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REGATE DA MEMÓRIA LOCAL (RML)

Comunidade Flexal

Elevada a distrito em 29 de dezembro de 1961, pela lei estadual n° 2460, a


comunidade do Flexal possui grande riqueza patrimonial histórica, a começar pela
história de sua origem. Ora, para compreendermos a carga cultural historicamente
construída na comunidade, foi necessário investigar a temática, ouvindo diversos
autores, principalmente os moradores mais antigos, pesquisando em arquivos locais, que
se tornaram substanciosos subsídios. O distrito de Flexal apresenta complexa rede de
valores, costumes, histórias, crença e atividades socioculturais que o tornam singular no
contexto de nossa região.
O distrito Flexal faz parte do município de Óbidos, no oeste do Pará, limitando a
leste com o município de Curuá. Constituída de dois bairros com ruas de terra firme,
sedes e escolas e um fluxo populacional de aproximadamente 5000 mil pessoas. Após a
chegada dos Europeus em território brasileiro no período da colonização, a fuga dos
escravos e o desbravamento da Amazônia em busca de riquezas, muda-se
consideravelmente a vida desta comunidade que estava situada à beira de um lago, hoje
chamado de Flexal. A vida pacata dos nativos sofreu então transformações e diversas
influências. Por conta dessa pressão, os nativos se deslocaram da margem do lago para
um pouco mais no interior. O povoamento do lugar data do começo do século XVII,
supostamente no ano de 1746. Nesse período de colonização houve a ocorrência de
revoltas, fugas de escravos, bem como a exploração de tesouros. Neste caso, a
exploração resultou no contato direto com os índios, fazendo com que estes
abandonassem a chegada de uma expedição comandada pelos Senhores Raimundo
Paulo da Conceição e seu irmão Alcides da Conceição, que ao viajarem pelas águas de
um prolongado igarapé – hoje denominado Igarapé Grande – avistaram terras firmes e
planas, banhadas por um lago que os nativos chamavam de “Uminiuma”, por conta dos
índios que parecem ter habitado esta região receber esta denominação, depois chamado
de Lago do Ateua, e atualmente de Lago do Flexal. Ao desembarcarem encontraram
uma variedade de material indígena como colares, dentes de animais, flechas,
machadinhos, além de restos de malocas em um lugar hoje conhecido como Porto
Grande. Os viajantes decidiram “montar barraco” na margem esquerda do lago, pois
acreditavam que este era rico em espécies de pescado.
Com o passar do tempo, foram se adaptando ao local e começaram a trabalhar na
terra com outros que ali chegavam posteriormente. Construíram casas, constituíram
famílias, e fizeram picadas na mata para outras comunidades que também estavam em
formação. Nesse sentido, aquela comunidade crescia ainda sem nome, quando chegaram
ao local um comerciante de nome Zacarias Judeu Mescânio e seu companheiro Vicente
Oliveira dos Santos. Zacarias começou a movimentar seu comércio, comprando,
vendendo e trocando produtos, fornecia tecidos e materiais de cozinha do mesmo.
Interessados no desenvolvimento econômico do local. Zacarias Judeu Mescânio e
Vicente Oliveira dos Santos reuniram-se com outros moradores para batizar o local com
um nome comum a todos. Como a margem esquerda era tomada por reboladas de
“Flexeiras” – vegetação típica da região, usada para fabricação de flechas, cabo de
zagaia, e outros fins pesqueiros. Houve então consenso para que o lugar fosse chamado
de Flexal. A partir de então, esta comunidade passou a ser chamada de Flexal.
O distrito de Flexal possui, além de sua histórica trajetória, importantes
patrimônios que nos permitem compreender sua identidade. No que se refere a prédios e
habitações, há o Cliper São João Batista, construído dois anos depois da igreja São João
Batista, que foi construído de madeira, é utilizado para reuniões e encontros religiosos.
Dotada de bancos de madeira, ela possui 70 metros quadrados.
Há também o prédio da Assembleia de Deus, fundada no dia 14 de setembro de
1956. Feito em alvenaria, com 8m de largura e 20m de comprimento, e pintada com a
cor branca, com as portas e janelas cor de vinho. Há também o centro de convenções da
referida religião que foi inaugurado em 11 de julho de 2011.
Outro prédio importante desta comunidade é a Igreja Nossa Senhora de
Aparecida, construída em 16 de julho de 1996, localizada no bairro Nova República,
com 13m de comprimento e 7m de largura, construída em alvenaria. Segundo os
fundadores, Luciene dos Santos, Maria Amélia, Maria Ribeiro e Francisco Amorim, a
comunidade estava crescendo bastante. Então, em uma reunião resolveram fundar a
igreja, para celebrar a devoção à Santa. O templo começou em um barracão de palha, e
11 anos depois foi inaugurado o prédio em alvenaria.
Flexal também possui dois prédios para reuniões educacionais. A primeira
chama-se Escola Municipal de Ensino Fundamental Francisco Pinto Pereira, construída
em 1999, com recursos próprios do Estado e posteriormente repassada ao município. A
escola possui área total de 4760 metros quadrados, e formada por dois pavilhões. O
primeiro compreende a parte administrativa: Secretaria, Sala de Leitura, Diretoria, Sala
de professores, cozinha e banheiros compreendendo uma área de 450 metros quadrados.
O segundo pavilhão é formado por quatro salas de aula, com 48m cada uma. A escola
dispõe de quadra descoberta para prática de Educação Física, com área total de 597
metros quadrados. O prédio em alvenaria recebeu o nome “Francisco Pinto Pereira” por
meio de eleição.
O outro prédio escolar era bem antigo. Chamada inicialmente de Escola
Municipal de Primeiro Grau Pedro Alvares Cabral, inaugurada no ano de 1979, foi
reformada e reconstruída em 1996, ano de inauguração e mudança de nome para Escola
“Professor Nilson Gomes da Silva”, com área de 98m de largura por 96m. O tipo de
construção é em alvenaria, com piso em cerâmica lisa e branca, portas e janelas
construídas em madeira-de-lei, pintada na cor vermelha.
A comunidade também possui casas e sobrados. Uma das casas mais antigas da
comunidade é a Casa da Senhora Isabel Ferreira Bentes, construída em 1892, feita de
barro, coberta com palha. Pertenceu a seus pais. Ela tem 10m de comprimento, 8m de
largura. Dona Isabel Ferreira Bentes morreu em 2005 com 112 anos à época, criou oito
filhos e adotou seis crianças.
Para os momentos de lazer, a comunidade possui um espaço para clubes de
futebol, como o Esporte Clube Príncipe da Paz, inaugurado em 1970 e um espaço do
Independente Esporte Clube, inaugurado em 1999. Os mesmos construídos em alvenaria
e madeira-de-lei.
Além desses espaços há a escola Dr. Correa Pinto, inaugurada em 1953 na
administração do Prefeito Dr. Raimundo Costa Chaves, na época funcionava no mesmo
o ensino primário, tendo a senhora Raimunda Garcia Rodrigues – Mundaita – como
primeira professora. Há a creche Helena Miléo, fundada em 1990, construída em
alvenaria. A primeira professora foi Janeida Lopes Ribeiro. Esta creche era importante
porque as crianças faziam nela sua socialização. A referida creche está fechada. As
crianças entre 02 e 03 anos na comunidade Flexal não estão tendo bom desempenho em
seus estudos por falta de base durante a educação infantil.
Além disso, há o Antigo Posto de Saúde do Flexal inaugurado no ano de 1992. A
casa de força de luz, que funcionava das 18h às 21h, ainda nos anos 1980, bem como a
construção de estrutura para a colocação de bomba d’água. Sua função era abastecer a
comunidade Flexal com o fornecimento de água, visto que naquela época a água era
tirada de cacimbas e do próprio lago. Com a bomba d’água o abastecimento facilitou a
vida da comunidade.
No que se refere a objetos de valor, os comunitários entrevistados, trouxeram
para o entrevistador os seguintes objetos memoriais, de valor histórico para suas vidas:
uma tesoura, feita de aço puro, que serve para cortar “flange”, telha de alumínio, com
aproximadamente 110 anos. Ela é de valor inestimável para o Senhor Luís Marques,
pois a tesoura pertencia a seu genitor Antônio Marques, falecido a mais ou menos 50
anos. Também foi apresentada uma balança, feita de bronze que servia para pesar ouro.
Ela tem por volta de 100 anos. Pertence ao senhor Luís Marques.
Há também instrumentos religiosos que pertencem ao senhor Luís Marques, tais
como um Castiçal, feito de bronze e tem mais de 120 anos. Pertenceu ao senhor Antônio
