro IV, que decretou três dias de feiras anuais para a Nossa Senhora das Dores
(anexo 5), também designada por: Nossa Senhora da Piedade, Nossa Senhora da Soledade,
Nossa Senhora das Angústias, Nossa Senhora da Agonia, Nossa Senhora das Lágrimas, Nossa
Senhora das Sete Dores, Nossa Senhora do Calvário, Nossa Senhora do Monte Calvário, Mãe
Soberana e Nossa Senhora do Pranto, que apesar de não ser a padroeira de Ponte de Lima,
cedo adquiriu protagonismo entre os devotos.

A Sua iconografia é vulgarmente caracterizada por ter uma ou mais espadas ou punhais,
usualmente sete, atravessando o Seu Doloroso e Imaculado Coração. A imagem desta Santa
invocada na festa atuava como centro de atenção dos fiéis.

A organização desta festa abrange duas dimensões: a sagrada e a profana. A primeira


acompanhando os cânones da Igreja que tinha a intenção de impressionar os fiéis e convertê-
los cada vez mais ao catolicismo e a segunda representava-se pelos muitos divertimentos
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existentes. O concelho de Ponte de Lima desde sempre conteve traços marcadamente rurais,
com uma população mais velha continuamente ligada ao “sagrado”, materializado nas igrejas
e capelas e por essa razão se se observar os cartazes realizados das Feiras Novas (anexo 6),
constata-se vários elementos de carater religioso como a missa solene e procissão em honra
da Nossa Senhora das Dores.

A concretização desta festa fomentava sociabilidades, coesão grupal e juntamente situações


de recolhimento, de manifestação de fé e de convívio. O município de Ponte de Lima não era
só um regulador da vida de uma comunidade mais alargada, mas também apoiava
monetariamente estes momentos de símbolo do poder dos grupos de ofícios, associando-os
ao calendário religioso. As práticas culturais, muitas das vezes, estavam ligadas á invocação
da Virgem e aos Santos, o que demostra a devoção e fidelidade que a população tem.

Antigamente, eram celebrados sermões que enriqueciam o programa religioso e eram


escolhidos os melhores pregadores para sensibilizar e doutrinar os fiéis. Estes sermões
também podiam ser de carater político, pois nesta época a cultura era predominantemente
espalhada via oral. As igrejas, como espaço principal do culto religioso, era nestas ocasiões de
festas enfeitada e iluminada e para isso contava com a ajuda dos homens dos ofícios, sendo
eles carpinteiros, pintores, ferreiros, alfaiates, vidreiros lá da zona.

Com a implantação do liberalismo, a sociedade portuguesa foi-se lentamente movendo para


uma sociedade cada vez menos ligada aos ideais religiosos e por isso a maioria das romarias
ou feiras existentes atualmente procuram incluir-se no turismo religioso, pois ainda contêm
as passadas vivências religiosas. Contudo, com a evolução dos séculos, o sentimento religioso
e espiritual não é o mesmo e isto ocorre um pouco por todo o lado e também pelo Entre Douro
e Minho particularmente acentuado, especialmente, com a segunda metade do século XVIII.
Tal com diz o provérbio, “mudam-se os tempos, mudam-se as vontades” o mesmo acontece
nas Feiras Novas, que ao longo dos anos, foi deixando de ser somente procurada por
conteúdos religiosos para passar também a ser uma feira e festa onde reina a música, fogo-
de-artifício, gigantones e cabeçudos, assim como o folclore e as concertinas ou os concursos
pecuário e de garranos. Apesar de muitas pessoas irem visitar a festa para pedir á divindade

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consolo ou implorando a concessão de alguma graça, deslocando-se movidas pela fé, a grande
maioria vai motivada pelos momentos de festividade, convívio e diversão.

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6. FESTA OU FEIRA?

Ao longo deste trabalho, foram utilizados estes dois termos e para desenvolver este tópico é
essencial compreender estes dois conceitos, o de Feira e o de Festa. Segundo o dicionário da
língua portuguesa, feira é um grande mercado onde se expõe e vende determinados produtos
e segundo a mesma fonte, festa é um dia ou época de comemoração, alegria e animação.