Marques. Também há instrumentos de casa, tais como os apresentados pela senhora
Isabel Ferreira Bentes. Há um ferro de Engoma, que pertenceu à mãe da mesma,
datando mais de 160 anos. Instrumento importante de engoma, pois nesta época não
havia energia elétrica. Colocava-se brasa de carvão, e uma vez quente, era usado para
passar roupa. Pelo constatado é o único existente na comunidade, feito de ferro rígido,
pesando dois quilos. Um baú de madeira, pertencente à senhora Isabel Ferreira Bentes.
Ele tem 96 anos, e servia para guardar roupas passadas a ferro de engoma. O objeto é
conservado por sua filha Ana Lurdes Bentes de Souza.
Quanto aos achados arqueológicos, há objetos de vários formatos encontrados no
antigo sítio arqueológico. Segundo os antigos, mais ou menos no século XVII, nesta
região moravam os índios Uminiuma. Nos dias atuais, encontram-se ainda vestígios
arqueológicos na comunidade próxima ao local denominado Porto Grande.
No aspecto hidrológico, a comunidade do Flexal também tem patrimônio
natural. Situada à margem do Lago Flexal, é vista como uma comunidade com uma
natureza exuberante. Suas paisangens se tornam mais belas à medida que a região entra
em período de vazante (de junho em diante), fenômeno que provoca o surgimento
natural de praias às margens do lago Flexal. Uma delas fica na Ponta do Camaleão, que
se junta à paisagem campestre. O tipo de solo da comunidade Flexal é arenoso e possui
em seu relevo alguns minerais, tais como areia, barro e argila. Quanto ao lago, ele
possui águas escuras e é abastecido por olhos d’água e nascentes, que se localizam no
fim do Lago Flexal, próximo à Fazenda Paraíso. Há também um igarapé localizado no
campo do Toro, onde também há um igapó, com árvores de grandes postes, açaizeiros e
outras espécies.
Quanto à fauna e flora, a comunidade Flexal possui grande variedade de
ecossistemas responsáveis pela elevada diversidade de plantas, também resulta em
considerável variedade de espécies de animais região. A fauna da comunidade é rica de
animais alados, mamíferos peixes e insetos. O lago de Flexal tem uma grande
diversidade de pescado, tais como piracuru, tambaqui, acari, curimatã, tamuatá,
pescada, traíra, mapará, charuto, tucunaré, apapá, pacu. O lago também possui crustáceo
e molusco. Há também animais rastejantes como serpentes de várias espécies, tracajás,
de papo amarelo e a tartaruga. Podemos encontrar animais mamíferos como cavalo, boi,
carneiro, porco, cachorro, morcego. Quanto às aves, há grande diversidade, dentre as
quais tucano, pica-pau, garoa, papagaio, periquito, maracanã, marreco, canarinho, sabiá,
curió, muiá (pato selvagem), beija-flor, picote, e outras várias pequenas aves. Quanto
aos insetos que proliferam na região de Flexal, encontramos carapanã, muriçoca,
libélula, gafanhoto, mosquito, borboleta, e outros.
Quanto à flora, a riqueza é tão grande que urge preservá-la na região. Motivos
não faltam, dentre eles há o fato de se ter uma fonte de remédios naturais, plantas que
podem fornecer princípios ativos de novos medicamentos voltados à cura de inúmeras
doenças. Entre as diversas espécimes podemos citar a andirobeira, castanheira, árvore
de cumaru, jenipapeiro, seringueira, cedro, angelim, açaizeiro, entre outras. Ressalta-se
que a flora existente em torno da comunidade tem sido cada vez mais ameaçada por
queimadas de fazendeiros nas proximidades de Flexal.
A vida cotidiana dos moradores de Flexal tem sua identidade voltada para as
relações com a natureza em termos de pesca, agricultura, pecuária. Quanto à pesca, os
moradores têm seu trabalho voltado para a pesca em pequena e média escala, no peródo
da safra, usando utensílios básicos, como canoas, bajaras, rabetas, caniços, arpão,
malhadeira, zagaias, tarrafas, e o incontrolável arrastão. Na agricultura, os moradores
trabalham na produção na farinha de mandioca e seus derivados. Há pastoreio de gado.
Mesmo considerada uma comunidade de baixa renda, Flexal serve como Porto de
embarque e desembarque para o que é produzido e importado de comunidades vizinhas
para outras comunidades às margens da rodovia Obidos-Flexal. A produção se refere à
farinha, madeira, milho, açaí, castanha do Pará, cumaru, cupuaçu, laranja, manga,
banana, peixe. Em contrapartida, Flexal importa material de construção, confecções,
secos e molhados, bebidas e combustíveis.
A comunidade também tem sua cultura sacudida no período das festividades.
Uma delas é o Festival do Acari, festa popular que acontece anualmente durante uma
semana do mês do agosto. Ela começa no dia dos pais, segundo domingo de agosto, e
encerra no sábado subsequente. Ela atrai pessoas de diversos lugares pela sua tradição,
comida típica, simplicidade do seu povo e diversidade de modalidades esportivas e pelo
comércio artesanal. A festividade é momento de manter viva a crença local, as histórias
de pescadores, memórias reconstruídas, além de complexa rede de valores que a tornam
singular. Somados até 2011, ocorreram 23 edições.
Sua história inicial data do ano de 1989, na prestação de contas da festa do
Clube Príncipe da Paz. Como a vila Flexal é rodeada de lagos que influenciam
diretamente na renda de seus moradores, o senhor Raimundo Pinto Ribeiro, conhecido
como Torongo, deu a ideia de se fazer uma festa que representasse esse panorama local.
A ideia foi acatada e executada pelo vereador Mingote com apoio da prefeitura de
Óbidos e pela própria comunidade. Os três primeiros festivais (1989, 1990 e 1991)
foram realizados na antiga sede do São João Esporte Clube com a duração de três dias.
Já naquela época apresentava características das atuais – competições, festa do acari, e
suas versões para apreciação, desfile e baile final. Para o IV festival (1992), foi
construída uma quadra que hoje é chamada de Quadra do Acari. No decorrer de suas
noites, várias apresentações faziam e fazem o brilhantismo da festa (danças folclóricas,
bingos, shows de danças, show de calouros, contos populares e arrasta-pé). Em 1996,
por intermédio do professor Edival Sena Rodrigues (desde 1992 apresenta oficialmente
o festival), foi introduzida na programação a 13ª Gincana Cultural, que ganhou
destaque, tendo sequência nos anos posteriores. Nos anos de 1998 e 2000, por questões
políticas, o festival foi realizado em dois locais diferentes, na mesma comunidade.
Apesar das críticas, o evento não foi descaracterizado.
Em 2006, o festival teve nova roupagem com a introdução do concurso de
música regional e as festas das tribos, mas não houve incentivos para a continuação nos
anos sequentes. Várias histórias e configurações dos festivais passados se perderam
principalmente sobre a participação voluntária, e na criatividade para as apresentações
das noites, em função do evento estar centralizado nas mãos de um pequeno grupo que
representam uma associação que ora “promove” o festival, sem continuidade durante os
meses seguintes.
As festas juninas da comunidade acontecem no mês de junho, com
apresentações de danças como quadrilhas, dança do carimbo, dança do lenço. O
destaque de 2012 foi a presença do Boi Pingo de Ouro, resgatado por dona Ana Garcia,
que há mais de 20 anos não se apresentava. Na festa se serve comidas típicas da região
como tacacá, mungunzá, pipoca, bolo de milho, e bolo de macaxeira.
Há também a Festa de São João Batista. Ora, com o surgimento de Flexal,
vieram pessoas das mais variadas religiões, raças, crenças e outras, para o povoamento.
Dentre essas pessoas, um senhor conhecido como Cabecinha que, ao se assentar em um
terreno situado na Rua Beira-Mar, encontrou um santo de pau, deixado por nossos
ancestrais. Com um tempo, sentiu a necessidade de aprofundar mais sobre a história do
Santo Milagreiro. Então, reuniu-se com alguns amigos e familiares sobre a possibilidade
de criação de um barracão para os fiéis fazerem os cultos, preces agradecerem por
milagres recebidos.
Com o passar do tempo, surgiu a Ramada. E com ela, os fiéis conseguiram
construir um barracão, para fazerem a Festa de São João Batista. Para isso ocorrer, as
pessoas faziam uma folia pedindo oferenda para ajudar na despesa da festa. Os
membros de São João Batista reuniram-se com outros adeptos da comunidade. Então,
resolveram construir um barracão, depois uma igreja de barro com cobertura de palha na
Rua Aluisio Chaves (na época centro da comunidade) e denominaram de Igreja São
João Batista, que foi fundada no ano de 1948. Os primeiros catequistas da época eram
os senhores Alípio Nilson Gomes da Silva, Frei Rodolfo.
A festividade de São João Batista é realizada todos os anos em meados de junho.
Durante a festividade são realizados leilões de oferenda, desfile de candidatas e atrações
culturais. No dia do Círio, ocorre a apresentação da Folia de São João Batista da
Ramada, e o levantamento do mastro pelos foliões. No Círio ocorre a procissão fluvial,
conduzindo a imagem do Santo até a Igreja. Antes, o mastro era derrubado após o dia da
festa, com o tempo passou a ser derrubado após a missa, cada pessoa que dá uma
machadada paga um valor em dinheiro até derrubar o mastro. Quando o derrubam, as
pessoas se jogam para pegar a bandeira que fica na ponta do mastro. Aquele que pegar
fica responsável pela ornamentação do referido mastro no ano seguinte.
Sobre músicas e danças, várias delas ocorrem na época da quadra junina, quando
há muitas danças, tais como dança do carimbo, que é uma dança típica da região. Os
homens vestem calça branca e chapéu na cabeça para fazer o bailado, e as mulheres
usam saias rodadas feitas de chitão, pano colorido com flores, usam também uma flor
do lado direito do cabelo. As roupas são enfeitadas com objetos artesanais como:
cuinha, peneira, patchouli. A dança do carimbo requer muito rebolado tanto das
meninas quanto dos meninos.
Há também as quadrilhas, que são bailadas ao som das músicas de sanfonas. Os
meninos são caracterizados com calças enfeitadas de retalho de pano, camisa de xadrez,
e chapéu de palha, as meninas se caracterizam de vestidos de chita, tranças nos cabelos.
A quadrilha é dançada em pares. Há vários grupos quadrilheiros na comunidade que são
a quadrilha do Some na Roça, o Casamento Caipira, Nilsinho da Roça, Atrapalhados na
roça. Esse último tem o hábito de os homens se vestirem de mulher e mulher se vestindo
de homem.
Também há a dança do Tipiti, de cultura regional e cantada pelos brincantes. A
dança ocorria há vários anos. Parou de ser feita por um tempo, e em 2012 foi resgatada
por Dona Santana Venâncio, membro da Igreja São João Batista. A dança do Tipiti é
feita conforme versos musicais. Enquanto as mulheres cantam, vão tecendo em um pau
com o tipiti, com fitas de cetim colorido. Os homens se caracterizam de calça branca,
com fita na cintura e uma em volta da cabeça, as mulheres vestindo chitas.
Sobre as brincadeiras infantis, elas são bastante populares: pião, pipa, petecas,
brincadeiras de roda, amarelinha, elástico, esconde-esconde, bandeirinha queimada,
pula corda, entre outras. São de fundamental importância essas brincadeiras porque
ajudam no aprendizado da criança e sua socialização.
O artesanato é feito por vários artesãos. Um desses chama-se Railyson Araújo
Ribeiro, morador da comunidade. Ele produz borboletas feitas de papelão. Sua
fabricação é feita com verniz, talos de coco, ramos de flores e garrafa PET. Serve para
decoração em geral e contribui para o bem estar da comunidade. Entre outros produtos
artesanais há vários objetos fabricados de canudinho com carteira porta-cédula, porta-
retratos, sofá, porta-jóias, brinquedos como carrinhos, bolsas, casas de três pisos dentre
outros. Há também variedades de patos feitos de papel colorido A4, que serve de
decoração de sala.
Quanto à culinária, os pratos mais típicos são: pato no tucupi, acari assado ou
cozido no tucupi, galinha caipira, mapará assado, tacacá, beiju de tapioca, açaí abacaba,
patuá.
As plantas medicinais também são valorizadas em Flexal. Entre elas o capim
santo, que combate a dor de estômago, gases e infecção intestinal. A hortelã doce,
indicada no tratamento do diabetes. O boldo, que combate problemas estomacais como
gastrite e problema intestinal. Salva de Marajó, indicado no tratamento de cólicas
menstruais, e cólicas em bebês. Paregórico, indicado no tratamento de estômago. Cana-
mansa, que combate infecções urinárias. Crajirú, indicado no tratamento de anemia.
Emenda osso, indicado em tratamento de fraturas ósseas. Quebra-pedra, que combate
problemas de rins. Cipó-pucá, é indicado no tratamento de derrame e mal olhado (de
bicho). Mucurará, usado na região como defumador atrativo para bons fluidos.
Marupazinho, combate a diarreia. Sandalo, que serve para elevar harmonia à família.
Pau de angola, usado para fazer banhos de atração. Trevo roxo, indicado no tratamento
de dor de ouvido. Corama, que combate as infecções. Pião pajé, usado para fazer banho
que serve no combate de maus fluidos. Erva cidreira, para combater gases e serve de
calmante.
No caso de lendas e mitos, a comunidade possui algumas histórias fantásticas.
Há a história do Cachorrão, fato contado pela senhora Raimunda Miléo Venâncio, com
idade de 77 anos e pelo senhor Firmo Cardoso dos Santos, 72 anos. Eles contam que na
década de 1980, a comunidade Flexal não possuía energia elétrica, somente um motor a
diesel, que funcionava das 18h às 21h, e era esse período que aparecia um cachorrão
preto, enorme de coleira branca. Durante a noite, ele saia pelas poucas ruas da
comunidade, e atacava os cachorros. Dizia-se que não era um cachorro normal. Então os
comunitários se reuniram para pegar esse cachorro, mas não conseguiam. Tempos
depois, descobriram que um homem que se transformava nesse cachorro. Em uma bela
noite de lua, o cachorrão apareceu e um senhor chamado Paixão saiu à sua procura e o
encontrou. O senhor Paixão, levando um terçado na mão atacou o animal golpeando o
bicho nas costas, que conseguiu fugir e desaparecer. No outro dia, surgiu o comentário
que um senhor estava bastante doente com um golpe nas costas, e passaram-se semanas
e o cachorrão não aparecia mais. Um mês depois, o homem faleceu, e desde então o
cachorrão desapareceu.
Há também a história da porca velha. Fato acontecido na comunidade. Contam
os comunitários, que uma porca muito grande saia na rua à noite e corria atrás das
pessoas, contam também que era uma mulher que se transformava em porca desde sua
morte, quando um morador atingiu a mesma com um pedaço de pau. Depois de um mês,
ela veio a falecer e não se ouviu mais falar em porca velha.
A lenda da Matinha Pereira do Flexal é contada a partir de depoimentos
coletados dos antigos moradores da comunidade, João Pinheiro, de 67 anos e Firmo
Cardoso dos Santos, de 72 anos. A Matinha Pereira existe, mas ninguém à viu, apenas
ouviam assobios dela. O canto, feito de assobios, tem som fino e suave. Dizem que se
mexer com ela, ela assombra as pessoas. Às vezes, os comentários na comunidade
Flexal são que há pessoas que se geram Matinha Pereira.
Há a lenda do Boto, com depoimento dado pelo Senhor Raimundo Miléo
Venâncio, o mesmo com 56 anos, nasceu e cresceu na comunidade. É uma história do
Chico Pereira, que ficava horas a esperar o boto para comprovar que este saía para
namorar. Conta Raimundo que um belo dia as pessoas viram um bicho saltitar no rio, e
pensaram ser um boto que saía do rio. Chegou a noite e seu Chico foi esperar o boto em
cima de uma árvore. Quando ele escutou o assobio do boto, pensou “É hoje que eu te
mato!”, e desceu da árvore, correu atrás do boto com um arpão, mas o boto se jogou na
água e desapareceu. E não se sabe mesmo se era o boto ou outro bicho.
Quanto as superstições, contam os comunitários: mulher menstruada não pode
pisar na burra de café, porque dava doença na barriga da mulher. Não passar por cima
de corda, de cavalo, menstruada que dava mola na barriga da mulher.
Mulher menstruada não vai à beira-rio tomar banho por causa da cobra
guarimbambóia, ela podia engravidar a pessoa. Mulher grávida não pode comer rápido
para evitar a criança custar a nascer.
Em termos de ditos populares, foram coletados os seguintes: cada macaco no seu
galho. Tire o cavalinho da chuva. Quem pariu Mateus que o embale.
Esta comunidade também possui um bom número de idosos que possuem um
rico conhecimento sobre a história local, sobre mitos e lendas entre outros. Foram feitas
algumas entrevistas sobre a memória viva. O primeiro entrevistado é Raimundo Miléo
Venâncio, filho de Sebastião Barros Venâncio e Helena Miléo Venâncio, com idade de
65 anos. Eles são naturais de Flexal, mas seus ancestrais são da Itália. Seus pais vieram
da Itália, imigrantes, e se mudaram para esta região em busca de emprego, no castanhal
do Ipixuna, uma localidade próxima da comunidade Flexal. Seu avô João Miléo era
descendente de Portugueses. Nessa época os mesmos queriam conservar o grande