Na realização do trabalho foi-se designando as Feiras Novas, ora por feira, ora por festa e a
pergunta que se impõe é qual é a designação mais correta. Sabe-se o contexto histórico em
que surgiu e atendendo a esse facto é definitivamente uma feira, todavia, desde a primeira
edição, que associado a este caráter de feira, está o caráter festivo, com o surgimento do
folclore e, passando esta, a fazer parte da verdadeira essência da cultura popular do povo
limiano.

Desta maneira, as Feiras Novas são caracterizadas por estes dois momentos: a parte da feira
onde há venda de produtos regionais e artesanato e a parte da festa em que a alegria e a
celebração nunca faltam. As concertinas, os desfiles, a gastronomia, as procissões, o fogo-de-
artifício, entre outros são os símbolos culturais desta região que atraem as imensas pessoas
todos os anos para descobrirem as maravilhas da gente de Ponte de Lima.

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7. FEIRAS NOVAS NA ATUALIDADE

Atualmente as Feiras Novas decorrem no segundo fim de semana de setembro, encerrando o


ciclo das grandes romarias minhotas. De acordo com os últimos programas da festa, a romaria
arranca na quarta-feira anterior, à noite, com a tradicional arruada e encontro concelhio de
concertinas, desde a Alameda de São João até ao Largo de Camões, seguindo-se a abertura
solene das Feiras Novas, uma alegoria à Ponte Medieval de Ponte de Lima. Este momento
precede abertura oficial da iluminação, momento em que a ponte medieval, ex-libris Limiano,
está interdito ao público. A festa continua pela noite adentro com rusgas e concertinas.

Por sua vez, a noite de quinta-feira, inaugura com um concerto da Banda de Música de
Estorãos, em pleno Largo de Camões. A animação continua posteriormente, na Expolima, com
o “Ponte de Lima Music Fest”.

Quanto à sexta-feira, a romaria inicia-se pelas 08h00 com uma Salva de Morteiros. A festa
prolonga-se durante o dia, sendo de destacar o espetáculo de “Fados/Fado ao
Centro/Coimbra”, no Jardim do Paço do Marquês (anteriormente era realizado no Largo da
Lapa). Este grupo recorda os temas mais conhecidos da trajetória da Canção Coimbrã. Ainda
no mesmo local, a irreverência sadia da juventude estudantil dá mote à festa, com concertos
das Tunas Académicas, Hinoportuna, Tuna de Engenharia da Universidade do Minho, Tun’ao
Minho, Tuna Universitária do Minho, e Tun’Obebes. Em paralelo, decorrem no Largo de
Camões, concertos da Banda de Música da Casa do Povo de Moreira de Lima, e da Banda de
Música de Rio Mau, de Penafiel. Ainda em simultâneo, decorrem na Expolima os tradicionais
cantares ao desafio com “Cachadinha e seus Amigos”. A Expolima acolhe posteriormente, o
“Ponte de Lima Music Fest”.

A manhã de Sábado, 7 de setembro, volta a abrir com uma Salva de Morteiros às 08h00 e com
o tradicional Concurso Pecuário, animado pelo Grupo de Música Popular da Feitosa, no
Picadeiro Grande da Expolima. Os participantes do concurso saem deste recinto em desfile.
Durante o dia, o “Grupo de Zés Pereiras”, “Gaiteiros”, “Gigantones e Cabeçudos”, “Amigos
d’Areia – Darque, Grupo de Bombos de Santiago de Poiares”, “Voluntários de Baião, Unidos
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da Paródia”, “Amigos da Farra”, e os “Amigos da Borga, Grupo Recreativo de Viariz”, animam
as ruas e o Largo de Camões. É precisamente a partir do Largo de Camões, que, as Bandas de
Música “Grupo de Cultura Musical de Ponte de Lima” e outra banda de música convidada que
varia de anoa para ano começam a desfilar pelas ruas, em direção aos coretos. No mesmo
local decorre uma nova concentração de “Zés Pereira” e “Gigantones”. À tarde chega um dos
pontos altos da Romaria: o Cortejo Etnográfico. Este é um autêntico museu vivo de atividades
agrícolas, usos, costumes e tradições da vila minhota. Já para os amantes da arte equestre
decorre em simultâneo uma Corrida de Garranos, na Expolima. Consagrada às rusgas, a noite
de sábado acolhe cantares no Centro Histórico. Para todos os gostos, a noite continua com o
“Ponte de Lima Music Fest”. Às 00h30 desta noite, decorre o aclamado espetáculo de
pirotecnia. A “Noite do Fogo” pode ser apreciada do areal e do Largo de Camões.