castanhal, mas o povo do Igarapé-Açu não queria que eles se aproximassem das terras,
pois elas possuíam grandes riquezas. Houve até reuniões do povo do vilarejo para
assassinar seu João Miléo, pai de Sebastião Barros. O povo se reuniu com faca, terçado
e foice, mas os amigos de João ficaram contra o mesmo. Senhor João apenas com uma
faca na mão enfrentou o povo, mas foi obrigado a chamar as forças armadas de Belém,
para defender a ele e ao Castanhal. O povo se escondeu das forças armadas. João Miléo
morreu envenenado com veneno de matar formiga, ao bombear veneno nas casas das
formigas saúvas, o veneno veio em seu rosto, e o mesmo veio a óbito.
Outro morador ilustre em idade avançada é Firmo Cardoso dos Santos. Sua mãe
chama-se Raimunda Cardoso dos Santos, com 72 anos. Natural de Flexal. Para ela,
antigamente o modo de viver na comunidade era bem tranquilo. Os comunitários
trabalhavam fazendo vassouras de cipó, óleo de patauá, breu, etc. Eles vendiam e
ganhavam o suficiente para a sobrevivência. Hoje a comunidade está muito mudada.
Houve grandes transformações. Os novos não respeitam os mais velhos.
Outro depoimento importante é o da Senhora Nila Pereira, com idade de 93
anos. Ela veio do Paraná de Baixo para o Flexal, com aproximadamente 23 anos de
idade, acompanhada com seus quatro filhos, Manoel Raimundo, Luzia, Maria Francisca
e Antônio – já falecido. Na época, ela cuidava da casa onde morava e nas horas vagas
trabalhava de diarista nas casas dos fazendeiros e comerciantes.
Os relatos de alguns senhores dizem respeito também a festas religiosas. Há a
folia de São João Batista. O relato feito por Mateus Ferreira Bentes conhecido por
Alalias, um dos foliões que carregava a bandeira branca na época. Segundo ele, a
Ramada surgiu pelo seguinte fato: uma promessa feita pela mãe de uma criança
chamada de João Carvalho, o Cabecinha. Há muitos anos atrás a mesma havia perdido o
filho na mata e prometeu festejá-lo e homenageá-lo todos os anos durante sua vida na
terra. No início, a festa era feita no mês de maio. Havia elevação do mastro com frutas
de várias espécies, a derrubada e a varreção. Os componentes recebiam os seguintes
nomes: Mordomo, Juíza e Procuradeira. Eles cuidavam da organização da festa. Os anos
passaram e a folia de São João Batista ganhou tradição. Anos depois, a festa ganhou
nova roupagem, sendo feita em junho.
Os foliões protetores dos santos são Arlinia Garcia de Souza, Dilvana Garcia de
Souza, Shirley Garcia de Souza, Orlandino Ribeiro de Vasconcelos, Ivana Garcia de
Souza, Manoel Pinheiro de Amorim, Francisco Vieira de Amorim, Edilson da Silva
Gomes, Aldelita Silva Ribeiro.
A comemoração dos festejos de São João na comunidade se dá com a tradição
do mastro de oferenda e levantado em homenagem a São João Batista da Ramada. O
mastro de oferenda representa a fartura e a divisão dos bens comuns a todos. Assim é a
folia de São João Batista. Os Santos que acompanham São João Batista: São José, Santa
Isabel, São Domingos.
Há também p Folguedo das Pastorinhas. Relato feito por Ana Lourdes Bentes de
Souza e Maria de Lourdes Cardoso Pinto. A pastorinha é um folguedo, ou seja, uma
brincadeira por ocasião do Natal. Na Pastorinha, há danças e cantos em homenagem ao
Deus menino. A pastorinha era dividida em quatro grupos, o Cordão azul e o Cordão
Vermelho. Ao todo eram vinte e quatro componentes, doze do Cordão Azul, e doze do
Cordão Vermelho. No vermelho havia o anjo, Pastor Guia, a Rosa Vermelha,
Espanhola, e Pequenina. No cordão azul havia a estrela, o Pastorzinho, o Contra-Mestre,
a Borboleta azul, Rosa Branca, Florista, Izabumba, Galego, Satanás, Jardineiro, Sabina,
Pastor Pobre, Cigana. A pastorinha desenvolve-se em frente a um presépio, onde há um
boneco que representa o menino Jesus.
O ato era da seguinte forma: primeiro, eles entravam e ficavam em uma fila do
Cordão Vermelho e outra fila do Cordão Azul. Elas entravam cantando. Entraremos,
entraremos nesta casa da alegria/ para ver o Bom Jesus filho da Virgem Maria, /
viemos de altas montanhas, atrevessando a campinas, / Para adorar ao Deus menino
que está deitado entre as palinhas. Cada qual ia pro seu lugar, os do Cordão Azul para
um lado e os do Cordão Vermelho para outro. Em seguida, cada um fazia sua
apresentação, e cada personagem tinha sua música. Primeiro vinha o anjo do cordão
Vermelho, e começava a contar envolta do presépio.
As pastorinhas: La do céu já vem descendo pastorar o mundo assim... As
pastorinhas foram fundadas pelas senhoras Ana Lurdes Bentes, Maria de Lurdes
Cardoso Pinto e Nila Pereira.
Outro folguedo é o Pavãozinho. Segundo o depoimento da senhora Ana de
Lurdes, o folguedo foi fundado no ano de 1965, pela professora Auria Warlii Ferreira. A
dança era feita com 23 crianças divididas em caçador, caterina, índios, doutor da
medicina, e o pajé. A moça dona do pavão era quem carregava o mesmo. O pavão era
de verdade, mas empalhado por Armando Moda, empalhador de animais. As crianças
dançavam em um barracão improvisado feito de pau e palha preta cujo nome era
Ramada. As meninas trajavam saias de iamê amarela com blusa verde. A mulher do
doutor trajava blusa e saia preta, o doutor usava camisa amarela e bermuda preta. E
assim as crianças se divertiam dançando alegremente.
Além de toda essa riqueza memorial, os comunitários de Flexal guardam na
lembrança aspectos de sua história, que são de valores inestimáveis. A depoente Ana
Lourdes Bentes de Souza relatou uma história que sua falecida mãe contava na época da
cabanagem. Os oficiais da guerra vinham buscar os homens em Óbidos para irem para a
guerra, e surgiu um comentário que eles iam chegar até a comunidade Flexal, para
buscar os homens para levar. Quando a noite chegava, os homens do Flexal fugiam para
o lago para se esconderem e deixando na vila as mulheres acompanhadas dos filhos
menores.
A senhora Maria de Lourdes, também ofereceu seu depoimento. “Vim duma
varzia chamado Iagu dus patus aos dez anos de idades e tou com 59 anos, lembro que
era só uma estradinha que tinha na bêra, agua não tinha. Era de cacimba que nos
fazia, luz era lamparina, depois ainda teve um motorzinho de luiz que era até 9 horas
da nuite, de la só noutro dia, tinha pouquinha gente na comunidade. Colégio não
existia, nóis estudava numa capela chamada de São João Batista, la nos estudava só
era umas dez crianças, e hoje em dias já tem dois colégios, tem muitas ruas, tudo nos já
tem, tem agua encanada, tudo tá mudado mesmo, lembro das festas religiosas como era
da antiga para agora, nas festas juninas tinhas muitas brincadeiras, antigamente tinha
danças como pastorinhas, quadrilha, marambiré, rouxinol, tangará, pavãozinho, e
beija-flor. Tudo de antes tinha, hoje não tem nada malamar a quadrilha, a Pastorinha
eu brincava, também era um cantigo bunito que faziam do menino Deus todos os anos
dia 24 e 25 de dezembro, ai nos se arrumava para nos ir brincar, as músicas eram
bunitas uma delas era do anjo que era assim: Sou anjo do céu, que ajudu nosso senhor,
sou anjo coroado, batem palma e joguem flur, eu vim anunciar este meu lindo presépio,
eu vim anunciar este meu lindo
Presépio. Era muito lindo, tinha outra cantiga do pavãozinho da professora
Aurea Ferreira com os alunos dela, que era assim: senhora dona de casa de licença
nos entrar, pavãozinho está na rua não viemos demorar, pavãozinho está na rua não
viemos demorar, pavãozinho é bonitinho, pavãozinho é bonitinho da nossa estimação.
Era muito bunito e era de estimação deles. O filho dela diz aquele pavãozinho e ficou
por muitos anos. Huje em dias não fazem mais isso. Quando eu chegava da roça que eu
ia trabaiar, quando não, eu ia plantar mandioca ou fazer farinha, eu não tinha
cansaço, tumava meu banho e saia pra brincar, brincava na patorinha no pavãozinho
eu tinha aquele disposição que eu fazia, capinava juta com fuicea eu afugava pra mim
lavar. A juta eu acho que não existe mais, roça ainda dá pra gente fazer mas pouco
porque mata já não existe mais que os donos da terra transformaram tudo em campo
para criação de gado. Como eu tava dizendo tudo tá mudado, antes pra um jovem sair
pra uma festa tinha de ser acompanhado dos pais, hoje em dias, só querem saber de
baladas como dizem, não respeitam mais ninguém, bebem, fumam cum maior
naturalidade.”
Nila Pereira também nos ofereceu seu depoimento. Ela fala sobre a educação e
festas religiosas da antiguidade relatando: “Quando eu era criança que eu estudava, eu
escrevia na folha de bananeira, não tinha escola, era numa casinha a nossa escola, nos
sentava num banco ao redor duma mesa grande, daí a professora começava escrever o
ABC na folha de bananeira pra gente escrever em baixo, depois ela mandava nos ficar
numa fila pra estudar tabuada, ai ela começava perguntar a tabuada, quem não sabia
apanhava de quem sabia, ela dava castigo tudo isso ela fazia com a gente, mais tarde
ela dava merenda e ai a gente ia embora pra casa. Quando eu era jovem, eu ia pra
festa com meus pais, chegando lá eles deixavam a gente num banco até começar a
música, ai o cavalheiro puxava a gente pra dançar, quando a gente não queria dançar,
nós dava uma desculpa, dizia que tava doendo a perna ou o pé, era assim a nossa
dança. Na pastorinha dancei uma três vezes, eu era o pastor guia. Era muito bonita
nossa festa, eu era do cordão Vermelho, porque tinha disputa entre o Vermelho e o
Azul, nesse tempo se juntava muito povo pra assistir nossa dança, que era muito bonita,
e me colocavam pra dançar. Eu era o pastor guia com meu cajado na mão aí eu
cantava: Sou pastor guia bem alegre eu venho, acordo cedo, vou pra campina, eu vou
levar meu rebanho das maiores até as pequeninas, sou eu o pastor guia que venho aqui
pastorá-la, as minhas ovelhinhas que para elas não se abandonar, la, ia, la. Outra
cantiga da pastorinha que eu cantava era assim: Sô Sabina sou encontrada, todo dia lá
na calçada da academia ô! Com banana macaco se engana, não passa mulato sem
canja, os estudantes de medicina, não passa sem a banana, a laranja é da Sabina, a
laranja é da Sabina.
No depoimento do Sr. Manoel Raimundo Pereira, de 63 anos, filho de Nila
Pereira, há também valiosas informações. Ele chegou à comunidade com sete anos de
idade, sua profissão é pescador: “Quando cheguei aqui no Flexal, eu tinha sete anos, fui
crescendo, crescendo, e tudo era mais difícil. Só tinha essa rua de bêra, tinha poucas
casas e moradores, onde morava os Ferreira, a Mariana, Raimundinho Mileo, José
Venâncio, e Ruxinho Bentes. Tinha o sobrado que chamavam de colégio. Tudo era
esquisito, até visagem tinha. Eu tô nessa idade, mas vi visagem aqui nessa berada. Vi o
‘pretinho’ na frente da casa da Roseli sentado, ai eu chamei pelo nome dele. Ai ele não
olhou. No outro dia eu perguntei dele pra mulher dele. Ela disse que ele tava pra
cidade. Ai eu pensei, puxa, então era a visagem que tava lá. Falavam mas eu não
acreditava. Mas nesse dia eu vi. Falavam também que aparecia uma loura ali numa
encruzilhada eu não acreditava. Numa certa noite, eu saí e topei com ela de costas pra
mim. Ai só comigo! Essa visagem que aparece aqui. Também não liguei, não tinha
medo, fiz a minha viagem. Quando foi um certo dia, lá esta dita loura de novo que não
sai da minha frente, topei umas três vezes. Aparecia outra visagem, os mais antigos
diziam que passava em altas horas da noite, uma tal de calça molhada mas eu não
acreditava. Quando foi um dia, eu tava acordado ali por volta de meia noite quando
escutei uma zoada: “fuulaapoo, fuulaapoo, fuulaapoo!” Fiquei escutando, me
perguntando o que poderia ser aquele barulho, aí me veio na memória a história do
calça molhada. Pra tirar minhas dúvidas resolvi conferir a história, abri a porta, e pra
minha surpresa o barulho continuava mas não vi nada e então passei a acreditar na
história do calça molhada. Outro era o boto que saia em terra pra dançar em festa aqui
no Flexal, tinha uma festa do Santo Antônio, tinha um colega meu que até já morreu,
saiu pra festa e viu um homem que tava todo de branco. Ele pensava que era um colega
dele e começou a chamar: ei, ei, ei... Sabá, me espera cara! Pra gente ir de companhia.
Ai o cara nem ligou de cabeça baixa, e ele atrás... chamava e nada, quando chegou
bem no porto da casa do pai dele, o boto subiu na ponte, e caiu na água e boiou lá fora,
aí ele ficou pensando, mas é verdade que o povo fala que aqui aparece boto. Eu
acredito que sim, que apareceu o caboclo que dançava nas festas. A minha vida era
pescaria. Eu pescava aí pelos mar, até que um dia o pessoal fala: Olha, não anda só,
cuidado rapaz!. Sabá, o pescador não tá acreditando em nada. Ele quer saber de
pescar, aí quando fui lá um dia, eu tinha um bocado de peixe. Aí eu pulei numa praia
pra cuidar de uns peixes pra não chegar estragando em casa, aí eu disse, eu vou cuidar
desses peixes e passar sal, e já chego com eles cuidados lá em casa, e eu tinha que
esperar o vento cair pra mim armar a vela. Eu tinha enconstado numa prianta na beira
do rio, dela eu tinha de passar por cima do prianta pra deixar o peixe embaixo de uma
árvore, já tinha passado umas quatro vezes. Só que eu já tinha percebido um buraco no
toco de uma artimigeira, mas eu lá sabia o que era aquilo o que significava, quando
acabar, não era um sicuri que parava lá. Eu passei a primeira, a segunda, a terceira,
quando foi na quarta vez que eu passava com o peixe na mão, ele se jogou atrás de
mim, na minha perna, aí eu gritei “ai, ai, ai”. Daí eu caí. Do que eu caí rasgou a minha
perna, que eu olhei pra trás, ele tava se enrolando no buraco, se enrolou, chega ficou
naquela turri. Aí eu com um terçado muito amolado e mesmo com a dor me enchi de
coragem, talhei o Priante até que acertei ele, cortei até que achei o espinhaço dele. Fui
lá pra terra, tirei um gancho grande, meti na volta do bicho, puxei e joguei na terra.
Aquele bicho ficou um metro de altura enrolado, daí começou intessar minha perna,
embarquei na canoa, saí de lá umas 8 horas. Quando cheguei aqui em casa era meio
dia, eu remava, remava, olhava pra trás pra ver se eu enxergava um parceiro pra me
trazer e nada. Assim mesmo eu cheguei aqui pra casa já doente da perna que endureceu
tudo. Passei uma vida meio ruim na época de pescaria, eu me alaguei com meu irmão.
Era de noite, foi sorte eu não ter morrido, mas mesmo assim continuo pescando, já não
faço mais o que fazia, saio de vez em quando pra pegar uns peixinhos, e assim vou
vivendo até quando Deus quiser.”
Outro depoimento importante coletado na comunidade Flexal é o do Sr. Mateus
Ferreira Bentes. Em seu depoimento fala um pouco sobre Flexal e alguns
acontecimentos que ocorreram no passado. Ele mora na comunidade desde os 10 anos,
onde vive atualmente com sua esposa Analia Picanço Pereira. Ele relata: “Flexal não
tinha frente, tudo era mata, até no ano de 1954, tinha só 24 casas, não tinha energia,
não tinha rua, era só uma estradinha. A primeira casa era do Benedito Rocha, lá no
final do Paraíso que era no final do Flexal, a segunda era do Sebastião Cardoso, e
assim por diante. O meio de comunicação da época era só o rádio à pilha, não tinha
água encanada, em tempo de cheia a gente usava água do rio pra beber, tomar banho,
etc. Tempo de seca era feito Cacimba. De lá era tirado água para tudo. Os mais antigos
falavam que antigamente teve uma guerra civil, e matavam gente, muita gente na
região e no Flexal, e os que tinham dinheiro tinham de enterrar porque os que vinham
na guerra roubavam todo o dinheiro, muitos morreram e ficou o dinheiro enterrado, e
onde o dinheiro ficou enterrado aparecia um fogo enorme, quando a pessoa chegava
perto desaparecia o fogo, e quem achava o dinheiro ficava rico. Só que a pessoa tinha
de benzer fazendo o sinal da cruz pra que o espírito das trevas não o perseguisse. Os
Ferreira criaram uma índia. O nome dela era Naná, essa índia sabia onde tinha
dinheiro enterrado, e os Ferreira faziam a índia levar eles no local onde tinha dinheiro,
eles tiraram e ficaram ricos, só que tiveram de se mudar daqui pra Alenquer. Outro que
ficou rico porque tirou dinheiro enterrado e ouro foi o Dimilsão, e também ele teve de
se mudar pra Manaus e até hoje vive lá. Havia um judeu que morava aqui na
comunidade, o nome dele era Zacarias Mescano, foi um dos fundadores da
comunidade, e era um comerciante rico, morreu e outras pessoas roubaram seu
dinheiro e ficaram ricos. Na época acontecia muitos desses fatos, tudo isso ficou no
passado. Hoje não existe mais nada disso. Tem também a senhora Ana Garcia, de 67
anos de idade, moradora da comunidade, e foi uma das pessoas mais influentes da
época, juntamente com seu esposo Nilson Gomes da Silva, já falecido, juntos
conseguiram muitos benefícios pra comunidade. A Sra. Ana foi professora e autora do
hino do Flexal.”
DIAGNÓSTICO SOCIOAMBIENTAL (DSA)