A “romaria de noite e de dia”, amanhece novamente, no domingo, com a usual Salva de


Morteiros às 08h00, com “Zés Pereiras, Gaiteiros, Gigantones e Cabeçudos”, e com as Bandas
Musicais, e nova concentração de “Zés Pereiras” ao meio-dia. As figuras e os episódios da
história de Ponte de Lima ganham vida à tarde com o Cortejo Histórico. Após este desfile,
decorre, na Expolima, uma Tourada. No mesmo local à noite, apresenta-se o Festival Limiano
de Folclore, que tem como palco simultâneo o Jardim do Paço do Marquês. A música continua,
na Expolima, com o “Music Fest”. Sendo que às 00h30 decorre a sessão de fogo de artifício
“Fogo do Meio”.

Na segunda-feira, dá-se a última Feira Franca. O dia consagrado às Solenidades Religiosas em


honra de Nossa Senhora das Dores, Padroeira das Festas, é anunciado por uma nova Salva de
Morteiros à hora usual, e pelas Bandas Musicais de São Martinho da Gandra e da Casa do Povo
de Moreira do Lima, cujos concertos se prolongam ao longo do dia. A Missa solene com
Sermão em honra de Nossa Senhora das Dores, decorre às 10h30, e a respetiva procissão
decorre às 16h30, dando ênfase ao caráter religioso que sustenta a origem desta festa
também profana. O Largo de Camões acolhe ao pôr do sol a despedida das Bandas, e à noite
a “Última Noite de Festa - Noite do Baile”, uma verbena popular com um conjunto que encerra
o ciclo de grandes romarias que geram um grande movimento festivo na região, atraindo
centenas de milhar de pessoas, há já 195 anos.

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8. MEDIDAS PARA A PRESERVAÇÃO DO PATRIMÓNIO
CULTURAL IMATERIAL PORTUGUÊS – CONSERVAÇÃO
DA TRADIÇÃO

O património cultural imaterial português há muito que está em risco. A falta de divulgação,
a falha do preenchimento do inventário nacional (matriz PCI), a não catalogação deste
património e a falta de cooperação dos agentes como museus, arquivos, municípios e
instituições governamentais da cultural, são vários dos imensos motivos existentes para o
desaparecimento deste património, que originará a perda de identidade de muitos povos em
Portugal, onde as gerações mais novas pouco ou nada saberão das suas origens.

Com a realização da Recomendação para a Salvaguarda da Cultura Tradicional e Popular em


novembro de 1989, ficou “estipulado” que a cultura tradicional e popular é:

“[...] o conjunto de criações que emanam de uma comunidade cultural fundadas sobre a tradição
expressas por um grupo ou por indivíduos, e reconhecidas como respondendo às expectativas da
comunidade enquanto expressão da sua identidade cultural e social, das suas normas e valores
transmitidos oralmente, por imitação ou por outros meios. As suas formas compreendem, entre outras, a
língua, a literatura, a música, a dança, os jogos, a mitologia, os rituais, os costumes, o artesanato, a
arquitetura e outras artes”.