Saneamento (resíduos sólidos, água e esgoto)

Lixo: Na Escola Nilson Gomes da Silva, todas as pessoas questionadas


responderam não usufruir da coleta de lixo, o destino dos resíduos produzidos–
armazenados de acordo com as respostas – é queimado (96%) e despejado em terreno
baldio/lixão (4%).
Água: As respostas deixaram claro que o abastecimento é feito através de micro
abastecimento (poço artesiano) (94%). Dos entrevistados, a maioria (54,7%) declarou
que a água é tratada, como forma de tratamento utilizam a fervura (52,8%), a filtração
(22,5%) e a cloração (20,2%).
Esgoto: O esgoto do banheiro e/ou sanitário é lançado através de fossa séptica
(45,3%), sumidouro (31,3%), rede geral (14,7%), céu aberto / vala (6%) e
rio/canal/valão (2%).

Educação (escolaridade)

Quanto à escolaridade, a faixa dominante é a dos que possuem o ensino


fundamental incompleto (36%), os demais percentis foram distribuídos equitativamente
nos que possuem o ensino médio completo (14%); os que possuem o ensino
fundamental completo (10%), os que possuem ensino médio incompleto (6%); os que
possuem ensino superior incompleto (6%) e os que possuem ensino superior completo
(4,7%); importante destacar a quantidade percentual relativa aos que sabem ler/escrever,
mas não frequentou a escola (23,3%).

Saúde

Os resultados da pesquisa mostraram que nos últimos 12 meses as doenças de


maior ocorrência foram: outras viroses (23,2%), diarreia (19,9%), hepatite (8,6%),
verminoses (8,3%). Ressalta-se que o percentual de 12,6% disse não ter havido
ocorrência de nenhuma doença, podendo isso ser reflexo de outros fatores que
influenciam positivamente na conservação da saúde.
Os entrevistados, a maioria (83,3%) declararam que recorrem a postos de saúde
para atendimento em caso de doença. Quanto aos atendimentos de saúde, a maioria
(60%) alegou que o atendimento é regular, 27,3% que o atendimento é bom, 9,3% que o
atendimento é ruim, 2,7% não souberam responder e 0,7% alegou que não existe
atendimento. Em relação ao atendimento aos portadores de deficiências, todos
informaram que não existe, a maioria (55,3%) afirmou não existir, 22% julgou como
ruim, 12,7% não souberam responder, 9,3% classificou como regular e 0,7% julgou
como bom.
Quando questionados sobre a assistência social, a maioria (33,3%) julgou como
bom, 22% como regular, 21,3% afirmou não existir, 18,7% não soube responder e 4,7%
julgou como ruim. Outro dado de avaliação foi atendimento em saúde (49,3%) e
qualidade de ensino (12%), creche (12%), assistência social (10%), cursos de
qualificação profissional (9,3%) e atendimento ao portador de deficiência (7,3%) como
os mais importantes indicados pelos entrevistados.

Habitação

Observa-se nos resultados obtidos que a maioria (39,3%) não possui documento
de propriedade do terreno, 31,3% possui a documentação e 29,3% alegou não saber.
Questionados sobre as características do terreno, a maioria (99,3%) informou que sua
casa fica em terra firme. Já quando foram questionados se a casa onde moram era
própria, cedida, alugada, dentre outros, a maioria (84%) informou que a casa é própria,
5,3% informou que a casa é cedida, 4,7% alugada e 2,7% posse.

Transporte

Quando questionados sobre os tipos de transporte utilizados os entrevistados


responderam que: 31,2% andam a pé, 12,9% se locomovem de moto, 12% utilizam
ônibus.

Meio ambiente

Abastecimento de água: Com relação à comunidade onde eles vivem, a maioria


(48,7%) relataram que o abastecimento de água é bom, 36,7% regular e 14,7% ruim.
Urbanização das ruas: Quanto à urbanização das ruas, 42,7% afirmaram não
existir, 42% classificou como ruim e 15,3% julgou como regular.

Desenvolvimento econômico e social (geração de emprego e renda)

Analisando os dados, percebe-se que 62,7% dos entrevistados informaram que


nenhum dos menores de 18 anos trabalha; 18,7% dos entrevistados confirmaram que 1
apenas trabalha, 10,7% disseram que dois menores trabalham e 8% informaram que 3
ou mais menores de 18 anos trabalham; Quanto à renda familiar, a maioria (63,3%)
recebe mensalmente de 1 a 2 salários mínimos, 24,7% menos de um salário mínimo
mensal; 4% recebem mais de 2 a 3 salários mínimos mensais, 4% recebem de 3 a 5
salários mínimos mensais e 3,3% não possuem nenhum tipo de renda.

Segurança pública

Neste item, a maioria dos entrevistados (90%) declararam não existir, 5,3%
julgou como ruim, 4% alegou ser regular e 0,7% não souberam responder.

Cidadania

Quando perguntados se gostam da comunidade onde moram a maioria (90%)


disseram que sim. Esta afirmação chama atenção pelo fato de que apesar de todas as
dificuldades, os moradores gostam do local onde vivem. Por outro lado, quando
perguntados com que frequência a família participa de ações da comunidade (associação
de moradores, ONGs, grupos, etc.), 48% responderam participam às vezes, 38,7%
nunca participam e 13,3% que participam na maioria das vezes. E quando perguntados
se participariam de projetos que beneficiariam sua comunidade, a maioria (54%)
informou que participaria; alguns (28%) nunca participariam; e, 18% respondeu que
talvez/depende.

Visão compartilhada de futuro

Para os entrevistados (49,3%) o aspecto mais importante é o atendimento à


saúde. Também responderam em escala de importância sobre: arborização de ruas
(52%), qualidade do ar (21,3%), rios e lagos (14,7%), áreas verdes (6,7%) e
praias/balneários.

PESQUISA E DIAGNÓSTICO DA ESTRUTURA E ORGANIZAÇÃO


PEDAGÓGICA DAS ESCOLAS PÚBLICAS (PEDEOP)

Identificação e Vínculo

Nesta escola a maioria dos entrevistados (73,3%) são docentes mulheres, com
faixa etária variando entre 18 a 50 anos, sendo a maioria (66,7%) comcursados,
apresentando-se a com média de 0 a 15 anos de serviço público. A maioria (57,1%)
leciona no ensino fundamental – séries iniciais, sendo que grande parte (30% em cada)
atua em turmas de 2º e 5º ano e todos entrevistados não possuem outras atividades
dentro da escola, mas 36,4% lecionam em outras escolas da rede municipal.

Formação e Motivação

Dos professores entrevistados a maioria (60%) possui graduação incompleta, do


tipo licenciatura plena (76,9%). Em relação a instituição a metade estuda/estudou em
instituição pública federal, sendo o curso na modalidade presencial. Dos entrevistados a
metade participou de cursos de formação continuada, ministrado por instituição pública
municipal na modalidade presencial. Em relação aos conhecimentos adquiridos nesses
cursos, todos julgam como pouco adequado.
Em escala de importância os professores opinaram como as principais razões
limitantes ao seu aprimoramento/atualização profissional: 1º) Falta de tempo em função
de composição de carga horária em duas ou mais escolas (93,3% indiferente); 2º) Falta
de comunicação e divulgação dos cursos na escola (46,7% regular); 3º) Falta de
compromisso institucional com a formação docente (33,3% pouco importante); 4º) Falta
de vontade e motivação pessoal (53,3% indiferente); 5º) Falta de programas de
incentivos por parte das Secretarias de Educação (46,7% muito importante); 6º) Falta de
mecanismos de cobrança, especialmente por parte do estado e município (53,3% muito
importante); 7º) Falta de possibilidades operacionais em função da distância física (40%
regular); 8º) Falta de recursos financeiros (66,7% muito importante).
Em escala de importância os professores opinaram como as principais razões
que estimulam sua busca pelo aprimoramento/atualização profissional: 1º) Interesse
pessoal (86,7% muito importante); 2º) Incentivo por parte da Secretaria de Educação
(46,7% importante); 3º) Melhoria do desempenho profissional (53,3% importante); 4º)
Melhoria de função/salário na escola (86,7% muito importante); 5º) Oferta de
equipamentos de apoio (computador, internet, kits de formação etc.) (53,3% muito
importante); 6º) Oferta de eventos (cursos, palestras, workshops etc.) na sua área de
interesse (53,3% muito importante); 7º) Temáticas novas e/ou diversificadas (46,7%
muito importante).
A maioria (93,3%) dos professores manifestou o desejo pela oferta de cursos
visando um melhor desempenho de suas atividades de ensino, mas a maioria (53,3%)
informou não estar aptos a participar de cursos de educação continuada à distância,
principalmente devido à falta de capacitação em informática (53,3%), dificuldade de
acesso à internet (33,3%) e falta de tempo (13,3%).
Quanto aos fatores que motivam o professor segue a escala de importância: 1º)
Recursos didáticos para implementar práticas, inclusive laboratórios (73,3% muito
importante); 2º) Tempo destinado à disciplina para trabalhar os conteúdos teóricos e
práticos (53,3% importante); 3º) Melhores salários (100% muito importante); 4º)
Articulação entre alunos, professores e gestores (66,7% importante); 5º) Interesse dos
alunos (80% muito importante); 6º) Bom desempenho dos alunos (73,3% muito
importante); 7º) Qualificação e atualização em conteúdos específicos (53,3% muito
importante); 8º) Número adequado de alunos em sala de aula (76% muito importante);
9º) Possibilidade de assumir cargos administrativos (40% importante); 10º) Diálogo
com outros professores sobre questões da disciplina (60% muito importante); 11º)
Atuação em processo de gestão participativa (53,3% muito importante); 12º) Salas de
aula adequadas (80% muito importante); 13º) Trabalhar em um só local (55,3% muito
importante).
Quanto aos fatores que motivam o aluno segue a escala de importância: 1º)
Convívio social (80% muito importante); 2º) Programas e/ou projetos dirigidos aos
alunos (66,7% muito importante); 3º) Metodologia de ensino voltada para a
memorização de conteúdos (40% muito importante); 4º) Articulação dos conteúdos e
sua relação com a realidade socioambiental e cultural (60% muito importante); 5º)
Integração dos espaços de cidadania Escola-Comunidade (53,3% muito importante); 6º)
Maior inclusão social (73,3% muito importante); 7º) Facilidade de acesso a informações
via Internet (60% muito importante); 8º) Expectativa de melhoria de vida e trabalho
com a formação escolar (86,7% muito importante); 9º) Facilidade de acesso a contextos
informacionais e de lazer (53,3% importante); 10º) Aprendizado por meio de atividades
lúdicas e participativas (80% importante); 11º) Acesso a fontes bibliográficas variadas
(53,3% muito importante); 12º) Estímulo da família (86,7% muito importante); 13º)
Estímulo docente e relação professor-aluno (100% muito importante); 14º) Facilidade
de deslocamento para a escola (60% muito importante); 15º) Merenda escolar (73,3%
muito importante); 16º) Salas de aula adequadas (80% muito importante).