Apesar das várias cartas e convenções realizadas, é um facto que o PCI esta em vias de
extinção. Os saberes, os modos de realizar algo, as formas de expressão, celebrações, as festas
e danças populares, lendas, músicas, costumes e outras tradições devem ser preservados de
modo a nunca esquecer a ancestralidade de um povo. A salvaguarda destas expressões
culturais passa pela identificação, a documentação, a investigação, a preservação, a proteção,
a promoção, a valorização e a transmissão deste patrimônio.

A matriz PCI é um instrumento de recurso de internet sobre o património imaterial português


que providencia, como por exemplo, a legislação, normativos, publicações, conteúdos

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educativos sobre as atividades desenvolvidas pela DGPC. É uma ferramenta fundamental para
a publicação online das expressões de património imaterial.

O grupo acredita que as Feiras Novas não estão em vias de se extinguir, visto que esta é uma
festa que caracteriza as gentes de Ponte de Lima e estando tão enraizada na população
existem descentes para a continuarem a realizar, em conjunto com a Camara Municipal de
Ponte de Lima, mas são somente as pessoas que fazem a tradição. É também por este motivo
que se crê que a feira irá perdurar por muito tempo a retratar o passado, pois são cada vez
mais as pessoas que visitam Ponte de Lima por estes dias, não só os limianos usufruem dela
como também os populares dos concelhos vizinhos e turistas vindos de todo o país e além-
fronteiras. O município também tem também várias atividades no decorrer da festa que são
também educativas, e com a tradição difundida na educação é mais fácil garantir a perduração
desta festa.

Algumas medidas podem ser implantadas, para que as Feiras novas nunca caiam em
esquecimento como:

1. A educação patrimonial deve estar presente na vida de qualquer cidadão, por isso
no ensino básico e secundário, fazer sempre menção das Feiras Novas e outras
expressões que fazem parte do património português, abordando a sua história na
sala de aula;
2. As escolas poderiam patrocinar visitas de estudo e relacionarem conteúdos
temáticos com as Feiras Novas;
3. O investimento numa boa companha de marketing para cada vez mais não ser só
os limianos o público-alvo;
4. Salvaguardar este bem de natureza imaterial, divulgando-o nos meios de
comunicação;
5. (…)

Com a implementação destas e de outras medidas as Feiras Novas têm passado e presente
também. Faz parte da nossa responsabilidade como cidadãos proteger o património imaterial

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português, demonstrando a importância deste como símbolo da intemporalidade e da
identidade portuguesa.

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9. TESTEMUNHOS

Esta última parte do trabalho é destinada a uma entrevista feita por meio do telemóvel à tia
da Margarida Rocha, Mónica Sequeiros, que é de Ponte de Lima, mais especificamente de
Labruja, e já participa das Feiras Novas de Ponte de Lima há muitos anos. Foi-lhe feita algumas
perguntas sobre o seu conhecimento da festa no passado e o que acha sobre como vai ser a
festa no futuro.

1- Há quanto tempo vai às Feiras Novas de Ponte de Lima?

Há mais de 40 anos.

2- Lembra-se da primeira vez que foi às Feiras Novas?

Sim, penso que foi quando tinha 10 anos, em 1972.

3- Lembra-se de como era a festa em 1972?

Era muito nova, mas lembro-me dos tocadores de concertinas, de participar na procissão da
Nossa Senhora das Dores, do cheiro do arroz de sarrabulho no ar, do ruído e agitação das
pessoas da festa e de brincar com os meus amigos entre essas mesmas pessoas.

4- Acha que a festa mudou muito desde 1972?

Acredito que está diferente pela natural mudança dos tempos e da sociedade e que se perdeu
algumas tradicionalidades, mas acho que o que as Feiras Novas têm de mais importante
continuou até agora como, a procissão em homenagem a Nossa Senhor das Dores, a padroeira
da festa, os gigantones e os cabeçudos, as concertinas e os tambores, o cortejo etnográfico
da raça minhota e o tradicional folclore.

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5- Sente-se identificada com as Feiras Novas?

Claro. Como nasci em Ponte de Lima tive sempre em contato com as atividades tradicionais
das Feiras Novas e de Ponte de Lima e sou muito orgulhosa disso.