Temas Transversais

No que tange aos temas transversais e sua abordagem a maioria (88,9%)


afirmou ter recebido orientações oficiais para o ensino de sua área/disciplina e a maior
parte (90%) trabalha algum tema transversal em sua disciplina. Como temas indicados
temos, em escala de densidade de utilização Meio Ambiente (26%), Saúde (22%),
Pluralidade Cultural (20%), Orientação Sexual (16%), Ética (12%) e Trabalho e
Consumo (4%). São trabalhados integrados aos conteúdos disciplinares, principalmente
nas disciplinas Ciências (20,6%), Matemática (20,6%), Geografia (17,6%), História
(17,6%) e Português (11,8%). Todos os entrevistados alegaram não conhecer o projeto
político pedagógico da escola, por conta disso, não sabem se o Projeto contempla os
temas transversais. Os eventos escolares são orientados pela transversalidade, e esses
temas são desenvolvidos de forma multidisciplinar.
A maioria (77,8%) dos entrevistados afirmaram os alunos sentem-se altamente
motivados em participar desses eventos, principalmente na seguinte escala de
prioridade: 1º) Meio ambiente da região (Floresta amazônica e biodiversidade) (71,4%
regular); 2º) Questões étnicas (indígenas, quilombolas etc.) (42,9% pouco importante);
3º) Problemas ambientais locais (desmatamento, enchentes, lixo, endemias etc.) (50%
regular); 4º) Problemas ambientais globais (aquecimento global, extinção de espécies
etc.) (42,9% regular); 5º) Saúde (doenças crônicas, câncer, diabetes, hipertensão etc.)
(35,7% importante); 6º) Doenças sexualmente transmissíveis, sexo, gravidez e drogas
(28,6% importante); 7º) Profissão, emprego e renda (50% importante); 8º) Esporte e
lazer (92,9% muito importante); 9º) Equipamentos tecnológicos e eletrônicos (28,6%
muito importante); 10º) Cultura globalizada (hip hop, funk, grafite etc.) (42,9%
regular); 11º) Cultura regional (música, dança, festas, literatura etc.) (35,7%
importante); 12º) Saúde do corpo e saúde mental (50% muito importante); 13º) Bem
estar social (família, religião, preconceitos etc.) (35,7% muito importante); 14º)
Violência (doméstica, escolar, gangues etc.) (28,6% importante); 15º) Violência sexual
(pedofilia, exploração sexual etc.) (50% regular); 16º) Vestuário e veículos (42,9%
regular); 17º) Línguas locais (oriundas das famílias linguísticas tupi-guarani, jê, karib)
(42,9% indiferente).

Infraestrutura de apoio pedagógico

Relacionado à infraestrutura de apoio pedagógico existente na escola os


professores afirmaram existir sala de aula (62,5%) e Biblioteca/Sala de leitura (33,3%).
Por não haverem outros ambientes, todas as questões desses itens não foram
assinaladas.
Todos afirmaram que não há nenhum projeto de informática educativa na escola,
porém, a maioria (53,8%) afirmam não existir materiais audiovisuais de apoio
pedagógico, e a maioria (84,6%) não recebeu curso de capacitação para o uso desses
materiais, e por conta disso a maioria (38,5%) raramente usa esses instrumentos, mesmo
a maioria (46,2%) julga importante materiais audiovisuais enquanto instrumento de
apoio didático pedagógico nas suas disciplinas. Além disso, a maioria (57,1%) produz o
seu próprio material didático de acordo com que é disponível no seu ambiente (plantas,
animais, etc.).
Com relação à biblioteca e sala de leitura a maioria afirmou que o seu acervo
bibliográfico não é suficiente (69,2%) e nem adequado (69,2%), o espaço físico
insuficiente (76,9%) e inadequado (61,5%); o mobiliário é inadequado (100%), porém
as instalações são suficientes (76,9%), porém, inadequado (76,9%), não possui
manutenção suficiente (69,2%) e nem adequada (100%) diante do espaço. O acervo
existente é parcialmente adequado (61,5%) para atender sua disciplina e que os títulos
são em sua maioria de literatura infantil (17,1%); livros didáticos (14,5%) e literatura
juvenil (14,5%) e literatura brasileira (14,5%). Que a biblioteca e a sala de leitura não
são usadas pelos alunos como apoio ao estudo de sua disciplina (84,6%).
Em referência aos livros didáticos a maioria (93,3%) os professores afirmaram
recebem via Programa Nacional do Livro Didático (PNLD) e que estes livros são
escolhidos pela Direção da Escola (26,3%), Comissão de Professores (26,3%) e não
sabe (26,3%) e são adotados pela escola (91,7%). Além destes, outros livros (44%) e
revistas e jornais (24%) também são utilizados pelos docentes no preparo das atividades
de ensino, principalmente empregado pela atualização dos conteúdos. O Livro didático
contribui para o alcance dos objetivos propostos para a sua disciplina, reforçam
parcialmente a metodologia de ensino centrada na memorização, oferecerem
parcialmente questões que problematizem e estimulem à curiosidade dos alunos, são
ricos parcialmente em relação ao conteúdo e a apresentação, e privilegiam
conhecimentos teóricos em relação aos conhecimentos práticos, estão parcialmente
defasados em relação à dinâmica dos processos de ensino e aprendizagem e estimula a
multidisciplinaridade.
Os livros didáticos constituem a principal fonte de leitura e informação para o
aluno, oferecem estratégias para pesquisa e aplicação dos conhecimentos, incentivam a
busca por novas informações e conhecimentos, contemplam parcialmente a realidade e
os elementos culturais locais e estão parcialmente adequados às orientações curriculares
oficiais.
PLANO DE AÇÃO (PA)

As comunidades da zona rural se manifestaram, no geral, como necessidades


primárias, o acesso à luz elétrica e água encanada. A energia propulsora para ambos
viria de motores e geradores de energia elétrica, os quais, quando existem, são usados
exclusivamente para atividades coletivas em eventos comunitários religiosos ou
desportivos.
Na atual condição, usam a água do rio. Sem tratamento algum, esta pode ser a
principal fonte de doenças de veiculação hídrica, principal acometimento,
principalmente em crianças. A filtração e adição de cloro seriam os procedimentos de
maior indução de curto prazo.
O transporte, quando existente dependem de combustível para ocorrer. Este
combustível é de uso restrito e depende de petições focais junto à câmara de vereadores
ou ao Prefeito diretamente. Assim, comumente alegam necessidade de gasolina ou
diesel, combustíveis que movem o ribeirinho em direção à cidade, e tudo o mais que ela
poderá oferecer como assistência médico-odontológica, por exemplo, dentre outros.

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