6- Tem noção de quais são as atividades/eventos que as pessoas mais gostam e em que
participam mais?

Não tenho muito essa noção, mas acredito que no geral, todas as atividades da festa têm tido
ao longo dos anos uma participação cada vez maior pois cada vez mais pessoas vêm visitar a
festa e falam que gostam das atividades.

7- Na sua opinião, o que acha que deveria mudar nas Feiras Novas?

Na minha opinião a festa está bem assim. Só acho que deve-se arranjar pequenas atividades
novas todos os anos para atender a todas as idades e gostos.

8- Como vê o futuro das Feiras Novas?

Vejo um futuro bom, em que cada vez mais pessoas de fora vão visitar a festa e vão reconhecer
o valor da mesma e ajudar a divulgar como é bonita a cidade de Ponte de Lima e os seus
costumes. A festa perdeu algumas coisas, mas ao mesmo tempo ganhou com as novas
tecnologias a possibilidade de ser mais divulgada.

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CONCLUSÃO

O grupo conclui que as Feiras Novas de Ponte de Lima constitui um património etnográfico
importantíssimo para Portugal. Sendo uma feira secular, continua a preservar os seus
elementos identitários desde as tradições, hábitos, costumes e gastronomia.

Neste trabalho ficamos a conhecer a vila de Ponte de Lima, tanto a sua história com as
manifestações culturais que a compõem. Ao longo de 196 anos, continua a ser uma festa com
música, fogo-de-artificio, convívio, concursos e desfiles pecuários que delicia dos visitantes
tanto portugueses como estrangeiros. Nos últimos tempos, tem tido uma maior afluência de
pessoas quer a visitar quer a participar, devido ao aumento das atividades desenvolvidas e de
uma maior divulgação nos meios de comunicação. As Feiras Novas têm uma aplicação para
telemóveis facilitando assim uma maior circulação de informações sobre as mesmas e Ponte
de Lima. É a romaria minhota mais antiga de Portugal, demonstrando assim a sua
intemporalidade e símbolo do povo limiano.

29
BIBLIOGRAFIA

Alvarenga, D. L. (2019). A Salvaguarda do Património Cultural Imaterial: uma perspetiva


comparada entre Portugal e Brasil. Dissertação de Mestrado, Universidade Autónoma
de Lisboa, Departamento de Direito, Lisboa.

Barbosa, A. F. (2013). Tempos de Festa em Ponte de Lima (Séculos XVII-XIX). Tese de


Doutoramento, Instituto de Ciências Sociais da Universidade do Minho, Departamento
de História, Gualtar.

Brito, M. S. (2014). Feiras Novas em Ponte de Lima: Os limianos e a festa. Dissertação de


Mestrado, Instituto Politécnico de Viana do Castelo, Departamento de Gestão Artística
e Cultural, Viana do Castelo.

Brito, N. V., & Vale, A. P. (2011). Sarrabulho de Ponte de Lima: A Gastronomia da Tradição. (O.
d. Vieira, Ed., & C. Parrott, Trad.) Ponte de Lima, Viana do Castelo, Portugal: Município
de Ponte Lima; Associação Concelhia das Feiras Novas.

Chasqueira, Â. L. (s.d.). O Futuro do Passado - Conservação do Património Imaterial Português.


Algarve.

Oliveira, A. d. (2010). Por feiras e romarias. Entre Douro e Minho a meados do século XVIII
(Ponte de Lima/Arcos de Valdevez). Em Dinâmicas de Rede no Turismo Cultural e
Religioso (Vol. II, pp. 277-293). Maia: Edições ISMAI.

Serapicos, J. C. (2011). A Animação Musical como Âmbito da Animação Sociocultural: A


Importância dos "Encontros de Concertinas e Cantares ao Desafio". Dissertação de
Mestrado, Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro, Departamento de Ciências
da Educação, Chaves.

30
WEBGRAFIA

Feiras Novas. (s.d.). Obtido em 8 de Dezembro de 2021, de visite Ponte de Lima:


ttps://www.visitepontedelima.pt/pt/turismo/feiras-novas/

Lopes, A. (19 de Abril de 2014). Origem das Feiras Novas em Ponte de Lima. Obtido em 7 de
Janeiro de 2022, de tradicoespopulares-usosecostumes: https://tradicoespopulares-
usosecostumes.blogs.sapo.pt/origem-das-feiras-novas-em-ponte-de-1488

Loureiro, M. (31 de Agosto de 2018). Recordando Nélson Vilarinho - O Vilarinho de Covas - um


dos mais exíminos tocadores de sempre de concertina do Alto Minho! (C. Gomes,
Editor) Obtido em 7 de Janeiro de 2022, de Blogue do Minho:
https://bloguedominho.blogs.sapo.pt/recordando-nelson-vilarinho-o-10588154

Morais, A. T. (s.d.). Tradição do Bacalhau em Ponte de Lima - Feira do Bacalhau de Cebolada.


Obtido em 6 de Janeiro de 2022, de Festa do Vinho Verde:
https://www.festadovinhoverde.pt/uploads/writer_file/document/1152/tradicao_ba
calhau_pontelima.pdf

Nossa Senhora das Dores. (s.d.). Obtido em 1 de Novembro de 2021, de Wikipédia:


https://pt.wikipedia.org/wiki/Nossa_Senhora_das_Dores

O melhor de Ponte de Lima à mesa. (7 de Setembro de 2021). Jornal de Notícias. Obtido em 6


de Janeiro de 2022, de https://www.jn.pt/especial-patrocinado/vila-mais-antiga-de-
portugal/o-melhor-de-ponte-de-lima-a-mesa-13787525.html

Oliveira, L. H. (19 de Setembro de 2005). Garranos levam milhares à corrida das Feiras Novas.
Jornal de Notícias. Obtido de https://www.jn.pt/arquivo/2005/garranos-levam-
milhares-a-corrida-das-feiras-novas-512977.html

Palmito Limiano. (s.d.). Obtido em 10 de Janeiro de 2022, de Wikipédia:


https://pt.wikipedia.org/wiki/Palmito_limiano
31
Patrimônio cultural imaterial. (s.d.). Obtido em 2 de Novembro de 2021, de Wikipédia:
https://pt.wikipedia.org/wiki/Patrim%C3%B4nio_cultural_imaterial

Pesquisa de Património Imaterial. (s.d.). Obtido em 2 de Novembro de 2021, de Direção-Geral


do Património Cultural:
http://www.patrimoniocultural.gov.pt/pt/patrimonio/patrimonio-imaterial/matriz-
pci/

32
ANEXOS

Anexo 1 – Localização de Ponte de Lima.

Fonte: https://pt.wikipedia.org/wiki/Ponte_de_Lima

33
Anexo 2 – Socos limianos. Fonte: Município de Lima,2011. Disponível em: CM Ponte de Lima /
Socos Limianos Bordados (cm-pontedelima.pt).

Anexo 3 – Lenço dos namorados. Fonte: Alto Minho,2019. Disponível em: lencos-dos-namorados-
scaled.jpg (2560×2520) (radioaltominho.pt).

34
Anexo 4 – Palmito limiano. Fonte: Ponte de lima (gente limiana). Disponível em: Cultura e Localização
- Ponte de Lima (gente limiana) (google.com).

Anexo 5 – Nossa Senhora das Dores.

Fonte: https://artesacrafanzeres.pt/produto/nossa-
senhora-das-dores-asf-1158/ 35
Anexo 6 – Cartaz das Feiras Novas em Ponte de Lima,
no ano de 2019.

Fonte: https://www.feirasnovas.pt/

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ESCOLA
SUPERIOR
DE EDUCAÇÃO
POLITÉCNICO
DO PORTO

LICENCIATURA
L GESTÃO DO PATRIMÓNIO CULTURAL

Feiras Novas de Ponte de Lima


André da Siva Couto
Diogo Alves Pereira de Freitas
Margarida Cabral Rocha

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